ótimo acordão consumidor defeito do produto responsabilidade solidária
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PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ES TA D O DE SÃO PAULO
QUARTA CÂMARA DE DIREITO PRIVADO
ACÓRDÃOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO
ACÓRDÃO/DECISÃO MONOCRÁTICAREGISTRADO(A) SO B N°
*02400244*
RESPONSABILIDADE PELO FATO DO
PRODUTO - Indenização por dano moral - Ingestão
de água de coco industrializada com qualidade
alterada — Prova pericial indicativa da existência de
fungos e outros microorganism os, tornando-oinadequado ao consumo - Produto que não tinha as
qualidades e a segurança esperada pelo consumidor -
Irrelevância da prova documental indicar cuidados
na fabricação do produto - Fases de transporte,
distribuição e comercialização que integram o ciclo
de consumo e geram responsabilidade da cadeia de
fornecedores, inclusive o fabricante - Dever de
reparar o dano - Sentença de procedência mantida -
Redução do valor indenizatório a montante
compatível com o grau de sofrimento da vítima e
função preventiva de novos incidentes — Recurso daré parcialmente provido.
Voto n°7.340j
Vistos, relatados e discutidos estes autos deApelação Cível n° 428.086-4/7, da Comarca de São Paulo, em que
figura como apelante AMACOCO ÁGUA DE COCO DA AMAZÔNIA
LTDA. e como apelada REGINA PINESIO CAMILO:
ACORDAM, em Quarta Câmara de Direito
Privado do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, por votação
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unânime, dar parcial provimento ao recurso, em conformidade com o
relatório e voto do Relator, que integram o Acórdão.
Regina Pinesio Camilo propôs ação de
indenização por dano moral contra Amacoco Água de Coco da
Amazônia Ltda. Afirmou que, em data determinada, reunida com
amigos em um estabelecimento comercial, ao ingerir o conteúdo de umfrasco com água de coco da marca "Kero Coco" sentiu gosto de algo
podre, como se digerisse substância em estado de putrefação, o que
fez com cuspisse o restante do líquido.
Afirmou ter constatado, na seqüência, que se
cuidava de substância de cor escura e avermelhada, o que foi
igualmente verificado por todos os presentes, além do cheiro
insuportável.
A situação foi levada ao conhecimento da
autoridade policial da região, certo que o resultado dos exames por
parte do Instituto Adolfo Lutz indicou existência de l íquido turvo, com
partículas em suspensão e odor alterado, estando em desacordo com
a legislação emvigor e impróprio ao consumo.
Afirmou ter f icado enojada com o ocorrido,
vomitou seguidas vezes durante a madrugada posterior ao incidente e
que não consegue esquecer o aspecto, coloração, cheiro e gosto
experimentados, enfrentando repulsa e asco por todos os líquidos em
caixa. Pediu, por isso, a condenação da empresa a indenizar o prejuízo
moral, estimando-o emvalor equivalente a 250 salários mínimos.
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A sentença de fls. 241/246 julgou a ação
procedente e condenou a ré a indenizar dano moral em valor
equivalente a cem salários mínimos, por entender que, embora a ré
tenha demonstrado cuidados com a fabricação do produto, certamente
ocorreu rompimento imperceptível da embalagem, que deu causa ao
surgimento de fungos.
A ré apela para modificar a sentença. Argumenta
não admitir a presença de qualquer corpo estranho no produto, tendo
em vista o moderno e seguro sistema de industrialização, desenvolvido
com base em padrões internacionais, com alta tecnologia e que pode
ser constatado por qualquer pessoa que visite as instalações fab ris.
Ressalta que é submetida rotineiramente asevero controle de qualidade, por fiscalização sanitária nas esferas
federal, estadual e municipal, certo que conta com registro expedido
pelo Ministério da Agricultura para o produto "água de coco". Assim , o
processo industrial utilizado é imune a falhas e apenas de maneira
dolosa, com participação ou conivência de pessoas mal intencionadas,
seria possível introduzir algo estranho nas caixas de água de coco
hermeticamente fechadas.
