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CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS NA CULTURA DO MILHO João Baptista da SilvaJ! Nádja de Moura Pires 11 Dependendo das condições ambien- tais e da população de plantas daninhas existentes em uma determinada gleba, as perdas culturais ocasionadas pela inter- ferência destas com a cultura do milho podem atingir 85% no sistema de plantio convencional (Quadro 1) e até 100% no sistema de plantio direto. O controle das plantas daninhas é, portanto, uma neces- sidade de ordem econômica e não estética. O risco em potencial do produtor de milho é, em termos de sacos de milho por hectare plantado, tão maior quanto me- lhor for o sistema de produção adotado, se não forem controladas as plantas dani- nhas no momento oportuno. Por exemplo, para um sistema de produção de milho onde a média de produção é estimada em 2.000 kg/ha, a perda de 85% devido à "matocompetição" representa 1.700 kg/ha ou pouco mais de 28 sacos de mi- lho. Para uma lavoura tecnificada, com expectativa de produção na faixa de 9.000 kg/ha, as plantas daninhas, se não forem controladas na hora devida, podem acar- retar uma perda de 7.650 kg/ha ou 127,5 sacos de milho. Pelo exposto, pode-se ver que o risco de perda cultural é maior nas lavouras de maior Indice de adoção de tecnologia e, conseqüentemente, de maior investimento. Para controlar as plantas daninhas, o custo dos tratamentos deve ser proporcional ao investimento total da cultura. Por exemplo, o custo de controle das plantas daninhas não pode ser alto numa lavoura de baixo Indice técnico, porque o retorno de produção é baixo. Para uma lavoura muito tecnificada, um investimento alto no controle de plantas daninhas é plenamente justificável pelo alto retorno que o investimento dá. O custo do controle de plantas dani- nhas na cultura do milho pode ser calcu- lado em moeda corrente ou em sacos de milho. Dependendo do método utilizado, esse custo varia de 300 a 600 kg/ha ou de 5 a 10 sacos de milho por hectare planta- do. De acordo com o sistema de produção adotado pelo produtor, deve-se escolher um ou mais métodos de controle, levan- do-se em conta a eficiência e o custo dele. Controlar plantas daninhas no momento oportuno é uma arte, o que pode ser feito através do manejo de práticas culturais, do método mecânico (arado, grade, culti- vadores, enxada), do método quúnico (herbicidas) e através do controle biológi- co (insetos, fungos). Normalmente, para o controle efetivo das plantas daninhas, de- t( .. :' ", -.-<. :,:::l "l,.'#\ ' %:? y- ,'" _: . \wt" ,'*5.0:"" -...':;; QU""DRO 1 - Produçâ() de GrâoSfde MillÍoem Função do Períodó de Controle do Mato. CNPMS, Sete Lagoas, 1982/83 FONTE: EMBRAPA-CNPMS. 11Eng 9 Agr9,Ph.D, Pesq. EMBRAPAICNPMS, Caixa Posta/1S1, CEP 3S700 Sete Lagoas, MG. 21Engi! Agri!, Bo/sista CNPQ, EMBRAPAlCNPMS. .nf, Agropec., Belo Horizonte, 14 (164) 17

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CONTROLE DE PLANTASDANINHAS NA CULTURA

DO MILHOJoão Baptista da SilvaJ!Nádja de Moura Pires11

Dependendo das condições ambien-tais e da população de plantas daninhasexistentes em uma determinada gleba, asperdas culturais ocasionadas pela inter-ferência destas com a cultura do milhopodem atingir 85% no sistema de plantioconvencional (Quadro 1) e até 100% nosistema de plantio direto. O controle dasplantas daninhas é, portanto, uma neces-sidade de ordem econômica e não estética.

O risco em potencial do produtor demilho é, em termos de sacos de milho porhectare plantado, tão maior quanto me-lhor for o sistema de produção adotado,se não forem controladas as plantas dani-nhas no momento oportuno. Por exemplo,para um sistema de produção de milhoonde a média de produção é estimada em2.000 kg/ha, a perda de 85% devido à

"matocompetição" representa 1.700kg/ha ou pouco mais de 28 sacos de mi-lho. Para uma lavoura tecnificada, comexpectativa de produção na faixa de 9.000

kg/ha, as plantas daninhas, se não foremcontroladas na hora devida, podem acar-retar uma perda de 7.650 kg/ha ou 127,5sacos de milho. Pelo exposto, pode-se verque o risco de perda cultural é maior naslavouras de maior Indice de adoção detecnologia e, conseqüentemente, de maiorinvestimento. Para controlar as plantasdaninhas, o custo dos tratamentos deveser proporcional ao investimento total dacultura. Por exemplo, o custo de controledas plantas daninhas não pode ser altonuma lavoura de baixo Indice técnico,porque o retorno de produção é baixo.Para uma lavoura muito tecnificada, uminvestimento alto no controle de plantasdaninhas é plenamente justificável peloalto retorno que o investimento dá.

