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Acelerando a competitividade da indústria de calçados: Um método inovador de estratégia de manufatura para empresas terceirizadas calçadistas Cleiton Eduardo dos REIS Departamento de Engenharia de Produção Faculdades Integradas de Taquara - Faccat , RS – Brasil [email protected] Diego Augusto de Jesus PACHECO Centro Universitário Ritter dos Reis – UniRitter, Porto Alegre, Brasil [email protected] Resumo O objetivo deste artigo é desenvolver um modelo de estratégia de gestão da manufatura para empresas terceirizadas do setor calçadista, baseado na Agile Manufacturing. A pesquisa é considerada aplicada em relação à natureza, exploratória quanto aos objetivos, qualitativa e quantitativa correlacionada à abordagem. Quanto aos procedimentos é uma pesquisa de caráter bibliográfico baseada na Design Science Research, pois desenvolve um novo artefato a partir da revisão da literatura. Questionários foram utilizados como técnica de coleta de dados, e análise de conteúdo é a técnica de análise das informações. A pesquisa desenvolve um modelo de aplicação personalizado para a empresa em estudo, visando seguir um processo lógico de melhoria contínua. Por ser um modelo customizado, é considerado exclusivo para a empresa estudada. Para a elaboração do modelo foram aplicadas algumas ferramentas do Processo de Pensamento da Teoria das Restrições, questionários baseados no referencial teórico, para identificar e avaliar elementos ágeis no contexto da empresa e obter interpretações para interferir no ambiente interno da organização em estudo. O trabalho em si traz um modelo único na teoria, contudo pode ser aperfeiçoado e utilizado em outras empresas do mesmo segmento. Palavras-chave: Agile Manufacturing; Design Science Research; questionário; modelo; calçadista. Accelerating the competitiveness of the footwear industry: An innovative method of manufacturing strategy for third-party enterprises Abstract The purpose of this article is to develop a management strategy model from manufacturing to outside companies in the footwear industry, based on Agile Manufacturing. The research is considered applied in relation to the nature, exploration of the aims, qualitative and quantitative approach to correlated. As for the procedures is a bibliographical research based on Design Science Research, as it develops a new artifact from the literature review. Questionnaires were used as data collection technique and content analysis is the analysis of technical information. The research develops a custom application template for the company under study, aiming to follow a logical process of continuous improvement. Being a custom model, it is considered unique for the studied company. For the preparation of the model were applied some tools of the Theory of Constraints Thinking Process, questionnaires based on the theoretical framework, to identify and evaluate agile elements in the context of company and get interpretations to interfere in the organization's internal environment under study. The

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Acelerando a competitividade da indústria de calçados: Um método inovador de estratégia de manufatura para empresas terceirizadas calçadistas

Cleiton Eduardo dos REIS Departamento de Engenharia de Produção

Faculdades Integradas de Taquara - Faccat , RS – Brasil [email protected]

Diego Augusto de Jesus PACHECO Centro Universitário Ritter dos Reis – UniRitter, Porto Alegre, Brasil

[email protected]

Resumo

O objetivo deste artigo é desenvolver um modelo de estratégia de gestão da manufatura para empresas terceirizadas do setor calçadista, baseado na Agile Manufacturing. A pesquisa é considerada aplicada em relação à natureza, exploratória quanto aos objetivos, qualitativa e quantitativa correlacionada à abordagem. Quanto aos procedimentos é uma pesquisa de caráter bibliográfico baseada na Design Science Research, pois desenvolve um novo artefato a partir da revisão da literatura. Questionários foram utilizados como técnica de coleta de dados, e análise de conteúdo é a técnica de análise das informações. A pesquisa desenvolve um modelo de aplicação personalizado para a empresa em estudo, visando seguir um processo lógico de melhoria contínua. Por ser um modelo customizado, é considerado exclusivo para a empresa estudada. Para a elaboração do modelo foram aplicadas algumas ferramentas do Processo de Pensamento da Teoria das Restrições, questionários baseados no referencial teórico, para identificar e avaliar elementos ágeis no contexto da empresa e obter interpretações para interferir no ambiente interno da organização em estudo. O trabalho em si traz um modelo único na teoria, contudo pode ser aperfeiçoado e utilizado em outras empresas do mesmo segmento. Palavras-chave: Agile Manufacturing; Design Science Research; questionário; modelo; calçadista.

Accelerating the competitiveness of the footwear industry: An innovative method of

manufacturing strategy for third-party enterprises Abstract

The purpose of this article is to develop a management strategy model from manufacturing to outside companies in the footwear industry, based on Agile Manufacturing. The research is considered applied in relation to the nature, exploration of the aims, qualitative and quantitative approach to correlated. As for the procedures is a bibliographical research based on Design Science Research, as it develops a new artifact from the literature review. Questionnaires were used as data collection technique and content analysis is the analysis of technical information. The research develops a custom application template for the company under study, aiming to follow a logical process of continuous improvement. Being a custom model, it is considered unique for the studied company. For the preparation of the model were applied some tools of the Theory of Constraints Thinking Process, questionnaires based on the theoretical framework, to identify and evaluate agile elements in the context of company and get interpretations to interfere in the organization's internal environment under study. The

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work itself brings a unique model in theory, but can be perfected and used in other companies in the same segment. Key-words: Agile Manufacturing; Design Science Research; quiz; fashion model; footwear.

1. INTRODUÇÃO

Diante da globalização da economia, empresas que pretendem sobreviver, necessitam

adequar e modernizar seus sistemas e processos produtivos, tanto gerencial quanto

tecnologicamente. Estas adequações objetivam melhorias contínuas da produtividade,

cumprimento dos prazos de entrega, aperfeiçoamento da qualidade e diminuição do tempo de

lançamento de novos produtos (SILVA; FERNANDES, 2008).

Silva e Fernandes (2008) enfatizam que essa realidade também existe na área

calçadista, fazendo com que as empresas invistam constantemente em tecnologias, almejando

reduzir custos de fabricação e garantir um preço competitivo perante os concorrentes.

Segundo Garcia (2001) a indústria calçadista precisa de uma grande gama de

fornecedores para existir, sendo que todos tem fundamental importância no desenvolvimento

da cadeia produtiva, iniciando pela pecuária de corte, de onde provém o couro, passando pelos

setores químico, curtumes, de máquinas e equipamentos, componentes e de serviços

(subcontratações ou terceirizações).

As principais fases do processo de fabricação do calçado são modelagem, corte,

costura, montagem e acabamento, sendo as operações muito diversificadas, dependendo do

tipo de calçado produzido (FRASSETTO, 2006). Na etapa de costura ou pesponto é comum a

subcontratação de mão-de-obra, que segundo Gracia (2006) ganhou notoriedade no Rio

Grande do Sul com o surgimento dos ateliers.

Os ateliers são tratados como parceiros da empresa, não havendo nenhuma relação

contratual na maioria das vezes entre as duas partes, apenas verbal, podendo a parceria ser

desfeita a qualquer momento por ambas as partes. Almeida (2008) relata que esses

prestadores de serviço recebem normalmente por par de calçado, sendo que o volume de

trabalho realizado é estipulado pela indústria contratante, assim como a remuneração pelo

trabalho realizado.

Álvares (1996) classificou a terceirização como meio para proporcionar distribuição

de renda, o que por um lado serviu de medida estratégica para a sobrevivência da grande

empresa, por outro lado proporcionou iniciativas empreendedoras, gerando novos empregos.

A terceirização é uma forma de relação comercial que descreve uma relevante

mudança no controle dos relacionamentos entre empresas contratantes e contratadas, sendo

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designados por algumas características: parceria como condição; a qualidade como garantia; e

a mudança como oportunidade (ÁLVARES, 1996).

Indústrias maiores buscam empresas menores para a execução de parte de seu

processo. As razões pela qual uma empresa busca a terceirização de processos são inúmeras,

podendo ser apenas para redução de custos, acréscimo de agilidade operacional e aumento da

demanda (SILVA, 2009).

Em decorrência de haverem diversas operações minuciosas, exigindo elevado número

de mão-de-obra ágil e qualificada, a etapa de costura é o estrangulamento da produção.

Assim, é na etapa de costura do calçado a maior descontinuidade do processo produtivo. Por

isso, a maioria das empresas contrata terceiras nesta fase de produção. Trata-se de uma

estratégia empresarial que desafoga a produção, sendo que terceirizados não possuem

vínculos empregatícios com a empresa contratante, uma parceria verbalmente estabelecida,

contudo existe a preocupação com a qualidade e confiabilidade do serviço prestado

(FRASSETTO, 2006).

Uma tática utilizada pelos ateliers terceirizados é repassar atividades para domicílios

ou para outros ateliers menores, denominada “quarteirização”. É uma transação que amplia a

informalidade das relações de trabalho, o que eleva a exploração de trabalhadores, isso por

que os quarteirizados pagam seus trabalhadores conforme o preço que os terceirizados lhes

remunera, que geralmente é baixo (ALMEIDA, 2008).

A empresa, analisada na presente pesquisa, é uma terceirizada do ramo calçadista, que

presta serviços de manufatura da costura de calçados para organizações de porte maior, que

possuem estrutura para planejar, desenvolver e vender produtos acabados. A costura é

responsável pela junção de peças provindas do setor de corte (ALARCON et al., 2012). Nesta

etapa as peças são unidas por adesivos e demais componentes, que darão resistência e

acabamento estético ao calçado, sendo o produto final deste processo o cabedal (parte

superior do calçado), que posteriormente é enviado a etapa de montagem, a qual realizará a

finalização do sapato. A quantidade de trabalhadores necessários na costura varia de acordo

com a característica de cada modelo e necessidade de produção, podendo o tipo de layout

variar conforme a organização, sendo em célula, esteira ou ambas. Grande parte do processo é

manual e os maquinários requeridos variam de acordo com o tipo de modelo em produção.

O problema central da presente pesquisa foi determinado pela aplicação da Árvore da

Realidade Atual (ARA), e fixado como “Estratégia de gestão indefinida” (Figura 4). Esse

problema ocorre, pois não há um esclarecimento das estratégias que devam ser seguidas

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continuamente, como por exemplo, a ausência de medidas pontuais e concretas para

eliminação de defeitos, o que motiva atitudes precipitadas por parte da liderança. Também

faltam trabalhadores multifuncionais, o que acarreta em perca de produtividade, baixa

eficiência, atrasos em entregas ao cliente e consequentemente baixa lucratividade.

Foram correlacionados problemas para se chegar em uma causa raiz, e assim agir

diretamente na causa fundamental. Nesse sentido, identificou-se como causa raiz do problema

a indefinição de uma estratégia de gestão empregada na empresa estudada, seguido pela falta

de trabalhadores polivalentes, informações controvérsias e desatualizadas, baixa eficiência e

retrabalho demasiado. A Agile Manufacturing, conforme consta na revisão teórica, traz

abordagens para melhorar essas relações internas a empresa, trazendo resultados positivos em

alguns segmentos da indústria com a aplicação de suas práticas.

Este artigo tem por finalidade principal desenvolver e propor um modelo de estratégia

de gestão da manufatura, baseado na metodologia Agile Manufacturing, para uma empresa

terceirizada do ramo calçadista, responsável pela etapa de costura de calçados, situada na

cidade de Rolante – RS, Vale do Paranhana. Serão analisadas pesquisas prévias relacionadas

ao tema Agile Manufacturing aplicados em alguns segmentos da indústria e cadeia de

suprimentos. Com os efeitos indesejáveis sedimentados na ARA foi conhecido o problema

raiz, com a aplicação de questionários foi possível mensurar o nível atual e as necessidades de

agilidade internamente à empresa, e com a análise de conteúdo foram interpretados os

questionários sendo inferidas possíveis aplicações de interferência na empresa.

2. Revisão teórica

2.1 Agile Manufacturing

O termo Agile Manufacturing ou Manufatura Ágil surgiu em 1991 e foi popularizado

por um grupo de pesquisadores do Iaccoca Institute of Lehigh University após a realização do

Fórum 21st Century Manufacturing Enterprise Strategy, o qual gerou um relatório que

conduziriam a novos estudos do sistema de manufatura perante o novo ambiente competitivo

que se desenvolveria nos vinte anos seguintes, e introduzido no contexto das indústrias

americanas, com o intuito de recuperar a liderança americana na manufatura (GOLDMAN et

al., 1991). As características principais da Agile Manufacturing determinadas no relatório

referem-se a rápida introdução de produtos novos e modificados no mercado, dinâmica

reconfiguração dos processos produtivos, produtos de qualidade e altamente customizados,

entre outros.

