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Acórdãos STA Acórdão do Supremo Tribunal Administrativo Processo: 01233/17 Data do Acordão: 20-12-2017 Tribunal: 2 SECÇÃO Relator: ANTÓNIO PIMPÃO Descritores: EXECUÇÃO FISCAL VENDA DE IMÓVEL Sumário: No que respeita à venda de imóveis, em execução fiscal, nos termos do artigo 248º 1 do CPPT, a modalidade e o valor base da venda encontram-se aí estabelecidos, de forma vinculada, pelo que é inaplicável a tal venda o n.º 1 do art.º 812.º do CPC. Nº Convencional: JSTA000P22726 Nº do Documento: SA22017122001233 Data de Entrada: 07-11-2017 Recorrente: A... LDA Recorrido 1: AT - AUTORIDADE TRIBUTÁRIA E ADUANEIRA Votação: MAIORIA COM 1 VOT VENC Aditamento: Texto Integral Texto Integral: Acordam na Secção do Contencioso Tributário do Supremo Tribunal Administrativo: * 1.1. A………….., Lda., reclamou, no Tribunal Administrativo e Fiscal de Viseu, do despacho de venda judicial, por leilão eletrónico, do bem penhorado no âmbito do processo de execução fiscal n.º 2704200401005022, tendo peticionado a anulação do citado despacho. * 1.2. Aquele Tribunal, por sentença de 19/09/2017 (fls.154/178), concluiu: «Nestes termos, com os fundamentos expostos: i) Absolve-se da presente instância a Fazenda Pública no que tange ao pedido de suspensão da execução fiscal por impropriedade do meio processual para o efeito; ii) Julga-se improcedente o pedido de anulação do despacho que determinou a venda do imóvel por inverificação da nulidade invocada; iii) Custas do incidente pela Recorrente, nos termos do disposto no art.º 527, n.º 1, do CPC e n.º 4 do artigo 7º e Tabela 11 do RCP (Execução).». * 1.3. É dessa decisão que a recorrente interpõe recurso, terminando as suas alegações com o seguinte quadro conclusivo: «1. O presente processo respeita a uma reclamação apresentada pela A…………, Lda. (doravante “A………”) contra o despacho do Chefe de Serviço de Finanças de Tondela que Acordão do Supremo Tribunal Administrativo http://www.dgsi.pt/jsta.nsf/35fbbbf22e1bb1e680256f8e003ea931/2bb... 1 de 23 22-01-2018, 12:31

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Acórdãos STAAcórdão do Supremo Tribunal Administrativo

Processo: 01233/17Data do Acordão: 20-12-2017Tribunal: 2 SECÇÃORelator: ANTÓNIO PIMPÃODescritores: EXECUÇÃO FISCAL

VENDA DE IMÓVELSumário: No que respeita à venda de imóveis, em execução fiscal, nos

termos do artigo 248º 1 do CPPT, a modalidade e o valor baseda venda encontram-se aí estabelecidos, de forma vinculada,pelo que é inaplicável a tal venda o n.º 1 do art.º 812.º do CPC.

Nº Convencional: JSTA000P22726Nº do Documento: SA22017122001233Data de Entrada: 07-11-2017Recorrente: A... LDARecorrido 1: AT - AUTORIDADE TRIBUTÁRIA E ADUANEIRAVotação: MAIORIA COM 1 VOT VENC

Aditamento:

Texto Integral

Texto Integral: Acordam na Secção do Contencioso Tributário do SupremoTribunal Administrativo:

*1.1. A………….., Lda., reclamou, no Tribunal Administrativo eFiscal de Viseu, do despacho de venda judicial, por leilãoeletrónico, do bem penhorado no âmbito do processo deexecução fiscal n.º 2704200401005022, tendo peticionado aanulação do citado despacho.

*1.2. Aquele Tribunal, por sentença de 19/09/2017 (fls.154/178),concluiu:«Nestes termos, com os fundamentos expostos:i) Absolve-se da presente instância a Fazenda Pública no quetange ao pedido de suspensão da execução fiscal porimpropriedade do meio processual para o efeito;ii) Julga-se improcedente o pedido de anulação do despachoque determinou a venda do imóvel por inverificação da nulidadeinvocada;iii) Custas do incidente pela Recorrente, nos termos do dispostono art.º 527, n.º 1, do CPC e n.º 4 do artigo 7º e Tabela 11 doRCP (Execução).».

*1.3. É dessa decisão que a recorrente interpõe recurso,terminando as suas alegações com o seguinte quadroconclusivo:«1. O presente processo respeita a uma reclamaçãoapresentada pela A…………, Lda. (doravante “A………”) contrao despacho do Chefe de Serviço de Finanças de Tondela que

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determina a marcação da data para venda judicial, por meio deleilão eletrónico, do terreno para construção sito na Rua……….. e Avenida ………., Lugar ………., 4415-….., União deFreguesias de Pedroso e Seixezelo, inscrito na matriz predialurbana sob o artigo n.º 12727 e descrito na 2ª Conservatória doRegisto Predial de Vila Nova de Gaia sob o n.º 5169, no âmbitodo processo de execução fiscal n.°s 2704200401005022 e osidentificados na Impugnação Pauliana n.º 208/09.3TBTND-A.

2. O Tribunal a quo fez tábua rasa na aplicação do Direito nasentença recorrida, nomeadamente quando indefere a arguidanulidade do despacho por falta de audição do executadopreviamente à venda.3. Em concreto, o Tribunal a quo considerou que o CPPT reguladetalhadamente o procedimento de venda dos benspenhorados em execução fiscal, apenas sendosubsidiariamente aplicável o regime previsto no artigo 812.º doCPC na parte em que obriga à notificação dos credoresreclamantes do despacho que determina a venda judicial erespetivas condições.4. Salvo o devido respeito, não pode a A………., concordar como entendimento perfilhado pelo Tribunal a quo, uma vez que oCPPT permite que o órgão de execução fiscal possa optar poruma modalidade diferente da venda, nos termos do nº 5 doartigo 248.º e al. e) do n.º 1 do artigo 252.º, ambos do CPPT.5. Concedida a faculdade ao órgão de execução fiscal de poderoptar por qualquer das modalidades de venda previstas noCPC, em derrogação do regime geral da venda por leilãoeletrónico, torna-se, assim, imperioso ouvir o executado ecredores reclamantes com garantia real, para salvaguardar osseus interesses e direitos constitucionalmente protegidos,nomeadamente o direito de participação nas decisões que lhedigam respeito, nos termos dos artigos 20º, n.º 1, e 267.º, n.º 5,da CRP.6. Audição que era obrigatória nos termos do artigo 812.º doCPC, aplicável subsidiariamente ao processo de execuçãofiscal, também na parte em que obriga o órgão de execuçãofiscal a ouvir o executado e os credores reclamantes comgarantia real sobre modalidade da venda e eventual formaçãode lotes.7. Ao não ter ouvido a A………. antes de determinar a venda doimóvel por meio de leilão eletrónico o órgão de execução fiscalomitiu uma formalidade que a lei prescreve, sendo certo que airregularidade influiu na decisão da causa, nomeadamente noregime da venda do imóvel penhorado, ficando, assim,inquinado de nulidade o despacho que determina a modalidadede venda por leilão eletrónico, nos termos do n.º 1 do artigo195.º do CPC.

