algumas considerações sobre o parecer psicológico na justiça...

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2 O estudo que serviu de base para este artigo foi composto de uma pesquisa de campo, onde foram entrevistados: 2 juízes; 3 promotores; 2 defensores públicos; 4 psicólogos; 1 advogado. Foram analisados 46 pareceres, referentes ao período 1999 – 2000, elaborados por 5 psicólogos. PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO, 2004, 24 (2), 2-13 Resumo: Este artigo apresenta um estudo sobre o parecer psicológico na Justiça da Infância e da Juventude a partir dos conceitos de poder disciplinar, norma e exame tais como elaborados por Michel Foucault. A pesquisa constitui-se, também, de uma série de entrevistas com operadores do Direito e psicólogos que atuam nessa área, realizando-se uma análise dos pareceres produzidos. Elabora-se, assim, um painel onde aqueles conceitos propiciariam não apenas uma análise crítica do instrumento ‘parecer psicológico’, mas também das linhas de força para sua redefinição. Palavras-Chave: Psicologia Jurídica, parecer psicológico, disciplina. Abstract:This article is a study about the psychological written report in the Juvenile Court, based on the concepts of discipline, norm and exam as they were worked out by Michel Foucault. This research is also based on interviews with judges, prosecutors, defense attorneys and psychologists who work in this area. An analysis about some psychological written reports is also made. In the end, we cannot only criticize such reports, but work out the concepts of their (re)definition as well. Key Words: Juridic Psychology, psychological report, discipline. Algumas Considerações Sobre o Parecer Psicológico na Justiça da Infância e da Juventude Some thoughts on psychological assessment in Infancy and Youth Justice Este artigo tem por objetivo analisar a importância concedida a um instrumento legal: o parecer psicológico. Em particular, trata-se de interrogá-la num espaço muito peculiar do universo judicial: a área da infância e da juventude. Pode-se, de antemão, vislumbrar a importância do parecer. Trata-se, de certo modo, do ponto de convergência do trabalho do psicólogo, lugar onde suas elaborações irão adquirir materialidade própria, mensagem que será endereçada a um Outro, o qual se apoiará nelas em maior ou menor grau para uma tomada de decisão. José César Coimbra Psicólogo na 1 a Vara da Infância e da Juventude/RJ. Mestre em Teoria Psicanalítica/ UFRJ. Especialista em Psicologia Jurídica/UERJ. Jupiterimages

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O estudo que serviu de base para este artigo foicomposto de uma pesquisa de campo, onde foramentrevistados:

l 2 juízes;l 3 promotores;l 2 defensores públicos;l 4 psicólogos;l 1 advogado.

Foram analisados 46 pareceres, referentes aoperíodo 1999 – 2000, elaborados por 5 psicólogos.

PSICOLOGIA CIÊNCIA E PROFISSÃO, 2004, 24 (2), 2-13

Resumo: Este artigo apresenta um estudo sobre o parecer psicológico na Justiça da Infância e da Juventudea partir dos conceitos de poder disciplinar, norma e exame tais como elaborados por Michel Foucault. Apesquisa constitui-se, também, de uma série de entrevistas com operadores do Direito e psicólogos queatuam nessa área, realizando-se uma análise dos pareceres produzidos. Elabora-se, assim, um painel ondeaqueles conceitos propiciariam não apenas uma análise crítica do instrumento ‘parecer psicológico’, mastambém das linhas de força para sua redefinição.Palavras-Chave: Psicologia Jurídica, parecer psicológico, disciplina.

Abstract:This article is a study about the psychological written report in the Juvenile Court, based on theconcepts of discipline, norm and exam as they were worked out by Michel Foucault. This research is alsobased on interviews with judges, prosecutors, defense attorneys and psychologists who work in this area. Ananalysis about some psychological written reports is also made. In the end, we cannot only criticize suchreports, but work out the concepts of their (re)definition as well.Key Words: Juridic Psychology, psychological report, discipline.

Algumas Considerações Sobreo Parecer Psicológico na Justiça da

Infância e da JuventudeSome thoughts on psychological assessment in Infancy and Youth Justice

Este artigo tem por objetivo analisar a importânciaconcedida a um instrumento legal: o parecerpsicológico. Em particular, trata-se de interrogá-lanum espaço muito peculiar do universo judicial:a área da infância e da juventude. Pode-se, deantemão, vislumbrar a importância do parecer.Trata-se, de certo modo, do ponto de convergênciado trabalho do psicólogo, lugar onde suaselaborações irão adquirir materialidade própria,mensagem que será endereçada a um Outro, oqual se apoiará nelas em maior ou menor graupara uma tomada de decisão.

José César Coimbra

Psicólogo na 1a Vara daInfância e da

Juventude/RJ. Mestreem Teoria Psicanalítica/

UFRJ. Especialista emPsicologia Jurídica/UERJ.

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Cumpre esclarecer que os pareceres analisadosabordam os seguintes temas: adoção, habilitaçãopara adoção - processo em que não existe ainda acriança ou adolescente que preenche o lugar deadotando, mas apenas a demanda dos requerentesde adotar - e representações cíveis e administrativas- as quais referem-se, fundamentalmente, aosdiversos tipos de violência contra crianças eadolescentes.

O roteiro a partir do qual as entrevistas foramrealizadas tem por base o quotidiano deelaboração de pareceres no universo judiciário. Écomum, por exemplo, a interrogação sobre o queseria um parecer ‘conclusivo’, em que este sediferencia do parecer social e, fundamentalmente,que definição poderia ser dada a esse instrumento.É importante notar que tais questões sãorecorrentes não só no trato com os operadoresjurídicos, mas também naquele com os demaismembros da equipe multiprofissional, como osassistentes sociais.

As entrevistas e as análises dos pareceres foramapreciadas de uma perspectiva que se pautoulargamente nas considerações de Foucault acercada disciplina, da norma e do exame. Qual seria arelação entre esses conceitos?

Disciplina: Exame e Norma

O exame, tal como Foucault o delineia, é ummodo de produção de verdade. Ao contrário doque ocorria no poder soberano, onde a visibilidadeera a marca daquele a partir de quem as relaçõesde força ganhariam sentido, o exame anuncia todauma nova forma de manifestação do poder:

O poder disciplinar (...) se exerce tornando-seinvisível; em compensação impõe aos que submeteum princípio de visibilidade obrigatória (...) É o fatode ser visto sem cessar, de sempre poder ser visto,que mantém sujeito o indivíduo disciplinar. E oexame é a técnica pela qual o poder, em vez deemitir os sinais de seu poderio, em vez de impor suamarca a seus súditos, capta-os num mecanismo deobjetivação (Foucault, 1988, p. 167).

