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497 A PRODUÇÃO CIENTÍFICA EM EDUCAÇÃO ESPECIAL NA REGIÃO AMAZÔNICA: UM ESTUDO COM BASE NAS PUBLICAÇÕES DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO – PPGE/UFAM Samuel Vinente da Silva Junior 76 Maria Almerinda de Souza Matos 77 Danilo Batista de Souza 78 Ketlen Júlia Lima da Silva 79 Maria do Socorro Lima da Silva 80 Eixo Temático: Práticas de inclusão/exclusão em educação Categoria: Comunicação Oral INTRODUÇÃO Este projeto integra as ações da pesquisa documental referente ao projeto “Atendimento Educacional do aluno com Paralisia Cerebral: a organização pedagógica e física no contexto inclusivo”, cadastrada sob o código PIB SA 046/2011-2012 por meio do Programa Institucional de Bolsas para a Iniciação Científica – PIBIC/UFAM. Esta pesquisa encontra-se protocolada no Departamento de Apoio à Pesquisa - DAP e foi desenvolvida através do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Psicopedagogia Diferencial – NEPPD, na Faculdade de Educação da Universidade Federal do Amazonas – FACED/UFAM. Este estudo surgiu da necessidade de constituirmos a história da educação especial na região amazônica, principalmente no estado do Amazonas. Uma das formas para construção desta história se dá através do contexto da criação do Programa de Pós- Graduação em Educação – PPGE/UFAM que vem fortalecendo desde 1978 a produção científica, promovendo a socialização dos resultados das pesquisas desenvolvidas em 76 Acadêmico de Pedagogia pela Universidade Federal do Amazonas. Bolsista de Iniciação Científica da FAPEAM. Pesquisador do Observatório Nacional de Educação Especial - ONEESP e do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Psicopedagogia Diferencial – NEPPD. E-mail: [email protected] 77 Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS. Líder do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Psicopedagogia Diferencial – NEPPD. Docente do Programa de Pós-Graduação em Educação – PPGE/UFAM. E-mail: [email protected] 78 Acadêmico de Pedagogia da Universidade Federal do Amazonas – UFAM. Bolsista da Pró-Reitoria de Extensão e Interiorização – PROEXTI. Pesquisador do NEPPD. E-mail: [email protected] 79 Acadêmica de Letras (Língua Portuguesa) da Universidade Federal do Amazonas – UFAM. Bolsista da Pró-Reitoria de Extensão e Interiorização PROEXTI. Pesquisadora do NEPPD. E-mail: [email protected] 80 Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal do Amazonas – UFAM. Docente da Secretaria Municipal de Educação – SEMED. E-mail: [email protected]

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A PRODUÇÃO CIENTÍFICA EM EDUCAÇÃO ESPECIAL NA REGIÃO AMAZÔNICA: UM ESTUDO COM BASE NAS PUBLICAÇÕES DO PROGRAMA

DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO – PPGE/UFAM

Samuel Vinente da Silva Junior76 Maria Almerinda de Souza Matos77

Danilo Batista de Souza78 Ketlen Júlia Lima da Silva79

Maria do Socorro Lima da Silva80 Eixo Temático: Práticas de inclusão/exclusão em educação

Categoria: Comunicação Oral INTRODUÇÃO

Este projeto integra as ações da pesquisa documental referente ao projeto “Atendimento

Educacional do aluno com Paralisia Cerebral: a organização pedagógica e física no

contexto inclusivo”, cadastrada sob o código PIB SA 046/2011-2012 por meio do

Programa Institucional de Bolsas para a Iniciação Científica – PIBIC/UFAM. Esta

pesquisa encontra-se protocolada no Departamento de Apoio à Pesquisa - DAP e foi

desenvolvida através do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Psicopedagogia Diferencial –

NEPPD, na Faculdade de Educação da Universidade Federal do Amazonas –

FACED/UFAM.