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8. Pelo que mal andou o Tribunal a quo ao julgar improcedentea reclamação apresentada pela A………. na parte em que arguia nulidade do despacho que determina a marcação da datapara venda judicial por meio de leilão eletrónico do terreno paraconstrução sito na Rua ………… e Avenida …………, Lugar………, 4415-….., União de Freguesias de Pedroso eSeixezelo, inscrito na matriz predial urbana sob o artigo n.º12727 e descrito na 2ª Conservatória do Registo Predial de VilaNova de Gaia sob o n.º 5169, no âmbito do processo deexecução fiscal n.º 2704200401005022 e os identificados naImpugnação Pauliana n.º 208/09.3TBTND-A.9. Requerendo-se a este Venerando Tribunal que revogue asentença Recorrida, declarando nulidade do referido despachopor preterição de formalidades legalmente prescritas, nostermos do n.º 1 do artigo 195.º do CPC, com todas asconsequências legais.».

*1.4. Não foram apresentadas contra-alegações.

*1.5. O Ministério Público emitiu a seguinte pronúncia:«1. Objecto do recurso1. O presente recurso vem interposto da sentença do TAF deViseu que julgou improcedente a reclamação intentada contra oato do órgão de execução fiscal que determinou a vendajudicial por leilão eletrónico do imóvel penhorado nos autos epertença da executada, com base em nulidade processualdecorrente da violação do disposto no artigo 812º do CPC, porremissão da alínea e) do artigo 2º do CPPT.2. Considera a Recorrente que a sentença padece do vício deerro de julgamento, por errónea interpretação e aplicação da lei,uma vez que se impunha a sua audição, ao abrigo do dispostono artigo 812° do CPC, pelo que essa omissão configuranulidade processual, por preterição de formalidade legal e influirna decisão da causa, nos termos do artigo 195º, nº 1, do CPC.E termina pedindo a revogação da sentença.II. Fundamentação de facto e de direito da sentença1. Na sentença deu-se como assente que no âmbito deexecução fiscal em que a reclamante figura como executada,em 15/04/2016 foi determinada a venda de um imóvel – terrenopara construção – penhorado nos autos e na titularidade dasociedade “B……….., S.A.”, tendo sido designado o dia11/07/2017 para a abertura das propostas, e sendo indicadocomo valor base, ao abrigo do disposto no nº 4 do artigo 250ºdo CPPT, o valor de € 561.064,60 euros, correspondente a 70%do seu valor patrimonial tributário (VPT).2. Para se decidir pela improcedência da ação considerou otribunal “a quo” que no âmbito da execução fiscal e atentos osprincípios da igualdade e da proporcionalidade que exigem uma

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maior objetividade na fixação dos termos em que a venda serealiza, não há lugar à auscultação do executado sobre amodalidade de venda e à aplicação do disposto no nº 1 doartigo 812º do CPC, pelo que concluiu o tribunal que a omissãode tal auscultação não configura a nulidade processual que lhefoi assacada pela reclamante.No entendimento vertido na sentença recorrida, considerou otribunal “a quo”: «no que tange aos imóveis...a distintaregulação não configura necessariamente uma lacuna, mas simuma diferente ponderação dos interesses em litígio que, noentender do legislador, justifica um diverso enquadramentolegislativo, porquanto, ao contrário do CPC em que se atribui àspartes alguma amplitude de conformação no que tange à formacomo irá ser realizada a venda, atentos os interesseseminentemente privados em jogo».Por outro lado considerou igualmente o tribunal “a quo” quemesmo admitindo a aplicação de tal normativo do CPC e averificação da apontada preterição de formalidade legal, amesma só teria efeitos invalidantes se pudesse influir no exameou na decisão da causa, tendo o tribunal concluído pelanegativa.III. Análise do Recurso.A questão que a Recorrente coloca a este tribunal consiste emsaber se há ou não lugar à audição do executado em ato prévioà prolação da decisão sobre a modalidade de venda de bemimóvel por parte do órgão de execução fiscal, e no casoafirmativo se a preterição de tal formalidade consubstancianulidade processual.Defende a Recorrente que tal formalidade legal é imposta peloartigo 812º do CPC, aplicável subsidiariamente ao processo deexecução fiscal invocando em apoio de tal tese a jurisprudênciado acórdão do STA de 02/10/2013, proc. 01385/13.No referido aresto, cuja jurisprudência se entendeuconsolidada( Fazendo-se referência aos acórdãos de 30/04/2008,proc. 0117/07, de 14/07/2008, proc. 022/08, de 02/04/2009, proc.0805/08, de 07/07/2010, proc. 0188/10, de 03/11/2010, proc. 0244/10,de 22/06/2010, proc. 03535/11, de 20/06/2012, proc. 016/12, de05/07/2012, proc. 0180/12, e de 23/01/2013, proc. 0667/12. Cfr. tb.acórdão de 29/01/2014, proc. 01961/13.), entendeu-se ser deaplicar subsidiariamente o regime do artigo 886º-A do CPC(correspondente ao atual 812º), no qual se deixou exarado oseguinte: «...porque o princípio da subsidiariedade de aplicaçãodas normas do Código de Processo Civil, imposto pelo art. 2º,alínea e), do CPPT, exige uma omissão ou lacuna deregulamentação legal acerca da matéria em causa nalegislação processual tributária, e essa omissão é patente nocaso, na medida em que o CPPT não possuí qualquerdispositivo que estabeleça ou defina o objecto da decisão que o

