acÓrdÃo nº 6886/2012 - tcu – 2ª câmara

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 016.124/2008-4 GRUPO II – CLASSE II – Segunda Câmara TC-016.124/2008-4 (com 3 volumes e 5 anexos) Natureza: Prestação de Contas, exercício de 2007 Entidade: Coordenação Regional em Mato Grosso da Fundação Nacional de Saúde Responsáveis: Evandro Vitório (CPF 314.310.031-15); Marco Antonio Stangherlin (CPF nº 621.310.521-20); Edson Ricardo Pertile (CPF nº 495.321.899-04); Gleida Mariza da Costa (CPF nº 184.022.161-53); Raimundo Angelino de Oliveira (CPF nº 452.630.517-00); CHC Táxi Aéreo Ltda. (CNPJ nº 02.835.198/0001-59); e Inter Tours Viagens e Turismo Ltda. (CNPJ nº 00.614.995/0001- 80). Advogados constituídos nos autos: Gilmar Viana Mourato (OAB/GO nº 30.584) e João Batista dos Anjos (OAB/MT nº 6.658) Sumário: PRESTAÇÃO DE CONTAS. COORDENAÇÃO REGIONAL DA FUNASA EM MATO GROSSO. EXERCÍCIO DE 2007. REALIZAÇÃO REITERADA DE DESPESAS SEM O RESPECTIVO EMPENHO. ACEITAÇÃO DE GARANTIA INIDÔNEA PRESTADA POR CONTRATADA. PLANEJAMENTO DEFICIENTE DANDO ENSEJO À CONTRATAÇÃO EMERGENCIAL. EXECUÇÃO DE DESPESAS COM TRANSPORTE AÉREO SEM COMPROVAÇÃO DA EFETIVA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. AUDIÊNCIAS. CITAÇÕES. ACOLHIMENTO PARCIAL DAS RAZÕES DE JUSTIFICATIVA E DAS ALEGAÇÕES DE DEFESA. CONTAS IRREGULARES DOS RESPONSÁVEIS RESPECTIVOS, COM CONDENAÇÃO SOLIDÁRIA EM DÉBITO E APLICAÇÃO DE MULTA. DETERMINAÇÕES. RECOMENDAÇÕES. RELATÓRIO 1

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 016.124/2008-4

GRUPO II – CLASSE II – Segunda CâmaraTC-016.124/2008-4 (com 3 volumes e 5 anexos)Natureza: Prestação de Contas, exercício de 2007Entidade: Coordenação Regional em Mato Grosso da Fundação Nacional de SaúdeResponsáveis: Evandro Vitório (CPF nº 314.310.031-15); Marco Antonio Stangherlin (CPF nº 621.310.521-20); Edson Ricardo Pertile (CPF nº 495.321.899-04); Gleida Mariza da Costa (CPF nº 184.022.161-53); Raimundo Angelino de Oliveira (CPF nº 452.630.517-00); CHC Táxi Aéreo Ltda. (CNPJ nº 02.835.198/0001-59); e Inter Tours Viagens e Turismo Ltda. (CNPJ nº 00.614.995/0001-80).Advogados constituídos nos autos: Gilmar Viana Mourato (OAB/GO nº 30.584) e João Batista dos Anjos (OAB/MT nº 6.658)

Sumário: PRESTAÇÃO DE CONTAS. COORDENAÇÃO REGIONAL DA FUNASA EM MATO GROSSO. EXERCÍCIO DE 2007. REALIZAÇÃO REITERADA DE DESPESAS SEM O RESPECTIVO EMPENHO. ACEITAÇÃO DE GARANTIA INIDÔNEA PRESTADA POR CONTRATADA. PLANEJAMENTO DEFICIENTE DANDO ENSEJO À CONTRATAÇÃO EMERGENCIAL. EXECUÇÃO DE DESPESAS COM TRANSPORTE AÉREO SEM COMPROVAÇÃO DA EFETIVA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO. AUDIÊNCIAS. CITAÇÕES. ACOLHIMENTO PARCIAL DAS RAZÕES DE JUSTIFICATIVA E DAS ALEGAÇÕES DE DEFESA. CONTAS IRREGULARES DOS RESPONSÁVEIS RESPECTIVOS, COM CONDENAÇÃO SOLIDÁRIA EM DÉBITO E APLICAÇÃO DE MULTA. DETERMINAÇÕES. RECOMENDAÇÕES.

RELATÓRIO

Adoto como Relatório a instrução da Auditora de Controle Externo da Secex/MT, com cujas conclusões manifestou-se de acordo o corpo diretivo daquela unidade técnica:

“INTRODUÇÃO

Trata-se de prestação de contas ordinária referente ao exercício de 2007 por parte da Coordenação Regional em Mato Grosso da Fundação Nacional de Saúde – CORE-MT/FUNASA.

HISTÓRICO

2. O processo CORE MT/FUNASA 25180.002.202/2008-10, cujo assunto trata da prestação de contas ordinária referente ao exercício 2007 dessa Fundação, foi encaminhado ao

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Tribunal de Contas da União – TCU, no dia 18/6/2008 (fls. 1-223 do v.p. e v.1), pelo Assessor Especial de Controle Interno do Ministério da Saúde.

3. Destaca-se, no Relatório de Gestão (fls. 1-159 do v.p.), o demonstrativo de gastos com cartão corporativo totalizando R$ 1.080.970,05, dos quais R$ 185.576,00 foram resultantes de saques (fls. 141 do v.p.). A análise dos suprimentos realizada pela Controladoria-Geral da União – CGU (fl. 199 do v.1), evidencia que, em nove deles, não houve apresentação de justificativa para realização dos saques. Além disso, em dez suprimentos verificados pelo Controle Interno, houve utilização de saques em locais que, em tese, poderiam ter a transação efetivada mediante cartão corporativo. Os mencionados achados demonstram fragilidades no controle das despesas executadas mediante suprimento de fundos.

4. Verificou-se, ainda, um grande passivo correicional (fls. 142-145 do v.p.). Informa a prestação de contas que foram requisitados sete servidores dentre os cedidos/descentralizados para os municípios para comporem a comissão de sindicância ou de processo administrativo disciplinar (fl. 145 do v.p.). Esses servidores, no entanto, estavam de sobreaviso, aguardando ao chamado da CORE-MT. Como se observou um aumento do número de pendências em 2007, haveria que se averiguar se a Funasa-MT utilizou-se dos servidores requisitados, a fim de baixar o estoque, e se essa medida foi efetiva.

5. Em atenção à Decisão Normativa TCU nº 85/2007, a Auditoria Interna da Funasa emitiu seu parecer, em que se destacam as seguintes ressalvas às contas da CORE-MT do exercício de 2007 (fls. 150-155 do v.p.):

a) quanto ao acompanhamento dos contratos administrativos, observou-se total falta de controle, visto que os contratos de maior relevância, como transporte aéreo para indígena, transportes terrestres de pessoas e cargas, vigilância armada, limpeza e conservação, terceirização de mão-de-obra, dentre outros, tinham como fiscal um único servidor, sendo comprovada na maioria das vezes a não utilização de qualquer critério, parâmetro ou aferição para auxiliar a efetividade dos serviços prestados;

b) com relação à efetividade das ações de saúde indígena, a Equipe de Auditoria ficou impossibilitada de emitir opinião quanto à efetividade do controle, visto que o Dsei Xavante não apresentou as informações requeridas sobre os resultados dos investimentos realizados pelo Distrito;

c) das atividades desenvolvidas pelo setor de Patrimônio, principalmente referentes aos registros do Siafi dos bens imobiliários, verificaram-se inconsistências relativas à contabilização de imóveis. Ademais, constatou-se fragilidade da gestão quando se verificou grande quantidade de bens não localizados de propriedade desta Funasa sem a devida apuração de responsabilidade e ressarcimento ao erário;

d) o desenvolvimento das ações das áreas técnicas e administrativas (Licitações e Contratos, Contratações Diretas, Convênios, Patrimônio e Transportes) foi realizado de forma insatisfatória, ressalvados a atuação da Assessoria de Saúde Indígena (item 3.5.14) e os apontamentos referentes à Armazenagem e Controle de Estoque (item 3.15);

e) quanto ao gerenciamento da execução dos convênios, acordos e ajustes, especialmente quanto à oportunidade, formalização e acompanhamento, a Divisão de Engenharia de Saúde Pública da Coordenação Regional de Mato Grosso (DIESP/MT) vinha tendo dificuldades no atendimento das demandas dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas e na fiscalização e acompanhamento financeiro dos convênios, fato demonstrado pelo achado de registro de 21 convênios com vigências expiradas, na conta ‘a comprovar’, e 59, na conta ‘a aprovar’.

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6. No que tange ao Relatório de Auditoria da CGU (fls. 162/168 do v.1), foram verificados os seguintes achados:

a) no que se refere à avaliação dos resultados quantitativos e qualitativos da gestão, constatou que os indicadores apresentaram-se abaixo do esperado em grande parte das ações, evidenciando problemas que vão desde a falta de pessoal; capacitação técnica; alta rotatividade do pessoal que atua nas aldeias; deficiência de viaturas e de rede física para atendimento às aldeias; entre outras;

b) no que se refere à avaliação acerca dos controles internos existentes, concluiu pela fragilidade dos controles internos quanto aos procedimentos de concessão e prestação de contas de diárias, bem como quanto aos procedimentos de aquisição de bens e serviços;

c) quanto à regularidade dos processos licitatórios, dos atos relativos à dispensa e à inexigibilidade de licitação, bem como dos contratos administrativos, foram feitos os seguintes registros: extrapolação do limite para dispensa de licitação; impropriedades na formalização de processos licitatórios; falhas na elaboração do 2º Termo Aditivo ao Contrato nº 06/2006, que tinha por objeto prestação de serviços contínuos terceirizados na área de apoio administrativo e de copeiragem (esse fato já foi objeto de análise no TC 014.690/2008-8, originado de representação desta unidade técnica); reincidência quanto ao superdimensionamento de franquia mensal no Contrato nº 71/2005 referente à locação de copiadoras; falhas na elaboração de Dispensa Emergencial para as contratações de serviços de vigilância armada (Dispensa nº 01/2007) e de serviços de higienização, limpeza e conservação (Dispensa nº 024/2007); e exigência de garantia contratual em desacordo com o requerido pela Lei nº 8.666/1993;

d) quanto à concessão de diárias e passagens, foram constatadas falhas diversas, desde a concessão até a comprovação dos deslocamentos, revelando fragilidades nos controles internos, especialmente na prova dos deslocamentos, com inobservância ao Decreto nº 5.992/2006;

e) quanto à política de recursos humanos, registrou-se que dos 713 servidores na situação de ativo permanente, 411 são descentralizados para os municípios e 79 para o Governo do Estado de Mato Grosso, sendo que a Divisão de Engenharia de Saúde Pública dispõe de apenas 3 engenheiros efetivos em seu quadro, para o acompanhamento/fiscalização de programas sob sua responsabilidade; e

f) no que se refere à avaliação da regularidade e conveniência dos contratos de mão-de-obra terceirizada, a CGU não apontou irregularidades, no entanto observa-se que essa entidade de controle interno se referiu aos contratos de terceirização de mão-de-obra legal (vigilância armada, apoio administrativo e limpeza e conservação) e, portanto, omitiu-se quanto à terceirização ilegal de mão-de-obra, para suprir as necessidades finalísticas da entidade, questão que foi objeto de análise no Acórdão 402/2009-TCU-Plenário, no que se refere à atenção básica à saúde indígena.

7. A CGU registrou também que as medidas para sanar as falhas constatadas na área de licitações e contratos ainda se encontravam pendentes de implementação, por ocasião do fechamento do Relatório de Auditoria, o que também ocorreu no cumprimento do Acórdão 2.453/2007-TCU-2ª Câmara que negou o registro de aposentadoria do servidor de matrícula 504838 e determinou a cessação dos pagamentos efetuados ao referido servidor na qualidade de aposentado.

8. A unidade técnica da Secretaria de Controle Externo em Mato Grosso – Secex/MT, considerando a gama de questões a serem mais bem avaliadas, propôs inspeção na Funasa/CORE/MT (fls. 225/232 do v.1) para avaliar a relevância das irregularidades apontadas na gestão do ano de 2007. O então Gerente da Segunda Divisão Técnica da Secex/MT acatou a proposta e determinou a realização da inspeção (fl. 233 do v.1).

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9. A inspeção também teve a finalidade de verificar como os problemas apontados pela Controladoria-Geral da União em Mato Grosso – CGU/MT e pela Auditoria Interna da Funasa estavam sendo administrados pela Fundação. Cabe também ressaltar que os achados referentes a essa fiscalização foram cotejados com os constantes do Relatório de Demandas Especiais da CGU/MT (fl. 25 do anexo 2 – cópia em mídia eletrônica), referente à Operação Hygeia no que foi pertinente ao período de 2007, que é objeto do presente processo de prestação de contas.

10. Além disso, importante informar que, em decorrência de uma Força Tarefa realizada no âmbito da Funasa/MT, foi designada uma Comissão Interna com objetivo de avaliar os contratos administrativos existentes na referida regional e de estabelecer procedimentos para a gestão adequada dos contratos, perpassando pela constituição da proposta, licitação, tramitação e contratação dos serviços necessários para manutenção das ações estruturais da CORE/MT. Os trabalhos dessa Comissão iniciaram a partir de 28/4/2010 e foram concluídos, mediante elaboração de relatório, em 17/6/2010, cujo inteiro teor foi encaminhado a esta Secex, fls. 488/495 do anexo 1.

11. O relatório da inspeção (fls. 263-320 do v.1) tratou dos assuntos mais relevantes levantados na prestação de contas, tais como: cessão de servidores para os municípios e estado de Mato Grosso; ato de aposentadoria de servidor; despesas sem prévio empenho; suprimento de fundos; despesas realizadas na modalidade ‘não se aplica’; saneamento de falhas em licitação; aditamentos contratuais; contratação de serviços terceirizados na área de apoio administrativo; contrato para locação de copiadoras; e controles existentes sobre contratos de maior relevância, concessão de diárias e passagens, convênios, patrimônio e desempenho operacional.

12. Na proposta de encaminhamento do citado relatório (fls. 314-320 do v.1), foram sugeridas diversas medidas preliminares, tais como oitivas, audiências e citações, bem como diversos alertas, determinações e recomendações.

13. Em Despacho (fl. 330 do v.1), de 13/7/2010, o Exmo Sr. José Jorge, Relator deste processo, determinou que fossem realizadas as audiências e citações dos responsáveis na forma proposta pela unidade técnica.

EXAME TÉCNICO

14. De acordo com o Despacho (fl. 330 do v.1), de 13/7/2010, do Exmo Sr. José Jorge, Relator deste processo, foram realizadas as audiências e citações dos responsáveis na forma proposta pela unidade técnica (fls. 314-320 e 322 do v.1).

AUDIÊNCIAS

15. No que concerne às audiências efetuadas, apresentaram razões de justificativa acerca de possíveis irregularidades apontadas nos autos os seguintes auditados: Sr. Evandro Vitório, ex-Coordenador Regional da Funasa/MT (fls. 367-372 do v.2); Sr. Marco Antônio Stangherlin, ex-Coordenador Regional da Funasa/MT (fls. 577-583/619-638 do v.3); Sr. Edson Ricardo Pertile, fiscal do Contrato nº 37/2006 (fls. 373-380 do v.2); e Sra. Gleida Mariza da Costa, fiscal do Contrato nº 37/2006 (fls. 381-388 do v.2). Serão examinados, a seguir, os argumentos apresentados pelos responsáveis.

Realização reiterada de despesas sem prévio empenho, contrariando-se os artigos 60 a 64 da Lei nº 4.320/1964.

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I.1 Argumentos apresentados pelo Sr. Evandro Vitório (fls. 367-368 do v.2)

16. Segundo o responsável, a Presidência da Funasa/Departamento de Administração/Coordenação de Programação Orçamentária e Financeira libera o orçamento das suas unidades descentralizadas bimestralmente, impossibilitando o empenho global e de seguir a legislação de forma correta.

I.2 Análise

17. O ordenador de despesas, que tem a competência para emitir os empenhos do órgão, tem a responsabilidade de identificar, como se verificou em todos os processos analisados, que as despesas estavam sendo realizadas sem a emissão prévia do respectivo empenho (fl. 11 do Processo 25180.022.177/2006-11; fl. 7 do Processo 25180.022.342/2006-34; e fls. 284, 352, 363, 422, 476, 489 e 562 do Processo 25180.007.128/2007-39). Por conseguinte, fica patente sua responsabilidade, posto que não poderia permitir que tal situação se perpetuasse, ou seja, que despesas continuassem sendo executadas sem cumprimento aos termos do art. 60 da Lei nº 4.320/1964, o que constitui, inclusive, crime contra as finanças públicas, previsto no art. 359-D, do CP, com redação dada pela Lei nº 10.028/2000.

18. Em verdade, o que se identificou nos referidos processos, foi o reconhecimento pelo ordenador de despesa de que foram realizados gastos sem existência de crédito orçamentário para supri-los. Mesmo assim, eles apenas reconheciam a despesa e tomavam providências para que fossem emitidos empenhos posteriores a fim de pagar a obrigação assumida. Não houve, no entanto, qualquer providência para que essa situação não se repetisse, como se percebe flagrantemente no Processo 25180.007.128/2007-39, no qual foram identificadas reiteradas emissões de empenhos posteriores à execução das despesas.

19. Ademais, o fato de haver descentralização orçamentária bimestral, isso por si só, não é condição para justificar descumprimento das regras básicas de realização de despesa orçamentária, segundo os ditames legais. Se já era de conhecimento do gestor tal situação, era necessário que fizesse um adequado planejamento para executar as despesas do órgão por ele gerido, tendo o correspondente suporte de crédito orçamentário.

20. Nesse sentido, fica clara, portanto, no mínimo, sua conduta omissiva para corrigir a irregularidade mencionada. Ademais, os alegados problemas na administração financeira e orçamentária por parte da Presidência da Funasa não foram evidenciados no processo e, por conseguinte, propõe-se rejeitar as razões de justificativa apresentadas pelo gestor.

I.3 Argumentos apresentados pelo Sr. Marco Antônio Stangherlin (fls. 577-583 e 619-638 do v.3)

21. Informou que, no início de cada ano, as unidades descentralizadas da Funasa tomam conhecimento de um ‘teto orçamentário’, com base no planejamento feito no ano anterior e na disponibilidade de recursos passados do Ministério do Planejamento para a Fundação. Assim, a Coordenação Regional prepara a contratação dos serviços para sua execução. Segundo o gestor, ‘para fazer com que as atividades sejam desenvolvidas sem prejuízo para as comunidades assistidas [a CORE/FUNASA-MT] tem que assumir o risco de trabalhar com um orçamento virtual, pois conforme comprova as NCs e planilhas anexas [fls. 622-627] o recurso é descentralizado durante o ano, portanto não dando autonomia ao gestor para poder garantir o devido prévio empenho conforme determina a lei’.

I.4 Análise

22. As regras da administração pública financeira foram elaboradas de forma a possibilitar o controle e a boa gestão do bem comum. Portanto, não há autonomia para o gestor dispor

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livremente dos recursos públicos, uma vez que ele está vinculado a essas regras. O fato de os sub-repasses serem efetuados durante o ano, conforme as planilhas demonstraram (fls. 622-627), não impede a realização do prévio empenho, de acordo com o art. 60 da Lei nº 4.320/1964. Além disso, faz-se necessário planejar a execução da despesa com base na previsão do cronograma de liberação dos recursos orçamentários, a fim de que toda a despesa executada esteja devidamente suportada por crédito orçamentário disponível. Assim, propõe-se não acatar as razões de justificativa apresentadas pelo gestor.

II. Contratação realizada sem a prévia comprovação da regularidade fiscal da empresa contratada, desrespeitando-se o artigo 195, § 3º, da Constituição Federal.

II.1 Argumentos apresentados pelo Sr. Evandro Vitório (fls. 367-368 do v.2)

23. Sobre a Dispensa de Licitação nº 024/2007, o gestor afirmou que desconhece tal irregularidade, ‘pois não cabe ao Coordenador Regional tal atribuição, sendo que todo processo é devidamente encaminhado nos respectivos setores administrativos da Funasa e também do fiscal do contrato, onde são submetidos à análise e aprovação’.

II.2 Análise

24. Cabe destacar, que o Sr. Evandro Vitório, ex-Coordenador Regional da Funasa-MT, assinou o contrato decorrente da Dispensa de Licitação nº 024/2007, mesmo após ter sido alertado pela Procuradoria Federal – fl. 104 do processo 25180.004.368/2007-81 (fl. 484 do anexo 1) – de que estava ausente nos autos consulta ao Sistema Sicaf com respeito à regularidade da empresa que se pretendia contratar. O parecer da Procuradoria mencionava, ainda, que fosse realizada a citada consulta, devendo ser adotado o mesmo procedimento, antes de cada pagamento, por força do Decreto nº 3.722/2001, alterado pelo Decreto nº 4.485/2002. Portanto, fica devidamente caracterizada conduta omissiva do referido gestor, não restando descaracterizada sua responsabilização pela irregularidade ora analisada, motivo pelo qual se propõe rejeitar as razões de justificativa apresentadas por ele.

II.3 Argumentos apresentados pelo Sr. Marco Antônio Stangherlin (fls. 577-583 e 619-638 do v.3)

25. A respeito da Tomada de Preços n.º 17/2007, o gestor alegou que havia uma Comissão de Licitação regularmente constituída, a qual avaliava toda documentação pertinente para conclusão do certame e declaração do seu vencedor. Segundo o ex-Coordenador Regional, a aludida Comissão ‘analisou e deu como apta a regularidade fiscal da empresa vencedora’. O gestor, ainda, apresentou (fl. 629) a Ata de Abertura da Tomada de Preços nº 17/2007, na qual consta a seguinte afirmação: ‘verificamos o Sicaf via on line e a empresa encontra-se apta’.

II.4 Análise

26. Nesse caso, entende-se pertinente aceitar as razões de justificativa apresentadas pelo gestor, na medida em que não é razoável esperar que o responsável pela homologação do certame refaça todo trabalho executado pela Comissão de Licitação, no que tange à conferência da documentação fiscal exigida.

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III. Descumprimento do art. 56, § 1º, inciso I, da Lei nº 8.666/1993, devido à aceitação da garantia inidônea prestada pela empresa Inter Tours no Contrato nº 37/2006 – títulos da dívida pública inválidos.

III.1 Argumentos apresentados pelo Sr. Evandro Vitório (fls. 367-368 do v.2)

27. Esclareceu que nunca lhe foi informado que tal garantia contratual era inidônea. Alegou que todo processo é devidamente encaminhado para os respectivos setores administrativos da Funasa e para os fiscais dos contratos, a fim de sofrerem análise e posterior aprovação.

III.2 Análise

28. Segundo relato do Controle Interno no Relatório de Demandas Especiais (acostado à fl. 25 do anexo 2 – cópia em mídia eletrônica – objeto abordado às fls. 89/90 do citado relatório), referente à Operação Hygeia, o edital do Pregão nº 24/2006 exigia textualmente que a empresa vencedora prestasse garantia de 2% do valor de sua proposta na assinatura do contrato; se deixasse de fazê-lo, seria considerada recusa injustificada à assinatura do contrato, implicando imediata anulação da Nota de Empenho emitida. A Inter Tours, a fim de cumprir tal cláusula, entregou título de dívida pública inválido de 1956. A Funasa-MT aceitou o referido documento sem fazer qualquer questionamento. Em 11/4/2007, quando houve o 1º aditamento do referido contrato, a Inter Tours apresentou inicialmente uma caução em dinheiro para garantir o valor adicionado do contrato. Depois, entretanto, solicitou à CORE/MT para trocar a garantia prestada por outro título da dívida pública de 1926, que também não tinha qualquer validade.

