processo nº tst-airr-21000-92.2007.5.17.0008 agravo de...
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Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho
PROCESSO Nº TST-AIRR-21000-92.2007.5.17.0008
Firmado por assinatura digital em 04/05/2016 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme
MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.
A C Ó R D Ã O
6ª Turma
KA/tbc
AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE
REVISTA INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DA LEI
N° 13.015/2014. EXECUÇÃO. RECLAMANTE.
PRELIMINAR DE NULIDADE POR NEGATIVA
DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL.
1 - Insurge-se o agravante quanto à
negativa de seguimento a seu recurso
de revista, dizendo que demonstrou a
ocorrência de negativa de prestação
jurisdicional por parte do TRT, com
violação do art. 93, IX, da
Constituição Federal. O recorrente,
em suma, sustenta que não foram
apreciados pelo Tribunal Regional: a.
aspectos processuais e temas
constantes do agravo de petição; b.
possibilidade do prosseguimento da
execução em outro país.
2 - No que se refere à alegação de
que o TRT não apreciou “aspectos
processuais e temas constantes do
agravo de petição”, constata-se que
no agravo de instrumento não há
demonstração de que o recurso de
revista preencheu o requisito de que
trata o art. 896, § 1.º-A, III, da
CLT, pois a alegação é genérica, não
havendo exposição das razões do
pedido de reforma da decisão
(definição precisa de quais questões
efetivamente deviam ser apreciadas
pela Corte de origem e não o foram).
3 - No que se refere à alegação de
que não foi apreciada a
“possibilidade do prosseguimento da
execução em outro país”, foram
preenchidos os requisitos do art.
896, § 1.º-A, da CLT. Porém, não se
constata a alegada omissão porque o
TRT expôs os motivos pelos quais
indeferiu o pedido do prosseguimento
da execução mediante carta rogatória
para constrição de bens nos Estados
Unidos da América, quais sejam:
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trata-se de meio próprio de
comunicação de atos processuais; é
utilizado apenas para atos decisórios
não definitivos, excluídos, portanto,
os atos de execução definitiva; não
possui eficácia garantida, pois é
mero pedido de cooperação realizado
pelas vias diplomáticas, não
obrigando as autoridades do Estado
rogado ao seu cumprimento; é meio
extremamente oneroso, visto a
necessidade de tradução oficial das
peças e atos praticado, e o benefício
da gratuidade não alcança o trabalho
do tradutor juramentado, conforme
Provimento daquela Corte. Nesse
contexto, não se vislumbra violação
do art. 93, IX, da CF/88.
4 – Agravo de instrumento a que se
nega provimento.
EXECUÇÃO DE SENTENÇA TRABALHISTA.
CONSTRIÇÃO DE BENS. CARTA ROGATÓRIA
PARA OS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA
1. Conforme acórdão proferido na fase
de conhecimento e que transitou em
julgado, o reclamante sofreu acidente
de trabalho e teve reduzida sua
capacidade laboral, mas não ficou
cego, ao contrário do que afirma em
suas razões de agravo de instrumento.
Houve “perda da visão em 20% em razão
do acidente de trabalho”, o que
ensejou o deferimento de pagamento de
indenização por dano material na
forma de pensão, no valor de R$
350,00 (trezentos e cinquenta
reais), correspondente ao salário
mínimo da época, bem como indenização
por dano moral, no valor de R$
20.000,00 (vinte mil reais), além de
obrigação de fornecer óculos de
proteção com grau.
2. A reclamação trabalhista foi
ajuizada unicamente contra a empresa
Global Brasil Granitos Ltda. (antiga
Global Stone Exp. Ltda.), ex-
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empregadora do exequente. Somente
após o trânsito em julgado, durante a
execução da sentença, foi determinada
a reautuação para inclusão, no polo
passivo da demanda, do sócio Mathis
Nothnagel Matthee, bem como da
empresa Multistone Enterprises, essa
sob o fundamento de que forma grupo
econômico com a ex-empregadora. A
pretensão do exequente é a execução
dessas duas últimas pessoas (física e
jurídica) nos Estados Unidos, por
meio de carta rogatória.
3. A pretensão foi indeferida pelo
Juízo da execução, decisão mantida
pelo TRT, pelos seguintes
fundamentos: trata-se de meio próprio
de comunicação de atos processuais; é
utilizado apenas para atos decisórios
não definitivos, excluídos, portanto,
os atos de execução definitiva; não
possui eficácia garantida, pois é
mero pedido de cooperação realizado
pelas vias diplomáticas, não
obrigando as autoridades do Estado
rogado o seu cumprimento; é meio
extremamente oneroso, visto a
necessidade de tradução oficial das
peças e atos praticado, e o benefício
da gratuidade não alcança o trabalho
do tradutor juramentado, conforme
Provimento daquela Corte.
4. O indeferimento de carta rogatória
para execução de sentença trabalhista
nos Estados Unidos da América não
afronta o conteúdo da decisão que
transitou em julgado, motivo pelo
qual não há violação do art. 5.º,
XXXVI, da Constituição Federal.
5. Embora questionável o
indeferimento do pedido de expedição
de carta rogatória pelo fundamento de
a gratuidade não abranger a tradução
dos documentos necessários a esse
procedimento, não há como reconhecer
que, no caso específico dos autos, a
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decisão do TRT afronta o art. 5.º,
LV, da Constitucional.
6. A possibilidade de atendimento a
carta rogatória com conteúdo
executório, especificamente para os
Estados Unidos da América, dependeria
de previsão em acordo firmado entre
os dois países, ou convenção
internacional à qual ambos tivessem
aderido (inexistentes), ou de norma
interna daquele país que autorizasse
a pretensão (da qual não se tem
conhecimento). Na inexistência dessas
normas, restaria a via diplomática
que, tal como ressaltado pelo TRT de
origem, não tem eficácia garantida.
7. Aliás, considerando-se que o
conjunto normativo internacional que
trata da matéria em relação aos
Estados Unidos afasta a possibilidade
de carta rogatória com conteúdo
executório, conclui-se que o
procedimento dificilmente alcançaria
a finalidade pretendida, ainda mais
considerando-se que a sentença que
transitou em julgado não foi
proferida contra as pessoas física e
jurídica que se pretende executar
naquele país (incluídas no polo
passivo apenas na fase de execução,
sem intimação prévia).
8. Há de se registrar que a lei
estadunidense mencionada pelo
exequente como embasadora de seu
pedido de expedição de carta
rogatória com conteúdo executório
refere-se a procedimento distinto,
qual seja, homologação de sentença
estrangeira a fim de viabilizar
posterior execução naquele país.
9 – Agravo de instrumento a que se
nega provimento.
Vistos, relatados e discutidos estes autos de
Agravo de Instrumento em Recurso de Revista n° TST-AIRR-21000-
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92.2007.5.17.0008, em que são Agravantes ROGÉRIO RIOS DA SILVA e
Agravados GLOBAL BRASIL GRANITOS LTDA., MATHYS NOTHNAGEL MATTHEE e
MULTISTONE ENTERPRISES.
O juízo primeiro de admissibilidade negou
seguimento ao recurso de revista, sob o fundamento de que não é
viável o seu conhecimento.