Este estudo surgiu da necessidade de constituirmos a história da educação especial na

região amazônica, principalmente no estado do Amazonas. Uma das formas para

construção desta história se dá através do contexto da criação do Programa de Pós-

Graduação em Educação – PPGE/UFAM que vem fortalecendo desde 1978 a produção

científica, promovendo a socialização dos resultados das pesquisas desenvolvidas em

76 Acadêmico de Pedagogia pela Universidade Federal do Amazonas. Bolsista de Iniciação Científica da FAPEAM. Pesquisador do Observatório Nacional de Educação Especial - ONEESP e do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Psicopedagogia Diferencial – NEPPD. E-mail: [email protected] 77 Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS. Líder do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Psicopedagogia Diferencial – NEPPD. Docente do Programa de Pós-Graduação em Educação – PPGE/UFAM. E-mail: [email protected] 78 Acadêmico de Pedagogia da Universidade Federal do Amazonas – UFAM. Bolsista da Pró-Reitoria de Extensão e Interiorização – PROEXTI. Pesquisador do NEPPD. E-mail: [email protected] 79 Acadêmica de Letras (Língua Portuguesa) da Universidade Federal do Amazonas – UFAM. Bolsista da Pró-Reitoria de Extensão e Interiorização – PROEXTI. Pesquisadora do NEPPD. E-mail: [email protected] 80 Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal do Amazonas – UFAM. Docente da Secretaria Municipal de Educação – SEMED. E-mail: [email protected]

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diversos eventos regionais, nacionais e internacionais e por meio da revista Amazônida

(periódico qualis CAPES B4).

Segundo Mazotta (2005), a educação especial e os estudos a partir dela vêm crescendo de

forma significativa, e a investigação científica de sua existência enquanto elemento das

políticas educacionais implementam-se a partir de políticas públicas que perpassam as

diretrizes do Ministério da Educação e de outros órgãos governamentais nacionais e

internacionais. Os estudos deste autor basearam-se na análise de textos legais, planos

educacionais e documentos oficiais até 1993 em São Paulo.

Posteriormente, Prietto (2006) e diversos autores (MATOS, 2008; BATISTA; CAIADO;

JESUS, 2011; MAGALHÃES, 2011; VINENTE, 2012) publicam estudos realizados em

São Paulo, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Amazonas e outras regiões do país. No

Amazonas em 1996, foi publicada no Programa de Pós-Graduação em Educação da

UFAM, a dissertação intitulada “Educação especial: nem sempre um processo segregador”

(LOPES, 1996), apontando que a escola especial seria o lugar ideal para que os educandos

com deficiências possam desenvolver suas habilidades.

Diversos estudos passaram a ser publicados investigando outros eixos da educação

especial, tais como a educação dos surdos, dos alunos com deficiência visual e altas

habilidades. Em 2007, o Ministério da Educação delibera a Portaria n. 555/2007 para a

composição de técnicos que elaboram a Política Nacional de Educação Especial na

Perspectiva da Educação Inclusiva (2008), documento este que traz uma nova forma de

atendimento escolar aos educandos com deficiência, transtornos globais do

desenvolvimento e altas habilidades/superdotação.

A partir daí, no Amazonas e em outros estados do país, cresce de forma acentuada a

produção científica na área, tendo em vista a educação inclusiva que se consolida a partir

de inúmeros movimentos sociais e necessidades educacionais dos escolares que devem a

partir deste documento passam a ser atendidos nas salas regulares, devendo receber

também o Atendimento Educacional Especializado nas salas de recursos multifuncionais.

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REVISÃO DE LITERATURA

Um dos primeiros estudos para indicar as tendências da produção em Educação Especial

foi realizado por Dias (1987), ao analisar a produção científica do Programa de Mestrado

em Educação Especial da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar. Posteriormente,

outros pesquisadores também se embrenharam em pesquisas desta natureza, cujos

resultados destes trabalhos foram amplamente divulgados (MATOS, 2008; VINENTE,

2012).

