apostila_a cultura de milho

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FACULDADE RORAIMENSE DE ENSINO SUPERIOR CURSO DE AGRONOMIA GRANDES CULTURAS II Prof. Denysson Amorim – [email protected] Página1 A cultura de Milho 1. Introdução Em 5 de novembro de 1492, Cristóvão Colombo observou, claramente, pela primeira vez, a existência de milho na costa norte de Cuba. Embora possa ter havido contatos anteriores da Europa com o Novo Mundo e seja possível que o milho tenha alcançado o Velho Mundo em época anterior, Colombo, aparentemente, levou grãos de milho em sua viagem de retomo à Espanha. A partir desta época, o milho passou a fazer parte da dieta dos mais variados povos e a ter importância econômica. A cultura do milho ocupa lugar de destaque não só devido ao grande progresso que tem havido no acúmulo de conhecimentos científicos relacionados com esta espécie, mas também em razão do grande valor econômico e do imenso potencial que ela apresenta. Provavelmente, não existe nenhuma outra espécie de importância econômica que tenha sido alvo de tão intensas pesquisas científicas, cujos resultados têm contribuído não só para o aperfeiçoamento do seu cultivo, mas também têm influenciado as técnicas empregadas em outras culturas. 1.1 - Panorama Internacional Os maiores produtores mundiais de milho são os Estados Unidos, China e Brasil, que, em 2005, produziram: 280,2; 131,1; e 35,9 milhões de toneladas, respectivamente (Tabela 1). Tabela 1. Principais países produtores de milho - 2001-2005. Países/Anos Produção (1.000 t) 2001 2002 2003 2004 2005 Estados Unidos 241.485 228.805 256.905 299.917 280.228 China 114.254 121.497 115.998 130.434 131.145 Brasil 41.955 35.933 48.327 41.806 34.860 México 20.134 19.299 19.652 22.000 20.500 Argentina 15.365 15.000 15.040 15.000 19.500 Índia 13.160 10.300 14.720 14.000 14.500 França 16.408 16.440 11.991 16.391 13.226 Indonésia 9.347 9.654 10.886 11.225 12.014 África do Sul 7.772 10.076 9.705 9.965 11.996 Fonte FAO - Agridata

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FACULDADE RORAIMENSE DE ENSINO SUPERIOR CURSO DE AGRONOMIA GRANDES CULTURAS II

Prof. Denysson Amorim – [email protected]

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A cultura de Milho 1. Introdução

Em 5 de novembro de 1492, Cristóvão Colombo observou, claramente, pela primeira vez, a existência de milho na costa norte de Cuba. Embora possa ter havido contatos anteriores da Europa com o Novo Mundo e seja possível que o milho tenha alcançado o Velho Mundo em época anterior, Colombo, aparentemente, levou grãos de milho em sua viagem de retomo à Espanha. A partir desta época, o milho passou a fazer parte da dieta dos mais variados povos e a ter importância econômica.

A cultura do milho ocupa lugar de destaque não só devido ao grande progresso que tem havido no acúmulo de conhecimentos científicos relacionados com esta espécie, mas também em razão do grande valor econômico e do imenso potencial que ela apresenta.

Provavelmente, não existe nenhuma outra espécie de importância econômica que tenha sido alvo de tão intensas pesquisas científicas, cujos resultados têm contribuído não só para o aperfeiçoamento do seu cultivo, mas também têm influenciado as técnicas empregadas em outras culturas.

1.1 - Panorama Internacional

Os maiores produtores mundiais de milho são os Estados Unidos, China e Brasil, que, em 2005, produziram: 280,2; 131,1; e 35,9 milhões de toneladas, respectivamente (Tabela 1).

Tabela 1. Principais países produtores de milho - 2001-2005. Países/Anos Produção (1.000 t)

2001 2002 2003 2004 2005

Estados Unidos

241.485 228.805 256.905 299.917 280.228

China 114.254 121.497 115.998 130.434 131.145

Brasil 41.955 35.933 48.327 41.806 34.860

México 20.134 19.299 19.652 22.000 20.500

Argentina 15.365 15.000 15.040 15.000 19.500

Índia 13.160 10.300 14.720 14.000 14.500

França 16.408 16.440 11.991 16.391 13.226

Indonésia 9.347 9.654 10.886 11.225 12.014

África do Sul 7.772 10.076 9.705 9.965 11.996

Fonte FAO - Agridata

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De uma produção total, no ano de 2005, de cerca de 708 milhões de toneladas (USDA, 2006), cerca de 75 milhões são comercializadas internacionalmente (aproximadamente 10% da produção total em 2005, com uma expectativa de 11,5% em 2006). Isto indica que o milho destina-se principalmente ao consumo interno. Deve-se ressaltar que, dado seu baixo custo de mercado, os custos de transporte afetam muito a remuneração da produção obtida em regiões distantes dos pontos de consumo, reduzindo o interesse no deslocamento da produção a maiores distâncias, ou em condições que a logística de transporte é desfavorável.

O mercado mundial de milho é abastecido basicamente por três países, os Estados Unidos (46 milhões de t de exportações em 2005), a Argentina (14,0 milhões de t em 2005) e a África do Sul (2,3 milhões de t em 2005). A principal vantagem destes países é uma logística favorável, que pode ser decorrente da excelente estrutura de transporte (caso dos EUA), proximidade dos portos (caso da Argentina) ou dos compradores (caso da África do Sul). O Brasil eventualmente participa deste mercado, porém, a instabilidade cambial e a deficiência da estrutura de transporte até aos portos têm prejudicado o país na busca de uma presença mais constante no comércio internacional de milho.

Os principais consumidores são o Japão (16,5 milhões de t em 2005), Coréia do Sul (8,5 milhões de t em 2005), México (6,0 milhões de t em 2005) e Egito (5,2 milhões de t em 2005). Outros importadores relevantes são os países da Sudeste de Ásia (2,9 milhões de t em 2005) e a Comunidade Européia (2,5 milhões de t em 2005). Nestes dois últimos casos, além das importações ocorre um grande montante de trocas entre os países que compõem cada um destes blocos.

A cultura do milho no Brasil ocupou, em 2006, uma área em torno de 12,9 milhões de hectares, responsável por uma produção de cerca de 41,3 milhões de toneladas de grãos, apresentando um rendimento médio de 3.198 kg ha -1 ( 3.298 kg ha -1 na safra e 2.907 kg ha -1 na safrinha), de acordo com a Conab. Mesmo considerando o rendimento dos estados da região Centro-Sul, que foi de 3.893 kg ha -1 , esse rendimento é muito inferior ao que poderia ser obtido, levando-se em consideração o potencial produtivo da cultura, que é demonstrado que a cultura do milho aumenta sua rentabilidade e sua vantagem comparativa com outras culturas quando sua produtividade é aumentada.(EMBRAPA MILHO E SORGO, 2006).

2. Classificação Botânica

O milho é uma gramínea da família Poaceae, da tribo Maydeae, do gênero Zea e da espécie mays (Zea mays L.). É taxonomicamente identificado como Zea mays L. spp. mays, para distinguir do seu parente silvestre mais próximo, o teosinto, atualmente considerado de mesma espécie e com várias subespécies.

A tribo Maydeae caracteriza-se por monoecismo, isto é, as flores são unissexuadas, geralmente em inflorescências masculinas e femininas, separadas nas mesmas plantas. Nas demais gramíneas, as flores são hermafroditas. A tribo Maydeae conta com cinco gêneros asiáticos: Coix (capim-rosário), Schlerachne, Polytoca, Chionachne e Trilobacbne (cujo número básico de cromossomos é x 5) e dois gêneros americanos: Tripsacum e Zea. O Tripsacum compreende várias espécies de gramíneas

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perenes, a maioria nativa do México, da América Central e do sul dos Estados Unidos, como T floridanum e T dactyloides, cujos números de cromossomos são múltiplos de x = 18, o que pode indicar uma possível origem ancestral com número básico x = 9. “Knobs” cromossômicos terminais são comuns nessas espécies de Tripsacum, com exceção da única espécie sul-americana T australe (2n = 36), cujos cromossomos não possuem “Knobs”. Espécies tetraplóides de Tripsacum possuem 72 cromossomos.

O outro gênero americano, Zea, compreende o milho e o teosinte, ambos com 2n = 2x = 20 cromossomos. Botanicamente, o milho passou a ser Zea mays L ssp. mays e o teosinte, Zea mays, com suas subespécies: Zea mays ssp. mexicana, Z. mays, parviglumis, Z. mays ssp luxurians, Z. mays ssp. diploperennis. Com exceção do Z. mays ssp. diploperennis, todos os teosintes são anuais. Existe ainda outro teosinte perene, que é tetraplóide 2n = 4n = 40 cromossomos, que é Z. mays ssp. perennts.

O milho é uma planta essencialmente pan-mítica, uma vez que o monoecismo das Maydae acentuou-se, com maior separação espacial da inflorescência feminina (espiga) e da masculina (pendão), sendo, portanto, uma planta alógama com praticamente 100% de reprodução cruzada.

3. Origem

O milho é um cereal essencialmente americano, uma vez que é no continente americano que se encontram os seus parentes selvagens mais próximos: teosinte e tripsacum. Fora das Américas, não existem fósseis e nem evidências lingüísticas ou históricas do milho. Apenas em algumas traduções da Bíblia o termo milho aparece, mas erroneamente, pois trata-se de milheto, que compreende várias gramíneas asiáticas (gêneros Eleusine, Pennisetum), que produzem grãos comestíveis.

Por ocasião da descoberta da América, o milho já era cultivado pelos seus habitantes, desde o Canadá até a Argentina. Assim, o primeiro contato do homem civilizado com o milho ocorreu no dia 5 de novembro de 1492, quando Colombo aqui chegou pela primeira vez. As evidências indicam que o milho foi domesticado entre 8.000 e 10.000 anos atrás, tendo se tomado o principal cultivo de importantes civilizações, como a dos astecas, maias e incas.

A origem do milho tem despertado o interesse de muitos pesquisadores, resultando em uma extensa literatura sobre o assunto. Esse interesse é justificado pelo fato de o milho ser uma espécie altamente domesticada, pois só sobrevive quando cultivado pelo homem. Não existe milho silvestre que tenha sido domesticado pelas populações pré-colombianas.

Basicamente, três teorias têm sido discutidas: 1) a origem divergente, na qual os milhos teosinte e Tripsacum são descendentes de um ancestral comum, hoje extinto (Weatherwax, 1954); 2) milho é derivado diretamente do teosinte, que conta com o apoio de vários autores, entre os quais se destacam Galinat (1977) e Beadle (1977, 1978); e 3) Mangelsdorf (1964) defendeu a hipótese de que o teosinte é originário do cruzamento entre milho e Tripsacum; esta hipótese foi abandonada por ele em Mangelsdorf (1974). Com base em evidências, pode-se dizer que o milho originou-se diretamente do teosinte. Ambos têm n = 10 cromossomos, os quais são homólogos, e cruzam-se facilmente, o que

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resulta em produtos férteis; podem-se obter, nas gerações seguintes, tipos semelhantes ao milho e ao teosinte, com diferenças gênicas relativamente pequenas.

4. Domesticação e Dispersão

O milho é a planta cultivada que atingiu o mais elevado estágio de domesticação, uma vez que perdeu a característica de sobrevivência sem o concurso do homem. Apesar de diferentes hipóteses conflitantes, parece mais aceitável que o milho corresponde, na verdade, ao teosinte domesticado. Possivelmente, os antigos habitantes do México, onde o teosinte é nativo, devem ter utilizado suas sementes para alimentação. Uma pessoa podia facilmente coletar um quilo de sementes/hora, as quais podiam ser moídas e transformadas em farinha, além do fato de que as suas sementes secas, sob a ação do calor do fogo, podem pipocar de modo semelhante aos milhos-pipoca atuais (Beaddle, 1978).

Subsequente seleção deve ter conduzido à diminuição do número de espigas por colmo, favorecendo o aumento do tamanho da espiga e a redução do número de perfilhos. A colheita de plantas individuais faz com que o milho seja bem adaptado à seleção pelo homem, uma vez que a produção de cada planta e as características de cada espiga sejam imediatamente identificadas. Isso não ocorre com os demais cereais, em que as plantas são normalmente colhidas em feixes, perdendo-se, assim, a sua individualidade. Com o tempo, o milho passou a ocupar lugar de destaque como principal alimento dos vários povos e civilizações americanos. Fica evidente, pelos relatos históricos, que o cultivo do milho, sua colheita e usos eram freqüentemente relacionados a cerimoniais religiosos. O milho foi se expandindo, até ocupar praticamente todo o continente americano, em conseqüência da seleção do homem e da seleção natural. A espécie Zea mays L. foi se diversificando, reconhecendo-se hoje cerca de 250 raças.

Os primeiros autores a proporem uma classificação natural de raças de milho foram Anderson e Cutler (1942), que definiram raça como um grupo de indivíduos aparentados com suficientes características em comum para permitir o seu reconhecimento como um grupo. Brieger et al. (1958) introduziram o conceito geográfico, definindo raça como qualquer grupo de populações com um número suficiente de caracteres em comum, que se mantém por reprodução pan-mítica e ocupando áreas definidas.

Uma vez que dentro de cada raça podem ser identificadas variedades, constata-se que a espécie Zea mays L. é altamente politípica, com grande variabilidade genética. Essa variabilidade refere-se às adaptações climáticas, além das variações selecionadas pelo homem. Patemiani e Goodman (1977) indicam as seguintes freqüências: cerca de 50% das raças são adaptadas a baixas altitudes (0 a 1.000 m), quase 40% ocorrem acima de 2.000 m e pouco mais de 10% são de altitudes intermediárias (1.000 a 2.000 m). Com relação ao tipo de endosperma, quase 40% são amiláceos, cerca de 30% são de grãos duros cristalinos, pouco mais de 20% são dentados, aproximadamente 10% são pipocas e apenas 3%, milhos-doce. Além disso, o milho é uma planta muito sensível ao fotoperíodo. Milhos tropicais são adaptados à baixa latitude (00 a 250) e de dias curtos (cerca de 13 horas diárias de luz), enquanto os

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milhos de climas temperados, adaptados a latitudes maiores (250 a 400), são de dias longos, aproximadamente 16 horas de luz.

Patemiani e Goodman (1977) salientam que a grande diversidade genética encontrada na espécie Zea mays L., sem dúvida, pode ser considerada um exemplo de evolução, uma vez que a evolução corresponde a mudanças nas freqüências gênicas ao longo das gerações. Os fatores que contribuem para essas mudanças são seleção, mutação, oscilação genética, migração e hibridação. Provavelmente, todos esses fatores desempenharam papel maior ou menor no desenvolvimento das raças de milho. Entretanto, os dois fatores que têm sido considerados de maior importância são hibridação e seleção. Wellhausen et al. (1952) dão maior ênfase à hibridação como principal fator para o desenvolvimento de raças, embora reconhecendo que a seleção também teve o seu papel. Já Weatherwax (1942) e Brieger et al. (1958) consideram que a seleção praticada pelos índios e pelas antigas civilizações americanas foi primordial para o desenvolvimento das raças, o que é evidenciado pelas preferências específicas de diferentes grupos étnicos.

Goodman (1978) identifica o que chama de “complexos raciais”, que são agrupamentos de raças, de maneira mais refinada que a antiga classificação de Sturtevant (1899), agrupando os milhos em amiláceos, duros ou cristalinos, dentados, pipocas, doces e tunicata. Assim, os milhos dentados mexicanos (Tuxpeño, Vandeño, Tepecintle, Zapalotes e Celaya) constituem um complexo racial de grande significado para o desenvolvimento de milhos economicamente importantes. Nos Estados Unidos, derivados dos dentados mexicanos cruzaram com os milhos duros de cor laranja (Northem Flint), originando os milhos dentados do Com Belt (Anderson e Brown, 1952). Em épocas recentes, esses milhos mexicanos, notadamente os Tuxpeño, desempenharam papel fundamental no melhoramento do milho no Brasil, bem como em vários países tropicais americanos.

