apostila de engenharia legal[1]

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GOVERNO DO ESTADO DO PARÁ SECRETARIA DE ESTADO DE SEGURANÇA PÚBLICA INSTITUTO DE ENSINO DE SEGURANÇA DO PARÁ COORDENADORIA DE ENSINO PROFISSIONAL 1 CURSO TÉCNICO PROFISSIONAL PARA PERITO - CRIMINAL UNIDADE I - ENGENHARIA LEGAL Pode-se dizer que é a aplicação dos princípios das mais diversas áreas das engenharias para responder questionamentos oriundos de situações delituosas ou de conflitos. Normalmente estas situações envolvem crimes, acidentes, falhas, desastres ambientais, catástrofes e outras mais. O interesse é basicamente descobrir o que, quem, onde, quando, porque e como o que está sendo analisado ocorreu. Desta forma, se procura determinar o problema e a sua origem, investigando com metodologia científica todos os fatos diretos e indiretos relacionados. Esta investigação começa pela análise das evidências coletadas na cena do crime, ou local de exame, verificando de que maneira os vestígios encontrados foram parar ali e procurando, à luz de princípios físicos, reconstruir ao máximo possível a sequência de fatos que levaram à cena. Isto invariavelmente provoca uma análise reversa de engenharia, ou seja, já existe o projeto montado, construído, ou fabricado e agora se quer verificar todas as fases desde a sua confecção até o seu planejamento. É como se um prédio fosse desmontado tijolo por tijolo, sem danificar nada, até o início da sua construção. E, mais ainda, cada ação de desmontagem teria que ser igual, porém ao contrário, daquela de montagem. Seria como passar um filme ao contrário. Para a engenharia legal, a análise do problema compreende não somente a determinação da(s) causa(s) direta(s), mas também de tudo aquilo que está relacionado, mas não atuou diretamente. Não basta dizer o que provocou o evento, e sim como se chegou a ele. É muito comum haver uma causa imediata, às vezes facilmente visível e inapropriadamente dita como causa única. Um exemplo bastante simples seria a explosão de uma caldeira, onde se constatou que o problema foi à válvula de alívio que emperrou e com isso a pressão aumentou acima do limite e ela veio a explodir. Neste caso estaria determinada a causa direta do problema, o que de fato provocou o acidente. Ou seja, um componente deste equipamento falhou e provocou o colapso do mesmo. E, sendo assim, basta verificar quem fabricou e/ou projetou este componente e responsabilizá-lo. Neste aspecto, se chega a um outro elemento também objeto da engenharia legal, que é o relatório final da análise, pois todo exame gera um resultado e aqui não é diferente. Como dito no primeiro parágrafo deste texto, os problemas envolvidos quase sempre envolvem crimes, acidentes, falhas, que são assuntos polêmicos e quase sempre de disputa, onde invariavelmente existem duas ou mais partes. Não

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GOVERNO DO ESTADO DO PARÁ SECRETARIA DE ESTADO DE SEGURANÇA PÚBLICA

INSTITUTO DE ENSINO DE SEGURANÇA DO PARÁ COORDENADORIA DE ENSINO PROFISSIONAL

1

CURSO TÉCNICO PROFISSIONAL PARA PERITO - CRIMINAL

UNIDADE I - ENGENHARIA LEGAL

Pode-se dizer que é a aplicação dos princípios das mais diversas áreas das engenharias para

responder questionamentos oriundos de situações delituosas ou de conflitos. Normalmente estas situações

envolvem crimes, acidentes, falhas, desastres ambientais, catástrofes e outras mais.

O interesse é basicamente descobrir o que, quem, onde, quando, porque e como o que está sendo

analisado ocorreu.

Desta forma, se procura determinar o problema e a sua origem, investigando com metodologia

científica todos os fatos diretos e indiretos relacionados.

Esta investigação começa pela análise das evidências coletadas na cena do crime, ou local de

exame, verificando de que maneira os vestígios encontrados foram parar ali e procurando, à luz de

princípios físicos, reconstruir ao máximo possível a sequência de fatos que levaram à cena. Isto

invariavelmente provoca uma análise reversa de engenharia, ou seja, já existe o projeto montado,

construído, ou fabricado e agora se quer verificar todas as fases desde a sua confecção até o seu

planejamento. É como se um prédio fosse desmontado tijolo por tijolo, sem danificar nada, até o início da

sua construção. E, mais ainda, cada ação de desmontagem teria que ser igual, porém ao contrário, daquela

de montagem. Seria como passar um filme ao contrário.

Para a engenharia legal, a análise do problema compreende não somente a determinação da(s)

causa(s) direta(s), mas também de tudo aquilo que está relacionado, mas não atuou diretamente. Não basta

dizer o que provocou o evento, e sim como se chegou a ele. É muito comum haver uma causa imediata, às

vezes facilmente visível e inapropriadamente dita como causa única.

Um exemplo bastante simples seria a explosão de uma caldeira, onde se constatou que o problema

foi à válvula de alívio que emperrou e com isso a pressão aumentou acima do limite e ela veio a explodir.

Neste caso estaria determinada a causa direta do problema, o que de fato provocou o acidente. Ou seja, um

componente deste equipamento falhou e provocou o colapso do mesmo. E, sendo assim, basta verificar

quem fabricou e/ou projetou este componente e responsabilizá-lo.

Neste aspecto, se chega a um outro elemento também objeto da engenharia legal, que é o relatório

final da análise, pois todo exame gera um resultado e aqui não é diferente. Como dito no primeiro

parágrafo deste texto, os problemas envolvidos quase sempre envolvem crimes, acidentes, falhas, que são

assuntos polêmicos e quase sempre de disputa, onde invariavelmente existem duas ou mais partes. Não

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raro as decisões sobre responsabilidades chegam às varas judiciais, tanto criminais quanto cíveis.

Delegacias de polícias são envolvidas em muitos casos. E mesmo quando não há o envolvimento do

governo através dos seus julgadores, a engenharia legal pode atuar como peça responsável pela decisão ou

comprovação, como no caso da caldeira do parágrafo anterior, onde os danos podem ter sido somente

materiais e único problema passou a ser quem vai pagar o prejuízo, não havendo, de comum acordo entre

as partes, a necessidade de um processo judicial afim da apontar responsabilidades.

Diante desses argumentos, a engenharia legal tem que ser vista necessariamente como um dos

diversos ramos da perícia, sendo que o perito responsável pelos exames tem que obrigatoriamente ser um

engenheiro, o que remete a toda uma legislação envolvida. Mas, tem que ser levado em conta que a perícia

nem sempre pode ser respondida por um único tipo de profissional, sendo necessária muitas vezes à

participação de peritos de outras áreas. Isto na verdade é um aspecto comum e bastante geral. No caso

específico da engenharia legal, pode-se dizer que ela é fortemente interdisciplinar.

Com relação à explosão na caldeira mencionada anteriormente, a válvula de alívio aparece como

responsável, sendo ela a causa direta e imediata. Porém, não deve o perito engenheiro que estiver

examinando a cena da explosão se ater somente a este fato, pois outros aspectos podem ter contribuído

para o evento. Ele deve, antes de mais nada, responder para si mesmo porque a válvula falhou. Foi projeto

inadequado? Foi erro de fabricação? Era a válvula indicada para aquele equipamento? Como estava a

manutenção da caldeira? E o ambiente onde ela trabalhava, era apropriado para o seu funcionamento? Não

teria sido erro de operação? Não teria sido sabotagem?

Na prática, várias perguntas têm que ser respondidas antes do perito indicar qual foi a causa do

problema e se foi realmente só uma causa. Pois, vários fatores podem concorrer para a um determinado

evento, sendo que um deles pode ser o determinante, mas ele em si não tem como acontecer sozinho. No

exemplo anterior, a válvula de alívio poderia ter falhado por não ser apropriada para aquele tipo de

caldeira.

