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APOSTILA ASPECTOS LEGAIS DA SUSTENTABILIDADE Profº. Msc Giovanni de Araujo Gomes Agosto / 2018

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APOSTILA

ASPECTOS LEGAIS DA SUSTENTABILIDADE

Profº. Msc Giovanni de Araujo Gomes

Agosto / 2018

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Curso: Aspectos Legais da Sustentabilidade Carga Horária: 20 horas

1. CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

1. Desenvolvimento Sustentável

2 horas

2. Meio Ambiente e Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

2 horas

3. Políticas Ambientais Nacionais 3.1. Política Nacional de Meio Ambiente 3.2. Política Nacional de Recursos Hídricos 3.3. Política Nacional de Resíduos Sólidos 3.4. Política Nacional de Educação Ambiental

11 horas

4. Crimes Ambientais

2 horas

5. Gestão Sustentável

3 horas

Carga Horária Total

20 horas

2. TEXTOS DE ANÁLISE

Do crescimento econômico ao Desenvolvimento Sustentável: Conceitos em

evolução

O meio ambiente na Constituição Federal de 1988

Considerações sobre a política nacional de recursos hídricos

Problemas do lixo no Brasil

É possível a responsabilização penal da pessoa jurídica por crime ambiental, ainda que não haja imputação contra pessoas físicas

Competência para julgar crimes ambientais

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1. Desenvolvimento Sustentável Crescimento e desenvolvimento econômico O conceito de crescimento econômico desponta em 1776 com a publicação de “A Riqueza das Nações”, de Adam Smith, obra em que o autor estuda a formação da riqueza de uma nação, raciocinando sobre o funcionamento dos mercados e a relação da expansão dos mesmos para ganhos de escala de produção, onde os custos médios seriam reduzidos e permitiriam gerar lucros. Para Smith, um dos principais representantes da Escola Clássica na economia, estes lucros ampliariam as possibilidades de emprego da mão-de-obra economicamente ativa, o que incrementaria a renda da população e, no longo prazo, levaria a uma redistribuição de renda entre o capital e o trabalho. De acordo com Hunt (2005, p. 54):

No contexto da teoria da história, de Smith, o capitalismo representava o estágio mais alto da civilização e atingiria seu ponto culminante quando tivesse evoluído para um estado em que o governo tivesse adotado uma política de laissez-faire, permitindo que as forças da concorrência e o livre jogo da oferta e da demanda regulassem a economia, que ficaria quase que completamente livre das restrições do governo ou de suas intervenções [...] A acumulação do capital terá sido, então, a principal fonte de progresso econômico e os lucros terão sido a fonte do novo capital.

O crescimento econômico é tido então, para Smith, como uma das principais condições para o alcance do desenvolvimento, ou melhor, como o próprio desenvolvimento. As discussões de um conceito distinto de desenvolvimento começam por Schumpeter, no início do século XX, que atribui ao crescimento uma característica apenas expansiva, enquanto que o desenvolvimento, segundo o autor, somente ocorreria “na presença de inovações tecnológicas, por obra de empresários inovadores, financiados pelo crédito bancário. O processo produtivo deixa de ser rotineiro e passa a existir lucro extraordinário.” (SOUZA, 1999, p.16) Embora a conceituação de Schumpeter seja distinta daquela observada por Smith, quanto ao desenvolvimento, nota-se que o autor ainda analisa o desenvolvimento de forma estritamente econômica. Entretanto, durante o amadurecimento do capitalismo no final do século XIX e início do século XX, em que ficou patente o desnível de renda entre países ricos e pobres e dentro das próprias sociedades industrializadas, a discussão do econômico enquanto distribuição começou a ser exposta e questionada, em especial a partir dos anos 1930 com a utilização da Contabilidade Nacional, inspirada pelas teorias keynesianas em que as nações passaram a ser classificadas conforme sua renda per capita. O surgimento do conceito de desenvolvimento, base para aquele debatido atualmente, distinto do conceito puro de crescimento econômico, deu-se no período pós-guerra (Boisier 2001; Sachs 2004), no contexto de preparação de projetos de reconstrução da Europa.

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Sachs (2004, p.30) afirma que o cenário verificado em grande parte da Europa, naquele momento, era o de uma:

(...)estrutura fundiária anacrônica, agricultura camponesa atrasada, condições adversas de comércio para as commodities primárias, industrialização incipiente, desemprego e subemprego crônicos, e necessidade de um Estado desenvolvimentista ativo para enfrentar o desafio de estabelecer regimes democráticos capazes simultaneamente de conduzir a reconstrução do pós-guerra e de superar o atraso social e econômico.

Neste contexto, conclui Sachs (2004, p. 31-31):

Em grande medida, o trabalho da primeira geração de economistas do desenvolvimento foi inspirado na cultura econômica dominante da época, que pregava a prioridade do pleno emprego, a importância do Estado de bem-estar, a necessidade de planejamento e a intervenção do Estado nos assuntos econômicos para corrigir a miopia e a insensibilidade social dos mercados.

Nota-se que, embora ainda restrito à dimensão econômica, o conceito de desenvolvimento já tendia a uma evolução. Para Boisier (2001), a publicação que pode ser tomada como marco da distinção de desenvolvimento e crescimento econômico vem do economista britânico Dudley Seers. Ao analisar o artigo publicado por Seers, Boisier (2001, p. 3) constata que:

“Seers, fuertemente inspirado en el pensamiento de Gandhi, sostiene que debemos preguntarnos a nosotros mismos acerca de las condiciones necesarias para la realización del potencial de la personalidad humana, algo comúnmente aceptado como objetivo. A partir de esta pregunta Seers apunta a la alimentación, como una necesidad absoluta (inmediatamente traducida a pobreza y a nivel de ingreso). Una segunda condición básica para el desarrollo personal es el empleo y la tercera, es la igualdad entendida como equidad, aquí por tanto ya se introduce un elemento subjetivo e intangible puesto que el concepto de equidad tiene tales dimensiones …”

Nota-se que o autor toma como base do conceito de desenvolvimento a condição humana, pessoal, e não apenas a condição econômica de um país ou região. Max-Neef , Elizalde e Hopenhayn (1986) apud Boisier (2001, p. 5) propuseram um novo conceito para o desenvolvimento, também a partir do indivíduo, denominado “Desarollo a Escala Humana”, na qual: SEERS (1970).

“Desarrollo [el desarrollo a escala humana] se concentra y sustenta en la satisfacción de las necesidades humanas fundamentales, en la generación de niveles crecientes de autodependencia y en la articulación orgánica de los seres humanos con la naturaleza y la tecnología, de los procesos globales con los comportamientos locales, de lo personal con lo social, de la planificación con la autonomía y de la Sociedad Civil con el Estado.”

Dando continuidade à expansão do conceito de desenvolvimento e seguindo uma trajetória semelhante à de Seers, Max-Neef, Elizalde e Hopenhayn, o economista paquistanês Mahbub ul Haq (1934-1998) e o economista indiano Amartya Sen, na tentativa de tornar o desenvolvimento algo mensurável, desenvolveram, no início da década de 1990, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) que, de acordo com o

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Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), tem por objetivo ser um contraponto ao Produto Interno Bruto Per Capita (PIB per capita), que até então era o índice mais utilizado para se caracterizar uma região, mas que retrata apenas a dimensão econômica de tal situação. Porém, ainda que evidencie de forma mais completa a realidade das pessoas em determinada região, do que aquela exposta apenas pelo PIB per capita, o próprio PNUD reconhece a limitação do IDH. Em 1995, Boutros Boutros-Ghali, então secretário geral da Organização das Nações Unidas (ONU), publicou o documento “An agenda for development”, no qual são expostas cinco dimensões para o desenvolvimento: a paz, o crescimento econômico, o ambiente, justiça social e democracia. As quais foram sintetizadas por Boisier (2001, p. 4) da seguinte forma:

“1) Paz como pilar: A aproximação tradicional ao desenvolvimento pressupõe que este ocorre sob circunstâncias da paz. O desenvolvimento não pode prosseguir facilmente em sociedades onde os interesses militares estão no centro da vida; 2) A economia como o motor do progresso: O crescimento econômico é o motor do desenvolvimento. Acelerar a taxa do crescimento econômico é uma condição para expandir a base de recursos econômicos, tecnológicos e de transformação social… não é suficiente, entretanto, perseguir o crescimento econômico por si só; 3) O ambiente como uma base para a sustentabilidade. O desenvolvimento e o ambiente não são conceitos separados, nem pode haver sucesso em um, sem que o mesmo ocorre com o outro; 4) Justiça como um pilar da sociedade: O desenvolvimento não ocorre em um vácuo, nem é construído em cima de uma fundação abstrata. O desenvolvimento ocorre dentro de um contexto social específico e em resposta às circunstâncias sociais específicas… O povo é o principal recurso de um país e seu bem estar define o desenvolvimento; 5) Democracia na governança: A ligação entre o desenvolvimento e a democracia é intuitiva, por isso seu reflexo é difícil de elucidar… No contexto do desenvolvimento, a boa governança tem diversos reflexos. Entre seus projetos deve estar a perseguição de uma estratégia nacional voltada para o desenvolvimento. Projetos que assegurem a capacidade, a confiabilidade e a integridade das instituições do núcleo do estado moderno.”(Traduzido pelo autor)

O Índice de Desenvolvimento Humano é obtido através do PIB per capita, depois de corrigido pelo poder de compra da moeda de cada país e por outros dois componentes: a longevidade e a educação. Para aferir a longevidade, o indicador utiliza números de expectativa de vida ao nascer. O item educação é avaliado pelo índice de analfabetismo e pela taxa de matrícula em todos os níveis de ensino. A renda é mensurada pelo PIB per capita, em dólar PPC (paridade do poder de compra, que elimina as diferenças de custo de vida entre os países). Essas três dimensões têm a mesma importância no índice, que varia de zero (inexistência de desenvolvimento) a um (totalmente desenvolvido) (PNUD 2009). Tal expansão do conceito permite agora a investigação também por parte de sociólogos, antropólogos, psicólogos, historiadores, entre outros. Dessa forma, a investigação sobre o desenvolvimento torna-se mais complexa, multidisciplinar e integral do que inicialmente, quando a discussão cabia apenas à dimensão econômica, ao crescimento econômico propriamente dito.

