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Acórdãos STA Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo Processo: 0748/14 Data do Acordão: 05-02-2015 Tribunal: 2 SECÇÃO Relator: ARAGÃO SEIA Descritores: EXECUÇÃO FISCAL VENDA POR NEGOCIAÇÃO PARTICULAR EXECUTADO OMISSÃO DE NOTIFICAÇÃO Sumário: I - O titular do direito de remição não tem de ser pessoalmente notificado dos actos e diligências que vão ocorrendo na tramitação da causa, presumindo a lei de processo que o seu familiar - executado e, nessa qualidade, notificado nos termos gerais, - lhe dará conhecimento atempado das vicissitudes relevantes para o eventual exercício do direito - não impondo a lei de processo que seja notificada a data e local em que se irá realizar certa venda extrajudicial, cujos elementos essenciais já se mostram definidos e foram levados ao oportuno conhecimento dos interessados. II - O executado não tem de ser pessoalmente notificado das condições em que se irá realizar a venda por negociação particular, incumbindo-lhe, antes, a ele, e por sua própria iniciativa, acompanhar os desenvolvimentos das diligências do encarregado da venda, bem como a demais tramitação que entretanto ocorra no processo de execução fiscal. Nº Convencional: JSTA000P18569 Nº do Documento: SA2201502050748 Data de Entrada: 23-06-2014 Recorrente: A... E OUTRA Recorrido 1: FAZENDA PÚBLICA Votação: UNANIMIDADE Aditamento: Texto Integral Texto Integral: Acordam os juízes da secção do Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Administrativo: A……….. e B………………, inconformados, recorreram da sentença do Tribunal Administrativo e Fiscal de Aveiro (TAF de Aveiro) datada de 19 de Agosto de 2013 que julgou improcedente a acção por eles deduzida, onde peticionavam a anulação da venda do prédio urbano inscrito na matriz nº 673 da freguesia de …………. efectuada no processo de execução fiscal nº 0094200101010670. Interpuseram o recurso para o Tribunal Central Administrativo Norte, que por decisão de 11 de Abril de Página 1 de 13 Acordão do Supremo Tribunal Administrativo 16-02-2015 http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/35fbbbf22e1bb1e680256f8e003ea931/be80086056ec16f4...

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Acórdãos STA Acórdão do Supremo Tribunal AdministrativoProcesso: 0748/14Data do Acordão: 05-02-2015Tribunal: 2 SECÇÃORelator: ARAGÃO SEIADescritores: EXECUÇÃO FISCAL

VENDA POR NEGOCIAÇÃO PARTICULAREXECUTADOOMISSÃO DE NOTIFICAÇÃO

Sumário: I - O titular do direito de remição não tem de ser pessoalmente notificado dos actos e diligências que vão ocorrendo na tramitação da causa, presumindo a lei de processo que o seu familiar - executado e, nessa qualidade, notificado nos termos gerais, - lhe dará conhecimento atempado das vicissitudes relevantes para o eventual exercício do direito - não impondo a lei de processo que seja notificada a data e local em que se irá realizar certa venda extrajudicial, cujos elementos essenciais já se mostram definidos e foram levados ao oportuno conhecimento dos interessados.II - O executado não tem de ser pessoalmente notificado das condições em que se irá realizar a venda por negociação particular, incumbindo-lhe, antes, a ele, e por sua própria iniciativa, acompanhar os desenvolvimentos das diligências do encarregado da venda, bem como a demais tramitação que entretanto ocorra no processo de execução fiscal.

Nº Convencional: JSTA000P18569Nº do Documento: SA2201502050748Data de Entrada: 23-06-2014Recorrente: A... E OUTRARecorrido 1: FAZENDA PÚBLICAVotação: UNANIMIDADE

Aditamento:

Texto Integral

Texto Integral: Acordam os juízes da secção do Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Administrativo:

A……….. e B………………, inconformados, recorreram da sentença do Tribunal Administrativo e Fiscal de Aveiro (TAF de Aveiro) datada de 19 de Agosto de 2013 que julgou improcedente a acção por eles deduzida, onde peticionavam a anulação da venda do prédio urbano inscrito na matriz nº 673 da freguesia de …………. efectuada no processo de execução fiscal nº 0094200101010670.Interpuseram o recurso para o Tribunal Central Administrativo Norte, que por decisão de 11 de Abril de

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2014, se julgou incompetente em razão da hierarquia, considerando competente este Supremo Tribunal, para onde os autos foram remetidos.

