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Anais do IX Congresso Sergipano de Direito e Processo do Trabalho Organizacão Flávia Moreira Guimarães Pessoa Aracaju/SE EVOCATI 2012

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Anais do IX Congresso Sergipano de Direito e Processo do Trabalho

Organizacão Flávia Moreira Guimarães Pessoa

Aracaju/SE EVOCATI

2012

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3

APRESENTAÇÃO

Os presentes ANAIS do IX CONGRESSO

SERGIPANO DE DIREITO E PROCESSO DO TRABALHO

reúnem os trabalhos apresentados e selecionados pela comissão

Julgadora composta pelos Magistrados do Trabalho Alexandre

Manoel Rodrigues Pereira, Ariel Salete Moraes Junior e Flávia

Moreira Guimarães Pessoa.

A comissão, designada pelo Presidente da AMATRA

XX, Hider Torres do Amaral, adotou os critérios seletivos

constantes do Edital que se encontra na parte final deste livro.

Realizado pela AMATRA XX – ASSOCIAÇÃO DOS

MAGISTRADOS DO TRABALHO DA 20 REGIÃO - e pela

EMATRA XX – Escola Associativa da Magistratura do

Trabalho da 20 Região, o Congresso Sergipano de Direito e

Processo do Trabalho é o mais tradicional congresso trabalhista

do Estado de Sergipe, contando com a participação de inúmeros

palestrantes de renome nacional.

Nesta nona edição, o evento comemora os 20 anos do

Tribunal Regional do Trabalho da 20 Região e sua inteira

programação encontra-se disponível neste livro.

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É com grande prazer, portanto, que a AMATRA XX e

a EMATRA XX apresentam a compilação dos trabalhos

aprovados.

Aracaju, 30 de Julho de 2012

Flávia Moreira Guimarães Pessoa

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PRONUNCIAMENTO DA PRESIDÊNCIA DO

TRT DA 20ª REGIÃO

A implantação da Justiça do Trabalho no Brasil e em

Sergipe, no ano de 1941, e a aprovação da Consolidação das

Leis do Trabalho - CLT em 1943 representaram o resultado de

muitas lutas e conquistas de direitos trabalhistas que tiveram

início ainda na segunda metade do século XIX.

A Justiça do Trabalho passou a garantir o cumprimento

da CLT, e da legislação posterior, nas relações de emprego

estabelecidas entre os trabalhadores e os empregadores,

possibilitando o crescimento das atividades industriais,

comerciais e de prestação de serviços nas áreas urbanas,

permitindo que o processo de industrialização se desenvolvesse

e mudasse o Brasil da condição de um Pais Agrícola com mais

de 70% da população na área rural, nos anos quarenta, para a de

um Pais Industrializado com mais de 85% da população nas

áreas urbanas, nos dias atuais.

Ao longo dos anos, o Estado de Sergipe experimentou

crescimento e desenvolvimento da sua Economia, com

exploração de atividades industriais nas áreas textil, alimentar,

de produção de sucos de frutas, de laticínio, petrolífera,

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mineradora, agro-industrial canavieira, da construção civil, da

construção naval, dentre outras, ensejando o crescimento das

atividades comerciais e de serviços, tendo a participação do

Judiciário Trabalhista como agente pacificador a assegurar o

equilíbrio entre as forças do Capital e do Trabalho e

contribuindo para a tão sonhada justiça social.

A partir de 14.12.1992, a Justiça do Trabalho em

Sergipe deu um salto de qualidade ao cortar o cordao umbilical

com a Bahia, uma vez que as então denominadas Juntas de

Conciliação e Julgamento instaladas nas Cidades Sergipanas

estavam vinculadas ao Tribunal Regional do Trabalho da 5ª

Região, com sede em Salvador e Jurisdição sobre todo o

território dos Estados de Bahia e Sergipe.

Naquela data, a emancipação se efetivou com a

instalação do Tribunal Regional do Trabalho da 20ª Região com

sede em Aracaju e jurisdição sobre todo o território sergipano,

passando os processos trabalhistas a serem julgados com maior

celeridade por não mais dependerem de encaminhamento a

Salvador para julgamento em segunda instancia, o que

significava maior dispêndio de tempo e de despesas para

acompanhamento processual pelas partes e advogados de

Sergipe.

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Ao longo dos últimos vinte anos verificou-se avanços

considerável nas relações entre empregadores e empregados,

sendo os conflitos atenuados porque julgados em tempo recorde

pelo TRT de Sergipe, fato que o levou a ser considerado

Tribunal modelo pelos Corregedores Gerais da Justiça do

Trabalho que realizaram as Correições Ordinárias.

A instalação do Regional em Sergipe proporcionou não

apenas mais comodidade aos advogados sergipanos como

também contribuiu para desenvolver o estudo da ciência júridica

e consolidou o sentimento de cidadania do povo sergipano,

sendo relevante constatar o reconhecimento nacional da

qualidade intelectual e profissional dos seus Magistrados e

Advogados, através das escolhas dos Excelentíssimos Ministros

Carlos Aires de Brito para o STF, José Simpliciano Fontes Faria

Fernandes e Augusto Cesar Leite de Carvalho para o TST, e do

Dr. Raimundo Cesar Brito Aragão para a Presidencia Nacional

da Ordem dos Advogados do Brasil.

A obtenção destes resultados em vinte anos deveu-se,

em parte, aos eventos jurídicos realizados pelo Regional em

parceria com a AMATRA XX, a exemplo dos Congressos

Sergipanos de Direito e Processo do Trabalho, a cada dois anos,

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que neste ano atinge a 9 edição, sempre com uma programação

cuidadosamente preparada pela Coordenação Científica da

AMATRA XX, propiciando a discussão sobre os temas mais

palpitantes da atualidade, com a presença de Conferencistas,

Palestrantes e Debatedores de destaque em Sergipe e em todo o

Brasil, com atuação na Magistratura, Advocacia, Ministério

Público e na Academia, contando com a assistência de

Magistrados, Advogados, Servidores do Judiciário e Estudantes.

Jorge Antonio Andrade Cardoso

Desembargador Presidente do TRT 20

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ARTIGOS CIENTÍFICOS DO IX CONGRESSO

SERGINPANO DE DIREITO E PROCESSO DO

TRABALHO

1. DIREITOS FUNDAMENTAIS E FUNDAMENTAÇÃO NORMATIVA: VERSO E ANVERSO DE UMA MESMA MOEDA ALEXANDRE ALBAGLI OLIVEIRA 2. A INTERPRETAÇÃO DO DIREITO SOB A ÓTICA DA NOVA HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL: ENFRENTANDO OS ARGUMENTOS DA SÚMULA VINCULANTE N. 05 CAROLINA PEREIRA BARRETO 3. NEOCONSTITUCIONALISMO E PÓS-POSITIVISMO: FUNDAMENTOS TEÓRICOS PARA O CONTROLE DE POLÍTICAS PÚBLICAS MANOEL CABRAL MACHADO NETO 4. DA INCLUSÃO DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NO MERCADO DE TRABALHO MARIA LUCIA RIBEIRO SANTOS

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5. DURAÇÃO RAZOÁVEL DO PROCESSO, TEORIA DO CONFLITO E PROCESSO DE MEDIAÇÃO NELSON TAVARES DOS SANTOS E FLÁVIA MOREIRA GUIMARÃES PESSOA 6. A CONCRETIZAÇÃO DO DIREITO FUNDAMENTAL À DURAÇÃO RAZOÁVEL DO PROCESSO E A CONCILIAÇÃO NA JUSTIÇA COMUM ESTADUAL RAFAELA GÓIS TEIXEIRA E FLÁVIA MOREIRA GUIMARÃES PESSOA

7. A FUNÇÃO METAJURÍDICA DA COMUNICAÇÃO: O DIREITO FUNDAMENTAL E FUNDANTE À LIBERDADE DE EXPRESSÃO NA CONCEPÇÃO DE DIREITOS ROBERTO WAGNER XAVIER DE SOUZA

8. A NATUREZA JURÍDICA DO MEIO AMBIENTE E O DIREITO DA NATUREZA: NOVAS CONCEPÇÕES JURÍDICAS PARA A SOCIEDADE MODERNA ROBERTO WAGNER XAVIER DE SOUZA E FLÁVIA MOREIRA GUIMARÃES PESSOA

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Direitos fundamentais e fundamentação normativa:

verso e anverso de uma mesma moeda

Alexandre Albagli Oliveira1

Sumário: 1. Considerações preliminares sobre direitos

fundamentais. 2. A fundamentação normativa como mecanismo

de controle do subjetivismo jurídico. 3. Conclusão.

Resumo: Com o pós-positivismo e o reconhecimento da

normatividade dos princípios, o campo de atuação normativa do

intérprete aumentou substancialmente. Esse sistema de valores

constitucionais, não obstante a sua importância histórica, social

e jurídica, não é imune a críticas. Uma delas é o subjetivismo

jurídico, que não raro leva à atuação jurídica, do juiz e dos

outros atores processuais, fincada no achismo, no personalismo

e no voluntarismo, sem a necessária apresentação dos critérios 1 Promotor de Justiça no MP/SE, Escritor (autor do romance Estrada de Luz – A História de Brasileiro de Deus), Professor da ESMP e da ESAJ, Especialista em Direito Processual Civil pela FANESE, mestrando em Direito pela UFS.

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jurídico-legais que fundamentam as escolhas normativas. Nesse

contexto, um dos mecanismos de controle do subjetivismo

jurídico é a obrigatoriedade da fundamentação normativa,

emprestando-se, assim, cientificidade ao nosso sistema jurídico.

Abstract: With the post-positivism and the recognition of the

normative principles, the playing field rules interpreter has

increased substantially. This system of constitutional values,

despite its historical importance, social and legal, is not immune

to criticism. One is the legal subjectivity, which often leads to

legal action, the judge and other procedural actors, embedded in

achismo in personalism and voluntarism, without presentation of

the necessary legal and legal criteria that establish the legislative

choices. In this context, one of the control mechanisms of the

subjectivism is the legal requirement of normative reasoning,

lending itself well, scientificity to our legal system.

Palavras-chave: Pós-positivismo; princípios; valores

constitucionais; subjetivismo; fundamentação normativa.

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Keywords: Post-positivism, principles, constitutional values,

subjectivism, normative reasons.

1. Considerações preliminares sobre direitos fundamentais.

Os direitos fundamentais2 formataram-se, com vigor, no

Brasil, no fim do século passado. Antes, contudo, é necessário

revisitar as escolas filosóficas para se compreender o cenário em

que se fomentou o pós-positivismo e se desenvolveu a teoria dos

direitos fundamentais.

O jusnaturalismo vigorou até o final da Idade Média,

baseando na existência de um direito natural, de conotação

divina, não necessariamente escrito e independente de 2 Dimoulis e Martins (2011, p. 49) conceituam direitos fundamentais como

“direitos público-subjetivos de pessoas (físicas ou jurídicas), contidos em dispositivos constitucionais e, portanto, que encerram caráter normativo supremo dentro do Estado, tendo como finalidade limitar o exercício do poder estatal em face da liberdade individual.” E Marmelstein (2011, p. 20), por sua vez, os define como “normas jurídicas, intimamente ligadas à ideia de dignidade da pessoa humana e de limitação do poder, positivados no plano constitucional de determinado Estado Democrático de Direito”, que, frise-se, “por sua importância axiológica, fundamentam e legitimam todo o ordenamento jurídico.”

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intervenção estatal, identificando-se a justiça e a moral, e

valendo-se de uma ética superior. Consigne-se, no mais, que

“Sua ideia básica consiste no reconhecimento de que há, na

sociedade, um conjunto de valores e de pretensões humanas

legítimas que não decorrem de uma norma jurídica emanada do

Estado, isto é, independem do direito positivo” (BARROSO,

2010, p 235).

Embora se reconheça os seus méritos, a corrente

jusnaturalista perdeu força e importância na medida em que boa

parte dos direitos naturalmente reconhecidos foram positivados.

Desse modo, é necessário consignar que “No início do século

XIX, os direitos naturais, cultivados e desenvolvidos ao longo

de mais de dois milênios, haviam se incorporado de forma

generalizada nos ordenamentos positivos. Já não traziam a

revolução, mas a conservação” (BARROSO, 2010, p. 238).

Surgiu, assim, o positivismo, baseado no rigor científico,

na força coativa do Estado, no império da lei e em uma pretensa

racionalidade (?). Outras características são enumeradas

doutrinariamente: aproximação entre Direito e norma,

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estabilidade do Direito, completude do ordenamento jurídico e

formalismo (BARROSO, 2010, p. 240). Enfim, o Direito passou

a ser, dessa forma, o que a lei diz que é.