Neste caso tem que ser colocado com muito cuidado o termo poderia ter falhado, pois o fato em si

da escolha errada do componente que vai ser montado no equipamento não necessariamente significa a

solução do problema, uma vez que ele pode ter falhado por já estar danificado.

A análise quanto à interferência humana na operação da caldeira também tem que ser levada em

conta, pois pode ter havido sabotagem (alguém tinha interesse na explosão), pode ter havido falha de

manutenção, onde componentes já deviam ter sido substituídos, operações realizadas e, por algum motivo,

estas ações não foram feitas. A questão da negligência ou da imprudência não deve ser descartada. E isto

tudo remete a um estudo obrigatoriamente à luz dos conhecimentos da engenharia de segurança do

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trabalho, sendo necessária à ajuda de um profissional da área, a menos que o perito que esteja realizando

os exames tenha habilitação técnica também neste campo de conhecimento.

Se a válvula falhou por defeito de projeto, significa que ela não era apropriada para equipar a

caldeira e aí várias hipóteses vêm à tona. O material do qual ela foi construída não era apropriado, os

diâmetros das passagens internas não eram os corretos, havia obstruções excessivas que causavam

sobrepressões, enfim, uma série de possibilidades salta aos olhos do perito no momento dos exames. E

mais, o projeto até poderia estar bom, mas houve defeito de fabricação ou não houve fabricação adequada.

Um outro fator é o meio onde a caldeira estava funcionando anteriormente à explosão. Terá que ser

visto se o ambiente era adequado e que não havia presença de substâncias gasosas, partículas em

suspensão ou outros elementos que de alguma forma poderiam provocar danos em componentes desta

máquina. Ou que também poderiam interferir na própria operação da caldeira, tendo uma ação danosa em

quem a manipulava.

Após cada fator ser visto separadamente e em conjunto com os demais, o perito engenheiro elimina

aqueles que não tiveram influência e seleciona os que contribuíram para o problema, caso seja mais de

um. Desta forma, ele muito mais do que dizer o que houve, fala o que não houve. E esclarece se somente

teve uma causa ou se outras concorreram para o evento.

Sendo assim, a perícia sob o ponto de vista da engenharia legal tem obrigação de ser feita

analisando todos os aspectos técnicos existentes. Por isso se diz que ela tem que ter metodologia científica

e levar em conta aquilo que ciência chama de lógica, onde toda ação corresponde a uma reação e tudo faz

parte de um sistema no qual todos os componentes estão ligados. Logo, ainda utilizando os termos

científicos, é preciso ter visão holística, visualizar o todo, para assim poder avaliar os detalhes, as

particularidades.

Randall k. Noon, em forensic engineering investigation, diz que a análise na engenharia legal é

tratada como se fosse um grande quebra-cabeças, onde os vestígios encontrados na cena são como as

peças soltas, as quais são encaixadas em pequenas partes e estas por sua vez são unidas vagarosamente,

até começarem a formar pedaços de figuras que no final formarão uma imagem completa, que no caso

seria a reprodução do delito que levou à cena. Este mesmo autor diz ainda que a investigação científica é

como uma pirâmide, onde a base seria formada pelas evidências e fatos vistos nos exames, e quanto maior

for esta base mais sólida será esta pirâmide. No meio dela estaria à análise destas evidências e fatos, e no

topo a conclusão.

Randal observa que quando se fala em conclusão, é preciso que ela tenha sido resultado de uma

análise criteriosa e científica dos fatos e vestígios, e não baseada em outras conclusões ou hipóteses. Por

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exemplo, se fosse considerado que a caldeira que explodiu era um equipamento já velho e bastante

desgastado, isto poderia levar à hipótese sem subsídios de que este foi o motivo da explosão. Com certeza

esse é um fato que vai ter que ser levado em conta na análise, mas ele sozinho não resolve o problema.

Quando um motivo ou causa para um evento é trazido através de relatos, ou seja, quando existe

uma ou mais testemunhas, o perito engenheiro tem que redobrar os cuidados. E como tudo faz parte da

análise, o testemunho de pessoas envolvidas não pode ser deixado de lado e precisa sim ser levado em

conta. Mas, o profissional tem que entender que qualquer um que relate um evento o faz com emoção,

pois isso é inerente à natureza humana, podendo em muitos casos não só relatar como também emitir a sua

opinião. Os acidentes, por exemplo, são eventos não programados e, portanto, não esperados, logo quem

os presencia não está esperando e por isso mesmo não tem como perceber por completo como eles

ocorrem.

Quem estiver testemunhando também pode ter interesse no caso e por isso não relatar tudo o que

viu, ou até mesmo mentir. Por exemplo, no caso da caldeira que explodiu não é de se esperar que haja

grandes coincidências entre os relatos do dono dela e do representante da empresa que a segurou.

Por último, o perito engenheiro tem que entender que o resultado final do seu trabalho é um laudo

técnico. E este tem que ser um documento lógico e conciso, mostrando sequencialmente e de maneira

técnica, porém clara, tudo aquilo que foi analisado e que serviu de base para se chegar a uma ou mais

conclusões. E quem o lê tem que compreendê-lo. Mas, quase sempre, a destinação do laudo é uma corte

judicial, na qual um juiz é o seu chefe, havendo também advogados, promotores e defensores públicos.

Estas pessoas não têm obrigação de ter conhecimentos específicos sobre o que o perito pretende

demonstrar com o laudo. Um juiz não precisa saber engenharia para trabalhar num processo de

desabamento de um prédio. Na verdade, interessa a ele saber as causas que levaram a isso de maneira

bastante simples, escritas em uma linguagem que um leigo em princípios físicos possa entender.

Por outro lado, como se trata de um trabalho de engenharia é preciso haver metodologia apropriada

para os exames e esta tem que constar no laudo, de modo que um outro engenheiro ao ler ele tenha

condições de tecer críticas.

Então se chega a um dilema muito interessante, pois o laudo tem que representar com fidelidade o

trabalho executado pelo perito, os passos que ele deu para a realização dos exames, tem que ser aceito por

outros profissionais da mesma área de engenharia, contendo para isso base científica, mostrando os

conhecimentos físicos e matemáticos aplicados, mas também que estar em linguagem simples e clara, de

modo que leigos possam ter acesso ao seu conteúdo, pelo menos no que se refere às conclusões.

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E já que o laudo vai quase sempre parar nas mãos de um juiz, precisa o perito engenheiro saber que

ele poderá ser contestado, pois a justiça tem obrigação de prezar pelo princípio do contraditório. O laudo

tem como principal objetivo orientar o juiz nas suas decisões. Em termos práticos, isto quer dizer que ele

vai prejudicar alguém, que por sua vez vai tentar mostrar possíveis falhas existentes nele, ou ainda efetuar,

através de peritos engenheiros assistentes, uma outra análise abordando pontos de vistas diferentes que

não teriam sido observados pelo perito. E por conta disso, deve o perito ter certeza de tudo aquilo que

ele escrever no laudo, pois essa a lógica de toda e qualquer perícia, correndo o risco de sofrer

consequências de natureza jurídica caso ele não atente para esta regra.

Um perito não tem obrigação de descobrir com precisão absoluta a causa que levou ao delito

que ele está investigando, mas obrigatoriamente ele tem que tentar. E no seu relato ele tem que

descrever exatamente o que ele tem certeza, não havendo espaço para o que ele acha. E para isso ele tem

que ter conhecimentos consolidados e estrutura para trabalhar. Sendo entendido que quando se fala em

estrutura, significa falar deste uma viatura com boas condições de trafegabilidade até laboratórios de

análises, passando por ferramental apropriado, equipamentos de proteção, etc.

