a parada 7

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número 07 belo horizonte 2009 parada a

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7ª edição do jornal de poesia e literatura A Parada.

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Page 1: A Parada 7

número 07belo horizonte 2009

paradaa

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pset / 2009

quando o fotógrafo francês andré adolphe eugène disdéri, no século XIX, resolveu fazer retratos um pouco menores do que os de cos-tume, muita gente se sentiu melhor consigo mesma. os cartes de visite, como foram cha-mados, podiam ser feitos em quantidade numa mesma chapa e a um custo mais baixo. isso possibilitou sua aquisição por pessoas que an-tes não poderiam se dar ao luxo de possuir sua própria imagem ou a de seus entes queridos. houve então, por causa dos retratinhos de an-dré, uma repentina e generalizada sensação de ascensão social.

tendo em média 9x5 cm, o formato paten-teado por disdéri cabia num envelope postal e era trocado entre amigos e familiares, servindo também para atribuir aos retratados virtudes morais, intelectuais e sociais.

cartes de visite feitos com crianças são o ponto de partida dos fotogramas que ilustram esta edição. nesta série, intitulada “ela não tem coração”, foram realizadas interferências que modificam ou evidenciam certos aspectos psicológicos, criando uma aura ficcional que co-loca em dúvida a índole dos retratados, então transformados em personagens.

o leitor descobrirá que, de maneira seme-lhante, os textos deste número também têm um caráter dúbio e uma moralidade controver-sa. porém esta edição se reserva o direito de manter, em alguns pontos, uma dose de humor e charme que, possivelmente, irão persuadi-lo a tornar-se cúmplice das pequenas vinganças e maldades aqui sutilmente sugeridas.

os [email protected]

ela não tem coração

edição daniel bilac e valquíria rabelo textos adriana versiani, ana f., daniel prudente, jovino machado, lu peixoto, marcos coletta e valquíria rabelo revisão textual flávia almeida capa e ilustrações daniel bilac artista convidada rachel leão projeto gráfico daniel bilac e valquíria rabelo / tiragem 4.000 exemplares / esta publicação não adota o novo acordo ortográfico

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.adriana versiani

Meu cão gane.

Limpo a ferida com uma esponja.

Para que servem os cães?

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você eu já tive vários ou nenhumeu te pertenço não sendo sua,encontrando um você novoa cada esquinacomo quepara preencher o tédio & asvíscerasjá saquei a sua, meu bemsó fica esperto que eu não sou idiotao que você quer baby é ha-ha-haminha cara.te perco pra mim mesma meencarcero viro algoz ouço vozesdepois te mato. fujo da tua ausência fujo da tua presençae se eu te vir mando um beijo à família – e o meu sarcasmome causa mofo aos ossosevito dormir para não acordar sozinha fumo muito & bebo mais aindame chamo de gostosa no escuroacendo um cigarro & vou assistir telecine

mas

talvez eu lock up my heart& throw away the keyou quem sabe eu me case com oprimeiro advogado que conhecervire dondoca esconda as rugascom muito pó compacto pinte o cabelo de ruivo & só vá fazer comprasde saltinhoainda: ou apenas continue estúpidamorra de amor daqui a três quarteirõesacabo de vez com essa vida insensata& viro um cachorro& mais... mudo de país nome viro linda loira & japonesa frígida porém muito gostosacretina mas com muito bom-gosto

.lu peixoto

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O que me atormenta é o não dito. Torturo o meu eu para depois escrever em primeira pessoa. A fuga é o mergulho. A água é azul, mas só enxergo o cinza. Não adianta praguejar contra as memó-rias em preto e branco. Não vejo cores agora. Maldito Almodóvar. Maldita atenção que presto, im-prestável. Uma formiga cinza parece feliz com o suco cinza derramado. Uma formiga aparece morta. Ainda cinza. Inveja abastada. Persistência da daltonia psicológica, contudo. Com tudo pronto. Nem todos os feitos. Fiz o dito, mas não disse o ditado. Mas que importa tudo, todos, eu? Que importa a formiga, o cinza, o Almodóvar? Benditos sejam. Mas que sejam ditos.