Contudo, o culto ao legalismo, o surgimento de regimes

autoritários, mas legais (fascismo e nazismo), o enaltecimento

da hipocrisia3, entre outros, foram fatores que contribuíram para

a derrocada do positivismo. Enfim, houve a substituição de uma

corrente baseada em valores naturais, para uma outra corrente

baseada na lei, no direito positivado, mas nem por isto mais

segura.

Desse modo, após a segunda guerra mundial, houve o

surgimento da corrente pós-positivista, que, na verdade, não se

mostrou uma nova corrente, mas sim um aperfeiçoamento das

duas anteriores, baseada na teoria dos direitos fundamentais4,

3 “O constitucionalismo francês do século XVIII inseriu, além de inegáveis avanços em racionalidade, um novo elemento à filosofia, política: a hipocrisia. De fato, é difícil conceber que os autores estavam convencidos do caráter puramente racional e não político-ideológico de suas obras” (Dimoulis e Martins, 2011, p. 28). 4 Conforme Marmelstein (2011, p. 13), a teoria dos direitos fundamentais foi

baseada nas seguintes premissas: “(a) crítica ao legalismo e ao formalismo

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na existência de valores fundamentais para a própria existência

humana e no reconhecimento da normatividade dos princípios.

Enfim, a estagnação axiológica da corrente positivista deu lugar

ao pós-positivismo, baseado em um verdadeiro sistema de

valores5, que foi concebido para que a norma pudesse conter

“uma forte ideologia” (MARMELSTEIN, 2011, p. 12),

afastando o perigo de sistemas legalistas fechados. E, como

leciona Brito (2003, p. 170), “O que estamos a enfatizar é que

determinados princípios têm uma parte de si como janelas

abertas para o porvir, dotando a Constituição de plasticidade

para se adaptar à evolução do modo social de conceber e

experimentar a vida”. Desse modo, compreende-se que se aplica

a norma retirada do texto legal, e não o texto em si, vez que,

jurídico; (b) defesa da positivação constitucional dos valores éticos; (c) crença na força normativa da Constituição, inclusive nos seus princípios, ainda que potencialmente contraditórios; (d) compromisso com os valores constitucionais, especialmente com a dignidade humana”.

5 “A forma pela qual determinados ‘valores’ puderam ser garantidos de maneira perene, inclusive contra eventual vontade passageira de legisladores que vão se substituindo, foi justamente a ideia de hierarquia ao sistema jurídico, colocando-se em seu ápice as normas que mereceriam certa continuidade temporal e, eventualmente, ressalvando-se algumas delas, que passariam a ser imutáveis para os poderes estabelecidos” (TAVARES, 2012, p. 39).

 

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como leciona Grau (2002, p. 17), “O que em verdade se

interpreta são os textos normativos; da interpretação dos textos

resultam as normas. Texto e norma não se identificam. A norma

é interpretação do texto normativo”.

Contudo, também o pós-positivismo mereceu críticas,

vez que, com a normatividade dos princípios, abriu-se margem

ao subjetivismo desmedido do intérprete, pior no caso do

intérprete-juiz.

2. A fundamentação normativa como mecanismo de controle

do subjetivismo jurídico.

Como visto, nada impede o subjetivismo desenfreado

(personalismo, voluntarismo, etc), e nada impede, também, que

o âmbito de atuação do poder judiciário acabe por comprometer

a separação de poderes, com indevida intromissão na atividade

legislativa.

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Contudo, é de se considerar que “O juiz não produz

normas livremente” (GRAU, 2002, p. 46). Assim, para viabilizar

a aplicação metodológica dos princípios constitucionais,

afastando subjetivismos, e dando segurança e harmonia às

decisões judiciais, é necessária a adoção de algumas medidas.

Só a título de ilustração, é possível citar, entre outras, com base

em lições doutrinárias: “a) a necessidade de fundamentação

normativa; b) a necessidade de respeito à integridade do sistema;

c) o peso (relativo) a ser dado às consequências concretas da

decisão” (BARROSO, 2010, p. 343). Assim, a “necessidade de

fundamentação normativa” é um dos mecanismos de controle do

subjetivismo jurídico. Vale dizer, as manifestações jurídicas (e

não só as judiciais), devem ser marcadas pela “fundamentação

normativa”.

É de se lembrar, ainda, que “todos os julgamentos dos

órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas

todas as decisões” (art. 93, inc. IX). No mais, “São deveres dos

membros do Ministério Público, além de outros previstos em lei:

(...) III - indicar os fundamentos jurídicos de seus

pronunciamentos processuais” (art. 43 da Lei n° 8.625/93). E,

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para não deixar dúvidas, mencione-se que “São deveres das

partes e de todos aqueles que de qualquer forma participam do

processo: (...) III - não formular pretensões, nem alegar defesa,

cientes de que são destituídas de fundamento” (art. 43 do CPC).

Enfim, para combater o subjetivismo jurídico,

privilegiando-se, assim, o correto reconhecimento e a aplicação

justa dos direitos fundamentais, vale-se o operador do Direito do

mecanismo da fundamentação normativa.

3. Conclusão.

O pós-positivismo trouxe como herança a força normativa dos

princípios. E, no âmbito da teoria dos direitos fundamentais,

uma de suas premissas é a “defesa da positivação constitucional

dos valores éticos” (MARMELSTEIN, 2011, p. 13).

Esse cenário, baseado em um sistema de valores

constitucionais, contudo, dá margem a subjetivismos que podem

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e devem ser minimizados. E um dos mecanismos de controle

desse subjetivismo é a obrigatoriedade da fundamentação

normativa, tendo em vista que a aplicação da norma é método

que reclama caráter científico.

Referências bibliográficas:

BARROSO, Luís Roberto. Curso de direito constitucional

contemporâneo: Os conceitos fundamentais e a construção do

novo modelo. 2ª edição. São Paulo: Saraiva, 2010;

BRITTO, Carlos Ayres. Teoria da Constituição. Rio de

Janeiro: Forense, 2003;

DIMOULIS, Dimitri; MARTINS, Leonardo. Teoria geral dos

direitos fundamentais. 3ª. edição, rev., atual. e ampl. São

Paulo: Revista dos Tribunais, 2011;

GRAU, Eros Roberto. Ensaio e discurso sobre a

interpretação/aplicação do direito. São Paulo: Malheiros,

2002;

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MARMELSTEIN, George. Curso de direitos fundamentais.

São Paulo: Atlas, 2011;

TAVARES, André Ramos. Paradigmas do judicialismo

constitucional. São Paulo: Saraiva, 2012.

A INTERPRETAÇÃO DO DIREITO SOB A ÓTICA DA

NOVA HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL:

ENFRENTANDO OS ARGUMENTOS DA SÚMULA

VINCULANTE N. 05

Carolina Pereira Barreto6

SUMÁRIO: 1. Introdução – 2. Interpretação e Aplicação do Direito – 3. Nova Hermenêutica Constitucional e Legitimidade Democrática – 4. Enfrentando os argumentos da Súmula Vinculante n. 05 – 5. Considerações Finais – 6. Referências Bibliográficas. RESUMO: O artigo pretende realizar breve estudo sobre a interpretação e aplicação do direito sob a ótica da nova hermenêutica constitucional, enfrentando os argumentos da Súmula Vinculante nº 05 do Supremo Tribunal Federal, contra-argumentando e analisando a interpretação da Corte em relação

6   Mestranda em Direito pela Universidade Federal de Sergipe, Pós-graduada em

Direito Civil pela Universidade Tiradentes e Procuradora do Município de Nossa Senhora do Socorro - Sergipe.

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à efetivação do Princípio do contraditório e da ampla defesa nos procedimentos administrativos disciplinares.

PALAVRAS CHAVE: Interpretação e Aplicação do Direito – Súmula Vinculante n. 05.

1. INTRODUÇÃO

A pesquisa tem por finalidade realizar um breve estudo

acerca da interpretação e aplicação do direito, sob a nova ótica

da hermenêutica constitucional, enfrentando a discussão sobre a

Súmula Vinculante n.05 do Supremo Tribunal Federal que

cancelou a Súmula 343 do Superior Tribunal de Justiça cujo teor

expressava que “é obrigatória a presença de advogado em todas

as fases do processo administrativo disciplinar”.

A edição desse verbete pelo Superior Tribunal de

Justiça foi fundamentada na materialização do Princípio do

contraditório e da ampla defesa dos processos administrativos,

conforme disposto no art. 5º, inciso LV da Constituição Federal,

tendo em vista que seus ministros, após diversas discussões

sobre a matéria, interpretaram o dispositivo de forma ampla e

entenderam que a constituição de advogado ou de defensor

dativo é, também no âmbito do processo administrativo

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disciplinar, elementar à essência da garantia constitucional do

direito à ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes7.

Entretanto, o Supremo Tribunal Federal, que tem o

dever de resguardar a Carta Constitucional e efetivá-la, sem

haver grandes debates sobre o assunto e sem precedentes

jurisprudenciais, interpretou o dispositivo de forma restrita e

legalista, cancelando o verbete do STJ e editando a Súmula

Vinculante n. 05 dispondo que “a falta de defesa técnica por

advogado no processo administrativo não ofende a

Constituição”.

O trabalho tem como objetivo enfrentar os argumentos

trazidos pelos Ministros na aprovação da Súmula Vinculante em

que se fundamentou a discussão e finalmente como foi realizado

o processo de interpretação do dispositivo da Constituição

Federal.

2. INTERPRETAÇÃO E APLICAÇÃO DO DIREITO

A interpretação e aplicação do direito têm passado por

algumas transformações, em virtude das mudanças ocorridas no

campo político, filosófico e social, com isso o direito não

7 Voto Vencedor da Relatora para o Acórdão da Ministra Laurita Vaz no Mandado de

Segurança n. 10.837.

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poderia ficar à margem desse contexto, surgindo então o novo

pensamento jurídico crítico.

Eros Grau (2002, p.60) afirma que na época clássica a

interpretação do direito era apresentada como uma atividade de

mera compreensão do significado do texto normativo. Por isso

que neste período somente era necessário interpretar normas

quando estas possuíam alguma obscuridade, ambiguidade ou

imprecisão nas palavras e expressões jurídicas, traduzido pelo

brocardo hermenêutico “in claris cessat interpretativo” (GRAU,

2002, p.61). E assim aparecia a atividade do intérprete de buscar

a compreensão e o sentido do pensamento do legislador da

época quando a lei não fosse clara.

Com as transformações do Estado e o desenvolvimento

da sociedade, o modelo tradicional de interpretação do direito

dessa época tornou-se insatisfatório, pois o sentido de

completude do ordenamento jurídico não se mostrava mais

eficiente, porque não conseguia responder às necessidades da

sociedade moderna.

Com isso, tornou-se necessário desenvolver uma nova

consciência reflexiva do direito, como traz Wolkmer (2006,

p.03) “o que se pretende é difundir a consciência para o novo

direito”, com a “discussão teórico-prática e a modificação dos

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valores e postura”, caracterizando o “pensamento jurídico

crítico” que surgiu em decorrência das transformações da

realidade social e política, estimulando o repensar do direito

como instrumento capaz de impulsionar a construção de uma

organização social mais justa, democrática e antidogmática.

Diante desses aspectos, a concepção do intérprete

jurídico não pode ficar ainda adstrita ao pensamento do

legislador da época, mesmo porque o direito é dinâmico e trata

das relações da sociedade, que com suas mudanças como:

globalização, diversidades, informatização não podem ser

analisadas de forma estática.

3. NOVA HERMENÊUTICA CONSTITUCIONAL E A

LEGITIMIDADE DEMOCRÁTICA

Nesse ambiente, surge a nova hermenêutica a partir das

críticas ao positivismo formalista, que se caracterizava com a

utilização da hermenêutica tradicional e seus métodos

Gramatical, Sistemático, Histórico e Teleológico, porém com as

transformações sociais e políticas, esses métodos se mostraram

insuficientes para resolver as questões mundo atual. Os novos

cânones hermenêuticos dão ênfase a justificação, argumentação

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e legitimação do resultado das escolhas do intérprete

(BARROSO, 2009, p.290).

Nesse sentido, Barroso (2009, p.339) traz que a

argumentação jurídica é um dos principais instrumentos

utilizado pelo intérprete do direito no desenvolvimento do

raciocínio lógico da estrutura da decisão, “aumentando a

racionalidade do processo de aplicação do direito e permitindo

um maior controle da justificação das decisões judiciais”.