29. A Assessoria Jurídica da Funasa/MT foi chamada para se manifestar acerca do assunto. Em seu parecer, ela informou que o título apresentado não tinha as características exigidas em lei para ser aceito. Por essa razão, em 20/7/2007, a regional da Funasa devolveu a referida garantia à contratada, informando a ela que lhe cabia verificar a validade e o valor atualizado. Além disso, foi solicitada informação ao Banco Central sobre a validade do título da dívida apresentado. Ou seja, mesmo com o Parecer Jurídico demonstrando que a garantia era inválida, a CORE Funasa/MT, ainda sob a gestão do Sr. Evandro Vitório, insistiu na possibilidade de aceitar o documento, agindo, assim, de forma negligente com a garantia contratual. Dessa forma, propõe-se rejeitar as razões de justificativa apresentadas pelo gestor.

III.3 Argumentos apresentados pelo Sr. Marco Antônio Stangherlin (fls. 577-583 e 619-638 do v.3)

30. Informou que, desde que assumiu a Coordenação Regional da Funasa-MT, em julho de 2007, foi tomando conhecimento das situações que envolviam o Contrato nº 37/2006. Aduziu que, para ele, a administração estava adotando as medidas cabíveis para resolver os problemas porventura existentes no aludido contrato, entre eles o da garantia inidônea.

III.4 Análise

31. De acordo com o Relatório de Demandas Especiais da CGU/MT (acostado à fl. 25 do anexo 2 – cópia em mídia eletrônica – objeto abordado às fls. 89/90 do referido relatório), referente à Operação Hygeia, em 4/10/2007, quando a CORE Funasa-MT já estava sob a gestão do Sr. Marco Antônio Stangherlin, o Banco Central respondeu à referida Fundação que a análise da garantia não era da sua competência, mas da STN, por ser o órgão gestor da dívida pública da União. Segundo a CGU-MT, após essa resposta, não há qualquer evidência nos autos de que tenha sido feita a referida consulta. O Controle Interno ressaltou, ainda, que apenas uma rápida visita à página do órgão na Internet teria revelado a invalidade dos títulos apresentados pela Inter Tours.

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32. Após a Assessoria Jurídica informar sobre a inidoneidade da garantia prestada pela contratada, em 10/3/2008, o novo fiscal do contrato, Sr. Jeremias Moreira de Almeida, alertou a direção da Funasa/MT acerca de tal fato. Ainda assim, não houve qualquer providência, caracterizando-se assim a conduta negligente do Coordenador Regional a respeito do assunto. Dessa forma, propõe-se rejeitar as razões de justificativa apresentadas pelo gestor.

III.5 Argumentos apresentados pelo Sr. Edson Ricardo Pertile (fls. 373-380 do v.2) e pela Sra. Gleida Mariza da Costa (fls. 381-388 do v.2)

33. Alegaram os fiscais do Contrato nº 37/2006 que a exigência de garantia da empresa contratada era função do Setor de Apoio Logístico – SALOG. Não houve orientação para os fiscais verificarem tal documento. Afirmou que obteve a informação, por meio de conversa com o chefe da SALOG, de que houve substituição do título de garantia em 8/8/2007. O fiscal só tem acesso aos documentos após todo o trâmite de licitação e contratação estar concluído.

III.6 Análise

34. Segundo Relatório de Demandas Especiais da CGU/MT (acostado à fl. 25 do anexo 2 – cópia em mídia eletrônica – objeto abordado às fls. 89/90 do mencionado relatório), referente à Operação Hygeia, o então chefe administrativo, Edson Ricardo Pertile, que também era fiscal substituto do contrato, assinou documento em 8/8/2007, afirmando que havia ocorrido substituição da modalidade de garantia, baseado na devolução do título à empresa e na consulta ao Banco Central. Mas, segundo a CGU-MT, não houve, de fato, substituição do título imprestável. Portanto, o Sr. Edson Ricardo Pertile agiu, no mínimo, com negligência, ao assinar tal documento com base apenas em informações obtidas em conversa, sem confirmar documentalmente a veracidade de tal fato. Desse modo, propõe-se rejeitar as razões de justificativa por ele apresentadas. Quanto à Sra. Gleida Mariza da Costa, cabe esclarecer que o art. 67 da Lei nº 8.666/1993 é claro ao delimitar a responsabilidade do fiscal administrativo no acompanhamento da execução do contrato. Assim, entende-se que a análise da garantia antecede essa fase e, dessa forma, propõe-se aceitar as razões de justificativa expostas pela gestora.

IV. Ausência de providências para sanear as falhas identificadas na execução do Contrato nº 37/2006 e para sancionar a empresa contratada, mesmo diante de flagrante descumprimento de cláusulas contratuais, desrespeitando-se as obrigações estabelecidas nos artigos 66, 67, §§ 1º e 2º, 69 e 87, caput, da Lei nº 8.666/1993.

IV.1 Argumentos apresentados pelo Sr. Evandro Vitório (fls. 367-368 do v.2)

35. Afirmou que toda irregularidade na execução contratual era discutida na Divisão de Administração e na maioria das vezes não era levada ao conhecimento do Coordenador Regional, uma vez que essa Divisão tinha autonomia regimental para acionar as empresas faltosas. Acrescentou que, na sua gestão, os veículos eram ‘zero quilômetro’, uma vez que o referido contrato foi assinado em junho de 2006. Segundo o ex-Coordenador, desde a assinatura do contrato até julho de 2007, quando foi exonerado do cargo, não houve irregularidade no referido contrato.

IV.2 Análise

36. Ao contrário do que relatou o ex-Coordenador, a empresa Inter Tours não respeitou a exigência de usar apenas veículos com, no máximo, um ano de fabricação, segundo o Relatório de Demandas Especiais da CGU/MT (acostado à fl. 25 do anexo 2 – cópia em mídia eletrônica –

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objeto abordado às fls. 90/92 do referido relatório), referente à Operação Hygeia, subitem 2.1.4.1.6. Essa era uma exigência bastante severa na licitação, que pode ter influenciado decisivamente no interesse de competição das empresas interessadas, assim como na formulação das propostas. Ao não ser cobrada essa condição na execução do contrato, beneficiou indevidamente a empresa Inter Tours e deixou de contemplar o fundamento que a própria Funasa/MT usou para justificar a opção por essa exigência na licitação.

37. No período em que esteve como Coordenador Regional, houve diversas irregularidades no contrato em tela, segundo a CGU-MT (itens 2.1.4.1.6 e 2.1.4.1.7 do citado Relatório de Demandas Especiais), tais como: não exigência de comprovante de pagamento do seguro com cobertura total da frota de veículos utilizados na prestação dos serviços; utilização pela contratada de motoristas em número aquém à exigência de quatro por veículo, além da aplicação de turnos de trabalho acima de 6 horas diárias ou 12/36 h; e adulterações nos Boletins Diários de Tráfego que subsidiaram os processos de pagamento.

38. Apesar disso, há que se considerar que não restou demonstrado no Relatório de Demandas Especiais da CGU/MT (itens 2.1.4.1.6 e 2.1.4.1.7 do citado Relatório de Demandas Especiais), qualquer comunicação ao gestor, por parte dos fiscais do referido contrato, a quem competia detectar tais irregularidades, acerca dos referidos fatos. Ao contrário, como ficou evidenciado no relatório da CGU, os fiscais do contrato não tomaram qualquer providência acerca das falhas mencionadas. Por conseguinte, não há como se exigir do Coordenador da Funasa/MT à época, que tomasse providências para sanear as inconsistências identificadas na execução do contrato em tela, posto que, pelo que é possível se inferir dos autos, ele sequer tinha conhecimento a respeito de tais acontecimentos.

39. Desse modo, entende-se que devam ser acolhidas as razões de justificativa apresentadas pelo ex-Coordenador da Funasa/MT em tela, a fim de afastar qualquer responsabilização que sobre ele possa incidir acerca das seguintes irregularidades na execução do Contrato nº 37/2006: utilização de veículos com mais de um ano de uso para prestação de serviço de transporte; não exigência de pagamento do seguro com cobertura total da frota de veículos utilizados na prestação dos serviços; utilização pela contratada em número aquém à exigência de quatro por veículo, além da aplicação de turnos de trabalho acima de 6 horas diárias ou 12/36 h e adulterações nos Boletins Diários de Tráfego que subsidiaram os processos de pagamento.

40. Apesar disso, é importante salientar que, em 16/2/2007, houve pedido para que a Assessoria Jurídica analisasse minuta de Termo Aditivo para acrescentar 25% ao valor original do Contrato nº 37/2006, porque os gastos estavam se aproximando do limite contratado. O setor jurídico, por sua vez, entendeu que faltava demonstração/comprovação de orçamento, da necessidade de aditamento e das necessidades reais da Fundação. Em 11/4/2007, o Coordenador Regional, Evandro Vitório, assinou o Termo Aditivo, mesmo sem cumprir as exigências do Parecer Jurídico.

41. Portanto, em relação ao aditamento do Contrato nº 37/2006, que se deu sem demonstração/comprovação de orçamento, da necessidade de aditamento e das necessidades reais da Fundação, propõe-se rejeitar as razões de justificativa apresentadas pelo Sr. Evandro Vitório.

IV.3 Argumentos apresentados pelo Sr. Marco Antônio Stangherlin (fls. 577-583 e 619-638 do v.3)

42. Asseverou que, ao assumir a Coordenação Regional da Funasa-MT, em julho de 2007, tomou conhecimento de que havia problemas na execução do contrato em questão. No início de 2008, substituiu o fiscal do contrato, o qual iniciou um processo de identificação das falhas relacionadas à sua execução. Nesse período, segundo o ex-Coordenador, já havia intenção de

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rescindir a avença devido aos problemas detectados e ao fato de a Funasa-MT ter começado a receber veículos novos adquiridos pela Presidência dessa Fundação. Como o processo de substituição dos veículos contratados não era imediato e as comunidades indígenas não poderiam ficar desassistidas, o referido contrato ficou ativo até setembro de 2008. Segundo o ex-Coordenador, também influenciou a decisão de estender o contrato até esse período, o fato de o contrato de manutenção dos veículos próprios da Funasa não ser eficiente.

43. O Sr. Marco Antônio Stangherlin afirmou que todas as questões atreladas ao acompanhamento da execução do contrato caberiam ao fiscal administrativo. Aduziu que nunca negou aos fiscais quaisquer solicitações de viagens para exercerem sua fiscalização. Ele entende que o gerenciamento desse contrato era complexo, na medida em que havia vários veículos distribuídos por todo estado de Mato Grosso. Em cada subunidade da CORE Funasa-MT havia um responsável por atestar a execução dos serviços prestados pela empresa contratada. Ressaltou que todos os pagamentos efetuados foram pautados no devido atesto, por servidores da Fundação, das notas fiscais apresentadas e posteriormente ao devido relatório do fiscal do contrato.

44. A partir do início de 2008, a empresa passou a recolher alguns veículos alegando falta de pagamento. Assim, o ex-Coordenador solicitou a manifestação da Procuradoria Federal sobre o assunto, a qual sugeriu o cancelamento do contrato. No entanto, o gestor ressaltou que essa era uma decisão difícil de ser tomada, porquanto os veículos serviam a mais de 30.000 indígenas. Foi cogitado chamamento da segunda colocada no certame que deu origem ao contrato, entretanto a referida empresa solicitou um reajuste de 23,27% na sua proposta, além de necessitar de quinze dias para adquirir os veículos e de, no mínimo, um ano de contrato. Tais exigências fizeram o ex-Coordenador desistir de convocar essa empresa.

45. O gestor complementou sua resposta, alegando que determinou à Divisão de Recursos Humanos que promovesse a abertura de Processo Administrativo para apurar possíveis irregularidades no processo 25180.002.289/2006-55. Os servidores responsáveis pela sindicância foram designados em 24/8/2009 (fl. 631).

IV.4 Análise

46. No que concerne à utilização de veículos com mais de um ano de uso para prestação de serviço de transporte, a não exigência de comprovante de pagamento do seguro com cobertura total da frota de veículos utilizados na prestação dos serviços, à utilização pela contratada de motoristas em número aquém à exigência de quatro por veículo, além da aplicação de turnos de trabalho acima de 6 horas diárias ou 12/36 h e às adulterações nos processos de pagamento, o ex-Coordenador afirmou ser fato novo (fl. 580) e que caberia aos fiscais esse tipo de acompanhamento.

47. O ex-Coordenador tem razão quando afirma que caberia aos fiscais do contrato informar-lhe acerca das irregularidades incidentes na execução do citado contrato. Sobre esse aspecto, há que se ressaltar que, apesar de não ter havido a devida comunicação por parte dos fiscais do contrato a respeito das irregularidades mencionadas, segundo o Relatório de Demandas Especiais da CGU/MT (acostado à fl. 25 do anexo 2 – cópia em mídia eletrônica – objeto tratado às fls. 97/102 do mencionado relatório), referente à Operação Hygeia, subitem 2.1.4.1.7, o chefe da SALOG, Idio Nemesio de Barros Neto, informou ao Coordenador Regional a respeito de problemas que estavam incidindo na execução do referido contrato, relacionados à propriedade dos veículos locados, sugerindo o envio urgente à Procuradoria Federal para análise sobre possível rescisão contratual e chamamento da segunda colocada.

48. A CGU-MT relatou que o Parecer 535, PGF/SP, de 5/11/2007, entendeu que o uso de carros de terceiros poderia dar ensejo à rescisão contratual. Além disso, a empresa suspendeu a execução dos serviços antes dos 90 dias de atraso, o que configurava descumprimento contratual.

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Como o contrato previa o contraditório e a ampla defesa, teria que instaurar processo administrativo para apuração de responsabilidade antes da rescisão. Mas, como já havia sido oferecida oportunidade para defesa da empresa, o parecerista sugeriu que o Coordenador Regional decidisse não apenas pela rescisão, mas pela possível aplicação de sanção.

49. Apesar desses fatos, o Controle Interno apurou que o Coordenador Regional, Marco Antônio Stangherlin, nada decidiu. Mais de um mês depois do Parecer da Assessoria Jurídica, em 7/12/2007, remeteu o caso à Divisão de Administração-DIADM para ‘conhecimento e providências’. O chefe da DIADM, Edson Ricardo Pertile, em 10/12/2007, apenas encaminhou o processo de volta ao Coordenador para ‘ciência e decisão acerca das recomendações’ do Parecer. Segundo a CGU-MT, o Coordenador Regional, novamente se eximindo de tomar providências efetivas, remeteu, em 31/12/2007, o processo à Seção de Recursos Logísticos-SALOG, para colher manifestação e defesa da empresa às considerações feitas pela PGF. Mas o próprio Parecer reconhecia que já havia sido dada oportunidade de defesa à empresa.

50. Portanto, apesar de não ter ficado evidenciado no Relatório de Demandas Especiais da CGU/MT que o Sr. Marco Antônio Stangherlin teve ciência acerca de diversas irregularidades na execução do Contrato nº 37/2006 (utilização de veículos com mais de um ano de uso para prestação de serviço de transporte, não exigência de comprovante de pagamento do seguro com cobertura total da frota de veículos utilizados na prestação dos serviços, utilização pela contratada de motoristas em número aquém à exigência de quatro por veículo, além da aplicação de turnos de trabalho acima de 6 horas diárias ou 12/36 h e adulterações nos processos de pagamento), cabe salientar que ele foi cientificado a respeito de outras falhas em sua implementação, dentre as quais, mais precisamente podem-se mencionar os problemas relacionados com a propriedade dos veículos locados e a paralisação da execução do contrato, antes de noventa dias de atraso no pagamento por parte da Administração.

51. Por essa razão, ainda que se considere que o gestor não teve qualquer responsabilidade por não ter tomado providências em relação às diversas falhas identificadas a posteriori pela CGU na execução do Contrato nº 37/2006, sobre as quais não restou evidenciado nos autos se tinha conhecimento, não se pode afastar sua responsabilidade em relação às que foi devidamente comunicado por parte do Chefe da SALOG, Idio Nemesio de Barros Neto, e da Procuradoria Federal, que, inclusive, lhe sugeriu rescindir o referido contrato.

52. Em face do exposto, propõe-se acolher as razões de justificativa apresentadas pelo gestor para afastar sua responsabilidade em relação às seguintes irregularidades: utilização de veículos com mais de um ano de uso para prestação de serviço de transporte, não exigência de comprovante de pagamento do seguro com cobertura total da frota de veículos utilizados na prestação dos serviços, utilização pela contratada de motoristas em número aquém à exigência de quatro por veículo, além da aplicação de turnos de trabalho acima de 6 horas diárias ou 12/36 h e adulterações nos processos de pagamento. Entretanto, no que se refere aos problemas relacionados com a propriedade de terceiros dos veículos locados e à paralisação da execução do contrato, antes de noventa dias de atraso no pagamento por parte da Administração, não se pode adotar o mesmo encaminhamento, mas ao contrário, faz-se proposta pela rejeição das razões de justificativa.

IV.5 Argumentos apresentados pelo Sr. Edson Ricardo Pertile (fls. 373-380 do v.2) e pela Sra. Gleida Mariza da Costa (fls. 381-388 do v.2).

53. Os fiscais do contrato à época, Sr. Edson Ricardo Pertile (titular) e Sra. Gleida Mariza da Costa (substituta), no período de 14/6/2006 a 26/4/2007, e os mesmos servidores, em posições

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invertidas, a partir da última data até 27/2/2008, encaminharam exatamente o mesmo texto para suas defesas (fls. 376-380 e 383-388).

54. Quanto ao tempo de uso dos veículos, afirmaram desconhecer se a exigência de um ano de uso deveria ser verificada durante o contrato ou no ato da contratação. Informaram que esse tipo de exame não foi inserido como item a ser fiscalizado. Aduziram que a execução do contrato era analisada mediante a constatação do devido atesto do motorista, do usuário do veículo e do chefe do transporte do Distrito atendido, nos Boletins Diários de Trafego-BDT. Além disso, eles conferiam o atesto das notas fiscais por parte do Chefe do Distrito.

55. No que concerne à verificação do seguro dos veículos, registraram que nunca houve esclarecimentos aos fiscais para este tipo de fiscalização e que o Chefe da SALOG foi quem respondeu à CGU sobre esses questionamentos. Sobre o número insuficiente de motoristas e de horas trabalhadas, os fiscais repetiram a afirmação de que não foram orientados para fazer tal tipo de acompanhamento e que esse papel cabia aos chefes de transporte dos Distritos. Destacaram que são servidores lotados na sede da CORE Funasa-MT, em Cuiabá-MT, e que existem Distritos que ficam de 700 a 1.000 Km da capital, o que torna impossível verificar em campo, durante todo o tempo, a execução dos serviços. Ressaltaram também que, além do encargo de fiscalizar o citado contrato, têm suas funções na Coordenação Regional.

56. Quanto ao acréscimo de 25% no valor do contrato, informaram que o Coordenador Regional solicitou aos chefes de Distrito subsídios para avaliar essa necessidade. Ademais, a pesquisa de preço era realizada pela SALOG. No que tange à suposta adulteração dos BDT, registraram desconhecer o fato. Apesar disso, reconheceram que havia alterações no preenchimento em alguns boletins, mas que não contestaram tal rasura, pois os documentos estavam assinados pelo motorista, pelos usuários do veículo e pelos chefes de transportes dos Distritos. Destacaram, também, que esse tipo de alteração costuma ocorrer quando os carros eram substituídos de forma emergencial, devido a ‘quebras’, a fim de não haver descontinuidade do serviço. Os motoristas, nessas oportunidades, preenchiam o mesmo BDT com os dados das novas viaturas. Os fiscais afirmaram que tudo isso era acompanhado pelos chefes de transporte de cada distrito.

IV.6 Análise

57. Segundo o Relatório de Demandas Especiais da CGU-MT (acostado à fl. 25 do anexo 2 – cópia em mídia eletrônica – objeto tratado às fls. 88/102 do mencionado relatório), referente à Operação Hygeia, subitens 2.1.4.1.6 e 2.1.4.1.7, os fiscais ao não verificarem, na execução do contrato, a idade dos veículos – no máximo um ano -, beneficiaram indevidamente a empresa Inter Tours e deixaram de contemplar o fundamento que a própria Funasa/MT usou para justificar a opção por essa exigência na licitação. Conforme levantado pela Controladoria, no exercício de 2007, foram utilizados veículos fabricados em 2004 e 2005, descumprindo, portanto, a referida exigência contratual.

58. Segundo a CGU-MT, os fiscais não exigiram os comprovantes de pagamento do seguro com cobertura total da frota de veículos utilizados na prestação dos serviços, apesar da previsão, no Termo de Referência, de necessidade de comprovação de sua quitação a cada pagamento.

59. O Controle Interno ressaltou, ainda, que os processos de pagamento apresentaram diversas adulterações grosseiras e jamais houve qualquer contestação pela fiscalização da Funasa/MT. Embora o contrato fosse explícito ao determinar que não seriam considerados BDT com campos de identificação rasurados e/ou ilegíveis, nenhuma ressalva foi feita por conta das adulterações acima mencionadas.

60. A CGU-MT teve acesso ao relatório de Auditoria Interna da Funasa/MT realizado entre 12 e 23/11/2007, no qual havia a informação de que a servidora Gleida Mariza Costa ‘não

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utilizava nenhum critério ou parâmetro para conferir ou confirmar’ os Boletins Diários de Tráfego, nem tomou qualquer providência quando se comprovou que várias viaturas pertenciam a particulares.

61. No que concerne à utilização pela contratada de motoristas em número aquém à exigência de quatro por veículo, além da aplicação de turnos de trabalho acima de 6 horas diárias ou 12/36h, cabe registrar que, nesse ponto, há um limite na responsabilização dos fiscais devido à dificuldade de controlar da sede da CORE, em Cuiabá-MT, a regular jornada de trabalho dos motoristas nos Distritos em todo estado. Sobre essa questão, será proposta pela unidade técnica da Secex-MT recomendação à Fundação para fazer constar, nos contratos de transporte aéreo, de terceirização de motoristas, de limpeza e conservação, de apoio administrativo e copeiragem e de vigilância armada, a alocação de um fiscal em cada Distrito Sanitário Especial Indígena – DSEI, bem como na sede da Coordenação Regional, de modo a possibilitar um melhor atendimento ao artigo 67 da Lei nº 8.666/1993.

62. Portanto, propõe-se rejeitar as razões de justificativa apresentadas pelos fiscais do Contrato nº 37/2006 diante da omissão ao não verificarem a idade dos veículos postos à disposição da Funasa-MT, ao não exigirem os comprovantes de pagamento do seguro com cobertura total da frota de veículos e ao não contestarem as adulterações nos BDT apresentados à comissão fiscalizadora. Sugere-se, no entanto, acatar as justificativa apresentadas no que se refere à verificação do número de motoristas e de sua jornada de trabalho nos Distritos.

V. Falta de planejamento para realização da licitação de fornecimento de passagens terrestres dando ensejo à contratação emergencial indevida da empresa Shop Tour Viagens e Turismo Ltda.

V.1 Argumentos apresentados pelo Sr. Marco Antônio Stangherlin (fls. 577-583 e 619-638 do v.3)

63. Informou que assumiu a Coordenação Regional em 26/7/2007. Destacou que se trata de uma das mais complexas unidades da Funasa no país, pela grande extensão territorial do estado, por possuir mais de 30.000 índios e ter sob sua gestão quatro DSEIs, além da própria sede da CORE, e por ‘falta de profissionais qualificados, falta de servidores efetivos do órgão, falta de estrutura e infraestrutura para executar as ações’. Segundo o ex-coordenador, no momento em que assumiu o cargo, havia um contrato de passagens terrestres em andamento e não havia cobranças por parte da comunidade atendida.

64. O gestor ressaltou que, em meio aos vários problemas da Fundação, só identificou que a vigência do contrato estava próxima do fim em ‘meados de novembro’. A partir desse período, solicitou à Divisão de Administração – DIADM, que providenciasse o procedimento para nova contratação, o que ocorreu ‘no início de dezembro’, quando começou a tramitar o processo. No entanto, não houve tempo hábil para formalização de um novo contrato antes do encerramento do que estava vigente. Tal fato obrigou a contratação emergencial para suprir a demanda até a conclusão do novo procedimento. Destacou que, em 2008, criou uma planilha de acompanhamento dos contratos para que a DIADM pudesse acompanhá-los melhor, tomando as devidas providências com antecedência.