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órgão da execução fiscal tem de emitir sobre a venda nemcontém qualquer norma que aponte ou defina quem deveintervir na formação dessa decisão, posto que também aqui, naexecução fiscal, carecem de ser observados os princípios dacooperação e da boa-fé e respeitado o direito de cada indivíduointervir na formação das decisões que o atinjam, ou possamatingir, não obstante serem diversos os interesses quesubjazem na execução comum e na execução fiscal».Atenta a consolidação da referida jurisprudência (cfr. acórdãodo Pleno de 15/10/2014, proc. 01463/13), a cujafundamentação se nos afigura indiferente a natureza do bempenhorado (móvel ou imóvel), importa aferir se a omissão de taldiligência por parte do órgão de execução fiscal consubstanciaou não nulidade processual.Decorre do artigo 195º do CPC que a omissão de umaformalidade que a lei prescreva só produzem nulidade quandoa lei o declare ou quando a irregularidade cometida possa influirno exame ou na decisão da causa.Resulta igualmente do artigo 248º do CPPT que a venda é feitapreferencialmente por meio de leilão eletrónico, sendo nestecaso o valor base fixado em 70% do valor patrimonial tributário.E se é certo que no nº 5 do mesmo preceito legal se prevê apossibilidade de o órgão de execução fiscal determinar a vendaatravés de outra das modalidades previstas no CPC, talsituação configura-se como residual, ou seja, naqueles casosem que o leilão eletrónico ou a venda por propostas em cartafechada ficaram desertas (sem qualquer proposta). Vale isto pordizer que a modalidade adotada no caso concreto pelo órgãode execução fiscal é a modalidade regra, em que o valor basepelo qual o imóvel vai à “praça” é pré-determinado na lei, nãosendo deixado ao critério dos interessados na venda (v.g.executado ou credores com garantia real). Assim sendoconcordamos neste ponto com o tribunal “a quo” naconsideração de que não se vislumbra em que termos aomissão da auscultação da executada influiu ou deixou deinfluir na decisão do órgão de execução fiscal ao determinar avenda na modalidade de leilão eletrónico. Nem tão pouco aRecorrente esclarece em que termos ficou prejudicado o seuinteresse em que o bem seja vendido pelo melhor preço ou queesse legítimo interesse não tenha ficado acautelado.De todas as formas, ainda que se admita que essairregularidade acabou por repercutir-se no regular procedimentoda venda judicial e configura uma nulidade processual, nostermos do artigo 195º, nº 1, do CPC, a mesma tem que serarguida perante o órgão de execução fiscal. E só do eventualindeferimento dessa arguição pelo órgão de execução fiscal éque cabe reclamação ao abrigo do disposto no artigo 276º doCPPT (cfr. a este propósito o acórdão do Pleno de 05/07/2012,

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proc. 0873/11).Ora, no caso concreto dos autos não consta da matéria assentena sentença recorrida que essa nulidade tenha sido arguida noprocesso de execução fiscal perante o órgão de execuçãofiscal, motivo pelo qual tal falta de arguição prejudica o seuconhecimento em sede de reclamação dirigida ao tribunaltributário.Entendemos, assim, que o recurso está votado ao insucesso,motivo pelo qual se nos afigura que a sentença recorrida deveser confirmada, ainda que com outra fundamentação.».

*1.6. Colhidos os vistos legais, cabe decidir.

*2. A decisão recorrida deu como provada a seguinte matéria defacto:«A) Em 23 de junho de 2005, mediante a apresentação nº 51registada a aquisição do prédio descrito na 2.ª Conservatória doRegisto Predial de Vila Nova de Gaia sob o n.º 5168/19960712da freguesia de Pedroso, por B………. SA a C……….. Lda.[cfr. certidão do registo predial de fls. 91 a 92 dos autos].B) Em 3 de Março de 2010, foi registada a interposição da açãode impugnação pauliana que visava a declaração de ineficáciada transmissão constante do facto antecedente[cfr. certidão do registo predial de fls. 91 a 92 dos autos].C) Encontra-se pendente no Tribunal Administrativo e Fiscal doPorto ação administrativa especial autuada sob o nº1332/10.5BEPRT, intentada por «B………. SA» contra o«Ministério das Finanças» mediante a qual é peticionada aanulação do “ato de proceder à unificação da parte urbana erústica do prédio misto aludido em 1. Bem como à suaclassificação como terreno para construção urbana, e deproceder à sua avaliação enquanto tal, que levou à fixação deum valor patrimonial tributário de 761.540,00 e a atribuição doartigo urbano n.º P9077 da mesma freguesia e concelho” e “sersubstituído por outro que considere o terreno resultante dademolição da construção existente na parte urbana do prédio,inscrita na matriz sob o artigo 845 da freguesia de Pedroso, doconcelho de Vila Nova de Gaia que, na sequência de tal facto,recebeu o artigo P8587 como um prédio que deverá serclassificado, como, de resto o foi em 06.03.2007, na categoria«Outros», merecendo o valor patrimonial tributário de147.920,00 que, então, lhe foi atribuído e com que a A. seconformou, mantenha como rústicas as partes do prédio que seencontravam inscritas na matriz respetiva sob os artigos 2503 e3192 e declara ilegal qualquer liquidação de imposto,nomeadamente de IMI, IRC ou IMT, que entretanto venha a terlugar com base no valor patrimonial tributário encontrado aoabrigo do ato de que se recorre.”