Com o advento da globalização e dos inúmeros movimentos sociais que eclodiram no fim

do século XX, houve a necessidade da superação de algumas práticas tradicionais que

permeavam os sistemas educacionais que vigoraram até aproximadamente a década de

1990 e que ainda insistem em permanecer até os dias atuais (BRASIL, 2008).

Uma de tais práticas é a exclusão, que privou alunos com ou sem deficiência da

possibilidade de desenvolver habilidades e competências para o pleno exercício de sua

cidadania, impedidos de usufruírem da educação como direito previsto na Constituição

Federal (1988) e em outros documentos (CURY, 2008).

Figueira (2011) relata um pouco essas práticas discriminatórias ainda no “descobrimento”

do Brasil contando sobre a exclusão entre os indígenas que matavam as crianças que

nasciam deficientes por supostamente trazerem maldição para a tribo. Para Mazotta (2004)

a expansão do ideário cristão contribuiu para a disseminação da ideia de que o indivíduo

que nascia deficiente não era perfeito, logo não foi criado à imagem e semelhança de Deus.

A escola também teve um papel segregador que afastou crianças, jovens e adultos com

necessidades educacionais especiais deste ambiente de aprendizagem (MATOS, 2008;

MANTOAN, 2011).

Durante muito tempo a deficiência esteve ligada à incapacidade total ou à doença. Segundo

Fávero (2007) a maioria das pessoas sem deficiência não tem ou não teve contato com

pessoas deficientes frequentadoras das salas comuns e das salas com atendimento

educacional especializado, por isso tem-se a ideia de que não é possível a inclusão destes

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alunos, principalmente dos educandos com PC. Desse modo, ainda conforme o que a

autora explicita, um ambiente preparado apenas para esse aluno é restritivo e causador de

exclusões. Neste contexto, a escola deve preparar-se cada vez mais para receber esses

alunos e dar um sentido bem mais amplo à inclusão.

A aprendizagem significativa é possível aos alunos com deficiência à medida que

“professor e aluno são elementos unidos na busca de um objetivo comum: a aprendizagem,

a evolução, o crescimentos como pessoas, onde a superação de estágios menos eficientes

leva a uma situação mais efetiva e com maior poder de funcionamento”. (ZANELLA,

2006, p. 24)

Neste sentido, a convivência e a troca de experiências adquiridas ao longo do tempo

refletem na construção do conhecimento e principalmente na valorização da diversidade na

sala de aula. É partindo disso que evidencia-se a importância do contexto histórico-cultural

para a constituição de sujeitos críticos e reflexivos.

Os estudos de Tabaquim (1996) revelam-nos as possibilidades de aquisição de leitura e de

escrita por escolares com PC e outras deficiências, trazendo novas perspectivas para uma

aprendizagem que supere o olhar que muitos têm da deficiência como doença. A autora

afirma que estes educandos aprendem em um ritmo mais lento com elevado custo de

resposta, porém as dificuldades motoras apresentadas por estes alunos não significam

necessariamente incapacidade para a leitura e para a escrita, pois se os procedimentos

instrucionais forem adotados muitas destas dificuldades desaparecerão. Nesse sentido, em

função de fatores biológicos, fatores ambientais e circunstanciais, certas características

decorrentes da condição física limitadora podem se modificar.

Alguns estudos publicados nos Programas de Pós-Graduação em Educação e Educação

Especial apontam que a inclusão de alunos com deficiência ainda é um desafio no que se

refere às práticas pedagógicas e implementação das ações que são normatizadas nos

documentos. Estas pesquisas contribuem nas áreas de educação e saúde, dialogando sobre

a inclusão escolar de alunos com deficiência física, transtornos globais do desenvolvimento

e altas habilidades/superdotação em centros de reabilitação, instituições especializadas e

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escolas regulares (RUBISTEIN, 2002; AUDI; MANZINI, 2006; MATOS, 2008;

VINENTE, 2012).

