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TENDO EM CONTA A RECUPERAÇÃO E VALORIZAÇÃO DE TODOS OS MATERIAIS ENVOLVIDOS NO ÂMBITO DA ECONOMIA CIRCULAR NO SETOR DA CONSTRUÇÃO

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  • TENDO EM CONTA A RECUPERAÇÃO E VALORIZAÇÃO DE TODOS OS MATERIAIS ENVOLVIDOS NO ÂMBITO DA ECONOMIA CIRCULAR NO SETOR DA CONSTRUÇÃO

  • ESTUDO DA DESCONSTRUÇÃO DO EDIFÍCIO JARDIM

    EM VIANA DO CASTELOTENDO EM CONTA A RECUPERAÇÃO E VALORIZAÇÃO DE TODOS OS MATERIAIS

    ENVOLVIDOS NO ÂMBITO DA ECONOMIA CIRCULAR NO SETOR DA CONSTRUÇÃO1ª Edição: Braga, Julho 2019

    Autor: Aline GuerreiroTextos: Aline Guerreiro e Carmen Lima

    Colaboração: Ana Flávia SilvaEm Parceria com: Quercus - Associação Nacional de Conservação da Natureza

    Edição: Portal da Construção SustentávelDesign Gráfico: Aline Guerreiro, Ana Flávia Silva, Vasco Vieira

    [email protected]

  • ÍNDICE

    INTRODUÇÃO ............................................................................................6

    OBJETIVO ..................................................................................................7

    CAPÍTULO I - O PROCESSO DE DESCONSTRUÇÃO: O CASO DE ESTUDO DO EDIFÍCIO JARDIM ........................................................................................9

    1. ENQUADRAMENTO .......................................................................................................10

    2. DESCONSTRUÇÃO DE EDIFÍCIOS ..............................................................................11

    2.1. DEFINIÇÃO ......................................................................................................12

    2.2. PROCESSO ......................................................................................................12

    2.3. DURAÇÃO .........................................................................................................13

    2.4. ECONOMIA .......................................................................................................13

    3. DESCONSTRUÇÃO VS DEMOLIÇÂO ...........................................................................13

    3.1. BENEFÍCIOS AMBIENTAIS ...............................................................................14

    3.1.1. Resíduos sólidos ..................................................................................14

    3.1.2. Recursos e eficiência energética .........................................................14

    3.2. BENEFÍCIOS SOCIAIS .....................................................................................15

    3.3. BENEFÍCIOS ECONÓMICOS ...........................................................................16

    4. DESAFIOS DA DESCONSTRUÇÃO ..............................................................................16

    4.1. VIABILIDADE DA DESCONSTRUÇÃO .............................................................17

    4.2. MERCADO DE MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO EM 2ª MÃO ..........................19

    4.3. PROCESSO DE DESCONSTRUÇÃO ..............................................................20

    5. EDIFÍCIO JARDIM (PRÉDIO COUTINHO) .....................................................................21

    5.1. INVENTÁRIO .....................................................................................................21

    5.2. AVALIAÇÃO AMBIENTAL DO LOCAL ...............................................................25

    5.3. DESCONSTRUÇÃO ..........................................................................................26

    5.4. TRABALHOS DE DEMOLIÇÃO.........................................................................28

    5.4.1. Demolição Progressiva ........................................................................29

    5.4.2. Mecanismos deliberados de colapso ...................................................29

    5.4.3. Desconstrução .....................................................................................29

    5.4.4. Limpeza do local ..................................................................................29

    6. MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO USADOS ....................................................................30

    6.1. GESTÃO DE MATERIAL DE CONSTRUÇÃO USADO .....................................30

    6.2. MERCADO DE MATERIAIS PROVENIENTES DE DESCONSTRUÇÃO .........32

    CAPÍTULO II - PLANO DE PREVENÇAO E GESTÃO DE RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO DO PROCESSO DE DESCONSTRUÇÃO DO EDIFÍCIO JARDIM ............................................................................................33

    1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................34

    2. DEFINIÇÕES ..................................................................................................................35

    3. DADOS GERAIS DA ENTIDADE RESPONSÁVEL PELA OBRA ...................................36

    4. DADOS GERAIS DA OBRA ............................................................................................36

    5. RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO (RCD) ................................................36

    5.1. CARACTERIZAÇÃO DA OBRA .........................................................................36

    5.2. CARACTERIZAÇÃO SUMÁRIA DA OBRA A EFETUAR ...................................37

    5.3. DESCRIÇÃO SUCINTA DOS MÉTODOS CONSTRUTIVOS ............................38

    5.4. DESCONTAMINAÇÃO DO EDIFÍCIO ...............................................................38

    5.5. REMOÇÃO DOS MATERIAIS SUSCETÍVEIS DE REUTILIZAÇÃO ...............40

    5.6. REMOÇÃO DOS MATERIAIS SUSCETÍVEIS DE RECICLAGEM ....................41

    6. ANÁLISE AOS MATERIAIS E RESÍDUOS ....................................................................42

    7. PRODUÇÃO DE RCD .....................................................................................................44

    8. INCORPORAÇÃO DE RECICLADOS ............................................................................46

    10. TRANSPORTE DE RESÍDUOS ....................................................................................48

    11. MONITORIZAÇÃO E CONTROLO ...............................................................................48

    12. BALANÇO FINANCEIRO DA GESTÃO DOS RCD ......................................................48

    CONCLUSÕES / RECOMENDAÇÕES ....................................................51

  • 76

    ESTUDO DA DESCONSTRUÇÃO DO EDIFÍCIO JARDIM EM VIANA DO CASTELO ESTUDO DA DESCONSTRUÇÃO DO EDIFÍCIO JARDIM EM VIANA DO CASTELO

    INTRODUÇÃO

    A desconstrução ou demolição seletiva de um edifício é um processo que se caracteriza pelo seu desmantelamento cuidadoso, de modo a possibilitar a recuperação de materiais e componentes da construção, promovendo a sua reutilização e reciclagem. A necessidade deste conceito surge em virtude do rápido crescimento da demolição de edifícios e da evolução das preocupações ambientais. A desconstrução possibilita novas oportunidades de negócio, uma vez que abre caminho à valorização e reutilização de elementos e materiais de construção que, de outra forma, seriam tratados como resíduos sem qualquer valor e removidos para locais de depósito, por vezes ilegais.

    Para que um edifício possa ser desconstruído seletivamente, há que prever, a montante, o seu projeto de desconstrução, onde serão indicados no projeto de execução a montagem de cada solução construtiva e desmontagem dessa mesma solução, com indicação do potencial de reuso ou de reciclagem de cada um dos materiais e componentes que a compõem. Acontece muitas vezes que o que foi ontem um edifício funcional. é hoje uma pilha inútil de entulho. Este é o processo comummente utilizado: o edifício é construído e, quando deixa de responder às necessidades, é demolido. O fluxo de materiais é muito simples: os materiais provêm da nova produção de materiais, são colocados nos edifícios e o desperdício - seja construção, renovação ou demolição - entra nos depósitos, como referido, por vezes ilegais.

    Esta visão simples e linear do fluxo de materiais está profundamente enraizada na nossa experiência pessoal diária, e é esta visão que se pretende mudar, no caso, para os edifícios. Pretende-se que este desafio, com grande potencial de exploração, possa gerar grandes poupanças ambientais, sociais e económicas nos processos de construção/reabilitação e demolição de edifícios.

    OBJETIVO

    O objetivo deste estudo não é apenas examinar os trabalhos de desconstrução do edifício em questão, avaliando técnicas e métodos, mas também investigar a viabilidade da sua desconstrução. Sendo este um trabalho meramente teórico, uma vez que a parte prática de iniciar a desconstrução do referido edifício tem vindo a ser adiada incessantemente devido a processos judiciais interpostos que no nosso país tem razão de ser, os resultados poderão ser alterados na fase de obra, pois é nessa fase que é possível averiguar a verdadeira realidade do estado da arte. No entanto, os dados recolhidos ajudar-nos-ão a ter uma perceção do esperado.

    Ao observar os edifícios que compõem o complexo habitacional “Edifício Jardim” em Viana do Castelo, para estudar os seus possíveis processos de desconstrução e demolição, foi possível determinar os problemas que provavelmente irão surgir, inerentes aos tipos de materiais e componentes de construção e respetivas conexões usadas na instalação dos mesmos que provavelmente darão origem a dificuldades, durante a desconstrução.

    Espera-se assim, no entanto, que os resultados deste estudo encorajem os investigadores em Portugal a dar especial atenção à recuperação e reutilização de materiais de construção em 2ª mão, do ponto de vista económico, ambiental e social.

    Este estudo está dividido em dois capítulos. Numa primeira fase, foi realizado o levantamento e análise do edificado, contabilizados os materiais, dividindo-os em três categorias:

    • Reutilizáveis (significa que poderão ser reutilizáveis tal como estão)• Recicláveis (significa que serão encaminhados para destinos valorizáveis)• Não valorizáveis (significa que irão para aterro)

    Numa segunda fase, com o apoio da Quercus (Associação Nacional de Conservação da Natureza), foi desenvolvido um PPGRCD (Plano de Prevenção e Gestão de Resíduos de Construção e Demolição), de forma a perceber detalhadamente as vantagens deste plano cumprido de forma pormenorizada e rigorosa. Neste sentido, a abordagem proposta pela Quercus para os materiais e equipamentos existentes no prédio em estudo, foca a realização de um diagnóstico que determine as características dos mesmos, de forma a prolongar o seu ciclo de vida na sua função original ou, caso o mesmo não seja possível, promovendo a sua segregação e determinação da operação de destino final considerando a injeção de circularidade ao processo de gestão dos RCD desta obra.

    Assim, a intervenção proposta pelo presente estudo assenta claramente nos princípios de uma economia mais circular, afastando-se do conceito linear de “extração, produção e eliminação”, focando-se na preservação e recuperação do capital natural de cada material ou equipamento e na minimização da produção de desperdícios (RCD – Resíduos de Construção e Demolição), centrando-se num modelo de “fecho do ciclo”, em toda a cadeia de valor.

