a c Ó r d à o (1ª turma) agravo de instrumento. recurso de...

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A C Ó R D Ã O (1ª Turma) GMWOC/rfm/mr AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS. LEGITIMIDADE ATIVA. O art. 129, III, da Constituição da República de 1988 autoriza o Ministério Público a promover, mediante ação civil, a defesa dos interesses sociais difusos e coletivos. Por sua vez, o art. 83, III, da Lei Complementar nº 75/93 atribui ao Ministério Público do Trabalho competência para promover, no âmbito da Justiça do Trabalho, ação civil pública visando à defesa de interesses coletivos, quando desrespeitados os direitos sociais constitucionalmente garantidos. O interesse de agir do Ministério Público do Trabalho, ao ajuizar ação civil pública trabalhista, radica no binômio necessidade-utilidade da tutela solicitada no processo, com a finalidade de que a ordem jurídica e social dita violada pelo réu seja restabelecida. Assim, tratando- se o pleito de tutela inibitória, destinada a vedar prática discriminatória dirigida a empregados portadores do vírus da AIDS ou de qualquer outra enfermidade, e de tutela condenatória, consistente no pagamento de indenização por danos morais coletivos reversíveis ao Fundo de Amparo do Trabalhador - FAT, o Ministério Público do Trabalho tem legitimidade para ingressar com a ação civil pública. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS COLETIVOS. CONDUTA DISCRIMINATÓRIA. DISPENSA DE EMPREGADO PORTADOR DO VÍRUS DA AIDS E OUTRAS ENFERMIDADES. ATO ATENTATÓRIO ÀS GARANTIAS FUNDAMENTAIS. Trata-se de ação civil pública, na qual o Ministério Público do Trabalho busca a concessão de tutela inibitória destinada a vedar a dispensa de empregados portadores do vírus da AIDS ou de qualquer outra enfermidade, bem como a concessão de tutela condenatória consistente no pagamento de indenização por danos morais coletivos no importe de R$ 250.000,00 (duzentos mil reais), reversíveis ao Fundo de Amparo ao Trabalhador - FAT. Na hipótese, relativamente à indenização por danos morais coletivos, o Tribunal Regional do Trabalho deu provimento ao recurso ordinário interposto pelo Ministério Público do Trabalho para condenar o reclamado ao pagamento de indenização correspondente, por concluir que a prática discriminatória, consubstanciada no fato de o reclamado compelir empregada a pedir demissão em virtude de ser portadora do vírus HIV, configurou grave transgressão a interesses difusos da sociedade. Asseverou que o ataque aos princípios básicos de constituição da sociedade por meio da negativa de eficácia de garantias fundamentais constitui ofensa ao patrimônio moral coletivo, revelando-se útil e até necessário que se proceda à reparação pecuniária do ato atentatório às garantias fundamentais, como forma

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A C Ó R D Ã O

(1ª Turma)

GMWOC/rfm/mr

AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS. LEGITIMIDADE ATIVA.

O art. 129, III, da Constituição da República de 1988 autoriza o Ministério Público a promover, mediante ação

civil, a defesa dos interesses sociais difusos e coletivos. Por sua vez, o art. 83, III, da Lei Complementar nº 75/93 atribui ao Ministério Público do Trabalho competência para promover, no âmbito da Justiça do Trabalho, ação civil pública visando à defesa de interesses coletivos, quando desrespeitados os direitos sociais constitucionalmente garantidos. O interesse de agir do Ministério Público do Trabalho, ao ajuizar ação civil pública trabalhista, radica no binômio necessidade-utilidade da tutela solicitada no processo, com a finalidade de que a ordem jurídica e social dita violada pelo réu seja restabelecida. Assim, tratando-se o pleito de tutela inibitória, destinada a vedar prática discriminatória dirigida a empregados portadores do vírus da

AIDS ou de qualquer outra enfermidade, e de tutela condenatória, consistente no pagamento de indenização por danos morais coletivos reversíveis ao Fundo de Amparo do Trabalhador - FAT, o Ministério Público do Trabalho tem legitimidade para ingressar com a ação civil pública.

INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS COLETIVOS. CONDUTA DISCRIMINATÓRIA. DISPENSA DE EMPREGADO PORTADOR DO VÍRUS DA AIDS E OUTRAS ENFERMIDADES. ATO ATENTATÓRIO ÀS GARANTIAS FUNDAMENTAIS.

Trata-se de ação civil pública, na qual o Ministério Público

do Trabalho busca a concessão de tutela inibitória destinada a vedar a dispensa de empregados portadores do vírus da AIDS ou de qualquer outra enfermidade, bem como a concessão de tutela condenatória consistente no pagamento de indenização por danos morais coletivos no importe de R$ 250.000,00 (duzentos mil reais), reversíveis ao Fundo de Amparo ao Trabalhador - FAT. Na hipótese, relativamente à indenização por danos morais coletivos, o Tribunal Regional do Trabalho deu provimento ao recurso ordinário interposto pelo Ministério Público do Trabalho para condenar o reclamado ao pagamento de indenização correspondente, por concluir que a prática discriminatória, consubstanciada no fato de o reclamado compelir empregada a pedir demissão em virtude de

ser portadora do vírus HIV, configurou grave transgressão a interesses difusos da sociedade. Asseverou que o ataque aos princípios básicos de constituição da sociedade por meio da negativa de eficácia de garantias fundamentais constitui ofensa ao patrimônio moral coletivo, revelando-se útil e até necessário que se proceda à reparação pecuniária do ato atentatório às garantias fundamentais, como forma

pedagógica, no sentido de inibir novas condutas ofensivas. A pretensão do reclamado de ver excluída da condenação a indenização por danos morais coletivos não se viabiliza. Nos termos em que proferida, a decisão recorrida não viola a literalidade dos arts. 2º, "caput", da CLT, 3º e 13 da Lei nº 7.347/85, 188, I, do Código Civil e 5º, II, da

Constituição Federal. No que tange à divergência

jurisprudencial, os arestos colacionados não abordam a

indenização por dano moral coletivo, revelando-se, pois,

inespecíficos, à míngua da indispensável identidade de

premissas fáticas, o que atrai a incidência das Súmulas nº

23 e nº 296, I, do TST.

Agravo de instrumento a que se nega provimento.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento em Recurso de Revista n° TST-AIRR-153540-72.2003.5.13.0003, em que é Agravante BANCO ABN AMRO REAL S.A. e Agravado MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO DA 13ª REGIÃO.

A Vice-Presidência do Tribunal Regional do Trabalho da 13ª Região, mediante decisão às fls. 799, 802-803, denegou

seguimento ao recurso de revista interposto pelo Banco ABN

Amro Real S.A., o que ensejou a interposição do presente

agravo de instrumento (fls. 02-21).

O Ministério Público do Trabalho apresentou a

contraminuta ao agravo de instrumento (fls. 807-811) e as

contrarrazões ao recurso de revista (fls. 812-815).

Desnecessária a remessa dos autos ao Ministério Público do Trabalho, tendo em vista sua condição de parte no

processo.

É o relatório.

V O T O

1. CONHECIMENTO

O agravo de instrumento é tempestivo (fls. 02 e 804), tem representação regular (procuração à fl. 22,

substabelecimento à fl. 28) e se encontra devidamente

instruído, com o traslado das peças essenciais previstas no

art. 897, § 5º, I e II, da CLT e no item III da Instrução

Normativa nº 16/99 do TST. Atendidos os pressupostos legais

de admissibilidade recursal, CONHEÇO do agravo de

instrumento.

2. MÉRITO

2.1. NULIDADE DO JULGADO POR NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. NÃO CARACTERIZAÇÃO

A Vice-Presidência do Tribunal Regional do Trabalho da 13ª Região denegou seguimento ao recurso de revista

interposto pelo reclamado, expendendo, quanto à preliminar

de nulidade do acórdão por negativa de prestação

jurisdicional, a seguinte fundamentação, verbis (fl. 799):

Em que pesem os argumentos da instituição financeira, no tocante à alegação de

nulidade da decisão hostilizada, por negação de prestação jurisdicional, ração não lhe

assiste.

Com efeito, o recorrente alegou em seus embargos declaratórios haver omissão,

obscuridade e contradição no v. acórdão, às fls. 664/689, quando não definiu o que

representa a expressão 'qualquer outra enfermidade', bem como omissão quanto à análise

da documentação acostada no tocante à demissão da empregada Maria Betânia Pessoa

Coelho, e a contradição entre as conclusões e a prova produzida para o deferimento da

indenização por dano moral. Outrossim pediu ainda em sede de embargos de declaração

o recorrente esclarecimento no que diz respeito à cobrança de multa por descumprimento

da obrigação de não fazer.

No entanto, convém ressaltar que sobre os pontos argüidos houve decisão com os

fundamentos adotados pela Egrégia Corte Regional (fl. 719/721), fruto de seu

convencimento, configurando a resposta efetiva do Estado-juiz à invocação da tutela

pretendida pelo interessado, não se vislumbrando, em tese, a alegada afronta aos arts. 93,

IX, da Constituição Federal e 832 da CLT.

