as oleaginosas como fonte energÉtica renovÁvel...

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AS OLEAGINOSAS COMO FONTE ENERGÉTICA RENOVÁVEL E INCENTIVO A PRODUÇÃO DOS BIOCOMBUSTÍVEIS NO ESTADO DO PARÁ. RESUMO – Este artigo discute a necessidade do uso de energias renováveis, como o biodiesel, pela constatação da finitude do petróleo e também pela preocupação com o meio ambiente. A partir destas comprovações intensificou- se a busca de alternativas de fontes de energia renováveis e é neste sentido que as discussões sobre o biodiesel se firmaram. É apresentado um histórico sobre o desenvolvimento dos biocombustíveis e do biodiesel, sua a produção mundial, brasileira e paraense. No estado do Pará existem várias espécies oleaginosas que poderão ser usadas na produção do biodiesel, como o óleo de dendê e seus resíduos. A Agropalma, localizada em Belém – PA, produz biodiesel de dendê, a partir dos ácidos graxos, que antes eram descartados como resíduos. Esta experiência é utilizada neste texto como exemplo prático na produção do biodiesel, no estado do Pará. Palavras-chaves: biodiesel, energia renovável, bicombustíveis, desenvolvimento sustentável, meio ambiente, ABSTRACT – This article discusses the need for the use of renewable energy such as biodiesel, by finding the finiteness of oil and also by concern for the environment. From this evidence it intensified the search for alternative sources of renewable energy and is in this sense that the discussions on biodiesel is signed. An history of the development of biofuels and biodiesel, the world production, Brazil, and Para. In the state of Para several oilseed species that could be used in the production of biodiesel, such as oil palm and its wastes. The Agropalma, located in Belem - PA, produces biodiesel from palm oil from the fatty acids, which were previously discarded as waste. This experience is used in the text as a practical example in the production of biodiesel in the state of Para. Keywords: biodiesel, renewable energy, biofuels, sustainable development, environment.

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AS OLEAGINOSAS COMO FONTE ENERGÉTICA RENOVÁVEL E INCENTIVO A PRODUÇÃO DOS BIOCOMBUSTÍVEIS NO ESTADO DO

PARÁ.

RESUMO – Este artigo discute a necessidade do uso de energias renováveis, como o biodiesel, pela constatação da finitude do petróleo e também pela preocupação com o meio ambiente. A partir destas comprovações intensificou-se a busca de alternativas de fontes de energia renováveis e é neste sentido que as discussões sobre o biodiesel se firmaram. É apresentado um histórico sobre o desenvolvimento dos biocombustíveis e do biodiesel, sua a produção mundial, brasileira e paraense. No estado do Pará existem várias espécies oleaginosas que poderão ser usadas na produção do biodiesel, como o óleo de dendê e seus resíduos. A Agropalma, localizada em Belém – PA, produz biodiesel de dendê, a partir dos ácidos graxos, que antes eram descartados como resíduos. Esta experiência é utilizada neste texto como exemplo prático na produção do biodiesel, no estado do Pará.

Palavras-chaves: biodiesel, energia renovável, bicombustíveis, desenvolvimento sustentável, meio ambiente, ABSTRACT – This article discusses the need for the use of renewable energy such as biodiesel, by finding the finiteness of oil and also by concern for the environment. From this evidence it intensified the search for alternative sources of renewable energy and is in this sense that the discussions on biodiesel is signed. An history of the development of biofuels and biodiesel, the world production, Brazil, and Para. In the state of Para several oilseed species that could be used in the production of biodiesel, such as oil palm and its wastes. The Agropalma, located in Belem - PA, produces biodiesel from palm oil from the fatty acids, which were previously discarded as waste. This experience is used in the text as a practical example in the production of biodiesel in the state of Para. Keywords: biodiesel, renewable energy, biofuels, sustainable development, environment.

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1. Introdução

Por muito tempo imaginou-se que o petróleo seria a solução para a problemática dos combustíveis, sem preocupação com sua finitude, mesmo sabendo que o mesmo é uma energia não-renovável. A preocupação com o meio ambiente, principalmente com as mudanças climáticas e o efeito das emissões de gases na camada de ozônio, foram fatores que levaram o mundo a se preocupar com a necessidade de ter novas fontes de energias limpas e renováveis, que levassem ao desenvolvimento sustentável. Esta preocupação com o meio ambiente tornou-se uma bandeira forte a ser defendida na Europa, EUA e Brasil, que acreditaram na possibilidade de produzir energias renováveis para assegurar o fornecimento energético autônomo, regular, sem causar danos ao meio ambiente e com um baixo custo de produção.