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[cfr. emerge da posição das partes e da cópia da petição inicialconstante de fls. 28 a 37 dos autos. A ausência de decisão dolitígio foi confirmada no SITAF considerando-se que tal consultaconstitui facto de que o Tribunal tem conhecimento em virtudedo exercício das suas funções — art. 5º n.º 2 al. c) do CPCaplicável ex vi art. 2.º do CPPT]D) Em 14 de Julho de 2014 foi proferida sentença pelo TribunalJudicial de Tondela, na ação pauliana n.º 208/09.3TBTND-A,que opôs o Ministério Público em representação do EstadoPortuguês a «B……….. SA», NIPC ………, e «C……….. Lda.»,NIPC ……….., mediante a qual foi julgada a ação procedente edeclarada “ineficaz em relação ao Autor, o ato de compra evenda impugnado, ..., autorizando-se o Autor a executar nopatrimónio da Ré «B…………» o imóvel que lhe foi transmitidopela Ré «C………… Lda.» para cobrança dos créditos emquestão e apenas nessa medida...”.[cfr. sentença constante de fls. 44 a 63 dos presentes autos. OsNIPC resultam de fls. 42 verso].E) Em 5 de Maio de 2015, mediante o aresto proferido noâmbito da apelação n.º 208/09.3TBTND-AC1, foi confirmada asentença recorrida.[cfr. acórdão constante de fls. 66 verso a 87 verso dospresentes autos].F) Por despacho proferido em 30 de Outubro de 2015 foideterminada a citação da referida «B……….» para proceder aopagamento de EUR 35.971.638,64 sob pena de ser penhoradoo imóvel cuja transmissão foi declarada ineficaz.[cfr. despacho constante de fls. 88 verso dos presentes autos].G) Em 30 de Outubro de 2015 foi penhorado o imóvel inscritona matriz predial da União das Freguesias de Pedroso eSeixezelo sob o artº 12.727, com origem no artigo urbano 9077da extinta freguesia de Pedroso, proveniente dos art.ºs urbanosn.º 8587 e rústicos n.º 2503 e 3192 da mesma freguesia,descrito na 2.ª Conservatória do Registo Predial de Vila Novade Gaia sob o nº 5169 da freguesia de Pedroso, com o valorpatrimonial de EUR 801.520,85.[cfr. auto de penhora constante de fls. 90 dos presentes autos].H) Em 16 de Maio de 2017 proferida informação no processode execução fiscal n.º “2704200401005022 e os identificadosna IMPUGNAÇÃO PAULIANA n.º 208/09.3TBTND-A”informação com o seguinte teor:“Relativamente à executada «A…………, LDA.» (anteriormentedesignada de «C……….. LDA.»), NIPC: ………., cumpre-meinformar o seguinte:1. Na sequência de participação efetuada por este Serviço deFinanças em 2008-07-24, para os efeitos previstos no artigo610º do Código Civil (CC), o Ministério Público intentou açãodeclarativa de impugnação pauliana - Processo n.º

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208/09.3TBTND-A do 2° Juízo do Tribunal Judicial de Tondela(atualmente na Comarca de Viseu - Inst. Central - Secção Cível– J1) pedindo que fosse declarada ineficaz relativamente àAutoridade Tributária e Aduaneira (AT) o ato de alienação dosimóveis referente à escritura de compra e venda de 2005/08/11,pela qual a executada “A……….., LDA.”, NIPC: ………. vendeua “B…………. SA.”, NIPC: ………. o prédio misto constituídopelos artigos urbano 845 e rústicos 2503 e 3192 da (extinta)freguesia de Pedroso, concelho de Vila Nova de Gaia, quecorrespondem ao atual artigo urbano 12727 da União dasFreguesias de Pedroso e Seixezelo, concelho de Vila Nova deGaia e descrito na competente Conservatória sob o n.º 5169;2. À data da instauração da ação pauliana, a dívida emexecução fiscal neste SF, em nome da executada A…………,LDA, elevava-se ao montante de € 35.971.638,64 (trinta e cincomilhões, novecentos e setenta e um mil, seiscentos e trinta eoito euros e sessenta e quatro cêntimos), distribuídos pelosProcessos de Execução Fiscal (PEF’s) melhor identificados napetição inicial do Ministério Público.3. Em 2015-07-21 deu entrada na Direção de Finanças deViseu, a sentença proferida em 2014-07-14 no supraidentificado processo, bem como o acórdão do Tribunal daRelação de Coimbra de 2015-05-05 que confirmou a sentença,já transitada em julgado, tendo sido a ação julgada totalmenteprocedente, declarando, em consequência, ineficaz em relaçãoà Autoridade Tributária e Aduaneira (AT) o ato de alienaçãoimpugnado, e autorizando a AT a executar no património daB………… SA NIPC: ……….. o imóvel transmitido, paracobrança dos créditos em questão.4. Tendo em vista o cumprimento da sentença, foi em2015-10-30 proferido despacho, ordenando a penhora doreferido prédio urbano e determinando a citação da obrigada àrestituição “B…………. SA.”, NIPC: ……… para, querendo,proceder ao pagamento das dívidas em causa, no prazo de 30dias) sob pena de prossecução dos autos, nomeadamente aexecução do imóvel penhorado. 5. Em 2015-10-30, foi efetuadaa penhora do imóvel em questão e realizado o seu registo nacompetente Conservatória através da AP. 1803 de 2015/10/30;6. Em 2015-11-02 foi a obrigada à restituição notificada dapenhora efetuada) através do ofício n.º 1489 de 2015-10-30.7. Na mesma data, foi efetuada a citação da obrigada àrestituição, através do ofício n.º 1490 de 2015-10-30.8. Em 2015-11-13 foi apresentada, pela obrigada à restituição,reclamação dos atos do chefe nos termos do artigo 276° doCPPT, da penhora efetuada, tendo a mesma sido enviada parao Tribunal Administrativo e Fiscal (TAF) de Viseu, ondemereceu sentença improcedente, já transitada em julgado -processo n.º 962/15.3BEVIS.

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9. Na mesma data, a B………… apresentou petição deoposição judicial, remetida ao TAF de Viseu, onde se encontrapendente - processo n.º 5/16.OBEVIS.10. Em 2016-04-15, através do ofício n.º 613 de 2016-04-14, aobrigada à restituição e detentora do bem foi notificada parainformar a existência de todos os direitos, ónus e encargos nãoregistáveis que recaiam sobre o bem penhorado.11. Na sequência daquela notificação, a obrigada à restituiçãoreportou a existência de um contrato de comodato efetuado em2014-09-15 através do qual foi permitido a D……….., NIF:……… a utilização do bem gratuitamente, enquanto a“sociedade não necessitar dele”.12. Por todo o exposto, parecem-me reunidos os pressupostoslegais para que se proceda à marcação da venda, namodalidade de leilão eletrónico, do prédio referido.”[cfr. informação constante de fls. 95 a 96 dos presentes autos].I) Na mesma data foi proferido despacho determinando a vendacom o seguinte teor:“Face à informação que antecede, determino a marcação dadata para venda judicial por meio de Leilão Eletrónico doseguinte bem:Terreno para construção situado na Rua ……….. e Av.…………., lugar ………, 4415-……, com área total do terreno