Afirma ainda que não há nexo causai entre o
alegado defeito do produto e supostos danos o sofrido pela apelada,
como indisposição e mal estar. A conclusão do inquérito policial foi no
sentido de que não é possível atribuir responsabilidade criminal a
quem quer que seja. Diz que as demais embalagens do lote estavam
em perfeito estado de conservação e que, em decorrência do processo
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de industrialização, se alguma unidade estivesse irregular,
contaminaria todo o restante, o que não ocorreu.
Sustenta ainda que a autora não descreveu no
que consistiram os afirmados danos morais e sua extensão, limitando-
se a lançar expressões genéricas sobre sentimento de repugnância.
Argumenta que a quantia fixada na sentença, de 100 salários mínimos,não reúne qualquer parâmetro e sua quantificação, além de excessiva,
é aleatória, certo que grande parte da população sobrevive com um
salário mínimo mensal.
No caso, eventual indenização apenas terá o
condão de compensar possível dano, proporcionando à vítima algo que
atenue o sofrimento experimentado, levando-se em conta o critério
objetivo do homem médio, mas jamais pode ser fonte de
enriquecimento, de maneira que há necessidade de moderação no
arbitramento do valor respectivo e que, no caso, se mostrou
exacerbado.
Foram apresentadas contra-razões.
Esse é o relatório.
1. Não resta dúvida da existência de acidente de
consumo, decorrente da ingestão, pela autora, de conteúdo de uma
embalagem de água de coco "Kero Coco".
Tal fato se encontra comprovado pelo auto de
apreensão do produto por parte da autoridade policial, somado aos
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relatos fidedignos da autora, que se encontrava acompanhada de
familiares no momento do incidente.
Note-se que nem a própria ré coloca dúvida
objetiva sobre a ocorrência do evento, ressalvando apenas que
eventual defeito do produto não decorre da fase de criação e de
fabricação, mas eventualmente da fase de transporte ecomercialização.
2. A ré de desincumbiu com razoável proficiência
de demonstrar todos os cuidados que adota no ciclo de fabricação do
produto, evitando por sofisticados processos que qualquer impureza o
contamine.
Exibiu, além de fotos e de detalhada descrição do
processo de fabricação do produto, licenças e atestados dos mais
diversos órgãos, nacionais e internacionais, certificando a boa
qualidade do produto, exportados a diversos países.
Desnecessária, por isso, como já decidiu Acórdão
proferido contra decisão interlocutória, a realização de prova pericial
nas instalações fabris da ré, diante de sua impertinência ao julgamento
da presente ação.
Ainda que se demonstre - e no caso concreto
tanto a sentença como este Acórdão admitem tal fato - que o processo
de fabricação concentra todos os cuidados exigíveis para preservação
do produto, há responsabilidade civil do fabricante, se chegou
deteriorado nas mãos do consumidor.
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3. Como consta de julgamento dos Embargos
Infringentes no. 414.146.4/6-01 desta Quarta Câmara de Direito
Privado, nos quais funcionei como relator, sabido que um dos pilares
da sociedade industrial e de consumo é a confiança.
Os fornecedores se organizam, na sociedade
capitalista contemporânea, mediante decisões racionais e critérioseconômicos, sempre na busca da maior eficiência. Há elevados níveis
de gestão - hoje governança corporativa -, com controle matemático
de produtividade, riscos e custos (Luciano Benetti Timm, Os
Grandes Modelos de Responsab ilidade Civil no direito Privado: da
culpa ao risco, in Direito do Consumidor, v. 55, p. 164; ver,
também, José Reinaldo Lima Lopes, Responsabilidade Civil do
Fabricante e a Defesa do Consumidor, RT, p. 39 e seguintes).
