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A Evolução da Gestão das Áreas Protegidas em Meio Urbano em Pequenos e Médios Municípios Sandra Irene Momm Schult (UFABC) Arquiteta e Urbanista - Doutora em Ciência Ambiental - USP [email protected] Edna Dalmolim da Silva Custodio (FURB) Graduanda em Arquitetura e Urbanismo - FURB [email protected] Resumo A gestão dos recursos naturais e dos espaços territoriais protegidos na totalidade do território brasileiro é um dos grandes desafios para o alcance de uma condição de sustentabilidade. A estrutura da gestão ambiental brasileira, criada a partir da década de 80, com a PNMA Política Nacional de Meio Ambiente, e os marcos regulatórios consequentes e relacionados tais como a PNRH Política Nacional de Recursos Hídricos e o EC - Estatuto da Cidade, constituíram um arcabouço jurídico institucional pautado na descentralização, na participação e na instrumentalização dos poderes para atuar em material ambiental. Dentre os instrumentos da PNMA está a criação de espaços territorialmente protegidos, que encontra replicabilidade e consonância nas políticas florestais (Código Florestal, Sistema Nacional de Unidades de Conservação e Lei da Mata Atlântica), na PRH (plano de bacia) e no EC (Plano Diretor, zoneamento territorial) entre outras. A utilização desse instrumento tem como objetivo a proteção e o controle da ocupação de áreas frágeis e vulneráveis, tanto do ponto de vista do ecossistema, como da ocupação humana. Apesar dos avanços normativos, observa-se uma dificuldade de pequenos e médios municípios na implementação desses instrumentos. Existe uma crítica crescente de que a gestão ambiental e a territorial estão estruturadas considerando contextos metropolitanizados e municípios de grande porte.

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A Evolução da Gestão das Áreas Protegidas em Meio Urbano em Pequenos e Médios Municípios

Sandra Irene Momm Schult (UFABC)

Arquiteta e Urbanista - Doutora em Ciência Ambiental - USP [email protected]

Edna Dalmolim da Silva Custodio (FURB)

Graduanda em Arquitetura e Urbanismo - FURB [email protected]

Resumo A gestão dos recursos naturais e dos espaços territoriais protegidos na totalidade do território brasileiro é um dos grandes desafios para o alcance de uma condição de sustentabilidade. A estrutura da gestão ambiental brasileira, criada a partir da década de 80, com a PNMA – Política Nacional de Meio Ambiente, e os marcos regulatórios consequentes e relacionados tais como a PNRH – Política Nacional de Recursos Hídricos e o EC - Estatuto da Cidade, constituíram um arcabouço jurídico institucional pautado na descentralização, na participação e na instrumentalização dos poderes para atuar em material ambiental. Dentre os instrumentos da PNMA está a criação de espaços territorialmente protegidos, que encontra replicabilidade e consonância nas políticas florestais (Código Florestal, Sistema Nacional de Unidades de Conservação e Lei da Mata Atlântica), na PRH (plano de bacia) e no EC (Plano Diretor, zoneamento territorial) entre outras. A utilização desse instrumento tem como objetivo a proteção e o controle da ocupação de áreas frágeis e vulneráveis, tanto do ponto de vista do ecossistema, como da ocupação humana. Apesar dos avanços normativos, observa-se uma dificuldade de pequenos e médios municípios na implementação desses instrumentos. Existe uma crítica crescente de que a gestão ambiental e a territorial estão estruturadas considerando contextos metropolitanizados e municípios de grande porte.

A institucionalização da gestão ambiental e territorial em municípios de pequeno e

médio porte

O Brasil, com uma extensão territorial de 8.514.876,599 km2 possui uma malha municipal com

5.565 municípios, com dimensões territoriais variando de 3 a 150 mil km2, caracterizando uma

situação de grande heterogeneidade sócio-espacial (IBGE, 2010).

