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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA REGIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE/PRODEMA A OCUPAÇÃO URBANA DO ENTORNO DE ZONAS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DE NATAL, SUAS CONDIÇÕES DE SUSTENTABILIDADE E A RELAÇÃO COM A OCORRÊNCIA DE INSETOS VETORES PAULO SÉRGIO FAGUNDES ARAÚJO 2009 Natal – RN Brasil

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO

PROGRAMA REGIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM

DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE/PRODEMA

A OCUPAÇÃO URBANA DO ENTORNO DE ZONAS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DE NATAL, SUAS

CONDIÇÕES DE SUSTENTABILIDADE E A RELAÇÃO COM A OCORRÊNCIA DE INSETOS

VETORES

PAULO SÉRGIO FAGUNDES ARAÚJO

2009

Natal – RN

Brasil

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Paulo Sérgio Fagundes Araújo

A OCUPAÇÃO URBANA DO ENTORNO DE ZONAS DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DE NATAL, SUAS

CONDIÇÕES DE SUSTENTABILIDADE E A RELAÇÃO COM A OCORRÊNCIA DE INSETOS

VETORES

Dissertação apresentada ao Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PRODEMA/UFRN), como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Mestre.

Orientadora: Profª. Drª. Maria de Fátima Freire de Melo Ximenes

2009

Natal – RN

Brasil

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PAULO SÉRGIO FAGUNDES ARAÚJO

Dissertação submetida ao Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PRODEMA/UFRN), como requisito para obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente.

Aprovada em:

BANCA EXAMINADORA:

_______________________________________________ Profa. Dra. Maria de Fátima Freire de Melo Ximenes

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PRODEMA/UFRN)

______________________________________________ Prof. Dr. Luiz Antônio Cestaro

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (PRODEMA/UFRN)

_______________________________________________ Profa. Dra. Maria do Carmo Martins Sobral

Universidade Federal de Pernambuco (DEC/UFPE)

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Ao meu querido e inesquecível pai, Walter Araújo, Engenheiro Civil e botânico amador, que me iniciou no mundo prático da Biologia, por tudo o que na vida me proporcionou e sem cujos ensinamentos jamais teria trilhado este caminho.

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i  

AGRADECIMENTOS

Aos meus amigos e parceiros de laboratório, Marcos Pinheiro, Katrine Bezerra, Gláucia Fernandes, Vanessa Escóssia, Hilário Tavares, Rodrigo Lira e Edson Santana, pela ajuda e constante disponibilidade e simpatia.

Aos professores do Laboratório de Entomologia, Herbet Tadeu de Almeida Andrade e Ricardo Andreazze, pela orientação informal, sugestões e apoio.

À minha ex-esposa, Andréa Luísa de Almeida Cavalcanti, por me iniciar no universo da pesquisa científica.

Aos professores do PRODEMA, Raquel Franco de Souza Lima, Eliza Maria Xavier Freire, Fernando Bastos Costa, Daniel Durante Pereira Alves, Gesinaldo Ataíde Cândido, Magnólia Fernandes F. de Araújo e Edmilson Lopes Júnior.

Aos meus companheiros da turma Prodema-2008, que me acompanharam na surreal viagem ao Piauí para o Seminário Integrador II.

Às secretárias Érica Cristina e Lanna Dantas pela ajuda e paciência.

A todos os que tiveram boa vontade e disponibilidade ao ceder suas residências e locais de trabalho para as capturas.

Aos todos os funcionários do Centro de Controle de Zoonoses pela ajuda inestimável em consultoria e disponibilização dos dados.

Ao Superintendente de Infraestrutura da UFRN, Engenheiro Gustavo Fernandes Rosado Coelho pela sua compreensão durante o meu período de mestrado.

À minha mãe, Violeta Fagundes Araújo, pelo amor, carinho, orientação constante e apoio nos momentos de necessidade.

Aos meus irmãos, Walter Jr. e Nelson, pelo exemplo de caráter, competência e correção.

Ao meu filho Marcelo “Teco” Cavalcanti Araújo, pelas tantas vezes que quisemos ficar juntos e não pudemos, pelo amor incondicional que me é dedicado (e é recíproco), e pela sua tranqüilidade e compreensão infinitas em respeitar meus momentos de trabalho nesta pesquisa.

À minha esposa Silvanete Dantas, pelo amor, tranqüilidade, paz , sabedoria, ajuda e compreensão a mim dedicados.

À minha orientadora, professora Maria de Fátima Freire de Melo Ximenes, professora no mais alto espírito da palavra, a qual todos os adjetivos positivos são dispensados, e a quem devo todo apoio e incentivo para realizar esta pesquisa.

 

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RESUMO

Este estudo partiu da hipótese da existência de relação entre a natureza da ocupação urbana no que se refere às suas condições de sustentabilidade no entorno das Zonas de Proteção Ambiental (ZPA) e a ocorrência de espécies de insetos vetores em Natal, Rio Grande do Norte. A pesquisa, realizada com dados disponibilizados pelo Centro de Controle de Zoonoses da Secretaria Municipal de Saúde e dados da Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo do Município, do período 2006 a 2008, procurou caracterizar a área de estudo quanto à ocupação urbana, relacionando-a com seus aspectos urbanísticos e sócio-ambientais e com a ocorrência de insetos vetores. O estudo é apresentado em dois capítulos sob a forma de artigos, o primeiro relacionando a ocorrência de insetos vetores e indicadores de desenvolvimento sustentável e o segundo buscando uma correlação entre casos notificados de Dengue e Febre Hemorrágica da Dengue (FHD) e índices de infecção larvária de Aedes aegypti, ambos em Natal, RN. No primeiro artigo, por meio da análise dos dados obtidos, procurou-se correlacionar a ocorrência de insetos do gênero Aedes e de flebotomíneos com indicadores de desenvolvimento sustentável na dimensão ambiental e social. Estes indicadores foram selecionados a partir do indicador 36 do IDS-Brasil 2008, que relaciona doenças a um saneamento ambiental inadequado, e onde estão listadas zoonoses como a Dengue e as Leishmanioses Visceral e Tegumentar. Por meio de análise fatorial foi obtido um Índice de Desenvolvimento Sustentável por Bairros (ISB), tendo os bairros da Região Administrativa Norte do Município apresentado índices mais baixos de ISB, enquanto que Bairros da Região Administrativa Sul revelaram melhores condições de sustentabilidade. Relacionando estes índices com a ocorrência de insetos vetores nestes locais, observou-se correlação significativa entre o ISB e o Índice de Breteau em Aedes aegypti (p=0,028) e com o índice de infestação domiciliar por flebotomíneos (p=0,01), revelando um padrão que permite associar as condições de sustentabilidade das áreas estudadas com a ocorrência destes insetos, confirmando a hipótese preestabelecida. O segundo artigo analisa a ocorrência do principal vetor da Dengue e FHD, o Aedes aegypti, e a relação de índices de infestação larvária deste inseto com casos relatados destas zoonoses. Através da análise estatística é possível observar uma discrepância entre o Índice de Breteau e a incidência de casos de Dengue e FHD, havendo uma tendência a ter maior número de casos de FHD onde há maior ocorrência de criadouros do inseto, fato que não se repete com casos de Dengue clássica.

Palavras-chave: Urbanismo, meio ambiente, insetos, vetores, desenvolvimento, sustentabilidade.

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iii  

ABSTRACT

This study started from the hypothesis of the existence of a relation between the type of the urban occupation concerning to the sustainability conditions at the proximity of Environment Protected Zones and the occurrence of vectors insects in Natal, Rio Grande do Norte, Brazil. This research, which used data available by the City Administration Health and Urbanization Secretaries (respectively SMS and SEMURB), in the time period of 2006 to 2008, aimed to characterize the study site in terms of urban occupation, relating it to social-environmental aspects of land occupation and the occurrence of vectors insects. This study is presented in two papers, the first one linking the occurrence of vectors insects and sustainable development indicators and the second relating the incidence of reported cases of Dengue and Dengue Hemorrhagic Fever (DHF) and the occurrence of larvae infection indexes of Aedes aegypti, in Natal, Rio Grande do Norte State. In the first paper, was made a correlation between Dengue Fever vectors and Visceral and Tegumentar Leishmaniasis vectors and sustainable development indicators, selected from IDS Brasil- 2008. Through factorial analysis a Sustainability Index (SI) was acquired for each region, the northern region of the municipality obtained lower numbers than southern region, which, in its turn, presented better sustainability conditions. Linking this index to vector infestation parameters shows a high significant correlation between the SI and the Breteau Index of Aedes aegypti (p=0,028) as well as with SI and sand flies infestation index (p=0,01). Higher rates in vectors infestation in regions with a lower Sustainable Development Index demonstrates that this index can be used to determine the increasing of probability of Aedes and sand flies occurrence in urban environment. The second paper analyzed the occurrence of the main vector of Dengue and DHF, the Aedes aegypti mosquito, and the relation between larvae infection indexes of this insect and reported cases of the diseases. This study revealed unexpected relation where areas with higher Breteau’s Indexes showed lower infection rates of Dengue Fever, although showing high incidence of DHF.

Key words: Urbanism, environment, insects, vectors, development, sustainability.

 

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LISTA DE FIGURAS

CAPÍTULO 1 Página

Figura 1: Área de estudo. Adaptado do Anuário Natal 2009. SEMURB, 2009...........................................................................................................................

18

Figura 2: Análise de tendência do Índice de Breteau para A. aegypti em relação ao Índice de Sustentabilidade do Bairro...................................................................

27

Figura 3: Análise de tendência do Índice de Infestação Domiciliar de Flebotomíneos em relação ao Índice de Sustentabilidade do Bairro........................

29

CAPÍTULO 2

Figura 1: Área de estudo. Adaptado do Anuário Natal 2009. SEMURB, 2009...........................................................................................................................

44

Figura 2: Índice médio de Breteau por Regiões Administrativas. Natal, RN, 2008...........................................................................................................................

47

Figura 3: Índice de Breteau, incidência de Dengue e FHD por Regiões Administrativas, em Natal, RN, 2008.......................................................................

50

 

LISTA DE TABELAS  

CAPÍTULO 1 Página

Tabela 1: Indicadores de Desenvolvimento Sustentável por bairros – média 2006 a 2008........................................................................................................................

23

Tabela 2: Matriz de correlação entre Indicadores de Desenvolvimento Sustentável................................................................................................................

25

Tabela 3: Seleção do fator pelo Método dos Componentes Principais................... 26

Tabela 4: Classificação dos bairros em estratos, segundo o Índice de Sustentabilidade do Bairro........................................................................................

26

Tabela 5: Evolução anual da captura de flebotomíneos em bairros adjacentes à ZPA-9 – Índice de Infestação Domiciliar Médio Anual...........................................

28

CAPÍTULO 2

Tabela 1: Índice de Breteau médio no ano de 2008 e casos de Dengue e FHD, por Região Administrativa em Natal, RN................................................................

47

Tabela 2: Tipos de criadouros predominantes por Região Administrativa em Natal, RN, 2008 .......................................................................................................

48

 

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SUMÁRIO

Agradecimentos...................................................................................................... i

Resumo.................................................................................................................... ii

Abstract................................................................................................................... iii

Lista de figuras....................................................................................................... iv

Lista de tabelas....................................................................................................... iv

Página

1. INTRODUÇÃO GERAL................................................................................... 01

1.1. Objetivos........................................................................................................... 09

1.1.1. Objetivo geral............................................................................................ 09

1.1.2. Objetivos Específicos................................................................................ 09

2. REFERÊNCIAS................................................................................................. 10

CAPÍTULO 1

Insetos vetores e sua relação com indicadores de desenvolvimento sustentável em Natal, RN, Nordeste do Brasil...........................................................................