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O conhecimento científico propicia condições para a compreensão do mundo, da realidade

a qual estamos inseridos e das relações de produção entre o homem e a natureza

(MARCONI; LAKATOS, 2006). Não se pode pensar em educação especial/inclusiva, sem

levar em consideração o processo de exclusão/segregação de crianças, adultos, negros,

mulheres e pobres ao longo da história da civilização brasileira.

Neste sentido, buscando compreender este processo, esta pesquisa se dará numa

abordagem qualitativa (FAZENDA, 2008; MINAYO, 2011). Como fases deste estudo, será

utilizado o levantamento bibliográfico e documental (GIL, 2010) por considerar-se que há

uma necessidade extrema desta fase para ampliação dos subsídios teórico-metodológicos

servindo como auxilio importantíssimo para a execução das práticas de campo.

Para este autor, “a principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir

ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela

que poderia pesquisar diretamente” (GIL, 2010, p. 45). Esta fase, permitirá o

aprofundamento da área da pesquisa, sendo desenvolvida a partir de materiais já

elaborados e publicados .

As categorias de análise desenvolvidas neste projeto serão: Educação Especial; Educação

Inclusiva; Formação Docente; Políticas Públicas. Será realizada a identificação e seleção

das publicações (relatórios do PPGE/CAPES e Portal dos Periódicos) do Programa de Pós-

Graduação em Educação da Universidade. Além disso, será feita a consulta ao Banco de

Dissertações do PPGE/UFAM e ao Portal Domínio Público.

Inicialmente, foram verificados os resumos publicados para pesquisa exploratória

(LAKATOS, 2010) e posteriormente os trabalhos completos, logo em seguida será traçado

um panorama para análise do referencial teórico, objetivos, lócus da pesquisa,

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procedimentos metodológicos, tipo de deficiência e outros aspectos relevantes publicados

nestes estudos.

Os dados coletados serão organizados em tabelas, diagramas e gráficos, explicitando os

aspectos teóricos encontrados nas publicações do PPGE/UFAM. Será organizado um

banco de dados para registro das publicações do PPGE/UFAM e suas características

(Temática, Título do trabalho, Tipo de Pesquisa, Orientador, Agência de Fomento, Nível,

Ano de Defesa, Local, Tipo de deficiência estudada, Procedimentos Metodológicos, Fonte

de Informação e Análise dos dados.)

Segundo Bardin (2001), a análise dos dados não consiste em apenas um esquema

específico, mas trata-se de um esquema geral no qual pode-se verificar um conjunto de

técnicas que podem ser utilizadas para tratar os dados e analisar o conteúdo dos mesmos.

Neste contexto, uma das melhores formas para analisar os discursos apresentados nos

trabalhos publicados é a análise do conteúdo, tendo em vista que é uma das melhores

ferramentas para pesquisas desta natureza.

Para Lakatos e Marconi (2011), a análise de conteúdo permite a descrição sistemática,

objetiva e quantitativa do conteúdo da comunicação. Sendo assim, tabular os dados em

gráficos, diagramas e tabelas permitiu aos pesquisadores conhecer um pouco a realidade

estudada e mensurar os desafios na prática docentes destes educadores. Os pesquisadores

farão a socialização dos resultados desta pesquisa em eventos científicos e publicações em

periódicos especializados, este congresso é o primeiro evento onde esta pesquisa é

apresentada.

RESULTADOS

O Brasil constituiu-se ao longo dos anos como um país excludente e desigual. Nascimento

(2007) afirma que no Brasil o Estado brasileiro aproveita a “onda” da inclusão,

globalização e expansão do capitalismo para inserir todas as pessoas na escola, com vistas

ao processo de educação formal. O problema central disso é que as escolas não estão até

hoje preparadas para receber estes alunos, os desafios perpassam as questões de estrutura

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física das escolas, formação inicial e continuada dos professores e preparação dos outros

alunos para o respeito e valorização da diversidade dentro e fora da sala de aula.

