af nos hospitais do msrj
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AF Nos Hospitais Do MSRJTRANSCRIPT
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MINISTRIO DA SADE FUNDAO OSWALDO CRUZ
ESCOLA NACIONAL DE SADE PBLICA
A FARMCIA NO HOSPITAL E A ATENO SADE
ASSISTNCIA FARMACUTICA NOS HOSPITAIS DO MINISTRIO DA SADE NO RIO DE JANEIRO: ESTUDO DE CASO
PAULO ROBERTO COELHO WILKEN
Dissertao apresentada como requisito para a
obteno de ttulo de mestre em Sade Pblica. rea de concentrao de Planejamento e Gesto
de Servios e Sistemas
ORIENTADOR : PROF. DR. JORGE ANTONIO ZEPEDA BERMUDEZ CO - ORIENTADORA : PROF. DR MARGARETH PORTELA
Rio de Janeiro 1998
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MINISTRIO DA SADE
FUNDAO OSWALDO CRUZ ESCOLA NACIONAL DE SADE PBLICA
A FARMCIA HOSPITALAR E A ATENO SADE
A ASSISTNCIA FARMACUTICA NO HOSPITAL NOS HOSPITAIS DO MINISTRIO DA SADE NO RIO DE JANEIRO: ESTUDO DE CASO
Dissertao de Mestrado submetida Escola Nacional de Sade Pblica, da Fundao Oswaldo Cruz, como parte dos requisitos necessrios a obteno do grau de Mestre em Sade Pblica.
_______________________________________ (ORIENTADOR)
________________________________________ (CO - ORIENTADOR)
_______________________________________ (EXAMINADOR -1)
_______________________________________ (EXAMINADOR - 2)
FICHA CATALOGRFICA
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Ficha catalogrfica iii
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A toda minha famlia, em especial a minha esposa Denise, e as minhas filhas Luciana, Juliana e Michele
pela fora compreenso e carinho fornecido durante os perodos mais crticos de nossa caminhada.
Aos meus pais Lina e Weimar e meus tios Aparecida e Edgard, in memria, e a minha tia Irene os meus
agradecimentos especiais, pois sem a ajuda dos mesmos nunca poderia ter conseguido chegar ao meu
estgio profissional atual.
AGRADECIMENTOS
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Agradecimentos v
Prof., Dr.. Margareth Crisstomo Portella, minha co - orientadora, pela pacincia, pelos conselhos, incentivo, confiana e habilidade com que conduziu os seminrios avanados de planejamento.
Ao Prof,Dr. Francisco Javier Uribe Rivera pela oportunidade de desenvolver e
ampliar meus conhecimentos sobre planejamento de sade, principalmente atravs do PES (Planejamento Estratgico Situacional).
As Prof. Sheila M. Lemos e Prof. Creuza da Silva Azevedo pelas brilhantes
aulas sobre Teorias Organizacionais e de Gesto de Servios de Sade, o que me permitiu manter contato com obras de autores como Gareth Morgan e Henry Mintzberg dentre outros.
Prof. Maura Taveira pela pacincia, conselhos e oportunidade de aumentar
meus conhecimentos em Programao de Servios de Sade. todos os Professores da Escola Nacional de Sade Pblica, da Fundao
Oswaldo Cruz. aos quais tive contatos direto ou indireto, atravs de suas obras, e que em muito contriburam para o nosso aperfeioamento.
A todos os colegas de mestrado, da turma de 1996, da Escola Nacional de Sade
Pblica. Aos Farmacuticos, Guacira Corra de Matos, Naira Villas Bas de Oliveira, Rita
de Cssia da Silva Asceno Barros, Elizabeth Valverde Macedo dos Santos, Antnio Carlos Carreira Freitas, Ivo Fernandez de Arajo, Roberto Pereira Neto e Joaquim Amaral, membros da Comisso Executiva Operacional ERERJ/UFF/1996, da qual tive a satisfao de participar, e cujo o trabalho desenvolvido tornou-se ponto de referncia para a elaborao de nossa dissertao.
Prof., Dr. Lilian Terezinha Trotta pelas opinies, incentivo e participao em
nossa Banca de Qualificao. As Farmacuticas Vera Lucia Luiza e Claudia Osrio de Castro, Mestres em
Farmcia Hospitalar, pela Faculdade de Farmcia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, pelas bibliografias recomendadas, conselhos e observaes efetuadas em nossa disssertao.
Ao Amigo e meu ex. Aluno de Qumica Orgnica, no 2 Grau, do Colgio Marsta
So Jos, Andr Luiz Almeida dos Reis, colega Farmacutico e Mestre em Qumica Orgnica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, pelos conselhos e ajuda nos momentos difceis e que tornou-se ponto de referncia para que eu conclusse que vale a pena ainda ser Professor.
A Alexandre Pinto Marques (Estudante de Engenharia Eletrnica) e Hiro de Lima
Brando Murakami (Estudante de Medicina), pelo apoio logstico na rea de informtica.
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Agradecimentos vi
Jussara Amaro da Silva, secretria do Ncleo de Assistncia Farmacutica da
Escola Nacional de Sade Pblica, pela colaborao e ateno sempre dispensada.
Ao Meu Orientador Prof, Dr. Jorge Antonio Zepeda Bermudez, cuja carreira
profissional tive oportunidade de acompanhar nos ltimos 15 anos, ora trabalhando em rges diferentes, ora no mesmo rgo, mas sempre ligados a uma mesma questo que envolve a Poltica de Medicamentos e de Assistncia Farmacutica desenvolvida no Brasil. Aprendemos a respeitar o profissionalismo. a dedicao, a honestidade e responsabilidade com que o Dr, Bermudez desenvolveu o seu trabalho em todas as Instituies pelo qual passou e que tivemos interseo direta ou indireta. Foi uma enorme satisfao ter sido orientado pelo Dr. Bermudez para elaborao de nossa dissertao de mestrado, o que proporcionou um relacionamento mais afetivo. O meu muito obrigado ao amigo e confidente certo de minhas horas incertas, cujo incentivo, pacincia e experincia contriburam decisivamente para que eu pudesse chegar ao final do caminho.
SUMRIO RESUMO x
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Sumrio vii
ABSTRACT xi LISTA DE TABELAS E QUADROS xii LISTA DE FIGURAS xiv ABREVIAES E CONVENES xv CAPTULO 1. INTRODUO 1 1.1 - O Problema, a Justificativa e os Objetivos 1 1.1.1 - O Problema 1 1.1.2 - Justificativa 2 1.1.3 - Os Objetivos 2 1.2 - Referencial utilizado para fundamentar nosso estudo 3 1.3 - Categoria de anlise e metodologia de pesquisa 8 1.3.1 - Categoria de anlise 8 1.3.2 - Metodologia de Pesquisa 8 1.4 - Amostragem, coleta e organizao dos dados 9 1.4.1 - Amostragem 9 1.4.2 - Coleta de dados 10 1.4.3 - Organizao dos dados 10 1.5 - Hipteses 11 CAPTULO 2. QUESTES IMPORTANTES PARA O ENTENDIMENTO E COMPLEMENTAO DA DISSERTAO 12 2.1 - A Indstria Farmacutica ; Contextualizao e Importncia atual 12 2.2 - Brasil : Assistncia Farmacutica; Histrico e Situao Atual 17 CAPTULO 3. NOES SOBRE TEORIAS ORGANIZACIONAIS E PLANEJAMENTO ; EXTRAPOLANDO PARA O ENTENDIMENTO DA QUESTO EM FARMCIA HOSPITALAR 24 3.1 - Teorias Organizacionais e de Gesto de Servios de Sade 25 3.1.1 - Anlise de uma Organizao Segundo Marinho 25 3.1.2 - Anlise de uma Poltica Organizacional Segundo Morgan 29 3.1.3 - O Modelo Terico Organizacional de Mintzberg 32 3.2 - O Planejamento Estratgico Situacional (PES) 39 3.2.1 - Conceitos e Questes Relevantes para o Entendimento do PES 40 3.2.2 - O Processo de Produo Social 45 3.2.3 - Os Momentos do PES 48 3.2.4 - Fundamentos do Planejamento Situacional 49
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Sumrio viii
3.2.5 - Propostas Metodolgicas 53 CAPTULO 4 . A ASSISTNCIA FARMACUTICA HOSPITALAR 54 4.1 - Aspectos e Questes Relevantes 54 4.2 - Conceitos sobre Farmcia Hospitalar 56 4.3 - Funes e Padres Mnimos de um Servio de Farmcia Hospitalar 59 4.4 - A estrutura Bsica Utilizada para a Avaliao das Atividades Desenvolvidas pelas Farmcias Hospitalares 65 4.1.1 - Aspectos gerais 65 4.4.2 - contextualizao da estrutura bsica para a avaliao das atividades 68 CAPTULO 5 . A FARMCIA HOSPITALAR NOS HOSPITAIS DO MINISTRIO DA SADE, NO RIO DE JANEIRO: UMA AVALIAO 84 5.1 - Avaliao de Servios e Sistemas 84 5.2 - Evoluo, Consideraes e Resultados Obtidos com o Instrumento MEC/ERERJ/UFF 91 5.3 - Gastos Gerais dos Hospitais do Ministrio da Sade, no Rio de Janeiro, no exerccio de 1996 103 5.4 - O Instrumento AVAFARMA/HOSP: Uma nova proposta; Justificativas, Bases para a Elaborao, Metodologia e formatao para possveis resultados 108 5.4.1 - Justificativas 108 5.4.2 - As bases para elaborao do instrumento 110 5.4.3 - Metodologia utilizada 111 5.4.4 - Sistemtica utilizada para a avaliao 112 CAPTULO 6 . DISCUSSO 115 6.1 - No que tange as teorias organizacionais e de gesto da farmcia hospitalar 115 6.2 - No que Tange ao Planejamento Estratgico Situacional Matusiano 124 6.3 - No que Tange a Assistncia Farmacutica Hospitalar 127 6.4 - No que Tange a avaliao do servio de Farmcia Hospitalar, na amostra escolhida, pelo Instrumento MEC/ERERJ/UFF 131 6.5 - No que Tange a Proposta de Utilizao do Instrumento AVAFARMA/HOSP 135 6.5.1 - A importncia do instrumento 135 6.5.2 - Proposta de indicadores 137 6.6 - Consideraes Finais 139
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Sumrio ix
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 140 ANEXOS 144 ANEXO 1- Instrumento MEC/ERERJ/UFF 144 ANEXO 2 - Instrumento AVAFARMA/HOSP 155 ANEXO 3 - Roteiro para Preenchimento do Instrumento AVAFARMA/HOSP 167
RESUMO
A presente dissertao tem como objetivos articular ou inferir a questo da Farmcia Hospitalar, de um modo geral desenvolvida no Pas, com a rea de Gesto de Servios e Sistemas com nfase em estudos de Teorias Organizacionais e Planejamento Estratgico, principalmente o Situacional. Com vistas a uma melhor contextualizao analisamos resumidamente as principais questes relacionadas a
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Resumo x
indstria farmacutica e os caminhos percorridos pela assistncia farmacutica governamental, que envolvem a Central de Medicamentos e o INAMPS, em nosso pas. Como objetivo especfico refletimos sobre o instrumento utilizado e sobre os resultados obtidos na avaliao de 12 (doze) farmcias, de hospitais do Ministrio da Sade, no Rio de Janeiro, que foi realizada, em maio/junho de 1996, pela Comisso Executiva Operacional, nomeada atravs da Portaria n01 MS/ERERJ/UFF. A base do instrumento de avaliao elaborado e aplicado pela referida comisso foi alicerada em um instrumento utilizado pelo Ministrio da Educao para auto - avaliao de farmcias hospitalares universitrias o que levou a comisso a adotar o nome do instrumento acima citado como MEC/ERERJ/UFF (ANEXO 1). Em funo das dificuldades encontradas, na poca, para avaliao das farmcias hospitalares da rede do Ministrio da Sade, resolvemos refletir e elaborar uma nova proposta de instrumento para avaliao das atividades desenvolvidas nas referidas farmcias. O instrumento desenvolvido, pelo mestrando, levou em considerao trs metodologias, representadas primeiramente pelo prprio instrumento de avaliao MEC/ERERJ/UFF, articulado a duas outras metodologias representadas pela Auto Avaliao pela srie ISO 9000 que trabalha com um sistema de pontuao para atividades desenvolvidas nas organizaes, associada a metodologia de desdobramento da funo qualidade (QFD - Quality Function Deployment) que utiliza a adoo de pesos para avaliao do desempenho em determinadas atividades organizacionais. O instrumento referenciado foi denominado, pelo mestrando, de AVAFARMA/HOSP (ANEXO 2). Pela complexidade do instrumento e falta de tempo hbil para a validao do mesmo, resolvemos elaborar um roteiro para preenchimento e organizao dos dados obtidos para facilitar a validao futura. O instrumento AVAFARMA/HOSP apenas uma proposta que pode e deve ser mais estudado, aperfeioado e validado e possivelmente informatizado para uso externo. Finalmente, resumindo nossa dissertao, procuramos articular a farmcia hospitalar com as teorias organizacionais, planejamentos e avaliao de servios e sistemas.
