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Poder Judiciário Justiça do Trabalho Tribunal Superior do Trabalho PROCESSO Nº TST-AIRR-21000-92.2007.5.17.0008 Firmado por assinatura digital em 04/05/2016 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira. A C Ó R D Ã O 6ª Turma KA/tbc AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DA LEI N° 13.015/2014. EXECUÇÃO. RECLAMANTE. PRELIMINAR DE NULIDADE POR NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. 1 - Insurge-se o agravante quanto à negativa de seguimento a seu recurso de revista, dizendo que demonstrou a ocorrência de negativa de prestação jurisdicional por parte do TRT, com violação do art. 93, IX, da Constituição Federal. O recorrente, em suma, sustenta que não foram apreciados pelo Tribunal Regional: a. aspectos processuais e temas constantes do agravo de petição; b. possibilidade do prosseguimento da execução em outro país. 2 - No que se refere à alegação de que o TRT não apreciou “aspectos processuais e temas constantes do agravo de petição”, constata-se que no agravo de instrumento não há demonstração de que o recurso de revista preencheu o requisito de que trata o art. 896, § 1.º-A, III, da CLT, pois a alegação é genérica, não havendo exposição das razões do pedido de reforma da decisão (definição precisa de quais questões efetivamente deviam ser apreciadas pela Corte de origem e não o foram). 3 - No que se refere à alegação de que não foi apreciada a “possibilidade do prosseguimento da execução em outro país”, foram preenchidos os requisitos do art. 896, § 1.º-A, da CLT. Porém, não se constata a alegada omissão porque o TRT expôs os motivos pelos quais indeferiu o pedido do prosseguimento da execução mediante carta rogatória para constrição de bens nos Estados Unidos da América, quais sejam: Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 1001288D3AB1103866.

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Poder JudiciárioJustiça do TrabalhoTribunal Superior do Trabalho

PROCESSO Nº TST-AIRR-21000-92.2007.5.17.0008

Firmado por assinatura digital em 04/05/2016 pelo sistema AssineJus da Justiça do Trabalho, conforme

MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.

A C Ó R D Ã O

6ª Turma

KA/tbc

AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE

REVISTA INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DA LEI

N° 13.015/2014. EXECUÇÃO. RECLAMANTE.

PRELIMINAR DE NULIDADE POR NEGATIVA

DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL.

1 - Insurge-se o agravante quanto à

negativa de seguimento a seu recurso

de revista, dizendo que demonstrou a

ocorrência de negativa de prestação

jurisdicional por parte do TRT, com

violação do art. 93, IX, da

Constituição Federal. O recorrente,

em suma, sustenta que não foram

apreciados pelo Tribunal Regional: a.

aspectos processuais e temas

constantes do agravo de petição; b.

possibilidade do prosseguimento da

execução em outro país.

2 - No que se refere à alegação de

que o TRT não apreciou “aspectos

processuais e temas constantes do

agravo de petição”, constata-se que

no agravo de instrumento não há

demonstração de que o recurso de

revista preencheu o requisito de que

trata o art. 896, § 1.º-A, III, da

CLT, pois a alegação é genérica, não

havendo exposição das razões do

pedido de reforma da decisão

(definição precisa de quais questões

efetivamente deviam ser apreciadas

pela Corte de origem e não o foram).

3 - No que se refere à alegação de

que não foi apreciada a

“possibilidade do prosseguimento da

execução em outro país”, foram

preenchidos os requisitos do art.

896, § 1.º-A, da CLT. Porém, não se

constata a alegada omissão porque o

TRT expôs os motivos pelos quais

indeferiu o pedido do prosseguimento

da execução mediante carta rogatória

para constrição de bens nos Estados

Unidos da América, quais sejam:

Este documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tst.jus.br/validador sob código 1001288D3AB1103866.

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MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.

trata-se de meio próprio de

comunicação de atos processuais; é

utilizado apenas para atos decisórios

não definitivos, excluídos, portanto,

os atos de execução definitiva; não

possui eficácia garantida, pois é

mero pedido de cooperação realizado

pelas vias diplomáticas, não

obrigando as autoridades do Estado

rogado ao seu cumprimento; é meio

extremamente oneroso, visto a

necessidade de tradução oficial das

peças e atos praticado, e o benefício

da gratuidade não alcança o trabalho

do tradutor juramentado, conforme

Provimento daquela Corte. Nesse

contexto, não se vislumbra violação

do art. 93, IX, da CF/88.

4 – Agravo de instrumento a que se

nega provimento.

EXECUÇÃO DE SENTENÇA TRABALHISTA.

CONSTRIÇÃO DE BENS. CARTA ROGATÓRIA

PARA OS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

1. Conforme acórdão proferido na fase

de conhecimento e que transitou em

julgado, o reclamante sofreu acidente

de trabalho e teve reduzida sua

capacidade laboral, mas não ficou

cego, ao contrário do que afirma em

suas razões de agravo de instrumento.

Houve “perda da visão em 20% em razão

do acidente de trabalho”, o que

ensejou o deferimento de pagamento de

indenização por dano material na

forma de pensão, no valor de R$

350,00 (trezentos e cinquenta

reais), correspondente ao salário

mínimo da época, bem como indenização

por dano moral, no valor de R$

20.000,00 (vinte mil reais), além de

obrigação de fornecer óculos de

proteção com grau.

2. A reclamação trabalhista foi

ajuizada unicamente contra a empresa

Global Brasil Granitos Ltda. (antiga

Global Stone Exp. Ltda.), ex-

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empregadora do exequente. Somente

após o trânsito em julgado, durante a

execução da sentença, foi determinada

a reautuação para inclusão, no polo

passivo da demanda, do sócio Mathis

Nothnagel Matthee, bem como da

empresa Multistone Enterprises, essa

sob o fundamento de que forma grupo

econômico com a ex-empregadora. A

pretensão do exequente é a execução

dessas duas últimas pessoas (física e

jurídica) nos Estados Unidos, por

meio de carta rogatória.

3. A pretensão foi indeferida pelo

Juízo da execução, decisão mantida

pelo TRT, pelos seguintes

fundamentos: trata-se de meio próprio

de comunicação de atos processuais; é

utilizado apenas para atos decisórios

não definitivos, excluídos, portanto,

os atos de execução definitiva; não

possui eficácia garantida, pois é

mero pedido de cooperação realizado

pelas vias diplomáticas, não

obrigando as autoridades do Estado

rogado o seu cumprimento; é meio

extremamente oneroso, visto a

necessidade de tradução oficial das

peças e atos praticado, e o benefício

da gratuidade não alcança o trabalho

do tradutor juramentado, conforme

Provimento daquela Corte.

4. O indeferimento de carta rogatória

para execução de sentença trabalhista

nos Estados Unidos da América não

afronta o conteúdo da decisão que

transitou em julgado, motivo pelo

qual não há violação do art. 5.º,

XXXVI, da Constituição Federal.

5. Embora questionável o

indeferimento do pedido de expedição

de carta rogatória pelo fundamento de

a gratuidade não abranger a tradução

dos documentos necessários a esse

procedimento, não há como reconhecer

que, no caso específico dos autos, a

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decisão do TRT afronta o art. 5.º,

LV, da Constitucional.

