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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE A IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES DE AFETO COMO FONTE DE MOTIVAÇÃO NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM NAS ORGANIZAÇÕES. Por: Patricia Ferreira Campos Orientador Profª Adélia Araújo Rio de Janeiro/2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES DE AFETO COMO FONTE DE

MOTIVAÇÃO NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM NAS

ORGANIZAÇÕES.

Por: Patricia Ferreira Campos

Orientador

Profª Adélia Araújo

Rio de Janeiro/2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

A IMPORTÂNCIA DAS RELAÇÕES DE AFETO COMO FONTE DE

MOTIVAÇÃO NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM NAS

ORGANIZAÇÕES.

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Gestão de

Recursos Humanos

Por: Patricia Ferreira Campos

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, a minha filha, meus

familiares e amigos pela compreensão

da minha ausência nos momentos de

pesquisa e reflexão do tema.

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DEDICATÓRIA

Dedico a Deus, a minha filha, meus

familiares, amigos e a orientadora da

monografia.

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RESUMO

A escolha do tema “Aprendizagem Organizacional” é devido a relevância das

relações de afeto como fonte de motivação no processo de aprendizagem nas

organizações. O processo ensino-aprendizagem é o recurso fundamental da

educação, sendo a compreensão e a afetividade, elementos primordiais para

aumentar a sua eficácia. As emoções e os sentimentos podem variar de

intensidade, em função do contexto, mas estão presentes em todos os

momentos da vida, interferindo de alguma maneira em nossas atividades. O

grande desafio do setor de Recursos Humanos é perceber o funcionário na sua

totalidade e concretude, valorizando todas as formas de expressão e

participação. No ambiente organizacional os funcionários são afetados um pelo

outro e ambos pelo contexto onde estão inseridos. A insatisfação das

necessidades afetivas e cognitivas prejudica a ambos, afetando diretamente o

processo de ensino-aprendizagem. A capacidade de atenção dos funcionários

é determinada pelo afeto. O afeto o faz amar, aprender e realizar. A

aprendizagem do que lhe é ensinado depende do afeto, do desejo e do prazer

em aprender. Um dos grandes educadores, Paulo Freire, nos diz que não há

educação sem amor, conseqüentemente, não há educação sem afeto. O

Gestor de Recursos Humanos é um referencial na forma de relacionar-se, de

expressar valores, de resolver conflitos, de falar e ouvir o funcionário. A

importância do afeto em tudo que fazemos individualmente ou coletivamente é

o princípio do sucesso profissional e humano. O sujeito que transmite o

conhecimento de maneira prazerosa produz momentos de reflexão muito

agradáveis no processo de aprendizagem. Os gestores devem sensibilizar e

motivar suas equipes com habilidades voltadas para o encantamento e o

envolvimento. A organização é saudável quando há integração das emoções,

sensibilidades e afetividade. Portanto, as relações de afeto são primordiais

para o sucesso empresarial.

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METODOLOGIA

A pesquisa está focada nas relações de afetividade nas organizações do país

com fundamentação nos atuais estudos da psicologia, educação e

administração. Os estudos da psicologia e os teóricos da educação darão o

suporte para as questões de afetividade, aprendizagem e motivação. Os

teóricos da administração darão suporte na articulação do tema com a Gestão

de Recursos Humanos. Trata-se de uma investigação com enfoque teórico

fundamentado a partir de fontes bibliográficas. A pesquisa poderá ser

classificada como explicativa, considerando que o objetivo esperado é

conhecer profundamente as razões e conseqüências do tema estudado. Os

livros, artigos e periódicos servirão de base para o desenvolvimento da

dissertação. A pesquisa terá o apoio dos seguintes autores: Albuquerque,

Chiavenato. Cunha, Dantas, Fairstein, Knapik. Marchand, Oliveira, Piaget,

Silva, Vygotsky, Wallon.

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SUMÁRIO

Introdução..........................................................................................................08

Capítulo I - A afetividade nas teorias de Wallon e Vygotsky.............................10

Capítulo II – Motivação e afetividade no processo de

Aprendizagem organizacional............................................................................21

Capítulo III - Estratégias de Recursos Humanos para o desenvolvimento

da aprendizagem: o foco na afetividade............................................................40

Conclusão..........................................................................................................57

Bibliografia.........................................................................................................59

Avaliação...........................................................................................................60

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INTRODUÇÃO

O tema da pesquisa é a aprendizagem organizacional. Para responder ao

tema apresento a seguinte problemática: Como o RH poderá desenvolver as

relações de afetividade de forma a interferir no processo de aprendizagem nas

organizações?

Justifica-se investigar que o impacto da afetividade no processo de

aprendizagem deve ser preocupação da área de Recursos Humanos,

considerando que reflete diretamente nas atividades da empresa.

As relações de afetividade são primordiais para o desempenho

profissional nas organizações. O afeto não pode ser desconsiderado quando se

pretende compreender quem somos como aprendemos e como nos

relacionamos na estrutura organizacional. Em toda relação de aprendizagem o

afeto encontra-se presente.

É preciso entender o processo de aprendizagem como recurso

fundamental para o crescimento pessoal e profissional dos empregados. A

motivação e a afetividade são elementos fundamentais para aumentar a

eficácia das atividades desenvolvidas nas organizações.

O setor de Recursos Humanos deve atentar-se para alguns fatores que

interferem no desempenho das funções exercidas como: motivação, afetividade

e o processo de aprendizagem. As ações desenvolvidas pelo RH devem

privilegiar programas de acolhimento profissional, considerando a motivação e

as relações de afetividade como precursoras do sucesso empresarial.

O grande desafio das organizações é acolher os profissionais na sua

totalidade e concretude para eficácia das suas ações. As organizações devem

compreender que os profissionais são afetados um pelo outro e ambos pelo

contexto institucional.

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A insatisfação das necessidades afetivas e cognitivas prejudica as

relações interpessoais, afetando diretamente o processo de aprendizagem.

Buscando direcionar a pesquisa, foi elaborado o objetivo geral: Analisar

as práticas de Recursos Humanos focadas no processo de aprendizagem e no

desenvolvimento das relações afetivas nas organizações.

Considerando o direcionamento da pesquisa, foram elaborados os

seguintes objetivos específicos: Analisar a motivação como elemento primordial

no processo de aprendizagem dos trabalhadores; Ponderar as relações de

afetividade nas concepções de Wallon, Vygotsky e Piaget como fonte de

motivação no processo de aprendizagem; Analisar o processo de

aprendizagem e as concepções de motivação nas organizações; Analisar a

importância da afetividade na Gestão de Pessoas e estratégias de

desenvolvimento motivacional e aprendizagem.

A hipótese da investigação é o estudo da relação empregado-empresa

para que seja agradável e eficaz, buscando as relações de afetividade como

fonte de motivação para o processo de aprendizagem.

Os capítulos serão desenvolvidos para abordagem do tema e divididos da

seguinte forma: Capítulo I - A afetividade nas teorias de Wallon e Vygotsky.

Capítulo II - Motivação e afetividade no processo de aprendizagem

organizacional. Capítulo III - Estratégias de Recursos Humanos para o

desenvolvimento da aprendizagem: foco na afetividade.

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CAPÍTULO I

Afetividade nas teorias de Wallon e Vygotsky

O processo ensino-aprendizagem só pode ser analisado como uma

unidade, pois ensino e aprendizagem são faces de uma mesma moeda; nessa

unidade, a relação interpessoal é um fator determinante. Os atores são

concretos, históricos, trazendo a bagagem que o meio lhes ofereceu para o

desenvolvimento, processo aberto e permanente.

O processo ensino-aprendizagem é o recurso fundamental da educação:

sua compreensão, e o papel da afetividade nesse processo, é um elemento

importante para aumentar a sua eficácia, bem como para a elaboração de

programas de formação.

De acordo com Chiavenato

“A organização da aprendizagem oferece um ambiente

social de aprendizado nos quais as pessoas aprendem à

medida que trabalham com outras no alcance de

objetivos. As relações entre indivíduos e organização

dentro desse sistema têm um impacto direto sobre o

como e o que a organização aprende” (2005 p. 176).

As emoções e os sentimentos podem variar de intensidade, em função

dos contextos, mas estão presentes em todos os momentos da vida,

interferindo de alguma maneira em nossas atividades.

A escolha de Henri Wallon para ilustrar a questão da afetividade no

processo ensino-aprendizagem decorre de várias razões: sua teoria

psicogenética dá uma importante contribuição para a compreensão do

processo de desenvolvimento e também contribuições para o processo ensino-

aprendizagem. Dá subsídios para compreender as relações e a interação entre

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eles. Ao focalizar o meio como um dos conceitos fundamentais da teoria

coloca a questão do desenvolvimento no contexto no qual está inserido.

Segundo Dantas (1992), segue algumas considerações com relação a

teoria de desenvolvimento de Henri Wallon:

• É difícil abranger, com uma só teoria, toda a complexidade dos

fenômenos estudados; se, por um lado, ela ilumina alguns aspectos desses

fenômenos, outros ficam obscurecidos.

• Os conceitos, princípios e direções expressos na teoria de

desenvolvimento de Henri Wallon são instrumentos que nos auxiliam na

compreensão do processo de constituição da pessoa, no movimento que

vai do bebê ao adulto de sua espécie, conforme os modelos que a cultura

do seu tempo disponibiliza.

• A teoria de desenvolvimento de Henri Wallon é um instrumento que pode

ampliar a compreensão sobre as possibilidades do individuo no processo

ensino-aprendizagem e fornecer elementos para uma reflexão de como o

ensino pode criar intencionalmente condições para favorecer esse

processo, proporcionando a aprendizagem de novos comportamentos,

novas idéias, novos valores. Na medida em que a teoria de

desenvolvimento descreve características de cada estágio, está também

oferecendo elementos para uma reflexão para tornar o processo ensino-

aprendizagem mais produtivo.

Ainda segundo Dantas (1992), a importância de encarar a teoria como um

conjunto sistematizado de proposições hipotéticas a serem constantemente

testadas, verificadas no confronto com os resultados do processo ensino-

aprendizagem. Assim, ao lado dos conhecimentos teóricos, assumem

relevância a sensibilidade, a curiosidade, a atenção, o questionamento e a

habilidade de observação sobre o que se passa no processo ensino-

aprendizagem. Nesse sentido, uma teoria de desenvolvimento assume três

funções paralelas e complementares: dá previsibilidade à rotina, oferece

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subsídios para o questionamento e o enriquecimento da prática e da própria

teoria, possibilita alternativas de ação com maior autonomia e segurança.

Na teoria psicogenética de Wallon, o eixo principal no processo de

desenvolvimento é a integração, em dois sentidos: Integração organismo-meio;

Integração cognitiva-afetiva-motora.

1.1 Integração organismo-meio

Partindo de uma perspectiva psicogenética, a teoria de desenvolvimento

de Wallon assume que o desenvolvimento da pessoa se faz a partir da

interação do potencial genético, típico da espécie, e uma grande variedade de

fatores ambientais. O foco da teoria é essa interação do sujeito com o meio,

uma relação complementar entre os fatores orgânicos e socioculturais.

De acordo com Dantas

“Nos momentos dominantemente afetivos do

desenvolvimento o que está em primeiro plano é a

construção do sujeito, que se faz na interação com outros

sujeitos; naqueles de maior peso cognitivo, é o objeto, a

realidade externa, que se modela, à custa da aquisição

das técnicas elaboradas pela cultura. Ambos os

processos são, por conseguinte, sociais, embora em

sentidos diferentes: no primeiro, social é sinônimo de

interpessoal: no segundo, é o equivalente de cultural”

(1992 p. 91).

