apresentação para décimo ano de 2011 2, aula 2

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• há dois minutos• há pouco tempo• há cerca de vinte anos• há um bocado

• 6 ratos

• seis ratos

• 3.ª pessoa

• registo adequado (suficientemente formal)

• cuidado na escolha da boa ideia (para dificultar quem quisesse adivinhar)

Como proceder relativamente à ortografia?

aceitarei formas de antes ou de depois da reforma (e nada assinalarei);

talvez possamos, mais à frente, fazer uma síntese das mudanças havidas;

adotarei as novas grafias (mas haverá decerto falhas por distração).

Na p. 323 do manual (Expressões) trata-se dos Princípios reguladores da interação discursiva (a interação discursiva é, no fundo, a conversação). A área do funcionamento da língua a que pertence este assunto é a pragmática.

A pragmática estuda o modo como a língua é usada pelo falante para atingir os seus objectivos comunicativos. (Dentro da linguística há outras áreas, aliás mais conhecidas de anos anteriores:

a morfologia estuda a estrutura das palavras; a sintaxe estuda a combinação das palavras em frases; a fonologia estuda os sons das palavras; a semântica estuda o significado das palavras. Enquanto estas áreas se ocupam mais da língua enquanto sistema, a pragmática preocupa-se com o que as pessoas pretendem fazer quando usam esse sistema.)

A página 323 apresenta-nos os princípios que regem a conversação:

Princípio de cooperaçãoCada participante deve fazer

com que a sua contribuição para que a conversa seja apropriada ao propósito desta. Desdobra-se em quatro máximas conversacionais:

máxima de qualidade | Tenta que a tua contribuição seja verdadeira.

máxima de modo | Sê claro.

máxima de quantidade | Dá tanta informação quanto o necessário.

máxima de relação | Dá informação pertinente.

Princípio de cortesia (ou delicadeza)Cada participante na conversa deve

usar estratégias adequadas a preservar uma boa relação com o seu interlocutor. Por exemplo, usará formas de tratamento («tu», «você», «o senhor», «o Luís», etc.) que respeitem a distância social; ao dar ordens, evitará ser demasiado directo («Aquele brigadeiro tem ótimo aspeto», em vez de «Dê-me lá o brigadeiro»); em certos casos, recorrerá a eufemismos («não creio que tenha sido assim», por «estás a mentir, estúpido mentirosão»);

lítotes («a minha fome não é pouca», em vez de «tenho muita fome e já comia três javalis, um brigadeiro e meio papo seco»), perífrases [estas três figuras de estilo estão exemplificadas nas pp. 334-335, mas não é obrigatório ir ler as suas definições agora].

Nos sketches que vamos ver (Gato Fedorento, Série Lopes da Silva), pelo menos um dos intervenientes infringe uma das máximas conversacionais ou o princípio da cortesia. A comunicação poderia ficar em risco. (É claro que neste caso as infrações ao princípio da cooperação e à cortesia servem para criar situações cómicas.)

Para completar o quadro, usarás quantidade, qualidade, relação, modo, princípio de cortesia.

Inspetor que não sabe fazer perguntas

As perguntas do inspetor não têm relação com a informação anterior, não são pertinentes, não se cumprindo por isso a máxima de relação.

Falta por motivos profissionais

No início, a intervenção do funcionário preguiçoso é insuficiente em termos de informação («Passa-se isto assim assim»), falhando a máxima de quantidade. Há depois expressões ambíguas («Não posso vir ao emprego por motivos profissionais»), o que corresponde a quebra da máxima de modo. No final, enquanto o patrão,

ao dar os pêsames ao segundo funcionário, cumpre o princípio de cortesia, o funcionário preguiçoso infringe-o («Arranjam cada uma para não trabalhar!» é um comentário contra o que está convencionado numa situação daquelas).

O que eu gosto do meu Anselmo!

Quando Anselmo diz que a mulher nem gosta assim tanto dele — mentindo, para que não se conclua que... —, infringe a máxima de qualidade.

Bode expiatórioO empregado que arca com as

culpas de todas as incompetências no escritório repete «A culpa foi minha. Não há desculpa para o que fiz. Se alguém deve ser responsabilizado, sou eu. É impressionante a minha irresponsabilidade!». Poderíamos reconhecer aqui uma infração à máxima de quantidade, se

expiar'remir uma culpa pela penitência'

'sofrer as consequências de'

vs.

espiar

considerássemos que houvera excesso de informação. No entanto, provavelmente foi mais a máxima de modo que falhou, já que ser claro inclui ser breve.