A parte interpôs agravo de instrumento com base no
art. 897, b, da CLT.
Não foram apresentadas contrarrazões ao agravo de
instrumento e ao recurso de revista.
Os autos não foram remetidos ao Ministério Público
do Trabalho (art. 83, II, do Regimento Interno do TST).
V O T O
1. CONHECIMENTO
Preenchidos os pressupostos de admissibilidade,
conheço do agravo de instrumento.
2. MÉRITO
2.1. PRELIMINAR DE NULIDADE DO ACÓRDÃO DO TRT POR
NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL
Em relação à matéria, eis o conteúdo do despacho
que negou seguimento ao recurso de revista:
PRESSUPOSTOS INTRÍNSECOS
DIREITO PROCESSUAL CIVIL E DO TRABALHO / Atos
Processuais / Nulidade / Negativa de prestação jurisdicional.
Alegações)
- violação do(s) artigo 5º, inciso XXXV, LIV; artigo 5º, inciso LV;
artigo 93, inciso IX, da Constituição Federal.
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- violação do(s) Código de Processo Civil, artigo 515, §1º;
Consolidação das Leis do Trabalho, artigo 832; Código de Processo Civil,
artigo 458.
- divergência jurisprudencial: .
Sustenta a nulidade do acórdão por negativa de prestação
jurisdicional, tendo em vista que, não obstante a oposição de embargos
declaratórios, a decisão proferida pela C. Turma manteve-se omissa no que
tange a importantes questões levantadas.
Inviável o recurso, contudo, porquanto se verifica que as questões
oportunamente suscitadas e essenciais à resolução da controvérsia foram
analisadas pelo Eg. Regional, de forma motivada, razão por que não se
vislumbra, em tese, a apontada afronta ao artigo 93, IX, da CF.
Quanto à alegada violação aos demais preceitos constitucionais,
inviável o recurso, ante o entendimento consubstanciado na Orientação
Jurisprudencial nº 115 da SDI-I, do Eg. TST.
Ante a restrição do artigo 896, § 2º, da CLT, descabe análise de
violação à legislação infraconstitucional e divergência com ementas.
Em suas razões de agravo de instrumento, a parte
insurge-se contra o despacho que negou seguimento ao seu recurso de
revista quanto à preliminar de nulidade do acórdão do TRT por
negativa de prestação jurisdicional. Diz que “a decisão recorrida
não se manifestou precisamente sob todos os aspectos processuais,
pois não abordou todos os temas existentes no agravo, inclusive em
relação à referida possibilidade, que refuta plenamente a ‘previsão’
de ineficiência da execução transfronteiriça (havendo o autor
demonstrado cabalmente sua possibilidade)”.
Em suma, sustenta que não foram apreciados pelo
Tribunal Regional:
a. aspectos processuais e temas constantes no
agravo de petição;
b. possibilidade do prosseguimento da execução em
outro país;
Aponta violação do art. 93, IX, da CF/88.
À análise.
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Recurso de revista interposto na vigência da Lei
n° 13.015/2014.
a. No que se refere à alegação de que o TRT não
apreciou “aspectos processuais e temas existentes no agravo de
petição”, constata-se que no agravo de instrumento não há
demonstração de que o recurso de revista preencheu o requisito de
que trata o art. 896, § 1.º-A, III, da CLT, pois a alegação é
genérica, não havendo exposição das razões do pedido de reforma
(definição precisa de quais questões efetivamente deviam ser
apreciadas e não o foram).
b. No que se refere à alegação de que não foi
apreciada a “possibilidade do prosseguimento da execução em outro
país”, foram preenchidos os requisitos do art. 896, § 1.º-A, da CLT.
Com efeito, quanto à preliminar de nulidade por
negativa de prestação jurisdicional, para o fim do art. 896, § 1º-A,
I, da CLT, a partir da Sessão de Julgamento de 30/9/2015 a Sexta
Turma passou a adotar o entendimento de que, se a alegada omissão do
TRT se refere a uma questão ou ponto da matéria decidida na segunda
instância, será exigível a indicação no recurso de revista do trecho
do acórdão de embargos de declaração que demonstre que a Corte
regional tenha sido instada a se pronunciar sobre o vício de
procedimento no acórdão embargado, seja rejeitando seja ignorando o
argumento da parte; por outro lado, não haverá a exigência de
indicação de trecho do acórdão recorrido quando a alegada omissão do
TRT se referir a tema inteiro não decidido, pois nesse caso,
evidentemente, não há trecho a ser indicado nas razões recursais.
No caso dos autos, a parte alega omissão quanto a
questão ou ponto da matéria decidida pelo TRT, indicando trecho para
os fins do prequestionamento.
Em relação à questão, a partir dos trechos
transcritos do acórdão de embargos de declaração, assim decidiu o
TRT:
2.2 MÉRITO.
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Inicialmente, de uma leitura da decisão embargada, vê-se que este
Colegiado manifestou-se claramente sobre a matéria em comento, restando-
a plenamente prequestionada, nos moldes da jurisprudência cristalizada
pela Corte Superior Trabalhista, no Enunciado 297. ' Pois bem. A teor do
artigo 891-A da CLT, com a redação que lhe foi dada pela Lei n° 9.957/00,
bem como do art. 535 do CPC, revelam-se restritas as hipóteses de
cabimento dos embargos declaratórios. Neste sentido, não se prestam os
embargos de declaração para rebater questionamentos acerca de teses
jurídicas, muito menos para reexame da prova ou mesmo a sua valoração,
como pretende o ora embargante, para a ocorrência de um novo julgamento.
A presente medida tem escopo limitado para sanar efetivas obscuridades,
contradições ou omissões.
Neste sentido, qualquer hipótese de julgamento errôneo ou
equivocado, não está sujeita a reexame em sede de embargos declaratórios,
podendo a decisão ser revista por intermédio do recurso apropriado.
Registre-se, por oportuno, que o julgador não, está obrigado a descer
a minúcias sobre todos os argumentos trazidos pelas partes, nem a apontar o
preceito legal embasador de sua decisão, bastando externar, como
externados foram, os fundamentos que levaram a formar seu
convencimento em 'tomo da matéria submetida a exame.
Destarte, somente para suprir omissão, contradição ou obscuridade
servem os embargos declaratórios, não para buscar a retratação do julgado
rediscutido, como pretende o embargante, em face da matéria de mérito
sobre a qual especificamente já se manifestou a decisão embargada, menos
ainda sobre o ângulo da prova e da distribuição dos encargos respectivos,
de modo que acaso ocorrendo errônea ou má apreciação da prova é defeso
ao órgão julgador, reapreciá-la nos declaratórios, com o fito de alterar o
resultado do julgamento.
Em verdade, o embargante pretende, pelo que se colhe de sua petição
de embargos, obter novo julgamento, sob a alegação de imperfeição no
decisório regional,
Assim, a prestação jurisdicional, ao contrário da que alega o
embargante realizou-se de forma integral, sendo certo que o Tribunal
decidiu, de forma clara e fundamentada, sobre os pontos abordados no
recurso que lhe foi submetido.
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Nego, pois, provimento.
