apostila termodinâmica - parte i
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Físico-Química
Termodinâmica Parte I
Introdução à Termodinâmica
Therme (calor) e dynamis (força) – palavras gregas que na sua junção deram origem a palavra termodinâmica,
que surgiu como uma tentativa de transformar calor em trabalho, sendo o seu estudo o objetivo principal dessa ciência.
Termodinâmica: área da físico-química que se ocupa do estudo das transformações da energia, em particular
da transformação de calor em trabalho e vice-versa.
Termodinâmica clássica estuda os sistemas em equilíbrio, tanto em nível microscópico quanto em nível
macroscópico. Aborda a matéria de um modo mais generalista não se preocupando com o comportamento das
partículas.
Termodinâmica estática estuda os sistemas em equilíbrio em nível microscópico. Liga a teoria das
propriedades atômicas às termodinâmicas. Faz uma abordagem mais abrangente necessitando conhecer o
comportamento das moléculas, baseando-se no comportamento de um número de partículas elementares.
A termodinâmica se divide em várias partes: Termoquímica é a parte que trata da produção de calor envolvido
nas reações químicas. É possível também dentro da área discutir a produção de energia na forma de trabalho. Isto nos
leva aos campos da eletroquímica, onde se tem a interação da eletricidade e a química, e à bioenergética que é o
estudo da utilização da energia nos organismos vivos.
Relembrando alguns conceitos essenciais
Equilíbrio e Equações de estado
- Sistema em Equilíbrio: num sistema em equilíbrio, as propriedades termodinâmicas não mudam com o tempo;
dizemos que o sistema está num estado termodinâmico definido.
- o número de variáveis macroscópicas independentes que devem ser especificadas para caracterizar um estado é
determinado experimentalmente.
- para cada conjunto de valores assumidos pelas variáveis macroscópicas, um único estado termodinâmico é definido.
- Equação de estado: equação que relaciona as variáveis pelas quais o sistema pode ser descrito.
- para um gás ou um líquido, observa-se experimentalmente que as variáveis necessárias para descrever o sistema são p,
V, n e T, de modo que a equação de estado que as relaciona é alguma função f que pode ser escrita na forma:
f (p, V, T, n) = 0
Temperatura
Temperatura: é uma propriedade que nos indica o sentido do fluxo de energia (calor) entre dois sistemas A e B.
Interação térmica: energia flui do corpo de mais alta temperatura para o corpo de menor temperatura.
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Profª Drª Lucília A. Linhares
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Fronteiras diatérmica e adiabática
Fronteira diatérmica: aquela que conduz calor, permitindo que dois sistemas A e B interajam termicamente quando
colocados em contato. Fronteira adiabática: não permite a interação térmica, de modo que os sistemas A e B estão
termicamente isolados.
Propriedades intensivas e extensivas
Propriedade Intensiva: são independentes da quantidade de substância que constitui o corpo. Ex: temperatura,
densidade relativa. Propriedade Extensiva: são dependentes da quantidade de substância que constitui o corpo. Ex:
massa, volume.
Lei Zero da Termodinâmica
Equilíbrio Térmico
- Quando dois sistemas A e B são colocados em contato através de uma parede diatérmica, seus estados termodinâmicos
iniciais tendem a evoluir até que a temperatura seja a mesma para ambos;
- Isto acontece quando o estado termodinâmico de ambos não muda mais com o tempo;
- Dizemos, então, que A e B estão em equilíbrio térmico entre si e possuem a mesma temperatura;
- Se não houver mudança nos estados iniciais, é porque ambos já estavam a uma mesma temperatura;
Lei Zero da Termodinâmica
“Se dois sistemas estão em equilíbrio térmico com um terceiro, então eles também estão em equilíbrio térmico entre si”
Termômetros e Escalas de Temperaturas
Termômetros: aparelhos que permitem saber se dois sistemas estarão em equilíbrio térmico quando colocados
em contato. Utilizaremos com frequência a escala termodinâmica (ou escala Kelvin) de temperatura. A relação entre a
temperatura em graus kelvin (T) e a temperatura em graus Celsius (θ) é:
T = θ + 273,15
Natureza da Energia e Tipos de Energia
A energia normalmente é definida como a capacidade de realizar trabalho. Trabalho foi definido como força x
distância. Todas as formas de energia são capazes de gerar trabalho, isto é, de exercer uma força ao longo de uma
distância, mas nem todas são igualmente relevantes para a química. Os químicos definem trabalho como a variação de
energia diretamente resultante de um processo. A energia cinética, energia produzida por um objeto em movimento, é
uma forma de energia com interesse especial para os químicos. Outras formas são energia radiante, energia térmica,
energia química e energia potencial.