ABSTRACT
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Abstract xi
LISTA DE TABELAS E QUADROS
Quadro 3.1 - Diferenas filosficas entre as concepes unicista, pluralista
e radical ligadas aos Interesses, conflitos e poder na Organizao
(Morgan, 1996) 30
Quadro 3.2 - A viso organizacional de Mintzberg (1995) em relao
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Lista de tabelas e quadros xii
a outras correntes de pensamento 36
Quadro 3.3 - As dimenses do processo de produo social (Matus, 1993) 47
Quadro 4.1 - Os trs pilares da farmcia hospitalar 66
Quadro 4.2 - Resumo das principais atividades desenvolvidas pela
Farmcia Hospitalar Avaliadas no recorte escolhido 67
Quadro 4.3 - Padronizao de Medicamentos Essenciais em Hospitais
de alguns Pases. 71
Quadro 5.1 - Caractersticas de modelos de gesto (Takashina & Flores, 1997) 88
Quadro 5.2 - Atores Sociais que influenciam nas farmcias hospitalares
dos hospitais do Ministrio da Sade, no Rio de Janeiro 93
Quadro 5.3 - Caractersticas gerais das unidades hospitalares do Ministrio
da sade (Comisso Executiva Operacional MS/ERERJ/UFF 1996)95 95
Quadro 5.4 - Estrutura organizacional dos servios de farmcias do Ministrio
da Sade (Comisso Executiva Operacional MS/ERERJ/UFF, 1996) 96
Quadro 5.5 - Desempenho das farmcias hospitalares do Ministrio
da Sade, quanto suas funes bsicas
(Comisso Executiva Operacional MS/ERERJ/UFF 1996) 97
Quadro 5.5 (Continuao) 98
Quadro 5.6 - Desempenho das farmcias hospitalares do Ministrio
da Sade, quanto suas Funes Clnicas
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Lista de tabelas e quadros xiii
(Comisso Executiva Operacional MS/ERERJ/UFF 1996) 99
Quadro 5.7 - Gastos totais dos hospitais gerais do Ministrio da Sade,
no Rio de Janeiro, em relao aos gastos com
medicamentos (MS/ERERJ/CUHP/DPOF/SIAFI - 1997) 104
Quadro 5.8 - Gastos totais dos hospitais especializados do Ministrio
da Sade, no Rio de Janeiro, em relao aos gastos
com medicamentos (MS/ERERJ/CUHP/DPOF/SIAFI - 1997) 105
Quadro 5.9- Relao entre gastos dos hospitais gerais do Ministrio
da Sade, no Rio de Janeiro, com material de consumo
e medicamento (MS/ERERJ/CUHP/DPOF/SIAFI - 1997) 106
Quadro 5.10 - Relao entre gastos dos hospitais especializados
do Ministrio da Sade, no Rio de Janeiro, com material
de consumo e medicamento (MS/ERERJ/CUHP/DPOF/SIAFI - 1997) 107
LISTA DE FIGURAS
Figura 3.1 - O Tringulo de Governo. (Matus, 1993) 29
Figura 3.2 - As cinco partes ou dimenses bsicas da Organizao
(Mintzberg, 1995) 34
Figura 3.3 - Alguns membros e unidades das partes de uma empresa
fabril (Mintzberg, 1995) 34
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Lista de figuras xiv
Figura 5 1- Diagrama de Ishikawa (Takashina & Flores, 1996) 89
Figura 5.2 - O ciclo PDCA (Plan, do, check, act), (Takashina & Flores, 1996) 90
Figura 6 1- Configurao de uma Burocracia Profissional (Mintzberg, 1995) 118
Figura 6.2 - Configurao de uma Burocracia Mecanizada (Mintzberg, 1995) 119
Figura 6.3 - Perspetiva mltipla 123
ABREVIAES E CONVENES
ABRASCO - Associao Brasileira de Ps Graduao em Sade Coletiva ABNT - Associao Brasileira de Normas Tcnicas AVAFARMA/HOSP - Mtodo de Avaliao proposto para Farmcia Hospitalar CCIF - Coordenao de Controle de Infeco Hospitalar/SAS/MS CDMs - Centrais de Distribuidoras de Medicamentos do INAMPS CEME - Central de Medicamentos do Ministrio da Sade CRF - Conselho Federal de Farmcia CRFs - conselhos regionais de Farmcia
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Abreviaes e convenes xv
CTI - Centro de Tratamento Intensivo CUP - Coordenadoria de Unidades Prprias do Ministrio da Sade CURVA ABC (Curva de Pareto) DATAPREV - Empresa de Processamento de Dados do Ministrio da Previdncia
Social
DELFHI - Mtodo de Programao DPAC - Departamento de Promoo e Assistncia Sade/SAS/MS DPOF - Diviso de Programao Oramentaria e Financeira da CUP EBAP - Escola Brasileira de Administrao Pblica ENAP - Escola Nacional de Administrao Pblica ENSP - Escola Nacional de Sade Pblica ERERJ - Escritrio de Representao do Ministrio da Sade no Estado do Rio de
Janeiro
FH - Farmcia Hospitalar FIOCRUZ - Fundao Oswaldo Cruz FUNABEM - Fundao Brasileira de Assistncia e Bem Estar ao Menor GMP - Good Manufacturing Pratices IAPAS - Instituto de Administrao da Previdncia e Assistncia Social IAPB - Instituto de Aposentadoria e Penses dos Bancrios IAPC - Instituto de Aposentadoria e Penses dos Comerciarias IAPETEC - Instituto de Aposentadoria e Penses IAPI - Instituto de Aposentadoria e Penses dos Industriarios IAPM - Instituto de Aposentadoria e Penses dos Martimos IAPs - Institutos de Assistncia e Penses INAMPS - Instituto Nacional de Assistncia Mdica da Previdncia Social INPS - Instituto Nacional de Previdncia Social IPEA - Instituto de Pesquisa Econmicas Aplicadas ISO - International Organization for Standardization LBA - Legio Brasileira de Assistncia MAPP - Mtodo Altadir de Planejamento Popular MEC - Ministrio da Educao e Cultura MMH - Material Mdico Hospitalar MPAS - Ministrio da Previdncia e Assistncia Social
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Abreviaes e convenes xvi
MS - Ministrio da Sade OFIL - Organizao dos Farmacuticos Ibero - Latino americanos OMS - Organizao Mundial de Sade OPAS - Organizao Pan Americana de Sade OPS/HSS/94-09 - Buenas Praticas de Manufactura Vigentes Inspeccion Y
Auditoria - 1994
PAMs - Postos de Assistncia Mdica do INAMPS PDCA - Plan, do,check, act PES - Planejamento Estratgico Situacional RENAME - Relao de Medicamentos Essenciais RMB - Relao de Medicamentos Bsicos SAS - Secretaria de Assistncia a Sade do Ministrio da Sade SBRAFH - Sociedade Brasileira de Farmcia Hospitalar SIAFI - Sistema de Administrao Financeira do Governo Federal SINPAS - Sistema Nacional de Previdncia e Assistncia Social SOBRAVIME - Sociedade Brasileira de Vigilncia Sanitria SUS - Sistema nico de Sade SUS - Sistema nico de Sade UAFs - Unidades de Assistncia Farmacuticas do INAMPS UFF - Universidade Federal Fluminense UTI - Unidade de Tratamento Intensivo
VEM - Mtodo que classifica os Medicamentos em Vitais, Essenciais e No Essenciais
ZOOP - Planejamento por Projetos Orientados por Objetivos
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Indroduo 1
CAPTULO 1
INTRODUO
1.1 - O PROBLEMA, A JUSTIFICATIVA E OS OBJETIVOS
1.1.1- O PROBLEMA
A Assistncia Farmacutica Hospitalar constitui-se como um sistema complexo e
relevante no mbito da gesto de sistemas e servios de sade, no somente por
contemplar um dos insumos bsicos para cuidados aos pacientes, como tambm,
pelos altos custos que envolve este tipo de questo. A situao atual da assistncia
farmacutica foi agravada em funo principalmente do quadro de escassez grave,
que ocorre em nosso Pas, de recursos de todos os tipos, e pode vir a proporcionar
inmeras distores clientela em decorrncia da prestao de uma assistncia de
m qualidade e que pode levar, como conseqncia, ao risco de situaes
iatrognicas.
Podemos considerar a questo sob diversas ticas, no s no mbito de um grande
problema social, pelo no atendimento das necessidades de medicamentos
populao, tanto em nvel hospitalar como em nvel ambulatorial, como tambm sob
a tica da gesto de servios e sistemas.
