análise do efeito da deslocabilidade lateral em edifício de andares

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ANÁLISE DO EFEITO DA DESLOCABILIDADE LATERAL EM EDIFÍCIO DE ANDARES MÚLTIPLOS EM ESTRUTURA MISTA DE AÇO E CONCRETO André Mendes Calazans Quito Bastos Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia Civil da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientador: Eduardo de Miranda Batista Rio de Janeiro Agosto de 2014

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ANÁLISE DO EFEITO DA DESLOCABILIDADE LATERAL EM

EDIFÍCIO DE ANDARES MÚLTIPLOS EM ESTRUTURA MISTA DE

AÇO E CONCRETO

André Mendes Calazans Quito Bastos

Projeto de Graduação apresentado ao Curso de

Engenharia Civil da Escola Politécnica,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como

parte dos requisitos necessários à obtenção do

título de Engenheiro.

Orientador: Eduardo de Miranda Batista

Rio de Janeiro

Agosto de 2014

ii

ANÁLISE DO EFEITO DA DESLOCABILIDADE LATERAL EM EDIFÍCIO DE

ANDARES MÚLTIPLOS EM ESTRUTURA MISTA DE AÇO E CONCRETO

André Mendes Calazans Quito Bastos

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE

ENGENHARIA CIVIL DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE

FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS

NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO CIVIL.

Examinada por:

_________________________________________

Eduardo de Miranda Batista

Prof. Associado,D.Sc., EP/UFRJ

_________________________________________

Michèle Schubert Pfeil

Profa. Associada,D.Sc., EP/UFRJ

_________________________________________

Alexandre Landesmann

Prof. Associado,D.Sc., FAU/UFRJ

RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL

AGOSTO de 2014

iii

Bastos, André Mendes Calazans Quito

Análise do Efeito da Deslocabilidade Lateral em Edifício

de Andares Múltiplos em Estrutura Mista de Aço e Concreto/

André Mendes Calazans Quito Bastos. – Rio de Janeiro:

UFRJ/ Escola Politécnica, 2014.

IX, 76 p.: il.; 29,7 cm.

Orientador: Eduardo de Miranda Batista

Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/

Curso de Engenharia Civil, 2014.

Referências Bibliográficas: p. 76.

1. Análise Estrutural 2. Estabilidade Global

3. Estruturas Mistas 4. Aço – Estruturas 5. Modelo Numérico

Computacional

I. de Miranda Batista, Eduardo. II. Universidade

Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de

Engenharia Civil. III. Título.

iv

À José Carlos e Andrea, meus pais, por nunca pararem

de me apoiar, incentivar e aconselhar.

v

AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço à minha família; aos que ainda estão comigo e também àqueles

que já se foram. Se hoje cheguei a esta conquista, certamente foi “por estar de pé sobre

ombros de gigantes”.

Agradeço aos grandes amigos que fiz durante o curso, em especial, André Luís dos

Santos, Arthur Curi, Bruna Basile, Fernando Abreu, Marina Bacellar, Marina Villanueva,

Rafael Lucas Machado e Renata Zenaro. Não poderia escolher melhor companhia nos

momentos complicados na UFRJ.

Aos amigos de toda a vida, do Colégio Princesa Isabel e do CEFET-RJ, que através da

amizade, mesmo sem saberem, tornaram cada período menos difícil.

Aos amigos que fiz no intercâmbio acadêmico, que ajudaram a tornar esta experiência a

melhor que já tive.

Ao meu orientador, Eduardo Batista, pelo apoio e competência, não só na orientação deste

projeto, mas também nas aulas ministradas.

Finalmente, agradeço à Universidade Federal do Rio de Janeiro, por possibilitar que tudo

isto acontecesse.

vi

Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte dos

requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Civil.

ANÁLISE DO EFEITO DA DESLOCABILIDADE LATERAL EM EDIFÍCIO DE

ANDARES MÚLTIPLOS EM ESTRUTURA MISTA DE AÇO E CONCRETO

André Mendes Calazans Quito Bastos

Agosto/2014

Orientador: Eduardo de Miranda Batista

Curso: Engenharia Civil

O rápido progresso dos programas de análise estrutural trouxe inúmeros ganhos à prática

dos projetos de Engenharia Civil. Neste contexto, o presente projeto buscou avaliar a

estabilidade global e os efeitos de 2ª ordem em um edifício real a partir de análises

computacionais, pelo método dos elementos finitos. Foi escolhido um dos edifícios em

estrutura mista do complexo acadêmico CFCH-CCJE-CLA/UFRJ, em construção na

Cidade Universitária da UFRJ, na Ilha do Fundão, Rio de Janeiro. Um modelo geométrico

tridimensional da estrutura foi criado no programa SAP2000 15. Baseado em premissas

normativas, diferentes análises foram realizadas, visando classificar a estrutura, mensurar

seus deslocamentos laterais e mapear a influência de cada um dos elementos do problema.

Palavras-chave: Análise Estrutural, Estabilidade Global, Estruturas Mista de Aço e

Concreto, Modelo Numérico e Computacional.

vii

Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of the

requirements for the degree of Engineer.

LATERAL DISPLACEMENTS ANALYSIS OF A STEEL AND CONCRETE

COMPOSITE MULTI-STOREY BUILDING

André Mendes Calazans Quito Bastos

August/2014

Advisor: Eduardo de Miranda Batista

Course: Civil Engineering

The development of structural analysis software brought numerous improvements to Civil

Engineering designs. In this context, this Undergraduate Project aims at assessing the

global stability and second order effects of a multi-storey building with the help of finite

element computer analysis. One of the buildings of the new CFCH-CCJE-CLA/UFRJ

academic complex in the Federal University of Rio de Janeiro campus at Fundão Island

was chosen. A three dimensional geometric model of the structure was created in

SAP2000 15 software. Based on Brazilian technical standards, several structural analysis

were performed in order to classify the structure, calculate its lateral displacements and

study the impact of each element in the global structural stability of the building.

Keywords: Structural Analysis, Global Stability, Steel and Concrete Composite

Structures, Computer Model

viii

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 1

1.1. Motivação ........................................................................................................... 2

1.2. Objetivo do projeto ............................................................................................. 2

1.3. Organização do trabalho ..................................................................................... 3

2. ANÁLISE ESTRUTURAL E ESTABILIDADE .................................................. 4

2.1. Ações laterais ..................................................................................................... 4

2.2. Contraventamento de estruturas ......................................................................... 5

2.3. Efeitos de segunda ordem................................................................................... 6

2.3.1. Efeito global de segunda ordem (P-Δ) ............................................................... 7

2.3.2. Efeito local de segunda ordem (P- δ) ................................................................. 8

2.4. Avaliação da estabilidade segundo a NBR 8800:2008 ...................................... 9

2.4.1. Classificação quanto à sensibilidade a deslocamentos laterais .......................... 9

2.4.2. Determinação dos esforços solicitantes no ELU .............................................. 10

2.4.3. Método da amplificação dos esforços solicitantes ........................................... 13

3. APRESENTAÇÃO DO EDIFÍCIO ..................................................................... 15

3.1. Descrição geral do edifício ............................................................................... 16

3.2. Materiais utilizados .......................................................................................... 19

3.2.1. Aço estrutural ................................................................................................... 19

3.2.2. Concreto estrutural ........................................................................................... 21

3.3. Elementos estruturais ....................................................................................... 24

3.3.1. Pilares ............................................................................................................... 24

3.3.2. Vigas ................................................................................................................. 26

3.3.3. Lajes ................................................................................................................. 27

3.3.4. Ligações Metálicas ........................................................................................... 29

4. ANÁLISES ESTRUTURAIS DESENVOLVIDAS ............................................ 33

4.1. Carregamentos .................................................................................................. 33

4.1.1. Cargas permanentes .......................................................................................... 33

4.1.2. Sobrecarga de utilização ................................................................................... 34

4.1.3. Vento ................................................................................................................ 35

4.1.4. Cargas nocionais............................................................................................... 44

4.2. Análises e combinações de ações ..................................................................... 45

4.2.1. Classificação da estrutura ................................................................................. 45

4.2.2. Estado Limite Último ....................................................................................... 46

ix

4.2.3. Método da amplificação dos esforços solicitantes ........................................... 46

4.2.4. Estado Limite de Serviço ................................................................................. 47

4.2.5. Estrutura contraventada .................................................................................... 48

5. MODELAGEM COMPUTACIONAL ................................................................ 49

5.1. Modelo geométrico........................................................................................... 49

5.1.1. Elementos de barra ........................................................................................... 49

5.2. Introdução dos carregamentos .......................................................................... 52

5.3. Tipos de análises .............................................................................................. 54

6. RESULTADOS OBTIDOS .................................................................................. 56

6.1. Classificação da estrutura ................................................................................. 56

6.1.1. Determinação das cargas nocionais .................................................................. 57

6.2. Análise ELU ..................................................................................................... 60

6.2.1. Deslocamentos horizontais ............................................................................... 60

6.2.2. Transferência de esforços transversais ............................................................. 61

6.2.3. Esforços solicitantes ......................................................................................... 62

6.3. Método da amplificação dos esforços solicitantes ........................................... 64

6.3.1. Esforços solicitantes amplificados ................................................................... 66

6.4. Análise ELS ...................................................................................................... 68

6.5. Estrutura contraventada por sistemas de treliças .............................................. 70

6.5.1. Consequências estruturais ................................................................................ 72

7. CONCLUSÕES ..................................................................................................... 74

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 76

1

CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO

1. INTRODUÇÃO

O presente Projeto de Graduação é dirigido à análise da estabilidade global e

comportamento aos deslocamentos laterais de uma estrutura aporticada de andares

múltiplos, composta de elementos estruturais mistos de aço e concreto armado.

O edifício que servirá de base para este trabalho localiza-se no Campus da Cidade

Universitária da UFRJ, na Ilha do Fundão, e faz parte da primeira etapa de expansão

acadêmica prevista pelo Plano Diretor UFRJ 2020. O “Bloco 34” (ver figura 1.1) integra

o complexo acadêmico CFCH-CCJE-CLA/UFRJ, que abrigará, uma vez finalizado, as

Faculdades de Educação, Administração e Ciências Contábeis, o Núcleo de Relações

Internacionais e a Decania do CCJE.

Figura 1.1 – Perspectiva do projeto arquitetônico do complexo acadêmico CFCH-CCJE-CLA

O projeto estrutural e arquitetônico que permitiu a elaboração do trabalho foi

fornecido pelo Escritório Técnico da Universidade (ETU). Este órgão ligado à Reitoria é

responsável pelo desenvolvimento de planos relativos a melhorias ambientais e ao espaço

físico da UFRJ.

Bloco 34

2

1.1. Motivação

A estrutura do Bloco 34 é composta, em sua maioria, por elementos metálicos. O

material aço, devido a seu ótimo desempenho estrutural, amplificado pelo

desenvolvimento da ciência de materiais e metalurgia, é largamente utilizado na

construção civil mundial. Apesar de conhecido desde a antiguidade, sua utilização para

construção data da segunda metade do século XIX. No Brasil, apesar de amplamente

dominado pelo concreto armado, o setor tem se mostrado mais receptivo ao aço e sua

utilização é crescente.

As características do aço, como sua elevada resistência e ductilidade, permitem a

fabricação de peças otimizadas e a construção de estruturas esbeltas. No entanto, este fato

introduz diversos problemas de estabilidade e flambagem, locais e globais, que devem ser

estudados e verificados nas análises de um projeto.

Os fenômenos de instabilidade de barras, como a flambagem global de pilares e

vigas ou flambagens locais de elementos de perfis metálicos, são assuntos comumente

abordados nos cursos de graduação em Engenharia Civil. Porém, a estabilidade global de

estruturas compostas por um conjunto de elementos é, muitas vezes, estudada de forma

simplificada. Isso se dá pela maior complexidade das análises e dificuldade de se obter

resultados a partir de cálculos analíticos.

Outro assunto pouco abordado ao longo do curso, as estruturas mistas de aço e

concreto se destacam por seu desempenho estrutural e pelas vantagens que introduzem

aos projetos. Por isso, é de grande interesse acadêmico que estas sejam estudadas com

maior profundidade.

Considerando-se este contexto e tomando proveito das ferramentas

computacionais hoje disponíveis, este Projeto de Graduação se propõe a analisar mais a

fundo a estabilidade global da estrutura mista de andares múltiplos e sua sensibilidade

aos deslocamentos horizontais.

1.2. Objetivo do projeto

O objetivo deste trabalho é estudar o comportamento elástico do edifício citado

anteriormente mediante a aplicação de ações horizontais transversais à sua estrutura.

Serão realizadas diferentes abordagens e análises (lineares e não-lineares). Os resultados

3

então serão verificados e comparados, de forma a se obter uma visão mais completa da

influência dos diversos elementos que compõem o problema, como os materiais utilizados

e os efeitos de segunda ordem.

As análises serão feitas através da utilização do software SAP2000 15, que utiliza

o método dos elementos finitos. Este programa computacional é amplamente utilizado

em empresas nacionais de projeto estrutural. Servindo-se de um modelo geométrico

completo da estrutura, os esforços internos e deslocamentos do edifício serão avaliados

conforme as definições e recomendações feitas pelas normas brasileiras em vigor, em

especial, pela ABNT NBR 8800:2008.

1.3. Organização do trabalho

O trabalho é estruturado em 7 capítulos, nos quais são abordados os diferentes

elementos que compõem este projeto. Após a presente introdução, uma breve revisão dos

conceitos de análise estrutural e estabilidade de estruturas é proposta no capítulo 2.

Também neste capítulo, é descrito o método de análise proposto pela norma brasileira

NBR8800:2008, que serve de base para o desenvolvimento das análises práticas

No capítulo 3, o edifício é descrito em detalhe. São analisadas suas dimensões e

elevações, os elementos estruturais e seções utilizados, as ligações metálicas e todas as

demais informações relevantes para o projeto.

Em sequência, no capítulo 4, são descritas as análises propostas, além de

explicitados os carregamentos e combinações de ações que atuarão sobre o modelo

estrutural. No capítulo 5, todas as etapas da modelagem computacional são detalhadas,

do modelo geométrico às fases de cálculo. Finalmente, nos capítulos 6 e 7, os resultados

das análises são apresentados, seguidos das conclusões do trabalho.

4

CAPÍTULO 2

ANÁLISE ESTRUTURAL E ESTABILIDADE

2. ANÁLISE ESTRUTURAL E ESTABILIDADE

Segundo a NBR 8800:2008, o objetivo da análise estrutural é determinar os efeitos

das ações na estrutura, visando efetuar verificações de estados limites últimos e de

serviço. Geralmente, estes efeitos são determinados a partir de análises globais linear-

elásticas de primeira ordem. Entretanto, esta abordagem simplificada nem sempre reflete

o comportamento real de uma estrutura.

O acelerado desenvolvimento de ferramentas computacionais de cálculo estrutural

tem proporcionado o refinamento das análises. A consideração dos regimes plásticos dos

materiais ou de efeitos geométricos de segunda ordem podem, quando empregados de

forma coerente, aprimorar o dimensionamento e evitar efeitos indesejados nas estruturas.

A NBR 8800:2008 classifica as análises estruturais quanto ao efeito dos

deslocamentos em análises lineares ou não-lineares. Enquanto a análise linear (ou teoria

de primeira ordem) se baseia na geometria indeformada da estrutura, a análise não-linear

utiliza as deformações para determinação de novos deslocamentos e esforços internos.