De acordo com Dantas (1992), na concepção de Wallon, estas

revoluções de idade para idade não são improvisadas por cada indivíduo. É a

própria razão da infância, que tende para a edificação do adulto como exemplar

da espécie. Estão inscritas, no momento oportuno, no desenvolvimento que

conduz a esse objetivo. As incitações do meio são sem dúvida indispensáveis

para que elas se manifestem e quanto mais se eleva o nível da função, mais

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ela sofre as determinações dele: quantas e quantas atividades técnicas ou

intelectuais são à imagem da linguagem, que para cada um é a do meio. O

meio é um complemento indispensável ao ser vivo. Ele deverá corresponder as

suas necessidades e as suas aptidões sensório-motoras e, depois,

psicomotoras... a sociedade coloca o homem em presença de novos meios,

novas necessidades e novos recursos que aumentam possibilidades de

evolução e diferenciação individual. A constituição biológica da criança, ao

nascer, não será a única lei de seu destino posterior. Seus efeitos podem ser

amplamente transformados pelas circunstâncias de sua existência, da qual não

se exclui sua possibilidade de escolha pessoal... Os meios em que vive a

criança e aqueles com que ela sonha constituem a "forma" que amolda sua

pessoa. Não se trata de uma marca aceita passivamente.

Ainda segundo a autora, no caso específico do conjunto afetividade, ele

tem sua origem nas sensibilidades internas de interocepção (ligadas às

vísceras) e de propriocepção (ligadas aos músculos), que são responsáveis

pela atividade generalizada do organismo. Essas sensibilidades, junto com as

respostas dos outros do seu entorno — sensibilidade de exterocepção (ligada

ao exterior) —, vão provocando sentimentos e emoções cada vez mais

específicos: medo, alegria, raiva, posteriormente ciúmes, tristeza, etc.

Para Dantas (1992), processos afetivos são todos os estados que fazem

apelo a sensações de prazer/desprazer ou ligados a tonalidades

agradáveis/desagradáveis; emoção é um estado afetivo, comportando

sensações de bem-estar ou mal-estar que têm um começo preciso, é ligado a

um objeto específico e de duração relativamente breve e inclui ativação

orgânica. Refere-se à capacidade, à disposição do ser humano de ser afetado

pelo mundo externo/interno por sensações ligadas a tonalidades agradáveis ou

desagradáveis; Ser afetado é reagir com atividades internas/externas que a

situação desperta; A teoria aponta três momentos marcantes, sucessivos na

evolução da afetividade: emoção, sentimento e paixão; Os três resultam de

fatores orgânicos e sociais, e correspondem a configurações diferentes; Na

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emoção, há o predomínio da ativação fisiológica, no sentimento, da ativação

representacional, na paixão, da ativação do autocontrole.

1.2 Emoção

De acordo com Dantas (1992), a exteriorização da afetividade é a sua

expressão corporal, motora. Tem um poder plástico, expressivo e contagioso; é

o primeiro recurso de ligação entre o orgânico e o social: estabelece os

primeiros laços com o mundo humano e através dele com o mundo físico.

Emoções são sistemas de atitudes, reveladas pelo tônus. Atitude é a

expressão da combinação entre tônus (nível de tensão muscular) e intenção;

cada atitude é associada a uma ou mais situações; Das oscilações viscerais e

musculares vão se diferenciando as emoções: medo, alegria, raiva, ciúme,

tristeza. A cada uma, passa a corresponder um padrão postural, que libera ou

concentra energia com maior ou menor intensidade, e depende de

automatismos específicos que emergem pela maturação funcional: reação à

queda, à falta de apoio, à estimulação labiríntica, etc.

Ainda segundo a autora, a emoção dá rapidez às respostas, de fugir ou

atacar, em que não há tempo para deliberar. É apta para suscitar reflexos

condicionados. A emoção é uma forma concreta de participação mútua, é uma

forma primitiva de comunhão, que se apresenta nos ritos coletivos, que funde

as relações interindividuais, que funde os indivíduos e as circunstâncias

exteriores. É também um instrumento de sociabilidade que une os indivíduos

entre si.

1.3 Sentimento

De acordo com Dantas (1992), corresponde à expressão representacional

da afetividade. Não implica reações instantâneas e diretas como na emoção.

Os sentimentos podem ser expressos pela mímica e pela linguagem, que

multiplicam as tonalidades, as cumplicidades tácitas ou subentendidas. O

adulto tem maiores recursos de expressão representacional: observa, reflete

antes de agir; sabe onde, como e quando se expressar; traduz intelectualmente

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seus motivos ou circunstâncias. A dimensão temporal do desenvolvimento que

vai do nascimento até a morte está distribuída em estágios que expressam

características da espécie e cujo conteúdo será determinado histórica e

culturalmente.

De acordo com Dantas (1992), cada estágio, na teoria de Wallon, é

considerado como um sistema completo em si, isto é, a sua configuração e o

seu funcionamento revelam a presença de todos os componentes que

constituem a pessoa. Nessa fase, apesar de todas as transformações ocorridas

nas anteriores, ele se reconhece como o mesmo e único ser. É capaz de

afirmar com certa segurança: Eu sei quem eu sou. Ou seja, conhece melhor

suas possibilidades, suas limitações, seus pontos fortes, suas motivações,

seus valores e sentimentos, o que cria a possibilidade de escolhas mais

adequadas nas diferentes situações de vida. Ser adulto significa ter

desenvolvido uma consciência moral: reconhecer e assumir com clareza seus

valores e dirigir suas decisões e escolhas de acordo com eles. É essa definição

de valores e compromissos com eles que marca o fim da adolescência, cuja

característica primordial foi a luta por essa definição. Com maior clareza de

seus valores, o adulto estará mais livre e com mais energias para voltar-se

para o outro, para fora de si, em condições de acolher o outro solidariamente e

a continuar a se desenvolver com ele. Esse é um indicador de

amadurecimento: conseguir um equilíbrio entre "estar centrado em si" e "estar

centrado no outro", um equilíbrio nas direções para dentro — conhecimento de

si — e para fora — conhecimento do mundo. Daí a importância do professor

adulto: tem melhores condições para o acolhimento do outro, de seus alunos e

de seus pares.

1.4 A afetividade e a construção do sujeito

Segundo Dantas (1992), na psicogenética de Henri Wallon, a dimensão

afetiva ocupa lugar central tanto do ponto de vista da construção da pessoa

quanto do conhecimento. Ambos iniciam num período que ele denomina

impulsivo-emocional e se estende ao longo do primeiro ano de vida. Neste

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momento a afetividade reduz-se praticamente às manifestações fisiológicas da

emoção, que constitui, portanto, o ponto de partida do psiquismo.

De acordo com Dantas

“A afetividade não é apenas uma das dimensões da

pessoa: ela é também uma fase do desenvolvimento, a

mais arcaica. O ser humano foi, logo que saiu da vida

puramente orgânica, um ser afetivo. Da afetividade

diferenciou-se, lentamente, a vida racional. Portanto, no

inicio da vida, afetividade e inteligência estão

sincreticamente misturadas, com o predomínio da

primeira”. (1992 p. 90).

Ainda segundo a autora, a sua diferenciação logo se inicia, mas a

reciprocidade entre os dois desenvolvimentos se mantém de tal forma que as

aquisições de cada uma repercutem sobre a outra permanentemente. Ao longo

do trajeto, elas alternam preponderâncias, a afetividade reflui para dar espaço

à intensa atividade cognitiva assim que a maturação põe em ação o

equipamento sensório-motor necessário à exploração da realidade. A partir

daí, a história da construção da pessoa será constituída por uma sucessão

pendular de momentos dominantemente afetivos ou dominantemente

cognitivos, não paralelos, mas integrados. Cada novo momento terá

incorporado as aquisições feitas no nível anterior, ou seja, na outra dimensão.

Isto significa que a afetividade depende, para evoluir, de conquistas realizadas

no plano da inteligência e vice-versa.

Para Dantas

“A idéia de fases do desenvolvimento da inteligência é

bastante familiar; bem menos comum é noção de etapas

da afetividade, fora da psicanálise, onde ela se aplica a

uma sexualidade que se desenvolve à margem da

racionalidade. Aqui existe a suposição de que ela

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incorpora de fato as construções da inteligência, e por

conseguinte tende a se racionalizar. As formas de

afetividade, por esta razão, podem deferir enormemente

das suas formas infantis” (1992 p.90).

Segundo a autora, no seu momento inicial, a afetividade reduz-se

praticamente às suas manifestações somáticas, vale dizer, é pura emoção. Até

aí, as duas expressões são intercambiáveis: trata-se de uma afetividade

somática, epidérmica, onde as trocas afetivas dependem inteiramente da

presença concreta dos parceiros. A inteligência incorpora a linguagem em sua

dimensão semântica, primeiro oral, depois escrita. A possibilidade de nutrição

afetiva por estas vias passa a se acrescentar às anteriores, que se reduziam a

comunicação tônica: o toque e a entonação da voz. Instala-se o que se poderia

denominar de forma cognitiva de vinculação afetiva.

De acordo com Dantas

“Enfrentando o risco do esquematismo, falaríamos em

três grandes momentos: afetividade emocional ou tônica;

afetividade simbólica e afetividade categorial: o qualitativo

corresponde ao nível alcançado pela inteligência na etapa

anterior. Nos momentos dominantemente afetivos do

desenvolvimento o que está em primeiro plano é a

construção do sujeito, que se faz pela interação com os

outros sujeitos; naqueles de maior peso cognitivo, é o

objeto, a realidade externa, que se modela, à custa da

aquisição das técnicas elaboradas pela cultura. Ambos os

processos são sociais, embora em sentidos diferentes: no

primeiro, social é sinônimo de interpessoal e no segundo

é o equivalente ao cultural” (1992 p.91).

Para Dantas (1992), quando se trata de analisar o domínio dos afetos,

nada parece haver de muito misterioso: a afetividade é comumente

interpretada como uma “energia”, portanto como algo que impulsiona as ações.

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Vale dizer que existe algum interesse, algum móvel que motiva a ação. O

desenvolvimento da inteligência permite que a motivação possa ser despertada

por um número cada vez maior de objetos ou situações. Todavia, ao longo

desse desenvolvimento, o princípio básico permanece o mesmo; a afetividade

é a mola propulsora das ações, e a razão está ao seu serviço. Verifica-se que

esta solução traz enormes problemas para o saber psicológico. De fato, o

dualismo afetividade-razão é fácil de ser compreendido quando os dois termos

são entendidos como complementares: a afetividade seria a energia, o que

move a ação, enquanto a razão seria o que possibilitaria ao sujeito identificar

desejos, sentimentos variados e obter êxito nas ações.

1.5 VYGOTSKY

Segundo Oliveira (1992), as dimensões cognitivas e afetiva do

funcionamento psicológico têm sido tratadas, ao longo da história da psicologia

como ciência, de forma separada, correspondendo a diferentes tradições

dentro dessa disciplina. Atualmente, percebe-se uma tendência de reunião

desses dois aspectos, numa tentativa de recomposição do ser psicológico

completo. Essa tendência parece assentar-se em uma necessidade teórica de

superação de uma divisão artificial, a qual acaba fundamentando uma

compreensão fragmentada do funcionamento psicológico. As situações

concretas da afetividade humana, objeto de interesses de áreas aplicadas

como a educação, por exemplo, também pedem uma abordagem mais

orgânica do ser humano: as lacunas explicativas tornam-se óbvias quando

enfrentamos indivíduos e grupos em situações reais de desempenho no

mundo.

Ainda segundo a autora, em termos contemporâneos, Vygotsky poderia

ser considerado um cognitivista, na medida em que se preocupou com a

investigação dos processos internos relacionados à aquisição e uso do

conhecimento e, especificamente, com sua dimensão simbólica. Encontramos

nos termos utilizados por Vygotsky, um questionamento da divisão entre as

dimensões cognitiva e afetiva funcionamento psicológico e, conseqüentemente,

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um desafio à classificação de seu trabalho como sendo cognitivista stricto

sensu.