Um laudo resultante de uma perícia numa lagoa com um vazamento de combustível proveniente de

uma embarcação, não pode ter como conclusão algo do tipo havia uma mancha escura de grandes

proporções presente na água. O ideal é que o perito diga que havia sim uma mancha, mas que essa era de

combustível, informando qual o tipo e a quantidade, dizendo ainda qual o grau de contaminação e as

consequências para o meio ambiente. Só que para isso, ele tem que ter disponíveis laboratórios para

análise de amostras, recipientes adequados para coleta destas, meios para medir a localização e a

quantidade de combustível despejado, etc. Sem isso, não há perícia, pois os exames não podem ser feitos

no “olhômetro”. Nem mesmo pode ele dizer que se trata de combustível se não dispor de base científica

para afirmar.

É preciso ser entendido que o perito não possui poderes mágicos, capazes de adivinhar fatos ou

coisa parecida. Se ele não tem como determinar algo, por mais que ele ache, não pode tecer qualquer

afirmação. É muito comum em laudos dos diversos institutos de criminalísticas do Brasil "pérolas" do tipo

substância com características hematóides, em vez de simplesmente sangue, ou ainda impregnações de

tinta de coloração avermelhada , quando se deveria dizer tinta vermelha. Tudo isso em função da falta de

estrutura que o perito criminal brasileiro enfrenta para trabalhar.

Justamente tentando elaborar uma espécie de manual, com procedimentos mínimos e

indispensáveis para realizações de perícias de natureza criminal nas mais diversas áreas, os renomados

peritos Alberi Spíndula e Domingos Tochetto coordenaram a um trabalho monumental e inédito em nível

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de criminalística brasileira, publicando a obra “Criminalística – Procedimentos e Metodologias”, que

contou com a ajuda e colaboração dos diversos peritos que conseguem freqüentar os congressos

promovidos pela Associação Brasileira de Criminalística (ABC). Esta obra tenta estabelecer metodologias

para análise dos vestígios e evidências encontrados na cena e ainda colabora para uma futura padronização

a nível nacional, inclusive dos laudos. Ela é muito interessante na medida em que representa a opinião dos

peritos de cada área, transcrita por um perito especialista naquele assunto.

Sendo assim, é mostrado a seguir os procedimentos e metodologias para a área de engenharia legal,

que foram temas de palestra apresentada no último congresso brasileiro de perícias em acidentes de

trânsito, identificação veicular e engenharia legal realizado no ano de 2008, na cidade de Macapá.

1. Conceitos básicos de perícia, perito e laudo:

• Perícia: “atividade concernente a exame realizado por profissional especialista, legalmente

habilitado, destinado a verificar ou esclarecer determinado fato, apurar as causas motivadoras do

mesmo, ou o estado, alegação de direitos ou a estimação da coisa que é objeto de litígio ou

processo”.

• Perito: “profissional legalmente habilitado, idôneo e especialista, convocado para realizar uma

perícia”.

• Laudo: “parecer técnico escrito e fundamentado, emitido por um especialista indicado por

autoridade, relatando resultado de exames e vistorias, assim como eventuais avaliações com ele

relacionadas”.

Fonte: glossário do instituto brasileiro de avaliações e perícias de engenharia (IBAPE – SP).

2. Principais tipos de perícias na área da engenharia forense

Dentre os exames existentes de engenharia legal, os que ocorrem com maior freqüência, dentro dos

institutos de criminalística (ic), são:

• Desabamentos de obras civis;

• Deslizamentos de terras;

• Vícios de construção (falhas ou irregularidades em construções);

• Exames em equipamentos mecânicos e/ ou elétricos;

• Avaliações de imóveis;

• Análises de orçamentos;

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• Acidentes de trabalho.

Em relação as perícias ambientais, observa-se uma maior incidência dos seguintes tipos:

• Exames em espécies animais e vegetais;

• Exames em local de desmatamento;

• Exames em local de extração de substância mineral (areia, cascalho, etc.);

• Poluição sonora, hídrica, do solo e do ar;

• Locais de degradação do solo;

• Locais de danos em áreas de preservação permanente ou protegidas por lei específica.

Fonte: perícia criminal e cível – uma visão geral para peritos e usuários da perícia (alberi espíndula).

Além dos exames citados temos ainda vários outros, tais como:

• Incêndios;

• Explosões;

• Eletroplessão;

• Perigo de desabamento;

• Parcelamento irregular e loteamento clandestino;

• Alteração de limites;

• Esbulho possessório;

• Danos;

• Crimes contra o erário público (obras superfaturadas);

• Adulteração de combustível

Fonte: criminalística – procedimentos e metodologias (a. Espíndula e d. Tocchetto).

3. Exames mínimos indispensáveis.

3.1 – Exames de constatação em peças de exames relacionadas à atividade de engenharia forense.

• Verificar a origem do corpo de delito (cadeia de custódia);

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• Manter rígido controle do corpo de delito durante os exames periciais;

• Enviar à autoridade solicitante o material examinado (lacrado e identificado) junto com o laudo

pericial;

• Requisitar, no caso de necessidade de suporte técnico ao laudo, análises ou ensaios laboratoriais

(exames internos ou externos);

• Realizar o levantamento primário de riscos de acidentes existentes na manipulação da peça.

3.2 – Exames de locais relacionados às atribuições de engenharia forense.

3.2.1 - Exames de constatação de local

• Levantamento primário dos riscos de acidentes no ambiente (epi’s, medidas preventivas e melhor

técnica investigativa);

• Levantamento de local (descrição do imóvel ou do bem periciado, com o detalhamento da área

ocupada e/ou da situação física do mesmo);

• Elaboração de croqui descritivo ou juntada de planta baixa, de levantamento planialtimétrico ou

de documentos obtidos junto ao cartório de imóveis;

• Detalhamentos das benfeitorias;

• Detalhamento dos pontos de referência (gps ou similar);

• Informações quanto à preservação do local (relatos);

• Exames macroscópicos no local (descrição do cenário/repercussão no ambiente e da atividade

desenvolvida);

• Detalhamento dos exames de campo (específicos);

• Detalhamento das coletas (origem, metodologia, envoltórios e recipientes, forma de guarda,

horário, responsável);

• Exames de comparação (entre medidas de plantas, projetos e documentos técnicos).

3.2.2 – Coleta de padrões amostrais.

• Coleta de amostras significativas (materiais, combustíveis, substâncias químicas, etc.)

Relacionadas com o evento gerador.

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3.2.3 – coleta de equipamentos.

• Medidores ou componentes da instalação residencial, comercial ou industrial a serem

encaminhados para exames físicos.

4. – Técnicas e metodologias empregadas nos exames.

4.1 – Técnicas de análises.

4.1.1 – Determinação das causas

• Causas objetivas

A) Genéricas: falhas dos responsáveis técnicos (de projeto, cálculo estrutural, de execução, infrações às

normas técnicas ou a legislação);

B) Específicas: falhas de estrutura, de construção, de escoramento, de demolição, de materiais ou de

manutenção e conservação.

• Determinação das causas imponderáveis

A) Fenômenos naturais (sinistros);

B) Ação de terceiros;

C) Outras não previstas (acidentes).

• Análise de fluxograma.

• Análise de fluxo ou cadeia produtiva.

• Patologias em sistemas de vasos sob pressão.

• Coleta de materiais para pesquisa metalográfica.

5. Equipamentos e recursos indispensáveis nos exames engenharia forense.

• 5.1 - Epi’s básicos:

• Proteção para a cabeça: capacete e óculos.

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• Proteção para membros superiores: luvas com mangotes (proteção contra produtos

químicos), luvas de raspa de couro, luvas descartáveis, luvas e mangotes para proteção

contra eletricidade

• Proteção para membros inferiores: calçado impermeável resistente a produtos químicos e

umidade, calçados de proteção contra eletricidade, perneiras de proteção contra riscos de

origem mecânica.

• Proteção contra quedas com diferença de nível: cinto de segurança para trabalhos

superiores a 2 m.

• Proteção auditiva: protetores auriculares tipo abafadores (concha).

• Proteção respiratória: respiradores contra poeiras e respiradores e máscara de filtro

químico.