meu prato cheio .valquíria rabelo

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Ou você nunca reparou quando brinca de ba-lanço? Mariana poderia jurar: quando a gente vai pra frente e quando vai pra trás, ele grita porque pensa que pode sair entre o tempo de ida e o tempo de vinda. Mas não dá tempo. O único jeito de a gente libertar o pássaro é fazendo o balanço voltar por cima, ele tossiu; Correram mais depressa com a risada cheia, a cabeça reclinava, o chão ganhava altura e ela já não tinha forças de gritar volta, volta, a barriga doía. A boca secava um pouco aberta, e enquanto respirava, o peso do corpo força-va a dobra das pernas para os últimos passos tremidos até o beiral do riacho. Foi tudo muito ligeiro. Agora sentia a vista querendo frear de-pois dela, meio contra-feita, como se durante a corrida o céu brincasse de se afastar, lhe sobrava Mano. Um dia quisera ela que toda a severidade com que lhe indicava uma tarefa fosse reconhecida como o único jeito encon-trável de ensinar-lhe como ser ao seu lado,

Existe um pássaro que mora preso dentro do balanço. Era por ela a realidade tornando-se riscável. e ela poderia ser inocente ao sabê-lo. Mano? Ela checava, e metia-lhe o calcanhar entre as pernas como se o cavalgasse, as duas canelas duras foram gentilmente encaixadas aos ossi-nhos da cintura, e os cabelos foram soprados para dentro da boca. Se, ao invés de pedir-lhe que a levasse nas costas, ela entrasse casada com ele, apertando-lhe a mão para que não caísse e ferisse os joelhos, a água fria escor-reria do córrego direto para dentro dele, e ele então poderia pensar no estranho gosto de parecer-se com ela. Ela entenderia? Quase pe-dindo, e se hoje ele pudesse não contar nada. Mano, onde é que você ‘tava de manhã, uma vez ele mentiu, foi, mas não lhe diria nunca que tão logo acordara essa manhã, correu de-baixo do sereno até a beira da estrada e que a lua ainda era vista por debaixo do sol. Uma abelha enchia o ar entre ele o sol, ele respi-rava. Um balanço pintado amarelo e azul. Que ela nunca suspeitasse do quão longe ele che-garia, tão perto da história dela que ele come-

o caminho da chuva .daniel prudente

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çava a descobrir, como se cortasse um pouco a pele, o que de-lá-de-longe ela... E ele sentiu-se aquém. Porque se ela quisesse, os ossos do joelho, o tempo de voltar e o pássaro seriam justos com tudo o que pretendesse viver. Ela sabia de um jeito de contar as histórias; foi um pouco antes, estava junto ao beiral do riacho, ela fez silêncio e ele percebeu: O que ele sen-tia, era a sua vez de contar?

Eu, eu poderia começar assim: Eram de novo os pés molhados, o gelo e a terra mo-endo o corpo, sentindo a fala distante mas acordada em alguma pedra do córrego, estaria exagerando? Uma sombra chamuscava ao seu lado, Mariana sorria e lhe deixava que ouvisse diminutos sopros de frio; agora um pouco mais de fôlego: ainda restava o calor do barulho da água sorvida entre as pedras rompendo com o limo. Mano, me deixa subir em você. Inter-rompendo-lhe sem imaginar, porque de algu-ma maneira o que quer que pensasse, diante dela, adquiria logo o tom de algo excêntrico

ou demasiado rudimentar; que o que agora mesmo sentia com os pés dentro da água fora anteriormente quase narrado por ela quando lhe contara sobre o dia da árvore, e que isso, depois de ter arriscado um sentimento pró-prio, seria apenas uma demonstração a mais do quanto se via liderado por ela: começava, assim mais perto dela, a sentir-se profunda-mente irritado com isso. E... Aí a garota agar-rou-lhe o pescoço do amigo. Ele recuperou o equilíbrio depois que a água se precipitou para os joelhos; as sombras misturadas; sentiu que o frio lhe tapasse os ouvidos e logo se metiam pela água do córrego em passadas largas e arredondadas.

