poder judiciÁrio tribunal de...

22
@ (PROCESSO ELETRÔNICO) UGS Nº 70065345423 (Nº CNJ: 0219920-44.2015.8.21.7000) 2015/CÍVEL 1 ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO PRIVADO NÃO ESPECIFICADO. AÇÃO DE COBRANÇA. CONTRATO DE COMPRA E VENDA DE MERCADORIAS CELEBRADO ENTRE EMPRESA BRASILEIRA E EMPRESA VENEZUELANA. DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO. JURISDIÇÃO INTERNACIONAL BRASILEIRA PARA O CASO. REGRA DE DOMICÍLIO DO RÉU. “ACTIO SEQUITOR FORUM REI”. TRADUÇÃO JURAMENTADA DE DOCUMENTOS EM LÍNGUA ESTRANGEIRA.LEI APLICÁVEL AO CONTRATO INTERNACIONAL DE COMPRA E VENDA. CONVENÇÃO DE VIENA SOBRE COMPRA E VENDA INTERNACIONAL DE MERCADORIAS (“CONVENÇÃO DE VIENA DE 1980”). 1- Alcance internacional da jurisdição da autoridade judiciária brasileira. Insere-se no âmbito da “competência internacional” da autoridade judiciária brasileira a ação condenatória por danos materiais e morais ajuizada, por empresa venezuelana, contra empresa com domicílio no Município de Caxias do Sul/RS, em decorrência de contrato de compra e venda de mercadorias celebrado entre ambas. Hipótese de aplicação da regra geral de fixação dos limites espaciais da atuação do Juiz brasileiro, qual seja, o princípio “actio sequitor forum rei”, consagrado no art. 12, “caput”, da LINDB e no art. 88, I, do CPC. Jurisdição brasileira que deriva do domicílio da ré (identificado com base no art. 75, IV, do Código Civil), independentemente da nacionalidade de qualquer das partes litigantes, ou, ainda, do preenchimento cumulativo das hipóteses dadas pelos incisos II e III do mesmo art. 88 do CPC. Desprovimento do agravo de instrumento que se funda, ainda, na não-recepção, pelo Direito brasileiro, da doutrina do “forum non conveniens”, ante o caráter imperativo, para o Juiz, das normas escritas de jurisdição e competência dadas pelo Poder Legislativo. Irrelevância, para fins de jurisdição competente, do disposto no art. 9º, “caput”, da LINDB, preceito que indica lei aplicável a relação obrigacional de caráter multiconectado, questão alheia à identificação da jurisdição competente. Eficácia da regra do art. 12, “caput”, da LINDB, e do art. 88, I, do CPC, relativos aos limites espaciais da jurisdição, que tampouco resta elidida pelo disposto no art. 100, V, “d”, do CPC, que consagra regra de competência jurisdicional interna e cuja incidência dá-se, assim,

Upload: lebao

Post on 10-Feb-2019

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

@ (PROCESSO ELETRÔNICO) UGS Nº 70065345423 (Nº CNJ: 0219920-44.2015.8.21.7000) 2015/CÍVEL

1

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO PRIVADO NÃO ESPECIFICADO. AÇÃO DE COBRANÇA. CONTRATO DE COMPRA E VENDA DE MERCADORIAS CELEBRADO ENTRE EMPRESA BRASILEIRA E EMPRESA VENEZUELANA. DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO. JURISDIÇÃO INTERNACIONAL BRASILEIRA PARA O CASO. REGRA DE DOMICÍLIO DO RÉU. “ACTIO SEQUITOR FORUM REI”. TRADUÇÃO JURAMENTADA DE DOCUMENTOS EM LÍNGUA ESTRANGEIRA.LEI APLICÁVEL AO CONTRATO INTERNACIONAL DE COMPRA E VENDA. CONVENÇÃO DE VIENA SOBRE COMPRA E VENDA INTERNACIONAL DE MERCADORIAS (“CONVENÇÃO DE VIENA DE 1980”). 1- Alcance internacional da jurisdição da autoridade judiciária brasileira. Insere-se no âmbito

da “competência internacional” da autoridade judiciária brasileira a ação condenatória por danos materiais e morais ajuizada, por empresa venezuelana, contra empresa com domicílio no Município de Caxias do Sul/RS, em decorrência de contrato de compra e venda de mercadorias celebrado entre ambas. Hipótese de aplicação da regra geral de fixação dos limites espaciais da atuação do Juiz brasileiro, qual seja, o princípio “actio sequitor forum rei”, consagrado no art. 12, “caput”, da LINDB e no art. 88, I, do CPC. Jurisdição brasileira que deriva do domicílio da ré (identificado com base no art. 75, IV, do Código Civil), independentemente da nacionalidade de qualquer das partes litigantes, ou, ainda, do preenchimento cumulativo das hipóteses dadas pelos incisos II e III do mesmo art. 88 do CPC. Desprovimento do agravo de instrumento que se funda, ainda, na não-recepção, pelo Direito brasileiro, da doutrina do “forum non conveniens”, ante o caráter imperativo, para o Juiz, das normas escritas de jurisdição e competência dadas pelo Poder Legislativo. Irrelevância, para fins de jurisdição competente, do disposto no art. 9º, “caput”, da LINDB, preceito que indica lei aplicável a relação obrigacional de caráter multiconectado, questão alheia à identificação da jurisdição competente. Eficácia da regra do art. 12, “caput”, da LINDB, e do art. 88, I, do CPC, relativos aos limites espaciais da jurisdição, que tampouco resta elidida pelo disposto no art. 100, V, “d”, do CPC, que consagra regra de competência jurisdicional interna e cuja incidência dá-se, assim,

@ (PROCESSO ELETRÔNICO) UGS Nº 70065345423 (Nº CNJ: 0219920-44.2015.8.21.7000) 2015/CÍVEL

2

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

posteriormente àquela do mesmo art. 88, I, da lei processual. 2- Tradução juramentada de documentos redigidos em língua estrangeira. Em que pese o art. 157 do

Código de Processo Civil defina a tradução juramentada de documentos não redigidos em língua portuguesa como requisito para a sua juntada regular aos autos de litígio em curso perante o Juiz brasileiro, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça confere interpretação sistemática ao dispositivo legal, à luz da noção de instrumentalidade do processo e da teoria das nulidades. Prerrogativa do Magistrado de avaliar casuisticamente a necessidade de tradução juramentada, tendo em vista tais diretrizes e, não menos, o teor da insurgência da parte que alega a falta de tradução, assim como a própria complexidade dos documentos. Caso concreto em que não se verifica qualquer razão de fato ou de direito para determinar a tradução juramentada dos documentos trazidos aos autos, pela empresa estrangeira autora, conjuntamente à petição inicial da ação de cobrança. 3- Direito aplicável ao deslinde do mérito do litígio decorrente de contrato celebrado entre empresa venezuelana e empresa brasileira. Questão que

deverá ser apurada pelo Juízo de primeira instância, a partir da devida instrução do feito, quanto ao local de celebração do contrato entre as partes, e, ainda, tendo em conta o local de irradiação de efeitos (jurídicos e econômicos) da relação entabulada entre as partes, nos termos do “caput” do art. 9º da LINDB (contrato entre presentes) ou do seu §2º (contrato entre ausentes). Eventual deslinde do mérito que, a depender do que se apurar na instrução, deverá dar-se com base no Direito venezuelano, ou, então, com fundamento no Direito brasileiro – neste caso, à luz dos das normas jurídicas brasileiras de produção interna e, de não menos, da Convenção das Nações Unidas sobre Contratos de Compra e Venda Internacional de Mercadorias (“Convenção de Viena de 1980”), que igualmente integra o Direito pátrio. Agravo de instrumento desprovido.