Por isso, a norma sugere que esta seja adotada sempre que os deslocamentos afetarem de

forma significativa estes esforços.

Edifícios de andares múltiplos sujeitos a cargas horizontais transversais, objeto de

estudo deste trabalho, são estruturas que podem apresentar comportamentos bastante

distintos quando diferentes tipos de análises são comparados. Portanto, a verificação da

estabilidade global é de grande importância e considerada obrigatória pela norma

brasileira.

2.1. Ações laterais

Diversos tipos de ações horizontais podem atuar sobre as estruturas. Estas são

determinadas de acordo com a função / importância, localização e materiais utilizados na

estrutura. No caso de edifícios, as ações horizontais mais comumente consideradas são:

Ações de vento

5

Ações devidas às imperfeições geométricas

Ações sísmicas

Ações de impacto

Cabe ao engenheiro avaliar a relevância e influência de cada tipo de ação

horizontal no projeto. Neste trabalho, considerando-se a localização e função do edifício

estudado, serão consideradas nas análises apenas as cargas devidas às ações do vento e

imperfeições geométricas dos elementos estruturais.

2.2. Contraventamento de estruturas

Sistemas de contraventamento são subestruturas (estruturas auxiliares) cuja

finalidade é absorver determinados tipos de forças, geralmente horizontais, diminuindo

os deslocamentos da estrutura principal à qual estão ligados. No caso dos edifícios, os

contraventamentos têm a função de aumentar sua rigidez lateral e, assim, garantir a

segurança da construção. Além disso, estes também podem ser responsáveis por resistir

a forças excepcionais, como por exemplo aquelas provocadas por terremotos.

As estruturas podem dispor, ou não, de sistemas de contraventamento para resistir

às ações laterais. BITAR et al. (2011) classificam as estruturas em “contraventadas” se

sua rigidez lateral é assegurada por um sistema de contraventamento suficientemente

rígido para que possa ser considerado, com tolerância aceitável, que as cargas horizontais

podem ser resistidas integralmente por este sistema.

Existem diversos tipos de sistemas de contraventamento. Os mais comumente

utilizados em edifícios aporticados são os núcleos ou paredes de concreto (elementos

muito rígidos) e os sistemas de treliças. Um exemplo destes últimos são as cruzes Sto.

André formadas pela introdução de duas barras diagonais em um quadro do pórtico

retangular, como indicado na figura 2.1 (b). Já a figura 2.1 (c) exemplifica uma solução

com uso de núcleo rígido de concreto.

Em edifícios sem subestruturas de contraventamento, a estabilidade lateral deve

ser assegurada exclusivamente pelos pórticos. Nesta situação, devem ser incluídas

ligações rígidas entre algumas vigas e pilares, escolhidas de forma a criar pórticos de

rigidez adequada dentro da estrutura global.

6

Neste contexto, as lajes e as vigas secundárias são responsáveis por transferir os

esforços horizontais atuantes no plano do piso para as vigas e pilares. Estes por sua vez

devem garantir a estabilidade global através de suas rigidezes à flexão. Portanto, é

fundamental a capacidade de transmissão de momentos fletores das ligações entre os

elementos de vigas e pilares.

Figura 2.1 – Esquema dos tipos de sistemas de contraventamento mais utilizados em edifícios

2.3. Efeitos de segunda ordem

O objetivo das análises de segunda ordem é calcular o equilíbrio interno de forças

em uma estrutura deformada. Conforme destacado por GALAMBOS (1998), o caráter de

não-linearidade dos efeitos de 2ª ordem invalida a aplicação do princípio da superposição,

comumente empregado nas análises estruturais elásticas. Isto aumenta fortemente a

complexidade dos problemas.

Dentro das análises não-lineares geométricas de estruturas de barras, dois efeitos

distintos podem ser considerados. Aqueles produzidos pelos deslocamentos dos nós são

usualmente chamados de efeitos globais de segunda ordem (P-Δ). Já os decorrentes da

não-retilineidade dos eixos de flexão das barras são classificados como efeitos locais de

segunda ordem (P-δ).

GALAMBOS (1998) afirma que todas as estruturas estarão sujeitas aos efeitos

P-Δ e P-δ. Cabe ao engenheiro de projeto, portanto, analisar os impactos desses

fenômenos e avaliar a necessidade de se promover uma análise não-linear da estrutura

projetada.

7

2.3.1. Efeito global de segunda ordem (P-Δ)

Quando uma estrutura é solicitada por um carregamento, esta se deforma até

alcançar uma posição de equilíbrio de 1ª ordem. Caso os nós da estrutura não sejam fixos,

estes poderão se deslocar uma distância Δ. Nesta situação, se um carregamento

transversal à Δ for aplicado, este irá interagir com a deformação inicial da estrutura,

produzindo solicitações (momentos fletores) que não existiriam caso a configuração

indeformada fosse considerada.

Ocorrerá então uma segunda etapa de deformação na estrutura, até que uma nova

posição de equilíbrio seja encontrada. O fenômeno de interação entre as cargas e os

deslocamentos dos nós, que acarreta numa modificação dos momentos fletores nas barras,

é chamado de efeito global de 2ª ordem ou efeito P-Δ.

Figura 2.2 – Momentos fletores de segunda ordem devidos ao efeito P-Δ (GALAMBOS, 1998)

As consequências do fenômeno podem ser exemplificadas na figura 2.2. Após ser

solicitado, um pórtico apresenta um deslocamento Δ em seu nó não restringido (na

situação de equilíbrio de 1ª ordem). Quando a carga de peso próprio da estrutura é

aplicada na nova configuração, momentos fletores de 2ª ordem aparecem (devidos ao

braço de alavanca Δ).

Ressalta-se que a barra vertical passa agora a ser fletida, comportamento não

previsto caso os efeitos de 2ª ordem fossem negligenciados. Além disso, nota-se que até

mesmo as cargas axiais produzem efeitos não-lineares, o que torna este tipo de análise

ainda mais complexo.

8

Fica evidente que o efeito P-Δ afeta a rigidez e a estabilidade das estruturas. No

entanto, o que se observa é que na maior parte das análises estruturais, este não é levado

em conta. Isso acontece porque suas consequências são, usualmente, muito pouco

significativas, visto que os deslocamentos globais são pequenos. Este pode não ser o caso

de edifícios altos e esbeltos, cuja sensibilidade aos deslocamentos horizontais pode ser

alta, acarretando em efeitos de 2ª ordem não desprezíveis.

2.3.2. Efeito local de segunda ordem (P- δ)

Semelhantemente ao efeito P-Δ, o efeito local de segunda ordem ou efeito P-δ

também é fruto da interação entre um carregamento e a estrutura deformada. Considere-

se o mesmo pórtico apresentado na figura 2.2, mas, desta vez, o deslocamento horizontal

da barra superior é impedido:

Figura 2.3 – Momentos fletores de segunda ordem devidos ao efeito P-δ (GALAMBOS, 1998)

Quando carregado, o pórtico se deforma e os eixos das barras perdem sua

retilineidade. Esta perda pode ser exemplificada pelo deslocamento δ da barra vertical.

Na situação de equilíbrio de 1ª ordem, quando as cargas de peso próprio são aplicadas, os

deslocamentos dos eixos das barras provocam uma redistribuição dos momentos fletores.

É interessante notar que a distribuição dos momentos de 2ª ordem não é

necessariamente a mesma da análise linear, conforme demonstra o diagrama da barra

vertical do pórtico. Deste fato, conclui-se que os efeitos P-δ e P-Δ podem não apenas

gerar acréscimos nas solicitações, mas também novas distribuições dos esforços internos.

9

2.4. Avaliação da estabilidade segundo a NBR 8800:2008

2.4.1. Classificação quanto à sensibilidade a deslocamentos laterais

A norma brasileira classifica as estruturas quanto à sensibilidade a deslocamentos

laterais em estruturas de pequena deslocabilidade, média deslocabilidade e grande

deslocabilidade. O critério adotado para esta avaliação é a relação entre os deslocamentos

laterais da estrutura obtidos na análise de 1ª ordem e aqueles obtidos na análise não-linear

de 2ª ordem.

A classificação da estrutura deve ser feita a partir de análises que considerem as

combinações de ações no Estado Limite Último, ou seja, no dimensionamento ao colapso.

Além disso, para fins de classificação, as imperfeições iniciais de material não precisam

ser consideradas (estas são avaliadas na determinação dos esforços solicitantes).

Quando, em todos os andares, a relação entre o deslocamento lateral do andar

relativo à base obtido na análise de 2ª ordem e aquele obtido em 1ª ordem for igual ou

inferior a 1,1, a estrutura é classificada como de pequena deslocabilidade. Da mesma

maneira, se a relação entre os deslocamentos for superior a 1,1 ou igual ou inferior a 1,4,

será considerada de média deslocabilidade. Finalmente, se a relação ultrapassar 1,4, a

estrutura será de grande deslocabilidade. Matematicamente, definimos:

Pequena deslocabilidade: 𝛥2

𝛥1≤ 1,1

Média deslocabilidade: 1,1 <𝛥2

𝛥1≤ 1,4

Grande deslocabilidade: 𝛥2

𝛥1> 1,4

Onde:

Δ1 Deslocamento lateral de um andar em relação à base na análise de 1ª ordem

Δ2 Deslocamento lateral de um andar em relação à base na análise de 2ª ordem

Em seu item 4.9.4.8, a NBR 8800:2008 indica que a relação entre os

deslocamentos laterais de 1ª e 2ª ordem de um andar em relação à base pode ser

aproximada, de forma aceitável, pelo valor do coeficiente B2 (eq. 2.1), que faz parte do

10

método da amplificação dos esforços solicitantes. Esta abordagem será avaliada no

capítulo 6 deste projeto.

𝛥2

𝛥1 ~ 𝐵2 =

1

1 −𝛥ℎ

𝑅𝑠 ∙ ℎ∙

∑ 𝑁𝑆𝑑

∑ 𝐻𝑆𝑑

(2.1)

Onde:

∑ NSd Carga gravitacional total que atua no andar considerado

∑ HSd Força cortante no andar considerado, produzida pelas forças horizontais de

cálculo atuantes (usadas para determinar Δh)

Δh Deslocamento horizontal relativo entre os níveis superior e inferior do

andar considerado, obtido na análise de 1ª ordem

h Altura do andar considerado (distância entre eixos da estrutura)

Rs Coeficiente de ajuste, igual a 0,85 para estruturas onde o sistema resistente

a ações horizontais é constituído apenas por subestruturas de

contraventamento formadas por pórticos, nos quais a estabilidade lateral é

assegurada pela rigidez à flexão das barras e pela capacidade de

transmissão de momentos das ligações, e igual a 1,00 para todas as outras

estruturas.

Por sua simplicidade de cálculo, o coeficiente B2 facilita a classificação das

estruturas, quando o número de elementos não é muito elevado. De qualquer maneira, o

valor permite uma avaliação preliminar da sensibilidade da estrutura a deslocamentos

horizontais.

2.4.2. Determinação dos esforços solicitantes no ELU

Uma vez determinada a classificação da estrutura quanto à sensibilidade a

deslocamentos transversais, a NBR 8800:2008 apresenta diferentes considerações a

serem feitas na determinação dos esforços solicitantes para dimensionamento no Estado

Limite Último.

11

2.4.2.1. Estruturas de pequena deslocabilidade

Para este tipo de estrutura, a norma permite que os esforços solicitantes sejam

determinados em análise linear. Assim, os efeitos globais de 2ª ordem (P-Δ) podem ser

desconsiderados, desde que a estrutura atenda as seguintes exigências:

a) As forças axiais solicitantes de cálculo de todas as barras cuja rigidez à flexão

contribua para a estabilidade lateral da estrutura não sejam superiores à 50% da

força axial correspondente ao escoamento da seção.

b) Os efeitos das imperfeições iniciais geométricas sejam adicionados às

combinações consideradas no dimensionamento (inclusive naquelas em que

atuem cargas horizontais de vento).

Diferentemente dos efeitos P-Δ, os efeitos locais de 2ª ordem (P-δ) devem ser

considerados no estudo das estruturas de baixa deslocabilidade. Isto é feito através da

amplificação dos momentos fletores em todas as barras. O fator de amplificação (de cada

barra) é dado pelo coeficiente B1:

𝐵1 =𝐶𝑚

1 −𝑁𝑆𝑑1

𝑁𝑒

≥ 1,0

(2.2)

Onde:

NSd1 Força axial de compressão solicitante de cálculo na barra considerada, em

análise de 1ª ordem

Ne Força axial que provoca a flambagem elástica por flexão da barra (no plano

de atuação do momento fletor), calculada com o comprimento real da barra

e considerando, se for o caso, a imperfeição inicial de material

Cm Coeficiente tomado conservadoramente como igual a 1,0 nas barras

solicitadas por forças transversais entre as extremidades da barra no plano

de flexão ou, no caso destas forças não existirem, igual a:

𝐶𝑚 = 0,60 − 0,40 ∙𝑀𝑛𝑡1

𝑀𝑛𝑡2

(2.3)

12

A fração Mnt1/Mnt2 representa a relação entre o menor e o maior dos

momentos fletores na estrutura nt (situação b na figura 2.4) no plano de

flexão, nas extremidades apoiadas da barra.

Os efeitos das imperfeições iniciais geométricas devem ser considerados

independentemente, em duas direções ortogonais da planta da estrutura a partir de um

deslocamento horizontal relativo entre os níveis inferior e superior de cada andar de valor

igual a h/333, onde h é a altura do andar em questão. Estes efeitos podem ainda ser

considerados por meio da aplicação, em cada andar, de uma carga horizontal equivalente,

chamada Carga Nocional. O valor desta carga (por andar) é dado por:

𝑞𝑛 = 0,3% ∙ ∑ 𝑁𝑆𝑑,𝑛 (2.4)

Onde:

∑ NSd,n Carga gravitacional total que atua no andar considerado, em

todos os elementos resistentes a cargas verticais

Os efeitos das imperfeições iniciais de material podem ser desconsiderados.

2.4.2.2. Estruturas de média deslocabilidade

A NBR 8800:2008 recomenda que já para as estruturas de média deslocabilidade

as análises de 2ª ordem sejam feitas. Os efeitos locais e globais podem ser calculados a

partir de métodos computacionais ou através do método da amplificação dos esforços

solicitantes, descrito na sequência.

No que se refere às imperfeições iniciais geométricas, as mesmas considerações

feitas para as estruturas de pequena deslocabilidade podem ser aplicadas.

Já os efeitos das imperfeições iniciais de material devem ser considerados a partir

da redução das rigidezes à flexão e axial, que devem ser levadas à 80% dos valores

originais. Esta redução deve, inclusive, ser considerada no cálculo dos coeficientes B1 e

B2 do método da amplificação dos esforços solicitantes.

13

2.4.2.3. Estruturas de grande deslocabilidade

Para as estruturas de grande deslocabilidade, a norma recomenda a realização de

uma análise rigorosa dos deslocamentos laterais e dos efeitos de não-linearidades

geométricas e de material. Essa condição implica em análises com o auxílio de modelos

numéricos e computacionais da estrutura.