Milhos duros ou cristalinos, como Coastal Tropical Flints, Comuns e Costeño, parecem ter seu desenvolvimento inicial no Caribe, espalhando para o sul, ao longo de toda a Costa Atlântica brasileira, dando origem aos Catetos de grãos laranja e, mais ao sul, aos milhos duros de cor laranja intensa, provenientes do Uruguai e da Argentina. No Brasil, milhos dentados dos Estados Unidos, introduzidos por volta de 1860-65, durante a Guerra da Secessão, e mais tarde (1910 - 15), cruzaram-se com os Catetos locais, originando variedades de milhos dentados amarelos, coletivamente identificados como Dente Paulista (Patemiani e Goodman, 1977). No Caribe e norte da América do Sul, os milhos duros combinaram-se com os dentados mexicanos, originando o Tusón, que são semidentados, com espigas cilíndricas de boas características agronômicas.

Inúmeras raças de milho de importância regional podem ser reconhecidas, tendo sido objeto de uma série de publicações relacionadas a diferentes países e regiões geográficas (Wellhausen et al. 1952, 1957; Hatheway, 1957; Roberts et al., 1957; Brieger et al., 1958; Brown, 1960; Ramirez et al., 1960; Grobman et al., 1961, Timothy et al., 1961; 1963; Grant et al., 1963; Patemiani e Goodman, 1977). De maneira geral, os milhos amiláceos eram preferidos pelos povos indígenas, como o Avati moroti, dos Guarani do Paraguai, e os Entrelaçados (Coroico, Piricinco, Pojoso) de espigas compridas e flexíveis, de grãos amiláceos de várias colorações e com fileiras de grãos entrelaçados. O milho de Cuzco, adaptado a altitudes superiores a 2.500 m, no Peru, com grãos muito grandes, amiláceos e brancos, com ciclo muito tardio (cerca de seis meses para floração), desenvolvido pelos incas, é uma

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raça muito particular. Outros tipos de endosperma também eram cultivados, como o milho-cristal (branco duro) e os pipocas dos Guarani, do Paraguai, além de inúmeros tipos de regiões andinas da Argentina.

O milho está hoje disseminado por todo o mundo, e várias introduções foram feitas a partir dos milhos americanos. Na Itália, onde o milho adquiriu especial importância, milhos de grãos duros de cor laranja foram inicialmente os preferidos. Atualmente, milhos semidentados e dentados, originados do Com Belt, são os mais cultivados. Ainda hoje, diferentes tipos de endosperma e coloração têm importância regional. Nos Estados Unidos, predomina o milho dentado amarelo, pelo alto potencial produtivo dos tipos dentados; no México, porém, a preferência é pelo dentado-branco, usado na fabricação de “tortillas”; e, na Venezuela, são preferidos os milhos duros ou semiduros brancos, empregados na fabricação do “arepa”, um pequeno pão. A Argentina cultiva quase que praticamente milhos duros, de cor laranja intensa, destinado essencialmente à exportação.

O Brasil tem explorado grandemente a heterose resultante de cruzamentos dentados x duros, obtendo-se um tipo semidentado amarelo, embora milhos dentados amarelos também tenham alcançado boa receptividade.

CAPITULO II

1 - FORMAS DE UTILIZAÇÃO DO MILHO

1.1 Introdução

Dentro da produção nacional de cereais e oleaginosas, o desempenho da lavoura de milho tem efeito direto e significativo sobre o volume da colheita: de cada três quilos colhidos, mais de um vem do milho.

O milho constitui um dos principais insumos para o segmento produtivo, sendo utilizado com destaque no arraçoamento de animais, em especial na suinocultura, na avicultura e na bovinocultura de leite, tanto na forma in natura, como na forma de farelo, de ração ou de silagem. Na alimentação humana, o milho é comumente empregado na forma in natura, como milho verde, e na forma de subprodutos, como pão, farinha e massas.

Na indústria, o milho é empregado como matéria prima para a produção de amido, óleo, farinha, glicose, produtos químicos, rações animais e na elaboração de formulações alimentícias. Porém, pesquisas recentes têm revelado novas utilidades para o cereal, que no passado seriam pouco imagináveis. Estima-se que hoje existam cerca de 600 produtos onde o milho participa como matéria-prima.

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Para o futuro, a tendência é abrir cada vez mais o leque de novas aplicações para o amido de milho e seus derivados, que já são largamente usados nos setores alimentício, têxtil, de bebidas, papéis, papelões, curtumes e colas. Por exemplo, a água usada para amolecer o milho serve como meio de fermentação para produção de penicilina e estreptomicina, tendo outras aplicações no campo farmacêutico. Já o xarope de glicose de milho é usado na fabricação de cosméticos, xaropes medicinais, graxas e resinas. Nas fábricas de aviões e veículos, os derivados de milho são utilizados nos moldes de areia para a fabricação de machos e peças fundidas. Também na extração de minério e petróleo o milho está presente, assim como em outras áreas pouco conhecidas, como as de explosivos, baterias elétricas, cabeças de fósforos, borrachas, etc.

Tabela 2. Os Múltiplos uso do Milho (Planta, Espiga e Grão) no Brasil

Destinação Forma/Produto Final

Uso Animal Direto Silagem; Rolão; Grãos (inteiro/desintegrado) para aves, suínos e bovinos.

Uso Humano Direto de Preparo Caseiro Espiga assada ou cozida; Pamonha; Curau; Pipoca; Pães; Bolos; Broas; Cuscuz; Polenta; Angus; Sopas; Farofa.

Indústria de Rações Rações para aves (corte e postura); outras aves; Suínos; Bovinos (corte e leite); Outros mamíferos.

Indústria de Alimentos

Produtos Finais

Amidos; Fubás; Farinhas comuns; Farinha pré-cozidas; Flocadas; Canjicas; Óleo; Creme; Pipocas; Glicose; Dextrose.

Intermediários Canjicas; Sêmola; Semolina; Moído; Granulado; Farelo de germe.

Xarope de Glucose Balas duras; Balas mastigáveis; Goma de mascar; Doces em pasta; salsichas; salames; Mortadelas; Hambúrgueres; Outras carnes processadas; Frutas cristalizadas; Compotas; Biscoitos; Xaropes; Sorvetes; Para polimento de arroz.

Xarope de Glucose com alto teor de maltose

Cervejas

Corantes Caramelo Refrigerantes; Cervejas; Bebidas alcoólicas; Molhos.

Maltodextrinas Aromas e essências; Sopas desidratadas; Pós para sorvetes; Complexos vitamínicos; Produtos

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achocolatados.

Amidos Alimentícios Biscoitos; Melhoradores de farinhas; Pães; Pós para pudins; Fermento em pó; Macarrão; Produtos farmacêuticos; Balas de goma.

Amidos Industriais Para papel; Papelão ondulado; Adesivos; Fitas Gomadas; Briquetes de carvão; Engomagens de tecidos; Beneficiamento de minérios.

Dextrinas Adesivos; Tubos e tubetes; Barricas de fibra; lixas; Abrasivos; Sacos de papel; multifolhados; Estampagem de tecidos; Cartonagem; Beneficiamento de minérios.

Pré-Gelatinizados Fundição de peças de metal.

Adesivos Rotulagem de garrafas e de latas; Sacos; Tubos e tubetes; Fechamento de caixas de papelão; Colagem de papel; madeira e tecidos.

Ingredientes Protéicos Rações para bovinos; suínos; aves e cães.

Fonte: Jornal Agroceres (1994)

2 - BOTÂNICA DO MILHO1

2.1. MORFOLOGIA

O milho, assim como outras gramíneas (Poaceae), possui uma haste (colmo) cilíndrica com nós compactos. Cada nó abaixo do solo produz raízes e os nós ao nível do solo ou imediatamente acima, podem produzir perfilhos e raízes adventícias (esporões). As folhas e ramificações, que podem permanecer no estado rudimentar ou se desenvolver para formar as “bonecas” (inflorescência feminina), são produzidas a partir dos nós acima do solo. Os colmos são compactos e terminam com o pendão (inflorescência masculina).

O caráter monóico e a morfologia característica do milho resultam da supressão, condensação e multiplicação de várias partes da anatomia básica das gramíneas. Os aspectos vegetativos e reprodutivos da planta podem ser modificados posteriormente através da interação com os fatores

1 – Adaptado de Major M. Goodman e J. S. C Smith (Botânica)

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ambientais que afetam o controle da ontogenia do desenvolvimento. Contudo, o resultado geral da seleção natural e da domesticação foi produzir uma planta anual, robusta e ereta, com 1 a 4 metros ou mais de altura, que é “explendidamente construída para a produção de grãos”, que também não pode sobreviver sem proteção do homem.

Fig. 1 – Planta de milho na fase reprodutiva.

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2.1.1. O sistema radicular

O sistema radicular que consiste de raízes primárias e laterais (seminais) e das raízes adventícias é típico das gramíneas. As raízes seminais se originam da base do primeiro internódio e garante a nutrição inicial para a planta jovem. Seguindo-se à fixação da plântula, um conjunto de raízes adventícias é produzida de cada um dos 6 a 10 nós muito próximo uns dos outros, um pouco acima no colmo. As raízes adventícias, que surgem acima da superfície do solo (raízes suporte), ajudam a escorar a planta. As raízes adventícias logo se transformam na via principal de absorção de nutrientes através dos pêlos capilares unicelulados das porções recém diferenciadas das raízes laterais. O sistema radicular pode ter 1,5 a 3 metros de comprimento. O hábito geralmente superficial de formação das raízes (quase sempre menos do que 30 cm do milho é responsável pela sua pouca tolerância à seca. Entretanto, a profundidade real atingida pelas raízes depende em parte do pH, do grau de compactação do solo e do teor de umidade no solo.

2.1.2. As folhas

O embrião tem geralmente de 4 a 5 folhas já diferenciadas. O número de folhas pode ser determinado quando a plântula tem somente poucos dias de idade, seccionando-se acima do primeiro nó, mostrando assim as folhas enroladas em volta uma das outras. As folhas são gradualmente expostas à medida que o colmo se alonga, mas o seu crescimento se processa em maior parte quando as folhas ainda estão fechadas.

As folhas são dispostas alternadamente e são presas a bainhas superpostas que envolvem o colmo. Os limbos foliares são geralmente longos, largos, e são mantidos em ângulos aproximadamente retos com o colmo por uma forte nervura central. Entretanto, as dimensões do limbo foliar podem variar desde muito longo e estreitos, a curtos e largos. A superfície inferior da folha normalmente possui esparsos pêlos brancos, longos ou curtos. O número de estômatos por unidade de área da epiderme é levemente maior na superfície inferior do limbo foliar. Na superfície superior da folha, na junção do limbo com a bainha, existe uma projeção delgada e semi-transparente (lígula) que envolve o colmo. A lígula restringe a entrada de água e de solo, e também reduz a perda por evaporação do espaço situado logo abaixo. Logo acima da lígula, o rápido crescimento da extremidade da folha faz aparecer uma região que aparece em cada metade da folha, em forma de v (aurícula), em direção à nervura principal. Esta estrutura permite um livre movimento lateral da folha.

2.1.3. A inflorescência

A característica monóica evoluiu pelo aborto dos órgãos pistilados na inflorescência superior (pendão) e dos estaminados nas inferiores (espigas). A monoicia contribui para a polinização cruzada e permitiu uma extrema especialização da inflorescência. Embora a espiga e o pendão tenham diferentes funções reprodutivas, elas são estruturas homólogas e resultam de vários graus de redução e condensação das unidades da inflorescência das gramíneas – as espiguetas.

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a) A inflorescência masculina: o pendão

As espiguetas são dispostas aos pares, sendo uma séssil e uma pedicelada, no pendão, que consiste de um eixo central e geralmente de várias ramificações laterais. As ramificações laterais secundárias podem ramificar posteriormente dando origem a ramificações terciárias ou só pode existir o eixo central. Ao longo das ramificações laterais, os pares de espiguetas são arranjados alternadamente (dístico). O eixo central polístico resulta da extrema condensação dos internódios entre pares de espiguetas junto à multiplicação, que deu origem a pares de espiguetas idênticas, onde normalmente deveria haver somente uma.

As próprias espiguetas têm um par de brácteas protetoras (glumas) em forma de bainha envolvendo duas pequenas flores. Cada flor consiste de uma lema e pálea (brácteas florais) envolvendo três estames, duas lodículas e um pistilo abortado. Na antese, a lodícula intumesce, permitindo a emergência das anteras. O pendão é perfeitamente posicionado para distribuir, pelo vento, o pólen que é produzido em grande quantidade.

Figura 2 - Estrutura do pendão do milho

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A - Espiguetas dispostas aos pares, sendo uma delas pedunculada (marcada com um ponto branco) e a outra séssil.

B - Condensação de vários pares de espiguetas em cada nó.

C - Multiplicação de espiguetas sésseis (as espiguetas sésseis ou as pendunculadas, ou ambas, apresentam-se duplicadas).

Fig. 3 - Arranjamento das espiguetas nas ramificações do pendão de milho.

Fig. 4 - Organização e estrutura da espigueta estaminal

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a. Gluma inferior ou externa b. Gluma superior ou interna c. Lema da flor inferior d. Pálea da flor inferior ou da escama do ramo e. Pálea da flor terminal f. Antera g. Corte transversal da antera h. Pólen maduro

Fig. 5 -Espigueta estaminal durante a antese.

b) A inflorescência feminina: a espiga

O ramo lateral que termina em espiga, corresponde em estrutura a um colmo com internódios mais condensados. As bainhas foliares (palha) que se originam de cada nó são bem superpostas e firmemente envolvidas em torno da espiga, evitando a dispersão natural. Nas axilas das palhas existem ramos potenciais, o mais terminal deles pode se desenvolver em ramos com espigas em certas variedades e especialmente quando a espiga terminal principal não se desenvolve.

Os pares de espiguetas das espigas diferem das do pendão. As glumas envolvem só parcialmente a espigueta (exceto no milho tunicado). A pequena flor só é parcialmente envolvida pela lema e pálea, e os estames e lodículas abortam. Existe um pistilo funcional com um ovário basal único e longo estilo (barba) que chega a ter 45 cm de comprimento, permitindo a sua exposição através das palhas para polinização. Usualmente, só a flor superior dentro de cada espigueta é funcional.

Nos ancestrais selvagens do milho, uma depressão caliciforme (cúpula) na raquis, juntamente com as asas laterais, formam um meio protetor, a cápsula cupular do fruto, que encerra grãos individuais. No milho, cada par de espiguetas femininas se origina fora da cúpula. O arranjamento polístico das espiguetas que formam o sabugo, resulta de um alto grau de condensação que aumenta o número de fileiras de grãos, usualmente elimina as cúpulas, elimina o espaço intercupular, e cria uma raquis rígida incapaz de se desarticular na maturação.

Os pares de espiguetas femininas são arranjados em uma espiral ao longo do sabugo, o passo da espiral sendo de tal modo que os pares de espiguetas ficam alinhados em fileiras longitudinais ou espirais. Isto resulta, como é usual, em que o número de fileiras de grãos é igual ao dobro do número de fileiras de

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pares de espiguetas. Em algumas poucas raças de milho, contudo, o passo de espiral é de tal sorte, que os pares de espiguetas em espirais adjacentes se sobrepõem como numa parede de tijolos. Nestes casos, o número de fileira pode ser igual ao número de fileiras de espiguetas pareadas, que freqüentemente é um número ímpar.