Energia radiante: ou energia solar, provém do sol e é a fonte de energia primária da terra.
Energia térmica: é a energia associada ao movimento randômico dos átomos e das moléculas.
Energia química: é uma forma de energia armazenada dentro das unidades estruturais das substâncias químicas.
Energia Potencial: é a energia disponível como consequência da posição de um objeto. Todas as formas de energia
podem ser interconvertidas. Esse princípio é conhecido como a Lei da Conservação da Energia .
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A Primeira Lei da Termodinâmica
Lei da Conservação da Energia: a energia não pode ser criada, nem destruída, mas simplesmente convertida
de uma forma em outra e transportada de um lugar para outro. Ou, a quantidade total de energia no universo é sempre
constante.
Quase todas as reações químicas absorvem ou liberam energia, em geral na forma de calor. Calor é a
transferência de energia térmica entre dois corpos que estão a temperaturas diferentes. Falamos muitas vezes em fluxo
de calor de um objeto quente para um objeto frio. A área de estudo das variações de calor que ocorrem nas reações
químicas chama-se termoquímica.
É praticamente impossível provar a validade da 1ª lei da termodinâmica se tivéssemos que determinar o
conteúdo energético total do universo. Podemos testar a 1ª lei em um processo medindo apenas a variação da energia
interna, entre os estados iniciais e finais do sistema. Essa variação da energia interna ∆E é: ∆E = Ef - Ei
A energia interna do sistema tem duas componentes: energia cinética e energia potencial. Energia cinética
associada aos vários tipos de movimento molecular e ao movimento dos elétrons no interior das moléculas. A energia
potencial é determinada pelas interações de atração entre os elétrons e o núcleo e pelas interações de repulsão entre
elétrons e entre núcleos na mesma molécula, bem como pelas interações entre moléculas.
Exemplo: Consideremos a reação entre 1 mol de S e 1 mol de O2(g) que produz 1 mol de SO2.
S(s) + O2(g) SO2(g)
O sistema é composto pelas moléculas dos reagentes e pelas moléculas do produto. Não conhecemos os valores
da energia interna das moléculas dos reagentes nem das dos produtos, mas podemos medir a variação do conteúdo
energético, ∆E.
∆E = E(produto) – E(reagentes)
Verifica-se que essa reação libera calor. A energia do produto é menor do que as energias dos reagentes e ∆E é
negativo. Interpretando a liberação de calor nessa reação como uma transformação de parte da energia química contida
nas moléculas em energia térmica, concluímos que a transferência de energia a partir do sistema para a vizinhança não
altera a energia total do universo. Logo: ∆Esis + ∆Eviz = 0 ou ∆Esis = - ∆Eviz
Forma últil de se expressar a 1ª Lei: ∆Esis = q + w
Essa equação diz que, a variação da energia interna ∆E sis de um sistema é igual à somatória da troca de calor q
entre o sistema e a vizinhança e do trabalho w efetuado sobre o (ou pelo) sistema. As convenções de q e w são as
seguintes:
q é positivo para processo endotérmico
q é negativo para processo exotérmico
w é positivo para o trabalho efetuado sobre o sistema pela vizinhança
w é negativo para o trabalho efetuado pelo sistema sobre a vizinhança
Se um sistema perde calor para a vizinhança ou realiza trabalho sobre ela, esperamos que a energia interna
diminua, pois ambos os processos consomem energia. Por essa razão tanto q como w são negativos.
Se há adição de calor ao sistema ou se for efetuado trabalho sobre ele, a sua energia interna deverá aumentar.
Nesse caso, tanto q como w serão positivos.
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Sistema e Vizinhança
Vamos observar atentamente onde a energia fica localizada. Um sistema é a parte do universo que nos
interessa particularmente, que desejamos estudar e que pode conter massa, radiação ou ambos. O sistema é separado do
universo por fronteiras cuja forma é arbitrária (por nós definidas de acordo com nosso interesse) e que podem ser fixas
ou móveis. As vizinhanças é o restante do universo, são onde fazemos as nossas observações.