Com base no Censo de 2000, dos 5.507 municípios existentes na época, 90,4% tinham até 50 mil

habitantes e neles viviam 37% da população brasileira. Destes, 4.024 municípios brasileiros

possuíam menos de 20 mil habitantes, ou seja, 73,06%. Em situação oposta estavam 66

municípios brasileiros acima de 300 mil habitantes, concentrando 35% da população brasileira.

Dentre estes, 13 municípios com mais de um milhão de habitantes, nos quais viviam 20% da

população brasileira (IBGE, 2003).

Com a Constituição Federal de 1988, o município passou a ter autonomia político-administrativa

assegurada e limitada (art.30) para os assuntos de interesse local. Essa autonomia se expressa

sob três aspectos: o político, seja na composição do governo como na edição das normas locais;

o administrativo, na organização e execução dos serviços públicos locais; e o financeiro, relativo à

regulamentação, arrecadação e aplicação de tributos (IBGE, 2003, p.17).

Quanto à gestão territorial, o município tem por atribuição constitucional a responsabilidade de

exercer o controle sobre o uso e a ocupação do solo e criar condições para o desenvolvimento do

seu território. Para isto, tem como diretriz a Política Urbana e seu principal instrumento, o Plano

Diretor Municipal, definido no artigo 182 da Constituição Federal e regulamentado pelo Estatuto da

Cidade - EC, Lei Federal n° 10.257 de julho de 2001.

Apesar das conquistas obtidas pela regulamentação do EC, há um questionamento caracterizado

por José Eli da Veiga (2003) como: a não definição do que é cidade. No Brasil, toda sede de

município é cidade, sejam quais forem suas características demográficas e funcionais. Converge

nessa discussão o questionamento sobre a dispensa da exigência do Plano Diretor em municípios

com menos de 20 mil habitantes, definida na Constituição Federal de 1988 e referendada pelo EC.

Com a definição fica de fora a ampla maioria dos municípios brasileiros, uma vez que, cerca de

73% deles têm menos de 20 mil habitantes (IBGE, 2003; BRASIL, 2004, p.68).

O EC corrigiu parcialmente essa defasagem. É exigido o Plano Diretor nos municípios,

independentemente do corte populacional, quando estes (art. 41): integrarem regiões

metropolitanas e aglomerações urbanas; forem integrantes de áreas de especial interesse

turístico; estiverem na área de influência de atividades ou empreendimentos de significativo

impacto ambiental de âmbito regional ou nacional. Com base na primeira exigência, relativa às

regiões metropolitanas e às aglomerações urbanas, o número de municípios que possuem a

exigência do Plano Diretor passou para 2.342, restando ainda 3.218 pequenos municípios, ou

58% do total, excluídos desta exigência. Para esses municípios, a obrigatoriedade dependerá de

leis orgânicas estaduais e municipais, ou que os municípios, voluntariamente, desejem

implementar alguns dos instrumentos previstos pelo EC (BRASIL, 2004).

Na publicação do Ministério das Cidades (BRASIL, 2004), um guia para a elaboração pelos

municípios e cidadãos do Plano Diretor Participativo, há o reconhecimento desta defasagem:

A nossa experiência de planejamento urbano, exceto práticas localizadas, está voltada para as grandes cidades e médias cidades. O próprio Estatuto das Cidades traz, em seu conteúdo, essa concepção. Grande parte de seus instrumentos está direcionada aos processos de verticalização, de expansão periférica ou falta expressiva de moradias, característicos dos municípios de médio e grande porte (BRASIL, 2004, p.68).

Apesar dos avanços das políticas territoriais, no âmbito municipal no período pós-Constituição,

fica claro que, para os pequenos municípios, o país não dispõe de uma política específica (VEIGA,

2003; BRASIL, 2004).