O exame surge num momento em que há umanova definição de criminoso, quer dizer, ocriminoso passa a ser aquele que causa prejuízo,que perturba a sociedade, sendo, portanto, inimigosocial. Nesse momento, entre o final do séculoXVIII e início do XIX, o que passa a existir...

...é a idéia do criminoso como inimigo interior,como indivíduo que, no interior da sociedade,rompeu o pacto que estava teoricamenteestabelecido (...) (Foucault, 1994, p. 590).

Algumas Considerações Sobre o Parecer Psicológico na Justiça da Infância e da Juventude

O exame e a nova definição de criminoso guardamestrita correspondência com o que Foucaultnomeou sociedade disciplinar. O exame é oinstrumento através do qual o poder se manifesta ea verdade é produzida nesse regime. Aqui, nãoestaria mais em jogo a possibilidade de punir osindivíduos; trata-se, de modo diferente, de corrigiras suas virtualidades (Foucault, op.cit., p. 593), ouseja, intervir de modo que a própria infração nãovenha a ser cometida. Para tanto, a Justiça começaa servir-se de uma série de aparelhos, de instituiçõesde vigilância e correção: a polícia, a Psicologia, aPsiquiatria, a Criminologia, a Medicina e aPedagogia encontrariam aí as suas marcas denascença (Foucault, 1994, p. 593).

O exame e o panóptico são manifestações daqueletipo peculiar de poder a que chamamos disciplina.Ambos têm como parâmetro a norma, produçãode saberes a partir dos quais os indivíduos podemmedir sua liberdade, ou, mais precisamente:

Um saber que tem agora por característica nãomais determinar se alguma coisa aconteceu ou não,mas determinar se um indivíduo conduz-se ou nãocomo é preciso, em conformidade ou não com aregra, se ele progride ou não. Esse novo saber nãose origina mais em torno das questões: ‘Isso foifeito? Quem o fez?’ Ele não se organiza mais emtermos de presença ou de ausência, de existênciaou de não existência. Ele se ordena em torno danorma, em termos disso que é normal ou não,correto ou não, disso que se deve fazer ou não(Foucault, 1994, p.595, grifos nossos).

A essa discussão, Ewald (1993, pp.77-125) dedicaparticular atenção. Suas formulações sãoimportantes porque retomam as considerações deFoucault a respeito do tema e explicitam a relaçãolei/norma. O autor afirma que a norma não seopõe à lei, mas ao tipo de poder associado à idéiade soberania, qual seja, o ‘jurídico’ (Ewald, 1993,p. 78). Sem dúvida, essa afirmação encontra apoiodireto na tese desenvolvida em Vigiar e Punir. Ali,podemos ler que a norma funciona como um novotipo de ‘lei’: “um misto de legalidade e natureza,de prescrição e constituição” (Foucault, 1988, p.265), ou, para citar de modo mais extenso:

Daí toda uma série de efeitos: o deslocamentointerno do poder judiciário ou ao menos de seufuncionamento; cada vez mais dificuldade dejulgar, e uma tal qual vergonha de condenar; umdesejo furioso de parte dos juízes de medir, avaliar,diagnosticar, reconhecer o normal e o anormal; ea honra reivindicada de curar ou readaptar (ibid.).

É nesse contexto que podemos notar de que modoo papel do psicólogo passa a ser possível nofuncionamento da Justiça. No momento, podemos

A sentença não vemde uma vez, é oprocesso que seconverte aos poucosem veredicto.

Kafka, O Processo

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ater-nos à ‘Proposta de abertura de concursopúblico para o cargo de psicólogo’, publicado noDiário Oficial do Estado do Rio de Janeiro, em12.11.1997. Ali, é afirmado que “O serviço depsicologia é absolutamente necessário de serimplementado (...)” e que a maioria dos cargos aserem preenchidos estão nas Varas de Infância eda Juventude e Varas de Família. Afirma tambémque:

O exercício do cargo perante as Varas de Infânciae Juventude proporcionará um acompanhamentoefetivo dos diversos problemas que envolvem ascrianças carentes e os adolescentes infratores, jáque os psicólogos (...) comporão a equipeinterdisciplinar, tão importante no assessoramentodos Juízes da Infância e da Juventude, que buscamem seus laudos os subsídios de ordem técnica paraembasar os julgamentos que proferemdiariamente

1.

O ‘deslocamento interno do poder judiciário’mencionado há pouco aparece, de certo modo,na citação acima. As questões relativas à normaassumem uma dimensão especial, sendojustamente o princípio que nos permite pensar adisciplina como não apenas associada aoenclausuramento. De modo diferente, trata-se deum conjunto de técnicas que visa a produzirindivíduos, tornando-os comparáveis:

O que é a norma, precisamente? A medida, quesimultaneamente individualiza, permiteindividualizar incessantemente e ao mesmo tempotorna comparável (...) Um princípio decomparação, de comparabilidade, uma medidacomum, que se institui na pura referência de umgrupo a si próprio, a partir do momento em que sóse relaciona consigo mesmo, sem exterioridade,sem verticalidade [i.e. sem referência a umanatureza, a uma essência dos sujeitos.] (...) aindividualização normativa é puramentecomparativa (...) [Ewald, 1993, p.86].

Ainda a respeito da norma, devemos entender quenão há equivalência pura e simples entre esseconceito e aquele que denominamos disciplina(cf. Ewald,1993, p. 88), ou melhor, ambos não sãosinônimos, embora mantenham relaçõesespecíficas que nos fazem remeter um ao outro, talcomo expusemos até aqui.

Se a disciplina visa ao corpo (Foucault, 1988, pp.153 e ss, 1990, p. 131 e 1994a), a norma é amedida, “uma maneira de produzir medidacomum” (Ewald, 1993, p. 88). É importante notarque a referência explícita à relação disciplina-corpo de modo algum deve ser entendida comoem contradição com a referência anteriordisciplina-virtualidade. Foucault faz uma oposição

entre virtualidade e ato, tendo como referênciaBeccaria, no sentido de que o poder deve asseguraro controle dos indivíduos através do controle dosseus comportamentos - “no momento em que estesse esboçam” (Foucault, 1994, p.593)- e não atravésde uma ação reativa, que poderia ser entendidacomo exclusivamente punitiva.

O que caracteriza a modernidade, para Foucault,é a normalização das disciplinas, é a passagem doque Ewald chama de disciplina-bloqueio àdisciplina-mecanismo (Ewald, op.cit., pp.81-2). Aprimeira, ligada à função de um uso delimitadodo espaço, de neutralização dos perigos, onde aspopulações deveriam ser fixadas e dispersadas, decerto modo, um valor negativo ainda; a segunda,referindo-se propriamente à função de otimizaçãodo indivíduo, maximização de sua utilidade(Foucault, 1988, pp. 130 e ss.). É esse segundoaspecto da disciplina que está na base do queFoucault denomina sociedade disciplinar.