Unem-se os fornecedores, em decisões racionais
e calculadas na busca da eficiência máxima e derrota da concorrência,
com o objetivo de cativar o consumidor. Figura o produtor - ou
fabricante - como líder nesta cadeia, estabelecendo mecanismos
sofisticados de criação, marketing e distribuição de seus produtos, com
o objetivo de induzir o consumidor a comprá-los.
Numa relação massificada, cria-se verdadeiro
contato social entre o produtor e o adquirente final. O consumidor
compra e paga, induzido pelas mais diversas estratégias,
simplesmente porque confia no próprio produto (a marca vende os
produtos). Disso decorre o estabelecimento de uma relação de
confiança e clientela entre o produtor e o consumidor, geradora de
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efeitos jurídicos. A proeminência do produtor na relação de consumo
faz com que se desvalorize a relação entre o consumidor e o
comerciante retalhista. O papel do comerciante passa a ser de simples
entreposto, ou canal de passagem dos produtos (João Calvão da
Silva, Responsabilidade Civil do Produtor, Almedina, p. 329/330).
Tal posição é muito clara e reconhecida de modotranqüilo pela melhor doutrina. De algum modo, perante o consumidor
o comerciante representa o fabricante, dele recebendo o produto e
repassando-o ao adquirente (Arnaldo Rizzardo, Responsabilidade
Civil, Forense, p. 05).
O fabricante concentra os riscos da produção,
pois é a figura predominante na sociedade de consumo. É ele quemdomina o processo produtivo e determina os meios pelos quais os
produtos chegam às mãos dos distribuidores, varejistas e, a partir
destes, ao consumidor (Antônio Herman Benjamin, Comentários ao
CDC , E d. Juarez de Oliveira, p. 56).
4. Decorre da posição acima exposta o esquema
de responsabilidade civil do fato do produto, disciplinado nos artigos 12a 17 do Código de Defesa do Consumidor.
A responsabilidade primária prevista no artigo 12
recai sobre o fabricante, o produtor, o construtor e o importador, figuras
proeminentes do ciclo produtivo, independentemente de culpa, por
defeito do produto.
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O artigo subseqüente - 13 - apenas adiciona a
responsabilidade civil do comerciante, ao dispor ser igualmente
responsável, emcertas circunstâncias. L ogo, eventual ato imputavel ao
comerciante não exclui a responsabilidade do produtor, mas apenas
soma mais um responsável solidário entre os integrantes da cadeia
produtiva.
Na lição maior de Cláudia Lima Marques,
"podemos concluir que, segundo os artigos 12 e 13 do CDC, o
fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o
importador, são responsáveis principais pela reparação dos danos
causados ao consumidor por defeito do produto independentemente de
culpa. O art. 12, em relação ao art. 13, estaria instituindo uma
hierarquia de responsáveis. Por sua vez, em casos especiais, a norma
do art. 13 acrescenta mais um responsável solidário à lista do art. 12, o
fornecedor-final ou comerciante" (Contratos no Código de Defesa do
Consumidor, 4a. Edição RT, p. 1.034).
Não resta dúvida que o produto se encontrava
impróprio ao consumo, como atesta concludente laudo pericial do
Instituto Adolfo Lutz.
O próprio auto de apreensão elaborado pela
autoridade policial momentos depois do acidente de consumo revela a
existência de produto com colocação avermelhada e odor forte,
claramente indicativo de sua inadequação à ingestão por
consumidores.
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O mais provável é que a deterioração do produto
tenha ocorrido em razão de perfuração da embalagem durante o
transporte, armazenamento, ou mesmo nos momentos que
antecederam a comercialização.
A responsabilidade é objetiva, de modo que o
elemento acidental da culpa não se faz presente. Na verdade, aresponsabilidade é do produto, que não tinha as qualidades que dele
se esperava ao ser adquirido pelo consumidor. A perfeição decorrente
do dever de qualidade não se faz presente somente no momento da
alienação do fabricante para o distribuidor, mas sobretudo quando o
consum idor adquire o produto.
Perante o consumidor, o processo de produção edistribuição é uno, e a ausência de qualidade em qualquer de suas
fases contamina o produtor.