Ressalte-se, por oportuno, que consoante o disposto na Orientação Jurisprudencial nº

115 da SBDI-1 do Colendo Tribunal Superior do Trabalho, admite-se o conhecimento do

recurso, quanto à preliminar de nulidade do julgado por negativa de prestação

jurisdicional, apenas por violação dos arts. 832 da CLT, 458 do CPC ou 93, IX, da CF.

Assim sendo, fica afastado o conhecimento do apelo por afronta aos arts. 5º, XXXV, LV,

da Carta Magna; 897-A da CLT e 535 do CPC, além dos arestos colacionados,

impertinentes, pois, para embasar a referida preliminar.

Nas razões do agravo de instrumento, o reclamado postula a reforma da decisão denegatória, ao argumento de

que o recurso de revista preencheu os pressupostos

necessários à sua admissão. Reafirma a tese de nulidade do

julgado por negativa de prestação jurisdicional, sob a

alegação de que o Tribunal Regional, mesmo instado por meio

de embargos de declaração, não apreciou a questão da

indenização de R$ 250.000,00 (duzentos e cinquenta mil reais)

e outras questões importantes postas nos embargos

declaratórios.

Por medida de economia e celeridade processuais, o

agravante se reporta, como se transcritos estivessem nas

razões do recurso de revista e do agravo de instrumento, a

todos os termos e todas as questões, omissões, contradições

e obscuridades apontadas nos embargos de declaração,

asseverando que não foram apreciadas e sanadas pelo Tribunal

Regional.

Em decorrência do articulado, reitera a violação

dos arts. 832 e 897-A da CLT, 535 do CPC e 5º, XXXV e LV, e

93, IX, da Constituição Federal e a divergência

jurisprudencial acostada no recurso de revista.

Não procedem, contudo, os argumentos do agravante.

De plano, frise-se que conhecimento do recurso de

revista, em relação à preliminar de nulidade por negativa da

prestação jurisdicional, restringe-se à observância da

Orientação Jurisprudencial nº 115 da SBDI-1 do TST, ou seja,

violação dos arts. 832 da CLT, 458 do CPC ou 93, IX, da Carta

Magna. Assim, afasta-se a admissão do apelo por outros

dispositivos normativos e por divergência jurisprudencial.

De outra parte, da análise das razões de recurso de revista, observa-se que o reclamado argui a preliminar de

forma genérica, não especificando em que aspectos teria se

dado a recusa da prestação jurisdicional, o que é impróprio,

pois impossibilita o exame da ocorrência, ou não, de negativa

de prestação jurisdicional, desabilitando a revista quanto

à preliminar em epígrafe.

Com efeito, a análise de eventual nulidade por negativa de prestação jurisdicional, em sede de recurso de

revista, submete-se às restrições pertinentes ao exame do

apelo extraordinário. Dessa forma, a arguição de nulidade do

julgado deve ser explícita quanto aos pontos ou questões em

que se deu a negativa da prestação jurisdicional do Órgão

Julgador, sendo improfícua a arguição genérica de omissão,

contradição e obscuridade ou o mero reporte às razões de

embargos de declaração, haja vista que todo o objeto da

insurgência deve estar expresso nas razões recursais.

Mesmo que assim não fosse, verifica-se não existir

negativa da prestação jurisdicional a ser declarada. Isso

porque o Tribunal Regional da 13ª Região, mediante a decisão

às fls. 754-756, embora tenha rejeitado os embargos de

declaração opostos pelo reclamado, fixou, de forma expressa

e fundamentada, os pressupostos fáticos e jurídicos

necessários para o deslinde da controvérsia. Vejamos:

Diz o embargante que há omissão, obscuridade e contradição na decisão vergastada,

notadamente ao não definir o que representaria a expressão "qualquer outra enfermidade",

inserida na conclusão. Acrescenta, ainda, que inexiste fundamentação para tal

condenação. Sustenta, também, a existência de omissão quanto à análise da

documentação acostada, precisamente no tocante à demissão da empregada Maria

Betânia Pessoa Coelho. Finalmente, aponta contradição entre as conclusões e a prova

produzida, para o deferimento da indenização por dano moral. Requer, por último,

esclarecimento quanto à cobrança de multa por descumprimento da obrigação de não

fazer.

Não procedem os seus argumentos.

Para a configuração da obscuridade, o ato judicial deve ser de difícil compreensão,

dúbio, passível de várias interpretações, em virtude da falta de elementos textuais que o

organize, conferindo-lhe harmonia interpretativa. É o conceito que se opõe à clareza,

revelando-se obscuro todo ato judicial que, diante da falta de coesão lexical, não permite

segura e única interpretação.

Por outro lado, a omissão a ensejar a propositura de embargos de declaração só ocorre

quando o juiz ou o tribunal deixa de se manifestar sobre pondo que estava obrigado a

fazê-lo. Adotado um fundamento lógico que solucione a lide, inexiste omissão.

Destarte, não caracteriza omissão a não-apreciação de todos os argumentos veiculados

pela parte, mormente considerando que a decisão se encontra fundamentada.

Finalmente, a contradição existiria se algo fosse afirmado na fundamentação e negado

no dispositivo ou na própria fundamentação. Não há contradição entre o afirmado no

acórdão e em documento.

Essas hipóteses não restam configuradas nos autos.

In casu, não se discute o direito individual de ex-empregado do reclamado, o qual foi

objeto da reclamação trabalhista própria, cujas conclusões forma acolhidas nas razões do

acórdão. Ademais, a decisão embargada também fez um exame acurado das novas provas

produzidas nestes autos, para concluir acerca da conduta discriminatória do recorrente,

conforme registrado às fls. 669 e seguintes.

Frise-se que o objetivo da presente ação é delimitar se a ofensa do direito fundamental

se limitou à individualidade da referida empregada ou se, por outro lado, alcançou direitos

difusos da sociedade, merecedores, portanto, de uma tutela mais abrangente, em razão da

garantia constitucional à isonomia.

Outrossim, a expressão "por empregado atingido", contida no dispositivo, fixa o

momento em que se torna exigível a pena pecuniária de R$ 250.000,00 (duzentos e

cinqüenta mil reais), qual seja, a dispensa de funcionário em razão de ser ele portador do

vírus da AIDS ou estar acometido por qualquer outra enfermidade. Isto é, o estado de

saúde do empregado não pode ser causa de sua dispensa do trabalho, sendo irrelevante a

doença que apresente.

Nesse ponto, aliás, o texto é claro e preciso: qualquer que seja a moléstia que acomete

o trabalhador, não poderá ser ele discriminado por este motivo, com demissão ou outro

ato patronal que revele essa conduta infausta. O nexo causal é que dirá do

descumprimento, ou não, da tutela inibitória.

Finalmente, a questão de ser o sucessor responsável pela demissão de Maria Betânia

Pessoa Coelho é incontroversa nos autos, tendo a defesa confirmado que a sua dispensa

foi decisão da Diretoria de Recursos Humanos em São Paulo, além dos TRCT's terem

sido emitidos pelo ora embargante (fls. 202/204 e 380).

Festas essas considerações, os demais argumentos expendidos pelo Banco refletem,

tão-somente, o seu inconformismo com a decisão, remetendo ao reexame de prova

matéria não passível de apreciação mediante embargos de declaração, que têm a

finalidade específica de aperfeiçoar o decisum, afastado possíveis falhas do órgão

julgador, como previsto no CPC, artigo 535, e na CLT, art. 897-A.

A decisão, portanto, não revela nenhum dos vícios relacionados nos dispositivos acima.

Isto posto, rejeito os embargos de declaração.

Constata-se que a argumentação expendida pelo reclamante de insuficiência na prestação jurisdicional

apenas demonstra seu inconformismo com os termos da decisão

que lhe foi desfavorável, o que não caracteriza hipótese de

nulidade por negativa de prestação jurisdicional. A

jurisdição foi prestada de forma completa, em acórdão

devidamente fundamentado, com o enfrentamento de todos os

pressupostos fáticos e jurídicos necessários para o deslinde

da controvérsia.

Assim sendo, não estando configurada a negativa de

prestação jurisdicional, mostra-se insubsistente a invocada

violação dos arts. 832 da CLT e 93, IX, da Carta Magna.