AGRAVO DE INSTRUMENTO

DÉCIMA SEGUNDA CÂMARA CÍVEL

Nº 70065345423 (Nº CNJ: 0219920-44.2015.8.21.7000)

COMARCA DE CAXIAS DO SUL

@ (PROCESSO ELETRÔNICO) UGS Nº 70065345423 (Nº CNJ: 0219920-44.2015.8.21.7000) 2015/CÍVEL

3

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

VOGES METALURGIA LTDA

AGRAVANTE

INVERSIONES METALMECÁNICAS I,C.A. (IMETAL, C.A.)

AGRAVADA

A C Ó RD Ã O

Vistos, relatados e discutidos os autos.

Acordam os Desembargadores integrantes da Décima

Segunda Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade,

em negar provimento ao agravo de instrumento.

Custas na forma da lei.

Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes

Senhores DES. GUINTHER SPODE (PRESIDENTE) E DES. PEDRO LUIZ

POZZA.

Porto Alegre, 10 de setembro de 2015.

DES. UMBERTO GUASPARI SUDBRACK, Relator.

R E L AT Ó R I O

DES. UMBERTO GUASPARI SUDBRACK (RELATOR)

Trata-se de agravo de instrumento interposto por VOGES

METALURGIA LTDA., contra a decisão em que, no âmbito da ação de

cobrança que lhe move INVERSIONES METALMECÁNICAS I.C.A.,

tombada sob o n.º 0005215-14.2013.8.21.0010, o Juízo da 4ª Vara Cível da

Comarca de Caxias do Sul (i.) declarou a desnecessidade de tradução

juramentada dos documentos em língua espanhola juntados pela autora,

empresa venezuelana, conjuntamente à petição inicial e (ii.) rejeitou a

preliminar da falta de jurisdição da autoridade judiciária brasileira para o

@ (PROCESSO ELETRÔNICO) UGS Nº 70065345423 (Nº CNJ: 0219920-44.2015.8.21.7000) 2015/CÍVEL

4

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

processo e julgamento da demanda, com fundamento no art. 88, I, do

Código de Processo Civil (fls. 168/169).

Em suas razões de inconformidade, a agravante alegou, em

síntese, a imprescindibilidade da tradução juramentada dos documentos não

redigidos em língua portuguesa, conforme o art. 157 do CPC. De igual

modo, sustentou o descabimento da propositura da ação principal perante o

Poder Judiciário pátrio, por força do disposto no art. 9º, “caput”, da Lei de

Introdução às Normas do Direito Brasileiro, e no art. 100, V, “d”, do CPC.

Requereu o provimento do agravo de instrumento (fls. 04/17), para extinguir-

se o feito em trâmite perante a 4ª Vara Cível da Comarca de Caxias do Sul,

sem resolução do mérito, com fundamento no art. 267, IV, do CPC, ou,

senão, pelo menos ao efeito de determinar o desentranhamento dos

documentos em língua espanhola acostados pela empresa estrangeira

demandante (fls. 04/17).

A mim distribuído o recurso, por sorteio automático, proferi

decisão de recebimento da inconformidade e de determinação de outras

providências, nos seguintes termos (fls. 179/183):

1. Primeiramente, recebo o presente agravo de

instrumento, tendo em vista a sua tempestividade e a efetuação do preparo (fl. 174). Não se trata de hipótese de negativa de seguimento liminar à insurgência (art. 527, I, CPC), ao mesmo tempo em que descabe a sua conversão em agravo retido, pois a definição da controvérsia sobre a jurisdição brasileira para o litígio não deve ser postergada para o momento processual posterior à prolação da sentença (art. 527, II, CPC).

2. Como visto, a decisão recorrida diz respeito, tal qual

as razões de inconformidade da agravante, tão-somente às controvérsias relativas à jurisdição brasileira para o julgamento do litígio e à obrigatoriedade de tradução juramentada dos documentos em língua estrangeira acostados aos

@ (PROCESSO ELETRÔNICO) UGS Nº 70065345423 (Nº CNJ: 0219920-44.2015.8.21.7000) 2015/CÍVEL

5

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

autos principais. Ocorre, porém, que o exame perfunctório do agravo de instrumento enseja dúvida quanto à eventual aplicação, no deslinde do mérito da contenda em trâmite perante o Juízo de origem, do Direito venezuelano, por força do art. 9º, “caput”, da LINDB1, ou, senão, quanto à aplicação do Direito brasileiro, conforme o §2º do mesmo art. 9º da LINDB2: se a petição inicial mostra-se inconclusiva acerca do local da celebração do contrato entre as partes (fls. 21/27v), a agravante afirmou, expressamente, nas suas razões recursais (fls. 04/17), assim como na contestação (fls. 84/101), que o vínculo contratual firmou-se na Venezuela, tendo tal alegação sido contraposta, pela autora, em seguida, quando da réplica (fls. 121/130).

Desse modo, considerando, por um lado, a possibilidade de exame de matérias de origem pública, em sede de agravo de instrumento, por tratar-se de recurso dotado de efeito translativo3, bem como tendo em vista, por outro, que a identificação do Direito estrangeiro constitui matéria de ordem pública, devendo ser feita “ex officio”, pelo Juiz4, determino a intimação da agravante, para que, no prazo de 10 (dias), esclareça a este Juízo – com o eventual aporte de documentos, inclusive – se o contrato foi celebrado em território venezuelano ou, ao invés disso, se se cuida de ajuste entabulado entre ausentes, devendo elucidar, em tal hipótese, qual das partes figurou como proponente, na pactuação.

