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1 TEORIA GERAL DO DIREITO PROCESSESSUAL RESUMO 1: JUIZ E AUXILIARES* Sumário: INTRODUÇÃO; 1 JUIZ: 1.1 Regras de Conduta Funcionais; 1.2 Poderes e Deveres Processuais; 1.3 Impedimento; 1.4 Suspeição; 1.5 Provimentos Judiciais; 1.6 Responsabilidade do Juiz; 1.7. Juiz e Julgamento. 2 AUXILIARES DO JUÍZO: 2.1 Auxiliares Permanentes e Eventuais; 2.2 Escrivão ou Chefe de Secretaria; 2.3 Oficial de Justiça; 2.4 Perito; 2.5 Intérprete; 2.6 Conciliador e Mediador; 2.7 Outros Auxiliares judiciais. INTRODUÇÃO Sendo dever estatal de distribuir a justiça, o Juiz atua no processo cumprindo etapas e praticando atos jurisdicionais até o desfecho e solução da lide que envolve as partes envolvidas. Essa atividade decorre da formação da relação jurídica entre o juiz, sujeito imparcial, e as partes, sujeitos parciais. Por meio do processo os postulantes colimam a satisfação de seus direitos, exercem a demanda e a defesa, afirmam, contestam, rebatem, pedem, compõem, recorrem. O órgão judiciário conduz o rito até a solução final, tendo o dever de proferir um julgamento voltado para solucionar as questões trazidas pelas partes e prevenir ou restabelecer direitos. Para a satisfação de direitos por meio da jurisdição, do início ao fim do procedimento os agentes processuais apontados na lei agem com postulações, requerimentos, pareceres, provimentos, recursos, cumprimento de decisões etc. Para todas as pessoas intervenientes no processo a lei regula a posição, a participação, as garantias, os direitos e os deveres, o ônus, a responsabilidade e o regime jurídico profissional ou administrativo. A Constituição estabelece regras referentes à função dos agentes, em especial do juiz e do membro do Ministério Público. A lei estabelece ainda garantias, direitos, deveres, responsabilidades e regras de conduta processual dos agentes da relação processual.

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TEORIA GERAL DO DIREITO PROCESSESSUAL

RESUMO 1: JUIZ E AUXILIARES*

Sumário: INTRODUÇÃO; 1 – JUIZ: 1.1 – Regras de Conduta Funcionais; 1.2 – Poderes e Deveres Processuais; 1.3 – Impedimento; 1.4 – Suspeição; 1.5 – Provimentos Judiciais; 1.6 – Responsabilidade do Juiz; 1.7. Juiz e

Julgamento. 2 – AUXILIARES DO JUÍZO: 2.1 – Auxiliares Permanentes e Eventuais; 2.2 – Escrivão ou Chefe de Secretaria; 2.3 – Oficial de Justiça;

2.4 – Perito; 2.5 – Intérprete; 2.6 – Conciliador e Mediador; 2.7 – Outros Auxiliares judiciais.

INTRODUÇÃO

Sendo dever estatal de distribuir a justiça, o Juiz atua no

processo cumprindo etapas e praticando atos jurisdicionais até o

desfecho e solução da lide que envolve as partes envolvidas.

Essa atividade decorre da formação da relação jurídica entre o

juiz, sujeito imparcial, e as partes, sujeitos parciais.

Por meio do processo os postulantes colimam a satisfação de

seus direitos, exercem a demanda e a defesa, afirmam, contestam,

rebatem, pedem, compõem, recorrem. O órgão judiciário conduz o

rito até a solução final, tendo o dever de proferir um julgamento

voltado para solucionar as questões trazidas pelas partes e prevenir

ou restabelecer direitos.

Para a satisfação de direitos por meio da jurisdição, do início ao

fim do procedimento os agentes processuais apontados na lei agem

com postulações, requerimentos, pareceres, provimentos, recursos,

cumprimento de decisões etc. Para todas as pessoas intervenientes

no processo a lei regula a posição, a participação, as garantias, os

direitos e os deveres, o ônus, a responsabilidade e o regime jurídico

profissional ou administrativo.

A Constituição estabelece regras referentes à função dos

agentes, em especial do juiz e do membro do Ministério Público. A lei

estabelece ainda garantias, direitos, deveres, responsabilidades e

regras de conduta processual dos agentes da relação processual.

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Intervêm, normalmente, na qualidade de sujeitos da relação

processual: o autor que pede a tutela jurisdicional e, geralmente por

meio de seu advogado, defende seus interesses em juízo a fim de

receber uma sentença de procedência de seu pedido; o réu que se

defende, geralmente por meio de advogado, rebate os argumentos e

refuta o pedido do autor, podendo apresentar reconvenção nos

próprios autos; o órgão judicial, na pessoa do juiz, que conduz o

processo, decide, ordena o cumprimento da decisão etc. Às vezes a

relação processual subjetiva não é tão simples, pela possibilidade de

existir pluralidade de partes (litisconsórcio) e intervenção de terceiros

(denunciação da lide, amicus curiae, chamamento ao processo etc.),

de acordo com a lei.