O custo do controle de plantas dani-nhas na cultura do milho pode ser calcu-lado em moeda corrente ou em sacos demilho. Dependendo do método utilizado,esse custo varia de 300 a 600 kg/ha ou de5 a 10 sacos de milho por hectare planta-do. De acordo com o sistema de produçãoadotado pelo produtor, deve-se escolherum ou mais métodos de controle, levan-do-se em conta a eficiência e o custo dele.Controlar plantas daninhas no momentooportuno é uma arte, o que pode ser feitoatravés do manejo de práticas culturais,do método mecânico (arado, grade, culti-vadores, enxada), do método quúnico(herbicidas) e através do controle biológi-co (insetos, fungos). Normalmente, para ocontrole efetivo das plantas daninhas, de-

t( ..:' ", -.-<. :,:::l "l,.'#\ ' %:? y- ,'" _: . \wt" ,'*5.0:"" -...':;;QU""DRO 1 - Produçâ() de GrâoSfde MillÍoem Função do Períodó deControle do Mato. CNPMS, Sete Lagoas, 1982/83

FONTE: EMBRAPA-CNPMS.

11Eng9 Agr9,Ph.D, Pesq. EMBRAPAICNPMS, Caixa Posta/1S1, CEP 3S700 Sete Lagoas, MG.21Engi! Agri!, Bo/sista CNPQ, EMBRAPAlCNPMS.

.nf, Agropec., Belo Horizonte, 14 (164) 17

MILHO I

QUADRO 2 - Produtos Recomendados para a Cultura do Milho, 1989/90

+

Atrazine

G 500CGAtrazinax 500Herbitrin 500 BRSiptran 500 SC

50 2,0 a 3,0

iatacom gra disco ou irnilar a 5-7 em de profundidade;

· controle de altas infestaçóes de Brachiaríaplantaginea (capim-marmelada);

· controle de tiriríca, grama-seda e sorgo-de-alepo;acrescentar Atrazine para o controle defolhas largas'.

A

2,4-DaminaFõrmula 480 BRDMA806BRHerbiC480U-46 D-Fluid 2,4-D

48674072

Metolacb,!or Dual720 EC 72

4,Oa5,02,5a3,54,0 a 5,02,5a3,5

PRE• Indicado para áreas com alta infesta-

ção de corda-de-viola, fedegoso, guan-xuma e amendoim-bravo. Controle detiririca.

Boa opção para o controle de gramíneas,tais 00, -ma m-col-chão, lonião, assam-barã etc nte no c folhaslargas. Controle de trapoeraba, Adequa-do para o cons6rcio milho-feijão.

Alachlor Alachlor Nortoxlaço

48 5,Oa7,O PRE Controle de gramíneas anuais e trapoera-ba;aplicar em solo bem destorroado e úmi-do. Não aplicar em solo seco.

Pendimethalin Herbadox 500 CE 50 2,5 a3,5 PRE Recomendado para áreas infestadas comgramíneas anuais - pouca infestação defolhasaplic s.

---t(Atrazine

+Metolaehlor)

Primestra SC20+30

6,Oa8,O PREPara uso em áreas com incidência de fo-lhas largas, capins anuais e trapoeraba,Não aplicar depois da emergência domilho.

(Atrazine

+Alachlor)

t:?:%'fuW

(Atrazíne«

+Simazine)

Boxer

Agimix

(18 + 30)

(26 + 26)

7,0 a 9,0

6,Oa 7,0

4,0 a 6,0

PREPara uso em áreas com incidência de fo-lhas largas, capins anuais e trapoeraba. Aformulação com mais Atrazine favoreceo controle de folhas largas;aplicação }tm solo úmido.

~Ai\:Para USt) em áreas infestadaSi!ê0m folhaslargas e gramíneas anuais'. Não indicadopara áreas infestadas com tiririca e gra-míneas perenes. O herbicida Triamex 50FW pode ser aplicado em pós-emergên-cia precoce, desde que associado coméleo mineral emulsionável, concentrado.