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Esta evolução observada sobre o desenvolvimento, deixando de ser associado apenas à dimensão econômica e avançando também para as dimensões política, social e ambiental, tem o tornado cada vez mais completo, mas também mais complexo e intangível. Sachs (2004), ao analisar o recente debate sobre o conceito de desenvolvimento, aponta a existência de duas concorrentes extremas, sobre as quais discorre:

“Os autodenominados pós-modernos propõem renunciar ao conceito, alegando que o desenvolvimento tem funcionado como uma armadilha ideológica construída para perpetuar as relações assimétricas entre as minorias dominadoras e as maiorias dominadas, dentro de cada país e entre os países. Propõem avançar para um estágio de pós-desenvolvimento. Sem explicar claramente o seu conteúdo operacional concreto. Estão certos, por suposto, quando questionam a possibilidade de crescimento indefinido do produto material, dado o caráter finito do nosso planeta. Porém, esta verdade óbvia não diz muito sobre o quê deveríamos fazer nas próximas décadas para superar os dois principais problemas herdados no século XX, apesar do seu progresso científico e técnico sem precedentes: o desemprego em massa e as desigualdades crescentes [...] Quanto aos fundamentalistas de mercado, eles implicitamente consideram o desenvolvimento como um conceito redundante. O desenvolvimento viria com o resultado econômico graças ao “efeito cascata” - trickle down effect. Não há necessidade de uma teoria do desenvolvimento. Basta aplicar a economia moderna, uma disciplina a-histórica e universalmente válida [...] A teoria do efeito cascata seria totalmente inaceitável em termos éticos, mesmo se funcionasse, o que não é o caso. Num mundo de desigualdades abismais, é um absurdo pretender que os ricos devam ficar mais ricos ainda, para que os destituídos possam ser um pouco menos destituídos” (SACHS 2004, p. 26)

Furtado (1983, p. 90) distingue os conceitos de crescimento e desenvolvimento da seguinte forma:

“Assim, o conceito de desenvolvimento compreende a idéia de crescimento, superando-a. Com efeito: ele se refere ao crescimento de um conjunto de estrutura complexa. Essa complexidade estrutural não é uma questão de nível tecnológico. Na verdade, ela traduz a diversidade das formas sociais e econômicas engendrada pela divisão do trabalho social. Porque deve satisfazer às múltiplas necessidades de uma coletividade é que o conjunto econômico nacional apresenta sua grande complexidade de estrutura. Esta sofre a ação permanente de uma multiplicidade de fatores sociais e institucionais que escapam à análise econômica corrente [...] O conceito de crescimento deve ser reservado para exprimir a expansão da produção real no quadro de um subconjunto econômico. Esse crescimento não implica, necessariamente, modificações nas funções de produção, isto é, na forma em que se combinam os fatores no setor produtivo em questão.”

Dessa forma, é possível inferir que o crescimento econômico não necessariamente seja capaz de garantir o desenvolvimento, ou seja, pode haver crescimento na geração de riqueza sem que haja distribuição desta e conseqüente melhora na qualidade de vida da população em geral. Para Sachs (2004, p. 13): “... os objetivos do desenvolvimento vão bem além da mera multiplicação da riqueza material. O crescimento é uma condição necessária, mas de

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forma alguma suficiente (muito menos é um objetivo em si mesmo), para se alcançar a meta de uma vida melhor, mais feliz e mais completa para todos.” A dificuldade em operacionalizar o conceito de desenvolvimento torna-se evidente quando Sachs (2004, p. 25) ao citar Joan Robinson, expõe o desenvolvimento como “um elefante: difícil de definir, porém fácil de reconhecer.” O fato é que, com a ampliação analítica do conceito de desenvolvimento surgiu, como conseqüência natural, o conceito de subdesenvolvimento. A construção de uma explicação para o subdesenvolvimento opôs duas correntes críticas. De um lado os críticos ao sistema, muitos de inspiração marxista, e de outro lado os defensores da economia neoclássica, estes mais preocupados com a distribuição do que os clássicos. Os primeiros compreenderam o papel do subdesenvolvimento como fruto da vontade das potências centrais em subalternizar as demais economias, a fim de que se mantivesse uma distribuição internacional do trabalho em que estes países fossem fornecedores de matérias-prima e alimentos a preços baixos para as necessidades dos países centrais, reforçado por uma “aliança” entre o capital internacional e as elites internas, a fim de manter inalterado este status quo. Do outro lado, o dos neoclássicos, ligou-se o não-desenvolvimento das economias periféricas à falta de capital para investimento nestas economias. Tem então uma evolução do conceito de desenvolvimento para além do simples crescimento econômico. A introdução de novas dimensões junto à econômica tornou o conceito mais abrangente, mais completo, mas também mais complexo e intangível. Uma nova discussão posta, para além da do que é desenvolvimento e de como gerá-lo, é agora a de como mantê-lo, em todas as dimensões e não mais apenas na econômica. Do desenvolvimento econômico ao desenvolvimento sustentável Embora uma evolução sobre o conceito tenha ocorrido nas últimas décadas, a atual busca pelo desenvolvimento continua primando pelo crescimento econômico, em primeiro plano. Em alguns casos, de determinadas regiões e países, é possível identificar um real avanço para estágios de desenvolvimento econômico, com melhora de alguns indicadores sócio-econômicos, porém, estes casos são a minoria entre muitos. De acordo com Silva (2006) ainda que se tenha observado a distinção conceitual entre crescimento e desenvolvimento, as políticas e ações econômicas se orientam pelo uso intensivo de recursos em privilégio ao objetivo de aumentar a produção, o consumo e a riqueza. Segundo o autor, a sustentação desse tripé econômico seria o grande desafio para o desenvolvimento da sociedade. Sen (2000) questiona este atual modelo de desenvolvimento econômico, qualificando-o como uma política cruel de desenvolvimento. Tal modelo tende a esgotar a base de recursos naturais, além de ampliar as distorções sociais. Por isso, de acordo com o autor, a base de desenvolvimento de uma região não deve estar apenas na busca pela dimensão econômica, mas sim, na dimensão sociocultural, em cujo contexto os valores e as instituições são fundamentais. Conclui Sen (2000) que o desenvolvimento econômico não é apenas uma conseqüência da inovação tecnológica e da existência de progresso técnico associadas a investimentos em P&D, mas também de um terceiro fator de produção: os recursos humanos e a acumulação de capital social.

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Brasileiro (2006, p.88) aponta que: “[...] os resultados alcançados com a implantação do modelo de desenvolvimento vigente, baseado na otimização dos lucros, na industrialização como única via de desenvolvimento, no uso indiscriminado dos recursos naturais, no crescimento econômico como fator antecedente ao desenvolvimento, propiciaram a emergência de novas formas de pensar o desenvolvimento, procurando atender ou mesmo explicar, a questões até então negligenciadas, tais como: a distribuição desigual das riquezas; o agravamento da pobreza e exclusão social; a precarização das relações de trabalho; e o esgotamento dos recursos naturais.” É nesse contexto que surge e intensifica-se o conceito de Desenvolvimento Sustentável, a partir da década de 1980. Desenvolvimento sustentável: um conceito em evolução A Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento8 (CMMAD) da ONU, através do Relatório Brundtland (1991), conceituou desenvolvimento sustentável como o “desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das futuras gerações de satisfazerem as suas próprias necessidades.” Entretanto, o conceito assim posto acaba por reduzir, por minimizar, uma série de questões que devem ser analisadas quanto a um verdadeiro estágio de desenvolvimento, a curto e longo prazo, como, por exemplo, o atendimento presente de uma série de necessidades e disparidades observadas por todo o globo. Para Fernandes (2003), o conceito de desenvolvimento sustentável, como hoje é apresentado à sociedade, acaba por obscurecer aquele que deveria ser o verdadeiro foco do debate atual em todos os aspectos e não apenas no ambiental, a saber, as diferenças, entre grupos sociais e entre nações, causadas pela atual forma de organização social de produção, ou seja, o atual sistema econômico de mercado. Lima (2003) contribui com tal visão ao apontar que não há sustentabilidade possível sem a incorporação das desigualdades sociais e políticas e de valores éticos de respeito à vida e às diferenças culturais. Fernandes (2003) analisa o presente debate sobre a busca pelo desenvolvimento sustentável como uma forma de legitimação e manutenção do poder pelos países dominantes, uma vez que o discurso prevê a necessidade de controle e manutenção do meio ambiente sem apontar que no presente a grande massa de países do globo apresenta preponderância de baixas rendas, níveis inaceitáveis de acesso à saúde, baixos níveis de escolaridade e baixas quantidades diárias de consumo per capita de proteínas. Dessa forma faz-se necessário refletir sobre a possibilidade futura de atendimento das necessidades da sociedade se hoje ela não acontece de forma igualitária. Retomando Fernandes (2003), a autora analisa que a preocupação central da política ambiental, sob a égide do conceito de desenvolvimento sustentável, tem sido a de assegurar a gestão internacional dos principais ecossistemas, com o objetivo de garantir a durabilidade e disponibilidade de importantes estoques de recursos naturais funcionais ao desenvolvimento econômico, para assegurar àqueles povos que são privilegiados em seu desenvolvimento social, a manutenção de seus níveis de desenvolvimento e consumo. Assim, sob a ótica da autora, a busca pelo desenvolvimento sustentável, como hoje é trabalhada, trata então de uma forma de monitorar, gerir e controlar os estoques de recursos naturais, elaboradas e implementadas a partir de países do Norte.

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Já Brasileiro (2006, p.88) observa que: “A concretização das idéias e princípios formulados a partir do conceito de desenvolvimento sustentável tem assumido nuances variadas, a partir da realidade que cada sociedade apresenta. Nos países considerados de primeiro mundo, é a relação entre o crescimento econômico e a preservação ambiental, assim como as intrincadas relações políticas, que dão a tônica às discussões a respeito da proposta e sua viabilidade. Para os países emergentes, soma-se a isto as graves questões sociais, onde o meio ambiente enquanto produto das relações do homem com o meio físico natural reflete as conseqüências das desigualdades sociais, da má distribuição de renda, poder e informação”. Em relação ao desenvolvimento sustentável, ainda que haja distintas críticas ao conceito, não se pode negar sua visão multidimensional, que vem de encontro às necessidades reais do mundo atual em seus anseios pelo desenvolvimento equilibrado, conforme constata Brasileiro (2006, p.88). Para Sachs (2004), o desenvolvimento sustentável está estruturado a partir de cinco pilares:

“a) o Social, fundamental por motivos tanto intrínsecos quanto instrumentais, por causa da perspectiva de disrupção social que paira de forma ameaçadora sobre muitos lugares problemáticos do nosso planeta; b) o Ambiental, com as suas duas dimensões (os sistemas de sustentação da vida como provedores de recursos e como “recipientes” para a disposição de resíduos); c) o Territorial, relacionado à distribuição espacial dos recursos, das populações e das atividades; d) o Econômico, sendo a viabilidade econômica a conditio sine qua non para que as coisas aconteçam; e) a Política, pois a governança democrática é um valor fundador e um instrumento necessário para fazer as coisas acontecerem, a liberdade faz toda a diferença.” (SACHS 2004, p. 15-16)

Silva (2006) expõe o desenvolvimento sustentável como o:

“... resultado da interação social em um determinado espaço, com bases culturais cultivadas no decorrer do tempo, com finalidades econômicas e obedecendo às instituições reconhecidas naquela sociedade e considerando a manutenção do estoque ambiental existente.” (SILVA, 2006, p. 17)

Silva (2005, p. 38), acerca do desenvolvimento sustentável, conclui que:

“O conceito de desenvolvimento sustentável deve ser visto como uma nova forma de enxergarem, teoricamente, os fatos. A sociedade evolui esteada em sua inter-relação nas dimensões sociais, ambientais, culturais, econômicas e espaciais e, por isso, não se pode analisar, parcialmente, o processo de desenvolvimento. Visto esse processo como um sistema adaptativo complexo, nota-se que as mudanças são irreversíveis e contínuas, ampliando a responsabilidade de toda sociedade com o seu presente e com o das futuras gerações. Essa responsabilidade demanda ações construtivas de uma base de discussão teórica e aplicada que se sustenta na busca contínua da evolução da sociedade e das alternativas decisórias, com as quais conta para otimizar os recursos existentes, considerando as dimensões inter-relacionadas, com a intenção de avançar de forma harmoniosa para o objetivo da sustentabilidade.”