6. A possibilidade de atendimento a

carta rogatória com conteúdo

executório, especificamente para os

Estados Unidos da América, dependeria

de previsão em acordo firmado entre

os dois países, ou convenção

internacional à qual ambos tivessem

aderido (inexistentes), ou de norma

interna daquele país que autorizasse

a pretensão (da qual não se tem

conhecimento). Na inexistência dessas

normas, restaria a via diplomática

que, tal como ressaltado pelo TRT de

origem, não tem eficácia garantida.

7. Aliás, considerando-se que o

conjunto normativo internacional que

trata da matéria em relação aos

Estados Unidos afasta a possibilidade

de carta rogatória com conteúdo

executório, conclui-se que o

procedimento dificilmente alcançaria

a finalidade pretendida, ainda mais

considerando-se que a sentença que

transitou em julgado não foi

proferida contra as pessoas física e

jurídica que se pretende executar

naquele país (incluídas no polo

passivo apenas na fase de execução,

sem intimação prévia).

8. Há de se registrar que a lei

estadunidense mencionada pelo

exequente como embasadora de seu

pedido de expedição de carta

rogatória com conteúdo executório

refere-se a procedimento distinto,

qual seja, homologação de sentença

estrangeira a fim de viabilizar

posterior execução naquele país.

9 – Agravo de instrumento a que se

nega provimento.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de

Agravo de Instrumento em Recurso de Revista n° TST-AIRR-21000-

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92.2007.5.17.0008, em que são Agravantes ROGÉRIO RIOS DA SILVA e

Agravados GLOBAL BRASIL GRANITOS LTDA., MATHYS NOTHNAGEL MATTHEE e

MULTISTONE ENTERPRISES.

O juízo primeiro de admissibilidade negou

seguimento ao recurso de revista, sob o fundamento de que não é

viável o seu conhecimento.

A parte interpôs agravo de instrumento com base no

art. 897, b, da CLT.

Não foram apresentadas contrarrazões ao agravo de

instrumento e ao recurso de revista.

Os autos não foram remetidos ao Ministério Público

do Trabalho (art. 83, II, do Regimento Interno do TST).

V O T O

1. CONHECIMENTO

Preenchidos os pressupostos de admissibilidade,

conheço do agravo de instrumento.

2. MÉRITO

2.1. PRELIMINAR DE NULIDADE DO ACÓRDÃO DO TRT POR

NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL

Em relação à matéria, eis o conteúdo do despacho

que negou seguimento ao recurso de revista:

PRESSUPOSTOS INTRÍNSECOS

DIREITO PROCESSUAL CIVIL E DO TRABALHO / Atos

Processuais / Nulidade / Negativa de prestação jurisdicional.

Alegações)

- violação do(s) artigo 5º, inciso XXXV, LIV; artigo 5º, inciso LV;

artigo 93, inciso IX, da Constituição Federal.

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- violação do(s) Código de Processo Civil, artigo 515, §1º;

Consolidação das Leis do Trabalho, artigo 832; Código de Processo Civil,

artigo 458.

- divergência jurisprudencial: .

Sustenta a nulidade do acórdão por negativa de prestação

jurisdicional, tendo em vista que, não obstante a oposição de embargos

declaratórios, a decisão proferida pela C. Turma manteve-se omissa no que

tange a importantes questões levantadas.

Inviável o recurso, contudo, porquanto se verifica que as questões

oportunamente suscitadas e essenciais à resolução da controvérsia foram

analisadas pelo Eg. Regional, de forma motivada, razão por que não se

vislumbra, em tese, a apontada afronta ao artigo 93, IX, da CF.

Quanto à alegada violação aos demais preceitos constitucionais,

inviável o recurso, ante o entendimento consubstanciado na Orientação

Jurisprudencial nº 115 da SDI-I, do Eg. TST.

Ante a restrição do artigo 896, § 2º, da CLT, descabe análise de

violação à legislação infraconstitucional e divergência com ementas.

Em suas razões de agravo de instrumento, a parte

insurge-se contra o despacho que negou seguimento ao seu recurso de

revista quanto à preliminar de nulidade do acórdão do TRT por

negativa de prestação jurisdicional. Diz que “a decisão recorrida

não se manifestou precisamente sob todos os aspectos processuais,

pois não abordou todos os temas existentes no agravo, inclusive em

relação à referida possibilidade, que refuta plenamente a ‘previsão’

de ineficiência da execução transfronteiriça (havendo o autor

demonstrado cabalmente sua possibilidade)”.

Em suma, sustenta que não foram apreciados pelo

Tribunal Regional:

a. aspectos processuais e temas constantes no

agravo de petição;

b. possibilidade do prosseguimento da execução em

outro país;

Aponta violação do art. 93, IX, da CF/88.

À análise.

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Recurso de revista interposto na vigência da Lei

n° 13.015/2014.

a. No que se refere à alegação de que o TRT não

apreciou “aspectos processuais e temas existentes no agravo de

petição”, constata-se que no agravo de instrumento não há

demonstração de que o recurso de revista preencheu o requisito de

que trata o art. 896, § 1.º-A, III, da CLT, pois a alegação é

genérica, não havendo exposição das razões do pedido de reforma

(definição precisa de quais questões efetivamente deviam ser

apreciadas e não o foram).

b. No que se refere à alegação de que não foi

apreciada a “possibilidade do prosseguimento da execução em outro

país”, foram preenchidos os requisitos do art. 896, § 1.º-A, da CLT.

Com efeito, quanto à preliminar de nulidade por

negativa de prestação jurisdicional, para o fim do art. 896, § 1º-A,

I, da CLT, a partir da Sessão de Julgamento de 30/9/2015 a Sexta

Turma passou a adotar o entendimento de que, se a alegada omissão do

TRT se refere a uma questão ou ponto da matéria decidida na segunda

instância, será exigível a indicação no recurso de revista do trecho

do acórdão de embargos de declaração que demonstre que a Corte

regional tenha sido instada a se pronunciar sobre o vício de

procedimento no acórdão embargado, seja rejeitando seja ignorando o

argumento da parte; por outro lado, não haverá a exigência de

indicação de trecho do acórdão recorrido quando a alegada omissão do

TRT se referir a tema inteiro não decidido, pois nesse caso,

evidentemente, não há trecho a ser indicado nas razões recursais.

No caso dos autos, a parte alega omissão quanto a

questão ou ponto da matéria decidida pelo TRT, indicando trecho para

os fins do prequestionamento.

Em relação à questão, a partir dos trechos

transcritos do acórdão de embargos de declaração, assim decidiu o

TRT:

2.2 MÉRITO.

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Inicialmente, de uma leitura da decisão embargada, vê-se que este

Colegiado manifestou-se claramente sobre a matéria em comento, restando-

a plenamente prequestionada, nos moldes da jurisprudência cristalizada

pela Corte Superior Trabalhista, no Enunciado 297. ' Pois bem. A teor do

artigo 891-A da CLT, com a redação que lhe foi dada pela Lei n° 9.957/00,

bem como do art. 535 do CPC, revelam-se restritas as hipóteses de

cabimento dos embargos declaratórios. Neste sentido, não se prestam os

embargos de declaração para rebater questionamentos acerca de teses

jurídicas, muito menos para reexame da prova ou mesmo a sua valoração,

como pretende o ora embargante, para a ocorrência de um novo julgamento.

A presente medida tem escopo limitado para sanar efetivas obscuridades,

contradições ou omissões.

Neste sentido, qualquer hipótese de julgamento errôneo ou

equivocado, não está sujeita a reexame em sede de embargos declaratórios,

podendo a decisão ser revista por intermédio do recurso apropriado.