V.2 Análise

65. Segundo informado pela CGU-MT em seu Relatório referente à Operação Hygeia (acostado à fl. 25 do anexo 2 – cópia em mídia eletrônica - objeto tratado às fls. 37/42 do mencionado relatório), item 2.1.3.1.2, a Funasa-MT havia iniciado, ainda em 1/11/2007, a

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formalização do Processo n.º 25180.019.145/2007-19, com vistas à realização de procedimento licitatório para prestação de serviço de fornecimento de passagens terrestres destinadas ao transporte de servidores, colaboradores e indígenas, nos deslocamentos de serviço ou de interesse e responsabilidade dessa Fundação, conforme Pedido de Bens e Serviços nº 059/2007. Entretanto, o término do contrato anterior tinha vigência até 31/12/2007.

66. Consequentemente, houve formalização de contratos administrativos emergenciais em 2008, beneficiando a empresa Shop Tour Viagens e Turismo Ltda., mediante dispensa de licitação indevida. De acordo com levantamento do Controle Interno, houve incidência dessa falha porque não ocorreu o devido planejamento na realização do correspondente procedimento licitatório, que se iniciou ainda em 2007, por meio do Processo nº 25180.019.145/2007-19, cujo valor estimado atingia o montante de R$ 791.000,00.

67. Na realidade, o mencionado processo nunca foi concluído, o que deu ensejo às contratações emergenciais indevidas em 2008, Dispensas nºs 03/2008 e 52/2008, gerando prática de ato de gestão ilegal, ilegítimo e antieconômico, com assinatura de contratos com preços acima do mercado, em flagrante afronta aos termos dos artigos 2º, 3º e 24, inciso IV, da Lei nº 8.666/1993. Portanto, diante da conduta negligente do ex-Coordenador Regional da Funasa-MT, ao não planejar com a devida antecedência o procedimento licitatório, propõe-se rejeitar as razões de justificativa apresentadas por esse gestor.

CITAÇÕES

68. No que concerne às citações efetuadas, apresentaram alegações de defesa acerca de débitos apontados nos autos os seguintes auditados: Sr. Evandro Vitório, ex-Coordenador Regional da Funasa/MT (fls. 369-372); Sr. Marco Antônio Stangherlin, ex-Coordenador Regional da Funasa/MT (fls. 584-616); Sr. Raimundo Angelino de Oliveira, então pregoeiro da Funasa/MT (fls. 389-438); empresa Inter Tours Viagens e Turismo Ltda., CNPJ: 00.614.995/0001-80 (fls. 439-527); e empresa CHC Táxi Aéreo Ltda., CNPJ: 02.835.198/0001-59 (fls. 535-554). Serão examinadas, a seguir, as respostas às citações apresentadas pelos responsáveis.

VI. Execução de despesas com transporte aéreo, apesar da não apresentação de comprovantes que suportem a efetiva prestação do serviço, em desacordo com o inciso III do § 2º do artigo 63 da Lei nº 4.320/1964, realizadas nos períodos relacionados abaixo:

a) Período de 1/1/2007 a 23/7/2007 – Sr. Evandro Vitório, ex-Coordenador Regional da Funasa/MT, e a empresa CHC Táxi Aéreo Ltda.;

b) Período de 24/7/2007 a 31/12/2007 – Sr. Marco Antonio Stangherlin, ex-Coordenador Regional da Funasa/MT, e a empresa CHC Táxi Aéreo Ltda.

VI.1 Argumentos apresentados pelo Sr. Evandro Vitório (fls. 369-372 do v.2)

69. Alega, em síntese, que os documentos apresentados no processo para comprovação da prestação do serviço contratado eram os mesmos apresentados em processos de anos anteriores, que, segundo ele, haviam sido auditados e considerados regulares pelos técnicos do TCU e da CGU.

70. Ademais, salienta que o Boletim Diário de Voo (BDV) só passou a ser exigido a partir de maio de 2008, portanto em data posterior à sua gestão.

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71. Também salienta que os processos eram submetidos à análise e aprovação do fiscal do contrato e aos respectivos setores administrativos responsáveis por tal função. Somente após esse trâmite que o processo era encaminhado para o Coordenador Regional para autorização do pagamento. Por conseguinte, os processos quando chegavam a suas mãos já vinham devidamente conferidos e atestados por servidores públicos federais autorizando o encaminhamento para pagamento.

72. Por essa razão, destaca que, por ser humanamente impossível ao Coordenador Regional realizar a fiscalização de tais contratos e por existirem servidores públicos responsáveis por tal atribuição, solicita que seja considerada sua boa-fé no exercício da função e que tenha isenção de toda e eventual responsabilidade sobre a questão versada.

VI.2 Análise

73. Cabe salientar que a defesa apresentada pelo citado tentou descaracterizar o achado referente ao pagamento de despesas de transporte aéreo sem o correspondente comprovante que suportasse a efetiva prestação de serviço, pelos seguintes fatos: a despesa havia sido comprovada por meio de documentos apresentados em processos de anos anteriores que haviam sido entendidos como suficientes pelos órgãos de controle; a execução do contrato havia sido atestada pelo fiscal do contrato e o documento apontado pela CGU como necessário para o devido atesto da prestação do serviço, o BDV, só passou a ser exigido pela Funasa/MT, em maio de 2008.

74. Inicialmente cabe assinalar que a adoção pela unidade gestora de procedimento de comprovação de execução de despesa insuficiente até um determinado momento não é razão suficiente para a perpetuação de tal conduta. Além disso, o fato de os órgãos de controle não terem identificado tal falha até então não justifica que, uma vez evidenciada, o gestor não possa ser responsabilizado pelo descumprimento das normas legais, principalmente quando tal conduta possa ter gerado grave dano ao erário.

75. A menção de que o fiscal do correspondente contrato atestou a execução do contrato fragiliza sobremodo sua responsabilização acerca do débito ora tratado. Isso porque, conforme destacado pelo defendente, tal atribuição de fiscalização não lhe cabia, posto que para essa atribuição eram nomeados servidores públicos responsáveis. O gestor tinha que tão somente verificar se o atesto havia sido devidamente executado e, a partir dessa confirmação, autorizar o correspondente pagamento. Portanto, se houve atesto de serviço não executado, essa falha caberia ao fiscal do contrato e não ao Coordenador Regional da Funasa.

76. Ademais, não é possível afirmar que o serviço não foi prestado pelas informações apresentadas no Relatório da CGU referente à Operação Hygeia (acostado à fl. 25 do anexo 2 – cópia em mídia eletrônica - objeto tratado às fls. 16/18 do mencionado relatório). Segundo informa o relatório da Controladoria, ‘os pagamentos foram efetuados sem a apresentação de nenhum certificado de fretamento de aeronaves, que poderia ser realizado por intermédio de documento hábil de controle de voo (Boletim Diário de Voo-BDV), que garantisse a comprovação de voo pelo passageiro, trecho e finalidade do voo’. Ocorre que, conforme também assinalado no mesmo relatório, a exigência de tal documento só passou a ocorrer em maio de 2008. Portanto, não havia como ser exigido tal documento no período de gestão do Sr. Evandro Vitório.

77. Foi ainda mencionado no relatório da CGU que, nos processos de pagamentos do exercício de 2007, além da ausência dos BDV’s, não constavam as fichas de encaminhamento médico/exames dos pacientes que motivaram tais deslocamentos. Tal falha de fato demonstra fragilidade no processo de comprovação da execução da despesa de serviço de transporte aéreo, mas de modo algum sinaliza que o serviço não foi realizado. Desse modo, como não há outras informações no relatório da CGU que desqualifiquem a execução do serviço atestado pelos fiscais do contrato, não é possível a esta Corte de Contas, simplesmente com base nas informações

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apresentadas pela Controladoria Geral da União, afirmar que o serviço de transporte aéreo apontado na tabela de fls. 293/295 do v. 1 deste processo não foi realizado, o que, por consequência, acaba por descaracterizar o débito. Nesse aspecto, devem, portanto, ser acolhidas alegações de defesa apresentadas pelo gestor.

78. Apesar disso, conforme destacado pela CGU, o fato de não haver exigência, à época da gestão do Sr. Evandro Vitório, de apresentação de documento idôneo que comprovasse adequadamente a execução do serviço por meio de fretamento de aeronaves, demonstra negligência do ex-Coordenador com a gestão da coisa pública. Aceitar que tão somente declarações de servidores solicitando o serviço e atestando sua execução fossem suficientes para comprovar a execução do contrato era no mínimo fazer pouco caso da coisa pública, posto que a própria lei, a fim de dar maior garantia à regular aplicação do dinheiro público, exige que a liquidação da despesa seja devidamente comprovada mediante apresentação de documento que demonstre a efetiva prestação do serviço.

79. Por conseguinte, apesar de entender que não há nos autos dados suficientes que permitam imputar débito de tão elevado montante ao gestor em tela, faz-se necessário responsabilizar o Sr. Evandro Vitório por sua conduta negligente diante da gestão dos pagamentos referentes à prestação de serviço de táxi aéreo. Por essa razão, propõe-se aplicação de multa ao gestor com fulcro no artigo 58, inciso I, c/c o artigo 19, § único, e artigo 16, inciso III, alínea ‘b’, da LOTCU.

VI.3 Argumentos apresentados pela empresa CHC Táxi Aéreo Ltda. (fls. 535-554 do v.3)

80. A empresa afirmou, por meio de seu representante, que ‘a documentação necessária para instruir a defesa do presente feito encontra-se apreendida pela Polícia Federal’ e, para que não se caracterize ofensa aos princípios constitucionais da ampla defesa e do contraditório, requereu a este Tribunal a suspensão da tramitação deste processo. Solicitou, ainda, que este Tribunal aguarde a devolução dos referidos documentos para novamente dar andamento ao feito, sob pena de nulidade do processo. Foram juntados aos autos, entre outros documentos, cópias de Mandado de Busca e Apreensão (fl. 544) e de Autos de Apreensão (fls. 545-548).

81. O representante da empresa alegou que os serviços foram efetivamente prestados e, portanto, os pagamentos efetuados são devidos, sendo sua restituição caracterizada como enriquecimento sem causa da administração, com prejuízo à empresa defendente. Ressaltou que a empresa efetuava registros no Boletim Diário de Voo – BDV, inclusive, constando as horas voadas, mesmo quando não estava previsto no contrato com a Funasa-MT.

82. Destacou, também, que os pedidos de voo eram efetuados, geralmente, via rádio, cabendo ao DSEI sua liberação e juntada da documentação pertinente à justificativa da solicitação e aos dados clínicos do paciente. Segundo o representante, a maioria dos voos objetivava o atendimento urgente de pessoas com risco de morte, a exemplo do parágrafo único do art. 24 do Decreto nº 98.872/1986. Asseverou que a existência de apenas um servidor da Funasa-MT para fiscalizar essas atividades e a falta de adoção de registros idealizados pelos técnicos do TCU não descaracterizam a prestação de serviço. Completou alegando que eventual omissão administrativa dos servidores da Funasa-MT deveria ser apurada em seara própria em processo interno.

VI.4 Análise

83. Pelas razões já expostas na análise da defesa do Sr. Evandro Vitório, entende-se que não restou descaracterizada a execução dos serviços de táxi aéreo, contratados junto à empresa CHC Táxi Aéreo, motivo pelo qual não se pode imputar a ela responsabilidade por qualquer débito. Por

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essa razão, propõe-se que sejam acolhidas as alegações de defesa apresentadas pela CHC Táxi Aéreo Ltda.

VI.5 Argumentos apresentados pelo Sr. Marco Antônio Stangherlin (fls. 584-616 do v.3)

84. Alegou inicialmente que foi nomeado para o cargo em 26/7/2007, motivo pelo qual não conseguiu identificar os problemas existentes nos sistemas de controle dos contratos de serviços de táxi aéreo ainda no exercício de 2007. Apesar disso, salientou que, tão logo observou as falhas existentes, tomou providências para melhorar a forma de acompanhamento da execução dos citados contratos. Em razão disso, em maio de 2008, na vigência de sua gestão, foi instituído o modelo de BDV, boletim no qual constam campos para autorização de voo pelo chefe do DSEI ou responsável, para aposição do prefixo do avião, do nome e da assinatura do piloto que voou, da data do voo, da hora de saída e de chegada, do local de saída e de chegada, do usuário que voou, bem como sua assinatura, enfim, informações que permitem fazer um melhor controle acerca da realização do voo.

85. Ademais, informou que tomou outras providências para tentar regularizar as falhas identificadas na execução de tais contratos, tais como: tentativa de ampliar o número de fiscais dos contratos, nomeando um fiscal para cada DSEI, que não obteve muito sucesso em razão da carência de pessoal; contato com a Infraero para solicitar informações sobre possibilidade de realizar monitoramento dos voos, recebendo, no entanto, resposta negativa para tal questionamento, posto que o radar deles não cobria todas as regiões atendidas pela Funasa/MT; tentativa de homologar todas as pistas utilizadas pelos aviões contratados, de modo a possibilitar o uso do Diário de Bordo para melhor controle da execução dos contratos de transporte aéreo.

86. Enfim, conforme destacado pelo gestor, não houve negligência nem omissão em sua conduta, pois ao contrário, foram tomadas diversas providências na tentativa de cumprir a missão institucional e não deixar de atender os indígenas que dela precisavam.

87. Ressaltou, ainda, que, em 2007, quando assumiu a Coordenação da Funasa, já havia diversos procedimentos para comprovar a realização dos serviços, tais como: os profissionais da equipe multidisciplinar de saúde que ficavam nas aldeias fazendo os atendimentos passavam por meio do rádio pedidos de voo para que o DSEI ou a Casai os autorizassem; para comprovação da execução desses serviços, os processos de pedido e autorização eram encaminhados para que fossem realizadas as devidas conferências pelos responsáveis nos DSEIs, além dos atestos das notas fiscais para posterior encaminhamento para o fiscal do contrato fazer a conferência dos documentos apresentados e confecção do relatório de fiscalização. Portanto, como o gestor destaca, eram realizadas duas conferências antes da autorização do pagamento por parte do Coordenador da Funasa/MT.

88. Desse modo, frisa que todos os pagamentos que realizou ocorreram após as notas fiscais estarem atestadas por servidores e com o devido relatório do fiscal do contrato, sempre indicando a regularidade dos serviços prestados. Por essa razão, entende que não poderia ser responsabilizado pela falta de um certificado de fretamento de aeronaves, que nem existia à época e muito menos por falhas cometidas por subordinados responsáveis pela conferência das informações.

VI.6 Análise

89. Do mesmo modo como destacado na análise das alegações de defesa do Sr. Evandro Vitório, destaca-se que não há provas levantadas no relatório da CGU que demonstrem que os serviços de táxi aéreo pagos em 2007 não haviam sido realizados. Por conseguinte, não há razão

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para levantamento e imputação de qualquer débito em razão do presente achado, restando, portanto, afastada eventual responsabilização do gestor sob esse aspecto.

90. Releva salientar que de fato foi na gestão do Sr. Marco Antônio Stangherlin que foram tomadas diversas providências para melhorar os sistemas de controle de acompanhamento da execução de tais contratos, dentre eles a criação do BDV, documento, inclusive, apontado pela CGU, em seu relatório, como idôneo para comprovar o cumprimento dos referidos serviços aéreos. Por essa razão, diversamente do que foi proposto para o Sr. Evandro Vitório, entende-se que não há motivos para se imputar ao presente gestor qualquer responsabilização sobre as falhas identificadas no acompanhamento da execução de tais contratos, posto que foi em sua gestão que as devidas providências foram tomadas para regularizá-lo.

91. Em face do exposto, propõe-se que sejam acolhidas as alegações de defesa apresentadas pelo Sr. Marco Antônio Stangherlin.

Superfaturamento no Contrato nº 37/2006

92. O Sr. Evandro Vitório, ex-Coordenador Regional da Funasa/MT, foi citado solidariamente com o Sr. Raimundo Angelino de Oliveira, ex-pregoeiro da Funasa/MT, e com a empresa Inter Tours Viagens e Turismo Ltda., para apresentar alegações de defesa ou efetuar ressarcimento aos cofres da Funasa do débito atualizado de valor de R$ 1.257.563,27 (um milhão, duzentos e cinquenta e sete mil, quinhentos e sessenta e três reais e vinte e sete centavos), em decorrência de supostos valores superfaturados contratados com a empresa Inter Tours no Contrato nº 37/2006.

VII.1 Argumentos apresentados pelo Sr. Evandro Vitório (fls. 369/370 do v.2)

93. O presente interessado alegou inicialmente que não poderia ter ocorrido superfaturamento no Contrato nº 37/2006, em que a Funasa/MT contratou com a Inter Tours, porque ele foi formalizado após realização de Pregão Eletrônico aberto, por meio do qual as empresas ofertaram seus menores preços. Ademais, argumentou que o referido contrato sucedeu outros que tinham preços 40% superiores ao valor contratado com a Inter Tours, que haviam, inclusive, mesmo com esses valores mais altos, passado pelo crivo da regularidade por parte da CGU, do TCU e da auditoria interna da Funasa.

94. Segundo seu entendimento, houve equívoco dos auditores ao levantar tal superfaturamento, tendo em vista que, em primeiro lugar, somente após a adjudicação do objeto licitado à empresa vencedora com o menor valor é que se solicitou dela a elaboração de uma planilha de custos detalhando um memorial de cálculo do valor sagrado vencedor no certame. Portanto, a planilha não teria o poder de alterar o valor do lance vencedor, nem para acrescer, nem para diminuir. Desse modo, se ela não refletisse o valor do lance vencedor é porque simplesmente conteria falhas, sem, entretanto, poder alterar o valor do preço ofertado.

95. A seguir, ressaltou a lisura do certame e a idoneidade do Sr. Raimundo Angelino de Oliveira, que, segundo suas palavras, tratava-se de um servidor público exemplar e muito bem quisto por seus colegas.

96. Por fim, concluiu que penalidade alguma poderia ser carreada ao ora requerente, considerando sua inquestionável boa-fé no trato da coisa pública durante o tempo em que exerceu seu cargo à frente da Coordenação Regional de Mato Grosso da Funasa, devendo, por essa razão, ser isento da responsabilidade solidária que o Tribunal lhe apontou, salientando que tal responsabilização não pode, inclusive, ser aplicada à empresa contratada, ante os fatos expostos.

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VII.2 Argumentos apresentados pelo Sr. Raimundo Angelino de Oliveira (fls. 389/392 do v.2)

97. O defendente em tela argumenta inicialmente que o débito que lhe está sendo imputado seria decorrente de superfaturamento no Contrato nº 37/2006, que foi precedido pelo Pregão n.º 24/2006, no qual ele teria atuado alterando o edital de licitação para favorecer a empresa Inter Tours Viagens e Turismo Ltda., incluindo a contratação de serviço de ambulância, quando, na verdade, o pregão deveria prever apenas e tão somente locação de veículo de passageiros com motorista.

98. Informa que é servidor público federal da Funasa há 27 anos e que exerce função de pregoeiro há 7 anos, não existindo em sua ficha funcional nada que desabone sua conduta, bem como, nunca respondeu a processo-crime e está sendo processado injustamente por ato equivocado por parte do Ministério Público Federal.

99. No caso em tela, alega que recebeu, em fevereiro de 2006, determinação superior, conforme Pedido de Bens e Serviços PBS/SALOG n.º 03200/2006, devidamente assinado pelo Chefe da Seção de Recursos Logísticos, Ídio Nemésio de Barros Neto, pela Chefe da Administração, Viviane Cristine Dias, e pelo Coordenador da Funasa, Evandro Vitório, para promover uma licitação para contratação de empresa especializada em prestação de serviço de transporte (remoção de pessoas e de cargas leves para atender à demanda da Coordenação da Funasa/MT, nos locais descritos no Termo de Referência, que menciona também a quantidade e os tipos de veículos que deveriam ser utilizados).

100. De acordo com o Termo de Referência (devidamente assinado pelos superiores hierárquicos do acusado) citado no Pedido de Bens e Serviços, consta do item 1.1.2, alínea b.1, 1.1.4, a determinação expressa de que, além dos veículos para transportes de carga e de pessoas, o acusado deveria promover a licitação para contratação de três veículos tipo ambulâncias.

101. A Minuta do Edital do Pregão e o Pregão Eletrônico foram assinados pelo acusado e pelo Procurador Federal Marcos Duorine B. de Almeida e obedeceu rigorosamente às determinações constantes do Pedido de Bens e Serviços PBS/SALOG n.º 03200/2006 e Termos de Referência que se encontram devidamente assinados pelos superiores hierárquicos do acusado.

102. Ressalta, por essa razão, que se trata de cumprimento de ordem legal emanada de superior hierárquico, estando o acusado isento de qualquer responsabilidade civil ou criminal, na forma do artigo 22 do Código Penal Brasileiro, pois não se vislumbra nenhuma ilegalidade no ato executado pelo peticionário.

103. No mais, com fulcro no artigo 23 do Código Penal Brasileiro, alega que não há crime quando o agente pratica fato em estrito cumprimento do dever legal ou no exercício regular de direito. Ou seja, por qualquer ângulo em que se analise, defende que deve ser absolvido sumariamente, na forma do artigo 397 do CPP.

104. Adiante, defende serem inconsistentes os argumentos de que o serviço de ambulância não se enquadre em locação de veículo de passageiros com motorista, que exige controles mais rígidos, existindo, inclusive, legislação específica (Portaria MS nº 2.048/2002), pois o acusado não recebeu nenhuma determinação nesse sentido. Ademais, a referida portaria do Ministério da Saúde não se aplica no processo de licitação em tela, pois é direcionada aos estados e municípios e não tem finalidade de impor tratamento diferenciado entre a contratação de veículo leve de passageiro ou carga e ambulâncias.

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105. Salienta, ainda, que no Pedido de Bens e Serviços constou que o objeto do contrato era de prestação de transportes de remoção de pessoas, ou seja, não se tratou exclusivamente de atendimento de urgência e de emergência como prevê a Portaria nº 2.048/2002.

106. Por fim, defende que agiu dentro da legalidade, pois não existe lei proibindo que, na contratação de veículos leves de passageiros ou de cargas e ambulâncias, os pregões sejam separados, não sendo verdadeiras, portanto, as alegações do Ministério Público Federal que sustentam ter havido alteração do edital e que existe lei regulamentando a matéria.

107. Em face do exposto, entende não ter praticado nenhum ilícito e nem ter concorrido para o superfaturamento anunciado nos presentes autos.

VII.3 Argumentos apresentados pela empresa Inter Tours (fls. 439/454 do v.2)

108. A interessada em tela iniciou sua peça trazendo à baila as mesmas defesas apresentadas pelo Sr. Evandro Vitório, razão pela qual não se repetem aqui os mesmos argumentos. A seguir, reafirma que, como o pregão tem por base o preço de mercado previamente pesquisado, a partir do qual são dados os lances iniciais, vencendo quem apresentar o menor preço, não é possível se falar em superfaturamento. Ao contrário, os licitantes, ao darem seus lances, tendo por base aquele previamente estabelecido no termo de referência, vão diminuindo seu lucro até o limite em que podem chegar sem incidirem em prejuízo. Portanto, se não houve lance abaixo da contratada é porque as demais empresas chegaram a esse limite, vencendo, por essa razão, a ora defendente que apresentou o menor preço.

109. Vencido o pregão, foi-lhe exigida apresentação de planilha de custos para atendimento de cada um dos distritos licitados, a saber: DSEI Cuiabá, DSEI Xavante, DSEI Xingu e DSEI Kayapó. Após fornecimento de tais planilhas, como exigia o edital, apresentaram-se, em alguns casos, preços diferentes levando-se em consideração a realidade de cada lugar, preço de combustível diferenciado, necessidade de contratação de pessoal local, além da necessidade de criação de infraestrutura local em razão, sobretudo, da enorme distância da sede da empresa, que se situa em Cuiabá, aos distritos de atendimento, que se situam em aldeias localizadas nas imediações de Barra do Garças e cidades adjacentes, Água Boa, Canarana, Campinápolis, São Félix do Araguaia, etc..

110. Afirma, portanto, que não se pode confundir eventual erro de planilha com superfaturamento, como se o fenômeno tivesse o condão de aviltar ou diminuir o preço da menor oferta adjudicada à interessada em tela ao vencer o Pregão Eletrônico.