Atrazine

18

25 + 25

50 4,0 a 6,0

PRE

PRE

Aplicação em solo úmido e isento deplantas daninhas;indicado para áreas com alta infestaçãode cord -viola, amendoim-bravo e

Inf. Agropec., Belo Horizonte, !.1 (164)

MILHO IContinuação

QUADRO 2 - Produtos Recomendados para a Cultura do Milho, 1989/90

Herbicidas

Nome Comum Produto Comercial

Atrazine+

Óleo

Prim6leoPosmil*

%do p.a,

40 + 30

Dosagemlha

(pc)

5,Oa 7,0

Métodode

Aplicação

Pós-precoce ,~

Observações

· Controle em pós-emergência de capim-marmelada até o 111perfilho;

· controle de folhas largas problemãticas;• podem ser usadas misturas tanque de

Atrazine com um 61 tipo AS-SIST .

• ~pHSação em SOl?tolhas largas e gràindicado para áreas infeStacarrapicho e corda-de-viola.

25+25 Põs-precóce

Pendimethalin

+

2,4-Damina

Herbadox 500 CE+Fórmula 480 BRDMA 806 BRU-46D-Fluid 2,5-DHerbiD480

50

48677240

1,5 a 2,5+

0,75 a 2,00,5 a 1,50,5 a 1,50,75 a 2,0

PRÉe

Pós-precoce

Mistura de tanque, aplicação preferen-cialmente em pré-emergência, Controlede grarnfneas anuais e folhas largas.Aplicar em solo úmido para ativação dePendirnethalin. Aplicação pós-emer-gente precoce (plantas daninhas com duasfolhas no máximo).

Bentazon

2,4-D amina

Ametryne

BanirBasagran 48 1,2a2,0 Pós-precoce · Controle de corda-de-viola e guanxuma;

· adicionar óleo mineral tipo ASSlST;· pode ser misturado com Atrazine ou 2,4-

D+MCPA.

• Aplicação nas entrelinhfojhas do milho. Alturâ- 40 cm. Control

· Aplicação nas entteiide 50 em de altura. Conmarmelada e corda-de-15 em);

· acrescentar adjuvante no tanque de pul-verização.

50 '2,5 a 4,0

(Diuron 14 Pós-emergência+ Fortex FW + 8,0 dirigida

MSMA) 36

Paraquat Gramoxone 200 20 1,5 a 3,0 Pós-emergênciaDisseka200 dirigidaParaxonP~quat Herbitécnica

· Aplicação em solo ümido, aplicação nasentrelinhas no estágio de 30 a 50 em.Controle de folhas largas e gramíneas.Não indicado para áreas infestadas comfedegoso e grarnfneas perenes.

• Controle nas entrelinhas de grarnfnease folhas largas anuais;

• aplicar com o milho na altura rnfnima de40cm;

.' acrescentar espalhanteSou similar.

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MILHO I

vem-se integrar métodos, maximizando aeficiência de controle, diminuindo oscustos e racionalizando o uso de herbici-das.

MÉTODOS DE CONTROLEx

ESTÁDIOS DA CULTURA

De acordo com o estádio da cultura,os métodos de controle de plantas dani-nhas na cultura do milho podem 'ser clas-sificados em: pré-plantio, pré-emergênciae pós-emergência (precoce, normal e tar-dia).

• Pré-plantio

Incluem-se aqui o método mecânico(arado e grade), o método químico (herbi-cidas de manejo no plantio direto) e ummisto dos dois métodos (incorporação deherbicidas com grade). A aradura e tom-bamento da leiva durante o período secodo ano é ainda um dos meios mais efi-cientes para controlar plantas daninhasperenes. A gradagem deve ser feita mo-mentos antes do plantio, garantindo umaemergência do milho livre das plantas da-ninhas.

Quando não há aradura e gradagem,a vegetação de pré-plantio tem que sercontrolada por herbicidas de contato(paraquat) ou sistêmicos (glyphosate,2,4-D), mas sem ação residual. No casodos herbicidas sistêmicos, o plantio é feitonormalmente 10 dias após a pulverização,e a massa seca que fica no campo funcio-na como barreira física e, às vezes, quími-ca, para as plantas daninhas que irãoemergir. Essa proteção funciona relati-vamente bem, dependendo do seu volume,composição e tempo para decomposição.