De acordo com Oliveira

“Há dois pressupostos complementares e de natureza

geral em sua teoria que delineiam uma posição básica a

respeito do lugar do afetivo no ser humano.

Primeiramente, uma perspectiva declaradamente monista,

que se opõe a qualquer cisão das dimensões humanas

como corpo-alma, mente-alma, material-não material e

até, mais especificamente, pensamento-linguagem. Em

segundo lugar, uma abordagem holística, sistêmica, que

se opõe ao atomismo, ao estudo dos elementos isolados

do todo, propondo a busca de unidades de análise que

mantenham as propriedades da totalidade. Tanto o

monismo como a abordagem globalizante buscam a

pessoa como um todo, portanto, Por definição não

separam afetivo e cognitivo como dimensões isoláveis”

(1992 p.76).

De acordo com a autora, Vygotsky menciona que um dos principais

defeitos da psicologia tradicional é a separação entre os aspectos intelectuais,

de um lado, e os volitivos e afetivos, de outro, propondo a consideração da

unidade entre esses processos. Coloca que o pensamento tem sua origem na

esfera da motivação, a qual inclui inclinações, necessidades, interesses,

impulsos, afeto e emoção. Nesta esfera estaria a razão última do pensamento

e, assim, uma compreensão completa do pensamento humano só é possível

quando se compreende sua base afetivo-volitiva. A separação do intelecto e do

afeto dissociado da plenitude da vida, das necessidades e dos interesses

pessoais, das inclinações e dos impulsos daquele que pensa. Esse

pensamento dissociado deve ser considerado tanto um epifenômeno sem

significado, incapaz de modificar qualquer coisa na vida ou na conduta de uma

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pessoa, como alguma espécie de força primeira a exercer influência sobre a

vida pessoal, de um modo misterioso e inexplicável. Assim fecham-se as portas

à questão da causa e origem de nossos pensamentos, uma vez que a análise

determinista exigiria o esclarecimento das forças motrizes que dirigem o

pensamento para esse ou aquele canal. Justamente por isso a antiga

abordagem impede qualquer estudo fecundo do processo inverso, ou seja, a

influência do pensamento sobre afeto e a volição.

A análise em unidades indica o caminho para a solução desses

problemas de importância vital. Demonstra a existência de um sistema

dinâmico de significados em que o afetivo e o intelectual se unem. Mostra que

cada idéia contém uma atitude afetiva transmutada com relação ao fragmento

de realidade ao qual se refere.

A autora relata que as idéias de Vygotsky a respeito do conceito de

consciência é tão central em sua concepção das relações entre afeto e

intelecto, bem como suas idéias sobre alguns outros conceitos específicos,

como forma de aprofundar os aspectos do pensamento que têm uma ligação

mais direta com a dimensão afetiva do funcionamento psicológico do homem.

De acordo com Oliveira

“Para Vygotsky a organização dinâmica da consciência

aplica-se ao afeto e ao intelecto. Os processos pelos

quais o afeto e o intelecto se desenvolvem estão

inteiramente enraizados em suas inter-ralações e

influências mútuas” (1992 p. 76).

Segundo Oliveira (1992), a exploração do lugar do afetivo na obra de

Vygotsky torna-se particularmente interessante pelo fato de que o autor, que

produziu sua obra nos anos 20 e 30 do século passado e poderia ser

atualmente considerado um cognitivista, propõe uma abordagem unificadora

das dimensões afetivas e cognitivas do funcionamento psicológico que muito

se aproxima das tendências contemporâneas.

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CAPÍTULO II

Motivação e afetividade no processo de aprendizagem

organizacional

O que se sabe é que o amor já provocou guerras, revoluções,

perseguições, mas também inspiram poesia, literatura, música, arte, e também

a filosofia e a ciência... logo parece que o afeto não pode ficar de fora quando

se pretende melhor compreender quem somos, como aprendemos e como nos

relacionamos neste nosso mundo, que parece ser mais de uns do que de

outros... o que leva alguns a lutar para manter esta injustiça.

De acordo com Albuquerque

“Na Grécia, o conceito clássico de educação incluía a

formação do ser humano em sua integralidade e

totalidade. Na Alemanha, o conceito trazia como objeto a

formação integral do ser humano, com o desenvolvimento

das suas capacidades incluindo a integralidade dos

sentidos, a habilidade construtiva e transformadora e a

razão crítica. Ao focar a educação, no papel das

organizações em relação ao seu próprio desenvolvimento,

podem ser observadas mudanças nas relações

empresa/empregado” (2009 p. 72).

Paulo Freire nos diz que não há educação sem amor, conseqüentemente

não há educação sem afeto. Quando o profissional ama o que faz é o primeiro

a aprender que só se educa efetivamente quando individuo é afetado pelo

conhecimento.

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A capacidade de atenção do individuo é determinada pelo afeto. O afeto o

faz amar, aprender e realizar. A aprendizagem do que lhe é ensinado depende

do afeto.

Segundo Cunha (2010), nossos impulsos emocionais têm início no afeto.

Referimo-nos às sensações que se vivenciam no campo dos sentimentos e que

nos trazem experiências reais, boas ou ruins. Essas experiências são

responsáveis pelo nosso prazer em viver e, em grande parte, pelo sucesso ou

insucesso.

“Na sua definição etimológica, o afeto é neutro. Pode

exprimir um sentimento de agrado ou desagrado em

diferentes graus de complexão; disposição de alma, que

tanto pode revelar amor ou ira. O afeto, entretanto,

quando resulta da prática do amor, torna-se amorosidade,

atitude que se reveste em estímulo para o aprendizado,

dando clareza e entendimento à consciência” (2010 p.16)

O ato de ser bom, ser amoroso, possuindo como resultado o afeto que,

por sua vez, tem como conseqüência o prazer de aprender e de educar. É por

meio do amor que se obtém a saúde mental e emocional. É em razão do amor

que sabemos se somos felizes ou não. É por sua ação que os indivíduos são

encorajados a romperem os seus limites em vôos mais altos e a respeitarem

voluntariamente os limites estabelecidos para a sua disciplina e aprendizado.

Quando se ama, é quando se devem disciplinar e estabelecer limites, não em

momentos de rancor instintivos, nos quais agimos mais em razão de nós

mesmos. Em tudo que Freire escreveu, deixou latente o vínculo com o amor

para educar. Não algo piegas, mas humano, como humana é a necessidade

que temos uns com os outros. Assim como o amor, ensinar não é um ato

solitário.

A capacidade de atenção do aprendente é determinada pelo afeto. O

afeto o faz amar, aprender e realizar. A qualidade do registro do que é

ensinado depende do afeto. Freire nos diz que não há educação sem amor,

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conseqüentemente, não há educação sem afeto. A nossa formação acadêmica

não poderá por si só remover as barreiras das dificuldades. É o amor que lança

fora o medo, que supera o egoísmo, que derrota o fracasso, que suplanta a

frustração. Retira da obscuridade o homem e estabelece a cumplicidade de

uma educação social, onde não existe superior nem inferior, mas um ímpeto

irrestrito da participação de todos.

O ensino para a aquisição de habilidades sociais é também uma

educação individualizada, deve partir do vínculo afetivo que o aprendente

possui com o seu ambiente social. Consoante com esta perspectiva, o

repertório das atividades deve ser o mais próximo daquele que contém

elementos essenciais das situações do dia a dia do educando, aplicados de

forma prazerosa, para que ele exerça as habilidades que está adquirindo.

A socialização afeta. A questão do afeto ganha cunho especial quando a

educação descortina para o aprendente o seu tempo, a sua cultura e a sua

história no caráter da coletividade do ensino.

Para Cunha (2007), se realmente queremos atrair, não cabe na educação

mais nenhum modelo que não parta do aprendente. Devendo haver formação

de pessoas criativas e dotadas de habilidades que possam transcender a visão

restritiva, de maneira multidisciplinar e interdisciplinar, formar cidadãos para a

vida, cumprindo seu papel quando educa o individuo para o todo e para a vida.

Nada afeta mais do que a vida.

Algumas mudanças positivas surgiram nos últimos anos com resultados

diferentes. O importante é que há uma busca, ainda que de forma fragmentada,

para alcançar uma educação que contemple mais as necessidades de quem

aprende e menos os conhecimentos de quem ensina. Na verdade, busca-se

uma educação onde todos ensinam e todos aprendem. Uma educação

compartilhada, onde ninguém detém o saber, mas todos dividem experiências.

Uma educação baseada no afeto, na esperança e no trabalho, os quais

participam como sujeitos do processo em que crescem juntos.

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Ainda segundo Cunha (2007), é possível ter alguma consciência quando

conseguimos unir o trabalho que executamos ao que gostamos de fazer,

trazendo a sensação de que estamos sendo mais felizes. O prazer é uma força

motriz do aprendizado que leva à realização pessoal. O profissional deve

sempre usar palavras de incentivo. Deve também crer e fazê-los crer que são

importantes. Ainda que seja imprescindível corrigi-los, as palavras precisam

transmitir ânimo e confiança e não reforçar o erro e as imperfeições.

A questão do afeto percorre todo o histórico da educação, sendo que não

podemos menosprezá-los se realmente queremos educar. O afeto e o prazer

são propulsores da cooperação. Quando existe a cooperação, a classe deixa

de ser apenas uma soma de indivíduos e passa a ser uma sociedade.

Em um ambiente democrático, a autoridade é mais legitima. A voz de

comando é mais considerada, e todas as coisas que são movidas pela

voluntariedade possuem uma perenidade maior, assim como toda liderança

que nasce nessas circunstâncias.

Também, no processo de aprendizagem, algo que favorece o alcance do

prazer em quem aprende é a sensação de que o conhecimento que está sendo

ministrado poderá ser dominado. Com efeito, o desenvolvimento da autonomia

promove a igualdade dos papéis.

De acordo com Cunha (2010), é preciso conquistar não apenas as

habilidades, mas também as aptidões emocionais que os capacitarão para lidar

com fracassos, falhas, decepções e até com o próprio sucesso. O cotidiano

afeta e produz sentimentos que podem ser negativos, culminado em

dificuldades de aprendizagem.

Para Oliveira (1992), educar sempre significa mudar. Se não houvesse

nada para mudar, não haveria nada para educar. Segundo a autora, Vygotsky

informa que mudanças educativas devem realizar-se nos sentimentos, pois

todo sentimento é o mesmo mecanismo de reação, ou seja, de certa resposta

do organismo a algum estímulo do meio.

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Para Cunha (2010), o afeto poderá promover a educação que não se

fundamenta na efemeridade, mas em experiências cotidianas que legam o

amor uns aos outros. A sua qualidade sublima as pequenas e as grandes

coisas desejantes que nos matizam com humanidade na feitura e na ação.

O afeto é assim. No mundo atual, parece uma novidade, mas ele existe

desde que respiramos. Decerto, é uma respiração; transpiração e inspiração

para a vida.

Segundo Chiavenato (2005), mudanças contínuas e drásticas no mundo

exterior – que refletem o turbulento meio ambiente de negócios da atualidade –

exigem uma contínua gestão de mudança dentro da empresa. Isso significa

mudanças no comportamento dos seus membros, nos processos internos, nos

sistemas e nas tecnologias utilizados, a necessidade de aprender

continuamente e cada vez mais para poder mudar e inovar. O aprendizado

organizacional é o requisito fundamental para a existência e o sucesso das

empresas.

São as pessoas que transformam as visões estratégicas em ações

específicas. E esse processo sempre requer uma mudança comportamental e

o desenvolvimento gradativo de competências individuais de uma maneira

constante e contínua.