111. De toda maneira, apresentou alegações com o intuito de rebater cada uma das alegações que fundamentaram o suposto superfaturamento. Iniciou sua abordagem sobre o quantitativo superior de motoristas nos DSEIs Xavante e Xingu, o que, em seu entendimento, não representava a verdade. Conforme explana, no caso do DSEI Xavante, por exemplo, ao qual foram destinadas oito camionetes e duas ambulâncias, para atendimento 24 horas por dia, havia necessidade de 30 motoristas para se revezarem em turnos de 8 horas cada.

112. Ademais, não foram consideradas diversas outras despesas na referida planilha de custos, tais como: diárias pagas aos motoristas, já que ficavam longe de casa quando estavam à disposição; veículo que ficava à disposição dos motoristas quando se trocava o turno; escritório com funcionários montado em Barra do Garças para o atendimento necessário; despesas com comunicação com os motoristas; reposição de peças que eram adquiridas em Cuiabá nas concessionárias autorizadas, além de outras despesas.

113. O mesmo raciocínio se aplica ao DSEI Xingu, embora sejam as despesas aplicadas apenas para um único veículo.

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114. No que tange ao preço de combustível cotado para ambulâncias, refere que há uma situação típica na qual erro de planilha não pode aviltar o preço do quilômetro rodado ou transmudar isso para superfaturamento. Segundo afirma, houve erro ao se lançar na planilha aquele valor, entretanto, ocorreu outro equívoco na planilha, pois as ambulâncias não usavam diesel, mas sim motores movidos à gasolina. Naquela ocasião, o preço da gasolina na região chegava a custar R$ 3,00/litro, mas, ainda que se considerasse que o custo com a gasolina fosse de R$ 2,85/litro, ter-se-iam 10.000 km de estimativa de rodagem, dividido por 7 km/h de consumo estimado, multiplicado pelos R$ 2,85, chegando-se ao valor de R$ 4.071,42.

115. Quanto às oito camionetes, há igualmente um erro, mas contra a defendente, pois se teriam 40.000 km estimados de rodagem, divididos por 9 km/h de consumo estimado, multiplicado por R$ 2,00, dando um resultado de R$ 8.888,88, valor acima do constante na planilha, que deu R$ 7.822,00.

116. Ressalta que também está errado na planilha o valor do diesel, que consta como R$ 2,00/litro, mas, naquela época, custava entre R$ 2,10/litro e R$ 2,30/litro, o que dá uma diferença importante na composição do custo. Salienta, assim, que nunca houve cobrança de valor inferior a R$ 1,66 o quilômetro proposto, cujo lance se sagrou vencedor no referido certame.

117. Menciona o interessado que diversos outros custos não constaram na planilha, tais como: seguro de vida dos motoristas contratados, cujo custo mensal foi de R$ 798,15, frete para transporte de peças de reposição, material para escritório, transporte de documentos diversos, lavagem de veículos, custo mensal de reposição de oxigênio, despesas bancárias, além da previsão insuficiente do valor para manutenção dos veículos.

118. Sobre a questão do cálculo do lucro e lançamento de tributos, informa que houve erro de interpretação no relatório da CGU ao afirmar que a empresa só teria direito de lançar em sua planilha de custos 12,05%. Segundo informa, pelo sistema de tributação ao qual a ora interessada está vinculada, o lucro presumido, o percentual de tributos federais e municipais ascende para 16,33%, tal como consta nas planilhas, conforme previsto na legislação específica, artigo 246 do RIR/99 e artigo 14 da Lei nº 9.718/1998, com redação dada pelo artigo 46 da Lei nº 10.637/2002.

119. Informa que tentou mudar o sistema de tributação para o SIMPLES, mas seu pedido foi inicialmente indeferido pela Receita Federal, decisão que foi impugnada pela ora interessada, mas que só se sagrou vencedora em 2009, quando já não mais locava veículos para a Funasa. Por essa razão, entende que houve engano na análise que concluiu pelo superfaturamento do contrato em tela.

120. Assim, entende que há de se considerar que o raciocínio do relatório que entendeu ter havido superfaturamento, tendo por base essa questão do cálculo do lucro e do lançamento de tributos nas planilhas em percentual menor, parte de premissas falsas, pelas razões já expostas.

121. Defende, ainda, o fato de que, ao longo da execução do contrato, o valor por ela cobrado nunca ultrapassou o que foi estabelecido na proposta vencedora no Pregão Eletrônico, salientando que esse foi o menor preço obtido no certame, não se podendo, por essa razão, admitir que alguns erros constantes de planilhas possam transmudar tal realidade para superfaturamento. Admitir tal raciocínio, em seu entendimento, representaria verdadeiro locupletamento ilícito da Administração. Isso aviltaria o preço obtido no Pregão Eletrônico, proposto e vencido pela interessada em tela.

122. Afora todo o alegado, faz a defendente breve exposição sobre as questões envolvidas com o atraso nos pagamentos realizados por parte da Administração, que gerava prejuízos à contratada, uma vez que deixava de pagar fornecedores, atrasava prestações de financiamento de veículos, o que gerava juros extorsivos, além de sofrer protesto de títulos e inscrição nos serviços de proteção ao crédito. Tal situação, de acordo com a interessada, não é contemplada pelo

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relatório de auditoria, que, ao ignorar isso tudo, diz ter havido superfaturamento e expurga tributo de planilha de custos, não levando em consideração que, a despeito de alguns equívocos cometidos na estimativa do custo, a contratada nunca cobrou valor além do que ofertou no Pregão Eletrônico.

123. Portanto, em seu entendimento, é infundada e indevida a pretensão da Administração de querer cobrar o valor constante na citação, em razão do suposto superfaturamento que não ocorreu. Ao contrário, segundo alega, o que houve foi prejuízo para a contratada. Por essa razão, defende a inadmissibilidade e a improcedência da pretensão.

VII.4 Análise

124. Para analisar as presentes alegações de defesa, buscar-se-á o trabalho realizado por esta Secex-MT, no TC 015.399/2007-3, em sede de Prestação de Contas Simplificada do exercício de 2006, mediante o qual foi realizada inspeção na Funasa/MT, a fim de levantar se havia ocorrido de fato o suposto superfaturamento no Contrato nº 37/2006, cujo objeto era a prestação de serviços de locação de veículos com motorista para transporte de pessoas e cargas leves, utilizando veículos utilitários e ambulâncias.

125. Na análise dos documentos levantados na referida fiscalização, o AUFC Fabrício A. Vieira, peça anexada ao processo eletrônico, no dia 30/8/2011, inicialmente afastou a possibilidade de comparar o preço obtido no contrato com o estimado pela Administração para a elaboração do respectivo edital, devido à baixa qualidade na pesquisa de preços realizada pela Funasa/MT. Segundo seu relato, esse levantamento ficou comprometido por diversas razões, a saber: havia grande disparidade de preços entre as cotações das empresas; tinha sido excluída uma quinta cotação, cujos valores mais se aproximavam daqueles apresentados pelas empresas que haviam cotado em valor menor; foram utilizados valores das cotações com franquias de 10.000 km por mês como se fossem para franquia de 5.000 km, o que não correspondia à realidade, posto que quanto maior a franquia menor o valor da locação dos veículos.

126. A seguir, ele afastou a possibilidade de utilizar preços obtidos em contratos anteriores porque a utilização de dados apenas de contratos anteriores da CORE-Funasa/MT poderia provocar viés prejudicial à análise. Desse modo, procurou outros contratos com mesmo objeto, celebrados na mesma época por órgãos da Administração Pública no Estado de Mato Grosso, mas não foi possível encontrá-los no exíguo tempo disponível para a execução do trabalho. Por essa razão, decidiu-se compor o preço do serviço a partir de dados extraídos de publicações especializadas.

127. A partir disso, fizeram-se diversas inferências que levaram à conclusão de que, com base nas informações constantes no citado estudo, não havia evidências que apontassem ter havido superfaturamento no Contrato nº 37/2006, celebrado entre a CORE-Funasa/MT e a Inter Tours Viagens e Turismo Ltda.

128. Com objetivo de adicionar novos testes a fim de verificar se de fato não havia possibilidade de se confirmar o suposto superfaturamento no Contrato nº 37/2006, realizaram-se novos cálculos na presente instrução com base nos valores levantados na pesquisa de preços realizada pela Funasa/MT, para elaborar o termo de referência do Pregão Eletrônico que deu ensejo ao referido contrato. Excluíram-se, no entanto, os preços orçados pela empresa Inter Tours, visto que seus valores são questionados. Adicionou-se a cotação da empresa que havia sido excluída da estimativa, conforme apontado acima. Com esse levantamento, chegou-se ao seguinte quadro:

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Tabela 1: Estimativa de preços desconsiderando os valores da empresa Inter Tours e adicionando a cotação da Araruana Turismo Ecológico.

Localidade

Tipo de veículo a ser contratado

Empresas Pesquisadas (preços em R$)

Média (R$)Domani Localiza

Ararauna Turismo

Ecológico Ltda

Sul América

Sede e DSEI Cuiabá

Camioneta 7.100,00 7.700,00 8.631,90 12.500,00 8.982,98Camioneta 7.100,00 7.700,00 8.631,90 12.520,00 8.987,98Camioneta 7.100,00 7.700,00 8.631,90 12.250,00 8.920,48Camioneta 7.100,00 7.700,00 8.631,90 12.250,00 8.920,48Ambulância 11.700,00 0 0 14.750,00 6.612,50

Van 12.000,00 0 8.650,00 14.750,00 8.850,00

DSEI Kayapó

Camioneta 7.100,00 7.700,00 8.631,90 12.250,00 8.920,48Camioneta 7.100,00 7.700,00 8.631,90 12.250,00 8.920,48Camioneta 7.100,00 7.700,00 8.631,90 12.250,00 8.920,48Camioneta 7.100,00 7.700,00 8.631,90 12.250,00 8.920,48

Van 12.000,00 0 8.650,00 14.750,00 8.850,00

DSEI Xavante

Camioneta 7.100,00 7.700,00 8.631,90 12.250,00 8.920,48Camioneta 7.100,00 7.700,00 8.631,90 12.250,00 8.920,48Camioneta 7.100,00 7.700,00 8.631,90 12.250,00 8.920,48Camioneta

7.100,00 7.700,00 8.631,90 12.250,00 8.920,48Camioneta

7.100,00 7.700,00 8.631,90 12.250,00 8.920,48Camioneta 7.100,00 7.700,00 8.631,90 12.250,00 8.920,48Camioneta

7.100,00 7.700,00 8.631,90 12.250,00 8.920,48Camioneta

7.100,00 7.700,00 8.631,90 12.250,00 8.920,48Ambulância 11.700,00 0 0 14.750,00 6.612,50Ambulância 11.700,00 0 0 14.750,00 6.612,50

DSEI Xingu Camioneta 7.100,00 12.900,00 8.631,90 9.987,50 9.654,85Soma   179.800,00 136.100,00 164.042,30 280.257,50 190.049,95Fonte: Instrução do TC 015.399/2007-3.

129. Perceba-se que o valor total da média obtida foi de R$ 190.049,95. Na estimativa realizada pela CORE/MT, no entanto, essa média alcançou R$ 236.272,71. Evidencia-se, por conseguinte, que o valor obtido na estimativa da Funasa/MT é aproximadamente 24% maior do que o levantado na tabela 1, com as correções que se entendem necessárias.

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130. Utilizando-se agora essa nova média obtida, a fim de calcular uma outra estimativa, com base na média de mercado levantada pela própria Administração na elaboração do termo de referência do Pregão Eletrônico que deu ensejo ao contrato ora analisado, constrói-se a tabela a seguir:

Tabela 2: Nova média estimada por km

Localidade Novo valor estimado da contratação (R$)

Meses Km mensal estimada

Número de veículos

Média por Km (R$)

Sede e DSEI Cuiabá 51.274,4 12 5000 6 1,70915DSEI Kayapó 44.531,9 12 5000 5 1,78128DSEI Xavante 84.588,8 12 5000 10 1,69178DSEI Xingu 9.654,85 12 5000 1 1,93097

Fonte: Instrução do TC 015.399/2007-3.

131. Ao se comparar os valores obtidos acima com os apresentados pela empresa Inter Tours, a fim de verificar se houve superfaturamento, tendo como base os preços levantados na estimativa realizada pela própria Funasa/MT com os ajustes já apontados, tem-se o quadro comparativo abaixo:

Tabela 3: Comparação entre o peço contratado e o novo preço estimado.Localidade Preço

estimado por Km (R$)

Preço contratado por Km

Sede e DSEI Cuiabá

1,70915 1,84

DSEI Kayapó 1,78128 2,07DSEI Xavante 1,69178 1,67

DSEI Xingu 1,93097 1,32 Fonte: Instrução do TC 015.399/2007-3.

132. Numa rápida análise, verifica-se de imediato que os preços contratados para a sede e DSEI Cuiabá e para o DSEI Kayapó ficaram acima da nova estimativa realizada na presente instrução. No entanto, os valores contratados para o DSEI Xavante e para o DSEI Xingu ficaram abaixo do estimado, principalmente neste último, cuja estimativa ficou aproximadamente 46% acima do contratado. Portanto, se a análise estivesse sendo realizada por item, poderia ser possível concluir que houve sobrepreço em relação às duas primeiras localidades. Entretanto, essa conclusão é enviesada, posto que se faz necessário avaliar a comparação do preço global do lote obtido na contratação, conforme tabela abaixo, com o obtido na estimativa, de acordo com a tabela 1 acima.

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Tabela 4: Valor da contratação por localidade Localidade Preço

contratado por Km (R$)

Km mensal estimada

Número de veículos

Valor da contratação (R$)

Sede e DSEI Cuiabá 1,84 5000 6 55.200DSEI Kayapó 2,07 5000 5 51.750DSEI Xavante 1,67 5000 10 83.500DSEI Xingu 1,32 5000 1 6.600Total 197.050

Fonte: Instrução do TC 015.399/2007-3.

133. O valor total contratado no mês foi de R$ 197.050,00 (cento e noventa e sete mil e cinquenta reais). Comparando esse resultado com o levantado na estimativa da tabela 1, observa-se que praticamente não há diferença, ou seja, ela não representa sequer 1% do valor estimado. Conclui-se, portanto, diante desses novos cálculos, que não é possível afirmar que houve superfaturamento no Contrato nº 37/2006 realizado entre a Funasa/MT e a empresa Inter Tours.

134. Por essa razão, entende-se que deva ser afastada a irregularidade tratada no presente tópico, razão pela qual não há necessidade de se analisar cada um dos argumentos apresentados pelos citados. Apesar disso, releva salientar que as alegações de defesa apresentadas pelo Sr. Raimundo Angelino de Oliveira não atacaram especificamente a questão do suposto superfaturamento ocorrido no Contrato nº 37/2006, mas de eventual denúncia que deve estar sendo apurada pelo Ministério Público Federal sobre favorecimento da empresa Inter Tours no pregão eletrônico, que não é objeto de análise do presente processo.

135. No que se refere aos argumentos da empresa Inter Tours, salienta-se que os aspectos abordados detalhadamente na defesa foram objeto de análise na instrução do AUFC Fabrício A. Vieira, no TC 015.399/2007-3, em sede de Prestação de Contas Simplificada do exercício de 2006, mediante a qual foi reiterada a descaracterização do superfaturamento. Como a análise apresentada acima já havia afastado tal irregularidade, posto ter sido demonstrado que o preço global apresentado pela empresa Inter Tours ficou nem 1% acima da média dos valores levantados pela Administração para elaboração do termo de referência com os ajustes realizados na presente instrução, entende-se desnecessária análise adicional sobre a composição dos itens da planilha de custos, visto que a licitação selecionou o menor preço global entre as empresas participantes (fl. 407 do v.2), tendo a ora defendente apresentado a menor proposta.

136. Por todo o exposto, propõe-se que seja afastada a responsabilização do Sr. Evandro Vitório, do Sr. Raimundo Angelino de Oliveira e da empresa Inter Tours em relação ao débito de R$ 1.257.563,27 (um milhão, duzentos e cinquenta e sete mil, quinhentos e sessenta e três reais e vinte e sete centavos) apontado no item 9 de fl. 318 do v.1 dos presentes autos, posto não ter restado devidamente caracterizado o suposto superfaturamento levantado nos parágrafos 27/35, fls. 296/298 do v.1 deste processo.

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CONCLUSÃO

137. Foram muitas as inconsistências, fragilidades e irregularidades identificadas na gestão da CORE/MT pela própria Funasa/MT, em sede de seu Relatório de Gestão, e pela Controladoria Geral da União, por meio do Relatório de Auditoria, conforme se pode evidenciar nos parágrafos 3/7 da presente peça. Ao longo da instrução do processo em tela, algumas foram afastadas; outras, no entanto, permaneceram, tais como:

a) cessão de servidores da Funasa/MT para o Estado de Mato Grosso e seus diversos municípios, gerando carência de recursos humanos na própria unidade (item 1.1 de fls. 264/272 do v.1);

b) descumprimento de acórdão do TCU, ocasionando pagamento indevido a servidor aposentado (item 1.2 de fls. 272/273 do v.1);

c) inconsistências na utilização e na prestação de contas de suprimento de fundos (item 2.2 de fls. 276/280 do v.1);

d) fracionamento de despesas por meio da utilização de suprimento de fundos (parágrafos 13/15 de fl. 279 do v.1);

e) falta de transparência nas informações constantes nas notas de empenho das despesas custeadas pelo BIRD (item 2.3 de fls. 280/281 do v.1);

f) apresentação, em sede de inexigibilidade de licitação, de atestado de exclusividade fornecido por empresa privada (parágrafos 8/10 de fl. 283 do v.1);

g) realização de aditamentos contratuais sem uma adequada pesquisa prévia de preços de mercado (item 3.2 de fls. 285/287 do v.1);

h) contratação de serviços terceirizados na área de apoio administrativo em número acima das necessidade do órgão (item 3.3 de fls. 287/288 do v.1);

i) fragilidade no controle da execução de contratos de alta relevância (item 4.1 de fls. 290/304 do v.1);

j) reduzido número de fiscais para acompanhar a execução de contratos de transporte aéreo, de terceirização de motoristas, de limpeza e conservação, de apoio administrativo e copeiragem e de vigilância armada (parágrafo 10 de fl. 292 do v.1; parágrafo 21 de fl. 295 do v.1; parágrafo 61 de fl. 303 do v.1; parágrafo 68 de fl. 304 do v.1)

k) fragilidade no controle de concessão e de prestação de contas de diárias (item 4.2 de fls. 304/307 do v.1);

l) carência de recursos humanos para realizar o acompanhamento e controle da execução de convênios (parágrafos 8/12 de fls. 308/309 do v.1);

m) falta de equipamentos, de logística e de pessoal suficiente e capacitado para realizar a gestão do patrimônio da unidade (item 4.4 de fls. 309/312 do v.1);

n) falta de planejamento para realização de licitação para fornecimento de passagens terrestres dando ensejo a contratações emergenciais indevidas (parágrafos 23/24 de fls. 284/285 do v.1 e parágrafos 63/68 da presente instrução);

o) ausência de comprovação da regularidade fiscal de empresa contratada (parágrafos 4/6 de fls. 282/283 do v.1 e parágrafos 23/26 da presente instrução);

p) fragilidades nos instrumentos de controle aplicados em sede de fiscalização da execução de contratos de transporte aéreo e de terceirização de mão-de-obra (parágrafos 7/68 de fls. 291/304 do v.1 e parágrafos 72/73 da presente instrução);

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q) realização reiterada de despesas sem prévio empenho (item 2.1 de fls. 274/276 do v.1 e parágrafos 16/22 da presente instrução);

r) suposto dano ao erário decorrente de superfaturamento na execução de contrato de transporte terrestre (parágrafos 27/35 de fls. 296/298 do v.1 e parágrafos 92/136 da presente instrução);

s) suposto dano ao erário decorrente de pagamento de despesa de transporte aéreo sem a correspondente comprovação de sua realização (parágrafos 16/20 de fls. 293/295 do v.1 e parágrafos 69/91 da presente instrução);

138. Como o suposto dano ao erário apontado nas letras ‘r’ e ‘s’ restou afastado, conforme análise nos parágrafos 69/136 da presente instrução, poder-se-ia propor, com base tão somente nas falhas mencionadas às letras ‘a’ a ‘m’, conforme análise exaustiva às fls. 263/320 do v.1, julgamento das presentes contas regulares com ressalva, dando ensejo tão somente a determinações e recomendações à unidade jurisdicionada.

139. Apesar disso, os achados de letras ‘n’ a ‘q’, mesmo não tendo gerado qualquer dano ao erário levantado nos presentes autos, comprometem a sanidade das contas apresentadas em razão da gravidade de sua incidência.

140. A demonstração de ausência de comprovação da regularidade fiscal por empresa contratada na gestão do Sr. Evandro Vitório, mesmo após a Procuradoria Federal ter salientado a necessidade de sua exigência, demonstra uma postura omissiva do gestor, posto seu dever de agir para cumprir as determinações legais (parágrafos 23/24 da presente instrução). Do mesmo modo ficou caracterizada a desídia administrativa dos Srs. Evandro Vitório e Marco Antônio Stangherlin, diante da aceitação de garantia inidônea apresentada pela empresa Inter Tours, mesmo após a Assessoria Jurídica ter alertado o órgão acerca da referida inidoneidade (parágrafos 27/32 da presente instrução). Quanto ao Sr. Edson Ricardo Pertile, sua responsabilidade quanto ao presente aspecto decorre do fato de ter assinado documento em 8/8/2007, afirmando que havia ocorrido substituição da modalidade de garantia, baseado na devolução do título à empresa e na consulta ao Banco Central, sem, no entanto, segundo a CGU-MT, ter ocorrido qualquer substituição do título imprestável (parágrafo 34 da presente instrução).

141. No que pertine às fragilidades nos instrumentos de controle aplicados na fiscalização dos contratos, mais detidamente nas áreas de transporte aéreo e terrestre, fica evidente a negligência no cuidado com a coisa pública, posto que não foram tomadas, por parte dos fiscais do contrato, Gleida Maria da Costa e Edson Ricardo Pertile, quaisquer providências para sanear as inúmeras irregularidades incidentes na execução do Contrato nº 37/2006, realizado com a empresa Inter Tours (parágrafos 35/62 da presente instrução). Ademais, no que se refere aos ex-Coordenadores da Funasa/MT à época, Srs. Evandro Vitório e Marco Antônio Stangherlin, foram levantadas, respectivamente, as seguintes falhas: aditamento contratual de 25% do valor original sem demonstração/comprovação de orçamento, de necessidade de aditamento e das necessidades reais da Fundação e problemas referentes à propriedade de terceiros dos veículos locados e à suspensão na execução do contrato antes de noventa dias de atraso no pagamento por parte da Administração. Pela inércia diante das falhas mencionadas, devem as pessoas mencionadas ser devidamente responsabilizadas.

142. Quanto ao contrato de transporte aéreo formalizado com a empresa CHC Táxi Aéreo Ltda., apesar de ter restado afastada a comprovação do débito referente a pagamento das despesas sem a correspondente comprovação da execução do contrato, há que se salientar a conduta omissiva do Sr. Evandro Vitório porque, mesmo diante do frágil procedimento adotado no controle da fiscalização dessas espécies de contratos, não tomou qualquer medida para sanear essa falha

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(parágrafos 78/79 da presente instrução). Tal providência só foi tomada na gestão do Sr. Marco Antônio Stangherlin, com a instituição do BDV em maio de 2008.

143. Acerca da falta de planejamento para realização da licitação para fornecimento de passagens terrestres, que deram ensejo a contratações emergenciais indevidas na gestão do Sr. Marco Antônio Stangherlin, fica evidente a gravidade de tal constatação, tendo em vista o potencial dano ao erário com essas contratações realizadas sem o prévio procedimento licitatório cabível, incidindo, por consequência, em prática de ato de gestão ilegal, ilegítimo e antieconômico (parágrafos 63/67 da presente instrução).

144. Pelo conjunto das falhas, irregularidades e inconsistências demonstradas, considerando a gravidade dos apontamentos apresentados, propõe-se julgamento das contas dos Srs. Evandro Vitório e Marco Antônio Stangherlin irregulares, com fulcro no artigo 16, inciso III, alínea ‘b’, da Lei nº 8.443/1992, aplicando-lhes a multa artigo 58, inciso I, da mesma norma. Quanto à Sra. Gleida Mariza da Costa e ao Sr. Edson Ricardo Pertile, considerando que as condutas por eles realizadas resultaram em grave infração à norma legal ou regulamentar de natureza contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial, propõe-se que lhes seja aplicada a multa do artigo 58, inciso II, da Lei nº 8.443/1992.

PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO

145. Face ao exposto, encaminha-se o presente processo ao Gabinete do Exmº Ministro-Relator Sr. José Jorge, com fundamento nos arts. 1º, I, da Lei nº 8.443/1992; 189, do Regimento Interno do TCU – RI/TCU; e 12, da Instrução Normativa TCU nº 47/2004, propondo:

a) acolher parcialmente as razões de justificativa apresentadas pelo Sr. Marco Antônio Stangherlin (CPF 621.310.521-20), a fim de afastar sobre ele qualquer responsabilização em razão da contratação realizada sem a prévia comprovação da regularidade fiscal da empresa vencedora da Tomada de Preços nº 17/2007 e da falta de providências para sanear as seguintes falhas identificadas na execução do Contrato nº 37/2006: utilização de veículos com mais de um ano de uso para prestação de serviço de transporte, não exigência de comprovante de pagamento do seguro com cobertura total da frota de veículos utilizados na prestação dos serviços, utilização pela contratada de motoristas em número aquém à exigência de quatro por veículo, além da aplicação de turnos de trabalho acima de 6 horas diárias ou 12/36 h e adulterações nos processos de pagamento; manter, no entanto, sua responsabilização em relação à inércia diante de problemas identificados na execução do Contrato nº 37/2006 relacionados com a propriedade de terceiros dos veículos locados e com a paralisação da execução do contrato, antes de noventa dias de atraso no pagamento por parte da Administração; à realização reiterada de despesas sem prévio empenho; à aceitação de garantia inidônea prestada pela empresa Intertours no Contrato nº 37/2006; e à falta de planejamento para realização da licitação de fornecimento de passagens terrestres dando ensejo à contratação emergencial indevida da empresa Shop Tour Viagens e Turismo Ltda.;

b) acolher parcialmente as razões de justificativa apresentadas pela Sra. Gleida Mariza da Costa (CPF 184.022.161-53), para afastar qualquer responsabilidade sobre ela acerca da aceitação de garantia inidônea pela empresa Inter Tours no Contrato nº 37/2006 e da falta de verificação do número de motoristas e de sua jornada de trabalho nos Distritos em sede do Contrato nº 37/2006, mantendo, no entanto, sua responsabilização quanto à omissão por não ter verificado a idade dos veículos postos à disposição da Funasa-MT, por não ter exigido os comprovantes de pagamento do seguro com cobertura total da frota de veículos e por não ter contestado as adulterações nos BDT apresentados à comissão fiscalizadora;

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c) acolher parcialmente as razões de justificativa apresentadas pelo Sr. Edson Ricardo Pertile (CPF 495.321.899-04), para afastar qualquer responsabilidade sobre ele acerca da falta de verificação do número de motoristas e de sua jornada de trabalho nos Distritos em sede do Contrato nº 37/2006, mantendo, no entanto, sua responsabilização quanto à aceitação de garantia inidônea prestada pela empresa Intertours no Contrato nº 37/2006 e quanto à omissão em relação a diversas falhas evidenciadas na execução desse mesmo contrato (não verificação da idade dos veículos postos à disposição da Funasa-MT, não exigência de comprovantes de pagamento do seguro com cobertura total da frota de veículos, não contestação das adulterações nos BDT apresentados à comissão fiscalizadora);

d) acolher parcialmente as razões de justificativa apresentadas pelo Sr. Evandro Vitório (CPF 314.310.031-15), a fim de afastar sobre ele qualquer responsabilização em razão de não ter tomado providências para sanear as seguintes falhas identificadas na execução do Contrato nº 37/2006: utilização de veículos com mais de um ano de uso para prestação de serviço de transporte; não exigência de pagamento do seguro com cobertura total da frota de veículos utilizados na prestação dos serviços; utilização pela contratada de motoristas em número aquém à exigência de quatro por veículo, além da aplicação de turnos de trabalho acima de 6 horas diárias ou 12/36 h e adulterações nos Boletins Diários de Tráfego que subsidiaram os processos de pagamento; manter, no entanto, sua responsabilização acerca do aditamento do Contrato nº 37/2006 em 25% do valor original, sem demonstração/comprovação de orçamento, da necessidade de aditamento e das necessidades reais da Fundação; da realização reiterada de despesas sem prévio empenho; da contratação realizada por meio da Dispensa de Licitação n.º 24/2007, sem prévia comprovação da regularidade fiscal da empresa contratada; da aceitação de garantia inidônea prestada pela empresa Intertours no Contrato nº 37/2006;

e) acolher integralmente as alegações de defesa apresentadas pelos Srs. Marco Antônio Stangherlin (CPF 621.310.521-20), Evandro Vitório (CPF 314.310.031-15) e pela empresa CHC Táxi Aéreo (CNPJ 02.835.198/0001-59), a fim de afastar qualquer débito a eles imputável em razão de suposto pagamento de despesas com transporte aéreo sem comprovação de sua execução, devendo, no entanto, em relação ao Sr. Evandro Vitório, ser aplicada responsabilização pela negligência diante da gestão deficiente dos pagamentos referentes à prestação de serviço de táxi aéreo (parágrafo 79 desta instrução), aspecto que deverá ser considerado na dosimetria da multa proposta no item ‘g’ abaixo;

f) acolher integralmente as alegações de defesa apresentadas pelos Srs. Evandro Vitório (CPF 314.310.031-15) Raimundo Angelino de Oliveira (CPF 452.630.517-00) e da empresa Inter Tours Viagens e Turismo Ltda. (CNPJ 00.614.995/0001-80), a fim de afastar qualquer débito a eles imputável em razão de suposto superfaturamento no Contrato nº 37/2006;

g) julgar irregulares as contas dos Srs. Evandro Vitório e Marco Antônio Stangherlin, com fulcro no artigo 16, inciso III, alínea ‘b’, da Lei nº 8.443/1992, aplicando-lhes a multa do artigo 58, inciso I, dessa mesma lei;

h) julgar regulares as contas dos demais responsáveis, com fundamento no artigo 16, inciso I, da Lei nº 8.443/1992;

i) aplicar à Sra. Gleida Mariza da Costa e ao Sr. Edson Ricardo Pertile a multa do artigo 58, inciso II, da Lei nº 8.443/1992, em razão da prática de atos com grave infração à norma legal ou regulamentar de natureza contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial;

j) Determinar à Coordenação Regional em Mato Grosso da Fundação Nacional de Saúde, com amparo na Portaria Segecex nº 13/2011, que:

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j.1) regularize, no prazo de 30 dias, a situação do aposentado Pedro Correa de Lima, de acordo com a decisão proferida no Acórdão TCU 2.453/2007 – 2ª Câmara, com os devidos descontos referentes ao atraso no atendimento dessa deliberação (item 137.b desta instrução, tratado em pormenor no item 1.2 do Capítulo 1 da Seção III, fls. 272/273 do v.1), devendo comunicar ao TCU as providências adotadas, até o término do prazo estipulado;

j.2) apresente, com amparo no art. 3º da PORTARIA-SEGECEX Nº 13/2011, no prazo de 60 dias, plano de ação para execução do devido procedimento licitatório para contratação de serviços de manutenção de viaturas, em conformidade com o item 9.2.4 do Acórdão TCU 1.276/2008 –Plenário e com o art. 24, inciso II, da Lei nº 8.666/1993 (item 137.d da presente instrução, tratado em pormenor nos parágrafos 12/15 do item 2.2 do Capítulo 2 da Seção III, fl. 279 do v.1), devendo comunicar ao TCU as providências adotadas, até o término do prazo estipulado;

j.3) faça constar, doravante, nas notas de empenho das despesas custeadas pelo Banco Mundial - BIRD, a informação quanto à modalidade de licitação aplicada, segundo as regras do referido banco, de modo a tornar viável a avaliação do cumprimento das exigências do organismo internacional em tela para aplicação dos recursos por ele repassados, bem como as demais exigências legais porventura cabíveis nas respectivas execuções contratuais, de modo a atender ao princípio do controle, assegurado no artigo 29, ‘caput’, do Decreto nº 93.872/1986 (item 137.e da presente instrução, tratado em pormenor nos parágrafos 1/5 do item 2.3 do Capítulo 2 da Seção III, fls. 280/281 do v.1);

j.4) efetue, doravante, pesquisa de preços no mercado, antes de prorrogar a vigência dos contratos de serviços continuados, de modo a cumprir os termos do art. 57, inciso II, da Lei nº 8.666/1993 e da Instrução Normativa SLTI/MPOG n.º 2/2008 (item 137.g da presente instrução, tratado em pormenor nos parágrafos 1/4 do item 3.2 do Capítulo 3 da Seção III, fls. 285/287 do v.1);

j.5) conclua, no prazo de 120 dias, o levantamento da real necessidade de postos terceirizados de suas atividades-meio, apresentando a descrição detalhada das atividades que deverão ser desenvolvidas em cada posto de serviço e justificando os quantitativos necessários para cada posto e o procedimento licitatório para formalização do contrato que contemple a demanda identificada, de forma a satisfazer o artigo 3º, ‘caput’, da Lei nº 8.666/1993 (item 137.h da presente instrução, tratado em pormenor nos parágrafos 1/10 do item 3.3 do Capítulo 3 da Seção III desta instrução, fls. 287/288 do v.1), devendo comunicar ao TCU as providências adotadas, até o término do prazo estipulado;

j.6) não realize, doravante, o pagamento da empresa CHC Táxi Aéreo Ltda ou de qualquer outra que possa vir a ser contratada pela Funasa/CORE/MT para executar o serviço de transporte aéreo, sem que haja um comprovante legítimo da prestação efetiva do serviço, qual seja, o preenchimento do Boletim Diário de Voo por servidor da Funasa, constando os nomes e assinaturas desse servidor e de cada usuário transportado, de acordo com o inciso III do § 2º do artigo 63 da Lei nº 4.320/1964 (item 137.i da presente instrução, tratado em pormenor nos parágrafos 7/15 do item 4.1 do Capítulo 4 da Seção III, fls. 291/293 do v.3);

j.7) providencie, no prazo de 120 dias, o ressarcimento do valor de diárias pago, em princípio, indevidamente ao servidor de matrícula 503555, Sr. Eurides de Oliveira Alves, conforme Relatório de Auditoria Anual de Contas do exercício de 2007, n.º 208094, após procedimento que assegure os constitucionais direitos à ampla defesa e ao contraditório – item 4.1.1.1 do Relatório de Auditoria da CGU – (item 137.k da presente instrução, tratado em pormenor nos parágrafos 1/6 do item 4.2 do Capítulo 4 da Seção III, fls. 304/305 do v.1), devendo comunicar ao TCU as providências adotadas, até o término do prazo estipulado;

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j.8) doravante, nos casos em que não haja comprovação do efetivo deslocamento do servidor na prestação de contas das diárias, haja fixação de prazo para que o referido servidor apresente os comprovantes do efetivo deslocamento e, se assim não o fizer, que se instaure o devido processo administrativo a fim de providenciar o ressarcimento da quantia a ele paga a título de diária, juntando-se a comprovação da indenização ao processo administrativo disciplinar correspondente, em conformidade com o artigo 46 da Lei nº 8.112/1990 (item 137.k, tratado em pormenor nos parágrafos 1/17 do item 4.2 do Capítulo 4 da Seção III, fls. 304/307 do v.1);

j.9) no que concerne aos bens móveis e equipamentos, emita, no prazo de 60 dias, os termos de responsabilidade de cada setor da fundação, bem como, a cada movimentação, seja efetuado o registro tempestivo no sistema de controle e a atualização do respectivo termo de responsabilidade, em consonância com o artigo 94 da Lei nº 4.320/1964 (item 137.m da presente instrução, tratado em pormenor nos parágrafos 1/20 do item 4.4 do Capítulo 4 da Secção III, fls. 309/312 do v.1), devendo comunicar ao TCU as providências adotadas, até o término do prazo estipulado;

j.10) promova, doravante, com periodicidade anual, o inventário físico dos bens móveis da instituição, podendo, com esse objetivo, realizar os procedimentos de modo descentralizado, com a participação dos diversos setores responsáveis pela guarda dos bens, adotando medidas adequadas de controle e fiscalização por parte do setor de patrimônio – SOPAT - e sua própria comissão inventariante, devendo, ainda, a instituição empregar, na tarefa, sempre que possível, métodos informatizados de identificação, leitura e conferência dos bens, em consonância com a IN/SEDAP nº 205/1988 e com o artigo 94 da Lei nº 4.320/1964 (item 137.m da presente instrução, tratado em pormenor nos parágrafos 1/21 do item 4.4 do Capítulo 4 da Secção III, fls. 309/312 do v.1);

j.11) apure, no prazo de 180 dias, as responsabilidades e providencie o respectivo ressarcimento ao erário acerca da criação da unidade de localização nº 5041 fictícia, por absoluta falta de amparo legal, bem como dos bens não localizados que, porventura, sejam identificados após a conclusão dos trabalhos da Comissão de Desfazimento de Material Permanente, informando a este Tribunal as medidas adotadas pertinentes ao assunto, cumprindo-se o artigo 143 da Lei nº 8.112/1990 e artigo 1º da IN TCU nº 56/2007 (item 137.m da presente instrução, tratado em pormenor nos parágrafos 1/22 do item 4.4 do Capítulo 4 da Secção III, fls. 309/312 do v.1), devendo comunicar ao TCU as providências adotadas, até o término do prazo estipulado;

j.12) regularize, no prazo de 180 dias, a situação patrimonial dos bens entregues em comodato ao Estado de Mato Grosso e aos seus municípios, a partir de 1999, com a descentralização das ações de combate de endemias para esses entes federativos, em atendimento ao instrumento acordado entre as partes que formalizaram o referido comodato (item 137.m da presente instrução, tratado em pormenor nos parágrafos 1/24 do item 4.4 do Capítulo 4 da Secção III, fls. 309/312 do v.1), devendo comunicar ao TCU as providências adotadas, até o término do prazo estipulado;

j.13) seja aberto, no prazo de 180 dias, processo administrativo para sancionar a empresa Sul América Prestadora de Serviços Ltda., nos termos do artigo 87 da Lei nº 8.666/1993, conforme sugerido pelo fiscal do contrato, tendo em vista os diversos descumprimentos de obrigações contratuais, em atendimento aos artigos 66 e 69 da Lei nº 8.666/1993 (item 137.i da presente instrução, tratado em pormenor nos parágrafos 59/65 do item 4.1 do Capítulo 4 da Secção III, fls. 303/304 do v.1), devendo comunicar ao TCU as providências adotadas, até o término do prazo estipulado;

j.14) redistribua para a Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde – SVS/MS, no prazo de 120 dias, os 99 guardas de endemias que se encontram cedidos para as Secretarias Municipais e Estadual de Saúde em Mato Grosso, em virtude da assunção da competência do Sistema Nacional de Vigilância em Saúde por parte da SVS/MS (item 137.a da presente instrução, tratado em pormenor nos parágrafos 23/27 do Capítulo 1 da Seção III, fls.

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270/271 do v.1), devendo comunicar ao TCU as providências adotadas, até o término do prazo estipulado;

j.15) elabore, no prazo de 90 dias, e comunique ao TCU as providências adotadas, até o término do prazo estipulado, um plano de ação a respeito da reconvocação dos servidores cedidos pela Funasa/MT aos entes federativos no estado de Mato Grosso e da consequente diminuição do número de terceirizados contratados por essa fundação, considerando a análise preliminar realizada pela equipe de fiscalização da Secex-MT, dado que os dispositivos estabelecidos no artigo 116, ‘caput’ e § 1º, incisos III e VI, da Lei nº 8.666/1993, claramente não permitem a realização de convênios por tempo indeterminado, bem como pelo fato de que as cessões efetuadas, desde a revogada Portaria MS nº 1.399/1999, precisariam observar que o quantitativo definido como necessário para as atividades que permaneceriam sendo executadas pela Funasa, inclusive aquelas efetivadas por intermédio dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas, deveria ser considerado e descontado do número de servidores disponíveis para cessão, do universo de recursos humanos lotados nas Coordenações Regionais da Funasa (item 137.a da presente instrução, tratado em pormenor nos parágrafos 17/33 do Capítulo 1 da Seção III, fls. 267/272 do v.1; e

j.16) informe nas próximas contas acerca do atendimento às determinações efetuadas nestes autos, em atendimento ao disposto na Portaria TCU/SEGECEX Nº 13/2011;

k) Recomendar à Coordenação Regional em Mato Grosso da Fundação Nacional de Saúde que:

k.1) faça constar, nos contratos de transporte aéreo, de terceirização de motoristas, de limpeza e conservação, de apoio administrativo, de copeiragem e de vigilância armada, a alocação de um fiscal em cada DSEI, bem como na sede da Coordenação Regional, de modo a possibilitar um melhor atendimento ao artigo 67 da Lei nº 8.666/1993 (item 137.j da presente instrução, tratado em pormenor nos parágrafos 7/15, 21/26, 59/65 e 66/68 do item 4.1 do Capítulo 4 da Secção III, fls. 291/293, 295/296 e 303/304, respectivamente);

k.2) faça prever no contrato de transporte aéreo a utilização do diário de bordo, documento exigido pela ANAC, como mais um comprovante do voo realizado, no intuito de aprimorar a etapa de liquidação fixada na Lei nº 4.320/1964 dessa espécie de despesa (item 137.i da presente instrução, tratado em pormenor nos parágrafos 7/15 do item 4.1 do Capítulo 4 da Secção III, fls. 291/292 do v.1);

k.3) realize estudo para levantar a necessidade de alocação de mais servidores para a Equipe de Convênios, considerando o volume de trabalho existente e a qualificação acadêmica para direção dos trabalhos nesse setor, de modo a viabilizar o controle sobre os convênios, responsabilidade esta definida pelo Decreto-lei nº 200/1967 (item 137.l da presente instrução, tratado em pormenor nos parágrafos 1/12 do item 4.3 do Capítulo 4 da Secção III, fls. 307/309 do v.1);

k.4) providencie os equipamentos necessários à boa execução das atividades pertinentes ao setor de patrimônio, bem como estude a possibilidade de alocar mais servidores nesse setor, de forma a adequar a lotação às suas respectivas atribuições e, além disso, promova o treinamento adequado para o aperfeiçoamento de suas atividades (item 137.m da presente instrução, tratado em pormenor nos parágrafos 1/17 do item 4.4 do Capítulo 4 da Secção III, fls. 309/311 do v.1);

l) Dar ciência à Coordenação Regional em Mato Grosso da Fundação Nacional de Saúde acerca:

l.1) da afronta aos termos do art. 25, inciso I, da Lei nº 8.666/1993, no Processo nº 25180.011.178/2007-11, em razão do atestado de exclusividade da contratada ter sido emitido por

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empresa privada (item 137.f da presente instrução, tratado em pormenor nos parágrafos 1/10 do item 3.1 do Capítulo 3 da Secção III, fls. 282/283 do v.1);

l.2) da afronta ao disposto no art. 58, § 3º, da Lei nº 8.112/1990 quando se concede diárias para deslocamentos dentro da mesma microrregião, sem ocorrência de pernoite (item 137.k da presente instrução, tratado em pormenor nos parágrafos 1/19 do item 4.2 do Capítulo 4 da Secção III, fls. 304/307 do v.1);

l.3) do caráter de excepcionalidade para a realização de saques com o cartão de pagamentos do governo federal, que deve satisfazer rigorosamente os requisitos estabelecidos nos artigos 45 e 47 do Decreto n.º 93.872/1986 (item 237.c da presente instrução, tratado em pormenor nos parágrafos 7/8 do item 2.2 do Capítulo 2 da Secção III, fl. 278 do v.1);

l.4) do fato de que as operações de saque estão vinculadas à prévia autorização e justificativa do ordenador de despesas e, também, à apresentação de justificativas do portador na prestação de contas, com os motivos da não-utilização da rede afiliada do cartão, de acordo com o Decreto nº 93.872/1986, art. 45, § 6º, inciso I e II, e com a Portaria nº 41, de 4/3/2005, do Ministério do Planejamento, art. 4º, § 2º (item 137.c da presente instrução, tratado em pormenor no parágrafo 4 do item 2.2 do Capítulo 2 da Secção III, fl. 277 do v.1); e

l.5) da necessidade de apresentação de comprovação da anulação da despesa relacionada aos saldos a restituir, nos casos de aplicação parcial dos suprimentos de fundos, em sintonia com o art. 70, parágrafo único, da Constituição Federal e com o § 1º do artigo 45 do Decreto nº 93.872/1986 (item 137.c da presente instrução, tratado em pormenor no parágrafo 6 do item 2.2 do Capítulo 2 da Secção III, fl. 277 do v.1);

m) Determinar à Controladoria-Geral da União/MT que:

m.1) analise, no relatório referente às contas de 2011, a efetividade da adoção de uma nova composição de custos indiretos de transporte eventualmente adotada pela jurisdicionada, de modo a contemplar de forma objetiva a quantificação dos custos atípicos incidentes nas obras realizadas em área indígena, bem como a possibilitar o cumprimento das diretrizes de custos das obras públicas fixadas nas sucessivas leis de diretrizes orçamentárias (tratado em pormenor nos parágrafos 13/20 do item 3.1 do Capítulo 3 da Secção III, fls. 283/284 do v.1);

m.2) avalie o cumprimento das determinações feitas à Funasa/CORE/MT nas alíneas j.3, j.4, j.6, , j.8 e j.10 do subitem j desta proposta de encaminhamento, nas contas de 2011, se porventura vierem a ser efetuadas nos termos sugeridos ainda no exercício corrente, de modo a cumprir o artigo 2º da Portaria SEGECEX nº 13/2011;

m.3) avalie, nas contas de 2011, a efetividade da implantação do novo sistema informatizado e integrado de gestão de frota de veículos, embarcações, motores estacionários e utilitários fornecido pela Ticket Serviços S/A, por meio do Contrato nº 60/2007 (tratado em pormenor nos parágrafos 16/20 do item 2.2 do Capítulo 2, da Seção III, fls. 279/280 do v.1); e

m.4) observe a evolução dos indicadores de desempenho operacional da Funasa/MT na análise das próximas contas dessa fundação, de modo a avaliarmos o atendimento ao princípio constitucional da eficiência (tratado em pormenor no item 4.5 do Capítulo 4 da Seção III, fls. 312/313 do v.1).

n) Determinar à Secex/MT que:

n.1) instaure processo com vistas a monitorar as determinações j.1, j.2, j.5, j.7, j.9, j.11, j.12, j.13, j.14 e j.15, em vista do estabelecido na Portaria Segecex nº 13/2011”.

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2. Por sua vez, o Ministério Público, representado nos autos pelo Procurador Júlio Marcelo de Oliveira, manifestou-se nos seguintes termos:

“Trata-se da prestação de contas, relativa ao exercício de 2007, da Coordenação Regional em Mato Grosso da Fundação Nacional de Saúde – Funasa/MT.