O órgão judicial é composto pelo juiz singular no primeiro grau

e por juízes componentes de colegiado nos graus médio e superior da

jurisdição, necessariamente auxiliados por servidores e por eventuais

colaboradores. São denominados juízes os órgãos julgadores de

primeiro grau; desembargadores são os magistrados de segundo

grau, de tribunais dos Estados ou da União (regionais). Nos tribunais

superiores os seus integrantes recebem a denominação de ministros

(do Poder Judiciário), o que é estendido também aos membros da

Corte de Contas Superior (Tribunal de Contas da União) cujos

membros recebem a mesma nomenclatura constitucional (de

ministros).

Outrossim, atuam em apoio ao juiz e/ou com funções próprias

os auxiliares judiciais, em geral servidores públicos do Poder

Judiciário, alguns com papel relevante na prática e formalidade de

atos produção de prova ou pacificação consensual etc.

1 – JUIZ

O juiz é o sujeito investido constitucionalmente na função de

processar, decidir e prestar a jurisdição. É o agente do Poder

Judiciário, órgão unipessoal ou coletivo, nos termos da Constituição e

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das leis. É o dirigente e guardião do processo, seja na atuação em

primeiro grau, quando mantém o contato inicial com a causa e dirige

a primeira etapa do procedimento, seja como relator de um recurso

contra uma decisão judicial. No processo cabe ao juiz um papel

imprescindível, visto que personifica o Poder Judiciário na atribuição

de fazer justiça.

Conforme o art. 2º da Constituição, os poderes Executivo,

Legislativo e Judiciário são independentes e harmônicos entre si. A

atividade judicial, ao mesmo tempo poder e função essencial à

justiça, não pode ser equiparada a simples ofício. Trata-se de

relevante e essencial serviço público prestado à sociedade,

consistente na resolução de conflitos e na busca da paz social.

Os Juízes investidos constitucionalmente, que possuem as

prerrogativas constitucionais da magistratura como a vitaliciedade,

são considerados permanentes e compõem o Poder Judiciário.

O Juiz permanente é o Juiz de Carreira do Judiciário, o juiz

Togado (toga): os ministros dos Tribunais Superiores.; o

desembargador: Tribunais de Justiça e Tribunais Regionais; o juiz de

Primeiro Grau (Juiz de “Primeira Instância”): Vara.

Mas o Poder Judiciário também conta com Juízes Temporários,

nos termos da Constituição e das leis, que não integram a carreira do

Judiciário, não possuem vitaliciedade e atuam por prazo determinado.

São juízes temporários os Juízes leigos dos Juizados Especiais,

os Jurados do Júri Popular, os Juízes Militares provisórios e os Juízes

de paz.

O Juiz Leigo é um auxiliar cooptado entre bacharéis em Direito,

geralmente remunerado; dirige audiências e profere sentença sujeita

à homologação judicial. Pode tornar-se árbitro no processo dos

Juizados Especiais, de acordo com a Lei n. 9.099/95.

O Jurado no Tribunal do Júri Participa, após ser sorteado como

julgador na Sessão Plenário do Tribunal Júri no julgamento de crimes

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dolosos contra vida em sessão plenária, conforme o art. 432 e ss. do

CPP.

O Juiz Militar não togado é aquele que faz parte do Conselho da

Justiça Militar (escabinado) para julgamento de crimes militares e

atua temporariamente.

Por fim, o juiz de paz para processo civil de habilitação e de

casamento e para outras atribuições conciliatórias nos termos da lei,

é um auxiliar judiciário remunerado, eleito com mandato de 4 anos,

conforme estabelece a Constituição Federal no seu art. 98, II.

1.1 – Regras de conduta funcionais

Para garantir a independência e a afirmação como Poder, a

Constituição concede aos membros do Judiciário a vitaliciedade, pela

qual o magistrado, após a fase do estágio probatório, somente pode

ser demitido por decisão judiciária transitada em julgado (art. 95, I,

da CF; arts. 22, 25 e 26, da Lei Complementar nº 35/79 – Lei

Orgânica da Magistratura Nacional – LOMAN). Nada impede que o

magistrado seja aposentado compulsoriamente, na forma do art. 28

da mesma Lei.

A Constituição prevê a garantia de irredutibilidade de subsídios,

apesar dos juízes estarem sujeitos aos impostos em geral (art. 32, LC

nº 35/79 c/c art. 95, I, da CF). A mesma Carta Maior garante ao

membro desse poder a inamovibilidade, pois somente pode ser

deslocado da comarca, seção judiciária ou vara onde atua se pedir

remoção/transferência ou se aceitar a promoção na carreira.

Excepciona-se a hipótese de remoção, de disponibilidade ou de

aposentadoria por interesse público, mediante decisão baseada em

voto da maioria absoluta do tribunal ao qual pertença o magistrado

ou do Conselho Nacional de Justiça, sempre assegurada a ampla

defesa (art. 93, VIII, da CF).

Essas garantias constitucionais são fundamentais para

assegurar o devido e regular exercício da função judiciária, sem

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ingerências ou pressões que possam vir atrapalhar os julgamentos do

magistrado.

A fim de assegurar isenção e independência da magistratura, a

lei define a conduta do juiz dentro e fora do processo, prevendo

proibições e vedações profissionais.

Fora do processo, de acordo com o art. 95, parágrafo único da

Constituição federal, é vedado ao juiz: exercer, ainda que em

disponibilidade, outro cargo ou função, salvo uma de magistério;

receber, a qualquer título, custas ou participação em processo;

dedicar-se à atividade político-partidária; receber, a qualquer título

ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades

públicas ou privadas, ressalvadas as exceções legais; exercer a

advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de decorridos

três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou exoneração,

esta a chamada quarentena judicial.