5. A excludente de responsabilidade prevista no
artigo 14, parágrafo 3°., II, do Código de Defesa do Consumidor, de
culpa - rectius, ato imputável - exclusiva de terceiro, não abrange o
com erciante ou o retalhista.
A razão é simples. O comerciante, o atacadista, o
transportador, nos termos do artigo antecedente, são responsáveis
solidários quanto praticarem o ato imputável, em acréscimo à
responsabilidade do fabricante.
Os integrantes da cadeia produtiva jamais podem
ser terceiros uns em relação aos outros, para efeito de exclusão de
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responsabilidade, sob pena de quebrar o princípio da solidariedade,
em detrimento do consumidor.
Diz Sérgio Cavalieri Filho, "que o terceiro de que
fala a lei é alguém sem qualquer vínculo com o fornecedor,
completamente estranho à cadeia de consumo. Não será o
comerciante, porque este é escolhido pelo fornecedor para distribuirseus produtos" (Programa de Responsabilidade Civil, 5
a. Edição
Malheiros, p. 488). Repita-se que o comerciante - atacadista ou
varejista - não se considera terceiro no ciclo produtivo, pois é parte
fundamental nas relações de consumo. Cabe ao consumidor escolher
entre acionar o comerciante, o produtor, ou o fabricante do produto, ou
todos solidariamente (Sílvio Luis Ferreira da Rocha,
Responsabilidade Civil do Fornecedor pelo Fato do Produto no
Direito Brasileiro, Editora RT, ps. 83 e 107).
Acrescenta Antônio Herman Benjamin que o
comerciante não é terceiro, em relação ao fabricante, pois é parte
fundamental da relação de consumo. Aplica-se ao comerciante o
disposto no artigo 13 do CDC, sem excluir, no entanto, a
responsabilidade solidária do fabricante (Antônio Herman Benjamin,
Comentários ao CDC , Ed. Juarez de Oliveira, p. 67).
Em caso semelhante ao ora em comento, no qual
houve o estouro de vasilhame em supermercado, entendeu-se não ser
o comerciante terceiro, para o fim de excluir a responsabilidade civil do
fabricante (TJRGS, AC 215.043-1/2, Rei. Des. Antônio Janyr Dali'
agnol Júnior)
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Isso porque se concebermos o consumidor como
quem merece, por sua condição de inferioridade no jogo de mercado,
especial proteção, deve tornar-se mais rápida e econômica sua
indenização, diminuindo-se o número de responsáveis, concentrando-
se deveres, canalizando a distribuição das perdas para o fabricante
(José Reinaldo Lima Lopes, Responsabilidade Civil do Fabricante
e Defesa do Consu midor, E ditora R T, p. 91).
A venda de produto com prazo de validade
vencido, ou com embalagem rompida e conteúdo contaminado,
constitui fortuito interno, ligado à própria atividade geradora do dano,
ou à pessoa do devedor e, por isso, leva à responsabilidade do
causador do evento. (Agostinho Alvim, Da Inexecução das
Obrigações e suas Conseqüências, Saraiva, 1.949, p. 291).
6. No mais, claro o nexo de causalidade entre a
ingestão de produto impróprio e mal estar subseqüente da
consumidora.
A ingestão de água de coco estragada, que causa
náuseas e vômitos no consumidor gera dano moral, a ser indenizadocom comedimento. É sofrimento intenso, embora momentâneo, mas
que persistiu certamente no íntimo da autora durante algum tempo.
Existiu ofensa com intensidade suficiente para configurar o dano moral
indenizável, não se constituindo mero desconforto típico da vida
cotidiana.
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Resta a questão da f ixação do valor do dano
moral, que deve levar em conta as funções ressarcitória e punitiva da
indenização.
Na função ressarcitória, olha-se para a vítima,
para a gravidade objetiva do dano que ela padeceu (Antônio Jeová
dos Santos, Dano Moral Indenizável, Lejus Editora, 1.997, p. 62).