Para ser alcançado, o desenvolvimento sustentável depende de planejamento em longo prazo e do reconhecimento de que os recursos naturais do planeta são finitos e

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de todos. Não se trata de interromper o crescimento, mas de eleger um caminho que garanta o desenvolvimento integrado e participativo e que considere a valorização e o uso racional dos recursos naturais. Considerações Finais Dentro da economia de mercado, a busca pelo desenvolvimento econômico é sempre um dos principais objetivos perseguidos pelos governos, independentemente de seus partidos ou ideologias. Entretanto, o próprio conceito de desenvolvimento não é um consenso. Em meados do século XVIII, desenvolvimento foi tido como sinônimo de crescimento econômico, apenas. Mas o avanço da reflexão sobre este, fez com que surgissem novas formas de concepção, sendo o desenvolvimento econômico o passo seguinte. Neste caso, variáveis como justiça, qualidade de vida, bem estar, liberdade, entre outras, foram incorporadas ao conceito, tornando-o assim mais completo e complexo, dado às características intangíveis de algumas dessas variáveis. Do desenvolvimento econômico, que já fora uma evolução sobre o simples conceito de crescimento econômico, surge o conceito de desenvolvimento sustentável. Tal conceito traz consigo a preocupação com o uso consciente dos recursos produtivos, e conseqüentemente, a manutenção destes, mesmo porque o desenvolvimento econômico, até o momento, está alicerçado na geração de produção, renda e consumo. O conceito de desenvolvimento sustentável está cercado por críticos e defensores, que, embora possam divergir em questões pontuais, em sua maioria, quase sempre convergem no que diz respeito à necessidade de um desenvolvimento global, que acarrete melhoria da qualidade de vida para toda a população através do equilíbrio entre as dimensões econômica, social, institucional, territorial e ambiental.

MATOS, Richer de Andrade e ROVELLA, Syane Brandão Caribé. Do crescimento econômico ao Desenvolvimento Sustentável: Conceitos em evolução. Disponível em <

http://www.opet.com.br/faculdade/revista-cc-adm/pdf/n3/DO-CRESCIMENTO-ECONOMICO-AO-DESENVOLVIMENTO-SUSTENTAVEL-CONCEITOS-EM-EVOLUCAO.pdf>

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O meio ambiente na Constituição Federal de 1988

A Constituição representa um marco na legislação ambiental, pois além de ter sido a responsável pela elevação do meio ambiente à categoria dos bens tutelados pelo ordenamento jurídico, sistematizou a matéria ambiental e estabeleceu o direito ao meio ambiente sadio como um direito fundamental do indivíduo. CONSIDERAÇÕES INICIAIS SOBRE O MEIO AMBIENTE ANTES DA CF/88

Embora a fase de exploração desregrada dos recursos ambientais tenha persistido ao longo da história da humanidade, o meio ambiente tornou-se a grande preocupação de todas as comunidades do nosso planeta nas últimas décadas, seja pelas mudanças provocadas pela ação do homem na natureza, seja pela resposta que a natureza dá a essas ações.

No Brasil, a proteção ao meio ambiente surge no contexto legal a partir de diversas normas esparsas, sendo que o próprio Código de 1916 é considerado norma percursora dessa proteção ao tratar, nos direitos de vizinhança, do uso nocivo da propriedade.

Na década de 80, em virtude da grande influência exercida pela Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente, realizada em Estocolmo, em 1972, houve o aumento da consciência ecológica, intensificando, pois, o processo legislativo na busca de proteção e preservação do meio ambiente.

Nesse contexto, quanto à legislação infraconstitucional, é necessário a lembrança de 02 (dois) marcos legislativos: a Lei nº 6.938/81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, segundo a qual há que se assegurar a “manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o meio ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo”, nos termos do art. 2º, inciso I, da referida norma; e a Lei nº 7.347/85, a qual disciplina a ação civil pública de responsabilidade por danos causados ao meio ambiente, possibilitando o acesso coletivo à Justiça para defesa do meio ambiente.

Frise-se que conquanto tenha surgido após o advento da Constituição de 1988, a Lei nº 9.605/98, na sua qualidade de norma infraconstitucional, merece ser destacada, visto que dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente.

A TUTELA CONSTITUCIONAL DO MEIO AMBIENTE

A Constituição Federal de 1988 representa um marco na legislação ambiental brasileira, pois além de ter sido a responsável pela elevação do meio ambiente à categoria dos bens tutelados pelo ordenamento jurídico, sistematizou a matéria ambiental, bem como estabeleceu o direito ao meio ambiente sadio como um direito fundamental do indivíduo. Sem olvidar que de forma inovadora, instituiu a proteção do meio ambiente como princípio da ordem econômica, no art. 170.

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Segundo as palavras de Silva (2004), a Constituição foi, portanto, a primeira a tratar deliberadamente da questão ambiental, trazendo mecanismos para sua proteção e controle, sendo tratada por alguns como “Constituição Verde”.

A referida Carta Magna aborda a matéria em apreço em diversos títulos e capítulos, seja mediante referências explícitas ou implícitas. Contudo, é em capítulo específico, o de número VI, em seu artigo 225, que se encontra todo o arcabouço norteador do direito ambiental brasileiro.

Passemos, a seguir, à exposição dos principais temas relacionados ao meio ambiente na CF/1988.

DA EQUIDADE INTERGERACIONAL

É cediço que o sentido literal da expressão “Equidade Intergeracional” significa igualdade entre as gerações. Nesse contexto, ao associar tal significado ao teor do artigo 225, caput, da CF/88, compreende-se que a presente geração não pode usufruir de todo o recurso fornecido pelo meio ambiente de modo a deixar para as próximas gerações um saldo mínimo. Vejamos.

Art. 225 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. (Grifos nossos).

Com base nisso, percebe-se que o citado dispositivo está revestido de uma “natureza dúplice”, ou seja, o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado para as presentes e futuras gerações é, ao mesmo tempo, direito e dever fundamental do Poder Público e de toda coletividade.

No mais, cumpre observar que ao ser taxado de essencial à sadia qualidade de vida, o meio ambiente tornou-se indissociável de uma vida saudável, vinculando o ambiente equilibrado a uma condição imprescindível para acesso à saúde.

Desse modo, oportunas são as palavras de (FERREIRA FILHO, 1997, p. 102), o qual discorre que “o direito ao meio ambiente equilibrado é um direito de solidariedade, pertencente à terceira geração de direitos fundamentais, provindo do direito à vida, por intermédio do direito à saúde”.

DA OBRIGATORIEDADE DA INTERVENÇÃO ESTATAL

A Constituição de 1988 também consignou expressamente o dever de o Poder Público atuar na defesa do meio ambiente, tanto no âmbito administrativo, quanto no âmbito legislativo e até na esfera jurisdicional, cabendo ao Estado adotar as políticas públicas e os programas de ação necessários para cumprir esse dever imposto.

Assim, consoante o teor do § 1º do art. 225 da CF/1988, foram fixadas as regras a serem obedecidas pelo Poder Público, com vistas à efetividade dos supracitados direitos, quais sejam:

§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:

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I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas;

II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético;

III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;

IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade;

V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;

VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente

VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.

Dentro desse contexto, merece destaque o disposto no inciso IV, o qual remete ao Princípio da Avaliação Prévia dos Impactos Ambientais das Atividades de Qualquer Natureza.

Tal princípio preceitua a necessidade de atuação preventiva para que se consiga evitar os danos ambientais, tendo em vista que as agressões ao meio ambiente são, em regra, de difícil ou impossível reparação.

Normalmente, a avaliação prévia de impactos ambientais é efetuada por meio de Estudo de Impacto Ambiental (EIA), instrumento essencial e obrigatório para toda e qualquer atividade suscetível de causar significativa degradação do meio ambiente, como já dito.

Frise-se, por fim, a imprescindibilidade de transparência (publicidade) das informações referentes ao EIA.

DA PARTICIPAÇÃO E COOPERAÇÃO COLETIVA

Apesar de a intervenção do estado ser obrigatória e indispensável para a proteção ambiental, ela não é exclusiva. O particular também é titular do dever de prevenção e defesa do meio ambiente, isto é, a administração do "patrimônio" ambiental deve se dar sempre com a participação direta da sociedade.

Fundamentalmente, existem três mecanismos de participação direta da população na proteção da qualidade ambiental, reconhecidos pelo Direito brasileiro.

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Em primeiro lugar, há de se mencionar a participação nos processos de criação do Direito Ambiental, com a iniciativa popular nos procedimentos legislativos (art. 61, caput e § 2º, da CF), a realização de referendos sobre leis (art. 14, inc. II, da CF) e a atuação de representantes da sociedade civil em órgãos colegiados dotados de poderes normativos.

Por conseguinte, a sociedade pode atuar diretamente na defesa do meio ambiente participando na formulação e na execução de políticas ambientais, por intermédio da atuação de representantes da sociedade civil em órgãos colegiados responsáveis pela formulação de diretrizes e pelo acompanhamento da execução de políticas públicas. Exemplo disso é a discussão de estudos de impacto ambiental em audiências públicas (art. 11, § 2º, da Resolução 001/86 do Conama).

Finalmente, o terceiro mecanismo de participação popular direta na proteção do meio ambiente é por intermédio do Poder Judiciário, com a utilização de instrumentos processuais que permitem a obtenção da prestação jurisdicional na área ambiental. Ilustrando tal ideia, tem-se a ação civil pública ambiental da Lei 7.347/85, que possibilitou o acesso coletivo, bem como a ação popular, art. 5º, inciso LXXII, da CF, reconhecida esta como direito fundamental de todos os cidadãos brasileiros.

DA RESPONSABILIDADE OBJETIVA E REPARAÇÃO INTEGRAL

Consoante o estabelecido no § 3º do art. 225, da CF/1988, determinou-se que os infratores das normas de proteção ao meio ambiente, sejam pessoas físicas ou jurídicas, ficam sujeitos a sanções penais, civis e administrativas. Logo, cumpre ressaltar que a introdução da possibilidade de sanções penais para pessoas jurídicas consiste em uma grande inovação da Carta Magna.