Precisamos distinguir três tipos de sistemas:
Sistemas aberto, fechado e isolado
Sistema aberto: é um sistema que pode trocar energia e massa com a vizinhança. Ex: um frasco não arrolhado (nele
várias substâncias podem ser adicionadas), uma célula biológica é um sistema aberto (nela os nutrientes e os resíduos
podem passar pelas paredes da célula), nós somos sistemas abertos (ingerimos, respiramos, transpiramos e excretamos).
Sistema fechado: é um sistema que pode trocar energia, mas não pode trocar massa com a vizinhança. Ex: um frasco
arrolhado (podemos trocar energia com o conteúdo do frasco, pois as paredes podem ser capazes de conduzir o calor).
Sistema isolado: é um sistema que não pode trocar nem energia e nem massa com as vizinhanças. Ex: um frasco selado
que está térmica, mecânica e eletricamente isolado das vizinhanças.
Trabalho e Calor
A energia pode ser trocada entre um sistema fechado e as suas vizinhanças como trabalho ou como calor. O
trabalho é uma transferência de energia que pode causar um movimento contra uma força que se opõe a esse
movimento. O calor é uma transferência de energia devida a uma diferença de temperatura entre o sistema e as
vizinhanças. As paredes que permitem a passagem de calor são chamadas de diatérmicas. Um recipiente de metal é
diatérmico. Paredes que não permitem a passagem de calor, mesmo quando há uma diferença de temperatura entre o
sistema e as vizinhanças são chamadas adiabáticas. As paredes duplas de uma garrafa térmica são aproximadamente
adiabáticas.
O entendimento da natureza molecular do trabalho surge quando pensamos no movimento de um peso em
termos dos átomos que o formam. Quando um peso é elevado, todos os seus átomos se movem na mesma direção. Essa
observação sugere que trabalho é a transferência de energia que realiza ou aproveita um movimento ordenado nas
vizinhanças. Sempre que pensamos em trabalho, pensamos em um movimento uniforme de alguma natureza. Ex: o
trabalho elétrico corresponde ao movimento dos elétrons na mesma direção através de um circuito. O trabalho mecânico
corresponde ao movimento dos átomos que são empurrados numa mesma direção e contra uma força que se opõe ao seu
movimento. Considerando agora a natureza molecular do calor, quando a energia é transferida para um banho de gelo
e provoca a fusão de parte desse gelo, as moléculas de água no gelo oscilam mais rapidamente em torno de suas
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posições de equilíbrio, e as que se encontram na superfície podem escapar para o líquido vizinho. O ponto chave a ser
notado é que o movimento estimulado pela chegada da energia proveniente do sistema é desordenado, não sendo
uniforme como no caso do trabalho. Isso sugere que calor é a transferência de energia que realiza ou aproveita um
movimento desordenado nas vizinhanças.
A Medição do Trabalho
A unidade usada nas medições de energia (portanto, de trabalho e de calor) é o Joule que equivale a: 1J = 1 kg/m2s2
Trabalho pode ser definido como a força F multiplicada pela distância d:
w = Fd
Uma maneira de se ilustrar o trabalho mecânico é estudar a expansão ou a compressão de um gás.
Exemplo: Trabalho de Expansão: trabalho feito pelo sistema quando se expande contra uma pressão que se opõe à
expansão. Trabalho de Expansão: Para calcular o trabalho quando um sistema se expande de um volume inicial V i a
um volume final Vf, com uma variação de volume ∆V, consideramos um pistão de secção reta de área A se movendo de
uma distância h. A força que se opõe à expansão é a pressão externa pex multiplicada pela área do pistão. Logo, o
trabalho realizado é:
Trabalho realizado pelo sistema = distância x força que se opõe
Trabalho realizado pelo sistema = h.(pex.A) = pex.h.A = pex.∆V
hA é o volume do cilindro varrido pelo pistão na expansão do gás, o que nos permite escrever hA = ∆V
Para a expansão, Trabalho realizado pelo Sistema = pex.∆V
Como um sistema que realiza trabalho perde energia quando se expande (w < 0), precisamos de um sinal
negativo na equação para garantir que w é negativo quando ∆V é positivo, logo: w = - pex.∆V
Trabalho de Expansão
De acordo com a equação acima, é a pressão externa que determina o trabalho realizado por um dado sistema
ao se expandir de um certo volume: quanto maior a pex, maior a força que se opõe ao movimento e maior é o trabalho
realizado pelo sistema. Quando a pex = 0, w = 0. Nesse caso, o sistema não realiza trabalho ao se expandir, pois nada se
opõe ao seu movimento. A expansão contra uma pressão externa nula é dita expansão livre.