Trechos relacionados ao acórdão proferido em
agravo de petição, transcritos pela parte:
Pretende o reclamante/agravante a expedição de carta rogatória para
Os EUA, com a tradução das peças oficieis às expensas deste Regional por
ser beneficiário da gratuidade de justiça, com o fito de viabilizar a
satisfação do crédito.
Pois bem.
Cumpre salientar que não se questiona, no momento, acerca do direito
do agravante ao crédito trabalhista reconhecido no título judicial transitado
em julgado. Pelo contrário, a pertinência temática circunscreve-se à
viabilidade do meio requerido para o prosseguimento da ação.
Do fato, o pedido do exequente de prosseguimento da execução com
a expedição deste meio próprio de comunicação dos atos processuais,
visando a constrição judicial de eventual patrimônio da executada no
exterior, é um procedimento que, além de extremamente oneroso, visto a
necessidade de tradução oficial das peças e atos praticados, não possui
eficácia garantida, tendo em vista que se trata de um mero pedido de
cooperação realizado por vias diplomáticas, que não obriga de maneira
alguma as autoridades do Estado rogado ao seu fiel comprimento.
Ademais, tal como assentado na decisão agravada, a título de
esclarecimento, ainda que seja o autor beneficiário da gratuidade de justiça,
esta não compreende, na fase de execução, os custos com tradutor
juramentado, vide previsão contida no Provimento Consolidado 01/2005
deste E TRT:
"Art. 158. Os pagamentos dos honorários de perito serão efetuados
com os recursos vinculados ao custeio da Justiça gratuita aos necessitados,
quando ocorrerem as seguintes condições cumulativas:
Parágrafo único. Os recursos previstos no caput não serão destinados
ao pagamento de perícias realizadas na fase de liquidação e de execução,
mas tão somente na fase de conhecimento."
Do exposto, fácil concluir que a Carta Rogatória, mecanismo de
cooperação jurídica internacional adotada pelo direito brasileiro, é
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comumente utilizada para atos não decisórios, bem como atos decisórios
não definitivos, excluídos, portanto, os atos de execução definitiva.
Portanto, se o Estado estrangeiro não está obrigado a cumprir a Carta
Rogatória, não há garantia da efetividade da diligência requerida, o que fere
em muito o princípio da economia processual, uma vez que, não bastasse
não possuir eficácia garantida, apresenta custo excessivo para a confecção
do instrumento.
Em suma, julgo indevido o pleito autoral e correta a decisão de
primeiro grau.
Nego provimento
Como se vê da leitura acima, o TRT expôs os
motivos pelos quais indeferiu o pedido do prosseguimento da execução
de patrimônio localizado no exterior, por meio de carta rogatória,
quais sejam: trata-se de meio próprio de comunicação de atos
processuais; é utilizado apenas para atos decisórios não
definitivos, excluídos, portanto, os atos de execução definitiva;
não possui eficácia garantida, pois é mero pedido de cooperação
realizado pelas vias diplomáticas, não obrigando as autoridades do
Estado rogado o seu cumprimento; é meio extremamente oneroso, visto
a necessidade de tradução oficial das peças e atos praticado, e o
benefício da gratuidade não alcança o trabalho do tradutor
juramentado, conforme Provimento daquela Corte.
Nesse contexto, não se vislumbra violação do art.
93, IX, da CF/88.
Nego provimento.
2.2. EXECUÇÃO DE SENTENÇA TRABALHISTA. CONSTRIÇÃO
DE BENS. CARTA ROGATÓRIA PARA OS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA
Em relação à matéria, eis o conteúdo do despacho
que negou seguimento ao recurso de revista:
DIREITO PROCESSUAL CIVIL E DO TRABALHO / Rescisória /
Ofensa à Coisa Julgada.
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL E DO TRABALHO / Objetos de
Cartas Precatórias / de Ordem / Rogatórias.
Alegações:
- violação do(s) artigo 5º, inciso XXXVI, LV; artigo 93, inciso IX, da
Constituição Federal.
- violação do(s) Lei nº 6830/1980, artigo 40.
- divergência jurisprudencial:
Insurge-se contra a decisão que indeferiu a expedição de Carta
Rogatória por tratar-se de meio de execução oneroso e complexo.
Consta do v. acórdão:
(...)
Ante a restrição do artigo 896, § 2º, da CLT, descabe análise de
violação à legislação infraconstitucional e divergência jurisprudencial.
Tendo a C. Turma negado provimento ao recurso autoral, indeferindo
o pedido de expedição de Carta Rogatória, assentando que não há garantia
da efetividade da diligência requerida, o que fere o princípio da economia
processual, uma vez que, não bastasse não possuir eficácia garantida,
apresenta custo excessivo para a confecção do instrumento, não se verifica,
em tese, a alegada violação ao dispositivo constitucional suscitado, como
requer o artigo 896, § 2º, da CLT.
CONCLUSÃO
DENEGO seguimento ao recurso de revista.
Em suas razões, a parte insurge-se contra o
despacho que negou seguimento ao seu recurso de revista.
Afirma o seguinte:
. Que obteve sentença favorável condenando a
executada em diversas parcelas, dentre elas indenização por danos
morais e materiais, já que sofreu acidente de trabalho que o deixou
cego, sendo que o montante atualizado do crédito em 2012 era de R$
932.465,36;
. As tentativas de receber seus créditos tornaram-
se infrutíferas;
. A empresa executada compõe grupo econômico com a
empresa MULTISTONE ENTERPRISES INC., e essa, por sua vez, continua
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funcionando em outro país, sendo que existe uma forma de executá-la.
Afirma que o grupo econômico pode ser reconhecido mediante a análise
de documentos dos autos;
. O primeiro sócio da empresa executada (MATHYS
NOTHNAGEL MATTHEE) possui bens penhoráveis nos Estados Unidos.
. Há possibilidade real de atendimento do pedido
pela jurisdição estrangeira, tendo em vista a lei “Uniform Foreign
Money-Judgments Recognition Act” (UFMJRA) que, segundo sustenta,
prevê que qualquer sentença de um país estrangeiro deferindo ou
indeferindo a recuperação de um valor em dinheiro pode ser
homologada nos Estados Unidos, desde que não seja sentença de cunho
penal, tributário ou de direito de família.
Diz ser imperioso que o recorrente receba seus
créditos trabalhistas sonegados pela empresa GLOBAL BRASIL GRANITOS,
uma vez que já ocorreu o trânsito em julgado da sentença exequenda,
tornando líquido e certo o direito.
Argumenta que tem direito à tradução juramentada e
à carta rogatória, para tentar satisfazer direito conquistado, ainda
que a carta rogatória seja mero pedido de cooperação entre países.
Em decorrência das alegações, aponta ofensa aos
artigos 5°, XXXVI e LV, da CF/88 (coisa julgada, contraditório e
ampla defesa).
À análise.
Recurso de revista interposto na vigência da Lei
n° 13.015/2014.
Em relação à matéria, o trecho do acórdão do TRT
transcrito nas razões de revista é o seguinte:
Pretende o reclamante/agravante a expedição de carta rogatória para
os EUA, com a tradução das peças oficieis às expensas deste Regional por
ser beneficiário da gratuidade de justiça, com o fito de viabilizar a
satisfação do crédito.
Pois bem.