Para Chiavenato (2005), aprendizagem significa a capacidade de gerir a

mudança mediante a mudança em si mesma. A organização que aprende é a

que desenvolve uma capacidade contínua de adaptação e mudança por meio

do aprendizado.

Para Silva

“Podemos definir aprendizagem, como uma gama de

conhecimentos e/ou experiências adquiridas pelo

indivíduo, e que podem ou não ser comportamentalizadas

pelo mesmo. Isto significa que nem todos os

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comportamentos do indivíduo são aprendidos, pois muitos

dos reflexos são independentes da aprendizagem” (1997

p. 25).

A essência do aprendizado está em mudar a própria estrutura interna

para permanecer em harmonia com o ambiente que se modifica a cada

instante. Assim, segundo Chiavenato, a sempre bem-sucedida é aquela que

pode efetivamente aprender continuamente. Para tanto as pessoas tornam-se

fundamentais para o sucesso das empresas. Afinal, a aprendizagem individual

é o primeiro passo para aprendizagem organizacional.

De acordo com Soto (2002), aprendizagem é o produto, o resultado da

interação contínua do organismo com o mundo físico e social. Nessa interação

realiza-se o trânsito do inato ao aprendido. A aprendizagem, como aptidão

inata, é explicada da seguinte maneira: quando o ser humano chega ao mundo,

tem em sua bagagem de “disposições inatas” além de um repertório de

movimentos, uma capacidade de aprender que lhe permitirá modificar a sua

conduta adaptando-a ao meio ambiente cultural ou social onde terá lugar a sua

maturação biológica.

A predisposição em receber as informações, essência da capacidade

para aprender, facilita a transmissão das normas culturais e, por conseguinte,

no processo de adaptação à sociedade, as pessoas adequam seu

comportamento ao meio ambiente por meio da predisposição inata conhecida

como aprender.

O comportamento adquirido ou aprendido é alavancado não pelo que

ocorre antes, mas pelos estímulos posteriores. Assim, uma conduta se dá por

ter sido: provocada, reforçada na filogênese, ou seja, o comportamento inato e

aprendida, reforçada pela ontogênese, ou seja é o comportamento aprendido

ou produto do processo permanente da adaptação do sujeito ao meio que o

rodeia, e que está em mudança constante, especialmente o ambiente social.

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Ainda segundo Soto (2002), a aprendizagem é um fator que influi de

maneira importante em todos os seres vivos e permite ao homem adaptar-se

às modificações do ambiente para sobreviver. O termo aprendizagem engloba

mudanças tão diferentes quanto a resposta diferenciada a um sinal, a aquisição

de uma habilidade, a alteração da forma de perceber alguma coisa, o

conhecimento de um fato e o desenvolvimento de uma atitude ante a

determinada situação. Denomina-se aprendizagem à aquisição de novas

formas de comportamento que se entrelaçam e combinam com

comportamentos inatos que vão surgindo à medida que o organismo

amadurece. A aprendizagem conduz a mudanças relativamente permanentes

da conduta. Elas frequentemente ocorrem sem que o indivíduo as procure de

forma deliberada e mesmo sem estar consciente disso. Uma definição aceita

do termo aprendizagem afirma que é toda mudança relativamente permanente

na conduta e que se produz como conseqüência de uma experiência.

De acordo com Chiavenato (2005), a palavra “aprendizagem” representa

o foco sobre o conhecimento e a competência. Isso significa que na

organização de aprendizagem são as pessoas que aprendem individualmente.

A organização de aprendizagem apresenta três características principais:

• A presença de tensão: a organização de aprendizagem cria uma tensão

criativa que funciona como um catalisador ou uma necessidade motivacional

para aprender.

• O sistema de pensamento da organização: há uma visão compartilhada

por todas as pessoas em toda a organização, bem como total abertura para

novas ideias e para o ambiente externo. Abertura e comunicação são vitais

para permitir que haja consonância e interação entre as pessoas.

• A cultura organizacional facilitadora: a cultura da organização assume

uma importância vital no processo de aprendizado. Ela vai muito além de

mecanismos isolados como sugestões, equipes, empowerment, empatia etc.

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Para Chiavenato (2005), a aprendizagem tem lugar em diferentes níveis

em uma organização, por meio de indivíduos, equipes, redes internas, bem

como por meio de redes de clientes, fornecedores e outros grupos. A

organização de aprendizagem oferece um ambiente social de aprendizado no

qual as pessoas aprendem a medida que trabalham com outras no alcance de

objetivos.

O processo começa com o aprendizado no nível individual e a

infraestrutura cria contínuas oportunidades de aprendizado graças aos

resultados do trabalho de cada pessoa. O foco principal de uma organização

de aprendizagem é a transformação. Todas as pessoas devem aprender a

pensar sistematicamente sobre o impacto de suas decisões. O aprendizado

passa a ser parte do trabalho cotidiano.

“A aprendizagem individual é o primeiro passo para a

aprendizagem organizacional. A organização da

aprendizagem é recente na teoria administrativa e pode

ser conceituada como uma organização habilitada para

criar, adquirir e transferir o conhecimento e modificar o

seu comportamento, a fim de refletir o conhecimento e os

insights novos” (2005 p. 172).

A organização que aprende é a que desenvolve uma capacidade

contínua de adaptação e mudança por meio do aprendizado. Algumas

organizações fazem isso melhor que outras. Assim, a organização de

aprendizagem é aquela que está continuamente desenvolvendo e mudando a

maneira de manter a empresa competitiva no presente e no futuro.

Para Chiavenato,

“O aprendizado organizacional é o requisito fundamental

para a existência e o sucesso das empresas. A

organização que aprende é a que desenvolve uma

capacidade contínua de adaptação e mudanças por meio

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do aprendizado. A organização de aprendizagem é aquela

que está continuamente desenvolvendo e mudando a

maneira de manter a empresa competitiva” (2005 p. 172).

Para Chiavenato (2002), a aprendizagem é o processo pelo qual as

pessoas adquirem conhecimento sobre seu meio ambiente e suas relações

durante o próprio tempo de vida. Como resultado de alguma experiência,

provavelmente ocorrem conexões no cérebro que permitem à pessoa alguma

forma de associação entre os eventos do mundo a seu redor ou entre o evento

e a conseqüência que afeta a pessoa ou ainda entre a ação e o evento. Assim,

o aprendizado acontece quando ocorre mudança de comportamento da pessoa

em resposta a uma experiência anterior.

De acordo com Soto (2002), a aprendizagem nunca é observada

diretamente, sempre é uma inferência derivada da observação de uma

mudança ou de uma série delas na conduta; uma resposta específica aparece

mais frequentemente ou mais rapidamente quando está presente um

determinado estímulo. Essas mudanças de conduta que permitem medir a

aprendizagem recebem o nome de execução. Por tanto, a execução seria a

manifestação visível do processo de mudança que se produz no interior do

organismo, isto é, aprendizagem. Contudo, a aprendizagem ocorre sem que

haja alguma conduta observável, pois só se manifesta quando se apresenta

uma oportunidade de utilizá-las.

Para Chiavenato (2005), o desempenho de cada pessoa está fortemente

relacionado com suas aptidões e habilidades. Entretanto, o bom desempenho

requer muito mais do que simplesmente aptidões e habilidades, requer

motivação para trabalhar. O bom desempenho depende de quão motivado está

o empregado. Em termos de comportamento, a motivação pode ser

conceituada como esforço e tenacidade exercidos pela pessoa para fazer ou

alcançar algo. A razão pela qual se focaliza tão insistentemente a motivação é

que ela é mais facilmente influenciável que as demais características das

pessoas como traços de personalidade, aptidões, habilidades etc.

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O executivo tem um papel fundamental na motivação das pessoas. Aliás,

a motivação é uma das principais responsabilidades gerenciais. A influência

gerencial sobre os subordinados exige liderança eficaz e uma contínua

motivação da equipe. A motivação funciona como dinamizador, um

impulsionador do comportamento humano. Para compreender a motivação

humana, o primeiro passo é o conhecimento do que a provoca e dinamiza. A

motivação existe dentro das pessoas e se dinamiza com as necessidades

humanas. Todas as pessoas três suas necessidades próprias, que podem ser

chamadas de desejo, aspirações, objetivos individuais ou motivos. As

necessidades humanas ou motivos são forças internas que impulsionam e

influenciam cada pessoa determinando seus pensamentos e direcionando o

seu comportamento e que são pessoais e individuais, pois são determinados

por fatores que formam a personalidade, por traços biológicos e psicológicos e

pelas características adquiridas pela experiência pessoal e aprendizagem de

cada pessoa. O gerente, por ter pleno conhecimento dessas necessidades,

pode tentar motivar sua equipe e agir a se comportar de acordo com os

objetivos da empresa e, simultaneamente, alcançar a satisfação delas por meio

do contexto organizacional.

De acordo com Knapik

“Motivar quer dizer “mover para a ação”, mobilizar energia

e esforços na busca da realização de determinadas

metas. Motivação, portanto, é o que move uma pessoa

para uma determinada direção” (2006 p. 96).

A teoria motivacional mais conhecida é a de Maslow e se baseia na

hierarquia das necessidades humanas. Para Maslow, as necessidades

humanas estão arranjadas em uma pirâmide de importância e de influenciação

do comportamento humano. Na base de pirâmide estão as necessidades mais

baixas e recorrentes, enquanto no topo estão as mais sofisticadas e

intelectualizadas.

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De acordo com Knapik

“O comportamento motivado é a ação gerada por uma

tensão agradável ou desagradável, cujo objetivo é

satisfazer uma necessidade. Somente as necessidades

satisfeitas são fontes de motivação” (2006 p.99).

Segundo Chiavenato (2005), a motivação funciona de maneira cíclica e

repetitiva. O chamado ciclo motivacional é composto de fases que se alternam

e se repetem. O organismo humano tende a um estado de equilíbrio dinâmico.

O equilíbrio se rompe quando surge uma nova necessidade. O equilíbrio cede

lugar a um estado de tensão que dura enquanto a necessidade não for

satisfeita. A tensão (ou estresse) gera ansiedade e sofrimento provocando um

consumo mais elevado de energia física e mental. A satisfação da necessidade

devolve ao organismo o estado de equilíbrio dinâmico anterior. Assim, o ciclo

motivacional pode ser resolvido a partir de três maneiras diferentes: satisfação

de necessidade, frustração da necessidade e compensação da necessidade.

Alguns autores salientam que tanto as diferenças individuais como as

situacionais devem ser consideradas em toda abordagem motivacional.

Segundo Chiavenato, o modelo contingencial de Vroom salienta que a

motivação para produzir em uma empresa é função de três fatores

determinantes, expectativas, recompensas e relações expectativas e

recompensas. Assim, o nível de produtividade individual depende da

interrelação entre esses três fatores determinantes. Tais fatores determinam o

nível de motivação para produzir em quaisquer circunstâncias em que o

indivíduo se encontre. Herzberg formulou a chamada teoria dos dois fatores

para melhor explicar o comportamento das pessoas em situações de trabalho.

Para ele, dois fatores orientam fortemente o comportamento das pessoas:

higiênicos e motivacionais.

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Para Fairstein

“A motivação é o processo psicológico interior pelo qual

se inicia e se orienta a ação de um sujeito. A motivação é

uma condição essencial para que se ponha em marcha o

processo de aprendizagem” (2005 p.60).

