revista parada certa
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Produzida por alunos do terceiro ano de Jornalismo da Unisanta em 2010TRANSCRIPT
anosde história!Usina Hidrelétrica de Itatinga
completa um século de existência e, até hoje, faz parte
da vida de muitas famílias
Nós fomos!Nesta edição, visitamos o Museu de Arte Sacra, em Santos
Meca SantistaSaiba tudo sobre a criação do prato que é sucesso na cozinha caiçara. E aprenda
a prepará-lo em casa!
100
Antigos moradoresVisita ao subterrâneo da
cidade de São Vicente revela vestígios dos
nossos antepassados
N° 02 | novembro 2010 | R$ 8,90
1486389
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Editorial E
Imagine passar toda a sua vida cercado por um local que mais parece um cenário
retirado de um filme. Essa poderia ser a definição perfeita para os moradores da Vila
de Itatinga. Situada aos pés da Serra do Mar, conserva a essência de cidade do interior.
Lá, gerações de várias famílias ajudaram a construir a história da Usina Hidrelétrica de
Itatinga.
Nesta edição, Parada Certa traz uma reportagem especial sobre a usina que, no
mês de outubro, comemorou um século de existência. Construída em 1910, é responsável
por fornecer energia para o maior porto da América Latina, o Porto de Santos. Para
comemorar o centenário, uma festa com a participação de mais de mil pessoas, entre
antigos e atuais funcionários e seus familiares.
Na editoria Família, a repórter Aline Porfírio se aventurou no mundo subterrâneo da
primeira cidade do Brasil. A fim de descobrir um pouco mais dos nossos antepassados, ela
visitou um sítio arqueológico que reconta a história da colonização no país. Descoberto
recentemente o sítio fica dentro da Casa Martim Afonso, um centro de documentação e
pesquisa da cidade de São Vicente.
Além disso, você vai conhecer um prato típico de Santos que faz sucesso entre dez de
cada dez pessoas que experimentam.
Então, que tal aproveitar as férias de verão e visitar o litoral?
Um lugar onde todos sabem seu nome
São as lembranças registradas na memória o bem mais valioso que
um ser humano pode ter? Para as famílias de Itatinga, sim
Arucha Fernandes, editora
Parada Certa é uma publicação dos alunos da Disciplina de Laboratório de Texto, 6° Semestre de Jornalismo, da Universidade Santa Cecília, UNISANTA.
equiPe
Professores Responsáveis:
Márcia Okida e Elaine Saboya.
Editora-chefe: Arucha Fernandes
Editor Multimídia: Gabriel Martins
Planejamento Visual: Danilo Netto
Diagramação: Ivan De Stefano
rePórteres
Alexandre Alves, Aline Porfírio,
Arucha Fernandes, Carina Seles,
Danilo Netto, Gabriel Martins,
Ivan De Stefano, Leandro Aiello,
Letícia Schumann, Mariana Aquila,
Maurílio Carvalho
Guia
Nós fomos!Nesta edição, nossos repórteres visitaram o Museu de Arte Sacra, em Santos
E mais...
PÁG. 76
Venha a Santos e conheça o maior jardim do mundo!
Teleférico e voo de asa delta são atrações em São Vicente
Seleção das melhores baladas para agitar a sua noite
Imagem de Iemanjá encanta turistas em Praia Grande
PÁG. 08
PÁG. 20
PÁG. 48
PÁG. 70
FamíliaSítio arqueológico em São Vicente é aberto para a visitação do público PÁG. 54
Bom apetiteAprenda a fazer a Meca Santista, prato que é sucesso na cozinha da região litorânea PÁG. 28
De pai para f ilho
Uma história centenária vista pelos olhos daqueles que
ajudaram a construir a Usina Hidrelétrica de ItatingaPÁG. 36
Nosso Litoral
"Pra não dizer que não falei das flores"
Quem disse que Santos só coleciona títulos no
Futebol? O maior jardim em orla de praia do
mundo está na cidadeTexto e Fotos: Gabriel Martins
Provavelmente boa parte dos habitantes e turistas de
Santos já passaram pelo jardim da praia, porém, quem já parou
para observá-lo? Tudo bem, é difícil parar para vê-lo tendo a
praia bem na frente, já que, em comparação às belezas naturais
do litoral (sol, areia, mar e pessoas tomando sol) o jardim fica
muito aquém dela.
“Para que ficar lá se tem a praia bem em frente?” é o que
diz Heitor Gimenez, morador de Rio Claro, que vem sempre
passar o feriado na Baixada.
Esta é a resposta de oito a cada dez entrevistados. As
outras três disseram que gostam de passar um tempo fora
da praia para relaxar, porque não gostam de areia ou porque
ficar perto das flores e árvores é um bom meio de fugir dos
carros. Curiosamente estas pessoas estavam nos quiosques
e praças.
Se estes lugares fazem parte do jardim já é outra discussão,
mas segundo a prefeitura fazem. Provavelmente quem passa
perto das flores à noite não vai ter a mesma opinião, já que é
impossível ficar relaxado com os gatos ou pior, ratos passando
livremente entre as plantas.
O surgimento dos ratos ninguém sabe ao certo como
ocorreu, mas segundo um artigo publicado no jornal de Santos
A Tribuna de 17 de maio de 1988, os gatos foram colocados
lá por conta de uma solução muito curiosa da Prefeitura. No
melhor estilo Tom & Jerry, o Prefeito da época, Oswaldo Justo,
incentivou a colocação de gatos no jardim do José Menino
para espantar os ratos.
Não preciso nem dizer no que deu, né?! Ao invés de liquidar
os ratos, surgiu outro problema, os gatos, que não pararam de
se reproduzir. Outra curiosidade sobre o Jardim de Santos é
que em 2002 ele foi reconhecido pelo Guinness book (livro dos
recordes) como o maior jardim praiano do Mundo, com quase
5.400 metros de comprimento.
Porém, para Daniel Oliveira, morador da Baixada, este lugar
continua sendo só um enfeite para a praia, “o fato de está no
Guinness não quer dizer nada, prefiro a praia”.
Segundo Paulo Araujo, Secretário de Meio Ambiente,
muitas pessoas o adotam como primeiro lugar em seu
passatempo devido às atividades dos postos de salvamento
localizados nos canais.
Estes postos estão situados cada um em um canal,
totalizando seis, cada qual com uma atração. Neles você pode
encontrar Biblioteca/Gibiteca, (Posto 5), Cinearte (4), Escola
Pública de Surf (2), Guarda Municipal (5) e Laboratório de
Controle Ambiental (Posto 3, Gonzaga).
Renato Pinheiro Araujo, morador de São Paulo, diz que
apesar de gostar muito de praia não consegue ficar longe da
Gibiteca. “Adoro ler um gibi ou ver um jornal e só aqui eu
tenho essa oportunidade, em São Paulo eu nem
sei onde posso encontrar isto”.
O Jardim tem 719 canteiros, 77 espécies de flores
e um pouco mais de 1.745 árvores, sendo que
945 são palmeiras de pequeno e médio porte, de
21 espécies diferentes. Mas vamos às “atrações”
que se encontram por sua extensão:
Praças
Estes locais atraem uma grande quantidade
de pessoas, com uma variada faixa etária, tudo
depende de onde e que horas você prefere ir
conhecer.
Lagoa do Sapo (nome dado por causa da
enorme escultura de um sapo no meio de
uma piscina), no período da manhã até o
início da noite é tomada por crianças.
Uma delas, Alice da Silva, seis anos, considera a Lagoa sua
Disneylândia. “É o lugar mais legal do mundo, eu posso brincar
com os meus primos de bicicleta”.
O Jardim tem 719 canteiros, 77 espécies de flores e um pouco mais de 1.745 árvores
10
Além de centro de
primeiros socorros, cada
posto (seis ao todo) abriga
alguma atração diferente
O jardim se estende por toda a orla de Santos, nas Avenidas Presidente Wilson, Vicente de Carvalho, Bartolomeu de Gusmão e Saldanha da Gama.
QUER CONHECER?
3
Os pais Jair e Rosângela, por sua vez, acham outra
qualidade na praça, a segurança. “Por ser um local pequeno
e com muitas crianças, elas se divertem com outras crianças
e podem sair da frente da TV e do computador”, conta um
dos pais.
Já depois das 22h, o local vira um deserto, apenas casais
apaixonados se aventuram. A outra praça, popularmente
chamada Praça das Bandeiras, fica em frente ao Gonzaga,
centro comercial de Santos, onde estão todas as bandeiras
dos estados brasileiros mais a bandeira do Brasil e do Distrito
Federal. Ela conta com a boa e velha fonte (que não pode
faltar) e também há um bondinho inativo que atrai muitos
turistas para fotos.
Assim como a Lagoa do Sapo, é dividida em quatro
públicos distintos. No período do dia, os turistas e os
jogadores de futebol de areia, também conhecidos como
peladeiros, que marcam este local para se encontrar com os
companheiros de time.
No período da noite, os casais românticos tomam conta
de todo o lugar, porém, aqui, quem predomina é a tribo dos
emos, apesar de ser em número menor do que há três ou
quatro anos.
E, por fim, temos a Praça do Surfista que, como o próprio
nome já diz, conta com um público bem jovem que tem como
passatempo surfar.
Inclusive, nesta praça, há o posto com a primeira escola
pública de surf do Brasil. “É uma oportunidade única para
todos os surfistas da região poder ter uma escola como
essa, eu e meus brothers só surfamos aqui, vejo muita a
“mulecadinha aprendendo a surfar”, conta Renato Tavares,
surfista há oito anos.
quiosques
Ao lado de um canal sempre há os quiosques de lanche,
mas é o do canal 3 onde ficam as tradicionalíssimas mesas de
pedra para público jogar xadrez, dominó e carteado.
Um dos personagens dessas mesas é Fernando
Montovani, 55 anos, freqüentador do local há não menos de
20 anos. Segundo ele, ali é sua segunda casa, “venho aqui
de segunda à quinta. Para mim só em lugares assim que eu
me sinto bem”.
E este é o público do local. São vários Fernandos Montovanis
que têm, como um dos únicos passatempos, gastar umas
poucas horas sentado à uma mesa de pedra jogando.
Viagem no azul do mar
Texto: Leandro Aiello
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Viajar em um cruzeiro está virando febre. A forte divulgação
das agências de viagens e o esclarecimento dos tripulantes
têm surtido efeito e cada vez mais os cruzeiros marítimos
ganham adeptos. Caos aéreo, acidentes nas rodovias que
causam mortes nas estradas em todos os feriados e finais de
semana e de ano, fizeram do transporte marítimo uma opção
segura e confortável.
Dentro de um navio, há piscina, banho de sol, shows,
festas temáticas, salão de jogos e a cabine onde o tripulante
descansa no momento que desejar. Enquanto que, dentro
de um automóvel, trem, ônibus, avião ou outro veículo, a
viagem é mais cansativa e não oferece tantas atrações como
os navios.
Durante o mês de outubro, 50% das cabines promocionais
das grandes agências CVC e MSC já tinham sido vendidas,
mas muitos ainda corriam para embarcar nas mordomias em
alto mar. Promoções do tipo, segundo passageiro com 50%
de desconto ou terceiro isento, são bem mais procuradas,
contudo, o tempo é um grande aliado de quem quer
economizar.
Comprando com antecedência, os pacotes podem chegar
à metade do preço e com parcelamento de até 10 vezes.
Quem comprar no início do ano pagará menos e irá viajar
sem dívida alguma.