Além de uma política territorial específica para os pequenos municípios, é necessário, o que se

pode denominar, capacidade de gestão territorial, ou seja, a capacidade institucional para realizar

as suas atribuições e competências. Maricato (2001), discorrendo sobre os obstáculos do

planejamento urbano brasileiro, descreve as condições para a gestão urbana: criar a consciência

da cidade real e indicadores de qualidade de vida; criar um espaço de debate democrático, dando

visibilidade aos conflitos; fazer uma reforma administrativa; formação de agentes para uma ação

integrada; aperfeiçoamento e democratização da informação; criar um programa especial para

regiões metropolitanas; ter a bacia hidrográfica como referência de planejamento e gestão urbana.

Para o Ministério das Cidades (BRASIL, 2004, p.68)

[...] os municípios de pequeno, e mesmo médio porte, têm dificuldades operacionais para levar adiante uma prática de planejamento e gestão urbana, pela absoluta falta de estrutura administrativa, pessoal qualificado e instrumental apropriado de trabalho. Tais limitações fazem com que a leitura do seu lastro institucional e do nível de mobilização social seja um primeiro passo para identificar a capacidade de gestão – potencial e limites [...].

Em 2003 o IBGE publicou os resultados do Questionário de Gestão (QG) da Pesquisa de

Informações Básicas Municipais – MUNIC 2001. A pesquisa investigou os 5.560 municípios

existentes em 2001. Dentre os temas abordados estão os instrumentos de planejamento municipal

e gestão urbana, e o Plano Diretor foi considerado um importante indicador (IBGE, 2003, p.49).

Segundo o estudo, “apesar da importância” dos planos diretores, em 2001, apenas 17,6% dos

municípios brasileiros possuíam esse instrumento. Levando-se em conta apenas o conjunto dos

municípios com população acima de 20 mil habitantes, o percentual alcança 38,2%, apontando

que a existência deste instrumento de gestão urbana é fortemente condicionada pelo porte

populacional. Na faixa populacional entre 20 mil e 100 mil habitantes, apenas 31% dispõem deste

instrumento. Existe Plano Diretor em 73,3% dos municípios com população entre 100 mil e 500 mil

habitantes e na totalidade (100%) dos 32 municípios com mais de 500 mil habitantes.

Com relação às datas de instituição, o estudo aponta, a partir dos dados coletados, o marco da

Constituição Federal de 1988 como determinante para a existência dos planos diretores nos

municípios brasileiros. Dos municípios que possuem Plano Diretor, 76% foram instituídos no

período pós-Constituição.

Segundo dados divulgados pelo Ministério das Cidades do balanço preliminar da pesquisa Plano

Diretor, após a obrigatoriedade do EC, 1.335 municípios brasileiros tomaram a iniciativa de

elaborar/revisar seus planos diretores. Isto representa 86% dos municípios sujeitos à

obrigatoriedade estabelecida pelo Estatuto da Cidade. A mesma pesquisa revela que a maior

parte dos planos diretores elaborados introduziram novos instrumentos de indução do

desenvolvimento urbano previstos no Estatuto da Cidade, como a transferência do direito de

construir, as operações urbanas consorciadas e a outorga onerosa. Em menor escala, também

foram introduzidos nos planos diretores novos instrumentos de combate à especulação imobiliária,

como o parcelamento e edificação compulsórios e o IPTU – Imposto Predial e Territorial Urbano

progressivo no tempo. As ZEIS – Zonas Especiais de Interesse Social foram introduzidas em 71%

dos planos diretores. Em 58% dos municípios pesquisados houve terceirização, total ou parcial,

da elaboração/revisão dos planos, o que é um indicador tanto da falta de capacitação técnica dos

municípios, que pode colocar em cheque a aplicabilidade dos planos, quanto da disponibilidade de

capacidade técnica em universidades, empresas e entidades (SCHULT; SIEBERT; SOUZA,

2009).