Cumpre salientar que não se questiona, no momento, acerca do direito
do agravante ao crédito trabalhista reconhecido no título judicial transitado
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em julgado. Pelo contrário, a pertinência temática circunscreve-se à
viabilidade do meio requerido para o prosseguimento da ação.
Do fato, o pedido do exequente de prosseguimento da execução com
a expedição deste meio próprio de comunicação dos atos processuais,
visando a constrição judicial de eventual patrimônio da executada no
exterior, é um procedimento que, além de extremamente oneroso, visto a
necessidade de tradução oficial das peças e atos praticados, não possui
eficácia garantida, tendo em vista que se trata de um mero pedido de
cooperação realizado por vias diplomáticas, que não obriga de maneira
alguma as autoridades do Estado rogado ao seu fiel comprimento.
Ademais, tal como assentado na decisão agravada, a título de
esclarecimento, ainda que seja o autor beneficiário da gratuidade de justiça,
esta não compreende, na fase de execução, os custos com tradutor
juramentado, vide previsão contida no Provimento Consolidado 01/2005
deste E TRT:
"Art. 158. Os pagamentos dos honorários de perito serão efetuados
com os recursos vinculados ao custeio da Justiça gratuita aos necessitados,
quando ocorrerem as seguintes condições cumulativas:
(...)
Parágrafo único. Os recursos previstos no caput não serão destinados
ao pagamento de perícias realizadas na fase de liquidação e de execução,
mas tão somente na fase de conhecimento."
Do exposto, fácil concluir que a Carta Rogatória, mecanismo de
cooperação jurídica internacional adotada pelo direito brasileiro, é
comumente utilizada para atos não decisórios, bem como atos
decisórios não definitivos, excluídos, portanto, os atos de execução
definitiva.
Portanto, se o Estado estrangeiro não está obrigado a cumprir a Carta
Rogatória, não há garantia da efetividade da diligência requerida, o que fere
em muito o princípio da economia processual, uma vez que, não bastasse
não possuir eficácia garantida, apresenta custo excessivo para a confecção
do instrumento.
Em suma, julgo indevido o pleito autoral e correta a decisão de
primeiro grau.
Nego provimento
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Em síntese, o TRT manteve o indeferimento da
formação de carta rogatória porque: trata-se de meio próprio de
comunicação de atos processuais; é utilizado apenas para atos
decisórios não definitivos, excluídos, portanto, os atos de execução
definitiva; não possui eficácia garantida, pois é mero pedido de
cooperação realizado pelas vias diplomáticas, não obrigando as
autoridades do Estado rogado o seu cumprimento; é meio extremamente
oneroso, visto a necessidade de tradução oficial das peças e atos
praticado, e o benefício da gratuidade não alcança o trabalho do
tradutor juramentado, conforme Provimento daquela Corte.
Pois bem.
Inicialmente, ressalto que a reclamação
trabalhista foi ajuizada unicamente contra a empresa Global Brasil
Granitos Ltda. (antiga Global Stone Exp. Ltda.), ex-empregadora do
exequente. Somente após o trânsito em julgado, durante a execução da
sentença, foi determinada a reautuação para inclusão, no polo
passivo da demanda, do sócio Mathis Nothnagel Matthee, bem como da
empresa Multistone Enterprises, essa sob o fundamento de que forma
grupo econômico com a ex-empregadora (fl. 541). A pretensão do
exequente é a execução dessas duas últimas pessoas (física e
jurídica) nos Estados Unidos, por meio de carta rogatória.
Também convém registrar que, conforme acórdão
proferido na fase de conhecimento e que transitou em julgado (fls.
401/406), o reclamante sofreu acidente de trabalho e teve reduzida
sua capacidade laboral, mas não ficou cego, ao contrário do que
afirma em suas razões de agravo de instrumento. Houve “perda da
visão em 20% em razão do acidente de trabalho”, o que ensejou o
deferimento de pagamento de indenização por dano material na forma
de pensão, no importe de R$ 350,00 (trezentos e cinquenta reais),
valor do salário mínimo à época, bem como indenização por dano
moral, no valor de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), além de obrigação
de fornecer óculos de proteção com grau.
Feitos esses esclarecimentos, constata-se que o
indeferimento de carta rogatória para execução de sentença
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trabalhista nos Estados Unidos da América não afronta o conteúdo da
decisão que transitou em julgado, motivo pelo qual não há violação
do art. 5.º, XXXVI, da Constituição Federal.
Por outro lado, embora questionável o fundamento
utilizado pelo TRT quanto à impossibilidade de tradução dos
documentos para a formação da carta rogatória, afirmando-se que esse
procedimento não seria alcançado pela gratuidade da Justiça,
conforme Provimento daquela Corte, subsiste fundamento jurídico
relevante utilizado no acórdão impugnado, e que de fato impede a
reforma do julgado: o de que carta rogatória ativa por meio da qual
se postula a realização de atos de execução não tem eficácia
garantida, no que se refere aos Estados Unidos da América.
Explico: a carta rogatória é um instrumento de
cooperação internacional, por meio do qual órgão do Poder Judiciário
de um país solicita ao de outro a realização de determinados atos no
seu interesse, como citações, depoimentos, exames e outras
diligências.
Podem ser ativas ou passivas. Sob o enfoque do
Brasil, as primeiras são aquelas expedidas por autoridades
judiciárias nacionais para a realização de diligências em outros
países (arts. 201, 202, 210 do CPC de 1973, 237, II, 260, do CPC de
2015); e as segundas aquelas recebidas de juízes ou tribunais
estrangeiros, para a realização de diligências em nosso país, após a
concessão do exequatur pelo Superior Tribunal de Justiça (artigo 211
do CPC de 1973, 260 do CPC de 2015, e artigos 784, 785 e 786 do
Código de Processo Penal).
As cartas rogatórias, em princípio, não abrangem a
realização de medidas que visem a execução de sentença proferida em
outro país, pois tal finalidade é alcançada por meio da homologação
de sentença estrangeira. Esses são dois procedimentos distintos,
inclusive tratados de forma separada no Regimento Interno do STJ,
ambos no Título “DOS PROCESSOS ORIUNDOS DE ESTADOS ESTRANGEIROS”,
sendo a “Homologação de Sentença Estrangeira” no Capítulo I, e a
“Concessão de Exequatur a Cartas Rogatórias” no Capítulo II.
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Pode ocorrer a execução de sentença por simples
carta rogatória, desde que haja previsão em acordos ou tratados
internacionais, ou em leis nacionais específicas. Inexistindo normas
internacionais, tal pretensão formulada por carta rogatória pode ser
encaminhada pela via diplomática.
Vejamos julgados do STF que, até o advento da
Emenda Constitucional n.º 45/2004, era competente para a concessão
de exequaturs a cartas rogatórias e homologação de sentenças
estrangeiras:
DECISÃO: Trata-se de embargos opostos contra decisão de fl. 110,
que concedeu o exequatur para determinar a intimação de Pedro Arturo
Benzanilla Diego da sentença de divórcio proferida pela justiça espanhola.