Mano, você percebe que lembrando a his-tória, você não conta como sente as coisas? Não vai me dizer que elas são apenas isso que você me conta, vai, continua a história. Ma-riana e a forma como tudo o que falava era verdade. É que ela não sabia que não somente seria impossível contar-lhe tudo o que sentia,

como seria impossível para ela depois que ou-visse a história não traduzi-la a toda sua forma própria de sentir as coisas, bem sabia. Um dia ela roubara a cor com que tinha visto o olho de um peixe, foi para mais uma de suas histó-rias sobre as coisas, mas ele acreditou? E tinha coisas que não dava pra contar, então não con-tava. Vai, me conta uma coisa que eu não sei. Ela desafiava, de cima dele, no meio do trono, fingia ter bigodes. E cheia de maldade, já sentia que seria difícil para o pobre que a levasse por uma história que também não conhecesse, ele ouviria: não é verdade, sou inocente, já disse. Restavam as cores brutas das coisas-que-não-dava-pra-contar: como quando tinha zelo por seus pertences e lembrava de seu pai debaixo do sol tentando encaixar a corrente dura e sem graxa na bicicleta vermelha. A bicicleta verme-lha, ou qualquer outra coisa que lembrasse o pai, ou a alegria estranha daquela vez em que a mãe o levara para brincar no carrossel; porque a fuga de todos os cavalos atrelava-se

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às rodas gigantes dos primeiros parques em que visitara com o pai, e são todos pretos, de galope seco e macio. A amiga não estava lá; o menino se endoidava na fumaça, era uma cor-rida suja de suor e baba, tudo misturado até o peito; de pé descalço, ele soltava um riso que apertava o ar na garganta, mas os brônquios respondiam-lhe mais grave que a voz. Ele ria! E fungava de alegria quase relinchando, ele ‘tava morrendo como a mariposa enorme e prateada que o primo achou debaixo de um copo. Eu gosto das cores, mas não sei contar a história bonita. O sal que sacudia com a água dentro da barriga, o suor e os olhos queimados de sol, os olhos que eram feitos de carne. Diante de todas as histórias que lhe contara, e que por ela foram traduzidas ao jeito dela de contar as histórias, poderia restar aquele carrossel. Você não vai contar? Você desiste? Desisto.

A caminho da chuva: Mano foi assim, come-çou quando você quis me contar que a azei-tona preta não era de uma espécie diferente

da azeitona verde, são na verdade a mesma azeitona, e que as pretas todas foram um dia todas verdes e terrivelmente ácidas, e que apenas souberam esperar debaixo da chuva o silêncio da noite manchar toda a pele. E que se por azar acontecesse de uma ou outra cair do talo, a areia molhada as receberia de um atrito rápido e delicado, mas não se perderiam tão facilmente, não, porque se a noite fosse de lua, de lá de cima elas seriam brancas... E que ainda, a extração do azeite de oliva só teria o seu tempo quando a azeitona, sim ou sim, trouxesse na casca um matiz arrouxeado de flor. Foi quando eu te perguntei onde podería-mos encontrar uma oliveira, e você me trouxe até aqui, no meio do córrego. Um momento – porque agora poderia sentir-se o dono – você não falou que ao cruzar o córrego você pediu para que eu te levasse nas costas, e de como a água estava fria, não faz parte da história? Pode ser legal a parte que eu subo em você, mas você poderia tentar viver as coisas com

mais sabor... O quê, Mariana? Não, eu queria que as coisas que eu pensasse... Mas eu es-tou falando de tudo aquilo que vivemos juntos, essa é a história! Olha Mariana, as histórias são mais bonitas quando você conta, eu só posso contar assim porque é exatamente as-sim que a gente vai se lembrar, não é? Eu não sei não, Mano, o sabor está no que se vive ou em como se conta? Calou-se porque a água levantava as pedras, e todo o chão vibrava de desejo, quando as pedras rolaram cansa-das sobre os pés, ele sentiu que baleias azuis cheias de sono reclamassem seu sexo; o calor da água chupada por entre as pedras, os de-dos flamejavam mergulhados, o corpo inteiro tremulava parecendo um peixe e toda a vida casta nos seus pés ardia criminosa debaixo da areia. Está bem, recuperando a saliva, vou te contar uma história:

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era de tardezinha

e os sapos testemunharam

a alegria da lagoa

ao receber aquele corpo

.ana f.