Na função punitiva, ou de desestímulo do dano moral, olha-se para o
lesante, de tal modo que a indenização represente advertência, sinal
de que a sociedade não aceita seu comportamento (Carlos Alberto
Bittar, Reparação Civil por Danos Morais, ps. 220/222; Sérgio
Severo, Os Danos E xtrapatrimo niais, ps. 186/190).
Da congruência entre as duas funções é quese extrai o valor da reparação. No caso concreto, revela-se elevado o
montante de 100 (cem) salários m ínimos, fixado pelo MM . Juízo aquo
para a indenização por danos morais, porquanto embora perfeitamente
compreensível a reação da autora no momento em que ingeriu a
bebida e na época posterior dos fatos, o mal que a acometeu foi breve
e não deixou seqüelas.
Atente-se, ainda, à orientação atualmente adotada
pelo Colendo Superior Tribunal de Justiça, no sentido de ser vedada a
vinculação do salário mínimo ao valor da indenização por danos morais
(REsp 871465/PR, Rei. Min. Jorge Scartezzini; REsp 618554/RS,
Rei. Min. Hélio Quaglia Barbosa; REsp 679248/RJ, Rei. Min. Nancy
Andrighi).
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Tendo em vista tais considerações e
considerando-se que a indenização não deve servir como
enriquecimento para a autora, o recurso da empresa comporta
provimento parcial, para que o quantum indenizatório seja reduzido
para R$ 15.000,00 (quinze mil reais), corrigida a partir desta data pelos
índices da Tabela do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, pois
fixada emvalores contemporâneos.
Incidirão juros moratórios na forma estabelecida
na sentença.
As verbas de sucumbência foram bem f ixadas e
não comportam redução, pois os danos morais são meramente
estimativos no pedido inicial.
Pelo exposto, ao recurso foi dado parcial
provimento.
O julgamento teve a participação dos
Desembargadores ÊNIO ZULIANI e MAIA DA CUNHA.
São Paulo, >8j ieHt i fTto/aV2009.
iNCISCO LOUREIRORelator
Apelação Cível n° 428.086-4/7, de São Paulo -Voto n°7.340] - Página 13 de 13
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%:-Í*Ç- TRIBUNAL DE JUSTIÇA BO ESTADO DE SÃO PAULO
4 a Câmara de Di re i to Pr ivado
DECLARAÇÃO DE VOTO VENCEDOR
Consumidor. Fato do produto. Indenização. Defeitodo produto ingerido pela autora e fabricado pela ré.
Responsabilidade objet iva que emana do art . 12 doCódigo de Defesa do Consumidor. Ingestão doproduto deteriorado que ocasionou grave repulsaao consumidor, inclusive com atendimento médico,que caracteriza dano moral por fugir do simplesdesconforto dos dissabores do cotidiano. Danomoral que deve ser f ixado em R$ 15.000,00 paraajustar-se aos critérios de não enriquecer ouempobrecer os envolvidos e ao mesmo temporeparar a vítima e impelir o ofensor a maior zelopara evitar fatos futuros semelhantes. Recursoparcialmente provido.
A ação é de indenização por dano moral decorrente
da responsabilidade pelo fato do produto que consistiu em ingestão de água de
coco industrial izada, conhecida como "kero coco", que se mostrava inadequada
ao consumo pela presença de fungos e outros microorganismos e, por
conseguinte, pela ausência da segurança e qualidade que é esperada pelo
consumidor.
0 digno Magistrado sentenciante julgou procedente
a ação para condenar a ré ao pagam ento de valor equ ivalente a 100 salários
mínimos, propondo o digno Desembargador relator, acompanhado pelo digno
Desembargador revisor, o provimento parcial do recurso para reduzir o valor
para R$ 15.000,00 corrigidos a partir do v. acórdão.
Pedi vista para melhor exame da matéria de fato.
O meu voto acompanha o dos demais julgadores.