Com base nas pesquisas nos municípios do IBGE (2002, 2009) sobre meio ambiente os

resultados mostram que, em 2002, 34,1% dos municípios brasileiros tinham Conselho Municipal

de Meio Ambiente, enquanto que em 2009, 56,3%. Observa-se um avanço, porém o percentual

final é baixo comparado com os de Assistência Social (99,3%) e Saúde (97,3%). Outro indicador é

a Agenda 21 que, em 2009, 19,9% dos municípios haviam iniciado o processo de elaboração,

percentual menor que o registrado em 2002 (29,7%). A Agenda 21 está presente, sobretudo nos

municípios de maior porte populacional – mais de 500 000 habitantes (60,0%) e de 100 001 a 500

000 habitantes (49,4%). Nos municípios de menor porte populacional, sua presença é pouco

expressiva, por exemplo, dentre aqueles com até 5 000 habitantes apenas 9,1% iniciaram o

processo de Agenda 21 (IBGE, 2009).

2 O instrumento dos espaços territoriais protegidos para a gestão ambiental urbana

A estrutura da gestão ambiental brasileira, criada a partir da década de 80, com a PNMA – Política

Nacional de Meio Ambiente, e os marcos regulatórios consequentes e relacionados tais como a

PNRH – Política Nacional de Recursos Hídricos e o EC - Estatuto da Cidade, constituíram um

arcabouço jurídico institucional pautado na descentralização, na participação e na

instrumentalização dos poderes para atuar em material ambiental. Dentre os instrumentos da

PNMA está a criação de espaços territorialmente protegidos, que encontra replicabilidade e

consonância nas políticas florestais (Código Florestal, Sistema Nacional de Unidades de

Conservação e Lei da Mata Atlântica), na PRH (plano de bacia) e no EC (Plano Diretor,

zoneamento territorial) entre outras. A utilização desse instrumento tem como objetivo a proteção

e controle da ocupação de áreas frágeis e vulneráveis, tanto do ponto de vista do ecossistema

como da ocupação humana.

Dentre os tipos definidos como espaços territoriais protegidos, com maior interface na gestão

territorial municipal, estão as áreas de preservação permanente – APPs. Estas áreas foram

estabelecidas por lei como uma forma de tentar amenizar as ações antrópicas no meio ambiente,

e evitar que ecossistemas sejam radicalmente danificados. As APPs foram criadas pela Lei Nº

4.771, de 15 de setembro de 1965 e definidas na Medida Provisória Lei 2.166-67/01 como sendo:

[...] área protegida [...] coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas.

À medida que muitos recursos naturais estão localizados em APP’s, o simples fato de se respeitar

a legislação já tem um cunho sustentável. Diante das dificuldades em se implementar as APPs em

meio urbano a Resolução CONAMA 369/06 abriu concessões para a utilização desses recursos

desde que observados os preceitos legais da legislação vigente. A resolução é bastante restritiva

e criteriosa, mas dá um espectro amplo de usos, ou seja, de ações que podem ser viáveis em

caso de utilidade pública e ocupação sustentável.

Como parte dos debates em torno da lei, os municípios têm as APP’s como um obstáculo para o

desenvolvimento urbano, e não como recurso com o qual podem tentar promover um ambiente

urbano mais equilibrado na relação com os recursos naturais. Os instrumentos de planejamento

como os Planos Diretores, quando existem, não têm sido capazes de acompanhar e adequar a

gestão ambiental urbana. Em especial, destaca-se a carência técnica nos municípios de pequeno

porte para exercerem o seu papel na gestão do território e de seus recursos associados.