Alegaram, tendo concluído como se segue:

I - DO EFEITO SUSPENSIVO DO RECURSO1º Os recorrentes no requerimento de interposição de recurso requereram a atribuição de efeito suspensivo ao recurso por estar em causa a casa de morada de família do recorrente, sendo que o efeito devolutivo afeta o efeito útil do recurso, uma vez que desaloja uma família que, a obter vencimento no recurso, se verá privada da sua casa de morada de família, com a agravante de ser uma família de parcos recursos, com uma filha com trissomia 21, em que o único bem que possuiu é esta humilde habitação.2.º O Douto despacho que fixou o efeito, não pronunciou sobre o requerido, atribuindo, sem mais, efeito devolutivo ao recurso.3.º Termos em que, por o efeito devolutivo levar ao desalojamento do recorrente e família que, a obter vencimento no recurso, ficarão irremediavelmente sem a habitação neste espaço de tempo, com as implicações sociais gravíssimas que essa situação acarreta, vêm requerer muito respeitosamente a V. Exas se dignem atribuir efeito suspensivo ao presente recurso.

I - DA PRETERIÇÃO DE FORMALIDADES LEGAIS QUANTO AO EXECUTADO:4.º O executado foi notificado da existência de um encarregado da venda, não tendo sido notificado da proposta adjudicada, do preço do dia e hora da escritura pública.5.º Essa notificação não permite que o executado tome conhecimento da informação necessária para a venda do imóvel, porquanto a mesma apenas nomeia o negociador particular, identifica o objeto da venda e fixa o valor base da venda.6.º O ora recorrente, desconhece com a supra, referida notificação, a existência de propostas e desconhece, também, o valor das mesmas, desconhece, ainda, quaisquer factos e ou circunstancialismos que são essenciais para que se possa formar a vontade de celebrar negócio, designadamente exercer o direito de remição, qual o dia e hora da escritura pública, entre outras circunstâncias essenciais ao regular andamento do processo.

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7.º Estar nomeado um encarregado da venda não significa que a mesma se venha a efetuar.8.º A notificação do executado da proposta mais alta e da data da escritura pública é, salvo melhor opinião, elementar para que o executado possa exercer os seus direitos, nomeadamente contactar um familiar que pretenda exercer o direito de remissão.9.º Não é possível exercer o direito de remissão, nomeadamente o executado contactar um familiar, sem saber o preço da última proposta, nem a data em que se vai verificar a venda.10.º É que qualquer pessoa só sabe se está interessada em exercer o direito de remissão quando sabe qual é o preço oferecido.11.º Antes de saber o preço é impossível dizer-se que quer ou não quer exercer o direito de remissão.12.° Por outro lado, o legislador estabeleceu que o direito de remissão pode ser exercido até ao dia da celebração da escritura pública.13.º Ora, se assim é, não é, salvo melhor opinião, possível dizer-se que, nem mesmo o executado, não tem de ser notificado do dia e hora da escritura pública.14.º Se o direito pode ser exercido até ao dia da escritura, mas ninguém tem a obrigação de lhe dizer quando a mesma se realiza, então é, quase, a mesma coisa que dizer-se que o executado não tem qualquer direito, porque condicionado ao bom senso do encarregado da venda.15.º A falta de notificação da proposta aceite e do dia e hora da escritura, constitui, salvo melhor opinião, nulidades, nos termos aplicáveis do disposto no art° 201° do C.P.C., que têm, manifesta e necessariamente, relevância e influência na decisão do processo, que é a própria execução fiscal.16.° Com a falta de notificação que o ora recorrente põe em causa, ficou-lhe vedada qualquer possibilidade para impugnar ou reclamar o valor do bem a vender, apresentar outras propostas de outros interessados ou mesmo acompanhar as diligências de venda evitando que ocorresse a degradação do preço da venda ou providenciar na defesa dos seus interesses.17.º Se o recorrente tivesse tido acesso a essa informação através das notificações que ora reclama e a prática das formalidades exigidas poderia ter como consequência que a venda não fosse praticada, pelo preço que foi, manifestamente inferior ao valor de mercado.18.° Não parece justo que o principal interessado, a partir do momento em que é notificado da nomeação de um