Devemos lembrar que Foucault relaciona trêsgrandes instrumentos disciplinares: a vigilânciahierárquica, a sanção normalizadora e o exame(Foucault, 1988, p. 153 e ss e Ewald, 1993, p. 83).Quanto ao último, ressalta:

O exame combina as técnicas da hierarquia quevigia e as da sanção que normaliza. É um controlenormalizante, uma vigilância que permite qualificar,classificar e punir. Estabelece sobre os indivíduosuma visibilidade através da qual eles sãodiferenciados e sancionados. É por isso que, emtodos os dispositivos de disciplina, o exame éaltamente ritualizado. Nele vêm-se reunir acerimônia do poder e a forma da experiência, ademonstração da força e o estabelecimento daverdade (Foucault, 1988, pp. 164-5).

É com um outro nome que reencontraremos logoo exame. Esse instrumento, em que produção devisibilidade e produção de saber tornam-se quasesinônimos, é o ponto em torno do qual estetrabalho gira, é a razão da pergunta que nos orienta.Poderia o parecer psicológico ser algo diferente?

As Entrevistas - 1a parte: Os

Operadores do Direito

A apresentação precedente encontrará, a seguir,uma primeira forma de atualização através dasentrevistas realizadas com os operadores doDireito. A nossa “chave de leitura”, que permitirá apassagem para esta seção, será a seguinte citação:

O exame combina as técnicas da hierarquia quevigia e as da sanção que normaliza. É um controlenormalizante, uma vigilância que permite qualificar,

José César Coimbra

“ O que é a norma,precisamente? A

medida, quesimultaneamente

individualiza, permiteindividualizar

incessantemente e aomesmo tempo tornacomparável (...) Um

princípio decomparação, de

comparabilidade,uma medida

comum, que se instituina pura referência

de um grupo a sipróprio, a partir do

momento em que sóse relaciona consigo

mesmo, semexterioridade, sem

verticalidade [i.e. semreferência a umanatureza, a uma

essência dos sujeitos.](...) a individualização

normativa épuramente

comparativa (...)

Ewald

1 Nessa proposta, também sãoapresentadas justificativas paraa atuação do psicólogo nas Varasde Família e Execução Penal.Todas as justificativas estão emconsonância com as diretrizesprevistas no Estatuto da Criançae do Adolescente, tais comoreferidos nos artigos 150; 161,§ 1o; 167 e 186, § 4o .

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classificar e punir. Estabelece sobre os indivíduosuma visibilidade através da qual eles sãodiferenciados e sancionados [...] (Foucault, 1988,pp. 164-5, grifos nossos).

Iremos deter-nos, agora, nas entrevistas realizadas:

O Que é o Parecer Psicológico? Não houve umavariação significativa no rol de respostas oferecidas:‘análise das partes’; [indicação da] ‘realidadepsicológica das pessoas envolvidas’; [indicação doque é] ‘o melhor para a criança’; [análise das]‘relações afetivas e emocionais das partes’; [análisedas] ‘condições emocionais’; ‘avaliação docomportamento intrínseco’ [daquilo que não podeser visto]. Acrescente-se que, de um modo geral,todas essas respostas eram acompanhadas daespecificação de que se trata de uma intervenção‘técnica’, onde deve haver uma correlação entrecausas, conseqüências e argumentosfundamentados, p.ex. Por vezes, houve tentativasde especificar o que seria ‘psicológico’. Osinônimo recorrente era ‘emocional’, embora,repetidamente, houvesse, ao menos quanto a umentrevistado, o reconhecimento que essa palavranão recobriria integralmente aquela.

Qual sua finalidade? ‘Orientar o juiz na decisão’;‘dirimir questões cujos aspectos psicológicos sejamrelevantes’; ‘subsídio endereçado ao juiz’;‘subsídios aos operadores do Direito para julgarquestões não meramente jurídicas’; ‘apontar o queé melhor para a criança’; ‘notar o que osoperadores não podem, devido ao pouco contatocom as partes’; ‘detectar se a criança está sendobem assistida, se o pedido trará benefícios a ela’.Aqui, é interessante notar que a tendência é ligar oparecer ao juiz, no sentido de que ele seria odestinatário do trabalho realizado. Formalmente,é possível entender a resposta majoritária, pois ospsicólogos estão administrativamentesubordinados ao juiz. No entanto, é interessanteperceber que, de fato, o processo é um campo decorrelação de forças entre as diversas entidadesque o compõem: juiz, promotor, defensor,advogado e partes.Nesse sentido, o parecer éapropriado por essas entidades de modo diferentee sofre ressignificações diversas, conforme asestratégias, interesses, valores e entendimento dasituação a ele correspondente. Todavia, a idéia deuma hierarquia, de uma ordem na transmissão dosaber construído, é pertinente às características doexame.

Qual a principal expectativa quanto ao parecer?‘Que mostre o melhor caminho no interessesuperior da criança’; ‘confirmar ou não se as partesenvolvidas têm estrutura psicológica adequada’;

‘que atenda ao interesse da parte [ou da criança/adolescente]’; que seja ‘conclusivo’; ‘que tenhafundamento, que descreva a história da pessoa’.Essas respostas revelam, de modo mais perceptível,a preocupação com algo da ordem da‘normalidade’ e da vigilância, que já se anunciavanas respostas da pergunta anterior. Há que se notarque a ênfase dos enunciados não é a de que oparecer é um instrumento para revelar o que‘realmente aconteceu’. Feita a ressalva de queestávamos falando do parecer ‘em geral’, comodito por um entrevistado, podemos entender que,mesmo nos casos de violência sexual, seja algo domesmo sentido que está sendo esperado, isto é,espera-se uma última palavra que possa dizer oque aconteceu, mas tal palavra vai ser construídapari passu com a descrição e a análise dos ‘aspectospsicológicos’ daquele que é alvo do estudo. Emoutras palavras, estará em perspectiva o grau denormalidade do sujeito, no sentido de que a normapermite individualizar e comparar.