Neste movimento também denominado de

neoconstitucionalismo, verifica-se uma aproximação do

constitucionalismo com a democracia, trata-se de uma releitura

do direito, caracterizado pela superioridade e força normativa da

Constituição, a qual deve ser aplicada a todos os ramos do

direito com força irradiante e supremacia dentro do

ordenamento jurídico, a ampliação da jurisdição constitucional

com criação de uma Corte Suprema cuja função é proteger a

Constituição, e por fim a nova interpretação constitucional para

efetivação e concretização dos direitos fundamentais

(BARROSO, 2009, p. 353).

Esses novos paradigmas estão interligados entre si de

forma que um depende do outro para que haja concretização dos

direitos fundamentais. Assim, não basta existir uma Corte

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Suprema, este órgão deve interpretar o direito a partir da nova

ótica constitucional.

Atualmente, tem-se discutido bastante sobre a

legitimidade democrática do ativismo judicial, pois com a

ampliação da jurisdição constitucional, todos os órgãos do Poder

Judiciário também realizam a interpretação conforme a

Constituição sob a ótica da nova hermenêutica. Assim, propõe-

se o debate aberto para conduzir a legitimidade democrática da

atividade judicial, já que na construção da norma no caso

concreto, deve-se permitir a participação dos interessados do

processo (BARROSO, 2009, p.340).

A atividade da Corte Suprema quando edita Súmulas

Vinculantes com natureza de norma geral e abstrata que vincula

todos os órgãos do Poder Judiciário, inclusive a administração

pública direta e indireta nas esferas federal, estadual e

municipal, também cria norma jurídica. O que, em tese,

configuraria invasão de competência do Legislativo, que tem

representação popular para legislar, por força do Princípio da

Separação dos Poderes. Por isso que a legitimação da edição de

súmulas vinculantes perpassa pela discussão e debate jurídico

amplo, permitindo a participação dos sujeitos interessados para

compensar este deficit democrático (BARROSO, 2009, p. 390).

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4. ENFRENTANDO OS ARGUMENTOS DA SÚMULA

VINCULANTE N. 05

Numa primeira visão, considerando a pré-compreensão

dos institutos jurídicos, o entendimento do STJ seria um

disparate, pois tornaria obrigatória a presença de advogado

também nos processos administrativos disciplinares, quando a

tendência moderna é dispensá-lo inclusive no processo judicial

ampliando o jus postulandi do cidadão para garantir ainda mais

o amplo acesso à justiça, e ainda relativizando o art. 133 da

Constituição Federal de que o advogado é indispensável à

administração da Justiça8. Sendo esses os principais

fundamentos jurídicos trazidos na votação da Súmula

Vinculante n.05.

Entretanto, esses argumentos podem ser facilmente

derrubados, porque a ampliação do jus postulandi é no sentido

de permitir o amplo acesso à justiça, garantindo o direito

fundamental de efetivar e ampliar o ingresso das demandas

perante o Poder Judiciário (NEGRISOLI, 2008). Portanto, o 8  Decisão em sede de Recurso Extraordinário n. 434.059, na qual aprovou a Súmula

Vinculante n.05.

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direito de ajuizar a demanda, como parte autora, na busca pelos

seus direitos, como ocorre com o jus postulandi perante a Justiça

do Trabalho, a parte reclamante que vai buscar os seus direitos

diante da justiça laboral, bem como no juizado especial civil.

Entretanto, quando se trata de parte acusada no processo

judicial, a legislação não permite a utilização do jus postulandi,

mesmo sendo juizado especial criminal, devendo ser nomeado

defensor dativo ou defensor público, nos termos do art. 68 da

Lei 9.099/95.

Vale destacar que a principal diferença entre o processo

administrativo e o judicial consiste no caráter substitutivo da

decisão judicial imposta entre as partes sujeito da disputa, autor

e réu, bem como a imutabilidade decorrente da coisa julgada

(MEDAUAR, 2008, p.57). Contudo, não é porque o processo

administrativo não faz coisa julgada que se permite a mitigação

da ampla defesa, pois, as características, a interpretação e a

eficácia dos direitos fundamentais devem ser amplas, mesmo

porque a Constituição Federal não faz qualquer restrição, pelo

contrário, estende a ampla defesa para o processo

administrativo, assim como o processo judicial.

Além disso, o processo administrativo disciplinar tem

natureza punitiva, pois realiza a apuração de ilícitos

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administrativos em face do servidor para aplicação de

penalidade que pode ser uma simples advertência até a demissão

ou cassação de aposentadoria, assim como há um litígio ou

controvérsia em que se exige a igualdade entre as partes, deve

ser garantida a bilateralidade das partes no processo entre a

administração e o servidor.

Ademais, a Constituição ao estabelecer que o advogado

é indispensável à administração da justiça, não deve restringir ao

Poder Judiciário, porque o Poder Executivo e o Legislativo

também possuem funções atípicas de julgar em processos

administrativos, com todos os princípios processuais e que

devem ser realizados com Justiça. Não se pode dar uma

interpretação restrita ao conceito de justiça apenas para

processos judiciais. Mesmo porque a presença de um advogado

perante os procedimentos disciplinares permite maior

fiscalização e segurança de que os direitos fundamentais do

servidor cidadão estão sendo preservados.

Vale destacar que o Princípio do contraditório e da

ampla defesa como direito fundamental, possui força normativa

e superioridade constitucional, e por isso deve ser interpretado

com a máxima efetividade. Dessa forma, a Lei 8.112/91 deve ser

interpretada de forma ampla e a partir da Constituição Federal,

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sob a ótica da nova hermenêutica jurídica, abordando, inclusive,

os aspectos dos direitos fundamentais como a proibição do

retrocesso.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante da análise da decisão da citada súmula pelo

STF, percebe-se que no discurso perpetrado não houve

enfretamento dos argumentos jurídicos, considerando os contra-

argumentos apresentados. Além disso, não houve a participação

da comunidade na discussão para legitimar a edição de Súmula

Vinculante, deixando à margem a nova hermenêutica

constitucional, bem como a evolução dos direitos fundamentais

pela própria Corte Constitucional.

Neste cenário, pretende-se enfatizar a interpretação e

aplicação do direito sob a ótica da nova hermenêutica jurídica e

constitucional como instrumentos para garantir a efetividade dos

direitos fundamentais, contribuindo para concretização do

Estado Democrático de Direito.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARROSO, Luís Roberto. Curso de direito constitucional contemporâneo: os conceitos fundamentais e a construção do novo modelo. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.

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GRAU, Eros Roberto. Ensaio e discurso sobre a interpretação/aplicação do direito. São Paulo: Malheiros, 2002. MEDAUAR, Odete. A processualidade no direito administrativo. 2. ed. rev. atual. ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008.

WOLKMER, Antonio Carlos. Introdução ao pensamento jurídico crítico. 5. ed. rev. São Paulo: Saraiva, 2006.

NEGRISOLI, Fabiano. O “jus postulandi” na justiça do trabalho: irracionalidade que pode impossibilitar a busca da verdade ou correção e impedir a concretização de direitos. Revista de Direitos Fundamentais e Democracia. v. 4. Curitiba: Unibrasil, 2008.

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NEOCONSTITUCIONALISMO E PÓS-POSITIVISMO:

FUNDAMENTOS TEÓRICOS PARA O CONTROLE DE

POLÍTICAS PÚBLICAS.

Manoel Cabral Machado Neto9

Resumo: O artigo examina como o neoconstitucionalismo e o

pós-positivismo servem de marcos teóricos na fundamentação

do controle judicial de políticas públicas. Destaca-se, também, a

força normativa da Constituição e o princípio da dignidade

humana como argumento na efetivação de direitos sociais.

Palavras-Chave: Neoconstitucionalismo; Pós-Positivismo;

Controle Judicial de Políticas Públicas.

Abstract: The article examines how the post-positivism and

neoconstitutionalism serve as theoretical frameworks in the

9 Mestrando em Direito (UFS), Especialista em Direito Processual Civil (FANESE), foi Professor de Direito Processual Civil e Teoria Geral do Processo (UFS) e Promotor de Justiça do Ministério Público do Estado de Sergipe.

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grounds of judicial review of public policies. It is noteworthy,

too, the normative force of the Constitution and the principle of

human dignity as an argument in the realization of social rights.

Keywords: neoconstitutionalism, Post-Positivism, Judicial

Control of Public Policy.

1 – Introdução.

O Legislador Constituinte, entre outros instrumentos, lançou

mão de positivar, em diversos dispositivos espraiados no texto

promulgado, um conjunto de direitos e garantias fundamentais,

com o intuito de, primordialmente, cumprir os objetivos de

construção de uma sociedade livre, justa e solidária,

promovendo o bem de todos e reduzindo as desigualdades

sociais (CF, art. 3º).

Os Poderes Legislativo e o Executivo, constituídos por

representantes legitimados através do voto popular (a

manifestação de vontade dos seus cidadãos), devem concentrar

esforços, de forma planejada, no sentido de efetivar os

comandos constitucionais pertinentes, implementando políticas

públicas que conciliem a promoção do desenvolvimento do país

sem se descurar da igualdade e da justiça, consideradas “como

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valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem

preconceitos” 10.

Mas a quem recorrer quando esses Poderes falham, ao

olvidarem, pela omissão, os seus compromissos com a nossa

Constituição Dirigente? Estaria o Poder Judiciário, devidamente

provocado por Órgãos essenciais à Justiça, autorizado pela Carta

Magna a efetivar um controle de políticas públicas?

Nesse breve estudo, entendemos que o pensamento

neoconstitucionalista, moderna visão do Direito Constitucional

embasada na vertente filosófica pós-positivista, serve de estofo

para o controle judicial da implementação de políticas públicas,

sendo que a sua atuação se dará de forma subsidiária, na medida

em que forem constatados excessos ou omissões imputáveis aos

Poderes Legislativo e Executivo.

2 – Neoconstitucionalismo e Pós-Positivismo. Implementação

dos Direitos Sociais através de Políticas Públicas.

O Neoconstitucionalismo, ou constitucionalismo

contemporâneo, apresenta-se como um novo paradigma da

10 Trecho do Preâmbulo constitucional.

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ordem constitucional. Desenvolveu-se no período pós-guerra,

apresentando-se como uma reação à corrente de pensamento

positivista do Direito que, inequivocamente, legitimou a

barbárie promovida pelos regimes totalitários (nazismo,

fascismo, franquismo, salazarismo, ditaduras militares, etc.),

cujas marcas deixadas na história registram a hedionda

inobservância dos direitos humanos.

Com o intuito de não esquecer os efeitos deletérios deixados por

tais períodos obscuros na história dos Direitos Fundamentais, o

surgimento de Diplomas constitucionais na Europa, a Doutrina,

e Jurisprudência em matéria constitucional11, dentro da linha de

pensamento pós-positivista, procuraram restabelecer a relação

entre o Direito e a Ética, reinserindo nas discussões a

necessidade de aproximar o respeito à lei dos conceitos de

justiça e legitimidade.

11 - Os principais diplomas e Tribunais Constitucionais são: A Lei Federal de Bonn, aprovada em 1949, e sua aplicação pelo Tribunal Constitucional Federal, criado em 1951; a Constituição Italiana de 1947 e a jurisdição desenvolvida pela Corte Constitucional Italiana a partir de 1956; e a redemocratização de Portugal (1976) e da Espanha (1978). Sobre o tema, v. BARROSO, Luís Roberto. Neoconstitucionalismo e Constitucionalização do Direito (O triunfo tardio do direito constitucional no Brasil). In BARROSO, Luís Roberto. Temas de Direito Constitucional, Tomo IV, 2009, p. 61/119.

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A propósito do tema, vale aqui transcrever as lições do Prof.

Luís Roberto Barroso (2009, p. 249/250): A doutrina pós-positivista se inspira na revalorização da razão prática, na teoria da justiça e na legitimação democrática. Nesse contexto, busca ir além da legalidade estrita, mas não despreza o direito posto; procura empreender uma leitura moral da Constituição e das leis, mas sem recorrer a categorias metafísicas. No conjunto de ideias ricas e heterogêneas que procuram abrigo nesse paradigma em construção, incluem-se a reintronização dos valores na interpretação jurídica, com o reconhecimento da normatividade aos princípios e de sua diferença qualitativa em relação às regras; a reabilitação da razão prática e da argumentação jurídica, a formação de uma nova hermenêutica; e o desenvolvimento de uma teoria dos direitos fundamentais edificada sobre a dignidade humana.