Muitos países investiram neste setor em busca de um combustível renovável e o Brasil entrou neste processo através do Programa Nacional do Álcool – Proálcool, iniciado em 14 de novembro de 1975 pelo decreto 76.593. O Proálcool tinha como objetivo substituir parte da gasolina utilizada na frota nacional de veículos de passageiros, além do álcool utilizado como aditivo à gasolina, tornando menos poluente a sua combustão. Alguns projetos para a produção de biodiesel também surgiram nesta época, porém ainda muito timidamente e não foram em frente. Na Europa, principalmente na Alemanha, as pesquisas nesta área se intensificaram, entre a década de 80 e 90 com o programa dos bicombustíveis com produção de biodiesel misturado ao óleo diesel de petróleo e também o biodiesel puro. Neste contexto, a partir dos anos 90, o Brasil tem estimulado projetos destinados ao desenvolvimento do biodiesel. Foi criado o Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB), lançado em dezembro de 2004 tendo como objetivos principais implantar um programa sustentável, garantir preços competitivos, qualidade e suprimento e finalmente, produzir o biodiesel a partir de diferentes fontes oleaginosas nas diversas regiões brasileiras. Em 13 de janeiro de 2005, foi aprovada pelo Congresso Nacional a Lei n° 11.097/05, que insere o biodiesel na matriz energética brasileira. Foram aprovadas também várias normas e portarias, estabelecendo prazo para a adição de percentuais mínimos de mistura de biodiesel ao diesel mineral. De 2005 a 2008 adicionar 2% autorizado, de biodiesel ao diesel de petróleo, de 2008 a 2012, 5% autorizado e de 2013 em diante 5%, obrigatório. A convenção adotada, no mercado do biodiesel, para expressar o percentual de mistura do diesel de petróleo com o biodiesel á e seguinte: utiliza-se a expressão BXX na qual B significa Biodiesel e XX a proporção do biocombustível misturado ao óleo diesel. Logo, a sigla B2 significa 2% de biodiesel (B100), derivado de fontes renováveis e 98% de óleo diesel e o B5 equivale a 5% de biodiesel e 95% de óleo mineral.

Atualmente, a União Européia produz cerca de 90% do que é comercializado no mercado mundial do biodiesel, sendo que quase a metade desta produção é oriunda da Alemanha, onde os investimentos foram maiores e

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o controle de qualidade é referência mundial. Nos EUA o mercado do biodiesel está em expansão e a sociedade americana apóia o uso desta energia limpa e é a favor da substituição do diesel de petróleo pelo biodiesel, tanto para acabar com a dependência ao óleo de outros países (em torno de 60% do consumo), como também pelos benefícios ao meio ambiente.

2. O Desenvolvimento do Biodiesel.

Em 1900, durante a exposição de Paris, a companhia francesa Otto demonstrou o funcionamento de um pequeno motor diesel com amendoim. Esta experiência foi um sucesso, porém a maioria das pessoas não percebeu que, o motor foi construído para consumir petróleo, mas funcionou com óleo vegetal sem nenhuma modificação, ou seja, o óleo vegetal resultou em um aproveitamento do calor idêntico ao do petróleo. Experiências parecidas foram feitas em São Petersburgo com óleo de mamona e óleos animais, que apresentaram excelentes resultados como óleos de locomotivas. Foram publicados artigos na década de 40 também compartilhando as idéias de Diesel sobre o uso dos óleos vegetais como geração de energia. O óleo de palma é um dos mais citados como fonte de matéria-prima na produção do biodiesel. Os países europeus tinham colônias na América e na África e queriam utilizá-las para cultivar as oleaginosas que viriam a servir de matérias-primas para a produção do biodiesel. Os óleos vegetais foram usados como combustíveis de emergência na Segunda Guerra Mundial.

O primeiro biodiesel data de 31 de agosto de 1937, com a patente belga 422.877, concedida ao pesquisador G. Chavanne ( Universidade de Bruxelas, Bélgica)1 , onde é relatado o que hoje conhecemos como biodiesel. Neste experimento ele descreve “o uso de ésteres etílicos de óleo de palma”, como um combustível similar ao petrodiesel. Estes ésteres foram obtidos do óleo de palma através do uso da trasesterificação em meio ácido. O termo biodiesel foi utilizado pela primeira vez na literatura num trabalho chinês publicado em 19882. Em 1991, foi publicado o artigo de Bailer e Huber3 e a partir deste artigo o uso da palavra biodiesel se expandiu na literatura internacional.

Atualmente as pesquisas para a produção do biodiesel a partir das oleaginosas ocorrem no mundo todo, sendo que, nos EUA a principal matéria-prima é o óleo de soja, na Europa é o óleo de colza (canola), e na maioria dos países tropicais é o óleo de palma, porém no Brasil a maior produção do biodiesel é feita utilizando o óleo de soja, mas há muitas outras oleaginosas que podem ser utilizadas, na Amazônia, por exemplo, a maior expectativa está no óleo de dendê, hoje utilizado pela Agropalma. Foram desenvolvidos estudos em

1 Chavanne, C.G.Procédé de transformation d’huiles végétales en vue de leur utilization comme carburants (Procedure for the transformation of vegetable oils for their uses as fuels), Patente Belga no. 422,877 (31 de agosto de 1937). Chem. Abstr. 32:4313 (1938). 2 Wang, R., Development of Biodiesel Fuel, Taiyangneng Xuebao 9:434-436 (1988). Chem.. abstr. 111:26233. 3 Bailer, J. e K. de Huerber, Determination of Saponifiable Glycerol in Bio-Diesel, Fresenius J. Anal. Chem 340:186 (1991) Chem.. Abstr. 115:73906.