Além disso, consoante o art. 36, Lei Complementar nº 35/79

(Lei Orgânica da Magistratura – LOMAN) ao juiz é vedado: o exercício

do comércio ou participação em empresa, salvo como cotista ou

acionista; exercício de cargo de direção ou técnico de sociedade civil,

associação ou fundação, de qualquer natureza ou finalidade, exceto

associação de classe sem remuneração; a manifestação sobre

processo pendente de julgamento, a não ser críticas produzidas nos

próprios autos, em obras técnicas ou exercício do magistério.

A violação dessas regras enseja penalidades (arts. 41 e 42 da

LOMAN), uma vez que interferem na função ímpar de julgar. Não

apenas as Corregedorias próprias dos tribunais fiscalizam as condutas

funcionais dos membros da Magistratura. O Conselho Nacional de

Justiça, órgão central de controle financeiro e administrativo

composto por membros do Judiciário e de integrantes de outras

carreiras e profissões, também exerce essa função de velar pela ética

na conduta e em assuntos da magistratura fora dos autos.

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Ademais, a jurisdição atinge um espectro que vai além do

Jurisdicionados, estes atingidos diretamente por uma decisão

judiciária.

De fato, algumas decisões judiciais impõem regras, abstenções

e cumprimento por terceiros; outros provimentos possuem

repercussão social, o que eleva em importância a atividade do juiz,

sempre obrigado a dizer quem tem razão e a fazer cumprir os seus

atos decisórios sob as sanções legais que impuser.

Por isso a lei define deveres e prerrogativas dos juízes fora e

dentro do processo.

Para exercer com independência a missão da Justiça não basta

valer-se o juiz dos predicativos ou prerrogativas da magistratura, a

exemplo da vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de

subsídios. Existem outras normas de conduta fora do processo que

criam abstenções ao juiz em seu relacionamento com o jurisdicionado

e até em sua conduta particular; regras éticas que visam tornar o

magistrado livre para defender a sociedade, a justiça e o direito.

A Lei Orgânica da Magistratura – LOMAN determina que o juiz

mantenha conduta funcional compatível com a função no

relacionamento com advogados, servidores e demais atuantes no

processo e que observe nessa relação a urbanidade e a educação. É

seu dever ainda comparecer ao fórum, fiscalizar os serviços auxiliares

e, salvo autorização em contrário do tribunal ao qual pertence, residir

na comarca para a qual foi designado.

De acordo com o art. 33 da Lei Orgânica da Magistratura

Nacional (LC nº 35/79), o magistrado possui o direito: de ser ouvido

como testemunha, combinando dia, hora, local; de não ser preso sem

ordem escrita do tribunal de que faça parte, salvo em flagrante de

crime inafiançável, caso em que a autoridade fará imediata

comunicação e apresentação do magistrado ao presidente do tribunal

a que estiver vinculado; à prisão especial e ao porte de arma; de ser

intimado apenas por autoridade judiciária.

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1.2 – Poderes e Deveres Processuais

Na qualidade de sujeito imparcial, o juiz possui poderes no

processo garantidores da regularidade do processo e do procedimento

e poderes para prestar a boa jurisdição.

Tais poderes ao mesmo tempo constituem deveres, uma vez

que são imposições ao magistrado que dirige o processo, o que lhe

possibilita velar pela ordem jurídica, o cumprimento de suas decisões

e o devido processo legal.

Como condutor do processo, ao juiz é concedida a liberdade

suficiente para fazer a supervisão de atos em nome da justiça. Cabe-

lhe evitar abusos e desvios de ética processual. O juiz do processo

deve atuar com altivez, retidão, responsabilidade e equilíbrio. Não

pode deixar de ser intérprete da Constituição, evitando ser escravo

de leis casuísticas; pode recusar-se a obedecer a leis inconstitucionais

e precisa ser diligente e dirigente na condução do processo, e ser

julgador consciente e justo.

Na sua plena atuação o juiz protege o direito e a justiça. Se

necessário, concede urgentemente o amparo judicial para que os

direitos violados não se percam com o tempo de duração do

processo, julga e executa de maneira célere, restabelecendo o bem

da vida infringido e a ordem jurídica violada.

O art. 139 do Código de Processo Civil – CPC/2015 prevê

princípios processuais que expressam o poder-dever do juiz na

condução do processo. Segundo esse dispositivo, ao dirigir o processo

ao juiz incumbe: “I - assegurar às partes igualdade de tratamento; II

- velar pela duração razoável do processo; III - prevenir ou reprimir

qualquer ato contrário à dignidade da justiça e indeferir postulações

meramente protelatórias; IV - determinar todas as medidas

indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias

para assegurar o cumprimento de ordem judicial, inclusive nas ações

que tenham por objeto prestação pecuniária; V - promover, a

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qualquer tempo, a autocomposição, preferencialmente com auxílio de

conciliadores e mediadores judiciais; VI - dilatar os prazos

processuais e alterar a ordem de produção dos meios de prova,

adequando-os às necessidades do conflito de modo a conferir maior

efetividade à tutela do direito; VII - exercer o poder de polícia,

requisitando, quando necessário, força policial, além da segurança

interna dos fóruns e tribunais; VIII - determinar, a qualquer tempo, o

comparecimento pessoal das partes, para inquiri-las sobre os fatos da

causa, hipótese em que não incidirá a pena de confesso; IX -

determinar o suprimento de pressupostos processuais e o

saneamento de outros vícios processuais; X - quando se deparar com

diversas demandas individuais repetitivas, oficiar o Ministério Público,

a Defensoria Pública e, na medida do possível, outros legitimados

(...) para os fins da propositura de ação coletiva respectiva”

O texto atual reproduz parte do CPC de 1973, que se restringia

a dar poderes ao juiz para velar pela igualdade dos litigantes, pela

rápida solução, prevenção ou repressão contra a dignidade da justiça

e para a admissão a qualquer tempo do método de conciliação das

partes.