Para obtermos um trabalho mínimo de expansão de um sistema, simplesmente reduzimos a pressão externa a
zero. Para obtermos um trabalho máximo de expansão, este é obtido quando a pressão externa tiver um valor máximo.
A força que se opõe à expansão será a maior possível, e o sistema fará o esforço máximo para empurrar o pistão. No
entanto, a pressão externa não pode em nenhum instante ultrapassar a pressão p do gás dentro do sistema, pois, do
contrário, a pressão externa iria comprimir o gás em vez de permitir a sua expansão. Logo, o trabalho máximo é obtido
quando a pressão externa é apenas infinitesimalmente menor que a pressão do gás no sistema.
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Trabalho feito pelo sistema quando se expande contra uma pressão que se opõe à expansão
Trabalho mínimo de expansão: reduzindo a pressão externa à zero;
Trabalho máximo de expansão: quando a pressão externa tiver um valor máximo;
- Não pode ocorrer para este tipo de trabalho é que a pressão externa seja maior que a pressão do sistema
(ocorreria uma compressão).
O trabalho máximo é obtido quando a pressão externa for infinitesimalmente menor que a pressão do sistema.
Sendo assim, o pistão desloca-se para fora do sistema. Se aumentarmos a pressão externa de forma que ela fique apenas
um infinitésimo maior que a pressão do gás; nesse caso, o pistão se deslocará para o interior do sistema. Ou seja,
quando o sistema está num estado de equilíbrio mecânico, uma variação infinitesimal na pressão externa resulta numa
mudança na direção oposta a essa variação. Um processo que pode ser revertido por uma mudança infinitesimal de uma
variável – nesse caso, a pressão é dito processo reversível.
Para uma expansão infinitesimal: dw = - pex.dV
Para uma expansão reversível isotérmica: (em etapas infinitesimais) e em cada etapa pext = pgás
dw = - p.dV
w = - ∫ p.dV admitindo que o gás é perfeito: p = nRT/V
A Medição do Calor
O fornecimento de calor a um sistema leva geralmente a um aumento de sua temperatura. Uma das formas de
se medir o valor de q é através de um calorímetro. Um calorímetro consiste em um recipiente, onde ocorre um processo
físico ou químico, provido de um termômetro, imerso em um banho de água. O conjunto é então isolado termicamente.
A primeira etapa da utilização do calorímetro é a sua calibração, comparando-se a variação de temperatura
observada no calorímetro com aquela produzida por uma quantidade conhecida de calor. Um procedimento muito
utilizado é o de aquecer o calorímetro eletricamente, passando-se uma corrente conhecida por uma resistência, por um
tempo determinado, e registrando o aumento de temperatura. O calor fornecido é dado por q = I Vt, em que I é a
corrente (em ampéres, A), V é o potencial da fonte de tensão (em volts, V), e t é o tempo (em segundos, s) de passagem
da corrente. A variação de temperatura observada nos permite calcular a capacidade calorífica, C, do calorímetro a
partir de:
Capacidade calorífica = calor fornecido/aumento de temperatura
C = q/∆t
Calorimetria
Calorímetro: recipiente fechado projetado especificamente para medidas das trocas de calor. O estudo depende do
entendimento dos conceitos de calor específico e capacidade calorífica.
Calor específico (c): é a quantidade de calor necessária para elevar de um grau Celsius a temperatura de um grama da
substância. É uma propriedade intensiva.
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Capacidade calorífica (C): é a quantidade de calor necessária para elevar de um grau Celsius a temperatura de dada
quantidade de substância. É uma propriedade extensiva.
Relação entre a capacidade calorífica e o calor específico de uma substância: C = mc
m é a massa da substância em gramas.
Sendo o calor específico da água 4,184 J/g ºC, a capacidade calorífica de 60,0g de água é: C = 60,0 g . 4,184 J/g ºC
C = 251 J/ºC
Se conhecermos o calor específico e a massa de uma substância, a variação da temperatura da amostra (∆t) nos indicará
a quantidade de calor (q) que foi absorvida ou liberada em determinado processo.
A equação para calcular o calor transferido é:
q = m s ∆t
q = C ∆t
m é a massa da amostra e ∆t é a variação de temperatura, ou seja, ∆t = tfinal – tinicial
q é + para processo endotérmico e q é – para processo exotérmico
Energia Interna
O calor e o trabalho são formas equivalentes de transferência de energia para dentro ou para fora do sistema.