No entanto, para a agente de viagens Leticia Spataro da
Agência de Viagens e Turismo, Doce Ilha, conforme os navios
vão chegando ao país, a população se anima e vai à procura
das agências. Segundo ela, muitas pessoas deixam para
comprar as suas passagens em cima da hora, logo após a
chegada do navio.
Foto: cruzeirosmaritimos.nippontour.com.br
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a esColha
Muitas dúvidas surgem antes da escolha de qual cruzeiro
é o mais adequado para cada pessoa. Valores, atrações, festas,
shows, entre outras. Há cruzeiros universitários, shows de
cantores famosos, mas nem sempre agradam a todos.
Portanto, consultar um agente de viagens é a forma
adequada para ampliar os horizontes dos interessados e
embarcar numa conversa na qual todas as dúvidas sejam
esclarecidas e o passageiro tenha uma viagem tranqüila e sem
tempestades.
O perfil do tripulante é traçado pelo agente especializado.
De acordo com Leticia Spataro, as primeiras informações que
o agente precisa saber do cliente são: os dias e o mês em que
há o interesse de embarque, pois, com esses dados a agência
apresentará os possíveis cruzeiros.
Com as datas pré definidas, o próximo passo é direcionar a
viagem entre familiar, amigos ou trabalho. Se for uma pessoa
que goste de beber, os navios da empresa CVC têm tudo
incluso e 24 horas por dia. Todavia, é interessante perguntar as
marcas das bebidas oferecidas a bordo.
Pode parecer bobagem ou exigência demais, porém,
segundo a corretora de imóveis Camila Bobbio, que viajou
na temporada passada, o gosto de certas bebidas não eram
agradáveis e as marcas não eram conhecidas, o que deixou ela
e o marido desapontados.
Na hora de escolher a cabine, alguns cuidados precisam ser
tomados. Para quem tem claustrofobia, as cabines externas são
recomendadas, apesar de fechadas, elas possuem vista para o
mar. As cabines internas não têm vista para o mar, porém os
preços normalmente são mais baixos em relação às outras.
E as cabines com varanda são ideais para fumantes, para
quem tem claustrofobia e necessita de um local aberto e para
os que desejam apreciar a paisagem e estão dispostos a gastar
um pouco mais por isso, explica Spataro.
Por dentro
Saber das mordomias e atrações as quais os tripulantes
estão acostumados é fácil, mas e os funcionários do navio,
como seria a vida dessas pessoas confinadas durante meses?
Segundo Marcelo de Freitas Souza, 21, formado em
Ciências Econômicas e Administração, “morar em um navio,
é bem diferente, pois não temos o conforto dos passageiros;
as cabines têm poucos metros quadrados, e você sempre vai
dividi-la com mais uma pessoa, você gostando ou não dela”.
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FOTO!
FOTO!
Foto: 4.bp.blogspot.com
As embarcações estão cada
vez mais luxuosas e completas
para satisfazer todas as
necessidades dos turistas
Foto: 2.bp.blogspot.com
Marcelo embarcou pela primeira vez em 2007, levado
pelo sonho de viajar pelo mundo, ganhar dinheiro fácil e sem
despesas. No começo os familiares foram contra, mas com o
decorrer do contrato foram cedendo.
Um dos maiores problemas de morar e trabalhar em
um navio longe de toda a família é a questão da solidão e
dos medos. “Acho que não existe como não sentir medo, é
um mundo completamente diferente e camuflado, onde as
pessoas estão felizes e tristes ao mesmo tempo, você acaba
não sabendo quem é seu amigo e quem é inimigo”.
Freitas diz que em 2011 entrará em vigor uma lei que
protegerá o tripulante de nacionalidade brasileira, “isso foi
muito bom, pois é o reconhecimento do governo brasileiro
sobre todos aqueles que trabalham a bordo de navios
cruzeiros”. Marcelo quase ficou um ano a bordo, normalmente
são 9 meses, sempre trabalhando para a mesma empresa,
MSC Cruzeiros. Hoje ele trabalha como Sr Garçom ou Primeiro
Garçom, no restaurante do navio.
Mesmo com os prós e contras da profissão, Marcelo
garante que o trabalho no navio é passageiro, apenas um meio
rápido para guardar dinheiro e viajar pelo mundo.
emPresas
CVC - Período de seis anos de operação própria de cruzeiros
em que a empresa tem fretado transatlânticos para o país. “A
sua grande vantagem são as bebidas e alimentação inclusas 24
horas por dia. Empresa recomendada ao público jovem, que
estão na faixa dos que bebem mais”, indica.
MSC - Abriu a temporada brasileira com o navio MSC
Armonia. “Seus navios são bons e a decoração é clean e
discreta”, argumenta a agente.
Costa Cruzeiros e Royal Caribbean - Ambas as empresas
são recomendadas para viajar com familiares. A Costa
Cruzeiros possui um toboágua para as crianças e “mimos”
diferenciados ao longo da viagem, como por exemplo: cestas
de frutas espalhadas por todo o navio, para assim, agradar os
tripulantes, ressalva.
A Royal tem uma espécie de “bandejão” caso os tripulantes
não estejam à vontade para uma noite de gala, existe essa
opção para uma refeição mais simples.
Íbero Cruzeiros - Estreou na última temporada no Brasil.
A Íbero possui navios menores, com preços mais acessíveis.
Durante as refeições as bebidas são de graça, o que atrai o
público, indica.
Ao desembarcar no terminal de passageiros, muitos
turistas estão perdidos e sem destino do que fazer e para
onde ir. A associação mundial presente também em Santos
chamada Convention & Visitors Bureau, auxilia os passageiros
no reconhecimento da cidade.
A entidade está em Santos há oito anos e durante esse
tempo, criou a Costa da Mata Atlântica, projeto que une as
nove cidades da Baixada Santista em apenas um destino.
O turista recebe no terminal de passageiros, um roteiro
gastronômico com 19 opções de locais para comer. São
estabelecimentos credenciados no Convention & Visitors
Bureau, e têm a missão de receber bem os turistas.
Os clientes recebidos nesses estabelecimentos criam um
vínculo com a cidade e podem se tornar investidores. Além do
roteiro gastronômico que amplia as possibilidades de visitação
dos turistas, há também a entrega do Mapa Turístico da Mata
Atlântica, que apresenta a disposição geográfica das nove
cidades da Baixada Santista bem como suas principais atrações.
Com todo o respaldo dado aos turistas que desembarcam
em Santos, as chances de crescimento e investimento na
cidade, aumentam. De acordo com Aristides Faria, Assessor de
Eventos e Novos Negócios do Convention & Visitors Bureau, a
divulgação da cidade não só na região do porto como também
para os eventos na mesma, devem ser feitos em conjunto com
os demais municípios. “O turista deve receber um guia no
terminal de passageiros e com este guia, poder comer e passear
em locais agradáveis em toda a região”, explica Aristides.
As cabines externas são recomendadas para os que
preferem uma vista para o mar
19
Foto: cruzeiromaritimo.net
Adrenalinanas alturas
Para os mais corajosos, o litoral oferece um passeio de
tirar o fôlego. Inaugurado em 2002, o teleférico de São
Vicente nos leva até o alto do morro do Voturuá, onde
alguns descem "pulando"
Texto e fotos: Ivan De Stefano
Aventura
Quem disse que o ser humano não pode voar? Seja em
cadeiras ou em tecidos que nos levam às alturas, o homem foi
aperfeiçoando a cada dia a sua maneira de viver e de expor
sua liberdade. E nada melhor para representar um momento
livre do que voando. No litoral da Baixada Santista, a cidade
de São Vicente é uma das que oferece a oportunidade de
sentir esta sensação de liberdade nas alturas. E tudo em um
só percurso. Se você é um desses que está procurando por
adrenalina ou somente um passeio em família com friozinho
na barriga, siga esta dica da Parada Certa.
O passeio rumo às alturas começa pelo Teleférico de São
Vicente, localizado na Avenida Ayrton Senna, nº 500, na Praia
do Itararé. Inaugurado em 2002, é um dos pontos turísticos
mais visitados da Baixada Santista. Neste ano, completa o total
de 500 mil visitas. O percurso, de 700 metros de extensão e
180 metros de altura, liga a Praia do Itararé ao Morro Voturuá,
mais conhecido na região por Morro da Asa Delta, pois é de
lá que os apaixonados por voo fazem suas decolagens de asa
delta e parapente.
Mas não se preocupe. Se você tem medo de altura e não
quer arriscar uma carona ao Morro pelo Teleférico, o acesso
também pode ser feito de carro pelo Morro José Menino, em
Santos. Frio na barriga é sem dúvida o principal sentimento
causado para quem for desfrutar deste passeio no Teleférico.
Por apenas R$ 12 e com 11 minutos de percurso (11
minutos na ida, mais 11 minutos na volta), senti na pele a
sensação de estar nas alturas, por mais que estivesse sentado.
A placa “Prepare-se para uma linda aventura” pouco descreve
a sensação que se tem ao “decolar” por meio de cadeiras
fixadas em cabos de aço. Apesar de o trajeto parecer lento,
o Teleférico foi o primeiro no país com controle eletrônico
de quatro velocidades. Talvez a “baixa velocidade” seja para
apreciar melhor o visual.
A vista começa a tomar uma outra forma. Pessoas viram
formigas, carros se transformam em miniaturas e o vento se
torna mais forte à medida que se chega mais perto do Morro.
Na primeira parte, é indescritível a sensação que se tem ao
passar “por cima” dos carros. O único momento que dá medo
durante todo o percurso. Após passada a tensão dos carros,
as cadeiras nos levam por entre a vegetação do Morro, local
onde o silêncio só disputa com os sons dos pássaros e o
corpo relaxa.
21
O passeio pelo Teleférico pode ser feito de segunda
à sexta, das 13 às 18 horas e aos sábados, domingos e
feriados, das 10 às 18 horas. Maiores de 60 anos pagam
meia entrada e crianças até oito anos não pagam. “Senti
um pouco de medo no começo, mas depois dos primeiros
minutos de tensão o corpo se acostuma com a adrenalina e
você acaba se entregando às sensações”, resume a santista
Cláudia Moreira, de 28 anos, que me fez companhia
durante o percurso de ida.
Após o passeio, instrutores nos ajudam a descer das
cadeiras, tanto no início do percurso, como lá em cima, na
chegada ao Morro. Quando se pensa que a belíssima vista
havia terminado, me deparo com uma imensa plataforma,
por onde “uns malucos” pulam em direção à praia, se
entregando ao vento nas alturas.
No lugar, há estacionamento para os “turistas menos
encorajados” que subiram ao Morro pela estrada de terra,
banheiros, internet via Wi-fii e um “restaurante para
enganar a fome”. Mas só para enganar mesmo, nada de
muito luxo além de alguns salgados e refrigerantes.
No alto do Morro também está localizado o Clube de
Vôo Livre do Litoral Paulista (CVLLP). Fundado em 25 de
julho de 1978, é o primeiro clube oficializado no Brasil, que
agrega pilotos de asa delta e parapente. No Clube, além
dos praticantes profissionais do esporte, aulas teóricas e
práticas também são dadas para os interessados em iniciar
nessa “carreira de aventura”.
O curso todo custa por volta de R$ 8.500, dependendo
dos equipamentos que cada piloto comprar. O tempo do
curso depende do preparo do aluno e da sua freqüência às
aulas. Mas se você está sem grana e também quer disputar
espaço junto aos pássaros, não se entristeça.
