gestão da paisagem e desenvolvimento turístico das...
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V Encontro Nacional da Anppas 4 a 7 de outubro de 2010 Florianópolis - SC – Brasil ______________________________________________________
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Gestão da Paisagem e Desenvolvimento Turístico das Cidades :
Estudo de Caso em Curitiba, Paraná
Letícia Peret Antunes Hardt (PUCPR) Arquiteta e Urbanista, Pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Gestão Urbana (PPGTU),
Coordenadora do Curso de Especialização em Paisagismo e Professora Titular do Curso de Arquitetura e Urbanismo
Carlos Hardt (PUCPR) Arquiteto e Urbanista, Pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Gestão Urbana (PPGTU),
Coordenador do Curso de Especialização em Gestão Técnica do Meio Urbano e Diretor do Curso de Arquitetura e Urbanismo
Resumo Considerando que a tendência à redução qualitativa das condições visuais em áreas urbanas interfere na percepção dos produtos turísticos locais, o objetivo geral da pesquisa consiste em avaliar a qualidade da paisagem urbana, especialmente no entorno de locais de interesse turístico, fundamentando modelos metodológicos para os processos de avaliação paisagística e de gestão urbana, com vistas ao desenvolvimento do turismo local. A partir da interpretação de fundamentos teóricos e metodológicos sobre o tema, o estudo de caso em Curitiba, Paraná, é estruturado em quatro tipologias de métodos : indireto – com análise do espaço visual a partir da valoração de componentes paisagísticos urbanos; direto – com interpretação, por meio de pesquisas amostrais, das preferências visuais de moradores e turistas; misto, com avaliação dessas preferências por meio de modelos de regressão para identificação das variáveis representativas; e integrado, com interação dos resultados dos métodos anteriores. Pela avaliação integrada da paisagem de Curitiba, diagnostica-se que as zonas urbanísticas inseridas na classe de qualidade paisagística superior à média municipal correspondem a 58% da área total da cidade, abrigando apenas 32% da sua população, constatando-se que, nestas regiões, bem como no entorno dos principais locais turísticos, as interferências visuais da expansão urbana tendem à deterioração da qualidade paisagística. Com base nos resultados alcançados, o modelo metodológico proposto possibilita a indicação de prioridades para a conservação ou recuperação de atributos da paisagem, com vistas ao desenvolvimento do turismo local e à elevação do grau de satisfação dos usuários dos espaços. Palavras-chave : Gestão das cidades. Paisagem urbana. Turismo.
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1 Introdução
Para Cruz (2000), a paisagem constitui importante elemento de estruturação de espaços voltados
ao turismo. Todavia, as condições paisagísticas no meio urbano são submetidas a significativas
alterações e a relevantes pressões ambientais, com reflexos diretos na percepção humana e na
qualidade dos produtos turísticos. Por sua vez, os usuais índices de qualidade de vida referem-se
a indicadores sociais, econômicos e de infra-estrutura, dentre outros, não revelando as reais
condições de satisfação do homem em relação aos seus locais de vivência ou de visitação
(HARDT; HARDT, 2004).
Assim, para o adequado entendimento do grau de bem estar dos cidadãos e dos turistas em
relação ao ambiente urbano, tem-se na avaliação da qualidade paisagística um importante
instrumento de apoio ao processo de gestão de cidades (HARDT, 2000; 2004).
Nesse contexto, Curitiba torna-se um interessante objeto de análise para estudos neste sentido,
tanto pelo seu amplo reconhecimento em termos de práticas de planejamento urbano quanto pela
sua posição como polo de uma das regiões metropolitanas com maior crescimento no país nas
últimas décadas, bem como pela sua notável ascensão no cenário turístico nacional (SETU,
2009).
Com base nessas assertivas, o objetivo precípuo da pesquisa consiste em avaliar a qualidade da
paisagem urbana, especialmente no entorno de locais de interesse turístico, fundamentando
modelos metodológicos para os processos de avaliação paisagística e de gestão urbana, com
vistas ao desenvolvimento do turismo local. Para o seu alcance, o estudo é embasado em
fundamentos teóricos (turismo, cidade e paisagem) e metodológicos (gestão do turismo e da
qualidade paisagística das cidades), sendo apoiado em quatro tipologias de métodos de avaliação
da qualidade da paisagem (indireto, direto, misto e integrado), permitindo a interpretação
associada dos resultados.
