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FACULDADE DE ECONOMIA E FINANÇAS IBMEC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM ADMINISTRAÇÃO A ADOÇÃO DO ICPC 01 E OS IMPACTOS FINANCEIROS NAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS: UM ESTUDO DE CASO NA LIGHT S.E.S.A. RODRIGO SIMONASSI SCALZER ORIENTADOR: PROF. DR. RAIMUNDO NONATO SOUSA SILVA Rio de Janeiro, 9 de dezembro de 2010.

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FACULDADE DE ECONOMIA E FINANÇAS IBMEC PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM

ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA

DDIISSSSEERRTTAAÇÇÃÃOO DDEE MMEESSTTRRAADDOO PPRROOFFIISSSSIIOONNAALLIIZZAANNTTEE EEMM AADDMMIINNIISSTTRRAAÇÇÃÃOO

A ADOÇÃO DO ICPC 01 E OS IMPACTOS FINANCEIROS NAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS: UM ESTUDO DE CASO NA

LIGHT S.E.S.A.

RROODDRRIIGGOO SSIIMMOONNAASSSSII SSCCAALLZZEERR

ORIENTADOR: PROF. DR. RAIMUNDO NONATO SOUSA SILVA

Rio de Janeiro, 9 de dezembro de 2010.

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A ADOÇÃO DO ICPC 01 E OS IMPACTOS FINANCEIROS NAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS: UM ESTUDO DE CASO NA LIGHT S.E.S.A.

RODRIGO SIMONASSI SCALZER

Dissertação apresentada ao curso de Mestrado Profissionalizante em Administração como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Administração. Área de Concentração: Finanças e Controladoria

ORIENTADOR: PROF. DR. RAIMUNDO NONATO SOUSA SILVA

Rio de Janeiro, 9 de dezembro de 2010.

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A ADOÇÃO DO ICPC 01 E OS IMPACTOS FINANCEIROS NAS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS: UM ESTUDO DE CASO NA LIGHT S.E.S.A.

RODRIGO SIMONASSI SCALZER

Dissertação apresentada ao curso de Mestrado Profissionalizante em Administração como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Administração. Área de Concentração: Finanças e Controladoria

Avaliação:

BANCA EXAMINADORA:

_____________________________________________________

Professor DR. RAIMUNDO NONATO SOUSA SILVA(Orientador) Instituição: IBMEC RJ _____________________________________________________

Professor DR. ROBERTO MARCOS DA SILVA MONTEZANO Instituição: IBMEC RJ _____________________________________________________

Professor DR. JOSÉ AUGUSTO VEIGA DA COSTA MARQUES Instituição: UFRJ

Rio de Janeiro, 9 de dezembro de 2010.

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FICHA CATALOGRÁFICA Prezado aluno (a), Por favor, envie os dados abaixo assim que estiver com a versão definitiva, ou seja, quando não faltar mais nenhuma alteração a ser feita para o e-mail [email protected], colocando no assunto: FICHA CATALOGRÁFICA - MESTRADO. Enviaremos a ficha catalográfica o mais breve possível para o seu e-mail (se possível em até 72 horas). 1) Nome completo; 2) Título e subtítulo (se houver e separados); 3) Ano da defesa; 4) Área de concentração: 5) Assunto principal (contextualizado); 6) Assuntos secundários; 7) Palavras-chave, e 8) Resumo (se possível) 9) Curso (Mestrado profissionalizante em ...) Ou envie os anexos contendo a página de rosto e a do resumo, além da área de concentração.

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vii

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho ao meu pai Jayr e minha mãe Ana Rosa, e aos meus irmãos Bernardo e Juliana, por todo o apoio que sempre me deram e por todo o incentivo depositado.

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viii

AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus por sempre me dar força para conseguir atingir meus objetivos.

Agradeço aos meus pais e familiares por sempre terem depositado confiança nos meus

projetos e me apoiarem no que eu preciso.

Ao Prof. Raimundo Nonato Sousa Silva por ter me orientado e direcionado este trabalho de

dissertação.

Ao Prof. Roberto Marcos da Silva Montezano e José Augusto Veiga da Costa Marques por

terem aceitado participar do meu trabalho com críticas e sugestões através da banca de

avaliação.

Aos meus amigos pela torcida e apoio.

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ix

RESUMO

Este estudo tem como objetivo analisar os impactos causados nas demonstrações financeiras

das concessionárias de serviço público privadas brasileiras em decorrência da adoção do

ICPC 01. O ICPC 01 é uma interpretação emitida pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis

correlacionada com o IFRIC 12 emitida pelo IFRIC (International Financial Reporting

Interpretation Committee) que trata das concessões de serviço público operadas por empresas

privadas. De acordo com as disposições apresentadas nessa Interpretação, os balanços das

concessionárias de serviços públicos privadas terão impactos fortes na classificação dos

gastos com aquisição, construção ou melhoria da infraestrutura de prestação de serviços

públicos, que até então eram tratados pela norma brasileira anterior ao ICPC01, como sendo

ativo imobilizado, e que a partir de agora serão tratados como ativo intangível e/ou ativo

financeiro. Além desta, outra grande alteração na contabilidade das concessionárias de

serviços públicos privadas é a obrigatoriedade de ser feito o reconhecimento de receitas e

despesas com atividades de prestação de serviços de construção da infraestrutura. Isso

possibilita à concessionária gerar lucros na fase pré-operacional, e conseqüentemente,

possibilita a distribuição de dividendos para investidores. Para o atendimento do objetivo

deste trabalho foi feita uma pesquisa classificada como exploratória, uma vez que se trata de

um tema pouco abordado na literatura. Para tanto, foi feito um estudo de caso com a empresa

Light SESA aonde foram convertidas as demonstrações financeiras da empresa do exercício

de 2008 para que ficassem de acordo com as disposições do ICPC 01. Por fim, com base nos

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x

resultados empíricos do estudo de caso, concluiu-se que a adoção do ICPC 01 gera impactos

negativos no lucro líquido da empresa, aumenta a sua receita, mas diminui o EBITDA uma

vez que ocorre um aumento maior das despesas operacionais em relação ao aumento da

receita.

Palavras Chave: ICPC 01, Concessionárias de Serviços Público Privadas, IFRS.

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xi

ABSTRACT

This paper aims to analyze the impacts on the financial statements of Brazilian utilities

companies due to the adoption of the ICPC 01. ICPC 01 is an interpretation issued by the

Comitê de Pronunciamentos Contábeis correlated with IFRIC 12 issued by the IFRIC

(International Financial Reporting Interpretation Committee) which deals with public service

concessions operated by private companies. In accordance with the provisions set forth in this

interpretation, the balance sheets of private utilities will be strongly impacted by the

expenditure recognition criteria of ICPC 01 on the acquisition, construction or improvement

of infrastructure to provide public services, that were previously handled by the Brazilian

standard, as fixed assets, and that from now on will be treated as intangible assets and

financial assets. Besides this, another big change in accounting of private utilities is the

requirement to immediately recognize revenues and expenditures from activities of providing

infrastructure construction services. This enables the utilities companies to generate profits in

the pre-operational period and therefore, enables the early distribution of dividends to

investors. To meet the objective of this study, we conduct a exploratory research, since it is a

topic rarely addressed in accounting and finance literature. Therefore, we developed a case

study with the firm Light SESA, which its financial statements for 2008 were converted so

they would be in accordance with ICPC 01. Finally, based on empirical results of our case

study, it was concluded that the adoption of ICPC 01 generates negative impacts on the

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xii

company's net income, increases its revenue, but decreases EBITDA since there is a greater

increase in operating expenses in relation to revenue growth.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1– Empresas do Grupo Light ........................................................................................ 35 Figura 2 - Composição Acionária da Light .............................................................................. 36 Figura 3 – Ativo da Light SESA .............................................................................................. 38 Figura 4 - Passivo da Light SESA ............................................................................................ 39 Figura 5 - DRE da Light SESA ................................................................................................ 40 Figura 6 - da Receita Líquida ................................................................................................... 41 Figura 7 - Evolução do Custo ................................................................................................... 41 Figura 8 - Evolução da Dívida Líquida .................................................................................... 42 Figura 9- Bifurcação Ativo Imobilizado 2007 ......................................................................... 50 Figura 10 - Discriminação Total de Investimento 2008 ........................................................... 53 Figura 11 - Receita de Construção 2008 .................................................................................. 54

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xiv

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Qualificação da Pesquisa ......................................................................................... 25 Tabela 2 - Taxas de Depreciação ANEEL ................................................................................ 31 Tabela 3 - Discriminação do Imobilizado ................................................................................ 49 Tabela 5 - Depreciação anual do imobilizado .......................................................................... 50 Tabela 6 - IGP-M 2008 ............................................................................................................. 55 Tabela 7 - Impactos na DRE 2008........................................................................................... 56 Tabela 8 - DRE modificada 2008 ............................................................................................. 58 Tabela 9 - Análise das alterações no balanço 2007 ................................................................ 59

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LISTA DE ABREVIATURAS ABDIB Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústrias de Base

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

ABRADEE Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica

ABRASCA Associação Brasileira das Companhias Abertas

ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica

ANPAD Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração

APIMEC Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de

Capitais

BOVESPA Bolsa de Valores de São Paulo

CAPEX Capital Expenditure

CFC Conselho Federal de Contabilidade

CPC Comitê de Pronunciamentos Contábeis

CVM Comissão de Valores Mobiliários

DRE Demonstração do Resultado do Exercício

EBITDA Earnings Before Taxes, Depreciation and Amortization

EPE Empresa de Pesquisa Energética

FIPECAFI Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras

IASB International Accounting Standards Board

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IBRACON Instituto dos Auditores Independentes do Brasil

ICPC Interpretação Comitê de Pronunciamentos Contábeis

IFRIC International Financial Reporting Interpretations Committee

IFRS International Financial Reporting Standards

LL Lucro Líquido

OPEX Operational Expenses

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 1

2 REFERENCIAL TEÓRICO ............................... ................................................... 9 2.2.1 Essência Sobre a Forma ..................................................................................................................... 11 2.2.2 A Convergência às Normas Internacionais de Contabilidade no Brasil e no mundo ......................... 13

3 O ICPC 01 .......................................................................................................... 17 3.1 Exposição da Instrução ....................................................................................................................... 17 3.2 O ICPC 01 no Brasil ........................................................................................................................... 20 3.3 O IFRIC 12 na Europa ........................................................................................................................ 23

4 METODOLOGIA ....................................... ......................................................... 25 5.1 Classificação e Tipologia da Pesquisa ................................................................................................ 25 5.2 Limitação da Pesquisa ........................................................................................................................ 26 5.2.1 Alcance do ICPC 01 ........................................................................................................................... 26 5.2.2 Limitação do Estudo de Caso ............................................................................................................. 27 5.2.3 Estudo de Caso – A adoção do ICPC 01 ............................................................................................ 30

5 APRESENTAÇÃO DA EMPRESA ........................... ......................................... 33 5.1 O Grupo Light .................................................................................................................................... 34 5.2 A Light SESA ..................................................................................................................................... 37

6 ESTUDO DE CASO ........................................................................................... 43 6.1 O Setor de Energia Elétrica e o ICPC 01 ............................................................................................ 44 6.2 A Light SESA e o ICPC 01 ................................................................................................................ 46 6.2.1 A Adaptação das Demonstrações Contábeis da Light SESA ............................................................. 48 6.2.1.1 Primeira Parte: Aplicação do ICPC 01 na Data Base 31/12/2007 ...................................................... 48 6.2.1.2 Segunda Parte: Aplicação do ICPC 01 nos Investimentos da Light SESA realizados em 2008 ........ 51 6.3 Análise dos Impactos nas Demonstrações Financeiras da Light SESA.............................................. 55

7 CONCLUSÃO ......................................... ........................................................... 60

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................ ................................................. 65

ANEXO A .......................................... ....................................................................... 68

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1

1 INTRODUÇÃO

A existência de conflitos de agência e assimetria informacional faz com que a contabilidade

se torne um instrumento bastante poderoso para alinhar os objetivos e interesses dos diversos

stakeholders inseridos no contexto empresarial. Contudo, devido à contabilidade ser

influenciada por diversos fatores sociais como aspectos culturais e sistemas jurídicos por

exemplo, não necessariamente existe consenso quanto a uma única forma de fazer

contabilidade.

Atualmente, a contabilidade brasileira vem passando por um processo de convergência rumo

às normas internacionais de contabilidade, ou IFRS. Embora exista um movimento de

convergência a um padrão único de contabilidade internacional, diversas dificuldades são

encontradas durante esse processo, devido à grande diversidade de interesses em torno dos

números contábeis. A informação contábil, dentro desse contexto, se torna um instrumento de

grande poder, uma vez que é capaz de influenciar diversos stakeholdes tomadores de decisão.

Lopes (2005, p.52) ressalta os diferentes tipos de influências que podem ser sofridas pelo

processo contábil decorrentes do grau de influência de interesses dos usuários da

contabilidade:

O processo contábil é composto pelas etapas de reconhecimento, mensuração e evidenciação das atividades econômicas, sendo resultado de um amplo conjunto de forças econômicas, sociais, institucionais e políticas. Essas forças delineiam as principais características do processo contábil

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tendo em vista o grau de influência dos agentes interessados em sua evolução.

No Brasil, a contabilidade sempre foi marcada por forte influência de aspectos jurídicos,

principalmente relacionados à área tributária. Em um regime bastante refletido pelo Direito

Romano que exige grande quantidade de normas escritas abre-se pouco espaço para

julgamentos inerentes à essência de um processo contábil que queira primar pela essência

econômica.

Como primeira iniciativa para se criar o processo de convergência aos IFRS no Brasil, em

2005, foi criado o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC). O CPC nasceu da integração

de ABRASCA, APIMEC, BOVESPA, CFC, IBRACON e FIPECAFI. Conforme descrito em

seu site, o CPC tem como objetivo:

O estudo, o preparo e a emissão de Pronunciamentos Técnicos sobre procedimentos de Contabilidade e a divulgação de informações dessa natureza, para permitir a emissão de normas pela entidade reguladora brasileira, visando à centralização e uniformização do seu processo de produção, levando sempre em conta a convergência da Contabilidade Brasileira aos padrões internacionais. (www.cpc.org.br/oque.htm, acesso em 10 de agosto de 2010)

Um segundo marco rumo à convergência das normas internacionais de contabilidade pode ser

dividido em duas vertentes: a convergência das demonstrações financeiras consolidadas; e a

convergência das demonstrações financeiras individuais. A primeira vertente referente às

demonstrações financeiras consolidadas já foi totalmente convergida aos IFRS com a

publicação pela CVM da Instrução nº 457/2007 que exigia que todas as empresas de capital

aberto devessem publicar seus balanços consolidados integralmente em IFRS a partir do

exercício findo em 2010. Quanto às demonstrações individuais, em 2007 foi aprovada a Lei nº

11.638 que obrigava as empresas a adotarem para o balanço individual uma série de padrões,

já emitidos pelo CPC, para o exercício findo em 2008. Após esse ano de 2008, o CPC emitiu

diversos pronunciamentos que também devem ser aplicados para o exercício findo em 2010.

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3

Dessa maneira, os balanços individuais das companhias abertas também estão quase

inteiramente em conformidade com o IFRS no ano de 2010, com muito poucas divergências a

serem convergidas.

Dentro desse contexto, em 6 de novembro de 2009, o CPC emitiu o ICPC 01 que é uma

Instrução Normativa que define como deve ser feita a contabilização de concessões de serviço

público a entidades privadas. Tal Instrução é tradução literal do IFRIC 12, a mesma Instrução

que foi emitida pelo IASB. Seguindo o processo de convergência das normas de contabilidade

à contabilidade internacional, em 22 de dezembro de 2009, através da deliberação nº 611, a

CVM obrigou a adoção do ICPC 01 para os exercícios encerrados a partir de dezembro de

2010.

Essa Interpretação vem gerando grandes discussões dentre diversas entidades do setor de

concessões incluindo empresas, agências reguladoras, estudiosos do tema representando a

academia, além de entidades profissionais dos contadores. Em notícia veiculada em 14 de

julho de 2009, o jornal Valor Econômico (p. D1) destaca:

A questão das concessões vem causando polêmica e um comitê de interpretação do IASB (IFRIC) fez um pronunciamento, conhecido como IFRIC 12, que estabeleceu alguns parâmetros que tentam definir quem controla o quê. Por exemplo, se as tarifas são estabelecidas pelo governo, e elas definem a maior parte da receita da concessionária, o ativo é do poder concedente.

Este estudo tem como objetivo analisar os impactos que a adoção da Interpretação ICPC 01

terá nas demonstrações financeiras das concessionárias de serviços públicos. Para isso, será

feito um estudo de caso analisando a situação específica da adoção do ICPC 01 pela Light

SESA (Serviços de Eletricidade Sociedade Anônima), empresa do Grupo Light responsável

pelas atividades ligadas a distribuição de energia.

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Vale ressaltar que diversos setores da economia podem ser impactados por essa Interpretação

como, por exemplo: distribuição de energia, transmissão de energia, construção de rodovias,

setor de saneamento, distribuição de gás, dentre outros. Assim, o presente trabalho trata de

um tema de forte relevância que interferirá nas demonstrações contábeis de uma parcela

significativa das empresas brasileiras.

1.1 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

Por meio da deliberação nº 611/09 aprovada pela CVM, todas as empresas de capital aberto

enquadradas dentro do escopo do ICPC 01 deverão adotar esta Interpretação para os

exercícios encerrados a partir de dezembro de 2010. Dessa maneira, com a existência de

diversas divergências entre os agentes do setor quanto à forma de aplicação dessa

Interpretação, torna-se relevante tentar responder a seguinte questão: Quais são os efeitos da

adoção da Interpretação ICPC 01 nos relatórios financeiros das empresas brasileiras

concessionárias de serviços públicos?

1.2 OBJETIVO DA PESQUISA

Este trabalho tem como objetivo analisar os impactos da adoção do ICPC 01, e demais

pronunciamentos correlacionados, nas demonstrações financeiras das concessionárias de

serviços públicos. Complementarmente, dentro desse contexto e do atual momento de

convergência que o Brasil passa para as normas internacionais de contabilidade (IFRS), este

trabalho busca avaliar especificamente quais serão os impactos que a adoção do ICPC 01 –

Contratos de Concessão terão no balanço da Light SESA – uma empresa concessionária

distribuidora de energia, presente no estado do Rio de Janeiro. Para isso busca-se fazer um

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5

estudo de caso que avalie, ceteris paribus, quais os impactos que a instrução teria sobre as

demonstrações financeiras da Light SESA.

Dentre os objetivos específicos que esse trabalho pretende atender podemos citar:

• O entendimento do ICPC 01, normas correlacionadas e forma de aplicação da

Interpretação.

• Analisar os impactos da adoção do ICPC 01 na Light SESA observando os números

contábeis das demonstrações financeiras ex ante e ex post.

• Apresentar as conseqüências que a aplicação do normativo contábil pode gerar no

patrimônio e na distribuição de dividendos da Light SESA.

1.3 MOTIVAÇÃO E RELEVÂNCIA DA PESQUISA

A adoção do ICPC 01 pela Light SESA causará impactos relevantes tanto em contas de ativo

do Balanço Patrimonial quanto em contas de resultado na Demonstração do Resultado do

Exercício. Isso tem um impacto direto em políticas de distribuição de dividendos da empresa,

uma vez que os números contábeis, e principalmente o lucro líquido, são impactados em

decorrência da adoção da nova Interpretação.

