a modernizaÇÃo da agricultura nos assentamentos roberto martins de melo e sÃo salvador

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Monografia de Tânia Alves de Minaçu Goiás

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  • UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIS

    UNIDADE UNIVERSITRIA DE MINAU

    CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM GEOGRAFIA

    TNIA ALVES TEIXEIRA

    A MODERNIZAO DA AGRICULTURA NOS ASSENTAMENTOS ROBERTO

    MARTINS DE MELO E SO SALVADOR.

    MINAU/GO

    2013

  • Tnia Alves Teixeira

    A MODERNIZAO DA AGRICULTURA NOS ASSENTAMENTOS ROBERTO

    MARTINS DE MELO E SO SALVADOR.

    Monografia de concluso de Curso apresentado

    Universidade Estadual de Gois UEG como requisito parcial para obteno de grau de

    Licenciatura Plena em Geografia.

    Orientador: Prof Esp. Edson Batista da Silva.

    Minau/GO

    2013

  • Tnia Alves Teixeira

    A MODERNIZAO DA AGRICULTURA NOS ASSENTAMENTOS ROBERTO

    MARTINS DE MELO E SO SALVADOR.

    Aprovado em:___/___/2014

    BANCA EXAMINADORA

    ______________________________________________________________________

    Orientador Prof. Esp. Edson Batista da Silva (UEG)

    ______________________________________________________________________

    1 Examinador Prof. Dr. Fbio de Macedo Tristo (UEG)

    ______________________________________________________________________

    2 Examinador Prof. MS. Joyce Almeida Borges (UEG)

    Revisado por:___________________________________________________________

    Minau/GO

    2013

  • Dedico este trabalho minha famlia, meu porto seguro.

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeo primeiramente Deus, pelo dom da vida, por estar comigo em todos os

    momentos conduzindo-me at aqui.

    Aos meu pais, Nery e Valdivino e a minha boadrasta Maria, pelo amor, apoio e

    suporte e na minha vida.

    Aos meus queridos irmos Tlio, Knia e Walder.

    As minhas amigas Rosinha e Luciana, que so irms do corao. Obrigado pelas

    palavras de nimo.

    Ao professor Edson pela contribuio com o trabalho. Os puxes de orelha valeram a

    pena.. Muito Obrigada mesmo!

    Meiriele e Gilmar que alm da amizade, abriram mo de momentos particulares

    para me auxiliar nas entrevistas a campo.

    Aos assentados que abriram suas casas e contriburam para que este trabalho fosse

    realizado compartilhando conosco suas lutas dirias. Sem vocs no seria possvel concluir o

    projeto.

    Aos professores que passaram por minha vida e deixaram um pedacinho de

    conhecimento.

    Aos colegas da turma, pela amizade, e momentos especiais passados com vocs dentro

    da sala de aula e nas aulas campo.

    E a todos que direta e indiretamente contriburam para esta caminhada.

    vocs o meu abrao e carinho!

  • As nossas terras esto cada vez mais pobres. Os nossos rios no tem mais peixes. O nosso ar ta cada vez mais poludo.

    As chuvas no so mais regulares como antigamente. Esto aparecendo pragas e pragas,

    Que nossos pais e os mais antigos nunca conheceram. Ns perguntamos: De onde esto vindo estas pragas?

    No justo que continuemos com uma agricultura desse jeito!

    Ins Ickert, trabalhadora rural de Ronda Alta apud Graziano Neto (1982)

  • RESUMO

    O presente trabalho buscou compreender o processo de modernizao da agricultura nos

    assentamentos Roberto Martins e So Salvador no municpio de Minau-Go. Utilizando o

    conceito de espao nos perodos da Geografia Tradicional, Humanista e Crtica para tentar

    compreender a relao do homem com o espao e sua reproduo social no campo

    relacionando os sujeitos da pesquisa com esta categoria. Alm disso, faz uma leitura do

    processo da modernizao da agricultura no Brasil e em Gois, identificando a quem a

    modernizao da agricultura tem servido deste a sua implantao no pas. Quem foram e

    ainda so os maiores beneficiados com os pacotes tecnolgicos oferecidos pela agricultura

    moderna. Analisa-se na pesquisa a intensidade da modernizao inserida nesse espao, sendo

    os dados obtidos atravs de pesquisa a campo. Foi realizado entrevistas para levantar dados e

    informaes do modelo de produo exercido pelos sujeitos, o uso de agrotxicos, sementes

    hbridas, adubos qumicos e os entraves vividos pelos assentados.

    Palavra-chave: Espao. Modernizao da agricultura. Assentamentos.

  • ABSTRACT

    This study aims to understand the process of modernization of agriculture in the settlements

    Roberto Martins and the city of San Salvador Minau -Go . Using the concept of space in

    periods of Traditional Geography , Human and Criticism to try to understand the relation of

    man to the space and its social reproduction in the field relating the subjects with this category

    . Also, does a reading of the process of modernization of agriculture in Brazil and Gois ,

    identifying to whom the modernization of agriculture has served this country in its

    implementation . Who were and still are the biggest beneficiaries of the technological

    packages offered by modern agriculture. Analyzes in the research intensity of modernization

    inserted in this space , and the data obtained from the field survey . Interviews were

    conducted to collect data and information of the production model exercised by the subjects ,

    the use of pesticides , hybrid seeds , chemical fertilizers and barriers experienced by settlers .

    Key word: Space. Modernization of agriculture. Settlements.

  • LISTA DE FIGURA

    FIGURA 02: Assentamentos da Superintendncia Regional do INCRA, segundo o

    Municpio de Minau-GO..................................................................................................

    39

    FIGURA 03: Roa de Toco para milho e gueroba. Assentamento So Salvador.............

    43

    FIGURA 04: Plantao de soja. Fazenda Colorado..........................................................

    44

    FIGURA 05: Mquinas da prefeitura trabalhando no Assentamento So

    Salvador..............................................................................................................................

    47

    FIGURA 06: Plantaes e Criaes no Assentamento Roberto Martins de Melo............

    54

    FIGURA 07: Feira do Produtor..........................................................................................

    55

    FIGURA 01: Mapa de localizao dos assentamentos no Municpio de Minau (GO)... 12

  • LISTA DE GRFICOS

    GRFICO 01: O que acham da modernizao (Assentamento Roberto Martins de

    Melo) .............................................................................................................................

    38

    GRFICO 02: O que acham da modernizao (Assentamento So Salvador)............. 38

    GRFICO 03: Nvel de escolaridade dos assentados no Assentamento Roberto

    Martins de Melo.............................................................................................................

    40

    GRFICO 04: Nvel de escolaridade dos assentados no Assentamento So Salvador. 40

    GRFICO 05: Municpios de residncia antes do Assentamento Roberto Martins de

    Melo...............................................................................................................................

    41

    GRFICO 06: Municpios de residncia antes do Assentamento So Salvador......... 41

    GRFICO 07: Produo de Alimentos no Assentamento Roberto Martins de Melo. 47

    GRFICO 08: Produo de Alimentos no Assentamento So Salvador..................... 47

    GRFICO 09: Instrumentos de Trabalho no Assentamento Roberto Martins de

    Melo...............................................................................................................................

    48

    GRFICO 10: Instrumentos de Trabalho no Assentamento So Salvador.................. 48

    GRFICO 11: Tipos de Sementes Utilizadas pelos Assentados do Assentamento

    Roberto Martins de Melo...............................................................................................

    50

    GRFICO 12: Tipos de Sementes Utilizadas pelos Assentados do Assentamento So

    Salvador..........................................................................................................................

    50

    GRFICO 13: Tipos de Adubos Utilizados nas Plantaes do Assentamento Roberto

    Martins de Melo.............................................................................................................

    50

    GRFICO 14: Tipos de Adubos Utilizados nas Plantaes do Assentamento So

    Salvador..........................................................................................................................

    50

    GRFICO 15: Quantidade de Agrotxicos Utilizados pelos Assentados do

    Assentamento Roberto Martins de Melo.......................................................................

    51

    GRFICO 16: Quantidade de Agrotxicos Utilizados pelos Assentados do

    Assentamento So Salvador..........................................................................................

    51

    GRFICO 17: Medicamentos Veterinrios Utilizados no Assentamento Roberto

    Martins de Melo.............................................................................................................

    52

    GRFICO 18: Medicamentos Veterinrios Utilizados no Assentamento So

    Salvador..........................................................................................................................

    52

    GRFICO 19: Despesas anuais com a produo no Assentamento Roberto Martins

    de Melo...........................................................................................................................

    53

    GRFICO 20: Despesas anuais com a produo no Assentamento So Salvador....... 53

  • LISTA DE SIGLAS

    ABCAR - Associao Brasileira de Crdito e Assistncia Rural.

    ACAR Associao de Crdito e Assistncia Rural.

    CCIR Certificado de Cadastro de Imvel Rural.

    EMA Empreendimentos Agrcolas.

    EMATER Empresa de Assistncia Tcnica e Extenso Rural.

    EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria.

    EMBRATER Empresa Brasileira de Assistncia Tcnica e Extenso Rural.

    FETAEGO Federao dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Estado de Gois.

    INCRA Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria.

    PCI Plano de Integrao e Incorporao do Cerrado.

    POLOCENTRO Programa de Desenvolvimento do Cerrado.

    PROCEDER - Programa de Cooperao Nipo-Brasileira de Desenvolvimento do Cerrado.

    SUDECO - Superintendncia do Desenvolvimento do Centro-Oeste.

  • SUMRIO

    INTRODUO.................................................................................................................. 12

    1 Consideraes das Vrias Correntes da Geografia Sobre a Categoria Espao................................................................................................................................

    14

    1.1 - O Espao nas Correntes Tericas Metodolgicas da Geografia............................. 14

    1.2 Compreenses Contemporneas de Espao............................................................. 19

    2 Modernizao da Agricultura no Espao Brasileiro............................................... 21

    2.1 O Conceito de Modernizao................................................................................... 21

    2.2 A Modernizao da Agricultura no Espao Brasileiro............................................ 24

    2.3 A Modernizao da Agricultura em Gois.............................................................. 29

    2.4 As Consequncias da Modernizao no Brasil e em Gois.................................... 31

    3 O Processo de Modernizao nos Assentamentos Roberto Martins de Melo e So Salvador.....................................................................................................................

    36

    3.1 Modernizao: Expulso do Campons................................................................. 36

    3.2 A Influncia da Modernizao nos Assentamentos Roberto Martins de Melo e So Salvador na Produo................................................................................................

