arteterapia na educação especial

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Curso: Arteterapia na Educação Inclusiva Módulo 6 Sonia Branco GPEC Educação a Distância www.gpeconline.com.br Arteterapia na Educação Inclusiva - Módulo 6 Arteterapia na Educação

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Curso Arteterapia na Educação Inclusiva GPEC - Edição do Texto Janaína Corrêa Martino Bernaola - Autora do Texto: Sonia Branco

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Page 1: Arteterapia na Educação Especial

Curso: Arteterapia na Educação

Inclusiva

Módulo 6

Sonia Branco

GPEC – Educação a Distância

www.gpeconline.com.br

Arteterapia na Educação

Inclusiva - Módulo 6

Arteterapia na Educação

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ARTETERAPIA NA EDUCAÇÃO

Histórico da Arteterapia

Segundo o Dicionário de Medicina Natural (1997, p.64), a primeira experiência

de utilização da arte como forma de terapia surgiu por acaso, no princípio da

Segunda Guerra Mundial, quando o artista Adrian Hill se recuperava de uma

tuberculose em um Sanatório de Sussex.Hill dedicou-se à arte para passar o

tempo criativamente e começou a incitar outras pessoas a pintar e desenhar

para distraí-las das suas doença e experiências traumatizantes da guerra.

Para sua surpresa, Hill verificou que elas não só ficavam entusiasmadas, como

utilizavam suas pinturas para exprimir seus medos e ansiedades e as cenas

pavorosas que tinham presenciado. Sem querer, tornar-se o primeiro terapeuta

pela arte na Inglaterra

No Brasil, a arteterapia se inicia através de Nise da Silveira, médica psiquiatra

que, em lugar das tradicionais tarefas de limpeza e manutenção que os

pacientes exerciam sob o título de terapia ocupacional, cria ateliês de pintura e

modelagem com a intenção de possibilitar aos doentes reatar seus vínculos com

a realidade através da expressão simbólica e da criatividade.

Em 1952, ela funda o Museu de Imagens do Inconsciente, no Rio de Janeiro,

um centro de estudo e pesquisa destinado à preservação dos trabalhos

produzidos nos estúdios de modelagem e pintura que criou na instituição,

valorizando-os como documentos que abrem novas possibilidades para uma

compreensão mais profunda do universo interior do esquizofrênico.

A Casa das Palmeiras

Poucos anos depois da fundação do museu, em 1956, Nise desenvolve outro

projeto também revolucionário para sua época: cria a Casa das Palmeiras, uma

clínica voltada à reabilitação de antigos pacientes de instituições psiquiátricas.

Neste local podem diariamente expressar sua criatividade, sendo tratados como

pacientes externos numa etapa intermediária entre a rotina hospitalar e sua

reintegração à vida em sociedade.

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Os estudos de Jung sobre os mandalas atraíram a atenção de Nise da Silveira

para suas teorias sobre o inconsciente.

Através do conjunto de seu trabalho, Nise da Silveira introduziu e divulgou no

Brasil a psicologia junguiana.

Interessada em seu estudo sobre os mandalas, tema recorrente nas pinturas de

seus pacientes, ela escreveu em 1954 a Carl Gustav Jung, iniciando uma

proveitosa troca de correspondência.

Jung a estimulou a apresentar uma mostra das obras de seus pacientes que

recebeu o nome "A Arte e a Esquizofrenia", ocupando cinco salas no "II

Congresso Internacional de Psiquiatria", realizado em 1957, em Zurique. Ao

visitar com ela a exposição, a orientou a estudar mitologia como uma chave

para a compreensão dos trabalhos criados pelos internos.

Nise da Silveira estudou no "Instituto Carl Gustav Jung" em dois períodos: de

1957 a 1958; e de 1961 a 1962. Lá recebeu supervisão em psicanálise da

assistente de Jung, Marie-Louise von Franz.

Retornando ao Brasil após seu primeiro período de estudos jungianos, formou

em sua residência o "Grupo de Estudos Carl Jung", que presidiu até 1968.

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O que é a Arteterapia?

Capítulo 1 do livro:

Contos de Fada – vivências e técnicas em Arteterapia

de Sonia Branco e Adriana Medeiros

Arteterapia é o processo terapêutico que utiliza técnicas de atividades plásticas

como facilitadora do processo de expressão. Nela, a palavra surge, durante o

processo terapêutico, como efeito do desenvolvimento de uma consigna,

tornando-se discurso através da expressão plástica.

Muitos autores classificam a arteterapia como sendo o caminho da descoberta

pessoal através da arte e baseiam seus estudos e afirmativas nos grandes

mestres da psicologia, como Philippini (2002), que afirma existir inúmeras

possibilidades de conceituar Arteterapia. Uma delas é considerá-la um processo

terapêutico decorrente da utilização de modalidades expressivas diversas, que

servem à materialização de símbolos. Uma outra forma de dizer poderá ser

simplesmente “terapia através da arte”. Já Pain (1980) afirma que o trabalho

de arteterapia se orienta de acordo com várias tendências disponibilizadas pelo

arteterapêuta e de acordo com as necessidades apresentadas pelo paciente.