A evolução dos espaços territoriais protegidos na Bacia Hidrográfica do rio Itajaí

(SC)

A Bacia Hidrográfica do rio Itajaí - BHRI está localizada entre as coordenadas 26°27' e 27°53' de

latitude Sul e 48°38' e 50°29' de longitude Oeste no Estado de Santa Catarina, Brasil. A bacia do

rio Itajaí é a maior bacia da vertente atlântica do Estado de Santa Catarina e sua paisagem é

dividida em três compartimentos naturais: o Alto, o Médio e o Baixo Vale do Itajaí. Possui

aproximadamente 15.500 km² (16,15% do território catarinense). Dos 50 municípios localizados na

BHRI e que totalizam, segundo a estimativa do IBGE para 2007, cerca de 1.150.000 habitantes,

40 municípios (78% dos municípios) possuem menos de 20.000 habitantes. Em contrapartida, os

dois centros urbanos, Blumenau e Itajaí, possuem 466.078 habitantes (38% da população). Pela

Figura 1 observa-se que a maior concentração populacional encontra-se na parte mais baixa da

bacia, próximo ao litoral, enquanto os pequenos municípios concentram-se na parte alta da bacia,

na microrregião do Alto Vale, caracterizada por economia de base rural

Figura 1: Municípios e a Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí (SC).

Em pesquisa realizada em 2005 (SCHULT, 2006) identificou-se que em 18 municípios da BHRI

existem Unidades de Conservação - UC, integrantes do SNUC e fora do Sistema (Figura 2).

Percebe-se uma concentração das UCs na bacia do rio Itajaí-Açu, região de maior urbanização e

concentração populacional, local da implantação do Parque Nacional Serra do Itajaí e uma das

maiores áreas com cobertura florestal da bacia. Há uma defasagem de áreas protegidas na região

do Alto Vale, região com menor cobertura florestal e com predominância agrícola. Nessas regiões,

as únicas áreas existentes são Reservas Particulares do Patrimônio Natural – RPPN, ou seja, não

foram criadas pelo poder público.

Figura 2: Municípios com Unidade de Conservação – UC (Fonte: SCHULT, 2006)

Dentre as questões prioritárias no nível municipal está o controle do uso do solo das áreas

especialmente protegidas de margens de cursos de água e das nascentes. Como marco

regulatório têm-se a lei federal do Código Florestal que define e da parâmetros mínimos para as

APPs. Cada município, considerando a lei federal, pode dar a sua definição e regulamentação

para essas áreas, o que é comum. Problemas de ordem jurídica, dada a interpretação de quais

são os parâmetros a serem respeitados na área urbana, tem causado inúmeros impasses na

regulação do uso do solo municipal. Neste sentido, investigou-se na BHRI, a condição de gestão

desses espaços em dois períodos, anterior ao EC, até 2004, e posteriormente, até 20081.

Com base na análise das legislações municipais foi definida uma tipologia para a classificação dos

municípios de acordo com a regulamentação e a descrição dos espaços territoriais protegidos -

Áreas de Preservação Permanente. A tipologia definiu quais municípios possuem condições mais

1 Foram analisados os dados das pesquisas sobre a BHRI realizados com recursos de Iniciação Científica dos programas PIPE e

PIBIC com recursos da FURB e CNPq, e recursos do Projeto Piava (financiamento Petrobrás Ambiental). Desde 2001 até 2004 foram feitas pesquisas sobre a gestão municipal das APP’s nas sub-bacias do Rio Itajaí Mirim, Rio Itajaí do Sul e do Rio Itajaí-Açu, totalizando 27 municípios (SCHULT; STENZINGER, 2003; SCHULT; WESPHAL, 2003; SCHULT; PEREIRA, 2005). No ano de 2005 foi feita uma ampla pesquisa sobre as políticas ambientais urbanas (SCHULT, 2006; SCHULT, et al., 2007). Em 2008 foi iniciada a sistematização e atualização destes dados com base nas pesquisas realizadas em 2008 nas sub-bacias Itajaí do Sul, Itajai do Oeste, Itajai do Norte, Itajai-Açu ou Medio Vale, Rio Benedito, Rio Itajai Mirim, Rio Luiz Alves, totalizando em 48 municipios (SCHULT; GOELZER,2008; SCHULT; KRIEGER, 2008; SCHULT; PASSOS, 2008; SCHULT; SOUZA, 2008).

restritivas e de maior precaução, considerada o tipo 1 e com base nos parâmetros do Código

Florestal, até a pior condição, tipo 6, em que o município não define parâmetros ou não existe

Plano Diretor. Na tabela a seguir os parâmetros da legislação relacionados em tipos.