1. Folha da espiga 2. Cabelos 3. Grãos 4. Sabugo 5. Palha 6. Haste 7. Colmo 8. Nó da espiga 9. Lígula foliar

Figura 2.6. – Espiga de milho

2.1.4. Disrupção da monoícia

A natureza monóica do milho é freqüentemente incompleta. Estames e pistilos podem ser encontrados na mesma espigueta e flores individuais podem ser hermafroditas, mas embora sendo flores funcionalmente perfeitas, elas raramente são formadas. A monoícia é mais freqüentemente quebrada em um setor da inflorescência onde ocorrer flores do sexo oposto, o que é usual. Pendões bissexuados se desenvolvem com frequência nos perfilhos e ocasional no colmo principal, bem como espiguetas estaminadas podem ser formadas na extremidade da espiga, ou como segmento na superfície do sabugo. Um desequilíbrio de luz e temperatura durante o desenvolvimento da inflorescência,causa tais anormalidades, conquanto estejam também envolvidos fatores genéticos.

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2.1.5. Florescimento, polinização e fertilização

A duração do período de crescimento vegetativo depende das condições climáticas. O florescimento geralmente se processa cerca de 40 a 100 dias, mas pode verificar-se até mesmo 10 meses após a germinação. Os cereais tropicais são, com freqüência, extremamente sensíveis aos dias curtos, uma vez que deve ter havido uma forte seleção para maturação no final da estação chuvosa. Os dias longos das regiões mais temperadas podem aumentar, mais do que dobrar, o período de tempo até o florescimento.

A deiscência e dispersão do pólen usualmente ocorre 2 a 3 dias antes da emergência dos estilo-estigmas. A natureza protândirica do milho favorece a polinização cruzada; contudo, há alguma autofecundação porque, usualmente, há grande coincidência do período da emergência do pólen com o da receptividade da barba, e em alguns poucos materiais a protogenia prevalece. A liberação do pólen pode começar desde o nascer do sol até o meio dia, dependendo da temperatura e da umidade, e usualmente se completa com 4 a 5 horas. Em condições extremamente favoráveis, o pólen é capaz de funcionar por um máximo de 24 horas; o tempo quente e seco causa uma redução na viabilidade. A dispersão do pólen ocorre durante 2 a 14 dias, porém, mais freqüentemente de 5 a 8 dias, com um máximo no terceiro dia. O pólen é retido nas anteras até que haja vento suficiente para carregá-lo para longe da planta mãe, aumentando deste modo as chances de polinização cruzada. O pólen pode ser carregado a uma distância de 500 metros. A dispersão escassa de pólen é típica de muitos materiais genéticos e de algumas linhagens comerciais.

Os estilos (barbas) dos grãos da base da inflorescência feminina se alongam e emergem antes dos estilos da parte central e da ponta da espiga. Entretanto, o grande comprimento da espiga de algumas variedades (que pode alcançar 50 a 60 cm) pode fazer com que os estilos da base nunca emerjam, deste modo impedindo a fertilização dos grãos basais. As barbas emergem por cerca de 3 a 5 dias e são receptivas imediatamente após a emergência, assim permanecendo por até 14 dias em condições favoráveis. A germinação do pólen ocorre muito rapidamente quando em contato com os pêlos viscosos do estigma. A fertilização se dá cerca de 12 a 36 horas após a polinização, depois do tubo polínico ter percorrido cerca de 25 cm. Entretanto, o tempo necessário desde a polinização até a fertilização depende muito da temperatura, da umidade e da variedade de milho.

2.1.6. O grão

O desenvolvimento do grão se completa cerca de 50 dias após a fertilização e envolve um aumento de volume, do ovário até o grão, de 1.400 vezes. O grão é um fruto de uma semente, ou cariopse, característico das gramíneas (fig. 2.8). A camada externa (pericarpo) é derivada da parte interna do ovário e pode ser incolor, vermelha, marrom, laranja ou variegada. A ponta do grão é a parte remanescente do tecido que conecta o grão do sabugo e permite uma rápida absorção de umidade. Dentro do grão está o endosperma e o embrião. O endosperma é responsável por aproximadamente 85% do peso total do grão, o embrião 10% e o pericarpo 5%.

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O endosperma é triplóide, originado da fusão de dois núcleos femininos e um núcleo masculino. Com exceção da sua camada mais externa constituída por uma ou (raramente) algumas camadas de células de aleurona o endosperma é constituído principalmente de amido. Uma análise aproximada do grão é dada no Quadro 2.1.. Acamada de aleurona pode ser incolor, vermelha púrpura, azul, bronzeada, marrom, laranja ou amarela, enquanto que o endosperma pode ser branco, amarelo ou laranja. O milho indígena decorativo apresenta com freqüência muitas destas variações.

1. Cicatriz da espiga 2. Envoltório da semente 3. Endosperma 4. Embrião

4a. coleópilo 4b. Plúmula 4c. Escutelo 4d. Radícula

5. Zona preta de abscisão 6. Pedicelo

Figura 04 – Grão de milho

Quadro 2.1. – Análise do grão de milho dentado amarelo (INGLETT, 1970).

Componente Amplitude * (%)

Amido 64,0 – 78,0

Proteína 9,3 – 10,7

Lipídeos 4,0 – 4,8

Fibras 2,1 – 2,3

Cinzas 0,9 – 1,5

* Com base no peso seco.

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Os milhos dentado, duro, farináceo, doce, ceroso e pipoca diferem em seu conteúdo de açúcar e proteína e também no tipo, estrutura e concentração dos grãos de amido. Os milhos pipoca constituem um tipo de milho duro de grãos pequenos. Os milhos duros (“flint”) são usualmente de textura dura devido ao denso arranjo dos grãos de amido com proteína preenchendo os interespaços. A concentração é mais densa na região estilar, diminuindo em direção à base. Os grãos de amido dos milhos farináceos são mais frouxamente dispostos e, conseqüentemente, o grão adquire textura mole. Os milhos dentados são intermediários em sua estrutura. Os grãos de amido são densamente arranjados nas laterais do grão formando um cilindro aberto que envolve parcialmente o embrião. Os grãos de amido da parte central são menos densamente dispostos e farináceos. Forma-se uma coroa deprimida durante a secagem em resultado da concentração dentro do miolo central de concentração menos densa. Os grãos cerosos resultam pelo fato do amido presente estar tão ele na forma de amilopectina. A composição normal do milho comum é de 73 – 78% de amilopectina (molécula ramificada) e 22 – 27% de amilose (molécula não ramificada). A conversão normal de açúcar em amido é mais reduzida nos milhos doces. Portanto, o endosperma contém ambos açucares e polissacarídeos solúveis em água com muito menos amido; isto resulta que o grão se torna contraído e enrugado com a secagem.

O embrião posicionado em uma depressão da face superior do endosperma perto da base do grão. Consiste de um eixo central (a haste embriônica e eixo radicular) e o escutelo, aparentemente uma modificação foliar (cotilédone) que age como um órgão digestivo durante a germinação e desenvolvimento da plântula. A extremidade do broto é envolvida e protegida pelo coleóptilo, enquanto que a coleorriza envolve a raiz primária. O tempo de germinação depende muito da temperatura do solo, variando de cerca de 20 dias (8o C) a 5 – 10 dias (30o C). Diferente de certo teosinte (Z. mexicana) e tripsacum spp. , o milho não apresenta dormência. As sementes de milho mantém um alto nível de viabilidade (95 – 100%) por até 6 anos em condições secas e frias. A redução do teor de umidade para menos de 12%, permite que o grão mantenha a viabilidade enquanto congelado. Os estoques mutantes, incluindo vários milhos doces e farináceos comercias, freqüentemente apresentam baixa germinação das sementes.

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TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DA CULTURA DO MILHO

1. Introdução

O Brasil é um dos maiores produtores mundiais de milho, apesar de apresentar uma baixa produtividade, ao redor de 2.300 kg/ha, sendo superado inclusive por países do terceiro mundo, de nível tecnológico inferior.

A cultura dispõe de um “pacote tecnológico” que permite aos agricultores mais tecnificados atingir níveis de produtividade comparáveis aos de países mais desenvolvidos. Alguns agricultores já alcançaram produtividades acima de 16.000 kg/ha.

A produtividade nacional é afetada pela baixa produtividade da agricultura de subsistência, principalmente no Norte e Nordeste, onde as técnicas de produção são rudimentares, com baixa ou nula utilização dos insumos modernos disponíveis. Nessas duas regiões estão cerca de 30% da área plantada com milho do país, mas a produção mal alcança 10% do total, isso quando não ocorrem adversidades climáticas.

A taxa de utilização de sementes melhoradas na cultura de milho é ainda muito baixa no Brasil, ao redor de 65%, concentrando-se na área situada nas regiões Centro e Sul. As regiões Norte e Nordeste praticamente não usam sementes melhoradas. Na Argentina, este índice é de 100%, enquanto no Chile situa-se em 68%. Nos Estados Unidos e na Europa, o índice é basicamente igual a 100%.

O crescimento sustentado da produção de milho no Brasil depende da regularidade e da complementariedade entre as políticas dirigidas à pesquisa e à produção (crédito, preços mínimos, assistência técnica, etc.) com as de comercialização, dentro de uma ótica ampla de “agribusiness”. As duas primeiras são necessárias para a elevação da produtividade dos fatores (terra, insumos e mão-de-obra) dentro das propriedades rurais. O segundo grupo busca aumentar a eficiência do sistema de distribuição, para a redução da margem de comercialização (adicional de custo no atacado e no varejo), através da minimização das perdas no processo.

Programas de investimento para secagem e armazenamento dentro das propriedades rurais, bem como melhorias no sistema de transporte, distribuição e armazenamento do produto a granel nas regiões de produção e consumo, são fundamentais para aumentar a eficiência do processo de comercialização. É, também, imprescindível a utilização de mecanismos comerciais e mercadológicos, com vistas à ampliação do consumo interno e da ativação das exportações.

2. Caracterização do Estado de Roraima

O Estado de Roraima situa-se no extremo norte do Brasil, entre os paralelos 5°16' e 1°25' ao norte e ao sul do Equador, respectivamente, e entre os meridianos 58°53' Leste e 64°49' Oeste de Greenwich, altitude variando de 90 m a 2.875 m, possui área total 230.104 km2, ocupando uma parte da bacia

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amazônica, representando 8% da Amazônia legal, 6,4% da região Norte e 3% do território brasileiro. As potencialidades agrícola e pecuária são apresentadas não só por sua localização privilegiada pela vizinhança com a Venezuela, Guiana e países do Caribe, mas principalmente pela diversidade de clima, solo, vegetação, relevo e recursos hídricos que apresenta.

Roraima está subdividido entre dois ecossistemas básicos, cerrado ou lavrado (17%) e Mata (83%), que apresentam sistemas de exploração bem distintos. O médio e grande produtor utilizam as áreas de cerrado em atividades concentradas no cultivo do arroz irrigado mecanizado nas várzeas ou, ainda, na exploração da pecuária de corte e de leite e cultivos de soja e milho nas áreas de terra firme. No segundo sistema de exploração destacam as propriedades, localizadas, principalmente, em projetos de colonização e assentamento, que utiliza a terra como principal fator de produção.

Roraima tem experimentado um elevado ritmo de desenvolvimento, atribuído ao crescimento da população, especialmente imigrantes, nas duas últimas décadas SCHAEFER (1994; 1997). Como conseqüência da necessidade de aumento da produção de alimento, os dois ecossistemas sofrem uma pressão de ocupação, servindo de terras para expansão da agricultura e pecuária. Para ilustrar este fato, basta lembrar dos impactos do uso do fogo, descontrolado, sobre as florestas primárias do Estado, durante os meses de fevereiro e março de 1998; estima-se que algo entre 5 e 15% da área estadual foram efetivamente queimadas, sendo a área de Lavrado a mais atingida (vários Anonim., 1998 ).

A grande totalidade dos solos no ecossistema de Lavrado são profundos, de textura média a argilosa ou muito argilosa, drenagem dependente da posição no relevo e presença de camadas coesas abaixo do horizonte A e propício a mecanização. As condições climáticas são variáveis porém, favoráveis a produção de alimentos. De maneira geral, não há limitações graves neste aspecto. A fertilidade dos solos é baixa com sérios problemas nutricionais, tanto na superfície quanto na subsuperfície. Os minerais intemperizáveis na maioria dos Latossolos e Argissolos, solos dominantes nesta região, são raros não havendo, portanto, reserva nutricional. As temperaturas médias anuais são elevadas, girando em torno de 270C. A pluviosidade média anual é de 1.502 mm, concentrada entre os meses de maio a setembro. A característica climática é a alternância de períodos chuvosos e de seca acentuada.

As áreas de cerrado de Roraima, cerca de 1,5 milhões de hectares, apresentam vegetação e topografia que favorecem a mecanização completa do processo produtivo. De modo geral, essas áreas são planas ou com pequena declividade, os solos são de baixa fertilidade natural, com textura variando de arenosa a argilosa, sendo predominantes os Latossolos Amarelo, Vermelho-Amarelo e Vermelho Escuro.

Entre as alternativas para o aproveitamento agrícola dessas áreas de cerrado, o milho inclui-se como opção, por apresentar boa adaptação e produtividade, ter bom valor comercial, possibilitar a rotação de culturas e dispor de tecnologias de produção compatíveis com as condições edafoclimáticas do Estado.

3. Área de Cultivo do Milho

Na escolha da área para o cultivo de milho devem ser observadas as características de textura e drenagem. Solos excessivamente arenosos, menos de 15% de argila, exigem práticas de manejo mais

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onerosas para assegurar o suprimento de água e nutrição às plantas, além de exigirem suprimento e manejo adequados da matéria orgânica para evitar a degradação. Solos arenosos têm baixa capacidade de armazenamento de água e nutrientes e têm alta suscetibilidade à erosão. Em solos com má drenagem não se recomenda o cultivo de milho.

A retirada de arbustos e/ou de pequenas árvores da área deve ser feita com trator de lâmina, e/ou com cabo de aço em condições de boa umidade do solo, evitando-se com isso, a quebra dos arbustos próximos ao chão. A derrubada desses arbustos de forma adequada evitará a quebra de implementos como grade, arado, semeadoras e colheitadeiras. Os arbustos, depois de arrancados, devem ser amontoados e queimados.

3.2. Preparo do Solo

As técnicas de preparo do solo desenvolvidas na Europa e em países sob clima temperado ou frio, para uso em áreas pouco acidentadas e com chuvas de baixa energia, inicialmente foram introduzidas sem modificações no Brasil. Estas técnicas de preparo do solo consistem no enterrio de resíduos vegetais, deixando a superfície do solo descoberta por muitos meses, ou seja, com pousio de inverno com o solo preparado. Contudo, sob condições de altas temperaturas, chuvas intensas e solos com relevo ondulado, o preparo do solo tem causado efeitos desastrosos em termos de perdas do solo por erosão.

O preparo primário do solo nas nossas condições de clima e relevo deve ser feito de forma a não quebrar excessivamente os torrões, deixando o máximo possível de resíduos vegetais na superfície, atingindo profundidades suficientes para quebrar os adensamentos e permitindo uma boa infiltração de água no solo. O preparo secundário do solo deve ser feito com o mínimo de operações possível, evitando a ação pulverizadora das grades e a compactação do pneu do trator e das máquinas sobre o solo solto. Todas as operações de preparo e plantio devem ser feitas em nível.

As operações de preparo do solo somente deverão ser executadas quando visam atender a pelo menos um dos seguintes objetivos:

a) Eliminação de plantas não desejáveis, diminuindo a concorrência com a cultura implantada;

b) Obtenção de condições favoráveis para a colocação de sementes ou partes de plantas no solo, permitindo a sua boa germinação e emergência, além de bom desenvolvimento;

c) Manutenção da Fertilidade e da Produtividade ao longo do tempo, preservando a matéria orgânica no solo e evitando a ocorrência de erosão.

Os objetivos devem ser atingidos com o menor número possível de operações sobre o terreno, reduzindo o tempo e o consumo de combustível necessários para a implantação da cultura, sempre conservando os solos.