No podemos esquecer tambm a rea de Cincia e Tecnologia (Pesquisa e
Desenvolvimento), bem como a poltica industrial liberal desenvolvida pelo Governo
Federal, nos ltimos anos, e que como conseqncia produz reflexos em todas as
reas que compem o mbito do Estado, principalmente as ligadas aos direitos
sociais como a rea de Sade Pblica. Esta situao produz efeitos substanciais,
aumentando as desigualdades sociais, caracterstica em nosso pas e agravada por
sua geografia continental (Bermudez, 1995). Vrios conceitos de farmcia hospitalar
sero apresentados no captulo 4 de nossa dissertao. Entretanto, nossa opinio
que os conceitos podem e devem ser analisados e articulados, tendo sempre em
vista, como foco principal, a Poltica de Medicamentos e de Assistncia
Farmacutica desenvolvida no Pas.
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Indroduo 2
Podemos tambm extrapolar a viso do assunto para os reflexos que a poltica
desenvolvida em escala mundial produz em nvel nacional (Bermudez, 1995), e que
sero abordadas oportunamente no captulo 2.
1.1.2 - A JUSTIFICATIVA
Uma questo importante para detectar e minimizar distores existente em qualquer
farmcia hospitalar, seja de natureza tcnica ou administrativa, est ligada
fatalmente existncia de instrumentos de avaliao que permitam diagnosticar os
ns crticos, porventura existentes, com o objetivo de redirecionar as atividades
desenvolvidas pelo servio a fim de prestar aos usurios uma assistncia
farmacutica de boa qualidade, com custos reduzidos, evitando-se desperdcios
desnecessrios em funo de falhas tcnicas e administrativas.
Partindo-se de indicadores para a avaliao de farmcia hospitalar j existentes e
levando-se em conta os aspectos que possam interferir tanto na Poltica de
Medicamentos como na de assistncia farmacutica no Brasil, este trabalho
pretende contribuir para o aprimoramento do sistema de gesto de farmcias
hospitalares, tanto no setor pblico, como tambm para o setor privado, buscando a
obteno de respostas apropriadas ao perfil epidemiolgico vigente em cada
nosocmio (Laporte, Tognoni & Rozenfeld, 1989), tendo como fundamento as
condies adequadas de segurana, qualidade e uso racional de recursos de um
modo geral.
1.1.3 OS OBJETIVOS
Nossa dissertao tem como objetivo principal o desenvolvimento de um instrumento
de avaliao, que denominamos de AVAFARMA/HOSP.(Anexo 2).O referido
instrumento foi elaborado tendo como bases uma avaliao desenvolvida pela
Comisso Executiva Operacional MS/ERERJ/UFF, em servios de farmcia
hospitalar de 12 (doze) hospitais da rede prpria do Ministrio da Sade, no Rio de
Janeiro, em abril/maio de 1996.
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Indroduo 3
Utilizou-se na avaliao um instrumento oriundo do Ministrio da Educao e
Cultura, adaptado pela referida comisso, e que passou a ser conhecido como
instrumento MEC/ERERJ/UFF (Anexo 1).
A este instrumento acrescentamos aspectos metodolgicos utilizados pelo Sistema
de Auto Avaliao ISO 9000 (Bez, Sanches, Louro & Mitteldorf, 1993) e da
metodologia de desmembramento da funo Qualidade (QFD - Quality Function
Deployment), segundo as colocaes efetuadas por Takashina & Flores (1997).
Queremos ressaltar o interesse deste trabalho, principalmente para os hospitais do
Ministrio da Sade, pertencentes ao recorte escolhido como amostra, mas tambm
para outros hospitais, na medida em que nossa anlise da questo possa vir a
subsidiar diretrizes que permitam obter-se uma metodologia de avaliao e de
gesto de farmcia hospitalar, tanto em nvel individual, como em nvel de redes
hospitalares de sade.
importante assinalar que o Instrumento AVAFARMA/HOSP uma proposta que
leva em considerao o contexto e as caractersticas dos hospitais analisados na
rede do Ministrio da Sade no Rio de Janeiro, em 1996, o que sob nossa tica no
invalida a sua aplicao em outros contextos pela sua capacidade de adaptao,
atravs da introduo ou excluso de quesitos ou atividades, ou seja, o referido
instrumento pode sofrer mutaes para adaptar-se ao contexto da estrutura que ser
avaliada.
1.2 - REFERENCIAL UTILIZADO PARA FUNDAMENTAR NOSSO ESTUDO
Como referencial, utilizamos a anlise das diversas definies de farmcia
hospitalar, tendo como base vrias ticas e diversos autores e instituies que
trabalham com o assunto, e que esto contextualizadas nesta dissertao.
O referencial para estudo, so os critrios relacionados s grandes atividades da
farmcia hospitalar, que destacaremos no captulo 4 desta dissertao. De forma
resumida, eles so representados pelo que entendemos por:
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Indroduo 4
Organizao, Padronizao, Planejamento, Programao, Aquisio, Manipulao,
Controle de Qualidade, Armazenagem, Distribuio interna e externa, Comisses e
Farmcia Clnica.
Utilizamos tambm como referncias para o nosso estudo a viso de determinados
autores como Aveds Donabedian (Conceito de qualidade), Paulo Roberto Motta
(Conceitos de eficincia, eficcia e efetividade), Maria Jos Aguilar & Ezequiel Ander
- Egg e Zumira Maria de Arajo Hartz. (Avaliao).
Procuramos articular a questo da farmcia hospitalar de um modo geral com nossa
rea de concentrao representada pelo planejamento e gesto de servios e
sistemas, principalmente dando nfase as teorias organizacionais e de gesto de
servios e ao planejamento estratgico Matusiano. Para tanto, utilizamos como
referncia para a contextualizao e reflexes, principalmente, as obras de
Francisco Javier Uribe Rivera e Carlos Matus no que se refere ao planejamento
estratgico situacional e principalmente Henry Mintzberg em relao teorias
organizacionais.
Pretendemos assim avaliar tcnica e administrativamente a gesto da farmcia
hospitalar, no contexto geral do hospital, levando-se em considerao o seu sentido
mais amplo. Desenvolvemos nosso estudo considerando TRS PILARES
BSICOS.
O PRIMEIRO PILAR representado pelo custo atual da assistncia farmacutica
prestada nos hospitais da rede do Ministrio da Sade, no Rio de Janeiro, que no
decorrer do exerccio de 1996 atingiu 14,0 milhes de Reais. (Fonte: Gastos com
Material de Consumo - Diviso de Programao Oramentaria e Financeira -
MS/SAS/ERERJ/CUHP/DPOF/ SIAFI - 1997), o que correspondeu a 8,8% dos
gastos gerais dos hospitais na poca.
Estudos efetuados nos Estados Unidos da Amrica em 1993 indicam que os custos
com medicamento consomem cerca de 7% a 15% dos custos gerais dos hospitais,
com perspectivas na poca de dobrar at o ano de 1995 (Rhoark, 1993).
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Indroduo 5
Outra autora americana discute que as despesas com medicamentos em relao
aos gastos gerais dos hospitais variam de 5% a 20%, entretanto alertando que esses
percentuais tem crescido, em mdia, 25% anualmente (Ryan, 1993).
Na Europa, coloca-se que os custos com medicamentos em relao s despesas
gerais dos hospitais variam de 5% a 10%, assinalando que de 15% a 30% so
gastos com antibiticos (Liaropoulos, 1993).
Analisaremos, em carter preliminar no captulo 5 os dados relativos aos gastos com
medicamentos, tendo como referncia os quantitativos totais de gastos gerados
pelos hospitais escolhidos no recorte, e tambm a relao entre os gastos efetuados
com material de consumo, no mesmo perodo em relao aos gastos com
medicamentos. Esta anlise preliminar ir deixar claro a necessidade de aprofundar
os estudos e avaliar as diferenas significativas entre os hospitais que compem a
amostra, alm de demostrar a necessidade urgente de desagregao dos dados
contidos no SIAFI.
O SEGUNDO PILAR ser representado pela avaliao e qualidade atual da
assistncia farmacutica prestada aos pacientes, que entendemos no tem se
mostrado eficiente, eficaz ou mesmo efetiva e necessita ser analisada para futuras
correes. Utilizaremos, para tanto, como referncia os conceitos de eficincia,
eficcia e efetividade os apresentados por Motta (1992), tendo em vista que as
definies contidas no dicionrio Aurlio so muito semelhantes e outras definies
a que tivemos acesso muitas vezes so conflituosas. Considerando o exposto,
optamos por trabalhar com o conceito de um nico autor.
Segundo Motta (1992), as dimenses bsicas da avaliao so representadas pela
eficincia, eficcia e efetividade. De acordo com o autor, o conceito de eficincia
poderia ser traduzido pelo cumprimento de normas e procedimentos e reduo de
custo,.e poderia ser medida atravs da anlise dos procedimentos, da razo
insumo/produto e da razo entre custo/resultado.
A eficcia seria conceituada como o alcance de resultados e a qualidade de
produtos e servios, podendo ser medida atravs da discrepncia entre os
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Indroduo 6
resultados previstos e os efetivamente alcanados e pela qualidade final do produto
desenvolvido.
A efetividade poderia ser conceituada como o impacto da deciso pblica e poderia
ser medida atravs da adequao, proveniente da satisfao de necessidades que
deram origem a estratgia, pela eqidade, referente a distribuio mais justa de
recursos pblicos e pela propriedade poltica que representaria a resposta a
demandas explcitas da comunidade.
Considerando os conceitos de Motta (1992), podemos inicialmente concluir que
transitaremos mais em nossa dissertao pela dimenso da avaliao representada
pela eficincia.
Entretanto, se levarmos em considerao como classificao de avaliao as
formulada por Peneault e Daveluy (1987) e Donabedian (1966;1984), que so
geralmente aceitas na rea da sade, e que estabelecem trs tipos de avaliao,
que so representadas por avaliao da estrutura, avaliao do processo e
avaliao dos efeitos, teremos que inicialmente concluir que transitaremos pelas
vertentes caracterizadas atravs das avaliaes de estrutura e de processo, mas
no de efeito.
Segundo Hartz (1997), que classifica as avaliaes atravs de dois conjuntos
articulados que representam a pesquisa avaliativa e a avaliao normativa,
inicialmente conclumos que transitaremos no mbito da avaliao normativa.
Outro conceito que tambm que bastante discutvel o de Qualidade,
principalmente considerando as ltimas dcadas, que foram representadas por um
perodo frtil no que se refere a elaborao de definies de qualidade.
As Contribuies para a conceituao de qualidade so inmeras, principalmente
em face da evoluo tecnolgicas, das prprias organizaes e da preocupao das
direes com a questo da satisfao dos recursos humanos utilizados no processo
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Indroduo 7
de trabalho e tendo como centro a satisfao dos usurios do sistema de produo,
tendo em vista a competio existente no mercado globalizado (Gesto pela
Qualidade Total).