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paulo e o lago .valquíria rabelo

À esquerda de Hilda, havia a água. Seus pés já tinham se libertado das sandálias e arriscavam mergulhos. O vento batia em seu vestido largo e a empurrava pra frente e pra trás, como se ela fosse um barco. Já à sua direita, havia gente, muita gente – rostos que tentava guardar, mas que escapavam tão rá-pidos quanto vinham. Dentre eles, apenas um era fixo: o de Paulo. Fixo até demais. Não sor-ria, não falava e, principalmente, não tirava os olhos de H.. Tanto que, diante dum peque-no tremor de queixo:

_ Vamos sair daqui, essa água gelada... _ Quero ficar mais – respondeu sublinhan-

do o ponto final: .P. compreendeu que não deveria insistir,

que não devia fazer nada além de olhar. Po-rém, se quando se equilibrava numa perna só, segurava o corpo inteiro fixando a vista num ponto, sabia que mirar H. era muito mais que um gesto à distância.

Sentindo a nuca arrepiada, H. se voltou para P. e se espantou com o despudor com que era observada. Conferiu, aliviada, que

ao redor ninguém mais dava atenção à cena. Pouco depois, se achou uma boba. Não fazia nada de errado e não devia se importar com o que pensavam os rostos voláteis. Abaixan-do a cabeça, se viu refletida e envergonha-da naquela poça enorme. Afinal, o lago não passava disso, como ela não passava de uma menina grande. Tinha a impressão de que, se o vento viesse mais forte, todo o seu disfarce de moça voaria. Pelos ares iria a postura, o vestido, as sandálias. Restaria, então, apenas ela e aquilo de que mais gostava.

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eu estive fora de casa.

cochilando nos degraus da entrada – eu o jornal o tapete.

me contornavam os insetos de fileira. me contorciam as centopéias.

minha indisposição para trincos.

eu estive fora de casa.

cochilando entre alpendres e gares – eu o casaco o apito.

o carril a me esticar os ponteiros

das minhas cercas de entrada e saída.

eu estive fora de casa.

cochilando em camas de faquir – eu o refugiado.

“arauto das más notícias”.

eu fiquei pra fora de casa – pra fora da casca.

cochilando em nenhum lugar.

.marcos coletta

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Coração 1

Feche o cruzamento

Coração 2

Permitido afixar cartazes

Coração 3

Não reduza a velocidade

.jovino machado

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sonata, aplauso, suspiro .adriana versiani

A gaiola virou pássaro, enfaixei suas mãos e coloquei sobre elas pesadas pedras.Amordacei-as, para que você não sinta dor.

Seus dedos tocam a chuva.

A jaula virou muro, quebraram-se as xícaras e tenho um milhão de cacos nos olhos.Ceguei-os, para que você não sinta dor.

Chove e meus dedos tocam os seus.

Que a morte seja doce e nos vista de seda.

Crisálida pendurada no lustre da sala.A luz de mercúrio não explica.Noite adentro, asas dançam aos poucose vejo soar um ruflar imóvel.

Seu nome chão,pai e pó.

Mãe,seu nome.

Você chama.Arde em mim Alejandra.Alejandra,

Você,

Seu nome.

I - Treze Canções de amor e morte para Alejandra Pizarnik

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Um anjo sangra na sacada e ela,ferida,mergulha para dentro do sono.

Panos para sempre no varal da infância.

A ave sobre o banco do jardimonde nos tocávamos.

Havia febre.

Sua ausência é essa chuva que me acompanha.

Ajoelhei-me para desamarrar as botas e percebi gotas de sangue no cadarço.Chamei por seu nome Alejandra,enquanto procurava por vestígios nas frestas dos tacos.

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Vidro líquido na retinaCorpo coberto de espelhos

Fogo-fátuo,

Hálito que perfuma meus pés.