Com efeito, a responsabilidade do degradador pelos danos ambientais causados é objetiva, ou seja, independentemente da existência de culpa e pelo simples fato da atividade (art. 14, §1º, da Lei 6.938/81). Ademais, há a imposição de reparação integral do prejuízo causado, que tem como objetivo propiciar a recomposição do meio ambiente, na medida do possível, no estado em que se encontrava antes da ocorrência do dano.

No mais, por ter sido recepcionado pelo dispositivo constitucional sob análise, cumpre discorrer sobre o Princípio do Poluidor-Pagador, o qual impõe ao degradador o dever de arcar com as despesas de prevenção, reparação e repressão da poluição, ou seja, estabelece que o causador da poluição e da degradação dos recursos naturais deve ser o responsável principal pelas consequências de sua ação, ou omissão.

O principal objetivo de tal princípio é a internalização das externalidades ambientais, isto é, dos custos de prevenção dos danos. Permite-se que tais externalidades repercutem nos custos finais de produtos e serviços cuja produção seja poluente.

DA FUNÇÃO SOCIOAMBIENTAL DA PROPRIEDADE

A função social da propriedade foi reconhecida expressamente pela Constituição de 1988, nos artigos 5º, inciso. XXIII, 170, inciso III e 186, inciso II.

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Quando se diz que a propriedade privada tem uma função social, na verdade está se afirmando que ao proprietário se impõe o dever de exercer o seu direito de propriedade em benefício da coletividade.

Nesses termos, ao estabelecer no art. 186, inciso II, que a propriedade rural cumpre a sua função social quando ela atende, entre outros requisitos, à preservação do meio ambiente, a Constituição está impondo ao proprietário rural o dever de exercer o seu direito de propriedade em conformidade com a preservação da qualidade ambiental. Logo, se ele não o fizer, o exercício do seu direito de propriedade será ilegítimo.

OUTROS TEMAS RELACIONADOS AO MEIO AMBIENTE PRESENTES NA CF/1988

Além do art. 225 e da referência à ordem econômica, encontramos normas relacionadas ao meio ambiente nos capítulos que tratam:

a) dos direitos e deveres individuais e coletivos, consagrando princípios de direito ambiental internacional e a defesa dos interesses difusos;

b) da organização dos Estados, quando trata da competência ambiental. Neste caso, ressalte-se que a competência legislativa concorrente da União, dos Estados e do Distrito Federal, em matéria ambiental, vem definida no art. 24 da CF/1988 e, no âmbito da competência administrativa, não se pode olvidar a recente edição da Lei Complementar 140/2011, a qual “fixa normas, nos termos dos incisos III, VI e VII do caput e do parágrafo único do art. 23 da CF/1988, para a cooperação entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios nas ações administrativas decorrentes do exercício da competência comum relativas à proteção das paisagens naturais notáveis, à proteção do meio ambiente, ao combate à poluição em qualquer de suas formas e à preservação das florestas, da fauna e da flora;

c) da organização dos poderes, estabelecendo, entre as funções institucionais do Ministério Público, a promoção do inquérito civil e ação civil pública;

d) da política agrícola e fundiária, bem como da ordem social.

SILVA, Railma Marrone Pereira da Silva. O meio ambiente na Constituição Federal de 1988. Disponível

em: < https://jus.com.br/artigos/25529/o-meio-ambiente-na-constituicao-federal-de-1988>

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Considerações sobre a política nacional de recursos hídricos

Em meio à crise hídrica em que vive o Brasil ano após ano, ora pela escassez de água em determinadas regiões, ora pela captação e distribuição ineficiente que, neste caso, limita o acesso dos setores-usuários a esse bem tão precioso para a vida humana, é necessário que nos aprofundemos nos sistemas legais pátrios que regulamentam o uso e aproveitamento de nossos recursos hídricos, como é o caso da Lei n. 9.433/97, que institui a Política Nacional de Recursos Hídricos e cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SNGRH). Estudar os seus fundamentos legais e constitucionais, objetivos, instrumentos e diretrizes gerais de ação é um passo importante para entendermos a importância de uma boa gestão de recursos hídricos, baseada em planejamento estratégico e participação de toda a população.

INTRODUÇÃO

A evolução histórica da gestão de recursos hídricos no Brasil se desenvolveu lado a lado da história evolutiva do pensamento jurídico-ambiental. Ao contrário do que se imaginava, existiu no Brasil - Colônia, ainda que sob um ponto de vista de exploração desregrada, certas formas de gestão dos recursos hídricos as quais evoluíram e se transformaram ao que hoje conhecemos como Política Nacional de Recursos Hídricos – PNRH.

E o que vem a ser Gestão de Recursos Hídricos?

Antes de conceituarmos o termo, esse que vem a ser a base metodológica de aplicação da PNRH, é importante, neste momento da pesquisa, traçarmos a sua origem nas discussões internacionais que marcaram a noção de preservação ambiental e desenvolvimento sustentável, a partir da segunda metade do século XX.

A Conferência de Estocolmo, ou Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente, realizada em 1972, foi o marco inicial de conscientização da comunidade internacional para a ideia de preservação do meio ambiente. Com o acelerado crescimento econômico dos países em virtude da exploração desregrada de seus recursos naturais, começaram a surgir consequências danosas ao meio ambiente e à saúde humana.

A partir dessa mobilização histórica, políticas públicas voltadas ao gerenciamento ambiental ganharam corpo e se tornaram diretrizes de implementação de muitos governos.

Posteriormente, foi na Conferência Internacional das Nações Unidas sobre a Água, realizada na Argentina, em 1977, que as discussões sobre o uso eficiente dos recursos hídricos do planeta e o seu aproveitamento em vários setores da economia tomaram fôlego.

Já se tornava evidente que o desenvolvimento não sustentável, o crescimento exponencial da população mundial e a falta de um controle dos usos e aproveitamento dos recursos hídricos ensejavam uma grave escassez de água incompatível com o

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consumo humano, bem como ao surgimento de conflitos entre os diversos usuários desse recurso.

Esse grave cenário de desequilíbrio ecológico foi evidenciado na Conferência Internacional das Nações Unidas sobre a Água e o Meio Ambiente, realizada em Dublin, na Irlanda, em janeiro de 1992.

Em junho do mesmo ano, na cidade do Rio de Janeiro, realizou-se a ECO-92. Consolidava-se nessa ocasião um plano mundial de implantação de políticas de desenvolvimento sustentável, conciliando crescimento econômico e social com a preservação do meio ambiente.

Dentre outros resultados dessa conferência, para o nosso estudo vale destacar a Agenda 21, documento assinado por mais de 170 países com o objetivo de preparar o mundo para os desafios do século XXI, especialmente o elencado no capítulo 18, qual seja, Proteção da qualidade e do abastecimento dos recursos hídricos: aplicação de critérios integrados no desenvolvimento, manejo e uso dos recursos hídricos.

Impulsionada pela urgência internacional de proteger os recursos naturais do planeta, notadamente a água, o bem da vida, no Brasil é implantada a Política Nacional de Recursos Hídricos, cujos institutos passaremos a analisar.

1. FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL DA POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS

Com o advento da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, consolidou-se um sistema jurídico de proteção ambiental integrado.

É o artigo 225 da Norma Constitucional vigente a fundamental diretriz da relação equilibrada entre o homem e o meio ambiente. Segundo esse artigo, todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

Referindo-se à água como um dos elementos do meio ambiente, Machado (2013, p. 499) ensina que se aplica a esse bem o enunciado no caput do art. 225 da CF de 1988, ou seja, necessária a regulação do seu uso comum pelo povo com observância a seu equilíbrio ecológico às presentes e futuras gerações, para as quais sem a água não existe vida.

Ato contínuo de delineamento do fundamento constitucional da PNRH, estabeleceu o legislador constituinte, in verbis:

Art. 21 Compete à União:

(...)

XIX - instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir critérios de outorga de direitos de seu uso;

Nesse contexto constitucional, observa-se o caráter holístico da norma que impôs à União instituir um sistema de controle de uso e aproveitamento de todos os recursos

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hídricos pertencentes ao país, com base em critérios legais de observância geral a todos os entes federados.

Em 1997, regulamentando o inciso XIX do art. 21 da Constituição de 1988, foi promulgada a Lei 9.433, que instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos e criou o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos.

2. FUNDAMENTOS DA POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS

A Política Nacional de Recursos Hídricos, ou “Lei das Águas”, instituída pela Lei n. 9.433, de 8 de janeiro de 1997, alicerça-se sobre seis importantes fundamentos.

O primeiro, estatuído no inciso I do art. 1º da Lei, dispõe que a água é um bem de domínio público.

Vale lembrar que a legislação que regulava os recursos hídricos do país era o Código das Águas, que entrou em vigor por meio do Decreto n. 24.643, de 10 de julho de 1934. E, diferente da Lei n. 9.433/97, aqui tratada, ele dispunha que a água podia ser tanto de uso comum ou dominical quanto particular, ou seja, eram águas particulares as nascentes e todas as águas situadas em terrenos que também o fossem, quando as mesmas não estivessem classificadas entre as águas comuns de todos, as águas públicas ou as águas comuns.

Enquanto no Decreto de 1934 o direito da propriedade e o de vizinhança eram características marcantes, na Lei n. 9.433/97 o domínio é público, ou seja, para certos aproveitamentos e exploração o interessado está obrigado a seguir os ditames legais para a devida autorização dos órgãos competentes. A PNRH, portanto, inicia o seu regramento legal estabelecendo a supremacia do interesse público sobre o privado.

A PNRH estabelece que a água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico. Este fundamento escancara a mudança do paradigma herdado do Brasil – Colônia e que vigorou até a Conferência de Estocolmo, em 1972, quando se iniciou a conscientização de que os recursos naturais do planeta não eram infinitos como se imaginava e que, portanto, forçava as nações implantarem políticas a médio e longo prazo para conservar e preservar os seus recursos.

Por ser limitado, o controle do aproveitamento e exploração deve ser rígido e dotado de um valor econômico compensatório pelos atos que, porventura, venham a alterar seus padrões de qualidade e diminuir a sua disponibilidade para as presentes e futuras gerações, evidenciando, com isso, o princípio do poluidor-pagador.

Segundo MACHADO (2013, 506-507), o principal fundamento da Lei n. 9.433/97 dispõe que a gestão de recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das águas (art. 1º, inc. IV), porém, em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o consumo humano e a dessedentação dos animais (art. 1º, inc. III). O primeiro é a regra, o segundo a exceção.