  • 98

    ESTUDO DA DESCONSTRUÇÃO DO EDIFÍCIO JARDIM EM VIANA DO CASTELO ESTUDO DA DESCONSTRUÇÃO DO EDIFÍCIO JARDIM EM VIANA DO CASTELO

    CAPÍTULO I

    O PROCESSO DE DESCONSTRUÇÃO: O CASO DE ESTUDO DO EDIFÍCIO JARDIM

    Por Aline Guerreiro, Arquiteta

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    ESTUDO DA DESCONSTRUÇÃO DO EDIFÍCIO JARDIM EM VIANA DO CASTELO CAPÍTULO I - O PROCESSO DE DESCONSTRUÇÃO: O CASO DE ESTUDO DO EDIFÍCIO JARDIM

    1. ENQUADRAMENTO

    De acordo com Sherman (1998), a preservação, em detrimento de desconstrução ou demolição, deve ser sempre a primeira consideração ao decidir o que fazer a um edifício antigo. Edifícios com relevância histórica ou arquitetónica devem ser conservados intactos, contudo, este não é o caso do edifício em estudo. A sua demolição foi considerada precisamente por questões inestéticas.

    O complexo habitacional “Edifício Jardim” vulgarmente conhecido por Prédio Coutinho é um prédio situado em Viana do Castelo, construído na segunda metade da década de 1970. O edifício de 13 andares está situado em pleno centro histórico da cidade e tem a sua demolição prevista desde o ano 2000, ao abrigo do programa Polis, para ali ser construído o novo mercado municipal.

    Em Julho de 1972 a Câmara Municipal de Viana do Castelo decidiu vender em hasta pública o terreno, de 975m², do então mercado municipal. Fernando Coutinho, na altura emigrante no Zaire (atual República Democrática do Congo), avançou com o negócio, o prédio nasceu com uma frente de 13 andares e um outro edifício de apoio. A sua volumetria (13 andares) no centro histórico de uma cidade de província, situado junto às margens do rio Lima suscitou desde logo diversas polémicas.

    A primeira tentativa de demolição deu-se em Janeiro de 1975, quando a Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Viana do Castelo pediu 70 mil contos (350 mil euros) ao ministro da administração interna, para o efeito, sem sucesso. Em Março de 1990 foi anunciado que se iria cortar o Edifício Jardim até ao sexto piso, mais uma vez sem êxito.

    Assistiu-se a uma pausa (por falta de verbas), durante alguns anos. Em 2005, a polémica foi relançada. Surgiu um braço-de-ferro entre os proprietários do referido imóvel que não queriam perder as frações, a Câmara Municipal de Viana do Castelo e o governo que queriam a sua demolição. A 16 de Agosto de 2005 foi publicada em Diário da República a declaração de utilidade pública da expropriação do prédio. A Polis de Viana tomou posse administrativa de frações do referido prédio em Setembro de 2006, mas o tribunal anulou a decisão da Viana Polis. O caso fez correr rios de tinta, com os proprietários a impedirem o derrube do referido prédio (através de providências cautelares) e o governo a defender a sua demolição e o realojamento dos moradores e proprietários.

    Em Setembro de 2008, das 105 frações do prédio, 63 estavam na posse de moradores e 42 da Viana Polis. Em Novembro de 2009, 60 estavam na posse da Viana Polis, morando no prédio 20 pessoas. Em 1 de Janeiro de 2010, morre o empresário Fernando Coutinho com 92 anos. Era proprietário de 18 frações.

    Depois de várias ações judiciais interpostas pelos moradores foi tornado publico, no final de 2013, que todas foram favoráveis nas primeiras e segundas instâncias à sociedade Viana Polis. Em fevereiro de 2014, das 105 frações que constituem aquele prédio, 47 foram adquiridas por acordo, 16 por via litigiosa, enquanto em 42 - abrangidas pelos processos movidos pelos moradores - a expropriação permaneceu suspensa.

    Em abril de 2017, foi feito um pedido de abertura de procedimento de classificação de Bem Imóvel de Interesse Público do Edifício Jardim. O pedido enviado à Direção-Geral do Património Cultural (DGPC), por um movimento cívico, que integra alguns moradores e figuras públicas. O primeiro subscritor era o arquiteto Fernando Maia Pinto, antigo diretor da Escola Superior Artística do Porto e do Museu do Douro, e a ele juntaram-se o jornalista Joaquim Letria, os antigos presidentes do

    CDS-PP Manuel Monteiro e José Ribeiro e Castro (advogado), e o professor catedrático Jorge Ribeiro de Melo. O pedido foi rejeitado, pois o Edifício Jardim / Prédio Coutinho não possuía um valor patrimonial de âmbito nacional.

    Em março de 2018, uma providência cautelar interposta no Tribunal Administrativo e Fiscal de Braga pelos moradores que ainda habitam o prédio travou o processo de despejo, cujo prazo terminava no final de março.

    No momento restam menos de dez moradores, cujo despejo teve data limite prevista para dia 24 de junho de 2019, na sequência de uma decisão do Tribunal Administrativo e Fiscal de Braga (TAFB) que declarou improcedente a providência cautelar movida em março de 2018. Mas, no início de julho de 2019, o Tribunal Administrativo e Fiscal (TAF) de Braga aceitou a providência cautelar movida pelos últimos moradores do prédio, ficando assim suspensos os despejos.

    2. DESCONSTRUÇÃO DE EDIFÍCIOS

    Iremos entender por desconstrução um processo de desmontagem cuidadosa e seletiva de um edifício ou estrutura, e seus componentes, subcomponentes e materiais, com o objetivo de maximizar sua recuperação para reutilização, reciclagem e/ou revenda.

    Segundo Sherman (1998), o processo de desconstrução é exatamente o processo contrário ao de construção de um novo edifício. As estruturas são desmontadas a partir da ordem inversa da sua construção. Existem cinco etapas básicas de desconstrução:

    1. Remover o trabalho de acabamento, incluindo os rodapés, portas e aros2. Retirar acessórios de cozinha e I.S., como torneiras, armários, lavatórios, acessórios de outras divisórias, como aquecedores3. Remover o revestimento de parede, papel de parede, todas as fixações, isolamentos e canalizações 4. Desmontar a cobertura5. Desmontar as paredes, a estrutura, piso a piso (um piso de cada vez) de cima para baixo

    Em cada etapa do processo de desconstrução, são removidos todos os componentes dos materiais, e.g. pregos, dobradiças, etc., e todos os materiais recuperados, devem ser limpos, classificados e armazenados para reutilização futura.

    Se a construção de um edifício é um processo lento e cuidadoso e requer muitas pessoas, grandes quantidades de material, ferramentas, equipamentos e um longo período de tempo, a desconstrução deve sê-lo na mesma proporção, para que possa ser a sequência inversa do processo de construção e que possam ser reaproveitados e reutilizados os materiais ainda em boas condições. Sendo que os que não podem ser reutilizados devem ser encaminhados para destinos valorizáveis e, apenas para aterro, os materiais perigosos, impossibilitados de qualquer valorização.

    Para entendermos melhor o termo “desconstrução”, apresentamos de seguida distinções entre as práticas de desconstrução e demolição com vista à sua definição, processo, duração e economia.

  • 1312

    ESTUDO DA DESCONSTRUÇÃO DO EDIFÍCIO JARDIM EM VIANA DO CASTELO CAPÍTULO I - O PROCESSO DE DESCONSTRUÇÃO: O CASO DE ESTUDO DO EDIFÍCIO JARDIM

    2.1. DEFINIÇÃO

    Entende-se a desconstrução como tendo duas fases. Tratando-se de uma atividade na qual o processo de construção é invertido a fase inicial, será a fase de desmantelamento: trata-se da desmontagem de componentes e materiais de construção sem os danificar, após o que, uma segunda fase a estrutura será desmontada e removida através de uma demolição.

    A demolição é um termo usado para um processo de desconstrução intencional: isto é, demolir ou destruir um edifício ou uma estrutura. Sem qualquer cuidado na separação de componentes.

    Assim, podemos ver a desconstrução como uma técnica top down ou demolição desde a cobertura até ao solo, sempre com o objetivo de maximizar o potencial de reutilização, reciclagem e revenda dos seus materiais e componentes.

    Já a demolição tradicional de um edifício significa demolir de tal forma que os seus materiais e componentes são inúteis e vão para o aterro.

    2.2. PROCESSO

    Processos distintos são aplicados na desconstrução e na demolição de edifícios. A desconstrução necessita de mão de obra, ferramentas simples e, às vezes, equipamentos mecânicos para desmontar estruturas e recuperar os seus componentes para prioritariamente os reutilizar e, numa segunda fase, reciclar ou valorizar.

    Já a demolição utiliza máquinas e equipamentos mecânicos mais pesados para demolir os edifícios, misturando intencionalmente materiais potencialmente reutilizáveis com resíduos que irão para aterro.

    Durante a desconstrução, a reutilização e a reciclagem de materiais recuperados são sempre consideradas. O processo de reutilização e reciclagem pode ser feito durante ou depois do processo de demolição estrutural. A técnica de desconstrução é realizada de forma a preparar o caminho para o colapso deliberado daquilo que já não é possível separar, nem desconstruir seletivamente. A desconstrução pode ser feita à mão, com máquinas, técnicas de rebentamento ou corte a quente. É possível separar os resíduos de demolição com as tecnologias atuais, como escavadeiras hidráulicas, pulverizadores, britadores de betão e outros equipamentos. Estes processos podem maximizar o uso de materiais para revenda e reduzir os resíduos produzidos e, consequentemente, os custos de encaminhamento de resíduos para aterro.

    A demolição tradicional envolve apenas a demolição mecânica, resultando numa pilha de resíduos misturados para serem enviados para aterro. Aparentemente, a demolição é uma atividade rápida e barata para a remoção de um edifício; no entanto, não são considerados os impactes ambientais causados pelo desperdício causado. A prática de demolição não estima os materiais que poderiam ser recuperados, apenas o trabalho para remover a estrutura e o custo para aterrar os resíduos.

    Por outro lado, o processo de desconstrução tem muitas etapas e considerações, desde o processo de licenciamento constante no PPGRCD, avaliação do edifício a desconstruir, calendarização, segurança até técnicas de desmantelamento seletivo, processamento, classificação, marketing e revenda de materiais reutilizáveis. Assim, entende-se que, enquanto a demolição é altamente mecanizada, intensiva em capital e processo de geração de resíduos, a desconstrução é intensiva em mão-de-obra, baixa em tecnologia e, como consequência é ambientalmente mais saudável.

    Mas, a opção por demolir em vez de desconstruir depende de alguns fatores determinantes, como: • Quantidade e a qualidade dos materiais que podem vir a ser recuperados• Existência de mercado para o material recuperado• Presença (ou ausência) de materiais perigosos• O seu impacte no processamento de novos produtos• Tempo disponível para a remoção do edifício

    2.3. DURAÇÃO

    Há também diferenças entre desconstrução e demolição no que se refere ao tempo de duração. Se a demolição demora alguns dias, a desconstrução demorará por certo algumas semanas. Isto deve-se ao fato de que a desconstrução é muito trabalhosa e requer mais tempo para a remoção do edifício.

    2.4. ECONOMIA

    A grande diferença entre desconstrução e demolição é o custo do trabalho. Segundo Guy (2003), o custo dos trabalhos de desconstrução poderá ser mais alto que os de demolição. Contudo, a desconstrução pode ajudar a economizar muito mais dinheiro e gerar mais receita do que a demolição se todos os fatores económicos forem considerados, ou seja, incluindo o valor de revenda de material recuperado, custos de transporte de resíduos e de descarte evitados, e custos da deposição em aterro. Além disso, Macozoma (2001) afirma que o lucro líquido da desconstrução pode ser enorme pelo aumento no desvio de resíduos de construção e demolição (RCD) de aterros para destinos valorizáveis.

    3. DESCONSTRUÇÃO VS DEMOLIÇÂO

    A desconstrução é uma solução para reduzir a extração de recursos naturais e a quantidade de resíduos resultantes de obras de construção e demolição. Ao contrário de demolição, o conceito emprega novas abordagens de reutilização e reciclagem, e os materiais passam a ser desviados dos aterros. Assim, os resíduos evitados e recuperados podem ser convertidos em materiais secundários úteis e desenvolver um novo mercado de materiais para a indústria da construção.

    Alguns aspetos chave da desconstrução a ter em conta, descritos por Seldman e Jackson (2004) e Macozoma (2001):

    • É uma alternativa à demolição de edifícios com desperdício de materiais• É uma técnica para remoção de edifícios com benefícios ambientais, económicos e sociais• É uma estratégia que pode ser usada para reduzir a produção de resíduos• É uma ferramenta de renovação para ajudar a desmantelar, renovar e reutilizar edifícios antigos e abandonados• É uma estratégia de economia comunitária para ajudar a criar emprego, novas atividades empresariais e usar recursos locais• Estimula o desenvolvimento de empresas locais• Desvia materiais de aterros e incinerações• Reduz a dependência da indústria de materiais de construção a recorrer a materiais virgens• Lida com o desmantelamento de edifícios para maximizar reutilização• Usa métodos intensivos de trabalho acessíveis a qualquer um• Oferece novas oportunidades de emprego• Apoia um novo mercado secundário de materiais de construção

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    ESTUDO DA DESCONSTRUÇÃO DO EDIFÍCIO JARDIM EM VIANA DO CASTELO CAPÍTULO I - O PROCESSO DE DESCONSTRUÇÃO: O CASO DE ESTUDO DO EDIFÍCIO JARDIM

    Segundo Kibert e Chini (2000), os benefícios da desconstrução são significativos, e quando comparados com a demolição, são vantajosos. O principal benefício vem do fato de que os materiais serão desviados do aterro e esse recurso é então preservado. Guy (2001) afirma que o benefício específico de desconstrução sobre a demolição tradicional depende do projeto. Contudo, a recuperação e reutilização de materiais de construção tem um impacte ambiental, económico e social benéfico. Além destas três vantagens, os benefícios históricos da desconstrução não devem ser esquecidos.

    3.1. BENEFÍCIOS AMBIENTAIS

    Os benefícios ambientais da desconstrução são talvez os mais importantes, mas muitas vezes permanecem despercebidos quando comparados com os aspetos sociais e económicos. Cada benefício depende de outro, ou seja, há um loop de benefícios. A desconstrução de edifícios ajuda a desviar grandes volumes de resíduos de construção e demolição dos aterros, o que ajuda a conservar estas áreas e a prolongar a sua vida útil.

    A desconstrução ajuda assim a reduzir a produção de resíduos, reduzindo a quantidade de resíduos depositados em aterros. Isso diminui não apenas as emissões de gases com efeitos nocivos, mas também tem um impacte direto a nível local. É um fato conhecido que as instalações de descarte são convencionalmente localizadas em áreas de baixa renda e minoritárias. Estas áreas, normalmente, apresentam risco potencial à saúde. Os cidadãos são submetidos a uma série de calamidades ambientais devido a toxinas transportadas pelo ar por incineração, e são expostas à poluição de águas subterrâneas resultantes do descarte inadequado de materiais contaminados (ILSR, 2004)

    3.1.1. Resíduos sólidos

    A indústria da construção é responsável pelas enormes quantidades de resíduos gerados e descartados, muitos dos quais com potencial de reutilização ou de reciclagem. Estima-se que a atividade de desconstrução possa recuperar milhões de toneladas de RCD para reutilização e reciclagem. Ao reduzir a produção de resíduos, a desconstrução também diminui as emissões de gases nocivos e a necessidade de aterro e incineração. Mais importante ainda, ajuda a direcionar a indústria de RCD das atividades tradicionais de consumo e deposição para a sustentabilidade e a reutilização.

    Uma vez que a quantidade de resíduos gerados pela construção e demolição de edifícios tende a aumentar e a gerar impactes ambientais negativos, a indústria da construção torna-se cada vez mais poluente.

    3.1.2. Recursos e eficiência energética

    O potencial de redução de consumo de materiais virgens que a atividade de desconstrução oferece, ajuda a preservar os recursos naturais e a proteger o ambiente da poluição do ar, do solo e da água associada à extração, processamento e descarte de matérias-primas.

    Sherman (1998) aponta que a desconstrução de edifícios também contribui para a conservação de energia e matérias-primas. Mais de um terço das matérias-primas que entram anualmente na economia global são consumidas pela indústria da construção. Estima-se que aproximadamente 40% da energia gasta no mundo é destinada à construção e à operação (utilização) de edifícios. De toda a energia consumida pelo setor da construção, apenas 15% energia é usada diretamente no estaleiro de obras e cerca de 85% para produção e transporte de materiais usados em novas construções. Estes níveis de consumo de energia podem ser reduzidos significativamente pela

    desconstrução de edifícios e reutilização dos materiais no local.

    Segundo Macozoma (2001), o reaproveitamento de materiais para reutilização preserva a energia incorporada, que já está presente nos próprios materiais. Consequentemente, a desconstrução ajuda a fechar o ciclo de fluxo de materiais, contribuindo para a recuperação de recursos na construção.

    3.1.3. Toxicidade e Substâncias Perigosas

    A desconstrução proporciona uma inspeção detalhada, dos edifícios, para substâncias perigosas, que, por vezes, é desconsiderada na demolição indiferenciada. O que permite a separação adequada e segura de materiais residuais perigosos. A desconstrução também diminui o amianto e outras perigosidades presente no ar, e.g. partículas de chumbo e/ou outras poeiras na atmosfera que seriam criadas pela demolição (Macozoma, 2001).

    A desconstrução requer um rigoroso protocolo de saúde e segurança ambiental para gerir quaisquer substâncias perigosas e para proteger a saúde dos trabalhadores. Esta atenção contribui para a redução de impactes futuros, com o descarte de materiais que contêm, por exemplo amianto, ou outros materiais poluentes, como tintas à base de chumbo. Graças à versão ecologicamente correta da demolição, a libertação de materiais perigosos da quebra, britagem, abrasão e trituração, geralmente associada à demolição mecânica, é eliminada. A análise da oportunidade de reutilização dos materiais em novas construções ajuda a diminuir os riscos à saúde humana, de materiais perigosos e prolonga a vida útil de outros, reutilizáveis.

    3.2. BENEFÍCIOS SOCIAIS

    A desconstrução requer a desmontagem e recuperação de materiais e componentes da estrutura manualmente, o que ajuda a criar oportunidades de emprego enquanto poderá atrair empresas locais. A desconstrução pode criar oportunidades de emprego para trabalhadores não qualificados ou pouco qualificados. O trabalho de desconstrução fornece mais trabalho para a remoção de edifícios, enquanto a demolição emprega menos mão de obra e apenas para operar equipamentos mecânicos. Já a desconstrução tem dois desdobramentos principais para a indústria da construção civil: a formação de mão de obra no ramo da construção e a criação de uma reserva maior de recursos trabalhistas.

    Chini e Bruening (2003) afirmam que a desconstrução cria mais oportunidades de emprego e formação de mão de obra pouco qualificada do que a demolição. O que proporciona à comunidade oportunidades de emprego e carreira, estimulando a economia local. Essas habilidades aprendidas com práticas de desconstrução também são comercializáveis na indústria da construção. Enquanto o trabalhador aprende como um edifício é desconstruído, também aprende como o mesmo é construído. A desconstrução é assim, uma solução eficiente para a regeneração da comunidade, empregando mão de obra local e usando recursos locais para desmontar, coletar e distribuir materiais recuperados. A distribuição de material recuperado ajuda a desenvolver novos negócios, como materiais de construção usados para as comunidades (Macozoma, 2001).

    A desconstrução é mais trabalhosa que a demolição mecânica e também requer um conjunto diferente de habilidades de trabalho, que são, algumas delas, semelhantes às necessárias para construir edifícios novos, como:

    • Segurança no trabalho• Uso de ferramentas adequadas• Trabalho em equipa• Especialidade de carpintaria básica

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    ESTUDO DA DESCONSTRUÇÃO DO EDIFÍCIO JARDIM EM VIANA DO CASTELO CAPÍTULO I - O PROCESSO DE DESCONSTRUÇÃO: O CASO DE ESTUDO DO EDIFÍCIO JARDIM

    Pesquisas já realizadas indicam que a recuperação e a desconstrução de recursos para reutilização e reciclagem podem exigir dez vezes mais horas de trabalho do que a demolição e descarte de recursos em aterro. Mas, este tipo de trabalho é taxado a uma remuneração mais baixa comparada com a de um operador de máquina pesada para demolição mecânica (Guy, 2001).

    3.3. BENEFÍCIOS ECONÓMICOS

    Os benefícios económicos da desconstrução são cruciais. À medida que a infraestrutura das cidades envelhece e a necessidade de aumento de áreas residenciais cresce devido ao crescimento populacional e ao aumento da migração para áreas urbanas, haverá uma exigência maior de renovação e recuperação dos edifícios existentes. Haverá uma maior necessidade de reutilizar todo o tipo de materiais de construção, devido à disponibilidade de materiais recuperáveis, aumento da necessidade de habitação, aumento do custo de eliminação, aumento dos combustíveis fósseis para transporte e dos seus impactes no ambiente. Estas condições estimularão a viabilidade económica e ambiental da desconstrução e reutilização de um empreendimento, como sendo a opção mais sustentável (Guy, 2001).

    De acordo com Macozoma (2001), a desconstrução e recuperação de materiais para reutilização e reciclagem pode reduzir os custos da atividade de demolição de edifícios e gerar receita extra. Acrescenta outros benefícios económicos da desmontagem de edifícios, incluindo:

    • A redução de custos com o transporte e descarte evitados dos RCD• Despesas evitadas para o desenvolvimento de novos aterros devido à vida prolongada dos existentes• Custos evitados no fecho de aterros existentes• Dedução de custos com materiais virgens• Desenvolvimento de um novo fluxo económico, ou seja, de materiais secundários• Nova indústria de materiais recuperados, reciclados e fabricantes de produtos de conteúdo reciclado • Geração de receita a partir da revenda de materiais residuais recuperados• Melhoria do desempenho financeiro da indústria da construção, devido aos custos reduzidos de energia e poluição

    Segundo Chini e Bruening (2003), além de benefícios ambientais e sociais, a desconstrução é uma alternativa custo-efetiva à demolição. Vários estudos mostraram que os custos totais de desconstrução são geralmente mais altos; no entanto, a revenda de materiais recuperados torna a desconstrução uma solução mais barata para a remoção de edifícios do que a demolição. A desconstrução e a reutilização de materiais de construção estimulam a economia, permitindo a criação de um mercado de materiais recuperados. Este mercado desperta o desenvolvimento de negócios locais e a disponibilidade de materiais de construção baratos.

    4. DESAFIOS DA DESCONSTRUÇÃO

    Há vários desafios a enfrentar pela atividade de desconstrução de edifícios. Por exemplo, materiais modernos, como madeira prensada e placas compostas são geralmente difíceis de remover. Além disso, novas técnicas de construção como os materiais colados e o uso de fixadores de alta tecnologia representam uma barreira para desconstrução.

    Outro problema são os materiais perigosos. Como por exemplo os que contém amianto. O amianto pode ser encontrado em tubagens, papel de parede, tetos falsos, azulejos, coberturas em fibrocimento, vinil, calafetagem de caixilharias, estores, (...) A remoção deste material exige equipamentos especiais e formação especial dos trabalhadores.

    Um outro desafio à desconstrução é que esta depende da revenda bem-sucedida dos componentes de construção recuperados e, a menos que os materiais possam ser comercializados e vendidos num curto espaço de tempo, é virtualmente impossível que a desconstrução seja lucrativa. Por essa razão, os gostos e perceções dos consumidores quanto ao uso de materiais de construção recuperados e reciclados representam uma barreira à desconstrução. Arquitetos e arquitetos paisagistas têm uma influência potencial para o uso de materiais recuperados em novas construções. Enquanto os arquitetos tendem a ser mais abertos ao uso de materiais usados e reciclados, os construtores e empreiteiros tendem a não os aceitar facilmente. A atitude predominante dos consumidores/clientes continua a ser a de que materiais de construção reutilizados e reciclados são ecologicamente corretos, mas abaixo do padrão/de má qualidade. De acordo com vários arquitetos e construtores, eles usariam produtos usados e reciclados se os seus clientes os solicitassem.

    4.1. VIABILIDADE DA DESCONSTRUÇÃO

    Existem diferentes fatores que influenciam a viabilidade da desconstrução. Estes fatores representam tanto as oportunidades como as ameaças para a desconstrução. Os fatores que influenciam a viabilidade da desconstrução incluem:

    • Disponibilidade de edifícios a serem desconstruídos• As condições físicas dos edifícios• A atividade e a prática da construção local• A economia local• Os mercados secundários• A política vigente• Questões trabalhistas• Preocupações ambientais• Restrições de tempo• Apoio do governo• Códigos e especificações em vigor• Perceção pública de materiais secundários

    A viabilidade da desconstrução pode ainda ser avaliada com estes aspetos:• A desconstrução pode ser incorporada em estratégias para minimizar o desperdício da indústria da construção• A desconstrução pode ser usada em planos de renovação urbana para reabilitar edifícios delapidados • A desconstrução pode ser usada como uma ferramenta de regeneração económica da comunidade para criar oportunidades de emprego e desenvolvimento de negócios usando recursos locais

    Os fatores-chave na viabilidade da desconstrução são: • O tempo disponível para desconstruir• Os custos de mão-de-obra para desmontar “peça a peça”• Os custos locais de depósito do não valorizável• A valorização dos materiais de construção

    Outros fatores incluem o cronograma de trabalho, taxas de deposição em aterros, características da perigosidade dos RCD, viabilidade dos mercados de materiais em 2ª mão, sistemas de classificação de materiais, restrições económicas e de tempo, acordos contratuais e políticas públicas.No entanto, a regulamentação pode afetar significativamente o processo de desconstrução, bem como o tipo e localização de edifício a demolir. Assim como as condições do local, o tipo de

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    construção e sua integridade, a condição dos componentes, a escala do projeto e a idade do prédio. Sendo os fatores mais significativos, a inspeção invasiva de materiais perigosos, avaliação de stock de construção, processamento e fluxo de materiais e a combinação de desconstrução manual e mecânica.

    Assim, os fatores que influenciam a viabilidade da desconstrução podem ser resumidos em três subtítulos, fatores físicos, económicos e ambientais.

    Tabela 1. Fatores físicos de um edifício a desconstruir

    Fatores Físicos Descrição

    Tipo de edifício Multifamiliar, em banda, geminado ou unifamiliar (nº de pisos)

    Localização Centro da cidade, subúrbios, zona rural

    Contexto residencial Alto ou baixo nível social, alta ou baixa taxa de criminalidade, bairro antigo ou novo, bairro abandonadoAparência física Estruturalmente inseguro, muito ou pouco vandalizado

    Materiais predominantes Madeira, betão, ferro, alumínio, gesso, tijolo, etc

    Acessibilidades Acessível, pouco acessível, mobilidade...

    O potencial económico da atividade da desconstrução depende principalmente da relação entre a disponibilidade de materiais recuperáveis nos edifícios e a procura do mercado por materiais recuperados. Alguns dos fatores que podem influenciar esse relacionamento incluem a economia local e a atividade de construção na região, e obviamente os programas governamentais e incentivos, sendo que em Portugal ainda há muito a fazer nesta matéria.

    As equações para a demolição e desconstrução para estimar os lucros do trabalho, podem apresentar-se da seguinte forma:

    I. O lucro líquido da desconstrução é:

    II. O lucro líquido da demolição tradicional é:

    Adaptado de Guy (2001)

    De acordo com estas equações, pode-se interpretar que a desconstrução é economicamente viável se adequadamente gerida. A viabilidade da desconstrução depende muito do valor residual e dos custos de deposição do material não valorizável. Para a desconstrução ser economicamente viável, o valor residual e a receita da venda de materiais recuperados (em 2ª mão) são muito importantes e geram grande parte da receita. Além disso, uma oportunidade maior é a economia nos custos de transporte de deposição, uma vez que serão gerados uma quantidade consideravelmente menor de resíduos para depositar em aterro. O valor líquido da desconstrução aumenta pois aumenta o potencial de reutilização e reciclagem de materiais recuperados.

    A definição económica de uma intervenção voltada para a reciclagem e reutilização de materiais e componentes pode assim depender do seguinte:

    • Custos de diferentes demolições possíveis (tais como demolição controlada ou seletiva, desconstrução, escolha de materiais)• Custos de transporte de resíduos RCD• Taxas de eliminação de resíduos e taxas dos centros de tratamento de resíduos• Impostos ecológicos• Custos para tratamento de resíduos RCD no estaleiro de obras• Rendimentos da reutilização de materiais recuperados

    Todos estes custos dependem das características do contexto, como a presença de empresas locais especializadas em demolição controlada e seletiva, e de sistemas devidamente equipados com técnicas adequadas, e.g. demolição com jatos de água, a laser, discos de diamante, etc. Além disso, a desconstrução é uma atividade de mão de obra intensiva, requer mais horas de trabalho, habilidades específicas e medidas de segurança para os trabalhadores, comparando com as necessidades da demolição mecânica tradicional. Estes aspetos significam um aumento nos custos, no entanto, se adequadamente geridos, o retorno é quase garantido com a venda dos materiais recuperados.

    As questões ambientais, não devem, porém, ser descuradas. Pois, os danos ambientais são um custo enorme para todos. Devendo os indicadores ambientais ser levados em consideração, e.g.:

    • Carga de RCD no ambiente• Consumo e extração de novas matérias-primas• Disponibilidade de matérias-primas • Impactes relacionados com o transporte de RCD para aterro, com potencial de reutilização• Impactes acústicos e poluição por poeiras associados às diferentes técnicas de demolição (sobretudo as mecânicas)

    4.2. MERCADO DE MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO EM 2ª MÃO

    O sucesso da atividade de desconstrução depende da oferta e da procura de materiais recuperados. Por essa razão, existe uma necessidade tanto de fornecimento de materiais secundários quanto de mercados finais para garantir a sua distribuição.

    O grande problema hoje em dia que carece ultrapassar, e o caso em estudo é um bom exemplo disso, por se tratar de um edifício de 13 pisos e uma área de implantação considerável, tem a ver com o espaço de armazenamento para os materiais recuperados e com a localização dos mercados finais de venda, para que não se coloquem questões relacionadas com os custos de transporte e armazenamento de material valorizável. Logo, existe a necessidade de investimentos que promovam o estabelecimento de negócios de materiais em 2ª mão, i.e. lojas de material de construção usados, empresas de reciclagem que distribuam resíduos recuperados, fabricantes de produtos que usam matéria-prima secundária (subprodutos), entre outros.

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    4.3. PROCESSO DE DESCONSTRUÇÃO

    O empreiteiro, para a desconstrução seletiva, deve considerar algumas questões com mais detalhe do que quando usa o processo de demolição tradicional. Embora a metodologia específica seguida pela equipa de desconstrução possa ser variável, esta secção fornece um esboço do processo de desconstrução. As questões que compõem os elementos da desconstrução do edifício podem ser agrupadas como: licenciamento, inventário de material de construção, avaliação ambiental do local, planeamento da desconstrução, segurança do local, segurança do espaço, trabalho, programação, organização, desmontagem de edifícios, ferramentas, técnicas e métodos, processamento e manuseio de materiais e por fim limpeza do local.

    Figura 1. Fluxograma para o processo de demolição (Adaptado de Abdullah e Anumba, 2003)

    5. EDIFÍCIO JARDIM (PRÉDIO COUTINHO)

    Ao avaliar a viabilidade de desconstrução para um edifício ou uma estrutura, o primeiro e mais importante passo é um inventário detalhado de como e do que o edifício é feito. Fazer o inventário do edifício é o primeiro passo para avaliar até que ponto um edifício pode ser desconstruído.

    No processo de planeamento da desconstrução, a primeira decisão a ser tomada é se o prédio é um bom candidato à desconstrução, porque cada edifício pode não estar na condição física correta ou ter componentes certos para serem desconstruídos para o salvamento do material. A decisão pela desconstrução pode ser tomada de acordo com um inventário detalhado do edifício, este destina-se a identificar a rentabilidade do trabalho. O inventário ajuda a identificar métodos de construção e fixadores dos componentes e materiais perigosos.

    5.1. INVENTÁRIO

    Após avaliação como sendo uma inspeção não invasiva do edifício, foram contabilizados todos os materiais capazes de serem desconstruídos e reutilizados, para posterior venda em 2ª mão. Esta inspeção destinou-se a identificar cada tipo de material utilizado no edifício, a sua condição, a sua montagem na estrutura e o modo da sua fácil remoção.

    A inspeção de materiais foi dividida por:1. Reutilizáveis2. Valorizáveis/recicláveis3. Depósito em aterro

    Apesenta-se de seguida uma tabela que evidencia grandes quantidades de materiais passiveis de reutilização. No anexo I deste documento apresenta-se a contabilização exaustiva de todos os materiais.

    Tabela 2. Materiais passiveis de reutilizar (revenda):

    Material Descrição Quantidade

    • Lavatórios de casa de banho em cerâmica, com pé 180

    • Sanita em cerâmica 181

    • Bidé em cerâmica 179

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    • Banheira em cerâmica 94

    • Base de duche 74

    • Torneiras de lavatório 359

    • Misturadora com chuveiro 166

    • Bancada de cozinha em mármore 52.36 m2

    • Misturadora de cozinha 89

    • Pia de alumínio (cozinha) 89

    • Porta alumínio e plástico 24

    • Porta alumínio e vidro 109

    • Porta vidro e madeira 323

    • Porta madeira 559

    • Porta elevador em alumínio e vidro 89

    • Porta com janela lateral, de vidro e madeira 8

    • Porta de alumínio (1.5m) 1

    • Porta de alumínio (2.1m) 4

    • Porta de garagem em ferro 4

    • Porta dupla em alumínio e vidro, com puxadores metálicos 2

    • Complexo de portas e janelas laterais em alumínio e vidro 1

    • Porta de entrada para os apartamentos em madeira maciça e puxador metálico 166

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    • Porta de entrada em vidro com puxador de madeira 2

    • Portas em madeira maciça de armários embutidos (2,1x0,55m) 693

    • Portas de armário de madeira maciça de armários embutidos (2,7x0,9m) 144

    Plantas com indicação de todos os materiais no Anexo II

    Os restantes materiais são evidenciados no PPCRCD, no Capítulo II deste documento.

    Este processo de inspeção visual que conduziu ao inventário do edifício permite à equipa que vai fazer o trabalho de desconstrução avaliar a forma de como o desmontar desde as peças à estrutura, ao mesmo tempo que se poderão estimar os valores de mercado, tanto dos materiais para revenda, como dos valorizáveis/recicláveis.

    Este inventário tornou-se bastante exaustivo para que a equipa de desmonte possa averiguar todos os custos associados. No entanto, este inventário só pode obter medidas exatas no próprio processo de desconstrução e levantamento in situ de todos os materiais na sua verdadeira grandeza, uma vez que alguns deles foram obtidos por aproximação, pois muitos dos apartamentos não estavam visitáveis. Ainda assim, foi possível incluir itens como o número de janelas e portas, o tipo e a metragem quadrada de piso e paredes, e outras características distintas. Este processo inicial de inventário de edifícios é seguido pelo processo de avaliação ambiental, que se apresenta.

    Figura 2. Imagem 3D do modelo BIM criado para auxílio do levantamento e gestão dos materiais

    Figura 3. Imagem 3D do modelo BIM criado para auxílio do levantamento e gestão dos materiais

    5.2. AVALIAÇÃO AMBIENTAL DO LOCAL

    A avaliação ambiental do local destina-se a determinar a quantidade de substâncias perigosas. Os regulamentos ambientais e de construção exigem a identificação e a redução de materiais perigosos antes de iniciar o processo de remoção do edifício.

    Os principais materiais perigosos que criam problemas no processo de demolição de edifícios são o amianto e o chumbo. Outros resíduos perigosos incluem tubos fluorescentes, contendo mercúrio e tinta látex. Existem também outros problemas potenciais, incluindo tanques de combustível subterrâneos e transformadores elétricos. A avaliação ambiental do local deve ser realizada por indivíduos com experiência em construção e formação adequada sobre identificação de substâncias perigosas.

    O manuseamento adequado de materiais perigosos acarreta um custo adicional no processo de demolição de edifícios. Devido a estes custos adicionais, os construtores muitas vezes recorrem as formas desadequadas de manuseamento de substâncias perigosas. Mas, muito embora, alguns materiais contaminados com tinta à base de chumbo LBP ou produtos químicos que evitam que a madeira apodreça, possam ser manipulados pelo empreiteiro, o manuseamento de materiais que contém amianto, tem de ser operado por pessoal licenciado.

    Assim, a inspeção visual não invasiva do local e da estrutura por um indivíduo formado para o efeito é fundamental. Se algum perigo for identificado, é necessária investigação adicional, ou seja, coleta de amostra para teste, e.g. de amianto. Esta inspeção adicional é conhecida como inspeção invasiva. Este trabalho é apresentado de forma detalhada no capítulo II, no Plano de Gestão de Resíduos.

    De acordo com os resultados do inventário do edifício e avaliação ambiental do local, o empreiteiro já pode decidir quais as técnicas de desconstrução mais adequadas a adotar para a demolição do edifício e reaproveitamento de materiais.

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    Lembrando que, em quase todos os casos, a desconstrução exige muito mais tempo que a demolição tradicional, uma vez que envolve:

    i) a desmontagemii) a classificaçãoiii) o processamentoiv) armazenamento de componentes e materiais de construçãov) demolição estrutural

    Assim, deve ser preparado um espaço de logística e instalações de bem-estar, como escritórios, lavatórios, I.S. de apoio etc. Há ainda a necessidade de algumas áreas, como estacionamento, processamento, áreas de carregamento e depósitos de materiais, áreas que se assemelham ao estaleiro de uma construção.

    Para o edifício em estudo, como se trata um edifício em altura, de 13 pisos, é importante considerar duas áreas de trabalho. Uma a meio do edifício, piso 6 ou 7, onde serão os escritórios de estudo e levantamento, e onde se poderão armazenar os materiais retirados desse piso para cima, e um outro mais amplo no piso térreo, acessível a transportes de carga, para que seja fácil armazenar materiais retirados na totalidade e transportá-los sempre que haja essa necessidade.

    Este piso também deverá funcionar como piso de estudo e logística. A maioria dos materiais vai-se enquadrar nas três categorias principais:

    1. Reutilização imediata2. Processamento para reciclagem3. Depósito em aterro

    Por este motivo, é importante ter o espaço de armazenamento, o espaço para separação e posterior envio para destinos valorizáveis e o espaço para envio para aterro.

    5.3. DESCONSTRUÇÃO

    Existem dois tipos básicos de desconstrução, a desconstrução estrutural e não estrutural.

    A desconstrução não estrutural é também conhecida como “desmantelamento” ou “classificação”. Envolve poucas ferramentas, considerações típicas de segurança no local de trabalho e num período geralmente mais curto do que a desconstrução estrutural.

    Por outro lado, a desconstrução estrutural pode ser realizada com uma variedade de ferramentas, meios mecânicos mais complexos, maiores considerações de segurança e num período de tempo, geralmente mais longo.

    Tabela 3. Definições, características e tipos de materiais recuperados

    Tipo Definição Características Materiais recuperados

    Desmantelamento

    Remoção de materiais e/ou componentes do edifício para reutilização de cuja remoção não afete a integridade estrutural do edifício

    Geralmente são materiais mais leves, que podem ser reutilizados e/ou valorizados de forma relativamente simples

    Alguns acabamentos de piso eletrodomésticos / portas / torneiras / armários / lareiras

    Desconstrução

    Envolve a remoção para reutilização de componentes de construção que são parte integrante do edifício ou que contribuem para a sua integridade estrutural

    Os materiais recuperados são produtos grandes e que devem ser encaminhados para operadores licenciados para serem transformados em agregados reciclados

    Estruturas de revestimento / sistemas para telhado / tijolo / vigas e pilares

    A Tabela 3. mostra as definições, características e tipos de materiais recuperados através de processos de desconstrução estrutural e não-estrutural. A desconstrução não estrutural tem mercados de alta e baixa qualidade. Os mercados de alta qualidade incluem antiguidades de valor arquitetónico ou peças raras, incluindo armários personalizados. Os mercados low-end incluem materiais comumente usados para fins de manutenção e substituição.

    A desconstrução estrutural é mais afetada por restrições de tempo do que a fase de desmantelamento. Esta ocorre antes da demolição e até antes da licença de demolição. A desconstrução estrutural normalmente necessita de demolição mecânica de maior porte, pelo que depende da licença. Esta fase da desconstrução necessita de mão de obra especializada e de mais trabalhadores habilitados para o efeito do que a fase de desmantelamento.

    Como referido o processo de desconstrução deve ser a ordem reversa do de construção, ou seja, o material que foi montado por último deve ser o primeiro a ser desmontado e assim por diante. Nesta fase, salvo os materiais que incluem substâncias perigosas, quase todos podem ser reutilizados e/ou valorizados/reciclados.

    A tabela seguinte apresenta uma sequência típica para a desmontagem dos componentes verificados pela inspeção realizada ao Edifício Jardim. Na primeira coluna mostra os itens pela ordem que deve seguir a desconstrução. Estes foram agrupados em três grandes grupos:

    • Dispositivos móveis e revestimentos amovíveis• Zonas comuns (itens amovíveis)• Vãos e armários embutidos • Cobertura• Estrutura

    Tabela 4. Sequência típica para a desmontagem dos componentes

    Ordem Grupos Descrição

    1ºDispositivos móveis e revestimentos amovíveis

    Lâmpadas; luzes; fios e cabos, tomadas; eletrodomésticos; aquecedores; espelhos; sanitários, equipamentos de cozinha; revestimentos de parede, chão e tetos falsos, tanques, pias

    2º Zonas comuns Elevadores; corrimões, tetos falsos, revestimentos de zonas comuns

    3º Vãos e armários embutidosJanelas, portas, armários (apartamentos e zonas comuns), armários de cozinha

    4º Cobertura Cobertura em fibra de vidro5º Estrutura Vigas e pilares

    Após cada etapa deste processo, o espaço deve ser limpo e os materiais depois de separados, empilhados e limpos devem ser cuidadosamente armazenados no local destinado a esse fim.

    Ter as ferramentas e equipamentos adequados ajuda a reduzir os danos materiais e facilita muito o trabalho. As ferramentas de desconstrução são geralmente ferramentas de construção simples. Destinam-se a proporcionar uma fácil desmontagem do material de construção de baixo nível e a causar danos mínimos aos materiais recuperados. As ferramentas representam a forma mais simples de desconstrução e permitem que este trabalho seja realizado com um baixo custo. As

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    ferramentas típicas de desconstrução incluem ferramentas individuais de trabalho, como chaves de fenda, alicates de corte de arame, capacete, ferramentas e equipamentos compartilhados, calhas, paletes e recipientes de reciclagem. As ferramentas de desconstrução são geralmente ferramentas simples de forma a não produzir danos aos materiais recuperados. As ferramentas devem representar a forma mais simples de desconstrução, facilmente reproduzível a baixo custo em outros projetos. Dependendo das condições específicas do projeto, às vezes pode haver a necessidade de equipamentos pesados, como guindastes, camiões de pesados, etc.

    A remoção de um material deve ser coordenada com o processamento e armazenamento de materiais para evitar amontoados, bloqueios, manuseio duplo e riscos potenciais no local de trabalho. O layout do espaço deve permitir a remoção e o processamento de diferentes tipos de materiais em áreas separadas, sem conflito. É muito importante antever que, o cliente está disposto a comprar materiais recuperados, desde que tenham sido dimensionados, empilhados, limpos e aparados com precisão para remover peças defeituosas e armazenados de maneira a evitar danos.

    A Tabela 5. abaixo fornece informações sobre o processamento e manuseamento de materiais de construção usados, a ser retirados do edifício em análise. A tipologia de materiais de construção são listados na primeira coluna e na segunda, os materiais correspondentes. Nas duas colunas subsequentes, estão expostos alguns conselhos sobre o seu método de processamento e armazenamento.

    Tabela 5. Processamento e manuseamento de materiais

    Tipologia Materiais Processamento Armazenamento

    Dispositivos amovíveis

    Portas de madeiraCaixilharia de alumínioCerâmica

    Retirar a cerâmica (com valor) e limparRetirar as portas e caixilhariasEmbalar

    Armazenar no interior

    Cobertura e tetos

    Madeira de estrutura de coberturaTelhas de fibra de vidroTetos falsos em placas de gesso e madeira

    Limpar o material e empilhá-los, separados por tipologia

    No interior - madeira armazenada em pacotes empilhadosNo exterior - metais em recipientes de reciclagem, gesso e fibra de vidro em recipientes de reciclagem

    Paredes

    Paredes interiores:Madeira, e.g. revestimentos, aros de portas, revestimentos de armários embutidos, divisórias em placas de gessoParedes exteriores:Tijolos, revestimentos

    Empilhados, separados por tipologia, depois de limpos, especialmente os tijolos que forem retirados inteiros

    No interior - madeira armazenada em pacotes empilhadosNo exterior - tijolos armazenados empilhados ou se britados para reciclagem, o gesso será armazenado em recipientes de reciclagem

    PisoMadeiraCerâmicaAlcatifaVinil

    Retirar tacos de madeira e limparRetirar alcatifaRetirar VinilRetirar cerâmica

    No interior - madeira em pacotes empilhadosNo exterior - Betão britado e cerâmica britada armazenada em contentores de reciclagemEm contentores para reciclagem - alcatifa e vinil

    5.4. TRABALHOS DE DEMOLIÇÃO

    A demolição real começa com a demolição dos elementos estruturais. Existem três tipos principais de demolições estruturais:

    • Demolição progressiva• Mecanismos deliberados de colapso• Desconstrução

    Para o edifício Jardim irá optar-se pela desconstrução. No entanto, far-se-á uma explicação destas técnicas de seguida.

    5.4.1. Demolição Progressiva

    A demolição progressiva é “a remoção controlada de seções da estrutura, mantendo a estabilidade do restante e evitando o colapso total ou parcial da estrutura a ser demolida”.

    A demolição progressiva é particularmente praticada em áreas restritas. A demolição progressiva é realizada manualmente, incluindo ferramentas manuais, como martelo de impacto, cortador de disco de diamante e serra de arame; por máquina, incluindo escavadeira anexada com lança e acessórios hidráulicos, tais como pulverizadores, trituradores e tesouras; e por balling, envolvendo o uso de uma bola de ferro que é suspensa de um dispositivo de elevação e, em seguida, libertada para impactar a estrutura repetidamente.

    5.4.2. Mecanismos deliberados de colapso

    A demolição por colapso deliberado é “a remoção de membros estruturais chave para causar o colapso total de todo ou parte de um edifício ou estrutura”. Este tipo de demolição é geralmente realizado em locais isolados e relativamente nivelados para demolir toda a estrutura. A demolição inclui o colapso deliberado por colapso explosivo e deliberado por puxão de corda. Durante a demolição, é importante que um espaço suficiente seja alocado para permitir a remoção do equipamento e manter os trabalhadores a uma distância segura.

    5.4.3. Desconstrução

    A técnica de desconstrução pode ser usada como parte do trabalho de renovação ou modificação e preparar o caminho para o colapso deliberado. A desconstrução pode ser feita à mão, máquinas, rebentamento ou corte a quente. É possível separar os detritos de demolição com as tecnologias atuais, como escavadeiras hidráulicas conectadas com pulverizadores, britadores de concreto e máquinas de peneiramento.

    Esse processo tem sempre o objetivo maior de maximizar o uso de materiais para reutilização (revenda), reduzir os resíduos produzidos e, consequentemente, os custos de descarte de resíduos.

    5.4.4. Limpeza do local

    O processo final da desconstrução é a libertação do local. O espaço deve ser deixado em condições de segurança e devidamente protegido. Todos os poços, fossas, trincheiras ou vazios devem ser deixados cheios e cobertos com segurança, e o sistema de drenagem do local deve ser cuidadosamente limpo e testado para garantir que continue a operar. Todos os contaminantes devem removidos de maneira a não causar perigo à saúde ou ao ambiente.

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    6. MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO USADOS

    A reutilização de materiais é uma combinação de quatro aspetos diferentes: 1. Técnico2. Ambiental3. Económico4. Regulamentar

    Embora quase todos os materiais sejam desmontados com as técnicas atuais, há pontos importantes que definem a atividade de desconstrução, ou seja, i) viabilidade; ii) redução do impacte ambiental; iii) procura do mercado por materiais recuperados; iv) reutilização e reciclagem dos materiais recuperados.

    A reutilização e reciclagem não depende apenas das estratégias e mercados eficazes na venda de materiais recuperados, mas também na disponibilidade deste tipo de materiais.

    Há uma grande diferença entre materiais recuperados e reciclados. Enquanto os primeiros são materiais que não requerem nenhum tratamento além da limpeza, os segundos são materiais que podem ser usados como matéria-prima para a produção de novos materiais, os chamados “subprodutos”.

    Para alcançar uma construção ambientalmente responsável, é muito importante minimizar o consumo de recursos, maximizar sua reutilização e usar recursos renováveis ou recicláveis. Além disso, é importante proteger o ambiente natural, criar um ambiente saudável e não tóxico e buscar qualidade na criação do ambiente construído.

    Por exemplo, os materiais como a madeira das janelas ou painéis das portas, quando já não é possível reutilizá-las tal como estão, podem ser reutilizados como madeira para construção, cobertura de paisagem, pasta de celulose e/ou combustível.

    Os tijolos podem ser limpos e reutilizados, mas isso raramente é feito. O alumínio, painéis de aço inoxidável e cobre são os típicos metais reciclados. Artefactos arquitetónicos, como pias, portas, banheiras e materiais de construção usados, podem perfeitamente ser revendidos.

    6.1. GESTÃO DE MATERIAL DE CONSTRUÇÃO USADO

    Em Portugal há ainda muito a fazer nesta temática. Existe apenas um único repositório de materiais de construção, o que é nitidamente insuficiente para que se criem as leis necessárias da “oferta e da procura” e para que a população se torne sensível a este mercado e tenha vontade de aderir. Habitualmente, as empresas de demolição não se interessam por realizar demolições seletivas e muito menos, se dedicam a recuperar os materiais intactos. Apenas se concentram em recuperar os materiais que poderão oferecer maior lucro no momento imediato, como os materiais em madeira, aço, componentes de alumínio, grelhas de ferro, cabos, e agregado que obtêm muitas vezes a partir de materiais intactos como: sanitários, telhas, pias, tijolos, vidros, etc.

    Há ainda o problema da falta de espaço onde armazenar os itens eventualmente recuperados. O fato de um material não ser revendido no imediato (a partir do local de desmontagem) pode ser um fator decisivo para descartar aqueles que têm valor de mercado, já que esse material é considerado volumoso e não fornece um lucro rápido. Portanto, os donos de obra ou gestores da empreitada de demolição, não estão interessados em armazenar os materiais possíveis de reutilizar, pois não estão reunidas as condições para que ofereçam lucro, muito menos um lucro imediato.

    O ideal é chegarmos a um dia em que a revenda de materiais recuperados compense o custo de desconstrução e gerem receita garantida. Existem três tipos básicos de materiais de construção recuperados: baixo valor, boa qualidade e materiais de alto valor. Produzir material em segunda mão de alta qualidade é tão importante quanto encontrar mercados de uso final para os materiais recuperados.

    Existem várias maneiras de lidar com materiais de construção recuperados. O proprietário pode manter materiais de construção recuperados para reutilização futura no mesmo local (no caso de uma reabilitação) ou em outro projeto. O que economizaria custos e reduziria a necessidade de novos materiais. Se não houver essa necessidade, o dono de obra também pode doar os materiais recuperados para a caridade. Outra opção é então vender os materiais recuperados e gerar receita. Existem diferentes abordagens para o marketing de materiais de construção em 2ª mão. Estes incluem marketing direto, venda e leilão online, leilões regionais/periódicos, doação ou revenda, ou ainda eventuais repositórios de materiais.

    Na tabela seguinte podemos observar uma série de opções de reutilização e reciclagem de materiais recuperados, caso a regulamentação o permita. Se um material tem um potencial reutilizável, ele deve ser reutilizado após processos de limpeza, caso contrário, é necessário encontrar maneiras de reciclá-lo antes de decidir descartá-lo.

    Tabela 6. Opções de reutilização e reciclagem de materiais

    Materiais recuperados Opções de reciclagem

    Asfalto Pode ser reciclado para reutilizar em pavimentos de asfalto

    Tijolo Pode ser limpo para reutilização, britado para agregado ou venda para britar e utilizar como material de paisagismo e/ou enchimento

    Divisórias em gesso Reutilizar ou reciclar como matéria-prima para novas divisórias

    Terra/solo Usar como enchimento

    Calhas e iluminação Reutilizar se perfeitas; ou reciclar os componentes de metal

    Vidro Reciclar para novo vidro ou agregado

    Metal Venda para um revendedor de sucata

    Plástico Enviar para um reciclador de plásticos

    Madeira Reutilizar em outras estruturas ou reciclar como matéria-prima para cofragens, paisagismo ou combustível (biomassa)

    Os empreiteiros de demolição e proprietários de estaleiros devem reunir-se e formar uma cooperativa que possa ajudar os membros e compradores a manter facilmente um catálogo de material disponível em cada estaleiro. Tal cooperativa pode tornar os estaleiros especializados em certos componentes ou acessórios, e também ser responsável pela coleta e distribuição de materiais das estruturas demolidas. Além disso, é sempre possível criar um site online e o anúncio e a compra de materiais usados podem ser garantidos desta forma.

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    6.2. MERCADO DE MATERIAIS PROVENIENTES DE DESCONSTRUÇÃO

    O grande desafio para a desconstrução é existir procura de mercado. Só assim existirão oportunidades para os empreiteiros compensarem os custos de desconstrução e torná-la lucrativa. Consequentemente a negociabilidade também aumentará o valor de recuperação dos materiais. Neste contexto, a redistribuição de materiais recuperados aumenta, assim como a taxa de revenda.

    Para que a desconstrução seja lucrativa, os materiais recuperados devem ser vendidos para cobrir e compensar os custos adicionais de mão-de-obra associados aos materiais recuperados. A estimativa de materiais a serem recuperados e os valores esperados são cruciais para determinar se um projeto de desconstrução será financeiramente viável.

    Mercados e usos para alguns materiais devem ser estabelecidos para que se tornem materiais fáceis de vender, como madeiras, metais, cantarias, janelas, puxadores, portas, etc. No entanto, duas grandes questões precisam ser abordadas para a revenda bem-sucedida destes materiais: custo e distribuição.

    A venda de materiais da desconstrução pode ocorrer no local, o que é preferível ou fora do local. Ao vender materiais no local, as empresas de desconstrução economizam tempo e dinheiro necessários para transportar materiais para outro local.

    A venda de materiais no local, mesmo antes do início da desconstrução, permite que a equipe de desconstrução limpe o espaço mais rapidamente e junte as receitas de vendas mais rapidamente. Para materiais que não podem ser vendidos no local, o desconstrutor deve estabelecer parcerias com empresas de distribuição, como lojas de materiais de construção. O sucesso dos mercados de materiais em 2ª mão depende da procura por estes materiais e produtos. Esse sucesso também depende da capacidade de desviar materiais residuais dos aterros.

    Em Portugal não são conhecidos locais físicos de venda de materiais de construção em 2ª mão. A plataforma existente online para obter e vender materiais de construção usados é pouco divulgada e os utilizadores são céticos em usar este tipo de materiais que não tem marcação CE, ou não oferecem quaisquer garantias de materiais em 1ª mão.

    A desconstrução está ainda numa fase completamente embrionária, já que nenhum dos edifícios existentes foi construído para um dia vir a ser desconstruído. Por outro lado, este propósito implica um alto grau de exigência na separação dos componentes de um edifício. No limite, um edifício desconstruído resultaria num monte de materiais e componentes ao nível da sua forma original antes da construção. Não é prático para o projeto a abordagem de desconstrução em todo o nível do edifício, como uma janela que pode ser obsoleta no momento em que o edifício é desconstruído, e que pode ser indesejável para reutilização.

    Infelizmente, a perceção do consumidor de materiais de construção usados tem uma forte influência sobre a viabilidade da desconstrução, enquanto esta não for uma necessidade absoluta.

    CAPÍTULO II

    PLANO DE PREVENÇAO E GESTÃO DE RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E

    DEMOLIÇÃO DO PROCESSO DE DESCONSTRUÇÃO DO EDIFÍCIO JARDIM

    Por Carmen Lima, Engª do Ambiente

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    ESTUDO DA DESCONSTRUÇÃO DO EDIFÍCIO JARDIM EM VIANA DO CASTELO CAPÍTULO II - PLANO DE PREVENÇAO E GESTÃO DE RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO DO PROCESSO DE DESCONSTRUÇÃO DO EDIÍCIO JARDIM

    1. INTRODUÇÃO

    Os RCD apresentam índices de reciclabilidade que variam entre os 80 a 98%, sendo dos fluxos de resíduos com maior produção em Portugal e igualmente o com maior capacidade de recuperação e valorização, o que levou à criação do Protocolo Europeu para a Gestão dos Resíduos de Construção e Demolição.

    Por outro lado, a nível nacional foi considerado a determinação de uma Agenda Setorial para o setor da Construção, no âmbito do Plano Nacional para a Economia Circular, tendo em conta a capacidade de crescimento desta área, através da promoção e partilha de boas-práticas para os recursos/resíduos a estes associados, bem como da multiplicação do uso de subproduto e materiais com fim de estatuto de resíduo.

    Por outro lado estão definidas metas para a reciclagem dos resíduos provenientes prevenção da produção de resíduos, que apontam para o cumprimento de 70% até 2020, de acordo com Decreto-Lei n.º 73/2011 de 17 de Junho. Para alcançar o cumprimento desta meta é fundamental a adoção de uma estratégia transversal, que articule os princípios da Hierarquia de Gestão dos Resíduos com as necessidades do sector da construção e da conservação da natureza, privilegiando a recuperação dos materiais e equipamentos para reutilização, a segregação dos diversos materiais para operações de reciclagem. Por outro lado, deverá apostar-se no cumprimento da restrição de deposição direta de materiais recicláveis em aterro, sem que para os mesmos seja atribuído qualquer aproveitamento para reciclagem ou para valorização.

    É nesse sentido que a Quercus salienta a importância de promover a triagem dos resíduos e o seu encaminhamento para reciclagem, por forma a contribuir para a produção de materiais secundários reciclados de boa qualidade, capazes de responder à obrigatoriedade de incorporar pelo menos 5% de materiais reciclados, relativamente à quantidade total de matérias-primas usadas, em empreitadas públicas, conforme disposto no Decreto-Lei n.º 73/2011 de 17 de Junho.

    Por outro lado, o Decreto-Lei nº 46/2008, de 12 de Março, estabelece o regime jurídico específico para a gestão de resíduos resultantes de obras ou demolições de edifícios ou de derrocadas, designados resíduos de construção e demolição, que estabelece como um dos principais princípios a prevenção da sua produção, que deverá estar previsto no PPGRCD, que deverá ser assegurado pelo Dono da Obra. É estabelecido por este diploma, através do seu artigo 10.º a obrigatoriedade de as empreitadas e concessões de obras públicas apresentarem no projeto de execução este plano de prevenção e gestão de RCD.

    Este plano deverá assegurar o cumprimento dos princípios gerais de gestão de RCD, bem como de todas as normas aplicáveis constantes neste diploma ou no Regime Geral de Gestão de Resíduos, estabelecido pelo Decreto-Lei n.º 73/2011, de 17 de junho.

    O PPGRCD pode ser alterado pelo dono da obra na fase de execução, sob proposta do produtor de RCD, ou no caso de empreitadas de conceção/construção, pelo adjudicatário com a autorização do dono de obra, desde que a alteração seja devidamente fundamentada. O PPGRCD deve estar disponível em obra, para efeitos de fiscalização pelas entidades competentes, e ser do conhecimento de todos os intervenientes na execução da obra.

    2. DEFINIÇÕES

    Para melhor interpretação do PPGRCD do Edifício Jardim, apresentamos de seguida uma lista de definições sobre algumas expressões técnicas no âmbito da atividade de gestão de resíduos, nomeadamente:

    Economia circular - Economia Circular é um conceito estratégico que assenta na redução, reutilização, recuperação e reciclagem de materiais e energia. Substituindo o conceito de fim-de-vida da economia linear, por novos fluxos circulares de reutilização, restauração e renovação, num processo integrado, a economia circular é vista como um elemento chave para promover a dissociação entre o crescimento económico e o aumento no consumo de recursos, relação até aqui vista como inexorável;

    Detentor – A pessoa singular ou coletiva que tenha resíduos, pelo menos, na sua simples detenção, nos termos da legislação civil

    Produtor – Qualquer pessoa, singular ou coletiva, agindo em nome próprio ou prestando serviço a terceiros, cuja atividade associada produza resíduos ou que efetue operações de tratamento, de mistura ou outras que alterem a natureza ou a composição de resíduos

    LER – Lista Europeia de Resíduos publicada na Portaria nº 209/2004, 3 de março

    Resíduos - Quaisquer substâncias ou objetos de que o detentor se desfaz ou tem intenção ou obrigação de se desfazer, nomeadamente, os identificados na Lista Europeia de Resíduos

    Resíduos de Construção e Demolição (RCD) – Os resíduos provenientes de obras desconstrução, reconstrução, ampliação, alteração, conservação e demolição ou da derrocada de edificações (inclui resíduos de fluxos específicos, como por exemplo resíduos de embalagens, equipamentos elétricos e eletrónicos e óleos usados)

    Resíduos Perigosos – Os resíduos que apresentem pelo menos uma característica de perigosidade para a saúde humana ou para o ambiente, nomeadamente os identificados como tal na Lista Europeia de Resíduos

    Gestão de Resíduos – Operações de recolha, transporte, armazenagem, reciclagem, tratamento, valorização e eliminação de resíduos, incluindo a monitorização dos locais de descarga após o encerramento das respetivas instalações, bem como o planeamento dessas operações

    PPGRCD – Plano de Prevenção e Gestão de Resíduos de Construção e Demolição

    Prevenção – As medidas destinadas a reduzir a quantidade e o caráter perigoso para o ambiente ou a saúde, dos resíduos ou materiais e substâncias neles contidas

    Triagem – Ato de separação de resíduos mediante processos manuais ou mecânicos, sem alteração das suas características, com vista à sua valorização ou a outras operações de gestão

    Tratamento – Quaisquer processos manuais, mecânicos, físicos, químicos ou biológicos que alterem as características de resíduos de forma a evitar a produção de resíduos

    Reutilização – Reintrodução, sem alterações significativas, de substâncias, objetos ou produtos nos circuitos de produção/ consumo, de forma a evitar a produção de resíduos (por exemplo: portas e janelas, lâmpadas fluorescentes, solos e rochas que não contenham substâncias perigosas)

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    Valorização (operação R) – As operações de reaproveitamento de resíduos previstas na legislação em vigor

    Reciclagem – Reprocessamento dos resíduos com vista à recuperação e ou regeneração das suas matérias constituintes, com o objetivo de produzir novos produtos com a forma original ou fim distinto

    Eliminação (operação D) – As operações que visam dar um destino final adequado aos resíduos nos termos previstos na legislação em vigor 3. DADOS GERAIS DA ENTIDADE RESPONSÁVEL PELA OBRA

    Tabela 1. Dados gerais da entidade responsável pela obra

    Nome: Viana Polis

    Morada: Edifício Jardim, Avenida Luís de Camões

    Localidade: Viana do Castelo Código Postal: 4900

    Freguesia: Concelho: Viana do Castelo

    Telefone/Fax: e-mail:

    Número de Identificação de Pessoa Coletiva (NIPC): A preencher posteriormente

    CAE Principal Rev.3: A preencher posteriormente

    4. DADOS GERAIS DA OBRA

    Tipo de Obra: no âmbito do presente PPGRCD, a obra destina-se à intervenção para a desconstrução do Edifício Jardim, para a construção do mercado municipal.

    Esta obra não está sujeita a avaliação de impacte ambiental.

    O local de implantação da obra é a 975m2.

    5. RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO (RCD)

    5.1. CARACTERIZAÇÃO DA OBRA

    O edifício em estudo foi construído na década de 1970 e foi denominado por “Edifício Jardim”. O edifício foi outrora considerado um ícone de modernidade e progresso arquitetónico na zona.

    O “Edifício Jardim” é composto por 13 andares, distribuído por três blocos independentes.Contudo, no ano 2000, a Câmara Municipal de Viana do Castelo propôs, ao abrigo do Programa Polis, a sua demolição, considerando que este edifício apresentava impacte visual e arquitetónico e considerando que o mesmo contribuía para uma “desfiguração” da linha urbanística do centro histórico da Cidade.

    Neste edifício chegaram a habitar 300 pessoas, mas atualmente restam apenas 14 residentes,

    resultantes de um processo litigioso que já dura há 18 anos.

    Está projetado para o local a construção do novo Mercado Municipal.

    O presente estudo pretende apresentar uma abordagem mais sustentável à intervenção de demolição do edifício, considerando a sua “desconstrução seletiva” para o qual é necessário conhecer a tipologia de materiais e equipamentos que compõem o mesmo.

    A área de implantação do empreendimento é de 975 m2.

    5.2. CARACTERIZAÇÃO SUMÁRIA DA OBRA A EFETUAR

    Os três edifícios construídos identificados no conjunto do “Edifício Jardim” vão ser alvo de uma intervenção para promover a desconstrução seletiva do edifício, considerando a recuperação dos materiais passíveis de serem reutilizáveis e recuperáveis de acordo com os princípios da economia circular e do protocolo europeu para a gestão de RCD.

    A gestão dos RCD obedece ao cumprimento do disposto no Decreto-Lei n.º 46/2008, de 12 de março, com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 73/2011, de 17 de junho, onde são considerados os princípios da prevenção e reutilização, bem como das operações de recolha, transporte, armazenagem, valorização e eliminação desta tipologia de resíduos.

    Para os resíduos de fluxos e fileiras especiais, como por exemplo resíduos de equipamentos elétricos ou eletrónicos ou resíduos de construção e demolição contendo amianto, deverá ser dado cumprimento ao estabelecido em normativo específico para estas áreas de resíduos.Será responsabilidade do empreiteiro ou do concessionário da obra executar o PPGRCD, assegurando a definição dos seguintes critérios:

    • A promoção da redução da produção de resíduos promovendo a reutilização de materiais e a incorporação de materiais reciclados provenientes de RCD na própria obra, ou em outras• Assegurar a existência em obra de um sistema de contentorização que permita garantir o acondicionamento adequado e que promova a triagem dos RCD• Adoção em obra de uma metodologia para garantir a triagem de RCD ou, para as situações em que tal não seja possível, assegurar o seu encaminhamento para um operador de gestão licenciado que realize estas operações de segregação de resíduos• Reduzir a perigosidade dos resíduos, assegurando a segregação das frações perigosas de forma diferenciada, identificando-as e mantê-las em obra o mínimo tempo possível - não excedendo os 3 meses

    Este documento pode ser alterado pelo Dono da Obra na fase de execução, sob proposta do produtor de RCD, ou, no caso de empreitadas de conceção-construção, pelo adjudicatário com a autorização do Dono da Obra, desde que a alteração seja devidamente fundamentada. O PPGRCD deverá estar disponível no local da obra, para efeitos de fiscalização pelas entidades competentes, e ser do conhecimento de todos os intervenientes na execução da obra.

    O presente estudo que a Quercus preparou propõe uma análise aos resíduos enquanto materiais, avaliando a sua capacidade de recuperação e reutilização, equacionando operações de reciclagem e valorização caso se aplique a classificação enquanto resíduo.

    A estrutura do estudo não segue o modelo disponibilizado pela Agência Portuguesa do Ambiente, no seu sítio da internet em www.apambiente.pt, no entanto responde a todos os pontos definidos pela estrutura estabelecida.

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    ESTUDO DA DESCONSTRUÇÃO DO EDIFÍCIO JARDIM EM VIANA DO CASTELO CAPÍTULO II - PLANO DE PREVENÇAO E GESTÃO DE RESÍDUOS DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO DO PROCESSO DE DESCONSTRUÇÃO DO EDIÍCIO JARDIM

    5.3. DESCRIÇÃO SUCINTA DOS MÉTODOS CONSTRUTIVOS

    Tendo em vista os princípios referidos no artigo 2.° do Decreto – Lei nº 46/2008, de 12 de Março, apresenta-se seguidamente uma descrição sucinta dos métodos ambientais e construtivos a utilizar:

    Tabela 2. Operações de descontaminação, reutilização e reciclagem de resíduos no edifício

    Atividade Método Construtivo

    Descontaminação do edifícioIdentificação dos componentes perigosos do edifícioConfirmação da perigosidade dos componentesRecolha seletiva destes componentes

    Remoção dos materiais suscetíveis de reutilização

    Identificação dos componentes passíveis de reutilizaçãoRecolha seletiva destes componentes

    Remoção dos materiais suscetíveis de reciclagem

    Identificação dos componentes passíveis de reciclagemRecolha seletiva destes componentes

    Remoção dos materiais suscetíveis de valorização

    Identificação dos componentes passíveis de valorizaçãoRecolha seletiva destes componentes

    Desconstrução integral do edifício Aplicação de técnicas seletivas de acord