De acordo com a situação de cada propriedade, as características do solo, do clima e das diferentes culturas, outros objetivos podem ser previstos no preparo do solo:

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a) Eliminação de camadas compactadas para aumento da infiltração de água no solo, evitando a erosão;

b) Incorporação e mistura ao solo de calcário, fertilizantes ou produtos agroquímicos;

c) Enterrio de restos vegetais agrícolas;

d) Nivelamento do terreno para conseguir uma boa performance das máquinas e equipamentos, desde o plantio até a colheita;

e) Obtenção de superfície ondulada apropriada à implantação de culturas, como cana-de-açúcar, ou à colheita de batata inglesa;

f) Preparo da superfície do terreno (diques, canais, nivelamento, sulcos) para usar a irrigação nas lavouras;

g) Quebra das crostas superficiais para permitir a germinação normal das sementes;

h) Adensamento do solo, caso este se encontre em estado excessivo fofo, para melhorar o contato da semente com o solo; e

i) Armazenamento da água no solo.

O tipo de preparo de solo a ser realizado numa área depende de muitos fatores. Cada situação a nível de propriedade, de acordo com as condições de cada terreno, requer uma decisão própria. Em cada caso definir-se-ão os objetivos e modo de preparo do solo de acordo com: “grau de infestação de ervas daninhas, resíduos vegetais que se encontram na superfície, culturas a plantar, umidade do solo, existência de camadas compactadas, riscos de erosão e máquinas de plantio disponíveis”.

Para preparar o solo com o uso de um trator e máquinas o preparo das áreas de cerrado de Roraima deve ser feito, preferencialmente, com arado de disco (Fig 1.a), aiveca (Fig 1.b) ou grade aradora (Fig 2.a).

No preparo do solo com o arado de aiveca consegue-se uma melhor penetração no solo, especialmente em condições adversas, como é o caso de solo seco ou compactado. No entanto, as desvantagens do uso do arado de aiveca são superiores, principalmente em solos argilosos, pois os mesmos apresentam uma alta capacidade de adesão, grudando o solo na aiveca e não permitindo a inversão perfeita da leiva. Nessas condições o solo é mais bem rasgado, mas permite somente uma inversão parcial.

O uso de escarificadores (Fig 2.b), muitas vezes dever ser adotado no preparo primário do solo para romper o solo da camada arável, até o máximo de 25 a 30 cm. Pela forma de trabalhar o escarificador pulveriza menos o solo do que o arado, deixando a superfície do terreno escarificado sem enterrar a maior parte dos resíduos vegetais. Altamente válido no controle da erosão o seu uso é apropriado para quebar as camadas compactadas existentes nas superfícies dos solos mecanizados.

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a- Arado de discos b- Arado de aivecas

Figura 1 – Detalhes dos arados de discos e de aivecas.

a- Grade de discos off-set ou em V b- Escarificador de seis braços

Figura 2 - Detalhes de uma grade de discos em V e de um escarificador de seis braços.

O primeiro preparo da área deve ser realizado no final do período chuvoso anterior ao do plantio, visto que preparando nesta época, cria-se condições para a decomposição do capim nativo incorporado e, também, condições de trabalho do solo durante o período seco, quando poderão ser feitas a correção do solo, construção de terraços e o preparo final com grade niveladora. Dessa maneira, o produtor não perderá tempo com preparo do solo no início do período chuvoso, dedicando-se exclusivamente ao plantio da lavoura. Todas as operações de preparo deverão ser realizadas em curvas de nível entre os terraços, evitando assim, o uso excessivo de gradagens. Devem ser feitas em condições de umidade adequada e profundidades de 15 a 20cm.

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Quando os solos já estiverem corrigidos com calcário, fósforo e micronutrientes, ou seja, a partir do segundo ano, deve-se optar pelo plantio direto que dispensa o preparo do solo, sendo que neste caso, deve ser usado herbicida para o controle das invasoras.

3.2.1 Terraceamento

Trata-se de uma medida de conservação do solo necessária para a contenção das águas das chuvas. Essa prática é importante sempre que a declividade do terreno for maior que 2% e não se optar pelo plantio direto. Em terreno com 2% a 6% de declividade pode-se construir terraços com base larga, em nível, pois estes permitem o plantio em toda área. Quando a declividade for superior a 6%, deve-se fazer em camalhão, construídos com arado de disco e com desnível de sulco não superior a 1/1.000, recomenda-se que os terraços não ultrapassem a 600 m de comprimento.

O preparo do solo sempre deve acompanhar as linhas de nível do terreno, seja em áreas terraceadas ou não. Nas áreas terraceadas deve-se prestar atenção durante aração para que o canal esteja sempre com secção mínima de um metro quadrado após o trabalho de preparo do solo. Para tanto, faz-se a limpeza do canal após o preparo do solo.

Figura – Plantio em terraços

3.2.2 Correção e manutenção da fertilidade do solo

O trabalho de correção e manutenção da fertilidade do solo inicia com a coleta de amostras de solo na área a ser plantada e análise em laboratórios de solo credenciados pela Sociedade Brasileira de Ciência do Solo. A partir desta análise se determinará a quantidade de corretivos e fertilizantes a serem aplicados ao solo.

4. SEMEADURA

4.1. Cultivares Recomendadas

As pesquisas com introdução, avaliação e seleção de cultivares para o cultivo de milho em Roraima apontam algumas cultivares recomendadas para o Estado (Tabela 1). Na escolha da cultivar, além da

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produtividade, deve-se considerar, a resistência à doenças e tolerância aos herbicidas a serem aplicados (2,4 D e Nicosulfuron).

Tabela 1 - Cultivares de milho comerciais e seu desempenho nas condições de cerrado de Roraima (EMBRAPA Roraima, 1996, 1999 e 2000)

Cultivar Tipo Firma Produtividade

(kg.ha-1)

BR 3123 Híbrido Triplo EMBRAPA 9.000,00

D-675 Híbrido Simples DINA MILHO 8.800,00

BR 205 Híbrido Duplo EMBRAPA 8.700,00

D-766 Híbrido Simples DINA MILHO 8.600,00

D-170 Híbrido Duplo DINA MILHO 8.400,00

AG-6018 Híbrido Triplo AGROCERES 8.100,00

C-333B Híbrido Simples CARGILL 8.300,00

AG-1051 Híbrido Duplo AGROCERES 8.000,00

XL-214 Híbrido Simples BRASKALB 7.800,00

TORK Híbrido Simples NORVARTZ 7.800,00

XL-660 Híbrido Duplo BRASKALB 7.800,00

AG-5011 Híbrido Triplo AGROCERES 7.700,00

AG 2662 Híbrido Simples AVENTIS 7.600,00

P30F80 Híbrido Simples PIONEER 7.500,00

MASTER Híbrido Triplo NOVARTZ 7.500,00

BR 206 Híbrido Duplo EMBRAPA 7.500,00

XL-251 Híbrido Simples BRASKALB 7.300,00

BRS 3010 Híbrido Triplo EMBRAPA 7.000,00

BR 201 Híbrido Duplo EMBRAPA 6.900,00

4.2. População de Plantas e Espaçamento.

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Nas áreas recentemente abertas (um ou dois anos), os solos ainda carecem de algumas melhorias na fertilidade e na capacidade de armazenar água que vão ser melhoradas com adição de matéria orgânica e com o surgimento de atividade microbiana mais intensa. Por essa razão se recomenda populações entre 40 a 45 mil plantas por hectare.

O espaçamento entre linhas deve atender as características das máquinas de plantio e colheita. Entretanto, o espaçamento não deve ser reduzido, pois pode dificultar o acesso das raízes do milho a adubação de plantio.

4.3. Velocidade de Semeadura.

Além da qualidade da plantadora, da boa regulagem da mesma, a velocidade moderada de plantio é essencial para altas produtividades. Os efeitos danosos de velocidade alta aparecem na forma de pior distribuição das sementes, com maior variação na distância média de uma semente para outra, maior número de “falhas” e maior número de “duplas” ou às vezes até “triplas”. Altas velocidades tendem também a jogar menos semente por área, com redução na população final refletindo na produtividade. Recomenda-se velocidades de 4,5 a 5 km.h-1 para plantadoras de discos e até 6km.h-1 para plantadoras de “dedos” ou pneumáticas.

4.4. Época de Semeadura

Esta etapa está relacionada com o início das chuvas e com o ciclo da cultivar escolhida para o plantio. Como o período de chuvas dos cerrados é curto, a maturação e colheita das cultivares deve ocorrer a partir de setembro quando acabam as chuvas mais intensas. A observação do período de maturação é importante para evitar perdas e deterioração dos grãos provocadas pelo excesso de chuvas, caso a maturação ocorra em agosto, ou perda de produtividade quando a formação do grão não estiver completa antes do término das chuvas. A semeadura pode iniciar na segunda quinzena de abril, caso haja umidade suficiente, devendo encerrar até 05 de junho.

4.5. Tratamento das Sementes

Estudos mostram diferenças de mais de 50% na produtividade do milho quando as sementes são tratadas. Considerando a facilidade e o baixo custo, a recomendação atual para o controle das pragas subterrâneas e/ou lagarta elasmo é através do tratamento de sementes. Os produtos usados registrados para milho são utilizados na base de 2,0 kg ou litros do produto comercial para 100 kg de sementes.

Alguns produtos têm classificação toxicológica III (rótulo azul), portanto não são prejudiciais ao meio ambiente. Todos os produtos são formulados prontos para o uso, não havendo necessidade de adicionar água.

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5. PRÁTICAS CULTURAIS

5.1. Controle de plantas daninhas.

Em solos de primeiro e segundo anos de plantio, não há necessidade do produtor se preocupar com o controle de invasoras. Entretanto, a partir do terceiro ano, são necessárias práticas rigorosas de controle. Cabe salientar que a melhor medida de controle é a prevenção. Evitar a entrada de sementes daninhas através de máquinas e implementos, preparar adequadamente o solo, fazer sua cobertura, fazer boas adubações, cuidar para que as plantas tenham densidades adequadas e fazer o plantio com a profundidade recomendada, são práticas que favorecem a ocupação dos espaços pelo milho deixando-o sempre em condições superiores na competição com o mato. Entre as práticas de controle estão aquelas que usam herbicidas. Na tabela 12, mostra-se a eficiência de alguns herbicidas no controle de invasoras e, na tabela 13 são sugeridas alternativas para o controle químico das mesmas.

5.2. Controle de pragas

A cultura do milho pode ser atacada por pragas, tanto na fase vegetativa quanto na reprodutiva, sendo que, as pragas iniciais, devido ao dano causado e à dificuldade de serem controladas, tem sido o de maior preocupação em termos de manejo (ver Tabelas 10 e 11). Além das pragas do solo, como cupins, percevejo castanho, larva arame, larva de Diabrotica, entre outras, a lagarta elasmo (Elasmopalpits lignosellus,), contribuem para reduzir substancialmente o número de plantas de milho.

Outras pragas que eventualmente podem danificar ou mesmo matar a planta jovem de milho são a lagarta-rosca (Agrotis ipsilon), lagarta do cartucho (Spodoptera frugiperda) e cigarrinha das pastagens (Deois flavopicta). A parte aérea do milho é atacada por pragas como curuquerê dos capinzais (A focis Iatipes), cigarrinha das pastagens (Deois flavopicta) cigarrinhas (Peregrinus maidis e Dolbulus rnaidis) e o pulgão do milho (Rhopalosiphum maidis). Mas a lagarta do cartucho (Spodoptera frugi,perda) é a maior preocupação dos agricultores podendo causar reduções de até 20% na produtividade.

Apesar dos danos pelo ataque de pragas serem preocupantes, não se recomenda o controle preventivo com produtos químicos, pelo fato destes produtos, quando aplicados desnecessariamente, elevarem o custo da lavoura. Recomenda-se, portanto, para o controle, o Manejo de Pragas, que consiste em permanecer vigilante na lavoura através de inspeções regulares a fim de verificar o nível de ataque. Na escolha de produto químico para o controle das pragas, considerar sua toxicidade o efeito sobre inimigos naturais, além de custos por hectare. Estes inseticidas estão relacionados nas tabelas 14, 15 e 16.

5.3. Controle de Doenças

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Já foram identificadas mais de vinte doenças na cultura do milho no Brasil, contudo, pela freqüência e intensidade com que ocorrem, somente algumas apresentam importância econômica. Esta varia de região para região e, muitas vezes, de ano para ano, conforme variações climáticas.

As principais doenças foliares são; Helmintosporiose (Helminthosporium turcicum; H. maydis; h. carbonum); as ferrugens (Puccinia sorghi, p. polysora) e, ultimamente a cercosporiose. Também ocorrem a podridão do colmo e das raízes causadas por: Fusariose (Fusarium spp); Antracnose (Colletotrichum graminicola); Podridão de Diplodia (Diplodia maydis) a Podridão de Physoderma (Physoderma maydis) e Podridão seca (Macrophomina phaseolina).

Algumas práticas contribuem para evitar a ocorrência de doenças: tratamento das sementes com fungicidas, rotação de culturas, controle de plantas daninhas, utilização de cultivares resistentes, uso de sementes de boa qualidade, seguir o espaçamento e densidade de plantio recomendados e, fazer adubações balanceadas para controle de doenças do milho.

6. COLHEITA

A colheita mecânica do milho requer um planejamento bem feito de todas as fases da cultura. Deve-se executar um bom preparo do solo, a fim de que a máquina possa desenvolver velocidade racional e econômica; a escolha da cultivar a ser plantada, pois existe uma relação estreita entre o porte da planta e a perda de espigas. Cultivares de porte alto apresentam inconvenientes para a colheita mecânica.

A colheitadeira deve ser regulada no campo antes de iniciar a colheita. O cilindro adequado para a debulha do milho é o de barras, a distancia entre este e o côncavo é regulada de acordo com o diâmetro médio das espigas. A distância deve ser tal que a espiga seja debulhada sem ser quebrada e o sabugo saia inteiro ou, no máximo, quebrado em grandes pedaços.

A rotação do cilindro debulhador é regulada conforme o teor de umidade dos grãos, ou seja, quanto mais úmido maior será a dificuldade de debulhá-los, exigindo maior rotação do cilindro batedor. A medida que os grãos vão perdendo umidade, eles se tornam mais quebradiços e mais fáceis de serem debulhados, sendo necessário reduzir a rotação do cilindro. Pesquisas feitas no CNPMS, confirmam que a umidade alta (22-24%), há maior dificuldade de debulha, sendo recomendado colher com rotações entre 600 e 700 rpm. Os resultados mostram que os índices de danos nos grãos são menores quando colhidos em rotações mais baixas e teores de umidade inferiores a 16%.

A faixa de rotação recomendada para o milho é entre 400 e 700 rpm; e a velocidade de deslocamento da colheitadeira deve ser na faixa de 4,5 a 5,8 km.h-1.

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Figura 6 - Colheita mecanizada da cultura do milho

7. SISTEMAS AGRÍCOLAS

Os monocultivos, explorados por muitos anos consecutivos nos solos férteis do sul e sudeste do País, parecem não ser boas alternativas para os solos do cerrado, principalmente, no caso de Roraima. O clima quente durante todo ano, muita chuva concentrada em curto período, solos pobres química, física e biologicamente, exigem o uso de sistemas agrícolas apropriados.

Esses sistemas devem ter como princípios básicos manter o solo coberto, durante todo ano, com quantidades abundantes de vegetação viva ou morta, capaz de atender à intensa transformação que ocorre no solo dessa região e, utilizar sistemas de plantio que mobilizem a mínima quantidade de solo. Dessa forma, o solo estará protegido do sol, da chuva do deslocamento da água em sua superfície e, conseqüentemente, da perda de matéria orgânica e nutrientes pela lixiviação e erosão.

Criar essas condições implica na adoção de práticas como o plantio direto, a rotação de culturas, a associação de culturas econômicas com espécies produtoras de grandes quantidades de biomassa, o uso de culturas que consigam vegetar após a colheita do milho e fazer a cobertura do solo durante o período seco.