No sistema, a energia transferida é armazenada como “energia”. Independentemente da forma como se forneceu energia
ao sistema, seja por transferência de calor ou de trabalho, ela pode ser liberada em qualquer uma dessas duas formas.
Energia Interna
Tendo em mente que calor e trabalho são formas equivalentes de energia, podemos observar as variações de
energia em um sistema através de uma propriedade do sistema dita Energia Interna U, que mede as “reservas de
energia” do sistema.
A energia interna, U é a soma de todas as contribuições de energia cinética (relativa ao movimento) e de
energia potencial (que se origina das forças intermoleculares a serem rompidas) de todos os átomos, íons e moléculas
que formam o sistema; é a energia total de um sistema.
Quando energia é transferida para um sistema, por aquecimento ou por trabalho, o acréscimo de energia é
armazenado sob a forma de um incremento de Energia cinética (Ec) e Energia potencial (Ep) das moléculas do sistema.
Na prática, não conseguimos medir a energia interna total de uma amostra, pois ela inclui as Ec e Ep de todos os
elétrons e de todos os componentes dos núcleos atômicos. Determinamos a variação da energia interna ∆U pelo
conhecimento da energia fornecida ou perdida como calor e trabalho.
Todas as aplicações práticas da termodinâmica lidam com ∆U e nunca com U diretamente. A variação da
energia interna de um sistema é: ∆U = w + q, em que w é o trabalho e q é o calor trocado entre o sistema e as
vizinhanças.
Uma característica de um gás ideal é ter a energia total constante, com q = -w, numa expansão isotérmica. Ou
seja, a energia perdida como trabalho é recuperada como influxo de energia na forma de calor. Podemos imprimir essa
propriedade em termos da energia interna, uma vez que ela implica que a energia interna permanece constante quando o
gás expande isotermicamente. Logo, a expansão isotérmica de um gás perfeito: ∆U = 0.
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Em outras palavras, a energia interna de uma amostra de um gás perfeito é independente do volume que ele
ocupa. Isto porque numa expansão isotérmica do gás, a distância média entre as moléculas se modifica; entretanto, a
velocidade média, portanto, a velocidade cinética das moléculas, se mantém constante. Como não há interação entre as
moléculas, a energia total é independente da separação média entre elas, e a energia interna permanece inalterada na
expansão.
Entalpia de Reações Químicas
Calor: é a quantidade de energia envolvida na agitação molecular. É tida como uma energia em trânsito
(movimento). Entalpia é uma quantidade termodinâmica usada para descrever variações de calor que ocorrem a
pressão constante.
Como que a 1ª Lei da Termodinâmica pode ser aplicada a processos que ocorrem sob diferentes condições.
Consideraremos uma situação em que o volume do sistema é mantido constante e outra em que a pressão aplicada ao
sistema é constante. Se uma reação química ocorre a V constante, então ∆V = 0 e nessa transformação nenhum trabalho
(P-V) é realizado. Assim, ∆U = q + w e w = -P∆V; logo: ∆U = q - P∆V; ∆U = qv
Condições em que o volume é mantido constante é em geral impossíveis de se conseguir. A maioria das
reações ocorre sob condições em que a pressão é mantida constante (em geral a Patm). O aumento do número de mols do
gás ao final de uma reação indica que o sistema realiza trabalho sobre as vizinhanças (expansão). Quando há maior
consumo do que produção de moléculas do gás, o trabalho é realizado pela vizinhança sobre o sistema (compressão).
Nos casos em que não há qualquer variação no número de mols dos gases ao transformar reagentes em produtos,
nenhum trabalho é realizado.
Em geral, para um processo a pressão constante tem-se: ∆U = q + w = qp - P∆V ou qp = ∆U + P∆V
Introduzimos uma nova função termodinâmica para o sistema, Entalpia (H), definida pela equação:
H = U + PV
E energia interna do sistema
P e V são a pressão e volume do sistema
Dado que E e PV tem unidades de energia, H também é expressa em unidades de energia.
E, P, V são funções de estado, isto é, as variações em (U + PV) só dependem dos estados inicial e final. Logo,
a variação em H, isto é ∆H, também depende apenas dos estados inicial e final, logo, H é uma função de estado.
Assim: ∆H = ∆U + ∆(PV) sendo a pressão mantida constante,
∆H = ∆U + P∆V
Comparando as equações: qp = ∆U + P∆V e ∆H = ∆U + P∆V, vemos que para um processo a pressão constante,
qp = ∆H
As grandezas ∆H e ∆U são medidas de variações de energia, porém sob diferentes condições. Se a reação
ocorre sob volume constante, o calor transferido qv é igual a ∆U. Quando a reação é realizada a pressão constante, o
calor transferido, qp é igual a ∆H.