Após realizar inspeção na unidade, com vistas a verificar os ilícitos apurados pela auditoria interna e pela CGU, a Secex/MT propôs, em preliminar, a (fls. 314/20 e 322, v.1):

I. audiência do sr. Evandro Vitório, ex-Coordenador Regional da Funasa/MT, acerca dos seguintes fatos:

a) realização reiterada de despesas sem prévio empenho, ao longo de sua gestão, no exercício de 2007, identificada nos Processos 25180.022.177/2006-11, 25180.007.128/2007-39 e 25180.022.342/2006-34, contrariando-se os artigos 60 a 64 da Lei nº 4.320/1964, e

b) contratação realizada por meio da Dispensa de Licitação nº 24/2007, sem a prévia comprovação da regularidade fiscal da empresa contratada, desrespeitando-se o artigo 195, § 3º, da Constituição Federal;

II. audiência do sr. Marco Antônio Stangherlin, ex-Coordenador Regional da Funasa/MT, acerca dos seguintes fatos:

a) realização reiterada de despesas sem prévio empenho, ao longo de sua gestão, no exercício de 2007, identificada nos Processos 25180.018.590/2007-61 e 25180.007.128/2007-39, contrariando-se os artigos 60 a 64 da Lei nº 4.320/1964;

b) ausência de comprovação de regularidade fiscal do contratado antes da assinatura do contrato resultante da Tomada de Preços nº 17/2007, desrespeitando-se o artigo 195, § 3º, da Constituição Federal e a jurisprudência que prevalece neste Tribunal desde a Decisão 705/1994-Plenário;

c) falta de planejamento, em sua gestão em 2007, para realização da licitação de fornecimento de passagens terrestres destinadas ao transporte de servidores e/ou colaboradores e indígenas em tempo hábil, o que deu ensejo à contratação emergencial indevida da empresa Shop Tour Viagens e Turismo Ltda. em 2008, o que infringe a jurisprudência deste Tribunal firmada desde a Decisão Plenária 347/1994 e provocou o posterior descumprimento dos artigos 2º, 3º e 24, IV, da Lei nº 8.666/1993, e

d) ausência de providências para sanear a falha ou para responsabilizar a empresa Intertours, que, na execução do Contrato nº 37/2006, utilizou indevidamente veículo de terceiros para execução do contrato, em descumprimento à cláusula contratual, o que configura o descumprimento do estipulado conjuntamente nos artigos 66 e 87 da Lei nº 8.666/1993;

III. audiência dos srs. Edson Ricardo Pertile e Gleida Mariza da Costa, fiscais do Contrato 37/2006, juntamente com os srs. Marco Antônio Stangherlin e Evandro Vitório, ex-Coordenadores Regionais da Funasa/MT, sobre as seguintes irregularidades:

a) descumprimento do art. 56, § 1º, inciso I, da Lei nº 8.666/1993, devido à aceitação da garantia inidônea prestada pela empresa Intertours no Contrato nº 37/2006 – títulos da dívida pública inválidos, e

b) ausência de providências para sanear as falhas identificadas na execução do Contrato 37/2006 e para sancionar a empresa contratada, mesmo diante de flagrante descumprimento de cláusulas contratuais (utilização de veículos com mais de um ano de uso para prestação de serviço de transporte; não exigência de comprovante de pagamento do seguro com cobertura total da frota

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de veículos utilizados na prestação dos serviços; utilização pela contratada de motoristas em número aquém à exigência de quatro por veículo, além da aplicação de turnos de trabalho acima de 6 horas diárias ou 12/36h; aditamento contratual para acrescentar 25% ao valor original, sem demonstração da necessidade do referido aumento e sem pesquisa de preços no mercado para validar o interesse na continuidade do contrato; adulterações nos processos de pagamento), desrespeitando-se as obrigações estabelecidas nos artigos 66, 67, §§ 1º e 2º, 69 e 87, caput, da Lei nº 8.666/1993;

IV. citação do sr. Evandro Vitório, ex-Coordenador Regional da Funasa/MT, no valor original de R$ 1.864.698,25, solidariamente com a empresa CHC Táxi Aéreo Ltda., em virtude da execução de despesas com transporte aéreo, apesar da não apresentação de comprovantes que suportem a efetiva prestação do serviço, no período de 1/1/2007 a 23/7/2007, em desacordo com o inciso III do § 2º do artigo 63 da Lei nº 4.320/1964;

V. citação do sr. Marco Antônio Stangherlin, ex-Coordenador Regional da Funasa/MT, no valor original de R$ 902.089,25, solidariamente com a empresa CHC Táxi Aéreo Ltda., em vista da execução das despesas com transporte aéreo, apesar da não apresentação de comprovantes que suportem a efetiva prestação do serviço, no período de 24/7/2007 a 31/12/2007, em desacordo com o inciso III do § 2º do artigo 63 da Lei nº 4.320/1964;

VI. citação do então pregoeiro da Funasa/MT, sr. Raimundo Angelino de Oliveira, e do ex-Coordenador Regional da Funasa, sr. Evandro Vitório, no valor original de R$ 843.232,53, solidariamente com a empresa Intertours Viagens e Turismo Ltda., em decorrência dos valores superfaturados cotados pela empresa Intertours no Contrato nº 37/2006, em desacordo com o artigo 3º, caput, da Lei nº 8.666/1993.

Por determinação de Vossa Excelência (fl. 330, v.1), foram levadas a efeito as citadas medidas preliminares. Em resposta, vieram aos autos as defesas dos responsáveis, como assinalou a unidade técnica (fls. 669 e 678, v.3):

‘15. No que concerne às audiências efetuadas, apresentaram razões de justificativa acerca de possíveis irregularidades apontadas nos autos os seguintes auditados: sr. Evandro Vitório, ex-Coordenador Regional da Funasa/MT (fls. 367/72 do v.2); sr. Marco Antônio Stangherlin, ex-Coordenador Regional da Funasa/MT (fls. 577/83 e 619/38 do v.3); sr. Edson Ricardo Pertile, fiscal do Contrato nº 37/2006 (fls. 373/80 do v.2), e sra. Gleida Mariza da Costa, fiscal do Contrato nº 37/2006 (fls. 381/88 do v.2).

(...)

68. No que concerne às citações efetuadas, apresentaram alegações de defesa acerca de débitos apontadas nos autos os seguintes auditados: sr. Evandro Vitório, ex-Coordenador Regional da Funasa/MT (fls. 369/72); sr. Marco Antônio Stangherlin, ex-Coordenador Regional da Funasa/MT (fls. 584/616); sr. Raimundo Angelino de Oliveira, então pregoeiro da Funasa/MT (fls. 389/438); empresa Intertours Viagens e Turismo Ltda. (...) (fls. 439/527) e empresa CHC Táxi Aéreo Ltda. (...) (fls. 535/54)’.

A unidade técnica procedeu à análise das defesas ofertadas, pronunciando-se, em uníssono e no essencial, no sentido de (fls. 666/99, v.3):

a) acolher parcialmente as razões de justificativa apresentadas pelo sr. Marco Antônio Stangherlin, a fim de afastar dele qualquer responsabilização em razão da contratação realizada sem a prévia comprovação da regularidade fiscal da empresa vencedora da Tomada de Preços nº 17/2007 e da falta de providências para sanear as seguintes falhas identificadas na execução do

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Contrato nº 37/2006: utilização de veículos com mais de um ano de uso para prestação de serviço de transporte; não exigência de comprovante de pagamento do seguro com cobertura total da frota de veículos utilizados na prestação dos serviços; utilização pela contratada de motoristas em número aquém à exigência de quatro por veículo, além da aplicação de turnos de trabalho acima de 6 horas diárias ou 12/36 h e adulterações nos processos de pagamento; manter, no entanto, sua responsabilização em relação à inércia diante de problemas identificados na execução do Contrato nº 37/2006, relacionados com a propriedade de terceiros dos veículos locados e com a paralisação da execução do contrato, antes de noventa dias de atraso no pagamento por parte da Administração; à realização reiterada de despesas sem prévio empenho; à aceitação de garantia inidônea prestada pela empresa Intertours no Contrato nº 37/2006 e à falta de planejamento para realização da licitação de fornecimento de passagens terrestres, dando ensejo à contratação emergencial indevida da empresa Shop Tour Viagens e Turismo Ltda.;

b) acolher parcialmente as razões de justificativa apresentadas pela sra. Gleida Mariza da Costa, para afastar qualquer responsabilidade sobre ela acerca da aceitação de garantia inidônea pela empresa Intertours no Contrato nº 37/2006 e da falta de verificação do número de motoristas e de sua jornada de trabalho nos distritos em sede do Contrato nº 37/2006, mantendo, no entanto, sua responsabilização quanto à omissão por não ter verificado a idade dos veículos postos à disposição da Funasa/MT, por não ter exigido os comprovantes de pagamento do seguro com cobertura total da frota de veículos e por não ter contestado as adulterações nos BDT apresentados à comissão fiscalizadora;

c) acolher parcialmente as razões de justificativa apresentadas pelo sr. Edson Ricardo Pertile, para afastar qualquer responsabilidade sobre ele acerca da falta de verificação do número de motoristas e de sua jornada de trabalho nos distritos em sede do Contrato nº 37/2006, mantendo, no entanto, sua responsabilização quanto à aceitação de garantia inidônea prestada pela empresa Intertours no Contrato nº 37/2006 e quanto à omissão em relação a diversas falhas evidenciadas na execução deste mesmo contrato (não verificação da idade dos veículos postos à disposição da Funasa/MT, não exigência de comprovantes de pagamento do seguro com cobertura total da frota de veículos, não contestação das adulterações nos BDT apresentados à comissão fiscalizadora);

d) acolher parcialmente as razões de justificativa apresentadas pelo sr. Evandro Vitório, a fim de afastar sobre ele qualquer responsabilização em razão de não ter tomado providências para sanear as seguintes falhas identificadas na execução do Contrato nº 37/2006: utilização de veículos com mais de um ano de uso para prestação de serviço de transporte; não exigência de pagamento do seguro com cobertura total da frota de veículos utilizados na prestação dos serviços; utilização pela contratada de motoristas em número aquém à exigência de quatro por veículo, além da aplicação de turnos de trabalho acima de 6 horas diárias ou 12/36 h e adulterações nos Boletins Diários de Tráfego que subsidiaram os processos de pagamento; manter, no entanto, sua responsabilização acerca do aditamento do Contrato nº 37/2006 em 25% do valor original, sem demonstração/comprovação de orçamento, da necessidade de aditamento e das necessidades reais da Funasa/MT; da realização reiterada de despesas sem prévio empenho; da contratação realizada por meio da Dispensa de Licitação 24/2007, sem prévia comprovação da regularidade fiscal da empresa contratada; da aceitação de garantia inidônea prestada pela empresa Intertours no Contrato nº 37/2006;

e) acolher integralmente as alegações de defesa apresentadas pelos srs. Marco Antônio Stangherlin e Evandro Vitório e pela empresa CHC Táxi Aéreo, a fim de afastar qualquer débito a eles imputável em razão de suposto pagamento de despesas com transporte aéreo sem comprovação de sua execução, devendo, no entanto, em relação ao sr. Evandro Vitório, ser aplicada responsabilização pela negligência diante da gestão deficiente dos pagamentos referentes

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à prestação de serviço de táxi aéreo, aspecto que deverá ser considerado na dosimetria da multa proposta no item ‘g’ abaixo;

f) acolher integralmente as alegações de defesa apresentadas pelos srs. Evandro Vitório e Raimundo Angelino de Oliveira e pela empresa Intertours Viagens e Turismo Ltda., a fim de afastar qualquer débito a eles imputável em razão de suposto superfaturamento no Contrato nº 37/2006;

g) julgar irregulares as contas dos srs. Evandro Vitório e Marco Antônio Stangherlin, com fulcro no artigo 16, inciso III, alínea ‘b’, da Lei nº 8.443/1992, aplicando-lhes a multa do artigo 58, inciso I, desta mesma lei;

h) julgar regulares as contas dos demais responsáveis, com fundamento no artigo 16, inciso I, da Lei nº 8.443/1992;

i) aplicar à sra. Gleida Mariza da Costa e ao sr. Edson Ricardo Pertile a multa do artigo 58, inciso II, da Lei nº 8.443/1992, em razão da prática de atos com grave infração à norma legal ou regulamentar de natureza contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial;

j) realizar as determinações e as recomendações alvitradas à Funasa/MT e dar-lhe ciência das afrontas à legislação pertinente;

k) realizar as determinações sugeridas à CGU/MT e à Secex/MT.

II

O Ministério Público dissente, em parte, da proposição da Secex/MT.

As defesas aduzidas pelos responsáveis ouvidos em audiência não lograram elidir quaisquer das irregularidades a eles imputadas.

Os srs. Evandro Vitório e Marco Antônio Stangherlin, ao tentarem justificar a execução reiterada de despesas sem prévio empenho, acabaram por confirmar o ilícito. Cumpre, pois, a estes responder pela direta afronta à legislação pertinente.

Os aludidos gestores apenas buscaram responsabilizar terceiros pelas ilicitudes afetas à ausência de comprovação prévia da regularidade fiscal do contratado e à falta de providências para sanear as falhas identificadas na execução do Contrato nº 37/2006 e para sancionar a empresa contratada, mesmo diante do flagrante descumprimento de cláusulas contratuais, tais como utilização de veículos com mais de um ano de uso na prestação de serviço de transporte, não exigência de pagamento do seguro com cobertura total da frota, extensão dos turnos de trabalho acima do previsto, adulterações grosseiras nos boletins diários de tráfego que subsidiavam os processos de pagamento e acréscimo de 25% no valor do contrato sem avaliação da sua necessidade e sem pesquisa de preços.

Todavia, na qualidade de Coordenadores Regionais da Funasa/MT, ocupantes, pois, do ápice da cadeia decisória da unidade, tinham o dever de, em seus períodos de gestão, assegurar a licitude dos atos administrativos. Tivessem estes agido com diligência e com zelo no exercício de funções, poderiam ter identificado e obstado estas patentes falhas.

Releva notar que a cadeia decisória nos órgãos públicos existe sobretudo para assegurar a regularidade dos atos, pressupondo um controle de cada instância sobre a anterior, não podendo ser a atuação de cada gestor meramente figurativa. Ademais, eventual delegação de competência não exime o gestor da responsabilidade pelos atos ilícitos praticados, cabendo a eles escolher bem seus subordinados e exercer o poder-dever de fiscalização de seus atos, sob pena de responder por ‘culpa in eligendo’ e ‘culpa in vigilando’.

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Registre que, pela última ocorrência, afeta a falhas na execução do Contrato nº 37/2006, também respondem o sr. Edson Ricardo Pertile e a srª. Gleida Mariza da Costa, fiscais do contrato, os quais alegaram, no essencial, desconhecimento das exigências e/ou falta de orientação para que estas fossem fiscalizadas. Tais argumentos, no entanto, apenas demonstram a omissão e a desídia no exercício de suas atribuições, já que não fiscalizaram e/ou não detectaram irregularidades graves e claras no ajuste.

Outrossim, os srs. Evandro Vitório, Marco Antônio Stangherlin, Edson Ricardo Pertile e a srª. Gleida Mariza da Costa não lograram descaracterizar a aceitação de garantia inidônea prestada pela empresa Intertours no Contrato nº 37/2006 (títulos da dívida pública inválidos de 1926 e 1956).

Tal ilícito ostenta extrema gravidade, pois os gestores aceitaram os títulos e/ou não tomaram providências para substituí-los, mesmo após informados de sua inidoneidade. Agiram, pois, de forma temerária, negligente e com incúria no trato com recursos públicos, expondo a Administração a risco injustificado e inaceitável de significativo prejuízo.

A srª. Gleida Mariza da Costa e o sr. Edson Ricardo Pertile mais uma vez foram omissos no caso, pois deixaram de alertar os dirigentes da entidade sobre esta grave e patente falha, contribuindo para a perpetuação do ilícito e do risco para o erário, não cumprindo, pois, com zelo e eficiência suas atribuições como fiscais do contrato.

O sr. Marco Antônio Stangherlin responde, ainda, pela falta de planejamento, em sua gestão em 2007, para realização da licitação de fornecimento de passagens terrestres destinadas ao transporte de servidores e/ou colaboradores e indígenas em tempo hábil, o que deu ensejo à contratação emergencial indevida da empresa Shop Tour Viagens e Turismo Ltda., em 2008, infringindo a jurisprudência deste Tribunal firmada desde a Decisão Plenária 347/1994 e provocou o posterior descumprimento dos artigos 2º, 3º e 24, IV, da Lei nº 8.666/1993.

As alegações do aludido responsável, como bem assinalou a Secex/MT, não foram hábeis a elidir essa irregularidade (fl. 678, v.3):

‘65. Segundo informado pela CGU-MT em seu relatório referente à Operação Hygeia (acostado à fl. 25 do anexo 2 – cópia em mídia eletrônica - objeto tratado às fls. 37/42 do mencionado relatório), item 2.1.3.1.2, a Funasa/MT havia iniciado, ainda em 1/11/2007, a formalização do Processo 25180.019.145/2007-19, com vistas à realização de procedimento licitatório para prestação de serviço de fornecimento de passagens terrestres destinadas ao transporte de servidores, colaboradores e indígenas, nos deslocamentos de serviço ou de interesse e responsabilidade dessa fundação, conforme Pedido de Bens e Serviços nº 59/2007. Entretanto, o término do contrato anterior tinha vigência até 31/12/2007.

66. Consequentemente, houve formalização de contratos administrativos emergenciais em 2008, beneficiando a empresa Shop Tour Viagens e Turismo Ltda., mediante dispensa de licitação indevida. De acordo com levantamento do Controle Interno, houve incidência dessa falha porque não ocorreu o devido planejamento na realização do correspondente procedimento licitatório, que se iniciou ainda em 2007 por meio do Processo nº 25180.019.145/2007-19, cujo valor estimado atingia o montante de R$ 791.000,00.

67. Na realidade, o mencionado processo nunca foi concluído, o que deu ensejo às contratações emergenciais indevidas em 2008, Dispensas nºs 3/2008 e 52/2008, gerando prática de ato de gestão ilegal, ilegítimo e antieconômico, com assinatura de contratos com preços acima do mercado, em flagrante afronta aos termos dos artigos 2º, 3º e 24, inciso IV, da Lei nº 8.666/1993. Portanto, diante da conduta negligente do ex-Coordenador Regional da Funasa/MT, ao não

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planejar com a devida antecedência o procedimento licitatório, propõe-se rejeitar as razões de justificativa apresentadas por esse gestor’.

Sobre a questão, registre-se que a jurisprudência desta Corte de Contas é pacífica no sentido de repudiar as contratações diretas emergenciais (com dispensa de licitação) fundamentadas em situação causada por falta de planejamento ou inércia do administrador:

‘A falha de planejamento por parte da Administração não se presta a caracterizar a situação emergencial a que se refere o artigo 24, inciso IV, da Lei nº 8.666/1993’. (Acórdão 1.508/2009 - Segunda Câmara).

‘ ... nos termos da jurisprudência desta Corte de Contas, o planejamento do exercício deve observar o princípio da anualidade do orçamento, não podendo o agente público justificar o fracionamento da despesa com várias aquisições ou contratações no mesmo exercício, sob modalidade de licitação inferior àquela exigida para o total da despesa no ano, quando decorrente de falta de planejamento (Acórdão 1.386/2005 - Segunda Câmara; Acórdão 82/2004 - Plenário; Acórdão 740/2004 - Plenário).

...

09. Assim, o jurisdicionado deveria ter realizado um planejamento de quanto seria gasto com serviços de natureza laboratorial e ter realizado licitação na modalidade em que ficasse enquadrado o valor previsto para os serviços durante o ano. Ao não agir dessa forma, o gestor incorreu em fracionamento das despesas, prática vedada pela Lei nº 8.666/1993 e condenada por este Tribunal. Deste modo, entendemos que as razões de justificativa apontadas pelo gestor no que tange à irregularidade do item ‘b1’, não devam ser acolhidas por este Tribunal de Contas da União. ....’ (Acórdão 1.323/2007 - Segunda Câmara).

‘Ficou provado que os gestores da UFPB praticavam com frequência o fracionamento de despesas, o que permitia fugir da licitação ou da modalidade licitatória adequada para o volume de recursos utilizado para aquisição de certos materiais. Ainda que a infração não seja intencional, porém decorrente da falta de planejamento, mesmo assim permanece como irregularidade, obviamente punível, sobretudo quando se nota que a universidade mais de uma vez foi advertida do problema pelos órgãos de fiscalização’. (Acórdão 2.473/2007 - Primeira Câmara).

‘6. Contudo, observo que sobressaem as seguintes ocorrências que, pelas suas características, possuem gravidade suficiente para macular as contas dos gestores: fracionamento de despesas e fuga a procedimentos licitatórios, em especial no que concerne a compras efetuadas por dispensa de licitação, e irregularidades detectadas nos procedimentos efetuados pela entidade para admissão de pessoal.

7. Quanto aos fracionamentos de despesas constatados, verifico que estes são decorrência da ausência de planejamento nas compras realizadas pela entidade, pois ao invés de efetuar previsão anual de produtos a serem adquiridos, mediante licitação única para cada tipo de aquisição, o Senai/AP acabou por realizar certames separados. Tal fato ocorreu, por exemplo, nos Convites nºs 12/2005, 20/2005 e 21/2005, ambos efetuados para aquisição de equipamentos para o setor eletroeletrônico.

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8. Especificamente quanto à realização de compras diluídas ao longo do exercício em substituição à efetivação de uma aquisição única, relacionada a um mesmo objeto, é importante destacar que a entidade, adotando tais procedimentos, deixa de obter ganhos de economia de escala, pois, por meio de contratações de maior vulto, são negociados descontos mais elevados nos preços praticados.

9. Ademais, as ocorrências detectadas de dispensas de licitação indevidas, bem como o fato de terem sido efetivados vários convites em substituição à realização de concorrência, em fuga ao procedimento licitatório previsto na legislação, tendem a ocasionar contratações com preços finais menos vantajosos para a entidade, pois, nas aquisições efetuadas, deixaram de ser adotadas licitações em modalidades que garantiriam maior competitividade entre os fornecedores’. (Acórdão 5.266/2008 - Primeira Câmara).

No caso, a irregularidade ainda mais se alteia em virtude da assinatura de contratos com preços acima do mercado.

O rol dos ilícitos apurados, pela sua natureza, ostenta gravidade, eis que demonstra, entre outros, grave violação da Lei de Licitações e Contratos, da legislação orçamentária e financeira e da jurisprudência desta Corte de Contas, bem como negligência no exercício das funções por parte dos respectivos responsáveis, ocorrências suficientemente relevantes, por si sós, para motivar a irregularidade das contas dos responsáveis e a sua apenação com multa, a ser fixada de acordo com a reprovabilidade de cada conduta.

Está assente na jurisprudência desta Casa que ‘a multiplicidade de falhas e irregularidades, avaliadas em conjunto, e a repetição de algumas delas já apontadas em exercícios anteriores são fundamentos suficientes para a irregularidade das contas e aplicação de multa aos responsáveis’, bem assim que ‘a multiplicidade de falhas e irregularidades enseja o julgamento pela irregularidade das contas dos responsáveis, ainda que se reconheça a possibilidade de ocorrências semelhantes relevadas, se analisadas de forma isolada’ (e.g., Acórdãos 447/2010, 1.590/2010, 1.741/2010 e 7.371/2010, todos da 1ª Câmara).

Outrossim, afiguram-se consentâneas com o caso em tela as sábias considerações expendidas no voto condutor do Acórdão 1.741/2010 – 1ª Câmara, da lavra do nobre Ministro José Múcio, no sentido de que, ‘caso o Tribunal releve ano a ano as falhas, limitando-se a fazer determinações e pugnando por julgar a gestão regular com ressalva, corre-se o risco de perpetuar a conduta temerária do gestor, movida pelo sentimento de impunidade’.

Cumpre, pois, ao Tribunal agir com rigor no presente caso e julgar irregulares as contas dos responsáveis, caso não sejam descaracterizados os ilícitos em vértice. O Controle Externo há de ser exigente. A sociedade brasileira clama por um Controle Externo exigente. A leniência é a mãe do desmazelo, da desídia, da negligência e do desapreço à ordem legal e à boa gestão dos recursos públicos.

A atuação pedagógica do Tribunal de Contas da União não se dá apenas por meio de suas sempre bem-vindas e oportunas recomendações e determinações corretivas, mas também e com intensa efetividade por intermédio das sanções que aplica e que rapidamente são dadas a conhecer no seio social e no meio dos gestores públicos. Tais sanções mostram-se relevantes, tendo em vista não só o caráter retributivo da pena em relação ao responsável diretamente envolvido, mas também o caráter preventivo, inibidor de novas condutas irregulares, tanto pelo próprio responsável, como pelos demais gestores da Administração Pública.

O Ministério Público, no respeitante às citações levadas a efeito, da mesma forma, dissente parcialmente da análise da Secex/MT.

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No que concerne à citação solidária dos srs. Raimundo Angelino de Oliveira, ex-Pregoeiro, e Evandro Vitório, ex-Coordenador Regional, e da empresa Intertours Viagens e Turismo Ltda., no valor original de R$ 843.232,53, em decorrência dos valores superfaturados cotados pela empresa Intertours no Contrato nº 37/2006, endossa-se a análise da unidade técnica pelo afastamento do débito (fls. 685/90, v.3). De fato, por meio de diversos cálculos, testes e inferências, verificou-se a falta de evidências para se concluir pela existência de sobrepreço, cabendo, pois, acatar suas alegações de defesa.