Com vistas a evitar a desnecessária oposição de embargos declaratórios, friso que a diligência em questão dá-se a fim de franquear-se a este Juízo subsídios para que se pronuncie quanto à lei aplicável à resolução do mérito da ação condenatória em curso na primeira instância, nos termos do dispositivo da LINDB antes referido. E, porque se trata de

1 Art. 9º, “caput”, Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro: “Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem”. 2 Art. 9º, §2º, Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro: “A obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar em que residir o proponente”. 3 NERY JR., Nelson, NERY, Rosa Maria de Andrade. Código de processo civil comentado e legislação extravagante. 12. ed., rev., ampl. e atual. até 13 de julho de 2012. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2012, p. 972-974. 4 Art. 408 da Convenção de Direito Internacional Privado de Havana (“Código de Bustamante”) (incorporada ao ordenamento jurídico brasileiro pelo Decreto n. 18.871, de 13 de agosto de 1929). “Os juízes e tribunais de cada Estado contratante aplicarão de ofício, quando for o caso, as leis dos demais [...]”. Na doutrina: DOLINGER, Jacob. Direito internacional privado. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014, p. 283.

@ (PROCESSO ELETRÔNICO) UGS Nº 70065345423 (Nº CNJ: 0219920-44.2015.8.21.7000) 2015/CÍVEL

6

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

documentos facultativos, porém, necessários ao julgamento do recurso, pontuo que a determinação em tela respalda-se na jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, consolidada por ocasião do julgamento do Recurso Especial n.º 1.102.467/RJ5.

3. Igualmente, com fundamento no art. 527, IV, do

CPC, determino a expedição de ofício, desde logo, ao Juízo da 4ª Vara Cível da Comarca de Caxias do Sul, para que informe quanto ao eventual aporte, nos autos principais, posteriormente à interposição do presente recurso, de quaisquer elementos de prova acerca do modo e local de celebração do contrato entabulado entre a empresa estrangeira autora e a empresa brasileira ré.

4. A agravante não formulou pedido liminar ou de

atribuição de efeito suspensivo ou ativo à insurgência (art. 527, III, e art. 558, CPC). Assim, proceda-se à intimação da parte agravada, para, querendo, apresentar resposta ao agravo de instrumento, no prazo legal (art. 527, V, CPC). O prazo para a apresentação de resposta, pela agravada, somente terá início após a juntada da manifestação da agravante, conforme determinado no item “2”, e, de igual modo, após a certificação, nos autos, do decurso do prazo de 10 (dez) dias concedido para tais diligências.

5. Ultimadas as providências ordenadas acima,

retornem os autos conclusos, para que se proceda a sua pronta inclusão em pauta de julgamento, restando desde logo consignada a desnecessidade de oitiva do representante do Ministério Público, pois não se trata

5 Transcrevo a ementa do acórdão-paradigma, submetido à sistemática da Lei n.º 11.672/2008 (Lei dos Recursos Repetitivos): “RECURSO ESPECIAL - OFENSA AO ART. 535 DO CPC - INEXISTÊNCIA - MULTA APLICADA EM SEDE DE EMBARGOS DE DECLARAÇÃO - AFASTAMENTO - NECESSIDADE - ENUNCIADO 98 DA SÚMULA/ STJ - MATÉRIA AFETADA COMO REPRESENTATIVA DA CONTROVÉRSIA - AGRAVO DE INSTRUMENTO DO ARTIGO 522 DO CPC - PEÇAS NECESSÁRIAS PARA COMPREENSÃO DA CONTROVÉRSIA - OPORTUNIDADE PARA REGULARIZAÇÃO DO INSTRUMENTO - NECESSIDADE - RECURSO PROVIDO. 1. Os embargos de declaração consubstanciam-se no instrumento processual destinado à eliminação, do julgado embargado, de contradição, obscuridade ou omissão sobre tema cujo pronunciamento se impunha pelo Tribunal, não verificados, in casu. 2. Embargos de declaração manifestados com notório propósito de prequestionamento não tem caráter protelatório. 3. Para fins do artigo 543-C do CPC, consolida-se a tese de que: no agravo do artigo 522 do CPC, entendendo o Julgador ausente peças necessárias para a compreensão da controvérsia, deverá ser indicado quais são elas, para que o recorrente complemente o instrumento. 4. Recurso provido. (REsp 1102467/RJ, Rel. Ministro Massami Uyeda, Corte Especial, julgado em 02/05/2012, DJe 29/08/2012)” (grifos apostos)

@ (PROCESSO ELETRÔNICO) UGS Nº 70065345423 (Nº CNJ: 0219920-44.2015.8.21.7000) 2015/CÍVEL

7

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

de hipótese de intervenção ministerial (art. 82 e art. 527, VI, CPC).

Em resposta à determinação a ela dirigida, quando do

recebimento do recurso, a empresa brasileira ré afirmou não possuir

quaisquer documentos relativos à celebração do negócio entabulado entre

as partes, tendo aduzido, porém, que a documentação acostada à petição

inicial, pela empresa estrangeira autora, evidenciava que, tanto a assinatura

do contrato, quanto o cumprimento das respectivas obrigações dele

decorrentes tinham-se dado em solo venezuelano (fls. 196/197).

Por seu turno, igualmente em atenção à requisição deste

Relator, a Magistrada da 4ª Vara Cível da Comarca de Caxias do Sul, Dra.

Cláudia Rosa Brugger remeteu ofício em que informava não terem aportado

aos autos principais, após a interposição do agravo de instrumento,

quaisquer elementos de prova quanto ao modo ou local de celebração do

contrato firmado entre as empresas venezuelana autora e brasileira ré (fl.

199).

Em seguida, transcorreu sem manifestação o prazo para

resposta ao agravo de instrumento, pela demandante / agravada (fl. 206).

Finalmente, registro que, na constância do prazo para

resposta, a ré / agravante, Voges Metalurgia Ltda. interpôs novo recurso,

também a mim distribuído – por vinculação, na forma do art. 146, V, do

Regimento Interno desta Corte –, com vistas à concessão do benefício da

gratuidade judiciária, por encontrar-se em recuperação judicial (Agravo de

Instrumento n.º 70066307596). Procedi ao recebimento do recurso, com a

determinação de diligências com vistas ao seu julgamento, de forma

monocrática, seja por força da natureza singela da questão controvertida,

com amparo no art. 557 do CPC, seja porque não verificadas, entre aquele

recurso e a inconformidade ora em exame, a conexão ou a continência a

@ (PROCESSO ELETRÔNICO) UGS Nº 70065345423 (Nº CNJ: 0219920-44.2015.8.21.7000) 2015/CÍVEL

8

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

que aludem os arts. 103 e 104 do CPC, sendo desnecessário, por isso, o

julgamento conjunto previsto no art. 105 do mesmo diploma legal.

É o relatório.