Nos termos do art. 251 do Código de Processo Penal – CPP, ao

“juiz incumbirá prover à regularidade do processo e manter a ordem

no curso dos respectivos atos, podendo, para tal fim, requisitar a

força pública”.

Quanto à Justiça Laboral, conforme o art. 765 da Consolidação

das Leis do Trabalho (CLT), “os Juízos e Tribunais do Trabalho terão

ampla liberdade na direção do processo e velarão pelo andamento

rápido das causas, podendo determinar qualquer diligência necessária

ao esclarecimento delas”.

1.3 – Provimentos Judiciais

A atuação do juiz no processo se dá pela prática de diversos

atos processuais, tais como presidir audiência, fazer inspeção e

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fiscalização na sua unidade jurisdicional, responder a ofícios a

diversas autoridades, oficiar a órgãos e a tribunais etc.

Dentre esses atos sobressaem respostas aos pleitos e os atos

inerentes à atividade de processar e julgar denominados provimentos

judiciais, conceito mais restrito do que atos, estes o gênero.

Entre os principais provimentos judiciais arrolam-se os

despachos e as decisões lato sensu.

O despacho é ato de simples ordenação e de encaminhamento

processual, livre de forma na sua realização e incapaz de causar

prejuízo à parte.

As decisões em sentido largo consistem em qualquer

provimento incidental ou final, que resolva ao menos uma questão ou

ponto controvertido, com o condão de causar prejuízos e benefícios a

partes. Dividem-se as decisões em interlocutórias, sentenças e

acórdãos.

A decisão interlocutória é ato capaz de resolver questão

incidente no curso do processo, sem concluir o procedimento de

primeiro grau ou etapa autônoma procedimental.

A sentença é ato típico do juiz de primeiro grau. Trata-se de

decisão final, terminativa (processual) ou definitiva (de mérito), em

resposta no tempo legal às pretensões das partes, constituindo o ato

que encerra o procedimento cognitivo de primeiro grau de jurisdição.

Acórdão são os provimentos dos órgãos colegiados (tribunais e

turmas recursais) no julgamento de recursos ou em ações originárias

de competência de órgãos composto por mais de um agente.

A decisão pode ser terminativa, também denominada

meramente processual ou rasa, quando não examina o mérito.

Também pode ser definitiva ou de fundo, quando ingressa no conflito

(lide, mérito) ou resolve uma situação assemelhada.

São exemplos de decisões que extinguem o processo sem

análise de mérito (art. 485 do CPC): de indeferimento da petição

inicial; de reconhecimento da negligência das partes que deixam o

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processo parado durante mais de 1 (um) ano; de reconhecimento do

abandono do autor, que deixar de promover, por mais de 30 (trinta)

dias os atos e as diligências que lhe incumbiam; de constatação de

ausência de pressupostos de constituição e de desenvolvimento

válido e regular do processo; de reconhecimento da existência de

perempção, de litispendência ou de coisa julgada; de constatação da

ausência de legitimidade ou de interesse processual; de acolhimento

de convenção de arbitragem ou de reconhecimento pelo juízo arbitral

de sua competência; de homologação da desistência da ação; de

constatação de intransmissibilidade do direito de ação, em caso de

morte da parte.

Dentre as reputadas definitivas, ou melhor, que adentram nas

questões de mérito, encontram-se as seguintes decisões (art. 487 do

CPC): que acolhem ou rejeitam o pedido formulado na ação ou na

reconvenção; que decretam a decadência ou a prescrição; que

homologam o reconhecimento da procedência do pedido formulado

na ação ou na reconvenção; que homologam a transação ou a

renúncia à pretensão formulada na ação ou na reconvenção.

Quanto às impugnações, os despachos não são recorríveis, e os

de mero expediente podem ser delegados para o escrivão ou para

outro servidor da Secretaria Judiciária, ficando o magistrado com o

controle judicial de tais atos.

As decisões não finais como regra são irrecorríveis, mas

algumas interlocutórias cíveis podem ser impugnadas pelo recurso de

agravo de instrumento, tais como as que decidem: tutelas

provisórias, o mérito do processo, a rejeição da alegação de

convenção de arbitragem, o incidente de desconsideração da

personalidade jurídica, a rejeição do pedido de gratuidade da justiça

ou acolhimento do pedido de sua revogação, a exibição ou posse de

documento ou coisa, a exclusão de litisconsorte, a rejeição do pedido

de limitação do litisconsórcio, a admissão ou inadmissão de

intervenção de terceiros, a concessão, modificação ou revogação do

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efeito suspensivo aos embargos à execução, a redistribuição do ônus

da prova (art. 1.015 do CPC).