12

Resumo ................................................................................................................... 12

Abstract ................................................................................................................... 13

Introdução ............................................................................................................... 14

Material e métodos ................................................................................................. 18

Área de estudo ................................................................................................ 18

Caracterização física e urbanística da área de estudo...................................... 19

Ocorrência de insetos vetores nas áreas estudadas.......................................... 19

Indicadores de Desenvolvimento Sustentável................................................. 20

Análise Fatorial – Criação do Índice de Sustentabilidade do Bairro............... 20

Resultados e discussão............................................................................................. 21

a. Caracterização física e urbanística da área de estudo................................ 21

b. Seleção dos indicadores para construção do Índice de Sustentabilidade do Bairro....................................................................................................

23

c. Construção do Índice de Sustentabilidade................................................. 25

d. Análise da ocorrência de Aedes aegypti pelo Índice de Breteau............... 26

e. Análise da ocorrência de Aedes albopictus pelo Índice de Breteau.......... 27

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f. Análise da ocorrência de flebotomíneos pelo Índice de Infestação domiciliar...................................................................................................

28

Considerações finais................................................................................................ 29

Referências .............................................................................................................. 31

Agradecimentos........................................................................................................ 35

Anexo I – Imagem aérea incluindo ZPA-9 e entorno.............................................. 36

Anexo II – Imagem aérea incluindo ZPA-5 e entorno............................................. 37

Anexo III – Norma de submissão do artigo para a revista....................................... 38

CAPÍTULO 2

Casos notificados de Dengue e Febre Hemorrágica da dengue e sua relação com índices de infestação larvária de Aedes aegypti em Natal, RN, Nordeste do Brasil........................................................................................................................

39

Resumo..................................................................................................................... 39

Abstract.................................................................................................................... 40

Introdução................................................................................................................. 41

Material e métodos................................................................................................... 44

Área de estudo.................................................................................................. 44

Caracterização física e urbanística da área de estudo...................................... 45

Ocorrência de insetos vetores nas áreas estudadas.......................................... 45

Ocorrência e tipos de criadouros nas áreas estudadas..................................... 45

Incidência de Dengue Clássico e FHD em Natal, RN..................................... 46

Análise Estatística............................................................................................ 46

Resultados e discussão............................................................................................. 47

a. Análise da ocorrência de Aedes aegypti pelo Índice de Breteau............... 47

b. Análise da ocorrência e tipos de criadouros de Aedes aegypti nas áreas estudadas...................................................................................................

47

c. Incidência de Dengue Clássico e FHD no ano de 2008, em Natal, RN.... 49

Considerações finais................................................................................................. 50

Referências .............................................................................................................. 52

Agradecimentos........................................................................................................ 54

 

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1  

INTRODUÇÃO GERAL

O processo de urbanização no Brasil é relativamente recente, relacionando-se com

mudanças sócio-econômicas produzidas na terceira década do século 20. A partir da década de

70 esta situação revestiu-se de extrema importância quando dados oficiais revelaram que o

número de habitantes das cidades sobrepujou o de residentes no campo. Este fato reproduz

situação conhecida em países como Inglaterra, Estados Unidos e Japão, cuja tendência de

migração campo-cidade elevou os índices de urbanização, que chegaram aos 95% (BRITO et

al., 2005). De fato, na década de 80 houve a redução, em números absolutos, da população rural

brasileira, sendo que no ano 2000 mais de 80% da população vivia em áreas urbanas (CUNHA,

2003).

Esta condição leva a uma situação onde são criados “os dois circuitos da economia

urbana”, quando uma parcela da população teria acesso a recursos tecnológicos e aos seus

benefícios enquanto outra parte ficaria segregada a uma situação de carência de infra-estrutura e

habitações inadequadas (ALBUQUERQUE, 1993).

Determinados aspectos ligados ao desenvolvimento urbano devem, por isso, ser

analisados quando do estudo de determinadas doenças. Dentre estes aspectos incluem-se

condições de moradia, estando aí associados parâmetros determinantes de adequabilidade, como

localização das residências, saneamento ambiental, acesso a rede de abastecimento d’água e

índice educacional. Em países em desenvolvimento, a urbanização ultrapassa a capacidade

administrativa e financeira das cidades, resultando na falha do provimento de serviços

essenciais de infra-estrutura, afetando principalmente populações de baixa renda e gerando um

impacto considerável na saúde pública (GOUVEIA, 1999).

O estilo de vida e a forma de exposição a fatores de risco e condutas individuais

determinam a gravidade de problemas de saúde-doença. Da mesma maneira, o homem, como

ser social, está associado a inúmeros sistemas ecológicos, os quais, por sua vez, interagem com

outros grupos humanos e outras espécies, em determinadas condições naturais, formando uma

complexa rede que pode determinar a forma como uma determinada patologia afeta uma

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população (CASTELLANOS, 1990). A relação entre o homem e a natureza e a sua conduta

perante as diversas formas de interação possíveis tornam-se fatores determinantes no curso de

uma doença.

As condições sócio-econômicas de ocupação do espaço urbano e a produção e

manutenção de endemias vêm sendo discutidas e revelam uma relação intrínseca que merece ser

estudada e levada em consideração quando se pretende propor um modelo de controle (KRAUZ,

1971). De maneira similar, a forma como se dá a ocupação do espaço urbano pode desempenhar

importante papel, contribuindo assim para a perpetuação de zoonoses.

A lei municipal que institui o Plano Diretor de Natal criou dez Zonas de Proteção

Ambiental (ZPAs) (a ZPA-8 divide-se em duas), objetivando a “preservação, melhoria e

recuperação da qualidade ambiental” (SEMURB, 2007). Nestas zonas a ocupação e uso do solo

são restritos, e devem ser regulamentadas por leis municipais específicas. Até 2009 apenas as

ZPAs 1 a 5 encontravam-se regulamentadas, estando as demais em processo de regulamentação.

Dispersas por todo o município, desde o seu norte até o extremo sul, as zonas de

proteção estão cercadas por áreas urbanas com perfil sócio-econômico extremamente

diversificado. A infra-estrutura urbana disponível também é extremamente variável, o que

reflete diretamente na qualidade de vida da população que ocupa o seu entorno.

Esta ocupação, conseqüência natural da acelerada expansão urbana do município,

pode provocar um desequilíbrio ambiental ao aproximar a população residente das áreas

proximais destas zonas de proteção a espécies potencialmente vetoras de zoonoses que habitem

o ambiente silvestre. Aliada a uma infra-estrutura deficiente pode, eventualmente, contribuir

para a manutenção de endemias, por proporcionar, no ambiente urbano, habitats favoráveis a

insetos vetores. Segundo Ompad e colaboradores (2007), diferentes características sócio-

ambientais do ambiente urbano como situação econômica, nível educacional e localização da

residência, entre outros, precisam ser estudadas e ter a sua influência analisada, posto que são

determinantes na qualidade da saúde de uma população.

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Esta situação é decorrente do próprio modelo de desenvolvimento brasileiro, que

favoreceu a concentração da população em grandes centros urbanos, tendo como resultado um

aumento de 400% da população urbana de 1960 a 1996 (MALHEIROS et al., 2008). Ainda

segundo esses autores, este crescimento abrupto, sem planejamento e mal gerenciado pelo poder

público, gerou graves problemas estruturais que se refletiram em uma progressiva degradação

das condições de saúde e ambientais.

Analisando-se Natal sob a ótica da saúde pública, três zoonoses são objetos de

importantes políticas municipais, com alto custo econômico e social, pelas suas características

endêmicas: as Leishmanioses Visceral Americana e Tegumentar Americana e a Dengue

(XIMENES et al., 2007; SMS, 2008).

A Leishmaniose Visceral Americana (LVA) foi primeiramente encontrada no

Sudeste da Ásia, Leste da África e Brasil. Hoje, se encontra globalmente distribuída, incluindo

Europa e Américas, embora a maior parte dos casos (cerca de 60%) ocorra na Índia, Bangladesh

e Nepal e os casos remanescentes na Etiópia, Quênia, Sudão e Brasil (ARIAS et al., 1996).

É causada por um protozoário do gênero Leishmania, pertencente ao complexo

Leishmania (Leishmania) donovani, e transmitida ao homem pela picada de mosquitos

flebotomíneos, também chamados de mosquitos-palha. O homem e alguns mamíferos são

considerados reservatórios da doença: em áreas urbanas, os cães são os principais reservatórios

do parasita; em áreas de mata, roedores e raposas fazem este papel.

No Brasil, o agente etiológico é identificado como Leishmania infantum chagasi

(Kinetoplastida: Trypanosomatidae) (MAURICIO et al., 1999), sendo uma doença de alta

letalidade (até 10%) quando não tratada em tempo hábil e reconhecida como infecção

oportunista em pacientes imunodeprimidos.

Todo indivíduo com febre e esplenomegalia, proveniente de área com ocorrência

de transmissão de LVA é considerado suspeito da doença, e deverá ser submetido a exame

laboratorial para confirmação do diagnóstico. Pacientes de LVA com idade inferior a seis meses

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ou superior a 65 anos, desnutridos ou com co-morbidades requerem atenção redobrada, devendo

ser tratados em hospitais, por ter maior probabilidade de evolução para situações de gravidade.

A doença está associada à ocupação desordenada do espaço urbano, que por sua

vez concorre para importantes modificações ambientais, e a condições sócio-econômicas

inadequadas da população exposta ao risco (DANTAS-TORRES, 2006).

A LVA é considerada endêmica em 19 estados, destacadamente no Nordeste, onde

o crescimento de cidades em áreas endêmicas da doença resultou na sua expansão. Esta

situação, associada à presença do seu vetor, Lutzomyia longipalpis (Diptera: Psychodidae),

hospedeiros e à tradicional condição sócio-econômica desfavorável nestas regiões tem ajudado a

perpetuar o ciclo da doença que é cada vez mais comum em áreas urbanas e periurbanas

(XIMENES et al., 2007).

A Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA) está presente desde o sul dos

Estados Unidos até o norte da Argentina. À semelhança da Leishmaniose Visceral, é uma

doença infecciosa crônica, caracterizada pela formação de lesões ulcerosas cutâneas, e

transmitida pela picada de mosquitos da família Psychodidae e subfamília Phlebotominae. No

Brasil, a LTA é causada principalmente pela Leishmania brasiliensis, e é relatada em quatro das

cinco regiões do Brasil, com maior ocorrência em estados do Norte e Nordeste. A incidência da

doença no Rio Grande do Norte é baixa e restrita a uma das oito zonas geográficas do Estado

(XIMENES et al., 2007), tendo sido recentemente notificada na região metropolitana de Natal

pela Secretaria Estadual de Saúde.

Embora a Leishmaniose fosse considerada uma doença de ambiente essencialmente

rural (GOMES et al., 1990), hoje, talvez devido a alterações ambientais e antrópicas, o vetor

pode ser encontrado em ambiente urbano e periurbano (ARIAS et al., 1996). O controle desta

zoonose baseia-se no diagnóstico e tratamento precoce e, naturalmente, do controle dos

mosquitos transmissores (TAUIL, 2006). A identificação e eutanásia de cães infectados em

áreas urbanas é uma medida polêmica, que pode ter a sua eficácia questionada principalmente

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em regiões próximas a áreas de mata, onde a presença de reservatórios silvestres do parasita é

uma variável a se considerar.

A Dengue é uma arbovirose causada por vírus da família Flaviviridae com

diferentes sorotipos (DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4), que por terem padrões imunológicos

diferenciados contribuem para manter os níveis de incidência desta doença (CÂMARA et al.,

2007).