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Goldman et al. (1991) cita características da formação de uma empresa de Manufatura

Ágil, como segue:

a) Capacidade de desenvolvimento de projetos de produtos e processos de fabricação

especificados, com equipes interdisciplinares;

b) Conhecimento científico do processo de fabricação, computadores capazes de simular

desempenho de produtos, e de modelar todo processo de manufatura;

c) Processos de fabricação e equipamentos acessíveis, modulares, flexíveis e reconfiguráveis;

d) Obtenção de informações com rapidez, compartilhá-las por toda empresa, e ligá-las

diretamente com máquinas da produção;

e) Projeto de produto modular, incorporando capacidade de reconfiguração e adaptabilidade,

levando um produto a um longo ciclo de vida.

Preliminarmente a Manufatura Ágil deve ser vista como um conceito de negócio que

induz ideias em grupo. Diante das mudanças constantes no ambiente de negócio, empresas

devem encorajar-se a desenvolver estruturas ágeis, com objetivo de adquirir vantagens

competitivas neste cenário (SOUZA, 2001).

Há uma certa dificuldade de percepção da aplicabilidade e conceitos da Manufatura

Ágil, pelo fato de diversos autores abordarem perspectivas contraditórias quanto a sua

definição. Braz (2014) declara que a identificação de práticas que diferem a MA de outras

estratégias de gestão é uma das principais questões, pelo fato de algumas dessas práticas

serem comuns entre as demais filosofias de gestão.

A capacidade de reconfiguração e adaptabilidade de desempenho de atuação em

ambientes turbulentos é o princípio que particulariza a manufatura ágil das demais estratégias

de gestão. Esses ambientes de turbulência referem-se ao alto dinamismo e caracterizam-se

pelas rápidas e constantes mudanças no meio integral, escolhas, atitudes ou características das

pessoas inclusas no mercado (VÁZQUEZ-BUSTELO et al., 2007). A manufatura ágil é

considerada uma condição primordial de permanência da empresa neste ambiente turbulento,

e segundo Bottani (2010) tornou-se uma estratégia muito importante e adequada a empresas

enquadradas num mercado que exige rápidas respostas a mudanças constantes.

Para Gunasekaran (1999) Manufatura Ágil é a capacidade de permanecer e progredir

em um ambiente competitivo com mudança contínua e imprevisível, respondendo

rapidamente e efetivamente a essas mudanças de mercado. Vázquez-Bustelo et al. (2007) vão

além e tratam a Manufatura Ágil como um modelo de gestão da produção o qual tem

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pretensão de garantir flexibilidade, rapidez, qualidade e eficiência, através da integração de

tecnologia, recursos humanos qualificados e organização.

Diferentes pesquisadores vem dando sua contribuição referente ao conceito de

agilidade, porém Yusuf et al. (1999) propõem uma definição para melhor compreensão.

Agilidade é saber explorar as bases competitivas: velocidade, flexibilidade, pró-atividade,

qualidade e lucratividade; com a integração de recursos reconfigurados: tecnologia,

informação e pessoal; e pelas boas práticas: estratégias, métodos e ferramentas gerenciais; em

um ambiente rico em conhecimento: energização de pessoal, fluxo de sistemas de dados;

fornecendo produtos e serviços projetados segundo a demanda do cliente em um ambiente de

mercado competitivo com mudança constante e repentina.

Empresas ágeis são aptas a se reorganizar rapidamente e se auto reconfigurarem para

poder faturar imediatamente, em alguns casos temporariamente, as oportunidades de mercado.

Competências centrais da empresa podem ser combinadas para reduzir o tempo de resposta ao

mercado. Empresas virtuais, reengenharia, manufatura ágil e adaptabilidade são conceitos

novos, usados nas novas empresas de manufatura, e caracterizadas por uma capacidade para

reorganização flexível de recursos, tempo de ciclo mais curto e respostas mais rápidas às

necessidades dos clientes (SOUZA; BATOCCHIO, 2000).

Zandonadi et al. (2012) assinala como características da Manufatura Ágil, a

capacidade da empresa em se reconfigurar visando uma oportunidade, tendo o domínio das

situações de incerteza e de mudanças; a busca por novas áreas de negócio através de empresas

virtuais, visando a redução do ciclo de vida dos produtos e dos processos; uma complexa

estrutura de hardware, aliada na rápida troca de processos; produtos muito customizados;

flexibilidade a curto prazo; e adaptabilidade.

Manufatura em Massa, Manufatura Enxuta, Manufatura Responsiva, Customização

em Massa e Manufatura Ágil são os atuais Paradigmas Estratégicos de Gestão da Manufatura

(PEGEMs) conhecidos na literatura. A Manufatura Ágil (MA), assim como os outros

PEGEMs, possui quatro elementos-chave: direcionadores, princípios, capacitadores e

objetivos estratégicos relacionados (GODINHO FILHO, 2004).

i) Direcionadores da MA

As condições de mercado que determinam, possibilitam, requerem ou facilitam a

implantação de qualquer paradigma. Na Manufatura Ágil a principal força condicionante é a

mudança, conforme relatam Yusuf et al. (1999). Empresas com diferentes características e em

circunstâncias opostas, experimentam mudanças, que pode ser fatal para uma empresa, ou

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pode até representar uma oportunidade para outra. A MA auxilia a empresa a responder aos

mais variados tipos de mudanças e explorá-los.

ii) Princípios da MA

De acordo com Godinho Filho (2004); Gunasekaran (1998), os princípios da MA estão

resumidos em cinco princípios-chave:

• Necessidade de cooperação interna e externa para o aumento da competitividade;

• Estratégia baseada no valor, não apenas produtos, mas soluções, com intuito de

enriquecer o cliente;

• Capacidade da empresa se reconfigurar diante de oportunidades, buscando prosperar

com domínio das mudanças e incertezas;

• Incentivo ao impacto das pessoas e informações, utilizando sua cooperação;

• Redução dos ciclos de vida dos processos e utilização de empresas virtuais

temporárias.

iii) Capacitadores da MA

As estratégias, sistemas, tecnologias, metodologias e ferramentas que ajudam uma

empresa a tornar-se ágil, são denominados de capacitadores da MA. Esses capacitadores são

classificados conforme seu foco de atuação, divididos em quatro categorias: estratégias,

tecnologias, sistemas e pessoas. Essa classificação, exposta no Quadro 1, foi proposta por

Gunasekaran (1999). Quadro 1: Classificação dos capacitadores da Manufatura Ágil

Classificação Principal: Foco de

Atuação dos Capacitadores Capacitador

Estratégias

• Empresa virtual / manufatura virtual;

• Integração da cadeia de suprimentos;

• Gestão baseada em competências-chave;

• Engenharia Simultânea;

• Gestão baseada na incerteza e na mudança;

• Gestão baseada no conhecimento.

Tecnologia • Hardware — ferramentas e equipamentos;

• Tecnologia de Informação — computadores e software.

Sistemas • Sistemas de projeto;

• Sistemas de planejamento e controle;

• Integração de sistemas e gerenciamento de banco de dados.

Pessoas • Melhoria contínua;

• Comprometimento da alta gerência e empowerment;

• Pessoas multifuncionais, flexíveis e com conhecimento;

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• Trabalho em equipe e participação;

• Treinamento e educação contínua. Fonte: Adaptado de Gunasekaran (1999)

iv) Objetivos estratégicos da MA

Para Godinho Filho (2004) a Manufatura Ágil defende alguns objetivos de

desempenho da manufatura como prioridade. O objetivo ganhador de pedidos da MA, que

contribui diretamente para a realização de uma negociação, segundo o autor, é a agilidade. O

objetivo é complementado por outros objetivos específicos para desempenho da produção:

adaptabilidade (habilidade em lançar novos produtos que satisfaçam as necessidades dos

consumidores); ciberneticidade (utilização de tecnologia da informação); flexibilidade de

longo prazo; e flexibilidade de curto prazo. A velocidade, pontualidade, produtividade e

qualidade são designados como objetivos qualificadores dentro da MA, ou seja, a empresa

precisa estar acima de um nível estipulado para inicialmente ser considerada como possível

fornecedora.

2.2 Estudos em Agile Manufacturing

Manufatura ágil tem sido usada frequentemente para promover uma melhoria na

competitividade das empresas. Vázquez-Bustelo et al. (2007) estudam e analisam a

manufatura ágil na Espanha através de um modelo conceitual e relacionam práticas ágeis em

ambientes turbulentos, com desempenho do negócio em diferentes indústrias. O modelo é

testado em alguns fabricantes, e como resultados mostra que a manufatura ágil traz força

competitiva a fabricação, elevando o desempenho operacional e financeiro das organizações.

Bottani (2010) através de uma pesquisa detalhada em empresas médias e pequenas,

apresenta resultados referente ao perfil de empresas ágeis e os capacitadores e ferramentas

mais utilizados pelas empresas para atingir a agilidade. Foi desenvolvido um questionário

para explorar direcionadores, atributos e capacitadores ágeis nas empresas pesquisadas. Os

capacitadores que ganharam maior notoriedade foram: Sistemas auxiliados por computador,

partilha de informações com utilização da internet e sistemas ERP (Enterprise Resource

Planning); Utilização de engenharia simultânea com ferramentas QFD (Quality Function

Deployment) e FMEA (Failure Mode and Effect Analysis), relacionadas com ferramentas ICT

(Information and Communication Technology); desempenho e contribuição dos recursos

humanos, com pessoas polivalentes, flexíveis, ativas e ágeis.

O capacitador ligado às pessoas é um dos mais importantes para tornar e manter uma

empresa ágil. Gunasekaran (1999) destaca que o fator primordial do capacitador pessoas é a

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qualificação, experiência e adaptabilidade que elas podem possuir e desenvolver. Mas por

outro lado quando há certa resistência desses recursos humanos em serem dinâmicos e ativos,

é um indício da empresa não possuir ou perder uma componente que a torna ágil.

Bertolini et al. (2007) expõem um estudo de caso através de entrevistas e visitas a

algumas empresas calçadistas italianas. Os autores identificaram que, com o uso de

ferramentas ICT (Information and Communication Technology), BPR (Business Process

Reengineering) e diagrama de Gantt, houve uma redução significativa do Lead Time na

logística e processos de fabricação da indústria calçadista.

Carpanzano e Ballarino (2008) através de soluções de base e introdução de Tecnologia

da Informação (TI), com o uso de sistemas ERP (Enterprise Resource Planning), PDM

(Product Data Management), entre outros, integraram clientes e varejistas da indústria do

calçado em tempo real, conjugando conhecimento de patrimônio, com o intuito de responder a

demanda pelo consumo orientado a alta flexibilidade. No chão de fábrica as tecnologias de

supervisão e automação tornaram as linhas de produção altamente ágeis, reconfiguráveis e

balanceadas.

Com o intuito de explorar capacitadores chave para uma estratégia de manufatura ágil

no setor automotivo, especificamente motor e aplicações de usinagem, Elkins et al. (2003)

utilizaram gráfico aranha, diagrama de influência e árvore de decisão. Como resultado

concluíram que práticas ágeis ajudam no atingimento da resposta rápida e eficiente para a

introdução de um novo modelo de produto, e na atribuição de capacidade para atender

exigências inesperadas.

2.3 Quick Response Manufacturing (QRM)

A abordagem Quick Response Manufacturing (QRM) é abrangida pela Manufatura

Ágil, sendo inicialmente desenvolvida para as indústrias da moda, especificamente vestuário,

têxteis e calçado, traduzida como Manufatura de Resposta Rápida. Criada em 1998 por Rajan

Suri, a Quick Response Manufacturing segue alguns passos para sua realização e implantação,

iniciando pela coleta e análise de dados; diagnóstico das causas do longo lead time; proposta

de melhorias; e simulação dos resultados almejados (SURI, 1998).