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encarregado da venda, fique à margem de todo o processo, nomeadamente que se realize uma escritura pública de venda da sua habitação sem que o mesmo saiba o que quer que seja.19.° A falta de notificação da proposta aceite e do dia e hora da marcação da venda judicial viola, salvo melhor opinião, o texto constitucional, nomeadamente o artigo 12.°, 13º, 18.º, 20º, 65º da C.R.P, porque não proporciona um processo justo e equitativo.

II - DA PRETERIÇÃO DE FORMALIDADES LEGAIS QUANTO À FILHA DO EXECUTADO20.º Uma parte da Jurisprudência defende a tese contrária à plasmada na Douta Sentença, porquanto entende que o remidor tem necessariamente que ser notificado para que possa estar em condições de exercer convenientemente o seu direito de remição.21.º “O direito de remição consubstancia-se num direito (...) de carácter estritamente pessoal (...) que pretende proteger o património familiar, evitando deste modo que os bens saíam para fora da família, pondo o património do executado (membro dela) a coberto de outros maiores prejuízos (…)”22.º Ora, neste pressuposto é por demais evidente que o remidor para que possa exercer direito de remissão na sua plenitude deverá tomar conhecimento de todas as circunstâncias da venda, designadamente valor da venda, encargos a suportar com o ato da escritura, só assim se encontra em condições de formar a sua vontade por um lado e poder exercer o seu direito com toda a informação necessária, por outro, sem a notificação destes atos não é possível ao titular do direito de remição poder exercê-lo na sua plenitude.22.º Tal não acontece quando o titular do direito de remição tem conhecimento, como, in casu, após a venda extra judicial, pois nos termos do artigo 913º, nº 1, al. b) do C.P.C. o direito de remição nos casos de venda por negociação particular só pode ter lugar até a assinatura do título que a documenta, ou seja, a escritura pública.23.° Ora, na situação em apreço, a recorrente tomou conhecimento das condições da venda, em momento posterior à data da celebração da escritura pública, não lhe sendo possível exercer o direito em momento anterior a celebração da aludida escritura o que põe em causa um direito de que é titular e que não pode exercer por desconhecer e por não ter sido notificada atempadamente da mesma.

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24.° E não se diga que a mesma podia ter conhecimento através do executado, uma vez que o executado foi notificado da existência de um encarregado da venda e não do valor da proposta aceite e da data da escritura pública.25.° Sem estes elementos não faz, salvo melhor opinião, sentido falar no direito de remissão.26.° É impossível exercer o direito de remissão sem se saber qual o valor da proposta aceite e da data da respetiva venda.27.° O direito só existe (direito de remissão) se os titulares desse direito o podem exercer.28.° A considerar-se que os titulares do direito de remissão não têm de ser notificados porque se presume que o executado os informou, então estes não têm um verdadeiro direito, têm apenas um direito condicionado à pessoa do executado.29.° No caso em discussão nos presentes Autos, a situação é mais alarmante, é que o executado só foi notificado da existência de um encarregado da venda.30.º Comunicar ao titular do direito de remissão que existe um encarregado da venda, sem lhe transmitir qual o preço da proposta adjudicada e a data da escritura (data limite para o exercício desse direito) parece muito pouco para quem quer exercer o direito de remissão.31.° O direito de remissão exerce-se quando se sabe o preço.32.º O exercício do direito de remissão implica cobrir a proposta mais alta e o titular desse direito só sabe se lhe é possível cobrir essa proposta (se tem capacidade e interesse para tal) quando a conhece.33.º Antes, ninguém pode, salvo melhor opinião, dizer que pretende exercer, em abstrato, o direito de remissão.34.º Termos em que se entende, com o devido respeito por opinião diversa, que o titular do direito de remissão deve ser notificado da proposta aceite e da data da realização da escritura pública, por forma a estar em condições de exercer um direito consagrado por lei.35.º Neste sentido Ac. RC de 7/11/2006, Ac. RG de 5/6/2008 e Ac RL de 29/1/2008.36.º A interpretação de que o titular do direito de remissão não tem de ser notificado, viola, salvo melhor entendimento, o texto constitucional, nomeadamente o artigo 12.°, 13.°, 18.°, 20.° e 65.° da C.R.P.Termos em que deve ser dado provimento ao recurso, revogando-se a Douta Sentença recorrida e decidindo-se pela anulação da venda

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Não houve contra-alegações.