É do proãtrtox ou/do fabricante a responsabil idadeem relação ao produto que chega com defeito ao consumidor por alguma
ocorrência havida na cadeia produtiva integrada peto comerciante que faz a
Apelação n" 428.086-4/7 Sflo Paulo / v o í o ir 18.474 - PAMC /Marcía
\
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TRIBUNAL DE JUSTIÇA D O ESTADO DE SÃO PAU LO
4 a Câmara de Direi to Privado
venda e en t rega f i na l . É do fabr icante a responsa bi l idade p r inc ipa l , v is t o qu el íde r da cade ia p rodu t i va , de quem, pe ran te o consumidor , o comerc ian te é mero
rep resen tan te ou p repos to .
A ação inden iza tó r ia po r fa to do p rod u to tem o r ige m
no defe i to da água de coco inger ida pe la autora e fabr icada pe la ré ape lante , que
o Cód igo de De fesa do Consumidor t ra ta como p rodu to de f i c ien te e capaz de
ocas ionar danos ao consumidor .
A questão d iscut ida nos autos está t ra tada no ar t . 12
do Código de Defesa do Consumidor , por meio do qua l se regu lou aresponsabi l idade do fabr icante em re lação a produtos que acarre tam r iscos à
saúde e segurança do consumidor , e , ao mesmo tempo , de f in iu a ob r igação de
in fo rmar co r re ta e adequadamente ace rca dos r i scos e da mane i ra co r re ta de
manuse io do p rodu to pe r igoso .
O ar t . 12 do Código de Defesa do Consumidor (Le i
n° 8078/90) não de ixa nenhuma dúvida de que a responsabi l idade c iv i l do
fab r i can te é ob je t i va ( i ndependen te de cu lpa ) quando se t ra ta r de de fe i to do
produto ou in formação inadequada e insuf ic iente sobre e a forma de usá- lo e osriscos do seu uso. No § 3 o , inc isos I a I I I , excepciona a responsabi l idade c iv i l do
fab r i can te quando p rova r que não co locou o p rodu to à venda , que não t i nha
defe i to ou que houve cu lpa exc lus iva do consumidor ou de terce i ro .
A p ropós i to , não cus ta des taca r que , em se t ra tando
de responsabi l idade ob je t iva do fabr icante , como se extra i da le tra expressa do
ar t . 12 do Código de Defesa do Consumidor , é per fe i ta l i ção de Sí lv io Luís
Ferreira da Rocha no sentido de que "O Código de Defesa do Consumidor reduziu o
rol dos fatos a serem comp rovados pela vítima. A vítima deve apenas provar o dano e o
nexo de causalidade dentre o dano e o produto defeituoso. Presume-se o defeito do
produto, comp etindo ao fornecedor o ônus de provar sua inexistência, ex vi do disposto
no artigo 12, parágrafo terceiro, II, do citado diploma legal" (Responsabi l idade c iv i l do
fornecedor pe lo fa to do produto no d i re i to bras i le i ro , Ed. RT, 1992, p . 90) .
E não há , no caso , nenhuma exc luden te .
En f im , os fund am entos exp end idos pe lo d igno
Desembargador re la to r , com l i ções dou t r i ná r ias e p receden tes j u r i sp rudenc ia i s
per fe i tamente ap l icáve is ao caso cõnereto , bastam para que não se a longue
desnecessar iamente em pontos que com c lareza e rara prec isão está descr i to
acerca da responsabi l idade da ré \ ape lan te no vo to co nd uto r do d igno
Des emba rgador re la to r . \ 1 / x^ _
Apeiação n" 428,086-4/7 São Fábio -J/MO rf 18.474 - FAMOTviareía
mp%í§V'-'^>--'i.
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ig_W £. P O D E R J U D I C I Á R I O
C&újjfci-. TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO
4 a C â m a r a d e D i r e i t o P r i v a d o
De outro lado, é cer to que a ingestão do produtode fe i tuoso , em espec ia l quando es t ragado ou de te r io rado , ocas iona ,
indub i tave lmen te , sensação repugnan te no consumidor , sendo ace i táve l que ,
du ran te a lguns d ias , o ma l es ta r pe rmaneça . A inda ma is quando se segu iu , a
par t i r da i nges tão , p rob lemas es tomaca is que resu l ta ram inc lus i ve i n te rnação
hosp i ta la r .