A redução do lead time pode ser compreendida como o prazo em dias corridos, desde

o pedido feito pelo cliente até a entrega da primeira peça. Suri (1998) complementa que para

isso devem ser aprofundados alguns conceitos chave de aplicação, como: explorar a questão

do tempo, tanto interno quanto externo; optar por mudanças de estruturas organizacionais, tais

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como layout celular, gestão descentralizada e difusão de mudanças na mentalidade dos

diretores; simulações de sistemas; e reduzir o lead time total da empresa, ou seja, responder

rapidamente ao cliente.

O QRM visa a redução do lead time em busca de melhorias para as variáveis que

ocorrem no chão de fábrica. Saes e Godinho Filho (2011) defendem que o QRM sugere a

implementação de algumas ferramentas, tais como SMED (Troca Rápida de Ferramentas),

TPM (Manutenção Produtiva Total), Seis Sigma, Kanban e Padronização de trabalho, já

utilizadas na gestão da produção através de outros paradigmas. Os autores ainda acrescentam

que para obter resultados positivos quanto à redução do lead time, tais técnicas e ferramentas

devem ser submetidas a simulações.

Através de um estudo de caso, Saes e Godinho Filho (2011) aplicaram tais ferramentas

e conceitos em uma indústria de materiais de escrita. A abordagem QRM incorporou

benefícios à empresa, usando práticas atuais da gestão da produção, e como resultados obtidos

houve uma redução de 68 % do nível médio de estoque em processo e de 74 % do lead time

médio.

Godinho Filho et al. (2013) proporam a aplicação da abordagem QRM em uma

empresa calçadista necessitando reduzir o lead time, como estratégia para disponibilizar

novidades ao cliente em menor tempo. Foram utilizadas ferramentas como MCT

(Manufacturing Critical-path Time), diagrama de Ishikawa, Mapa do processo, Brainstorming

e FTMS (Focused Target Market Segment). Seguindo os passos de Suri (1998), Godinho

Filho et al. (2013) aplicaram a proposta não necessitando de investimentos, e conseguiram

reduzir 57,81 % o lead time total dos processos de fabricação do calçado.

Em alguns países a Quick Response Manufacturing vem sendo estimulada por

governos. Perry et al. (1999) descrevem processos que o governo australiano vem

desenvolvendo na indústria têxtil, vestuário e calçados, chamado QR Program. O programa

seguiu quatro etapas: lista de necessidades dos participantes; discussão dessas listas e

desenvolvidos planos de ação para as empresas; inclusão de um consultor selecionado pela

empresa para implantar as práticas QR; seguir o planejamento estratégico e tático. Através de

desenvolvimento de implementação de tecnologias EDI (Eletronic Data Interchange), o QR

Program teve como resultados o aumento da receita de vendas das empresas, cumprimento de

datas de entrega, negociações realizadas imediatamente com o cliente, queda no nível de

rejeição de produtos, e aumento da satisfação do cliente.

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Incorporada à QRM, pode-se entender a Manufatura Responsiva (MR), também citada

por alguns autores como Competição Baseada no Tempo (TBC). Fernandes et al. (2012)

propõem uma sistemática para aplicação e implantação da MR em uma indústria de calçados

através de uma pesquisa ação. Usando as ferramentas AV (Análise de Valor) para produtos

em processo, EV (Engenharia de Valor) para produtos em projeto, Layout celular (em grupo)

e funcional, MPS (Programa Mestre de Produção), entre outros, houve a eliminação de

processos desnecessários, padronização de materiais, flexibilidade de processos, melhoria na

qualidade com redução do retrabalho e pedidos atendidos no prazo.

As ferramentas e conceitos utilizados no QRM também podem ser estendidos ao Agile

Manufacturing. Atualmente as empresas buscam alternativas para serem competitivas em um

mercado de rápida mudança, e nada mais viável do que manter uma resposta rápida para esse

mercado ou cliente, podendo haver a integração de diversas ferramentas e abordagens.

2.4 Lean Agile

Algumas empresas vem seguindo o paradigma do pensamento enxuto (Lean) para

atingir uma melhor eficiência dos processos em seu ramo de negócio. Estudos recentes

incorporam o paradigma ágil como uma alternativa e possível melhora na manufatura enxuta.

Por isso Mason-Jones et al. (2000) defendem a existência do paradigma Leagile. Se os

argumentos forem utilizados de forma isolada, o poder de cada paradigma pode ser perdido,

isso por que a Manufatura Ágil é utilizada em ambientes com demanda volátil, e a

Manufatura Enxuta é empregada aonde a demanda é estável. Em alguns casos é prudente o

uso de um paradigma em cada lado do ponto de desacoplamento do fluxo de materiais como

auxílio na estratégia da cadeia de suprimentos.

Lean pode ser um elemento para a Agile em algumas circunstâncias, porém não é uma

condição suficiente para a empresa atender necessidades específicas dos clientes com mais

rapidez (AGARWAL et al., 2006). A abordagem Lean é considerada de melhor desempenho

quando existe grande volume, demanda previsível e baixa variedade, mas por outro lado

quando há uma alta variedade de produtos, necessidades imprevisíveis dos clientes e uma

cadeia de suprimentos volátil, um melhor desempenho é obtido com práticas ágeis (NAYLOR

et al., 1999).

O objetivo essencial de uma cadeia de suprimentos é entregar o produto certo, na

quantidade exata, nas condições acordadas, no lugar combinado, dentro do prazo, por um

custo aceitável. Apesar disso, os requisitos do cliente mudam seguidamente, fazendo com que

a cadeia de suprimentos seja adaptável às mudanças futuras e inesperadas, para responder

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rapidamente e adequadamente essas exigências e mudanças dentro do mercado, sendo

primordial o uso de práticas ágeis para esse contexto (CARVALHO; CRUZ-MACHADO,

2011).

Naylor et al. (1999) demonstram com estudos de caso em algumas empresas, as

práticas enxuta e ágil. Com o uso de ferramentas como o sistema Kanban, EDI (Electronic

Data Interchange) e JIT (Just in Time), os autores identificam a combinação dos dois

paradigmas em uma cadeia de suprimentos, os quais são complementares para a estratégia.

Através de um roteiro para implantação de Lean e Agile, utilizando estágios de

reengenharia dos processos da cadeia de suprimentos, além do sistema Kanban, EDI e JIT,

Mason-Jones et al. (2000) ilustram o Leagile como referência no processo de

desenvolvimento de produto (PDP) em uma cadeia de suprimentos de produtos eletrônicos.

Como resultados, houve a redução de prazos de entrega e custos, melhorando os níveis de

serviço ao cliente.

O que diferencia o foco de mercado dos paradigmas ágil e enxuto são os chamados

requisitos ganhadores de pedidos e requisitos qualificadores de mercado. Mason-Jones et al.

(2000) consideram que quando o custo é um ganhador de pedidos, a qualidade, o prazo de

entrega e o nível de serviço são qualificadores de mercado, sendo o paradigma enxuto o mais

apropriado para manter um bom desempenho da cadeia de suprimentos. Porém, quando o

nível de serviço é o requisito ganhador de pedidos, o custo, a qualidade e o prazo de entrega

são os qualificadores de mercado, então a agilidade é a melhor alternativa. Esta afirmação é

sintetizada no Quadro 2. Quadro 2: Qualificadores de mercado e ganhadores de pedido Agile x Lean

Qualificadores de mercado Ganhadores de pedido

Cadeia de suprimentos Agile

Qualidade

Custo

Lead time

Nível de serviço

Cadeia de suprimentos Lean

Qualidade

Lead time

Nível de serviço

Custo

Fonte: Adaptado de Mason-Jones et al. (2000)

Empresas estão em constante busca por melhorias de desempenho, portanto muitas

optam por implantar princípios Lean e Agile, para sua gestão operacional. Narasimhan et al.

(2006) diferenciam esses dois princípios a partir de paradigmas de produção e capacidades de

desempenho. Através de um estudo empírico, no qual determinaram a ocorrência de Lean e

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Agile em indicadores de regularidade, os autores chegaram à conclusão de que para uma

implantação de Agile Manufacturing, precisa-se ter uma integração com Lean Manufacturing,

porém a implantação Lean não necessita de práticas ágeis.

Uma interpretação dos paradigmas Lean e Agile foi feita por Stratton e Warburton

(2003) através de um estudo de caso em uma indústria de vestuários ilustrando a aplicação e

combinação de ferramentas TOC (Teoria das Restrições), tais como ARA e ARF, e princípios

TRIZ (Teoria da inventiva solução de problemas). Como conclusão obtiveram uma redução

na variabilidade, permitindo um fluxo constante, e redução de estoque de proteção,

ocasionando em um aumento da produção em 80 %, poucos anos após a implantação.

O paradigma Agile também é comparado na literatura com a abordagem Resilient

(resiliência). Carvalho et al. (2012) relatam que essas duas abordagens possuem o mesmo

objetivo global, que é elevar o desempenho da cadeia de suprimentos e aumentar a

competitividade através da melhoria de produto, qualidade, tempo de mercado e serviço ao

cliente. Contudo há uma diferença entre as abordagens, a cadeia de suprimentos ágil persegue

o atendimento de resposta mais rápida as mudanças de mercado e exigências dos clientes, de

modo que a abordagem Resilient é designada a lidar com distúrbios, com o intuito de

sustentar a competitividade da cadeia de suprimentos.

O termo Resilient (resiliência) é a capacidade de uma cadeia de suprimentos em lidar

com alterações inesperadas no sistema. Carvalho e Cruz-Machado (2011) afirmam que a

resiliência se preocupa com a capacidade do sistema em retornar ao seu estado inicial, para

um novo (mudança), ou para um mais agradável, após passar por turbulências, visando evitar

a ocorrência de modos de falha. Na gestão da cadeia de suprimentos a resiliência tem por

objetivo evitar que o sistema se transfira para estados indesejáveis, onde os modos de falha

ocorrem com frequência.

Também é encontrado na literatura a comparação e integração dos paradigmas Lean,

Agile, Resilient e Green (sustentáveis) na cadeia de suprimentos (LARG-SCM). Para Carvalho

e Cruz-Machado (2011) devem ser entendidas as compensações entre paradigmas enxuto,

ágil, resiliência e verdes (sustentáveis) para ajudar empresas e cadeias de suprimentos a se

tornarem mais eficientes, ágeis e sustentáveis. Para isso é preciso desenvolver uma profunda

compreensão das relações entre os paradigmas LARG, explorando e pesquisando a

contribuição deles para uma competitividade sustentável do sistema de produção na cadeia de

suprimentos. Os autores utilizaram diagramas causais para relacionar as principais práticas e

14

atributos de cada paradigma na gestão da cadeia de suprimentos, e então desenvolveram um

modelo conceitual focado na integração dos quatro paradigmas.

Para o alcance dos objetivos deste trabalho serão utilizadas práticas ligadas a

manufatura enxuta para a obtenção da agilidade da empresa estudada. Lembrando o que

Narasimhan et al. (2006) afirmam, que para a existência de uma manufatura ágil há a

necessidade da inclusão de práticas enxutas.

2.5 Comparativo e síntese de propostas para a pesquisa

Para um melhor entendimento das pesquisas expostas anteriormente, foi elaborado um

quadro sintetizando os principais elementos encontrados na revisão teórica. Esses elementos

podem ser caracterizados como ferramentas e capacitadores, técnicas ou práticas importantes,

utilizados para implantar as metodologias Agile, Lean Agile ou QRM em diversos segmentos

de atividade, na busca pela agilidade (Quadro 3). Quadro 3: Elementos importantes para implantação das metodologias

Autor (ano) Agile Autor (ano) Lean Agile Autor (ano) QRM

Carpanzano e Ballarino

(2008); Bottani (2010)

Tecnologia da Informação (TI) Mason-Jones

et al. (2000); Agarwal et al., (2006); Naylor

et al. (1999)

Práticas Lean Manufacturing; Práticas Agile Manufacturing

Suri (1998); Fernandes et al.