O corpo lançado ao mar foi feito em pedaços por peixes famintos.Nunca atraiu as românticas ostras,que permaneceram fechadas sobre suas pérolas.

Um animal invade a noite trágica.Com cólera de fera e sangue nos olhos,rompe a margem do espelho.

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Acabou o banquete dos mortos.Na areia do deserto escrevo seu nome.Alejandra,Água vivaSol aceso no céu da boca.

Punhos cerrados.Escorre entre os dedos uma alma delicada de mulher.

Tenho medo de não saber nomear o que não existe.Ela não existe.

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Vem lua,Vem sol e eu

jamais estive aqui nesta fogueira imprecisa.

Alejandra,meu amor,me diga:

II - De mãos dadas com minha irmã na mata das borboletas Espelho de ônix, meu avesso,Reflexo do jardim da morteonde adormeço.

Aqui, diante dos seus ossos,reconheço-me possuída pela palavra.Diante dessa pedra, seus cílios,vejo olhos que piscam nas sombras.

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Espelho de ônix, jardim espesso,Reflexo do avesso da morteOnde amanheço.

Lanternas vermelhasescorrem do pulso,queimam nas veias.

Estão acesas como a brasa de um pulmão.

Espelho do jardim de ônix meu endereço,Manhã do escuro da morteOnde me esqueço.

Vesti o colar de pedra e tateei seu fêmur.Querubins desposaram o poema.

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Com uma lasca abro as veias do pulso e um rio escorre e a lasca é pedra, seixo,cascalho do rio.

Longe um som de guizos entorpece o leito vermelho e acompanha a trilha que é pedra, lasca, corrente do rio.

Com os olhos fechados vejo luzes douradas no céu escuro queagora azul é pedra, seixo, lasca no pulso aberto do rio.

III – Mênstruo no lençol de linho

IV - Um pas de deux sobre a lâmina de cristal do porta jóias Nem deu para sentirFoi como uma leve fisgadaMorrer é deixar de existir

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uma temporada no

Por que o interesse em passar Une Saison en Enfer em Minas Gerais?

Después de pasar una temporada en el pa-raíso, diez meses en La Paloma (Uruguay), nos resultó interesante y enriquecedor pasar un tiempo en el “infierno”.

La decisión de venir a Belo Horizonte pasó por distintas reflexiones, pero principalmente nos manejamos por la intuición, una forma de dejarnos llevar por la energía que nos atrae.

Decidimos vivir en distintas ciudades de La-tinoamérica sin tener un itinerario fijo y Belo Horizonte es la segunda ciudad de nuestro ca-mino. El primero fue La Paloma y ahí encontra-mos un lugar donde pudimos confirmar nues-tro HACER. Vivimos en un lugar maravilloso y muy tranquilo que nos permitió desarrollar todas nuestras actividades. Esa tranquilidad reduce las posibilidades de enterarse y apren-der de otras personas que tienen actividades similares a las nuestras. Por eso creo que Belo Horizonte va a cubrir esa falta, aquí hay mu-cha actividad artística que queremos conocer y

compartir. Pasar de una ciudad con 3 mil habi-tantes a otra con 3 millones es un cambio muy interesante.

Como foi a sua infância na Buenos Aires de Jorge Luis Borges?

La Buenos Aires de Borges seguro no fue la misma que la de mi infancia. Si tengo que nombrar un autor diría Julio Cortázar, aunque sea por haber estudiado en el mismo colegio que él y frecuentado los lugares de algunos de sus cuentos como los que nombra en “La escuela de noche”.

Mi infancia transcurrió demasiado normal, con algunas raras excepciones (en Bs.As. es imposible que no se vivan raras excepciones). Siempre estuve contento con mi vida, que com-partí con una buena familia y buenos amigos. Hacía deportes, estudiaba en la Escuela Normal Mariano Acosta que mencioné antes, algún que otro exceso infantil pero ningún sufrimiento. No era un amante del arte, supongo porque no encontré de quien pudiese contagiarme, por lo

inferno O poeta argentino Sebastián Moreno é um

dos criadores do Tropofonia, projeto respon-sável pela produção de livros, revistas e pro-gramas de rádio na América Latina. A convite de Wilmar Silva, veio para Minas Gerais acom-panhado de Laia Ferrari e os três apresentam o programa Tropofonia Belo Horizonte, veicu-lado pela Rádio UFMG Educativa.