O atendimento aos alunos com necessidades educacionais especiais no Amazonas tem seu

início por intermédio da iniciativa privada, onde implantou-se aqui no Estado o Instituto

Montessoriano aproximadamente na década de 1970. Os primeiros professores da rede

estadual foram especializados no Rio de Janeiro, por meio da Secretaria Estadual de

Educação e do Ministério da Educação. Em 1972 organizou-se o atendimento educacional

aos alunos com deficiência visual, auditiva e mental nas classes especiais implantadas nas

escolas regulares da cidade de Manaus (NASCIMENTO, 2007).

Segundo Oliveira e Marinho (2007), essas classes marcaram o início da escolarização de

pessoas que estavam longe da escola. Em 1975, a SEDUC implanta a Coordenação de

Programa de Assistência ao Educando Especial, com uma equipe multidisciplinar

especializada, posteriormente este trabalho foi estendido ao interior. A educação especial

cresceu também devido à organização de serviços especializados que atenderam mais

alunos com diferentes deficiências.

Na década de 1980 foram criadas as escolas públicas de Educação Especial por intermédio

do Decreto n. 6.331, de 13 de maio de 1982. Tais escolas existem até hoje como a Escola

Estadual Augusto Carneiro dos Santos para surdos, a Escola Estadual Joana Rodrigues

Vieira para atendimento aos alunos com deficiência visual e a Oficina Pedagógica

Diofanto Monteiro para alunos com deficiência mental. No mesmo ano, o Instituto Felippo

Smaldone instala-se na capital para atender os educandos surdos. Atualmente a esfera

estadual mantém a Gerência de Atendimento Educacional Específico na SEDUC com

vistas à valorização da diversidade no Estado e atendimento aos educandos com

necessidades educacionais especiais.

O Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação (FACED) da

UFAM foi criado em 1986, pela Resolução 018/86 do CONSUNI e credenciado pela

Portaria nº 39/95 da CAPES/MEC, com Mestrado em Educação, tendo funcionado nessa

modalidade até 2009. Tem como objetivo promover a competência científica no campo da

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educação, contribuindo para a formação de docentes e pesquisadores de alto nível. Na

última avaliação do triênio realizada pela CAPES/MEC, o curso obteve nota 4 (quatro) e

em 2009, o Projeto de Doutorado em Educação do PPGE/FACED, foi aprovado pela

CAPES/MEC.

De 1991 até o final de 2011 foram publicadas 349 dissertações de Mestrado em Educação,

disponíveis em livros, CDs e no Portal Domínio Público. As temáticas são as mais variadas

envolvendo Educação Indígena, Educação Profissional, Educação de Jovens e Adultos,

Educação Especial, Gestão Escolar, Dificuldades de Aprendizagem, Ensino de Português e

Matemática, Educação Infantil, Filosofia e História da Educação no Brasil e na Região

Amazônica. Neste trabalho foram selecionados 10 trabalhos publicados no PPGE/UFAM

sobre a temática de Educação Especial, elencados abaixo:

N Autor Tipo de Publicação Ano Assunto

01 D. F. L. Dissertação 1993 Deficiência Auditiva

02 M. A. M. L. Dissertação 1996 Necessidades Educacionais Especiais

03 J. M. A. Dissertação 1997 Síndrome de Down

04 L. M. S. Dissertação 1998 Necessidades Educacionais Especiais

05 R. C. M. Dissertação 2002 Dificuldades de Aprendizagem

06 M. S. L. G. Dissertação 2002 Pedagogia Hospitalar (Leucemia)

07 K. C. S. S. Dissertação 2003 Pedagogia Hospitalar (Câncer)

08 J. L. B. Dissertação 2004 Surdez

09 A. C. C. P. Dissertação 2004 Necessidades Educacionais Especiais

10 R. M. F Dissertação 2005 Teatro Surdo 11 M. R. G. M. Dissertação 2005 Educação Especial 12 M. M. S. Dissertação 2006 Letramento e Surdez