O efeito terapêutico sobrevém somente das trocas verbais em torno do

conteúdo da obra. A expressão plástica é, então, utilizada como meio de

ascender à comunicação verbal ou como única maneira de estabelecer uma

comunicação.

Na arteterapia o paciente é posto em várias situações, permitindo ao terapêuta

observá-lo enquanto vive uma experiência nova, em seu comportamento

comunicativo biopsicossocial.

Urrutigaray (2003) diz que através de uma praxe particular, aplicada a uma

matéria apta para sofrer transformações, é possível criar um objeto novo.

A função desse objeto não vem do uso que se pode fazer dele, nem de seu fim.

Sua função é tornar-se signo, assim dizendo, de colocar o sujeito compreensível

na ordem de um código e, ao mesmo tempo, torná-lo significante pela

diferença que ela impõe a esse mesmo código.

O pensamento que constrói a imagem passa à ação que vai ao seu encontro

passo a passo como um diálogo. Este diálogo permite o desenvolvimento da

expressão como forma de comunicação.

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Outro autor que mantém esta linha de análise é Oaklander (1980), quando

afirma que a meta é ajudar o indivíduo a tomar consciência de si mesmo e da

sua existência em seu mundo, estabelecendo um comportamento comunicativo.

Fazer terapia pode ser descrito como “(re) percorrer sua vida de forma mais

detalhada e crítica para localizar e restaurar a função mal colocada”.

Pain (1980) lembra que, ainda que a noção de arteterapia geralmente inclua

qualquer tratamento psicoterapêutico que utiliza como mediação a expressão

artística, deixamos de lado o prefixo psicológico, como se a arte tivesse, por ela

mesma, propriedades curativas.

No todo, a obra em si não importa como estética, o foco central é o sujeito em

busca de significação e reestruturação para atingir a cura. A atividade criadora

consiste em todo ato de realização que produz algo novo como reflexo de sua

observação do mundo exterior, de informações cerebrais ou do sentimento

interno manifestado apenas no próprio ser humano.

Observando a conduta humana em sua atividade, percebemos dois tipos

básicos de impulsos - reprodutor ou reprodutivo - vinculados com nossa

memória; encontra-se no que o homem reproduz ou repete normas de conduta

já criadas e elaboradas ou resgata rastros de antigas impressões.

Sendo assim, podemos encontrar processos criadores desde a mais tenra

infância. Os aspectos mais questionáveis da psicologia infantil e da pedagogia

giram em torno da capacidade criadora das crianças afirmando que o estímulo

desta capacidade é fundamental para o desenvolvimento global e a maturidade

das crianças.

Desde os primeiros anos de vida a criança demonstra seu processo criador,

principalmente durante seus jogos.

Um estudo científico dos processos fantasiosos arrebatados da realidade

encontrados nos mitos, nos contos, nas lendas, nos sonhos etc., demonstra que

as fantasias, de forma geral, não passam de reconstruções de fatos ou

elementos emprestados da realidade, que se reorganizam e se modificam de

acordo com nossa imaginação.

A fantasia se constrói sempre com materiais tomados do mundo real e

carregam consigo elementos afetivos. Significa dizer que a fantasia influi em

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nossos sentimentos tanto quanto interfere na realidade, trazendo à tona

sentimentos reais para o sujeito que a vivencia.

Sendo assim, o “monstro do armário” imaginado pela criança não existe, mas o

sentimento de pânico, pavor ou medo que ela sente por este ser imaginário é

tão real, que a leva a vivenciá-lo no campo realista.

O mundo imaginário da criança é menos amplo, porém os sentimentos que elas

experimentam por suas fantasias são efetivamente mais reais.

Ao estabelecer verbalmente as complexas conexões e relações existentes entre

fenômenos percebidos, as crianças introduzem trocas essenciais na percepção

das coisas que influem nelas: começam a atuar de acordo com influências

elaboradas verbalmente ao reproduzir as conexões verbais reforçadas pelas

instruções anteriores do adulto e as modificam, em seguida, significando

verbalmente os objetivos imediatos e últimos, indicando os meios para alcançar

estes objetivos e subordinando-os a instruções formuladas verbalmente. A

verdadeira linguagem social da criança é uma linguagem de gestos,

movimentos e mímica, tanto quanto de palavras.

A compreensão da relação entre signo e significado que começa a manifestar-

se na criança e, nessa idade, são algo diferente, em princípio, da mera

utilização de imagens sonoras, imagens de objetos e suas associações.

E a exigência de que cada objeto, seja qual for, tenha um nome, pode ser

considerada uma verdadeira generalização feita pela criança – possivelmente a

primeira (apud Stern, 40, pp.109-110).

Antes que se aprenda a falar já há certos significantes estruturando o campo da

relação com o adulto. A palavra só adquire sentido por sua ligação com a

representação do objeto. Isso significa, portanto, que a articulação entre os

dois tipos de reapresentação é necessária à constituição da significação.