O Ministério Público, notificado pronunciou-se pela improcedência do recurso e consequente manutenção da sentença recorrida. Sinteticamente, o Ministério Público refere que por um lado a falta de notificação da proposta aceite e do despacho que determinou a conclusão da venda não configura nulidade, por a sua omissão não ter afectado a venda em causa nos autos, por outro lado não encontrou razões para que a omissão em causa violasse os direitos consagrados nos artºs 12º, 13º, 18º, 20º e 65º da CRP, por fim entendeu relativamente ao direito de remição, que era necessário eu o remidor manifestasse a sua pretensão em exercer esse direito, o que não fez, e que, no caso do exercício do direito de remissão a lei não obriga a notificar o remidor, o Ministério Público entende que se presume que a informação que o executado tem da situação de venda do bem será comunicada aos demais elementos do agregado familiar com vista a poder ser exercido esse direito.

Colhidos os vistos legais, cumpre decidir.

Na sentença recorrida deu-se como assente a seguinte factualidade concreta (que se corrige no ponto 11. por ter um lapso, onde se escreveu proposta em carta fechada,queria escrever-se negociação particular):1. Em 28/03/2001, no Serviço de Finanças de Feira-1, foi autuado o processo de execução fiscal n° 0094-01/101067.0, em nome de A………………, para cobrança de dívida ao Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) do ano de 1996, no valor global de €6.655,11 - fls. 1 ss. do PEF em apenso;2. Em 17/05/2005, para pagamento da dívida ao IEFP, em cobrança no PEF 009420010101670, no valor global de quantia exequenda e acréscimos legais de € 10.377,71, foi efectuada a penhora de uma casa de habitação sita no lugar ……….., freguesia de ………….., inscrito na matriz predial daquela freguesia sob o artigo urbano n° 673 e descrito na Conservatória do Registo Predial sob o n° 77422, com o valor patrimonial de € 7.927,06 e a que foi atribuído o valor de € 18.500,00 fls. 40 a 43 do PEF em apenso;3. Através do oficio n° 4327, de 1/6/2005, do Serviço de Finanças de Santa Maria da Feira 1, foi o executado agora Requerente notificado do auto de penhora através de

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aviso de recepção assinado em 2/6/2005 - fls. 44 a 44-B do PEF em apenso;4. A penhora foi registada em 4-7-2005 - fls. 54 a 59 do PEF em apenso;5. Por despacho de 28-10-2005 foi designado o dia 19-1-2006, pelas 10,30 horas, para a venda por meio de proposta em carta fechada do imóvel penhorado e para a abertura das respectivas propostas que forem apresentadas - fls. 61 do PEF em apenso;6. Em 31-11-2005 foi assinado o aviso de recepção que acompanhou a notificação do executado da data da venda por proposta em carta fechada - fls. 62 a 62-B do PEF em apenso;7. Em 19-1-2006 não se concretizou a venda por proposta em carta fechada por se ter verificado a inexistência de qualquer proposta e foi ordenada a preparação do processo para venda por outros meios previstos no artigo 252° do CPPT - fls. 72 do PEF em apenso;8. Por despacho de 16-2-2006, com vista à venda por negociação particular do imóvel, foi fixado como preço mínimo 50% do valor inicial e prazo de 60 dias para aceitação de propostas apresentadas - fls.73 do PEF em apenso;9. Considerando que não foram apresentadas propostas no prazo fixado, em 9-9-2006 foi proferido despacho com vista à venda por negociação particular do imóvel, no qual foi fixado como preço mínimo 50% do valor inicial e prazo de 60 dias para aceitação de propostas apresentadas - fls.77 do PEF em apenso;10. Por ofício n° 7167, de 18-9-2006, cujo aviso de recepção foi assinado em 20-9-2006, foi o executado notificado de que “por contrato celebrado em 15-9-2006, foi nomeado negociador particular dos bens descritos sob as verbas constantes do Edital cuja cópia se junta, pelo facto de não terem sido conseguidos proponentes na venda judicial efectivada nos termos do artigo 253° do Código de Procedimento e de Processo Tributário. “C………………, Lda” com sede na Rua ………., n° ………. - ……….. - Ovar”- fls. 75 e 76 dos autos e fls. 97 e 98 do PEF em apenso;11. A venda por negociação particular (foi anunciada através de edital e de anúncio publicado no “Jornal de Noticias” de 22-9-2006 - fls. 98 e 103 do PEF em apenso;12. Em 17-10-2006 foi apresentada uma proposta de compra, pelo valor de 10.195,00 euros, em nome de “ D…………., Lda.” - fls. 104 a 106 do PEF em apenso;13. Por despacho de 17-11-2006 foi aceite a proposta de