Além da grande relevância dos impactos gerados nas demonstrações financeiras das

concessionárias de serviço público, este trabalho também ganha relevância na medida em que

existem muitas divergências entre as entidades ligadas aos setores de concessões de serviço

público quanto à adoção do ICPC 01.

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Citando-se o exemplo da ANEEL, agência reguladora do setor de energia elétrica, em nota

técnica nº 391 emitida em 24 de setembro de 2009, parágrafo 35, ao se referir à adoção do

ICPC 01 pelas concessionárias distribuidoras de energia, defendeu o seguinte:

A aplicação dessa norma na contabilidade societária das empresas do setor elétrico brasileiro, em uma análise preliminar e se for aplicada da forma explicitada, não representa a essência econômica do negócio outorgado, além do mais, sem o registro contábil da reavaliação dos ativos das distribuidoras e das transmissoras com revisão tarifária, quem em conjunto detêm a maioria dos ativos vinculados à concessão, não fará, conforme divulgado, com que as informações ao mercado sejam melhores do que as existentes atualmente, pois tanto o ativo intangível como o ativo financeiro, decorrente da aplicação da norma internacional, estarão representados por valores a custo histórico, diferentemente dos valores considerados para fins de estabelecimento da remuneração e da depreciação que compõem a Parcela B da tarifa. (NOTA TÉCNICA ANEEL, Par. 35; 2009)

Na citação anterior a ANEEL defende que a adoção do ICPC 01 não irá gerar informações de

melhor qualidade uma vez que a ausência da possibilidade de se fazer a reavaliação do

imobilizado irá distorcer a contabilização do ativo intangível e do ativo financeiro,

reconhecidos através da divisão do imobilizado, que atualmente é contabilizado a custo

histórico.

Assim, a confecção desse trabalho visa ampliar a visão dos possíveis impactos que são

gerados pela adoção da Instrução ICPC 01 de forma facilitar o entendimento dos diversos

fatores positivos e negativos para os agentes dos setores ligados as empresas concessionárias

de serviço público abrangidas pelo ICPC 01.

1.4 ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO

No capítulo 2 é feito um referencial teórico com base em uma pesquisa bibliográfica com o

objetivo de fundamentar o papel que a contabilidade exerce como redutora de assimetria de

informação e a sua vital relevância para seus usuários externos. Também são referenciadas

questões relacionadas a adoção de IFRS em outros países e empresas.

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No capítulo 3 é feita uma explicação dos aspectos mais relevantes do ICPC 01, bem como

apresentados aspectos relevantes do seu processo de adoção no Brasil e na Europa.

No capítulo 4 é feita uma descrição da empresa Light SESA e são apresentados pontos

relevantes quanto à atividade de distribuição de energia e a forte representatividade que esta

empresa possui dentro do grupo Light.

No capítulo 5 é feita uma descrição da metodologia com uma breve descrição da tipologia da

pesquisa e das características inerentes de um estudo de caso. Posteriormente são descritas e

justificadas questões como a base de dados utilizada e a forma como será feita a adoção do

ICPC 01 nas demonstrações financeiras da empresa a fim de avaliar seus impactos.

No capítulo 6 é feita uma breve apresentação das divergências existentes entre os agentes do

setor de energia elétrica quanto à adoção do ICPC 01. Posteriormente, é feito o estudo de caso

da adoção do ICPC 01 pela Light SESA e são observadas questões pontuais relativas às

questões referentes aos impactos das mudanças nas demonstrações contábeis da Light SESA.

No capítulo 7 são feitas as conclusões finais do trabalho abordando questões positivas e

negativas quanto à adoção do ICPC 01 para as concessionárias de serviço público no Brasil,

avaliando os impactos gerados nas demonstrações financeiras da Light SESA.

1.5 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO

Uma das limitações desse estudo é a análise exclusiva dos impactos da adoção do ICPC 01 na

Light SESA, não podendo assim, generalizar os impactos encontrados para outros tipos de

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8

empresas, mesmo que tenham atividades semelhantes. Não se pretende também fazer

nenhuma análise quanto à adoção de outras normas contábeis que não o ICPC 01.

Vale ressaltar que a análise que será feita se refere ao exercício findo em 2008 da Light

SESA, podendo ter outros tipos de impacto caso a análise fosse feita em outro período, como

por exemplo, em decorrência da existência de atividades operacionais diferentes em outros

exercícios. Portanto, optou-se por utilizar o exercício de 2008, por ser o efetivo ano de adoção

inicial do ICPC 01 caso ele fosse aplicado na data do presente trabalho. Uma outra

delimitação se refere ao fato de que o estudo aqui desenvolvido se utiliza do ICPC 01 em

vigor no mês de Julho de 2010. Qualquer outra alteração que possa ocorrer na norma, que seja

posterior a esta data não estará no escopo deste trabalho.

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9

2 REFERENCIAL TEÓRICO

No referencial teórico construído a seguir foi feita uma pesquisa bibliográfica com o objetivo

de embasar os temas abordados no trabalho. Julgou-se ser importante abordar a teoria de

agência e o papel fundamental que a contabilidade possui na redução da assimetria de

informação, e assim, fundamentar o papel da contabilidade na influência da geração de

informação para seus usuários. Além disso, também se abordou o arcabouço estrutural do

ICPC 01 no Brasil e no mundo para que fosse possível entender as características da

interpretação e o contexto em que foi criada.

2.1 TEORIA DE AGÊNCIA E ASSIMETRIA INFORMACIONAL

A teoria de agência estuda as relações contratuais entre dois ou mais indivíduos. Dentro de

um contexto em que há dois indivíduos, um é tratado como o agente e o outro como o

principal. Conforme Hendriksen e Breda (1999, p. 139), “O agente compromete-se a realizar

certas tarefas para o principal; o principal compromete-se a remunerar o agente”.

Jensen e Meckling (1976, p.5) definem uma relação de agência da seguinte maneira:

We define an agency relationship as a contract under which one or more persons(the principal(s)) engage another person (the agent) to perform some service on their behalf which involves delegating some decision making authority to the agent. If both parties to the relationship are utility maximizers, there is good reasons to believe that the agent will not always act in the best interests of the principal.

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Ao observar os diversos indivíduos que interagem e possuem interesses dentro de uma

empresa, pode-se observar que existem diversas relações de agente/ principal. Algumas dessas

relações principal-agente podem ser exemplificadas, como por exemplo, um acionista

minoritário (principal) que espera que o administrador (agente) maximize a riqueza do

acionista. De outra maneira, os administradores (principal) esperam que seus empregados

(agente) trabalhem com o maior esforço possível. Os acionistas (principal) esperam que os

auditores externos (agente) auditem e certifiquem as demonstrações contábeis com eficiência.

Conflitos de agência surgem quando interesses distintos entre os indivíduos se estabelecem.

De acordo com Jensen e Meckling (1976) os conflitos de agência surgem quando o agente

quer maximizar suas utilidades pessoais independentemente de estar ou não maximizando a

riqueza do principal.

Akerlof (1970) demonstrou que um grande causador de conflitos de agência nos mercados e

nas empresas é a existência de assimetria informacional entre os indivíduos. De acordo com

Holmstrom (1979, apud Brites 2008, p. 16):

Um problema decorrente da assimetria informacional é o moral hazard (risco moral), quando o principal não pode observar a ação do agente que detém informações privilegiadas. O agente, de posse dessas informações, tenta maximizar suas utilidades, já que conhece as falhas do contrato. Assim, o principal que não detém todas as informações que julga importante, procura transferir o risco para o agente, com o intuito de que esta informação não seja utilizada para prejudicá-lo, ou seja, evitando uma conduta irregular por parte do agente.

A existência de assimetria de informação entre os indivíduos gera uma série de problemas e

conflitos entre agente e principal. Dentro desse contexto, a contabilidade se apresenta como

um forte instrumento para reduzir esse tipo de problema.

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2.2 CONTABILIDADE COMO INSTRUMENTO DE REDUÇÃO DE ASSIMETRIA INFORMACIONAL

Em uma relação aonde o administrador é um agente e o investidor é o principal, ao vivenciar

diariamente as atividades internas da empresa e ter mais informações do que o investidor, o

administrador pode não querer agir de acordo com os interesses do investidor, e assim, o

administrador seleciona as informações que são divulgadas de acordo com os próprios

interesses. Logo, a assimetria informacional pode continuar existindo em grau substancial.

Dentro desse contexto, existem os intermediários informacionais que são os responsáveis por

emitir atestados de fidedignidade das informações contábeis e colaboradores para a redução

de assimetria informacional. Exemplos de intermediários informacionais são auditores,

analistas de mercado e agências de rating. De acordo com Palepu (2000), os intermediários

informacionais cumprem uma função muito importante nos mercados por adicionarem valor

aumentando a credibilidade das demonstrações financeiras (como os auditores fazem), ou

analisando a informação das demonstrações financeiras (como os analistas das agências de

rating fazem).

2.2.1 Essência Sobre a Forma

Uma das questões mais defendidas pelas normas que seguem o padrão internacional de

contabilidade (IFRS’s) é a prevalência da essência sobre a forma nos números contábeis. A

primazia da essência sobre a forma é considerada uma “Característica Qualitativa das

Demonstrações Contábeis” tanto no Arcabouço Conceitual emitido pelo IASB, quanto na

“Estrutura Conceitual para a Elaboração e Apresentação das Demonstrações Contábeis”

emitido pelo CPC. Independentemente da forma legal que um evento econômico tenha, o

IFRS exige que a contabilidade represente a realidade econômica da melhor maneira possível.

Page 29: ADM Rodrigoscalzer Dez10

12

Na “Estrutura Conceitual para a Elaboração e Apresentação das Demonstrações Contábeis”

emitido pelo CPC em janeiro de 2008, página 13, é defendida a primazia da Essência sobre a

forma:

Para que a informação represente adequadamente as transações e outros eventos que ela se propõe a representar, é necessário que essas transações e eventos sejam contabilizados e apresentados de acordo com sua substância e realidade econômica, e não meramente sua forma legal. A essência das transações ou outros eventos nem sempre é consistente com o que aparenta ser com base na sua forma legal ou artificialmente produzida.

O sistema jurídico vigente em um determinado país pode influenciar significativamente o

processo contábil nesse mesmo país (Lopes, 2005). O leasing financeiro é um exemplo: no

Brasil, até o momento em que foi criado o CPC e surgir o processo de convergência para as

normas internacionais de contabilidade, essas operações eram registradas no balanço da

arrendadora e não no da arrendatária. Na Inglaterra, por exemplo, o leasing figura no balanço

da arrendatária devido ao entendimento de que, mesmo não possuindo a propriedade jurídica

do bem, essa empresa tem controle econômico sobre ele. Dentro do contexto da

contabilização Inglesa, embora a arrendatária não tenha a propriedade do bem arrendado, a

essência econômica da operação deve ser interpretada como sendo criado um ativo para a

arrendatária, independentemente da forma jurídica dessa operação de leasing.

Ao interpretar o ICPC 01, objeto de estudo desse trabalho, será muito importante ter o

entendimento da necessidade de levar em consideração a primazia da essência sobre a forma.

Dentre outros fatores, o ICPC 01 defende, por exemplo, que uma concessionária de serviço

público reconheça um ativo intangível ou financeiro com contrapartidas de receitas de

serviços de construção feitos pela concessionária.

Page 30: ADM Rodrigoscalzer Dez10

13

2.2.2 A Convergência às Normas Internacionais de Contabilidade no Brasil e no mundo

A Lei das Sociedades Anônimas (Lei 6.404/76) tem sido durante muito tempo a maior fonte

de procedimentos a serem adotados na contabilidade brasileira. Em 7 de outubro de 2005,

através da Resolução do Conselho Federal de Contabilidade nº 1.055, foi criado o CPC. O

CPC nasceu da integração de ABRASCA, APIMEC, BOVESPA, CFC, IBRACON e

FIPECAFI. Esse pode ser considerado o primeiro passo da contabilidade brasileira rumo à

convergência das normas internacionais.

Um segundo marco rumo à convergência das normas internacionais de contabilidade foi a

publicação pela CVM da Instrução nº 457/2007 que exigia que todas as empresas de capital

aberto devessem publicar seus balanços consolidados em IFRS a partir do exercício findo em

2010.

Em 2007 foi aprovada a Lei nº 11.638 que obrigava as empresas a adotarem para o balanço

individual uma série de normas, até então já emitidas pelo CPC, já para o exercício findo em

2008. A partir de então, o CPC vem emitindo diversas normas que colocam a contabilidade

brasileira cada vez mais próxima do IFRS e da tendência mundial de convergência para um

único padrão de normas contábeis.

Pouco se sabe sobre as vantagens e desvantagens quanto ao processo de convergência do

IFRS. Isso decore da pouca literatura existente e do fato de se tratar de um tema bastante

recente. De acordo com Armstrong el al (2010), em um estudo feito para tentar captar a

percepção dos investidores quanto a adoção do IFRS, afirmou-se que pouca pesquisa ainda

existe sobre a percepção dos investidores quanto a adoção de IFRS na Europa.

Page 31: ADM Rodrigoscalzer Dez10

14

Há relatos de estudos que foram feitos para se observar a percepção dos investidores quanto a

adoção de uma norma específica, como foram os casos de Dechow et al (1996) que tentava

observar essa relação quanto a adoção do SFAS 123, norma referente a remuneração baseada

em ações. Vale ressaltar que o SFAS 123 é uma norma baseada no US GAAP emitido pelo

FASB norte americano. Beatty et al.(1996) e Cornett et al. (1996) analisaram a percepção do

investidor quanto a adoção do SFAS 115 que aborda mensuração a valor justo de ativos.

Além da incerteza quanto as vantagens e desvantagens que cercam a convergência às normas

internacionais de contabilidade, existem diversas dificuldades associadas a tentativa de

realmente se atingir uma convergência eficiente. Conforme lembrado por Whittington (2008),

embora o IASB tenha conseguido obter grande avanço rumo a convergência internacional das

normas contábeis, muitas posturas repressivas são encontradas por questões como diversidade

de cultura que estão diretamente associadas às estruturas de mercado e instituições legais.

Uma das maiores resistências encontradas pelo IASB se encontra justamente no

relacionamento que o órgão possui com o FASB norte americano. Bush (2005) lembrou que

em 2002, FASB e IASB iniciaram o primeiro passo com a finalidade de obter convergência

em ambas as estruturas contábeis. Através do Norwalk Agreement, os conselhos das duas

entidades assumiram o compromisso de manterem diálogo para que houvesse convergência

entre as duas instituições.

No caso do Brasil, a criação do CPC garantiu a existência de um órgão que está totalmente

direcionado a buscar a convergência das normas brasileiras com as internacionais. Contudo,

deve-se esperar a adoção dessas novas normas para poder observar como foram feitas as

aplicações dessas normas, e como os investidores receberam essas novas informações.

Page 32: ADM Rodrigoscalzer Dez10

15

Em um estudo que buscava examinar se a adoção dos IFRS estava associada com melhora na

qualidade contábil, Barth (2005) concluiu que a adoção das normas internacionais estão

associadas à menor gerenciamento de resultado, reconhecimento de prejuízo mais oportuno e

maior relevância dos números contábeis.

Em contra partida, Daske (2006) não conseguiu encontrar evidências que incentivassem a

adoção dos IFRS. Em um estudo onde se buscava encontrar evidência de associação entre

adoção de IFRS e redução do custo de capital, não foi possível encontrar relação entre esses

dois fatores.

Daske et al. (2008) encontrou relação entre adoção de IFRS e aumento de liquidez no

mercado de ações. Contudo, o autor ressaltou que essa associação apenas pôde ser observada

em países em que as empresas tinham incentivos para ser transparente e em países aonde o

sistema jurídico tivessem regras claras e leis que se faziam valer. Por sua vez, Schleicher et al.

(2010) associou adoção de IFRS nas empresas européias com redução da volatilidade de

investimentos-fluxo de caixa.

Embora não exista uma vasta literatura quanto aos possíveis efeitos gerados pela adoção do

IFRS, as pesquisas acima citadas mostraram evidências relevantes que podem sugerir a

existência de benefícios para as empresas ao adotar as normas internacionais de contabilidade:

aumento de liquidez no mercado acionária e redução da volatilidade de investimento (caixa).

Da mesma maneira, a adoção do IFRS também se mostra benéfica para o investidor, uma vez

que é sugerido que isso pode reduzir o gerenciamento de resultado por parte das empresas,

aumentar a relevância dos números contábeis e fazer com que os mesmos números contábeis

sejam mais oportunos para o mercado.

Page 33: ADM Rodrigoscalzer Dez10

16

A descoberta dos efeitos que a adoção dos IFRS podem causar nas empresas e para todos os

usuários da informação contábil ainda pode ser considerado um campo pouco explorado na

literatura acadêmica, inclusive em virtude de ser um movimento internacional bastante

recente. Contudo, um benefício pode ser considerado como certo: a unificação de apenas uma

linguagem contábil ao redor do mundo.

Embora essa unificação tenha que superar diversos obstáculos ainda, a convergência das

demonstrações contábeis irá diminuir as dificuldades de um investidor em ter que entender de

diversos tipos de “princípios contábeis geralmente aceitos” ao redor do mundo. Além disso,

os esforços em melhorar a qualidade da informação contábil estarão sendo focados em um

único tipo de norma no mundo inteiro.

Page 34: ADM Rodrigoscalzer Dez10

17

3 O ICPC 01

3.1 CONTEÚDO DA INTERPRETAÇÃO

A seguir será apresentada de forma objetiva, uma exposição dos principais tópicos do ICPC

01 para que seja possível entender a aplicação dos conceitos utilizados no estudo de caso.

Dessa maneira, a parte da Interpretação que se refere a informações que devem ser divulgadas

pelas empresas não será abordada nessa exposição. Será dado foco exclusivo aos impactos

contábeis de identificação e mensuração dos assuntos relacionados ao ICPC 01.

O ICPC 01 é aplicável para concessões de serviços públicos a entidades privadas caso:

• O concedente controle ou regulamente quais serviços o concessionário deve prestar

com a infra-estrutura, a quem os serviços devem ser prestados e o seu preço;”

(ICPC01, 2010), e

• O concedente controle – por meio de titularidade, usufruto ou de outra forma –

qualquer participação residual significativa na infra-estrutura no final do prazo da

concessão. (ICPC 01, 2010)

Page 35: ADM Rodrigoscalzer Dez10

18

De acordo com o site IAS PLUS da Deloitte (disponível em:

<http://www.iasplus.com/interps/ifric012.htm>, acesso em 27/07/2010), uma concessão de

serviço público pode ser definida como:

A service concession arrangement is an arrangement whereby a government or other public sector body contracts with a private operator to develop (or upgrade), operate and maintain the grantor's infrastructure assets such as roads, bridges, tunnels, airports, energy distribution networks, prisons or hospitals. The grantor controls or regulates what services the operator must provide using the assets, to whom, and at what price, and also controls any significant residual interest in the assets at the end of the term of the arrangement. (IAS PLUS;2010).

Uma das grandes inovações criadas pelo ICPC01 é a exclusão do tratamento da infra-estrutura

utilizada pelo concessionário como ativo imobilizado. Isso decore pelo fato de não haver no

contrato de concessão a transferência do direito de controle (muito menos de propriedade) do

uso da infra-estrutura de serviços públicos. A infra-estrutura cedida à concessionária é

revertida ao concedente no final do prazo de concessão, e assim, a concessionária cumpre um

papel de operadora da infra-estrutura, ou seja, um prestador de serviço.