2 Fundamentos Teóricos e Metodológicos
Segundo Lickorish e Jenkins (2000), o turismo compreende a somatória de relacionamentos
ocasionados por viagens e estadias de pessoas não residentes no local. Os autores comentam
que a definição da atividade turística representa uma dificuldade permanente para os profissionais
da área e a interpretam como um fenômeno derivado de visitas temporárias em lugares distantes
da residência habitual, não implicando em ocupação remunerada na região visitada.
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Em um esforço conceitual, Mourão (2004) classifica os programas turísticos em tipologias de :
a) aventura – comportando desafios ou imprevistos;
b) bem estar – compreendendo o aperfeiçoamento ou equilíbrio das condições físicas ou
espirituais de indivíduos ou grupos de pessoas;
c) cultura – envolvendo o conhecimento de usos e costumes de determinado povo ou
região;
d) esportes – englobando a prática esportiva amadora ou profissional;
e) estudos – estabelecendo o aprendizado, treinamento ou ampliação de conhecimentos em
locais específicos;
f) incentivo – vinculando o agenciamento por empresas ou organizações para o alcance de
metas de produção e qualidade;
g) pesquisa – favorecendo estudos de temas específicos;
h) interesse profissional – buscando o contato direto com o exercício, ampliação ou troca de
conhecimentos sobre determinada atividade econômica, incluindo eventos e negócios;
i) rural – promovendo a valorização de áreas naturais (ecoturismo) ou de espaços culturais
com atividades produtivas primárias.
A grande maioria desses programas é comumente desenvolvida em cidades, interpretadas como
processos territoriais de conformação do ambiente construído (CARLOS, 1994) e, ao mesmo
tempo, como fenômenos sociais, econômicos e institucionais (GEDDES, 1994;
MUMFORD, 1998). Assim, o meio urbano é conceituado, de maneira genérica, como um conjunto
integrado por dois sistemas básicos – natural e cultural (MOTA, 1999; HARDT, 2000; 2004; 2006),
cujos componentes compõem o ambiente total (DIAS, G. F., 1997), ao qual é associada a
experiência humana.
Nesse âmbito, Hardt (2000, p.15) conceitua a paisagem como :
combinação dinâmica de elementos naturais (físico-químicos e biológicos) e antrópicos, inter-relacionados e interdependentes, que em determinado tempo, espaço e momento social, formam um conjunto único e indissociável, em equilíbrio ou não, e em permanente evolução, produzindo percepções mentais e sensações estéticas como um "ecossistema visto".
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Definida, portanto, como a visualização do ecossistema urbano, a paisagem da cidade é formada
essencialmente por espaços visuais, conformados pelo ambiente total – natural e construído,
interpretados por mecanismos perceptuais dependentes da experiência humana (ambiência
pessoal e comportamento) e das condições de vida (HARDT, 2004).
O acelerado processo mundial de urbanização, especialmente a partir da Revolução Industrial,
tem provocado o progressivo aumento da demanda por políticas com maior grau de
responsabilidade na implementação de programas e planos para a elevação dos níveis de
qualidade de vida e para a devida organização das cidades (PACE; HARDT, 2009), exigindo o
aperfeiçoamento dos processos de gestão urbana e turística (BENI, 2000), assim como
procedimentos integrados e integradores de outras atividades (DIAS, R., 2003).
Lickorish e Jenkins (2000, p.235-236) comentam que “não é possível especificar um modelo único
de desenvolvimento” para as atividades turísticas, pois “as políticas irão fornecer a estrutura
dentro da qual será realizado o planejamento” [...]; “essa seqüência deve demonstrar que as
forças do mercado por si só não ditam ordens para o desenvolvimento do turismo”.
Para Hardt (2004), a qualidade da paisagem se relaciona com o grau de excelência de suas
características visuais. Segundo a autora, torna-se necessária, para a sua avaliaçao, a aplicação
de métodos baseados em juízos de valor, frente à diversidade paisagística e à dificuldade
metodológica para a sua determinação em termos absolutos. Baseados na contemplação da
paisagem em sua totalidade, os métodos diretos compreendem a valoração da qualidade
paisagística por usuários ou por especialistas, no local ou por meio de substitutos (como
fotografias, diapositivos, filmes, gravuras etc.), de forma independente à definição dos
componentes paisagísticos determinantes desta avaliação. Voltados à redução da subjetividade,
os métodos indiretos se fundamentam na desagregação da paisagem nos seus principais
elementos visuais, interpretados a partir de critérios estabelecidos por especialistas,
eventualmente com base nas avaliações pessoais de usuários. Associando vantagens dos
anteriores, os métodos mistos integram a avaliação das respostas subjetivas com a interpretação
dos elementos da paisagem definidores dessas respostas (HARDT, 2000; 2004).