Filho do homem a quem parece que aconteceu não sei quê [e genérico do episódio]

Tanto o pai como o filho, ao «pronominalizarem» muito, omitindo palavras com referentes perceptíveis, tornam a comunicação inviável, por falta de clareza (falha a máxima de modo,

embora se possa pensar que o que falta é mesmo a informação). No genérico final, também falha a máxima de modo, mas agora por demasiadas repetições (poder-se-ia pensar que a infração é à máxima da quantidade, por excesso de informação, mas não creio).

Dia em que se pode chamar nomes aos colegas

Os vocativos desagradáveis permitidos à quinta-feira e as expressões grosseiras nos minutos para assédio seriam infrações ao princípio de cortesia. A singularidade da situação vem de essas inconveniências serem autorizadas, e até estimuladas, pelas regras do escritório.

Chamada por enganoNa conversa entre jornalista e

senhora da Venda Nova falha sobretudo a máxima de relação, na medida em que a interlocutora insiste em fazer relatos e pedidos («dispensava-me o seu bidé?») que não servem o objectivo do telefonema (falar da guerra do Iraque). No final, a mesma senhora disfarça uma sua infração ao princípio de cortesia («meu cabeça de porco»).

A tua camisa é feia

Os epítetos deselegantes que cada uma das interlocutoras dirige à outra constituiriam infrações ao princípio de cortesia; no entanto, elas não parecem senti-los como ofensivos (só é tomada como indelicadeza a referência à camisa feia).

Conversa na esplanada

Os vários amigos não se interessam pela história do indivíduo que tem uma alface de estimação: ou se desviam para outro assunto («É o Edmundo?»; «São 4h34») ou não percebem o que está ser defendido pelo seu amigo («mas há alfaces tenrinhas»; «se fosse uma alface lisa»). Infringem a máxima de relação.

Matarruano sonhador

O filósofo matarruano desvia-se do tema da pergunta que lhe era feita: não coopera com o jornalista que o entrevista por não cumprir a máxima de relação, já que a informação a que chega invariavelmente não é pertinente para o objetivo da conversa.

Bomba a bordo

O insólito resulta de comissário e comandante agirem como se não detivessem um saber comum (‘bombas não são desejáveis’), o que acaba por viabilizar a interação com o bombista.

Vamos situar-nos na p. 109 do manual, a segunda da secção «Espelhos do eu», dedicada aos textos de caráter autobiográfico. (Estou a usar a nova ortografia, embora «caráter», por haver quem pronuncie o cê (cará[k]ter]), mesmo na nova grafia mantenha a alternativa «carácter».) Está aí uma crónica de Miguel Sousa

Tavares, uma das que foram coligidas no livro Não te deixarei morrer, David Croquete. Diga-se que a referência do texto não ficou perfeita, já que falta o nome da crónica. Devia estar assim:

Tavares, Miguel Sousa (2001), «Ao longo do caminho», Não te deixarei David Crockett, 8.ª ed., Lisboa, Oficina do Livro.

TPC — Escreve um «Alfabeto pessoal». (Repara no exemplo a seguir, feito há cerca de sete anos.) Evita que as frases sirvam apenas para declarar aquilo de que gostas ou de não gostas. Boa solução é não te limitares a qualificar o que escolhes («é bom», «mau», «gosto de», etc.) e usares antes uma redacção «de comentário» aos temas que destaques no alfabeto.

Repara também que a palavra que é escolhida pode nem ser o exacto assunto, servindo afinal como pretexto para se aludir ao tema que importa mesmo.

Podes ir alternando letras tratadas em algumas linhas (3 ou 4) com outras que desenvolvas apenas numa frase. Não escrevas texto maior do que o que serve de exemplo. E talvez possas contemplar o k, w, y (não o fiz eu na tentativa que se segue, porque o alfabeto pré-acordo não obrigava à sua inclusão). Não escrevas texto maior do que o que serve de exemplo.

A, de Automóvel. Irrita-me a importância que em Portugal se dá aos automóveis, sempre prejudicando quem usa os transportes públicos (e os passeios, paisagens, etc.).B, de Benfica. Foi em 1983 a primeira vez que dei aulas na Secundária de Benfica. Antes de a escola ser construída havia aqui uma quinta e a casa dos meus pais era do outro lado do muro. C, de Capitu. Capitu é o hipocorístico de Capitolina, personagem de Dom Casmurro, de Machado de Assis, um dos meus livros preferidos.

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