O Clube oferece a prática de vôos duplos. Por R$ 120, é
possível decolar junto com um piloto profissional do lugar
e fazer parte da sensação que eles sentem ao estarem nas
alturas. O instrutor é quem controla toda a decolagem. A
nós, só resta curtir a sensação, sem se preocupar muito
com “o que fazer para não cair”. O tempo de decolagem
depende da disposição do piloto e do clima que a natureza
nos oferecer.
Para pular, são necessários quatro objetos principais: o
selete - funciona como um casulo onde o atleta fica durante
todo o voo -, acoplado a ele fica o paraquedas reserva,
22
O teleférico de São Vicente atingiu a marca
de 500 mil visitas este ano. Inaugurado
em 2002, é um dos pontos turísticos mais
procurados da Baixada Santista
O Morro do Voturuá oferece uma vista única
de toda a extensão da praia vicentina
23
Foto: Mariana Beda
Para se aventurar nas alturas é preciso desembolsar R$ 120, por um passeio duplo de asa delta com piloto profissional
24
25
telefériCo são ViCente
:: De segunda à sexta, das 13 às 18 horas.Sábados, domingos e feriados, das 10 às 18h:: Avenida Ayrton Senna, nº 500 Praia do Itararé – R$12 por pessoa :: Idosos até 60 anos pagam meia entrada Crianças até 8 anos não pagam:: Tel.: 3469-7755 ou 3568-2899Clube de Vôo liVre do litoral Paulista (CVllP):: www.cvllp.com.br:: Morro do Voturuá – R$ 120 voo duplo / R$ 8.500 curso completo:: Tel.: 3568-8043
QUER CONHECER?
Foto: Mariana Beda
27
utilizado em casos de emergência, um par de mosquetões
e o velame, maior parte do equipamento dividido em
três partes: vela, linha e tirantes. Todos esses nomes são
explicados nos cursos oferecidos pelo Clube. Nas aulas
práticas, os profissionais expõem os assuntos necessários
para a decolagem: como abrir o parapente, conectar-se ao
vizinho, fazer a checagem, inflar com segurança e realizar
uma boa aproximação e voo.
Na parte teórica, os alunos e futuros pilotos aprendem
as condições de como comprar o equipamento, o que é um
parapente e como funciona, mecânica de voo, meteorologia
(vento, nuvens e micrometeorologia), manobras de
emergência, térmica entre outras. Tudo com um linguajar
especificado que só os mais conhecidos do esporte
entendem.
Carlinhos Tuchai, instrutor de voo e praticante do esporte
há 18 anos, conta que sua primeira experiência com o
esporte foi em um voo duplo que durou 40 minutos. “Desde
então me apaixonei pelo esporte, pois foi nele que passei
a me sentir livre”, complementa Tuchai. Os visitantes mais
frequentes são os turistas, já que os moradores da região
pouco usufruem desta adrenalina.
Na baixa temporada, os finais de semana são os dias
preferidos das famílias e grupos de idosos do Litoral, mas
o lugar recebe ainda mais visitas em alta temporada – nos
meses de dezembro à março – e em época de cruzeiros
que trazem junto a eles, turistas de todas as partes à região
litorânea.
O sítio de voo de São Vicente foi inaugurado pelos irmãos
Haroldo e Celso Dias e pelo piloto Djalma Vieira. É na rampa
Cleber Talarico que o piloto Tuchai faz suas decolagens e
onde recordes de voo são batidos.
O recorde de distância de Asa Delta foi realizado pelo
piloto Beethoven, em 2006, que alcançou uma distância
de 48,6 km. Em relação ao parapente, Ângelo Santos de
Oliveira, mais conhecido como Caboclinho, foi o responsável
por quebrar o recorde de parapente em abril deste ano, ao
alcançar 1636 metros de altura. “Essa sensação de liberdade
tornou-se meu maior vício”, completa o piloto Carlinhos
Tuchai. Atualmente, mais de 100 mil pessoas praticam o
esporte em todo o Brasil.
Além de ver os navios em alto mar e os pontinhos
nos quais os banhistas se transformam quando vistos lá
do alto, também é possível visualizar do alto do morro as
cidades Santos, Guarujá, Praia Grande e Cubatão. É como se
entrássemos em um outro mundo.
Lá em cima, inúmeras pessoas conversam de altura,
velocidade, tempo de voo, e “se jogam” do alto do morro
na maior naturalidade. Rádios são usados para fazer a
comunicação com o piloto e passar as instruções necessárias
para se obter uma decolagem segura.
Tuchai diz que nunca houve um acidente grave, mas
que muitos cuidados são necessários para garantir um voo
com segurança, como os ensinamentos que são passados
durante o curso, o qual proporciona um maior conhecimento
do piloto antes de sair “se jogando” por aí. Uma bandeira
instalada no local faz a medição do vento para que os pilotos
saibam as melhores horas e um bom clima para praticar o
voo. Sem contar outros cuidados em relação ao tempo que
passam a ser analisados pelos atletas como a preocupação
com a velocidade do vento e a neblina, o que pode causar
uma maior dificuldade para enxergar durante o voo.
Se você tiver a coragem de pular junto com o instrutor,
deixo aqui minha admiração. O convite até foi feito, mas
meu medo de altura falou mais alto e resolvi descer do
Morro pelo percurso de volta no Teleférico. Mas mesmo
assim, não foi um passeio perdido.
A sensação que senti ao subir e descer pelo Teleférico
e poder desfrutar do belo visual que o Morro Voturuá nos
proporciona já me fez sentir um pouco do gostinho que
todas aquelas gaivotas que vi lá de cima sentem ao estarem
lá, de asas abertas, se equilibrando por entre o vento e
deslizando no meio das nuvens.
o esPorte
Os primeiros modelos de parapente foram feitos
especialmente para as espaçonaves. Foi o norte-americano,
David Barish quem se dedicou a criar um novo paraquedas
destinado ao projeto Apolo, da NASA.
Em 1973, Barish foi o responsável por escrever o primeiro
manual de Paraglider, mostrando o esporte como uma
variante do voo livre. No Brasil, o primeiro voo de Paraglider
que se tem registro foi realizado em 1988, no Rio de Janeiro,
por dois suíços que decolaram na rampa da Pedra Bonita, já
utilizada por praticantes de asa delta.
Atualmente, o Brasil ocupa a 7ª colocação do ranking
mundial em prática do esporte.
Garçom, anotaum pedido?Prato típico de Santos, a Meca,
conquista turistas de todas as regiões
Texto e Fotos: Alexandre Alves
Bom apetite
Foto: Santos e Região Convention & Visitors Bureau
Ao contrário da maioria dos pratos típicos, a Meca Santista
não foi uma ideia que saiu das cozinhas do povo local. Criada
especialmente para ser o prato turístico de Santos, ela foi
desenvolvida pelo chef Rodrigo Anunciato Alvarez em 2005
e disseminada, por ele mesmo, para cozinheiros de diversos
restaurantes da cidade, no laboratório de culinária da Universidade
Católica de Santos (UniSantos). Bem diferente do que acontece
com outros pratos regionais, que geralmente são passados de
geração para geração. Mesmo assim, a Meca Santista não nega
a sua origem caiçara.
O curioso é que a Meca Santista é o prato turístico da
Cidade, mas não o prato oficial, conta Anunciato. “Ele é turístico
porque o turista vem para cá, vai comer e vai se apaixonar. E vai
querer voltar aqui por causa do prato. Essa é a ideia”. Segundo
ele, recentemente, algumas publicações fizeram essa confusão,
considerando a Meca como o prato oficial de Santos, o que
é um grande engano. O prato oficial é a Pescada Amarela ao
molho de Café, escolhido em 2003 em concurso, vencido por
um cozinheiro de Camburi. Mas quem se lembra dele? “Estava
muito francês, grande centro, talvez cosmopolita demais. Aqui
em Santos, somos um povo simples e de alimentação simples
também”, comenta o chef.
A Secretaria de Turismo de Santos (Setur) queria colocar a
gastronomia da Cidade no cenário nacional da gastronomia, em
2005, e chamou o chef Anunciato para elaborar o prato turístico
local. A base foi escolhida através de uma pesquisa feita com
moradores e turistas para saber qual o sabor lembra mais Santos.
A partir daí, surgiram três nomes: meca, pupunha e banana.
Para o chef, que também leciona no curso de Gastronomia
da UniSantos, tudo isso faz parte de uma tentativa de resgatar os
chamados sabores da terra, no caso, a culinária caiçara. “Hoje, o
que pega em Santos é pizza. Mas até mesmo alguns restaurantes
de São Paulo tentam, mesmo que timidamente, copiar a receita
da Meca, que não é mistério para ninguém. Ela está no site da
Setur e qualquer pessoa pode fazer”, diz.
A escolha dos ingredientes é justificada pelo conceito
apresentado pelo chef, de que a gastronomia caiçara é, entre
outras coisas, a mistura dos elementos da terra com os do mar.
Ele destaca a grande quantidade de plantações de banana e
pupunha que existem na região, não na Cidade de Santos, mas
em lugares não muito distantes como Peruíbe e Vale do Ribeira.
“Só em Itariri, há dois milhões de pés de pupunha plantados. São
cidades produtoras que ficam próximas daqui. Por causa disso,
puxamos esses ingredientes”.
Além da preocupação de usar ingredientes típicos da região,
Anunciato fez questão de homenagear os imigrantes que vieram
aqui. A meca é grelhada e seu acompanhamento inclui, além da
farofa e risoto. A intenção dele foi mostrar como Santos recebe
bem os povos que aqui aportam. “Tenho 36 anos, conheço 33
países, e não há lugar como Santos. Eu quis mostrar isso para as
pessoas que comem esse prato”.
Exemplo disso é a utilização do bacon na farofa e do arroz
arbóreo no risoto. Ele explica que o bacon é uma homenagem
aos portugueses, que quando vieram para cá, nos tempos das
grandes navegações, tinham as carnes salgadas como base da
alimentação. Já o arroz arbóreo é típico italiano, em referência
aos imigrantes que vieram aqui séculos depois dos lusitanos. Ele
lembra ainda que todo risoto deve ser feito com arroz arbóreo, ou
suas variações, como o grão carnarolli ou, um tipo mais específico,
que é o caso do vialone nano. Segundo ele, se não houver alguns
desses grãos, não pode ser considerado risoto.
Já em relação à meca, Anunciato diz que ela ficou cinco
vezes mais cara do que era antes da criação do prato, devido ao
aumento da procura. “Eu costumo dizer que, por causa disso, os
peixeiros me adoram e a população me odeia”. Ele explica que se
trata de um peixe difícil de se pescar, que é de alto-mar, onde a
água é mais fria, e que sua carne é gordurosa, o que justamente a
deixa mais firme e densa.
A meca é uma variação maior do peixe-espada e alguns de
seus exemplares chegam facilmente a 150kg. Para o chef de
cozinha, quanto maior o peixe, menor deveria ser o preço, porque
um pescado dá para servir muitas pessoas, mas devido à procura,
isso não acontece. “Mas isso não é só aqui. No Japão, o atum
vermelho também é um peixe enorme, mas devido à delicadeza
da carne e, principalmente, da procura, uma unidade dele chega a
US$10 mil”, o que daria cerca de US$66 por quilo.