de 4.452 m2, área de implementação do edifício de 2.218 m2,

área bruta de construção de 6.291,60 m2 e área bruta

dependente de 2.218 m2, que confronta de norte com ……….,de sul com ……….., de nascente com Rua ………. e de poentecom Av. ……….., inscrito na matriz predial urbana da União deFreguesias de Pedroso e Seixezelo, sob o artigo n.º 12727 edescrito na 2º Conservatória do Registo Predial de Vila Nova deGaia sob o n.º 5169. Tem valor patrimonial atual de €801.520,85 (oitocentos e um mil, quinhentos e vinte euros eoitenta e cinco cêntimos).Nos termos da alínea a) do n.º 1 do artigo 250.º do Código deProcedimento e de Processo Tributário (CPPT), o valor basedos bens imóveis para a venda é o valor patrimonial tributário,apurado nos termos do Código do Imposto sobre Imóveis(CIMI), no presente caso - € 801.520,85.Nos termos do n.º 4 do mesmo artigo, o valor base a anunciarpara a venda é igual a 70% do valor determinado nos termos don.º 1 do mesmo normativo. A este valor, acrescem os impostosdevidos à taxa legal.No presente caso, temos:Valor Atribuído aos Bens = € 801.520,85Valor Base para a Venda (70%) = € 561.064,60VALOR BASE DE LICITAÇÃO = € 561.064,60Designo para:

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-abertura de propostas o dia 11 de Julho de 2017, às 10:00horas;-data limite de aceitação de propostas, o dia 11 de Julho de2017, às 10:00 horas, devendo ser apresentadas no intervalode tempo que decorrerá entre as 10:00 horas do dia 26 deJunho de 2017 e as 10:00 horas do dia 11 de Julho de 2017;-exame do bem acima indicado, os dias de segunda a sextadas 10:00 às 17:00 horas no período de 11 de Junho até ao diae hora designados para abertura das propostas.Não são conhecidos quaisquer credores com garantia real. Acitação dos credores preferentes desconhecidos, conforme odeterminado no artigo 239.º do CPPT, será efetuada através doanúncio publicitado no sítio da Internet da AT e por meio deeditais a serem afixados no Serviço de Finanças de Vila Novade Gaia 3, na União de Freguesias de Pedroso e Seixezelo ena Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, nos termosprevistos no artigo 249º do CPPT, onde devem constar todos osdireitos, ónus e encargos não registáveis, que recaiam sobre obem penhorado.Notifique-se o depositário para efeitos do disposto do artigo771.º do Código de Processo Civil.Notifique-se, ainda, o comodatário dando conhecimento da datada realização da venda”.[cfr. informação de fls. 98 dos presentes autos].»

*3.1. A sentença em apreciação identificou como questão adecidir a de saber se o órgão de execução fiscal, ao determinara venda do imóvel penhorado, necessita de auscultar as partesrelativamente aos termos em que a venda deve ser efetuada.Acrescentou que o órgão de execução fiscal não deucumprimento ao prescrito no art.º 812.º do CPC n.º 1 do CPCque estabelece que a “decisão sobre a venda cabe ao agentede execução, ouvidos os exequentes, o executado e oscredores com garantia real sobre os bens a vender”.Refere que, no que respeita aos imóveis, que os termoslegalmente previstos para que a venda se realize sãoestritamente vinculados.Que a fixação daquelas regras apertadas torna, na esmagadoramaioria dos casos, a auscultação das partes processuais atoinútil porquanto a lei não estabelece qualquer margem deconformação.Que, no que tange aos imóveis, a distinta regulação nãoconfigura necessariamente uma lacuna mas sim uma diferenteponderação dos interesses em litígio que, no entender dolegislador, justifica um diverso enquadramento legislativo,porquanto, ao contrário do CPC em que se atribui às partesalguma amplitude de conformação no que tange à forma comoirá ser realizada a venda, atentos os interesses eminentemente

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privados em jogo.Que, no âmbito da execução fiscal, estão em causa princípiosde direito público como os princípios da igualdade e daproporcionalidade que impõem uma maior objetividade nafixação dos termos em que a venda se realiza.Concluiu, no que tange à venda de bens imóveis, pelainexistência de qualquer lacuna e, consequentemente, pelainaplicabilidade do n.º 1 do art.º 812.º do CPC à venda destesem execução fiscal.

*3.2. Sustenta o MP o seguinte:“ainda que se admita que essa irregularidade acabou porrepercutir-se no regular procedimento da venda judicial econfigura uma nulidade processual, nos termos do artigo 195º,nº 1, do CPC, a mesma tem que ser arguida perante o órgão deexecução fiscal. E só do eventual indeferimento dessa arguiçãopelo órgão de execução fiscal é que cabe reclamação ao abrigodo disposto no artigo 276º do CPPT (cfr. a este propósito oacórdão do Pleno de 05/07/2012, proc. 0873/11).Ora, no caso concreto dos autos não consta da matéria assentena sentença recorrida que essa nulidade tenha sido arguida noprocesso de execução fiscal perante o órgão de execuçãofiscal, motivo pelo qual tal falta de arguição prejudica o seuconhecimento em sede de reclamação dirigida ao tribunaltributário.Entendemos, assim, que o recurso está votado ao insucesso,motivo pelo qual se nos afigura que a sentença recorrida deveser confirmada, ainda que com outra fundamentação.”.E tem razão o MP quando afirma que, segundo o acórdão doPleno de 05/07/2012, proc. 0873/11, a eventual irregularidadeda falta de notificação tem que ser arguida perante o órgão deexecução fiscal e que só do eventual indeferimento dessaarguição, pelo órgão de execução fiscal, é que cabereclamação ao abrigo do disposto no artigo 276º do CPPT.E tem ainda razão quando afirma que, no caso concreto dosautos não consta da matéria assente, na sentença recorrida,que essa nulidade tenha sido arguida no processo de execuçãofiscal perante o órgão de execução fiscal.Já não se concorda contudo com a afirmação do MP de que talfalta de arguição prejudica o seu conhecimento em sede dereclamação dirigida ao tribunal tributário.Com efeito entende-se que tal questão não foi suscitada notribunal recorrido nem por este apreciada.Igualmente não integra as conclusões das alegações pelo que,não sendo questão de conhecimento oficioso, não pode talquestão ser conhecida no âmbito do presente recurso.