2.4.3. Método da amplificação dos esforços solicitantes

O método da amplificação dos esforços solicitantes possibilita uma avaliação dos

efeitos P-δ e P-Δ em estruturas, para a execução de análises elásticas de 2ª ordem

aproximadas. Este método se baseia na amplificação dos momentos fletores e esforços

normais atuantes nas barras (os esforços cortantes podem ser tomados como iguais aos da

análise elástica de 1ª ordem), a partir de coeficientes lineares.

𝑀𝑆𝑑 = 𝐵1 ∙ 𝑀𝑛𝑡 + 𝐵2 ∙ 𝑀ℓ𝑡 (2.5)

𝑁𝑆𝑑 = 𝑁𝑛𝑡 + 𝐵2 ∙ 𝑁ℓ𝑡 (2.6)

Os esforços solicitantes de cálculo Mnt e Nnt devem ser obtidos através de uma

análise elástica de 1ª ordem na qual os nós da estrutura são impedidos de se deslocar

lateralmente (situação b na figura 2.4). Já na determinação dos esforços solicitantes de

cálculo Mℓt e Nℓt deve ser considerada a estrutura sujeita apenas aos efeitos dos

deslocamentos horizontais dos nós (situação c na figura 2.4).

Figura 2.4 – Modelo de análise considerado no método da amplificação dos esforços solicitantes

(NBR 8800:2008)

14

O coeficiente B1, que se relaciona com a não retilineidade das barras, foi definido

na equação 2.2. Deve-se observar que no caso de a barra estar tracionada, esta solicitação

axial tende a retificar a barra e, portanto, B1 deve ser tomado igual a 1,0.

O coeficiente B2, que, conforme mencionado anteriormente, pode ser utilizado

para representar simplificadamente a relação Δ2/ Δ1, foi definido na equação 2.1.

15

CAPÍTULO 3

APRESENTAÇÃO DO EDIFÍCIO

3. APRESENTAÇÃO DO EDIFÍCIO

Conforme mencionado no capítulo 1, as análises práticas deste Projeto de

Graduação serão desenvolvidas tendo como base um dos edifícios do novo complexo

acadêmico CFCH-CCJE-CLA/UFRJ, atualmente em construção no Campus da Cidade

Universitária da UFRJ, na Ilha do Fundão. No projeto arquitetônico, este edifício é

denominado Bloco 34 e será, portanto, assim referido ao longo do trabalho.

O Bloco 34 abrigará salas de aula, gabinetes e laboratórios de pesquisa e estará

conectado com os outros prédios do complexo por meio de rampas. Apesar disso, sua

estrutura é independente dos demais e é, por isso, ideal para as análises propostas neste

trabalho.

Figura 3.1 – Perspectiva do projeto arquitetônico do edifício

16

3.1. Descrição geral do edifício

O Bloco 34 é um edifício aporticado de 8 pavimentos em estrutura mista de aço e

concreto armado. Possui plano de base na elevação +1,88 m e cobertura na elevação

+39,00 m, totalizando uma altura de 37,12 metros. Seus pavimentos são baseados em um

conjunto de 22 pilares mistos dispostos em 7 eixos verticais espaçados de 7,50 metros e

3 eixos horizontais espaçados de 8,75 metros.

Figura 3.2 – Planta base do edifício – Disposição dos pilares (dimensões em milímetros)

Não existem na estrutura sistemas de contraventamento especiais para resistir aos

esforços laterais. Os pórticos ficam assim totalmente responsáveis por garantir a

estabilidade global, sendo as rigidezes flexionais dos elementos e a eficiência das ligações

extremamente importantes.

As fundações são compostas de estacas tipo hélice contínua, de diâmetros entre

400 e 800 mm e comprimentos na ordem de 18 m. Estas estão divididas em blocos de

coroamento em concreto armado de 1, 2 ou 3 estacas, de acordo com o carregamento do

pilar para o qual servem de base. Todos os blocos são interligados por cintas.

É importante ressaltar que a análise das fundações não faz parte do escopo deste

projeto. Será considerado, portanto, que a influência da interação solo-estrutura na

estabilidade global do edifício é nula. Em outras palavras, serão desconsideradas as

deformações do solo de fundação.

17

Todos os elementos de barra do edifício, ou seja, as vigas e pilares, foram

projetados com perfis laminados a quente de tipos I e H, listados no catálogo da fabricante

Gerdau. Estes perfis são fabricados de acordo com a norma ASTM (American Society for

Testing and Materials) e utilizam aço tipo ASTM A 572 grau 50, detalhado na seção

3.2.1.1. Os pilares contam ainda com um encamisamento dos perfis metálicos em

concreto armado (de resistência característica à compressão igual ou superior a 30 MPa).

Figura 3.3 – Construção do Bloco 34 (situação em maio de 2014)

Foram utilizadas lajes mistas de aço e concreto, tipo steel deck. Este sistema

estrutural é formado pela combinação de nervuras metálicas cobertas por uma laje de

concreto armado. As chapas de aço corrugadas funcionam, ao mesmo tempo, como

armadura positiva e fôrma para o concreto. Por isso, as lajes steel deck apresentam

diversas vantagens, como facilidade e rapidez de instalação, dispensa de escoramentos e

peso próprio reduzido.

18

O primeiro nível de lajes é disposto em três elevações diferentes (+5,25 m; +6,020

m; +6,70 m). Segundo o projeto arquitetônico, os pisos terão diferentes funções como

área comercial, estacionamento e praça de convivência. Ainda baseando-se na

arquitetura, observa-se que não haverá vedação por fechamentos no nível térreo, como

nos demais pavimentos.

A partir do 3º pavimento, o edifício apresenta pequenas varandas em balanço (ver

figura 3.3), dispostas de forma não uniforme em três de suas laterais. A disposição destas

varandas, que também varia de acordo com o pavimento em questão, é exemplificada a

seguir:

Figura 3.4 – Plano das vigas el. +23,80 m – Exemplo de disposição das varandas (dimensões em

milímetros)

O último pavimento do edifício encontra-se na elevação +35,20 m. Este

pavimento será apenas parcialmente fechado, como demonstra a figura 3.1. O piso servirá

como um terraço coberto para convivência de alunos, professores e funcionários, além de

abrigar os reservatórios superiores de água.

A cobertura do último pavimento é dada por uma estrutura metálica treliçada,

apoiada no topo dos pilares. Seus elementos são compostos por perfis de chapas finas

formados a frio. Este tipo de cobertura tem apenas a função de proteger o edifício e coletar

as águas pluviais. Por isso, o conjunto é consideravelmente leve. As cargas verticais e as

19

cargas horizontais de vento são transferidas para os pilares na elevação +39,00 m, por

meio de simples apoios de chapas metálicas.

Figura 3.5 – Esquema da cobertura metálica treliçada na elevação +39,00 m (dimensões em

milímetros)

Destaca-se que todos os elementos da superestrutura do edifício descritos acima

serão detalhados e discutidos com maior precisão na seção 3.3.

3.2. Materiais utilizados

Os materiais básicos empregados na superestrutura do edifício (aço e concreto)

têm suas propriedades mecânicas conforme descrito nesta seção.

3.2.1. Aço estrutural

3.2.1.1. Tipo ASTM A 572 grau 50

O aço tipo ASTM A 572 grau 50, que compõe os perfis laminados tipo I e tipo H

utilizados no edifício, possui as seguintes propriedades mecânicas básicas (segundo

catálogo Gerdau):

Limite de escoamento mínimo 𝑓𝑦 = 345 𝑀𝑃𝑎

Limite de resistência (à ruptura) mínimo 𝑓𝑢 = 450 𝑀𝑃𝑎

Alongamento mínimo após ruptura 𝜀𝑢 = 18%

Para efeito de cálculo, conforme determinado pela NBR 8800:2008, as demais

propriedades mecânicas e físicas são tomadas:

Módulo de elasticidade 𝐸𝑎 = 200 000 𝑀𝑃𝑎

20

Coeficiente de Poisson 𝜈𝑎 = 0,3

Módulo de elasticidade transversal 𝐺𝑎 = 77 000 𝑀𝑃𝑎

Coeficiente de dilatação térmica 𝛽𝑎 = 1,2 × 105 °𝐶−1

Massa específica 𝜌𝑎 = 7 850 𝑘𝑔/𝑚3

O gráfico tensão x deformação usualmente utilizado para o aço é apresentado na

figura a seguir. A linha cheia representa o diagrama adotado para a prática da engenharia,

enquanto a linha tracejada indica o comportamento real do material, considerando-se a

variação da geometria da amostra durante o ensaio de tração uniaxial para o cálculo das

tensões.

Figura 3.6 – Diagramas de tensão-deformação simplificados para o aço (ARASARATNAM et

al., 2011)

As análises estruturais realizadas neste projeto serão linear-elásticas. Assim, será

trabalhada apenas a região I do diagrama apresentado na figura 3.6.

3.2.1.2. Tipo ASTM A 36

As chapas de base dos pilares do Bloco 34 utilizam o aço tipo ASTM A 36, que

possui as seguintes propriedades mecânicas básicas (segundo catálogo Gerdau):

Limite de escoamento mínimo 𝑓𝑦 = 250 𝑀𝑃𝑎

21

Limite de resistência (à ruptura) 𝑓𝑢 = 400 − 550 𝑀𝑃𝑎

Alongamento mínimo após ruptura 𝜀𝑢 = 20%

As demais propriedades (mecânicas e físicas) são aquelas estabelecidas pela

norma brasileira NBR 8800:2008 e descritas na seção 3.2.1.1.

3.2.1.3. Aço de armadura passiva categoria CA-50 / CA-60

As barras de aço utilizadas nas armaduras dos pilares e lajes são de categoria CA-

50 ou CA-60 (tela eletrosoldada). A NBR 6118:2014 recomenda as seguintes

propriedades mecânicas e físicas para estes tipos de material:

Figura 3.7 – Diagrama de tensão-deformação para aços de armaduras passivas (NBR

6118:2014)

Limite de escoamento (CA-50 / CA-60) 𝑓𝑦𝑘 = 500 𝑀𝑃𝑎 / 600 𝑀𝑃𝑎

Módulo de elasticidade 𝐸𝑠 = 210 000 𝑀𝑃𝑎

Coeficiente de dilatação térmica 𝛽𝑠 = 1,0 × 105 °𝐶−1

Massa específica 𝜌𝑠 = 7 850 𝑘𝑔/𝑚3

3.2.2. Concreto estrutural

No projeto estrutural do edifício foram adotadas as classes de concreto C25 para

as lajes (fck = 25 MPa) e C30 para os pilares (fck = 30 MPa). As propriedades físicas do

concreto armado podem ser adotadas, segundo a norma brasileira, como iguais a:

22

Coeficiente de dilatação térmica 𝛽𝑐 = 1,0 × 105 °𝐶−1

Massa específica 𝜌𝑐 = 2 500 𝑘𝑔/𝑚3

O concreto é um material heterogêneo e apresenta comportamento mecânico

complexo. No entanto, a norma apresenta fórmulas aproximadas para as propriedades

mecânicas a serem adotadas em projeto.

Para resistências características de 20 a 50 MPa, o módulo de elasticidade secante,

recomendado para utilização em análises elásticas pela NBR 6118:2007, é dado pela

expressão (fck em megapascal):

𝐸𝑐𝑠 = 𝛼𝑖 ∙ 𝐸𝑐𝑖 = 𝛼𝑖 ∙ 𝛼𝐸 ∙ 5600√𝑓𝑐𝑘 (3.1)

Onde:

αE Coeficiente que depende dos agregados utilizados no concreto (igual a 1,0

para granito e gnaisse)

αi Coeficiente definido pela fórmula:

𝛼𝑖 = 0,8 + 0,2 ∙𝑓𝑐𝑘

80≤ 1,0

(3.2)

Alternativamente, no caso de utilização de granito como agregado graúdo, podem

ser usados os valores aproximados dados pela tabela 8.1 da NBR 6118:2014, apresentada

a seguir:

Tabela 3.1 – Valores estimados de módulo de elasticidade do concreto (NBR 6118:2014)

O diagrama tensão-deformação para o concreto comprimido, a ser utilizado nas

análises em ELU, é definido na figura 3.8. Para concretos de classe até C50, as

23

deformações específicas de encurtamento no início do regime plástico (εc2) e na ruptura

podem ser tomadas iguais a, respectivamente 2,0 ‰ e 3,5 ‰.

Figura 3.8 – Diagrama de tensão-deformação idealizado de compressão para o concreto (NBR

6118:2014)

Já o diagrama tensão-deformação de tração, para o concreto não fissurado, é

definido por:

Figura 3.9 – Diagrama tensão-deformação bilinear de tração o concreto (NBR 6118:2014)

Usualmente, a resistência à tração do concreto é obtida, de forma aproximada,

pela expressão:

𝑓𝑐𝑡,𝑚 = 0,3 ∙ 𝑓𝑐𝑘

23⁄

(3.3)

24

Finalmente, para tensões de compressão menores que 0,5 fc e tensões de tração

menores que fct, o coeficiente de Poisson pode ser tomado como igual a 0,2 e o módulo

de elasticidade transversal como igual a:

𝐺𝑐 =𝐸𝑐𝑠

2,4

(3.4)

3.3. Elementos estruturais

3.3.1. Pilares

Conforme já mencionado anteriormente, todos os 22 pilares do Bloco 34 são

mistos. Foram utilizados apenas perfis metálicos laminados tipo H de bitola HP 310x125.

As dimensões e propriedades deste perfil, retiradas da tabela de bitolas da Gerdau, são:

Figura 3.10 – Notação utilizada para os perfis metálicos (GERDAU)

Tabela 3.2 – Dimensões do perfil metálico dos pilares

Bitola

(mm x kg/m)

d

(mm)

bf

(mm)

tw

(mm)

tf

(mm)

h

(mm)

d’

(mm)

R

(mm)

HP 310 x 125 312 312 17,4 17,4 277 245 16

Tabela 3.3 – Propriedades geométricas do perfil metálico dos pilares

Bitola

(mm x kg/m)

Área

(cm2)

Ix

(cm4)

Wx

(cm3)

rx

(cm)

Iy

(cm4)

Wy

(cm3)

ry

(cm)

HP 310 x 125 159,0 27.076 1.735,6 13,05 8.823 565,6 7,45

25

De forma a aumentar a capacidade resistente e a rigidez dos pilares, os perfis

foram encamisados com concreto armado, de resistência característica igual ou superior

a 30 MPa. As seções finais possuem dimensões de 50 x 50 cm para os pilares presentes

nos eixos A e C e 60 x 50 cm para os pilares dispostos no eixo B.

A armadura de flexão é composta de barras de aço longitudinais de diâmetro 20

ou 25 mm, enquanto a armadura de cisalhamento é composta de estribos fechados de

diâmetro 6,3 mm, dispostos transversalmente. As seções finais de projeto dos pilares são

exemplificadas na figura 3.11:

Figura 3.11 – Exemplos de armadura dos pilares mistos

Como indicado, as direções das almas dos perfis metálicos variam conforme a

seção. Nos pilares de menor área, a alma é disposta transversalmente à direção

longitudinal do edifício, enquanto nos pilares de maior seção esta é posicionada na

direção longitudinal (ver figura 3.2).

