a atua§£o da psicologia escolar na educa§£o superior: proposta

310
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INSTITUTO DE PSICOLOGIA Programa de Pós-Graduação em Processos de Desenvolvimento Humano e Saúde A ATUAÇÃO DA PSICOLOGIA ESCOLAR NA EDUCAÇÃO SUPERIOR: PROPOSTA PARA OS SERVIÇOS DE PSICOLOGIA Cynthia Bisinoto Evangelista de Oliveira Brasília, março de 2011

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UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA

INSTITUTO DE PSICOLOGIA

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Processos de

Desenvolvimento Humano e Sauacutede

A ATUACcedilAtildeO DA PSICOLOGIA ESCOLAR

NA EDUCACcedilAtildeO SUPERIOR

PROPOSTA PARA OS SERVICcedilOS DE PSICOLOGIA

Cynthia Bisinoto Evangelista de Oliveira

Brasiacutelia marccedilo de 2011

ii

UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA

INSTITUTO DE PSICOLOGIA

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Processos de

Desenvolvimento Humano e Sauacutede

A ATUACcedilAtildeO DA PSICOLOGIA ESCOLAR

NA EDUCACcedilAtildeO SUPERIOR

PROPOSTA PARA OS SERVICcedilOS DE PSICOLOGIA

Cynthia Bisinoto Evangelista de Oliveira

Tese apresentada ao Instituto de Psicologia

da Universidade de Brasiacutelia como requisito

parcial agrave obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Doutor em

Processos de Desenvolvimento Humano e

Sauacutede aacuterea de concentraccedilatildeo

Desenvolvimento Humano e Educaccedilatildeo

Orientadora Professora Drordf Claisy Maria Marinho-Arauacutejo

Brasiacutelia marccedilo de 2011

iii

UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA

INSTITUTO DE PSICOLOGIA

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Processos de

Desenvolvimento Humano e Sauacutede

TESE APROVADA PELA SEGUINTE BANCA EXAMINADORA

___________________________________________

Profordf Drordf Claisy Maria Marinho-Arauacutejo - Presidente

Universidade de Brasiacutelia Instituto de Psicologia

___________________________________________

Profordf Drordf Raquel Souza Lobo Guzzo - Membro externo

Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Campinas Poacutes-Graduaccedilatildeo em Psicologia

__________________________________________

Profordf Drordf Marlis Morosini Polidori - Membro externo

Centro Universitaacuterio Metodista IPA

___________________________________________

Profordf Drordf Marisa Maria Brito da Justa Neves - Membro interno

Universidade de Brasiacutelia Instituto de Psicologia

___________________________________________

Profordf Drordf Denise de Souza Fleith - Membro interno

Universidade de Brasiacutelia Instituto de Psicologia

___________________________________________

Profordf Drordf Marly de Jesus Silveira - Suplente

Universidade de Brasiacutelia Faculdade de Educaccedilatildeo

Brasiacutelia marccedilo de 2011

iv

AGRADECIMENTOS

Aos meus queridos e amados pais Lucas e Sueli pelos ensinamentos e afetos que desde a

mais tenra idade fazem de mim quem sou hoje

Agrave minha adorada irmatilde Kelen super amiga por sempre apoiar e acreditar nos meus

projetos

Ao Luciano companheiro e grande amor por respeitar as minhas escolhas incentivar a

concretizaccedilatildeo dos meus sonhos e por participar da minha vida sempre com muita alegria

Agrave Claisy para aleacutem de orientadora exemplo de dedicaccedilatildeo persistecircncia seriedade e

confianccedila Obrigada por compartilhar de forma sincera e generosa seus conhecimentos

convicccedilotildees competecircncias virtudes e afetos e por acreditar nas minhas potencialidades quando eu

muitas vezes nem as tinha percebido

Ao professor Leandro Almeida co-orientador no Doutorado Sanduiacuteche pela

disponibilidade em me acolher e em compartilhar sua vasta experiecircncia e sabedoria

Agrave professora Marisa Brito exemplo marcante de energia pela alegre convivecircncia e pelos

momentos descontraiacutedos de profundo aprendizado

Agrave professora Denise Fleith pela serenidade e carinho com que compartilha conhecimentos

e vivecircncias que tecircm alargado os meus horizontes

Agrave professora Raquel Guzzo pela riqueza dos ldquonossosrdquo diaacutelogos que tecircm sido

particularmente importantes na construccedilatildeo da minha trajetoacuteria em Psicologia Escolar

Agrave professora Marlis Polidori pelas discussotildees e incentivos agrave articulaccedilatildeo da Psicologia

Escolar com a Educaccedilatildeo Superior

Agrave professora Marly Silveira por participar da banca deste trabalho e contribuir para o

seu aperfeiccediloamento

Aos professores Dilvo Ristoff e Maria Claacuteudia Lopes Marlis Polidori e Marisa Brito

pelas contribuiccedilotildees oferecidas na Jornada de Projetos do PGPDS e no exame de qualificaccedilatildeo

respectivamente

Ao Senac-DF e agrave Fac Senac-DF nas figuras do Prof Luiacutes Otaacutevio e Profordf Flaacutevia Silveira

por confiarem e colaborarem com o desenvolvimento deste trabalho

Aos amigos e familiares que tecircm acompanhado incentivado e admirado meu percurso

Aos colegas do Laboratoacuterio de Psicologia Escolar antigos e receacutem chegados pela

circulaccedilatildeo de ideias sugestotildees e apoio Agrave Ana Clara pela convivecircncia fraterna e saudaacutevel

v

Ao CNPq e agrave CAPES pela concessatildeo das bolsas de doutorado e doutorado sanduiacuteche

respectivamente

Agrave coordenaccedilatildeo do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Processos de Desenvolvimento

Humano e Sauacutede pelo apoio acadecircmico

Aos participantes desse estudo no Brasil e em Portugal pela disponibilidade em

colaborar e mostrar diferentes formas de ser psicoacutelogo escolar

vi

Oliveira C B E (2011) A atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo Superior proposta para

os Serviccedilos de Psicologia Tese de Doutorado Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

RESUMO

A Psicologia Escolar tem como eixo de atuaccedilatildeo a mediaccedilatildeo dos processos de aprendizagem e de desenvolvimento humano Apesar de historicamente ter se vinculado agrave escola outros contextos institucionais tambeacutem revestidos da funccedilatildeo educativa vecircm sendo reconhecidos como espaccedilos potenciais de aprendizagem formaccedilatildeo e desenvolvimento humano Um destes contextos emergentes de atuaccedilatildeo e pesquisa em Psicologia Escolar eacute a Educaccedilatildeo Superior que tem como finalidade formar sujeitos para a vida em sociedade Entretanto em virtude das inuacutemeras e complexas transformaccedilotildees caracteriacutesticas da sociedade contemporacircnea as Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior (IES) tecircm se confrontado com desafios e dilemas relacionados ao seu papel frente agraves demandas do mercado agrave expansatildeo quantitativa das instituiccedilotildees e dos cursos agrave efetividade dos programas de apoio ao acesso e permanecircncia agrave adequaccedilatildeo dos objetivos pedagoacutegicos e institucionais agrave realidade dos estudantes agrave qualificaccedilatildeo do corpo docente agrave necessidade de inovaccedilotildees curriculares e pedagoacutegicas entre outros Para enfrentar de forma mais eficiente estes desafios as IES tecircm desenvolvido algumas estrateacutegias como a criaccedilatildeo de Serviccedilos de Psicologia Com o intuito de conhecer o trabalho dos psicoacutelogos escolares nestes Serviccedilos este estudo teve como objetivo investigar a atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar em Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior Especificamente propocircs-se (a) compor um panorama dos Serviccedilos de Psicologia em IES do Brasil e de Portugal (b) mapear e analisar a atuaccedilatildeo de psicoacutelogos escolares em instituiccedilotildees do Distrito Federal (DF) e de Portugal (c) investigar experiecircncias diferenciadas de atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo Superior (d) acompanhar a atuaccedilatildeo de um psicoacutelogo escolar em uma IES do DF e (e) elaborar uma proposta de criaccedilatildeo e estruturaccedilatildeo de Serviccedilos de Psicologia na Educaccedilatildeo Superior A pesquisa foi estruturada em dois estudos um realizado no contexto brasileiro e outro no contexto portuguecircs tendo ambos contemplado as etapas de Mapeamento dos Serviccedilos de Psicologia e de Mapeamento da atuaccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares A primeira etapa buscou elaborar panoramas nacionais dos Serviccedilos de Psicologia das IES de cada paiacutes e apresentar uma caracterizaccedilatildeo destes serviccedilos a segunda teve como meta o estudo e anaacutelise da atuaccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares A configuraccedilatildeo deste trabalho eacute multimetodoloacutegica com abordagem qualitativa e quantitativa que se ancora nos pressupostos epistemoloacutegicos e metodoloacutegicos da perspectiva histoacuterico-cultural Os resultados indicaram que Brasil e Portugal apresentam grande diversidade em termos da estrutura e funcionamento dos Serviccedilos havendo alguns mais dedicados ao apoio psicoloacutegico aos discentes em uma perspectiva individual e remediativa de intervenccedilatildeo e outros orientados para accedilotildees coletivas de formaccedilatildeo e de desenvolvimento de competecircncias com os estudantes acolhimento a calouros e apoio agrave transiccedilatildeo para o mercado profissional Realizam tambeacutem assessoria aos professores e coordenadores de curso e colaboram com oacutergatildeos e unidades da instituiccedilatildeo Comparecem nos discursos e praacuteticas dos psicoacutelogos escolares o foco em accedilotildees preventivas e institucionais Com base nestes resultados apresentou-se uma proposta de criaccedilatildeo e estruturaccedilatildeo para os Serviccedilos de Psicologia na Educaccedilatildeo Superior que representa um esforccedilo de consolidaccedilatildeo e legitimaccedilatildeo do trabalho da Psicologia Escolar no Sistema de Educaccedilatildeo Superior Palavras-chave Psicologia Escolar Educaccedilatildeo Superior Serviccedilos de Psicologia Desenvolvimento Humano Atuaccedilatildeo Institucional

vii

Oliveira C B E (2011) The performance of School Psychology in Higher Education Proposal

for Psychology Services Tese de Doutorado Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

ABSTRACT

The School Psychology has as axis of action the promotion of the processes of learning and human development Although historically it has been associated to the school others institutional contexts also endowed with the educational function have been recognized as potential spaces of learning formation and human development One of these emergent contexts of work and research is the Higher Education which aims to prepare subjects for life in society However because of the numerous and complex changes that are characteristic of contemporary society the Higher Education Institutions (HEIs) have been confronted with challenges and dilemmas their role face to the marketrsquos demands the quantitative expansion of institutions and courses the effectiveness of the programs of access and maintenance support the adequacy of educational and institutional goals to students reality the teachersrsquo qualification the need for curricular and pedagogical innovations among others To address more effectively these challenges HEIs have created some strategies like the Services of Psychology Trying to know the work that has been done by school psychologists in these Services this study aimed to investigate the practice of the School Psychology in Higher Education Institutions Specifically it was proposed (a) to elaborate a framework of the Psychology Services in Brazil and Portugal (b) to map and analyze the action of school psychologists in institutions of the Distrito FederalBrazil and Portugal (c) to investigate differentiated experiences of action in Higher Education (d) to accompany the practice of a school psychologist in a HEI of the Distrito Federal and (e) to design a proposal of creation and function to the Psychology Services in Higher Education The research was structured in two studies one conducted in the Brazilian context and the other in the Portuguese context Both studies involved mapping Services of Psychology and mapping the performance of school psychologists The first phase sought to develop national overviews of Psychology Services in HEIs of each country and present a characterization of these services the second phase was aimed at studying and analyzing the performance of school psychologists This research is multimethodology with qualitative and quantitative analyses and is based on epistemological and methodological framework of historical and cultural perspective The results indicated that Brazil and Portugal present great diversity in the operating conditions and scope of interventions of the Services having some of them more dedicated to the psychological support to student in an individual and treatment perspective of intervention and others that work with programs of skill development welcome new students (freshmen) and support to the transition to the labor market They also carry out support to the teachingndashlearning process and collaborate with other units of the institution participating in selection and training processes If traditionally the Psychology Services were oriented by an individual perspective of intervention and in response to the studentsacute problem nowadays they have been working in preventive and institutional practices including actions with other agents Based in these results it was presented a proposal of creation and structuring of Services of Psychology in Higher Education which means an effort towards the consolidation and legitimization of the work of School Psychology in Higher Education Keywords School Psychology Higher Education Psychology Services Human Development Institutional Action

viii

SUMAacuteRIO

IacuteNDICE DE TABELAS x

IacuteNDICE DE FIGURAS xi

INTRODUCcedilAtildeO 12

CAPIacuteTULO I - ATUACcedilAtildeO EM PSICOLOGIA ESCOLAR TRANSFORMACcedilOtildeES E

PERSPECTIVAS

16

Origem e Consolidaccedilatildeo da Psicologia Escolar 16

O advento da Psicologia Escolar no mundo e no Brasil 16

A revisatildeo criacutetica em Psicologia Escolar e seus desdobramentos 21

Para aleacutem da criacutetica o estabelecimento de uma nova Psicologia Escolar 25

O perfil profissional do psicoacutelogo escolar e os desafios agrave formaccedilatildeo 33

Praacuteticas e Contextos de Atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar 37

Praacuteticas contemporacircneas de atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar no Brasil 37

A presenccedila da Psicologia Escolar no mundo 51

Educaccedilatildeo Superior um novo contexto de atuaccedilatildeo para a Psicologia Escolar 54

Os Serviccedilos de Apoio Psicoloacutegico em Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior 55

A Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo Superior brasileira 58

A Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo Superior de Portugal 63

CAPIacuteTULO II - EDUCACcedilAtildeO SUPERIOR HISTOacuteRIA CARACTERIacuteSTICAS E

DESAFIOS

68

Histoacuterico da Educaccedilatildeo Superior 68

A constituiccedilatildeo histoacuterica das instituiccedilotildees educativas 68

O surgimento das Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior no mundo as diferentes ideias

acerca de universidade e de Educaccedilatildeo Superior

71

A emergecircncia das Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior no Brasil 74

Universidade Ensino Superior ou Educaccedilatildeo Superior Aproximaccedilotildees e distinccedilotildees

entre os termos

78

Caracteriacutesticas Funccedilotildees e Desafios da Educaccedilatildeo Superior na contemporaneidade 82

A atual estrutura e funcionamento da Educaccedilatildeo Superior brasileira 82

Questotildees atuais na Educaccedilatildeo Superior 94

Processos de ampliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior brasileira 94

Modalidades em Educaccedilatildeo Superior EAD e Cursos Tecnoloacutegicos 97

Inovaccedilotildees curriculares e pedagoacutegicas 101

Avaliaccedilatildeo como recurso agrave garantia da qualidade da Educaccedilatildeo Superior 102

A crise da Educaccedilatildeo Superior 110

A Educaccedilatildeo Superior diante dos interesses econocircmicos contemporacircneos 114

Breve histoacuterico e cenaacuterio recente da Educaccedilatildeo Superior em Portugal 120

ix

CAPIacuteTULO III - DEFINICcedilAtildeO DO PROBLEMA DE PESQUISA 128

Problematizaccedilotildees 128

Objetivos 129

CAPIacuteTULO IV - OPCcedilOtildeES EPISTEMOLOacuteGICAS E METODOLOacuteGICAS 130

A Pesquisa Cientiacutefica em Psicologia na Perspectiva Histoacuterico-Cultural Reflexotildees

Epistemoloacutegicas

130

A Epistemologia Qualitativa e suas contribuiccedilotildees metodoloacutegicas 133

Procedimentos Metodoloacutegicos 135

Cenaacuterio e contexto definiccedilatildeo do campo de investigaccedilatildeo 135

Desenho metodoloacutegico caminhos para a construccedilatildeo das informaccedilotildees 136

Estudo 1 - Brasil 138

Estudo 2 - Portugal 146

Proposta para a criaccedilatildeo e estruturaccedilatildeo de Serviccedilos de Psicologia 148

Procedimentos para anaacutelise das informaccedilotildees 148

CAPIacuteTULO V - RESULTADOS E DISCUSSAtildeO 153

Estudo 1 - Brasil 153

Estudo 2 - Portugal 196

Siacutentese dos estudos 1 e 2 216

Proposta para a criaccedilatildeo e estruturaccedilatildeo de Serviccedilos de Psicologia na Educaccedilatildeo

Superior brasileira

219

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 259

REFEREcircNCIAS 267

ANEXOS 291

x

IacuteNDICE DE TABELAS

Tabela 1 Evoluccedilatildeo do nuacutemero de IES segundo a categoria administrativa 86

Tabela 2

Quantitativo de IES por organizaccedilatildeo acadecircmica e categoria administrativa em

2009 87

Tabela 3

Distribuiccedilatildeo dos docentes nas IES por organizaccedilatildeo acadecircmica e categoria

administrativa em 2009 88

Tabela 4 Evoluccedilatildeo da graduaccedilatildeo a distacircncia 89

Tabela 5 Evoluccedilatildeo dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo 92

Tabela 6 Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior de Portugal 124

Tabela 7

Estruturaccedilatildeo do processo de acompanhamento da psicoacuteloga escolar em uma IES

do DF 144

Tabela 8

Encontros relativos ao acompanhamento da praacutetica realizados com a psicoacuteloga

escolar 145

Tabela 9 Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior do Brasil com Serviccedilo de Psicologia 154

Tabela 10 Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior do Distrito Federal com Serviccedilo de Psicologia 160

Tabela 11 Caracterizaccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares que atuam em IES do Distrito Federal 163

Tabela 12

Atividades realizadas pelos psicoacutelogos escolares nos Serviccedilos de Psicologia do

Distrito Federal 165

Tabela 13

Zona de sentido 1 Quem eacute o psicoacutelogo escolar Consideraccedilotildees sobre o perfil

profissional 173

Tabela 14

Zona de sentido 2 O que e como fazer em Psicologia Escolar Consideraccedilotildees

acerca das possibilidades de intervenccedilatildeo 181

Tabela 15

Zona de sentido 3 Formaccedilatildeo continuada como recurso auxiliar agrave construccedilatildeo do

perfil e da atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar 188

Tabela 16

Indicadores de perfil construiacutedos a partir do acompanhamento da psicoacuteloga

escolar em uma IES do DF 193

Tabela 17

Indicadores de atuaccedilatildeo construiacutedos a partir do acompanhamento da psicoacuteloga

escolar em uma IES do DF 194

Tabela 18 Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior de Portugal com Serviccedilo de Psicologia 197

Tabela 19 Caracterizaccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares que atuam em IES de Portugal 206

Tabela 20

Atividades realizadas pelos psicoacutelogos escolares nos Serviccedilos de Psicologia de

Portugal 210

xi

IacuteNDICE DE FIGURAS

Figura 1 Organizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior no Brasil 83

Figura 2 Distribuiccedilatildeo das IES segundo as regiotildees brasileiras no ano de 2009 84

Figura 3 Distribuiccedilatildeo das IES no territoacuterio brasileiro segundo as regiotildees 85

Figura 4 Distribuiccedilatildeo do corpo docente segundo as regiotildees brasileiras em 2009 87

Figura 5 Evoluccedilatildeo das matriacuteculas nos cursos superiores de tecnologia 90

Figura 6 Dez maiores cursos de graduaccedilatildeo por matriacuteculas em 2009 90

Figura 7 Organizaccedilatildeo do Sistema Educativo de Portugal 122

Figura 8 Distribuiccedilatildeo das universidades puacuteblicas em Portugal 124

Figura 9 Distribuiccedilatildeo das universidades privadas em Portugal 125

Figura 10 Distribuiccedilatildeo de vagas na Educaccedilatildeo Superior de Portugal 126

Figura 11

Desenho metodoloacutegico relativo agrave investigaccedilatildeo da atuaccedilatildeo da Psicologia

Escolar na Educaccedilatildeo Superior 137

Figura 12 Profissionais que integram os Serviccedilos de Psicologia do Brasil 155

Figura 13 Puacuteblico atendido pelos Serviccedilos de Psicologia do Brasil 156

Figura 14

Atividades desenvolvidas pelos psicoacutelogos escolares nos Serviccedilos de

Psicologia do Brasil 157

Figura 15 Puacuteblico atendido pelos Serviccedilos de Psicologia de Portugal 199

Figura 16

Atividades desenvolvidas pelos psicoacutelogos escolares nos Serviccedilos de

Psicologia de Portugal 201

Figura 17

Dimensotildees e eixos de intervenccedilatildeo em Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo

Superior 229

12

INTRODUCcedilAtildeO

O tema de interesse que orienta o desenvolvimento deste estudo eacute a atuaccedilatildeo da Psicologia

Escolar na Educaccedilatildeo Superior sendo que a escolha por esta temaacutetica se daacute pela confluecircncia de

fatores pessoais profissionais cientiacuteficos e acadecircmicos conforme descritos nesta apresentaccedilatildeo

Desde a conclusatildeo da graduaccedilatildeo tenho trabalhado como psicoacuteloga escolar Por quase cinco

anos atuei em uma escola particular do Distrito Federal que oferece desde a educaccedilatildeo infantil ateacute o

ensino meacutedio Foi durante esta experiecircncia profissional que tive a oportunidade de realizar o

mestrado em Psicologia na Universidade de Brasiacutelia no qual investiguei o papel do psicoacutelogo

escolar na relaccedilatildeo entre a famiacutelia e a escola especificamente no acircmbito do ensino meacutedio Seis

meses apoacutes a conclusatildeo do mestrado ingressei no doutorado na mesma instituiccedilatildeo com o interesse

inicial de dar continuidade agraves investigaccedilotildees sobre a relaccedilatildeo famiacutelia-escola

Nos primeiros meses do curso tive contato com alguns relatos de experiecircncia profissional

de consultoria e de pesquisa que indicavam a possibilidade de intervenccedilatildeo e de investigaccedilatildeo da

Psicologia Escolar em outros contextos para aleacutem do tradicional ou seja as escolas de educaccedilatildeo

infantil e ensino fundamental especialmente A partir das reflexotildees suscitadas por esses relatos e

das discussotildees e consideraccedilotildees que transcorreram nas orientaccedilotildees acadecircmicas mobilizei-me para a

investigaccedilatildeo da Psicologia Escolar em espaccedilos diferenciados ao da escola especificamente a

Educaccedilatildeo Superior e os contextos empresariais que estatildeo investindo em accedilotildees de educaccedilatildeo

continuada Em ambos os casos motivava-me explorar a contribuiccedilatildeo da Psicologia Escolar na

mediaccedilatildeo do desenvolvimento humano adulto e no processo de mudanccedila dos profissionais adultos

que trabalham nestes espaccedilos

Neste mesmo momento em que eu considerava os desafios e perspectivas relativas a estas

duas opccedilotildees de pesquisa surgiu a oportunidade de trabalhar como psicoacuteloga escolar em uma

Instituiccedilatildeo de Educaccedilatildeo Superior privada do Distrito Federal o que foi determinante para a escolha

da Educaccedilatildeo Superior como objeto de estudo no doutorado A faculdade em questatildeo estava no seu

segundo ano de funcionamento e assumindo seu compromisso com as estrateacutegias

institucionalmente definidas em relaccedilatildeo agrave promoccedilatildeo do processo de formaccedilatildeo discente decidiu

implantar um serviccedilo de Psicologia Escolar Assim em setembro de 2008 comecei a trabalhar

como psicoacuteloga escolar na Educaccedilatildeo Superior Em virtude da abertura e receptividade da

instituiccedilatildeo a novas propostas e da minha identificaccedilatildeo pessoal e profissional com uma perspectiva

mais ampla de atuaccedilatildeo tive oportunidade de desenvolver accedilotildees que considero diferentes daquelas

que tradicionalmente caracterizam o trabalho da aacuterea nesse contexto Realizei atividades de

desenvolvimento pessoal com os membros do corpo teacutecnico-administrativo participei do

planejamento e execuccedilatildeo do processo de autoavaliaccedilatildeo institucional coordenei e conduzi junto

com outros profissionais um programa de formaccedilatildeo continuada para os docentes realizei oficinas

13

de orientaccedilatildeo profissional com os discentes entre outras Em maio de 2009 licenciei-me da

instituiccedilatildeo para me dedicar exclusivamente ao doutorado

Tendo estabelecido a Educaccedilatildeo Superior como campo de pesquisa trecircs fatores em

especial reforccedilaram o interesse pelo tema a pouca produccedilatildeo brasileira voltada agraves possiacuteveis

contribuiccedilotildees especiacuteficas da Psicologia Escolar a este niacutevel educativo o reconhecimento de que a

vinculaccedilatildeo da Psicologia Escolar com o processo de desenvolvimento humano estaacute em estreita

articulaccedilatildeo com a responsabilidade da Educaccedilatildeo Superior com a formaccedilatildeo de cidadatildeos a qual estaacute

para aleacutem da formaccedilatildeo teacutecnica e a convicccedilatildeo de que a Psicologia Escolar ancorada em sua

compromisso social pode contribuir para a construccedilatildeo de uma sociedade mais igualitaacuteria justa e

humana

Definido o objeto de estudo deste trabalho - a atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo

Superior - mergulhei em um processo de revisatildeo da literatura de estudo e de aprofundamento

relacionado agrave Psicologia Escolar e agrave Educaccedilatildeo Superior bem como de definiccedilatildeo dos procedimentos

metodoloacutegicos que poderiam subsidiar a investigaccedilatildeo desse objeto Durante este processo de estudo

e organizaccedilatildeo da pesquisa surgiu a possibilidade de realizar o estaacutegio de doutorado do exterior

comumente conhecido como Doutorado Sanduiacuteche que representava uma oportunidade singular de

ampliar a investigaccedilatildeo para aleacutem do contexto brasileiro e do Distrito Federal que era o foco inicial

deste estudo Alguns fatores viabilizaram a realizaccedilatildeo do Doutorado Sanduiacuteche em Portugal

conforme detalhado a seguir

Desde 2007 a Universidade de Brasiacutelia (UnB) estabelece relaccedilotildees de parceria e pesquisa

em conjunto com o Centro de Investigaccedilatildeo de Poliacuteticas do Ensino Superior de Portugal (CIPES)

por intermeacutedio do Laboratoacuterio de Psicologia Escolar (PED) e do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em

Desenvolvimento Humano e Sauacutede (PGPDS) No acircmbito do Acordo de Cooperaccedilatildeo e Intercacircmbio

acadecircmico teacutecnico-cientiacutefico e cultural (DOU nordm 206 de 23102008) celebrado entre a UnB e o

CIPES estabeleceu-se um projeto de pesquisa com o objetivo de analisar comparativamente os

principais indicadores da Educaccedilatildeo Superior do Brasil e de Portugal Outro objetivo da pesquisa eacute

tambeacutem o de verificar as influecircncias de tais indicadores em poliacuteticas educacionais e no

desenvolvimento de competecircncias discentes Aleacutem de pesquisadores da UnB e do CIPES integram

tambeacutem a pesquisa investigadores da Universidade do MinhoBraga (Portugal)

Na Universidade de Brasiacutelia o estudo eacute coordenado pela Profordf Drordf Claisy Maria Marinho-

Arauacutejo e conta com a participaccedilatildeo de pesquisadores ligados ao PGPDS professores doutores

alunos de mestrado e de doutorado No CIPES a responsabilidade pela coordenaccedilatildeo e

desenvolvimento da pesquisa estaacute a cargo do Prof Dr Alberto Amaral e do Prof Dr Pedro Nuno

Teixeira e na Universidade do MinhoBraga a pesquisa estaacute vinculada ao Instituto de Educaccedilatildeo e

Psicologia e eacute coordenada pelo Prof Dr Leandro da Silva Almeida

Entre as metas de formaccedilatildeo da pesquisa conjunta previu-se contribuir com a formaccedilatildeo e

qualificaccedilatildeo profissional dos pesquisadores envolvidos por meio do aprofundamento e

14

aperfeiccediloamento de professores e discentes dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo das IES participantes

Eacute no acircmbito desta meta de formaccedilatildeo que idealizou-se a realizaccedilatildeo de estaacutegio de doutorado no

exterior em Portugal sob a orientaccedilatildeo do Professor Leandro Almeida

Alguns dos interesses de investigaccedilatildeo do Professor Leandro vinculados agrave Educaccedilatildeo

Superior referem-se a questotildees relacionadas agrave democratizaccedilatildeo deste niacutevel educativo aos processos

de transiccedilatildeo e adaptaccedilatildeo agrave universidade e agrave promoccedilatildeo do sucesso acadecircmico Estudos que tem

coordenado e participado versam sobre atitudes e estrateacutegias de aprendizagem em estudantes do

Ensino Superior fatores de sucesso e insucesso escolar e desenvolvimento psicossocial satisfaccedilatildeo

acadecircmica dos universitaacuterios adaptaccedilatildeo dos alunos do primeiro ano desenvolvimento e validaccedilatildeo

de escala de integraccedilatildeo social no Ensino Superior entre outros

Aleacutem de estar envolvido com a investigaccedilatildeo e produccedilatildeo na interface Psicologia e Educaccedilatildeo

Superior o Professor Leandro eacute um pesquisador de referecircncia na histoacuteria da Psicologia Escolar

brasileira e internacional Entre os anos de 1991 e 1994 coordenou juntamente com a Professora

Raquel Guzzo expoente da aacuterea no Brasil e com projeccedilatildeo internacional o projeto luso-brasileiro de

pesquisa intitulado ldquoEstudo da situaccedilatildeo da Psicologia Escolar nos paiacuteses de liacutengua Portuguesa e

Espanholardquo que tinha a intenccedilatildeo de contribuir para o crescimento da aacuterea e consolidaccedilatildeo da

profissatildeo

Os resultados desta pesquisa culminaram com a publicaccedilatildeo do livro ldquoPsicologia Escolar

padrotildees e praacuteticas em paiacuteses de liacutengua espanhola e portuguesardquo (Guzzo Almeida amp Wechsler

1993) do qual o Professor Leandro eacute autor do capiacutetulo referente agrave experiecircncia portuguesa e um dos

organizadores juntamente com as professoras Raquel Guzzo e Solange Wechsler O livro eacute o

primeiro de uma seacuterie regular que desde entatildeo vem sendo publicada pelo Grupo de Trabalho em

Psicologia Escolar da ANPEPP (Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-Graduaccedilatildeo e Pesquisa em

Psicologia) Essa eacute uma das razotildees pelas quais o Professor Leandro Almeida eacute um interlocutor

singular na articulaccedilatildeo entre a Psicologia Escolar e a Educaccedilatildeo Superior tendo o doutorado

sanduiacuteche sido realizado sob sua orientaccedilatildeo no 1ordm semestre de 2010 Sendo assim este trabalho de

tese foi realizado com base em dois estudos um desenvolvido no Brasil e outro em Portugal os

quais natildeo tecircm caraacuteter comparativo

No que diz respeito agrave Psicologia Escolar almeja-se contribuir para a reflexatildeo teoacuterico-

conceitual e para produccedilatildeo de conhecimento que tenha o potencial de enriquecer e fomentar tanto a

formaccedilatildeo dos novos psicoacutelogos quanto a melhor qualificaccedilatildeo daqueles que jaacute estatildeo no mercado de

trabalho O envolvimento com a formaccedilatildeo inicial e continuada de psicoacutelogos escolares eacute um

compromisso que tem sido assumido pelos pesquisadores da aacuterea nos uacuteltimos 20 anos e que eacute

reafirmado neste trabalho

Pretende-se tambeacutem auxiliar na consolidaccedilatildeo da identidade do psicoacutelogo escolar

especificamente daquele que atua na Educaccedilatildeo Superior por meio da identificaccedilatildeo de recursos e

competecircncias que satildeo essenciais agrave sua praacutetica e o distinguem de outros profissionais da educaccedilatildeo

15

A confusatildeo de papeacuteis ou mesmo a indefiniccedilatildeo satildeo queixas comuns e fonte de anguacutestia entre os

psicoacutelogos escolares Haacute que se assegurar entatildeo o compromisso cientiacutefico de apresentar

indicaccedilotildees que orientem a praacutetica em Psicologia Escolar uma vez que a clareza acerca da natureza

e especificidade das accedilotildees eacute o que possibilita ao profissional desenvolver seu trabalho de forma

segura e interdependente em relaccedilatildeo agraves demais Este eacute tambeacutem um dos compromissos deste

trabalho

Pautando-se na compreensatildeo de que a pesquisa cientiacutefica e a praacutetica profissional satildeo

complementares devendo uma subsidiar a outra este trabalho pretende ter um caraacuteter

eminentemente teoacuterico-praacutetico Isto eacute espera-se igualmente contribuir para a construccedilatildeo do

conhecimento e para a assessoria agrave praacutetica profissional jaacute que de um lado a inserccedilatildeo no contexto

de pesquisa alimenta por meio da anaacutelise e interpretaccedilotildees dos indicadores o processo teoacuterico e

por outro provoca nos participantes reflexotildees revisotildees e ressignificaccedilotildees que satildeo potencialmente

transformadoras de suas accedilotildees Pretende-se entatildeo apoiar o aprimoramento profissional de pelo

menos um psicoacutelogo escolar que atua na Educaccedilatildeo Superior de forma a oportunizar-lhe

transformaccedilotildees na construccedilatildeo de sua identidade e na sua atuaccedilatildeo por meio da atualizaccedilatildeo da

produccedilatildeo na aacuterea e do incentivo a novas praacuteticas profissionais

Ademais eacute intenccedilatildeo deste trabalho contribuir para dar visibilidade agrave Educaccedilatildeo Superior

como campo legiacutetimo de atuaccedilatildeo e de pesquisa em Psicologia Escolar Para que os profissionais da

aacuterea consigam se estabelecer neste novo cenaacuterio de atuaccedilatildeo eacute necessaacuterio que se evidencie o apoio

que podem trazer agraves IES de forma que estas possam reconhececirc-los como importantes colaboradores

frente aos desafios contemporacircneos

Eacute portanto diante da associaccedilatildeo destes fatores pessoais profissionais e acadecircmicos que

este trabalho tem como questatildeo central a praacutetica da Psicologia Escolar em Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo

Superior tanto em termos da configuraccedilatildeo atual desta relaccedilatildeo quanto no que diz respeito a novas e

diferentes possibilidades que possa adquirir Eacute importante destacar que um forte interesse que tenho

eacute a de que o trabalho acadecircmico natildeo se limite agrave descriccedilatildeo do fenocircmeno em estudo mas envolva

tambeacutem um processo de intervenccedilatildeo sobre a praacutetica Assim para este doutorado um dos objetivos

traccedilados foi o de acompanhar um profissional da aacuterea pois tenho certeza que um processo de

assessoria agrave praacutetica profissional do psicoacutelogo escolar que atua na Educaccedilatildeo Superior agrave luz das

produccedilotildees e reflexotildees contemporacircneas em muito iraacute contribuir para a transformaccedilatildeo de

concepccedilotildees e das praacuteticas em Psicologia Escolar

A tese estaacute organizada em duas partes A primeira delas dedicada agrave revisatildeo de literatura

contempla os capiacutetulos que tratam da Psicologia Escolar e da Educaccedilatildeo Superior A segunda parte

estaacute centrada na pesquisa e eacute composta por um capiacutetulo que traz os objetivos outro que apresenta

as orientaccedilotildees teoacuterico-metodoloacutegicas e por uacuteltimo um capiacutetulo de resultados e discussatildeo Ao final

tecem-se algumas consideraccedilotildees acerca deste estudo e apresentam-se as referecircncias bibliograacuteficas e

os anexos

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CAPIacuteTULO I

ATUACcedilAtildeO EM PSICOLOGIA ESCOLAR

TRANSFORMACcedilOtildeES E PERSPECTIVAS

Este capiacutetulo estaacute organizado em duas partes A primeira recorrente nos estudos em

Psicologia Escolar deteacutem-se agrave trajetoacuteria histoacuterica da aacuterea desde seu surgimento marcado por

praacuteticas psicomeacutetricas e por objetivos adaptacionistas passando pelo processo de revisatildeo criacutetica

pelo qual atravessou ateacute a sua constituiccedilatildeo contemporacircnea Apesar do conteuacutedo destas primeiras

seccedilotildees jaacute estarem contemplados em muitos estudos considera-se pertinente retomaacute-lo pois a

anaacutelise e interpretaccedilatildeo de dados conjunturais agrave luz das influecircncias e determinaccedilotildees histoacutericas satildeo

fundamentais para a compreensatildeo de um objeto de estudo Em virtude do estaacutegio inicial das

pesquisas que exploram a relaccedilatildeo entre a Educaccedilatildeo Superior e a Psicologia Escolar natildeo eacute possiacutevel

prescindir da recuperaccedilatildeo histoacuterica desta uacuteltima tendo em vista que pode favorecer a compreensatildeo

dos rumos que ela tomou Na sequecircncia discuti-se acerca das principais diretrizes que vecircm

orientando a atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar e contribuindo para a construccedilatildeo de accedilotildees

comprometidas com a formaccedilatildeo humana e cidadatilde e na uacuteltima seccedilatildeo dessa parte aborda-se ainda o

desafio da formaccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares de acordo com as diretrizes que vecircm orientando a

atuaccedilatildeo na aacuterea

A segunda parte deste capiacutetulo estaacute centrada nas praacuteticas de intervenccedilatildeo e apresenta na

primeira seccedilatildeo um modelo de atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar com base em uma ampla concepccedilatildeo

do que seja Educaccedilatildeo e as possiacuteveis contribuiccedilotildees da ciecircncia psicoloacutegica agraves finalidades das praacuteticas

educativas Ainda nesta seccedilatildeo satildeo contempladas as diversas accedilotildees que podem ser desenvolvidas

pelos psicoacutelogos escolares no acircmbito deste modelo de atuaccedilatildeo Na seccedilatildeo seguinte apresenta-se um

panorama internacional da Psicologia Escolar fazendo uma siacutentese de como estaacute sendo

compreendida e desenvolvida em outros paiacuteses Encerrando o capiacutetulo apresenta-se o estado da

arte sobre a atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar no contexto da Educaccedilatildeo Superior tanto

internacionalmente quanto no contexto brasileiro

ORIGEM E CONSOLIDACcedilAtildeO DA PSICOLOGIA ESCOLAR

O Advento da Psicologia Escolar no Mundo e no Brasil

Uma revisatildeo ainda que breve sobre a histoacuteria da Psicologia Escolar no mundo aponta para

o reconhecimento nos mais diferentes paiacuteses de vaacuterias iniciativas que contribuiacuteram para o

surgimento e consolidaccedilatildeo da aacuterea Em relato histoacuterico voltado agrave compreensatildeo da evoluccedilatildeo

mundial da Psicologia Escolar Oakland e Stenberg (1993) apontam que nos 50 anos que seguiram

ao nascimento da Psicologia cientiacutefica ndash em 1879 na Alemanha com Wundt e a criaccedilatildeo do

primeiro laboratoacuterio de Psicologia ndash houve um grande crescimento desta aacuterea de conhecimento e

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tambeacutem da Psicologia Escolar especialmente nos paiacuteses da Ameacuterica do Norte e da Europa

Ocidental

Segundo Correia e Campos (2004) os primeiros trabalhos nos quais se reconhece uma

Psicologia preocupada com o processo educativo satildeo os de Francis Galton Alfred Binet e James

Castell na Inglaterra na Franccedila e nos Estados Unidos respectivamente Em 1886 Galton criou em

Londres o primeiro laboratoacuterio de psicometria dedicado ao estudo das diferenccedilas individuais entre

alunos a partir da mensuraccedilatildeo de suas capacidades mentais Tendo transitado pela biologia

estatiacutestica psicologia experimental e pelos testes psicoloacutegicos o principal objetivo de Francis

Galton era medir a capacidade intelectual das pessoas buscando comprovar sua determinaccedilatildeo

hereditaacuteria (Patto 1999) Galton acreditava que as aptidotildees humanas eram herdadas o que o levou

a se preocupar com as diferenccedilas individuais assumidas por ele como sendo de origem bioloacutegica e

com a identificaccedilatildeo dos mais e menos aptos em virtude de tais diferenccedilas

Por sua tentativa de estimar o niacutevel intelectual das pessoas Galton pode ser considerado o

precursor dos testes psicoloacutegicos apesar de ter sido somente em 1905 na Franccedila com Binet e

Simon que se deu a construccedilatildeo da primeira escala meacutetrica de inteligecircncia infantil voltada agrave

classificaccedilatildeo das crianccedilas de acordo com sua capacidade mental O desenvolvimento dessa escala

decorreu de preocupaccedilotildees com o diagnoacutestico e a educaccedilatildeo de crianccedilas que apresentavam

dificuldades para aprender e se pautava na intenccedilatildeo de orientar programas especiais com objetivo

de favorecer o crescimento e progresso dessas crianccedilas

Em 1916 a escala Binet-Simon foi modificada nos Estados Unidos o que favoreceu ainda

mais a divulgaccedilatildeo e aceitaccedilatildeo do trabalho com testes psicoloacutegicos Tambeacutem neste paiacutes eacute que se

atribuiu a James Castell aluno de Galton a criaccedilatildeo do termo ldquotestes mentaisrdquo para designar os

instrumentos de medida que possibilitam comparar as capacidades das pessoas em diferentes

domiacutenios (Correia amp Campos 2004)

Na medida em que a psicometria ia ao encontro das necessidades de entender as diferenccedilas

existentes entre as pessoas e de explicar as dificuldades de algumas crianccedilas para aprender o uso

de testes psicoloacutegicos se difundiu e ganhou reconhecimento Os testes passaram a ser largamente

utilizados nas escolas para seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo dos alunos respaldando a separaccedilatildeo entre os

bons e maus alunos os aptos e natildeo aptos os capazes e incapazes os normais e anormais Tanto eacute

assim que Oakland e Stenberg (1993) em menccedilatildeo a dados de pesquisa sobre o trabalho da

Psicologia no ano de 1948 dizem que ldquona maioria dos paiacuteses os psicoacutelogos escolares eram

responsaacuteveis pelo diagnoacutestico de crianccedilas excepcionais para identificar e tratar vaacuterias dificuldades

educacionaisrdquo (p 16)

Diante do apresentado constata-se que o surgimento da Psicologia Escolar

internacionalmente esteve atrelado ao desenvolvimento e aplicaccedilatildeo de testes psicoloacutegicos voltados

agrave investigaccedilatildeo das condiccedilotildees mentais ou intelectuais dos alunos como forma de identificar aqueles

que apresentavam dificuldades especiacuteficas e portanto demandavam intervenccedilotildees diferenciadas

18

adaptaccedilotildees Conforme resumem Correia e Campos (2004) ldquoo grande sucesso da psicometria indica

a perspectiva assumida pela Psicologia Escolar desde o seu nascimento da identificaccedilatildeo com um

modelo de aplicabilidade teacutecnica voltada para a classificaccedilatildeo seleccedilatildeo e adaptaccedilatildeo dos indiviacuteduosrdquo

(p 140)

Em sua articulaccedilatildeo inicial com a Educaccedilatildeo a Psicologia entre outras aacutereas do

conhecimento contribuiu para camuflar as desigualdades sociais historicamente construiacutedas sob o

argumento de desigualdades pessoais biologicamente determinadas (Patto 1999) A produccedilatildeo da

Psicologia no mundo ocidental esteve influenciada pelo controle ideoloacutegico de uma classe

dominante tendo a Psicologia Escolar carregado esta influecircncia ao longo de seu desenvolvimento

No contexto brasileiro os rumos tomados pela Psicologia Escolar seguiram aqueles que a

caracterizaram mundialmente ou seja marcado pela psicometria A presenccedila da Psicologia Escolar

no Brasil pode ser identificada desde os tempos coloniais eacutepoca em que jaacute haviam preocupaccedilotildees

com fenocircmenos psicoloacutegicos que participam do processo educativo (Antunes 2003 2007 2008

Correia amp Campos 2004 Cruces 2003) Entretanto neste periacuteodo soacute eacute possiacutevel fazer referecircncia a

ideias psicoloacutegicas uma vez que ainda natildeo eram desenvolvidas pesquisas e investigaccedilotildees que

expressassem preocupaccedilatildeo com a produccedilatildeo de conhecimento cientiacutefico

Apesar da existecircncia de tais ideias no periacuteodo colonial a aproximaccedilatildeo inicial da Psicologia

com a Educaccedilatildeo no Brasil eacute associada agrave preocupaccedilatildeo com o estudo de meacutetodos de ensino e

processos envolvidos na aprendizagem e no desenvolvimento no contexto das faculdades de

Medicina e de Direito que se estabelecerem no paiacutes apoacutes a transferecircncia da corte portuguesa Estas

faculdades tinham a responsabilidade de formar os quadros administrativos do paiacutes e foram nelas

que se reuniram os primeiros cientistas brasileiros principalmente meacutedicos leitores da produccedilatildeo

cientiacutefica europeia

Neste periacuteodo a Medicina ocupou importante papel na sociedade brasileira de forma que

na segunda metade do seacuteculo XIX ldquoo campo educacional emerge como campo conformado pelo

discurso meacutedico uma vez que os meacutedicos passam a definir regras para a organizaccedilatildeo e

funcionamento da educaccedilatildeo escolarrdquo (Zucoloto 2007 p 138) Sobre a influecircncia da Medicina nas

questotildees educacionais Patto (1999) complementa dizendo que os primeiros especialistas a se

ocuparem dos casos de dificuldade de aprendizagem escolar foram os meacutedicos que transferiram dos

hospitais para as escolas o conceito de anormalidade vinculado aos loucos ldquoAs crianccedilas que natildeo

acompanhavam seus colegas na aprendizagem escolar passaram a ser designadas como anormais

escolares e as causas de seu fracasso satildeo procuradas em alguma anormalidade orgacircnicardquo (Patto

1999 p 63)

Um importante desdobramento da accedilatildeo da Medicina sobre a Educaccedilatildeo foi a geraccedilatildeo do

fenocircmeno descrito como medicalizaccedilatildeo da sociedade (Zucoloto 2007) que se refere ao

compromisso da Medicina e do Estado com a higienizaccedilatildeo das cidades e das populaccedilotildees em

decorrecircncia do reconhecimento de que a ordem e o progresso sociais dependiam da construccedilatildeo de

19

conceitos regras de higiene normas de moral e prescriccedilatildeo de comportamentos aceitos socialmente

Em defesa da higiene mental escolar criaram-se redes de cliacutenicas psicoloacutegicas e de orientaccedilatildeo

infantil focadas em corrigir os desajustamentos das crianccedilas Estas cliacutenicas serviam agraves escolas por

meio do diagnoacutestico e tratamento das dificuldades de aprendizagem

Acerca da influecircncia meacutedica na compreensatildeo dos fenocircmenos educativos Collares e

Moyseacutes (1994) a descrevem muito apropriadamente indicando que a medicalizaccedilatildeo eacute uma tentativa

de encontrar no campo meacutedico as causas e soluccedilotildees para problemas de origem eminentemente

social e poliacutetica Transformavam-se assim questotildees natildeo-meacutedicas em questotildees meacutedicas centrava-

se o processo sauacutede-doenccedila no indiviacuteduo privilegiando a abordagem bioloacutegica o que entre outros

desdobramentos fez com que o diagnoacutestico da natildeo-aprendizagem fosse atribuiacutedo ao sujeito

individual - o aluno - ou no maacuteximo agrave sua famiacutelia

O que se denominou de modelo meacutedico de atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar corresponde

entatildeo agrave praacutetica psicoloacutegica pautada em concepccedilotildees deterministas e reducionistas que camuflam

problemas sociais historicamente construiacutedos atraveacutes da atribuiccedilatildeo de causas individuais Em vez

de uma compreensatildeo multideterminada sobre os fenocircmenos humanos e as dificuldades de

aprendizagem o modelo meacutedico adotado pela Psicologia Escolar centrava-se em aspectos

orgacircnicos individuais para explicar as diferenccedilas entre as pessoas Como bem lembra Patto (1999)

ldquohoje sabemos que desse expressivo movimento das deacutecadas de vinte e trinta restou a praacutetica de

submeter a diagnoacutesticos meacutedico-psicoloacutegicos as crianccedilas que natildeo respondem agraves exigecircncias das

escolasrdquo (p 67)

Dessa forma as explicaccedilotildees para as causas das dificuldades de aprendizagem e para o

rendimento desigual entre os alunos tiveram como contribuiccedilatildeo principal os instrumentos de

avaliaccedilatildeo das aptidotildees Muitos foram os profissionais da Psicologia que a exemplo dos meacutedicos se

empenharam em desenvolver e aplicar instrumentos de medidas com a intenccedilatildeo de verificar o

quanto uma pessoa era mais apta do que outra Desconsiderando as influecircncias ambientais e

relacionais que agem sobre o desenvolvimento humano os testes psicoloacutegicos ingressaram nas

escolas e passaram desde entatildeo a fazer parte de seu cotidiano Conforme destacam Guzzo e

Wechsler (1993) os serviccedilos psicoloacutegicos brasileiros priorizavam a avaliaccedilatildeo da prontidatildeo escolar

a organizaccedilatildeo de classes especiais o diagnoacutestico e encaminhamento para serviccedilos especializados

contribuindo para que se constituiacutesse ldquouma atuaccedilatildeo marcadamente remediativa com nuances do

modelo meacutedico dentro da situaccedilatildeo escolarrdquo (p 43)

Diante do exposto evidencia-se que a entrada da Psicologia na Educaccedilatildeo se deu mediante a

preocupaccedilatildeo com os problemas apresentados por alunos que demonstravam dificuldades para

aprender e natildeo se adequavam agraves expectativas das escolas Estas uacuteltimas por sua vez baseavam-se

em um modelo ideal de aluno segundo o qual todas as crianccedilas submetidas a condiccedilotildees iguais de

ensino deveriam aprender da mesma forma e no mesmo ritmo Com base nesse modelo supunha-

se que os alunos que tinham dificuldade para aprender natildeo tinham as condiccedilotildees intelectuais

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necessaacuterias para tal aprendizado uma vez que foram submetidos a um ensino padratildeo igualmente

oferecido a todos Estes alunos portanto apresentavam alguma deficiecircncia que devia ser

identificada e tratada Abriram-se assim portas para a inserccedilatildeo da Psicologia nas escolas a qual se

vinculou a objetivos de corrigir e adaptar agrave escola o aluno portador de um problema de

aprendizagem (Correia amp Campos 2004 Tanamachi 2000) Para efetivar esta adaptaccedilatildeo o

psicoacutelogo lanccedilava matildeo essencialmente da avaliaccedilatildeo psicoloacutegica por meio de recursos

psicomeacutetricos tida como funccedilatildeo do psicoacutelogo A esse respeito Campos e Jucaacute (2003) afirmam que

a adoccedilatildeo dos instrumentos psicoloacutegicos de classificaccedilatildeo no interior das instituiccedilotildees

educativas se encontra no nosso paiacutes na origem do que se conhece como a Psicologia

Escolar e Educacional Tais procedimentos refletiam a migraccedilatildeo para o interior da escola

do modelo cliacutenico de atuaccedilatildeo e do seu instrumental (p 39)

Eacute nesse contexto adaptacionista e de correccedilatildeo que se deu a emergecircncia da figura do

psicoacutelogo escolar convocado agrave escola para resolver dificuldades escolares e propor meacutetodos

especiais de educaccedilatildeo tentando ajustar os alunos aos padrotildees de normalidade aceitos socialmente

O modelo de atuaccedilatildeo inicial da Psicologia Escolar ateacute o fim da deacutecada de 70 prezou pelo

diagnoacutestico e tratamento dos problemas de aprendizagem encarando-os como fenocircmenos

individuais de origem orgacircnica Por ser assim a aplicaccedilatildeo do modelo meacutedico de intervenccedilatildeo na

escola conduziu agrave psicologizaccedilatildeo do espaccedilo escolar uma vez que atribuiacutea ao proacuteprio aluno a culpa

por suas dificuldades de aprendizagem e isentava outras instacircncias e profissionais das suas

responsabilidades educativas (Campos amp Jucaacute 2003 Neves 2001 Neves amp Almeida 2003

Tanamachi 2000 Yazlle 1997)

Ao focalizar a origem dos problemas escolares nos alunos ou em suas famiacutelias como veio

a ocorrer e ao desconsiderar que os problemas de aprendizagem podem ser gerados pelo sistema de

ensino a Psicologia Escolar assumiu uma posiccedilatildeo bastante reducionista acerca das diversas

questotildees que participam da dinacircmica escolar Ainda que se reconheccedila positivamente a preocupaccedilatildeo

com os alunos que por alguma razatildeo natildeo aprendiam natildeo se pode negar que esta preocupaccedilatildeo

estava pouco vinculada ao direito de todos agrave educaccedilatildeo e a uma aprendizagem promotora do

desenvolvimento global e das potencialidades de cada um Ao contraacuterio o foco da atuaccedilatildeo da

Psicologia Escolar nesta eacutepoca estava em minimizar as dificuldades e deficiecircncias dos alunos e

adaptaacute-los ao padratildeo ideal desejado pelas instituiccedilotildees escolares Em vez do respeito e da

convivecircncia com a diferenccedila e a diversidade a preocupaccedilatildeo estava direcionada para sua eliminaccedilatildeo

e para a homogeneizaccedilatildeo do puacuteblico escolar

O advento da Psicologia Escolar no Brasil assim como no mundo fundamentou-se em um

modelo essencialmente psicomeacutetrico e cliacutenico que privilegiava o olhar sobre as caracteriacutesticas e

limitaccedilotildees dos indiviacuteduos e pouco se detinha sobre os condicionantes sociais e agraves relaccedilotildees

dialeacuteticas que participam do amplo e complexo processo educativo Tendo se expandido com base

em um modelo meacutedico de atuaccedilatildeo focado em questotildees individuais a Psicologia Escolar se deparou

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com a dificuldade de responder coerentemente agraves necessidades da Educaccedilatildeo e de contribuir

efetivamente para que esta cumprisse seu papel social e transformador

Diante do reconhecimento de que na qualidade de teacutecnico no interior da escola aplicador

de instrumentos de segmentaccedilatildeo o psicoacutelogo escolar tinha poucos elementos para conhecer e

analisar sistemicamente o contexto de trabalho no qual estava inserido pesquisadores e

profissionais da Psicologia Escolar passaram a criticaacute-la e a buscar novas formas de intervir

Instalou-se assim um importante periacuteodo de reflexotildees sobre a atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar bem

como sobre a formaccedilatildeo e de busca de alternativas diferenciadas de fazer Psicologia Dada a

relevacircncia dessas criacuteticas agrave trajetoacuteria da aacuterea e agrave sua contiacutenua construccedilatildeo a seccedilatildeo seguinte pretende

evidenciar os principais aspectos que contribuiacuteram para a revisatildeo e reformulaccedilatildeo do modelo de

atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar no Brasil

A Revisatildeo Criacutetica em Psicologia Escolar e seus Desdobramentos

Conforme apresentado na seccedilatildeo anterior a trajetoacuteria inicial da Psicologia Escolar foi

essencialmente marcada pelo psicodiagnoacutestico e pela avaliaccedilatildeo psicoloacutegica atividades

consideradas proacuteprias dos psicoacutelogos inseridos no contexto educacional e respaldadas por uma

perspectiva individualizante De posse do instrumental da psicometria os profissionais da aacuterea

desenvolviam suas atividades buscando entender os problemas escolares e fornecer as orientaccedilotildees

baacutesicas que pudessem solucionaacute-los Tais atividades eram orientadas sobretudo por concepccedilotildees

que desconsideravam a influecircncia de uma diversidade de fatores ndash sociais econocircmicos

ideoloacutegicos poliacuteticos institucionais relacionais entre outros ndash para aleacutem dos atribuiacutedos ao proacuteprio

sujeito ao aluno Em decorrecircncia dessa visatildeo acriacutetica acerca da complexidade que eacute caracteriacutestica

da realidade educativa as accedilotildees dos psicoacutelogos escolares pouco contribuiacuteam para transformar o

cotidiano das escolas

Ao final dos anos 70 e iniacutecio da deacutecada de 80 instalou-se no mundo e no Brasil um forte

movimento de criacutetica a este modelo de atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar que tinha como argumento

central o reducionismo e a desconsideraccedilatildeo dos fatores sociais e intraescolares na anaacutelise dos

problemas que transcorrem no espaccedilo educativo No Brasil o trabalho de Maria Helena Souza

Patto (1981 1984) eacute considerado um marco histoacuterico na trajetoacuteria da Psicologia Escolar por ter

evidenciado que o fracasso escolar termo adotado para designar as inuacutemeras formas de natildeo

aprendizagem em vez de ser um fenocircmeno exclusivamente relacionado a deficiecircncias e limitaccedilotildees

do proacuteprio aluno era muito mais uma estrateacutegia de manutenccedilatildeo da estrutura socioeconocircmica

vigente Diante dos estudos feitos pela autora muitas reflexotildees e questionamentos incidiram sobre

a atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar que ateacute entatildeo desconsiderava a influecircncia de um conjunto de

fatores implicados nos problemas escolares

Na opiniatildeo de Tanamachi (2000) a atuaccedilatildeo pouco criacutetica em Psicologia Escolar decorre de

concepccedilotildees que historicamente orientam o trabalho da aacuterea as quais camuflavam a verdadeira

22

realidade dos problemas educacionais por estarem ldquoideologicamente comprometidas com o status

quo cientiacutefico da Psicologia bem como da Educaccedilatildeordquo (p 79) Nessa direccedilatildeo a revisatildeo da atuaccedilatildeo

dos psicoacutelogos escolares precisava passar pela compreensatildeo da origem do pensamento psicoloacutegico

em sua relaccedilatildeo com as demandas sociais oriundas do desenvolvimento do capitalismo e sua

ideologia dominante pois que a construccedilatildeo cientiacutefica em Psicologia bem como em diversas aacutereas

do conhecimento natildeo eacute independente de motivos poliacuteticos e ideoloacutegicos

Tendo em vista o entrelaccedilamento entre a ciecircncia e as contradiccedilotildees e incoerecircncias que fazem

parte da sociedade Malheiro e Nader (1987) na deacutecada de 80 insistiam que nenhum pensamento

ideia ou reflexatildeo eram neutros de forma que ldquoo conhecimento cientiacutefico concretiza-se como

praacuteticas cientiacuteficas ligadas a uma praacutetica ideoloacutegica determinada no interior da qual os

conhecimentos satildeo produzidos transmitidos apropriados sancionados e aplicadosrdquo (p 9) No caso

da Psicologia a direccedilatildeo que a produccedilatildeo cientiacutefica e a intervenccedilatildeo da aacuterea tomaram atrelavam-se agrave

manutenccedilatildeo de uma estrutura socioeconocircmica segmentada e serviam para validar praacuteticas de

discriminaccedilatildeo exclusatildeo e dominaccedilatildeo Refletindo sobre as influecircncias ideoloacutegicas no

desenvolvimento da Psicologia e da Psicologia Escolar especificamente Meira (2000) ressalta que

a tese da existecircncia de compromissos ideoloacutegicos muito bem definidos pode ser claramente

comprovada atraveacutes da anaacutelise histoacuterica da produccedilatildeo teoacuterica em Psicologia que indica uma

tendecircncia hegemocircnica de desconsideraccedilatildeo por vezes completa das desigualdades sociais

e concomitantemente uma acentuada preocupaccedilatildeo com a construccedilatildeo de teorias e teacutecnicas

dirigidas principalmente agrave adaptaccedilatildeo social dos indiviacuteduos (p 48)

Eacute entatildeo diante do reconhecimento de que os profissionais da Psicologia Escolar precisam

ter clareza das influecircncias poliacuteticas e ideoloacutegicas que agem sobre suas escolhas e praacuteticas e da

necessidade de se comprometerem com uma atuaccedilatildeo efetivamente vinculada agrave democratizaccedilatildeo da

Educaccedilatildeo que se instalou um movimento de criacutetica e de revisatildeo acerca do trabalho desenvolvido

pela aacuterea As necessidades de superaccedilatildeo dos determinismos que caracterizaram a trajetoacuteria da

Psicologia Escolar e de adoccedilatildeo de compreensotildees mais abrangentes acerca da Psicologia e da

Educaccedilatildeo satildeo os principais pontos envolvidos nesse movimento A Psicologia Escolar

representada por seus pesquisadores e profissionais se envolveu entatildeo em intensas reflexotildees e

discussotildees acerca de ideias e praacuteticas que ao longo do tempo foram se consolidando como

caracteriacutesticas da aacuterea sem contudo provocarem mudanccedilas significativas frente aos dilemas e

problemas escolares

Entre os aspectos que foram objeto de anaacutelise nesse movimento incluem-se

essencialmente a formaccedilatildeo inicial e continuada em Psicologia Escolar e a atuaccedilatildeo profissional no

contexto educativo conforme evidenciam pesquisas estudos e relatos publicados nas uacuteltimas

deacutecadas (Almeida 2003 Campos 2007 Del Prette 2001 Guzzo 1999b Machado amp Proenccedila

2004 Marinho-Arauacutejo amp Almeida 2005a Marinho-Arauacutejo 2009b Martiacutenez 2005b Neves

Almeida Chaperman amp Batista 2002 Tanamachi Proenccedila amp Rocha 2000 Wechsler 1996) As

23

pesquisas desenvolvidas a partir das questotildees levantadas no movimento de revisatildeo da formaccedilatildeo e

da atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar versavam sobre o fracasso escolar a identidade profissional do

psicoacutelogo escolar a escolarizaccedilatildeo de crianccedilas especiais a formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional em uma

perspectiva criacutetica a avaliaccedilatildeo psicoloacutegica das dificuldades de aprendizagem entre outros temas

Os resultados das pesquisas e anaacutelises realizadas evidenciaram entre outros aspectos que

existe um consenso de que cabe ao psicoacutelogo escolar contribuir para melhorar a qualidade e

eficiecircncia do processo de ensino-aprendizagem como forma de promover nos mais diferentes

espaccedilos educativos o desenvolvimento dos sujeitos mas natildeo haacute entretanto uma unidade em

relaccedilatildeo agraves concepccedilotildees sobre como intervir nesse processo e quais procedimentos e instrumentos

utilizar (Correia amp Campos 2004) Dada a diversidade de concepccedilotildees e teorias acerca do mundo

do homem e dos processos de desenvolvimento e de aprendizagem tecircm-se igualmente praacuteticas

bastante diversificadas que se propotildeem a promover o desenvolvimento humano

Nessa direccedilatildeo Almeida (1999) apontou que o redimensionamento das praacuteticas em

Psicologia Escolar deveria passar obrigatoriamente pela revisatildeo e atualizaccedilatildeo do campo teoacuterico-

conceitual pois segundo ela ldquomuitos psicoacutelogos por natildeo terem clareza e lucidez suficientes sobre

os determinantes filosoacuteficos-ideoloacutegicos de determinadas teorias psicoloacutegicas adotam praacuteticas de

intervenccedilatildeo educativas paradoxalmente contraditoacuterias com o referencial teoacuterico que estes mesmos

psicoacutelogos dizem seguirrdquo (p 63) O conhecimento a anaacutelise e a apropriaccedilatildeo do psicoacutelogo escolar

em relaccedilatildeo agraves teorias psicoloacutegicas e as bases histoacuterica filosoacutefica e epistemoloacutegica que as

sustentam direcionam sua praacutetica de maneira que esta seraacute mais adequada ao contexto educativo

quanto maior for a clareza do profissional em relaccedilatildeo a tais bases

Um importante ponto discutido no seio do movimento de criacutetica agrave Psicologia Escolar eacute

portanto o reducionismo presente em teorias psicoloacutegicas que baseando-se em uma concepccedilatildeo de

homem naturalizada e fortemente biologizante respaldavam o trabalho profissional

Desconsiderando a influecircncia do meio sobre o homem e a accedilatildeo deste sobre o seu entorno as teorias

psicoloacutegicas simplificavam o entendimento de como as pessoas se desenvolvem e contribuiacuteram

para que fatores bioloacutegicos e neuroloacutegicos fossem vistos como determinantes na gecircnese das

dificuldades escolares O aprendizado e principalmente o seu oposto a natildeo aprendizagem eram

explicados por causas centradas no proacuteprio sujeito aprendente em detrimento das praacuteticas sociais e

escolares que favorecem ou dificultam o sucesso escolar levando as crianccedilas com dificuldades a

serem vistas como deficientes

Nessa direccedilatildeo Meira (2000) ressalta que ldquoo processo de culpabilizaccedilatildeo do aluno pela via

da patologizaccedilatildeo dos problemas escolares tem se fundamentado ao longo de nossa histoacuteria em

variadas abordagens teoacutericas que por mais diferentes caminhos expressam a mesma

desconsideraccedilatildeo pelas muacuteltiplas determinaccedilotildees da Educaccedilatildeordquo (p 53) Conforme alerta esta autora

adotar o discurso do compromisso da Psicologia Escolar para com a transformaccedilatildeo exige a

vinculaccedilatildeo a uma consistente base teoacuterica e filosoacutefica que decirc conta de concretizar essa

24

transformaccedilatildeo Guzzo (1999a) acrescenta ainda que a ecircnfase nesse modelo individualizante e

patologizante de atuaccedilatildeo eacute influenciada pelo tipo de formaccedilatildeo recebida pelos psicoacutelogos a qual

desprivilegia aacutereas de atuaccedilatildeo institucionais e comunitaacuterias e contribui para manter o foco nos

sujeitos individuais sem entretanto responder satisfatoriamente agraves demandas do contexto escolar

Corroborando essa ideia Conoley e Gutkin (1995) dizem que os programas de formaccedilatildeo

centram-se quase que totalmente nas habilidades praacuteticas mais apropriadas para trabalhar

individualmente com crianccedilas e portanto exploram longamente a avaliaccedilatildeo e os processos cliacutenicos

em detrimento da psicologia social do desenvolvimento organizacional das influecircncias sociais

entre outros toacutepicos ldquoEacute uma ciecircncia com raiacutezes histoacutericas em teoria da personalidade avaliaccedilatildeo

diagnoacutestico e tratamento de desordens mentais fornecendo pouco ou nenhuma orientaccedilatildeo para

aqueles interessados em iniciar uma mudanccedila organizacionalrdquo (Conoley amp Gutkin 1995 p 210)

Observa-se que natildeo se trata da Psicologia natildeo ter um corpo soacutelido de conhecimentos que possa

subsidiar a atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar em uma perspectiva mais ampla e menos individualizada

mas sim do interesse principal da aacuterea estar focado nos problemas dos indiviacuteduos em vez da

interaccedilatildeo com o contexto dinacircmico no qual as pessoas estatildeo inseridas

A revisatildeo criacutetica em Psicologia Escolar culminou entatildeo com a ressignificaccedilatildeo da atuaccedilatildeo

profissional e necessariamente da formaccedilatildeo que a sustenta as quais deveriam passar pela

apropriaccedilatildeo de referenciais teoacuterico-metodoloacutegicos que valorizassem a influecircncia de muacuteltiplos

elementos na conformaccedilatildeo dos problemas escolares reconhecessem a dimensatildeo histoacuterica da

realidade sobre a qual se interveacutem e o papel das interaccedilotildees sociais e privilegiassem accedilotildees coletivas

que contem com a participaccedilatildeo dos diferentes atores que fazem parte do espaccedilo educativo

assegurando a especificidade de cada um

Com o passar dos anos sob o compromisso de redirecionar a trajetoacuteria da Psicologia

Escolar no Brasil reflexotildees estudos e experiecircncias profissionais foram subsidiando a revisatildeo da

aacuterea de maneira a dar contorno a uma nova formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional as quais buscavam natildeo

mais se coadunar ldquoagrave descontextualizaccedilatildeo e fragmentaccedilatildeo do indiviacuteduo agrave naturalizaccedilatildeo dos

fenocircmenos do desenvolvimento humano agrave negaccedilatildeo do caraacuteter histoacuterico-cultural da subjetividade agrave

tentativa de lsquopsicologizaccedilatildeorsquo no cenaacuterio educacionalrdquo (Arauacutejo 2003 p 9) Os psicoacutelogos escolares

passaram a buscar uma atuaccedilatildeo menos psicologizante individualizada e focada na adaptaccedilatildeo do

aluno agrave escola pois reconheceram que tal praacutetica acabava por contribuir para a marginalizaccedilatildeo e a

exclusatildeo de uma parte dos alunos que natildeo recebia as intervenccedilotildees adequadas e necessaacuterias ao seu

desenvolvimento e aprendizagem

Dada a relevacircncia deste movimento de criacutetica na trajetoacuteria da Psicologia Escolar uma vez

que significou a ruptura com um modelo ineficaz Patto (1999) o reconhece como sendo ldquoum

marco nesta mudanccedila importantiacutessima de enfoque apoacutes tantos anos de predomiacutenio em buscar as

causas das dificuldades de aprendizagem escolar nas caracteriacutesticas psicossociais do aprendizrdquo (p

152)

25

Com o objetivo de ilustrar o direcionamento que as experiecircncias profissionais e pesquisas

desenvolvidas pela Psicologia junto agrave Educaccedilatildeo tecircm tomado em decorrecircncia dessa revisatildeo criacutetica

em Psicologia Escolar a proacutexima seccedilatildeo traz os principais aspectos que vecircm direcionando a atuaccedilatildeo

na aacuterea e contribuindo para dar-lhe uma formataccedilatildeo diferente e inovadora em relaccedilatildeo agravequela que

historicamente se desenvolveu

Para Aleacutem da Criacutetica o Estabelecimento de uma Nova Psicologia Escolar

Na introduccedilatildeo do livro de sua autoria Exerciacutecios de Indignaccedilatildeo composto por textos que

ilustram sua preocupaccedilatildeo com os absurdos paradoxos e injusticcedilas que permeiam a escola Patto

(2005) faz uma breve criacutetica agraves poliacuteticas educacionais propostas com o objetivo de melhorar a

formaccedilatildeo escolar e as intervenccedilotildees da Psicologia na Educaccedilatildeo Sobre estas uacuteltimas apesar de dizer

que ldquoimpressiona a permanecircncia de teorias normatizadoras e de praacuteticas classificadoras que zelam

pela permanecircncia do status quordquo (pp 11-12) reconhece que nem tudo foi desolaccedilatildeo pois

mudanccedilas reais e significativas se concretizaram na atuaccedilatildeo da Psicologia nas escolas

Se por um lado existem psicoacutelogos escolares mergulhados em ideias e praacuteticas que

reforccedilam a classificaccedilatildeo normatizaccedilatildeo e estigmatizaccedilatildeo dos alunos heranccedila da atuaccedilatildeo histoacuterica da

Psicologia Escolar por outro profissionais e pesquisadores tecircm investido em propostas e accedilotildees

baseadas na compreensatildeo histoacuterica social e relacional dos fenocircmenos escolares em concepccedilotildees

natildeo deterministas de desenvolvimento de aprendizagem e de avaliaccedilatildeo educacional em opccedilotildees

coletivas e menos individualizadas de intervenccedilatildeo

Em determinado momento foi indispensaacutevel agrave Psicologia Escolar se deparar com

indicaccedilotildees contundentes do que natildeo lhe cabia e do que natildeo era responsabilidade dos psicoacutelogos

escolares Entretanto o desafio que tem sido assumido contemporaneamente eacute o de propor e

experimentar novas possibilidades de intervenccedilatildeo ainda que estas estejam misturadas a praacuteticas

tradicionais conforme aponta Cruces (2003) ao lembrar que ldquoconvivem lado a lado modelos de

atuaccedilotildees e praacuteticas extremamente criacuteticas e inovadoras e atuaccedilotildees permeadas pela visatildeo curativa e

individualizadardquo (p 27)

A coexistecircncia de modelos tradicionais e inovadores indica inicialmente a necessidade de

maior investimento em prol da transformaccedilatildeo da Psicologia que se faz nas instituiccedilotildees educativas

mas representa tambeacutem o resultado de um processo persistente de autocriacutetica anaacutelise

desconstruccedilatildeo revisatildeo e inovaccedilatildeo tanto individuais quanto coletivas Em virtude da reformulaccedilatildeo

das estrateacutegias dos cursos de formaccedilatildeo e dos novos modelos de atuaccedilatildeo que vecircm sendo

desenvolvidos pelos psicoacutelogos inseridos em espaccedilos educativos Maluf (2003) defende com

veemecircncia a tese de que a ldquoPsicologia Escolar estaacute entrando em uma nova fase na qual se

multiplicam accedilotildees afirmativas que datildeo respostas a vigorosas e pertinentes criacuteticas formuladas

sobretudo na deacutecada de 1980rdquo (p 137) Eacute preciso entretanto evidenciar essas accedilotildees pois mais do

que apontar os aspectos sobre os quais recaem as criacuteticas agrave atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar eacute

26

essencial indicar aqueles que mesmo de forma natildeo homogecircnea estatildeo em emergecircncia e trazem

indicadores que satildeo potencialmente orientadores para a consolidaccedilatildeo dessa nova fase em Psicologia

Escolar

Dada a relevacircncia dessas novas accedilotildees na trajetoacuteria da Psicologia Escolar e na sua

consolidaccedilatildeo como campo de atuaccedilatildeo de pesquisa e de produccedilatildeo de conhecimento (Martiacutenez

2005 2007 2009 2010 Arauacutejo 2003 Marinho-Arauacutejo amp Almeida 2005a) a presente seccedilatildeo

indica as principais diretrizes que norteiam atualmente a atuaccedilatildeo na aacuterea Partindo principalmente

da revisatildeo da literatura produzida na uacuteltima deacutecada no Brasil pretende-se evidenciar os aspectos

mais relevantes que tecircm caracterizado um novo modelo de atuaccedilatildeo em consonacircncia com as

discussotildees e reflexotildees atuais acerca do desenvolvimento da Psicologia Escolar

Conforme jaacute apontado anteriormente a constituiccedilatildeo da Psicologia Escolar se deu em

atenccedilatildeo agraves crianccedilas que apresentavam dificuldade para aprender e por essa razatildeo demandavam

intervenccedilatildeo que atenuasse ou corrigisse a referida dificuldade Assim a atuaccedilatildeo inicial dos

profissionais da Psicologia tinha por base accedilotildees de caraacuteter remediativo que buscavam minimizar

um problema que jaacute estava instalado tanto que a ideia original do psicoacutelogo na escola associou-se a

de um profissional convocado para tratar de problemas (Maluf 1994) Diante das criacuteticas de que as

praacuteticas individualistas e psicologizantes baseadas em procedimentos curativos natildeo atendiam

adequadamente as necessidades das escolas esforccedilos foram feitos no sentido de conferir agrave atuaccedilatildeo

da Psicologia Escolar um caraacuteter mais preventivo

Comumente a noccedilatildeo de prevenccedilatildeo eacute relacionada agrave accedilatildeo de se antecipar a determinado

fenocircmeno com o objetivo de evitar que ele ocorra todavia a perspectiva preventiva na atuaccedilatildeo em

Psicologia Escolar busca superar a visatildeo de adaptaccedilatildeo Segundo Guzzo (2001 2003) o

desenvolvimento de praacuteticas preventivas implica alterar a oacutetica sob a qual o desenvolvimento das

crianccedilas e do ser humano de forma geral tem sido compreendido ou seja eacute preciso modificar a

ecircnfase do fracasso para o sucesso do distuacuterbio das dificuldades das doenccedilas e dos problemas para

a sauacutede as competecircncias e a qualidade de vida Trata-se nesta perspectiva de ldquoconstruir a sauacutede

em vez de contra-atacar a doenccedila ndash prevenir em vez de curarrdquo (Guzzo 2003 p 174)

Sobre o entendimento da atuaccedilatildeo preventiva Marinho-Arauacutejo e Almeida (2005a)

esclarecem que o conceito de prevenccedilatildeo natildeo se refere ao ajustamento e adequaccedilatildeo de situaccedilotildees e

comportamentos inadequados ou problemaacuteticos a padrotildees aceitos socialmente Diferentemente

desse posicionamento de controle social exercido a partir da padronizaccedilatildeo de comportamentos e

atitudes espera-se que o psicoacutelogo escolar em sua atuaccedilatildeo preventiva evidencie as contradiccedilotildees e

incoerecircncias entre as praacuteticas educativas e as demandas dos sujeitos que participam desse contexto

oportunizando efetivos processos de conscientizaccedilatildeo aos sujeitos envolvidos (Arauacutejo 2003)

Priorizar a perspectiva preventiva no trabalho da Psicologia com a Educaccedilatildeo implica

desenvolver accedilotildees junto aos profissionais da instituiccedilatildeo contribuindo para a identificaccedilatildeo dos

elementos pessoais e interpessoais subjetivos intersubjetivos e objetivos que contribuem ou

27

dificultam a consecuccedilatildeo de seus objetivos educacionais A accedilatildeo preventiva deve se redirecionar

para a compreensatildeo e intervenccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais que permeiam a construccedilatildeo do

conhecimento sendo que para tanto eacute preciso que o psicoacutelogo escolar instrumentalize-se no

sentido de estudar e entender as relaccedilotildees interpessoais como sendo sua unidade de anaacutelise seu foco

de atenccedilatildeo e de intervenccedilatildeo (Almeida 1999 Arauacutejo 2003 Arauacutejo amp Almeida 2003 Del Prette amp

Del Prette 1996 Marinho-Arauacutejo amp Almeida 2005a)

Sendo o homem um ser indiscutivelmente social sua trajetoacuteria de desenvolvimento eacute

resultado das interaccedilotildees que estabelece ao longo da vida tanto com o meio fiacutesico quanto social

Assumir as relaccedilotildees interpessoais como loacutecus privilegiado de intervenccedilatildeo em Psicologia Escolar

significa reconhecer o papel singular que elas tecircm no desenvolvimento das pessoas e na construccedilatildeo

de suas praacuteticas Por assim ser quando se estaacute orientado pela perspectiva preventiva e relacional de

atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar parte-se do pressuposto de que natildeo existem causas individuais para

os fenocircmenos escolares e da vida muito ao contraacuterio eles natildeo satildeo particulares pois estatildeo sempre

imbricados em uma rede de relaccedilotildees Dessa forma

os caminhos para a intervenccedilatildeo do psicoacutelogo escolar devem portanto estar ancorados na

compreensatildeo de que as relaccedilotildees sociais originam o processo interdependente de

construccedilotildees e apropriaccedilotildees de significados e sentidos que acontece entre os indiviacuteduos

influenciando reciacuteproca eou complementarmente como cada sujeito constitui-se

enquanto tal Para intervir na complexidade intersubjetiva presente nessas relaccedilotildees o

psicoacutelogo deve fazer uma escolha deliberada e consciente por uma atuaccedilatildeo preventiva

sustentada por teorias psicoloacutegicas cujo enfoque privilegie uma visatildeo de homem e

sociedade dialeticamente constituiacutedos em suas relaccedilotildees histoacutericas e culturais (Arauacutejo

2003 p 66)

Priorizar um posicionamento de caraacuteter preventivo e relacional supotildee que se crie um

espaccedilo de interlocuccedilatildeo com os atores escolares - professores coordenadores direccedilatildeo e outros -

tendo como foco os aspectos objetivos e subjetivos dos processos de desenvolvimento e de

aprendizagem (Arauacutejo 2003 Arauacutejo amp Almeida 2003) Valorizar e oportunizar intencionalmente

espaccedilos interativos entre os sujeitos escolares conduz agrave circulaccedilatildeo de opiniotildees valores anguacutestias

desejos incocircmodos e expectativas que direcionam a praacutetica desses sujeitos e contribuem ou natildeo

para o sucesso do processo educativo A interlocuccedilatildeo entre os diferentes atores eacute uma estrateacutegia

que coloca em circulaccedilatildeo os sentidos subjetivos por eles construiacutedos possibilitando-os reconhecer

a relaccedilatildeo existente entre a sua praacutetica e os elementos que a determinam A tomada de consciecircncia

dessa relaccedilatildeo eacute que traz entatildeo a possibilidade de transformar intencionalmente suas accedilotildees

Adotar um modelo de atuaccedilatildeo relacional natildeo implica abandonar por completo modalidades

de intervenccedilatildeo que focalizem os sujeitos individuais mas trata-se sobretudo de integrar a estas

accedilotildees institucionais e coletivas direcionadas para a rede de relaccedilotildees que eacute a base dos processos

pedagoacutegicos e de gestatildeo de uma instituiccedilatildeo Sob a precauccedilatildeo de natildeo adotar um modelo meacutedico-

28

individualizante eacute um equiacutevoco afirmar que o modelo de atuaccedilatildeo preventivo e relacional abdica do

olhar sobre os sujeitos individuais pois eacute destes que adveacutem o material de trabalho do psicoacutelogo

escolar ldquoInserir a dimensatildeo psicoloacutegica no interior das praacuteticas educativas pressupotildee articular

questotildees de ordem dos sujeitos e das instituiccedilotildees entrelaccedilando o individual com o coletivordquo

(Novaes 2003 p 132) sem abandonar o olhar e atenccedilatildeo ao sujeito individual Eacute como se a todo

momento o psicoacutelogo escolar tivesse que fazer um movimento dialeacutetico entre o que eacute da ordem do

individual e do coletivo buscando entender como estas duas instacircncias se imbricam mutuamente e

se reconstroem ressignificando-se

Diante do que foi exposto ateacute o momento percebe-se que a partir do movimento de criacutetica

agrave atuaccedilatildeo pautada em um modelo meacutedico e patologizante a Psicologia Escolar direcionou-se para

um modelo preventivo e relacional Este por sua vez abandonou a ecircnfase prioritaacuteria sobre o sujeito

individual e deslocou sua atenccedilatildeo para a complexa rede de relaccedilotildees pessoais e institucionais que

sustenta a dinacircmica escolar Essa mudanccedila de perspectiva - do individual para o social do

particular para o coletivo do micro para o macro - contribuiu para que se evidenciasse uma atuaccedilatildeo

de caraacuteter muito mais institucional Dessa maneira ldquoda imagem claacutessica do lsquoprofissional dos testesrsquo

tem-se hoje o psicoacutelogo interagindo e observando naturalmente os alunos planejando accedilotildees com

professores e pais dinamizando as relaccedilotildees interpessoais na escola e na comunidaderdquo (Guzzo

Almeida amp Wechsler 1993 p 7)

Os caminhos estabelecidos para uma intervenccedilatildeo institucional em Psicologia Escolar

portanto preventiva e relacional ancoram-se fundamentalmente em accedilotildees direcionadas agrave

conscientizaccedilatildeo dos sujeitos escolares de forma a favorecer nesses sujeitos uma lucidez acerca do

seu papel profissional funccedilotildees e responsabilidades que os levem a assumir aquilo que lhes compete

no acircmbito das relaccedilotildees que se estabelecem no cotidiano escolar Tomar consciecircncia entretanto natildeo

eacute um processo individual e a parte do contexto no qual o sujeito estaacute inserido muito pelo contraacuterio

eacute um processo que transcorre na interaccedilatildeo dos sujeitos entre si e destes com o ambiente do qual

fazem parte Desta forma para promover uma intervenccedilatildeo institucional relacional eacute preciso que o

psicoacutelogo escolar investigue e analise a instituiccedilatildeo escolar como um todo contribuindo para que as

rupturas e reformulaccedilotildees levem em uacuteltima instacircncia a um redirecionamento das praacuteticas dos

profissionais (Marinho-Arauacutejo amp Almeida 2005a)

Para proceder a uma anaacutelise e intervenccedilatildeo nas relaccedilotildees eacute preciso oportunizar situaccedilotildees nas

quais os sujeitos conversem entre si troquem ideias evidenciem as contradiccedilotildees defendam seu

ponto de vista critiquem escolhas denunciem praacuteticas incoerentes expressem seus desejos enfim

eacute preciso criar oportunidades para a circulaccedilatildeo das vozes ou dos discursos que permeiam o

contexto educativo Eacute importante salientar que a circulaccedilatildeo dessas ideias natildeo se daacute naturalmente

como se fosse uma consequecircncia automaacutetica da adoccedilatildeo do modelo institucional-relacional em

Psicologia Escolar Ao contraacuterio colocar ideias princiacutepios valores desejos e incocircmodos em

29

movimento em um contexto institucional exige que se crie intencionalmente espaccedilos que

favoreccedilam tal movimento

Constituir espaccedilos oportunos agrave circulaccedilatildeo do discurso exige por sua vez que o psicoacutelogo

escolar desenvolva uma competecircncia que eacute proacutepria da especificidade do suporte psicoloacutegico na

educaccedilatildeo a atitude de escuta cliacutenica (Almeida 1999 Arauacutejo 2003 Arauacutejo amp Almeida 2003

Marinho-Arauacutejo amp Almeida 2005a) Agrave medida que o discurso eacute posto em circulaccedilatildeo compete ao

psicoacutelogo escolar ouvi-lo e fazer uma leitura criacutetica e reflexiva do discurso institucional e do

sofrimento psiacutequico dos sujeitos

Kupfer (2004) esclarece que a circulaccedilatildeo dos discursos oportuniza a oxigenaccedilatildeo das ideias

e traz a possibilidade de transformaccedilatildeo Se por um lado o discurso tende a reproduzir repeticcedilotildees e

cristalizaccedilotildees como tentativa de evitar a mudanccedila por outro existem manifestaccedilotildees expressas em

falas de sujeitos que evidenciam tentativas de mudar o que estaacute cristalizado Ainda que existam

padrotildees rotinas e praacuteticas jaacute instituiacutedos agraves vezes emergem vozes que evidenciam a inadequaccedilatildeo do

que estaacute posto e a necessidade de mudanccedila o psicoacutelogo escolar deve estar atento ao que se repete

mas acima de tudo ao que estaacute emergindo como novo ldquoEacute exatamente como lsquoauxiliar de produccedilatildeorsquo

de tais emergecircncias que um psicoacutelogo pode encontrar seu lugarrdquo (Kupfer 2004 p 59) Diante

dessas vozes que emergem cabe ao psicoacutelogo escolar estar em posiccedilatildeo de escuta cliacutenica das ldquovozes

institucionaisrdquo o que lhe possibilitaraacute entender e analisar criticamente os aspectos objetivos e

subjetivos que participam da dinacircmica escolar

Importante ressaltar que escuta cliacutenica natildeo eacute utilizado como sinocircnimo de atuaccedilatildeo cliacutenica

agravequela que caracterizou o trabalho inicial em Psicologia Escolar Defender a escuta cliacutenica

psicoloacutegica natildeo significa defender a aplicaccedilatildeo do modelo cliacutenico-terapecircutico na Educaccedilatildeo mas

lanccedilar matildeo de uma competecircncia especiacutefica do saber psicoloacutegico que se ancora sob uma formaccedilatildeo

teoacuterica adequada por parte do psicoacutelogo escolar e a uma forma eacutetica de agir e de pensar Conforme

destaca Almeida (1999) ldquoo psicoacutelogo renunciou natildeo somente ao modelo cliacutenico mas tambeacutem agrave

atitude cliacutenica e agrave sensibilidade da escutardquo (p 66) que devem ser proacuteprias da atuaccedilatildeo psicoloacutegica

na escola A autora complementa dizendo que mesmo que se privilegie uma accedilatildeo preventiva em

Psicologia Escolar natildeo se pode ldquoa priori e preconceituosamente rejeitar os ensinamentos e a

experiecircncia acumulada do modelo cliacutenicordquo (p 68) negando toda uma construccedilatildeo cientiacutefica que daacute

sustentaccedilatildeo ao trabalho psicoloacutegico

A escuta cliacutenica psicoloacutegica em um contexto institucional eacute de natureza ativa e tem como

marca a intencionalidade da transformaccedilatildeo por acreditar que o encontro de sujeitos subjetivamente

implicados e envolvidos com aquele contexto produz novos sentidos instaura uma rede

diferenciada de interaccedilotildees e muda os rumos das accedilotildees pessoais e institucionais A ecircnfase da escuta

cliacutenica estaacute portanto na sensibilidade aos discursos institucionais os quais expressam fenocircmenos

subjetivos e intersubjetivos que satildeo constituintes do modo singular como cada contexto educativo e

30

os sujeitos ali inseridos assumem suas responsabilidades conduzem suas accedilotildees e se envolvem com

os processos de aprendizagem e de desenvolvimento humano

Diante do que foi apresentado ateacute o momento fica expliacutecito que o afastamento em relaccedilatildeo

agrave postura adaptativa e corretiva fez com que a Psicologia Escolar buscasse uma atuaccedilatildeo de caraacuteter

preventivo e relacional que se sustenta muito mais em paracircmetros de sucesso do que de fracasso

Ao contraacuterio da cultura do fracasso que tende a responsabilizar e culpar o proacuteprio aluno pelas

dificuldades que vivencia acentuando suas limitaccedilotildees e deficiecircncias a cultura do sucesso escolar

privilegia as potencialidades e possibilidades em vez dos problemas e dificuldades focaliza

as diferentes alternativas individuais e coletivas de superaccedilatildeo das adversidades valoriza as

diferenccedilas a heterogeneidade e a diversidade de formas de aprender pensar e estar no

mundo Nesse sentido a Psicologia Escolar tem buscado consolidar uma atuaccedilatildeo que se

baseia em crescimento e sucessos dos atores escolares em contraponto agrave ecircnfase em

problemas e dificuldades (Oliveira amp Marinho-Arauacutejo 2009 pp 658-659)

Eacute importante destacar que a orientaccedilatildeo para o sucesso escolar estaacute estreitamente vinculada

agrave responsabilidade e ao compromisso da Psicologia Escolar com a promoccedilatildeo do desenvolvimento

seja ele individual coletivo ou institucional A esse respeito Guzzo (1996 2001) pontua que a

atuaccedilatildeo essencialmente preventiva em Psicologia Escolar comprometida com a potencialidade da

educaccedilatildeo no que compete a formaccedilatildeo das pessoas - de cidadatildeos - traz em si a adoccedilatildeo de uma

abordagem teoacuterica do desenvolvimento humano Dessa maneira a intervenccedilatildeo institucional

preventiva e relacional proposta contemporaneamente pela Psicologia Escolar estaacute direcionada

para reformulaccedilotildees pessoais e institucionais que oportunizem aos atores envolvidos

transformaccedilotildees e saltos qualitativos em seu desenvolvimento

Em siacutentese a finalidade das intervenccedilotildees psicoloacutegicas no interior de uma instituiccedilatildeo

educativa eacute sobretudo a de promover o desenvolvimento e as potencialidades dos sujeitos em

relaccedilatildeo sendo que para alcanccedilar essa finalidade o psicoacutelogo escolar precisa considerar tanto as

questotildees individuais quanto as coletivas e institucionais Para tanto eacute necessaacuterio criar um espaccedilo de

interlocuccedilatildeo e de escuta que se detenha aos discursos que circulam naquele contexto especiacutefico e

lhe conferem especificidades bastante particulares

Com apoio nesta perspectiva institucional e relacional de atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar o

procedimento do Mapeamento Institucional surge como um recurso capaz de apreender as

particularidades de cada contexto e orientar as intervenccedilotildees a serem desencadeadas O

Mapeamento Institucional conforme proposto por Arauacutejo (2003) Arauacutejo e Almeida (2003) e

Marinho-Arauacutejo e Almeida (2005a) eacute um exemplo de estrateacutegia que favorece o conhecimento da

instituiccedilatildeo sua missatildeo filosofia princiacutepios e concepccedilotildees orientadoras tanto em termos das

convergecircncias e coerecircncias quanto de contradiccedilotildees e incoerecircncias Constitui-se como uma etapa

inicial para as intervenccedilotildees em Psicologia Escolar dado que iraacute fornecer os subsiacutedios necessaacuterios

para a compreensatildeo do cotidiano da instituiccedilatildeo

31

Referindo-se agrave histoacuteria das instituiccedilotildees educativas e as diferentes maneiras de investigaacute-las

Sanfelice (2007) diz que em seu interior existe um quebra-cabeccedila a ser decifrado de forma que

uma vez dentro delas deve-se tentar descobrir o lugar de cada peccedila e o seu papel no conjunto

ldquoUma instituiccedilatildeo escolar ou educativa eacute a siacutentese de muacuteltiplas determinaccedilotildees de variadiacutessimas

instacircncias (poliacutetica econocircmica cultural religiosa da educaccedilatildeo geral moral ideoloacutegica etc) que

agem e interagem entre si lsquoacomodando-sersquo dialeticamente de maneira tal que daiacute resulte sua

identidaderdquo (p 77) Assume-se portanto que eacute imprescindiacutevel que o psicoacutelogo escolar invista em

conhecer pormenorizadamente o contexto no qual estaacute inserido haja vista que este conhecimento

lhe traraacute informaccedilotildees acerca das ideias caracteriacutesticas e dinacircmica proacuteprias dessa instituiccedilatildeo

O Mapeamento Institucional como um procedimento que promove acesso e aproximaccedilatildeo a

esse contexto deve estar direcionado para a anaacutelise das influecircncias ideoloacutegicas e filosoacuteficas

presentes na instituiccedilatildeo dos papeacuteis direitos deveres e responsabilidades dos sujeitos e da

instituiccedilatildeo das concepccedilotildees dos profissionais que satildeo subjacentes agraves suas praacuteticas educativas e as

orientam da estrutura e dinacircmica do trabalho pedagoacutegico em termos de organizaccedilatildeo temporal e

espacial da dinacircmica de gestatildeo escolar expressa e a organizaccedilatildeo das relaccedilotildees funcionais entre os

diferentes grupos dos Paracircmetros e Diretrizes Curriculares Nacionais especialmente quanto agrave

concepccedilatildeo de aprender e ensinar (Arauacutejo 2003 Marinho-Arauacutejo amp Almeida 2005a)

Segundo Martiacutenez (2007 2009) um ponto especial do Mapeamento Institucional eacute permitir

que o psicoacutelogo escolar tenha contato com a subjetividade social da instituiccedilatildeo aquela que

expressa as ldquoconcepccedilotildees sentidos crenccedilas e valores que caracterizam a escola como espaccedilo social

guardando uma articulada inter-relaccedilatildeo com as subjetividades individuais dos indiviacuteduos que

constituem esse espaccedilo socialrdquo (Martiacutenez 2007 p 106) Voltar a atenccedilatildeo para a subjetividade

social da instituiccedilatildeo implica entender como se daacute neste contexto especiacutefico a integraccedilatildeo das

configuraccedilotildees individuais e grupais e como estas se expressam no cotidiano escolar em termos de

praacuteticas escolhas organizaccedilatildeo e estrutura Em consonacircncia com a perspectiva institucional e

relacional em Psicologia Escolar que reconhece a importacircncia das interaccedilotildees na construccedilatildeo das

praacuteticas sociais e profissionais realizar um Mapeamento Institucional como forma de acessar a

subjetividade social da instituiccedilatildeo significa valorizar que esta se constitui a partir de um

entrelaccedilamento dialeacutetico entre o individual e o social o particular e o coletivo

Ao ingressar num contexto educativo a primeira accedilatildeo do psicoacutelogo escolar deve ser

portanto a de reunir informaccedilotildees que lhe possibilite conhecer esse contexto realizar uma anaacutelise e

diagnoacutestico das suas especificidades e assim traccedilar um plano interventivo Sobre os possiacuteveis

instrumentos e procedimentos a serem adotados para realizaccedilatildeo do Mapeamento Institucional

Correia e Campos (2004) sugerem

desde conversas informais entrevistas semidirigidas ateacute observaccedilotildees em paacutetios corredores

e salas de aula Enfim nas situaccedilotildees que possibilitem o levantamento de informaccedilotildees a

32

respeito das relaccedilotildees e da influecircncia destas na lsquodinacircmica das salas de aula e da escolarsquo

como um todo (p 166)

Sendo assim o Mapeamento Institucional pode se realizar por meio (a) da anaacutelise dos

documentos institucionais (proposta pedagoacutegica regimento interno organograma e outros

documentos escolares) os quais seratildeo objeto de leitura e anaacutelise criacutetica (b) da inserccedilatildeo em praacuteticas

institucionalizadas como reuniotildees projetos e eventos oficiais (c) da observaccedilatildeo da rotina

institucional e das relaccedilotildees que ali se estabelecem e (d) do diaacutelogo ou entrevistas com os atores

escolares (Arauacutejo 2003 Correia amp Campos 2004 Marinho-Arauacutejo 2009a) A partir do exame

reflexatildeo e integraccedilatildeo das informaccedilotildees construiacutedas nesse mapeamento o profissional pode

finalmente delimitar sua intervenccedilatildeo a qual iraacute refletir a singularidade da instituiccedilatildeo

Cumpre destacar que o Mapeamento Institucional eacute um processo regular que

continuamente iraacute subsidiar a intervenccedilatildeo do psicoacutelogo escolar Apesar de ter funccedilatildeo primordial no

desencadeamento das accedilotildees iniciais a sua constante atualizaccedilatildeo eacute que permitiraacute que o trabalho

desenvolvido esteja sempre em consonacircncia com as necessidades institucionais as quais satildeo

dinacircmicas e estatildeo em permanente transformaccedilatildeo Ademais dada a adoccedilatildeo de um modelo relacional

de intervenccedilatildeo eacute certo que a realizaccedilatildeo do Mapeamento Institucional natildeo se constitui apenas em

um procedimento de coleta de informaccedilotildees ele eacute tambeacutem um instrumento de intervenccedilatildeo jaacute que

movimenta as ideias e as relaccedilotildees institucionais e gera modificaccedilotildees no contexto

Conforme apresentado nesta seccedilatildeo as principais diretrizes que vecircm orientando a atuaccedilatildeo

em Psicologia Escolar podem ser assim resumidas a adoccedilatildeo de uma abordagem preventiva a

anaacutelise e intervenccedilatildeo direcionadas para as relaccedilotildees interpessoais a promoccedilatildeo intencional de

espaccedilos de interlocuccedilatildeo entre os diferentes atores e o desenvolvimento de uma escuta cliacutenica

psicoloacutegica direcionada para os aspectos intersubjetivos a intervenccedilatildeo institucional voltada para

conscientizaccedilatildeo dos papeacuteis e responsabilidades dos sujeitos a vinculaccedilatildeo agrave perspectiva do sucesso

escolar agrave promoccedilatildeo do desenvolvimento e das potencialidades dos sujeitos As diretrizes aqui

apresentadas configuram-se como referecircncias orientadoras do trabalho a ser realizado pelos

psicoacutelogos escolares de maneira a dar-lhes uma conformaccedilatildeo condizente com as criacuteticas que foram

postuladas agrave atuaccedilatildeo inicialmente desenvolvida

Eacute importante ressaltar que apesar de acreditar que estas diretrizes sintetizam o que

atualmente entende-se ser pertinente agrave atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar eacute certo que outras diretrizes

e abordagens que natildeo foram aqui exploradas tambeacutem podem orientar a atuaccedilatildeo da aacuterea renovando-

a e oxigenando-a A elucidaccedilatildeo de diretrizes orientadoras da accedilatildeo em Psicologia Escolar constitui-

se uma tentativa de evidenciar caminhos de intervenccedilatildeo para a aacuterea mas natildeo tem a pretensatildeo de

esgotar as inuacutemeras possibilidades de atuaccedilatildeo que podem e devem se constituir ao longo da

praacutetica profissional

33

O Perfil Profissional do Psicoacutelogo Escolar e os Desafios agrave Formaccedilatildeo