• Proteção para o tronco: avental de raspa de couro, jaleco.

• Proteção para a pele: cremes protetores contra o sol e produtos químicos.

Em relação aos equipamentos utilizados nos exames externos, sugere-se além dos mais comuns

(trena, calculadora científica, prancheta, máquina fotográfica digital, gps, medidor de pressão sonora,

entre outros):

• Filmadora ou câmera de vídeo;

• Celular (com antena portátil) e rádio gravador portátil;

• Computador portátil;

• Esclerômetro e dinanômetro;

• Medidor de ph;

• Paquímetro e jogos de ferramentas;

• Termômetros de globo, bulbo úmido natural e bulbo seco;

• Termômetro de mercúrio, higro-termômetro;

• Dosímetro de ruído;

• Localizados de vazamentos;

• Multímetro e alicate volti-amperímetro;

• Medidor de vibração industrial e medidor de campo magnético;

• Martelo, marreta, ponteira, talhadeira, pá, picareta, enxada, foice, facão, vassourão, etc.

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6. Qualificação dos peritos para realizarem perícias de engenharia forense.

É necessário uma formação mínima indispensável, para o perito criminal ter condições técnicas e

legais para realizar exames de engenharia forense com qualidade. Isso inclui:

• Formação acadêmica completa nas diversas áreas da engenharia.

• Curso de formação para perito criminal com no mínimo 40 horas-aula da disciplina

engenharia forense.

• Estágio supervisionado na seção de engenharia legal, com duração de 6 meses, incluindo a

elaboração de laudos periciais.

• Curso de atualização/aperfeiçoamento, com um mínimo de 40 horas-aula.

• Especialização nas diversas áreas de engenharia (ex. Engenharia de segurança do

trabalho).

7 – Estrutura mínima do laudo pericial de engenharia forense.

Cada tipo de perícia também deverá ter orientado os tópicos mínimos indispensáveis que deverão

constar em um laudo pericial, conforme se recomenda a seguir:

7.1 – Introdução:

Discriminar os dados principais do laudo pericial, tais como: data, local de requisição, nome do

instituto, órgão superior, números de ofício, de registro, tipo de exame, nome da autoridade solicitante,

número do inquérito policial ou processo judicial, nome dos peritos designados, objetivo da perícia, dentre

outras informações.

7.2 – Histórico:

Neste tópico é relatado um breve histórico do fato ou evento gerador da requisição pericial.

7.3 – Objetivo pericial:

Descrição dos objetivos a serem alcançados, conforme consta na requisição da perícia ou nos

quesitos formulados.

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7.4 – Do local:

Descrição do local ou objeto a ser periciado, especificando os aspectos dimensionais e de situação

física do mesmo (imóvel, equipamento,etc.). Deve ser relatado as alterações do local e as suas

consequências para a perícia.

7.5 – Dos informes:

Descrição dos relatos dos acompanhantes dos exames, com a identificação completa dos mesmos.

7.6 – Dos exames periciais:

Discriminar todas as técnicas e métodos empregados e os respectivos exames realizados (coleta de

amostras, medições).

7.7 – Dos elementos técnicos:

Fazer as análises e interpretações das evidências constatadas e respectivos exames, de maneira a

facilitar a compreensão e entendimento por parte dos usuários do local. Deve ser citado as normas

técnicas, a legislação, os códigos ou fontes dos parâmetros utilizados.

7.8 – Da análise dos documentos elaborados, obtidos ou constantes dos autos.

A análise de documentos serve de subsídio para o trabalho pericial, sendo especialmente

importante no caso de exames indiretos.

7.9 – Conclusão (ões):

As conclusões inseridas no laudo pericial devem ser – obrigatoriamente – uma conseqüência natural

do que já fora argumentado, exposto, demonstrado e provado tecnicamente nos tópicos anteriores ao

laudo.

• No caso de apenas uma conclusão, deve haver apenas uma possibilidade para aquele evento, sob

a ótica técnico-científica.

• Pode-se ainda relatar a impossibilidade de uma conclusão categórica de uma determinada

perícia.

• Há também o caso de eliminação de algumas possibilidades ou hipóteses, e com isso, delimitar o

trabalho policial e judicial.

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7.10 – Resposta aos quesitos:

Neste tópico consta os quesitos formulados e as respostas aos mesmos, podendo haver ou não um

espaço reservado para conclusões.

7.11 – Fecho ou encerramento:

No item é sintetizado os elementos que compõem o laudo pericial (número de páginas, fotografias,

croquis, documentos em anexo, etc.). O padrão varia conforme o estado.

7.12 – Anexos:

Incluir, ao final, todos os anexos que foram produzidos e que sejam necessários acompanhar o

laudo para fins de melhor compreensão do mesmo, tais como, resultados de exames complementares,

fotografias, gráficos, croquis, relatórios de outros peritos ou de outros profissionais.

Fonte: criminalística – procedimentos e metodologias (a. Espíndula e d. Tocchetto).

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CURSO TÉCNICO PROFISSIONAL PARA PERITO - CRIMINAL

III UNIDADE: INCÊNDIO

1. Propósitos de uma perícia de incêndio

Econtrar o ponto de origem (foco)

Encontrar a fonte de calor (agente ígneo)

Determinar a causa do incêndio

Classificar o incêndio

“Art. 173 CPP: No caso de incêndio, os peritos verificarão a causa e o local em que houver começado, o

perigo que dele tiver resultado para a vida ou para o patrimônio alheio, a extensão do dano e o seu valor e

as demais circunstâncias que interessarem à elucidação dos fatos”.

2. Quesitos propostos:

1. Houve incêndio?

2. Qual o objeto ou objetos incendiados?

3. O incêndio foi parcial ou total?

4. Pôde ser localizado o foco inicial do incêndio?

5. Pôde ser determinada a causa que deu origem ao incêndio?

6. Não sendo possível precisar a causa, qual a mais provável?

7. Qual a extensão dos danos causados?

8. Havia vestígios de substâncias inflamáveis ou explosivas no local?

9. Havia anormalidade na instalação elétrica?

10. Era fácil a comunicação do fogo aos prédios próximos?

11. O incêndio expôs ao perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio alheio?

3. Conceitos:

3.1 - Fogo: Resultado de uma reação química condicionada à presença de três elementos: combustível,

calor e oxigênio.

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3.2 - Calor: É a quantidade de energia emitida a partir de uma reação química de combustão. Corresponde

à sensação da variação de temperatura no meio circundante.

3.3 - Combustível: Compostos orgânicos ou inorgânicos em cuja composição molecular entram

elementos que, ao se combinarem com o oxigênio, numa reação de combustão, transformam-se em

produtos da combustão, desprendendo calor (destacam-se o Carbono, o Hidrogênio e o Enxofre).

3.4 - Temperatura: Medida do grau de agitação das moléculas de um corpo.

3.5 - Faixa de inflamabilidade: Intervalo de concentração entre combustível e oxigênio no qual a

combustão ocorre.

3.6 - Perolamentos (ou traços de fusão): Fenômeno da fusão do condutor de corrente elétrica, gerada por

sobrecarga ou curto-circuito, estes, gerados por elevação de temperatura devida a grande densidade de

corrente elétrica e conseqüente dissipação térmica por unidade de volume, dando origem a uma superfície

polida em forma de gota, aproximadamente esférica.

3.7 - Perolamentos secundários: Quando é formado durante a ocorrência de chamas, constituindo-se

de uma pérola de fusão vazada, como uma bolha, e apresentando outros materiais que não apenas o metal

condutor, tendo a sua produção conseqüência e não causa do incêndio.

3.8 - Combustão espontânea: Fenômeno na qual ocorre a combustão de um material combustível

unicamente pelo contato com o ar, sem a presença de uma fonte de ignição.