2.2. INÉPCIA DA INICIAL. ILEGIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM

Nas razões do agravo de instrumento, não foi renovada a argumentação quanto à inépcia da inicial e à ilegitimidade passiva ad causam do recorrente. Assim, à luz do princípio processual da delimitação recursal, deixa-se de examinar o recurso de revista quanto aos temas epigrafados, porquanto caracterizada a renúncia tácita do direito de recorrer

2.3. INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO EM RAZÃO DA MATÉRIA. INCOMPETÊNCIA FUNCIONAL DA VARA DO TRABALHO DE ORIGEM

O Juízo de admissibilidade do Tribunal de origem, relativamente à suscitada incompetência da Justiça do Trabalho em razão da matéria e à incompetência funcional,

denegou seguimento ao recurso de revista interposto pelo reclamado, adotando a seguinte fundamentação, verbis (fls. 799 e 802):

No que pertine à alegação do recorrente a respeito da inépcia da inicial e à

incompetência da Justiça do Trabalho em razão da matéria para julgar o dano moral, bem

como os arestos colacionados, às fls. 730/732, e a alegada incompetência funcional,

também não procede o recurso interposto, uma vez que a decisão questionada não adotou

tese explicita sobre a matéria, tampouco o recorrente questionou através dos embargos

declaratórios opostos, o que inviabiliza o apelo revisional neste aspecto, a teor da Súmula

nº 297/TST.

Nas razões do agravo de instrumento, a reclamada pugna pela reforma da decisão denegatória, ao argumento de que o recurso de revista preencheu os pressupostos necessários à sua admissão. Afirma que, relativamente à incompetência em razão da matéria, ao contrário do que assenta a decisão denegatória, a decisão recorrida conflita com as decisões trazidas à colação no recurso de revista.

Não procede a insurgência. A decisão agravada mostra-se irretocável.

Com efeito, quanto à suscitada incompetência da Justiça do Trabalho, constata-se que o Tribunal Regional não

se pronunciou a respeito, nem mesmo foi instado a fazê-lo

por meio dos embargos de declaração opostos, restando ausente

o necessário prequestionamento da matéria. Incidência da

Súmula nº 297, I e II, do TST.

Ademais, sinale-se que o agravante, no particular,

não infirma, de modo específico e fundamentado, as razões

exaradas na decisão denegatória do recurso de revista, qual

seja a Súmula nº 297 do TST, o que impede a verificação do

acerto ou desacerto da decisão proferida pelo Juízo de

admissibilidade a quo. Não tendo sido observado o pressuposto

da regularidade formal do agravo de instrumento, que

constitui recurso de fundamentação vinculada (arts. 514, II,

e 524, II, do CPC), aplica-se a diretriz traçada na Súmula

nº 422 desta Corte Superior.

2.4. MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS. LEGITIMIDADE ATIVA

A Corte de origem denegou seguimento ao recurso de revista interposto pelo reclamado, proferindo, quanto ao tópico, o seguinte entendimento, verbis (fls. 128-129):

Alega o recorrente que o Ministério Público do Trabalho é parte ilegítima para postular

o pedido constante da inicial, porquanto o legitimado seria o sindicato da categoria, por

se tratar de disciplinamento sobre a AIDS, previsto em cláusula de Convenção Coletiva

do Trabalho. Sustenta, ainda, que qualquer demanda sobre a questão deveria ser através

de uma ação de cumprimento, sob pena de violação do art. 872 da CLT.

Ainda sob o prisma da ilegitimidade de parte, o recorrente afirma que a questão

discutida nos presentes autos trata de interesses individuais homogêneos, certos e

determinados, não havendo fundamento legal para o Ministério Público do Trabalho

ajuizar a presente ação civil pública.

No ponto referente à ilegitimidade do Ministério Público do Trabalho para postular no

presente feito, observa-se da ementa do julgado, às fls. 592/599, in verbis:

"AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS. LEGITIMAÇÃO

DO MINISTÉRIO PÚBLICO. Tratando-se de pleito que versa sobre direitos difusos e

coletivos, assim entendidos aqueles que têm origem comum e interessam a uma

coletividade, na hipótese de trabalhadores, o Ministério Público do Trabalho tem

legitimidade para ingressar com Ação Civil Coletiva, objetivando a reparação do dano

em concreto experimentado pelos obreiros. Nesse caso, atua o Parquet em defesa do

grupo, tal como definido no Código Nacional do Consumidor, artigo 81, parágrafo

único, incisos II e III, e artigo 82, e na Lei Orgânica do Ministério Público (Lei nº

8.625, de 12 de fevereiro de 1992), cujo artigo 25, inciso IV, letra "a", o autoriza como

titular da ação, dentre muitos, pugnar pela proteção de outros interesses difusos,

coletivos e individuais indisponíveis e homogêneos."

Portanto, ao decidir dessa forma, não há que se falar em ilegitimidade do Ministério

Público para propor a presente ação, e, portanto, não havendo que se falar,

conseqüentemente, em violação dos arts. XXVI, e 8º, III, da Carta Magna.

No agravo de instrumento, o reclamado reafirma que o Ministério Público é parte manifestamente ilegítima para figurar no polo ativo da presente Ação Civil Pública. Para tanto, sustenta que a pretensão deduzida não abrange a toda a categoria profissional dos bancários, mas restringe-se a defesa hipotética e em tese de pretensos portadores do vírus da AIDS. Trata-se, portanto, de interesses certos e determinados, e não de interesses difusos e coletivos, não havendo fundamento legal para o Parquet ajuizar a presente Ação Civil Pública. Reitera a violação dos arts. 81 do Código de Defesa do Consumidor e aduz que a divergência jurisprudencial restou demonstrada.

Não procede a argumentação do agravante.

De plano, registre-se que a pretensão recursal será analisada apenas quanto à violação legal expressamente

devolvida à apreciação no agravo de instrumento, ante a

ocorrência de preclusão quanto às violações legais e

constitucionais veiculadas no recurso denegado e não

reiteradas no presente apelo.

Assinale-se, também, que o aresto colacionada à fl.

12 não foi transcrito no recurso de revista, configurando

inovação recursal, insuscetível de análise neste momento

processual, em observância ao princípio da congruência,

consubstanciado no art. 128 do CPC.

Feitas essas considerações, tem-se que o Tribunal Regional do Trabalho da 13ª Região, mediante o acórdão às fls. 628-634, deu provimento parcial ao recurso ordinário interposto pelo Ministério Público do Trabalho para considerar legítima a sua atuação. A decisão foi proferida nos seguintes termos, verbis:

O Juízo de 1º grau, na sentença de fls. 484/488, declarou a ilegitimidade do

Ministério Público do Trabalho para atuar no pólo ativo da presente lede, acolheu

a prefacial suscitada pelo réu - banco ABN e extinguiu o feito sem julgamento do

mérito, nos termos do art. 267, VI do CPC.

Ocorre que, de acordo com a reelaborada teoria abstrata do direito de agir, as

condições da ação que autorizam a apreciação meritória de uma causa são

verificadas in statu assertionis, ou seja, através de uma análise in abstractu da inicial

e da contestação.

Ora, nesse diapasão de raciocínio, se, na peça de ingresso, o Parquet afirmou que

estava defendendo direitos difusos e coletivos, decorrente das relações de trabalho,

nos termos legais, dever-se-ia considerar a sua legitimidade para figurar no pólo

ativo da presente demanda.

Todavia, acaso se constate posteriormente que as alegações não se sustêm, a

solução será de improcedência da pretensão e não de extinção do processo sem

apreciação meritória, como entendeu o Juízo de 1º grau.

Outrossim, o MPT está plenamente legitimado para a defesa, não somente de

interesses individuais homogêneos, mas, igualmente, de direitos difusos e coletivos,

com espeque nos artigos 6º, VII, "d", da Lei Complementar nº 75/93 e 91, c/c os

artigos 81, Parágrafo Único, II e III, e 82, I, da Lei nº 8.078/90, aplicáveis a direitos

de qualquer natureza, por força da determinação contida no art. 21, da Lei nº

7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública).

Alega, o Parquet, a existência, na presente demanda, de direitos difusos e coletivos,

com inequívoca dimensão transindividual, na proporção em que pleiteia a imposição

de obrigação de não fazer para que o banco ré se abstenha de demitir ou retaliar os

atuais empregados ou os empregados em potencial, pelo fato de estarem lesados,

bem como, a adequada condenação por dano moral coletivo em virtude da incorreta,

desleal e antijurídica postura da empresa-ré.

Nos dizeres de Nelson Nery Júnior, em sua obra Código de Processo Civil

Comentado - Editora RT - 5ª Ed. -2001 - pg. 1518 e 1537, o que determina a

classificação de um direito como difuso, coletivo, individual puro ou individual

homogêneo é o tipo de tutela jurisdicional que se pretende quando se propõe a

competente ação judicial. Ou seja, o tipo de pretensão que se deduz em juízo.

Diante de tal premissa, e analisando-se o caso concreto, a meu ver equivoca-se o

Juízo sentenciante, quando conclui que o objeto da Ação Coletiva, impetrada

pelo Parquet, não visa direitos difusos e coletivos e sim direito individual homogêneo.