As reflexotildees feitas acerca do estabelecimento de uma nova Psicologia Escolar apontam

tambeacutem alguns indicadores relacionados ao perfil dos psicoacutelogos que estatildeo envolvidos com a

interface Psicologia-Educaccedilatildeo Inicialmente eacute preciso destacar que o termo perfil profissional estaacute

vinculado tanto agrave formaccedilatildeo quanto a atuaccedilatildeo No primeiro caso o termo se refere ao perfil de

egresso ou seja estaacute associado ao aluno que se deseja formar ao teacutermino do curso superior jaacute no

segundo caso diz respeito agrave caracterizaccedilatildeo do profissional que se deseja para atuar no mercado de

trabalho Em ambos os casos o termo tem uma conotaccedilatildeo prospectiva por trazer alguns

direcionamentos seja para promover a formaccedilatildeo dos futuros profissionais seja para orientar a

seleccedilatildeo contrataccedilatildeo e desenvolvimento das atividades profissionais Tem-se entatildeo um perfil

profissional de formaccedilatildeo e um de atuaccedilatildeo que apesar de terem funccedilotildees distintas compartilham de

uma base comum que garante identidade ao profissional

Assim sendo quando se fala em perfil profissional haacute que se considerar a forte conexatildeo

entre elementos da formaccedilatildeo e da atuaccedilatildeo pois ele se constitui pelo entrelaccedilamento dinacircmico e

complexo entre a histoacuteria pessoal do sujeito sua trajetoacuteria de formaccedilatildeo e de atuaccedilatildeo e o

reconhecimento social da profissatildeo que eacute distinta de outras profissotildees Em relaccedilatildeo ao perfil

profissional de atuaccedilatildeo a formaccedilatildeo inicial e continuada satildeo importantes aspectos que o

influenciam contudo ele se constitui por meio da articulaccedilatildeo entre os processos de formaccedilatildeo as

caracteriacutesticas e demandas da profissatildeo as relaccedilotildees de trabalho e a histoacuteria de vida do sujeito

estando sempre vinculado a um momento social e cultural determinado (Arauacutejo 2003) Dessa

maneira quando se pretende definir um perfil profissional de atuaccedilatildeo como no caso do psicoacutelogo

escolar haacute que se considerar a influecircncia de todos esses aspectos somados agraves demandas e

necessidades sociais do momento histoacuterico

O desafio que se segue portanto eacute o de definir os elementos que iratildeo compor um perfil

condizente com as perspectivas que vecircm sendo assumidas contemporaneamente pela Psicologia

Escolar Um olhar retrospectivo sobre a produccedilatildeo da aacuterea nas uacuteltimas deacutecadas evidencia que a

questatildeo da formaccedilatildeo da identidade e do perfil profissional tem sido temaacuteticas de interesse sobre as

quais muitos pesquisadores professores instituiccedilotildees formativas e oacutergatildeos de classe tecircm se detido

(Almeida 2003 Campos 2007 Del Prette 2001 Gomes 1999 Guzzo 1999b Jobim e Sousa

1996 Joly 2000 Maluf 1994 Marinho-Arauacutejo amp Almeida 2005a Martiacutenez 2005b Neves

Almeida Chaperman amp Batista 2002 Witter 1996) Os apontamentos feitos por eles oferecem

alguns indicativos sobre os aspectos e caracteriacutesticas desejados ao perfil do profissional do

psicoacutelogo escolar conforme apresentado brevemente nesta seccedilatildeo

Um primeiro aspecto constituinte da identidade do psicoacutelogo escolar eacute a sua formaccedilatildeo a

qual deve estar ancorada em uma base teoacuterico-conceitual sobre a relaccedilatildeo entre Psicologia e

Educaccedilatildeo as teorias de desenvolvimento humano as abordagens para o estudo e anaacutelise das

relaccedilotildees sociais discussotildees sobre o trabalho do psicoacutelogo escolar sua identidade e formaccedilatildeo

34

(Arauacutejo amp Almeida 2003) A formaccedilatildeo deve perpassar tambeacutem o estudo e discussatildeo sobre

metodologias de avaliaccedilatildeo e de diagnoacutestico psicoeducacional teacutecnicas de apoio dinacircmica de grupo

(Novaes 2003)

Aleacutem dos conhecimentos atinentes ao desenvolvimento humano agrave aprendizagem e aos

processos educativos a Psicologia Escolar como campo de formaccedilatildeo pesquisa e atuaccedilatildeo

profissional incorpora ainda outros conhecimentos da Psicologia que satildeo necessaacuterios para o

sucesso do processo educativo Conhecimentos de outros campos da Psicologia somam-se agrave

Psicologia Escolar como exemplifica Martiacutenez (2003b) ldquomuitos dos temas da Psicologia

Organizacional integram-se na Psicologia Escolar como conhecimentos essenciais para o

cumprimento de seu objetivo tendo em conta a especificidade que as questotildees organizacionais

assumem na escola na sua condiccedilatildeo de um tipo de organizaccedilatildeo particularrdquo (p 109) Tanto a

formaccedilatildeo quanto a praacutetica em Psicologia Escolar natildeo devem estar isoladas das produccedilotildees advindas

dos demais campos da ciecircncia psicoloacutegica

Diante da necessidade de integrar conhecimentos dos diferentes campos da Psicologia um

desafio dos psicoacutelogos escolares eacute natildeo proceder a essa integraccedilatildeo acriticamente adotando as teorias

e incorporando as metodologias sem realizar uma anaacutelise de sua pertinecircncia aos fundamentos da

Psicologia Escolar Eacute preciso que os psicoacutelogos escolares avaliem a coerecircncia entre as bases

teoacutericas e conceituais sobre as quais se assentam esses conhecimentos sob pena de incorrerem no

mesmo problema que foi alvo de criacutetica na deacutecada de 80 e 90

Ainda em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo do psicoacutelogo escolar Guzzo (1996) alerta que eacute fundamental

que aleacutem de bem formado em Psicologia este profissional tambeacutem seja muito bem formado para

atuar em contextos educacionais o que exige portanto acesso e reflexatildeo acerca das bases teoacutericas

filosoacuteficas e poliacuteticas no campo da Educaccedilatildeo Tendo em vista os muacuteltiplos elementos que agem

sobre o espaccedilo educativo e a diversidade de problemaacuteticas que dele emergem a Psicologia Escolar

solitariamente pouco conseguiraacute contribuir para modificaacute-lo eficazmente Eacute necessaacuterio portanto

que os psicoacutelogos escolares exercitem a difiacutecil praacutetica da interdisciplinaridade na relaccedilatildeo com as

demais aacutereas de conhecimento e profissionais da educaccedilatildeo Segundo Maluf (2003)

o conhecimento que se servem esses profissionais psicoacutelogos escolares eacute interdisciplinar

porque inclui as noccedilotildees da Psicologia que tecircm reflexo na Educaccedilatildeo a saber da Psicologia

geral Psicologia Social Psicologia do Desenvolvimento Psicologia da Educaccedilatildeo E inclui

as noccedilotildees das ciecircncias educacionais que permitem a aproximaccedilatildeo agraves complexas questotildees

que definem o processo educacional a saber a Pedagogia a Didaacutetica a Filosofia da

Educaccedilatildeo (p 138)

Outro ponto importante na constituiccedilatildeo do perfil profissional do psicoacutelogo que iraacute atuar no

contexto educativo eacute que tenha tido ao longo de sua formaccedilatildeo inicial oportunidade de frequentar

esse espaccedilo e conviver com suas demandas o que lhe oportuniza exercitar a relaccedilatildeo entre a teoria e

a praacutetica entre o conhecimento cientiacutefico e a realidade diaacuteria (Guzzo 1996) Em criacutetica a inserccedilatildeo

35

dos psicoacutelogos no campo profissional a autora diz que no Brasil basta apresentar um diploma de

conclusatildeo de curso para que se obtenha automaticamente o registro profissional e o direito de

exercer a profissatildeo em qualquer aacuterea de atuaccedilatildeo

Para Guzzo (1996) esta eacute uma das grandes dificuldades enfrentadas pela Psicologia

Escolar pois ldquomesmo que o aluno natildeo tenha vivenciado nenhum estaacutegio de formaccedilatildeo nas escolas

por exemplo ele pode ser contratado para trabalhar com crianccedilas que tenham necessidades

especiais e iraacute utilizar-se de modelos e abordagens natildeo apropriados para a funccedilatildeordquo (p 81) Dessa

forma eacute fundamental que durante a formaccedilatildeo os futuros psicoacutelogos tenham experiecircncias nos

contextos nos quais iratildeo atuar pois essa imersatildeo iraacute suscitar inquietaccedilotildees questionamentos e

curiosidades que demandaratildeo maior reflexatildeo e aprofundamento em relaccedilatildeo agrave praacutetica agrave teoria e agrave

interlocuccedilatildeo entre elas

A imersatildeo na praacutetica a reflexatildeo sobre ela a sua anaacutelise agrave luz do conhecimento psicoloacutegico

e no sentido inverso o exame da produccedilatildeo teoacuterica a partir dos indicadores advindos da praacutetica satildeo

elementos constituintes da identidade do psicoacutelogo escolar uma vez que possibilitam a

ressignificaccedilatildeo e a reconstruccedilatildeo dos conhecimentos bem como a transformaccedilatildeo da realidade Em

relaccedilatildeo a esse movimento dialeacutetico entre a accedilatildeo e o conhecimento Marinho-Arauacutejo e Almeida

(2005a 2005b) sinalizam que tanto no processo de formaccedilatildeo quanto de atuaccedilatildeo em Psicologia

Escolar eacute preciso proceder agrave reflexatildeo sobre a praacutetica elemento chave para o desenvolvimento de

accedilotildees planejadas e intencionais que fornecem condiccedilotildees efetivas de intervenccedilatildeo As autoras

apontam para a importacircncia do desenvolvimento de uma habilidade reflexiva a qual ocorre na e

sobre a accedilatildeo por meio da anaacutelise e interpretaccedilatildeo das consequecircncias enquanto a accedilatildeo ainda estaacute

sendo realizada e um olhar retrospectivo e prospectivo sobre o ato concretizado

A relevacircncia do processo reflexivo por parte do psicoacutelogo escolar decorre entre outras

razotildees do fato de ser uma caracteriacutestica essencial ao desenvolvimento de competecircncias uma vez

que este estaacute ancorado na capacidade do sujeito em analisar a situaccedilatildeo em seus muacuteltiplos

determinantes compreendecirc-la tomar uma decisatildeo e agir A reflexatildeo sobre a realidade agrave luz dos

conhecimentos cientiacuteficos dos saberes cotidianos dos princiacutepios eacuteticos e dos valores pessoais iraacute

possibilitar ao profissional desencadear uma accedilatildeo intencional direcionada para os elementos que

podem produzir uma modificaccedilatildeo Nessa direccedilatildeo

tanto para aqueles que iniciam sua preparaccedilatildeo profissional quanto para aqueles que em

circunstacircncias distintas jaacute estatildeo na praacutetica e nela pretendem permanecer o processo

identitaacuterio o perfil profissional o desenho da abordagem formativa devem contemplar o

papel da reflexatildeo sobre a praacutetica fazendo surgir novos saberes (Marinho-Arauacutejo amp

Almeida 2005b p 252)

Tendo em vista a dinamicidade e complexidade que caracterizam os processos e as relaccedilotildees

profissionais nos dias atuais a accedilatildeo reflexiva como forma de analisar compreender a situaccedilatildeo e

definir estrateacutegias de intervenccedilatildeo individuais ou coletivas torna-se imprescindiacutevel para que os

36

profissionais consigam dar respostas raacutepidas adequadas e satisfatoacuterias a cada situaccedilatildeo A

reflexividade eacute portanto um componente indispensaacutevel ao perfil profissional do psicoacutelogo escolar

e estaacute em estreita ligaccedilatildeo com o processo de desenvolvimento de competecircncias o qual tem

contribuiacutedo para a preparaccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares por oferecer condiccedilotildees de agir com

seguranccedila foco e pertinecircncia frente ao cenaacuterio instaacutevel e imprevisiacutevel do mundo do trabalho

A competecircncia a qual se faz referecircncia quando se trata do perfil profissional do psicoacutelogo

escolar configura-se como um recurso que auxilia o profissional a se posicionar diante de eventos

imprevisiacuteveis dominaacute-los com intencionalidade e seguranccedila e dar encaminhamentos adequados e

satisfatoacuterios para lidar com a situaccedilatildeo (Arauacutejo 2003 Le Boterf 2003 Marinho-Arauacutejo amp Almeida

2005a 2005b Zarifian 2003) Mas a despeito do que se possa pensar a competecircncia natildeo se limita

ao domiacutenio de determinado conhecimento ou teacutecnica Possuir conhecimentos capacidades ou

habilidades natildeo significa ser um profissional competente pois a competecircncia estaacute atrelada agrave

mobilizaccedilatildeo dos recursos - conhecimentos habilidades saberes atitudes afetos desejos valores

princiacutepios posturas - em um contexto profissional e natildeo simplesmente agrave sua aplicaccedilatildeo (Le Boterf

2003)

As competecircncias sejam elas teacutecnicas pessoais sociais relacionais eacuteticas ou poliacuteticas satildeo

desenvolvidas pelo sujeito a partir da integraccedilatildeo de um conjunto de recursos que ele possui e

entatildeo natildeo se expressam por uma habilidade que o profissional estaacute habituado a realizar por

exemplo mas pela integraccedilatildeo desta habilidade a outros recursos quando ele se depara com uma

situaccedilatildeo nova Sendo assim ser um psicoacutelogo escolar competente natildeo depende apenas de ter um

arcabouccedilo de conhecimentos saberes e habilidades proacuteprios da Psicologia ser competente requer

que o sujeito mobilize e articule ativa e intencionalmente um conjunto de recursos a partir da

avaliaccedilatildeo que faz da situaccedilatildeo (Arauacutejo amp Almeida 2003)

Diante de um contexto de incertezas e muitas transformaccedilotildees os ambientes profissionais

estatildeo em busca de colaboradores que explorem a singularidade da situaccedilatildeo e avancem a partir dela

Para tanto os profissionais precisam criar e inovar constantemente novas formas de transpor os

obstaacuteculos de enfrentar as situaccedilotildees e de superar os desafios que a praacutetica lhe impotildee

O desenvolvimento de competecircncias e os demais elementos constituintes do perfil do

psicoacutelogo escolar ndash formaccedilatildeo teoacuterico-conceitual imersatildeo na praacutetica e articulaccedilotildees com a teoria

interdisciplinaridade atitude reflexiva ndash mostram o quanto eacute desafiante preparar um psicoacutelogo

escolar Para oportunizar essa preparaccedilatildeo seraacute preciso envolvimento e compromisso das entidades

formadoras dos oacutergatildeos de classe e inclusive e principalmente dos proacuteprios psicoacutelogos escolares

que precisam investir na sua formaccedilatildeo inicial e continuada buscando continuamente enriquececirc-la

e transformaacute-la

37

PRAacuteTICAS E CONTEXTOS DE ATUACcedilAtildeO EM PSICOLOGIA ESCOLAR

Praacuteticas Contemporacircneas de Atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar no Brasil

Apesar de jaacute estarem razoavelmente estabelecidas as principais diretrizes que norteiam

contemporaneamente a atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar conforme explicitado anteriormente ainda

constitui um imenso desafio aos profissionais da aacuterea promover intervenccedilotildees por eles orientadas

Por essa razatildeo um olhar sobre o trabalho que psicoacutelogos escolares estatildeo desenvolvendo nos mais

diferentes contextos educativos mostra o quanto as praacuteticas implementadas nem sempre

compartilham a mesma base teoacuterico-metodoloacutegica e consequentemente prezam por accedilotildees que ora

se vinculam agrave atuaccedilatildeo histoacuterica relativamente consolidada ora se coadunam a um posicionamento

criacutetico e inovador Dessa forma Guzzo (1996 1999a) indicou haacute mais de uma deacutecada que natildeo era

possiacutevel falar em um modelo de atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar uma vez que as praacuteticas em

andamento natildeo se ancoravam em perspectivas e concepccedilotildees comuns acerca do que venha a ser a

real contribuiccedilatildeo da Psicologia agrave Educaccedilatildeo

Entende-se neste trabalho que um modelo de atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar corresponde

agraves concepccedilotildees que se tem da Educaccedilatildeo e do seu papel na sociedade e tambeacutem da funccedilatildeo da

Psicologia no cumprimento desse papel as quais por sua vez conduzem agrave adoccedilatildeo de teorias que se

coadunam a tais concepccedilotildees e direcionam a praacutetica psicoloacutegica no espaccedilo escolar Refere-se agrave

compreensatildeo que se tem acerca da realidade escolar em termos da sua dinacircmica funcionamento e

responsabilidades e da contribuiccedilatildeo do conhecimento psicoloacutegico agrave transformaccedilatildeo dessa realidade

Sendo assim quando se fala em modelo de atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar se faz referecircncia agrave ampla

compreensatildeo do que seja a contribuiccedilatildeo da ciecircncia psicoloacutegica agrave Educaccedilatildeo a qual se expressa em

diferentes accedilotildees desenvolvidas pelos psicoacutelogos escolares com vistas a favorecer a qualidade e a

eficaacutecia dos processos educativos Em aderecircncia a essas colocaccedilotildees entende-se que as praacuteticas

cotidianas em Psicologia Escolar devem ser desenvolvidas de forma que haja harmonia e coerecircncia

entre a concepccedilatildeo e a accedilatildeo entre a teoria e a praacutetica

Com o intuito de contribuir para o desenvolvimento de sujeitos criacuteticos reflexivos

questionadores autocircnomos e conscientes de seu papel frente agrave transformaccedilatildeo da realidade social

econocircmica e poliacutetica do contexto no qual se inserem cabe agrave Psicologia e mais especificamente agrave

Psicologia Escolar agir em prol de indicadores pessoais relacionais e institucionais que favoreccedilam

este desenvolvimento As accedilotildees a serem implantadas com esta finalidade satildeo das mais diversas

possiacuteveis haja vista a gama de teorias meacutetodos e instrumentos disponiacuteveis contudo uma efetiva

contribuiccedilatildeo nessa direccedilatildeo exige que os profissionais da aacuterea tenham lucidez acerca da sua

vinculaccedilatildeo com esses objetivos

Em relaccedilatildeo agrave praacutetica em Psicologia Escolar recentemente Martiacutenez (2007 2009 2010)

vem oferecendo importante contribuiccedilatildeo agrave aacuterea por meio da organizaccedilatildeo das praacuteticas de

intervenccedilatildeo em dois grandes grupos formas de atuaccedilatildeo tradicionais e formas de atuaccedilatildeo

38

emergentes De acordo com a autora as primeiras distinguem-se por estarem associadas agrave

dimensatildeo psicoeducacional do contexto escolar e por terem uma histoacuteria que jaacute estaacute relativamente

consolidada na aacuterea enquanto as segundas apresentam uma configuraccedilatildeo recente estatildeo pouco

difundidas e atreladas a uma concepccedilatildeo mais abrangente do trabalho do psicoacutelogo escolar que leva

em conta sua dimensatildeo psicossocial

A atuaccedilatildeo tradicional tem forte vinculaccedilatildeo com as demandas da escola relativas ao

desenvolvimento e agrave aprendizagem dos alunos e assim caracteriza-se mais por respostas dos

psicoacutelogos escolares aos problemas cotidianos que precisam ser resolvidos Envolve atividades de

avaliaccedilatildeo diagnoacutestico atendimento e encaminhamento de alunos com dificuldades orientaccedilatildeo a

pais e alunos orientaccedilatildeo profissional e sexual formaccedilatildeo de professores e desenvolvimento de

projetos de temaacuteticas especiacuteficas como violecircncia drogas gravidez precoce (Martiacutenez 2009 2010)

A atuaccedilatildeo emergente por outro lado decorre mais de uma posiccedilatildeo ativa criativa e

socialmente comprometida por parte do psicoacutelogo escolar do que de demandas expliacutecitas que lhe

satildeo direcionadas Esta forma de atuaccedilatildeo tem seu potencial transformador significativamente

ampliado uma vez que se estende para aleacutem das dificuldades jaacute identificadas no processo

vivenciado pelos alunos e engloba atividades de diagnoacutestico anaacutelise e intervenccedilatildeo institucional

construccedilatildeo acompanhamento e avaliaccedilatildeo da proposta pedagoacutegica participaccedilatildeo no processo de

seleccedilatildeo dos membros da equipe pedagoacutegica coordenaccedilatildeo de oficinas direcionadas ao

desenvolvimento integral dos alunos realizaccedilatildeo de pesquisas com o objetivo de aprimorar o

processo educativo envolvimento com a implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas entre outras

(Martiacutenez 2009)

Tendo esta distinccedilatildeo como referecircncia entende-se que o que aponta para a adequaccedilatildeo de

uma praacutetica interventiva agraves necessidades do contexto natildeo eacute simplesmente a formataccedilatildeo tradicional

ou emergente da accedilatildeo em termos de historicidade mas acima de tudo o seu potencial

transformador diante da complexidade que eacute caracteriacutestica do contexto educativo Assim uma

praacutetica comumente identificada como de natureza tradicional como a avaliaccedilatildeo e o diagnoacutestico de

alunos com dificuldades por exemplo pode vir a se configurar como de natureza emergente na

medida em que a atenccedilatildeo focada exclusivamente no aluno desloque-se concomitantemente para os

demais elementos que participam do processo educativo e que contribuem para a modificaccedilatildeo de

tal dificuldade Natildeo eacute a intervenccedilatildeo em si isolada das concepccedilotildees que a orientam e dos

desdobramentos que oportuniza que iraacute indicar se o trabalho desenvolvido pelos psicoacutelogos

escolares eacute mais ou menos emergente

Dizer que um profissional realiza avaliaccedilatildeo de dificuldades escolares eacute insuficiente para

identificar essa accedilatildeo como sendo tradicional ou emergente uma vez que eacute a maneira como esta

accedilatildeo eacute entendida e desenvolvida pelo profissional em seu cotidiano que iraacute lhe conferir um caraacuteter

inovador ou natildeo Isto eacute ao analisar o trabalho realizado pelo psicoacutelogo escolar eacute preciso ir aleacutem do

roacutetulo que identifica a intervenccedilatildeo ndash avaliaccedilatildeo e diagnoacutestico de dificuldades por exemplo ndash e

39

considerar a amplitude com que o profissional compreende o fenocircmeno se focada nos muacuteltiplos

determinantes envolvidos ou somente naqueles relacionados ao sujeito individualmente a extensatildeo

da intervenccedilatildeo por ele realizada se direcionada apenas para os aspectos individuais ou para os

coletivos e institucionais simultaneamente e o impacto de suas accedilotildees em termos de modificaccedilotildees

que se desdobram para a totalidade do contexto e natildeo a um sujeito apenas

Posto dessa maneira o que iraacute caracterizar uma atuaccedilatildeo como tradicional ou emergente eacute

sobretudo a sua vinculaccedilatildeo com concepccedilotildees mais complexas e ampliadas acerca dos fenocircmenos

educativos e dos elementos que nele estatildeo implicados Nessa direccedilatildeo concorda-se com Martiacutenez

(2009) quando diz que ainda que as formas de atuaccedilatildeo emergentes sejam

mais abrangentes e complexas do que as tradicionais e nesse sentido potencialmente mais

efetivas para promover transformaccedilotildees nos processos educativos consideramos que todas

as formas de atuaccedilatildeo do psicoacutelogo no contexto escolar se desenvolvidas com

criatividade e qualidade podem ter de algum modo impactos reais na melhoria da

qualidade dos processos educativos da escola (p 170)

Levando em conta as reflexotildees acima empreendidas entende-se que um modelo de atuaccedilatildeo

em Psicologia Escolar estaacute diretamente relacionado a concepccedilotildees filosoacuteficas epistemoloacutegicas e

poliacuteticas acerca do processo educativo e do seu papel social as quais por seu turno satildeo

norteadoras das intervenccedilotildees dos profissionais da aacuterea Se haacute pouco mais de uma deacutecada natildeo era

possiacutevel falar em um modelo de atuaccedilatildeo para a aacuterea (Guzzo 1996 1999a) as experiecircncias

profissionais as pesquisas e produccedilotildees do final da deacutecada de 90 e iniacutecio deste novo seacuteculo vecircm

contribuindo para a consolidaccedilatildeo de um modelo contemporacircneo em Psicologia Escolar Este

diferentemente daquele que estava ancorado em concepccedilotildees deterministas e reducionistas que

camuflavam problemas sociais e contribuiacuteam para a manutenccedilatildeo da desigualdade socioeconocircmica

assume uma forte vinculaccedilatildeo e compromisso com a promoccedilatildeo da justiccedila social da igualdade de

oportunidades e da cidadania alcanccediladas por meio do desenvolvimento das potencialidades dos

sujeitos e dos contextos institucionais

Com base nas produccedilotildees mais contemporacircneas em Psicologia Escolar que se apoacuteiam em

uma perspectiva criacutetica positiva e progressista apresentam-se estudos relatos de pesquisa e de

intervenccedilatildeo que tecircm assumido o compromisso com propostas inovadoras na aacuterea O eixo comum

dos exemplos aqui apresentados reside no fato dos mesmos se embasarem na valorizaccedilatildeo das

relaccedilotildees sociais e da dimensatildeo histoacuterica na construccedilatildeo dos sujeitos e da sociedade na inter-relaccedilatildeo

complexa e dinacircmica entre muacuteltiplos fatores envolvidos no cotidiano escolar e na participaccedilatildeo e

colaboraccedilatildeo dos diferentes atores escolares

A praacutetica da avaliaccedilatildeo atendimento e encaminhamento de alunos com dificuldades

escolares eacute recorrente entre os psicoacutelogos escolares convocados a explicar e tratar as causas que

levam algumas crianccedilas a natildeo aprender Diferentemente de tempos atraacutes em que a investigaccedilatildeo de

tais dificuldades estava centrada em conhecer a histoacuteria pessoal e familiar do aluno atualmente esta

40

praacutetica vem se transformando em virtude do entendimento de que as dificuldades escolares se

expressam nos espaccedilos relacionais Nessa direccedilatildeo a inclusatildeo de outros atores e elementos escolares

no processo de compreensatildeo e intervenccedilatildeo sobre as queixas tem sido um diferencial

Machado (2000) por exemplo ao realizar um trabalho sobre a avaliaccedilatildeo psicoloacutegica de

crianccedilas encaminhadas por apresentarem alguma dificuldade de comportamento ou no processo

ensino-aprendizagem percebeu ao ouvir as expectativas dos professores que muitos

encaminhavam a crianccedila para avaliaccedilatildeo como forma de viabilizar um trabalho coletivo isto eacute

como forma de estabelecer uma parceria A autora propocircs entatildeo encontros e reflexotildees com os

professores nos quais pudessem discutir as razotildees expectativas e sugestotildees relativas ao

encaminhamento e avaliaccedilatildeo dos alunos Dessa maneira as praacuteticas docentes as relaccedilotildees entre os

diversos segmentos ndash professor-aluno professor-escola aluno-aluno famiacutelia-escola escola-sistema

educacional ndash as questotildees institucionais e a dinacircmica jaacute cristalizada na escola tambeacutem passaram a

ser investigados no processo de compreensatildeo das queixas escolares

Nesse mesmo sentido Neves (2001) partindo da convicccedilatildeo de que eacute possiacutevel integrar uma

intervenccedilatildeo com os professores ao atendimento dos alunos por eles encaminhados acompanhou o

trabalho de psicoacutelogos escolares da rede puacuteblica de ensino do Distrito Federal (DF) buscando

construir com estes novas formas de atuaccedilatildeo que natildeo se coadunassem agrave perspectiva do fracasso

escolar como uma problemaacutetica individual Considerando que o encaminhamento ao serviccedilo de

atendimento psicopedagoacutegico era efetuado pelos professores a autora entendeu que o

conhecimento das praacuteticas docentes era essencial para o trabalho com as queixas escolares e assim

propocircs que o processo de avaliaccedilatildeo se iniciasse por meio da escuta ao professor

Satildeo crianccedilas sobre as quais algueacutem se queixa portanto sobre quem se faz uma queixa

escolar Nesse sentido o foco natildeo pode recair somente na crianccedila Na verdade satildeo os

professores que se queixam Essa eacute uma evidecircncia para a qual natildeo podemos deixar de estar

atentos quando trabalhamos com crianccedilas encaminhadas com queixas escolares por seus

professores (Neves 2005 p 115)

A partir da assessoria aos psicoacutelogos escolares do DF foi possiacutevel propor um novo modelo

integrado de avaliaccedilatildeo e intervenccedilatildeo das queixas escolares A proposta de Neves (2001) foi

denominada de PAIQUE - Procedimentos de avaliaccedilatildeo e intervenccedilatildeo dos alunos encaminhados

com queixas escolares - e consistia em um modelo de atuaccedilatildeo no qual o atendimento aos alunos

com queixas escolares pudesse contemplar o trabalho com os professores e com a escola Apoacutes

alguns anos de utilizaccedilatildeo do referido modelo que foi acompanhado sistematicamente pela autora

principalmente no Distrito Federal e das discussotildees realizadas em foacuteruns cientiacuteficos e acadecircmicos

o PAIQUE foi revisto e atualizado (Neves 2010) Atualmente ele eacute composto de trecircs niacuteveis escola

famiacutelia e aluno No primeiro privilegia a accedilatildeo junto agrave instituiccedilatildeo escolar por meio do trabalho dos

psicoacutelogos com os professores outros profissionais e em relaccedilatildeo agrave dinacircmica escolar Somente se

41

for necessaacuterio a intervenccedilatildeo segue para os outros niacuteveis como a famiacutelia e o aluno (Neves 2010

Neves amp Almeida 2003)

Estes exemplos e outros mostram que ao trabalhar com as queixas escolares comumente

direcionadas ao psicoacutelogo escolar este pautado em uma atuaccedilatildeo preventiva e orientada para a

intervenccedilatildeo nas relaccedilotildees prioriza accedilotildees junto aos professores buscando auxiliaacute-los na reflexatildeo

sobre a sua praacutetica e na identificaccedilatildeo dos aspectos pessoais relacionais e institucionais que podem

estar envolvidos na construccedilatildeo da queixa Conforme destaca Meira (2000) o envolvimento do

professor na busca de alternativas para o aprendizado dos alunos possibilita a apropriaccedilatildeo de sua

funccedilatildeo e responsabilidade e contribui para o resgate de seu papel ativo e dirigente no que diz

respeito agrave compreensatildeo e definiccedilatildeo de estrateacutegias para resolver as dificuldades

Reafirmando a importacircncia de incluir os professores nas intervenccedilotildees desencadeadas pelos

psicoacutelogos escolares por serem os principais mediadores do aprendizado e do desenvolvimento

discente e agentes potenciais de transformaccedilatildeo da realidade escolar a Psicologia Escolar tem

investido na formaccedilatildeo continuada do corpo docente Sob essa perspectiva Aguiar (2000) buscou

analisar o movimento de consciecircncia dos professores de Satildeo Paulo durante um Grupo de

Formaccedilatildeo por meio das interaccedilotildees negociaccedilotildees confrontos de ideias e accedilotildees oportunizadas no

espaccedilo de formaccedilatildeo o qual na verdade se constituiu em um espaccedilo de intersubjetividade

Participando dos encontros do grupo a autora acompanhou as reflexotildees dos professores

que incidiam sobre questotildees relativas agraves dificuldades dos alunos agrave competecircncia docente e agrave

influecircncia da conjuntura poliacutetica da regiatildeo e pocircde perceber como estas reflexotildees foram lhes

possibilitando compreender a constituiccedilatildeo dos seus sentidos subjetivos Com base nessa

experiecircncia Aguiar (2000) defende que um processo de intervenccedilatildeo com os professores deve

investir na compreensatildeo do processo de configuraccedilatildeo subjetiva das tensotildees conflitos e sofrimentos

que permeiam a praacutetica desses profissionais como uma estrateacutegia para a construccedilatildeo de novas

formas de significaacute-la e inovaacute-la

Esta proposta de construccedilatildeo de um espaccedilo de intersubjetividade entre os professores estaacute

em consonacircncia agrave de Souza (2009) que entende que ldquofalar do professor e sua formaccedilatildeo da

perspectiva da Psicologia soacute faz sentido se o tomarmos como sujeito como ser singular cuja

subjetividade se produz nas condiccedilotildees materiais de sua existecircnciardquo (p 138) Para esta autora o

professor soacute teraacute condiccedilotildees de criar situaccedilotildees de aprendizagem que tomem os alunos como

protagonistas de seu processo se eles proacuteprios professores forem vistos como seres singulares

como sujeitos que tecircm uma histoacuteria particular Nessa direccedilatildeo a formaccedilatildeo de professores para aleacutem

de um discurso prescritivo como comumente ocorre no formato de palestras seminaacuterios e cursos

deve oportunizar momentos de reflexatildeo acerca dos aspectos que constituem o sujeito e satildeo

integrantes de sua subjetividade

Tambeacutem tratando de intervenccedilotildees com os professores Facci (2009) defende que a atuaccedilatildeo

da Psicologia Escolar na formaccedilatildeo continuada docente pode ser a de apresentar problematizar e

42

discutir a relaccedilatildeo desenvolvimento e aprendizagem ldquodestacando o quanto a intervenccedilatildeo do

professor pode provocar o desenvolvimento das funccedilotildees psicoloacutegicas dos alunosrdquo (p 119) Partindo

dos fundamentos da perspectiva histoacuterico-cultural a autora propotildee que os professores

compreendam que o aprendizado eacute a mola propulsora do desenvolvimento dos alunos e assim

possam explorar diferentemente o conhecimento cientiacutefico e os conteuacutedos curriculares Facci

(2009) ressalta que nos cursos de formaccedilatildeo de professores o psicoacutelogo escolar pode contribuir

para a transformaccedilatildeo da consciecircncia docente isto eacute pode contribuir para que os professores

constatem o quanto a sua accedilatildeo tem influecircncia nos rumos da trajetoacuteria formativa dos alunos e optem

consoante a esta constataccedilatildeo por estrateacutegias que ampliem a apropriaccedilatildeo ativa dos conhecimentos

Abordando o processo de tomada de consciecircncia por parte dos professores Faacutevero e

Machado (2003) destacam que as intervenccedilotildees em Psicologia Escolar que tecircm como intenccedilatildeo

reelaborar as praacuteticas dos professores estatildeo em uacuteltima anaacutelise buscando que haja uma

reformulaccedilatildeo interna por parte do professor a qual iraacute fundamentar a mudanccedila de suas accedilotildees O

processo chave para que o professor possa transformar o seu trabalho eacute no entendimento das

autoras a tomada de consciecircncia acerca dos objetivos educativos e dos meios disponiacuteveis para

alcanccedilaacute-los que leva a escolhas intencionais por parte do docente para atingir os objetivos

pretendidos

Partindo desse entendimento Faacutevero e Machado (2003) assumiram o desafio de acessar os

significados construiacutedos pelos professores em relaccedilatildeo agraves suas praacuteticas e de apoiar a sua

reformulaccedilatildeo Para tanto propuseram um trabalho com professores que atuam no ensino de inglecircs

com adultos tentando favorecer a tomada de consciecircncia em relaccedilatildeo agrave visatildeo deles sobre o aluno

adulto (que eacute inclusive um estudo diferencial na Psicologia Escolar tradicionalmente acostumada

a trabalhar com crianccedilas e adolescentes) agrave sua praacutetica de ensino e agraves possiacuteveis reformulaccedilotildees que

pode nela imprimir

Em encontros coletivos com quatro professores uma das autoras propunha discussotildees

acerca do entendimento dos docentes sobre a aprendizagem e o desenvolvimento humano das

possibilidades dos adultos aprenderem uma nova liacutengua e dos preconceitos que os levam a entender

que este aprendizado eacute mais difiacutecil nesta fase da vida da motivaccedilatildeo e envolvimento dos professores

no planejamento de atividades que favorecerem aos alunos superarem eventuais dificuldades entre

outros temas A cada encontro as autoras analisavam os debates e reflexotildees que haviam sido

suscitados no grupo e planejavam o encontro seguinte de maneira a dar continuidade agrave linha de

pensamento construiacuteda pelos professores A partir dessa experiecircncia Faacutevero e Machado (2003)

constataram que houve mudanccedila de concepccedilatildeo quanto agrave capacidade do aluno adulto apreender uma

nova liacutengua o que eacute fundamental para desencadear mudanccedila na praacutetica pedagoacutegica

Os exemplos apresentados tecircm em comum o reconhecimento do papel fundamental do

professor na promoccedilatildeo do desenvolvimento discente na construccedilatildeo de trajetoacuterias de sucesso e na

modificaccedilatildeo da realidade escolar Contudo apesar dos docentes serem protagonistas iacutempares no

43

processo educativo a qualidade da educaccedilatildeo natildeo pode ser totalmente atribuiacuteda a eles Por essa

razatildeo projetos em Psicologia Escolar que tenham a intenccedilatildeo de colaborar para a melhoria da

educaccedilatildeo natildeo podem se sustentar apenas na formaccedilatildeo e intervenccedilatildeo com o corpo docente pois

estariam a simplificar a complexidade do contexto escolar como era feito anteriormente quando a

ecircnfase era toda depositada no aluno Aleacutem disso direcionar as accedilotildees da Psicologia Escolar para os

professores exclusivamente pode tornar-se somente uma mudanccedila de foco (dos alunos para os

professores) que pouco traz contribuiccedilotildees significativas Eacute preciso que os psicoacutelogos escolares

estejam alertas agrave cilada de sob a intenccedilatildeo de desconstruir as antigas praacuteticas centradas nos alunos

natildeo desenvolvam accedilotildees prioritariamente direcionadas aos professores como se estes agora fossem

a via de soluccedilatildeo para os problemas escolares

Outro eixo de atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar tem sido em relaccedilatildeo agrave inclusatildeo escolar a qual

estaacute contida em uma noccedilatildeo mais ampla de inclusatildeo vinculada agraves diferentes formas de vida e de

participaccedilatildeo social A inclusatildeo escolar como parte da inclusatildeo social eacute uma expressatildeo da

ldquonecessidade de um processo educativo de qualidade para todos independentemente da condiccedilatildeo

socioeconocircmica gecircnero raccedila religiatildeo e das caracteriacutesticas distintivas individuaisrdquo (Martiacutenez

2005a p 96) De acordo com essa ampla concepccedilatildeo a inclusatildeo escolar natildeo se associa somente aos

alunos com necessidades educativas especiais apesar de que eacute em relaccedilatildeo a estes que recai a

maioria das intervenccedilotildees Alecrim (2005) realizou um estudo sobre o papel do psicoacutelogo escolar

frente agrave inclusatildeo buscando a partir da percepccedilatildeo de professores identificar possiacuteveis dimensotildees de

atuaccedilatildeo relacionadas a essa temaacutetica Os resultados indicaram que o psicoacutelogo escolar pode atuar

no sentido de promover reflexotildees criacuteticas que auxiliem os profissionais da escola como os

professores a encontrarem um sentido positivo para a inclusatildeo escolar de alunos com necessidades

educativas especiais e natildeo como um empecilho para o trabalho pedagoacutegico

A construccedilatildeo de um trabalho coletivo que os possibilite refletir criticamente sobre suas

accedilotildees eacute um espaccedilo feacutertil agrave Psicologia Escolar pois conforme identificou a autora mesmo

professores que tenham tido algum tipo de capacitaccedilatildeo na aacuterea do ensino especial natildeo reconhecem

que esta tenha contribuiacutedo para o desenvolvimento de competecircncias necessaacuterias para a inclusatildeo

escolar Situaccedilotildees semelhantes oportunizam ao psicoacutelogo escolar trabalhar com as concepccedilotildees

anguacutestias inquietaccedilotildees e decisotildees dos professores na medida em que elas vatildeo surgindo em um

processo de anaacutelise e reformulaccedilatildeo contiacutenua da praacutetica

Eacute consenso que os alunos com necessidades especiais assim como os ditos normais se

beneficiam das interaccedilotildees e do conviacutevio na escola uma vez que satildeo propulsores do

desenvolvimento contudo ainda eacute recorrente a ideia de que a inclusatildeo escolar natildeo eacute possiacutevel Esta

parece ser uma realidade no caso dos deficientes muacuteltiplos como constatou Silveira e Neves

(2004) em pesquisa realizada com dez pais e dez professores de crianccedilas com deficiecircncias

muacuteltiplas que frequentavam Centros de Ensino Especial no Distrito Federal Os resultados do

estudo apontaram que pais e professores concordam quanto agrave impossibilidade de se realizar a

44

inclusatildeo escolar do aluno com deficiecircncia muacuteltipla principalmente por atribuiacuterem maior impacto

agraves dificuldades e agraves limitaccedilotildees das crianccedilas e do contexto do que agraves potencialidades

Por essa razatildeo um possiacutevel espaccedilo de atuaccedilatildeo do psicoacutelogo escolar refere-se a ajudar os

professores a revisitarem suas concepccedilotildees deterministas quanto agraves possibilidades de

desenvolvimento dos alunos com necessidades especiais A ampliaccedilatildeo das concepccedilotildees acerca do

que seja o desenvolvimento e das aprendizagens consideradas significativas para pessoas com

necessidades especiais a anaacutelise sistemaacutetica das dificuldades e frustraccedilotildees advindas de um trabalho

desta natureza e a busca por novas estrateacutegias pedagoacutegicas podem ser um eixo de atuaccedilatildeo do

psicoacutelogo escolar

Outra possibilidade de atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar vinculada agrave ampla noccedilatildeo de inclusatildeo

apesar de ainda pouco explorada diz respeito ao desenvolvimento dos alunos com altas

habilidades os quais tambeacutem requerem serviccedilos e atividades diferenciados para atender suas

necessidades Apesar de a superdotaccedilatildeo ser um fenocircmeno que envolve uma multiplicidade de

aspectos como os cognitivos afetivos sociais educacionais e familiares Fleith (2009) indica que a

atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar na aacuterea das altas habilidades tem sido limitada apresentando-se

portanto como um campo que merece maior atenccedilatildeo

Diante da necessidade de evidenciar possiacuteveis contribuiccedilotildees da atuaccedilatildeo dos psicoacutelogos

escolares em relaccedilatildeo ao desenvolvimento da superdotaccedilatildeo a autora apresenta algumas questotildees

que podem ser alvo de intervenccedilatildeo desconstruccedilatildeo de ideias errocircneas ou mitos acerca do

superdotado avaliaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de alunos com altas habilidades reconhecimento de fatores

que interferem negativamente no desempenho acadecircmico dos alunos elaboraccedilatildeo de estrateacutegias

pedagoacutegicas que atendam suas necessidades orientaccedilatildeo profissional aos alunos superdotados

implantaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas relacionadas agraves altas habilidades entre outras Alguns resultados

de pesquisa na aacuterea das altas habilidades indicam que as possiacuteveis intervenccedilotildees em Psicologia

Escolar sugeridas por Fleith (2009) mostram-se pertinentes agrave realidade escolar

O estudo realizado por Maia-Pinto e Fleith (2002) sobre a percepccedilatildeo de professores de

escolas particulares e puacuteblicas de Brasiacutelia em relaccedilatildeo aos alunos superdotados por exemplo

mostra que apesar dos docentes considerarem que a escola tem um papel importante na educaccedilatildeo

do aluno superdotado estes natildeo eram atendidos de forma diferenciada As autoras indicaram ainda

que os professores tinham um conhecimento superficial acerca da superdotaccedilatildeo e do processo de

identificaccedilatildeo do aluno com altas habilidades aleacutem de natildeo contarem com uma orientaccedilatildeo especiacutefica

sobre praacuteticas educacionais mais condizentes com as necessidades desses alunos Dessa forma a

Psicologia Escolar em seu compromisso com a inclusatildeo tem no trabalho com os atores escolares

neste caso os professores especialmente uma oportunidade de contribuir para a promoccedilatildeo do

desenvolvimento discente

No caso das altas habilidades eacute imperioso refletir acerca da crenccedila de que o aluno

superdotado tem as condiccedilotildees necessaacuterias e suficientes para desenvolver diferentes habilidades e

45

produzir conhecimento independente da accedilatildeo do meio Crenccedilas dessa natureza tecircm impacto direto

no planejamento de estrateacutegias pedagoacutegicas diferenciadas que atendam as necessidades dos alunos

superdotados e na implantaccedilatildeo de programas especiacuteficos de estimulaccedilatildeo Eacute preciso portanto

trabalhar pela desconstruccedilatildeo de alguns mitos e preconceitos que cercam a ideia do aluno

superdotado os quais foram construiacutedos na intersubjetividade social e da escola

Para aleacutem de questotildees relativas ao contexto escolar a atuaccedilatildeo do psicoacutelogo escolar em

relaccedilatildeo agraves altas habilidades tambeacutem pode estender-se para a famiacutelia Nesse sentido pode acolher as

duacutevidas e inseguranccedilas dos pais oferecer orientaccedilotildees acerca das caracteriacutesticas dos superdotados e

das praacuteticas adotadas na escola para favorecer o seu desenvolvimento discutir e estabelecer

estrateacutegias para estimular o filho e ajudaacute-lo na construccedilatildeo de seus interesses aleacutem de outras mais

(Fleith 2009)

O trabalho da Psicologia Escolar frente agrave inclusatildeo eacute extremamente desafiante

principalmente na medida em que natildeo se trata apenas de uma questatildeo de preparaccedilatildeo teacutecnica dos

psicoacutelogos escolares Conforme destaca Martiacutenez (2005a) ldquoo essencial natildeo eacute estar ou natildeo

preparado tecnicamente Isso eacute sem duacutevida importante poreacutem secundaacuterio em relaccedilatildeo ao essencial

o compromisso com os mais desfavorecidos o querer trabalhar para transformar essa situaccedilatildeordquo (p

112) Se propor a contribuir para um processo real de inclusatildeo escolar requer por parte dos

proacuteprios psicoacutelogos escolares reflexatildeo e desconstruccedilatildeo de seus mitos vinculaccedilatildeo efetiva com uma

perspectiva inclusiva e de promoccedilatildeo do desenvolvimento e a construccedilatildeo de competecircncias que os

possibilitem agir em prol da aprendizagem e do desenvolvimento de todos respeitando e

estimulando suas diferenccedilas

Entendendo que o desenvolvimento das potencialidades humanas estaacute intimamente

relacionado agrave criatividade este eacute mais um eixo de pesquisa e de intervenccedilatildeo em Psicologia Escolar

Segundo Martiacutenez (2002) o incremento intencional da criatividade no contexto escolar pode se dar

em trecircs direccedilotildees o do desenvolvimento da criatividade do aluno dos professores e da escola como

instituiccedilatildeo A respeito da criatividade Alencar e Fleith (2008) investigaram a percepccedilatildeo de

professores do ensino fundamental em relaccedilatildeo agraves barreiras que dificultam o desenvolvimento da

capacidade criativa de seus alunos a qual pode ser uma estrateacutegia para orientar as accedilotildees de

formaccedilatildeo com os professores O estudo se realizou pela aplicaccedilatildeo de um checklist que incluiacuteam

possiacuteveis barreiras agrave promoccedilatildeo da criatividade como falta de autonomia desinteresse do aluno

baixo incentivo para inovar falta de material didaacutetico entre outros Os resultados mostraram que as

principais barreiras apontadas pelos professores satildeo externas a eles como o elevado nuacutemero de

alunos a presenccedila de alunos com dificuldades em sala de aula desinteresse pelo conteuacutedo baixo

reconhecimento do trabalho docente a extensatildeo do programa a ser cumprido e a escassez de

material As barreiras menos apontadas satildeo as que se vinculam ao proacuteprio professor e suas

vivecircncias subjetivas como inseguranccedila para testar novas praacuteticas falta de autonomia e falta de

entusiasmo pela atividade docente

46

Apesar dos professores se considerarem preparados para favorecer o desenvolvimento da

criatividade os psicoacutelogos escolares que trabalham diretamente com as questotildees subjetivas que

permeiam a praacutetica educativa devem atentar-se para a possiacutevel resistecircncia por parte dos professores

em admitir que dificuldades pessoais possam estar se configurando como barreiras agrave promoccedilatildeo da

criatividade Como mencionam as autoras ldquoeacute mais faacutecil deslocar para o aluno a escola ou a

sociedade os fatores que dificultam o seu trabalho docenterdquo (Alencar amp Fleith 2008 p 64)

isentando-se de sua responsabilidade profissional

Em relato feito por Alencar (2007) acerca do estudo da criatividade no contexto educativo

apreende-se um ponto que eacute de interesse especial para as intervenccedilotildees em Psicologia Escolar

relacionado agraves dificuldades dos professores em romperem com antigas praacuteticas Refere-se agraves

compreensotildees equivocadas dos professores acerca da criatividade as quais englobam o

entendimento de que todo ser humano eacute naturalmente criativo independente do ambiente de que a

criatividade eacute igual em todas as pessoas e de que eacute algo que acontece por acaso Tendo em vista

que as concepccedilotildees que se tem de um fenocircmeno satildeo orientadoras da forma como agimos em relaccedilatildeo

a ele atuar junto agraves concepccedilotildees dos professores em relaccedilatildeo agrave criatividade eacute um procedimento que

pode contribuir para a modificaccedilatildeo das praacuteticas docentes

Em relaccedilatildeo agrave Educaccedilatildeo Superior Alencar (2002) Alencar e Fleith (2010) e Jackson (2006)

referem que pouca atenccedilatildeo tem sido dada ao desenvolvimento das habilidades criativas neste niacutevel

educativo Apesar de ser consensual que a criatividade tem importante funccedilatildeo na formaccedilatildeo dos

futuros profissionais uma vez que os possibilitaraacute responder de maneira mais adequada aos

desafios profissionais dominar estrateacutegias mais eficientes e resolver problemas inesperados

poucas experiecircncias tecircm se dedicado ao desenvolvimento e expressatildeo da criatividade na Educaccedilatildeo

Superior

Amaral e Martiacutenez (2006) realizaram um estudo de caso com um aluno universitaacuterio

criativo partindo do pressuposto de que elementos subjetivos como o alto grau de motivaccedilatildeo para a

aprendizagem capacidade reflexiva sobre si mesmo autodeterminaccedilatildeo vinculada agrave superaccedilatildeo

flexibilidade independecircncia autonomia entre outros tecircm importante papel na expressatildeo da

criatividade no processo de aprendizagem A partir dos dados construiacutedos ao longo do estudo as

autoras indicaram que existe uma relaccedilatildeo recursiva entre a constituiccedilatildeo do sentido subjetivo na

aprendizagem e a expressatildeo criativa nesse processo De um lado a constituiccedilatildeo do sentido

subjetivo na aprendizagem do aluno alimenta a criatividade de outro a aprendizagem criativa

oportuniza vivecircncias que o fortalecem como aluno e contribuem para a construccedilatildeo de sentidos que

fortificam uma relaccedilatildeo positiva com a aprendizagem (Amaral amp Martiacutenez 2006) Evidencia-se

assim que o contexto educativo no seio do processo de aprendizagem pode ser um espaccedilo

privilegiado para o desenvolvimento da criatividade e para a promoccedilatildeo de sauacutede exigindo que os

profissionais habilitem-se no sentido de compreender como se daacute esse processo e de identificar

47

estrateacutegias que possam desenvolver nos alunos os recursos pessoais que lhe permitam uma accedilatildeo

criativa

Tambeacutem no acircmbito da poacutes-graduaccedilatildeo mas com foco nos docentes Barreto e Martiacutenez

(2007) investigaram entre professores de poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu na Bahia possibilidades de

transformarem sua praacutetica educativa num processo criativo e inovador A partir do estudo

realizado as autoras constataram que os professores reconhecem a importacircncia da criatividade no

contexto educacional mas apontam que eacute preciso estrateacutegias e accedilotildees para que a estimulem

especialmente quando as trajetoacuterias satildeo marcadas pela falta de capacitaccedilatildeo quanto a uma

metodologia de ensino criativa Uma opccedilatildeo sugerida pelas autoras e que se coaduna agrave atuaccedilatildeo em

Psicologia Escolar eacute a de desenvolver um programa permanente de formaccedilatildeo continuada neste

caso com foco nas concepccedilotildees de criatividade dos professores e nos recursos subjetivos que

podem facilitar ou dificultar o trabalho pedagoacutegico criativo

Em estudo recentemente realizado com professores de Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior

puacuteblicas e privadas Alencar e Fleith (2010) constaram que entre as quatro principais barreiras

apontadas pelos professores ao desenvolvimento das habilidades criativas trecircs diziam respeito aos

estudantes tendo havido inclusive um elevado nuacutemero de docentes que indicou a presenccedila de

alunos com dificuldades de aprendizagem como uma importante barreira Muitas hipoacuteteses e

problematizaccedilotildees podem e devem ser levantadas a partir destes dados impulsionando outros

estudos contudo jaacute eacute de destacar um aspecto frutiacutefero agrave atuaccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares que eacute

junto agrave compreensatildeo dos professores acerca da necessidade dos alunos terem preacute-requisitos para

aprender De acordo com o que jaacute foi sinalizado em outras ocasiotildees a concepccedilatildeo de aprendizagem

e de desenvolvimento dos professores eacute basilar para seu exerciacutecio profissional

Soma-se ao trabalho com os professores a atuaccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares no que tange

agraves propostas curriculares e pedagoacutegicas dos cursos superiores as quais muitas vezes estatildeo

principalmente voltadas para a transmissatildeo de conhecimento e pouco privilegiam espaccedilos e

estrateacutegias diferenciadas de ensino de aprendizagem e de avaliaccedilatildeo ldquoEmbora se espere que os

estudantes sejam criativos a criatividade eacute raramente incluiacuteda nos planos de disciplinas como um

objetivo expliacutecito a ser alcanccedilado no decorrer do cursordquo (Alencar amp Fleith 2010 p 203) o que

mais uma vez abre uma importante frente de intervenccedilatildeo em Psicologia Escolar

Conforme resume Jackson (2006) uma das conclusotildees mais importantes oportunizada

pelos estudos nesta aacuterea eacute a de que a criatividade estaacute no coraccedilatildeo da identidade dos estudantes

mesmo natildeo sendo foco da intervenccedilatildeo intencional da instituiccedilatildeo as pesquisas mostram que ela eacute

extremamente relevante na forma como os estudantes veem a si mesmos Por essa razatildeo e como

evidenciam os exemplos apresentados a promoccedilatildeo da criatividade eacute um possiacutevel eixo de atuaccedilatildeo

da Psicologia Escolar que sempre deve ter em perspectiva que a criatividade natildeo eacute de ordem

individual exclusivamente e engloba um conjunto de fatores que dificultam e promovem o seu

desenvolvimento e a sua expressatildeo Ademais as intervenccedilotildees devem buscar resultados que natildeo

48

fiquem restritos a um dos segmentos escolares ndash os alunos por exemplo - mas que tenham o

potencial de transbordar para os demais

Outro campo emergente de atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar tem sido em relaccedilatildeo agrave proposta

pedagoacutegica da escola haja vista que historicamente os profissionais da aacuterea natildeo participavam da

sua construccedilatildeo A partir da anaacutelise da Lei de Diretrizes e Bases (1996) Del Prette (1999) apontou

algumas alternativas de atuaccedilatildeo do psicoacutelogo na escola entre elas a assessoria na elaboraccedilatildeo

implementaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo permanente do projeto pedagoacutegico De acordo com a autora a

construccedilatildeo de uma proposta pedagoacutegica natildeo eacute uma tarefa simples e deve se pautar num processo de

reflexatildeo acerca dos objetivos educacionais estabelecidos na legislaccedilatildeo e a reais condiccedilotildees de cada

escola em alcanccedilar tais objetivos As reflexotildees empreendidas no acircmbito da escola para subsidiar a

elaboraccedilatildeo desse documento buscam fazer com que ela seja de fato um reflexo dos princiacutepios

intenccedilotildees e orientaccedilotildees da escola passiacutevel de ser implementado e natildeo simplesmente o

cumprimento de uma exigecircncia formal Nessa direccedilatildeo Martiacutenez (2003) destaca que

o processo de construccedilatildeo implantaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo contiacutenua da proposta pedagoacutegica da

escola constitui uma das principais direccedilotildees do trabalho na instituiccedilatildeo escolar toda vez que

expressa por uma parte a intencionalidade do trabalho educativo em direccedilotildees claramente

definidas e por outra a estruturaccedilatildeo articulada das estrateacutegias e accedilotildees por meio das quais

os objetivos educativos seratildeo atingidos (p 106)

Com base nessa compreensatildeo acerca da funccedilatildeo da proposta pedagoacutegica no alcance das

metas formativas Martiacutenez (2003) desenvolveu um trabalho de consultoria em uma escola de

educaccedilatildeo infantil e ensino fundamental de Brasiacutelia que contava com a atuaccedilatildeo de uma psicoacuteloga

escolar A autora descreve o processo em duas etapas a primeira de construccedilatildeo da concepccedilatildeo

geral e a segunda de implantaccedilatildeo e de monitoramente das accedilotildees desenvolvidas O objetivo da

primeira etapa era o de delinear os aspectos centrais que iriam embasar a proposta pedagoacutegica da

escola e para tanto contou com atividades de sensibilizaccedilatildeo e de reflexatildeo sobre o que eacute uma

proposta pedagoacutegica e a sua funccedilatildeo nos trabalhos desenvolvidos na escola atividades grupais

voltadas agrave elaboraccedilatildeo coletiva da visatildeo da escola e da formaccedilatildeo que deseja oferecer articulaccedilatildeo

entre a visatildeo coletivamente construiacuteda pelos atores escolares e os referenciais teoacutericos assumidos

pela escola e por fim elaboraccedilatildeo do documento final da proposta

A segunda fase de implantaccedilatildeo e acompanhamento foi orientada pelo objetivo de

conseguir que as bases definidas no documento inicial da proposta pedagoacutegica se expressassem na

accedilatildeo educativa cotidiana Envolveu um conjunto de accedilotildees como estudo e discussatildeo em grupo

acerca do documento elaborado focalizando as bases teoacutericas da proposta e sua operacionalizaccedilatildeo

do dia-a-dia diagnoacutestico das necessidades de formaccedilatildeo dos docentes planejamento e realizaccedilatildeo

das praacuteticas educativas entre outros Ao longo dessa etapa Martiacutenez (2003) relata que surgiram

diferentes tipos de conflitos que demandaram a intervenccedilatildeo da direccedilatildeo da escola como forma de

49

administraacute-los e dar continuidade ao processo o qual evidenciou a complexidade envolvida na

mudanccedila de cultura de haacutebitos de trabalho e de espaccedilos de comunicaccedilatildeo

A partir dessa experiecircncia Martiacutenez (2003) apresentou algumas consideraccedilotildees sobre quatro

accedilotildees dos psicoacutelogos escolares que a seu ver emergem da atuaccedilatildeo junto agrave construccedilatildeo e

implantaccedilatildeo de uma proposta pedagoacutegica Acerca do trabalho como consultor refere que cabe ao

profissional planejar as accedilotildees relativas a cada momento coordenando-as e monitorando sua

evoluccedilatildeo Em relaccedilatildeo aos projetos de trabalho especiacuteficos que surgem como estrateacutegias

subsidiadoras da elaboraccedilatildeo da proposta a autora aponta que o psicoacutelogo escolar pode coordenar

tais projetos como eacute o caso do que foi desenvolvido no trabalho de consultoria para caracterizar a

populaccedilatildeo estudantil

seus objetivos essenciais direcionavam-se agrave caracterizaccedilatildeo das turmas e dos alunos num

conjunto de aspectos importantes de forma a se obter informaccedilatildeo sistematizada para ser

utilizada pelas coordenadoras pedagoacutegicas e pelos professores no planejamento e

desenvolvimento do trabalho docente educativo e na avaliaccedilatildeo do processo de

desenvolvimento dos alunos (Martiacutenez 2003 p 119)

Outra accedilatildeo que o psicoacutelogo escolar tambeacutem pode desenvolver refere-se agrave formaccedilatildeo

continuada de professores que no trabalho realizado ocorreu de trecircs formas conduccedilatildeo do

aprofundamento das bases teoacuterico-conceituais que sustentam a proposta pedagoacutegica

especificamente no estudo da perspectiva histoacuterico-cultural do desenvolvimento humano incentivo

e mediaccedilatildeo das reflexotildees criacuteticas sobre a praacutetica tendo como base os fundamentos conceituais

assumidos na proposta pedagoacutegica realizaccedilatildeo de projetos e pesquisas em sala de aula

desenvolvidos com os professores por meio de espaccedilos de diaacutelogo e troca de experiecircncias

(Martiacutenez 2003)

Outra accedilatildeo que tambeacutem pode contar com a participaccedilatildeo do psicoacutelogo escolar eacute no sistema

de seleccedilatildeo de professores e coordenadores pedagoacutegicos que compartilhem do trabalho pedagoacutegico

concebido pela escolar e expresso em sua proposta pedagoacutegica A experiecircncia de intervenccedilatildeo

relatada anteriormente evidencia que o envolvimento dos psicoacutelogos escolares na construccedilatildeo da

proposta pedagoacutegica estaacute ancorado em uma compreensatildeo ampliada e abrangente da atuaccedilatildeo da

Psicologia Escolar Idealizar planejar e implementar accedilotildees que prezem pela participaccedilatildeo de todos

num processo de construccedilatildeo eminentemente coletivo eacute indispensaacutevel agrave elaboraccedilatildeo de qualquer

proposta que se pretenda transformadora pois para isso eacute necessaacuterio coesatildeo dos envolvidos em

torno dos princiacutepios valores objetivos funccedilotildees e responsabilidades

Conforme jaacute sinalizado por Martiacutenez (2003) no relato da experiecircncia com a proposta

pedagoacutegica um novo espaccedilo de atuaccedilatildeo do psicoacutelogo escolar diz respeito agrave seleccedilatildeo de professores

e outros atores escolares Selecionar pessoal eacute tradicionalmente uma funccedilatildeo desenvolvida pelos

psicoacutelogos da aacuterea organizacional contudo o reconhecimento de que a qualidade do trabalho

educativo estaacute vinculada agrave harmonia entre as concepccedilotildees dos profissionais acerca dos processos de

50

desenvolvimento de ensino e de aprendizagem e as que orientam a proposta da escola tem

evidenciado um novo campo de atuaccedilatildeo para o psicoacutelogo escolar Nessa direccedilatildeo Avelar Leitatildeo e

Martiacutenez (2003) apresentaram uma experiecircncia de seleccedilatildeo de professores desenvolvida em uma

escola particular de educaccedilatildeo infantil e ensino fundamental do Distrito Federal partindo da ideia de

que a contrataccedilatildeo de novos colaboradores deve ser conduzida pela confluecircncia entre os princiacutepios

teoacutericos que direcionam o trabalho da escola e aqueles valorizados pelo profissional professor

coordenador ou outro

A experiecircncia de seleccedilatildeo em Psicologia Escolar relatado pelas autoras compreende cinco

etapas anaacutelise curricular avaliaccedilatildeo do conhecimento geral do candidato na aacuterea da educaccedilatildeo e suas

concepccedilotildees sobre o processo ensino-aprendizagem anaacutelise das caracteriacutesticas pessoais do

candidato como lideranccedila comunicabilidade criticidade entre outros avaliaccedilatildeo da competecircncia

didaacutetica dos candidatos e entrevista semi-estruturada Finalizado o processo as psicoacutelogas se

colocam a disposiccedilatildeo dos candidatos para comentar a pedido deles os aspectos que foram

relevantes para tomar a decisatildeo Apoacutes a contrataccedilatildeo do professor as informaccedilotildees que foram

reunidas ao longo do processo seletivo servem ainda como orientadoras da formaccedilatildeo continuada

que seraacute proposta aos docentes tomando por base nas diretrizes na proposta pedagoacutegica da escola

Sendo assim todo o processo seletivo eacute conduzido a partir dos fundamentos princiacutepios

objetivos e expectativas estabelecidos na proposta pedagoacutegica da escola de maneira que

o caraacuteter inovador desse processo seletivo estaacute exatamente na relaccedilatildeo que ele estabelece

com o projeto pedagoacutegico ou seja todas as etapas estatildeo relacionadas agraves teses e princiacutepios

norteadores do projeto assim como no aproveitamento das diversas informaccedilotildees obtidas

sobre os professores selecionados as quais fornecem dados importantes para a formaccedilatildeo

continuada dos mesmos (Avelar Leitatildeo amp Martiacutenez 2003 p 217)

Este exemplo de atuaccedilatildeo na seleccedilatildeo de membros da equipe pedagoacutegica mostra o quanto

atividades tradicionalmente desenvolvidas por outra aacuterea da Psicologia podem ser realizadas pelos

profissionais da Psicologia Escolar sem implicar disputa ou sobreposiccedilatildeo de funccedilotildees uma vez que

o processo seletivo apresenta uma especificidade o conhecimento e domiacutenio do psicoacutelogo escolar

acerca dos fundamentos teoacuterico-conceituais e filosoacuteficos sobre a educaccedilatildeo e seus processos e a

articulaccedilatildeo desses fundamentos com a proposta pedagoacutegica especiacutefica da escola Assim o foco da

seleccedilatildeo desloca-se das caracteriacutesticas pessoais do candidato que melhor se enquadram no perfil de

determinado cargo para a integraccedilatildeo entre os interesses e valores da instituiccedilatildeo e do profissional

para a coerecircncia entre concepccedilotildees como ensinar aprender desenvolver avaliar

Os relatos de pesquisa e de intervenccedilatildeo apresentados nesta seccedilatildeo satildeo algumas das

experiecircncias relatadas na literatura contemporacircnea em Psicologia Escolar escolhidas para essa

apresentaccedilatildeo a despeito de existirem outras experiecircncias igualmente significativas criacuteticas e

emergentes que abordam a inclusatildeo de pessoas com deficiecircncia mental (Anache 2005 2007

2009) a atuaccedilatildeo na educaccedilatildeo infantil e em creches (Costa 2010 Costa amp Guzzo 2006 Vectore

51

2010 Vectore amp Maiomini 2007 Yokoy amp Pedroza 2005) abrigos (Vectore 2005 Vectore amp

Carvalho 2009) organizaccedilotildees natildeo governamentais (Carvallho 2007 Dadico 2003 Soares 2008)

junto a crianccedilas em situaccedilatildeo de risco psicossocial (SantrsquoAna Costa amp Guzzo 2008) e no

desenvolvimento de poliacuteticas puacuteblicas (Marinho-Arauacutejo amp Neves 2007 Martiacutenez 2007)

Os exemplos de pesquisa e intervenccedilatildeo apresentados nesta seccedilatildeo representam algumas das

possibilidades de atuaccedilatildeo da Psicologia no contexto educativo e tecircm como aspecto diferencial o

compromisso com a transformaccedilatildeo da praacutetica cotidiana desenvolvida nas instituiccedilotildees escolares

entendendo que nesta praacutetica estatildeo contemplados todos os atores escolares entre eles o proacuteprio

psicoacutelogo escolar Assim a Psicologia Escolar tem buscado produzir modificaccedilotildees nos contextos

educativos ao mesmo tempo em que desenvolve modelos e praacuteticas qualitativamente diferentes de

atuaccedilatildeo

A partir de accedilotildees direcionadas para diferentes dimensotildees do processo educativo ndash

preparaccedilatildeo dos membros da equipe pedagoacutegica atendimento agraves queixas escolares favorecimento

da inclusatildeo e respeito agrave diversidade desenvolvimento da expressatildeo criativa construccedilatildeo da proposta

pedagoacutegica aleacutem de outras ndash os psicoacutelogos escolares vecircm tentando abandonar o foco sobre os

indiviacuteduos e priorizar a conexatildeo e interdependecircncia existente entre estas dimensotildees Assumem

entatildeo que os fenocircmenos natildeo estatildeo isolados mas ao contraacuterio manteacutem diferentes relaccedilotildees que

precisam ser consideradas quando da elaboraccedilatildeo de uma proposta de atuaccedilatildeo em Psicologia

Escolar Mesmo que centrada em uma dimensatildeo especiacutefica como a seleccedilatildeo de professores por

exemplo ela se alimenta da proposta pedagoacutegica da escola e da avaliaccedilatildeo dos membros da equipe

pedagoacutegica assim como tambeacutem se desdobra na formaccedilatildeo continuada dos professores e no

acompanhamento do processo de ensino-aprendizagem agrave luz das noccedilotildees de inclusatildeo escolar e de

queixas escolares

Aleacutem do reconhecimento da interconexatildeo entre as diferentes dimensotildees a serem

consideradas em uma proposta de atuaccedilatildeo as recentes experiecircncias da aacuterea tecircm levado os

profissionais a constarem que para conseguir resultados mais abrangentes eacute necessaacuterio adotar

procedimentos que ampliem o poder de sua accedilatildeo Assim a adoccedilatildeo de estrateacutegias de natureza

coletiva que envolvem a participaccedilatildeo dos diferentes atores ndash professores coordenadores diretores

funcionaacuterios pais alunos ndash vecircm sendo mais recorrente sem contudo abandonar accedilotildees individuais

A presenccedila da Psicologia Escolar no Mundo

No ano de 2003 Oakland (2003) indicou que existiam serviccedilos de Psicologia Escolar de

forma institucionalizada em aproximadamente 30 paiacuteses Recentemente este dado foi atualizado e

ampliado a partir de uma pesquisa realizada por Jimerson Skokut Cardenas Malone e Stewart

(2008) junto aos 192 Estados Membros das Naccedilotildees Unidas Os autores investigaram entre estes

paiacuteses quantos e quais tecircm psicoacutelogos escolares e qual a evidecircncia encontrada em cada um deles

que permitisse afirmar a presenccedila de tais profissionais Os autores descobriram que dos 192 paiacuteses

52

83 (43) tinham psicoacutelogos escolares entre eles Argentina Austraacutelia Brasil Canadaacute Chile

China Cuba Equador Egito Estados Unidos Finlacircndia Greacutecia Iacutendia Iratilde Japatildeo Jordacircnia

Lutuacircnia Meacutexico Nigeacuteria Paraguai Peru Portugal Ruacutessia Tanzacircnia Turquia Venezuela e

outros mais

Os criteacuterios adotados para indicar a evidecircncia da Psicologia Escolar no paiacutes foram a

presenccedila de profissionais que satisfazem as funccedilotildees caracteriacutesticas do psicoacutelogo escolar

regulamentaccedilotildees ou leis que estabelecem a formaccedilatildeo registro e credenciamento necessaacuterios aos

profissionais da aacuterea associaccedilotildees profissionais de Psicologia Escolar programas universitaacuterios que

preparam psicoacutelogos escolares e programas universitaacuterios que oferecem formaccedilatildeo em Psicologia

Escolar em niacutevel de doutorado Dentre os 83 paiacuteses com psicoacutelogo escolar existe grande

diversidade no que se refere ao atendimento a estes criteacuterios o que faz com que exista uma

variaccedilatildeo consideraacutevel no grau em que a Psicologia Escolar estaacute estabelecida no mundo (Jimerson

Skokut amp cols 2008)

Quanto ao nuacutemero de profissionais pelo mundo existem por volta de 100 a 100 mil

psicoacutelogos escolares trabalhando internacionalmente dos quais cerca de 25 mil estatildeo nos Estados

Unidos (Oakland 2003) e 32 mil estatildeo na China (Ding Kuo amp Dyke 2008) Apesar de a escola ser

o principal local de trabalho dos psicoacutelogos escolares (Reschly 2003 Jimerson Skokut amp cols

2008) existem ainda mais trecircs mil trabalhando em outras funccedilotildees dentro da escola como diretor

de educaccedilatildeo especial por exemplo e em contextos cliacutenicos e de sauacutede mental externos agrave escola

(Oakland 2003 Reschly 2003)

Com o objetivo de compor um quadro atual da Psicologia Escolar no mundo pesquisas

internacionais usando dados coletados pelo International School Psychology Survey (ISPS) um

instrumento desenvolvido em colaboraccedilatildeo por pesquisadores de vaacuterios paiacuteses forneceram

informaccedilotildees sobre o processo de formaccedilatildeo e regulamentaccedilatildeo da profissatildeo as caracteriacutesticas dos

psicoacutelogos escolares seus papeacuteis e responsabilidades e os desafios que encontram ao longo da

carreira (Jimerson Graydon Farrell amp cols 2004 Jimerson Graydon Skokut amp cols 2008

Jimerson Graydon Yuen amp cols 2006)

As pesquisas foram realizadas em 13 paiacuteses (Albacircnia Cyprus Estocircnia Greacutecia Inglaterra

Austraacutelia China Alemanha Itaacutelia Ruacutessia Geoacutergia Suiacuteccedila e Emirados Aacuterabes) e apontaram

similaridades e diferenccedilas entre eles Nestes paiacuteses os psicoacutelogos escolares satildeo em sua maioria do

gecircnero feminino com exceccedilatildeo da Alemanha em que haacute igualdade entre os dois gecircneros e da Suiacuteccedila

em que prevalecem os psicoacutelogos do gecircnero masculino (61) Haacute tambeacutem prevalecircncia feminina

em Moscou onde 95 dos 2000 mil psicoacutelogos escolares satildeo do gecircnero feminino (Malykh

Barsky Kutuzova amp Malykhin 2002) A meacutedia de idade dos psicoacutelogos escolares varia bastante

de 25 (Albacircnia) a 53 anos (Alemanha)

Em relaccedilatildeo ao desenvolvimento da Psicologia Escolar no mundo Reschly (2003) aponta

que o crescimento vivenciado nos uacuteltimos 25 anos deve-se principalmente agrave garantia em lei dos

53

direitos educacionais aos estudantes com deficiecircncia o que contribuiu para que a atuaccedilatildeo dos

psicoacutelogos escolares se vinculasse muito agrave educaccedilatildeo especial no trabalho com alunos com

deficiecircncia mental distuacuterbios emocionais e dificuldades de aprendizagem O desenvolvimento da

Psicologia Escolar como um reflexo das regulamentaccedilotildees que estabelecem a necessidade de

atendimento especializado agraves crianccedilas com necessidades especiais eacute reconhecido em paiacuteses como

os Estados Unidos (Reschly 2003) Greacutecia (Theodore Bray Kehle amp Dioguardi 2002) Itaacutelia

(Trombetta Alessandri amp Coyne 2008) e Hong Kong (Ding Kuo amp Dyke 2008)

Em virtude da necessidade de identificar os alunos que precisavam de intervenccedilotildees

especiais a avaliaccedilatildeo psicoloacutegica realizada no contexto da educaccedilatildeo especial foi uma caracteriacutestica

que marcou a Psicologia Escolar em diferentes paiacuteses especialmente pelo uso de testes

padronizados Atualmente entretanto esta situaccedilatildeo tem mudado em alguns paiacuteses conforme

comentam Theodore e cols (2002) em relaccedilatildeo agrave Greacutecia ldquono momento o papel do psicoacutelogo

escolar que trabalha nessas escolas eacute relativamente progressista e diversificado Por exemplo eles

orientam as famiacutelias e professores auxiliando-os a lidar com desordens comportamentais

coordenam programas de prevenccedilatildeo primaacuteria e oferecem treinamento profissionalrdquo (p 151)

No que diz respeito agraves principais atividades realizadas pelos psicoacutelogos escolares existe

certa consistecircncia nas accedilotildees da aacuterea em virtude principalmente da ecircnfase na avaliaccedilatildeo

psicoeducacional e no aconselhamento aos estudantes (Malykh Barsky Kutuzova amp Malykhin

2002 Jimerson Graydon Farrell amp cols 2004 Jimerson Graydon Skokut amp cols 2008

Jimerson Graydon Yuen amp cols 2006) Diferentemente na Itaacutelia a maior parte das atividades eacute

desenvolvida com os pais o contato direto com os estudantes por meio do aconselhamento ou

orientaccedilatildeo eacute pouco mencionado pelos psicoacutelogos escolares sendo que as intervenccedilotildees com toda a

turma de alunos satildeo mais frequentes O trabalho com os professores eacute realizado por meio de uma

combinaccedilatildeo entre accedilotildees de formaccedilatildeo e apoio na resoluccedilatildeo de problemas enquanto intervenccedilotildees

com os administradores satildeo quase inexistentes (Trombetta amp cols 2008)

A histoacuterica vinculaccedilatildeo da Psicologia Escolar com a Medicina que inclusive levou agrave

patologizaccedilatildeo do contexto escolar ainda eacute bastante presente na China pois neste paiacutes a Psicologia

Escolar natildeo eacute reconhecida como uma profissatildeo independente e eacute exercida por pediatras

psiquiatras aleacutem de outros profissionais como professores de educaccedilatildeo especial (Ding amp cols

2008) Neste mesmo paiacutes programas especiacuteficos de formaccedilatildeo em Psicologia Escolar ainda natildeo

existem ldquonenhum programa de treinamento formal diplomas praacutetica ou sistemas de acreditaccedilatildeo

de certificados receberam reconhecimento oficialrdquo (Ding amp cols 2008 p 540) Esse fato contribui

para que o desenvolvimento da aacuterea no paiacutes ainda esteja em um niacutevel rudimentar carecendo de

mais envolvimento compromisso e accedilatildeo por parte do governo dos profissionais e pesquisadores da

aacuterea dos estudantes e da sociedade

Apesar de terem muitas semelhanccedilas em termos de liacutengua cultura valores e tradiccedilotildees

Hong Kong tem histoacuteria e caracteriacutesticas diferentes da China em relaccedilatildeo agrave Psicologia Escolar

54

Segundo Ding e cols (2008) Hong Kong devido agrave sua influecircncia britacircnica foi o primeiro paiacutes da

Aacutesia a reconhecer a profissatildeo de psicoacutelogo escolar e a ter um programa de formaccedilatildeo oficial As

funccedilotildees desenvolvidas satildeo de intervenccedilatildeo avaliaccedilatildeo consultas administraccedilatildeo e pesquisa

A partir da siacutentese sobre a situaccedilatildeo da Psicologia Escolar no mundo pode-se dizer que

apesar das similaridades ela difere de paiacutes para paiacutes especialmente em relaccedilatildeo ao perfil dos

psicoacutelogos agraves exigecircncias relativas agrave formaccedilatildeo e preparaccedilatildeo profissional agraves atividades

desenvolvidas e ao reconhecimento da aacuterea que entre outros desdobramentos contribuem para que

haja uma certa confusatildeo acerca da identidade do psicoacutelogo escolar De acordo com Farrel (2009)

aleacutem das diferenccedilas com que a Psicologia Escolar comparece nos paiacuteses existem tambeacutem

discussotildees acerca do papel do psicoacutelogo escolar e sua especificidade em relaccedilatildeo aos demais

profissionais da escolar pois existem muitos comentaacuterios que apontam para o fato de que o papel

dos psicoacutelogos escolares eacute mal entendido que os empregadores lhes fazem demandas pouco

razoaacuteveis que os pais e professores tecircm expectativas irreais entre outras questotildees Para o autor

existe portanto uma necessidade de estabelecer alguns paracircmetros para a profissatildeo de forma que

ela possa se consolidar nos mais diferentes paiacuteses

O caminho para isso estaacute segundo Farrell (2009) na clareza da definiccedilatildeo acerca da

natureza da contribuiccedilatildeo especiacutefica da Psicologia Escolar agrave educaccedilatildeo As evidecircncias segundo o

autor sugerem que a compreensatildeo dos psicoacutelogos escolares acerca dos objetivos processos

necessidades e resultados de seu trabalho leva a uma motivaccedilatildeo comum entre eles e demais

profissionais da escola que se sentem seguros em trabalhar com os profissionais da Psicologia

Escolar

Para o desenvolvimento e consolidaccedilatildeo da Psicologia Escolar no mundo satildeo necessaacuterios

entatildeo esforccedilos coletivos no sentido de estabelecer indicadores que traduzam a especificidade das

contribuiccedilotildees da aacuterea e o papel do psicoacutelogo escolar os quais guardam estreita relaccedilatildeo com o

conhecimento e as competecircncias que satildeo proacuteprias deste campo de formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo

Educaccedilatildeo Superior um Novo Contexto de Atuaccedilatildeo para a Psicologia Escolar

O trabalho da Psicologia Escolar tem tradicionalmente se associado agrave escola por meio de

estudos e intervenccedilotildees realizados no acircmbito da Educaccedilatildeo Baacutesica Um olhar retrospectivo sobre a

inserccedilatildeo da Psicologia e a consolidaccedilatildeo de seu trabalho no contexto educativo ratifica essa

associaccedilatildeo conforme jaacute relatado neste capiacutetulo

Tendo a atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar em sua origem se direcionado especialmente para

as crianccedilas com dificuldades de aprendizagem eacute compreensiacutevel que os estudos e produccedilotildees na aacuterea

reflitam esse direcionamento e tratem de questotildees e problemaacuteticas pertinentes agrave Educaccedilatildeo Baacutesica

Algumas destas questotildees satildeo a relaccedilatildeo professor-aluno (Arauacutejo 1995 Tassoni 2000) dificuldades

de aprendizagem e queixas escolares (Andrada 2003 Colares amp Moyseacutes 1996 Francisco 2002

Moyseacutes amp Collares 1992 Neves 1994 2001) fracasso escolar (Patto 1999) inclusatildeo escolar

55

(Alecrim 2005 Martiacutenez 2005a Neves amp Machado 2005 Silveira 2004) a relaccedilatildeo famiacutelia-

escola (Cardoso 2003 Oliveira 2007 Oliveira amp Marinho-Arauacutejo 2010 Polocircnia 2005 Reali amp

Tancredi 2002) criatividade (Alencar amp Fleith 2008 Castro 2007 Fleith amp Alencar 2006 2008

Liboacuterio 2009 Martiacutenez 2003) superdotaccedilatildeo e hiperatividade (Alencar amp Fleith 2006 Alencar

Fleith amp Sabatella 2006 Aspesi 2003 Maia-Pinto amp Fleith 2004 Ourofino 2005 Pinto 2002)

aleacutem de outros

A despeito da histoacuterica imersatildeo da Psicologia Escolar nas escolas outros contextos tecircm

sido fonte de interesse de pesquisadores e profissionais dado especialmente o reconhecimento de

que distintos ambientes institucionais tambeacutem revestidos da funccedilatildeo educativa satildeo espaccedilos

potenciais de desenvolvimento humano Tem assim ocorrido uma expansatildeo da Psicologia Escolar

para contextos educativos ateacute entatildeo pouco explorados como eacute o caso das creches orfanatos

organizaccedilotildees natildeo governamentais serviccedilos puacuteblicos cursos preacute-vestibulares educaccedilatildeo de jovens e

adultos Educaccedilatildeo Superior e educaccedilatildeo a distacircncia (Campos 2001 Carvalho 2007 Dadico 2003

Lima 2005 Marinho-Arauacutejo 2009a Maynhone Santos amp Marinho-Arauacutejo 2007 Sampaio 2009

2010 Serpa amp Santos 2001 Silva Costa amp Ferreira 2005 Silva Ramos amp Neves 2005 Soares

2008 Vectore amp Carvalho 2009 Vectore amp Maimone 2007)

Dentre esses novos contextos eacute de interesse neste estudo o trabalho que a Psicologia

Escolar pode desenvolver na Educaccedilatildeo Superior no sentido de contribuir com a formaccedilatildeo de

profissionais e cidadatildeos aptos e imbuiacutedos do desejo de minimizar a desigualdade o preconceito a

injusticcedila violecircncia e exclusatildeo que permeiam a vida em sociedade O interesse estaacute portanto

direcionado para a investigaccedilatildeo de praacuteticas psicoloacutegicas que se pautem na ampla compreensatildeo da

funccedilatildeo formativa da Educaccedilatildeo Superior

Os Serviccedilos de Apoio Psicoloacutegico em Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior Uma anaacutelise do

surgimento e evoluccedilatildeo dos Serviccedilos de Apoio Psicoloacutegico na Educaccedilatildeo Superior aponta que os

primeiros serviccedilos desta natureza surgiram nos Estados Unidos e na Europa por meio do apoio

pontual que um professor ou mentor oferecia aos estudantes para ajudaacute-los a resolver dificuldades

acadecircmicas ou para recomendaacute-los ao mercado de trabalho (RESAPES 2002a) Na medida em que

este apoio foi se personalizando e assumindo um caraacuteter regular no tempo passou a ser identificado

como Aconselhamento A partir destas experiecircncias pontuais do ponto de vista mundial os

Estados Unidos foram pioneiros na criaccedilatildeo dos serviccedilos de aconselhamento psicoloacutegico na

Educaccedilatildeo Superior na Europa a primeira iniciativa desta natureza eacute atribuiacuteda agrave Inglaterra (Pereira

2008 RESAPES 2002a) Desde estas primeiras experiecircncias vem crescendo pelo mundo o

nuacutemero de Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior que oferecem algum tipo de apoio psicoloacutegico aos

seus estudantes com o objetivo de favorecer sua transiccedilatildeo e adaptaccedilatildeo agrave vida universitaacuteria

contribuir para o sucesso acadecircmico e promover seu desenvolvimento integral como cidadatildeo e

profissional

56

Na Europa por exemplo os Serviccedilos de Aconselhamento Psicoloacutegico tecircm assumido

especial importacircncia no apoio agrave democratizaccedilatildeo e maior qualidade da Educaccedilatildeo Superior de forma

que em 1988 foi criado o Foacuterum Europeacuteen drsquoOrientation Acadeacutemique (FEDORA) uma

organizaccedilatildeo de apoio aos estudantes da Educaccedilatildeo Superior composta por representantes de todos os

paiacuteses da comunidade europeia A FEDORA estaacute organizada em quatro grupos de trabalho a saber

Orientaccedilatildeo para a carreira e empregabilidade Orientaccedilatildeo educacional e aconselhamento Inclusatildeo e

igualdade de oportunidades e Psyche (Psychological Counselling in Higher Education)

No que concerne ao apoio psicoloacutegico a FEDORA-PSYCHE eacute o grupo de trabalho que

tem assumido o compromisso de acompanhar as atividades desenvolvidas pelos Serviccedilos de

Orientaccedilatildeo e Aconselhamento dos paiacuteses membros da Uniatildeo Europeia e traccedilar algumas orientaccedilotildees

para o melhor funcionamento destes serviccedilos Referindo-se ao importante papel que este grupo de

trabalho tem assumido junto aos Serviccedilos de Psicologia existentes nas IES Rott (2008) esclarece

que ldquoFEDORA-PSYCHE eacute basicamente um discurso europeu Esse discurso tem sido alimentado

por profissionais que estatildeo envolvidos no trabalho diaacuterio de aconselhamento psicoloacutegico com

alunos e no estabelecimento de uma estrutura organizacional adequada para o cumprimento dessa

tarefardquo (p 16)

As investigaccedilotildees realizadas pela FEDORA junto aos Serviccedilos de Orientaccedilatildeo e

Aconselhamento Psicoloacutegico existentes nas IES europeias indicam que os mesmos se organizam

com foco em trecircs periacuteodos da vida de um estudante na Educaccedilatildeo Superior o momento da entrada

caracterizado pela transiccedilatildeo da educaccedilatildeo baacutesica para a superior e pela adaptaccedilatildeo e integraccedilatildeo a esta

uacuteltima o momento no qual os estudantes frequentam as instituiccedilotildees marcado pela busca do

sucesso acadecircmico e combate ao abandono e o momento da saiacuteda assinalado pela transiccedilatildeo para o

mercado de trabalho (Watts amp Van Esbroeck 1998) Com o objetivo de contribuir para o bem-estar

e sucesso dos estudantes em cada um desses periacuteodos os Serviccedilos planejam e executam accedilotildees que

por um lado se baseiam nas necessidades e caracteriacutesticas dos estudantes e por outro nas

condiccedilotildees metas e especificidades da instituiccedilatildeo e do serviccedilo psicoloacutegico

Acerca das principais accedilotildees desencadeadas pelos psicoacutelogos no acircmbito dos Serviccedilos

estudo recente realizado pela FEDORA junto a todos os paiacuteses membros da Uniatildeo Europeia

apontou que na maioria deles os psicoacutelogos fazem diagnoacutestico aplicaccedilatildeo de testes e psicoterapia e

desenvolvem diferentes tipos de intervenccedilatildeo individual e em grupo para a promoccedilatildeo de

competecircncias pessoais e sociais (Ferrer-Sama 2008) Segundo a autora uma vez que estudos tecircm

apontado um crescimento no niacutevel de problemas mentais entre os estudantes os Serviccedilos de

Psicologia tecircm realizado entrevistas e aplicaccedilatildeo de testes para diagnosticar desordens psicoloacutegicas

como depressatildeo estresse e ansiedade

Em diferentes paiacuteses o aconselhamento tambeacutem eacute realizado para questotildees relativas ao

estudo como forma de minimizar o insucesso acadecircmico e o nuacutemero de desistecircnciasabandonos

Nestes casos a intervenccedilatildeo estaacute direcionada para a definiccedilatildeo de objetivos acadecircmicos junto aos

57

estudantes no desenvolvimento de competecircncias de aprendizagem e gestatildeo do tempo ou no

autocontrole em situaccedilotildees de avaliaccedilatildeoNos diferentes paiacuteses europeus a intervenccedilatildeo individual

com os estudantes focada no problema que os motivou a buscar procurar ajuda profissional eacute

central na praacutetica dos psicoacutelogos escolares

Em uma perspectiva diferenciada da predominante nos paiacuteses europeus Sandoval e Love

anunciavam em 1977 a emergecircncia do psicoacutelogo escolar que trabalhava na Educaccedilatildeo Superior

denominado naquela ocasiatildeo como college psychologist De acordo com os autores o trabalho do

psicoacutelogo escolar na Educaccedilatildeo Superior teria dois focos o da avaliaccedilatildeo com o objetivo de obter

informaccedilotildees sobre aspectos institucionais e docentes que precisam ser modificados e

implementados e o da promoccedilatildeo da praacutetica docente por meio do planejamento e desenvolvimento

de metodologias diferenciadas O papel do psicoacutelogo escolar neste niacutevel educativo seria entatildeo o

de avaliar as praacuteticas educativas a satisfaccedilatildeo e a aprendizagem dos alunos para a partir dos

resultados sugerir programas inovadores de ensino auxiliar os professores a melhorarem suas

habilidades profissionais e favorecer o aprendizado dos alunos

Considerando a natureza das accedilotildees desenvolvidas pelo psicoacutelogo escolar Sandoval e Love

(1977) ressaltavam agravequela eacutepoca que o college psychologist natildeo eacute um counselor psychologist uma

vez que os dois partem de bases e objetivos distintos Enquanto o uacuteltimo assiste diretamente o

aluno por meio de serviccedilos de orientaccedilatildeo pessoal preocupando-se com seu bem-estar como

estudante o college psychologist apoia os alunos indiretamente por meio do aumento da

efetividade educacional agindo especialmente junto aos professores Observa-se por essa

distinccedilatildeo que a emergecircncia da Educaccedilatildeo Superior como um campo de atuaccedilatildeo para os psicoacutelogos

escolares se deu de forma menos vinculada agrave perspectiva individualista de atenccedilatildeo ao estudante e

mais atrelada a uma compreensatildeo sistecircmica de atuaccedilatildeo

Outra possibilidade de atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo Superior eacute em carreiras

administrativas Nessa direccedilatildeo Logue (2007) defende que administradores de IES formados em

Psicologia tecircm habilidades particulares que podem ajudar os colegas e as instituiccedilotildees a

responderem melhor agraves atuais pressotildees vividas pela Educaccedilatildeo Superior especificamente frente agrave

realidade dos Estados Unidos O autor apresenta alguns toacutepicos que tecircm trazidos desafios agraves

instituiccedilotildees em niacutevel superior e para cada um deles exemplifica possiacuteveis contribuiccedilotildees advindas

de um psicoacutelogo no exerciacutecio de um cargo administrativo Logue (2007) aborda questotildees como a

globalizaccedilatildeo a massificaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior a forte competiccedilatildeo entre as IES e os reflexos

trazidos por regulamentaccedilotildees no campo educativo No que tange agraves regulamentaccedilotildees por exemplo

o autor aponta agravequelas que satildeo relativas aos programas de prevenccedilatildeo ao abuso de substacircncias agraves

accedilotildees afirmativas aos processos de avaliaccedilatildeo da qualidade da Educaccedilatildeo Superior e agrave inclusatildeo de

pessoas com necessidades especiais Neste uacuteltimo caso por exemplo diz que as instituiccedilotildees

costumam ter profissionais especializados para trabalhar com os alunos especiais contudo muitas

58

vezes os administradores - chefes de departamento decanos - acabam se envolvendo quando tecircm

que tomar alguma decisatildeo relacionada a solicitaccedilotildees especiais ou fatos particulares

A partir das argumentaccedilotildees apresentadas pelo autor concorda-se que os cargos

administrativos tambeacutem podem ser ocupados por psicoacutelogos escolares pois de fato a

especificidade da sua formaccedilatildeo e do seu compromisso para com a promoccedilatildeo do desenvolvimento

individual e coletivo em contextos educacionais podem contribuir para a qualidade da Educaccedilatildeo

Superior

A Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo Superior brasileira A anaacutelise da produccedilatildeo cientiacutefica

de 10 anos (1996 - 2005) da Revista Psicologia Escolar e Educacional da ABRAPEE (Associaccedilatildeo

Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional) mostra que existe entre as principais temaacuteticas

pesquisadas em Psicologia Escolar uma escassez de estudos sobre a Educaccedilatildeo Superior (Oliveira

Cantalice Joly amp Santos 2006) Os principais temas de pesquisa na aacuterea presentes nos artigos da

Revista satildeo os testes e construccedilatildeo de instrumentos meacutetodos de ensino-aprendizagem leitura

criatividade aspectos afetivosemocionais inteligecircnciacogniccedilatildeo psicologia escolar relaccedilatildeo

famiacutelia-escola entre outros

Eacute interessante destacar que apesar de ainda pouco investigado como campo de atuaccedilatildeo da

Psicologia Escolar a Educaccedilatildeo Superior tem sido um contexto privilegiado em relaccedilatildeo ao

desenvolvimento de instrumentos de investigaccedilatildeo psicoloacutegica reforccedilando a constataccedilatildeo de Oliveira

e cols (2006) acerca da importante presenccedila dos testes e ferramentas de medidas entre as temaacuteticas

mais investigadas na aacuterea No terreno da Educaccedilatildeo Superior tecircm sido desenvolvidos por exemplo

escalas de satisfaccedilatildeo (Santos amp Suehiro 2007 Schleich Polydoro amp Santos 2006) e de

aconselhamento profissional aos universitaacuterios (Santos Noronha amp Sisto 2009) questionaacuterio de

percepccedilotildees do ensino pelos alunos (Morais Almeida amp Montenegro 2006) escala de integraccedilatildeo

social na Educaccedilatildeo Superior (Diniz amp Almeida 2006) escala para avaliaccedilatildeo da motivaccedilatildeo entre

universitaacuterios (Boruchovitch 2008 Guimaratildees amp Bzuneck 2008) aleacutem de outros

De acordo com Oliveira e cols (2006) o elevado nuacutemero de publicaccedilotildees que se centravam

no uso e no desenvolvimento de testes psicoloacutegicos agrave eacutepoca da anaacutelise realizada na revista da

ABRAPEE foi provavelmente um impacto da resoluccedilatildeo publicada pelo Conselho Federal de

Psicologia que definia os padrotildees para utilizaccedilatildeo de testes psicoloacutegicos A necessidade de

demonstrar a validade dos testes e de outras medidas psicoloacutegicas ocasionou a realizaccedilatildeo de

pesquisas e de publicaccedilotildees cientiacuteficas e o crescimento da aacuterea de avaliaccedilatildeo psicoloacutegica no Brasil

Os testes psicoloacutegicos ferramentas utilizadas na avaliaccedilatildeo psicoloacutegica juntamente com

entrevistas e observaccedilotildees podem ser aplicados em diversos contextos cliacutenico hospitalar social

organizacional juriacutedico esportivo entre outros Apesar disso a anaacutelise da produccedilatildeo cientiacutefica de

trecircs congressos brasileiros de avaliaccedilatildeo psicoloacutegica (Joly Silva Nunes amp Souza 2007) realizados

nos anos de 2003 2005 e 2007 apontou um dado no miacutenimo instigante em relaccedilatildeo agraves principais

59

aacutereas de aplicaccedilatildeo da avaliaccedilatildeo psicoloacutegica a Psicologia Escolar ocupou o primeiro ou segundo

lugar nos anos de 2005 e nos de 2003 e 2007 respectivamente revezando-se com a Cliacutenica e

superando aacutereas como a Psicologia Organizacional Hospitalar Juriacutedica e Social Isto eacute

considerando os trabalhos apresentados por ocasiatildeo de congressos de avaliaccedilatildeo psicoloacutegica a

Psicologia Escolar juntamente com a Psicologia Cliacutenica estaacute entre as aacutereas que mais tecircm se detido

a realizar avaliaccedilotildees psicoloacutegicas baseadas no uso de testes

Os resultados das duas anaacutelises de produccedilotildees cientiacuteficas citadas anteriormente ndash a da

revista da ABRAPEE e de congressos na aacuterea da avaliaccedilatildeo psicoloacutegica ndash somados a um olhar

retrospectivo sobre a trajetoacuteria da Psicologia Escolar como campo de formaccedilatildeo atuaccedilatildeo e pesquisa

conforme jaacute apresentado neste capiacutetulo traz uma recorrecircncia o desenvolvimento e o uso de testes e

a realizaccedilatildeo de avaliaccedilatildeo psicoloacutegica como atividades inerentes agrave praacutetica da Psicologia Escolar

inclusive no acircmbito da Educaccedilatildeo Superior um contexto natildeo tradicional de inserccedilatildeo dos

profissionais da aacuterea

Por ocasiatildeo de um mapeamento da produccedilatildeo cientiacutefica em Psicologia Escolar sobre a