Segundo Chiavenato (2005), a motivação está contida dentro das

próprias pessoas e pode ser amplamente influenciada por fontes externas ao

indivíduo ou pelo seu próprio trabalho na empresa. A motivação intrínseca e

extrínseca devem se complementar por meio do trabalho gerencial. O gerente

deve conhecer o potencial interno de motivação de cada pessoa e deve saber

como extrair do ambiente de trabalho as condições externas para elevar a

satisfação profissional. O ponto de encontro dessas duas opções é o conteúdo

do cargo por meio de um desenho de cargo participativo e ajustado às

demandas pessoais de cada ocupante.

De acordo com Knapik

“As práticas para estimular a motivação dos

colaboradores não precisam ser onerosas e de difícil

aplicação e estão mais voltadas para um modelo de

gestão participativa e de valorização da força de trabalho”

(2006 p. 110).

Segundo Soto (2002), a motivação baseia-se fundamentalmente na

afetividade. O comportamento tende a reduzir ao mínimo os processos afetivos

de sinal negativo e a estender ao máximo os sinais positivos.

Para Fairstein

“Um clima baseado no respeito, em bons laços afetivos,

em valores compartilhados, no diálogo cultural, em

normas de convivência claras e aceitas por todos, facilita

a disposição para aprender” ( 2005 p.55).

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Segundo Chiavenato (2005), as pessoas ingressam e permanecem em

uma organização, passam a desenvolver certas necessidades e expectativas

que precisam ser atendidas para que percebam em seus esforços e

investimentos pessoais produzem retornos significativos e se sintam satisfeitas.

As principais motivações das pessoas em relação à organização em que

trabalham são as seguintes:

v Fazer uma contribuição pessoal a organização ou a comunidade.

v Ter satisfação intrínseca no trabalho.

v Ter liberdade para exercitar a curiosidade natural.

v Aprender sem medo de se mostrar incompetente.

v Poder assumir riscos e cometer erros sem receio de reprimendas.

v Receber uma remuneração adequada e compatível.

v Receber apoio para falar a verdade sem medo de retaliações.

v Aprender a praticar inovações no trabalho.

v Ter respeito de todos e sentir-se valioso.

v Sentir avanço na carreira profissional.

v Trabalhar em um ambiente amigável, alegre e afirmativo.

v Sentir confiança na organização, no líder e nos colegas.

v Trabalhar com colegas que sejam respeitados e cofiáveis.

v Ser recompensado pelo aprendizado e pelas ideias e não pelo fazer.

v Poder planejar e controlar o próprio trabalho.

v Participar no desenvolvimento da visão e da estratégia da organização.

Essas expectativas não podem ser ignoradas. Quanto mais bem

atendidas, maiores a satisfação e o envolvimento das pessoas.

De acordo com Soto (2002), uma vez que a aprendizagem ocorre no local

de trabalho, e também fora dele, os gerentes estarão interessados na maneira

de ensinar seus subordinados a se comportar para beneficiar a organização.

Quando tratamos de modelar os indivíduos, guiando sua aprendizagem a

passos graduais, estamos modelando a conduta ou o comportamento.

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A aprendizagem é um processo que inclui: amadurecimento ou

desenvolvimento físico e experiência. Aprender é experimentar alguma

influência ambiental. E tal experiência produz mudança. A experiência estimula

o processo do conhecimento e se projeta sobre o mecanismo fisiológico.

Assim, uma experiência negativa pode provocar inibição de funções, de modo

semelhante à produzida pelas lesões orgânicas. As formas de aprendizagem

de condutas normalmente aceitas e mais estudadas são o condicionamento

clássico, o condicionamento operante ou condicionamento instrumental e

aprendizagem por observação, as quais serão analisadas abaixo:

O condicionamento é um processo por meio do qual um organismo

aprende a responder de maneira particular a um estímulo que previamente não

produzia resposta. O filósofo russo Iván Pavlov foi o primeiro a pesquisar

amplamente esse processo, razão pela qual foi um dos primeiros

investigadores da conduta e pai da nova ciência emergente: psicologia.

O condicionamento operante implica associar uma conduta específica a

um fenômeno seguinte reforçador.

Enquanto o condicionamento clássico é definido como a formação de

uma relação de previsão entre os dois estímulos (o condicionado e o

incondicionado), o condicionamento operante pode ser considerado como a

formação de uma relação de previsão entre uma resposta e um estímulo.

A aprendizagem por observação, por imitação, por moldagem ou social, é

adquirida por meio de análise da conduta de outro sujeito. De fato, se não

existisse a imitação, ninguém teria aprendido tudo o que sabe. Se tivesse de se

estabelecer programas de ensinamento para cada uma das habilidades e

comportamental que um indivíduo tem ao longo de sua vida não haveria tempo

para aprender tudo. Por isso, graças à imitação aprende-se grande quantidade

de coisas em uma velocidade maior.

A aprendizagem emocional é formada por três capacidades: a

capacidade para compreender as emoções, a capacidade para expressá-las de

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uma maneira produtiva e a capacidade para captar as emoções dos outros e

sentir empatia em relação a elas. Ter capacidades emocionais significa ser

capaz de conduzir as próprias emoções de tal maneira que melhore seu

desenvolvimento pessoal e sua qualidade de vida. A aprendizagem das

emoções melhora as relações, cria responsabilidades afetivas entre as

pessoas, faz o trabalho mais cooperativo e facilita o sentimento de

comunidade. Ensinar emotivamente ajuda a incrementar a inteligência

emocional. No começo dessa aprendizagem a maior parte das pessoas

incomoda-se somente ao ouvir a palavra “emoções” por temerem a revelação

de suas emoções e deixarem descoberto segredos profundos e dolorosos,

além do que um aprendizagem emocional lhes faria perder poder tanto no

aspecto profissional quanto no pessoal.

Ainda segundo Soto (2002), a sensação de que ao tornar nossos limites

afetivos mais flexíveis poderemos ter alguns problemas não é totalmente

injustificada. Contudo, a aprendizagem emocional não consiste simplesmente

em deixar os sentimentos fluir; também é muito importante aprender a

compreendê-los e controlá-los. As emoções são parte essencial da natureza

humana. Sem elas seríamos psicopatas; por outro lado, se as reconhecemos e

dirigimos de uma maneira produtiva, aumentamos nosso desenvolvimento

pessoal. Com a aprendizagem emocional sabemos como, onde e quando

expressar os sentimentos e como eles afetam aos demais. Também

aprendemos a ser responsáveis pelos efeitos dos sentimentos. Essa

aprendizagem ajuda a entender as emoções e a ser conscientes da

importância dessa sensibilidade, permitindo também que nossas habilidades

racionais trabalhem ombro a ombro com as emocionais, melhorando a nossa

capacidade de relacionarmo-nos com os demais.

Todos têm de participar de alguma forma para aprender emotivamente, já

que os erros emocionais são muito freqüentes e destrutivos.

Consegue-se a aprendizagem útil e inteligente através da operação

consciente da melhor das máquinas com que a natureza presenteou cada ser

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humano: o sistema cerebral. A pessoa inteligente não só produz, mas também

gera informação e tem capacidade de aprender coisas novas. A aprendizagem

verdadeira é uma combinação do adaptativo com o generativo.

Uma equipe comprometida com a aprendizagem não só deve dizer a

verdade com relação ao que ocorre “fora” do âmbito dos negócios, mas

também “dentro” dele, no interior da equipe. Para ver a realidade com maior

clareza também temos de estar conscientes das estratégias com que a

ocultamos.

Segundo Soto (2002), a aprendizagem em equipe é uma atitude de

grupo. Um grupo de indivíduos talentosos não produz necessariamente uma

equipe inteligente, assim como um grupo de atletas talentosos não produz

necessariamente uma grande equipe esportiva. As equipes inteligentes

aprendem a se instruir em conjunto. As atitudes da equipe são mais difíceis de

desenvolver que as atitudes individuais. Por essa razão as equipes inteligentes

precisam de “campos de treinamento” âmbitos de prática conjunta para

desenvolver suas atitudes coletivas de aprendizagem.

De acordo com Chiavenato (2002), a aprendizagem é uma mudança ou

alteração permanente no comportamento em função da experiência passada a

cada indivíduo. Algumas mudanças comportamentais podem ser observadas

nas pessoas à medida que elas se desenvolvem na infância até a maturidade.

A aprendizagem afeta poderosamente a maneira pela qual a pessoa pensa,

sente e age, bem como suas crenças, valores e objetivos pessoais. Tudo isso é

aprendido na vida em sociedade. Em todo o decorrer de suas vidas, as

pessoas vivem aprendendo e modificando continuamente seu comportamento.

A mudança comportamental representa a incorporação no comportamento de

algo aprendido e desejado pela pessoa.

Ainda segundo Soto (2002), o problema da educação consiste em

descobrir a estratégia do pensamento da pessoa a quem se ensina.

Geralmente, as falhas de aprendizagem não estão relacionadas com a

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dificuldade para aprender, mas com o fato de se ensinar de uma forma que não

permite captar, armazenar e recuperar com eficácia a informação.

Qualquer mudança observável do comportamento é, por definição, uma

evidência de que existe a aprendizagem. Está claro que o que se deseja

conseguir é confirmar se os conceitos da aprendizagem nos oferecem

conhecimentos que nos permitam explicar e prever o comportamento.

A evidência sugere que o condicionamento e a configuração são

instrumentos importantes para explicar os graus de produtividade, taxa de

absenteísmo e atrasos, assim como a qualidade do trabalho dos empregados.

Esses conceitos também podem ser valiosos para dar-nos conhecimento de

como modificar uma conduta indesejável no trabalho.

O reforço positivo é um potente instrumento para modificar o

comportamento. Ao identificar e recompensar os comportamentos relacionados

com o rendimento, a administração aumenta a probabilidade que estes se

repitam. As teorias da aprendizagem sugerem que o reforço é um instrumento

mais efetivo que o castigo. Mesmo que o castigo elimine a conduta não-

desejada com mais rapidez que o reforço negativo, seu efeito é somente

temporal e posteriormente pode provocar conseqüências desagradáveis

secundárias, com o baixo ânimo e absenteísmo mais alto ou rotatividade no

trabalho. Por tanto, os administradores devem se valer do reforço e não do

castigo.

Para Chiavenato (2002), O reforço da prática e do exercício repetido

melhora o comportamento e o torna mais eficaz e eficiente. Porém, se não

forem praticadas no cotidiano, ocorre o esquecimento. O esquecimento cancela

a aprendizagem. Assim, a aprendizagem é um conceito relacionado com a

prática, com o reforço, com a retenção e com o esquecimento. O reforço, por

meio da recompensa (estímulo positivo) ou de punição (estímulo negativo) é

importante na aprendizagem.

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A aprendizagem é um complexo processo influenciado por inúmeras

condições:

• A aprendizagem obedece à lei do efeito. A pessoa tende a manter um

comportamento que percebe ser recompensador ou que produza algum efeito.

A recompensa afeta a aprendizagem, reforçando-a positivamente. Uma

recompensa obtida imediatamente produz aprendizagem mais rápida do que

uma recompensa retardada ou demorada no tempo. Para aprender e manter o

novo comportamento, a pessoa precisa perceber alguma recompensa imediata

e constante.

• A aprendizagem obedece à lei do estímulo. Os estímulos, incentivos ou

recompensas são importantes na aprendizagem. Se a recompensa é grande, a

aprendizagem tende a ser mais rápida e efetiva. Para aprender, a pessoa

precisa perceber que o novo comportamento será recompensador.

• A aprendizagem obedece à lei da intensidade. A intensidade dos

exercícios e das práticas determina a aprendizagem. Se os exercícios, treinos

e práticas forem intensos, a aprendizagem tende a ser mais rápida e efetiva.

• A aprendizagem obedece à lei da freqüência. A freqüência das práticas

e exercícios tende a servir de reforço para a aprendizagem. Para aprender, a

pessoa precisa reter o novo comportamento através de seu exercício

freqüente. Para haver retenção é necessário que haja freqüência nas práticas e

exercícios.