Registre-se, por oportuno, que o julgador não, está obrigado a descer

a minúcias sobre todos os argumentos trazidos pelas partes, nem a apontar o

preceito legal embasador de sua decisão, bastando externar, como

externados foram, os fundamentos que levaram a formar seu

convencimento em 'tomo da matéria submetida a exame.

Destarte, somente para suprir omissão, contradição ou obscuridade

servem os embargos declaratórios, não para buscar a retratação do julgado

rediscutido, como pretende o embargante, em face da matéria de mérito

sobre a qual especificamente já se manifestou a decisão embargada, menos

ainda sobre o ângulo da prova e da distribuição dos encargos respectivos,

de modo que acaso ocorrendo errônea ou má apreciação da prova é defeso

ao órgão julgador, reapreciá-la nos declaratórios, com o fito de alterar o

resultado do julgamento.

Em verdade, o embargante pretende, pelo que se colhe de sua petição

de embargos, obter novo julgamento, sob a alegação de imperfeição no

decisório regional,

Assim, a prestação jurisdicional, ao contrário da que alega o

embargante realizou-se de forma integral, sendo certo que o Tribunal

decidiu, de forma clara e fundamentada, sobre os pontos abordados no

recurso que lhe foi submetido.

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Nego, pois, provimento.

Trechos relacionados ao acórdão proferido em

agravo de petição, transcritos pela parte:

Pretende o reclamante/agravante a expedição de carta rogatória para

Os EUA, com a tradução das peças oficieis às expensas deste Regional por

ser beneficiário da gratuidade de justiça, com o fito de viabilizar a

satisfação do crédito.

Pois bem.

Cumpre salientar que não se questiona, no momento, acerca do direito

do agravante ao crédito trabalhista reconhecido no título judicial transitado

em julgado. Pelo contrário, a pertinência temática circunscreve-se à

viabilidade do meio requerido para o prosseguimento da ação.

Do fato, o pedido do exequente de prosseguimento da execução com

a expedição deste meio próprio de comunicação dos atos processuais,

visando a constrição judicial de eventual patrimônio da executada no

exterior, é um procedimento que, além de extremamente oneroso, visto a

necessidade de tradução oficial das peças e atos praticados, não possui

eficácia garantida, tendo em vista que se trata de um mero pedido de

cooperação realizado por vias diplomáticas, que não obriga de maneira

alguma as autoridades do Estado rogado ao seu fiel comprimento.

Ademais, tal como assentado na decisão agravada, a título de

esclarecimento, ainda que seja o autor beneficiário da gratuidade de justiça,

esta não compreende, na fase de execução, os custos com tradutor

juramentado, vide previsão contida no Provimento Consolidado 01/2005

deste E TRT:

"Art. 158. Os pagamentos dos honorários de perito serão efetuados

com os recursos vinculados ao custeio da Justiça gratuita aos necessitados,

quando ocorrerem as seguintes condições cumulativas:

Parágrafo único. Os recursos previstos no caput não serão destinados

ao pagamento de perícias realizadas na fase de liquidação e de execução,

mas tão somente na fase de conhecimento."

Do exposto, fácil concluir que a Carta Rogatória, mecanismo de

cooperação jurídica internacional adotada pelo direito brasileiro, é

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comumente utilizada para atos não decisórios, bem como atos decisórios

não definitivos, excluídos, portanto, os atos de execução definitiva.

Portanto, se o Estado estrangeiro não está obrigado a cumprir a Carta

Rogatória, não há garantia da efetividade da diligência requerida, o que fere

em muito o princípio da economia processual, uma vez que, não bastasse

não possuir eficácia garantida, apresenta custo excessivo para a confecção

do instrumento.

Em suma, julgo indevido o pleito autoral e correta a decisão de

primeiro grau.

Nego provimento

Como se vê da leitura acima, o TRT expôs os

motivos pelos quais indeferiu o pedido do prosseguimento da execução

de patrimônio localizado no exterior, por meio de carta rogatória,

quais sejam: trata-se de meio próprio de comunicação de atos

processuais; é utilizado apenas para atos decisórios não

definitivos, excluídos, portanto, os atos de execução definitiva;

não possui eficácia garantida, pois é mero pedido de cooperação

realizado pelas vias diplomáticas, não obrigando as autoridades do

Estado rogado o seu cumprimento; é meio extremamente oneroso, visto

a necessidade de tradução oficial das peças e atos praticado, e o

benefício da gratuidade não alcança o trabalho do tradutor

juramentado, conforme Provimento daquela Corte.

Nesse contexto, não se vislumbra violação do art.

93, IX, da CF/88.

Nego provimento.

2.2. EXECUÇÃO DE SENTENÇA TRABALHISTA. CONSTRIÇÃO

DE BENS. CARTA ROGATÓRIA PARA OS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

Em relação à matéria, eis o conteúdo do despacho

que negou seguimento ao recurso de revista:

DIREITO PROCESSUAL CIVIL E DO TRABALHO / Rescisória /

Ofensa à Coisa Julgada.

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL E DO TRABALHO / Objetos de

Cartas Precatórias / de Ordem / Rogatórias.

Alegações:

- violação do(s) artigo 5º, inciso XXXVI, LV; artigo 93, inciso IX, da

Constituição Federal.

- violação do(s) Lei nº 6830/1980, artigo 40.

- divergência jurisprudencial:

Insurge-se contra a decisão que indeferiu a expedição de Carta

Rogatória por tratar-se de meio de execução oneroso e complexo.

Consta do v. acórdão:

(...)

Ante a restrição do artigo 896, § 2º, da CLT, descabe análise de

violação à legislação infraconstitucional e divergência jurisprudencial.

Tendo a C. Turma negado provimento ao recurso autoral, indeferindo

o pedido de expedição de Carta Rogatória, assentando que não há garantia

da efetividade da diligência requerida, o que fere o princípio da economia

processual, uma vez que, não bastasse não possuir eficácia garantida,

apresenta custo excessivo para a confecção do instrumento, não se verifica,

em tese, a alegada violação ao dispositivo constitucional suscitado, como

requer o artigo 896, § 2º, da CLT.

CONCLUSÃO

DENEGO seguimento ao recurso de revista.

Em suas razões, a parte insurge-se contra o

despacho que negou seguimento ao seu recurso de revista.

Afirma o seguinte:

. Que obteve sentença favorável condenando a

executada em diversas parcelas, dentre elas indenização por danos

morais e materiais, já que sofreu acidente de trabalho que o deixou

cego, sendo que o montante atualizado do crédito em 2012 era de R$

932.465,36;

. As tentativas de receber seus créditos tornaram-

se infrutíferas;

. A empresa executada compõe grupo econômico com a

empresa MULTISTONE ENTERPRISES INC., e essa, por sua vez, continua

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funcionando em outro país, sendo que existe uma forma de executá-la.

Afirma que o grupo econômico pode ser reconhecido mediante a análise

de documentos dos autos;

. O primeiro sócio da empresa executada (MATHYS

NOTHNAGEL MATTHEE) possui bens penhoráveis nos Estados Unidos.

. Há possibilidade real de atendimento do pedido

pela jurisdição estrangeira, tendo em vista a lei “Uniform Foreign

Money-Judgments Recognition Act” (UFMJRA) que, segundo sustenta,

prevê que qualquer sentença de um país estrangeiro deferindo ou

indeferindo a recuperação de um valor em dinheiro pode ser

homologada nos Estados Unidos, desde que não seja sentença de cunho

penal, tributário ou de direito de família.