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nosso país com diversas espécies de oleaginosas. Walton4 resumiu os resultados de 20 diferentes tipos de óleos (mamona, sementes de uva, milho, camelina, sementes de abóbora, semente de bétula, colza, lupin, ervilha, semente de papoula, amendoim, cânhamo, linhaça, amêndoa, semente de girassol, palma, azeitona, soja, caroço de algodão e manteiga de cacau). 3. Biodiesel

Na produção do biodiesel pode ser utilizada uma grande variedade de matérias-primas, na sua maioria óleos vegetais como a soja, o algodão, a palma, amendoim, canola, girassol, açafrão, coco, além das gorduras de origem animal, geralmente o sebo e os óleos de descarte, como os óleos utilizados nas frituras. Para se escolher qual a melhor matéria-prima para esta produção considera-se os fatores geográficos como fundamentais.O biodiesel pode ser misturado com o diesel fóssil em qualquer proporção. Para que o óleo seja considerado biodiesel é necessário que os óleos vegetais e gorduras animais utilizados no processo de produção passem pelo processo de transesterificação5, caso contrário será considerado um diesel com mistura proporcional de biodiesel.

O biodiesel é compatível com o diesel de petróleo em todas as suas propriedades, além disso o biodiesel ainda apresenta várias vantagens adicionais em comparação com o petróleo, pois é derivado de matérias-primas renováveis de ocorrência natural, é biodegradável e reduz as emissões nos gases de exaustão ( com exceção dos óxidos de nitrogênio, NOx). Também possui um alto ponto de fulgor, o que facilita o manuseio e armazenamento mais seguros, além de ser um excelente lubrificante.

Atualmente o maior problema da produção do biodiesel é o seu custo, ainda muito alto quando comparado aos combustíveis fósseis, como o petróleo. Porém, este alto custo de produção pode ser parcialmente compensado pelo uso de matérias-primas de menor valor agregado, utilizando-se para isso inovações tecnológicas.

4 Walton, J. ,The Fuel Possibilities of vegetable Oils, Gás Oil Power 33:167-168 (1938) . Chem. Abstr. 33:833 (1939). 5 Para produzir o biodiesel é necessário que óleos vegetais e gorduras animais passem por uma reação química chamada transesterificação. Na transesterificação os óleos vegetais e gorduras animais reagem na presença de um catalisador (geralmente uma base) com um álcool (geralmente metanol), para produzir os alquil ésteres correspondentes.

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QUADRO 1

A Produção Mundial do Biodiesel nos EUA

A capacidade de produção do petróleo nos EUA está no limite o que leva o país a

importar gasolina e o diesel. Na atualidade, o mercado americano depende em torno de 60% do petróleo de outros países e este é um problema sério que aflige os americanos. Sendo assim, três são os fatores que incentivam a busca de uma energia alternativa e limpa, como o biodiesel: o aumento da dependência de óleos importados, o aumento da pressão para que a poluição ambiental seja reduzida e a demanda pelo aumento do valor agregado de produtos agrícolas, além destes fatores a necessidade de criação de novos empregos nos EUA também contribui para a produção do biodiesel. A partir destas necessidades novas políticas econômicas vêm sendo definidas em prol do biodiesel.

O início das pesquisas sobre o biodiesel data do final dos anos 70 e início dos anos 80, após a crise do petróleo feita pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo – OPEP. Naquele momento as pesquisas sinalizavam que “os óleos vegetais eram muito viscosos para serem utilizados por longos períodos de operação em motores diesel modernos”, problema este superado após a transesterificação de óleos vegetais em ésteres metílicos. Nos anos 80 as pesquisas foram discretas e na década de 90 as pesquisas tomaram novo impulso quando o Congresso americano voltou a se preocupar com o problema da dependência do petróleo. Em 1992 foi aprovado o Ato Regulatório de Energia (Energy Policy Act), e foi criado o Conselho Nacional do Desenvolvimento do diesel de Soja por 11 Conselhos Estaduais de Soja Qualificados, dirigidos por produtores rurais, o que representou o início das atividades comerciais e industriais do biodiesel nos EUA. Em 1995 o Conselho Nacional do Desenvolvimento do Diesel de Soja foi ampliado para outras matérias-primas, alterando o nome do mesmo para Conselho Nacional do Biodiesel (National Biodiesel Board ou NBB). Com estas novas medidas houve um aumento no uso do biodiesel o que motivou uma maior número de distribuidoras e companhias produtoras do produto. O aumento foi significativo, pois em 1995 existia apenas uma companhia produtora e distribuidora de biodiesel e em 2003 já havia mais de 1100 distribuidores e 300 pontos de vendas. Havia 20 unidades produtoras em 2004 e mais 15 já estavam iniciando operação ou com propostas para operar neste mercado (Howel, S e Jobe, J. - Manual do Biodiesel – Cap. 8 – Ed . Edgar Blucher). Em 2005 o governo americano ordenou que todas as agências federais diminuíssem o consumo de petróleo em 20%. O mercado do biodiesel nos EUA está aquecido; a opinião pública é favorável aos benefícios apresentados pela substituição do biodiesel pelo diesel de petróleo, principalmente em relação à diminuição da dependência ao óleo de outros países como também aos benefícios a saúde das pessoas e ao meio ambiente. Já foi comprovado que o uso do biodiesel como energia é capaz de diminuir os níveis de hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (PAH) e de hidrocarbonetos aromáticos policíclicos nitrogenados (nPAH), elementos considerados como agentes cancerígenos.