(2012)

Layout celular ou funcional

ERP (Enterprise Resource Planning)

Suri (1998); Saes e Godinho Filho

(2011)

Simulação de sistemas

Bottani (2010)

Internet Mason-Jones et al. (2000)

Reegenharia dos processos Perry et al. (1999) EDI (Electronic

Data Interchange) Engenharia simultânea

Naylor et al. (1999);

Mason-Jones et al. (2000)

Kanban

Saes e Godinho Filho (2011)

Kanban

QFD (Quality Function

Deployment)

Just in time (JIT)

TPM (Manutenção Produtiva Total)

FMEA (Failure Mode and Effect

Analysis)

EDI (Electronic

Data Interchange)

Seis Sigma

Bottani (2010);

Bertolini et al. (2007)

ICT (Information and Communication

Technology)

Stratton e Warburton

(2003)

TOC (Teoria das Restrições)

SMED (Troca rápida de ferramentas)

Bertolini et al. (2007)

BPR (Business Process

Reengineering)

Árvore da Realidade

Atual (ARA)

Padronização de trabalho

Diagrama de Gantt

Árvore da Realidade

Futura (ARF)

Godinho Filho et al. (2013)

MCT (Manufacturing

Critical-path Time)

15

Gunasekaran (1999)

Recursos humanos

polivalentes e multi-habilitados

TRIZ (Teoria da inventiva solução de problemas)

Diagrama de Ishikawa; e

Brainstorming

Elkins et al. (2003)

Gráfico aranha Carvalho e

Cruz-Machado (2011)

Green (práticas sustentáveis) Mapa do processo

Diagrama de influência

Diagrama causal

FTMS (Focused Target Market

Segment)

Árvore de decisão

Carvalho et al. (2012);

Carvalho e Cruz-Machado

(2011)

Resilient (resiliência)

Fernandes et al. (2012)

AV/EV (Análise de Valor / Engenharia

de Valor)

Carpanzano e Ballarino

(2008)

PDM (Product Data

Management)

MPS (Plano Mestre de Produção)

Fonte: Autor

Com necessidade de uma amplitude maior na busca por soluções dos problemas da

empresa em estudo, foram analisadas propostas de pesquisas futuras dos artigos citados na

revisão teórica. Após esta análise de dados obteve-se o quadro 4, o qual traz sugestões de

alguns autores, que foram aperfeiçoadas para o presente trabalho como oportunidades de

melhorias.

Quadro 4: Propostas de pesquisa

Autor (Ano) Sugestões de pesquisa Oportunidades de melhoria e

desenvolvimento da abordagem Agile

Dubey e Gunasekaran (2014)

O impacto das práticas AM no desempenho organizacional. Conceito de produção ágil, sendo estendido para o desenvolvimento empresarial sustentável.

Utilizar práticas ágeis no contexto geral da empresa.

Saes e Godinho Filho (2011)

Identificação de métodos para redução de tempos que não agregam valor.

Troca rápida de Layout, transformar setup interno em externo.

Elkins et al. (2004)

Construir uma empresa mais robusta e Resilient e determinar ferramentas para atender volumes de demanda flutuantes e abordar novos futuras mudanças de modelo.

Desenvolver capacidade para alterações inesperadas do sistema.

Carpanzano e Ballarino (2008)

Desenvolvimento de normas para produtos e processos, não existentes atualmente, para uma estruturação do conhecimento do setor.

Padronização de processos.

Bertolini et al. (2007)

Avaliar se a redução do lead time poderia ser alcançada ao otimizar o fluxo de modelos e variantes durante todo o processo de produção, especialmente removendo o tempo de espera no âmbito de atividades.

Reduzir estoques intermediários

Naylor et al. (1999)

O impacto da forma de diferenciação de produtos da manufatura ágil para a enxuta, através de níveis de serviço e redução de custos, respectivamente.

Avaliação da agilidade frente ao paradigma enxuto.

Gunasekaran Desenvolvimento de um sistema de gestão da Inserir gestão da qualidade na

16

(1998) qualidade, para garantia de qualidade em um ambiente ágil. A maneira de educação e treinamento de operadores na manufatura ágil deve ser precisamente definida. Precisam ser desenvolvidos adequados modelos matemáticos para a determinação do número de trabalhadores necessários em um ambiente ágil.

cultura da empresa, para que todos os funcionários conheçam a real abrangência de problemas de qualidade. Modelo matemático para determinar número de trabalhadores, de acordo com a necessidade do cliente, para uma empresa ágil.

Backhouse e Burns (1999)

Combinar conceitos de modelos viáveis e sistemas Green para garantir uma reconfiguração e viabilidade da empresa virtual, através de medidas de desempenho relevantes.

Reestruturação e competitividade da cadeia de valor com medidas de desempenho, para dar mobilidade produtiva frente a frequente mudança de modelos.

Yusuf et al. (1999)

Necessidade dos funcionários trabalharem de forma transparente organização virtual, sem barreiras funcionais. Cada funcionário deve visualizar e entender seu trabalho ao todo, pensando no próximo processo.

Mudança na atitude e abordagem do trabalho, fazendo com que cada operador tenha papel fundamental na realização do trabalho ao todo. Padronização de posto de trabalho.

Fonte: Autor

2.2 Teoria das Restrições (TOC)

Mesmo o problema possuindo uma definição clara e objetiva, podem haver inúmeras

soluções isoladas. Para Lacerda et al. (2011) o que geralmente caracteriza os problemas é a

conciliação das partes envolvidas perante a situação a ser resolvida, todavia possuem

caminhos distintos para a solução. Na prática, uma situação como essa, pode levar a

desempenhos não colaborativos para afastamento das dificuldades.

A Teoria das Restrições (TOC) surgiu na década de 1970, após o físico israelense

Eliyahu M. Goldratt se envolver com problemas relacionados a logística de produção. Então

ele criou um método de administração inovador, o qual foca na identificação de forças

restritivas e propulsoras em um sistema (NOREEN et al., 1996).

Normalmente a TOC é aplicada no setor produtivo das empresas, através de gerentes

de produção, buscando resolver problemas físicos. Noreen et al. (1996) relatam que se a TOC

for introduzida corretamente leva a um aumento do lucro e produtividade da empresa, mas

com o tempo esses problemas físicos passam a ser problemas políticos.

Para solucionar esses problemas políticos, a TOC traz um método para facilitar a

liberação, focalização e análise da visão, um conjunto de ferramentas lógicas para simplificar

a verbalização do bom senso (GOLDRATT, 2004). Esse método é denominado Processo de

Pensamento da TOC e baseia-se logicamente em relações de efeito-causa-efeito na análise

crítica da realidade, para ajudar a resolução de problemas, buscando a compreensão da razão

para as coisas acontecerem, e não como acontecem (ALVAREZ, 1996).

17

O Processo de Pensamento, ou Processo de Raciocínio, inserido no gerenciamento das

restrições de um sistema, exige ferramentas de apoio aos gestores para a tomada de decisões,

em um ambiente competitivo (VIEIRA, 2010). As ferramentas do Processo de Pensamento

são seis: Árvore da Realidade Atual (ARA); Dispersão de Nuvens; Árvore da Realidade

Futura (ARF); Árvore de Pré-requisitos; Árvore de Transição; e Ramo Negativo. Em

problemas com maior amplitude é necessário usar essas ferramentas em conjunto, podendo

também serem usadas separadamente, buscando os problemas centrais para o encontro de

soluções, e visam responder três perguntas básicas: “o que mudar?”; “para o que mudar?”; e

“como mudar?”.

Antunes Jr. (1998) ressalta o Processo de Pensamento como um novo sistema, o qual

utiliza princípios da metodologia científica para identificação de problemas que limitam uma

organização quanto ao seu desempenho. No presente trabalho são utilizadas duas árvores: a

Árvore da Realidade Atual (ARA) que procura evidenciar as origens, causas e efeitos de

problemas reais com intuito de incrementar produtividade e ganho da empresa, e visa

responder a questão “o que mudar?”; e a Árvore da Realidade Futura (ARF) que tem por

objetivo apresentar aonde se deseja chegar com realização de ações propostas na análise da

ARA, e busca a resposta para a questão “para o que mudar?”.

A TOC utiliza dois tipos de recursos que restringem o fluxo de materiais em sistemas

de produção que são os gargalos e os CCRs (Recursos com Capacidade Restrita). Antunes et

al. (2008) definem o gargalo de uma organização sendo aquele recurso cuja capacidade de

produção é menor do que a demanda de mercado em certo período de tempo. Para eliminar

um gargalo pode-se aumentar a capacidade do recurso ou até reduzir a demanda de produtos

que passam por esse recurso. Pacheco et al. (2014) sugerem que um gargalo seja elevado a

ponto de gerar folga de capacidade nos recursos não gargalos, fazendo com que o gargalo

permaneça no mesmo nível em um sistema, tornando o gerenciamento da manufatura

simplificado.

Os CCRs são recursos com capacidade superior à demanda, porém em função de

anormalidades decorrentes no sistema produtivo, apresentam restrições de capacidade. As

variabilidades que podem causar um CCR são problemas com sequenciamento da produção,

problemas de manutenção, tempos de setup (troca de ferramentas) desconhecidos pela

programação, falta de matéria prima, problemas com retrabalho, entre outros (ANTUNES et

al., 2008).

18

Além dos Recursos sem Capacidade (gargalos) e Recursos com Capacidade Restrita

(CCRs), também existem os Recursos com Capacidade, aonde a capacidade produtiva do

recurso é superior a demanda dos produtos, diferente dos CCRs que perdem capacidade com

qualquer problema imprevisto. Para uma melhor utilização das restrições nos sistemas

produtivos, Antunes et al. (2008) relatam dois tipos de ações gerais utilizadas para gerenciar

os gargalos:

i) Aumento do tempo total: comprar capacidade adicional como máquinas, contratações,

horas extras, adição de turnos; utilização de equipamentos alternativos, existentes na fábrica.

ii) Aumento do índice de rendimento operacional global (IROG): eliminar perdas de

tempo no gargalo, como horário para almoço, trocas de turno, folgas devido a fadigas

ergonômicas; redução do tempo de setup; efetividade na manutenção de máquinas gargalo.

2.2.1 Árvore da Realidade Atual (ARA)

Para Cox III e Spencer (2002), gerentes tem grandes e delicadas funções, entre elas

evidenciar o problema que deve ser focado para aumentar a produtividade da empresa. Muitas

empresas com processos de produção confusos tem tendência em colocar a gerência em

circunstâncias que necessitam de solução de problemas rapidamente, o que faz com os

gerentes não tenham tempo em identificar a causa dos problemas atacados. Na maioria das

vezes esses problemas são provenientes de problemas profundos e sedimentados na estrutura

e cultura da empresa. Para revelar esses problemas enraizados a TOC evidencia a ferramenta

ARA.

Para a construção da ARA, devem ser seguidos alguns passos, como descrito na

abordagem abaixo com uma proposição integrada de Noreen et al. (1996); Cox III e Spencer

(2002).

Passo 1: Liste de 5 a 10 Efeitos Indesejáveis (EIs) que traduzam a realidade da situação e

submeta cada um a avaliação de existência.

Passo 2: Conecte com setas EIs associados por uma relação de causa e efeito.

Passo 3: Conecte todos os EIs nesta relação causal com a montagem de um mapa completo,

em que as causas primárias se localizam na base, sendo desdobradas até o efeito final no topo,

a partir da leitura “se causa, então efeito”.

19

Passo 4: Leia a ARA de baixo para cima, analisando cada entidade e sua relação ao longo do

percurso, realizando as correções necessárias, utilizando a seguinte afirmação: “efeito porque

causa”.

Passo 5: Pergunte a si mesmo se a ARA como um todo reflete a sua intuição sobre a área,

caso contrário verifique cada relação e inclua causas adicionais, com o uso da lógica se –

então.

Passo 6: Não hesite em expandir a ARA para conectar novos EIs existentes e que não haviam

sido incluídos na lista original de EIs. Dê este passo somente após todos EIs originais estarem

conectados.

Passo 7: Reexamine os EIs e identifique as entidades na ARA que sejam negativas, mesmo a

entidade não constando na lista original de EIs.

Passo 8: Elimine da ARA as entidades que não são necessárias para conectar todos os EIs.

Passo 9: Apresente a ARA para alguém lhe ajudar a aflorar e desafiar os pressupostos

encontrados nela.

Passo 10: Examine todos os pontos de entrada da ARA e decida qual atacar, porém aquele

que contribua para a existência da maioria dos EIs. A numeração dos EIs facilita a localização

dos mesmos e indica que faz parte da lista original.