Diz ser imperioso que o recorrente receba seus

créditos trabalhistas sonegados pela empresa GLOBAL BRASIL GRANITOS,

uma vez que já ocorreu o trânsito em julgado da sentença exequenda,

tornando líquido e certo o direito.

Argumenta que tem direito à tradução juramentada e

à carta rogatória, para tentar satisfazer direito conquistado, ainda

que a carta rogatória seja mero pedido de cooperação entre países.

Em decorrência das alegações, aponta ofensa aos

artigos 5°, XXXVI e LV, da CF/88 (coisa julgada, contraditório e

ampla defesa).

À análise.

Recurso de revista interposto na vigência da Lei

n° 13.015/2014.

Em relação à matéria, o trecho do acórdão do TRT

transcrito nas razões de revista é o seguinte:

Pretende o reclamante/agravante a expedição de carta rogatória para

os EUA, com a tradução das peças oficieis às expensas deste Regional por

ser beneficiário da gratuidade de justiça, com o fito de viabilizar a

satisfação do crédito.

Pois bem.

Cumpre salientar que não se questiona, no momento, acerca do direito

do agravante ao crédito trabalhista reconhecido no título judicial transitado

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em julgado. Pelo contrário, a pertinência temática circunscreve-se à

viabilidade do meio requerido para o prosseguimento da ação.

Do fato, o pedido do exequente de prosseguimento da execução com

a expedição deste meio próprio de comunicação dos atos processuais,

visando a constrição judicial de eventual patrimônio da executada no

exterior, é um procedimento que, além de extremamente oneroso, visto a

necessidade de tradução oficial das peças e atos praticados, não possui

eficácia garantida, tendo em vista que se trata de um mero pedido de

cooperação realizado por vias diplomáticas, que não obriga de maneira

alguma as autoridades do Estado rogado ao seu fiel comprimento.

Ademais, tal como assentado na decisão agravada, a título de

esclarecimento, ainda que seja o autor beneficiário da gratuidade de justiça,

esta não compreende, na fase de execução, os custos com tradutor

juramentado, vide previsão contida no Provimento Consolidado 01/2005

deste E TRT:

"Art. 158. Os pagamentos dos honorários de perito serão efetuados

com os recursos vinculados ao custeio da Justiça gratuita aos necessitados,

quando ocorrerem as seguintes condições cumulativas:

(...)

Parágrafo único. Os recursos previstos no caput não serão destinados

ao pagamento de perícias realizadas na fase de liquidação e de execução,

mas tão somente na fase de conhecimento."

Do exposto, fácil concluir que a Carta Rogatória, mecanismo de

cooperação jurídica internacional adotada pelo direito brasileiro, é

comumente utilizada para atos não decisórios, bem como atos

decisórios não definitivos, excluídos, portanto, os atos de execução

definitiva.

Portanto, se o Estado estrangeiro não está obrigado a cumprir a Carta

Rogatória, não há garantia da efetividade da diligência requerida, o que fere

em muito o princípio da economia processual, uma vez que, não bastasse

não possuir eficácia garantida, apresenta custo excessivo para a confecção

do instrumento.

Em suma, julgo indevido o pleito autoral e correta a decisão de

primeiro grau.

Nego provimento

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Em síntese, o TRT manteve o indeferimento da

formação de carta rogatória porque: trata-se de meio próprio de

comunicação de atos processuais; é utilizado apenas para atos

decisórios não definitivos, excluídos, portanto, os atos de execução

definitiva; não possui eficácia garantida, pois é mero pedido de

cooperação realizado pelas vias diplomáticas, não obrigando as

autoridades do Estado rogado o seu cumprimento; é meio extremamente

oneroso, visto a necessidade de tradução oficial das peças e atos

praticado, e o benefício da gratuidade não alcança o trabalho do

tradutor juramentado, conforme Provimento daquela Corte.

Pois bem.

Inicialmente, ressalto que a reclamação

trabalhista foi ajuizada unicamente contra a empresa Global Brasil

Granitos Ltda. (antiga Global Stone Exp. Ltda.), ex-empregadora do

exequente. Somente após o trânsito em julgado, durante a execução da

sentença, foi determinada a reautuação para inclusão, no polo

passivo da demanda, do sócio Mathis Nothnagel Matthee, bem como da

empresa Multistone Enterprises, essa sob o fundamento de que forma

grupo econômico com a ex-empregadora (fl. 541). A pretensão do

exequente é a execução dessas duas últimas pessoas (física e

jurídica) nos Estados Unidos, por meio de carta rogatória.

Também convém registrar que, conforme acórdão

proferido na fase de conhecimento e que transitou em julgado (fls.

401/406), o reclamante sofreu acidente de trabalho e teve reduzida

sua capacidade laboral, mas não ficou cego, ao contrário do que

afirma em suas razões de agravo de instrumento. Houve “perda da

visão em 20% em razão do acidente de trabalho”, o que ensejou o

deferimento de pagamento de indenização por dano material na forma

de pensão, no importe de R$ 350,00 (trezentos e cinquenta reais),

valor do salário mínimo à época, bem como indenização por dano

moral, no valor de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), além de obrigação

de fornecer óculos de proteção com grau.

Feitos esses esclarecimentos, constata-se que o

indeferimento de carta rogatória para execução de sentença

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trabalhista nos Estados Unidos da América não afronta o conteúdo da

decisão que transitou em julgado, motivo pelo qual não há violação

do art. 5.º, XXXVI, da Constituição Federal.

Por outro lado, embora questionável o fundamento

utilizado pelo TRT quanto à impossibilidade de tradução dos

documentos para a formação da carta rogatória, afirmando-se que esse

procedimento não seria alcançado pela gratuidade da Justiça,

conforme Provimento daquela Corte, subsiste fundamento jurídico

relevante utilizado no acórdão impugnado, e que de fato impede a

reforma do julgado: o de que carta rogatória ativa por meio da qual

se postula a realização de atos de execução não tem eficácia

garantida, no que se refere aos Estados Unidos da América.

Explico: a carta rogatória é um instrumento de

cooperação internacional, por meio do qual órgão do Poder Judiciário

de um país solicita ao de outro a realização de determinados atos no

seu interesse, como citações, depoimentos, exames e outras

diligências.

Podem ser ativas ou passivas. Sob o enfoque do

Brasil, as primeiras são aquelas expedidas por autoridades

judiciárias nacionais para a realização de diligências em outros

países (arts. 201, 202, 210 do CPC de 1973, 237, II, 260, do CPC de

2015); e as segundas aquelas recebidas de juízes ou tribunais

estrangeiros, para a realização de diligências em nosso país, após a

concessão do exequatur pelo Superior Tribunal de Justiça (artigo 211

do CPC de 1973, 260 do CPC de 2015, e artigos 784, 785 e 786 do

Código de Processo Penal).

As cartas rogatórias, em princípio, não abrangem a

realização de medidas que visem a execução de sentença proferida em

outro país, pois tal finalidade é alcançada por meio da homologação

de sentença estrangeira. Esses são dois procedimentos distintos,

inclusive tratados de forma separada no Regimento Interno do STJ,

ambos no Título “DOS PROCESSOS ORIUNDOS DE ESTADOS ESTRANGEIROS”,

sendo a “Homologação de Sentença Estrangeira” no Capítulo I, e a

“Concessão de Exequatur a Cartas Rogatórias” no Capítulo II.