*3.3. A questão controvertida consiste em determinar se o órgão

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de execução fiscal está obrigado, antes de determinar a vendade imóvel, a ouvir o executado, nos termos do art.º 812.º 1 e 2do CPC, sobre a modalidade da venda e o valor dos bens avender.Questão semelhante foi apreciada pelo Pleno desta Seção, em15-10-2014, Proc. 01463/13, em que se questionava se ocredor reclamante deveria ser ouvido sobre tal venda.Igualmente o acórdão de 02-10-2013, Proc. 01385/13, apreciouquestão semelhante ainda que referente a móveis.Conforme refere o MP questão semelhante foi igualmentetratada nos acórdãos de 30/04/2008, proc. 0117/07, de 14/07/2008,proc. 022/08, de 02/04/2009, proc. 0805/08, de 07/07/2010, proc.0188/10, de 03/11/2010, proc. 0244/10, de 22/06/2010, proc. 03535/11,de 20/06/2012, proc. 016/12, de 05/07/2012, proc. 0180/12, e de23/01/2013, proc. 0667/12 e acórdão de 29/01/2014, proc. 01961/13.Estabelece art.º 812.º 1 e 2 do CPC que a “decisão sobre avenda cabe ao agente de execução, ouvidos os exequentes, oexecutado e os credores com garantia sobre os bens a vender”.Segundo a Fazenda Pública ocorre completa regulação dasformalidades da venda em sede de execução fiscal no Códigode Procedimento e de Processo Tributário e na Portaria n.º219/2011, de 1 de Junho, que aprovou os procedimentos eespecificações técnicas a observar na realização da venda debens penhorados em processo de execução fiscal de vendajudicial na modalidade de leilão eletrónico.Não se questiona que, existindo lacunas na regulamentaçãodas vendas em execução fiscal, são as mesmas supridas pelaaplicação do Código de Processo Civil, como resulta dodisposto no art.º 2.º do CPPT ao estabelecer a sua aplicaçãosubsidiária, “de harmonia com a natureza dos casos omissos”.Estabelece o art.º 812.º do CPC o seguinte regime:“1 – Quando a lei não disponha diversamente, a decisão sobrea venda cabe ao agente de execução, ouvidos o exequente, oexecutado e os credores com garantia sobre os bens a vender.2 – A decisão tem como objeto:a) A modalidade da venda, relativamente a todos ou a cadacategoria de bens penhorados;b) O valor base dos bens a vender;c) A eventual formação de lotes, com vista à venda em conjuntode bens penhorados.3 - O valor de base dos bens imóveis corresponde ao maior dosseguintes valores:a) Valor patrimonial tributário, nos termos de avaliação efetuadahá menos de seis anos;b) Valor de mercado.4 - Em relação aos bens não referidos no número anterior, oagente de execução fixa o seu valor de base de acordo com ovalor de mercado.

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5 - Nos casos da alínea b) do n.º 3 e do número anterior, oagente de execução pode promover as diligências necessáriasà fixação do valor do bem de acordo com o valor de mercado,quando o considere vantajoso ou algum dos interessados opretenda.”Este preceito normativo em análise tem conteúdo idêntico ao doanterior CPC no art.º 886.º-A, no qual existe, como na sentençarecorrida se escreveu, uma considerável amplitude dediscricionariedade na venda dos bens penhorados quer quantoà modalidade de venda, quer quanto ao valor base para vendapelo que, nas execuções que correm nos termos do CPC, adecisão dos termos da venda é do agente de execução, quedetermina a modalidade da venda, o valor base dos bens avender, tendo por referência o que considera ser o valor demercado destes, bem como a eventual formação de lotes.Nos termos deste preceito legal, no que respeita a bensimóveis, o valor para venda pode ter por referência valoressuperiores ao valor patrimonial tributário sempre que se concluaque este é inferior ao “valor do mercado”.Diversamente nos artigos 248.º a 256.º do CPPT queestabelecem as formalidades a que deve obedecer oprocedimento da venda em execução fiscal, nenhumareferência fazem quanto à necessidade de ouvir o executado noque respeita à modalidade de venda escolhida e preço aocontrário do que resulta do CPC.Ainda, conforme se afirmou na sentença recorrida, no processode execução fiscal encontra-se, minuciosamente, detalhadotodo o procedimento de venda, estabelecendo-senomeadamente qual a modalidade da mesma, o preço, quepublicidade é efetuada quantos dias dura o leilão, o que sucedecaso inexistam lances nos leilões.No artigo 248º do CPPT estabelece-se que a venda é realizadapor leilão eletrónico.Acrescenta-se a expressão preferencialmente por meio deleilão eletrónico ou, na sua impossibilidade, de propostas emcarta fechada.Só na impossibilidade de utilização do leilão eletrónico se podeutilizar as propostas em carta fechada.A audição do executado só permitiria que este optasse pelaspropostas em carta fechada na impossibilidade de utilização doleilão eletrónico.E igual utilidade teria a audição do executado para sepronunciar sobre o valor base que, nos termos do nº 2, é 70%do valor patrimonial tributário apurado nos termos do Código doimposto Municipal sobre Imóveis (CIMI), nos termos do artigo248.º e 250.º do CPPT.Daí que se possa acrescentar que, mesmo que o valor demercado do imóvel seja superior ao seu valor patrimonial

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tributário e que haja consenso quanto a esse valor, o valor basepara a venda não pode ser determinado por aquele mas emfunção do VPT apurado nos termos do CIMI.No que respeita a imóveis, nos termos do artigo 248º 1 doCPPT, a modalidade e o valor base da venda são estritamentevinculados.No que ao leilão eletrónico respeita não podemos deixar deacrescentar que nos parece ser a forma mais adequada etransparente de publicitar a venda com vista a encontrar amelhorar proposta de compra para o imóvel a vender.Tornar-se-ia a auscultação do executado, para se pronunciarsobre a modalidade da venda ou sobre o valor base dos bensimóveis, ato inútil porquanto a lei não estabelece qualquermargem de conformação.É certo que a inclusão da expressão preferencialmente no nº 1do artigo 248º do CPPT parece pretender atribuir ao OEFalguma margem de conformação.Contudo é tal margem de conformação meramente aparente jáque a afirmação da opção pelas propostas em carta fechadaexige sempre a impossibilidade da realização do leilãoeletrónico.Daí que a interpretação mais adequada do nº 1 do artigo 248ºdo CPPT implique que se articule a palavra preferencialmentecom a expressão na sua impossibilidade.Parece-nos, por isso, podermos concluir que, nos termos do nº1 do artigo 248º do CPPT, a venda é feita por meio de leilãoeletrónico preferencialmente e na sua impossibilidade porpropostas em carta fechada.Inexistindo, no que à venda de bens imóveis respeita, lacuna éinaplicável o n.º 1 do art.º 812.º do CPC à sua venda emexecução fiscal.