• A aprendizagem obedece à lei da recentidade. O espaço de tempo entre

a aprendizagem e o desempenho é muito importante. Se as práticas e

exercícios não são freqüentes, a aprendizagem cede lugar ao esquecimento.

• A aprendizagem obedece à lei do descongelamento. Aprender algo novo

significa esquecer algo velho. Sempre ocorre alguma dificuldade de

desaprender velhos padrões de comportamento que deverão ser substituídos e

que conflitam com os novos padrões.

• A aprendizagem obedece à lei da complexidade crescente. A

aprendizagem é afetada pelo esforço exigido para produzir a resposta.

Algumas respostas são mais difíceis e complexas do que outras. Se uma

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pessoa deve aprender tarefas complexas, o processo de aprendizagem deve

começar pelos aspectos mais simples, mais imediatos e mais concretos e,

paulatinamente caminhar para os aspectos mais complexos, imediatos e

abstratos.

Se todas essas condições forem consideradas, a aprendizagem ocorrerá

melhor efetivamente: produzir efeito, estimular com recompensa imediata,

intensificar as práticas e torná-las freqüentes e constantes para garantir a

recentidade daquilo que foi aprendido, descongelar velhos paradigmas e

padrões de comportamento, bem como levar em conta o caráter de

complexidade crescente do material a ser aprendido. Seja em um programa de

mudança comportamental individual ou de mudança organizacional, estes

aspectos são fundamentais se pretende mudar alguma coisa.

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CAPÍTULO III

Estratégias de Recursos Humanos para o desenvolvimento da

aprendizagem: o foco na afetividade

Segundo Chiavenato (2002), a educação é toda influência que o ser

humano recebe do ambiente social, durante a sua existência, no sentido de

adaptar-se às normas e valores sociais vigentes e aceitos. O ser humano,

todavia, recebe essas influências, assimila-as de acordo com suas inclinações

e predisposições e enriquece ou modifica seu comportamento dentro dos seus

próprios padrões pessoais.

De acordo com Albuquerque

“Dentro da literatura considerada emergente, a função

educacional poderá ser mais bem exercida quando

líderes, educadores, professores e facilitadores puderem

experimentar continuamente a aprendizagem conjunta,

num processo educacional nascido com o propósito de

gerar liberdade e responsabilidade para aprender a

aprender, fazer crescer e desenvolver” (2009 p.71).

De acordo com Chiavenato (2005), para criar uma organização que

aprende, as empresas passam a depender cada vez mais de estilos de

liderança renovadora de seus gerentes, se é que se deseja impulsionar e fazer

crescer as pessoas e, assim, agregar qualidade, serviço, inovação,

flexibilidade, agilidade e velocidade de maneira crescentemente crítica. Fazer

com que o conhecimento agregue valor às pessoas e às organizações. A

liderança de lideranças deve incentivar, comunicar, motivar e orientar as

pessoas para que isso aconteça.

“A vida em comum se constitui de uma série infinita de

expectativas, acordo e pactos (contratos) que as pessoas

mantêm consigo mesmas e com os outros. O contrato

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tornar-se um meio utilizado para criar e trocar valores

entre as pessoas” ( 2005 p. 44).

De acordo com Silva (1997), podemos definir aprendizagem, como uma

gama de conhecimentos e experiências adquiridas pelo individuo e que podem

ou não ser comportamentalizadas pelo mesmo. Isto implica que nem todos os

comportamentos do individuo são aprendidos, pois muitos dos reflexos são

independentes da aprendizagem.

Grande parte do comportamento humano ocorre em função da

aprendizagem. No entanto, o individuo não necessariamente

comportamentaliza algo aprendido.

Para Chiavenato (2002), uma organização de aprendizagem é aquela que

facilita o aprendizado de todos os seus membros e transforma-se

continuamente. O núcleo da organização do aprendizado é composto de cinco

disciplinas que constituem programas de longo prazo de desenvolvimento,

aprendizado e prática organizacional, a saber:

• Maestria pessoal: é o aumento da capacidade de desenvolvimento

individual.

• Modelos mentais: são insights como referencia para ações e decisões

no ambiente de trabalho.

• Visão compartilhada: significa a criação de compromisso com objetivos

comuns da equipe de trabalho.

• Aprendizado em equipe: é a capacidade de desenvolver conhecimento e

habilidades coletivos. Habilidades sociais e capacidade de relacionamento

interpessoal são importantes.

• Pensamento sistêmico: como uma ferramenta mental para lidar com os

processos de mudança. Pensar globalmente.

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Ainda segundo Chiavenato (2002), o aprendizado permanente constitui

um ciclo de eterna mudança, envolvendo sensibilidade e consciência em

relação ao ambiente em que a organização opera (visão estratégica), evolução

permanente de atitudes e crenças (cultura organizacional) e desenvolvimento

de habilidades e conhecimentos (gestão do conhecimento).

Derrubar barreiras e criar mecanismos para o desenvolvimento e

manutenção do conhecimento nos vários departamentos da organização. Isso

envolve uma mudança da cultura organizacional para incrementar o valor do

conhecimento. Está trazendo uma nova comunicação do conhecimento. Nessa

perspectiva, os profissionais de RH tornam-se agentes de aprendizado e

consultores em desempenho.

“Equipes são relações afetivas e emocionais, conexões

entre as pessoas. Elas misturam diversidade e unidade,

abertura e aceitação, honestidade e empatia, criticismo e

reconhecimento, confiança e assunção de risco, para criar

algo maior que seria possível pela simples adição de

peças individuais e juntas” ( 2005 p. 147).

De acordo com Silva (1997), aprendizagem inicia-se com o nascimento

do individuo e cessa com a sua morte. A aprendizagem informal ocorre

espontaneamente no meio ambiente, através dos meios de comunicação de

massa, amigos, parentes, vizinhos etc.

A aprendizagem formal ocorre dentro de instituições com o objetivo do

ensino, é uma aprendizagem sistematizada, organizada e seqüencial, onde

existem elementos responsáveis pelo processo.

De acordo com Chiavenato

“Cada pessoa possui motivos ou necessidades que

condicionam seu comportamento e que são pessoais e

individuais, pois são determinados por fatores que formam

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a personalidade, por traços biológicos e psicológicos e

pelas características adquiridas pela experiência pessoal

e aprendizagem de cada pessoa” (2005 p. 215).

O educando perturbado emocionalmente não consegue se integrar no

processo de aprendizagem, isto porque diminui sua capacidade de

concentração, o que provavelmente ocasionará queda no rendimento.

Para Silva (1997), os requisitos básicos do processo de aprendizagem

são dois: o aprendiz e os fatos ou coisas a serem aprendidas. O aprendiz tem

que estar acompanhado das condições necessárias, ou seja, dos componentes

que definem toda a gama responsável pela aprendizagem tais como: o cérebro,

o sistema nervoso, os órgãos dos sentidos (visão, audição, percepção cutânea,

percepções olfativas e gustativas), a fala e todos os terminais nervosos, os

receptivos e expressivos; bem como a afetividade e as relações psico-sociais.

É necessário ressaltar que a integridade do estado de saúde é o

funcionamento adequado desses componentes é que determinam o êxito e a

qualidade da aprendizagem, sobre tudo quando é acompanhada pelo

interesse. Os fatos ou coisas a serem aprendidos, sejam quais forem:

cognitivos, afetivos e sociais, deverão necessariamente estar adequados ao

aprendiz em ordem, número, gênero e grau. A aprendizagem ocorre através

dos órgãos sensoriais. Em linhas gerais, a aprendizagem do indivíduo “normal”

é responsabilizada em termos de quantidade de acordo com a importância

desses órgãos, ou seja, aprendizagem é adquirida: 70% através da visão, 25%

através da audição e 5% através dos órgãos inferiores que são responsáveis

pelas sensações cutâneas, gustativas e olfativas.

De acordo com Chiavenato

“A aprendizagem significa a capacidade de gerir a

mudança mediante a mudança em si mesma. Isso vale

tanto para as pessoas como para as empresas. Jean

Piaget, o pioneiro da aprendizagem, chama essa forma de

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mudança de aprendizado de adaptação. A essência do

aprendizado está em mudar a própria estrutura interna

para permanecer em harmonia com o ambiente que se

modifica a cada instante” (2005 p. 172).

A finalidade da aprendizagem, de acordo com Vygotsky, é a assimilação

consciente do mundo físico mediante a interiorização surge a capacidade das

atividades abstratas que a sua vez permite elevar a cabo ações externas. O

que os faz pensar que esse processo de aprendizagem se desenvolve do

concreto (segundo as variáveis externas) a abstrata (ações mentais), com

diferentes formas de manifestações, tanto intelectual, verbal e de diversos

graus de generalizações e assimilações.

Na teoria há uma complexa relação entre o aprendizado e o

desenvolvimento, ao contrário do que se tem em Piaget, onde a curva do

desenvolvimento antecede em grande escala para que ocorra o aprendizado.

A aprendizagem vai sendo assim construída mediante processo de

relação do individuo com seu ambiente sócio-cultural e com o suporte de outros

indivíduos mais experientes.

As potencialidades do individuo, de acordo com Vygotsky, devem ser

levadas em conta durante o processo de ensino-aprendizagem. Isto porque a

partir do contato com a pessoa mais experiente e com o quadro histórico-

cultural, as potencialidades do aprendiz são transformadas em situações em

que ativam nele esquemas processuais cognitivos ou comportamentais, ou de

que este convívio produza no individuo novas potencialidades, num processo

dialético contínuo.

Para Silva (1997), na concepção de Piaget os conteúdos não são

concebidos como fins em si mesmos, mas como instrumentos que servem ao

desenvolvimento evolutivo natural. A aprendizagem é um processo construído

internamente e depende do desenvolvimento do sujeito. É um processo de

reorganização cognitiva, onde os conflitos cognitivos são importantes para o

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desenvolvimento. A interação também favorece a aprendizagem e suas

experiências estruturam-se de modo a privilegiar a colaboração, a cooperação

e intercâmbio de pontos de vista na busca do conhecimento.

Um dos pontos divergentes entre Piaget e Vygotsky parece estar

basicamente centrado na concepção de desenvolvimento. A teoria piagetiana

considera-o em sua forma retrospectiva, isto é, o nível mental atingido

determina o que o sujeito pode fazer. A teoria vygotskyana, considera-o na

dimensão prospectiva, ou seja, enfatiza que o processo em formação pode ser

concluído através da ajuda oferecida ao sujeito na realização de uma tarefa.

Piaget não aceita em suas provas ajuda externa, por considerá-las

inviáveis para detectar e possibilitar a evolução mental do sujeito. Vygotsky não

só as aceitas, como as consideram fundamentais para o processo evolutivo.

Se para Piaget deve-se levar em conta o desenvolvimento como um limite

para adequar o tipo de conteúdo de ensino a um nível evolutivo do aluno, em

Vygotsky o que tem que ser estabelecido é uma seqüência que permita o

progresso de forma adequada, impulsionando ao longo de novas aquisições,

sem esperar a maduração mecânica e com isso evitando que possa pressupor

dificuldades para prosperar por não gerar um desequilíbrio adequado.

De forma geral, Piaget e Vygotsky contribuíram para a elaboração de

metodologias inovadoras que ultrapassam aquelas existentes. É graças às

implicações teóricas destes psicólogos que se pode trabalhar visando

ultrapassar a metodologia pedagógica arraigada pela repetição de conceitos. O

que tem encorajado inúmeros educadores a inovarem sua pratica pedagógica,

no sentido de buscar compreender a realidade de seus alunos tanto do ponto

de vista psicológico, cognitivo e afetivo, como sócio-cultural. Isto para que, a

partir daí possam trabalhar rumo a uma educação significativa e construtiva a

qual possa conduzir o aluno a ser sujeito consciente de sua autonomia social.