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Pode ocorrer a execução de sentença por simples

carta rogatória, desde que haja previsão em acordos ou tratados

internacionais, ou em leis nacionais específicas. Inexistindo normas

internacionais, tal pretensão formulada por carta rogatória pode ser

encaminhada pela via diplomática.

Vejamos julgados do STF que, até o advento da

Emenda Constitucional n.º 45/2004, era competente para a concessão

de exequaturs a cartas rogatórias e homologação de sentenças

estrangeiras:

DECISÃO: Trata-se de embargos opostos contra decisão de fl. 110,

que concedeu o exequatur para determinar a intimação de Pedro Arturo

Benzanilla Diego da sentença de divórcio proferida pela justiça espanhola.

2. O Juiz Federal da 7ª Vara - Seção Judiciária do Ceará determinou,

para dar cumprimento à presente Carta Rogatória, a expedição de mandado

de intimação elaborado nos seguintes termos: "(...)notificando-o da

sentença de divórcio datada de 25/04/2001, que segue anexa, e requerer-lhe

para o seu cumprimento com entrega do filho menor para sua mãe, sob

advertência de que em caso de não cumprimento incorrerá em um delito de

desobediência grave." (fl. 75).

3. O embargante alega que o ato processual a ser praticado consiste

somente na intimação da sentença e não na determinação da entrega do

menor, sob pena de "ser condenado criminalmente". Acrescenta que "o

cumprimento do ato determinado pelo Juiz Federal, seguramente provocará

efeitos de efetiva execução de sentença que causará ao menor danos os

quais jamais poderão ser reparados" (fl. 95).

Requer que esta intimação seja tornada sem efeito e a carta rogatória

devolvida à Justiça rogante sem seu cumprimento.

4. A Procuradoria Geral da República opinou pelo provimento dos

embargos, observando que "(...) a diligência, no caso, deve ser restringida à

exclusiva intimação do embargante para a notificação da referida sentença

estrangeira"(fls. 150/153).

5. É o relatório. Decido.

6. Com efeito, esta Corte firmou entendimento de que são

insuscetíveis de cumprimento no Brasil cartas rogatórias de caráter

executório, ressalvadas as expedidas com fundamento em acordos ou

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convenções internacionais. Assim sendo, é incabível a entrega de menor

por ser materialização de ordem judicial emanada do exterior.

7. No que tange aos demais argumentos do embargante, convém

ressaltar que são amplos e meritórios, não se adequando aos estreitos

limites da carta, devendo ser alegados no juízo rogante.

8. Ante o exposto, acolhendo o parecer do Ministério Público Federal,

dou provimento parcial aos embargos, para tornar sem efeito a intimação

anterior e determinar que a Justiça Federal proceda a uma nova, tão-

somente para dar ciência da sentença de divórcio proferida no Reino da

Espanha em 25/04/2001.

Intime-se.

Brasília, 16 de setembro de 2003.

Ministro MAURÍCIO CORRÊA Presidente

(CR 10270 embargos / EP - ESPANHA EMBARGOS NA CARTA

ROGATÓRIA Relator(a): Min. MAURÍCIO CORRÊA Julgamento:

16/11/2003 Publicação DJ 26/09/2003)

E na jurisprudência do STJ:

Ementa: AGRAVO REGIMENTAL NA CARTA ROGATÓRIA.

EXEQUATUR. HIPÓTESES DE CONCESSÃO. AUSÊNCIA DE

OFENSA À SOBERANIA NACIONAL OU À ORDEM PÚBLICA.

OBSERVÂNCIA DOS REQUISITOS DA RESOLUÇÃO N. 9/2005/STJ.

NOTIFICAÇÃO. AUSÊNCIA DE NATUREZA EXECUTÓRIA.

AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. I - Não sendo hipótese de

ofensa à soberania nacional, à ordem pública ou de inobservância dos

requisitos da Resolução nº 9 /2005, cabe apenas a este e. Superior Tribunal

de Justiça emitir juízo meramente delibatório acerca da concessão do

exequatur nas cartas rogatórias, sendo competência da Justiça rogante a

análise de eventuais alegações relacionadas ao mérito da causa. II - In casu,

a simples notificação acerca da prolação de sentença estrangeira não

tem natureza executória e não ofende, portanto, a ordem pública ou a

soberania nacional. Agravo regimental desprovido. (AgRg na CR

7858/EX, Corte Especial, Relator Ministro Felix Fischer, DJE 14/8/2014)

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A fim de exemplificar algumas hipóteses de

cabimento de carta rogatória com caráter executório, podemos

mencionar aquelas embasadas no Acordo de Cooperação e Assistência

Jurisdicional em Matéria Civil, Comercial, Trabalhista e

Administrativa, firmado entre os países integrantes do Mercosul,

juntamente com Bolívia e Chile, promulgado no Brasil por meio do

Decreto n.º 6.891/2009, e em cujo art. 19 consta o seguinte:

“O reconhecimento e execução de sentenças e de laudos arbitrais

solicitado pelas autoridades jurisdicionais poderá tramitar-se por via de

cartas rogatórias e transmitir-se por intermédio da Autoridade Central, ou

por via diplomática ou consular, em conformidade com o direito interno.”

Observe-se que o STJ já concedeu exequatur a carta

rogatória com a finalidade a quebra de sigilo bancário de

determinada empresa, baseando-se na Lei dos Crimes de Lavagem de

Dinheiro, mencionando a possibilidade de se proceder à constrição de

bens como meio de cooperação judiciária nos termos dessa lei,

conforme a seguinte ementa:

CARTA ROGATÓRIA. DILIGÊNCIAS. BUSCA E APREENSÃO.

QUEBRA DE SIGILO BANCÁRIO. POSSIBILIDADE. CONCESSÃO

DO EXEQUATUR.

1. Carta Rogatória encaminhada pelo Ministério das Relações

Exteriores a pedido da Embaixada da Bélgica, com o fim de verificar

possível crime de lavagem de dinheiro envolvendo empresário brasileiro

descrito nestes autos, por solicitação do juízo de instrução, do Tribunal de

Primeira Instância de Bruxelas, Bélgica.

2. É cediço que: A tramitação da Carta Rogatória pela via diplomática

confere autenticidade aos documentos.

3. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal pautava-se no

sentido da impossibilidade de concessão de exequatur para atos executórios

e de constrição não-homologados por sentença estrangeira.

4. Com a Emenda Constitucional 45/2004, esta Corte passou a ser

competente para a homologação de sentenças estrangeiras e a concessão de

exequatur às cartas rogatórias.

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5. A Resolução 9/STJ, em 4 de maio de 2005, dispõe, em seu artigo

7°, que "as cartas rogatórias podem ter por objeto atos decisórios ou não

decisórios".

6. A Lei 9.613/98 (Lei dos Crimes de Lavagem de Dinheiro), em seu

art. 8° e parágrafo 1°, assinala a necessidade de ampla cooperação com as

autoridades estrangeiras, expressamente permite a apreensão ou sequestro

de bens, direitos ou valores oriundos de crimes antecedentes de lavagem de

dinheiro, cometidos no estrangeiro.

7. Destarte, a Lei Complementar 105/2001, por sua vez, em seu art.

1°, parágrafo 4°, dispõe que as instituições financeiras conservarão sigilo

em suas operações ativas e passivas e serviços prestados, sendo que a

quebra de sigilo poderá ser decretada, quando necessária para apuração de

ocorrência de qualquer ilícito, em qualquer fase do inquérito ou do processo

judicial, e especialmente nos seguintes crimes: (...) VIII – lavagem de

dinheiro ou ocultação de bens, direitos e valores; IX – praticado por

organização criminosa.