2. O Juiz Federal da 7ª Vara - Seção Judiciária do Ceará determinou,
para dar cumprimento à presente Carta Rogatória, a expedição de mandado
de intimação elaborado nos seguintes termos: "(...)notificando-o da
sentença de divórcio datada de 25/04/2001, que segue anexa, e requerer-lhe
para o seu cumprimento com entrega do filho menor para sua mãe, sob
advertência de que em caso de não cumprimento incorrerá em um delito de
desobediência grave." (fl. 75).
3. O embargante alega que o ato processual a ser praticado consiste
somente na intimação da sentença e não na determinação da entrega do
menor, sob pena de "ser condenado criminalmente". Acrescenta que "o
cumprimento do ato determinado pelo Juiz Federal, seguramente provocará
efeitos de efetiva execução de sentença que causará ao menor danos os
quais jamais poderão ser reparados" (fl. 95).
Requer que esta intimação seja tornada sem efeito e a carta rogatória
devolvida à Justiça rogante sem seu cumprimento.
4. A Procuradoria Geral da República opinou pelo provimento dos
embargos, observando que "(...) a diligência, no caso, deve ser restringida à
exclusiva intimação do embargante para a notificação da referida sentença
estrangeira"(fls. 150/153).
5. É o relatório. Decido.
6. Com efeito, esta Corte firmou entendimento de que são
insuscetíveis de cumprimento no Brasil cartas rogatórias de caráter
executório, ressalvadas as expedidas com fundamento em acordos ou
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convenções internacionais. Assim sendo, é incabível a entrega de menor
por ser materialização de ordem judicial emanada do exterior.
7. No que tange aos demais argumentos do embargante, convém
ressaltar que são amplos e meritórios, não se adequando aos estreitos
limites da carta, devendo ser alegados no juízo rogante.
8. Ante o exposto, acolhendo o parecer do Ministério Público Federal,
dou provimento parcial aos embargos, para tornar sem efeito a intimação
anterior e determinar que a Justiça Federal proceda a uma nova, tão-
somente para dar ciência da sentença de divórcio proferida no Reino da
Espanha em 25/04/2001.
Intime-se.
Brasília, 16 de setembro de 2003.
Ministro MAURÍCIO CORRÊA Presidente
(CR 10270 embargos / EP - ESPANHA EMBARGOS NA CARTA
ROGATÓRIA Relator(a): Min. MAURÍCIO CORRÊA Julgamento:
16/11/2003 Publicação DJ 26/09/2003)
E na jurisprudência do STJ:
Ementa: AGRAVO REGIMENTAL NA CARTA ROGATÓRIA.
EXEQUATUR. HIPÓTESES DE CONCESSÃO. AUSÊNCIA DE
OFENSA À SOBERANIA NACIONAL OU À ORDEM PÚBLICA.
OBSERVÂNCIA DOS REQUISITOS DA RESOLUÇÃO N. 9/2005/STJ.
NOTIFICAÇÃO. AUSÊNCIA DE NATUREZA EXECUTÓRIA.
AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. I - Não sendo hipótese de
ofensa à soberania nacional, à ordem pública ou de inobservância dos
requisitos da Resolução nº 9 /2005, cabe apenas a este e. Superior Tribunal
de Justiça emitir juízo meramente delibatório acerca da concessão do
exequatur nas cartas rogatórias, sendo competência da Justiça rogante a
análise de eventuais alegações relacionadas ao mérito da causa. II - In casu,
a simples notificação acerca da prolação de sentença estrangeira não
tem natureza executória e não ofende, portanto, a ordem pública ou a
soberania nacional. Agravo regimental desprovido. (AgRg na CR
7858/EX, Corte Especial, Relator Ministro Felix Fischer, DJE 14/8/2014)
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A fim de exemplificar algumas hipóteses de
cabimento de carta rogatória com caráter executório, podemos
mencionar aquelas embasadas no Acordo de Cooperação e Assistência
Jurisdicional em Matéria Civil, Comercial, Trabalhista e
Administrativa, firmado entre os países integrantes do Mercosul,
juntamente com Bolívia e Chile, promulgado no Brasil por meio do
Decreto n.º 6.891/2009, e em cujo art. 19 consta o seguinte:
“O reconhecimento e execução de sentenças e de laudos arbitrais
solicitado pelas autoridades jurisdicionais poderá tramitar-se por via de
cartas rogatórias e transmitir-se por intermédio da Autoridade Central, ou
por via diplomática ou consular, em conformidade com o direito interno.”
Observe-se que o STJ já concedeu exequatur a carta
rogatória com a finalidade a quebra de sigilo bancário de
determinada empresa, baseando-se na Lei dos Crimes de Lavagem de
Dinheiro, mencionando a possibilidade de se proceder à constrição de
bens como meio de cooperação judiciária nos termos dessa lei,
conforme a seguinte ementa:
CARTA ROGATÓRIA. DILIGÊNCIAS. BUSCA E APREENSÃO.
QUEBRA DE SIGILO BANCÁRIO. POSSIBILIDADE. CONCESSÃO
DO EXEQUATUR.
1. Carta Rogatória encaminhada pelo Ministério das Relações
Exteriores a pedido da Embaixada da Bélgica, com o fim de verificar
possível crime de lavagem de dinheiro envolvendo empresário brasileiro
descrito nestes autos, por solicitação do juízo de instrução, do Tribunal de
Primeira Instância de Bruxelas, Bélgica.
2. É cediço que: A tramitação da Carta Rogatória pela via diplomática
confere autenticidade aos documentos.
3. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal pautava-se no
sentido da impossibilidade de concessão de exequatur para atos executórios
e de constrição não-homologados por sentença estrangeira.
4. Com a Emenda Constitucional 45/2004, esta Corte passou a ser
competente para a homologação de sentenças estrangeiras e a concessão de
exequatur às cartas rogatórias.
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5. A Resolução 9/STJ, em 4 de maio de 2005, dispõe, em seu artigo
7°, que "as cartas rogatórias podem ter por objeto atos decisórios ou não
decisórios".
6. A Lei 9.613/98 (Lei dos Crimes de Lavagem de Dinheiro), em seu
art. 8° e parágrafo 1°, assinala a necessidade de ampla cooperação com as
autoridades estrangeiras, expressamente permite a apreensão ou sequestro
de bens, direitos ou valores oriundos de crimes antecedentes de lavagem de
dinheiro, cometidos no estrangeiro.
7. Destarte, a Lei Complementar 105/2001, por sua vez, em seu art.
1°, parágrafo 4°, dispõe que as instituições financeiras conservarão sigilo
em suas operações ativas e passivas e serviços prestados, sendo que a
quebra de sigilo poderá ser decretada, quando necessária para apuração de
ocorrência de qualquer ilícito, em qualquer fase do inquérito ou do processo
judicial, e especialmente nos seguintes crimes: (...) VIII – lavagem de
dinheiro ou ocultação de bens, direitos e valores; IX – praticado por
organização criminosa.