Os motores a diesel que foram fabricados a partir de 2007 passaram a poluir menos que o melhor motor a gás natural, por este motivo os ambientalistas têm apoiado o programa de biodiesel, como uma alternativa viável de energia limpa. O biodiesel produzido nos EUA, por várias matérias-primas já estão livres de enxofre na sua constituição, elemento este poluente e por isso não faltam argumentos para a sua produção e consumo.

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QUADRO 2

A Produção Mundial do Biodiesel na União Européia – EU A AGQM tem um sistema de padrão de qualidade que engloba alguns elementos,

divididos em cinco etapas: 1) A produção, onde os produtores são responsáveis pela escolha da matéria-prima e pelo controle de qualidade do produto. A AGQM trabalha em conjunto com auditores independentes para verificar a qualidade da produção. O transporte adequado é fundamental, pois muitos problemas ocorrem por haver contaminação durante o transporte do produto. Os caminhões de transporte devem ser avaliados antes do transporte. 2) O armazenamento do biodiesel necessita de material adequado, limpeza e manutenção apropriada dos tanques para garantir a qualidade do produto. 3) A instalação de um sistema de licenciamento para postos de abastecimento, que funciona desde 2002, com a logomarca AGQM, uma espécie de selo de qualidade. 4) Também existem suporte para o consumidor, através de informações, publicações e associações, com o intuito de promover uma maior comunicação entre o consumidor e a produção do biodiesel. 5) Existem grupos técnicos especializados de trabalho da AGQM, para resolver problemas reais ou simulados relacionados ao biodiesel.

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4. A Produção Brasileira do Biodiesel O Programa Brasileiro de Desenvolvimento Tecnológico do Biodiesel –

PROBIODIESL foi lançado em 2002, com o objetivo de incentivar e regular a produção do biodiesel. Os principais investimentos foram para o uso da soja e do álcool, como misturas B5 com o diesel de petróleo. Algumas empresas já produzem biodiesel, porém a nossa produção ainda é incipiente quando comparada a outros países. O biodiesel foi introduzido na matriz energética brasileira, com as condições de mercado e a produção regulamentadas pela Lei nº. 11097, de 13 de janeiro de 2005. A produção em 2007 foi de 404.329 m³ de B100( Figura 1), e com o B2 (mistura de 2% de biodiesel e 98% de óleo diesel), já autorizado pelo Governo Federal, de 1 bilhão de litros anuais de B2 (1 milhão de m³), e de forma obrigatória para os anos de 2008 a 2012, com o volume de 2,4 bilhões anuais (2,4 milhões de m³) de B5 (mistura de 5% de biodiesel e 95% de óleo diesel) a partir de 2013. Neste período de 2000 a 2013, as previsões de

QUADRO 3

A Produção Mundial do Biodiesel nas Américas, na África do Sul, na Austrália e na Ásia.

1) Nas Américas: a) Argentina: não tem grande destaque no mercado do biodiesel, apesar de ser o maior exportador mundial de farelo de oleaginosas e o terceiro maior exportador de grãos e de óleos comestíveis, especialmente a soja e o girassol, além de ser um dos maiores produtores de grãos, logo há um grande potencial para a produção do biodiesel neste país. Porém, de fato existem poucas unidades, de pequena escala e caseiras funcionando no país. b) Canadá: as primeiras conferências sobre o biodiesel foram em 1994, neste país. Ë registrado como combustível e como aditivo de combustível pela agência de proteção Ambiental do Canadá, de acordo com as regras do diesel limpo da legislação ambiental canadense (Environment Canada). As oleaginosas mais utilizadas são a colza (canola) e o girassol. O Canadá é um dos maiores exportadores de oleaginosas do mundo. Utilizam-se estas oleaginosas como matéria-prima, bem como óleos de frituras reciclados e gordura animal. A primeira grande empresa de biodiesel começou a funcionar em 2001, com tecnologia oriunda da Universidade de Toronto, uma produção em larga escala. Em Montreal muitos ônibus urbanos já utilizam o biodiesel.

2) África do Sul

Após a realização de um estudo sobre a viabilidade do uso de oleaginosas, sem afetar a produção de alimentos, foi concluído que o biodiesel poderia substituir 20% do diesel importado pelo país. A soja e o pinhão-manso são as oleaginosas que seriam utilizadas.