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compra e fixado um prazo de 15 dias para a proponente “D…………, Lda” efectuar o pagamento do preço e em 30 dias pagar o IMT devido - fls. 107 do PEF em apenso;14. O preço foi depositado em 7-12-2006 - fls. 109 do PEF em apenso;15. Por despacho de 11-12-2006 foi ordenado o cancelamento de “todos os registos reais que caducam nos termos do n°2 do artigo 824° do Código Civil” - fls. 111 do PEF em apenso;16. Em 10-1-2007 foi lavrada escritura de “Compra e Venda” na qual “C……….., Lda”, na qualidade de “encarregada da venda, nomeada no processo de execução fiscal” declarou vender o prédio em causa nos autos a “D……………. Lda” - fls. 115 a 117 do PEF em apenso;17. Em 17-1-2007 o executado tomou conhecimento da venda através de interpelação feita pelo mandatário da sociedade adquirente no sentido de obter a desocupação do prédio - admissão no artigo 18° da p.i.;18. Por oficio n° 447, de 22-1-2007, do Serviço de Finanças de Feira - 1, enviado sob registo postal n° RM043566380PT, da mesma data, cujo aviso de recepção foi assinado em 23-1-2007, foi o executado notificado de que, por despacho de 17-11-2006, “foi adjudicado a “D………………, Lda” o bem que se encontrava penhorado no processo de execução fiscal supra mencionado, pelo preço de 10.195,00€, já depositado” - fls. 118 a 118-B do PEF em apenso;19. Em 31-1-2007, no Serviço de Finanças de Feira 1, foi apresentada a petição inicial da presente acção - carimbo no canto superior esquerdo de fls. 1 dos autos;20. Por escritura de 29-10-2010, a sociedade “D……………….., Lda” declarou vender, pelo preço de € 17.500,00, o prédio em causa a E……………., que, na mesma data efectuou o respectivo registo na 2ª Conservatória do Registo Predial de Santa Maria da Feira - fls. 48 a 54 dos autos;Nada mais se deu como provado.

Há agora que apreciar o recurso que nos vem dirigido.

Quanto ao mérito do recurso, conclusões 4º e seguintes.No essencial, os recorrentes fundam o seu recurso nas seguintes questões (assente que está que o recorrente não foi notificado da proposta de aquisição que veio a ser aceite, e do dia e hora da realização da venda):Quanto ao executado:

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- à data em que se realizou a venda, resultava da lei a obrigação de notificação ao executado dos desenvolvimentos processuais e extra-processuais tendentes à concretização da venda?Quanto ao titular do direito de remição:- à data em que se realizou a venda, resultava da lei a obrigação de notificação ao titular do direito de remição dos desenvolvimentos processuais e extra-processuais tendentes à concretização da venda?