8. Deveras, a Convenção das Nações Unidas contra o Crime
Organizado Transnacional (Decreto 5.015/2004) também inclui a
cooperação judiciária para "efetuar buscas, apreensões e embargos",
"fornecer informações, elementos de prova e pareceres de peritos",
"fornecer originais ou cópias certificadas de documentos e processos
pertinentes, incluindo documentos administrativos, bancários, financeiros
ou comerciais e documentos de empresas", "identificar ou localizar os
produtos do crime, bens, instrumentos ou outros elementos para fins
probatórios", "prestar qualquer outro tipo de assistência compatível com o
direito interno do Estado Parte requerido" (art. 18, parágrafo 3, letras a até
i). Parágrafo 8 do art. 18 da Convenção ressalta que: "Os Estados Partes
não poderão invocar o sigilo bancário para recusar a cooperação judiciária
prevista no presente Artigo".
9. In casu, A célula de tratamento das informações financeiras
(CETIF) denunciou no dia 16 de Julho 2002 ao Escritório do Procurador
Geral em Bruxelas a existência de índices sérios de branqueamento de
capitais (...) entre as pessoas envolvidas no presente processo.
10. Princípio da efetividade do Poder Jurisdicional no novo cenário
de cooperação internacional no combate ao crime organizado transnacional.
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11. Concessão integral do exequatur à carta rogatória.
(CR 438/BE, Corte Especial, Relator Ministro Luiz Fux, DJ
24/9/2007)
A fim de auxiliar a compreensão do tema,
transcreve-se interessante texto extraído do site do Tribunal de
Justiça do Estado do Paraná acerca da Cooperação Jurídica
Internacional (https://www.tjpr.jus.br/cji):
Área de Cooperação Jurídica Internacional
(...)
Visão Geral
A intensificação da cooperação jurídica entre os países é um dos
reflexos da integração social, econômica, política e cultural conhecida
como globalização. Esse processo fez surgir novas oportunidades e
perspectivas de desenvolvimento para diferentes sociedades. Mas, ao
mesmo tempo, também trouxe grandes desafios. Entre eles a aplicação do
Direito às relações advindas dessa nova forma de viver e de se relacionar
com o mundo.
A distância entre os países e as fronteiras geográficas não mais
representam grandes óbices à circulação de pessoas, bens e serviços. No
ambiente virtual tais óbices sequer existem. A facilidade do acesso e troca
de informações pela internet é mais um fator de transformação das relações
humanas incrementado pelo surgimento das redes sociais. Nesse contexto,
surgem situações que somente poderão ser solucionadas pela jurisdição de
um Estado se houver a cooperação jurídica com outros países.
Sendo a jurisdição uma das manifestações da soberania do Estado
brasileiro, ela somente pode ser exercida dentro dos limites territoriais em
que é reconhecida. Logo, as demandas submetidas à apreciação da justiça
brasileira que precisem ser aperfeiçoadas ou integralizadas pela prática de
atos que devam acontecer em território estrangeiro, devem,
necessariamente, ser objeto da cooperação jurídica internacional.
Definição
A cooperação jurídica internacional pode ser definida como a união
de esforços entre os países com a finalidade de proporcionar aos seus
nacionais a realização da Justiça. Ela pode ser requerida com base em
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acordos internacionais, bilaterais ou multilaterais, firmados em âmbito
regional ou global, cuja tramitação se opera por meio de Autoridades
Centrais. Na ausência de normativo internacional específico, ou se
existindo o mesmo não puder ser aplicado, em razão do pedido estar
fora do alcance de suas disposições, a cooperação poderá ser requerida
com fundamento na reciprocidade, caso em que a tramitação se fará
pela via diplomática, por intermédio do Ministério das Relações
Exteriores (MRE).
Vale observar que a "cooperação jurídica internacional" é uma
expressão bastante ampla e pode se referir a diferentes e variadas espécies
de cooperação. Ela pode se dividir em cooperação ativa e passiva. A
cooperação ativa é aquela solicitada por autoridades brasileiras para a
realização de diligências no estrangeiro. Já a cooperação passiva é aquela
requerida por autoridades estrangeiras para cumprimento de diligências no
Brasil. Na prática, os pedidos de cooperação ativa mais comumente
encaminhados ao estrangeiro têm por finalidade a prática de atos
processuais de simples tramitação (citação, intimação, notificação e entrega
de documentos) ou de instrução probatória (oitiva e interrogatório). A
extradição, a transferência de presos e a cobrança de alimentos, são outros
exemplos.
Instrumentos de Cooperação
Os principais instrumentos de cooperação jurídica internacional são a
Carta Rogatória e o Pedido de Auxílio Jurídico Direto, ou simplesmente
Auxílio Direto. A utilização de um ou de outro irá depender da existência
de normativos internacionais que deem suporte ao pedido, bem como das
disposições previstas nesses normativos a respeito da forma do seu
encaminhamento. Por isso, o primeiro passo antes da elaboração de um
pedido de cooperação jurídica internacional é verificar se existem
tratados internacionais, bilaterais ou multilaterais, aplicáveis. Não
existindo, a tramitação se fará necessariamente pela via diplomática e o
instrumento de cooperação adequado será a carta rogatória.
Alcance dos Pedidos
No que se refere aos pedidos de cooperação, estes deverão ser
formulados de acordo com as possibilidades previstas no acordo
internacional. Nesse sentido, não é possível inovar acerca da matéria já
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predisposta nos diplomas internacionais. Vale observar que em se
tratando de acordos multilaterais, não raras vezes firmados por mais
de uma dezena de países, é possível que determinadas disposições
tenham sido objeto de reserva por alguns deles. É o que aconteceu, por
exemplo, no caso dos Estados Unidos da América, que manifestaram
reserva à aplicação a alínea “b” do artigo 2ª da Convenção
Interamericana Sobre Cartas Rogatórias (Decreto nº 1899/96), que
dispõe sobre o recebimento e obtenção de provas e informações no
exterior. Nesse caso, os pedidos de cooperação em matéria cível
destinados aos EUA somente poderão veicular pedidos que tenham por
finalidade a realização de atos processuais de mera tramitação, tais
como citações, notificações ou emprazamentos no exterior, em
consonância com o que dispõe a alínea “a” do artigo 2ª
dessa convenção. Caso o objeto do pedido não se identifique com esses
preceitos, deverá ser encaminhada carta rogatória sem base ou acordo
internacional específico. A manifestação de reserva é um inconveniente
que, a princípio, não existe nos acordos bilaterais.
(...)
Embora o texto acima registre a possibilidade de
encaminhamento de carta rogatória “sem base ou acordo internacional
específico” para os Estados Unidos, que veicule pedidos diversos
daqueles referentes a atos processuais de mera tramitação, há norma
internacional firmada com aquele país que afasta a possibilidade de
carta rogatória com a finalidade de realização de atos de execução.
Com efeito, temos a Convenção Interamericana sobre
Cartas Rogatórias assinada no Panamá em 30 de janeiro de 1975,
promulgada no Brasil pelo Decreto 1899, de 9 de maio de 1996, que
afasta a utilização dessa medida para atos que impliquem execução
coativa:
(...)
II. Alcance da Convenção
Artigo 2
Esta Convenção aplicar-se-á às cartas rogatórias expedidas em
processos relativos a matéria civil ou comercial pelas autoridades
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judiciárias de um dos Estados Partes nesta Convenção e que tenham por
objeto:
a) a realização de atos processuais de mera tramitação, tais como
notificações, citações ou emprazamentos no exterior;
b) o recebimento e obtenção de provas e informações no exterior,
salvo reserva expressa a tal respeito.