Com a aplicação correta desses passos é possível a identificação da causa raiz dos

problemas. A ARA utiliza de simbologias, Noreen et al. (1996) relatam que as flechas

indicam suficiência, isto é, determinado EI só ocorre devido a ocorrência de outro. Uma ARA

precisa e concreta necessita de consistências em sua estrutura, o que para validação e

certificação do entendimento da mesma são apresentados na Figura 1.

Figura 1: Representação da relação lógica entre entes da ARA

20

Fonte: Adaptado de Sellitto (2005)

A elaboração da ARA é simples, porém requer muito tempo e raciocínio avançado

sobre os pensamentos implícitos, sendo de grande importância ao Processo de Pensamento da

TOC. Cogan (2007) enfatiza que esse diagrama de ligações de causa e efeito, interliga os

sintomas do sistema, permitindo encontrar a restrição, a causa raiz, do que deve ser mudado.

Considerada de fácil implantação em qualquer segmento, empresas estão acostumadas

com métodos tradicionais, que geralmente informam dados vagos, dificultando identificar a

real restrição da organização. Wanderley e Cogan (2012) informam que a ARA descreve a

situação do sistema no momento, e com a descoberta do problema central, concentra esforços

na direção da causa e não dos efeitos.

Com a ARA construída, é possível identificar a causa raiz de problemas complexos ou

não, deixando explícita a restrição em uma organização. Após a ARA aplicada, precisa-se

saber como agir na causa raiz, para eliminação dos problemas em um sistema.

2.2.2 Árvore da Realidade Futura (ARF)

A ARF é formulada a partir dos Efeitos Indesejáveis (EIs) definidos anteriormente na

ARA. Nesta etapa busca-se uma solução para a eliminação de determinados problemas,

aumentando o desempenho da empresa de forma integral (ALVAREZ, 1996).

21

Na ARF são ilustrados os conflitos que os gerentes enfrentam na implantação de um

processo de melhoria contínua em uma empresa. (COX III e SPENCER, 2002). Para Cogan

(2007), a ARF é uma descrição de causa-efeito futura, partindo de mudanças feitas no

presente. Essas mudanças são propostas a partir de injeções, criadas para a resolução da causa

raiz, trazendo então Efeitos Desejáveis (EDs), que ligados logicamente formam essas relações

de causa e efeito futura, ligados de baixo para cima.

Essas injeções existem basicamente a partir de dois elementos fundamentais, são eles

conhecimento da situação real e criatividade. O conhecimento da realidade estudada é

importante na medida que assim a validade e veracidade dos pressupostos pode ser

questionada adequadamente. Em outro sentido, a injeção é considerada um ato criativo, sendo

fundamental o espírito crítico dos participantes (ALVAREZ, 1996).

Tendo conhecimento das injeções e da ARA, é possível construir a ARF, inserindo as

injeções na base, e projetando consequências na realidade atual, ou seja, substituindo EIs por

EDs. Uma das ressalvas de legitimidade aplicadas na ARF são os efeitos previsíveis, os quais

apontam efeitos secundários das injeções, prevenindo a ocorrência de novos efeitos

indesejáveis (SELLITTO, 2005).

Todavia, Noreen et al. (1996) afirmam que a ARF pode não eliminar todos os EIs,

pois na construção desta árvore lógica é possibilitada apenas a inserção de EDs, aparentando

que a ferramenta é milagrosa e resolverá todos os problemas. Aqueles Efeitos Indesejáveis

sedimentados na estrutura de uma empresa, normalmente externos a ela, não podem ser

eliminados e são chamados de ramos negativos, uma antecipação daquilo que pode dar errado.

Cox III e Spencer (2002) argumentam que esses ramos negativos testam a possibilidade de

ocorrência, dando consistência e senso de realidade a ARF, e os efeitos negativos na tomada

de decisão em circunstâncias exclusivas.

Portanto a ARF propõe um estado futuro ideal para a organização, trazendo uma visão

do que seria a empresa se fossem adotadas as medidas propostas através das injeções.

Implantada a ARF devem ser seguidas as injeções, e coloca-las em prática, para que possam

ser eliminadas as causas-raiz encontradas na ARA.

3. Método

3.1 Procedimentos metodológicos

A metodologia utilizada para desenvolvimento da pesquisa é considerada aplicada em

relação à natureza, pelo fato de expor práticas ligadas a Agile Manufacturing e utilizá-las no

22

ambiente de uma empresa terceirizada do ramo calçadista, a fim de investigar, comprovar ou

rejeitar hipóteses propostas através de modelo teórico. Jung (2004) afirma que uma pesquisa

de natureza aplicada gera conhecimentos resultantes de um processo de pesquisa, utilizando

esses conhecimentos para uma aplicação imediata, buscando a resolução de problemas

específicos.

Em relação aos objetivos a pesquisa é considerada exploratória, pois estuda práticas de

gestão da manufatura Agile Manufacturing para buscar soluções para problemas estratégicos

inerentes ao setor produtivo de uma empresa do ramo calçadista. A finalidade de uma

pesquisa exploratória é a obtenção de teorias e práticas para substituir as existentes, visando

obter alternativas, e experimentação para a coleta de dados, gerando conhecimentos e

inovações para desenvolvimento de novos modelos (JUNG, 2004).

Quanto à abordagem a pesquisa é considerada de caráter qualitativo e quantitativo. Por

utilizar números que comprovam a situação da empresa, Prodanov e Freitas (2013)

consideram a pesquisa uma abordagem quantitativa, pois busca a relação causa-efeito entre

fenômenos, e descreve com facilidade dado problema, propondo utilização de lógica, dados

numéricos e estatísticos para solução de problemas.

Também observa-se o uso de dados descritivos, coletados com gestores da empresa.

Em uma abordagem qualitativa o ambiente natural é considerado como fonte direta de dados,

sendo o pesquisador essencial ao processo, com aptidão para analisar os dados de forma

indutiva. Os dados coletados em pesquisas qualitativas são descritivos, representando o maior

número possível de componentes presentes na realidade estudada (PRODANOV; FREITAS,

2013).

Para Prodanov e Freitas (2013) a forma pela qual pretendemos analisar um fenômeno

ou problema determina a metodologia qualitativa ou quantitativa. É importante ressaltar que a

abordagem utilizada na pesquisa depende do interesse do pesquisador e do procedimento que

ele irá desenvolver, lembrando que as duas abordagens estão relacionadas e interligam-se.

Quanto aos procedimentos é considerada uma Pesquisa Bibliográfica. Jung (2004)

argumenta que uma Pesquisa Bibliográfica busca conhecer diversas contribuições científicas

de determinado assunto ou experimento que foram realizadas e publicadas. Prodanov e Freitas

(2013) destacam essas contribuições científicas como todo material publicado a partir de

livros, revistas, jornais, periódicos, artigos científicos, monografias, dissertações, teses, entre

outros, colocando o pesquisador em contato direto com todo o material necessário para

realização de sua pesquisa.

23

Também quanto aos procedimentos foi utilizado o método Design Science Research, o

qual auxiliou na elaboração do modelo. Essa metodologia visa o desenvolvimento de artefatos

para alcançar soluções satisfatórias em problemas práticos. A Design Science Research é

indicada para estudos em que o objetivo é projetar ou desenvolver artefatos, assim como as

soluções de problemas, seja em ambiente acadêmico, seja em ambiente empresarial

(DRESCH, 2013).

Foram utilizados questionários como técnica de coleta de dados. Gil (2009) relata que

a construção de um questionário é a transmissão dos objetivos da pesquisa em questões

específicas, sendo as respostas dessas questões utilizadas para descrever características da

amostragem. No seguinte estudo são utilizados dois questionários para coleta de dados,

contribuindo para a elaboração do modelo. O primeiro questionário identifica os principais

elementos Agile necessários à empresa. O segundo questionário mensura o nível atual de

agilidade da empresa.

Bardin (2011) relata análise de conteúdo como técnicas de análise das informações,

que através de procedimentos organizados e determinados, descrevem o conteúdo de textos ou

mensagens, permitindo a inferência de conhecimentos por parte do pesquisador, originando

conclusões e implicações para uma pesquisa.

Atualmente a empresa conta com aproximadamente cinquenta colaboradores em seu

quadro funcional. A empresa possui dois clientes de grande porte, empresas contratantes, e

produz um montante de cerca de 1200 pares de cabedais de calçado por dia, o que varia a cada

estação do ano, de acordo com a sazonalidade do mercado e com a complexidade das

coleções.

A partir do cenário apresentado, algumas análises foram feitas com dados registrados

pela empresa, com o intuito de transparecer a situação da mesma e mostrar as dificuldades

encontradas neste contexto. A Figura 2 apresenta o gráfico com a variação histórica da

lucratividade nos últimos cinco anos.

24

Figura 2: Variação histórica da Lucratividade ao longo do tempo.

Fonte: Adaptado da empresa avaliada

Conforme exposto acima, a lucratividade vem caindo gradativamente a cada ano. A

razão disso, segundo gestores da empresa, é o aumento do valor gasto com pessoal, que a cada

ano aumenta conforme a inflação. Mas para os gestores isso não seria empecilho se as

empresas contratantes elevassem o valor pago ao produto final conforme a própria inflação.

Esse valor que a contratante paga é baseado em tempos de produção estimados de manufatura,

multiplicado por um valor de custo por minuto, que varia de uma contratante para outra. Esse

custo minuto sofre alterações anuais abaixo da inflação. Assim, o baixo valor agregado ao

produto final é uma das causas responsáveis pela baixa lucratividade, o que leva a empresa a

buscar recursos ou medidas para amenizar esta queda.

Entretanto, esta não é a única razão para a redução da lucratividade. Quando a empresa

contratante não mantém um abastecimento de ordens de produção regular e em meio a isso

aumenta a diversidade de modelos para manufatura, a terceirizada perde produtividade, pois

fica subordinada a essa situação imposta pelo mercado. Logo, essa condição gera retrabalho,

pessoas ficam ociosas, resultando em baixa eficiência no setor e em atrasos de entrega.

Portanto o cenário apresentado é muito complexo, havendo variáveis interferentes,

tanto internas, quanto externas. A empresa em estudo busca uma alternativa para lidar com

essa instabilidade que acarreta em inúmeros problemas no seu ambiente, fazendo com que a

lucratividade mantenha esse declínio constante.

21,62%

7,49% 4,03% 2,94% 2,68%

0,00%

10,00%

20,00%

30,00%

2011 2012 2013 2014 2015

Lucratividade

Lucratividade

25

3.2 Método de trabalho

O método de trabalho proposto tem por finalidade encontrar as variáveis que

interferem na formação do problema e na busca da solução do mesmo. Na figura 3 está

apresentada a metodologia seguida neste projeto, baseada na Design Science Research.

Figura 3: Método de trabalho

Fonte: Adaptado de Dresch (2013)

4. Resultados

Nesta seção serão descritos detalhadamente os resultados, assim como a sequência das

etapas da metodologia Design Science Research para condução da pesquisa.

4.1 Identificação do Problema: ARA e ARF

Cox III e Spencer (2002) relatam que com a ARA construída são fornecidos

instrumentos para: i) identificação de impacto de políticas, processos e ações na empresa; ii)

comunicação clara e sucinta da causa dessas políticas, processos e ações; iii) identificação do

26

problema central de uma situação; iv) permissão para criação de um clima favorável de

relação frente aos problemas, colocando todo o sistema para atacar o problema.

Para a construção da ARA, foram seguidos os passos sugeridos por Noreen et al.

(1996); Cox III e Spencer (2002), através de uma proposição integrada das etapas descritas

pelos autores.

A análise iniciou-se com a identificação das causas negativas em evidência no sistema,

sendo tais causas denominadas Efeitos Indesejáveis (EIs) (ALVAREZ, 1996). A constatação

dos Efeitos Indesejáveis foi realizada em uma reunião de uma hora de duração com gestores

da empresa. Participaram da reunião e da realização do método o diretor da empresa, o

gerente geral de produção e um moderador. Com a utilização da dinâmica de brainstorming

obteve-se uma lista de EIs presentes na empresa (Quadro 5).