Ao ver deste Ministério Público, no entanto, os srs. Evandro Vitório e Marco Antônio Stangherlin e a empresa CHC Táxi Aéreo Ltda. não lograram elidir os débitos a eles imputados, solidariamente, em face da execução de despesas com transporte aéreo, apesar da não apresentação de comprovantes que suportem a efetiva prestação do serviço, em desacordo com o inciso III do § 2º do artigo 63 da Lei nº 4.320/1964, realizadas nos períodos relacionados abaixo:

a) período de 1/1/2007 a 23/7/2007 – sr. Evandro Vitório, ex-Coordenador Regional da Funasa/MT, e a empresa CHC Táxi Aéreo Ltda.;

b) período de 24/7/2007 a 31/12/2007 – sr. Marco Antônio Stangherlin, ex-Coordenador Regional da Funasa/MT, e a empresa CHC Táxi Aéreo Ltda.

Sobre a irregularidade, a unidade técnica assim registrou em seu relatório de inspeção (fls. 293/4, v.1):

‘16. No que concerne aos achados registrados pela CGU/MT no Relatório de Demandas Especiais (fl. 6/23 do Relatório de Demandas Especiais – fl. 25 do anexo 2), cuja auditada foi a Funasa/Core/MT, foram constatadas algumas irregularidades na contratação da empresa CHC Táxi Aéreo Ltda., as quais impactaram a gestão dessa Coordenação Regional no ano de 2007.

17. Por meio de avaliação dos processos de pagamentos efetuados à empresa CHC Táxi Aéreo, no exercício de 2007, realizados sob a vigência do Contrato nº 37/2006 e da Ata de Registro de Preços nº 28/2007, constatou-se a ocorrência de pagamentos sem documentação suporte que comprovasse a efetiva prestação de serviço, conforme demonstrado no quadro a seguir:

Ordenador de despesa Processo OB Data NF Valor (R$)

Evandro Vitório

25180.022915/2006-20 900049 04/01/07 1121 80.018,40578/2003-90 900583 24/01/07 1132 69.600,3025180.022994/2006-79 900242 13/02/07 1120 117.299,7008754.000453/2006 900112 15/02/07 1040 3.200,0008754.000080/2006 900113 15/02/07 1127 8.400,0025180.001463/2007-23 900308 15/02/07 1129 38.970,0008754.000409/2006 900124 22/02/07 1126 12.600,0008754.000034/2007 900123 22/02/07 1141 5.600,0025180.003601/2007-17 900876 16/03/07 1144 45.465,0025180.003784/2007-62 900875 16/03/07 1146 10.392,0025180.003787/2007-04 900878 16/03/07 1153 3.507,3025180.003779/2007-50 900877 16/03/07 1158 32.994,6025180.003782/2007-73 900909 20/03/07 1154 6.495,0025180.003604/2007-42 900930 21/03/07 1143 90.540,3025180.003788/2007-41 900931 21/03/07 1157 84.175,20

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Ordenador de despesa Processo OB Data NF Valor (R$)

08754.000052/2007 DV 900219 23/03/07 1161 2.800,0025180.004864/2007-35 901176 04/04/07 1162 40.788,600578/2003-90 902593 13/04/07 1135 58.963,0008754.000072/2007 DV 900247 13/04/07 1176 23.500,0008754.000072/2007 DV 900248 13/04/07 1177 3.200,0025180.005633/2007-49 901497 23/04/07 1163 3.507,0025180.005636/2007-82 901496 23/04/07 1165 13.769,3025180.002542/2007-51 901515 24/04/07 1134 26.109,9025180.005501/2007-17 901516 24/04/07 1172 6.495,0025180.005963/2007-34 901718 04/05/07 1178 92.229,0025180.005962/2007-90 901716 04/05/07 1179 61.572,6025180.006162/2007-96 901717 04/05/07 1180 88.981,5025180.005501/2007-17 901880 10/05/07 1186 4.286,7025180.005501/2007-17 902223 28/05/07 1181 49.232,1025180.005501/2007-17 902224 28/05/07 1195 34.423,50578/2003-90 903945 30/05/07 1171 54.653,20578/2003-90 903946 30/05/07 1184 74.368,7025180.005501/2007-17 902310 04/06/07 1187 35.939,0025180.005501/2007-17 902311 04/06/07 1194 84.954,6025180.005501/2007-17 902650 21/06/07 1203 3.507,30578/2003-90 904881 29/06/07 1197 82.346,6025180.005501/2007-17 902855 02/07/07 1202 88.656,7525180.005501/2007-17 902857 02/07/07 1204 124.314,3025180.005501/2007-17 902856 02/07/07 1205 62.092,2008754.000137/2007 DV 900495 05/07/07 1211 3.031,0025180.005501/2007-17 903138 17/07/07 1210,

1212 e 1213

131.718,60

Marco Antônio Stangherlin

08754.000180/2007-DV 900552 25/07/07 1226 8.000,00900173 07/08/07 1231 6.411,62

25180.005501/2007-17 903677 22/08/07 1221 e 1219

82.096,80

08754.000158/2007-DV 900608 22/08/07 1239 3.649,5008754.000184/2007-DV 900618 28/08/07 1287 22.000,0008754.000208/2007-DV 900019 29/08/07 1241 6.490,00578/2003-90 906572 30/08/07 1216 75.212,344590/2007-12 901944 06/09/07 - 14.442,7308754.000158/2007-DV 900641 14/09/07 1245 3.550,0025180.005501/2007-17 904085 19/09/07 1222 64.959,2325180.005501/2007-17 904377 02/10/07 1229 38.395,980578/2003-90 907712 03/10/07 1232 89.774,300578/2003-90 907713 03/10/07 1252 89.249,250578/2003-90 909045 08/11/07 1251 45.397,620578/2003-90 909046 08/11/07 1251 56.543,62

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Ordenador de despesa Processo OB Data NF Valor (R$)

6091/2007-60 902383 12/11/07 1236 e 1247

32.226,75

08754.000272/2007-DV 900835 30/11/07 1277 21.800,0025180.005501/2007-17 905704 06/12/07 1220 29.702,5525180.005501/2007-17 905703 06/12/07 1274 10.987,5308754.000271/2007-DV 900873 13/12/07 1288 3.500,0008754.000303/2007-DV 900911 18/12/07 1290 6.000,007791/2007-71 902718 19/12/07 1244 31.692,508245/2007-58 902721 19/12/07 1258 27.255,5508754.000334/2007-DV 900930 19/12/07 1296 6.062,008243/2007-69 902727 20/12/07 1261 23.832,768247/2007-47 902768 26/12/07 1243 50.798,558242/2007-14 902769 26/12/07 1259 33.865,708754/2007-81 902790 31/12/07 1292 15.592,7108754.000011/2007 900066 06/02/07 - 2.600,00

TOTAL: 2.766.787,84

18. De acordo com a investigação realizada pela CGU/MT, item 2.1.1.1.8 (fls. 16/20 do Relatório de Demandas Especiais – fl. 25 do anexo 2), esses pagamentos foram efetuados sem a apresentação de nenhum certificado de fretamento de aeronaves, em afronta ao inciso III do § 2º do artigo 63 da Lei nº 4.320/1964. Isso poderia ser realizado por intermédio de documento hábil de controle de voo (Boletim Diário de Voo – BDV), que garantisse a comprovação de voo pelo passageiro, trecho e finalidade do voo. Somente há previsão expressa da apresentação deste documento no Contrato nº 19/2009, de 5/2/2009, embora sua apresentação tenha ocorrido desde maio de 2008. Ressalta-se que, nos processos de pagamentos do exercício de 2007, além da ausência dos BDV, não constam as fichas de encaminhamento médico/exames dos pacientes que motivaram os deslocamentos.

19. Ressalte-se que, na gestão do Coordenador-Regional Evandro Vitório (...), no período de 1/1/2007 a 23/7/2007, as despesas com transporte aéreo sem comprovantes totalizaram R$ 1.864.698,25. Na gestão do Coordenador-Regional Marco Antônio Stangherlin (...), no período de 24/7/2007 a 31/12/2007, as despesas com transporte aéreo sem comprovantes totalizaram R$ 902.089,25.

20. Dessa forma, propõe-se a citação dos ordenadores de despesa responsáveis pela execução da despesa, solidariamente à empresa CHC Táxi Aéreo Ltda. (...), em virtude da não apresentação de comprovantes que suportem a efetiva prestação do serviço, em desacordo com o inciso III do § 2º do artigo 63 da Lei nº 4.320/1964’.

Em sua análise das defesas apresentadas pelos responsáveis, a unidade técnica assinalou que:

a) ‘a defesa apresentada pelo citado tentou descaracterizar o achado referente ao pagamento de despesas de transporte aéreo sem o correspondente comprovante que suportasse a efetiva prestação de serviço’;

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b) ‘a adoção, pela unidade gestora, de procedimento de comprovação de execução de despesa insuficiente até um determinado momento não é razão suficiente para a perpetuação de tal conduta’;

c) ‘o fato de os órgãos de controle não terem identificado tal falha até então não justifica que, uma vez evidenciada, o gestor não possa ser responsabilizado pelo descumprimento das normas legais, principalmente quando tal conduta possa ter gerado grave dano ao erário’;

d) no Relatório da CGU referente à Operação Hygeia (acostado à fl. 25 do anexo 2 – cópia em mídia eletrônica - objeto tratado às fls. 16/8 do mencionado relatório), informa a Controladoria que:

d.1) ‘os pagamentos foram efetuados sem a apresentação de nenhum certificado de fretamento de aeronaves, que poderia ser realizado por intermédio de documento hábil de controle de voo (Boletim Diário de Voo - BDV), que garantisse a comprovação de voo pelo passageiro, trecho e finalidade do voo’;

d.2) ‘nos processos de pagamentos do exercício de 2007, além da ausência dos BDV’s, não constavam as fichas de encaminhamento médico/exames dos pacientes que motivaram tais deslocamentos’;

e) ‘tal falha de fato demonstra fragilidade no processo de comprovação da execução da despesa de serviço de transporte aéreo’;

f) ‘conforme destacado pela CGU, o fato de não haver exigência, à época da gestão do sr. Evandro Vitório, de apresentação de documento idôneo que comprovasse adequadamente a execução do serviço por meio de fretamento de aeronaves, demonstra negligência do ex-Coordenador com a gestão da coisa pública. Aceitar que tão somente declarações de servidores solicitando o serviço e atestando sua execução fossem suficientes para comprovar a execução do contrato era no mínimo fazer pouco caso da coisa pública, posto que a própria lei, a fim de dar maior garantia à regular aplicação do dinheiro público, exige que a liquidação da despesa seja devidamente comprovada mediante apresentação de documento que demonstre a efetiva prestação do serviço’;

g) ‘faz-se necessário responsabilizar o sr. Evandro Vitório por sua conduta negligente diante da gestão dos pagamentos referentes à prestação de serviço de táxi aéreo. Por essa razão, propõe-se aplicação de multa ao gestor com fulcro no artigo 58, inciso I, c/c artigo 19, § único, e artigo 16, inciso III, alínea ‘b’, da LO/TCU’.

Não obstante essas considerações, a unidade técnica concluiu pela descaracterização do débito, no essencial, pelas seguintes razões (fls. 278/92, v.3):

a) ‘a menção de que o fiscal do correspondente contrato atestou a execução do contrato fragiliza sobremodo sua responsabilização [do sr. Evandro Vitório] acerca do débito ora tratado. Isso porque, conforme destacado pelo defendente, tal atribuição de fiscalização não lhe cabia, posto que para essa atribuição eram nomeados servidores públicos responsáveis. O gestor tinha que tão somente verificar se o atesto havia sido devidamente executado e, a partir dessa confirmação, autorizar o correspondente pagamento. Portanto, se houve atesto de serviço não executado, essa falha caberia ao fiscal do contrato e não ao Coordenador Regional da Funasa’;

b) ‘não é possível afirmar que o serviço não foi prestado (...)’;

c) a exigência do Boletim Diário de Voo - BDV ‘só passou a ocorrer em maio de 2008. Portanto, não havia como ser exigido tal documento no período de gestão do sr. Evandro Vitório’;

d) ‘foi na gestão do sr. Marco Antônio Stangherlin que foram tomadas diversas providências para melhorar os sistemas de controle de acompanhamento da execução de tais contratos, dentre

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eles a criação do BDV, documento, inclusive, apontado pela CGU, em seu relatório, como idôneo para comprovar o cumprimento dos referidos serviços aéreos. Por essa razão, diversamente do que foi proposto para o sr. Evandro Vitório, entende-se que não há motivos para se imputar ao presente gestor qualquer responsabilização sobre as falhas identificadas’.

Não merecem prosperar as conclusões da Secex/MT, senão veja-se.

A Carta Magna, em seu artigo 70, parágrafo único, preconiza que: ‘Prestará contas qualquer pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens e valores públicos ou pelos quais a União responda, ou que, em nome desta, assuma obrigações de natureza pecuniária’.

Nesse sentido, os artigos 93 do Decreto-lei nº 200/1967 e 145 do Decreto nº 93.872/1986 estabelecem que: ‘Quem quer que utilize dinheiros públicos terá de justificar seu bom e regular emprego na conformidade das leis, regulamentos e normas emanadas das autoridades administrativas competentes’. Ainda na mesma linha, o artigo 39 do Decreto nº 93.872/1986 assim soa: ‘Responderão pelos prejuízos que acarretarem à Fazenda Nacional, o ordenador de despesas e o agente responsável pelo recebimento e verificação, guarda ou aplicação de dinheiros, valores e outros bens públicos’ (artigo 90 do Decreto-lei nº 200/1967).

A jurisprudência deste Tribunal também é pacífica no sentido de considerar a responsabilidade pessoal do gestor, ao qual compete comprovar o bom e regular emprego dos valores públicos, cabendo-lhe o ônus da prova, conforme assente, v.g., nos seguintes julgados: Acórdãos: 2.063/2009 – 2ª Câmara, 73/2007 – 2ª Câmara; 484/2007 – 1ª Câmara; 783/2006 – 1ª Câmara; 1.308/2006 – 1ª Câmara; 1.403/2006 – 1ª Câmara; 2.240/2006 – 2ª Câmara; 2.703/2006 – 1ª Câmara; 2.813/2006 – 2ª Câmara; 2.928/2006 – 1ª Câmara; 578/2005 – 1ª Câmara; 783/2006 – 1ª Câmara; 1.274/2005 – 1ª Câmara; 1.538/2005 – 2ª Câmara.

Este entendimento é corroborado também pelo Supremo Tribunal Federal (v.g., MS 20.335/DF, MS 21.644/DF, MS 24.328/DF).

É nesse contexto, portanto, que devem ser analisadas as presentes contas ordinárias e, especificamente, esta grave irregularidade.

Como a responsabilidade pela comprovação da boa e regular aplicação dos recursos públicos é do gestor, têm os srs. Evandro Vitório e Marco Antônio, na qualidade de dirigentes máximos da Funasa/MT, a obrigação de prestar contas das verbas federais por eles geridas e de zelar pela licitude dos seus atos de gestão e dos dispêndios efetuados com estes recursos. Não podem, pois, se eximir da responsabilidade decorrente de suas atribuições funcionais.

Como visto supra, eventual delegação de competência ou desconhecimento dos fatos não isenta o gestor da responsabilidade pelos atos ilícitos praticados, uma vez que respondem também por ‘culpa in eligendo’ e por ‘culpa in vigilando’.

Ao ratificarem o atesto do fiscal do contrato sobre a execução dos serviços, sem exigir documentos probatórios da sua efetiva prestação, portanto, sem se certificar da regularidade das despesas, em afronta à legislação financeira orçamentária em vigor, agiram de maneira temerária e negligente, sem as cautelas mínimas exigidas dos gestores de dinheiros públicos, demonstrando total incúria no trato com estes valores.

Ao contrário do entendimento da Secex/MT, frise-se, são esses gestores que têm a obrigação de comprovar a efetiva prestação dos serviços, por meio de documentos probatórios idôneos e suficientes, hábeis a descaracterizar a irregularidade constante no relatório da CGU, o qual goza de presunção de veracidade, conforme a doutrina e a jurisprudência deste Tribunal:

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‘Consta nos autos Relatório de Inspeção do Ministério da Integração Nacional acompanhado de fotografias (fls. 177/80), que goza de presunção de veracidade, em que se verifica o reconhecimento da realização de 23,95% do muro de arrimo, já considerado anteriormente’. (Acórdão 510/2005 - Segunda Câmara).

‘4.1. Contudo, a tentativa de desqualificação do laudo de vistoria não merece prosperar. A uma, porque se constitui em documento que goza de presunção, ainda que relativa, de legitimidade e veracidade. Consequência disto é a transferência do ônus da prova de sua invalidade para aquele que a invoca. Só assim - diante de argumentos vigorosos, acompanhados de elementos que lhe deem sustentação - seria capaz de perder a credibilidade que lhe é ínsita. Expõe essa ideia em bem dosada lição Fábio Medina Osório (‘Direito Administrativo Sancionador’, São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000, p. 363), para quem,

‘(...), não se pode ignorar, mormente no âmbito do Direito Administrativo Sancionador, a importância da presunção de veracidade e legitimidade inerente a determinados documentos ou provas produzidas pela acusação. Não há um rol fechado ou exaustivo dessas provas, mas parece possível dizer que determinados atos administrativos, próprios à fase das investigações, possuem inegável e intenso valor probante, não sendo lícito ao intérprete invocar, genericamente, a presunção de inocência para derrubar a eficácia desses documentos. O que pode o acusado fazer, isso sim, é produzir uma contraprova, uma prova defensiva que desmoralize a validade e a eficácia da prova acusatória. Nesse sentido, é importante enfatizar que as provas acusatórias não podem traduzir presunções de natureza absoluta ou intocável, devendo restar uma margem para o exercício da ampla defesa pelo acusado’ ’. (Acórdão 1.891/2006 - Primeira Câmara).

‘A título de esclarecimento, vale registrar que a professora Maria Sylvia Zanella Di Pietro faz diferenciação entre a presunção de legitimidade (‘diz respeito à conformidade do ato com a lei; em decorrência desse atributo, presumem-se, até prova em contrário, que os atos administrativos foram emitidos com observância da lei’) e a presunção de veracidade (‘diz respeito aos fatos; em decorrência desse atributo, presumem-se verdadeiros os fatos alegados pela Administração’) (in Direito Administrativo, Ed. Atlas, 15ª edição, São Paulo, 2003). De acordo com ela, apenas a segunda presunção gera a inversão do ônus da prova’. (Acórdão 2.813/2006 - Segunda Câmara).

‘34. É verdade que a declaração emitida pela sra. Marlene Sampaio, na qualidade de servidora municipal responsável pelo almoxarifado da Secretaria de Educação, reveste-se da natureza de documento público, com presunção de veracidade até prova em contrário, como prelecionam a doutrina e a legislação’. (Acórdão 379/2008 – Plenário).

Ocorre que os responsáveis não trouxeram aos autos elemento comprobatório algum da efetiva prestação dos serviços, evidenciando que, de fato, não havia controle algum nesta área. Sem esta prova, jamais poderiam ter sido efetuados os respectivos pagamentos. Resta, pois, configurado o débito.

A responsabilidade pelo dano deve recair solidariamente sobre todos os que a ele deram causa, uma vez que a obrigação de indenizar surge em razão da conduta integrante da cadeia causal propiciadora do prejuízo, não sendo necessário nem mesmo que fique caracterizado o locupletamento por parte do agente. Cumpre incluir, assim, tanto os agentes públicos que praticaram o ato irregular, quanto os terceiros que, de qualquer modo, hajam concorrido para o cometimento do dano apurado, a teor do disposto no § 2º do art. 16 da Lei nº 8.443/1992.

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Com efeito, o dever de ressarcir o prejuízo causado não recai somente sobre responsáveis por desvios e locupletamentos, mas sobre aqueles que, agindo com culpa, aplicam mal o dinheiro público, ainda que não reste comprovada a existência de má-fé.

Pela sua total pertinência, vale trazer à colação excerto do voto condutor do Acórdão 2.418/2004 – 1ª Câmara, da lavra do nobre Ministro Walton Alencar Rodrigues:

‘O dever de indenizar também nasce do dano causado por culpa do agente. São irrelevantes o dolo ou a prova de que tenha obtido benefício para si ou para seus familiares. A presença de dolo e de eventual locupletamento são circunstâncias que, quando presentes, conferem maior gravidade ao ato ilícito e devem ser avaliadas por ocasião da imposição da multa.

A ausência de dolo e de locupletamento por parte do responsável não o exime do dever de recompor o dano a que deu causa por meio de atuação imprudente e desautorizada’.

No caso, a empresa CHC Táxi Aéreo Ltda. responde solidariamente pelo dano por ter se beneficiado dos recursos públicos, recebendo pagamentos sem comprovar a efetiva prestação dos serviços, portanto, sem descaracterizar o ilícito apurado pela CGU.

Destaque-se, por derradeiro, que o fato de o sr. Marco Antônio Stangherlin ter adotado, em 2008, providências para melhorar o controle dos serviços em tela não tem o condão de elidir a grave falha ocorrida em 2007.

De fato, medidas saneadoras porventura adotadas a posteriori pelo gestor não o eximem da responsabilidade pelos ilícitos cometidos no exercício ora analisado. Isto porque, de acordo com a sistemática de anualidade das contas adotada no âmbito deste Tribunal (artigo 7º da Lei nº 8.443/1992), a gestão é una e deve ser examinada a partir dos atos praticados no curso do exercício ao qual ela se refere, ou seja, analisam-se, em cada exercício financeiro, os fatos que neste tiverem repercussão. Por esta razão, a apreciação das contas do responsável deve basear-se apenas nos atos praticados no curso do exercício de 2007, de que tratam estas contas ordinárias.

Conforme a orientação predominante nos julgados do TCU, a adoção de medidas corretivas e o ulterior cumprimento das normas, em exercício posterior, por provocação dos órgãos de controle, embora militem em favor dos responsáveis relativamente à gestão do exercício em que as providências tenham sido efetivamente adotadas, não têm o condão de tornar lícitas as condutas destoantes do ordenamento jurídico (e.g., Acórdãos 447/2010 e 1.305/2010, ambos da 1ª Câmara, e 3.137/2006 - 2ª Câmara).

III

Por todo o exposto, o Ministério Público propõe ao Tribunal de Contas da União:

I. julgar irregulares as contas dos srs. Evandro Vitório e Marco Antônio Stangherlin, com fulcro nos artigos 1º, inciso I, 16, inciso III, alíneas ‘b’ e ‘c’, e 19, caput, da Lei nº 8.443/1992, e condená-los ao pagamento do débito abaixo, acrescidos dos encargos legais conforme as citações levadas a efeito:

I.1) sr. Evandro Vitório, no valor original de R$ 1.864.698,25, solidariamente com a empresa CHC Táxi Aéreo Ltda.,

I.2) sr. Marco Antônio Stangherlin, ex-Coordenador Regional da Funasa/MT, no valor original de R$ 902.089,25, solidariamente com a empresa CHC Táxi Aéreo Ltda.;

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II. aplicar aos aludidos responsáveis a multa ínsita no art. 57 da Lei nº 8.443/1992;

III. julgar irregulares as contas da srª. Gleida Mariza da Costa e do sr. Edson Ricardo Pertile, com espeque nos arts. 1º, inciso I, 16, inciso III, alínea ‘b’, e 19, parágrafo único, da Lei nº 8.443/1992 e aplicar-lhes a multa prevista no mesmo diploma legal;

IV. autorizar, desde logo, a cobrança judicial das dívidas, caso não atendidas as notificações, nos termos do art. 28, inciso II, da Lei nº 8.443/1992;

V. julgar regulares com ressalva as contas dos demais responsáveis e dar-lhes quitação, com supedâneo nos arts. 1º, inciso I, 16, inciso II, e 18 da Lei nº 8.443/1992;

VI. realizar as determinações e as recomendações alvitradas à Funasa/MT e dar-lhe ciência das afrontas à legislação pertinente, conforme proposta de fls. 693/6, v.3 ;

VII. realizar as determinações sugeridas à CGU/MT e à Secex/MT, conforme proposta de fls. 696/7, v.3;

VIII. enviar cópia da integralidade do acórdão que sobrevier ao Procurador Chefe da Procuradoria da República no Estado de Mato Grosso”.