Configura-se, portanto, um novo fenômeno constitucional,

assentado em paradigmas que mesclam elementos difusos do

Positivismo e do Jusnaturalismo, cujas características básicas

podem ser, em síntese, classificadas segundo critérios formal-

metodológico e material (BARCELLOS, 2008, p. 132/137).

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De acordo com o aspecto formal-metodológico, o

neoconstitucionalismo apregoa, em síntese, que a Constituição

de um país é dotada de normatividade12, ou seja, os preceitos

constitucionais gozam de força vinculante, apresentando-se com

os atributos da coercibilidade e imperatividade. Em caso de

inobservância, deflagram-se os mecanismos de coação voltados

para assegurar a higidez da norma.

Ainda por esse aspecto, deixa-se patente, também, que a

Constituição está posicionada em patamar hierárquico superior

ao das demais normas encontradas no ordenamento jurídico,

característica que traz à tona, em face da pertinência, a noção de

paradigma utilizado pela Jurisdição Constitucional no controle

de constitucionalidade (Supremacia da Constituição).

12 Cabe aqui fazer referência ao artigo escrito pelo Prof. Inocêncio Mártires Coelho que, ao discorrer sobre o estudo desenvolvido por Konrad Hesse na obra “A Força Normativa da Constituição”, ressalta, como condição de eficácia normativa da Constituição, o intento de se querer realizar a “Vontade da Constituição”, que se concretiza a partir da atuação dos órgãos aplicadores do seu conteúdo e das relações travadas entre particulares, pondo em prática o seus ditames de modo a expandir a força normalizadora que atua sobre a sociedade, conformando-a segundo os seus preceitos. V. COELHO, Inocêncio Mártires. “Konrad Hesse: Uma Nova Crença na Constituição”. In: CLÈVE, Clémerson Merlin, BARROSO, Luís Roberto (Org.). Doutrinas Essenciais de Direito Constitucional, Vol. I. São Paulo: RT, 2011, Pág. 89/109.

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Por fim, o critério formal também anuncia que a Constituição

goza de uma posição central no ordenamento jurídico, tornando

matérias de natureza infraconstitucional como parte de seu

conteúdo e irradiando os seus efeitos na interpretação e

aplicação dessas mesmas normas (Constitucionalização do

Direito).

Sob o ponto de vista material, o constitucionalismo

contemporâneo reconhece nas Constituições um espaço onde

são previstas decisões valorativas e opções políticas gerais e

específicas, destacando-se, ainda, os conflitos de opções

jurídicas no sistema constitucional.

Em relação aos conflitos de natureza jurídica encontrados nas

Constituições, o tema traz para discussão os diversos choques de

bens jurídicos tutelados nas normas constitucionais, servindo

aqui de exemplo as colisões envolvendo a liberdade de

informação e a vida privada, a livre iniciativa versus proteção do

meio ambiente e do consumidor etc.

Em tais casos, materializados em pretensões corriqueiramente

apresentadas nos mais diversos tribunais, a solução ou pressupõe

a invocação de princípios normativos que, decotando

reciprocamente os âmbitos de cada bem jurídico em jogo,

permite uma harmonização que faz sobrelevar a unidade da

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Constituição; ou faz prevalecer um destes bens jurídicos em

disputa, como forma de assegurar a preponderância da vontade

constitucional.

Os direitos fundamentais sociais são aqueles cujo objeto

demanda uma prestação, ou seja, uma postura de ação, positiva,

por parte dos poderes públicos ou dos particulares,

especificando-se em direitos sociais, econômicos e culturais.

Diferentes dos direitos fundamentais de defesa, – cuja meta é

afastar a intervenção do Estado na esfera privada do indivíduo,

caracterizando-se como liberdades negativas – os direitos sociais

“encontram-se intimamente vinculados às tarefas de melhoria,

distribuição e redistribuição dos recursos existentes, [...]”

(SARLET, 2006, p. 298).

Os direitos sociais surgem como reação ao Estado de Direito

Liberal ou Estado Burguês de Direito. Neste, o que importava

era delinear um Estado Mínimo, que interviesse o menos

possível nas relações econômicas e na esfera privada do

indivíduo, valendo a liberdade do ter.

O Brasil, em sua Carta Magna consagra direitos sociais

espalhados em diversos artigos, prevendo um capitulo específico

tratando sobre a Ordem Social.

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Diante da força normativa das Constituições, característica do

neoconstitucionalismo, diversos direitos sociais devem ser

implementados por políticas públicas eficientes, não cabendo ao

administrador tomá-los como objetos de preceitos despidos de

força cogente, omitindo-se no seu cumprimento.

A supremacia e a força normativa da Constituição, premissas do

neoconstitucionalismo, autorizam que, diante de uma atuação

descompromissada com os fins especificados no texto

constitucional e imputável ao Legislativo e Executivo, entre em

cena a força da jurisdição constitucional, que, de forma

excepcional e seguindo critérios de razoabilidade, fará

prevalecer a sua dimensão política em prol da efetividade dos

direitos prestacionais.

3 – Considerações Finais.

As políticas públicas são o conjunto de medidas políticas,

jurídicas, administrativas e orçamentárias voltadas para a

implementação de direitos fundamentais.

Sob o aspecto formal-metodológico, o neoconstitucionalismo

apresenta a Constituição como um texto não só de cunho

político, mas também jurídico, dotado de força normativa e

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posicionado em nível superior às demais normas (força

normativa e supremacia da Constituição).

Ainda por esse critério, a Constituição goza de uma posição

central no ordenamento jurídico, irradiando os seus efeitos na

interpretação e aplicação dessas mesmas normas

(Constitucionalização do Direito).

Sob o ponto de vista material, o constitucionalismo

contemporâneo reconhece nas Constituições um espaço onde

são previstas decisões valorativas e opções políticas gerais e

específicas, destacando-se, ainda, os conflitos de opções

filosóficas e jurídicas no sistema constitucional.

Em face de comandos constitucionais que preconizam a

implementação de direitos sociais como um fim a ser

perseguido, ou daqueles que os tratam como direitos subjetivos,

o Legislativo e Executivo terão prioridade de atuação.

O Poder Judiciário, que atua subsidiariamente, tem o munus de

efetivar a normatividade dos preceitos constitucionais, visto que,

no papel de Defensor da Carta Política de 1988, sua função

harmoniza-se com as dos demais Poderes, na medida em que os

controla nas extrapolações ou nas leniências.

4 – Referências Bibliográficas.

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BARCELLOS, Ana Paula de. “Neoconstitucionalismo, Direitos Fundamentais e Controle de Políticas Públicas”, in: NOVELINO, Marcelo (Org.), Leituras Complementares de Direito Constitucional: Direitos Humanos e Direitos Fundamentais. Salvador: Juspodivm, 2008.

BARROSO, Luís Roberto. “Neoconstitucionalismo e Constitucionalização do Direito(O triunfo tardio do direito constitucional no Brasil)”, in Temas de Direito Constitucional, Tomo IV, Rio de Janeiro: Renovar, 2009.  

COELHO, Inocêncio Mártires. “Konrad Hesse: Uma Nova Crença na Constituição”, in: CLÈVE, Clémerson Merlin, BARROSO, Luís Roberto (Org.). Doutrinas Essenciais de Direito Constitucional., Vol. I. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011.

SARLET, Ingo Wolfgang. A Eficácia dos Direitos Fundamentais, 6ª ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006.

DA INCLUSÃO DAS PESSOAS COM

DEFICIÊNCIA NO MERCADO DE TRABALHO

Maria Lucia Ribeiro dos Santos13

13 Bacharel em Direito pela Universidade Tiradentes – UNIT. Pós-Graduanda em Direito Público pela Universidade Tiradentes – UNIT. Mestranda em Direito pela Universidade Federal de Sergipe – UFS.

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RESUMO

O objetivo do presente trabalho é analisar acerca da proteção

constitucional das pessoas com deficiência, notadamente, sob o

panorama da inserção desse grupo no mercado de trabalho.

PALAVRAS-CHAVE: Direitos Fundamentais; Pessoas com

deficiência; Mercado de trabalho.

ABSTRACT

The aim of this paper is to analyze the constitutional protection

of disabled people, especially under the panorama of this group

insertion in the labor market.

KEYWORDS: Fundamental rights, People witch disabilities;

Labor market.

SUMÁRIO

1. Os Direitos das Pessoas com Deficiência e sua proteção

Constitucional 2. A pessoa com deficiência e o mercado de

trabalho 3. Considerações Finais.

1 – OS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA E

SUA PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL

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Estima-se que mundialmente há 650 milhões de

pessoas com deficiência, isso corresponde a 10% da população

no mundo.

No Brasil, antes da Carta Política de 1988, raramente,

ouvíamos falar acerca das pessoas com deficiência e, muito

menos, sobre sua inserção na sociedade, em especial, no

mercado de trabalho.

Observa-se que a proteção das pessoas com deficiência,

necessariamente, se baseia a partir de 1975, com a produção de

documentos internacionais pela Organização das Nações Unidas

– ONU, sobretudo, a Convenção sobre os Direitos das Pessoas

com Deficiência e seu Protocolo Facultativo que foi adotada em

2006, e entrou em vigor na data de 03 de maio de 2008.

Patrícia Henriques Ribeiro (2001, p. 106-107) afirma

que, apesar de já estarmos na sétima Constituição Federal do

Brasil, podemos observar que desde a primeira Carta Magna

ocorreram poucas mudanças com relação ao Direito interno e

internacional.

Nesse contexto, podemos analisar que os direitos

fundamentais eram defendidos de uma forma muito incipiente

pela Constituição de 1967.

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Todavia, observa-se que, a previsão legal dos direitos e

garantias das pessoas com deficiência surgiu, plenamente,

apenas na Constituição de 1988. Deste modo, podemos

observar, notadamente, pela introdução de tratados e convenções

internacionais de direitos humanos, como a inserção da

Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu

Protocolo Facultativo, inserido pelo disposto do § 3º no art. 5º,

da nossa Carta Política, mediante a Emenda Constitucional n°

45/2004.

Logo, com a introdução do Decreto n° 6.949 em 25 de

agosto de 2009, de que trata sobre os Direitos das Pessoas com

Deficiência, no qual foi ratificado pelo Congresso Nacional em

09 de julho de 2008, podemos verificar que foi a partir da

admissão do documento de ordem internacional, que germinou

uma proteção constitucional para as pessoas com deficiência

dentro do nosso ordenamento pátrio.

Flávia Piovesan (2012, p. 153), afirma que: “a Carta de

1988 confere aos tratados de direitos humanos o status de norma

constitucional, por força do art. 5º, §§ 2º e 3º.

Celso D. de Alburquerque Mello (2000, p. 282),

evidencia que as Constituições passadas, também, se

preocupavam com a vida internacional do país, como por

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exemplo, na Constituição de 1824, podemos notar que já previa

a competência do imperador para celebração de tratados,

consoante o art. 102, alínea 8.

Apesar disso, somente notamos que foi a Constituição

Federal de 1988, que inseriu uma convenção internacional de

direitos humanos, no qual consagrou uma proteção

constitucional para as pessoas com deficiência dentro do

ordenamento jurídico brasileiro.

2 – A PESSOA COM DEFICIÊNCIA E O MERCADO DE

TRABALHO

Durante muitos anos, as pessoas com deficiência foram

afastadas do convício social. Podemos verificar que houve essa

exclusão em diversos campos sociais. Assim, a nossa

Constituição Cidadã consagrou dentre os fundamentos do nosso

Estado Democrático de Direito, a dignidade da pessoa humana,

a cidadania e os valores sociais do trabalho.

Destarte, podemos ressaltar alguns direitos que são

basilares das pessoas com deficiência:

Primeiramente, nota-se que há uma vedação

constitucional de qualquer forma discriminatória das pessoas

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com deficiência, seja com relação ao tratamento, salário ou

mesmo na sua admissão ao trabalho.

Também, a Carta Magna assegura uma prerrogativa

maior para este grupo, com relação ao acesso para cargos e

empregos públicos.

Determina que os logradouros públicos devam

possibilitar o livre acesso dessas pessoas. E, ainda, estabelece

que haja adaptação para essas pessoas na realização de

construção dos edifícios.

E em assunto de benefício previdenciário, essas pessoas

com deficiência, também, devem ter um tratamento

diferenciado.