13 J. G. R. Dissertação 2006 Surdez e Mercado de Trabalho

14 C. S. R. M. Dissertação 2006 Altas Habilidades/Superdotação

15 A. B. L. M. Dissertação 2007 Altas Habilidades/Superdotação

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16 M. F. B. M. Dissertação 2007 Formação de Professores 17 K. B. O. Dissertação 2007 Formação de Professores 18 E. D. P. Dissertação 2008 Altas Habilidades

19 C. L. Dissertação 2008 Formação do Educador Cego/Baixa Visão

20 M. A. S. G. Dissertação 2009 Educação Rural

21 A. O. G. C. Dissertação 2009 Altas Habilidades/Superdotação

22 J. B. P. B. Dissertação 2009 Atos Infracionais e Adolescência

23 G. B. B Dissertação 2009 Novas Tecnologias e Surdez 24 I. C. S. Dissertação 2010 Educação de Surdos

25 L. M. S. Dissertação 2011 Política pública e organização escolar

26 N. P. S. Dissertação 2011 Escola de Surdos

27 C. M. B. L. Dissertação 2011 Inclusão e Exclusão em sala de aula

28 F. B. B. Dissertação 2011 Formação de Professores e Deficiência Visual

Quadro 1 - Panorama das publicações sobre Educação Especial do PPGE/UFAM entre 1978 e 2012.

Verificou-se que desde 1991 até 2011, foram publicados 28 trabalhos resultantes de

pesquisas desenvolvidas no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Educação –

PPGE/UFAM. Muitas destas publicações são de docentes que hoje atuam no PPGE/UFAM

como docentes e no curso de Pedagogia como professores dos Departamentos de Teorias e

Fundamentos – DTF, Administração e Planejamento – DAP e Métodos e Técnicas – DMT.

N. Título das Publicações Orientador Ano de Ingresso

Ano de Defesa

01 A influência das leves alterações

auditivas no processo ensino-aprendizagem

P. R. G. S. 1987 1993

02 Escola Especial: nem sempre um processo segregador L. F. S. 1993 1996

03

O despertar do portador da Síndrome de Down: uma questão de estimulação e interação com os

pais

M. T. G. 1992 1997

04 As percepções dos usuários e

usuárias da classe especial sobre esse serviço educacional

R. M. B. 1996 1998

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05 Representações das dificuldades de aprendizagem nos processos

educativos V. A. C. M. W. 2000 2002

06 Um olhar sobre a exclusão escolar das crianças e adolescentes com

leucemia no Amazonas A. C. A. N. 2000 2002

07

Uma ação pedagógica entre a vida e a morte: o caso da escolaridade

emergencial das crianças do câncer em Manaus/AM

R. M. F. 2001 2003

08 Alunos surdos na escola regular:

questionando o paradigma da integração

N. R. L. S. 2002 2004

09

A formação de professores que atuam com alunos portadores de necessidades especiais na sala

especial

J. G. B. R 2002 2004

10 Teatro Surdo: uma construção identitária do fazer educativo C. G. R. N. 2003 2005

11 A produção de sentidos sobre

Educação Especial: reflexos na sua área de atuação

A. C. A. N. 2003 2005

12 O surdo e o mercado de trabalho na cidade de Manaus A. R. B. M. 2004 2006

13

A identificação do aluno com potencial de altas

habilidades/superdotação do sistema educacional Adventista

em Manaus

M. A. D. B. 2005 2006

14

Realidade e perspectiva para a educação de alunos com potencial para habilidades/superdotação na