A doença é transmitida ao homem pela picada de mosquitos do gênero Aedes

infectados, causando um quadro viral com aproximadamente sete dias de duração, após um

período de incubação de até quinze dias após a picada, e com sintomas inespecíficos como febre

alta, anorexia, dores musculares e retro-oculares. O quadro pode evoluir para a febre

hemorrágica da dengue (FHD) e síndrome de choque da dengue (SCD), com taxa de

mortalidade de até 10% para pacientes hospitalizados e 30% para pacientes não tratados.

As primeiras epidemias relatadas de Dengue ocorreram entre 1779-1780 em três

continentes – África, Ásia e América do Norte, o que demonstra a distribuição global do vírus e

dos seus vetores (CDC, 2008).

Após a pandemia no sudeste da Ásia no final de 1945, a Dengue caracterizou-se

como um problema de saúde pública mundial. A adaptabilidade dos seus vetores, a velocidade

dos meios de transporte atuais e a citada existência de múltiplos sorotipos facilitaram o

surgimento de sucessivas epidemias tornando susceptíveis populações de áreas tradicionalmente

livres da doença (CDC, 2008).

Em 1981 foi registrada epidemia de Dengue em Boa Vista, Roraima,

caracterizando o ressurgimento da doença no país, como resultado da reinfestação pelo principal

vetor da doença, o mosquito Aedes (Stegomyia) aegypti. Em 1986, o vírus espalhou-se para o

Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste (DONALISIO et al., 2002). Neste momento já haviam sido

isolados os quatro sorotipos, o que provavelmente contribuiu para o agravamento das

complicações decorrentes da doença, como a Febre Hemorrágica da Dengue e a Síndrome do

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Choque da Dengue (CÂMARA et al., 2007). Atualmente, a Dengue está presente em todos os

estados brasileiros com os sorotipos DEN-1, DEN-2 e DEN-3, sendo responsável por 60% das

notificações nas Américas (CÂMARA et al., 2007).

Em Natal, os primeiros casos de Dengue Clássica foram notificados em 1996, com

surtos epidêmicos em anos alternados até 2004, quando o número de casos aumentou

progressivamente, alcançando um total de 10.826 casos notificados em 2008. Neste mesmo ano,

foram notificados 1.278 casos de Febre Hemorrágica da Dengue no município (SMS, 2008).

O Aedes aegypti é um mosquito de hábitos diurnos e alta adaptabilidade ao

ambiente urbano e periurbano, o que torna o seu controle particularmente difícil, exigindo assim

altos investimentos para o seu controle (CAIAFFA et al., 2005). Este controle depende,

essencialmente, da eliminação de criadouros produzidos por ação antrópica e da eliminação dos

mosquitos adultos, com uso de inseticidas (TAUIL, 2006).

Os vetores da Dengue, LVA e LTA, provavelmente são endêmicos das áreas

naturais primitivas, incluindo-se entre estas as Zonas de Proteção Ambiental de Natal. Esta

condição, aliada à ocupação associada a indicadores desfavoráveis de condição de vida, no

entorno destas áreas, pode significar um aumento da sua ocorrência no ambiente urbano e das

patologias a eles associadas. O estudo da ocorrência dos insetos vetores destas zoonoses é,

assim, um importante instrumento na formulação de políticas públicas de controle, subsidiando

o acompanhamento do progresso rumo ao desenvolvimento com sustentabilidade.

A existência de um sistema de informações que monitore a relação entre os padrões

de desenvolvimento e a ocorrência de vetores das zoonoses citadas poderá auxiliar no seu

controle, eventualmente redirecionando recursos e ações das políticas públicas relacionadas a

estas doenças (BELLEN, 2004). Não há relato na literatura de estudos no município

relacionando a ocorrência de insetos vetores com a urbanização proximal das Zonas de Proteção

Ambiental e o papel das condições da urbanização destas áreas na manutenção de endemias.

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O modelo de desenvolvimento em curso na nossa sociedade é questionável na

medida em que reforça as desigualdades socioambientais. O surgimento de uma consciência

ética deve se apoiar em procedimentos centrados na coleta de dados e criação de indicadores

que tornem transparentes a tomada de decisões no sentido de minimizar os déficits sociais e na

alteração dos padrões de consumo, como forma de proporcionar uma melhoria na qualidade de

vida e equilíbrio ambiental (JACOBI, 1999).

A importância da construção de indicadores de sustentabilidade a partir de

problemas e situações reais é ressaltada por Malheiros e colaboradores (2008), criando assim as

bases para a construção do desenvolvimento, integrando a saúde pública e a saúde ambiental em

direção à sustentabilidade.

Os sistemas de informação baseados em indicadores de desenvolvimento

sustentável têm sido utilizados principalmente na esfera municipal, sendo importantes

ferramentas para a avaliação da situação local (TAYRA et al., 2006).

Uma série de ferramentas ou sistemas está disponível com o propósito de se avaliar

graus de sustentabilidade do desenvolvimento, cada uma com as suas peculiaridades. Métodos

como o Pegada Ecológica (Ecological Footprint Method) que analisa a sustentabilidade sob uma

perspectiva biofísica, o Dashboard of Sustainability, onde o desempenho do sistema avaliado é

mostrado de forma gráfica, e o Barometer of Sustainability ou Barômetro da Sustentabilidade,

que pretende integrar indicadores biofísicos e da saúde social, de forma a avaliar o progresso rumo à

sustentabilidade (BELLEN, 2004) teriam a sua aplicabilidade comprometida, no caso deste

trabalho, devido tanto à indisponibilidade de dados específicos para cada método como às suas

características metodológicas.

Em 1996, a Comissão para o Desenvolvimento Sustentável (CDS), da ONU,

baseando-se nas disposições da Agenda 21 que tratam da relação entre meio ambiente,

desenvolvimento sustentável e informações para a tomada de decisões, criou um conjunto de

134 indicadores, posteriormente reduzidos a 57, acompanhados de diretrizes para a sua

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utilização. Em 2002, a partir deste estudo, o IBGE elaborou uma publicação listando um

conjunto de indicadores adaptados à realidade brasileira. Em 2004 o número de indicadores foi

ampliado para 59 e, em 2008 foram listados 60 indicadores, acompanhados de uma revisão dos

indicadores existentes (IBGE, 2008).

Os fundamentos para o estudo das dimensões da sustentabilidade são propostas, em

princípio, pela Agenda 21, e descritas, segundo o IBGE (2008) como a dimensão ambiental,

tratando da atmosfera, da terra, água doce, mares, oceanos, área costeira, biodiversidade e

saneamento; a dimensão social tratando do trabalho e rendimento, saúde, educação, habitação e

segurança; a dimensão econômica tratando do desempenho macroeconômico e financeiro e seus

impactos no consumo de recursos materiais e uso de energia primária; e a dimensão

institucional tratando da orientação política, capacidade e esforço usado para promover as

mudanças necessárias ao desenvolvimento sustentável.

Embora as bases de dados ainda apresentem deficiências, a publicação do IBGE

“Indicadores de Desenvolvimento Sustentável” ou IDS Brasil, objetiva fornecer uma base de

dados para a construção de indicadores específicos (TAYRA et al., 2006).

Os Indicadores de Desenvolvimento Sustentável descritos no IDS Brasil-2008

objetivam a criação de instrumentos de mensuração de padrões de desenvolvimento, servindo

para identificar tendências e fornecer subsídios aos tomadores de decisões. O estudo

comparativo destas variáveis em áreas com Indicadores de Desenvolvimento Sustentável

divergentes, associado à ocorrência de insetos vetores de zoonoses como Dengue, LVA e LTA

poderá contribuir para o direcionamento de políticas de controle e de utilização de recursos com

maior probabilidade de êxito, tendo como conseqüência um considerável ganho de qualidade de

vida para a população.

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9  

1.1. Objetivos

1.1.1. Objetivo Geral

Avaliar a relação entre o nível de sustentabilidade das áreas urbanizadas no entorno

das ZPAs e a ocorrência de insetos vetores de zoonoses nestes locais.

1.1.2. Objetivos Específicos

1. Caracterizar as ZPAs pesquisadas quanto à ocupação urbana em suas áreas limítrofes e

a proximidade das edificações com a vegetação nativa;

2. Levantamento da ocorrência, nos bairros adjacentes à ZPA-5 e ZPA-9, de espécies de

culicídeos (Diptera: Culicidae) e flebotomíneos (Diptera: Psychodidae) potencialmente

envolvidas com a transmissão de doenças no Nordeste do Brasil.

3. Caracterizar os aspectos urbanísticos e sócio-ambientais da ocupação do solo no

entorno imediato (área limítrofe) das ZPAs em relação a Indicadores de

Desenvolvimento Sustentável.

4. Propor um índice que expresse as condições de Desenvolvimento Sustentável das

regiões estudadas.

5. Correlacionar as espécies vetoras encontradas com as características urbanísticas e

sócio-ambientais das zonas estudadas através do índice proposto.

6. Correlacionar os índices de infestação por Aedes aegypti com a incidência de dengue

Clássico e Febre Hemorrágica do Dengue nas áreas estudadas.

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10  

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INSETOS VETORES E SUA RELAÇÃO COM INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM NATAL, RN,

NORDESTE DO BRASIL.

Paulo Sérgio Fagundes Araújo1, Maria de Fátima Freire de Melo Ximenes2.

1. Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E-mail: [email protected]. 2. Departamento de Microbiologia e Parasitologia/UFRN. E-mail: [email protected].

Resumo

Neste estudo procurou-se correlacionar indicadores de desenvolvimento sustentável com a ocorrência de mosquitos do gênero Aedes e flebotomíneos vetores de Leishmaniose Visceral Americana e Leishmaniose Tegumentar Americana, de forma a estabelecer uma relação entre os índices de infestação encontrados e a situação de sustentabilidade de bairros da zona sul e zona norte do município de Natal, adjacentes, respectivamente, às Zonas de Proteção Ambiental 5 e 9. Os dados sobre a ocorrência de criadouros de Aedes aegypti e A. albopictus e de capturas de flebotomíneos do gênero Lutzomyia na área de estudo durante o período de 2006 a 2008 foram obtidos junto à Secretaria Municipal de Saúde, através do Centro de Controle de Zoonoses, e correlacionados a indicadores ambientais e sociais. Através de Análise Fatorial, estes indicadores foram transformados num índice de sustentabilidade atribuído a cada um dos bairros estudados (Índice de Sustentabilidade do Bairro – ISB). Relacionando estes índices com a ocorrência de insetos vetores nestes locais, observou-se alta correlação positiva entre o ISB e o Índice de Breteau de A. aegypti (p=0,028) e com o índice de infestação domiciliar por flebotomíneos (p=0,01), revelando um padrão que permite associar as condições de sustentabilidade das áreas estudadas com a ocorrência destes insetos. As análises demonstram a ocorrência de maior número de criadouros de A. aegypti e de Índices de Infestação Domiciliar por flebotomíneos mais altos em bairros com Índices de Sustentabilidade piores. O conhecimento da relação entre Indicadores de Desenvolvimento Sustentável e a ocorrência de vetores de zoonoses poderá contribuir com os programas de saúde pública e com uma redefinição das políticas públicas nas áreas estudadas.

Palavras-chave: Sustentabilidade, desenvolvimento, meio ambiente, urbanismo, insetos, vetores, Dengue, Leishmaniose.

