a perspectiva psicogenética

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A Perspectiva Psicogenética (Ontogénese) Psicogénese (Jean Piaget) Génese e desenvolvimento do psiquismo. «O desenvolvimento mental é uma construção contínua», diz- nos Piaget; é um processo, uma organização progressiva ao longo de um certo número de fases ou etapas . O desenvolvimento da criança faz-se pelo intercâmbio constante entre a criança e o meio . Inicialmente (nos primeiros tempos de vida da criança) não existe nem sujeito nem objecto. Isto significa que o indivíduo ainda não apreendeu a relação sujeito-objecto, ou seja, ainda não se conhece como um sujeito que conhece o objecto que lhe é exterior. Por outras palavras: nesta primeira fase (período sensório-motor) a criança não é capaz de distinguir os objectos; falamos aqui de um adualismo inicial , de um sincretismo entre o sujeito e o objecto . Só muito gradualmente a criança vai distinguindo os objectos de si próprio até conhecer a existência destes. Além disto, nesta fase também não existem ainda “instrumentos de troca” entre o indivíduo e o exterior; para Piaget, o instrumento de troca inicial é a acção («os nossos conhecimentos provêm da acção»). A criança só começa a conhecer um objecto depois de agir sobre ele, transformando-o. Para compreendermos que o conhecimento é um processo, Piaget fala-nos em quatro etapas/períodos (que a seguir se apresentam de um modo resumido). Período sensório-motor. Precede a linguagem. Não há raciocínio; há uma inteligência prática que se manifesta na solução de problemas novos, na coordenação de meios para atingir um determinado fim. «Um acto de inteligência sensório-motora só tende para a satisfação prática, isto é, para o sucesso da acção e não para o conhecimento como tal.» Período pré-operatório. Caracteriza-se pela capacidade de representar qualquer coisa por meio de um símbolo (linguagem). Através da linguagem a criança poderá reconstruir as acções passadas e antecipar as acções futuras. Até por volta dos sete anos a criança permanece “pré-lógica”. (Se tomarmos três bolas de cores diferentes, A B C, que circulam num tubo, verificamos que, vendo-as partir na ordem A B C, a criança espera encontrá- 1

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A Perspectiva Psicogenética (Ontogénese)

Psicogénese (Jean Piaget) Génese e desenvolvimento do psiquismo.

«O desenvolvimento mental é uma construção contínua», diz-nos Piaget; é um processo, uma organização progressiva ao longo de um certo número de fases ou etapas.

O desenvolvimento da criança faz-se pelo intercâmbio constante entre a criança e o meio. Inicialmente (nos primeiros tempos de vida da criança) não existe nem sujeito nem objecto. Isto significa que o indivíduo ainda não apreendeu a relação sujeito-objecto, ou seja, ainda não se conhece como um sujeito que conhece o objecto que lhe é exterior. Por outras palavras: nesta primeira fase (período sensório-motor) a criança não é capaz de distinguir os objectos; falamos aqui de um adualismo inicial, de um sincretismo entre o sujeito e o objecto. Só muito gradualmente a criança vai distinguindo os objectos de si próprio até conhecer a existência destes. Além disto, nesta fase também não existem ainda “instrumentos de troca” entre o indivíduo e o exterior; para Piaget, o instrumento de troca inicial é a acção («os nossos conhecimentos provêm da acção»). A criança só começa a conhecer um objecto depois de agir sobre ele, transformando-o.

Para compreendermos que o conhecimento é um processo, Piaget fala-nos em quatro etapas/períodos (que a seguir se apresentam de um modo resumido).

Período sensório-motor. Precede a linguagem. Não há raciocínio; há uma inteligência prática que se manifesta na solução de problemas novos, na coordenação de meios para atingir um determinado fim. «Um acto de inteligência sensório-motora só tende para a satisfação prática, isto é, para o sucesso da acção e não para o conhecimento como tal.»