Leciona o mestre Ibrain Rocha, em sua obra Ação Civil Pública e o Processo do

Trabalho, da Editora LTR, 1996, páginas 32 e 37, in verbis:

"A conceituação normativa dos interesses difusos foi introduzida no direito

positivo brasileiro através da Lei n. 8.078/90, art. 81, parágrafo único, inciso I, que

os definiu como os 'direitos ou interesses transindividuais, de natureza indivisível,

que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato'.

Consideram-se transindividuais porque ultrapassam os interesses de um indivíduo

isolado, afetando diversas esferas de interesses de várias pessoas. Tem natureza

indivisível porque é impossível a sua participação em cotas entre as pessoas, pois é

da sua própria natureza a fluidez, mutabilidade constante no tempo e no espaço.

A titularidade é de pessoas indeterminadas porque esta não pode Sr atribuída a

um grupo ou pessoa que seja o dono destes interesses ou, mais especificamente, da

situação de falto." (fls. 32

"(...) podemos definir os interesses ou direitos coletivos, no campo das relações de

trabalho, como os transindividuais de natureza indivisível de que seja titular grupo,

categoria ou classe profissional ou econômica ligadas entre si ou com a parte

contrária por uma relação jurídica base..." (fls. 37)

E, ainda, corroborando tal ensinamento, com absoluta propriedade, o Jurista

Carlos Henrique Bezerra Leite, em sua obra Ministério Público do Trabalho, da

Editora LTR, 1998, páginas 105, 106 e 107, ipsis litteris:

"Há quem sustente inexistir direitos e interesses difusos na seara trabalhista, na

medida em que já se sabe de antemão que dois são os sujeitos determinados, ou pelo

menos determináveis, da relação de emprego: o empregado e o empregador

(individual ou coletivamente considerados).

Ousamos dissentir de tal entendimento.

Lembra, a propósito, Antônio Álvares da Silva a hipótese de movimento paredista

deflagrado por sindicato profissional naqueles serviços considerados essenciais e

inadiáveis, cuja paralisação possa acarretar danos à comunidade (Lei n. 7.783/90,

art. 11).

Neste caso, não bastaria o Ministério Público do Trabalho suscitar, de ofício, o

dissídio coletivo de greve. Poderia (poder-dever), sim, ajuizar ação civil pública

objetivando a defesa dos interesses difusos da sociedade - e aqui os interesses são

indivisíveis e os sujeitos indeterminados - destinatária daqueles serviços.

(...) Percebe-se, sem esforço, que não há nos interesses difusos uma relação jurídica

entre os potenciais trabalhadores, nem entre estes e os tomadores de seus serviços,

mas o interesse público inerente a este tido de interesse exige uma atuação pronta e

eficaz que pode ser defendida por intermédio de uma ação civil pública trabalhista."

(fls. 105, 106 e 107)

"Enquanto sob a ótica meramente processual civilista os interesses individuais

homogêneos possuem como pedra de toque pra distingui-los dos coletivos o fato de

possibilitarem o ajuizamento de ações individuais pelos lesados, já sob o prisma

trabalhista tal elemento distintivo inexistiria, pois também os interesses coletivos se

revestem da mesma possibilidade jurídica (CLT, art. 195, § 2º. e 872, Parágrafo

Único)." (fls. 107)

Ademais, ainda em se tratando de direito individual homogêneo, o Ministério

Público do Trabalho detém plena legitimidade para proposição da Ação Civil

Pública respectiva, conforme entendimento do C. TST com relação ao tema em

questão, consoante se pode observar:

"PRELIMINAR DE CARÊNCIA DE AÇÃO: ILEGITIMIDADE ATIVA AD

CAUSAM DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO, ILEGITIMIDADE

PASSIVA E FALTA DE INTERESSE DE AGIR. INCONSTITUCIONALIDADE

DO ARTIGO 83, III, DA LEI COMPLEMENTAR Nº 75/93. A Constituição Federal

confere relevo ao Ministério Público como instituição permanente, essencial à

função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do

regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis (art. 127 da

CF/1988). Por isso mesmo detém o Ministério Público capacidade postulatória não

só para a abertura do inquérito civil, da ação penal pública e da ação civil pública

para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente, mas também de

outros interesses difusos e coletivos (art. 129, I e II, da CF/1988). No campo das

relações de trabalho, ao Parquet compete promover a ação civil pública no âmbito

desta Justiça para a defesa de interesses coletivos, quando desrespeitados os direitos

sociais constitucionalmente garantidos, bem assim outros interesses individuais

indisponíveis, homogêneos, sociais, difusos e coletivos (arts. 6º, VII, "d" e 83, III, da

LC 75/93). A conceituação desses institutos se encontra no art. 81 da Lei nº 8.078/90,

em que por interesses difusos entende-se os transindividuais, de natureza indivisível,

de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato,

ao passo que os interesses coletivos podem ser tanto os transindividuais, de natureza

indivisível, de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si

ou com a parte contrária por uma relação jurídica base, como os interesses

individuais homogêneos, subespécie daquele, decorrentes de origem comum no

tocante aos fatos geradores de tais direitos, origem idêntica essa que recomenda a

defesa de todos a um só tempo. Assim, a indeterminação é a característica

fundamental dos interesses difusos e a determinação é a daqueles interesses que

envolvem os coletivos. Nesse passo, na hipótese dos autos, em que se verifica

sociedade cooperativa com denúncia de fraude no propósito de intermediação de

mão-de-obra, com a não-formação do vínculo empregatício, pleiteando-se obrigação

de fazer e não fazer, os interesses são individuais, mas a origem única recomenda a

sua defesa coletiva em um só processo, pela relevância social atribuída aos interesses

homogêneos, equiparados aos coletivos, não se perseguindo aqui a reparação de

interesse puramente individual. No que respeita à invocação de ilegitimidade passiva

da recorrente, tendo sido a ela atribuída a lesão a direitos coletivos por estar se

valendo de intermediação ilegal para contratação de empregados, é ululante a sua

legitimidade para figurar no pólo passivo da demanda, não havendo cogitar em

afronta ao art. 267, VI, do CPC." (ORIGEM TRIBUNAL: TST DECISÃO:

08.10.2003 PROC: RR NUM: 738714 ANO: 2001 REGIÃO: 03 RECUROS DE

REVISTA TURAM: 04 ÓRGÃO JULGADOR - QUARTA TURMA FONTE DJ

DATA: 24-10-2003 PARTES RECORRENTE: CIA. VALE DO RIO DOCE.

RECORRIDO: MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO DA 3ª REGIÃO.

RELATOR MINISTRO ANTÔNIO JOSÉ DE BARROS LEVENHAGEN)

Seguindo essa linha de entendimento, e verificando a legitimidade ad causam do

Ministério Público do Trabalho para a Ação Civil Pública Trabalhista, em

decorrência de previsão legal expressa, como na hipótese sub examine, tenho, pois,

como legítima, a sua atuação, na presente lide.

Dessa forma, não versando a causa sobre questão exclusivamente de direito, mas

envolvendo matéria fático-probatória, impõe-se, conseqüentemente, seja o processo

devolvido à Vara de Origem, a fim de serem apreciados todos os demais aspectos da

lide, sob pena de supressão de instância.

Isto posto, dou provimento parcial ao Recurso para considera legítima a atuação

do Ministério Público do Trabalho no processo e determinar o retorno dos autos à

Vara de origem para apreciação dos demais aspectos da demanda.

Cinge-se a controvérsia em saber se o Ministério

Público do Trabalho detém legitimidade para ajuizar ação

civil pública contendo pedido de tutela inibitória,

destinada a vedar o dispensa de empregados portadores do

vírus da AIDS ou de qualquer outra enfermidade, e de tutela

condenatória, consistente no pagamento de indenização por

danos morais coletivos reversíveis ao Fundo de Amparo do

Trabalhador - FAT.

Trata-se, portanto, de um lado, de tutela preventiva,

que visa a prevenir o ilícito, e, de outro, de tutela

reparatória (indenização por dano moral coletivo).

Nos termos dos arts. 1º e 3º da Lei nº 7.347/85, a ação civil pública é destinada a conferir tutela efetiva aos

direitos difusos e coletivos, tendo por objeto a condenação

em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não

fazer.

Impende assinalar que não há impedimento legal para a cumulação de pedidos de tutela preventiva e ressarcitória.

A tutela inibitória funciona, nas palavras de

Guilherme Marinoni, basicamente, por meio de uma decisão ou

sentença que impõe um não fazer ou um fazer, conforme a

conduta ilícita temida seja de natureza comissiva ou

omissiva, e é caracterizada por ser voltada para o futuro,

independentemente de estar sendo dirigida a impedir a

prática, a continuação ou a repetição do ilícito. Este fazer

ou não fazer deve ser imposto sob pena de multa, o que

permite identificar o fundamento normativo-processual desta

tutela nos arts. 461 do CPC e 84 do Código de Defesa do

Consumidor.