Considerando o exposto, utilizaremos como referncia o conceito de Donabedian
(1980), que sintetizaremos a seguir:
Segundo Donabedian (1980), coexistem trs definies de Qualidade considerando
os elementos que entram em cada uma delas e que so representadas pela
qualidade absoluta, a qualidade individual e a qualidade social. Em termos de rea
de sade, Donabedian procura uma teoria unificadora que de um modo geral poderia
ser expressa da seguinte forma:Qualidade em sade seria uma propriedade, ou um
juzo sobre, algumas unidades definveis da ateno a sade a qual se pode dividir
em pelo menos duas partes: tcnica e interpessoal.
Portanto, o grau da qualidade seria uma medida em que a ateno prestada capaz
de alcanar um equilbrio mais favorvel entre riscos e benefcios em termos
tcnicos Em termos interpessoal a questo seria mais complexa em se definir face
sua subjetividade.
Entretanto Donabedian (1980), destaca como um conceito unificador da qualidade
da ateno em sade como aclasse de ateno que se espera poder proporcionar
ao paciente, o mximo e mais completo bem estar, depois de haver tomado em
conta o balano entre custos e benefcios esperados e que acompanham o processo
de ateno em todas as suas partes. Este conceito fundamental para os valores,
tica e tradio dos profissionais de sade.
O TERCEIRO PILAR de nosso estudo estaria representado pelo sistema de
planejamento e gesto, que nas farmcias hospitalares do Ministrio da Sade, no
Rio de Janeiro, de um modo geral poderamos classificarde inexistentes ou no
mnimo inadequados, considerando o processo evolutivo da questo da farmcia
7
-
Indroduo 8
hospitalar estudada no espao/tempo, tanto no Brasil como no Mundo e que leva em
considerao todos os aspectos relacionados desde a entrada do medicamento na
farmcia hospitalar at a sada dos mesmos para os pacientes internos e externos.
Em funo das colocaes efetuadas, foi nossa inteno pesquisar a possvel
inadequao ou ausncia de metodologias, principalmente relacionadas a estrutura
organizacional, planejamento, programao e avaliao, ou seja, considerando
aspectos ligados a gesto de servios, extrapolando o contedo desses assuntos
para a farmcia hospitalar do recorte escolhido.
1.3 - CATEGORIA DE ANLISE E METODOLOGIA DE PESQUISA
1.3.1.- CATEGORIA DE ANLISE
A categoria de anlise est representada pela Avaliao de Farmcia Hospitalar,
tanto tecnicamente como administrativamente, tendo como base fundamental as
atividades mais bsicas ou principais inseridas na problematizao da questo, ou
seja, desde a padronizao de medicamentos (primeiro parmetro bsico para o
desenvolvimento de qualquer programa de assistncia farmacutica), passando pelo
processo de planejamento e gesto, at a aplicao final do produto ao paciente
interno ou externo, levando-se em considerao o contexto do recorte escolhido, e
os conceitos de Donabedian (1980) e de Pineault & Daveluy (1987).
1.3.2 - METODOLOGIA DE PESQUISA
A metodologia de pesquisa utilizada para a elaborao da dissertao pode ser
considerada como um estudo de caso em 12 (doze) hospitais do Ministrio da
Sade, no Rio de Janeiro.
A partir do levantamento procedido pela Comisso Executiva Operacional
MS/ERERJ/UFF, em abril/maio de 1996, que desenvolvemos nossa proposta de
avaliao denominada de AVAFARMA/HOSP.
Com objetivo de alicerar nossa colocao citaremos Hartz (1997), que define o
estudo de caso como uma estratgia na qual o pesquisador decide trabalhar sobre
8
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Indroduo 9
uma quantidade muito pequena de unidades de anlise. A observao feita no
interior de cada caso. A potncia explicativa desta estratgia se apia na coerncia
das variaes existentes e suas relaes no tempo.
A potncia explicativa decorre, portanto, da profundidade da anlise do caso e no
do nmero de unidades. Acrescentamos que nossa proposta de Instrumento no foi
validada, entretanto, segundo Hartz (1997), o estudo de caso pode ser validado
internamente e depende da capacidade do pesquisador de minimizar a presena de
vises que comprometem a exatido da pesquisa.
Ainda segundo Hartz (1997), o estudo de caso pode ser validado externamente,
apesar da problemtica da estratgia de pesquisa, pois visa particularmente a uma
generalizao analtica que se apia no confronto da configurao emprica de
vrios casos similares a um quadro terico particular, para verificar se h replica dos
resultados de um caso para outro. A validao do instrumento AVAFARMA/HOSP se
apoiaria no estudo de casos mltiplos.
1.4 - AMOSTRAGEM, COLETA E ORGANIZAO DOS DADOS
1.4.1 - AMOSTRAGEM
O estudo proposto neste trabalho baseia-se na considerao da eficincia e
qualidade associada a diferentes modelos de gesto possveis em farmcia
hospitalar. Este universo inclu os 12 (doze) hospitais localizados no municpio do
Rio de Janeiro, ainda sob controle e gesto do Ministrio da Sade, no exerccio de
1996, representados a seguir:
Hospitais Gerais
Hospital Geral do Andara
Hospital Geral de Bonsucesso
Hospital da Piedade
Hospital dos Servidores do Estado
Hospital Geral de Jacarepagu
Hospital de Ipanema
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Indroduo 10
Hospital da Lagoa
Hospitais Especializados
Hospital de Cardiologia de Laranjeiras
Centro Psiquitrico Pedro II
Instituto Philippe Pinel
Hospital Raphael de Paula e Sousa
Colnia Juliano Moreira
Trabalhamos em nossa dissertao com sete hospitais que podem ser considerados
gerais e cinco hospitais classificados como especializados, sendo um de cardiologia,
trs de psiquiatria e um de doenas Infecto-contagiosas.
1.4.2 - COLETA DE DADOS
A coleta dos dados foi efetuada pela utilizao do instrumento MEC/ERERJ/UFF -
1996 (Anexo 1), que serviu de base para uma nova proposta metodolgica de
avaliao representada pelo instrumento AVAFARMA/HOSP.
1.4.3 - ORGANIZAO DOS DADOS
Os resultados e dados obtidos pela metodologia de avaliao foram organizados em
tabelas para melhor visualizao e comparao na amostra escolhida.
1.5 - HIPTESES
As hipteses mais freqentes no universo escolhido, e que buscamos comprovar,
podem ser sintetizadas nos seguintes quesitos:
A farmcia hospitalar, no recorte escolhido, sofre uma grande influncia do
mercantilismo executado pelas indstrias, principalmente no que se refere a
padronizao de medicamentos e programao dos mesmos pela unidades
hospitalares.
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Indroduo 11
As farmcias dos hospitais do Ministrio da Sade, no Rio de Janeiro, no
apresentam um sistema de aquisio de medicamentos racional, que vise a
obteno de um menor custo e a qualidade da assistncia.
No h geralmente um sistema de planejamento, programao e gesto
adequados nas farmcias dos hospitais do Ministrio da Sade.
A armazenagem de produtos acabados e de outros insumos, na maioria das
farmcias, no atendem as Boas Normas de Armazenagem elaboradas pelo
prprio Ministrio da Sade (CEME, 1989).
A manipulao de medicamentos, internamente executadas pelos hospitais no
seguem as Boas Normas de Preparao de Produtos Farmacuticos - (Good
Manufacturing Pratices ou GMP), incluindo-se neste caso a manipulao de
produtos parenterais e enterais.
A metodologia de distribuio interna de medicamentos, na maioria dos hospitais
estudados, e que so destinados s clnicas, obsoleta e de alto custo,
conhecida como metodologia de distribuio coletiva. A distribuio de
medicamentos pacientes externos pelo mtodo de dispensao praticamente
est paralisada em funo da desativao da CEME e quando feita, utilizam-se
medicamentos adquiridos na indstria privada.
CAPTULO 2
QUESTES IMPORTANTES PARA O ENTENDIMENTO E COMPLEMENTAO
DA DISSERTAO
2.1 - A INDSTRIA FARMACUTICA; CONTEXTUALIZAO E IMPORTNCIA
ATUAL
Nosso projeto, alm de estar inserido em um contexto maior, necessita ser
complementado por diversos conceitos e questes que fazem parte da rea da
Poltica de Medicamentos como um todo, mas que se refletem na Assistncia
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A Indstria, a Polca e a Assistncia Farmacutica 12
Farmacutica em seus diversos nveis e complementarmente na Farmcia
Hospitalar.
Para analisar qualquer assunto referente a poltica de medicamentos desenvolvida
neste pas continental, e considerando qualquer programa de assistncia
farmacutica desenvolvido no Brasil, necessrio relacionar duas questes
importantes, que so representadas pela diversidade das nosologias existentes nas
diferentes regies do pas e suas infra estruturas, que divergem muito de regio para
regio (Laporte, Tognoni & Rozenfeld, 1989), alm da participao hegemnica do
capital internacional neste mercado de vital importncia (Bermudez, 1995).
lamentvel que muitos programas de assistncia farmacutica desenvolvidos, em
todos os trs nveis de governo, nem sempre levem em considerao esses
aspectos relevantes. No podemos deixar de considerar vrios parmetros, entre
eles a questo da evoluo do medicamento no Brasil e no mundo, que possibilitar
entender a essncia da problemtica atual. Pela sua magnitude, passa a ser um
assunto que teremos que abordar para tentar encontrar sadas que sejam
compatveis com os interesses nacionais (Bermudez, 1995).
De acordo com Gerez (1993), no inicio do sculo XIX, a produo de medicamentos,
em nvel mundial, estava centralizada em pequenas oficinas de cunho familiar que
processavam artesanalmente extratos de origem animal e vegetal. Eram as
chamadas Boticas, que produziam medicamentos de valor teraputico na poca, em
sua maioria ainda no avaliados.
Na segunda metade do sculo XIX, com a revoluo industrial, principalmente na
Europa e nos Estados Unidos, comearam a surgir empresas produtoras de
medicamentos, tais como a Merck, a Eli Lilly, a Upjohn, a Smith Kline, etc., e a
Beacham, na Inglaterra, que criaram uma rede de produo, distribuio e
comercializao relativamente complexa para esses tipos de produtos (Gerez,
1993).
12
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A Indstria, a Polca e a Assistncia Farmacutica 13
Pelo exposto, segundo Gerez (1993), podemos afirmar que o processo de
industrializao dos medicamentos, em nvel mundial, se iniciou bem antes da
comprovao da eficcia dos mesmos.
A comprovao da atividade teraputica dos medicamentos, produzidos em escala
industrial, iniciou-se em 1889 com a apresentao,. Em Paris, durante a exposio
do Centenrio da Revoluo Francesa, da Aspirina (cido acetilsaliclico), pela
Bayer da Alemanha. e que viria a ser talvez o mais bem sucedido produto
farmacutico de todos os tempos. Em seguida, em 1907, a Hoechst, tambm da
Alemanha, lanou o produto Salvarsan (Composto arsenobenzico) destinado ao
tratamento da sfilis. Em 1935, a Bayer lanou no mercado a Sulfanilamida, que viria
a se tornar a cabea de chave de uma srie de antibacterianos (Gerez, 1993).