Sistemas bem elaborados e planejados permitem organizar melhor a distribuição das culturas na propriedade agrícola, ampliar o período de plantio e da área plantada, diminuir os riscos de insucesso devido às condições adversas do clima, reduzir o tamanho da frota de máquinas, abrir espaço para integração lavoura/pecuária e aumentar a lucratividade.

Benefícios extraordinários são obtidos na melhoria das características físicas, químicas e biológicas do solo, aumentando a capacidade de armazenar e fornecer água e nutrientes para as plantas, elevar os

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teores de matéria orgânica e melhorar a eficiência das adubações. Obtêm-se também benefícios no controle de ervas daninhas, pragas e doenças das culturas principais.

Enfim para plantio de milho nos cerrados implica em reconhecer a necessidade de plantar soja, arroz, sorgo, pastagens e leguminosas para adubação verde ou cobertura do solo, bem como a exploração da pecuária.

Um sistema que demonstrou alta viabilidade nos trabalhos de pesquisa, em Roraima, é o plantio de Estilosantes e Guandu consorciados com o milho. Planta-se o milho e entre as fileiras planta-se as leguminosas. No ano seguinte roça-se as leguminosas e faz-se o plantio direto do milho.

CALAGEM E ADUBAÇÃO DO MILHO1

1. Introdução

O milho é cultivado em praticamente todas as regiões do Brasil. Embora a produtividade média no país esteja em torno de 2 t/ha, agricultores com bom nível tecnológico, utilizando material genético de boa qualidade, consegue normalmente colher 8 t/ha ou mais, e há registro de produções superiores a 16 t/ha em área não irrigada. Esses números dão uma idéia da elasticidade de produtividade dessa gramínea.

Os custos de produção de um hectare de milho para os agricultores no Brasil têm variado em torno de valores equivalentes a 2 a 3,5 toneladas de grãos, conforme os preços do produto e dos insumos no mercado interno. Assim, a obtenção de altos rendimentos em grãos é um imperativo para tornar a cultura economicamente atraente. O manejo da adubação e da calagem é, sem dúvida, uma das principais maneiras de garantir alta produtividade, pois o adequado fornecimento de nutrientes é essencial para o bom desenvolvimento da cultura.

A fertilidade do solo é um dos condicionantes da produtividade do milho, por isso as recomendações de adubação devem levar em conta parâmetros de análise do solo. Serão examinados nesse capitulo dados experimentais de trabalhos de adubação e calagem, com ênfase naqueles desenvolvidos em condições de campo, e suas relações com as tabelas de adubação em uso no Brasil, as quais, geralmente, visam a obtenção de produtividade até cerca de 6 t/ha. Todavia, agricultores mais tecnificados podem adequar a adubação para conseguir maiores rendimentos, maximizando os retornos econômicos com a cultura.

2. A Análise de Solo na Adubação do Milho

A análise de solo é a técnica mais eficiente de se obter um diagnóstico da sua fertilidade e conhecer a disponibilidade dos nutrientes e a presença de elementos tóxicos ou prejudiciais para as plantas. Assim, a análise de solo é uma ferramenta imprescindível para orientar a adubação do milho.

1 – Adaptado de Heitor Cantarella do Livro: “Cultura do milho: Fatores que afetam a produtividade”.

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A interpretação dos teores e índices mais comumente usados nas análises de fertilidade são apresentados nas Tabelas 1 e 2. Os limites de pH referem-se a determinações feitas em CaCl2 0,01M. Os valores correspondentes para pH em água são cerca de 0,5 a 0,6 unidades mais altos, mas a diferença diminui à medida que o pH se aproxima de 7. Os limites de classe variam conforme a região e o extrator usados. As maiores diferenças, no entanto, se referem ao fósforo. No Brasil são utilizados dois extratores: Mehlich (H2SO4 0,025N + HCl 0,05N) e resina trocadora de íons. O extrator de Mehlich é adotado em quase todo o país, mas foi substituído em São Paulo (e em vários laboratórios independentes em outros Estados) pela resina, a qual discrimina melhor a disponibilidade de fósforo, especialmente em solos argilosos ricos em óxidos de ferro e alumínio. Os resultados analíticos obtidos pelos dois métodos não são conversíveis entre si, pois eles não extraem necessariamente as mesmas frações do fósforo do solo. RAIJ et al. (1983 b) calibraram o método de resina para a cultura do milho, obtendo um ajuste melhor que o obtido anteriormente com o extrator ácido. Os limites de classe para a resina independem da textura, mas para o método de Mehlich eles variam com o teor de argila do solo.

3. Calagem, Cálcio e Magnésio

O milho se desenvolve bem em solos com pH próximo da neutralidade, embora existam materiais genéticos mais tolerantes às condições de acidez. Portanto, a calagem é uma prática importante para o cultivo do milho em solos ácidos.

Tabela 1. Interpretação de parâmetros ligados aos resultados de acidez obtidos na análise de solos para fins de fertilidade.

Acidez pH CaCl2

Saturação por base

Saturação por Al

----------------- (%) ----------------

Muito alta <4,3 >90 > 60

Alta 4,4-5,0 71-90 41-60

Média 5,1-5,5 51-70 21-40

Baixa 5,6-6,0 26-50 0-20

Muito baixa >6,0 0-25 -

Fonte: RAIJ et al. (1985); COMISSÃO DE FERTILIDADE DO SOLO DO ESTADO DE MINAS GERAIS (1989).

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Durante muito tempo utilizou-se no Brasil o critério da neutralização do alumínio trocável para a recomendação de calagem. No entanto, resultados experimentais mostram que o teor de alumínio não é, em muitos solos, o único componente da acidez que afeta o desenvolvimento das culturas, e que maiores rendimentos poderiam ser conseguidos com doses de calcário além daquelas necessárias para neutralizar aquele elemento. Assim, no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina passou-se a utilizar um método (tampão SMP) objetivando elevar o pH do solo a 6,0 para culturas como o milho. As necessidades de calagem por esse critério são bem mais elevadas do que pelo método do alumínio, mas as produções obtidas também são maiores e economicamente compensadoras, especialmente se elevar em conta o efeito residual do calcário.

Em São Paulo, vários estudos realizados principalmente a partir do início dos anos 70 mostraram que o critério do alumínio trocável subestimava a necessidade de calcário para o milho e outras culturas. Isso pode ser ilustrado pelos dados da Tabela 3, que mostra que o milho responde a doses de calcário maiores do que apenas aquela necessária para neutralizar o alumínio trocável. Com base nesses e em outros dados, RAIJ et al. (1983 a) e QUAGGIO et al. (1983) propuseram a adoção do critério da saturação por base (V) para a calagem, sendo 60% o valor mínimo de saturação da CTC do solo a ser mantido para a obtenção de altos rendimentos com a cultura do milho. O cálculo da calagem para o milho é feito visando elevar a saturação por bases a 70%, pois a reação do calcário com o solo não é completa; além disso, há perdas de bases por lixiviação e nem sempre se atinge o valor de V desejado.

Tabela 2. Interpretação dos resultados de alguns parâmetros de análise de solos para fins de fertilidade.

Classe de teor

Valores limites 1

P (resina) K Mg S P (Mehlich)2

Z (Mehlich)3

(µg/cm3) --- (meq/100cm3) --- ------------ (µg/cm3) ------------

Muito baixo 0- 6 0-0,07 - - - -

Baixo 7-15 0,08-0,15 0-0,4 < 2,0 0-10 -

Médio 16-40 0,16-0,30 0,5-0,8 2,0-5,0 11-20 1,0

Alto 41-80 0,31-0,60 > 0,8 > 5,0 > 20 -

Muito alto > 80 > 0,60 - - - -

1K e Mg trocáveis; S estraído por KH2PO4 0,01 M.

2 Limites de classes variam com a textura. Os números apresentados são para solos de textura média.

3 Limite crítico.

Fonte: RAIJ et al. (1985); COMISSÃO DE FERTILIDADE DO SOLO DE GOIÁS (1988); COMISSÃO DE FERTILIDADE DO SOLO DO ESTADO DE MINAS GERAIS (1989).

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Tabela 3. Respostado milho à calagem em quatro ensaios conduzidos em solos do Estado de São Paulo e comparações dos valores de necessidade de calagem pelos métodos do alumínio e de saturação por bases.

Calcário aplicado (t/ha)

Produção

(Kg/ha)

Calagem pelo método (t/ha)

Produção calculada (Kg/ha)

-------------------------- Mococa (soma de 5 colheitas) ---------------------------

0 14.860

3 22.890 Al = 2,8 22.400

6 27.200

9 29.900 V = 5,1 26.200

------------Pariquera-Açu (soma de 2 colheitas de milho verde)1 -------------

0 12.800

6 17.200 Al = 2,9 15.000

12 22.400

18 22.90 V = 7,5 18.200

24 23.200

------------------- Itararé (soma de 2 colheitas) ----------------------------------

0 1.770

3 9.540 Al = 3,3 10.800

6 13.550

9 16.910 V = 8,9 16.800

12 14.260

1Calcário calculado para saturação por bases = 50% (solo orgânico); demais, doses para V = 70%.

Fonte: RAIJ et al. (1983a); QUAGGIO et al. (1985b, 1990).

O critério da saturação por bases recomendada doses em média três vezes superiores às necessárias para neutralizar o alumínio trocável, mas muito próximas daquelas obtidas pelo método SMP para pH

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6,0. Para evitar investimento muito alto ou prevenir problemas causados por calagens excessivas em caso de erro na amostragem ou na análise de solo, em São Paulo recomenda-se não utilizar doses de calcário superiores a 10 t/ha para o milho.

Em solos orgânicos, QUAGGIO et al. (1985b) observaram que é possível reduzir as recomendações de calagem para níveis inferiores aos preconizados para os outros solos, sendo que para a cultura do milho esses níveis podem ser da ordem de 40 a 50% da saturação por base.

Em solos de cerrado do Brasil Central há o receio de que altas doses de calcário possam provocar deficiências de micronutrientes e, por isso, tem-se recomendado manter aqueles solos com saturação por base até 50%, que equivale atingir pH 6,0 (em água). Em Minas Gerais recomenda-se elevar a saturação por base para 60%.

Na maioria dos Estados ao norte de São Paulo normalmente ainda prevalece a recomendação de calcário pelo critério do alumínio. Contudo, para contar os problemas das baixas doses de calcário calculadas por esse critério para alguns solos, as fórmulas de calagem procuram garantir um valor mínimo de Ca+Mg no solo, geralmente de 1 a 3 meq/100cm3 , conforme a textura. Em Minas Gerais, a fórmula utilizada para o cálculo da calagem para o milho é:

N.C. = Y. Al + [2 - (Ca + Mg)]

O valor de Y é 1 para solos com menos de 15% de argila, 2 para solos com 15 a 35% de argila e 3 para solos mais argilosos . Outras variações dessa fórmula são usadas em Goiás, Rio de janeiro e Bahia.

A calagem apresenta um grande efeito residual, de modo que sua ação perdura por vários anos (Tabela 4), o efeito se estendeu para 7 anos, cinco com milho e dois com algodão e soja. Assim, a calagem deve ser considerada como um investimento a ser amortizado ao longo de alguns anos e o balanço econômico para a cultura do milho é geralmente bastante favorável (tabela 5). Nesse caso, embora a calagem não tenha dado lucro no primeiro ano, considerando-se o período cinco anos com a cultura do milho, o retorno ao investimento feito com a calagem foi de 6,6 a 11,2 cruzeiros por cruzeiro investido.

A correção da acidez é importante para garantir o ambiente ideal para o desenvolvimento do sistema radicular e facilitar a absorção de nutrientes. Assim, a incorporação do calcário deve ser feita o mais profundamente possível, a fim de neutralizar a acidez de um volume maior de solo, pois o calcário tem baixa solubilidade e, á curto prazo, sua ação se manifestará principalmente na região de contato com o produto. Isso é importante principalmente em solos com acidez em superfície, onde o alumínio inibe o crescimento radicular, predispondo a planta a danos maiores em casos de veranicos e reduzindo a absorção de água e nutrientes. Os dados da tabela 6 mostram que a incorporação de calcário até 30cm em solo ácido de cerrado mostrou-se mais eficiente para a produção de milho que aquela feita até somente 15cm. O solo em questão apresentou níveis tóxicos de alumínio em todo o perfil; plantas

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sensíveis como o milho tem dificuldade em aprofundar as raízes além da camada corrigida pelo calcário.

Com o tempo, as bases adicionais pelo calcário vão sendo lixiviadas, facilitando a penetração das raízes e, alguns casos, podem ajudar a alterar a reação do solo em horizontes subsuperficiais. RAIJ et AL. (1982) e QUAGGIO et al. (1985 a) estimaram as perdas de bases, em solos que receberam calcário, em cerca de 20%, por ano, dos teores de cálcio e magnésio trocáveis.

QUAGGIO et al. (1991) observam em um Cambissolo álico que, nas áreas tratadas quatro anos antes com doses de calcário superiores a 9t/ha (para V% = 70%), as raízes do milho atingiram até 1m de profundidade, ao passo que nas parcelas sem calcário o sistema radicular ficou restrito aos 20cm superficiais, onde a presença de maiores teores de matéria orgânica reduz o efeito tóxico do alumínio. A absorção de nitrogênio pelo milho quintuplicou em função do aprofundamento do sistema radicular nas áreas tratadas com 9t/ha de calcário. Esse efeito de calagem pode ser muito importante para aumentar o aproveitamento, pelo milho, da adubação nitrogenada porventura perdida por lixiviação.

Em algumas situações, a aplicação de gesso, que leva calcário e reduz a atividade do alumínio nas camadas subsuperficiais, contribui para aprofundar o sistema radicular do milho, facilitando a absorção de água e do nitrato presente no subsolo, como mostraram os dados de SOUSA & RITCHEY (1986). CARVALHO et al. (1986) observaram um maior aprofundamento do sistema radicular do milho ao tratar com gesso solos deficientes em cálcio e ricos em alumínio trocável em subsuperfície. Como conseqüência, ocorreu maior absorção de nitrogênio, potássio e enxofre e maior tolerância ao déficit hídrico; a aplicação de gesso foi mais elevada para o aumento da produção de grãos em situações com déficit hídrico que com suprimento adequado de água no solo (Tabela 7).

Cultivares ou híbridos de milho tolerantes ao alumínio, que conseguem aprofundar o sistema radicular em solos ácidos, normalmente também respondem à calagem. Um exemplo é o HS-1227, que produziu 1.800 kg/ha de grãos em um solo com V = 4%, mas alcançou mais 5.500 Kg/ha quando esse solo foi corrigido para V = 63%; nessas mesmas condições, o híbrido sensível a alumínio HS-7777 produziu 900 e 6.500 Kg/ha respectivamente.

Os teores de cálcio e magnésio dos corretivos podem alterar a relação desses nutrientes no solo. No entanto, QUAGGIO et al. (1985 a) observaram que o milho respondeu igualmente à aplicação de calcários com diferentes teores de magnésio (dolomítico, magnesiano, calcítico). Os dados indicaram que se o teor de magnésio no solo for superior a 0,8 meq/100 cm3, a concentração desse elemento no calcário é de importância secundária. Aparentemente, o milho é pouco sensível a variações na relação Ca/Mg do solo e essas devem afetar a produção apenas se atingirem valores extremos ou se um dos elementos estiver presente em concentrações muito baixas no solo, como ocorreu no ensaio relatado por SILVA (1980), que observou um decréscimo substancial no crescimento do milho em vasos quando a relação Ca/Mg era de 0,06 e o teor de cálcio era de 0,15 meq/100 cm3.