Os arts. 461 do CPC e 84 do CDC enalteceram,

sobretudo, a viabilidade da ação civil pública inibitória,

cuja função preventiva a coloca entre os mais importantes

instrumentos de tutela jurisdicional de direitos coletivos

em sentido amplo.

Sendo a inibitória uma tutela voltada para o futuro e genuinamente preventiva, o dano não lhe diz respeito, pois

este é requisito indispensável para o surgimento da obrigação

de ressarcir, mas não para a constituição do ilícito.

O art. 129, III, da Constituição da República de 1988, autoriza o Ministério Público a promover, mediante ação civil, a defesa dos interesses sociais difusos e coletivos.

Por sua vez, o art. 83, III, da Lei Complementar nº 75/93 atribui ao Ministério Público do Trabalho competência para promover, no âmbito da Justiça do Trabalho, ação civil pública visando a defesa de interesses coletivos, quando desrespeitados os direitos sociais constitucionalmente garantidos.

O interesse de agir do Ministério Público do Trabalho, ao ajuizar ação civil pública trabalhista, radica no binômio necessidade-utilidade da tutela solicitada no processo, com a finalidade de que a ordem jurídica e social dita violada pelo réu seja restabelecida.

A circunstância de a demanda envolver discussão acerca de direitos que variem conforme situações

específicas, individualmente consideradas não é suficiente,

por si só, para impor limites à atuação do Ministério Público

do Trabalho na defesa de interesses sociais, sob pena de

negar-se vigência ao art. 129, III, da Constituição Federal,

que credencia o Parquet a propor ação civil pública

relacionada à defesa do interesse coletivo amplo.

Assim, tratando-se o pleito de tutela inibitória, destinada a vedar prática discriminatória fundada nas condições de saúde do empregado, e de tutela condenatória, consistente no pagamento de indenização por danos morais coletivos reversíveis ao Fundo de Amparo do Trabalhador - FAT, o Ministério Público do Trabalho tem legitimidade para ingressar com a ação civil pública.

Para ilustrar o entendimento acima expendido, destacam-se os seguintes precedentes desta Corte Superior:

RECURSO DE REVISTA. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. ADMINISTRAÇÃO

PÚBLICA INDIRETA. DEFINIÇÃO DE CARGOS EM COMISSÃO. DIREITOS

DIFUSOS. LEGITIMIDADEDO MINISTÉRIOPÚBLICODO TRABALHO. 1. O

Ministério Público do Trabalho detém legitimidade para pleitear, em ação civil pública,

tutela inibitória, na defesa de direitos difusos, especialmente quando relacionados à

observância de valores constitucionais, sob pena de afronta aos princípios da legalidade,

da impessoalidade e da moralidade, que regem a Administração Pública. 2. O manejo de

pretensão tendente ao resguardo de tais princípios integra as atribuições do -Parquet-, não

se podendo condenar condição da ação em nome do mérito. Recurso de revista conhecido

e provido. (TST-RR-206000-48.2006.5.01.0461, Relator Ministro Alberto Luiz Bresciani

de Fontan Pereira, 3ª Turma, DEJT 24/09/2010).

RECURSO DE EMBARGOS INTERPOSTO ANTERIORMENTE À LEI N.º

11.496/2007. LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO. AÇÃO

CIVIL PÚBLICA. DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS. PAGAMENTO

DE SALÁRIO ATÉ O QUINTO DIA ÚTIL DO MÊS SUBSEQÜENTE, FÉRIAS,

ABONO E VERBAS RESCISÓRIAS. 1. Diante de uma interpretação sistemática dos

arts. 6.º, VII, -d-, e 83, III, da Lei Complementar n.º 75/1993, 127 e 129, III, da

Constituição Federal, depreende-se que o Ministério Público detém legitimidade para

ajuizar Ação Civil Pública, buscando defender interesses individuais indisponíveis,

homogêneos, sociais, difusos e coletivos. 2. O STF e esta Corte possuem o entendimento

pacífico de que ao Ministério Público do Trabalho é conferida legitimidade para o

ajuizamento de Ação Civil Pública para a defesa de direitos individuais homogêneos dos

trabalhadores. 3. No caso dos autos, verifica-se que a pretensão do -Parquet- tem como

finalidade o pagamento de salário até o quinto dia útil do mês subsequente, férias, abono

pecuniário (art. 143 da CLT) até dois dias antes do início do período do gozo e verbas

rescisórias nos prazos estabelecidos nas alíneas a e c do art. 477 da CLT, direito

assegurado legal e constitucionalmente. 4. Patente, portanto, a legitimidade do Ministério

Público do Trabalho para o ajuizamento de Ação Civil Pública, porquanto se trata de

direito social, que está sendo desrespeitado pela ora Embargada. Recurso de Embargos

conhecido e provido. (TST-E-RR-734212-30.2001.5.23.5555, Relatora Ministra Maria

de Assis Calsing, SBDI-1, DEJT 18/06/2010).

EMBARGOS EM RECURSO DE REVISTA. ACÓRDÃO PUBLICADO NA

VIGÊNCIA DA LEI Nº 11.496/2007. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. DIREITOS

INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS. LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO.

O artigo 129, III, da CF confere legitimidade ao Parquet para tutelar os interesses difusos

e coletivos, prevendo, ainda, em seu inciso IX, autorização ao Ministério Público para -

exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que compatíveis com sua

finalidade -. O e. Supremo Tribunal Federal já decidiu que os interesses homogêneos são

espécie dos interesses coletivos, registrando a máxima Corte que - Direitos ou interesses

homogêneos são os que têm a mesma origem comum (art. 81, III, da Lei n 8.078, de 11

de setembro de 1990), constituindo-se em subespécie de direitos coletivos. (...) Quer se

afirme interesses coletivos ou particularmente interesses homogêneos, stricto sensu,

ambos estão cingidos a uma mesma base jurídica, sendo coletivos, explicitamente

dizendo, porque são relativos a grupos, categorias ou classes de pessoas, que conquanto

digam respeito às pessoas isoladamente, não se classificam como direitos individuais para

o fim de ser vedada a sua defesa em ação civil pública, porque sua concepção finalística

destina-se à proteção desses grupos, categorias ou classe de pessoas-. (RE 163231 / SP -

São Paulo, Relator Min. Maurício Corrêa, Tribunal Pleno, DJ 29-06-2001). Nesse

contexto, correta a e. Turma que reconheceu a legitimidade do Ministério Público do

Trabalho para ajuizar ação civil pública cujo objeto é que o empregador seja proibido de

impedir que seus empregados anotem a real jornada de trabalho. Recurso de embargos

conhecido e não provido. (TST- E-RR-173840-98.1998.5.15.0092, Relator Ministro

Horácio Raymundo de Senna Pires, SBDI-1, DEJT 09/10/2009).

MINISTÉRIOPÚBLICO DO TRABALHO. LEGITIMIDADE ATIVA. AÇÃO

CIVIL PÚBLICA. DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS. INTERESSE

SOCIAL RELEVANTE. 1. Na dicção da jurisprudência corrente do Supremo Tribunal

Federal, os direitos individuais homogêneos nada mais são do que direitos coletivos em

sentido lato, uma vez que todas as formas de direitos metaindividuais (difusos, coletivos

e individuais homogêneos), passíveis de tutela mediante ação civil pública, são coletivas.

2. Considerando-se interpretação sistêmica e harmônica dos artigos 6º, VII, letras c e d,

83 e 84 Lei Complementar 75/93, não há como negar a legitimidade do Ministério Público

do Trabalho para tutelar direitos e interesses individuais homogêneos, sejam eles

indisponíveis ou disponíveis. Os direitos e interesses individuais homogêneos

disponíveis, quando coletivamente demandados em juízo, enquadram-se nos interesses

sociais referidos no artigo 127 da Constituição Federal. 3. O Ministério Público detém

legitimidade para tutelar judicialmente interesses individuais homogêneos, ainda que

disponíveis, ante o notório interesse geral da sociedade na proteção do direito e na solução

do litígio deduzido em juízo. Verifica-se, ademais, que o interesse social a requerer tutela

coletiva decorre também dos seguintes imperativos: facilitar o acesso à Justiça; evitar

múltiplas demandas individuais, prevenindo, assim, eventuais decisões contraditórias, e

evitar a sobrecarga desnecessária dos órgãos do Poder Judiciário. 4. Solução que

homenageia os princípios da celeridade e da economia processuais, concorrendo para a

consecução do imperativo constitucional relativo à entrega da prestação jurisdicional em

tempo razoável. 5. Recurso de embargos conhecido e provido. (TST-E-RR-411489-

59.1997.5.22.5555, Redator Ministro Lelio Bentes Corrêa, SBDI-1, DJ 07/12/2007).

Logo, revelando a decisão do Tribunal Regional consonância com a jurisprudência dominante desta Corte

Superior, a pretensão recursal não se viabiliza, porquanto

alcançado o objetivo precípuo do recurso de revista, que é

a uniformização da jurisprudência dos Tribunais Regionais do

Trabalho. Incidência da Súmula nº 333 do TST e art. 896, §

4º, da CLT.