Em 1940, os cientistas Florey e Chain, de Oxford, divulgaram os primeiros
resultados obtidos com um produto experimental, denominado de Penicilina e que
viria posteriormente a se constituir na base da Indstria Farmacutica Mundial de
Antibiticos, que nos dias atuais possui grande representatividade em nvel mundial
para a Indstria Farmacutica.
A evoluo cientfica e tecnolgica continuou aceleradamente, principalmente em
funo das pesquisas efetuadas durante as duas grandes guerras tendo, sido
acelerada pelos vultosos investimentos realizados no setor, principalmente no que
se refere a pesquisa e desenvolvimento, o que consolidou a participao no
mercado mundial de empresas principalmente originarias da Alemanha, Estados
Unidos da Amrica e da Inglaterra, fato esse determinante para o entendimento da
oligopolizao e monopolizao existentes no mercado farmacutico mundial nos
dias de hoje (Gerez, 1993).
Pelo exposto, podemos verificar que, se por um lado, o progresso cientfico e
tecnolgico conseguido pela indstria farmacutica, neste sculo, contribuiu para a
diminuio da mortalidade em funo da descoberta de novas drogas de
comprovada atividade teraputica, por outro lado houve tambm a concentrao da
produo e da pesquisa e desenvolvimento em poucas indstrias que hoje dominam
o conhecimento, a tecnologia e o mercado mundial (Gerez, 1993).
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A Indstria, a Polca e a Assistncia Farmacutica 14
A indstria farmacutica mundial bastante concentrada, de acordo com Gerez
(1993), e pode ser analisada atravs de dois cortes, que chamaremos de vertical e
horizontal.
O corte vertical pode ser representado pelas diferentes classes teraputicas que
compem a farmacologia aplicada e, neste caso, podemos classificar o segmento
em questo como monopolizado, pois uma determinada classe teraputica no
substitui uma outra. Em outras palavras, podemos exemplificar no sentido de que
hormnios no substituem antibiticos, que por sua vez no substituem
antiulcerosos e assim sucessivamente.
O verdadeiro mercado monopolizado constitudo pelo conjunto das diferentes
classes teraputicas, e a competio entre as empresas produtoras ocorre na
prtica em poucas classes teraputicas.
Na maioria das classes teraputicas, o que verificamos a existncia de monoplios
internacionais, entre os quais podemos destacar a Roche com cerca de 35% do
mercado de vitaminas, a Schering com 44,2% do mercado de corticosterides, a
Johnson com 34,8% do mercado de anti-helmnticos e a Biogalnica com 41,3% do
mercado de diurticos (Bermudez, 1992).
O outro corte em anlise seria o horizontal, relacionado a aspectos mercadolgicos e
ligados rea da cincia e tecnologia, originando dois segmentos. O primeiro
segmento est relacionado a um grupo de produtos que podem ser chamados de um
modo geral de populares e que so vendidos pelo comrcio sem receita mdica, e
um segundo segmento que engloba um grupo de produtos vendidos pelo comrcio,
sob receita mdica, e que so os denominados pela indstria como medicamentos
ticos. Este segundo segmento, por sua vez, pode ser subdividido em dois sub
grupos: os produtos que possuem patentes vencidas, e os produtos que possuem
patentes vigentes.
14
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A Indstria, a Polca e a Assistncia Farmacutica 15
Os produtos cujas patentes j esto vencidas, normalmente so comercializados por
vrias empresas, cada uma delas utilizando uma determinada marca ou mesmo o
nome genrico do frmaco.
Os produtos cujas patentes ainda esto vigentes so os comercializados por uma
nica empresa, que a detentora da patente, utilizando-se normalmente de uma
nica marca comercial.
Para que uma determinada empresa farmacutica consiga colocar no mercado uma
nova droga, h necessidade de investimentos em pesquisa e desenvolvimento, que
em alguns casos podem chegar a centenas de milhes de dlares (Gerez, 1993).
Evidentemente, os fatos acima mencionados favorecem a concentrao do mercado
farmacutico mundial, pois poucas empresas possuem a estrutura organizacional e
condies econmico-financeiras para operar na rea de pesquisa e
desenvolvimento de novos frmacos.
Para podermos entender melhor o processo de concentrao e internacionalizao,
verificaremos a hegemonia de indstrias nacionais em alguns pases em relao a
outros, cuja dependncia internacional marcante. Assim, diferenciado o
percentual de nacionalizao das Indstrias farmacuticas em alguns pases do
mundo, como Japo (87%), Estados Unidos (85%), Sua (72%) e Alemanha
Ocidental (65%), em contraponto com pases dependentes de indstrias
estrangeiras, tais como Arbia Saudita (100%), Nigria (97%), Blgica (90%) ou
Brasil (85%) (Bermudez, 1992).
Observa-se pela evoluo do mercado farmacutico mundial que, nos ltimos vinte
anos, o faturamento das indstrias farmacuticas tem crescido substancialmente,
principalmente em regies desenvolvidas, enquanto cresce paradoxalmente o
nmero de pessoas que no tem qualquer acesso a medicamentos, presentemente
estimado em mais da metade da populao mundial.
No Brasil a situao a mesma, ou seja, grande parcela da populao brasileira
tambm no tem acesso a medicamentos essenciais. Segundo diversos autores
(Gerez, 1993; WHO, 1988; Unido, 1991; Gazeta Mercantil, 1998; Pinheiro &
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A Indstria, a Polca e a Assistncia Farmacutica 16
Bermudez, 1998), o consumo de medicamentos em nvel mundial vem crescendo
constantemente nas ltimas dcadas, haja vista o consumo que era de 42,9 bilhes
de dlares em 1975, passando para 79,0 bilhes de dlares em 1980, atingindo 93,0
bilhes de dlares em 1985 e chegando a 172,7 bilhes de dlares em 1990, hoje se
situando no patamar dos 297,3 bilhes de dlares. O Brasil atualmente representa
um mercado de aproximadamente 10,3 bilhes de dlares anuais e est relacionado
entre os cinco mercados mais importantes do mundo (Gazeta Mercantil, 1998;
Pinheiro & Bermudez, 1998; Sindusfarm, 1997).
Observa-se por dados obtidos em fontes internacionais que h uma tendncia de
estabilizao dos grandes mercados mundiais e crescimento de mercados
emergentes. Analisando os dados supra mencionados, verificamos que no ano de
1990, o conjunto que indicava os pases centrais representava cerca de 77,5% do
consumo global de medicamentos mundial, cabendo ao resto do mundo a parcela
aproximada de 22,5%, apesar de sua alta concentrao demogrfica.
importante assinalar que as indstrias transnacionais investem grande somas em
pesquisa e desenvolvimento. Pela anlise de dez empresas verificamos que o
desenvolvimento de novas drogas podem atingir valores que representam cerca de
11,7% a 23,6% do faturamento da empresa. Apesar dos altos custos para o
lanamento de novos frmacos no mercado ainda assim compensador o retorno
financeiro para essas empresas, alm de permitir o que poderamos chamar de
monoplio do conhecimento no mundo.
2.2 - BRASIL: ASSISTNCIA FARMACUTICA; HISTRICO E SITUAO
ATUAL
Segundo Cordeiro (1991), em 1966/1967, patrocinado pelo governo militar da poca,
ocorreu o processo de centralizao dos Institutos de Assistncia e Penses (IAPs),
surgindo o Instituto Nacional de Previdncia Social (INPS).
A assistncia farmacutica desenvolvida pelo antigo Instituto Nacional de
Previdncia Social (INPS), era levada a efeito por intermdio de farmcias
conhecidas como de revendas, pois compravam medicamentos no mercado privado
e revendiam os mesmos, a preo de custo, aos beneficirios da previdncia social.
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A Indstria, a Polca e a Assistncia Farmacutica 17
Podemos considerar que esse tipo de assistncia farmacutica era extremamente
focal e excludente. Em 1971 houve a Criao da Central de Medicamentos (CEME)
pelo Decreto 68.806, de 25 de junho de 1971, rgo inicialmente ligado a
Presidncia da Repblica (Bermudez, 1992; 1995). No mesmo perodo, o Ministrio
da Sade, paralelamente ao INPS, tambm desenvolvia alguns programas
verticalizados de Assistncia Farmacutica, direcionados para clientelas especficas,
como o caso dos tuberculostticos, dentre outros.
O sistema acima mencionado funcionava no Ministrio da Sade paralelamente e
sem qualquer articulao com o programa existente no INPS, que foi desmembrado
no inicio de 1974, com a criao do Ministrio da Previdncia e Assistncia Social
(MPAS), surgindo desse desmembramento vrios Institutos, destacando-se entre
eles o Instituto Nacional de Assistncia Mdica da Previdncia Social (INAMPS).
No Sistema Nacional de Previdncia Social (SINPAS), criado em 1977, foram
organizados o Instituto Nacional de Previdncia Social (INPS), com novo
direcionamento, o Instituto de Administrao da Previdncia e Assistncia Social
(IAPAS) e o Instituto Nacional de Assistncia Mdica da Previdncia Social
(INAMPS), alm da reorganizao dos rges de assistncia social Legio Brasileira
de Assistncia (LBA) e da Fundao Nacional do Bem Estar ao Menor (FUNABEM),
e da constituio de uma empresa de processamento de dados (DATAPREV).
A CEME passou a ser vinculada ao Ministrio da Previdncia e Assistncia Social,
como rgo autnomo pelo decreto 74.000, em 1974 (Bermudez, 1992). Como
podemos observar, haviam diversos rges desenvolvendo em nvel federal
programas de assistncia farmacutica que no possuam articulaes entre si.
Programa de assistncia farmacutica do antigo INPS, como j foi dito, direcionava
suas aquisies para o mercado privado, sendo realizadas atravs de compras
efetuadas diretamente dos laboratrios produtores ou de seus distribuidores ou de
seus representantes.
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A Indstria, a Polca e a Assistncia Farmacutica 18
Os medicamentos adquiridos no mercado privado eram revendidos aos segurados
da previdncia social atravs de farmcias na poca conhecidas pelo nome de
Farmcias de Revenda.
Desta forma o Programa existente tinha a sua lgica alicerada no sistema de venda
da totalidade de especialidades farmacuticas existentes no mercado, como uma
farmcia ou drogaria qualquer, sem existncia de qualquer tipo de padronizao.
Haviam diversas farmcias de revendas no Rio de Janeiro (Postos de Assistncia
Mdica 13 de Maio, Matoso, So Francisco Xavier, entre outros), assim como em
outras unidades da Federao, como Minas Gerais e So Paulo.
A partir de 1974 iniciou-se, ainda no final do antigo INPS, um Programa de
assistncia farmacutica fundamentado no fornecimento gratuito de um elenco
bsico de medicamentos, constitudo por cerca de 30 especialidades farmacuticas,
denominado de elenco de dispensao, e que estava inserido numa relao maior,
contendo 150 produtos, denominada de Relao de Medicamentos Bsicos (RMB),
elaborada pelo Conselho Consultivo da Central de Medicamentos.