Basicamente, é possível observar que a nossa

Constituição Federal consagra a questão da inclusão social,

tendo em vista que a partir do momento que ela trata destas

pessoas com deficiência de forma diferenciada, com vista na sua

inserção no meio social.

Portanto, examina-se que a inclusão social das pessoas

com deficiência na coletividade, é uma das políticas

fundamentais de garantia da nossa Carta Política.

Nesse contexto, ao impedir que este grupo seja

excluído da sociedade, a nossa Carta Magna estará consagrando

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outros princípios, como por exemplo, o princípio da igualdade

ou dignidade da pessoa humana.

Com efeito, estes dois princípios, o da dignidade da

pessoa humana e o da igualdade, eles irão conduzir para o

direito da acessibilidade dessas pessoas com deficiência.

Assim, enquanto a dignidade da pessoa humana serve

como uma espécie de lente para melhor visualizar nossa Carta

Política.

Por outro lado, o princípio da igualdade, que tem como

regra primordial de tratar os desiguais na medida das suas

desigualdades, sendo assim, é a possibilidade de oportunidade

para aquele indivíduo que não possua as mesmas condições que

tem outras pessoas.

Para a aplicação destes princípios e direitos básicos,

entende-se que devemos nos atentar no amparo dessas pessoas

com deficiência, para que sejam inseridas em nosso convívio

social, assim como se elas forem consideradas aptas pelo

médico para exercerem alguma atividade laboral, deve-se com

suas características específicas possibilitá-las que seja realizada

a sua integração ao mercado de trabalho.

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A empresa deve se preocupar com adequação do

deficiente, além de garantir sua perfeita acessibilidade ao

ambiente laboral (ROBERTO, 2004, p. 31).

Com efeito, podemos verificar no nosso convívio

social, que a plena inclusão deste grupo no mercado de trabalho,

ainda, tem um passo muito tímido. Contudo, deve ocorrer sua

promoção e a sua acessibilidade para inclusão adequada na

empresa, seja ela pública ou privada.

3 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto, examinamos que antes da

Constituição Federal de 1988, as pessoas com deficiência

viviam afastadas do convívio social. E, após a incorporação da

Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu

Protocolo Facultativo, inserido pelo disposto do § 3º no art. 5º,

da Carta Política, elas começam a serem, paulatinamente,

inseridas na coletividade.

Contudo, conclui-se, que mesmo existindo toda uma

estrutura jurídica, na qual protege constitucionalmente essas

pessoas com deficiência. Verifica-se, ao nosso redor que o

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desenvolvimento dessa inclusão das pessoas com deficiência ao

mercado de trabalho, ainda, caminha lentamente.

BIBLIOGRAFIA MELLO, Celso D. de Albuquerque. Direito constitucional internacional. Rio de Janeiro: Renovar, 2000. PIOVESAN, Flávia. Direito humanos e o direito constitucional internacional. 13. ed., rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2012. RIBEIRO, Patrícia Henriques. As relações entre o direito internacional e o direito interno: conflito entre o ordenamento brasileiro e as normas do MERCOSUL. Belo Horizonte: Del Rey, 2001. ROBERTO, Bolonhini Junior. Portadores de necessidades especiais: as principais prerrogativas dos portadores de necessidades especiais e a legislação brasileira. São Paulo: Arx, 2004.

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DURAÇÃO RAZOÁVEL DO PROCESSO, TEORIA DO CONFLITO E PROCESSO DE MEDIAÇÃO14

 

 

Flávia  Moreira  Guimarães  Pessoa15  

Nelson  Tavares  dos  Santos  Sobrinho16    

 

 

SUMÁRIO

14 O presente artigo foi elaborado no âmbito do grupo de pesquisa “Hermenêutica Constitucional Concretizadora dos Direitos Fundamentais e Reflexos nas Relações Sociais”, projeto de pesquisa A Concretização do Direto Fundamental à Duração Razoável do processo e o movimento nacional de incentivo a conciliação da Universidade Federal de Sergipe. Pesquisa com o apoio PIBIC da UFS. 15 Professora Adjunta da Universidade Federal de Sergipe, Coordenadora do Mestrado em Direito da UFS, Juíza do Trabalho (TRT 20ª Região), Especialista em Direito Processual pela UFSC, Mestre em Direito, Estado e Cidadania pela UGF, Doutora em Direito Público pela UFBA, líder do grupo de pesquisa “Hermenêutica Constitucional Concretizadora dos Direitos Fundamentais e Reflexos nas Relações Sociais” da Universidade Federal de Sergipe. Artigo elaborado com o apoio do PIBIC da Universidade Federal de Sergipe. 16 Acadêmico de Direito da Universidade Federal de Sergipe (UFS), bolsista do PIBIC, integrante do grupo de pesquisa “Hermenêutica Constitucional Concretizadora dos Direitos Fundamentais e Reflexos nas Relações Sociais” da UFS.

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1. Introdução. 2. O Direito Fundamental à razoável duração do processo. 3. Teoria dos Conflitos. 4. Teoria Geral da Mediação. 5. Considerações Finais. 6. Referências Bibliográficas.

RESUMO

Este artigo aborda a necessidade de o estado-juiz instituir métodos alternativos para garantir o direito à duração razoável do processo, essencial para enfrentar o atual contexto de intensa multiplicação das demandas processuais. Para isso, analisar-se-á a concretização do direito fundamental à razoável duração do processo através da análise do incremento da conciliação judicial, partindo da teoria do conflito e da análise da teoria geral do processo de mediação. Trata-se, enfim, de uma preocupação importante, de alto relevo, haja vista que, garantir a concretude do direito à duração razoável do processo, nada mais é do que reforçar o tal sonhado direito ao acesso à justiça.

Palavras chave: métodos alternativos, concretização e justiça. 1- INTRODUÇÃO

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O presente artigo visa examinar a concretização do

direito fundamental à razoável duração do processo, através da

análise do incremento da conciliação judicial, partindo da teoria

do conflito e da teoria geral do processo de mediação.

Enfatizar-se-á a ideia de que, mesmo na

mediação/conciliação, há a preocupação em assegurar a

aplicação de técnicas autocompositivas e, assim, garantir que

esses métodos alternativos não abandonem as garantias

fundamentais do processo civil, principalmente as de um

julgador imparcial e do contraditório.

2. O DIREITO FUNDAMENTAL À RAZOÁVEL DURAÇÃO

DO PROCESSO

A conceituação do que seja “direitos fundamentais” é

particularmente difícil, tendo em vista a ampliação e

transformação desses direitos no desenvolver histórico.

Sabe-se que o conteúdo dos direitos fundamentais foi

sendo alterado paulatinamente, a partir da verificação do seu

caráter histórico. Com efeito, consoante assinala Canotilho

(2003, p. 1395), os direitos fundamentais “pressupõem

concepções de Estado e de Constituição decisivamente

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operantes na atividade interpretativo-concretizadora das normas

constitucionais”.

Importa destacar, aqui, a existência de direitos

fundamentais processuais, tema bem desenvolvido por Julio

Guilherme Muller (2004), que aponta como direitos

fundamentais principais aqueles expressos no art. 5º, caput, e

seus incisos XXXV, LIII, LIV, LV, LVI e LX, ou seja, os

princípios da igualdade, do devido processo legal, contraditório,

ampla defesa, publicidade dos atos processuais,

inadmissibilidade de provas obtidas por meios ilícitos,

inafastabilidade da jurisdição e juiz natural (MULLER, 2004, p.

66).

Dentro da necessidade de concretização dos direitos

fundamentais processuais, especificamente o direito

fundamental à razoável duração do processo, ganha destaque a

questão relativa aos métodos alternativos de solução de

conflitos, razão pela qual o presente artigo procura conectar a

necessidade de melhor se estudar o fenômeno da

mediação/conciliação judicial com a explicitação dos

fundamentos da negociação.

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3. TEORIA DOS CONFLITOS

É perceptível a ampliação e transformação dos direitos

fundamentais do homem no desenrolar histórico dos últimos

séculos. Com o fito de melhor compreender tais mudanças, a

doutrina costuma classificá-los em: direito de primeira, segunda,

terceira e quarta dimensão.

Em breve síntese, pode-se dizer que as três primeiras

dimensões estão concatenadas, respectivamente, com os ideais

da Revolução Francesa (liberdade, igualdade e fraternidade) e

que a quarta dimensão, consoante entendimento de Bobbio

(2004, p.3), “referentes aos efeitos cada vez mais traumáticos da

pesquisa biológica, que permitirá manipulações do patrimônio

genético de cada indivíduo”.

Frisa-se que, com essa ampliação dos direitos

fundamentais, emergiram diversas novas formas de conflito na

prática forense de todos os tribunais brasileiros, aumentando em

progressões geométricas o número de demandas levadas à

apreciação do Poder Judiciário.

Diante dessa nova conjuntura, a necessidade de o

estado-juiz instituir métodos alternativos para garantir o direito à

duração razoável do processo torna-se inquestionável.

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4. TEORIA GERAL DA MEDIAÇÃO

Verifica-se a importância da mediação e da conciliação

como importantes mecanismos de composição de conflitos e

fortalecedores das relações sociais, que, de forma mais célere,

conseguem garantir o acesso à justiça.

Consoante ensina Adolfo Braga Neto, na tentativa de

delimitar o ponto conceitual da mediação, em seu artigo

intitulado Alguns aspectos jurídicos sobre a mediação de

conflitos, “a atividade é um método de resolução de conflitos em

que um terceiro independente e imparcial coordena reuniões

conjuntas ou separadas com as partes, com o objetivo, dentre

outros, de promover o diálogo entre elas a fim de possibilitar

maior reflexão sobre suas questões, com vistas à construção de

soluções”.

Nesse lamiré, percebe-se que, na mediação, o terceiro

não apresenta soluções para as partes, apenas conduz o

procedimento permitindo que elas mesmas discutam seus

conflitos abertamente. De modo diverso, exige-se do conciliador

uma participação mais ativa nas negociações, sugerindo

possíveis soluções às partes.

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Quanto às técnicas autocompositivas, optou-se por

seguir a seguinte divisão sugerida pelo referido manual de

mediação (2010, p.41-51):

a) Os Sujeitos do Processo: a.1 Das partes: o escopo da

mediação é de servir as partes, oferecendo-lhes um novo

caminho, mais célere e legítimo, para alcançar a tão aclamada

justiça; a.2 Dos Representantes Legais: do mesmo modo que o

advogado é indispensável à administração da justiça, conforme

expressamente previsto em nossa Carta Magna, a sua

importância não poderia ser diferente nos procedimentos de

mediação; a.3 Do Mediador: o medidor “deve agir com

imparcialidade e ressaltar as partes que ele não defenderá

nenhuma delas em detrimento da outra – pois não está ali para

julgá-las e sim para auxiliá-las a melhor entender suas

perspectivas, interesses e necessidades”. (MANUAL DE

MEDIAÇÃO, 2010, p.42); a.4 Do Co-mediador: segundo

BRAGA NETO, “a co-mediação é considerada como tal,

quando o procedimento for coordenado por mais de um

profissional”. Faz-se necessária a presença desse novo sujeito

quando há a necessidade de formação dos novos mediadores; e

a.5 Do Juiz: inicialmente, cabe ao magistrado apresentar às

partes uma nova opção de solução dos seus conflitos (como a

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mediação/conciliação), enfatizando as vantagens para ambas de

adotar esse novo método. (MANUAL DE MEDIAÇÃO, 2010,

p.43 e 44).

b) Estrutura do processo de mediação: b.1 Flexibilidade

Procedimental: essa flexibilização decorre do fato de que “a

principal meta do mediador é garantir, após o processo de

mediação, a continuidade dos relacionamentos, auxiliando as

pessoas na muitas vezes perturbadora dinâmica dos

relacionamentos”. (VILELA, 2007, p.33); e b.2 Sessões

Individuais: aqui, o mediador encontrará uma excelente

oportunidade para conquistar a confiança das partes.

Em pesquisa de campo realizada nas varas federais da

Seção Judiciária no Estado de Sergipe, percebeu-se que a

conciliação judicial naquela seara restringe-se, praticamente, às

ações judiciais cuja temática envolve o Sistema Financeiro

Habitacional (SFH), eis que as demais ações, em linha geral, são

de interesse da União e a liberdade para o Advogado da União

conciliar é reduzida. Naquelas ações do SFH, o percentual de

conciliação é altíssimo, pois envolve o direito fundamental de

moradia, o que acaba por “pressionar” o réu a aderir ao acordo.