8. Deveras, a Convenção das Nações Unidas contra o Crime

Organizado Transnacional (Decreto 5.015/2004) também inclui a

cooperação judiciária para "efetuar buscas, apreensões e embargos",

"fornecer informações, elementos de prova e pareceres de peritos",

"fornecer originais ou cópias certificadas de documentos e processos

pertinentes, incluindo documentos administrativos, bancários, financeiros

ou comerciais e documentos de empresas", "identificar ou localizar os

produtos do crime, bens, instrumentos ou outros elementos para fins

probatórios", "prestar qualquer outro tipo de assistência compatível com o

direito interno do Estado Parte requerido" (art. 18, parágrafo 3, letras a até

i). Parágrafo 8 do art. 18 da Convenção ressalta que: "Os Estados Partes

não poderão invocar o sigilo bancário para recusar a cooperação judiciária

prevista no presente Artigo".

9. In casu, A célula de tratamento das informações financeiras

(CETIF) denunciou no dia 16 de Julho 2002 ao Escritório do Procurador

Geral em Bruxelas a existência de índices sérios de branqueamento de

capitais (...) entre as pessoas envolvidas no presente processo.

10. Princípio da efetividade do Poder Jurisdicional no novo cenário

de cooperação internacional no combate ao crime organizado transnacional.

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11. Concessão integral do exequatur à carta rogatória.

(CR 438/BE, Corte Especial, Relator Ministro Luiz Fux, DJ

24/9/2007)

A fim de auxiliar a compreensão do tema,

transcreve-se interessante texto extraído do site do Tribunal de

Justiça do Estado do Paraná acerca da Cooperação Jurídica

Internacional (https://www.tjpr.jus.br/cji):

Área de Cooperação Jurídica Internacional

(...)

Visão Geral

A intensificação da cooperação jurídica entre os países é um dos

reflexos da integração social, econômica, política e cultural conhecida

como globalização. Esse processo fez surgir novas oportunidades e

perspectivas de desenvolvimento para diferentes sociedades. Mas, ao

mesmo tempo, também trouxe grandes desafios. Entre eles a aplicação do

Direito às relações advindas dessa nova forma de viver e de se relacionar

com o mundo.

A distância entre os países e as fronteiras geográficas não mais

representam grandes óbices à circulação de pessoas, bens e serviços. No

ambiente virtual tais óbices sequer existem. A facilidade do acesso e troca

de informações pela internet é mais um fator de transformação das relações

humanas incrementado pelo surgimento das redes sociais. Nesse contexto,

surgem situações que somente poderão ser solucionadas pela jurisdição de

um Estado se houver a cooperação jurídica com outros países.

Sendo a jurisdição uma das manifestações da soberania do Estado

brasileiro, ela somente pode ser exercida dentro dos limites territoriais em

que é reconhecida. Logo, as demandas submetidas à apreciação da justiça

brasileira que precisem ser aperfeiçoadas ou integralizadas pela prática de

atos que devam acontecer em território estrangeiro, devem,

necessariamente, ser objeto da cooperação jurídica internacional.

Definição

A cooperação jurídica internacional pode ser definida como a união

de esforços entre os países com a finalidade de proporcionar aos seus

nacionais a realização da Justiça. Ela pode ser requerida com base em

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acordos internacionais, bilaterais ou multilaterais, firmados em âmbito

regional ou global, cuja tramitação se opera por meio de Autoridades

Centrais. Na ausência de normativo internacional específico, ou se

existindo o mesmo não puder ser aplicado, em razão do pedido estar

fora do alcance de suas disposições, a cooperação poderá ser requerida

com fundamento na reciprocidade, caso em que a tramitação se fará

pela via diplomática, por intermédio do Ministério das Relações

Exteriores (MRE).

Vale observar que a "cooperação jurídica internacional" é uma

expressão bastante ampla e pode se referir a diferentes e variadas espécies

de cooperação. Ela pode se dividir em cooperação ativa e passiva. A

cooperação ativa é aquela solicitada por autoridades brasileiras para a

realização de diligências no estrangeiro. Já a cooperação passiva é aquela

requerida por autoridades estrangeiras para cumprimento de diligências no

Brasil. Na prática, os pedidos de cooperação ativa mais comumente

encaminhados ao estrangeiro têm por finalidade a prática de atos

processuais de simples tramitação (citação, intimação, notificação e entrega

de documentos) ou de instrução probatória (oitiva e interrogatório). A

extradição, a transferência de presos e a cobrança de alimentos, são outros

exemplos.

Instrumentos de Cooperação

Os principais instrumentos de cooperação jurídica internacional são a

Carta Rogatória e o Pedido de Auxílio Jurídico Direto, ou simplesmente

Auxílio Direto. A utilização de um ou de outro irá depender da existência

de normativos internacionais que deem suporte ao pedido, bem como das

disposições previstas nesses normativos a respeito da forma do seu

encaminhamento. Por isso, o primeiro passo antes da elaboração de um

pedido de cooperação jurídica internacional é verificar se existem

tratados internacionais, bilaterais ou multilaterais, aplicáveis. Não

existindo, a tramitação se fará necessariamente pela via diplomática e o

instrumento de cooperação adequado será a carta rogatória.

Alcance dos Pedidos

No que se refere aos pedidos de cooperação, estes deverão ser

formulados de acordo com as possibilidades previstas no acordo

internacional. Nesse sentido, não é possível inovar acerca da matéria já

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predisposta nos diplomas internacionais. Vale observar que em se

tratando de acordos multilaterais, não raras vezes firmados por mais

de uma dezena de países, é possível que determinadas disposições

tenham sido objeto de reserva por alguns deles. É o que aconteceu, por

exemplo, no caso dos Estados Unidos da América, que manifestaram

reserva à aplicação a alínea “b” do artigo 2ª da Convenção

Interamericana Sobre Cartas Rogatórias (Decreto nº 1899/96), que

dispõe sobre o recebimento e obtenção de provas e informações no

exterior. Nesse caso, os pedidos de cooperação em matéria cível

destinados aos EUA somente poderão veicular pedidos que tenham por

finalidade a realização de atos processuais de mera tramitação, tais

como citações, notificações ou emprazamentos no exterior, em

consonância com o que dispõe a alínea “a” do artigo 2ª

dessa convenção. Caso o objeto do pedido não se identifique com esses

preceitos, deverá ser encaminhada carta rogatória sem base ou acordo

internacional específico. A manifestação de reserva é um inconveniente

que, a princípio, não existe nos acordos bilaterais.

(...)

Embora o texto acima registre a possibilidade de

encaminhamento de carta rogatória “sem base ou acordo internacional

específico” para os Estados Unidos, que veicule pedidos diversos

daqueles referentes a atos processuais de mera tramitação, há norma

internacional firmada com aquele país que afasta a possibilidade de

carta rogatória com a finalidade de realização de atos de execução.

Com efeito, temos a Convenção Interamericana sobre

Cartas Rogatórias assinada no Panamá em 30 de janeiro de 1975,

promulgada no Brasil pelo Decreto 1899, de 9 de maio de 1996, que

afasta a utilização dessa medida para atos que impliquem execução

coativa:

(...)