3 Materiais e Métodos
As unidades de estudo correspondem às 27 zonas ou setores urbanísticos, subdivididos em 120
compartimentos territoriais, estabelecidos pelo zoneamento de uso e ocupação do solo vigente até
2000 e que configuraram a estrutura básica da atual paisagem urbana de Curitiba (Figura 1).
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(A)
ZR2
(B)
ZR3
(C)
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(D)
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(11)
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(31)
Figura 1 : Mapa do Zoneamento de Uso e Ocupação do Solo Vigente até 2000 e da Linha Turismo em Curitiba
Fonte : Elaborada com base em IPPUC (1999a/b/c; 2010) e em Hardt e Hardt (2004).
Linha Turismo
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A avaliação da paisagem do entorno dos principais pontos turísticos da cidade e seus respectivos
acessos é efetuada na região correspondente ao trajeto da Linha Turismo, implantada em 1990.
Contando atualmente com serviços diários de transporte por ônibus especiais (denominados de
“jardineiras”), passa por 25 pontos turísticos em um percurso de cerca de 44 km, no qual são
permitidos aos usuários um embarque e quatro reembarques (SETU, 2009).
3.1 Fases da Pesquisa
O estudo é estruturado em duas fases principais, compreendendo, em primeira instância, os
diferentes componentes dos sistemas – natural e cultural – do ambiente total, e, em um segundo
momento, as diversas condições dos mecanismos perceptuais relacionados com a experiência
humana.
A análise do espaço visual do ambiente total é realizada com base no método indireto de
avaliação a partir de componentes da paisagem, enquanto a interpretação dos mecanismos
perceptuais é subordinada tanto ao método direto de avaliação de preferências visuais quanto ao
método misto baseado em modelos de análise de regressão.
O método indireto é estruturado em um sistema misto de unidades paisagísticas, tanto irregulares
– correspondentes aos limites físicos específicos das 27 zonas e dos 120 compartimentos
urbanísticos considerados –, quanto regulares – resultantes da sobreposição às unidades
anteriores de uma malha de 14.299 quadrículas de 125 por 250 m (3,12 ha), com seleção
aleatória de 568 unidades amostrais para a devida consistência estatística. A medição dos
componentes paisagísticos selecionados (áreas impermeáveis – construídas, pavimentadas e
outras – e permeáveis – com cobertura arbórea, com vegetação não arbórea, solo exposto e
outras) é resultante da interpretação das unidades amostrais em imagens aéreas (GOOGLE
EARTH, 2010), com respectiva aferição em campo. O sistema de valoração destes componentes
é apoiado em referências bibliográficas, em trabalhos técnicos similares e em consultas
específicas a especialistas, considerando variados atributos (como diversidade, compatibilidade,
singularidade, mutabilidade, complexidade e amplitude visual), além de elementos não visuais,
relacionados a outros fatores perceptivos da paisagem. Com sua espacialização em mapas
distribuída segundo quatro classes representadas por quartis, o conjunto de valores de cada
componente paisagístico em cada quadrícula expressa o resultado por unidade de paisagem.
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O método direto de análise de preferências visuais se fundamenta nas 27 unidades amostrais com
média de área permeável (variável principal) mais próxima à média da própria zona. Cada unidade
é representada por fotografias produzidas sob condições e critérios específicos de levantamento e
reprodução fotográfica. A pesquisa amostral junto à população de Curitiba (252 moradores com
idade superior a 7 anos) e a turistas (110 pessoas com idade superior a 7 anos) é baseada em
amostra estratificada por gênero, faixa etária, nível de escolaridade e faixa de renda conforme a
estrutura populacional da cidade, além da consideração da procedência para a população não
residente. Como resultado, tem-se o enquadramento das 27 fotografias em cinco classes de
qualidade da paisagem.
O método misto é aplicado com base na formulação de modelos de regressão definidos a partir da
técnica "passo-a-passo" (stepwise), sendo testadas mais de 2.000 alternativas, entre modelos
gerais e por categorias de avaliadores e seus estratos. Para tanto, tem-se o detalhamento, em
campo, da medição de componentes paisagísticos complementares (como calçadas e fiação
aérea de energia elétrica, dentre outros) nas 568 unidades amostrais anteriormente selecionadas.
As informações também são espacializadas em mapas por compartimentos, segundo quatro
classes representadas por quartis.