Educaccedilatildeo Superior Bariani Buin Barros e Escher (2004) avaliaram publicaccedilotildees nacionais com o

objetivo de analisar pesquisas relativas a este niacutevel educativo que tenham abordado trecircs temaacuteticas

corpo docente corpo discente e processo ensino-aprendizagem De acordo com as autoras os

trabalhos recaem sobre as categorias corpo discente e processo ensino-aprendizagem tecircm os alunos

como principais informantes e estatildeo mais voltados para a investigaccedilatildeo das mudanccedilas e alteraccedilotildees

que ocorrem nas caracteriacutesticas cognitivas ou afetivas dos estudantes ao longo do tempo

Corroborando a constataccedilatildeo de que os estudos tecircm prezado pelo foco nos estudantes uma

revisatildeo preliminar sobre a articulaccedilatildeo da Psicologia Escolar com a Educaccedilatildeo Superior mostra o

envolvimento da aacuterea com questotildees como (a) transiccedilatildeo do aluno para a Educaccedilatildeo Superior (b)

processo de adaptaccedilatildeo e integraccedilatildeo ao novo contexto (c) rendimento e desempenho acadecircmico (d)

estudo dos estilos cognitivos dos universitaacuterios (e) compreensatildeo da leitura e produccedilatildeo escrita (f)

atitudes e estrateacutegias de aprendizagem (g) papel da motivaccedilatildeo e da criatividade (Alencar 2007

Amaral amp Martiacutenez 2006 Azevedo amp Faria 2006 Baptista Amadio Rodrigues Santos amp

Palludetti 2004 Cabral amp Tavares 2005 Cardoso amp Bzuneck 2004 Cunha amp Carrilho 2005

Diniz amp Almeida 2006 Oliveira amp Santos 2005 Pereira amp cols 2006 Pitta Santos Escher amp

Bariani 2000 Santos amp Almeida 2001 Seco Casimiro Pereira Custoacutedio amp Dias 2005 Soares

Almeida Diniz amp Guisande 2006 Teixeira Castro amp Piccolo 2007 Valle Cabanach Rodriguez

Gonzaacutelez-Pienda amp Rosaacuterio 2007 Vasconcelos Almeida amp Monteiro 2005) entre outros Como

indicam estas temaacuteticas as questotildees exploradas pela Psicologia na sua vinculaccedilatildeo com a Educaccedilatildeo

Superior estatildeo centradas essencialmente no aluno

Ao tratar do processo de adaptaccedilatildeo do estudante agrave universidade por exemplo Teixeira

Castro e Piccolo (2007) investigaram a influecircncia de variaacuteveis como a participaccedilatildeo em atividades

extracurriculares o apoio familiar percebido pelo estudante e o niacutevel de interaccedilatildeo extraclasse com

60

professores em relaccedilatildeo agrave adaptaccedilatildeo ao contexto universitaacuterio Apesar das variaacuteveis eleitas para

pesquisa reconhecerem o papel da famiacutelia e do conviacutevio com os docentes na adaptaccedilatildeo agrave nova

realidade a construccedilatildeo das informaccedilotildees baseou-se apenas na percepccedilatildeo do aluno deixando de lado

indicadores advindos de outros segmentos que tambeacutem participam do processo de adaptaccedilatildeo como

os pais e professores

Embora se considere que outras instacircncias possam tomar parte do processo de compreensatildeo

acerca dos fatores que contribuem ou natildeo para a melhor integraccedilatildeo do aluno agrave Educaccedilatildeo Superior

a validade dos resultados obtidos a partir de estudos como o mencionado natildeo satildeo nem podem ser

minimizados Contudo ainda que relevantes cientificamente a criacutetica a estudos dessa natureza

deve-se ao fato de que o processo de adaptaccedilatildeo a um novo contexto como eacute o caso da

universidade envolve uma seacuterie de fatores ndash pessoais interpessoais familiares pedagoacutegicos

institucionais poliacuteticos e ideoloacutegicos ndash que em sua maioria satildeo desconsiderados quando somente

a percepccedilatildeo do aluno eacute levada em conta

Levando em conta a natureza das temaacuteticas investigadas pela Psicologia na Educaccedilatildeo

Superior e a forma como os estudos tecircm sido desenvolvidos fica expliacutecito que a ecircnfase estaacute em

uma das partes envolvidas o aluno Desconsidera-se por exemplo o papel dos fatores

pedagoacutegicos como a diversificaccedilatildeo das estrateacutegias didaacuteticas em razatildeo das demandas dos alunos a

flexibilidade da organizaccedilatildeo curricular e sua adequaccedilatildeo agraves necessidades dos estudantes ou dos

fatores institucionais como a implantaccedilatildeo de serviccedilos de apoio e orientaccedilatildeo acadecircmica a

disponibilizaccedilatildeo de espaccedilos e materiais necessaacuterios ao desenvolvimento das atividades acadecircmicas

aleacutem de oportunidades de financiamento e bolsas de estudos Conforme conclui Marinho-Arauacutejo

(2009a)

esses e outros estudos sinalizam que a exemplo do que ocorreu com a Psicologia Escolar

nos primoacuterdios de sua atuaccedilatildeo sistematizada na escola haacute mais de cinco deacutecadas o foco

atual de praacuteticas e pesquisas ligando a aacuterea ao contexto do ensino superior tem

privilegiado igualmente a ecircnfase no aluno agora estudante universitaacuterio em uma

perspectiva individualizante e fracionada do vasto processo intersubjetivo e sociopoliacutetico

(p 163)

O relato apresentado sobre a intersecccedilatildeo entre a Educaccedilatildeo Superior e a Psicologia Escolar

mostra um pouco do conteuacutedo e das ecircnfases que vecircm caracterizando estudos e praacuteticas neste

campo contudo outras produccedilotildees ainda que de forma tiacutemida tecircm contemplado possiacuteveis

intervenccedilotildees neste niacutevel educativo em uma perspectiva mais ampliada O trabalho de Witter

(1999) por exemplo explorou as possibilidades de atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar no acircmbito da

universidade especialmente diante do que foi estipulado pela Lei de Diretrizes e Bases da

Educaccedilatildeo Nacional (LDB ndash Lei nordm 93941996) em relaccedilatildeo agrave Educaccedilatildeo Superior A partir da anaacutelise

do Capiacutetulo IV da LDB a autora aponta as possiacuteveis funccedilotildees e papeacuteis do psicoacutelogo escolar

assessoria ao processo de ensino-aprendizagem participaccedilatildeo nas atividades de seleccedilatildeo e

61

treinamento do corpo docente e teacutecnico docecircnciaensino em Psicologia e em outras aacutereas do

conhecimento realizaccedilatildeo de pesquisas de diferentes naturezas envolvimento com publicaccedilatildeo

cientiacutefica em Psicologia Escolar planejamento desenvolvimento e avaliaccedilatildeo de programas e

cursos na aacuterea da Psicologia e outros

Apesar da diversidade de atividades que o psicoacutelogo escolar pode desenvolver conforme

apontado por Witter (1999) Serpa e Santos (2001) delimitaram sua investigaccedilatildeo na atuaccedilatildeo deste

profissional junto ao Serviccedilo de Atendimento ao Universitaacuterio (SAU) Na eacutepoca do estudo das 61

IES pesquisadas 803 tinha o SAU oferecendo aos estudantes e agrave comunidade atendimento

psicoloacutegico social educacional de sauacutede e outros Dentre as atividades desenvolvidas pelos

psicoacutelogos nos programas do SAU identificaram principalmente orientaccedilatildeo individual

encaminhamentos externos e internos acompanhamento individual orientaccedilatildeo de grupos

psicoterapia individual atendimento agrave famiacutelia e outros As principais atividades nas quais o

psicoacutelogo escolar participava estavam ligadas principalmente agraves dificuldades vivenciadas pelo

proacuteprio aluno

Nessa linha de argumento as autoras apontam que o trabalho do psicoacutelogo escolar

desenvolvido no SAU deveria recair sobre a orientaccedilatildeo e acompanhamento psicoloacutegico ldquopor ser

foacutermula reconhecidamente eficaz na melhora do aproveitamento acadecircmico e na formaccedilatildeo integral

do indiviacuteduo natildeo apenas como profissional mas tambeacutem como cidadatildeo inserido na sociedaderdquo

(Serpa amp Santos 2001 p 33) Todavia ao considerar as diversas possibilidades de atuaccedilatildeo do

psicoacutelogo escolar na Educaccedilatildeo Superior conforme sinalizou Witter (1999) e ao percorrer

retrospectivamente o percurso histoacuterico da Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo Baacutesica acredita-se que

o trabalho de atendimento e de orientaccedilatildeo ao aluno e agrave sua famiacutelia natildeo deve ser eleito de forma

prioritaacuteria pelo psicoacutelogo escolar

Diante da anaacutelise destes trabalhos constata-se que tradicionalmente a Psicologia Escolar jaacute

estaacute presente em IES geralmente ligada ao SAU ou SOU (Serviccedilo de Orientaccedilatildeo ao Universitaacuterio)

e com foco de atuaccedilatildeo quase que exclusivamente no aluno Se por um lado Witter (1999)

sinalizou amplos caminhos para a atuaccedilatildeo do psicoacutelogo escolar na Educaccedilatildeo Superior por outro a

atuaccedilatildeo deste profissional no SAU tem se baseado de modo geral em uma intervenccedilatildeo claacutessica

voltada agrave orientaccedilatildeo e ao atendimento de questotildees individuais localizadas no proacuteprio estudante da

Educaccedilatildeo Superior Para aleacutem destas accedilotildees jaacute desenvolvidas outras tambeacutem podem ser realizadas

pelo psicoacutelogo escolar como por exemplo atividades relacionadas agrave formaccedilatildeo continuada do

corpo teacutecnico docente e dirigente assessoria agrave integraccedilatildeo da equipe diretiva implementaccedilatildeo das

Diretrizes Curriculares Nacionais anaacutelise dos projetos pedagoacutegicos dos cursos entre outras

Coadunando-se com intervenccedilotildees mais amplas pautadas em accedilotildees coletivas e relacionais

Marinho-Arauacutejo (2009a) propotildee trecircs dimensotildees de intervenccedilatildeo institucional a saber (a) Gestatildeo de

Poliacuteticas Programas e Processos Educacionais nas IES (b) Propostas Pedagoacutegicas e

funcionamento de cursos e (c) Perfil do estudante Para cada uma dessas dimensotildees a autora faz

62

sugestatildeo de accedilotildees que podem ser desenvolvidas pelo psicoacutelogo escolar em consonacircncia com

questotildees especiacuteficas e proacuteprias do contexto da Educaccedilatildeo Superior

Na primeira dimensatildeo o psicoacutelogo escolar pode assessorar accedilotildees que estejam ligadas agrave

gestatildeo institucional as quais envolvem participaccedilatildeo na elaboraccedilatildeo e revisatildeo do Projeto de

Desenvolvimento Institucional (PDI) aleacutem de sua apropriaccedilatildeo por parte dos membros da

instituiccedilatildeo acompanhamento dos procedimentos de autoavaliaccedilatildeo institucional inclusive por meio

de sua inclusatildeo na Comissatildeo Proacutepria de Avaliaccedilatildeo (CPA) envolvimento com a implementaccedilatildeo de

projetos educacionais que tecircm impacto na subjetividade e dinacircmica institucional monitoramento

de indicadores de compromisso social ambientaccedilatildeo a novos docentes e funcionaacuterios assessoria agrave

definiccedilatildeo e reformulaccedilatildeo dos perfis docentes discentes e teacutecnicos programas de formaccedilatildeo

continuada de docentes coordenadores de cursos e funcionaacuterios teacutecnico-administrativos (Marinho-

Arauacutejo 2009a)

Em relaccedilatildeo agrave dimensatildeo vinculada agraves Propostas Pedagoacutegicas a autora sugere colaboraccedilatildeo

na anaacutelise das diretrizes curriculares nacionais (DCNs) que orientam o trabalho pedagoacutegico

desenvolvido nos cursos superiores acompanhamento do processo de ensino e aprendizagem no

que diz respeito agrave sua vinculaccedilatildeo agraves DCNs anaacutelise dos Projetos Pedagoacutegicos dos Cursos (PPC)

como estrateacutegia para apoiar o processo de desenvolvimento de competecircncias para o corpo docente

e discente investigaccedilatildeo das concepccedilotildees subjacentes e orientadoras que os profissionais tecircm de

educaccedilatildeo ensino desenvolvimento aprendizagem e processos de avaliaccedilatildeo favorecendo a

conscientizaccedilatildeo e intencionalidade agraves praacuteticas educativas

Na uacuteltima dimensatildeo a do Perfil do estudante Marinho-Arauacutejo (2009a) sugere que o

psicoacutelogo escolar promova discussotildees acerca do desenvolvimento adulto como processo ancorado

em uma construccedilatildeo relacional de competecircncias desenvolva pesquisas para conhecer o perfil dos

estudantes especialmente quanto aos aspectos soacutecio-demograacuteficos familiares socioeconocircmicos e

suas relaccedilotildees com o processo de formaccedilatildeo e construccedilatildeo da cidadania elabore com os

coordenadores de curso e o corpo docente estrateacutegias para verificar como se daacute o desenvolvimento

de competecircncias por parte dos estudantes

Pelo exposto nota-se que a Psicologia Escolar tem um grande desafio pela frente que eacute o

de ampliar suas perspectivas de atuaccedilatildeo por meio de praacuteticas diferenciadas em um contexto ainda

pouco explorado pela aacuterea No acircmbito da Psicologia Escolar a expansatildeo de sua atuaccedilatildeo para aleacutem

da escola coaduna-se a um compromisso social por uma educaccedilatildeo para todos No campo da

Educaccedilatildeo Superior a atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar baseada em concepccedilotildees institucionais e

relacionais vincula-se agrave preocupaccedilatildeo com a melhoria da qualidade da Educaccedilatildeo Superior brasileira

frente ao desenvolvimento de sujeitos autocircnomos criacuteticos participativos e compromissados eacutetica e

socialmente com a vida em sociedade

63

A Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo Superior de Portugal O percurso da Psicologia

Escolar em Portugal foi semelhante ao de outros paiacuteses inclusive do Brasil tendo inicialmente

adotado um modelo meacutedico de intervenccedilatildeo centrado na avaliaccedilatildeo dos alunos com problemas e

progressivamente incluindo accedilotildees voltadas a outros agentes escolares

Fazendo uma recuperaccedilatildeo histoacuterica da evoluccedilatildeo dos pedidos sociais e educacionais

direcionados agrave Psicologia e das respostas que foram organizadas para atendecirc-los Almeida (1993

2010) organiza a evoluccedilatildeo da Psicologia Escolar em seis momentos Segundo o autor a entrada dos

psicoacutelogos no sistema educativo formal de Portugal se deu cronologicamente pela avaliaccedilatildeo

diagnoacutestico e acompanhamento dos alunos com dificuldade de aprendizagem pela orientaccedilatildeo

escolar e profissional de jovens adolescentes pelo apoio agrave aprendizagem do aluno ou a facilitaccedilatildeo

do rendimento escolar pela promoccedilatildeo do desenvolvimento psicossocial dos estudantes o

desenvolvimento dos professores e o momento atual voltado ao desenvolvimento da famiacutelia da

escola e da comunidade Foi por ocasiatildeo dos primeiros trabalhos voltados ao desenvolvimento

psicossocial dos alunos que se reconheceu uma preocupaccedilatildeo com praacuteticas de prevenccedilatildeo e de

promoccedilatildeo do desenvolvimento psicoloacutegico as quais vieram a ser ampliadas para o contexto

familiar comunitaacuterio e escolar no momento atual no qual a atuaccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares natildeo se

restringe aos alunos e professores

Conforme apontam estes diferentes momentos relativos agrave trajetoacuteria da Psicologia Escolar

no paiacutes a intervenccedilatildeo da aacuterea passou de preocupaccedilotildees remediativas a preocupaccedilotildees preventivas e

promocionais Ou seja de um trabalho direto e individualizado junto ao aluno-problema os

psicoacutelogos escolares passaram a trabalhar com o professor e com a instituiccedilatildeo escolar focando-se

mais na dinacircmica da instituiccedilatildeo do que nos indiviacuteduos (Almeida 2003 2010 Carita 1996 Jesus

2004) De acordo com Almeida (2010) a evoluccedilatildeo na atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar reflete a

mudanccedila nas perspectivas teoacutericas e a adoccedilatildeo de modelos mais atuais e sistecircmicos de anaacutelise e de

intervenccedilatildeo denominado por ele como um ldquomodelo educacionalrdquo de intervenccedilatildeo em Psicologia

Escolar em diferenciaccedilatildeo ao modelo cliacutenico anterior

Em relaccedilatildeo agrave atuaccedilatildeo na Educaccedilatildeo Superior o primeiro serviccedilo de apoio psicoloacutegico em

Portugal foi o Gabinete de Apoio Psicoloacutegico e Aconselhamento (GAPA) criado em 1983 na

Faculdade de Ciecircncias e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa (Dias 2006) Por alguns

anos este foi o uacutenico Serviccedilo existente no paiacutes de forma que no iniacutecio da deacutecada de 90 os serviccedilos

de apoio psicoloacutegico existentes em algumas universidades eram em ldquonuacutemero reduzido e parecem

sobretudo criados como campos de investigaccedilatildeo-intervenccedilatildeo no quadro dos projetos docentes

universitaacuterios ou como locais de estaacutegiordquo (Almeida 1993 p 139)

O GAPA iniciou suas atividades com o aconselhamento psicoloacutegico individual e apoacutes

alguns anos passou a organizar oficinas de promoccedilatildeo de competecircncias acadecircmicas e accedilotildees de

sensibilizaccedilatildeo aos docentes e funcionaacuterios da Faculdade ajudando-os a identificar alunos em risco

No final da deacutecada de 90 uma investigaccedilatildeo desenvolvida no acircmbito dos Serviccedilos de Orientaccedilatildeo e

64

Aconselhamento da Uniatildeo Europeia indicava na seccedilatildeo relativa agrave situaccedilatildeo Portuguesa que ldquoem

comparaccedilatildeo com a maioria dos outros estados-membros da Uniatildeo Europeacuteia os serviccedilos de

orientaccedilatildeo na Educaccedilatildeo Superior em Portugal natildeo estatildeo bem desenvolvidosrdquo (Duarte amp Paixatildeo

1998 p 1) Entre os elementos utilizados para sustentar esta indicaccedilatildeo as autoras citavam o fato de

que tais Serviccedilos eram oferecidos a um nuacutemero limitado de estudantes universitaacuterios Aleacutem do

mais eles existiam em poucas instituiccedilotildees e contavam com um nuacutemero reduzido de profissionais

(um ou dois) e em tempo parcial o que era claramente insuficiente para atender agrave populaccedilatildeo

estudantil e menos ainda a toda a comunidade acadecircmica

No iniacutecio da deacutecada de 2000 novos Serviccedilos de Apoio Psicoloacutegico foram sendo criados na

Educaccedilatildeo Superior portuguesa de forma que em 2002 haviam pelo menos 24 (Dias 2006

RESAPES 2002b) em 2004 haviam 33 (Dias 2006) e em 2008 40 Serviccedilos (Gonccedilalves 2008)

Este crescimento quantitativo natildeo significa entretanto alteraccedilatildeo nas condiccedilotildees de funcionamento e

na abrangecircncia das intervenccedilotildees especificamente quanto ao nuacutemero de alunos atendidos Os

recursos humanos permaneceram insuficientes para responder agraves demandas sendo raro o Serviccedilo

que tivesse mais do que dois teacutecnicos em tempo integral Por outro lado importa acrescentar que

em poucos casos os profissionais pertenciam ao quadro da instituiccedilatildeo Aleacutem do mais era frequente

existirem lista de espera para atendimento (RESAPES 2002b) Um relatoacuterio mais recente acerca

dos Serviccedilos de Orientaccedilatildeo e Aconselhamento na Educaccedilatildeo Superior Europeia reitera que apesar

de ter havido um crescimento no nuacutemero de Serviccedilos disponiacuteveis nas IES ldquoeles parecem natildeo ser

suficientes tendo que lidar com lsquolistas de esperasrsquo Em tempos de recursos limitados eacute impossiacutevel

responder a todas as demandasrdquo (Gonccedilalves 2008 p 262)

Todavia se o nuacutemero de serviccedilos existentes e de profissionais neles atuantes parece ser

reduzido quando se leva em conta o nuacutemero de IES existentes em Portugal e de alunos a cursarem a

Educaccedilatildeo Superior por outro lado eacute de se reconhecer que esforccedilos vecircm sendo feitos na direccedilatildeo de

consolidar e legitimar o trabalho da Psicologia na Educaccedilatildeo Superior Um deles eacute inegavelmente a

proacutepria criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo dos Serviccedilos por parte das instituiccedilotildees especialmente diante do

cenaacuterio europeu no qual a oferta de aconselhamento psicoloacutegico aos estudantes por unidades

especiacuteficas existentes dentro das proacuteprias instituiccedilotildees eacute uma realidade em somente algumas

universidades europeias (Ferrer-Sama 2008) No geral em paiacuteses como a Dinamarca Beacutelgica

Aacuteustria Greacutecia Espanha e Estocircnica entre outros satildeo poucas as Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior

que oferecem Serviccedilo de Apoio Psicoloacutegico Na Dinamarca por exemplo os estudantes satildeo

considerados cidadatildeos com os mesmos direitos e obrigaccedilotildees de toda a sociedade de maneira que

natildeo haacute oferta especial de serviccedilos sociais e meacutedicos para eles quando eacute necessaacuterio os estudantes

satildeo encaminhados para serviccedilos da comunidade (Andersen 2008)

Outro esforccedilo menos decorrente das instituiccedilotildees e mais dos profissionais que atuam nos

Serviccedilos foi a criaccedilatildeo em 2000 da Rede de Serviccedilos de Apoio Psicoloacutegico no Ensino Superior

(RESAPES) associaccedilatildeo profissional criada por profissionais e pesquisadores vinculados a Serviccedilos

65

de Apoio Psicoloacutegico de instituiccedilotildees superiores de Portugal Como objetivos a RESAPES busca

construir uma rede que oportunize a troca de experiecircncias e o apoio muacutetuo entre os serviccedilos a

cooperaccedilatildeo cientiacutefica e na formaccedilatildeo das equipes que compotildeem os serviccedilos como forma de

melhorar a qualidade e eficaacutecia do apoio psicoloacutegico oferecido nas instituiccedilotildees (RESAPES 2002a

2002b)

A tiacutetulo de exemplo dos esforccedilos empreendidos para concretizar estes objetivos pode-se

citar a publicaccedilatildeo de uma newsletter que serve como um espaccedilo de divulgaccedilatildeo dos Serviccedilos bem

como de partilha de saberes e experiecircncias A newsletter de maio de 2010 por exemplo traz o

relato do trabalho que vem sendo desenvolvido em sete Serviccedilos de Psicologia do paiacutes bem como

uma proposta de reflexatildeo a partir das dificuldades que tecircm sido apontadas pelos psicoacutelogos quanto

a conseguirem implementar intervenccedilotildees preventivas e de desenvolvimento no acircmbito de sua

atuaccedilatildeo na Educaccedilatildeo Superior Outra accedilatildeo recente da RESAPES foi a organizaccedilatildeo do primeiro

congresso nacional realizado em abril de 2010 na Universidade de Aveiro para debate e reflexatildeo

acerca dos modelos e praacuteticas de apoio psicoloacutegico desenvolvidos nas IES de Portugal

O mapeamento e a caracterizaccedilatildeo dos Serviccedilos de Apoio Psicoloacutegico tem sido mais uma

das contribuiccedilotildees da RESAPES que tem investido na identificaccedilatildeo de limitaccedilotildees e necessidades

dos Serviccedilos e de seus profissionais e consequentemente na formulaccedilatildeo de algumas medidas

comuns que possam contribuir para modificar tal situaccedilatildeo A caracterizaccedilatildeo dos Serviccedilos apontou

que os destinataacuterios ou usuaacuterios satildeo principalmente os estudantes aleacutem dos funcionaacuterios e

docentes havendo tambeacutem aqueles que satildeo abertos agrave comunidade em geral quando estatildeo

vinculados a um Departamento de Psicologia Eacute comum a realizaccedilatildeo de estaacutegios acadecircmicos em

Psicologia nos Serviccedilos (RESAPES 2002b) Estes Serviccedilos incluem intervenccedilotildees remediativas

preventivas e de desenvolvimento tanto individuais quanto em grupo sendo as principais o

aconselhamento o apoio psicoloacutegico e psicopedagoacutegico a integraccedilatildeo acadecircmica e profissional a

consulta psicoloacutegica e a accedilatildeo social (Pereira 2009 RESAPES 2002b) Outras aacutereas de intervenccedilatildeo

ou valecircncias dos Serviccedilos menos frequentes satildeo a consultoria junto aos oacutergatildeos de gestatildeo da

instituiccedilatildeo a investigaccedilatildeo as atividades como o mentorado o treino de competecircncias pessoais

sociais e em teacutecnicas de estudo e o trabalho com os estudantes com necessidades especiais entre

outras

As atividades desenvolvidas nos Serviccedilos Portugueses quando comparadas agraves praacuteticas de

outros paiacuteses europeus guardam muita semelhanccedila De acordo com Ferrer-Sama (2008) na

maioria dos paiacuteses os psicoacutelogos fazem diagnoacutestico aplicaccedilatildeo de testes e psicoterapia e

desenvolvem diferentes tipos de intervenccedilatildeo individual e em grupo para a promoccedilatildeo de

competecircncias pessoais e sociais incluindo mais recentemente as desordens alimentares e a

educaccedilatildeo sexual Em diferentes paiacuteses o aconselhamento tambeacutem eacute realizado para questotildees

relativas ao estudo como forma de minimizar o insucesso acadecircmico e o nuacutemero de

desistecircnciasabandonos Nestes casos a intervenccedilatildeo centra-se na definiccedilatildeo de objetivos acadecircmicos

66

junto aos estudantes no desenvolvimento de competecircncias de aprendizagem e gestatildeo do tempo ou

no autocontrole em situaccedilotildees de avaliaccedilatildeo

Pelos estudos jaacute realizados nota-se que tanto em Portugal como em outros paiacuteses

europeus a intervenccedilatildeo individual com os estudantes dirigida ao problema que os levou a procurar

apoio eacute central na praacutetica dos psicoacutelogos escolares Nestes casos as problemaacuteticas trazidas pelos

alunos tecircm sido compreendidas agrave luz das questotildees de desenvolvimento ou seja de dificuldades na

resoluccedilatildeo das tarefas psicoloacutegicas normativas da transiccedilatildeo da adolescecircncia para a idade adulta

justificando o aconselhamento psicodinacircmico breve (Dias 2001 2006)

Tradicionalmente a atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar nas IES de Portugal tem privilegiado a

intervenccedilatildeo direta com o estudante em uma perspectiva individualizada e em resposta ao problema

vivencia contudo sem abandonar o atendimento claacutessico aos sujeitos individuais os serviccedilos de

apoio psicoloacutegico de Portugal vecircm investindo em praacuteticas preventivas e em accedilotildees com outros

agentes que tambeacutem participam do processo formativo dos estudantes

Aleacutem dos estudos relativos agrave caracterizaccedilatildeo dos Serviccedilos de Apoio algumas publicaccedilotildees

reportam-se agrave forma como estes Serviccedilos podem ser estruturados Gonccedilaacutelves e Cruz (1988)

apontaram trecircs tipos de Serviccedilo Psicoloacutegico na Educaccedilatildeo Superior remediativos preventivos e de

desenvolvimento Nos primeiros englobam-se as atividades de apoio direto aos estudantes com

dificuldades como psicoterapia breve ou prolongada a disponibilizaccedilatildeo de linhas telefocircnicas que

assegurem ajuda de urgecircncia e o encaminhamento do estudante para outros serviccedilos da

comunidade Em relaccedilatildeo aos Serviccedilos preventivos apontam a criaccedilatildeo de programas de

desenvolvimento interpessoal com base em uma rede de aconselhamento entre os colegas recepccedilatildeo

e acolhimento aos novos alunos e orientaccedilatildeo vocacional para os estudantes em fase de conclusatildeo

do curso e prestes a ingressar no mercado de trabalho Por fim nos Serviccedilos de desenvolvimento

citam os programas oferecidos aos estudantes para o desenvolvimento de competecircncias de estudo e

resoluccedilatildeo de problemas e de estrateacutegias frente aos trabalhos e provas escolares os programas de

desenvolvimento do autoconhecimento das relaccedilotildees sociais e treino de assertividade e os

programas de desenvolvimento de competecircncias comportamentais e cognitivas de escolha

planejamento e accedilatildeo

A partir do cruzamento de trecircs planos de intervenccedilatildeo - preventivo remediativo e de

investigaccedilatildeo - e de trecircs momentos vivenciados pelos estudantes - transiccedilatildeo do ensino secundaacuterio

para o superior (entrada) frequecircncia na Educaccedilatildeo Superior e transiccedilatildeo para o mercado de trabalho

(saiacuteda) - Leitatildeo Paixatildeo Silva e Miguel (2000) propuseram algumas accedilotildees levando em conta os

objetivos especiacuteficos de cada plano de intervenccedilatildeo e as necessidades mais proeminentes dos

estudantes em cada momento do processo de formaccedilatildeo Por exemplo no plano da intervenccedilatildeo

preventiva sugerem na entrada na Educaccedilatildeo Superior o desenvolvimento de programas de

promoccedilatildeo do sucesso acadecircmico de formaccedilatildeo de alunos mentores e de sensibilizaccedilatildeo para questotildees

do ensino e aprendizagem Ainda neste plano preventivo mas ao niacutevel da frequecircncia sugerem a

67

divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees relacionadas com as problemaacuteticas que satildeo mais comuns nos estudantes

(stress ansiedade frente agraves provas desmotivaccedilatildeo) e ao niacutevel da saiacuteda para o mercado de trabalho

sugerem programas de formaccedilatildeo em teacutecnicas de procura de emprego e de incentivo agrave criaccedilatildeo do

autoemprego

Dias (2001 2006) por sua vez sugere como accedilotildees do psicoacutelogo que atua na Educaccedilatildeo

Superior a participaccedilatildeo em programas de transiccedilatildeo do ensino secundaacuterio para o superior a

realizaccedilatildeo de workshops de desenvolvimento pessoal e de competecircncias acadecircmicas de gestatildeo do

tempo e da ansiedade aconselhamento psicoloacutegico e psicoterapia aconselhamento vocacional

terapia de grupo aplicaccedilatildeo de testes psicoloacutegicos intervenccedilatildeo em crise e encaminhamento entre

outras

Como evidenciam esta diversidade de propostas portuguesas para a Educaccedilatildeo Superior natildeo

existe um modelo uacutenico de intervenccedilatildeo da Psicologia Escolar ao contraacuterio coexistem diversas

abordagens teoacutericas accedilotildees e estrateacutegias que sustentam uma variedade de concepccedilotildees e praacuteticas

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CAPIacuteTULO II

EDUCACcedilAtildeO SUPERIOR HISTOacuteRIA CARACTERIacuteSTICAS E DESAFIOS

Este capiacutetulo estaacute organizado em duas partes A primeira delas focada na histoacuteria da

Educaccedilatildeo Superior recupera a criaccedilatildeo das instituiccedilotildees educativas e especificamente das

Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior (IES) apontando os elementos que contribuiacuteram para o seu

estabelecimento e reconhecimento social Apresentadas as influecircncias que conduziram agrave criaccedilatildeo

das universidades no mundo dedica-se um espaccedilo ao processo de constituiccedilatildeo da Educaccedilatildeo

Superior no Brasil destacando os fatores que veem lhe dando contorno desde o seu surgimento ateacute

a atualidade Encerrando esta parte do capiacutetulo a uacuteltima seccedilatildeo traz algumas consideraccedilotildees em torno

da distinccedilatildeo de termos frequentemente utilizados - Universidade Ensino Superior e Educaccedilatildeo

Superior - para se referir agrave educaccedilatildeo em niacutevel superior

A segunda parte deste capiacutetulo voltada agrave situaccedilatildeo atual deste niacutevel educativo apresenta

como ele estaacute constituiacutedo no Brasil Para oportunizar a compreensatildeo do cenaacuterio recente da

Educaccedilatildeo Superior recorre-se a dados estatiacutesticos acerca da graduaccedilatildeo e da poacutes-graduaccedilatildeo

brasileiras disponibilizados pelos oacutergatildeos federais responsaacuteveis por seu acompanhamento Na seccedilatildeo

seguinte busca-se evidenciar aspectos que satildeo contemporaneamente marcantes na Educaccedilatildeo

Superior como a privatizaccedilatildeo a vinculaccedilatildeo com o mercado os programas de expansatildeo o papel da

avaliaccedilatildeo entre outros Em continuidade a estes aspectos recentes que caracterizam a educaccedilatildeo em

niacutevel superior a terceira seccedilatildeo trata da crise que ela vem vivenciando e em especial da forte

articulaccedilatildeo com os interesses econocircmicos e financeiros que tecircm modificado sua funccedilatildeo principal e

contribuiacutedo para seu estado de crise

HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO SUPERIOR

A Constituiccedilatildeo Histoacuterica das Instituiccedilotildees Educativas

Refletir a respeito das Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior seu papel funccedilatildeo e

responsabilidade no conjunto da sociedade exige anteriormente pensar sobre o surgimento e a

natureza dessas instituiccedilotildees de uma forma geral pois carregam em si caracteriacutesticas que satildeo

comuns a todas independente do objeto ou fenocircmeno que as sustentam

Ao tratar do conceito de instituiccedilatildeo Saviani (2005a 2007) faz uma incursatildeo ao leacutexico da

palavra e assinala que o vocaacutebulo ldquoinstituiccedilatildeordquo apresenta significados que se agrupam em torno de

quatro ideias (a) a de ordenar e articular o que estava disperso (b) a de educar (c) a de construir

objetos (produccedilatildeo teacutecnica ou artiacutestica) e formar seres vivos e (d) a de aglutinar conectar

determinados procedimentos sistemas escolas (ideias compartilhadas) doutrinas Ao mesmo

tempo em que indicam a diversidade de significados atribuiacutedos ao conceito de instituiccedilatildeo tais

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ideias transmitem a noccedilatildeo de algo que eacute criado organizado e construiacutedo pelo homem e que natildeo

estava dado a priori (Saviani 2005a 2007)

A criaccedilatildeo de uma instituiccedilatildeo se daacute a partir do reconhecimento de que existe uma

necessidade humana de caraacuteter permanente e natildeo transitoacuterio que precisa ser atendida As

instituiccedilotildees natildeo estatildeo dadas a priori mas ao contraacuterio emergem de uma necessidade reconhecida

pelo homem ao longo de sua trajetoacuteria histoacuterica e cultural para a qual atribuiu a exigecircncia de

intervenccedilatildeo deliberada Se antes as atividades eram desenvolvidas de forma espontacircnea e

assistemaacutetica com a institucionalizaccedilatildeo de atividades especiacuteficas elas adquirem um caraacuteter formal

e sistematizado

Por essa razatildeo Saviani (2005a) afirma que ldquoo processo de criaccedilatildeo de instituiccedilotildees coincide

com o processo de institucionalizaccedilatildeo de atividades que antes eram exercidas de forma natildeo

institucionalizada assistemaacutetica informal espontacircneardquo (p 29) Complementando essa afirmaccedilatildeo

Castanho (2007) esclarece que a institucionalizaccedilatildeo eacute um processo social algo que se desenvolve

no tempo e no espaccedilo de uma sociedade Trata-se assim de um processo pelo qual se formam ou

se desenvolvem as instituiccedilotildees sociais

E eacute devido agrave funccedilatildeo de atender a uma necessidade permanente que as instituiccedilotildees adquirem

a capacidade de manutenccedilatildeo ao longo do tempo uma vez que estatildeo vinculadas a algo que eacute

duradouro na experiecircncia humana Por essa razatildeo as instituiccedilotildees educativas desde a Educaccedilatildeo

Infantil ateacute a Educaccedilatildeo Superior buscam no presente consolidar algo com vistas no futuro Ou

seja as accedilotildees desencadeadas no momento presente tecircm como horizonte o amanhatilde o futuro

Dessa forma ao discutir o papel das instituiccedilotildees educativas sejam elas de niacutevel baacutesico ou

superior faz-se necessaacuterio resgatar as razotildees e motivaccedilotildees histoacutericas que justificaram tal criaccedilatildeo

pois estas traratildeo indicaccedilotildees a respeito dos objetivos finalidades e responsabilidades atribuiacutedas agrave

instituiccedilatildeo

No caso da educaccedilatildeo por exemplo ela se desenvolvia originariamente de forma natural e

informal e consistia em uma accedilatildeo como outras desenvolvidas pelo homem coincidindo

inteiramente com o processo de trabalho A esse respeito Ariegraves (19782006) lembra que na

antiguidade por muito tempo natildeo houve lugar para a instituiccedilatildeo escolar pois a ldquocrianccedila aprendia

pela praacutetica e essa praacutetica natildeo parava nos limites de uma profissatildeo ainda mais porque na eacutepoca

natildeo havia limites entre a profissatildeo e a vida particularrdquo (p 156) A aprendizagem era transmitida

diretamente de uma geraccedilatildeo a outra mediante a participaccedilatildeo das crianccedilas na vida dos adultos

Antes de se institucionalizar a educaccedilatildeo era desenvolvida em todos os contextos nos quais

crianccedilas e adultos se misturavam fosse nos locais onde se trabalhava se jogava ou brincava O

aprendizado se dava no contato de cada dia A partir do seacuteculo XV foi-se instalando uma

necessidade de rigor moral expressa na ldquopreocupaccedilatildeo de isolar a juventude do mundo sujo dos

adultos para mantecirc-la na inocecircncia primitivardquo (Ariegraves 19782006 p 159) o que desencadeou

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entatildeo o imperativo de substituir a aprendizagem do dia-a-dia pela aprendizagem escolar Daacute-se

assim a institucionalizaccedilatildeo da educaccedilatildeo surgem as instituiccedilotildees educativas

Agrave medida que satildeo criadas pelo homem as instituiccedilotildees natildeo se constituem como algo pronto

e acabado ao contraacuterio uma vez constituiacutedas elas natildeo estatildeo definitivamente estruturadas mas satildeo

continuamente construiacutedas e reinventadas Esse caraacuteter constantemente renovador da instituiccedilatildeo

decorre do fato dela ser um sistema de praacuteticas sociais (Saviani 2005a 2007) e portanto sujeita agraves

accedilotildees do homem

Agraves instituiccedilotildees educativas tambeacutem natildeo se pode atribuir um estado completo acabado e

idecircntico ao longo dos tempos Pelo contraacuterio o desenvolvimento destas instituiccedilotildees natildeo se daacute

apenas por continuidade mas tambeacutem por rupturas transformaccedilotildees e reestruturaccedilotildees As

instituiccedilotildees educativas estatildeo mudando constantemente adequando-se agraves necessidades e demandas

que lhe satildeo dirigidas e assim mantendo-se ao longo do tempo

As universidades por exemplo satildeo instituiccedilotildees multisseculares de origem medieval e que

sobrevivem agrave passagem do tempo e agraves profundas alteraccedilotildees da sociedade (Polidori 2003) Satildeo

instituiccedilotildees que a despeito dos interesses econocircmicos poliacuteticos culturais e sociais de um periacuteodo

histoacuterico mantecircm-se vivas ativas e produtivas mesmo que para isso tenham que se reinventar

continuamente

Referindo-se agrave manutenccedilatildeo das universidades ao longo do tempo Clark Kerr (19632005)

destaca que das instituiccedilotildees criadas ateacute 1520 ainda existem nos dias de hoje 85 instituiccedilotildees que

exercem funccedilotildees semelhantes agraves que exerciam naquele tempo Entre estas estatildeo a Igreja Catoacutelica

os parlamentos da Ilha do Homem da Islacircndia e da Gratilde-Bretanha vaacuterios cantotildees suiacuteccedilos e setenta

universidades Estas uacuteltimas ldquoainda se encontram nas mesmas localidades em alguns dos mesmos

edifiacutecios com professores e alunos ainda fazendo as mesmas coisas e com a gestatildeo ocorrendo nos

mesmos moldesrdquo (Kerr 19632005 p 148)

Por essa razatildeo Kerr (19632005) comenta que tudo muda mas as universidades duram

bastante apesar das muitas mudanccedilas em suas funccedilotildees e eixos orientadores as instituiccedilotildees

universitaacuterias em comparaccedilatildeo com outras instituiccedilotildees ldquoestatildeo entre as instituiccedilotildees que menos

mudaramrdquo (p 148) A existecircncia prolongada das universidades deve-se essencialmente pelo fato

de que seus objetivos satildeo permanentes mesmo diante de tantas transformaccedilotildees sociais poliacuteticas e

econocircmicas as naccedilotildees continuam a necessitar de uma instituiccedilatildeo comprometida com a produccedilatildeo do

conhecimento cientiacutefico com a formaccedilatildeo da cidadania e a preparaccedilatildeo para o trabalho

Apesar da reconhecida relevacircncia das instituiccedilotildees educativas nas quais se desenvolvem

accedilotildees pedagoacutegicas propriamente ditas haacute que se reconhecer que elas natildeo detecircm o monopoacutelio da

educaccedilatildeo pois existem outras que de maneira formal e informal tambeacutem desenvolvem atividade

educativa Como exemplo tem-se a instituiccedilatildeo familiar onde se daacute o exerciacutecio espontacircneo ou

informal da educaccedilatildeo bem como igrejas sindicados e associaccedilotildees que aleacutem de desenvolverem

atividades educativas de caraacuteter informal tambeacutem podem realizar um trabalho pedagoacutegico formal

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Neste uacuteltimo caso estas instituiccedilotildees podem tanto organizar e promover modalidades especiacuteficas de

educaccedilatildeo formal quanto podem manter permanentemente escolas proacuteprias (Saviani 2005a)

Sendo criadas pelo homem para atender uma necessidade e estarem continuamente em

construccedilatildeo Saviani (2007) conclui que

as instituiccedilotildees satildeo portanto necessariamente sociais tanto na origem jaacute que determinadas

pelas necessidades postas pelas relaccedilotildees entre os homens como no seu proacuteprio

funcionamento uma vez que se constituem como um conjunto de agentes que travam

relaccedilotildees entre si e com a sociedade a que servem (p 5)

As instituiccedilotildees educativas inquestionavelmente socais fazem parte da sociedade e

guardam com esta interdependecircncias e relaccedilotildees variadas Nesta direccedilatildeo Chauiacute (2003) ressalta que

a universidade como instituiccedilatildeo social exprime a estrutura e o modo de funcionamento da

sociedade como um todo sendo possiacutevel identificar no interior da instituiccedilatildeo universitaacuteria

opiniotildees atitudes e projetos conflitantes que exprimem ideias e contradiccedilotildees da sociedade Dias

Sobrinho (2005) tambeacutem lembra que ldquouma universidade natildeo estaacute fora separada mas estaacute dentro da

tessitura complexa e contraditoacuteria da sociedade em relaccedilotildees de muacutetuas interatuaccedilotildeesrdquo (p 164)

As instituiccedilotildees educativas sejam as universidades ou outras instituiccedilotildees que compotildeem a

Educaccedilatildeo Superior manteacutem iacutentima relaccedilatildeo com a realidade social a qual deve se constituir como a

pedra angular orientadora dos objetivos perseguidos por estas instituiccedilotildees Por essa razatildeo incursotildees

nos elementos constitutivos e definidores das Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior natildeo podem ser

realizadas sem que se considerem as influecircncias do contexto histoacuterico e social conforme proposto

na proacutexima seccedilatildeo

O Surgimento das Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior no Mundo as Diferentes Ideias

acerca de Universidade e de Educaccedilatildeo Superior

As instituiccedilotildees educativas se organizam em instituiccedilotildees de niacutevel baacutesico e superior sendo

que neste uacuteltimo as universidades foram as primeiras instituiccedilotildees a se constituiacuterem e a

prenunciarem a construccedilatildeo de um sistema de Educaccedilatildeo Superior Dessa maneira uma retrospectiva

sobre a histoacuteria das Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior (IES) se daacute em articulaccedilatildeo com a histoacuteria de

criaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo das instituiccedilotildees universitaacuterias conforme apresentado nesta seccedilatildeo

Segundo Trindade (2001) um olhar sobre a dimensatildeo temporal da instituiccedilatildeo universitaacuteria

no mundo vislumbra quatro periacuteodos Primeiro o periacuteodo da invenccedilatildeo da universidade na Idade

Meacutedia no qual se constituiu o modelo da universidade tradicional com trecircs elementos baacutesicos

voltada para uma formaccedilatildeo teoloacutegico-juriacutedica organizada de forma corporativa em seu significado

originaacuterio e autocircnoma perante o poder puacuteblico e a Igreja Segundo o periacuteodo referente agrave eacutepoca em

que a universidade renascentista recebeu impacto do capitalismo e do humanismo literaacuterio e

artiacutestico neste periacuteodo surgiu uma nova relaccedilatildeo entre universidade e ciecircncia trazendo impactos que

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definiriam o periacuteodo seguinte O terceiro periacuteodo entatildeo foi marcado pelas descobertas cientiacuteficas e

pela institucionalizaccedilatildeo da ciecircncia em uma transiccedilatildeo para os diferentes padrotildees da universidade

moderna do seacuteculo XIX Por fim o quarto periacuteodo que instituiu a universidade moderna comeccedilou

no seacuteculo XIX e se desdobra ateacute os dias atuais Marca importante deste periacuteodo aleacutem das ciecircncias

que se instituiacuteram nas universidades foi a introduccedilatildeo de uma nova relaccedilatildeo entre Estado e

universidade o que possibilitou a diversidade dos padrotildees de universidades atuais

Tendo em vista estes quatro periacuteodos relativos agrave criaccedilatildeo das Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo

Superior Trindade (2001) localiza no quarto periacuteodo (por volta do seacuteculo XIX) a

institucionalizaccedilatildeo da universidade moderna que se deu pela emergecircncia de uma nova relaccedilatildeo

entre esta instituiccedilatildeo e o Estado Situa-se nesse periacuteodo o surgimento dos modelos claacutessicos de

universidade ndash napoleocircnico e humboldtiano ndash que mesmo tendo sido cunhados haacute quase dois

seacuteculos ainda servem de paracircmetro e referecircncia agraves Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior

Foi durante a hegemonia e o expansionismo francecircs vivido apoacutes a Revoluccedilatildeo Francesa

que Napoleatildeo fundou a universidade imperial em 1806 subdividida em Academias e subordinada

ao Estado nacional A universidade napoleocircnica encarregava-se do ensino e da educaccedilatildeo puacuteblica

em todo o Impeacuterio de forma que se configurou como importante instrumento agrave formaccedilatildeo dos

quadros necessaacuterios ao Estado (Trindade 2001)

Na Alemanha as guerras revolucionaacuterias e napoleocircnicas afetaram suas instituiccedilotildees

universitaacuterias levando ao fechamento e desaparecimento de algumas delas o que fez com a Pruacutessia

perdesse sua base intelectual e reconhecesse a necessidade de construir uma nova universidade

(Rossato 2006 Trindade 2001) A criaccedilatildeo da Universidade de Berlim em 1808 que teve Karl

Wilhelm von Humboldt como mentor baseia-se na noccedilatildeo de uma universidade fundada sobre o

princiacutepio da pesquisa e do trabalho cientiacutefico O conceito de universidade concebido por Humboldt

voltava-se para o desenvolvimento maacuteximo da ciecircncia e para a formaccedilatildeo intelectual e moral da

naccedilatildeo

Segundo Pereira (2009a) os princiacutepios essenciais postulados por Humboldt em relaccedilatildeo agrave

universidade satildeo

a formaccedilatildeo atraveacutes da pesquisa a unidade entre o ensino e pesquisa a

interdisciplinaridade a autonomia e a liberdade da administraccedilatildeo da instituiccedilatildeo e da ciecircncia

que ela produz a relaccedilatildeo integrada poreacutem autocircnoma entre Estado e Universidade a

complementaridade do ensino fundamental e meacutedio com o universitaacuterio (p 31)

Ainda sobre os principais aspectos que caracterizam a universidade na concepccedilatildeo de

Humboldt Rossato (2006) acrescenta que

o ponto central eacute o desenvolvimento da ciecircncia Para tanto deve a instituiccedilatildeo gozar de

liberdade O professor trabalha em funccedilatildeo do aluno e ambos para o desenvolvimento da

ciecircncia A universidade deve primar pela excelecircncia do conhecimento A universidade

deve investigar a ciecircncia enquanto tal na sua pureza como ela existe na natureza Destaca

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ainda a importacircncia do meacutetodo A universidade deve ser autocircnoma com a miacutenima

interferecircncia do Estado (p 83)

Em siacutentese a concepccedilatildeo de universidade humboldtiana se estrutura pela autonomia da

instituiccedilatildeo a indivisibilidade do saber do ensino e da pesquisa e pela produccedilatildeo cientiacutefica

enquanto a concepccedilatildeo napoleocircnica eacute marcada pela transmissatildeo do saber e pela formaccedilatildeo

profissional

Estando portanto o desenvolvimento da universidade moderna intimamente associado

com as reformas de von Humboldt na Pruacutessia e de Napoleatildeo na Franccedila as Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo

Superior deviam aleacutem de fornecer a forccedila de trabalho qualificada preparar os alunos para se

tornarem cidadatildeos modelos e ativos promover a mobilidade social e ser um lugar de discussatildeo

livre e independente Deviam tambeacutem manter e melhorar a cultura nacional como estrateacutegia para

formar a identidade poliacutetica da naccedilatildeo (Amaral amp Magalhatildees 2002) As universidades eram entatildeo

instituiccedilotildees autocircnomas que produziam saberes desinteressados e que formavam sujeitos teoacuterica e

politicamente criacuteticos

Dessa maneira em relaccedilatildeo aos modelos claacutessicos de universidade ou modelos

institucionais de Educaccedilatildeo Superior distinguem-se em siacutentese o francecircs ou napoleocircnico que fez

da universidade a formadora dos quadros necessaacuterios ao Estado pela ecircnfase na especializaccedilatildeo e na

profissionalizaccedilatildeo e o denominado modelo alematildeo ou humboldtiano baseado na produccedilatildeo do

saber e na formaccedilatildeo livre (Sguissardi 2006)

Estes dois modelos cada um orientado por uma concepccedilatildeo particular foram as matrizes da

universidade moderna e suas influecircncias se fazem presente nos dias de hoje de maneira que natildeo se

pode falar em um modelo uacutenico de universidade e consequentemente de Educaccedilatildeo Superior Para

Sguissardi (2004) ldquodo ponto de vista quantitativo haacute evidecircncias de que predominaria e continua

se ampliando o modelo neonapoleocircnico que remonta ao Impeacuterio e agraves escolas profissionais Do

ponto de vista qualitativo eacute necessaacuterio nuanccedilar a expressatildeordquo (p 42) Hoje os dois modelos se

fazem presentes ainda que em escalas muito diferentes

A partir dessas duas matrizes as Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior se diferenciam em

termos de concepccedilatildeo estruturaccedilatildeo e finalidade Para Pereira (2009a) o que caracteriza a

universidade moderna eacute essencialmente a associaccedilatildeo entre o ensino e a pesquisa enquanto as

demais Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior natildeo estatildeo vinculadas com a ciecircncia e com a vida

intelectual mas somente com o ensino profissional

De acordo com Rossato (2006) a Universidade de Berlim concebida a partir da ecircnfase na

geraccedilatildeo do conhecimento pela pesquisa eacute considerada ldquoa primeira instituiccedilatildeo que assume as

caracteriacutesticas da modernidade ao instituir-se como uma comunidade de pesquisadores que buscam

a verdade nos diversos campos da ciecircncia e do conhecimentordquo (p 81) O foco na pesquisa

caracteriacutestica essencial da Universidade de Berlim foi incorporado mundialmente pelas

universidades e identificado como elemento indispensaacutevel para sua constituiccedilatildeo e reconhecimento

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Acerca da legitimidade da universidade moderna Amaral e Magalhatildees (2002) identificam

que ela se deu pela autonomia do saber em relaccedilatildeo agrave religiatildeo e ao Estado e livre da pressatildeo das

demandas sociais e econocircmicas portanto a instituiccedilatildeo universitaacuteria estaria ancorada na ideia de

que o conhecimento eacute guiado por sua proacutepria loacutegica

A partir dessas ideias que atribuem centralidade agrave universidade no tocante ao

desenvolvimento moral cientiacutefico e tecnoloacutegico das naccedilotildees a ciecircncia e a pesquisa adquirem

relevacircncia extrema por serem a via de promoccedilatildeo para tal desenvolvimento Para Goergen (1998)

estabeleceu-se uma relaccedilatildeo tatildeo iacutentima e articulada entre a ciecircncia e esse desenvolvimento que natildeo eacute

possiacutevel destrinccedilaacute-la a ciecircncia passou a ser vista como o motor do desenvolvimento e portanto

sinocircnimo do progresso

Ancorando-se entatildeo na compreensatildeo de que o desenvolvimento de um paiacutes estaacute

intimamente ligado agrave sua produccedilatildeo cientiacutefica planos propostas e projetos do Estado fazem alusatildeo

ao seu papel como eacute o caso do Plano Nacional de Educaccedilatildeo (2001) que refere que ldquonenhum paiacutes

pode aspirar a ser desenvolvido e independente sem um forte sistema de Educaccedilatildeo Superiorrdquo (p

41) Este Plano justifica ainda que a importacircncia atribuiacuteda agraves Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior se

deve ao reconhecimento de que a produccedilatildeo de conhecimento eacute a base do desenvolvimento

cientiacutefico e tecnoloacutegico

Por compreensotildees como estas contata-se que existe uma forte associaccedilatildeo entre a produccedilatildeo

de conhecimento fruto de pesquisas e estudos realizados em instituiccedilotildees educativas de niacutevel

superior e o desenvolvimento de um paiacutes

A Emergecircncia das Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior no Brasil

Os quatro periacuteodos de institucionalizaccedilatildeo da universidade (Trindade 2001) correspondem

genericamente agrave constituiccedilatildeo das universidades no mundo jaacute que enquanto sua implantaccedilatildeo se

dava na Europa elas tambeacutem chegavam agrave Ameacuterica Latina No Brasil a universidade se instituiu no

seacuteculo XX razatildeo pela qual se diz que a Educaccedilatildeo Superior no paiacutes mesmo quando comparada a

outros paiacuteses latino americanos eacute de criaccedilatildeo tardia e recente (Mendonccedila 2000 Morosini 2005

Olive 2002 Sguissardi 2006) Embora desde 1808 tenham funcionado escolas e faculdades

profissionais isoladas e com forte preocupaccedilatildeo profissionalizante a primeira universidade

brasileira a Universidade do Rio de Janeiro (URJ) foi fundada em 1920 e ldquoera mais voltada ao

ensino do que agrave pesquisa elitista conservando a orientaccedilatildeo profissional dos seus cursos e

autonomia das faculdadesrdquo (Olive 2002 p 33)

Sobre essas caracteriacutesticas ao fazer um resgate da Educaccedilatildeo Superior no Brasil desde o

periacuteodo colonial ateacute os dias de hoje Faacutevero (2006) Morosini (2005) e Olive (2002) salientam que a

criaccedilatildeo dos cursos superiores se deu com a vinda da famiacutelia real portuguesa para o paiacutes em 1808

sendo que se caracterizavam por duas tendecircncias marcantes cursos isolados e preocupaccedilatildeo

profissionalizante Neste periacuteodo as primeiras faculdades brasileiras eram isoladas uma das outras

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e seguiam o modelo francecircs mais voltado ao ensino do que agrave pesquisa influecircncia que se fez

presente quando da criaccedilatildeo da primeira universidade brasileira A respeito do modelo francecircs

Sguissardi (2006) diz que ldquofez da universidade a formadora dos quadros necessaacuterios ao Estado

cuja formaccedilatildeo se daria em conformidade com a nova ordem social e com a tirania do diploma do

Estado Numa palavra era a especializaccedilatildeo e a profissionalizaccedilatildeordquo (p 68)

Outra caracteriacutestica deste periacuteodo tanto no que se refere agrave organizaccedilatildeo didaacutetica quanto agrave

estrutura de poder satildeo as ldquocaacutetedras vitaliacutecias o catedraacutetico lsquolente proprietaacuteriorsquo era aquele que

dominava um campo de saber escolhia seus assistentes e permanecia no topo da hierarquia

acadecircmica durante toda a sua vidardquo (Olive 2002 p 32) A unidade operativa de ensino e pesquisa

docente base da formaccedilatildeo em niacutevel superior era entregue a um professor que detinha privileacutegios o

catedraacutetico de forma que o regime de caacutetedra se configurava como nuacutecleo das Instituiccedilotildees de

Educaccedilatildeo Superior

Foi em 1924 com a accedilatildeo da Associaccedilatildeo Brasileira de Educaccedilatildeo e da Academia Brasileira

de Ciecircncias que se instalaram debates referentes agrave concepccedilatildeo de universidade suas funccedilotildees e ao

papel das atividades de pesquisa corroborando para a emergecircncia de uma nova concepccedilatildeo de

universidade (Morosini 2005 Olive 2002) Em relaccedilatildeo agraves funccedilotildees e ao papel da universidade

Faacutevero (2006) relata que havia duas posiccedilotildees uma que defendia a pesquisa cientiacutefica e a formaccedilatildeo

de profissionais como funccedilatildeo baacutesica da universidade e outra que considerava a formaccedilatildeo

profissional uma prioridade

Se o nascimento da Educaccedilatildeo Superior no Brasil se deu mediante a coexistecircncia de cursos

isolados a partir de 1930 foram criadas universidades pela justaposiccedilatildeo de cursos superiores

mesmo que estes ainda tenham se mantido isolados e autocircnomos quanto ao ensino (Morosini

2005) Segue-se entatildeo um periacuteodo de criaccedilatildeo de novas universidades e aumento do nuacutemero de

matriacuteculas mantendo-se ainda a forccedila da caacutetedra

Em 1961 foi promulgada a Lei nordm 4024 a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo

Nacional (Brasil 1961) que em suma natildeo alterou o modelo tradicional da Educaccedilatildeo Superior

vigente no paiacutes ldquodeixou ilesa a caacutetedra vitaliacutecia as faculdades isoladas e a universidade composta

por simples justaposiccedilatildeo de escolas profissionais aleacutem disso manteve maior preocupaccedilatildeo com o

ensino sem focalizar o desenvolvimento da pesquisardquo (Olive 2002 p 38)

Eacute a partir de 1968 com a aprovaccedilatildeo da Lei da Reforma Universitaacuteria (Lei nordm 55401968)

que se inicia uma nova discussatildeo sobre a Educaccedilatildeo Superior mediante um modelo diferente Esta

lei estabeleceu a indissociabilidade das atividades de ensino pesquisa e extensatildeo instituiu

departamentos em substituiccedilatildeo agraves caacutetedras criou o regime de trabalho de dedicaccedilatildeo exclusiva agrave

universidade e deu forccedila agrave poacutes-graduaccedilatildeo Desencadeou tambeacutem a expansatildeo do setor privado que

criou vaacuterias faculdades isoladas em cidades do interior e na periferia dos grandes centros urbanos

oferecendo cursos de graduaccedilatildeo sem levar em conta o padratildeo acadecircmico (Morosini 2005)

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Na opiniatildeo de Macedo Trevisan Trevisan e Macedo (2005) ao estabelecer a

indissociabilidade entre o ensino a pesquisa e a extensatildeo a reforma de 1968 privilegiou um

modelo uacutenico de Instituiccedilatildeo de Educaccedilatildeo Superior ndash o da universidade de pesquisa ndash que se

consolidou ldquocomo a principal fonte de desenvolvimento da atividade nacional de pesquisa e

ensaiou os primeiros passos do processo de constituiccedilatildeo da extensatildeo como atividade proacutepria da

instituiccedilatildeo de ensino superiorrdquo (p 129) Durante a deacutecada de 1970 o Sistema Nacional de

Educaccedilatildeo Superior vivenciou um grande crescimento dado especialmente pelas instituiccedilotildees natildeo

universitaacuterias predominantemente privadas uma vez que o modelo de universidade natildeo conseguiu

atender a toda a demanda direcionada a este niacutevel educativo (Macedo amp cols 2005) A Reforma

Universitaacuteria trouxe mudanccedilas profundas agrave realidade da Educaccedilatildeo Superior brasileira levando esse

periacuteodo a ser identificado como de modernizaccedilatildeo

Por sua vez a deacutecada de 90 foi marcada pela influecircncia da internacionalizaccedilatildeo no Sistema

de Educaccedilatildeo Superior respondendo a um contexto social que atribuiacutea agrave educaccedilatildeo em niacutevel superior

a possibilidade de ascensatildeo social por meio da concepccedilatildeo de uma universidade de massa Sobre o

processo de internacionalizaccedilatildeo na educaccedilatildeo a UNESCO (1999) destaca que seu aumento foi um

reflexo do caraacuteter global da pesquisa e do ensino de forma que no atual contexto mundial este

processo tem sido reforccedilado pela integraccedilatildeo econocircmica e poliacutetica pela necessidade crescente de

conhecimento intercultural e pela natureza global das comunicaccedilotildees modernas dos mercados de

consumo entre outros

O presente periacuteodo da Educaccedilatildeo Superior eacute perpassado por diferentes concepccedilotildees entre as

quais se tem as concepccedilotildees advindas da UNESCO e do Banco Mundial A primeira destaca como

funccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior a cultura da paz a equidade e a qualidade enquanto a segunda de

caraacuteter neoliberal defende o papel da universidade voltada para o mercado eficiente e racional

A UNESCO (1999) reconheceu que a sociedade tem vivenciado um periacuteodo de raacutepidas

transformaccedilotildees e argumentou que as mudanccedilas econocircmicas e tecnoloacutegicas ldquodeveriam procurar um

desenvolvimento sustentaacutevel humano em que o crescimento econocircmico servisse ao

desenvolvimento social e assegurasse um meio ambiente sustentaacutevelrdquo (p 12) Nessa direccedilatildeo frente

ao cenaacuterio internacional apontou como missotildees da Educaccedilatildeo Superior educar e formar pessoas

produzir e difundir conhecimentos por meio da pesquisa contribuir para o respeito e difusatildeo das

culturas colaborar na consolidaccedilatildeo de valores sociais que sustentam a cidadania democraacutetica e

favorecer o desenvolvimento e a melhoria da educaccedilatildeo nos diferentes niacuteveis (UNESCO 1998a)

Os maiores desafios para a Educaccedilatildeo Superior segundo a UNESCO (1999) satildeo a

relevacircncia considerada em termos do seu papel e espaccedilo na sociedade e do cumprimento de suas

funccedilotildees de pesquisa e ensino fortemente vinculadas com as noccedilotildees de autonomia e liberdade

acadecircmica a qualidade definida como um conceito multidimensional que engloba o envolvimento

dos docentes-pesquisadores a qualidade da formaccedilatildeo recebida pelos estudantes e da infra-estrutura

77

e a internacionalizaccedilatildeo um reflexo do caraacuteter universal do ensino e da pesquisa verificado pela

intensificaccedilatildeo dos elos e intercacircmbios entre estudantes professores e pesquisadores de todo mundo

A Conferecircncia Mundial sobre Educaccedilatildeo Superior (UNESCO 2009) reafirma que agrave

Educaccedilatildeo Superior natildeo cabe somente favorecer o desenvolvimento de habilidades ela deve

sobretudo ldquocontribuir para a educaccedilatildeo de cidadatildeos eacuteticos comprometidos com a construccedilatildeo da paz

a defesa dos direitos humanos e os valores democraacuteticosrdquo (pp 2-3)

Para o Banco Mundial (1995) por sua vez a Educaccedilatildeo Superior eacute fundamental para o

desenvolvimento econocircmico e social sendo inclusive reconhecida como fonte de crescimento

econocircmico a longo prazo Apesar de sua grande importacircncia o Banco reconhece que este niacutevel

educativo sofre uma crise de proporccedilotildees mundiais a qual estaacute diretamente ligada agraves fontes de

financiamento da Educaccedilatildeo Superior e eacute mais acentuada nos paiacuteses em desenvolvimento Diante do

quadro de crise da Educaccedilatildeo Superior o Banco Mundial (1995) argumenta que

o modelo tradicional de universidade europeia de investigaccedilatildeo com sua estrutura de

programas em um niacutevel tem demonstrado ser caro e pouco apropriado no mundo em

desenvolvimento A maior diferenciaccedilatildeo na educaccedilatildeo superior ou o desenvolvimento de

instituiccedilotildees natildeo universitaacuterias e o fomento de estabelecimentos privados pode contribuir

para satisfazer a demanda social por educaccedilatildeo poacutes-secundaacuteria e fazer com que os sistemas

de niacutevel terciaacuterio sejam mais sensiacuteveis agraves necessidades cambiantes do mercado de trabalho

(p 5)

Como alternativas agrave superaccedilatildeo da crise o Banco Mundial (1995) sugeriu (a) fomentar

maior diferenciaccedilatildeo das instituiccedilotildees incluindo o crescimento de instituiccedilotildees privadas (b)

proporcionar incentivos para que as instituiccedilotildees puacuteblicas diversifiquem as fontes de financiamento

(c) redefinir a funccedilatildeo do governo na Educaccedilatildeo Superior e (d) adotar poliacuteticas que deem prioridade

agrave qualidade e equidade

Em relaccedilatildeo ao incentivo agrave oferta privada em Educaccedilatildeo Superior defendeu ainda que esta

pode ldquoreagir de forma eficiente e flexiacutevel agrave mudanccedila de demanda e ampliaccedilatildeo de oportunidades

educacionais com pouco ou nenhum custo adicional ao Estadordquo (Banco Mundial 1995 p 6) Por

essas afirmaccedilotildees fica claro o posicionamento deste organismo no sentido de fortalecer a Educaccedilatildeo

Superior natildeo universitaacuteria e natildeo estatal

Tendo por um lado as concepccedilotildees da UNESCO em relaccedilatildeo ao papel da Educaccedilatildeo

Superior e de outro a do Banco Mundial eacute faacutecil constatar que as duas natildeo compartilham as

mesmas ideias e perspectivas pelo contraacuterio satildeo exemplos de quatildeo distintas satildeo as concepccedilotildees que

concorrem pela orientaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior brasileira As tensotildees entre a supremacia da

globalizaccedilatildeo de um lado e a defesa do estado-nacional de outro constituem o foco principal da

disputa entre agecircncias internacionais que se baseiam em conceitos tradiccedilotildees e opiniotildees poliacuteticas

divergentes

78

Em decorrecircncia das influecircncias e escolhas histoacutericas jaacute natildeo eacute possiacutevel falar em modelo

uacutenico de IES inclusive e sobretudo por natildeo haver uma concepccedilatildeo uacutenica do que seja a Educaccedilatildeo

Superior no paiacutes

Universidade Ensino Superior ou Educaccedilatildeo Superior Aproximaccedilotildees e Distinccedilotildees

entre os Termos

Mesmo que historicamente as universidades tenham sido as primeiras instituiccedilotildees

educativas a se constituiacuterem em niacutevel superior conforme relatado na segunda seccedilatildeo deste capiacutetulo

a Educaccedilatildeo Superior natildeo eacute sinocircnimo de universidade Com a intenccedilatildeo de destacar os aspectos que

caracterizam e distinguem estes termos apresentam-se nesta seccedilatildeo os principais fatores que

constituem uma universidade e que a torna uma das instituiccedilotildees que compotildee o Sistema de

Educaccedilatildeo Superior sem contudo dar conta da amplitude deste sistema

De acordo com Belloni (1992) natildeo existe um conceito uacutenico e universalmente aceito do

que seja universidade no entanto a autora afirma que a funccedilatildeo preciacutepua da universidade eacute gerar

saber um saber comprometido com a verdade base de construccedilatildeo do conhecimento com a justiccedila

base das relaccedilotildees humanas com a beleza que permite a expressatildeo da emoccedilatildeo e do prazer e com a

igualdade base da estrutura social

O saber gerado pela universidade deve ao mesmo tempo voltar-se para o avanccedilo da

ciecircncia da arte e da cultura e para a busca de soluccedilatildeo de problemas sociais Isto eacute de um lado o

compromisso eacute com a humanidade como um todo sem restriccedilatildeo temporal ou espacial de outro

lado o compromisso eacute com questotildees imediatas com situaccedilotildees especiacuteficas (Belloni 1992) Dessa

forma cabe agrave universidade envolver-se com problemaacuteticas sociais que carecem de atenccedilatildeo e de

intervenccedilatildeo com vistas a promover a transformaccedilatildeo de condiccedilotildees estruturais da sociedade que

comprometem a qualidade de vida e a satisfaccedilatildeo de necessidades baacutesicas da populaccedilatildeo sem perder

de vista o progresso social que vai aleacutem de necessidades locais Em relaccedilatildeo agrave Educaccedilatildeo Superior

na Enciclopeacutedia de Pedagogia Universitaacuteria Morosini (2006a) a define como um

conceito que se difundiu na segunda metade do seacuteculo XX congregando termos como

educaccedilatildeo poacutes-secundaacuteria terciaacuteria ou terceiro grau representativos de estaacutegios de

aprendizagem Exige a conclusatildeo da educaccedilatildeo primaacuteria e secundaacuteria ou fundamental e

meacutedia (10 a 14 anos de escola) variando de acordo com o sistema nacional de educaccedilatildeo

(pp 58-59)

Por essa definiccedilatildeo observa-se que a Educaccedilatildeo Superior corresponde a um dos niacuteveis da

educaccedilatildeo escolar que compotildee os sistemas educacionais de cada paiacutes ministrada em Instituiccedilotildees de

Educaccedilatildeo Superior apoacutes a conclusatildeo dos niacuteveis que o precedem

Em nota complementar ao conceito de Educaccedilatildeo Superior Morosini (2006a) esclarece que

tambeacutem envolve ldquona sua conceituaccedilatildeo uma outra funccedilatildeo ensino e pesquisa isto eacute criaccedilatildeo e

preservaccedilatildeo do conhecimento sistemaacuteticordquo (p 59) Historicamente estas trecircs funccedilotildees foram

79

atribuiacutedas agraves universidades para aleacutem da tradicional funccedilatildeo de ensino tambeacutem desenvolvida em

outras instituiccedilotildees superiores de forma que esta atribuiccedilatildeo ocasionou uma estreita associaccedilatildeo entre

universidade e Educaccedilatildeo Superior termos adotados indistintamente como se fossem sinocircnimos

Contudo o termo Educaccedilatildeo Superior diz respeito a um niacutevel educativo com funccedilotildees finalidades e

organizaccedilatildeo especiacuteficas que se desenvolve em Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior (IES) as quais

atualmente no Brasil podem ser universidades centros universitaacuterios ou faculdades (Decreto nordm

57732006)

Segundo a LDB (Brasil 1996) em seu artigo 52 ldquoas universidades satildeo instituiccedilotildees

pluridisciplinares de formaccedilatildeo dos quadros profissionais de niacutevel superior de pesquisa de extensatildeo

e de domiacutenio e cultivo do saber humanordquo (p 18) e se caracterizam por se vincularem agrave produccedilatildeo

intelectual institucionalizada mediante o estudo sistemaacutetico de temas e problemas relevantes

cientiacutefica e culturalmente por ter um corpo docente composto pelo menos com titulaccedilatildeo

acadecircmica de mestrado ou doutorado e por ter um terccedilo do seu corpo docente em regime de tempo

integral

A universidade eacute dessa forma parte de um fenocircmeno maior que eacute a Educaccedilatildeo Superior

Apesar de ao longo deste capiacutetulo ter-se utilizado o termo universidade em diversas ocasiotildees tal

uso decorre do reconhecimento que tal instituiccedilatildeo tem na histoacuteria da Educaccedilatildeo Superior e tambeacutem

da opccedilatildeo por manter o termo adotado pelos autores estudados na revisatildeo de literatura ciente

inclusive de que este uso por parte de muitos deles se daacute em referecircncia ao amplo papel e

composiccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior

Em vaacuterios casos o uso do termo universidade por parte de autores como Chauiacute (2003)

Dias Sobrinho Ristoff e Goergen (2008) Faacutevero (2006) Ristoff (1999) Severino (2002)

Sguissardi (2005) e Trindade (2001) por exemplo estaacute muito mais relacionado a uma posiccedilatildeo

acadecircmica e poliacutetica em defesa da universidade puacuteblica brasileira do que a ausecircncia de distinccedilatildeo

entre os termos universidade e Educaccedilatildeo Superior Tanto eacute que ao discutir as crises que envolvem

este niacutevel educativo em especial a de modelo decorrente das funccedilotildees que lhe satildeo atribuiacutedas a qual

ainda seraacute abordada neste capiacutetulo Ristoff (1999) salienta que ldquoestamos falando em lsquoEducaccedilatildeo

Superiorrsquo e natildeo em universidaderdquo pois ldquohoje queiramos ou natildeo temos que reconhecer que a

Educaccedilatildeo Superior eacute uma atividade de funccedilotildees muacuteltiplasrdquo (p 28)

A Educaccedilatildeo Superior se constitui sobre uma diversidade de demandas objetivos funccedilotildees e

formas de organizaccedilatildeo ainda que tenha no modelo de universidade um importante referencial

Devido a essa importacircncia o autor faz menccedilatildeo agraves universidades de verdade identificando-as como

aquelas que tecircm

ensino pesquisa extensatildeo mestrados doutorados ndash enfim satildeo o que em geral entendemos

por universidades de verdade ndash instituiccedilotildees promotoras dos objetivos tradicionais de

disseminaccedilatildeo e do avanccedilo das artes e das ciecircncias e de seu direcionamento para a cidadania

e a melhoria da qualidade da vida da naccedilatildeo (Ristoff 1999 p 28)

80

De toda sorte opta-se neste trabalho por utilizar o termo Educaccedilatildeo Superior em alusatildeo a

um niacutevel educativo especiacutefico que se constituiu em um amplo e complexo sistema composto por

Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior responsaacuteveis pela formaccedilatildeo de cidadatildeos e de profissionais O

termo universidade eacute utilizado para se referir agraves instituiccedilotildees que gozam de autonomia didaacutetica

administrativa e financeira que obedecem ao princiacutepio de indissociabilidade do ensino da pesquisa

e da extensatildeo e que desenvolvem atividades de pesquisa no acircmbito da poacutes-graduaccedilatildeo

Apresentadas as aproximaccedilotildees e distinccedilotildees entre os termos universidade e Educaccedilatildeo

Superior cabe ainda esclarecer as razotildees que levam a optar por este uacuteltimo em detrimento do

termo ensino superior os quais natildeo satildeo similares

Ao estabelecer uma definiccedilatildeo de universidade para o seacuteculo XXI Sousa Santos (2005)

afirma que ldquosoacute haacute universidade quando haacute formaccedilatildeo graduada e poacutes-graduada pesquisa e extensatildeo

Sem qualquer destes haacute ensino superior natildeo haacute universidaderdquo (p 64-65) Concorda-se com o autor

no que se refere agrave necessaacuteria presenccedila das atividades de pesquisa de ensino e de extensatildeo para

qualificar uma IES como universitaacuteria natildeo devendo ser assim denominada as instituiccedilotildees que de

dedicam apenas a atividade de ensino Todavia tanto as instituiccedilotildees que focalizam apenas o

ensino quanto agravequelas voltadas agrave integraccedilatildeo deste com a pesquisa e a extensatildeo compotildeem a

Educaccedilatildeo Superior de modo que falar em ensino superior eacute limitar-se a uma parcela do que eacute de

fato a Educaccedilatildeo Superior em termos de concepccedilatildeo funccedilatildeo e responsabilidade social

Para tratar das razotildees que levam a adotar o termo Educaccedilatildeo Superior e natildeo Ensino

Superior eacute preciso recuperar a noccedilatildeo de educaccedilatildeo de forma geral a qual por sua extensatildeo

amplitude e complexidade evidencia-se como mais apropriada quando se tem como referecircncia a

formaccedilatildeo do ser humano em sua totalidade

Falar em educaccedilatildeo implica fazer referecircncia ao processo de constituiccedilatildeo do sujeito mediante

sua inserccedilatildeo ativa em um contexto histoacuterico e social A educaccedilatildeo fenocircmeno proacuteprio dos seres

humanos eacute o meio pelo qual os sujeitos se apropriam daquilo que foi historicamente produzido

pelo conjunto dos homens isto eacute inseridos em um grupo social os sujeitos tornam-se membros

deste grupo agrave medida que vatildeo internalizando o material fiacutesico afetivo intelectual e relacional

construiacutedo ao longo do tempo na histoacuteria (Arauacutejo 2003 Oliveira 2007)

Conforme destaca Saviani (2005b) ldquonatureza humana natildeo eacute dada ao homem mas eacute por ele

produzida sobre a base da natureza biofiacutesicardquo (p 13) Para aleacutem do complexo e dinacircmico aparato

bioloacutegico caracteriacutestico do ser humano a natureza humana eacute conquistada pela apropriaccedilatildeo dos

elementos culturais que permeiam a vida em sociedade sendo a educaccedilatildeo o processo pelo qual se

oportuniza aos sujeitos esta apropriaccedilatildeo

A partir do nascimento cada pessoa vai paulatinamente se integrando a um contexto social

repleto de ideias valores objetos haacutebitos siacutembolos relaccedilotildees e sentimentos que constituem a

produccedilatildeo coletiva e histoacuterica de um grupo Caracteriacutestica importante dessa produccedilatildeo eacute que ela natildeo

eacute definitiva e imutaacutevel muito pelo contraacuterio estaacute continuamente em transformaccedilatildeo pela accedilatildeo e

81

pelas interaccedilotildees entre os homens Assim cada um vai se integrando a determinado contexto social

o faz por um processo ativo de apropriaccedilatildeo e portanto de construccedilatildeo tornar-se membro de um

grupo social implica assimilar articular e ressignificar os elementos culturais jaacute produzidos

Por essa perspectiva torna-se no miacutenimo incoerente compreender a educaccedilatildeo como um

processo linear de apropriaccedilatildeo como se o produto da histoacuteria fosse simplesmente transferido ou

implantado em cada sujeito O processo educativo envolve a internalizaccedilatildeo do que jaacute estaacute

socialmente estabelecido e tambeacutem a expressatildeo ou manifestaccedilatildeo individual de cada um a partir de

sua relaccedilatildeo uacutenica e singular com a produccedilatildeo coletiva

Nessa direccedilatildeo a educaccedilatildeo eacute uma praacutetica humana voltada agrave formaccedilatildeo agrave constituiccedilatildeo do

sujeito que tem posiccedilatildeo ativa nos rumos do seu desenvolvimento De acordo com o documento

Educaccedilatildeo um tesouro a descobrir (UNESCO 1998b)

um dos principais papeacuteis reservados agrave educaccedilatildeo consiste antes de mais em dotar a

humanidade da capacidade de dominar o seu proacuteprio desenvolvimento Ela deve de fato

fazer com que cada um tome o seu destino nas matildeos e contribua para o progresso da

sociedade em que vive baseando o desenvolvimento na participaccedilatildeo responsaacutevel dos

indiviacuteduos e das comunidades (p 82)

Portanto a educaccedilatildeo - tanto a que se daacute no contexto familiar quanto a que transcorre em

contextos institucionais como a escola ou a universidade - estaacute voltada para a promoccedilatildeo do

desenvolvimento humano por meio de processos de aprendizagem e da internalizaccedilatildeo de elementos

culturais que perpassam a vida em sociedade Na intenccedilatildeo de favorecer o desenvolvimento das

pessoas o ensino entendido como a transmissatildeo de valores normas e conhecimentos para as novas

geraccedilotildees foi assumido como a estrateacutegia mais adequada uma vez que permitiria que o material

construiacutedo pelo conjunto dos homens fosse transmitido aos mais novos Eacute importante esclarecer

que esta noccedilatildeo de ensino estaacute muito associada agrave ideia de reproduccedilatildeo e privilegia a transferecircncia do

conhecimento ou seja o aprendizado ocorre pela transmissatildeo de conhecimento por parte daquele

que sabe para aquele que ainda natildeo sabe

Enquanto o ensino estaacute focado na reproduccedilatildeo do conhecimento que passa inalterado de

uma pessoa a outra a educaccedilatildeo em contraponto envolve associaccedilatildeo problematizaccedilatildeo e

reformulaccedilatildeo do conhecimento Falar em educaccedilatildeo implica entatildeo reconhecer a existecircncia de um

processo de criacutetica de modificaccedilatildeo e de criaccedilatildeo do conhecimento e do mundo de maneira que o

sujeito que aprende agrega algo novo e diferente ao conhecimento que lhe foi inicialmente

transferido

Sendo assim adotar o termo educaccedilatildeo em detrimento do ensino se daacute por entender que

educar eacute incentivar o desenvolvimento de novas interpretaccedilotildees articulaccedilotildees e possibilidades eacute

instigar o novo o diferente e o que ainda natildeo foi pensado eacute valorizar o questionamento e a criacutetica

como possibilidade de transformar e construir algo que ainda natildeo estaacute dado

82

Aderente a este posicionamento o SINAES ndash Sistema Nacional de Avaliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo

Superior ndash atual proposta de avaliaccedilatildeo deste niacutevel educativo trabalha com o conceito de Educaccedilatildeo

Superior que natildeo se limita e transcende o ensino Segundo Dias Sobrinho (2004b) o ensino eacute um

importante meio para cumprir a finalidade da educaccedilatildeo que eacute a formaccedilatildeo em seu amplo sentido

contudo ele natildeo daacute conta de todas as dimensotildees implicadas na educaccedilatildeo teacutecnicas eacuteticas poliacuteticas

epistemoloacutegicas e filosoacuteficas Sendo assim optar por Educaccedilatildeo Superior significa afirmar que a

finalidade essencial deste niacutevel educativo eacute a formaccedilatildeo plena dos sujeitos em suas inuacutemeras

potencialidades

Existem portanto instituiccedilotildees que se dedicam apenas ao ensino e outras que se vinculam

tambeacutem agrave reflexatildeo criacutetica e criativa estimulada principalmente pelo esforccedilo contiacutenuo de pesquisa e

de desenvolvimento de conhecimento Mas todas essas instituiccedilotildees em maior ou menor grau

desenvolvem atividades de ensino o qual eacute parte do processo de formaccedilatildeo Contudo por entender

que o processo educativo e em especial o de niacutevel superior estaacute para aleacutem do ensinotransmissatildeo

de conhecimentos torna-se inadequado adotar o termo ensino superior para se referir ao conjunto

das praacuteticas desenvolvidas por instituiccedilotildees superiores de educaccedilatildeo e as complexas funccedilotildees

exercidas pela Educaccedilatildeo Superior De toda forma estejam as IES mais voltadas ao ensino ou agrave

pesquisa a reproduccedilatildeo do conhecimento ou agrave sua produccedilatildeo todas satildeo espaccedilos legiacutetimos de atuaccedilatildeo

da Psicologia Escolar

CARACTERIacuteSTICAS FUNCcedilOtildeES E DESAFIOS DA EDUCACcedilAtildeO SUPERIOR NA

CONTEMPORANEIDADE

A Atual Estrutura e Funcionamento da Educaccedilatildeo Superior Brasileira

Aleacutem dos princiacutepios gerais relativos agrave educaccedilatildeo que estatildeo estabelecidos pela Constituiccedilatildeo

Federal de 1988 o sistema educacional brasileiro eacute orientado pela nova Lei de Diretrizes e Bases

da Educaccedilatildeo Nacional (Lei nordm 93941996) documento que define os objetivos prioridades e

condiccedilotildees que devem reger a poliacutetica educacional brasileira aleacutem de estabelecer os niacuteveis

escolares as modalidades de educaccedilatildeo e suas finalidades

Segundo a LDB (Brasil 1996) a educaccedilatildeo escolar organiza-se em dois niacuteveis a Educaccedilatildeo

Baacutesica formada pela Educaccedilatildeo Infantil Ensino Fundamental e Ensino Meacutedio e a Educaccedilatildeo

Superior Esta uacuteltima abrange os cursos sequenciais por campo de saber1 os de graduaccedilatildeo de poacutes-

graduaccedilatildeo - que compreende programas de mestrado e doutorado cursos de especializaccedilatildeo

1 Os cursos sequenciais tecircm como especificidade o objetivo de atender a demanda por melhor formaccedilatildeo pessoal eou acesso agrave Educaccedilatildeo Superior Embora objetivem a qualificaccedilatildeo estes cursos natildeo habilitam para o exerciacutecio de uma profissatildeo e podem se configurar como uma alternativa aos cursos de graduaccedilatildeo ou podem ser complementares a estes uacuteltimos Os cursos sequenciais podem ser de dois tipos Cursos Superiores de Formaccedilatildeo Especiacutefica e Cursos Superiores de Complementaccedilatildeo de Estudos

83

aperfeiccediloamento e outros - e os cursos de extensatildeo A Figura 1 analisada da parte inferior para a

superior auxilia na compreensatildeo de como estaacute organizada a Educaccedilatildeo Superior no Brasil

Figura 1 Organizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior no Brasil (INEP 2009)

Apesar da LDB (Brasil 1996) indicar que a Educaccedilatildeo Superior seraacute ministrada em

Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior puacuteblicas e privadas e com variados graus de abrangecircncia ou

especializaccedilatildeo a referida legislaccedilatildeo detalha apenas as caracteriacutesticas relativas agraves universidades

Em relaccedilatildeo agrave natureza acadecircmica e organizaccedilatildeo administrativa das IES o Decreto nordm 57732006

estabelece a composiccedilatildeo do Sistema Federal de Educaccedilatildeo Superior como instituiccedilotildees federais de

Educaccedilatildeo Superior (IES criadas e mantidas pela iniciativa privada) e oacutergatildeos federais de Educaccedilatildeo

Superior Segundo a natureza juriacutedica de suas mantenedoras as instituiccedilotildees puacuteblicas subdividem-se

em federais estaduais e municipais enquanto as instituiccedilotildees privadas podem ser sem fins

lucrativos (instituiccedilotildees comunitaacuterias confessionais e filantroacutepicas) e com fins lucrativos

(particulares em sentido estrito)

Ainda de acordo com o referido Decreto as IES se organizam em Faculdades Centros

Universitaacuterios e Universidades sendo que originalmente a instituiccedilatildeo eacute credenciada como

faculdade e o seu credenciamento como universidade ou centro universitaacuterio dependeraacute de seu

funcionamento regular e do padratildeo satisfatoacuterio de qualidade estabelecido pelo Ministeacuterio da

Educaccedilatildeo (MEC) Tambeacutem compotildeem o Sistema de Educaccedilatildeo Superior os Institutos Federais de

84

Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia ou simplesmente Institutos Federais especializados na oferta de

educaccedilatildeo profissional e tecnoloacutegica (Lei nordm 11892 de 29 de dezembro de 2008b)

O cenaacuterio nacional da Educaccedilatildeo Superior eacute composto principalmente pela graduaccedilatildeo e

pela poacutes-graduaccedilatildeo A primeira eacute acompanhada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

Educacionais Aniacutesio Teixeira (INEP) e a segunda pela Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de

Pessoal de Niacutevel Superior (CAPES) ambos oacutergatildeos vinculados ao MEC O INEP tem como missatildeo

promover estudos pesquisas e avaliaccedilotildees sobre o Sistema Educacional brasileiro com o objetivo de

subsidiar a formulaccedilatildeo e implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas e produzir informaccedilotildees confiaacuteveis

aos gestores pesquisadores educadores e para o puacuteblico em geral No cumprimento dessa missatildeo

o INEP realiza anualmente por meio de questionaacuterio eletrocircnico uma ampla coleta de dados sobre a

Educaccedilatildeo Superior brasileira conhecido como o Censo da Educaccedilatildeo Superior Todas as

Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior brasileiras satildeo convocadas a participar do Censo prestando as

informaccedilotildees solicitadas pelo INEP

O Censo referente ao ano de 2009 (INEP 2010) mostra a existecircncia de 2314 Instituiccedilotildees

de Educaccedilatildeo Superior 27827 cursos 5115896 estudantes 359089 docentes e 353775

funcionaacuterios teacutecnico-administrativos Com o objetivo de apresentar o panorama geral e atual da

Educaccedilatildeo Superior do Brasil estes dados seratildeo melhor detalhados de forma a possibilitar uma

compreensatildeo do amplo e complexo cenaacuterio deste niacutevel educativo Para tanto com base nas

informaccedilotildees publicizadas pelo INEP foram elaborados tabelas e graacuteficos com o objetivo de

favorecer a compreensatildeo dos dados

Considerando a distribuiccedilatildeo das IES nas cinco regiotildees brasileiras a regiatildeo Sudeste agrega

511 das Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior brasileiras com 110 IES puacuteblicas e 980 privadas

enquanto a regiatildeo Norte a menor em termos de nuacutemero de instituiccedilotildees engloba apenas 63 das

quais 19 satildeo puacuteblicas e 128 privadas A distribuiccedilatildeo das IES segundo as regiotildees brasileiras estaacute

apresentada na Figura 2

0

200

400

600

800

1000

1200

Norte Nordeste Centro-Oeste

Sudeste Sul

Total de IESPrivadasPuacuteblicas

Figura 2 Distribuiccedilatildeo das IES segundo as regiotildees brasileiras no ano de 2009 (INEP 2010)

85

Ao ilustrar como as IES estatildeo distribuiacutedas pelo paiacutes a Figura 2 mostra que em todas as

regiotildees as instituiccedilotildees privadas predominam em relaccedilatildeo agraves puacuteblicas Aleacutem disso indica que haacute

uma forte concentraccedilatildeo regional no Sudeste possivelmente como decorrecircncia da economia local e

do maior desenvolvimento industrial e carecircncia em outras regiotildees como o Norte A Figura 3 ilustra

essa concentraccedilatildeo

Figura 3 Distribuiccedilatildeo das IES no territoacuterio brasileiro segundo as regiotildees

Das 2314 instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior contabilizadas no ano de 2009 1090 delas o

que corresponde a 47 do total de IES brasileiras estatildeo reunidas na regiatildeo sudeste Referindo-se a

esse fenocircmeno Ristoff (2008) usou a expressatildeo sudestificaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior uma vez que

a regiatildeo Sudeste com seus quatro estados engloba mais da metade das IES Verifica-se assim que

as IES brasileiras natildeo estatildeo homogeneamente distribuiacutedas pelo paiacutes havendo diferenccedilas que se

refletem no acesso agrave formaccedilatildeo em niacutevel superior aleacutem de trazer implicaccedilotildees ao desenvolvimento

socioeconocircmico das outras regiotildees e contribuir para o aprofundamento das desigualdades regionais

Quanto ao nuacutemero de instituiccedilotildees segundo a categoria administrativa - puacuteblica ou privada - a

Tabela 1 mostra que nos uacuteltimos anos houve maior crescimento das IES privadas

86

Tabela 1

Evoluccedilatildeo do nuacutemero de IES segundo a categoria administrativa

Ano Total IES Categoria Administrativa

Puacuteblica Privada

2002 1637 195 1442

2003 1859 207 1652

2004 2013 224 1789

2005 2165 231 1934

2006 2270 248 2022

2007 2281 249 2032

2008 2252 216 2036

2009 2314 245 2069

Nota Dados retirados do INEP (2009 2010)

As instituiccedilotildees puacuteblicas cresceram 38 de 2008 para 2009 enquanto o nuacutemero de

instituiccedilotildees privadas cresceu 26 contudo e ainda assim 894 das IES satildeo de natureza privada

e 106 puacuteblica seguindo como nos anos anteriores a predominacircncia do setor privado na

Educaccedilatildeo Superior brasileira

Apesar de a cada ano serem criadas novas Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior indicando a

expansatildeo do sistema de uma forma geral o aumento total de IES em 2009 foi de apenas 64 em

relaccedilatildeo ao ano anterior acompanhando a tendecircncia de crescimento do sistema apesar de haver uma

queda no ritmo desse crescimento De acordo com o INEP (2009) esse decliacutenio tem como uma

das possiacuteveis razotildees ldquoa recorrente integraccedilatildeo de instituiccedilotildees por fusatildeo ou comprardquo (p 23)

Sguissardi (2008) comenta sobre esse aspecto que haacute grupos nacionais e estrangeiros comprando e

incorporando instituiccedilotildees meacutedias e pequenas que fechariam suas portas em funccedilatildeo de diacutevidas Este

eacute provavelmente um dos fenocircmenos responsaacuteveis pela queda no nuacutemero de novas Instituiccedilotildees de

Educaccedilatildeo Superior a cada ano

A Tabela 2 traz a distribuiccedilatildeo das IES de acordo com a organizaccedilatildeo acadecircmica e a

categoria administrativa apresentando a constataccedilatildeo de que o maior nuacutemero de faculdades (948)

e de centros universitaacuterios (96) estaacute vinculado ao setor privado enquanto as universidades estatildeo

distribuiacutedas em proporccedilatildeo aproximada entre o setor puacuteblico e o privado 53 e 47

respectivamente

87

Tabela 2

Quantitativo de IES por organizaccedilatildeo acadecircmica e categoria administrativa em 2009

Organizaccedilatildeo

acadecircmica

Nordm IES Categoria

administrativa

Nordm IES

Universidade 186 Puacuteblica 100 43

Privada 86 37

Centro Universitaacuterio 127 Puacuteblica 7 03

Privada 120 52

Faculdade 1966 Puacuteblica 103 45

Privada 1863 805

Instituto Federal 35 Puacuteblica 35 15

Nota Dados retirados do INEP (2010)

A partir dos dados da Tabela 2 pode-se concluir tambeacutem que as faculdades privadas

correspondem a 805 do total de Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior no Brasil deixando as demais

instituiccedilotildees ndash universidades e centros universitaacuterios puacuteblicos e privados e as faculdades puacuteblicas ndash

com apenas 195 da representaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior brasileira

Diante dos dados apresentados verifica-se que o cenaacuterio atual da Educaccedilatildeo Superior no

paiacutes indica que as instituiccedilotildees privadas respondem por maior parte do crescimento deste niacutevel

educativo

A situaccedilatildeo do corpo docente reflete o que acontece nas IES em termos de concentraccedilatildeo na

regiatildeo sudeste e em instituiccedilotildees privadas conforme ilustrado na Figura 4 No ano de 2009 do total

de 359089 docentes no territoacuterio nacional 463 estavam trabalhando na regiatildeo Sudeste e 634

nas instituiccedilotildees privadas As exceccedilotildees aqui ficam por conta da regiatildeo Norte e Nordeste que

tinham respectivamente 11267 e 33937 docentes em IES privadas e 11418 e 36152 em IES

puacuteblicas

0

50000

100000

150000

200000

Norte Nordeste Centro-Oeste

Sudeste Sul

Total docentePrivadasPuacuteblicas

Figura 4 Distribuiccedilatildeo do corpo docente segundo as regiotildees brasileiras em 2009 (INEP 2010)

88

A Tabela 3 traz a distribuiccedilatildeo dos docentes de acordo com a organizaccedilatildeo acadecircmica das

IES e indica maior concentraccedilatildeo nas universidades (535) seguida das faculdades (342) e dos

centros universitaacuterios (103) sendo que nestes dois uacuteltimos satildeo as instituiccedilotildees privadas que

abarcam a maior parte dos professores

Tabela 3

Distribuiccedilatildeo dos docentes nas IES por organizaccedilatildeo acadecircmica e categoria administrativa em 2009

Organizaccedilatildeo

acadecircmica

Nordm docentes Categoria

administrativa

Nordm docentes

Universidade 191981 Puacuteblica 115960

Privada 76021

Centro Universitaacuterio 36952 Puacuteblica 1131

Privada 35821

Faculdade 122795 Puacuteblica 6850

Privada 115945

Instituto Federal 7361 Puacuteblica 7361

Nota Dados retirados do INEP (2010)

Quanto agrave titulaccedilatildeo o Censo da Educaccedilatildeo Superior (INEP 2010) apontou que o quadro

docente das IES brasileiras eacute composto por 27 doutores (92891docentes) 36 mestres

(130614) 29 especialistas (104314) e 8 graduados (31069) Os professores doutores e

mestres estatildeo predominantemente nas universidades enquanto os professores especialistas estatildeo

em sua maioria nas faculdades

Em relaccedilatildeo aos 353775 funcionaacuterios teacutecnico-administrativo que trabalham nas IES 435

tecircm formaccedilatildeo em niacutevel superior (graduaccedilatildeo especializaccedilatildeo mestrado ou doutorado) enquanto

565 natildeo tecircm sequer a graduaccedilatildeo Quanto agrave distribuiccedilatildeo dos funcionaacuterios pelas Instituiccedilotildees de

Educaccedilatildeo Superior 612 concentram-se nas universidades e 273 nas faculdades

Quanto aos cursos oferecidos o Censo destaca trecircs segmentos o ensino de graduaccedilatildeo

presencial o tecnoloacutegico e o a distacircncia No ano de 2009 foram ofertados 27827 cursos de

graduaccedilatildeo presenciais dos quais 8228 em instituiccedilotildees puacuteblicas e 19599 cursos em instituiccedilotildees

privadas Aleacutem disso tambeacutem foram oferecidos 844 cursos a distacircncia 295 cursos sequenciais e

3702 tecnoloacutegicos

Em termos da localizaccedilatildeo das IES responsaacuteveis por esta oferta 10386 cursos

correspondem a IES situadas nas capitais brasileiras e 17441 (627) em cidades do interior o que

aponta para um importante processo de interiorizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior

Os cursos de graduaccedilatildeo presenciais oferecidos nas IES registraram 5115896 matriacuteculas

das quais 498 foram em universidades 356 em faculdades 129 em centros universitaacuterios e