Quadro 5: Efeitos Indesejáveis (EIs)

Lista Inicial Efeitos Indesejáveis

EI-01. Retrabalho

EI-02. Falta de Matéria-prima

EI-03. Diversidade de modelos (produtos)

EI-04. Falta de motivação

EI-05. Líder desatento ou sem interesse

EI-06. Operador desorientado ou sem interesse

EI-07. Operação complexa

EI-08. Baixa Lucratividade

EI-09. Baixa Eficiência Produtiva

EI-10. Horas Extras

EI-11. Descumprimento de meta

EI-12. Baixo valor agregado ao produto final

EI-13. Troca constante de Layout da linha de

produção

EI-14. Movimentação desnecessária

EI-15. Falta de comunicação

EI-16. Alta exigência de qualidade

EI-17. Alto índice de faltas

EI-18. Posto de trabalho não padronizado

EI-19. Entrega sem pontualidade

EI-20. Desorganização do setor produtivo

EI-21. Falta de agilidade nas trocas de Layout

EI-22. Pouco abastecimento (ordem de produção)

por parte da empresa contratante

Fonte: empresa avaliada, adaptado pelo autor

Os EIs foram ligados esquematicamente, conforme os passos listados por Noreen et al.

(1996); Cox III e Spencer (2002), para então construir a ARA. Em uma primeira montagem

da ARA observou-se insuficiência de causa, sendo então necessária a realização de uma nova

ARA. As causas raízes insuficientes listadas foram: “Falta de comunicação” e

“Desorganização da produção”, e por serem problemas muito amplos, optou-se por

caracterizá-los para que fossem melhor aprofundados, gerando novos EIs.

A constituição da nova ARA precisava ser bem sedimentada para uma extração

coerente da causa raiz. Para isso aconteceram três reuniões com os gestores participantes, com

27

duração média de quinze minutos, e em datas distintas, para identificar características das

causas raízes da primeira ARA. Essas características foram acrescentadas como novos EIs,

eliminando as causas raízes insuficientes.

Quadro 6: EIs complementares

Características dos EIs eliminados

EI-15. Falta de comunicação EI-20. Desorganização do setor produtivo

Tomada de ação individualista

Ressuprimento de matéria-prima sem controle

Meta de produção não esclarecida

Pessoas ociosas

Informação errada ou falta de informação

Máquinas espalhadas pelo corredor

Refugo (produção que vira descarte)

Estratégia de gestão indefinida

Ausência de trabalhadores polivalentes

Fonte: empresa avaliada, adaptado pelo autor

No Quadro 6 estão listadas as características das causas raízes insuficientes. Elas

foram introduzidas na ARA como EIs complementares, reduzindo a amplitude dos efeitos

indesejáveis iniciais, fazendo com que a ARA trouxesse mais consistência no encontro da

causa raiz.

As reuniões também serviram para refazer a nova ARA baseada na primeira, assim

como analisá-la e validá-la precisamente para o encontro de uma causa raiz mais específica

que representasse de fato a situação problemática da empresa. Podemos observar na Figura 4

a ARA finalizada conforme as alterações mencionadas.

28

Figura 4: ARA da empresa terceirizada calçadista

Fonte: empresa avaliada, adaptado pelo autor

A causa raiz é assim denominada por não receber nenhuma entrada, ou seja, não é

causada por nenhum outro EI, podendo também ser caracterizada de problema central por

anteceder a maioria dos EIs da ARA (ALVAREZ, 1996).

Conforme a Figura 2 concluiu-se que a causa raiz do problema é “Estratégia de gestão

indefinida”, pois a mesma antecede 70% dos demais EIs da ARA. Esse problema ocorre, pois

não há um esclarecimento das estratégias que devam ser seguidas continuamente, como por

exemplo, a ausência de medidas pontuais e concretas para eliminação de defeitos, o que

ocasiona algumas vezes em atitudes precipitadas por parte da liderança. Essas atitudes muitas

vezes acarretam em perca de produtividade, atrasos em entregas ao cliente e

consequentemente reduz a eficiência e a lucratividade. Pode ser observado na ARA que

existem outros EIs que não recebem nenhuma entrada. Porém o único a ser abordado no

29

referido trabalho é “Ausência de trabalhadores polivalentes”. Os demais não são muito

relevantes ou pertencem ao meio externo à empresa, ou seja, não compete à empresa interferir

neles.

4.2 Conscientização do problema

Todavia para agir no problema e conscientizar as pessoas, precisa-se formular uma

solução para eliminá-los, aumentando o desempenho da empresa de forma global. Para isso

utilizou-se a técnica Árvore da Realidade Futura (ARF). A ARF consiste em trabalhar, a partir

da ARA, a transformação dos Efeitos Indesejáveis (EIs) em Efeitos Desejáveis (EDs), com o

incremento de injeções (retângulos de canto reto) feitas na raiz do problema. Alguns EIs que

não podem ser manipulados pela empresa permaneceram, isso mostra que mesmo na melhor

das hipóteses haverá algo tentando corromper o sistema, porém os EIs foram tratados com

outras injeções. Essas injeções foram propostas através da dinâmica de brainstorming

realizado em uma reunião de quinze minutos com os gestores participantes, buscando

soluções criativas, para assim alcançar o ambiente almejado dentro da empresa. Na Figura 5

consta a ARF aplicada na empresa, a qual mostra o que ocorrerá futuramente caso a nova

política seja implantada.

30

Figura 5: ARF da empresa terceirizada calçadista

Fonte: empresa avaliada, adaptado pelo autor

Desse modo, chegou-se à possível solução proposta de “Implantação de práticas de

Agile Manufacturing (Manufatura Ágil) na indústria calçadista”. Pode-se perceber na figura 5

a existência de outras injeções para alcançar o ambiente perfeito na empresa. Porém o esforço

maior deste trabalho se registra na injeção citada anteriormente, podendo as outras injeções

complementarem o estudo posteriormente.

A definição da alternativa de solução proposta é baseada em diversos estudos prévios

da literatura sobre ambientes ágeis de manufatura, especialmente casos do contexto das

indústrias de calçados e de moda, assim como das empresas terceirizadas.

4.3 Revisão sistemática da literatura e identificação de artefatos

A revisão sistemática da literatura realizou-se com a aquisição de referências em

pesquisas realizadas em anais, revistas, journals, periódicos, congressos, encontros,

simpósios, teses, dissertações e livros, publicados entre os anos de 1991 e 2015.

31

As palavras chave utilizadas na pesquisa foram: calçadista, terceirizada, Árvore da

Realidade Atual (ARA), Árvore da Realidade Futura (ARF), estratégia de gestão, Agile

Manufacturing, Lean Agile e Quick Response Manufacturing (QRM).

Foram pesquisados aproximadamente sessenta artigos de journals, com destaque para

International Journal of Production Economics, o qual registrou sete artigos utilizados neste

trabalho. Os demais European Journal of Operational Research, International Journal of

Agile Management Systems, Journal of Operations Management, International Journal of

Operations & Production Management, e International Journal of Production Research

registraram um artigo cada. O processo de seleção e avaliação dos artigos ocorreu a partir da

procura de ferramentas e práticas utilizadas nestes estudos, com vistas a adquirir agilidade nos

mais variados ambientes produtivos. Os artigos considerados relevantes foram utilizados na

revisão teórica e os demais foram descartados.

A identificação de artefatos aconteceu a partir da revisão sistemática da literatura,

aonde foram evidenciados artefatos e classes de problemas relacionados ao problema de

pesquisa. No quadro 3 e 4 foram identificadas instanciações para a pesquisa. Dresch (2013)

relata que instanciação é uma maneira de informar a utilização ou implementação de

determinado artefato para a construção de um resultado inerente à um contexto.

4.4 Elaboração, aplicação, análise dos questionários e propostas para a pesquisa

Na revisão sistemática da literatura não foi encontrado nenhum artefato relacionado

diretamente ao tema estudado. Assim, a partir de alguns elementos relacionados à Agile

Manufacturing, mencionados na revisão teórica, sendo estes elementos encontrados em forma

de Efeitos Indesejáveis na ARA, foram elaborados dois questionários. O questionário 1

(Apêndice A) identifica a necessidade de elementos ágeis para o contexto da empresa, e o

questionário 2 (Apêndice B) mede o nível atual de agilidade na empresa, questionando pontos

prioritários de melhorias aos respondentes. Inicialmente foi aplicado um pré-teste destes

questionários com oito pessoas selecionadas. Com as dificuldades e dúvidas relatadas por

essas pessoas, algumas questões foram modificadas e melhor elaboradas. Assim, os

questionários foram definitivamente aplicados, totalizando trinta e seis respondentes de um

total de cinquenta colaboradores. As respostas objetivas dos questionários foram classificadas

e identificadas as prioridades através do percentual de respostas para cada questão.

32

No quadro 7 está exposto o percentual de respondentes em ordem decrescente que

consideraram necessário e totalmente necessário a busca pela agilidade, para cada elemento

denominado. Quadro 7: Priorização da necessidade

Elementos ágeis necessários para a empresa

Nível de necessidade

Totalmente necessário Necessário

Melhoria contínua 72% 25% Comprometimento da alta gerência 72% 19% Pessoas multi habilitadas, flexíveis e com conhecimento (polivalência e qualidade) 67% 30%

Necessidade de cooperação interna e externa 64% 33% Capacidade da empresa se reconfigurar diante de oportunidades 64% 33% Trabalho em equipe e participação interdisciplinar, utilizando cooperação das pessoas 64% 36%

Gestão baseada no conhecimento 56% 30%

Troca rápida de Layout da linha de produção com setups organizados 47% 47%

Compartilhar informações por toda empresa e ligá-las diretamente com máquinas da produção 11% 69%

Qualificação, experiência e adaptabilidade que as pessoas podem possuir e desenvolver 25% 66%

Possuir uma cadeia de suprimentos com baixo custo e elevado nível de serviço, para melhor atender clientes 31% 61%

Tornar fluxo de produção constante, mesmo com variabilidade de modelos, mantendo baixo estoque 25% 61%

Treinamento e educação contínua 39% 58% Gestão baseada na incerteza e na mudança (explorar oportunidades) 20% 58% Integração de sistemas e gerenciamento de banco de dados 17% 58% Redução dos ciclos de vida dos processos 8% 58%

Integração da cadeia de suprimentos (fornecedores e clientes) 36% 56%

Obtenção de informações com rapidez, em tempo real 33% 50% Fonte: Autor

O quadro 8 retrata atributos considerados com baixo nível de agilidade pelos

respondentes, exibidos em ordem decrescente conforme percentual.

Quadro 8: Priorização dos atributos de baixa agilidade

Atributo de agilidade Baixo nível de agilidade

Velocidade em colocar novos modelos em produção para disponibilizá-los imediatamente aos clientes 52%

Capacidade dos operadores em responder a situações inesperadas no trabalho, sem que a chefia esteja por perto 42%

33

Participação dos colaboradores (trabalhadores) nas tomadas de decisões, ou propondo melhorias internas à empresa 42%

Rapidez na troca de layout da linha de produção 39% Tempo de reorganização e de replanejamento quando há ocorrência de falhas e retrabalhos 33%

Fonte: Autor

Inicialmente foram analisadas as respostas qualitativas do questionário 2, em que os

respondentes expressaram suas opiniões e deram sugestões. Categorizadas e classificadas

essas respostas, através da análise de conteúdo, fez-se uma síntese sobre as implicações para a

pesquisa, permitindo evidenciar possíveis aplicações e interferências na empresa (Quadro 9). Quadro 9: Análise de conteúdo e conclusões

Respostas representativas e relevantes dadas ao questionário Implicações para a pesquisa

“A empresa poderia ouvir mais os trabalhadores, julgar e aceitar essas opiniões para utilizar em melhorias internas e tomadas de decisão, fazendo com que as pessoas se interessem em solucionar problemas. Poderia haver uma espécie de incentivo para as pessoas exporem suas opiniões.”

Através de treinamentos focados em máquinas de costura tanto operacional como

manutenção, tornar os operadores polivalentes e multi habilitados nestas funções, sendo estimulados a cooperar internamente à empresa com opiniões e sugestões de

melhorias.