A peixeira do tradicional mercado de peixes da Ponta da Praia,
em Santos, Francisca Alexandra da Silva, admite a valorização da
meca devido ao aumento de sua procura, e diz que é um dos peixes
que mais vende, entretanto, a maioria da clientela vai atrás desse
pescado para fazer churrasco. Ela alerta ainda dizendo que esse
peixe não é recomendado para refogar ou fazer moqueca porque
se espatifa devido à sua gordura. A média de preço da meca no
mercado de peixes varia de R$14 a R$18, o quilo. Praticamente o
mesmo preço do linguado e do abadejo (ou badejo). Para efeito
comparativo, ela não é tão cara como o salmão, que custa cerca
de R$30/kg, e o camarão rosa, que chega a R$40/kg.
30
A Meca é um dos peixes mais
vendidos em Santos. O preço da
iguaria varia de R$14 a R$18, o quilo
No restaurante Point 44, a Meca Santista é vendida, no modo
à la carte, a R$89 e serve de três a quatro pessoas. O dono do
local, Salvatore Antonio Politano, diz que o preço do prato se
justifica por não ser um peixe fácil de se pescar, apesar de ser
encontrado na região. “Independentemente disso, é uma receita
muito bem elaborada que acompanha camarões grandes. Além
disso, todas às quintas, a meca é servida em modo de self-service
no almoço, por R$22,90”, diz ele.
Devido a isso, o sr. Salvatore, como é chamado, diz que a
Meca Santista é um dos pratos mais vendidos no à la carte e a
considera, apesar de sofisticada, não cara. “Não é um prato muito
barato, mas não é nada absurdo. Aqui apesar do preço, serve até
quatro pessoas. Um pouco mais de R$20 por pessoa. Além disso,
é um prato muito saboroso e muitíssimo bem feito”, explica.
Salvatore, no entanto, critica a falta de divulgação do prato.
Ele diz reconhecer os esforços da Setur nesse quesito, mas que
falta algo mais, sobretudo, uma exposição maior na imprensa. Ele
diz que, com exceção aos paulistas que costumam vir aos finais de
semana, o turista, de modo geral, não conhece o prato. “A gente
acaba informando. Ele quer saber por que é o prato turístico e
acabamos dando uma explicadinha”.
A turista Mariana Almeida, de Uberlândia-MG, na sua segunda
vez que visita Santos, diz nunca ter ouvido falar da Meca Santista e
nem do peixe que a é base do prato turístico da Cidade. “Quando
viajo com a minha família para cidades litorâneas, na maioria das
vezes, nós procuramos experimentar os pratos locais. Mas daqui,
não conheço nenhum”.
Além da falta de informação sobre o prato, outra coisa a
se lamentar é o fato da receita original não ser respeitada por
parte dos restaurantes. O chef Rodrigo Anunciato lembra que
quando a Meca Santista foi lançada, representantes de diversos
restaurantes foram até o laboratório de culinária da UniSantos
para aprender como se faz o prato. Porém, segundo Anunciato, a
mão de obra gastronômica gira muito, e parte desses cozinheiros
não trabalham mais no mesmo lugar de cinco anos atrás e não
passaram a informação adiante.
Ele diz que o desconhecimento a respeito de alguns
ingredientes como o arroz arbóreo, por exemplo, é outro fator.
Mas a grande causa dessas variações da Meca Santista de
restaurante para restaurante, segundo ele, é a falta de respeito
para com a nomenclatura dos pratos. Isso vale tanto para o prato
turístico da Cidade, como para pratos clássicos. “Infelizmente no
Brasil, com a nossa cultura de variedade e versatilidade, o famoso
‘jeitinho brasileiro’, acabou fazendo com que alguns quisessem
colocar o seu próprio toque em um prato que é típico, o que é
lamentável”, diz ele.
Para justificar isso, ele cita outro exemplo e ainda faz um convite:
“Convido o leitor para fazer esse teste. Vá em três restaurantes,
mesmo que você já conheça, e peça um filé ao molho madeira.
Tenho certeza que você vai comer três pratos diferentes”. Ele diz
que isso não acontece em um país como a França, porque se trata
de um prato clássico, e isso não se muda e nem se adapta. Ele diz
que tem gente que chega a trocar o abacaxi pela cereja, na receita
da farofa. “Isso é absurdo. Enquanto a cereja é doce, o abacaxi é
mais cítrico, ácido, é justamente o que dá contraste com a gordura
do bacon e da linguiça, que também vão na farofa. A cereja, não”.
Existe um trabalho feito pela Setur para fiscalizar se o prato
está sendo feito como se deve, caso contrário, o estabelecimento
perde o selo com o nome de Meca Santista. Segundo Anunciato,
antes havia 64 restaurantes autorizados a vender o prato, e hoje são
apenas 18. Porém, mesmo em restaurantes que detêm este selo,
é possível encontrar esse tipo de variação. “Falta uma fiscalização
mais séria. Mas é muito difícil coibir esse tipo de prática porque
isso já está intrínseco ao modo brasileiro de cozinhar”.
O Chef Rodrigo Anunciato desenvolveu a receita em 2005, a intenção era criar um prato tipicamente caiçara
32
A Limite Radical Rappel Jump SP
é uma das equipes que
comparecem com freqüência
31
QUER CONHECER?restaurantes que serVem a meCa santista
:: Armazém 29Tel: 3289-4629 - Rua Pindorama, 29 - Boqueirão:: Atlântico HotelTel: 3289-4500 - Av. Presidente Wilson, 01 - Gonzaga:: El GalloTel: 3223-5401 - Praça República, 43 - Centro:: Hélio’sTel: 3239-2444 - Av. Barão de Penedo, 6 - J. Menino:: LilianaTel: 3284-5999 - Av. Ana Costa, 404 - GonzagaVeja a lista ComPleta em: paradacerta.webnode.com.br
O restaurante Point 44 é um dos dezoito
estabelecimentos com o selo que autoriza a
venda da legítima Meca Santista
Como fazer?ingredientes
1 posta de meca de 500g 1 dente de alho amassado
1 colher de sopa de azeite 1 colher de sopa de manteiga
½ limão sal e pimenta branca a gosto
2 camarões pistola limpos salsinha picada a gosto
Retire o osso da meca e separe a posta em filés. Tempere com alho, sal e
limão. Em uma frigideira quente, coloque azeite e manteiga, apenas para grelhar.
Separe. Corte os camarões ao meio, mas sem separar da cauda. Tempere com sal
e pimenta, frite levemente e coloque sobre o filé da Meca.
risoto de PuPunha
2 colheres de sopa de cebola picada 2 colheres de sopa de azeite
1 xícara de chá de arroz 3 xícaras de chá de água fervente
2 cubos de caldo de legumes ½ xícara de chá de cenoura ralada
300g de pupunha em cubos 2 colheres de sopa de manteiga
100g de queijo parmesão (ralado) sal a gosto
Dissolva os cubos de caldo de legumes nas 3 xícaras de água fervente e
reserve, mantendo quente. Refogue a cebola picada no azeite. Quando estiver
transparente,acrescente o arroz. Despeje um terço do caldo de legumes e, com o
fogo baixo, deixe cozinhar destampado. Quando estiver quase seco, acrescente
metade do caldo e mexa algumas vezes, para não grudar no fundo da panela.
Quando secar novamente, adicione o resto do caldo à cenoura e mexa. Assim
que estiver quase sem água, retire a panela do fogo, acrescente a pupunha, a
manteiga, que deve estar gelada, e o parmesão. Mexa e sirva imediatamente.
farofa de banana
2 colheres (sopa) de cebola ralada 1 dente de alho amassado
½ xícara de bacon ½ lingüiça calabresa em cubinhos
1 banana nanica cortada em cubinhos 1 xícara de farinha de mandioca grossa
1 ovo cozido em cubinhos Sal, salsinha e cebolinha verde a gosto
Azeite e manteiga para refogar ½ fatia de abacaxi em conserva
PreParo
Refogue o bacon e a lingüiça em azeite e manteiga, Junte a cebola e o alho.
Quando estiverem dourados, coloque a banana. Esquente, tomando cuidado para
não desmanchar. Em seguida, adicione a farinha e mexa até dourar. Desligue o fogo
e junte a salsa, o sal, o ovo, a cebolinha e o abacaxi.
meCa santista
Font
e: t
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anto
s.co
m.b
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Foto: Prefeitura de Santos
Especial
Foto: Assessoria das Docas - Codesp
De pai para filhoCentenária a Hidrelétrica de Itatinga fornece
energia para o maior porto da America Latina. Na
vila de trabalhadores formada ao redor da usina
histórias de várias gerações de famílias
Texto e fotos: Danilo NettoFoto da capa: Sérgio Coelho/Codesp
34
Visionários os engenheiros envolvidos no
projeto da usina já previram o crescimento
do Porto santista em meados de 1904
Atualmente, seria relativamente fácil um grupo de
empresários com capital erguer uma usina hidrelétrica com
núcleo residencial para abrigar os funcionários e seus familiares
em um local afastado e com dificuldade de acesso. Mesmo com
o objetivo de mandar energia para um porto a trinta quilômetros
de distância, com o avanço da tecnologia que temos hoje não
haveria grandes problemas. Mas e há 100 anos?
Pois é, mas foi exatamente o que aconteceu com a Usina
Hidrelétrica de Itatinga que fornece energia desde 10 de
outubro de 1910 para o maior porto da America Latina, o Porto
de Santos. Em 1902, a empresa Docas comprou a Fazenda Pelaes
com um manancial na bacia onde nasce o rio Itatinga.
Local escolhido. Em 1904 começam a erguer a usina.
Porém, para a construção aparecem dois desafios: como levar
os equipamentos e mão de obra que vinham pelo mar para
o ponto da construção? E como criar um núcleo habitacional
para os funcionários e familiares? Para isso, implementaram
uma linha férrea de oito quilômetros e criaram uma vila ao
redor da usina com casas, posto médico, escola, cinema, área
de lazer e armazéns, assim surgiu a Vila de Itatinga.
Para o atual administrador da usina Itamar Barbosa
Gonçalves, os engenheiros tiveram uma visão do futuro,
planejaram a hidrelétrica prevendo um crescimento do Porto
de Santos e uma produção de baixo impacto ambiental.
“Atualmente 85% da energia do porto é gerada pela Hidrelétrica
de Itatinga. Após 100 anos fazemos apenas a manutenção e
conservação desse projeto grandioso”, afirma Gonçalves.
Da queda d’água ao porto - A água é captada na Serra do
Mar à 640 metros de altura do Rio Itatinga e desce por meio de
cinco linhas de tubos paralelos, de aço fundido, cada um com
seis metros de comprimento, totalizando 2.034 metros. Os
tubos ficam estreitos quanto mais se aproximam das turbinas,
na Casa de Força. Isto é feito para aumentar a pressão da água.
A vazão é de 3.200 litros por segundo – 640 l/s por tubulação,
que são presas umas as outras por meio de 2.200 juntas
vedadas com chumbo derretido. No primeiro trecho, próximo
à câmara d‘água, os tubos têm 900 milímetros de diâmetro e
chagam à casa de força com 110 mm.
Já na Casa de Força, maior estrutura de Itatinga, seu formato
é em letra “T”, quem nos acompanha com exclusividade é
o operador de máquinas, Nelson Candido de Souza, mais
conhecido como Nelsão. Nascido em Bertioga há 60 anos,
37 anos de Docas, 27 desses anos na Usina de Itatinga e
aposentado há dez anos, continua trabalhando no local por
falta de mão de obra qualificada no setor dele.