Desde já, e antecipando a decisão de não provimento do recurso, poderemos afirmar com segurança que a resposta a ambas as perguntas será negativa, pelo que, a sentença será confirmada.A obrigatoriedade de notificação do executado e do titular do direito de remição, da proposta de aquisição que veio a ser aceite e do dia e hora da marcação da venda judicial, não encontra abrigo na lei vigente à data dos factos -Código Processo Civil e artigo 252º do CPPT-, sendo certo que a jurisprudência dos Tribunais Superiores tem sido unânime em reafirmar essa mesma não obrigatoriedade, fazendo recair sobre o executado e sobre o titular do direito de remição o dever de, eles próprios, se inteirarem, junto do encarregado da venda e do respectivo processo de execução, da tramitação levada a efeito respeitante à concretização da venda, cfr. entre outros os acórdãos do STJ, datados de 10/12/2009 e de 13/09/2012, respectivamente, recursos n.ºs 321-B-1997.S1 e 4595/10.2TBBRG.G1.S1.Enquanto que o CPC, aplicável subsidiariamente ao processo de execução fiscal, impunha, como regra, a notificação ao exequente, ao executado e credores reclamantes de créditos com garantia sobre os bens a vender, do despacho ou decisão que determinasse a modalidade da venda e fixasse o valor base dos bens a vender, cfr. artigo 886º-A, n.ºs. 1 e 4, do CPC, já não impunha que o executado fosse notificado das diligências e do resultado dessas diligências tendentes à venda do bem ou bens, cfr. artigo 905º, no caso da realização da venda por negociação particular.A propósito desta questão, escreveu-se no primeiro daqueles acórdãos referidos: “Não existindo regime especial nas normas que regem a acção executiva, é naturalmente necessário recorrer à parte geral do CPC, nomeadamente ao disposto no art. 229º: ora, da aplicação deste regime decorre que não carecem de ser notificados às partes as diligências meramente executivas que, no

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plano prático, visam concretizar uma venda extrajudicial, já previamente determinada e definida nos seus elementos essenciais, nomeadamente o preço por que vai ser realizada: é que, ao contrário do sustentado pelos recorridos, o executado não tem o direito de assistir e estar presente ao acto de outorga na escritura de venda, nem tem qualquer direito processual a pronunciar-se especificamente sobre as diligências práticas que visam permitir a realização do negócio, sem qualquer inovação relativamente aos seus elementos essenciais, já precedentemente definidos…”.Portanto, aquela notificação que deu conhecimento ao executado da modalidade da venda que seria prosseguida, por impossibilidade de se realizar a venda por propostas em carta fechada, fixava o momento próprio em que o executado poderia reagir contra a venda assim determinada, não o fazendo, como não fez, mais nenhuma notificação teria que lhe ser dirigida no respeitante a essa venda, a não ser, naturalmente, a de que o bem já havia sido vendido (o que veio a acontecer como resulta do ponto 18. do probatório) ou de que também essa modalidade da venda se havia frustrado.Podemos, assim, concluir que o recorrente se insurge, sem fundamento legal, contra a não notificação dos actos conducentes à concretização da venda, uma vez que posteriormente à notificação a que se refere o ponto 18. do probatório, incumbia-lhe a ele, e por sua própria iniciativa, acompanhar os posteriores desenvolvimentos das diligências do encarregado da venda, bem como a demais tramitação que entretanto ocorresse no processo de execução fiscal.

E o mesmo se diga quanto à titular do direito de remição.Dispunha à data o artigo 258º do CPPT, que o direito de remição é reconhecido nos termos previstos no Código de Processo Civil, sendo por isso aplicável o disposto nos artigos 912º a 915º deste último Código.Em nenhum destes preceitos legais se encontra a mais breve referência, que seja, à obrigatoriedade de notificação do titular do direito de remissão para que se apresente em juízo a exercer o seu direito.Muito pelo contrário, como é profusamente explicado nos dois acórdãos acima referenciados: “Importa, por outro lado, clarificar liminarmente a posição e o estatuto processual do titular do direito de remição face à acção executiva em que são alienados os bens que dele constituem objecto: na verdade, o remidor não é parte na