Em que o parecer psicológico se diferencia dosocial? Os entrevistados definiram o parecerpsicológico como dizendo respeito a aspectossubjetivos, afetivos, implícitos, emocionais, internos,comportamentais. O parecer social faria referênciaaos dados objetivos, condições físicas,habitabilidade e condições externas. Há que seressaltar que vários operadores reconheceram que,de fato, não acreditam que tais aspectos sejaminteiramente dissociados, de tal modo que, nosrelatórios psicológicos e sociais, percebem, às vezes,certa mescla. Todavia, foram unânimes em afirmarque sabem onde encontrar as informações de queprecisam, conforme se trate de uma questão relativaao aspecto psicológico ou social. Ao conjugar ume outro parecer, podemos notar que há umenquadramento daquele que está sendo avaliado.Nesse sentido, é interessante notar, principalmentenos casos relativos à habilitação para adoção, arecorrência à palavra ‘idôneo’. ‘O requerente éidôneo para a adoção ou não?’. Para além da cargamoral associada à palavra, seu significado presta-se ao entendimento que algo “é próprio paraalguma coisa; conveniente, adequado; que temcondições para desempenhar certos cargos ourealizar certas obras” (v. Aurélio). Trata-se, mais umavez, das idéias de norma e disciplina associadas àintervenção da equipe técnica.

O que é um parecer conclusivo? ‘É aquele quesugere a procedência ou improcedência dopedido’; ‘aquele que dirime as questões, que sugeremedidas, independentemente da previsão legal’;‘é o que afirma com quem a criança deve ficar, seuma determinada situação ocorreu ou não’;‘define a situação, fala das condições’. É interessanteacrescentar que, nessa pergunta, um dos

Algumas Considerações Sobre o Parecer Psicológico na Justiça da Infância e da Juventude

2 Este artigo é uma versãoresumida da monografia ‘OParecer Psicológico na Justiçada Infância e Juventude, umInstrumento Disciplinar?’,apresentada ao Curso deEspecialização em PsicologiaJurídica/UERJ, em março/2001,como requisito parcial àobtenção do título deespecialista. Ainda que o‘Manual de Elaboração deDocumentos Decorrentes deAvaliações Psicológicas’apresente distinções entre laudoe parecer, as mesmas não foramadotadas aqui de modo estrito.

3 Essa expectativa que envolveo saber psi já foi tema de estudode Rizzini, 1993. Do mesmomodo, o art. 167 do Estatutoda Criança e do Adolescente,ao falar de perícia por equipeinterprofissional, parece sugerira mesma interpretação.

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entrevistados afirma que a equipe técnica não devemencionar aspectos legais (citar artigos, leis, p.ex.)em suas análises. Ele espera uma intervenção noponto em que, sozinho, não seria capaz deapreender as nuanças em jogo. Nessa perspectiva,um outro operador comenta a ojeriza à expressãos.m.j. [salvo melhor juízo] pelo mesmo motivo. Seo parecer diz algo, deve dizê-lo sobre aquilo que ooperador não pode, sozinho, deduzir. Ressalte-seque é esperado do parecer psicológico algo queseja decisivo, isto é, haveria algo da esfera psíquica,o que está, portanto, na alçada de investigação dopsicólogo, que apontaria ao operador jurídico, aojuiz em particular, a decisão a ser tomada.

Quais seriam os principais itens que o parecerdeveria responder? Por quê? O parecer tem valorde prognóstico? ‘Equilíbrio [emocional], razõesdo desejo, motivos da causa [provável] de umaviolência, conseqüências de uma relaçãointerpessoal, conseqüências da quebra de vínculo’;‘se há estrutura emocional adequada, motivação,perfil para serem bons pais emocionalmente’; ‘sehá vínculos’; ‘o psicólogo com uma frase descobretudo...’; ‘se há adaptação’; ‘entrevista com todosos envolvidos, [pois] trabalhamos para a verdade’;‘tudo que possa ser tirado da criança’. Todosafirmaram que o parecer tem valor de prognóstico,desde que mantidas as condições nas quais oestudo foi feito, ou seja, eles não acreditam que oparecer possa falar do futuro pura e simplesmente.Ao associarmos essa observação às respostas acima,temos, mais uma vez, os exemplos onde averificação de adequabilidade ou, no limite,utilidade do indivíduo com relação a uma certasituação ou função, é o principal motivo deinteresse do operador quanto ao parecer. Taiscaracterísticas poderiam ser entendidassinteticamente sob o rótulo da ‘disciplina’. Há quese destacar, novamente, a legitimação doinstrumento como um equipamento de vigilânciae de análise do que ainda não está revelado.

Quais os itens que não precisariam constar noparecer psicológico? As variações das respostas aessa pergunta também não foram grandes. Deordem pragmática, foi dito que ‘não deve havertecnicismo’, ‘citação de questões jurídicas’, mas,fundamentalmente, foi dito que ‘quanto mais[informação] melhor’. Nesse sentido, há estritacorrespondência com as respostas anteriores, emparticular com as mencionadas na pergunta 6.

Sua formação e experiência profissional sãoexclusivas no Direito? Dos oito entrevistados,apenas dois tinham experiências profissionaisdiferentes daquela do Direito.

Há quanto tempo na VIJ? Um dos operadores tem10 anos de trabalho junto à VIJ. No momento das

entrevistas, o tempo médio dos demais era de umano e meio. Aproximadamente 40% dosentrevistados situavam-se entre 1 e 8 meses deexperiência na VIJ.

Há quanto tempo na magistratura/promotoria/defensoria? Dois operadores têm 20 e 7 anos nasrespectivas carreiras. Para os demais, há um tempomédio de 2 anos. Dois dos operadores estavam há6 meses na atual carreira, sendo um deles oriundode uma experiência de 10 meses na DefensoriaPública. O trabalho efetivo como advogado, antesdo ingresso na carreira atual, não foi uma constante.Com exceção da advogada, apenas trêsentrevistados fizeram menção a essa experiência.

As três últimas perguntas tiveram o objetivo deverificar se haveria influência entre a experiênciaprofissional e as respostas às questões anteriores.Todavia, salvo por uma ou outra observação relativaàs rotinas da equipe técnica, não foram verificadasdiferenças significativas nas respostas.

As entrevistas - 2a parte:Os

Psicólogos

As mesmas perguntas acima relacionadas, compequenas alterações, foram aplicadas a quatropsicólogos que trabalham na VIJ. Há que se destacarque, durante as entrevistas com os operadores doDireito, o trabalho dos psicólogos foi tido comofundamental e atendendo ao que se espera dele.Essa consideração é relevante, pois já fala por si,de certo modo, do lugar do psicólogo na máquinajudiciária, bem como de sua eficiência.

O que é o parecer psicológico? ‘Lugar onde osaspectos psicológicos, emocionais, pessoais,relevantes ao processo estão organizados para ojuiz, de modo a auxiliá-lo numa tomada dedecisão’; ‘lugar no processo onde podem apareceras partes enquanto sujeitos, num sentidopsicanalítico, i.e., divididas, contraditórias etc.’;‘instrumento para os operadores do Direito. Visa aauxiliá-los numa tomada de decisão’; ‘Coleta dedados especializada com um objetivo: [avaliar] arelação entre as partes ou entre estas e a criança/adolescente’. A idéia de hierarquia encontra-setambém presente aqui, mesmo que, às vezes, demodo implícito. Todavia, há maior variação quantoao modo de definir o destinatário final do trabalho.