Em 1974/1975 foi agilizado o desenvolvimento, em tempo recorde, de um Programa
de Assistncia Farmacutica, composto por diversas unidades de dispensao de
medicamentos (Unidades de Assistncia Farmacutica - UAFs), que foram
montadas e operacionalizadas com rapidez, em vrias reas do Estado do Rio de
Janeiro, principalmente na baixada fluminense. Houve no perodo em questo
investimentos em reformas de reas fsicas para serem utilizadas como unidades
distribuidoras de medicamentos (UAFs), alm da aquisio de materiais e
equipamentos necessrios para a implementao do programa, complementado
pela contratao de profissionais de nvel superior, principalmente farmacuticos,
bem como de nvel mdio.
Em 1976, iniciou-se a expanso do programa para todos os Estados da Federao e
toda a estrutura e o convnio assinado com a Central de Medicamentos foi mantido
e ampliado, j agora no INAMPS. Para o atendimento ao programa de assistncia
farmacutica que foi criado como piloto no Estado do Rio de Janeiro, criou-se uma
18
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A Indstria, a Polca e a Assistncia Farmacutica 19
estrutura para a gesto do sistema, composta por uma Coordenadoria de
Assistncia Farmacutica (CAF), em nvel de Direo geral do INAMPS, que ficou
ligada Secretaria de Medicina Social (SMS).
Tambm foram criadas estruturas nas Superintendncias Regionais do INAMPS,
representadas pelas Chefias de Equipe de Farmcia e pelas Centrais Distribuidoras
de Medicamento (CDMs), que funcionavam como almoxarifados intermedirios no
subsistema de distribuio CEME.
As CDMs possuam a responsabilidade pelo recebimento e armazenagem dos
medicamentos repassados pela CEME, e a redistribuio dos mesmos s Unidades
de Assistncia Farmacuticas (UAFs), conforme solicitao das mesmas e avaliao
de demanda em nveis regionais e central.
Entre 1976 e 1978, o programa inicialmente implantado no Rio de Janeiro, como
piloto, foi implementado nos demais Estados da Federao, completando-se o
processo de implantao entre os anos de 1978/1979.
Em 1980, o programa de assistncia farmacutica j tinha uma grande envergadura,
crescendo audaciosamente, tanto em nmero de unidades distribuidora de
medicamentos como tambm em nmero de medicamentos dispensados, passando
dos 30 produtos da origem do programa para cerca de 90 produtos no incio da
dcada de 80.
A situao supra mencionada persistiu at aproximadamente 1985, sempre
acompanhada de um volume cada vez mais substancial de recursos para a
manuteno do programa. A antiga relao de medicamentos bsicos (RMB),
inicialmente elaborada pelo Conselho Consultivo da CEME, e que em seu inicio
continha apenas 150 especialidades farmacuticas, j tinha sofrido varias
alteraes, e em 1985 j apresentava 475 especialidades farmacuticas.
19
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A Indstria, a Polca e a Assistncia Farmacutica 20
Nessa poca, j era conhecida como Relao Nacional de Medicamentos Essenciais
(RENAME), e tinha a sua regulamentao e aprovao atravs de Portaria Inter-
Ministerial MS/MPAS/MEC.
No inicio do programa eram adquiridos pelo INAMPS, somente cerca de 30
especialidades farmacuticas exclusivamente para a dispensao em suas unidades
prprias que na sua totalidade era composta por 614 Postos de Assistncia Mdica
e 41 Hospitais (Cordeiro, 1991), nmeros estes que foram expandidos em funo da
incorporao ao programa de toda a demanda das unidades prprias em nvel
ambulatorial como hospitalar, bem como para o atendimento de diversos convnios,
o que ocasionou uma situao bastante crtica.
Em 1986, o elenco de medicamentos destinados dispensao j atingia a 170
especialidades farmacuticas e o programa de assistncia farmacutica tentava
cobrir as necessidades de medicamentos de 655 Unidades Prprias do INAMPS
(Cordeiro, 1991) mais 3395 Unidades Farmacuticas convenentes, utilizando
praticamente todo o arsenal de medicamentos disponvel na RENAME, alm da
incorporao cada vez mais intensa de novidades teraputicas que eram lanadas
no mercado, principalmente as utilizadas em nvel hospitalar e para atendimento de
programas especiais.
Apesar das diversas tentativas para minimizar o custo do programa de assistncia
farmacutica desenvolvido no perodo compreendido entre 1987 a 1990, poucos
foram os resultados obtidos, culminando em 1990 com a transferncia do INAMPS
do Ministrio da Previdncia e Assistncia Social para o Ministrio da Sade.
Com a passagem do INAMPS para o Ministrio da Sade aos poucos todo o aparato
do programa de assistncia farmacutica foi sendo descentralizado para os Estados,
culminando com a extino da Coordenadoria em nvel nacional e das estruturas
congneres em nvel regional representadas pelas CDMs e chefias de equipes entre
1991/1992, sendo finalmente, em 1993, extinto o prprio INAMPS.
Aps a extino da Coordenadoria de Farmcia e do prprio INAMPS, a
responsabilidade pelos programas de assistncia desenvolvidos passaram para a
esfera estadual e em nvel federal ficaram sob a responsabilidade das
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A Indstria, a Polca e a Assistncia Farmacutica 21
Coordenaes dos Programas verticalizados do Ministrio da Sade, em nmero de
dezesseis, que respondiam pelo atendimento de 125 especialidades, cuja
responsabilidade pelo suprimento foi mantida na CEME, at a sua desativao em
julho de 1997. Alm da vivncia profissional do mestrando como ator social durante
o perodo analisado, foram utilizados como fontes de consulta os relatrios de
atividades da Coordenadoria de Assistncia Farmacutica do INAMPS e Ordens de
Servios e Portarias elaboradas no perodo, buscando resgatar um histrico da
assistncia farmacutica desenvolvida durante o perodo supra mencionado.
O processo de desativao da Central de Medicamentos, encerrado no exerccio de
1997, em que pese as crticas sua atuao e a alocao oramentaria quase que
exclusivamente para a aquisio de medicamentos, acarretou a realocao de suas
atividades, a pulverizao em diversos rgos do Ministrio da Sade e uma perda
da interlocuo por parte das esferas estadual e municipal do Sistema nico de
Sade (SUS).
A questo mais premente e que vem sendo objeto de incluso na agenda de
discusso no mbito das trs esferas de governo, o processo de descentralizao
e a definio das responsabilidade de aquisio de medicamentos (Pinheiro &
Bermudez, 1998).
Neste contexto, a assistncia farmacutica sempre foi uma atividade relegada a
segundo plano e tratada geralmente em carter individual pelos programas de
controle de doenas e outros agravos sade. A desativao da CEME, a
pulverizao de suas atribuies e a demanda crescente de custos, levou ao
Ministrio da Sade a implementar um amplo processo de discusso e de consultas
sociedade, que redundou no documentoPoltica Nacional de Medicamentos,
disponvel para consultas na pgina eletrnica do Ministrio da Sade e que
determina as seguintes diretrizes e prioridades (MS, 1998; Pinheiro & Bermudez,
1998):
Diretrizes:
Adoo de relao de medicamentos essenciais
Regulamentao sanitria de medicamentos
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A Indstria, a Polca e a Assistncia Farmacutica 22
Reorientao da assistncia farmacutica
Promoo do uso racional de medicamentos
Desenvolvimento cientfico e tecnolgico
Promoo da produo de medicamentos
Garantia da segurana, eficcia e qualidade dos medicamentos
Desenvolvimento e capacitao de recursos humanos.
Prioridades:
Reviso permanente da RENAME
Assistncia farmacutica
Promoo do uso racional de medicamentos
Organizao das atividades de vigilncia sanitria de medicamentos.
Cabe registro ao Programa Farmcia Bsica, implementado pelo Ministrio da
Sade a partir de 1997, com o objetivo de possibilitar o acesso das populaes de
municpios de pequeno porte a um elenco de medicamentos destinados ateno
primria de sade. Foram selecionados os municpios com menos de 21.000
habitantes, recebendo um elenco de 40 medicamentos, estando prevista em uma
segunda etapa a decentralizao dos recursos correspondentes (MS, 1997a, 1997b,
1997c; Bermudez, Rozenfeld & Portela, 1997; Cosendey et al, 1998).
22
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As organizaes e o plnejamento 23
CAPTULO 3
NOES SOBRE TEORIAS ORGANIZACIONAIS E PLANEJAMENTO;
EXTRAPOLANDO PARA O ENTENDIMENTO DA QUESTO EM FARMCIA
HOSPITALAR
Aps contextualizar, no captulo 2, as questes relativas ao processo de
desenvolvimento da indstria farmacutica mundial, da poltica de medicamentos e
de assistncia farmacutica desenvolvida na atualidade, pode-se observar
claramente que nossa inteno foi partir de um macro universo representado pelas
questes supra mencionadas at chegar ao micro universo composto pela farmcia
hospitalar.
Dois assuntos, sob nossa tica, so fundamentais em farmcia hospitalar para
podermos entender o seu funcionamento e que so representados pelas teorias
organizacionais e de gesto de servios e pelo planejamento, considerando que no
podemos divorciar os aspectos tcnicos dos administrativos quando avaliamos este
tipo de servio.
Considerando a importncia desses assuntos, passaremos a abordar determinadas
questes marcantes sobre ambos, com o objetivo de fundamentar colocaes que
sero abordadas nos prximos captulos, principalmente no captulo referente a
discusso (captulo 6), e para tanto utilizaremos a viso de trs autores no mbito de
organizaes, e de dois autores no que se refere ao planejamento estratgico
situacional.
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As organizaes e o plnejamento 24
evidente que ambos assuntos so extremamente complexos e podem ser
observados e analisados por ngulos diferenciados e portanto no nossa proposta
o tratamento profundo dos assuntos que podem e devem ser estudados atravs de
diversas obras.
Nossa inteno somente contextualizar neste captulo o pensamento de alguns
autores sobre os referidos assuntos e refleti-los sob a tica de uma farmcia
hospitalar.
3.1 - TEORIAS ORGANIZACIONAIS E DE GESTO
Conforme Azevedo (1993:33), no campo da administrao e das teorias
organizacionais, cada abordagem terica privilegia determinados aspectos da vida
organizacional e a prpria conceituao de organizao. Diversos autores podem
ser citados como fonte e referencial para o estudo de formas de gesto e de
organizaes, entre os quais, podemos destacar Paulo Roberto Motta (1993),
Fernando C. Preste Motta (1995), Maria de Salete Corra Marinho (1990), Gareth
Morgan (1996) e Henry Mintzberg (1995).
Iremos discorrer resumidamente a viso de trs autores que estudam o assunto e
que esto representados abaixo:
3.1.1 - ANLISE DE UMA ORGANIZAO SEGUNDO MARINHO
De acordo com a viso de Marinho (1990), poderamos ver as organizaes sob
cinco perspectivas que esto aliceradas na questo dos seus objetivos.
a - Perspectiva racional
A perspectiva racional, tambm conhecida como mecanicista, tem como principais
idelogos Taylor que, em 1911, publicou o seu livro mais conhecido: Os Princpios
da Administrao Cientfica,. e Henry Fayol que, em 1916, publicou na Frana o
livroAdministrao Geral e Industrial (Editora Atlas, 1960).