2.5. CARÊNCIA DE AÇÃO

A Presidência do Tribunal de origem, no exercício do primeiro juízo de admissibilidade, denegou seguimento ao recurso de revista interposto pelo reclamado, adotando, quanto à carência de ação, a seguinte fundamentação, verbis (fls. 799 e 802):

Prossegue o recorrente alegando carência do direito de ação por impossibilidade

jurídica do pedido ante a falta de amparo legal para que o recorrente seja condenado a

pagar uma indenização por danos morais coletivos em favor do FAT.

O apelo neste tópico encontra-se desfundamentado, tendo em vista que o recorrente

não apresenta o dispositivo legal ou constitucional que entende ter sido violado e sequer

colaciona arestos para justificar uma possível divergência jurisprudencial.

Não merece reparos a decisão denegatória.

Da análise das razões recursais, constata-se que não foram indicadas violações dos dispositivos

constitucionais ou infraconstitucionais, tampouco divergência jurisprudencial para fundamentar o pleito. Dessa forma, não se enquadrando em nenhuma das hipóteses de admissibilidade previstas no art. 896 da CLT, inviável a admissibilidade do recurso de revista, no tópico.

2.6. TUTELA INIBITÓRIA. VEDAÇÃO À DISPENSA OU RETALIAÇÃO DE EMPREGADOS PORTADORES DO VÍRUS DA AIDS OU DE QUALQUER OUTRA ENFERMIDADE

Verifica-se que, no agravo de instrumento, cuja fundamentação é vinculada, o agravante não renova a

argumentação expendida acerca da possibilidade de se conceder a tutela inibitória consistente na proibição do recorrido dispensar empregados portadores do vírus da AIDS ou acometidos de outras enfermidades, tampouco reitera as violações legais e constitucionais, bem como a divergência jurisprudencial, pertinentes ao tema, circunstância que, à luz do princípio processual da delimitação recursal, caracteriza a renúncia tácita ao direito de recorrer.

2.7. INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS COLETIVOS. ATO ATENTATÓRIO ÀS GARANTIAS FUNDAMENTAIS.

O Juízo de admissibilidade do Tribunal de origem, quanto à indenização por danos morais coletivos, denegou seguimento ao recurso de revista interposto pelo reclamado, adotando a seguinte fundamentação, verbis (fl. 803):

Por outro lado, a violação dos arts. 3º e 13º da Lei nº 7.347/85 não se concretizou, em

virtude da interpretação razoável oferecida pelo Tribunal em torno do tema, sendo

aplicada a legislação que melhor se ajusta ao caso concreto. Inteligência da Súmula nº

221/TST.

No ponto relacionado com a violação do art. 818 da CLT, sob o argumento de que não

ficou provado nos autos que o recorrente rescindiu o contrato de trabalho da autora pela

simples razão de ser ela portadora do vírus da AIDS, observa-se que o recorrente deseja

revolver matéria fático-probatória, inviável nesta fase recursal, a teor do Verbete Sumular

nº 126/TST.

No mais, o recorrente transcreve arestos objetivando a configuração de divergência

jurisprudencial quanto aos seguintes temas: dano moral supostamente causado à

coletividade e ausência de prova do nexo causal entre a ofensa e o dano, bem como os

critérios para fixação da indenização do dano moral.

Neste aspecto, também não prospera o apelo, senão vejamos: o aresto transcrito, à fl.

735, é oriundo do Superior Tribunal de Justiça; os arestos, às fls. 735 e 758, são oriundos

do Superior Tribunal de Justiça, Tribunal de Justiça do Paraná e Rio Grande do Sul, bem

como os arestos acostados, às fls. 736/738, originários de Varas dos Regionais, não

servindo para o confronto de teses, a teor do artigo 896, "a", da Consolidação das Leis do

Trabalho. Os acostados, às fls. 751/752 e 759, não possuem a fonte ou o repositório oficial

de sua publicação, encontrando óbice no Verbete Sumular nº 337/TST. Já os de fls. 749

e 754/756 também são inservíveis para o confronto de teses, uma vez que não abordam

todos os aspectos da lide, aplicando-se, por conseguinte, as Súmulas nºs 23 e 296/TST.

Nas razões do agravo de instrumento, o reclamado insurge-se contra o deferimento da indenização por danos morais coletivos. Renova a tese de que a ação civil pública não pode ter por objeto a condenação cumulativa em dinheiro e o cumprimento de obrigação de não fazer, in casu, respectivamente, a indenização de R$ 250.000,00 (duzentos e cinquenta mil reais) por danos morais coletivos e a obrigação de não fazer, consistente na obrigação de não demitir empregado portador do vírus HIV.

Reafirma que não há previsão legal dispondo sobre indenização por danos morais coletivos, não houve discriminação no caso concreto, não houve nenhum nexo causal entre o caso apontado e os alegados danos morais coletivos, sendo, portanto, totalmente improcedente a respectiva condenação.

Sustenta que era seu direito rescindir o contrato de trabalho de Maria Betânia Pessoa Coelho e que "só ficou sabendo de ser ela portadora do vírus da AIDS, após ter sido aperfeiçoada a rescisão de seu contrato de trabalho, ou seja,

bem após, ter sido homologada pelo Sindicado dos Bancários e ter ela recebido todas as verbas rescisórias, inclusive o 'plus' decorrente de sua adesão do PDI - Programa de Desligamento Incentivado".

Reitera a violação dos arts. 2º, caput, da CLT, 3º e 13 da Lei nº 7.347/85, 188, I, do Código Civil e 5º, II, da Constituição Federal e aduz que a divergência jurisprudencial restou demonstrada.

Não procede a insurgência.

O Tribunal Regional do Trabalho da 13ª Região

reformou a decisão de 1º grau para, na forma dos arts. 1º,

V, 3º e 13 da Lei nº 7.347/85, condenar o reclamado ao

pagamento de indenização decorrente de danos morais

coletivos. A decisão foi proferida, às fls. 709-723, nos

seguintes termos, verbis:

DA CONDENAÇÃO NA REPARAÇÃO DO DANO MORAL COLETIVO

Concluindo-se pela existência de uma grave transgressão a interesses difusos da

sociedade, há de se acolher a pretensão destinada ao ressarcimento do dano moral

coletivo. Com efeito, a reparabilidade do dano moral cometido em desfavor do meio

social é questão já assentada no âmbito doutrinário e jurisprudencial. O ataque aos

princípios básicos de constituição da sociedade através da negativa de eficácia de

garantias fundamentais constituiu uma ofensa ao patrimônio moral coletivo. Sendo assim,

revela-se útil e até necessário que se procede à reparação pecuniária do ato atentatório às

garantias fundamentais, como forma pedagógica, no sentido de inibir novas condutas

ofensivas.

É importante frisar que a reparação do dano moral não é novidade dentro da nossa

jurisprudência. Mercê transcrição o brilhante acórdão do Tribunal Regional do Trabalho

da 10ª Região tratando de questão idêntica, verbis:

TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 10ª REGIÃO

DECISÃO: 12 05 2003

TIPO: R0 Nº00726 ANO: 2001

ÓRGÃO JULGADOR: 2ª TURMA

PARTES

Recorrente: MINISTÉRIO PÚBLO DO TRABALHO - PROCURADORIA REGINAL

DO TRABALHO DA 10º REGIÃO

Recorrente: INSTITUTO CANDANGO DE SOLIDARIEDADE - ICS

Recorridos: OS MESMOS

RELATOR: Juiz JOSÉ RIBAMAR O. LIMA JÚNIOR

REVISORA: Juíza FLÁVIA SIMÕES FALCÃO

EMENTA: AÇÃO CIVIL PÚBLICA. INDENIZAÇÃO. O proceder patronal, consistente

em coagir os empregados à prática de atos divorciados do seu íntimo querer, com o

objetivo único de obter expressiva vantagem financeira, em detrimento de direitos por ele

próprio sonegados, mas reconhecidos aos trabalhadores pelo Poder Judiciário, desafia a

cominação de indenização revertida ao FAT, obrigação que também contempla caráter

pedagógico.

[...]