Qual sua finalidade? ‘Responder ao juiz e sugerirnovas perspectivas para o caso/processo’; ‘refletir aintervenção’; ‘respaldar uma decisão’; ‘entenderuma situação/relação, promover uma análise dosdados levantados’. A idéia de visibilidade, deprodução de visibilidade e de sanção, ainda quenão esgote o sentido das respostas dadas, de certo

José César Coimbra

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modo, traduz o conjunto de enunciados acima.Mais especificamente, pode-se deduzir que‘sugerir’, ‘respaldar’, ‘promover uma análise’, aindaque não tenham necessariamente o mesmosentido, guardam um traço em comum. Falam deuma certa especificidade do trabalho, cujaapresentação é demandada insistentemente pelosoperadores do Direito, especificidade que estarialigada àquilo que poderia ‘escapar’ aos recursosimediatos de que dispõem os referidos operadorespara a apreensão do fato jurídico, bem como àsua solução.

Qual a principal expectativa quanto ao parecer?‘Que seja entendido e sirva para uma tomada dedecisão, que seja um espaço de elaboração’; ‘quecumpra o seu objetivo, atinja aquilo a que sepropôs ao longo da intervenção’; ‘alargar o campode visão’; ‘poder fornecer subsídios para aresolução positiva [do processo], ajudar na decisãojudicial, que auxilie na superação dos litígios’.Aqui, é interessante destacar que um dosentrevistados fez a distinção entre expectativa dopsicólogo com relação ao parecer e expectativado psicólogo com relação à expectativa dooperador jurídico quanto ao seu parecer. O sentidodessa distinção é ressaltar uma variável que perpassao trabalho: uma certa ansiedade ante a sensaçãode que é preciso oferecer uma resposta ao que sevai fazer, ou, mais diretamente: ‘Como se colocardiante da necessidade de sempre dar umaresposta?’. Outra observação que precisa ser feitaé a preocupação sobre o entendimento ou omodo como o saber produzido será apropriadopelos operadores do Direito. Esse(des)entendimento atualiza-se de diversasmaneiras: desde uma possível tomada de decisão,apoiada no parecer, mas não orientada conformeo esperado pelo psicólogo, até o retorno dos autosao setor sob a determinação de elaboração de umparecer conclusivo.

Em que o parecer psicológico se diferencia dosocial? ‘[O parecer psicológico] é o resultado deum trabalho diferente. [Diz respeito] àsubjetividade, conflitos, causas, [que muitas vezesescapam] do conflito jurídico [tal como ele seapresenta formalmente]’; ‘o social refere-se aoconsciente, o psicológico, às entrelinhas’; ‘oslimites não estão demarcados. O psicológico dizrespeito à dinâmica familiar, às relações’; ‘[oparecer psicológico] refere-se às peculiaridades dasrelações’.

O que é um parecer conclusivo? ‘É aquele queresponde às questões que foram levantadas notrabalho pelo próprio psicólogo’; [o parecer] só éconclusivo a posteriori, dependendo dos efeitos’;‘é aquele que tem uma posição clara, seja aberta[com ênfase na análise e descrição] ou fechada

[tipo sim/não]’; ‘esclarece as peculiaridades dasrelações’. O conjunto das respostas às perguntas 3e 5 insinua o que nas respostas dos operadoresaparece como um imperativo: que as respostasoriundas do trabalho colaborem de modo decisivopara uma tomada de decisão. Nessaspreocupações, deparamo-nos com aquilo que foichamado por Foucault de ‘deslocamento internodo poder judiciário’: “cada vez mais dificuldadede julgar (...), um desejo (...) de parte dos juízes demedir, avaliar, diagnosticar, reconhecer o normale o anormal (...) e a honra reivindicada de curarou readaptar” (Foucault, 1988, p. 265). Quanto aessa referência, é interessante observar que onúmero de encaminhamentos para atendimentopsicológico sugerido nos pareceres é significativo.No entanto, na maioria absoluta dos casos, elesnão se apresentam como sugestão para umamedida judicial.

Quais seriam os principais itens que o parecerdeveria responder? Por quê? O parecer tem valorde prognóstico? De um modo geral, essa perguntanão foi respondida sob a forma de itens. ‘[O parecer]deve fazer com que a parte seja conhecida, mostrara relação com a família, trabalho etc. Deve citarfalas, bibliografia. Há que se escrever para que algoaconteça, [o parecer] é uma possibilidade para quea parte seja ouvida’; [o parecer] é uma formulaçãoque visa a história do sujeito, é uma aposta’; [oparecer] deve ouvir as partes, mostrar os motivos emjogo’. Há um conjunto de informações interessantesnessas respostas. Por um lado, a explicitação de queo parecer é um lugar atravessado por uma série dedispositivos estratégicos. É preciso, nesse sentido, queele seja pragmático. Ainda aqui, a questão davisibilidade é nuançada. Ressalta-se que a parte temalgo a dizer sobre a sua presença na máquinajudicial, mas que os dispositivos tradicionais(audiências, p.ex.) não seriam suficientes pararepresentá-la naquele universo. Há como que umanacronismo, um descompasso entre o que seprecisa ouvir e os recursos disponíveis. A atualizaçãodesses recursos, a sincronia entre o dispositivo eaquilo que se espera ouvir, que se precisa entender,seria, talvez, oferecida através dos pareceres daequipe técnica. Ainda é interessante

Algumas Considerações Sobre o Parecer Psicológico na Justiça da Infância e da Juventude

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acrescentar a referência feita à palavra aposta. Nela,parece ruir todo o ponto de certeza que osoperadores jurídicos poderiam querer encontrar.Embora não seja comum, essa palavra também foiencontrada nos pareceres.

Quais os itens que não precisariam constar noparecer psicológico? Houve dificuldade emresponder a essa questão. Contudo, houve algumasconsiderações de caráter mais geral: ‘o relatóriodeve ser sintético’; ‘há necessidade de marcarlimites’ etc. Um outro comentário apontou quenão se trataria propriamente de definir itens quedeveriam constar num parecer, pois o que fará adiferença e caracterizará o trabalho será um tipopeculiar de conclusão. Tal conclusão, por vezes,poderá até ter como base os mesmos tipos de itensque comporiam um parecer social, p.ex. Dequalquer modo, quando comparadas às respostasdos operadores jurídicos, há um cuidado em nãomaximizar o alcance do estudo psicológico, isto é,há nitidamente o entendimento que a história doindivíduo cabe no relatório na medida em queauxilia na resolução de uma questão específicado processo. Em resumo, há uma expectativa deque não é a ‘vida toda’ do jurisdicionado que deveser apresentada no parecer.