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acção executiva, detendo, antes pelo contrário, necessariamente a posição de terceiro relativamente à execução (cfr. Lebre de Freitas, CPC Anotado, vol. 3º, pag.621). Por outro lado, como titular de um «direito de preferência legal de formação processual», não é notificado para exercer tal direito, como ocorre com o preferente legal, por força do preceituado no art.892º (cfr. Autor e ob. cit. pag. 624).Deste estatuto processual decorre que o interessado na remição, como terceiro, não tem de ser pessoalmente notificado dos actos e diligências que vão ocorrendo na tramitação da causa, presumindo a lei de processo que o seu familiar - executado e, ele sim, notificado nos termos gerais, - lhe dará conhecimento atempado das vicissitudes relevantes para o eventual exercício do seu direito: a concordância de interesses entre os familiares atingidos patrimonialmente pela execução permite compreender a solução legal, particularmente no que se refere à dispensa de notificação pessoal dos possíveis remidores para exercerem, querendo, o seu direito visando a manutenção da integridade do património familiar.Na verdade, sendo o interesse tutelado com o instituto da remição o interesse do círculo familiar do executado, por ele, desde logo, encabeçado, - e não propriamente qualquer interesse endógeno e típico da acção executiva – considerou justificadamente o legislador que se não impunha complicar e embaraçar a normal tramitação da execução com a averiguação da possível existência de familiares próximos do executado e as diligências tendentes a permitirem a sua localização, com vista a notificá-los pessoalmente para o eventual exercício da remição: cabe, deste modo, ao executado e respectivos familiares um ónus de acompanhamento atento e diligente da execução que afecte o património familiar, com vista a exercerem tempestivamente o direito de remição, sem, com isso, porem em causa a legítima confiança que o adquirente dos bens em processo executivo legitimamente depositou na estabilidade da aquisição patrimonial que realizou.Note-se que, apesar de o remidor não ser parte, beneficia, quanto às condições procedimentais do exercício do direito que lhe assiste, da tutela conferida pelo art. 20º da Constituição, não podendo ser-lhe criados ónus ou obstáculos desproporcionados à efectivação da pretendida aquisição dos bens familiares: assim, no Ac. nº 277/07, o TC decidiu julgar inconstitucional, por violação do direito de acesso aos tribunais e do princípio do processo

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equitativo, consagrados nos n.ºs 1 e 4 do artigo 20.º da Constituição da República Portuguesa, a interpretação da norma do n.º 2 do artigo 912.º do Código de Processo Civil, na redacção anterior ao Decreto-Lei n.º 38/2003, de 8 de Março, segundo a qual só se considera validamente exercido o direito de remição, por um descendente do executado, no acto de abertura e aceitação das propostas em carta fechada, se for acompanhado do depósito da totalidade do preço oferecido na proposta aceite.No que respeita à tempestividade do exercício do direito de remição, defrontamo-nos com dois valores ou interesses antagónicos, ambos susceptíveis de tutela constitucional: por um lado, o direito do remidor em não ser arbitrariamente privado da possibilidade de salvaguarda e manutenção do património familiar, através da criação de regimes procedimentais desproporcionadamente preclusivos ou limitativos – e como tal violadores do art. 20º da Constituição; por outro lado, a expectativa legítima do adquirente dos bens em não ver a estabilidade e a eficácia da venda executiva abalada, através e um exercício inadmissivelmente tardio e abusivo do direito do remidor, susceptível de ofender o princípio da confiança, ínsito no do Estado de direito democrático.”.Daqui resulta, assim, que o exercício atempado do direito de remição também depende da diligência com que o executado actua perante a execução e os actos aí desenvolvidos e que, necessariamente, lhe são prejudiciais.Não se tendo provado que o recorrente tenha actuado diligentemente, quer junto do processo de execução e do encarregado da venda, acompanhando as suas diligências, quer junto do titular do direito de remição, informando-o convenientemente para a possibilidade do exercício desse seu direito de forma atempada, nem que a recorrente, por si ou por intermédio de representante, alguma vez tenha efectivamente demonstrado no próprio processo de execução que pretendia exercer o seu direito, apresentando em qualquer altura, em momento anterior ao da venda e/ou dentro dos prazos legalmente previstos para o exercício do seu direito, requerimento onde demonstrasse de forma inequívoca a intenção do exercício do direito, teremos que concluir pela total improcedência das suas pretensões.

Face ao exposto, acordam os juízes da Secção do Contencioso Tributário deste Supremo Tribunal

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Administrativo em negar provimento ao recurso.Custas pela Recorrente.D.n.

Lisboa, 5 de Fevereiro de 2015. – Aragão Seia (relator) – Casimiro Gonçalves – Francisco Rothes.

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