V O T O S

DES. UMBERTO GUASPARI SUDBRACK (RELATOR)

Considerando a extensão do efeito devolutivo do recurso de

agravo de instrumento, a empresa Voges Metalurgia Ltda. submeteu ao

exame deste Colegiado as controvérsias referentes (i.) à existência, ou não,

de jurisdição do Poder Judiciário pátrio sobre a pretensão de cobrança de

valores formulada, em face da empresa brasileira Voges Metalurgia Ltda.,

pela empresa venezuelana Inversiones Metalmecánicas I.C.A., e (ii.) à

admissibilidade, ou não, da juntada de documentos redigidos em língua

espanhola aos autos de contenda em trâmite perante o Juiz brasileiro, assim

como a necessidade, ou não, da sua tradução juramentada. Entretanto,

como consignei na decisão de recebimento do presente recurso, o efeito

translativo que lhe é subjacente enseja também o pronunciamento, por esta

Corte, neste julgamento, sobre questão não argüida pela agravante, a saber,

(iii.) o Direito aplicável ao mérito do litígio decorrente do contrato firmado

entre a empresa venezuelana autora e a empresa brasileira ré. Os pontos

em questão são abordados nesta ordem, nos termos a seguir.

1. Mérito.

1.1. Da jurisdição para o processo e julgamento da ação de

cobrança movida, contra a empresa brasileira Voges Metalurgia Ltda.,

pela empresa venezuelana Inversiones Metalmecánicas I.C.A..

A leitura dos autos revela que a ré / agravante, Voges

Metalurgia Ltda., constitui-se como pessoa jurídica de direito privado que

possui sede no Município de Caxias do Sul/RS. Trata-se de informação

@ (PROCESSO ELETRÔNICO) UGS Nº 70065345423 (Nº CNJ: 0219920-44.2015.8.21.7000) 2015/CÍVEL

9

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

constante da qualificação da demandada, na petição inicial da ação de

cobrança contra ela movida (fl. 21); dos documentos da transação bancária

referente ao negócio jurídico entabulado entre as partes (fls. 50/55); da

notificação extrajudicial a ela remetida, pela empresa estrangeira autora (fls.

75/75v); e – note-se – da própria contestação apresentada pela ré (fl. 84). O

domicílio da ré em território nacional, portanto, constitui questão

incontroversa, entre as partes litigantes nesta contenda. E, caso assim não o

fosse, eventual controvérsia a esse respeito seria dirimida por meio da

leitura da consolidação do contrato social da pessoa jurídica ré, em cuja

Cláusula Segunda consta o Município de Caxias do Sul/RS como sua sede

social e foro jurídico (fl. 105).

É o que basta para refutar a insurgência da agravante sobre a

suposta impossibilidade de propositura da ação de cobrança perante o

Poder Judiciário pátrio. O art. 12, “caput”, da Lei de Introdução às Normas do

Direito Brasileiro dispõe que “é competente a autoridade judiciária brasileira, quando

for o réu domiciliado no Brasil ou aqui tiver de ser cumprida a obrigação“, com o que

consagra o princípio “actio sequitor forum rei”, regra geral de “competência

internacional” do Juiz brasileiro para dirimir litígios em que a parte ré possua

domicílio em território nacional – à luz, portanto, do critério domiciliar, com

exclusão de qualquer outro, como a nacionalidade das partes6 7. A norma

inserta no art. 12, “caput”, da LINDB acha-se também positivada, no Direito

brasileiro interno, pelo art. 88 do Código de Processo Civil, cujo inciso I

6 BASSO, Maristela. Curso de direito internacional privado. – 4. ed. – São Paulo: Atlas, 2014, p. 183. 7 Manifestei-me precisamente nesse sentido, nesta Câmara, ao afirmar a ausência de qualquer óbice ao processo e julgamento, no Brasil, de ação condenatória por danos materiais e morais, decorrente de ato ilícito, ajuizada, contra nacional brasileira com domicílio no Brasil, por nacional uruguaio com domicílio no Uruguai. Naquele caso, entretanto, a “competência internacional” da autoridade judiciária brasileira não se fundava apenas no art. 12, “caput”, da LINDB e no art. 88, I, do CPC, porque igualmente respaldada no art. 7º, alínea “b”, do Protocolo de São Luiz em Matéria de Responsabilidade Civil Emergente de Acidentes de Trânsito ente os Estados Partes do MERCOSUL (Apelação Cível n.º 70061035572, Décima Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, Relator: Des. Umberto Guaspari Sudbrack, julgado em 23/04/2015, inteiro teor veiculado na Revista de Jurisprudência do TJRS, edição n.º 296, mar./jun. 2015).

@ (PROCESSO ELETRÔNICO) UGS Nº 70065345423 (Nº CNJ: 0219920-44.2015.8.21.7000) 2015/CÍVEL

10

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

estabelece que a autoridade judiciária brasileira será competente quando “o

réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver domiciliado no Brasil”, sendo

que, para fins de aplicação da norma em questão, caso se trate de pessoa

jurídica de direito privado, o seu “domicílio” é o “lugar onde funcionarem as

respectivas diretorias e administrações, ou onde elegerem domicílio especial no seu

estatuto ou atos constitutivos”, na forma do art. 75, IV, do Código Civil8.

Se o disposto no art. 88, I, do CPC (à maneira do art. 12,

“caput”, da LINDB9) respalda o acesso da empresa estrangeira autora ao

sistema judiciário pátrio, cabe ressaltar que não se exige, para a aplicação

do preceito legal em tela, o preenchimento cumulativo das hipóteses

arroladas pelos incisos do art. 88 da lei processual10. Vale dizer, o Poder

Judiciário brasileiro pode conhecer e julgar a contenda em exame, tendo em

vista o domicílio da ré (art. 88, I, CPC), independentemente de a obrigação

decorrente do contrato firmado entre as partes ter de cumprir-se no Brasil

(art. 88, II, CPC), ou, ainda, independentemente de a contenda ter-se

originado de fato aqui ocorrido ou de ato aqui praticado (art. 88, III, CPC).

Na verdade, do exame das razões recursais da empresa

brasileira ré, constata-se que a agravante não objeta, frontal e cabalmente, a

incidência do art. 88, I, do CPC ao caso concreto, a qual foi reconhecida

8 RECHSTEINER, Beat Walter. Direito internacional privado. Teoria e prática – 15. ed., rev. e atual. – São Paulo: Saraiva, 2012, p. 282. 9 Cabe justificar, aqui, a não-evocação do Protocolo de Buenos Aires sobre Jurisdição Internacional em Matéria Contratual, ao fundamentar-se a jurisdição brasileira para o litígio em exame. Em que pese integre o ordenamento jurídico brasileiro – pois aprovado pelo Decreto Legislativo n.º 129, de 05 de outubro de 1996, e promulgado pelo Decreto n.º 2.095, de 17 de dezembro de 1996 –, o Protocolo de Buenos Aires não se presta a respaldar a propositura, do litígio em exame, no Brasil, porque, conforme informação constante do site do MERCOSUL, em 05.09.2015, data da conclusão deste voto, encontrava-se pendente de conclusão o processo de vinculação da República Bolivariana da Venezuela ao Tratado de Assunção, o que afasta a incidência da norma do art. 1º, “a”, do Protocolo, ao caso presente. Ademais, tampouco tem lugar a aplicação do disposto no seu art. 1º, “b”, na medida em que não há notícia da celebração de cláusula de eleição de foro, quanto ao contrato firmado entre os litigantes em questão. Por esse motivo, fundamento somente com base no art. 12, “caput”, da LINDB, e no art. 88, I, do CPC, o juízo de desprovimento da insurgência da empresa brasileira ré, nesse particular, sem recurso ao disposto no Protocolo de Buenos Aires. (AGUIAR JÚNIOR, Ruy Rosado de. Protocolo de Buenos Aires sobre jurisdição internacional. In: Revista do Instituto dos Advogados de São Paulo. Vol. 06, p. 189, jul./2000). 10 BARBOSA MOREIRA, José Carlos. Problemas relativos a litígios internacionais. In: Revista de Processo. Vol. 65, p. 144-161, jan./mar. 1992.