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Abstract

This study aimed to correlate Sustainable Development Indicators to the occurence of Aedes and sand flies mosquitoes, vectors respectively of Dengue Fever and Visceral and Tegumentar Leishmaniasis, to establish a relationship between the infestation indexes found and the situation of sustainability of regions at the proximity of Environment Protected Zones (EPZs) number 5, in south and number 9, in north of Natal. Data about the occurrence of the vectors at the study site was obtained at Secretaria Municipal de Saúde – Cento de Conrole de Zoonoses, during the years of 2006 to 2008, and correlated to environmental indicators such as access to safe drinking water, sanitation, drainage, garbage collection and personal income. Factorial analysis was used to transform these indicators in a Region Sustainability Index (RSI), to each of the studied regions. Linking this index to vector infestation parameters shows a high significant correlation between the SI and Aedes aegypti’s Breteau Index (p=0,028) as well as with SI and sand flies infestation index (p=0,01). The results demonstrate higher rates of infestation by Aedes aegypti and sand flies in areas with lower SIs, thus demonstrating that this index can be used to determine the increasing of probability of Aedes and sand flies occurrence in urban environment. The knowledge of the relation between Sustainable Development Indicators and the occurrence of zoonosis vectors justifies the research as a contribution to government health programs and vector controls, leading to a health policy restructuring at studied sites. Key words: Sustainability, development, environment, urbanism, insects, vectors, Dengue, Leishmaniasis.

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Introdução

O movimento migratório campo-cidade, provocado principalmente pela busca de

melhores alternativas econômicas, tem causado um importante problema social na medida em

que as administrações municipais se mostram incapazes de prover toda a população de serviços

como rede de abastecimento d’água, esgotamento sanitário e tratamento do esgoto coletado e

coleta urbana e destino do lixo, criando uma situação de degradação ambiental que favorece o

aparecimento ou aumento de ocorrência de doenças transmitidas por insetos. (1) A expansão de

algumas zoonoses transmitidas por insetos também se relaciona com o contexto sócio-ambiental

e diferenças intra-urbanas, que podem favorecer a sobrevivência do vetor, a despeito das

medidas de controle implementadas. (2)

O alto índice de urbanização da população brasileira, com mais de 80% dos

habitantes vivendo em cidades, aliada ao fato de que este processo se deu de forma rápida e

desordenada, levou a uma condição em que cerca de 20% dos moradores de áreas urbanas

encontram-se instalados de forma precária, em áreas carentes de infra-estrutura básica. (3)

A expansão urbana em áreas circunvizinhas a regiões de cobertura vegetal original

favorece a ocorrência de zoonoses, podendo aumentar a incidência de doenças infecciosas

transmitidas por insetos vetores endêmicos destas áreas, gerando desta forma um importante

problema de saúde pública. Esta ocupação cria um desequilíbrio ambiental considerável, pois

aumenta a possibilidade de contato entre vetores e hospedeiros, introduzindo o homem no ciclo

de desenvolvimento de doenças infecciosas. Em 1981, a epidemia de Leishmaniose Visceral em

Teresina, no Piauí, teve a maior parte dos seus casos procedentes de bairros novos, de

assentamento de migrantes, levando um ano para atingir bairros onde a ocupação urbana já

estava consolidada. (4) Na região metropolitana de Belo horizonte, sudeste do Brasil, a presença

de animais e de áreas com características de transição de ambiente rural para urbano foram

apontadas como fator associado ao aumento de casos de Leishmaniose Visceral humana. (5)

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A Dengue é uma zoonose causada por um arbovírus e transmitida através da picada

de insetos vetores do gênero Aedes, e seu recrudescimento é decorrente da reinfestação do

território nacional pelo Aedes aegypti. (6) (7) O Aedes albopictus, à parte a sua predileção pelo

ambiente silvestre, também é considerado vetor da doença e responsável pela epidemia de

dengue no Hawaii em 2001-02,(8) e, estando presente em uma região, deve ser objeto de

programas de controle, também pelo fato de ser transmissor do vírus que causa a febre amarela.

O controle do A. aegypti é objeto da maior campanha de saúde pública hoje em

andamento no País. Este controle concentra-se no único elo vulnerável da sua cadeia de

transmissão, que é o vetor, valorizando a eliminação de criadouros, aspecto que depende de

fornecimento de estrutura sanitária eficiente, com a melhoria do abastecimento d’água, coleta de

lixo regular, melhores condições de moradia e educação da população. (9) Além disso, esse

mosquito é responsável pela transmissão da febre amarela urbana, que no Brasil ainda se

encontra restrita a áreas de mata, causando epizootias em macacos e casos em pessoas que

adentram essas áreas.

A Dengue ocorre no Brasil em todos os Estados e em 3.794 municípios, sendo o

Brasil responsável por cerca de 60% das notificações nas Américas. Incide tipicamente nos

meses mais quentes, com diferenças quantitativas importantes por região, estando o Nordeste e

Sudeste na liderança quanto ao número de notificações de casos. (10)

A existência de quatro sorotipos antigenicamente distintos favorece a sua

disseminação e dificulta o seu controle, já que a infecção por um dos sorotipos promove

imunidade específica, deixando o indivíduo susceptível a novas infecções. (11) A doença é

considerada relacionada ao saneamento ambiental inadequado. (12)

Desde 1996 são notificados casos de Dengue no Rio Grande do Norte. A partir de

então, a doença apresenta surtos epidêmicos em anos alternados, com pico no ano de 2001, com

19.221 casos. (13)

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A Febre Hemorrágica da Dengue, manifestação mais grave da doença, teve os

primeiros casos confirmados a partir de 1997, inclusive com a ocorrência de óbitos. O número

de casos manteve-se em ascensão até 2008, permanecendo um problema de saúde pública, pela

manutenção de fatores que dificultam o seu controle.

A Leishmaniose Visceral Americana (LVA) tem como agente etiológico a

Leishmania (L.) infantum chagasi Nicolle (Kinetoplastida: Trypanosomatidae) e como vetor

Lutzomyia longipalpis Lutz & Neiva (Diptera: Psychodidae), sendo considerada até meados da

década de 70 uma zoonose tipicamente rural. (14) (15) Atualmente esta doença, juntamente com a

Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA), tem revelado um aumento de incidência no

ambiente urbano e periurbano de diversas cidades brasileiras, principalmente na região

Nordeste. 

Embora a presença de animais domésticos e mamíferos silvestres esteja associada

ao aumento da ocorrência de L. longipalpis, (16) a proximidade de áreas de mata e fatores sócio-

ambientais como coleta de lixo urbano deficiente, baixo índice nutricional e falta de saneamento

básico são aspectos de relevância a serem considerados no controle da LVA e LTA.

Na já citada epidemia de LVA em 1981, no Estado do Piauí, Nordeste do Brasil,

relaciona-se o aparecimento de casos da doença com o período de seca que atingiu o Ceará e

Piauí entre os anos 1978 e 1983, quando grandes contingentes populacionais migraram para a

capital do Estado, fixando-se em assentamentos precários na sua periferia. Estes grupos de

migrantes, naturalmente mais suscetíveis à doença pelo seu baixo índice nutricional, foram

oriundos de áreas endêmicas de L. chagasi, o que permite determinar o seu papel na introdução

do parasita na região metropolitana de Teresina. (17)

A problemática relaciona-se, portanto, com a qualidade ambiental e fatores sócio-

ambientais do espaço analisado, onde devem existir locais adequados para o desenvolvimento

dos insetos vetores da doença. Sob este aspecto, variáveis como coleta de lixo, abastecimento

d’água, esgotamento sanitário podem favorecer a ocorrência destes insetos. O acesso a estes

serviços está freqüentemente relacionado ao nível sócio-econômico da área em questão;

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considere-se ainda que a falta de infra-estrutura urbana é um importante fator de vulnerabilidade

em se tratando de saúde dos habitantes de uma determinada região. (18) Neste trabalho foram

utilizados Indicadores de Desenvolvimento Sustentável de forma a parametrizar estes fatores e

relacioná-los à ocorrência de vetores destas zoonoses.

O conceito de desenvolvimento sustentável, como definido no Relatório

Brundtland, em 1987, mostrou a importância de se considerar, em se tratando de

desenvolvimento, as questões ambientais, socioeconômicas e ecológicas, entre outras. Portanto,

indicadores de sustentabilidade auxiliam na compreensão de condições que a partir de

determinado grau podem, por exemplo, ser desencadeadoras de importantes problemas de saúde

pública. Naturalmente, muitas vezes os indicadores não são capazes de definir com precisão

determinado grau de degradação ambiental - ou de insustentabilidade. Mas, correlacionando-se

parâmetros sociais, ambientais e econômicos, estes se tornam ferramentas importantes para

auxiliar políticas públicas no sentido de provocar uma organização social e uma resposta

política para determinadas questões. (19)

O papel das administrações na promoção e gerenciamento de políticas públicas de

promoção à saúde e a potencialização destas políticas com a utilização de indicadores de

desenvolvimento sustentável como referência representa fator central no ajuste da trajetória

planejada rumo à sustentabilidade. Experiências bem sucedidas de ações governamentais

promovidas por administrações municipais demonstram a viabilidade de políticas e programas

cujas ações, baseadas em princípios de sustentabilidade ambiental, resultam em benefícios

econômicos e sociais. (20) (21) (22)

Segundo Vlahov (23) e Kjellstrom, (24) fatores demográficos, físicos e sociais tais

como idade e gênero, acesso a abastecimento de água e esgoto, drenagem pluvial e coleta de

lixo e renda são fatores relevantes no que diz respeito à saúde da população.

O conhecimento da relação entre Indicadores de Desenvolvimento Sustentável e a

ocorrência de vetores das doenças pode contribuir para programas de saúde pública e a uma

possível reestruturação das políticas públicas nas áreas estudadas. Assim, nesse trabalho

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pretendeu-se estabelecer uma relação entre Indicadores de Desenvolvimento Sustentável e a

ocorrência de vetores da Dengue, LVA e LTA, em bairros situados na Região Sul e Região

Norte de Natal.

Material e métodos:

Área de estudo:

O trabalho foi realizado no município de Natal, que está inserido na Zona

Homogênea do Litoral Oriental do Rio Grande do Norte, Sub-zona de Natal, com coordenadas

geográficas 05º47’42” de Latitude Sul e 35º12’34” de Longitude Oeste, nos bairros de Capim

Macio, Ponta Negra e Neópolis, adjacentes à Zona de Proteção Ambiental identificada como

ZPA-5/Associação de Dunas e Lagoas do bairro de Ponta Negra – Região de Lagoinha,

denominada Região Sul, e nos bairros Lagoa Azul, Pajuçara e Redinha, adjacentes à Zona de

Proteção Ambiental identificada como ZPA-9/Complexo de Lagoas e Dunas ao longo do Rio

Doce, denominada Região Norte (Figura 1).

Figura 1 - Área de estudo. Adaptado do Anuário Natal 2009. SEMURB, 2009.

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Caracterização física e urbanística da área de estudo:

Os dados físicos (área, população, densidade demográfica, coleta de lixo

doméstico, domicílios atendidos por rede de água e/ou esgoto, taxa de alfabetização e renda per

capita), das regiões a serem estudadas foram obtidos através do Anuário Natal – anos 2006,

2007 e 2009, este último publicado em 2009, com dados relativos a 2008, (25) (26) (27). A ocupação

e o adensamento urbano no interior das ZPAs foi mensurado pelo software AutoCAD 2010,

com o uso da análise de imagens de satélite disponibilizadas pela Secretaria Municipal de Meio

Ambiente e Urbanismo.

Ocorrência dos insetos vetores nas áreas estudadas

Os números que expressam a ocorrência de criadouros de Aedes aegypti e Aedes

albopictus e de flebotomíneos encontrados nos domicílios adjacentes à ZPA-5 (bairros de Ponta

Negra, Neópolis e Capim Macio) e ZPA-9 (bairros de Redinha, Pajuçara e Lagoa Nova) foram

obtidos juntamente à Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e Centro de Controle de Zoonoses

(CCZ). Devido à metodologia própria de coleta do CCZ, os bairros de Capim Macio e Neópolis

foram agrupados.

A ocorrência de criadouros de aedinos foi calculada a partir do Levantamento de

Índice Rápido do Aedes aegypti (LIRAa), realizado em Natal durante o período de 2006 a 2008.