3.3.1.1. Rigidez das seções

Uma vez que as seções dos pilares são compostas por dois materiais distintos, a

determinação das rigidezes flexionais e axiais exigem maior atenção. A norma brasileira

propõe em seu Anexo P expressões para rigidezes efetivas de pilares mistos:

Rigidez Flexional

(𝐸𝐼)𝑒 = 𝐸𝑎𝐼𝑎 + 0,6 ∙ 𝐸𝑐,𝑟𝑒𝑑𝐼𝑐 + 𝐸𝑠𝐼𝑠 (3.5)

Rigidez Axial

(𝐸𝐴)𝑒 = 𝐸𝑎𝐴𝑎 + 𝐸𝑐,𝑟𝑒𝑑𝐴𝑐 + 𝐸𝑠𝐴𝑠 (3.6)

26

Os índices a, c e s indicam, respectivamente, o aço estrutural (do perfil), o

concreto e o aço da armadura. Os efeitos de retração e fluência do concreto são simulados

por meio da redução do valor de seu módulo de elasticidade:

𝐸𝑐,𝑟𝑒𝑑 =𝐸𝑐

1 + 𝜑 (𝑁𝐺,𝑆𝑑

𝑁𝑆𝑑)

(3.7)

Onde:

φ Coeficiente de fluência do concreto, obtido da NBR 6118:2014.

Simplificadamente, pode ser tomado igual a 2,5 nas seções total ou

parcialmente revestidas com concreto e igual a zero nas seções tubulares

preenchidas com concreto.

NG,Sd

NSd Relação entre a parcela da força axial solicitante de cálculo devida à ação

permanente e à ação decorrente do uso de atuação quase permanente e a

força axial solicitante de cálculo. Simplificadamente, pode ser tomada

igual a 0,6.

Para as seções consideradas, obtêm-se:

Tabela 3.4 – Rigidezes dos pilares mistos

Pilares Dimensões

(cm)

(EI)ex

(kN.m2)

(EI)ey

(kN.m2)

(EA)e

(kN)

P1 a P7 e P15 a P21 50 x 50 1,141E+05 7,871E+04 6,459E+06

P8 a P14 60 x 50 8,546E+04 1,554E+05 6,999E+06

Considerou-se na tabela 3.4 x como sendo o eixo normal à alma do perfil da seção

de menor área e y o eixo paralelo à alma do perfil da seção de menor área.

3.3.2. Vigas

Diferentes perfis laminados tipo I foram utilizados no vigamento do edifício. Em

resumo, as vigas principais, ou seja, aquelas que conectam pilares, foram dimensionadas

com perfis classe W460, variando-se apenas seu peso linear. Já as vigas complementares

são compostas de perfis W410, mais leves. As dimensões e propriedades dos perfis

adotados são apresentadas nas tabelas a seguir:

27

Tabela 3.5 – Dimensões dos perfis metálicos das vigas

Bitola

(mm x kg/m)

d

(mm)

bf

(mm)

tw

(mm)

tf

(mm)

h

(mm)

d’

(mm)

R

(mm)

W 460 x 106 469 194 12,6 20,6 428 404 12

W 460 x 68 459 154 9,1 15,4 428 404 12

W 460 x 52 450 152 7,6 10,8 428 404 12

W 410 x 46,1 403 140 7,0 11,2 381 357 12

Tabela 3.6 – Propriedades geométricas dos perfis metálicos das vigas

Bitola

(mm x kg/m)

Área

(cm2)

Ix

(cm4)

Wx

(cm3)

rx

(cm)

Iy

(cm4)

Wy

(cm3)

ry

(cm)

W 460 x 106 135,1 48.978 2.088,6 19,04 2.515 259,3 4,32

W 460 x 68 87,6 29.851 1.300,7 18,46 941 122,2 3,28

W 460 x 52 66,6 21.370 949,8 17,91 634 83,5 3,09

W 410 x 46,1 59,2 15.690 778,7 16,27 514 73,4 2,95

3.3.3. Lajes

As lajes metálicas compostas do tipo steel deck foram utilizadas como base em

todos os pavimentos. O modelo adotado, do fabricante Metform, foi o MF 50 de chapa

metálica de espessura 0,8 mm (catálogo técnico disponível em

http://www.metform.com.br/telha-forma-catalogo-tecnico.php).

O MF 50 é fabricado com aço especial galvanizado ASTM A 653 Grau 40, cuja

tensão de escoamento é igual 280 MPa. A altura total da laje, considerando-se a camada

de concreto, é de 140 mm para o primeiro nível (de elevação variável) e 110 mm para os

demais pisos.

As dimensões de um painel individual de steel deck e suas propriedades físicas

para uma largura de 1,00 m são apresentadas a seguir:

Figura 3.12 – Dimensões do steel deck MF 50 (METFORM)

28

Tabela 3.7 – Propriedades físicas do steel deck para uma largura de 1000 mm (METFORM)

Esp. nominal

(mm)

Esp. de projeto

(mm)

Altura total

(mm)

Peso

(kg/m2)

W

(mm3)

I

(mm4)

Aa

(mm2)

cg

(mm)

0,80 0,76 52,26 8,39 14.599 449.419 997 26,13

O concreto armado que compõe a laje possui fck igual a 25 MPa. A chapa steel

deck funciona como armadura de flexão positiva. Já nas regiões dos apoios (vigas), barras

de aço de diâmetro 6,3 mm foram especificadas para combater os momentos negativos.

Uma armadura adicional em tela soldada Q 75 (ϕ3,8 x ϕ3,8 – 150 x 150) é disposta

em toda a área de forma a evitar a fissuração do concreto por retração ou variação de

temperatura.

Para que as tensões de cisalhamento desenvolvidas na laje sejam adequadamente

transferidas às vigas, faz-se necessário a utilização de conectores especiais. Foram

adotados perfis U soldados às mesas das vigas e dispostos com espaçamento uniforme,

como exemplificado na figura 3.13.

Figura 3.13 – Detalhe dos conectores de cisalhamento utilizados no 1º pavimento

3.3.3.1. Simplificação da seção

Considerando-se que o objetivo do projeto é a análise das deslocabilidades laterais

da estrutura, não é vantajoso do ponto de vista prático a modelagem detalhada da

geometria das lajes steel deck. Isto porque a variação da altura da laje não impacta os

resultados de forma significativa.

Por isso, as lajes serão introduzidas no modelo computacional como elementos

maciços de concreto. Serão adotadas alturas equivalentes, inferiores às alturas totais

originais, de 115 mm para as lajes de 140 mm e 85 mm para as lajes de 110 mm. Este

valor foi obtido a partir da divisão da área de concreto na seção de um painel de steel deck

pelo comprimento total desta seção.

29

3.3.4. Ligações Metálicas

As ligações entre os elementos metálicos são de extrema importância para o

correto funcionamento de uma estrutura. Elas têm influência direta tanto nas análises

locais destes elementos quanto na análise global do conjunto. Isso porque as ligações são

as responsáveis pela transmissão dos esforços solicitantes entre os membros conectados.

Usualmente, as análises estruturais utilizam considerações idealizadas em cada

um dos nós, na forma de ligações perfeitamente rígidas (engastes) ou perfeitamente

flexíveis (rótulas). Sabe-se que estes modelos simplificados não refletem de maneira

perfeita o comportamento real. Na prática, todas as ligações metálicas possuem

características semi-rígidas, com comportamento intermediário entre as situações

extremas.

No entanto, as análises da rigidez efetiva das ligações mostram-se muitas vezes

desnecessárias, uma vez que podem provocar diferenças pouco significativas na

distribuição dos esforços e, consequentemente, no dimensionamento da estrutura. Por

isso, considerando-se ainda a grande complexidade deste tipo de diagnóstico, será

considerado no desenvolvimento do projeto que os nós podem ser representados, sem

perda de precisão, através das referidas ligações idealizadas.

3.3.4.1. Base dos pilares

As ligações dos pilares nos blocos de coroamento são promovidas por chapas de

base metálicas de dimensões 38 x 500 x 500 (aço ASTM A 36). O perfil do pilar é soldado

à chapa em todo o seu contorno. Compõem ainda a ligação, enrijecedores dispostos no

eixo de maior inércia (direção da alma), conforme detalhado na figura 3.14. Por fim, 10

chumbadores de aço de diâmetro igual a 25 mm garantem a fixação das chapas nos blocos

de fundação do edifício.

30

Figura 3.14 – Detalhes típicos da ligação pilar-bloco (ESPECTRO ENGENHARIA)

Pelas características dos componentes e rigidez da ligação, será considerado que

esta é perfeitamente rígida, impedindo os deslocamentos e rotações dos pilares nas três

direções.

3.3.4.2. Ligações Viga-Pilar

Uma vez que não existe no edifício um sistema auxiliar de contraventamento, as

ligações entre os pilares e as vigas são fundamentais para a estabilidade global do

conjunto. Esta só pode ser garantida se houver a transferência adequada dos momentos

fletores das vigas principais para os elementos verticais. Caso contrário, os pórticos

trabalhariam individualmente em seus planos e todo o sistema poderia se tornar instável.

Por isso, as ligações dimensionadas têm de apresentar uma alta rigidez, impedindo

as rotações das vigas na região de conexão. Isto é feito através de soldas no contorno dos

perfis das vigas e a utilização de chapas metálicas de 10 mm de espessura que funcionam

como enrijecedores, travando as rotações em todas as direções, conforme demostra a

figura 3.15.

31

Figura 3.15 – Detalhes típicos das ligações viga-pilar (ESPECTRO ENGENHARIA)

3.3.4.3. Ligações Viga-Viga

Diferentemente das ligações envolvendo os pilares, as conexões entre as vigas

principais e secundárias, exemplificadas na figura 3.16, podem ser consideradas, com

baixa influência nas análises, como sendo perfeitamente flexíveis.

Estes tipos de ligações funcionam, portanto, como rótulas, liberando o máximo

possível a rotação do vigamento complementar (que serve de apoio à laje). Este efeito é

produzido limitando-se a ligação apenas à região das almas através de cantoneiras

aparafusadas, de forma a transmitir quase que exclusivamente os esforços cortantes.

32

Figura 3.16 – Detalhe das ligações flexíveis viga-viga (foto de maio de 2014)

É importante observar que algumas ligações viga-viga podem ser consideradas

rígidas (pela presença de enrijecedores e regiões de solda). Estas conexões ocorrem na

região da escada e também no balanço das varandas.

33

CAPÍTULO 4

ANÁLISES ESTRUTURAIS DESENVOLVIDAS

4. ANÁLISES ESTRUTURAIS DESENVOLVIDAS

O projeto prático proposto será desenvolvido a partir de diferentes análises

computacionais. Mais do que avaliar a estabilidade global da edificação, o objetivo do

trabalho é mapear a influência dos elementos (cargas, materiais, tipos de análises) nas

deslocabilidade laterais. Por isso, neste capítulo serão descritas em detalhe as ações e

combinações de ações de cada análise estrutural considerada.

4.1. Carregamentos

4.1.1. Cargas permanentes

As cargas permanentes são constituídas pelo peso próprio dos elementos da

estrutura e pelo peso de todos os elementos construtivos fixos e instalações permanentes.

O peso próprio dos elementos é definido simplesmente multiplicando-se a massa

específica do material pelo seu volume.

A definição dos demais carregamentos, como o peso dos revestimentos dos pisos,

das vedações ou de possíveis equipamentos fixos exige estudo mais aprofundado e acesso

ao projeto de detalhamento de arquitetura. De fato, todas as cargas verticais contribuem

para a amplificação dos efeitos de 2ª ordem. No entanto, as análises dos deslocamentos

laterais e estabilidade global não serão largamente influenciadas pela aplicação destas

cargas permanente. Assim, de forma conservativa e utilizando um valor usualmente

empregado, será considerada uma carga uniformemente distribuída de 1,0 kN/m² sobre

as lajes.

4.1.1.1. Cobertura metálica

A estrutura metálica treliçada que serve de cobertura para o edifício é

simplesmente apoiada nos pilares mistos. Por isso, as ações permanentes provenientes do

peso desta cobertura podem ser consideradas como cargas verticais aplicadas axialmente

nos pilares.

34

Para definir a magnitude destas cargas, realizou-se um cálculo aproximado,

levando-se em consideração a área de influência de cada um dos pilares, como demonstra

a figura 4.1. Note-se que o pilar P3A, por compor a caixa de escada, não chega ao nível

da cobertura.

Figura 4.1 – Cargas da cobertura metálica – Áreas de influência dos pilares

Será considerado que o peso da cobertura distribui-se uniformemente ao longo de

sua projeção no plano horizontal. Dessa forma, adotando-se um valor estimativo de 2,0

kN/m² para a carga vertical desta estrutura (valor definido a partir de pesquisa em

catálogos de fornecedores), obtêm-se:

Tabela 4.1 – Cargas verticais nos pilares devidas à cobertura metálica

Pilares P1, P15 P2 a P6

P16 a P20 P8 P9 a P13 P14 P7, P21

Área de

influência (m2) 35,45 47,06 49,44 65,63 47,69 34,20

Carga axial

(kN) 70,90 94,12 98,88 131,26 95,38 68,40

4.1.2. Sobrecarga de utilização

Todos os pavimentos do edifício estarão sujeitos às sobrecargas de utilização,

aplicadas sobre as lajes. Estas ações variáveis são consideradas como cargas

35

uniformemente distribuídas sobre uma determinada área. A NBR 6120:1980 estabelece

valores mínimos para as cargas verticais, de acordo com o tipo de utilização do local.

O edifício avaliado tem como principais atribuições: área comercial e

estacionamento (1º pavimento); salas de aula e laboratórios de pesquisa (2º ao 7º

pavimento); terraço com acesso ao público (8º pavimento). Todos estes locais têm o

mesmo valor mínimo de carga estipulado pela norma, igual a 3,0 kN/m². Logo, de forma

simplificada, será aplicado este carregamento em todas as lajes do Bloco 34.

4.1.3. Vento

O carregamento horizontal devido a ação do vento é o mais relevante na avaliação

da estabilidade global da estrutura estudada. Apesar do vento ser uma ação dinâmica,

usualmente seus efeitos em edificações são considerados a partir de carregamentos

estáticos. Estes são definidos pela norma brasileira NBR 6123:1988 (com errata publicada

em maio de 2013).

Considera-se que o vento incide perpendicularmente às fachadas de um edifício

de dimensões retangulares em planta. As ações são consideradas independentes, ou seja,

o vento não pode incidir de forma direta e simultânea em duas faces da construção.

A norma estabelece que as forças estáticas devidas ao vento devem ser

determinadas a partir do cálculo da pressão dinâmica q, definida por:

𝑞 = 0,613 ∙ 𝑉𝑘2 = 0,613 ∙ (𝑉0 ∙ 𝑆1 ∙ 𝑆2 ∙ 𝑆3)2

(4.1)

Onde:

Vk Velocidade característica do vento

V0 Velocidade básica do vento (em m/s)

S1 Fator topográfico

S2 Fator que combina os efeitos da rugosidade do terreno, da variação da

velocidade com a altura acima do terreno e das dimensões da edificação

ou parte da edificação considerada

S3 Fator estatístico

36

4.1.3.1. Velocidade básica do vento

A velocidade básica do vento para a análise de estruturas usuais é definida a partir

do mapa de isopletas do território brasileiro (Figura 1 da NBR 6123:1988). Para a cidade

do Rio de Janeiro, observa-se que V0 pode ser tomado como igual a 35 m/s.

4.1.3.2. Fator S1

O fator topográfico S1 leva em consideração as variações do relevo do terreno. No

caso, o Bloco 34 encontra-se em um descampado plano, de superfície pouco acidentada.