Apesar dos autores serem de complexa interpretação, percebe-se que a

medida que o educador vai tecendo sua pratica ele também vai refletindo e

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aplicando essas teorias que são valiosas para resolverem diversos conflitos

que assolam o meio educacional.

Importante lembrar que os sujeitos advêm de meios sócio-culturais

diferenciados e que são herdeiros de toda evolução filogenética e cultural a que

estão submetidos. Além disso, eles possuem capacidades cognitivas diferentes

de apreensão da realidade. Conseqüentemente a sala possui uma

heterogeneidade ampla em que cada um dos seus membros tem sua história

diversificada.

Assim aprendizado e desenvolvimento também compõem uma rica teia

dialética nos processos cognitivos e psicológicos do individuo. É necessário

que o meio educacional a partir das potencialidades do aprendiz permita o

amadurecimento intelectual com currículo que forneça as condições

necessárias para desenvolver os conceitos científicos.

O sujeito é concebido como um ser dinâmico, que todo momento interage

com a realidade, operando ativamente com objetos e pessoas. A adaptação

definida por Piaget, como o próprio desenvolvimento da inteligência, ocorre

através da assimilação e acomodação. Os esquemas de assimilação vão se

modificando, configurando os estágios de desenvolvimento.

De acordo com Cunha (2010), o conceito de assimilação, o individuo, em

contato com o meio, retira o repertório das informações que será incorporado à

sua estrutura cognitiva. Este processo implica a aceitação de algumas

informações e rejeição de outras, tornando a questão da afetividade crucial. O

amor pelo objeto ou pelo mediador da aprendizagem torna o caráter da

amorosidade preponderante.

Na acomodação, a organização mental do indivíduo amolda-se para

conhecer o objeto. A plasticidade da estrutura cognitiva ajusta-se àquela nova

informação, fazendo com que haja uma adaptação a ela. Não é um processo

estável, mas ativo, como a aprendizagem, que requer um constante dinamismo

nas funções cognitivas.

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A equilibração surge para superar o desequilíbrio que aparece em

decorrência de novas informações, transformando-as em conhecimento,

promovendo a estabilidade da organização mental.

O sujeito é aquele que aprende basicamente através de suas próprias

ações sobre os objetos do mundo, e que constrói suas próprias categorias de

pensamento ao mesmo tempo em que organiza seu mundo. Não é um sujeito

que espera que alguém que possui um conhecimento o transmita a ele por um

ato de bondade.

Quando se fala em sujeito ativo não estamos falando de alguém que faz

muitas coisas, nem ao menos de alguém que tem uma atividade observável. O

sujeito ativo é aquele que compara, exclui, ordena,categoriza, classifica,

reformula, comprova, formula hipóteses em uma ação interiorizada ou em ação

efetiva.

Os principais objetivos da educação são: formação de homens criativos,

inventivos e descobridores na busca da construção da autonomia.

Já para os vygotskyanos a aprendizagem ocorre por assimilação de

ações exteriores, interiorizações desenvolvidas através da linguagem interna

que permite formar abstrações. A finalidade da aprendizagem é a assimilação

consciente do mundo físico mediante a interiorização gradual de atos exteriores

suas transformações em ações mentais.

Nesse processo, a aprendizagem se produz pelo constante diálogo entre

o exterior e interior do individuo, uma vez que para formar ações mentais tem

que partir das trocas com o mundo externo, cuja interiorização surge a

capacidade das atividades abstratas que a sua vez permite elevar a cabo

ações externas.

O que nos faz pensar que esse processo de aprendizagem se desenvolve

do concreto (segundo as variáveis externas) a abstrata (as ações mentais),

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com diferentes formas de manifestações, tanto intelectual, verbal e de diversos

graus de generalizações e assimilações.

A questão do desenvolvimento ocorre antes do ensino, ou se a criança

aprende primeiro para que se desenvolva, é polêmica no processo ensino-

aprendizagem. Porém quando junto dos sujeitos é possível observar que estes

aprendem determinados conteúdos quando tem condições intelectuais, ou seja,

quando eles possuem maturação cognitiva necessária a certo ensino. Por outro

lado, é possível também observar que o desenvolvimento de um indivíduo

somente se dá após determinado nível de aprendizado. E assim, aprendizado e

desenvolvimento também compõem uma rica teia dialética nos processos

cognitivos e psicológicos do individuo.

Assim, os objetivos educacionais voltados a desenvolver as funções

psicológicas e cognitivas de seus alunos é o que almejamos no processo

educacional. É necessário que esta, a partir das potencialidades do aprendiz,

permita o amadurecimento intelectual com o currículo que forneça as

condições necessárias para desenvolver os conceitos científicos.

Segundo Dantas (1992), a aprendizagem para Wallon comporta fluxos e

refluxos, certezas e dúvidas; tal como o desenvolvimento, é um processo em

aberto, portanto sujeito as reformulações constantes.

O profissional é o mediador do conhecimento. A forma como o

profissional se relaciona reflete nas relações. Queira ou não, há um modelo, na

sua forma de relacionar-se, de expressar seus valores, na forma de resolver os

conflitos, na forma de falar e ouvir.

A teoria auxilia no planejamento do ensino levando em conta as

características individuais (referentes ao aluno e ao professor), o contexto e as

atividades propostas. Além da teoria, o planejamento deve incluir os dados da

experiência que o professor traz, decorrente de uma observação sensível no

seu contato com o aluno.

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O desenvolvimento pressupõe um processo constante de

transformações, durante toda a vida.

A forma como é conduzida a fala, a paixão, o amor pelo tema, a atenção

para com os sujeitos são ingredientes que provocam o feedback intelectual e

desenvolvem inteligências. A emoção influi na qualidade do registro e, quando

não há emoção, a transmissão das informações gera dispersão nos alunos, em

vez de prazer e concentração.

O cuidado não deve estar tanto na quantidade de respostas certas, mas

na qualidade das indagações, pois educar é provocar a pergunta ao invés de

determinar a resposta. Desapegar-se da segurança das afirmativas

preestabelecidas e promover a instigante busca do inescrutável.

A educação com respostas prontas, a educação sem a dúvida, a

educação sem desafios é uma educação rígida, morna e previsível. Oposto da

vida, distante da realidade, existindo somente na escola comprometida com o

conformismo, que se escopa na teoria sem a prática e, provavelmente, com

saberes que não sobreviverão à escola da vida. Na realidade de um sujeito,

inserem-se aspectos subjetivos, como sonhos, desejos, emoções, crenças,

afetos; e a leitura desse mundo depende também dos aspectos subjetivos de

quem lê.

De acordo com Cunha (2010), o cérebro possui uma intrincada rede de

circuitos com grande concentração de neurônios. Eles armazenam, interpretam

e emitem respostas diante dos estímulos, possuindo também a capacidade de

promover modificações em suas conexões, possibilitando novas

aprendizagens.

Por esta razão, muitos estudiosos da neurociência falam do cérebro

afetivo-emocional, onde as emoções são organizadas, em regiões

interconectadas, dando equilíbrio ao comportamento humano. Elas ajudam ao

aprendente na concentração, no fluxo de atenção, no registro, na lembrança e,

fundamentalmente, no prazer de aprender e ensinar, estabelecendo vínculos

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educativos. Só o amor e o afeto poderão abrir os ferrolhos das prisões

emocionais, reeditando pensamentos e equilibrando sentimentos em favor da

cognição.

Ainda segundo cunha (2010), o foco que concentramos nas nossas

emoções positivas ou negativas, interfere no cognitivo. O desiquilibrio

emocional influencia o gerenciamento dos pensamentos. Para um adulto,

tornar-se demasiadamente difícil o controle das emoções por meio apenas do

esforço mental. Somente pelo afeto e amor, ela poderá reeditar as lembranças

negativas, melhorando seu aprendizado.

As emoções são importantes para a saúde psíquica. Somos um ser social

e afetivo. Afetivo, principalmente, porque nos relacionamos uns com os outros.

A nossa primeira forma de aprendizagem vem pelas relações sociais, que

sempre estarão conosco. Todo e qualquer distúrbio que interfere em nossas

relações sociais é profundamente danoso à aprendizagem.

De acordo com Vygotsky (2004), as reações emocionais exercem

influencia substancial sobre todas as formas do nosso comportamento no

processo educativo.

A capacidade de liderar grupos, socializar-se, ser receptivo, disposto,

criativo e afetuoso implica possuir inteligência ou inteligências que são

estimuladas, por meio da relação interpessoal.

Segundo Marchand (1985), o conteúdo da psicologia afetiva da criança é,

freqüentemente, resultado da posição sentimental do mestre: o autoritário

provocará o temor inibitório no aluno; o que procura se fazer amar provocará

reações de complacência; aquele que se mostra maldoso despertará

sentimentos e atitudes de oposição que levarão a uma educação contrária à

desejada.

As reações sentimentais do mediador variarão em função de cada sujeito,

segundo seus êxitos, seu comportamento, seu caráter. Na prática pedagógica

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que coloca frente a frente o educador e o sujeito, pode surgir atração ou

repulsão como resultado do confronto entre os dois caracteres. Todas estas

atitudes sentimentais influem sobre as metodologias, com o risco de alterá-las,

e provocam no sujeito, rudes transformações afetivas mais ou menos

desfavoráveis ao ensino. A instrução dada por um mestre apresenta aspectos

emotivos e afetivos que lhe conferem um feitio original e pessoal variando, por

outro lado, com cada um que o recebe.

De acordo com Marchand (1985), o mestre tem muito mais poder do que

um livro. A pedagogia esquece, assim, um elemento importante, nascido desta

presença recíproca: a qualidade do diálogo que se estabelece entre o educador

e o educando na presença concreta de dois seres colocados em uma dada

situação, e que cria entre eles um liame peculiar, ou os separa por obstáculos

quase intransponíveis. O mesmo mestre, frente a todos, não estabelece com

cada um deles o mesmo diálogo, que estará impregnado, ora por uma

hostilidade surda, sem que ele tenha mostrado dois rostos diferentes.

A educação supõe, assim, desde o primeiro contato com um determinado

sujeito o aparecimento do “par afetivo”, cuja harmonia ou desacordo leva todo o

ensino para os numerosos descaminhos possíveis. É por isso que o retrato que

traçamos de um mesmo educador não são sempre idênticos; eles variam

segundo o enfoque que sobre cada um deles se projeta.

Os caracteres tomarão um aspecto mutável, em razão da variação dos

“pares afetivos” e da diversidade dos sujeitos de que o educador deverá se

encarregar. Podemos perceber que a prova dessas modificações é o fato de

que um educador de caráter irritável com certas classes muda inteiramente

com outras, segundo a atmosfera particular na qual se estabelecem as

relações entre ele e os sujeitos.

As características de um educador e de outro é revelada na tendência de

sua adaptação ao outro, traduzindo-se segundo os casos, em simpatia ou

antipatia, em esforço e imitação ou de criação, em movimentos de aproximação

ou de oposição.

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Os educadores têm necessidade de cuidarem de sua vida mental, já que

sua afetividade se acha mais ou menos alterada pelo seu ofício.

Ainda segundo o autor, todo exame das interações afetivas do mestre

nos revela que a vida do “par educativo” está submetida à iniciativa

preponderante do mediador. É ele quem anima a relação, que lhe imprime

caracteres particulares, que suscita as reações do aluno pela simples presença

e pela atitude que adota desde o início. O papel do mestre o obriga a tomar a

orientação moral e intelectual, cabendo a cada um o impulso inicial à sua

maneira segundo a sua própria originalidade.