O ICPC 01 também trouxe grandes transformações na forma de contabilizar as receitas. De

acordo com a Interpretação, a forma de reconhecimento das receitas está atrelada à análise do

tipo de serviço que foi prestado pela concessionária. Assim, serviços de construção e melhoria

devem ter suas receitas e custos contabilizados em conformidade com o CPC 171, ou seja,

devem ter as receitas e custos relacionados a construção sendo reconhecidos de acordo com a

porcentagem de conclusão da obra, e tanto as receitas quanto os custos também devem ser

mensurados a valor justo. Por sua vez, os serviços de operação devem ter suas receitas

contabilizadas em conformidade com o CPC 302, que determina que uma receita deve ser

mensurada pelo seu valor justo e reconhecida de forma que os risco significativos

1 CPC 17 – Contratos de Construção 2 CPC 30 – Receitas

Page 36: ADM Rodrigoscalzer Dez10

19

relacionados a venda de um bem ou prestação de um serviços sejam significativamente

repassados para o consumidor do bem/serviço.

Com relação aos serviços de construção e melhoria prestados pelos concessionários, as

remunerações devem ser correspondidas a direitos sobre ativo financeiro ou ativo intangível.

O ativo financeiro deve ser reconhecido quando o concessionário tem “o direito contratual

incondicional de receber caixa ou outro ativo financeiro do concedente pelos serviços de

construção e/ou o concedente tem pouca ou nenhuma opção para evitar o pagamento,

normalmente porque o contrato é executável por lei.” (ICPC01, 2010). O ativo financeiro

deve ser contabilizado de acordo com o CPC 383. O CPC 38 define que um ativo financeiro

deve ser classificado como: (a) empréstimo ou recebível; (b) ativo financeiro disponível para

venda; (c) ativo financeiro pelo valor justo por meio do resultado. Caso seja contabilizado

como empréstimo ou recebível ou ativo financeiro mensurado ao valor justo por meio do

resultado, o CPC 38 exige que a parcela referente aos juros calculados com base no método da

taxa efetiva de juros seja reconhecida no resultado. No caso de ser classificado como ativo

financeiro avaliado a valor justo por meio do resultado, os impactos de reconhecimento de

juros devem impactar imediatamente o resultado do período.

Por sua vez, o ativo intangível deve ser reconhecido à medida que recebe o direito de cobrar

os usuários dos serviços públicos. Ao contrário do ativo financeiro, esse direito não constitui

direito incondicional de receber caixa porque os valores são condicionados à utilização do

serviço público. O ativo intangível deve ser contabilizado de acordo com o CPC 044. Uma das

observações mais relevantes no CPC 04 quanto a contabilização de ativos intangíveis é a

necessidade de teste de recuperabilidade anualmente, de forma que se por algum motivo

3 CPC 38 – Instrumentos Financeiros: Reconhecimento e Mensuração 4 CPC 04 – Ativos Intangíveis

Page 37: ADM Rodrigoscalzer Dez10

20

qualquer, ficar provado que o ativo intangível perdeu valor de mercado, então esse valor deve

ser baixado contra o resultado do período.

Os serviços de construção podem ser pagos parte em ativo financeiro e em parte em ativo

intangível, e assim ser necessário contabilizar cada parte separadamente. Em ambos os casos,

a remuneração pelo serviço deve ser reconhecida pelo valor justo. De acordo com o Comitê

de Pronunciamentos Contábeis, o valor justo é “o montante pelo qual um ativo poderia ser

trocado, ou um passivo liquidado, entre partes independentes com conhecimento do negócio e

interesse em realizá-lo, em uma transação em que não há favorecidos”.

3.2 O ICPC01 NO BRASIL

O ICPC 01, interpretação emitido e aprovado pelo CPC em 6 de novembro de 2009, e

correlacionado ao IFRIC 12 emitido pelo IASB em 30 de novembro de 2006, é a

Interpretação em estudo no presente trabalho. Por meio da Deliberação n° 611, de 22 de

dezembro de 2009, a CVM aprovou e exigiu a utilização do ICPC01 para as companhias de

capital aberto para os exercícios encerrados a partir de dezembro de 2010.

Motivo de intensos debates entre as concessionárias de serviço público, a audiência pública n°

27/2009 prévia à aprovação do ICPC 01, encerrada em 25 de outubro de 2009, foi bastante

marcada pela oposição de diversos órgãos reguladores, associações e órgãos de classes, bem

como de empresas concessionárias atuantes em diversos setores da economia.

Em relatório da audiência pública do ICPC 01, nº 27/2009 conforme citado antes, o CPC

afirma que:

[...] houve quantidade expressiva de cartas com sugestões, refletindo ampla representatividade dos diversos participantes do setor, envolvendo as

Page 38: ADM Rodrigoscalzer Dez10

21

principais entidades representativas dos setores empresariais que atuam em concessões, como também agências reguladoras e estudiosos do tema representando a academia, além de entidades profissionais dos contadores.

No relatório da audiência pública do ICPC 01 foram citados os questionamentos e sugestões

mais relevantes e as respectivas justificativas para o não acatamento pelo CPC. O primeiro

questionamento apresentado se referia ao pleito que havia sido feito para que a aplicação do

ICPC01 fosse feita apenas nos balanços consolidados ao invés dos balanços individuais, e o

não acatamento pelo CPC foi justificado pela necessidade de convergência de todas as

demonstrações financeiras, sejam elas consolidadas, separadas ou individuais, de forma

integral com as normas do IASB.

Outra sugestão feita ao CPC através da audiência pública foi a revisão do tratamento do

reconhecimento de receita de construção ou melhoria em adição à receita dos serviços de

operação. O CPC não acatou a recomendação e justificou a não aceitação pelo fato da

necessidade de estar totalmente em conformidade com o IFRIC 12 emitido pelo IASB.

Por último, o relatório da audiência pública destaca um pleito feito quanto a necessidade de

adoção do ICPC 01 no Brasil em fases. O CPC relatou que reconhece as dificuldades de

adoção do ICPC 01 que são inerentes à complexidade da interpretação, contudo descartou a

possibilidade de desenvolver uma orientação específica de implantação do ICPC 01,

principalmente em um momento em que o órgão estava coordenando um processo de

mudança tão profunda na contabilidade brasileira.

Um dos grandes problemas que motivam discussões entre os concessionários de serviço

público enquadrados dentro do escopo de aplicação do ICPC 01 está no reconhecimento do

ativo financeiro inerente ao processo de separação do ativo imobilizado. De acordo com o

ICPC01 (2009), o ativo financeiro deve ser reconhecido pelo concessionário “... à medida que

Page 39: ADM Rodrigoscalzer Dez10

22

tem o direito contratual incondicional de receber caixa ou outro ativo financeiro do

concedente pelos serviços de construção”.

Contudo, existe pouca referência na legislação brasileira (contábil ou não) que possa ser usada

como referência que aborde a real maneira que deve ser mensurado o ativo financeiro a que a

concessionária tenha direito ao fim da concessão. A Lei número 8.987, sancionada em 13 de

fevereiro de 1995, que dispõe sobre o regime de concessão e permissão de prestação de

serviços públicos no Brasil, em seu artigo 36 se refere ao direito de uma remuneração que as

concessionárias de serviço público no Brasil possuem ao fim da concessão:

A reversão no advento do termo contratual far-se-á com a indenização das parcelas dos investimentos vinculados a bens reversíveis, ainda não amortizados ou depreciados, que tenham sido realizados com o objetivo de garantir a continuidade e atualidade do serviço concedido. (LEI Nº 8.987, artigo 36; 1995)

Entretanto, não existe nenhuma definição na legislação brasileira em vigor, nem mesmo na

Lei 8.987 citada acima, sobre qual o critério de valoração deve ser empregado para avaliar as

parcelas não amortizadas ou depreciadas dos bens reversíveis das concessões de serviço.

Dentro de todo esse contexto, o reconhecimento do ativo financeiro conforme disposto no

ICPC 01, é uma questão que além de ser bastante debatida, não tem ainda uma previsão legal

definida, o que torna ainda mais complicado o desafio dos contadores na adoção desta

interpretação.

A aplicação do ICPC 01 pode gerar impactos relevantes na informação divulgada para os

usuários da informação contábil (credores, acionistas, empregados, dentre outros). Além

disso, conforme será demonstrado nesse trabalho, podem ocorrer alterações fortes na

capacidade de distribuição de dividendos ocorrida em decorrência de impactos relevantes no

lucro líquido.

Page 40: ADM Rodrigoscalzer Dez10

23

Conforme observado no texto acima, existem resistências que dificultam a adoção do ICPC

01 no Brasil por parte de empresas e órgãos. Essa situação contrasta com as experiências e

estudos que serão apresentadas no próximo tópico sobre a aplicação do IFRIC 12 na Europa.

3.3 O IFRIC 12 NA EUROPA

O “IFRIC 12” ou “Interpretation 12- Service Concession Arrangementes”, usado como base

para tradução do ICPC 01 emitido pelo CPC aqui no Brasil, foi preparado pelo International

Financial Reporting Committee (IFRIC) e emitido pelo IASB.

Devido à urgente necessidade de se ter uma estrutura para o tratamento contábil dos serviços

públicos de concessão, o IFRIC 12 foi emitido pelo IASB com a tentativa de delinear um guia

para a contabilidade nessa área e aumentar a qualidade das demonstrações financeiras das

concessionárias de serviços públicos.

Em estudo realizado pelo European Comission em parceria com o European Financial

Reporting Advisory Group (EFRAG), ao avaliar a utilidade do IFRIC 12 para os usuários da

informação contábil, o estudo defendeu:

IFRIC 12 will help to increase clarity as to the accounting treatment to be applied, as well as enhanced comparability and distinction between different types of contract based on clear criteria. Companies already applying IFRIC 12 and external users of the related information note that IFRIC 12 assist both management and users to better assess the performance and risk exposures related to these service concession arrangements. Financial analysts will benefit from the harmonized accounting in this field assuming that adequate disclosures as abovementioned are provided in the financial statements. (Endorsement of IFRIC 12 Service Concession Arrangements Effect Study –Report/ 2008)

Ao contrário do que é defendido por alguns órgãos reguladores no Brasil, o estudo acima

apresenta diversos argumentos favoráveis à aplicação do IFRIC 12 na Europa. Nesse mesmo

Page 41: ADM Rodrigoscalzer Dez10

24

estudo, em pesquisa de opinião feita com contadores, auditores e autoridades públicas de

diversos países da Europa como Alemanha, França, Dinamarca, Itália, Espanha, Portugal,

Inglaterra, Áustria, dentre outros, 66% dos entrevistados acreditam que o tratamento contábil

utilizado pelo IFRIC 12 é apropriado, contra 26% com visão oposta.

Page 42: ADM Rodrigoscalzer Dez10

25

4 METODOLOGIA

Esta pesquisa está fundamentada na utilização de diversas leituras de artigos científicos, leis

governamentais, artigos de jornais, livros, normas contábeis e utilização de dados de

demonstrações contábeis.

Para atender a finalidade deste trabalho que é analisar os impactos da adoção do ICPC 01, e

demais pronunciamentos correlacionados, nas demonstrações financeiras das concessionárias

de serviços públicos, será feito um estudo de caso delimitando o escopo de análise na empresa

Light SESA.

4.1 CLASSIFICAÇÃO E TIPOLOGIA DA PESQUISA

Segundo Collis e Hussey (2005, p.23), uma pesquisa pode ser classificada dentro das

seguintes categorias:

Classificação Tipo de Pesquisa

OBJETIVO Pesquisa exploratória, descritiva, analítica ou preditiva

PROCESSO Pesquisa qualitativa ou quantitativa

LÓGICA Pesquisa dedutiva ou indutiva

RESULTADO Pesquisa aplicada ou básica

Tabela 1 - Qualificação da Pesquisa (Collis e Hussey, 2005, p.23)

Page 43: ADM Rodrigoscalzer Dez10

26

Dentro desse contexto, essa pesquisa tem um objetivo de caráter exploratório por tentar

encontrar evidências pouco exploradas na literatura acadêmica. No Brasil, a adoção do ICPC

01 se tornará obrigatória para as empresas de capital aberto, assim como diversos outros

pronunciamentos emitidos pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis, para os exercícios

encerrados a partir de dezembro de 2010. Assim, algumas empresas que se enquadram no

escopo do ICPC 01 apenas irão adotar a instrução a partir de dezembro de 2010.

Quanto ao processo, a pesquisa se baseia predominantemente qualitativa e fará uma análise

dos diversos impactos que a adoção do ICPC 01 pode gerar nas concessionárias de serviço

público brasileiras. Serão utilizadas ferramentas quantitativas que envolvem matemática

básica, incluindo cálculos de indicadores oriundos da contabilidade financeira.

A lógica da pesquisa está baseada no método indutivo, uma vez que está partindo de um caso

particular, por meio da observação criteriosa através de um estudo de caso, buscando-se tirar

conclusões que possam suportar entendimentos generalistas.

Por fim, a pesquisa almeja obter um resultado aplicado, e assim, se classifica como uma

pesquisa aplicada. Uma vez que se tem como meta fazer um estudo de caso da adoção do

ICPC 01, os resultados encontrados serão inerentes a uma aplicação de um caso particular.

4.2 LIMITAÇÃO DA PESQUISA

4.2.1 Alcance do ICPC 01

Este trabalho se limita a fazer o estudo da aplicação do ICPC 01 pelas concessionárias de

serviço público no Brasil. Vale ressaltar que a análise que será feita nesse trabalho se utiliza

Page 44: ADM Rodrigoscalzer Dez10

27

do ICPC 01 em vigor no mês de Julho de 2010. Qualquer outra alteração que possa ocorrer na

Interpretação, que seja posterior a esta data não estará no escopo deste trabalho.

O ICPC 01 é por definição da própria interpretação, uma Interpretação que alcança as

concessões de serviços públicos a entidades privadas nos casos em que (i) o concedente

controla ou regulamenta quais serviços o concessionário deve prestar com a infraestrutura, a

quem os serviços devem ser prestados e o seu preço; e (ii) o concedente controla – por meio

de titularidade, usufruto ou de outra forma – qualquer participação residual significativa na

infraestrutura no final do prazo de concessão. Complementarmente, os parágrafos 6 e 7 da

instrução ICPC 01, declaram que a interpretação também se aplica tanto à infraestrutura

construída ou adquirida junto a terceiros pelo concessionário para cumprir o contrato de

prestação de serviços, quanto para a infraestrutura já existente, que o concedente repassa

durante o prazo contratual ao concessionário para efeitos do contrato de prestação de serviços.

4.2.2 Limitação do Estudo de Caso

De acordo com Tull e Hawkins (1976) um estudo de caso é caracterizado como uma “análise

intensiva de uma situação particular”. De acordo com Ferreira e Merchant (1992), geralmente

as motivações que levam a optar por um estudo de caso podem ser classificadas em três

grupos: 1) descrição; 2) construção de uma nova teoria; e 3) testar hipóteses. De acordo com

os autores, o estudo de caso é uma ferramenta poderosa quando as questões estudadas não são

facilmente compreendidas.

Devido ao fato de este trabalho ter o objetivo de “descrever” e “analisar os impactos da

adoção do ICPC 01, e demais pronunciamentos correlacionados, nas demonstrações

Page 45: ADM Rodrigoscalzer Dez10

28

financeiras das concessionárias de serviços públicos”, esta pesquisa enquadra-se dentro do

aspecto (1), referente à descrição.

De acordo com Albernethy et al (1999), quando se opta por um estudo de caso, o fenômeno

não deve ser generalizado para outras amostras. No entanto, a comparação de resultados

obtidos no estudo, com outros realizados, ajuda a validar e/ou refinar a teoria.

A empresa escolhida como objeto de estudo do trabalho foi a Light SESA. As razões que

motivaram a escolha da Light SESA como objeto de estudo para este trabalho foram: (i) a

Light SESA é uma empresa que divulga suas informações trimestrais e anuais de acordo com

as regras impostas pela CVM, seguindo inclusive os padrões de governança corporativa do

Novo Mercado da BOVESPA; (ii) a Light SESA é uma empresa com forte representatividade

econômica, tanto no setor de distribuição de energia quanto entre o grupo de empresas

concessionárias de serviços públicos privadas do Brasil, sendo inclusive a quarta maior

distribuidora brasileira em número de clientes e a quinta maior em quantidade de energia

distribuída.

Dentro desse contexto, este estudo objetiva analisar de forma específica, por meio de um

estudo de caso, os impactos que irão ocorrer nas demonstrações financeiras da Light SESA

em decorrência da adoção do ICPC 01. Para isso, serão utilizadas análises comparativas de

indicadores financeiros extraídos das demonstrações contábeis da empresa nos anos de 2009,

antes e depois da adoção do ICPC 01.

As conclusões realizadas acerca das análises presentes neste trabalho referentes à adoção do

ICPC 01 pela Light SESA não podem ser generalizadas para outras concessionárias de serviço

público privado. Primeiramente, a Light SESA é uma empresa inserida dentro do contexto do

Page 46: ADM Rodrigoscalzer Dez10

29

setor elétrico, mais especificamente no setor de distribuição de energia. Por isso, comparar

empresas concessionárias de setores distintos pode incorrer em diversos problemas de análise

em decorrência da existência de atividades diferentes.

De outra maneira, nem mesmo entre empresas do mesmo setor de distribuição de energia da

Light SESA podem ser feitas comparações. Uma vez que a área de concessão da Light SESA

é composta de trinta e um municípios dentro do estado do Rio de Janeiro, e ao mesmo tempo,

quatro milhões de clientes são atendidos, muitas particularidades se tornam inerentes à análise

do estudo de caso da Light SESA. Da mesma forma, empresas distribuidoras de energia com

áreas de concessões diferentes da Light SESA, podem ter prazos de contrato de concessão

diferentes, características de inadimplência diferentes, dentre outras características que tornam

inadequadas as generalizações deste estudo.

Um exemplo de como a comparações de casos distintos podem criar conclusões viesadas no

caso da adoção do ICPC 01, é que na existência de prazos de contrato de concessão diferentes

a amortização do intangível reconhecido através da cobrança pela utilização do serviço de

energia aos consumidores é fortemente impactada. Isso gerará efeitos distintos tanto nas

contas de ativo da empresa, quanto nas contas de resultado do exercício, e conseqüentemente

também impactará as contas patrimoniais do balanço.

O estudo de caso será feito da seguinte maneira:

• Primeiramente foi feita uma adaptação das demonstrações financeiras da Light SESA

do ano de 2008, de forma que as adaptações feitas tornassem o estudo mais didático e

facilitasse a adoção do ICPC 01 no estudo de caso;

Page 47: ADM Rodrigoscalzer Dez10

30

• Em um segundo momento, foi feita uma análise detalhada das demonstrações

financeiras da empresa e feitas às reclassificações e reajustes necessários para que as

demonstrações financeiras ficassem em adequação ao ICPC 01.

• Por último, foi feita uma análise dos resultados encontrados pelos alterações contábeis

que resultaram nas conclusões obtidas pelo estudo de caso proposto para a Light

SESA com a adoção do ICPC 01.