II. Alcance da Convenção

Artigo 2

Esta Convenção aplicar-se-á às cartas rogatórias expedidas em

processos relativos a matéria civil ou comercial pelas autoridades

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judiciárias de um dos Estados Partes nesta Convenção e que tenham por

objeto:

a) a realização de atos processuais de mera tramitação, tais como

notificações, citações ou emprazamentos no exterior;

b) o recebimento e obtenção de provas e informações no exterior,

salvo reserva expressa a tal respeito.

Artigo 3

Esta Convenção não se aplicará a nenhuma carta rogatória

relativa a atos processuais outros que não os mencionados no Artigos

anterior; em especial, não se aplicará àqueles que impliquem execução

coativa.

Naturalmente, essa Convenção não impediu que

outras normas internacionais mais flexíveis quanto a cartas

rogatórias fossem firmadas, mas no que se refere aos Estados Unidos

da América não há norma que autorize expressamente as cartas

rogatórias com caráter executório.

Com efeito, quanto aos Estados Unidos da América,

temos os seguintes fundamentos de Cooperação Jurídica Internacional,

conforme o Ministério da Justiça (https://www.justica.gov.br/sua-

protecao/cooperacao-internacional/cooperacao-juridica-internacional-

em-materia-penal/orientacoes-por-pais/estados-unidos):

Acordo de Assistência Judiciária em Matéria Penal entre o Governo

da República Federativa do Brasil e o Governo dos Estados Unidos da

América

Decreto n°. 3.810, de 02 de maio de 2001.

Autoridade Central: Attorney-General, que integra o United States

Department of Justice– DoJ.

Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado

Transnacional (Convenção de Palermo)

Decreto n°. 5015, de 12 de março de 2004.

Autoridade Central: United States Department of Justice - DoJ.

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Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção (Convenção de

Mérida)

Decreto n. 5.687, de 31 de janeiro de 2006.

Autoridade Central: United States Depart­ment of Justice.

Convenção contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e Substâncias

Psicotró­picas (Convenção de Viena)

Decreto n°. 154, de 26 de junho de 1991.

Autoridade Central: United States Department of Justice.

Convenção Interamericana sobre Assistência Mútua em Matéria

Penal (Con­venção de Nassau, OEA)

Decreto n°. 6.340, de 03 de janeiro de 2008.

Autoridade Central: United States Department of Justice.

Legislação interna sobre cooperação:

A Lei federal estadunidense que rege a cooperação por meio de

Cartas Rogatórias é a U.S. Code Title 28 Sec. 1781 U.S. International

Assistance Statute.

A cooperação direta com tribunais estadunidenses é regida pela Lei

U.S. Code Title 28 Sec. 1782.

Nessa relação de normas de cooperação

internacional entre Brasil e Estados Unidos da América, constata-se

que não há nenhuma que garanta a execução dos bens da empresa

reclamada ou de seus sócios naquele país, solicitada por meio de

carta rogatória. No particular, ressalto que a lei denominada

“International Assistance Statute” dispõe apenas acerca de cartas

rogatórias com a finalidade de obter testemunho ou declaração, ou

produção de documento ou outra prova para utilização em processo em

tribunal estrangeiro ou internacional.

O exequente, por sua vez, sustenta que há

possibilidade real de atendimento do pedido de constrição de bens

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pela jurisdição estrangeira, tendo em vista a lei “Uniform Foreign

Money-Judgments Recognition Act” (UFMJRA) que, segundo sustenta,

prevê que qualquer sentença de um país estrangeiro deferindo ou

indeferindo a recuperação de um valor em dinheiro pode ser

homologada nos Estados Unidos, desde que não seja sentença de cunho

penal, tributário ou de direito de família.

Mas, como se verifica das próprias alegações

recursais, a lei estadunidense mencionada pelo exequente refere-se a

“homologação de sentença estrangeira” no território daquele país e,

não, a exequatur de carta rogatória, que é uma medida distinta.

O seguinte artigo mencionado pelo próprio

exequente, de autoria de Fabiano Deffenti, analisa a lei

mencionada e esclarece melhor seu alcance

(https://jus.com.br/artigos/6890/a-homologacao-e-execucao-de-

sentencas-brasileiras-nos-estados-unidos):

Primeiramente, deve-se entender que ao contrário do Brasil, é de

competência das cortes estaduais a normatização do processo a ser utilizado

para homologação de sentenças estrangeiras. Isso porque, na concepção

federativa dos Estados Unidos, estabelecida em sua Constituição, a

independência de cada estado é muito maior daquela que temos no Brasil.

A Uniform Foreign Money-Judgments Recognition Act ("UFMJRA")

é uma lei modelo elaborada pela National Conference of Commissioners on

Uniform State Laws, órgão que trabalha em prol da harmonização das

normas em todo o país. O UFMJRA foi promulgado em mais de 30 Estados

norte-americanos, entre eles encontram-se os Estados de Nova Iorque,

Califórnia, Massachusetts, Texas e Flórida. O UFMJRA altera pouco as

normas jurisprudenciais que regiam a matéria antes de sua promulgação (as

normas provindas da common law).

A definição de "sentença estrangeira" na seção 1 do UFMJRA

expressa que "qualquer sentença de um país estrangeiro deferindo ou

indeferindo a recuperação de um valor em dinheiro" pode ser homologada

nos Estados Unidos, desde que não seja uma sentença de cunho penal

(multas e outras penas pecuniárias), tributário (para cobrança de tributos

brasileiros) ou de direito de família (para cobrança de alimentos). Destarte,

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a lei é bastante abrangente, permitindo a homologação da maioria das

sentenças brasileiras, inclusive aquelas provindas dos tribunais do trabalho.

Em Hilton v. Guyot, a Suprema Corte dos Estados Unidos admitiu a

possibilidade de homologação de sentenças estrangeiras no país, com base

no respeito (comity) entre as nações. Porém, na época, condicionou a

homologação à existência de reciprocidade por parte do país donde a

sentença provém. Com o acórdão em Eire Railroad Co. v Tompkins e,

principalmente, com a promulgação do UFMJRA, esse requisito foi

eliminado, não podendo ser utilizado como forma de oposição à

homologação da sentença estrangeira.

As seções 2 e 3 do UFMJRA preveem que uma sentença estrangeira

será homologada quando esta for "final e conclusiva" e executável no local

onde foi prolatada, mesmo que ainda esteja sendo recorrida ou que seja

passível de recursos. O teor da sentença homologada terá o mesmo

poder executório que uma sentença provinda de outro Estado norte-

americano.

Na sua seção 4(a), a UFMJRA expressa que uma sentença não será

considerada "conclusiva" se:

(1) o ordenamento jurídico de onde esta provém não proporciona

tribunais imparciais ou procedimentos condizentes com o devido processo

legal;

(2) o tribunal estrangeiro não tinha competência para citar o réu; ou

(3) o tribunal estrangeiro não tinha competência para resolver a lide.

Uma mera diferença processual entre o sistema norte-americano e o

sistema brasileiro não será suficiente para impedir a homologação da

sentença – tem de se haver "séria injustiça".

Em certas circunstâncias, fica ao critério do tribunal perante a qual a

sentença poderá ser homologada a homologação, ou não, da sentença. A

seção 4(b) da UFMJRA lista as circunstâncias:

(1) se o réu não foi citado com tempo suficiente para se defender;

(2) se a sentença foi obtida por fraude;

(3) se a causa de pedir fere a ordem pública do Estado onde a

sentença está sendo homologada;

(4) se a sentença conflita com outra sentença "final e conclusiva" já

existente;

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(5) se o processo no tribunal estrangeiro era contrário a um acordo

entre partes determinando que a lide deveria ser resolvida de outra

forma, que não por processo naquele tribunal; ou

(6) no caso da competência depender somente da citação pessoal, se o

foro estrangeiro era "seriamente inconveniente" para o julgamento

da ação.