@ (PROCESSO ELETRÔNICO) UGS Nº 70065345423 (Nº CNJ: 0219920-44.2015.8.21.7000) 2015/CÍVEL

11

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

pelo Juízo de origem, na decisão recorrida. Ao invés disso, discorre, em

síntese, sobre a suposta maior aptidão ou maior conveniência do Poder

Judiciário venezuelano para dirimir a controvérsia entre as partes, ao

sustentar a celebração do negócio jurídico na Venezuela, suposto local,

também, do cumprimento da avença dele decorrente. Desse modo, o que se

verifica é que, nessa linha argumentativa, a recorrente tangencia a norma do

art. 88, I, do Código de Processo Civil, e incorre em recurso ao instituto do

“forum non conveniens” – que pode ser definido, em síntese, como o poder

discricionário assegurado ao Magistrado, na tradição processual civil da

“common law”, de declinar da prestação jurisdicional, em litígios para os

quais seja formalmente competente, caso repute-o adequado, em face de

foro mais apropriado11, seja para os litigantes (interesse privado), seja para a

boa administração da Justiça (interesse público)12. Contudo, a insurgência

da agravante, no ponto, não tem êxito porque a doutrina do “forum non

conveniens” não é recepcionada pelo ordenamento jurídico pátrio, em que a

definição dos limites espaciais da jurisdição e da competência em matéria

processual não cabe ao Juiz, mas ao Poder Legislativo, de forma imperativa.

Como observa Ives Gandra da Silva Martins:

Nos países que adotam a lei civil, como é o caso do Brasil, as extensões e limitações da jurisdição internacional configuram matéria que se encontra positivada nas normas de competência geral ou internacional, não competindo ao juiz senão aplicá-las, sem campo para atuação discricionária.13

11 MOROSINI, Fabio. A arbitragem comercial como fator de renovação do direito internacional privado brasileiro dos contratos. In: Revista dos Tribunais. Vol. 851, p. 63-85, set. 2006. 12 NERY JÚNIOR, Nelson. Competência no processo civil norte-americano: o instituto do forum (non) conveniens. In: Revista dos Tribunais. Vol. 781, p. 28-32, nov. 2000. 13 MARTINS, Ives Gandra da Silva. Jurisdição internacional. Ajuizamento de ação no Brasil por força da aplicação da teoria do forum non conveniens por parte da justiça americana. Hipótese que não se enquadra nos arts. 88 e 89 do CPC. Inexistência de jurisdição no Brasil. Indeferimento de inicial. Inocorrência de citação e de composição da lide. Falta de legítimo interesse dos pretensos réus para recorrer. In: Revista dos Tribunais. Vol. 855, p. 57-76, jan. 2007.

@ (PROCESSO ELETRÔNICO) UGS Nº 70065345423 (Nº CNJ: 0219920-44.2015.8.21.7000) 2015/CÍVEL

12

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

No que diz respeito à evocação do art. 9º, “caput”, da LINDB,

melhor sorte não assiste à agravante. O dispositivo legal em questão nada

diz com os limites espaciais da jurisdição internacional brasileira: trata-se de

norma que indica a lei a ser aplicada, pelo Juiz, para qualificar e reger as

obrigações (contratuais e extracontratuais) firmadas entre presentes, qual

seja, a lei do local em que se constituírem – o que não tem qualquer relação

com o juízo competente para o(s) litígio(s) delas decorrente(s). Afinal de

contas, é princípio fundamental da disciplina do Direito Internacional Privado

que a lei aplicável a uma relação de caráter plurilocalizado não se confunde

com o foro competente para o processo e julgamento da contenda que dela

exsurja – daí derivando, precisamente, a possibilidade de aplicação de

normas de Direito material estrangeiras, pelo Juiz nacional.

Por fim, ainda no tocante à jurisdição brasileira para o caso, o

recurso igualmente não merece provimento à luz do disposto no art. 100, V,

“d”, do Código de Processo Civil. O art. 12, “caput”, da LINDB, e o art. 88, I

do CPC, são exemplos de normas de delimitação da “competência

internacional”, isto é, dos limites espaciais da autoridade judiciária brasileira,

questão essa que é anterior à demarcação da competência interna14, da

qual se encarrega o art. 100, V, “d”, do mesmo CPC. Trata-se, pois, de

normas cujos campos de aplicação não se justapõem, porque não se

confundem, e cujas incidências têm lugar, no tempo, de forma sucessiva,

sendo aquela anterior a essa.

Por todas as razões expostas, deve ter regular prosseguimento

a ação de cobrança ajuizada, pela empresa venezuelana Inversiones

Metalmecánicas I.C.A. perante o Juízo da 4ª Vara Cível de Caxias do Sul,

não havendo falar na extinção do feito principal, na forma do art. 267, IV, do

CPC, como requereu a agravante.

14 RIGAUX, François. Droit international privé. Bruxelas: Lacier, 1987, tomo I, p. 121.

@ (PROCESSO ELETRÔNICO) UGS Nº 70065345423 (Nº CNJ: 0219920-44.2015.8.21.7000) 2015/CÍVEL

13

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

1.2. Da juntada de documentos em língua estrangeira, pela

empresa venezuelana Inversiones Metalmecánicas I.C.A..

Tampouco a juntada dos documentos das fls. 29/45 e 50/62,

não redigidos em língua portuguesa, constitui causa obstativa do

desenvolvimento válido e regular do processo, apta a ensejar a sua extinção,

nos termos do art. 267, IV, do CPC. O aporte aos autos de prova documental

em língua estrangeira deve ensejar, se muito, tão-somente a determinação

para que se proceda a sua tradução, caso se lhe repute necessária, não se

prestando, contudo, a ensejar a extinção do feito, sob pena de incorrer-se

em formalismo pernicioso, desprovido de embasamento axiológico15.