3.9 - Esfumaçamento: De esfumaçar, encher ou enegrecer com fumaça. Os materiais que formam o fluxo

de convecção (gases e partículas aquecidas), gerados na área do foco, deslocam-se, por ação de correntes

de ar e por gradientes de temperatura, para as regiões altas da atmosfera, aderindo a superfícies de menor

temperatura formando o esfumaçamento ou “enfumagem”.

3.10 - Temperatura de ignição: Menor temperatura na qual a substância desprende vapores que ao entrar

em contato com o ar incendeiam-se, sem a necessidade da presença de alguma fonte de ignição (gasolina

280ºC).

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3.11 - Ponto de fulgor (flash point): Menor temperatura na qual a substância desprende vapores

inflamáveis que ao entrar em contato com alguma fonte de ignição incendeiam-se, sem manter as chamas.

3.12 - Ponto de combustão: Menor temperatura na qual a substância desprende vapores que ao entrar em

contato com alguma fonte de ignição incendeiam-se, mantendo as chamas.

3.13 - Substância Volátil: Quando à temperatura ambiente (CNTP) desprende vapores capazes de se

inflamar.

3.14 - Substância inflamável: Substância cujo ponto de fulgor está situado abaixo da temperatura normal

ambiente. Estando na presença de chama, inflama-se imediatamente.

3.15 - Substância inflamável x substância combustível: Entra em combustão na temperatura ambiente x

entra em combustão acima da temperatura ambiente.

4. Propagação do incêndio:

4.1 - Convecção: Modo de propagação pelo ar pela condução de partículas aquecidas que podem gerar

queima em materiais combustíveis localizados a consideráveis distâncias.

4.2 - Condução: Modo de propagação de uma parte de um corpo para outra parte do mesmo corpo ou de

um corpo para outro corpo, por contato direto.

4.3 - Radiação: Modo de propagação onde o calor é irradiado por meio de oscilações eletromagnéticas.

Em ambientes fechados, após a ignição, uma coluna de gases aquecidos é formada acima da

chama. Esses gases movimentam-se para cima até encontrarem um anteparo. Então, passam a

movimentar-se horizontalmente, formando uma fina camada de gases aquecidos e fumaça junto ao teto.

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Conforme se dá o espessamento da camada de gases aquecidos, ela pode alcançar aberturas,

podendo se alastrar para outros ambientes. Se a produção de gases aquecidos e fumaça não exceder a

movimentação deles para fora do ambiente, a camada de gases aquecidos e fumaça não mais aumentará.

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Com o aumento do fogo, a camada de gases aquecidos e a fumaça aumenta sua espessura,

aumentando a temperatura do ambiente e de todo o material contido no mesmo.

A transferência de calor por radiação aumenta conforme o aumento da temperatura no ambiente.

Com o aumento da temperatura da superfície dos materiais combustíveis presentes no ambiente, gases

provenientes da sua pirólise começam a ser produzidos e aquecidos até a sua temperatura de ignição.

Quando a temperatura da camada de gases aquecidos e fumaça alcançam aproximadamente 590ºC, os

gases da pirólise entram em ignição, fenômeno denominado “flashover”.

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O “flashover” é a transição da condição de queima do material combustível inicial, juntamente

com outros ao seu redor, sujeitos a ignição por contato direto com fonte de calor, para a condição de

queima generalizada dos materiais combustíveis presentes no ambiente.

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5. Vestígios:

Velocidades de queima - podem indicar a quantidade e a distribuição de material combustível,

uso de acelerantes de queima.

Presença de resíduos acelerantes de queima - podem indicar a participação de acelerantes no

início e propagação das chamas.

Padrões de queima (cone invertido) - normalmente indicam localizacão de focos de fogo.

Gradaçãos de queima - intensidades de queima, ajudam a definir localização do foco e os

caminhos do fogo.

Tiragens através das aberturas - podem localizar a dependência de início do fogo.

Temperatura de fusão de materiais (metais, vidros) – indicam as temperaturas alcançadas.

Direção de deformações e fusões de materiais - apontam para fonte de calor.

Mudanças de cor no concreto – indicam as temperaturas alcançadas.

Pérolas de fusão – podem indicar a ocorrência de curto-circuito.

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Vestígios Encontrados no Local

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Gradações de queima (intensidades de queima).

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Gradações de queima (intensidades de queima).

Gradações de queima (intensidades de queima).

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Padrões de queima (cone invertido).

Padrões de queima (cone invertido).

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Padrões de queima (cone invertido).

Padrões de queima (cone invertido).

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Tiragens através das aberturas.

Tiragens através das aberturas.

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Tiragens através das aberturas.

Tiragens através das aberturas.

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Tiragens através das aberturas.

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Tiragens através das aberturas.

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Pérolas de fusão.

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Direção de deformações.

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Fusões de materias

rial de fusão (ºC)

.

Mate Temperatura

Aço 1427-1516

Alumínio 566-650

Chumbo 327

Cobre 1082

Ferro 1540

Ferro fundido 1050-1400

Latão 932 - 996

Níquel 1455

Ouro 1063

Prata 960

Vidro 593-1427

Zinco 375

Exemplo: inexistência de vestígios

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Exemplo: inexistência de vestígios

. Estudo de causa do incêndio

6

6.1 ã sobre material combustível

mbustão

.2 Fenômeno elétrico do tipo sobrecarga ou curto-circuito

. Conclusão Laudo de Incêndio

Aç o de corpo ígneo

• Acidental (culpa)

Intencional (dolo)

a) Com o uso de substância acelerante da co

b) Com multiplicidade de focos primários

6

7

7.1 CO

NCLUSÃO COMPLETA (presença de acelerante e focos múltiplos)

Face ao resultado do Exame Pericial realizado, amparados tecnicamente nos vestígios

remanescentes encontrados no local, concluímos que o incêndio em questão teve como causa a ação de

corpo ignescente em presença de material combustível e inflamável, caracterizado pela presença de dois

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focos iniciais de chamas, independentes entre si, deflagrados mediante intervenção humana, de forma

intencional, através das janelas dos dois dormitórios.

7.2 CONCLUSÃO (somente foco e causa – quando não for possível determinar acidentalidade ou

intencionalidade)

Face ao resultado do Exame Pericial realizado, amparados tecnicamente nos vestígios

remanescentes encontrados no local, concluímos que o foco inicial do incêndio esteve localizado no

interior da edificação, no quadrante anterior esquerdo, onde seria um dos dormitórios e teve como causa a

ação de corpo ignescente sobre material combustível e/ou inflamável.

7.3 CONCLUSÃO (somente localização do foco)

Face ao resultado do Exame Pericial realizado, amparados tecnicamente nos vestígios

remanescentes encontrados no local, concluímos que o incêndio em questão teve seu foco inicial

localizado no interior da parte coberta do pavimento superior, na sua região direita. O elevado grau de

destruição em que se encontravam os escombros na região direita da parte coberta prejudicou a análise dos

vestígios do sinistro, não sendo possível identificar elementos suficientes para embasarmos tecnicamente

conclusões sobre a causa do incêndio.

7.4 CONCLUSÃO (causa elétrica)

Face ao resultado do Exame Pericial realizado, amparados tecnicamente nos vestígios

remanescentes encontrados no local, concluímos que o incêndio em questão teve seu foco inicial

localizado junto ao sofá posicionado na parede lateral direita da sala de estar, tendo como causa a

ocorrência de fenômeno de ordem termoelétrica do tipo curto-circuito ou sobrecarga na campainha sem

fio instalada na tomada localizada acima do encosto do sofá.

8. INCÊNDIOS EM VEÍCULOS

8.1 Quesitos propostos:

1. Houve incêndio?

2. Qual o objeto ou objetos incendiados?

3. O incêndio foi parcial ou total?

4. Pôde ser localizado o foco inicial do incêndio?

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5. Pôde ser determinada a causa que deu origem ao incêndio?