Período pré-operatório. Caracteriza-se pela capacidade de representar qualquer coisa por meio de um símbolo (linguagem). Através da linguagem a criança poderá reconstruir as acções passadas e antecipar as acções futuras. Até por volta dos sete anos a criança permanece “pré-lógica”. (Se tomarmos três bolas de cores diferentes, A B C, que circulam num tubo, verificamos que, vendo-as partir na ordem A B C, a criança espera encontrá-las na outra extremidade pela mesma ordem. Mas se virarmos o tubo, ela já não prevê a ordem inversa C B A).

Período das operações concretas. Cerca dos sete anos há uma viragem fundamental no desenvolvimento da criança: ela é capaz de uma certa lógica que assenta unicamente sobre os objectos manipuláveis. É uma lógica de classes, de relações e de números; nesta fase já estamos em presença de operações intelectuais reversíveis1 (por exemplo, a criança pode entender que adição é o mesmo que a subtracção, mas em sentido inverso). A noção de causalidade também é consolidada neste período.

Período das operações formais. Neste período surge o raciocínio hipotético-dedutivo que se estrutura já não sobre objectos manipuláveis, mas sobre hipóteses e proposições abstractas. O pensamento formal é de facto capaz de deduzir as conclusões de puras hipóteses e não apenas de uma observação real. Somos capazes de manipular hipóteses ou enunciados proposicionais e de raciocinar colocando-nos no ponto de vista dos outros.

«O desenvolvimento da criança dá-se por degraus sucessivos , por estádios/períodos (...) Estes períodos são caracterizados pela sua ordem de sucessão fixa. A ordem de sucessão é sempre a mesma, e isto porque para se chegar a um dado estado é necessário passar por

1 Reversibilidade mobilidade adquirida pelo pensamento.

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aquisições prévias, é necessário ter construído as pré-estruturas, as subestruturas que permitem ir mais longe.»

Piaget Deste texto conclui-se:

1- que o pensamento não surge repentina nem definitivamente elaborado no homem; ele resulta de uma construção que se vai processando ao longo do tempo;

2- as estruturas próprias de um período desempenham um papel de subestruturas sobre as quais se edificam as estruturas específicas do estádio seguinte. O indivíduo evolui de estruturas intelectuais mais simples para estruturas progressivamente mais complexas.

Piaget, para explicar como se processa o desenvolvimento mental, recorre ao conceito de assimilação.

«Assim como ao comermos uma maçã a assimilamos, ou seja, a integramos no nosso próprio organismo, passando aquela a transformar-se na nossa própria matéria orgânica, também as acções e as operações que realizamos são integradas em nós , sob a forma de imagens e de esquemas mentais. Estes esquemas vão tornar-se esquemas mentais gerais, abstraídos do concreto e dos aspectos particulares dos objectos e situações que constituíram o seu ponto de partida. Estes esquemas mentais gerais vão depois ter de ser aplicados a cada nova situação, exigindo a sua adequação às novas particularidades. Foi a este processo de ajustamento que Piaget chamou acomodação (...).»

Pensar e Ser

Conclusão

1- O desenvolvimento da inteligência faz-se,assim, pelo intercâmbio constante entre a criança e o meio, pelo que são as novas experiências que permitem construir novos esquemas a partir dos anteriores, no sentido de uma organização mental cada vez mais complexa.

2- Podemos afirmar que é a acção que torna possível o pensamento. Por sua vez, o pensamento confere um dinamismo maior a toda a acção em que o indivíduo se empenha. E, cada acção, cada vez mais coordenada e cada vez mais eficaz sobre o real, vai implicando e exigindo do sujeito novos esforços intelectuais que lhe conferem uma visão mais compreensiva e adequada dos problemas, o que de novo se irá reflectir numa prática/acção sempre mais adequada.

Pensamento Pensamento Pensamento

Acção Acção Acção Acção

…/…

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