cidade de Manaus

M. A. D. B. 2005 2007

15 Educação inclusiva e formação de

professores no município de Iranduba

A. C. A. N 2005 2007

16 Educação inclusiva e formação de professores no Alto Juruá A. C. A. N. 2005 2007

17 Investindo potencial para altas

habilidades em jovens autores de ato infracional

M. A. D. B. 2006 2008

18 Formação e práxis do educador cego ou com baixa de visão de

Manaus A. C. A. N. 2006 2008

19 Educação rural na Amazônia:

turmas multisseriadas na perspectiva de inclusão no

A. C. A. N. 2006 2009

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município de Manacapuru

20 Identificado os adolescentes em

situação de rua com potencial para altas habilidades/superdotação

M. A. D. B 2007 2009

21 Práticas educativas inclusivas

voltadas para adolescentes autores de ato infracional

I. R. S. 2006 2009

22

As novas tecnologias digitais e o processo educativo e de

integração dos sujeitos surdos na cidade de Manaus

Z. R. C. T. 2007 2009

23

Educação de surdos: um estudo sobre as implicações da utilização

de mediadores tecnológicos na formação de professores

Z. R. C. T. 2007 2010

24

A política pública de educação do município de Manaus: a organização escolar na perspectiva inclusiva

M. A. S. M. 2009 2011

25 Escola de surdos: avanços, retrocessos e realidades A. C. A. N. 2009 2011

26 Inclusão e Exclusão em sala de aula: um olhar reflexivo sobre o

lidar com as diferenças A. C. A. N. 2009 2011

27

O professor do ensino regular: seu processo de formação,

qualificação e sua atuação com educandos com deficiência na

visão

A. C. A. N. 2009 2011

Quadro 2 – Publicações do PPGE/UFAM por títulos, ano de ingresso e ano de defesa.

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde - OMS que datam de 1995, 10% da

população dos países desenvolvidos são constituídos de pessoas com algum tipo de

deficiência. Nos países em desenvolvimento esses dados variam de 12 a 15%. Desses, 20%

possuem deficiência física. Godói (2006) afirma que as causas da deficiência física são a

paralisia cerebral, as hemiplegias, a lesão medular, as malformações congênitas e as

artropatias.

Há também outros fatores de risco tais como a violência urbana, acidentes de trânsito,

tabagismo, uso de drogas, agentes tóxicos, endemias e falta de saneamento básico. No

Amazonas elementos como a falta de saneamento básico e outras necessidades tem

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contribuído para o crescimento do número de deficientes na região e portadores de doenças

crônicas. A escola não está à margem disso, e deve favorecer a aprendizagem e inclusão

desses alunos, preparando-os para uma sociedade plena, usufruindo uma vida digna e

saudável.

Nos resultados das pesquisas explicitadas acima é possível observar que os desafios para a

inclusão escolar do aluno com necessidades educacionais especiais são os mais variados,

porém as possibilidades de escolarização também são evidentes, principalmente no que

tange à matrícula em escolas regulares e avaliação da aprendizagem. Portanto, a prática

pedagógica na diversidade requer mudanças de concepção e novas práticas que sejam

coerentes com o paradigma da inclusão escolar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A história da Educação Especial no Amazonas ainda é recente, principalmente no que se

refere à produção científica nesta temática. Atualmente os estudos propostos pelo Núcleo

de Estudos e Pesquisas em Psicopedagogia Diferencial – NEPPD, coordenados pela Dra.

Maria Almerinda de Souza Matos e pelo bolsista de Iniciação Científica Samuel Vinente,

buscam identificar a produção científica em Educação Especial de 1988 a 2012, publicada

em periódicos da Região Amazônica e no Programa de Pós-Graduação em Educação –

PPGE/UFAM.

A inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais na Educação Básica traz a

rediscussão das práticas de docentes que atuam nas salas regulares e salas de recursos

multifuncionais. Os estudos apontam a necessidade de investimento das esferas

municipais, estaduais e federais no que tange ao atendimento escolar de alunos com

deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação.

Esta investigação permitiu a verificação das publicações do PPGE/UFAM na Biblioteca

Central da Universidade Federal do Amazonas e no Portal de Periódicos da CAPES,

trazendo um panorama dos momentos históricos da educação especial no estado do

Amazonas e seu processo de operacionalização na divulgação destes trabalhos durante o

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período entre 1978 e 2012. Espera-se que este estudo fomente outras pesquisas na área e

reconstitua mais que análise dos estudos publicados, servindo como um elemento

norteador da constituição da história da educação especial no Amazonas.

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