Já no que diz respeito à necessidade de tradução juramentada

dos documentos em língua estrangeira, observo que se trata de questão a

ser dirimida de forma casuística, isto é, tendo em vista as peculiaridades do

caso concreto. Isso porque, muito embora o art. 156 e o art. 157 do CPC

declarem, nessa ordem, que “em todos os atos e termos do processo é

obrigatório o uso do vernáculo” e que “só poderá ser junto aos autos documento

redigido em língua estrangeira, quando acompanhado de versão em vernáculo,

firmada por tradutor juramentado”, a jurisprudência do Superior Tribunal de

Justiça consolidou-se no sentido de conferir interpretação sistemática a tais

dispositivos de lei, à luz da noção de instrumentalidade do processo e dos

princípios que regem as nulidades processuais.

Da leitura conjunta do interior teor de precedentes da Corte

Superior, extrai-se o entendimento de que compete ao Juiz do caso concreto

o exercício da prerrogativa de ordenar a tradução juramentada, tendo em

vista tais diretrizes e, de igual modo, considerando tanto o teor da

insurgência da parte que a alega a falta de tradução quanto a própria

15 OLIVEIRA, Carlos Alberto Alvaro de. O formalismo valorativo no confronto com o formalismo excessivo. Revista Forense, vol.388, p. 19.

@ (PROCESSO ELETRÔNICO) UGS Nº 70065345423 (Nº CNJ: 0219920-44.2015.8.21.7000) 2015/CÍVEL

14

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

complexidade do idioma em que redigido(s) o(s) documento(s). Transcrevo a

ementa de julgados nesse sentido:

PROCESSO CIVIL. DOCUMENTO REDIGIDO EM LÍNGUA ESTRANGEIRA. VERSÃO EM VERNÁCULO FIRMADA POR TRADUTOR JURAMENTADO. DISPENSABILIDADE A SER AVALIADA EM CONCRETO. ART. 157 C/C ARTS. 154, 244 e 250, P. ÚNICO, CPC. TRADUÇÃO. IMPRESCINDIBILIDADE DEMONSTRADA. EMENDA À INICIAL. NECESSIDADE DE OPORTUNIZAÇÃO ESPECÍFICA. ARTS. 284 C/C 327, CPC. PRECEDENTES.

1. A dispensabilidade da tradução juramentada de documento redigido em língua estrangeira (art. 157, CPC) deve ser avaliada à luz da conjuntura concreta dos autos e com vistas ao alcance da finalidade essencial do ato e à ausência de prejuízo para as partes e(ou) para o processo (arts. 154, 244 e 250, CPC).

2. O indeferimento da petição inicial, quer por força do não-preenchimento dos requisitos exigidos nos arts. 282 e 283 do CPC, quer pela verificação de defeitos e irregularidades capazes de dificultar o julgamento de mérito, reclama a concessão de prévia oportunidade de emenda pelo autor (art. 284, CPC). Precedentes.

3. "A exigência de apresentação de tradução de documento estrangeiro, consubstanciada no art. 157 do CPC, deve ser, na medida do possível, conjugada com a regra do art. 284 da mesma lei adjetiva, de sorte que se ainda na fase instrutória da ação ordinária é detectada a falta, deve ser oportunizada à parte a sanação do vício, ao invés de simplesmente extinguir-se o processo, obrigando à sua repetição" (REsp 434.908/AM, Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, 4ª Turma, DJ 25/08/2003).

4. Recurso especial conhecido em parte e, nesta parte, provido.

(REsp 1231152/PR, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 20/08/2013, DJe 18/10/2013) (grifos apostos)

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. DOCUMENTO

@ (PROCESSO ELETRÔNICO) UGS Nº 70065345423 (Nº CNJ: 0219920-44.2015.8.21.7000) 2015/CÍVEL

15

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

REDIGIDO EM LÍNGUA ESTRANGEIRA, DESACOMPANHADO DA RESPECTIVA TRADUÇÃO JURAMENTADA (ART. 157 DO CPC). ADMISSIBILIDADE. RESPONSABILIDADE CIVIL. INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. REDUÇÃO. INVIABILIDADE. RAZOABILIDADE NA FIXAÇÃO DO QUANTUM. SÚMULA N. 7/STJ.

1. A tradução juramentada de documentos em idioma estrangeiro não é obrigatória para a eficácia e a validade da prova. No caso, o Tribunal de origem verificou que os documentos juntados apenas descrevem despesas e, portanto, concluiu pela desnecessidade da tradução.

2. O recurso especial não comporta o exame de questões que impliquem revolvimento do contexto fático-probatório dos autos, a teor do que dispõe a Súmula n. 7/STJ.

3. Somente em hipóteses excepcionais, quando irrisório ou exorbitante o valor da indenização, a jurisprudência desta Corte permite o afastamento do referido óbice para possibilitar a revisão.

No caso, o valor arbitrado pelo Tribunal de origem não se distancia dos parâmetros da razoabilidade e da proporcionalidade.

4. Agravo regimental desprovido.

(AgRg no AREsp 153.005/RN, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, QUARTA TURMA, julgado em 04/04/2013, DJe 16/04/2013) (grifos apostos)

RECURSO ESPECIAL. SEGURO DE AUTOMÓVEL. FRAUDE. INSTRUMENTO DE COMPRA E VENDA FIRMADO E REGISTRADO NO PARAGUAI QUATRO DIAS ANTES DO FURTO DO VEÍCULO. AUSÊNCIA DE TRADUÇÃO E DE REGISTRO NO BRASIL. POSSIBILIDADE DE UTILIZAÇÃO COMO MEIO DE PROVA.

I - Reconhecimento, pelo Tribunal de origem, da prática do chamado "golpe do seguro", em que o segurado comunica à seguradora o furto de seu veículo, quando, na realidade, este já fora negociado com terceiros, que o transportam normalmente para outro país.

II - Utilização, para este reconhecimento, de instrumento contratual, redigido em espanhol, de compra e venda do veículo segurado, firmado e

@ (PROCESSO ELETRÔNICO) UGS Nº 70065345423 (Nº CNJ: 0219920-44.2015.8.21.7000) 2015/CÍVEL

16

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

registrado por terceiros, no Paraguai, quatro dias antes do furto noticiado.

III - Rejeição das alegações relativas aos arts. 215 do CC/02, 757 do CC/02, 389 do CPC e 364 do CPC.

IV - Como a ausência de tradução do instrumento de compra e venda, redigido em espanhol, contendo informações simples, não comprometeu a sua compreensão pelo juiz e pelas partes, possibilidade de interpretação teleológica, superando-se os óbices formais, das regras dos arts. 157 do CPC e 224 do CC/02.

V - Precedentes específicos deste Superior Tribunal de Justiça.

VI - A exigência de registro de que trata os arts. 129, §6º, e 148 da Lei 6.015/73, constitui condição para a eficácia das obrigações objeto do documento estrangeiro, e não para a sua utilização como meio de prova.

VII - Inteligência do art. 131 do CPC, que positiva o princípio do livre convencimento motivado.

VIII - Recurso especial não provido.