A questão a ser ana l isada, em cada caso, é se o
descon fo r to e o d i ssabor exper imen tados a l cançam o dano mora l i nden izáve l .
É ve rdade q ue , em g rand e pa r te dos casos , opadec imen to de ma l -es ta r o r iundo do consumo de p rodu to de te r io rado não é
capaz de ense ja r danos mora is po rque cons t i tu i abo r rec imen to comum e
inerente à v ida em sociedade sempre su je i ta a c i rcunstâncias excepciona is de
desgos to em re lação a de fe i tos de p rodu tos . A con f igu ração do dano mora l
depende de t rans to rnos anorma is e ex t rao rd iná r ios capazes de a ten ta r con t ra os
d i re i tos da personal idade, como a honra, pr ivac idade, va lores é t icos, v ida soc ia l
e sent imentos de repu lsa e ind ignação.
O su rg imen to do dano mora l , po r tan to , depende nãosó da g rave repu lsa sen t ida po r quem exper imen ta a i nges tão de p rodu to
deter iorado, mas também da grav idade da ind isposição f ís ica e ps ico lóg ica que o
consumo do p rodu to ocas ionou .
No caso, fo i bem reconhecida a presença do dano
mora l i nden izáve l , ta l como se reconheceu an te r io rmen te nes ta 4 a Câmara de
Di re i to Pr i vado em ou t ros j u lgamentos , i nc lus i ve de m inha re la to r ia (Ape lação n°
3 9 2 .2 6 7 -4 /8 , e m 1 8 .0 5 .2 0 0 6 , V T 1 1 0 9 5 , c o m p o n d o a tu rm a j u l g a d o ra o s
Desem bargadores Te ixe i ra Le i te e Na tan Ze l i nsch i ; Ape lação n° 55 4 . 19 8- 4 / 2 , em
0 6 .0 3 .2 0 0 8 , V T 1 4 7 3 7 , c o m p o n d o a tu rm a j u l g a d o ra o s De s e m b a rg a d o re s Fá b i o
Quadros e Francisco Loure i ro) .
O va lo r do dano mora l fo i bem a rb i t rado .
A ju r i sp rud ênc ia , a lém de te r evo lu ído pa ra am en iza r
os va lores excess ivos das condenações, inc lus ive por conta de ju lgamentos do
Colendo Super ior Tr ibunal de Just iça , pac i f icou-se no sent ido de que os cr i té r ios*
pa ra o es tabe lec imen to do dano mora l devem pau ta r -se pe lo cu idado de não
enr iquecer e nem em pobrece r l os envo lv idos , devendo se r de m odo ta l que
compense a v í t ima e impeça o o fensor da p rá t i ca de a tos fu tu ros seme lhan tes .
Nesse \ c o n t e x t o ) e-^-veri f icadas as condições da
o fensora e do o fend ido , o va lo r i nden iza tóno no mon tan te de R$ 15 .000 ,00Apelação ir' 428.086-4/7 Sühhuát-- Voto i f 18.474 - PÂMC/Marcía
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í&ífè P O D E R ,1 ir D I C I A RI O
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO'PAULO
4 a Câmara de Direito Privado
melhor se ajusta aos parâmetros da jurisprudência no sentido de não promoverao enriquecimento sem causa sem ser pouco para reparar a vítima da ofensa e
impelir a conhecida empresa fabricante a cuidado e zelo ainda maior para evitar
novos fatos semelhantes.
í\Pelo exposto, e para o f im acima me ncionad o, é
que se dá parcial provimento
DA CUNHA
30 JUIZ
Apelação n" 428.086-4/7 São Paulo Voto n° 18.474 - FAMC /Maxcía