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4. Fósforo

As respostas à aplicação de fósforo em milho têm sido altas e freqüentes devido à baixa disponibilidade desse elemento na maioria dos solos brasileiros, como mostram as revisões de vários autores, compilados no trabalho de OLIVEIRA et al. (1982). Na série de ensaios relatados por BAHIA et al. (1973), somente nos Latossolos Roxos eutróficos não foram observadas respostas a fósforo. No Estado do Paraná, os resultados de uma série de 92 ensaios evidenciaram altas respostas em Latossolos Roxos distróficos e respostas menores em Latossolos Roxos eutróficos e Terras Roxas estruturadas.

A análise de solo tem se mostrado útil para discriminar respostas de milho à adubação fosfatada, como demonstraram, entre outros, os trabalhos de MIRANDA & JORGE (1971), MIRANDA & MIRRANDA (1971), RAIJ et al. (1981) e MUZILLI et al. (1982). Os dados obtidos a partir de 25 ensaios de campo conduzidos no Estado de São Paulo, ilustra o fato de que altas respostas devem ser esperadas em solos com teores de fósforo na faixa “muito baixo”, diminuindo à medida que o teor do elemento no solo aumenta; as produtividades médias também aumentaram com a elevação da disponibilidade de fósforo no solo, medida pela análise de solo. No oeste do Paraná, os rendimentos em grãos obtidos em Terras Roxas Estruturadas com teores altos de fósforo giraram em torno de 6 a 8 t/ha e os aumentos decorrentes do uso de adubo foram inferiores a 10%.

As quantidades de fósforo, recomendadas na adubação do milho em alguns Estados brasileiros, em função do teor de nutriente no solo e em função do teor de argila. Essas doses são para aplicação no sulco de plantio e são menores que as utilizadas em outros países em lavouras de alta produtividade, onde as doses máximas recomendadas variam de 120 a 250 Kg/ha de P2O5. No entanto, elas são coerentes com as expectativas de produção da cultura do milho das tabelas de adubação atualmente em uso no país.

Tabela 4 - Recomendação de adubação fosfatada corretiva, a lanço, e adubação fosfatada corretiva gradual, no sulco de semeadura, de acordo com a disponibilidade de P e com o teor de argila do solo, em sistemas agrícolas com culturas anuais de sequeiro.

Teor de argila

(%)

Corretiva total Corretiva gradual

Muito baixo Baixo Médio Muito baixo Baixo Médio

------------------------------------kg ha-1 de P2O53------------------------------

<=15 60 30 15 100 95 93

16 a 35 100 50 25 110 100 95

36 a 60 200 100 50 130 110 100

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Em solos onde o fósforo é o elemento limitante (teores “muito baixos” ou “baixos”) existe a opção de se fazer uma adubação corretiva, com a incorporação do adubo fosfatado em área total, antes do plantio, com o objetivo de aumentar o potencial de produtividade da cultura já no primeiro ano. LOBATO (1982) relata respostas a até 600 Kg ha -1 de P2O5 aplicado a uma cultura de milho em solo de cerrado. As recomendações para adubação corretiva em Goiás variam de 50 a 240 Kg ha -1 de P2O5, conforme o teor de fósforo e de argila no solo; em Minas Gerais recomenda-se aplicar 4 Kg ha -1 de P2O5 para cada 1% de argila no solo quando este tiver até 5 ppm de fósforo disponível.

A decisão de se aplicar uma adubação corretiva depende fundamentalmente de aspectos econômicos. VASCONCELLOS et al. (1986), em experimento realizado em um solo pobre em fósforo em Minas Gerais, calcularam que o lucro Maximo para o milho naquelas condições seria obtido com 200 Kg/ha de P2O5 a lanço no primeiro ano e doses anuais de 150 Kg ha -1de P2O5 no sulco. No entanto, com apenas a adubação anual no sulco, o lucro seria somente 14% inferior ao máximo.

O fósforo tende a se acumular no solo, de modo que o efeito da adubação corretiva perdura por vários anos. Por outro lado, o teor de fósforo no solo pode também ser aumentado gradualmente com aplicações anuais no sulco. Um experimento com dez colheitas de milho, realizada em solo pobre de cerrado, mostrou, a longo prazo, que as produções de grãos de milho acumuladas em dez colheitas foram função do total de fósforo aplicado, independente do parcelamento: se todo de uma vez, no início, a lanço, ou se anualmente no sulco, ou se parte a lanço, no início, e parte anualmente no sulco; ao mesmo total de 640 Kg ha-1 de P2O5 aplicado de três maneiras distintas corresponderam produções equivalentes, cerca de 44 t/ha.

Para as fontes de fósforo solúveis, granuladas, as aplicações a lanço na cultura do milho têm geralmente eficiência semelhantes àquelas em sulco. Porém, para as doses maiores pode haver uma vantagem em se aplicar a lanço, enquanto para doses baixas, como as normalmente recomendadas no Brasil, a aplicação no sulco tende a ser mais eficiente, especialmente em solos pobres, pois mantém uma zona de alta concentração de fósforo próximo as raízes. Nas adubações de manutenção realizadas em solos com alta disponibilidade de fósforo, as eficiências das aplicações a lanço ou no sulco se equivalem.

Os fosfatos com alta solubilidade em ácido cítrico, tais como termofosfato e fosfato de Gafsa, especialmente se aplicados a lanço, têm mostrado eficiência similar aos solúveis em água quando computado o efeito residual a longo prazo. Em alguns casos, os termofosfato têm apresentado eficiência agronômica superior aos superfosfatos, mesmo quando aplicados no sulco, provavelmente devido à presença de outros nutrientes, geralmente não computados na adubação, e ao efeito corretivo sobre a acidez do solo.

5. Potássio

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Depois do nitrogênio, o potássio é o elemento absorvido em maiores quantidades pela cultura do milho. No entanto, as respostas a potássio obtidas em ensaios de campo com milho têm sido, em geral, menos freqüentes e mais modestas que aquelas observadas para fósforo e nitrogênio. MALAVOLTA (1982) fez um levantamento de mais de 500 ensaios com milho conduzidos em vários Estados brasileiros e os dados indicaram que apenas cerca de 26% deles reagiram à adição de potássio. VASCONCELLOS et al. (1982), em revisão sobre o assunto, observaram que, nos ensaios com respostas significativas, estas geralmente ocorreram até 40-60 Kg há-1 de K2O. Resultados semelhantes foram apresentados por RAIJ et al. (1981). Aumentos relevantes de produção em função da adição de potássio só foram observados para os solos com teores muito baixos e com doses de até 60 Kg/ha de K2O. É provável que parte desse efeito seja decorrente da maneira localizada de aplicação do adubo.

Nos solos do Brasil Central, a quantidade de potássio disponível é normalmente baixa e a adubação com esse elemento produz resultados significativos. Aumentos de produção de 100% com a adição de 150 Kg ha-1 de K2O são típicos nesses solos. RITCHEY et al. (1979) observaram respostas a até 300 Kg ha-1 de K2O em milho cultivado em um LE pobre em potássio do cerrado; mesmo assim, a aplicação de 75 Kg ha-1 de K2O produziu 4.076 Kg/ha de milho, 75% a mais que a testemunha sem potássio e cerca de 85% da produção máxima observada.

MUZILLI et al. (1982), em uma série de 14 ensaios com milho no Paraná, doze dos quais com produção acima de 5 t/ha, não encontraram respostas a potássio em solos com valores trocáveis desse elemento que variavam de 0,14 a 0,64 meq/100 cm3; não foi possível estabelecer classes para valores de potássio na análise de solo. Os ensaios conduzidos por RAIJ et al. (1981) também não apresentaram freqüências acentuadas de respostas a potássio, mas permitiram definir relativamente bem às classes de teores do elemento no solo que discriminam as respostas da cultura à adubação potássica. Para isso, o teor de potássio trocável revelou-se eficaz, não tendo sido observada melhoria da correlação com a resposta ao nutriente quando se levou em consideração os teores de cálcio e magnésio ou da saturação de potássio. RITCHEY et al. (1979) também conseguiram boas correlações entre o teor de potássio trocável no solo e a resposta do milho à adubação potássica em solos de cerrado.

Os efeitos de cálcio e magnésio sobre a absorção de potássio (e vice-versa) pelas culturas têm levado à utilização, em alguns países, do conceito da saturação de nutrientes (que está por atrás das relações Ca/Mg, Ca/K, etc.), o qual preconiza que a adubação potássica deve ser calculada para atingir um certo limite de saturação da CTC do solo, geralmente 2 a 5%. No entanto, há evidência de que, para o milho, se o teor de nutrientes estiver acima dos limites de suficiência, variações amplas nas relações entre eles têm pouco efeito sobre a produção. OLSEN et al. (1982) comparando, em ensaios de milho, as doses de fertilizantes recomendadas com base no teor de nutrientes no solo com aquelas calculadas pelo critério de saturação, concluíram que essas últimas eram maiores, mas não tinha vantagens sobre as primeiras em termos de aumento de produção de grãos, sendo, portanto, menos econômicas. Há carência de dados sobre relações de cátions para a adubação de milho no Brasil, mas a relação K/Ca + Mg é usada na recomendação de potássio em algodão.

O conceito de adubação corretiva para o fósforo também se aplica para o potássio. Em alguns Estados recomenda-se a aplicação a lanço de até 100 ou 130 Kg ha-1 de K2O para solos com teores muito

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baixos, além da adubação normal de manutenção. A viabilidade de se fazer adubação corretivas vai depender de fatores econômicos.

No Brasil, normalmente recomenda-se aplicar o adubo potássico no sulco de plantio. Isso é mais importante para solos deficientes e que recebem pequenas doses do elemento, pois a aplicação localizada permite manter maior concentração do nutriente próximo das raízes. Para doses elevadas, ou em solos com teores altos de potássio disponível, as aplicações a lanço ou no sulco devem ser igualmente eficientes, como sugerem os dados de SANZONOWICZ & MIELNICZUK (1985) obtidos com milheto. A aplicação de grandes quantidades de adubo potássico no sulco de plantio aumenta a pressão osmótica próxima das sementes e pode afetar o “stand”. Já em 1955, VIEGAS (1955) observou que o potássio aplicado em sulco provocava a redução do “stand” em anos secos e dificultava a observação de respostas à adubação. Para evitar o problema, recomenda-se parcelar doses de potássio superiores a 60 Kg há-1 de K2O, ou aplicar parte dela a lanço.

Dados preliminares de diversos autores mostram que a aplicação de doses de potássio em cobertura aos 20-30 dias, em adição à adubação de plantio, só foi efetiva em solos com teores de potássio trocável inferiores a 0,12 meq/100 cm3 até 60 cm de profundidade. Os dois casos de respostas à cobertura com potássio ocorreram em solos arenosos ou de textura média, bastante permeáveis. Em ambos os locais, além do efeito sobre a produção de grãos, observou-se também um aumento no teor foliar de potássio em função da aplicação do elemento em cobertura. Em solos com teores médios ou altos de potássio não houve qualquer efeito de aplicação suplementar desse elemento.

Em solos arenosos, onde as perdas por lixiviação podem afetar a eficiência de uso de doses altas de potássio, o parcelamento da aplicação surge como uma alternativa. No entanto, a aplicação de potássio não pode ser tardia, pois a absorção mais intensa pelo milho ocorre nos estádios iniciais de crescimento. Sayre (1984), citado por WELCH & FLANNER (1985), relata que na época em que a planta havia acumulado 50% da matéria seca (60 a 70 dias), cerca de 95% da absorção máxima de potássio já havia ocorrido (68% para o nitrogênio e 56% para o fósforo). Dados de Andrade citados por MALAVOLTA & DANTAS (1980), mostram a mesma tendência.

6. Nitrogênio

A produção de 5 t/ha de grãos de milho requer aproximadamente 140 Kg/ha de N. A grande exigência de nitrogênio torna essa cultura altamente responsável a adubação nitrogenada, como indicam os levantamentos realizados por MALAVOLTA & ROMERO (1975), LANTMANN et al. (1986), CANTERELLA & RAIJ (1986), FRANÇA et al. (1986), ENTRE OUTROS. Esses autores mostram que, em geral, de 70 a 90% dos ensaios de adubação com milho realizados a campo no Brasil respondem à aplicação de nitrogênio.

Ao contrário do que ocorre com os outros macronutrientes primários, a análise de solo não fornece parâmetros seguros para prever as respostas à adubação de nitrogênio. Embora se calcule que pelo menos metade de nitrogênio absorvido pela planta de milho provenha do solo em culturas adubadas com até cerca de 100 Kg/ha, não há métodos seguros para avaliar a contribuição do solo. Teor de

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matéria orgânica é hoje utilizado somente no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, mas as relações com a resposta a nitrogênio têm sido variadas. Em São Paulo. RAIJ et al. (1981) não encontraram boa correlação entre a resposta a nitrogênio em milho e a porcentagem de matéria orgânica no solo, de modo que as tabelas de adubação a partir de 1985 deixaram de levar em conta esse parâmetro.

Em solos de boa fertilidade ou devidamente corrigidos, o nitrogênio, que normalmente não se acumula em formas prontamente disponíveis no solo, é que controla os níveis de produtividade do milho. Por isso, um dos critérios mais comuns para se estabelecer doses de adubo nitrogenado baseia-se na expectativa de produção. Por exemplo, em vários Estados americanos a dose de nitrogênio, em Kg/ha, é calculada multiplicando-se um fator, que varia de 19 a 28, pela produtividade esperada, em t/ha. Ajuste nas recomendações são feitas conforme o tipo de solo, cultura anterior, entre outros fatores. No Brasil, até o momento, apenas no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina e, em certo grau em Goiás, leva-se em consideração a produção esperada para estabelecer as doses de nitrogênio. É provável que esse critério passe a ser adotado em breve em outros estados.

Resultados de experimentos conduzidos por RAIJ et al. (1981) no estado de São Paulo ilustram como as respostas do milho a nitrogênio variam com a produtividade. Com base nas curvas de respostas e assumindo que o custo de 1 Kg de nitrogênio seja equivalente a 7 Kg de milho, estimou-se que as doses mais econômicas foram zero, 85 e 147 Kg/ha de N, de 3 a 5,5 t/ha de 5,5 a 7 t/ha e de 7 a 8,5 t/ha.

A magnitude das respostas a nitrogênio em ensaios conduzidos no Brasil tem sido variável, mas a maioria dos estudos indica respostas significativas a doses entre 30 a 90 Kg/ha de N, em parte devido aos níveis de produtividade relativamente baixos. No entanto, não são incomuns os casos de respostas a até 200 Kg/ha de N. RAIJ et al. (1981), em 25 ensaios realizados, observaram reação a nitrogênio em 16 deles; respostas acentuadas ocorreram em solos com baixo ou alto nível de produtividade na parcela testemunha; em alguns casos, o aumento de produção com a aplicação de 120 Kg/ha de N atingiu 5.000 Kg/ha de milho, mas o ganho de produtividade médio para o conjunto de experimentos foi de cerca de 1.500 Kg/ha de grãos para aplicações de até 120 Kg/ha de N.

Resíduos de culturas anteriores, especialmente de leguminosas, podem contribuir com nitrogênio para o milho plantado a seguir. MUZILLI et al. (1983) não obtiveram respostas a nitrogênio com vários híbridos de milho (produtividades superiores a 8 t/ha de grãos) cultivados no verão em área ocupada no inverno por tremoço. Os autores calcularam que a leguminosa deixou um resíduo equivalente a 111 Kg/ha de N. DERPSCH et al. (1985) estimaram em 60 a 90 Kg/ha de N a contribuição de algumas leguminosas cultivadas com o adubo verde no inverno. GALLO et al. (1983) observaram que o milho não reagiu à aplicação de nitrogênio quando cultivado após soja; além disso, eles notaram que a produtividade do milho tendeu a crescer com o numero de anos em que o solo fora cultivado anteriormente com a leguminosa (Tabela 14). O milho replantado nas mesmas áreas no ano seguinte mostrou respostas a nitrogênio, indicando que o efeito residual do nitrogênio da leguminosa não é duradouro. HARRIS & HESTERMAN (1990) chegaram a conclusão semelhante utilizando resíduos de alfafa marcados com 15N: menos de 1% do nitrogênio marcado foi recuperado pela cultura no segundo ano. Em Illinois (EUA), recomenda-se descontar cerca de 40 Kg/ha de N da adubação do milho após soja para grãos e até quase 100 Kg/ha de N após alfafa.