(REsp 924.992/PR, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em 19/05/2011, DJe 26/05/2011) (grifos apostos)

PROCESSUAL CIVIL. DOCUMENTO REDIGIDO EM LÍNGUA ESTRANGEIRA, DESACOMPANHADO DA RESPECTIVA TRADUÇÃO JURAMENTADA (ART. 157, CPC). ADMISSIBILIDADE. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL NÃO COMPROVADO.

1. Em se tratando de documento redigido em língua estrangeira, cuja validade não se contesta e cuja tradução não é indispensável para a sua compreensão, não é razoável negar-lhe eficácia de prova. O art. 157 do CPC, como toda regra instrumental, deve ser interpretado sistematicamente, levando em consideração, inclusive, os princípios que regem as nulidades, nomeadamente o de que nenhum ato será declarado nulo, se da nulidade não resultar prejuízo para acusação ou para a defesa (pas de nulitté sans grief). Não havendo prejuízo, não se pode dizer que a falta de tradução, no caso, tenha importado violação ao art. 157 do CPC.

2. Recurso especial a que se nega provimento.

@ (PROCESSO ELETRÔNICO) UGS Nº 70065345423 (Nº CNJ: 0219920-44.2015.8.21.7000) 2015/CÍVEL

17

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

(REsp 616.103/SC, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA TURMA, julgado em 14/09/2004, DJ 27/09/2004, p. 255) (grifos apostos)

Feitas essas considerações, não verifico, no caso concreto,

qualquer razão de fato ou de direito para determinar a tradução juramentada

dos documentos em língua espanhola acostados à petição inicial, quais

sejam, as cópias dos atos constitutivos da empresa venezuelana autora e

dos comprovantes da operação bancária referente à compra e venda

efetuada entre as partes (fls. 29/45 e 50/62). Perante o Juízo de origem,

quanto neste grau de jurisdição, em suas razões recursais, a agravante não

impugnou nem impugna a validade dos documentos em língua estrangeira.

Limitou-se e limita-se a alegar a falta da respectiva tradução juramentada,

em argumentação de viés puramente formalista, a qual, à luz da

jurisprudência do STJ sobre o tema, não se presta a impor a referida

tradução. Ademais, do cotejo dos documentos, não se constata maior

dificuldade de compreensão, seja porque redigidos em língua espanhola –

que, em termos gerais, é bastante similar ao português –, seja porque

tampouco contêm vocabulário de cunho técnico e específico a inviabilizar a

sua compreensão, por pessoa não-hispanohablante.

Dessa forma, assim como o faço quanto ao tópico da jurisdição

brasileira para o litígio principal, rejeito também a insurgência da ré /

agravante acerca dos documentos em língua estrangeira acostados aos

autos principais, os quais deverão produzir efeitos, independentemente de

tradução juramentada, sem prejuízo do regular prosseguimento da contenda.

1.3. Do Direito aplicável ao contrato celebrado entre a

empresa brasileira Voges Metalurgia Ltda. e a empresa venezuelana

Inversiones Metalmecánicas I.C.A..

@ (PROCESSO ELETRÔNICO) UGS Nº 70065345423 (Nº CNJ: 0219920-44.2015.8.21.7000) 2015/CÍVEL

18

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Como referido no relatório, a decisão recorrida dizia respeito

exclusivamente às questões da jurisdição brasileira para o litígio principal e

da obrigatoriedade de tradução juramentada dos documentos em língua

estrangeira acostados ao feito em trâmite na origem; tendo em vista, porém,

a divergência entre a autora e a ré, nos autos principais, quanto ao local de

celebração do contrato – verificada por ocasião do recebimento do agravo

de instrumento –, determinou-se à agravante que esclarecesse se tinha se

cuidado de contrato entre ausentes, e, em caso positivo, qual das partes

havia figurado como proponente (item n.º 2 da decisão de recebimento do

recurso, anteriormente transcrita). No prazo de que dispunha para tanto, a

agravante nada esclareceu acerca da questão em tela, ao passo que, em

seguida, transcorreu “in albis” o prazo para resposta ao agravo de

instrumento, pela agravada. Desse modo, esta Corte não dispõe, neste

momento processual, de elementos que a autorizem a identificar e declarar,

desde logo – com respaldo no efeito translativo do recurso de agravo de

instrumento –, o Direito material aplicável ao contrato firmado entre a

empresa venezuelana autora e a empresa brasileira ré.

Nem por isso, contudo, deixo de me manifestar acerca da

questão em tela. Não escapa à atenção deste Relator que a Magistrada de

primeira instância, salvo melhor juízo, não atentou para a discordância entre

as partes quanto ao local de celebração do contrato: até a interposição deste

recurso, não tinha sido ordenada a produção de qualquer prova a esse

respeito, muito embora a ré tenha alegado a firmatura da avença em solo

venezuelano, na contestação (fls. 84/101), o que foi objetado pela autora, na

réplica (fls. 121/130). Assim, tendo em vista que não se cuida de questão

irrelevante, mas sim imprescindível ao deslinde do mérito, permito-me tecer

breves considerações acerca do ponto, recomendando-se ao Juízo “a quo” a

sua observância, de modo a propiciar a mais adequada instrução do feito e,

pelo mesmo motivo, a fim de evitar a prolação de sentença eivada de “error

@ (PROCESSO ELETRÔNICO) UGS Nº 70065345423 (Nº CNJ: 0219920-44.2015.8.21.7000) 2015/CÍVEL

19

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

in judicando”. Rogo vênia para fazê-lo considerando a natureza peculiar dos

litígios judiciais com conexão internacional, e, na prática judicial brasileira em

matéria de Direito Internacional Privado, a sua freqüência ainda rara,

especialmente em matéria de contratos internacionais, como é o caso

presente16.

Como dito, o local da celebração do contrato firmado entre a

empresa estrangeira autora e a empresa brasileira ré não constitui questão

irrelevante, tratando-se, ao contrário, de aspecto crucial ao deslinde do

mérito da controvérsia, razão por que deve ser esclarecido, nos autos

principais, na fase instrutória. Ao estabelecer que “para qualificar e reger as

obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se constituírem”, o art. 9º, “caput”,

da LINDB, consagra a sujeição das obrigações contratuais e extracontratuais

à regra “locus regit actum” ou “ius loci celebracionis”. Assim, caso verifique

tratar-se, de fato, de contrato celebrado na Venezuela, como alegou a ré, o

Juízo de origem deverá valer-se do Direito material venezuelano, para a

qualificação e para a disciplina dos efeitos jurídicos decorrentes do contrato

firmado entre as partes. Caso constate, porém, que a celebração da avença

teve lugar em território brasileiro, ou, ainda, que a sua pactuação se deu

entre ausentes, tendo sido a empresa ré a proponente, o Juízo “a quo”

deverá julgar o caso com base no Direito brasileiro, porque aplicável, nesse

cenário, o disposto no §2º do art. 9º da LINDB, que, em complementação à

regra do seu “caput” 17, define que “a obrigação resultante do contrato reputa-se

constituída no lugar em que residir o proponente”.