Tabela 1: Tipologia de parâmetros para definição de espaços territoriais protegidos em margens

de cursos de água e nascentes na BHRI

Na sequência foram elencados os resultados periodizados e espacializados. Na Tabela 2 e Figura

4 estão relacionados e espacializados os municípios por tipos no período até 2004. Na Tabela 3 e

Figura 5 estão relacionados e especializados os municípios por tipos no período entre 2004 até

2008.

Tipo Lei municipal sobre espaços territoriais protegidos de margens de cursos de água e nascentes

1 Segue os parâmetros definidos no Código Florestal na área urbana e rural.

2

2.1 Define faixas de 5 a 20 metros por bacias hidrográficas e 33 a 45 metros para o rio Itajaí-Açu. Em cotas inundáveis proíbe a ocupação e a alteração de terreno (cota 10), e restrições à ocupação (cota 12). Segue os parâmetros definidos no Código Florestal na área rural.

2.2 Define faixas de 5, 7, 10 e 15 metros por bacias hidrográficas. Proíbe a ocupação e a alteração de terreno na cota emergencial de 334,08 metros.

3 Define faixas de 30 a 45 metros - para o Rio Itajaí - e faixas variáveis nos afluentes.

4 Define na área urbana faixas de: 5 metros para rios de até 10 metros; 15 metros para rios de até 50 metros; e 30 a 50 metros para rios acima de 200 metros. Define ao redor de nascentes 50 metros. Segue os parâmetros definidos no Código Florestal na área rural.

5

5.1 Define faixas de 15 metros ao longo do Rio Itajaí e seus afluentes.

5.2 Define faixas de 15 metros ao longo do Rio Itajaí e faixas de 5 metros para afluentes.

6

6.1 Não define espaços territoriais protegidos de margens de cursos de água.

6.2 Não possui Plano Diretor.

Figura 3: Tipologia de parâmetros municipais para definição de espaços territoriais protegidos em

margens de cursos de água e nascentes até 2004.

Tabela 2: Municípios por tipologia de parâmetros municipais para definição de espaços territoriais

protegidos em margens de cursos de água e nascentes até 2004.

Tipo Municípios

1 Nenhum

2 2.1 Blumenau 2.2 Rio do Sul

3 Gaspar / Indaial / Ibirama

4 Nenhum

5 5.1 Navegantes/ Chapadão do Lageado/ Brusque 5.2 Lontras/ Ituporanga

6

Alfredo Wagner Apiuna Ascurra

Atalanta Aurora Botuvera

Guabiruba Imbuia Ilhota

Itajaí Petrolândia Presidente Nereu

Rodeio Vidal Ramos

Figura 4: Tipologia de parâmetros municipais para definição de espaços territoriais protegidos em

margens de cursos de água e nascentes até 2008.

Tabela 3: Municípios por tipologia de parâmetros para definição de espaços territoriais protegidos

em margens de cursos de água e nascentes até 2008.

Tipo Municípios

1 Gaspar / Itajaí / Papanduva2 / Timbó

2 2.1 Blumenau 2.2 Rio do Sul

3 Nenhum

4 Apiúna / Ascurra / Benedito Novo / Doutor Pedrinho / Guabiruba / Indaial / Luiz Alves / Rodeio / Rio dos Cedros

5 5.1 Chapadão do Lageado / Navegantes 5.2 Brusque / Lontras / Ibirama / Ituporanga / Presidente Getúlio

6

Agrolândia Agronômica Alfredo Wagner Atalanta Aurora

Braço do Trombudo

Dona Emma Laurentino Imbuia Itaiópolis

José boiteux Mirim Doce Monte Castelo Petrolândia Pouso Redondo

Presidente Nereu

Rio do Campo Rio do Oeste Salete Santa Terezinha

Taió Trombudo Central Vidal Ramos Vitor Meirelles Witmarsum

2 O município de Papanduva não aparece na espacialização, pois integrou-se, a partir de 2008, nas ações do Comitê de

Gerenciamento BHRI.