Sua formação e experiência profissional sãoexclusivas na Psicologia? Um dos psicólogosentrevistados foi estudante de Direito e concluiuuma especialização em Psicologia Jurídica. Outroé também agrônomo. Os demais formaram-seexclusivamente em Psicologia.

Há quanto tempo na VIJ? Apenas um dospsicólogos não está na 1

a VIJ desde 1999. Um dos

demais tem experiência anterior de cerca de doisanos assessorando uma juíza no interior do Estado.

O Parecer, Uma Ilusão?

É interessante que um psicólogo tenha feito mençãoa uma ‘conclusão a posteriori’. Essa menção alinha-se e promove um sentido bem particular a uma outraafirmação vista acima, a de que se deve ‘escreverpara que algo aconteça’. Assinala-se, assim, de certomodo, que os efeitos esperados pela intervençãopsicológica podem advir de um outro território quenão o científico, embora, às vezes, como dito acima,seja preciso ‘crer’ que o espectro da ciência dite asnormas da Psicologia Jurídica. Mas que intervençãoos psicólogos podem realizar que não seja apenasaquela dedicada a uma suposta legitimação científicadas medidas judiciais

2?

Uma resposta possível, à qual pretendemos restringir-nos no momento, já foi indicada por Rauter (1989).Contudo, é importante salientar que sua pesquisateve como objeto, especificamente, o universo penal.

A autora destaca como a aplicação de conceitosditos científicos teria a função de realizar umjulgamento antecipado do sujeito sobre o qual aintervenção do psicólogo teria ocorrido.

Conforme o recorte que efetuo, estaria implícito,nessas intervenções, um dispositivo que um outroautor denomina ilusão retroativa (Jankélévitch,1989 e Bergson, 1993). Para o contexto no qualnos localizamos, a ilusão retroativa significa aapropriação de eventos no presente, com os quaisinterpreta-se o passado, de modo a concluir quenão haveria outra forma ou resultado possívelsenão o que se apresenta. Nos termos de Rauter(1989, p. 20): “A reconstituição da história é umamontagem, cuja finalidade é confirmar noindivíduo o rótulo de criminoso”.

Se conseguirmos nos desvencilhar da idéia de queo parecer é a decifração da personalidade dosujeito, tendo como base sua história, e querealizaria a priori seu julgamento conformedeterminados parâmetros, deparamo-nos com asforças em jogo em sua elaboração.

Dessa forma, podemos dizer que a escritura de umparecer dá-se num espaço próprio - a máquinajudiciária - durante um período em que osconstrangimentos que operam sobre ela sugerem,a todo instante, a certeza de garantir, sobdeterminadas condições, o presente e o futurocom dados do passado, ou através de algummétodo dito científico. Todavia, e esta é apeculiaridade da era disciplinar, antes de serpreponderante saber ‘o que aconteceu’, trata-sede responder sobre a normalidade, bem comosuas variantes: se tem ‘estrutura psicológicaadequada’, quais ‘as razões do desejo’, quais os‘motivos de uma violência’, quais as‘conseqüências da quebra de um vínculo’, qual o‘perfil emocional para serem bons pais’ etc. A partirdas respostas obtidas, a medida aplicada guardará,quando necessário, correspondência com umaproposta ‘educativa’ ou ‘terapêutica’.

No entanto, e fazendo valer alguns termos reveladosnas entrevistas, como apresentar um parecer queconjugue os princípios do ‘a posteriori’ com o valordo prognóstico?

Os Pareceres

Quanto aos pareceres analisados, é preciso adiantarque, a despeito de suas especificidades, relativas,por exemplo, à orientação teórica do psicólogo,há linhas comuns que perpassam por todos. Taislinhas já se anunciaram nas respostas acima. Pode-se notar, ali, que há convergências significativas nomodo como os grupos responderam às perguntas.

José César Coimbra

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Não se trata de afirmar que os pareceres teriamcomo preocupação exclusiva a produção devisibilidade/saber destinado ao juiz, mas oinstrumento opera de modo a não poder prescindirdesses referenciais. De modo esquemático e ideal,pode-se imaginar a composição parecerpsicológico-parecer social como um ‘retrato total’daquele que lhe é objeto, daí a afirmação de umoperador do Direito: “nós intervimos no caso apartir dos relatórios, pois nós praticamente sóencontramos as partes na hora da audiência. Vocêstêm mais tempo, ficam em contato com elas...”.

Assim, nos pareceres, é possível notarimediatamente que o destinatário é o juiz. Esseponto é de extrema relevância, pois uma narrativaé construída a partir dos mais variados elementos:história pessoal, motivações, desejos e mesmoaparências. A noção de adequação está, de certomodo, presente nas análises feitas. Adequação, porexemplo, quando se fala de uma criança e seudesenvolvimento intelectual e emocional.Adequação e aparência entrecruzam-se, ainda, nadescrição sobre o aspecto dos jurisdicionados,sejam crianças ou não: se estão limpos, saudáveis,arrumados, se são maduros ou não etc.

É interessante notar, também, porque osoperadores jurídicos mencionam com tantafreqüência a palavra ‘emocional’ quase comosinônimo de psicológico. Ela comparece comdestaque nos pareceres, embora, certamente, osrelatórios não se resumam a esse aspecto. Na esteiradessa palavra, seguem-se, também com certodestaque, mas para descrever relacionamentos,duas outras: harmonioso e equivalentes. Entre aprimeira e a segunda, é o sentido de equilíbrio,equilibrado, que se vai delineando. Assim, poder-se-ia afirmar que se trata, no limite, de adaptaçãoe suas variantes. Por vezes, há nos pareceres umaavaliação acerca da capacidade de se propiciarum ambiente favorável ao bom desenvolvimentoinfantil; em outras, aponta-se que determinadoscomportamentos devem ser evitados ouencorajados.

Ao colocarmos lado a lado pareceres e entrevistas,vê-se, mais claramente nestas, uma preocupaçãoque, talvez devido a questões formais, não seapresenta nos primeiros: a linha tênue, e até certoponto frágil, do reconhecimento que resta, ao fimde cada intervenção, algo sobre o que o parecernão pode falar. Talvez possamos dizer que osprocessos de habilitação para adoção são os que,à sua maneira, ilustram melhor esse limite. Ali, ahistória processual é praticamente nula, nenhumdado a orientar a intervenção, exceto a palavradaquele que afirma desejar ser um pai ou umamãe. Num número limitado de entrevistas, onde osentido avaliativo dificilmente é ultrapassado, o que

podemos, de fato, saber4?