Ordinariamente as sentenças são impugnadas pelo recurso de

apelação e os acórdãos de tribunais por recursos para os tribunais

superiores como o recurso extraordinário e o especial.

Sobre os prazos processuais, o juiz proferirá os despachos no

prazo de 5 (cinco) dias, as decisões interlocutórias no prazo de 10

(dez) dias e as sentenças no prazo de 30 (trinta) dias (art. 226 do

CPC), podendo ser ultrapassados tais prazos, desde que o magistrado

apresente a devida justificativa para o excesso temporal.

1.4 – Impedimento

Visando à regularidade da atividade judicial, o legislador em

certas hipóteses proíbe que o magistrado competente para o caso

pratique atos em processo.

São as vedações processuais, situações que levam à inação ou

abstenção de continuar no processo o juiz natural, que deve retirar-

se transferindo a jurisdição para outro órgão. A legislação processual

divide as abstenções em duas categorias: o impedimento e a

suspeição.

Impedimento é a situação na qual, dadas certas circunstâncias

geralmente objetivamente consideradas, o juiz não pode processar e

julgar a causa, tais como parentesco ou casamento. Os casos de

impedimento são mais graves do que os de suspeição, uma vez que

podem levar à impugnação por ação rescisória visando à

desconstituição da sentença cível (art. 966, II, do CPC). O juiz pode

declarar-se impedido de ofício, isto é, sem provocação das partes,

que também podem promover o incidente processual visando ao

afastamento do juiz.

As hipóteses de impedimento dizem respeito à atuação judicial

em processo anterior ou concomitante àquele ao qual se alega ter

havido o obstáculo pessoal.

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No âmbito processual civil (art. 144 do CPC), considera-se

impedido o magistrado que: interveio como mandatário da parte,

oficiou como perito, funcionou como membro do Ministério Público ou

prestou depoimento como testemunha (I); conheceu a causa em

outro grau de jurisdição, tendo proferido decisão (II); estiver em

processo postulando como defensor público, advogado ou membro do

Ministério Público, ou seu cônjuge ou companheiro, ou qualquer

parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o

terceiro grau, inclusive (III); for parte no processo ele próprio, seu

cônjuge ou companheiro, ou parente, consanguíneo ou afim, em linha

reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive (IV); for sócio ou

membro de direção ou de administração de pessoa jurídica parte no

processo (V); for herdeiro presuntivo, donatário ou empregador de

qualquer das partes (VI); processar causa em que figure como parte

instituição de ensino com a qual tenha relação de emprego ou

decorrente de contrato de prestação de serviços (VII); atuar em

processo em que figure como parte cliente do escritório de advocacia

de seu cônjuge, companheiro ou parente, consanguíneo ou afim, em

linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive, mesmo que

patrocinado por advogado de outro escritório (VIII); promover ação

contra a parte ou seu advogado (IX).

Na hipótese de encontrar-se no processo um parente em

terceiro grau do magistrado, ou seu cônjuge ou companheiro, o

impedimento só se verifica quando o defensor público, o advogado ou

o membro do Ministério Público já integrava o processo antes do

início da atividade judicante do juiz (§ 1º do art. 145). Em caso de

advogado cônjuge ou parente em terceiro grau do magistrado, o

impedimento ocorre mesmo em caso “de mandato conferido a

membro de escritório de advocacia que tenha em seus quadros

advogado que individualmente ostente a condição nele prevista,

mesmo que não intervenha diretamente no processo” (§ 3º do art.

145).

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No juízo criminal, considera-se impedido o magistrado ou

magistrada em cujo processo (art. 252 do CPP): “tiver funcionado seu

cônjuge ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral

até o terceiro grau, inclusive, como defensor ou advogado, órgão do

Ministério Público, autoridade policial, auxiliar da justiça ou perito; ele

próprio houver desempenhado qualquer dessas funções ou servido

como testemunha; tiver funcionado como juiz de outra instância,

pronunciando-se, de fato ou de direito, sobre a questão; ele próprio

ou seu cônjuge ou parente, consanguíneo ou afim em linha reta ou

colateral até o terceiro grau, inclusive, for parte ou diretamente

interessado no feito”.

1.5 – Suspeição

A suspeição é a situação subjetiva de incompatibilidade do

estabelecimento do magistrado como julgador de determinado

processo.

Na suspeição há uma margem maior de discricionariedade do

que no impedimento cuja situação é objetiva, mesmo porque a razão

da suspeição, ao contrário da do impedimento, se encontra, como

regra, no fato de o magistrado ter praticado ou encontrar-se em

circunstância que não diz respeito diretamente à sua atuação no

processo. O motivo que leva à suspeição em geral tem fundo

extraprocessual, mas que, por risco de vínculo com o processo, pode

influenciar no julgamento. Daí tratar-se de imposição com maior teor

de subjetividade em relação ao impedimento.

No juízo cível, é considerado suspeito o magistrado, nas

seguintes hipóteses (art. 145 do CPC): que for amigo íntimo ou

inimigo de qualquer das partes ou de seus advogados (I); que

receber presentes de pessoas que tiverem interesse na causa antes

ou depois de iniciado o processo, que aconselhar alguma das partes

acerca do objeto da causa ou que subministrar meios para atender às

despesas do litígio (II); que atue em processos em que qualquer das

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partes for sua credora ou devedora, de seu cônjuge ou companheiro

ou de parentes destes, em linha reta até o terceiro grau, inclusive

(III); que for interessado no julgamento do processo em favor de

qualquer das partes (IV).Também poderá o juiz declarar-se suspeito

por motivo de foro íntimo, sem necessidade de declarar suas razões

(§1º do art. 145). Também não se deve acolher a alegação de

suspeição quando houver sido provocada por quem a alega e quando

a parte que a alega houver praticado ato que signifique manifesta

aceitação do arguido (§2º do art. 145).