Os casos positivos foram agrupados segundo os índices de infestação predial e Índice de

Breteau (número de recipientes habitados por formas imaturas de mosquitos em relação ao

número de casas examinadas para o encontro de criadouros). (28) O Índice de Breteau foi

selecionado para a análise estatística por revelar mais sensível poder de detecção de positividade

para o mosquito. (29)

Os dados sobre a ocorrência de flebotomíneos foram obtidos a partir de pesquisa de

investigação entomológica realizada pelo CCZ, nos bairros de Redinha, Pajuçara e Lagoa Azul,

com periodicidade mensal durante o período de 2006 a 2008, utilizando-se armadilhas tipo CDC

instaladas das 18:00 às 6:00h, em grupos variando em número de 7 a 10 residências. Os

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20  

espécimes encontrados foram contados, identificados e organizados segundo endereços de

captura. Foi então calculado o índice de infestação domiciliar, definido como a razão entre os

domicílios positivos em relação ao número de domicílios investigados. (28)

Indicadores de Desenvolvimento Sustentável

Os Indicadores de Desenvolvimento Sustentável são agrupados segundo o marco

ordenador proposto pela Comissão de Desenvolvimento Sustentável - CDS, das Nações Unidas,

que os organiza em quatro dimensões: Ambiental, Social, Econômica e Institucional. Foram

selecionados indicadores que fossem relevantes para a problemática do trabalho, adaptados para

as regiões estudadas (bairros adjacentes às ZPAs 5 e 9) nas dimensões Ambiental (acesso a

serviço de coleta de lixo doméstico, acesso a sistema de abastecimento d’água e acesso a

esgotamento sanitário) e Social (renda familiar per capita e taxa de Alfabetização), a partir do

IDS-Brasil 2008, com dados disponíveis nos Anuário Natal 2006, 2007 e 2009 da SEMURB.

Foi realizado corte transversal nos Indicadores de Desenvolvimento Sustentável

listados no IDS-Brasil 2008 relacionados ao indicador 36 - Doenças Relacionadas ao

Saneamento Ambiental Inadequado – tendo sido selecionados indicadores na Dimensão

Ambiental, no Tema Saneamento (Acesso a serviço de coleta de lixo doméstico, Acesso a

sistema de abastecimento d’água e Acesso a esgotamento sanitário), e na Dimensão Social, nos

Temas Trabalho e Rendimento (Renda familiar per capita) e Educação (Taxa de alfabetização).

Este corte justifica-se por serem as zoonoses estudadas neste trabalho doenças que “podem estar

associadas ao abastecimento de água deficiente, ao esgotamento sanitário inadequado, à

contaminação por resíduos sólidos ou às condições precárias de moradia”. (30)

Os valores encontrados para os Indicadores no intervalo dos anos do estudo (2006

a 2008) foram transformados em valores médios para a análise estatística.

Análise Fatorial – Criação do Índice de Sustentabilidade do Bairro

Para os bairros considerados realizou-se uma análise fatorial, utilizando-se

inicialmente o Método de Componentes Principais e o Método de Máxima Verossimilhança,

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21  

para uma definição do número de fatores. De acordo com Johnson, (31) é recomendável a

utilização de ambos os métodos para verificar se as duas metodologias distintas reproduzem os

mesmos fatores. Foi utilizado o software STATISTICA®, versão 7.0 para os cálculos.

Através dessa análise obteve-se o número de um fator, que pelo método de

componentes principais explica 87,6% da variância total. Encontrado o vetor de dados,

correspondente aos escores fatoriais, multiplicou-se essa coluna pela respectiva estimativa da

variância do fator, nesse caso dada pelo correspondente autovalor da matriz de correlações

amostrais. Depois de ordenada de forma crescente, essa coluna foi utilizada como definidora de

índices, criando um Índice de Sustentabilidade de cada um dos bairros estudados e separando-os

em dois extratos, baixo e elevado.

Para análise de correlação foi utilizado o coeficiente de correlação linear de

Pearson com nível de significância menor ou igual a 5% (p≤0,05).

Resultados e discussão:

a. Caracterização física e urbanística da área de estudo

As ZPAs 5 e 9 possuem características físicas distintas. A ZPA-5 ocupa área de

cerca de 193 ha, situa-se no extremo sul do município (limite Natal/Parnamirim), encontra-se

regulamentada por lei complementar e é circundada por bairros de maior poder aquisitivo. A

ZPA-9, por sua vez, localiza-se no norte de Natal, no limite Natal/Extremoz, possui área de

cerca de 734 ha, não possui regulamentação específica e os bairros adjacentes à mesma são

habitados por população com situação econômica menos favorecida (SEMURB, 2009).

A ZPA-5 encontra-se em área densamente urbanizada, com predominância de

imóveis residenciais. O interior da ZPA é relativamente bem preservado (88,8%), pouco

urbanizado, com uma área de aproximadamente 4% ocupada por residências esparsas e um

condomínio horizontal ocupando cerca de 7,2% da área protegida. No entorno da ZPA

localizam-se os bairros de Capim Macio, com 438 ha, Neópolis com 408 ha e Ponta Negra com

707 ha, todos com alto índice de urbanização (SEMURB, 2009).

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22  

A ZPA-9 possui um alto índice de ocupação no seu interior, sendo 20,2% da área

dentro do Município de Natal ocupada por imóveis predominantemente residenciais e

aproximadamente 15,5% ocupada por imóveis relacionados à pequena agricultura, restando

cerca de 64,3% de área preservada. A área adjacente à esta ZPA dentro do município de Natal é

totalmente urbanizada, dividida entre os bairros de Lagoa Azul, com 1.043 ha, Pajuçara, com

776 ha e Redinha, com 787 ha (SEMURB, 2009).

A densidade demográfica média para os anos estudados é semelhante nas duas

regiões estudadas, sendo de 47,69 habitantes por hectare na Região Sul e de 46,79 habitantes

por hectare na Região Norte.

Sendo a ocupação do solo legalmente permitida nos limites externos das ZPAs e,

em alguns casos, através de regulamentação própria por lei complementar, no seu interior,

associada à crescente valorização dos terrenos nas proximidades de algumas destas áreas,

observa-se um considerável incremento de construções na sua vizinhança. Além disso, é fato

conhecido que a migração a partir de áreas rurais caracteriza uma tendência de ocupação de

áreas não urbanizadas e sem infra-estrutura, notadamente nas proximidades de matas nativas.

Desta forma, em regiões menos valorizadas do município é possível observar um aumento na

ocupação do entorno das ZPAs inseridas nestas regiões, provocado por populações oriundas de

movimentos migratórios, principalmente de áreas rurais do interior do Estado. (32)

Mesmo considerando a adoção de medidas de controle pelo município, a

proximidade das matas nativas também proporciona habitats naturais para insetos vetores,

permitindo-lhes uma indesejável interação com a população residente no seu entorno. (33) (34)

Estudo de Medeiros e colaboradores (35) na ZPA-2 (Parque das Dunas, Natal) relata coleta, na

mata nativa próximo a área densamente urbanizada, exemplares das espécies Aedes albopictus e

Haemagogus leucocelaenus, ambos vetores de arboviroses, havendo relato recente de H.

leucocelaenus encontrado infectado pelo vírus da Febre Amarela no sul do País.

A existência de insetos vetores nas ZPAs e a proximidade das habitações

localizadas nas suas vizinhanças podem contribuir, desse modo, com o aumento da incidência

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23  

ou manutenção dos casos de zoonoses como a Dengue, (36) (37) (38) a Leishmaniose Visceral

Americana (LVA), a Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA) e a Febre Amarela, (39)

determinando assim mudanças nos níveis endêmico ou epidêmico destas doenças. (40) (41) (42)

b. Seleção dos indicadores para construção do Índice de Sustentabilidade do Bairro:

Os resultados mostram Indicadores de Desenvolvimento Sustentável mais

favoráveis nos bairros situados nas proximidades da ZPA-5 (Zona Sul), e, em oposição,

indicadores piores nos bairros do entorno da ZPA-9 (Zona Norte) (Tabela 1). Apesar dos bairros

estudados terem como característica comum a proximidade de Zonas de Proteção Ambiental o

que, em princípio, pode favorecer a ocorrência de zoonoses como a Dengue ou Leishmaniose,

suas características urbanísticas e sócio-ambientais podem representar um diferencial em

números percentuais de casos da doença.

Tabela 1 - Indicadores de Desenvolvimento Sustentável por bairros – média 2006 a 2008.

Bairros

INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

ZPA % de coleta

de lixo doméstico

% de domicílios

Atendidos por Rede de água

% de domicílios

Atendidos por Rede de esgoto

Taxa de

Alfabetização (%)

Renda Per

Capita

(em salários mínimos)

ZPA-5 Ponta Negra 98 89 86 90 9,43

Capim Macio/Neópolis 99 97 96 97 11,89 Redinha 94 77 53 74 2,60 ZPA-9 Pajuçara 96 79 77 84 2,82 Lagoa Azul 97 82 68 81 2,35

Na dimensão ambiental, o Acesso a coleta de lixo doméstico (IDS-Brasil 2008 -

Indicador 19), “apresenta a parcela da população atendida pelos serviços de coleta de lixo

doméstico em determinado território e tempo”, e se constitui na razão, em percentual, entre a

população atendida pelos serviços de coleta de lixo e o total desta população. Este indicador

pode ser associado à saúde da população, pois resíduos não coletados ou depositados em locais

inadequados podem favorecer a proliferação de vetores de doenças. Este indicador mostrou

variação pouco significativa entre os bairros estudados, com 98,8% da população atendida em

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Capim Macio/Neópolis como o melhor resultado e 93,5% no bairro de Redinha como resultado

mais desfavorável.

O Acesso a sistema de abastecimento d’água (IDS-Brasil 2008 - Indicador 21),

“expressa a parcela da população com acesso a abastecimento d’água por rede geral” e se

constitui na razão, em percentual, entre a população com acesso a água por rede geral e o total

da população em domicílios particulares permanentes. Constitui-se um indicador fundamental

para a caracterização da qualidade de vida da população, possibilitando o acompanhamento de

políticas de saneamento básico e ambiental, e, quando associado a informações ambientais e

socioeconômicas como saneamento e renda, é um indicador universal de desenvolvimento

sustentável. A Redinha mostrou o pior resultado em termos de abastecimento de água, com 77%

dos domicílios conectados à rede pública, enquanto Capim Macio/Neópolis teve 97% dos

domicílios atendidos.

O Acesso a esgotamento sanitário (IDS-Brasil 2008 - Indicador 22), “expressa a

relação entre a população atendida por sistema de esgotamento sanitário e o conjunto da

população residente em domicílios particulares permanentes de um território”. O indicador é a

razão, expressa em percentual, entre a população com acesso a esgotamento sanitário (por rede

geral de esgoto ou fossa séptica) e o total da população. Este indicador demonstrou a mesma

tendência que os anteriores, com a Redinha apresentando novamente o pior resultado (53% de

atendimento) enquanto Capim Macio/Neópolis teve 96% dos domicílios atendidos.

Na dimensão social, o Rendimento familiar per capita apresenta a distribuição

percentual de famílias por classes de rendimento médio mensal per capita (RMM). As variáveis

utilizadas são o número total de famílias residentes e domicílios particulares permanentes e o

rendimento mensal familiar per capita discriminado por classes de rendimento em salário

mínimo. Ainda neste indicador, Capim Macio/Neópolis obteve o melhor desempenho, com

RMM de 11,89 salários mínimos contra 2,35 salários mínimos no bairro de Lagoa Azul.

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A Taxa de Alfabetização representa a população alfabetizada com 5 anos ou mais

de idade. Capim Macio/Neópolis mantém o padrão descrito anteriormente com o melhor valor

neste indicador, 97%, com a Redinha mostrando o pior indicador, com 74%.

c. Construção do Índice de Sustentabilidade

Analisando a Tabela 2 é possível observar que tanto Lixo como Renda são muito

correlacionadas com as variáveis Água, Esgoto e Alfabetização.