6. Havia vestígios de substâncias inflamáveis no local?

7. O incêndio expôs ao perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio alheio?

Ex.: Incêndio em ônibus em Rio Grande

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9. Material de Consulta sobre Incêndio

9.1 - DeHAAN, John D. Kirk’s Fire Investigation. 6th Edition. Prentice Hall, 2006.

9.2 - NATIONAL FIRE PROTECTION ASSOCIATION. NFPA 921: Guide for Fire and Explosion

Investigations. Quincy, Massachusetts: National Fire Protection Association, 2004.

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CURSO TÉCNICO PROFISSIONAL PARA PERITO - CRIMINAL

UNIDADE III - PERÍCIAS DE IDENTIFICAÇAO VEICULAR

I - OBJETIVO

II - CONCEITOS E DEFINIÇÕES

III - LEGISLAÇÃO A CONSULTAR

IV - O FABRICANTE

.LOCALIZAÇÕES DAS CODIFICAÇÕES

.PADRÕES E PARTICULARIDADES

V- O CHASSI E OS AGREGADOS

VI- O SISTEMA RENAVAM

I - OBJETIVO

Dizer se o veículo está ou não adulterado

II - CONCEITOS E DEFINIÇÕES

É preciso individualizar o veículo, marca, modelo, cor, potência, etc.

Códigos identificadores

III - LEGISLAÇÃO A CONSULTAR

• Art 114/CTB – Identificação por caracteres gravados no chassi ou monobloco

• Art 115/CTB- Placas dianteira e traseira

• Art 96/CTB – Classificação dos veículos

• Art 98/CTB – Proíbe modificações sem autorização

• Art 120 a 124/CTB – Registro de veículos

• Art 125/CTB – Informações dos fabricantes

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• Res. 691/88- Estabelece critérios para a identificação de veículos

• Res. 24/98 – Estabelece critérios para a identificação de veículos

• Res. 45/98 – Placas de veículos

• Res. 13/98 – Documentos de portes obrigatórios

• Res. 25/98 – Mudança de característica

IV - O FABRICANTE

IV.1 - Localização das codificações

“PRÁTICA”

IV.2 - Padrões e particularidades

“PRÁTICA”

V. O CHASSI

V.1 - Duas fases distintas

• Antes de 1988: Sem normas

• Após 1988: NBR, ABNT

V.2 - VIN ou NIV (Número de Identificação do Veículo): É o chassi propriamente dito

Ex: 9BGRD08Z03G100001

• 17 CARACTERES ALFA-NUMÉRICOS

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• DIVIDIDO EM TRÊS CAMPOS A SABER

Primeiro Campo – Identificação Internacional do Fabricante

“WMI”

Composto pelos três primeiros caracteres

No caso: 9BG

Segundo Campo – Seção Descritiva do Veículo

“VDS”

Vai do quarto ao nono caractere

No caso: RD08Z0

Terceiro Campo – Seção Indicadora do Veículo

“VIS”

Vai do décimo ao décimo sétimo caractere

No caso: 3G100001

Obs.: O décimo dígito indica o ano de fabricação ou o ano modelo do veículo.

OS AGREGADOS

É tudo que confirma o NIV

Placa;

Cor;

Características;

Datas;

VIS (Vidros, etiquetas e plaquetas)

Motor;

Carroceria ou Cabine;

Câmbio; etc.

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É a gravação alfanumérica de identificação veicular, que fica localizada na longarina ou no

monobloco dos veículos. Esses componentes são catalogados pelos fabricantes e vão auxiliar na

identificação de um veículo com chassi adulterado.

As gravações são feitas em baixo relevo na carcaça da peça ou afixada em plaquetas, não devendo

ser confundidas com as numerações de peças, gravadas em alto-relevo.

Muitas vezes deparamos com casos em que a numeração destes agregados estão violadas

(ausentes/danificadas). Isto indica que o veículo não está em condições normais, merecendo portanto,

análise mais detalhada.

Tipos de adulterações:

- Remoção pura e simples de dígitos

Pode ser total ou parcial

Utilizam-se abrasivos

Pode trocar-se ou não a codificação por outra

Obs.: Pode se remover todo o NIV de um local e regravar um outro em outra posição

- Regravação sobre a codificação original

Ex.: De um número 3 se faz um número 8

- Transplante e implante

Remove-se a base suporte da codificação e coloca-se outra no lugar

A codificação pode ser substituída ou não por outra

Normalmente se usa o maçarico para remover a base suporte e solda para colocar outra no lugar.

Pode também ser usado massa plástica, durepox, etc.

- Recobrimento da superfície onde é gravada a codificação com ou sem remoção desta

Pode ser total ou não

Utiliza-se de solda, massa plástica, durepox, etc.

Pode ser colocado sobre a codificação uma chapa.

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- Remoção de plaquetas identificadoras

Normalmente em agregados

Pode ou não serem colocadas outras no lugar

Obs.: Se forem colocadas outras no lugar, estas podem ser originais de fábrica (retiradas de outros

veículos) ou não.

- Remoção com ou sem substituição de etiquetas auto-destrutivas.

Obs.: Se forem colocadas outras no lugar, estas podem ser originais de fábrica (retiradas de outros

veículos) ou não.

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GRAVAÇÕES DAS CODIFICAÇÕES

-Gravação por punção

Prensa

Manual

-Gravação por ponteamento ou agulha

-Gravação a laser

CARACTERÍSTICAS DAS GRAVAÇÕES

Punção

- Prensa: Dígitos de mesmo tamanho e forma, espaçamento entre os caracteres uniforme, alinhamento

quase perfeito, em baixo relevo.

- Manual: Dígitos de mesmo tamanho e forma, espaçamento entre os caracteres desigual, sem

alinhamento e em baixo relevo.

Ponteamento ou agulha

Dígitos de mesmo tamanho e forma, espaçamento entre os caracteres uniforme, pequena

profundidade de gravação, alinhamento quase perfeito, em baixo relevo.

Laser

Dígitos de mesmo tamanho e forma, espaçamento entre os caracteres uniforme, pequena profundidade

de gravação, alinhamento quase perfeito, em baixo relevo.

O QUE DEVE SER OBSERVADO NA PEÇA SUPORTE DE GRAVAÇÃO

- Presença de desbastes

. Grosseiro

. Polimento

. Rebaixos

. Flerpas

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- Presença de soldas

Muitas vezes a solda não está exatamente ao lado da codificação e sim longe desta.

- Pintura não original sobre a superfície de gravação

- Presença de jateamento

- Posição e localização das gravações NIV e de agregados

CARACTERÍSTICAS DE UM LOCAL ADEQUADO PARA REALIZAR VISTORIA

- Boa luminosidade

.Luz do sol

.Pé direito alto

- Isolamento

- Ter diques, rampas ou macacos hidráulicos

VI - REGISTRO NACIONAL DE VEÍCULOS AUTOMOTORES (RENAVAM)

Sistema informatizado que armazena informações (dados) de todos os veículos registrados no

Brasil.

O que faz o RENAVAM:

. Cadastro e pré-cadastro de veículos, informando dados de NIV, agregados, proprietário, número

RENAVAM, placa, ano fabricação/modelo, espécie tipo do veículo, modelo, marca, etc.

. Bases locais ou estaduais e Base de Índice Nacional (BIN)

. Registro de licenciamento anual

. Registro de Roubos e Furtos, e ainda impedimentos administrativos

. Estatística, onde é informado os números da frota nacional, os acidentes de trânsito, etc

. Registro de multas

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O RENAVAM foi inicialmente implantado no estado do Paraná e a seguir, paulatinamente, nas

demais unidades da Federação. Popularmente, pode-se dizer que foi a substituição das placas amarelas

pelas placas cinzas. Na verdade, este sistema permitiu a integração online para todo o Brasil, de todos os

dados de veículos cadastrados nas bases estaduais (os DETRANs) do BRASIL.