O operador explica que a velocidade e a pressão da água
aplicada fazem com que as turbinas pelton e os hidrogeradores
da Casa de Força girem, assim gerando energia elétrica.
A Casa de Força da usina possui cinco geradores e cinco
turbinas. Os equipamentos hidráulicos e mecânicos (turbinas)
são de fabricação alemã e os elétricos são americanos. Juntos
formam um equipamento só, responsável pela geração de
15MW de energia.
Toda esse energia gerada segue por torres e cabos por 30
quilômetros divididos em três postos de apoio (Caiubura, a
13km de Intatinga; Caeté, a 17km e Monte Cabrão, a 25km)
até chegar ao Porto de Santos. Um serviço nada simples nos
dias de hoje, imagine há 100 anos atrás.
A Companhia Docas do Estado de São Paulo (CODESP) é a responsável pela construção e manutenção da usina
A água que abastece a hidrelétrica é captada do Rio Itatinga,
localizado na Serra do Mar
39
A Usina Hidrelétrica de Itatinga gera 85% da energia do Porto de Santos. E mesmo depois de cem anos, ainda não sofreu nenhuma alteração no projeto original
Um trator substituiu a locomotiva instalada para ajudar no transporte dos funcionários
40
historias da Vila
“Chuva, chuva e mais chuva, não parecia acabar, de
repente o morro da Serra do Mar começa a desbarrancar”,
conta Anadir Alves, conhecida como Lora. Isso ocorreu no
ano de 1969, a preocupação tomou conta da comunidade.
Com tanta chuva acabou alagando todo o local, inclusive
a usina.
O desastre foi tanto que foi a única vez que a
hidrelétrica teve de parar de funcionar para escoar toda
a água do local. Moradores contam que o deslizamento
veio desde o topo do morro e só parou porque existiam
casas de alvenaria. “Se o deslizamento fosse mais ao lado,
nas casas de madeira, viria tudo abaixo”, afirma Lora.
Mesmo com todo o desastre, a Companhia Docas
do Estado de São Paulo (CODESP) conseguiu reverter a
situação, contratou empreiteira para remover o barro que
parou na parede das casas, fez o escoamento da água e
tudo se normalizou.
Esse desmoronamento ocorreu de repente, diferente do
que houve em 1967. Nesse ano, um dos transformadores
da frente da usina estourou e começou a pegar fogo.
Como continha óleo dentro, o fogo se propagou rápido
e a labareda cobriu a frente da usina, cortando a energia
da Vila. “Para quem olhava da vila parecia que a usina que
estava pegando fogo, todos ficaram preocupadoa com
os funcionários que estavam trabalhando no momento”,
conta Nelsão.
Porém tudo foi resolvido pela operação de brigada
da usina, que conseguiu controlar o fogo, e não chegou
à hidrelétrica. “Se o fogo chegasse à usina o desastre
seria de proporções irreversíveis”, supõe o operador de
maquinas.
41
Siga pela Rio-Santos até o km 224. Ao chegar, vá pela Rua Vasco da Gama e siga até o final, onde há um pequeno portinho. Lá, "pegue carona" no barco da Codesp. A travessia do Rio Itapanhaú dura cerca de três minutos. Depois, siga de trem por mais 7 km para chegar até a Vila de Itatinga.
QUER CONHECER?
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O esporte que é paixão nacional, não poderia faltar na vila. O Itatinga Atlético Clube é o time do coração dos moradores
De camisa amarela (terceiro da dir. p/ esq), José Alberto Alves Netto jogou durante
quinze anos no clube
Os títulos são exibidos com orgulho na sede do time junto com fotos antigas
44
Comemoração O centenário foi celebrado em uma festa na Vila de Itatinga
com mais de mil pessoas. Os olhos cheios de lágrimas de muitos
dos que foram à vila evidenciam que a emoção não é à toa. São
lembranças de tempos passados que vêm à mente de cada um.
A CODESP convidou antigos e atuais funcionários da usina e
seus familiares. A festa contou com visita a toda vila, queima de
fogos, churrasco, bebidas e um bolo gigante para os parabéns do
centenário da hidrelétrica.
Além de moradores, autoridades participaram da festa de
Itatinga. Estiveram presentes o prefeito de Bertioga, Mauro
Orlandini, o secretário de Infraestrutura de Guarujá, Duíno
Fernandes e vereadores. O deputado estadual Bruno Covas
também participou. A Codesp foi representada pelos diretores
Carlos Kopittke e Renato Barco. Eles afirmaram que a intenção da
estatal é otimizar a geração de energia e preservar a vila.
45
um Passeio inesqueCíVel
Localizada na altura do quilometro 224 da rodovia Rio-
Santos. Do outro lado da margem, a Vila de Itatinga parece
parada no tempo, cercada por uma imensidão verde que vai
até onde os olhos podem enxergar.
Nosso acompanhante para esse incrível passeio é José
Alberto Alves Netto, mais conhecido na região como Mim,
51 anos, filho de um falecido funcionário da usina. Ele, que
passou a infância e adolescência no local nos conta que todos
se conheciam, era uma comunidade que se ajudava. “Era uma
grande família. Entre a Serra, a Vila e fazenda, havia cerca de
420 moradores, entre crianças e adultos. Víamos as pessoas
crescer, casar, formar suas famílias. Parecia vida de cinema, era
mágico”, relembra Netto.
A travessia de barco pelo rio Itapanhau dura tão pouco que
nem dá tempo de apreciar toda a beleza da natureza. Quando
chegamos do outro lado da margem nos deparamos com
um trator, substituto da locomotiva, que puxa os vagões para
levar turistas e os funcionários da hidrelétrica até a vila. Nesse
momento, percebemos o que o antigo morador falou. Mesmo
depois de vários anos, ele mal sentou no vagão e reconheceu dois
amigos de infância e o guarda do local é o mesmo de anos atrás.
Em um trajeto de oito quilômetros de extensão que dura em
media vinte minutos, os antigos amigos não pararam de recordar
casos que aconteceram na infância. Esse tempo de trem passa
despercebido, perante a mistura de belezas construídas pelo
homem e natureza como casas históricas, ruínas de igreja, rios,
pontes e a diversidade da fauna e flora do local.
Assim que o trem aponta na reta da vila já podemos
perceber a história preservada no local, como as casas no estilo
vitoriano. Mais adiante vemos as peças antigas da usina e a
maria fumaça que está desativada há seis anos em exposição.
Locomotiva que por sinal é mais antiga que a própria
hidrelétrica (1906).
Chegando a vila, há três pontos de parada: em frente à
padaria, fácil, única no local, na igreja e, a ultima parada, na
parte lateral da usina, apenas para funcionários.
Descemos no primeiro ponto, em frente à padaria. “Mudou
muita coisa”, disse nosso acompanhante. “As casas estão em
bom estado, porém viraram alojamentos. Com o crescimento
das cidades vizinhas os moradores se mudaram, atualmente
só moram alguns funcionários, outros vêm de ônibus até a
margem do rio, perdeu aquele encanto familiar”.
Quando começamos a andar pela vila, Netto começou a
comentar as mudanças que ocorreram. Com o fácil acesso
à cidade, a escola perdeu alunos, pois todos passaram a
estudar em Bertioga. Por isso, a escolinha virou um centro de
treinamento onde acontecem reuniões e palestras de estudo.
O cinema virou um anfiteatro, para qualquer atividade ou
evento que ajude a comunidade local. A igreja é mantida pelas
pessoas do local.
Já o Itatinga Atlético Clube é uma historia à parte na vida do
nosso acompanhante. Seu pai marcou história no clube jogando
durante anos. Para seguir a brilhantismo do pai começou a
jogar quinze anos no time de juniores, porém jogava no gol.
Não demorou muito tempo para ir ao profissional, jogou
no clube ate seus trinta anos, ganhou diversos títulos, ficou
marcado na memória dos moradores da vila. Tanto que tem
um espaço reservado na parede da sala de troféus do clube.
Algumas das fotos na sala e troféu estão envelhecidas,
por isso o clube deu uma recauchutada nelas e logo estarão
disponíveis ao público. Alves não vê a hora de ver essas
relíquias. Motivo? Seu falecido pai está em uma delas, fazendo
parte do que dizem ser o melhor time do Itatinga Atlético
Clube de todos os tempos.
“Não vejo a hora de ver essas fotos. Claro que já as vi, mas
quando estavam envelhecidas, não dava para notar os detalhes
daquele time que os mais antigos comentam. Meu maior
prazer vai ver a foto do meu pai, ao lado da minha na história
não só do clube, mas da vila”, diz, emocionado.
Na volta da vila, Netto me convenceu a irmos a pé os oito
quilômetros de volta até a margem para pegarmos o barco,
aproveitando a natureza e os detalhes escondidos, os quais de
bonde não se vê. “A pé conseguimos ver detalhes das pontes, a
data de construção que fica abaixo delas, os pássaros da região,
a diversidade da flora, como bananais, bicos de papagaios,
palmito e muito mais”. Dessa forma que ele me convenceu.
Não é exagero, é realmente fantástico o caminho pelos trilhos,
mas cansativo, precisa de um bom preparo físico.
Quando pegamos o barco para voltar à urbanização, percebo
um olhar de satisfação em ter a minha companhia nessa viagem
no passado, juntando o passado, presente e futuro.
Para mim foi uma satisfação maior ainda. Por quê? Percebi
cada detalhe dessa história, mas o principal foi passar o dia em
um local fantástico com esse antigo morador que uns chamam
de Alberto, outros de Mim, eu simplesmente chamo de pai.
46
O operador de máquinas, Nelson Candido de Souza,
(blusa azul) relembra os “bons tempos” com o amigo Netto
A Igreja ainda é mantida pelos moradores da vila
A escola agora desativada
serve como centro de
treinamento onde acontecem
reuniões e palestras de estudo
“All night long”Imagine: passar o dia inteiro se divertindo em praias,
shoppings e pontos turísticos. E quando chega a noite
você não tem para onde ir? Nesta edição, a Parada Certa
apresenta opções de baladas e barzinhos!
Texto e fotos: Mariana Aquila
Vida Noturna
studio roCk Café Para os amantes do Rock, essa é a pedida! Possui um
estúdio a prova de som, para as bandas que curtem mandar
um som alto, e não atrapalham as outras pessoas que estão
no café. Todos os estilos de rock’s são tocados, portanto,
agrada a todos os visitantes.
O público frequentador são os adultos e o local
possui área para fumantes. Pelo site é possível conferir a
programação da semana e algumas fotos do local.
O horário de funcionamento é a partir das 21h, de
quarta a domingo. O Studio Rock Café fica na rua Marechal
Deodoro da Fonseca, 110 – Gonzaga, Santos e não possui
estacionamento. Telefone para contato: 3877-0110 ou
3323-0465.
Todos os cartões de crédito e débito são aceitos. A cada dia os preços são diferentes:Quarta – R$ 10,00Quinta – R$ 20,00, sendo que 10 reais são consumíveisSexta e Sábado – Homem: R$ 30,00, consome R$ 15,00. Mulher: R$ 20, consome 10. Domingo – R$ 20, consome 10.
50
A decoração é um show à parte. O clima rock n’ roll fica evidente
até nas paredes do bar
51
tabooUma balada que está na moda. É toda decorada com sofás
dourados, lustres de cristais e de vidros que vão do teto ao chão.