III.4 - DA OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER - PRÁTICA DISCRIMINATÓRIA Para

melhor compreensão da controvérsia, passo a uma breve exposição de alguns fatos: O

Ministério Público do Trabalho, após receber denúncias da existência de coação sobre os

empregados que demandavam contra o Instituto Candango de Solidariedade, promoveu

a apuração dos fatos mediante Procedimento Preparatório cuja cópia habita as fls.27/147

destes autos. O referido Procedimento Preparatório traz cópia das sentenças das

reclamações trabalhistas e respectivos acordos: (às fls. 49/67); Há, ainda, requerimento

do advogado de alguns dos empregados do réu, Dr. Leador Machado, junto ao MPT,

almejando providências contra as atitudes discriminatórias do reclamado; depoimento de

empregados supostamente coagidos (às fls. 80/81 c/c 108/199); notícia da coação

publicada no jornal Correio Braziliense (às fls. 83); depoimento de empregados da

Coordenação Jurídica do reclamado (às fls. 90/97) e requerimento para anulação de

acordos que contivessem vício de vontade (às fls. 140). A tutela antecipada foi deferida,

conforme despacho às fls. 152. Juntaram-se os recibos de quitação referentes aos acordos

das Sras. Jovelina de Souza, Ana Carolina Machado Teixeira e Margarete da Silva Borges

(às fls. 177 e seguintes). Foi colacionada pelo reclamado a lista de empregados e ex-

empregados que demandam na Justiça do Trabalho (às fls. 183/190). Em seguida, o

Ministério Público do Trabalho ajuizou a presente ação civil pública, asseverando que

recebera denúncia da Sra. Marta de Figueiredo Vieira da Silva de que o reclamado estaria

coagindo, por meio do advogado Robson Neves Fiel dos Santos, os empregados que

tivessem ações trabalhistas para que renunciassem a seus direitos ou aceitassem acordos

lesivos, sob pena de serem despedidos. Requereu, assim, a condenação do reclamado para

que se abstivesse de tais práticas sob pena de aplicação de multa no valor de R$ 50.000,00

para cada empregado coagido. O reclamado defendeu-se, aduzindo que não obrigou

qualquer funcionário que tivesse ajuizado ação trabalhista em seu desfavor, a renunciar

seus direitos sob pena de dispensa. A decisão originária, esposando a tese autoral, deferiu

o pleito. Insurge-se o réu contra essa decisão, asseverando que "jamais obrigou

qualquer empregado seu, que lhe movesse ação trabalhista, a celebrar acordo ou renunciar

seus direitos sob pena de demissão" (às fls. 313). Sustenta que o depoimento da Sra. Ana

Carolina Machado Teixeira, utilizado como elemento de prova, está em contradição com

o documento de fls. 179. Argumenta que a lista de fls. 183/190 demonstra que há

empregados que mantêm ação na Justiça, mas que permanecem nos seus quadros,

buscando demonstrar a lisura da sua conduta. Alega, por fim, que a fita magnética

contendo gravações dos empregados, que foi utilizada nos autos, é prova ilícita, uma vez

que violaria a intimidade dos interlocutores, não podendo ser utilizada como prova. Sem

razão, contudo. Não há contradição entre o depoimento da Sra. Ana Carolina Machado

Teixeira e o documento de fl. 179. Em seu depoimento, a Sra. Ana Carolina declarou que

"procurou o Dr. Robson advogado do Instituto Candango, eis que soube que deveria fazer

um acordo ou perderia o seu emprego" . Confirmou a ameaça de perda do emprego feita

pelo Sr. Robson: "que o Dr. Robson ainda afirmou que caso a depoente não fizesse o

acordo seria dispensada"; atestou, ainda, a falta de manifestação espontânea de vontade,

pois afirmou que embora reconhecesse a sua assinatura no documento de fl. 179 - acordo

para por fim à demanda judicial-, esclareceu que , "copiou a declaração ali constante de

um texto que lhe foi entregue pelo Dr. Robson...; que ninguém obrigou a depoente

assinar;" Todavia, demonstrou a coação ao declinar que "fez o acordo com Instituto com

receio de perder o seu emprego" (às fls. 208/209). Pontuo que a lista de nomes de

empregados que demandam na Justiça do Trabalho não é suficiente para elidir a prova da

existência de coação por parte do reclamado, pois as informações ali contidas em nada se

contrapõem à existência da alegada imputação verificada no conjunto probatório.

Também não prospera a alegação da recorrente de ilicitude da prova produzida em

gravação de fita magnética, sem a autorização de todos os interlocutores. As fitas, cuja

transcrição está às fls. 69/75, não constituem meio ilícito de prova, uma vez que contou

com a autorização de um dos interlocutores. Nesse sentido a jurisprudência da Suprema

corte: "Ementa: Captação, por meio de fita magnética, de conversa entre presentes, ou

seja, a chamada gravação ambiental, autorizada por um dos interlocutores, vítima de

concussão, sem o conhecimento dos demais. Ilicitude da prova excluída por caracterizar-

se o exercício de legítima defesa de quem a produziu. (Precedentes do Supremo Tribunal

HC 74.678, DJ de 15-8- 97 e HC 75.261, sessão de 24-6-97, ambos da Primeira Turma.)

Não se vislumbra, portanto, a alegada violação à intimidade. Ademais, a conclusão do

Juízo originário não se lastreou no conteúdo da referida fita, apoiando-se nas demais

provas dos autos. Tal fato afasta a cogitação de nulidade da prova. Nesse sentido aponta

a jurisprudência do excelso STF: PROVA - ILICITUDE - IRRELEVÂNCIA. Se o

provimento condenatório está lastreado nas demais provas coligidas, descabe cogitar de

nulidade em decorrência de alusão a gravação que o acusado tenha como ilícita.

(Publicação: DJ DATA-08-05-92 PP-06268 EMENT VOL-01660-03 PP-00458 RTJ

VOL-00141-03 PP-00924 - Julgamento: 31/03/1992 - Segunda Turma) Diante disso,

mantenho a decisão originária que determinou a obrigação de não fazer, consistente na

abstenção de qualquer ato discriminatório decorrente do ajuizamento de ações judiciais

ou intenção de ajuizamento, com a respectiva cominação de multa em caso de

descumprimento. Recurso desprovido no particular. III. 5 - RECURSO DO

MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO. INDENIZAÇÃO POR DANOS

MORAIS COLETIVOS. Requereu o autor a condenação do reclamado no valor de

R$ 350.000,00, correspondente a 5% do total do passivo trabalhista do Instituto

demandado (que está na ordem de R$ 7.000.000,00), a título de indenização, e que

"teria o condão, não só de recompor a ordem jurídica vulnerada, mas também de

desestimular práticas com o mesmo potencial nocivo desta em testilha" (às fls. 22).

A sentença atacada determinou "que o Requerido se abstenha da prática de

qualquer ato discriminatório decorrente do ajuizamento ou intenção de

ajuizamento, sob pena de pagamento de multa de R$ 50.000,00 por

empregado ameaçado, punido ou dispensado, a ser revertida ao Fundo de Amparo

ao Trabalhador" (às fls.243). Indeferiu, todavia, o pedido de indenização por danos

morais coletivos, no importe de R$ 350.000,00, entendendo que não existe norma

legal ou determinação judicial anterior que estabeleça penalidade para as atitudes

patronais. Insurge-se o autor contra essa decisão, asseverando que seu pedido

encontra amparo nos artigos 1º, 3º e 13 da Lei 7.347/85 que prevê a possibilidade de

se impor condenação nos casos de dano moral coletivo. Assevera que houve um dano

moral geral causado à "toda coletividade de trabalhadores da ré, assim como a

própria sociedade, na medida em que violada a ordem social,... Configura- se,

portanto, a lesão não só a interesse coletivos, como também a interesses difusos" (às

fls. 286). Vejo próspero o recurso no presente tópico. À toda evidência, o

procedimento adotado pelo réu causa repulsa, na medida em que coage os

trabalhadores à prática de atos divorciados do seu íntimo interesse, com o objetivo

único de obter expressiva vantagem financeira, em detrimento de direitos por ele

próprio sonegados, mas reconhecidos aos trabalhadores pelo Poder Judiciário. Do

proceder empresarial emergem indiscutíveis prejuízos não só de ordem financeira,

como também de ordem moral, este último, alcançando todos os trabalhadores que

se encontram na mesma situação, ou seja, mantém demanda trabalhista contra o

réu. Há, outrossim, o efeito nefasto, intimidatório, em relação àqueles trabalhadores

que, tendo créditos trabalhistas sonegados, deixam de exercitar o constitucional

direito de ação. Esse conjunto de fatores externa conduta empresarial com

indiscutível potencial de lesividade aos direitos dos trabalhadores, com intensidade

para atrair a cominação de indenização, a qual, como bem observa o autor, no

âmbito da ação coletiva, tem função preventivo-pedagógica. Aquele que, por ação

ou omissão voluntária, negligência, ou imprudência, violar direito, ou causar

prejuízo a outrem, fica obrigado a reparar o dano, preconiza o artigo 159, do Código

Civil Brasileiro de 1916. Diante dessas considerações, tendo a conduta empresarial

consubstanciado violação aos direitos dos empregados, conforme delineado em

parágrafo transato, dou provimento ao recurso, para condenar o réu ao pagamento

de indenização revertida ao FAT, no importe de R$ 350.000,00 (trezentos e

cinqüenta mil reais), na forma das disposições legais acima

mencionadas. CONCLUSÃO Ante o exposto, conheço dos recursos interpostos, sendo

o do demandado parcialmente. No mérito, nego provimento ao recurso empresarial e dou

provimento ao do autor, para condenar o réu ao pagamento de indenização no importe de

R$ 350.000,00, revertida ao Fundo de Amparo ao Trabalhador. Tudo, nos termos da

fundamentação. É o meu voto. Por tais fundamentos, ACORDAM os Juízes da Segunda

Turma do Egrégio Tribunal Regional do Trabalho da Décima Região, em Sessão

Ordinária, à vista do contido na certidão de julgamento (fl. retro), aprovar o relatório,

conhecer dos recursos interpostos, sendo o do demandado parcialmente. No mérito, negar

provimento ao recurso empresarial e dar provimento ao do autor, para condenar o réu ao

pagamento de indenização no importe de R$ 350.000,00, revertida ao Fundo de Amparo

ao Trabalhador. Tudo nos termos da fundamentação. Brasília (DF), 07 de maio de 2003.