Neste trabalho, para fins de base de dados, serão utilizadas as informações das demonstrações

financeiras da Light SESA referentes ao exercício findo em 2008. Uma vez que as últimas

demonstrações financeiras disponíveis da Light SESA na data do presente trabalho eram

referentes ao exercício findo em 2009, julgou-se ser relevante fazer a análise do ano de 2008,

ano em que efetivamente seria feita a conversão para os novos CPC’s caso houvesse a

aplicação dos mesmos CPC’s ao exercício de 2009.

4.2.3 Estudo de Caso – A adoção do ICPC 01

O estudo de caso que será feito neste trabalho irá fazer um exercício de adoção do ICPC 01 na

Light SESA. Para tanto, primeiramente serão feitos os ajustes necessários no balanço de

31/12/2007 da empresa. Nessa etapa, o ativo imobilizado será convertido em ativo intangível

e ativo financeiro. Para isso, será feito o cálculo da depreciação dos itens do imobilizado da

empresa de acordo com as taxas de depreciação regulamentadas na Resolução ANEEL n° 044

de 17 de março de 1999, conforme segue:

Page 48: ADM Rodrigoscalzer Dez10

31

Tabela 2 - Taxas de Depreciação ANEEL (Fonte: www.light.com.br/ri; acesso em 12/11/2010)

Após fazer a depreciação de todos os itens do imobilizado até o fim da concessão da Light

SESA em junho de 2026, caso seja encontrado alguma valor residual, tal valor será

reconhecido como ativo financeiro, enquanto o valor depreciado será contabilizado como

ativo intangível.

Posteriormente a isso, será feito o reconhecimento das contas de resultado que irão percorrer o

exercício de 2008. Nessa fase serão reconhecidas as receitas de construção e custos de

construção. A receita de construção irá incorporar uma margem de construção, e a premissa

definida para a determinação dessa margem foi a da aplicação do custo médio ponderado de

capital sobre o custo de construção. Optou-se por esta premissa por se julgar que utilizando o

custo médio ponderado de capital como premissa, a empresa estaria remunerando o capital

próprio e o de terceiros, sem criar ônus para sua atividade. No capítulo de estudo de caso será

explicado como o custo médio ponderado de capital é calculado. Nessa fase também serão

reconhecidas as receitas de atualização por IGP-M dos ativos financeiros contabilizados.

Os investimentos em manutenção que até então eram contabilizados pela empresa como

sendo parte integrante do ativo imobilizado, a partir do momento em que adotar o ICPC 01

Page 49: ADM Rodrigoscalzer Dez10

32

terá que reconhecer tais gastos como sendo uma despesa. Espera-se, dessa maneira, que um

forte impacto seja causado na DRE por causa desse fator.

Por último, se os ajustes contábeis oriundos da adoção do ICPC 01 gerarem impactos

positivos ou negativos no lucro do período, será calculado um benefício fiscal ou aumento de

imposto de renda. Impactos contábeis que façam com que a empresa tenha um lucro antes do

imposto de renda maior, irá fazer com que a empresa tenha que pagar mais imposto de renda.

No caso de a empresa ter um lucro antes do imposto de renda menor, haverá o

reconhecimento de uma economia de imposto de renda.

Page 50: ADM Rodrigoscalzer Dez10

33

5 APRESENTAÇÃO DA EMPRESA

A Light SESA é uma empresa do Grupo Light responsável pela parte da distribuição de

energia no Rio de Janeiro, sendo uma das controladas da holding Light S.A.. Em 2009, a

Light SESA foi responsável por 96% da receita operacional apresentada na demonstração

consolidada da Light S.A., o que demonstra sua relevância significativa dentro do grupo

econômico. Dentro desse contexto, também é possível observar a relevância da atividade de

distribuição para o Grupo Light.

Possuindo forte concentração das atividades na distribuição de energia, a Light distribui

energia a quatro milhões de clientes beneficiando cerca de dez milhões de pessoas e

atendendo a trinta e um municípios dentro do estado do Rio de Janeiro. Considerando a

Receita Operacional Líquida, a Light é a quinta maior empresa integrada de energia do Brasil.

Page 51: ADM Rodrigoscalzer Dez10

34

5.1 O GRUPO LIGHT

A Light é uma empresa centenária que iniciou suas atividades em dezessete de julho de 1899,

com a Usina Hidrelétrica Parnaíba, no Rio Tietê, construída entre 1899 e 1901.

(http://www.light.com.br/ri). A empresa já operou bondes e sistemas de ônibus elétricos que

circulavam pelo Rio de Janeiro até 1927.

Após um longo período sob administração do governo federal, em 1996 a Light foi

privatizada por meio de um leilão na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro aonde o consórcio

vencedor era formado por: Eletricité de France (EDF), AES Corporation, Reliant Energy e

Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). Posteriormente, em 2002 o controle acionário foi

transferido para a Eletricité de France (EDF) consolidando-a como a controladora da Light.

Em 2005, em decorrência do novo marco regulatório do setor elétrico brasileiro, a Light

passou pelo processo de desverticalização aonde foi originada a estrutura que tem a holding

Light S.A. como controladora das empresas controladas que dividiam as atividades de

geração e distribuição de forma que elas se tornassem independentes.

Assim, o Grupo Light em 2010 é constituído pelas empresas Light S.A., holding; Light

Serviços de Eletricidade S.A. (Light SESA), de distribuição; Light Energia S.A. (Light

Energia), de geração e transmissão; e Light Esco – Prestação de Serviços S.A. (Light Esco),

de comercialização.

Page 52: ADM Rodrigoscalzer Dez10

35

Figura 1– Empresas do Grupo Light (Fonte: www.light.com.br/ri, 2010, acesso em 27/07/2010)

Vale destacar que existem outras empresas controladas pela Light S.A. de menor porte e com

menor representatividade dentro do Grupo Light.

Em 2006, o controle da empresa foi assumido pelo consórcio Rio Minas Energia

Participações S.A. (RME), com quatro sócios, cada um com 25% de participação: Companhia

Energética de Minas Gerais (Cemig), Andrade Gutierrez Concessões S.A. (AG Concessões),

Pactual Energia Participações S.A. (Pactual Energia) e Luce Brasil Fundo de Investimentos

em Participações (Luce).

Em 2009 houve nova alteração da estrutura societária da empresa. A atual distribuição do

quadro de acionistas da empresa é a seguinte: CEMIG (Companhia Energética de Minas

Gerais S.A.) com 25,53%; Andrade Gutierrez Concessões S.A. com 0,53%; RME (Rio Minas

Energia Participações S.A.) com 13,03%; Luce Empreendimentos Participações S.A. com

13,03%; BNDESPAR (BNDES Participações S.A.) com 23,05%; e Público com 24,82% (ver

gráfico 1):

Page 53: ADM Rodrigoscalzer Dez10

36

Figura 2 - Composição Acionária da Light (Fonte: www.light.com.br/ri, 2010, acesso em 27/07/2010)

Com ações negociadas em bolsa, a Light é uma empresa de capital aberto com um total de

203.934.060 ações. Devido ao fato de a Light ser integrante do Novo Mercado, o nível

diferenciado de governança corporativa mais exigente instituído pela BOVESPA, todas as

suas ações são obrigatoriamente ordinárias, ou seja, possuem direito a voto.

Apesar de a Light SESA não ter ações negociadas em bolsa, conforme já apresentado neste

trabalho, a distribuidora possui impacto extremamente relevante sobre o resultado da Light

S.A., que possui ações negociadas na BOVESPA.

Por ser uma companhia de capital aberto, o valor da Light SA (LIGT3) sofre diversas

influências de diversas por diversos fatores de mercado, desde dados macroeconômicos,

rumores, expectativas, e inclusive, da informação contábil apresentada ao mercado. Tal

Page 54: ADM Rodrigoscalzer Dez10

37

aspecto reforça a relevância da análise da informação contábil presente neste trabalho de

forma que seja observado de forma mais aprofundada como são feitos os números contábeis e

com base em que tipo de interpretação são tomadas as decisões contábeis.

5.2 A LIGHT SESA

A Light SESA (Serviços de Eletricidade S.A.) é a quarta maior distribuidora brasileira em

número de clientes e a quinta maior em quantidade de energia distribuída (www.epe.gov.br).

Responsável por representar 96% da Receita Operacional de todo o Grupo Light a Light

SESA configura a distribuição de energia como sendo a atividade mais relevante dentro

Grupo Light.

Um dos grandes problemas operacionais enfrentados pela Light SESA nos últimos anos é a

perda de energia ocorrida em decorrência de furtos por meio de ligações clandestinas. Tais

perdas são classificadas como “perdas não técnicas”. De acordo com a Demonstração

Financeira Padronizada de 2009 da Light SESA, a perda não técnica da empresa foi da ordem

de 15,40% da energia.

O grande percentual de perdas não técnicas da Light está entre os maiores do Brasil

(ARAÚJO, 2007). Isso decorre fortemente em virtude de características inerentes à área de

concessão da Light situada no Rio de Janeiro. Em muitos locais que possuem grandes favelas,

por exemplo, se torna bastante difícil ter acesso e controle sobre as ligações ilegais dos

clientes consumidores.

A seguir são apresentadas as demonstrações contábeis de 2008 e de 2007 da Light SESA para

fins de ilustração da situação financeira da empresa.

Page 55: ADM Rodrigoscalzer Dez10

38

Figura 3 - Ativo da Light SESA(Fonte: www.light.com.br/ri, 2010, acesso em 22/11/2010)

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39

Figura 4 - Passivo da Light SESA(Fonte: www.light.com.br/ri, 2010, acesso em 22/11/2010)

Page 57: ADM Rodrigoscalzer Dez10

40

Figura 5 - DRE da Light SESA(Fonte: www.light.com.br/ri, 2010, acesso em 22/11/2010)

Page 58: ADM Rodrigoscalzer Dez10

41

Na figura abaixo é apresentada uma comparação da receita líquida nominal da empresa

anualmente entre 2005 e 2008:

Figura 6 - da Receita Líquida (Fonte: www.light.com.br/ri, 2010, acesso em 22/11/2010)

Figura 7 - Evolução do Custo (Fonte: www.light.com.br/ri, 2010, acesso em 22/11/2010)

Page 59: ADM Rodrigoscalzer Dez10

42

Conforme pode ser percebido através das figuras comparativas da receita líquida e dos custos,

a Light SESA não é uma empresa que sofre grandes variações operacionais de ano para ano.

Por ser uma empresa do setor de energia, e mais especificamente, da atividade de distribuição

de energia, além de ser fortemente regulada pela ANEEL, a empresa possui receitas

relativamente constantes ao longo do tempo. Assim, não se espera que os números contábeis

apresentados em suas respectivas demonstrações financeiras sofram variações grandes de um

ano para o outro.

Figura 8 - Evolução da Dívida Líquida (Fonte: www.light.com.br/ri, 2010, acesso em 22/11/2010)

A figura de evolução da dívida líquida demonstra um fator importante na história da Light

SESA. Após a aquisição do controle pela RME, a empresa sofreu um forte impacto gerencial,

adotando planos de valorização e reavendo diversas questões administrativas. Uma das

transformações observadas é a da redução relevante que ocorre na redução da dívida líquida e

da redução da relação dívida líquida/EBITDA, para patamares próximos a 1.

Page 60: ADM Rodrigoscalzer Dez10

43

6 ESTUDO DE CASO

Por estar dentro do escopo do ICPC 01, de acordo com a legislação societária brasileira a

Light SESA deverá fazer a aplicação da Interpretação até o exercício findo em 2010. Como

até a data do presente trabalho a adoção do ICPC 01 ainda não havia sido feita pela empresa,

neste trabalho será feita a adaptação das demonstrações contábeis da empresa, para que ela

fique em conformidade com as disposições apresentadas no ICPC 01.

A aplicação do ICPC 01 pela Light SESA irá substituir o valor do ativo imobilizado, fazendo

uma distribuição através do reconhecimento de ativo intangível e de ativo financeiro. Isso

decorre pelo fato de não haver no contrato de concessão da Light SESA, nem a transferência

de controle nem a transferência de propriedade sobre a infra-estrutura relacionada à atividade

de distribuição de energia elétrica. Assim, no final da concessão a infra-estrutura cedida à

Light SESA é revertida à União, representada pelo Ministério de Minas e Energia no contrato

de concessão. A Light SESA cumpre um papel de operadora da infra-estrutura, ou seja, uma

prestadora de serviço.

O ativo intangível originado pelo processo de redistribuição do imobilizado deve ser tratado

de acordo com o CPC 04 – Ativos Intangíveis. Por sua vez, o ativo financeiro deve ser

contabilizado em conformidade com o CPC 38 – Instrumentos Financeiros: Reconhecimento

e Mensuração.

Page 61: ADM Rodrigoscalzer Dez10

44

De acordo com o ICPC 01, o reconhecimento do ativo intangível deve ocorrer na medida em

que a Light SESA recebe o direito da União para poder cobrar dos usuários da energia elétrica

distribuída pela empresa. Vale ressaltar que esse ativo intangível deve ser amortizado no

máximo pelo prazo restante da concessão da Light SESA, podendo também ser amortizado

pelo prazo da vida útil econômica restante.

O ativo financeiro deve ser reconhecido quando a União tem “o direito contratual

incondicional de receber caixa ou outro ativo financeiro do concedente pelos serviços de

construção e/ou o concedente tem pouca ou nenhuma opção para evitar o pagamento,

normalmente porque o contrato é executável por lei”.

Por fim, os investimentos que a Light SESA fizer que estejam relacionados à aquisição,

construção ou melhoria da infraestrutura da distribuição de energia elétrica, dão origem a uma

Receita de Construção, em conformidade com o CPC 17 – Contratos de Construção. Essas

receitas devem ser mensuradas pelo seu valor justo.

6.1 O SETOR DE ENERGIA ELÉTRICA E O ICPC 01

A adoção do ICPC 01 pelas concessionárias de serviço público privadas no Brasil vem sendo

um processo bastante marcado por fortes divergências entre diversos agentes de diversos

setores, principalmente aqueles ligados ao setor de energia elétrica. Diversas empresas do

setor de energia, associações e a ANEEL, representando o agente regulador do setor de

energia, vem emitindo diversas opiniões quanto à adoção do ICPC 01 pelo setor de energia

elétrica no Brasil. Isso demonstra uma forte preocupação quanto à qualidade da informação

contábil que será gerada para os acionistas, bem como a preocupação com a informação

contábil gerada para finalidades regulatórias. Mais adiante será feita uma análise de como a

Page 62: ADM Rodrigoscalzer Dez10

45

adoção do ICPC 01 pode impactar a capacidade de distribuição de dividendos da empresa

para o seu acionista.

Em sua nota técnica nº 391, parágrafo 11, de 24 de setembro de 2009, a ANEEL relatou:

[...] No Brasil, embora a adoção das práticas contábeis internacionais por companhias reguladas pela CVM, já estava previsto para ocorrer em 2010, a Lei 11.638 antes citada, introduziu a obrigatoriedade de unificação dessas práticas com as adotadas no Brasil, para todas as empresas a partir do exercício de 2008, o que dificultará ainda mais a Fiscalização da Gestão Econômica e Financeira da concessão, pois substitui a forma pela essência e simplesmente elimina o ativo imobilizado vinculado à concessão do serviço público, e da forma que poderá vir a ser aplicado não representará a essência econômica do arcabouço legal regulatório tarifário, o que causará maior assimetria de informações junto ao mercado investidor e a sociedade em si.

A ANEEL demonstra sua forte preocupação quanto à confusão e a “maior assimetria de

informação” que pode ser gerada para os acionistas em virtude da adoção das novas normas

contábeis que vem sendo reproduzidas no Brasil com o objetivo de atingir a convergência às

normas internacionais de contabilidade (IFRS). Nessa mesma nota técnica, a ANEEL também

destaca diversas outras vezes sua preocupação quanto a real capacidade das normas contábeis

internacionais de evidenciar a essência econômica das atividades das concessionárias.

De acordo com a ANEEL (2009), a aplicação do ICPC01 pode distorcer a essência dos

números contábeis por diversos motivos, dentre eles:

• Registro de Ativo Financeiro: Não existe ainda nenhum critério definido sobre o valor

da indenização a ser feita à concessionária ao fim do contrato de concessão.

• Reconhecimento de Investimentos em Reposição como Despesa: Exceto pela parcela

que for indenizada, os investimentos em reposição/manutenção devem ser

classificados devidamente como despesa do respectivo exercício do período em que

forem incorridas.

Page 63: ADM Rodrigoscalzer Dez10

46

• Comprometimento da confrontação da receita com a despesa: Com o reconhecimento

da receita de construção, as receitas e despesas irão se confrontar de forma bem

diferente da prevista pela contabilidade regulatória atual da ANEEL.

• Depreciação do Imobilizado: Com o reconhecimento do ativo intangível e sua

respectiva amortização nos períodos subseqüentes ocorrerá um impacto significante no

resultado da empresa em relação ao impacto da depreciação que era contabilizada

através do imobilizado, uma vez que a amortização do intangível poderá passar a ser

feita com base no prazo restante da concessão.

As discordâncias da ANEEL quanto à aplicação do ICPC 01 são de tamanha relevância tanto

que em sua nota técnica nº 391 de 24 de setembro de 2009, com o objetivo de não incorrer nas

alterações contábeis geradas pelo IFRS, a ANEEL descreve que busca “Fundamentar a

proposta da instituição de uma contabilidade regulatória objetivando estabelecer normas

contábeis regulatórias [...]”.

6.2 A LIGHT SESA E O ICPC 01

Conforme citado, existem algumas dúvidas referentes a questões contábeis inerentes à

aplicação do ICPC 01 para as concessionárias de serviço público privadas. No caso da Light

SESA, uma questão de grande relevância é o reconhecimento do ativo financeiro por meio da

redistribuição do ativo imobilizado. Embora seja confirmada a existência de alguma

indenização a ser recebida no final da concessão, não existe em nenhum dispositivo legal,

alguma pré-disposição quanto à metodologia de avaliação dessa remuneração.

Page 64: ADM Rodrigoscalzer Dez10

47

No contrato de concessão da Light SESA, assinado junto ao Ministério de Minas e Energia

em 1996, na Cláusula Décima Primeira, segunda e terceira subcláusulas respectivamente, é

reafirmada a existência do direito de indenização da concessionária ao fim da concessão:

Segunda Subcláusula – Extinta a concessão, operar-se-á, de pleno direito, a reversão, ao PODER CONCEDENTE, dos bens vinculados e das prerrogativas conferidos à CONCESSIONÁRIA, procedendo-se aos levantamentos, avaliações e determinação do montante da indenização devida à CONCESSIONÁRIA, observados os valores e as datas de sua incorporação ao sistema elétrico. Terceira Subcláusula – Para efeito da reversão, consideram-se bens vinculados aqueles realizados pela CONCESSIONÁRIA e efetivamente utilizados na prestação de serviços.

Conforme observado na Segunda Subcláusula descrita anteriormente, torna-se bastante claro

que a Light SESA possui realmente o direito de receber alguma indenização do poder

concedente em troca dos ativos utilizados na concessão. Contudo, ao afirmar que essa

remuneração devida ao concessionário deva ser executada “...procedendo-se aos

levantamentos, avaliações e determinação do montante da indenização devida à

CONCESSIONÁRIA, observados os valores e as datas de sua incorporação ao sistema

elétrico.” o contrato de concessão da Light SESA deixa em aberto a real forma de mensurar o

valor do ativo financeiro disposto no ICPC01, por não definir qual metodologia deve ser

utilizada.