    42

    Consideraes Finais....................................................................................................... 56

    Referncias....................................................................................................................... 58

    Anexos............................................................................................................................... 59

  • 12

    INTRODUO

    O presente trabalho tem o objetivo de compreender se a modernizao da agricultura

    atingiu os assentamentos Roberto Martins de Melo e So Salvador, localizados no municpio

    de Minau, aproximadamente 56 km da sede municipal. Conforme Figura 01.

    FIGURA 01: Mapa de localizao dos assentamentos no Municpio de Minau (GO).

  • 13

    Assim o objetivo geral da pesquisa compreender a intensidade do processo de

    modernizao dos Assentamento Roberto Martins de Melo e So Salvador. Os objetivos

    especficos sero analisar se a modernizao atingiu os dois assentamentos, verificar qual a

    intensidade de modernizao presentes nesse espao, investigar como a modernizao

    influencia na produo, comparando as diferenas entre os assentamentos.

    Os procedimentos metodolgicos para atingir o objetivo da pesquisa foram o

    levantamento bibliogrfico sobre as diferentes categorias sendo elas, espao, modernizao da

    agricultura e assentamentos. Em seguida, realizou-se leitura destas referncias. Alm disso,

    foram realizados visitas a campo nos assentamentos Roberto Martins de Melo e So Salvador,

    com intuito de atingir os objetivos. Para obteno de dados foram utilizados conversas

    informais e formulrio de entrevista estruturada e registros fotogrficos. Aps a visita a

    campo estes dados coletados foram tabulados e evidenciados em tabelas, grficos e figuras.

    A partir da pesquisa percebem-se breves resultados sobre a presena da modernizao

    da agricultura nesse espao, a sua intensidade e a influncia no dia-a-dia desses camponeses.

    O pacote tecnolgico, ou seja, mquinas, adubos, fertilizantes e sementes, presente nesses

    assentamentos muito inferior e insuficiente para que o assentado possa competir com a

    produo do grande produtor. Podendo contar apenas com sementes hbridas, agrotxicos e

    adubos qumicos, no possuindo mecanizao a sua disposio.

    Este trabalho esta organizado em trs captulos distintos e complementares. O

    Primeiro captulo apresenta as consideraes das vrias correntes da geografia acerca da

    categoria espao, sendo abordado pelos conceitos de Santos (1977) e Corra (2001). O

    segundo captulo esta voltado para a compreenso do processo de modernizao da

    agricultura no Brasil e em Gois, seus benefcios, suas influncias e conseqncias. Na

    tentativa de compreender esse processo que exclui e marginaliza sujeitos do campo. A anlise

    compreendida a partir de autores como, Graziano Neto (1985), Graziano da Silva (1982) e

    Brum (1988). No terceiro captulo apresentado os resultados da pesquisa campo nos

    Assentamentos Roberto Martins de Melo e So Salvador atravs do formulrio de

    questionamento aplicado aos assentados.

  • 14

    CAPTULO 1: CONSIDERAES DAS VRIAS CORRENTES DA GEOGRAFIA

    SOBRE A CATEGORIA ESPAO.

    Este captulo apresenta anlises a cerca das bases tericas da categoria Espao, que

    onde acontece a reproduo social da produo e tambm a reproduo da sociedade,

    vinculando as a temtica abordada com a finalidade de compreender a dinmica dos

    assentamentos em Minau-Go. A proposta aqui um dilogo entre os conceitos-chave de

    espao nas diversas correntes do pensamento geogrfico e dos principais influenciadores desta

    categoria. A histria da Geografia no mbito das cincias sociais representada a partir de

    cinco conceitos-chave para sua objetivao, sendo eles: paisagem, regio, espao, lugar e

    territrio. Contudo, para anlise desta temtica, usaremos a categoria espao, que a que mais

    se identifica com o objeto a ser analisado.

    O objetivo primordial deste trabalho analisar se a modernizao agropecuria atingiu os

    assentamentos Roberto Martins de Melo e So Salvador no municpio de Minau-Go,

    apresentando os objetos configuram tal modernizao presentes nesses assentamentos.

    Neste trabalho foi realizado levantamento bibliogrfico sendo ento, a leitura e anlise de

    alguns escritos por autores sobre a categoria espao.

    1.1 O Espao nas Correntes Tericas Metodolgicas da Geografia.

    O objeto de estudo da geografia aparenta ser simples, mas na verdade bastante

    controverso, pois se analisarmos sob a tica cientfica esta cincia estuda diversas temticas e

    para isso utiliza inmeras perspectivas metodolgicas e categorias, por isso da indefinio de

    seu objeto de estudo.

    A Geografia Tradicional que vai do perodo de 1870 1950 no considera o espao como

    conceito-chave. Esta corrente do pensamento geogrfico tem como base os autores Alexandre

    Von Humboldt, gelogo e botnico e Karl Ritter, com formao em Filosofia e Histria. A

    Geografia que Humboldt prope entendida como uma rea do conhecimento que abrangeria

    toda a terra. Ele afirma a existncia de dois mundos o sensvel e o intelecto. Para ele, o

    gegrafo necessitava observar a paisagem e da observao adquirida resultaria na conexo

    existente na paisagem. (MORAES, 2003 p.52). Ritter, define o conceito de geografia como

    um sistema natural, ou seja, um conjunto de elementos observados em uma rea

    individualizada tendo como elemento principal a relao homem - natureza. (MORAES, 2003

  • 15

    p.53). Assim, a Geografia Tradicional, tinha como objeto de estudo os fenmenos naturais e

    humanos. E esses dois autores trabalham nessa linha de anlise emprica.

    Entretanto, Ratzel aborda o espao em suas obras como espao vital. Diante disso, o

    espao passa a ser pensando como o principal elemento para a vivncia e sobrevivncia do

    individuo, estando este s ou em grupos. Uma vez que este grupo necessita de um espao para

    se desenvolver de forma tecnolgica, no aumento da populao e ainda nos recursos naturais:

    O espao em Ratzel visto como base indispensvel para a vida do homem, encerrando as

    condies de trabalho, quer naturais, quer aqueles socialmente produzidos. Como tal, o

    domnio do espao transforma-se em elemento crucial da Histria do Homem. (MORAES

    1990 apud CORRA, 2001 p.18)

    Segundo Moraes (2003), em sua classificao do espao como espao vital, Ratzel

    compreende que para que haja a ascendncia da sociedade ela precisa manter relaes com o

    solo e que provindas destas relaes viro o suprimento para suas necessidades de moradia e

    alimentao. E ainda, quando do progresso desta sociedade, esta deveria ampliar seus

    territrios para a continuao das relaes j existentes e agora em maior escala. Dessa forma,

    o espao vital aquele que consegue atender as necessidades da populao, do Estado e do

    capital.

    Dentro desta corrente do pensamento geogrfico temos ainda o espao segundo

    Hartshorne (1939) que compreende o espao como sendo o espao absoluto. Na viso

    hartshoriana, o espao absoluto, ou seja, um conjunto de pontos que existem entre si e que

    so independentes de qualquer coisa. Esta viso est relacionada aos fenmenos que existe

    dentro dela: O espao de Hartshorne aparece como um receptculo que apenas contm as

    coisas. (CORRA, 2001 p.19) Cada poro do espao absoluto possui em si uma

    combinao nica de fenmenos naturais e sociais. Em se tratando das correntes anteriores,

    esta corrente menos emprica que as demais e privilegia o raciocnio dedutivo.

    Estando a Geografia Tradicional relacionada ao positivismo os estudos de Geografia

    passam a se restringir a aspectos visveis do real, onde o cientista, um observador emprico

    utiliza para sua apreenso fazer a descrio, a enumerao e classificao dos fatos referentes

    ao espao. Outra manifestao positivista a de que no h diferena entre o domnio das

    cincias humanas e o das cincias naturais. Sendo esta manifestao vinda do pensamento

    geogrfico tradicional. Essa manifestao est voltada para uma perspectiva naturalista que

    procura compreender o relacionamento entre o homem e a natureza, no se preocupando com

    as relaes sociais.

  • 16

    Ao analisar a temtica abordada a essas vises de espao j contempladas, percebemos

    que o espao vital do assentado a sua parcela. Parte que lhe cabe aps o desmembramento

    da rea que passou pela reforma agrria. Neste local ele pode desenvolver atividades de

    natureza tecnolgica, natural, cultural, social e poltica juntamente com outros moradores do

    assentamento, e que tais atividades iro influenciar o espao em que vivem. Analisando sob a

    viso hartshoriana a rea onde eles ocupam/vivem e mantm suas relaes sociais nica,

    ainda que existam milhares de assentamentos espalhados pelo Brasil.

    Passando a Geografia por um movimento de renovao, surgiram ento duas correntes da

    geografia, a Geografia Pragmtica e a Geografia Crtica, cada uma com seus posicionamentos

    polticos e propsitos. Na Geografia teortico-quantitativa calcada no positivismo foi

    introduzida profundas modificaes, como apontam: James (1972), Claval (1974),

    Christofoletti (1976), Santos (1978) e Capel (1982) citados por Corra (2001). Nessa

    Geografia as mudanas ocorreram no mbito epistemolgico da cincia, nas cincias da

    natureza e da Fsica. E ainda, o raciocnio hipottico-dedutivo atingiu seu auge. A Geografia

    passou a ser executada em forma clculos, ou seja, foi matematizada.

    Adotou-se a viso da unidade epistemolgica da cincia, unidade calcada nas

    cincias da natureza, mormente Fsica. O raciocnio hipottico-dedutivo foi, em

    tese, consagrado como aquele mais pertinente e a teoria foi erigida em culminncia

    intelectual. Modelos, entre eles os matemticos com sua correspondente

    quantificao, foram elaborados e, em muitos casos, anlogos aos das cincias

    naturais. (CORRA, 2001 p.20)

    Nessa corrente geogrfica, o espao considerado uma plancie isotrpica, ou seja, uma

    superfcie uniforme tanto na geomorfologia como no clima e cobertura vegetal, ocupao

    humana, todos estes se encontram no mesmo padro. Assim, ao iniciar aes nesta plancie,

    esta se modifica deixando de ser homognia. Diante disto, podemos fazer esta anlise sob a

    temtica abordada. Estando a sociedade na mesma plataforma onde nenhum indivduo se

    sobressai ao outro, medida que sofrerem s aes de natureza econmicas, polticas, sociais,

    culturais, este indivduo ir se diferenciar pelas diversas intervenes que ocorreram no

    decorrer de suas vidas. Podemos dizer que, nem todos tiveram acesso a mesma educao, nem

    todos tiveram acesso mesma condio de vida e a partir dessas aes influentes que o

    espao vai se diferenciar e ser notvel o resultado dessa heterogeneizao. A relao entre

    esses atores vo dar carter ao espao.