SISTEMA RENAVAM

LICENCIAMENTO

RENAVAM BIN

ROUBOS/FURTOS

ESTATÍSTICA

EXAMES EM SUPERFÍCIES DE GRAVAÇÕES

MATERIAIS UTILIZADOS:

- Thinner;

- Estopa e algodão;

- Removedor pastoso;

- Espátula;

- Chaves de fenda, boca, estria, etc;

- Lanterna;

- Material para decalque, etc.

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EXAMES QUÍMICO-METALOGRÁFICO

Este tipo de exame deve ser feito somente em caso de suspeitas de adulterações, pois ele é

altamente destrutivo. Além do material já citado, deve-se usar lixas apropriadas para aço, afim de polir a

superfície de gravação a ser examinada.

Podem ser utilizados diversos ácidos. Mas, no pará o mais utilizado é o fry que tem ácido

clorídrico na composição

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UNIDADE IV - PERÍCIAS EM VEÍCULOS AUTOMOTIVOS

ANÁLISE DE DANOS

Quando se fala em danos em veículos, tem que ser entendido que eles podem ser originários

de diversas fontes, como acidentes de trânsito, vandalismo e agressões, arrombamentos, disparos de armas

de fogo, defeitos mecânicos e de fabricação, ou projeto, entre outros. Além disso, em alguns casos mais de

uma fonte pode concorrer para as avarias. Sendo a quase totalidade dos exames feitos em veículos

envolvidos em acidentes de tráfego.

Justamente pelo grande volume de procedimentos, as direções dos institutos de

criminalísticas têm tido grande interesse em treinar o maior número possível de peritos para atuarem neste

campo da ciência criminal. Ainda mais, que boa parte da análise é considerada como perícia genérica,

onde não se exige uma formação específica para poder atuar, muito embora seja profundamente desejável

a especialização.

Deve a perícia de danos num veículo, seja qual for, ser entendida como um elemento para

somar à gama de evidências presentes na investigação policial, ou seja, a análise em si, sozinha, raramente

basta para resolver o caso. Um carro batido na parte da frente dificilmente tem um significado conclusivo,

pois ele pode ter chegado a esta situação por uma infinidade de formas: Ele pode ter batido em outro

carro, numa árvore, num poste, em uma motocicleta, etc.

E deve ainda o perito se ater ao que vê e tem certeza, não havendo espaços para o que ele

acha, pois o laudo resultante de sua perícia é considerado uma prova objetiva. Desta forma, por mais que

haja relatos apontando a causa dos danos, não pode ele ser levado a colocar isto na conclusão dos seus

exames, a menos que tenha como provar. Por exemplo, se um carro preto apresenta impregnação de tinta

branca na região anterior da porta esquerda e durante os exames o proprietário relata que isto foi

provocado por uma batida com um outro carro branco, inclusive descrevendo que veículo era este, não

tem o perito como saber se isto é verdade, a menos que ele lance mão de auxílio laboratorial.

Um outro fator determinante é quanto à legislação envolvida, como, aliás, deve ser visto

em toda e qualquer área da perícia criminal. Embora a maioria dos exames possa ser realizada por peritos

de diversas formações, existe uma pequena parte que é de interesse exclusivo de engenheiros de áreas

específicas, notadamente da mecânica e eletromecânica. Principalmente quando existem falhas de

componentes, defeitos mecânicos e erros de projetos. Por isso mesmo, quem estiver analisando um

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determinado veículo, tem que ter a exata percepção de até onde pode ir, sob pena de agir contra leis

relativas ao exercício legal da profissão.

Desta forma, o primeiro passo para se proceder a uma análise de danos num veículo é ter

conhecimento dos termos mais gerais envolvidos nas descrições das avarias. Alguns são dados a seguir,

sempre lembrando que quanto mais técnico for um relato, menos pessoas irão entendê-lo, de forma que o

perito sempre procura usar palavras o mais simples possível em seus laudos, sem, no entanto provocar

prejuízos na leitura. Os termos mais gerais, que servem para tipificar os danos são os seguintes:

. Amassamento, afundamento ou amolgamento – é um dano característico, resultante de impacto

mecânico que deixa amassada, ou desnivelada em regiões específicas, permanentemente a carroceria do

veículo, a estrutura ou partes plásticas dele.

. Empenamento – dano provocado normalmente por pressão ou torção, sendo geralmente originado por

impacto contra a estrutura, partes da suspensão e os pára-choques.

. Arrastes ou desbastes – danos verificados quando a carroceria do veículo é friccionada contra uma

outra superfície, que pode ser o solo, outro veículo, obstáculos, etc.

. Dilaceramento ou cisalhamentos – é quando depois de uma ação de impacto violento há

despedaçamento, rasgamento de partes da estrutura, carroceria ou pára-choques.

. Arrancamento ou seccionamento – é a subtração violenta de determinada peça ou parte dela,

geralmente após violento impacto, podendo acontecer em outras situações.

. Quebramento – é a quebra de determinada peça ou componente devido a impacto mecânico

(normalmente aplicado a vidros e partes plásticas).

. Sanfonamento – é normalmente um dano residual ou indireto, originado de impacto mecânico, que

deixa a peça ou componente com aspecto de fole de sanfona.

. Retorcimento – é quando um componente ou peça sofre impacto e adquire aspecto retorcido e sem

forma definida.

. Mossa – é um amassamento pontual e de pequenas proporções.

Uma vez tipificado os danos, o passo seguinte é localizar os mesmos. Devendo ser dito

em que região do veículo eles se situam e quais as peças afetadas. É aconselhável que o perito tenha um

pouco de conhecimento de nomes de peças e componentes, sabendo, por exemplo, o que é uma porta, um

assoalho, o que é estrutura, teto, colunas, bancos, volante, vidros pára-brisa e de janelas, painel de

instrumentos, painel frontal, lateral, etc. Mas, é bom que se diga, que por mais detalhado o relatório sobre

a extensão e o formato dos danos, é muito difícil para o leitor do laudo ter a exata percepção, auxiliando

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muito neste tarefa fotografias das partes verificadas, servido elas de complemento aos relatos do perito (se

diz que uma imagem vale por mil palavras).

Para melhor compreensão, alguns autores de livros da área de acidentes de trânsito

dividem os veículos em áreas delimitadas, mas não necessariamente isto significa uma regra ou mesmo

um padrão, mas eles adotam linguagens e termos muito apropriados, que facilitam o entendimento e por

isso mesmo são bastante utilizados em meios forenses. O autor Ranvier Feitosa Aragão, em sua obra

Acidentes de Trânsito, Aspectos Técnicos e Jurídicos, mostra uma maneira de localizar as sedes dos

danos, dividindo os veículos da maneira mostrada a seguir.

Imagem retirada do livro Acidentes de Trânsito, Aspectos Técnicos e Jurídicos.

O passo seguinte é a orientação dos danos, pois quando um veículo sofre um embate ele

adquire deformações permanentes nas regiões onde houve os impactos. E estas têm formatos próprios para

cada situação, que demonstram as direções de ação dos esforços que as provocaram. No momento em que

o veículo, por exemplo, bate com a sua dianteira num poste, pelo princípio físico da ação e reação pode-se

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dizer que o poste também bate nele, aplicando uma força igual e contrária. E a deformação resultante na

carroceria vai justamente demonstrar isso.

É interessante primeiramente entender como os diferentes tipos de colisões entre veículos

podem ocorrer, pois isto ajuda a compreender a necessidade da determinação das orientações dos danos.

Na verdade, em casos de acidentes de trânsito, ajuda muito se o perito conseguir demonstrar as direções

das forças deformadoras, pois com isso se tem uma idéia da dinâmica do evento. Sabendo desse fato,

Ranvier também elaborou uma nomenclatura própria para as colisões veiculares, a qual é mostrada na

sequência, sempre lembrando que isto é uma proposição deste brilhante autor, porém não uma regra. Caso

o perito tenha palavras suas para descrever as iterações entre carros, e isto com o tempo vai com certeza

acontecer, ele pode sem problema algum utilizá-las em seus laudos.