Para estas condições, a norma recomenda adotar um valor unitário para S1.

4.1.3.3. Fator S2

O fator S2 é fruto da combinação dos efeitos da rugosidade do terreno, das

dimensões da edificação e da altura sobre o terreno. Isso se dá pelo fato da velocidade do

vento aumentar com a altura acima do terreno (considerando-se ventos fortes em

estabilidade neutra). Este aumento relaciona-se com a rugosidade e com o intervalo de

tempo considerado, que por sua vez depende das dimensões da estrutura. Diferentemente

dos grandes edifícios, edifícios baixos são mais afetados por rajadas de vento curtas.

A NBR 6123:1988 classifica a rugosidade do terreno em cinco categorias. A que

melhor representa a região avaliada é a Categoria II, que é assim definida: “terrenos

abertos em nível, com poucos obstáculos isolados, tais como árvores e edificações

baixas”.

Similarmente, as dimensões da edificação também devem ser classificadas. Uma

vez que a maior dimensão, horizontal ou vertical, da superfície frontal da estrutura está

entre 20 e 50 metros, o edifício é de Classe B.

O valor do fator S2 é finalmente definido, em função da altura acima do terreno z,

pela expressão:

𝑆2(𝑧) = 𝑏 ∙ 𝐹𝑟 ∙ (𝑧

10)

𝑝

(4.2)

Onde:

b, p Parâmetros de ajuste

37

Fr Fator de rajada (sempre correspondente à Categoria II)

Para Categoria II e Classe B, obtêm-se:

𝑆2(𝑧) = 1,00 ∙ 0,98 ∙ (𝑧

10)

0,09

(4.3)

4.1.3.4. Fator S3

Baseado em conceitos estatísticos, o fator S3 considera o grau de segurança

requerido para a edificação e sua vida útil. Usualmente, adota-se o nível de probabilidade

de 0,63 e vida útil de 50 anos. Por falta de dados de projeto mais detalhados, serão estes

os valores considerados.

A NBR 6123:1988 define em sua tabela 3 os valores mínimos a serem adotados

para o fator estatístico. Considerando-se o fim de utilização do Bloco 34, será utilizado o

valor especificado S3 = 1,00.

4.1.3.5. Coeficientes de pressão e forma

A força do vento agindo sobre uma edificação de base retangular (a 0° ou a 90°)

depende da diferença de pressão nas faces opostas àquela considerada. Por isso, a norma

introduz o conceito de pressão efetiva, diferença entre as pressões externa e interna,

definida por:

𝛥𝑝 = 𝛥𝑝𝑒 − 𝛥𝑝𝑖 = (𝑐𝑝𝑒 − 𝑐𝑝𝑖) ∙ 𝑞 (4.4)

Onde:

cpe Coeficiente de pressão externa

cpi Coeficiente de pressão interna

Para os fins da norma, vedações com presença de janelas, como é caso das

fachadas do Bloco 34, são elementos permeáveis ao ar. Considerando-se o projeto

arquitetônico, pode-se definir que as quatro faces do edifício são igualmente permeáveis.

Assim, o item 6.2.5 indica valores de -0,3 ou 0,0 para o coeficiente de pressão interna

(deve-se utilizar aquele mais nocivo a estrutura).

38

O coeficiente de pressão externa, que depende das condições aerodinâmicas da

edificação, pode ser retirado da Tabela 4 da norma, apresentada a seguir:

Tabela 4.2 – Coeficientes de pressão e de forma, externos, para paredes de edificações de planta

retangular (NBR 6123:1988)

39

Tem-se que as relações h/b e a/b são iguais a, respectivamente, 2,1 e 2,5. Portanto,

para as duas direções de ação do vento consideradas, obtêm-se:

Tabela 4.3 – Coeficientes de pressão externos

Direção do

vento A1 e B1 A2 e B2 C D A B C1 e D1 C2 e D2

α = 0° -1,0 -0,5 +0,8 -0,3

α = 90° +0,8 -0,6 -1,0 -0,6

Como o objetivo do trabalho é a determinação dos deslocamentos laterais do

edifício e não o dimensionamento dos elementos, serão utilizados nas análises apenas os

coeficientes A, B, C, e D.

4.1.3.6. Barras prismáticas

Como pode ser observado na figura 3.1, tanto o pavimento térreo quanto o 8º

pavimento do edifício não possuem vedações significativas. Assim, o vento age

diretamente sobre os pilares. Para determinar a ação do vento sobre barras prismáticas de

faces planas, a norma estabelece a fórmula:

𝐹 = 𝐶 ∙ 𝑞 ∙ 𝐾 ∙ 𝑙 ∙ 𝑐𝛼 (4.5)

Onde:

C Coeficiente de força

K Fator de redução que depende da relação l/cα

l Comprimento da barra prismática

cα Largura da barra prismática na direção perpendicular à do vento

Os coeficientes de força para diversos tipos de seções de barras são dados na

Tabela 12 da norma. Já o fator de redução K é indicado na Tabela 11. Ambas são

apresentadas a seguir:

40

Tabela 4.4 – Coeficientes de força Cx e Cy para barras prismáticas de faces planas de

comprimento infinito (NBR 6123:1988)

41

Tabela 4.5 – Valores do fator de redução K para barras de comprimento finito (NBR

6123:1988)

Enfim, são apresentados os valores dos coeficientes de força e fatores de redução

para os pilares do pavimento térreo e do 8º pavimento.

Tabela 4.6 – Coeficientes de força e fatores de redução dos pilares – Pavimento térreo

Pilares l (m) cα,x

(m)

cα,y

(m) l/ cα,x l/ cα,y Kx Ky C

P1 a P4, P15 a P18 3,30 0,50 0,50 6,6 6,6 0,67 0,67 +2,0

P8 a P11 3,30 0,60 0,50 5,5 6,6 0,66 0,67 +2,0

P5, P6, P19, P20 4,08 0,50 0,50 8,2 8,2 0,68 0,68 +2,0

P12, P13 4,08 0,60 0,50 6,8 8,2 0,67 0,68 +2,0

P7, P21 4,76 0,50 0,50 9,5 9,5 0,69 0,69 +2,0

P14 4,76 0,60 0,50 7,9 9,5 0,68 0,69 +2,0

Tabela 4.7 – Coeficientes de força e fatores de redução dos pilares – 8º pavimento

Pilares l (m) cα,x

(m)

cα,y

(m) l/ cα,x l/ cα,y Kx Ky C

P1 a P7, P15 a P21 3,87 0,50 0,50 7,7 7,7 0,68 0,68 +2,0

P8 a P14 3,87 0,60 0,50 6,4 7,7 0,67 0,68 +2,0

4.1.3.7. Cobertura

A cobertura metálica do edifício pode ser classificada, segundo os critérios

estabelecidos no item 8.2.3 da NBR 6123:1988, como uma cobertura isolada a águas

planas. Este tipo de elemento não constitui obstáculo significativo ao fluxo de ar. A ação

do vento é exercida diretamente sobre as faces superior e inferior da cobertura. Então,

devido à sua baixa inclinação (θ ≈ 4°), os componentes horizontais são muito pequenos.

Por isso, pode-se considerar que a ação do vento sobre a cobertura é desprezível no que

se refere à estabilidade global do edifício.

42

4.1.3.8. Aplicação na estrutura

Definidos todos os parâmetros que envolvem as ações do vento no edifício, as

forças que atuarão na estrutura podem finalmente ser calculadas. As pressões são

aplicadas em toda a área frontal efetiva da edificação, definida pela área da projeção

ortogonal da edificação sobre um plano perpendicular à direção do vento. No entanto, nas

análises estruturais, as forças precisam ser transferidas para os elementos resistentes.

Dessa forma, serão aplicadas forças uniformemente distribuídas sobre as vigas das

fachadas (a partir do 2º pavimento), considerando-se as elevações de cada um dos

pavimentos. Além disso, conforme discutido anteriormente, serão aplicadas cargas

diretamente nos pilares do pavimento térreo e 8º pavimento. Um esquema das áreas

efetivas consideradas é apresentado na figura 4.2.

Figura 4.2 – Elevações dos pavimentos e áreas frontais efetivas

Adotou-se o critério de integrar as pressões de vento nas fachadas, aplicando-se

as cargas nas vigas do pavimento diretamente acima. As cargas distribuídas nas vigas de

fachada do 2º ao 8º pavimento, nas duas direções do vento consideradas, são:

43

Tabela 4.8 – Cargas distribuídas nas vigas – Direção do vento α = 0°

Pav. S2,med qmed

(N/m2) cpe,C cpi,C

Δpmed,C

(kN/m2)

Fx,C

(kN/m) cpe,D cpi,D

Δpmed,D

(kN/m2)

Fx,D

(kN/m)

2º 0,94 669,4 +0,8 -0,3 0,74 4,72 -0,3 0,0 -0,20 1,29

3º 1,00 748,7 +0,8 -0,3 0,82 3,13 -0,3 0,0 -0,22 0,85

4º 1,02 785,9 +0,8 -0,3 0,86 3,29 -0,3 0,0 -0,24 0,90

5º 1,04 816,5 +0,8 -0,3 0,90 3,41 -0,3 0,0 -0,24 0,93

6º 1,06 842,6 +0,8 -0,3 0,93 3,52 -0,3 0,0 -0,25 0,96

7º 1,07 865,4 +0,8 -0,3 0,95 3,62 -0,3 0,0 -0,26 0,99

8º 1,09 885,8 +0,8 -0,3 0,97 3,70 -0,3 0,0 -0,27 1,01

Tabela 4.9 – Cargas distribuídas nas vigas – Direção do vento α = 90°

Pav. S2,med qmed

(N/m2) cpe,A cpi,A

Δpmed,A

(kN/m2)

Fx,A

(kN/m) cpe,B cpi,B

Δpmed,B

(kN/m2)

Fx,B

(kN/m)

2º 0,94 669,4 +0,8 -0,3 0,74 4,72 -0,6 0,0 -0,40 2,57

3º 1,00 748,7 +0,8 -0,3 0,82 3,13 -0,6 0,0 -0,45 1,71

4º 1,02 785,9 +0,8 -0,3 0,86 3,29 -0,6 0,0 -0,47 1,79

5º 1,04 816,5 +0,8 -0,3 0,90 3,41 -0,6 0,0 -0,49 1,86

6º 1,06 842,6 +0,8 -0,3 0,93 3,52 -0,6 0,0 -0,51 1,92

7º 1,07 865,4 +0,8 -0,3 0,95 3,62 -0,6 0,0 -0,52 1,97

8º 1,09 885,8 +0,8 -0,3 0,97 3,70 -0,6 0,0 -0,53 2,02

Figura 4.3 – Cargas distribuídas nas vigas – Direção do vento α = 0°

44

Figura 4.4 – Cargas distribuídas nas vigas – Direção do vento α = 90°

Já as cargas atuantes nos pilares, calculadas a partir dos coeficientes definidos nas

tabelas 4.6 e 4.7, são apresentadas a seguir:

Tabela 4.10 – Cargas distribuídas nos pilares – Pavimento térreo

Pilares S2,med qmed

(N/m2) C Kx

Fy

(kN/m) Ky

Fx

(kN/m)

P1 a P4, P15 a P18 0,80 477,9 +2,0 0,67 0,32 0,67 0,32

P8 a P11 0,80 477,9 +2,0 0,66 0,37 0,67 0,32

P5, P6, P19, P20 0,82 501,4 +2,0 0,68 0,34 0,68 0,34

P12, P13 0,82 501,4 +2,0 0,67 0,40 0,68 0,34

P7, P21 0,83 518,7 +2,0 0,69 0,35 0,69 0,35

P14 0,83 518,7 +2,0 0,68 0,42 0,69 0,35

Tabela 4.11 – Cargas distribuídas nos pilares – 8º pavimento

Pilares S2,med qmed

(N/m2) C Kx

Fy

(kN/m) Ky

Fx

(kN/m)

P1 a P7, P15 a P21 1,10 904,4 +2,0 0,68 0,60 0,68 0,60

P8 a P14 1,10 904,4 +2,0 0,67 0,71 0,68 0,60

4.1.4. Cargas nocionais

Estas cargas têm a finalidade de provocar um deslocamento mínimo inicial no

edifício. As intensidades são função das cargas verticais atuantes nos andares, conforme

a equação 2.4. Por isso, a definição de seus valores fica vinculada à análise estrutural de

1ª ordem descrita na sequência. Os resultados são apresentados na seção 6.1.1.

45

4.2. Análises e combinações de ações

4.2.1. Classificação da estrutura

Esta análise tem como objetivo classificar o edifício quanto a sua deslocabilidade,

segundo os critérios da NBR 8800:2008 discutidos na seção 2.4.1. A norma estabelece

que as análises linear e não-linear sejam feitas em Estado Limite Último. As combinações

últimas normais são dadas por:

𝐹𝑑 = ∑(𝛾𝑔𝑖 ∙ 𝐹𝐺𝑖,𝑘)

𝑚

𝑖=1

+ 𝛾𝑞1 ∙ 𝐹𝑄1,𝑘 + ∑(𝛾𝑞𝑖 ∙ 𝜓0𝑗 ∙ 𝐹𝑄𝑗,𝑘)

𝑛

𝑗=2

(4.6)

Onde:

FGi,k Valores característicos das ações permanentes

FQ1,k Valor característico da ação variável considerada principal para a

combinação

FQj,k Valores característicos das ações variáveis que podem atuar

concomitantemente com a ação variável principal

γgi, γqj Coeficientes de ponderação de ações

𝜓0𝑗 Fatores de combinação

Primeiramente, é preciso definir os coeficientes de ponderação das ações

permanentes, compostas pelo peso próprio dos elementos estruturais e outros elementos

ou equipamentos fixos. A norma indica valores diferentes para coeficientes relacionados

ao peso próprio de estruturas metálicas e de estruturas moldadas no local (encamisamento

dos pilares, lajes steel deck). De maneira conservativa, será adotado um coeficiente único,

recomendado pela norma, igual a 1,40 para estas ações.

Como a finalidade da análise é a determinação dos deslocamentos laterais

máximos, o vento é a ação variável principal. Seu coeficiente de ponderação é igual a

1,40. Para as sobrecargas de utilização, é adotado γq2 = 1,50, porém com um fator de

combinação ψq2 = 0,70, recomendado para locais com elevada concentração de pessoas.

Finalmente, a combinação é definida como:

46

𝐹𝑑,1 = 1,40(𝐹𝑝𝑝 + 𝐹𝑝𝑒𝑟𝑚) + 1,40 ∙ 𝐹𝑣𝑒𝑛𝑡𝑜 + 1,50 ∙ 0,7 ∙ 𝐹𝑠𝑜𝑏𝑟𝑒 (4.7)

É importante observar que a única direção do vento interessante à avaliação das

deslocabilidades é α = 90° (situação conforme figura 4.4). Isso porque este ângulo

impacta o edifício na direção de sua menor rigidez lateral. Assim, será obrigatoriamente

nesta análise que serão obtidos os maiores deslocamentos horizontais do edifício.

4.2.1.1. Cargas verticais nos andares

A análise elástica linear também servirá de base para a definição das cargas

verticais atuantes nos pilares, em cada um dos andares. Estes valores serão aplicados na

equação 2.4, definindo as cargas nocionais que atuarão no edifício nas análises

subsequentes.