Page 65: ADM Rodrigoscalzer Dez10

48

6.2.1 A Adaptação das Demonstrações Contábeis da Light SESA

Nesta seção serão feitas as efetivas alterações nas demonstrações contábeis da Light SESA

referentes ao exercício do ano de 2008 para que fiquem em conformidade com as disposições

do ICPC 01. Vale ressaltar novamente que a escolha pelo ano de 2008 foi feita com base na

efetiva data de transição para o IFRS que ocorreria caso as demonstrações contábeis da Light

SESA fossem convertidas na data do presente trabalho. Os valores utilizados referentes às

contas das demonstrações contábeis estão dados em R$ mil, salvo disposição contrária.

6.2.1.1 Primeira Parte: Aplicação do ICPC 01 na Data Base 31/12/2007

Para fazer a conversão das demonstrações contábeis da Light SESA, primeiramente é

importante fazer a divisão do saldo do ativo imobilizado constante em 31/12/2007 no balanço

da empresa. Em tal data, o valor constante no balanço da empresa era de R$3.211.160.

Para fazer a divisão, e conseqüentemente, o desreconhecimento do imobilizado, e o posterior

reconhecimento de um ativo intangível e um ativo financeiro, é necessário fazer a depreciação

de todos os bens do imobilizado até o fim do prazo de concessão, que no caso da Light SESA,

se encerra em Junho do ano de 2026. Após a depreciação total do imobilizado, o ativo

financeiro será reconhecido de acordo com o valor residual do imobilizado não depreciado na

data do fim da concessão e posteriormente será corrigido por IGP-M periodicamente em cada

exercício. O valor restante do imobilizado atual será utilizado para fazer o reconhecimento do

ativo intangível, que será amortizado anualmente em parcelas iguais até o fim do prazo de

concessão que é Junho de 2026.

O cálculo da depreciação foi feito levando-se em consideração a base de dados retirada do

sistema de controle do imobilizado da Light SESA. Para fins de cálculo da depreciação foram

Page 66: ADM Rodrigoscalzer Dez10

49

utilizadas as taxas de depreciação e vida útil específica de cada tipo de item do imobilizado

conforme pré-determinados pela Resolução ANEEL n° 044 de 17 de março de 1999. Em

31/12/2007 o ativo imobilizado era dividido em 3 categorias: Distribuição, Administração e

Comercialização. Os montantes respectivos de cada categoria são apresentados a seguir.

Distribuição 2.986.570

Administração 157.691

Comercialização 66.899

Imobilizado total 3.211.160

Tabela 3 - Discriminação do Imobilizado (Elaborado pelo Autor) – R$ Mil

As taxas de depreciação utilizadas para os 37.892 itens da base de ativos da Light SESA estão

baseadas nas taxas de depreciação regulatórias determinadas pela ANEEL e divulgadas pela

Light SESA em suas demonstrações financeiras.

Utilizando a base de dados de ativos da Light SESA e as taxas de depreciação apresentadas,

de acordo com o exigido pela ANEEL, o valor da depreciação anual calculada para o

imobilizado até o fim da concessão da empresa é apresentado a seguir:

Page 67: ADM Rodrigoscalzer Dez10

50

Depreciação no ano (R$ mil) Meses de depreciação Saldo Imobilizado (R$ mil)

31/12/2007 3.211.160

31/12/2008 287.057 12 meses 2.924.103

31/12/2009 260.422 12 meses 2.663.681

31/12/2010 240.111 12 meses 2.423.570

31/12/2011 219.752 12 meses 2.203.817

31/12/2012 190.226 12 meses 2.013.591

31/12/2013 178.309 12 meses 1.835.282

31/12/2014 160.322 12 meses 1.674.959

31/12/2015 144.748 12 meses 1.530.211

31/12/2016 137.366 12 meses 1.392.845

31/12/2017 130.879 12 meses 1.261.966

31/12/2018 127.471 12 meses 1.134.495

31/12/2019 124.145 12 meses 1.010.349

31/12/2020 118.330 12 meses 892.019

31/12/2021 112.426 12 meses 779.593

31/12/2022 108.747 12 meses 670.845

31/12/2023 104.334 12 meses 566.511

31/12/2024 100.345 12 meses 466.166

31/12/2025 95.328 12 meses 370.837

30/06/2026 92.322 6 meses 278.515

Tabela 4 - Depreciação anual do imobilizado (Elaborado pelo Autor) – R$ Mil

Assim, após ser feita a depreciação dos bens constantes no ativo imobilizado da empresa, o

valor residual encontrado e, conseqüentemente o valor do ativo financeiro a ser reconhecido,

será de R$278.515:

Figura 9- Bifurcação Ativo Imobilizado 2007 (Elaborado pelo autor)

Page 68: ADM Rodrigoscalzer Dez10

51

Por conseqüência do cálculo do ativo financeiro, subtraindo dos R$3.211.160 do ativo

imobilizado em 31/12/2007 o valor do ativo financeiro a ser reconhecido no valor de

R$278.515, encontra-se o valor do ativo intangível a ser reconhecido que é o montante

referente à R$2.932.645. O ativo intangível será amortizado ao longo do prazo de concessão

da Light SESA, e o ativo financeiro será contabilizado de acordo com o CPC 38 –

Instrumentos Financeiros: Reconhecimento e Mensuração. Por fim, o ativo financeiro será

reajustado por IGP-M até o término da concessão.

6.2.1.2 Segunda Parte: Aplicação do ICPC 01 nos Investimentos da Light SESA realizados em 2008

De acordo com o ICPC 01, exceto pela parcela que for indenizada, os investimentos em

reposição e/ou manutenção devem ser classificados devidamente como despesa do respectivo

exercício do período em que forem incorridas. De outra forma, os investimentos de

construção ou melhoria devem ter o reconhecimento das respectivas receitas e custos em

conformidade com o CPC 17 – Contratos de Construção. A contrapartida do reconhecimento

das receitas dos investimentos de construção ou melhoria é o reconhecimento dos ativos

financeiro e/ou intangível.

Dentro desse contexto é fundamental segregar os investimentos que foram feitos pela Light

SESA em 2008 com a finalidade de construção ou melhoria (expansão), dos investimentos

que foram feitos com a finalidade de reposição ou manutenção (renovação). Os investimentos

em expansão são aqueles relacionados, por exemplo, à ligação de novos clientes na rede

básica de distribuição de energia, compra de software, novas tecnologias e aumento de carga.

Por sua vez, os investimentos em renovação são aqueles relacionados, por exemplo, a

manutenção da rede básica e substituições de peças.

Page 69: ADM Rodrigoscalzer Dez10

52

Em 2008 o total de investimentos feitos pela Light SESA foi da ordem de R$460.435, sendo

que desse valor, os investimentos classificados como sendo de expansão foram o

correspondente a R$133.501. Os investimentos classificados como sendo de renovação

corresponderam a R$326.934.

De acordo com o ICPC 01, o tratamento contábil para os R$133.501 referentes a

investimentos em expansão requerem o reconhecimento de uma receita e de um custo de

acordo com o CPC 17 – Contratos de Construção. De acordo com o CPC 17, a receita do

contrato deve ser mensurada pelo valor justo da contraprestação recebida ou a receber, assim,

a Light SESA deve incluir uma margem de contribuição sobre o valor referente a R$133.501.

Dentro desse contexto, o tratamento contábil referente aos investimentos de expansão

correspondentes a R$133.501 irão impactar a DRE da empresa com o reconhecimento de uma

receita correspondente aos R$133.501, adicionada da margem de contribuição, além do

reconhecimento de um custo correspondente aos R$133.501 na forma do custo original de

aquisição e instalação dos bens.

Para o cálculo da margem de contribuição utilizou-se o custo médio ponderado de capital

como premissa por se julgar que assim, a empresa estaria conseguindo remunerar suas

atividades operacionais trazendo retorno para os acionistas. O custo da dívida da Light SESA

em 31/12/2007 era 12,17% a.a., e a proporção do capital de terceiros era equivalente a

R$1.811.513. O capital próprio montava a R$2.691.799 e como custo de capital próprio dos

acionistas assumiu-se 17%a.a.. Utilizando tais premissas, encontrou-se um custo médio

ponderado de capital correspondente a 15,05%a.a.. Ao dividir o investimento em expansão

correspondente a R$133.501 por 0,8495 (1-0,1505), encontra-se a margem de contribuição a

ser contabilizada na forma de receita de construção

Page 70: ADM Rodrigoscalzer Dez10

53

Assim, o total de investimentos feitos pela Light SESA no ano de 2008 podem ser

discriminados da seguinte maneira:

Figura XX: Bifurcação Ativo Imobilizado 2007 (Fonte: Do Autor)

Figura 10 - Discriminação Total de Investimento 2008 (Elaborado pelo Autor)

Conforme descrito acima, a receita de construção reconhecida conforme descrito no ICPC 01

corresponde a R$157.152. De acordo com o ICPC 01, a contra partida dessa receita gera o

reconhecimento de ativo intangível e/ou financeiro. Para fazer o reconhecimento do ativo

intangível e financeiro foi feito o cálculo análogo ao da divisão do ativo imobilizado entre

intangível e financeiro. Assim, utilizou-se a mesma tabela de depreciação da ANEEL já

apresentada neste trabalho e depreciou-se os R$133.501 de investimentos em expansão até o

fim da concessão em junho de 2026. Ao encontrar um valor residual de R$18.917,

determinou-se o valor do ativo financeiro, de tal forma que o valor depreciado mais a margem

de contribuição montassem o valor de R$138.235.

Page 71: ADM Rodrigoscalzer Dez10

54

Figura 11 - Receita de Construção 2008 (Elaborado pelo Autor)

A amortização do intangível durante o exercício de 2008 será dado pela amortização do

intangível já reconhecido em 31/12/2007, adicionado da amortização dos R$138.235

correspondentes ao intangível reconhecido em 2008. O valor de R$2.932.645 correspondentes

ao intangível reconhecido no ano de 2007 gerará em 2008 uma amortização correspondente a

R$158.521 por meio do reconhecimento pro rata levando em consideração os 222 meses

restantes até junho de 2026. O acréscimo de R$138.235 ao ativo intangível em 2008 gerará

um incremento na amortização do intangível de R$4.411 que corresponde aos meses de

amortização de cada ativo específico durante o ano de 2008, iniciando a contagem a partir da

data em que tais ativos foram adquiridos

Por sua vez, o reconhecimento de R$18.917 adicionais ao ativo financeiro em 2008 gera um

impacto na atualização feita pelo IGP-M reconhecida no resultado que utilizava como base o

ativo financeiro de 31/12/2007. Abaixo são apresentados os dados de IGP-M para o ano de

2008:

Page 72: ADM Rodrigoscalzer Dez10

55

MêsVar. Mês

%Fator

Fator acumulado em 2008

12 dez/08 -0,13% 0,9987 1,098054 11 nov/08 0,38% 1,0038 1,099484 10 out/08 0,98% 1,0098 1,095321 9 set/08 0,11% 1,0011 1,084691 8 ago/08 -0,32% 0,9968 1,083500 7 jul/08 1,76% 1,0176 1,086978 6 jun/08 1,98% 1,0198 1,068178 5 mai/08 1,61% 1,0161 1,047439 4 abr/08 0,69% 1,0069 1,030842 3 mar/08 0,74% 1,0074 1,023778 2 fev/08 0,53% 1,0053 1,016258 1 jan/08 1,09% 1,0109 1,010900

Tabela 5 - IGP-M 2008 (Elaborado pelo Autor)

Ao multiplicar o fator acumulado em dez/2008 correspondente a 1,098054 no valor do ativo

financeiro reconhecido em 31/12/2007 correspondente ao valor de R$278.515, encontra-se

um valor de “Atualização do ativo financeiro base dez/07” de R$27.310. Por sua vez, o

incremento de atualização do ativo financeiro decorrido do acréscimo de R$18.917 gera um

impacto positivo na DRE correspondente a R$889, que pode ser encontrado aplicando-se um

fator médio de 1,046994 decorrente do cálculo de atualização de IGP-M para cada ativo

financeiro gerado por meio do investimento de expansão feito pela Light SESA em 2008,

considerando suas respectivas datas de originação.

6.3 ANÁLISE DOS IMPACTOS NAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS DA LIGHT SESA

Ao fazer as transformações necessárias nas demonstrações financeiras da Light SESA com o

objetivo de adequá-las ao ICPC 01, podem ser observadas algumas mudanças relevantes nos

demonstrativos financeiros da empresa.

Page 73: ADM Rodrigoscalzer Dez10

56

O quadro abaixo foi construído com o objetivo de demonstrar como os impactos da adoção do

ICPC 01 pela Light SESA no exercício de 2008 iria impactar sua demonstração do resultado

do exercício:

Tabela 6 - Impactos na DRE 2008 (Elaborado pelo Autor)

Como pode ser observado no quadro acima, dentre os impactos classificados como sendo

“Abaixo do EBITDA”, a depreciação do exercício de 2008 aparece com um impacto positivo

de R$287.057 devido ao fato de ter havido o desreconhecimento do ativo imobilizado com o

reconhecimento dos ativos intangível e financeiro. Assim, o valor de depreciação que existia

relacionada ao ativo imobilizado deixa de existir e captura-se um “ganho” com a aplicação do

ICPC 01.

Em contrapartida, o reconhecimento do ativo intangível gera uma amortização anual até o fim

do prazo de concessão referente à R$158.521, e assim, um impacto negativo nesse montante é

reconhecido em decorrência da adoção do ICPC 01. Da mesma maneira, também é capturada

uma “perda” de R$4.411, originado da amortização do intangível que foi adicionado no

exercício de 2008 com contrapartida da receita de construção.

Page 74: ADM Rodrigoscalzer Dez10

57

Da mesma maneira que o ativo intangível, o reconhecimento do ativo financeiro ocasionado

com o desreconhecimento do ativo imobilizado gera impactos na DRE que eram inexistentes

quando o ativo imobilizado era contabilizado antes da adoção do ICPC 01. Dessa forma, com

a atualização do IGP-M sobre o ativo financeiro é reconhecido um “ganho” de R$27.310

sobre o saldo do ativo financeiro de 2007, além de R$889 referente a atualização do ativo

financeiro originado durante o exercício de 2008 com contrapartida da receita de construção.

Dentre os impactos classificados como sendo “Acima do EBITDA”, com a adoção do ICPC

01, foi reconhecida uma receita de construção no valor de R$157.153 e um custo de

construção de R$133.501.

Devido ao fato de o ICPC 01 exigir que os investimentos de reposição sejam contabilizados

como despesa, a Light SESA teve que reconhecer uma despesa de R$326.934 em sua DRE.

Devido ao fato de a soma de todos os impactos antes do imposto de renda ter sido negativa,

pode-se considerar que houve uma economia de Imposto de Renda de 34% sobre essa soma.

Assim, sendo a soma dos impactos igual a um efeito negativo de R$150.958, multiplicando

34% sobre esse valor encontra-se uma economia de Imposto de Renda no valor de R$51.326.

Por fim, ao somar todos os impactos inclusive o efeito de economia do Imposto de Renda,

encontra-se que a adoção do ICPC 01 gera um impacto negativo de R$99.632 sobre o

Resultado Líquido da Light SESA no ano de 2008.

Dentro desse contexto, ao fazer todos os ajustes decorrentes da adoção do ICPC 01 pela Light

SESA, a Demonstração do Resultado do Exercício da empresa antes e depois da adoção do

ICPC 01 fica da seguinte maneira:

Page 75: ADM Rodrigoscalzer Dez10

58

Tabela 7 - DRE modificada 2008 (Elaborado pelo Autor)

Utilizando-se dos ajustes já acima explicitados pode-se observar linha a linha qual foi o

impacto que adoção do ICPC 01 trouxe na DRE de 2008 da Light SESA. O impacto negativo

de R$99.632 no lucro líquido faz com que o mesmo lucro líquido caia do valor de R$947.419

para o valor de R$847.787, um decréscimo de 10,5%.

Finalmente, vale ressaltar que a adoção do ICPC 01 não gera impactos nos fluxos de caixa da

empresa devido ao fato de não ocorrer nenhuma alteração nas atividades operacionais da

empresa. As alterações ocasionadas pelo ICPC 01 geram impactos contábeis nas

demonstrações contábeis, e conseqüentemente, na informação divulgada pela empresa.

Um impacto relevante que a adoção do ICPC 01 pode ter com relação aos acionistas diz

respeito a distribuição de dividendos. Uma vez que o lucro societário divulgado pela

contabilidade é utilizado como base para o cálculo da distribuição de dividendos, uma

redução ou acréscimo no lucro líquido da empresa gera aumento ou diminuição na capacidade

da empresa em distribuir dividendos. Nos anos de 2007 e 2008 a Light distribuiu

Page 76: ADM Rodrigoscalzer Dez10

59

respectivamente, 67% do lucro líquido e 52,7% do lucro líquido. Se levarmos em

consideração a redução do lucro líquido gerada pela adoção do ICPC 01 apresentada neste

trabalho e as porcentagens de distribuição de lucro líquido dos anos de 2007 e 2008, será

observada uma redução de R$66.753 (67% x 99.632) e R$52.506 (52,7% x 99.632).

A adoção do ICPC 01 também gera alteração significante no balanço da empresa. Conforme

apresentado no quadro abaixo, todo o ativo imobilizado da empresa é baixado e passa a ser

reconhecido o ativo intangível e o ativo financeiro:

Ativo 2007 - Antes do ICPC 01 Efeito da adoção 2007 - Depois do ICPC 01

Imobilizado 3.211.160 (3.211.160) 0

Ativo Intangível 167.609 2.932.645 3.100.254

Ativo Financeiro (mantido até o vencimento) 0 278.515 278.515

Ativo Total 10.187.791 0 10.187.791

Passivo 7.641.728 0 7.641.728

Patrimônio Líquido 2.546.063 0 2.546.063

Total Passivo + PL 10.187.791 0 10.187.791

Tabela 8 - Análise das alterações no balanço 2007 (Elaborado pelo Autor)

Page 77: ADM Rodrigoscalzer Dez10

60

7 CONCLUSÃO

O objetivo deste trabalho foi analisar os impactos que a adoção do ICPC 01 poderia gerar nas

demonstrações contábeis das empresas concessionárias de serviço público privadas. Para

tanto, foi feito um estudo de caso com uma empresa de grande relevância no cenário

brasileiro: a Light SESA.

O ICPC 01 é uma interpretação técnica correlacionada ao IFRIC 12 e tem como objetivo

orientar os concessionários de serviços públicos sobre a forma de contabilizar direitos e

obrigações relacionados à atividade de concessão. Foi observado que apenas os contratos que

se enquadram nos dois requisitos seguintes são aplicáveis pelo ICPC 01: (i) o concedente

controla ou regulamenta quais serviços o concessionário deve prestar com a infraestrutura,

para quem os serviços devem ser prestados e o seu preço; e (ii) o concedente detém o direito

sobre quaisquer participação residual significativa na infraestrutura no final do prazo de

concessão. Vale ressaltar que, no que se refere a infraestrutura utilizada pelo concessionário,

a interpretação se aplica: (i) à infraestrutura construída ou adquirida junto a terceiros pelo

concessionário para cumprir o contrato de prestação de serviços; ou (ii) à infraestrutura já

existente, que o concedente repassa durante o prazo contratual ao concessionário para efeitos

de cumprimento do contrato de prestação de serviços.