Retomando uma consideração anterior,poderíamos perguntar: não seria o lugar e aescritura do parecer um registro da história noprocesso que poderia apontar para asdescontinuidades que marcam os sujeitos, demodo a fazer persistir, sempre, mesmo na letra doparecer, um imprevisível com o qual temos quelidar? Ou seja, não há em cada parecer umimpossível de responder que deveria deixar marcasna intervenção realizada? Dessa forma, o pareceré parcial, incompleto, na medida em que seusentido advirá também do jogo de forças e do lugarque os diversos destinatários impuserem à sua letra.É interessante notar, no entanto, que essesdestinatários também passam, de modo igualmenteparcial e ainda que de forma lenta, por mudançaspromovidas pelo lugar assumido pelo psicólogo.

Não poderia o reconhecimento de um impossível,de um limite nessa letra que estamos chamandoparecer, instaurar caminhos até entãodesconhecidos não só para nós, como tambémpara os indivíduos trazidos à máquina judiciária eaos próprios operadores jurídicos?

Não se submeter à ilusão retroativa é explorar aomáximo o entendimento que um fragmento dopresente não é, necessariamente, a expressão deum evento datado para ocorrer em um longínquopassado.

O parecer é um modo pelo qual o sujeito serárepresentado num processo através da palavradaquele que o ouviu. Que ela reconheça sua forçae seu limite em interpretar o passado, é algonecessário. Não restaria sempre ali algo que, aofinal, nos incita, mas do qual menos se sabe quantomais se avança? Reconhecer essa resistência é umimperativo que tem os seus riscos

5.

Como escreveu Canguilhem (1973, p. 23), aPsicologia encontra-se numa encruzilhada na qualo caminho escolhido designará o lugar pelo qualresponde, daí a pergunta: “dizei-me em quedireção tendes, para que eu saiba o que sois?”

Mas, se o exame é um instrumento disciplinar e oparecer psicológico é um modo de sua atualização,o que mais podemos esperar?

Uma Palavra, Ainda

Embora se possa ouvir de alguns operadores doDireito que “a Psicologia não tem nada a ver coma Justiça” ou que não saibam o que o psicólogopode ali fazer, é inquestionável que há muito foicriada uma série de condições que tornarampossível pensar sobre tal papel. Deve-se ressaltarque as intervenções próprias à Justiça e ao Direito

“A reconstituiçãoda história é umamontagem, cujafinalidade éconfirmar noindivíduo o rótulo decriminoso”.

Rauter

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4 Não é nosso objetivo avançarnos desdobramentos próprios aessa pergunta. Para umaabordagem pertinente e queauxiliará no entendimento dasquestões ligadas à adoção, verBrunin, 1992 e Hamad, 2002.

5 A apresentação de FernandaOtoni de Barros, ´LaudosPericiais: da Escrita àEscritura, um Percurso Ético´,realizada no III Congresso Ibero-Americano de PsicologiaJurídica, em São Paulo/1999,foi importante para aelaboração dessas questões.

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encontram-se modificadas a partir desse novo jogode relações, que, sob o aspecto mais amplo, dizrespeito às ciências humanas, e não à Psicologiaem particular. Trata-se do que Foucault chamoude “justiça ‘examinatória’”:

Não se quer dizer que da prisão saíram as ciênciashumanas. Mas se elas puderam se formar eprovocar no êpistemê todos os efeitos de profundaalteração que conhecemos, é porque foramlevadas por uma modalidade específica e nova depoder: uma certa política do corpo, uma certamaneira de tornar dócil e útil a acumulação doshomens. Esta exigia a implicação de correlaçõesdefinidas de saber nas relações de poder:reclamava uma técnica para entrecruzar a sujeiçãoe a objetivação: incluía novos procedimentos deindividualização (Foucault,1989, p.266).

Essas considerações sinalizam que qualquer análiseacerca da prática do psicólogo nos sistemasjudiciais nunca poderá realizar-se exclusivamenteno nível de uma técnica neutra, de um saber-fazer,onde as questões de eficácia ou eficiênciapoderiam ser separadas de uma dimensão ética epolítica. Como dito anteriormente, uma palavrafalada, a análise escrita, um parecer, qualquerintervenção, portará não só os traços do lugar apartir de onde é produzida, como também terá,certamente, um alcance para além de seu objetivoimediato. Desse modo, é preciso que algumasafirmações, tais como as de que a Psicologiahumaniza o Direito ou de que a Psicologia é umconhecimento científico sobre a subjetividade, útilàs intervenções da Justiça, sejam por vezesinterrogadas.

Dentro da mesma linha de argumentaçãoprecedente, segundo a exposição de Verani (1994),o “reforço da norma” e o “poder de determinar ocerto e o errado” seriam as linhas que associariama Psicologia ao Direito; seriam os signos de umaaliança que deveria ser repudiada. Ao mesmotempo, em seu discurso, existia um apelo para queoutras formas de aliança pudessem serestabelecidas.

Essa possibilidade de alianças para um objetivodiverso remete-nos a um enunciado de Foucaultque tem sido bastante repetido, o qual sinaliza,certamente, para um melhor entendimento de suaanalítica do poder (Machado, 1989, p. XIV): “ondehá poder há resistência”. Para citar de modocompleto:

(...) lá onde há poder há resistência e, no entanto(ou melhor, por isso mesmo) esta nunca se encontraem posição de exterioridade em relação ao poder(Foucault, 1990, p. 91).

Trata-se, como Foucault e Machado esclarecem,de entender a noção de poder como estritamenterelacional, tal qual um jogo de forças; porconseguinte, como não passível de pertencer aalguém, como se fosse quase sinônimo demercadoria, de um bem. Da mesma forma, aresistência, ou, mais corretamente, os ‘pontos deresistência’ (Foucault, 1990, p. 91), não nos devemdeixar pensar que haveria...

...um lugar da grande Recusa (...) Mas sim resistências,no plural, que são casos únicos: possíveis, necessárias,improváveis, espontâneas, selvagens, solitárias,planejadas, arrastadas, violentas, irreconciliáveis,prontas ao compromisso, interessadas ou fadadas aosacrifício (...) [as resistências] não podem existir a nãoser no campo estratégico das relações de poder(Foucault, 1990, p. 91).

Esses enunciados são retomados posteriormentepor Foucault (1994b) a fim de explicitar-lhes ovigor e a pertinência no conjunto de suaselaborações.