    Outro fator que implica na desconstruo dessa homogeneidade a distncia, pois ao

    indivduo que mora afastado dos grandes centros como se ele estivesse fora da conexo.

  • 17

    Desta forma, quanto maior planejamento espacial para diminuir a distncia entre o sujeito e as

    mercadorias e informaes mais rpido ser a reproduo da sociedade.

    A Geografia Crtica, outra vertente de renovao do pensamento geogrfico surge na

    dcada de 1970 estabelecendo relao com o materialismo histrico e dialtico. Possui uma

    postura crtica radical frente s geografias anteriores, inclusive procura romper com a

    Geografia Tradicional e a Geografia Pragmtica. Para ela, o gegrafo no deve apenas

    planejar o espao, mas planejar o espao para as classes sociais que so excludas, inseridas

    marginalmente. Nessa corrente a geografia deve servir para que as pessoas pensem que o

    espao no igual ele tem desigualdade. E que, portanto as pessoas se apropriam de formas

    diferentes do espao.

    Inmeros autores contriburam para o surgimento da Geografia Crtica, alm de

    Yves Lacoste (1977) temos Milton Santos (1979) que um dos grandes argumentadores do

    espao social. A Geografia Crtica manifesta a partir da oposio sobre a realidade social e

    espacial e que usa os conhecimentos geogrficos adquiridos para combater o que considera

    ser problemas existentes no espao para ter como resultado um espao melhor dividido e que

    esteja organizado de acordo com os interesses dos homens.

    Esta corrente trabalha o espao sob a anlise marxista a partir da obra de Henri

    Lefebvre (1976) onde o espao desempenha um papel decisivo na estruturao de uma

    totalidade. O espao lcus da reproduo das relaes de produo. Segundo Corra(2001) a

    respeito das concepes de Lefebvre (1976) entende-se o espao como espao vivido onde a

    sociedade que o compe reproduz suas relaes sociais que a reproduo da sociedade.

    Milton Santos (1977) apresenta a sua contribuio de espao sob a viso de

    Lefebvre, sendo considerado um fator social no apenas como um reflexo social. Assim, No

    h como existir uma sociedade sem um espao e o espao s ser percebido se estiver

    relacionado com a sociedade. Para ele, o espao constitui-se assim:

    O espao organizado pelo homem como as demais estruturas sociais, uma estrutura

    subordinada-subordinante. E como as outras instncias, o espao, embora submetido

    lei da totalidade, dispes de uma certa autonomia... (SANTOS, 1978 p.145 apud

    CORREA,2001 p.28)

    Assim, a sociedade desigual expressa no espao essa mesma desigualdade. Desta

    forma, observando o espao agrrio vemos porque a modernizao no atinge os sujeitos da

    presente pesquisa. Os camponeses no tm acesso aos pacotes tecnolgicos impostos pela

    modernizao e podemos ver a resposta dessa no insero destes sujeitos na modernizao

  • 18

    atravs dessa desigualdade do espao. Esses sujeitos no encontram a mesma facilidade que

    os grandes proprietrios tem frente a financiamentos em banco tanto de ordem

    governamentais quanto pblicos, pois a falta de terra para produo em grande escala

    entrave para o pagamento do financiamento.

    Segundo Santos (1988), devido o espao se apresentar de diversas formas necessrio

    ao gegrafo encontrar instrumentos que o ajude a no desintegrar a totalidade do espao. E

    para tal, analisar a partir das relaes dialticas das categorias Estrutura, Processo, Funo e

    Forma. Assim, analisando o objeto em questo, na categoria Forma o assentamento visto em

    seu aspecto visvel, somente o externo. Na Funo, o papel que o assentamento desempenha

    para ele e para a sociedade, na Estrutura, so questes de natureza social histrica e

    econmica dos assentados nos dias atuais. E o Processo, a ao que eles desempenham afim

    de que ocorram mudanas na vida deles, entretanto, esta ao processo demanda de tempo.

    ..Ademais esses instrumentos nos permitem tomar como ponto de partida o concreto das coisas, sem nos deixar todavia ofuscar pelos nossos sentidos. Da forma estrutura

    e desta, de novo, forma, temos o caminho que conduz a uma fenomenologia do

    espao e sua construo terica. A forma nos apresenta a coisa, o objeto geogrfico;

    sua funo atual nos leva ao processo que lhe deu origem; e este, o processo, nos

    conduz totalidade social, a estrutura social que desencadeou e d ao objeto uma vida

    social. (SANTOS, 1988,p.13)

    A Geografia Crtica pensada por Moraes (2003), na interpretao de Yves Lacoste

    v o espao de forma integrada, ou seja, como um todo. O espao muito mais do que a

    morada da sociedade. O espao visto de duas formas, primeiro, um morador de um bairro da

    rea nobre e outro da rea de classe social baixa, possivelmente vivero toda sua vida sem

    conhecer a realidade um do outro lado. Da tem-se a idia de espao de cada um deles. J o

    Estado ou alguma empresa que tenha interesse nesses dois ambientes estar informado do que

    acontece em cada um deles e usar isso como arma para dominao destas reas.

    A Geografia Humanista surgiu na dcada de 1970 e esta calcada na fenomenologia e

    no existencialismo sendo caracterizada pelas correntes possibilista e cultural da Geografia

    Tradicional. Nessa corrente o conceito-chave passa a ser o Lugar e o espao adquiri o

    significado de espao vivido.

    Segundo Corra (2001), a Geografia humanista est assentada na subjetividade, na

    intuio, nos sentimentos, na experincia, no simbolismo e na contingncia, privilegiando o

    singular e no o particular ou o universal e, ao invs da explicao, tem na compreenso a

    base de inteligibilidade do mundo real. Este espao, chamado de espao vivido, tem uma

  • 19

    relao de afetividade com o indivduo. H aqueles que se apegam ao local e no podem viver

    longe em outro lugar. Haver na forma contrria, ou seja, o indivduo que odeia aquele

    espao. Est voltado aos sentimentos, as razes que se obtm. De acordo com Corra (2001)

    esta a considerao que Tuan (1979) faz a respeito deste espao quando diz que existem

    vrios tipos de espaos, inclusive o espao sagrado.

    Na Geografia Humanista analisada por Moraes (2003) vemos Vidal de La Blache

    como o propulsor desta corrente. Aqui, a relao homem-natureza foco para construo

    desta corrente. Nela o homem a todo momento influenciado pela natureza, porm o homem

    acabava transformando o espao com suas tcnicas, ou seja, quando um grupo percebia que

    no local onde estavam vivendo a dificuldade de alimentao era grande, ento criavam formas

    de racionamento, outras vezes, quando migravam para um determinado local e que percebiam

    o solo frtil, usavam de tcnicas j utilizadas no espao anterior para aumentar a

    produtividade e com isso geravam excedente. A geografia vidaliana apresenta formas de

    agrupamentos e como estes faziam para sobreviver, suas tcnicas e instrumentos de trabalho.

    1.2 Compreenses Contemporneas de Espao.

    No estudo da temtica abordada, abarcaremos o termo tcnicas para compreender o

    processo de modificao do espao. Quanto a sua definio: As tcnicas so aqui

    consideradas como o conjunto de meios de toda espcie de que o homem dispe, em um dado

    momento, e dentro de uma organizao social, econmica e poltica, para modificar a

    natureza. (SANTOS, 2008, p.10). Esse conceito de tcnicas nos remete ao que foi

    compreendido no passado por La Blache na Geografia Humana, onde o autor apresenta o

    objeto geogrfico relao homem-natureza e sua relao de influncia e como o homem se

    utilizavam das tcnicas para a manuteno do solo. Diante disto, compreende se que as

    tcnicas no surgiram recentemente e sim, que sua utilizao vem desde as sociedades

    primitivas e que o homem vem aprimorando medida que h necessidades.

    Indiferente do tipo de tcnica escolhido, as tcnicas iro influenciar o espao de alguma

    forma. Estando elas relacionadas noo de modo de produo e de relaes de produo. A

    escolha est baseada em aspectos polticos, econmicos e culturais, ou seja, para o sujeito que

    no possui elevados rendimentos as tcnicas a serem utilizadas sero de acordo com sua

    situao financeira, tcnicas mais simples enquanto que ao indivduo que possui um bom

    capital ou adquire financiamentos a este ser concedido tcnicas mais modernas e tambm

  • 20

    mais caras. No mbito cultural, poder ocorrer que, suponhamos que o dono da propriedade

    constitui de amplos recursos para aquisio de maquinrios, infra-estrutura ou ainda qualquer

    outro benefcio que ir aumentar a sua produo. Enquanto, o campons utilizar os mtodos

    e tcnicas aprendidos com os pais e que tambm dar resultados. Muitas vezes os critrios

    utilizados para a escolha da tcnica ser em virtude do resultado que se pretende alcanar ou

    de como o indivduo deseja influenciar/organizar determinado espao e tambm por causa dos

    lugares geogrficos:

    So as relaes sociais que explicam como as tcnicas em diferentes lugares atribuem

    resultados diferentes aos seus portadores. (SANTOS, 2008 p.59). Na temtica em anlise,

    que so os assentamentos, percebe-se no primeiro contato que se teve com esses grupos que

    as tcnicas ali utilizadas, so do tipo poltico, econmico e cultural que no vemos a ao

    governamental em funo destes grupos, seja na parte que lhes cabe de direito, ou em forma

    de ajuda, sendo assim, como no obtm de outros recursos, eles utilizam da maneira como

    podem, ou seja, a partir de mutires e outras formas de ajuda mtua.

    As tcnicas esto divididas em duas classes, onde a primeira chamada de tecnolgica

    corresponde a idade das tcnicas e a segunda chamada de organizacional diz respeito forma

    de como esto dispostos. O espao se renova juntamente com a sociedade que o compe.

    Assim, no apenas reflexo da sociedade em que est inserido e sim um complemento do

    espao total.

    O espao uma estrutura social dotada de um dinamismo prprio e revestida de uma

    certa autonomia, na medida em que sua evoluo se faz segundo leis que lhe so

    prprias. Existe uma dialtica entre forma e contedo, que responsvel pela prpria

    evoluo do espao. (SANTOS, 1988,p.15)

    A sociedade sendo um elemento em movimento proporciona uma mudana de

    contedos das formas geogrficas e ainda uma mudana na distribuio do valor do espao.

    Da, a compreenso de que a sociedade est em constante movimento e as formas-contedo

    constituintes do espao humano influenciam a evoluo social. Os exemplos de acesso a

    modernizao atravs do sujeito da pesquisa ser comentada no captulo 3.

  • 21

    CAPITULO 2. MODERNIZAO DA AGRICULTURA NO ESPAO

    BRASILEIRO

    A modernizao da agricultura brasileira teve seu incio na dcada de 1960, em que se

    iniciou um processo de modernizao das tcnicas de produo. Atravs do projeto piloto do

    grupo Rockefeller por meio da Revoluo Verde, a industrializao da agricultura expandiu-

    se. Esse programa tinha como objetivos apresentados aos governos dos pases

    subdesenvolvidos, contribuir para que houvesse aumento na produo agrcola, e para esse

    fim fariam experincias genticas, melhoramentos de sementes e solos e ainda controle de

    pragas e doenas. Contudo, por detrs de todos esses benefcios aos pases que abriram suas

    portas para esse programa, o grupo Rockefeller tinha interesses econmicos e polticos que

    beneficiariam primeiramente a eles. Com isso o espao agrrio foi sendo preenchido cada vez

    mais com a mecanizao, e a utilizao de insumos e fertilizantes teve uma crescente

    considervel. O resultado desta modernizao deu-se na transformao capitalista da

    agricultura. No atingindo o espao brasileiro em sua totalidade, e sim os mdios e grandes

    proprietrios de terras.

    2.1 O Conceito de Modernizao.

    Para Graziano Neto (1985) o conceito de modernizao vai alm da atualizao de

    tcnicas de produo tratadas muitas vezes como obsoletas: Modernizao, porm, significa

    muito mais que isso. Ao mesmo tempo em que vai modificando aquele progresso tcnico na

    agricultura, vai se modificando tambm a organizao da produo, que diz respeito s

    relaes sociais (e no tcnicas) de produo (GRAZIANO NETO, 1985 p.26). Para ele, a

    modernizao a juno das tcnicas com as relaes sociais. Ou seja, medida que se tem a

    intensificao da mecanizao no campo h uma modificao nas relaes sociais entre

    empregador e empregado. Como por exemplo, o pagamento da mo-de-obra assalariada, que

    tambm um dos elementos que constituem a chamada modernizao que com a sua chegada

    intensifica o trabalho com o bia fria e o trabalhador volante.

    Com a implantao da modernizao, o empregado trabalha por um determinado tempo

    e produz uma quantidade maior do que anteriormente, devido a mquinas mais rpidas, isso

    tende aumentar a produo, e o capitalista passar a ter maior lucro. A mecanizao aumenta

    a produo e desenvolve a produtividade do trabalho. Enquanto as tcnicas utilizadas

  • 22

    influenciam tanto na produo quanto na capacidade de produzir. Diante disso, entende-se

    que o principal objetivo da modernizao da agricultura o aumento no lucro. Pois, visando o

    aumento da produo o proprietrio da terra colocar em questo o que ser mais lucrativo, se

    a mo-de-obra assalariada que est grandemente desvalorizada ou a utilizao de maquinrio

    e sua manuteno. Escolhendo pelas mquinas haver uma diminuio no quadro de

    empregados, ou seja, a taxa de desemprego ir aumentar ocorrendo isso a mo-de-obra torna-

    se ainda mais desvalorizada.

    Graziano Neto (1985) chama essa atitude de progresso tcnico da agricultura no

    capitalismo. A utilizao da mecanizao nem sempre ser possvel, por exemplo, em casos

    onde os solos so topograficamente acidentados ou de difcil acesso, a mo-de-obra humana

    ser melhor empregada. Nas culturas de cana-de-acar a mecanizao esta sempre em alta,

    por esse motivo as reas de plantio esto em constante expanso. Como afirma o autor:

    O progresso tcnico ocorrido na agricultura diminuiu a utilizao de

    mo-de-obra em algumas fases do ciclo de produo, como o plantio

    e certos tratos culturais, mas em outras fases a utilizao de trabalho

    continua intensa, como principalmente a colheita de produtos como a

    cana-de-acar, caf, laranja e mesmo o algodo. Desta forma, a

    demanda de mo-de-obra no constante durante o ano havendo

    certas pocas de pouca necessidade. (GRAZIANO NETO, 1985,

    pag.76)

    A mecanizao da agricultura tem proporcionado o crescimento dessas reas de cultivo,

    isso no quer dizer que a mo-de-obra desnecessria, mas agora ser empregada quando a

    utilizao da mquina for mais cara ao proprietrio ou quando a topografia do solo no

    permita seu uso. Muitas vezes colocar uma maquina para funcionar muito caro ao

    capitalista, mas t-la em sua propriedade evitaria que os trabalhadores se rebelassem em

    funo de melhores salrios. Assim, a presena das maquinas na propriedade serve para

    reprimir os empregados para que assim executem um bom trabalho, afinal de contas eles no

    tm noo de que em muitas vezes a sua mo-de-obra no poder ser substituda e que mais

    barata ao capitalista.

    Desta forma, a modernizao permite ao capitalista aumentar a sua produo e

    consequentemente o seu capital. Outro sim, a reduo de custos na produo tambm parte

    da modernizao. Em sntese, tudo aquilo que contribui para que o capitalista lucre mais e

    gaste menos integra a modernizao da agricultura. Como dito anteriormente, as formas que o

    capitalista tem para eliminar despesas vo desde diminuir o quadro de empregados, trocando-

  • 23

    os por mquinas, quando esta for a melhor opo, ou trocando por bias frias e trabalhadores

    temporrios, que trabalham durante o perodo de safra, em mdia 150 dias por ano.

    J Graziano da Silva (1982) faz uma leitura da modernizao do campo brasileiro onde

    aponta quem detm o capital, e ainda as contradies que ocorrem a partir do

    desenvolvimento da modernizao da agricultura. Para ele, a modernizao da agricultura

    sustentada pelo Estado, uma vez que o capitalista no conseguiu alavancar o processo de

    produo sozinho.

    A estrutura agrria brasileira marcada pela extrema desigualdade da propriedade de

    terra, estando divida em dois grupos; um pequeno grupo de proprietrios que detm

    propriedades extensas e que pouco produz, e um grupo maior de pequenos proprietrios que

    produz mais, principalmente levando em considerao o tamanho da propriedade. Para esses

    pequenos proprietrios, a terra o meio de produo fundamental, infelizmente em sua grande

    maioria no a possuem, e em muitos casos residem nas fazendas como fora de trabalho, e

    produzindo o excedente, vendem.

    Segundo Graziano da Silva (1982), o pequeno produtor o principal responsvel pela

    produo de alimentos, enquanto os grandes proprietrios ficam por conta das atividades de

    extrativismo mais rentveis. Para compensar a inferioridade na distribuio da renda, o

    pequeno produtor aumenta a explorao da mo-de-obra familiar, aumentando a jornada de

    trabalho e muitas vezes incluindo mulheres e crianas no trabalho agrcola. Esta foi outra

    dificuldade que a transformao da agricultura enfrentou, pois o pequeno produtor no tinha

    recursos financeiros para investir em sua propriedade e no utilizavam os crditos rurais por

    no terem condies financeiras para arcarem com os vencimentos, e tambm sentiam averso

    ao ter que hipotecar o nico bem de sua famlia que fora adquirido de forma hereditria.

    Mesmo sendo o principal produtor de alimentos o pequeno produtor encontra

    inmeras dificuldades para produzir. Comeando pelo crdito rural disponvel para a

    agricultura que nfimo. Enquanto que para as plantaes de soja, cana-de-acar e algodo

    existem incentivos para a produo, pois atendem aos interesses dos grandes proprietrios de

    terra, do governo e do mercado estrangeiro. Por exemplo, a soja um commodities, ou seja,

    um produto com pouca industrializao e que o seu preo est atrelado bolsa de valores e

    ainda faz parte do mercado internacional. justamente por isso que o incentivo a essa cultura

    to grande, pois, atende aos interesses do mercado internacional, do Estado que arrecada

    impostos com a explorao de commodities para equilibrar a bolsa de valores e tentar pagar a

  • 24

    dvida externa, e interessa aos grandes proprietrios de terra, formando assim um conjunto de

    interesses onde a agricultura familiar no se encaixa.

    Brum (1988,p.60) define a modernizao da agricultura como sendo o processo

    atravs do qual ocorrem modificaes na base tcnica da produo. [...] pode ser definido

    ainda como sendo um processo de modificaes nas relaes sociais de produo.

    Na anlise das contribuies dos citados autores a respeito da modernizao da

    agricultura, o perodo de implantao at a sua consolidao, e a partir disso, percebe-se que a

    modernizao trs vantagens para aqueles que conseguiram se inserir em sua proposta.

    Acontece que ela no para todos. O pequeno produtor no conseguir se beneficiar desta

    proposta. Mas, at que ponto a modernizao vantajosa? Os mesmo autores que relatam sua

    expanso, no se esquecem de comentar o que tem por trs desta grande sistema que tem

    movido o mundo. Desvalorizao do ser humano, expulso e expropriao do pequeno

    produtor de suas terras, crise na produo de alimentos, dependncia da agricultura,

    destruio dos solos, aumento ponto de descontrole das pragas e doenas, perda da

    qualidade dos alimentos, contaminao de alimentos e do homem e poluio, estes so o outro

    lado da moeda da modernizao.

    Graziano Neto (1985, pg.78) diz: por isso que no se pode confundir

    modernizao com desenvolvimento, uma vez que o desenvolvimento um processo de

    transformao scio-econmica que promove o bem estar para toda a populao, enquanto a

    modernizao excludente, deixando de lado as classes sociais baixas e proliferando-se entre

    os grandes proprietrios de terras e empresas.

    2.2 A Modernizao da Agricultura no Espao Brasileiro.

    O processo da modernizao da agricultura no Brasil iniciou-se na regio do Planalto

    Gacho no ps-guerra, se internacionalizou, integrando-se ao projeto do desenvolvimento do

    complexo agroindustrial, sob o comando das corporaes transnacionais e dos pases centrais,

    principalmente os Estados Unidos (BRUM, 1988. pag.60)

    A modernizao da agricultura surgiu a partir da Revoluo Verde, um programa criado

    pela Fundao Rockfeller, tendo por finalidade contribuir para que a produo agrcola no

    mundo aumentasse, e para obter tal resultado fez o uso de experincias genticas,

    melhoramentos de sementes e correo de solos e ainda, controle de doenas e pragas.

  • 25

    [...] os pases que aderiam Revoluo Verde eram orientados e induzidos a usar novas tcnicas de correo do solo, fertilizao,

    combate s doenas e pragas, bem como a utilizar maquinaria e

    equipamentos modernos. A esse conjunto de tcnicas inovadores se

    deu o nome de pacote tecnolgico.(BRUM,1988 pag.47)

    O grupo Rockfeller um grupo econmico privado, que recebeu apoio inicialmente de

    outros grupos econmicos internacionais com interesses em comum, e posteriormente de

    rgos do governo dos Estados Unidos. Surgiu no final da Segunda Guerra Mundial e tinha

    interesses econmicos e polticos sob os pases inseridos no programa. Com o fim da Segunda

    Guerra Mundial a agricultura tradicional deixou de ser a principal forma de produo, sendo

    substituda pela agricultura modernizada. Este modelo conseguiu expandir os negcios,

    fazendo com que as empresas que forneciam mquinas e insumos tivessem aumento de

    produo.

    A modernizao da agricultura esteve e est sob a influncia do setor industrial na

    produo especificamente de tratores, insumos, sementes, agrotxicos, sendo que os

    principais fornecedores desses produtos so empresas multinacionais, com capital

    internacional, como o exemplo da Bayer, Shell, Ford, Massey-Ferguson, Agroceres e outras.

    O setor industrial pressionava a agricultura para que implantasse uma tecnologia moderna e

    para isso levava at a mdia, rdio, televiso e imprensa, propagandas com contedo

    duvidoso, reforando a idia de que quanto maior o desenvolvimento tecnolgico em sua

    propriedade, o capitalista obteria maior acumulao de lucro, e essa informao equivocada

    pois, se analisarmos uma propriedade pequena com um numero elevado de mquinas, estas

    por sua vez ficaram ociosas e o pequeno produtor cheio de dvidas provindas de

    financiamentos.

    Em uma visita ao Brasil em 1943, Nelson Rockfeller influencia o surgimento de trs

    empresas na rea agrcola; a Cargil que passou a atuar na fabricao de raes; a Agroceres

    atualmente pertencente a Monsanto- com pesquisas genticas com milho e produo de

    semente de milho hdrico; e a EMA ou Empreendimentos Agrcolas, que fabrica

    equipamentos para a lavoura. Tambm sob a influncia de Rockfeller, em 1950 criou-se a

    Associao de Crdito e Assistncia Rural (ACAR) e logo depois a Associao Brasileira de

    Crdito e Assistncia Rural (ABCAR) criada pelo governo brasileiro. A modernizao no

    Brasil teve avano em 1971, quando o governo brasileiro criou a Empresa Brasileira de

    Pesquisa Agropecuria (EMBRAPA) que a partir de ento passaria a atender os interesses

  • 26

    ligados a agricultura. Entretanto, esta instituio e muitas outras que mantinham relaes com

    a modernizao da agricultura foram influenciadas pelos centros internacionais.

    Outras empresas tambm foram criadas para fortalecer essa assistncia ao espao

    rural, dar orientao e introduzir novas culturas, como o caso das empresas, EMBRATER

    Empresa Brasileira de Assistncia Tcnica e Extenso Rural e a EMATER Empresa de

    Assistncia Tcnica e Extenso Rural. As empresas Cargil, Agroceres/Monsanto e EMA,

    fundadas por Nelson Rockfeller atendiam aos interesses de seus grupos econmicos, pois o

    discurso deles era tornar as terras mais produtivas, atravs de tcnicas de correo de solo,

    fertilizao, combate doenas e equipamentos modernos. J as associaes ACAR e

    ABCAR tinham objetivos de orientar e estimular a implantao de novas tcnicas de cultivo

    entre os produtores rurais e que assim como a EMBRAPA e EMATER estavam sob a

    influncia dos centros internacionais.

    Bem, essas associaes e empresas tinham um discurso que serviria para atender aos

    interesses dos produtores rurais, orientando-os no processo da produtividade, mas o que se

    percebe que sempre o comando ou a influncia maior vinha dos centros internacionais. Essa

    influncia custou muito caro ao Brasil, pois a partir desta estratgia, a agricultura torna-se

    dependente destas associaes dirigidas pelos centros econmicos internacionais e tambm a

    serem influenciados pelo complexo agroindustrial.

    Os grupos econmicos por meio da Revoluo Verde tinham por detrs de toda a

    ajuda que prestaram interesses econmicos nos pases pobres. No tinham a inteno de

    serem generosos para com pases subdesenvolvidos, apesar de essa ser a mensagem que

    transmitiam no inicio do projeto.

    Como afirma Brum (1988), a Revoluo Verde serviu para as empresas de capital

    internacional ampliarem suas produes de mquinas, equipamentos, fertilizantes e demais

    produtos relacionados a agricultura. A substituio da agricultura tradicional pela moderna foi

    o ponto principal para que as empresas que forneciam mquinas e insumos expandissem sua

    produo. A expanso destes grupos econmicos, proprietrios de bancos internacionais,

    foram possveis devido aos financiamentos liberados ao governo e este por sua vez, por meio

    dos bancos pblicos liberava financiamentos para os grandes produtores e empresas. Sendo

    estes grupos os principais investidores na agricultura moderna tornavam-se diretamente

    beneficiados com esses financiamentos do setor industrial agrcola.

    No espao rural brasileiro coube duas opes, a reforma agrria ou a modernizao

    conservadora. Brum (1988, p.51) apresenta um conceito de reforma agrria um conjunto de

  • 27

    medidas tendentes a melhorar as condies de vida do homem do campo, atravs da utilizao

    racional da terra e da mo-de-obra agrcola. J o conceito de modernizao conservadora

    tem por objetivo o aumento da produo e da produtividade agropecuria mediante a

    renovao tecnolgica, isto , a utilizao de mtodos, tcnicas, equipamentos e insumos

    modernos; sem que seja tocada ou grandemente alterada a estrutura agrria (BRUM, 1988,

    pag.54).

    O modelo adotado pelo Brasil foi a modernizao conservadora, que tem como principal

    caracterstica ser capitalista, associada, dependente, concentradora, exportadora e excludente,

    ajustando-se perfeitamente a estratgia agrcola mundial, liderada pelo complexo

    agroindustrial e ainda sendo induzida pelos grupos econmicos internacionais, como j

    falamos anteriormente, na chamada Revoluo Verde.

    Segundo Graziano Neto (1985), no Brasil a expanso do capitalismo na agricultura se

    deu com os proprietrios de terras tornando-se tambm capitalistas. Esses buscavam sempre o

    aumento da rentabilidade de seus negcios. Para dispor de capital para tal aquisio das terras

    dos camponeses e tambm para implantar equipamentos modernos, muitos utilizavam o

    crdito rural que foi o principal elemento para a modernizao do latifndio. Os camponeses

    no se inseriram na modernizao da agricultura por motivos bastante notrios, a falta de

    capital para investir foi o fator principal e tambm os valores sentimentais pela propriedade

    conseguida atravs da hereditariedade.

    A real funo de utilizar tratores para que se obtenha uma margem de lucro maior,

    pois com isso, os agricultores capitalistas ampliam tambm as reas a serem cultivadas

    introduzindo nos solos tecnologias qumico-biolgicas. Assim, a finalidade do uso dos

    insumos no substituir o trabalho e sim aumentlo, torn-lo mais produtivo.

    Segundo nos esclarece Brum (1988), a agricultura tradicional era o modelo de cultivo

    exercido pelos donos de pequenas propriedades no Brasil. Essa agricultura visava a

    alimentao familiar do campons e quando houvesse excedentes, vendiam. Basicamente,

    utilizavam de instrumentos de trabalhos manuais, como: a enxada, a foice, o machado, o

    arado de trao animal e ainda a carroa. Os recursos para fertilizao dos solos eram naturais

    ou mo-de-obra direta. As tcnicas que utilizavam na preparao dos solos eram frutos de

    experincias de seus antepassados, que passaram de gerao em gerao. Na produo existia

    uma variedade de produtos, pois era a partir dessa produo que os camponeses sobreviviam.

    A policultura era ento o principal modelo de cultivo, era comum encontrar nas

    pequenas propriedades variedades de alimentos, e isso fortalecia ainda mais a agricultura

  • 28

    tradicional, que era voltada para a subsistncia da famlia camponesa, onde a maior parte das

    necessidades de consumo suprida pela produo da famlia. Na modernizao da agricultura

    o modelo de cultivo passa a ser monocultura, assim se especializa em determinado produto.

    Dessa forma, podem elaborar tcnicas de produo voltadas para essas culturas conseguindo

    maior lucro, sendo este o principal objetivo da agricultura moderna. Havia as chamadas casas

    de negcios, onde a famlia comprava os poucos produtos que no produziam em sua

    propriedade. Muitas vezes essa compra era feita por meio de troca de produtos entre o

    campons e os comerciantes.

    A agricultura tradicional comeou a declinar aps a Segunda Guerra Mundial com a

    introduo da agricultura moderna no modelo de produo. Inmeros fatores contriburam

    para sua queda, como: o esgotamento da fertilidade natural dos solos, que por no serem

    conservados sofriam um processo de desgaste natural. Outro fator importante foi que a

    agricultura tradicional era sustentada por pequenos proprietrios, estes, vez ou outra faziam

    partilha de bens, e com a diminuio da rea cultivada, aumentavam a explorao da terra que

    acabava se esgotando e ao mesmo tempo desestimulando o pequeno proprietrio. Os baixos

    preos dos produtos agrcolas tambm foram motivos fundamentais para essa queda. Os

    interesses das multinacionais seriam concretizados atravs da agricultura moderna que tinha

    respaldo junto aos produtos que as multinacionais ofereciam. Dessa forma, os camponeses

    no tinham como se inserir nesse projeto de modernizao, por questes financeiras, no

    tinham capital para aquisio de equipamentos. Diante disso, viram-se forados a vender suas

    propriedades rurais.

    A modernizao da agricultura aumenta de forma considervel a relao indstria-

    agricultura. O espao rural passa a ser um dos principais meios de comercializao da

    indstria. O efeito que a indstria causa no campo grande, a rapidez que a industrializao

    trouxe na recuperao e correo dos solos, a eficincia dos equipamentos industriais

    notvel. Entretanto, o que tambm nota-se so os problemas advindos do uso excessivos e

    altas dosagens dos produtos industrializados e que sero apresentados mais a frente na

    pesquisa.

    Adoo no Brasil da modernizao foi desigual, contraditria e combinada. Ela veio para

    beneficio dos grandes proprietrios e principalmente das multinacionais. O pequeno produtor

    no teve acesso integral da agricultura moderna e os assentados menos ainda. Podemos pensar

    que ela produziu o espao desigual. contraditria, pois a modernizao passa uma imagem

    de soluo de problemas na produo, quando, a maior resposta da modernizao a

  • 29

    dependncia tecnolgica e econmica dos pases inseridos, o aumento das doenas e pragas e

    queda na qualidade dos alimentos, e que beneficia o grande proprietrio. Tambm

    combinada porque um est ligado ao outro, beneficiando a si prprio. Por exemplo, se o

    produtor quer um financiamento para compra de sementes s ser liberado se adquirir junto

    ao financiamento adubo e agrotxico, dessa forma, tem-se o setor bancrio beneficiando o

    setor industrial qumico; para aquisio de maquinas geralmente necessrio financiamentos

    as mquinas so de empresas internacionais e os bancos que liberam o credito tambm, e

    basicamente uma forma de dependncia do Brasil e demais pases que inseriram na

    modernizao. O processo da modernizao beneficiou principalmente os grandes produtores,

    sendo que o Centro Sul foi a regio at o momento que mais se beneficiou desta

    transformao.

    O processo modernizador nunca saiu das mos dos grupos econmicos internacionais. E

    mesmo que a agricultura estivesse se fortalecendo cada vez mais, ainda assim mantinha uma

    posio de subordinao com a indstria.

    2.3 A Modernizao da Agricultura em Gois.

    O processo de modernizao chegando ao Estado de Gois inseriu o Cerrado na

    economia internacional. As terras que outrora eram desvalorizadas devido a dificuldade no

    plantio agora se tornam alvo do agronegcio e agroindstria, que foram os responsveis pela

    insero da modernizao da agricultura no Estado de Gois. O sudeste goiano foi a primeira

    regio que se inseriu no processo da modernizao, justificando-se devido a sua proximidade

    com o sudeste brasileiro que era naquele momento, o cenrio brasileiro reprodutor da

    agricultura moderna.

    O Estado de Gois sempre se destacou na produo agropecuria e com a

    incorporao das tcnicas de produo tornou-se um dos mais produtivos do Brasil, repetindo

    tcnicas agrcolas proveniente do sudeste brasileiro, como ocorreu nas cidades de Rio Verde,

    Jata e Mineiros impulsionadas pela agroindstria. Inicialmente, grande parte da sua ocupao

    foi devido explorao do ouro, onde formaram os primeiros arraiais e logo aps iniciou-se o

    desenvolvimento da minerao, pecuria e agricultura.

    Na dcada de 1940, as terras mais produtivas recebiam o plantio do arroz, feijo e

    milho, enquanto que, as reas de chapadas eram destinadas pecuria e extrativismo. Por

  • 30

    meio de implantao de colnias agrcolas, o governo Getlio Vargas, inicia um planejamento

    para ocupao produtiva.

    J na dcada de 1960, o cerrado goiano comeou a despertar o interesse dos agentes da

    modernizao, pois nesse mesmo perodo no Brasil, mais especificamente no Planalto

    Gacho, a modernizao da agricultura estava em processo de expanso, e o agronegcio

    encontrou na agricultura moderna e seu pacote tecnolgico, uma estratgia para corrigir os

    solos considerados improdutivos e aumentar a sua produo, transformando-o no cenrio

    econmico dos maiores produtores de gros do Brasil, e conseqentemente, alterando sua

    identidade agrria no estado. As atividades capitalistas ocorridas na dcada de 1970

    contriburam para o estreitamento das relaes com o agronegcio.

    O agronegcio juntamente com sua cadeia de produo, ou seja, as mquinas,

    equipamentos, insumos agrcolas, processo industrial, distribuio e pesquisas, intensificaram

    o cultivo da cana-de-acar transformando o Estado de Gois em uma rea estratgica para o

    desenvolvimento do setor agrcola. Essa transformao permitiu uma reorganizao produtiva

    no uso e apropriao da terra.

    A partir de ento, a estrutura fundiria de Gois vem se transformando, substituindo

    sua paisagem natural por monocultura, que forte caracterstica da agricultura moderna. Um

    grupo que sofre tragicamente com a expanso desse processo o campons, pois a

    modernizao tende a fortalecer o grande produtor e excluir o pequeno.

    Segundo Calaa (2010, p.10):

    A expanso do agronegcio e das lavouras comerciais resultou em

    intensificao das correntes migratrias para as cidades como parte

    das contradies do processo em curso. A produo camponesa, que

    utiliza a mo-de-obra familiar, foi desarticulada pela modernizao do

    campo em Gois, sendo esta uma das razoes que explica a queda da

    produo dos alimentos bsicos da populao como o arroz e o feijo,

    alem de explicar o processo de urbanizao crescente.

    Contraditoriamente, verifica-se o aumento da produo de gros, da

    importncia de alimentos e a expulso do homem do campo para a

    cidade.

    O reflexo da modernizao no campons desastroso chegando a abalar a condio do

    homem de reproduzir-se no espao. Nesse sentido, a modernizao tende a proliferar a

    tecnologia no campo deixando-o vazio demograficamente, e ao mesmo tempo expulsa o

    campons, que no se inseriu no processo, para as reas urbanas transformando-as num

    espao desordenado e com grande concentrao demogrfica.

  • 31

    Para o meio ambiente as conseqncias tambm so enormes, pois a medida que as

    reas de plantio vo expandindo-se o cerrado fica ameaado de desmatamento. E ainda, no

    que diz respeito ao seu manejo, especificamente no caso da cana-de-acar que desde 2005

    tem se expandido de forma considervel, onde necessrio o uso da queimada controlada.

    Esse fator implica gravemente na destruio da biodiversidade do cerrado e do solo.

    Este processo desencadeou um desenvolvimento desigual e

    contraditrio no cerrado, processo dialtico, resultante das novas

    relaes estabelecidas entre homem x natureza e homem x homem

    para territorializar-se, se fez em detrimento excluso de uma parcela

    da populao, isto da desterritorializao do campons e da

    ascenso dos grandes produtores. (SILVA, 2001.p.10 apud BORGES,

    2007. p.38)

    Ainda no que se refere modernizao da agricultura, segundo Borges (2007), Para

    dar suporte ao discurso da modernizao foram criados atravs do governo federal programas

    de desenvolvimento da atividade agrria da regio. Esses programas pertencentes ao pacote

    revoluo verde tinham por finalidade criar infra-estruturas e firmar o setor agrrio atravs

    do acesso ao pacote tecnolgico. So programas criados pela SUDECO (Superintendncia do

    Desenvolvimento do Centro-Oeste) - tais como: o PCI (Plano de Integrao e Incorporao

    dos Cerrados); PROCEDER (Programa de Cooperao Nipo-Brasileira de Desenvolvimento

    dos Cerrados) e o POLOCENTRO (Programa de Desenvolvimento do Cerrado).

    Atualmente em Gois, ainda existem regies que esto alheias a modernizao da

    agricultura, fato percebido em parte do nordeste goiano, onde exercem a agricultura

    tradicional equivalente exercida no sculo XX. Diante disso, podemos dizer que a

    modernizao no ocorreu de forma igualitria. Em alguns espaos, como o caso do objeto

    da pesquisa, os assentamentos tambm no tiveram acesso a esse pacote tecnolgico. Como

    vimos, ele est disponvel aos grandes proprietrios, aqueles com grandes capacidades de

    reproduzir-se no campo, causando competitividade com o pequeno agricultor, contribuindo

    para sua expulso.

    Todo grande empreendimento econmico, principalmente aqueles que

    degradam o meio ambiente, se apia numa justificativa de que

    grandes oportunidades de empregos surgiro e a qualidade de vida

    das populaes aumentar. Desde 1970, quando as grandes

    monoculturas foram implantadas no Brasil, este fator no aconteceu.

    (SALES,2007 in: O Popular 11/03/2007 apud BORGES, 2007.p.35)

  • 32

    2.4 As Conseqncias da Modernizao no Brasil e em Gois.

    Junto a modernizao da agricultura veio tambm uma infinidade de problemas

    causados devido a sua implantao. A agricultura moderna encarregada de solucionar

    problemas trouxe consigo problemas ainda maiores que os j existentes antes da sua

    implantao no Brasil, com prejuzos que comprometem a vida da agricultura e do homem.

    Segundo Graziano Neto(1985), o modelo de produo adotado pelo Brasil corresponde

    ao mesmo encontrado nos pases de clima temperado. Esses por sua vez, tem uma tcnica de

    arao da terra, que so bastante profundas, que no tem o mesmo efeito em climas tropicais.

    As profundas araes nas regies onde o clima temperado permite que os solos mais

    profundos subam superfcie, causando o despertar da vida microbiana que estava em fase de

    congelamento em virtude das baixas temperaturas. Enquanto que nos solos com climas

    tropicais as profundas araes somadas as altas temperaturas matam os organismos vivos,

    destroem a matria orgnica e propicia a eroso.

    As araes constantes e profundas, aliadas a mecanizao intensiva e

    ao fato de se deixar os solos expostos ao impacto das chuvas, fazem

    com que os solos percam a matria orgnica, desestruturando-se e

    tornando-se compactados; esta compactao prejudica o enraizamento

    das plantas que no conseguem explorar grande volume do solo,

    ficando as razes restritas as camadas mais superficiais do terreno;

    assim, a absoro de nutrientes e gua prejudicada, seja pelo

    reduzido volume explorado pelas razes, seja porque o aquecimento

    da parte superior do solo impede a absoro radicular. Nestas

    condies, a adubao qumica no tem os efeitos esperados: o adubo

    no tem condies de ser absorvido ou, quando o , sua

    metabolizao vagarosa. Da mesma forma, as plantas sofrem

    facilmente por falta de gua, devido tanto a menor capacidade de

    armazenamento de gua pelo solo, como ao enraizamento deficiente.

    (Graziano Neto,1985. p.97/98)

    A compactao um dos principais processos de degradao fsica dos solos. Resulta

    da perda da estabilidade estrutural devido ao declnio da matria orgnica associada ao

    intenso e freqente trfego de mquinas no solo e animais. O resultado dessa compactao

    a perca da aerao nos solos, a infiltrao da gua ser muito pequena e a capacidade de

    reteno da gua estar comprometida. Com isso, h a diminuio da porosidade dos solos

    impedindo o crescimento das plantas.

    O manejo equivocado na agricultura traz conseqncias graves ao solo, dessa forma,

    deixam de serem frteis, eliminam a vida dos microorganismos que favorecem a fertilidade do

  • 33

    solo e o crescimento das plantas, podendo ocasionar em lixiviaes, onde os minerais iro se

    deslocar para camadas mais profundas do solo empobrecendo-o, e ainda ficam sujeitos a

    compactao.

    Nos solos compactados a produo prejudicada, pois so solos deficientes, fracos em

    adubao, com pouca aerao e vida microbiana. Sem a vida que existe nos solos, o solo

    empobrece. A atividade que as minhocas, bactrias, caros, fungos exercem dentro dos solos

    fundamental para a vida da planta e a falta deles no solo um indicativo de que este

    improdutivo. Entretanto, esses microorganismos s conseguiro sobreviver em solos frteis,

    produtivos e no-poludos.

    Os solos poludos so caractersticas de solos que sofreram grandes incidncias de uso de

    agrotxicos, que servem para combater as pragas de lavoura. O uso de agrotxicos est cada

    vez maior entre os agricultores, estes, para combaterem as pragas aplicam dosagens maiores

    que as recomendadas. O descontrole das pragas tem sido um dos maiores fracassos da

    moderna agricultura. Estudos comprovam que o surgimento de novos produtos qumicos cada

    vez mais perigosos ao homem tem sido lanado sobre as lavouras, e que ainda assim no est

    resolvendo o problema das pragas, pois a cada novo produto essas pragas vo tornando-se

    imunes. E no final das contas quem recebe sobre si os efeitos destes produtos a sociedade.

    Nos ecossistemas naturais a incidncia de pragas irrisria, diante disso, entende-se que

    lanar inseticidas, pesticidas e tantos outros produtos qumicos s far com que a praga se

    fortalea. E mais, os solos ficaro frgeis e fracos, a atividade biolgica no solo ser

    insuficiente para causar a influncia que em solos naturais elas exercem, os alimentos sero

    cada vez cheios de produtos prejudiciais sade e sem sabor.

    A utilizao de agrotxicos causa queda na qualidade final dos alimentos e

    principalmente causa danos sade do homem. provvel que muitas das doenas que

    existem hoje so causas da quantidade de alimentos com altas dosagens de agrotxicos que

    chegam ate a nossa mesa. Alimentos deficientes em nutrientes e contaminados com produtos

    qumicos. No se esquecendo da poluio que tambm alcana os rios, mananciais e at as

    guas do subsolo ou lenol fretico esto sendo contaminados pelos resduos destes adubos

    industrializados.

    O uso de agrotxicos em geral inseticidas, fungicidas, herbicidas, bactericidas cada vez maior e mais desenfreado. Indiscriminadamente, os agricultores aplicam venenos em dosagens

    acima das recomendadas, usam venenos incorretos e outras

    barbaridades que se v por ai. Graziano Neto (1985, p.104/105)

  • 34

    Ao lanar sobre a lavoura, inseticidas, fungicidas, bactericidas e herbicidas o

    agricultor tem a eliminao de parte das pragas. Porm, a utilizao destes agrotxicos ir

    causar um desequilbrio do ecossistema, o que propiciar a dependncia do seu uso e o

    aumento gradativo das pragas que voltaro cada vez mais resistentes. O grande incentivo para

    utilizao dos agrotxicos vem por parte de multinacionais que visam somente o capital no

    se preocupando com a sade da populao.

    Graziano Neto, enquanto agrnomo, sugere alternativas que ao serem introduzidas na

    lavoura contribui para o controle ou diminuio das pragas:

    Diversificao, associao e rotao de culturas; manejo correto do solo; desenvolvimento de variedades mais rsticas so alguns dos

    caminhos a serem seguidos no sentido de evitar o surgimento de

    problemas. E se as pragas e doenas aparecerem, mtodos adequados,

    de mnimo impacto ecolgico, devem ser utilizados. Como

    substncias atraentes e repelentes; hormnios e ferormnios; produtos

    biolgicos; agrotxicos seletivos, biodegradveis e pouco txicos;

    disseminao de inimigos naturais, entre outros. (1985, p.106/107)

    O uso de agrotxicos compromete a sade de quem faz a pulverizao da lavoura e de

    quem se alimenta de alimentos que foram contaminados, assim como, os adubos sintticos

    que tambm so viles na agricultura, causando o desequilbrio metablico das plantas e dos

    animais que se alimentam em pastagens adubadas. Estes adubos contribuem para o aumento

    de nitrato, potssio e outros elementos presentes nos adubos orgnicos, entretanto o seu

    aumento causa nos animais e na sociedade doenas degenerativas. Como o caso das

    miopatias metablicas que so doenas musculares que se manifestam no animal aps o seu

    abatimento, o que modifica a consideravelmente o estado da carne animal, principalmente a

    carne de sunos.

    Outra conseqncia na produo moderna advinda dos animais, aves, sunos e

    bovinos. As aves ficam presas nos galinheiros com rao balanceada a todo instante, o que

    acelera o tempo do seu desenvolvimento, permitindo a diminuio no desenvolvimento das

    aves, que em perodos normais chega a 180 dias sem a interveno da moderna agricultura, e

    agora foi diminuda para 60 dias. A produo dos ovos tambm foi influenciada, ao deixarem

    as luzes acesas durante a noite, o produtor confunde a galinha, que prossegue produzindo dia

    e noite. O que a moderna agricultura no tem levado em conta a qualidade final desses

    produtos, aves e ovos, que esto sendo comprometidos e ainda mais propensos a doenas

    devido a fragilidades das aves.

  • 35

    Por fim, a morte da natureza que vem ocorrendo devido a grande poluio que cerca o

    campo. As guas dos rios e dos lenis freticos poludas por resduos de adubos e

    agrotxicos, afetando tambm os peixes e toda a vida marinha. As rvores perderam seu

    espao para as monoculturas e queimadas, e a sua falta reflete nos pssaros que no tem onde

    pousar e nos demais animais que no tem onde se esconder do sol.

    A modernizao da agricultura tem mascarando o seu real efeito sob a sociedade. De

    forma geral tem gerado nas pessoas uma ideologia moderna, conforme Graziano Neto

    (1985) afirma, onde todos querem ser inseridos dentro da modernidade, querem ser aceitos

    pelos produtos modernos que tm, desvalorizando o tradicional. E dessa forma a sociedade

    alimenta a mquina chamada capitalismo que esta entrelaada ao modernismo ftil que tem

    contribudo cada vez mais para o extermnio de fontes naturais em um caminho sem volta.

    Existe uma briga entre o homem e a natureza que intil. Hoje o homem insere mquinas,

    equipamentos tecnolgicos todo tipo de mecanizao na terra, mas chegar uma poca em que

    a natureza no mais suportar tantas agresses ao seu meio ambiente.

    Segundo Graziano Neto (1985), a luta do homem com a natureza irracional, pois a

    medida que o capitalismo se desenvolve, avana contra o meio ambiente, causando a este

    srias agresses. A natureza j tem respondido as agresses recebidas pelo homem, poluio

    do ar nos grandes centros urbanos, alimentos contaminados, alteraes climticas, solos

    destrudos e uma infinidade de doenas.

  • 36

    CAPTULO 3 - O PROCESSO DE MODERNIZAO NOS

    ASSENTAMENTOS ROBERTO MARTINS DE MELO E SO

    SALVADOR.

    Neste captulo propomos identificar se a modernizao da agricultura chegou aos

    assentamentos, em especfico em Minau-Go, e quais foram os elementos da modernizao

    presentes nos assentamentos pesquisados. Os passos metodolgicos para elaborao do estudo

    dos assentamentos foi a seleo de dois assentamentos, pesquisa em campo em cada um deles,

    entrevistas estruturas com os assentados num total de 10 famlias em cada assentamento,

    execuo de anlise das informaes coletadas e elaborao de mapas, grficos e tabelas para

    exposio dos dados e informaes. Identificamos alguns dos principais problemas por eles

    vivenciados.

    3.1 Modernizao: Expulso do Campons.

    Com o desenvolvimento da agricultura industrial os pequenos produtores no

    conseguiram inserir-se nesse processo, o que impulsionou a sua expulso para as cidades.

    Com isso, migravam para as reas perifricas, onde passaram por um processo de

    marginalizao, causando assim um crescimento acelerado e desordenado das cidades, tendo

    que submeter-se a trabalhos desumanos para conseguir dinheiro e assim alimentar a famlia.

    Por no conseguirem inserirem-se na modernizao da agricultura muitos dos pequenos

    produtores vendiam suas propriedades para os grandes fazendeiros, deixando para trs seu

    bem conseguido de forma hereditrio, onde h geralmente valor sentimental.

    Assim como contribuem os autores Brum (1988) e Graziano Neto (1985), a

    modernizao da agricultura para ser compreendida deve ser analisava sob dois aspectos, o

    conjunto de equipamentos que a compem, ou seja, toda a tecnologia que se aplica no campo

    com a finalidade de aumentar a produo e por outro lado temos a mudana da relao social,

    que antes era marcada pela troca de alimentos entre produtores, ou a utilizao do meeiro.

    Com essa modernizao a mo-de-obra passa a ser preponderantemente assalariada. Segundo

    entrevistados nos assentamentos Roberto Martins de Melo e So Salvador, a modernizao da

    agricultura teve pontos positivos e negativos, conforme o assentado 1:

  • 37

    A modernizao boa. Fica mais fcil para trabalhar, mas em relao ao veneno muito ruim por causa da doenas. ( Senhor Joo, Assentamento Roberto Martins de Melo. Entrevista 29/11/2013).

    Segundo o senhor Joo do assentamento Roberto Martins de Melo a modernizao ao

    mesmo tempo em que contribui na produo facilitando a processo de manejo no campo, tem

    um vis que prejudica a sade das pessoas. Enquanto que o senhor Pedro faz seguinte

    afirmao:

    ruim. Difcil para arrumar um trator, a semente cara e o remdio tambm. (Senhor

    Pedro, Assentamento So Salvador. Entrevista 29/11/2013)

    Para ele, a dificuldade maior advinda da falta de mecanizao, em se conseguir

    mquinas para agilizar o processo e tambm quanto ao preo, pois com a modernizao tudo

    ficou mais caro sementes, remdios e adubos. Graziano Neto (1985) aborda esses pontos da

    modernizao mencionados pelos assentados:

    Os problemas que surgem com os processos modernos de agricultura

    refletem-se nos custos da produo e, paradoxalmente, a busca de

    maiores condies de lucratividade tem comprometido esta prpria

    lucratividade. A manuteno da estabilidade dos sistemas cada vez

    mais artificiais de produo na agricultura exige maiores gastos, por

    um lado, e se d as custas de enormes problemas ecolgicos, por

    outro. (1985, pg.86)

    Dessa forma, o autor afirma que a modernizao provoca um aumento na produo e

    que ser sustentado pelo aumento do custo na produo e manuteno da modernizao,

    resultando em gastos que consequentemente diminuem os lucros. De forma geral, os dois

    assentamentos vem na modernizao um escape para a dificuldade de se produzir no campo,

    mesmo com pouco acesso a ela, os camponeses acreditam que a modernizao diminui e

    muito o esforo utilizado no servio manual. Assim, de acordo com o grfico 01 vemos a

    classificao da modernizao em suas concepes.

  • 38

    Grfico 01: O que acham da modernizao (Assentamento Roberto Martins de Melo).

    Fonte: Pesquisa de campo - 2013. Elaborao: TEIXEIRA, Tnia Alves.

    Grfico 02: O que acham da modernizao (So Salvador).

    Fonte: Pesquisa de campo - 2013. Elaborao: TEIXEIRA, Tnia Alves.

    Embora a maioria dos entrevistados concorde que a modernizao muito boa para a

    produo no campo, os mesmos foram unnimes quanto a questo dos impactos vindos com a

    agricultura moderna. Como afirma Graziano Neto (1985) sobre a ideologia modernizadora,

    que menosprezar aquilo que no moderno, sendo um fato que se criou em nosso pas. Esse

    80%

    20%0%

    Boa Regular Ruim

    70%

    10%

    20%

    Boa Regular Ruim

  • 39

    fato evidenciado pela mdia, onde tudo o que novo, moderno, ou possui tecnologias

    avanadas excelente, enquanto aquilo em que no h tanta tecnologia, mesmo que tenha a

    mesma funo, taxado de obsoleto. Dessa forma, o que Graziano Neto diz que a idia do

    que moderno sempre melhor, inclusive dentro do campo.

    O fato que na pesquisa a campo foi percebido essa idia de que a modernizao

    resolveria os problemas na produo, ao mesmo tempo o campons v-se diante de problemas

    causados atravs da modernizao, fato que no os inibi que desejar inserir-se na

    modernizao. De forma contraditria, eles acreditam que ela traz malefcios, como o

    desmatamento, aumento de pragas e uso de agrotxicos, porm, no deixam de comet-los.

    Conforme o senhor Francisco, campons do assentamento So Salvador:

    No acho bom. Faz mal pra sade. Mas uso porque no tem como plantar sem veneno. (Senhor Francisco, Assentamento So Salvador. Entrevista 29/11/2013).

    Os sujeitos da pesquisa so pequenos proprietrios de terras, que foram

    marginalizados, e atualmente tiveram acesso a terra a partir da luta pela terra, que tem o

    objetivo de permitir que o campons tenha o direito a terra. No municpio de Minau h sete

    assentamentos, conforme demonstra a figura 02, situados no noroeste do municpio, a

    aproximadamente 56 km da sede municipal. Localizados as margens dos rios Dois de Junho e

    Mucambo, sendo que foram escolhidos dois para anlise da pesquisa em questo.

    Figura 02: Assentamentos em Minau-GO segundo a Superintendncia Regional do INCRA.

    Fonte: Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria/ Superintendncia Regional do INCRA/diviso

    tcnica SR 04, 2013. Organizadora: TEIXEIRA, Tnia Alves. 2013

  • 40

    Antes de serem assentados em suas parcelas, os camponeses do assentamento Roberto

    Martins de Melo viveram por um perodo no acampamento, denominado por eles de Corredor,

    liderados pelos movimentos sociais sem-terra e pela Federao dos Trabalhadores na

    Agricultura do Estado de Gois (FETAEG), onde no exerciam atividades agrcolas e sim,

    trabalhavam por conta prpria para empresas locais ou em outras cidades. Entre as famlias

    entrevistadas, foi observada a faixa etria entre eles, onde no Assentamento Roberto Martins

    de Melo a faixa etria varia entre 28 e 62 anos, enquanto que no Assentamento So Salvador a

    variao foi entre 44 e 71 anos. Analisamos tambm a escolaridade dos assentados conforme

    os Grficos 03 e 04.

    A partir do grfico percebe-se que esses camponeses retornam a terra, principalmente,

    pelo desejo de continuar sendo camponeses, de negar a proletarizao, por isso que

    enfrentaram o latifndio. Ele expulso pelo capital e enfrenta esse mesmo capital para

    retornar a terra. Outra dificuldade que enfrentam a negao do direito educao. A falta de

    escolaridade contribui para a excluso no processo da modernizao, pois ao adquirir pacotes

    tecnolgicos os camponeses no alfabetizados tero dificuldades na compreenso das

    30%

    10%50%

    10%

    Ensino Mdio Completo

    Ensino Fundamental Completo

    Ensino Fundamental Incompleto

    No Alfabetizado

    75%

    25%

    Ensino Fundamental IncompletoNo Alfabetizado

    Grfico 03: Nvel de Escolaridade dos

    assentados do Assentamento Roberto Martins

    de Melo.

    Grfico 04: Nvel de Escolaridade dos

    assentados do Assentamento So Salvador.

    Fonte: Pesquisa Campo - 2013.

    Elaborao: TEIXEIRA, Tnia Alves. Fonte: Pesquisa Campo - 2013.

    Elaborao: TEIXEIRA, Tnia Alves.

  • 41

    advertncias para o uso dos agrotxicos e cuidados na sua aplicao. As constantes

    propagandas das multinacionais responsveis pelo agrotxico conseguem manipular os

    camponeses pelo fato tambm da baixa escolaridade.

    A maioria dos camponeses do Assentamento So Salvador vieram do Vale do So

    Patrcio, sendo eles de Rubiataba, Itapuranga, Jaragu e Itapaci e entre outros municpios

    como: Aurora do Norte-TO, Porangatu e Salvador-BA. J os camponeses do assentamento

    Roberto Martins de Melo vieram de Rubiataba, Cavalcante, Ceres, Palmeiropolis-TO, Uruau,

    Uberlandia-MG e Minau, conforme grficos 05 e 06. Essas famlias assentadas nos dois

    assentamentos tiveram que migrar de suas terras de origem onde eram meeiros, agregados e

    arrendatrios com a modernizao dos meios de produo, fato que propiciou a expulso dos

    camponeses de suas regies levando-os a ocuparem as margens das cidades. Inicialmente,

    houve a expropriao desses camponeses para as reas perifricas, onde passaram por um

    processo de marginalizao, causando assim um crescimento acelerado e desordenado das

    cidades, tendo que submeter-se a trabalhos desumanos para conseguir dinheiro e assim

    alimentar a famlia. A modernizao a partir da expropriao demonstra um vis brbaro no

    permitindo que o campons continue no campo mesmo em condies precrias.

    1 1

    3

    1 1 1

    2

    0

    0,5

    1

    1,5

    2

    2,5

    3

    3,5

    Grfico 05: Municpios de residncia antes do

    Assentamento Roberto Martins de Melo.

    1

    2

    3

    1 1 1 1

    0

    0,5

    1

    1,5

    2

    2,5

    3

    3,5

    Grfico 06: Municpios de residncia antes

    do Assentamento So Salvador.

    Fonte: Pesquisa Campo - 2013.

    Elaborao: TEIXEIRA, Tnia Alves.

    Fonte: Pesquisa Campo - 2013.

    Elaborao: TEIXEIRA, Tnia Alves.

  • 42

    No Assentamento Roberto Martins de Melo no h escolas, motivo pelo qual as

    crianas vo para o Assentamento So Salvador e os adolescentes para o Distrito de Cana

    Brava, que so as escolas mais prximas. Apesar de serem escolas voltadas para um pblico

    vindo do campo, a escola do Assentamento So Salvador no possui disciplinas exclusivas

    para a realidade do campo. Como por exemplo, tcnicas de adubao, manuseio de sementes

    ou ainda formas de ordenha, o contato que o aluno possui em sua vida escolar relacionada ao

    campo superficial ou em muitos casos nem ocorre, se tratando de famlias que dependem da

    terra para sua sobrevivncia contraditrio no haver programas voltados para esta rea to

    essencial na vida do assentado permitindo a reproduo da dominao da cidade no campo.

    3.2 A Influncia da Modernizao nos Assentamentos Roberto Martins de

    Melo e So Salvador na Produo.

    Pra mim, essa modernizao a implantao de mquinas agrcolas e trabalhar com a tecnologia. (Sr. Sebastio do assentamento Roberto Martins de Melo. Entrevista obtida em 29/11/2013)

    Para a maioria dos assentados a modernizao da agricultura ter plantadeira de trator,

    grade de arao, acompanhamento tcnico, mquinas agrcolas, sementes e plantar utilizando

    tecnologia. Graziano Neto (1985) acrescenta ao conceito de modernizao da agricultura

    como sendo alm dos meios de produo, a forma como se organiza a produo, ou seja, as

    relaes sociais tambm so modificadas com esse processo.

    A agricultura passa por um processo de mudana, ainda mais depois da insero da

    mecanizao no campo que a modificou consideravelmente. Mas e a agricultura praticada nos

    assentamentos, esta continuou ao modelo executado a 60 anos atrs? Se no campo brasileiro

    as mudanas foram radicais, nos assentamentos essa realidade mudou pouco. Fato observado

    no momento da visita a campo, onde se percebeu que a intensa modernizao estava dividida

    por uma cerca, onde de um lado tem-se a parcela do assentamento com produo manual e

    muita dificuldade para desenvolv-la, e de outro lado o acesso ao pacote da modernizao

    para se plantar grandes reas de soja, conforme figuras 03 e 04.

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    FIGURA 03 - Roa de toco para milho e gueroba no Assentamento So Salvador.

    Autora: TEIXEIRA, Tnia Alves. Nov. 2013.

    O contraste da produo camponesa e a produo monocultora bastante desigual.

    Enquanto no assentamento predomina o modelo de agricultura tradicional exercida atravs do

    trabalho manual com utilizao de instrumentos tcnicos simples ou com ajuda dos animais,

    na grande propriedade o servio feito utilizando maquinas agrcolas de ultima gerao. A

    plantao que se v na figura 4 pertence a fazenda Colorado que faz divisa de cerca com o

    Assentamento Roberto Martins de Melo, assim percebe-se que a modernizao chega perto

    desses grupos sociais, mas no os atinge e quando atinge esses camponeses no tem acesso a

    todo pacote tecnolgico oferecido pela agricultura moderna

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    FIGURA 04 - Plantao de soja na Fazenda Colorado.

    Autora: TEIXEIRA, Tnia Alves. Nov. 2013.

    A partir disso, retomamos a afirmao de Santos, onde denomina o espao como

    desigual , sendo tambm combinado e contraditrio. A modernizao da agricultura reproduz

    no campo um espao desigual, combinado e contraditrio. Desigual porque no atinge a todos

    os sujeitos sociais, combinado porque serve aos interesses dos empresrios rurais brasileiros e

    ao mesmo tempo ao capital financeiro internacional, enquanto que os assentados

    transformam-se em viv