O juiz criminal, nos termos do art. 254 do CPP, “dar-se-á por

suspeito, e, se não o fizer, poderá ser recusado por qualquer das

partes: se for amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer deles; se

ele, seu cônjuge, ascendente ou descendente, estiver respondendo a

processo por fato análogo, sobre cujo caráter criminoso haja

controvérsia; se ele, seu cônjuge, ou parente, consanguíneo, ou afim,

até o terceiro grau, inclusive, sustentar demanda ou responder a

processo que tenha de ser julgado por qualquer das partes; se tiver

aconselhado qualquer das partes; se for credor ou devedor, tutor ou

curador, de qualquer das partes; se for sócio, acionista ou

administrador de sociedade interessada no processo”.

Conforme o art. 801 da CLT, o juiz no processo trabalhista é

obrigado a dar-se por suspeito, e pode ser recusado, por algum dos

seguintes motivos, em relação à pessoa dos litigantes: inimizade

pessoal; amizade íntima; parentesco por consanguinidade ou

afinidade até o terceiro grau civil; interesse particular na causa.

1.6 – Responsabilidade do Juiz

No Brasil, a responsabilidade civil do juiz é informada pela regra

da responsabilidade objetiva do Estado seguida da responsabilidade

subjetiva do magistrado.

O juiz não pode judicar com dolo, pois o fim da sua atuação é o

interesse público. Segundo o CPC: “responderá por perdas e danos o

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juiz, quando: no exercício de suas funções, proceder com dolo ou

fraude; recusar, omitir ou retardar, sem justo motivo, providência

que deva ordenar de ofício” (art. 133, I e II do CPC).

O art. 35 LC nº 35/79 (LOMAN) impõe ao juiz da causa o dever

de cumprimento das determinações legais, não podendo exceder no

tempo na prática de atos processuais, sem justificativa. Aliás, essa

mesma hipótese é aventada na Constituição ao vedar a promoção do

“juiz que, injustificadamente, retiver autos em seu poder além do

prazo legal, não podendo devolvê-los ao cartório sem o devido

despacho ou decisão” (art. 93, II, e, da CF).

Além da responsabilidade civil, o juiz se sujeita à

responsabilidade administrativa e penal. A Lei Complementar nº

35/79 dispõe sobre as sanções penais ao juiz que incorrer em delitos

ou contravenções.

No plano administrativo, além do controle das Corregedorias

dos respectivos tribunais às quais o magistrado está vinculado existe

ainda o controle do Conselho Nacional de Justiça – CNJ.

Se o magistrado incorrer em infração criminal estará sujeito ao

processo penal dotado de particularidades: somente pode ser preso

mediante ordem do presidente do tribunal competente ao qual estiver

vinculado; o juiz de primeiro grau possui o foro privilegiado de ser

julgado pelo tribunal ao qual pertence (segundo grau de jurisdição);

os juízes de tribunais de justiça, tribunais do trabalho, eleitorais e

militares, além dos juízes dos tribunais regionais federais são

julgados criminalmente pelo Superior Tribunal de Justiça – STJ.

1.7 – Juiz e Julgamento

Não basta o juiz atuar dentro do devido processo legal, pois é

seu dever ir além, aplicar a justiça. Embora não exista um manual do

“bom” julgamento, a função inerente à magistratura é fazer justiça e

justiça significa acerto, decisão correta, pacificação das partes e

concretização do bem comum.

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Conforme o art. 8º do CPC, “ao aplicar o ordenamento jurídico,

o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum,

resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e

observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a

publicidade e a eficiência”.

Compete ao juiz, no seu julgamento decidir a lide, o “mérito

nos limites propostos pelas partes, sendo-lhe vedado conhecer de

questões não suscitadas a cujo respeito a lei exige iniciativa da parte”

(CPC, art. 141), a fim de não se tornar abusiva a sua sentença e

violar a manifestação da vontade da parte vencedora.

Cabe-lhe utilizar os meios apropriados para evitar que as partes

se sirvam do processo para praticar atos injustos e/ou para

prejudicar terceiros ou outros interessados, daí porque,

“convencendo-se, pelas circunstâncias, de que autor e réu se

serviram do processo para praticar ato simulado ou conseguir fim

vedado por lei, o juiz proferirá decisão que impeça os objetivos das

partes, aplicando, de ofício, as penalidades da litigância de má-fé”

(CPC, art. 142).

Por outro lado, o juiz não pode deixar de julgar, porque a

jurisdição é indeclinável e nela não cabe o non liquet (abstenção de

julgar como faziam os juízes medievais) Conforme o Código de

Processo Civil, “o juiz não se exime de decidir sob a alegação de

lacuna ou obscuridade do ordenamento jurídico”. Ou seja, não pode o

juiz ser omisso, deixar vastas lacunas na sua sentença; ao contrário

deve preencher as lacunas no ordenamento jurídico para atuar com

razoabilidade, aplicando a justiça.