89

17 em institutos federais Apesar de que quantitativamente as faculdades estatildeo em maior

nuacutemero do que os centros universitaacuterios e as universidades satildeo estas uacuteltimas que recebem quase a

metade dos estudantes da Educaccedilatildeo Superior brasileira

Em relaccedilatildeo agrave categoria administrativa das IES nas quais ocorre o maior nuacutemero de

matriacuteculas as instituiccedilotildees privadas em 2009 receberam 736 e as puacuteblicas (incluindo as federais

estaduais e municipais) 264 das matriacuteculas Ademais do total de matriacuteculas 524 se deu no

interior do paiacutes reforccedilando novamente a constataccedilatildeo de que a Educaccedilatildeo Superior brasileira estaacute

cada vez mais avanccedilando para o interior do paiacutes

Os cursos de graduaccedilatildeo a distacircncia constituem-se em uma nova modalidade de ensino em

ampla expansatildeo ainda que cercada de criacuteticas acerca da impossibilidade de substituir a relaccedilatildeo

professor-aluno da inseguranccedila quanto agrave qualidade dos cursos aleacutem das criacuteticas que apontam que

este crescimento eacute desdobramento de estrateacutegias de organismos internacionais como o Banco

Mundial e a Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio para favorecer a mercantilizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo

Superior (Segenreich amp Castanheira 2009)

A Tabela 4 mostra a evoluccedilatildeo do nuacutemero de IES que oferecem cursos de graduaccedilatildeo a

distacircncia tomando como base os dados do CensoINEP (2010)

Tabela 4

Evoluccedilatildeo da graduaccedilatildeo a distacircncia

Ano Total IES Cursos Vagas

2002 25 46 24389

2003 38 52 24025

2004 47 107 113079

2005 73 189 423411

2006 77 349 813550

2007 97 408 1541070

2008 115 647 1699489

2009 129 844 1561715

Nota Dados retirados do INEP (2009 2010)

Somente a partir do ano 2000 eacute que o Censo da Educaccedilatildeo Superior incluiu os cursos de

graduaccedilatildeo a distacircncia sendo possiacutevel constatar que a partir 2001 a educaccedilatildeo a distacircncia que era

oferecida em apenas 10 IES expandiu-se para 129 IES O nuacutemero de vagas oferecidas em 2009

chegou a quase o dobro das oferecidas em 2006 contribuindo para que o nuacutemero de matriacuteculas a

distacircncia em 2009 representasse 141 do total das matriacuteculas dos cursos de graduaccedilatildeo incluindo

os presenciais (INEP 2010) Os cursos de graduaccedilatildeo a distacircncia tecircm tido importante crescimento

de forma que em 2009 aumentaram em 304 contra 125 dos cursos presenciais

90

Em relaccedilatildeo aos cursos superiores de tecnologia registrou-se no ano de 2009 a oferta de

3702 cursos Apesar das universidades apresentarem maior crescimento na oferta de vagas em

Educaccedilatildeo Tecnoloacutegica quando se acompanha a evoluccedilatildeo do setor ano a ano as vagas nas

Faculdades ainda satildeo preponderantes A Figura 5 mostra o crescimento dos cursos tecnoloacutegicos no

periacuteodo de 2005 a 2009

237066

325901414822

539651

680679

2005 2006 2007 2008 2009

Figura 5 Evoluccedilatildeo das matriacuteculas nos cursos superiores de tecnologia

Segundo o Censo de 2009 (INEP 2010) o nuacutemero de ingressos em cursos de educaccedilatildeo

tecnoloacutegica apresentou um crescimento de 261 em relaccedilatildeo ao ano de 2008 tendo sido registrado

em todo o setor 680679 matriacuteculas O maior nuacutemero de matriacuteculas foi encontrado nas instituiccedilotildees

privadas seguidas pelas IES federais Os cursos tecnoloacutegicos representavam em 2009 114 das

matriacuteculas da graduaccedilatildeo

O Censo da Educaccedilatildeo Superior em 2009 (INEP 2010) trouxe ainda alguns dados

diferenciados dos anos anteriores como a indicaccedilatildeo dos dez maiores cursos de graduaccedilatildeo tanto

presencial quanto a distacircncia considerando o nuacutemero de matriacuteculas A Figura 6 mostra quais satildeo

esses cursos Metade das matriacuteculas na Educaccedilatildeo Superior brasileira estaacute vinculada a cinco cursos

Administraccedilatildeo Direito Pedagogia Engenharia e Enfermagem

3362628333744

7196109

185

0 1000000 2000000

Outros cursosCiecircncias bioloacutegicasEducaccedilatildeo Fiacutesica

LetrasComunicaccedilatildeo socialCiecircncias contaacutebeis

EnfermagemEngenhariaPedagogia

DireitoAdministraccedilatildeo

Figura 6 Dez maiores cursos de graduaccedilatildeo por matriacuteculas em 2009 (INEP 2010)

91

No que diz respeito agraves vagas oferecidas para novos estudantes ingressarem na Educaccedilatildeo

Superior nas diferentes modalidades em 2009 foram abertas 3164679 vagas nos vestibulares o

que representou aumento de 57 em relaccedilatildeo ao ano anterior contudo a maior oferta de vagas natildeo

representou aumento proporcional do nuacutemero de ingresso pois ao final teve-se 1653291 vagas

ociosas Se de um lado tem-se a taxa de ociosidade nas IES que mostra que o acesso agrave Educaccedilatildeo

Superior natildeo se deu conforme previram as instituiccedilotildees de outro continua elevada a taxa de evasatildeo

de alunos

A anaacutelise dos dados do Censo 2009 (INEP 2010) permite algumas constataccedilotildees A

primeira delas eacute a grandiosidade dos nuacutemeros e a complexidade dos dados os quais refletem um

bom retrato da Educaccedilatildeo Superior brasileira A segunda constataccedilatildeo decorrente da anaacutelise da

evoluccedilatildeo dos dados nos uacuteltimos anos eacute a de que a Educaccedilatildeo Superior estaacute expandindo ainda que

em ritmo decrescente Isto eacute embora a cada ano observe-se que haacute aumento do nuacutemero total de

IES de cursos oferecidos de estudantes e de docentes entretanto esse crescimento natildeo tem sido

tatildeo intenso como em anos anteriores Dessa forma a Educaccedilatildeo Superior brasileira permanece em

expansatildeo mas num ritmo cada vez menor

Outras constataccedilotildees emergem na forma de distorccedilotildees conforme jaacute evidenciou Severino

(2009) apesar de prevalecerem as instituiccedilotildees do tipo faculdade a maioria das matriacuteculas se daacute nas

universidades a ampliaccedilatildeo da oportunidade de acesso representada pelo nuacutemero de vagas

oferecidas natildeo tem significado efetivo acesso agrave Educaccedilatildeo Superior o iacutendice de evasatildeo entre os

alunos em virtude de sua magnitude chega a representar um desperdiacutecio em um paiacutes que tem hoje

menos de 12 da populaccedilatildeo na Educaccedilatildeo Superior e que almeja alcanccedilar ateacute 2010 30 (Brasil

2001)

Ainda que a graduaccedilatildeo seja o nuacutecleo central da Educaccedilatildeo Superior brasileira a poacutes-

graduaccedilatildeo tambeacutem compotildee a realidade deste niacutevel educativo e portanto seraacute brevemente

apresentada a seguir Os cursos de poacutes-graduaccedilatildeo no Brasil dividem-se em dois niacuteveis o lato sensu

e o stricto sensu O primeiro corresponde agraves especializaccedilotildees e o segundo engloba programas de

mestrado e doutorado voltados agrave formaccedilatildeo cientiacutefica e acadecircmica e ligados agrave pesquisa aleacutem dos

mestrados profissionais com ecircnfase na aplicabilidade teacutecnica dos conhecimentos Enquanto as

especializaccedilotildees natildeo se submetem agrave avaliaccedilatildeo sistemaacutetica os cursos stricto sensu satildeo regularmente

acompanhados pela Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior (CAPES)

oacutergatildeo do MEC que o subsidia na formulaccedilatildeo de poliacuteticas e no desenvolvimento de atividades de

suporte ao desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico do paiacutes e agrave formaccedilatildeo de profissionais para a

Educaccedilatildeo Baacutesica e Superior

As atividades da CAPES podem ser agrupadas em quatro grandes linhas de accedilatildeo a saber

avaliaccedilatildeo da poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu acesso e divulgaccedilatildeo da produccedilatildeo cientiacutefica

investimentos na formaccedilatildeo de recursos de alto niacutevel no paiacutes e exterior e promoccedilatildeo da cooperaccedilatildeo

cientiacutefica internacional (CAPES 2009b)

92

O Sistema de Avaliaccedilatildeo da Poacutes-Graduaccedilatildeo foi implantado pela Capes em 1976 e desde

entatildeo tem cumprido importante papel no desenvolvimento da poacutes-graduaccedilatildeo e da pesquisa

cientiacutefica e tecnoloacutegica no Brasil (CAPES 2009a) O Sistema abrange dois processos a Avaliaccedilatildeo

das Propostas de Cursos Novos e a Avaliaccedilatildeo dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo Ao avaliar os

pedidos de novos cursos a CAPES verifica sua qualidade em termos de atendimento ao padratildeo de

qualidade requerido os cursos aprovados passam a integrar o Sistema Nacional de Poacutes-Graduaccedilatildeo

(SNPG) e a ter suas atividades sistematicamente acompanhadas e avaliadas pela Capes A

Avaliaccedilatildeo dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo por sua vez compreende os processos de

Acompanhamento Anual e de Avaliaccedilatildeo Trienal do desempenho dos programas e cursos que

integram o SNPG Os dois processos estatildeo alicerccedilados em um mesmo conjunto de princiacutepios

diretrizes e normas de forma que compotildeem um soacute sistema de avaliaccedilatildeo (CAPES 2009a)

Conforme informaccedilotildees do GeoCapes (CAPES 2011) uma ferramenta de dados

georreferencial da CAPES ou em outras palavras uma base de dados que traz informaccedilotildees de

acordo com a localizaccedilatildeo geograacutefica os nuacutemeros da poacutes-graduaccedilatildeo nacional estatildeo organizados

segundo nove grandes aacutereas do conhecimento humano Ciecircncias da Sauacutede Ciecircncias Humanas

Ciecircncias Sociais Aplicadas Ciecircncias Agraacuterias Ciecircncias Exatas e da Terra Ciecircncias Bioloacutegicas

Engenharias Linguiacutestica Letras e Artes e Multidisciplinar Dentro destas nove aacutereas estatildeo

organizados os 2718 programas de poacutes-graduaccedilatildeo brasileiros sendo que a maioria (508)

corresponde a programas de mestradodoutorado Em relaccedilatildeo agrave categoria administrativa das IES

nas quais estes programas estatildeo localizados 80 satildeo de natureza puacuteblica A Tabela 5 apresenta a

evoluccedilatildeo dos programas no periacuteodo de 2003 a 2009

Tabela 5

Evoluccedilatildeo dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo

Ano Mestrado Doutorado MestrDout Mest Prof Total

2004 760 32 1022 116 1930

2005 830 33 1063 132 2058

2006 924 39 1146 157 2266

2007 981 37 1207 184 2409

2008 1030 36 1284 218 2568

2009 1054 40 1381 243 2718

Nota Dados retirados da CAPES (2011)

Observa-se que a poacutes-graduaccedilatildeo de forma geral vem apresentando um crescimento

contiacutenuo nos uacuteltimos anos A oferta da poacutes-graduaccedilatildeo em 2009 atendeu a um universo de

1561068 alunos dos quais 577 cursavam o mestrado 36 o doutorado e 63 o mestrado

profissional Em relaccedilatildeo agrave natureza juriacutedica das Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior nas quais estes

93

alunos estatildeo matriculados 533 estudavam em instituiccedilotildees puacuteblicas especificamente as federais

seguida das estaduais (288) das particulares (174) e por fim das municipais (05)

Em relaccedilatildeo aos professores-pesquisadores a CAPES (2011) aponta em 2009 a existecircncia

de 57251 docentes vinculados agrave poacutes-graduaccedilatildeo os quais trabalham em caraacuteter permanente (787)

em sua maioria ou como colaboradores e visitantes 199 e 14 respectivamente Em

consonacircncia com a prevalecircncia de programas de poacutes-graduaccedilatildeo vinculados a instituiccedilotildees puacuteblicas

85 dos docentes estatildeo nestas IES

Os dados apresentados nesta seccedilatildeo permitem uma noccedilatildeo geral de como estaacute composto e

organizado o cenaacuterio da Educaccedilatildeo Superior brasileira Um primeiro ponto a ser destacado refere-se

ao crescimento do setor como um todo o qual vem sendo impulsionado pelo aumento de IES que

oferecem cursos de graduaccedilatildeo como tambeacutem pelo aumento de programas e cursos de poacutes-

graduaccedilatildeo Aspecto positivo dessa dupla expansatildeo eacute a ampliaccedilatildeo da oportunidade de continuidade

da formaccedilatildeo acadecircmica possiacutevel a partir da oferta de cursos nos diferentes niacuteveis graduaccedilatildeo

mestrado e doutorado Ainda que se possa questionar a funccedilatildeo que em muitos casos estaacute sendo

atribuiacuteda aos cursos de mestrado e doutorado ndash a de complementaccedilatildeo da graduaccedilatildeo de maacute

qualidade - natildeo eacute possiacutevel negar que o maior nuacutemero de programas de poacutes-graduaccedilatildeo tambeacutem

oportuniza a formaccedilatildeo de um quadro de pesquisadores e docentes mais qualificados Contudo

ainda que se reconheccedila um destacado processo de expansatildeo natildeo se pode afirmar que tal fenocircmeno

tem realmente possibilitado maior acesso e permanecircncia na Educaccedilatildeo Superior

No acircmbito internacional a UNESCO (1999) reconhece que o desenvolvimento ocorrido na

Educaccedilatildeo Superior nos uacuteltimos 25 anos eacute de expansatildeo quantitativa marcada pelo crescimento das

matriacuteculas de estudantes ainda que existam diferenccedilas significativas entre paiacuteses e regiotildees

Este mesmo organismo identifica alguns fatores que tecircm contribuiacutedo para essa expansatildeo

quantitativa o crescimento demograacutefico o maior alcance da educaccedilatildeo baacutesica (educaccedilatildeo infantil

ensino fundamental e ensino meacutedio) o que significa que mais jovens estatildeo habilitados a ingressar

na Educaccedilatildeo Superior o crescimento econocircmico vivenciado em muitos paiacuteses e a consciecircncia de

que este crescimento estaacute relacionado com o investimento na Educaccedilatildeo Superior Cita tambeacutem o

surgimento de paiacuteses independentes e democraacuteticos que vecircm a Educaccedilatildeo Superior como

instrumento-chave para seu desenvolvimento econocircmico e para as mudanccedilas sociais culturais e

poliacuteticas que iratildeo remover a heranccedila do colonialismo bem como a identificaccedilatildeo da Educaccedilatildeo

Superior como um recurso para criar uma identidade nacional (UNESCO 1999)

A despeito da semelhanccedila em termos de crescimento nos dois niacuteveis da Educaccedilatildeo Superior

a graduaccedilatildeo tem se expandido principalmente via instituiccedilotildees privadas enquanto na poacutes-

graduaccedilatildeo quem impulsiona o crescimento satildeo as instituiccedilotildees puacuteblicas Neste niacutevel a rede privada

recebe somente 18 das matriacuteculas contra 74 da graduaccedilatildeo puacuteblica

Apesar da graduaccedilatildeo e da poacutes-graduaccedilatildeo se constituiacuterem sobre especificidades proacuteprias de

cada niacutevel as informaccedilotildees de ambas permitem que se visualize como o cenaacuterio da Educaccedilatildeo

94

Superior brasileira estaacute composto atualmente o qual sob diferentes aspectos pode ser objeto de

intervenccedilatildeo da Psicologia Escolar Pode-se mencionar por exemplo a participaccedilatildeo do psicoacutelogo

escolar na proposiccedilatildeo e mediaccedilatildeo de discussotildees relativas ao crescimento quantitativo da Educaccedilatildeo

Superior e as implicaccedilotildees que esse fenocircmeno traz em termos da diversificaccedilatildeo do perfil discente

das estrateacutegias governamentais e institucionais que contribuam para que os alunos concluam com

qualidade seus cursos dos criteacuterios avaliativos estabelecidos e que demandam reorganizaccedilatildeo por

parte das instituiccedilotildees entre outros Conhecer de maneira aprofundada a realidade da Educaccedilatildeo

Superior eacute fundamental para que as accedilotildees dos psicoacutelogos escolares se coadunem agraves exigecircncias e

desafios que se apresentam agraves instituiccedilotildees e aos seus profissionais e assim possam trazer impactos

positivos agrave formaccedilatildeo pessoal e profissional dos estudantes

Questotildees Atuais na Educaccedilatildeo Superior

Frente ao atual cenaacuterio da Educaccedilatildeo Superior brasileira diversas poliacuteticas puacuteblicas tecircm

buscado potencializar o alcance e a qualidade da formaccedilatildeo em niacutevel superior Estas poliacuteticas tecircm

focalizado a organizaccedilatildeo pedagoacutegica e curricular dos cursos a qualificaccedilatildeo do corpo docente

responsaacutevel por mediar a formaccedilatildeo discente a adequaccedilatildeo das instalaccedilotildees fiacutesicas necessaacuterias ao

desenvolvimento das atividades acadecircmicas a maior articulaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior com a

Educaccedilatildeo Baacutesica especialmente mediante a formaccedilatildeo de professores para esta uacuteltima a

flexibilizaccedilatildeo das praacuteticas pedagoacutegicas com vistas a alcanccedilar o maior nuacutemero de alunos os

processos de avaliaccedilatildeo institucional e pedagoacutegica que subsidiam a constante reformulaccedilatildeo das IES

e de suas praacuteticas administrativas e acadecircmicas as estrateacutegias de inserccedilatildeo e manutenccedilatildeo dos

estudantes na Educaccedilatildeo Superior entre outras

Na tentativa de ilustrar as accedilotildees recentes que vecircm sendo implantadas seratildeo expostas a

seguir algumas tendecircncias e iniciativas no campo da Educaccedilatildeo Superior

Processos de Ampliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior Brasileira Segundo o comunicado da

Conferecircncia Mundial da UNESCO sobre Educaccedilatildeo Superior realizada em julho de 2009 a

ampliaccedilatildeo do acesso a este niacutevel educativo tem se tornado uma prioridade na maioria dos paiacuteses de

forma que se tem aumentado o nuacutemero de estudantes neste niacutevel Contudo apesar do crescimento

em termos de nuacutemeros de IES e de vagas disponiacuteveis a Conferecircncia (UNESCO 2009) tambeacutem

ressaltou que pensar em equidade eacute considerar mais que a questatildeo de acesso Para aleacutem da entrada

no sistema deve-se voltar para a promoccedilatildeo de uma participaccedilatildeo e conclusatildeo bem-sucedida dos

estudos aleacutem da preocupaccedilatildeo com o bem-estar dos alunos Para tanto a Conferecircncia (UNESCO

2009) pontua que eacute preciso propiciar suporte financeiro e educacional adequados aos estudantes

pobres e de comunidades tradicionalmente excluiacutedas

Com vistas a implantar accedilotildees que deem conta de ampliar o acesso agrave Educaccedilatildeo Superior

algumas medidas veem sendo tomadas pelo atual governo brasileiro como por exemplo o Plano

95

Nacional de Educaccedilatildeo (PNE) de 2001 o Plano de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo (PDE) de 2007

e alguns programas especiais como o ProUni e o REUNI

No iniacutecio da deacutecada atual foi aprovado pelo governo do presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da

Silva a Lei 10172 que institui o Plano Nacional de Educaccedilatildeo (Brasil 2001) com duraccedilatildeo de dez

anos Os principais objetivos do PNE satildeo elevar o niacutevel de escolaridade da populaccedilatildeo melhorar a

qualidade do ensino em todos os niacuteveis reduzir as desigualdades sociais e regionais no tocante ao

acesso e agrave permanecircncia na educaccedilatildeo puacuteblica e democratizar a gestatildeo do ensino puacuteblico

No que toca agrave Educaccedilatildeo Superior o PNE faz um retrospecto da crescente demanda neste

niacutevel sua expansatildeo nos uacuteltimos anos dada especialmente pelo setor privado e ainda assim o

baixo iacutendice de acesso quando comparado a outros paiacuteses da Ameacuterica Latina A partir desse

diagnoacutestico o PNE propotildee 35 objetivos e metas agrave Educaccedilatildeo Superior brasileira entre os quais

destacam-se ampliar a oferta para pelo menos 30 da populaccedilatildeo de 18 a 24 anos estabelecer

uma poliacutetica de expansatildeo para diminuir as desigualdades regionais constituir um sistema interativo

de educaccedilatildeo a distacircncia institucionalizar um sistema de avaliaccedilatildeo interna e externa que promova

melhoria da qualidade do ensino pesquisa extensatildeo e gestatildeo acadecircmica (Brasil 2001)

Em 2007 o governo lanccedilou o Plano de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo (Brasil 2007c) com

uma seacuterie de medidas que tentam melhorar o desempenho das instituiccedilotildees educativas nos diferentes

niacuteveis Enquanto o Plano Nacional de Educaccedilatildeo apresentou um diagnoacutestico dos problemas

educacionais e diretrizes gerais para modificar o quadro o PDE por sua vez estabeleceu accedilotildees a

serem tomadas para a melhoria da qualidade da educaccedilatildeo As duas metas principais em relaccedilatildeo agrave

Educaccedilatildeo Superior foram a ampliaccedilatildeo do acesso e a articulaccedilatildeo entre os programas de

financiamento (Severino 2008)

Uma das accedilotildees propostas no PDE refere-se ao Programa de Apoio a Planos de

Reestruturaccedilatildeo e Expansatildeo das Universidades Federais Brasileiras (Reuni) instituiacutedo pelo Decreto

6096 (Brasil 2007a) com o objetivo de criar condiccedilotildees para a ampliaccedilatildeo do acesso e permanecircncia

na graduaccedilatildeo por meio do melhor aproveitamento da estrutura fiacutesica e dos recursos humanos

existentes nas universidades federais Segundo o PDE (Brasil 2007c) o Reuni ldquotem como fim

imediato o aumento das vagas de ingresso e a reduccedilatildeo das taxas de evasatildeo nos cursos presenciais

de graduaccedilatildeordquo (p 27)

As principais diretrizes do Reuni estatildeo explicitadas em seis dimensotildees ampliaccedilatildeo da oferta

da Educaccedilatildeo Superior puacuteblica reestruturaccedilatildeo acadecircmico-curricular renovaccedilatildeo pedagoacutegica

mobilidade intra e interinstitucional compromisso social da instituiccedilatildeo e suporte da poacutes-graduaccedilatildeo

ao desenvolvimento e aperfeiccediloamento qualitativo dos cursos de graduaccedilatildeo As universidades que

aderirem ao REUNI devem apresentar planos que viabilizem o cumprimento destas metas para o

periacuteodo de cinco anos e como contrapartida essas instituiccedilotildees federais receberatildeo tambeacutem em

cinco anos ateacute 20 a mais sobre o total de recursos correspondentes a despesas de pessoal custeio

e capital

96

De forma geral os objetivos traccedilados pelo REUNI satildeo coerentes agrave realidade da Educaccedilatildeo

Superior brasileira e buscam atender a necessidade de aumentar e melhorar suas condiccedilotildees de

acesso e de oferta contudo a maneira como o Programa foi implantado pelas IES e a real

possibilidade de alcanccedilar as metas estabelecidas geraram criacuteticas e inquietaccedilotildees O Programa

enfrentou resistecircncia por parte de diretoacuterios acadecircmicos movimentos estudantis e associaccedilotildees de

docentes contraacuterios a essa nova poliacutetica tendo havido inclusive ocupaccedilotildees de reitorias em

diversas universidades no paiacutes Em relaccedilatildeo agrave adesatildeo ao REUNI os docentes e discentes

especialmente queixam-se que o projeto natildeo foi suficientemente discutido com a comunidade

acadecircmica

Em relaccedilatildeo agraves metas propostas pelo REUNI como o aumento da taxa de conclusatildeo para

90 e da relaccedilatildeo professor-aluno de 118 em cursos presenciais de graduaccedilatildeo docentes e discentes

questionam a viabilidade de realizaacute-las a contento e principalmente garantindo a necessaacuteria

qualidade A taxa de conclusatildeo de 90 eacute indicada como praticamente impossiacutevel de ser alcanccedilada

considerando que nos paiacuteses de desenvolvimento industrial avanccedilado a meacutedia eacute de 70 Jaacute a

relaccedilatildeo professor aluno de 118 cuja meacutedia atual eacute de cerca de 1145 ocasiona a sobrecarga dos

professores que nas universidades brasileiras natildeo se ocupam apenas do ensino na graduaccedilatildeo

Dessa forma uma das criacuteticas dirigidas ao REUNI eacute a duacutevida sobre a manutenccedilatildeo da qualidade da

educaccedilatildeo em virtude da expansatildeo do nuacutemero de vagas que muitas vezes eacute realizada agrave custa do

aumento do nuacutemero de alunos por turma e da sobrecarga dos professores

Outra criacutetica dirigida ao REUNI diz respeito agrave preocupaccedilatildeo sobre como as universidades

iratildeo cumprir as metas estabelecidas jaacute que o artigo 3ordm paraacutegrafo 3ordm do Decreto nordm 6096 (Brasil

2007a) estipula que ldquoo atendimento dos planos eacute condicionado agrave capacidade orccedilamentaacuteria e

operacional do Ministeacuterio da Educaccedilatildeordquo Para os criacuteticos ao Programa isso significa que a verba

destinada agraves universidades natildeo eacute garantida jaacute que podem ampliar o nuacutemero de alunos e de repente

natildeo ter mais como mantecirc-los

Outra accedilatildeo do PDE diz respeito agrave expansatildeo do acesso agrave Educaccedilatildeo Superior privada Para

tanto propotildeem a articulaccedilatildeo entre estrateacutegias de financiamento especificamente o Fundo de

Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (FIES) e o programa de bolsas de estudo

consubstanciado no Programa Universidade para Todos (ProUni) Este programa instituiacutedo pela

Lei 11096 (Brasil 2005b) tem como finalidade conceder bolsas de estudo integrais e parciais em

cursos de graduaccedilatildeo e sequenciais de formaccedilatildeo especiacutefica para alunos de IES privadas O

programa eacute direcionado para estudantes egressos do ensino meacutedio da rede puacuteblica ou bolsistas

integrais da rede particular que tenham renda per capita familiar de ateacute trecircs salaacuterios miacutenimos Em

contrapartida agraves bolsas as IES que aderem ao ProUni tecircm isenccedilatildeo de alguns tributos

Segundo o MEC (2009) o ProUni ofertou no primeiro semestre de 2009 156416 bolas

das quais 95694 foram integrais Para o segundo semestre do mesmo ano foram ofertadas 57432

97

bolsas integrais e 33795 parciais que totalizam 91227 bolsas para estudantes da rede privada de

Educaccedilatildeo Superior

Apesar dos expressivos nuacutemeros apresentados pelo governo na intenccedilatildeo de evidenciar o

papel do ProUni na ampliaccedilatildeo das oportunidades de acesso agrave Educaccedilatildeo Superior criacuteticas tecircm sido

feitas a este programa Catani Hey e Gilioli (2006) por exemplo argumentam que o programa

ldquopromove uma poliacutetica puacuteblica de acesso agrave educaccedilatildeo superior pouco se preocupando com a

permanecircncia dos estudantes elemento fundamental para sua democratizaccedilatildeordquo (p 126) Por essa

razatildeo dizem que o ProUni se orienta por uma concepccedilatildeo assistencialista que oferece benefiacutecios e

natildeo direitos aos bolsistas

Carvalho (2006) reforccedila a necessidade de questionar a efetividade do ProUni uma vez que

as camadas de baixa renda para as quais o programa estaacute direcionado precisam de outras

condiccedilotildees que estatildeo aleacutem da gratuidade integral ou parcial dos estudos Precisam por exemplo de

transporte moradia estudantil bolsas de pesquisa e outros

Vecirc-se que o atual Governo brasileiro estaacute desenvolvendo accedilotildees que tecircm como meta dar

conta da ampliaccedilatildeo do acesso agrave Educaccedilatildeo Superior Ainda que se critique a intencionalidade e a

operacionalizaccedilatildeo de tais accedilotildees elas veem possibilitando que parte da populaccedilatildeo vislumbre a

possibilidade de fazer um curso em niacutevel superior

Modalidades em Educaccedilatildeo Superior EAD e cursos tecnoloacutegicos Conforme apresentado

na seccedilatildeo ldquoA atual estrutura e funcionamento da Educaccedilatildeo Superior brasileirardquo nos uacuteltimos anos

tem-se presenciado um crescimento significativo de dois segmentos educativos a educaccedilatildeo a

distacircncia (EAD) e os cursos superiores de tecnologia os quais ldquoconstituem as novas meninas-dos-

olhos da poliacutetica educacional do momentordquo (Severino 2009 p 255) Dada a crescente expansatildeo

desses segmentos e o impacto que tecircm na conformaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior brasileira

especialmente em termos de ampliaccedilatildeo de acesso e qualidade da formaccedilatildeo oferecida fazem-se

algumas consideraccedilotildees

Os cursos e programas oferecidos pela Educaccedilatildeo Superior podem se desenvolver na

modalidade presencial ou a distacircncia sendo que neste uacuteltimo caso devem ser projetados com a

mesma duraccedilatildeo que os respectivos cursos presenciais De acordo com o Decreto nordm 56222005 que

versa sobre a educaccedilatildeo a distacircncia ela eacute caracterizada como ldquomodalidade educacional na qual a

mediaccedilatildeo didaacutetico-pedagoacutegica nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilizaccedilatildeo de

meios e tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo com estudantes e professores desenvolvendo

atividades educativas em lugares ou tempos diversosrdquo (Brasil 2005a art 1ordm)

No periacuteodo de cinco anos 2002 a 2007 a EAD cresceu acentuadamente tal que o nuacutemero

de vagas oferecidas (tendo como referecircncia os dados de 2007) eacute aproximadamente 63 vezes maior

do que o nuacutemero de vagas existentes em 2002 Uma forte razatildeo para a expansatildeo da educaccedilatildeo a

distacircncia no acircmbito da Educaccedilatildeo Superior estaacute relacionada ao processo que foi desencadeado a

98

partir da LDB (Brasil 1996) que estabeleceu em seu artigo 80 que o Poder Puacuteblico incentivaria o

desenvolvimento e a veiculaccedilatildeo de programas de ensino a distacircncia em todos os niacuteveis e

modalidades de ensino

O processo de crescimento da EAD se deu inicialmente pelas instituiccedilotildees puacuteblicas mas a

partir de 2002 foram as instituiccedilotildees privadas que tiveram forte participaccedilatildeo em tal crescimento

(Dourado 2008 Giolo 2008 2010 Segenreich amp Castanheira 2009) Especialmente a partir do

momento que a expansatildeo da modalidade presencial vivenciou uma progressiva diminuiccedilatildeo a

educaccedilatildeo a distacircncia se tornou uma preferecircncia na iniciativa privada Assim ldquoem vez de ser uma

modalidade de ensino capaz de ampliar o raio de atuaccedilatildeo da educaccedilatildeo superior para aleacutem da esfera

abrangida pela educaccedilatildeo presencial tornou-se concorrente da presencialrdquo (Giolo 2008 pp 1217-

1218) de maneira especial para certos cursos em que a EAD foi possiacutevel praticar preccedilos mais

baixos oferecer facilidades ligadas ao tempo ao espaccedilo e aos meacutetodos de aprendizagem

Segundo os autores a educaccedilatildeo a distacircncia deixa de ser uma das modalidades de educaccedilatildeo

e passar a ser um negoacutecio rentaacutevel Estando influenciada pelos interesses econocircmicos pela

rentabilidade a educaccedilatildeo a distacircncia que deveria se estender a todos os niacuteveis e modalidades

educativas teve sua atenccedilatildeo fixada nos cursos de graduaccedilatildeo principalmente naqueles de faacutecil

oferta como Pedagogia Normal Superior Administraccedilatildeo e cursos superiores de Tecnologia em

Gestatildeo (Giolo 2008)

Aleacutem da educaccedilatildeo a distacircncia ser uma importante estrateacutegia para ampliar as possibilidades

de acesso agrave Educaccedilatildeo Superior (especialmente em aacutereas isoladas dos grandes centros urbanos

responsaacuteveis por responder pela maior demanda existente) e cumprir as metas expansionistas

propostas pelo Governo outro importante motivo relacionado ao crescimento da EAD no paiacutes eacute a

preocupaccedilatildeo e o investimento na formaccedilatildeo de professores para a educaccedilatildeo baacutesica vista como

fundamental agrave melhoria da qualidade da educaccedilatildeo brasileira Nesse cenaacuterio o Ministeacuterio da

Educaccedilatildeo criou em 2005 o Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB) com accedilotildees

direcionadas agrave educaccedilatildeo baacutesica e a formaccedilatildeo de professores A UAB foi constituiacuteda mediante a

articulaccedilatildeo entre instituiccedilotildees puacuteblicas de Educaccedilatildeo Superior estados e municiacutepios brasileiros com

a intenccedilatildeo de promover atraveacutes da metodologia da educaccedilatildeo a distacircncia acesso a Educaccedilatildeo

Superior para camadas excluiacutedas da populaccedilatildeo

Os cursos oferecidos pelo programa UAB possuem foco na formaccedilatildeo de professores e

administraccedilatildeo puacuteblica e tecircm como objetivo atender professores da rede puacuteblica de ensino baacutesico

para melhorar suas qualificaccedilotildees e a qualidade do ensino nas regiotildees atendidas por poacutelos da UAB

Os cursos satildeo oferecidos por Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior que os ministram a distacircncia

havendo poacutelos localizados em municiacutepios estrateacutegicos que funcionam como ponto de apoio

presencial aos alunos

Em que pese a contribuiccedilatildeo da modalidade de educaccedilatildeo a distacircncia agrave ampliaccedilatildeo das

oportunidades de acesso agrave formaccedilatildeo em niacutevel superior uma das principais criacuteticas direcionadas a

99

ela e em especial aos programas que tecircm como foco a formaccedilatildeo de professores para a educaccedilatildeo

baacutesica relaciona-se agrave sua impossibilidade de substituir a relaccedilatildeo professor-aluno inerente agrave

modalidade presencial (Giolo 2008 2010 Segenreich 2006) Em anaacutelise acerca da efetiva

contribuiccedilatildeo da EAD na formaccedilatildeo de professores Silva Juacutenior (2003) destaca que o processo

educativo eacute uma esfera social de formaccedilatildeo humana que se realiza no acircmbito das relaccedilotildees sociais e

por ser assim natildeo pode prescindir das praacuteticas humanas especiacuteficas Contrariamente a esta noccedilatildeo a

EAD mediada por tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo reduz as possibilidades dos sujeitos

vivenciarem a praacutetica educativa com todas as implicaccedilotildees contradiccedilotildees e discussotildees que lhe satildeo

inerentes

O processo de formaccedilatildeo acontece nas trocas que se estabelecem na praacutetica social repleta

de desejos sentimentos e valores Para Silva Juacutenior (2003) no processo de ensino-aprendizagem

oportunizado pela educaccedilatildeo a distacircncia ldquoo sujeito parece ser colocado em plano secundaacuterio numa

posiccedilatildeo passiva sem que tenha a oportunidade de enfrentar o conflito a contradiccedilatildeo e a tensatildeo

intriacutensecos a qualquer processo formativordquo (p 92) Complementando este entendimento Giolo

(2008) pontua que o que estaacute em pauta quanto se trata de formaccedilatildeo de professores a distacircncia eacute que

estes estatildeo sendo formados para a docecircncia presencial e natildeo a distacircncia sem entretanto terem

aprendido pelo conjunto de experiecircncias que a formaccedilatildeo presencial oportuniza

Natildeo se trata somente de conferir se a educaccedilatildeo a distacircncia consegue ser igual agrave presencial

naquilo que se propotildee a fazer Posto que nesse terreno haacute ainda muito para ser analisado e

pesado existe outro ponto que precisa ser esclarecido o que a educaccedilatildeo a distacircncia se

propotildee a fazer eacute tudo o que se deve esperar de um processo educacional (Giolo 2010 p

1287)

Seja na modalidade presencial ou a distacircncia os objetivos da Educaccedilatildeo Superior para a

formaccedilatildeo de cidadatildeos e profissionais satildeo os mesmos aplicar com criticidade e responsabilidade o

conhecimento adquirido favorecer a construccedilatildeo de posturas autocircnomas e reflexivas contribuir para

o desenvolvimento do espiacuterito criacutetico e empreendedor promover formas alternativas e claras de se

comunicar assumir compromisso com a produccedilatildeo de conhecimento e com a transformaccedilatildeo social

Diante dos proacutes e contras em torno da EAD em especial da formaccedilatildeo de professores a

distacircncia eacute necessaacuterio repensar o direcionamento das poliacuteticas voltadas agrave educaccedilatildeo a distacircncia pois

que ainda que amplie as possibilidades de acesso e oportunize a formaccedilatildeo de maior nuacutemero de

profissionais a avaliaccedilatildeo da real contribuiccedilatildeo dessa modalidade educativa deve estar baseada num

padratildeo de qualidade socialmente referenciado isto eacute uma oportunidade de inclusatildeo e ao mesmo

tempo de efetiva e qualificada formaccedilatildeo pessoal e profissional

Em relaccedilatildeo aos cursos superiores de tecnologia eles natildeo satildeo uma criaccedilatildeo da LDB (Brasil

1996) pois jaacute existiram e foram extintos (como eacute o caso dos cursos de engenharia de operaccedilatildeo) ou

ainda existem como cursos de formaccedilatildeo de tecnoacutelogos (Segenreich amp Castanheira 2009) A

novidade fica por parte da inclusatildeo dos cursos tecnoloacutegicos entre os cursos de graduaccedilatildeo com

100

todas as prerrogativas de acesso aos niacuteveis mais elevados da formaccedilatildeo em niacutevel superior como a

poacutes-graduaccedilatildeo lato e stricto sensu Desde suas origens a educaccedilatildeo tecnoloacutegica foi contaminada por

um clima de preconceito devido agrave sua associaccedilatildeo a uma educaccedilatildeo profissional de caraacuteter moralista

e assistencialista voltada agraves classes menos favorecidas da sociedade (Takahashi 2010 Takahashi

amp Amorim 2008)

Entendendo que a educaccedilatildeo para o trabalho natildeo se restringe agrave formaccedilatildeo profissional de

pessoas pertencentes aos estratos menos favorecidos das classes socioeconocircmicas e tambeacutem em

atenccedilatildeo agraves modernas exigecircncias do setor produtivo que demandam dos trabalhadores competecircncias

de mobilidade flexibilidade e criatividade permanentes desenrolaram-se discussotildees anaacutelises e

propostas para os cursos de educaccedilatildeo profissional de niacutevel tecnoloacutegico A partir desse processo a

educaccedilatildeo profissional especialmente a de niacutevel tecnoloacutegico foi reestruturada tendo lhe sido

atribuiacutedo pela Resoluccedilatildeo nordm 032002 o objetivo de ldquogarantir aos cidadatildeos o direito agrave aquisiccedilatildeo de

competecircncias profissionais que os tornem aptos para a inserccedilatildeo em setores profissionais nos quais

haja utilizaccedilatildeo de tecnologiasrdquo (p 1) Esta mesma resoluccedilatildeo estabeleceu que os cursos de educaccedilatildeo

profissional de niacutevel tecnoloacutegico seriam a partir de entatildeo designados como cursos superiores de

tecnologia

Sendo considerados de niacutevel superior os cursos de tecnologia tambeacutem devem ser

estruturados agrave luz das Diretrizes Curriculares Nacionais as quais tiveram como desafio romper

com o preconceito atribuiacutedo agrave educaccedilatildeo profissional e propor uma educaccedilatildeo profissional de niacutevel

superior que natildeo seja apenas uma educaccedilatildeo teacutecnica de niacutevel mais elevado Em 2002 foram

definidas as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educaccedilatildeo Profissional de Niacutevel

Tecnoloacutegico (Parecer nordm 292002a)

A principal diferenccedila entre os cursos tradicionais de graduaccedilatildeo e os cursos superiores de

tecnologia estaacute na proposta de cada um sendo que estes uacuteltimos tecircm uma proposta especificamente

voltada ao atendimento da demanda do mercado de trabalho por especialistas em diferentes aacutereas

do conhecimento

Segundo Takahashi e Amorim (2008) e Takahashi (2010) os principais atributos da

Educaccedilatildeo Tecnoloacutegica satildeo o foco a rapidez a inserccedilatildeo no mercado de trabalho e a metodologia O

foco estaacute relacionado agrave ecircnfase na formaccedilatildeo de profissionais qualificados para atender necessidades

especiacuteficas do mundo do trabalho a rapidez se daacute pela carga horaacuteria reduzida dos cursos e como

consequecircncia sua menor duraccedilatildeo dois ou trecircs anos a raacutepida e faacutecil inserccedilatildeo no mercado decorre

do fato dos cursos estarem pautados em demandas oriundas desse contexto e que portanto

necessitam de novos profissionais e por fim a metodologia que eacute bastante centrada em propostas

vinculadas agrave praacutetica

Em virtude deste conjunto de caracteriacutesticas os cursos superiores de tecnologia tecircm

vivenciado um forte crescimento No periacuteodo de 2002 a 2007 (INEP 2009) o nuacutemero de cursos

ofertados nesta modalidade subiu de 636 para 3702 o que significa que a oferta quintuplicou no

101

referido periacuteodo O nuacutemero de vagas abertas em 2007 cresceu em 236 em relaccedilatildeo a 2006 e assim

como ocorre em relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo a distacircncia as IES privadas satildeo as principais responsaacuteveis pela

maior oferta de cursos tecnoloacutegicos mais de 90 no ano de 2007

Ainda que o crescimento da Educaccedilatildeo Tecnoloacutegica esteja contribuindo para propiciar a

expansatildeo da Educaccedilatildeo Superior eacute preciso estar alerta ao risco de que esta modalidade educativa

venha a se vincular sobremaneira com o setor produtivo formando profissionais tecnicamente

competentes que dominam as exigecircncias operacionais relacionadas a determinadas praacuteticas sem

entretanto formarem sujeitos criticamente preocupados com a realidade social e a transformaccedilatildeo

do contexto no qual estatildeo inseridos

Pode-se verificar que os novos cursos tecnoloacutegicos e a educaccedilatildeo a distacircncia estatildeo

expandindo gradativamente seu campo de atuaccedilatildeo Se por um lado representam maior

possibilidade de acesso agrave Educaccedilatildeo Superior e de desenvolvimento pessoal e profissional por

outro trazem preocupaccedilotildees quanto agrave qualidade da formaccedilatildeo que estatildeo oferecendo Tendo um

percurso ainda recente ambas as modalidades precisam ser acompanhadas nos proacuteximos anos de

forma a avaliar sua pertinecircncia frente ao paiacutes que se quer construir

Inovaccedilotildees Curriculares e Pedagoacutegicas A inovaccedilatildeo curricular eacute uma possibilidade recente

no cenaacuterio educacional brasileiro resultante da alteraccedilatildeo de uma poliacutetica educacional centralizada

(Pereira 2009b) A centralizaccedilatildeo do sistema educativo enquadrava as instituiccedilotildees e cursos sob um

nuacutecleo comum com pouca flexibilidade amarrava a educaccedilatildeo nos seus diferentes niacuteveis a um

formalismo que natildeo permitia autonomia frente agrave organizaccedilatildeo curricular A partir da promulgaccedilatildeo

da atual LDB em 1996 eacute que se abriu a possibilidade de flexibilizar os curriacuteculos e atender agraves

particularidades de cada instituiccedilatildeo

Diante da possibilidade de modificar e criar novas organizaccedilotildees curriculares e pedagoacutegicas

a inovaccedilatildeo educacional natildeo ocorre apenas pela alteraccedilatildeo de uma estrutura jaacute existente No

contexto educativo tal conceito estaacute vinculado agrave reflexatildeo acerca dos objetivos atribuiacutedos agrave

educaccedilatildeo de forma que se daacute a partir do questionamento das finalidades da accedilatildeo educativa que estaacute

se desenvolvendo e do papel da educaccedilatildeo na formaccedilatildeo do estudante (Pereira 2009b)

A criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo de algo novo pode abranger a instituiccedilatildeo como um todo um curso

uma disciplina um meacutetodo de ensino ou um material Algumas das inovaccedilotildees que vecircm ocorrendo

no paiacutes estatildeo direcionadas para a organizaccedilatildeo curricular que se compromete com determinadas

concepccedilotildees de educaccedilatildeo os meacutetodos e teacutecnicas de ensino que se restringem ao material didaacutetico e

aos instrumentos de avaliaccedilatildeo os materiais instrucionais como livros textos apostilas estudos

dirigidos a tecnologia educacional como os recursos audio-visuais a relaccedilatildeo professor-aluno

expressa pela modificaccedilatildeo na interaccedilatildeo que se estabelece entre estes atores sociais e a avaliaccedilatildeo

educacional representada pela criaccedilatildeo e uso de novas perspectivas e procedimentos avaliativos

(Ferretti 1995)

102

Independente do foco da inovaccedilatildeo pedagoacutegica - projeto pedagoacutegico de curso introduccedilatildeo de

disciplinas estrateacutegias e meacutetodos de aula formas de abordar o conteuacutedo ndash ela deve representar uma

mudanccedila significativa no processo educativo expressa pela contribuiccedilatildeo que tais inovaccedilotildees

representam aos desafios educacionais e sociais Estaacute portanto sempre orientada por sistema de

valores educacionais (Pereira 2009b) Assim introduzir novas medidas curriculares e pedagoacutegicas

pressupotildee uma intenccedilatildeo deliberada para modificar uma dada situaccedilatildeo significa inserir mudanccedilas

de forma planejada com a intenccedilatildeo de produzir melhorias no processo educacional (Ferretti 1995

Pereira 2009b Pereira Mercuri amp Bagnato 2010)

No acircmbito da Educaccedilatildeo Superior foi desencadeado a partir de 2000 um processo de

discussatildeo acerca dos curriacuteculos que orientam a formaccedilatildeo em niacutevel superior Os cursos de

graduaccedilatildeo no paiacutes seguindo as orientaccedilotildees da legislaccedilatildeo vigente ateacute entatildeo se organizavam a partir

de curriacuteculos miacutenimos fixados pelo Conselho Federal de Educaccedilatildeo para todas as instituiccedilotildees A

concepccedilatildeo dos curriacuteculos miacutenimos implicava em detalhamento de disciplinas e cargas horaacuterias que

deveriam ser obrigatoriamente cumpridas por todas as IES sob pena de natildeo terem seus cursos

autorizados ou reconhecidos

Conforme pontua o Parecer nordm 672003 (Brasil 2003) o caraacuteter universal dos curriacuteculos

miacutenimos era uma tentativa de garantir ldquouma suposta igualdade entre os profissionais de diferentes

instituiccedilotildees quando obtivessem os seus respectivos diplomas com direito de exercer a profissatildeordquo

(p 2) Rigidamente concebidos os curriacuteculos miacutenimos natildeo consideravam as especificidades de

tempo e de espaccedilo e inibiam a diversificaccedilatildeo na formaccedilatildeo dos estudantes As criacuteticas e

discordacircncias quanto a esta organizaccedilatildeo pedagoacutegica contribuiacuteram para que fosse instalada a partir

de 2000 uma discussatildeo entre professores pesquisadores especialistas e oacutergatildeos de classe no

sentido de rever as orientaccedilotildees para os cursos de graduaccedilatildeo Essas discussotildees culminaram com a

promulgaccedilatildeo das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) que tecircm como objetivo servir de

referecircncia para as IES na organizaccedilatildeo de seus projetos de cursos permitindo flexibilidade e

priorizaccedilatildeo de aacutereas de conhecimento

As DCNs contemplam o perfil de egresso de acordo com cada projeto de curso formaccedilatildeo

com base no desenvolvimento de competecircncias e habilidades habilitaccedilotildees e ecircnfases curriculares

realizaccedilatildeo de estaacutegios e atividades complementares articulaccedilotildees com o processo de avaliaccedilatildeo

institucional A intenccedilatildeo das Diretrizes Curriculares Nacionais diferentemente dos curriacuteculos

miacutenimos eacute possibilitar uma flexibilidade curricular autonomia e liberdade agraves instituiccedilotildees de tal

forma que possam inovar em seus projetos de cursos e sobretudo contribuir para a formaccedilatildeo de

um perfil profissional competente e comprometido com as demandas sociais As DCNs

configuram-se portanto como importante incentivo agrave inovaccedilatildeo pedagoacutegica

Avaliaccedilatildeo como Recurso agrave Garantia da Qualidade da Educaccedilatildeo Superior Ao tratar da

temaacutetica da avaliaccedilatildeo nos mais diferentes contextos em que ela se daacute haacute que se ter claro que toda

103

avaliaccedilatildeo estaacute ancorada em um pressuposto poliacutetico e filosoacutefico em uma concepccedilatildeo de mundo e de

sociedade toda avaliaccedilatildeo de maior ou menor complexidade estaacute mergulhada em ideologias e

valores que a orientam (Dias Sobrinho 2003 2004a 2008b Leite 2005 Ristoff 1999) Por ser

assim a avaliaccedilatildeo natildeo eacute um ato neutro universal e inofensivo muito pelo contraacuterio as diferentes

formas de avaliar influenciadas por distintas concepccedilotildees e ideologias geram efeitos muito

variados

Por natildeo ser um fenocircmeno imparcial isolado dos valores interesses e necessidades que

predominam em determinado momento histoacuterico a avaliaccedilatildeo se constitui como um fenocircmeno

eminentemente poliacutetico A esse respeito Dias Sobrinho (2003) diz que a avaliaccedilatildeo eacute poliacutetica por

pertencer ao interesse social e por produzir importantes efeitos puacuteblicos para a sociedade uma vez

que orienta posiccedilotildees e decisotildees que influenciam a vida das pessoas

Embora muitas vezes as discussotildees sobre avaliaccedilatildeo focalizem sua operacionalizaccedilatildeo isto

eacute a natureza dos instrumentos utilizados para alcanccedilar os objetivos almejados ela natildeo pode ser

entendida como uma ferramenta ou mecanismo teacutecnico somente Toda forma de avaliar carrega

valores produz sentidos direciona escolhas provoca mudanccedilas

No contexto da educaccedilatildeo a avaliaccedilatildeo se desdobra em duas vertentes (a) a avaliaccedilatildeo da

aprendizagem voltada para a avaliaccedilatildeo do aprendizado dos sujeitos a partir do processo de

apropriaccedilatildeo e construccedilatildeo do conhecimento das habilidades e valores elaborados socialmente e (b)

a avaliaccedilatildeo institucional que se dedica a avaliar a instituiccedilatildeo como um todo envolvendo aspectos

pedagoacutegicos financeiros fiacutesicos humanos relacionais e outros (Sordi amp Ludke 2009

Vasconcellos Tineacute amp Andrade 2007)

A avaliaccedilatildeo da aprendizagem vista sob a perspectiva microscoacutepica estaacute vinculada ao

processo de ensino e de aprendizagem e portanto focada no desempenho ou aproveitamento

escolar do aluno esta vertente da avaliaccedilatildeo eacute preponderantemente implementada pelos professores

A avaliaccedilatildeo institucional por sua vez eacute vista sob a perspectiva macroscoacutepica e estaacute voltada para o

desempenho das instituiccedilotildees educativas sob o prisma da qualidade Referindo-se ao valor da

avaliaccedilatildeo institucional Sordi e Ludke (2009) dizem que ela ldquocontribui para que os saberes dos

diferentes atores envolvidos na escola sejam incorporados e reconhecidos como legiacutetimos

intensificando a qualidade das trocas intersubjetivas que ocorrem na escola empoderando os atores

locais para a accedilatildeordquo (p 327) Ainda que a avaliaccedilatildeo educacional englobe ambas as vertentes

avaliativas - o processo de ensino-aprendizagem e as condiccedilotildees e atividades institucionais -

interessa neste trabalho a avaliaccedilatildeo institucional a qual estaacute relacionada agrave qualidade das praacuteticas

desenvolvidas nas Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior e ao cumprimento das funccedilotildees que satildeo

proacuteprias dessas instituiccedilotildees a construccedilatildeo do conhecimento a formaccedilatildeo de cidadatildeos e de

profissionais e o desenvolvimento social

No acircmbito da Educaccedilatildeo Superior pode-se dizer que duas tendecircncias sustentam o debate

sobre avaliaccedilatildeo uma abordagem mais tecnoloacutegica centrada na tradiccedilatildeo empirista e quantitativa

104

voltada agrave mensuraccedilatildeo do desempenho e resultados e outra mais democraacutetica e qualitativa que se

ocupa de compreender e atribuir significados aos processos acadecircmicos Estas duas tendecircncias se

organizam segundo loacutegicas bastante distintas sendo que a primeira eacute de natureza classificatoacuteria ou

regulatoacuteria agrave medida que tem como finalidade baacutesica a regulaccedilatildeo e o controle enquanto a segunda

eacute formativa ou emancipatoacuteria uma vez que se daacute por meio de mecanismos que promovem a

compreensatildeo e o desenvolvimento institucional (Catani Oliveira amp Dourado 2002 Dias Sobrinho

2003 2004a Meneghel Robl amp Silva 2006) Apesar de comumente serem apresentadas de

maneira estanques e isoladas estas vertentes na verdade se combinam e se entrecruzam ainda que

apresentem diferenccedilas profundas

A avaliaccedilatildeo de natureza regulatoacuteria tem origem na compreensatildeo de que a Educaccedilatildeo

Superior deve responder agrave loacutegica de eficiecircncia e eficaacutecia institucional Na opiniatildeo de Dias Sobrinho

(2003) a foacutermula que se produziu a partir dessa compreensatildeo e que vem interferindo na Educaccedilatildeo

Superior eacute a de que ldquoqualidade corresponde a eficiecircncia que se obteacutem mediante a racionalidade

empresarialrdquo (p 59) Nesta vertente a avaliaccedilatildeo cumpre a funccedilatildeo de tornar a Educaccedilatildeo Superior

mais uacutetil ao mundo dos negoacutecios e do trabalho A avaliaccedilatildeo formativa por outro lado ancora-se na

compreensatildeo de que a Educaccedilatildeo Superior estaacute orientada para a formaccedilatildeo da consciecircncia criacutetica da

cidadania e da identidade nacional

Dessas consideraccedilotildees acerca do uso da avaliaccedilatildeo na Educaccedilatildeo Superior depreende-se que

a avaliaccedilatildeo eacute o meio pelo qual se comprova ou natildeo a qualidade da educaccedilatildeo que estaacute sendo

oferecida agrave populaccedilatildeo Reconhecendo entatildeo que a avaliaccedilatildeo exerce um importante papel nas

transformaccedilotildees no Sistema de Educaccedilatildeo Superior e nas instituiccedilotildees que o compotildee seratildeo

apresentados a seguir os principais programas de avaliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior implementados

no paiacutes

No Brasil a mais antiga experiecircncia de avaliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior eacute a dos cursos e

programas de poacutes-graduaccedilatildeo desenvolvida desde 1976 pela CAPES entretanto nas uacuteltimas

deacutecadas foi a graduaccedilatildeo que centralizou as discussotildees acerca desse fenocircmeno como evidenciam as

diferentes propostas que foram implementadas nesse periacuteodo

O Programa de Avaliaccedilatildeo da Reforma Universitaacuteria (PARU) criado pelo MEC em 1983

foi a primeira proposta avaliativa da Educaccedilatildeo Superior brasileira em niacutevel de graduaccedilatildeo e tinha

como temas principais a gestatildeo das IES e o processo de produccedilatildeo e de disseminaccedilatildeo do

conhecimento Os dados sobre essas temaacuteticas eram obtidos atraveacutes de questionaacuterios respondidos

por estudantes docentes e dirigentes das instituiccedilotildees

Apoacutes a desativaccedilatildeo do PARU em 1984 em funccedilatildeo do apoio insuficiente do MEC surgiu o

Grupo Executivo para a Reforma da Educaccedilatildeo Superior (GERES) que com base em uma

concepccedilatildeo regulatoacuteria apresentava a avaliaccedilatildeo como contraponto agrave autonomia das IES e recorria a

indicadores de eficiecircncia e produtividade como orientadores da distribuiccedilatildeo e gestatildeo de recursos

Importante pontuar que o relatoacuterio do GERES jaacute propunha em 1984 que se realizasse a avaliaccedilatildeo

105

dos cursos de graduaccedilatildeo por comissotildees de especialistas das condiccedilotildees e recursos fiacutesicos

pedagoacutegicos e financeiros das instituiccedilotildees dos indicadores de eficiecircncia como a proporccedilatildeo

professoraluno os custos por estudante as taxas de evasatildeo o tempo de conclusatildeo dos cursos aleacutem

da proposta de um exame nacional a ser aplicado a todos os alunos formandos (Dias Sobrinho

2003)

Entre o final da deacutecada de 80 e iniacutecio da de 90 surgiram os primeiros relatos de

experiecircncias de autoavaliaccedilatildeo em instituiccedilotildees universitaacuterias que contribuiacuteram para que fossem

instalados um diaacutelogo e uma negociaccedilatildeo entre o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e as instituiccedilotildees federais

representadas pela Associaccedilatildeo das Instituiccedilotildees Federais do Ensino Superior (ANDIFES) Estas

experiecircncias de autoavaliaccedilatildeo mediadas pela ANDIFES acabaram por culminar em 1993 no

Programa de Avaliaccedilatildeo Institucional das Universidades Brasileiras (PAIUB) Este Programa de

adesatildeo voluntaacuteria por parte das IES se organizava em autoavaliaccedilatildeo realizada internamente pela

instituiccedilatildeo avaliaccedilatildeo externa desencadeada por pares acadecircmicos e representantes da sociedade e

a reavaliaccedilatildeo desenvolvida novamente pela proacutepria instituiccedilatildeo na direccedilatildeo de rever suas escolhas e

caminhos (Dias Sobrinho 2007 Polidori Marinho-Arauacutejo amp Barreyro 2006)

Para Dias Sobrinho (2007) o PAIUB foi um marco importante para a avaliaccedilatildeo da

Educaccedilatildeo Superior no Brasil especialmente por ter como princiacutepios baacutesicos a integraccedilatildeo de

diferentes dimensotildees da totalidade institucional e o seu desenvolvimento por meio de um processo

pedagoacutegico democraacutetico e permanente Natildeo havia objetivos de regulaccedilatildeo ou de acreditaccedilatildeo e a

adesatildeo ao programa era fruto de sentimento de responsabilidade social Contudo ainda que pese a

dimensatildeo eacutetica do programa e apesar de ter recebido ampla adesatildeo das IES brasileiras se tornou

somente um processo de avaliaccedilatildeo interno agraves instituiccedilotildees a medida em que o MEC interrompeu

seu apoio e o repasse de recursos e comeccedilou a implantar uma poliacutetica de Educaccedilatildeo Superior com

forte sentido neoliberal

Nessa direccedilatildeo a partir de 1995 foram implantados pelo MEC novos mecanismos de

avaliaccedilatildeo (a) o Exame Nacional de Cursos (ENC) popularmente conhecido como Provatildeo

realizado por concluintes da graduaccedilatildeo (b) a Avaliaccedilatildeo das Condiccedilotildees de Ensino (ACE)

inicialmente chamada de Avaliaccedilatildeo das Condiccedilotildees de Oferta e conhecida como visita das

comissotildees de especialistas e (c) Avaliaccedilatildeo Institucional de Centros Universitaacuterios A avaliaccedilatildeo da

Educaccedilatildeo Superior assim implantada passou a ter grande repercussatildeo na miacutedia que divulgava

uma classificaccedilatildeo dos cursos de graduaccedilatildeo em decorrecircncia dos resultados do ENC e estimulou uma

loacutegica de concorrecircncia entre as instituiccedilotildees (Bertolin 2004 Dias Sobrinho 2007 INEP 2004

Polidori Marinho-Arauacutejo amp Barreyro 2006) Pelo exposto vecirc-se que

enquanto no PAIUB a preocupaccedilatildeo estava com a totalidade com o processo e com a

missatildeo da instituiccedilatildeo na sociedade no ENC a ecircnfase recai sobre os resultados com a

produtividade a eficiecircncia com o controle do desempenho frente a um padratildeo estabelecido

e com a prestaccedilatildeo de contas (INEP 2004 p 20)

106

Estes novos mecanismos de avaliaccedilatildeo tinham portanto princiacutepios metodologias e

finalidades bastante distintos do programa que o precedeu e se assentavam em uma concepccedilatildeo

instrumental e funcional da Educaccedilatildeo Superior ajustada agraves necessidades do mercado A tocircnica da

avaliaccedilatildeo recaia sobre a verificaccedilatildeo das competecircncias e habilidades profissionais que os cursos

proporcionavam aos estudantes tendo como referecircncia as necessidades de produtividade e de

competitividade que as empresas e o governo apresentam Assim a ideia de instrumentalidade eacute a

que predomina na Educaccedilatildeo Superior jaacute que deve instrumentalizar o mundo do trabalho a partir de

um controle rigoroso dos perfis profissionais (Dias Sobrinho 2003)

Por essa razatildeo Dias Sobrinho (2007) diz que o ENC ou Provatildeo teve papel central no

estabelecimento das universidades operacionais uma vez levou as IES a fortalecerem a ideologia

do individualismo e da competitividade e a promover a capacitaccedilatildeo instrumental de profissionais

conforme estabelecido pelos empregos Em menccedilatildeo agraves diferenccedilas entre os modos de avaliaccedilatildeo

implantados na Educaccedilatildeo Superior o autor destaca que nos anos precedentes ldquoa avaliaccedilatildeo

favorecia a expansatildeo do mercado educativo oferecendo orientaccedilatildeo aos clientes adotando as

praacuteticas de accountability ndash controle de produtos e resultados rankings recompensa ao meacuterito etc

ndash e uma ideologia que priorizava a eficiecircncia a produtividade e a gestatildeo empresarialrdquo (Dias

Sobrinho 2007 p 38) A partir do Governo Lula em 2003 o MEC comeccedilou a desenvolver um

projeto de Educaccedilatildeo Superior voltado ao progresso social agrave igualdade agrave inclusatildeo e pertinecircncia de

forma que o eixo principal das novas poliacuteticas puacuteblicas enfatizou a recuperaccedilatildeo do significado da

educaccedilatildeo como bem puacuteblico

Para subsidiar a proposiccedilatildeo destas novas poliacuteticas que modificariam a maneira de

compreender o papel da avaliaccedilatildeo na Educaccedilatildeo Superior foram realizados estudos anaacutelises e

discussotildees orientados pela perspectiva de criar um sistema de avaliaccedilatildeo amplo integrado e

desvinculado da concepccedilatildeo instrumental Nessa direccedilatildeo a partir da anaacutelise dos instrumentos

avaliativos que vinham sendo utilizados e da discussatildeo com a comunidade acadecircmica e a sociedade

civil a Comissatildeo Especial de Avaliaccedilatildeo (CEA) nomeada em 2003 pelo entatildeo Ministro da

Educaccedilatildeo apresentou o delineamento baacutesico de uma nova proposta o Sistema Nacional de

Avaliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior o SINAES Conforme foi pensado e proposto o SINAES eacute de

fato um sistema de avaliaccedilatildeo pois tem como ideias centrais a integraccedilatildeo e a participaccedilatildeo

elementos fundamentais para que se possa aprofundar os compromissos e responsabilidades sociais

das instituiccedilotildees aleacutem de promover os valores democraacuteticos o respeito agrave diversidade a busca da

autonomia e a afirmaccedilatildeo da identidade das IES

A proposta do SINAES tentava integrar a concepccedilatildeo formativa da avaliaccedilatildeo com um

projeto de sociedade comprometido com a justiccedila e a igualdade social e nessa direccedilatildeo buscou

articular um sistema de avaliaccedilatildeo dotado de autonomia proacutepria dos processos educativos-

emancipatoacuterios com funccedilotildees de regulaccedilatildeo inerente agrave supervisatildeo do Estado (INEP 2004)

Conforme idealizada essa proposta procurava assegurar a integraccedilatildeo de dimensotildees inter-

107

relacionadas a interna e a externa a particular e a global a quantitativa e a qualitativa e ainda a

articulaccedilatildeo da comunidade acadecircmica com membros da sociedade das instacircncias institucionais

com outras nacionais e internacionais Vecirc-se assim que esse sistema de avaliaccedilatildeo foi concebido

com base na ideia de cooperaccedilatildeo e natildeo com a ideologia da competitividade de concorrecircncia e de

sucesso individual que caracterizou a avaliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior em periacuteodos anteriores

Tendo estas ideias diferenciadas como orientadoras da criaccedilatildeo e implementaccedilatildeo do

SINAES ele foi instituiacutedo em 2004 pela Lei nordm 10861 e estaacute concebido a partir de trecircs pilares (a)

avaliaccedilatildeo institucional interna e externa (b) avaliaccedilatildeo de cursos e (c) avaliaccedilatildeo do desempenho

dos estudantes Importante diferenccedila desse modelo avaliativo estaacute na realizaccedilatildeo da avaliaccedilatildeo

institucional especialmente a autoavaliaccedilatildeo processo que privilegia a interlocuccedilatildeo no interior de

cada IES

Para operacionalizar a autoavaliaccedilatildeo cada instituiccedilatildeo deve constituir uma Comissatildeo

Proacutepria de Avaliaccedilatildeo (CPA) composta por representantes docentes discentes funcionaacuterios

teacutecnico-administrativos e membros da sociedade civil com o objetivo de se responsabilizar pela

organizaccedilatildeo planejamento e conduccedilatildeo dos processos internos de avaliaccedilatildeo Apoacutes a realizaccedilatildeo desta

modalidade cada instituiccedilatildeo eacute submetida a uma avaliaccedilatildeo externa conduzida por grupos de

avaliadores da comunidade cientiacutefica Segundo Polidori Marinho-Arauacutejo e Barreyro (2006) a

autoavaliaccedilatildeo busca promover o autoconhecimento da instituiccedilatildeo e preparaacute-la para as avaliaccedilotildees

externas a que seraacute submetida no entanto conforme ressaltam as autoras ela natildeo pretende ser uma

maneira de adaptar as IES ao modelo de avaliaccedilatildeo externa mas acima de tudo almeja ser uma

praacutetica de reflexatildeo particular a cada instituiccedilatildeo

Aleacutem da avaliaccedilatildeo institucional outro pilar do SINAES diz respeito agrave avaliaccedilatildeo dos cursos

de graduaccedilatildeo que apesar de jaacute ser realizada no modelo anterior adquiriu novas caracteriacutesticas

condizentes com a concepccedilatildeo do SINAES A avaliaccedilatildeo dos cursos conforme idealizada na

proposta original do SINAES seria realizada por equipes multidisciplinares compostas por

especialistas de aacutereas afins aos cursos em avaliaccedilatildeo e aos quais se agrega um avaliador

institucional contribuindo para fortificar o papel da avaliaccedilatildeo institucional e a integraccedilatildeo entre os

diferentes instrumentos adotados pelo sistema Atualmente a Comissatildeo de Avaliaccedilatildeo in loco de

cursos deve ser composta por dois avaliadores com formaccedilatildeo correspondente ao curso avaliado

(Brasil 2007b)

O terceiro pilar do SINAES compreende a avaliaccedilatildeo dos estudantes e tem como principal

instrumento o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE) voltado para investigar

a contribuiccedilatildeo da trajetoacuteria acadecircmica no desenvolvimento das competecircncias esperadas para os

perfis profissionais Sendo assim a ecircnfase do ENADE natildeo estaacute nos conteuacutedos e no desempenho do

aluno expresso em resultados de avaliaccedilotildees que se baseiam em conhecimentos adquiridos ou natildeo

ao final do curso O Exame aplicado a amostras de estudantes que estatildeo em momentos distintos de

108

sua graduaccedilatildeo ndash ingressantes e concluintes ndash possibilita um acompanhamento do processo de

ensino-aprendizagem

Uma importante diferenccedila do ENADE em relaccedilatildeo a outros instrumentos de avaliaccedilatildeo dos

estudantes como o Provatildeo principalmente estaacute na sua ecircnfase no processo de formaccedilatildeo na

trajetoacuteria oportunizada pela IES e construiacuteda pelo aluno ao longo do curso Mediante a intenccedilatildeo de

conhecer o quanto a vivecircncia e aprendizado acadecircmico estatildeo agregando agrave formaccedilatildeo do aluno tanto

os alunos ingressantes quanto os concluintes realizam a mesma prova do ENADE possibilitando

que as IES tenham acesso a informaccedilotildees sobre o que precisa ser mais enfatizado revisto ou

mantido no curso (Marinho-Arauacutejo 2004) Esta modalidade de avaliaccedilatildeo daacute agrave IES importantes

indicadores acerca das intervenccedilotildees educativas que vem favorecendo e potencializando o

desenvolvimento dos estudantes e que portanto devem ser mantidas e reforccediladas

Desta maneira o ENADE estaacute muito mais orientado para o processo e para a trajetoacuteria em

construccedilatildeo do que para o resultado final Com base em uma compreensatildeo pedagoacutegica e formativa

da avaliaccedilatildeo o Exame busca sobretudo identificar aspectos que precisam ser modificados e

aperfeiccediloados de forma que tem o importante papel de propiciar a reflexatildeo no interior dos cursos e

da instituiccedilatildeo a partir da interlocuccedilatildeo com os estudantes subsidiando e alimentando entatildeo o

processo de autoavaliaccedilatildeo institucional (Polidori Marinho-Arauacutejo amp Barreyro 2006)

Por meio da integraccedilatildeo desses trecircs pilares o SINAES que atualmente orienta a avaliaccedilatildeo

da Educaccedilatildeo Superior brasileira busca ser um sistema integrado que garante informaccedilotildees e anaacutelises

da totalidade da Educaccedilatildeo Superior Diferentemente dos modelos de avaliaccedilatildeo anterior que se

voltavam para a funccedilatildeo reguladora da Educaccedilatildeo Superior consegue articular a dimensatildeo da

avaliaccedilatildeo educativa de natureza formativa com a regulaccedilatildeo marcada por funccedilotildees de supervisatildeo

autorizaccedilatildeo reconhecimento e credenciamento de cursos e IES (Bertolin 2004 INEP 2004)

Agrave medida que o SINAES vem avanccedilando alguns rumos bastante distintos e contraacuterios agrave

proposta original foram tomados A despeito de ter sido idealizado e implantado tendo como base a

noccedilatildeo de um sistema integrado de avaliaccedilatildeo composto por trecircs eixos - avaliaccedilatildeo institucional de

cursos e dos estudantes - recentemente um desses eixos o da avaliaccedilatildeo dos estudantes efetuada

mediante o ENADE (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes) vem sendo super

valorizado e levando a uma perda no foco da proposta original do SINAES (Barreyro 2008 Brito

2008 Dias Sobrinho 2008b Polidori 2009 Rothen amp Barreyro 2009) Privilegiando quase que

exclusivamente os resultados deste exame dois novos indicadores natildeo previstos na proposta

original foram criados no ano de 2008 o Conceito Preliminar de Curso (CPC) e o Iacutendice Geral de

Cursos (IGC)

Tendo em vista que o ENADE eacute apenas um dos eixos da avaliaccedilatildeo do SINAES o peso que

tem tido na construccedilatildeo desses iacutendices e conceitos chama bastante atenccedilatildeo De acordo com Polidori

(2009) tanto o CPC quanto o IGC ldquobuscam concentrar num uacutenico momento informaccedilotildees de um

uacutenico lsquopilarrsquo do SINAES o ENADE as informaccedilotildees sobre os cursos e a IES classificando-os e

109

tendo como resultado um ranqueamentordquo (p 448) Nesta mesma direccedilatildeo Barreyro (2008) ressalta

que o IGC natildeo surgiu como um iacutendice destinado a resolver os problemas operacionais de avaliar os

cursos de graduaccedilatildeo do paiacutes ldquoele veio tambeacutem ou principalmente para possibilitar rankings de

Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior (IES) apesar de baseado em alguns dados de alguns cursos

avaliados de algumas IESrdquo (p 864)

Por razotildees como esta diversos questionamentos e criacuteticas foram feitos agrave criaccedilatildeo desses

iacutendices pois entre outros aspectos parecem se coadunar com uma loacutegica distinta daquela que foi

inicialmente proposta e aprovada pelo SINAES qual seja a de um processo de avaliaccedilatildeo integrado

baseado na cooperaccedilatildeo no respeito e na valorizaccedilatildeo da identidade e particularidade de cada

instituiccedilatildeo De forma geral o que se nota eacute um equiacutevoco quanto agrave aplicabilidade do SINAES tanto

pela pouca valorizaccedilatildeo da avaliaccedilatildeo institucional externa e interna quanto ao uso dos resultados da

avaliaccedilatildeo dos estudantes como definidor da qualidade da Educaccedilatildeo Superior brasileira Ainda que o

SINAES natildeo seja o modelo de avaliaccedilatildeo definitivo da Educaccedilatildeo Superior brasileira concorda-se

com Barreyro (2008) sobre o fato de que os novos indicadores ldquoparecem levar-nos novamente ao

tempo dos rankings das avaliaccedilotildees mercadoloacutegicas e simplificaccedilotildees midiaacuteticas mais proacuteximos de

uma visibilidade publicitaacuteria do que da verdade da avaliaccedilatildeo da qualidaderdquo (p 867) Manteacutem-se

portanto o desafio de conseguir consolidar uma praacutetica avaliativa que de fato tenha como

referecircncia uma sociedade democraacutetica justa e plural

Outro fato bastante recente que tambeacutem integra o quadro de novas interpretaccedilotildees e

alteraccedilotildees no uso do ENADE mais uma vez desconecto da proposta original do SINAES refere-se

agrave decisatildeo do governo em natildeo realizar o exame com os alunos ingressantes de cursos superiores

caso tenham participado do Exame Nacional do Ensino Meacutedio (ENEM) Em notiacutecia veiculada no

site oficial do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo sob o tiacutetulo ldquoAcaba exigecircncia do Enade para aluno novo que

prestou o Enemrdquo (MEC 2011) foi anunciado que a decisatildeo foi tomada com base na constataccedilatildeo de

que o ENADE realizado no fim do primeiro ano de graduaccedilatildeo natildeo eacute a melhor forma de aferir o

conhecimento do aluno receacutem-chegado do Ensino Meacutedio Os desdobramentos e consequecircncias

dessa decisatildeo deveratildeo ser acompanhados mas desde jaacute ela aponta mais uma alteraccedilatildeo importante

em um dos pilares do Sistema de Avaliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior brasileira

Mesmo o SINAES sendo um diferencial no contexto geral da avaliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo

Superior no Brasil ao fazer uma anaacutelise e reflexatildeo em relaccedilatildeo a este sistema e aos desafios que

enfrenta Dias Sobrinho (2007) destaca que ele se depara com problemas importantes relacionados

agrave consolidaccedilatildeo de uma cultura de reflexatildeo e de debates puacuteblicos pois que o seu principal eixo

norteador eacute a construccedilatildeo e manutenccedilatildeo de praacuteticas permanentes e coletivas de anaacutelise criacutetica

questionamento ponderaccedilatildeo revisatildeo e reformulaccedilatildeo Agrave medida que o SINAES enfatiza as

construccedilotildees coletivas e a participaccedilatildeo dos diferentes atores um de seus grandes desafios eacute o de

conseguir consolidar uma praacutetica avaliativa que de fato tenha como referecircncia uma sociedade

democraacutetica justa e plural O desafio na verdade natildeo se limita ao Sistema Nacional de Avaliaccedilatildeo

110

mas estende-se aos diferentes atores sociais que devem refletir acerca da funccedilatildeo social da Educaccedilatildeo

Superior

A Crise da Educaccedilatildeo Superior

A Educaccedilatildeo Superior faz parte da totalidade da vida social de forma que natildeo pode ser

pensada sem que sejam consideradas as influecircncias e caracteriacutesticas histoacutericas que a cercam Nessa

direccedilatildeo ldquoesquemas simples de compreensatildeo da realidade social satildeo insuficientes para dar conta da

complexidade e da pluralidade de sentidos e fenocircmenos humanosrdquo (Dias Sobrinho 2005 p 164)

de forma que eacute necessaacuterio buscar compreensotildees tatildeo complexas quanto satildeo os proacuteprios fenocircmenos

neste caso a Educaccedilatildeo Superior

Em determinado momento histoacuterico a principal razatildeo do desenvolvimento da ciecircncia

esteve associada ao que Humboldt postulou - ldquoformar uma consciecircncia moral para transformaacute-la

em princiacutepio de accedilatildeordquo (Humboldt citado em Pereira 2009a) contudo as dinacircmicas

transformaccedilotildees econocircmicas poliacuteticas e cientiacuteficas tecircm modificado tal razatildeo A produccedilatildeo do

conhecimento voltada ao desenvolvimento da naccedilatildeo baseado em uma formaccedilatildeo cidadatilde na

qualidade de vida da populaccedilatildeo na justiccedila social e na diminuiccedilatildeo das desigualdades natildeo eacute hoje o

objetivo maior O que se presencia eacute a defesa do avanccedilo cientiacutefico e tecnoloacutegico como necessidade

econocircmica

Predominam hoje os julgamentos de que a Educaccedilatildeo Superior deve favorecer as

transformaccedilotildees exigidas pela nova economia de mercado conduzir os processos de

desenvolvimento do paiacutes contribuir para a melhoria das condiccedilotildees sociais e de vida da populaccedilatildeo

encontrar soluccedilotildees cientiacuteficas e tecnoloacutegicas para os problemas da sociedade entre outras Diante

de tantas solicitaccedilotildees e da dificuldade e ateacute impossibilidade de atendecirc-las tem-se dito que a

Educaccedilatildeo Superior estaacute em crise pois sempre que uma instituiccedilatildeo deixa de atender algumas

expectativas que lhes satildeo direcionadas eacute reconhecido o seu estado de crise (Pereira 2009a)

De acordo com Sousa Santos (2002 2005) a universidade se defronta

contemporaneamente com contradiccedilotildees que a conduzem a trecircs crises inter-relacionadas as quais

por natildeo serem exclusivas das instituiccedilotildees universitaacuterias podem ser ampliadas e assumidas como

sendo da Educaccedilatildeo Superior A primeira delas a crise da hegemonia resulta das contradiccedilotildees entre

as funccedilotildees tradicionais da universidade e as que lhe foram atribuiacutedas no seacuteculo XX isto eacute da

contradiccedilatildeo entre a necessidade de produzir conhecimentos exemplares e ao mesmo tempo

conhecimentos funcionais Se historicamente foi-lhe direcionada a tarefa de produzir o pensamento

criacutetico e o conhecimento cientiacutefico e humaniacutestico necessaacuterio agrave formaccedilatildeo das elites recentemente

tem lhe sido atribuiacuteda tambeacutem a responsabilidade de produzir padrotildees culturais meacutedios e

conhecimentos instrumentais para qualificaccedilatildeo da matildeo de obra

A segunda crise a da legitimidade eacute fruto da contradiccedilatildeo entre a hierarquizaccedilatildeo e a

democratizaccedilatildeo ou seja eacute provocada pelo fato da universidade ter deixado de ser uma instituiccedilatildeo

111

consensual caracterizada pela hierarquizaccedilatildeo dos saberes especializados e ter lhe sido exigida a

democratizaccedilatildeo Para Souza Santos (2002) ldquoa crise da legitimidade eacute em grande medida resultado

do ecircxito das lutas pelos direitos sociais e econocircmicos os direitos humanos da segunda geraccedilatildeo

entre os quais pontifica o direito agrave educaccedilatildeordquo (p 183) De universidade elitista que produz

conhecimentos superiores tambeacutem elitistas a universidade eacute chamada a produzir conhecimentos

para camadas sociais mais amplas e heterogecircneas como forma de promover sua ascensatildeo social

Finalmente a crise institucional resulta da contradiccedilatildeo entre a busca de autonomia

institucional e a pressatildeo para submeter a universidade a criteacuterios de eficaacutecia e de produtividade ldquoA

universidade sofre uma crise institucional na medida em que a sua especificidade organizativa eacute

posta em causa e se lhe pretende impor modelos organizativos vigentes noutras instituiccedilotildees tidas

por mais eficientesrdquo (Sousa Santos 2002 p 166) No caso das instituiccedilotildees educativas de niacutevel

superior o modelo que lhes estaacute sendo imposto eacute o das empresas

Goergen (2005) tambeacutem identifica que o momento atual da crise universitaacuteria pode ser

caracterizado em trecircs dimensotildees conceitual contextual e textual O aspecto conceitual da crise da

universidade refere-se ao proacuteprio conceito de universidade pois natildeo haacute clareza do que eacute e de como

deve se organizar essa instituiccedilatildeo Por esse motivo o termo universidade tem sido utilizado por

diferentes instituiccedilotildees sem que estas congreguem caracteriacutesticas e objetivos comuns

O aspecto contextual da crise por sua vez diz respeito agrave relaccedilatildeo entre a universidade e a

sociedade no que tange as atuais transformaccedilotildees em curso como por exemplo o papel

contemporacircneo da ciecircncia e da tecnologia como principal fator produtivo Por fim a dimensatildeo

textual da crise se refere agrave realidade interna da universidade ldquoseus conteuacutedos suas formas de

ensino sua relaccedilatildeo com a ciecircncia e a tecnologia com os sentidos eacuteticos e sociais daquilo que faz ou

deixa de fazerrdquo (Goergen 2005 p 12) Internamente a universidade e as Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo

Superior como um todo satildeo instadas a refletir acerca de sua responsabilidade diante das praacuteticas de

pesquisa e de ensino que desenvolve e da formaccedilatildeo de futuros profissionais

Sobre essas trecircs dimensotildees da crise universitaacuteria Goergen (2005) conclui dizendo que

ldquopodem ser resumidas num soacute termo a universidade passa por uma crise de identidade Ela estaacute

insegura quanto ao seu papel e suas tarefas na sociedade contemporacircneardquo (p 12) A Educaccedilatildeo

Superior tem se deparado de um lado com inuacutemeras demandas que lhe satildeo dirigidas em um

contexto de raacutepidas transformaccedilotildees e por outro com os valores e princiacutepios que historicamente a

tem sustentado enquanto instituiccedilatildeo Ao confrontar essas demandas e valores extremamente

contraditoacuterios e conflituosos a Educaccedilatildeo Superior se daacute conta da crise que vivencia

Tambeacutem em referecircncia agrave crise da Educaccedilatildeo Superior Magalhatildees (2004) considera que a

identidade da Educaccedilatildeo Superior centrada na Razatildeo e na racionalidade que lhe foi conferida na

modernidade estaacute se perdendo De acordo com o autor a Educaccedilatildeo Superior se estabeleceu a partir

da ldquometanarrativa da modernidade estruturada na crenccedila no triunfo da Razatildeo na Histoacuteria atraveacutes da

consolidaccedilatildeo dos Estados-Naccedilatildeordquo (p 18) A Educaccedilatildeo Superior teria como responsabilidade

112

desenvolver a razatildeo e o conhecimento e conduzir a formaccedilatildeo das pessoas com base no ideal de

naccedilatildeo estabelecido

Nesta perspectiva a Educaccedilatildeo Superior se sustenta em uma matriz moderna que se ancora

em um conjunto de instituiccedilotildees que se organizam em um sistema integrado pelo Estado e que tecircm

como missatildeo servir a naccedilatildeo e a esse Estado A Educaccedilatildeo Superior se consolida portanto sobre o

paradigma da modernidade de maneira que quando este eacute abalado abala-se tambeacutem a identidade

da Educaccedilatildeo Superior

Por essa razatildeo Magalhatildees (2004) diz que a crise de identidade vivida atualmente pela

Educaccedilatildeo Superior estaacute em estreita articulaccedilatildeo com as transformaccedilotildees econocircmicas e socioloacutegicas e

com o paradigma da modernidade as quais estatildeo questionando a legitimidade da Educaccedilatildeo

Superior como instituiccedilatildeo voltada agrave produccedilatildeo do conhecimento Agrave medida que as transformaccedilotildees

globais tecircm conferido ao conhecimento papel central na produccedilatildeo distribuiccedilatildeo e consumo os

setores econocircmicos passaram a exercer consideraacutevel pressatildeo sobre as IES no que se refere agrave

produccedilatildeo de conhecimento e formaccedilatildeo de recursos humanos qualificados Por assim ser Magalhatildees

(2004) entende que a pressatildeo econocircmica e socioloacutegica tem papel essencial no recente

questionamento da identidade da Educaccedilatildeo Superior inclusive por estarem contribuindo para que a

produccedilatildeo de conhecimento seja cada vez mais deslocada para fora das IES e de seus centros de

pesquisa

ldquoMuito do prestiacutegio da universidade derivava (e ainda deriva) da assunccedilatildeo segundo a qual

ela eacute um lugar onde o conhecimento eacute produzido e tambeacutem a uacuteltima instacircncia para decidir acerca

daquilo que deve ser considerado como conhecimentordquo (Magalhatildees 2004 p 150) Portanto agrave

medida que esse prestiacutegio eacute questionado questiona-se simultaneamente a essecircncia da Educaccedilatildeo

Superior

Tambeacutem tratando da crise da universidade brasileira Ristoff (1999 2001) identifica trecircs

dimensotildees a crise financeira a do elitismo e a de modelo A crise financeira decorre da falta de

investimento na Educaccedilatildeo Superior a qual ocasiona seu processo de deterioraccedilatildeo gradual Apesar

do investimento financeiro na Educaccedilatildeo Superior trazer retornos agrave economia no Brasil ela eacute

tomada como custo A crise do elitismo por sua vez estaacute relacionada ao fato de que a universidade

ainda eacute um espaccedilo para alguns poucos privilegiados pois natildeo haacute acesso amplo das populaccedilotildees

excluiacutedas Por isso Ristoff (1999) identifica esta crise como sendo de natureza quantitativa com

forte impacto qualitativo sobre a sociedade jaacute que pouco mais de 10 da populaccedilatildeo de 18 a 24

anos estaacute matriculada na Educaccedilatildeo Superior Por uacuteltimo a crise de modelo deriva da funccedilatildeo que eacute

atribuiacuteda agrave Educaccedilatildeo Superior a qual abarca hoje muacuteltiplas funccedilotildees como disseminaccedilatildeo e avanccedilo

das artes e das ciecircncias direcionamento para a cidadania e melhoria da qualidade de vida da naccedilatildeo

ensino para atender a grande massa populacional entre outros

As razotildees apontadas por Sousa Santos (2002 2005) Goergen (2005) Magalhatildees (2004) e

Ristoff (1999 2001) para a crise na Educaccedilatildeo Superior trazem muitas aproximaccedilotildees entre si de

113

forma que podem ser organizadas e resumidas em trecircs novas dimensotildees a exemplo de como

fizeram os proacuteprios autores A primeira dimensatildeo trata da funccedilatildeo atribuiacuteda agrave Educaccedilatildeo Superior

isto eacute refere-se agrave concepccedilatildeo do que seja a Educaccedilatildeo Superior e seu papel no contexto da sociedade

Esta eacute uma dimensatildeo central pois a concepccedilatildeo que se tem de um fenocircmeno eacute norteadora das

praacuteticas e escolhas relativas a ele Em uacuteltima instacircncia a concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo Superior eacute que

orienta o crescimento das instituiccedilotildees e os mecanismos de controle e de avaliaccedilatildeo a qualidade dos

cursos e da formaccedilatildeo oferecida as ecircnfases imprimidas nos curriacuteculos e nas atividades pedagoacutegicas

a maior ou menos articulaccedilatildeo com os interesses do mercado o investimento que lhe eacute destinado

entre outros aspectos

A segunda dimensatildeo diz respeito ao lugar ocupado pela Educaccedilatildeo Superior no

desenvolvimento da sociedade No acircmbito desta dimensatildeo inserem-se os apontamentos de que a

Educaccedilatildeo Superior historicamente voltada para a formaccedilatildeo das elites tem sido pressionada

interna e externamente a receber e formar a grande massa da populaccedilatildeo Se limitada agrave elite ou

extensiva agrave toda populaccedilatildeo o que estaacute em jogo eacute a influecircncia que a Educaccedilatildeo Superior tem na

organizaccedilatildeo social econocircmica cultural e no projeto de paiacutes

Por fim a terceira dimensatildeo da crise estaacute atrelada agrave liberdade da Educaccedilatildeo Superior ou em

outras palavras agraves reais possibilidades que as IES tecircm de definirem seus rumos tanto em termos de

prioridades pedagoacutegico-cientiacuteficas quanto financeiras Esta dimensatildeo engloba desde as reflexotildees e

questionamentos que satildeo desencadeados internamente pelas IES no tocante agraves suas escolhas

decisotildees e responsabilidades para com a sociedade ateacute as possibilidades e prioridades assumidas

por quem tem poder de direcionar os rumos das instituiccedilotildees o Estado no caso das instituiccedilotildees

puacuteblicas e as mantenedoras e os dirigentes no caso das instituiccedilotildees privadas

Esta incursatildeo pelos sentidos e significados atribuiacutedos agrave crise na Educaccedilatildeo Superior aleacutem

de evidenciar aspectos que estatildeo abalando o status o compromisso e a funccedilatildeo deste niacutevel

educativo impondo-lhe a necessidade de se ressignificar aponta tambeacutem que a atual situaccedilatildeo natildeo

se deve a uma circunstacircncia momentaneamente desfavoraacutevel Ao contraacuterio as criacuteticas e

questionamentos que colocam a Educaccedilatildeo Superior em crise satildeo fruto de um longo processo

histoacuterico que como tal se desenvolve pela accedilatildeo do homem E assim como o atual momento de

criacutetica e desvalorizaccedilatildeo foi historicamente construiacutedo a direccedilatildeo que tomaraacute as universidades

brasileiras tambeacutem seraacute decorrente de uma configuraccedilatildeo histoacuterica e social Dessa forma concorda-

se com Severino (2002) para quem os desdobramentos e a orientaccedilatildeo da atual situaccedilatildeo da Educaccedilatildeo

Superior dependeratildeo da proacutepria accedilatildeo e decisatildeo dos homens

Assumindo a colocaccedilatildeo do autor como um estiacutemulo pretende-se na proacutexima seccedilatildeo

apresentar a iacutentima articulaccedilatildeo que vem se dando entre a Educaccedilatildeo Superior e a economia destacar

a inadequaccedilatildeo que eacute submeter a educaccedilatildeo agrave loacutegica do mercado e por fim recuperar a noccedilatildeo de

Educaccedilatildeo Superior enquanto espaccedilo profiacutecuo agrave produccedilatildeo do conhecimento preparaccedilatildeo profissional

e acima de tudo de formaccedilatildeo humana

114

A Educaccedilatildeo Superior diante dos interesses econocircmicos contemporacircneos Uma das

caracteriacutesticas atuais da Educaccedilatildeo Superior eacute indiscutivelmente a sua vinculaccedilatildeo com a economia

e o mercado de maneira que natildeo se pode debater o que se entende e espera da Educaccedilatildeo Superior

sem que se aborde as influecircncias do capitalismo neoliberal e do processo mais amplo de

globalizaccedilatildeo econocircmica e cultural (Dias Sobrinho 2005 Severino 2008) Estes fenocircmenos

mundiais imprimem direcionamentos ecircnfases e caracteriacutesticas agrave realidade da Educaccedilatildeo Superior

que impactam direta e indiretamente em suas atividades projetos escolhas e metas

Severino (2008) resume da seguinte forma a accedilatildeo da globalizaccedilatildeo e suas influecircncias

sociais

na atual conjuntura mundial o cenaacuterio especiacutefico em que se encontra a sociedade brasileira

eacute aquele desenhado por um intenso e extenso processo de globalizaccedilatildeo econocircmica e

cultural conduzido pela expansatildeo da economia capitalista que se apoacuteia poliacutetica e

ideologicamente no paradigma neoliberal Por isso eacute tendecircncia mundial que vai impondo

a todos os paiacuteses a minimizaccedilatildeo do Estado a total priorizaccedilatildeo da loacutegica do mercado na

conduccedilatildeo da vida social o incentivo agrave privatizaccedilatildeo generalizada a defesa do

individualismo do consumismo da competitividade da iniciativa privada (p 76)

Eleger portanto a vinculaccedilatildeo contemporacircnea entre a Educaccedilatildeo Superior e os interesses

econocircmicos e financeiros como ponto de discussatildeo decorre da intenccedilatildeo de evidenciar os riscos e

perigos a que uma sociedade democraacutetica estaacute submetida quando a educaccedilatildeo processo pedagoacutegico

planejado e intencional de formaccedilatildeo humana passa a ser orientada por interesses e expectativas

que ldquoatravessam o sujeitordquo lhe tiram o lugar de autor e ator de sua trajetoacuteria e o tornam um mero

coadjuvante

Ao tratar do crescimento da Educaccedilatildeo Superior no Brasil Sguissardi (2008) se refere a um

ldquomodelo de expansatildeordquo que caracteriza a evoluccedilatildeo deste niacutevel educativo nos uacuteltimos anos

especificamente a partir de 1994 Analisando dados do INEP no periacuteodo de 1994 a 2006 o autor

destaca que o processo de expansatildeo da Educaccedilatildeo Superior se daacute pela via da privatizaccedilatildeo tanto pelo

crescimento no nuacutemero de IES quanto pelo nuacutemero de matriacuteculas

O modelo de expansatildeo referido por Sguissardi (2008) tem como marca principal o

crescimento desproporcional entre as IES puacuteblicas e privadas - 137 contra 2194

respectivamente - no periacuteodo mencionado e o consequente aumento das matriacuteculas nas

instituiccedilotildees privadas que foi de 2752 contra 75 das instituiccedilotildees puacuteblicas

Para aleacutem da privatizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior soma-se tambeacutem a esse modelo de

expansatildeo o fenocircmeno da mercadorizaccedilatildeo ou mercantilizaccedilatildeo isto eacute a transformaccedilatildeo da Educaccedilatildeo

Superior em um serviccedilo comercializaacutevel um objeto de lucro enfim uma mercadoria Segundo

Bertolin (2007) a origem desse fenocircmeno estaacute na relaccedilatildeo da educaccedilatildeo com as transformaccedilotildees

poliacuteticas e econocircmicas que tecircm levado a ampliaccedilatildeo do princiacutepio do mercado em detrimento do

Estado e da comunidade A questatildeo de fundo na opiniatildeo do autor sobre a mercantilizaccedilatildeo da

115

Educaccedilatildeo Superior estaacute relacionada a concepccedilotildees poliacuteticas e ideoloacutegicas acerca das funccedilotildees do

Estado e do mercado que redirecionam seu papel e funccedilatildeo na sociedade

A fim de ilustrar esse processo Sguissardi (2008) recorre ao comparativo entre o nuacutemero

de instituiccedilotildees puacuteblicas e privadas e mais especificamente na diferenciaccedilatildeo existente entre estas

uacuteltimas IES privadas sem fins lucrativos e IES particulares ou privadasmercantis Em 1999 das

1097 IES 175 eram puacuteblicas 345 privadas e 48 particulares Em 2006 as puacuteblicas caiacuteram

para 11 e as privadas para 19 enquanto as IES particulares passaram a representar 70 do

sistema Nesta mesma direccedilatildeo seguem as matriacuteculas na Educaccedilatildeo Superior no periacuteodo de 1999 a

2006 observa-se diminuiccedilatildeo nas instituiccedilotildees puacuteblicas e privadas e crescimento nas particulares De

acordo com Bertolin (2007)

de maneira geral os argumentos e as justificativas para a mercantilizaccedilatildeo da educaccedilatildeo

superior estatildeo relacionados com os pressupostos liberais de que a competiccedilatildeo gerada pelo

mercado levaria a uma maior produtividade e eficiecircncia dos sistemas com consequente

melhoria na qualidade e equidade no provimento dos lsquoserviccedilosrsquo educacionais pelas

instituiccedilotildees (p 77)

Outro dado que compotildee o processo de mercadorizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior eacute a presenccedila

de grandes fundos de investimento no ldquomercado educacionalrdquo brasileiro um fenocircmeno que era

proacuteprio do mercado financeiro industrial e econocircmico agora tambeacutem estaacute presente na educaccedilatildeo

(Sguissardi 2008) O quadro que se configura mediante esta presenccedila eacute o de grandes grupos

muitos internacionais comprando e incorporando instituiccedilotildees menores e endividadas procedendo agrave

sua reestruturaccedilatildeo e revertendo a situaccedilatildeo de forma que a ldquoempresardquo volte a dar resultado isto eacute

lucro A esse respeito Trindade (2003) diz que ldquoinvestir em Educaccedilatildeo Superior tornou-se um dos

negoacutecios mais rentaacuteveis e por isso o Brasil tornou-se o grande campeatildeo da privatizaccedilatildeo da

Educaccedilatildeo Superiorrdquo (p 168)

Os usuaacuterios de serviccedilos puacuteblicos passaram a ser vistos como clientes e a Educaccedilatildeo

Superior natildeo eacute mais considerada um direito social ela se tornou um negoacutecio lucrativo Em relaccedilatildeo

a esta compreensatildeo Chauiacute (2003) resgata que foi por ocasiatildeo da reforma do Estado que a

educaccedilatildeo assim como a sauacutede e a cultura foram considerados um setor de serviccedilos natildeo exclusivos

do Estado Essa modificaccedilatildeo significou que a educaccedilatildeo deixou de ser concebida como um direito e

passou a ser considerada um serviccedilo que pode ser privado ou privatizado e de instituiccedilatildeo social

passou a organizaccedilatildeo social prestadora de serviccedilos

Para a autora a diferenccedila de uma organizaccedilatildeo para uma instituiccedilatildeo estaacute em que a primeira

define-se por uma praacutetica social que se baseia na instrumentalidade isto eacute a organizaccedilatildeo adota

meios particulares que lhe permitem obter o objetivo tambeacutem particular que a define Ademais

sendo uma administraccedilatildeo a organizaccedilatildeo eacute regida pelas ideias de gestatildeo planejamento previsatildeo de

controle e ecircxito Enquanto a organizaccedilatildeo tem a si mesma como referecircncia em um processo de

116

competiccedilatildeo com outras organizaccedilotildees que estabeleceram os mesmos objetivos a instituiccedilatildeo tem a

sociedade como referecircncia normativa e valorativa (Chauiacute 2003)