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Entalpia de Reações
A maior parte das reações consiste em processos que ocorrem à pressão constante. Nesses casos, podemos
igualar a troca de calor à variação da entalpia. Para a reação do tipo: reagentes produtos, definimos a variação
de entalpia, denominada entalpia de reação, ∆H, como a diferença entre as entalpias dos produtos e as entalpias dos
reagentes: ∆H = H(produtos) – H(reagentes)
Para processo endotérmico (absorção de calor pelo sistema a partir da vizinhança): ∆H > 0
Para processo exotérmico (liberação de calor pelo sistema para a vizinhança): ∆H < 0
Equações Termoquímicas
Termoquímica: estudo do calor produzido ou consumido nas transformações físicas e químicas. É um ramo da
termodinâmica, pois o recipiente e seu conteúdo constituem um sistema, e as transformações provocam troca de energia
entre o sistema e suas vizinhanças. Assim, podemos usar a calorimetria para medir o calor produzido ou absorvido em
uma reação e identificar q como a variação de entalpia (se a reação ocorrer à pressão constante) ou como variação de
energia interna (se a reação ocorrer a volume constante). ∆H = qp e ∆U = qv
Por meio das equações termoquímicas nos é passado informações como: estado físico dos participantes do
sistema, quantidade de matéria envolvida (representada pelos coeficientes estequiométricos), e o envolvimento do calor,
ou seja, se o calor foi liberado ou absorvido pelo sistema. Vale ressaltar que reações que no sentido direto é
endotérmica, no sentido inverso é exotérmica (e vice versa).
Exemplo: A 0ºC e à pressão de 1 atm, o gelo se funde, gerando água no estado líquido. Para cada mol de gelo
convertido em água líquida, o sistema (gelo) absorve 6,01 kJ de energia térmica. Sendo a pressão constante, o calor
transferido é igual à variação de entalpia, ∆H. Além disso, trata-se de um processo endotérmico (envolve absorção de
energia como é a fusão do gelo). O valor de ∆H é positivo. A equação dessa transformação física é: H 2O(s) H2O(l)
∆H = 6,01 kJ/mol
Outro exemplo é a combustão do metano (CH4) o componente principal do gás natural. Sabemos que a
combustão do gás natural libera calor para a vizinhança, sendo assim é um processo exotérmico. Sob pressão constante
esse calor transferido é igual à variação de entalpia e ∆H deve ter sinal negativo.
CH4(g) + 2O2(g) CO2(g) + 2H2O(l) ∆H = - 890,4 kJ/mol
As equações para a fusão do gelo e para a combustão do metano são exemplos de equações termoquímicas,
que mostram as variações da entalpia assim como as relações de massa. É essencial apresentar uma equação já
balanceada ao citar a variação da entalpia de uma reação. Os pontos que se seguem são úteis para escrever e interpretar
equações termoquímicas.
Ao escrevermos equações termoquímicas, devemos sempre especificar os estados físicos de todos os reagentes
e produtos, porque esses ajudam a determinar as variações reais da entalpia. Exemplo: na equação da combustão do
metano, se indicar o vapor d’água em vez de água líquida como um dos produtos,
CH4(g) + 2O2(g) CO2(g) + 2H2O(g) ∆H = - 802,4 kJ/mol
a variação da entalpia será igual a -802,4 J em vez de -890,4 J, pois são necessários 88,0 kJ para converter 2 mols de
água líquida em vapor d’água, isto é,
2H2O(l) 2H2O(g) ∆H = 88,0 kJ/mol
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Se multiplicarmos os membros de ambos os lados de uma equação termoquímica por um fator n, então o valor
de ∆H também deve variar de acordo com o mesmo fator. Assim, para a fusão do gelo, se n = 2, temos:
2H2O(s) 2H2O(l) ∆H = 2(6,01 kJ/mol) = 12,0 kJ/mol
Quando invertemos uma equação, mudamos os papéis dos reagentes e dos produtos. Como consequência, o
valor de ∆H para a equação permanece o mesmo, mas o seu sinal muda.