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As organizaes e o plnejamento 25
Em termos normativos e prticos os dois autores so considerados como relevantes,
e no plano terico Max Weber (The Theory of Social and Economic Organization
1947).
As obras dos autores supra mencionados esto fundamentadas nos seguintes
pensamentos bsicos. Segundo Prestes Motta (1995), os pensamentos de Taylor e
Fayol formam dois fluxos que se encontram no mesmo ponto representado por
maiores lucros e maiores salrios. e podem ser representados da seguinte forma:
Pensamentos de Taylor, (Prestes Motta 1995):
Estudos de Tempos e Movimentos.
Determinao da nica Maneira Certa.
Seleo do Homem de Primeira Classe.
Lei da Fadiga.
Incentivo Monetrio.
Padro de Produo.
Superviso Cerrada.
Aumento da Produtividade.
Maiores Salrios e Maiores Lucros.
Poderamos dizer que Taylor procurou novas formas de diviso de trabalho, que
eram antes artesanais e que se modificaram com a revoluo industrial o que
originou a adoo de novas tcnicas de gesto. Procurou a utilizao de mtodos
mais cientficos como forma mais eficiente de avaliar o trabalho desenvolvido nas
organizaes, avaliando nessa seleo todo o potencial do trabalhador possvel de
ser desenvolvido em prol de metas e objetivos da organizao atravs do
treinamento permanente do trabalhador, e a criao de um sistema de monitorizao
do desempenho do trabalho desenvolvido. O foco principal estava alicerado no
estudo de tempos e movimentos.
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As organizaes e o plnejamento 26
Pensamento de Fayol, (Prestes Motta, 1995):
Diviso de Trabalho.
Especializao.
Unidade de Comando.
Amplitude de Controle.
Objeto Principal da Organizao: Tarefas
Organizao Formal.
Maior Eficincia.
Maiores Salrios e Maiores Lucros.
Poderamos dizer que Fayol procurou na unidade de comando formar uma cadeia
escalar no que se refere a hierarquia, ou seja, a autoridade era verticalizada, vindo
do pico da pirmide para a base. A amplitude do controle acompanhava a mesma
lgica. Havia separao clara entre as linhas deStaff e linha de produo e uma
lgica alicerada na iniciativa do executivo principalmente, em quase todas as
decises da organizao, desde as mais simples as mais complexas. Como
caractersticas, poderamos colocar a diviso do trabalho por especialidade, e a
prioridade ao sistema, que tinha como objetivos a autoridade dos dirigentes e a
responsabilidade de todos os trabalhadores na organizao. A centralizao das
decises no pico da pirmide mostra uma viso na lgica da disciplina e
subordinao dos interesses individuais dos trabalhadores aos interesses gerais da
organizao. Procurou dar nfase na estabilidade e durao tanto do executivo
como do trabalhador no cargo e nfase no espirito de equipe.
b - Perspectiva funcionalista
Uma segunda forma a perspectiva funcionalista. Do ponto de vista desta anlise, a questo dos objetivos da organizao se liga a uma outra mais geral e fundamental,
sendo a organizao e tratada como umsistema de partes inter-relacionadas e
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As organizaes e o plnejamento 27
interdependentes. O conceito de sistema central para os funcionalistas (Marinho,
1990).
c - Perspectiva tecnolgica
Outra forma seria atravs seria da perspectiva tecnolgica que vem sendo mais
estudado por Perrow (1961), que distingue objetivos operacionais de objetivos
oficiais. Por objetivos oficiais, ele entende os propsitos gerais da organizao,
enquanto os objetivos operacionais seriam aqueles que dizem o que a organizao
est tentando realmente fazer, independentemente do que oficialmente declarado
como sendo os seus fins (Marinho, 1990).
d - Perspectiva da Abordagem dos Prprios Objetivos
A perspectiva da abordagem dos objetivos na teoria do processo decisrio,
considera, de acordo com Simon (1970) os objetivos como o principal critrio para
determinar o que ser realizado. De acordo com essa viso, as organizaes no
so orientadas como pretendiam as teorias clssicas para um objetivo especfico.
Pelo contrrio, elas perseguem objetivos mltiplos que em geral esto em conflito,
em face das prprias peculiaridades das organizaes em que se leva em
considerao no somente os objetivos, que o foco da perspectiva estudada, mas
tambm o processo de trabalho, estrutura, ambiente, pessoas e sobretudo o poder
(Marinho, 1990).
e - Perspectiva da Abordagem Econmica Poltica
A quinta forma de avaliar uma organizao seria atravs da perspectiva ou
abordagem econmica poltica que procura mostrar que a questo dos objetivos est
essencialmente em determinar as relaes desejadas entre a organizao e a
sociedade. A perspectiva poltica trabalha com interesses, conflitos e poder
(Marinho, 1990).
Na realidade, as organizaes podem ser consideradas como sistemas de governos
que variam de acordo com os princpios polticos empregados. A legitimidade de
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As organizaes e o plnejamento 28
uma administrao pode ser entendida como um processo de governo que se reflete
sobre a relao entre a organizao e a sociedade.
Uma das chaves do Planejamento Estratgico Situacional Matusiano justamente a
governabilidade. Segundo Matus (1993), o processo de governar no nico, nem
monoplio de um nico ator social e tem que ter em mente sempre que outros atores
tambm governam e planejam. Matus procura explicar o processo de
governabilidade atravs de seu tringulo de governo, que consiste em articular trs
variveis, permanentemente e dependentes uma das outras e que so
representadas por:
FIGURA 3.1 O Tringulo de Governo, (Matus, 1993)
3.1.2 - ANLISE DE UMA POLTICA ORGANIZACIONAL SEGUNDO MORGAN
De acordo com Morgan (1996), podemos analisar uma poltica organizacional de
maneira sistemtica, focalizando as relaes entre trs domnios representados por
Interesses, Conflito e Poder. Uma das maneiras de analisar os interesses atravs
de trs aspectos interligados caracterizados pelas tarefas, carreira e vida pessoal de
algum na organizao. Os trs domnios podem interagir ou permanecerem
separados. O poder o meio atravs do qual conflitos e interesses so, afinal,
resolvidos. O poder influncia quem consegue o que, quando e como. H diferenas
filosficas em relao aos trs domnios citadas de acordo com trs concepes
denominadas de Unicista, Pluralista e Radical.
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As organizaes e o plnejamento 29
Principais Fontes de Poder (Morgan, 1996)
Autoridade formal;
Controle sobre recursos escassos;
Uso da estrutura organizacional, regras e regulamentos;
Controle do processo de tomada de deciso;
Controle do conhecimento e da informao;
Controle dos limites ou fronteiras;
Habilidade de lidar com incerteza;
Controle da tecnologia;
Alianas interpessoais, redes e controle daorganizao informal;
Controle das Contra - Organizaes;
Simbolismo e Administrao do significado;
Sexo e Administrao das Relaes entre Sexo;
QUADRO 3.1 - Diferenas Filosficas entre as concepes Unicista, Pluralista e Radical ligadas aos interesses, conflitos e poder na organizao Domnios Unicista Pluralista Radical Interesses Coloca nfase na
busca de objetivos. Busca a unio de interesses e a integrao
Coloca nfase na adversidade do indivduo e dos grupos de interesses.
Coloca nfase na natureza dasclasses contraditrias de interesses
Conflito Considera o conflito como um fenmeno raro e passageiro nas organizaes e que pode ser removido. (chefias)
Considera o conflito como uma caracterstica inerente e inevitvel das atividades organizacionais.
Considera o conflito como parte mais ampla da luta de classes que pode eventualmente mudar toda a estrutura social
Poder Ignora completamente o papel do poder na vida organizacional. Autoridade, liderana e controle so os meios para que sejam atendidos os interesses comuns.
V o poder como uma varivel crucial. O poder o meio pelo qual os conflitos e interesses so resolvidos e conciliados.
V o poder como a caracterstica chave da organizao e como um fenmeno desigualmente distribudo e que segue a diviso de classes.
Fonte: Baseado em Burrel & Morgan (1979)
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As organizaes e o plnejamento 30
Ao abordar a atividade de administrador de conflitos, o gerente pluralista depara-se
com a escolha de estilos. Temos caracterizados 5 estilos pelos seguintes tipos de
comportamento: Impeditivo, Negociador, Competitivo, Acomodador, Colaborador.
De um modo geral, essas questes ligadas a poder e a poltica dentro de uma
organizao no so normalmente comentadas formalmente e somente de modo
informal. Muitas vezes, a comunidade da organizao tem conhecimento das
disputas polticas dentro da organizao ou mesmo intra - organizaes sem, porm,
se envolverem nesses aspectos.
A discusso dessa abordagem ajuda a aceitar a realidade da poltica como um
aspecto inevitvel da organizao e a metfora tambm ajuda a arrasar o mito da
racionalidade organizacional. As consideraes relativas a poltica sugerem uma
reavaliao da importncia ideolgica do conceito de racionalidade.
A nfase na racionalidade tenta tornar coeso um sistema poltico que, devido as
diversidade de interesses, tende a movimentar-se para direes diferentes e
algumas vezes at ruir. O segredo aprender uma forma de dilogo com a situao
que est se tentando entender.
Na concepo pluralista, a organizao constituda por uma diversidade de
interesses de grupos e de indivduos interna e externamente articulados. Esses
interesses prevalecem com maior ou menor intensidade no meio da organizacional,
conforme a distribuio interna de recursos e poder.
A aceitao cada vez mais clara, de que o conflito inerente e inevitvel em
qualquer organizao moderna foi acompanhada de sua viso de funcionalidade, ou
seja, da crena de que o conflito pode contribuir positivamente para o progresso
organizacional. Da mesma forma, a viso hierrquica da organizao, aceita no
liberalismo clssico, ressaltando a interdependncia entre todos os membros de uma
organizao, defende a represso dos conflitos, baseada na premissa social da
empresa.
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As organizaes e o plnejamento 31
No sentido amplo e terico do termo, participao compreende todas as formas e
meios pelos quais os membros de uma organizao podem participar para que a
organizao tente atingir a trs aspectos bsicos, que so representados pela
eficincia, pela eficcia e pela efetividade, aspectos que muitas vezes no so
perceptveis para os gestores.
3.1.3 - O MODELO DE ORGANIZAO DE MINTZBERG
Consideramos o modelo organizacional de Mintzberg muito interessante para a
reflexo sobre este tipo de questo e para tanto iremos procurar sintetizar sua
proposta.
a) Os cinco mecanismo de coordenao de Mintzberg
Mintzberg (1995), define cinco mecanismos de coordenao que podem abranger as
maneiras fundamentais pelas quais as organizaes coordenam suas tarefas e que
podem ser representados pelo(a):
Ajustamento Mtuo; obtm a coordenao do trabalho pelo processo simples de comunicao informal.