16 Sem desconhecer os distintos entendimentos acerca dos requisitos necessários à caracterização do contrato como internacional, filio-me à corrente doutrinária no sentido de que o “efeito internacionalizante” de um contrato produz-se como decorrência da conjunção, por um lado, de aspectos jurídicos, relativamente à produção de efeitos jurídicos simultâneos em mais de um ordenamento jurídico, e, por outro, de aspectos econômicos, relativos ao fluxo e refluxo transfronteiriço de bens, valores e capitais (BASSO, Maristela. Contratos internacionais do comércio: negociação, conclusão, prática. – 2 ed., rev., atual. e ampl. – Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1998, p. 293). 17 ARAUJO, Nadia de. Direito internacional privado. Teoria e prática brasileira. – 5. ed. atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Renovar, 2011, p. 398.

@ (PROCESSO ELETRÔNICO) UGS Nº 70065345423 (Nº CNJ: 0219920-44.2015.8.21.7000) 2015/CÍVEL

20

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Ressalvo, porém, ser dado ao Juízo de origem sentenciar o

feito com base no Direito brasileiro, ainda que a instrução do litígio finde por

demonstrar que se cuida de contrato firmado na Venezuela, sem que, com

isso, se incorra em “error in judicando” por negativa de vigência ao art. 9º,

“caput”, da LINDB. Trata-se da hipótese de celebração fortuita, circunstancial

de contrato em solo estrangeiro, isto é, sem vinculação efetiva do negócio

jurídico com Estado em que firmado18. Transcrevo, no ponto, a lição de

Maristela Basso19:

Contudo, chamo atenção para a possibilidade na qual o contrato tenha sido celebrado em um país estrangeiro e a execução ocorra no Brasil, porque uma das partes é domiciliada aqui. Se nessas hipóteses ficar claramente configurada a maior irradiação de efeitos (jurídicos e econômicos) da relação jurídica no país da execução – no Brasil –, poderá o juiz brasileiro aplicar o direito nacional. Digo isso porque a lógica do direito internacional privado é a de aplicar ao caso concreto a lei do país sede da relação jurídica – do centro de gravidade do fato jurídico.

O ‘caput’ do art. 9º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro parte da premissa de que o local da celebração é também onde está a sede do fato (a maior irradiação de efeitos da relação). Entretanto, a prática pode se revelar diferente e o local da execução apresentar maior concentração de efeitos. Nesses casos pode-se recorrer ao direito do país da execução

sem que, com isso, violemos o art. 9º.

Por fim, convém ressaltar que, caso conclua pelo deslinde do

mérito à luz do Direito brasileiro, por qualquer uma das razões acima

expostas, o Juízo de origem não deverá limitar-se às normas de produção

18 BAPTISTA, Luiz Olavo. Contratos internacionais: uma visão teórica e prática. São Paulo: Saraiva, 1994, p. 31, apud JAEGER, Guilherme Pederneiras. Lei aplicável aos contratos internacionais. O regime jurídico brasileiro e a Convenção do México. 1. ed. (ano 2006), 5ª reimpr. Curitiba: Juruá, 2011, p. 55-56; 19 BASSO, Maristela. Curso de direito internacional privado. – 4. ed. – São Paulo: Atlas, 2014, p. 243-244.

@ (PROCESSO ELETRÔNICO) UGS Nº 70065345423 (Nº CNJ: 0219920-44.2015.8.21.7000) 2015/CÍVEL

21

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

interna que compõem o ordenamento jurídico pátrio. Deverá atentar, ainda,

para a eventual aplicação da Convenção de Viena sobre Contratos de

Compra e Venda Internacional de Mercadorias (CISG), a qual, celebrada sob

os auspícios da Organização das Nações Unidas, em 1980, igualmente

integra o Direito brasileiro, desde a conclusão do seu rito de incorporação20

21 - razão por que a sua incidência independe de argüição ou requerimento

das partes, devendo ser aplicada “ex officio”, como a Constituição e as leis.

Note-se que o eventual recurso às normas da Convenção de

Viena de 1980, no caso presente, pode ter lugar ainda que a Venezuela não

a tenha ratificado. Como dito, dar-se-á na qualidade de norma componente

do Direito brasileiro, com fundamento no art. 1º, alínea “b”, da Convenção,

segundo o qual as suas regras aplicam-se aos contratos e compra e venda

de mercadorias entre partes que tenham seus estabelecimentos em Estados

distintos “quando as regras de direito internacional privado levarem à aplicação da

lei de um Estado contratante”.

2. Dispositivo.

Ante o exposto, voto no sentido de negar provimento ao Agravo

de Instrumento n.º 70065345423, nos termos supra.

Determino a expedição de ofício ao Juízo da 4ª Vara Cível da

Comarca de Caxias do Sul/RS, com o inteiro teor desta decisão, de modo a

possibilitar a sua observância, na fase instrutória do feito principal e por

ocasião da sentença a ser nele prolatada, das considerações constantes do

item 1.3. da fundamentação acima, pelas razões expostas.

Consigno, por fim, que dou por explicitamente prequestionados

os dispositivos legais argüidos pela agravante – quais sejam, o art. 9º,

“caput”, da LINDB, e os arts. 88, I, 100, IV, “d”, 156 e 157, todos do CPC –, a

20 Aprovada pelo Decreto Legislativo n.º 538, de 18 de outubro de 2012, e promulgada pelo Decreto n.º 8.327, de 16 de outubro de 2014. 21 BASSO, Maristela. Homologação de sentença estrangeira – STJ (Atecs Mannesmann GMBH e Rodrimar S.A.). In: Revista de Arbitragem e Mediação. Vol. 26, p. 179-238, jul./set. 2010.

@ (PROCESSO ELETRÔNICO) UGS Nº 70065345423 (Nº CNJ: 0219920-44.2015.8.21.7000) 2015/CÍVEL

22

ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

fim de evitar a oposição de embargos de declaração tão-somente com o

propósito de satisfazer o requisito do prequestionamento explícito, à luz da

Súmula n.º 282 e da Súmula n.º 356, ambas do Supremo Tribunal Federal, e

da Súmula n.º 211 do Superior Tribunal de Justiça.

DES. PEDRO LUIZ POZZA – Acompanho integralmente o brilhante voto do

eminente Relator.

DES. GUINTHER SPODE (PRESIDENTE) – De acordo com o Relator.

DES. GUINTHER SPODE - Presidente - Agravo de Instrumento nº

70065345423, Comarca de Caxias do Sul: "AGRAVO DE INSTRUMENTO

DESPROVIDO. UNÂNIME."

Julgador(a) de 1º Grau: DRA. CLÁUDIA ROSA BRUGGER