Artigo 3
Esta Convenção não se aplicará a nenhuma carta rogatória
relativa a atos processuais outros que não os mencionados no Artigos
anterior; em especial, não se aplicará àqueles que impliquem execução
coativa.
Naturalmente, essa Convenção não impediu que
outras normas internacionais mais flexíveis quanto a cartas
rogatórias fossem firmadas, mas no que se refere aos Estados Unidos
da América não há norma que autorize expressamente as cartas
rogatórias com caráter executório.
Com efeito, quanto aos Estados Unidos da América,
temos os seguintes fundamentos de Cooperação Jurídica Internacional,
conforme o Ministério da Justiça (https://www.justica.gov.br/sua-
protecao/cooperacao-internacional/cooperacao-juridica-internacional-
em-materia-penal/orientacoes-por-pais/estados-unidos):
Acordo de Assistência Judiciária em Matéria Penal entre o Governo
da República Federativa do Brasil e o Governo dos Estados Unidos da
América
Decreto n°. 3.810, de 02 de maio de 2001.
Autoridade Central: Attorney-General, que integra o United States
Department of Justice– DoJ.
Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado
Transnacional (Convenção de Palermo)
Decreto n°. 5015, de 12 de março de 2004.
Autoridade Central: United States Department of Justice - DoJ.
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Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção (Convenção de
Mérida)
Decreto n. 5.687, de 31 de janeiro de 2006.
Autoridade Central: United States Department of Justice.
Convenção contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e Substâncias
Psicotrópicas (Convenção de Viena)
Decreto n°. 154, de 26 de junho de 1991.
Autoridade Central: United States Department of Justice.
Convenção Interamericana sobre Assistência Mútua em Matéria
Penal (Convenção de Nassau, OEA)
Decreto n°. 6.340, de 03 de janeiro de 2008.
Autoridade Central: United States Department of Justice.
Legislação interna sobre cooperação:
A Lei federal estadunidense que rege a cooperação por meio de
Cartas Rogatórias é a U.S. Code Title 28 Sec. 1781 U.S. International
Assistance Statute.
A cooperação direta com tribunais estadunidenses é regida pela Lei
U.S. Code Title 28 Sec. 1782.
Nessa relação de normas de cooperação
internacional entre Brasil e Estados Unidos da América, constata-se
que não há nenhuma que garanta a execução dos bens da empresa
reclamada ou de seus sócios naquele país, solicitada por meio de
carta rogatória. No particular, ressalto que a lei denominada
“International Assistance Statute” dispõe apenas acerca de cartas
rogatórias com a finalidade de obter testemunho ou declaração, ou
produção de documento ou outra prova para utilização em processo em
tribunal estrangeiro ou internacional.
O exequente, por sua vez, sustenta que há
possibilidade real de atendimento do pedido de constrição de bens
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pela jurisdição estrangeira, tendo em vista a lei “Uniform Foreign
Money-Judgments Recognition Act” (UFMJRA) que, segundo sustenta,
prevê que qualquer sentença de um país estrangeiro deferindo ou
indeferindo a recuperação de um valor em dinheiro pode ser
homologada nos Estados Unidos, desde que não seja sentença de cunho
penal, tributário ou de direito de família.
Mas, como se verifica das próprias alegações
recursais, a lei estadunidense mencionada pelo exequente refere-se a
“homologação de sentença estrangeira” no território daquele país e,
não, a exequatur de carta rogatória, que é uma medida distinta.
O seguinte artigo mencionado pelo próprio
exequente, de autoria de Fabiano Deffenti, analisa a lei
mencionada e esclarece melhor seu alcance
(https://jus.com.br/artigos/6890/a-homologacao-e-execucao-de-
sentencas-brasileiras-nos-estados-unidos):
Primeiramente, deve-se entender que ao contrário do Brasil, é de
competência das cortes estaduais a normatização do processo a ser utilizado
para homologação de sentenças estrangeiras. Isso porque, na concepção
federativa dos Estados Unidos, estabelecida em sua Constituição, a
independência de cada estado é muito maior daquela que temos no Brasil.
A Uniform Foreign Money-Judgments Recognition Act ("UFMJRA")
é uma lei modelo elaborada pela National Conference of Commissioners on
Uniform State Laws, órgão que trabalha em prol da harmonização das
normas em todo o país. O UFMJRA foi promulgado em mais de 30 Estados
norte-americanos, entre eles encontram-se os Estados de Nova Iorque,
Califórnia, Massachusetts, Texas e Flórida. O UFMJRA altera pouco as
normas jurisprudenciais que regiam a matéria antes de sua promulgação (as
normas provindas da common law).
A definição de "sentença estrangeira" na seção 1 do UFMJRA
expressa que "qualquer sentença de um país estrangeiro deferindo ou
indeferindo a recuperação de um valor em dinheiro" pode ser homologada
nos Estados Unidos, desde que não seja uma sentença de cunho penal
(multas e outras penas pecuniárias), tributário (para cobrança de tributos
brasileiros) ou de direito de família (para cobrança de alimentos). Destarte,
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a lei é bastante abrangente, permitindo a homologação da maioria das
sentenças brasileiras, inclusive aquelas provindas dos tribunais do trabalho.
Em Hilton v. Guyot, a Suprema Corte dos Estados Unidos admitiu a
possibilidade de homologação de sentenças estrangeiras no país, com base
no respeito (comity) entre as nações. Porém, na época, condicionou a
homologação à existência de reciprocidade por parte do país donde a
sentença provém. Com o acórdão em Eire Railroad Co. v Tompkins e,
principalmente, com a promulgação do UFMJRA, esse requisito foi
eliminado, não podendo ser utilizado como forma de oposição à
homologação da sentença estrangeira.
As seções 2 e 3 do UFMJRA preveem que uma sentença estrangeira
será homologada quando esta for "final e conclusiva" e executável no local
onde foi prolatada, mesmo que ainda esteja sendo recorrida ou que seja
passível de recursos. O teor da sentença homologada terá o mesmo
poder executório que uma sentença provinda de outro Estado norte-
americano.
Na sua seção 4(a), a UFMJRA expressa que uma sentença não será
considerada "conclusiva" se:
(1) o ordenamento jurídico de onde esta provém não proporciona
tribunais imparciais ou procedimentos condizentes com o devido processo
legal;
(2) o tribunal estrangeiro não tinha competência para citar o réu; ou
(3) o tribunal estrangeiro não tinha competência para resolver a lide.
Uma mera diferença processual entre o sistema norte-americano e o
sistema brasileiro não será suficiente para impedir a homologação da
sentença – tem de se haver "séria injustiça".
Em certas circunstâncias, fica ao critério do tribunal perante a qual a
sentença poderá ser homologada a homologação, ou não, da sentença. A
seção 4(b) da UFMJRA lista as circunstâncias:
(1) se o réu não foi citado com tempo suficiente para se defender;
(2) se a sentença foi obtida por fraude;
(3) se a causa de pedir fere a ordem pública do Estado onde a
sentença está sendo homologada;
(4) se a sentença conflita com outra sentença "final e conclusiva" já
existente;
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(5) se o processo no tribunal estrangeiro era contrário a um acordo
entre partes determinando que a lide deveria ser resolvida de outra
forma, que não por processo naquele tribunal; ou
(6) no caso da competência depender somente da citação pessoal, se o
foro estrangeiro era "seriamente inconveniente" para o julgamento
da ação.