Conforme indica a autora tendo passado entatildeo de instituiccedilatildeo social agrave organizaccedilatildeo as IES

tecircm agora natildeo alunos mas clientes que fazem uso de um serviccedilo regulado pelo mercado Eacute a

mercadorizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo que segundo Barata-Moura (2003) tem como pressupostos a

equiparaccedilatildeo da educaccedilatildeo a uma coisa que se compra e se vende a conversatildeo da educaccedilatildeo num bem

transacionaacutevel ou num bem negociaacutevel de interesse privado ignorando o valor da educaccedilatildeo como

bem puacuteblico e a ausecircncia de entendimento de que se pode produzir alguns bens culturais

comercializaacuteveis sem que isso implique que a cultura soacute seja produzida a partir dos ditames do

mercado

Tem-se assim uma profunda transformaccedilatildeo no que concerne agrave identidade da educaccedilatildeo de

forma geral e da Educaccedilatildeo Superior Esta uacuteltima pressionada pelas novas concepccedilotildees e funccedilotildees

que lhe satildeo atribuiacutedas de instituiccedilatildeo social estaacute se transformando em ldquouma organizaccedilatildeo social

neoprofissional heterocircnoma operacional e empresarialcompetitivardquo (Sguissardi 2004 p 648)

Segundo o autor neoprofissional pelo fato das IES estarem focadas no ensino e na qualificaccedilatildeo

teacutecnica e profissional Heterocircnoma em menccedilatildeo agrave mudanccedila de um modelo centrado na autonomia

para a heteronomia isto eacute um modelo no qual setores externos agrave Educaccedilatildeo Superior tecircm mais

poder na definiccedilatildeo de sua missatildeo e objetivos do que ela mesma Competitiva porque submetida agrave

loacutegica do mercado no que se refere agraves prioridades funccedilotildees organizaccedilatildeo e atividades as IES se

veem impelidas a inovar em produtos e processos enfatizar as necessidades do mercado nos

curriacuteculos melhor preparar os alunos para o mundo do trabalho tornando-se competitiva

(Sguissardi 2006)

Conforme jaacute ressaltaram Dias Sobrinho e Brito (2008) a caracteriacutestica mais evidente da

Educaccedilatildeo Superior brasileira eacute a ldquoexpansatildeo livre e de qualidade duvidosa do setor privado com

espiacuterito de lucro Como consequecircncia do crescimento do setor privado se pode observar a

intensificaccedilatildeo da funccedilatildeo econocircmica e utilitarista da educaccedilatildeo superior com vaacuterias manifestaccedilotildees

de loacutegica mercantilrdquo (p 488)

Diante desse quadro em que a Educaccedilatildeo Superior passa a ser vista como uma fonte de lucro

e objeto de desejo do mercado instalam-se questionamentos acerca de sua funccedilatildeo e papel social

pois ora tem sido caracterizada ldquopor uma instituiccedilatildeo que produz conhecimentos e forma cidadatildeos

para as praacuteticas da vida social e econocircmica ora como aparato institucionalizado para beneficiar e

favorecer interesses mercadoloacutegicos e privatistasrdquo (Marinho-Arauacutejo 2009a p 160) De um lado

tem-se uma posiccedilatildeo que resgata sua funccedilatildeo formativa e emancipatoacuteria conforme lhe foi

historicamente atribuiacuteda de outro constata-se seu atual estado de mercadoria Estas duas

concepccedilotildees ainda que natildeo absolutamente estanques compotildeem o atual dilema da Educaccedilatildeo

Superior trata-se de um bem puacuteblico ou de um bem privado (Dias Sobrinho 2004a 2005 2008a

Goergen 2008 Severino 2000 2002 Sguissardi 2005 2008)

117

Por mais que exista um hibridismo acerca destes posicionamentos Dias Sobrinho (2004a)

identifica dois blocos nos quais se organizam as concepccedilotildees e funccedilotildees da Educaccedilatildeo Superior Em

um ldquohaacute sensiacuteveis predominacircncias de ideacuteias e praacuteticas que priorizam a funccedilatildeo eacutetico-poliacutetica que

consiste na democratizaccedilatildeo e no aprofundamento dos valores puacuteblicosrdquo (p 710) enquanto no outro

bloco predomina ldquoa funccedilatildeo teacutecnico-burocraacutetica-economicista que prioriza as bases do mercado a

gestatildeo eficaz o progresso das empresas e o sucesso individualrdquo (p 710) No primeiro bloco

situam-se aqueles que defendem os valores histoacutericos da Educaccedilatildeo Superior compreendendo-a

como instituiccedilatildeo produtora de conhecimento desvinculado de interesses secundaacuterios e

compromissada com a formaccedilatildeo de sujeitos cientes de seu papel ativo na transformaccedilatildeo da

sociedade em que vivem Diferentemente no segundo bloco estatildeo os adeptos da loacutegica do

mercado que entendem a Educaccedilatildeo Superior como instrumento voltado agrave satisfaccedilatildeo dos interesses

econocircmicos

A economia como um sistema de atividades humanas relacionadas agrave produccedilatildeo

distribuiccedilatildeo troca e consumo de bens e serviccedilos eacute uma dimensatildeo imprescindiacutevel da vida humana e

natildeo deve ser abolida contudo no que tange agrave sua relaccedilatildeo com a educaccedilatildeo ela natildeo pode ser

assumida como eixo orientador das praacuteticas educativas pois que assim a vida em sociedade seria

conduzida por valores e interesse individuais competitivos e utilitaristas

Diferentemente desta posiccedilatildeo fortemente atrelada agrave economia os adeptos do primeiro

bloco natildeo se referendam em uma sociedade cujo valor central eacute o mercantilismo pelo contraacuterio se

baseiam em uma sociedade pautada pela igualdade de direitos pela justiccedila social pelo respeito e

pela liberdade e que tem na educaccedilatildeo um importante aliado na construccedilatildeo dessa sociedade Com

base nesses distintos posicionamentos assume-se aqui a educaccedilatildeo como processo de construccedilatildeo e

de desenvolvimento da autonomia pessoal e social da consciecircncia poliacutetica social e ambiental da

criacutetica da reflexatildeo e do questionamento acerca das situaccedilotildees que permeiam a vida em sociedade

enfim educaccedilatildeo como formaccedilatildeo de cidadatildeos

No que diz respeito agrave Educaccedilatildeo Superior especificamente concorda-se com Dias Sobrinho

(2008a) para quem a finalidade central desse niacutevel educativo eacute a formaccedilatildeo para a vida em

sociedade ainda que natildeo de forma exclusiva e com as limitaccedilotildees que lhe satildeo conhecidas Para o

autor ldquocabe agrave Educaccedilatildeo Superior afirmar consolidar ou mesmo construir a cidadania Essa

formaccedilatildeo de cidadatildeos e consolidaccedilatildeo da cidadania eacute ao mesmo tempo construccedilatildeo da sociedade

democraacuteticardquo (p 195)

Considerando entatildeo as noccedilotildees de Educaccedilatildeo e de Educaccedilatildeo Superior assumidas neste

trabalho entende-se que satildeo indiscutivelmente um bem puacuteblico natildeo comercializaacutevel Nessa

direccedilatildeo compete agrave Educaccedilatildeo Superior promover o fortalecimento da autonomia e da emancipaccedilatildeo

a partir do exerciacutecio criacutetico e poliacutetico da participaccedilatildeo na vida em sociedade formar sujeitos

atuantes no processo coletivo de construccedilatildeo contiacutenua da sociedade contribuir para o

desenvolvimento de pessoas conscientes da possibilidade de transformaccedilatildeo da realidade investir na

118

promoccedilatildeo da solidariedade liberdade justiccedila respeito e igualdade de direitos e de condiccedilotildees

enquanto valores norteadores da vida coletiva

Por essa ampla concepccedilatildeo evidencia-se que a ideia de que cabe agrave Educaccedilatildeo Superior

formar e preparar os profissionais para o mercado de trabalho corresponde apenas a uma parcela

de sua funccedilatildeo ainda que essa formaccedilatildeo seja um rico instrumento ao alcance dos objetivos que

cabem agrave Educaccedilatildeo Superior A qualidade teacutecnica se entendida como funccedilatildeo principal da Educaccedilatildeo

Superior confere-lhe um papel instrumental que por mais importante e necessaacuterio que seja pouco

contribui para a transformaccedilatildeo da realidade social que hoje se caracteriza por seus paradoxos

incoerecircncias dilemas e conflitos

Na direccedilatildeo dessa compreensatildeo a colocaccedilatildeo e os questionamentos de Goergen (2005)

ilustram o quanto o papel da Educaccedilatildeo Superior extrapola a formaccedilatildeo profissional

claro que a formaccedilatildeo profissional eacute tarefa inarredaacutevel da universidade seja porque a

sociedade necessita de profissionais qualificados seja porque as pessoas precisam ganhar a

vida na sociedade em que vivem Acontece que este pragmatismo em particular no caso da

universidade puacuteblica natildeo eacute mais argumento suficiente para formar profissionais de

qualquer natureza sem questionar o papel que estes profissionais iratildeo desempenhar na

sociedade (p 13)

E no sentido de questionar o profissional que se deseja formar o autor problematiza

seratildeo profissionais interessados exclusivamente em vantagens pessoais ou teratildeo eles algum

tipo de sensibilidade responsabilidade e compromisso com ideais mais amplos como

justiccedila e bem-estar sociais Seraacute suficiente qualificar pessoas para um sistema

poliacuteticoeconocircmico estruturalmente injusto e excludente ou seraacute preciso despertar neles uma

visatildeo criacutetica que possa aleacutem de bons profissionais tornaacute-los agentes de transformaccedilatildeo (p

13)

No fundo e ateacute com alguma dose de utopia o que cabe agrave Educaccedilatildeo Superior eacute a produccedilatildeo e

a praacutetica dos direitos de cada um elementos constitutivos e balizadores da vida em sociedade com

vistas agrave consolidaccedilatildeo da democracia Nas palavras de Trindade (2003) ldquoa educaccedilatildeo como direito e

como bem puacuteblico sintetiza os fundamentos de uma poliacutetica educacional que eacute base de um projeto

de naccedilatildeo soberana numa sociedade democraacutetica solidaacuteria e justardquo (p 173) A LDB (Brasil 1996)

lei maior no acircmbito da educaccedilatildeo brasileira estabelece que a educaccedilatildeo ldquotem por finalidade o pleno

desenvolvimento do educando seu preparo para o exerciacutecio da cidadania e sua qualificaccedilatildeo para o

trabalhordquo (p 1) prevendo portanto que agrave educaccedilatildeo cabe simultaneamente a formaccedilatildeo do cidadatildeo

e sua preparaccedilatildeo para o trabalho

Diante de possiacuteveis criacuteticas que possam emergir em virtude desse posicionamento no

sentido de dizer que eacute utoacutepico e idealista pensar a Educaccedilatildeo Superior como soluccedilatildeo para os

problemas do mundo haacute que se esclarecer que natildeo eacute esse o entendimento orientador do

posicionamento aqui assumido Eacute evidente que as IES natildeo hatildeo de transformar o mundo mas

119

podem sim contribuir para o processo de transformaccedilatildeo desde que tenham lucidez do seu papel

nesta complexa trama

Tem-se claro que ldquoos problemas da pobreza do desemprego da ignoracircncia da alienaccedilatildeo

dependem de soluccedilotildees a niacutevel econocircmico poliacutetico e administrativo que natildeo poderiam ser adiadas

sob o pretexto de que com a educaccedilatildeo eles se resolveriam naturalmenterdquo (Schwartzman conforme

citado em Pereira 2009a p 47) Todavia como instituiccedilotildees produtoras e disseminadoras de

conhecimento e enquanto agentes de formaccedilatildeo de profissionais e de cidadatildeos as IES tecircm a

possibilidade de criar junto aos seus atores espaccedilos de reflexatildeo acerca do mundo e das ideias

relaccedilotildees valores e princiacutepios que o organizam Esta reflexatildeo base do processo de conscientizaccedilatildeo

humana possibilita ao sujeito tomar decisotildees e orientar suas accedilotildees agrave luz do cenaacuterio por ele

criticamente analisado

Nesta perspectiva as Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior estatildeo ldquoencarregadas de gerar e

difundir os conhecimentos e formar profissionais-cidadatildeos capazes de liderar nos campos de sua

atuaccedilatildeo o processo de transformaccedilatildeo socialrdquo (Goergen 2008 p 811) Esse eacute o sentido de vincular

a formaccedilatildeo de profissionais agrave Educaccedilatildeo Superior isto eacute natildeo se trata de capacitar mais e mais

recursos humanos para compor acriticamente a engrenagem socioeconocircmica que estaacute dada mas

formar profissionais suficientemente competentes que ao participarem dessa engrenagem possam

questionaacute-la e se assim acharem apropriado tentar transformaacute-la

Sendo assim quanto ao envolvimento da Educaccedilatildeo Superior com a formaccedilatildeo de

profissionais para o mercado de trabalho acredita-se que ela natildeo pode nem deve declinar dessa

funccedilatildeo pois a qualificaccedilatildeo profissional eacute um importante aspecto da cidadania e eacute um elemento

imprescindiacutevel do desenvolvimento da vida social Entretanto a formaccedilatildeo natildeo deve se limitar agrave

mera capacitaccedilatildeo teacutecnica e adesatildeo acriacutetica agraves exigecircncias do mercado e da economia (Dias

Sobrinho 2004a 2008a Goergen 2008 Severino 2000 Trindade 2003) A educaccedilatildeo em niacutevel

superior deve focar-se na ldquoformaccedilatildeo de profissionais competentes do ponto de vista teacutecnico e

operacional poreacutem com profundo sentido eacutetico autonomia moral e consciecircncia de que o

conhecimento e a teacutecnica satildeo bens puacuteblicosrdquo (Dias Sobrinho 2008a p 16) e natildeo devem ser

assumidos apenas como instrumentos de sucesso individual

Agrave medida que a economia estaacute cada vez mais subordinada ao conhecimento depende ldquomais

dos graduados do ensino superior que constituem uma lsquomassa de trabalho pensantersquordquo (UNESCO

1999 p 53) e espera profissionais potencialmente criativos inventivos e inovadores e natildeo

somente que reproduzam o que foi aprendido Assim entendido o duplo sentido da Educaccedilatildeo

Superior o desafio que lhe impotildee eacute o de equilibrar as duas dimensotildees da formaccedilatildeo a competecircncia

teacutecnica e a consciecircncia eacutetica

Tendo como pano de fundo as questotildees levantadas sobre legitimidade da Educaccedilatildeo

Superior produccedilatildeo do conhecimento e articulaccedilatildeo com o mercado Magalhatildees (2004) postula que a

Educaccedilatildeo Superior natildeo deve ser vista como veiacuteculo para reproduccedilatildeo das elites do conhecimento ou

120

para a produccedilatildeo de quadros profissionais para o mercado de trabalho Ela eacute e deve ser entendida

como um meio de desenvolvimento da reflexatildeo Nesta direccedilatildeo o autor diz que ldquoo ensino superior

natildeo eacute redutiacutevel a uma questatildeo de consumo individual eventualmente destituiacutedo de elementos

criacuteticos e reflexivos mas antes que deve ser entendido como uma instituiccedilatildeo social com o papel

crucial de apoiar a acccedilatildeo reflexiva e como uma importante reserva de pensamento criacutetico reflexivo

e mesmo alternativordquo (p 352)

Na tentativa se superar a crise e reconstruir sua identidade as IES devem reagir

reflexivamente de modo que o confronto com as transformaccedilotildees e demandas se decirc de forma mais

consistente e luacutecida Construir e instalar uma praacutetica reflexiva nas IES em relaccedilatildeo agrave sua missatildeo sua

responsabilidade e envolvimento com a sociedade seus desafios contradiccedilotildees e dilemas seus

objetivos e metas constitui entatildeo um imperativo pois do contraacuterio a Educaccedilatildeo Superior estaraacute

ameaccedilada de perder sua hegemonia e acima de tudo seu lugar de agente de formaccedilatildeo e de

transformaccedilatildeo social Nesta direccedilatildeo Goergen (2005) reforccedila que entre todas as contradiccedilotildees nas

quais a Educaccedilatildeo Superior estaacute envolvida ela deve no miacutenimo conseguir estimular nos seus

professores pesquisadores e estudantes uma postura de reflexividade criacutetica acerca da realidade

social e da realidade interna da instituiccedilatildeo

Eacute necessaacuterio analisar e ponderar em uma espeacutecie de vigilacircncia contiacutenua a relaccedilatildeo entre as

transformaccedilotildees sociais econocircmicas e poliacuteticas e os discursos pressotildees e dilemas com que a

Educaccedilatildeo Superior se confronta Concorda-se com Magalhatildees (2004) quando diz que o significado

da estrateacutegia reflexiva proposta eacute se perguntar continuamente E a Educaccedilatildeo Superior Pois assim

as decisotildees seratildeo tomadas garantindo a identidade das instituiccedilotildees que a compotildeem e das atividades

que nelas se desenvolvem

Breve histoacuterico e cenaacuterio recente da Educaccedilatildeo Superior em Portugal

Portugal eacute a naccedilatildeo mais ocidental do continente europeu com cerca de 10 milhotildees de

habitantes distribuiacutedos por volta de 92 mil kmsup2 Eacute um paiacutes desenvolvido entretanto tem sido

classificado como um paiacutes europeu semi-perifeacuterico por ter o menor produto interno bruto per

capita Segundo a Eurostat organizaccedilatildeo da Uniatildeo Europeacuteia responsaacutevel pelas informaccedilotildees

estatiacutesticas a niacutevel europeu que permitam comparaccedilotildees entre paiacuteses e regiotildees o PIB per capita de

Portugal era em 2009 de 15800 euros enquanto a meacutedia dos paiacuteses da Uniatildeo Europeia era de

23600 euros (Eurostat 2011) A esse respeito Sousa Santos (2002) esclarece que

Portugal eacute uma sociedade de desenvolvimento intermeacutedio Algumas caracteriacutesticas sociais

(taxa de crescimento populacional leis e instituiccedilotildees algumas praacuteticas de consumo etc)

aproximam-na das sociedades mais desenvolvidas enquanto outras (infra-estrutura

colectivas poliacuteticas culturais tipo de desenvolvimento industrial etc) a aproximam das

sociedades menos desenvolvidas (p 53)

121

No que tange agrave educaccedilatildeo ela estaacute garantida a todos os cidadatildeos por meio da Constituiccedilatildeo

da Repuacuteblica Portuguesa (Portugal 1976) e reiterada pela Lei de Bases do Sistema Educativo

(Portugal 1986) Esta estabelece que a educaccedilatildeo escolar compreende os ensinos baacutesico secundaacuterio

e superior O ensino baacutesico eacute universal obrigatoacuterio e gratuito e tem a duraccedilatildeo de nove anos O

ensino secundaacuterio tem a duraccedilatildeo de trecircs anos e eacute acessiacutevel a quem completou com aproveitamento

o ensino baacutesico Ao ensino superior por sua vez tecircm acesso os indiviacuteduos habilitados com o curso

do ensino secundaacuterio ou equivalente e que faccedilam prova de capacidade ou seja que sejam

aprovados em exame especiacutefico de ingresso para a educaccedilatildeo em niacutevel superior

Atualmente o Ensino Superior portuguecircs se organiza em um sistema binaacuterio ensino

universitaacuterio direcionado para a oferta de formaccedilotildees cientiacuteficas e o ensino politeacutecnico voltado

para formaccedilotildees teacutecnicas orientadas profissionalmente (Portugal 2007) As instituiccedilotildees

universitaacuterias estatildeo voltadas para a criaccedilatildeo transmissatildeo e difusatildeo da cultura do conhecimento da

ciecircncia e tecnologia atraveacutes do ensino e da pesquisa Os institutos politeacutecnicos por outro lado

estatildeo orientados para a produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo da cultura e do saber de natureza profissional

Ambas as instituiccedilotildees conferem os graus de licenciado e de mestre mas o grau de doutor soacute eacute

conferido pelas universidades A Figura 7 ilustra como estaacute organizado o Sistema Educativo

portuguecircs

122

Figura 7 Organizaccedilatildeo do Sistema Educativo de Portugal

Especificamente em relaccedilatildeo agrave Educaccedilatildeo Superior as primeiras universidades do paiacutes datam

do niacutecio do seacuteculo XIII sendo a Universidade de Coimbra a primeira IES a se constituir em

Portugal e que inclusive funciona ateacute os dias de hoje Desde entatildeo a evoluccedilatildeo do Sistema de

Educaccedilatildeo Superior vem acompanhando as transformaccedilotildees econocircmicas e sociais Se em vaacuterias

eacutepocas o Ensino Superior portuguecircs assumiu posiccedilatildeo de vanguarda houve outras marcadas pela

crise e por consideraacuteveis transformaccedilotildees (Tavares 2008)

Segundo a autora nas eacutepocas em que Portugal se apresentava entre os paiacuteses mais

desenvolvidos particularmente nos seacuteculos XIV e XV a educaccedilatildeo e a pesquisa no paiacutes eram

consideradas bastante avanccediladas para a eacutepoca No entanto nos periacuteodos de crise econocircmica a

Educaccedilatildeo acabou por ser afetada pela diminuiccedilatildeo do investimento sendo deixada em segundo

plano

123

Foi com a implantaccedilatildeo da Repuacuteblica em 1910 que se notou uma preocupaccedilatildeo com a

Educaccedilatildeo Superior particularmente com sua democratizaccedilatildeo e a modernizaccedilatildeo da Universidade

Os regimes poliacuteticos que se seguiram tambeacutem acarretaram mudanccedilas no acircmbito do Ensino

contudo nem sempre com objetivos comuns O Estado Novo por exemplo natildeo assumiu o

compromisso da expansatildeo do acesso agraves Universidades restringindo-o a uma pequena elite nas

matildeos da qual estaria o poder poliacutetico e econocircmico (Tavares 2008) De forma geral a educaccedilatildeo

sofreu um forte desinvestimento que era significativamente inferior quando comparado aos demais

paiacuteses europeus Mas natildeo eacute soacute em termos do investimento financeiro que Portugal se distancia

desfavoravelmente da meacutedia europeia o nuacutemero de estudantes na Educaccedilatildeo Superior tambeacutem eacute

relativamente baixo

A Revoluccedilatildeo de 25 de Abril de 1974 conhecida por Revoluccedilatildeo dos Cravos foi um

acontecimento histoacuterico que pocircs fim agrave longa ditadura europeia e levou a vaacuterias mudanccedilas

estruturais na Histoacuteria de Portugal Contemporacircnea instalando um regime democraacutetico Em relaccedilatildeo

agrave Educaccedilatildeo Superior a revoluccedilatildeo de caraacuteter socialista estava mais preocupada com a alfabetizaccedilatildeo

dos operaacuterios do que com a evoluccedilatildeo da Universidade Neste periacuteodo o crescimento do acesso agrave

Educaccedilatildeo Superior foi lento e em virtude do nuacutemero de candidatos ser superior ao nuacutemero de

vagas disponiacutevel a pressatildeo sobre o Ensino Superior Puacuteblico foi bastante significativa Essa pressatildeo

foi reduzida com o aumento das instituiccedilotildees de Ensino Superior particulares ou cooperativas

Assim enquanto em 1973 existiam apenas quatro universidades puacuteblicas em Portugal em 1980

haviam no sistema puacuteblico nove Universidades quatro Institutos Superiores e a Universidade

Aberta o que representa uma evoluccedilatildeo ainda que discreta

Atualmente o Ensino Superior portuguecircs pode ser classificado em puacuteblico em particular e

cooperativo e em concordataacuterio (Portugal 2007) Dentro do Ensino Superior puacuteblico estatildeo as

universidades os institutos politeacutecnicos e as academias escolas e institutos militarespoliciais

como a Escola Naval a Academia Militar a Academia da Forccedila Aeacuterea e a Escola do Serviccedilo de

Sauacutede Militar

O Ensino Superior particular e cooperativo engloba universidades e institutos politeacutecnicos

particulares e cooperativos Por fim o Ensino Superior concordataacuterio corresponde agrave Universidade

Catoacutelica Portuguesa que eacute uma instituiccedilatildeo puacuteblica natildeo estatal reconhecida pelo Estado Portuguecircs

atraveacutes de decreto-lei Segundo o Ministeacuterio da Ciecircncia Tecnologia e Educaccedilatildeo Superior (MCTES

2010) Portugal tem 152 Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior organizadas conforme ilustra a Tabela

6

124

Tabela 6

Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior de Portugal

Tipo de ensino Nordm IES

Ensino Superior Puacuteblico Universitaacuterio 15

Politeacutecnico 19

Militar e policial 6

Ensino Superior Particular e

Cooperativo

Universitaacuterio 48

Politeacutecnico 63

Ensino Superior

Concordataacuterio

Universidade Catoacutelica

Portuguesa

1

Os instituos politeacutecnicos voltados agrave preparaccedilatildeo profissional prevalecem entre as IES

correspondendo a 54 delas E assim como no Brasil no cenaacuterio portuguecircs as instituiccedilotildees privadas

satildeo maioria correspondem a 73 do Sistema de Educaccedilatildeo Superior do paiacutes e estatildeo mais

distribuiacutedas pelo paiacutes A tiacutetulo de ilustraccedilatildeo da organizaccedilatildeo regional das IES as Figuras 8 e 9

mostram a distribuiccedilatildeo das universidades em Portugal

Figura 8 Distribuiccedilatildeo das universidades puacuteblicas em Portugal Nota Retirado do MCTES (2010)

125

Enquanto a Figura 8 ilustra a distribuiccedilatildeo das universidades puacuteblicas a Figura 9 focaliza as

de natureza privada que trecircs vez em maior nuacutemero se distribuem mais pelo territoacuterio portuguecircs

Figura 9 Distribuiccedilatildeo das universidades privadas em Portugal Nota Retirado do MCTES (2010)

Conforme evidenciam estas figuras enquanto as universidades puacuteblicas estatildeo concentradas

nas regiotildees urbanadas de Lisboa e do Porto as universidades privadas estatildeo mais distribuiacutedas

regionalmente inclusive em vaacuterios distritos do interior

Em relaccedilatildeo ao nuacutemero de novas vagas oferecidas nas IES de Portugal ele era de 71592

nos anos de 19951996 tendo crescido para 91901 em 20092010 (GPEARI 2009 2010b) A

distribuiccedilatildeo destas vagas entre as instituiccedilatildeo puacuteblicas e privadas eacute apresentada na Figura 10 que

mostra que as instituiccedilotildees universitaacuterias satildeo as que mais recebem novos estudantes

126

0

10000

20000

30000

EnsinoPuacuteblico

EnsinoPrivado

Universitaacuterio

Politeacutecnico

Figura 10 Distribuiccedilatildeo de vagas na Educaccedilatildeo Superior de Portugal

Estas vagas oportunizaram a matriacutecula de 81368 novos alunos o que representa um

aumento de 22 em relaccedilatildeo ao ano letivo de 19951996 (GPEARI 2010b) Entretanto a despeito

do crescimento quantitativo a democratizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior natildeo pode se restringir agrave

ampliaccedilatildeo do nuacutemero de alunos ingressantes sendo necessaacuterio considerar as questotildees relativas ao

abandono e insucesso acadecircmico O iacutendice de sucesso escolar calculado pelo survival rate da

OCDE mesmo apresentando iacutendices mais positivos aponta que um pouco mais de 30 dos

estudantes de Portugal natildeo concluiacuteram seu curso (GPEARI 2008) Estes dados apenas ilustrativos

evidenciam que ao se abordar a questatildeo da democratizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior no atual contexto

social econocircmico e poliacutetico importa necessariamente levar em conta as oportunidades de acesso

bem como as estrateacutegias de apoio agrave permanecircncia dos estudantes e agrave conclusatildeo dos seus cursos

Quanto ao nuacutemero total de alunos matriculados na Educaccedilatildeo Superior incluindo os novos

estudantes e aqueles jaacute em curso registrou-se 383627 alunos inscritos no ano letivo de 20092010

dos quais 77 estatildeo matriculados em instituiccedilotildees de ensino superior puacuteblico Em relaccedilatildeo aos

concluintes ou aos alunos diplomados em 20082009 formaram-se 76567 alunos dos quais 75

vinculados a instituiccedilotildees de ensino superior puacuteblicas (GPEARI 2010b)

No que diz respeito aos docentes dos 35380 professores no ano de 2008 70 (24728)

atuava em instituiccedilotildees puacuteblicas e destes 41 (14466) estavam vinculados a instituiccedilotildees

universitaacuterias (GPEARI 2010a)

Outro indicador que compotildee o cenaacuterio recente da Educaccedilatildeo Superior em Portugal diz

respeito agrave diversificaccedilatildeo do perfil social das pessoas que ingressam nesse niacutevel educativo Nas

uacuteltimas deacutecadas uma tendecircncia identificada eacute a forte preponderacircncia das mulheres que satildeo maioria

no conjunto de alunos matriculados na Educaccedilatildeo Superior satildeo elas tambeacutem que mais concluem

seus cursos superiores (Martins Mauritti amp Costa 2005)

127

Aleacutem disso 15 dos estudantes teve formaccedilatildeo profissional ou exerceu alguma atividade

laboral antes de entrar para a Educaccedilatildeo Superior sendo que quanto maior a idade maior a

probabilidade relativa dos estudantes declararem ter experiecircncia profissional anterior (Martins

Mauritti amp Costa 2005) Diferentemente de deacutecadas atraacutes eacute cada vez mais comum que os

estudantes em niacutevel superior conciliem atividades acadecircmicas e profissionais

Em relaccedilatildeo agrave origem social e econocircmica dos estudantes ainda eacute significativo o fato de que

os alunos com situaccedilatildeo mais favoraacutevel prevalecem ldquo58 dos estudantes do ensino superior satildeo

provenientes das categorias sociais melhor equipadas de recursos econoacutemicos culturais e sociais ndash

os empresaacuterios dirigentes e profissionais liberais e os profissionais teacutecnicos e de enquadramentordquo

(Martins Mauritti amp Costa 2005 p 35)

Tambeacutem compotildeem o cenaacuterio recente da Educaccedilatildeo Superior portuguesas as mudanccedilas

associadas ao Processo de Bolonha que trouxeram reformulaccedilotildees em termos da organizaccedilatildeo dos

cursos dos objetivos e das metodologias de ensino e de avaliaccedilatildeo Uma importante modificaccedilatildeo na

organizaccedilatildeo dos cursos superiores eacute a alteraccedilatildeo de um ensino essencialmente baseado na

transmissatildeo de conhecimentos por um ensino baseado na construccedilatildeo e desenvolvimento de

competecircncias Valorizando e incentivando essa mudanccedila ao caracterizar um novo perfil de egresso

para a Educaccedilatildeo Superior o Processo de Bolonha o faz com base em competecircncias a desenvolver e

natildeo somente em conhecimentos a adquirir Em decorrecircncia destas e outras inovaccedilotildees em Portugal

assim como em outros paiacuteses europeus o desenvolvimento de competecircncias pelos proacuteprios alunos

tem se tornado uma questatildeo central levando a novas exigecircncias quanto agrave organizaccedilatildeo do trabalho

pedagoacutegico e do sistema curricular (Tavares 2008 Portugal 2004)

De forma geral Portugal tem um Sistema de Educaccedilatildeo Superior complexo e que tem

vivenciado modificaccedilotildees importantes a partir da instalaccedilatildeo do Processo de Bolonha que exigiu

nova formataccedilatildeo curricular e pedagoacutegica dos cursos mudanccedilas no financiamento para alunos

criaccedilatildeo de agecircncia de avaliaccedilatildeo e acreditaccedilatildeo entre outros aspectos Assim como o Brasil apesar

de sua expansatildeo nas uacuteltimas deacutecadas natildeo se pode afirmar que haja uma democratizaccedilatildeo do acesso

a este niacutevel educativo em Portugal o que justifica e impulsiona esforccedilos governamentais e

institucionais de ampliaccedilatildeo das oportunidades e da qualidade da formaccedilatildeo oferecida

128

CAPIacuteTULO III

DEFINICcedilAtildeO DO PROBLEMA DE PESQUISA

Este capiacutetulo traz razotildees que motivaram o desenvolvimento dessa pesquisa e

problematizaccedilotildees acerca da atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo Superior as quais

orientaram a elaboraccedilatildeo dos objetivos deste trabalho

PROBLEMATIZACcedilOtildeES

A motivaccedilatildeo para desenvolver esse estudo decorre principalmente do reconhecimento de

que novos campos de atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar estatildeo emergindo em virtude de demandas

contemporacircneas que tecircm como foco a melhoria da qualidade dos serviccedilos oferecidos por

instituiccedilotildees revestidas de funccedilotildees educativas A inserccedilatildeo da aacuterea em contextos ainda pouco

explorados imprime aos seus pesquisadores e profissionais o desafio de produzir conhecimentos e

construir accedilotildees que contribuam com a promoccedilatildeo do processo educativo

Entre os contextos menos tradicionais de inserccedilatildeo da Psicologia Escolar a Educaccedilatildeo

Superior adquire interesse especial neste estudo dado ser um dos niacuteveis de educaccedilatildeo e portanto

responsaacutevel pela formaccedilatildeo de pessoas pelo desenvolvimento de sujeitos conscientes de suas

potencialida des e das competecircncias que lhes permitiratildeo agir em prol da transformaccedilatildeo da

realidade social A consecuccedilatildeo dos objetivos formativos que competem agrave Educaccedilatildeo Superior estaacute

vinculada agrave clareza que seus profissionais tecircm acerca do papel da educaccedilatildeo em niacutevel superior e de

suas funccedilotildees e responsabilidades no cumprimento deste papel Entende-se portanto que investigar

e refletir acerca das contribuiccedilotildees da Psicologia Escolar agrave Educaccedilatildeo Superior eacute uma maneira de

construir indicadores de atuaccedilatildeo profissional que auxiliem na formaccedilatildeo inicial e continuada dos

psicoacutelogos escolares que atuam neste contexto bem como orientar a formaccedilatildeo daqueles que

pretendem nele atuar

Diante do intuito de explorar e evidenciar possiacuteveis intervenccedilotildees da Psicologia Escolar na

Educaccedilatildeo Superior alguns questionamentos acerca de como estaacute constituiacutedo este cenaacuterio foram

surgindo Tais questotildees estatildeo orientadas pela necessidade de conhecer como os psicoacutelogos

escolares que trabalham em Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior vecircm desenvolvendo suas atividades

quais as principais demandas que lhe satildeo apresentadas quais os recursos que percebem como

necessaacuterios na realizaccedilatildeo de suas atribuiccedilotildees entre outras questotildees Apresentam-se a seguir

algumas problematizaccedilotildees que foram suscitadas nas reflexotildees acerca da relaccedilatildeo entre a Psicologia

Escolar e Educaccedilatildeo Superior

129

1 Qual o panorama da Psicologia Escolar nas Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior Haacute

psicoacutelogos escolares em seu quadro de funcionaacuterios

2 Como eacute o trabalho desenvolvido por estes profissionais O que fazem e pensam em

relaccedilatildeo agrave sua atuaccedilatildeo neste niacutevel educativo

3 Quais satildeo as principais demandas e expectativas direcionadas ao psicoacutelogo escolar na

Educaccedilatildeo Superior E quais dificuldades vivenciam

4 Qual o perfil desejado de psicoacutelogo escolar para atuar na Educaccedilatildeo Superior Quais

competecircncias satildeo consideras importantes para a atuaccedilatildeo deste profissional na

Educaccedilatildeo Superior

5 Qual a contribuiccedilatildeo da Psicologia Escolar para a melhoria da qualidade da Educaccedilatildeo

Superior no Brasil

A partir da convicccedilatildeo de que a inserccedilatildeo em um novo contexto de atuaccedilatildeo exige a

investigaccedilatildeo e construccedilatildeo de indicadores que a norteiem as questotildees problematizadoras orientaram

a definiccedilatildeo dos objetivos da pesquisa conforme apresentados a seguir

OBJETIVOS

Objetivo Geral

Investigar a atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar em Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior

Objetivos Especiacuteficos

Compor um panorama dos Serviccedilos de Psicologia de Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior

do Brasil em especial do Distrito Federal e de Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior de

Portugal

Mapear e analisar a atuaccedilatildeo de psicoacutelogos escolares em Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo

Superior do Distrito Federal e de Portugal

Investigar experiecircncias diferenciadas de atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo

Superior

Acompanhar a atuaccedilatildeo de um psicoacutelogo escolar em uma Instituiccedilatildeo de Educaccedilatildeo

Superior do Distrito Federal

Elaborar proposta de criaccedilatildeo e estruturaccedilatildeo para os Serviccedilos de Psicologia na

Educaccedilatildeo Superior

130

CAPIacuteTULO IV

OPCcedilOtildeES EPISTEMOLOacuteGICAS E METODOLOacuteGICAS

Este capiacutetulo estaacute dedicado agrave explicitaccedilatildeo das concepccedilotildees que sustentam as escolhas

teoacuterico-metodoloacutegicas deste estudo Nessa direccedilatildeo a primeira parte traz os fundamentos da

perspectiva histoacuterico-cultural assumida como alicerce epistemoloacutegico da pesquisa aleacutem da

epistemologia qualitativa que sob as bases da primeira orientam as escolhas metodoloacutegicas Na

segunda parte do capiacutetulo estatildeo contemplados os procedimentos metodoloacutegicos que possibilitaratildeo

a realizaccedilatildeo da pesquisa Nesta ocasiatildeo apresenta-se o desenho metodoloacutegico construiacutedo para

subsidiar a investigaccedilatildeo das questotildees centrais que perpassam este trabalho e os procedimentos de

anaacutelise das informaccedilotildees

A PESQUISA CIENTIacuteFICA EM PSICOLOGIA NA PERSPECTIVA HISTOacuteRICO-

CULTURAL REFLEXOtildeES EPISTEMOLOacuteGICAS

A discussatildeo acerca dos pressupostos epistemoloacutegicos que sustentam uma pesquisa

configura-se como um momento indispensaacutevel agrave construccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico uma vez

que sob a escolha de um meacutetodo estaacute subjacente uma concepccedilatildeo de homem de mundo e de ciecircncia

(Aguiar 2007 Gonccedilalves 2007 Madureira amp Branco 2001 Tittoni amp Jacques 1998) O

instrumental que se elege para investigar a realidade eacute indissociaacutevel de uma abordagem

epistemoloacutegica de maneira que as reflexotildees acerca da articulaccedilatildeo teoria e meacutetodo precedem a

definiccedilatildeo dos instrumentos e a operacionalizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo

A presente pesquisa se desenvolve com base em uma abordagem qualitativa que se ancora

nos pressupostos epistemoloacutegicos da perspectiva histoacuterico-cultural (Vygotsky 19842003

19872008 19961999)2 No iniacutecio do seacuteculo XX Vygotsky (1999) com base no materialismo

histoacuterico dialeacutetico apontou que a crise vivenciada pela Psicologia estava relacionada agrave

compreensatildeo que se tinha dos processos psicoloacutegicos e dos meacutetodos que eram eleitos para

investigar tais processos

O foco de Vygotsky (1999 2003) sobre os processos psicoloacutegicos estava atrelado agrave sua

defesa de que estes satildeo de natureza qualitativamente distinta dos processos elementares proacuteprios

dos animais o que consequentemente leva agrave necessidade de utilizar meacutetodos diferentes dos que

satildeo usados para investigar o comportamento animal Segundo o autor a especificidade da condiccedilatildeo

humana estaacute no desenvolvimento das funccedilotildees psicoloacutegicas superiores que se referem a mecanismos

intencionais a processos voluntaacuterios e a accedilotildees controladas de forma consciente pelo proacuteprio

2 Pelo fato das obras de Lev S Vygotsky (1896-1934) serem consideradas claacutessicas na Psicologia indica-se nas citaccedilotildees ao autor a data original da primeira publicaccedilatildeo brasileira seguida da versatildeo consultada neste trabalho Com o objetivo de tornar a leitura do texto mais fluida estas indicaccedilotildees satildeo feitas apenas na primeira apariccedilatildeo no texto nas demais cita-se somente a versatildeo consultada

131

sujeito Diferentemente dos processos elementares inatos e determinados pela maturaccedilatildeo

bioloacutegica as funccedilotildees superiores tecircm origem nas relaccedilotildees entre as pessoas com o contexto cultural e

social no qual estatildeo inseridos

Ao assumir que o homem difere qualitativamente dos animais Vygotsky (1999 2003)

indica que o fator criacutetico para esta distinccedilatildeo satildeo as dimensotildees historicamente criadas e

culturalmente elaboradas pela humanidade as quais estatildeo totalmente ausentes na organizaccedilatildeo

social dos animais Nessa direccedilatildeo Vygotsky (2003) estabelece que

o comportamento humano difere qualitativamente do comportamento animal na mesma

extensatildeo em que diferem a adaptabilidade e desenvolvimento dos animais O

desenvolvimento psicoloacutegico dos homens eacute parte do desenvolvimento histoacuterico geral de

nossa espeacutecie e assim deve ser entendido A aceitaccedilatildeo dessa proposiccedilatildeo significa termos de

encontrar uma nova metodologia para a experimentaccedilatildeo psicoloacutegica (p 80)

Com o apoio da abordagem dialeacutetica Vygotsky (1999 2003) anunciava que era

inconcebiacutevel propor a investigaccedilatildeo de fenocircmenos psicoloacutegicos especificamente humanos com

base em metodologias naturaliacutesticas que focam na relaccedilatildeo unidirecional e reativa entre o

comportamento e a natureza Diferentemente o estudo do homem pressupotildee contemplar estrateacutegias

metodoloacutegicas capazes de acessar a sua subjetividade a qual vai se constituindo e se transformando

ao longo do tempo

Em complementaccedilatildeo agrave sua defesa de que cabe agrave Psicologia estudar as funccedilotildees psicoloacutegicas

superiores Vygotsky (1999) estabeleceu trecircs princiacutepios agrave anaacutelise que se ancora na abordagem

histoacuterico-cultural O primeiro refere-se agrave necessidade de analisar processos e natildeo objetos como

partes isoladas do todo Com base nesse princiacutepio a ecircnfase dos estudos em Psicologia deve recair

sobre o desenvolvimento de um processo que ldquorequer uma exposiccedilatildeo dinacircmica dos principais

pontos constituintes da histoacuterica dos processosrdquo (p 81) e natildeo em objetos que se manteacutem estaacuteveis e

fixos ao longo do tempo O segundo princiacutepio diz respeito agrave necessidade de privilegiar a explicaccedilatildeo

em vez da pura descriccedilatildeo isto eacute investigar a gecircnese e as bases dinacircmico-causais subjacentes ao

fenocircmeno em vez de apenas descrevecirc-lo do ponto de vista de sua aparecircncia externa Por fim o

terceiro princiacutepio estreitamente vinculado ao primeiro trata da importacircncia de concentrar a anaacutelise

no processo e natildeo no produto ou em comportamentos que jaacute estatildeo cristalizados ou seja deve-se

estudar os fenocircmenos em seu processo de mudanccedila em vez dos comportamentos que estatildeo sendo

repetidos de forma automatizada e mecacircnica Pela explicitaccedilatildeo destes trecircs princiacutepios Vygotsky

(1999 2003) chama atenccedilatildeo para a base processual dos fenocircmenos psicoloacutegicos os quais se

desenvolvem e se alteram no decorrer do tempo e sobre a influecircncia das relaccedilotildees sociais

O homem eacute um sujeito que age sobre os objetos e cuja accedilatildeo transforma o objeto e ao

proacuteprio homem tambeacutem Em razatildeo do reconhecimento de que sujeito e realidade se constituem

mutuamente e de que o homem estaacute constantemente se apropriando de aspectos da realidade e

produzindo objetivaccedilotildees que a modificam a finalidade da anaacutelise eacute conhecer o movimento dos

132

sujeitos nas relaccedilotildees que estabelecem e que levam agrave emergecircncia de novas possibilidades aos

sujeitos em relaccedilatildeo (Zanella Reis Titon Urnau amp Dassoler 2007) Estudar os fenocircmenos

historicamente construiacutedos e dialeticamente em movimento significa olhar para as contradiccedilotildees

simetrias oposiccedilotildees coerecircncias e tensotildees que perpassam esses fenocircmenos e que satildeo apropriados de

forma uacutenica e particular pelas pessoas ao longo de sua vida

Os estudos qualitativos que tecircm por base a perspectiva histoacuterico-cultural natildeo estatildeo voltados

para os resultados finais de um processo para o produto acabado mas sim para o

desenvolvimento do proacuteprio processo e dos diferentes fatores que o influenciaram Assim as

questotildees formuladas para a pesquisa baseada nessa perspectiva estatildeo orientadas para a

compreensatildeo dos fenocircmenos na sua complexidade e em seu acontecer histoacuterico (Freitas 2002)

Nessa mesma direccedilatildeo Zanella e cols (2007) concluem que a mudanccedila

epistemoloacutegicametodoloacutegica proposta por Vygotsky para a Psicologia alicerccedilava-se em uma

compreensatildeo de homem essencialmente histoacuterica e cultural e assim vai ldquona contramatildeo de

perspectivas que isolam o sujeito de seu contexto pois o proacuteprio psiquismo eacute construiacutedo

historicamente na complexa e indissociaacutevel relaccedilatildeo sujeito e sociedaderdquo (p 28) E dada a

complexidade e dinamicidade inerentes aos processos psicoloacutegicos um grande desafio se instala

quando se tem como meta estudaacute-los cientificamente

A possibilidade da psicologia como ciecircncia eacute antes de mais nada um problema

metodoloacutegico Em nenhuma ciecircncia existem tantas dificuldades controveacutersias insoluacuteveis

uniotildees de questotildees diversas como em psicologia O objeto da psicologia eacute o mais difiacutecil

que existe no mundo o que menos se deixa estudar sua maneira de conhecer teraacute de estar

cheia de subterfuacutegios e precauccedilotildees especiais para proporcionar o que dela se espera

(Vygotsky 1999 pp 389-390)

Partindo da fundamentaccedilatildeo de que as funccedilotildees psicoloacutegicas superiores satildeo socialmente

constituiacutedas em um processo interativo sua investigaccedilatildeo cientiacutefica tambeacutem deve prezar pela

relaccedilatildeo entre os sujeitos Na medida que todo conhecimento eacute construiacutedo na inter-relaccedilatildeo das

pessoas produzir conhecimento a partir de uma pesquisa eacute assumi-la como um processo social

compartilhado coconstruiacutedo pelos sujeitos envolvidos e tambeacutem promotor de desenvolvimento

Resulta desse entendimento que pesquisadores e sujeitos satildeo parte da situaccedilatildeo de pesquisa e

indiscutivelmente partes despidas da pretensa neutralidade

Nessa perspectiva o pesquisador tem um papel ativo em relaccedilatildeo aos rumos do processo de

pesquisa pois esta estaacute sob influecircncia das suas escolhas teoacutericas e filosoacuteficas das posiccedilotildees poliacuteticas

e ideoloacutegicas que assume de suas relaccedilotildees e experiecircncias tanto pessoais quanto no papel de

pesquisador Compreende-se enfim que o processo de pesquisa e de construccedilatildeo de conhecimento

natildeo eacute alheio aos fatores soacutecio-culturais que permeiam o contexto Nessa mesma direccedilatildeo Freitas

(2002) complementa dizendo que o pesquisador

133

natildeo eacute um ser humano geneacuterico mas um ser social faz parte da investigaccedilatildeo e leva para ela

tudo aquilo que o constitui como um ser concreto em diaacutelogo com o mundo em que vive

Suas anaacutelises interpretativas satildeo feitas a partir do lugar soacutecio-histoacuterico no qual se situa e

dependem das relaccedilotildees intersubjetivas que estabelece com os seus sujeitos (p 29)

Este trabalho configura-se portanto como uma pesquisa qualitativa que se ampara na

compreensatildeo da realidade como um fenocircmeno complexo dinacircmico sistecircmico e multideterminado

Na abordagem qualitativa conforme apresentada por Vygotsky (1999 2003) valoriza-se a

natureza interativa da pesquisa a qual se desenvolve na relaccedilatildeo do pesquisador com os

participantes e com a realidade investigada As informaccedilotildees satildeo construiacutedas nos processos

relacionais de forma histoacuterica e social sendo que as interaccedilotildees entre o pesquisador e a realidade

estudada podem ocasionar mudanccedilas que se refletem no objeto de pesquisa investigado nas

informaccedilotildees construiacutedas nas relaccedilotildees e na proacutepria realidade

Os fundamentos vygotskynianos da perspectiva histoacuterico-cultural em Psicologia satildeo

portanto a base orientadora desta pesquisa desde o seu planejamento ateacute sua operacionalizaccedilatildeo e

anaacutelise

A Epistemologia Qualitativa e suas Contribuiccedilotildees Metodoloacutegicas

Partindo das contribuiccedilotildees epistemoloacutegicas vygotskynianas Gonzaacutelez Rey (1997 2005a

2005b) apresenta a Epistemologia Qualitativa como uma proposta metodoloacutegica para a produccedilatildeo

do conhecimento com base na perspectiva histoacuterico-cultural Segundo o autor a produccedilatildeo de

conhecimento eacute essencialmente um processo construtivo-interpretativo dentro do qual os

indicadores advindos do contexto de pesquisa vatildeo tomando sentido no curso de um processo

essencialmente qualitativo O conhecimento eacute resultado de um processo de construccedilatildeo e natildeo a

simples apropriaccedilatildeo de uma realidade acabada externa e indiferente agrave accedilatildeo transformadora do

homem

Os princiacutepios baacutesicos sobre os quais se apoia a epistemologia qualitativa satildeo (a) o

conhecimento eacute uma produccedilatildeo de natureza construtiva e interpretativa e representa um processo

vivo sendo que o processo de construccedilatildeo do conhecimento eacute aberto estaacute em permanente

desenvolvimento e eacute suscetiacutevel a formas mais complexas de compreensatildeo do fenocircmeno estudado

(b) a produccedilatildeo do conhecimento tem um caraacuteter interativo e natildeo eacute resultado de um ato instrumental

do pesquisador sobre o objeto estudado (c) a singularidade eacute um niacutevel legiacutetimo da produccedilatildeo do

conhecimento pois cada caso guarda particularidades construiacutedas na histoacuteria subjetiva do sujeito

(Gonzaacutelez Rey 2005a 2005b) Com base nesses princiacutepios a investigaccedilatildeo eacute vista como um

processo contiacutenuo de interaccedilatildeo e de construccedilatildeo

O conhecimento na perspectiva da epistemologia qualitativa natildeo eacute o resultado direto das

teacutecnicas e instrumentos de investigaccedilatildeo nem estaacute organizado em torno dos dados Estes na

verdade satildeo indicadores que iratildeo adquirir sentido dentro da construccedilatildeo teoacuterica realizada pelo

134

pesquisador O eixo central do processo de construccedilatildeo de conhecimento natildeo estaacute na produccedilatildeo

empiacuterica mas sim no movimento dialeacutetico entre a produccedilatildeo teoacuterica e a empiacuterica as quais estatildeo

indissociavelmente interligadas Os dados satildeo indicadores que se integram ao processo construtivo

e interpretativo conduzido pelo pesquisador Acredita-se assim como propotildee Gonzaacutelez Rey (1997

2005a 2005b) que o processo de construccedilatildeo cientiacutefica natildeo se alimenta apenas de informaccedilotildees

procedentes de um momento metodoloacutegico mas acima de tudo pela criatividade e competecircncia do

pesquisador em articular coerentemente as ideias teoacutericas com os indicadores produzidos no curso

do processo

Reafirmando a importacircncia da relaccedilatildeo e interdependecircncia entre a teoria e os indicadores

empiacutericos Madureira e Branco (2001) apontam que os instrumentos metodoloacutegicos deixam de ser

centrais na realizaccedilatildeo dos estudos cientiacuteficos pois que o sentido e o valor tradicionalmente

atribuiacutedos aos dados como expressatildeo fiel da realidade se diluem Os dados isolados das reflexotildees

teoacutericas pouco explicam a respeito do fenocircmeno investigado para que adquiram sentido precisam

ser submetidos agrave anaacutelise e interpretaccedilatildeo do pesquisador empreendida agrave luz da base teoacuterica Como

resume Gonzaacutelez Rey (2000)

a construccedilatildeo teoacuterica eacute vista como um processo ativo do investigador sobre uma realidade

que se faz inteligiacutevel em termos da teoria utilizada mas que natildeo se subordina a ela e

expressa seu potencial contraditoacuterio no curso da construccedilatildeo teoacuterica Os indicadores vatildeo se

integrando entre si atraveacutes da interpretaccedilatildeo do investigador que vai produzindo

interpretaccedilotildees teoacutericas que sem estar neles expliacutecitas os incorporam como momento

constitutivo da proacutepria construccedilatildeo (p 65)

Em virtude dessa interdependecircncia entre a teoria e os indicadores o plano metodoloacutegico

em uma pesquisa baseada na perspectiva histoacuterico-cultural e na epistemologia qualitativa eacute

conduzido por uma metodologia configuracional que se constitui pela integraccedilatildeo de instrumentos

variados que buscam oportunizar sob diferentes maneiras o processo de comunicaccedilatildeo entre o

pesquisador e os sujeitos participantes Os instrumentos nessa perspectiva tornam-se uma

ferramenta interativa entre o pesquisador e sujeito investigado (Madureira amp Branco 2001)

Um desafio que surge dessa compreensatildeo eacute o de criar e articular diferentes instrumentos

metodoloacutegicos de forma que prezem pela coerecircncia teoacuterica e epistemoloacutegica Apesar de o meacutetodo

deixar de ser o eixo central do processo de investigaccedilatildeo a escolha dos instrumentos que seratildeo

utilizados para possibilitar a construccedilatildeo de indicadores empiacutericos natildeo pode ser relegada sob pena

de se adotar ferramentas que natildeo compartilham da mesma base epistemoloacutegica orientadora da

pesquisa Esta eacute inclusive a questatildeo fundamental da discussatildeo acerca da abordagem qualitativa e

quantitativa A distinccedilatildeo entre estas duas abordagens natildeo se daacute no instrumental por elas adotado

mas sobretudo nas concepccedilotildees e na base epistemoloacutegica que sustentam cada uma (Gonzaacutelez Rey

1997)

135

A partir das consideraccedilotildees empreendidas pela epistemologia qualitativa e em consonacircncia

com os fundamentos da perspectiva histoacuterico-cultural entende-se que a configuraccedilatildeo metodoloacutegica

que iraacute conduzir a pesquisa deve privilegiar espaccedilos de diaacutelogo entre o pesquisador e os sujeitos

participantes bem como destes entre si As expressotildees de cada sujeito representam uma trajetoacuteria

particular e estatildeo implicadas em diferentes sistemas de sentidos compreendecirc-los requer entrar

gradualmente no espaccedilo de expressatildeo do sujeito e transitar em sua experiecircncia por meio dos

espaccedilos conversacionais (Gonzaacutelez Rey 1997) Disto decorre a necessidade de adotar instrumentos

que coloquem o sujeito em posiccedilatildeo ativa e oportunizem sua expressatildeo jaacute que ldquoo sujeito estudado

deve ser um sujeito de resposta como expressamos antes precisamente porque natildeo eacute em nossas

perguntas onde depositamos a esperanccedila de obter o que nos interessa mas em sua construccedilatildeo

permanente e progressivardquo (Gonzaacutelez Rey 2000 p 67) sobre os aspectos mais relevantes de sua

experiecircncia social

Com base no reconhecimento da complexidade do homem objeto de estudo da Psicologia

como um sujeito ativo intencional motivado e envolvido em uma rede de relaccedilotildees o

desenvolvimento de alternativas metodoloacutegicas que sustentem essa forma de ver o homem eacute

imprescindiacutevel A partir das reflexotildees epistemoloacutegicas teoacutericas e metodoloacutegicas apresentadas neste

capiacutetulo o presente estudo elege como instrumentos e procedimentos centrais ferramentas de

natureza interativa que colocam os sujeitos e o pesquisador em posiccedilatildeo participativa frente agrave

construccedilatildeo do conhecimento

A seccedilatildeo seguinte discorre sobre os procedimentos que compotildeem este trabalho tendo como

ponto de partida o desenho metodoloacutegico proposto para a investigaccedilatildeo da atuaccedilatildeo da Psicologia

Escolar nas Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior

PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS

Cenaacuterio Definiccedilatildeo do Campo de Investigaccedilatildeo

O cenaacuterio eleito para o desenvolvimento desta pesquisa eacute o da Educaccedilatildeo Superior

Conforme abordado no primeiro capiacutetulo a atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar tem se dado

preponderantemente na Educaccedilatildeo Baacutesica tendo sido este o niacutevel educativo que mais contribuiu

para o desenvolvimento da aacuterea e para sua consolidaccedilatildeo enquanto campo de formaccedilatildeo de pesquisa

e de produccedilatildeo de conhecimento Nas uacuteltimas deacutecadas a inserccedilatildeo da Psicologia Escolar vem se

estendendo para a Educaccedilatildeo Superior de forma a configurar um novo campo de investigaccedilatildeo e de

atuaccedilatildeo Dessa maneira o Sistema de Educaccedilatildeo Superior em sua amplitude ndash poliacuteticas

normatizaccedilotildees funccedilotildees instituiccedilotildees sujeitos etc ndash constitui o cenaacuterio sobre o qual recaem os

interesses centrais desse estudo

136

Desenho Metodoloacutegico Caminhos para a Construccedilatildeo das Informaccedilotildees

O processo de investigaccedilatildeo desse estudo foi direcionado para a compreensatildeo do trabalho

que eacute desenvolvido por psicoacutelogos escolares em instituiccedilotildees de niacutevel superior e parte do

pressuposto de que os meios para se alcanccedilar essa compreensatildeo natildeo devem se basear apenas no

relato percepccedilatildeo e histoacuteria dos proacuteprios psicoacutelogos escolares Por essa razatildeo o campo de

investigaccedilatildeo estende-se para outros elementos ndash atores institucionais documentos e situaccedilotildees ndash que

tambeacutem datildeo forma ao trabalho dos profissionais da Psicologia Escolar Consoante a este

entendimento este estudo tem uma configuraccedilatildeo multimetodoloacutegica baseada na combinaccedilatildeo de

diferentes procedimentos e instrumentos coerentes teoacuterica e epistemologicamente que se integram

em torno da perspectiva de ampliar as fontes de informaccedilatildeo que tecircm influecircncia sobre o objeto de

pesquisa

O processo de construccedilatildeo das informaccedilotildees dessa pesquisa foi organizado da seguinte

forma (a) Estudo 1 (b) Estudo 2 e (c) Proposta para a criaccedilatildeo e estruturaccedilatildeo de Serviccedilos de

Psicologia na Educaccedilatildeo Superior brasileira Os dois estudos realizados foram estruturados em duas

etapas semelhantes Mapeamento dos Serviccedilos de Psicologia e Mapeamento da atuaccedilatildeo em

Psicologia Escolar a construccedilatildeo da proposta eacute resultado das investigaccedilotildees empreendidas nos dois

estudos realizados A Figura 11 corresponde agrave representaccedilatildeo graacutefica do desenho metodoloacutegico

desta pesquisa

13

7

Figura 11 D

esen

ho m

etod

oloacuteg

ico relativ

o agrave inve

stigaccedilatildeo

da atua

ccedilatildeo da

Psico

logia Escolar na Edu

caccedilatildeo Su

perior

ESTUDO 1

BRASIL

ETAPA 1

Mapeamento

dos Serviccedilos

de Psicologia

ETAPA 2

Mapeamento

da atuaccedilatildeo

em PE

Panoram

a

nacional dos

Serviccedilos

Identificaccedilatildeo e

Caracterizaccedilatildeo

dos Serviccedilos

do DF

Consulta por

questionaacuterio

eletrocircnico

Consulta ao site

e Contato telefocircnico

Anaacutelise

documental

Estudo e anaacutelise

da atuaccedilatildeo

no DF

Entrevistas

com PEs

Acompanham

ento

a um

PE

Mem

orial

Encontros de

discussatildeo e

reflexatildeo

ELABORACcedilAtildeO DE

PROPOSTA PARA

OS SERVICcedilOS DE

PSICOLOGIA

Fundam

entos

teoacutericos e

conceituais

Objetivos

Puacuteblico alvo

Recursos humanos

Funcionam

ento

Atividades

dimensotildees e eixos

de intervenccedilatildeo

ESTUDO 2

PORTUGAL

ETAPA 1

Mapeamento

dos Serviccedilos

de Psicologia

ETAPA 2

Mapeamento

da atuaccedilatildeo

em PE

Panoram

a

nacional dos

Serviccedilos

Caracterizaccedilatildeo

dos Serviccedilos

de Portugal

Anaacutelise dossiecirc

da RESAPES

Anaacutelise

documental

Estudo e anaacutelise

da atuaccedilatildeo

em Portugal

Entrevistas

com PEs

Entrevistas com

Coordenadores

dos Serviccedilos

138

O procedimento inicial desta pesquisa constou da submissatildeo do projeto ao Comitecirc de Eacutetica em

Pesquisa apoacutes o mesmo ter sido apresentado e discutido na 3ordf Jornada de Pesquisa do Programa de

Poacutes-Graduaccedilatildeo em Processos de Desenvolvimento Humano e Sauacutede (PGPDS) em setembro de

2008 A jornada se caracteriza como um evento acadecircmico de caraacuteter obrigatoacuterio aos alunos do

PGPDS e tem por objetivo proporcionar aos alunos e professores a oportunidade de se

constituiacuterem como uma comunidade de construccedilatildeo de conhecimento especificamente no que se

refere a aspectos do planejamento e desenvolvimento de pesquisas O parecer favoraacutevel do Comitecirc

de Eacutetica foi emitido em julho de 2009 (anexo I) dando condiccedilotildees para o desenvolvimento da

pesquisa Seguindo os requisitos para o doutorado acadecircmico a qualificaccedilatildeo do projeto de tese foi

realizada em dezembro de 2010

Tendo em vista a proposta de operacionalizaccedilatildeo desta pesquisa em dois estudos com

procedimentos instrumentos e participantes diferentes opta-se por apresentaacute-los separadamente

Assim a descriccedilatildeo da construccedilatildeo das informaccedilotildees contemplaraacute a explicitaccedilatildeo dos participantes dos

instrumentos e dos procedimentos pertinentes a cada um dos estudos e por fim dos procedimentos

para construccedilatildeo da proposta de criaccedilatildeo e estruturaccedilatildeo dos Serviccedilos de Psicologia

ESTUDO 1 - BRASIL

1ordf Etapa ndash Mapeamento dos Serviccedilos de Psicologia A primeira etapa da pesquisa diz

respeito ao mapeamento dos Serviccedilos de Psicologia existentes em Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo

Superior e estaacute subdividida em dois momentos (a) Panorama nacional dos Serviccedilos de Psicologia

de IES e (b) Identificaccedilatildeo e Caracterizaccedilatildeo dos Serviccedilos de Psicologia do Distrito Federal

Em virtude da inexistecircncia de dados relativos ao cenaacuterio nacional no que tange agrave presenccedila e

atuaccedilatildeo de psicoacutelogo escolares nas Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior brasileiras considerou-se

importante investigar junto agraves IES quais delas tecircm um Serviccedilo de Psicologia quantos psicoacutelogos

escolares atuam nestes serviccedilos e quais as principais atividades desenvolvidas A intenccedilatildeo dessa

investigaccedilatildeo eacute construir um breve panorama de como estaacute configurada a atuaccedilatildeo da Psicologia

Escolar na Educaccedilatildeo Superior brasileira o qual aleacutem de ilustrar a atual realidade do cenaacuterio

nacional tambeacutem serviraacute como base de comparaccedilatildeo com a realidade do Distrito Federal foco

maior deste estudo O mapeamento das IES brasileiras com Serviccedilos constitui-se portanto como

um estudo preliminar descritivo do ldquoestado da arterdquo no paiacutes

Para tanto propocircs-se identificar dentre as IES nacionais (universidades centros

universitaacuterios e faculdades tanto puacuteblicas quanto privadas) aquelas que oferecem Serviccedilos de

Psicologia Algumas tentativas foram desencadeadas no ano de 2009 com vistas a realizar o

mapeamento nacional antes de se chegar agrave estrateacutegia final que seraacute apresentada adiante A primeira

tentativa sem sucesso foi a consulta ao site eletrocircnico das instituiccedilotildees ocasiatildeo em que se percebeu

que tal procedimento demandaria tempo razoavelmente significativo para exploraccedilatildeo minuciosa

dos sites aleacutem de que natildeo localizar informaccedilotildees relativas aos serviccedilos natildeo poderia ser considerado

139

como inexistecircncia dos mesmos A segunda tentativa correspondeu agrave consulta ao Conselho Federal

de Psicologia (CFP) e agrave Associaccedilatildeo Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (ABRAPEE)

acerca da existecircncia de um banco de dados sobre a inserccedilatildeo dos psicoacutelogos no contexto educativo

e particularmente na Educaccedilatildeo Superior O CFP relatou natildeo ter informaccedilatildeo atualizada e

sistematicamente organizada em relaccedilatildeo ao campo de atuaccedilatildeo dos psicoacutelogos brasileiros e a

ABRAPEE natildeo respondeu agrave consulta que lhe foi feita No mesmo periacuteodo foi solicitado ao INEP

tambeacutem sem sucesso a lista das Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior do Brasil e os respectivos e-

mails os quais seriam utilizados para consultaacute-las diretamente Como alternativa foram enviados

e-mails para as 52 universidades puacuteblicas federais identificadas no site do INEP sendo que apenas

cinco responderam agrave consulta feita todas indicando natildeo ter Serviccedilo de Psicologia

Diante da dificuldade de construir o panorama da Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo Superior

brasileira em 2010 foi feita nova tentativa junto ao INEP que desta vez foi bem sucedida Obteve-

se entatildeo a lista oficial de Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior do paiacutes a qual traz dados cadastrais e

de contato das instituiccedilotildees e outros relativos agrave sua regularizaccedilatildeo no Sistema de Educaccedilatildeo Superior

Para verificar a existecircncia de Serviccedilos nas instituiccedilotildees brasileiras foi elaborado um questionaacuterio

(anexo II) enviado por correio eletrocircnico agraves IES No questionaacuterio foram exploradas questotildees

relativas ao nuacutemero de psicoacutelogos atuantes nos Serviccedilos a carga horaacuteria de trabalho destes

profissionais o puacuteblico-alvo com o qual trabalham o tipo de atividade desenvolvida se o

psicoacutelogo escolar integra uma equipe multiprofissional e em caso positivo com quais profissionais

trabalha Aleacutem destas foram incluiacutedas questotildees relacionadas agrave caracterizaccedilatildeo da IES organizaccedilatildeo

acadecircmica natureza administrativa estado e cidade em que se localiza

O questionaacuterio foi enviado por e-mail agraves 2314 instituiccedilotildees integrantes do banco de dados

do INEP o qual foi elaborado com base no Censo da Educaccedilatildeo Superior de 2009 Em alguns casos

havia um ou dois e-mails adicionais tendo sido o questionaacuterio enviado a todos os e-mails

informados Pelo questionaacuterio ter sido elaborado no Google Docs uma ferramenta disponiacutevel na

internet para elaboraccedilatildeo de documentos variados (planilhas formulaacuterios desenhos e graacuteficos) as

respostas dos participantes foram automaticamente integradas em uma planilha a qual subsidiou a

anaacutelise posterior De acordo com a configuraccedilatildeo desta ferramenta e com vistas a cumprir os

criteacuterios de eacutetica em pesquisa no que se refere agrave preservaccedilatildeo da identidade da instituiccedilatildeo natildeo eacute

possiacutevel identificar nominalmente quais instituiccedilotildees responderam ao questionaacuterio eletrocircnico

De posse do quadro representativo das IES nacionais que tecircm algum Serviccedilo de Psicologia

passou-se agrave investigaccedilatildeo detalhada das instituiccedilotildees do Distrito Federal que constituem o foco de

interesse deste estudo inicial A primeira razatildeo para eleger o DF como contexto de pesquisa deve-

se conforme apontado por Cruces (2003) agrave sua excepcionalidade em relaccedilatildeo aos outros estados do

paiacutes decorrente da contrataccedilatildeo oficial de profissionais da aacuterea pela rede puacuteblica de ensino e pelas

accedilotildees de formaccedilatildeo continuada que satildeo realizadas com os psicoacutelogos escolares (Arauacutejo 2003

Arauacutejo amp Almeida 2003 Barbosa 2008 Marinho-Arauacutejo amp Neves 2006 Neves 2001 Neves amp

140

Almeida 2003 Penna-Moreira 2007) A inserccedilatildeo da Psicologia Escolar nas escolas do DF eacute

portanto uma realidade diferente dos demais estados do paiacutes A segunda razatildeo pela

impossibilidade de explorar em profundidade no acircmbito de um Doutorado o amplo cenaacuterio da

Educaccedilatildeo Superior brasileira composto por 2314 instituiccedilotildees distribuiacutedas por todo o paiacutes

Terceiro e especialmente pelo fato da intersecccedilatildeo da Psicologia Escolar com a Educaccedilatildeo

Superior jaacute ser uma realidade em algumas instituiccedilotildees do Distrito Federal 16 das IES da regiatildeo

tinham no primeiro semestre de 2009 psicoacutelogo escolar dentre elas uma instituiccedilatildeo puacuteblica e

onze privadas (Oliveira amp Marinho-Arauacutejo no prelo) Aleacutem do mais como ilustra o exemplo da

Universidade de Brasiacutelia que tendo haacute 23 anos o Serviccedilo de Orientaccedilatildeo ao Universitaacuterio (SOU)

realizou nos anos de 2008 e 2009 dois processos seletivos para contrataccedilatildeo de novos psicoacutelogos

escolares (FUB 2008 2009) Ao longo desses anos o SOU tem desenvolvido suas atividades

exclusivamente no campus principal da universidade entretanto em razatildeo da expansatildeo dos campi

da universidade e de suas atividades para outras regiotildees administrativas do Distrito Federal a UnB

considerou importante ampliar a contrataccedilatildeo de psicoacutelogos escolares

Dessa maneira o exemplo da Universidade de Brasiacutelia ilustra a abertura da Educaccedilatildeo

Superior no Distrito Federal em relaccedilatildeo agrave Psicologia Escolar e exige da aacuterea o investimento em

estudos que favoreccedilam o mapeamento deste novo campo em termos de caracteriacutesticas demandas e

expectativas tracem diretrizes de intervenccedilatildeo baseadas na realidade do sistema de Educaccedilatildeo

Superior e na literatura contemporacircnea em Psicologia Escolar e orientem a formaccedilatildeo inicial e

continuada dos profissionais que desejam enveredar por este contexto A temaacutetica de investigaccedilatildeo

do presente estudo encontra portanto um loacutecus privilegiado e singular no Distrito Federal

Para a execuccedilatildeo do segundo momento desta etapa Identificaccedilatildeo e Caracterizaccedilatildeo dos

Serviccedilos de Psicologia de Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior no DF em acesso ao site eletrocircnico do

INEPMEC realizado no 2ordm semestre de 2009 foram identificadas todas as IES do Distrito Federal

que na eacutepoca contabilizavam em 74 (setenta e quatro) Primeiramente fez-se uma consulta aos sites

das mesmas na internet com a intenccedilatildeo de localizar informaccedilotildees detalhadas em relaccedilatildeo aos

Serviccedilos de Psicologia Para as IES em que natildeo se constatou a existecircncia do Serviccedilo ou de

psicoacutelogo escolar atraveacutes da consulta ao site foram feito contato telefocircnico para confirmar se as

instituiccedilotildees tinham ou natildeo o Serviccedilo Para registrar as informaccedilotildees advindas desse procedimento

foi criado um formulaacuterio de registro (anexo III) que contempla espaccedilo para a identificaccedilatildeo da

instituiccedilatildeo a consulta ao site da instituiccedilatildeo o contato telefocircnico quando ocorreu e a identificaccedilatildeo

do psicoacutelogo escolar Por meio dessas estrateacutegias complementares pocircde-se garantir que todas as

IES do DF foram consultadas

Identificadas as IES com Serviccedilo de Psicologia extraiu-se do site oficial na internet

material informativo sobre os mesmos A opccedilatildeo por utilizar como material de anaacutelise as

informaccedilotildees contidas no site deve-se ao fato de que ldquoa internet rede mundial de computadores

tornou-se uma indispensaacutevel fonte de pesquisa para os diversos campos do conhecimentordquo

141

(Severino 2007 p 136) em virtude do imenso acervo de dados e a facilidade de acesso As

informaccedilotildees disponiacuteveis na internet acerca dos Serviccedilos de Psicologia foram objeto da anaacutelise

documental e possibilitaram sua caracterizaccedilatildeo a qual estaacute descrita no proacuteximo capiacutetulo

2ordf Etapa ndash Mapeamento da atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar A segunda etapa deste

processo de construccedilatildeo das informaccedilotildees refere-se ao estudo e anaacutelise da atuaccedilatildeo de psicoacutelogos

escolares que trabalham na Educaccedilatildeo Superior do Distrito Federal e teve como objetivo conhecer

as principais accedilotildees por eles desenvolvidas Para executar esta etapa foram feitas (a) entrevistas

com psicoacutelogos escolares que atuam em IES do DF e (b) acompanhamento a um profissional da

aacuterea no acircmbito de uma pesquisa-intervenccedilatildeo

Para a realizaccedilatildeo das entrevistas individuais foram convidados os profissionais que

trabalhavam nas instituiccedilotildees que haviam sido identificadas por ocasiatildeo da primeira etapa da

pesquisa Diante do aceite e da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (anexo

IV) propocircs-se a realizaccedilatildeo de entrevista individual com o objetivo de conhecer em detalhes o

trabalho que desenvolvem as principais atividades dificuldades e facilidades vivenciadas

demandas e expectativas que lhes satildeo direcionadas dos recursos e competecircncias que lanccedilam matildeo

na praacutetica profissional a percepccedilatildeo de outras atividades que tambeacutem podem ser desenvolvidas pelo

psicoacutelogo escolar na Educaccedilatildeo Superior entre outras questotildees Sete profissionais participaram

deste momento da pesquisa

A opccedilatildeo pela utilizaccedilatildeo de entrevistas individuais semi-estruturadas deve-se ao fato de ser

um instrumento qualitativo de base relacional que possibilita a livre expressatildeo dos sujeitos

participantes A entrevista eacute essencialmente marcada pela dimensatildeo social pois natildeo se reduz a uma

troca de perguntas e respostas que jaacute estatildeo prontas e satildeo simplemente verbalizadas Ao contraacuterio a

entrevista eacute uma produccedilatildeo de linguagem na qual os sentidos subjetivos satildeo criados na ocasiatildeo do

diaacutelogo (Fraser amp Gondin 2004 Freitas 2002 Gonzaacutelez Rey 2005a 2005b)

O roteiro de entrevista elaborado para subsidiar a entrevista (anexo V) foi composto por

questotildees temaacuteticas que do ponto de vista teoacuterico mostram-se relevantes agrave compreensatildeo da atuaccedilatildeo

da Psicologia Escolar e do perfil profissional No curso do diaacutelogo e da interaccedilatildeo que se estabelece

entre o pesquisador e os participantes as questotildees vatildeo lhe sendo apresentadas de forma a suscitar

reflexotildees nos participantes Assim natildeo se espera que os colaboradores da pesquisa jaacute tenham

pensado sobre a questatildeo que lhes eacute apresentada mas que no transcorrer da entrevista se proponham

a tomaacute-la como ponto de reflexatildeo agrave luz das suas vivecircncias e das situaccedilotildees jaacute experienciadas As

entrevistas com os psicoacutelogos escolares foram realizadas nas IES nas quais trabalham e tiveram

duraccedilatildeo meacutedia de uma hora e cinquenta minutos Todas as entrevistas foram gravadas e transcritas

O segundo momento desta etapa refere-se ao acompanhamento sistemaacutetico de um

profissional de Psicologia Escolar que atua em uma instituiccedilatildeo do DF Compreendendo que a

intenccedilatildeo de transformaccedilatildeo do mundo natildeo eacute apenas uma expressatildeo da vontade dos sujeitos mas

142

sobretudo uma opccedilatildeo metodoloacutegica que torna possiacutevel a mudanccedila esta etapa do trabalho se

configurou como uma pesquisa-intervenccedilatildeo direcionada para os processos de subjetivaccedilatildeo como

elementos potencialmente transformadores da realidade (Passos amp Barros 2000 Rocha 2006

Rocha amp Aguiar 2003 Szymanski amp Cury 2004)

Esta modalidade de pesquisa tem como objetivo instalar um movimento de mudanccedila a

partir da accedilatildeo dos sujeitos o sentido atribuiacutedo agrave accedilatildeo eacute o mote da pesquisa-intervenccedilatildeo e nessa

perspectiva o pesquisador como um dos participantes desse contexto tambeacutem eacute responsaacutevel pelas

mudanccedilas que ali transcorrem Nessa direccedilatildeo Rocha (2006) ressalta que ela ldquotraz como proposta

criar dispositivos de anaacutelise da vida dos grupos na sua diversidade qualitativa e isto significa que

esta proposiccedilatildeo investigativa tem como alvo o movimento as rupturas que as accedilotildees individuais e

coletivas imprimem no cotidianordquo (p 171) O foco de interesse na pesquisa-intervenccedilatildeo eacute a

mudanccedila o movimento a transformaccedilatildeo natildeo estabelecidas previamente mas construiacutedas em um

processo Por meio dessa modalidade de pesquisa assume-se simultaneamente o compromisso

com o processo de intervenccedilatildeo e com a construccedilatildeo do conhecimento

Corroborando com esse entendimento Aguiar (2007) aponta que este tipo de pesquisa eacute

uma possibilidade de combinar a produccedilatildeo de conhecimento ao objetivo de prestar serviccedilo agrave

populaccedilatildeo e fortalecer o viacutenculo entre pesquisa e compromisso social Assim como a autora

entende-se que embora essa natildeo seja ldquoa uacutenica forma de fazer pesquisa comprometida socialmente

acreditamos que estamos diante de uma possibilidade privilegiada de transformarqualificar tanto

nossas praacuteticas de pesquisa quanto de intervenccedilatildeordquo (p 132)

O acompanhamento da atuaccedilatildeo de um psicoacutelogo escolar ocorreu em uma IES privada do

Distrito Federal sendo que o profissional que participou desta etapa da pesquisa eacute do gecircnero

feminino graduada em Psicologia por uma universidade do DF no ano de 2002 A pesquisa-

intervenccedilatildeo se estruturou em duas partes elaboraccedilatildeo de memorial pela psicoacuteloga escolar e

encontros de discussatildeo e reflexatildeo realizados entre ela e a pesquisadora

O memorial oportuniza o acesso agrave percepccedilatildeo qualitativa do sujeito em relaccedilatildeo agrave sua

trajetoacuteria pessoal e profissional aleacutem de possibilitar que fatos situaccedilotildees e eventos particulares

sejam relacionados ao contexto histoacuterico-cultural (Severino 2007) O objetivo eacute oportunizar que o

participante registre suas lembranccedilas duacutevidas vivecircncias desejos e anguacutestias sobre um tema

proposto A intenccedilatildeo inicial era de que fossem elaborados trecircs memoriais a serem feitos em

momentos distintos cada um orientado por um tema (a) identidade profissional (b) atuaccedilatildeo e

perfil profissional e (c) avaliaccedilatildeo do processo

Entretanto tendo Psi considerado que poderia natildeo conseguir fazecirc-los pela necessidade de

conciliar suas atividades profissionais tempo para estudo e para registro de suas accedilotildees acordou-se

que fizesse um uacutenico memorial no qual registrasse as lembranccedilas experiecircncias sentimentos e

accedilotildees mais relevantes desde o momento em que recebeu o convite para trabalhar na Faculdade

Para aleacutem de uma forma de registro o memorial pode ser um elemento complementar agraves reflexotildees

143

oportunizadas durante o acompanhamento da psicoacuteloga escolar sendo que era intenccedilatildeo nesta

pesquisa discutiacute-lo com Psi de maneira que fosse mais uma forma de mobilizar a circulaccedilatildeo de

sentidos relacionados agrave atuaccedilatildeo

Por sua vez os encontros de discussatildeo e de reflexatildeo tinham como intenccedilatildeo criar um espaccedilo

de estudo de anaacutelise e de planejamento da atuaccedilatildeo da psicoacuteloga escolar na IES de forma a

contribuir para o desenvolvimento do seu papel e atuaccedilatildeo profissional Os encontros organizaram-

se em dois momentos interdependentes estudo teoacuterico-reflexivo e assessoria agrave praacutetica No

primeiro buscava-se proporcionar agrave Psi uma apropriaccedilatildeo teoacuterica que a auxiliasse a construir sua

praacutetica profissional de maneira coerente e segura tinha como ecircnfase a sistematizaccedilatildeo teoacuterica e

conceitual sobre a relaccedilatildeo entre Psicologia e Educaccedilatildeo as discussotildees sobre a identidade do

trabalho do psicoacutelogo escolar e a atuaccedilatildeo institucional relacional que tem como foco a anaacutelise da

instituiccedilatildeo e intervenccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais O segundo a assessoria agrave praacutetica se configurou

como um acompanhamento sistemaacutetico do trabalho da psicoacuteloga escolar em termos das

dificuldades incocircmodos sugestotildees e avanccedilos de discussatildeo sobre a natureza e especificidade da

intervenccedilatildeo psicoloacutegica na Educaccedilatildeo Superior aleacutem de um espaccedilo de desenvolvimento de

competecircncias necessaacuterias agrave praacutetica profissional

Os encontros de reflexatildeo e de discussatildeo privilegiaram a ecircnfase nesta proposta de

acompanhamento e as demandas colocadas pela profissional de forma a dar continuidade agraves suas

accedilotildees cotidianas Na verdade estas accedilotildees se constituiacuteram como importantes elementos para

subsidiar a discussatildeo teoacuterica uma vez que permitia estabelecer o diaacutelogo teoacuterico-praacutetico

indispensaacutevel agrave formaccedilatildeo e ao desenvolvimento de competecircncias A Tabela 7 mostra como foi

planejado o acompanhamento da psicoacuteloga escolar

144

Tabela 7

Estruturaccedilatildeo do processo de acompanhamento da psicoacuteloga escolar em uma IES do DF

PROCEDIMENTO MEMORIAL

MOMENTOS OBJETIVOS

Registro das lembranccedilas vivecircncias afetos

accedilotildees anguacutestias duacutevidas e posturas que

permeiam as experiecircncias

a Oportunizar o registro e a reflexatildeo acerca das

memoacuterias relacionadas agrave construccedilatildeo da trajetoacuteria

como psicoacuteloga escolar

b Apreender os sentidos relacionados agrave construccedilatildeo

da identidade e da atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar

PROCEDIMENTO ENCONTROS DE REFLEXAtildeO E DISCUSSAtildeO

MOMENTOS OBJETIVOS

Estudo teoacuterico-reflexivo acerca dos

pressupostos que fundamentam a relaccedilatildeo

Psicologia e Educaccedilatildeo da perspectiva

preventiva e institucional de atuaccedilatildeo e das

possibilidades de intervenccedilatildeo na Educaccedilatildeo

Superior

a Proporcionar atualizaccedilatildeo aprofundamento e

apropriaccedilatildeo sobre a produccedilatildeo teoacuterica conceitual e

metodoloacutegica em Psicologia Escolar que auxiliasse

na construccedilatildeo da praacutetica profissional

Assessoria agrave praacutetica orientada para a

especificidade da intervenccedilatildeo na Educaccedilatildeo

Superior e para o desenvolvimento de

competecircncias

a Capacitar o profissional a trabalhar com foco na

intersubjetividade das relaccedilotildees

b Favorecer o desenvolvimento intencional de

accedilotildees preventivas e institucionais

c Mediar a reflexatildeo do psicoacutelogo escolar acerca das

competecircncias desejaacuteveis ao contexto no qual atua e

favorecer o desenvolvimento das mesmas

Os encontros iniciaram em setembro de 2010 ocorreram com regularidade semanal e

tiveram duraccedilatildeo meacutedia de duas horas e vinte minutos Previu-se inicialmente que o

acompanhamento se estendesse por pelo menos um semestre contudo em virtude da saiacuteda da

psicoacuteloga escolar no fim de novembro para assumir um trabalho em outra empresa o

acompanhamento durou por volta de dois meses tendo ocorrido sete encontros todos realizados na

instituiccedilatildeo em que ela trabalha A Tabela 8 traz a estruturaccedilatildeo dos encontros de acordo com a data

em que foram realizados duraccedilatildeo e assuntos abordados

145

Tabela 8

Encontros relativos ao acompanhamento da praacutetica realizados com a psicoacuteloga escolar

1ordm ENCONTRO - Realizado em 21092010 Duraccedilatildeo 2h36

1 Compartilhamento das expectativas e metas da pesquisadora e da psicoacuteloga escolar

2 Apresentaccedilatildeo do projeto de pesquisa e da proposta de pesquisa-intervenccedilatildeo

3 Definiccedilatildeo do funcionamento da pesquisa (nossa parceria)

a Estudo teoacuterico + Assessoria agrave praacutetica (eixos a serem estabelecidos conjuntamente)

b Planejamento dos encontros (dia local e horaacuterio)

4 Acerto das estrateacutegias de registro da pesquisa-intervenccedilatildeo (memorial e aacuteudio)

2ordm ENCONTRO - Realizado em 01102010 Duraccedilatildeo 2h48

1 Compartilhamento das leituras reflexotildees e das atividades realizadas na semana

a Discussatildeo de possiacuteveis eixos de intervenccedilatildeo professores coordenadores empregabilidade

dos alunos Mapeamento Institucional necessidades especiais

2 Reflexotildees sobre papel do psicoacutelogo escolar (suscitadas pelas demandas recebidas)

3ordm ENCONTRO - Realizado em 15102010 Duraccedilatildeo 2h19

1 Avaliaccedilatildeo das accedilotildees planejadas e implementadas

a Acompanhamento dos alunos atendimento observaccedilatildeo em sala contato com professores

participaccedilatildeo em reuniatildeo de coordenadores accedilotildees voltadas agrave empregabilidade dos

estudantes

2 Preparaccedilatildeo e planejamento de novas accedilotildees

b Papel do psicoacutelogo escolar na Avaliaccedilatildeo Institucional

c Importacircncia do Mapeamento Institucional como base para a atuaccedilatildeo

4ordm ENCONTRO - Realizado em 22102010 Duraccedilatildeo 2h33

1 Compartilhamento das atividades da semana reflexotildees e questionamentos

a Avaliaccedilatildeo das accedilotildees implementadas e das demandas recebidas necessidade de estruturar o

serviccedilo definir prioridades de intervenccedilatildeo e procedimentos

b Discussatildeo sobre a necessidade de realizar Mapeamento Institucional de forma intencional

c Reflexotildees acerca da ecircnfase e cobranccedila da instituiccedilatildeo em uma das dimensotildees de intervenccedilatildeo

do psicoacutelogo escolar (empregabilidade dos estudantes)

d Anaacutelise do histoacuterico do Serviccedilo e dos eixos atuais de intervenccedilatildeo nos quais Psi estaacute

atuando como forma de compreender a cobranccedila da direccedilatildeo

146

Tabela 8 (continuaccedilatildeo)

5ordm ENCONTRO - Realizado em 03112010 Duraccedilatildeo 2h35

1 Anaacutelise das accedilotildees implementadas e planejamento de outras accedilotildees

a Trabalho conjunto com coordenador e direccedilatildeo para encaminhar uma situaccedilatildeo anaacutelise da

especificidade da intervenccedilatildeo psicoloacutegica

b Atendimento individual a um aluno reflexotildees sobre a natureza do apoio a ser oferecido aos

estudantes clareza dos objetivos mudanccedila na forma de compreender o atendimento

c Demanda urgente da direccedilatildeo anaacutelise da evasatildeo e acompanhamento dos egressos

6ordm ENCONTRO - Realizado em 05112010 Duraccedilatildeo 2h43

1 Discussatildeo sobre estrateacutegias de ambientaccedilatildeo aos novos estudantes (tanto virtual quanto

presencial) e sobre a participaccedilatildeo do psicoacutelogo escolar no processo de seleccedilatildeo

2 Trabalho conjunto na elaboraccedilatildeo da pesquisa de perfil do estudante egresso

a Discussatildeo dos objetivos do mapeamento do perfil de egresso (solicitado pela direccedilatildeo da

IES) e da ampliaccedilatildeo aos ingressantes e concluintes

b Discussatildeo de possiacuteveis estrateacutegias de investigaccedilatildeo do perfil dos estudantes e construccedilatildeo

de um projeto focado nos diferentes momentos dos estudantes na Faculdade (ingressante

cursando concluinte e egresso)

7ordm ENCONTRO - Realizado em 11112010 Duraccedilatildeo 1h22

1 Conversa acerca do desligamento de Psi da faculdade (anguacutestias mobilizadas pelo afastamento

imediato e que natildeo lhe permite concluir as accedilotildees em andamento)

2 Avaliaccedilatildeo do processo de acompanhamento

Para cada encontro era elaborada uma pauta uma proposta de estruturaccedilatildeo do trabalho

daquele dia que previa espaccedilo para discussatildeo dos textos e da praacutetica (anexo VI) Os encontros

foram gravados e transcritos e

ESTUDO 2 - PORTUGAL

1ordf Etapa ndash Mapeamento dos Serviccedilos de Psicologia Assim como no estudo realizado no

contexto brasileiro a primeira etapa do estudo relativo aos Serviccedilos de Psicologia existentes em

Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior de Portugal estaacute subdividida em dois momentos (a) Panorama

nacional dos Serviccedilos de Psicologia e (b) Caracterizaccedilatildeo dos Serviccedilos de Psicologia

Conforme jaacute explicitado na introduccedilatildeo deste trabalho este segundo estudo foi desenvolvido

por ocasiatildeo do Doutorado Sanduiacuteche realizado pela pesquisadora em Portugal na Universidade do

MinhoBraga sob orientaccedilatildeo do Professor Doutor Leandro Almeida

Para realizar a primeira etapa deste estudo 2 o Mapeamento dos Serviccedilos de Psicologia de

Portugal fez-se anaacutelise de um dossiecirc no qual constam informaccedilotildees detalhadas sobre os serviccedilos das

147

IES do paiacutes O dossiecirc foi elaborado pela RESAPES (Rede de Serviccedilos de Apoio Psicoloacutegico no

Ensino Superior) uma rede de colaboraccedilatildeo e de apoio muacutetuo entre os Serviccedilos do paiacutes Um dos

esforccedilos empreendidos pela RESAPES desde sua criaccedilatildeo eacute a tentativa de consolidar e legitimar os

Serviccedilos de Apoio Psicoloacutegico na Educaccedilatildeo Superior ou seja lutam para que seja criado um

enquadramento institucional e legal que valide a dimensatildeo o impacto e a continuidade dos

referidos serviccedilos (RESAPES 2002a 2006)

No dossiecirc A Situaccedilatildeo dos Serviccedilos de Aconselhamento Psicoloacutegico no Ensino Superior

em Portugal (RESAPES 2002a 2002b) elaborado pela RESAPES para subsidiar o diaacutelogo com o

Ministeacuterio da Ciecircncia Tecnologia e Ensino Superior (MCTES) consta uma caracterizaccedilatildeo e

revisatildeo da evoluccedilatildeo dos serviccedilos de aconselhamento psicoloacutegico na Educaccedilatildeo Superior em

Portugal com evidecircncias da sua relevacircncia social e acadecircmica Esse documento apresenta ainda

orientaccedilotildees para o funcionamento dos serviccedilos em termos de sua organizaccedilatildeo enquadramento

institucional e gestatildeo Este dossiecirc foi portanto objeto de anaacutelise para oportunizar a elaboraccedilatildeo de

um panorama acerca dos Serviccedilos de Psicologia das IES portuguesas

Para o segundo momento desta etapa Caracterizaccedilatildeo dos Serviccedilos de Psicologia foram

planejadas visitas aos Serviccedilos de Psicologia de algumas Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior de

Portugal tanto de ensino universitaacuterio quanto politeacutecnico com o objetivo de conhecer como estatildeo

estruturados Para a definiccedilatildeo das IES que participariam do estudo foi feita inicialmente uma

escolha a partir da lista de Serviccedilos constantes do dossiecirc da RESAPES Os criteacuterios para a escolha

foram contemplar universidades e institutos politeacutecnicos de maior tradiccedilatildeo no paiacutes tanto puacuteblicos

quanto privados e as instituiccedilotildees cujos Serviccedilos satildeo referecircncia para o paiacutes Com base nestes

criteacuterios foram definidas oito instituiccedilotildees a serem convidadas a participar Obteve-se sucesso no

convite feito a quatro delas sendo que diante da indisponibilidade das demais fez-se contato com

outras IES de forma que ao final totalizaram oito instituiccedilotildees participantes

Tendo os responsaacuteveis pelos Serviccedilos de Psicologia aceitado participar e assinado o Termo

de Consentimento Livre e Esclarecido (anexo VII) lhes foi solicitado que disponibilizassem

materiais institucionais relativos ao histoacuterico estrutura e funcionamento do Serviccedilo como maneira

de subsidiar a caracterizaccedilatildeo dos mesmos por meio da anaacutelise documental

2ordf Etapa ndash Mapeamento da atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar A segunda etapa refere-se ao

estudo e anaacutelise da atuaccedilatildeo de psicoacutelogos escolares que trabalham em Serviccedilos de Psicologia em

Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior de Portugal e estaacute subdividida em dois momentos (a) entrevistas

com psicoacutelogos escolares e (b) entrevistas com os coordenadores dos Serviccedilos Para a realizaccedilatildeo

das entrevistas individuais foram convidados os profissionais que trabalhavam nos oito Serviccedilos

de Psicologia que foram identificados na primeira etapa deste segundo estudo com a intenccedilatildeo de

conhecer as principais atividades desenvolvidas

148

A entrevista semi-estruturada (anexo VIII) realizada com os psicoacutelogos escolares e a

entrevista com os coordenadores (anexo IX) foram elaboradas com base em trecircs grandes dimensotildees

de interesse ndash Perfil do Serviccedilo Atuaccedilatildeo do Psicoacutelogo e Avaliaccedilatildeo do Serviccedilo ndash cada qual

composta por um conjunto de questotildees de conteuacutedo aproximado Um objetivo particularmente

importante das entrevistas era conhecer experiecircncias profissionais inovadoras e que se

diferenciassem daquelas recorrentes no cenaacuterio brasileiro

Paraticiparam desse momento da pesquisa 11 profissionais entre psicoacutelogos escolares e

coordeandores As entrevistas foram realizadas nas IES nas quais trabalham e tiveram duraccedilatildeo

meacutedia de duas horas Todas as entrevistas foram gravadas e transcritas

Proposta para a criaccedilatildeo e estruturaccedilatildeo de Serviccedilos de Psicologia na Educaccedilatildeo Superior

brasileira A uacuteltima etapa do processo de construccedilatildeo das informaccedilotildees refere-se agrave elaboraccedilatildeo de

uma proposta relativa agrave criaccedilatildeo e funcionamento de Serviccedilos de Psicologia na Educaccedilatildeo Superior

concebida a partir dos indicadores construiacutedos ao longo dos Estudos 1 e 2 A integralizaccedilatildeo desta

etapa englobou (a) a definiccedilatildeo e defesa das bases teoacutericas conceituais e epistemoloacutegicas que satildeo

pertinentes para sustentar a atuaccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares (b) descriccedilatildeo de objetivos a orientar

os Serviccedilos (c) explicitaccedilatildeo do puacuteblico com o qual os psicoacutelogos escolares poderatildeo desenvolver

suas accedilotildees (d) caracterizaccedilatildeo do perfil do quantitativo e carga horaacuteria dos psicoacutelogos escolares (e)

sugestotildees de funcionamento do Serviccedilo e por fim (f) definiccedilatildeo das grandes dimensotildees

orientadoras da atuaccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares nas IES

Procedimentos para Anaacutelise das Informaccedilotildees

O processo de construccedilatildeo das informaccedilotildees gerou certamente uma riqueza informativa que

instalou o desafio de dar sentido ao conjunto de informaccedilotildees obtido a partir da imersatildeo no contexto

de pesquisa Tendo em vista a configuraccedilatildeo multimetodoloacutegica desta pesquisa diferentes

procedimentos de anaacutelise foram utilizados conforme descritos na sequecircncia

Um primeiro procedimento adotado refere-se agrave anaacutelise descritiva de indicadores

quantitativos relacionados agrave caracterizaccedilatildeo dos Serviccedilos de Psicologia a qual buscou descrever de

maneira sintetizada o conjunto de indicadores Este procedimento foi especialmente utilizado nas

etapas de elaboraccedilatildeo dos panoramas nacionais dos dois paiacuteses acerca dos Serviccedilos

Outro procedimento utilizado neste estudo diz respeito agrave anaacutelise documental que busca

identificar nos documentos informaccedilotildees relativas aos Serviccedilos de Psicologia das IES o a partir de

questotildees de interesse definidas pelo pesquisador (Ludke amp Andreacute 1986) Para executar este

procedimento Severino (2007) recomenda a realizaccedilatildeo de trecircs etapas de anaacutelise do material a

textual que envolve leitura completa do texto a temaacutetica etapa de compreensatildeo da mensagem e a

interpretativa na qual se faz uma leitura analiacutetica do material

149

Com base nessas orientaccedilotildees realizou-se leitura exaustiva do material para obter uma visatildeo

panoracircmica dos documentos As leituras seguintes possibilitaram a emergecircncia de grandes temas

de interesse os quais se configuraram como elementos significativos para a compreensatildeo dos

documentos Em seguida passou-se agrave identificaccedilatildeo dos trechos que correspondiam aos temas

eleitos Os conteuacutedos dos temas que carregavam semelhanccedila de significado foram integrados

chegando-se agrave etapa final de elaboraccedilatildeo das categorias de anaacutelise descritas e exploradas no

capiacutetulo seguinte

O uacuteltimo procedimento de anaacutelise adotado neste trabalho refere-se agrave construccedilatildeo de zonas

de sentido utilizado em especial para a anaacutelise das informaccedilotildees construiacutedas por meio das

entrevistas individuais e do acompanhamento do psicoacutelogo escolar

Com base nos fundamentos da perspectiva histoacuterico-cultural e especialmente nas

construccedilotildees vygotskynianas acerca da relaccedilatildeo pensamento e linguagem busca-se uma metodologia

de anaacutelise qualitativa que partindo das palavrassignos possibilite apreender a subjetividade Dessa

maneira a escolha metodoloacutegica para anaacutelise das informaccedilotildees neste trabalho decorre da reflexatildeo

sobre o caraacuteter epistemoloacutegico (e natildeo teacutecnico) da linguagem como construtora da proacutepria realidade