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Em entrevista realizada com o Excelentíssimo Senhor

Juiz Federal Ronivon de Aragão, diretor do Núcleo de

Conciliação na sede da Justiça Federal de Sergipe, quando

interrogado se há alguma técnica especial de conciliação, o

mesmo destacou que: “procura-se utilizar uma linguagem mais

clara, objetiva, sem pressionar o acordo entre as partes. Em

determinados momentos, é preferível utilizar uma postura mais

mediadora, procurando não intervir muito no conflito. Noutros

casos, adota-se uma postura mais conciliadora, intervindo na

solução do conflito”.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Demonstrou-se que, com essa ampliação dos direitos

fundamentais, emergiram diversas novas formas de conflito na

prática forense de todos os tribunais brasileiros, aumentando em

progressões geométricas o número de demandas levadas à

apreciação do Poder Judiciário, dificultando, sobremaneira, a

efetivação do direito à duração razoável do processo, bem com o

acesso à justiça.

Diante dessa conjuntura, já explanada acima, veio à

tona a necessidade de o estado-juiz instituir métodos alternativos

para garantir o direito à duração razoável do processo, essencial

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para enfrentar esse contexto de intensa multiplicação das

demandas processuais.

É justamente nesse aspecto que se percebe a

importância da mediação e da conciliação como importantes

mecanismos de composição de conflitos e fortalecedores das

relações sociais, que, de forma mais célere, conseguem garantir

o acesso à justiça, sem que pra isso seja necessário se utilizar do

complexo e custoso aparato judicial.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Campus, 2004.

BRAGA NETO, Adolfo. Alguns aspectos jurídicos sobre a mediação de conflitos. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, 47, 30/11/2007 [Internet]. Disponível em: http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=2357. Acesso em 09/12/2011. CANOTILHO, José Joaquim G. Direito Constitucional e Teoria da Constituição. Editora: Almedina, 7ª Edição, 2003. MANUAL DE MEDIAÇÃO JUDICIAL DO MINISTÉRIO DA JUSTIÇA. Brasil, 2010.

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MULLER, Julio Guilherme. Direitos fundamentais processuais. Dissertação de Mestrado apresentada à Universidade Federal do Paraná. Curitiba: 2004. VILELA, Marcelo Dias Gonçalves (coord.). Métodos Extrajudiciais de Solução de Controvérsias. São Paulo: Quartier Latin, 2007 (Coleção LEXNET).

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A CONCRETIZAÇÃO DO DIREITO FUNDAMENTAL À DURAÇÃO RAZOÁVEL DO PROCESSO E A

CONCILIAÇÃO NA JUSTIÇA COMUM ESTADUAL17  

 

Flávia  Moreira  Guimarães  Pessoa18  

Rafaela  Góis  Teixeira19    

 

SUMÁRIO 1. Introdução. 2. A duração razoável do processo e a Conciliação Judicial. 3. Da pesquisa de campo. 4. Análise dos

17  Artigo  produzido  com  o  apoio  do  CNPQ/PIBIC  da  Universidade  Federal  de  

Sergipe  

18 Professora Adjunta da Universidade Federal de Sergipe, Coordenadora do Mestrado em Direito da UFS, Juíza do Trabalho (TRT 20ª Região), Especialista em Direito Processual pela UFSC, Mestre em Direito, Estado e Cidadania pela UGF, Doutora em Direito Público pela UFBA, líder do grupo de pesquisa “Hermenêutica Constitucional Concretizadora dos Direitos Fundamentais e Reflexos nas Relações Sociais” da Universidade Federal de Sergipe. Artigo elaborado com o apoio do PIBIC da Universidade Federal de Sergipe. 19Acadêmica de Direito da Universidade Federal de Sergipe, bolsista do PIBIC, integrante do grupo de pesquisa “Hermenêutica Constitucional Concretizadora dos Direitos Fundamentais e Reflexos nas Relações Sociais” da Universidade Federal de Sergipe.

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resultados da pesquisa; 5. Considerações Finais; 6 Referências bibliográficas.

RESUMO

Este artigo aborda o tema da conciliação como forma autocompositiva de pacificar conflitos e como meio de garantir a razoável duração do processo. Palavras chave: Duração razoável do processo; Conciliação Judicial no âmbito estadual. 1- INTRODUÇÃO O presente artigo visa a analisar a concretização do

direito fundamental à razoável duração do processo através da

análise da conciliação judicial no âmbito da justiça comum. Para

atingir o objetivo proposto, o artigo divide-se em três partes,

sendo ao final expostas as considerações finais.

Na primeira, é abordado o tema da conciliação e do

direito fundamental à razoável duração do processo. Na

segunda, são abordados os dados obtidos através da pesquisa de

campo, e, na terceira parte, são discutidos os resultados obtidos

através da pesquisa acerca da conciliação na justiça comum

estadual. Finalmente, são apontados os pontos principais do

texto.

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2. DURAÇÃO RAZOÁVEL DO PROCESSO E

CONCILIAÇÃO JUDICIAL

Através da Emenda Constitucional 45/2004, inseriu-se o

princípio da razoável duração do processo dentro das garantias

asseguradas a cada indivíduo, insculpido no inciso LXXVIII20

do artigo 5 º da Constituição Federal de 1988. Contudo, esse

instituto não é novo, pois a Convenção Americana de Direitos

Humanos, também conhecida pelo Pacto de San José da Costa

Rica, que tem o Brasil como signatário, estabelece em seu art.

8º, que o direito a ser ouvido com as devidas garantias e dentro

de um prazo razoável por um juiz, imparcial, independente e

competente para o exame da matéria, é pertinente a todos os

indivíduos.

Os motivos que levaram o legislador a erigir a questão

do tempo ao nível de garantia fundamental referem-se

justamente à insatisfação da sociedade com a demora da

prestação jurisdicional.

20 Art 5º- LXXVIII- a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.

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Entre as alternativas trazidas pela legislação reformista, a

conciliação aparece como um instrumento processual de vital

importância para a obtenção da imprescindível celeridade e

efetividade da prestação jurisdicional.

Etimologicamente a palavra conciliação deriva do latim

“conciliatone”, cujo significado é ato ou efeito de conciliar;

ajuste, acordo ou harmonização de pessoas; união; combinação

ou composição de diferenças. Na legislação, o termo é

empregado no sentido de procedimento do órgão judiciário,

presidido por um terceiro imparcial (o conciliador), cuja atuação

visa facilitar o acordo entre as partes.

Na conciliação judicial, o que se busca, sobretudo, é que

as partes consigam resolver os seus problemas por si mesmos21.

Em razão disso, diz-se que a conciliação é um mecanismo

autocompositivo, informal, em que a solução do problema não é

dada por um terceiro, mas pelas próprias partes. O conciliador é

parte fundamental nesse processo, uma vez que viabiliza o

diálogo, convida à negociação e coordena os trabalhos.

21 “No direito brasileiro existe a conciliação nas causas de direito do trabalho, de direito civil em geral, inclusive de direito comercial e nas causas de direito de família”. ALVIM, Arruda, p. 120.  

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3- DA PESQUISA DE CAMPO

A implementação dessa pesquisa teve como base a

entrevista de magistrados e conciliadores de dez varas da justiça

comum de Aracaju, incluindo juizados cíveis e criminais, varas

cíveis e privativas. As questões abordadas na entrevista

suscitaram dentre outros pontos, como vem se desenvolvendo a

conciliação em suas respectivas varas de atuação; se é utilizada

alguma técnica especial de conciliação; se a atuação do CNJ

vem favorecendo a prática conciliatória e de que forma; se o

entrevistado vê relação entre a conciliação e o princípio da

duração razoável do processo, e a porcentagem de acordos

obtidos nas audiências conciliatórias.

Os entrevistados disseram que a conciliação tem sido

desenvolvida de forma mais efetiva na justiça comum após a

criação da Central de Conciliação e do Núcleo de Conciliação

em Sergipe, através das Resoluções 58/2006 e 11/2011,

respectivamente, fomentadas por resoluções do CNJ. Além

disso, foi dito se que adverte sempre às partes que a sentença

judicial é um risco, e de tal forma que a conciliação apresenta-se

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como uma solução em que ambas as partes ganham e ambas

perdem.

Quanto á utilização de técnica de conciliação, os

entrevistados responderam que em regra se utilizam das técnicas

usadas na mediação. Nos casos específicos dos juizados cíveis e

criminais e nas varas privativas, disseram que não se utilizam de

técnica específica, sendo empregados os princípios da celeridade

e da informalidade, os quais são pilares dos juizados

estabelecidos pela Lei 9.099/95.

No tocante a atuação do CNJ no fomento à conciliação,

em síntese foi dito que a Resolução 125 do CNJ foi

imprescindível para o fomento não só da conciliação, mas de

outras formas autocompositivas de conflito, a exemplo da

mediação. Também foi dito por alguns entrevistados que a

atuação do Conselho Nacional de Justiça tem incentivado a

conciliação não apenas através da promoção de cursos para

aprimoramento dos juízes e dos servidores vinculados à

conciliação, como também através de campanhas com esta

mesma finalidade, bem como com gestões junto às instituições.

A respeito da relação entre a conciliação e a efetivação

do princípio da duração razoável do processo todos os

entrevistados responderam que constatam na prática forense essa

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estreita ligação. Segundo eles, um processo solucionado através

da conciliação tem um tempo de duração muito mais curto,

evitando audiências de instrução e eventuais recursos que

procrastinam o andamento do feito.

Quanto à porcentagem de acordos obtidos nas audiências

de conciliação os números variam de acordo com cada vara,

cada juizado e também de acordo com as ações que são

submetidas à conciliação, conforme se nota no gráfico abaixo:

4- ANÁLISE DOS RESULTADOS DA PESQUISA

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Conforme dados obtidos por meio das entrevistas

realizadas nas varas cíveis, privativas e de assistência, e nos

juizados cíveis e criminais, a resolução de conflitos através de

métodos autocompositivos, a exemplo da conciliação, ainda é

maior entre as pessoas mais carentes, pois normalmente o que se

está em discussão são os direitos primários de subsistência, os

quais requerem uma solução rápida. Dessa forma, percebe-se

que são nas varas privativas e nas varas de assistência onde

ocorrem o maior número de acordos, pois normalmente a

maioria do público alvo atendido por essas enquadra-se no perfil

acima relatado..

Por outro lado, nas varas cíveis os percentuais de acordos

obtidos por meio da conciliação ainda são baixos, ficando em

torno de 24%.. Vale ressaltar, porém, a iniciativa de alguns

magistrados que vem desenvolvendo um trabalho muito

importante, no sentido de se conseguir melhores resultados com

as práticas de conciliação, além de expandi-las para o interior.

Outra questão suscitada é o fato dos entrevistados

afirmarem que a presença do advogado na audiência

conciliatória normalmente dificulta o estabelecimento do acordo

entre as partes. Em virtude disso, é imprescindível que haja uma

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mudança desse perfil dos advogados, a fim de tornar a prática

conciliatória muito mais efetiva e eficaz nos tribunais.

4- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante disso, o presente estudo acerca da conciliação no

âmbito da justiça estadual, possui o intuito não de exaurir a

temática, mas sim trazer para o cenário acadêmico a discussão

sobre a realidade da utilização da conciliação, a luz da

necessidade de efetivação do direito fundamental à razoável

duração do processo. Acrescente-se a isso, a necessidade de

mudanças no perfil de alguns magistrados e advogados que

ainda se mostram resistentes na aplicação da conciliação, com

vistas a uma maior celeridade processual.

Desta forma, a pesquisa concluiu que apesar de a

conciliação estar sendo paulatinamente aplicada na nossa prática

forense, ainda há muito que avançar no sentido de se concretizar

o direito fundamental à razoável duração do processo.

5- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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A FUNÇÃO METAJURÍDICA DA COMUNICAÇÃO: O DIREITO FUNDAMENTAL E FUNDANTE À LIBERDADE DE EXPRESSÃO NA CONCEPÇÃO DE DIREITOS.

Roberto Wagner Xavier de Souza22 RESUMO Este artigo propugna enumerar alguns pontos relevantes acerca dos direitos fundamentais à liberdade de expressão e comunicação abordando as novas perspectivas e concepções que o exercício desses direitos pode, de forma reflexiva, configurar no ordenamento jurídico. Objetiva-se traduzir o caráter fundamental e fundante da liberdade de expressão como propulsora e concretizadora do direito posto e na construção de novos direitos. Palavras Chave: Direitos Fundamentais, Liberdade de Expressão, Novos Direitos.