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Os benefícios do parcelamento da adubação nitrogenada para minimizar as perdas por lixiviação e aumentar a eficiência de uso do nitrogênio pela planta do milho estão estabelecidos há várias décadas no Brasil. A maioria dos estudos realizados indica que os melhores resultados são obtidos com a aplicação de uma pequena parcela (até 20 ou 30 Kg/ha de N) no plantio e o restante entre 30 e 45 dias após a germinação, não havendo, geralmente, vantagens em desdobrar a cobertura para aplicação de uma parte próximo dos 60 dias. A absorção de nitrogênio pelo milho é mais intensa no período entre 40 e 60 dias após a germinação, mas a planta ainda absorve cerca de 50% do nitrogênio que necessita após o início do florescimento. Assim, é provável que haja vantagens em uma aplicação tardia de parte do nitrogênio nos casos de uso de adubações pesadas, solos muito arenosos ou áreas irrigadas.

As fontes de nitrogênio mais comuns têm alta solubilidade e geralmente têm eficiência semelhante para o milho. Existe uma preocupação maior com o uso da uréia aplicada na superfície, devido à possibilidade de perdas de nitrogênio por volatilização de amônia, mesmo em solos ácidos. Estudos realizados em condições controladas de laboratório mostram perdas potenciais de 50% ou mais do nitrogênio aplicado. Medições feitas em condições de campo em milho mostraram perdas entre 12 e 30% do N-uréia aplicado na superfície dos solos, mas essas se reduzem drasticamente quando a uréia é incorporada. No entanto, muitos estudos comparando a eficiência para o milho da uréia aplicada na superfície com a uréia enterrada ou com outros fertilizantes não sujeitos a perdas por volatilização, têm mostrado que o potencial de perdas revelado em laboratórios nem sempre se manifesta em condições de campo.

Dados de CANTARELLA et al. (1988) mostraram que, na média de três ensaios, a produção de milho foi cerca de 8% menor quando a uréia foi aplicada na superfície, mas nesse caso não se pode descartar a possibilidade de que parte da diferença seja atribuída a perda por escorrimento superficial.

AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL

• Sintomas de deficiências (diagnose visual)

Os sintomas de deficiência podem constituir, ao nível de campo, em elemento auxiliar na identificação da carência nutricional.

É necessário, no entanto, para identificação da deficiência com base na sintomatogia, que o técnico já tenha razoável experiência de campo, uma vez que deficiências, sintomas de doenças e distúrbios fisiológicos podem ser confundidos.

A sintomatologia descrita e apresentada em forma de chave a seguir foi adaptada de MALAVOLTA & DANTAS (1987).

SINTOMAS INICIAIS NA PARTE INFERIOR DA PLANTA

• Com clorose

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Amarelecimento da ponta para a base em forma de "V"; secamento começando na ponta das folhas mais velhas e progredindo ao longo da nervura principal; necrose em seguida e dilaceramento; colmos finos....................................................... Nitrogênio

Clorose nas pontas e margens das folhas mais velhas seguida por secamento, necrose ("queima") e dilaceração do tecido; colmos com internódios mais curtos; folhas mais novas podem mostrar clorose internerval típica da falta de ferro............................. Potássio

As folhas mais velhas amarelecem nas margens e depois entre as nervuras dando o aspecto de estrias; pode vir depois necrose das regiões cloróticas; o sintoma progride para as folhas mais novas ......................... Magnésio

Faixas brancas ou amareladas entre a nervura principal e as bordas, podendo seguir-se necrose e ocorrer tons roxos; as folhas novas se desenrolando na região de crescimento são esbranquiçadas ou de

cor amarelo-pálida; internódios curtos......Zinco.

• Sem clorose

Cor verde-escura das folhas mais velhas seguindo-se tons roxos nas pontas e margens; o colmo também pode ficar roxo.......... Fósforo

Pequenas manchas brancas nas nervuras maiores, encurvamento do limbo ao longo da nervura principal .................... Molibdênio

SINTOMAS INICIAIS NA PARTE SUPERIOR DA PLANTA

• Sem clorose

Folhas novas e recém-formadas com coloração amarelo-pálida ou verde suave. Ao contrário da deficiência de nitrogênio, os sintomas ocorrem nas folhas novas, indicando que os tecidos mais velhos não podem contribuir para o suprimento de enxofre para os tecidos novos, os quais são dependentes do nutriente absorvido pelas raízes.......................................................................... Enxofre

• Com clorose

As pontas das folhas mais novas em desenvolvimento gelatinizam e, quando secas, grudam umas às outras; à medida que a planta cresce, as pontas podem estar presas. Nas folhas superiores aparecem, sucessivamente, amarelecimento, secamento, necrose e dilaceração das margens e clorose internerval (faixas largas); morte da região de crescimento ..................................................... Cálcio

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Faixas alongadas aquosas ou transparentes que depois ficam brancas ou secas nas folhas novas; o ponto de crescimento morre; baixa polinização; quando as espigas se desenvolvem podem mostrar faixas marrons de cortiça na base dos grãos ................................................................. Boro

Amarelecimento das folhas novas logo que começam a se desenrolar, depois as pontas se encurvam e mostram necrose, as folhas são amarelas e mostram faixas semelhantes às provocadas pela carência de ferro; as margens são necrosadas; o colmo é macio e se dobra............................ Cobre

Clorose internerval em toda a extensão da lâmina foliar, permanecendo verdes apenas as nervuras (reticulado fino de nervuras).................................................... Ferro

Clorose internerval das folhas mais novas (reticulado grosso de nervuras) e depois de todas elas quando a deficiência for moderada; em casos mais severos aparecem no tecido faixas longas e brancas e o tecido do meio da área clorótica pode morrer e desprender-se; colmos finos......... Manganês.

Deficiência de N Deficiência de P

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Deficiência de K Deficiência de Mg

RECONHECIMENTO E CLASSIFICAÇÃO SISTEMÁTICA DAS PRAGAS DO MILHO E SORGO1

1. PRAGAS DAS RAÍZES

1.1. Cupins: Procornitermes sp.; Cornitermes sp.; Syntermes sp. (Isoptera; Termitidae)

Insetos em geral de cor branca ou amarelo pálido, passa por vários estágios. As operárias e soldados passam por cinco ínstares e caracterizam-se pela cabeça grande. As operárias são estéreis de coloração branca, ápteras e constitue a maior parte da população do cupinzeiro. São elas que constroem o ninho e atacam as sementes, os toletes de cana e as raízes das plantas para a alimentação da colônia. Vivem em grandes colônias. Destroem as sementes e as raízes, causam falhas na germinação e amarelecimento das plantas.

1.2. Percevejo Castanho: Scaptocoris castanea (Perty, 1830) (Ordem: Hemiptera; Sub-Ordem: Heteroptera; Família: Cydnidae).

Insetos sugadores, de coloração castanha, que exalam odor desagradável.

Vivem nas raízes apresentando aglomerações. É uma praga muito importante para as regiões sul e sudeste do Brasil.

1.3. Larva Alfinete (Vaquinha): Diabrotica speciosa (German, 1824) (Coleoptera, Chrysomelidae).

1 - José Maria Arcanjo Alves, Prof. Adjunto do Depto. de Fitotecnia - CCA/UFRR.

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O adulto mede 6 mm; coloração verde, cabeça marrom, élitros lisos com seis manchas amareladas e tíbias pretas. Os adultos são polífagos. Atacam folhas de hortaliças de um modo geral (solanáceas, curcubitáceas, crucíferas, gramíneas, etc), feijoeiro, soja, girassol, bananeira, algodoeiro, etc. As larvas atacam raízes de milho e tubérculos de batata.

2. PRAGAS DO COLMO

2.1. Lagarta Rosca: Agrotis ipsilon (Hufnagel, 1776) (Lepidoptera, Noctuidae).

A lagarta é de coloração variável de cinza escuro ao verde escuro. Quando tocadas, enrolam-se, permanecendo assim por algum tempo. Plantas novas apresentando o caule parcialmente ou totalmente seccionado na região do coleto ou abaixo. Folhas com estrias amarelas ou planta apresentando "coração morto", devido a galerias na base do colmo ou perfilhamento (touceiras) resultante da morte sucessiva de plantas pelo ataque da lagarta.

2.2 Lagarta elasmo: Elasmopalpus lignosellus (Zeller, 1848) (Lepidoptera, Pyralidae).

A lagarta mede 15 mm, e apresenta uma coloração cinza-azulada com faixas difusas, transversais avermelhadas. Muito ágil quando pertubadas (“joga-se” ao chão se colocada na palma-da-mão). Abre galerias nos colmos de gramíneas ou nos caules de leguminosas ao nível do solo. Constrói um abrigo de fios de seda e partículas de terra ao lado do orifício de entrada (galerias mistas de terra e teia, que se comunicam com o orifício), ao nível do solo, na planta ainda jovem, onde permanece durante o dia. Á noite fica no interior da galeria. Passa por seis ínstares. Praga importante para muitas culturas, principalmente quando ocorre períodos de estiagem (veranicos). Causa nas gramíneas o sintoma de “coração morto” e em leguminosas o secamento das plantas novas (até 30 dias de idade).

2.3. Broca da Cana-de-Açúcar: Diatraea saccharalis (Fabr., 1794) (Lepidoptera, Pyralidae).

A lagarta mede 25 mm, apresenta coloração branco amarelada com pináculas marrons (pontuações) e com cápsula cefálica marrom-escura.

O colmo apresenta galerias e orifícios praticados pelas lagartas. Facilita o aparecimento da podridão vermelha. O milho é o hospedeiro preferido.

3. PRAGAS DAS FOLHAS

3.1. Curuquerê dos capinzais : Mocis latipes (Guen., 1852) (Lepidoptera, Noctuidae).

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A lagarta mede 55 mm e se locomove como se estivessem "medindo palmo". Apresenta coloração parda com duas faixas escuras longitudinais limitadas por duas estrias amarelas. Os dois primeiros pares de falsas pernas atrofiadas, portanto, caminha medindo palmos.

Folhas comidas irregularmente, a partir dos seus bordos. Alimenta-se do limbo foliar até atingir a nervura principal. Praga importante de gramíneas, quando ocorre em surtos. Em baixas infestações causa pequenos danos. Não ocorre com frequência no milho.

3.2. Lagarta do cartucho: Spodoptera frugiperda (J. E. Smith, 1797) (Lepidoptera, Noctuidae).

A lagarta é de coloração marrom com faixa dorsal com pináculas (base das cerdas) pretas ao longo do corpo.

Folhas perfuradas; presença de lagartas no interior do cartucho. Grande volume de excremento no local de ataque. Devido ao hábito canibal (praticam canibalismo), normalmente é encontrada uma lagarta por cartucho.

3.3. Pulgões: (Ordem: Hemiptera; Sub-Ordem: Homoptera; Família: Aphididae)

Rhopalosiphum maidis (Fitch., 1856) - Comum no milho

Schizaphis graminum (Rondani, 1852) – Comum no Sorgo

Os pulgões ou afídeos são insetos de corpo pouco esclerotizado, ovalado ou piriforme e coloração variável (amarelada, esverdeada, marrom, preta, etc.). Apresentam o aparelho bucal do tipo sugador labial pungitivo. A maioria das espécies mede 1,5 a 3,5 mm. Quando adultos, os pulgões podem ser ápteros ou alados (dois pares de asas). A maioria das espécies apresenta um par de sifúnculos (estruturas localizadas dorsolateralmente na margem posterior do 50 segmento abdominal).

4. PRAGAS DAS ESTRUTURAS REPRODUTIVAS

4.1. Lagarta das espigas: Helicoverpa zea (Boddie, 1850) (Lepidoptera, Noctuidae).

A Lagarta-da-espiga-do-milho ou broca-grande-do-tomate mede 40 mm e apresenta coloração variável (marrom, amarelada, esverdeada, ou rosada) com faixas escuras pelo corpo (listas longitudinais de duas ou três cores) e manchas pretas na base das cerdas. Ocorre em pequeno número por espiga ou fruto em decorrência do canibalismo.

Espigas novas apresentando os “cabelos” (estilo-estigmas) danificados. Grãos novos destruídos.

4.2. Mosca-da-espiga: Euxesta sp. (Díptera, Otitidae)

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Larva esbranquiçada e vermiforme. Adulto 4-5mm de comprimento e 8-9 de envergadura; corpo preto; tórax com brilho metálico; asas com faixas transversais escuras.

As larvas, geralmente em grupos, atacam os grãos de milho-doce situados na ponta da espiga, podendo acarretar um processo de putrefação da espiga e favorecer o ataque de pássaros e outros insetos. Tem sido observado a ocorrência desta praga nas espigas independente do ataque da lagarta-da-espiga (Helicoverpa zea)

4.3. Mosca-do-Sorgo: Contarinia sorghicola (Coquillett, 1898) (Diptera, Cecidomyiidae)

A larva mede 2mm e tem uma coloração avermelhada. O Adulto mede de 1,5 a 2 mm, alaranjado, antenas longas. O macho vive algumas horas e a fêmea aproximadamente um dia. A cópula ocorre logo após a emergência dos adultos e pouco tempo depois a fêmea inicia a postura.

As larvas alimentam-se do ovário floral em desenvolvimento. As panículas com larvas, quando esmagadas liberam uma secreção avermelhada, características do ataque da praga. Os danos podem ser totais em algumas variedades comerciais.

Fig. 1 – Pragas do milho relacionadas com o ciclo biológico da cultura

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DOENÇAS DO MILHO

1. Ferrugem comum

É a ferrugem mais antiga e a mais estudada na cultura do milho no Brasil e pode ser encontrada em todas as regiões onde o milho é cultivado. Assim como outras ferrugens, sob condições favoráveis, pode causar seca prematura da planta, comprometendo a produção.

Sintomas

Essa ferrugem forma pústulas predominantemente alongadas, de cor marrom-clara em plantas jovens e que se tornam marrom-escuras à medida que a planta se aproxima da fase de maturação. Essas pústulas podem ser encontradas em ambas as faces das folhas e, devido ao rompimento da epiderme, apresentam característica de uma fenda.

Essa ferrugem pode ser encontrada em qualquer fase de desenvolvimento das plantas de milho, inicialmente nas folhas baixeiras. Contudo, quando ela ocorre nas plantas jovens e as condições climáticas permanecem favoráveis, causa maior redução na produção que quando incide em plantas em final de ciclo.

Etiologia

A ferrugem comum é causada pelo fungo Puccinia sorghi. Esse patógeno apresenta uredósporos caracteristicamente arredondados, binucleados, de cor marrom-ferruginosa. Os Teliósporos são de cor marrom-escura, bicelulados, com leve constrição no septo. São ligados aos pedicelos, cujo comprimento é uma a duas vezes o comprimento do teliósporos.

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Ocorrência e disseminação

Puccinia sorghi apresenta ciclo completo, tendo como hospedeiro alternativo o trevo (Oxalis sp.).

É uma doença favorecida por temperaturas entre 16 e 23 °C e umidade relativa alta. A fonte primária de inoculo para o milho são os uredósporos formados no próprio milho ou os aeciósporos produzidos no hospedeiro alternativo (trevo), cuja disseminação se dá principalmente pelo vento. O trevo é infectado pelo micélio proveniente da germinação dos basidiósporos e esses basidiósporos são formados após a germinação dos teliósporos, no solo.

Controle

Por ser um parasita obrigatório e apresentar ciclo completo, as principais medidas de controle são a utilização de cultivares resistentes e a eliminação das plantas de trevo hospedeiras.