Plantios antecedentes à época nor-mal, quando o solo ainda está seco, sãoadequados para o uso de herbicidas depré-plantio incorporado ao solo. Essesprodutos (Quadro 2) são incorporadosimediatamente após a pulverização, emuma operação onde normalmente a gradeé acoplada ao mesmo trator que trans-porta o pulverizador. Essa incorporaçãosimultânea com a pulverização é devida àalta volatilidade dos produtos utilizados.O tratamento é recomendado para gran-des produtores e para trechos da proprie-dade infestados com ciperáceas e gramí-neas perenes como a tiririca, grama seda,capim-colonião, sorgo selvagem, etc.

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.• Pré-emergência

Essa fase começa com o plantio domilho e termina quando a cultura inicia aemergência (fase do cartucho). Porque asplantas daninhas ainda não nasceram, so-mente herbicidas são usados na pré-emergência, controlando as plantas dani-nhas preventivamente. O milho nasce nolimpo e o poder residual do herbicida de-ve ser o suficiente para manter a lavourano limpo até o pendoamento. Os produtosutilizados em pré-emergência dependemda umidade do solo para o seu funciona-mento e, portanto, são adequados paraplantios em época normal, depois que aschuvas iniciam. A aplicação em solo seco,sem garantia de uma chuva ou irrigaçãologo após, compromete seriamente a efi-ciência dos produtos recomendados(Quadro 2).

Os herbicidas de pré-ernergência po-dem ser pulverizados em área total ou emfaixa de 30-50 em sobre a linha de plan-tio. Neste caso, o controle de plantas da-ninhas entre as fileiras de milho será feitoposteriormente, com um cultivador. Porcausa dessa condição, os herbicidas pré-emergentes são adequados para qualquerprodutor, desde o pequeno, que geral-mente usa um pulverizador costal, até ogrande produtor, que normalmente utilizaum pulverizador tratorizado de barra.

• Pós-emergência Precoce

Por causa do pouco tempo que existeentre o plantio e a emergência do milho(4-6 dias), muitas vezes não é possívelpulverizar o herbicida antes da emergên-cia. Para dar maior tempo ao produtor,foram desenvolvidos alguns herbicidastão seletivos que podem ser pulverizadossobre as plantas daninhas já emergidase sobre o milho (Quadro 2). Os herbicidasde pós-emergência precoce dependem daumidade do solo e a sua aplicação ocorresempre entre o estádio de duas a quatrofolhas do milho, não contando a pluma."Depois do estádio de quatro folhas, au-mentam o risco de intoxicação da culturae o período de competição inicial antes docontrole, e diminui a eficiência do pro-duto contra gramíneas já desenvolvidas.

• Pós-emergência NormalConsidera-se pós-emergência normal

aquela que ocorre entre o estádio de qua-:

tro a oito folhas do milho. Incluem-seaqui não só as operações de cultivo e re-passe, como também o controle biológico.Não se recomenda o uso de herbicidasneste período, porque o milho é muitosensível, as plantas daninhas já são resis-tentes e o cultivador é sempre mais bara-to.

O método mecânico de controle deplantas daninhas é adequado para peque-nos, médios e grandes produtores, porcausa da variedade de equipamentos que éutilizada para o cultivo, desde enxada atégrandes cultivadores tratorizados, pas-sando pelos cultivadores de tração animal,enxadas rotativas, etc. O inconvenientedo método mecânico é que ele controla omato às vezes muito tarde, e a competiçãoinicial compromete uma parte da produ-ção (10-15%). Um outro aspecto, que de-ve ser lembrado, é que o repasse manualgarante o controle das plantas daninhaspróximas ao milho, sendo, entretanto,quase sempre relegado e negligenciadopelos médios e grandes produtores.

• Pós-emergência Tardia

Em lavouras onde o mato não foicontrolado na hora devida, ou em culturasonde a colheita mecanizada pode ser pre-judicada por plantas daninhas de ciclotardio como o mata-pasto, a corda-de-viola, o capim-colonião etc., ou mesmoem campos de produção de milho parasemente, é necessário a utilização dométodo de controle tardio de plantas da-ninhas. Podem ser usados o cultivador detração animal (lavouras menores) ou en-tão herbicidas em aplicação dirigida(Quadro 2). Deve ser salientado que ocontrole pós-emergente tardio beneficiaas condições de colheita, mas não podefazer nada com relação aos prejuízos jáacarretados pelas plantas daninhas.

REFE~NCIA

EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISAAGROPECUÁRIA. Centro Nacional dePesquisa de Milho e Sorgo, Sete Lagoas.Mecanização na cultura do milho utili-zando a tração animal. Sete Lagoas,1983. 136 p. i1.(Circular técnica, 9).

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