(Tavares 2004)

Sendo a fala a forma como o sujeito consegue expressar num dado momento suas

vivecircncias subjetivas a tarefa do pesquisador no processo de anaacutelise eacute ultrapassar a aparecircncia da

fala e ir em busca das motivaccedilotildees necessidades e interesses do sujeito construiacutedas histoacuterica e

socialmente que permitem compreender os sentidos por ele elaborados De acordo com esta

compreensatildeo o processo de anaacutelise estaacute para aleacutem da descriccedilatildeo da fala a anaacutelise se inicia com o

conteuacutedo expliacutecito das mensagens e se aprofunda em seu conteuacutedo lsquoocultorsquo ou em suas entrelinhas

Nessa direccedilatildeo Aguiar (2007) e Aguiar e Ozella (2006) apontam que para compreender a

fala de algueacutem eacute preciso compreender para aleacutem das suas palavras eacute preciso compreender o

pensamento Segundo Vygotsky (20012009) o pensamento natildeo se exprime na palavra mas se

realiza por meio dela O objetivo do processo de anaacutelise da expressatildeo dos sujeitos eacute portanto

apreender o que estaacute para aleacutem da aparecircncia Para tanto a palavra com significado eacute eleita como

unidade de anaacutelise pois que por meio dela pode-se alcanccedilar os aspectos cognitivos afetivos e

relacionais que constituem a subjetividade do sujeito (Aguiar 2007 Aguiar amp Ozella 2006)

Diante destas ponderaccedilotildees a proposta metodoloacutegica para anaacutelise das informaccedilotildees desta

pesquisa orienta-se pela perspectiva de apreender zonas de sentidos que expressem questotildees temas

e conteuacutedos que satildeo centrais para o sujeito e que se reuacutenem formando uma rede segundo a

importacircncia que o sujeito atribui a eles Nesta perspectiva elas sintetizam os indicadores extraiacutedos

da fala da palavra das interlocuccedilotildees construiacutedas entre os participantes As zonas de sentido natildeo

pretendem ser estaacuteticas e definitivas elas podem se modificar pois dependem das experiecircncias

vividas e variam de acordo com a vida particular de cada sujeito

150

A proposta de construir zonas de sentido tem como objetivo apreender os sentidos

dinacircmicos complexos e instaacuteveis que os sujeitos elaboram nas relaccedilotildees sociais atraveacutes da

articulaccedilatildeo dialeacutetica de apropriaccedilotildees passadas e da constituiccedilatildeo histoacuteria da subjetividade com a sua

experiecircncia atual (Barros Paula Pascual Colaccedilo amp Ximenes 2009 Zanella Reis Titon Urnau amp

Dassoler 2007) Nesta perspectiva entende-se que os sentidos natildeo estatildeo acabados guardados no

pensamento do sujeito e prontos a serem exteriorizados eles satildeo produzidos nas relaccedilotildees sociais

no jogo das experiecircncias posturas desejos

Os sentidos emanam da experiecircncia da pessoa de suas incursotildees pelo mundo fiacutesico e social

e pelas interlocuccedilotildees que estabelece com o outro e com ela mesma de forma que os sentidos

permitem que se leve em conta natildeo apenas a recorrecircncia e a regularidade mas tambeacutem seus

dinamismos instabilidade heterogeneidade O conceito de sentido assim compreendido favorece

que ldquose entenda a investigaccedilatildeo psicoloacutegica como negociaccedilatildeo e composiccedilatildeo de sentidos a partir de

interaccedilotildees deflagradas em seu curso nas quais natildeo soacute a pessoa do pesquisador entre em jogo como

tambeacutem suas interlocuccedilotildees com suas bases teoacutericas de referecircnciasrdquo (Barros amp cols 2009 p 181)

Segundo Vygotsky ldquoo sentido de uma palavra eacute a soma de todos os fatos psicoloacutegicos que

ela desperta em nossa consciecircncia Assim o sentido eacute sempre uma formaccedilatildeo dinacircmica fluida

complexa que tem vaacuterias zonas de estabilidade variadardquo (Vygotsky conforme citado em Barros amp

cols 2009 p 179) Os sentidos satildeo construiacutedos nas relaccedilotildees sociais e tecircm caraacuteter ativo e instaacutevel e

apreendecirc-los natildeo significa apreender ldquouma resposta uacutenica coerente absolutamente definida

completa mas expressotildees do sujeito muitas vezes contraditoacuterias parciais que nos apresentam

indicadores das formas de ser do sujeito de processos vividos por elerdquo (Aguiar amp Ozella 2006 p

228)

Aspecto de destaque no processo de construccedilatildeo e interpretaccedilatildeo das zonas de sentido eacute a

relevacircncia atribuiacuteda agraves interaccedilotildees e agraves trocas intersubjetivas como elementos que participam das

configuraccedilotildees subjetivas O conceito de sentido como recurso analiacutetico das investigaccedilotildees em

Psicologia eacute entendido como uma criaccedilatildeo e uma experiecircncia subjetiva tecida na articulaccedilatildeo

complexa e dinacircmica de elementos pessoais relacionais contextuais e ideoloacutegicos (Barros amp cols

2009)

Dessa maneira as zonas de sentido surgem dos momentos de interlocuccedilatildeo criados na

situaccedilatildeo de pesquisa os quais englobam tanto as interaccedilotildees entre os participantes quanto aquelas

que ocorrem com o pesquisador Segundo Zanella e cols (2007) o foco nas relaccedilotildees eacute muito

importante uma vez que isolar os elementos ocasiona a perda da compreensatildeo das partes que

compotildee o todo e da proacutepria totalidade Os sentidos construiacutedos pelos sujeitos satildeo

fundamentalmente expressatildeo dialeacutetica do singular e do coletivo do privado e do puacuteblico

ldquoO ponto central de nossa investigaccedilatildeo consistiraacute em estudar a passagem da influecircncia

social exterior ao indiviacuteduo agrave influecircncia social interior ao indiviacuteduo e trataremos de esclarecer os

momentos mais importantes que integram esse momento de transiccedilatildeordquo (Vygotski conforme citado

151

em Zanella amp cols 2007) Vecirc-se assim que o importante no processo de anaacutelise dos sentidos eacute

capturar o movimento de transiccedilatildeo do coletivo para o singular e deste para o coletivo momento de

extrema importacircncia jaacute que as mudanccedilas qualitativas nas accedilotildees se datildeo justamente pela realizaccedilatildeo

destes movimentos Elemento relevante neste movimento eacute a figura do pesquisador o qual pela

mediaccedilatildeo intencional e qualificada oportuniza a circulaccedilatildeo dos sentidos sua revisatildeo e

ressignificaccedilatildeo

Diante do exposto acerca da proposta metodoloacutegica de anaacutelise das informaccedilotildees fica

evidente que a complexidade dos sentidos gera para o pesquisador um grande desafio para

apreendecirc-los No entanto acredita-se que por meio de um trabalho de anaacutelise e interpretaccedilatildeo pode-

se identificar e compreender as zonas mais dinacircmicas intensas e mutaacuteveis ou seja as zonas de

sentido Esse eacute portanto o caminho proposto neste estudo o de tentar apreender o processo de

construccedilatildeo dos sentidos bem como os elementos que dele participam

O procedimento utilizado para construir as zonas de sentidos foi a da interpretaccedilatildeo das

falas ou melhor das interlocuccedilotildees mediadas as quais foram assumidas como unidades de anaacutelise

Define-se como interlocuccedilotildees mediadas as expressotildees dos sujeitos que foram construiacutedas em

espaccedilos bidirecionais de interaccedilatildeo e intersubjetividade ou seja de interlocuccedilatildeo do participante com

o pesquisador Assim as unidades de anaacutelise expressam o movimento de transiccedilatildeo do singular para

o coletivo e do coletivo para o singular no qual o sujeito estaacute implicado e satildeo importantes para

compreender por quais vias ele constroacutei alguns sentidos A construccedilatildeo de zonas de sentido como

procedimento analiacutetico parte portanto da proposta de apreensatildeo da fala (palavra com o

significado) como unidade principal de anaacutelise para a compreensatildeo dos objetivos da pesquisa

Diante do material a ser analisado seja ele um texto (como o memorial) ou uma transcriccedilatildeo

(de entrevistas e de encontros de reflexatildeo) iniciam-se leituras flutuantes que possibilitem a

familiarizaccedilatildeo e apropriaccedilatildeo do material a ser trabalhado Dessas leituras identificam-se falas

relacionadas a temas e conteuacutedos diversos em virtude da repeticcedilatildeo ou reiteraccedilatildeo na fala do

participante da carga emocional da ecircnfase e importacircncia atribuiacuteda das ambivalecircncias

contradiccedilotildees das insinuaccedilotildees elas satildeo assumidas como unidades de anaacutelise (Aguiar amp Ozella

2006) O criteacuterio fundamental para filtrar essas falas eacute sua importacircncia e pertinecircncia aos objetivos

da pesquisa

Partindo dessas falas ou das interlocuccedilotildees como unidade de anaacutelise o procedimento

analiacutetico caminha para a interpretaccedilatildeo destas unidades momento no qual o pesquisador faz a

leitura das expressotildees dos sujeitos com base na sua imersatildeo no contexto de pesquisa nos objetivos

propostos para o estudo e nos referenciais teoacutericos que adota Na medida em que eacute possiacutevel ter

diferentes olhares sobre a mesma questatildeo uma mesma interlocuccedilatildeo pode suscitar mais de uma

interpretaccedilatildeo e assim ser parte constituinte de mais de uma zona de sentido O procedimento de

construccedilatildeo de sentidos aceita assume e valoriza a diversidade de leituras a respeito de um fato o

152

que confere inclusive um caraacuteter de interdependecircncia entre as zonas de sentido que seratildeo criadas

posteriormente

Feita esta primeira interpretaccedilatildeo segue um processo de aglutinaccedilatildeo das interlocuccedilotildees e

suas respectivas interpretaccedilotildees o qual ocorre pela complementaridade e similaridade existente

entre elas ou mesmo pela contraposiccedilatildeo Esse momento do processo resulta na organizaccedilatildeo das

zonas de sentido que agregam sentidos correlacionados e interdependentes

Nesse processo de organizaccedilatildeo das zonas de sentido eacute possiacutevel reconhecer as concepccedilotildees

posicionamentos e transformaccedilotildees que permeiam o processo de construccedilatildeo possibilitando ao

pesquisador ir aleacutem da fala expliacutecita e levar em conta os elementos subjetivos relacionais

contextuais e ideoloacutegicos Neste momento faz-se a anaacutelise propriamente dita das zonas de sentido

por meio do diaacutelogo entre as informaccedilotildees advindas da investigaccedilatildeo a histoacuteria do sujeito e a base

teoacuterica adotada pelo pesquisador Na medida em que o conhecimento eacute uma produccedilatildeo

essencialmente construtiva-interpretativa o esforccedilo neste momento deve recair na anaacutelise das

expressotildees contextualizadas e coconstruiacutedas nos espaccedilos intersubjetivos oportunizados na pesquisa

O processo de anaacutelise eacute nesta perspectiva uma produccedilatildeo de interpretaccedilotildees acerca das contradiccedilotildees

tensotildees conflitos siacutenteses desencontros equiliacutebrios entre as subjetividades dos sujeitos e do

pesquisador entre os indicadores empiacutericos e teoacutericos

Para finalizar o processo de anaacutelise das informaccedilotildees procede-se a anaacutelise das zonas de

sentido e de seu conteuacutedo a qual se inicia por um processo intra zona onde se considera apenas o

seu conteuacutedo especiacutefico e avanccedila para uma transversalizaccedilatildeo entre as diferentes zonas de sentido

O momento de anaacutelise natildeo se prende somente agraves falas expliacutecitas mas as tensotildees semelhanccedilas

contradiccedilotildees e complementaridades apreendidas a partir da anaacutelise e interpretaccedilatildeo do pesquisador

153

RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

Neste capiacutetulo satildeo apresentados e discutidos os resultados obtidos a partir da anaacutelise das

informaccedilotildees construiacutedas ao longo dessa pesquisa Os resultados referentes a cada estudo (1 e 2)

estatildeo apresentados separadamente segundo as etapas metodoloacutegicas que os orientaram Ao final do

capiacutetulo faz-se uma siacutentese transversal destes resultados e apresenta-se a proposta de criaccedilatildeo e

estruturaccedilatildeo de Serviccedilos de Psicologia na Educaccedilatildeo Superior brasileira

ESTUDO 1 ndash BRASIL

1ordf Etapa ndash Mapeamento dos Serviccedilos de Psicologia

A realizaccedilatildeo desta etapa ocorreu em dois momentos (a) Panorama nacional dos Serviccedilos

de Psicologia e (b) Identificaccedilatildeo e Caracterizaccedilatildeo dos Serviccedilos de Psicologia do Distrito Federal

ambos apresentados a seguir O primeiro deles se constitui como um estudo descritivo do ldquoestado

da arterdquo no paiacutes e eacute portanto um mapeamento preliminar ao foco central desta pesquisa que eacute o

Distrito Federal

Os resultados relativos aos Serviccedilos de Psicologia existentes em Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo

Superior do Brasil pretendem compor um panorama de como estaacute atualmente configurada a

situaccedilatildeo da Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo Superior do paiacutes As informaccedilotildees foram obtidas por

meio de respostas ao questionaacuterio eletrocircnico enviado agraves 2314 instituiccedilotildees que integram o Censo da

Educaccedilatildeo Superior de 2009 (INEP 2010) O questionaacuterio foi enviado por e-mail aos endereccedilos

eletrocircnicos informados no cadastro do INEP sendo que no corpo da mensagem constava o link

para acessaacute-lo As respostas dos participantes foram automaticamente direcionadas para uma

planilha eletrocircnica que possibilitou a anaacutelise das informaccedilotildees conforme apresentado a seguir

Do total de instituiccedilotildees 109 responderam ao questionaacuterio o que corresponde a 51 das

IES brasileiras Destas 82 satildeo Faculdades 12 satildeo Universidades sete satildeo Centros Universitaacuterios

seis satildeo Institutos Federais de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia e duas natildeo responderam agrave questatildeo

Das 109 IES que responderam ao questionaacuterio a maioria delas 725 eacute faculdade privada

Quanto agrave existecircncia ou natildeo de Serviccedilos de Psicologia entre as instituiccedilotildees participantes 87

delas responderam positivamente e 22 delas indicaram natildeo ter serviccedilos desta natureza Dessa

maneira das 109 instituiccedilotildees participantes 798 tecircm Serviccedilos de Psicologia em funcionamento

Em relaccedilatildeo agrave organizaccedilatildeo acadecircmica e natureza administrativa das IES com Serviccedilos 71 delas satildeo

instituiccedilotildees privadas e somente 16 satildeo puacuteblicas conforme ilustra com mais detalhes a Tabela 9 que

traz a distribuiccedilatildeo das IES que reportam ter o Serviccedilo

154

Tabela 9

Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior do Brasil com Serviccedilo de Psicologia

Organizaccedilatildeo acadecircmica Nordm

IES

Categoria

administrativa

Nordm IES

Universidade 12 Puacuteblica 6 69

Privada 6 69

Centro Universitaacuterio 7 Puacuteblica 2 23

Privada 5 57

Faculdade 62 Puacuteblica 2 23

Privada 60 689

Instituto Federal de Educaccedilatildeo 6 Puacuteblica 6 69

A exemplo da prevalecircncia de faculdades privadas no quadro geral de Instituiccedilotildees de

Educaccedilatildeo Superior brasileiro satildeo elas tambeacutem que tecircm mais Serviccedilos de Psicologia abarcando

689 deles Entretanto este resultado diverge daquele encontrado por Serpa e Santos (2001) que

constataram a maior presenccedila de Serviccedilos de Orientaccedilatildeo ao Universitaacuterio entre as instituiccedilotildees

puacuteblicas especificamente as universidades

Em relaccedilatildeo agrave localizaccedilatildeo geograacutefica das instituiccedilotildees com Serviccedilos de Psicologia 32 delas

estatildeo situadas na regiatildeo Sudeste 23 no Nordeste seguidas da regiatildeo Sul e Centro-Oeste com 14

igualmente Na regiatildeo Norte apenas quatro IES relatam ter Serviccedilos desta natureza No que diz

respeito agrave estrutura dos Serviccedilos de Psicologia a maioria deles (51) tem apenas um psicoacutelogo

escolar havendo todavia 20 Serviccedilos que tecircm trecircs ou mais profissionais da aacuterea Se por um lado

satildeo as faculdades privadas as que mais tecircm Serviccedilos de Psicologia por outro satildeo elas tambeacutem que

tecircm Serviccedilos com o maior nuacutemero de psicoacutelogos seguidas das universidades privadas

Quanto agrave carga horaacuteria de trabalho dos psicoacutelogos escolares em 57 dos Serviccedilos eles

atuam entre 20 e 40 horas semanais enquanto que em 13 deles os profissionais tecircm viacutenculo de 10

horas por semana e nos restantes 30 dos Serviccedilos os psicoacutelogos escolares trabalham menos de 10

horas por semana A dedicaccedilatildeo dos profissionais eacute portanto principalmente parcial ou integral o

que permite que estejam mais imersos nas instituiccedilotildees e possam analisaacute-las como parte integrante e

natildeo como um especialista que presta consultorias eventualmente (Arauacutejo amp Almeida 2003

Marinho-Arauacutejo amp Almeida 2005a)

Em relaccedilatildeo ao fato dos psicoacutelogos trabalharem em equipes multiprofissionais ou realizarem

sozinhos suas atividades 73 ou seja a maioria integra uma equipe e nestes casos os pedagogos

satildeo os principais profissionais com os quais o psicoacutelogo escolar trabalha em conjunto seguidos dos

funcionaacuterios teacutecnico-administrativos e dos assistentes sociais Diferentemente no estudo de Serpa e

Santos (2001) os assistentes sociais eram mencionados com maior frequecircncia na composiccedilatildeo das

155

equipes enquanto os teacutecnicos foram citados esporadicamente A Figura 12 ilustra a distribuiccedilatildeo

dos profissionais com os quais os psicoacutelogos escolares atuam

0 10 20 30 40 50

Profission

ais

PedagogoAssistente socialEnfermeiroMeacutedicoDentistaGestor de RHTeacutecnicos-adminOutros

Figura 12 Profissionais que integram os Serviccedilos de Psicologia do Brasil

Pela anaacutelise do graacutefico nota-se que os profissionais da aacuterea de sauacutede (Meacutedicos Enfermeiros

e Dentistas) satildeo os que menos participam das equipes que o psicoacutelogo escolar integra conforme jaacute

haviam constatado Serpa e Santos (2001) A interface Psicologia e Sauacutede parece ainda carecer de

maior integraccedilatildeo o que pode ser almejado no contexto educativo por meio do investimento

conjunto em praacuteticas de Educaccedilatildeo para a Sauacutede que buscam contribuir para que a comunidade

acadecircmica faccedila opccedilotildees mais adequadas agrave sua sauacutede e ao seu bem-estar fiacutesico social e mental

(OMS 1986) No contexto acadecircmico as accedilotildees de Educaccedilatildeo para a Sauacutede podem auxiliar os

estudantes a identificarem e otimizarem formas mais adequadas e saudaacuteveis de lidar com o stress e

a ansiedade e assim contribuir para seu sucesso (Pereira Monteiro Gomes amp Tavares 2005

Robotham 2008)

A variedade de profissionais com os quais os psicoacutelogos escolares estatildeo trabalhando aponta

para uma atuaccedilatildeo multi e interdisciplinar considerada importante para lidar com os fenocircmenos

humanos tatildeo complexos (Maluf 2003) Aleacutem do mais parece indicar que os Serviccedilos mantidos

pelas instituiccedilotildees natildeo satildeo exclusivamente de apoio psicoloacutegico mas na verdade serviccedilos

multidisciplinares Nesse sentido torna-se indispensaacutevel que os psicoacutelogos escolares exercitem a

praacutetica da interdisciplinaridade na atuaccedilatildeo com profissionais de outras aacutereas de conhecimento

Quanto agrave atuaccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares os resultados apontam que suas accedilotildees estatildeo

principalmente direcionadas para os estudantes pois dos 87 Serviccedilos identificados 81 atuam junto

a este segmento sendo que destes 22 trabalham exclusivamente com esta populaccedilatildeo Outros

serviccedilos que trabalham com apenas um segmento da comunidade acadecircmica diferente do corpo

discente tecircm como puacuteblico alvo os funcionaacuterios ou a populaccedilatildeo externa agrave IES A Figura 13 ilustra a

distribuiccedilatildeo do puacuteblico com o qual os psicoacutelogos escolares atuam

156

0 20 40 60 80 100

Puacuteb

lico-alvo

Aluno

Professores

Funcionaacuterios

Coordenadores de curso

Diretores reitores e gestores

Pais de alunos

Comunidade externa

Outros

Figura 13 Puacuteblico atendido pelos Serviccedilos de Psicologia do Brasil

Dos 87 Serviccedilos de Psicologia 62 deles ou 72 informam que o trabalho eacute extensivo a

outros segmentos da instituiccedilatildeo integrando intervenccedilotildees com alunos professores funcionaacuterios

coordenadores de curso proacute-reitores e diretores da instituiccedilatildeo aleacutem tambeacutem dos pais de alunos e

da comunidade externa Em 2001 Serpa e Santos jaacute haviam identificado que os Serviccedilos de Apoio

ao Universitaacuterio atendiam aos alunos agraves famiacutelias e agrave comunidade para aleacutem destes segmentos os

resultados atuais indicam que a populaccedilatildeo interna da IES como corpo docente teacutecnico e gestor

tambeacutem jaacute satildeo alvo das intervenccedilotildees em Psicologia Escolar

Nessa direccedilatildeo aleacutem dos alunos tambeacutem eacute relevante o trabalho dos psicoacutelogos escolares

com os professores e os funcionaacuterios da instituiccedilatildeo realizado em mais de 60 dos casos A

atuaccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares junto aos professores por exemplo condiz com indicaccedilotildees que

vecircm sendo feitas na literatura tanto no que se refere agraves queixas escolares quanto agrave formaccedilatildeo de

docentes e apoio agraves atividades de ensino (Aguiar 2000 Facci 2009 Meira 2000 Neves 2001

Neves amp Almeida 2003 Souza 2009) As intervenccedilotildees desencadeadas com a equipe de

funcionaacuterios satildeo pouco frequentes na literatura contudo levando em conta os resultados deste

levantamento pode-se considerar que a realidade e a praacutetica profissional estejam sinalizando

algumas mudanccedilas ainda natildeo anunciadas ou registradas na literatura conforme tecircm destacado

Maluf (2003) e Maluf e Cruces (2008) ao dizerem que a Psicologia Escolar emergente pode ser

mais reconhecida pelas accedilotildees do que pelo discurso

Interessante destacar que se por um lado os participantes reportam com frequecircncia o

atendimento e orientaccedilatildeo aos professores e aos funcionaacuterios como atividades mais desenvolvidas

pelos psicoacutelogos escolares por outro as accedilotildees de formaccedilatildeo continuada com esses segmentos satildeo

pouco indicadas dos 87 Serviccedilos apenas 28 deles envolvem-se com a formaccedilatildeo continuada do

corpo docente e teacutecnico da IES Apesar destes resultados causarem alguma estranheza a partir da

anaacutelise da produccedilatildeo cientiacutefica em Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo Superior Bariani e cols (2004)

jaacute haviam apontado que a formaccedilatildeo continuada de professores eacute uma temaacutetica pouco recorrente nos

157

estudos e publicaccedilotildees da aacuterea o que condiz com o pouco envolvimento dos profissionais com

accedilotildees de formaccedilatildeo

Em relaccedilatildeo agraves atividades desenvolvidas pelos psicoacutelogos o atendimento e orientaccedilatildeo aos

alunos eacute a mais recorrente nos Serviccedilos de Psicologia seguida do encaminhamento dos alunos Na

sequecircncia o atendimento aos professores e aos funcionaacuterios o apoio aos alunos com necessidades

especiais ao processo de ensino e aprendizagem e aos coordenadores de curso satildeo atividades

frequentes entre os Serviccedilos todas realizadas por mais da metade deles

Em pesquisa realizada haacute quase uma deacutecada por Serpa e Santos (2001) a orientaccedilatildeo e o

encaminhamento dos alunos tambeacutem eram as principais atividades dos psicoacutelogos escolares

entretanto e diferentemente a psicoterapia individual que era uma das principais atividades

realizadas pelos psicoacutelogos escolares agravequela eacutepoca natildeo estaacute atualmente entre as atividades mais

desenvolvidas pelos profissionais Na presente anaacutelise a psicoterapia eacute a atividade menos

mencionada entre aquelas desenvolvidas pelos psicoacutelogos escolares o que aponta para uma

importante alteraccedilatildeo nas accedilotildees centrais dos psicoacutelogos escolares que se deslocam de um modelo

cliacutenico-terapecircutico para outro mais preventivo e institucional em consonacircncia com as indicaccedilotildees

que vecircm sendo feita nas uacuteltimas deacutecadas (Almeida 1999 Arauacutejo amp Almeida 2003 Guzzo 1996

2001 Maluf 2003 Marinho-Arauacutejo amp Almeida 2005a Oliveira amp Marinho-Arauacutejo 2009) A

Figura 14 apresenta de forma detalhada as atividades realizadas pelos psicoacutelogos escolares nas

IES que responderam ao questionaacuterio eletrocircnico

0 30 60 90

OutrosAvaliaccedilatildeo Institucional

Acompanhamento aos egressosApoio aos coordenadores de curso

Auxiacutelio ao processo ensino-aprendizagemOrientaccedilatildeo profissionalWorkshops e palestras

Apoio a necessidades especiaisFormaccedilatildeo continuada

Acolhimentos a calourosEncaminhamento externo

PsicoterapiaAtendimento aos funcionaacuteriosAtendimento aos professores

Atendimento aos alunos

Figura 14 Atividades desenvolvidas pelos psicoacutelogos escolares nos Serviccedilos de Psicologia do

Brasil

Tendo como base a organizaccedilatildeo das accedilotildees dos psicoacutelogos escolares em formas de atuaccedilatildeo

tradicionais e formas de atuaccedilatildeo emergentes conforme tem sido proposto por Martiacutenez (2007

2009 2010) as atividades realizadas pelos profissionais nas IES brasileiras indicam que haacute uma

associaccedilatildeo entre as duas formas de atuaccedilatildeo Accedilotildees tradicionais como o atendimento orientaccedilatildeo e

158

encaminhamento de alunos orientaccedilatildeo profissional formaccedilatildeo continuada dos professores dividem

espaccedilo com o atendimento a funcionaacuterios recepccedilatildeo aos calouros acompanhamento do processo de

ensino e aprendizagem apoio a coordenadores de curso realizaccedilatildeo de workshops oficinas e

palestras formativas direcionadas ao desenvolvimento integral dos estudantes acompanhamento

dos alunos egressos da IES e avaliaccedilatildeo institucional

Dessa maneira accedilotildees apontadas por Witter (1999) haacute mais de uma deacutecada como sendo

funccedilatildeo do psicoacutelogo na Educaccedilatildeo Superior comeccedilam a ser observadas na praacutetica como eacute o caso da

assessoria ao processo de ensino-aprendizagem por meio do acompanhando das atividades

docentes Por certo que a frequecircncia pela qual as accedilotildees emergentes comparecem entre as atividades

desenvolvidas pelos psicoacutelogos escolares ainda eacute reduzida como eacute o caso do acompanhamento aos

egressos e da avaliaccedilatildeo institucional que somente 20 e 29 dos psicoacutelogos escolares

respectivamente estatildeo envolvidos Contudo e ainda assim jaacute satildeo indicadores de mudanccedila e

avanccedilos na aacuterea especialmente em se tratando da Educaccedilatildeo Superior que eacute um contexto menos

tradicional de pesquisa e de intervenccedilatildeo em Psicologia Escolar

Outras atividades tambeacutem citadas pelos participantes foram a avaliaccedilatildeo docente a

participaccedilatildeo em atividades ligadas agrave gestatildeo de pessoas e na ouvidoria A primeira pode ser parte

integrante do processo mais amplo de avaliaccedilatildeo institucional em especial a autoavaliaccedilatildeo

somando-se ao grupo das accedilotildees emergentes A segunda apesar de ser comumente associada agrave

atuaccedilatildeo de psicoacutelogos organizacionais pode ocorrer especialmente pela contribuiccedilatildeo dos

psicoacutelogos escolares em intervenccedilotildees relacionadas agrave definiccedilatildeo de perfis profissionais e participaccedilatildeo

em processos de seleccedilatildeo de membros da equipe pedagoacutegica e de funcionaacuterios ambas sustentadas

sob a especificidade da Psicologia Escolar As duas atividades citadas condizem com propostas de

atuaccedilatildeo que se sustentam em uma perspectiva ampliada e institucional (Marinho-Arauacutejo 2009a

Sandoval amp Love 1977)

No espaccedilo disponibilizado no questionaacuterio para comentaacuterios criacuteticas e sugestotildees alguns

respondentes expressaram suas percepccedilotildees acerca do papel e da importacircncia dos Serviccedilos A esse

respeito um participante comenta que ldquoo MEC deveria exigir a participaccedilatildeo de profissionais como

psicoacutelogo e pedagogos para acompanhar o desenvolvimento das atividades dos cursos superioresrdquo

(Faculdade privada sem Serviccedilo de Psicologia) O respondente sugere ainda que o trabalho

desenvolvido por estes profissionais deveria ser acompanhado atraveacutes de relatoacuterios de atendimento

e projetos

Entretanto conforme evidencia o comentaacuterio de outro participante a previsatildeo de um

serviccedilo dessa natureza nos documentos oficiais da instituiccedilatildeo natildeo eacute garantia de sua existecircncia na

praacutetica ldquono caso da minha IES a ausecircncia de atendimento psicopedagoacutegico (haacute apenas no papel) eacute

uma criacutetica grande da minha parterdquo (Faculdade privada sem Serviccedilo de Psicologia) Como

apontado nesta fala apesar dos serviccedilos de apoio psicoloacutegico poderem estar oficialmente previstos

nas poliacuteticas e projetos institucionais como uma estrateacutegia de atendimento aos discentes inclusive

159

em atenccedilatildeo agraves orientaccedilotildees e criteacuterios avaliativos da Educaccedilatildeo Superior isso natildeo eacute garantia de que

haja um serviccedilo em funcionamento Razotildees para esse fato prendem-se agrave real valorizaccedilatildeo e ao

entendimento da instituiccedilatildeo acerca da contribuiccedilatildeo de um serviccedilo desse tipo agraves condiccedilotildees

administrativas e financeiras da IES para criar e manter um serviccedilo de qualidade suas prioridades

entre outras razotildees

Na direccedilatildeo da valorizaccedilatildeo do serviccedilo e da sua contribuiccedilatildeo outro participante relata que

ldquomuitas IES ainda natildeo se deram conta da importacircncia desse profissional em seu colegiado de

gestatildeo personagem que empresta o apoio psico-pedagoacutegico no processo ensino-aprendizado dos

alunos com dificuldades N e que sob a orientaccedilatildeo do mesmo conseguem superar-se e se

reintegrarem nos estudosrdquo (Faculdade privada sem Serviccedilo de Psicologia)

Por fim alguns participantes aproveitaram o espaccedilo destinado a comentaacuterios e criacuteticas para

esclarecer detalhes do funcionamento dos Serviccedilos de Psicologia para apresentar os motivos pelos

quais a IES ainda natildeo tecircm um Serviccedilo ou porque natildeo puderam responder agraves questotildees aleacutem de

pedirem que os resultados desse estudo sejam compartilhados com eles

Haacute ainda que destacar a surpresa da pesquisadora em relaccedilatildeo agrave receptividade das IES agrave

pesquisa e a disponibilidade em contribuir com a mesma Alguns exemplos satildeo os e-mails nos

quais os membros da instituiccedilatildeo identificando-se informavam jaacute terem respondido ao questionaacuterio

e desejavam sucesso na realizaccedilatildeo da pesquisa colocavam-se a disposiccedilatildeo para outras informaccedilotildees

e pediam para conhecer futuramente os resultados em virtude da relevacircncia do estudo para seus

proacuteprios Serviccedilos comunicavam que encaminhariam o e-mail para o profissional responsaacutevel pelo

serviccedilo ou ainda esclareciam estar afastados da instituiccedilatildeo e indicavam outro endereccedilo eletrocircnico

para o qual o questionaacuterio poderia ser enviado Retornos dessa natureza mostram o compromisso

das IES e de seus atores com o desenvolvimento cientiacutefico e social do paiacutes e acima de tudo o

reconhecimento do papel da Psicologia Escolar nestas instituiccedilotildees visto que seus atores mostram-

se motivados a contribuir para o seu crescimento e aperfeiccediloamento

Da forma como o questionaacuterio foi planejado os respondentes poderiam simplesmente

assinalar no proacuteprio instrumento que a instituiccedilatildeo natildeo dispotildee de Serviccedilo de Psicologia sem

necessidade de explicar ou complementar sua resposta Nos casos de disporem de serviccedilos era

igualmente suficiente preencher ao questionaacuterio sendo que a IES que estivesse de acordo que o(s)

profissional(is) da aacuterea fosse contactado poderia informar seus dados Entretanto mais de 30 IES

responderam ao e-mail adicionando algum tipo de informaccedilatildeo e identificando-se Se o objeto de

investigaccedilatildeo deste estudo fosse pouco relevante para as IES exemplos como os mencionados natildeo

teriam ocorrido eles soacute ocorreram em virtude da dimensatildeo que a Psicologia Escolar tem para elas

Apresentados e discutidos os resultados relativos ao Panorama nacional dos Serviccedilos de

Psicologia passa-se agravequeles relacionados aos Serviccedilos do Distrito Federal

Participaram deste momento da pesquisa oito Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior do

Distrito Federal que tinham um Serviccedilo de Psicologia constituiacutedo e dispunham de informaccedilotildees

160

sobre o trabalho da Psicologia Escolar no site na internet Para analisar o material informativo

sobre o trabalho da Psicologia Escolar recorreu-se agrave anaacutelise documental descrita no capiacutetulo

metodoloacutegico que levou agrave elaboraccedilatildeo de cinco categorias - Identificaccedilatildeo Objetivos Recursos

Humanos Divulgaccedilatildeo e Acesso - apresentadas e analisadas a seguir com o objetivo de traccedilar uma

caracterizaccedilatildeo dos Serviccedilos de Psicologia no DF e da atuaccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares Para

ilustrar as categorias satildeo utilizados trechos do material informativo relativo aos Serviccedilos de

Psicologia e estes satildeo identificados pela sigla SP

Em relaccedilatildeo ao nuacutemero de IES do DF que contam com Serviccedilos de Psicologia identificou-

se que 12 instituiccedilotildees (162) tinham pelo menos um serviccedilo dessa natureza conforme descrito na

Tabela 10 Das 12 instituiccedilotildees identificadas oito tinham informaccedilotildees sobre o Serviccedilo de Psicologia

disponiacuteveis no site de maneira que a anaacutelise e discussatildeo feitas deste ponto em diante contemplaratildeo

apenas estas oito instituiccedilotildees

Tabela 10

Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior do Distrito Federal com Serviccedilo de Psicologia

Universidade Centro Universitaacuterio Faculdade

Puacuteblica Privada Puacuteblico Privado Puacuteblica Privada

1 1 0 1 0 9

Em relaccedilatildeo agrave Identificaccedilatildeo dos oito Serviccedilos analisados cinco nomeiam o conjunto de

atividades desenvolvidas como Serviccedilo de Orientaccedilatildeo e trecircs como Nuacutecleo de Apoio ou Nuacutecleo de

Atendimento Complementando as denominaccedilotildees seguem-se o termo Psicopedagoacutegico referindo-

se agrave articulaccedilatildeo entre a Pedagogia-Educaccedilatildeo e a Psicologia ou a identificaccedilatildeo do puacuteblico que eacute

alvo do trabalho os estudantes ou universitaacuterios Tem-se por exemplo Serviccedilo de Orientaccedilatildeo

Psicopedagoacutegica Nuacutecleo de Apoio Psicopedagoacutegico e Serviccedilo de Orientaccedilatildeo ao Universitaacuterio De

forma geral e independente das denominaccedilotildees adotadas pelas IES as atividades desenvolvidas

pelos Serviccedilos ou Nuacutecleos estatildeo voltadas para a prestaccedilatildeo de serviccedilos aos estudantes e aos demais

segmentos da comunidade acadecircmica sendo que estes adquirem caracteriacutesticas comuns ou

diferentes a depender dos objetivos que os orientam conforme discutido a seguir

Quanto aos Objetivos buscou-se analisar as propostas e finalidades dos Serviccedilos de

Psicologia com a intenccedilatildeo de compreender os eixos orientadores do trabalho realizado pelos

psicoacutelogos escolares nas Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior do Distrito Federal Nos documentos

analisados identificou-se a preocupaccedilatildeo das IES em explicitar as metas do trabalho realizado as

quais apesar de elaboradas de forma particularizada por cada instituiccedilatildeo guardam semelhanccedilas e

pontos em comuns Os objetivos podem ser organizados em trecircs grupos (a) atenccedilatildeo a dificuldades

161

vivenciadas pelos alunos (b) apoio ao rendimento acadecircmico e (c) promoccedilatildeo do desenvolvimento

humano

No primeiro grupo de objetivos os Serviccedilos se propotildeem a ldquoauxiliar os alunos que estatildeo

com dificuldades para aprender orientar na resoluccedilatildeo de conflitos pessoais que estejam

comprometendo o rendimento acadecircmicordquo (SP2-DF) e a ldquoauxiliar os indiviacuteduos em eventuais

dificuldades acadecircmicaseducacionaisrdquo (SP3-DF) Os Serviccedilos orientados por estes objetivos estatildeo

diretamente voltados agraves dificuldades e conflitos apresentados pelos alunos sejam eles de natureza

acadecircmica relacional ou emocional e acabam por direcionar a atuaccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares

para os problemas individuais

O segundo grupo de objetivos estaacute voltado para a formaccedilatildeo acadecircmica dos estudantes

focando aspectos pessoais afetivos relacionais e psicopedagoacutegicos que comparecem na trajetoacuteria

acadecircmica e estatildeo envolvidos na qualidade da formaccedilatildeo do aluno Os objetivos aqui agrupados

buscam ldquoapoiar a comunidade acadecircmica nos aspectos psicopedagoacutegicos e afetivosrdquo (SP1-DF) e

ldquoem questotildees acadecircmicas e pessoais apoiando o desenvolvimento pleno do papel de universitaacuteriordquo

(SP7-DF) aleacutem de ldquocontribuir para que o estudante aprimore a desenvolva seus recursos pessoais e

relacionais visando sua plena adaptaccedilatildeo ao contexto acadecircmicordquo (SP2-DF)

O uacuteltimo grupo de objetivos estaacute voltado para a promoccedilatildeo do desenvolvimento humano e

para a formaccedilatildeo integral dos sujeitos Nessa direccedilatildeo os Serviccedilos de Psicologia se propotildeem a

ldquoorientar professores e estudantes de graduaccedilatildeo apoiando-os ao longo do curso visando natildeo

somente a melhoria do desempenho acadecircmico mas tambeacutem o desenvolvimento pleno da pessoa

humanardquo (SP5-DF) e tambeacutem ldquocontribuir natildeo somente para a aprendizagem dos alunos mas

oferecer uma educaccedilatildeo formativa e de qualidade comprometida com o ser humano e com a

melhoria da sociedaderdquo (SP3-DF) Estes objetivos expressam para aleacutem do interesse pela

aprendizagem e formaccedilatildeo acadecircmica dos alunos compromisso com o amplo desenvolvimento de

sujeitos e da sociedade

Ainda que todos os objetivos expressem de diferentes formas a preocupaccedilatildeo dos Serviccedilos

e das instituiccedilotildees com a formaccedilatildeo dos estudantes eacute no terceiro grupo de objetivos que se percebe

maior coerecircncia com a funccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior de formar profissionais e cidadatildeos para uma

vida ativa em sociedade (Dias Sobrinho 2004 2005 2008a Goergen 2008 Morosini 1997 2005

2006b Ristoff 1999 2008 Severino 2000 2002) Os objetivos que se baseiam na atenccedilatildeo a

dificuldades vivenciadas pelos alunos e no suporte ao desenvolvimento acadecircmico satildeo legiacutetimos e

tecircm o meacuterito de oferecer apoio aos estudantes no que diz respeito agrave superaccedilatildeo de dificuldades

emocionais e relacionais que impactam o seu rendimento Contudo tendo como referecircncia a ampla

funccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior de formar pessoas cientes do seu papel potencialmente ativo atuante

e transformador aleacutem de preparadas para exercer esse papel de forma competente os Serviccedilos que

se prendem exclusivamente agrave superaccedilatildeo de dificuldades acabam por minimizar sua contribuiccedilatildeo

162

Em relaccedilatildeo aos Recursos Humanos pode-se abordar o nuacutemero de psicoacutelogos escolares que

atuam nos Serviccedilos e tambeacutem se estes profissionais estatildeo trabalhando sozinhos ou fazem parte de

uma equipe Dos oito Serviccedilos participantes cinco satildeo compostos exclusivamente por um

profissional de Psicologia dois tecircm dois psicoacutelogos escolares e um tem cinco profissionais sendo

que nestes dois uacuteltimos os psicoacutelogos estatildeo distribuiacutedos entre os diferentes campi da instituiccedilatildeo

Nos Serviccedilos em que haacute profissionais de outras aacutereas atuando junto com o psicoacutelogo escolar

constatou-se que em trecircs deles haacute a colaboraccedilatildeo de pedagogos (em dois casos estes satildeo

especialistas em psicopedagogia) e em uma haacute uma parceria com um administrador que coordena

as atividades relativas agrave orientaccedilatildeo profissional e empregabilidade dos estudantes Em dois

Serviccedilos haacute tambeacutem a colaboraccedilatildeo de teacutecnicos em assuntos educacionais que satildeo responsaacuteveis

pelo suporte no controle de agenda e nos tracircmites burocraacuteticos

Apesar de cinco psicoacutelogos escolares trabalharem sozinhos Serpa e Santos (2001)

constataram que no acircmbito nacional os psicoacutelogos atuam principalmente em equipe uma vez que

naquela eacutepoca das 49 IES que tinham o Serviccedilo de Atendimento ao Universitaacuterio o psicoacutelogo

escolar era parte constituinte de uma equipe multidisciplinar em 31 deles Em nenhum serviccedilo haacute

indicaccedilatildeo de que estagiaacuterios de Psicologia colaboram com os Serviccedilos e que estes funcionem como

espaccedilo de formaccedilatildeo de outros psicoacutelogos escolares

Em relaccedilatildeo agrave Divulgaccedilatildeo os Serviccedilos de Psicologia indicam que as estrateacutegias mais

utilizadas satildeo os cartazes afixados na instituiccedilatildeo o site da instituiccedilatildeo na internet bem como a

divulgaccedilatildeo aos alunos em sala de aula especialmente aos calouros do primeiro semestre de curso

A uacuteltima categoria de anaacutelise Acesso traz indicaccedilotildees de que o acesso ao Serviccedilo de

Psicologia pode ocorrer por iniciativa do aluno ou por encaminhamento dos professores ou da

coordenaccedilatildeo sendo que em todos os casos a indicaccedilatildeo ou procura pelo apoio psicoloacutegico se daacute pelo

reconhecimento de uma dificuldade esteja ela diretamente ligada ao baixo rendimento acadecircmico

ou agrave vivecircncia de problemas emocionais que nele repercutem Assim o trabalho eacute desencadeado a

partir de um agendamento feito pelo proacuteprio estudante ou pelo encaminhamento dos coordenadores

de curso mediante a constataccedilatildeo de uma dificuldade jaacute instalada

Nestes casos existe uma compreensatildeo preacutevia de que o aluno estaacute vivenciando um

problema trata-se dessa forma da ecircnfase agrave problemaacutetica individual ainda que se saiba que a

dificuldade seja forjada pela associaccedilatildeo de diferentes elementos Por mais que a praacutetica

predominante nas instituiccedilotildees educacionais seja aquela na qual o professorcoordenador identifica

uma dificuldade no aluno o encaminha ao serviccedilo especializado e a intervenccedilatildeo eacute desencadeada

junto ao aluno que natildeo eacute quem demandou estudos tecircm indicado a inadequaccedilatildeo desse

procedimento e proposto intervenccedilotildees mais integradas nas quais o professor se torna coparticipante

do processo de avaliaccedilatildeo e de intervenccedilatildeo (Neves 2001 Neves amp Almeida 2003)

163

2ordf Etapa ndash Mapeamento da atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar

Esta etapa do Estudo 1 ocorreu por meio da anaacutelise da atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar em

Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior do Distrito Federal e contemplou dois momentos distintos (a)

entrevistas com psicoacutelogos escolares que atuam em IES do DF e (b) acompanhamento da atuaccedilatildeo

de um psicoacutelogo escolar que trabalha em uma instituiccedilatildeo da regiatildeo

Em relaccedilatildeo agraves entrevistas com os psicoacutelogos escolares participaram deste momento da

pesquisa sete profissionais que atuam em Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior do DF as quais jaacute

foram caracterizadas na etapa anterior Conforme descrito no capiacutetulo metodoloacutegico as entrevistas

foram analisadas qualitativamente buscando-se apreender os sentidos construiacutedos pelos psicoacutelogos

escolares em relaccedilatildeo agrave sua experiecircncia profissional De forma geral os resultados exploram

aspectos relacionados agrave caracterizaccedilatildeo dos profissionais o puacuteblico alvo para o qual dirigem suas

accedilotildees as atividades realizadas o modelo de intervenccedilatildeo adotado as facilidades e dificuldades

encontradas ao longo do exerciacutecio profissional aleacutem de modificaccedilotildees que poderiam ser feitas na

sua atuaccedilatildeo e estruturaccedilatildeo dos Serviccedilos

Em relaccedilatildeo agraves instituiccedilotildees nas quais os psicoacutelogos escolares trabalham seis delas satildeo de

natureza privada sendo quatro faculdades A Tabela 11 apresenta resumidamente as caracteriacutesticas

dos psicoacutelogos escolares participantes deste momento da pesquisa discutidas na sequecircncia

Tabela 11

Caracterizaccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares que atuam em IES do Distrito Federal

Profis-

sional

IES Gecircnero Tempo de

atuaccedilatildeo

Formaccedilatildeo Viacutenculo Carga

horaacuteria

PE 1 Centro Univ

privado

F 4 anos Especialista Teacutecnica 20 horas

PE 2 Faculdade

privada

F 6 meses Doutoranda

em Psicologia

Professora 8 horas

PE 3 Universidade

privada

F 2 anos Mestranda

em Psicologia

Teacutecnica 40 horas

PE 4 Faculdade

privada

M 2 anos Mestre

em Psicologia

Professor 20 horas

PE 5 Universidade

puacuteblica

F 26 anos Mestre

em Psicologia

Teacutecnica 40 horas

PE 6 Faculdade

privada

F 2 anos Mestre

em Psicologia

Professora 8 horas

PE 7 Faculdade

privada

F 6 meses Mestre

em Psicologia

Professora 6 horas

164

Quanto ao tempo de experiecircncia dos psicoacutelogos escolares haacute uma grande variaccedilatildeo pois de

um lado tecircm-se profissionais trabalhando haacute pouco mais de seis meses na Educaccedilatildeo Superior e de

outro profissionais com 26 anos de atuaccedilatildeo neste contexto Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo dos psicoacutelogos

a maioria deles jaacute fez ou estaacute concluindo um curso de poacutes-graduaccedilatildeo lato e stricto sensu em

Psicologia Dos sete profissionais um estaacute terminando o doutorado quatro satildeo mestres um estaacute

fazendo o mestrado e um profissional eacute especialista Nota-se assim que os psicoacutelogos escolares

mostram-se comprometidos com sua formaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo

No que diz respeito ao viacutenculo profissional e agrave carga horaacuteria destes profissionais nas

respectivas instituiccedilotildees somente trecircs profissionais integram o quadro teacutecnico da instituiccedilatildeo e satildeo

contratos como psicoacutelogos Os demais pertencem ao quadro docente e portanto conciliam

atividades do magisteacuterio com atividades nos Serviccedilos de Psicologia Os profissionais do quadro

teacutecnico tecircm contrato de 20 ou de 40 horas totalmente distribuiacutedas em atividades realizadas no

acircmbito do Serviccedilo os profissionais do quadro docente tecircm entre 6 e 20 horas destinadas agrave atuaccedilatildeo

no Serviccedilo sendo que a repercussatildeo que estas formas e vinculaccedilatildeo tecircm entre os psicoacutelogos

escolares eacute diferente Por exemplo para alguns o fato da instituiccedilatildeo recorrer a professores de

Psicologia para desenvolverem accedilotildees de apoio aos estudantes com dificuldade ilustra que haacute uma

indefiniccedilatildeo por parte da IES sobre as funccedilotildees que se atribuem a um psicoacutelogo escolar Atribuem

ainda uma incoerecircncia agrave posiccedilatildeo da instituiccedilatildeo quanto agrave valorizaccedilatildeo do serviccedilo de apoio aos

estudantes Por um lado a IES desloca um professor para tal finalidade arcando com os custos

financeiros de tal apoio no entanto nas ocasiotildees em que eacute preciso que o professor reassuma a

docecircncia o serviccedilo eacute suspenso ou significativamente reduzido Essa maneira encontrada por

algumas instituiccedilotildees para viabilizar um serviccedilo de apoio aos estudantes eacute geradora de mal-estar

entre os profissionais que se angustiam por terem que interromper um acompanhamento que jaacute estaacute

em andamento ou por acabarem se sobrecarregando para natildeo fazecirc-lo

As atividades desenvolvidas pelos psicoacutelogos escolares no acircmbito dos Serviccedilos satildeo

diversificadas e estatildeo apresentadas na Tabela 12 Na primeira coluna estatildeo identificadas as

subcategorias decorrentes do agrupamento de atividades semelhantes na segunda estatildeo exemplos

de atividades que integram cada subcategoria e por uacuteltimo a terceira coluna traz a frequecircncia da

subcategoria de acordo com a recorrecircncia com que foi relatada pelos participantes

165

Tabela 12

Atividades realizadas pelos psicoacutelogos escolares nos Serviccedilos de Psicologia do Distrito Federal

Subcategorias Exemplos de atividades f

1 Apoio psicoloacutegico e

psicopedagoacutegico

Aconselhamento e Orientaccedilatildeo Psicoloacutegica 7

Atendimento e Orientaccedilatildeo Psicopedagoacutegico

Psicoterapia breve focal

2 Apoio ao processo

ensino-aprendizagem

Apoio e orientaccedilatildeo aos coordenadores e professores 7

Seminaacuterios de preparaccedilatildeo para professores novatos

Adaptaccedilotildees curriculares e pedagoacutegicas

3 Encaminhamento Encaminhamento para atendimento especializado 5

4 Promoccedilatildeo do

desenvolvimento pessoal e

profissional

Capacitaccedilatildeo de representantes de turma 4

Palestras e formaccedilotildees em grupo para estudantes

5 Atendimento a pais Orientaccedilatildeo aos pais de alunos em casos especiacuteficos 3

6 Assessoria a outros

oacutergatildeos e serviccedilos

Suporte na seleccedilatildeo de funcionaacuterios e professores 3

Participaccedilatildeo em instacircncias de deliberaccedilatildeo e decisatildeo

7 Desenvolvimento

Profissional

Orientaccedilatildeo Profissional e Gestatildeo de Carreiras 2

Orientaccedilatildeo e Encaminhamento Profissional

8 Proposiccedilatildeo de poliacuteticas Sugestatildeo de poliacuteticas institucionais de apoio aos estudantes 1

Em relaccedilatildeo agraves possibilidades de atuaccedilatildeo do psicoacutelogo no contexto escolar sugeridas por

Martiacutenez (2009 2010) pode-se observar pela Tabela 9 que entre as atividades realizadas pelos

psicoacutelogos escolares nas IES do DF tecircm-se accedilotildees de natureza tradicional como o apoio

psicoloacutegico e psicopedagoacutegico o encaminhamento para profissionais especializados o atendimento

agrave famiacutelia e a orientaccedilatildeo profissional Por outro lado entre as atividades denominadas como

emergentes em virtude de serem de configuraccedilatildeo relativamente recente aleacutem de mais abrangentes e

complexas do que as tradicionais identificam-se accedilotildees voltadas ao desenvolvimento pessoal e

profissional dos alunos agrave promoccedilatildeo do processo ensino-aprendizagem a assessoria a outros oacutergatildeos

e serviccedilos da instituiccedilatildeo e o envolvimento com poliacuteticas puacuteblicas Apesar das atividades

tradicionais prevalecerem em relaccedilatildeo agraves emergentes jaacute que respondem por 545 da atuaccedilatildeo dos

psicoacutelogos escolares nota-se que ambas jaacute fazem parte do conjunto de possibilidades interventivas

da Psicologia Escolar no DF

No que diz respeito agrave frequecircncia com que as diferentes atividades comparecem na atuaccedilatildeo

dos psicoacutelogos escolares os resultados apontam que duas satildeo igualmente recorrentes e comuns a

todos os Serviccedilos o apoio psicoloacutegico e psicopedagoacutegico direcionado para os alunos e realizado

na forma de aconselhamento pontual ou de acompanhamento sistemaacutetico e o apoio ao processo de

166

ensino e aprendizagem mais focado nos professores e coordenadores de curso e realizado na forma

de orientaccedilotildees sobre como lidarem com dificuldades que perpassam o processo

Quanto agrave primeira modalidade de apoio haacute importantes diferenccedilas na forma como os

psicoacutelogos escolares a compreendem e realizam Para alguns sua intervenccedilatildeo tecircm como eixo

central as questotildees de aprendizagem de estudo e de desenvolvimento do estudante o que eacute razatildeo

para desencadearem seu trabalho a partir de queixas relacionadas agrave vivecircncia acadecircmica que tecircm

impacto no rendimento e sucesso dos alunos dificuldade para aprender notas baixas estrateacutegias de

estudo organizaccedilatildeo do tempo problemas de adaptaccedilatildeo agrave universidade e agraves metodologias adotadas

pelos professores dificuldade para apresentar trabalho em puacuteblico falta de autonomia e

independecircncia com os estudos etc

Por outro lado alguns psicoacutelogos escolares entendem que o mote que desencadeia suas

intervenccedilotildees refere-se a questotildees emocionais e psicoloacutegicas como a autoestima ansiedade

autoconhecimento sentimento de tristeza e de rejeiccedilatildeo dificuldade em relacionamentos amorosos-

afetivos siacutendrome do pacircnico depressatildeo aleacutem de outros que podem ou natildeo ter reflexo no

rendimento do estudante Dessa forma a depender da compreensatildeo que tenham de qual eacute o

principal foco de sua intervenccedilatildeo e das contribuiccedilotildees na construccedilatildeo das trajetoacuterias pessoais

acadecircmicas e profissionais dos alunos elegem formas diferentes de intervenccedilatildeo tendo umas caraacuteter

psicopedagoacutegico e outras caraacuteter psicoterapecircutico

Apesar da legitimidade de ambas as formas de atuaccedilatildeo trecircs profissionais preocupam-se em

evidenciar que suas intervenccedilotildees natildeo satildeo de natureza cliacutenica muito provavelmente como um

cuidado diante das inuacutemeras criacuteticas apresentadas na literatura a respeito da transposiccedilatildeo de

modelos cliacutenicos e terapecircuticos para o contexto educativo (Almeida 1999 Campos amp Jucaacute 2003

Neves 2001 Neves amp Almeida 2003 Yazlle 1997) Contudo o criteacuterio que estes profissionais

utilizam para diferenciar o tipo de atividade que realizam natildeo estaacute relacionado agrave sua natureza e

objetivos mas agrave sua estruturaccedilatildeo o fato de que estabelecem previamente o nuacutemero de sessotildees que

poderatildeo acontecer (que varia de 3 a 5) de forma que os atendimentos natildeo se configurem como

psicoterapia

Em vez de sustentarem sua argumentaccedilatildeo na especificidade do que caracteriza um trabalho

psicoeducacional prendem-se agrave forma agrave aparecircncia Conforme extensamente criticado na literatura

ainda parece haver uma transposiccedilatildeo acriacutetica do modelo cliacutenico para o contexto educativo o que se

deve em muitos casos agrave formaccedilatildeo inicial dos psicoacutelogos ldquoeu vejo que o atendimento

psicopedagoacutegico no contexto de curso superior ainda tem que ser aprimorado muito porque noacutes

psicoacutelogos pelo menos quando eu fiz a minha graduaccedilatildeo natildeo recebi esse preparo atuando como

psicopedagoga eu tirei da minha experiecircncia de consultoacuteriordquo (SP1-DF)

Na sequecircncia outra accedilatildeo frequente eacute a assessoria dos psicoacutelogos escolares ao processo de

ensino e de aprendizagem a qual se daacute principalmente por meio de orientaccedilotildees pontuais aos

docentes e coordenadores de curso sobre como lidarem com problemaacuteticas ligadas aos alunos

167

Nessas situaccedilotildees os profissionais buscam fazer indicaccedilotildees aos professores que os auxiliem a

promover a aprendizagem do aluno a melhorar sua integraccedilatildeo e o seu rendimento seja por meio de

alteraccedilotildees metodoloacutegicas e curriculares ou associadas ao relacionamento interpessoal O apoio agrave

promoccedilatildeo das praacuteticas de ensino e agrave aprendizagem tambeacutem jaacute acontece na forma de atividades

especiacuteficas com o grupo de professores da instituiccedilatildeo especialmente por ocasiatildeo da recepccedilatildeo aos

novos colaboradores Nessas ocasiotildees a instituiccedilatildeo por meio do Serviccedilo de Psicologia cria uma

estrateacutegia coletiva de acolher os docentes apresentar-lhes os objetivos expectativas e serviccedilos

existentes na IES aleacutem de discutir suas funccedilotildees

Ainda no contexto das accedilotildees emergentes destaca-se a assessoria dos psicoacutelogos escolares a

outros oacutergatildeos e serviccedilos da proacutepria instituiccedilatildeo conforme vem sendo apontado como pertinente para

a atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar e em especiacutefico no contexto da Educaccedilatildeo Superior (Marinho-

Arauacutejo 2009a Oliveira Marinho-Arauacutejo amp Almeida 2010a 2010b 2011) Segundo os

participantes esta assessoria tem se dado por meio da participaccedilatildeo no processo de seleccedilatildeo de novos

colaboradores tanto de professores quanto de funcionaacuterios ocasiotildees em que os psicoacutelogos

escolares tecircm sido convidados a avaliar o perfil dos candidatos agrave luz de aspectos pedagoacutegicos e

relacionais Outra forma de assessoria aos oacutergatildeos de gestatildeo refere-se agrave participaccedilatildeo em instacircncias

de deliberaccedilatildeo com o objetivo de apresentar e discutir indicadores de rendimento e sucesso

acadecircmico que auxiliem os gestores em suas decisotildees

Tambeacutem entre as praacuteticas emergentes destaca-se o envolvimento dos psicoacutelogos escolares

com as poliacuteticas institucionais especificamente com proposiccedilotildees relacionadas ao apoio aos

estudantes Acerca desse eixo de intervenccedilatildeo Martiacutenez (2007) jaacute teve oportunidade de evidenciar a

especificidade do papel dos psicoacutelogos escolares em todo o processo de anaacutelise implementaccedilatildeo e

acompanhamento de poliacuteticas puacuteblicas nos contextos educativos

Em relaccedilatildeo ao puacuteblico alvo do trabalho dos psicoacutelogos escolares identificou-se que estaacute

essencialmente direcionado para os alunos havendo intervenccedilotildees com os professores os

funcionaacuterios ou ateacute os pais quando a intervenccedilatildeo com o aluno aponta a necessidade de orientaacute-los

sobre como entender o problema do aluno e como agir Dessa maneira o apoio aos professores

decorre da dificuldade que os alunos tecircm e na maioria das vezes natildeo eacute algo direcionado e planejado

para eles para o seu desenvolvimento qualificaccedilatildeo e bem-estar Conforme relatam Campos e Jucaacute

(2003) Neves (2001) Neves e Almeida (2003) e Yazlle (1997) na trajetoacuteria da Psicologia Escolar

a ecircnfase sobre o aluno eacute bastante frequente entretanto profissionais tecircm modificado essa ecircnfase

construindo uma atuaccedilatildeo mais ampliada no que se refere agrave compreensatildeo dos fatores envolvidos no

cotidiano escolar e aos participantes que o produzem ndash para aleacutem daqueles atribuiacutedos ao aluno

Esse eacute na verdade um dos desafios agrave Psicologia Escolar natildeo desconsiderar aspectos

contextuais institucionais poliacuteticos eacuteticos sociais econocircmicos e relacionais que se interpenetram

e datildeo forma agrave realidade mesmo diante dos argumentos e justificativas que a todo momento

recaem sobre os discentes Nesse sentido um profissional expressa seu entendimento de que as

168

dificuldades apresentadas pelos alunos estatildeo tambeacutem relacionadas agrave instituiccedilatildeo agraves estrateacutegias de

ensino agraves relaccedilotildees ldquorealmente estar olhando aquilo que o indiviacuteduo estaacute fazendo natildeo como um

sintoma de algo ou como uma questatildeo individual mas que aquilo ali estaacute dentro de um contextordquo

(SP3-DF)

Associado a essa ecircnfase em intervenccedilotildees nas problemaacuteticas vivenciadas pelos alunos o

modelo de intervenccedilatildeo que orienta o trabalho dos psicoacutelogos escolares eacute essencialmente de caraacuteter

remediativo e individual Dos sete participantes um indicou realizar atividades individuais e

coletivas e seis apontaram que o trabalho eacute prioritariamente individual Ainda que faccedilam menccedilatildeo a

atividades em grupo como as formaccedilotildees com os representantes de turma e os grupos de

desenvolvimento elas natildeo satildeo as atividades centrais dos Serviccedilos o que faz com que os psicoacutelogos

escolares apontem a modalidade individual como a principal forma de realizarem o trabalho

Portanto apesar de haver accedilotildees de natureza mais abrangentes que se estendem para outros atores e

instacircncias da instituiccedilatildeo do ponto de vista dos psicoacutelogos escolares elas ainda estatildeo sustentadas no

atendimento individual

Uma possiacutevel razatildeo para esse entendimento decorre do fato de que os atendimentos aos

alunos satildeo realizados contiacutenua e diariamente enquanto outras accedilotildees como os grupos de formaccedilatildeo

de desenvolvimento de habilidades e de orientaccedilatildeo profissional acontecem duas ou trecircs vezes no

ano Entretanto a questatildeo central natildeo eacute a frequecircncia com que realizam uma ou outra atividade mas

acima de tudo a concepccedilatildeo que tecircm sobre a contribuiccedilatildeo da Psicologia Escolar para os alunos e

para a instituiccedilatildeo de forma geral trata-se de sanar e resolver problemas individuais que tecircm reflexo

no rendimento ou de potencializar recursos individuais coletivos e institucionais que fomentem

diferentes formas de conscientizaccedilatildeo e de aprendizagem favoraacuteveis ao desenvolvimento da

autonomia do pensamento criativo e da formaccedilatildeo como cidadatildeos

Nessa perspectiva e como jaacute apontaram Guzzo (1999 2001) Maluf (2003) Martiacutenez

(2007 2009) Marinho-Arauacutejo (2009a) e Oliveira Marinho-Arauacutejo e Almeida (2010a 2010b

2011) a mudanccedila de um enfoque individual para um coletivo e institucional natildeo envolve apenas

uma alteraccedilatildeo na forma na estrutura das atividades mas sobretudo na compreensatildeo das

contribuiccedilotildees diferenciadas que podem trazer agrave coletividade da IES e da sociedade

A dificuldade relacionada agrave grande demanda por atendimento psicoloacutegico eacute recorrente na

fala de alguns profissionais que relatam que como ldquoa demanda estaacute muito grande neacute entatildeo a

gente as nossas agendas vivem cheias neacute Entatildeo natildeo daacute () Natildeo atende todo mundordquo (SP5-DF)

Este modelo meacutedico-cliacutenico prioritariamente centrado no atendimento e na orientaccedilatildeo individual

dos estudantes jaacute criticado na literatura em Psicologia Escolar consome o foco dos profissionais

sem contudo contribuir para que todos ou a maioria dos estudantes tenham o apoio dos Serviccedilos

de Psicologia A impossibilidade de conseguir atender a demanda direcionada ao serviccedilo eacute assim

descrita por um psicoacutelogo escolar ldquocada um de noacutes atende em meacutedia 25 26 deixa alguns horaacuterios

para emergecircncia ou para fazer outras atividades inclusive para estudar os casos Entatildeo temos em

169

meacutedia assim cinquenta pessoas sendo atendidas constantemente entatildeo vocecirc chama leva em

meacutedia oito semanas nesse tempo a fila cresce de novordquo (SP3-DF)

Na medida em que haacute dificuldade em vencer as listas de espera alguns Serviccedilos de

Psicologia acabam optando por natildeo divulgaacute-lo por natildeo publicizar sua existecircncia e disponibilidade

para oferecer apoio agrave comunidade acadecircmica Dos sete psicoacutelogos participantes dois mencionaram

que natildeo haacute divulgaccedilatildeo do serviccedilo em virtude da demanda contiacutenua por atendimento e a

impossibilidade de receber novos alunos

Em relaccedilatildeo agraves facilidades e dificuldades encontradas pelos psicoacutelogos escolares tem-se

alguns aspectos em comum entre os diferentes Serviccedilos Em relaccedilatildeo aos pontos considerados

facilitadores de seu trabalho quatro profissionais indicam o apoio e reconhecimento da IES

especificamente dos diretores o qual lhes daacute um sentido de valorizaccedilatildeo do trabalho que realizam

na sequecircncia dois psicoacutelogos mencionam a autonomia e liberdade que tecircm para propor accedilotildees e

programas ainda que esta autonomia natildeo se estenda ao campo financeiro haacute tambeacutem uma

menccedilatildeo ao incentivo que tecircm para que o Serviccedilo de Psicologia se constitua como um espaccedilo de

estudo e de discussatildeo cientiacutefica

Quanto aos aspectos que trazem dificuldades ao trabalho trecircs profissionais referem-se ao

espaccedilo fiacutesico tanto por parecer um escritoacuterio ou natildeo ter a vedaccedilatildeo necessaacuteria para impedir a saiacuteda

do som quanto por natildeo ser um espaccedilo proacuteprio do Serviccedilo Na sequecircncia sempre com duas

referecircncias por parte dos psicoacutelogos escolares comparecem como elementos dificultadores a falta

de investimento financeiro o reduzido nuacutemero de profissionais a divulgaccedilatildeo pouco eficiente e a

resistecircncia e vergonha dos alunos em buscar ajuda Por fim mencionam a falta de clareza do papel

do psicoacutelogo escolar por parte da instituiccedilatildeo e a ameaccedila de acabar com o Serviccedilo este uacuteltimo

decorrente da natildeo valorizaccedilatildeo do trabalho

No que diz respeito agraves modificaccedilotildees ou implementaccedilotildees que consideram que poderiam ser

feitas nos Serviccedilos e em sua atuaccedilatildeo as indicaccedilotildees feitas pelos psicoacutelogos escolares vatildeo na direccedilatildeo

de ampliar o campo de intervenccedilatildeo do Serviccedilo seja por meio da expansatildeo fiacutesica para outros campi

seja atraveacutes do trabalho mais frequente com outros atores institucionais estes representando

metade das indicaccedilotildees feitas pelos profissionais Em relaccedilatildeo agraves accedilotildees com os alunos apontam que

fariam mais palestras e encontros em grupo implantariam o atendimento virtual para dar suporte

aos cursos a distacircncia e criariam um serviccedilo de plantatildeo para casos de emergecircncia Em relaccedilatildeo agrave

equipe pedagoacutegica referem que gostariam de consolidar o trabalho de formaccedilatildeo com os

professores sensibilizaacute-los acerca das dificuldades dos alunos abrir um canal de comunicaccedilatildeo mais

eficiente com a direccedilatildeo acadecircmica e coordenaccedilotildees e oferecer suporte agraves assessorias pedagoacutegicas

dos cursos que satildeo instacircncias de auxiacutelio agrave coordenaccedilatildeo

Tendo por base as atividades que realizam as quais natildeo mais se restringem a intervenccedilotildees

diretas com os alunos e as indicaccedilotildees de mudanccedila e ampliaccedilatildeo que gostariam de fazer percebe-se

que os profissionais estatildeo caminhando na direccedilatildeo de atuaccedilotildees mais abrangentes que por vias

170

indiretas repercutem na formaccedilatildeo dos estudantes Ou seja estatildeo investindo na promoccedilatildeo da

qualidade da accedilatildeo de outros atores envolvidos no processo educativo e que consequentemente

repercutem na natureza do seu trabalho

Apresentados os resultados relativos agraves entrevistas com os psicoacutelogos escolares do Distrito

Federal passa-se agora agrave apresentaccedilatildeo e discussatildeo dos resultados decorrentes do acompanhamento

da atuaccedilatildeo de um profissional em uma IES tambeacutem do DF A ideia de assessorar um psicoacutelogo

surgiu da confluecircncia de elementos como por exemplo contribuir para o aprimoramento da

atuaccedilatildeo de um psicoacutelogo escolar e obter informaccedilotildees mais pormenorizadas acerca da intervenccedilatildeo e

da constituiccedilatildeo do perfil profissional em Psicologia Escolar Buscava-se assim contribuir para a

construccedilatildeo de uma atuaccedilatildeo mais segura e sistematizada que desse conta de enfrentar com

intencionalidade e pertinecircncia os desafios demandas e necessidades de uma Instituiccedilatildeo de

Educaccedilatildeo Superior (Marinho-Arauacutejo 2009a)

A formaccedilatildeo continuada como modalidade de acompanhamento da praacutetica profissional natildeo

eacute a uacutenica possibilidade de favorecer o desenvolvimento do perfil entretanto eacute um loacutecus eficaz para

seu acompanhamento e construccedilatildeo por meio do estudo teoacuterico-conceitual e da anaacutelise discussatildeo e

reflexatildeo sobre a experiecircncia praacutetica que vatildeo se alimentando dialeticamente Esta foi portanto a

opccedilatildeo adotada neste trabalho Para concretizar essas ideias fez-se uma proposta a uma IES privada

do Distrito Federal e ao psicoacutelogo escolar que laacute atuava

A psicoacuteloga escolar que participou desta etapa da pesquisa se formou no ano de 2002 e ao

longo do curso Psi (como seraacute identificada a participante neste trabalho) direcionou seu interesse

para a aacuterea de Psicologia Organizacional campo no qual teve oportunidade de realizar pesquisas e

estaacutegios Fez especializaccedilatildeo em Educaccedilatildeo a Distacircncia em Administraccedilatildeo em Recursos Humanos e

Mestrado em Psicologia Social do Trabalho e das Organizaccedilotildees

Sua experiecircncia profissional eacute prioritariamente na aacuterea organizacional contexto no qual

trabalhou em atividades relacionadas aos subsistemas de Recursos Humanos em especial em

Treinamento Desenvolvimento e Educaccedilatildeo (TDampE) e em seleccedilatildeo de pessoas aleacutem de pesquisas

acadecircmicas em educaccedilatildeo a distacircncia Nos uacuteltimos cinco anos ela atuava em uma organizaccedilatildeo

privada de Educaccedilatildeo Profissional no Distrito Federal que oferece cursos profissionalizantes de

formaccedilatildeo inicial e continuada e cursos teacutecnicos de niacutevel meacutedio com foco em atividades do

segmento do comeacutercio e serviccedilos turismo sauacutede e de tecnologia de informaccedilatildeo e da comunicaccedilatildeo

Psi trabalhava no setor de Educaccedilatildeo Corporativa desta instituiccedilatildeo o qual era responsaacutevel

pelo planejamento e coordenaccedilatildeo de programas de formaccedilatildeo estrategicamente delineados para o

desenvolvimento nos colaboradores de competecircncias alinhadas aos objetivos da organizaccedilatildeo

Mais do que treinamento ou qualificaccedilatildeo dos colaboradores praacuteticas de educaccedilatildeo corporativa estatildeo

relacionadas a atividades educacionais desenvolvida pelas empresas para tornaacute-las mais

competitivas

171

Esta instituiccedilatildeo na qual Psi trabalhava nos uacuteltimos anos eacute Mantenedora da IES na qual

transcorreu sua experiecircncia em Psicologia Escolar foco do acompanhamento desta etapa da

pesquisa Em consonacircncia com o perfil de sua Mantenedora a instituiccedilatildeo na qual Psi trabalha eacute

uma faculdade privada sem fins lucrativos voltada para Educaccedilatildeo Profissional em niacutevel superior

A Faculdade foi criada em 2007 com duas unidades de funcionamento e com dois cursos

superiores de tecnologia Atualmente conta com quatro cursos de graduaccedilatildeo onze cursos de poacutes-

graduaccedilatildeo lato-sensu e diversos cursos de extensatildeo nos quais atuam 70 docentes 40 funcionaacuterios

atendendo mais de 1500 alunos nos cursos matutino e noturno

Conforme estava previsto no seu Plano de Desenvolvimento Institucional a Faculdade

implantou no 2ordm semestre de 2008 o Nuacutecleo de Apoio Psicoloacutegico o qual era composto e

coordenado por uma psicoacuteloga escolar No 1ordm semestre de 2009 esta profissional se afastou da

instituiccedilatildeo o que ocasionou a necessidade de contrataccedilatildeo de outra psicoacuteloga escolar A IES

realizou sem sucesso alguns processos seletivos de forma que as accedilotildees desenvolvidas pelo nuacutecleo

ficaram suspensas ateacute o 2ordm semestre de 2010 eacutepoca em que a Direccedilatildeo Geral da Faculdade convidou

Psi (que ateacute entatildeo trabalhava no setor de Educaccedilatildeo Corporativa da Mantenedora) para atuar como

psicoacuteloga escolar Tendo aceitado o convite a profissional em referecircncia iniciou as atividades no

nuacutecleo e apoacutes dois meses de atuaccedilatildeo foi lhe feito o convite para participar deste estudo na forma

de uma pesquisa-intervenccedilatildeo Cumpre esclarecer que a pesquisadora deste estudo foi quem

implantou o Serviccedilo de Psicologia na IES em referecircncia e que por ocasiatildeo de sua saiacuteda propocircs e

acordou com a instituiccedilatildeo que quando o novo profissional fosse contratado lhe seria oferecido um

acompanhamento em serviccedilo

Na ocasiatildeo em que foi feito o convite agrave Psi os objetivos e estrateacutegias de acompanhamento

foram discutidos e acordados e diante de sua concordacircncia em participar da pesquisa deu-se

iniacutecio em setembro de 2010 agrave assessoria a um psicoacutelogo escolar que atua em uma IES do Distrito

Federal conforme previsto na segunda etapa do estudo 1

O processo de anaacutelise ocorreu por apreensatildeo de zonas de sentido conforme descrito no

capiacutetulo metodoloacutegico Entendendo que as accedilotildees de Psi eram igualmente produtos de apropriaccedilotildees

passadas e processos de transformaccedilatildeo tanto relativas ao contexto quanto a ela proacutepria (Zanella

Reis Titon Urnau amp Dassoler 2007) o objetivo da anaacutelise do memorial e dos encontros eacute

apreender os sentidos subjetivos por ela construiacutedos no curso do processo de inserccedilatildeo e atuaccedilatildeo no

contexto da Educaccedilatildeo Superior O desafio neste processo de anaacutelise eacute justamente o de integrar um

conjunto de elementos de ordem pessoal relacional e contextual que interagem na realidade

investigada e que constroem singularmente os sentidos

Em virtude da saiacuteda da psicoacuteloga escolar dois meses apoacutes o iniacutecio da pesquisa-intervenccedilatildeo

o memorial proposto natildeo foi concluiacutedo na medida que natildeo houve oportunidade para analisar seu

conteuacutedo e os sentidos a ele relacionados em conjunto com Psi Dessa maneira optou-se por

utilizar o conteuacutedo do memorial para complementar e esclarecer sentidos partilhados nos

172

encontros de forma que trechos do memorial aparecem ao longo dessa discussatildeo corroborando os

resultados A anaacutelise dos encontros de discussatildeo e reflexatildeo por sua vez oportunizou a criaccedilatildeo de

trecircs zonas de sentido (a) Quem eacute o psicoacutelogo escolar Consideraccedilotildees sobre o perfil profissional

(b) O que e como fazer em Psicologia Escolar Reflexotildees acerca da atuaccedilatildeo e (c) Formaccedilatildeo

continuada como recurso auxiliar agrave construccedilatildeo do perfil e da atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar

As interlocuccedilotildees medidas que transcorreram entre a psicoacuteloga escolar e a pesquisadora

durante os encontros e que sustentaram a construccedilatildeo de cada zona de sentido natildeo estatildeo

apresentadas na iacutentegra tendo em vista que deixaria esta seccedilatildeo dos resultados bastante extensa Para

ilustrar e favorecer a compreensatildeo do processo de apreensatildeo dos sentidos a partir das trocas

interaccedilotildees e interlocuccedilotildees fomentadas nos encontros foram eleitas apenas algumas interlocuccedilotildees

Na sequecircncia apresentam-se as siacutenteses interpretativas relacionadas aos sentidos circulados ao

longo de todo o acompanhamento e que se associam agrave zona em anaacutelise Feitos estes

esclarecimentos apresentam-se e discutem-se a seguir os principais resultados decorrentes do

acompanhamento da profissional que atua em uma Instituiccedilatildeo de Educaccedilatildeo Superior do Distrito

Federal

A primeira zona de sentido construiacuteda a partir da anaacutelise dos encontros entre Psi e a

pesquisadora refere-se ao perfil profissional aos sentidos relacionados agrave construccedilatildeo da identidade

de psicoacuteloga escolar e as funccedilotildees que lhe satildeo atribuiacutedas A identidade profissional eacute ao mesmo

tempo expressatildeo da histoacuteria de vida dos sujeitos das suas necessidades desejos valores e

projetos bem como das caracteriacutesticas da profissatildeo que tem um campo teoacuterico praacutetico e social

claramente definido e responsaacutevel por distingui-la de outras Assim a construccedilatildeo dessa identidade

engloba tanto dimensotildees da vida pessoal e social dos sujeitos quanto da sua relaccedilatildeo com a

profissatildeo com os conhecimentos e as habilidades especiacuteficos da aacuterea com os aportes ideoloacutegicos

teoacutericos e metodoloacutegicos que a embasam com as expectativas sociais construiacutedas em torno da

profissatildeo etc

Tanto as experiecircncias objetivamente vividas pelo sujeito quanto os sentidos que atribuem a

estas vivecircncias satildeo elementos importantes na construccedilatildeo da identidade profissional Ela eacute ao

mesmo tempo processo e resultado de configuraccedilotildees subjetivas que tecircm lugar na complexa rede de

sentidos e significados gerados nos espaccedilos relacionais tanto os sociais como os de trabalho Na

medida em que eacute uma construccedilatildeo histoacuterica e cultural oportunizada pela inserccedilatildeo do sujeito nos

mais variados contextos a identidade profissional natildeo pode ser assumida como uacutenica definitiva ou

eternamente idecircntica Muito pelo contraacuterio ela eacute dinacircmica e constantemente revisitada pelo sujeito

a partir da sua inserccedilatildeo em outros contextos da vivecircncia de novas experiecircncias sociais e

profissionais da sua relaccedilatildeo com o trabalho A Tabela 13 traz os sentidos relacionados ao perfil do

psicoacutelogo escolar que circularam durante o acompanhamento das atividades de Psi

173

Tabela 13

Zona de sentido 1 Quem eacute o psicoacutelogo escolar Consideraccedilotildees sobre o perfil profissional

INTERLOCUCcedilOtildeES MEDIDADAS

Exemplo 1 Identidade do psicoacutelogo escolar

Pesq Entatildeo Psi relacionado com tudo isso que a gente estaacute falando pra vocecirc quem eacute o psicoacutelogo

escolar

Psi A imagem que eu tenho eacute a ideia do psicoacutelogo que vai conseguir apoiar antes eu acho que eu

tinha mais essa ideia do apoio ao aluno e depois de tudo assim da necessidade que eu vejo da

preparaccedilatildeo dos docentes e ateacute do apoio ao docente depois das nossas conversas aiacute eu acho que

fica bem mais claro pra mim que natildeo eacute soacute um apoio ao aluno que eacute uma preparaccedilatildeo tambeacutem eacute um

apoio ao docente e agrave coordenaccedilatildeo e um apoio na preparaccedilatildeo

Pesq Vocecirc acha que mudou a sua compreensatildeo desde que vocecirc veio pra caacute

Psi eu acho que sim que depois que eu vim pra caacute essa imagem do trabalho maior com os

docentes eu imaginava que era um trabalho maior com os alunos e hoje eu acho que natildeo que eacute

maior com a outra banda com os docentes

Exemplo 2 Importacircncia de recursos e competecircncias especiacuteficos agrave intervenccedilatildeo em Psicologia

Escolar

Psi Eu natildeo entro a professora G vai entrar em sala de aula pra conversar com os docentes do 1ordm

semestre eu natildeo entraria eu natildeo entraria Dar aula pra docente de dentro da instituiccedilatildeo eu dou

ambientaccedilatildeo para novos docentes treinar docente pra dar aula dentro da instituiccedilatildeo eu dou mas

aqui dentro natildeo

Pesq Aqui dentro onde vocecirc fala

Psi Aqui na Faculdade

Pesq Por que vocecirc diz isso

Psi Por quecirc Aqui na faculdade dar um curso pros docentes ou coisa assim Porque eu natildeo conheccedilo

eles natildeo conheccedilo eles e conheccedilo pouco da didaacutetica utilizada aqui por deles Eu acho que quando

eu for aprender um pouquinho mais disso as coisas vatildeo se assemelhar porque tambeacutem eacute para

todos neacute natildeo eacute tatildeo diferente mas tem as suas especificidades com certeza Entatildeo eu natildeo arriscaria

fazer o que a professora G vai fazer

Pesq Vocecirc ainda natildeo se sente preparada

Psi Isso natildeo agora natildeo Entatildeo se eu tivesse eu acho mais experiecircncia se eu soubesse quais satildeo as

dificuldades que esse aluno de 1ordm semestre passa o que especificamente esse docente faz pra que

faccedila o aluno se sentir daquele jeito que que ele fala mais ou menos a gente sabe mas realmente

natildeo sabe e como eacute que eu vou chegar em sala de aula e dizer pra ele entatildeo eu acho que tem que

ter esse conhecimento da praacutetica

174

Tabela 13 (continuaccedilatildeo)

Sentidos circulados

reflexotildees e problematizaccedilotildees acerca da identidade e do papel do psicoacutelogo escolar bem como

dos recursos habilidades e competecircncias que o sustentam desencadeadas pela inserccedilatildeo e

anaacutelise do contexto profissional

SIacuteNTESE INTERPRETATIVA - ZONA DE SENTIDO 1

1 Reflete sobre quem eacute o psicoacutelogo escolar seu papel e o que ele faz a partir das demandas

recebidas e das accedilotildees que realiza

2 Compreende que o psicoacutelogo escolar trabalha com os diferentes atores e se preocupa com as

relaccedilotildees o clima organizacional a satisfaccedilatildeo e a motivaccedilatildeo aleacutem da profissionalizaccedilatildeo dos

estudantes

3 Reflete sobre o atendimento individual e compreende que a identidade do psicoacutelogo escolar

natildeo eacute dada pelo tipo de atividade que realiza mas pela concepccedilatildeo e objetivo que a orienta

4 Privilegia accedilotildees mais duradouras e de corresponsabilizaccedilatildeo em detrimento de accedilotildees pontuais

e de caraacuteter informativo

5 Constata representaccedilatildeo idealizadamaacutegica dos atores (coordenadores) sobre o psicoacutelogo

escolar

6 Percebe importacircncia do proacuteprio psicoacutelogo escolar e dos demais atores institucionais terem

clareza de suas funccedilotildees especiacuteficas e compartilhadas

7 Reflete e expressa sua concepccedilatildeo sobre o papel da educaccedilatildeo na reduccedilatildeo das desigualdades

sociais

8 Problematiza o fato da educaccedilatildeo profissional se focar na preparaccedilatildeo teacutecnica sem se preocupar

com o desenvolvimento relacional

9 Percebe algumas semelhanccedilas e especificidades entre a Psicologia Organizacional e a

Psicologia Escolar

10 Aponta experiecircncia profissional anterior como elemento que auxilia no desenvolvimento do

perfil

11 Expressa consciecircncia dos recursos e competecircncias que tem e que auxiliam sua atuaccedilatildeo

profissional aleacutem de demonstrar postura criacutetica frente agraves suas caracteriacutesticas pessoais

12 Descreve os recursos que entende como necessaacuterios ao psicoacutelogo escolar

13 Aponta especificidade do conhecimento psicoloacutegico e elementos para compor o perfil do

psicoacutelogo que iraacute atuar na Comissatildeo Proacutepria de Avaliaccedilatildeo

De maneira geral pode-se dizer que a entrada de Psi no novo contexto de trabalho ou seja

na Faculdade foi o grande mote para desencadear a circulaccedilatildeo dos sentidos relacionados agrave

identidade e ao papel de psicoacuteloga escolar Conforme relatado anteriormente a formaccedilatildeo inicial e

continuada e a experiecircncia profissional de Psi eram ateacute entatildeo prioritariamente na aacuterea

175

organizacional sendo que antes de ingressar na Faculdade ela natildeo havia tido nenhuma vivecircncia em

Psicologia Escolar Dessa forma a inserccedilatildeo em um novo contexto com caracteriacutesticas dinacircmica

expectativas e atribuiccedilotildees diferenciadas daquelas no qual atuava foi elemento desencadeador de

reflexotildees e problematizaccedilotildees acerca da sua identidade

Tanto as demandas que lhe eram direcionadas quanto as accedilotildees que realizava serviram como

elementos mobilizadores da reflexatildeo acerca do seu papel como psicoacuteloga escolar como fica

expliacutecito em um trecho extraiacutedo do memorial por ela realizado ldquoAlgumas dessas demandas me

espantavam uma vez um coordenador de curso me chamou para dizer que um docente pediu que

a turma se dividisse em grupos e dois alunos natildeo conseguiram se inserir em nenhum dos grupos

Aiacute eles queriam que a psicoacuteloga fosse na sala para conseguir colocar essas duas pessoas em

grupos Confesso que me espantei com o pedido Mas natildeo me passou pela cabeccedila em nenhum

momento que eu precisasse entrar em sala para dividir o grupo Natildeo acho que isso seja papel de

um psicoacutelogo escolarrdquo Vecirc-se assim que a inserccedilatildeo no contexto profissional teve o potencial de

desencadear questionamentos e reflexotildees acerca das suas funccedilotildees e daquilo que lhe compete

todavia a simples inserccedilatildeo desprovida de anaacutelise pouco contribui para a construccedilatildeo de uma

atuaccedilatildeo mais competente e coerente com a realidade da instituiccedilatildeo

Eacute a postura criacutetica e permanentemente reflexiva acerca da sua atuaccedilatildeo que iraacute subsidiar a

construccedilatildeo e reformulaccedilatildeo das suas intervenccedilotildees agrave luz da articulaccedilatildeo dialeacutetica entre suas

convicccedilotildees e caracteriacutesticas pessoais dos conhecimentos teoacutericos e teacutecnicos da aacuterea e das

necessidades e expectativas da instituiccedilatildeo e dos sujeitos Dessa maneira as indicaccedilotildees de Psi de

que se espantou com a demanda que recebeu de que questionou a pertinecircncia de sua proacutepria accedilatildeo

associadas agrave apropriaccedilatildeo dos fundamentos em Psicologia Escolar apontam que esta atitude criacutetica e

reflexiva eacute fundamental no processo de construccedilatildeo da identidade do psicoacutelogo escolar Conforme jaacute

relatado por Marinho-Arauacutejo e Almeida (2005a 2005b) a accedilatildeo reflexiva como estrateacutegia para

analisar compreender e planejar intervenccedilotildees eacute elemento fundamental na construccedilatildeo do papel do

psicoacutelogo escolar pois ela possibilita ao profissional ampliar seu entendimento da situaccedilatildeo tomar

uma decisatildeo e agir com coerecircncia e pertinecircncia

Os resultados do acompanhamento apontam que Psi percebe as vantagens de trabalhar com

uma perspectiva preventiva e institucional de atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar e tenta concretizaacute-las

em sua praacutetica Nesta direccedilatildeo apontou em seu memorial que o ldquomeu trabalho maior ou o primeiro

grande trabalho deveria ser com os docentes e coordenaccedilatildeo precisavam ter mais habilidades em

lidar com os alunos em identificar focos de possiacuteveis problemas de relacionamento identificar

alunos desmotivados e saber orientaacute-los Natildeo veria problemas algum em atender individualmente

os alunos mas natildeo achava que essa era uma accedilatildeo conveniente para a instituiccedilatildeordquo

A ideia do psicoacutelogo escolar como profissional convocado para tratar de problemas natildeo era

compartilhada por Psi ao contraacuterio ela mostrava-se inclinada para atuaccedilotildees mais abrangentes de

natureza preventiva e extensivas aos diferentes atores como tem sido indicado em produccedilotildees da

176

aacuterea (Arauacutejo amp Almeida 2003 Guzzo 2001 2003 Maluf 2003 Marinho-Arauacutejo amp Almeida

2005a Martiacutenez 2005 2007 Oliveira amp Marinho-Arauacutejo no prelo Oliveira Marinho-Arauacutejo amp

Almeida 2010a 2010b)

A opccedilatildeo por accedilotildees de natureza preventiva fica evidente em outros relatos e accedilotildees de Psi

Por exemplo diante do pedido da direccedilatildeo da Faculdade para que fizesse palestras nas turmas sobre

bullying tendo em vista as constantes queixas dos docentes acerca do modo desrespeitoso e

agressivo de tratamento entre os alunos Psi sugeriu que a Faculdade criasse uma campanha de

relacionamento interpessoal que fosse extensiva a todas as turmas e espaccedilos relacionais da

instituiccedilatildeo Propocircs agrave direccedilatildeo da IES que a campanha tratasse natildeo apenas de questotildees de

relacionamento interpessoal na Faculdade mas tambeacutem no trabalho e na vida como um todo

ldquoSendo assim foi elaborada a campanha ldquoCultive relacionamentos saudaacuteveisrdquo que trataria de

temas como relacionamento no local de trabalho negociaccedilatildeo bullying acolhimento preconceito

entre outrosrdquo Esta fala de Psi em um dos encontros expressa opccedilatildeo por situaccedilotildees de aprendizagem

que possam ser incorporadas agraves praacuteticas cotidianas em vez de accedilotildees pontuais e delimitadas no

tempo e no espaccedilo Entretanto em decorrecircncia da diminuiccedilatildeo de demandas relativas ao

relacionamento entre os alunos e das prioridades da instituiccedilatildeo com outras accedilotildees emergenciais a

direccedilatildeo da Faculdade recomendou que a campanha fosse implantada no semestre seguinte Esse

fato suscitou em Psi questionamentos acerca do fato da instituiccedilatildeo desencadear intervenccedilotildees

remediativas para resolver problemas jaacute instalados sendo que em um dos encontros comentou que

ldquonatildeo precisamos esperar ter problemas de relacionamento para fazermos a campanha acho que

ela deve ser preventivardquo

Privilegiar accedilotildees preventivas e ampliadas a toda a instituiccedilatildeo estaacute em consonacircncia com os

apontamentos reiterados da literatura brasileira acerca da pertinecircncia dos psicoacutelogos escolares

desenvolverem trabalhos que se desloquem do foco no problema e que envolvam a globalidade da

instituiccedilatildeo em uma perspectiva de promoccedilatildeo do desenvolvimento individual coletivo e

institucional Sem pretender chegar a respostas conclusivas mas levantar hipoacuteteses acerca dos

fatores que podem estar contribuindo para a modificaccedilatildeo desse quadro supotildee-se que algumas

alteraccedilotildees nas ecircnfases dos cursos em Psicologia estejam ocorrendo Uma delas eacute o maior destaque a

um trabalho coletivo e de vieacutes institucional que natildeo se prende ao indiviacuteduo isolado do contexto

outra eacute a aposta em uma leitura mais ampla e abrangente da realidade institucional ou ainda o

investimento em accedilotildees preventivas e de promoccedilatildeo do desenvolvimento individual e institucional

em detrimento de praacuteticas curativas e terapecircuticas A ecircnfase no modelo individual de intervenccedilatildeo

baseado em procedimentos curativos que por muito tempo foi caracteriacutestica da formaccedilatildeo inicial em

Psicologia conforme destacaram Conoley e Gutkin (1995) e Guzzo (1999a) pode estar sendo

alterada de forma que atuaccedilotildees descentradas dos problemas apresentados pelos alunos jaacute se fazem

presentes nos espaccedilos educativos

177

Por sua vez optar por intervenccedilotildees preventivas e investir no desenvolvimento das

potencialidades dos sujeitos requer adotar uma abordagem teoacuterica do desenvolvimento humano que

eacute a base da Psicologia Escolar (Guzzo 1996 2001) O eixo norteador das pesquisas e intervenccedilotildees

na aacuterea eacute essencialmente a promoccedilatildeo de variadas oportunidades de aprendizagem que tenham

como objetivo potencializar o desenvolvimento de muacuteltiplas competecircncias habilidades e maneiras

de ser e estar no mundo No caso da Educaccedilatildeo Superior eacute de especial relevacircncia que o psicoacutelogo

escolar tenha clareza e apropriaccedilatildeo do desenvolvimento psicoloacutegico humano em especial do

sujeito adulto (Marinho-Arauacutejo 2009 Oliveira amp Marinho-Arauacutejo no prelo) Este eacute entretanto

um aspecto lacunar na intervenccedilatildeo de Psi que natildeo privilegia em suas accedilotildees a promoccedilatildeo do

desenvolvimento humano

A escolha por trabalhar com o corpo docente eacute reiterada na literatura em Psicologia

Escolar todavia a opccedilatildeo de Psi natildeo se ancora na ideia de favorecer o desenvolvimento dos

professores como mediadores principais do aprendizado e da formaccedilatildeo dos estudantes mas como

profissionais que devem ter compromisso e autonomia em solucionar problemas que surgem no

exerciacutecio da sua praacutetica profissional Os sentidos relacionados ao trabalho com a equipe pedagoacutegica

natildeo evidenciam a intenccedilatildeo por parte de Psi de que o trabalho do psicoacutelogo escolar deva ser o de

contribuir para que o professor perceba que os problemas de aprendizagem ou de comportamento

se fomentam nas relaccedilotildees e que muacuteltiplos fatores estatildeo envolvidos na sua configuraccedilatildeo

Por exemplo em relaccedilatildeo ao pedido para que realizasse a divisatildeo dos grupos conforme

descrito anteriormente a accedilatildeo de Psi foi a de orientar o coordenador para que este conversasse com

o professor dando-lhe indicaccedilotildees de como conduzir a discussatildeo com a turma e apontando

alternativas para dividir os grupos Uma das caracteriacutesticas dessa accedilatildeo eacute que ela tem um caraacuteter

normativo e informativo ou seja diz ao professor como fazer e natildeo o impele a refletir entender as

questotildees envolvidas compreender o seu proacuteprio papel na configuraccedilatildeo do problema e no

encaminhamento do mesmo As orientaccedilotildees dadas pela psicoacuteloga escolar em casos como estes se

aproximam mais de padrotildees preacute-determinados acerca de como se espera que o professor aja para

minimizar o surgimento de problemas Diferentemente defende-se que o psicoacutelogo escolar deva

ser agente potencialmente capaz de favorecer o desenvolvimento tanto dos estudantes quanto dos

professores optando por processos de conscientizaccedilatildeo destes uacuteltimos acerca da possibilidade de

transformar os problemas acadecircmicos nas relaccedilotildees de construir outras estrateacutegias pedagoacutegicas e

metodoloacutegicas que possam otimizar o aprendizado de optar por planejamentos direcionados agrave

necessidade dos alunos Ou seja contribuir para que entendam que o processo de ensino e

aprendizagem eacute essencialmente relacional e que a relaccedilatildeo professor-aluno eacute o seu grande motor

Se por um longo tempo os estudos e pesquisas apontaram para a indefiniccedilatildeo do papel do

psicoacutelogo escolar em decorrecircncia da inconsistecircncia na formaccedilatildeo na aacuterea da incoerecircncia teoacuterica-

praacutetica percebida na atuaccedilatildeo dos profissionais e da adoccedilatildeo de um modelo cliacutenico-terapecircutico de

intervenccedilatildeo o acompanhamento da atuaccedilatildeo desta psicoacuteloga escolar sinaliza algumas alteraccedilotildees e

178

avanccedilos nesse quadro Os resultados relativos ao acompanhamento de Psi indicam que parece estar

claro para ela que natildeo eacute papel do psicoacutelogo escolar atender exclusivamente os alunos

principalmente se este atendimento tiver caraacuteter cliacutenico-terapecircutico A esse respeito registrou em

seu memorial que ldquoestive incomodada com o fato de alguns atendimentos com alunos demorarem

muito tempo e os alunos quererem tratar de questotildees pessoais o que tornava o acompanhamento

quase um atendimento psicoteraacutepicordquo

Contudo analisando outras ocasiotildees nas quais a praacutetica de atender os alunos foi ponto de

reflexatildeo nos encontros constata-se que o maior sentido que justifica para Psi natildeo realizar

atendimento individual eacute a incapacidade de responder a todos os pedidos de apoio dessa natureza

conforme exemplificado no diaacutelogo a seguir

Psi Eu acho que eacute vaacutelido eacute importante porque eacute uma demanda grande da coordenaccedilatildeo eacute

uma demanda dos alunos que a gente vecirc na fala dos alunos mas tem que saber ter essa conduccedilatildeo

de que natildeo eacute um atendimento cliacutenico e que eu tambeacutem natildeo acho que deva ser uma coisa

permanente que esse acompanhamento seja de diagnoacutestico pra um encaminhamento