O mediador que procura o afeto de um determinado sujeito, poderá tentar

fazer-se admirar por um seu colega, ou tentar dominar um outro que lhe pareça

ter uma atitude mais ou menos independente. Pode, assim, formar “pares” tão

numerosos quanto os alunos de sua classe e estabelecer, no interior de cada

um deles, uma atitude mais ou menos original, sendo a totalidade de conjunto

de seu comportamento dada pela tendência de querer reduzir a criança a si

própria. Esta diversidade de comportamento se explica pela individualidade,

cada uma das quais provoca uma reação particular.

O mestre sofre, pois, modificações intelectuais em suas idéias sobre a

educação e modificações afetivas, enquanto que o aluno, respondendo à sua

maneira a esta evolução, está também em constante transformação.

Cada um dos “pares” formados pelo mestre e seus sujeitos se conduz

como se fosse, ele próprio, um único indivíduo. Tem unidade suficiente para

manifestar uma vida que lhe é particular e para atuar, por sua vez, sobre cada

um dos “pares”. Uns agem sobre os outros para fazê-los mudar de orientação

ou para modificar as relações afetivas que se pensara ter adivinhado neles.

Enfim, há uma multiplicidade de “pares” que podem ser formados cada

qual com sua natureza, suas interações internas, sua evolução, sua maneira de

influenciar o “par vizinho” e ser influenciado por ele. Esta vida mutável supõe,

pois, entre o mestre e o aluno, uma troca, que nos casos enfocados acima não

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é desejado pelo mestre. Podemos nos perguntar, então, o que pode acontecer

quando este último orienta a vida do “par” para uma troca obtida de uma forma

consciente e deliberada.

É, sobretudo o mestre que pode, mudando de atitude, provocar um

aperfeiçoamento da relação afetiva. Toda pedagogia desta relação leva, pois,

em ultima analise a uma formação do mestre que se preocupe em,

principalmente, com aspecto afetivo. É preciso primeiro pedir ao mestre que

lute contra a tendência de considerar os alunos como abstrações ou nomes

inscritos no livro de matricula. É preciso também, resistir à mania de classificá-

los em definitivo, neste ou naquele grupo, negando-lhes suas possibilidades de

mudança.

Esta atitude, embora prejudicial, pode, no entanto, ser compreendida.

Para poder atuar sobre o sujeito levado-o a transformá-lo para si “por si”, na

expressão, em não existente em objeto para o qual podemos prever um nome,

um rotulo, que nos permitirá classificá-lo em uma série possível a fim de

escolar em uma gama de reações adequadas e previsíveis, a mais

conveniente.

Talvez seja preciso adotar uma atitude sentimental variável segundo um

processo que consiste em mostrar, após a atitude reservada do primeiro

contato, um amor afetuoso, para passar em seguida, progressivamente, para

um amor oculto sob forma de uma neutralidade benevolente.

Podemos assim verificar que, quanto mais o educador envelhece na

carreira, mais ele está ameaçado de uma esclerose sentimental que o impede

de se renovar. Incapaz de se adaptar à realidade viva e instável corre o risco

de dar provas, perante os jovens, de uma falta de compreensão, de uma

injustiça que o impelem a se tornar solidário com os sujeitos e a tomar o partido

da sociedade contra a juventude, que a seus olhos, representa um elemento de

perturbação. Está todo impregnado de um sentimento de superioridade que só

tende a aumentar com a idade. As relações entre o educador e o sujeitou se

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orientam para a hostilidade e para uma agressividade cada vez mais

acentuada.

Ao contrário, esta oposição desaparecerá se o mediador consentir em

descer do seu pedestal e abandonar seu conforto para caminhar um pouco

com os seus sujeitos.

Para Cunha (2010), não devemos educar para criar seres iguais à nossa

imagem e semelhança. Não possuímos o molde da perfeição. Possuímos

virtudes, é certo, mas a maior delas é o amor. O amor jamais carrega o ego da

escravidão, mas, para a liberdade, educa e conquista o aprendente. O afeto

gerencia as relações com o saber, que perdurarão ao longo da vida não com

as digitais do educador, mas com as marcas da amorosidade que possibilitarão

ao aprendente conquistar sua autonomia. É para a liberdade que educamos, e,

onde há liberdade, há identidade e amor.

Segundo Chiavenato (2005), o trabalho está se tornando cada vez menos

físico e muscular e cada vez mais cerebral e mental. A atividade humana está

deixando de ser repetitiva e imitativa para ser cada vez mais criativa e

inovadora. As pessoas deixaram de ser apenas fornecedoras de conhecimento

e de competências. São as pessoas que transformam as visões estratégicas

em ações específicas. E esse processo sempre requer uma mudança

comportamental e o desenvolvimento gradativo de competências individuais de

uma maneira constante e contínua. As pessoas são fundamentais para o

sucesso da empresa.

Estratégias para Chiavenato (2005):

v Ajudar os membros de equipe a integrar seus conceitos sobre objetivos

individuais e objetivos organizacionais, procurando situar adequadamente o

problema.

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v Ajudar os membros de equipe e integrar seus conceitos sobre os objetivos

organizacionais, ou seja, a idéia que cada pessoa tem respeito do que a

empresa pretende alcançar.

v Criar um ambiente de trabalho que contribua para a troca livre e aberta de

idéias e sugestões entre as pessoas.

v Oferecer ajuda e assistência e dando aconselhamento e direção aos

subordinados;

v Incentivar as pessoas com entusiasmo e vibração e sem fazer ameaças;

v Usar os erros das pessoas como oportunidades de aprendizado. Mudanças

implicam riscos e as pessoas devem perceber que os erros não serão punidos,

mas que constituirão as bases de aprendizado.

v Reduzir obstáculos.

v Reconhecer o valor da contribuição de cada pessoa para as metas da

unidade e recompensando da melhor maneira possível.

v Assumir responsabilidade pessoal pelo resultado geral, sem tirar a

responsabilidade das pessoas. Validando os esforços quando as pessoas têm

sucesso e apontando quando elas falham.

v Ouvir os subordinados, procurando entender suas aspirações e carências;

v Mostrar interesse na pessoa como indivíduo e não como empregado ou

ocupante do cargo. Respeitando sua individualidade e personalidade.

v Incentivar a melhoria contínua. Reconhecendo e recompensando pequenas

melhorias, ajudando as pessoas a trabalharem em direção à melhoria contínua.

Não há limites superiores absolutos para o desempenho das pessoas.

v Usar um estilo colaborador e facilitador. As pessoas responderão melhor à

aceitação de mudanças se participarem da identificação e escolha das ideias

de melhoria.

v Dividir tarefas difíceis em pedaços mais simples e de dificuldade crescente.

Assim, as pessoas podem alcançar sucesso em tarefas mais simples e serem

incentivadas a assumir tarefas gradativamente mais difíceis.

v Modelar as qualidades que se espera das pessoas. Se o propósito é

abertura, dedicação, comprometimento e responsabilidade das pessoas.

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De acordo com Chiavenato (2005)

“A motivação está contida dentro das pessoas e pode ser

amplamente influenciada por fontes externas ao indivíduo

ou pelo próprio trabalho na empresa” ( 2005 p. 227).

Chiavenato (2002) informa que:

• A pessoa deve acompanhar os resultados de seu desempenho para

poder avaliá-lo.

• A pessoa aprende melhor quando está motivada para aprender.

• A aprendizagem é influenciada para recompensa e pela punição.

• A distribuição dos períodos de aprendizagem deve ser considerada a

fadiga, a monotonia e os períodos adequados para a assimilação do material

aprendido.

• O exercício e a prática são indispensáveis para a aprendizagem e a

retenção de habilidades.

• A aprendizagem eficiente depende da utilização das técnicas

instrucionais adequadas. Essas técnicas variam conforme o tipo de material a

ser aprendido: vão desde a apresentação verbal até as técnicas de aquisição

de habilidades motoras.

• A aprendizagem depende da aptidão e capacidades de cada pessoa.

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CONCLUSÃO

O afeto não pode ficar de fora quando pretendemos compreender quem

somos como aprendemos e como nos relacionamos com o mundo. Quando

alguém ensina e alguém aprende, também está presente o afeto.

Em pesquisas realizadas pode-se dizer que não são poucos aqueles que

tentam remar contra a maré e romper com o destino anunciado pelo fracasso

das classes populares, sem o qual não há possibilidade de sucesso. A paixão

política se traduz em relações amorosas e em construção coletiva de

alternativas pedagógicas que possam sintonizar com os desejos de aprender.

A importância do afeto em tudo que fazemos individualmente ou

coletivamente é o princípio do sucesso profissional e humano. O sujeito que

transmite o conhecimento de maneira prazerosa produz momentos de reflexão

muito agradáveis no processo de aprendizagem.

O que organiza a aprendizagem é a carga afetiva. A afetividade é tudo

aquilo que afeta um pouco, ou seja, alegria e tristeza, ódio e amor. A

aprendizagem é transferência de afetos e vínculos afetivos. Todo o processo

de relação na construção do conhecimento envolve relações afetivas.

O afeto em ação oferece atenção, respeito, cumplicidade e compreensão

as relações de aprendizagem.

Um dos pilares para trabalhar a afetividade e o amor é criar vínculos e

fortalecer este vínculo, não podendo tratá-los de maneira uniforme, tendo em

vista a individualidade de cada sujeito.

Para que a aprendizagem ocorra é necessário um ambiente que

proporcione um espaço de troca com elogios, reconhecimento e motivação A

afetividade e a inteligência são indissociáveis e estão intimamente ligadas e

influenciadas pela socialização.

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A afetividade é necessária na formação de pessoas felizes, éticas,

seguras e capazes de conviver com o mundo que as cerca. No âmbito

educacional é algo além do carinho, é aproximar-se, saber ouvi-lo,

compreende-lo, valorizá-lo, acreditar no seu potencial e oferecer espaço para a

livre expressão. O carinho faz parte desta trajetória, mas é apenas o começo

de uma longa jornada.

A afetividade é promovida pela preocupação com próximo,

reconhecendo-os como cidadãos críticos, autônomos, individuais, com

experiência de vida diferenciada, com direitos de preferências e desejos nem

sempre iguais.

Ao falarmos de equipe, estamos falando da dinâmica afetivo-emocional

subjacente a toda e qualquer ação do processo humano. Assim, um dos

maiores paradoxos dos modelos de gestão é acreditar que possa existir projeto

organizacional e sucesso empresarial sem mobilizar a emoção das pessoas.

Os gestores vitoriosos são aqueles que sabem sensibilizar e motivar suas

equipes com habilidades voltadas para o encantamento e envolvimento. Não

há organização saudável que não faça a integração de emoções,

sensibilidades e afetividades. O primeiro degrau do amor é a afetividade.

Portanto, a afetividade precisa ser uma das principais metas da organização

para quem deseja ter uma vivência de significados.

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BIBLIOGRAFIA:

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CHIAVENATO, Idalberto. Gerenciando com as pessoas: transformando o

executivo em um excelente gestor de pessoas: um guia para o executivo

aprender a lidar com sua equipe de trabalho. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.

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Atlas, 2002.

CUNHA, A. Eugênio. Afeto e Aprendizagem: relação de amorisidade e saber na

prática pedagógica. Rio de Janeiro: Wak Ed, 2010.

_________. Afetividade na prática pedagógica. Rio de Janeiro: Wak Ed., 2007.

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Loyola, 2005.

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KNAPIK, Janete. Gestão de pessoas e talentos. Curitiba: Ibpex, 2006.

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Learning, 2002

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Universidade Candido Mendes - Instituto a Vez do

Mestre

Título da Monografia: A importância das relações de afeto como fonte de

motivação no processo de aprendizagem nas organizações.

Autor: Patricia Ferreira Campos

Data da entrega:

Avaliado por: Profª Adélia Araújo Conceito: