a filosofia como serva da ciÊncia

8
A FILOSOFIA COMO SERVA DA CIÊNCIA: A TRADIÇÃO POSITIVISTA E O NEOPOSITIVISMO 1. A tradição positivista: Auguste Comte deu origem ao positivismo no século XIX. Para Comte, o Positivismo é uma doutrina filosófica, sociológica e política. O Positivismo se torna um método e uma doutrina: método enquanto sugere que as avaliações científicas devem estar rigorosamente embasadas em experiências e doutrina enquanto preconizava que todos os fatos da sociedade deveriam seguir uma natureza precisa e científica. O positivismo dessa maneira era, portanto, uma filosofia determinista que professava, de um lado, o experimentalismo sistemático e, de outro, considera anticientífico todo o estudo das causas finais. Assim admitia que o espírito humano seria capaz de atingir as verdades do mundo físico através de métodos experimentais, mas não atingir dessa forma a verdade de questões metafísicas. Por isso podemos afirmar que o Positivismo era e é um dogmatismo físico e um ceticismo metafísico. O método geral do positivismo de Auguste Comte consiste na observação dos fenômenos, opondo-se ao racionalismo e ao idealismo, por meio da promoção do primado da experiência sensível, única capaz de produzir a partir dos dados concretos (positivos) a verdadeira ciência (na concepção positivista), sem qualquer atributo teológico ou metafísico, subordinando a imaginação à observação, tomando como base apenas o mundo físico ou material. O Positivismo nega à ciência qualquer possibilidade de investigar a causa dos fenômenos naturais e sociais, considerando este tipo de pesquisa inútil e inacessível, voltando-se para a descoberta e o estudo das leis (relações constantes entre os fenômenos observáveis). O método positivista é o método geral do raciocínio proveniente de todos os métodos particulares (dedução, indução, observação, experiência, nomenclatura, comparação, analogia, filiação histórica, descrição físico-matemática). No que diz respeito ao 1

Upload: forogodo

Post on 26-Oct-2015

93 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: A FILOSOFIA COMO SERVA DA CIÊNCIA

A FILOSOFIA COMO SERVA DA CIÊNCIA: A TRADIÇÃO POSITIVISTA E O NEOPOSITIVISMO

1. A tradição positivista:

Auguste Comte deu origem ao positivismo no século XIX. Para Comte, o Positivismo é uma doutrina filosófica, sociológica e política. O Positivismo se torna um método e uma doutrina: método enquanto sugere que as avaliações científicas devem estar rigorosamente embasadas em experiências e doutrina enquanto preconizava que todos os fatos da sociedade deveriam seguir uma natureza precisa e científica.

O positivismo dessa maneira era, portanto, uma filosofia determinista que professava, de um lado, o experimentalismo sistemático e, de outro, considera anticientífico todo o estudo das causas finais. Assim admitia que o espírito humano seria capaz de atingir as verdades do mundo físico através de métodos experimentais, mas não atingir dessa forma a verdade de questões metafísicas. Por isso podemos afirmar que o Positivismo era e é um dogmatismo físico e um ceticismo metafísico. O método geral do positivismo de Auguste Comte consiste na observação dos fenômenos, opondo-se ao racionalismo e ao idealismo, por meio da promoção do primado da experiência sensível, única capaz de produzir a partir dos dados concretos (positivos) a verdadeira ciência (na concepção positivista), sem qualquer atributo teológico ou metafísico, subordinando a imaginação à observação, tomando como base apenas o mundo físico ou material. O Positivismo nega à ciência qualquer possibilidade de investigar a causa dos fenômenos naturais e sociais, considerando este tipo de pesquisa inútil e inacessível, voltando-se para a descoberta e o estudo das leis (relações constantes entre os fenômenos observáveis). O método positivista é o método geral do raciocínio proveniente de todos os métodos particulares (dedução, indução, observação, experiência, nomenclatura, comparação, analogia, filiação histórica, descrição físico-matemática). No que diz respeito ao desenvolvimento do espírito humano, Comte admitia uma lei fundamental que recebeu o nome de Lei dos três estados: o primeiro estado seria o estado teológico-fictício em que o espírito humano explica os fenômenos por meio das vontades divinas ou agentes sobrenaturais; o estado metafísico-abstrato, onde os fenômenos são explicados por meio de forças ou entidades ocultas e abstratas, como o princípio vital; e o terceiro estado, o estado positivo-científico, no qual se explicam os fenômenos de forma científica, utilizando-se a experiência sensível. O Estado Positivo seria então um último estágio de evolução da sociedade.Comte também divide as ciências em grupos de acordo com sua importância científica e seu grau de desenvolvimento. Comte também nega as causas eficientes e finais, o infinito e o absoluto, para reconhecer apenas o relativo, o sensível, o fenomenal e o útil.

No auge de iluminismo, o criticismo de Kant formula, com maior precisão epistemológico, a natureza e a especificidade do conhecimento cientifico, validando-o no plano do direito, não mais apenas de fato. As ciências naturais se impuseram não apenas como uma nova imagem do mundo mas também como base da técnica manipuladora desse mesmo mundo, conforme o comprovam o desenvolvimento da tecnologia, a revolução industrial, a ascensão da burguesia e o surgimento do capitalismo. Por elas, o homem se conhecer melhor e puder controlar a própria existência individual e coletiva. Então chegada a hora de se criar a física social: e no

1

Page 2: A FILOSOFIA COMO SERVA DA CIÊNCIA

que se empenha Comte, buscando aplicar as exigências a ciência experimental no âmbito da realidade e da conduta humana, abrindo o espaço das ciências humanas, tarefa que foi concluída, com maestria, por Durkheim. Criticismo representa em filosofia a posição metodológica própria do kantismo. Caracteriza-se por considerar que a análise crítica da possibilidade, da origem, do valor, das leis e dos limites do conhecimento racional constituem-se no ponto de partida da reflexão filosófica. Doutrina filosófica que tem como objeto o processo pelo qual se estrutura o conhecimento. Estabelecida pelo filósofo alemão Immanuel Kant, a partir das críticas ao empirismo e ao racionalismo. As influências do Renascimento levaram, a partir do século XVII, ao questionamento da possibilidade do conhecimento, dando, nas respostas ensaiadas, origem às teorias empiristas e racionalistas. Kant supera essa dicotomia, concluindo que o conhecimento só é possível pela conjunção das suas fontes: a sensibilidade e o entendimento.A sensibilidade dá a matéria e o entendimento as formas do conhecimento. O criticismo kantiano tinha como objetivo principal a critica das faculdades cognitivas do homem, no sentido de conhecermos os seus limites. Em consequência dessa «crítica», foi levado à negação da possibilidade de a razão humana conhecer a essência das coisas. Assim, em sentido geral, merece a denominação de criticismo a postura que preconiza a investigação dos fundamentos do conhecimento como condição para toda e qualquer reflexão filosófica. Segundo esta posição, a pergunta pelo conhecer deve ter primazia sobre a pergunta acerca do ser, uma vez que, sem aquela, não se pode garantir com segurança sobre que base a questão do ser está a ser afirmada. Levado às suas últimas consequências, o criticismo pode ser encarado como uma atitude que nega a verdade de todo conhecimento que não tenha sido, previamente, submetido a uma crítica de seus fundamentos. Neste sentido, o criticismo aproxima-se do cepticismo, por pretender averiguar o substrato racional de todos os pressupostos da ação e do pensamento humanos. Devemos referir que tal como o dogmatismo o criticismo acredita na razão humana e confia nela. Mas ao contrario do dogmatismo, o criticismo "pede contas à razão".

Em sentido restrito, o criticismo é empregue para denominar uma parte da filosofia kantiana (aquela que diz respeito à questão do conhecimento). Esta propõe-se investigar as categorias ou formas "a priori" do entendimento. A sua meta consiste em determinar o que o entendimento e a razão podem conhecer, encontrando-se livres de toda experiência, bem como os limites impostos a este conhecimento pela necessidade de fazer apelo à experiência sensível para conhecermos. Este projecto pretende fundamentar um pensamento metafísico de carácter cético. Entre o cepticismo e o dogmatismo, o criticismo kantiano instaura-se como a única possibilidade de repensar as questões próprias à metafísica.

2. A lógica e a linguagem como o unico campo do filosofar: o neopositivismo

Por neopositivismo sera entendido, neste trabalho, todo um vasto movimento filosófico, cujas perspectivas epistemologicas basicas se situam em continuidade com a tradição positivista, constituida, no Ocidente europeu, no decorrer do periodo moderno. Continuidade ao mesmo tempo que ruptura identificam este movimento em relação à tradição positivista, uma vez que, embora pretende superar o positivismo, tem com ele uma íntima vinculação, fundada na sólida crença de que a única espistéme verdadeira é aquela posta em prática pela ciência.

2

Page 3: A FILOSOFIA COMO SERVA DA CIÊNCIA

O neopositivismo, positivismo lógico ou ainda empirismo lógico é a corrente filosófica contemporânea que toma forma especifica a partir dos trabalhos desenvolvidos pelo Círculo de Viena, desde 1922, de onde se expandiu para a Alemanha, Polônia, Checoslováquia, Escandinávia, Inglaterra e Estados Unidos.

Tal posição de avenarius é a denominada de empiriocriticismo: crítica radical da experência da qual se eliminam todos os pressupostos metafísicos, operando uma desproblematização do mundo, que é reduzido por ele a uma atuação dos excitantes naturais no sujeito de acordo com certos axiomas: axiomas dos conteúdos do conhecimento: cada sujeito acolhe o que dá o ambiente em que vive; axiomas das formas do conhecimento: todas as formas científicas do conhecimento são consequencias ou derivações de uma forma pré-científica do conhecer, ou melhor, do “acolher”.

O neopositivismo situa-se assim na linha do empirismo, do racional-cientificismo e do formalismo. De acordo com seus pressupostos, assume que o conhecimento só pode contruir-se de enunciados empiricamente verificáveis, que são os únicos válidos. As proposições de conteúdo existencial se referem exclusivamente à experiencia e esta referência empirica pode mostrar-se de maneira concludente mediante a análise lógica. Trata-se pois, de uma união entre a lógica e o mais radical empirismo.

Os enunciados matemáticos são validos, mas sem conteúdo significativo, não passando de meras tautologias, não se referem à realidade. Esta é um conjunto de fatos atomizados e é como tal que se apresenta aos homens, mediante protocolos de experiência. Os dados da experiência chegam à ciência já devidamente protocolados, sob forma de proposições.

O objetivos da epistemologia neopositivista é chegar um sistema de conhecimentos científicos sem qualquer traço metafísico, criando-se uma linguagem científica rigorosa que, eliminando todos os pseudoproblemas, seja fecundada na apresentação de prognósticos e na formulação das condições de seu controle pro meio de dados de observação.

Pode-se dizer então que o neopositivismo se apresenta seja lógica, seja como filosofia da ciência, epistemologia, seja ainda como filosofia da linguagem.

3. A gênese do espírito cientifico e a atitude positivista na cultura brasileira

O sentido da história da filosofia no Brasil está intimamente vinculado as configurações da sua moldura cultural, desenhada, por uma vez, pela confluência de variados fatores de ordem econômica, política e social quue dão conta da sua experiência histórica nesse 5 séculos de sua integração ao universo ocidental.Os trabalhos de Bacon, Descartes, Gassendi, Leibniz, Spinoza, Malembranche, Berkeley, Locke, Hume, Condillac, Wolf e Kant foram, em sua época, como inexistentes para nós (Azzi, 1995, p. 77). Só pelos nomes referidos por Sílvio Romero já dá para se perceber que estava se reportando à filosofia moderna, sob sua perspectiva iluminista, intimamente vinculada à nova postura epistemológica própria do conhecimento científico.

3

Page 4: A FILOSOFIA COMO SERVA DA CIÊNCIA

Riolanda Azzi, em seu trabalho já citado (1985, p. 77-104), falando sobre a influência do iluminismo e o despertar do interesse científico no Brasil, revela, com precisão histórica, como essa demora se deveu fundamentalmente à política cultural da metrópole lusitana com relação a sua colônia. Por conseguinte o tradicional caráter metafísico do ensino da Filosofia, voltada para questões predominantemente metafísicas e ético-religiosas, foi sendo substituído pelo estudo da natureza. A filosofia natural passava a ter um caráter hegemônico nos cursos universitários.