Equipada com banheiros para deficientes, chapelaria e um bar. O
público alvo são os jovens que não exitam em gastar um pouco
mais de dinheiro e conhecer gente bonita. Os drinks em alta são as
caipirinhas de fruta e os coquetéis feitos à base de champanhe. O
valor para as mulheres é de R$ 40, e para os homens, é de R$ 80.
O número limite de pessoas é de 500, portanto, não é preciso se
preocupar!
Para quem aprecia Black Music e música eletrônica, esse é um
bom lugar para se divertir! A casa funciona de quinta a sábado e
abre às 22h. As formas de pagamento são em dinheiro ou cartão.
O estacionamento custa R$ 20, mas é possível deixar o carro na rua
também. A Taboo fica na Rua Marjory da Silva Prado, 1100 – Praia
de Pernambuco, Guarujá, junt com o Resort Jequitimar. Telefone é:
3353-5827 ou pelo site www.tabooclub.com.br.
52
bar do toninhoUm dos mais visitados de Santos. O bolinho de bacalhau e os
pasteizinhos de carne, queijo, siri, carne seca e calabresa com
queijo fazem sucesso. O preço dos salgados é R$ 2,50.
O bar vive cheio de gente, de todas as idades. Possui um telão,
que atrai muitos apreciadores do futebol. Não paga nada para
entrar e funciona todos os dias, tanto de dia, quanto de noite.
Aceita cartões de crédito e de débito. Não possui estacionamento
e, por isso, é aconselhável chegar cedo. Caso o bar esteja lotado,
é preciso ter paciência e esperar alguma mesa ficar livre para ser
utilizada. O local fica na Avenida Epitácio Pessoa, 241 – Embaré,
Santos. Telefone para contato é: 3227-8269.
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Os primeiros passos
Bem no meio da cidade de São Vicente foram encontradas
marcas de homens que viveram ali há quase 3000 anos. São
fragmentos de ossos, vasos, botões, colheres que nos remetem
a entender um pouco do passado, com os pés no futuro
Texto e fotos: Aline Porfírio
Você já pensou que seus hábitos e ações cotidianas
podem ser revelados e estudados no futuro? E isso não se
trata de reality show, câmeras de monitoramento ou satélites
que fotografam. Tudo faz parte da história, o tempo passa
e deixa marcas que evidenciam a vida humana. E a primeira
cidade do Brasil faz parte desse contexto, apresentando ao
mundo um importante sítio arqueológico que reconta a
história da colonização nacional.
O sítio fica dentro da Casa Martim Afonso, um centro de
documentação e pesquisa da Cidade de São Vicente. Dois
dias após o resgate dos 33 mineiros que estavam soterrados
há 69 dias no Chile, confesso que fica difícil ter um contato
maior com a terra ou estar, literalmente, debaixo dela. Porém,
o sítio arqueológico Bacharel provoca uma curiosidade
incontrolável de ver de perto os vestígios da pré-história, e
tudo isso me convenceu a descer dois metros abaixo do nível
das escavações.
Por meio de uma abertura bem estreita no chão, de
aproximadamente 1m x 70cm, eu desci por uma escada
móvel. O acesso é restrito a pesquisadores. Os visitantes
podem acompanhar os trabalhos de cima. Lá embaixo é
possível ver uma linha histórica.
Primeiro, os vestígios de Sambaquis embrenhados em
terra preta, que nos remetem a um passado muito distante.
Depois, as marcas nas rochas mostram a ação da maré
durante o tempo. Também passamos pelo período indígena,
com restos de cerâmica e artefatos. Logo mais, a um período
posterior, com garrafas de vidro e materiais de bronze, quem
sabe estes não são dos piratas que invadiram a Ilha? E por
final, as louças e botões que demonstram o Brasil colonial.
Toda essa aula de história ao ar livre leva qualquer
visitante a repensar suas ações, para que no futuro trabalhos
como esses possam continuar existindo, e que as próximas
gerações descubram, em nossos atos cotidianos, mais uma
parte de sua própria história.
Antes de ser erguida, a Casa era uma antiga construção
em ruínas, que em 1997 seria demolida para dar lugar a um
grande edifício. Por ser uma das últimas residências do século
XIX na Cidade, o Conselho e a Prefeitura pediram análises
da parede dos fundos do local, que, segundo historiadores
e pesquisadores, seria a antiga Casa de Pedra, habitada pelo
Bacharel de Cananéia e que também abrigou Martim Afonso.
55
Família
56
Os estudos da Universidade de São Paulo (USP) revelaram
que a parede datava de aproximadamente 420 anos, e seria,
provavelmente, a primeira em alvenaria do País. Foi erguida
por meio da técnica de alvenaria de pedra, que consiste
em cal de sambaqui, óleo de baleia, barro e pedras. Após
a revelação, a construtora doou o terreno à prefeitura e
restaurou o imóvel, dando origem à Casa Martim Afonso.
Mas, as pesquisas sobre a datação da parede não foram
adiante. Até que a curiosidade do historiador e presidente do
Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arquitetônico,
Cultural e Turístico de São Vicente, Marcos Braga, falou mais
alto. Ele é responsável pela Casa Martim Afonso desde 2005,
e já sabendo dos antecedentes do imóvel, não ficou parado.
Primeiro Marcos abriu um pequeno buraco nos fundo
da Casa e próximo à parede, que desde a descoberta ficou
exposta aos visitantes. Pela profundidade, percebeu que os
estudos ainda teriam grande base de aprofundamento. “Era
tentador saber de tantas histórias e não revirar esse passado.
O papel do Conselho é garantir que não se percam mais essas
memórias, como muito já foi desperdiçado. Eu não poderia
ficar parado”, explica o historiador.
Em 2009, Braga entrou em contato com a Cerpa (Centro
Regional de Pesquisas Arqueológicas) e firmou uma parceria
com o Professor Doutor Manoel Gonzalez. “Eu aceitei na hora.
Sabia que encontraríamos muita coisa debaixo daquele chão.
E eu não estava enganado”, explica o arqueólogo.
Bem abaixo da parede histórica, os profissionais abriram
um buraco de dois metros de profundidade por 13 de
largura. Com um olhar minucioso, de pincelada em pincelada
foram surgindo as primeiras surpresas. Na primeira camada,
Gonzalez encontrou parte da vida de moradores bem antigos.
Garrafas quebradas, colheres de bronze, louças pintadas à
mão e materiais à base de ferro indicam parte da colonização
da Primeira Vila do Brasil.
Logo depois, ele identificou quatro sítios arqueológicos.
Na segunda camada de escavação, foram encontradas peças
de cerâmica Tupi, algumas com marcas de dedos e unhas,
que exemplificam o artesanato indígena que data em cerca
de 800 anos. Mas, a grande surpresa para Gonzalez e Braga,
foi o vestígio de sambaquis, que são restos de conchas, terra
preta, fragmentos de ossos humanos e de animais. Estima-se
que essa ocupação ocorreu por volta de 3000 A.P. Tudo indica
que esses grupos eram formados de caçadores-coletores,
A Casa Martim Afonso funciona como um centro de documentação
e pesquisa da cidade de São Vicente
58
Essa escada conduz a dois metros abaixo do nível das escavações, onde está o sítio arqueológico. Lá, o acesso é restrito aos pesquisadores
Nossa repórter corajosa recebeu carta branca para descer e conferiu de perto todas as descobertas
59
que se alimentavam de moluscos, frutos silvestres e caça
de pequenos animais. Tinham o costume de acumular
restos de alimentos em volta de suas moradias, enfeites
no corpo e colocar artefatos pela localidade. Além disso,
usavam os sambaquis no sepultamento dos membros do
grupo, cobrindo o corpo com conchas e outros elementos.
Além dos sítios arqueológicos, foi encontrada também
a provável confirmação que Marcos Braga tanto procura
saber. Atrás do talude de escavação, foi evidenciada
a base da parede que é exposta na Casa, que devido às
modificações na estrutura conforme o tempo, não está
completa. Descobriu-se que ela segue em direção à Rua
Martim Afonso, medindo mais ou menos 25 metros de
comprimento. E essa descoberta confirma a ideia de
vários pesquisadores, que afirmam que a Casa de Pedra
teria provavelmente 25 x 20 metros de base antes de sua
demolição.
Após o processo, o sítio foi equipado para receber
visitantes. Atualmente, mais de seis mil pessoas já
passaram pelo local. Manuel Gonzalez reforça que o sítio
Bacharel é diferente e merece atenção. “Em todo o estado
de São Paulo não há nada parecido com isso. É o maior
sítio em visitação do estado, e ao mesmo tempo, o único
que permite acompanhar os processos de estudos ao vivo”.
O que aconteceu com a Casa de Pedra? – A tão famosa
casa aparece primeiramente citada em um texto de
1530, escrito por Alonso Santa Cruz, no qual ele cita uma
povoação de 10 ou 12 casas, sendo uma feita de pedra,
com seus telhados e uma torre para se defender dos
índios em tempos de necessidade.
A mesma casa teria abrigado, além do Bacharel de
Cananéia, Martim Afonso de Sousa, fundador da Vila de
São Vicente, no período em que esteve no Brasil. O local
seria equivalente a um forte, tendo aproximadamente
400 m².
Com a partida de Martim Afonso, a edificação foi
perdendo a importância e acompanhando a decadência
da Vila. Outro fato que ajudou na degradação da Casa de
Pedra foram os ataques dos piratas Thomas Cavendish,
em 1590 e Joris van Spilberg, em 1615. No início do século
XVIII tem-se notícias de que o local havia se tornado
residência. A edificação foi demolida por volta de 1880
para dar lugar, em 1889, a um sobrado de estilo eclético.
Em 1885, a Casa recebeu a vista de Dom Pedro II, que
quis ver de perto o local em que Martim Afonso se instalou.
Na década de 1940, o imóvel pertenceu à família Riggios
Verrones, de São Paulo. Em 1958, São Vicente ficou eufórica
com a visita do ex-presidente da república, Washignton
Luiz, que reconheceu a importância histórica da Casa. Por
vários anos, a Câmara Municipal e alguns prefeitos iniciaram
projetos de preservação do local e a criação de um centro
de documentação, mas nenhum foi adiante. Em 1977 foi
demolida após um incêndio, e somente 20 anos depois
ganhou seu devido espaço na história da cidade.
Futuro – Os trabalhos no sítio do Bacharel continuam. A
meta agora é escavar a área do estacionamento, que fica ao
lado da Casa. Lá, os pesquisadores acreditam haver evidências
da Casa de Pedra e mais fragmentos de ossos, objetos e
indícios pré-históricos.
As obras ainda não começaram devido à outra descoberta
arqueológica na cidade. Foi ao som de britadeiras, tratores
e marretas que operários da obra Boulevard Anna Pimentel
encontraram ossos humanos e vestígios indígenas abaixo do solo.
A obra pretende fazer da Rua Anna Pimentel, no centro da Cidade,
um local cheio de opções para lazer, gastronomia e negócios.
Manoel Gonzalez e Marcos Braga foram chamados para
verificar o achado, e constataram que junto ao corpo havia
restos de cerâmica indígena e material que provém do carvão,
o que indica fogueira e um possível ritual de sepultamento.
As peças vão ser encaminhadas para análise para que se
saiba sua datação. Braga explica que ele e Gonzalez optaram
por não retirar o corpo do local. “Preferimos deixá-lo lá, na
posição em que está. Temos um projeto junto ao prefeito para
a construção de um vitral onde as pessoas possam passar e
vê-lo”, explica o historiador.