3) Austrália

Ainda tem uma produção iniciante, porém pretende investir mais nesta área, pois depende em mais de 50% do combustível de outros países e a poluição urbana é preocupante. A maior parte da produção atual é originária de óleos reciclados de frituras e gorduras animais, porém várias oleaginosas são cultivadas na Austrália como a colza, o girassol e a soja, que deverão ser utilizadas na produção do biodiesel. A produção na Austrália ainda é feita em pequena escala, “produtores de fundo de quintal” Em 2000 foi fundada a Associação de Biodiesel da Austrália com o objetivo de produzir o biodiesel em larga escala. O biodiesel ainda não é utilizado em toda a Austrália. 4) Ásia a) China: tem um dos maiores consumos de diesel de petróleo do mundo e depende de exportação em pelo menos 1/3 deste consumo, por isso o governo chinês tem muito interesse em desenvolver a produção do biodiesel. Os óleos de colza, amendoim e os óleos reciclados de frituras são as matérias-primas utilizadas para a produção do biodiesel chinês. Com o crescimento acelerado da quantidade de automóveis na China a questão do biodiesel tem se tornado cada vez mais urgente e necessária. b) Japão: o mercado do biodiesel ainda está muito pequeno; há o registro da produção de biodiesel a partir de óleos reciclados de frituras em Quioto, para ser utilizado na mistura B20. c) Outros: na Malásia, Filipinas, Coréia do Sul e Tailândia existem pesquisas com os óleos disponíveis nestas áreas, mas incipiente.

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produção para as misturas B2 e B5 foram feitas com base em 40 empreendimentos, com 13 usinas-piloto, distribuídas em diversos estados e regiões, com capacidade produtiva para processar 751,4 milhões de litros (751,4 mil m³) de biodiesel anualmente. Destes empreendimentos apenas 13 plantas estão em funcionamento, com uma produção de 195,6 milhões de litros ao ano (195,6 mil m³). A produção para 2007/2008 teve um aumento na oferta de mais 1.187 bilhões de l/ano (1,187 milhões de m³), pois 18 novas plantas começaram a produzir. Há uma previsão de que pelo menos 32 novas empresas com capacidade de produção estimada de 1.953,7 bilhões de litros (1.953,7 milhões de m³), para os próximos dois anos, logo com uma capacidade instalada em torno de 90 empresas, a produção brasileira de biodiesel será de 3.892,2 bilhões de litros/ano (3.892,2 milhões de m³)6.

O mercado do biodiesel deverá substituir o já existente mercado do óleo diesel de petróleo que é responsável por 49,9 % do mercado de combustível7. A maior utilização do óleo diesel é pelos caminhões e ônibus dos transportes rodoviário. A produção brasileira de óleo diesel em 2006 foi de 38,7 milhões de m³, logo foi necessário importar 9% de diesel para suprir a demanda interna. As importações brasileiras de óleo diesel tem diminuído nos últimos anos, por causa do aumento da produção interna, mesmo assim o país pagou, em 2006, US$ FOB 1,7 bilhão de dólares para 3,5 milhões de m³, pagando por m³ , ou seja, o dobro do que pagava em 2000. Se o consumo de óleo diesel for mantido nos mesmos patamares de 2008, é possível que a produção de biodiesel prevista garanta economia de divisas, pois a produção de biodiesel planejada equivale ao volume em m³ das importações de óleo diesel feitas pelo Brasil. Porém, para que isto ocorra, é preciso que sejam feitos investimentos para as plantas industriais, que haja oferta de crédito e assistência técnica para os agricultores, especialmente para os de pequenos produtores, é preciso investir em pesquisas de novas oleaginosas e novas tecnologias de processo, e também avançar na oferta de motores automotivos que possam funcionar com os biocombustíveis acima do B5. Atualmente, a produção de biodiesel está em ascensão, a prova disto é que em 2008, a produção brasileira foi de 1.164.332 m³ de B100, como pode ser visto nos dados da ANP(Figura 1).

6 Informações obtidas no Mapa do Biodiesel, no site www.biodieselbr.com, janeiro de 2007. 7 Estatísticas de vendas de derivados de petróleo elaboradas pela ANP para o ano de 2006.

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Produção de biodiesel – B100 por produtor – 2005/2008 Brasil – Produção mensal – em m3

BRASIL BRASIL ESTADO (Tudo) PRODUTOR (Tudo) xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxxxxxxxxx ANO Dados 2005 2006 2007 2008 Janeiro - 1.075 17.109 76.784 Fevereiro - 1.043 16.933 77.085 Março 8 1.725 22.637 63.680 Abril 13 1.786 18.773 64.350 Maio 26 2.578 26.005 75.999 Junho 23 6.490 27.158 102.767 Julho 7 3.331 26.718 107.786 Agosto 57 5.102 43.959 109.534 Setembro 2 6.735 46.013 132.258 Outubro 34 8.581 53.609 126.817 Novembro 281 16.025 56.401 117.295 Dezembro 285 14.531 49.016 109.976 Total do Ano 736 69.002 404.329 1.164.332

Figura: 1 Fonte:elaborada pela ANP .

4. As Oleaginosas como Fonte Energética Renovável e Incentivo a Produção dos Biocombustíveis

Sendo o Brasil um país de clima tropical isto facilita o cultivo de várias espécies oleaginosas, nativas ou manejadas, com grande potencialidade para todas as regiões do território nacional. Aqui, se reúnem as condições ideais para a produção de uma variedade de oleaginosas que servem de matéria-prima para o biodiesel. O Brasil possui uma produção de mais de 35% de energia renovável, em relação ao resto do mundo (Figura 2). Em cada uma das cinco regiões brasileiras existem oleaginosas específica, que são utilizadas na produção do biodiesel: o dendê e o babaçu aparecem na região norte, o algodão e a mamona no nordeste, a soja é utilizada no centro-oeste e no sudeste e o sul faz uso do girassol como matéria-prima (Figura 3).