A situação geral da paisagem urbana de Curitiba é retratada pelo relacionamento dos resultados
relativos ao ambiente total (método indireto) e à experiência humana (métodos direto e misto),
sendo, então, proposto o método de avaliação integrada de qualidade paisagística, com
estabelecimento de dois procedimentos básicos. No primeiro – por zona – é realizada a somatória
dos seus posicionamentos relativos em cada avaliação, obtendo-se, assim, sua posição final, o
que permite a indicação de prioridades de recuperação ou conservação das condições
paisagísticas relativamente ao ambiente total ou à experiência humana, conforme o
posicionamento definitivo da zona acima ou abaixo da média total em cada avaliação,
respectivamente. No segundo – por compartimento – é efetuada a soma dos valores de seu
posicionamento em cada avaliação, resultando, assim, em nova classificação por meio de
cruzamento matricial, com a determinação de sete classes, permitindo, também, o
estabelecimento de prioridades de recuperação ou conservação das características da paisagem.
4 Resultados
Os resultados encontrados são adiante apresentados tanto para o ambiente total quanto em
relação à experiência humana, sendo sintetizados por meio da avaliação integrada.
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4.1 Avaliação da Qualidade da Paisagem do Ambiente Total
Pela análise do seu espaço visual pelo método indireto, depreende-se que a paisagem do
ambiente total apresenta 85% da área total da cidade (correspondente a 15 zonas, onde reside
71% da população) na classe de qualidade visual superior à média registrada para o município.
Com taxa de ocupação dos lotes (53%) e densidade demográfica (29 hab/ha) inferiores às médias
municipais, verifica-se que as áreas pouco urbanizadas possuem melhores características
paisagísticas.
Com a desagregação das zonas nos seus compartimentos urbanísticos (Figura 2), constata-se
que a classe de alta qualidade visual do ambiente total (quartil superior) passa a ocupar 56% do
território municipal, abrigando 25% da população. Caracterizando áreas urbanisticamente pouco
consolidadas, as taxas de ocupação dos lotes (53%) e de densidade demográfica (23 hab/ha)
também são inferiores às médias municipais.
Cabe destacar que cerca de 48% do percurso principal da Linha Turismo se desenvolve em
espaços inseridos nesta classe de elevada condição paisagística, caracterizada em bases
estritamente técnicas.
4.2 Avaliação da Qualidade da Paisagem pela Experiência Humana
Pela análise direta da qualidade da paisagem a partir da interpretação de preferências visuais da
população curitibana e de turistas, diagnostica-se que tanto os residentes quanto os visitantes
avaliam uma área equivalente a 27% do município, relacionada a 33% dos seus habitantes, como
de qualidade visual superior à média municipal, com taxas de ocupação dos lotes (69%) e de
densidade demográfica (57 hab/ha) superiores às médias da cidade. Interpreta-se, portanto, que
as paisagens com maior grau de naturalidade não constituem, no presente estudo, importante
fator de preferência visual para ambas as populações pesquisadas, as quais apontam as mesmas
14 zonas como integrantes desta classe, com coincidência das cinco com melhores posições,
apenas com a inversão de terceiro e quarto lugares.
Reforçando este resultado, percebe-se, claramente, no conjunto das fotografias que compõem a
classe de qualidade visual superior, a forte intenção de tratamento dos espaços. Por outro lado,
naquelas constituintes da classe de qualidade visual inferior, observa-se marcante falta de
manutenção e agenciamento dos ambientes.
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alta qualidade
média alta qualidade
média baixa qualidade
baixa qualidade
Figura 2 : Mapa de Classificação da Qualidade da Paisagem de Compartimentos Urbanísticos de
Curitiba pela Avaliação do Ambiente Total Fonte : Elaborada com base nos resultados do método indireto.
Linha Turismo
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Pela aplicação dos modelos de regressão do método misto, verifica-se que a classe de qualidade
visual superior à média municipal a partir da experiência humana (11 zonas) é relacionada a 35%
da cidade e a 29% da sua população, caracterizando regiões mais urbanizadas, dada a ocupação
dos lotes (63%) e a densidade demográfica (49 hab/ha) superiores às médias de Curitiba.
Para o conjunto dos compartimentos urbanísticos da cidade (Figura 3), a classe de alta qualidade
visual a partir da experiência humana (quartil superior) abrange apenas 16% do município,
abrigando 18% dos seus habitantes. As taxas de ocupação dos lotes e de densidade demográfica
(64% e 49 hab/ha, respectivamente) também configuram altos graus de urbanização.