Em tempos de crise decorrente de escassez, todos os demais usos como, por exemplo, outorgas de direito de uso dos recursos hídricos, podem ser suspensos com o fim de possibilitar a sobrevivência humana e dos animais. Clareza do art. 15 da Lei, in verbis:

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Art. 15. A outorga de direito de uso de recursos hídricos poderá ser suspensa parcial ou totalmente, em definitivo ou por prazo determinado, nas seguintes circunstâncias:

I - não cumprimento pelo outorgado dos termos da outorga;

II - ausência de uso por três anos consecutivos;

III - necessidade premente de água para atender a situações de calamidade, inclusive as decorrentes de condições climáticas adversas;

IV - necessidade de se prevenir ou reverter grave degradação ambiental;

V - necessidade de se atender a usos prioritários, de interesse coletivo, para os quais não se disponha de fontes alternativas;

VI - necessidade de serem mantidas as características de navegabilidade do corpo de água.

O quinto fundamento pelo qual se baseia a Lei das Águas ensina que a bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos.

A Lei nº 8.171/91, que dispõe sobre a política agrícola brasileira, já normatizava que as bacias hidrográficas constituem-se em unidades básicas de planejamento do uso, da conservação e da recuperação dos recursos naturais.

A Resolução CONAMA n. 001, de 23 de janeiro de 1986, por sua vez, dispõe, in verbis:

Art. 5º O estudo de impacto ambiental, além de atender

à legislação, em especial os princípios e objetivos expressos na Lei de Política Nacional de Meio Ambiente, obedecerá às seguintes diretrizes gerais:

(…)

III – Definir os limites da área geográfica a ser direta ou indiretamente afetada pelos impactos, denominada área de influência do projeto, considerando, em todos os casos, a bacia hidrográfica na qual se localiza. (Grifo nosso)

Com isso, o planejamento dos usos de recursos hídricos, em verdade, busca alcançar a máxima efetividade da política de gerenciamento com base na realidade local.

Vale ressaltar que a unidade territorial onde se localiza a bacia hidrográfica nem sempre coincide com os limites territoriais de um Estado ou Município.

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Nesse sentido, o Conselho da Europa, em maio de 1968, proclamou a Carta Europeia da Água, onde, em seu artigo 11, informou que “a gestão dos recursos hídricos deve inserir-se no âmbito da bacia hidrográfica natural e não no das fronteiras administrativas e políticas”.

Oportuno trazer o conceito de bacia hidrográfica que, segundo FERREIRA apud SIRVINSKAS, “é o conjunto das terras drenadas por um rio e por seus afluentes”.

A Lei das Águas, por fim, dispõe no inc. VI do art. 1º que a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades.

Eis que chegamos ao cerne do presente trabalho e, digamos, um dos princípios fundamentais da Lei das Águas: a descentralização da gestão de recursos hídricos por meio da participação dos setores-usuários, a qual, por determinação legal, deve ser considerada para a implantação de grandes empreendimentos de exploração de recursos hídricos, por exemplo, as hidrelétricas.

3. OBJETIVOS E DIRETRIZES GERAIS DE AÇÃO DA POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS

Os objetivos da PNRH estão elencados no art. 2º da Lei n. 9.433/97 e, fazendo uma leitura atenta em seus incisos, constatamos uma estreita relação com a norma constitucional estatuída no art. 225.

Ora, o caput do art. 225 da CF/1988, como já consignado, dispõe que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

Dessa forma, os usos e aproveitamentos dos recursos hídricos, segundo a normatização pátria, deve respeitar o equilíbrio ecológico de modo que possibilite atender as necessidades básicas dos seres humanos, bem como o interesse dos demais setores usuários, como a geração de energia elétrica, a irrigação, a dessedentação dos animais, a recreação e o transporte aquaviário.

Portanto, sob os vários aspectos que compõem a noção de desenvolvimento sustentável, são objetivos da PNRH: a) assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos; b) a utilização racional e integrada dos recursos hídricos, incluindo o transporte aquaviário, com vistas ao desenvolvimento sustentável;e c) a prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críticos de origem natural ou decorrentes do uso inadequado dos recursos naturais.

Segundo KETTELHUT et. al apud CAROLO, sobre os fundamentos, objetivos, diretrizes e instrumentos da Lei das Águas:

Os fundamentos são os alicerces sobre os quais ela está estruturada. Os objetivos sãoas metas a serem atingidas com sua aplicação. As diretrizes de ação e osinstrumentos constituem os meios para, com base nos fundamentos, e a partir deles,atingirem-se os objetivos fixados

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Delineamos os fundamentos principiológicos da PNRH instituída pela Lei das Águas. Listamos os objetivos para a sua efetivação e, ato contínuo, elencaremos a seguir as diretrizes gerais de ação para implementação da PNRH, disposta no art. 3º da Lei, in verbis:

Art. 3º Constituem diretrizes gerais de ação para implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos:

I - a gestão sistemática dos recursos hídricos, sem dissociação dos aspectos de quantidade e qualidade;

II - a adequação da gestão de recursos hídricos às diversidades físicas, bióticas, demográficas, econômicas, sociais e culturais das diversas regiões do País;

III - a integração da gestão de recursos hídricos com a gestão ambiental;

IV - a articulação do planejamento de recursos hídricos com o dos setores usuários e com os planejamentos regional, estadual e nacional;

V - a articulação da gestão de recursos hídricos com a do uso do solo;

VI - a integração da gestão das bacias hidrográficas com a dos sistemas estuarinos e zonas costeiras.

Portanto, para TUCCI et. al (2001, p. 89):

A Política desdobra-se em: fundamentos, objetivos, diretrizes de ação e instrumentos. O legislador fixou, como diretrizes, a integração da gestão de recursos hídricos com a gestão ambiental, a articulação da gestão de recursos hídricos com a do uso do solo e, mais especificamente, a integração da gestão das bacias hidrográficas com a dos sistemas estuarinos e zonas costeiras. Com essa decisão, sinalizou que a gestão de recursos hídricos somente será bem sucedida se levar em consideração as inter-relações existentes entre esses recursos e os demais recursos naturais.

4. INSTRUMENTOS DE GESTÃO

Os instrumentos de gestão são meios definidos pela Lei das Águas com o fim de planejar e regular os usos e aproveitamentos das águas superficiais e subterrâneas.

São instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos, segundo o art. 5º da Lei 9.433/97: os Planos de Recursos Hídricos; o enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos preponderantes da água; a outorga dos direitos de uso de recursos hídricos; a cobrança pelo uso de recursos hídricos; a compensação a municípios;e o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos.

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Em que pese a compensação a municípios figurar no rol de instrumentos da PNRH, conforme art. 5º, inc. V da Lei 9.433/97, este foi objeto de veto presidencial por sua inconstitucionalidade, segundo art. 24 da Lei.

No que diz respeito a essa particularidade, CAROLO (2007) ensina que:

o mecanismo compensatório aos Municípios não encontrou apoio no texto da Carta Magna; uma legislação específica sobre este instrumento causaria a impossibilidade de utilização da receita decorrente da cobrança pelo uso de recursos hídricos para financiar eventuais compensações e a União teria de deslocar recursos escassos de fontes existentes para o pagamento de nova despesa; além disso, a compensação financeira poderia ser devida em casos em que o poder concedente fosse diverso do federal, como por exemplo decisões de construção de reservatórios por parte do Estado ou Município que trouxesse impacto sobre outro Município, com incidência da compensação sobre os cofres da União.

4.1 SISTEMA DE INFORMAÇÕES SOBRE RECURSOS HÍDRICOS

Instrumento que reúne todas as informações pertinentes sobre os recursos hídricos do país, a sua qualidade e quantidade para determinados usos e aproveitamentos.

Segundo o art. 25 da Lei das Águas, é um sistema de coleta, tratamento, armazenamento e recuperação de informações sobre recursos hídricos e fatores intervenientes em sua gestão. Deve ser alimentado com informações produzidas por todos os órgãos integrantes do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos.

Dentre os objetivos dispostos no art. 271 da referida Lei, cumpre destacarmos o fornecimento de subsídios para a elaboração dos Planos de Recursos Hídricos, tendo em vista que os planos de bacia, combinados com a descentralização da gestão de recursos hídricos e a participação dos setores-usuários por meio dos comitês de bacia, constituem-se os pilares da Política Nacional de Recursos Hídricos.

4.2 PLANOS DE RECURSOS HÍDRICOS (PRH)

Segundo a Lei n. 9.433/97, são planos diretores que visam fundamentar e orientar a implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e o gerenciamento dos recursos hídricos.

São planos de longo prazo, devendo observar metas de racionalização de uso, aumento da quantidade e melhoria da qualidade dos recursos hídricos disponíveis; diagnosticar a situação atual das águas; analisar alternativas de crescimento demográfico, de evolução de atividades produtivas e de modificações dos padrões de ocupação do solo; identificar conflitos potenciais por meio de um balanço entre disponibilidades e demandas futuras dos recursos hídricos, em quantidade e qualidade; medidas a serem tomadas, programas a serem desenvolvidos e projetos a serem implantados para o atendimento das metas previstas.

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Para isso, os PRH serão elaborados por bacia hidrográfica, por Estado e para o País (Art. 8º da Lei). Ademais, o PRH deve prever, ainda, as prioridades para a outorga de direitos de uso de recursos hídricos, diretrizes e critérios para a cobrança pelo uso das águas e, sobretudo, propostas para a criação de áreas sujeitas à restrição de uso, com vistas à proteção dos recursos hídricos.

Cabe atentarmos, neste momento da pesquisa, para a grande relevância desse instrumento de gestão da PNRH, visto que cada bacia hidrográfica deve ter um planejamento de gestão, prevendo a disponibilidade e a quantidade de seus recursos hídricos para os diversos usos e aproveitamentos, notadamente a que observe a viabilidade ambiental para a exploração de potenciais hidrelétricos.

4.3 ENQUADRAMENTO DOS CORPOS DE ÁGUA EM CLASSES, SEGUNDO OS USOS PREPONDERANTES

É fundamento da PNRH que a gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das águas.

Dessa forma, é de observância obrigatória o enquadramento dos corpos de água em classes, segundo os usos preponderantes, na forma da Resolução CONAMA N. 357, de 17 de março de 2005.

O enquadramento dos recursos hídricos visa assegurar qualidade compatível das águas com os usos mais exigentes a que forem destinadas, diminuindo os custos de combate à poluição mediante ações preventivas permanentes.

Por fim, é o Plano de Recursos Hídricos de cada bacia hidrográfica que apontará a que classes ela pertencerá. Para MACHADO (2013, p. 524), “a classificação das águas é o reconhecimento da diferença e multiplicidade de usos desse recurso. Os usos pretendidos vão ser discutidos e apontados no Plano de Recursos Hídricos”.

4.4 OUTORGA DE DIREITOS DE USO DE RECURSOS HÍDRICOS

A outorga de direitos de uso de recursos hídricos nada mais é do que um ato administrativo autorizador, por meio do qual o Poder Público concede temporariamente o direito de uso de um determinado recurso hídrico nos termos e condições expressos no respectivo ato.

O Ministério do Meio Ambiente, por meio da IN n. 4, de 21 de junho de 20002, assim define esse instrumento:

“(...) ato administrativo, de autorização, mediante o qual o Poder Público outorgante faculta ao outorgado o direito de uso de recurso hídrico, por prazo determinado, nos termos e nas condições expressas no respectivo ato”.

O Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), por sua vez, também conceitua a outorga no art. 1º da Resolução n. 16, de 08 de maio de 2001:

Art. 1º A outorga de direito de uso de recursos hídricos é o ato administrativo mediante o qual a autoridade outorgante faculta ao outorgado previamente ou mediante o direito de uso

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de recurso hídrico, por prazo determinado, nos termos e nas condições expressas no respectivo ato, consideradas as legislações específicas vigentes.

Conforme a Lei das Águas, ao CNRH compete estabelecer critérios gerais para a outorga de direitos de uso de recursos hídricos e para a cobrança por seu uso (Art. 35, inc. X), razão pela qual suas Resoluções em matéria de gestão de recursos hídricos têm superioridade hierárquica em relação às normas do Ministério do Meio Ambiente.

Feita essa ressalva, cabe elencarmos os seguintes usos que estão sujeitos à outorga pelo Poder Público:

a) derivação ou captação de parcela da água existente em um corpo de água para consumo final, inclusive abastecimento público, ou insumo de processo produtivo;

b) extração de água de aquífero subterrâneo para consumo final ou insumo de processo produtivo;

c) lançamento em corpo de água de esgotos e demais resíduos líquidos ou gasosos, tratados ou não, com o fim de sua diluição, transporte ou disposição final;

d) aproveitamento dos potenciais hidrelétricos;

e) outros usos que alterem o regime, a quantidade ou a qualidade da água existente em um corpo de água.

O rol acima é exemplificativo, tendo em vista que a Lei n. 9.433/97 deu ao Órgão competente a possibilidade de alargar os casos em que a outorga seja obrigatória.

O uso de recursos hídricos para a satisfação das necessidades de pequenos núcleos populacionais, distribuídos no meio rural, as derivações, captações e lançamentos considerados insignificantes e as acumulações de volumes de água consideradas ínfimas independem de outorga pelo Poder Público, conforme definido em regulamento.

Os Planos de Recursos Hídricos estabelecerão as prioridades de uso da respectiva bacia hidrográfica e toda outorga estará condicionada a elas, respeitando a classe em que o corpo de água estiver enquadrado e a manutenção de condições adequadas ao transporte aquaviário, quando for o caso.

De modo a evitar conflitos entre os setores-usuários, a outorga de usos dos recursos hídricos deverá preservar o uso múltiplo destes.

A Lei das Águas estabelece que toda outorga de direitos de uso de recursos hídricos far-se-á por prazo não excedente a trinta e cinco anos, prorrogável, bem como a sua emissão não implica a alienação parcial das águas, que são inalienáveis, mas o simples direito de uso.

A Lei, por fim, enumera as circunstâncias em que a outorga poderá ser suspensa, conforme o art. 15, in verbis:

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Art. 15. A outorga de direito de uso de recursos hídricos poderá ser suspensa parcial ou totalmente, em definitivo ou por prazo determinado, nas seguintes circunstâncias:

I - não cumprimento pelo outorgado dos termos da outorga;

II - ausência de uso por três anos consecutivos;

III - necessidade premente de água para atender a situações de calamidade, inclusive as decorrentes de condições climáticas adversas;

IV - necessidade de se prevenir ou reverter grave degradação ambiental;

V - necessidade de se atender a usos prioritários, de interesse coletivo, para os quais não se disponha de fontes alternativas;

VI - necessidade de serem mantidas as características de navegabilidade do corpo de água.

4.5 A COBRANÇA PELO USO DE RECURSOS HÍDRICOS

Esse instrumento é a materialização do princípio usuário-poluidor-pagador, cujo entendimento pressupõe que quem explora um recurso natural, diminuindo a sua disponibilidade ou alterando o seu equilíbrio, paga para corrigir ou mitigar os danos advindos de sua atividade.

Para Paulo Affonso Leme Machado (2013, p. 542), “a cobrança pelo uso dos recursos hídricos é uma das formas de aplicar-se o princípio 16 da Declaração do Rio de Janeiro da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1992”.

O princípio a que se referiu o autor assim dispõe:

“As autoridades nacionais devem procurar promover a internacionalização dos custos ambientais e o uso de instrumentos econômicos, tendo em vista a abordagem segundo a qual o poluidor deve, em princípio, arcar com o custo da poluição, com a devida atenção ao interesse público e sem provocar distorções no comércio e nos investimentos internacionais.”

Os usos de recursos hídricos supracitados, sujeitos à outorga, serão cobrados, objetivando, com isso, o reconhecimento da água como bem econômico, o incentivo a racionalização de seu uso e, não menos importante, a obtenção de recursos financeiros para o financiamento dos programas e intervenções contemplados nos Planos de Recursos Hídricos.

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5. SISTEMA NACIONAL DE GERENCIAMENTO DE RECURSOS HÍDRICOS

Vimos até aqui que a Política Nacional de Recursos Hídricos foi instituída pela Lei n. 9.433/97, a qual também criou o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SNGRH), conforme o mandamento constitucional insculpido no inciso XIX do artigo 21.

Nesse contexto, e considerando que a gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades, o SNGRH é a reunião de todos os órgãos e entidades que atuam na gestão dos recursos hídricos.

Embora autônomos, União, Estados, Distrito Federal e Municípios são, nas palavras do professor Paulo Affonso Leme Machado, “obrigatoriamente integrados” ao SNGRH.

Para o referido autor, “a gestão das águas é descentralizada no Sistema Nacional de Recursos Hídricos, mas não pode ser antagônica e descoordenada”.

Dessa forma, o ordenamento jurídico pátrio exige uma articulação eficaz e cooperada entre todos os integrantes envolvidos, com o fim de preservar a disponibilidade e a quantidade de água, de acordo com a classe de uso estabelecida nos respectivos planos de recursos hídricos, para as presentes e futuras gerações.

Com isso, objetiva o SNGRH: coordenar a gestão integrada das águas; arbitrar administrativamente os conflitos relacionados com os recursos hídricos; implementar a Política Nacional de Recursos Hídricos; planejar, regular e controlar o uso, a preservação e a recuperação dos recursos hídricos;e promover a cobrança pelo uso de recursos hídricos.

Assim, integram o SNGRH:

a) o Conselho Nacional de Recursos Hídricos;

b) a Agência Nacional de Águas;

c) os Conselhos de Recursos Hídricos dos Estados e do Distrito Federal

d) os Comitês de Bacia Hidrográfica;

e) os órgãos dos poderes públicos federais, estaduais, do Distrito Federal e municipais cujas competências se relacionem com a gestão de recursos hídricos;

f) as Agências de Água.

CONCLUSÃO

A Política Nacional de Recursos Hídricos, instituída pela Lei n. 9.433/97, se não solucionou totalmente os problemas concernentes ao uso e aproveitamento de nossos recursos hídricos, é considerada um marco no aperfeiçoamento da gestão e planejamento desses recursos em nosso ordenamento.

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Como vimos, a gestão de recursos hídricos como meio de concretização da Política Nacional de Recursos Hídricos, sustenta-se em dois grandes pilares: planejamento de uso e aproveitamento das águas e participação dos setores usuários na tomada de decisões, portanto, é por meio desse sistema de normatização que são definidos pelos setores – usuários e órgãos do SNGRH todas as bacias hidrográficas e seus corpos d'água, suas características, como quantidade e qualidade, e suas prioridades de uso e aproveitamento conforme a multiplicidade de demandas por esses recursos.

Assim, Gestão de Recursos Hídricos é decisão política, motivada pela crescente escassez de água ou por sua variada disponibilidade no planeta, pelo uso e aproveitamento de forma incompatível com a quantidade e qualidade dos recursos hídricos e, sobretudo, pela necessidade de preservação do planeta para as presentes e futuras gerações.

CAVALCANTI, Erivaldo. Considerações sobre a política nacional de recursos hídricos. Disponível

em: < https://jus.com.br/artigos/50056/consideracoes-sobre-a-politica-nacional-de-recursos-hidricos>

PROBLEMAS DO LIXO NO BRASIL Não se pode ignorar o fato de que Brasil sofre com problemas de lixo assim como grande parte das principais potências mundiais. Com o crescimento vegetativo (aumento das taxas populacionais), também acontece a evolução de resíduos que ao invés de serem encaminhados para o sistema de reciclagem seguem aos aterros sanitários que não estão preparados para trabalhar com o tipo de lixo.

Falta de Economia Regenerativa

Entre os diversos preceitos econômicos contemporâneos do século XXI surgem pensadores que evoluem no sentido de ampliar o pensamento no que tange à economia regenerativa, o que de fato consiste em não desperdiçar nenhum tipo de resíduo ou tipo de produção no sentido de fomentar novos setores da economia. A falta do conceito assombra as terras nacionais e por consequência representa na grande problemática do lixo em terras nacionais.

Falta de Reciclagem

Ao levar em conta os preceitos da economia regenerativa se pode considerar de forma principal que o sistema de reciclagem brasileiro precisa de um longo caminho para se tornar realidade. Não são todos os bairros que possuem lixeiras sustentáveis que servem para colocar diferentes tipos de lixos e ao mesmo tempo melhorar o sistema de coleta. Interessante notar que existem empresas privadas que participam de forma ativa no sentido de auxiliar com o processo de reciclagem. Porém, essa consiste em iniciativa que o poder público precisa colocar em prática. Ainda faltam centros de reciclagem necessários no sentido de conseguir satisfazer a oferta de lixo que cresce junto com o aumento dos consumidores em terras nacionais.

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Se não existe lixeiras do gênero no seu condomínio há necessidade de fazer o contato com o síndico para que se providencie o processo de forma rápida e precisa. Caso more em casas, então existe o dever de procurar a prefeitura no sentido de implantar o tipo de lixo sustentável no bairro e ao mesmo tempo colaborar de forma direta com a sustentabilidade.

Falta de Consciência dos Consumidores

Todos precisam dar as mão e lutar de forma conjunto para que aconteça a melhora em termos de consumo. Por exemplo, ao invés de ficar com os braços cruzados esperando alguma ação efetiva do governo, procure não usar nenhum tipo de sacola plástica que representa uma das grandes pragas da sociedade moderna. Compre sacos orgânicos e por consequência colabore com menor número de plástico cuja produção além de prejudica a atmosfera com envio de gases também tem base no petróleo. Lixo Eletrônico: Outro problema que se relaciona de forma direta com o problema do lixo no Brasil. Com as constantes revoluções tecnológicas consumidores possuem a mania de fazer as compras e ao mesmo tempo jogar no lixo comum materiais eletrônicos que seguem aos aterros sanitários e permanecem por tempo indeterminado em termos de decomposição. A grande saída pra esse tipo de problema é passar para frente, ou seja, vender no mercado de usados ou de forma simples doar para alguém que esteja precisando do tipo de tecnologia e não possui condições de ter o aparelho. Caso o eletrônico esteja quebrado uma dica está em fazer a manutenção antes de doar ou de forma prévia ao ato de encaminhar para o mercado de usados. Caso o preço para arrumar seja caro, procure doar aos centros que são especialistas em trabalhar com os resíduos e realizar novas produções no sentido de doar para comunidades carentes, como no caso do Museu do Computador, instituição sem fins lucrativos que se estabelece na Grande São Paulo.

