apostila analise sintatica

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CENTRO UNIVERSITÁRIO FUNDAÇÃO SANTO ANDRÉ FACULDADE DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS E LETRAS CURSO DE LETRAS MONITORIA DE LÍNGUA PORTUGUESA I Henrique Barbosa Pasqualetti ANÁLISE SINTÁTICA (1) Análise sintática: conceituação. ISTOÉ: Como é seu processo de criação? Você escreve música? Caymmi: Não. É tudo de ouvido mesmo. ISTOÉ: Mas você compõe acompanhando-se ao violão? Caymmi: Também não. Quando perguntam à minha mulher se eu tenho feito músicas, ela responde que não porque eu nunca pego no violão. Que me desculpe o meu violão, meu velho companheiro, mas eu não preciso dele. Como músico, sou limitadíssimo. Toco umas coisinhas, mas nunca faço o que Baden Powell é capaz de fazer. Então eu preciso de quê? Preciso de um sonho, de uma coisa misteriosa na cabeça, de um impulso interior. Daí nasce uma canção. Revista Istoé. No texto lido ocorrem: a. Substantivos : música, violão, mulher, etc. b. Adjetivos : velho, limitadíssimo, capaz, misteriosa, etc. c. Verbos : perguntam, responde, desculpe, etc. d. Pronomes : eu, minha, tudo, etc. e. Advérbios : não, nunca, etc. Quando separamos as palavras nesses grupos, estamos procedendo a uma classificação de palavras, ou seja, estamos distribuindo-as em classes. Classe é um conjunto de palavras que apresentam características morfológicas (estruturais) semelhantes. Sabemos que em Português as classes de palavras são dez: substantivo, adjetivo, pronome, numeral, verbo, conjunção, preposição, advérbio e interjeição (seis variáveis e quatro invariáveis). O estudo das classes de palavras é feito na morfologia. Observe agora: Eu preciso de um sonho. Trata-se de uma mensagem linguística com significado completo, ou seja, trata-se de uma frase. Numa frase, as palavras relacionam-se entre si e combinam-se de acordo com determinados princípios. A parte da

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Apostila introdutória dos conceitos de frase, oração e período.

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Page 1: apostila analise sintatica

CENTRO UNIVERSITÁRIO FUNDAÇÃO SANTO ANDRÉFACULDADE DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS E LETRAS

CURSO DE LETRAS

MONITORIA DE LÍNGUA PORTUGUESA IHenrique Barbosa Pasqualetti

ANÁLISE SINTÁTICA (1)

Análise sintática: conceituação.

ISTOÉ: Como é seu processo de criação? Você escreve música?Caymmi: Não. É tudo de ouvido mesmo.ISTOÉ: Mas você compõe acompanhando-se ao violão?Caymmi: Também não. Quando perguntam à minha mulher se eu tenho feito músicas, ela responde que não porque eu nunca pego no violão. Que me desculpe o meu violão, meu velho companheiro, mas eu não preciso dele. Como músico, sou limitadíssimo. Toco umas coisinhas, mas nunca faço o que Baden Powell é capaz de fazer. Então eu preciso de quê? Preciso de um sonho, de uma coisa misteriosa na cabeça, de um impulso interior. Daí nasce uma canção.

Revista Istoé.

No texto lido ocorrem:

a. Substantivos : música, violão, mulher, etc.b. Adjetivos : velho, limitadíssimo, capaz, misteriosa, etc.c. Verbos : perguntam, responde, desculpe, etc.d. Pronomes : eu, minha, tudo, etc.e. Advérbios : não, nunca, etc.

Quando separamos as palavras nesses grupos, estamos procedendo a uma classificação de palavras, ou seja, estamos distribuindo-as em classes.

Classe é um conjunto de palavras que apresentam características morfológicas (estruturais) semelhantes. Sabemos que em Português as classes de palavras são dez: substantivo, adjetivo, pronome, numeral, verbo, conjunção, preposição, advérbio e interjeição (seis variáveis e quatro invariáveis).

O estudo das classes de palavras é feito na morfologia.

Observe agora: Eu preciso de um sonho.Trata-se de uma mensagem linguística com significado completo, ou seja, trata-se de uma frase. Numa

frase, as palavras relacionam-se entre si e combinam-se de acordo com determinados princípios. A parte da gramática que estuda essas combinações e relações entre as palavras da frase chama-se sintaxe.