Serviço – A Casa Martim Afonso guarda toda a parte de
documentação e memória de São Vicente. No local, também
são realizadas exposições permanentes e temporárias, todas
visando à história brasileira e São Vicente em seu contexto. O
sítio arqueológico Bacharel está aberto à visitação desde 20
de janeiro de 2010, e permanece por tempo indeterminado.
Responsável pela Casa Martim Afonso, o historiador Marcos Braga foi um dos primeiros a se interessar pelas escavações
O arqueólogo Manoel Gonzalez reforça o fato que este é o maior sítio em visitação do Estado. E o único que permite acompanhar
os processos de estudos ao vivo
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Aberto à visitação desde
janeiro deste ano, o
local já recebeu mais de
seis mil pessoas
A Casa Martim Afonso fica na Praça 22 de Janeiro, 469 – Gonzaguinha. Funciona de terça a domingo, das 10 às 18 horas. A entrada é gratuita.
QUER CONHECER?
Por trás das cortinas
Texto e Fotos: Carina Seles
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No esquecido centro de Santos, um grandioso lugar,
cheio de luxo que remete aos tempos antigos, à época
onde o glamour falava mais alto. Colunas romanas seguram
a estrutura destinada a interagir, compartilhar e divertir o
público. O teatro Coliseu é um dos teatros de Santos que mais
chamam a atenção pela beleza e manutenção, cuja restauração
fora realizada em 2006.
Quem vê do palco, sente que está esperando o sinal para
começar a cantar a ópera, dos tempos de Mozart, olhando
pelos três grandes camarotes em forma oval, repletos de gente
se abanando em leques de plumas de avestruz. Imaginação à
parte, o local apresenta espetáculos de dança, teatro e shows
de música todos os finais de semana, quando seus ingressos
acabam bem antes da cortina abrir. O próprio local já é uma
atração. Segundo a Secretaria de Cultura de Santos, o Coliseu
possui visitas monitoradas pela Secretaria de Turismo da
cidade. Durante a semana, a revista Parada Certa tentou visitar
o local, que estava fechado. Apenas a bilheteria funcionava.
Outra construção que enche os olhos de quem passa
em frente à Cadeia Velha, também no centro da cidade, é o
primeiro teatro da cidade, o Guarany. Com menos luxo e em
menor tamanho, o local também passou por restauração e foi
reinaugurado em 2008, após 20 anos de abandono.
O Teatro Guarany possui um clima aconchegante, com
uma linda pintura no teto, sob a assinatura do artista Paulo
Von Poser. O teatro abriga a escola de artes cênicas municipal
Wilson Geraldo, que ministra aulas de expressão corporal
dentre outros aspectos da interpretação. Diferentemente do
Coliseu, o Guarany mostra um ambiente mais simples, familiar.
Outra diferença são os preços.
Foto: Prefeitura de Santos
63
No Guarany, a maioria dos espetáculos são gratuitos.
Já no Coliseu, que recebe grandes artistas, como por
exemplo, comédias em gênero stand-up como os
televisivos Danilo Gentilli, ou Marco Luque do CQC -
Custe o que Custar, programa da Rede Bandeirantes,
custam em média de R$ 30 a R$ 60.
Foto: Prefeitura de Santos
QUER CONHECER?teatro Coliseu :: Rua Amador Bueno, 237, Centro – Santos/SP. :: Atrações aos finais de semana e especiais ao longo da semana. :: Informações 3226-8000.
O cantor Tom Zé se apresentou
no Coliseu durante a semana da
Tarrafa Literária em setembro
Foto: Nara Assunção - Jornal Boqueirão News
QUER CONHECER?teatro guarany :: Praça dos Andradas, 100, Centro – Santos/SP. :: Atrações de segunda a sábado. :: Informações 3226-8000.
joVem e esqueCido Descendo em direção à praia santista, vemos construções mais
ricas em detalhes, prédios novos e mais conservados. Ou quase.
A simples e cinza entrada do Centro Cultural Patrícia Galvão, mais
novo do que os anteriores – da época de 1920 – dá a impressão de
um local esquecido, assim como o centro da cidade. As luzes do
grande teatro que compõem o centro dificilmente ficam acesas.
De segunda a sexta, o local composto pelo Teatro Municipal
Brás Cubas, o teatro Rosinha Mastrângelo, o renovado Miss
(Museu da Imagem e do Som), que frequentemente recebe as
oficinas Querô, a hemeroteca Roldão Mendes Rosa – Espaço
Lydia Federici, que arquiva mais de 150 mil recortes de jornais e
revistas do século passado, oferece à população santista cursos
de dança e cinema. Seu teatro não possui luxo. É perceptível que
suas cadeiras e paredes precisam de uma restauração. O palco,
frequentemente dá rangidos e estalidos quando os atores andam
com um pouco mais de vigor. Parece cansado.
Porém, ao olhar nos andares acima do centro cultural, vemos
vida. No terceiro andar, funciona o Rolidei Teatro Café, que abriga
a Associação Projeto Tam Tam, e, às sextas e sábados, o único
espaço que abre as portas para os jovens dançarem e refletirem
sobre a vida, pois o dinheiro arrecadado com a balada alternativa
é encaminhado ao projeto que busca agregar pessoas com
necessidades especiais à cultura e à arte.
No Rolidei, além das pessoas se divertirem com música ao vivo
regada ao som de MPB de qualidade, os atores que trabalham
no pequeno espaço fazem curtas cenas teatrais, atraindo mais de
200 pessoas por final de semana. Com textos vindos do gênero
Teatro do Absurdo, eles conseguem implantar uma interrogação
na cabeça de cada um.
As cenas geram reflexão, pois – assim como a arte moderna
– instiga a pensar. Pensar que cada R$ 10 de entrada pagos são
direcionados a pessoas portadoras da Síndrome de Down, por
exemplo. Pessoas especiais que vivem sua vida com alegria, pois
também atuam nas cenas e peças com maestria, diferente de
tudo o pensado para uma balada comum. Um andar acima, aulas
de ballet clássico são ministradas diariamente a meninas de sete
a 14 anos. Os pés cheios de calos e talco denotam que a aula é
cansativa, porém prazerosa.
O Teatro Municipal parece respirar com dificuldade, mas há
pessoas que admiram o local por sua história. O professor de
dança de rua e atualmente de expressão corporal, Cláudio Rubens,
afirma que a cada dia há uma nova lição aprendida. “É uma honra
trabalhar aqui. Eu já fui aluno, agora posso passar o que aprendi
para as crianças, tanto na área de dança de rua, quanto na área de
expressão corporal para o teatro”, afirma.
Sobre a restauração do Teatro Brás Cubas, a prefeitura de
Santos ainda não nos respondeu, até o fechamento desta edição.
O Centro Cultural Patrícia Galvão é responsável pela formação de várias gerações de artistas da região
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O projeto Tam Tam usa o espaço
Rolidei para diversos eventos que
ajudam a manter a associação
QUER CONHECER?teatro brás Cubas :: Avenida Senador Pinheiro Machado, 48, Vila Mathias – Santos/SP. :: Aberto de segunda a sexta, das 9h às 17h. Informações 3226-8000.
O lustre é uma das peças
que mais impressionam os
visitantes. A decoração é
uma referência ao filme
O Fantasma da Ópera
Foto: Aline Porfírio
QUER CONHECER?PaláCio das artes :: Avenida Costa e Silva, 1.600, bairro Boqueirão – Praia Grande/SP. :: Funcionamento ao público de terça a sábado, das 14h às 18h.
beleza na Praia
Longe do centro santista, Praia Grande abriga um
palácio com fervor cultural. O Teatro Serafim Gonzalez, em
homenagem ao ator santista que faleceu em 2007, situa-se
no Palácio das Artes, um complexo cultural construído no final
de 2008. Com seis mil metros quadrados, o local possui um
amplo espaço, com a sede da Secretaria de Cultura da cidade,
espaço para eventos com 943 metros quadrados, o Museu da
Cidade, a Galeria de Arte Nilton Zanotti e o próprio teatro, com
capacidade de 530 assentos.
A estrutura do espaço possui uma bela fachada, com ares
neoclássicos e contemporâneos. O destaque, logo de entrada,
é o lustre, igual ao dos castelos luxuosos, com mais de dez
mil imitações de diamantes cravados em sua estrutura, além
de 120 lâmpadas. Segundo a chefe de Ação Cultural, Lourdes
Marzolek Bueno, o adorno homenageia o famoso filme O
Fantasma da Ópera.
No andar superior, o Museu da Cidade apresenta um mix
de atrações multimídia, com televisores com informações da
cidade, computadores interativos, documentos e fotos antigas
da Seção de Arquivo e Memória da cidade. Logo à frente, a
galeria de arte realiza mostras itinerantes, de artistas nacionais
e internacionais, dos mais variados tipos de artes visuais.
O Foyer Graziela Diaz Sterque é a passagem utilizada
para a chegada à platéia da sala de espetáculos. O local,
com uma de suas paredes compostas de vidro, nos dá a
vista da Mata Atlântica. Há uma exposição permanente de
cerâmica marajoara, pertencente ao acervo de Graziela, figura
importante para a cultura da cidade.
A natureza em volta do teatro é evidenciada
pelas paredes de vidro que permitem a visão da Mata Atlântica presente
no local
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Foto: Aline Porfírio
Iemanjá, odoiá... Com o fim do ano se aproximando,
os devotos da rainha do mar preparam
as oferendas para o novo ano. Em Praia
Grande, um lugar especial é reservado
para as homenagens
Texto: Letícia Schumann
Fotos: Ivan De Stefano
Religião
Todos os anos, na primeira quinzena de dezembro, a festa
se repete. Centenas de imagens da Rainha do Mar, Iemanjá,
tomam conta da praia da Vila Mirim em Praia Grande. Junto
com elas, milhares de pessoas movidas pela fé se apresentam.
Todos de branco e descalços entoam hinos e revelam sua
devoção à Santa.
A imagem localizada à Avenida Castelo Branco (Avenida
da Praia) foi reformada em 2006, agora ela fica sobre dois
espelhos d’água: um suspenso e outro junto à areia, na altura
da orla. A sensação de quem olha é de que Iemanjá está sobre
o mar.
Os fiéis podem depositar suas velas em um espaço
protegido. Durante a noite, luminárias submersas na lâmina
d’água focam a imagem que se sobressai em meio à paisagem
da orla da praia. Ao lado da Rainha do Mar estão 16 coqueiros,
cada um representando um orixá (deuses) da Umbanda.
A enorme festa comove e emociona até aqueles que não
seguem a crença da Umbanda. Como é o caso de Cristiane Santos.
A professora diz que gosta de ver as pessoas unidas para o bem.
“Não importa qual seja a religião, ver tantas pessoas reunidas em
prol de uma boa causa é impressionante e comovente”.
Durante os dois dias de festa, podemos perceber a intensa
movimentação em torno da estátua de Iemanjá, de oito metros
de altura e construída há mais de 30 anos. Um palanque é
utilizado para apresentar os inúmeros terreiros que fazem da
homenagem um marco na história da cidade. Na estréia dos
festejos, os participantes são anunciados ao som das músicas
e cantos típicos de seus terreiros e apresentam ao público o
que virá ao longo do fim de semana.
A infra-estrutura da festa depende não só dos terreiros,
mas também da prefeitura que disponibiliza serviços como
segurança e higiene aos turistas e moradores. No último ano,
foram instalados 11 pontos de energia e 32 chuveiros para
aqueles que acamparam na areia. Além disso, o policiamento
também foi reforçado com 160 homens da Polícia Militar e da
Guarda Civil municipal.