Quando essa ferrugem ocorre em plantas jovens, o controle com fungicidas pode ser obtido se as aplicações forem iniciadas logo após o aparecimento das primeiras pústulas. Quando a ferrugem ocorre em plantas em final de ciclo, não causa redução significativa na produção e, assim, o controle químico é desnecessário. O fungicida Tebuconazole controla a ferrugem comum do milho. Atualmente há produto comercial a base desse fungicida, registrado no Ministério da Agricultura para o controle dessa ferrugem.

A rotação de cultura, interrompendo os cultivos sucessivos de milho, também pode ser uma medida efetiva de controle da ferrugem comum.

2. Mancha Foliar de Helminthosporium turcicum

Inclui-se entre as doenças mais antigas e importantes na cultura do milho no Brasil, causando perdas em produção, particularmente em condições de alta umidade relativa e temperaturas amenas.

Sintomas

Os sintomas típicos da mancha por Helminthosporium turcicum são a formação de lesões foliares necróticas, de coloração palha e bordas bem definidas, alongadas e grandes (em média com cerca de 5 a 8 cm de comprimento), largas, irregularmente distribuídas na superfície foliar, e que, em casos severos, coalescem. Essas lesões podem tornar-se escuras devido à frutificação do fungo. Em cultivares que possuem o gen Ht1 para a resistência a H. turcicum, em geral as lesões são alongadas e cloróticas, circundadas por um halo amarelado.

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Os sintomas são mais severos após o pendoamento, sendo essa época a mais adequada para avaliações da severidade da doença ou da resistência de cultivares. Em genótipos susceptíveis, essa doença pode causar seca precoce da planta e redução do tamanho dos grãos.

Etiologia

Essa doença é causada por Helminthosporium turcicum (Exserohilum turcicum). Sob temperaturas superiores a 20°C, os conídios são marrons, ligeiramente curvos, septados, e se caracterizam pela presença de um proeminente hilo na extremidade. Sob temperaturas inferiores a 20°C, eles são marrons, menores, retos e com algum ou nenhum septo. Temperaturas inferiores a 10°C favorecem a formação de clamidósporos. Em sua forma perfeita, rara na natureza, esse fungo é classificado como Trichometasphaeria turcica. Várias raças desse patógeno já foram identificadas.

Ocorrência e disseminação

A mancha por H. turcicum é favorecida por temperaturas entre 18 e 27°C, com o ótimo em 20°C e pela presença de orvalho na superfície das folhas. Sob essas condições climáticas favoráveis, e em genótipos susceptíveis, os esporos produzidos nas primeiras lesões são disseminados pelo vento ou pela água da chuva, causando disseminação rápida da doença na lavoura.

O fungo sobrevive nos restos de cultura sob a forma de conídios, ou de clamidósporos. Desta forma os restos culturais devem ser incorporados ao solo para que não ocorra um aumento no potencial de inóculo, ao longo do tempo.

H. turcicum possui como hospedeiros, além do milho, o sorgo, o capim maçambará e o teosinto. Porém aparentemente apresenta especialização fisiológica quanto a patogenicidade a esses hospedeiros.

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O desenvolvimento de H. turcicum é negativamente correlacionado com o fotoperíodo, a intensidade de luz e a concentração de açúcar nas plantas de milho, sendo por isso considerado um fungo de “baixo teor de açúcar”.

Controle

A utilização de cultivares resistentes constitui um dos mais eficientes e econômicos meios de controle da mancha por H. turcicum. No caso desse patógeno, existem dois tipos principais de resistência: um afetando o número das lesões, em que os genótipos resistentes apresentam, em campo, menor número de lesões na planta, sendo essas mais numerosas nas folhas baixeiras. O outro tipo é expresso por lesões alongadas e cloróticas, circundadas por um halo amarelado, nas quais a esporulação do fungo é inibida e ocorrem em plantas que possuem o gene Ht1 para a resistência. Considerando-se a sobrevivência do patógeno nos restos da cultura, práticas como aração e gradagem ou a rotação de cultura, podem reduzir o potencial do inóculo e, conseqüentemente, a severidade da doença na área. A mancha por Helminthosporium turcicum pode ser controlada pela aplicação do fungicida Tebuconazole. Atualmente, há produto comercial à base desse fungicida registrado no Ministério da Agricultura para o controle dessa doença.

3. Mancha Foliar de Helminthosporium maydis

Na década de 70, a mancha por H. maydis ocorreu de forma epidêmica, causando sérios prejuízos à cultura de milho, no Brasil. A susceptibilidade generalizada das cultivares foi proporcionada pela utilização da machoesterelidade, através do uso do citoplasma T para produção de sementes híbridas. Em decorrência dessa epidemia, abandonou-se o uso do citoplasma T para a produção de sementes híbridas e a incidência de H. maydis em milho foi reduzida significativamente. Contudo, essa doença continua sendo um fator de preocupação, devido ao seu potencial destrutivo e, também, porque tem sido freqüentemente observada em várias regiões produtoras de milho, no Brasil, embora em baixa severidade.

Sintomas

O tamanho e a forma das lesões causadas por H. maydis variam com a susceptibilidade da cultivar. Nas folhas as lesões são de cor palha, geralmente limitadas pelas nervuras, retangulares, de 2,5 cm x 0,5 cm, em média, e aparecem primeiro nas folhas baixeiras. Nas bainhas e palhas das espigas, elas aparecem circundadas por um halo avermelhado e, no interior das palhas e nos grãos, as lesões são de cor preta.

Etiologia

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O agente etiológico dessa doença é o fungo Helminthosporium maydis (= Bipolaris maydis). H. maydis apresenta conídios marrons, longos, tipicamente curvos e com as extremidades afiladas. Não há formação de hilo. A forma perfeita desse fungo, Cochliobolus heterostrophus, raramente é encontrada na natureza. As principais raças desse patógeno são a raça T (Texas) e a raça O (Old).

Ocorrência e disseminação

Essa doença é favorecida por temperaturas entre 20 e 32°C e pela presença de orvalho na superfície das folhas. Os conídios de H. maydis são disseminados pelo vento e por respingos de chuva. Em genótipos susceptíveis, sob condições climáticas favoráveis, a doença rapidamente atinge níveis epidêmicos na lavoura.

O patógeno sobrevive nos restos de cultura, na forma de micélio ou de clamidósporos e por isso pode constituir problema em áreas onde se utiliza o plantio direto. O único hospedeiro conhecido é o milho.

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Controle

A mancha por H. maydis pode ser eficientemente controlada pela utilização de cultivares resistentes. A herança da resistência a esse patógeno pode ser citoplasmática ou genética. A resistência à raça T é atribuída a fatores genéticos e citoplasmáticos, sendo o componente citoplasmático o mais importante. Por outro lado, a herança genética é determinante da resistência da raça O.

Como H. maydis sobrevive nos restos de cultura, as práticas de aração e gradagem e a rotação de cultura podem reduzir o potencial de inóculo no solo.

4. Podridão do Colmo causada por Fusarium

Sintomas

Quando as plantas de milho são infectadas por Fusarium, os tecidos internos dos entrenós e das raízes adquirem coloração avermelhada, que progride de forma uniforme e contínua, da base em direção à parte superior da planta.

Etiologia

Essa podridão é causada por Fusarium moniliforme, Fusarium moniliforme var.subglatinans, Giberella fujikuroi, que também causam a podridão rosada da espiga

Ocorrência e disseminação

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Em geral, a podridão de colmo causada por Fusarium ocorre associada ao ataque de nematóides ou de pragas subterrâneas que debilitam as plantas e causam ferimentos nas raízes, facilitando a penetração do fungo.

Fusarium é tipicamente de solo e freqüentemente pode ser encontrado associado às sementes.

Controle

A principal medida de controle para a podridão do colmo causada por Fusarium moniliforme é a utilização de cultivares resistentes ao tombamento. Por outro lado, uma vez que o plantio direto é uma prática que favorece o aumento do potencial de inóculo desses fungos nos restos de cultura.

As condições de estresses que predispõem as plantas de milho às podridões causadas por Fusarium, tais como estresses hídrico ou nutricional, ataques de pragas, doenças foliares e excesso de plantas na lavoura, devem ser evitadas.

5. Podridão de Espiga causada por Fusarium

Sintomas

As espigas com essa podridão caracterizam-se por apresentar grãos de coloração avermelhada, distribuídos isoladamente ou em grupos na espiga. Com o desenvolvimento da doença, o fungo cresce, cobrindo os grãos com um micélio cotonoso de coloração rosada. Em alguns grãos, há aparecimento de estrias brancas, causadas pela ação do fungo no pericarpo. Quando a palha da espiga é infectada, apresenta coloração avermelhada. A infecção pode se iniciar em qualquer parte da espiga.

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Etiologia

É causada por Fusarium moniliforme, Fusarium moniliforme var. subglutinans e Giberella fujikuroi, que causam também podridões no colmo.

Ocorrência e disseminação

Essa podridão é geralmente favorecida pelo excesso de chuvas e por danos nos grãos causados pelo ataque de pragas. O desenvolvimento da doença nas espigas é paralisado quando a umidade dos grãos atinge 18 a 19%. Fusarium é tipicamente de solo e pode também ser encontrado associado às sementes.

Controle

As podridões das espigas causadas por Fusarium podem ser controladas utilizando-se cultivares de milho com características agronômicas que dificultam a infecção das espigas por esses patógenos. Entre essas cultivares, incluem-se aquelas com espigas bem empalhadas, com palhas bem aderidas e aquelas decumbentes. As espigas decumbentes ou aquelas bem empalhadas impedem a penetração da água da chuva e dos esporos dos fungos nos espaços entre as palhas e, conseqüentemente, o apodrecimento dos grãos.

6. Podridão de Colmo causada por Pythium

Sintomas

As plantas com podridão geralmente tombam, porém permanecem verdes por algum tempo, visto que os vasos lenhosos permanecem intactos.

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Etiologia

Essa podridão é causada por Pythium aphanidermatum e é do tipo aquosa, assemelhando-se a uma bacteriose. Difere dessa por ficar restrita ao primeiro entrenó acima do solo, ao contrário das bacterioses, que atingem vários entrenós.

Ocorrência e disseminação

Esse fungo sobrevive no solo, apresenta elevado número de espécies vegetais hospedeiras e é capaz de infectar plantas de milho jovens e vigorosas antes do florescimento.

A podridão por Pythium é favorecida pelo excesso de água no solo. Essa condição pode ocorrer em áreas com solos argilosos ou mal drenados, em áreas irrigadas em excesso e quando ocorrem períodos prolongados de chuva.

Controle

A principal medida de controle recomendada para a podridão por Pythium aphanidermatum é o manejo adequado da água de irrigação, evitando-se a aplicação de água em excesso. O uso de cultivares resistentes também é recomendado como medida de controle.

7. Podridão de Colmo causada por Colletotrichum (Antracnose)

Sintomas

Embora esse patógeno possa infectar as plantas nas fases iniciais de desenvolvimento, a doença se manifesta e os sintomas são tipicamente visíveis a partir do florescimento. Os sintomas caracterizam-se pela presença externa, no colmo, de lesões estreitas e alongadas em sentido longitudinal do colmo. Freqüentemente, observa-se murchamento das folhas apicais nas plantas infectadas.

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Etiologia

A antracnose do colmo é causada por Colletotrichum graminicola.

Ocorrência e disseminação

Essa doença é favorecida por condições de alta umidade. O patógeno sobrevive nos restos de cultura e em sementes. Assim, o plantio direto após a incidência severa da podridão por C.graminicola pode resultar em reincidência severa dessa doença. Ao longo do tempo, o plantio direto pode causar o aumento do potencial de inóculo do patógeno na área.

Controle

Uma vez que o plantio direto é uma prática que favorece o aumento do potencial de inóculo desse fungo nos restos de cultura, recomenda-se para o controle de Colletotrichum, a aração e a gradagem, quando essas podridões constituírem problemas, em áreas onde se utiliza essa prática.

8. Mosaico comum do milho

Essa virose tem sido encontrada em alta incidência em várias regiões produtoras de milho no Brasil. Quando ocorre isoladamente em plantas de milho, pode causar redução da ordem de 50% na produção; quando ocorre associada a outras viroses, seus efeitos podem ser ainda mais drásticos.

Sintomas

Os sintomas foliares dessa virose caracterizam-se pela presença de manchas verde-claro, que contrastam com manchas verde normal em padrão de mosaico (Figura 1). Em geral, esses sintomas são muito nítidos em plantas jovens (Figura 2) e tendem a desaparecer à medida em que as plantas atingem as fases de florescimento e maturação. Essa virose pode causar acentuada redução no crescimento das plantas e no tamanho das espigas e dos grãos, sendo esses efeitos variáveis principalmente em função da época de infecção, da cultivar de milho e da estirpe do vírus em questão.

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Etiologia

O mosaico comum do milho é causado por um complexo viral pertencente ao grupo Potyvirus, formando partículas alongadas e flexuosas, com cerca de 750 nm de comprimento e 13 nm de diâmetro. Entre as numerosas estirpes e variantes conhecidas desse complexo viral, incluem-se o “Maize Dwarf Mosaic Vírus” (MDMV), estirpes A e B, e o Sugar Cane Mosaic Vírus (SCMV), com suas várias estirpes.

Ocorrência e disseminação

Na natureza, mais de 20 espécies de afídeos, destacando-se os pulgões, são insetos vetores dos vírus que causam o mosaico comum do milho. Esses vírus são transmissíveis mecanicamente, podendo ser disseminados também através do uso de instrumentos cortantes, do contato entre raízes portadoras de ferimentos e, ainda, através de outros insetos que, após alimentar-se em plantas infectadas, rapidamente alimentam-se em plantas sadias.

Mais de 250 espécies de gramíneas, entre espécies cultivadas e selvagens, perenes e anuais, são hospedeiras dos vírus do mosaico comum do milho. A presença de fontes de inóculo nas proximidades de plantios de milho, pode ocasionar surtos da doença.

Controle

A utilização de cultivares resistentes e a eliminação das gramíneas selvagens infectadas, que constituem fonte de inóculo na área destinada ao plantio, são as medidas mais efetivas para o controle dessa virose. Tem sido demonstrado que a resistência do milho aos vírus do mosaico é do tipo monogênica e dominante. Contudo, no Brasil, a resistência das cultivares comerciais de milho à virose do mosaico comum não tem sido extensivamente avaliada.

Embora os pulgões sejam sensíveis a vários inseticidas sistêmicos ou de contato, alguns estudos têm mostrado que a aplicação desses inseticidas não tem sido um método muito efetivo no controle do mosaico comum do milho.

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REFERENCIAS

EMBRAPA MILHO E SORGO. Recomendações técnicas para o cultivo do milho. 2. ed. Brasília : EMBRAPA-SPI, 1996. 204p.

EMBRAPA SOJA. Recomendações técnicas para a cultura da soja na Região Central do Brasil. 2000/2001. Cuiabá: 2000. 245p. (Embrapa Soja/Fundação-MT Documentos, 146).

FANCELLI, A. L.; DOURADO NETO, D. (Coord.) Tecnologia de Produção de Milho. Piracicaba: Publique, 2000 144p.

FUNDAÇÃO CENTRO DE EXPERIMENTAÇÃO E PESQUISA, FECOTRIGO. Indicações técnicas para a cultura do milho no Rio Grande do Sul. Cruz Alta, RS, 1993. 101p.

LORENZI, H. Manual de identificação e controle de plantas daninhas: plantio direto e convencional. 4 ed. Nova Odessa: Plantarum, 1994.

RESCK, D.V.S. Parâmetros Conservacionistas dos solos sob vegetação de cerrados. Planaltina, EMBRAPA-CPAC. 1981. 32p. (EMBRAPA-CPAC, Circular Técnica, 6).

EMBRAPA MILHO E SORGO Sistemas de Produção, 1 ISSN 1679-012 Versão Eletrônica - 2ª Edição Dez./2006