Interessam à sintaxe:1. A função que as palavras exercem na frase (função sintática). Por exemplo: a palavra eu, na frase Eu

preciso de um sonho., exerce a função de sujeito do verbo precisar. Função é o papel representado por um termo na organização da mensagem linguística. Cada membro da frase contribui com uma função específica na totalidade da mensagem. Quando afirmamos que a palavra eu é um pronome, estamos identificando a classe gramatical a que esta palavra pertence. Quando afirmamos que a palavra eu é o sujeito do verbo precisar, estamos identificando sua função sintática na frase.

2. A ordem das palavras na frase (sintaxe de colocação). Não teria sentido a construção Eu de preciso um sonho., porque a sintaxe da língua não prevê essa ordem de combinação de palavras.

3. Além disso, há a sintaxe de colocação e a sintaxe de regência, o que não nos interessa neste momento, mas que são temas essenciais no efetivo aprendizado da língua.

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Frase, oração e período.

1. Frase.Ao combinar as palavras de uma língua, o falante tem um propósito específico: estabelecer comunicação.

Dá-se o nome de frase à unidade mínima de comunicação linguística. De modo mais simplificado, frase é todo enunciado que apresenta sentido completo, que apresenta pontuação específica na escrita e entonação específica na fala.

Será frase, portanto, qualquer palavra ou grupo de palavras suficiente para atender ao objetivo do falante: estabelecer comunicação. Exemplos:

– Como músico sou limitadíssimo. (frase)– Você escreve música? (frase)– Não. (frase)

A expressão também não, isolada, não é uma frase. No texto lido, ela passa a ser frase. Obseve:– Mas você compõe acompanhando-se ao violão?– Também não.

Uma única palavra pode constituir-se em frase, dependendo do contexto em que aparece. Observe que no trecho transcrito abaixo, a palavra não constitui-se em frase:

– Como é seu processo de criação? Você escreve música?– Não.

Na língua falada, a frase é marcada pela entonação. Na língua escrita, essa entonação é representada pelos sinais de pontuação.

Compare os três casos a seguir1. – Oh! Não ocorre frase.

2. O gesto e a expressão fisionômica do falante, assim como os elementos da situação em que é pronunciada, fazem com que a palavra oh se constitua numa frase.

3. – Oh! exclamou ela ao ver o vaso quebrado.

A palavra oh, para ser frase, depende do contexto linguístico (“exclamou ela ao ver o vaso quebrado”).

Tipos de frase:De acordo com a maneira com que pronunciamos ou escrevemos a frase, ela pode ser:

a. Declarativa: declara-se alguma coisa a respeito de alguém. Também pode ser chamada de afirmativa. Exemplo: Você escreve música.

b. Interrogativa: interroga-se alguma coisa a respeito de alguém. Faz-se uma pergunta. Exemplo: Você escreve música?

c. Exclamativa: Demonstra-se admiração, surpresa, espanto, pelo fato de alguém fazer alguma coisa. Exemplo: Você escreve música!

d. Imperativa: Expressa ordem, conselho, pedido, etc. Exemplo: Escreva música.

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Além dessa classificação, a frase pode ser classificada em:a. Nominal: Quando não apresenta verbo ou locução verbal em sua estrutura. Exemplo: Bom dia,

minha senhora. No texto apresentado ao início do capítulo, a fala “– Também não.” constitui uma frase nominal.

b. Verbal: Quando apresenta verbo ou locução verbal em sua estrutura. Exemplo: Preciso estudar a gramática normativa. No texto apresentado ao início do capítulo, a fala “– Você escreve música?” constitui uma frase verbal.

2. Oração.

Oração é a frase ou parte de uma frase que se organiza em torno de um verbo ou de uma locução verbal. Não é necessário que a oração tenha sentido completo, mas para que uma frase seja oração é necessário que ela seja uma frase verbal.

A oração é constituída, geralmente, de dois elementos essenciais: sujeito e predicado, ou, pelo menos, de um predicado. Observe:

Clarissa | baixa os olhos. (Erico Veríssimo) sujeito predicado

Amanhece no cais do porto do Rio de Janeiro. (Revista Nosso Século) Predicado (essa frase não tem sujeito)

3. Período.

Período é a frase constituída de uma ou mais orações.