Nesses quesitos é importante uma análise mais profunda do caso

concreto, principalmente levando-se em consideração as diferenças dos

sistemas jurídicos americano e brasileiro. Por exemplo, na recente decisão

em HSBC USA, Inc. v. Prosegur Paraguay, S.A., os tribunais paraguaios

foram considerados demasiadamente "corruptos e inaptos" para que suas

sentenças fossem passíveis de homologação nos Estados Unidos.

Ainda, ressalta-se a diferença sobre a determinação de competência

com base na citação e dos princípios de forum non conveniens (parágrafo

4(b)(6)). O princípio do forum non conveniens rege que as cortes norte-

americanas devem suspender o processo permanentemente se houver um

outro foro mais conveniente para julgar a lide, independentemente se o foro

mais conveniente estiver dentro ou fora do país – ao contrário do que ocorre

nos artigos 88 a 90 do Código de Processo Civil.

EXECUÇÃO DA SENTENÇA

Uma vez que a sentença é homologada pelo tribunal competente,

a sentença passará pelos mesmos procedimentos de execução que uma

sentença daquele foro teria; isto é, é um título executivo judicial com o

mesmo teor de uma sentença local. Usa-se aqui a palavra

"procedimentos", pois no sistema anglo-americano não há um processo

separado para a execução da sentença judicial, somente procedimentos que

se aplicam à sentença.

Os procedimentos disponíveis para o credor exequente variam de

estado para estado, mas normalmente incluem a penhora dos bens

(attachment) do devedor executado, inclusive de sua moradia; o re-

direcionamento da receita do devedor executado, inclusive de seu salário;

ou a denúncia do devedor executado por não cumprimento das ordens da

corte (contempt of court). Esses procedimentos são obtidos através de

petições junto às cortes, decididos sem citação da outra parte, ou mesmo

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automaticamente após o não cumprimento dos termos da sentença prolatada

pela corte pelo devedor.

Se a sentença ainda estiver sujeita a recurso no tribunal brasileiro,

poderá o réu no processo americano pedir a suspensão do processo de

homologação. Fica ao critério do tribunal a suspensão ou não do processo,

mas normalmente tais pedidos serão deferidos, garantindo a suspensão

temporária do processo.

COMENTÁRIO

Mesmo com o crescimento do comércio internacional e,

principalmente, o aumento significativo das importações e exportações

brasileiras, nos parece que a opção de executar os devedores no exterior é

por muitos ignorada como alternativa viável. Vê-se que tanto empresas

como indivíduos que tenham bens fora do país podem ter estes penhorados

e vendidos para que suas dívidas judiciais sejam satisfeitas.

Como visto acima, a homologação de sentença brasileira no

exterior pode ser um método de execução seguro e rápido, permitido

que aqueles que já obtiveram seus direitos reconhecidos pelos tribunais

brasileiros possam buscar, no exterior, aquilo que lhes é devido.

O Ministério da Justiça também esclarece a questão

relativa à homologação de sentenças estrangeiras, inclusive nos

Estados Unidos da América, nos seguintes termos

(https://www.justica.gov.br/sua-protecao/cooperacao-

internacional/cooperacao-juridica-internacional-em-materia-

civil/orientacao-por-diligencia/homologacao-de-sentencas-

estrangeiras):

1. O que é um processo de homologação de sentença estrangeira?

É um processo que visa a conferir eficácia a um ato judicial

estrangeiro. Qualquer provimento, inclusive não judicial, proveniente de

uma autoridade estrangeira, só terá eficácia no Brasil após sua

homologação pelo Superior Tribunal de Justiça (art. 216-B do Regimento

Interno do Superior Tribunal de Justiça).

“Nenhum Estado pode pretender que os julgados de seus tribunais

tenham força executória, ou valor jurisdicional em jurisdição estranha”.

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MP 2.200-2/2001, que instituiu a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira.

CASTRO, Amílcar de, Direito Internacional Privado, 5ª edição, Ed.

Forense, 1996, p. 267.

(...)

3. Como os outros países tratam as decisões estrangeiras?

a) Dinamarca, Holanda, Noruega e Suécia – não reconhecem as

decisões estrangeiras, que são tratadas como mero fato;

b) Estados Unidos e Reino Unido – a sentença estrangeira é aceita

como prova e serve como fundamento para ação a ser instaurada

nesses países;

c) França – a sentença estrangeira é revisada em seus aspectos

formais e de mérito, sendo substituída por decisão local;

d) Bélgica – a sentença estrangeira pode ter seu mérito revisado, mas

não ocorre a sua substituição.

(...)

6. Como requerer a homologação de sentenças brasileiras no

exterior?

A legislação interna do Estado estrangeiro onde se deseje a

homologação da sentença proferida no Brasil determinará o

procedimento para a homologação de sentenças oriundas de

autoridades brasileiras. Via de regra, será necessário requerer a

homologação junto a um tribunal ou corte estrangeira. Vide o item 7, a

seguir, onde constam as regras observadas pelo Brasil em casos

semelhantes e que, geralmente, também são levadas em conta pelos outros

países.

Outra forma de solicitar, no exterior, a homologação de

sentenças brasileiras em matéria civil, é formular o pedido por meio de

carta rogatória, desde que exista tratado prevendo tal procedimento.

Até o momento, é possível realizar pedidos da natureza com base nos

tratados bilaterais com a Espanha, a França e a Itália, bem como para

Argentina, Bolívia, Chile, Paraguai e Uruguai, com base no Acordo de

Cooperação e Assistência Jurisdicional em Matéria Comercial,

Trabalhista e Administrativa entre os Estados Partes do MERCOSUL,

a República da Bolívia e a República do Chile.

(...)

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Em suma, não há como reconhecer que o

indeferimento da pretensão formulada pelo exequente afronta o art.

5.º, LV, da Constitucional. Isso porque a possibilidade de

atendimento a carta rogatória com conteúdo executório,

especificamente para os Estados Unidos da América, dependeria de

previsão em acordo firmado entre os dois países, ou convenção

internacional à qual ambos tivessem aderido (inexistentes), ou de

norma interna daquele país que autorizasse a pretensão (da qual não

se tem conhecimento). Na inexistência dessas normas, restaria a via

diplomática que, tal como ressaltado pelo TRT de origem, não tem

eficácia garantida.

Aliás, considerando-se que o conjunto normativo

internacional que trata da matéria em relação aos Estados Unidos

afasta a possibilidade de carta rogatória com conteúdo executório,

conclui-se que o procedimento dificilmente alcançaria a finalidade

pretendida, ainda mais considerando-se que a sentença que transitou

em julgado não foi proferida contra as pessoas física e jurídica que

se pretende executar naquele país (incluídas no polo passivo apenas

na fase de execução, sem intimação prévia).

Nego provimento.

ISTO POSTO

ACORDAM os Ministros da Sexta Turma do Tribunal

Superior do Trabalho, por unanimidade, negar provimento ao agravo de

instrumento.

Brasília, 4 de Maio de 2016.

Firmado por assinatura digital (MP 2.200-2/2001)

KÁTIA MAGALHÃES ARRUDA Ministra Relatora

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