É o Relatório.

VOTO

Cuidam os autos da Prestação de Contas da Coordenação Regional em Mato Grosso da Fundação Nacional de Saúde - Funasa, relativas ao exercício de 2007.

2. Apreciam-se, nesta oportunidade, as razões de justificativa e as alegações de defesa oferecidas pelos responsáveis ouvidos em audiência e/ou citados, em virtude de ocorrências identificadas em inspeção realizada pela Secex/MT na referida Coordenação Regional.

3. A primeira questão objeto de audiência diz respeito à realização reiterada de despesas sem prévio empenho, infringindo os arts. 60 a 64 da Lei nº 4.320/1964. Foram ouvidos em audiência os Srs. Evandro Vitório e Marco Antônio Stangherlin (ex-Coordenadores Regionais). Na mesma linha defendida nos pareceres, entendo que as razões de justificativa não devem ser acatadas porquanto restou claro o descumprimento das regras fundamentais de realização de despesa orçamentária, reconhecido, aliás, expressamente pelos gestores.

4. A segunda questão, também dirigida aos ex-Coordenadores, refere-se à contratação realizada sem a prévia comprovação da regularidade fiscal da empresa contratada. Concordo, quanto a esse ponto, com as ponderações da unidade técnica favoráveis ao acolhimento dos argumentos do Sr. Marco Antônio Stangherlin, relativamente à Tomada de Preços nº 17/2007. Com efeito, havendo registro expresso da comissão de licitação de que a empresa estava apta junto ao Sicaf, não seria razoável exigir do responsável o refazimento das checagens devidas. O mesmo, contudo, não se pode afirmar em relação ao Sr. Evandro Vitório, quanto à Dispensa de Licitação nº 024/2007, considerando que este foi alertado de que não havia nos autos indicados consulta ao Sicaf, relativamente à regularidade fiscal da empresa que se pretendia contratar.

5. A terceira questão trata do descumprimento do art. 56, § 1º, da Lei nº 8.666/1993, devido à aceitação da garantia inidônea prestada pela empresa Inter Tours no Contrato nº 37/2006 – títulos da dívida pública inválidos. Referida contratação objetivou a execução de serviços de locação de

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veículos, com motorista, para transporte de pessoas e cargas leves para atender demanda da Coordenação Regional. Nesse caso, foram ouvidos, além dos ex-Coordenadores, os Srs. Edson Ricardo Pertile e Gleida Mariza da Costa, fiscais do referido contrato. Da mesma forma, afigura-se-me adequado o exame levado a efeito pela Secex/MT, no sentido de acatar as justificativas da Sra. Gleida Mariza da Costa, isto porque a análise da garantia antecede à atividade do fiscal. Nada obstante, tal entendimento não se aproveita ao Sr. Edson Ricardo Pertile, já que subscreveu documento asseverando que havia ocorrido a substituição da garantia inválida, sem confirmar a veracidade do fato. Também não merecem prosperar os argumentos apresentados pelos Srs. Evandro Vitório e Marco Antônio Stangherlin, considerando que, mesmo alertados de que a garantia era inválida, não adotaram as medidas tempestivas para solucionar o problema.

6. Os ex-Coordenadores e os Srs. Edson Ricardo Pertile e Gleida Mariza da Costa também foram ouvidos em audiência pela ausência de providências para sanear as falhas identificadas na execução do Contrato nº 37/2006 e sancionar a empresa contratada, mesmo diante de flagrante descumprimento de cláusulas contratuais, desrespeitando-se as obrigações estabelecidas no Estatuto das Licitações. No que diz respeito ao Sr. Evandro Vitório, assevera a Secex/MT que não foi demonstrada nos autos qualquer comunicação ao referido gestor, por parte dos fiscais do contrato, atinente aos fatos inquinados, razão pela qual devem ser acolhidas as razões de justificativa oferecidas pelo gestor. Entretanto, entende a unidade técnica que o ex-Coordenador deve ser responsabilizado pelo aditamento contratual, que se deu sem comprovação de orçamento e das necessidades reais da Fundação. Dissinto da unidade técnica, quanto a esse ponto, considerando que a audiência refere-se tão somente à ausência de providências para sanear as falhas identificadas e para sancionar a empresa. Nesses termos, entendo que podem ser acolhidas as justificativas do responsável relativamente a esse item.

7. Quanto ao Sr. Marco Antônio Stangherlin, constatou-se que o referido Coordenador Regional foi informado dos problemas relacionados à propriedade dos veículos locados. Além disso, apesar de comunicado da suspensão da execução dos serviços antes dos 90 dias de atraso no pagamento por parte da Administração, não adotou as medidas pertinentes. Sendo assim, devem ser rejeitadas as justificativas quanto a esses pontos. Concordo, igualmente, com a Secex/MT, pelos motivos expostos na instrução, de se rejeitar as razões de justificativa apresentadas pelos fiscais do contrato, ante a omissão ao não verificarem a idade dos veículos postos à disposição da Funasa-MT, a não exigência dos comprovantes de pagamento do seguro com cobertura total da frota de veículos e a não contestação das adulterações nos boletins diários de tráfego - BDT apresentados à comissão fiscalizadora.

8. A última ocorrência objeto de audiência refere-se à falta de planejamento para realização da licitação de fornecimento de passagens terrestres dando ensejo à contratação emergencial indevida da empresa Shop Tour Viagens e Turismo Ltda., tendo sido ouvido em audiência o ex-Coordenador Regional Marco Antônio Stangherlin. Consoante demonstrado nos pareceres, a demora na formalização de novo procedimento licitatório para prestação dos serviços, gerou contratos emergenciais indevidos, com valores acima do mercado. Nesses termos, não devem ser acolhidas as razões de justificativa do gestor.

9. No que se refere às citações efetuadas, ante a análise da unidade técnica demonstrando que não foi comprovado o superfaturamento referente a valores cotados pela empresa Intertours Viagens e Turismo Ltda., manifesto-me, na mesma linha uniforme dos pareceres, pelo afastamento do débito inicialmente apontado.

10. Quanto ao débito decorrente da execução de despesas com transporte aéreo, entendo que assiste razão à unidade técnica.

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11. Com efeito, nada obstante a exigência de Boletim Diário de Voo – BDV ter ocorrido somente a partir de maio de 2008, não é possível afirmar que os serviços não foram prestados. Ao contrário, há elementos no Anexo 5 do processo, referentes a relatórios de bordo que guardam certa consistência com outros relativos à requisição de horas de voo e prescrições médicas. Nesses termos, afigura-se-me mais apropriada a proposta da unidade técnica de se acolher parcialmente as alegações de defesa apresentadas, para afastar o débito indicado anteriormente. Restou evidenciada, contudo, a conduta negligente do Sr. Evandro Vitório na gestão dos pagamentos referentes à prestação dos serviços de táxi aéreo, razão pela qual deve ser aplicada ao responsável a multa prevista no art. 58, inciso I, da Lei nº 8.443/1992. Na mesma linha defendida pela Secex/MT, deixo de propor a aplicação de multa ao Sr. Marco Antônio Stangherlin, quanto a esse ponto, já que foi em sua gestão que foram adotadas as providências para melhorar os sistemas de controle de acompanhamento da execução desses contratos.

12. Em razão disso, devem também ser excluídos da relação processual o Sr. Raimundo Angelino de Oliveira e as empresas CHC Táxi Aéreo Ltda. e Inter Tours Viagens e Turismo Ltda.

13. Por fim, cabe esclarecer adicionalmente que os Srs. Gleida Mariza da Costa e Edson Ricardo Pertile não integram o rol de responsáveis desta prestação de contas e, portanto, serão somente apenados com multa, não sendo passíveis de julgamento das contas.

Com essas considerações, VOTO por que seja adotado o Acórdão que ora submeto à apreciação deste Colegiado.

TCU, Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 18 de setembro de 2012.

JOSÉ JORGE Relator

ACÓRDÃO Nº 6886/2012 - TCU – 2ª Câmara

1. Processo nº TC-016.124/2008-4 (com 3 volumes e 5 anexos)2. Grupo II; Classe de Assunto: II – Prestação de Contas, exercício de 20073. Responsáveis: Evandro Vitório (CPF nº 314.310.031-15); Marco Antonio Stangherlin (CPF nº 621.310.521-20); Edson Ricardo Pertile (CPF nº 495.321.899-04); Gleida Mariza da Costa (CPF nº 184.022.161-53); Raimundo Angelino de Oliveira (CPF nº 452.630.517-00); CHC Táxi Aéreo Ltda. (CNPJ nº 02.835.198/0001-59); e Inter Tours Viagens e Turismo Ltda. (CNPJ nº 00.614.995/0001-80).4. Entidade: Coordenação Regional em Mato Grosso da Fundação Nacional de Saúde5. Relator: Ministro José Jorge6. Representante do Ministério Público: Procurador Júlio Marcelo de Oliveira7. Unidade Técnica: Secretaria de Controle Externo no Estado do Mato Grosso – Secex/MT

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8. Advogados constituídos nos autos: Gilmar Viana Mourato (OAB/GO nº 30.584) e João Batista dos Anjos (OAB/MT nº 6.658)

9. Acórdão:

VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Prestação de Contas da Coordenação Regional em Mato Grosso da Fundação Nacional de Saúde, relativas ao exercício de 2007.

ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em Sessão da 2ª Câmara, ante as razões expostas pelo Relator, em:

9.1. com fulcro nos artigos 1º, inciso I, 16, inciso III, alínea “b”, julgar irregulares as contas dos Srs. Evandro Vitório e Marco Antônio Stangherlin, aplicando-lhes, individualmente, a multa prevista no art. 58, inciso I, da Lei n.º 8.443/de 1992, no valor de R$ 30.000,00 (trinta mil reais), fixando-lhes o prazo de 15 (quinze) dias, para que comprovem, perante o Tribunal, o recolhimento da referida quantia aos cofres do Tesouro Nacional, atualizada monetariamente e acrescida dos juros de mora, calculados a partir do dia seguinte ao do término do prazo estabelecido, até a data do efetivo recolhimento, na forma da legislação em vigor;

9.2. aplicar, individualmente, à Sra. Gleida Mariza da Costa e ao Sr. Edson Ricardo Pertile, a multa prevista no art. 58, inciso II, da Lei n.º 8.443, de 1992, nos valores, respectivamente de R$8.000,00 (oito mil reais) e R$ 4.000,00 (quatro mil reais), fixando-lhes o prazo de 15 (quinze) dias, para que comprovem, perante o Tribunal, o recolhimento da referida quantia aos cofres do Tesouro Nacional, atualizada monetariamente e acrescida dos juros de mora, calculados a partir do dia seguinte ao do término do prazo estabelecido, até a data do efetivo recolhimento, na forma da legislação em vigor;

9.3. autorizar, desde logo, a cobrança judicial das dívidas, caso não atendidas as notificações, nos termos do art. 28, inciso II, da Lei nº 8.443/1992;

9.4. determinar à Coordenação Regional em Mato Grosso da Fundação Nacional de Saúde que:

9.4.1. regularize, no prazo de 30 (trinta) dias, a situação do aposentado Pedro Correa de Lima, de acordo com a decisão proferida no Acórdão TCU 2.453/2007 – 2ª Câmara, com os devidos descontos referentes ao atraso no atendimento dessa deliberação, devendo comunicar ao TCU as providências adotadas, até o término do prazo estipulado;

9.4.2. apresente, no prazo de 60 (sessenta) dias, plano de ação para execução do devido procedimento licitatório para contratação de serviços de manutenção de viaturas, em conformidade com o item 9.2.4 do Acórdão TCU 1.276/2008 –Plenário e com o art. 24, inciso II, da Lei nº 8.666/1993, devendo comunicar ao TCU as providências adotadas, até o término do prazo estipulado;

9.4.3. faça constar, doravante, nas notas de empenho das despesas custeadas pelo Banco Mundial - BIRD, a informação quanto à modalidade de licitação aplicada, segundo as regras do referido banco, de modo a tornar viável a avaliação do cumprimento das exigências do organismo internacional em tela para aplicação dos recursos por ele repassados, bem como as demais exigências legais porventura cabíveis nas respectivas execuções contratuais, de modo a atender ao princípio do controle, assegurado no artigo 29, caput, do Decreto nº 93.872/1986;

9.4.4. efetue, doravante, pesquisa de preços de mercado, antes de prorrogar a vigência dos contratos de serviços continuados, de modo a cumprir os termos do art. 57, inciso II, da Lei nº 8.666/1993 e da Instrução Normativa SLTI/MPOG n.º 2/2008;

9.4.5. conclua, no prazo de 120 (cento e vinte) dias, o levantamento da real necessidade de postos terceirizados de suas atividades meio, apresentando a descrição detalhada das atividades que deverão ser desenvolvidas em cada posto de serviço e justificando os quantitativos necessários para cada posto e o procedimento licitatório para formalização do contrato que contemple a demanda identificada, de forma a satisfazer o artigo 3º, caput, da Lei nº 8.666/1993, devendo comunicar ao TCU as providências adotadas, até o término do prazo estipulado;

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9.4.6. não realize, doravante, o pagamento da empresa CHC Táxi Aéreo Ltda ou de qualquer outra que possa vir a ser contratada pela Funasa/CORE/MT para executar o serviço de transporte aéreo, sem que haja um comprovante legítimo da prestação efetiva do serviço, qual seja, o preenchimento do Boletim Diário de Voo por servidor da Funasa, constando os nomes e assinaturas desse servidor e de cada usuário transportado, de acordo com o inciso III do § 2º do artigo 63 da Lei nº 4.320/1964;

9.4.7. providencie, no prazo de 120 (cento e vinte) dias, o ressarcimento do valor de diárias pago, em princípio, indevidamente ao servidor de matrícula 503555, Sr. Eurides de Oliveira Alves, conforme Relatório de Auditoria Anual de Contas do exercício de 2007, n.º 208094, após procedimento que assegure os constitucionais direitos à ampla defesa e ao contraditório, devendo comunicar ao TCU as providências adotadas, até o término do prazo estipulado;

9.4.8. doravante, nos casos em que não haja comprovação do efetivo deslocamento do servidor na prestação de contas das diárias, haja fixação de prazo para que o referido servidor apresente os comprovantes do efetivo deslocamento e, se assim não o fizer, que se instaure o devido processo administrativo a fim de providenciar o ressarcimento da quantia a ele paga a título de diária, juntando-se a comprovação da indenização ao processo administrativo disciplinar correspondente, em conformidade com o artigo 46 da Lei nº 8.112/1990;

9.4.9. no que concerne aos bens móveis e equipamentos, emita, no prazo de 60 (sessenta) dias, os termos de responsabilidade de cada setor da fundação, bem como, a cada movimentação, seja efetuado o registro tempestivo no sistema de controle e a atualização do respectivo termo de responsabilidade, em consonância com o artigo 94 da Lei nº 4.320/1964, devendo comunicar ao TCU as providências adotadas, até o término do prazo estipulado;

9.4.10. promova, doravante, com periodicidade anual, o inventário físico dos bens móveis da instituição, podendo, com esse objetivo, realizar os procedimentos de modo descentralizado, com a participação dos diversos setores responsáveis pela guarda dos bens, adotando medidas adequadas de controle e fiscalização por parte do setor de patrimônio – SOPAT - e sua própria comissão inventariante, devendo, ainda, a instituição empregar, na tarefa, sempre que possível, métodos informatizados de identificação, leitura e conferência dos bens, em consonância com a IN/SEDAP nº 205/1988 e com o artigo 94 da Lei nº 4.320/1964;

9.4.11. apure, no prazo de 180 (cento e oitenta) dias, as responsabilidades e providencie o respectivo ressarcimento ao erário acerca da criação da unidade de localização nº 5041 fictícia, por absoluta falta de amparo legal, bem como dos bens não localizados que, porventura, sejam identificados após a conclusão dos trabalhos da Comissão de Desfazimento de Material Permanente, informando a este Tribunal as medidas adotadas pertinentes ao assunto, cumprindo-se o artigo 143 da Lei nº 8.112/1990 e artigo 1º da IN TCU nº 56/2007, devendo comunicar ao TCU as providências adotadas, até o término do prazo estipulado;

9.4.12. regularize, no prazo de 180 (cento e oitenta) dias, a situação patrimonial dos bens entregues em comodato ao Estado de Mato Grosso e aos seus municípios, a partir de 1999, com a descentralização das ações de combate de endemias para esses entes federativos, em atendimento ao instrumento acordado entre as partes que formalizaram o referido comodato, devendo comunicar ao TCU as providências adotadas, até o término do prazo estipulado;

9.4.13. avalie a oportunidade, caso não o tenha feito, de se abrir processo administrativo para sancionar a empresa Sul América Prestadora de Serviços Ltda., nos termos do artigo 87 da Lei nº 8.666/1993, conforme sugerido pelo fiscal do contrato, tendo em vista os diversos descumprimentos de obrigações contratuais, em atendimento aos artigos 66 e 69 da Lei nº 8.666/1993, devendo comunicar ao TCU as providências adotadas no prazo de 90 (noventa) dias;

9.4.14. redistribua para a Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde – SVS/MS, no prazo de 120 (cento e vinte) dias, os 99 (noventa e nove) guardas de endemias que se encontram cedidos para as Secretarias Municipais e Estadual de Saúde em Mato Grosso, em virtude da

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assunção da competência do Sistema Nacional de Vigilância em Saúde por parte da SVS/MS, devendo comunicar ao TCU as providências adotadas, até o término do prazo estipulado;

9.4.15. elabore, no prazo de 90 (noventa) dias, e comunique ao TCU as providências adotadas, até o término do prazo estipulado, um plano de ação a respeito da reconvocação dos servidores cedidos pela Funasa/MT aos entes federativos no estado de Mato Grosso e da consequente diminuição do número de terceirizados contratados por essa fundação, considerando a análise preliminar realizada pela equipe de fiscalização da Secex-MT, dado que os dispositivos estabelecidos no artigo 116, caput e § 1º, incisos III e VI, da Lei nº 8.666/1993, claramente não permitem a realização de convênios por tempo indeterminado, bem como pelo fato de que as cessões efetuadas, desde a revogada Portaria MS nº 1.399/1999, precisariam observar que o quantitativo definido como necessário para as atividades que permaneceriam sendo executadas pela Funasa, inclusive aquelas efetivadas por intermédio dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas, deveria ser considerado e descontado do número de servidores disponíveis para cessão, do universo de recursos humanos lotados nas Coordenações Regionais da Funasa; e

9.4.16. informe nas próximas contas acerca do atendimento às determinações efetuadas nestes autos, em atendimento ao disposto na Portaria TCU/Segecex nº 13/2011;

9.5. recomendar à Coordenação Regional em Mato Grosso da Fundação Nacional de Saúde que:

9.5.1. faça constar, nos contratos de transporte aéreo, de terceirização de motoristas, de limpeza e conservação, de apoio administrativo, de copeiragem e de vigilância armada, a alocação de um fiscal em cada DSEI, bem como na sede da Coordenação Regional, de modo a possibilitar um melhor atendimento ao artigo 67 da Lei nº 8.666/1993;

9.5.2. faça prever no contrato de transporte aéreo a utilização do diário de bordo, documento exigido pela ANAC, como mais um comprovante do voo realizado, no intuito de aprimorar a etapa de liquidação fixada na Lei nº 4320/1964 dessa espécie de despesa;

9.5.3. realize estudo para levantar a necessidade de alocação de mais servidores para a Equipe de Convênios, considerando o volume de trabalho existente e a qualificação acadêmica para direção dos trabalhos nesse setor, de modo a viabilizar o controle sobre os convênios, responsabilidade esta definida pelo Decreto-lei nº 200/1967;

9.5.4. providencie os equipamentos necessários à boa execução das atividades pertinentes ao setor de patrimônio, bem como estude a possibilidade de alocar mais servidores nesse setor, de forma a adequar a lotação às suas respectivas atribuições e, além disso, promova o treinamento adequado para o aperfeiçoamento de suas atividades;

9.6. dar ciência à Coordenação Regional em Mato Grosso da Fundação Nacional de Saúde acerca:

9.6.1. da afronta aos termos do art. 25, inciso I, da Lei nº 8.666/1993, no Processo nº 25180.011.178/2007-11, em razão do atestado de exclusividade da contratada ter sido emitido por empresa privada;

9.6.2. da afronta ao disposto no art. 58, § 3º, da Lei nº 8.112/1990 quando se concede diárias para deslocamentos dentro da mesma microrregião, sem ocorrência de pernoite;

9.6.3. do caráter de excepcionalidade para a realização de saques com o cartão de pagamentos do governo federal, que deve satisfazer rigorosamente os requisitos estabelecidos nos artigos 45 e 47 do Decreto n.º 93.872/1986;

9.6.4. do fato de que as operações de saque estão vinculadas à prévia autorização e justificativa do ordenador de despesas e, também, à apresentação de justificativas do portador na prestação de contas, com os motivos da não utilização da rede afiliada do cartão, de acordo com o Decreto nº 93.872/1986, art. 45, § 6º, inciso I e II, e com a Portaria nº 41, de 4/3/2005, do Ministério do Planejamento, art. 4º, § 2º; e

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9.6.5. da necessidade de apresentação de comprovação da anulação da despesa relacionada aos saldos a restituir, nos casos de aplicação parcial dos suprimentos de fundos, em sintonia com o art. 70, parágrafo único, da Constituição Federal e com o § 1º do artigo 45 do Decreto nº 93.872/1986;

9.7. determinar à Controladoria-Geral da União/MT que: 9.7.1. analise, no relatório referente às contas de 2011, a efetividade da adoção de uma

nova composição de custos indiretos de transporte eventualmente adotada pela jurisdicionada, de modo a contemplar de forma objetiva a quantificação dos custos atípicos incidentes nas obras realizadas em área indígena, bem como a possibilitar o cumprimento das diretrizes de custos das obras públicas fixadas nas sucessivas leis de diretrizes orçamentárias;

9.7.2. avalie o cumprimento das determinações feitas à Funasa/CORE/MT nos itens 9.4.3, 9.4.4, 9.4.6, 9.4.8 e 9.4.10 deste Acórdão, nas contas de 2011, se porventura vierem a ser efetuadas nos termos sugeridos ainda no exercício corrente, de modo a cumprir o artigo 2º da Portaria Segecex nº 13/2011;

9.7.3. avalie, nas contas de 2011, a efetividade da implantação do novo sistema informatizado e integrado de gestão de frota de veículos, embarcações, motores estacionários e utilitários fornecido pela Ticket Serviços S/A, por meio do Contrato nº 60/2007; e

9.7.4. observe a evolução dos indicadores de desempenho operacional da Funasa/MT na análise das próximas contas dessa fundação, de modo a avaliarmos o atendimento ao princípio constitucional da eficiência;

9.8. determinar à Secex/MT que instaure processo com vistas a monitorar as determinações 9.4.1, 9.4.2, 9.4.5, 9.4.7, 9.4.9, 9.4.11, 9.4.12, 9.4.13, 9.4.14 e 9.4.15, em vista do estabelecido na Portaria Segecex nº 13/2011;

9.9. excluir da relação processual o Sr. Raimundo Angelino de Oliveira, bem como as empresas CHC Táxi Aéreo Ltda. e Inter Tours Viagens e Turismo Ltda.

10. Ata n° 33/2012 – 2ª Câmara.11. Data da Sessão: 18/9/2012 – Extraordinária.12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-6886-33/12-2.13. Especificação do quorum: 13.1. Ministros presentes: Aroldo Cedraz (na Presidência), Raimundo Carreiro e José Jorge (Relator).13.2. Ministro-Substituto convocado: Augusto Sherman Cavalcanti.

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13.3. Ministro-Substituto presente: André Luís de Carvalho.

(Assinado Eletronicamente)AROLDO CEDRAZ

(Assinado Eletronicamente)JOSÉ JORGE

na Presidência Relator

Fui presente:

(Assinado Eletronicamente)CRISTINA MACHADO DA COSTA E SILVA

Subprocuradora-Geral

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