Tabela 2 – Matriz de correlação entre Indicadores de Desenvolvimento Sustentável

Variáveis Lixo Água Esgoto Alfabetização Renda

Lixo

Água 0,894

p=0,041

Esgoto 0,8857 0,9002

p=0,046 p=0,037

Alfabetização 0,8962 0,9483 0,9908

p=0,040 p=0,014 p=0,001

Renda 0,752 0,9547 0,8595 0,9067

p=0,143 p=0,011 p=0,062 p=0,034

 

Assim, para a construção do Índice de Sustentabilidade dos bairros estudados

foram selecionadas as variáveis Lixo e Renda, cuja correlação não é estatisticamente

significativa. 

Para uma definição do número de fatores foram utilizados os métodos de

“Componentes Principais” e de “Máxima Verossimilhança”, ou seja, obtém-se uma mesma

seleção de fatores por ambos os métodos quando o número desses é igual a um. O método de

componentes principais explica 87,6% da variância total, enquanto que o da máxima

verossimilhança explica 75,2%. A Tabela 3 apresenta o autovalor, porcentagem da variância

explicada e variância acumulada pelo método dos componentes principais.

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Tabela 3 - Seleção do fator pelo Método de Componentes Principais

Fator Variáveis

definidoras Cargas fatoriais

Autovalor Porcentagem da variância

explicada

Conceito expresso pelo

fator

1

Renda 0,94

1,75 87,60 Índice sócio-

ambiental Lixo 0,94

Da coluna definidora de índices é determinada a mediana destes, possibilitando a

divisão dos bairros em dois grupos. Estes grupos foram hierarquizados em Índices de

Sustentabilidade do Bairro (ISB) por estrato (Tabela 4), sendo os mesmos classificados em

baixo (índices ≤ mediana) e elevado (índices > mediana).

Tabela 4 - Classificação dos bairros em estratos, segundo o Índice de Sustentabilidade do

Bairro (ISB)

ZPA Bairros Breteau ISB Estrato Breteau (Média)

Redinha 4,8 -2,07

Baixo 3,97 ZPA-9 Pajuçara 3,7 -1,03

Lagoa Azul 3,4 -0,42

ZPA-5 Ponta Negra 2,7 1,23

Elevado 2,75 Capim Macio/Neópolis 2,8 2,29

A utilização de indicadores permite compreender a complexidade do sistema, sem

reduzir a importância de cada um dos seus componentes, auxiliando a implementação de

modelos de desenvolvimento que promovam o benefício de políticas de desenvolvimento

ambiental e social a parcelas significativas da população. (43)

d. Análise da ocorrência de Aedes aegypti pelo Índice de Breteau

Analisando-se a correlação entre o Índice de Breteau e o Índice de Sustentabilidade

dos Bairros (ISB) pesquisados observa-se uma correlação negativa significativa de -0,92

(p=0,028), o que possibilita estabelecer uma relação entre o Índice de Breteau e os estratos

estudados.

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27  

A comparação dos dados obtidos revela um padrão que permite associar as

condições ambientais e socioeconômicas das áreas estudadas, segundo indicadores do IDS-

Brasil 2008 adaptados para os bairros escolhidos, com o Índice de Breteau, que determina o

índice de infestação destes bairros pelo A. aegypti.

Logo, é possível concluir que bairros com piores indicadores mostram uma

tendência a apresentar um maior número de criadouros de A. aegypti (Tabela 4). Desta forma,

bairros com piores condições de esgotamento sanitário, menor acesso a sistemas de coleta de

lixo domiciliar e rede de abastecimento d’água e renda familiar per capita mais baixa seriam

mais susceptíveis a ocorrência deste vetor (Figura 2).

Figura 2 – Análise de tendência do Índice de Breteau para A. aegypti em relação ao Índice

de Sustentabilidade do Bairro (ISB).

e. Análise da ocorrência de Aedes albopictus pelo Índice de Breteau

Embora a proximidade de uma área de mata nativa, caso das Zonas de Proteção

Ambiental, em princípio favoreça a presença de insetos vetores de habitat predominantemente

silvestre como o Aedes albopictus, não foi observada ocorrência significativa de criadouros

deste inseto no ambiente urbano e periurbano nas áreas estudadas. O pequeno número de casos

positivos (Índice de Breteau ≤ 0,2) não permitiu análise estatística em relação ao Índice de

Sustentabilidade obtido.

Breteau; 4,8

Breteau; 3,7Breteau; 3,4

Breteau; 2,7 Breteau; 2,8

ど2,07

ど1,03

ど0,42

1,23

2,29

ど3,0

ど2,0

ど1,0

0,0

1,0

2,0

3,0

4,0

5,0

6,0Breteau

ISB

Linear (Breteau)

Linear (ISB)1

23

4 5

ZPAど54 ど Ponta Negra5 ど Capim Macio/Neópolis

12

34 5

ZPAど91ど Redinha2ど Pajuçara3 ど Lagoa Azul

12

34 5

12

34 5

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f. Análise da ocorrência de flebotomíneos pelo Índice de Infestação Domiciliar

A ocorrência de flebotomíneos nas áreas estudadas foi analisada a partir do Índice

de Infestação Domiciliar, expresso pela razão entre o número de domicílios com capturas

positivas e o número de domicílios pesquisados (Tabela 5). Devido à inexistência de dados no

CCZ relativos a capturas de flebotomíneos em bairros adjacentes à ZPA-5 foram consideradas

nesta análise as capturas realizadas nos bairros de Redinha, Pajuçara e Lagoa Azul.

Tabela 5 - Evolução anual da captura de flebotomíneos em bairros adjacentes à ZPA-9 - Índice de Infestação Domiciliar Médio Anual

Bairros Ano

Média Anual 2006 (%) 2007 (%) 2008 (%)

Redinha 56 64 25 48,33%

Pajuçara 29 35 43 35,67%

Lagoa Azul 33 49 32 38,00%

A matriz de correlação entre o Índice de Infestação Domiciliar por Flebotomíneos e

o Índice de Sustentabilidade dos Bairros (ISB) pesquisados revela uma correlação negativa

significativa entre estas variáveis, com valor de -0,96 e p=0,01.

O estudo da ocorrência de flebotomíneos reafirma a tendência de uma maior

presença de vetores das zoonoses pesquisadas em bairros com indicadores de desenvolvimento

sustentável mais negativos (Figura 3). Observa-se uma média anual 22% menor (13 pontos

percentuais) no índice de infestação domiciliar no bairro de Lagoa Azul, que tem o melhor ISB

entre os três bairros analisados, em relação à Redinha, que apresenta o pior índice de

sustentabilidade do estudo.

A comparação dos dados obtidos revela um padrão que permite associar o Índice

de Sustentabilidade do Bairro encontrado, que expressa as condições urbanísticas, ambientais e

sócio-econômicas das áreas estudadas segundo indicadores do IDS Brasil 2008, com a

ocorrência de insetos vetores de Dengue, LVA e LTA, onde bairros com piores indicadores

mostram tendência a apresentar um maior número de insetos.

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Figura 3 - Análise de tendência do Índice de Infestação Domiciliar de Flebotomíneos em

relação ao ISB.

Considerações finais:

A presença de vetores de arboviroses como A. aegypti, A. albopictus e H.

leucocelaenus (44) e de outras zoonoses, como L. Longipalpis e L. evandroi (45) em áreas de

vegetação nativa próximas a ambientes densamente urbanizados deve ser motivo de

preocupação, pelo alto risco potencial que a presença destes insetos representa e objeto de

políticas de controle ambiental direcionadas a melhorar os parâmetros de sustentabilidade nestas

regiões.

O oferecimento de serviços de infra-estrutura eficientes como coleta de lixo

periódica, saneamento básico e rede de água potável de qualidade, associados a melhores

indicadores sócio-econômicos como renda per capita elevada e um mais alto índice de

alfabetização parece estar associado a uma diminuição da densidade de insetos vetores em uma

determinada região.

Os resultados demonstram que o conhecimento das condições urbanísticas e sócio-

ambientais de regiões afetadas por endemias, mais do que das condições sócio-econômicas

Média Anual; 48,33%Média Anual; 35,67% Média Anual; 38,00%

ど2,07

ど1,03

ど0,42

ど2,50

ど2,00

ど1,50

ど1,00

ど0,50

0,00

0,50

1,00Média Anual

ISB

Linear (Média Anual)

Linear (ISB)

12

3

1ど Redinha2ど Pajuçara3 ど Lagoa Azul

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isoladamente, é importante parâmetro a ser considerado quando se pretende conhecer causas e

estruturar ou redirecionar políticas de controle das endemias às quais os vetores estudados estão

relacionados.

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31  

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22. Ver referência 1.

23. Ver referência 20.

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monitor populations of Aedes aegypti. Rev. Soc. Bras. Med. Trop. 33(4):347-353.

30. IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 2008. IDS-BRASIL 2008 -

INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL BRASIL. Rio de

Janeiro, 472p.

31. JOHNSON R.A., DEAN W.W. 2007. Applied multivariate statistical. University of

Wiscosin – Madison. Prentice-Hall, Inc. Englewood Cliffs, New Jersey. 6ª ed.

32. OLIVEIRA C.C.G., LACERDA H.G., MARTINS D.R.M., BARBOSA J.D.A.,

MONTEIRO G.R., QUEIROZ J.W., SOUSA J.M.A., XIMENES M.F.F.M.,

JERONIMO S.M.B. 2004. Changing epidemiology of american cutaneous leishmaniais

(ACL) in Brazil: a disease of the urban-rural interface. Acta Tropica, 90: 155-162.

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34  

33. BARBOSA, O. C., TEODORO, U., LOZOVEI, A.L., FILHO, V. L. S., SPINOSA,

R.P., LIMA, E. M., FERREIRA, M. E. C. 1993. Adult culicidae captured in a rural area

in southern Brazil. Rev. Saúde Pública , São Paulo, 27(3):214-6.

34. FORATTINI, O.P., MARQUES, G.R.A.M., BRITO, M., SALLUM, M.A.M. 1998.

Brief communication an unusual ground larval habitat of Aedes albopictus. Rev. Inst.

Med. Trop. São Paulo, 40(2).

35. MEDEIROS A., MARCONDES C.B., AZEVEDO P.R.M., JERÔNIMO S.M.B.,

MACEDO E SILVA V.P., XIMENES M.F.F.M. 2009. Seasonal variation of potential

flavivirus vectors in an urban biological reserve in Northeastern Brazil. Journal of

Medical Entomology. Manuscript submission accepted.

36. Ver referência 34.

37. Ver referência 7.

38. CHIARAVALLOTI NETO F., DIBO M.R., BARBOSA A.A.C., BATTIGAGLIA, M.

2002. Aedes albopictus (S) na região de São José do Rio Preto, SP: estudo da sua

infestação em área já ocupada pelo Aedes aegypti e discussão de seu papel como

possível vetor de dengue e febre amarela. Rev. Soc. Bras. Med. Trop. 35(4): 351-357.

39. Ver referência 35.

40. PATZ, J.A., T.K. GRACZYK, N. GELLER & A. VITOR. 2000. Effects on

environmental changes on emerging parasitic disease. Int. J. Parasitol. 30:1395-405.

41. CABRERA M.A.A., PAULA A.A., CAMACHO L.A.B., MARZOCHI M.C.A.,

XAVIER S.C., SILVA A.V.M., JANSEN, A.M. 2003. Canine visceral leishmaniasis in

Barra de Guaratiba, Rio de Janeiro, Brazil: assessment of risk factors. Rev. Inst. Med.