Nesses quesitos é importante uma análise mais profunda do caso
concreto, principalmente levando-se em consideração as diferenças dos
sistemas jurídicos americano e brasileiro. Por exemplo, na recente decisão
em HSBC USA, Inc. v. Prosegur Paraguay, S.A., os tribunais paraguaios
foram considerados demasiadamente "corruptos e inaptos" para que suas
sentenças fossem passíveis de homologação nos Estados Unidos.
Ainda, ressalta-se a diferença sobre a determinação de competência
com base na citação e dos princípios de forum non conveniens (parágrafo
4(b)(6)). O princípio do forum non conveniens rege que as cortes norte-
americanas devem suspender o processo permanentemente se houver um
outro foro mais conveniente para julgar a lide, independentemente se o foro
mais conveniente estiver dentro ou fora do país – ao contrário do que ocorre
nos artigos 88 a 90 do Código de Processo Civil.
EXECUÇÃO DA SENTENÇA
Uma vez que a sentença é homologada pelo tribunal competente,
a sentença passará pelos mesmos procedimentos de execução que uma
sentença daquele foro teria; isto é, é um título executivo judicial com o
mesmo teor de uma sentença local. Usa-se aqui a palavra
"procedimentos", pois no sistema anglo-americano não há um processo
separado para a execução da sentença judicial, somente procedimentos que
se aplicam à sentença.
Os procedimentos disponíveis para o credor exequente variam de
estado para estado, mas normalmente incluem a penhora dos bens
(attachment) do devedor executado, inclusive de sua moradia; o re-
direcionamento da receita do devedor executado, inclusive de seu salário;
ou a denúncia do devedor executado por não cumprimento das ordens da
corte (contempt of court). Esses procedimentos são obtidos através de
petições junto às cortes, decididos sem citação da outra parte, ou mesmo
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automaticamente após o não cumprimento dos termos da sentença prolatada
pela corte pelo devedor.
Se a sentença ainda estiver sujeita a recurso no tribunal brasileiro,
poderá o réu no processo americano pedir a suspensão do processo de
homologação. Fica ao critério do tribunal a suspensão ou não do processo,
mas normalmente tais pedidos serão deferidos, garantindo a suspensão
temporária do processo.
COMENTÁRIO
Mesmo com o crescimento do comércio internacional e,
principalmente, o aumento significativo das importações e exportações
brasileiras, nos parece que a opção de executar os devedores no exterior é
por muitos ignorada como alternativa viável. Vê-se que tanto empresas
como indivíduos que tenham bens fora do país podem ter estes penhorados
e vendidos para que suas dívidas judiciais sejam satisfeitas.
Como visto acima, a homologação de sentença brasileira no
exterior pode ser um método de execução seguro e rápido, permitido
que aqueles que já obtiveram seus direitos reconhecidos pelos tribunais
brasileiros possam buscar, no exterior, aquilo que lhes é devido.
O Ministério da Justiça também esclarece a questão
relativa à homologação de sentenças estrangeiras, inclusive nos
Estados Unidos da América, nos seguintes termos
(https://www.justica.gov.br/sua-protecao/cooperacao-
internacional/cooperacao-juridica-internacional-em-materia-
civil/orientacao-por-diligencia/homologacao-de-sentencas-
estrangeiras):
1. O que é um processo de homologação de sentença estrangeira?
É um processo que visa a conferir eficácia a um ato judicial
estrangeiro. Qualquer provimento, inclusive não judicial, proveniente de
uma autoridade estrangeira, só terá eficácia no Brasil após sua
homologação pelo Superior Tribunal de Justiça (art. 216-B do Regimento
Interno do Superior Tribunal de Justiça).
“Nenhum Estado pode pretender que os julgados de seus tribunais
tenham força executória, ou valor jurisdicional em jurisdição estranha”.
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CASTRO, Amílcar de, Direito Internacional Privado, 5ª edição, Ed.
Forense, 1996, p. 267.
(...)
3. Como os outros países tratam as decisões estrangeiras?
a) Dinamarca, Holanda, Noruega e Suécia – não reconhecem as
decisões estrangeiras, que são tratadas como mero fato;
b) Estados Unidos e Reino Unido – a sentença estrangeira é aceita
como prova e serve como fundamento para ação a ser instaurada
nesses países;
c) França – a sentença estrangeira é revisada em seus aspectos
formais e de mérito, sendo substituída por decisão local;
d) Bélgica – a sentença estrangeira pode ter seu mérito revisado, mas
não ocorre a sua substituição.
(...)
6. Como requerer a homologação de sentenças brasileiras no
exterior?
A legislação interna do Estado estrangeiro onde se deseje a
homologação da sentença proferida no Brasil determinará o
procedimento para a homologação de sentenças oriundas de
autoridades brasileiras. Via de regra, será necessário requerer a
homologação junto a um tribunal ou corte estrangeira. Vide o item 7, a
seguir, onde constam as regras observadas pelo Brasil em casos
semelhantes e que, geralmente, também são levadas em conta pelos outros
países.
Outra forma de solicitar, no exterior, a homologação de
sentenças brasileiras em matéria civil, é formular o pedido por meio de
carta rogatória, desde que exista tratado prevendo tal procedimento.
Até o momento, é possível realizar pedidos da natureza com base nos
tratados bilaterais com a Espanha, a França e a Itália, bem como para
Argentina, Bolívia, Chile, Paraguai e Uruguai, com base no Acordo de
Cooperação e Assistência Jurisdicional em Matéria Comercial,
Trabalhista e Administrativa entre os Estados Partes do MERCOSUL,
a República da Bolívia e a República do Chile.
(...)
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Em suma, não há como reconhecer que o
indeferimento da pretensão formulada pelo exequente afronta o art.
5.º, LV, da Constitucional. Isso porque a possibilidade de
atendimento a carta rogatória com conteúdo executório,
especificamente para os Estados Unidos da América, dependeria de
previsão em acordo firmado entre os dois países, ou convenção
internacional à qual ambos tivessem aderido (inexistentes), ou de
norma interna daquele país que autorizasse a pretensão (da qual não
se tem conhecimento). Na inexistência dessas normas, restaria a via
diplomática que, tal como ressaltado pelo TRT de origem, não tem
eficácia garantida.
Aliás, considerando-se que o conjunto normativo
internacional que trata da matéria em relação aos Estados Unidos
afasta a possibilidade de carta rogatória com conteúdo executório,
conclui-se que o procedimento dificilmente alcançaria a finalidade
pretendida, ainda mais considerando-se que a sentença que transitou
em julgado não foi proferida contra as pessoas física e jurídica que
se pretende executar naquele país (incluídas no polo passivo apenas
na fase de execução, sem intimação prévia).
Nego provimento.
ISTO POSTO
ACORDAM os Ministros da Sexta Turma do Tribunal
Superior do Trabalho, por unanimidade, negar provimento ao agravo de
instrumento.
Brasília, 4 de Maio de 2016.
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KÁTIA MAGALHÃES ARRUDA Ministra Relatora
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