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Figura 2 – Energia renovável no Brasil e no mundo Fonte: D’ARCE, 2005 O biodiesel representa uma alternativa viável de produção de uma

energia limpa, pois segundo estudos realizados no mundo inteiro, os biocombustíveis diminuem a emissão dos gases causadores do aquecimento global. A partir dos anos 90, o Brasil incentivou projetos destinados ao desenvolvimento do biodiesel. Foi criado o Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB), lançado em dezembro de 2004 tendo como objetivos principais implantar um programa sustentável, garantir preços competitivos, qualidade e suprimento e finalmente, produzir o biodiesel a partir de diferentes fontes oleaginosas nas diversas regiões brasileiras.

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Figura 3 – Atlas do Biodiesel por regiões brasileira Fonte: www.biodieselbr.com/i/biodiesel - biodiesel-brasil-potencial. jpg

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5. A Produção do Biodiesel no Estado do Pará O Estado do Pará possui um programa de incentivo a produção do

biodiesel, o PARABIODIESEL, que começou em 2004, tendo como objetivo organizar e consolidar a cadeia produtiva do biodiesel nesta região. Há uma parceria entre a Faculdade de Química da Universidade Federal do Pará e o Governo do Estado, no sentido de incentivar pesquisas sobre as oleaginosas existentes na região que poderão servir de matéria-prima para a produção do biodiesel, sendo que, o óleo de dendê tem recebido uma atenção especial, pois já existe uma produção considerável do mesmo ( 4 a 5 milhões de ha plantados), além de haver uma usina de biodiesel a partir do dendê em funcionamento, com capacidade de planta autorizada pela ANP, a Agropalma (Figura 4), que utiliza os resíduos do óleo de dendê como matéria-prima da sua produção.

Figura 4– Capacidade autorizada de plantas de produção de biodiesel no Brasil Fonte: ANP 2006

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Figura 5 – Entrada da Usina de Biodiesel – Agropalma – Belém- Pa Fonte: Santos, V., 2008 Figura 6 – depósito do biodiesel de dendê Figura 7 – Fábrica de biodiesel Agropalma Agropalma Fonte: Santos, V.,2008 Fonte: Santos, V., 2008

O biodiesel produzido pela Agropalma consiste na esterificação dos ácidos graxos removidos no processo de refino do óleo, utilizando metanol e catálise ácida homogênea (Figura 7). Após a esterificação nos reatores, o biodiesel é posteriormente destilado e filtrado. Este processo foi desenvolvido pela Agropalma em convênio com o Departamento de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ. Segundo o Gerente Industrial da Unidade de Biodiesel da Agropalma, Danilo Braga, para que a produção do biodiesel seja feita diretamente a partir do óleo será necessário a instalação de novos equipamentos industriais e de um cenário favorável para o investimento, já que as commodities, como o óleo de palma têm variação média histórica de cotação muito acentuada, e a definição de preços do biodiesel ainda é pouco criteriosa, e as margens são curtas. A produção média anual do biodiesel na Agropalma é de

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3 milhões de litros/ano, que corresponde a 25% da capacidade de produção da fábrica. A produção mensal não é fixa, depende da estratégia da empresa em acumular ou não matéria-prima. O percentual de produção é equivalente à proporção de resíduo no óleo, 3%. Atualmente não há expectativa para uma produção em larga escala para o biodiesel de dendê da Agropalma, há uma previsão somente para longo prazo, pois exige instalação de novos equipamentos industriais e cenário favorável para o investimento. O biodiesel de palma é sabidamente tecnicamente viável, mas estão sendo conduzidos testes da alta rodagem pelo MCT paralelamente a outras oleaginosas. O B100, devido ao menor poder calorífico, seria 10% menos econômico que o diesel, o B20 2% menos econômico e o B3 não apresentam diferença apreciável. Existe uma viabilidade econômica para a produção do biodiesel de dendê da Agropalma, desde que haja escala, pois as margens geralmente são pequenas com os preços praticados atualmente, ou que se busquem matérias-primas alternativas. Os possíveis fatores de riscos na ampliação desta produção seriam a desestruturação do programa por parte de novos governos, incerteza dos mercados e da política de preços do governo, incompatibilidade entre o custo da matéria-prima e o preço de venda. A produção do biodiesel da Agropalma está vinculada aos leilões públicos da Petrobras, que é quem direciona o produto de acordo com a sua logística, dentro do mercado interno nacional. Em fevereiro de 2008 a Agropalma anunciou um investimento de expansão no valor de R$ 12 milhões na área de plantio de palma, aumentando em 7 mil hectares de área produzida. A refinadora pretende duplicar a capacidade de refino em até quatro anos, construindo uma nova Refinaria. A Agropalma, com a implantação da fábrica de biodiesel, criou 25 empregos diretos na operação da fábrica e tem parceria com 195 famílias, o que constitui empregos indiretos.