2H2O(l) 2H2O(s) ∆H = -6,01 kJ/mol
CO2(g) + 2H2O (l) CH4(g) + 2O2(g) ∆H = 890,4 kJ/mol
Observação: a variação de entalpia está diretamente ligada com a temperatura, isto é, a entalpia de uma substância
aumenta com a temperatura. Tanto a entalpia dos reagentes como a dos produtos aumenta com a temperatura, mas a
entalpia dos reagentes e dos produtos pode ser desigual. A dependência da entalpia de reação com a temperatura está
relacionada com a diferença entre as capacidades caloríficas dos produtos e dos reagentes, que em geral são diferentes.
Variação de Entalpia nas Transformações
Transformação Física
A conversão entre duas fases de uma substância é denominada Transição de fase. Nas transições de fase de
sentido direto (S L G) ocorre absorção de calor (∆H > 0); nas mudanças de fase de sentido inverso (G L S) ocorre
liberação de calor (∆H < 0).
- Entalpia de Vaporização (∆Hvap): é a energia que deve ser fornecida como calor e pressão constante por mol de
moléculas no processo de vaporização.
- Entalpia de Fusão (∆Hvap): é a energia que deve ser fornecida como calor a pressão constante por mol de moléculas
no processo de fusão.
Os outros processos no sentido inverso (fusão e condensação) serão negativos (liberam calor)
- Entalpia de Sublimação (∆Hsub): a variação da entalpia no processo de sublimação tem o mesmo comportamento das
duas etapas mencionadas anteriormente. ∆Hsub = ∆Hfus + ∆Hvap
Transformação Atômica e Molecular
São as variações de entalpia associadas a transformações que ocorrem em átomos e moléculas.
Entalpia de Ionização (∆Híon): é a entalpia molar que acompanha a remoção de 1 elétron de um átomo ou íon em fase
gasosa.
Exemplo: H(g) - e- H+ ∆H = + 1312 kJ/mol
Entalpia de Ligação (∆Hlig): nesse processo ocorre a dissociação, ou quebra, de um 1 mol de ligação para produzir
fragmentos neutros.
Exemplo: HCl(g) H(g) + Cl(g) ∆H = + 431 kJ/mol
Transformação Química
Relaciona-se às variações de entalpia associadas às reações químicas, como por exemplo, a hidrogenação do eteno:
CH2 = CH2(g) + H2(g) CH3 – CH3(g) ∆H = - 137 kJ/mol
A entalpia do sistema diminui de 137 kJ de calor quando 1 mol de eteno se combina com 1 mol de hidrogênio a 25ºC.
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Entalpia Padrão de Formação e de Reação
Aprendemos que a variação de entalpia de uma reação pode ser determinada por meio da medida do calor
absorvido ou liberado (a pressão constante). A equação ∆H = H(produtos) – H(reagentes) nos diz que ∆H pode ser
calculado se soubermos os valores reais da entalpia de todos os reagentes e produtos. Porém, não existe uma maneira de
medir o valor absoluto da entalpia de uma substância, apenas valores relativos a uma referência arbitrária podem ser
determinados. Ex: quando se deseja especificar a altitude de determinado lugar, as mesmas são expressas em relação ao
nível do mar, uma referência arbitrária cuja altitude é definida como Zero metro. Na química, também admitiu-se um
ponto de referência para a entalpia.
O ponto de referência para a entalpia chama-se entalpia-padrão de formação (∆Hº f). Diz-se que as substâncias
estão a 1 atm e daí se origina o termo “entalpia padrão”. Por convenção, a entalpia padrão de formação de qualquer
elemento na sua forma mais estável é zero. Todas as substâncias simples na sua forma alotrópica mais estável (mais
comum e mais abundante) tem entalpia padrão de formação igual a Zero.
Ex: o oxigênio molecular é mais estável do que sua forma alotrópica, o ozônio, a 1 atm e 25ºC.
Logo, ∆Hºf (O2) = 0, mas ∆Hºf = (O3) ≠ 0.
-Entalpia padrão de Combustão (∆Hºc): é a energia liberada na combustão completa de 1 mol de uma substância no
estado padrão. Exemplo: CH4(g) + 2O2(g) CO2(g) + 2H2O(l) ∆Hºc = - 890,4 kJ/mol
-Entalpia padrão de Formação: é o calor liberado ou absorvido na formação de 1 mol de uma substância a partir de
substâncias simples, no estado padrão.
-Entalpia padrão de reação: é a diferença entre as entalpias molares dos reagente e dos produtos, com cada termo
ponderado pelo seu respectivo coeficiente estequiométrico na equação química.