Considerações Finais Com base nas análises realizadas pode-se identificar alguns aspectos, tanto no quadro nacional,

como no quadro regional, que merecem uma discussão.

No quadro nacional a situação da implantação da Agenda 21 serve como um indicador das

condições da gestão ambiental para duas questões. A primeira diz respeito ao desempenho de

pequenos e médios municípios na agenda ambiental. A segunda diz respeito a força de

aplicabilidade de instrumentos de adesão voluntária.

Na primeira questão observa-se a dificuldade na municipalização da gestão ambiental, e também

a urbana, em municípios de pequeno porte. As agendas prioritárias do século XX, como educação

e saúde, institucionalizaram o repasse de recursos federais e estaduais, com base em cortes

populacionais. Porém, para a agenda ambiental, que aponta como relevante no século XXI, a área

do município deveria ser um parâmetro para a alocação de recursos na gestão ambiental e

territorial. Grande número de municípios brasileiros têm pequena população, mas um enorme

estoque de recursos naturais sob sua jurisdição, em especial na região Norte.

Na segunda questão, apontada pela queda no número da adesão à Agenda 21 na periodização

do IBGE de 2002 para 2009, demonstra a fragilidade da utilização de instrumentos de base

voluntária. Essa condição nos leva a refletir sobre a precariedade da municipalização da gestão

territorial em pequenos municípios sem a obrigatoriedade do Plano Diretor

Na análise no nível regional na BHRI, percebe-se um avanço no marco regulatório de 2004 para

2008. Até 2004 muitos municípios não tinham Plano Diretor e estes foram elaborados, mesmo em

municípios com menos de 20.000 habitantes, a partir da iniciativa das associações de municípios.

Em 2004, nenhum dos municípios da bacia seguia as diretrizes das políticas nacionais sobre

florestas, em 2008 quatro (4) municípios haviam definido este marco regulatório em seus Planos

Diretores. Poucos municípios protegem nascentes em seu Plano Diretor, o que representa um

sério risco para a produção de água na bacia.

De maneira geral, não existem estudos na bacia que subsidiaram a gestão das áreas protegidas,

são conhecidos apenas os estudos das Cartas-Enchentes que definiram um zoneamento de áreas

inundáveis em Blumenau e Rio do Sul. O município de Itajaí também realizou um diagnóstico das

áreas marginais e identificou as áreas efetivamente consolidadas. Nos municípios não foram

encontradas medidas avançadas de gestão como transferência do direito de construir, oriunda do

EC, que poderiam ser utilizadas para gestão destas áreas. Apenas um município, Timbó,

apresenta uma regulamentação mais avançada, com um zoneamento gradativo das margens até

a ocupação intensiva.

Pode-se considerar que houve um avanço na gestão ambiental territorial, em especial na gestão

das áreas protegidas pelos municípios da BHRI, porém, existe uma grande generalização do

conteúdo dos Planos Diretores, principalmente nos de pequeno porte no qual as associações de

municípios elaboraram os Planos Diretores, mesmo para municípios que não possuíam

obrigatoriedade. Quanto às áreas protegidas observa-se que não é aplicado o princípio da

precaução e alguns municípios aplicam índices extremamente permissivos, não baseados em

estudos técnico-científicos. Essa condição estará definindo a ocupação para os próximos anos em

áreas ainda não urbanizadas e que incide no conjunto de municípios da bacia, agravando ainda

mais a fragilidade socioambiental perante eventos extremos, como o ocorrido em novembro de

2008.

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Acesso em: 20/10/2003.