Compete ao juiz aplicar o ordenamento jurídico, mas não se

prender apenas nisso, podendo aplicar os métodos de interpretação e

ainda se valer dos costumes, da analogia e da equidade.

Quanto à equidade, segundo o art. 140, p. único, do CPC, “O

juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei”. Veda-se ao

juiz socorrer-se da equidade, mas nada impede que aplique a

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equidade em seus pronunciamentos, interpretando com igualdade

material e com justiça a norma jurídica.

2 – AUXILIARES DO JUÍZO

2.1 – Auxiliares Permanentes e Eventuais

O Judiciário não se restringe à figura e à participação do juiz.

Para apoio à atividade judiciária na administração da justiça, é

necessário o aparato de servidores e colaboradores para a função

típica de praticar atos visando ao cumprimento das decisões, as

comunicações e demais serviços judiciários.

São considerados auxiliares judiciais servidores, funcionários,

serventuários e colaboradores do Judiciário que praticam algum ato

processual.

Os auxiliares judiciários podem ser Permanentes (possuem

vínculo estável com o Juízo) e Eventuais (são provisórios ou possuem

atuação específica).

Segundo o art. 149 do CPC: “são auxiliares da Justiça, além de

outros cujas atribuições sejam determinadas pelas normas de

organização judiciária, o escrivão, o chefe de secretaria, o oficial de

justiça, o perito, o depositário, o administrador, o intérprete, o

tradutor, o mediador, o conciliador judicial, o partidor, o distribuidor,

o contabilista e o regulador de avarias”.

Desse rol, por exemplo, são considerados permanentes o

escrivão ou chefe de secretaria, o oficial de justiça e o contador, ao

passo, que são eventuais o depositário, o regulador de avarias e o

perito.

2.2 – Escrivão ou Chefe de Secretaria

O escrivão é o diretor de secretaria judicial e cabe a esse

auxiliar a função primordial de organizar a vara e os ofícios judiciais.

Compete-lhe praticar atos de documentação, escrita, subscrita,

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movimentação processual e comunicação com as partes, elaborar

termos, conclusões, vistas entre outros atos.

Incumbe-lhe: redigir, em forma legal, os ofícios, mandados,

cartas precatórias e mais atos que pertencem ao seu ofício; efetivar

as ordens judiciais, promover citações e intimações...; comparecer às

audiências, ou, não podendo fazê-lo, designar para substituí-lo...;

manter, sob sua guarda e responsabilidade, os autos,...; fornecer

certidão de ato ou do processo; praticar de ofício os atos meramente

ordinatórios; (CPC, art. 152). Obedecer a ordem cronológica de

recebimento para publicação e efetivação dos pronunciamentos

judiciais (CPC, art. 153).

2.3 – Oficial de Justiça

O oficial de justiça é o auxiliar encarregado da comunicação

entre o Judiciário e os interessados, por meio de citações, intimações

e avaliação de bens.

Nesse mister como “longa manus” do juiz executa as ordens do

judiciais, incumbindo-lhe de fazer pessoalmente citações, prisões,

penhoras, arrestos e demais diligências próprias do seu ofício,

sempre que possível na presença de duas testemunhas, certificando

no mandado o ocorrido, com menção ao lugar, ao dia e à hora;

executar as ordens do juiz a que estiver subordinado; entregar o

mandado em cartório após seu cumprimento; auxiliar o juiz na

manutenção da ordem; efetuar avaliações, quando for o caso;

certificar, em mandado, proposta de autocomposição apresentada por

qualquer das partes, na ocasião de realização de ato de comunicação

que lhe couber (CPC, art. 154 e incisos).

2.4 – Perito

O perito é o auxiliar do juízo com conhecimento técnico

especializado. Trata-se de um profissional (ou órgão) escolhido para

atuar num processo específico para elaborar um parecer do qual é

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especialista e que detém sobejamente conhecimentos técnicos e

científico. Depois de feita a Perícia elabora um laudo onde responde

tecnicamente aos quesitos formulados.

O seu laudo judicial que contém informações técnicas acerca de

uma prova relacionada com a sua área de atuação. Colabora no

processo quando “a prova do fato depender de conhecimento técnico

ou científico” (art. 145 do CPC).

O perito é escolhido pelo juiz entre os profissionais legalmente

habilitados e os órgãos técnicos ou científicos devidamente inscritos

em cadastro mantido pelo tribunal ao qual o juiz está vinculado,

conforme estabelece o art. 156 e § 1º do CPC. As partes podem

escolher de comum acordo o perito, desde que sejam capazes

plenamente e a causa possa ser resolvida por autocomposição (CPC,

art. 471);

No processo penal o perito geralmente é servidor público da

Polícia ou de órgãos públicos como do médicos do Instituto Médico

Legal, isto é, é perito oficial, policial ou funcionário, com atuação no

inquérito policial.

Ainda no âmbito criminal, “as partes não intervirão na

nomeação do perito” (CPP, art. 276); “O perito nomeado pela

autoridade será obrigado a aceitar o encargo, sob pena de multa...,

salvo escusa atendível” (CPP, art. 277).

2.5 – Intérprete

O intérprete é um profissional especializado, que atua no

processo visando “traduzir documento redigido em língua

estrangeira”; “verter para o português as declarações das partes e

das testemunhas que não conhecerem o idioma nacional”; “realizar a

interpretação simultânea dos depoimentos das partes e testemunhas

com deficiência auditiva que se comuniquem por meio da Língua

Brasileira de Sinais, ou equivalente, quando assim for solicitado”

(CPC, art. 162).