“As tecnologias existentes na empresa devem ser mais exploradas, e com o apoio das pessoas serem usufruídas.” “O treinamento proporcionado poderia ser melhorado se a empresa pudesse oferecer cursos de qualificação, e assim tornar os colaboradores polivalentes e ágeis.” “Para detectar falhas e ter propostas de melhoria a empresa deveria incentivar e estimular a cooperação das pessoas.”

“Para aumentar a flexibilidade dos trabalhadores, poderia haver uma rotatividade entre os funcionários em algumas funções após estes serem devidamente treinados para as demais operações, fazendo com que todos conheçam um pouco de cada processo.”

Acompanhar desenvolvimento dos operadores através do Quadro de Multifuncionalidade,

promovendo uma competição saudável, para incentivá-los a ser polivalentes e multi

habilitados “Para agilizar a troca do Layout da linha de produção poderia haver mais organização e cooperação em equipe.”

Através de BOX auxiliares às trocas (numerar postos de trabalho), com o planejamento de

produção agilizar trocas de modelos de calçado na linha de produção.

“Seja uma redução ou aumento inesperado de produção, a empresa deve sempre manter o lema de produzir com qualidade.”

Supervisionar e checar as operações frequentemente, focar na cobrança, na atenção

e concentração de todos para produzir com qualidade.

“Capacitar líderes para transmitirem aos operadores seus conhecimentos de forma adequada, para garantir qualidade e agilidade de operação nos processos.” “Para melhorar a capacidade dos operadores em situações inesperadas, deveria haver orientação e qualificação dos operadores para revisar a operação anterior, e assim achar defeitos ou falta de processos.”

Controle de qualidade na fonte. Cada operação

passa a ser revisora da anterior, para eliminação de falhas recorrentes ou falta de

processamento, reduzindo o índice de retrabalho.

“Para reduzir o tempo de encontrar falhas de processo, as pessoas deveriam encontrar as falhas em suas operações e não enviar para a operação seguinte.” “Para o acesso a informações atualizadas constantemente, a empresa deveria ser mais transparente, e passar isso para as

Através do Quadro de Gestão Visual informar aos operadores o tempo de processamento e a

34

pessoas, para que todos saibam a necessidade de produção que precisa ser atingida.”

produção prevista em cada posto de trabalho, e ouvir dele o que pode ser mudado para reduzir

seu tempo de processo. “Palestras e reuniões seriam interessantes para conscientizar as pessoas sobre alcance de metas e resultados.”

Manter a meta de produção atualizada no Quadro de Gestão Visual, e assim transparecer

a todos os resultados a serem obtidos, com reuniões constantes para fazer com que as

pessoas cooperem para o alcance desta meta.

Fonte: Autor

Uma vez feita a análise de conteúdo das respostas qualitativas, foi feita uma síntese

comparativa dos resultados quantitativos dos dois questionários. Foi realizada a triangulação

de dados comparando as respostas do questionário 1, questionário 2 e conclusão, resultando

em implicações resultantes para a pesquisa (Quadro 10). Por exemplo: na questão 18 -

“Treinamento e educação contínua” do questionário 1, 58% dos respondentes consideraram

esse elemento necessário à empresa. Em contrapartida, foi comparado à questão 9 -

“Treinamento proporcionado aos colaboradores” do questionário 2, o qual mostrou uma

indefinição sobre a existência desse elemento no contexto da empresa, com 36% dos

respondentes relatando indiferença. Dessa maneira, outras comparações trazem a necessidade

de explorar alguns elementos ágeis frágeis na estrutura da empresa. Este comparativo acaba

evidenciando algumas necessidades já listadas anteriormente com as respostas qualitativas, e

remete a um entendimento aprofundado da situação da empresa (Quadro 10).

Quadro 10: Síntese comparativa de elementos dos questionários

Elementos ágeis necessários

(Questionário 1)

Elementos com nível baixo de agilidade (Questionário 2) Conclusão Implicações para a

pesquisa

4) Necessidade de cooperação interna e

externa

2) Tempo de reorganização e replanejamento em ocorrência

de falhas e retrabalhos

Promover cooperação das pessoas quando

ocorrem falhas e estimular rapidez para se resolver um defeito

sem ter queda na produtividade

Padronização de posto de trabalho

17) Trabalho em equipe e participação

interdisciplinar, utilizando cooperação

das pessoas 7) Capacidade dos operadores em responder a situações

inesperadas no trabalho, sem que a chefia esteja por perto

Pessoas necessitam ter mais confiança em si

próprias e devem participar mais

ativamente das decisões para que em alguns

casos decidam por si alguma ocorrência

Fazer reuniões constantes, oferecer

treinamentos e mostrar transparência nos

resultados, identificando

indicadores no Quadro de Gestão Visual

16) Pessoas multi habilitadas, flexíveis e

com conhecimento (polivalência e

qualidade)

35

18) Treinamento e educação contínua

9) Treinamento proporcionado aos colaboradores

A empresa deve oferecer treinamento e

promover pessoas através de incentivos

Treinamentos em costura e manutenção

de equipamentos

19) Qualificação, experiência e

adaptabilidade que as pessoas podem possuir e

desenvolver

8) Participação dos colaboradores (trabalhadores) nas tomadas de decisões, ou

propondo melhorias internas à empresa

Explorar qualidades das pessoas

Acompanhar o desenvolvimento e

qualidades das pessoas no Quadro de

Multifuncionalidade

7) Troca rápida de Layout da linha de

produção com setups organizados

1) Rapidez na troca de Layout da linha de produção

Identificar postos de trabalho para facilitar e

agilizar mudança de lugar dos operadores em

trocas de modelo de calçado

Identificar BOX (numerar postos de trabalho) e treinar operadores para

agilizar a mudança de lugar nas trocas de modelo de calçado

21) Tornar fluxo de produção constante,

mesmo com variabilidade de

modelos, mantendo baixo estoque

13) Velocidade em colocar novos modelos em produção

para disponibilizá-los imediatamente aos clientes

Quantificar o atual Lead Time de produção de lotes, e propor uma rápida resposta ao

cliente

Através do Diagrama de Gantt simbolizar o

atual Lead Time da empresa e propor uma

redução

Fonte: Autor

5. Análise e discussão dos resultados

5.1 Projeto e desenvolvimento do artefato (modelo)

A partir dos dados explicitados anteriormente, da revisão da literatura e da síntese

apresentada no quadro 3 e quadro 4, pôde-se encontrar elementos ágeis necessários à estrutura

da empresa. Como não foi possível encontrar uma solução satisfatória para interferir no

problema central, foi desenvolvido um artefato através da criatividade e do raciocínio

abdutivo do pesquisador. Foram identificadas ferramentas e técnicas para elevar a agilidade

dos elementos considerados de nível baixo. Dessa forma foi elaborado um modelo

customizado para a referente empresa terceirizada calçadista (Figura 6), baseado na

metodologia Design Science Research.

36

Figura 6: Modelo proposto para aplicação

Fonte: Elaborado pelo autor

O modelo inicia com o intuito de sensibilizar a direção da empresa e alcançar o

comprometimento a partir da alta gerência. Esta conscientização precisa partir do topo da

hierarquia, transparecendo atitudes exemplares e oferecendo apoio e recursos no que for

preciso para a aplicação das proposições. Essa atitude será cobrada a partir de reuniões a

serem realizadas semanalmente, após o horário de trabalho.

A segunda etapa do modelo consiste em oferecer treinamentos aos operadores,

principalmente na operação de costura e manutenção do próprio equipamento, para que

colaboradores alcancem índices elevados de polivalência e multifuncionalidade. Líderes serão

responsáveis pelos treinamentos, que ocorrerão em horário alternativo à produção. Os líderes

terão a missão de educar continuamente seus comandados para uma realização adequada das

funções, e de acordo com as especificações do cliente. A evolução da polivalência e

multifuncionalidade dos colaboradores será acompanhada através de Quadro de

Multifuncionalidade.

O objetivo da implantação do Quadro de Gestão Visual é manter atualizada a meta de

indicadores de qualidade, produtividade e eficiência relacionados com os princípios ágeis

37

identificados na revisão da literatura. Capacitação aos colaboradores dará suporte ao

entendimento do quadro, que deverá ser utilizado com vistas a alcançar a meta estabelecida.

A Troca Rápida de Ferramentas será utilizada para identificar possíveis mudanças de

atitudes nas trocas de modelo de calçado na linha de produção. Serão identificados os postos

de trabalho com posições numeradas (BOX) no decorrer da linha produtiva, a fim de orientar

aos operadores sobre sua posição no próximo modelo de calçado. Para Lopes et al. (2007) o

BOX numerado tem a função de limitar e posicionar um operador em cada mudança de

layout, direcionando o operador para a posição em que ele irá desempenhar seu trabalho no

próximo modelo de calçado que irá entrar na linha produtiva. Os líderes devem estar

comprometidos e os demais colaboradores conscientes, para que a troca seja flexível e rápida.

A etapa seguinte é o gerenciamento do Lead Time do processo produtivo, e com o

diagrama de Gantt propor uma redução, agindo diretamente na programação da produção.

Com o controle de qualidade na fonte cada operador passará a inspecionar a operação

realizada anteriormente a sua, impedindo de seguir peças que apresentarem defeitos ou falta

de processamento. Essa atitude deve ser cobrada semanalmente em reuniões e diariamente na

supervisão.

Após essas etapas serem realizadas, deve ser feita a análise dos resultados obtidos, e

assim tirar conclusões sobre a aplicação do modelo. Na sequência deverão ser definidas novas

ações ou melhorias descobertas no andamento, e com isso retornar ao início e incluí-las ao

modelo. Esse processo passa a ser contínuo, fazendo com que aconteça diretamente uma

melhoria contínua na estratégia de gestão da manufatura para a referida empresa.

5.2 Avaliação do artefato

Cada etapa do modelo apresentado precisa ser mensurada para que sejam analisados os

resultados obtidos. Como trata-se de uma instanciação, o artefato é medido e analisado em um

ambiente real. Para isso são necessários alguns instrumentos para medir e calcular os

resultados alcançados e mensurados.

Para a descrição da etapa de treinamento, será utilizado um quadro de

multifuncionalidade para acompanhar o rendimento do aprendizado de cada operador. Neste

quadro estão descritas todas as operações chave dentro da empresa, e será feito um

comparativo da situação anterior ao projeto, com a situação posterior aos treinamentos.

O controle de qualidade na fonte será monitorado a partir do índice de retrabalho,

medido no revisor final da linha produtiva. Esse índice mede a quantidade de defeitos ao

38

longo do dia, dividido pela produção total realizada, em percentual. Esse índice será exposto

no Quadro de Gestão Visual, para que todos os operadores envolvidos conheçam e se

motivem para manter o índice reduzido à 2% de inconformidades. Também no Quadro de

Gestão Visual estarão expostos os dados de produtividade da linha, traduzidos com a divisão

da quantidade produzida pela meta de produção a ser atingida, em forma de percentual.

Os resultados da aplicação da Troca Rápida de Ferramentas (TRF) e

consequentemente a numeração dos postos de trabalho como BOX, serão expostos de

diferentes formas. Com a coleta de tempos de setup, ou seja, tempo decorrente desde a última

peça boa de um lote até a primeira peça boa do lote seguinte, em minutos, será analisado o

estado atual. O mesmo tempo de setup será mensurado após a aplicação. Paralelo a isso será

mensurada a eficiência da utilização de mão-de-obra no mesmo horário e no horário seguinte

em que ocorreu a troca. A eficiência é calculada a partir da multiplicação da unidade de tempo

e unidade produzida, dividido pelo número de trabalhadores em determinado espaço de tempo

(jornada de trabalho).

Por fim a exposição do diagrama de Gantt irá seguir a mensuração do lead time das

etapas de fabricação, ou seja, o tempo de atravessamento de lotes por toda estrutura produtiva.

Portanto a partir de análises e intervenções será proposta uma redução do lead time aos lotes

em fabricação.

5.3 Explicitações das aprendizagens e conclusões

A finalidade principal desse artigo foi propor e desenvolver um modelo customizado

de estratégia de gestão da manufatura baseado nas práticas ágeis, para o ambiente atual de

uma empresa terceirizada do ramo calçadista. Esse objetivo foi atendido com a elaboração do

modelo apresentado anteriormente a partir da abordagem Design Science Research. Esse

modelo pode ser considerado fundamental para a empresa em questão, pois estuda todo o

ambiente interno da empresa, que ligado à elementos identificados em estudos prévios na

revisão teórica, resulta em questionários customizados a serem aplicados na própria empresa.