*No que respeita à venda de imóveis, em execução fiscal, nostermos do artigo 248º 1 do CPPT, a modalidade e o valor baseda venda encontram-se aí estabelecidos, de forma vinculada,pelo que é inaplicável a tal venda o n.º 1 do art.º 812.º do CPC.

*4. Termos em que acordam os juízes da Secção deContencioso Tributário do Supremo Tribunal Administrativo emnegar provimento ao recurso e confirmar a sentença recorrida.Custas pela recorrente.Lisboa, 20 de dezembro de 2017. – António Pimpão (relator porvencimento) – Ascensão Lopes – Ana Paula Lobo (vencidasegundo voto que anexo).

Voto de vencida

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Não acompanho a decisão que fez vencimentoneste recurso pelas razões que passo aenunciar:

***O objecto do recurso circunscreve-se a definirquais as consequências jurídicas do facto de oórgão de execução fiscal não ter dadocumprimento ao prescrito no art.º 812.º do CPCque estabelece que a “decisão sobre a vendacabe ao agente de execução, ouvidos oexequente, o executado e os credores comgarantia real sobre os bens a vender».A aplicação subsidiária das normas do Códigode Processo Civil em matéria de venda judicialdepende, nos termos do disposto no art.º 2.º doCódigo de Processo e Procedimento Tributárioda verificação de uma lacuna naregulamentação tributária da matéria.Contrariamente ao que foi entendido pelasentença recorrida e reafirmado no acórdãoque fez vencimento, considero que as normasprevistas no Código de Processo eProcedimento Tributário para a venda emexecução fiscal não traçam um processocompleto da venda em execução fiscal, pelomenos no que a esta questão diz respeito,quando olhados os termos processuaisexpressamente previstos à luz dos princípios dadefesa, da participação nas decisões que lhedigam respeito, e do contraditório.A execução fiscal corre nos serviços definanças, sem perder a sua natureza deprocesso judicial e nos termos do art. 3º, nº 3,do CPC, em que se estabelece que «o juizdeve observar e fazer cumprir, ao longo de todo

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o processo, o princípio do contraditório, não lhesendo lícito, salvo caso de manifestadesnecessidade, decidir questões de direito oude facto, mesmo que de conhecimento oficioso,sem que as partes tenham tido a possibilidadede sobre elas se pronunciarem». Estaobrigação que incumbe ao juiz nos processosque correm seus termos no tribunal, e, temvindo a ser reafirmada pela jurisprudênciaconstitucional de forma transversal a todo oordenamento jurídico, há-de ser cumprida pelosserviços de Finanças, nos processos deexecução fiscal que tramitam, sob pena defazerem uma aplicação da lei desconforme coma Constituição da República Portuguesa.Para além disso e sem carecer de invocaçãoexpressa daqueles princípios geraisestruturantes de qualquer relação jurídicaprocessual no ordenamento português, ou dosprincípios constitucionais referenciados, averificação de uma lacuna é evidenciada nopróprio art.º 248.º estejam em causa bensmóveis ou imóveis, haja ou não que seconstituir lotes. Assim, ela é patente já no n.º 1do art.º 248.º do Código de Processo eProcedimento Tributário que não se queda pelaparte referida no acórdão que logrouvencimento:«1 - A venda é feita preferencialmente por meiode leilão electrónico ou, na sua impossibilidade,de propostas em carta fechada, nos termos dosnúmeros seguintes, salvo quando o presenteCódigo disponha de forma contrária.».Este preceito diz que a venda é feitapreferencialmente por meio de leilão

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electrónico, indicando que o legisladorentendeu que o meio que mais deve serutilizado para a venda, diversamente do queocorre no Processo Civil, é o leilão eletrónico.Mas quando pode ser ela efectuada por umadiversa forma?- Pode:1- Quando houver impossibilidade de realizarleilão electrónico;2- Quando o presente Código disponha deforma contrária.Para o que aqui importa imediatamente, umadas situações em que o presente Códigodispõe de forma contrária está mesmo no art.º248.º, n.º 5:«O órgão de execução fiscal pode determinar avenda em outra modalidade prevista no Códigode Processo Civil.».O órgão de execução fiscal, por iniciativaprópria, ou, a requerimento do executado ououtro interessado na venda dispõe dapossibilidade de utilizar uma das modalidadesda venda prevista no Código de Processo Civil,ou seja, uma das modalidades de vendareferidas no art.º 811.º do Código de ProcessoCivil:«Artigo 811.ºModalidades de venda1 - A venda pode revestir as seguintesmodalidades:a) Venda mediante propostas em cartafechada;b) Venda em mercados regulamentados;c) Venda direta a pessoas ou entidades quetenham direito a adquirir os bens;

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d) Venda por negociação particular;e) Venda em estabelecimento de leilões;f) Venda em depósito público ou equiparado;g) Venda em leilão eletrónico.»Possivelmente, numa primeira fase, a audiçãodo executado e outros interessados na vendaprotelará a execução da venda e o executadoterá porventura grande interesse nesse atraso.Mas a sua audição sobre a modalidade davenda permite que se cumpra o princípio dalegalidade, o princípio do contraditório e que aexecução atinge a sua finalidade seguindo umrito processual que efectivamente conceda umaeficaz e eficiente tutela jurisdicional efectiva -direito fundamental qualificado dos cidadãos, oqual está integrado na categoria dos direitos,liberdades e garantias (artigo 17.º da CRP) -impostos pela Constituição da RepúblicaPortuguesa nos seus art.ºs 20.º e 268.º.Estes direitos não são concedidos e devem serutilizados apenas quando o tribunal conseguedescortinar como vai utilizá-lo o seubeneficiário. A utilização dos direitos comportaaté o não uso desses direitos, sem que, mesmoantecipando esta última situação, se possaconsiderar que então o direito não existe.Ouvir o executado sobre a modalidade davenda não é um caso de manifestadesnecessidade que permita desconsiderar anecessidade de audição. Ouvi-lo permite queele possa salvaguardar melhor o seu direitoque, neste caso, será sobretudo que o bemseja vendido nas condições mais favoráveispara atingir o preço mais elevado, o que em simesmo em nada é conflituante com os