Problemáticas Gerais do Lixo no Brasil

Se for colocar em uma lista talvez não exista fim o número de problemáticas que se relacionam com o país. Basta adentrar em qualquer comunidade pobre para perceber que existe o excesso de lixo jogado em algum canto do lugar que fica parado por longos anos apenas acumulando ratos, doenças e outros tipos de problemáticas sob a ótica ambiental. Com o grande volume de lixo que se encontra parado a atmosfera também recebe danos, afinal existe ampla presença de gases que são eliminados no ar e por consequência ajudar a acelerar os efeitos devastadores do aquecimento global. Interessante notar que a grande quantidade de resíduos parados também colabora ao aumento de sujeiras eu acontece nas águas superficiais ou que se encontram no subterrâneo.

Aumento das Populações

Vale ressaltar que as populações crescem no Brasil e se o poder público não tomar providências no sentido de prestar contas para organizar a demanda de oferta de lixo que existe em terras nacionais. Do contrário o país pode virar um grande lixão e emissor de gases poluentes à atmosfera.

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Com o aumento da produção e processo de comunista as chances de acontecer o aumento do lixo são grandes e por esse motivo o poder público precisa escolher um entre dois caminhos: Diminuir o poder de consumo do povo ou aumentar os processos de economia regenerativa no sentido de usar os resíduos para fomentar novas indústrias que trabalham de forma principal com materiais a serem reciclados. De forma prática seguir a moda representa ponto contraindicado em termos de consumo, o que de fato acontece não apenas em terras nacionais como internacionais – parte da cultura capitalista que objetiva a ecologia profunda e não rasa. O mundo precisa também diminuir os bens descartáveis, de forma principal quando compostos por plástico, elemento que apenas pode ser produzido em consequência das ações por conta do petróleo. A demanda por objetos modernos não pode acontecer apenas por causa da moda e sim em consequência da necessidade de trabalhar com melhor êxito. O modismo precisa ser combatido porque traz lucros para poucos e prejuízos a grande parte da coletividade que sofre por conta de problemas ambientais. De forma prática o lixo consiste em problema que se relacionam não apenas com questões sociais como também sob a ótica da economia. Existe quantidade de dinheiro ao extremo que se destina na recolha, mas com aumento do consumismo, seja por necessidade ou modismo, o problema se encontra em um ciclo que parece não ter fim. De fato, quem conseguir resolver a problemática nacional pode ser digno a receber o prêmio Nobel.

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É possível a responsabilização penal da pessoa jurídica por crime ambiental, ainda que não haja imputação contra pessoas físicas

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

É possível a responsabilidade penal das pessoas jurídicas por crimes ambientais? O art. 225, § 3º, CF/88 prevê o seguinte: Art. 225 (...) § 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. A Lei n. 9.605/98, regulamentando o dispositivo constitucional, estabeleceu: Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade. Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas, autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato. Mesmo com essa previsão expressa na CF/88 e na Lei n. 9.605/98, surgiram quatro correntes para explicar a possibilidade (ou não) de responsabilização penal da pessoa jurídica:

1ª CORRENTE: NÃO. A CF/88 não previu a responsabilidade penal da pessoa jurídica, mas apenas sua responsabilidade administrativa. É a corrente minoritária.

Os defensores desta primeira corrente fazem a seguinte interpretação do § 3º do art. 225 da CF/88: os infratores pessoas físicas estão sujeitos a sanções penais e os infratores pessoas jurídicas a sanções administrativas. Assim, quando o dispositivo constitucional fala em sanções penais ele está apenas se referindo às pessoas físicas. Adotam essa corrente: Miguel Reale Jr., Cézar Roberto Bitencourt, José Cretela Jr. É minoritária.

2ª CORRENTE:

NÃO. A ideia de responsabilidade da pessoa jurídica é incompatível com a teoria do crime adotada no Brasil. É a posição majoritária na doutrina.

Conforme explica Silvio Maciel, esta segunda corrente baseia-se na Teoria da ficção jurídica, de Savigny, segundo a qual as pessoas jurídicas são puras abstrações, desprovidas de consciência e vontade (societas delinquere non potest). Logo, “são desprovidas de consciência, vontade e finalidade e, portanto, não podem praticar condutas tipicamente humanas, como as condutas criminosas.” (Meio Ambiente. Lei 9.605, 12.02.1998. In: GOMES, Luiz Flávio; CUNHA, Rogério Sanches (Coord.). Legislação Criminal Especial. São

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Paulo: RT, 2009, p. 691). As pessoas jurídicas não podem ser responsabilizadas criminalmente porque não têm capacidade de conduta (não têm dolo ou culpa) nem agem com culpabilidade (não têm imputabilidade nem potencial consciência da ilicitude). Além disso, “é inútil a aplicação de pena às pessoas jurídicas. As penas têm por finalidades prevenir crimes e reeducar o infrator (prevenção geral e especial, positiva e negativa), impossíveis de serem alcançadas em relação às pessoas jurídicas, que são entes fictícios, incapazes de assimilar tais efeitos da sanção penal.” (idem, p. 692). Adotam essa corrente: Pierangelli, Zafaroni, René Ariel Dotti, Luiz Regis Prado, Alberto Silva Franco, Fernando da Costa Tourinho Filho, Roberto Delmanto, LFG, entre outros.

3ª CORRENTE: SIM. É plenamente possível a responsabilização penal da pessoa jurídica no caso de crimes ambientais porque assim determinou o § 3º do art. 225 da CF/88. A pessoa jurídica pode ser punida penalmente por crimes ambientais ainda que não haja responsabilização de pessoas físicas.

O principal argumento desta corrente é pragmático e normativo: pode haver responsabilidade penal porque a CF/88 assim determinou. Vale ressaltar que o § 3º do art. 225 da CF/88 não exige, para que haja responsabilidade penal da pessoa jurídica, que pessoas físicas sejam também, obrigatoriamente, denunciadas. Esta corrente é defendida, dentre outros, por Vladimir e Gilberto Passos de Freitas: “(...) a denúncia poderá ser dirigida apenas contra a pessoa jurídica, caso não se descubra a autoria das pessoas naturais, e poderá, também, ser direcionada contra todos. Foi exatamente para isto que elas, as pessoas jurídicas, passaram a ser responsabilizadas. Na maioria absoluta dos casos, não se descobria a autoria do delito. Com isto, a punição findava por ser na pessoa de um empregado, de regra o último elo da hierarquia da corporação. E quanto mais poderosa a pessoa jurídica, mais difícil se tornava identificar os causadores reais do dano. No caso de multinacionais, a dificuldade torna-se maior, e o agente, por vezes, nem reside no Brasil. Pois bem, agora o Ministério Púbico poderá imputar o crime às pessoas naturais e à pessoa jurídica, juntos ou separadamente. A opção dependerá do caso concreto.” (Crimes Contra a Natureza. São Paulo: RT, 2006, p. 70).

4ª CORRENTE:

SIM. É possível a responsabilização penal da pessoa jurídica, desde que em conjunto com uma pessoa física. É a posição do STJ.

O STJ possui o entendimento de que é possível a responsabilidade penal da pessoa jurídica em crimes ambientais, desde que haja a imputação simultânea do ente moral e da pessoa natural que atua em seu nome ou em seu benefício. Nesse sentido: EDcl no REsp 865.864/PR, Rel. Min. Adilson Vieira Macabu (Desembargador Convocado do TJ/RJ), Quinta Turma, julgado em 20/10/2011) Assim, para o STJ, o Ministério Público não poderá formular a denúncia apenas contra a pessoa jurídica, devendo, obrigatoriamente, identificar e apontar as pessoas físicas que, atuando em nome e proveito da pessoa jurídica, participaram do evento delituoso, sob pena da exordial não ser recebida (REsp 610.114/RN). Este entendimento baseia-se na redação do art. 3º da Lei n. 9.605/98: Art. 3º As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade. Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas, autoras, co-autoras ou partícipes do mesmo fato. Veja o que explica Silvio Maciel: “Pelo referido dispositivo é possível punir apenas a pessoa física, ou a pessoa física e a pessoa jurídica concomitantemente. Não é possível, entretanto, punir apenas a pessoa jurídica, já que o caput do art. 3º somente permite a responsabilização do ente moral se identificado o ato do representante legal ou contratual ou do órgão colegiado que ensejou a decisão da prática infracional. Assim, conforme já expusemos acima, não é possível denunciar, isoladamente, a pessoa jurídica já que sempre haverá uma pessoa física (ou diversas) co-responsável pela infração. Em relação aos entes morais, os crimes ambientais são, portanto, delitos plurissubjetivos ou de concurso necessário (crimes de encontro).” (ob. cit., p. 702-703). Essa é a posição, dentre outros, de Édis Milaré e da jurisprudência do STJ.

Qual é a posição do STF sobre o tema?

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O STF ainda não havia enfrentado diretamente o tema, prevalecendo, portanto, até então, a posição do STJ. Ocorre que a 1ª Turma do STF, em julgado recente, adotou a 3ª corrente. O STF entendeu que é admissível a condenação de pessoa jurídica pela prática de crime ambiental, ainda que absolvidas as pessoas físicas ocupantes de cargo de presidência ou de direção do órgão responsável pela prática criminosa. 1ª Turma. RE 548181/PR, rel. Min. Rosa Weber, julgado em 6/8/2013 (Info 714). O caso concreto foi o seguinte: O MPF formulou denúncia por crime ambiental contra a pessoa jurídica Petrobrás e também contra “H” (então Presidente da companhia) e “L” (superintendente de uma refinaria). A denúncia foi recebida. No entanto, os acusados pessoas físicas conseguiram ser excluídos da ação penal, durante a sua tramitação, por meio de habeas corpus. Como as pessoas físicas foram afastadas da ação penal, o STJ decidiu que a pessoa jurídica deveria também ser, obrigatoriamente, excluída do processo, que foi, portanto, extinto. O MPF recorreu e a 1ª Turma do STF, por maioria, cassou o acórdão do STJ. Para o STF, a tese do STJ (4ª corrente, acima exposta) viola a Constituição Federal. Isso porque o art. 225, § 3º, da CF/88 não condiciona a responsabilização da pessoa jurídica a uma identificação, e manutenção na relação jurídico-processual, da pessoa física ou natural. Em outras palavras, a Constituição não faz a exigência de que a pessoa jurídica seja, obrigatoriamente, denunciada em conjunto com pessoas físicas. Para o STF, ao se condicionar a imputabilidade da pessoa jurídica à da pessoa humana, estar-se-ia quase que a subordinar a responsabilização jurídico-criminal do ente moral à efetiva condenação da pessoa física, o que não foi o objetivo do § 3º do art. 225 da CF/88. Mesmo que se conclua que o legislador ordinário ainda não estabeleceu por completo os critérios de imputação da pessoa jurídica por crimes ambientais, não há como deixar de reconhecer a possibilidade constitucional de responsabilização penal da pessoa jurídica sem necessidade de punição conjunta com a pessoa física. Votos vencidos: Os Ministros Marco Aurélio e Luiz Fux ficaram vencidos porque se filiavam a primeira corrente, ou seja, defenderam que o art. 225, § 3º, da CF/88 criou a responsabilidade penal da pessoa jurídica, mas apenas impôs sanções administrativas.

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Competência para julgar crimes ambientais

quarta-feira, 1 de março de 2017 De quem é a competência para julgar crimes ambientais? Em regra, a competência é da Justiça Estadual. Por quê? Porque a competência da Justiça Federal é constitucional e taxativa. Assim, somente será de competência da Justiça Federal comum se a situação se enquadrar em uma das hipóteses previstas nos incisos dos arts. 108 e 109 da CF/88. Os crimes contra o meio ambiente, em princípio, não se amoldam em nenhum dos incisos do art. 109, razão pela qual a competência é da Justiça Estadual, que possui competência residual. Exceção A competência será da Justiça Federal se o crime ambiental: a) atentar contra bens, serviços ou interesses diretos e específicos da União ou de suas entidades autárquicas; b) for previsto tanto no direito interno quanto em tratado ou convenção internacional, tiver a execução iniciada no País, mas o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou na hipótese inversa; c) tiver sido cometido a bordo de navios ou aeronaves; d) houver sido praticado com grave violação de direitos humanos; e) guardar conexão ou continência com outro crime de competência federal, ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral. Vale ressaltar que a proteção do meio ambiente é uma competência comum da União, dos Estados, do DF e dos Municípios (art. 23, VI e VII, da CF/88). Isso significa que a responsabilidade é de todos os entes federativos. Assim, todo crime ambiental gera um interesse genérico da União. A competência somente será da Justiça Federal se o delito praticado atingir interesse direto e específicoda União, de suas entidades autárquicas ou de empresas públicas federais. Análise de alguns casos concretos 1) Crimes contra a fauna Em regra, a competência será da Justiça Estadual. Está cancelada a súmula 91 do STJ, que dizia o seguinte: "Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes praticados contra a fauna." 2) Crime ambiental apurado a partir de auto de infração lavrado pelo IBAMA

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Muitos crimes ambientais são descobertos e processados a partir de um auto de infração administrativa, que é lavrado pelos órgãos de fiscalização ambiental. Ex: o IBAMA constata um ilícito ambiental, multa o infrator e remete os autos do processo administrativo para o Ministério Público. O simples fato de o auto de infração ter sido lavrado pelo IBAMA não faz com que, obrigatoriamente, este crime seja julgado pela Justiça Federal. Isso porque a competência para proteger o meio ambiente é comum, de forma que o IBAMA atua e pune mesmo se a infração ambiental for de âmbito local (e não regional ou nacional). Assim, a atuação administrativa não vincula a competência jurisdicional para apurar o crime. 3. Na hipótese, verifica-se que o Juízo Estadual declinou de sua competência tão somente pelo fato de o auto de infração ter sido lavrado pelo IBAMA, circunstância que se justifica em razão da competência comum da União para apurar possível crime ambiental, não sendo suficiente, todavia, por si só, para atrair a competência da Justiça Federal. (...) STJ. 3ª Seção. CC 113.345/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 22/8/2012. A atribuição do IBAMA de fiscalizar a preservação do meio ambiente também não atrai a competência da Justiça Federal para processamento e julgamento de ação penal referente a delitos ambientais. STJ. 3ª Seção. CC 97.372/SP, Rel. Min. Celso Limongi (Des. Conv. do TJ/SP), julgado em 24/3/2010. 3) Crime praticado em rio interestadual, se isso puder causar reflexos em âmbito regional ou nacional.

Os rios interestaduais, ou seja, os rios que banhem mais de um Estado, são considerados bens da União (art. 20, III, da CF/88). Logo, se o crime ambiental é praticado em rio interestadual, a competência é da Justiça Federal, com base no art. 109, IV, da CF/88, desde que isso possa causar reflexos em âmbito regional ou nacional. Ex: derramamento de óleo às margens do Rio Negro. STJ. 3ª Seção. CC 145.420/AM, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 10/08/2016. Cabe à Justiça Federal o julgamento de crime ambiental praticado no Rio Amazonas, pois se cuida de Rio interestadual e internacional, afetando, assim, os interesses da união. STJ. 6ª Turma. RMS 26.721/DF, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 12/04/2012. Mas atenção. Se o crime for praticado em parte de um rio interestadual, mas sem possibilidade de gerar reflexos regionais ou nacionais, a competência será da Justiça Estadual. É o caso, por exemplo, de um pequeno pescador que pratica pesca ilegal em parte do rio interestadual. Como neste caso não há reflexos em âmbito regional ou nacional, a competência será da Justiça Estadual. (...) 3. Assim sendo, para atrair a competência da Justiça Federal, o dano decorrente de pesca proibida em rio interestadual deveria gerar reflexos em âmbito regional ou nacional, afetando trecho do rio que se alongasse por mais de um Estado da Federação, como ocorreria se ficasse demonstrado que a atividade pesqueira ilegal teria o condão de repercutir negativamente sobre parte significativa da população de peixes ao longo do rio, por exemplo, impedindo ou prejudicando seu período de reprodução sazonal. 4. Situação em que os danos ambientais afetaram apenas a parte do rio próxima ao Município em que a infração foi verificada, visto que a denúncia informa que

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apenas dois espécimes, dentre os 85 Kg (oitenta e cinco quilos) de peixes capturados, tinham tamanho inferior ao mínimo permitido e os apetrechos de pesca apresentavam irregularidades como falta de plaquetas de identificação, prejuízos que não chegam a atingir a esfera de interesses da União. (....) STJ. 3ª Seção. CC 146.373/MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 11/05/2016. 4) Crime praticado em mar territorial e em terreno de marinha O mar territorial e os terrenos de marinha também são bens da União (art. 20, VI e VII, da CF/88). Logo, os crimes ambientais ali praticados são de competência da Justiça Federal porque a jurisprudência considera que há interesse direto e específico da União. Obs: o crime será de competência da Justiça Federal mesmo que ainda não tenha havido demarcação oficial do terreno de marinha. STJ. 5ª Turma. RHC 50.692/SC, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 05/04/2016. 5) Crime cometido dentro ou no entorno de unidade de conservação federal Trata-se de competência da Justiça Federal considerando que há, no caso, interesse direto e específico da União. STJ. 3ª Seção. CC 100.852/RS, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 28/04/2010. 6) Extração ilegal de recursos minerais

O crime de extração ilegal de recursos minerais, previsto no art. 55 da Lei nº 9.605/98, é considerado um crime ambiental. A competência para julgá-lo é da Justiça Federal, não importando o local em que tenha sido cometido. Assim, mesmo que os recursos tenham sido extraídos ilegalmente de uma propriedade particular, a competência continua sendo da Justiça Federal. A razão para isso está no fato de que os recursos minerais são bens de propriedade da União (art. 20, IX, da CF/88), razão pela qual atrai o art. 109, IV. Nesse sentido: STJ. 3ª Seção. CC 116.447/MT, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 25/05/2011. 7) Crime praticado contra áreas ambientais classificadas como patrimônio nacional

O art. 225, § 4º da CF/88 prevê que a Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são "patrimônio nacional". A expressão "patrimônio nacional" não significa dizer que tais áreas sejam consideradas como "bens da União". Não o são. Assim, os crimes cometidos contra a Floresta Amazônica, contra a Mata Atlântica etc. (ex: desmatamento) são, em regra, de competência da Justiça Estadual. Não há se confundir patrimônio nacional com bem da União. Aquela locução revela proclamação de defesa de interesses do Brasil diante de eventuais ingerências estrangeiras. (...) STJ. 3ª Seção. CC 99.294/RO, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 12/08/2009. 8) Crime ocorrido em área de assentamento do INCRA Embora a pulverização do agrotóxico tenha ocorrido em escola localizada em área de assentamento de responsabilidade do INCRA, autarquia federal, não há diretamente qualquer interesse, direito ou bem da União, de suas autarquias ou empresas públicas envolvidos, sendo, se existente, meramente reflexo o interesse do INCRA. Logo, a competência é da Justiça Estadual. STJ. 3ª Seção. CC 139.810/GO, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 26/08/2015.

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Animais silvestres, em extinção, exóticos ou protegidos por compromissos internacionais O STF decidiu que: Compete à Justiça Federal processar e julgar o crime ambiental de caráter transnacional que envolva animais silvestres, ameaçados de extinção e espécimes exóticas ou protegidas por compromissos internacionais assumidos pelo Brasil. STF. Plenário. RE 835558-SP, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 09/02/2017 (repercussão geral). Obs1: nem todo crime ambiental de caráter transacional será de competência da Justiça Federal. Obs2: nem todo crime que envolva animais silvestres, ameaçados de extinção, espécimes exóticas, ou protegidos por compromissos internacionais assumidos pelo Brasil será de competência da Justiça Federal.

Compete à JUSTIÇA FEDERAL julgar crime ambiental que envolva...

animais silvestres; animais ameaçados de extinção; espécimes exóticas; ou animais protegidos por compromissos

internacionais assumidos pelo Brasil

... desde que haja caráter transnacional.

Caráter transnacional Para que o crime seja de competência da Justiça Federal é necessário que, além de ele envolver os animais acima listados, exista, no caso concreto, um caráter transnacional na conduta. Diz-se que existe caráter transnacional (também chamado de "relação de internacionalidade") quando: • iniciada a execução do crime no Brasil, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro; ou • iniciada a execução do crime no estrangeiro, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no Brasil. Se ocorrer uma dessas duas situações há caráter transnacional na conduta. Interesse direto, específico e imediato da União Segundo argumentou o Min. Luiz Fux: “A razão de ser das normas consagradas no direito interno e no direito convencional conduz à conclusão de que a transnacionalidade do crime ambiental de exportação de animais silvestres atinge interesse direto, específico e imediato da União, voltado à garantia da segurança ambiental no plano internacional, em atuação conjunta com a comunidade das nações. Portanto, o envio clandestino de animais silvestres ao exterior reclama interesse direto da União no controle de entrada e saída de animais do território nacional, bem como na observância dos compromissos do Estado brasileiro com a comunidade internacional, para a garantia conjunta de concretização do que estabelecido nos acordos internacionais de proteção do direito fundamental à segurança ambiental. Assim, a natureza transnacional do delito ambiental de exportação de animais silvestres atrai a competência da Justiça Federal, nos termos do art. 109, IV, da CF/1988.”