(data do julgamento). JOSÉ RIBAMAR O. LIMA JUNIOR JUIZ RELATOR. (Destaque

nosso.)

Sendo assim, impõe-se a reforma da decisão de primeiro grau, para, na forma da Lei nº

7.347, de 24 de julho de 1985, arts. 1º, V, 3º e 13, condenar o recorrido ao pagamento de

indenização decorrente de danos morais coletivos.

Considerando a capacidade econômica do Banco que, conforme relatou nas contra-

razões, tem mais de 22.000 empregados, impõe-se o acolhimento integral do valor da

indenização proposto na petição inicial, ou seja, R$ 250.000,00 (duzentos e cinqüenta mil

reais).

CONCLUSÃO

Isto posto, dou provimento ao recurso ordinário interposto pelo Ministério Público do

Trabalho, para, reformando a sentença às fls. 606/610, condenar o BANCO ABN AMRO

REAL S/A: a) a se abster de despedir empregado, ou retaliá-lo de qualquer outra maneira,

em razão de ser ele portador do vírus da AIDS ou estar acometido por qualquer outra

enfermidade, fixando, desde logo, pena pecuniária de R$ 250.000,00 (duzentos e

cinqüenta mil reais) por empregado atingido, reversíveis ao Fundo de Amparo ao

Trabalhador - FAT e sem prejuízo de outras medidas para a efetivação da tutela inibitória;

b) a pagar indenização por danos morais coletivos de R$ 250.000,00 (duzentos e

cinqüenta mil reais), também reversíveis ao Fundo de Amparo ao Trabalhador FAT.

Do cotejo entre as razões recursais e a decisão

recorrida, constata-se que o agravante não consegue infirmar

os fundamentos da decisão agravada e, consequentemente,

demonstrar ofensa à literalidade dos dispositivos legais e

constitucionais apontados01535407220035130003 como

malferidos, tampouco divergência jurisprudencial, nos moldes

do art. 896, a e c, da CLT.

Com efeito, consoante já assentado no exame da

suscitada ilegitimidade passiva ad causam do Ministério

Público do Trabalho, a ação civil pública é destinada a

conferir tutela efetiva aos direitos difusos e coletivos,

tendo por objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento

de obrigação de fazer ou não fazer, não havendo impedimento

legal para a cumulação de pedidos de tutela preventiva e

ressarcitória. Ao contrário, o art. 3º da Lei da ACP prevê,

de forma expressa, o objeto da condenação em dinheiro ou o

cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, não

significando, contudo, que seja condenação alternativa, mas

cumulativa, a depender do objeto e da lesão.

Nesse sentido, vale destacar o seguinte precedente:

AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CONDENAÇÃO EM DINHEIRO E EM

OBRIGAÇÃO DE FAZER OU NÃO FAZER. CUMULAÇÃO.

POSSIBILIDADE. A partícula -ou- constante do texto do art. 3º da Lei 7.347/1985 (Lei

da ACP) não estabelece uma alternativa excludente mas equivale à expressão -também-,

porquanto a lei teve em vista expressar que o objeto da Ação Civil Pública não é apenas

a condenação em dinheiro, mas também a obrigação de fazer e/ou a obrigação de não

fazer. Assim, ao verificar que a aplicação de apenas uma das espécies de penalidade

previstas na lei não enseja tutela jurisdicional integral ao bem tutelado, é permitido ao

magistrado cumular a condenação de obrigação de fazer ou de não fazer com a de

indenizar. Recurso de Revista de que se conhece e a que se dá provimento. (TST-RR-

149900-70.2003.5.01.0302, Relator Ministro João Batista Brito Pereira, 5ª Turma, DEJT

18/09/2009).

Ilesos, pois, os arts. 3º e 13 da Lei nº 7.347/85.

Quanto à indigitada violação do arts. 2º, caput, da

CLT e 188, I, do Código Civil, observa-se que o Tribunal

Regional não dirimiu a controvérsia à luz dos referidos

dispositivos, tampouco foi instado a fazê-lo por meio dos

embargos de declaração opostos, circunstância que o que atrai

a incidência da Súmula nº 297, I e II, do TST, ante a ausência

do imprescindível prequestionamento.

Mesmo que assim não fosse, os apontados dispositivos não impulsionariam o recurso de revista. O art. 2º, caput,

da CLT limita-se a conceituar a figura do empregador, o

segundo excetua, dos atos ilícitos, os atos praticados em

legítima defesa ou no exercício regular de um direito

reconhecido, revelando-se, pois, impertinentes à questão dos

autos.

De outro lado, frise-se que a alegação de ofensa ao princípio da legalidade, inserto no art. 5º, II, da

Constituição Federal, também não viabiliza o acesso à via

recursal extraordinária. Isso porque, sendo princípio

genérico, a violação do referido dispositivo constitucional

não se configura, em regra, de forma direta e literal,

somente se aferindo por via reflexa, a partir de eventual

ofensa à norma de natureza infraconstitucional. Nesse

sentido, a Súmula 636 do excelso STF.

Por fim, no que tange à divergência jurisprudencial, nenhum dos arestos renovados nas razões do agravo de

instrumento abordam a indenização por dano moral coletivo,

revelando-se, pois, inespecíficos, à míngua da indispensável

identidade de premissas fáticas, o que atrai a incidência

das Súmulas nos 23 e 296, I, do TST.

2.8. VALOR DA MULTA POR DESCUMPRIMENTO DE DECISÃO JUDICIAL E DA INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS COLETIVOS

A Vice-Presidência do Tribunal a quo, relativamente ao tópico, denegou seguimento ao recurso de revista, sob os seguintes fundamentos, verbis (fl. 803):

No mais, o recorrente transcreve arestos objetivando a configuração de divergência

jurisprudencial quanto aos seguintes temas: dano moral supostamente causado à

coletividade e ausência de prova do nexo causal entre a ofensa e o dano, bem como os

critérios para fixação da indenização do dano moral.

Neste aspecto, também não prospera o apelo, senão vejamos: o aresto transcrito, à fl.

735, é oriundo do Superior Tribunal de Justiça; os arestos, às fls. 735 e 758, são oriundos

do Superior Tribunal de Justiça, Tribunal de Justiça do Paraná e Rio Grande do Sul, bem

como os arestos acostados, às fls. 736/738, originários de Varas dos Regionais, não

servindo para o confronto de teses, a teor do artigo 896, "a", da Consolidação das Leis do

Trabalho. Os acostados, às fls. 751/752 e 759, não possuem a fonte ou o repositório oficial

de sua publicação, encontrando óbice no Verbete Sumular nº 337/TST. Já os de fls. 749

e 754/756 também são inservíveis para o confronto de teses, uma vez que não abordam

todos os aspectos da lide, aplicando-se, por conseguinte, as Súmulas nºs 23 e 296/TST.

O reclamado, nas razões do agravo de instrumento, requer, caso mantida a procedência da presente ação civil pública, a redução, com a fixação de um valor razoável e proporcional, do valor arbitrado para o caso de descumprimento da determinação judicial e para a indenização por dados morais coletivos. Renova um aresto do TRT da 4º Região (fl. 20).

O recurso não alcança admissão.

O único aresto apresentado para fundamentar o pleito, além de não apresentar a fonte oficial em que foi publicado, em desacordo com o disposto na Súmula nº 337, I, a, TST, é inespecífico, nos termos das Súmulas n 23 e 296, I, do TST, porquanto não abrange os fundamentos e premissas adotados pela decisão recorrida.

Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO ao agravo de instrumento.

ISTO POSTO

ACORDAM os Ministros da Primeira Turma do Tribunal Superior do Trabalho, por unanimidade, conhecer do agravo de instrumento e, no mérito, negar-lhe provimento.

Brasília, 07 de dezembro de 2010.

Firmado por assinatura digital (MP 2.200-2/2001)

Walmir Oliveira da Costa

Ministro Relator

fls.

PROCESSO Nº TST-AIRR-153540-72.2003.5.13.0003

Firmado por assinatura digital em 07/12/2010 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho,

conforme MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.