De acordo com o Sargento Figueroa, do grupo de Guarda
Vidas, o efetivo foi dobrado e houve escala noturna. “Não
houve ocorrências sérias, apenas cinco crianças se perderam
dos pais e foram encaminhadas aos postos de bombeiros e às
escolas municipais, onde seus pais os encontraram”.
Mais de 25 mil pessoas freqüentam, anualmente, as
festividades de Iemanjá. A maioria é motivada pela fé, que as
FOTO!
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Mais de 25 mil pessoas visitam,
anualmente, a estátua de oito
metros de altura
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FOTO!
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Em um espaço protegido os fiéis podem depositar
suas velas
73
fazem enfrentar longas distâncias para chegar perto do mar
e agradecer as graças alcançadas. O analista de qualidade,
Luiz Antônio Nunes Correia, viajou de Bragança Paulista
ao litoral para participar da noite de vigília. “Participo da
festa há mais de 20 anos, viemos em mais de trinta pessoas
para homenagear nossa Mãe”.
As tendas são outra atração, elas se distribuem na
areia, com decorações que remetem à cultura africana
e homenageiam Iemanjá com velas, flores e imagens. É
preciso cuidado para andar na areia em meio a tantas velas
em reverência à Rainha do Mar.
Luiza dos Santos Silva faz parte da tenda do “Caboclo
Pena Verde e Zé Baiano”, do Jardim Guarujá, SP, e freqüenta
Ao lado da imagem estão 16 coqueiros, cada um representando um orixá (deuses) da Umbanda
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a festa há 17 anos. “Passamos o ano inteiro planejando vir
à praia e homenagear nossa mãe Iemanjá. Demoramos
cinco horas para montar nossa tenda, que é sagrada”.
Os comerciantes têm motivos para comemorar também.
É nessa época que aumentam as vendas e eles põem em dia
o orçamento do ano inteiro. José Rodrigues é um deles,
ele tem uma barraquinha na praia e trabalhou na festa
por duas vezes. “A festa de Iemanjá é ótima para vender.
Pretendo vir mais vezes e aproveitar a temporada”.
A cada ano as taxas para a participação dos terreiros e
locação de espaços na areia são renovadas, os interessados
podem procurar a Secretaria de Turismo, pelo telefone:
3496-5722, para obterem mais informações.
OGUM
OXUMOXALÁ
XANGÔ
QUER CONHECER?A Estátua de Iemanja fica na Avenida Castelo Branco (Avenida da Praia), na Vila Mirim, em Praia Grande.
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Nós Fomos!
O silênciosagrado
Com paredes construídas para serem
impenetráveis, o Museu de Arte Sacra de Santos
guarda relíquias preciosas
Texto: Arucha Fernandes
Fotos: Ivan De Stefano
Construído em forma de forte, o antigo Mosteiro ainda guarda toda a arquitetura original
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No alto do morro o barulho dos automóveis já não fere
mais meus ouvidos e as nuvens que antes deixavam o domingo
cinzento e preguiçoso, agora se mesclam perfeitamente com
a nostalgia transmitida pelo local. Estamos no Morro do
São Bento, que em meados de 1650 ainda tinha o nome de
Morro de Nossa Senhora do Desterro. E foi neste mesmo ano
erguido o Mosteiro de Nossa Senhora do Desterro da Ordem
de São Bento.
O mosteiro foi construído pelos freis beneditinos em
forma de forte para evitar ataques de piratas. O prédio
foi erguido com areia, pedra, sambaqui (restos de ostras
e mariscos) e óleo de baleia. A importância histórica do
mosteiro foi reconhecida em 1968, foi tombado pelo Instituto
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) junto a
Cúria Diocesana. Em julho de 1981 na mesma edificação foi
instalado o Museu de Arte Sacra de Santos.
Em reportagem especial para esta editoria, nós, da equipe
da Parada Certa, visitamos o local, que guarda um acervo
valioso para história da cidade.
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Como combinado nos encontramos em frente da escadaria
de acesso ao Museu, por volta das 15 horas. Na equipe, os
repórteres Aline Porfírio, Alexandre Alves, Maurílio Carvalho, o
editor multimídia Gabriel Martins, os editores de planejamento
visual e diagramação Ivan Stefano e Danilo Neto, e eu, editora-
chefe.
A subida é feita sem dificuldades, apesar dos lances de
escada um pouco cansativos. Do alto é possível enxergar
parte do Porto de Santos, e do outro lado, apenas casas morro
acima. A primeira vista, um jardim com flores amarelas indica
o caminho até a entrada principal. A arquitetura antiga está
totalmente preservada com edificações retangulares que
apresentam três janelas azuis, com grades. Acima três arcos,
além de uma torre onde é possível ver duas aberturas que
guardam os sinos.
Na recepção é preciso que os visitantes se identifiquem
por meio do número do RG e nome completo, além do
pagamento de R$ 5 reais (vale meia entrada para estudantes e
idosos acima de 65 anos). A única decepção é o fato de não ser
permitido o registro de fotos dentro do Museu, sob a alegação
de preservação do acervo. Para melhor entender a história, o
passeio é conduzido por uma monitora. A nossa mini expedição
começa pelo claustro, uma área aberta de circulação e lazer.
Localizado no centro da construção, o chão agora coberto
por concreto já abrigou uma horta. Os antigos moradores, os
beneditinos, costumavam plantar o alimento que consumiam.
Uma grande sala na frente com pouca iluminação cria uma
atmosfera mística e até um pouco intimidadora. Espalhadas
estão imagens de vários santos, todos de terracota e madeira
policromada que datam do século XVI ao XVIII.
Dentro de caixas de vidro estão as imagens de Santo Amaro,
São Bento, São Paulo Apostolo, São João Evangelista, Nossa
Senhora do Rosário e Santana Mestra. Um fato curioso é que
está última possui duas representações em sua homenagem,
na primeira está sentada, e na outra, de pé.
Além dessas, existem mais duas imagens consideradas
as mais preciosas, por serem as mais antigas, do século XV.
São elas, Nossa Senhora da Conceição e Santa Catarina de
Alexandria, esta inclusive esteve por mais de 70 anos perdida
no fundo do mar. Em seguida, podemos ver a sacristia, o único
lugar que ainda está “ativo”. Lá, as batinas usadas pelo padre
que reza as missas na capela ao lado se misturam com outras
relíquias e utensílios cerimoniais.
Mais à frente, uma sala reservada com dois quadros de
Benedicto Calixto, a Santa Ceia, do século XX e Cristo do horto,
de XIX. Há também a Santa Ceia, do pintor Gentil Garcez. Calixto
nasceu em Itanhaém com um talento nato para a pintura era
considerado um dos grandes artistas paulistas do século XX.
Ainda jovem mudou-se para Santos e depois São Vicente. A
arte do pintor também pode ser apreciada no corredor central.
Todos os quadros são de pintura a óleo e estão conservados
em ótimas condições.
Obras do artista colombiano Gonzalo Fonseca Torres são
parte da primeira mostra de arte moderna trazida para o Museu
Fotos: Divulgação
Com um ambiente temático, a
Cachaçaria é a novidade da área rural
A Capela de Nossa Senhora do
Desterro recebe fiéis para celebração
da tradicional missa dominical
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Um dos aspectos que mais me chamou a atenção foi o
silêncio. Não que eu esperasse música ou pessoas falando sem
parar, afinal é um lugar estruturado para apreciação das artes e
aprendizado da história. Mas o silêncio soa diferente naquelas
salas. Como se realmente estivéssemos enclausurados naquele
que um dia foi mosteiro.
“Sanctifica eos in veritate”. Na próxima sala, essa frase em
latim escrita em uma placa, indica a Cátedra do Bispo de Santos.
Bem ao lado, o bacro que é uma espécie de cajado usado
pelo religioso. Podemos observar também as conversadeiras
em baixo das janelas, uma espécie de banco de concreto que
servia para conversas informais.
Em outro cômodo está representada a cela dos beneditinos.
Esses quartos têm uma estrutura simples e pouca mobília, apenas
uma cama e uma mesa com cadeira. Na sala ao lado encontram-
se imagens feitas de madeira policromada de Nossa Senhora das
Dores, Senhor Morto e o Senhor Bom Jesus. Estas eram usadas
em procissões e permanecem intactas. Toda a riqueza de detalhes
destas imagens chega a causar um arrepio na espinha. Isso
porque os olhos são feitos de vidro, o que resulta na impressão
de que elas estão olhando diretamente para você.
O último espaço abrigava naquele momento a exposição
Urbanas na América Latina - Almas Nuas, do artista colombiano
Gonzalo Fonseca Torres. Os quadros ficaram expostos até o dia
23 de novembro. Esta é a primeira mostra trazida para o Museu,
a ideia é continuar essa iniciativa com a exposição das obras
de outros artistas modernos. Mas essa visita ainda guardava
uma agradável surpresa. Por uma escada em forma de caracol
chegamos a topo da torre. A escuridão logo é afastada com a
abertura de uma janela e lá pude avistar os dois sinos.
Quem quiser estender o passeio pode ainda visitar a Capela
de Nossa Senhora do Desterro, localizada ao lado do Museu.
Todos os domingos são rezadas missas às 15h30, é só esperar
o soar do sino que anuncia o inicio da celebração. Outro
aspecto torna a pequena capela especial, ali estão enterrados
duas importantes figuras da história da região. A inscrição da
frase “Paz a sua alma e honra a sua memória” indica a sepultura
de Frei Gaspar da Madre de Deus, morto em 1800. Além
dele, o Frei Manoel de Santa Gertrudes Lustosa, sepultado
em 1754. Essa prática era comum antigamente, dentro das
igrejas e capelas ficavam os chamados campos sagrados onde
eram enterrados não só religiosos, mas também pessoas da
comunidade em geral.
Toda a decoração externa e interna do local foi
criada pelos próprios donos, que demoraram
menos de um ano para concluí-la
QUER CONHECER?:: Rua Santa Joana D’Arc, 795 – Morro São Bento:: Funciona de terça a domingo, das 11 às 17 horas. (13) 3219-1111:: Missa todos os domingos, às 15h30
Nossa equipe posa para a foto que
registra nossa passagem por mais
um ponto turístico do litoral paulista
Um dos passeios mais bonitos que já fiz foi em um
lugar bem próximo à capital paulista, em São Vicente. Na
praia do Gonzaguinha tive a oportunidade de fazer um
passeio de escuna que durou por volta de uma hora.
Durante o percurso, os condutores do barco foram
apontando pontos importantes da Cidade, como o
Marco Padrão, a Plataforma do pescador, a tão famosa
Ponte Pênsil e a magnífica Ilha Porchat.
Com um clima literalmente de alto mar, a
embarcação seguiu pela baía de São Vicente e parou
bem longe da margem da praia, para que os visitantes
pudessem aproveitar o maravilhoso pôr do sol com
um mergulho no mar.
Um passeio delicioso, que nos faz relaxar e
apreciar as belezas mais distantes que existem na
Cidade, como por exemplo, a Praia dos Índios, que
fica do outro lado da Ilhar Porchat e da qual é restrita
a visitantes.
Se forem a São Vicente, eu recomendo esse tipo de
passeio. Sem dúvidas, será inesquecível!
Praia do GonzaguinhaSão Vicente - SP
Conte sua viagem pra gente! [email protected]
Texto e fotos: Bernadete Ribeiro (relações públicas)
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