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Trata-se estritamente de dois profissionais específicos: o

intérprete que atua na interpretação da linguagem oral, sobretudo

em audiência e o tradutor que faz a tradução da linguagem diferente

por escrito.

Conforme o Código de Processo Civil, “o intérprete ou tradutor,

oficial ou não, é obrigado a desempenhar seu ofício” (art. 164). Para

o proceso penal, “os intérpretes são, para todos os efeitos,

equiparados aos peritos”, quanto ao compromisso que devem

prestar, responsabilidade, impedimentos e suspeições e atuação nos

autos.

2.6 – Conciliador e Mediador

O Novo Código de Processo Civil tornou relevante o papel dos

conciliadores e dos Mediadores Judiciais, tanto que uma das etapas

primordiais do processo é a busca do consenso em audiência de

conciliação e mediação, como já ocorre nos Juizados Especiais e na

Justiça do Trabalho.

Esses auxiliares são profissionais do quadro ou profissionais

liberais ou órgãos ou empresas que atuam na condução de ato

(sessão/audiência) visando à obtenção de acordo (autocomposição)

entre as partes, por meio da conciliação ou da mediação (meios

alternativos à solução dos litígios).

Consoante o art. 165 do CPC, “os tribunais criarão centros

judiciários de solução consensual de conflitos, responsáveis pela

realização de sessões e audiências de conciliação e mediação e pelo

desenvolvimento de programas destinados a auxiliar, orientar e

estimular a autocomposição”.

Os mediadores e conciliadores devem ser independentes,

imparciais, guardar sigilo das informações, respeitar a autonomia da

vontade das partes, conduzir o ato de maneira oral e informal e

prestar total esclarecimento às partes.

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O § 3º do mesmo dispositivo complementa que: “O mediador,

que atuará preferencialmente nos casos em que houver vínculo

anterior entre as partes, auxiliará aos interessados a compreender as

questões e os interesses em conflito, de modo que eles possam, pelo

restabelecimento da comunicação, identificar, por si próprios,

soluções consensuais que gerem benefícios mútuos”.

Quanto à atividade de conciliação, ei o que estabelece o CPC:

“O conciliador, que atuará preferencialmente nos casos em que não

houver vínculo anterior entre as partes, poderá sugerir soluções para

o litígio, sendo vedada a utilização de qualquer tipo de

constrangimento ou intimidação para que as partes conciliem” (CPC,

art. 165).

2.7 – Outros Auxiliares Judiciais

Alguns auxiliares judiciais são arrolados nos Códigos

Processuais, entre eles o contador, o distribuidor, o regulador de

avaria.

O Contador judicial, auxiliar permanente, que faz cálculos

judiciais, como custas, multas, preparo, em procedimento de

liquidação de sentença, em cumprimento de título executivo judicial e

em processo executivo etc. Geralmente faz concurso para contador

do tribunal ou Comarca, por isso é considerado permanente. É

diferente do contador, auxiliar da parte, que não é escolhido pelo

juiz, mas que atua contratado pela parte seja como seu perito

contábil, seja para fazer a memória de cálculo na fase de liquidação

ou de cumprimento de sentença.

Outro auxiliar importante é o distribuidor judicial, que exerce a

função de distribuir os processos onde há mais de uma vara ou órgão

judiciário com igual ou diversa competência.

Também existe o depositário, que exerce o trabalho de guarda

e de conservação de bens penhorados ou apreendidos judicialmente

e, ainda, o administrador judicial que além da guarda faz a gerência

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para fins de lucros e continuidade de serviços dos bens apreendidos

sob sua administração.

Novidade como previsão no CPC, o regulador de avarias é

quase um perito judicial, mas em processo específico quando ocorre

por exemplo acidentes em embarcações com danos materiais. Seu

trabalho é, quando nomeado pelo juiz no primeiro porto ou no local

do acidente, é apurar e ajustar especificamente as perdas e danos

nas avarias grossas (ou comuns) ocorridas em navio para fins de

rateio entre os interessados.

Além desses, existem outros tantos auxiliares judiciais

eventuais, mesmo sem previsão do Código, tais como:

O Carteiro, que faz intimações e citações quando é permitida a

citação pelos correios.

O administrador público, que faz desconto em folha do devedor

de alimentos ou de pensão por morte.

O funcionário da “Atermação”, cuja incumbência é registrar ou

reduzir a termo as postulações orais das partes sem advogados nos

Juizados Especiais Cíveis.

A testemunha, terceira pessoa que em audiência presta

depoimento perante a autoridade e relata fatos de que tem

conhecimento direto ou indireto. Inclusive pode ser testemunha

qualquer pessoa (CPC art. 447, caput, e CPP art. 202); não pode

pessoa incapaz, impedida ou suspeita, salvo se houver necessidade

(CPC, art. 447 ,§ 4º; CPC, arts. 206/208).

A autoridade policial, que além das funções específicas,

também tem o encargo de auxiliar o Judiciário na busca da prova

com a instauração e condução do Inquérito Policial; e de cumprir

diligências por ordem do Juízo Penal, tais como mandados de prisão e

condução coercitiva de testemunhas.

* Vallisney de Souza Oliveira