Pesq Vocecirc estava dizendo ldquoeu estou com trecircs casosrdquo eu natildeo sei se vocecirc estaacute achando

muito ou pouco

Psi Natildeo eu tocirc achando que natildeo cabe mais muito eu jaacute acho eu tocirc achando muito pela

quantidade de coisas Se a gente tivesse neacute fazendo soacute isso e uma outra accedilatildeo dava pra levar

mais

Pesq Entatildeo mas talvez a gente precise mudar um pouquinho o foco a compreensatildeo da

situaccedilatildeo

Observa-se assim que o motivo para Psi negar o apoio individual estava relacionado ao

tamanho da demanda e ao fato de natildeo conseguir atender a todos os alunos com qualidade Por outro

lado o argumento da Psicologia Escolar contemporacircnea para natildeo privilegiar o apoio

individualizado aos estudantes que queixam (ou sobre os quais se queixam) de dificuldades eacute de

que os problemas vivenciados nas trajetoacuterias acadecircmicas natildeo se reduzem ao indiviacuteduo a causas

exclusivamente associadas ao estudante mas sobretudo pela influecircncia de questotildees relacionais

pedagoacutegicas institucionais e poliacuteticas (Arauacutejo 2003 Machado 2000 Marinho-Arauacutejo amp Almeida

2003 Neves 2003 2005) O sentido que embasa o posicionamento de Psi estaacute pouco vinculado a

uma concepccedilatildeo de que os problemas satildeo forjados coletivamente mediante a influecircncia de fatores

relacionados aos indiviacuteduos alunos ou professores agraves propostas curriculares agraves praacuteticas

pedagoacutegicas agrave dinacircmica institucional e suas poliacuteticas

Diante dos sentidos circulados ao longo dos encontros entra Psi e a pesquisadora reitera-se

que a identidade profissional emerge de um processo histoacuterico que resulta das vivecircncias pessoais

do psicoacutelogo suas relaccedilotildees sociais e profissionais sua formaccedilatildeo e a especificidade da sua aacuterea de

conhecimento e do seu trabalho Dessa forma a identidade deve pautar-se no reconhecimento da

especificidade exigida pelo contexto educativo e pelas competecircncias necessaacuterias ao exerciacutecio de

179

sua praacutetica (Le Boterf 2003 Marinho-Arauacutejo 2004 2005 Marinho-Arauacutejo amp Almeida 2005)

Nessa direccedilatildeo destacam-se alguns sentidos que circularam no que tange agraves competecircncias

importantes e desejaacuteveis agrave construccedilatildeo do perfil do psicoacutelogo escolar

Ressalta-se inicialmente que ao perspectivar seu ingresso na Faculdade Psi enveredou por

um processo de apreciaccedilatildeo das accedilotildees que poderia desenvolver com seguranccedila e daquelas que

precisaria buscar apoio As accedilotildees que considerava possiacuteveis implementar e dar iniacutecio ao seu

trabalho referiam-se agravequelas que realizava no contexto organizacional e que considerava

pertinentes ao espaccedilo educativo Tendo em vista sua experiecircncia profissional anterior no contexto

organizacional e as informaccedilotildees que lhe foram dadas na ocasiatildeo do convite para trabalhar na IES

Psi percebeu que poderia se respaldar em algumas de suas competecircncias para iniciar as atividades

na Faculdade Dessa forma ao considerar sua inserccedilatildeo no novo contexto profissional

especificamente em um no qual natildeo tinha se especializado e natildeo tinha experiecircncia preacutevia Psi

recorreu agrave sua vivecircncia anterior aos saberes previamente construiacutedos aos conhecimentos

incorporados agraves habilidades que desenvolvia com satisfaccedilatildeo

Acerca desse movimento da psicoacuteloga escolar em se respaldar no conhecimento e

experiecircncia anterior como estrateacutegia para auxiliaacute-la na construccedilatildeo das novas intervenccedilotildees importa

destacar dois aspectos O primeiro aspecto estaacute relacionado ao fato de que ao se deparar com o

desafio de atuar em um contexto pouco conhecido Psi natildeo se prendeu ao ldquonatildeo saberrdquo ou seja agraves

competecircncias e conhecimentos que percebia natildeo ter satisfatoriamente desenvolvidos para a

concretizaccedilatildeo de seu trabalho como psicoacuteloga escolar Ao contraacuterio buscou suporte naquelas

habilidades que tinha domiacutenio e que lhe davam seguranccedila

A esse respeito Psi registrou em seu memorial que ldquoAssim que tive a proposta de vir para a

Faculdade sabia que teriam atividades em que eu teria mais facilidade em trabalhar e outras que

eu teria que iniciar estudos As primeiras atividades satildeo aquelas que possuem interface com a aacuterea

organizacional que satildeo relacionadas agrave anaacutelise de curriacuteculos de alunos a realizaccedilatildeo de um banco

de talentos agrave orientaccedilatildeo dos alunos com relaccedilatildeo agrave postura profissional conduta em entrevistasrdquo

Os recursos subjetivos que o profissional dispotildee satildeo essenciais para lhe habilitar a enfrentar novas

situaccedilotildees com intencionalidade e seguranccedila (Le Boterf 2003 Zarifian 2003)

O segundo aspecto a destacar eacute a iniciativa em procurar auxiacutelio para a construccedilatildeo do seu

papel e atividades mediante o reconhecimento de que o novo contexto requeria um profissional

com recursos e competecircncias diferenciadas A falta de preparo teacutecnico de conhecimentos e

habilidades especificamente voltadas agrave Psicologia Escolar eacute uma queixa recorrente entre os

psicoacutelogos escolares que a apontam como principal dificuldade agrave sua atuaccedilatildeo (Almeida 1999

Arauacutejo 2003 Neves Almeida Chaperman amp Batista 2002) Esta falta foi sentida por Psi que ao

se deparar com o desafio de ser psicoacuteloga escolar se viu confrontada com a ausecircncia de

conhecimentos e competecircncias especiacuteficas que a permitissem atuar com seguranccedila O exemplo 2 da

Tabela 13 anteriormente apresentada ilustra uma situaccedilatildeo na qual Psi natildeo se sentia segura para

180

conduzir uma atividade com os docentes por desconhecer a realidade de trabalho deles suas

dificuldades e necessidades

Neste exemplo apresentado mais do que conhecer a realidade da instituiccedilatildeo na qual

trabalhava especificamente Psi tambeacutem natildeo tinha informaccedilotildees e conhecimentos acerca da

dinacircmica de uma instituiccedilatildeo educativa que tem particularidades diferenciadas de instituiccedilotildees de

outra natureza Tanto o conhecimento da IES em que se estaacute inserido sua dinacircmica hierarquias

procedimentos relaccedilotildees eacute um elemento importante na composiccedilatildeo da atuaccedilatildeo do psicoacutelogo escolar

como tambeacutem a clareza acerca das funccedilotildees objetivos e processos que satildeo proacuteprios das Instituiccedilotildees

de Educaccedilatildeo Superior e que a distinguem de outros espaccedilos educativos

Observa-se assim que as indicaccedilotildees constantemente reiteradas na literatura brasileira

acerca da importacircncia do psicoacutelogo escolar ter consciecircncia da especificidade da sua identidade a

qual eacute dada por um conjunto de recursos e competecircncias que o habilitam a agir com

intencionalidade seguranccedila e eficiecircncia eacute elemento basilar na construccedilatildeo do perfil e da atuaccedilatildeo em

Psicologia Escolar (Marinho-Arauacutejo 2005 Marinho-Arauacutejo amp Almeida 2005) Se inicialmente o

fato de Psi recuperar seus saberes e competecircncias desenvolvidas no seio do contexto organizacional

pode parecer inadequado por outro tal recuperaccedilatildeo eacute possiacutevel se for levado em conta que a

Psicologia Escolar natildeo se define em funccedilatildeo de um campo especiacutefico de saberes mas pela

configuraccedilatildeo de um campo de atuaccedilatildeo profissional que recorre a um conjunto de conhecimentos

praacuteticas e saberes organizados pela ciecircncia psicoloacutegica

Conforme lembra Martiacutenez (2007) o arcabouccedilo do qual o psicoacutelogo escolar se utiliza eacute

determinado pelas tarefas que realiza e pela concepccedilatildeo que tem dos elementos envolvidos na

configuraccedilatildeo dos desafios e problemas com que se depara independente da aacuterea da Psicologia em

que esses saberes tenham sido elaborados Dessa maneira eacute plausiacutevel e ateacute esperado que o

psicoacutelogo escolar recorra de forma luacutecida e intencional a conhecimentos originalmente produzidos

em outras aacutereas Aleacutem do mais considera-se possiacutevel que psicoacutelogos receacutem formados ou mesmo

profissionais especializados e com experiecircncia em aacutereas especiacuteficas da Psicologia possam vir a ser

psicoacutelogos escolares desde que os conhecimentos teoacutericos e teacutecnicos os saberes praacuteticos as

convicccedilotildees ideoloacutegicas e poliacuteticas aos quais se filiam sejam usados como suporte consciente para a

construccedilatildeo de competecircncias especiacuteficas para a atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar

A especificidade da identidade do psicoacutelogo escolar se configura a partir de um conjunto

variado de recursos e competecircncias desenvolvidos apropriados e erguidos ao longo da sua

trajetoacuteria e vivecircncias pessoais sociais acadecircmicas e profissionais Nessa direccedilatildeo a constituiccedilatildeo da

identidade do psicoacutelogo escolar natildeo eacute um processo linear que se forja exclusivamente pela

apropriaccedilatildeo dos conhecimentos produzidos pela proacutepria Psicologia Escolar mas tambeacutem pela

mobilizaccedilatildeo integraccedilatildeo reinterpretaccedilatildeo e reconstruccedilatildeo de conceitos temas accedilotildees originalmente

advindos de outras aacutereas Sendo assim entende-se que a especificidade da atuaccedilatildeo em Psicologia

Escolar pode ser construiacuteda pela imersatildeo em espaccedilos formativos e profissionais e tambeacutem pela

181

habilidade do psicoacutelogo de base generalista ou especiacutefica em recuperar com criticidade

consciecircncia intencionalidade e pertinecircncia as bases teoacutericas e metodoloacutegicas capazes de promover

as transformaccedilotildees que o contexto educativo exige

Apresentados os resultados relativos agrave construccedilatildeo do perfil profissional passa-se aos

sentidos associados agrave atuaccedilatildeo em Psicologia escolar descritos na Tabela 14 a seguir

Tabela 14

Zona de sentido 2 O que e como fazer em Psicologia Escolar Consideraccedilotildees acerca das

possibilidades de intervenccedilatildeo

INTERLOCUCcedilOtildeES MEDIADAS

Exemplo 1 Avaliaccedilatildeo Institucional

Pesq Como eacute que foi a sua chegada na CPA como vocecirc entendeu a sua funccedilatildeo e a sua contribuiccedilatildeo

Psi Quando eu cheguei eu nem conhecia na verdade a CPA nem sabia o que era uma CPA neacute natildeo

tinha conhecimento muito de faculdade mas a F veio conversar comigo e disse que queria que a

CPA tivesse um psicoacutelogo eu achei que era adequado porque eu participei de pesquisas avaliaccedilatildeo

de programas de educaccedilatildeo entatildeo achei adequado Achei tranquilo

Pesq E o lugar de presidente de coordenaccedilatildeo da CPA faz algum sentido

Psi Como presidente vocecirc consegue estar mais atuante e orientar melhor as accedilotildees da CPA eu acho que

eacute vaacutelido nesse sentido Mas eu acho que o psicoacutelogo tem muito a contribuir a gente tem avaliaccedilatildeo

de percepccedilatildeo a gente tem questionaacuterios a gente tem testes a gente tem toda a psicometria que com

apoio aiacute neacute que com a base da Psicologia Escolar a gente tem condiccedilotildees de fazer bem uma avaliaccedilatildeo

eu acho que nesse sentido sim

Pesq eu diria que noacutes temos ainda muito subsiacutedio pra discutir o que constitui um processo

avaliativo discutir com essa instituiccedilatildeo e seus diferentes atores qual eacute a funccedilatildeo da avaliaccedilatildeo pra

que que a gente estaacute fazendo o que a gente se propotildee onde quer chegar e muito nessa ideia de

rever de avaliar o processo as escolhas como as coisas aconteceram numa perspectiva de poder

transformar sempre na ideia de transformaccedilatildeo

Psi Sim claro pra que que vocecirc avalia neacute eu natildeo sei realmente neacute agora com essa avaliaccedilatildeo eacute que

eu vou conseguir perceber como que a instituiccedilatildeo recebe a CPA inclusive quando eu estava ali

escrevendo o e-mail pros coordenadores eu escrevi que lsquogostaria de pedir o apoio de vocecircs porque eacute

muito importante e queria que vocecircs percebessem a importacircncia de ter feedback sobre os nossos

cursos sobre os nossos docentesrsquo aiacute eu apaguei sabe porquecirc Porque eu natildeo sei se eles percebem

ateacute com um certo receio a avaliaccedilatildeo eu natildeo sei como eacute que eles veem

Pesq eacute um dos espaccedilos que noacutes psicoacutelogos podemos contribuir na circulaccedilatildeo das vozes dos sentidos

atribuiacutedos agrave avaliaccedilatildeo do trabalho da CPA

182

Tabela 14 (continuaccedilatildeo)

Exemplo 2 Cultura institucional

Psi Eu vejo que eu venho fazendo as coisas soacute venho fazendo as coisas de uacuteltima hora Eu cheguei

fazendo de uacuteltima hora e continuo fazendo tudo de uacuteltima hora

Pesq E isso tem a ver com a sua organizaccedilatildeo e a do Nuacutecleo ou eacute algo mais macro

Psi Eacute aqui na faculdade parece que jaacute eacute assim instituiacutedo vocecirc tem inuacutemeras ideias e isso apareceu na

reuniatildeo dos padrinhos eles disseram exatamente a mesma coisa a faculdade ela tem uma

vontade de inovar muito grande de fazer coisas diferentes mas soacute que acaba que ela fica meio que

tropeccedilando nas proacuteprias pernas sabe aiacute comeccedila a sair um monte de accedilatildeo um monte de accedilatildeo Os

teacutecnicos natildeo datildeo conta de fazer elas direitinho com qualidade comeccedilo meio e fim Os alunos tecircm

horas que jaacute estatildeo assim assoberbados eacute tanto trabalho eacute tanta accedilatildeo eacute tanto seminaacuterio eacute tanto

workshop e os padrinhos trouxeram exatamente isso Eacute muito interessante algumas coisas que a

gente percebe ali na sala e eles trazendo eacute bom que daacute pra desenhar direitinho neacute as nossas accedilotildees

Entatildeo isso meio que jaacute virou cultura aqui e vocecirc nem eacute tatildeo bem visto se vocecirc fala uma coisa dessa

Pesq Entatildeo natildeo eacute soacute no seu trabalho

Psi Eu acho que eacute um pouco disso que a gente falou que eacute uma questatildeo que eacute algo que eacute de gestatildeo E

acaba que cria um clima e uma cultura cria uma cultura na empresa de que isso eacute o que estaacute dando

certo Mas acho que pode ter alguma coisa de gestatildeo mesmo de intervenccedilatildeo na gestatildeo

Exemplo 3 Trabalho de conscientizaccedilatildeo com a equipe pedagoacutegica

Psi Porque realmente tinha coisa que natildeo deveria passar da coordenaccedilatildeo natildeo precisava passar da

coordenaccedilatildeo o professor fulano era docente e virou coordenador de uma hora pra outra satildeo

docentes que satildeo tirados de sala de aula pra virar coordenador porque aparentemente tem o perfil de

coordenador mas tem toda uma formaccedilatildeo que agraves vezes ele realmente natildeo tem dimensatildeoEu tenho

noccedilatildeo disso neacute e sei que eles precisam ser orientados que eu preciso conseguir definir o papel neacute

de como essas coisas vatildeo acontecer e que preciso passar isso pra eles neacute

Pesq Vocecirc estaacute falando e eu estou me remetendo a uma funccedilatildeo importantiacutessima do psicoacutelogo escolar

que eacute trabalhar em prol da conscientizaccedilatildeo dos papeacuteis e das responsabilidades de cada uma gente

tem que de alguma fora contribuir pra isso pra essa conscientizaccedilatildeo

Psi Pois eacute vocecirc estaacute falando e eu tocirc lembrando que eu fiquei com vontade de dizer pra ele lsquoprofessor

mas era bem bom mesmo que vocecirc participasse pra vecirc se vocecirc jaacute aprendia pra quando acontecesse

com vocecircrsquo (risos)

Pesq Mas vocecirc pode usar isso como uma estrateacutegia mesmo pra favorecer

Psi Eacute eu acho que de uma forma delicada eu ateacute posso dizer Eu vou responder o e-mail eu natildeo ia

mas eu vou responder de outra forma dizer lsquoprofessor se vocecirc quiser participar eu acho que eacute uma

boa casos como esse podem aparecer em qualquer curso e aiacute a gente jaacute tem uma questatildeo discutidarsquo

183

Tabela 14 (continuaccedilatildeo)

Sentidos circulados

experiecircncias accedilotildees questionamentos e ideias relacionadas agrave atuaccedilatildeo do psicoacutelogo escolar

SIacuteNTESE INTERPRETATIVA - ZONA DE SENTIDO 2

1 Indica possiacuteveis accedilotildees a serem realizadas pelo psicoacutelogo escolar na IES

2 Expressa compreensatildeo de que as intervenccedilotildees individuais natildeo devem se basear em um modelo

cliacutenico-terapecircutico

3 Aceita (natildeo nega) o atendimento individualizado ao estudante como parte do trabalho do

psicoacutelogo escolar mas entende que natildeo eacute possiacutevel atender com qualidade todas as demandas

individualizadas

4 Percebe que o apoio aos alunos com necessidades educativas especiais natildeo se restringe agraves

adequaccedilotildees teacutecnicas sendo relevante dar suporte agrave equipe pedagoacutegica

5 Demonstra consciecircncia e vinculaccedilatildeo agrave perspectiva preventiva e coletiva de atuaccedilatildeo

6 Manifesta a importacircncia de conhecer as necessidades e dinacircmica dos sujeitos da instituiccedilatildeo

apontando para a pertinecircncia do Mapeamento Institucional

7 Faz anaacutelise de um padratildeo (cultura) institucional e reconhece elementos instituiacutedos e

cristalizados

8 Reconhece a necessidade de intervir junto agrave equipe pedagoacutegica como forma de auxiliaacute-los na

sua atuaccedilatildeo profissional

9 Inclui outros atores institucionais em suas accedilotildees e corresponsabiliza a equipe pedagoacutegica na

intervenccedilatildeo agraves dificuldades identificadas

10 Sente necessidade de estruturar o serviccedilo estabelecer procedimentos e responsabilidades dos

atores entende que o encaminhamento de uma demanda ao psicoacutelogo escolar deve ser

precedido de tentativas por parte da equipe pedagoacutegica

11 Manifesta anguacutestia seguida da necessidade de estruturar o serviccedilo por meio da definiccedilatildeo de

prioridades de intervenccedilatildeo em razatildeo da quantidade e diversidade de accedilotildees que realiza

12 Ressalta importacircncia dos atores conhecerem os procedimentos institucionais que podem ser

adotados em situaccedilotildees de emergecircncia

13 Reconhece necessidade de conhecer as representaccedilotildeesconcepccedilotildees dos atores para orientar

suas accedilotildees

14 Realiza estudo da legislaccedilatildeo brasileira e das experiecircncias de outras IES para se apropriar de

um possiacutevel eixo de intervenccedilatildeo em Psicologia Escolar (avaliaccedilatildeo institucional)

15 Utiliza a observaccedilatildeo como recurso auxiliar agrave atuaccedilatildeo

Conforme sintetiza a Tabela 14 os sentidos mobilizados durante o acompanhamento de Psi

em relaccedilatildeo agrave atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar apontam para uma multiplicidade de possibilidades

que de forma geral se ancoram na opccedilatildeo por uma abordagem preventiva e institucional jaacute

184

evidenciada nos sentidos associados ao perfil profissional De forma coerente com o que pensava

ser mais adequado agrave atuaccedilatildeo do psicoacutelogo escolar Psi desenvolvia accedilotildees que privilegiavam um

trabalho com os diferentes atores da Faculdade como seraacute apresentado a seguir

Em relaccedilatildeo a accedilotildees mais claacutessicas como o atendimento aos estudantes a psicoacuteloga escolar

entendia que ele natildeo deveria ser eleito de forma prioritaacuteria por alguns motivos Primeiro porque

eram muitas e onerariam o trabalho do profissional que natildeo teria tempo de atender a todas com

qualidade especialmente por ter outras accedilotildees a desenvolver Segundo porque natildeo achava que tal

accedilatildeo traria muitas contribuiccedilotildees agrave instituiccedilatildeo uma vez que se restringiria a poucos alunos Terceiro

por entender que seria mais pertinente accedilotildees que auxiliassem a equipe pedagoacutegica a desenvolver

habilidades para lidar com as dificuldades que surgem

Eacute interessante destacar que apesar do acompanhamento e encaminhamento de alunos com

dificuldades escolares ser uma das funccedilotildees mais tradicionais do psicoacutelogo na educaccedilatildeo a psicoacuteloga

escolar natildeo entendia que o atendimento aos alunos deveria ser uma accedilatildeo prioritaacuteria Psi natildeo negava

que pudesse oferecer apoio individual a alguns alunos desde que natildeo adquirissem um vieacutes cliacutenico

Com o decorrer dos atendimentos e das reflexotildees oportunizadas pelo estudo das produccedilotildees em

Psicologia Escolar e pela discussatildeo com a pesquisadora Psi concluiu que natildeo era o fato de atender

o aluno individualmente que iria configurar sua accedilatildeo como de natureza cliacutenica mas sim a

concepccedilatildeo e os objetivos que a orientavam

A partir das interlocuccedilotildees novos sentidos foram atribuiacutedos ao atendimento aos alunos

contribuindo para que Psi o compreendesse de outra forma como uma oportunidade de conhecer

melhor a realidade da IES o perfil e necessidades dos alunos uma maneira de se aproximar e

trabalhar com os professores aleacutem de um modo de obter informaccedilotildees que poderiam sustentar

outras accedilotildees em Psicologia Escolar A interlocuccedilatildeo a seguir exemplifica os sentidos que Psi

atribuiu agraves accedilotildees de apoio aos alunos com dificuldades

Pesq Mas nesse contexto e nessas condiccedilotildees e natildeo sendo um trabalho terapecircutico o que

vocecirc acha que pode ser a nossa contribuiccedilatildeo

Psi Eu acho que tem vaacuterios benefiacutecios que eacute a discussatildeo com o docente sobre os temas

que acontecem em sala de aula entatildeo haacute um aprendizado do docente como aquele caso do fulano

em que o professor teve outra posiccedilatildeo outra postura entatildeo essa accedilatildeo com os docentes eacute um

benefiacutecio que vem desse atendimento individual esse atendimento individual tambeacutem traz

informaccedilatildeo pra gente sobre outras accedilotildees que podem ser feitas na faculdade sobre dificuldades que

os professores possam ter que a coordenaccedilatildeo possa ter e tem o apoio individual agrave pessoa isso

natildeo tem duacutevida

Em diferentes ocasiotildees Psi comentava acerca da necessidade de ter mais informaccedilotildees

sobre a Faculdade seu dia-a-dia os seus atores as relaccedilotildees ou seja percebia a importacircncia de

conhecer melhor as necessidades dos sujeitos e a dinacircmica da instituiccedilatildeo para sustentar a sua

intervenccedilatildeo Para ela o psicoacutelogo escolar ldquotem que conhecer muito bem essa demanda desses

185

alunos o que eles estatildeo fazendo o que eles tecircm de dificuldade como essas dificuldades refletem

no dia-a-dia de sala de aula deles e no aprendizado e conhecer mesmo essa dinacircmica de sala de

aulardquo

Aleacutem dos mais a partir das mediaccedilotildees da pesquisadora bem como de suas experiecircncias e

aprofundamentos teoacutericos Psi comeccedilou a entender os atendimentos a estudantes como uma

maneira de lhes oferecer apoio frente a queixa que apresentam e tambeacutem como uma maneira de

conhecer as relaccedilotildees entre professores e alunos a dinacircmica de sala de aula as praacuteticas pedagoacutegicas

que tecircm mais ou menos impacto nos estudantes aleacutem de ser uma forma de obter informaccedilotildees sobre

questotildees que possam ser objeto de intervenccedilotildees especiacuteficas coletivas e preventivas por parte do

psicoacutelogo escolar Comentou que o importante eacute ldquoconseguir fazer atendimento e acompanhamento

que seja beneacutefico natildeo soacute para o aluno mas para o docente e o coordenadorrdquo o que exige que o

psicoacutelogo escolar se articule e trabalhe em parceria com estes atores

Assim buscou envolver os membros da equipe pedagoacutegica em alguns de seus

procedimentos natildeo se limitando agrave intervenccedilatildeo direta com os estudantes Trabalhar em parceria com

os professores e coordenadores na intervenccedilatildeo agraves queixas que satildeo comumente direcionadas ao

psicoacutelogo escolar eacute um desdobramento da abordagem preventiva que busca auxiliar o corpo

pedagoacutegico na reflexatildeo sobre a sua praacutetica e na construccedilatildeo de alternativas pedagoacutegicas e

relacionais (Aguiar 2000 Machado 2000 Meira 2000 Neves 2001 2005)

Ao defender um modelo de atuaccedilatildeo preventivo e institucional natildeo se pretende negar e

evitar as intervenccedilotildees a queixas e dificuldades particulares a intenccedilatildeo eacute sobretudo a de privilegiar

accedilotildees coletivas e mais abrangentes que ao investirem na promoccedilatildeo das muacuteltiplas possibilidades de

desenvolvimento dos sujeitos possam entre as demais accedilotildees igualmente abarcar estas queixas

Jaacute no acircmbito das intervenccedilotildees mais emergentes e conforme sinalizado anteriormente Psi

entendia que seu ldquotrabalho maior ou o primeiro grande trabalho deveria ser com os docentes e

coordenaccedilatildeordquo mediante um apoio ao desenvolvimento de habilidades e competecircncias que

potencializassem seu exerciacutecio profissional Nessa direccedilatildeo desencadeou um movimento de incluir

estes atores em suas accedilotildees envolvendo-os nas decisotildees e encaminhamentos a serem tomados

enfim corresponsabilizando-os Diante de um pedido da coordenaccedilatildeo e da direccedilatildeo para que

atendesse um aluno que havia ameaccedilado de morte um colega de turma Psi sugeriu que discutissem

conjuntamente o caso de forma a tomar uma decisatildeo compartilhada Segundo ela o mais relevante

eacute esclarecerem a situaccedilatildeo e definirem coletivamente as accedilotildees a serem tomadas ldquominha postura eacute

juntar toda a equipe se ali decide que eu vou conversar com o aluno natildeo tem problemas porque a

instituiccedilatildeo jaacute se posicionourdquo

Dessa maneira no acircmbito dos sentidos circulados a respeito da atuaccedilatildeo do psicoacutelogo

escolar um importante aspecto referiu-se ao fato de Psi desencadear um movimento de construir

praacuteticas de corresponsabilizaccedilatildeo por meio das quais os professores poderiam se apropriar de sua

funccedilatildeo e responsabilidade as quais por algum tempo foram delegadas ao psicoacutelogo ou a outros

186

profissionais que se ocupavam dos fenocircmenos educativos Conforme jaacute indicado em outros

trabalhos a participaccedilatildeo ativa dos docentes na construccedilatildeo de alternativas para a superaccedilatildeo das

dificuldades encontradas eacute uma estrateacutegia que contribui para o resgate ativo e dirigente do papel do

professor (Facci 2009 Meira 2000 Neves 2001 Neves amp Almeida 2003) Aleacutem do mais

trabalhar pela conscientizaccedilatildeo dos sujeitos institucionais como forma de promover sua

compreensatildeo e apropriaccedilatildeo das responsabilidades que lhes compete eacute um importante eixo de

intervenccedilatildeo do psicoacutelogo escolar que tem como meta a modificaccedilatildeo das praacuteticas e o

desenvolvimento dos sujeitos (Oliveira Marinho-Arauacutejo amp Almeida 2010a Marinho-Arauacutejo amp

Almeida 2005)

Tambeacutem no contexto das intervenccedilotildees emergentes e em niacutevel institucional Psi de forma

inicialmente intuitiva e em decorrecircncia da sua vivecircncia e anguacutestia fez anaacutelise de um padratildeo

cristalizado de funcionamento institucional Ao ser impelida pela pesquisadora a verificar se sua

percepccedilatildeo se restringia agrave sua realidade ou era abrangente aos demais atores e rotinas constatou que

havia um padratildeo institucional instalado jaacute instituiacutedo conforme ilustra a interlocuccedilatildeo apresentada

na Tabela 14 (exemplo 2) Nesta e em outras situaccedilotildees a psicoacuteloga escolar percebeu a necessidade

de fazer uma anaacutelise e diagnoacutestico das praacuteticas institucionais dos motivos que as orientam das

relaccedilotildees representaccedilotildees atitudes e valores que rodeiam a dinacircmica institucional e que se

configuram como padrotildees cristalizados ou potencialmente transformadores da realidade

Conhecer a instituiccedilatildeo eacute uma estrateacutegia capaz de apreender suas particularidades e orientar

as intervenccedilotildees a serem desencadeadas e nessa direccedilatildeo o Mapeamento Institucional eacute uma

maneira de se familiarizar com sua missatildeo filosofia princiacutepios e concepccedilotildees orientadoras (Arauacutejo

2003 Arauacutejo amp Almeida 2003 Marinho-Arauacutejo amp Almeida 2005a) O Mapeamento Institucional

por meio da anaacutelise documental da observaccedilatildeo do contexto e das relaccedilotildees do diaacutelogo informal

com os atores entre outros tem como potencialidade apreender os mecanismos rotinas e valores

que caracterizam e norteiam a instituiccedilatildeo Assim Psi diz que ldquoquando cheguei agrave Faculdade iniciei

as leituras sobre a instituiccedilatildeordquo como forma de entender sua histoacuteria seus objetivos estrutura e

tambeacutem as funccedilotildees atribuiacutedas ao psicoacutelogo escolar

Particularmente sobre o processo de avaliaccedilatildeo institucional ao chegar agrave IES Psi foi

designada a assumir a coordenaccedilatildeo da Comissatildeo Proacutepria de Avaliaccedilatildeo oacutergatildeo presente em todas as

Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior e que tem a funccedilatildeo de conduzir os processos de avaliaccedilatildeo interna

da instituiccedilatildeo Compete agrave CPA identificar as potencialidades e deficiecircncias dos cursos e da

instituiccedilatildeo e sugerir a partir das informaccedilotildees levantadas na autoavaliaccedilatildeo mudanccedilas para a

melhoria do serviccedilo oferecido pela instituiccedilatildeo (Lei nordm 108612004) O lugar do psicoacutelogo escolar

na CPA da Faculdade jaacute estaacute previsto no respectivo regulamento no qual consta inclusive que a

participaccedilatildeo do psicoacutelogo escolar deve ser obrigatoacuteria

Ao ingressar na instituiccedilatildeo entretanto Psi desconhecia a legislaccedilatildeo e os processos

pertinentes agrave avaliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior conforme ilustra o diaacutelogo transcrito na Tabela 14

187

(exemplo 1) Ao ser designada para integrar a CPA e inclusive para ocupar o cargo de

coordenaccedilatildeo tendo em vista sua experiecircncia com pesquisa Psi buscou estudar a legislaccedilatildeo e as

experiecircncias de outras instituiccedilotildees Mesmo tendo assumido a coordenaccedilatildeo da Comissatildeo os

diaacutelogos com a pesquisadora mostraram que Psi associava a autoavaliaccedilatildeo institucional com a

avaliaccedilatildeo de programas natildeo tendo ainda entendido o sentido da avaliaccedilatildeo como recurso agrave

construccedilatildeo de um diaacutelogo intrainstitucional que tem o potencial de fomentar transformaccedilotildees

estruturais na IES Aleacutem do mais a profissional natildeo tinha convicccedilatildeo sobre as contribuiccedilotildees

especiacuteficas da Psicologia Escolar aos processos de autoavaliaccedilatildeo considerando que a psicometria

ajudaria nesse processo

Apesar de muito explorada no acircmbito dos estudos e pesquisas referentes agrave qualidade da

Educaccedilatildeo Superior (Barreyro 2008 Bertolin 2004 Brito 2008 Catani Oliveira amp Dourado

2002 Dias Sobrinho 2003 2004a 2007 Meneghel Robl amp Silva 2006 Polidori 2009 Polidori

Marinho-Arauacutejo amp Barreyro 2006) a Avaliaccedilatildeo Institucional eacute um campo novo e bastante

emergente de atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar o que demanda investimentos em pesquisa e no

desenvolvimento do perfil do psicoacutelogo escolar que iraacute trabalhar nessa temaacutetica

A partir dos vaacuterios sentidos relacionados agrave atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo

Superior vislumbra-se um amplo conjunto de intervenccedilotildees possiacuteveis que natildeo mais envolvem

apenas o aluno mas todos os atores e a instituiccedilatildeo de forma global Aleacutem disso essas intervenccedilotildees

se caracterizarem por serem mais criacuteticas inovadoras e eficazes na medida em que satildeo mais

adequadas agrave complexidade da realidade educativa (Arauacutejo 2003 Cruces 2003 Neves 2001

Marinho-Arauacutejo amp Almeida 2003 2005 Martiacutenez 2007 2009 2010)

Eacute importante salientar conforme o fez Martiacutenez (2010) que apesar das formas de atuaccedilatildeo

emergentes serem mais abrangentes e complexas do que as tradicionais e potencialmente mais

efetivas todas elas tecircm espaccedilo no contexto educativo e satildeo consideradas importantes

ldquoespecialmente se temos em conta as positivas mudanccedilas qualitativas que como produto das

influecircncias jaacute mencionadas vecircm ocorrendo tambeacutem nas funccedilotildees tradicionalmente desenvolvidas

pelos psicoacutelogos na escolardquo (p 43)

Ainda no acircmbito dos sentidos relativos agrave intervenccedilatildeo cabe destacar que em diferentes

momentos Psi sentiu a necessidade de estruturar o Serviccedilo no qual estava inserida Duas razotildees

mobilizavam essa necessidade primeiro pelo fato da quantidade e diversidade de accedilotildees sob sua

responsabilidade causarem anguacutestia e levarem agrave constataccedilatildeo de que era preciso eleger prioridade de

atuaccedilatildeo segundo pelo entendimento de que o encaminhamento de uma demanda ao psicoacutelogo

escolar deve ser precedido de tentativas por parte da equipe pedagoacutegica Relata assim que ldquosentia

que precisava criar um procedimento de funcionamento do Nuacutecleo o que faria como seriam feitos

os encaminhamentos de alunos para o Nuacutecleo em quais situaccedilotildees docentes e coordenadores

deveriam encaminhar os alunos o que deveriam fazer antes de encaminharrdquo

188

Dessa maneira a necessidade de estruturar o serviccedilo e de estabelecer procedimentos estava

mais associada ao fato de que os atores institucionais nomeadamente os professores e

coordenadores deveriam ter consciecircncia de suas responsabilidades diante das dificuldades que

constatavam e agir de forma ativa para resolvecirc-las Mais do que organizar as atividades do Serviccedilo

de acordo com as prioridades a ideia de estruturaacute-lo era uma estrateacutegia para sistematizar as accedilotildees

da equipe pedagoacutegica Novamente Psi demonstrava uma concepccedilatildeo de normatizaccedilatildeo das accedilotildees

definindo aquelas que eram esperadas dos profissionais sem contudo trabalhar na conscientizaccedilatildeo

da importacircncia dessas accedilotildees ou apoiando-os a desenvolvecirc-las de forma que pudessem se configurar

como intervenccedilotildees efetivamente transformadoras dos problemas Esse aspecto foi alvo da mediaccedilatildeo

da pesquisadora como ilustra o exemplo 3 (Tabela 14) Passa-se agora agrave uacuteltima zona de sentido

cujos indicadores estatildeo descritos na Tabela 15

Tabela 15

Zona de sentido 3 Formaccedilatildeo continuada como recurso auxiliar agrave construccedilatildeo do perfil e da

atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar

INTERLOCUCcedilOtildeES MEDIADAS

Exemplo 1 Apropriaccedilatildeo de um procedimento auxiliar agrave intervenccedilatildeo (observaccedilatildeo)

Pesq Vale a pena ainda conhecer um pouco mais esse caso Se desse pra entrar em sala de aula

seria excelente

Psi Mas aiacute se eu entro em sala de aula eles param o que eles tatildeo fazendo ou eacute entrar em sala de aula

escondidinho

Pesq Natildeo eacute mais programado principalmente com o professor avisar pra ele que vocecirc tem uma

motivaccedilatildeo pra observar aquela turma dizer qual eacute o seu objetivo eacute legal que antes vocecirc

contacte o professor ateacute pra que ele possa se organizar e possa avisar que vocecirc vai estar com

eles afinal a sua presenccedila natildeo vai passar despercebida

Psi Eacute eles param se a gente vai fazer qualquer accedilatildeo se vocecirc quer fazer uma perguntinha pro

docente ou alguma coisa assim e vai laacute eles param tudo

Pesq Entatildeo tem que anunciar que vocecirc vai estar presente participando da aula

Psi E aiacute eacute assim mesmo assistindo a aula ali sentadinha calada natildeo fala nada

Pesq Vocecirc pode participar se vocecirc se sentir a vontade e tiver interesse se o professor propuser uma

atividade de grupo e vocecirc quiser contribuir participar

189

Tabela 15 (continuaccedilatildeo)

Exemplo 2 Avaliaccedilatildeo da contribuiccedilatildeo da assessoria agrave praacutetica

Psi Era mais do que eu estava imaginando porque a gente teve vocecirc com o seu olhar de Psicologia

Escolar com toda sua experiecircncia e todo o seu conhecimento e dentro da nossa realidade neacute um

trabalho bem uma assessoria uma consultoria bem focada no nosso trabalho

Pesq que eacute um pouco da nossa proposta mesmo

Psi E assim teve tinha neacute muitos momentos que eu sentia uma seguranccedila maior depois da gente

conversar depois da gente discutir eu achava que eu tinha uma seguranccedila maior nas minhas

accedilotildees

Pesq E que eacute muito legal porque quando a gente vai se apropriando das ideias a gente vai tendo

mais seguranccedila mesmo

Psi Mas eu acho que se natildeo fosse isso eu teria feito diferente eu acho que eu teria levado algumas

coisas mais pra frente Talvez eu tivesse negado mais a fala dos docentes por um tempo maior

acho que talvez eu tivesse negado mais natildeo sei acho que teria negado essa fala deles por mais

tempo

Sentidos circulados

vivecircncia da formaccedilatildeo continuada e do acompanhamento agrave praacutetica como suporte ao

desenvolvimento do papel e da atuaccedilatildeo profissional inclusive na ampliaccedilatildeo das

possibilidades de intervenccedilatildeo

SIacuteNTESE INTERPRETATIVA - ZONA DE SENTIDO 3

1 Percebe a necessidade de buscar apoio em grupo de estudo e de pesquisa em Psicologia

Escolar para auxiliar na construccedilatildeo de sua atuaccedilatildeo

2 Participa de accedilotildees de formaccedilatildeo continuada e as avalia positivamente

3 Percebe o acompanhamento como recurso para circular anguacutestias rever ideias e

ressignificar accedilotildees

4 Relata que o estudo compartilhado e a discussatildeo ampliam possibilidades de intervenccedilatildeo

5 Percebe outros elementos envolvidos em uma situaccedilatildeo e amplia sua compreensatildeo a partir da

discussatildeo

6 Problematiza e se apropria de novos procedimentos para intervir (observaccedilatildeo)

7 Reconhece o acompanhamento da praacutetica como elemento que auxilia no desenvolvimento

de accedilotildees mais seguras

Tendo em vista a deficiecircncia da formaccedilatildeo inicial em Psicologia Escolar e os desafios

impostos pela realidade profissional a formaccedilatildeo continuada se configura como uma alternativa

privilegiada e frutiacutefera agrave apropriaccedilatildeo das particularidades da aacuterea ao desenvolvimento de um

conjunto ampliado de competecircncias e agrave reconstruccedilatildeo permanente das possibilidades de intervenccedilatildeo

no sistema educativo Em virtude do seu potencial na preparaccedilatildeo de psicoacutelogos escolares mais

190

competentes e comprometidos com a transformaccedilatildeo social a formaccedilatildeo continuada em Psicologia

Escolar tem sido defendida como elemento diferencial no desenvolvimento da aacuterea e dos

profissionais (Marinho-Arauacutejo amp Neves 2006 2007)

Coerentemente a este entendimento jaacute registrado nas produccedilotildees em Psicologia Escolar o

acompanhamento da profissional evidenciou que a formaccedilatildeo continuada eacute um recurso que pode

auxiliar no desenvolvimento do papel e da atuaccedilatildeo Confrontada com o desafio absolutamente novo

e natildeo planejado de ser psicoacuteloga escolar Psi expressou em diferentes ocasiotildees que lhe era

imprescindiacutevel buscar apoio teoacuterico e praacutetico e deixou registrado em seu memorial ldquoachava que

precisava urgentemente procurar mais apoio de profissionais da aacuterea de Psicologia Escolarrdquo

Conforme registrado na literatura brasileira a formaccedilatildeo continuada eacute espaccedilo favoraacutevel ao

desenvolvimento da identidade e da atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar (Guzzo 1999 Guzzo amp

Wescheler 1993 Marinho-Arauacutejo 2007 Marinho-Arauacutejo amp Almeida 2003 2005 Marinho-

Arauacutejo amp Neves 2006 2007)

Refletindo sobre o desenvolvimento do psicoacutelogo escolar Guzzo (1999) afirma que ldquoeacute

preciso que a Psicologia Escolar seja priorizada como uma especialidade e que os profissionais que

se interessem em atuar junto ao sistema educativo reconheccedilam a necessidade de uma formaccedilatildeo

contiacutenua e criacuteticardquo (p 136) ou seja defende um investimento pessoal soacutelido que implica na

necessidade de uma formaccedilatildeo continuada para aleacutem da graduaccedilatildeo em Psicologia Se de forma

geral a formaccedilatildeo continuada eacute vista como uma oportunidade de ressignificar escolhas de rever

posturas e accedilotildees e de aprofundar e ampliar as possibilidades de intervenccedilatildeo no caso particular de

Psi que natildeo fez estaacutegio em Psicologia Escolar natildeo teve experiecircncia profissional na aacuterea e natildeo fez

cursos lato ou stricto sensu essa vinculaccedilatildeo a alternativas formativas em serviccedilo eacute essencial para

imprimir a especificidade necessaacuteria agrave atuaccedilatildeo na aacuterea

A oportunidade de ampliar as possibilidades de intervenccedilatildeo para aleacutem de apoiar o

desenvolvimento do seu perfil e da sua atuaccedilatildeo em Psicologia foi um dos sentidos atribuiacutedos por

Psi agrave assessoria agrave praacutetica O exemplo 1 da Tabela 15 eacute ilustrativo do movimento de apropriaccedilatildeo da

profissional acerca de um procedimento que pode auxiliaacute-la no seu exerciacutecio profissional

especialmente pela ampliaccedilatildeo dos usos associados a tal procedimento Eacute evidente que a praacutetica da

observaccedilatildeo era conhecida por Psi por ser um instrumento claacutessico de diagnoacutestico e de pesquisa em

Psicologia entretanto a novidade para a psicoacuteloga escolar foi o fato de poder utilizar a observaccedilatildeo

como recurso auxiliar para ampliar a sua compreensatildeo acerca das situaccedilotildees educacionais in loco

Outros sentidos que emergiram da anaacutelise do acompanhamento da psicoacuteloga escolar estaacute

justamente relacionada agraves suas percepccedilotildees e ideias acerca do acompanhamento da sua praacutetica

profissional que eacute uma modalidade de formaccedilatildeo continuada conforme ilustra o segundo exemplo

da Tabela 15 A proposta de assessorar um profissional que atua em uma Instituiccedilatildeo de Educaccedilatildeo

Superior do Distrito Federal tinha como objetivo investigar indicadores de perfil e de atuaccedilatildeo que

junto aos demais elementos deste estudo subsidiassem a construccedilatildeo de uma proposta de criaccedilatildeo e

191

funcionamento de Serviccedilos de Psicologia bem como contribuissem para o desenvolvimento do

profissional e aprimoramento de suas accedilotildees

Para tanto com base nos pressupostos da pesquisa-intervenccedilatildeo que articula a possibilidade

de fazer pesquisa com a de transformar as praacuteticas dos sujeitos pesquisados (Passos amp Barros

2000 Rocha 2006 Rocha amp Aguiar 2003 Szymanski amp Cury 2004) buscou-se fomentar

espaccedilos de interlocuccedilatildeo que oportunizassem a mobilizaccedilatildeo e a expressatildeo de sentimentos ideias

valores incocircmodos inseguranccedilas conflitos duacutevidas conhecimentos habilidades projetos e

desejos Por meio dessa modalidade de pesquisa tentou-se criar um espaccedilo no qual os diferentes

sentidos e significados relacionados agrave atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar pudessem emergir

Assim entendido o acompanhamento da praacutetica foi adquirindo sentidos variados no

transcorrer do processo No iniacutecio quando Psi recebia demandas que lhe assustavam por colocar

em evidecircncia a fragilidade de sua identidade profissional relatava que o acompanhamento

permitira falar e explorar as anguacutestias a ela relacionadasldquoas primeiras reuniotildees foram muito

confortantes Eu compartilhava essas anguacutestias iniciaisrdquo Depois mediante o estudo a mediaccedilatildeo

da pesquisadora e a apropriaccedilatildeo de elementos que caracterizam a atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar

Psi evidenciava que ldquoas conversas me ajudaram a perceber algumas coisas de forma diferenterdquo

ldquocomecei a olhar pra essas coisas e consegui ter outra dimensatildeo do nuacutecleo da minha atuaccedilatildeordquo

Sobre esta oportunidade de rever entendimentos e de ampliar as possibilidades de intervenccedilatildeo cita-

se o trabalho junto aos professores e coordenadores relacionado ao estudo e apropriaccedilatildeo da

temaacutetica das competecircncias eixo central do processo ensino-aprendizagem e o trabalho com os

gestores em relaccedilatildeo agrave incoerecircncia em cobranccedilas feitas aos funcionaacuterios Em ambos os casos Psi

resume dizendo que ldquoantes eu percebia como absolutamente nada meu depois percebi como muito

meu quero dizer o psicoacutelogo escolar junto com natildeo eacute soacute do psicoacutelogo escolar neacute eacute junto com os

coordenadores e direccedilatildeordquo

Observa-se por estes exemplos que a anaacutelise das situaccedilotildees de trabalho cotidianas associada

ao estudo e discussatildeo das produccedilotildees em Psicologia Escolar possibilita ao profissional se apropriar

de novas ideias e assim ampliar suas perspectivas de intervenccedilatildeo imprimindo-lhes novos e

diferentes direcionamentos daqueles que inicialmente ventilava Eacute pertinente destacar que o

acompanhamento agrave praacutetica natildeo se configura como um determinante causal ou como influecircncia

externa que determina a atuaccedilatildeo do psicoacutelogo escolar ao contraacuterio se constitui como um processo

de reinterpretaccedilatildeo e coconstruccedilatildeo A interlocuccedilatildeo mediada (exemplo 1) apresentada na Tabela 15

exemplifica esse processo e evidencia como a assessoria propicia o desenvolvimento de

competecircncias do psicoacutelogo escolar

Dessa maneira o espaccedilo de assessoria agrave praacutetica busca sobretudo permitir que os diferentes

sentidos e significados relacionados agrave atuaccedilatildeo e perfil do psicoacutelogo escolar possam emergir e ser

objeto de anaacutelise e de reflexatildeo a modificaccedilatildeo das accedilotildees seraacute um dos possiacuteveis desdobramentos da

circulaccedilatildeo de tais sentidos O acompanhamento ou a assessoria agrave praacutetica eacute uma oportunidade do

192

profissional e do pesquisador juntos e imersos em uma rede de subjetividades construiacuterem uma

nova trama de significaccedilotildees e sentidos para a atuaccedilatildeo profissional Se a constituiccedilatildeo da

subjetividade tem sua origem na relaccedilatildeo com o outro a pesquisa-intervenccedilatildeo eacute justamente uma

maneira de influenciar esta constituiccedilatildeo

Aleacutem da apreensatildeo e interpretaccedilatildeo dos sentidos como recurso para compreender o

processo de apropriaccedilatildeo coconstruccedilatildeo e transformaccedilatildeo das ideias e accedilotildees da psicoacuteloga escolar a

anaacutelise dos resultados possibilitou ainda a construccedilatildeo de indicadores para o perfil profissional do

psicoacutelogo escolar e para a atuaccedilatildeo na Educaccedilatildeo Superior Apoacutes ter sido realizado o procedimento

para construccedilatildeo das zonas de sentidos investiu-se na identificaccedilatildeo de indicadores que podem

compor o perfil dos psicoacutelogos escolares e outros que podem orientar sua atuaccedilatildeo nas IES ambos

contemplados na construccedilatildeo da proposta para os Serviccedilos de Psicologia ao final deste capiacutetulo Os

primeiros indicadores trazem elementos relacionados agraves caracteriacutesticas esperadas e desejadas para o

profissional da aacuterea que iraacute atuar na Educaccedilatildeo Superior os segundos relativos agrave atuaccedilatildeo

funcionam como referecircncia para a estruturaccedilatildeo e desenvolvimento do trabalho dos psicoacutelogos

escolares na medida em que apontam possiacuteveis accedilotildees que possam ser realizadas

Os indicadores emergiram da anaacutelise das reflexotildees compartilhadas durante o

acompanhamento da psicoacuteloga escolar bem como das referecircncias contemporacircneas acerca da

formaccedilatildeo e da atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar configurando-se como elementos potencialmente

capazes de sustentaacute-las A Tabela 16 a seguir apresenta os indicadores de perfil

193

Tabela 16

Indicadores de perfil construiacutedos a partir do acompanhamento da psicoacuteloga escolar em uma IES

do DF

INDICADORES DE PERFIL

1 Anaacutelise e reflexatildeo permanente das percepccedilotildees accedilotildees e demandas que lhe satildeo dirigidas como

forma de definir suas funccedilotildees

2 Consciecircncia dos recursos e competecircncias necessaacuterios agrave construccedilatildeo do perfil e da atuaccedilatildeo em

Psicologia Escolar bem como das suas competecircncias desenvolvidas e a desenvolver

3 Compreensatildeo ampliada de atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar extensiva aos diferentes atores e agrave

dinacircmica institucional com opccedilatildeo por accedilotildees preventivas coletivas cocompartilhadas

4 Reconhecimento da importacircncia de conhecer e analisar a instituiccedilatildeo sua dinacircmica e relaccedilotildees

para que o trabalho desenvolvido seja coerente com a realidade da IES

5 Entendimento do psicoacutelogo escolar como mediador do desenvolvimento da equipe

pedagoacutegica

6 Opccedilatildeo por intervenccedilotildees voltadas ao desenvolvimento de competecircncias relacionais e de

empregabilidade junto aos discentes

7 Disponibilidade para integrar novos recursos metodoloacutegicos agrave sua praacutetica

8 Habilidade em reinterpretar e ressignificar accedilotildees tradicionais em Psicologia Escolar

compreensatildeo do atendimento individualizado como fonte de informaccedilatildeo para o psicoacutelogo

escolar acerca das necessidades individuais e da instituiccedilatildeo

9 Postura criacutetica e reflexiva sobre a educaccedilatildeo e a sociedade

10 Clareza da relaccedilatildeo entre a ciecircncia psicoloacutegica e a educaccedilatildeo

11 Capacidade de fazer articulaccedilotildees entre diferentes aacutereas da Psicologia na construccedilatildeo da

atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar

12 Valorizaccedilatildeo de saberes e experiecircncias profissionais pregressas para subsidiar atuaccedilatildeo atual

13 Entendimento e valorizaccedilatildeo do estudoformaccedilatildeo continuada como recurso positivo ao

desenvolvimento do seu perfil profissional

14 Compreensatildeo da formaccedilatildeo continuada (assessoria agrave praacutetica) como oportunidade de rever

suas ideias

15 Abertura para rever ideias e accedilotildees e se apropriar de novos conhecimentos e para se apropriar

e experimentar novas estrateacutegias metodoloacutegicas

16 Disponibilidade para ressignificar caracteriacutesticas pessoais

Os indicadores de perfil extraiacutedos do acompanhamento de Psi apontam algumas

caracteriacutesticas desejaacuteveis ao profissional de Psicologia que atua ou que pretende atuar na Educaccedilatildeo

Superior Um deles eacute a postura criacutetica e reflexiva em relaccedilatildeo agrave sua proacutepria atuaccedilatildeo aos seus

recursos e competecircncias agrave pertinecircncia das suas intervenccedilotildees ao contexto agraves concepccedilotildees que tem e

194

que influenciam na configuraccedilatildeo das suas accedilotildees bem como em relaccedilatildeo ao processo de

ressignificaccedilatildeo de antigos saberes e experiecircncias Outro indicador de perfil diz respeito agrave

valorizaccedilatildeo do profissional em relaccedilatildeo ao estudo aprofundamento teoacuterico e aperfeiccediloamento da

sua praacutetica que pode se expressar na busca ativa por se envolver em cursos lato e stricto sensu ou

em formaccedilotildees continuadas em serviccedilo A disponibilidade para aprender para incorporar novas

estrateacutegias para experimentar accedilotildees diferentes satildeo indicadores que compotildeem um perfil flexiacutevel

dinacircmico e em busca constante por inovaccedilatildeo conforme eacute desejado pelo mundo do trabalho que se

caracteriza por raacutepidas e constantes transformaccedilotildees

Um dos indicadores de perfil bastante especiacutefico agrave Psicologia Escolar diz respeito agrave

vinculaccedilatildeo agrave concepccedilatildeo abrangente e contemporacircnea de atuaccedilatildeo na aacuterea que se direciona para a

intervenccedilatildeo em espaccedilos relacionais e coletivos aleacutem de ter a dinacircmica institucional em grande

perspectiva Ainda que no dia-a-dia o psicoacutelogo escolar natildeo consiga implementar accedilotildees totalmente

amparadas nesta abordagem por diferentes razotildees eacute importante que se identifique com ela para

que possa vir a investir intencionalmente em accedilotildees mais abrangentes e extensivas aos diferentes

atores da IES

Por sua vez os indicadores de atuaccedilatildeo que podem referenciar a praacutetica em Psicologia

Escolar estatildeo descritos na Tabela 17 a seguir sendo que de forma geral tais indicadores podem ser

agrupados de acordo com o foco que tecircm em comum ou seja o alvo principal para o qual se

dirigem

Tabela 17

Indicadores de atuaccedilatildeo construiacutedos a partir do acompanhamento da psicoacuteloga escolar em uma

IES do DF

INDICADORES DE ATUACcedilAtildeO

Accedilotildees associadas aos processos institucionais de gestatildeo

bull Promoccedilatildeo do clima organizacional motivaccedilatildeo e satisfaccedilatildeo na instituiccedilatildeo

bull Mapeamento Institucional anaacutelise documental observaccedilatildeo das rotinas e das relaccedilotildees

conversas com os atores conhecimento das demandas da dinacircmica de sala de aula das

relaccedilotildees e dos tracircmites institucionais anaacutelise dos padrotildees instituiacutedos

bull Formaccedilatildeo continuada docente

bull Avaliaccedilatildeo Institucional (participaccedilatildeo na CPA) investigaccedilatildeo da percepccedilatildeo dos atores sobre

avaliaccedilatildeo e esclarecimento do uso que a IES faz dos resultados

bull Definiccedilatildeo coletiva de papeacuteis funccedilotildees e responsabilidades dos atores institucionais

bull Anaacutelise das expectativas e funccedilotildees atribuiacutedas ao psicoacutelogo escolar

bull Investigaccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo das incoerecircncias no discurso dos gestores

bull Estruturaccedilatildeo do Serviccedilo de Psicologia prioridades eixos de intervenccedilatildeo e procedimentos

195

Tabela 17 (continuaccedilatildeo)

Accedilotildees associadas aos processos de ensino e de aprendizagem

bull Suporte aos coordenadores e professores no seu desenvolvimento de competecircncias

bull Investigaccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo dos atores sobre suas concepccedilotildees de homem educaccedilatildeo e

sociedade bem como de avaliaccedilatildeo e de competecircncias e a influecircncia nas suas praacuteticas

bull Discussatildeo de questotildees pedagoacutegicas ligadas agrave criaccedilatildeo de metodologias diferenciadas

bull Conscientizaccedilatildeo por parte da equipe pedagoacutegica de funccedilotildees e responsabilidades

bull Apoio agraves necessidades educativas especiais e agrave inclusatildeo

Accedilotildees associadas aos estudantes

bull Atendimento aos alunos acolhimento e mapeamento de possiacuteveis linhas de intervenccedilatildeo

bull Coordenaccedilatildeo de programas educativos para discentes Desenvolvimento pessoal

Relacionamento Desenvolvimento profissional e empregabilidade (anaacutelise de curriacuteculos

construccedilatildeo de banco de talentos triagem e envio de curriacuteculos realizaccedilatildeo de parceira com as

empresas orientaccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave postura profissional conduta em entrevistas)

bull Atendimento ao aluno e aos familiares e encaminhamento para atendimento externo

bull Acompanhamento de egressos

bull Acolhimento aos calouros (ambientaccedilatildeo presencial e virtual)

bull Levantamento da evasatildeo do nuacutemero de alunos empregadosdesempregados

Em relaccedilatildeo aos indicadores de atuaccedilatildeo que emergiram do acompanhamento de Psi

observa-se que haacute uma diversidade de accedilotildees que podem ser realizadas pelos psicoacutelogos na

Educaccedilatildeo Superior Quanto aos indicadores de atuaccedilotildees associados aos processos de gestatildeo

institucional emergiram com recorrecircncia accedilotildees de mapeamento da dinacircmica da IES mostrando o

quanto o Mapeamento Institucional eacute um procedimento necessaacuterio e apropriado para subsidiar o

planejamento das accedilotildees em Psicologia Escolar

Em relaccedilatildeo agraves accedilotildees junto agrave equipe pedagoacutegica elas tecircm como foco a promoccedilatildeo do

processo de ensino-aprendizagem e estatildeo prioritariamente direcionadas para os professores e para

os coordenadores Destaca-se entre estes indicadores de atuaccedilatildeo a intervenccedilatildeo do psicoacutelogo escolar

em prol da conscientizaccedilatildeo destes profissionais acerca de suas responsabilidades na formaccedilatildeo dos

estudantes a qual estaacute para aleacutem do ensino do conhecimento pertinente agrave sua aacuterea Paralelamente a

este processo de conscientizaccedilatildeo comparecem tambeacutem indicadores relacionados ao apoio aos

coordenadores e professores no desenvolvimento de competecircncias profissionais que potencializem

a qualidade de suas atividades pedagoacutegicas

As accedilotildees apontadas pela psicoacuteloga escolar focadas nos estudantes se relacionam

especialmente com a dimensatildeo profissional da formaccedilatildeo dos estudantes com o desenvolvimento de

competecircncias que possam favorecer a empregabilidade dos alunos Accedilotildees tradicionais de

196

atendimento e de encaminhamento dos estudantes tambeacutem comparecem entre os indicadores sendo

que conforme jaacute discutido anteriormente os atendimentos natildeo tecircm caraacuteter terapecircutico e buscam

ampliar a compreensatildeo do psicoacutelogo escolar acerca de outros eixos de intervenccedilatildeo na IES

Algumas accedilotildees mais emergentes como o acolhimento aos ingressantes e de acompanhamento dos

egressos se fazem presentes nas accedilotildees de Psi e portanto comparecem nos indicadores de atuaccedilatildeo

ESTUDO 2 ndash PORTUGAL

1ordf Etapa ndash Mapeamento dos Serviccedilos de Psicologia

A realizaccedilatildeo desta etapa ocorreu em dois momentos (a) Panorama nacional dos Serviccedilos

de Psicologia e (b) Caracterizaccedilatildeo dos Serviccedilos de Psicologia de IES de Portugal Apresentam-se

inicialmente os resultados referentes agrave descriccedilatildeo dos mesmos de forma a traccedilar um panorama da

situaccedilatildeo atual da Psicologia Escolar no referido paiacutes As informaccedilotildees utilizadas para elaborar esse

panorama foram obtidas a partir da anaacutelise do Dossiecirc elaborado pela RESAPES (Rede de Serviccedilos

de Apoio Psicoloacutegico no Ensino Superior) em relaccedilatildeo agravequeles que existem nas IES portuguesas

Para analisar as informaccedilotildees do Dossiecirc recorreu-se agrave anaacutelise documental descrita no

capiacutetulo metodoloacutegico a qual foi orientada por questotildees de interesse previamente definidas

objetivos dos Serviccedilos de Psicologia recursos humanos que os compotildeem especificamente no que

se refere agrave formaccedilatildeo carga horaacuteria de trabalho e tipo de viacutenculo com a instituiccedilatildeo atividades

realizadas e puacuteblico atendido Os elementos mais significativos para a compreensatildeo do documento

foram integrados e possibilitaram a elaboraccedilatildeo de cinco categorias de anaacutelise ndash Identificaccedilatildeo

Objetivos Recursos Humanos Puacuteblico alvo Atividades realizadas ndash apresentadas a seguir para

descrever os Serviccedilos de Psicologia de Portugal

Conforme mencionado o dossiecirc analisado foi construiacutedo pela RESAPES (RESAPES

2002a 2002b) que entre os esforccedilos empreendidos para concretizar seus objetivos realizou um

mapeamento e caracterizaccedilatildeo dos Serviccedilos de Psicologia na Educaccedilatildeo Superior de Portugal como

forma de identificar as limitaccedilotildees e necessidades dos mesmos e de seus profissionais e

consequentemente formular medidas comuns que possam contribuir para modificar tal situaccedilatildeo

Outras accedilotildees da RESAPES satildeo a publicaccedilatildeo de uma newsletter que serve como divulgaccedilatildeo dos

Serviccedilos e de partilha de experiecircncias e a organizaccedilatildeo do primeiro Congresso Nacional realizado

em abril de 2010 na Universidade de Aveiro para debate e reflexatildeo acerca dos modelos e praacuteticas

de apoio psicoloacutegico

Outro esforccedilo desencadeado pela RESAPES e de extrema relevacircncia para a consolidaccedilatildeo

dos Serviccedilos de Psicologia na Educaccedilatildeo Superior eacute a accedilatildeo para que seja criado um enquadramento

institucional e legal que valide a dimensatildeo o impacto e a continuidade dos mesmos (RESAPES

2002a 2006) Os Serviccedilos existentes no paiacutes surgiram por iniciativa de profissionais de psicologia

eou de oacutergatildeos de gestatildeo das IES e a RESAPES no diaacutelogo com o Ministeacuterio da Ciecircncia

197

Tecnologia e Ensino Superior (MCTES) de Portugal almeja conseguir que os Serviccedilos

psicoloacutegicos de apoio aos alunos sejam regulados pelo governo e oficialmente previstos pelas IES

No dossiecirc cujo tiacutetulo eacute ldquoA Situaccedilatildeo dos Serviccedilos de Aconselhamento Psicoloacutegico no

Ensino Superior em Portugalrdquo (RESAPES 2002a 2002b) consta uma descriccedilatildeo dos mesmos a

qual foi elaborada pelos respectivos responsaacuteveis em resposta ao pedido da RESAPES Eacute a partir

da anaacutelise deste Dossiecirc que se sustentam os resultados aqui apresentados e discutidos

Em relaccedilatildeo aos Serviccedilos de Psicologia existentes em algumas destas IES o levantamento

feito pela RESAPES em 2002 indicou a existecircncia de 25 Serviccedilos sendo que o Dossiecirc foi

elaborado com base nos 23 que enviaram informaccedilotildees para compor o documento Conforme mostra

a Tabela 18 dos 23 serviccedilos quatro pertencem a instituiccedilotildees privadas e 19 a instituiccedilotildees puacuteblicas

sendo que as universidades puacuteblicas satildeo as que contam com mais Serviccedilos desta natureza

Tabela 18

Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior de Portugal com Serviccedilo de Psicologia

Tipo Nordm IES Regime juriacutedico Nordm IES

Universidade 17

Puacuteblico 14 609

Particular 3 130

Instituto Politeacutecnico 6 Puacuteblico 5 217

Particular 1 43

Em relaccedilatildeo a distribuiccedilatildeo regional destas IES a maioria (60) situa-se nas aacutereas urbanas

de Lisboa e do Porto sendo que vaacuterios distritos do interior natildeo tecircm ainda qualquer serviccedilo A

vinculaccedilatildeo institucional dos Serviccedilos isto eacute o seu posicionamento na estrutura organizacional da

IES eacute variada Existem serviccedilos ligados agrave reitoria das universidades aos serviccedilos de accedilatildeo social ou

diretamente agraves faculdades institutos ou escolas bem como aos departamentos de Psicologia Neste

uacuteltimo caso os Serviccedilos satildeo prioritariamente espaccedilos de formaccedilatildeo para os estudantes dos cursos

de Psicologia que tecircm a oportunidade de participar em atividades de estaacutegios pesquisa e programas

educativos entre as quais inserem-se os atendimentos oferecidos aos demais estudantes da

instituiccedilatildeo Em virtude das diversas alternativas de vinculaccedilatildeo dos Serviccedilos com a IES eacute comum

que uma mesma instituiccedilatildeo tenha mais do que um Serviccedilo de Psicologia como eacute o caso de quatro

das 23 instituiccedilotildees que estatildeo contempladas no Dossiecirc em anaacutelise

A anaacutelise do Dossiecirc da RESAPES oportunizou a organizaccedilatildeo dos resultados em categorias

relacionadas agrave identificaccedilatildeo dos Serviccedilos de Psicologia seus objetivos gerais recursos humanos

disponiacuteveis em cada um deles puacuteblico alvo e atividades realizadas

Em relaccedilatildeo agrave Identificaccedilatildeo os Serviccedilos de Psicologia de Portugal adotam diferentes

nomenclaturas para a sua designaccedilatildeo Gabinete Centro Serviccedilo Nuacutecleo ou Cliacutenica associadas a

198

especificaccedilotildees como por exemplo apoio psicoloacutegico ou psicopedagoacutegico consulta psicoloacutegica

integraccedilatildeo acadecircmica e profissional ou de accedilatildeo social Tem-se por exemplo Serviccedilo de Consulta

Psicoloacutegica Gabinete de Apoio ao Aluno Serviccedilo de Acompanhamento Psicoloacutegico e Profissional

Gabinete de Psicologia dos Serviccedilos de Accedilatildeo Social entre outros

Os Objetivos propostos pelos Serviccedilos de Psicologia satildeo variados mas em linhas gerais

organizam-se em torno das ideias de promoccedilatildeo do bem-estar do desempenho acadecircmico dos

estudantes e da sua integraccedilatildeo no mercado de trabalho Uma vez que compartilham aspectos em

comuns os objetivos podem ser reunidos em quatro grupos

O primeiro deles estaacute voltado para o apoio psicoloacutegico agrave promoccedilatildeo do bem-estar ldquoeacute

objectivo deste Gabinete a disponibilizaccedilatildeo de apoio psicoloacutegico e aconselhamento a toda a

comunidade que compotildee a Escola com vista agrave promoccedilatildeo do bem estar psicoloacutegicordquo (SP12-

Portugal) O segundo focado na promoccedilatildeo do desenvolvimento pessoal e social dos alunos

ldquopretende-se promoverfacilitar o processo de desenvolvimento psico-emocional a capacidade de

maturaccedilatildeo e de planeamento de objectivosrdquo (SP10-Portugal) Haacute tambeacutem objetivos voltados agrave

promoccedilatildeo do rendimento acadecircmico e da melhoria do ensino-aprendizagem ldquopromoccedilatildeo do bem

estar psicoloacutegico dos alunos com vista ao equiliacutebrio necessaacuterio para a promoccedilatildeo do sucesso

acadeacutemico e da qualidade de vidardquo (SP19-Portugal) aleacutem do apoio agrave carreira e suporte na transiccedilatildeo

para o mercado de trabalho ldquotem como objectivos facilitar o processo de transiccedilatildeo do ensino

secundaacuterio para o ensino superior desenvolver competecircncias de estudo apoiar os estudantes do

ponto de vista pessoal social e psicoloacutegico desenvolver competecircncias de empregabilidade e

facilitar o acesso a oportunidades de trabalhordquo (SP7-Portugal)

Importa destacar que com exceccedilatildeo de um Serviccedilo que se orienta exclusivamente pelo

objetivo de oferecer apoio ao desenvolvimento profissional e da carreira o mais comum (95) satildeo

os Serviccedilos que associam os quatro primeiros objetivos Dessa maneira o foco maior da atenccedilatildeo

dos Serviccedilos das IES de Portugal satildeo os estudantes sendo que os demais atores e unidades da

instituiccedilatildeo satildeo poucas vezes contemplados

Em relaccedilatildeo aos Recursos Humanos dos Serviccedilos de Psicologia a anaacutelise do nuacutemero de

psicoacutelogos escolares que os compotildeem mostra que em 11 deles haacute apenas um profissional

trabalhando sendo poucos os casos (apenas quatro) nos quais existem mais de trecircs psicoacutelogos

Nestes Serviccedilos eacute frequente a presenccedila de estagiaacuterios de Psicologia que contribuem para o maior

fluxo das atividades dos psicoacutelogos escolares Quanto ao tipo de viacutenculo existente entre os

psicoacutelogos escolares e a instituiccedilatildeo em seis Serviccedilos eacute do tipo parcial em que o profissional tem

um contrato de avenccedila ou seja um contrato de prestaccedilatildeo de serviccedilos que pode variar de 8 a 20

horas semanais Em cinco Serviccedilos os psicoacutelogos escolares trabalham em tempo integral e

pertencem ao quadro teacutecnico da instituiccedilatildeo isto eacute satildeo contratados como funcionaacuterios com

formaccedilatildeo em aacuterea especiacutefica no caso Psicologia Os outros 11 Serviccedilos natildeo mencionaram o tipo

199

de viacutenculo dos profissionais Comumente o coordenador do Serviccedilo eacute um docente que tambeacutem

assume a responsabilidade da supervisatildeo cliacutenica nos casos em que haacute accedilotildees dessa natureza

Em virtude do reduzido nuacutemero de profissionais em relaccedilatildeo agrave demanda muitos Serviccedilos

mencionam ter lista de espera para atendimento A esse respeito um deles relata que ldquocontinua a

debater-se com questotildees relacionadas com o aumento da lista de espera para atendimento O

subdimensionamento dos recursos humanos tende a natildeo possibilitar ao serviccedilo responder a todas as

solicitaccedilotildees cliacutenicas ou outras de uma forma ceacutelere e eficazrdquo (SP15-Portugal) Um estudo de

extensatildeo nacional realizado recentemente indica que apesar do crescimento no nuacutemero de serviccedilos

disponiacuteveis nas IES de Portugal ainda natildeo eacute possiacutevel atender a todas as demandas (Gonccedilalves

2008)

Ainda no acircmbito dos Recursos Humanos outros profissionais tambeacutem integram os Serviccedilos

como assistentes sociais psiquiatras professores teacutecnicos de serviccedilo social juristas e outros

Razatildeo para essa heterogeneidade profissional nos serviccedilos eacute que em muitos casos especialmente

quando estatildeo vinculadas aos Serviccedilos de Accedilatildeo Social da instituiccedilatildeo as atividades desenvolvidas

natildeo satildeo exclusivamente de natureza psicoloacutegica havendo por exemplo apoio social a alunos

provenientes de outros paiacuteses orientaccedilatildeo pedagoacutegica acompanhamento dos estudantes alojados em

residecircncias universitaacuterias e avaliaccedilatildeo para oferta de bolsa de estudos

A anaacutelise do Puacuteblico alvo dos Serviccedilos mostra que em 10 deles o trabalho eacute direcionado a

alunos docentes e funcionaacuterios enquanto os outros 13 atendem exclusivamente aos estudantes da

IES conforme ilusta a Figura 15 A comunidade externa eacute alvo do trabalho dos psicoacutelogos escolares

em trecircs Serviccedilos vinculados a cursos de Psicologia Em Portugal assim como na Europa de forma

geral classicamente a atuaccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares eacute focada nos estudantes (Bell McDevitt

Rott amp Valeacuterio 1994 Duarte amp Paixatildeo 1998 Gonccedilalves 2008)

0 10 20 30

Puacuteblico-alvo

Alunos

Professores

Funcionaacuterios

Comunidadeexterna

Figura 15 Puacuteblico atendido pelos Serviccedilos de Psicologia de Portugal

200

Apesar dos segmentos docente e teacutecnico-administrativo estarem contemplados entre o

puacuteblico alvo dos Serviccedilos de Psicologia o nuacutemero de profissionais atendidos eacute bem menor quando

comparado aos alunos Ainda assim as instituiccedilotildees reconhecem a importacircncia de trabalhar com

este puacuteblico conforme relata uma IES ao destacar que ldquoagrave semelhanccedila dos alunos as actividades de

ensino e apoio ao ensino acarretam exigecircncias pessoais e profissionais que se reflectem na

qualidade desse mesmo ensino podendo conduzir a situaccedilotildees de burnout ou esgotamento

profissional Assim torna-se igualmente imprescindiacutevel oferecer recursos de acompanhamento

psicossocial aos funcionaacuterios e professores reconhecendo-se que este investimento pessoal gera

benefiacutecios institucionais inegaacuteveisrdquo (SP01-Portugal)

O burnout ou mal-estar docente refere-se agrave siacutendrome vivenciada por professores que se

consideram muito abatidos cansados desestimulados e emocionalmente sem condiccedilotildees de

trabalhar (Benevides-Pereira 2002 Codo amp Vasques-Menezes 1999) Diante desse quadro que

tem impacto na qualidade do aprendizado dos alunos Oliveira e Marinho-Arauacutejo (2009) sugerem

que a atenccedilatildeo agrave sauacutede do professor eacute um eixo de intervenccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares conforme

explicitado por uma das instituiccedilotildees

O uacuteltimo eixo de anaacutelise as Atividades realizadas organiza as principais accedilotildees

implementadas pelos psicoacutelogos escolares as quais mesmo estando essencialmente centradas nos

estudantes satildeo bastante diversificadas A atividade mais frequentemente desenvolvida (43) eacute o

apoio psicoloacutegico cliacutenico realizado na forma de psicoterapia (ou consulta psicoloacutegica) e de

aconselhamento Outras accedilotildees tambeacutem satildeo representativas como agravequelas voltadas agrave orientaccedilatildeo

profissional (18) das atividades e os programas de formaccedilatildeo e desenvolvimento de competecircncias

e praacuteticas de pesquisa ambas com 114 cada Se por um lado o apoio cliacutenico se sustenta num

modelo remediativo de intervenccedilatildeo as outras accedilotildees jaacute se organizam com base em um modelo mais

preventivo de atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar

Sobre este movimento de mudanccedila no tipo de atividade realizada eacute possiacutevel que esteja

associado a uma compreensatildeo cada vez mais crescente dos psicoacutelogos escolares acerca das

vantagens advindas de accedilotildees de caraacuteter preventivo conforme vem sendo recorrentemente

defendido na literatura (Almeida 2010 Arauacutejo 2003 Arauacutejo amp Almeida 2003 Del Prette amp Del

Prette 1996 Guzzo 2001 2003 Marinho-Arauacutejo amp Almeida 2005a Oliveira amp Marinho-Arauacutejo

2009) Acerca dessa mudanccedila um Serviccedilo comenta que ldquoembora actuando essencialmente numa

vertente remediativa e de apoio em situaccedilotildees de crise eacute nosso objectivo poder desenvolver cada vez

mais actividades de caraacutecter desenvolvimental e preventivordquo (SP9-Portugal) A Figura 16 ilustra o

conjunto de atividades realizadas pelos psicoacutelogos escolares

201

0 10 20 30 40

Linha telefocircnica

Suporte a necessidades especiais

Encaminhamento

Colaboraccedilatildeo com oacutergatildeos de gestatildeo

Acolhimento a alunos

Pesquisa

Promoccedilatildeo do desenvolvimento

Orientaccedilatildeo profissional

Apoio psicoloacutegico cliacutenico

Figura 16 Atividades desenvolvidas pelos psicoacutelogos escolares nos Serviccedilos de Psicologia de

Portugal

Tendo como referecircncia a organizaccedilatildeo das atividades em tradicionais e emergentes

(Martiacutenez 2009 2010) observa-se que 633 satildeo claacutessicas na atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar

todavia em uma perspectiva qualitativa as emergentes satildeo bastante inovadoras como eacute o caso dos

programas de acolhimento e recepccedilatildeo a calouros e os atendimentos de apoio psicoloacutegico feitos por

telefone Apesar de existir em apenas um Serviccedilo a linha telefocircnica de apoio psicoloacutegico eacute uma

experiecircncia diferenciada e tem como alvo os alunos que precisam de ajuda urgente em razatildeo de

alguma dificuldade que estatildeo vivenciando Aleacutem de auxiliar os estudantes em situaccedilotildees de crise o

apoio disponibilizado atraveacutes de linha telefocircnica permite identificar algumas problemaacuteticas que satildeo

recorrentes entre os alunos e assim subsidiar o planejamento de outros programas e intervenccedilotildees

Outra atividade pouco comum em Serviccedilos de Psicologia de uma forma geral mas

relativamente frequente nos de Portugal eacute a de pesquisa relacionada a temas que permeiam sua

atuaccedilatildeo na IES Dessa maneira as pesquisas tecircm como objeto de investigaccedilatildeo temaacuteticas

relacionadas agraves problemaacuteticas vivenciadas pelos estudantes e que os motivam a buscar ajuda

psicoloacutegica aleacutem de temas associados agrave adaptaccedilatildeo agrave Educaccedilatildeo Superior fatores que contribuem

para o sucesso e insucesso acadecircmico transiccedilatildeo para o mercado de trabalho Em Portugal estas

temaacuteticas satildeo objeto frequente de investigaccedilotildees devido agrave preocupaccedilatildeo com os processos de

transiccedilatildeo da Educaccedilatildeo Baacutesica para a Educaccedilatildeo Superior e desta para o mercado de trabalho

(Almeida 2007 Cunha amp Carrilho 2005 Santos amp Almeida 2001 Seco Casimiro Pereira Dias

amp Custoacutedio 2005 Teixeira Castro amp Piccolo 2007 Vasconcelos Almeida amp Monteiro 2009)

Em relaccedilatildeo agrave colaboraccedilatildeo dos Serviccedilos de Psicologia a outros oacutergatildeos de gestatildeo da

instituiccedilatildeo apenas dois Serviccedilos fazem menccedilatildeo a atividades implementadas com outras unidades

pedagoacutegicas ou administrativas da IES de forma que ainda tecircm pouca representatividade na

totalidade dos serviccedilos Por outro lado estas accedilotildees condizem com as indicaccedilotildees contemporacircneas

202

para uma atuaccedilatildeo preventiva e institucional em Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo Superior indicando

o iniacutecio de um possiacutevel processo de mudanccedila na natureza das atividades desenvolvidas pelos

psicoacutelogos escolares

Sobre essas atividades um Serviccedilo relata que ldquocolabora com outras unidades serviccedilos e

departamentoshellip quer de forma directa quer em consultoriardquo (SP2-Portugal) e outro destaca que

ldquotem vindo a desenvolver uma colaboraccedilatildeo constante com o Conselho Directivohellip no sentido de

dar o seu contributo na selecccedilatildeo profissional de alguns colaboradoresrdquo (SP15-Portugal) Aleacutem desta

colaboraccedilatildeo em processos seletivos este serviccedilo ressalta que apoia outras estruturas da instituiccedilatildeo

como por exemplo a Divisatildeo Acadecircmica o Conselho Pedagoacutegico as comissotildees de avaliaccedilatildeo dos

cursos de licenciatura o Instituto de Formaccedilatildeo e outros

Mesmo as accedilotildees voltadas ao desenvolvimento vocacional dos estudantes que satildeo comuns

na atuaccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares em Portugal tecircm uma estruturaccedilatildeo diferente e natildeo se

restringem agrave avaliaccedilatildeo psicoloacutegica vocacional agrave divulgaccedilatildeo de vagas agrave anaacutelise de curriacuteculo dos

estudantes e ao seu encaminhamento para as empresas de acordo com o perfil Contemplam

tambeacutem momentos de formaccedilatildeo para a vida profissional nos quais satildeo abordadas questotildees relativas

ao projeto de vida e agrave carreira desenvolvimento de competecircncias de empregabilidade do Curriacuteculo

Vitae ou portfolio de competecircncias preparaccedilatildeo para a entrevista de recrutamento

Ainda no acircmbito da orientaccedilatildeo profissional realizam accedilotildees voltadas agrave transiccedilatildeo dos

estudantes do curso superior para o mercado de trabalho como estrateacutegia para potencializar sua

integraccedilatildeo ao novo contexto Em virtude da preocupaccedilatildeo com a adequaccedilatildeo e satisfaccedilatildeo dos

estudantes com o curso escolhido e a associaccedilatildeo entre essa satisfaccedilatildeo e os iacutendices de sucesso

pesquisas e programas de desenvolvimento profissional satildeo frequentes na Educaccedilatildeo Superior

portuguesa (Duarte Paixatildeo amp Lima 2007 Leitatildeo amp Paixatildeo 1999 Taveira 2001 Taveira amp Pinto

2008)

Em siacutentese as accedilotildees dos Serviccedilos de Psicologia das Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior de

Portugal incluem intervenccedilotildees com objetivos preventivos como os programas de desenvolvimento

de competecircncias de promoccedilatildeo da sauacutede e desenvolvimento de carreira aleacutem de intervenccedilotildees com

objetivos remediativos como a psicoterapia e consulta psicoloacutegica Sobre a integraccedilatildeo destas

modalidades de intervenccedilatildeo um Serviccedilo comenta que ldquoda mesma forma gostariacuteamos que a nossa

intervenccedilatildeo deixasse de ter como objecto apenas os alunos com dificuldades para passar a incluir

acccedilotildees preventivas e promocionais que potencializem os recursos da instituiccedilatildeo centrando-se na

promoccedilatildeo da qualidade dos contextos e das interacccedilotildees neles existentes O que nos remete

necessariamente para a importacircncia do trabalho em equipa com outros agentes da Universidaderdquo

(SP20-Portugal)

Assim sendo entende-se que apesar de predominar no contexto portuguecircs assim como no

europeu de forma geral a atenccedilatildeo direta aos alunos em uma perspectiva de apoio a problemas a

anaacutelise das atividades realizadas pelos Serviccedilos traz indiacutecios de um movimento de mudanccedila no

203

sentido de ampliar seu campo de inserccedilatildeo dentro da proacutepria instituiccedilatildeo e consequentemente a

extensatildeo de sua contribuiccedilatildeo

Apresentado o Panorama dos Serviccedilos de Psicologia das Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior

de Portugal faz-se agora uma caracterizaccedilatildeo mais detalhada de oito serviccedilos sua organizaccedilatildeo e

estrutura cujos criteacuterios de seleccedilatildeo foram apresentados no capiacutetulo anterior Para fazer a

caracterizaccedilatildeo destes serviccedilos recorreu-se agrave anaacutelise documental realizada com materiais

disponibilizados pelos coordenadores ou pelos psicoacutelogos escolares por ocasiatildeo da visita aos

Serviccedilos O material de anaacutelise eacute variado havendo documentos oficiais (despacho) que

determinaram a criaccedilatildeo e estrutura do Serviccedilo relatoacuterios de funcionamento e avaliaccedilatildeo

regulamentos ou manuais aleacutem das informaccedilotildees disponiacuteveis no site quando assim foi indicado

pelos profissionais

Participaram deste momento da pesquisa oito Serviccedilos de Psicologia de IES portuguesas

os quais pertencem a quatro universidades puacuteblicas e dois institutos politeacutecnicos tambeacutem puacuteblicos

Trecircs destes serviccedilos pertencem a uma mesma universidade A anaacutelise documental levou agrave

organizaccedilatildeo das informaccedilotildees em seis categorias que exploram as razotildees para a criaccedilatildeo dos

Serviccedilos os objetivos que os orientam os recursos humanos que tecircm para desenvolver as

atividades o puacuteblico para o qual dirigem suas accedilotildees a forma de acesso ao Serviccedilo e as estrateacutegias

de divulgaccedilatildeo utilizadas

Em relaccedilatildeo ao Histoacuterico dos Serviccedilos especificamente quanto agrave data em que surgiram haacute

entre os oito Serviccedilos variaccedilatildeo de 2 a 21 anos sendo que a maioria deles surgiu na deacutecada de 90

Os motivos que impulsionaram a criaccedilatildeo dos Serviccedilos guardam relaccedilatildeo com a trajetoacuteria e dinacircmica

da instituiccedilatildeo em que se inserem no entanto a necessidade de atender as demandas apresentadas

pelos estudantes e ajudaacute-los a superar dificuldades que encontravam ao longo da formaccedilatildeo estatildeo na

base da criaccedilatildeo dos Serviccedilos Para seis deles o compromisso de responder agraves necessidades dos

alunos foi um fator imperativo para sua constituiccedilatildeo fossem grupos especiacuteficos de alunos como os

economicamente carentes ou com necessidades educativas especiais ou o corpo discente no geral

Dois Serviccedilos entretanto por estarem vinculados aos cursos de Psicologia tiveram como

motivaccedilotildees a necessidade de formar psicoacutelogos em niacutevel de graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo

desenvolver projetos de pesquisa e atender agrave comunidade

Quanto aos Objetivos dos Serviccedilos eles estatildeo estabelecidos de acordo com o puacuteblico

principal para o qual suas accedilotildees satildeo dirigidas e que justificou a criaccedilatildeo dos mesmos Por exemplo

o SP de apoio aos alunos com necessidades educativas especiais tem como objetivo favorecer a

inclusatildeo destes estudantes e promover a igualdade de oportunidades o Serviccedilo de apoio aos alunos

bolsistas por sua vez tem como meta prestar apoio psicoloacutegico a este grupo especiacutefico de alunos

Ainda que elaborados com base na populaccedilatildeo que atendem o eixo comum dos objetivos que

orientam os Serviccedilos eacute a promoccedilatildeo do bem-estar dos estudantes e do sucesso acadecircmico

204

Em relaccedilatildeo ao Nuacutemero de Profissionais que integram os Serviccedilos em quatro deles existe

somente um psicoacutelogo escolar para responder por todas as accedilotildees e demandas em um Serviccedilo a

equipe eacute constituiacuteda por dois profissionais e em outro por trecircs psicoacutelogos e por fim em virtude da

vinculaccedilatildeo com os cursos de Psicologia dois Serviccedilos contam com a colaboraccedilatildeo de docentes que

exercem a funccedilatildeo de coordenadores de psicoacutelogos colaboradores (que prestam algumas horas

semanais) e de estudantes de Psicologia em formaccedilatildeo sendo que nestes a colaboraccedilatildeo de

estagiaacuterios eacute fundamental para o seu funcionamento pois natildeo contam com a contrataccedilatildeo de

psicoacutelogo Aleacutem de estagiaacuterios de graduaccedilatildeo haacute tambeacutem a colaboraccedilatildeo de alunos de mestrado e de

doutorado que desenvolvem seus estudos no acircmbito dos Serviccedilos e contribuem para o seu

funcionamento

Conforme jaacute constatado em estudos anteriores (Duarte amp Paixatildeo 1998 Gonccedilalves 2008

RESAPES 2002b) a maioria dos Serviccedilos de Apoio Psicoloacutegico das IES Portuguesas tem apenas

um psicoacutelogo escolar e em vaacuterios casos estes profissionais natildeo trabalham em tempo integral

Apesar de na deacutecada de 1990 ter ocorrido uma expansatildeo quantitativa dos Serviccedilos no paiacutes seus

recursos humanos continuam reduzidos de maneira que natildeo se pode garantir que houve uma

ampliaccedilatildeo do nuacutemero de estudantes atendidos especialmente que tenha sido proporcional ao

crescimento do nuacutemero de novos alunos que ingressaram na Educaccedilatildeo Superior

Em alguns casos a colaboraccedilatildeo de estagiaacuterios tem sido uma alternativa para suprir a falta

de recursos humanos entretanto tal alternativa natildeo eacute de toda satisfatoacuteria uma vez que implica em

rotatividade de alunos (jaacute que o estaacutegio tem duraccedilatildeo limitada) e ainda pelo fato de que a atuaccedilatildeo

destes estudantes em formaccedilatildeo natildeo eacute eticamente indicada em algumas situaccedilotildees como o

atendimento de colegas de curso e professores Assim concorda-se com a indicaccedilatildeo jaacute feita pela

RESAPES (2002b) de que ldquoos serviccedilos natildeo podem depender do trabalho de estagiaacuterios para

responder aos pedidos que tipicamente lhes satildeo feitosrdquo (p 30)

Quanto ao Puacuteblico para o qual as accedilotildees dos Serviccedilos de Psicologia estatildeo dirigidas quatro

deles trabalham exclusivamente com os alunos trecircs estendem suas accedilotildees aos professores e

funcionaacuterios e um serviccedilo para aleacutem de atender toda a populaccedilatildeo interna da instituiccedilatildeo tambeacutem eacute

aberto agrave comunidade externa Importa destacar que a atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar centrada nos

estudantes extensivamente criticada na literatura jaacute divide espaccedilo com intervenccedilotildees direcionadas

para outros agentes do processo educativo nomeadamente os professores e funcionaacuterios Contudo

esta ampliaccedilatildeo nem sempre significa que hajam atividades planejadas e desenvolvidas

especificamente para as necessidades caracteriacutesticas e expectativas deste puacuteblico Em alguns casos

haacute apenas a disponibilidade do Serviccedilo em receber e atender estes profissionais para as consultas

psicoloacutegicas ou permitir que participem de accedilotildees oferecidas aos estudantes

Somente em um Serviccedilo de Psicologia existem atividades especialmente planejadas e

desenvolvidas para os docentes ou funcionaacuterios sendo um desafio aos psicoacutelogos escolares

conseguir implementar e sustentar tal praacutetica jaacute que natildeo haacute esta tradiccedilatildeo no paiacutes bem como

205

aumentar a participaccedilatildeo em tais atividades que tecircm pouca adesatildeo Para aleacutem da sensibilizaccedilatildeo dos

proacuteprios profissionais uma real participaccedilatildeo exige tambeacutem accedilotildees dos psicoacutelogos escolares no niacutevel

da gestatildeo institucional uma vez que sua implementaccedilatildeo requer apoio no que tange ao incentivo

oficial agrave formaccedilatildeo continuada de professores agrave definiccedilatildeo de datas e modalidades mais favoraacuteveis agrave

participaccedilatildeo aleacutem de outros aspectos

O Acesso agraves atividades desenvolvidas pelos Serviccedilos de Psicologia ocorre de forma

diferente a depender da modalidade de intervenccedilatildeo No caso das consultas individuais em geral o

aluno procura o Serviccedilo quando percebe alguma dificuldade ou eacute encaminhado pelos

coordenadores professores ou pelo serviccedilo meacutedico Quando se trata das atividades coletivas como

workshops de desenvolvimento de competecircncias eacute preciso que os alunos se inscrevam

previamente tais atividades satildeo divulgadas e os interessados se inscrevem

Quanto agrave Divulgaccedilatildeo do Serviccedilo quase todos tecircm por costume publicizar a existecircncia do

Serviccedilo e das atividades que realiza As estrateacutegias mais comuns satildeo em ordem decrescente de

recorrecircncia entre os Serviccedilos pela paacutegina da IES na internet por professores e funcionaacuterios que

comentam com os alunos sobre os Serviccedilos por meio de cartazes e panfletos distribuiacutedos na

instituiccedilatildeo aleacutem de newsletter de blogs do facebook e do twitter estas uacuteltimas ferramentas atuais

de comunicaccedilatildeo e relacionamento pela internet Dois Serviccedilos natildeo fazem divulgaccedilatildeo por natildeo terem

condiccedilotildees de acolher novas demandas Conforme jaacute indicado pela RESAPES (2002b) a divulgaccedilatildeo

dos serviccedilos eacute tipicamente reduzida e feita atraveacutes da distribuiccedilatildeo de panfletos e murais dentro da

IES Contudo se levado em conta que no paiacutes uma importante forma de acesso ao Serviccedilo se natildeo a

mais frequente eacute a procura por parte do proacuteprio estudante eacute imprescindiacutevel que este tenha

conhecimento do apoio que o serviccedilo pode lhe oferecer Atento a esta questatildeo um dos Serviccedilos

tem se empenhado em estabelecer canais de comunicaccedilatildeo diferenciados por meio de ferramentas

interativas contemporacircneas ndash blogs facebook e twitter

2ordf Etapa ndash Mapeamento da atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar

No acircmbito do Estudo 2 realizou-se tambeacutem uma anaacutelise da atuaccedilatildeo de psicoacutelogos

escolares em Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior de Portugal a qual englobou dois momentos

interdependentes (a) entrevistas com psicoacutelogos escolares que atuam em Serviccedilos de Psicologia e

(b) entrevistas com coordenadores dos Serviccedilos

Participaram deste momento da pesquisa 11 profissionais dos quais trecircs psicoacutelogos

escolares quatro coordenadores (tambeacutem formados em Psicologia) e quatro psicoacutelogos-

coordenadores assim identificados por exercerem as duas funccedilotildees A proposta original da pesquisa

previa entrevistar apenas os psicoacutelogos escolares contudo na medida em que alguns Serviccedilos natildeo

tecircm psicoacutelogos contratados natildeo se teria acesso aos mesmos tendo em vista que se organizam com

base no apoio de estudantes Dessa forma a inclusatildeo dos coordenadores deve-se principalmente agrave

oportunidade de conhecer o trabalho desenvolvido

206

Buscando construir espaccedilos de diaacutelogo entre a pesquisadora e os participantes como forma

de possibilitar a expressatildeo destes uacuteltimos acerca de sua trajetoacuteria profissional experiecircncias e

implicaccedilotildees adotou-se a entrevista semi-estruturada como instrumento principal de investigaccedilatildeo

Os participantes foram entrevistados individualmente nos locais de trabalho e as entrevistas foram

analisadas de forma qualitativa com o objetivo de apreender os sentidos construiacutedos pelos

participantes em relaccedilatildeo ao trabalho realizado nos Serviccedilos de Psicologia

Os resultados exploram aspectos ligados agrave praacutetica dos psicoacutelogos escolares

especificamente sobre as principais atividades realizadas o modelo de intervenccedilatildeo que as orienta

as dificuldades e facilidades encontradas no seu desenvolvimento a percepccedilatildeo dos profissionais em

relaccedilatildeo agraves contribuiccedilotildees advindas do trabalho desenvolvido e as possiacuteveis alteraccedilotildees que poderiam

ser feitas para melhoraacute-las A Tabela 19 traz resumidamente as caracteriacutesticas dos psicoacutelogos

escolares e coordenadores dos Serviccedilos participantes deste momento da pesquisa sendo que os

Serviccedilos nos quais atuam jaacute foram caracterizados na etapa anterior

Tabela 19

Caracterizaccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares e coordenadores que atuam em IES de Portugal

Profis-

sional

IES Gecircnero Tempo de

atuaccedilatildeo

Formaccedilatildeo Viacutenculo Carga

horaacuteria

PE 1 Universidade

puacuteblica

F 5 anos Mestranda

em Psicologia

Prestadora

de serviccedilo

7 horas

PE 2 Universidade

puacuteblica

F 3 anos Mestre

em Psicologia

Teacutecnica 40 horas

PE 3 Politeacutecnico

puacuteblico

F 2 anos Mestranda

em Psicologia

Prestadora

de serviccedilo

40 horas

PE 4 Politeacutecnico

puacuteblico

F 2 anos Especialista Prestadora

de serviccedilo

40 horas

PE-

Coord 1

Universidade

puacuteblica

M 13 anos Mestre

em Psicologia

Teacutecnico 40 horas

PE-

Coord 2

Politeacutecnico

puacuteblico

F 2 anos Mestranda

em Psicologia

Teacutecnica 35 horas

PE-

Coord 3

Universidade

puacuteblica

F 6 anos Especialista Teacutecnica 40 horas

Coord 1 Universidade

puacuteblica

F 7 anos Mestre

em Psicologia

Teacutecnica 40 horas

Coord 2 Universidade

puacuteblica

F Doutora

em Psicologia

Professora 40 horas

207

Coord 3 Politeacutecnico

puacuteblico

F 3 anos Doutora

em Psicologia

Professora 40 horas

Coord 4 Universidade

puacuteblica

F Doutora

em Psicologia

Professora 40 horas

O tempo de experiecircncia dos psicoacutelogos escolares nestes Serviccedilos varia de dois a 13 anos

sendo que a meacutedia entre eles eacute de quatro anos e meio Os coordenadores pertencentes ao quadro

docente das IES tecircm mais de trecircs anos no Serviccedilo

Em relaccedilatildeo aos Recursos Humanos pode-se analisaacute-los sob duas perspectivas Quanto agrave

formaccedilatildeo dos profissionais que atuam nos Serviccedilos todos satildeo da aacuterea da Psicologia sendo que

aleacutem da formaccedilatildeo inicial possuem ou estatildeo realizando curso de poacutes-graduaccedilatildeo na maioria das

vezes o Mestrado em Psicologia Entre os Serviccedilos em que haacute um coordenador exercendo apenas

esta funccedilatildeo em trecircs deles os profissionais pertencem ao quadro docente da instituiccedilatildeo e tecircm o tiacutetulo

de doutor em apenas um deles o coordenador pertence ao quadro teacutecnico da instituiccedilatildeo Ainda em

relaccedilatildeo aos recursos humanos e conforme ressaltado por Ferrer-Sama (2008) em relaccedilatildeo aos