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interesses do credor exequente. Talnecessidade de audição ocorre em qualquervenda executiva estejam em causa bensmóveis ou imóveis, pois o executado que éainda o proprietário do bem é a entidade queestá em melhores condições de aquilatar damais eficiente forma de venda.O órgão da execução fiscal devia, pois, terouvido a executada antes da decisão sobre avenda, quanto, designadamente, à modalidadeescolhida e ao valor base dos bens a vender.Ao preterir tal formalidade, o órgão daexecução fiscal impediu a executada de intervirnesta fase do processo e de participar nadecisão sobre a venda, o que atenta contra oseu direito de se fazer ouvir em defesa dosseus legítimos interesses numa execuçãofiscal, cerceia a possibilidade de uma tutelajudicial efectiva e viola o princípio docontraditório.Entende o Magistrado do Ministério Público quenem a recorrente arguiu a nulidade perante oórgão de execução fiscal, nem alegou queprejuízo suportou com tal omissão, no queassenta o seu parecer improcedência derecurso.A recorrente tendo tomado nota da preteriçãode uma formalidade legal com um despachoproferido pelo órgão de execução fiscal,apresentou, em devido tempo, reclamação delepara o Tribunal, invocando a sua nulidadepedindo a anulação do despacho e termosprocessuais subsequentes.Constatada a omissão da formalidade legal,não auscultação da recorrente sobre a

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modalidade da venda, como aqui acontece,haverá que estabelecer qual a suaconsequência jurídica.Nos termos do disposto no art.º 195°, n.º 1 doCódigo de Processo Civil, aqui aplicável porforça do disposto no art.º 2.º do Código deProcesso e Procedimento Tributário, a omissãode uma formalidade que a lei prescreva sóproduz nulidade quando a lei o declare ouquando a irregularidade cometida possa influirno exame ou na decisão da causa. A expressão«possa influir» remete-nos para uma meraprobabilidade de que da omissão possamdecorrer interferências significativas nodesenrolar posterior do processo que possamafectar negativamente os direitos e interessesde quem vem arguir a preterição de formalidadelegal. Estando perante a omissão de umaformalidade, com a complexidade destes autos,em que para garantir os direitos de defesa darecorrente e cumprir os objectivos do princípiodo contraditório e do direito de participação doscontribuintes na formação das decisões queafectem ou possam afectar os seus direitos einteresses legalmente protegidos, princípiosque são transversais a todos os procedimentosadministrativos e a todos os processos judiciaisse deve lançar mão da aplicação subsidiária dodisposto no art.º 812.º do Código de ProcessoCivil, a conclusão de que tal omissão não podeinfluir no exame ou decisão da causa parecemeramente formal e seria aniquiladora daquiloque se pretende evitar com a aplicaçãosubsidiária do art.º 812.º do Código deProcesso Civil.

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A decisão reclamada é susceptível dereclamação sem carecer de que a parte hajaprimeiro que requerer ao órgão de execuçãofiscal que repare a omissão da preterição deformalidade legal. Verificada a preterição deformalidade legal o tribunal tem que sepronunciar sobre se ela origina ou não nulidadeprocessual face ao acto omitido e quais asconsequências para o processo. A recorrenteformulou o pedido de anulação do despacho ede anulação dos termos processuais quedepois dele foram praticados com fundamentoem ter sido preterida uma formalidade legal quedeve ser tida por nulidade processual.Face ao regime constitucional vigente e àsmuitas interpretações que dele tem vindo afazer o Tribunal Constitucional sobre aimportância de serem processualmentesalvaguardados os direitos de defesa ecumpridos de modo estrito e profundo oprincípio do contraditório e da participação doscidadãos na construção das decisõesadministrativas e judiciais que afectem os seusdireitos ou interesses legalmente protegidos,não é possível concluir que uma violaçãodaqueles direitos e princípios possa serirrelevante apenas porque a parte se dirigiudirectamente ao tribunal através de umareclamação do acto lesivo e não também comum antecedente pedido ao órgão que praticouesse acto de que o reparasse. Praticado umacto, nas condições aqui em análise, que aparte ataca por via judicial dele reclamando nostermos previstos no Código de Processo eProcedimento Tributário, e vindo esse acto a

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considerar-se lesivo dos direitos do reclamantehá que extrair dele todas as consequênciaslegais adequadas a reparar a lesividade do actona esfera jurídica do reclamante, sem exigênciade quaisquer outras formalidades que, emconcreto, levariam a que verificada a omissãode uma formalidade legal, com a gravidade dapresente omissão, tudo continue para futurocomo se a lei houvesse sido cumprida.Creio que a visão do processo apresentadapelo Magistrado do Ministério Público no seuparecer é dificilmente compaginável, no casoconcreto, com a garantia constitucional datutela jurisdicional efectiva que, em caso algumpode ceder perante reais ou potenciais ritosprocessuais que destruam essa tutela devida.Assim, pese embora haja sido determinada avenda pela forma preferida do legislador emsede de execução fiscal, aparentemente com opreço base determinado na lei e sem que hajasido indicado o concreto dano que isso possacausar à recorrente, mesmo assim, sem ela tertido a possibilidade de sobre isso se pronunciarmantém-se a possibilidade, exigida no art.º195.º do Código de Processo Civil, de talomissão poder interferir no exame ou decisãoda causa.Em conclusão, numa interpretação do art.º248.º do Código de Processo e ProcedimentoTributário conforme à Constituição daRepública Portuguesa, consideraria que o art.º812.º do Código de Processo Civil deve ter-sepor subsidiariamente aplicável ao processo deexecução fiscal, a omissão da sua aplicaçãosubsidiária constitui preterição de formalidade

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legal que, na presente situação pode influir noexame ou decisão da causa e,consequentemente, dela deveria decorrer aanulação do despacho que omitiu ocumprimento dessa formalidade, com aconsequente anulação de todos os actosprocessuais praticados após tal omissão, nostermos do disposto no art.º 195.º, n.º2 doCódigo de Processo Civil, aqui aplicável porforça do disposto no art.º 2.º do Código deProcesso e Procedimento Tributário.Revogaria a sentença recorrida que assim nãoentendeu, por enfermar, em meu entender, deerro de julgamento, por errada interpretação eaplicação da lei, em desconformidade com aConstituição da República Portuguesa.(Processado e revisto pela relatora com recurso a meios informáticos (art.º 131º nº 5 doCódigo de Processo Civil, ex vi artº 2º Código de Procedimento e Processo Tributário).

Lisboa, 20 de Dezembro de 2017. – Ana Paula Lobo (relatora).

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