Page 78: ADM Rodrigoscalzer Dez10

61

Ao longo do texto foi possível observar que podem existir conflitos de interesse entre o

regulador de um determinado setor e o órgão normatizador da contabilidade. No caso deste

trabalho, trata-se de ANEEL e CPC. A ANEEL possui interesses em regular o setor de

energia determinando tarifas e fiscalizando as atividades operacionais das empresas de

energia, enquanto que o CPC busca manter sua proposta de unificar a contabilidade brasileira

ao padrão internacional de contabilidade (IFRS) por acreditar que, desta maneira, estará

criando um padrão contábil de melhor qualidade no Brasil, e que possa reduzir a assimetria

informacional existente entre os diversos usuários da informação contábil.

Uma vez que a ANEEL busca fiscalizar as empresas do setor, há uma tendência para que ela

defenda normas contábeis mais objetivas, com menor grau de julgamento, que facilitem o seu

poder de ação como órgão regulador. Em contra partida, o CPC ao buscar um padrão de

contabilidade de melhor qualidade, opta por dar maior preferência a políticas contábeis que

enfatizem a essência econômica. Ao longo deste trabalho, foi possível observar algumas

posições contrárias da ANEEL quanto à adoção do ICPC 01 no Brasil, enquanto que

evidências da adoção na Europa demonstraram que investidores aprovaram a adoção do

IFRIC 12 pelas empresas deste continente.

A adoção do ICPC 01 está em acordo com o arcabouço conceitual do IASB que defende a

essência sobre a forma dos números contábeis. Assim, uma empresa de aviação comercial que

faça o arrendamento de seus aviões, embora não seja a proprietária jurídica desses aviões,

deve reconhecê-los em seu ativo, uma vez que a essência econômica deve se sobrepor à forma

jurídica, já que os benefícios econômicos futuros pela utilização dos aviões permanecerão

com a empresa de aviação comercial.

Page 79: ADM Rodrigoscalzer Dez10

62

Embora encontre resistência de vários órgãos reguladores e de algumas empresas, o CPC se

mantêm firme quanto a pretensão de implantar o IFRS no Brasil. A adoção do ICPC 01,

mesmo sendo contrariada pela ANEEL, é uma evidência relevante dessa perseguição do CPC.

O IFRIC 12 correlacionado com o ICPC 01 é um dos documento emitidos pelo IASB que

mais afetam os balanços das empresas que estão dentro de seu escopo, e apesar de todas as

diferenças culturais e do sistema jurídico brasileiro em relação ao de países como a Inglaterra,

por exemplo, o CPC se mantêm firme em sua posição.

Para ser feito o estudo de caso proposto neste trabalho, foi estudado cada tópico disposto na

interpretação técnica ICPC 01 e analisado como poderia ser feita a aplicação da mesma na

empresa Light SESA.

Os resultados empíricos encontrados no estudo de caso demonstram que a contabilidade pode

representar um evento econômico de diversas maneiras dependendo da política contábil e da

norma utilizada, mesmo sem que haja alterações nas atividades operacionais das empresas.

Com a adoção do ICPC 01, as demonstrações financeiras da Light SESA tiveram impactos

significativos. No balanço da empresa, o ativo imobilizado de R$3.211.160, que representa

31,5% do ativo total da empresa, se reduz a zero para dar lugar ao reconhecimento de um

ativo intangível de R$2.932.645 e de um ativo financeiro de R$278.515. Na demonstração do

resultado do exercício, a depreciação do imobilizado de R$287.057 dá lugar a uma

amortização de R$162.932 do ativo intangível. A amortização do intangível que se mantêm

constante até o fim da concessão da empresa se torna benéfica nos primeiros anos logo após a

adoção do ICPC 01 e prejudicial para a empresa em anos posteriores, uma vez que a

depreciação do imobilizado tem uma tendência decrescente em decorrência dos bens que vão

se tornando 100% depreciados ao longo do tempo.

Page 80: ADM Rodrigoscalzer Dez10

63

Um impacto de forte relevância na DRE da empresa foi a contabilização de investimentos em

renovação como despesa, ao invés do antigo reconhecimento como ativo imobilizado. Tal

contabilização gerou um impacto negativo de R$ 326.934 no resultado. Uma outra diferença

de contabilização em relação ao modelo de contabilização anterior foi o reconhecimento de

uma margem de contribuição no reconhecimento de receita de construção da empresa, o que

gerou um incremento de R$23.651.

Finalmente, foi possível concluir com este trabalho que a capacidade de distribuição de

dividendos de uma empresa pode ser reduzida com a adoção do ICPC 01, uma vez que o seu

lucro líquido pode sofrer um impacto negativo relevante. No caso da Light SESA, o

decréscimo do lucro líquido foi da ordem de 10,5%.

Este trabalho concluiu que a adoção do ICPC 01 pelas empresas pode gerar impactos

contábeis e financeiros relevantes nas empresas.

Futuramente, podem ser sugeridas diversas pesquisas que avaliem como a adoção do ICPC 01

pode impactar diversos fatores no Brasil. A exemplo de estudos feitos nos Estados Unidos e

na Europa, conforme citados nas referências deste trabalho, podem ser feitas pesquisas que

busquem associar diversos fatores a adoção do IFRS: percepção dos investidores, possível

redução de custo de capital, volatilidade da ação da empresa, aumento do endividamento,

dentre outros.

A adoção do IFRS é um movimento internacional que vem ganhando cada vez mais força e

que já há evidências na literatura acadêmica quanto a sua relevância para investidores,

empresas, empregados, órgãos reguladores, credores, administradores, dentre outros. Devido a

Page 81: ADM Rodrigoscalzer Dez10

64

forte relevância do tema, espera-se que surjam cada vez mais trabalhos relacionados a este

assunto, tanto na literatura nacional quanto internacional.

Page 82: ADM Rodrigoscalzer Dez10

65

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Page 85: ADM Rodrigoscalzer Dez10

68

ANEXO A: INTERPRETAÇÃO TÉCNICA ICPC 01

Page 86: ADM Rodrigoscalzer Dez10

ICPC_01

COMITÊ DE PRONUNCIAMENTOS CONTÁBEIS

INTERPRETAÇÃO TÉCNICA ICPC 01

Contratos de Concessão

Correlação às Normas Internacionais de Contabilidade – IFRIC 12

Índice Item

REFERÊNCIAS

HISTÓRICO 1 – 3

ALCANCE 4 – 9

ASSUNTOS TRATADOS 10

CONSENSO 11 - 27

Tratamento dos direitos do concessionário sobre a infra-estrutura 11

Reconhecimento e mensuração do contrato 12 – 13

Serviços de construção ou melhoria 14

Valor pago pelo concedente ao concessionário 15 – 19

Serviços de operação 20

Obrigações contratuais de recuperação da infra-estrutura a um nível específico de

operacionalidade

21

Custos de empréstimos incorridos pelo concessionário 22

Ativo financeiro 23 – 25

Ativo intangível 26

Itens fornecidos ao concessionário pelo concedente 27

APRESENTAÇÃO E DIVULGAÇÃO 28 – 30

DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS 31 – 32

ANEXO A: GUIA DE APLICAÇÃO

NOTA INFORMATIVA 1

NOTA INFORMATIVA 2

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ICPC_01

2

EXEMPLOS ILUSTRATIVOS

Referências

Estrutura Conceitual para a Elaboração e Apresentação das Demonstrações

Contábeis

CPC 37 – Adoção Inicial das IFRSs

CPC 40 – Instrumentos Financeiros: Evidenciação

CPC 23 – Políticas Contábeis, Mudança de Estimativa e Retificação de Erro

CPC 17 – Contratos de Construção

CPC 27 – Ativo Imobilizado

CPC 06 – Operações de Arrendamento Mercantil

CPC 30 – Receitas

CPC 07 – Subvenção e Assistência Governamentais

CPC 20 – Custos de Empréstimos

CPC 39 – Instrumentos Financeiros: Apresentação

CPC 01 – Redução ao Valor Recuperável de Ativos

CPC 25 – Provisões, Passivos Contingentes e Ativos Contingentes

CPC 04 – Ativo Intangível

CPC 38 – Instrumentos Financeiros: Reconhecimento e Mensuração

ICPC 03 - Aspectos Complementares das Operações de Arrendamento Mercantil,

parte A: Determinação se um Contrato contém Arrendamento

Page 88: ADM Rodrigoscalzer Dez10

ICPC_01

3

Histórico

1. A infra-estrutura de serviços públicos – tais como estradas, pontes, túneis, prisões,

hospitais, aeroportos, redes de distribuição de água, redes de distribuição de

energia e de telecomunicações – historicamente foi construída, operada e mantida

pelo setor público e financiada por meio de dotações orçamentárias.

2. Ao longo do tempo os governos introduziram contratos de prestação de serviços

para atrair a participação do setor privado no desenvolvimento, financiamento,

operação e manutenção dessa infra-estrutura. A infra-estrutura pode já existir ou

ser construída durante a vigência do contrato de serviço. Os contratos dentro do

alcance da presente Interpretação geralmente envolvem uma entidade privada

(concessionário) que constroi a infra-estrutura usada para prestar os serviços

públicos ou melhorá-la (por exemplo, aumento da capacidade), além de operá-la e

mantê-la durante prazo específico. O concessionário recebe pelos serviços durante

a vigência do contrato. O contrato é regido por documento formal que estabelece

níveis de desempenho, mecanismos de ajuste de preços e resolução de conflitos

por via arbitral. Tal contrato pode ser descrito como “construir-operar-transferir”

ou “recuperar-operar-transferir” ou contrato de concessão de serviço público a

entidades do setor privado.

3. Uma característica desses contratos de prestação de serviços é sua natureza de

serviço público, que fica sob a responsabilidade do concessionário. A política

pública aplica-se a serviços a prestar ao público, relacionados à infra-estrutura,

independentemente da identidade do prestador. O contrato de prestação de serviços

obriga expressamente o concessionário a prestar os serviços à população em nome

do órgão público. Outras características comuns são:

(a) a parte que concede o contrato de prestação de serviços (concedente) é um

órgão público ou uma entidade pública, ou entidade privada para a qual foi

delegado o serviço;

(b) o concessionário é responsável ao menos por parte da gestão da infra-

estrutura e serviços relacionados, não atuando apenas como mero agente, em

nome do concedente;

(c) o contrato estabelece o preço inicial a ser cobrado pelo concessionário,

regulamentando suas revisões durante a vigência desse contrato de prestação

de serviços;

(d) o concessionário fica obrigado a entregar a infra-estrutura ao concedente em

determinadas condições especificadas no final do contrato, por pequeno ou

Page 89: ADM Rodrigoscalzer Dez10

ICPC_01

4

nenhum valor adicional, independentemente de quem tenha sido o seu

financiador.

Alcance

4. Esta Interpretação orienta os concessionários sobre a forma de contabilização de

concessões de serviços públicos a entidades privadas.

5. Esta Interpretação é aplicável a concessões de serviços públicos a entidades

privadas caso:

(a) o concedente controle ou regulamente quais serviços o concessionário deve

prestar com a infra-estrutura, a quem os serviços devem ser prestados e o seu

preço; e

(b) o concedente controle – por meio de titularidade, usufruto ou de outra forma

– qualquer participação residual significativa na infra-estrutura no final do

prazo da concessão.

6. A infra-estrutura utilizada na concessão de serviços públicos a entidades privadas

durante toda a sua vida útil (toda a vida do ativo) ou durante a fase contratual está

dentro do alcance desta Interpretação se atendidas as condições descritas no item

5(a). Os itens GA1 a GA8 orientam sobre como determinar se e até que ponto as

concessões de serviços públicos a entidades privadas estão dentro do alcance desta

Interpretação.

7. Esta Interpretação aplica-se:

(a) à infra-estrutura construída ou adquirida junto a terceiros pelo concessionário

para cumprir o contrato de prestação de serviços; e

(b) à infra-estrutura já existente, que o concedente repassa durante o prazo

contratual ao concessionário para efeitos do contrato de prestação de serviços.

8. Esta Interpretação não especifica como contabilizar a infra-estrutura detida e

registrada como ativo imobilizado pelo concessionário antes da celebração do

contrato de prestação de serviços. Essa infra-estrutura está sujeita às disposições

sobre baixa de ativo imobilizado, estabelecidas no Pronunciamento Técnico CPC

27.

9. Esta Interpretação não trata da contabilização pelos concedentes.

Page 90: ADM Rodrigoscalzer Dez10

ICPC_01

5

Assuntos tratados

10. Esta Interpretação estabelece os princípios gerais sobre o reconhecimento e a

mensuração das obrigações e os respectivos direitos dos contratos de concessão.

Os assuntos tratados nesta Interpretação são os seguintes:

(a) tratamento dos direitos do concessionário sobre a infra-estrutura;

(b) reconhecimento e mensuração do valor do contrato;

(c) serviços de construção ou melhoria;

(d) serviços de operação;

(e) custos de empréstimos;

(f) tratamento contábil subsequente de ativo financeiro e de ativo intangível; e

(g) itens fornecidos ao concessionário pelo concedente.

Consenso

Tratamento dos direitos do concessionário sobre a infra-estrutura

11. A infra-estrutura dentro do alcance desta Interpretação não será registrada como

ativo imobilizado do concessionário porque o contrato de concessão não transfere

ao concessionário o direito de controle (muito menos de propriedade) do uso da

infra-estrutura de serviços públicos. É prevista apenas a cessão de posse desses

bens para realização dos serviços públicos, sendo eles revertidos ao concedente

após o encerramento do respectivo contrato. O concessionário tem acesso para

operar a infra-estrutura para a prestação dos serviços públicos em nome do

concedente, nas condições previstas no contrato.

Reconhecimento e mensuração do valor do contrato

12. Nos termos dos contratos de concessão dentro do alcance desta Interpretação, o

concessionário atua como prestador de serviço. O concessionário constroi ou

melhora a infra-estrutura (serviços de construção ou melhoria) usada para prestar

um serviço público e opera e mantém essa infra-estrutura (serviços de operação)

durante determinado prazo.

13. O concessionário deve registrar e mensurar a receita dos serviços que presta de

acordo com os Pronunciamentos Técnicos CPC 17 – Contratos de Construção e

CPC 30 - Receitas. Caso o concessionário realize mais de um serviço (p.ex.,

serviços de construção ou melhoria e serviços de operação) regidos por um único

contrato, a remuneração recebida ou a receber deve ser alocada com base nos

valores justos relativos dos serviços prestados caso os valores sejam identificáveis

separadamente. A natureza da remuneração determina seu subsequente tratamento

Page 91: ADM Rodrigoscalzer Dez10

ICPC_01

6

contábil. Os itens 23 a 26 a seguir detalham o registro subsequente da remuneração

recebida como ativo financeiro e como ativo intangível.

Serviços de construção ou melhoria

14. O concessionário deve contabilizar receitas e custos relativos a serviços de

construção ou melhoria de acordo com o Pronunciamento Técnico – CPC 17.

Valor pago pelo concedente ao concessionário

15. Se o concessionário presta serviços de construção ou melhoria, a remuneração

recebida ou a receber pelo concessionário deve ser registrada pelo seu valor justo.

Essa remuneração pode corresponder a direitos sobre:

(a) um ativo financeiro; ou

(b) um ativo intangível.

16. O concessionário deve reconhecer um ativo financeiro à medida em que tem o

direito contratual incondicional de receber caixa ou outro ativo financeiro do

concedente pelos serviços de construção; o concedente tem pouca ou nenhuma

opção para evitar o pagamento, normalmente porque o contrato é executável por

lei. O concessionário tem o direito incondicional de receber caixa se o concedente

garantir em contrato o pagamento (a) de valores preestabelecidos ou determináveis

ou (b) insuficiência, se houver, dos valores recebidos dos usuários dos serviços

públicos com relação aos valores preestabelecidos ou determináveis, mesmo se o

pagamento estiver condicionado à garantia pelo concessionário de que a infra-

estrutura atende a requisitos específicos de qualidade ou eficiência.

17. O concessionário deve reconhecer um ativo intangível à medida em que recebe o

direito (autorização) de cobrar os usuários dos serviços públicos. Esse direito não

constitui direito incondicional de receber caixa porque os valores são

condicionados à utilização do serviço pelo público.

18. Se os serviços de construção do concessionário são pagos parte em ativo financeiro

e parte em ativo intangível, é necessário contabilizar cada componente da

remuneração do concessionário separadamente. A remuneração recebida ou a

receber de ambos os componentes deve ser inicialmente registrada pelo seu valor

justo recebido ou a receber.

19. A natureza da remuneração paga pelo concedente ao concessionário deve ser

determinada de acordo com os termos do contrato e, quando houver, legislação

aplicável.

Page 92: ADM Rodrigoscalzer Dez10

ICPC_01

7

Serviços de operação

20. O concessionário deve contabilizar receitas e custos relativos aos serviços de

operação de acordo com o Pronunciamento Técnico – CPC 30.

Obrigações contratuais de recuperação da infra-estrutura a um nível

específico de operacionalidade

21. O concessionário pode ter obrigações contratuais que devem ser atendidas no

âmbito da sua concessão (a) para manter a infra-estrutura com um nível específico

de operacionalidade ou (b) recuperar a infra-estrutura na condição especificada

antes de devolvê-la ao concedente no final do contrato de serviço. Tais obrigações

contratuais de manutenção ou recuperação da infra-estrutura, exceto eventuais

melhorias (ver item 14), devem ser registradas e avaliadas de acordo com o

Pronunciamento Técnico CPC 25 – Provisões, Passivos Contingentes e Ativos

Contingentes, ou seja, pela melhor estimativa de gastos necessários para liquidar a

obrigação presente na data do balanço. E isso tanto no caso de concessão

reconhecida como ativo financeiro, como ativo intangível ou como parte de uma

forma e parte de outra.

Custos de empréstimos incorridos pelo concessionário

22. De acordo com o Pronunciamento Técnico CPC 20 – Custos de Empréstimos, os

custos de empréstimos atribuíveis ao contrato de concessão devem ser registrados

como despesa no período em que são incorridos, a menos que o concessionário

tenha o direito contratual de receber um ativo intangível (direito de cobrar os

usuários dos serviços públicos). Nesse caso, custos de empréstimos atribuíveis ao

contrato de concessão devem ser capitalizados durante a fase de construção, de

acordo com aquele Pronunciamento Técnico.

Ativo financeiro

23. As disposições contábeis aplicáveis a instrumentos financeiros (Pronunciamentos

Técnicos CPC 38, CPC 39 e CPC 40) aplicam-se ao ativo financeiro registrado nos

termos dos itens 16 e 18.

24. O valor devido, direta ou indiretamente, pelo concedente é contabilizado de acordo

com o Pronunciamento Técnico CPC 38 – Instrumentos Financeiros:

Reconhecimento e Mensuração como:

(a) empréstimo ou recebível;

(b) ativo financeiro disponível para venda; ou

Page 93: ADM Rodrigoscalzer Dez10

ICPC_01

8

(c) ativo financeiro pelo valor justo por meio do resultado, caso sejam atendidas

as condições para tal classificação.

25. Se o valor devido pelo concedente é contabilizado como empréstimo ou recebível

ou ativo financeiro disponível para venda, o Pronunciamento Técnico CPC 38

exige que a parcela referente aos juros calculados com base no método de taxa

efetiva de juros seja reconhecida no resultado.