A linguagem só pode cumprir seu papel funcional por sua natureza simbólica,

por ser um produto social no seio da estrutura lingüística de determinada

comunidade. O caminho para isso se abre pelo fato de o significante verbal,

como massa sonora, emitir indicações de qualidade para a percepção-

consciência, que permitem uma relativa independência das qualidades de

prazer e desprazer advindas do corpo. Quando as qualidades de prazer e

desprazer tomam a precedência, a linguagem perde seu cunho abstrato.

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Devemos nos livrar da ilusão que o significante corresponde ou responde à

função de representar o significado, ou melhor, que o significante tem que

responder por sua existência em nome de qualquer significado.

Os jogos de significantes vão produzir os efeitos de significados, e a função

poética, expressa principalmente na substituição de um significante por outro

na metáfora, é que irá apontar para o lugar do sujeito.

Sendo assim, a arteterapia atua como função poética, como facilitadora da

expressão significadora através da construção plástica de significados com

texturas, formas, cores e símbolos projetados pelo inconsciente infantil.

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Arteterapia na Escola

Ada Cristina Garcia Toscanini

Maria Angélica Rente Basso

http://www.fep.com.br/pag.aspx?tipo=arte

Entende-se por terapia o tratamento cuja finalidade é aliviar um estado

deteriorado, para que o funcionamento normal do indivíduo se restabeleça.

Neste sentido, a arteterapia é uma abordagem terapêutica que utiliza

conhecimentos oriundos dos campos da Psicologia, da Filosofia e da arte, com o

objetivo de auxiliar o ser humano a lidar com os desafios apresentados pela

vida. Na arteterapia trabalhamos com os chamados mediadores de expressão

(artes plásticas, teatro, dança, música, jogos cooperativos, contos de fada,

etc.), que facilitam o trabalho terapêutico ao permitir que o indivíduo expresse

o seu Eu interior de forma não-verbal. Assim sendo, por meio das diferentes

expressões artísticas o indivíduo é incentivado a participar de um processo de

criação e leitura da sua obra, tocando impreterivelmente pontos significativos

e/ou conflitivos da sua vida, com a intenção de reorganizar e equilibrar os

mesmos.

Na arteterapia são utilizadas técnicas artísticas variadas para provocar a

comunicação verbal, que normalmente é camuflada pelo raciocínio. A troca de

idéias e conceitos estimulam o diálogo, que tem como principal objetivo a

transformação pessoal. Ela possibilita a comunicação entre as pessoas e o

encontro consigo mesmo. Sabendo que, assim como nas entrelinhas de um

texto ou de um discurso oral, muitas coisas podem ser descobertas, isso

também acontece com a pintura, a escultura, a expressão corporal, a música e

o teatro, ao utilizar técnicas artísticas para descobrir e explorar as qualidades

únicas e interiores de cada um, ampliando seu universo de percepção.

Ao acolher o indivíduo e disponibilizar um ambiente em que ele possa criar arte

e falar sobre o seu processo de criação, a arteterapia possibilita:

Aumentar a autoconsciência e auto-estima;

Lidar com sintomas de doenças, stress e experiências traumáticas;

Desenvolver habilidades cognitivas e sociais;

Estimular a imaginação e a criatividade;

Expressar sentimentos difíceis de verbalizar;

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Desenvolver hábitos saudáveis;

Identificar sentimentos e bloqueios na expressão emocional/afetiva e no

crescimento;

Abrir canais de comunicação, tornando a expressão verbal mais

acessível.

A escola é um espaço fundamental na construção da identidade do indivíduo,

pois atua de forma importante na formação de valores e princípios que irão

nortear a vida de seus alunos. Contudo seu trabalho só será realizado de forma

plena se essa atuação ocorrer em um ambiente que propicie a boa interação

entre profissionais de educação, alunos e responsáveis. Para que isso ocorra,

deve haver uma preocupação em relação à qualidade de vida de todas as

pessoas envolvidas no processo de ensino-aprendizagem, portanto,

extremamente necessário que se realizem atividades que possibilitem a

integração entre os objetivos da escola, as necessidades dos alunos, a atuação

dos educadores e expectativas dos pais, sem se esquecer do fundamental, que

é a transformação de seus alunos e filhos em indivíduos conscientes, críticos e

atuantes, que possam colaborar na conquista de uma melhor qualidade de vida

para todos.

Entre outros objetivos a arteterapia irá atuar no trabalho com os alunos:

Estimulando a criatividade e a imaginação;

Desenvolvendo o pensamento crítico;

Explorando novas formas de expressão;

Possibilitando o autoconhecimento;

Desenvolvendo o interesse e a concentração, melhorando o desempenho

escolar; Auxiliando no tratamento de distúrbios de aprendizagem;

Lidando com preconceitos e estimulando a cooperação e o companheirismo

entre alunos.

Ao trabalhar com os pais, a arteterapia oferece a oportunidade de se discutir: A

importância da participação dos pais ou responsáveis nos processos escolares;

O papel da família no equilíbrio da criança; Como lidar com o stress na vida

cotidiana; Como auxiliar seu filho a lidar com os desafios da vida.

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O processo “arteterapêutico” ocorrerá na forma de atividades voltadas para os

públicos específicos, depois de uma avaliação das necessidades e expectativas

da escola.