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Produção de biodiesel – B100 por produtor – 2005/2008 em m3 Agropalma – Pará – Produção mensal ESTADO PARÁ PRODUTOR AGROPALMA xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxxxxxxxxx ANO Dados 2005 2006 2007 2008 Janeiro - 260 560 128 Fevereiro - 271 549 197 Março - 273 546 162 Abril 13 374 482 158 Maio 14 347 348 305 Junho 22 323 282 0 Julho - 273 378 462 Agosto 26 300 318 471 Setembro - - 71 188 Outubro 20 - 129 206 Novembro 241 - 1 174 Dezembro 174 - 54 174 Total do Ano 510 2.421 3.717 2.625

Figura: 8 Fonte:elaborada pela ANP .

A produção de biodiesel da Agropalma ainda não é contínua, pois não tem uma produção mensal fixa (Figura 8), logo a produção depende dos resíduos do óleo de dendê, que é o seu principal produto. Em 2007 a produção foi de 2.625 m3, inferior ao ano anterior que foi de 3.717 m3 (Figura 8). Para que este cenário se modifique será necessário uma produção em larga escala, que é prevista somente para o longo prazo, pois exige instalação de novos equipamentos industriais e cenário favorável para o investimento.

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O gráfico abaixo (Figura 9) mostra a produção mensal da Agropalma.

Figura 9- Produção Mensal - Agropalma Fonte: ANP/SRP, conforme a Portaria ANP n°54/01

Segundo os dados da tabela abaixo (Figura 10), o preço médio do B4 é R$ 2,26, pelos dados da ANP, o preço do diesel é de R$ 2,102 (dez/2009).

Figura 10 - Leilão de Biodiesel Fonte: ANP, 2009

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6. Principais Contribuições da produção do biodiesel de dendê para a região: 6.1) Impacto econômico: O principal impacto econômico para a região foi à atração de investimentos nesta área de biocombustíveis, bem como investimento com a área de plantio e na implantação de novas indústrias refinadoras. Outro fator positivo é o aproveitamento das oleaginosas existentes na região, isso gerou empregos diretos e indiretos, beneficiando as famílias envolvidas com o projeto de agricultura familiar e a população em geral. Portanto elevou o nível de renda regional e a arrecadação pública. Com a crescente demanda por oleaginosas houve um aumento no nível de emprego e uma realocação na distribuição de renda. Portanto o Estado do Pará foi beneficiado por desenvolver um modelo sustentável para a região amazônica. 6.2) Impacto social: O principal impacto social dos projetos de biocombustíveis foi à abordagem de inclusão social. Parte-se do conceito de que a produção de biocombustíveis não existe sem a participação popular. Logo, essa população é parceira do projeto; por isso, também merece os benefícios (retornos) dos projetos. A Agropalma destaca-se nesse aspecto contribuindo com a geração de empregos diretos (fábrica) e indiretos (Agricultura Familiar) 6.3) Impacto ecológico: O biodiesel de dendê é um combustível renovável e biodegradável, e poderá substituir parcial ou totalmente o óleo diesel de petróleo (Paraizo, 2005). Além disso, o projeto ainda aponta para a recuperação de um ambiente físico degradado causado pelo desmatamento, isso contando com o apoio da Agropalma que irá expandir a área plantada de palma, atualmente com 33 mil hectares cultivados, a empresa vai plantar mais 4 mil. A estimativa é de nos próximos dois anos ampliar mais 7 mil hectares. Ao oferecer a oportunidade da utilização dos produtos não-madeireiros (bióticos e abióticos), a população terá uma lógica econômica conservação ambiental. O resgate da flora resultará na recuperação da fauna (também ameaçada de extinção), recriando a cadeia ecológica propiciando um ambiente saudável para a reprodução da palmeira (Elaeis guineensis N), que dá origem ao óleo de dendê. Tudo isso afetará positivamente o clima de toda a região assim como todo o ecossistema. 7. Comentários Finais

Nos anos 20 os combustíveis derivados do petróleo eram baratos e abundantes, dando a sensação que durariam para sempre e, conseqüentemente, nós poderíamos depender dos mesmos como fonte de energia barata e disponível. Porém, houve um aumento considerável da população mundial e da industrialização promovendo também o aumento da poluição, que passou a causar preocupação em todos.

Um dos grandes incentivos a produção do biodiesel é o fato dele ser uma energia considerada limpa, causando poucos danos a natureza e ao meio ambiente, uma das grandes preocupações mundiais. É comprovado que a utilização do biodiesel causa menor dano ao meio ambiente que o diesel oriundo

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do petróleo, além do que o biodiesel é oriundo de matérias-primas renováveis e de ocorrência natural. Outra característica a favor do biodiesel é o fato de que como as plantas oleaginosas, matéria-prima do biodiesel, utilizam muito gás carbono (CO2) para o seu desenvolvimento, o uso do biodiesel causa uma diminuição no acúmulo de CO2 na atmosfera por possuir ciclo carbono fechado. O biodiesel é degradável e não tóxico, logo se houver um derramamento deste combustível as conseqüências serão bem menores que um derramamento de petróleo.