4.2.2. Estado Limite Último

Após classificada a estrutura quanto a deslocabilidade, deve ser realizada a análise

de ELU final. Esta tem como objetivo a determinação dos esforços solicitantes de cálculo

dos elementos da estrutura e a verificação da estabilidade global do edifício.

Devem ser aplicadas todas as recomendações da norma, descritas em 2.4.2. Serão

considerados, assim, os efeitos das imperfeições iniciais geométricas (cargas nocionais)

e das imperfeições iniciais de material, se aplicável.

A combinação de ações será a mesma que a adotada nas análises de classificação,

com a inclusão das cargas nocionais:

𝐹𝑑,2 = 1,40(𝐹𝑝𝑝 + 𝐹𝑝𝑒𝑟𝑚) + 𝐹𝑛𝑜𝑐 + 1,40 ∙ 𝐹𝑣𝑒𝑛𝑡𝑜 + 1,50 ∙ 0,7 ∙ 𝐹𝑠𝑜𝑏𝑟𝑒 (4.8)

4.2.3. Método da amplificação dos esforços solicitantes

Nesta etapa busca-se avaliar a consistência dos resultados do método da

amplificação dos esforços solicitantes, descrito na seção 2.4.3. Os resultados obtidos para

o pilar mais solicitado na análise de 2ª ordem em ELU serão comparados com aqueles

definidos pelo método aproximado. Para isto, deverão ser modeladas as estruturas ℓt e nt,

exemplificadas na figura 2.4.

47

De forma a se realizar comparações coerentes, a combinação de ações utilizada

será a mesma da equação 4.8.

4.2.4. Estado Limite de Serviço

A análise em ELS tem como objetivo verificar se o deslocamento lateral máximo

do edifício está dentro dos limites recomendados pelas normas NBR 8800:2008 e NBR

6118:2014.

Para edifícios de mais de 2 pavimentos, a norma de estruturas metálicas estabelece

um limite de H/400 para o deslocamento horizontal do topo dos pilares em relação à base

(Tabela C.1 do Anexo C). Já a norma de concreto armado indica um movimento lateral

máximo de H/1700 (Tabela 13.3). Entre dois pisos consecutivos, as normas indicam os

valores de h/500 e h/850.

Como o edifício em questão possui estrutura mista de aço e concreto, os limites a

serem de fato considerados serão aqueles propostos pela NBR 8800:2008, servindo os

limites estabelecidos pela NBR 6118:2014 apenas para fins de comparação.

Tabela 4.12 – Cargas distribuídas nos pilares – Pavimento térreo

Descrição

NBR 8800 NBR 6118

Relação

máxima

δequivalente

(cm)

Relação

máxima

δequivalente

(cm)

Deslocamento horizontal do topo

dos pilares em relação à base H/400 9,28 H/1700 2,18

Deslocamento horizontal entre dois

pavimentos consecutivos h/500 variável h/850 variável

Nesta análise em ELS, a combinação de serviço utilizada será a frequente,

conforme a equação 4.9. Segundo a NBR 8800:2008, as combinações frequentes são

aquelas que se repetem muitas vezes durante o período de vida da estrutura, da ordem de

105 vezes em 50 anos. Portanto, esta combinação é a mais indicada para verificação de

movimentos laterais excessivos.

𝐹𝑠𝑒𝑟 = ∑ 𝐹𝐺𝑖,𝑘

𝑚

𝑖=1

+ 𝜓1 ∙ 𝐹𝑄1,𝑘 + ∑(𝜓2𝑗 ∙ 𝐹𝑄𝑗,𝑘)

𝑛

𝑗=2

(4.9)

48

Ainda segundo a norma, para a determinação de respostas em ELS não é

necessário considerar as imperfeições iniciais geométricas e de material. Para estruturas

de pequena ou média deslocabilidade, pode-se ainda realizar uma análise elástica de 1ª

ordem, desconsiderando-se os efeitos não-lineares.

Tomando-se o vento como ação variável principal e aplicando os coeficientes de

ponderação adequados, obtêm-se:

𝐹𝑠𝑒𝑟 = (𝐹𝑝𝑝 + 𝐹𝑝𝑒𝑟𝑚) + 0,3 ∙ 𝐹𝑣𝑒𝑛𝑡𝑜 + 0,4 ∙ 𝐹𝑠𝑜𝑏𝑟𝑒 (4.10)

4.2.5. Estrutura contraventada

O objetivo desta análise final é avaliar o impacto da introdução de uma

subestrutura de contraventamento no edifício. Como discutido no começo deste trabalho,

essas estruturas têm a função de auxiliar a transferência das cargas horizontais às

fundações, reduzindo os deslocamentos.

Naturalmente, tal mudança traria consequências econômicas para a construção,

além de interferir com o projeto de arquitetura. Entretanto, o caráter do projeto é o estudo

da estabilidade e dos deslocamentos laterais. Por isso, observar a eficiência de tal tipo de

estrutura é de extrema relevância.

Serão adotadas cruzes Sto. André, sistema treliçado que é realizado através da

introdução de barras diagonais em alguns dos pórticos do edifício. Este tipo de

contraventamento é muito utilizado em edifícios de estrutura metálica. Logo,

proporcionará uma boa estimativa dos ganhos que um sistema resistente independente

pode trazer a uma estrutura como o Bloco 34.

49

CAPÍTULO 5

MODELAGEM COMPUTACIONAL

5. MODELAGEM COMPUTACIONAL

As análises descritas no capítulo 4 serão realizadas com o auxílio do software

SAP2000 15. Este programa de análise estrutural e dimensionamento, desenvolvido pela

empresa norte-americana CSI, é largamente utilizado em escritórios de projeto

brasileiros. Através de uma interface gráfica, permite a introdução de modelos estruturais

e carregamentos tridimensionais complexos, além de materiais de comportamento linear

ou não-linear. O SAP2000 realiza diversos tipos de análises, como análises lineares,

análises P-Δ, verificações de flambagem etc.

Neste capítulo, serão descritos os procedimentos adotados para a modelagem da

geometria do edifício em estudo, dos carregamentos e combinações e das especificações

dos tipos de análises realizadas. Os parâmetros de entrada dos materiais utilizados

respeitaram as especificações explicitadas na seção 3.2.

5.1. Modelo geométrico

A estrutura do edifício foi inicialmente modelada no software AutoCAD, pois este

apresenta maior facilidade e rapidez. Após finalizado, o modelo foi aos poucos importado

para a interface gráfica do SAP2000. A seguir, serão apresentadas as considerações feitas

na introdução dos elementos estruturais.

5.1.1. Elementos de barra

Os elementos de barra foram modelados no programa como frames. Estes

elementos utilizam uma formulação viga-coluna tridimensional, considerando os efeitos

de flexão biaxial, torção, deformação axial, e deformações biaxiais de cisalhamento.

5.1.1.1. Pilares

Conforme descrito no capítulo 3, os pilares mistos possuem 37,12 m de

comprimento e estão engastados em suas bases. Os dois tipos de seções foram criados

utilizando a ferramenta section designer, que permite desenhar seções de geometria

50

complexa ou seções mistas. Assim, foram considerados o perfil metálico, o

encamisamento de concreto e até as armaduras passivas.

Figura 5.1 – Seções dos pilares mistos modeladas no SAP2000

De forma a considerar as reduções de rigidez para pilares mistos estabelecidas

pela NBR 8800:2008, foi introduzido no modelo um material concreto cujo módulo de

elasticidade é 60% menor que o indicado pela NBR 6118:2014 para o concreto C30.

Portanto, adotou-se Ec,red = 27 x 0,40 = 10,8 GPa (ver tabela 3.1 e equação 3.7).

5.1.1.2. Vigas

As dimensões de cada perfil I utilizado como viga foram introduzidas no programa

como especificado na seção 3.3.2. O mesmo padrão de utilização destes perfis foi adotado

para todos os pavimentos do edifício. A viga longitudinal central é constituída pelo perfil

mais pesado (W 460 x 106), enquanto as outras duas vigas principais longitudinais

utilizam a bitola W 460 x 68. As vigas transversais são formadas por perfis W 460 x 52

quando ligadas nos pilares, e perfis W 410 x 46,1 quando não. Todas as demais vigas,

como aquelas das varandas, também utilizam esta bitola mais leve. Este padrão é

reproduzido na figura 5.2.

51

Figura 5.2 – Padrão de utilização dos perfis metálicos das vigas

Na seção 3.3.4.3 foram discutidas as ligações metálicas utilizadas no projeto

estrutural. Viu-se que algumas destas ligações, particularmente aquelas envolvendo as

vigas longitudinais principais e as vigas transversais secundárias, não transmitem

momentos fletores. Assim, estes nós no modelo computacional devem funcionar como

rótulas. Este efeito foi produzido através da ferramenta assign frame releases.

Esta opção permite adicionar certa rigidez às ligações do elemento de barra, em

seu nó inicial ou final. Os esforços axiais, cortantes, momentos fletores e torçor podem

ser parcialmente liberados ou totalmente liberados. No caso, foram estabelecidas

rigidezes nulas para os momentos fletores (M22 e M33), de forma que os nós desejados

funcionem como ligações perfeitamente flexíveis.

5.1.2. Lajes

Visando otimizar os resultados, os panos de laje de cada pavimento foram

discretizados, ou seja, divididos em elementos menores, de cerca 1,25 m². Foram

utilizados elementos tipo shell, que combinam comportamentos de placa e de membrana.

Estes elementos são considerados como seções constantes. Por isso, foram adotadas as

espessuras discutidas na seção 3.3.3.1.

Como as lajes estão posicionadas acima das vigas e, assim, não compartilham o

mesmo eixo de gravidade, utilizou-se a opção insertion point para deslocar os elementos

52

frames. O efeito desta ferramenta é tal que as lajes passam a se apoiar nas mesas

superiores das vigas, reproduzindo de maneira mais realista a estrutura do edifício.

Finalmente, após realizados todos os procedimentos acima descritos, o modelo

geométrico foi concluído, como demonstra a figura a seguir:

Figura 5.3 – Modelo geométrico completo do edifício

5.2. Introdução dos carregamentos

Definida a geometria da edificação, as ações descritas em 4.1 foram introduzidas

no modelo, com exceção feita ao peso próprio dos elementos estruturais. Isso porque o

SAP2000 calcula automaticamente estas ações, a partir da geometria das seções e da

massa específica dos materiais considerados.

As cargas permanentes e sobrecargas de utilização foram inseridas como cargas

uniformemente distribuídas (uniform load) nas faces superiores dos elementos shell, na

direção da gravidade. As intensidades corresponderam àquelas discutidas anteriormente,

iguais a 1,0 kN/m² e 3,0 kN/m², respectivamente.

As ações do vento, consideradas apenas na direção de menor rigidez lateral do

edifício, foram inseridas como cargas distribuídas nas vigas das fachadas e pilares do

pavimento térreo e 8º pavimento. A representação gráfica deste carregamento é dada na

figura 5.4.

53

Figura 5.4 – Ação do vento – Cargas distribuídas nos pilares e vigas de fachada

Por fim, as cargas nocionais e o peso da cobertura metálica foram adicionados

como cargas pontuais (ver figura 5.5). As cargas da cobertura metálica foram introduzidas

nos nós de topo dos pilares. Já as cargas nocionais foram aplicadas nos nós da fachada no

edifício. A intensidade de cada uma delas (ver seção 6.1.1) corresponde à carga nocional

total do andar dividida pelo número de nós considerados.

Figura 5.5 – Cargas concentradas – Cobertura metálica e cargas nocionais

Cada um dos carregamentos descritos foi incluído em uma distribuição espacial

de ações, chamada load pattern. Esta distribuição pode conter um conjunto de ações

diferentes, que podem ser de qualquer tipo dentre aqueles disponibilizados pelo

54

programa, como cargas distribuídas, pontuais, deslocamentos prescritos ou variações de

temperatura. Uma tabela resumo das loads patterns é apresentada na tabela 5.1.

Tabela 5.1 – Ações consideradas nas análises computacionais

Load pattern Tipo Ações consideradas

DEAD DEAD Peso próprio dos elementos estruturais

PERMANENTES LIVE Cargas permanentes distribuídas e peso da cobertura

SOBRECARGAS LIVE Sobrecargas de utilização

VENTO WIND Vento (α = 90°)

NOCIONAIS LIVE Cargas nocionais

5.3. Tipos de análises

Cada load pattern inserido no SAP2000 deve ser posteriormente ser aplicado em

casos de carregamento, para que então possam produzir resultados. Os load cases definem

de que forma os carregamentos serão aplicados na estrutura (ex.: estaticamente ou

dinamicamente), como a estrutura responde (ex.: análise linear ou não-linear) e como a

análise será processada (ex.: cálculo modal ou integração direta).

Diversos tipos de casos podem ser considerados, como flambagem, cargas móveis

ou análise evolutiva. Neste trabalho, porém, todas as cargas são do tipo estáticas,

inclusive, de forma simplificada, o vento.

Após editados os casos de carregamento, estes podem ser agrupados em

combinações de ações. Nesta etapa são introduzidos os coeficientes de majoração de

ações, definidos no capítulo 4. Na figura 5.6, a janela de edição das combinações é

apresentada. Nela está definida a combinação em ELU adotada na análise de 1ª ordem

para classificação do edifício.

55

Figura 5.6 – Janela de edição das combinações de ações

Algumas das análises realizadas devem considerar os efeitos de 2ª ordem. Para

isto, o SAP2000 disponibiliza dois tipos de análises não lineares: P-Delta e P-Delta plus

large displacements. Ambos calculam os efeitos globais e locais de 2ª ordem. No entanto,

a segunda opção é mais adequada para estruturas muito deslocáveis, não sendo

recomendada para as análises usuais.

A criação de combinações de ações para análises não lineares é feita diretamente

na janela de edição mostrada na figura 5.6. Basta selecionar a opção Create nonlinear

load case from load combo. Com a seleção, um novo caso de carregamento é gerado,

desta vez, indicando uma análise não linear.

Finalmente, após realizado o procedimento descrito neste capítulo, as análises

podem ser rodadas. Os cálculos são processados automaticamente pelo programa e os

mais diversos resultados podem ser apresentados. Serão observados neste projeto,

especialmente, os deslocamentos, reações de apoio e solicitações internas dos elementos.

56

CAPÍTULO 6

RESULTADOS OBTIDOS

6. RESULTADOS OBTIDOS

6.1. Classificação da estrutura

Nas seções 2.4.1 e 4.2.1, foram detalhadas as análises linear e não-linear que

permitem a classificação da estrutura quanto a sua deslocabilidade, segundo a NBR

8800:2008. Os resultados destas análises são apresentados, em resumo, na tabela 6.1.

Tabela 6.1 – Deslocamentos máximos obtidos nas análises linear e não-linear em ELU

Pav.