Ativo intangível

26. O Pronunciamento Técnico CPC 04 – Ativo Intangível é aplicável ao ativo

intangível registrado de acordo com os itens 17 e 18. Os itens 44 a 46 desse mesmo

Pronunciamento fornecem orientação sobre a mensuração de ativos intangíveis

adquiridos em troca de um ativo ou de ativos não monetários ou de uma

combinação de ativos monetários e não monetários.

Itens fornecidos ao concessionário pelo concedente

27. De acordo com o item 11, a infra-estrutura a que o concedente dá acesso ao

concessionário para efeitos do contrato de concessão não pode ser registrada como

ativo imobilizado do concessionário. O concedente também pode fornecer outros

ativos ao concessionário, que pode retê-los ou negociá-los, se assim o desejar. Se

esses outros ativos fazem parte da remuneração a pagar pelo concedente pelos

serviços, não constituem subvenções governamentais, tal como são definidas no

Pronunciamento Técnico CPC 07 – Subvenção e Assistência Governamentais.

Esses outros ativos devem ser registrados como ativos do concessionário,

avaliados pelo valor justo no seu reconhecimento inicial. O concessionário deve

registrar um passivo relativo a obrigações não cumpridas que ele tenha assumido

em troca desses outros ativos.

Apresentação e divulgação

28. Todos os aspectos de contrato de concessão devem ser considerados para

determinar as divulgações e notas adequadas. O concessionário deve divulgar o

seguinte ao fim de cada período:

(a) descrição do contrato;

(b) termos significativos do contrato que possam afetar o valor, o prazo e a

certeza dos fluxos de caixa futuros (por exemplo, período da concessão, datas

de reajustes nos preços e bases sobre as quais o reajuste ou revisão serão

determinados);

Page 94: ADM Rodrigoscalzer Dez10

ICPC_01

9

(c) natureza e extensão (por exemplo, quantidade, prazo ou valor, conforme o

caso) de:

(i) direitos de uso de ativos especificados;

(ii) obrigação de prestar serviços ou direitos de receber serviços;

(iii) obrigações para adquirir ou construir itens da infra-estrutura da

concessão;

(iv) obrigação de entregar ou direito de receber ativos especificados no

final do prazo da concessão;

(v) opção de renovação ou de rescisão; e

(vi) outros direitos e obrigações (por exemplo, grandes manutenções

periódicas);

(d) mudanças no contrato ocorridas durante o período; e

(e) como o contrato de concessão foi classificado: ativo financeiro e/ou ativo

intangível.

29. O concessionário deve divulgar o total da receita e lucros ou prejuízos

reconhecidos no período decorrentes da prestação de serviços de construção, em

troca de ativo financeiro ou ativo intangível.

30. As divulgações requeridas de acordo com os itens 28 e 29 desta Interpretação

devem ser feitas para cada contrato de concessão individual ou para cada classe de

contratos de concessão. Uma classe é o agrupamento de contratos de concessão

envolvendo serviços de natureza similar (por exemplo, arrecadação de pedágio,

serviços de telecomunicações e tratamento de água).

Disposições transitórias

31. Sujeitas ao item 32, as alterações nas práticas contábeis devem ser contabilizadas

de acordo com o Pronunciamento Técnico CPC 23 – Políticas Contábeis, Mudança

de Estimativa e Retificação de Erro, ou seja, retroativamente.

32. Se, nos termos de qualquer contrato de concessão em particular, for impraticável

para o concessionário a aplicação retroativa desta Interpretação no início do

período mais antigo apresentado, este deve:

(a) registrar os ativos financeiros e os ativos intangíveis existentes no início do

período mais antigo apresentado;

(b) utilizar os valores contábeis anteriores dos ativos financeiros e intangíveis

Page 95: ADM Rodrigoscalzer Dez10

ICPC_01

10

(não importando a sua classificação anterior) como os seus valores contábeis

naquela data; e

(c) testar o valor recuperável dos ativos financeiros e intangíveis reconhecidos

naquela data, a menos que isso seja impraticável, sendo que nesse caso a

perda de valor residual deve ser testada no início do período corrente.

Page 96: ADM Rodrigoscalzer Dez10

ICPC_01

11

Guia de Aplicação

Este anexo é parte integrante da Interpretação.

Alcance (item 4)

GA1. O item 5 desta Interpretação especifica que a infra-estrutura está dentro do

alcance da Interpretação quando se verificam as seguintes condições:

(a) o concedente controla ou regulamenta quais serviços o concessionário deve

prestar com a infra-estrutura, a quem os serviços devem ser prestados e o

preço; e

(b) o concedente controla – por meio de titularidade, usufruto ou de outra forma

– qualquer participação residual significativa na infra-estrutura no final da

vigência do contrato de concessão.

GA2. O controle ou regulamentação mencionados na condição (a) podem estar

previstos em contrato ou de outra forma (como por meio de agência reguladora)

e incluem os casos em que o concedente adquire toda a produção ou serviço,

assim como aqueles em que toda ou parte da produção ou serviço é adquirida

por outros usuários. Ao aplicar esta condição, o concedente e quaisquer partes

relacionadas devem ser considerados em conjunto. Se o concedente é entidade

do setor público, o setor público como um todo, junto com quaisquer agências

reguladoras agindo no interesse público, deve ser considerado parte relacionada

do concedente para efeitos desta Interpretação.

GA3. Para efeitos da condição (a), o concedente não necessita deter o controle total do

preço: é suficiente que o preço seja regulamentado pelo concedente, por

contrato ou agência reguladora, por exemplo, mecanismo de teto. No entanto, a

condição deve ser aplicada à essência do contrato. Características não

essenciais, como teto aplicável só em circunstâncias remotas, devem ser

ignoradas. Inversamente, por exemplo, em contrato que dá ao concessionário

liberdade para fixar preços, mas eventuais lucros excessivos são devolvidos ao

concedente, há um teto para o retorno do concessionário e o elemento preço do

teste de controle é atendido.

GA4. Para efeitos da condição (b), o controle do concedente sobre qualquer

participação residual significativa deve restringir a capacidade prática do

concessionário para vender ou caucionar a infra-estrutura e dar ao concedente o

direito permanente de usá-la durante o prazo do contrato de concessão. A

participação residual na infra-estrutura é o valor corrente estimado da infra-

estrutura como se ela já tivesse o tempo de vida e a condição esperada no final

Page 97: ADM Rodrigoscalzer Dez10

ICPC_01

12

do prazo do contrato de concessão.

GA5. O controle dever ser distinguido de administração. Caso o concedente retenha o

grau de controle descrito no item 5(a) e qualquer participação residual

significativa na infra-estrutura, o concessionário apenas gerencia a infra-

estrutura em nome do concedente – ainda que, em muitos casos, possa ter ampla

independência administrativa.

GA6. As condições (a) e (b) juntas identificam quando a infra-estrutura, inclusive

quaisquer substituições necessárias (ver item 21), é controlada pelo concedente

durante toda a sua vida econômica. Por exemplo, se o concessionário tem que

substituir parte de item da infra-estrutura durante o prazo do contrato de

concessão (p.ex., a camada de asfalto de estrada ou o telhado de prédio), o item

da infra-estrutura deve ser considerado como um todo. Portanto, a condição (b)

é atendida para a totalidade da infra-estrutura, inclusive a parte substituída, se o

concedente detenha participação residual significativa na substituição final

dessa parte.

GA7. Às vezes, o uso da infra-estrutura é parcialmente regulado conforme descrito

no item 5(a), e parcialmente não-regulado. Entretanto, tais contratos têm

diferentes formas:

(a) qualquer infra-estrutura fisicamente separável e capaz de ser operada

independentemente, que atenda a definição de unidade geradora de caixa,

conforme definida no Pronunciamento Técnico CPC 01 – Redução ao Valor

Recuperável de Ativos, deve ser analisada separadamente se for utilizada na

totalidade para fins não-regulados. Por exemplo, isso pode ser aplicado à ala

privada de hospital, em que o restante do hospital é utilizado pelo

concedente para atender pacientes do serviço público;

(b) quando atividades puramente acessórias (como, por exemplo, loja dentro de

hospital) não são reguladas, os testes de controle devem ser aplicados como

se esses serviços não existissem, porque nos casos em que o concedente

controla os serviços na forma descrita no item 5, a existência de atividades

acessórias não altera o controle da infra-estrutura pelo concedente.

GA8. O concessionário pode ter o direito de usar a infra-estrutura separável descrita

no item GA7(a) ou as instalações usadas para prestar os serviços não-regulados

descritos no item GA7(b). Em qualquer caso, na essência pode ser

arrendamento do concedente ao concessionário; nesse caso, deve ser

contabilizado de acordo com as disposições contábeis aplicáveis a contratos de

arrendamento, conforme Pronunciamento Técnico CPC 06 – Operações de

Arrendamento Mercantil.

Page 98: ADM Rodrigoscalzer Dez10

ICPC_01

13

Nota informativa 1

Estrutura contábil básica para contratos de prestação de serviço público-privado

Esta nota acompanha, porém não faz parte da Interpretação ICPC 01.

O diagrama abaixo resume a contabilização de contratos de serviço estabelecida pela

ICPC 01.

O Concedente controla ou regula quais serviços o operador deve prestar com a infra-estrutura, para quem deve prestá-los e a qual preço

FORA DO ESCOPO DA INTERPRETAÇÃO

Ver Nota Informativa 2

O outorgante controla, por meio da titularidade, direito beneficiário ou de outro modo, qualquer participação residual significativa na infra-estrutura ao final do contrato de serviço? Ou a infra-estrutura é utilizada no contrato durante toda a sua vida útil?

A infra-estrutura é construída ou adquirida pelo operador de um terceiro para o objetivo do contrato de prestação de serviço?

A infra-estrutura é infra-estrutura existente do Concedente à qual é dado acesso ao operador para o propósito do contrato de prestação de serviço?

DENTRO DO ESCOPO DA INTERPRETAÇÃO

O operador não reconhece a infra-estrutura como ativo imobilizado ou como um ativo arrendado.

O operador tem um direito contratual de receber caixa ou outro ativo financeiro do Concedente, ou conforme sua instrução, conforme descrito no item 16?

O operador tem um direito contratual de cobrar os usuários dos serviços públicos conforme descrito

no item 17?

FORA DO ESCOPO DA INTERPRETAÇÃO Ver item 27

O operador deve reconhecer um ativo financeiro na medida em que ele tiver um direito contratual de receber caixa ou outro ativo financeiro conforme descrito no item 16

O operador reconhece um ativo intangível na medida em que ele tiver um direito contratual de receber um ativo intangível

conforme descrito no item 17

Não

Não

Não

Não

Não

Não

Sim

Sim

Sim Sim

Sim Sim

Page 99: ADM Rodrigoscalzer Dez10

ICPC_01

14

Nota Informativa 2

Referências aos Pronunciamentos Técnicos do CPC que se aplicam para contratos

típicos público - privados

Esta nota acompanha, porém não faz parte da Interpretação ICPC 01.

A tabela abaixo define os tipos comuns de contratos de participação do setor privado no

fornecimento de serviços do setor público e dá referências aos CPCs que se aplicam a

esses contratos. A lista de tipos de contratos não é exaustiva. A finalidade da tabela é

destacar a sucessão de contratos. A intenção desta Interpretação não é passar a impressão

de que existem demarcações claras entre os requisitos de contabilização de contratos

público-privado.

Categoria Arrendatário Provedor de serviços Proprietário

Contratos típicos

Arrendamento (ex: operador

arrenda o ativo do

concedente)

Contrato de serviço e/ou manutenção

(tarefas específicas, ex: cobrança

de dívida)

Recuperar-operar-transferir

Construir-operar-

transferir

Constroi e opera

100% Desinvestimento/

privatização/

constituição

Propriedade do ativo

Concedente Operador

Investimento de capital

Concedente Operador

Risco de demanda

Compartilhado Concedente Operador e/ou

concedente Operador

Duração típica

8-20 anos 1-5 anos 25-30 anos Indefinida (ou pode ser limitada

à licença)

Interesse residual

Concedente Operador

CPCs

Relevantes CPC 06 CPC 30 ICPC 01 CPC 27

Page 100: ADM Rodrigoscalzer Dez10

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15

Exemplos ilustrativos

Estes exemplos acompanham, porém não fazem parte da Interpretação ICPC 01.

Exemplo 1: Concedente dá ao operador um ativo financeiro

Termos do contrato

EI1. Os termos do contrato requerem que o operador construa uma estrada –

completando a construção em dois anos – e mantenha-a e a opere em

determinado padrão de qualidade por oito anos (i.e., anos 3-10). Os termos do

contrato também requerem que o operador faça o recapeamento asfáltico da

estrada ao final do ano 8 – a atividade de recapeamento é considerada uma

atividade geradora de receita. Ao final do ano 10, o contrato terminará. O

operador estima que os custos que incorrerá para atender às obrigações serão os

a seguir descritos:

Tabela 1.1 Custo do contrato

Ano $

Serviços de construção 1 500

2 500

Serviços de operação (ao ano) 3 a 10 10

Recapeamento da estrada 8 100

EI2. Os termos do contrato preveem que o concedente pague ao operador $ 200 ao

ano, nos anos 3 a 10, para disponibilizar a estrada ao público.

EI3. Para a finalidade desta ilustração, presume-se que todos os fluxos de caixa

ocorram no final do ano.

Receita do contrato

EI4. O operador reconhece a receita e os custos do contrato de acordo com o CPC 17

– Contratos de Construção e o CPC 30 – Receitas. Os custos de cada atividade –

Page 101: ADM Rodrigoscalzer Dez10

ICPC_01

16

construção, operação e recapeamento – são reconhecidos como despesas por

referência ao estágio de conclusão dessa atividade. A receita do contrato – o

valor justo do valor devido pelo concedente pela atividade assumida – é

reconhecida na mesma ocasião. De acordo com os termos do contrato, o

operador é obrigado a recapear a estrada no final do ano 8. No ano 8, o operador

será reembolsado pelo concedente pelo recapeamento da estrada. A obrigação

de recapear a estrada é medida em zero na balanço patrimonial e a receita e

despesa não são reconhecidas no resultado até que o trabalho de recapeamento

seja realizado.

EI5. A contraprestação total ($ 200 nos anos 3-8) reflete os valores justos de cada um

dos serviços, que são:

Tabela 1.2 Valores justos da contraprestação recebida ou a receber

Valor justo

Serviços de construção Custo previsto + 5%

Serviços de operação ’’ ’’ + 20%

Recapeamento da estrada ’’ ’’ + 10%

Taxa efetiva de juros 6,18% ao ano

EI6. No ano 1, por exemplo, os custos de construção de $ 500, a receita de

construção de $ 525 (custo mais 5%), e, portanto, o lucro de construção de $ 25

são reconhecidos no resultado.

Ativo Financeiro

EI7. Os valores devidos pelo concedente atendem à definição de recebível no CPC

38 – Instrumentos Financeiros: Reconhecimento, Mensuração e Evidenciação.

O recebível é medido inicialmente pelo valor justo. É medido subsequentemente

pelo custo amortizado, ou seja, o valor inicialmente reconhecido mais os juros

cumulativos sobre esse valor calculado utilizando o método dos juros efetivos

menos as amortizações.

EI8. Se os fluxos de caixa e os valores justos permanecerem os mesmos que aqueles

previstos, a taxa efetiva de juros é 6,18% ao ano e o recebível reconhecido no

final dos anos 1-3 será:

Page 102: ADM Rodrigoscalzer Dez10

ICPC_01

17

Tabela 1.3 Mensuração do recebível

$ *

Valor devido pela construção no ano 1 525

Crédito no final do ano 1* 525

Juros efetivos no ano 2 sobre o crédito no final do ano 1

(6,18% × $ 525)

32

Valor devido pela construção no ano 2 525

Crédito no final do ano 2 1.082

Juros efetivos no ano 2 sobre o crédito no final do ano 2

(6,18% × $ 1.082)

67

Valor devido pela operação no ano 3 ($ 10 × (1 + 20%)) 12

Recebimentos de caixa no ano 3 (200)

Crédito no final do ano 3 961

* Não há juros efetivos no ano 1 porque pressupõe-se que os fluxos de caixa

ocorrem no final do exercício.

Visão geral dos fluxos de caixa, demonstração do resultado abrangente e balanço

patrimonial

EI9. Para a finalidade deste exemplo ilustrativo, presume-se que o operador financie

o contrato totalmente com dívida e lucros retidos. Ele paga juros de 6,7% a.a.

sobre a dívida pendente. Se os fluxos de caixa e os valores justos permanecerem

os mesmos que aqueles previstos, os fluxos de caixa, demonstração do resultado

abrangente e balanço patrimonial do operador ao longo da duração do contrato

serão:

Page 103: ADM Rodrigoscalzer Dez10

ICPC_01

18

Tabela 1.4 Fluxos de caixa

Ano 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Total

Recebimentos - - 200 200 200 200 200 200 200 200 1.600

Custos do contrato*

(500)

(500)

(10)

(10)

(10)

(10)

(10)

(110)

(10)

(10)

(1.180)

Custos do empréstimo†

-

(34)

(69)

(61)

(53)

(43)

(33)

(23)

(19)

(7)

(342)

Entrada/ (saída) líquida

(500)

(534)

121

129

137

147

157

67

171

183

78

* Tabela 1.1 † Dívida no início do exercício (tabela 1.6) × 6,7%

Tabela 1.5 Demonstração do resultado abrangente

Ano 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Total

Receita 525 525 12 12 12 12 12 122 12 12 1.256

Custos do contrato*

(500)

(500)

(10)

(10)

(10)

(10)

(10)

(110)

(10)

(10)

(1.180)

Receita financeira

-

(32)

67

59

51

43

34

25

22

11

344

Custos do empréstimo†

-

(34)

(69)

(61)

(53)

(43)

(33)

(23)

(19)

(7)

(342)

Lucro líquido 25 23 - - - 2 3 14 5 6 78

* Valor devido pelo concedente no início do exercício (tabela 1.6) × 6,18% † Caixa/(dívida) (tabela 1.6) × 6,7%

Page 104: ADM Rodrigoscalzer Dez10

ICPC_01

19

Tabela 1.6 Balanço patrimonial

Final do ano

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Valor devido pelo

concedente*

525

1.082

961

832

695

550

396

343

177

-

Caixa/(dívida)† (500) (1.034) (913) (784) (647) (500) (343) (276) (105) 78

Ativos líquidos 25 48 48 48 48 50 53 67 72 78

* Valor devido pelo concedente no início do exercício, mais receita e receita financeira auferida no exercício (tabela 1.5), menos recebimentos no exercício (tabela 1.4).

† Dívida no início do exercício mais fluxo de caixa líquido no exercício (tabela 1.4).

EI10. Este exemplo trata somente de um dos diversos tipos de contratos possíveis. Sua

finalidade é ilustrar o tratamento contábil de algumas características que são

comumente encontradas na prática. Para tornar o exemplo ilustrativo o mais

claro possível, foi presumido que o período do contrato é de somente dez anos e

que os recebimentos anuais do operador são constantes ao longo desse período.

Na prática, os períodos do contrato podem ser muito mais longos e as receitas

anuais podem aumentar com o tempo. Nessas circunstâncias, as mudanças no

lucro líquido de um ano para o outro podem ser maiores.