Trop. São Paulo, 45(2):79-83.

42. XIMENES M.F.F.M., SILVA V.P.M., QUEIROZ P.V.S., REGO M.M., CORTEZ

A.M., BATISTA L.M.M., JERÔNIMO S.M.B. 2007. Phlebotominae (Diptera:

Psychodidae) and Leishmaniasis in Rio Grande do Norte State Brazil – Anthropic

Environment Responses, Neotropical Entomology. 36(1): 128 – 137.

43. Ver referência 21.

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35  

44. Ver referência 35.

45. Ver referência 42.

Agradecimentos

Agradecemos aos funcionários do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) da

Secretaria Municipal de Saúde de Natal, RN, pela disponibilização dos dados de ocorrência dos

insetos vetores estudados, e aos pesquisadores do Laboratório de Entomologia da UFRN pelo

auxílio e disponibilidade na condução desta pesquisa.

Agradecemos ainda, de forma especial, à Universidade Federal do Rio Grande do

Norte e ao Programa Regional de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente –

PRODEMA, pela oportunidade de desenvolvimento deste trabalho.

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Anexo I – Imagem aérea incluindo ZPA-9 e entorno.

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Anexo II – Imagem aérea incluindo ZPA-5 e entorno.

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38  

Anexo III

O artigo “INSETOS VETORES E SUA RELAÇÃO COM INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL EM NATAL, NORDESTE DO BRASIL” foi submetido à publicação “Environment and Urbanization” em 14 de setembro de 2009.

Normas de submissão de artigos para a revista (formatação):

Submitting Papers for Publication

Content: Since each issue of the journal is on a particular theme, papers should be submitted on that theme. The themes that have been chosen for future issues are published in each issue of the journal, and are also listed in the Themes section. Themes are chosen by the journal's readers — through returning the questionnaires sent to all subscribers every 2–3 years.

Papers may also be submitted to the section on Participatory Tools and Methods, and the Feedback section, which includes papers responding to themes covered in previous issues. However, there is usually a backlog of papers waiting to be published in the Feedback section.

Timing: Papers should be submitted by March 15th for the October issue, and 15th September for the April issue.

Sending papers: Papers may be sent as attachments to e-mails (to [email protected]) or by normal mail to Environment and Urbanization, IIED, 3 Endsleigh Street, London WC1H 0DD, UK.

If you are running out of time to get the paper to us by the deadline and have no access to e-mail, papers can be faxed to +44 207 388 2826 but we prefer them sent by e-mail or post. Receipt of your paper will be acknowledged.

Length: Articles should be between 1,500 and 7,000 words (or between 6 and 22 pages if typed in double spacing).

Language: Although the journal is an English language publication, papers may be submitted in French, Spanish or Portuguese; if accepted for publication, the cost of translation will be borne by the journal.

References: A slightly modified Yale system of referencing is used — with sequential numbers inserted in the text of the article (1,2,3.....) linked to a numbered list of references or notes running alongside the article.

 

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Casos notificados de Dengue e Febre Hemorrágica da Dengue e sua relação com índices de infestação larvária de Aedes aegypti em Natal,

RN, Nordeste do Brasil.

Paulo Sérgio Fagundes Araújo1, Maria de Fátima Freire de Melo Ximenes2.

1. Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E-mail: [email protected]. 2. Departamento de Microbiologia e Parasitologia/UFRN. E-mail: [email protected].

Resumo

A Dengue é a arbovirose mais comum no mundo, com mais de 4 milhões de casos relatados no país nos últimos 12 anos, representando um grave problema de saúde pública. As estratégias de controle do vetor e, conseqüentemente, da doença, não têm atingido os resultados ideais. Neste estudo procurou-se analisar a relação entre o índice de infestação do Município de Natal (RN, Brasil) pelo Aedes aegypti, a incidência de Dengue Clássica e Febre Hemorrágica da Dengue (FHD) e a predominância de determinados tipos de criadouros das larvas deste inseto. Foram utilizados dados disponibilizados pelo Centro de Controle de Zoonoses da Secretaria Municipal de Saúde e dados da Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo do Município, do ano de 2008. A análise dos dados procurou correlacionar a ocorrência de insetos através do Índice de Breteau (IB) com casos notificados de Dengue e FHD nas Regiões Administrativas Norte, Sul, Leste e Oeste do Município. Os resultados mostraram proporcionalidade entre o Índice de Breteau e a incidência de FHD, observando-se nas Regiões Administrativas com maior índice de infestação larvária um maior número de casos da doença. No entanto, casos de Dengue Clássica não seguiram um padrão relacionado com este índice, tendo a região administrativa Norte 1134,35 casos da doença por 100.000 habitantes e um IB = 3,70 e a região administrativa Sul 1309,12 casos de Dengue Clássica para um IB = 1,04. Os recipientes de armazenamento d’água para consumo humano foram os principais criadouros encontrados, seguidos de depósitos móveis e lixo descartado de forma errônea, sugerindo a necessidade de um melhor monitoramento principalmente nas caixas d’águas e outros reservatórios de armazenamento contínuo.

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Abstract

Dengue fever is the most common arbovirosis in the World, with over 4 million cases related in Brazil, in the past twelve years, thus representing a serious public health problem. The strategies for vector and disease control had not reached optimum results. This study aimed analyze the link between the Aedes aegypti infestation index in Natal, RN, Brazil, the incidence o Dengue Fever and Dengue Hemorrhagic Fever and the predominance various types of of breeding containers of this insect in the year of 2008. Data about the insect infestation and type of breeding containers was obtained at Secretaria Municipal de Saúde – Centro de Controle de Zoonoses, collected during the year de 2008. The data about Dengue Fever and Dengue Hemorrhagic Fever in the year of the study was collected from the Dengue Bulletin, a Secretaria Municipal de Saúde Publication. The data analysis correlated the Aedes aegypti occurrence through Breteau’s Index with formally notified Dengue Fever cases and Dengue Hemorrhagic Fever at four distinct regions of the municipality (North, South, East and West). The results showed proportionality between Breteau’s Index and Dengue Hemorrhagic Fever, where regions with higher infestation indexes also had high rates of the disease. Surprisingly, this relation was not reproduced when correlating Breteau’s Index and Dengue Fever, with North Region having 1134,35 cases of the disease for 100.000 inhabitants and a Breteau’s Index = 3,70 and the South Region having 1309,12 Dengue Fever cases for a Breteau’s Index of 1,04. Water tanks for human consumption were the main breeding containers found, followed by plant vases and garbage disposed in incorrect way, suggesting the need of a better surveillance in water tanks, mostly in those of permanent storage of freshwater.

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Introdução

A Dengue é a arbovirose mais comum no mundo (GIBBONS et al., 2002). Mais de

4 milhões de casos foram relatados no Brasil, desde 1986 (CORDEIRO et al., 2007), sendo a

doença considerada um dos mais graves problemas de saúde pública no Brasil (TEIXEIRA,

2008) e objeto de campanhas governamentais onde são despendidas consideráveis somas

financeiras.

A Doença é causada por vírus da família Flaviviridae, com quatro sorotipos

identificados até o momento. A infecção por um sorotipo produz imunidade por toda a vida para

este, mas apenas por alguns meses para os sorotipos restantes (GUBLER, 1998), o que facilita a

reinfecção em áreas endêmicas, dificultando desta forma o seu controle.

Em Natal foram reportados, em 2008, 10826 casos de Dengue Clássico e 1280

casos de Febre Hemorrágica da Dengue, segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde

(SMS, 2008).

A Dengue, além da sua forma clássica, com sintomatologia bem diferenciada com

dores retro-oculares, cefaléia e mialgia intensa, febre alta e exantema, pode manifestar-se de

forma assintomática em cerca de 20% dos casos, ou apresentar sintomatologia leve,

assemelhando-se a uma síndrome gripal, dificultando o diagnóstico clínico. Acrescente-se a isto

eventuais formas atípicas e a possibilidade de ser confundida com outras patologias pode

aumentar significativamente.

A Febre Hemorrágica da Dengue inicia-se com sintomatologia análoga ao Dengue

Clássico, com fenômenos hemorrágicos manifestando-se em até 24 horas, facilitando o

diagnóstico diferencial.

O principal vetor da doença, a fêmea do Aedes (Stegomyia) aegypti, é um mosquito

de hábitos diurnos com picada quase imperceptível e extremamente alerta quando do repasto

sanguíneo, interrompendo a alimentação ao menor movimento, sendo estes fatores que

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favorecem a transmissão do vírus por insetos infectados (MORRISSON et al., 2008; GIBBONS

et al., 2002).

Este inseto é muito bem adaptado ao ambiente urbano, tendo seus principais

criadouros origem antrópica. Vasos de plantas, pneus, recipientes plásticos erroneamente

descartados e, principalmente, reservatórios d’água para consumo humano, tornam-se o habitat

ideal para a ovoposição e desenvolvimento das larvas do inseto (DONALISIO et al., 2002;

FORATINNI et al., 2003). Além disso, outra adaptabilidade importante do inseto diz respeito à

interrupção no desenvolvimento dos seus ovos devido a condições de baixa umidade, o que

permite tanto a conservação de ovos infectados durante períodos de estiagem como a sua

dispersão pelo transporte dos reservatórios em que eles tenham sido postos (SILVA et al.,

1999). Após a eclosão, os ovos se desenvolvem por um período de 6 e 11 dias passando pelos

estágios de larva e pupa até chegar à forma adulta, estando os mosquitos aptos a acasalar 24

horas após emergir do estágio pupal. Uma única inseminação resulta em ovos fecundados

durante toda a vida da fêmea, que pode realizar uma ovoposição a cada repasto sanguíneo

(SERUFO et al., 2000).

Sabe-se que a única forma de controle da doença consiste no controle do seu vetor,

uma vez que não há vacina disponível. Este controle é feito através da eliminação do mosquito

adulto, com o uso de inseticidas, e dos seus criadouros, objetivando a eliminação das suas larvas

(MORRISON et al., 2008; TAUIL, 2006).

O uso intensivo de inseticidas, no entanto, seleciona indivíduos não susceptíveis,

causando inevitavelmente o surgimento de resistência e resultando na ineficácia da substância

em questão, exigindo a utilização de inseticidas diferentes em períodos de tempo cada vez mais

curtos (DONALISIO et al., 2002). Ademais, devem-se considerar eventuais prejuízos

ecológicos quando da utilização de inseticidas em larga escala.

Assim, a eliminação de criadouros tem sido a principal forma de eliminação do

vetor e, conseqüentemente, de controle da doença. O envolvimento da sociedade em parceria

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com ações governamentais tem sido estimulado de forma a tornar este controle mais eficiente

(DONALISIO et al., 2002).

Ainda que a tentativa de controle do vetor seja responsável por uma intensa ação de

saúde pública no País (CÂMARA et al., 2007), esta nem sempre é bem sucedida, em parte pela

enorme adaptabilidade do Aedes aegypti, mas também por causas econômicas, sociais,

urbanísticas, ambientais e políticas (TAUIL, 2006).

Fatores como crescimento populacional, com o conseqüente aumento desordenado

das áreas urbanizadas e seus problemas associados, como abastecimento d’agua deficiente,

esgotamento sanitário precário e coleta de lixo deficiente, a dificuldade de controle do vetor e de

seus criadouros, cada vez mais disponíveis ao inseto com o aumento do uso de plásticos não

biodegradáveis e o incremento do fluxo populacional em viagens regionais ou intercontinentais

tem contribuído enormemente para a manutenção das epidemias de Dengue (GIBBONS et al.,

2002).