A pesquisa de Riolanda Azii mostra que, na realidade, a política de Portugal nada mais fazia que reproduzir na colônia o que também acontecia na metrópole.Ao mesmo tempo, opunha-se às novas concepções do mundo e da natureza provenientes das conquistas científicas, iniciadas com Galileu e Copérnico e consolidadas com a elaboração da física de Newton.

De qualquer modo, é importante notar que esta influência faz emergir “claramente” a preocupação em substituir o conceito de filosofia e cultura baseado numa ordem estabelecida pela dinvidade, pela descoberta do mundo e da natureza com leis e características próprias. Desse modo, por vezes no Brasil, iluminismo cultura e liberalismo político caminha de mãos dadas, como se viu na Conjuração Mineira e na Revolução Pernambucana.

Assim, no atual contexto da cultura brasileira, há uma livre e pluriforme expressão de correntes e de tendências filosóficas, nenhuma se impondo dogmaticamente, chancelada por determinação política ou religiosa.

4. A inspiração neopositivista na filosofia brasileira

No contexto da filosifia brasileira, o neopositivismo emerge igualmente como um esforço de superação do positivismo, sob sua versão comteana, ao mesmo tempo em que busca mante a validade das premissas epistemológicas que fundaram a tradição positivista.

Uma primeira vertente, de caráter mais logicista, é aquela que tem se dedicado à discussão dos fundamentos lógico-formais do conhecimento científico, em geral, e sobretudo da matemática,em particular. Para tanto investem seus integrantes, seja no esforço de explicitação e de definição de linguagens rigorosas no âmbito da matemática, seja no esforço de constituição de novas lógicas. Destaque-se que esta vertente integra muitos especialistas em matemática, com preocupações relacionadas com os fundamentos lógicos de sua disciplina. Estes pensadores discutem as relações entre matemática, lógica e linguagem.

Uma segunda vertente busca dar conta da construção de uma linguagem precisa e rigorosa não só no âmbito das ciências mas também no conjunto de todas as formas de discurso, inclusive no caso da linguagem comum. Esta é a vertente mais especificamente conhecida como “filosofia analítica”.

A terceira vertente, de natureza mais epistemológica, preocupa-se em discutir a própria especificidade do conhecimento posto em prática pelas ciências, não apenas nosaspectos formais mas também nas suas condições objetivas enquanto processo efetivo e metodologias especiais.

4

Page 5: A FILOSOFIA COMO SERVA DA CIÊNCIA

5. Leônidas Hegenberg: um neopositivista militante

5.1 O pensamento consistente

Tem iniciado várias gerações de estudantes mediante sua obra escrita, seus cursos e palestras, ao modo neopositivista de pensar. Sua obra teórica e seu trabalho docente, além desses três momentos, comportam ainda exposições do pensamento de grandes representantes da epistemologia neopositivista (Schlick, Popper, Carnap, etc.), da qual tem sido um dos grandes divulgadores entre nós. Neste momento sentido, desenvolveu intensa atividade de tradução de textos de filosofia da ciência, de modo especial de autores vinculados a essa escola.

O conhecimento científico é a mais bem sucedida forma de saber, histórica e culturalmente consolidada, pela qual os homens dão conta de sua inserção no seu contorno natural e social. Eis pois, um modo de conceber o que seja pensar: um método que o homem usa para tornar efetivo o seu ajuste intelectual com o contorno.

Um dos objetivos da reflexão de Leônidas Hegenberg é o de explicar a natureza do procedimento científico, o que busca fazer contejando-o c senso comum e descrevendo os diversos tipos de suas explicações, suas estruturas bem como discutindo alguns de seus elementos particulares na pesquisa, posta em ação nas várias ciências.

A lógica busca formular critérios que permitem uma nálise da legitimidade dos argumentos, distinguindo então argumentos legítimos.

5