ALGUNS TIPOS DE ITERAÇÕES ENTRE VEÍCULOS

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Num embate entre duas unidades veiculares espera-se que os esforços envolvidos sejam iguais,

porém, opostos, de modo que semelhanças entre as conformações dos danos em ambos os veículos serão

encontradas. Por exemplo, as primeiras duas figuras mostradas no item anterior, no caso de uma colisão

frontal, dão a entender que após o embate cada veículo ficará com danos na região frontal, orientados na

mesma linha do carro e de frente para trás. Já na primeira figura para a colisão antero-posterior, depois da

batida um dos veículos terá danos na dianteira, em direção e sentidos resultantes de uma composição

vetorial de duas forças, uma na linha do veículo e aplicada de frente para trás, e outra transversal ao

veículo e aplicada da direita para a esquerda. O outro veículo terá danos na lateral posterior resultantes de

forças de mesma direção que o primeiro e sentido contrário.

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Nesta altura é preciso levantar algumas questões que são polêmicas e fonte de muitas

reclamações por parte dos usuários dos laudos dos ICs. A primeira delas é quanto ao fato real da grande

maioria dos relatos apenas descreverem os danos (porta dianteira direita amassada, pneu traseiro direito

furado, vidro quebrado, etc). Entendem os promotores, juízes, delegados, advogados e outros mais que

estas informações quase sempre não são suficientes para estabelecer provas concretas nos processos, pois

muitas vezes se quer conclusões. Não adianta dizer que a porta estava amassada, é preciso mostra o que ou

quem a amassou. De outra forma, se o perito diz qual a orientação de determinado dano, mas a

investigação policial aponta uma situação onde ele não tem sentido, isto pode levar a confusões e em

última análise ao descarte do laudo como elemento de prova, jogando por água abaixo todo o trabalho da

perícia. Este seria o caso do veículo já possuir avarias provenientes de outros eventos e o perito não

perceber isto. Por exemplo, um carro bate em outro por trás e no laudo pericial aparece um amassamento

da direita para a esquerda na porta dianteira do lado direito. É de se imaginar que este dano não tem

relação alguma com o acidente.

Mas é dever do perito relatar o que tem certeza e, por isso mesmo, não podem os juízes e

promotores exigirem que o perito adivinhe. Por esta razão, é preferível o perito apenas relatar os danos e

se possível descrever suas orientações do que ele escrever algo que não tem como provar. Um ônibus que

sofre um acidente em um ponto localizado a 400 km do IC, que tem que ser rebocado até ele e esta ação

não é feita sob responsabilidade da perícia, e ainda por cima os exames são realizados apenas visualmente,

no “olhômetro”, não havendo estrutura apropriada com equipamentos e laboratórios, não pode de forma

alguma ser considerado um local idôneo e por isso mesmo não tem o perito como estabelecer muitas

conclusões.

Os danos são classificados por alguns autores como diretos e indiretos, ou ainda primários

e residuais. Entende-se como danos diretos ou primários, aqueles originados pela ação direta dos esforços

que os provocam, situando-se na mesma linha de aplicação destes. De outra forma, são aqueles presentes

nas partes do veículo que entraram em contato com os anteparos que produziram estes esforços. Já os

danos indiretos ou residuais, são aqueles que se propagam através das regiões contíguas àquelas que

sofreram os esforços diretos.

Uma boa experiência seria amassar com os pés uma latinha de cerveja ou refrigerante

disposta no chão na direção vertical. No final haveria deformações na extremidade superior causadas

diretamente pela carga, que seriam os danos diretos ou primários e as suas paredes se deformariam, uma

parte na mesma linha da carga e outra perpendicularmente a ela, se expandindo para os lados, sendo estes

os danos residuais ou indiretos.

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Um elemento de prova muito importante, mas que infelizmente necessita de estrutura

laboratorial apropriada é o exame de transposição de tintas. É aquele caso da tinta branca impregnada num

carro preto. Sem o auxílio de um laboratório eficaz, é impossível para o perito dizer em seu laudo qual a

origem desta tinta. Mas com certeza ele tem que relatar, quando for o caso, as impregnações existentes,

sempre tomando cuidado para fazê-lo de maneira fiel ao vestígio, não se enganando com ele. Por exemplo,

uma tinta branca sobre uma superfície preta dificilmente causa dúvidas, mas o mesmo não se pode dizer

de um tom verde claro sobre uma superfície pintada de azul escuro.

Os danos decorrentes de impactos provocados por acidentes de trânsito correspondem à

maioria dos exames periciais em veículos, mas não são os únicos. Existem aqueles decorrentes de outras

fontes, como brigas, vandalismos e projéteis de arma de fogo. Os dois primeiros geralmente provocam

quebramentos, arranhões e desbastes. Já os gerados por tiros são normalmente orifícios ou mossas nos

mais diversos pontos do veículo. Também tem as deformações, quase sempre nas portas, ocasionadas por

arrombamentos ou tentativas destes. E nestes casos é comum haver subtração de componentes como

aparelho de som, pneu socorro, macaco, chave de roda, etc.

E uma mossa, ou pequeno estampamento, na lataria não necessariamente significa um

alvo de um projétil, devendo ser comprovado em laboratório o fato de haver ou não pólvora combusta,

presente na região de deformação.

Outra coisa que precisa ser observada é a presença de substâncias estranhas na

superfície do veículo, seja em qualquer parte. Pode ser sangue, humano ou animal, pele, pêlos, gordura e

outras. Entra nesta análise terra, barro ou qualquer elemento orgânico impregnado na lataria ou em outros

locais.

Isto tudo leva não só à análise dos danos, mas também dos vestígios. Não pode o perito

dizer que é sangue humano uma mancha avermelhada sob o painel de instrumentos de uma motocicleta

simplesmente no olhar. Ele tem que comprovar isto em laboratório. Um fio preto e fino sob um dos

bancos não significa cabelo a menos que o laboratório diga isto.

Logo, o perito deve saber como coletar vestígios e ainda como armazena-los. No caso

de substância hematóide, aquela com aspecto de sangue, principalmente em quantidade pequenas é

desejável que se utilize um algodão embebido em água destilada, de preferência morna, ou soro

fisiológico. Para coletas de pólvora combusta usa-se também este procedimento, mas o ideal é coletar com

algodão embebido em ácido acético, com pureza comprovada na prática de 10%.

O acondicionamento das amostras é outro fator importante, pois de nada vale uma

boa coleta sem um bom acondicionamento.

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Também visto na análise dos vestígios é quanto à localização. O perito tem que relatar

onde foi vista a evidência. O sangue que ele coleta de um veículo é de um lugar específico, podendo em

alguns casos haver mais de um tipo presente em partes diferentes e se ele não especificar as sedes pode

haver falta de clareza nas suas explicações. O mesmo pode ser dito para pólvora combusta, pesquisa de

hidrocarbonetos, gorduras, pêlos e todos os demais tipos de vestígios.

Neste aspecto, é interessante em alguns casos detalhar ainda mais a localização dos

danos. Pode-se medir a altura deles em relação ao solo, pois isto ajudaria a elucidar casos de colisões entre

veículos, atropelamentos, distância e direção de disparos de armas de fogo, choque contra objetos fixos e

outros mais. Sendo um bom exemplo a colisão entre a dianteira de um automóvel e a traseira de uma

bicicleta ocupada por duas pessoas. Poderia haver nesta situação amassamentos e transposições de tintas

na lataria do carro oriundos diretamente do embate com a bicicleta, além de manchas de sangue dos dois

ocupantes. As medições das alturas serviriam para comprovar a compatibilidade entre local danificado no

carro e aquele danificado na bicicleta, ajudando a mostrar que os mesmos interagiram ente si. O mesmo

raciocínio serve para as manchas de sangue.