Não obstante os estudos prévios e o estudo do ambiente interno da empresa, os

questionários trouxeram dados mais focados da estrutura interna, ou seja, das pessoas que

atuam diretamente no contexto. Logo, com todo esse procedimento muito bem sedimentado,

foi alcançado o objetivo principal.

Com o uso do diagrama de Gantt, Bertolini et al. (2007) constataram redução do Lead

Time na logística e processos de fabricação da indústria calçadista italiana. Saes e Godinho

39

Filho (2011) utilizaram Troca Rápida de Ferramentas (TRF) para reduzir Lead Time em uma

empresa de escrita. Reduzindo o Lead Time, indústrias podem dar um retorno mais rápido ao

cliente. No caso da terceirizada calçadista, o cliente é a empresa contratante.

Gunasekaran (1999) define o capacitador pessoas como um dos componentes mais

importantes para a existência de um ambiente ágil. Inerente a esse capacitador está vinculado

o treinamento e a educação contínua, que ajudam no desenvolvimento das pessoas. Porém

também são importantes as qualidades e experiências que as pessoas possuem, no entanto

havendo resistência por parte dos recursos humanos no dinamismo, a empresa tende a perder

a componente ágil.

O estudo em questão buscou definir uma estratégia de gestão da manufatura para uma

empresa terceirizada do ramo calçadista. Empresas necessitam ser ágeis em um mercado

turbulento e de mudança constante como o da moda. Neste viés a pesquisa define um modelo

customizado para que a empresa siga, para que consequentemente tenha sucesso em sua

trajetória.

5.4 Generalização para uma Classe de Problemas

Pesquisas que utilizam a Design Science Research como metodologia devem ser

passíveis à generalização em uma classe de problemas, não buscando uma solução ótima, mas

satisfatória para a situação (DRESCH, 2013). Portanto a generalização deve acontecer para

que um artigo possa ser replicado por outros autores, trazendo assim sentido ao estudo

realizado.

A seguinte pesquisa, além de tratar internamente do contexto de uma referida empresa

terceirizada do setor calçadista, também pode servir de apoio a outras empresas que tenham as

mesmas características. Isto só pode ser considerado pois essas empresas estão inseridas em

um mercado turbulento, de mudanças constantes, como é o caso de mercados que lidam com

moda e tendência.

Por conseguinte, empresas inseridas neste ambiente podem se apropriar do modelo

desenvolvido nesta pesquisa. Porém isso está sujeito aos recursos de que a empresa deseja

despender no projeto, seja financeiro ou recursos humanos. Consequentemente, vale

aconselhar que para alcançar um melhor resultado final, deve ser elaborado um modelo

customizado para cada empresa, sendo recomendado passar pelas etapas aqui desenvolvidas.

Portanto para o avanço do conhecimento na área e sua generalização, é identificada a

classe de problemas. A classe a ser classificada pode ser a solução, como pode ser o problema

40

propriamente dito. Então o referido trabalho destaca como classe de problemas: definição de

uma estratégia de gestão; a elaboração de um modelo de estratégia; a realidade de uma

empresa terceirizada do ramo calçadista; empresas inseridas em mercado de moda; aplicação

de práticas Agile Manufacturing; entre outros.

6. Conclusões

Este artigo apresenta o processo de elaboração de um modelo de estratégia de gestão

da manufatura para uma empresa terceirizada do ramo calçadista, especializada na costura de

calçados. Através de pesquisas prévias na literatura existente, o autor identificou elementos

ágeis. Com a aplicação da ARA (Árvore da Realidade Atual) e ARF (Árvore da Realidade

Futura) foram encontrados Efeitos Indesejáveis (EIs) e Efeitos Desejáveis (EDs),

respectivamente, no contexto da empresa. Dessa maneira foram ligados esses dados, e

elaborados dois questionários, aplicados a funcionários da empresa.

Com o cruzamento das respostas quantitativas e com a categorização das respostas

qualitativas dos questionários, o autor interpretou o que seriam implicações para a pesquisa.

Com respostas concretas houve a definição de ferramentas e técnicas a serem aplicadas para a

obtenção de um ambiente ágil na organização estudada. Com esses dados unificados foi

elaborado um modelo, baseado na metodologia Design Science Research, para ser seguido

pela empresa terceirizada do ramo calçadista. Portanto foi alcançado o objetivo principal da

pesquisa aqui desenvolvida.

A realização da pesquisa definiu um modelo ainda não encontrado na teoria. É um

modelo customizado para uma empresa específica, podendo ser útil para demais empresas do

mesmo segmento de atuação, ou inseridas em mercados de mudança constante. Porém é

recomendado que cada empresa defina seu modelo estratégico de gestão da manufatura

personalizado. O que pode ser aprimorado em pesquisas futuras é a aplicação do mesmo

questionário para diretores e gestores de diversas empresas terceirizadas calçadistas, e a partir

desse estudo elaborar um modelo geral que envolva e satisfaça todas empresas do segmento.

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Apêndices

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Apêndice A – Questionário 1 e percentual das respostas

Questionário 1. Este questionário tem a finalidade de identificar elementos Ágeis necessários para uma empresa terceirizada calçadista. Os dados aqui obtidos serão utilizados para análise das necessidades da empresa, e servirão de apoio para um trabalho de conclusão de curso em Engenharia de Produção. Portanto peço que responda as questões abaixo de acordo com sua opinião e seu ponto de vista, visando o que é realmente necessário para a obtenção de agilidade na empresa.

Nível de necessidade de aplicabilidade

Tot

alm

ente

de

snec

essá

rio

Des

nece

ssár

io

Indi

fere

nte

Nec

essá

rio

Tot

alm

ente

ne

cess

ário

Possíveis aplicações

1 Obtenção de informações com rapidez, em tempo real - - 17% 50% 33%

2 Compartilhar informações por toda empresa e ligá-las diretamente com máquinas da produção - 6% 14% 69% 11%

3 Conhecimento científico do processo de fabricação, sistemas capazes de simular desempenho de produtos e de modelar o processo de manufatura

- 17% 53% 19% 11%

4 Necessidade de cooperação interna e externa - 3% - 33% 64%

5 Capacidade da empresa se reconfigurar diante de oportunidades - - 3% 33% 64%

6 Redução dos ciclos de vida dos processos 6% 11% 17% 58% 8% 7 Troca rápida de Layout da linha de produção com setups organizados 6% - - 47% 47%

8 Utilização de empresas virtuais para explorar oportunidades temporárias 3% 6% 41% 44% 6%

9 Integração da cadeia de suprimentos (fornecedores e clientes) - - 11% 53% 36% 10 Gestão baseada na incerteza e na mudança (explorar oportunidades) 6% 8% 8% 58% 20% 11 Gestão baseada no conhecimento 3% - 11% 30% 56% 12 Sistemas de planejamento e controle da produção 6% 22% 25% 28% 19% 13 Integração de sistemas e gerenciamento de banco de dados - 3% 22% 58% 17% 14 Melhoria contínua - - 3% 25% 72% 15 Comprometimento da alta gerência - - 8% 19% 72%

16 Pessoas multi habilitadas, flexíveis e com conhecimento (polivalência e qualidade) - - 3% 30% 67%

17 Trabalho em equipe e participação interdisciplinar, utilizando cooperação das pessoas - - - 36% 64%

18 Treinamento e educação contínua - - 3% 58% 39%

19 Qualificação, experiência e adaptabilidade que as pessoas podem possuir e desenvolver 3% - 6% 66% 25%

20 Possuir uma cadeia de suprimentos com baixo custo e elevado nível de serviço, para melhor atender clientes - - 8% 61% 31%

21 Tornar fluxo de produção constante, mesmo com variabilidade de modelos, mantendo baixo estoque - 6% 8% 61% 25%

Fonte – Elaborado pelo autor

46

Apêndice B – Questionário 2 e percentual das respostas

Questionário 2. Este questionário visa identificar o nível atual de agilidade em uma empresa terceirizada calçadista. Para isso peço que responda este questionário sinceramente circulando o número que melhor identifica a situação apresentada, sendo convicto com sua resposta, pois será muito importante para a identificação correta do nível em que a empresa se encontra.

Nível de agilidade

Insi

gnifi

cant

e

Bai

xo

Indi

fere

nte

Alto

Tot

alm

ente

al

to

1 Na sua opinião, o atual nível de agilidade da empresa quanto à rapidez na troca de layout da linha de produção é: 3% 39% 36% 14% 8%

Quais ações podem ser tomadas para melhorar a agilidade desse item?

2 Na sua opinião, o atual nível de agilidade da empresa quanto ao tempo de reorganização e de replanejamento quando há ocorrência de falhas e retrabalhos é:

- 33% 28% 28% 11%

Quais ações podem ser tomadas para melhorar a agilidade desse item?

3 Na sua opinião, o atual nível de agilidade da empresa quanto ao tempo para detecção de uma falha, seja operacional ou em um equipamento com defeito é:

- 22% 30% 42% 6%

Quais ações podem ser tomadas para melhorar a agilidade desse item?

4 Na sua opinião, o atual nível de agilidade da empresa quanto a facilidade em substituir equipamentos produtivos na linha de produção é:

- 11% 25% 53% 11%

Quais ações podem ser tomadas para melhorar a agilidade desse item?

5

Na sua opinião, o atual nível de agilidade da empresa quanto ao esforço em produzir um mesmo modelo, porém com alterações específicas de acordo com a necessidade ou vontade de cada cliente é:

- 14% 17% 47% 22%

Quais ações podem ser tomadas para melhorar a agilidade desse item?

6

Na sua opinião, o atual nível de agilidade da empresa quanto a adaptabilidade de variação de volumes de produtos, seja uma redução de demanda inesperada, seja uma elevação instantânea na demanda, é:

- 11% 30% 53% 6%

Quais ações podem ser tomadas para melhorar a agilidade desse item?

7 Na sua opinião, o atual nível de agilidade quanto a capacidade dos operadores em responder a situações inesperadas no trabalho, sem que a chefia esteja por perto, é:

14% 42% 17% 19% 8%

Quais ações podem ser tomadas para melhorar a agilidade desse item?

8 Na sua opinião, o atual nível de agilidade quanto a participação dos colaboradores (trabalhadores) nas tomadas de decisões, ou propondo melhorias internas à empresa é:

8% 42% 31% 19% -

Quais ações podem ser tomadas para melhorar a agilidade desse item?

9 Na sua opinião, o atual nível de agilidade encontrado na empresa quanto ao treinamento proporcionado aos trabalhadores é: 3% 30% 36% 28% 3%

Quais ações podem ser tomadas para melhorar a agilidade desse item?

47

10 Na sua opinião, o atual nível de agilidade da empresa quanto a adequação da tecnologia existente é: 11% 17% 19% 42% 11%

Quais ações podem ser tomadas para melhorar a agilidade desse item?

11 Na sua opinião, o atual nível de agilidade da empresa quanto a flexibilidade (agilidade, versatilidade) de operação nos processos produtivos é:

3% 22% 11% 56% 8%

Quais ações podem ser tomadas para melhorar a agilidade desse item?

12 Na sua opinião, o atual nível de agilidade da empresa quanto ao acesso a informações que devam ser atualizadas constantemente (produção por hora, meta de produção ou retrabalho) é:

9% 14% 14% 44% 19%

Quais ações podem ser tomadas para melhorar a agilidade desse item?

13 Na sua opinião, o atual nível de agilidade da empresa quanto a velocidade em colocar novos modelos em produção para disponibilizá-los imediatamente aos clientes é:

6% 52% 14% 14% 14%

Quais ações podem ser tomadas para melhorar a agilidade desse item?

14 Como você avalia a agilidade para o futuro da empresa? 3% ( ) A empresa não necessita de agilidade.

29% ( ) A empresa é suficientemente ágil para responder a mudanças futuras de mercado. 48% ( ) A empresa necessita adotar medidas para tornar-se ágil a longo prazo. 20% ( ) A empresa necessita adotar medidas para tornar-se ágil imediatamente.

Fonte – Elaborado pelo autor