Exemplo 2: Concedente dá ao operador um ativo intangível (licença

para cobrar os usuários)

Termos do contrato

EI11. Os termos de contrato de serviço exigem que o operador construa uma estrada –

concluindo a construção dentro de dois anos – e mantenha e opere a estrada

seguindo um padrão especificado durante oito anos (ou seja, anos 3-10). Os

termos do contrato também exigem que o operador faça o recapeamento da

estrada quando o asfalto original tiver se deteriorado abaixo da condição

especificada. O operador estima que terá de executar o recapeamento no final

do ano 8. No final do ano 10, o contrato de serviço será encerrado. O operador

estima que os custos que incorrerá para cumprir sua obrigação serão os

seguintes:

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20

EI12. Os termos do contrato permitem ao operador cobrar pedágio dos motoristas que

utilizam a estrada. O operador prevê que a quantidade de veículos permanecerá

constante ao longo da duração do contrato e que ele receberá pedágio de $ 200

em cada um dos anos 3-10.

EI13. Para a finalidade deste exemplo ilustrativo, presume-se que todos os fluxos de

caixa ocorram no final do ano.

Ativo intangível

EI14. O operador fornece serviços de construção ao concedente em troca de ativo

intangível, ou seja, o direito de cobrar pedágios dos usuários da estrada nos anos

3-10. De acordo com o CPC 04 - Ativo Intangível, o operador reconhece o ativo

intangível pelo custo, ou seja, o valor justo da contraprestação transferida para

adquirir o ativo, que é o valor justo da contraprestação recebida ou a receber

pelos serviços de construção entregues.

EI15. Durante a fase de construção do contrato, o ativo do operador (que representa

seu direito acumulado a ser pago por fornecer serviços de construção) é

classificado como ativo intangível (licença para cobrar os usuários da infra-

estrutura). O operador estima que o valor justo de sua contraprestação recebida

seja equivalente aos custos de construção previstos mais a margem de 5%.

Presume-se também que, de acordo com o CPC 20 - Custos de Empréstimos, o

operador capitalize os custos de empréstimo, estimados a 6,7%, durante a fase

de construção do contrato:

Tabela 2.1 - Custo dos contratos

Ano $

Serviços de construção 1 500

2 500

Serviços de operação 3-10 10

Recapeamento asfáltico 8 100

Page 106: ADM Rodrigoscalzer Dez10

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21

EI16. De acordo com o CPC 04, o ativo intangível é amortizado ao longo do período

em que o operador espera que esse ativo esteja disponível para uso, ou seja,

anos 3-10. O valor depreciável do ativo intangível ($ 1.084) é alocado

utilizando um método linear. A taxa de amortização anual resulta, portanto, de $

1.084 dividido por 8 anos, ou seja, $ 135 ao ano.

Custo e receita de construção

EI17. O operador reconhece a receita e os custos de acordo com o CPC 17 - Contratos

de Construção, ou seja, por referência ao estágio de conclusão da construção.

Ele mensura a receita do contrato pelo valor justo da contraprestação recebida

ou a receber. Desse modo, em cada um dos anos 1 e 2, ele reconhece em seu

resultado os custos de construção de $ 500, a receita de construção de $ 525

(custo mais 5%) e, portanto, o lucro de construção de $ 25.

Receita de pedágio

EI18. Os usuários da estrada pagam pelos serviços públicos na mesma ocasião em que

os recebem, ou seja, quando utilizam a estrada. O operador, portanto, reconhece

a receita de pedágio quando cobra os pedágios.

Obrigação de recapeamento

EI19. A obrigação de recapeamento do operador surge como consequência da

utilização da estrada durante a fase de operação. Ela é reconhecida e medida de

acordo com o CPC 25 – Provisões, Passivos Contingentes e Ativos

Contingentes, ou seja, pela melhor estimativa do gasto necessário para liquidar

a obrigação presente na data do balanço do final do período.

Tabela 2.2 - Mensuração inicial do ativo intangível

$

Serviços de construção no ano 1 (R$500x(1+5%)) 525

Capitalização de custos financeiros (tabela 2.4) 34

Serviços de construção no ano 2 (R$500x(1+5%)) 525

Ativo intangível ao final do ano 2 1.084

Page 107: ADM Rodrigoscalzer Dez10

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22

EI20. Para a finalidade desta ilustração, presume-se que os termos da obrigação

contratual do operador sejam de tal forma que a melhor estimativa do gasto

necessário para liquidar a obrigação em qualquer data seja proporcional à

quantidade de veículos que utilizaram a estrada até essa data e aumente em $ 17

(descontado ao valor corrente) a cada ano. O operador desconta a provisão ao

seu valor presente de contrato com o CPC 25. O encargo reconhecido em cada

período no resultado é especificado a seguir:

Visão geral dos fluxos de caixa, demonstração do resultado abrangente e balanço

patrimonial

EI21. Para a finalidade deste exemplo ilustrativo, presume-se que o operador financie

o contrato totalmente com dívida e lucros retidos. Ele paga juros de 6,7% ao ano

sobre a dívida pendente. Se os fluxos de caixa e os valores justos permanecerem

os mesmos que aqueles previstos, os fluxos de caixa, demonstração do resultado

abrangente e balanço patrimonial do operador ao longo da duração do contrato

serão:

Tabela 2.3 - Obrigação de recapeamento

3 4 5 6 7 8 Total

Obrigação referente ao ano

($ 17 descontado a 6%) 12 13 14 15 16 17 87

Aumento da provisão pela

passagem do tempo 0 1 1 2 4 5 13

Despesa total reconhecida no

resultado 12 14 15 17 20 22 100

Tabela 2.4 - Fluxos de caixa

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Total

Receitas -

-

200

200

200

200

200

200

200

200

1.600

Custos do contrato (a) (500)

(500)

(10)

(10)

(10)

(10)

(10)

(110)

(10)

(10)

(1.180)

Custos financeiros (b)

-

(34)

(69)

(61)

(53)

(43)

(33)

(23)

(19)

(7)

(342) Fluxo líquido de entradas e

saídas (500)

(534)

121

129

137

147

157

67

171

183

78

(a) Tabela 2.1 (b) Dívida no início (tabela 2.6) x 6,7%

Page 108: ADM Rodrigoscalzer Dez10

ICPC_01

23

EI22. Este exemplo trata somente de um dos diversos tipos de contratos possíveis. Sua

finalidade é ilustrar o tratamento contábil de algumas características que são

comumente encontradas na prática. Para tornar a ilustração mais clara possível,

foi presumido que o período do contrato é de somente dez anos e que os

recebimentos anuais do operador são constantes ao longo desse período. Na

prática, os períodos de contrato podem ser muito mais longos e as receitas

anuais podem aumentar com o tempo. Nessas circunstâncias, as mudanças no

lucro líquido de um ano para o outro podem ser maiores.

Exemplo 3: Concedente dá ao operador um ativo financeiro e um ativo

intangível

Termos do contrato

EI23. Os termos de contrato de serviço exigem que o operador construa uma estrada –

concluindo a construção dentro de dois anos – e opere e mantenha a estrada

seguindo um padrão especificado durante oito anos (ou seja, anos 3-10). Os

termos do contrato também exigem que o operador faça o recapeamento da

estrada quando o asfalto original tiver deteriorado abaixo da condição

Tabela 2.5 - Demonstração do resultado abrangente

Ano 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Total Receitas 525

525

200

200

200

200

200

200

200

200

2.650

Amortização -

-

(135)

(135)

(136)

(136)

(136)

(136)

(135)

(135)

(1.084)

Despesa com recapeamento (12)

(14)

(15)

(17)

(20)

(22)

(100) Outros custos do contrato (500)

(500)

(10)

(10)

(10)

(10)

(10)

(10)

(10)

(10)

(1.080)

Custos financeiros (a) e (b) -

-

(69)

(61)

(53)

(43)

(33)

(23)

(19)

(7)

(308)

Fluxo líquido de entradas e saídas 25

25

(26)

(20)

(14)

(6)

1

9

36

48

78

(a) Custos financeiros são capitalizados durante a fase de construção (b) Tabela 2.4

Tabela 2.6 - Balanço patrimonial

Fim do ano 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Ativo intangível 525

1.084

949

814

678

542

406

270

135

-

Caixa/(dívida) (a) (500)

(1.034)

(913)

(784)

(647)

(500)

(343)

(276)

(105)

78

Obrigação de recapeamento -

-

(12)

(26)

(41)

(58)

(78)

-

-

-

Ativos líquidos 25

50

24

4

(10)

(16)

(15)

(6)

30

78

(a) Dívida no início do ano adicionada dos fluxos líquidos do ano (tabela 2.4)

Page 109: ADM Rodrigoscalzer Dez10

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24

especificada. O operador estima que terá que empreender o recapeamento no

final do ano 8. No final do ano 10, o contrato será encerrado. O operador estima

que os custos que incorrerá para cumprir sua obrigação serão:

EI24. O operador estima que a contraprestação em relação aos serviços de construção

seja o custo mais 5%.

EI25. Os termos do contrato permitem ao operador cobrar pedágio dos motoristas que

utilizam a estrada. Além disso, o concedente garante ao operador o valor

mínimo de $ 700 e juros à taxa especificada de 6,18% para refletir a ocasião dos

recebimentos de caixa. O operador prevê que a quantidade de veículos

permanecerá constante ao longo da duração do contrato e que receberá pedágios

de $ 200 em cada um dos anos 3-10.

EI26. Para a finalidade deste exemplo ilustrativo, presume-se que todos os fluxos de

caixa ocorram no final do ano.

Dividindo o contrato

EI27. O direito contratual de receber caixa do concedente pelos serviços e o direito de

cobrar os usuários pelos serviços públicos devem ser considerados como dois

ativos separados de acordo com esta Interpretação. Portanto, neste contrato, é

necessário dividir a contraprestação do operador em dois componentes – um

componente de ativo financeiro baseado no valor garantido e um ativo

intangível para o restante.

Tabela 3.1 - Custos do contrato

Ano $

Serviços de construção 1 500

2 500

Serviços de operação (por ano) 3-10 10

Recapeamento asfáltico 8 100

Page 110: ADM Rodrigoscalzer Dez10

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25

Ativo financeiro

EI28. O valor devido pelo concedente, ou conforme sua instrução, em troca dos

serviços de construção, atende à definição de recebível no CPC 38 –

Instrumentos Financeiros: Reconhecimento e Mensuração. A conta a receber é

mensurada inicialmente pelo valor justo. Ela é mensurada de forma subsequente

pelo custo amortizado, ou seja, o valor inicialmente reconhecido mais os juros

acumulados sobre esse valor, menos amortizações.

EI29. Nessa base, a conta a receber reconhecida no final dos anos 2 e 3 será:

Tabela 3.2 - Dividindo o valor pago pelo operador

Total

Ativo

financeiro

Ativo

intangível

Serviços de construção no ano 1 ($ 500x(1+5%)) 525

350

175

Serviços de construção no ano 2 ($ 500x(1+5%)) 525

350

175

Total dos custos de construção 1.050

700

350

100% 67% * 33%

Receita financeira, a taxa específica de 6,18% sobre o recebível (ver Tabela 3.3) 22

22

-

Custos de financiamento capitalizados (juros pagos

nos anos 1 e 2 x 33%) (ver Tabela 3.7) 11

-

11

Total do valor justo do custo pago pelo operador 1.083

722

361

* O percentual do ativo financeiro representa o montante garantido pelo concedente como uma proporção dos serviços de construção

Page 111: ADM Rodrigoscalzer Dez10

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26

Ativo intangível

EI30. De acordo com o CPC 04 – Ativo Intangível, o operador reconhece o ativo

intangível pelo custo, ou seja, o valor justo da contraprestação recebida ou a

receber.

EI31. Durante a fase de construção do contrato, o ativo do operador (que representa o

seu direito acumulado a ser pago por fornecer serviços de construção) é

classificado como direito de receber uma licença para cobrar os usuários da

infra-estrutura. O operador estima que o valor justo de sua contraprestação

recebida ou a receber seja equivalente aos custos de construção previstos mais

5%. Presume-se também que, de acordo com o Pronunciamento Técnico CPC

20 - Custos de Empréstimos, o operador capitalize os custos de empréstimo,

estimados em 6,7%, durante a fase de construção:

Tabela 3.3 - Mensuração do recebível

$

Serviços de construção no ano 1 alocados ao ativo financeiro 350

Recebível ao final do ano 1 350

Serviços de construção no ano 2 alocados ao ativo financeiro 350

Juros no ano 2 sobre o recebível em aberto ao final do ano 1 (6,18% x $ 350) 22

Recebível ao final do ano 2 722

Juros no ano 3 sobre o recebível em aberto ao final do ano 2 (6,18% x $ 722) 45

Serviços de construção no ano 2 ($ 500 x (1+5%)) (117)

Recebível ao final do ano 3 650

Tabela 3.4 - Mensuração inicial do ativo intangível

$

Serviços de construção no ano 1 ($ 500 x (1+5%) x 33%) 175

Custos de financiamento (juros pagos nos anos 1 e 2 x 33%) – ver a tabela 3.7 11

Serviços de construção no ano 2 ($ 500 x (1+5%) x 33%) 175

Ativo intangível ao final do ano 2 361

Page 112: ADM Rodrigoscalzer Dez10

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27

EI32. De acordo com o CPC 04, o ativo intangível é amortizado ao longo do período

em que o operador espera que o ativo esteja disponível para uso, ou seja, anos

3-10. O valor depreciável do ativo intangível ($ 361 incluindo custos de

empréstimo) é alocado utilizando o método linear. O encargo de amortização

anual resulta de, portanto, $ 361 dividido por 8 anos, ou seja, $ 45 ao ano.

Receita e custo do contrato

EI33. O operador fornece serviços de construção ao concedente em troca de um ativo

financeiro e um ativo intangível. De acordo tanto com o modelo de ativo

financeiro quanto com o modelo de ativo intangível, o operador reconhece a

receita e os custos do contrato de acordo com a CPC 17 - Contratos de

Construção, ou seja, por referência ao estágio de conclusão da construção. Ele

mensura a receita do contrato pelo valor justo da contraprestação a receber.

Desse modo, em cada um dos anos 1 e 2, ele reconhece no resultado os custos

de construção de $ 500 e a receita de construção de $ 525 (custo mais 5%).

Receita de pedágio

EI34. Os usuários da estrada pagam pelos serviços públicos na mesma ocasião em que

os recebem, ou seja, quando utilizam a estrada. De acordo com os termos deste

contrato, os fluxos de caixa são alocados ao ativo financeiro e ao ativo

intangível proporcionalmente; assim, o operador aloca os recebimentos obtidos

dos pedágios entre a amortização do ativo financeiro e a receita obtida do ativo

intangível:

Obrigações de recapeamento

EI35. A obrigação de recapeamento por parte do operador surge como consequência

Tabela 3.5 - Alocação das receitas de pedágio

$

Receita garantida pelo concedente 700

Receita financeira (ver a tabela 3.8) 237

Total 937

Caixa alocado para a realização do ativo financeiro por ano ($ 937/8 anos) 117

Receitas atribuíveis ao ativo intangível ($ 300 x 8 anos - $ 937) 663

Receita anual do ativo intangível ($ 663/8 anos) 83

Page 113: ADM Rodrigoscalzer Dez10

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28

da utilização da estrada durante a fase de operação. Ela é reconhecida e

mensurada de acordo com a CPC 25 – Provisões, Passivos Contingentes e

Ativos Contingentes, ou seja, pela melhor estimativa do gasto necessário para

liquidar a obrigação presente no final do período de prestação de informações.

EI36. Para a finalidade desta ilustração, presume-se que os termos da obrigação

contratual do operador sejam de tal forma que a melhor estimativa do gasto

exigido para liquidar a obrigação em qualquer data seja proporcional à

quantidade de veículos que utilizaram a estrada até essa data e aumente em $ 17

a cada ano. O operador desconta a provisão de seu valor presente de acordo com

o CPC 25. O encargo reconhecido em cada período no resultado é:

Visão geral dos fluxos de caixa, demonstração do resultado abrangente e balanço

patrimonial

EI37. Para a finalidade desta ilustração, presume-se que o operador financie o contrato

totalmente com dívida e lucros retidos. Ele paga juros de 6,7% ao ano sobre a

dívida pendente. Se os fluxos de caixa e os valores justos permanecerem os

mesmos que aqueles previstos, os fluxos de caixa, demonstração do resultado

abrangente e balanço patrimonial do operador ao longo da duração do contrato

serão os seguintes:

Tabela 3.6 - Obrigação de recapeamento

3 4 5 6 7 8 Total

Obrigação referente ao ano

($ 17 descontado a 6%) 12 13 14 15 16 17 87

Aumento da provisão pela

passagem do tempo 0 1 1 2 4 5 13

Despesa total reconhecida no

resultado 12 14 15 17 20 22 100

Tabela 3.7 - Fluxos de caixa

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Total

Receitas -

-

200

200

200

200

200

200

200

200

1.600

Custos do contrato (a) (500)

(500)

(10)

(10)

(10)

(10)

(10)

(110)

(10)

(10)

(1.180)

Custos financeiros (b)

-

(34)

(69)

(61)

(53)

(43)

(33)

(23)

(19)

(7)

(342) Fluxo líquido de entradas e

saídas (500)

(534)

121

129

137

147

157

67

171

183

78

(a) Tabela 3.1 (b) Dívida no início (tabela 3.9) x 6,7%

Page 114: ADM Rodrigoscalzer Dez10

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29

EI38. Este exemplo trata somente de um dos diversos tipos de contratos possíveis. Sua

finalidade é ilustrar o tratamento contábil de algumas características que são

comumente encontradas na prática. Para tornar o exemplo ilustrativo o mais

claro possível, foi presumido que o período do contrato é de somente dez anos e

que os recebimentos anuais do operador são constantes ao longo desse período.

Na prática, os períodos do contrato podem ser muito mais longos e as receitas

anuais podem aumentar com o tempo. Nessas circunstâncias, as mudanças no

lucro líquido de um ano para o outro podem ser maiores.

Tabela 3.8 - Demonstração do resultado abrangente

Ano 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Total

Receitas de construção 525

525

1.050

Receitas do ativo intagível 83

83

83

83

83

83

83

83

663

Receita financeira (a) -

22

45

40

35

30

25

19

13

7

237

Amortização -

-

(45)

(45)

(45)

(45)

(45)

(45)

(45)

(46)

(361)

Despesa com recapeamento (12)

(14)

(15)

(17)

(20)

(22)

(100)

Custos de construção (500)

(500)

(1.000)

Outros custos do contrato (b)

(10)

(10)

(10)

(10)

(10)

(10)

(10)

(10)

(80)

Custos financeiros (c) -

(23)

(69)

(61)

(53)

(43)

(33)

(23)

(19)

(7)

(331)

Lucro líquido 25

24

(8)

(7)

(5)

(2)

(0)

2

22

27

78

(a) Juros sobre o recebível (b) Tabela 3.1 (c) No ano 2, custos de financiamento são apresentados líquidos do valor capitalizado no intagível (tabela 3.4)

Tabela 3.9 - Balanço patrimonial

Fim do ano 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Recebível 350

722

650

573

491

404

312

214

110

-

Ativo intangível 175

361

316

271

226

181

136

91

46

-

Caixa/(dívida) (a) (500)

(1.034)

(913)

(784)

(647)

(500)

(343)

(276)

(105)

78

Obrigação de recapeamento -

-

(12)

(26)

(41)

(58)

(78)

-

-

-

Ativos líquidos 25

49

41

34

29

27

27

29

51

78

(a) Dívida no início do ano adicionada dos fluxos líquidos do ano (tabela 3.7)