Entalpia-padrão de formação: transferência de calor que ocorre quando 1 mol do composto é formado a
partir de seus elementos à pressão de 1 atm. Sua importância é que, conhecidos os seus valores, podemos calcular a
entalpia-padrão de reação ∆Hºreação definida como a entalpia de uma reação realizada à pressão de 1 atm.
aA + bB cC + dD
a, b, c, d são coeficientes estequiométricos. Para essa reação ∆Hºreação é:
∆Hºreação = [c∆Hºf(C) + d∆Hºf(D)] - [a∆Hºf(A) + b∆Hºf(B)]
∆Hºreação = ∑n ∆Hºf(produtos) - ∑m ∆Hºf(reagentes)
O valor de ∆Hºreação pode ser calculado somente se os valores de ∆Hºf dos compostos forem conhecidos. Pode-se
empregar os método direto e indireto.
Método Direto
Esse método de medida de ∆Hºf aplica-se a compostos que podem ser prontamente sintetizados a partir dos
seus elementos. Ex: Qual é a entalpia de formação do dióxido de carbono? Devemos medir a entalpia de reação que
ocorre entre o carbono (grafite) e o oxigênio molecular, nos seus estados-padrão, produzindo dióxido de carbono,
também no estado-padrão.
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Físico-Química
C (grafite) + O2(g) CO2(g) ∆Hºreação = -393,5 kJ/mol
Assim temos:
∆Hºreação = ∆Hºf(CO2, g) - [∆Hºf(C, grafite) + ∆Hºf(O2, g)] = -393,5 kJ/mol
Tanto o grafite como o O2 são formas alotrópicas elementares estáveis, ∆Hºf (C, grafite) e ∆Hºf (O2, g) são
iguais a zero. Logo,
∆Hºreação = ∆Hºf(CO2, g) = -393,5 kJ/mol
Outros compostos que podem ser estudados pelo método direto são SF6, P4O10 e CS2. As equações que
representam as suas obtenções são:
S (ortorrômbico) + 3F2(g) SF6(g)
P4(branco) + 5O2(g) P4O10(s)
C(grafite) + 2S(ortorrômbico) CS2(gl)
Método Indireto
Há muitos compostos que não podem ser sintetizados diretamente a partir dos seus elementos. Em alguns casos
as reações se processam muito lentamente, em outros, ocorrem reações paralelas que produzem substâncias diferentes
do composto desejado. Nesses casos, o ∆Hºf pode ser calculado por uma aproximação indireta baseada na Lei de Hess
do Somatório dos Calores ou simplesmente Lei de Hess.
Lei de Hess: quando os reagentes são convertidos em produtos, a variação de entalpia é a mesma quer a
reação se dê em uma única etapa ou em uma série de etapas.
Ex: Suponha que estejamos interessados na entalpia padrão de formação do monóxido de carbono (CO).
Podemos representar a reação como: C(grafite) + 1/2O2(g) CO(g)
No entanto, a queima do grafite também produz CO2 e por isso não podemos medir diretamente a variação de
entalpia para o CO com base na reação acima. Podemos empregar uma rota indireta baseada na Lei de Hess. É possível
realizar separadamente duas reações completas:
a) C(grafite) + O2(g) CO2(g) ∆Hºreação = -393,5 kJ/mol
b) CO(grafite) + 1/2O2(g) CO2(g) ∆Hºreação = -283,0 kJ/mol
Invertemos a equação b para obter
c) CO2(g) CO(g) + 1/2O2(g) ∆Hºreação = +283,0 kJ/mol
Logo, temos:
a) C(grafite) + O2(g) CO2(g) ∆Hºreação = -393,5 kJ/mol
c) CO2(g) CO(g) + 1/2O2(g) ∆Hºreação = +283,0 kJ/mol
d) C(grafite) + 1/2O2(g) CO(g) ∆Hºreação = -110,5 kJ/mol
Portanto, ∆Hºf(CO) = -110,5 kJ/mol. Retornando, vemos que a reação global é a de formação de CO 2 que pode
ser quebrada em duas partes. A regra geral para a aplicação da Lei de Hess é arranjar uma série de equações químicas
de tal forma que, quando somadas, todas as espécies se cancelem com exceção dos reagentes e dos produtos que fazem
parte da reação global.
Referências
1. Atkins, P. Físico-Química: fundamentos, 488p. 2003
2. Mahan, M.B. Química: um curso universitário. 4ª edição, 582p. 1995
3. Chang, R. Química Geral: conceitos essenciais, 4ª edição, Porto Alegre, 788p. 2010
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