1ª ordem 2ª ordem

Δ2/ Δ1 h (m)

Δ1,max

(cm) hi (m)

Δ1,i

(cm) h (m)

Δ2,max

(cm) hi (m)

Δ2,i

(cm)

1º 3,305 1,32 3,305 1,32 3,305 1,65 3,305 1,65 1,25

1º 4,075 1,79 4,075 1,79 4,075 2,23 4,075 2,23 1,25

1º 4,755 2,43 4,755 2,43 4,755 2,95 4,755 2,95 1,21

2º 10,455 9,39 5,700 6,96 10,455 12,34 5,700 9,39 1,31*

3º 14,255 12,06 3,800 2,67 14,255 15,69 3,800 3,35 1,30

4º 18,055 14,11 3,800 2,05 18,055 18,12 3,800 2,43 1,28

5º 21,855 15,74 3,800 1,63 21,855 19,99 3,800 1,87 1,27

6º 25,655 16,97 3,800 1,23 25,655 21,35 3,800 1,36 1,26

7º 29,455 17,81 3,800 0,84 29,455 22,26 3,800 0,91 1,25

8º 33,255 18,31 3,800 0,50 33,255 22,80 3,800 0,54 1,25

cob 37,120 18,92 3,865 0,61 37,120 23,45 3,865 0,65 1,24

*maior valor entre os três níveis do 1º pavimento

Onde:

Δi,max Deslocamentos laterais máximos de um andar em relação à base nas

análises de 1ª ordem ou 2ª ordem

Δi,max Diferença entre os deslocamentos laterais de dois pavimentos consecutivos

Pode-se observar que a relação Δ2/ Δ1 máxima foi obtida para o 2º pavimento,

aquele que apresenta maior altura entre pisos. O valor de 1,31 encontra-se entre os limites

1,1 e 1,4, caracterizando uma estrutura de média deslocabilidade. As deformadas da

estrutura, no plano z-y, são dadas na figura 6.1.

57

Figura 6.1 – Classificação da estrutura quanto a deslocabilidade

Outra observação importante é o aumento dos deslocamentos globais pelos efeitos

de 2ª ordem. Estes aumentos, da ordem de 25%, mostram a importância de se considerar

as não-linearidades geométricas em edifícios de altura elevada.

6.1.1. Determinação das cargas nocionais

A análise de 1ª ordem possibilitou o levantamento das cargas gravitacionais e

horizontais totais atuantes em cada um dos andares do edifício. Isso foi feito eliminando-

se progressivamente os pavimentos, de baixo para cima, e recalculando a combinação de

ações antes definida. Este processo pode ser visto com maior clareza nas imagens a seguir:

8º pavimento 7º pavimento

58

6º pavimento 5º pavimento

4º pavimento 3º pavimento

2º pavimento 1º pavimento

Figura 6.2 – Determinação das cargas verticais e horizontais totais nos andares

59

Após calculadas as somas das reações verticais em cada um dos andares, as cargas

nocionais podem ser, enfim, definidas. Como visto anteriormente, a intensidade da carga

nocional em um andar é igual a 0,3% das cargas gravitacionais totais, neste andar. Os

valores obtidos são apresentados na tabela 6.2.

Tabela 6.2 – Cargas nocionais por andar

Pavimento ΣNSd (kN) Qnoc (kN) Nº de nós qnoc (kN)

1º 59339 178 19 9,37

2º 50467 151 19 7,97

3º 42770 128 19 6,75

4º 35417 106 19 5,59

5º 27628 83 19 4,36

6º 19838 60 19 3,13

7º 12049 36 19 1,90

8º 3751 11 19 0,59

Como foi mencionado na seção 5.2, as cargas nocionais são introduzidas nos nós

da fachada do modelo, de forma a empurrar o edifício sem provocar esforços de flexão

nas vigas longitudinais.

Figura 6.3 – Aplicação das cargas nocionais no modelo geométrico

60

6.2. Análise ELU

Nesta fase, todas as ações já foram definidas e introduzidas no modelo

computacional. No entanto, como a estrutura foi classificada como de média

deslocabilidade, deve-se levar em conta ainda uma redução das rigidezes flexional e axial

dos elementos da estrutura. A norma estabelece que estas sejam levadas a 80% de seus

valores originais.

Já que as rigidezes flexional e axial são proporcionais aos produtos EI e EA,

respectivamente, as modificações são feitas a partir da redução em 20% dos módulos de

elasticidade dos materiais introduzidos no SAP2000. São afetados o aço dos perfis e

barras de armadura e o concreto presente nos pilares e lajes.

Tabela 6.3 – Redução dos módulos de elasticidade devida às imperfeições iniciais de material

Material Tipo Aplicação Eoriginal (MPa) Ereduzido (MPa)

ASTM A 572 Aço Pilares, vigas 200.000 160.000

CA50 Aço Pilares 210.000 168.000

C30 reduzido Concreto Pilares 10.800 8.640

C20 Concreto Lajes 21.000 16.800

6.2.1. Deslocamentos horizontais

De forma a verificar, em definitivo, a estabilidade global do edifício, é

considerada diretamente a análise em 2ª ordem, com a combinação de ações definida na

equação 4.8.

Os deslocamentos obtidos para cada um dos pavimentos (ΔELU,f) são apresentados

na tabela 6.4. Uma comparação com os valores obtidos sem a consideração das cargas

nocionais e reduções de rigidez também é indicada. Os valores ΔELU,c indicam os

deslocamentos da etapa de classificação da deslocabilidade.

61

Tabela 6.4 – Deslocamentos horizontais no ELU final

Pav.

Deslocamentos globais Deslocamentos entre pavimentos

ΔELU,f (cm) ΔELU,c (cm) Variação

(%) ΔELU,fi (cm) ΔELU,ci (cm)

Variação

(%)

1º 2,77 1,65 +67,9 2,77 1,65 +67,9

1º 3,73 2,23 +67,3 3,73 2,23 +67,3

1º 4,93 2,95 +67,1 4,93 2,95 +67,1

2º 20,61 12,34 +67,0 17,84 9,39 +67,0

3º 26,05 15,69 +66,0 5,44 3,35 +62,4

4º 29,83 18,12 +64,6 3,78 2,43 +55,6

5º 32,60 19,99 +63,1 2,77 1,87 +48,1

6º 34,55 21,35 +61,8 1,95 1,36 +43,4

7º 35,83 22,26 +61,0 1,28 0,91 +40,7

8º 36,53 22,80 +60,2 0,70 0,54 +29,6

cob 36,74 23,45 +56,7 0,21 0,65 -67,7

Observa-se um aumento dos deslocamentos laterais da edificação de cerca de

70%. Os valores são muito elevados para uma estrutura usual. Entretanto, deve-se levar

em conta que esta análise considera as ações que levariam o edifício ao seu colapso

estrutural. Portanto, probabilisticamente, estes movimentos laterais não deverão ocorrer

ao longo da vida útil, normalmente avaliada em 50 anos. Além disso, o edifício encontrou

um estado de equilíbrio em 2ª ordem, um indicativo de que a estrutura é estável

globalmente.

Os deslocamentos relativos entre pavimentos apresentaram um comportamento

interessante, com grande aumento em relação aos anteriores nos primeiros andares e uma

tendência de normalização conforme cresce a altura considerada.

Por fim, destaca-se que, no que se refere aos efeitos de 2ª ordem, os resultados

que mais interessam nas análises em ELU são as variações dos esforços solicitantes,

avaliados na seção 6.2.3.

6.2.2. Transferência de esforços transversais

Em um edifício sem sistema de contraventamento dedicado, as lajes

desempenham papel fundamental na estabilidade lateral. São estas as responsáveis por

grande parte da transferência dos esforços horizontais para as vigas e pilares, para que

cheguem até os apoios nos blocos de coroamento.

62

Este fenômeno pode ser observado nos diagramas de forças das lajes. Após a

aplicação do carregamento horizontal nas vigas e pilares de fachada, parte da carga é

absorvida pelas lajes. Formam-se então zonas comprimidas, através das quais os esforços

são levados aos demais pilares e vigas.

Um exemplo pode ser visto no diagrama de forças F22 das lajes do 3º pavimento,

representado na figura 6.4. As zonas coloridas indicam as áreas comprimidas, enquanto

as zonas cinzas, as áreas tracionadas. Pode-se observar a concentração de esforços de

compressão nas regiões dos pilares, pois são nestas que os esforços horizontais são

majoritariamente transferidos às lajes. A partir daí ocorre um espraiamento destas cargas,

que passam as vigas transversais.

Figura 6.4 – Transferência de esforços horizontais na laje do 3º pavimento

A transferência dos esforços de cisalhamento entre as lajes e as vigas é garantida

pelos conectores de cisalhamento, conforme discutido na seção 3.3.3. Por isso, é de

fundamental importância que estes sejam calculados de forma adequada, e introduzidos

de forma rigorosa no canteiro de obras.

6.2.3. Esforços solicitantes

O objetivo da avaliação das solicitações dos elementos é comparar os resultados

obtidos na análise não-linear com aqueles calculados pelo método simplificado na NBR

8800:2008, além de avaliar o aumento dos esforços obtidos em 2ª ordem. Serão retirados

do programa os esforços internos do pilar mais solicitado do edifício.

63

Os pilares apresentam seis graus de liberdade, com seus respectivos esforços

solicitantes. Entretanto, na análise realizada, o esforço cortante Vx, o momento fletor My

e o momento torçor apresentam valores muito baixos e, por isso, serão desconsiderados.

Os esforços restantes configuram uma situação de flexo-compressão.

Como era esperado, os pilares centrais, devido à sua localização e maior rigidez,

apresentaram os maiores esforços. Destes, considerando-se a flexo-compressão, o

elemento que apresentou as solicitações máximas foi o pilar P12. Seus diagramas de

esforços internos, nas análises de 1ª e 2ª ordem, são apresentados na figura a seguir:

Esforço Normal – 1ª ordem

Nd,max = -5143,8 kN

Momento Fletor – 1ª ordem

M33d,max = +534,9 kN.m

Esforço Cortante – 1ª ordem

V22d,max = -181,7 kN

Esforço Normal – 2ª ordem

Nd,max = -5138,2 kN

Momento Fletor – 2ª ordem

M33d,max = +734,5 kN.m

Esforço Cortante – 2ª ordem

V22d,max = -185,5 kN

Figura 6.5 – Diagramas de esforços solicitantes do pilar P12 (para combinação de ações

conforme a equação 4.8)

Observou-se uma pequena variação dos esforços normal e cortante entre as

análises linear e não-linear. No entanto, o momento fletor máximo apresentou um grande

aumento, passando de +534,9 kN.m em 1ª ordem para +734,5 kN.m em 2ª ordem. Esta

variação, de aproximadamente 37%, demostra a importância da consideração dos efeitos

de não-linearidade geométrica no dimensionamento dos elementos do edifício.

64

6.3. Método da amplificação dos esforços solicitantes

O método da amplificação dos esforços solicitantes objetiva aproximar os efeitos

de 2ª ordem nos elementos de barra através de uma combinação de análises de 1ª ordem.

Para isso, devem ser gerados os modelos estruturais apresentados na figura 2.4.

Primeiramente, são introduzidos os apoios horizontais no edifício, de forma a criar

a estrutura nt. Este procedimento é extremamente simples de se realizar no SAP2000.

Figura 6.6 – Estrutura nt modelada no SAP2000

Em sequência, uma análise linear em ELU é realizada para obter as reações

horizontais nos apoios introduzidos. Outras tantas são desenvolvidas para determinação

das cargas verticais atuantes em cada um dos andares. Os resultados destas análises são

apresentados na tabela 6.5.

65

Tabela 6.5 – Cargas por andar – Estrutura nt

Pavimento ΣNSd (kN) ΣHSd (kN) ΣNSd / ΣHSd

1º 8536 235 36,3

2º 8203 606 13,5

3º 7697 479 16,1

4º 7353 427 17,2

5º 7789 406 19,2

6º 7789 393 19,8

7º 7789 401 19,4

8º 11173 392 28.5

As reações horizontais obtidas em cada um dos apoios do modelo da estrutura nt

(ver figura 6.6), são agora aplicadas nos seus respectivos nós, de forma a compor a

estrutura ℓt:

Figura 6.7 – Aplicação das cargas horizontais na estrutura ℓt modelada no SAP2000

O novo modelo é calculado, desta vez apenas com as forças mostradas na figura

6.7. Os deslocamentos obtidos possibilitam finalmente calcular o coeficiente B2 (equação

66

2.6). Relembra-se que o coeficiente de ajuste Rs é igual a 0,85, por tratar-se de um edifício

sem uma subestrutura de contraventamento.

Tabela 6.6 – Coeficiente B2 por pavimento

Pavimento Δh (m) h (m) Rs ΣNSd / ΣHSd B2

1º 0,0269* 3.803* 0,85 36,3 1,43*

2º 0,1179* 6,652* 0,85 13,5 1,39*

3º 0,0405 3,800 0,85 16,1 1,25

4º 0,0302 3,800 0,85 17,2 1,19

5º 0,0233 3,800 0,85 19,2 1,16

6º 0,0171 3,800 0,85 19,8 1,12

7º 0,0114 3,800 0,85 19,4 1,07

8º 0,0064 3,800 0,85 28,5 1,06

cob 0,0043 3,865 - - -

* valores médios, considerando-se a variação da elevação no 1º pavimento

A norma indica que este coeficiente pode ser considerado como um valor

aproximado da relação Δ2/ Δ1. Observa-se que as grandezas calculadas são, de fato,

coerentes com as relações entre deslocamentos obtidas anteriormente.

De forma geral, o coeficiente B2 indicou que a estrutura é de média

deslocabilidade, mesma conclusão obtida pelo cálculo de 2ª ordem. Portanto, a eficiência

de sua utilização como alternativa na classificação de estruturas foi comprovada.

6.3.1. Esforços solicitantes amplificados

Após definidos os valores dos coeficientes B2, parte-se para a determinação dos

esforços solicitantes amplificados no pilar P12. Relembra-se que os esforços cortantes em

2ª ordem podem ser considerados iguais aos obtidos na análise linear.

As solicitações no elemento considerado, em análise de 2ª ordem, foram

apresentadas na seção 6.2.3. Já as análises das estruturas nt e ℓt forneceram os seguintes

valores (valores negativos para as cargas axiais representam compressão):

Tabela 6.7 – Solicitações encontradas nas análises das estruturas nt e ℓt – Pilar P12

Momento Fletor Esforço Normal

Mnt (kN.m) Mℓt (kN.m) Trecho Nnt (kN) Nℓt (kN) Trecho

-0,3 +534,9 1º – 2º pav. -5190,5 +39,5 0º – 2º pav

67

O momento fletor máximo atuante no pilar em 2ª ordem acontece entre o 1º e o 2º

pavimento. Neste trecho, tem-se que a carga axial máxima, em 1ª ordem, é de 4394 kN.

Considerando-se a altura do andar, a carga axial que provoca a flambagem elástica por

flexão é dada por:

𝑁𝑒 =𝜋2 ∙ (𝐸𝐼)𝑒𝑥

𝐿2=

𝜋2 ∙ 8,546 ∙ 104

6,3802= 20722 𝑘𝑁

(6.1)

Assim, o coeficiente B1 para o pilar, no trecho considerado, é dado por:

𝐵1 =𝐶𝑚

1 −𝑁𝑆𝑑1

𝑁𝑒

=1

1 −4394

20722

= 1,27

(6.2)

O coeficiente B2 para o trecho, calculado anteriormente, é igual a 1,39.