Entrevistado por Wilmar, Sebástian con-ta sua experiência com a poesia, discute questões geopolíticas e apresenta alguns de seus projetos artísticos.

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��imagem a partir de foto de brenda mars

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menos hasta pasada la adolescencia. Me gus-taba mucho leer el diario y las revistas que me compraba mi abuelo.

Siempre amé a Buenos Aires, sobre todo por su innumerable cantidad de cosas para hacer y conocer. Es una ciudad completa y muy linda. Las cosas que hoy me desagradan de la ciudad, como el horrible trafico, la aplas-tante cantidad de personas, edificios, gases tóxicos, no recuerdo que me molestaran en mi infancia.

Sebastián Moreno, também um artista vi-sual e sonoro, como foi a descoberta de Oliverio Girondo?

Girondo fue el primer poeta que admiré, y lo conocí a través de Espantapájaros, su libro “al alcance de todos”, que es llevado al teatro constantemente en Argentina. Y justamente en una muestra de teatro en la cual participaba mi compañera de esa época, fue que conocí la fuerza de la poesía de Girondo. Me maravi-lló una poesía en prosa con una expresividad

enorme. Después fue la búsqueda de su obra y el descubrimiento de un artista de vanguardia y único. Girondo no se parece a nadie, fue un científico del arte. Después de leer a Oliverio uno tiene ganas de quitarse todas las cadenas y experimentar la poesía, romper con las reglas institucionalizadas y retornar a nuestras raíces desconocidas e inventar todo de nuevo.

O que pensa sobre o Brasil não latino?

Hace poco tiempo que vivo en Brasil y no creo conocer “el Brasil no latino”. Lo único que separa a Brasil del resto de los países latinoa-mericanos es la diferencia de idioma. En ese sentido se hace difícil el intercambio con otras culturas de habla hispana, mas en lo personal no lo vivo como una barrera.

Sendo de origem latina, o que pensa sobre a Galiza frente ao mundo hispânico?

No tengo en mi imaginario a Galicia, pero sabiendo que ahí se habla español, portugués,

gallego, me parece una metáfora de inter-cambio cultural.

Mas allá de Galicia creo importante el cru-ce de idiomas que nacen de la misma len-gua como el latín, es un modo de borrar las fronteras.

Quando começou a se interessar por poesia e a entender a diferença entre poesia e literatura?

Creo que todo sucedió al mismo tiempo. Cuando me interesó la poesía, como expresión artística y estilo de vida, tenía claro que esto no es literatura, pero que tampoco se la puede encasillar en un género. Lo mismo me sucedió con el teatro, que sufre confusiones similares.

Recién a partir de los 18 años comenzó mi verdadero interés y mi investigación y trabajo en relación al arte. Y mis primeras conviccio-nes con respecto a la poesía tienen que ver con que ésta no puede ser un trabajo de es-critorio, simples cuadernos anecdóticos de un literato frustrado. La poesía debe romper el encierro de la palabra escrita, y el poeta tiene

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que levantarse de su silla y salir a cumplir las metáforas de sus poemas.

Creo que la razón de este ocultamiento de la poesía y el teatro como géneros literarios, y en muchos casos como expresiones artísti-cas menores, es tan obvia que se hace difícil entenderla y revelarla. La poesía y el teatro tienen el poder de cambiar la vida como nin-guna otra expresión humana, y eso las hace muy peligrosas.

O que é o projeto Tropofonia e como tem sido a sua multiplicação pela América Latina?

Tropofonia es un proyecto que quiere ser revolucionario.

Que al ser muy joven le cuesta asumir esa responsabilidad, pero trabajamos mucho para su crecimiento.

Empezó siendo un programa de radio, con un tono literario y experimental, y se fue con-virtiendo en un centro artístico experimental.