O período pode ser:a. Simples: quando é formado por uma só oração:

A sala de refeições já está cheia. (E. Veríssimo) 1 verbo = 1 oração = 1 período simples

b. Composto: quando é formado por duas ou mais orações:Os fatos voam | e se renovam a cada minuto. (Revista Senhor) 2 verbos = 2 orações = 1 período composto

O período tem um sentido autônomo, acabado, e termina sempre por uma pausa conclusa, que é representada, na escrita, por um dos seguintes sinais de pontuação: ponto-final, ponto-de-exclamação, ponto-de-interrogação, reticências e, às vezes, dois-pontos. Observe, a seguir, os exemplos extraídos das obras do autor Erico Veríssimo:

D. Zina dá ordens, afobada.Não coma na rua, menina!Onde estará Amaro?– Olhe, está na hora...

Objetivos da análise sintática

A análise sintática tem como objetivo examinar a estrutura de um período e das orações que compõem um período. A real importância da análise sintática dá-se no momento em que conseguimos aplicá-la como instrumental de leitura e escrita.

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1. Estrutura de um períodoDomingo à noite passamos pela baía de Vitória, mas não conseguimos socorro. (Jornal da Tarde)

O exame da estrutura desse período revela que ele é constituído de duas orações:1ª oração: Domingo à noite passamos pela baía de Vitória2ª oração: não conseguimos socorro.Essas orações são ligadas pela conjunção mas.

2. Estrutura de cada oração de um períodoDomingo à noite passamos pela baía de Vitória, mas não conseguimos socorro. (Jornal da Tarde)

No período acima, existem doze palavras. Cada uma delas exerce uma determinada função nas orações. A primeira oração (Domingo à noite passamos pela baía de Vitória) possui oito termos e a segunda oração (não conseguimos socorro) possui três termos. A conjunção mas funciona como elemento de coesão entre as duas orações.

Em análise sintática, cada palavra da oração é chamada de termo da oração.

Termo é a palavra considerada de acordo com a função sintática que exerce na oração. Na análise sintática, a palavra interessa pela função que exerce. Sua classificação morfológica e a sua significação têm importância secundária.

É importante observar que não se pode fazer análise sintática de frases que não sejam orações ou períodos. Não se podem analisar sintaticamente frases como as destacadas nos dois trechos a seguir, também de Erico Veríssimo:

Tardinha.D. Eufrasina está no jardim, regando as flores. (...) O major, sentado no banco, faz um cigarro... Pela porta entra Nestor. Vem gingando, braços no ar, sorriso satisfeito.– Alô, D. Zina. Alô, major!– Boa tarde!Tia Zina sorri.

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO

1. Identificar (assinalando) os casos em que a palavra ou expressão destacada seja frase.frase não frase

a. Ao desembarcar, tropeçou e disse: “O monarca escorregou, mas a Monarquia não caiu”. (Istoé)

b. – Qual é o sistema de governo que vige naquele país? – Monarquia.c. Ela também não foi.

d. – Você compõe acompanhando-se ao violão? – Também não.e. Há um morcego voando de madrugada pela Rua Montenegro. (Drummond)

f. – Quando você gosta de compor?– De madrugada.

g. Que mulher! Sorria pra mim como prometendo coisas. (Drummond)

h. Que mulher é aquela?

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i. Comi galinha ao molho pardo.

2. Classifique cada frase a seguir em i. declarativa, interrogativa, exclamativa ou imperativa e ii. verbal ou não verbal.

a. À noite, o mundo é bonito como se não houvesse desacordo, aflições, ameaças. (C. Meireles)

b. – Benvindo Lopes?– Isso! Benvindo Lopes. Como é que o senhor sabe?– O senhor já me tinha dito.– Mas sim senhor! Vejo que tem boa memória. (F. Sabino)

c. Vamos! Tome a bênção e vá dormir. (Idem)

3. Leia o trecho a seguir e depois responda as perguntas.

Então eu preciso de quê? Preciso de um sonho, de uma coisa misteriosa na cabeça, de um impulso interior. Daí nasce uma canção. (Istoé)

a. Quantas frases há no trecho acima?

b. Quantos períodos há no trecho acima?

c. Quantas orações há no trecho acima?

4. Leia o trecho a seguir. Divida-o em frases e grife as frases que corresponderem a orações.

“O menino ganhou uma sanfona, presente de seu pai. Um dia, ele esqueceu o objeto, tão querido, no

quintal. Pela manhã, o instrumento coberto pela geada – velado e gelado. Fole e gelo comungaram, sim-

fonia e não-fonia mesclaram-se. Depois disso, a voz do instrumento ficou mais triste e cortante. O fôlego

do fole parecia ser capaz de fazer o minuano soprar mesmo fora de época. Já não era mais sanfona, pois

perdeu o que tinha de sã nas núpcias entre som e clima”. (Regis Guerra, A Sanfona)