O estudo da relação entre a densidade dos vetores no ambiente urbano, tipo de

criadouros e o número de casos da doença pode contribuir para a compreensão da dinâmica

desta zoonose auxiliando na implementação de medidas que proporcionem seu controle de

forma mais efetiva. Neste estudo procurou-se analisar a ocorrência de casos de Dengue Clássico

e Febre Hemorrágica da Dengue em função do número de criadouros de Aedes aegypti e dos

seus principais tipos de criadouros, objetivando determinar uma possível relação entre esses

parâmetros que possa auxiliar na elaboração de políticas de controle da doença.

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44  

Material e métodos:

Área de estudo:

O trabalho foi realizado no município de Natal, que está inserido na Zona

Homogênea do Litoral Oriental do Rio Grande do Norte, Sub-zona de Natal, com coordenadas

geográficas 05º47’42” de Latitude Sul e 35º12’34” de Longitude Oeste (Figura 1). O município

foi subdividido em quatro Regiões Administrativas, denominados Norte, Sul, Leste e Oeste.

A região administrativa Norte corresponde aos bairros de Pajuçara, Redinha, Igapó,

Nossa Senhora da Apresentação, Lagoa Azul e Potengi. A região administrativa Sul

compreende os bairros de Pitimbu, Capim Macio, Lagoa Nova, Candelária, Ponta Negra,

Neópolis e Nova Descoberta. Na região administrativa Leste estão os bairros de Tirol, Cidade

Alta, Alecrim, Barro Vermelho, Lagoa Seca, Petrópolis, Praia do meio, Mãe Luiza, Ribeira,

Rocas, Santos reis e Areia Preta, e na região administrativa Oeste, os bairros de Planalto,

Quintas, Felipe Camarão, Guarapes, Bom Pastor, Nazaré, Cidade Nova, Cidade da Esperança,

Dix-Sept Rosado e Bairro Nordeste.

Figura 1 - Área de estudo. Adaptado do Anuário Natal 2009. SEMURB, 2009.

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Caracterização física e urbanística da área de estudo:

Os dados físicos e urbanísticos (área, população, densidade demográfica) das

regiões a serem estudadas foram obtidos através do Anuário Natal –2009, com dados relativos a

2008.

Ocorrência dos insetos vetores nas áreas estudadas

A ocorrência de criadouros de Aedes aegypti foi obtida juntamente à Secretaria

Municipal de Saúde (SMS) e Centro de Controle de Zoonoses (CCZ).

Os dados relativos a criadouros de Aedes aegypti (índices de infestação predial e

Índice de Breteau) foram calculados a partir do Levantamento de Índice Rápido do Aedes

aegypti (LIRAa), realizado em Natal durante o ano de 2008. Os casos positivos foram

agrupados segundo os índices de infestação predial e Índice de Breteau (número de recipientes

habitados por formas imaturas de mosquitos em relação ao número de casas examinadas para o

encontro de criadouros) (SILVA et al., 2006). O Índice de Breteau foi selecionado para a análise

estatística por revelar mais sensível poder de detecção de positividade para o mosquito.

(BRAGA et al., 2000)

Segundo a metodologia utilizada pelo CCZ para o LIRAa, os dados são agrupados

por estratos, que não correspondem necessariamente aos bairros geográficos do municípios,

podendo cada estrato agrupar um ou mais bairros, ou apenas parte de um bairro.

Por esta razão, utilizou-se o agrupamento por região administrativa, que

corresponde a um agrupamento de bairros, utilizado de forma homogênea tanto pelo CCZ como

pela SMS.

O índice de Breteau foi então agrupado por região administrativa, definido como a

média dos índices dos estratos correspondentes a cada região administrativa.

Ocorrência e tipos de criadouros nas áreas estudadas

Os dados sobre a ocorrência e tipos de criadouros de Aedes aegypti no ano de 2008

foram obtidos juntamente à Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e ao Centro de Controle de

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Zoonoses (CCZ), classificados segundo metodologia própria do órgão por ordem de

predominância. A metodologia do CCZ considera 3 níveis de predominância, segundo a

ocorrência destes criadouros. Neste trabalho foram considerados os criadouros catalogados

como predominantes de primeiro nível.

Os criadouros foram agrupados em quatro grupos (A, B, C e D) e subdivididos em

categorias, quando necessário.

• GRUPO A: armazenamento de água para consumo humano

o A1: caixa d’água ligada a rede (depósitos elevados)

o A2: depósitos ao nível do solo (barril, tina, tonel, tambor e outros)

• GRUPO B: depósitos móveis (vasos, frascos com água, pingadeiras, materiais de

depósito de construção)

• GRUPO C: depósitos fixos (depósitos em obras, tanques, calhas, lajes em desnível,

piscinas não tratadas)

• GRUPO D: passíveis de remoção / proteção

o D1: pneus e outros materiais rodantes

o D2: lixo (recipientes plásticos, garrafas, latas, sucatas e outros)

Incidência de Dengue Clássico e FHD em Natal, RN.

Dados sobre a incidência de Dengue Clássico e Febre Hemorrágica da Dengue

foram obtidos a partir do Boletim Semanal da Dengue da Secretaria Municipal de Saúde, com

dados relativos a 52 semanas epidemiológicas no ano de 2008, até o dia 09/12/2008.

Os dados de incidência de Dengue e FHD por 100.000 habitantes, disponibilizados

por região administrativa, foram transformados em percentuais.

Análise Estatística

Para as regiões administrativas consideradas aplicou-se a estatística descritiva, com

o objetivo de sintetizar séries de valores de mesma natureza, de maneira a permitir uma visão

global da variação destes valores, através de médias e percentuais.

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eles depósitos elevados ou ao nível do solo. Esta tendência se repetiu nas regiões

administrativas Leste e Oeste, o que confirma dados da literatura, que ressalta a predileção do

Aedes aegypti por coleções de água límpida (LEFÈVRE et al., 2007; BRAGA et al., 2000;

FORATINNI et al., 2003). Entretanto, Na região administrativa Sul, os criadouros

predominantes foram os depósitos móveis, seguidos de recipientes para armazenamento d’água

ao nível do solo e, em menor proporção, lixo descartado erroneamente (Tabela 2).

Tabela 2 - Tipos de criadouros predominantes por região administrativa em

Natal, RN, 2008.

REGIÃO ADMINISTRATIVA

CRIADOUROS PREDOMINANTES

A1 A2 B C D1 D2

NORTE 40,38% 55,77% 3,85% 0,00% 0,00% 0,00%

SUL 3,45% 24,14% 37,93% 13,79% 3,45% 17,24%

LESTE 0,00% 61,90% 23,81% 4,76% 0,00% 9,52%

OESTE 0,00% 91,18% 2,94% 5,88% 0,00% 0,00% GRUPO A: armazenamento de água para consumo humano

A1: caixa d’água ligada a rede (depósitos elevados) A2: depósitos ao nível do solo (barril, tina, tonel, tambor e outros)

GRUPO B: depósitos móveis (vasos, frascos com água, pingadeiras, materiais de depósito de construção) GRUPO C: depósitos fixos (depósitos em obras, tanques, calhas, lajes em desnível, piscinas não tratadas) GRUPO D: passíveis de remoção / proteção

D1: pneus e outros materiais rodantes D2: lixo (recipientes plásticos, garrafas, latas, sucatas e outros)

O tamanho dos recipientes, a oferta de nutrientes e a densidade larvária do

criadouro são considerados fatores importantes para determinar a produtividade dos focos

(DONALISIO et al., 2002). Neste sentido, reservatórios d’água para consumo humano, pelas

suas dimensões e qualidade da água, provavelmente são criadouros que favorecem

significativamente o desenvolvimento larvário, podendo ser determinantes para o aumento dos

índices de infestação na região onde são encontrados (FORATINNI et al., 2003). Ainda

segundo esse autor, em estudo realizado na região leste do Estado de São Paulo, 60% dos

criadouros encontrados foram reservatórios domiciliares de água e, por isso, deve-se dar

especial atenção à vigilância destes reservatórios, uma vez que a sua manutenção e limpeza é

feita principalmente pelos moradores. A necessidade de participação contínua da sociedade em

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ação de controle do Aedes aegypti é reafirmada por Teixeira e colaboradores (2001), a despeito

da necessidade da manutenção de programas governamentais.

c. Incidência de Dengue Clássico e FHD no ano de 2008, em Natal, RN.

Segundo os dados obtidos, a Dengue Clássica apresenta-se uniformemente

distribuída nos quatro regiões administrativas do município, com menor número de casos por

100.000 habitantes Na região administrativa Norte e maior incidência da doença na região

administrativa Oeste (Tabela 1). Esta situação corrobora dados da literatura, sendo a Dengue

citada como uma doença que atinge todos os estratos sociais de maneira uniforme (TEIXEIRA

et al., 2001).

No entanto, os dados de FHD revelam uma realidade diferente. No município, a

FHD incide de maneira mais agressiva nas regiões administrativas que possuem Índice de

Breteau mais elevado, podendo-se observar uma tendência linear neste sentido. Na região

administrativa Sul, com médias de Índice de Breteau de 1,04, observa-se uma baixa incidência

de FHD, com apenas 16, 68% do total de casos notificados. Nas regiões administrativas Leste,

Norte e Oeste, que apresentam índices de Breteau, respectivamente, de 3,00, 3,70 e 5,00 a

incidência de FHD acompanha a tendência de alta deste Índice, com 19,93%, 30,23% e 33,23%

do total de casos notificados.

A análise comparativa desta situação (Figura 3) revela uma discrepância entre a

incidência de Dengue Clássico e Índice de Breteau. Ao contrário do que seria de se esperar,

regiões administrativas com alto Índice de Breteau apresentaram incidência semelhante da

doença a regiões administrativas com um terço ou um quinto da infestação.

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Figura 3 – Índice de Breteau, incidência de Dengue e FHD, por Regiões Administrativas, em Natal, RN, 2008.

Considerações finais:

A análise dos dados sugere uma associação direta entre o Índice de Breteau e casos

de FHD, mas não de Dengue Clássica. Como ambas são doenças com mesma etiologia, é

razoável supor que algum fenômeno esteja mascarando a notificação de casos de Dengue

Clássica no Município.

A Dengue clássica pode se manifestar de forma assintomática, com sintomatologia

leve ou mesmo atípica. Em pacientes com sintomas leves, mesmo durante epidemias, é possível

que populações de áreas com serviços de atenção à saúde deficientes relutem em procurar

atendimento, enquanto populações com possibilidade de atendimento diferenciado procurem

auxílio médico ao menor sinal de comprometimento.

Da mesma forma, casos de Dengue Clássica com sintomatologia atípica podem

levar a diagnósticos errôneos e desta forma contribuir para a subnotificação da doença.

A Febre Hemorrágica da Dengue apresenta sintomas agressivos que, se não

tratados a tempo em ambiente hospitalar, podem levar a óbito. Além disso, devido aos

fenômenos hemorrágicos manifestarem-se sobretudo nas 24 horas iniciais da doença, é provável

que pacientes nesta situação dirijam-se às unidade de saúde locais de forma mais incisiva, não

importando a qualidade do atendimento.

0,00

0,10

0,20

0,30

0,40

0,50

0,60

SUL LESTE NORTE OESTE

BRETEAU

DENGUE

FHD

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Estudos complementares relacionando a qualidade dos serviços de saúde em cada

região e o número de notificações de casos de Dengue e FHD podem fornecer subsídios para

elucidar estas questões.

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Agradecimentos

Agradecemos aos funcionários do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) da

Secretaria Municipal de Saúde de Natal, RN, pela disponibilização dos dados de ocorrência dos

insetos vetores estudados, e aos pesquisadores do Laboratório de Entomologia da UFRN pelo

auxílio e disponibilidade na condução desta pesquisa.

Agradecemos ainda, de forma especial, à Universidade Federal do Rio Grande do

Norte e ao Programa Regional de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente –

PRODEMA, pela oportunidade de desenvolvimento deste trabalho.