Ora, dada a materialidade que o parecerpsicológico assume no contexto judicial, nãopoderíamos ver nele, também, uma das formas demanifestação do que chamamos ‘pontos deresistência’? Daí, por exemplo, a referência feitaao longo deste artigo a uma certa descontinuidadeentre a função do psicólogo e os constrangimentosa que está sujeito e que se traduzem nas decisõesque realiza. Descontinuidade que, para usar umapalavra arriscada, poderíamos chamar liberdade.Não por acaso invocamos essa palavra aqui, hajavista que sobre ela Foucault lança particularatenção em ‘Le Sujet e le Pouvoir’:

O poder não se exerce senão sobre ‘sujeitos livres’,e enquanto são ‘livres’ - entendamos aí sujeitosindividuais ou coletivos que têm diante deles umcampo de possibilidade onde várias condutas,várias reações e diversos modos de comportamentopodem ter lugar. Aí onde as determinações sãosaturadas, não existe relação de poder: a escravidãonão é uma relação de poder quando o homemestá preso aos ferros (trata-se então de uma relaçãofísica de constrangimento), mas justamente quando

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“(...) lá onde há poderhá resistência e, noentanto (ou melhor,

por isso mesmo) estanunca se encontra

em posição deexterioridade em

relação ao poder”.

Foucault

José César Coimbra

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pode se deslocar e no limite escapar (Foucault,1994b, pp. 239-240).

Assim, conforme nossa argumentação, asconsiderações que Marie Lacroix, juíza de assuntosfamiliares, na França, fez no I Encontro PsicossocialJurídico do Tribunal de Justiça do Distrito Federale Territórios foram de inestimável valor.

A primeira consideração que gostaríamos dereproduzir aqui é o entendimento que aintervenção da equipe interdisciplinar na cenajurídica não se limitaria à formação de prova; asegunda salienta que a ação, qualquer que sejaela, precisa ser marcada por uma incompletude,um limite, para que possa se realizar. Ela ilustraessa consideração com uma citação: “quando sesabe tudo, não se pode julgar

6”.

Para contextualizar corretamente as afirmaçõesacima, é preciso acrescentar que a primeira serefere a um complexo aparelho de apoio aomagistrado, do qual foi sublinhada a função doconciliador (sendo mencionada, também, todauma coorte de outras funções: assistentes sociais,serviços de saúde, órgãos governamentais etc.). Talaparelho teria por função intervir no sujeito demodo que a sentença judicial fosse realmenteefetiva, isto é, resultasse em benefício para ele oupara a sociedade. Assim, por exemplo, em algunscasos, o magistrado pode suspender o processopor até seis meses para que o casal litigantefreqüente alguns encontros de mediação. Osegundo poderia ser entendido como umaindicação de que o saber do juiz, hoje, demandauma interação contínua com outros saberes (dasciências humanas, em particular) de modo a poderrealizar-se de modo efetivo. Ambas as afirmaçõesilustram, ao seu modo, o painel que esboçamosacerca da relação Psicologia-Direito no que dizrespeito ao exame, à disciplina e à norma.

No entanto, devemos ainda deter-nos um poucomais na citação de Lacroix. Há que se destacarque a juíza não tinha em perspectivaexclusivamente os magistrados. Poder-se-ia dizerque o quotidiano atualiza, das mais diversasmaneiras, para os psicólogos e para os operadoresjurídicos, limites que se traduzem em impasses. Omodo de responder a eles eventualmente guardadiferenças conforme se trate de um psicólogo, deum assistente social, juiz etc. Então, sãoapresentadas, a princípio, duas interpretações paraaquela frase: uma, que creditaria à possibilidade,em maior ou menor grau, de sutura de um saberpelo outro; outra, que radicaliza a idéia de umnão-saber, impossibilidade de recobrimento de umsaber pelo outro, mas que, no entanto, nãoinviabiliza uma tomada de decisão; pelo contrário,é sua condição de possibilidade.

Já afirmamos que ao menos uma de nossasatribuições, associada ao parecer, seria a de construiruma narrativa, uma história, através da qual ossujeitos se inscreveriam no universo judicial, narrativapela qual um sujeito passa a ser reconhecido dedeterminada maneira. Todavia, pode-se pensar oparecer como um campo onde uma correlação deforças se estabelece - tal como dito anteriormente-e o modo como o psicólogo estará posicionado aí(conforme nossas referências à descontinuidade, àimpossibilidade e à liberdade, p.ex.) poderá tornaro instrumento uma ferramenta de resistência, talcomo especificado por Foucault.

Se essa hipótese faz algum sentido, é precisoentender que a equipe técnica, na máquinajudiciária, constrói lugares, cria sistemas deinterpretação que dão significados a nomes comorequerentes, requeridos, adolescente infrator,adotando, violência. Mais importante, ao elaboraressa narrativa, estamos criando uma história, isto é,um passado e um futuro onde esses nomes adquiremuma materialidade própria. A esta altura, não é difícilnotar que, para participar da constituição dessashistórias, seria preciso que as certezas fossem poucase que se pudesse dizer “não sei”. É porque não sesabe que se pode buscar um sentido nos enunciadosque partem do outro. Assim, ao falarmos davalorização de um tipo de “não saber”, estamosfazendo apelo a um uso positivo do tempo, isto é,estamos afirmando que pode haver uma dissimetriaentre o passado e o futuro e que o sujeito deveresponder por suas escolhas.

Ao invocarmos um uso positivo do tempo, nadamais fazemos do que retomar a consideração feitaanteriormente sobre o ‘a posteriori’ e a ‘ilusãoretroativa’. Deve ser lembrado que, ali, quandofalamos dos pareceres e entrevistas, surpreendeu-nos o uso e o apelo à palavra aposta. Naquelemomento, já se insinuava que algo escapa,necessariamente, ao parecer e, de certa maneira, éisso que, em maior ou menor medida, pode torná-lo uma peça importante nas estratégias de resistência(cf. Foucault, 1991; Castel, 1991 e Fontana, 1991).

Por fim, cabe retornar à resposta de um dospsicólogos entrevistados e fazer dela um voto queserá também o nosso. Voto que denuncia asambigüidades, as contradições e as correlações deforça que fazem do parecer um campo de múltiplasbatalhas, cenário onde figuras e personagens, àsvezes, se fazem de difícil distinção. É esseentrelaçamento que faz do poder e da resistênciaduas noções indissociáveis na história quedescrevemos: “[Espero] que o parecer sirva cadavez menos como uma resposta exclusiva ao juiz...”

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6 André Malroux foi indicadocomo o autor da frase, porém,sem referências.

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Recebido 27/03/02 Aprovado 08/08/04

José César CoimbraPraia do Flamengo, 314/5,

Flamengo, Rio de Janeiro, RJ, 22210-030,Tel.:21 2237-0323

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