Finalmente, o momento fletor amplificado pode ser calculado:

𝑀𝑆𝑑 = 𝐵1 ∙ 𝑀𝑛𝑡 + 𝐵2 ∙ 𝑀𝑙𝑡 = 1,27 ∙ (−0,3) + 1,39 ∙ 534,9 = 743,1 𝑘𝑁. 𝑚 (6.3)

Agora, calcula-se o esforço normal amplificado. O valor máximo ocorre na base

do pilar. Assim, toma-se B2 igual a 1,43. Dessa forma, obtêm-se:

𝑁𝑆𝑑 = 𝑁𝑛𝑡 + 𝐵2 ∙ 𝑁ℓ𝑡 = −5190,5 + 1,43 ∙ 39.5 = −5134,0 𝑘𝑁 (6.4)

Os resultados calculados acima são finalmente comparados com aqueles obtidos

na análise da seção 6.2. Os índices 2 e MAES representam, respectivamente, os valores em

2ª ordem e os determinados pelo método da amplificação.

Tabela 6.8 – Comparação dos resultados obtidos na análise de 2ª ordem e no método de

amplificação dos esforços solicitantes – Pilar P12

Momento fletor Esforço normal

MSd,2

(kN.m)

MSd,MAES

(kN.m) Erro relativo NSd,2 (kN)

NSd,MAES

(kN) Erro relativo

734,5 743,1 1,2% -5138,2 -5134,0 0,1%

Estes valores mostram que a análise elástica aproximada de 2ª ordem reproduziu,

de forma muito consistente, os efeitos global P-Δ e local P-δ. No caso específico do pilar

P12, os esforços encontrados apresentaram erros desprezíveis, que não afetariam de

forma alguma o dimensionamento da seção.

68

6.4. Análise ELS

Nesta análise, é utilizada a combinação frequente de serviço conforme a equação

4.9. Esta combinação é adotada para analisar os estados-limites reversíveis, ou seja,

aqueles que não causam danos permanentes à estrutura ou aos equipamentos. Dessa

forma, a verificação dos movimentos laterais se faz necessária também para garantir a

integridade das vedações, além do conforto visual de usuários e vizinhos.

No carregamento, não são consideradas as imperfeições iniciais geométricas ou

de material. Uma vez que a estrutura é classificada como de média deslocabilidade, a

avaliação dos deslocamentos laterais máximos pode ser feita em 1ª ordem. Os resultados

do cálculo computacional podem ser vistos graficamente na figura 6.8.

Figura 6.8 – Deformada da estrutura no Estado Limite de Serviço (combinação frequente)

O deslocamento horizontal máximo, obtido para o pilar P15, foi igual a 3,98 cm.

No geral, percebe-se que os deslocamentos laterais são muito menores que aqueles

obtidos no ELU. Em condições normais, são deslocamentos desta magnitude que o

edifício sofrerá durante sua vida útil.

É de grande importância que os deslocamentos encontrados sejam comparados

com os limites estabelecidos pelas normas brasileiras. Estes foram discutidos na seção

69

4.2.4. A relação entre a altura total do edifício e o deslocamento horizontal máximo do

topo do pilar P15 em relação à base é:

𝐻

𝛥𝑚𝑎𝑥=

37,1200

0,0398 →

𝐻

930

(6.1)

O valor calculado é bem inferior ao limite de H/400 (ou 9,28 cm) estabelecido

pela NBR 8800:2008. Entretanto, é superior ao deslocamento máximo definido pela

norma de concreto armado, que é de 2,18 cm.

Apesar de utilizar elementos de concreto, como o encamisamento dos pilares e as

lajes, a base do edifício é toda em estrutura metálica. Por isso, o limite de maior relevância

é o preconizado pela norma de estruturas de aço e mistas. Logo, o comportamento global

no estado de serviço pode ser considerado adequado.

Outra verificação que deve ser feita é aquela dos deslocamentos relativos entre

dois pavimentos consecutivos. A tabela 6.9 apresenta resumidamente os resultados desta

avaliação. A letra h representa a distância do pavimento em relação à base do edifício,

enquanto hi representa a altura entre dois pavimentos consecutivos. A mesma

consideração foi feita para os deslocamentos, indicados nas colunas ΔELS,max e ΔELS,i.

Tabela 6.9 – Verificação dos deslocamentos horizontais entre dois pisos consecutivos

Pav. h (m) ΔELS,max

(cm) hi (m)

ΔELS,i

(cm) hi /

NBR 8800

Δlim,i (cm)

NBR 6118

Δlim,i (cm)

1º 3,305 0,28 3,305 0,28 1180 0,83 OK 0,39 OK

1º 4,075 0,38 4,075 0,38 1072 1,02 OK 0,48 OK

1º 4,755 0,51 4,755 0,51 932 1,19 OK 0,56 OK

2º 10,455 1,99 5,700 1,48 385* 1,43 X 0,67 X

3º 14,255 2,56 3,800 0,57 667 0,95 OK 0,45 X

4º 18,055 2,97 3,800 0,41 927 0,95 OK 0,45 OK

5º 21,855 3,29 3,800 0,32 1188 0,95 OK 0,45 OK

6º 25,655 3,53 3,800 0,24 1583 0,95 OK 0,45 OK

7º 29,455 3,69 3,800 0,16 2375 0,95 OK 0,45 OK

8º 33,255 3,77 3,800 0,08 4750 0,95 OK 0,45 OK

cob 37,120 3,98 3,865 0,21 1840 0,97 OK 0,45 OK

* menor relação entre os três níveis do 1º pavimento

No geral, os deslocamentos relativos entre pavimentos estão dentro dos limites de

ambas as normas consideradas. Exceções são feitas para os movimentos entre o 2º e 1º

pisos (Δi supera os limites das duas normas) e entre o 3º e 2º pisos (Δi supera apenas o

70

limite da NBR 6118:2014). Apesar disso, estes excessos não são de grande magnitude e,

por isso, não devem causar prejuízo algum à segurança ou uso da edificação.

Conclui-se, portanto, que o Bloco 34 não só é estável lateralmente, quanto

apresenta boa resposta em relação aos movimentos horizontais, tanto globalmente quanto

na evolução entre pavimentos.

6.5. Estrutura contraventada por sistemas de treliças

Já foi visto que o edifício Bloco 34 é globalmente estável e que sua resposta para

os movimentos laterais é compatível com aquilo que a norma de estruturas metálicas e

mistas preconiza. Porém, este projeto ainda propõe avaliar as consequências e os ganhos

de se introduzir um sistema auxiliar de contraventamento. Para isto, formam considerados

no modelo estrutural sistemas de treliças em cruzes de Sto. André.

Não serão contemplados os aspectos arquitetônicos e econômicos de tal mudança.

Tampouco será abordado o dimensionamento e otimização do sistema de

contraventamento. O objetivo é apenas mensurar a diminuição dos deslocamentos laterais

que o treliçado proporciona.

Para simular um projeto real, as cruzes foram introduzidas em pórticos em todas

as faces da edificação. Dessa forma, estas são capazes de absorver os esforços horizontais

em todas as direções. Foram adotados os mesmos perfis dos pilares, de bitola HP

310x125. Usualmente, as peças de contraventamento são mais leves que as adotadas nos

elementos principais. A escolha dos perfis mais adequados é fruto de um estudo completo

do problema.

Da mesma forma, o estudo real da introdução do sistema treliçado verificaria a

possibilidade de se adotar seções mais esbeltas para os pilares mistos. Por razões de

disponibilidade de tempo, estes tratamentos não serão realizados.

O modelo geométrico utilizado na análise computacional, de acordo com as

considerações descritas acima, é apresentado na figura 6.9.

71

Figura 6.9 – Modelo do sistema de contraventamento considerado

De maneira a garantir que o comportamento seja de treliça, os momentos foram

liberados nos nós das barras diagonais. Assim, apenas solicitações normais podem agir

nas cruzes.

Foram repetidas as análises em ELU, com a consideração das imperfeições iniciais

geométricas e de material. São apresentados nas tabelas a seguir os deslocamentos obtidos

paras as análises linear e não-linear. As grandezas Δo e Δcontra representam,

respectivamente, os movimentos laterais da estrutura original e contraventada.

Tabela 6.10 – Variação dos deslocamentos laterais – Análise de 1ª ordem

Pav. Deslocamentos globais Deslocamentos entre pavimentos

Δo (cm) Δcontra (cm) Variação (%) Δo,i (cm) Δcontra,i (cm) Variação (%)

1º 2,09 0,26 -87,6 2,09 0,26 -87,6

1º 2,92 0,36 -87,7 2,92 0,36 -87,7

1º 3,85 0,46 -88,1 3,85 0,46 -88,1

2º 14,46 1,28 -91,1 1,.37 1,02 -91,8

3º 18,48 1,83 -90,1 4,02 0,55 -86,3

4º 21,51 2,38 -88,9 3,03 0,55 -81,8

5º 23,84 2,92 -87,8 2,33 0,54 -76,8

6º 26,69 3,41 -87,2 2,85 0,49 -82.8

7º 27,36 3,85 -85,9 0,67 0,44 -34,3

8º 28,15 4,26 -84,9 0,79 0,41 -48,1

72

Tabela 6.11 – Variação dos deslocamentos laterais – Análise de 2ª ordem

Pav. Deslocamentos globais Deslocamentos entre pavimentos

Δo (cm) Δcontra (cm) Variação (%) Δo,i (cm) Δcontra,i (cm) Variação (%)

1º 2,77 0,26 -90,6 2,77 0,26 -90,6

1º 3,73 0,37 -90,1 3,73 0,37 -90,1

1º 4,93 0,47 -90,5 4,93 0,47 -90,5

2º 20,61 1,31 -93,6 17,84 1,05 -94,1

3º 26,05 1,89 -92,7 5,44 0,58 -89,3

4º 29,83 2,46 -91,8 3,78 0,57 -84,9

5º 32,60 3,01 -90,8 2,77 0,55 -80,1

6º 34,55 3,51 -89,8 1,95 0,50 -74,4

7º 35,83 3,97 -88,9 1,28 0,46 -64,1

8º 36,53 4,40 -88,0 0,70 0,43 -38,6

Das tabelas acima, pode-se observar as grandes implicações de se projetar um

sistema independente de contraventamento para o edifício. Com as cruzes de Sto. André,

os movimentos laterais globais e entre pavimentos foram reduzidos em cerca de 90%.

Outra conclusão interessante relaciona-se com os efeitos de 2ª ordem. Ao

minimizar os deslocamentos da análise linear, os efeitos não-lineares foram quase

eliminados. Isto pode ser visto na diferença entre os valores das tabelas 6.10 e 6.11, que

mostram diferenças da ordem de décimo de milímetro nos deslocamentos da estrutura

contraventada. Anteriormente, havia se obtido valores cerca de 25% maiores nas análises

de 2ª ordem.

6.5.1. Consequências estruturais

Uma vez que os esforços horizontais são absorvidos pelas barras diagonais e

transmitidos aos pilares, observou-se um grande aumento das cargas axiais dos pilares

extremos, onde as cruzes Sto. André se encontram. O pilar P1, por exemplo, teve seu

esforço normal dobrado, passando de 2260 kN para 4439 kN.

73

Figura 6.10 – Diagrama de esforços normais dos pilares da estrutura contraventada

A figura 6.10 indica este fenômeno. Pode-se ver que os pilares P1 e P7 apresentam

cargas axiais quase de mesma intensidade que os pilares centrais, o que não era o caso no

edifício sem contraventamento. Por isso, o dimensionamento dos elementos verticais da

estrutura poderia seria alterado com a mudança, e deveria ser novamente verificado.

74

CAPÍTULO 7

CONCLUSÕES

7. CONCLUSÕES

Ao longo do presente Projeto de Graduação buscou-se estudar a fundo a

estabilidade global de um edifício real. A partir das plantas do projeto estrutural, a

estrutura mista em aço e concreto armado da edificação foi modelada

computacionalmente no programa de elementos finitos SAP2000 15.

Seguindo as premissas das normas brasileiras, o edifício foi carregado com ações

permanentes e variáveis, dentre estas o vento, carga horizontal de maior relevância. De

forma a avaliar a importância dos elementos que compõe o problema da estabilidade em

estruturas aporticadas, diversas análises foram propostas.

Inicialmente, foram processadas duas análises, cujo objetivo era a classificação

do edifício quanto a sua deslocabilidade. Seguindo o procedimento indicado no item 4.9.4

da NBR 8800:2008, a estrutura foi considerada de média deslocabilidade. Esta

classificação foi posteriormente confirmada pelo método simplificado da norma, através

do coeficiente B2.

Em sequência, aplicadas as imperfeições iniciais geométricas e de material, a

combinação de ações em Estado Limite Último mais desfavorável foi analisada. Os

resultados em 2ª ordem mostraram que os deslocamentos laterais são elevados no ELU,

ainda que a estrutura tenha encontrado uma configuração de equilíbrio. A análise indicou

também um grande aumento dos momentos fletores nos pilares, enfatizando-se a

necessidade da consideração dos efeitos de não-linearidade geométrica no

dimensionamento dos elementos do edifício.

A norma de estruturas de aço e mistas, em seu Anexo D, apresenta o chamado

método da amplificação dos esforços solicitantes, análise aproximada dos efeitos de 2ª

ordem nos elementos. Este método foi aplicado na seção 6.3.1. O procedimento mostrou-

se extremamente trabalhoso para uma estrutura tão grande quanto o edifício considerado.

Foram necessárias diversas análises para se levantar todos os parâmetros que compõem

as fórmulas matemáticas.

75

Por isso, ainda que os resultados obtidos tenham sido equivalentes àqueles da

análise em 2ª ordem, conclui-se que, tendo em mãos as ferramentas computacionais, esta

última é mais rápida e eficiente.

A terceira análise realizada foi uma avaliação dos deslocamentos máximos da

estrutura, em combinação de serviço frequente e considerando os efeitos de não-

linearidade. Os valores encontrados ficaram abaixo dos limites propostos pela NBR

8800:2008, o que demostra a adequação do projeto no que se refere a resistência a

esforços laterais.

Por fim, foi proposta a introdução de um sistema de contraventamento dedicado

no edifício, formado por pórticos treliçados, com cruzes Sto. André. Esta análise teve fins

puramente acadêmicos, visto que a mudança impactaria de forma muito importante os

projetos de arquitetura e estruturas.

O contraventamento obteve resultados extremamente satisfatórios. Os

deslocamentos horizontais apresentaram reduções da ordem de 90%. Além disso, ao

diminuir os movimentos na análise linear, os efeitos de 2ª ordem foram quase

completamente eliminados. Ressalta-se, porém, que a inclusão das treliças resultou numa

redistribuição das cargas axiais dos pilares, o que tornaria necessário uma reavaliação do

dimensionamento.

Enfim, no decorrer do trabalho foram discutidos os principais fatores que

influenciam a estabilidade de edifícios. Ao mesmo tempo, as análises estruturais

realizadas possibilitaram mapear o impacto de cada um destes fatores.

A afirmação definitiva de que o edifício estudado é estável globalmente

dependeria ainda da verificação de segurança dos elementos estruturais que o compõem,

o que não fez parte do escopo deste projeto. Também não foi avaliada a interação solo-

estrutura, que poderia ter impactos significativos nos valores dos deslocamentos laterais.

Este fato é especialmente relevante quando é considerada a possibilidade do perfil

geotécnico ser composto por solos moles, como frequentemente é o caso na região da Ilha

do Fundão. Assim, como sugestão para trabalhos futuros, recomenda-se uma análise dos

efeitos do solo na estabilidade do edifício.

76

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Janeiro, ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas.

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ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas.

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