La radio sigue siendo la médula del proyec-to, pero atravesados por Tropofonia hicimos

cine, teatro, creamos Tropofonia Editorial, una página web (www.tropofonia.com.ar).

Tropofonia comenzó en febrero de 2007 en Rosario, Argentina, como una emisión radial de 2 horas por semana. Nuestra intención fue crear un programa que recupere el espacio artístico en la radio. Trabajamos a través de autores (de cualquier expresión artística), cada programa está basado en un autor don-de presentamos su biografía e interpretamos una selección de su obra. Utilizamos todos los recursos sonoros a nuestro alcance, des-de la voz pasando por instrumentos hasta las bondades de la tecnología.

A partir de un proyecto personal con Laia, en febrero de 2008 llevamos Tropofonia a La Paloma, Uruguay, y ahora estamos por co-menzar con Tropofonia Belo Horizonte, Brasil. Como nosotros queremos vivir en muchas ciudades de América Latina, intentaremos crear una sede de Tropofonia en cada lugar. Pretendemos contagiar a todos los que nos acompañan para que sean parte del proyecto y lo continúen.

Tropofonia se me transforma en una ideolo-gía, una utopía para seguir trabajando.

Ser experimental é o mesmo que multiplicar a origem ou a ruptura é um jogo de imaginários?

Prefiero no encasillar a una palabra en una definición o género. Mucha gente dice ser ex-perimental y no entiendo por qué, debe ser una cuestión de marketing.

“Multiplicar el origen” me encantó y sí, creo que eso forma parte de ser experimental. En el origen, en las raíces está la ruptura que busca-mos. Hay que volver a las raíces y para eso hay que experimentar. Todo está por descubrirse, todo ya se descubrió.

O que é necessário para escrever poesia sem se afastar da vida e sua existência?

Compromisso, sinceridad, amor y coraje.

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.rachel leão

s/títuloserigrafia sobre madeira15x9 cm 2008

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lu peixoto (�)

nascida em 1983, não se sabe ao certo onde. con-cluiu o curso de letras na ufop. vive atualmente em são paulo e tenta tirar a sorte grande.

[email protected]

valquíria rabelo (�, � e ��)

editora do jornal a parada, ao lado de daniel bilac. estuda comunicação na ufmg e design grá-fico na uemg.

[email protected]

daniel prudente (�~��)

baiano nascido e criado, estuda pintura e dese-nho, escreve prosa. mas o que ele queria mesmo era ser músico e poeta. tem 22 anos.

[email protected]

jovino machado (��)

nasceu em formiga (mg) em 1963. é autor debalacobaco (1999), fratura exposta (2005),meu bar meu lar (2009), cor de cadáver (2009), e amar é abanar o rabo (no prelo).

jojomachado.zip.net [email protected]

marcos coletta (��)

marcos coletta nasceu em 1987, em belo hori-zonte. é ator e graduando em teatro pela ufmg. publica seus rabiscos no blog digitálias.

[email protected] digitalias.blogspot.com

ana f. (��)

existe há 18 anos e escreve desde criança. mo-rou em mateus leme até recentemente, quando se mudou para bh para cursar biologia na ufmg. publica exercícios de poesia no ornitorrinco.

[email protected] ornitorrincodefenestrado.blogspot.com

adriana versiani (� e ��~��)

tem cinco livros de poemas publicados, dentre eles livro de papel (2009). participou do grupo da-zibao e da coleção poesia orbital. é editora do jor-nal dezfaces e integra o conselho da revista ato.

apaginadolivro.blogspot.com

daniel bilac (�)

natural de belo horizonte, é estudante de gra-duação em artes visuais pela ufmg e editor do jornal de poesia e literatura a parada.

[email protected]/danielbilac

rachel leão (�0 e ��)

nasceu em belo horizonte e formou-se em artes visuais, com habilitação em desenho, pela esco-la de belas artes da ufmg.

[email protected]

bibliografias

contato veja edições anteriores, novidades e conteúdo extra em a-parada.blogspot.comenvie suas colaborações para [email protected]

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.rachel leão

s/títuloserigrafia sobre papel e vidro 18x22 cm2008