ABSTRACT

22 Mestrando em Desenvolvimento e Meio Ambiente - PRODEMA / UFS, Especialista em Direito Constitucional pela UNIDERP - Anhaguera/LFG, Bacharel em Direito pela UFS, Integrante do Grupo de Pesquisas em Hermenêutica Constitucional Concretizadora dos Direitos Fundamentais e seus Reflexos nas Relações Sociais / CNPq. E-mail: [email protected].

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This article calls enumerate some relevant points about the fundamental rights to freedom of expression and communication addressing the new perspectives and ideas that can exercise these rights, reflectively, set in law. The objective is to translate the fundamental and foundational nature of freedom of expression as driving and concrete post and the right to construct new rights. Keywords: Fundamental Rights, Freedom of Expression, New Rights INTRODUÇÃO

O indivíduo está ligado à base de formação do Estado,

mais especificamente, quando abriu mão de parte da liberdade

de que dispunha, em prol de segurança. Desta feita, formou-se o

Estado, provedor e protetor das liberdades. As normas, em

sentido geral, que edita têm o condão de regular o exercer das

liberdades e suas limitações, mas também constituir direitos.

Os meios pelos quais os órgãos institucionalizados do

Estado e da Sociedade Civil se desenvolvem, legitimam a

maneira pela qual cada indivíduo desses participa. Remete ao

direito da livre manifestação de pensamento, de opinião, a

liberdade de expressão, comunicação e informação. Assim, a

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consecução e legitimidade popular de uma norma perpassam

pela sensibilização23 daqueles a quem se destina.

A liberdade de comunicação decorre da liberdade de

expressão, pois o ato de expressar, tornar exterior, público, de

ampliar a esfera do conhecimento, de levar a informação através

de palavras, imagens, de signos, enfim; objetiva traduzir em

sinais que possam ser compreendidos, a possibilidade de fazer

dessa liberdade um direito que se manifesta na essência do

pensamento e se expande até a necessidade do saber e perfazer.

A liberdade de expressão vai além da ordem material,

pois mesmo que provido de bens necessários a sua

sobrevivência, o ser humano continua a almejar o convívio e

contato com seus semelhantes. Como ser social, desenvolve

formas de comunicação eficazes nos meios e que manifestem de

maneira íntegra o conteúdo que se deseja informar.

A natureza jurídica e social da comunicação assevera a

formação social, política e ampara a dignidade da pessoa

humana, ancorada nos fundamentos do Estado Democrático de

23 Utilizou-se o termo sensibilização, por ele melhor se ajustar ao contexto, de forma que traz em seu significado a conscientização reflexiva, a qual além de despertar para as questões sociais, denota maior envolvimento e comprometimento perante à quem se vincula .

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Direito (art. 1º da CF). A Liberdade de Expressão corrobora e

prenuncia que o elemento fundante das liberdades é a

justificação da formação de outros direitos.

A FUNÇÃO SOCIO-JURÍDICA DA COMUNICAÇÃO

Ao positivar a liberdade de expressão foi o Constituinte

taxativo ao estatuir o caráter essencial e evolutivo da

comunicação e da informação. Essa evolução se faz latente na

construção de uma sociedade livre. Livre para pensar, agir,

informar e ser informada, na busca de ideais balizados na

consecução da justiça, do acesso a esta e em conformidade com

a solidariedade que objetiva justificar o individual na construção

do coletivo.

O direito individual de comunicar livremente os fatos e o

direito difuso de se obtê-los, decore da liberdade de expressão, a

qual configura o direito de externar idéias e posicionamentos; a

manifestação do pensamento humano. Esse direito fundamental

traduz a concretização do pluralismo político e de idéias,

inclusive ao lastrear a isenção tributária na comercialização de

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livros, jornais e materiais impressos de cunho informativo ou

formativo.

A liberdade de informação se insere na liberdade de

expressão. Informação que não pode prescindir da verdade, mas

se submete a um critério de prevalência, pois há exercício do

direito de informação quando a finalidade da manifestação for

comunicar fatos noticiáveis (BARROSO, 2007). Desta feita, a

liberdade de expressão atende de forma inegável ao interesse

público ao perpassar o caráter individual e erigir-se a uma

dimensão coletiva.

Ao se inserir no contexto da cidadania, as liberdades de

expressão, comunicação e informação, quando lidam com meios

de comunicação social ou de massa, ligam-se à possibilidade e

necessidade de participação. Eis os fatores preponderantes na

manifestação da cidadania, no respeito às diversidades culturais,

étnicas, religiosas, sociais e econômicas em plena sintonia com a

dignidade da pessoa humana. Eis o nascedouro do pluralismo de

idéias e gerador de um centro difusor e democrático, sem

restrições de natureza política.

A Constituição denota que a liberdade de comunicação é

um conjunto de formas, meios, processos e direitos implícitos e

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explícitos. Eles propiciam a possibilidade de criação, difusão,

expressão, esclarecimento e a formação do pensamento. São

direitos que auxiliam na consolidação de outros direitos com

vistas a concretizar a dignidade da pessoa humana e os demais

fundamentos e objetivos do Estado Democrático de Direito.

No que tange à validade de normas jurídicas, pode-se

citar a Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro24, a

qual define que, salvo disposição em contrário, uma norma

jurídica passa a vigorar em todo o país após quarenta e cinco

dias depois de oficialmente publicada25. É condição sine qua

non para a promulgação de normas jurídicas, a publicação, ou

seja, a comunicação de sua aprovação e sanção pelos poderes

constituídos.

Do ponto de vista processual, o princípio da publicidade

elevado à garantia constitucional, enumerado pelo art. 5°, LX da

CF e ratificado pelo art. 155 do CPC denota o grau de destaque

da comunicação, com ressalvas aos casos de segredo de justiça,

24 Decreto-Lei nº 4.657/1942, alterado pela Lei 12.376/2010. 25 Art. 1º da LICC – Decreto-Lei n° 4.657 / 1942.

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em razão do interesse público ou algum interesse particular

relevante26.

Muitos dos atos processuais só têm validade a partir do

momento de sua publicação. Como exemplos, pode-se

enumerar: modalidades de citação ficta27, a citação por edital, o

qual pode ser publicado por emissoras de rádio ou de televisão

ou na imprensa escrita, sendo a primeira no Diário Oficial e as

outras duas em jornal de grande circulação local.

Os princípios da administração pública, expressos no art.

37 da CF, tem sua eficácia corroborada pelos atos de impressa.

Ela lhes confere valor suprajurídico, ou seja, moral, ético e de

caráter essencial. Eles se valem no plano de existência do direito

à informação e comunicação por lidarem com o interesse e bens

públicos, atendendo a sua função social.

A eclosão de novos direitos, de novas concepções ou

formas de exercício de direitos e deveres torna-se comum na

Sociedade de Informação, a qual se caracteriza pelo uso 26 CÂMARA, 2007. 27 A citação é o ato pelo qual se chama a juízo o réu ou o interessado a fim de se defender, art. 213 do CPC, ainda que haja críticas que classifiquem como insuficiente este dispositivo já que em determinados processos o réu não é chamado para se defender, mas sim para cumprir obrigação, a exemplo dos processos de execução de títulos.

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contínuo da Internet, da TV Digital, do Celular e os Sistemas de

Vídeo-Conferência em real time. Como exemplo tem-se a lei

9.795/99, que em seu art. 13, parágrafo único, inciso I regula

que, o poder público incentivará a difusão nos meios de

comunicação de massa, em espaços nobres, de programas e

campanhas educativas, informações relacionadas ao meio-

ambiente.

O acesso à informação funciona como fonte contributiva

para o alcance da educação. A palavra educação, do latim ex

duco, significa colocar para fora, ou seja, informar, transmitir

conhecimento, assim a inclusão social pela informação educa e

forma cidadãos conscientes de direitos, deveres e liberdades.

Ao conceder o status de norma fundamental às

liberdades comunicativas, o Constituinte tachou e revestiu os

diversos meios de imprensa, de diretrizes sociais. A mídia

tornou-se o liame entre o ideal e o real, entre a norma escrita e a

aplicada, entre o direito em potencial e o direito líquido e certo.

Os meios de comunicação social adquiriram funções que os

fazem prezar pelo comprometimento sócio-jurídico, ético e

moral e a convivência social.

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CONCLUSÃO

O papel da mídia na construção da cidadania se faz,

então, presente em diversas áreas do direito. Sendo o direito

constituído de fatos jurídicos, os quais são fatos sociais por

natureza; a liberdade de expressão, comunicação e de

informação, de que se serve o direito, tem função social de alta

relevância, mais que jurídica; metajurídica ou suprajurídica.

Os meios de comunicação de massa têm função

esclarecedora, norteadora, divulgadora da cultura humana

auxiliando no conhecimento do passado e na compreensão do

presente. De forma complementar auxiliam na melhor

interpretação, integração e consolidação da eficácia das leis,

demais atos normativos, decisões, jurisprudência, formulação de

políticas públicas de cunho integrador social, bem como no

papel essencial à justiça exercido pelo Ministério Público, pela

Defensoria Pública e pela Advocacia.

Destarte, a mídia exerce função política em sentido

amplo de várias maneiras desde a fiscalização dos órgãos do

Estado, aos agentes públicos que a eles se integram. Ela fornece

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aos cidadãos informações indispensáveis para de maneira

perspicaz tomar as decisões no âmago de uma democracia

deliberativa, transparecer os conteúdos axiológicos e as

necessidades prementes dentro de um debate público, social e

jurídico.

A caracterização do papel desempenhado pela mídia

legitima sua essencialidade e justifica as limitações a ela

impostas e que ela impõe; uma dualidade antológica entre o

possível e o determinado, entre o dever e o direito. O

ordenamento jurídico se vale da função informativa

transformando-a em fonte legitimadora, formadora e propulsora

de direitos.

   

4. REFERÊNCIAS

 

ALEXY, Robert. Constitucionalismo Discursivo. 2. ed. Tradução de Luís Afonso Heck. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008.

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A NATUREZA JURÍDICA DO MEIO AMBIENTE E O DIREITO DA NATUREZA: NOVAS CONCEPÇÕES

JURÍDICAS PARA A SOCIEDADE MODERNA.

Roberto Wagner Xavier de Souza28 Flávia Moreira Guimarães Pessoa29

RESUMO O artigo tem o intuito de trazer à tona os contornos do novo paradigma sócio-jurídico e ambiental de caracterizar e tutelar o meio ambiente como sujeito de direito, corroborando a idéia de direito fundamental e de direito fundante, ainda que esta característica não esteja explicita na Constituição de 1988. Palavras Chave: Direito Fundamental, Sujeito de Direito, Novo Paradigma

28 Mestrando em Desenvolvimento e Meio Ambiente - PRODEMA / UFS, Especialista em Direito Constitucional pela UNIDERP - Anhaguera/LFG, Bacharel em Direito pela UFS, Integrante do Grupo de Pesquisa (CNPq) “Hermenêutica Constitucional Concretizadora dos Direitos Fundamentais e seus Reflexos nas Relações Sociais” da Universidade Federal de Sergipe. E-mail: [email protected]. 29 Juíza do Trabalho da 4ª Vara do Trabalho (TRT 20ª Região), Professora Adjunto da Universidade Federal de Sergipe, Especialista em Direito Processual pela UFSC, Mestre em Direito, Estado e Cidadania pela UGF, Doutora em Direito Público pela UFBA, líder do grupo de pesquisa (CNPq) “Hermenêutica Constitucional Concretizadora dos Direitos Fundamentais e Reflexos nas Relações Sociais” da Universidade Federal de Sergipe. E-mail: [email protected].

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ABSTRACT The article aims to bring out the lines of the new paradigm socio-legal and environmental characterization and protecting the environment as a subject of law, supporting the idea of fundamental and foundational law, although this feature is not explicit in Constitution of 1988. Keywords: Fundamental Right, Subject of Law, New Paradigm INTRODUÇÃO

A existência e a fruição de direitos dependem de uma

série de questões. Dentre elas pode-se citar: os valores éticos,

morais, sociais, naturais; a interpretação desses valores, a

possibilidade de aplicação, destinatários de tais direitos, os fatos

que lhes dão origem, a atividade legislativa (o juízo hipotético

do dever ser), a legitimidade e a efetividade que conferem

validade e eficácia perene à norma de caráter abstrato ou

concreto.

Esse raciocínio se dirige de forma mais enfática aos

direitos fundamentais. Da interpretação à aplicação reside uma

duplicidade de denominação: fundamentais por serem essenciais

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a quem se dirigem e fundamentais por oferecerem alicerce a

uma ordem estabelecida. Tratam de situações e estados jurídicos

sem os quais não há como dar sustentáculo à vida, a liberdade e

a igualdade; direitos naturais por excelência.

O elemento fundante repousa na possibilidade de que o

valor e a sua relevância sejam colocados em um patamar não

apenas em função do destinatário, mas que seja considerado o

valor em si mesmo. Instaura-se assim, uma crise paradigmática

onde o que se busca proteger é um direito difuso por excelência

ou a sua transmutação de direito em sujeito direito.

Cada direito pressupõe um dever respectivo, quer seja

exercido ou usufruído por outrem. Quando o destinatário de um

direito não possui capacidade de postulá-lo é representado ou

assistido por aquele que possua legitimidade para fazê-lo. A

tutela da natureza denota que o meio e o que ela dispõe seja

assegurado; todos os seus componentes.

Um Novo Paradigma: A Natureza como Sujeito de Direito

O direito ambiental como doutrina, ciência e fato jurídico

(ou social) é relativamente novo. Nele se busca solução para

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uma série de crises, conflitos e questões práticas que se tornaram

rotina nas sociedades contemporâneas. Esses conflitos, muitas

vezes, são fruto do choque de interesses ou da falta de

consciência e racionalidade ambiental ou ainda sócio-política,

acerca da finitude dos recursos naturais disponíveis.

Segundo Thomas Kuhn os paradigmas são “as

realizações científicas universalmente reconhecidas que, durante

algum tempo, fornecem problemas e soluções modelares para

uma comunidade de praticantes de uma ciência” (2011, p.13).

Todavia, o núcleo do paradigma é o reconhecimento e a

capacidade deste em propor problemas e soluções modelo.

François Ost (1995) destaca que a crise é ao mesmo

tempo de vínculo e de limite, pois o paradigma posto não

consegue estabelecer o liame entre o animal, a vida e a natureza,

mas também discernir o que entre eles se distingue. Perdura a

celeuma acerca das raízes, dos elos que permitem a existência de

uma oportunidade, um lugar, uma transmissão, as linhas, os nós,

os laços, as afinidades, a aliança, a união e a filiação; a

possibilidade de alteridade e partilha.

O paradigma posto não consegue estabelecer com

precisão e definição clara os limites ou vínculos, infere-se que

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não há vínculos por falta de uma não-identidade ou por fazerem

parte do mesmo todo.

O ser humano para sobreviver carece da natureza e de

outra forma, a natureza, como é conhecida, só existe graças ao

homem que a define. Ele é o único ser capaz de pensá-la. Não se

pode separá-los. Perfazem uma relação de parte e todo que não

se aparta, seja pela impossibilidade de existência material,

equilíbrio psíquico daquele, ou ainda, a estreita afinidade de

causa e consequência gerada através dos fatos (natureza) e atos

(humanos), desde o fenômeno natural até as relações sociais

postas.

A relação homem-natureza se torna mais cristalina ao

trazer a lume o conceito de Ecologia profunda proposto por

Arne Naess30. Segundo Capra(2006), o mundo requer e

necessita de nova visão holística ou ecológica, onde os valores

são essenciais e para a Ecologia Profunda toda questão de

valores é essencial. O velho paradigma está baseado em valores

antropocêntricos enquanto o ecocentrismo considera a Terra

30 Arne Naess é um filósofo Norueguês criador do movimento filosófico conhecido como Ecologia Profunda, idealizado depois da publicação de um artigo intitulado “The shallow an the deep, long-range movement. A summary” em 1973 no periódico Inquiry.

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como centro, sem olvidar do valor da vida humana, mas

imbricado em uma rede de interdependências.

Ao se inserir tal percepção na consciência cotidiana

emerge um sistema radicalmente novo. Para Kunh (2011) é em

meio à crise paradigmática, durante o período pré-paradigmático

da ciência, que se começa a empreender a nova teoria.

O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,

disciplinado nos moldes do art. 22531 da CF permite elucubrar

uma interpretação extensiva do conceito de gerações. Ele não

necessariamente se dirige de forma exclusiva às gerações

humanas, mas pode estar unido a noção de gerações de seres

vivos. Filosoficamente, a palavra ser pode ser entendida como

aquilo que não se pode negar que é. Segundo Aristóteles é o

essencial porque é aquilo que está numa coisa que é, e se não

estivesse, a coisa não seria; “é por si mesmo”32.

Nesta rota, a sociedade é quem confere legitimidade ao

Estado. Quando há conflito entre os interesses, deve o Estado

31 Art. 225 da CF de 1988 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. 32 ARISTÓTELES. Metafísica. Tradução de Leonel Valandro. Porto Alegre: Globo, 1969.

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através de seus poderes equalizá-los. Esses interesses nascem de

grupos sociais organizados ou de valores defendidos como

primordiais em detrimento de outros. Valores que brotam da

natureza e da existência dos seres, indivíduos, bens e as relações

estabelecidas entre todos esses. Quando há celeumas no cerne da

sociedade, devem-se ponderar tais valores.

A posição de que a natureza não tem valor fora de seu

uso pelo ser humano, se assenta na concepção de que algo para

ter poder precisa de um sujeito que o valorize, assim, o homem é

quem possui essa capacidade de avaliar e decidir sobre o uso da

natureza. A possibilidade de representação da natureza é análoga

à representação da pessoa jurídica pela pessoa física, com o

detalhe de que a pessoa jurídica é uma ficção e a natureza existe

no plano material.

Para ser provido de estatuto moral devem-se admitir

considerações morais ou respeito pelos seus próprios direitos.

Para a Ética Ambiental é mister decidir que entidades possuem

estatuto moral e os critérios para atribuí-los e hierarquizados

(VIDAL, 2010).

O estatuto moral leva em consideração a potencialidade e

a continuidade da existência de outrem ou ainda a

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interdependência em cadeia, sem descaracterizar os conflitos de

interesse moral. A ponderação de valores é a forma mais

satisfatória de equilibrá-los sem extinguir ou desconsiderá-los.

Reconhecer o valor objetivo de algo enseja prescrever deveres

em função deste, os quais poderão ser representados por

indivíduos providos de racionalidade, capacidade e legitimidade

para defender e exigir o respeito a esses interesses.

A tendência sócio-jurídica apontada já sobressai na

América Latina, quando a nova Constituição do Equador de

2008 em seus artigos 10, 14, 71 e 72, além de chancelar o meio

ambiente ecologicamente equilibrado, garante o respeito integral

de sua existência, manutenção, regeneração, de seus ciclos

vitais, estrutura, funções e processos evolutivos. A Natureza será

sujeito de todos os direitos que a Constituição Equatoriana

outorgar.

Ainda que a Constituição Brasileira não chancele de

forma explícita tal possibilidade, de se atribuir direitos à

Natureza, a hermenêutica concretizadora e a interpretação

extensiva e sistemática da CF o podem. Canotilho (2010)

vislumbra a previsibilidade de um Habeas Naturale ou Ação de

Amparo Natural ou Direito à normação ambiental. Entende que

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as normas constitucionais, internacionais e legais ambientais

apresentam inequívocos difíceis de exequibilidade, agravando o

problema da efetividade do direito ambiental.

CONCLUSÃO

O processo de construção do saber perpassa o

conhecimento da natureza ou as características biológicas e

físicas do homem. Ele se assenta na busca de respostas, desde a

afirmação e a compreensão das leis naturais até o domínio

exercido pelo homem sobre a natureza, a relação reflexiva,

experiências, modificações, conhecimentos produzidos e

adquiridos a partir da organização social que o direito também

perfaz.

O Direito é ciência e visa constituir conhecimento

traduzindo-se em prática, baseado no estabelecimento de

indicadores sociais, políticos, ambientais e culturais. A natureza

de que dispõe é quem propicia ao ser humano a fruição de

direitos, alcançando nela, as formas através das quais há uma

relação de interdependência e reciprocidade: dependência-

integração, desenvolvimento-harmonia, equilíbrio-sustento.

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A consolidação de um novo valor perpassa pela

identidade, percepção, sensibilidade e possibilidade de que se

gerem referenciais plausíveis e executáveis. A concepção

integrativa do ambiente decorre da participação cidadã, da

difusão nos meios de comunicação e da atuação administrativa

pública e privada. É preciso haver legitimidade, alcance e

aplicabilidade. Eis a emergência de novos métodos e

procedimentos afastando a iminência de um drástico fim. Para

isso uma nova teoria, um novo paradigma; um novo princípio.

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Constituição da República Federativa do Brasil (de 05 de outubro de 1988) Disponível na Internet no site: <www.planalto.gov.br > acessado em 10 de junho de 2012.

Constitución Del Ecuador (de 20 de outubro de 2008) Disponível na Internet no site: <www.presidencia.gov.ec> acessado em 21 de junho de 2010.

KUNH, Thomas. A estrutura das revoluções científicas. Tradução Beatriz Vianna Boeira e Nelson Boeira. 10 ed. São Paulo: Perspectiva, 2011.

MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: doutrina, jurisprudência, glossário. 4ª ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005.

OST, François. A Natureza à Margem da Lei: A Ecologia à prova do Direito. Tradução Joana Chaves. Lisboa: Instituto Piaget, 1995. VIDAL, Vera. Filosofia, ética e meio ambiente. In: Filosofia & natureza: debates, embates e conexões. São Cristóvão: Editora da UFS, 2010, p. 128-146.

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REGULAMENTO PARA APRESENTAÇÃO DE TRABALHOS NO IX CONGRESSO SERGIPANO DE

DIREITO E PROCESSO DO TRABALHO Art. 1º O presente regulamento tem por objeto disciplinar a apresentação de resumos de trabalhos sobre quaisquer temas relacionados aos Direitos Fundamentais, Direito do trabalho, processo civil, processo do trabalho ou temas relativos ao meio ambiente do trabalho. Art. 2º Art. 4º Poderão participar do concurso quaisquer interessados como estudantes, servidores públicos, advogados, Juízes, membros do Ministério Público ou outros profissionais, podendo ou não estar vinculados a Instituições oficiais de Ensino Superior. Parágrafo único: na hipótese de o trabalho estar vinculado a grupo de pesquisa de instituição de ensino, deverão constar como co-autores todos os membros da pesquisa, inclusive o professor orientador responsável. Art. 5º O trabalho deverá obedecer aos seguintes critérios de extensão e apresentação: I – extensão, de no máximo, 5 laudas, em papel branco tamanho A4, digitadas em editor de texto Word com fonte Times New Roman, estilo normal, tamanho 12 (doze), em espaço 1,5. II – o trabalho deverá observar as normas adotadas pela ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. §1º O trabalho será apresentado em 03 (três) vias, que serão distribuídas aos membros da Comissão Julgadora.

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§ 2º O texto do trabalho, apresentado conforme o disposto no parágrafo anterior, deverá estar acompanhado CD contendo unicamente o respectivo arquivo. Art. 6º Pelo menos um dos co-autores deverá estar inscrito no IX Congresso Sergipano de Direito e Processo do Trabalho. Parágrafo único - A inscrição será realizada mediante entrega do trabalho na Secretaria da AMATRA XX até às 14 horas do dia 15 de julho de 2012. Art. 7º Considerar-se-á efetivada a inscrição do trabalho a partir do seu recebimento desde que observadas as disposições do artigo 6º. A inscrição significará a concordância do candidato com a eventual publicação do trabalho na Revista Eletrônica da AMATRA XX e nos Anais do IX Congresso Sergipano de Direito e Processo do Trabalho. Art. 8º Os trabalhos serão julgados pelos membros da Comissão Organizadora ora designada composta pelos Juízes associados: Ariel Salete Moraes Junior, Alexandre Manuel Rodrigues Pereira e Flávia Moreira Guimarães Pessoa. Art. 9º A seleção dos trabalhos dar-se-á até o dia 30 de Julho de 2012. Art. 10. A divulgação do resultado far-se-á durante a programação do IX Congresso Sergipano de Direito e Processo do Trabalho. Art. 11. Uma vez divulgados os resultados , os trabalhos que não se destinarem à publicação permanecerão à disposição dos

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respectivos autores na AMATRA XX pelo prazo de cinco dias, podendo ser retirados mediante recibo. Parágrafo único. Decorrido o prazo fixado neste artigo, os trabalhos não retirados poderão ser, desde logo, inutilizados. Art. 12. Os casos omissos serão resolvidos pela Comissão Organizadora. Aracaju, 22 de junho de 2012 HIDER TORRES DO AMARAL PRESIDENTE DA AMATRA XX