Na atualidade, quase toda a produção mundial do biodiesel é feita pela União Européia (em torno de 90%) e deste total quase a metade desta produção é originária da Alemanha. O mercado americano EUA está em expansão o apoio da população que é a favor da substituição do diesel de petróleo pelo biodiesel, tanto para acabar com a dependência ao óleo de outros países (em torno de 60% do consumo), como também pelos benefícios ao meio ambiente. O Brasil acelerou a sua produção a partir 2002, através do PROBIODIESL, porém a nossa produção ainda é incipiente quando comparada a outros países, mas mesmo assim, está em ascensão, quando comparamos com a produção interna dos anos anteriores ( em 2008, a produção brasileira foi de 1.164.332 m³ , a maior dos últimos anos, de acordo com a ANP). Além disso, o mercado brasileiro possui uma produção de mais de 35% de energia renovável, em relação ao resto do mundo e todas cinco regiões brasileiras tem oleaginosas específica, que são utilizadas na produção do biodiesel, aqui na região Norte o dendê e o babaçu são os mais utilizados.

No estado do Pará o óleo de dendê tem recebido uma atenção especial, pois já existe uma produção considerável do mesmo ( 4 a 5 milhões de ha plantados), além de haver uma usina de biodiesel em funcionamento, a Agropalma, com uma produção média anual de 3 milhões de litros/ano, que corresponde a 25% da capacidade de produção da fábrica. Atualmente não há expectativa de grande produção para o biodiesel de dendê da Agropalma, (em 2007 a produção foi de 2.625 m3, inferior ao ano anterior que foi de 3.717 m3 ), e para que este cenário se modifique será necessário uma produção em larga escala, que é prevista somente para o longo prazo, pois exige instalação de novos equipamentos industriais e cenário favorável para o investimento.

A Agropalma é a única empresa referência na produção de biodiesel de dendê no Estado do Pará. Segundo o Diretor da Unidade de Biodiesel, Danilo Braga (2008), não há uma expectativa para produção em larga escala, porém ele afirma que essa atividade tem um mercado crescente e promissor. Quanto à viabilidade econômica ela existe desde que haja escala, pois as margens de lucro geralmente são pequenas com os preços praticados atualmente. A ampliação da produção pode trazer fatores de risco como a desestruturação do programa por parte de novos governos, incerteza dos mercados e da política de preços do governo, incompatibilidade entre o custo da matéria-prima e o preço de venda. O custo de produção é uma informação interna e sigilosa da companhia (Danilo Braga, 2008).

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Segundo dados da tabela da ANP (figura 10), o preço médio do B4 é R$ 2,26, pelos dados da ANP, o preço do diesel é de R$ 2,102 (dez/2009), sendo assim, considera-se o biodiesel competitivo.

O desafio da possibilidade de introduzir um mecanismos de criação de um mercado de carbono que será realizado através do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), é possível, pois o cenário atual mundial tem favorecido iniciativas que venham desacelerar o aquecimento global e também promover o desenvolvimento sustentável. Para isso torna-se necessário dois critérios funtamentais: adicionalidade e sustentabilidade. Sendo o biodiesel uma energia limpa e biodegradável, ele se adequa neste contexto.

Os dados têm mostrado que a tendência mundial é que o mercado do

biodiesel deverá substituir o já existente mercado do óleo diesel de petróleo que é responsável por 49,9 % do mercado de combustível. E como o biodiesel tem várias vantagens ambientais, isto conta como um estímulo a sua produção. Economicamente, a produção do biodiesel tem gerado novos empregos, na implantação destas novas unidades produtoras do biodiesel e nas unidades agrícolas produtoras de matéria-prima. Logo, há benefícios nos setores rural e urbano. Sendo assim, podemos dizer que o biodiesel traz muitos benefícios a toda a sociedade. 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADEMAR, R. Romeiro, BASTIAAN P. Reydon e MA. LUCIA A. Leonardi -Organizadores - Economia do Meio Ambiente: teoria, políticas e a gestão de espaços regionais. Unicamp: Instituto de Economia, 2001. COELHO, Franklin Dias: Reestruturação Econômica, Políticas Públicas e as Novas Estratégias de Desenvolvimento Local. Guia de Desenvolvimento Econômico Local. SERE/FES/IBAM, 1995. CONSTANZA, R., DAY, H.E., BARTHOLOMEW, J.A. Goals, agenda and policy recommendations for ecological economics. In CONSTANZA, R. Ed. Ecological Economics: the science and management of sustainability. New York: Columbia Univ. Press, 1994. p. 1-20. COETZEE, GRAAFF, HENDRICKS e WOOD – editors- DEVELOPMENT – Theory, Policy, and Practice –:. Oxford University Press Souther Africa – 2001. D’ARCE, Marisa A. B. Regitano. Matérias-primas oleaginosas e biodiesel. ESALQ/USP, setor de açúcar e álcool, 2005. http//www.biodieselbr.com/i/biodiesel - biodiesel-brasil-potencial. jpg KRAEMER, Maria Elisabeth Pereira. Gestão Ambiental: um enfoque no desenvolvimento sustentável. Disponível em http://www.gestaoambiental.com.br. Acesso em 16 nov 2004. MARKANDYA, A. The value of the environment: a state of the art survey. In: MYRDAL, Gunnar. Teoria Econômica e Regiões Subdesenvolvidas. Rio de Janeiro, Saga, 1968 PEARCE, D.W., TURNER, R.K. . Economics of natural resources and the environment. Baltimore: The Johns Hopkins Univ. , 1990. 378 p.

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