Diversamente ao anteriormente diagnosticado, apenas 9% da Linha Turismo percorre regiões
desta classe de expressiva qualidade visual sob o ponto de vista de moradores e turistas, o que
expõe significativas diferenciações interpretativas em relação a condicionantes de ordem técnica.
4.3 Avaliação Integrada da Qualidade da Paisagem
A análise comparativa dos resultados anteriores pelo método integrado evidencia que apenas
30% das zonas urbanísticas não apresenta diferença de posicionamento superior ou inferior a
aproximadamente 10% dos postos (3 posições) nas duas tipologias de avaliação. Por outro lado,
condições significativas são reveladas para outros 30% das zonas, que apresentam mais de 50%
de alteração de posicionamento (13 postos).
Justifica-se, portanto, a análise integrada dos dados encontrados com a aplicação dos
procedimentos adotados, tanto pela agregação de atributos positivos como pela redução de
condições negativas de cada um deles, especialmente diante da divergência de resultados entre a
avaliação apoiada em bases técnicas de componentes dos subsistemas natural e cultural do
espaço visual do ambiente total (método indireto) e a interpretação a partir da experiência humana
e da sua percepção da paisagem, seja pela investigação das preferências visuais da população
de Curitiba e de turistas (método direto), seja pelo exame dessas preferências por análise de
regressão (método misto).
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alta qualidade
média alta qualidade
média baixa qualidade
baixa qualidade
Figura 3 : Mapa de Classificação da Qualidade da Paisagem de Compartimentos Urbanísticos de
Curitiba pela Avaliação da Experiência Humana Fonte : Elaborada com base nos resultados dos métodos direto e misto.
Linha Turismo
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Os resultados gerais da avaliação integrada da qualidade da paisagem de Curitiba apontam, para
a classe de qualidade paisagística superior à média municipal, uma região equivalente a 58% do
espaço do município, comportando 32% da sua população, com taxa de ocupação dos lotes
(59%) e densidade demográfica (34 hab/ha) pouco inferiores às médias registradas para a cidade,
comportando, por decorrência, situações dinâmicas de urbanização.
Os compartimentos urbanísticos com classes de qualidade superior da paisagem (muito alta e
alta) englobam 38% da área total municipal (Figura 4), relacionando-se com 24% dos habitantes,
onde a ocupação dos lotes (62%) é pouco superior à média curitibana, enquanto a densidade
demográfica (31 hab/ha) apresenta situação inversa (inferior), caracterizando um processo de
expansão urbana.
Com a integração dos resultados, cerca de 26% da Linha Turismo encontra-se relacionada à
classe de melhores condições visuais, a qual é fundamental para a gestão de espaços voltados ao
turismo (CRUZ, 2000; YAZIGI, 2003).
5 Conclusão
Pela variação dos resultados encontrados entre a aplicação dos procedimentos com enfoque
técnico e o desenvolvimento dos estudos da observação humana, conclui-se que os métodos de
avaliação da qualidade paisagística não são excludentes entre si, sendo, por consequência,
necessária a sua integração, especialmente com a agregação de valores intrínsecos do ambiente
urbano às condições de subjetividade dos observadores dos cenários urbanizados.
Diagnostica-se, também, a tendência de deterioração da qualidade da paisagem em função das
interferências visuais da expansão urbana. No caso de Curitiba, nas áreas de entorno dos
principais locais turísticos, percebe-se a tendência à redução qualitativa dos seus aspectos
visuais. Por sua vez, o modelo metodológico proposto, baseado em etapas fundamentais do
processo de gestão da qualidade paisagística, possibilita a indicação de prioridades para a
conservação ou recuperação de condições visuais visando ao desenvolvimento do turismo local e
à elevação do nível de satisfação dos usuários em relação aos espaços urbanos.
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muito alta qualidade
alta qualidade
média alta qualidade
média qualidade
média baixa qualidade
baixa qualidade
muito baixa qualidade
Figura 4 : Mapa de Classificação da Qualidade da Paisagem de Compartimentos Urbanísticos de
Curitiba pela Avaliação Integrada Fonte : Elaborada com base nos resultados do método integrado.
Linha Turismo
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Constituindo um instrumento simplificado para a análise de qualidade de vida, com diferentes
alternativas para o agenciamento de espaços turísticos, a avaliação integrada da qualidade
paisagística propicia o monitoramento das condições do ambiente urbano, pela análise do espaço
visual (método indireto), e a determinação do grau de satisfação do cidadão e do turista em
relação à paisagem urbana, pela interpretação da experiência humana (métodos direto e misto).
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