Superviso Direta; obtm a coordenao do trabalho por meio de uma pessoa que possui a responsabilidade pelo trabalho dos outros, dando instrues e
monitorando as aes desenvolvidas,
Padronizao dos Processos de Trabalho; obtm a coordenao quando as condies de trabalho so especificadas ou programadas.
Padronizao dos Resultados; obtm a coordenao quando as sadas so padronizadas, ou seja quando o resultado do trabalho so especificados como por
exemplo as dimenses do produto ou o desempenho.
Padronizao das Habilidades; Obtm a Coordenao do trabalho quando as habilidades e conhecimentos so padronizveis em relao ao tipo de
treinamento necessrio para executar o trabalho especificado.
b - As Cinco Partes Bsicas (Dimenses) da Organizao
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As organizaes e o plnejamento 32
Assim como Carlos Matus (1993) no que se refere ao planejamento estratgico
situacional, achamos que Mintzberg (1995) tambm apresenta em seu estudo, um
modelo poderoso que tem fundamento para a explicao do funcionamento das
organizaes. A obra de Mintzberg bastante complexa e fugiria ao escopo desta
dissertao tentar explicar todo o seu pensamento em termos de organizao.
Entretanto, acreditamos ser pelo menos possvel, a partir de suas configuraes
organizacionais, dar uma idia do mtodo adotado pelo autor. Resumindo, segundo
o paradigma de Mintzberg, as organizaes poderiam ser divididas ou
dimensionadas em partes que poderamos resumir em uma parte verticalizada
constituda por uma Cpula Estratgica, uma Linha Intermediria e um Ncleo
Operacional, local realmente destinado produo mais essencial da empresa.
Lateralmente a essa linha verticalizada, teramos duas outras dimenses que iro
variar nas organizaes, tanto em tamanho como em importncia, como as outras
trs, e que seriam representadas pelo que chamamos de Tecnoestrutura (onde
estariam localizados o planejamento, a programao, o estudo do trabalho e o apoio
tcnico).e o que poderamos chamar de Assessoria de Apoio (Assessoria Jurdica,
Relaes Pblicas, Relaes Industriais, Estudo de preos, dentre outras
atividades).
FIGURA 3.2. As 05 partes bsicas da organizao (Mintzberg, 1995)
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As organizaes e o plnejamento 33
FIGURA 3.3. Atividades e estrutura de uma organizao fabril
c) As cinco Configuraes Bsicas de Mintzberg (1995)
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As organizaes e o plnejamento 34
Segundo Mintzberg (1995) as organizaes podem apresentar cinco configuraes
bsicas, que so:
Estrutura Simples, com base na superviso direta, na qual a cpula estratgica o componente chave;
Burocracia Mecanizada, com base na padronizao dos processos de trabalho,
na qual a tecnoestrutura o componente chave;
Burocracia Profissional, com base na padronizao de habilidades, na qual o
ncleo operacional o componente chave;
Forma Divisionada, com base na padronizao de sadas, na qual a linha
intermediria o componente chave;
Adhocracia, com base no ajustamento mtuo, na qual a assessoria de apoio
(algumas vezes com o ncleo operacional) o componente chave.
Segundo Azevedo(1993: 39), a viso de Mintzberg em relao a outras correntes de
pensamento poderia ser sintetizada pelo seguinte quadro:
QUADRO 3.2 - As configuraes organizacionais de Mintzberg (1995) Tipo de Organizao ou Configurao
Mecanismo de Coordenao
Componente Chave da Organizao
Caractersticas Dominantes
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Principal Empreendedora Superviso direta Centro de deciso Lder carismtico/
autoritrio. Estrutura simples, pouca hierarquizao. Organizao em desenvolvimento ou em crise
Mecanicista Padronizao do processo de produo
Tecnoestrutura Burocracia centralizadora, trabalho formalizado comum nas organizaes de produo de grandes volumes.
Profissional Padronizao das Qualificaes
Operadores Dependncia sobre os profissionais, normas de prticas definidas pr fora.Estrutura dupla administrativa/profissional.
Diversificada Padronizao dos resultados
Gerentes Componentes quase autnomos. Centro controla os resultados. Comuns nas organizaes de produo variada.
Inovadora Ajustamento mtuo Pessoal de apoio Pouca formalizao. Funcionamento pr projeto. Descentralizao
Missionria Padronizao das normas
ideologia Sistema de valores e de crenas muito desenvolvido (tradies,, rituais, etc). Centralidade da Misso. Valoriza a lealdade dos mesmos.
Poltica Nenhum Nenhum Jogos de poder.Alta prevalncia de conflitos.
Fonte: Dussaut, Gilles (1992)
d - Consideraes
Modelos organizacionais so difceis de atenderem todas as exigncias e a
complexidade que as organizaes na maioria da vezes possuem.
Modernamente, as organizaes levam em considerao uma perspectiva mais
integradora que possui como bases o contexto interno e externo em que ela est
inserida; que possua um desenho organizacional racional com a misso, que
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As organizaes e o plnejamento 36
privilegie desenhos organizacionais mais concentrados, com linha hierrquica menor
possvel entre os dirigentes e os operadores tendo como objetivo a satisfao de
todos os usurios, tanto interno como externo.
Dois conceitos so fundamentais. O primeiro o Sistema da Qualidade, definido
segundo a Norma ISO 8402, como a estrutura, as responsabilidade, os
procedimentos, os processos e os recursos da organizao para implementar a
Gesto da Qualidade.
A ISO 9000 especifica os requisitos de um Sistema de Qualidade. A Gesto Total da
Qualidade (Total Quality Management - TQM) conceituada como abordagem de
gerenciamento para uma organizao centralizado na qualidade, que se baseia na
participao de todos os seus membros, visando ao sucesso a longo prazo por meio
da satisfao dos clientes e dos benefcios para os membros da organizao e para
a sociedade (Hutchins, 1994).
necessrio, entretanto que haja privilgio para as comunicaes laterais e a
descentralizao das decises e, sobre tudo, que valorize o planejamento
descentralizado e participativo e que possua mecanismos de controle e avaliao
competentes, que permitam o redirecionamento das atividades desenvolvidas pela
organizao na presena de imprevistos.
As organizaes de sade possuem particularidades que so inerentes ao setor e
que dificultam muito o processo de gesto das organizaes. O primeiro problema
na rea refere-se ao conjunto, ou seja, no podemos deixar de levar em
considerao que uma determinada organizao de sade no pode ser pensada
isoladamente, mas sim levando-se em considerao o ambiente externo e a
existncia de uma rede, fato que contribui sensivelmente para aumentar as
dificuldades do processo de gesto.
Alm disso, tomando-se como referncia o modelo de Mintzberg (1995), as
organizaes de sade so extremamente complexas, pois o centro de sua
produo est mais assemelhado e articulado com o que poderamos chamar de
ncleo operacional, onde prevalece o poder mdico e a autonomia do trabalho por
36
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As organizaes e o plnejamento 37
ele desenvolvido, o que dificulta a padronizao de atividades que com o avano da
tecnologia a cada dia ficam mais caras.
Acreditamos que nas instituies de sade, o grande desafio seja a implementao
de modelos que tenham como base o planejamento participativo e descentralizado,
levando-se sempre em considerao o contexto, cenrios e a situao em que se
encontra a organizao. Adicionalmente, devem incluir a estimulao da
comunicao lateral, levando-se em considerao desenhos organizacionais mais
compactos e a descentralizao das responsabilidade com a obteno das metas e
objetivos contidos no plano. A autonomia oramentaria e financeira so requisitos
bsicos para uma boa gesto, pois permite maior flexibilidade para a resoluo dos
problemas de um modo geral (Barbosa, 1995).
Outras questes que consideramos importantes o treinamento constante dos
recursos humanos, melhores remuneraes, a busca permanente de mudana da
cultura nas instituies que apresentam distores em funo deste parmetro e a
interdisciplinaridade (Vieira, 1995). Como exemplo poderamos citar a prpria
amostra que estamos analisando.
Finalizando, gostaramos de colocar que as teorias organizacionais e de gesto,
fazem parte de um universo extremamente complexo considerando a tica, cultura,
ambiente e distancia que o sujeito tenha em relao ao objeto analisado. Nossa
dissertao visa somente despertar os gestores de farmcia hospitalares para a
importncia do assunto, que refletiremos extrapolando as vises colocadas para o
contexto da farmcia hospitalar no captulo referente a discusses. Fica evidente,
que o assunto deve ser aprofundado pela leitura de obras especficas relativas ao
tema.
3.2 - O PLANEJAMENTO ESTRATGICO SITUACIONAL (PES)
Todas as colocaes que efetuamos, ao final de nossa abordagem para
organizaes e gesto, so validas tambm para a ferramenta representada pelo
planejamento, ou seja, discutiremos resumidamente o assunto, visando inferir na
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As organizaes e o plnejamento 38
farmcia hospitalar conceitos e teorias que sero citadas, na discusso final. Como
existem diversos autores que refletem sobre o assunto, resolvemos utilizar como
referncia o planejamento estratgico situacional Matusiano, por consider-lo
alicerado em teorias e conceitos convincentes. De um modo geral, tanto os
governos, como tambm empresas, utilizam o que poderamos denominar de
planejamento clssico ou normativo, que procura definir objetivos e metas sem levar
em considerao diversos fatores relevantes como cenrios, tempo e movimento
dentre outros, baseando-se simplesmente nos planejamentos oramentrio e
operacional.
Segundo colocaes efetuadas por Matus (1993), podemos concluir que o
planejamento extremamente importante, e questo relevante para uma anlise da
farmcia hospitalar, principalmente na amostra utilizada na dissertao, que no
apresenta cultura nesta atividade. Procuramos explorar, dentre vrias opes, a
relacionada ao planejamento estratgico situacional que possui como expoentes
Carlos Matus, e no Brasil Francisco Javier Uribe Rivera, dentre outros autores
tambm importantes. Tanto as obras de Matus como de Rivera so bastante ricas e
complexas. Portanto, ratificamos que nosso objetivo somente chamar a ateno
para alguns aspectos que julgamos relevantes das respectivas obras para um
possvel aprofundamento futuro por parte dos gestores que trabalham em farmcia
hospitalar.
Segundo Matus (1993), o planejamento normativo difere do estratgico pelas
seguintes razes:
A separao entre o sujeito que planeja e o objetosob seu controle que o
planejado. O sujeito no se considera como parte da realidade/objeto do
planejamento.
A realidade para o sujeito que planeja analisada atravs de um diagnstico
nico e objetivo. A dimenso tempo s leva em considerao o passado e o
presente do diagnstico.
O futuro para o sujeito analisado atravs de leis de comportamento social e aplicao de clculos analticos de base causa e efeito; previso e predio so
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entendidas como a mesma coisa e a potncia do mtodo depende da capacidade
de predio do sujeito.
No levad