Serviccedilos de Apoio Psicoloacutegico europeus eacute de destacar a qualificaccedilatildeo dos profissionais que atuam

em Portugal uma vez que todos tecircm curso de graduaccedilatildeo e de poacutes-graduaccedilatildeo em Psicologia Em

relaccedilatildeo ao Viacutenculo dos psicoacutelogos com a instituiccedilatildeo ele eacute de 35 ou 40 horas semanais nos casos em

que os psicoacutelogos (incluindo os psicoacutelogos-coordenadores) pertencem ao quadro de funcionaacuterios

das IES ou de 7 a 40 horas nos casos onde os psicoacutelogos escolares satildeo contratados por horas

semanais Os coordenadores que pertencem ao corpo docente tecircm contrato integral com a IES

sendo que a carga horaacuteria destinada ao Serviccedilo depende da distribuiccedilatildeo do seu tempo e das suas

atividades docentes e de pesquisa

No tocante agraves Atividades desenvolvidas pelos psicoacutelogos escolares nos Serviccedilos de

Psicologia constata-se que existe uma grande variedade de praacuteticas as quais refletem as

prioridades demandadas pela instituiccedilatildeo a trajetoacuteria do proacuteprio Serviccedilo e sua oportunidade de

avaliar e reestruturar suas accedilotildees as opccedilotildees ideoloacutegicas e teoacutericas dos coordenadores e psicoacutelogos e

a disponibilidade de recursos humanos De forma geral a atividade comum a eles e para a qual eacute

destinada grande atenccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares eacute a consulta psicoloacutegica realizada em sete dos

oito Serviccedilos ldquoeacute claro que o que eacute mais comum e o que noacutes fazemos mais eacute a consulta psicoloacutegica

individual mas natildeo haacute nenhuma restriccedilatildeo a que se organize qualquer tipo de modalidade de

intervenccedilatildeo eacute uma opccedilatildeordquo (SP5-Portugal)

Apesar de ser frequente em vaacuterios Serviccedilos seria incorreto afirmar que a consulta

psicoloacutegica seja homogecircnea quanto agrave forma como eacute desenvolvida pelos psicoacutelogos pela orientaccedilatildeo

teoacuterica adotada e pelas temaacuteticas abordadas A praacutetica da consulta envolve a avaliaccedilatildeo (com ou sem

a aplicaccedilatildeo de testes) o diagnoacutestico e definiccedilatildeo do problema e a intervenccedilatildeo a qual pode ocorrer

208

na forma de apoio psicopedagoacutegico de aconselhamento ou de psicoterapia O apoio

psicopedagoacutegico eacute direcionado para questotildees acadecircmicas como organizaccedilatildeo do tempo ou leitura e

escrita por exemplo o aconselhamento breve direciona-se para um problema emocional

relativamente delimitado que requer uma orientaccedilatildeo pontual e o acompanhamento psicoterapecircutico

eacute de maior duraccedilatildeo realiza-se em sessotildees semanais e ocorre em casos de perturbaccedilotildees psicoloacutegicas

ou psiquiaacutetricas As temaacuteticas ou demandas em torno das quais se desenvolvem as consultas satildeo

variadas havendo casos ligados agrave saiacuteda de casa agrave adaptaccedilatildeo agrave universidade orientaccedilatildeo vocacional

problemas familiares ou de relacionamento dificuldades financeiras necessidades educativas

especiais transiccedilatildeo para o mercado de trabalho aleacutem de questotildees relacionadas agrave depressatildeo luto

desordens alimentares psicopatologias graves que aparecem com menos frequecircncia Quanto agraves

orientaccedilotildees teoacutericas a abordagem cognitiva-comportamental eacute mais regularmente adotada por

alcanccedilar resultados num periacuteodo menor de tempo contudo em geral eacute dada liberdade aos

psicoacutelogos escolares para recorrerem agrave abordagem com a qual melhor se identificam

O uacutenico Serviccedilo que natildeo realiza consulta psicoloacutegica eacute o que estaacute exclusivamente vinculado

ao apoio aos alunos com necessidades educativas especiais ldquoeu natildeo faccedilo eacute aquela consulta

psicoloacutegica individualizada () Apesar de natildeo fazer psicoterapia nem consulta psicoloacutegica no

sentido restrito da palavra natildeo eacute acabo por dar algum apoio a estes estudantesrdquo (SP2-Portugal) O

apoio psicoloacutegico e a orientaccedilatildeo individual dados aos alunos especiais se configuram como um

acolhimento ao aluno bem como uma oportunidade de levantar informaccedilotildees acerca das suas

necessidades e decidir em conjunto com ele quais medidas podem melhor lhe atender Apesar

deste Serviccedilo natildeo realizar consulta psicoloacutegica com os alunos com necessidades especiais ela

ocorre em outros dois que tambeacutem atendem este puacuteblico

Acerca da recorrecircncia da consulta psicoloacutegica uma praacutetica eminentemente cliacutenica na

estruturaccedilatildeo e dinacircmica dos Serviccedilos de Psicologia das IES portuguesas ela eacute para alguns

profissionais a atividade que lhes confere identidade de maneira que ldquose eu natildeo distingo que a

aacuterea cliacutenica eacute uma aacuterea central e nuclear ela pode ser esvaziada por outras coisas outras coisas e

natildeo se faz cliacutenica E aiacute perder a identidade enquanto serviccedilo de atendimento psicoloacutegicordquo (SP6-

Portugal) Complementando os esclarecimentos acerca da centralidade das consultas psicoloacutegicas

outro participante destaca que eacute por meio delas praacutetica legitimamente de responsabilidade dos

profissionais de Psicologia que os Serviccedilos garantem a presenccedila dos psicoacutelogos escolares pois ela

ldquosoacute pode ser assegurada por mim ou por um teacutecnico de Psicologia enquanto a formaccedilatildeo por

exemplo noacutes da forma como organizamos isso deve ser feito por um psicoacutelogo deve mas ainda

assim podem entendecirc-lo de outra forma Consulta natildeo pode se entender de mais forma nenhumardquo

(SP7-Portugal)

Se por um lado a ecircnfase na consulta psicoloacutegica eacute justificada por conferir identidade a um

Serviccedilo de Psicologia por outro os participantes reconhecem que somente a praacutetica cliacutenica

minimiza as contribuiccedilotildees do Serviccedilo uma vez que o apoio ao sucesso acadecircmico e ao bem-estar

209

dos estudantes fica restrito a um pequeno nuacutemero de alunos deixando inclusive o Serviccedilo

institucionalmente vulneraacutevel Nesse sentido ldquoum serviccedilo que se reduza constantemente a dar

apoio cliacutenico e ponto final eu acho que fica muito mais vulneraacutevel institucionalmente () um

trabalho puramente cliacutenico no ensino superior natildeo protege muito o serviccedilo porque o trabalho

cliacutenico seraacute sempre visto como um complemento natildeo o core business da coisardquo (SP6-Portugal)

A necessidade de enfrentar esta vulnerabilidade eacute uma das razotildees pelas quais os Serviccedilos

passaram a desenvolver outras estrateacutegias de intervenccedilatildeo como os workshops as palestras e os

voluntariados (Dias 2006) detalhados adiante Poreacutem mais do que proteger o Serviccedilo em termos

de sua manutenccedilatildeo a anaacutelise das entrevistas indica que o investimento em outras aacutereas de

intervenccedilatildeo tambeacutem decorre da compreensatildeo de que a diversificaccedilatildeo de modalidades de

intervenccedilatildeo pode ampliar o campo de atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar e consequentemente

aumentar o impacto no sucesso acadecircmico ldquoAgraves vezes os psicoacutelogos estatildeo muito habituados a

trabalhar nos gabinetes eacute muita consulta e aqui natildeo eacute soacute consulta a consulta aqui eacute uma das

valecircncias muito importantes sim e noacutes valorizamos muito esse trabalho mas natildeo eacute soacute issordquo (SP4-

Portugal) Para aleacutem de assegurar institucionalmente a manutenccedilatildeo do Serviccedilo a diversificaccedilatildeo das

modalidades de intervenccedilatildeo reflete a abertura dos psicoacutelogos escolares em construiacuterem accedilotildees mais

condizentes com as especificidades do contexto e assim se comprometerem de modo mais efetivo

com a democratizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior

Por mais que a atividade cliacutenica seja entendida como estruturante para a praacutetica

psicoloacutegica a sua pouca adequaccedilatildeo e eficiecircncia diante das especificidades inerentes ao contexto

educativo jaacute estatildeo bastante divulgadas na literatura na medida em que pouco impacto tecircm na

transformaccedilatildeo do sistema por ser bastante reducionista Por outro lado praacuteticas que levam em

conta as influecircncias sociais poliacuteticas e ideoloacutegicas na conformaccedilatildeo dos problemas e que recorrem

a intervenccedilotildees com diferentes agentes e instacircncias institucionais (uma vez que assumem que o

problema natildeo eacute responsabilidade do sujeito individualmente) jaacute estatildeo propostas na literatura

(Marinho-Arauacutejo 2009a Sandoval amp Love 1977 Witter 1999) Para aleacutem da consulta

psicoloacutegica outras accedilotildees satildeo desenvolvidas pelos psicoacutelogos escolares conforme ilustra a Tabela

20

210

Tabela 20

Atividades realizadas pelos psicoacutelogos escolares nos Serviccedilos de Psicologia de Portugal

Subcategorias Exemplos de atividades f

1 Apoio psicoloacutegico cliacutenico Aconselhamento Consulta Psicoloacutegica e Psicoterapia 7

Apoio Psicopedagoacutegico

Avaliaccedilatildeo diagnoacutestico e encaminhamento

Grupos terapecircuticos

2 Promoccedilatildeo do

desenvolvimento

Programas de desenvolvimento de competecircncias 6

Programas de prevenccedilatildeo aos comportamentos de risco

Sessotildees de relaxamento

3 Pesquisa Investigaccedilatildeo 5

Publicaccedilatildeo e participaccedilatildeo em congressos

4 Desenvolvimento

Profissional

Gestatildeo da Carreira e para a vida ativa 4

Desenvolvimento vocacional e Anaacutelise de curriacuteculo

5 Assessoria agrave inclusatildeo Atendimento e orientaccedilatildeo 3

Implementaccedilatildeo das alteraccedilotildees pedagoacutegicas fiacutesicas e

tecnoloacutegicas

Accedilotildees de sensibilizaccedilatildeo e de formaccedilatildeo

6 Voluntariados Programas em peer counselling 3

7 Acolhimento a alunos Programas de mentorado 2

8 Formaccedilatildeo em Psicologia Formaccedilatildeo de psicoacutelogos em niacutevel de graduaccedilatildeo e de poacutes-

graduaccedilatildeo

2

9 Assessoria a oacutergatildeos de

gestatildeo

Apoio no recrutamento e seleccedilatildeo de novos colaboradores 1

Colaboraccedilatildeo com outras unidades da instituiccedilatildeo

10 Linha telefocircnica Linha telefocircnica de apoio aos alunos 1

11 Formaccedilatildeo de

professores

Formaccedilatildeo docente agrave luz do processo de Bolonha 1

12 Docecircncia Disciplina de Desenvolvimento Pessoal e Competecircncias 1

O primeiro destaque quanto agraves Atividades desenvolvidas pelos psicoacutelogos escolares refere-

se agrave diversidade os Serviccedilos de Apoio Psicoloacutegico das IES Portuguesas natildeo estatildeo presos a um tipo

de intervenccedilatildeo ao contraacuterio envolvem-se simultaneamente em vaacuterias modalidades Um importante

contributo dessa diversificaccedilatildeo eacute sem duacutevida a ampliaccedilatildeo das vias pelas quais pode-se alcanccedilar o

sucesso acadecircmico e bem-estar dos sujeitos bem como o crescimento das proacuteprias instituiccedilotildees jaacute

211

que as trajetoacuterias de desenvolvimento natildeo estatildeo previamente estabelecidas e podem ser

potencializadas por muitos meios

A variedade de atividades evidencia tambeacutem uma importante mudanccedila qualitativa no

modelo de intervenccedilatildeo que orienta a praacutetica psicoloacutegica o qual deixa de ser prioritariamente

remediativo e curativo assumindo um caraacuteter mais preventivo Nessa direccedilatildeo praacuteticas que buscam

tratar as dificuldades trazidas pelos estudantes organizam-se agora com praacuteticas que almejam

fomentar o desenvolvimento integral dos alunos

O segundo destaque em relaccedilatildeo agraves Atividades desenvolvidas refere-se ao fato de que apesar

de haver uma diversificaccedilatildeo em termos do tipo de intervenccedilatildeo a grande maioria delas estaacute focada

nos alunos especificamente em intervenccedilotildees diretas e pontuais com o corpo discente Esta eacute aliaacutes

a ecircnfase recorrente nos Serviccedilos de Apoio da Europa (Ferrer-Sama 2008) e estaacute na base de vaacuterias

propostas de atuaccedilatildeo para a Educaccedilatildeo Superior de Portugal (Dias 2001 2006 Gonccedilaacutelves amp Cruz

1988 Leitatildeo Paixatildeo Silva amp Miguel 2000) Ademais um olhar retrospectivo junto aos Serviccedilos

do paiacutes aponta que as atividades atualmente desenvolvidas satildeo as mesmas que estiveram na base da

criaccedilatildeo do primeiro Serviccedilo de Apoio Psicoloacutegico haacute mais de 25 anos

Dessa maneira se por um lado desenvolvem-se diferentes atividades em paralelo agrave

tradicional consulta psicoloacutegica notadamente pela inclusatildeo de accedilotildees preventivas por outro estas

atividades permanecem focalizadas nos estudantes e reproduzindo modelos pouco inovadores

Outras aacutereas carentes de intervenccedilatildeo na Educaccedilatildeo Superior seriam em relaccedilatildeo agrave gestatildeo institucional

e agraves propostas pedagoacutegicas espaccedilos pouco frequentes de intervenccedilatildeo

Ainda em relaccedilatildeo agraves Atividades desenvolvidas cabe discuti-las com referecircncia agrave sua

caracteriacutestica inovadora e diferenciada do que classicamente tem sido realizado pelos psicoacutelogos

escolares especialmente no contexto da Educaccedilatildeo Superior Nessa direccedilatildeo destacam-se os

programas de desenvolvimento de competecircncias e de prevenccedilatildeo a comportamento de risco que tecircm

como intenccedilatildeo favorecer o desenvolvimento global dos estudantes Os programas satildeo realizados

em grupos nas modalidades de workshops quando os psicoacutelogos escolares optam por imprimir um

caraacuteter mais vivencial agrave atividade ou palestras mais informativas Quando tecircm o formato de

workshop ocorrem em trecircs ou quatro encontros de trecircs horas Alguns dos temas explorados satildeo

gestatildeo do tempo meacutetodos de estudo teacutecnicas de elaboraccedilatildeo de curriacuteculo gestatildeo de conflitos

inteligecircncia emocional desenvolvimento de competecircncias sociais e relacionais controle de estresse

e ansiedade frente aos exames Em algumas instituiccedilotildees os programas tecircm uma regularidade ao

longo do ano letivo e jaacute estatildeo previstos no calendaacuterio de atividades do Serviccedilo em outro eles satildeo

planejados de acordo com a demanda dos alunos

A assessoria agrave inclusatildeo eacute um dos eixos de intervenccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares que buscam

contribuir para a promoccedilatildeo do processo de inclusatildeo nas instituiccedilotildees Esta assessoria ocorre por

meio de accedilotildees de sensibilizaccedilatildeo e formaccedilatildeo com toda a comunidade acadecircmica atraveacutes do

atendimento e orientaccedilatildeo aos alunos e professores acerca dos direitos e adequaccedilotildees curriculares que

212

podem ser feitas para favorecer o aprendizado dos alunos especiais por meio da implementaccedilatildeo

das alteraccedilotildees pedagoacutegicas fiacutesicas e tecnoloacutegicas necessaacuterias ao maior aproveitamento do

estudante e mobilidade na IES

Outra estrateacutegia satildeo os programas de tutoria no qual um docente do curso com suporte do

Serviccedilo de Psicologia responsabiliza-se por acompanhar regularmente o estudante de forma a

avaliar e planejar com ele atividades a serem realizadas identificar projetos nos quais pode se

envolver potencializar o uso de recursos disponiacuteveis na instituiccedilatildeo que podem auxiliaacute-lo etc Para

oferecer esse apoio os docentes recebem suporte regular dos psicoacutelogos escolares de forma a

trabalhar suas proacuteprias dificuldades e preconceitos relativos agraves necessidades educativas especiais a

conhecer de forma mais aprofundada as caracteriacutesticas e especificidades dos alunos especiais

Outro tipo de accedilatildeo interessante e atual entre alguns Serviccedilos satildeo os programas de

voluntariado baseados no peer counselling ou apoio entre pares Ou seja satildeo programas

estruturados mediante a atuaccedilatildeo de estudantes da proacutepria instituiccedilatildeo os quais a partir de uma

formaccedilatildeo especiacutefica e direcionada para o programa no qual iratildeo atuar oferecem apoio a outros

colegas Assim o apoio entre pares eacute o processo no qual estudantes treinados e supervisionados

pela equipe do Serviccedilo de Psicologia ajudam outros estudantes com problemas pessoais eou

acadecircmicos Pode ser desenvolvido nas modalidades frente-a-frente ou pessoalmente por telefone

por carta ou pela internet

A recepccedilatildeo e acolhimento aos novos alunos eacute mais um exemplo de accedilatildeo que pode ser

coordenada pelos psicoacutelogos escolares com base no apoio entre pares e nestas situaccedilotildees a funccedilatildeo

destes profissionais estaacute mais vinculada agrave formaccedilatildeo dos estudantes que iratildeo oferecer apoio aos seus

colegas O apoio por pares em situaccedilotildees de acolhimento a novos alunos eacute comumente denominado

de peer mentoring ou simplesmente mentorado (Boto Mader amp Fernandes 2010 Pereira 2005)

Nestes programas alunos (mentores) que jaacute estudam na IES facilitam a transiccedilatildeo e integraccedilatildeo de

alunos receacutem-chegados ou seja estudantes mais avanccedilados nos cursos assumem um papel central

no acolhimento e acompanhamento dos novos colegas (calouros) oferecendo uma atenccedilatildeo

especializada e sistemaacutetica com o objetivo de facilitar a integraccedilatildeo dos novos alunos no meio

acadecircmico Cada mentor tem um grupo de alunos sob seu acompanhamento devendo reunir-se

regularmente com ele algumas vezes no semestre ou de acordo com as necessidades e demandas do

grupo O mentorado eacute uma atividade voluntaacuteria e as vantagens de ser um aluno mentor eacute poder

receber creacuteditos curriculares conhecer melhor a instituiccedilatildeo na qual estuda e acima de tudo

desenvolver e ampliar suas competecircncias

Com o propoacutesito de preparar os alunos-mentores eles participam de um processo de

formaccedilatildeo especiacutefico que a depender do perfil e caracteriacutesticas da instituiccedilatildeo abordam temas

diferenciados o papel e funccedilatildeo do mentor estrateacutegias para apoiar e intervir junto aos alunos

ingressantes estrateacutegias de aconselhamento e limites da accedilatildeo do mentor gestatildeo de conflitos

exerciacutecios de facilitaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e integraccedilatildeo em um novo grupo estilos de lideranccedila

213

treino de assertividade e dinacircmicas de grupo aleacutem da definiccedilatildeo das atividades a serem

desenvolvidas com os novos estudantes A formaccedilatildeo dos mentores eacute portanto realizada pelos

psicoacutelogos escolares os quais recorrem a situaccedilotildees de estudo e reflexatildeo coletiva assumem a tarefa

de mediar o desenvolvimento de competecircncias sociais e relacionais junto aos mentores

A participaccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares nas accedilotildees de apoio entre pares tem alguns focos

distintos e complementares o do planejamento e conduccedilatildeo da formaccedilatildeo dos estudantes que iratildeo

atuar nos programas o da supervisatildeo regular para os alunos voluntaacuterios para que possam discutir e

trabalhar eventuais dificuldades e anguacutestias que surjam ao longo do processo de apoio aos colegas

o da atuaccedilatildeo direta em casos que o apoio prestado pelos voluntaacuterios indica a necessidade urgente de

um suporte psicoloacutegico na perspectiva de uma intervenccedilatildeo em crise o da sistematizaccedilatildeo e anaacutelise

das principais dificuldades vivenciadas pelos estudantes e que motivam a busca de apoio bem

como da pertinecircncia das estrateacutegias adotadas para sanaacute-las as quais servem a niacutevel institucional

como indicadores da qualidade do serviccedilo oferecido pela IES

Tambeacutem entre as estrateacutegias de apoio entre pares a disponibilizaccedilatildeo de linhas telefocircnicas

de ajuda aos estudantes se constitui como uma forma de auxiacutelio agravequeles que vivenciam dificuldades

acadecircmicas relacionais amorosas familiares de integraccedilatildeo agrave universidade entre outras Em

Portugal um dos Serviccedilos participantes desta pesquisa foi pioneiro na implementaccedilatildeo de um

programa de aconselhamento entre pares facilitado por uma linha telefocircnica de apoio aos alunos

(Pereira 2005) O programa tem como objetivo ajudar os alunos a enfrentarem seus problemas por

meio de apoio emocional e escuta ativa oferecido por telefone por estudantes da universidade

especialmente formados e treinados para atuar no programa Tendo em vista a avaliaccedilatildeo de que os

alunos relatam maior dificuldade no periacuteodo noturno a linha telefocircnica funcionava principalmente

durante toda noite inclusive nos finais de semana

Outra possiacutevel funccedilatildeo do psicoacutelogo escolar na Educaccedilatildeo Superior eacute a da docecircncia seja em

cursos de Psicologia ou de outras aacutereas de conhecimento (Witter 1999) Um trabalho nessa direccedilatildeo

foi desenvolvido pela equipe de psicoacutelogos escolares de um dos Serviccedilos que se responsabiliza pela

disciplina de Competecircncias Sociais amp Desenvolvimento Pessoal A disciplina eacute optativa com carga

horaacuteria de quatro horas semanais e atribui 3 creacuteditos ao estudante sem contudo contribuir para sua

meacutedia acadecircmica ou seja o retorno ou vantagem da participaccedilatildeo na referida disciplina decorre

mais de uma oportunidade de vivenciar refletir e desenvolver competecircncias variadas do que

integralizar os creacuteditos necessaacuterios agrave conclusatildeo do curso

Os criteacuterios de avaliaccedilatildeo satildeo baseados na participaccedilatildeo ativa nas atividades realizadas

durante as aulas e na realizaccedilatildeo dos trabalhos propostos ao longo do semestre a avaliaccedilatildeo final

traduz-se num resultado de aprovado ou reprovado sem valores quantitativos como eacute comum na

Educaccedilatildeo Superior (Fernandes Boto amp Martins 2010) A disciplina funciona no formato de

workshops cada um desenvolvido em 5 passos primeiro eacute feito um trabalho de exploraccedilatildeo pessoal

(passo 1) que permite aos alunos amplificar a autoconsciecircncia (passo 2) Sobre este processo existe

214

uma reflexatildeo e discussatildeo conjunta (passo 3) seguida da identificaccedilatildeo pelo estudante de diferentes

posiccedilotildees ou modos de agir e que tendem a ser mais adaptativas (passo 4) O passo 5 corresponde ao

envolvimento em atividades que testem promovam e modelem as competecircncias transversais

trabalhadas

Uma accedilatildeo desta natureza natildeo estaacute orientada por dificuldades jaacute identificadas entre os

estudantes em uma perspectiva remediativa e tradicional de intervenccedilatildeo ao contraacuterio estaacute baseada

no objetivo geral de contribuir para o desenvolvimento integral dos estudantes Um importante

destaque a esta accedilatildeo da Psicologia Escolar refere-se agrave inclusatildeo formal desta disciplina na estrutura

curricular dos cursos da instituiccedilatildeo o que no miacutenimo representa o reconhecimento da IES acerca

da contribuiccedilatildeo singular que praacuteticas psicoloacutegicas dessa natureza podem trazer agrave formaccedilatildeo dos

estudantes que certamente natildeo eacute entendida apenas como uma formaccedilatildeo teoacuterico-teacutecnica mas

tambeacutem como uma formaccedilatildeo humana relacional reflexiva criacutetica eacutetica

Conforme jaacute anunciado pela natureza das atividades desenvolvidas pelos Serviccedilos o

Modelo de intervenccedilatildeo adotado pelos profissionais varia de acordo com a extensatildeo das suas

praacuteticas Dessa forma nos Serviccedilos que se dedicam exclusivamente agrave consulta psicoloacutegica

prevalece o modelo individual e remediativo Assim o trabalho ldquoeacute sobretudo de natureza

individual () Todo o trabalho com o aluno eacute feito exclusivamente com elerdquo (SP5-Portugal)

ldquoGrande parte das intervenccedilotildees satildeo de natureza remediativa () no que diz respeito agraves consultas

psicoloacutegicas sim Mesmo no apoio aos estudantes com necessidades educativas especiais ()

muitas vezes a situaccedilatildeo jaacute estaacute instalada e () fazemos uma intervenccedilatildeo de caraacuteter remediativordquo

(SP4-Portugal) Diferentemente nos Serviccedilos em que satildeo realizadas consultas psicoloacutegicas e

tambeacutem programas de mentorado de desenvolvimento de competecircncias acadecircmicas e de prevenccedilatildeo

de risco bem como accedilotildees de formaccedilatildeo de professores e apoio aos alunos especiais os modelos

remediativos e preventivos convivem havendo tanto intervenccedilotildees individuais quanto coletivas

Em relaccedilatildeo agraves Facilidades e Dificuldades encontradas pelos psicoacutelogos escolares no

decorrer da sua praacutetica profissional pode-se dizer que haacute poucos aspectos em comum entre os

diferentes Serviccedilos o que indica que haacute especificidades proacuteprias a cada instituiccedilatildeo e a cada

Serviccedilo No entanto mesmo que natildeo comuns agrave maioria dos Serviccedilos alguns aspectos podem ser

citados O primeiro deles o trabalho em equipe comparece nas indicaccedilotildees feitas por quatro

Serviccedilos sendo que em dois deles eacute apontado como um aspecto favoraacutevel ao desenvolvimento das

atividades e em outros dois eacute indicado como um elemento dificultador

Um dos psicoacutelogos escolares que estaacute sozinho no Serviccedilo diz que ldquoessa dificuldade de estar

sozinha eacute uma delas pronto Eu vejo muitas das vezes a necessidade de trocar com outros colegas e

procuro no exteriorrdquo (SP8-Portugal) por outro lado os profissionais que contam com a

colaboraccedilatildeo de outros colegas dizem que ldquonoacutes trabalhamos muito em equipa () eu acho que essa

partilha de saberes eacute uma mais valia porque se eu estivesse a trabalhar sozinha e a seguir sempre

este percurso provavelmente eu nunca pensava em uma outra perspectivardquo (SP4-Portugal) Aleacutem de

215

poderem trocar ideias discutir casos e procedimentos a valorizaccedilatildeo do trabalho em equipe baseia-

se tambeacutem no fato de permitir um nuacutemero maior e diversificado de praacuteticas

As informaccedilotildees acerca da avaliaccedilatildeo que os profissionais fazem dos Serviccedilos contemplam

sua percepccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves contribuiccedilotildees advindas do trabalho desenvolvido e as possiacuteveis

alteraccedilotildees que poderiam ser feitas para melhoraacute-las As Contribuiccedilotildees do Serviccedilo satildeo expressas

pelos participantes de diferentes formas sendo que a ideia geral eacute a de que estatildeo atuando em prol

da promoccedilatildeo do bem-estar dos estudantes e do sucesso acadecircmico bem como para a reduccedilatildeo do

abandono e do insucesso

Em alguns casos o argumento que sustenta a relaccedilatildeo entre a relevacircncia do Serviccedilo e o

sucesso acadecircmico ancora-se em paracircmetros financeiros como revelam alguns participantes

ldquoporque o dinheiro das universidades vinha pelo sucesso () se o aluno repete 3 4 anos a

universidade deixa de ganhar dinheiro logo as universidades perdem dinheiro Como perdem

dinheiro haacute que combater o insucesso criando estrateacutegias pra que eles resolvam os problemasrdquo

(SP3-Portugal) aleacutem do mais ldquoum serviccedilo destes custa dinheiro agora se tem impacto ao niacutevel do

desempenho acadecircmico poupa dinheiro Se as pessoas andam menos anos aqui a instituiccedilatildeo gasta

menos dinheiro aleacutem de contribuir pra alguns iacutendices que tem que apresentar sobre o sucesso e

insucessordquo (SP5-Portugal) Em outros casos a perspectiva de favorecer o desenvolvimento global

dos estudantes eacute o argumento central ldquopara noacutes eacute isso que eacute importante o desenvolvimento deles

() isso para noacutes eacute o mais importante Acreditamos que do ponto de vista da instituiccedilatildeo tambeacutem

sejardquo (SP7-Portugal)

Apesar de orientados para a ideia comum de promover o sucesso acadecircmico e o bem-estar

natildeo haacute por parte dos psicoacutelogos acordo quanto agraves razotildees que sustentam e motivam essa ideia

Assim como as produccedilotildees e posiccedilotildees relativas agrave Educaccedilatildeo Superior se dividem entre as que de um

lado defendem sua funccedilatildeo formativa e emancipatoacuteria na sociedade e de outro vinculam-na cada

vez mais aos interesses mercantilistas (Dias Sobrinho 2004a 2005 2008a Goergen 2008

Severino 2000 2002 Sguissardi 2008) os Serviccedilos parecem tambeacutem permeados pelas mesmas

questotildees

Quanto agrave avaliaccedilatildeo dos participantes relativamente a possiacuteveis Modificaccedilotildees que poderiam

ser feitas natildeo foram apontados aspectos a serem alterados na dinacircmica de trecircs Serviccedilos Quanto agraves

alteraccedilotildees que foram sugeridas em outros Serviccedilos a necessidade de ampliar o nuacutemero de

profissionais para permitir que os Serviccedilos se envolvam com atividades diferenciadas daquelas que

realizam ateacute o momento eacute comum a quatro deles Nesse sentido comentam que ldquoo que eacute muito

importante pra noacutes eacute recursos principalmente humanos porque se noacutes tivermos isso haacute muito mais

coisas que noacutes podemos implementarrdquo (SP7-Portugal) e inclusive ldquoa criaccedilatildeo de programas de

intervenccedilatildeo pressupotildee ela proacutepria um trabalho que acaba por ser mais trabalho aleacutem dos projetos

de investigaccedilatildeo que a gente tem () e isso implicaria numa alteraccedilatildeo na proacutepria loacutegica do serviccedilo

em termos de contrataccedilatildeordquo (SP5-Portugal) Para os participantes ter um maior nuacutemero de

216

profissionais eacute o que na maior parte dos Serviccedilos lhes possibilitaria desenvolver accedilotildees de natureza

coletiva preventiva e desenvolvimental bem como trabalhar com outros agentes como os

professores e funcionaacuterios acompanhar os egressos implementar praacuteticas de assessoria a oacutergatildeos da

instituiccedilatildeo

Siacutentese dos Estudos 1 e 2

A partir da anaacutelise e da discussatildeo das informaccedilotildees construiacutedas ao longo dos estudos 1 e 2

fazem-se algumas consideraccedilotildees acerca dos indicadores que se mostraram mais relevantes para a

compreensatildeo geral da atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar em Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior e que

potencialmente podem subsidiar a construccedilatildeo da proposta de criaccedilatildeo e funcionamento dos

Serviccedilos de Psicologia objetivo desta pesquisa Natildeo se pretende elaborar um quadro comparativo

entre a realidade dos dois paiacuteses mas destacar elementos que se integram e complementam na

construccedilatildeo de um amplo panorama

De iniacutecio fica evidente que a atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar no Sistema de Educaccedilatildeo

Superior brasileiro e portuguecircs jaacute eacute uma realidade ainda que com proporccedilotildees diferenciadas No

Brasil a produccedilatildeo cientiacutefica nesta aacuterea e a presenccedila dos psicoacutelogos escolares nas IES satildeo

consideradas restritas e recentes (Bariani Buin Barros amp Escher 2004 Oliveira Cantalice Joly amp

Santos 2006 Serpa amp Santos 2001) em Portugal por outro lado existem serviccedilos implantados haacute

mais de 25 anos aleacutem de vaacuterios estudos publicaccedilotildees e inclusive uma associaccedilatildeo profissional que

integra os Serviccedilos de Psicologia existentes nas IES do paiacutes (Dias 2001 2006 Duarte amp Paixatildeo

1998 Gonccedilalves 2008 Gonccedilaacutelves amp Cruz 1988 Leitatildeo Paixatildeo Silva amp Miguel 2000 Pereira

2009 RESAPES 2002a)

Observando a distribuiccedilatildeo dos Serviccedilos de Psicologia pelas IES nota-se que eles natildeo satildeo

privileacutegio de um tipo de instituiccedilatildeo ao contraacuterio eles se fazem presentes tanto nas universidades

com perfil acadecircmico quanto nas faculdades e institutos politeacutecnicos com perfil mais

profissionalizante Em relaccedilatildeo agrave natureza administrativa das IES com serviccedilos no Brasil as

privadas satildeo as que mais tecircm o serviccedilo diferente de Portugal onde haacute predominacircncia nas

instituiccedilotildees puacuteblicas Evidencia-se portanto que todas as Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior

independente de serem universidades centros universitaacuterios faculdades ou institutos puacuteblicos ou

privados satildeo contextos legiacutetimos de inserccedilatildeo e intervenccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares

Em relaccedilatildeo aos objetivos que orientam o funcionamento dos Serviccedilos de Psicologia

verifica-se que estatildeo principalmente traccedilados em relaccedilatildeo ao desenvolvimento bem-estar e sucesso

acadecircmico dos estudantes E coerentemente a estes objetivos o foco principal da accedilatildeo dos

psicoacutelogos satildeo os estudantes fundamentalmente os de graduaccedilatildeo havendo inclusive vaacuterios

Serviccedilos que estatildeo exclusivamente orientados para o trabalho com o corpo discente Todavia

apesar do objetivo principal estar centrado neste segmento da comunidade acadecircmica como eacute

217

claacutessico na atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar muitos Serviccedilos jaacute estendem suas accedilotildees para outros

puacuteblicos da instituiccedilatildeo ampliando seu foco

Corroborando essa ampliaccedilatildeo as atividades desenvolvidas pelos psicoacutelogos escolares satildeo

bastante diversas e natildeo estatildeo atreladas agraves accedilotildees tradicionalmente claacutessicas de avaliaccedilatildeo

diagnoacutestico atendimento e encaminhamento de alunos Considerando que satildeo muitos e

diversificados os espaccedilos de aprendizagem bem como satildeo muacuteltiplos os caminhos que levam a um

desenvolvimento saudaacutevel e pleno em suas potencialidades eacute extremamente pertinente haver uma

variedade de atividades que tenham como meta a promoccedilatildeo desses processos Nessa direccedilatildeo aleacutem

do atendimento e da orientaccedilatildeo individual aos estudantes que eacute recorrente entre os Serviccedilos de

ambos os paiacuteses em alguns com vieacutes mais cliacutenico em outros mais psicopedagoacutegico um amplo

conjunto de atividades eacute implementado pelos psicoacutelogos escolares

Em relaccedilatildeo aos alunos pode-se citar os programas educativos de acolhimento aos novos

estudantes os eventos de desenvolvimento de competecircncias transversais os cursos em teacutecnicas de

estudo gestatildeo do estresse e de conflitos as oficinas de elaboraccedilatildeo de curriacuteculos preparaccedilatildeo para

entrevistas e busca ativa por emprego os projetos de apoio entre pares com base no voluntariado

aleacutem de outros Junto agrave equipe pedagoacutegica especialmente aos professores e coordenadores de

curso verificam-se orientaccedilotildees e apoio a dificuldades accedilotildees de formaccedilatildeo continuada e de

desenvolvimento de competecircncias cursos sobre organizaccedilatildeo curricular apoio agraves accedilotildees pedagoacutegicas

e ao processo de ensino e de aprendizado etc Em relaccedilatildeo agrave equipe gestora cabe mencionar a

participaccedilatildeo nos processos de seleccedilatildeo e de treinamento de funcionaacuterios o envolvimento dos

psicoacutelogos escolares com a discussatildeo e proposiccedilatildeo de poliacuteticas institucionais de apoio aos

estudantes a colaboraccedilatildeo na concretizaccedilatildeo e promoccedilatildeo do processo de inclusatildeo aleacutem de outras

accedilotildees

De forma coerente com as atividades realizadas o modelo de intervenccedilatildeo que orienta o

trabalho dos psicoacutelogos escolares transita entre o de natureza remediativa e curativa e o de

promoccedilatildeo do desenvolvimento preventivo e institucional O primeiro tiacutepico nos Serviccedilos mais

vocacionados para o apoio psicoloacutegico ao estudante com dificuldades e o segundo caracteriacutestico

nos Serviccedilos que oferecem apoio agrave equipe pedagoacutegica e aos processos de gestatildeo

Em consonacircncia com a diversidade de atividades realizadas pelos Serviccedilos de Psicologia

seria oportuno que objetivos mais amplos fossem oficialmente traccedilados de forma a contemplar

desde o apoio agraves dificuldades agrave promoccedilatildeo do rendimento e sucesso acadecircmico passando pela

promoccedilatildeo do desenvolvimento pessoal social e profissional ateacute o suporte aos processos de gestatildeo

acadecircmica e institucional

Conforme fica expliacutecito o cenaacuterio contemporacircneo de atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar na

Educaccedilatildeo Superior se daacute diante da integraccedilatildeo das atividades tradicionais com novas e diferenciadas

possibilidades de intervenccedilatildeo Com relaccedilatildeo agrave caracterizaccedilatildeo e composiccedilatildeo das equipes de

profissionais que estatildeo mobilizando essa mudanccedila eacute de destacar que os psicoacutelogos escolares que

218

trabalham nos Serviccedilos de Psicologia no Brasil e em Portugal satildeo muito bem qualificados e tecircm

reconhecidamente investido em sua formaccedilatildeo acadecircmica e profissional Na grande maioria dos

casos os psicoacutelogos escolares tecircm buscado aperfeiccediloamento nos cursos de mestrado em Psicologia

Tendo em vista o papel diferencial que a formaccedilatildeo continuada tem na construccedilatildeo do perfil

profissional e no aperfeiccediloamento das accedilotildees eacute oportuno ressaltar para o fato de que a qualificaccedilatildeo

seraacute tatildeo mais vaacutelida e enriquecedora quanto estiver relacionada agrave aacuterea de atuaccedilatildeo Ou seja mais do

que bem qualificados os psicoacutelogos escolares precisam ser bem formados em Psicologia Escolar

de acordo com as especificidades da sua identidade profissional e das competecircncias desejaacuteveis para

a construccedilatildeo e exerciacutecio dessa identidade Esse fato por sua vez reflete nas instituiccedilotildees formativas

que precisam assumir e se comprometer com a formaccedilatildeo inicial e continuada em Psicologia

Escolar como tem sido enfaticamente reiterado nos estudos e produccedilotildees da aacuterea

Quanto agrave composiccedilatildeo profissional dos Serviccedilos de Psicologia nota-se que haacute uma

diversidade de possibilidades de vinculaccedilatildeo dos psicoacutelogos agraves instituiccedilotildees Os contratos variam

desde poucas horas semanais cumpridas em apenas um turno de trabalho ateacute a contrataccedilatildeo em

tempo integral ou seja 40 horas semanais completamente dedicadas ao serviccedilo Os psicoacutelogos

podem fazer parte do quadro teacutecnico ou docente da IES ou ainda serem contratados

temporariamente como prestadores de serviccedilo Em todos os casos o que se observa eacute que o nuacutemero

de profissionais eacute reduzido diante da dimensatildeo da instituiccedilatildeo e da diversidade de frentes de

intervenccedilatildeo que podem ser abertas Todavia e por outro lado apesar do nuacutemero diminuiacutedo de

profissionais que limita a amplitude das accedilotildees as diferentes alternativas que as IES lanccedilam matildeo

para contratar os psicoacutelogos escolares eacute um sinal de reconhecimento do lugar conquistado pela

Psicologia Escolar

Um importante elemento que pode contribuir para o maior reconhecimento do trabalho

realizado pelos Serviccedilos de Psicologia e para que se configurem como instacircncias basilares ao

desenvolvimento dos sujeitos e das instituiccedilotildees eacute sua divulgaccedilatildeo De acordo com os resultados

desta pesquisa verifica-se que as estrateacutegias de divulgaccedilatildeo satildeo restritas e precaacuterias em ambos os

paiacuteses o que traz alguns impactos Um deles eacute o pouco conhecimento dos serviccedilos por parte da

comunidade interna outro eacute a pouca visibilidade do Serviccedilo e suas contribuiccedilotildees para os gestores e

ateacute para os oacutergatildeos vinculados ao Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Dessa maneira um desafio a ser

assumido pelos coordenadores e psicoacutelogos escolares eacute a criaccedilatildeo de estrateacutegias que divulguem natildeo

soacute a existecircncia do serviccedilo e do trabalho oferecido mas tambeacutem as metas alcanccediladas tanto

quantitativas quanto qualitativas

Diante dos resultados desta pesquisa constata-se que a Educaccedilatildeo Superior eacute

indiscutivelmente um contexto jaacute legitimado de pesquisa e de intervenccedilatildeo em Psicologia Escolar

para o qual novos esforccedilos podem ser direcionados no sentido de consolidaacute-lo

219

PROPOSTA PARA A CRIACcedilAtildeO E ESTRUTURACcedilAtildeO DE SERVICcedilOS DE PSICOLOGIA

NA EDUCACcedilAtildeO SUPERIOR BRASILEIRA

O modelo aqui apresentado eacute resultado dos estudos reflexotildees teoacutericas e anaacutelises realizadas

ao longo desse trabalho e se configura como uma proposta agraves Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior

de como estruturar seus Serviccedilos de Psicologia Ela foi elaborada levando-se em conta o papel

social da educaccedilatildeo em niacutevel superior e seu objetivo de formar profissionais e cidadatildeos as

demandas e desafios impostos a este niacutevel educativo e as possiacuteveis contribuiccedilotildees da Psicologia

Escolar ao enfrentamento destes desafios e ao cumprimento da funccedilatildeo que lhe eacute historicamente

atribuiacuteda As experiecircncias de implantaccedilatildeo e funcionamento dos serviccedilos desta natureza em algumas

IES como jaacute descrito nos estudos desenvolvidos no Brasil e em Portugal associadas agraves indicaccedilotildees

registradas na literatura da aacuterea e a experiecircncia profissional da pesquisadora serviram como

indicadores para a elaboraccedilatildeo desta proposta Tomando como referecircncia a perspectiva histoacuterico-

cultural do desenvolvimento psicoloacutegico humano e a abordagem preventiva e institucional de

atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar estes indicadores foram submetidos a um processo de interpretaccedilatildeo

criacutetica ressignificaccedilatildeo e sistematizaccedilatildeo que culminaram com a criaccedilatildeo desta proposta para

Serviccedilos de Psicologia em Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior

A Educaccedilatildeo Superior eacute um contexto recente de inserccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares no Brasil

para o qual existem poucas indicaccedilotildees acerca de accedilotildees atividades e programas que podem

sustentar o trabalho dos profissionais da aacuterea Assim esta proposta para a criaccedilatildeo e funcionamento

de Serviccedilos de Psicologia em IES pretende por um lado apresentar algumas linhas de intervenccedilatildeo

para os psicoacutelogos que trabalham nestas instituiccedilotildees e por outro aspira figurar como detonador de

um movimento de reflexatildeo estudo investigaccedilatildeo e problematizaccedilatildeo acerca das possibilidades de

atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo Superior Essa proposta natildeo tem a pretensatildeo de esgotar

as muacuteltiplas possibilidades de atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar e natildeo deve (e nem se pretende que

seja) ser entendida como um modelo pronto definitivo e a ser fielmente implantado em qualquer

instituiccedilatildeo ao contraacuterio espera-se que o perfil as particularidades as necessidades e prioridades de

cada instituiccedilatildeo imprimam vivacidade a esta proposta original adequando-a e adaptando-a agrave

realidade particular das IES

Se por um lado eacute oportuno sistematizar um conjunto de indicadores ideias e proposiccedilotildees

que tecircm o potencial de contribuir para a ampliaccedilatildeo de praacuteticas profissionais em Psicologia Escolar

por outro tal sistematizaccedilatildeo precisa se ancorar em uma clara base teoacuterico-conceitual que a sustente

Do contraacuterio corre-se o risco de se apresentar uma proposta internamente inconsistente e confusa

que seja apenas um aglomerado de accedilotildees dispersas e desconexas Entende-se portanto que a

expansatildeo da Psicologia Escolar para outros contextos como eacute o caso da Educaccedilatildeo Superior deve

necessariamente se apoiar em uma concepccedilatildeo de homem de mundo e de sociedade de

220

aprendizagem de ensino e de desenvolvimento que estejam coadunados com as produccedilotildees teoacutericas

e conceituais em Psicologia e em particular em Psicologia Escolar

Por assim entender o primeiro elemento da presente proposta corresponde agrave

fundamentaccedilatildeo teoacuterica que a sustenta na sequecircncia discorre-se sobre os objetivos que entende-se

pertinentes ao serviccedilos desse tipo o puacuteblico alvo para o qual podem ser dirigidas as intervenccedilotildees a

descriccedilatildeo dos recursos humanos que podem compor os serviccedilos destacando as caracteriacutesticas do

perfil dos psicoacutelogos escolares o nuacutemero de profissionais e o viacutenculo de trabalho com a IES

alguns elementos importantes sobre o funcionamento e organizaccedilatildeo do serviccedilo e por fim

possiacuteveis atividades que podem ser desenvolvidas pelos profissionais

1 Fundamentos teoacutericos e conceituais

Muitas satildeo as noccedilotildees de desenvolvimento que permeiam o senso comum as representaccedilotildees

sociais e tambeacutem as teorias Por muito tempo o desenvolvimento humano foi compreendido como

um fenocircmeno predestinado a se desenrolar e que se autoconduzia em uma progressatildeo intriacutenseca

entretanto contemporaneamente o desenvolvimento eacute entendido como um processo complexo e

dinacircmico decorrente da interaccedilatildeo dialeacutetica de fatores bioloacutegicos sociais e culturais (Aspesi Dessen

amp Chagas 2005 Hartup 2000 Lerner Fischer amp Weinber 2000) Nessa direccedilatildeo o

desenvolvimento humano eacute visto como um processo de base essencialmente interacionista por meio

do qual o sujeito em relaccedilatildeo com o ambiente fiacutesico e social produz modos particulares de ser e

estar no mundo

Entendendo que o desenvolvimento humano ocorre a partir das relaccedilotildees que os sujeitos

estabelecem ao longo da sua trajetoacuteria sejam elas com outras pessoas ou com as produccedilotildees

culturais herdadas de geraccedilotildees anteriores a perspectiva histoacuterico-cultural enquanto conjunto

teoacuterico conceitual e epistemoloacutegico sustenta este entendimento e fornece as bases necessaacuterias para

a compreensatildeo relacional histoacuterica e social acerca da constituiccedilatildeo humana e da subjetividade

A perspectiva histoacuterico-cultural tem seus maiores expoentes em Vygotsky (1999 2003

2009) Luria (19902008) e Leontiev (2004) e de acordo com ela o desenvolvimento humano eacute um

processo intimamente relacionado ao contexto social no qual a pessoa estaacute inserida Concebido

como um ser ativo social e histoacuterico o homem se constitui como tal a partir das interaccedilotildees sociais

que satildeo mediadoras da construccedilatildeo de suas caracteriacutesticas sentimentos pensamentos crenccedilas

conhecimentos e concepccedilotildees enfim da sua subjetividade Nesta perspectiva o desenvolvimento

humano eacute um processo constituiacutedo subjetivamente na trajetoacuteria de cada sujeito a partir da

elaboraccedilatildeo revisatildeo e reconstruccedilatildeo de sentidos e significados que o vatildeo transformando

A cultura para Vygotsky (1999 2009) eacute o amplo cenaacuterio no qual se desenrola a vida

individual e social onde o privado e o puacuteblico encontram interlocuccedilatildeo e onde os sujeitos negociam

criam e recriam informaccedilotildees representaccedilotildees conceitos e sentidos A cultura eacute um fenocircmeno

impregnado de sentidos e significados ativamente apropriados pelos sujeitos por meio de um

221

processo de reflexatildeo construccedilatildeo e reelaboraccedilatildeo das regras ideias praacuteticas e significados

compartilhados e coconstruiacutedos socialmente Assim a interaccedilatildeo social eacute de extrema importacircncia

pois eacute atraveacutes da relaccedilatildeo com outros homens e com suas produccedilotildees que o sujeito se desenvolve

Eacute pela troca e internalizaccedilatildeo de elementos sociais e culturais que afetam sua estrutura e

funcionamento que o homem desenvolve suas funccedilotildees psiacutequicas superiores (Vygotsky 1999 2003

Luria 1990) O desenvolvimento psicoloacutegico mais complexo e caracteriacutestico do homem depende

entatildeo das ideias e atividades partilhadas nos mais diferentes espaccedilos e contextos nos quais os

sujeitos frequentam e estabelecem trocas intersubjetivas

Com base nas contribuiccedilotildees da perspectiva histoacuterico-cultural entende-se que a Educaccedilatildeo

Superior em sua ampla funccedilatildeo eacute um dos espaccedilos sociais privilegiados e fecundos agrave promoccedilatildeo do

processo de desenvolvimento humano justamente pelo fato de que as diferentes aprendizagens ali

propiciadas satildeo propulsoras do desenvolvimento Por meio da relaccedilatildeo com os vaacuterios objetos de

conhecimento cientiacutefico a criacutetica a reflexatildeo e o exerciacutecio poliacutetico da participaccedilatildeo social aleacutem das

relaccedilotildees interpessoais que se constroacuteem entre os sujeitos adultos e jovens adultos a natureza da

mediaccedilatildeo que ocorre na Educaccedilatildeo Superior eacute qualitativamente distinta daquela que transcorre em

outros contextos inclusive de caraacuteter educativo

O conhecimento cientiacutefico artiacutestico e cultural intencionalmente contemplado nos

planejamentos de ensino as informaccedilotildees divididas os saberes apropriados as posturas eacuteticas e

ideoloacutegicas partilhadas bem como as vivecircncias pessoais e as relaccedilotildees intersubjetivas que se

fomentam no contexto educativo satildeo mediadoras do processo de aprendizagem e por conseguinte

do desenvolvimento humano que tem nela sua base Por essa razatildeo a Educaccedilatildeo Superior como

contexto no qual transcorrem muacuteltiplos e complexos processos de aprendizagem tem papel

primordial na mediaccedilatildeo das funccedilotildees psicoloacutegicas superiores dos sujeitos adultos que frequentam

esse espaccedilo seja como estudantes ou como profissionais (Marinho-Arauacutejo 2009a Oliveira amp

Marinho-Arauacutejo no prelo)

O desenvolvimento das funccedilotildees psicoloacutegicas superiores em termos de sua a estrutura

conteuacutedo e complexidade se daacute por meio da relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com as pessoas e com

a cultura Funccedilotildees novas e mais complexas na constituiccedilatildeo psicoloacutegica dos sujeitos surgem em

virtude da natureza das experiecircncias sociais nas quais estatildeo inseridos tendo participaccedilatildeo nestas

experiecircncias os conhecimentos valores afetos identificaccedilotildees desejos sentimentos A gecircnese dos

processos psicoloacutegicos superiores estaacute portanto alicerccedilada das interlocuccedilotildees e nas trocas

subjetivas que acontecem nas relaccedilotildees acadecircmicas profissionais sociais culturais

Com base neste entendimento acredita-se que ao mesmo tempo em que o processo

educacional tem a responsabilidade de transmitir a cultura e o conhecimento historicamente

acumulado ele tambeacutem tem a funccedilatildeo de despertar potencialidades incentivar maneiras diferentes

de interpretar e agir sobre o mundo incitar o desenvolvimento de formas criativas e inovadoras de

transformar a realidade Este eacute um objetivo particularmente importante para a Educaccedilatildeo Superior

222

que com vistas a preparar cidadatildeos em seu amplo sentido natildeo pode se limitar agrave reproduccedilatildeo de

conhecimentos e ideias que pouco transformam os sujeitos e a realidade em que vivem

Diferentemente compete a ela oportunizar mediaccedilotildees qualitativamente variadas que tenham o

potencial de suscitar o surgimento de novas e mais avanccediladas funccedilotildees psicoloacutegicas

Cada IES eacute um contexto de subjetivaccedilatildeo no qual redes de sentidos e de significados

definem as formas concretas e simboacutelicas de organizaccedilatildeo dos processos de desenvolvimento e de

aprendizagem tornar esse contexto pleno de sua funccedilatildeo social eacute desafio para os psicoacutelogos

escolares (Marinho-Arauacutejo 2009a) A atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo Superior tem

como importante contribuiccedilatildeo favorecer a conscientizaccedilatildeo dos atores institucionais acerca de sua

funccedilatildeo na promoccedilatildeo de saltos e avanccedilos qualitativos no desenvolvimento humano que iratildeo

repercutir na formaccedilatildeo profissional e pessoal dos alunos e tambeacutem dos colaboradores da IES

Nesse sentido a intervenccedilatildeo do psicoacutelogo escolar deve estar direcionada para as concepccedilotildees

objetivos compromissos responsabilidades e accedilotildees da instituiccedilatildeo e de seus atores que favorecem o

desenvolvimento em suas muacuteltiplas potencialidades

Acompanhando as reflexotildees acerca da perspectiva histoacuterico-cultural do desenvolvimento

humano como base filosoacutefica e teoacuterica para a atuaccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares na Educaccedilatildeo

Superior defende-se que o trabalho destes profissionais focalize accedilotildees coletivas relacionais e

institucionais que favoreccedilam a conscientizaccedilatildeo dos diferentes atores da comunidade acadecircmica

acerca da interdependecircncia entre aprendizagem desenvolvimento e formaccedilatildeo profissional Para a

construccedilatildeo de accedilotildees que se coadunem a essa perspectiva teoacuterica a abordagem preventiva e

institucional de atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar (Arauacutejo 2003 Marinho-Arauacutejo amp Almeida 2005a)

mostra-se particularmente pertinente por sinalizar a possibilidade de integrar questotildees de ordem

dos sujeitos e das instituiccedilotildees entrelaccedilando o individual com o coletivo

Diante destas consideraccedilotildees reafirma-se que e fundamentaccedilatildeo teoacuterica e conceitual acerca

dos processos de aprendizagem e de desenvolvimento humano que sustentam esta proposta de

criaccedilatildeo e estruturaccedilatildeo de Serviccedilos de Psicologia estaacute fortemente ancorada na abordagem histoacuterico-

cultural (Leontiev 2004 Luria 1990 Vygotsky 1999 2003) Esta abordagem eacute a base

epistemoloacutegica e teoacuterica profiacutecua agrave construccedilatildeo das intervenccedilotildees da Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo

Superior que tecircm a aprendizagem e o desenvolvimento humano adulto como eixos centrais

Com base nesses pressupostos defende-se ainda que a Educaccedilatildeo Superior deve estar

direcionada para a promoccedilatildeo do desenvolvimento humano Para aleacutem do foco na competecircncia

profissional que eacute uma das dimensotildees do desenvolvimento dos sujeitos a formaccedilatildeo em niacutevel

superior deve incidir na preparaccedilatildeo de pessoas capazes de enfrentar de forma eacutetica e socialmente

comprometida os desafios extremamente contraditoacuterios ambiacuteguos e complexos que satildeo

caracteriacutesticos da sociedade contemporacircnea Mais do que habilitar sujeitos a exercerem com

competecircncia e sucesso sua atividade profissional a Educaccedilatildeo Superior tem como finalidade formar

cidadatildeos conscientes do seu poder transformador no combate agrave exclusatildeo injusticcedilas desigualdade

223

enfim questotildees relevantes na aacuterea social econocircmica poliacutetica e cultural de uma naccedilatildeo (Dias

Sobrinho 2004a 2005 Ristoff 1999)

2 Objetivos

Os Serviccedilos de Psicologia deveratildeo ser parte integrante das Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo

Superior tendo como objetivo geral apoiaacute-las na promoccedilatildeo do processo educativo especificamente

os processos de ensino aprendizagem e desenvolvimento Em decorrecircncia da realidade de cada

IES estes serviccedilos poderatildeo se organizar de acordo com objetivos especiacuteficos coerentes ao perfil da

instituiccedilatildeo suas metas e recursos

Alguns dos objetivos especiacuteficos a orientar o funcionamento dos serviccedilos podem ser (a)

promover o sucesso acadecircmico dos estudantes (b) favorecer o desenvolvimento pessoal e social

dos estudantes professores e funcionaacuterios (c) facilitar a adaptaccedilatildeo e integraccedilatildeo dos novos

estudantes (d) oferecer orientaccedilatildeo profissional e facilitar a integraccedilatildeo dos concluintes no mercado

de trabalho (e) promover o bem-estar dos estudantes ao longo da sua vivecircncia na IES (f) prestar

apoio psicoloacutegico e psicopedagoacutegico agrave comunidade acadecircmica (g) auxiliar no processo de inclusatildeo

e construccedilatildeo da diversidade (h) assessorar os processos de gestatildeo institucional (i) favorecer a

construccedilatildeo de processos e relaccedilotildees mais cooperativos corresponsaacuteveis e saudaacuteveis (j) oferecer

suporte agrave equipe pedagoacutegica e ao processo de ensino- aprendizagem (k) mediar a construccedilatildeo

coletiva de objetivos e responsabilidades quanto ao desenvolvimento dos estudantes (l)

potencializar a conscientizaccedilatildeo e o compromisso dos gestores e da equipe pedagoacutegica com a

construccedilatildeo da cidadania (m) auxiliar a instituiccedilatildeo na construccedilatildeo de accedilotildees socialmente

responsaacuteveis aleacutem de outros

De forma geral os serviccedilos deveratildeo apoiar as IES a potencializar o desenvolvimento dos

sujeitos individual e coletivamente bem como da instituiccedilatildeo como um sistema dotado de

dinacircmicas praacuteticas e caracteriacutesticas proacuteprias que favorecem ou inibem o desenvolvimento de seus

estudantes e profissionais

3 Puacuteblico alvo

Seratildeo alvo privilegiado dos Serviccedilos de Psicologia os estudantes de graduaccedilatildeo e poacutes-

graduaccedilatildeo os funcionaacuterios os professores coordenadores e assessores de curso diretores reitores

e decanos aleacutem da comunidade externa conforme os recursos disponiacuteveis pelo serviccedilo

Partindo das contribuiccedilotildees da perspectiva histoacuterico-cultural e da abordagem preventiva e

institucional de atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar as intervenccedilotildees desencadeadas pelos serviccedilos tecircm

como foco a promoccedilatildeo da aprendizagem e do desenvolvimento que natildeo se restringem aos

estudantes mas aos diferentes segmentos que integram a instituiccedilatildeo Ainda que o eixo central dos

objetivos da Educaccedilatildeo Superior refira-se aos alunos agrave sua formaccedilatildeo pessoal acadecircmica e

224

profissional eacute evidente que a qualidade dessa formaccedilatildeo natildeo resulta da accedilatildeo exclusiva dos

estudantes A competecircncia docente a organizaccedilatildeo pedagoacutegica as ecircnfases curriculares as

estrateacutegias metodoloacutegicas os procedimentos avaliativos as relaccedilotildees professor-aluno bem como os

procedimentos administrativos e burocraacuteticos as rotinas e relaccedilotildees institucionais o clima

organizacional a valorizaccedilatildeo dos colaboradores e o investimento em qualificaccedilatildeo entre outros

elementos influenciam a qualidade da formaccedilatildeo discente Dessa maneira tanto os processos de

gestatildeo quanto as praacuteticas e organizaccedilatildeo pedagoacutegica satildeo dimensotildees de intervenccedilatildeo do psicoacutelogo

escolar

As atividades de ensino e de apoio a ela acarretam exigecircncias pessoais e profissionais que

tecircm reflexo na qualidade dessa praacutetica de forma que se torna imprescindiacutevel oferecer

acompanhamento e suporte aos funcionaacuterios e professores Este investimento por sua vez tem

desdobramento na qualidade do exerciacutecio destes profissionais e gera benefiacutecios institucionais

inegaacuteveis Na Declaraccedilatildeo Mundial sobre a Educaccedilatildeo Superior (UNESCO 1998) haacute inclusive uma

seccedilatildeo que trata dos profissionais que auxiliam as instituiccedilotildees na consecuccedilatildeo de seus objetivos na

qual consta que ldquouma poliacutetica vigorosa de desenvolvimento de pessoal eacute elemento essencial para

instituiccedilotildees de educaccedilatildeo superior Devem ser estabelecidas poliacuteticas claras relativas a docentes de

educaccedilatildeo superiorrdquo aleacutem de que ldquoeacute indispensaacutevel contar com pessoal administrativo e teacutecnico

preparado de maneira adequadardquo (p 25) Assim sendo o puacuteblico alvo dos Serviccedilos de Psicologia

deve englobar os estudantes a equipe pedagoacutegica teacutecnica e administrativa e tambeacutem os gestores O

atendimento a pais pode ocorrer quando a problemaacutetica remete a situaccedilotildees especiacuteficas que

requerem suporte familiar

4 Recursos humanos

41 Perfil profissional

Os profissionais que iratildeo trabalhar nestes serviccedilos deveratildeo ter formaccedilatildeo inicial em

Psicologia e preferencialmente cursos lato ou strico sensu em Psicologia Escolar Um primeiro

elemento relevante para o perfil do psicoacutelogo escolar e que deve ter sido oportunizado pela

formaccedilatildeo eacute a apropriaccedilatildeo criacutetica da base teoacuterico-conceitual sobre a relaccedilatildeo entre a Psicologia e a

Educaccedilatildeo as teorias de desenvolvimento humano e da aprendizagem a identidade formaccedilatildeo e

atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar (Arauacutejo amp Almeida 2003) Complementarmente eacute fundamental que

o profissional da aacuterea tenha clareza sobre os determinantes filosoacuteficos e ideoloacutegicos das teorias

psicoloacutegicas que adota e muito especialmente da coerecircncia entre o referencial teoacuterico que segue e

as accedilotildees que realiza (Almeida 1999) Eacute importante portanto que tenham habilidade para fazer

uma anaacutelise criacutetica acerca da pertinecircncia de sua escolha teoacuterico-metodoloacutegica agrave realidade na qual

estaacute inserido e da consistecircncia entre estas escolhas e suas accedilotildees

225

Outro elemento que compotildee o perfil profissional do psicoacutelogo escolar eacute a apropriaccedilatildeo do

conhecimento das ciecircncias educacionais que tecircm aproximaccedilatildeo com as questotildees relativas ao

processo formativo Assim eacute imperioso a apropriaccedilatildeo e a reflexatildeo acerca das bases teoacutericas

filosoacuteficas e poliacuteticas da Educaccedilatildeo (Guzzo 1996 Maluf 2003)

Aleacutem destes recursos especiacuteficos agrave aacuterea de Psicologia Escolar outras caracteriacutesticas mais

geneacutericas tambeacutem compotildeem o perfil profissional do psicoacutelogo escolar No contexto do trabalho as

mudanccedilas imprimidas pelo atual momento histoacuterico marcado pelo avanccedilo tecnoloacutegico pela

produccedilatildeo e transmissatildeo de conhecimento em extraordinaacuteria velocidade tecircm feito com que as

situaccedilotildees profissionais se caracterizem muito mais pela inconstacircncia dinamicidade e turbulecircncia do

que pelo padratildeo e regularidade Respostas tradicionais e rotineiras jaacute natildeo satildeo suficientes para

enfrentar de forma satisfatoacuteria e pertinente a complexidade das situaccedilotildees Em face deste novo

cenaacuterio valoriza-se cada vez mais a flexibilidade do ser humano e sua imensa capacidade criativa

espontacircnea e imaginativa para atender agraves constantes solicitaccedilotildees emergenciais inesperadas e

muitas vezes conflituosas que lhe satildeo direcionadas

Conforme ressalta Kuenzer (2000) deseja-se que o profissional substitua a rigidez por

flexibilidade e rapidez seja capaz de lidar com a incerteza e atenda as demandas dinacircmicas que se

diversificam em qualidade e quantidade Diferentemente da ecircnfase tradicional em conhecimentos

teacutecnicos e cientiacuteficos outros elementos do desenvolvimento humano como os de ordem soacutecio-

afetiva pessoal eacutetica e poliacutetica satildeo considerados importantes na construccedilatildeo de um perfil

profissional

Nessa direccedilatildeo o perfil do psicoacutelogo escolar convocado a trabalhar na Educaccedilatildeo Superior

caracteriza-se por ser criativo dinacircmico proativo e comprometido com os resultados do trabalho

aleacutem de ter habilidades comunicativas e a capacidade de trabalhar em grupos (Martiacutenez 2003) O

perfil profissional do psicoacutelogo escolar deve contemplar tambeacutem conscientizaccedilatildeo das

competecircncias necessaacuterias agrave inserccedilatildeo profissional capacidade de autonomia frente a situaccedilotildees de

conflito ou decisotildees capacidade de anaacutelise aplicaccedilatildeo reelaboraccedilatildeo e siacutenteses do conhecimento

psicoloacutegico aplicado ao contexto de intervenccedilatildeo profissional clareza da relaccedilatildeo entre as

concepccedilotildees teoacutericas sobre o conhecimento psicoloacutegico e o trabalho a ser adotado postura criacutetica

em relaccedilatildeo ao homem ao mundo e agrave sociedade estrateacutegias interdisciplinares de comunicaccedilatildeo e

accedilatildeo e lucidez sobre a funccedilatildeo poliacutetico-social transformadora de sua profissatildeo exercendo-a de

forma eacutetica no contexto educativo (Arauacutejo 2003 Arauacutejo amp Almeida 2003 Marinho-Arauacutejo amp

Almeida 2005)

Aleacutem dos psicoacutelogos escolares os Serviccedilos podem contar com a colaboraccedilatildeo de docentes

de Psicologia os quais podem exercer a funccedilatildeo de coordenaccedilatildeo e de supervisatildeo das atividades

bem como de conduccedilatildeo de algumas accedilotildees especiacuteficas Outra via de colaboraccedilatildeo pode advir dos

estagiaacuterios de Psicologia que aleacutem de terem a oportunidade de desenvolver habilidades especiacuteficas

e exercitarem a relaccedilatildeo entre teoria e praacutetica auxiliam na realizaccedilatildeo das accedilotildees dos Serviccedilos

226

No caso de haverem estagiaacuterios em formaccedilatildeo os mesmos deveratildeo estar sob supervisatildeo

direta e acompanhamento sistemaacutetico de um psicoacutelogo do serviccedilo Destaca-se entretanto que a

colaboraccedilatildeo de estagiaacuterios natildeo deve se configurar como uma alternativa para suprir a falta ou um

reduzido nuacutemero de psicoacutelogos escolares Aleacutem do mais os profissionais devem assumir e se

comprometerem com a supervisatildeo dos estudantes garantindo o caraacuteter pedagoacutegico do estaacutegio A

sugestatildeo de que os Serviccedilos de Psicologia se constituam como loacutecus de estaacutegio e de formaccedilatildeo de

futuros psicoacutelogos adveacutem principalmente das experiecircncias jaacute implantadas nos Serviccedilos de

Portugal

42 Viacutenculo e nuacutemero de profissionais

Em virtude da estrutura dos recursos e objetivos traccedilados pela Instituiccedilatildeo de Educaccedilatildeo

Superior os serviccedilos poderatildeo ter diferentes modalidades de colaboraccedilatildeo no que se refere ao

viacutenculo dos profissionais com a IES Assim eacute possiacutevel ter profissionais contratados para atuar

integralmente no serviccedilo com dedicaccedilatildeo de 40 horas semanais profissionais que trabalhem de 10 a

30 horas e tenham viacutenculo regular com compromisso semanal com o serviccedilo ou a colaboraccedilatildeo

pontual de profissionais que poderatildeo atender necessidades especiacuteficas do serviccedilo Neste uacuteltimo

caso trata-se da contrataccedilatildeo de profissionais especialistas na aacuterea convidados a trabalhar por

exemplo na construccedilatildeo do projeto poliacutetico-pedagoacutegico em accedilotildees de formaccedilatildeo continuada no

mapeamento de competecircncias dos profissionais ou de consultoria agrave estruturaccedilatildeo do proacuteprio

Serviccedilo etc Apesar das diferentes opccedilotildees de vinculaccedilatildeo e carga horaacuteria eacute importante que pelo

menos um psicoacutelogo que integra o serviccedilo faccedila parte do quadro de funcionaacuterios da IES para que a

estabilidade e manutenccedilatildeo do mesmo sejam garantidas

Em relaccedilatildeo ao nuacutemero de profissionais que podem integrar os Serviccedilos eles dependeratildeo da

dimensatildeo da instituiccedilatildeo e tambeacutem do proacuteprio serviccedilo especialmente no que concerne agrave

quantidade e ao tipo de accedilotildees que seratildeo priorizadas Quanto mais abrangente as accedilotildees previstas em

termos do puacuteblico e das dimensotildees de intervenccedilatildeo maior deveraacute ser o quadro de psicoacutelogos a

compor o serviccedilo De forma geral e conforme jaacute recomendado pela RESAPES (2002) em Portugal

sugere-se que haja pelo menos um psicoacutelogo escolar em tempo integral para cada 2000 alunos

No caso de existirem estagiaacuterios de Psicologia em formaccedilatildeo nos serviccedilos a carga horaacuteria

destes estagiaacuterios deve atender ao estabelecido na legislaccedilatildeo brasileira pertinente (Lei nordm

117882008)

5 Funcionamento

Cada Serviccedilo de Psicologia poderaacute adotar rotinas e procedimentos especiacuteficos que o auxilie

a cumprir seus compromissos e conduzir com qualidade suas atividades Com vistas a sinalizar

alguns elementos que devem ser contemplados na estruturaccedilatildeo e funcionamento dos serviccedilos

apresentam-se algumas orientaccedilotildees Como ponto de partida para o funcionamento dos Serviccedilos de

227

Psicologia recomenda-se que tenham um regimento proacuteprio que contemple seus objetivos

composiccedilatildeorecursos humanos bem como as responsabilidades competecircncias e atribuiccedilotildees dos

profissionais descriccedilatildeo das atividades procedimentos de atendimento e funcionamento aleacutem da

inserccedilatildeo do serviccedilo na estrutura organizacional da IES

Nos serviccedilos em que trabalharem mais de um psicoacutelogo escolar recomenda-se que

ocorram reuniotildees perioacutedicas de equipe (de preferecircncia semanalmente) com o objetivo de avaliar o

andamento das atividades discutir casos e situaccedilotildees especiacuteficas inclusive relativas a questotildees

administrativas e de funcionamento do serviccedilo planejar accedilotildees e projetos definir responsabilidades

elaborar material de apoio e de divulgaccedilatildeo entre outros

Com o objetivo de assegurar a qualidade do trabalho realizado os serviccedilos e as Instituiccedilotildees

de Educaccedilatildeo Superior deveratildeo incentivar e proporcionar oportunidades de formaccedilatildeo continuada aos

profissionais Nessa direccedilatildeo os serviccedilos podem prever (a) espaccedilo de estudo discussatildeo e reflexatildeo

organizado e conduzido pela proacutepria equipe (b) planos anuais de formaccedilatildeo que envolvam a

realizaccedilatildeo de cursos e workshops nos vaacuterios domiacutenios de intervenccedilatildeo dos profissionais (c)

flexibilizaccedilatildeo da carga horaacuteria dos psicoacutelogos para realizarem cursos de poacutes-graduaccedilatildeo em aacuterea

afim agrave da sua atuaccedilatildeo (d) previsatildeo de assessorias em serviccedilo oferecidas por profissionais ou

pesquisadores da aacuterea entre outras accedilotildees

Os serviccedilos poderatildeo ainda desenvolver atividades de pesquisa em temaacuteticas relacionadas

agrave praacutetica psicoloacutegica divulgar os trabalhos realizados e os resultados alcanccedilados aleacutem de participar

de eventos cientiacuteficos na aacuterea de Psicologia Educaccedilatildeo e Educaccedilatildeo Superior Esta sugestatildeo encontra

especial inspiraccedilatildeo nos Serviccedilos de Portugal que jaacute investem na realizaccedilatildeo de pesquisas publicaccedilatildeo

e divulgaccedilatildeo de suas experiecircncias em foacuteruns cientiacuteficos

6 Atividades

Para concretizar seus objetivos de promoccedilatildeo do sucesso e da qualidade do processo

educativo os Serviccedilos de Psicologia poderatildeo desenvolver um amplo e diversificado conjunto de

atividades que a tiacutetulo de organizaccedilatildeo podem ser agrupados em trecircs dimensotildees interdependentes

(a) Gestatildeo Institucional (b) Gestatildeo Acadecircmica e (c) Desenvolvimento do Estudante A primeira

delas tem como foco a assessoria e o suporte aos processos de gestatildeo que respondem pela

organizaccedilatildeo planejamento e coordenaccedilatildeo das poliacuteticas projetos programas e accedilotildees da instituiccedilatildeo

A segunda dimensatildeo estaacute centrada no assessoramento agrave gestatildeo acadecircmica no tocante agraves propostas e

processos pedagoacutegicos ao funcionamento dos cursos e agraves praacuteticas de ensino A terceira e uacuteltima

dimensatildeo estaacute focada no acompanhamento e apoio ao desenvolvimento pessoal e profissional dos

alunos

Cada uma destas dimensotildees desmembra-se em diferentes eixos de intervenccedilatildeo que

norteiam as accedilotildees dos Serviccedilos Enquanto as dimensotildees configuram-se como grandes pilares que

sustentam a proposta de atuaccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares na IES os eixos de intervenccedilatildeo

228

operacionalizam essas dimensotildees por meio da definiccedilatildeo de linhas de accedilatildeo Apesar das trecircs

dimensotildees guardarem iacutentima relaccedilatildeo de forma que as intervenccedilotildees desencadeadas no acircmbito de

uma delas teraacute reflexos e desdobramentos diretos e indiretos em outras eacute possiacutevel que os Serviccedilos

de Psicologia se organizem com base em apenas uma ou duas delas ou ainda eacute possiacutevel que natildeo se

comprometam com as dimensotildees em sua totalidade e envolvam-se somente com alguns de seus

eixos de intervenccedilatildeo Vaacuterios fatores iratildeo nortear essas decisotildees e escolhas o perfil da instituiccedilatildeo e

tambeacutem do proacuteprio Serviccedilo os quais podem estar mais orientados para o apoio aos estudantes ou

para os processos de gestatildeo o nuacutemero de profissionais e a carga horaacuteria de trabalho o perfil

profissional dos psicoacutelogos escolares especialmente em termos de dinamicidade flexibilidade e

proatividade para articular de forma criativa as vaacuterias frentes de intervenccedilatildeo aleacutem da maior ou

menor apropriaccedilatildeo da abordagem preventiva e institucional entre outros fatores

Agrave luz dos resultados discutidos ao longo deste capiacutetulo as atividades mais frequentes nos

Serviccedilos de Psicologia tanto do Brasil e do Distrito Federal quanto de Portugal estatildeo

principalmente contempladas na terceira dimensatildeo desta proposta a de Desenvolvimento do

Estudante uma vez que o foco nos alunos ainda prevalece na atuaccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares nas

realidades estudadas Nesta dimensatildeo comparecem portanto o apoio psicoloacutegico e o

encaminhamento de alunos recorrentes em ambos os paiacuteses no entanto os programas educativos

de promoccedilatildeo de competecircncias desenvolvimento profissional e as praacuteticas de voluntariado baseadas

no suporte oferecidos pelos pares como o acolhimento aos estudantes e o apoio psicoloacutegico por

linha telefocircnica satildeo sugestotildees inspiradas especialmente nos Serviccedilos portugueses

A organizaccedilatildeo da primeira e segunda dimensatildeo de intervenccedilatildeo Gestatildeo Institucional e

Gestatildeo Acadecircmica respectivamente foi baseada em accedilotildees menos comuns nos Serviccedilos de

Psicologia Na primeira por exemplo comparecem a assessoria a oacutergatildeos institucionais o apoio ao

processo de seleccedilatildeo de novos colaboradores e accedilotildees de formaccedilatildeo continuada com os docentes

realizados em ambos os contextos de pesquisa ainda que com baixa frequecircncia Na composiccedilatildeo da

segunda dimensatildeo o eixo de intervenccedilatildeo de assessoria agrave inclusatildeo eacute especialmente inspirado nas

experiecircncias dos Serviccedilos de Portugal Os demais eixos de intervenccedilatildeo que integram as dimensotildees

propostas encontram respaldo em proposiccedilotildees teoacutericas e em relatos de experiecircncias registrados na

literatura em Psicologia Escolar

Feitas estas consideraccedilotildees apresentam-se as dimensotildees que podem orientar o trabalho da

Psicologia Escolar nas Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior e discorre-se sobre os respectivos eixos

de intervenccedilatildeo com o intuito de ampliar a compreensatildeo sobre cada um Dessa forma em vez de

apresentar uma lista sinteacutetica de accedilotildees e procedimentos opta-se por contextualizar e argumentar

acerca de cada eixo por acreditar que a implementaccedilatildeo desta proposta de atuaccedilatildeo deve se dar pela

compreensatildeo e apropriaccedilatildeo do sentido que ela tem no contexto das Educaccedilatildeo Superior A Figura 17

eacute uma representaccedilatildeo graacutefica de como estatildeo organizadas as trecircs dimensotildees de atuaccedilatildeo

229

Figura 17 Dimensotildees e eixos de intervenccedilatildeo em Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo Superior

DIMENSAtildeO 1 ndash GESTAtildeO INSTITUCIONAL

1 Projeto poliacutetico-pedagoacutegico

O projeto poliacutetico-pedagoacutegico (PPP) eacute o eixo norteador de uma instituiccedilatildeo educativa pois

nele estatildeo contidos os pilares teoacutericos filosoacuteficos epistemoloacutegicos operacionais teacutecnicos e

tecnoloacutegicos que orientam suas accedilotildees e lhe conferem identidade Mais do que um documento ou

uma formalidade instituiacuteda o projeto pedagoacutegico de uma IES eacute uma reflexatildeo sobre o homem a

cidadania e a sociedade acerca da educaccedilatildeo e da educaccedilatildeo em niacutevel superior sobre o aluno o

professor e a praacutetica pedagoacutegica aleacutem do ensino da pesquisa da extensatildeo e da produccedilatildeo e

disseminaccedilatildeo do conhecimento

O PPP natildeo se constitui como um documento estaacutetico e imutaacutevel ao contraacuterio eacute um

processo contiacutenuo de reflexatildeo anaacutelise e discussatildeo acerca da concepccedilatildeo e das finalidades da

educaccedilatildeo e sua relaccedilatildeo com a sociedade Sendo entatildeo o eixo orientador da instituiccedilatildeo ele traz o

planejamento do que se tem intenccedilatildeo de fazer de realizar ele eacute a formalizaccedilatildeo das metas da

instituiccedilatildeo e de seus diferentes atores comprometidos com a formaccedilatildeo de profissionais e cidadatildeos

em condiccedilotildees de transformar o mundo

Entendido nesta ampla perspectiva o projeto poliacutetico-pedagoacutegico de uma IES organiza o

trabalho a ser desenvolvido em sala de aula e tambeacutem o da instituiccedilatildeo como um todo ele

apresenta os paracircmetros que guiam o processo de ensino e aprendizagem ao mesmo tempo em que

traz os princiacutepios que norteiam todo e qualquer trabalho a ser desenvolvido pela instituiccedilatildeo Sendo

portanto o referencial que orienta as accedilotildees dos atores institucionais o conhecimento a

Gestatildeo Acadecircmica

Desenvolvimento do estudante

Gestatildeo Institucional

230

compreensatildeo e a apropriaccedilatildeo dos pilares que sustentam o projeto poliacutetico-pedagoacutegico satildeo

fundamentais para que ele se concretize no dia-a-dia o que pode ser alcanccedilado por meio da

construccedilatildeo coletiva e cooperativa da proposta

Quando concebido desenvolvido e avaliado como uma praacutetica social coletiva gera fortes

sentimentos de pertenccedila e identidade No plano afetivo a construccedilatildeo do projeto apresenta

efeitos mobilizadores da atividade dos atores implicados o que gera compromissos e

responsabilidades educativas (hellip) Vale reiterar que o projeto poliacutetico-pedagoacutegico natildeo

existe sem um forte protagonismo dos professores pesquisadores e alunos e sem que estes

dele se apropriem Eacute a universidade construindo sua identidade institucional (Veiga 2004

pp 15-16)

O envolvimento e compromisso dos diferentes atores para com a formaccedilatildeo dos estudantes

a construccedilatildeo da cidadania e a qualidade da educaccedilatildeo satildeo potencializados mediante a participaccedilatildeo

ativa na construccedilatildeo coletiva do projeto pedagoacutegico pois este soacute adquire legitimidade e eacute

verdadeiramente incorporado agraves accedilotildees diaacuterias quando concebido por meio da implicaccedilatildeo voluntaacuteria

dos envolvidos com o processo educativo A aposta na construccedilatildeo coletiva do projeto poliacutetico-

pedagoacutegico eacute uma maneira de aproximar quem o concebe e quem o executa tornando-o de fato

uma realidade

Com base nessa compreensatildeo um espaccedilo de atuaccedilatildeo do psicoacutelogo escolar eacute na mediaccedilatildeo

junto aos diferentes atores institucionais do processo de anaacutelise construccedilatildeo revisatildeo e apropriaccedilatildeo

dos eixos centrais do PPP como a missatildeo visatildeo princiacutepios filosofia objetivos e metas Nesta

mediaccedilatildeo cabe ao psicoacutelogo escolar auxiliar na anaacutelise da operacionalizaccedilatildeo destes eixos no dia-a-

dia e da coerecircncia entre a proposta e accedilotildees concretas na interpretaccedilatildeo ampliada e criacutetica dos

princiacutepios institucionais que devem repercutir no exerciacutecio profissional dos atores na negociaccedilatildeo

de interesses e pontos de vistas divergentes bem como no encaminhamento de conflitos que satildeo

comuns nos trabalhos coletivos Tambeacutem eacute relevante nesse processo explorar as concepccedilotildees que

os atores institucionais tecircm acerca da educaccedilatildeo do ensino da aprendizagem avaliaccedilatildeo entre

outros que orientam a accedilatildeo dos profissionais Para aleacutem de conceitos a comporem a proposta do

PPP deve haver coerecircncia e articulaccedilatildeo entre as concepccedilotildees dos atores e agravequelas expressas do

projeto poliacutetico-pedagoacutegico

Um ponto que merece destaque na atuaccedilatildeo do psicoacutelogo escolar em relaccedilatildeo agrave proposta

pedagoacutegica diz respeito agrave investigaccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo dos atores do que seja a funccedilatildeo da

Educaccedilatildeo Superior na sociedade a concepccedilatildeo com a qual a instituiccedilatildeo se vincula Eacute esta concepccedilatildeo

que iraacute orientar a qualidade dos cursos e da formaccedilatildeo oferecida aos estudantes as ecircnfases

imprimidas nos curriacuteculos e nas atividades pedagoacutegicas o maior ou menor investimento em

atividades de pesquisa e de extensatildeo entre outros aspectos

A IES assume uma funccedilatildeo tecnicista econocircmica e utilitarista da educaccedilatildeo em niacutevel

superior ou uma funccedilatildeo de formar cidadatildeos conscientes e criacuteticos para as praacuteticas da vida social e

231

econocircmica e de produzir e disseminar conhecimentos potencialmente transformadores Qual eacute

para a IES o seu papel na reduccedilatildeo das desigualdades sociais e das injusticcedilas Como ela expressa

sua responsabilidade social e compromisso com a transformaccedilatildeo da sociedade Por esta via o

psicoacutelogo escolar pode envolver-se com a investigaccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo das concepccedilotildees que

direcionam as accedilotildees institucionais e lhe conferem identidade evidenciando e natildeo camuflando os

ideais ainda que ambiacuteguos e conflitantes que perpassam a missatildeo e a accedilatildeo da instituiccedilatildeo como

possibilidade de transformaacute-los e recriaacute-los

No acircmbito da Educaccedilatildeo Superior convencionou-se chamar o projeto poliacutetico-pedagoacutegico

como Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) documento que identifica a Instituiccedilatildeo de

Educaccedilatildeo Superior no que diz respeito agrave sua filosofia de trabalho sua missatildeo diretrizes

pedagoacutegicas estrutura organizacional e atividades acadecircmicas centrais O PDI eacute documento

obrigatoacuterio a todas as IES e deve ser apresentado quando a mesma solicita ao Ministeacuterio da

Educaccedilatildeo (MEC) seu credenciamento recredenciamento autorizaccedilatildeo de cursos credenciamento da

IES para oferta de ensino a distacircncia ou ainda autorizaccedilatildeo de cursos fora de sede para as

universidades

De acordo com a legislaccedilatildeo em vigor (Lei nordm 108612004 Decreto nordm 57732006) o PDI

tem vigecircncia de cinco anos deve ser continuamente revisado atualizado e reformulado de maneira

a garantir que as praacuteticas educativas contemplem as necessidades dos estudantes e da sociedade as

mudanccedilas poliacuteticas e institucionais aleacutem dos avanccedilos sociais e tecnoloacutegicos Para subsidiar esse

processo de reformulaccedilatildeo eacute imprescindiacutevel que se leve em conta os resultados da avaliaccedilatildeo

institucional (processo no qual se prevecirc tambeacutem a atuaccedilatildeo do psicoacutelogo escolar) tanto interna

quanto externa uma vez que trazem indicadores dos pontos fortes e das fragilidades da IES

Possiacutevel accedilatildeo do psicoacutelogo escolar em relaccedilatildeo ao PDI eacute a anaacutelise das incoerecircncias contradiccedilotildees e

conflitos existentes no documento em termos do que estaacute formalmente previsto e a realidade diaacuteria

de forma a subsidiar a minimizaccedilatildeo das ambiguidades que geram desconforto e inseguranccedila entre

os profissionais e os estudantes Trata-se mais uma vez de evidenciar e natildeo negar as contradiccedilotildees

como possibilidade de enfrentar de forma luacutecida e com intencionalidade os desafios que elas

criam Aleacutem disso por meio da construccedilatildeo coletiva do PDI o psicoacutelogo escolar pode ajudar para

que os coordenadores e professores se impliquem com as metas pedagoacutegicas e institucionais por

eles traccediladas

Ademais eacute no PDI que a instituiccedilatildeo prevecirc muitos dos eixos que podem ser objeto de

intervenccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares conforme sugerido e defendido nesta proposta de atuaccedilatildeo

Entre eles pode-se citar a avaliaccedilatildeo e acompanhamento do desenvolvimento institucional a

organizaccedilatildeo administrativa da IES sua estrutura organizacional instacircncias de decisatildeo

organograma e respectivas funccedilotildees perfil do corpo docente previsatildeo do plano de carreira e dos

criteacuterios de seleccedilatildeo e contrataccedilatildeo de professores projeto pedagoacutegico institucional que contempla os

princiacutepios filosoacuteficos e teacutecnico-metodoloacutegicos que orientam as praacuteticas acadecircmicas da instituiccedilatildeo

232

sua organizaccedilatildeo didaacutetico-pedagoacutegica as poliacuteticas de atendimento aos discentes entre as quais os

Serviccedilos de Psicologia aleacutem de outros Assim o estudo e apropriaccedilatildeo do PDI eacute uma accedilatildeo

fundamental ao trabalho do psicoacutelogo escolar uma vez que iraacute fornecer elementos para auxiliaacute-lo na

construccedilatildeo da sua proacutepria proposta de trabalho

Por exemplo a realizaccedilatildeo de accedilotildees de formaccedilatildeo continuada com o corpo teacutecnico-

administrativo ou com a equipe pedagoacutegica seraacute viaacutevel e disporaacute de mais recursos e investimentos

se for um compromisso da IES e estiver prevista no PDI ainda que os psicoacutelogos proponham

atividades de formaccedilatildeo a participaccedilatildeo poderaacute ser bastante reduzida em virtude da carga horaacuteria dos

professores muitas vezes sobrecarregada pela associaccedilatildeo de atribuiccedilotildees pedagoacutegicas e

administrativas pelas prioridades a serem cumpridas para atender os criteacuterios de credenciamento e

autorizaccedilatildeo de cursos Dessa maneira o desenvolvimento e a consolidaccedilatildeo de praacuteticas de formaccedilatildeo

continuada requerem apoio institucional no que tange ao incentivo oficial (que vai desde a previsatildeo

de tais accedilotildees no planejamento da IES na flexibilizaccedilatildeo da carga horaacuteria dos colaboradores para que

possam participar ateacute a bonificaccedilatildeo pela participaccedilatildeo) o que tambeacutem justifica o envolvimento do

psicoacutelogo escolar na revisatildeo e reestruturaccedilatildeo do PDI como estrateacutegia para sustentar e legitimar

institucionalmente a sua atuaccedilatildeo

Eacute ainda no acircmbito da proposta poliacutetico-pedagoacutegica da IES que o psicoacutelogo escolar pode

trabalhar com questotildees relativas agrave dinacircmica e agraves relaccedilotildees institucionais Um caminho inicial eacute por

um lado o estudo e anaacutelise do Regimento Geral especificamente no que diz respeito agraves funccedilotildees

responsabilidades direitos e deveres atribuiacutedos aos atores agraves normas de funcionamento e agrave

estrutural organizacional e por outro a anaacutelise da dinacircmica institucional das relaccedilotildees hieraacuterquicas

do clima organizacional dos estilos de comunicaccedilatildeo e de gestatildeo das principais formas de

deliberaccedilatildeo (horizontal ou vertical participativa ou centralizada) das relaccedilotildees entre grupos

internos agrave instituiccedilatildeo (departamentos nuacutecleos aacutereas e equipes) e desta com a comunidade externa

Para realizar esse estudo que se configura como um mapeamento da instituiccedilatildeo o

psicoacutelogo escolar precisa favorecer situaccedilotildees nas quais os sujeitos conversem entre si troquem

ideias evidenciem as contradiccedilotildees defendam seu ponto de vista critiquem decisotildees denunciem

praacuteticas incoerentes expressem seus desejos enfim eacute preciso criar oportunidades para a circulaccedilatildeo

das vozes institucionais Estes espaccedilos podem ser aqueles jaacute existentes como reuniotildees de setores

de departamento e de coordenaccedilatildeo como tambeacutem situaccedilotildees informais de diaacutelogo e convivecircncia

entre os atores Poderaacute recorrer ainda a observaccedilatildeo da rotina diaacuteria e das relaccedilotildees aleacutem de

proceder agrave anaacutelise dos documentos institucionais A partir deste estudo o psicoacutelogo escolar teraacute

elementos para avaliar a coerecircncia entre o discurso formal conforme previsto nos documentos

institucionais e a praacutetica cotidiana para investir na conscientizaccedilatildeo dos colaboradores acerca

destas incongruecircncias entre discurso e accedilatildeo bem como o efeito de possiacuteveis ambiguidades nas

configuraccedilotildees subjetivas e nas relaccedilotildees intersubjetivas e ainda para buscar junto com eles

alternativas coletivas para modificaacute-las

233

Do ponto de vista da atuaccedilatildeo do psicoacutelogo escolar o mapeamento institucional natildeo se

esgota em uma anaacutelise e diagnoacutestico eacute na verdade um processo permanente de atualizaccedilatildeo fonte

contiacutenua de informaccedilotildees acerca do funcionamento objetivo e subjetivo da instituiccedilatildeo Na tentativa

de auxiliar o processo de mudanccedila eacute importante que haja investimento na reformulaccedilatildeo dos

documentos institucionais como o Regimento e tambeacutem nos sentidos que os sujeitos atribuem agrave

hierarquia aos valores e regras agraves suas responsabilidades etc

2 Perfil profissional

Na medida em que a instituiccedilatildeo tem bem delimitado quais satildeo seus eixos norteadores seus

objetivos em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo dos estudantes e a natureza do seu compromisso com a sociedade

ela tem o desafio de compor um quadro de colaboradores que a possibilite desenvolver com

qualidade suas atividades e alcanccedilar de forma satisfatoacuteria os seus objetivos O que iraacute orientar a

composiccedilatildeo desse quadro eacute o perfil profissional esperado e traccedilado pela instituiccedilatildeo para os

diferentes cargos institucionais o qual para aleacutem da formaccedilatildeo e domiacutenio em uma aacuterea especiacutefica

engloba caracteriacutesticas pessoais saberes cientiacuteficos e da experiecircncia de vida responsabilidade

eacutetica conhecimento das poliacuteticas educacionais habilidades interpessoais valores e princiacutepios

postura criacutetica e reflexiva compromisso com sua formaccedilatildeo entre outros

A contribuiccedilatildeo do psicoacutelogo escolar nesse eixo vincula-se agrave discussatildeo anaacutelise e definiccedilatildeo

dos indicadores de perfis mais pertinentes e relevantes agrave proacutepria IES principalmente aqueles que se

coadunem agrave missatildeo institucional e agrave funccedilatildeo formativa da Educaccedilatildeo Superior Dessa maneira no

trabalho neste eixo de intervenccedilatildeo eacute especialmente relevante que o psicoacutelogo escolar possa

contribuir para que caracteriacutesticas indicativas da vinculaccedilatildeo do professorcoordenador com a

funccedilatildeo social da Educaccedilatildeo Superior na formaccedilatildeo de cidadatildeos sejam valorizadas e contempladas As

situaccedilotildees para definiccedilatildeo de perfis eacute mais uma vez um espaccedilo no qual o psicoacutelogo escolar pode

problematizar a funccedilatildeo da IES e o papel de seus membros na formaccedilatildeo de profissionais e cidadatildeos

Outro aspecto da contribuiccedilatildeo do psicoacutelogo escolar diz respeito agrave valorizaccedilatildeo e defesa de

um perfil seja ele docente administrativo ou discente complexo e dinacircmico que natildeo se sustenta

apenas em conhecimentos teoacutericos e habilidades teacutecnicas especiacuteficas de um campo de saber e de

atuaccedilatildeo ao contraacuterio ele se configura pela articulaccedilatildeo de muacuteltiplas dimensotildees objetivas e

subjetivas que satildeo mobilizadas na situaccedilatildeo Eacute importante portanto que o psicoacutelogo escolar

promova discussotildees acerca dos elementos considerados importantes na composiccedilatildeo de um perfil

profissional evidenciando inclusive o valor daqueles que tecircm sido tradicionalmente considerados

perifeacutericos como a postura eacutetica o senso de justiccedila o posicionamento criacutetico as habilidades

esteacuteticas a defesa dos direitos humanos entre outros

Ao definir os perfis nesta perspectiva ampliada abre-se espaccedilo para que sejam consideradas

outras caracteriacutesticas como por exemplo busca de aperfeiccediloamento constante ecircnfase no

desenvolvimento de posturas de criatividade de inovaccedilatildeo independecircncia autonomia e de tomada

234

de decisatildeo reflexividade e compromisso com a anaacutelise das suas accedilotildees flexibilidade diante do

novo capacidade de persistir a despeito de insucessos eventuais disponibilidade para compartilhar

experiecircncias e saberes sensibilidade para trabalhar com a diversidade humana entre outras

competecircncias que diferenciam os profissionais A intervenccedilatildeo do psicoacutelogo escolar no que tange

aos perfis profissionais estaacute muito associada agrave valorizaccedilatildeo de caracteriacutesticas que possibilitam e

impulsionam respostas criativas diversificadas e aacutegeis e que permitam aos profissionais superar

com sucesso os dilemas e as adversidades agregando valor ao trabalho em equipe

Os perfis traccedilados iratildeo orientar a seleccedilatildeo e contrataccedilatildeo de novos colaboradores bem como o

acompanhamento na situaccedilatildeo de trabalho do desenvolvimento das competecircncias necessaacuterias agrave

realizaccedilatildeo das atividades previstas e inesperadas agrave superaccedilatildeo das dificuldades e agrave participaccedilatildeo

ativa em equipes de trabalho que coordenam projetos especiacuteficos da IES e que natildeo estatildeo

necessariamente ligados agrave aacuterea de formaccedilatildeo do profissional Por meio deste acompanhamento os

psicoacutelogos escolares em conjunto com os gestores podem avaliar a atuaccedilatildeo dos profissionais e

sugerir alternativas que favoreccedilam seu aperfeiccediloamento que potencializem seu desenvolvimento

como pessoa e profissional Pela via do investimento na qualificaccedilatildeo de seus colaboradores a IES

estaacute cumprindo seu compromisso social com a formaccedilatildeo de cidadatildeos a qual natildeo se restringe aos

alunos

3 Processo de Seleccedilatildeo e de Ambientaccedilatildeo de Colaboradores

A participaccedilatildeo do psicoacutelogo escolar em processos de seleccedilatildeo vincula-se agrave identificaccedilatildeo de

candidatos que tenham perfil condizente com os princiacutepios filosofia objetivos e expectativas da

instituiccedilatildeo ou seja a seleccedilatildeo de profissionais com caracteriacutesticas conhecimentos e valores

consoantes com aqueles que fazem parte do projeto pedagoacutegico da IES A inclusatildeo dos psicoacutelogos

escolares em um processo tradicionalmente conduzido pela equipe de recursos humanos - da qual

muitas vezes um psicoacutelogo participa - natildeo significa sobreposiccedilatildeo de funccedilotildees (dois psicoacutelogos

fazendo a mesma funccedilatildeo) mas sim reconhecimento de que a seleccedilatildeo de profissionais de educaccedilatildeo

carrega algumas particularidades para as quais o psicoacutelogo escolar estaacute mais sensibilizado e

familiarizado

Entre estas particularidades pode-se mencionar a apropriaccedilatildeo do psicoacutelogo escolar relativa

aos aspectos pedagoacutegicos e acadecircmicos que permeiam o processo educativo como por exemplo

reflexatildeo sobre as concepccedilotildees subjacentes e que orientam a praacutetica conhecimento sobre as

competecircncias para o ensino capacidade de anaacutelise de praacuteticas acadecircmicas de sucesso

envolvimento com discussotildees relativas agrave funccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior na construccedilatildeo da cidadania

aleacutem do conhecimento das caracteriacutesticas estruturais de uma instituiccedilatildeo educativa como horaacuterios

curriacuteculo papeacuteis

Ciente dos princiacutepios teoacutericos e filosoacuteficos que sustentam a missatildeo da IES seus objetivos e

expectativas bem como dos valores e concepccedilotildees por ela apreciados o psicoacutelogo escolar tem como

235

meta avaliar a confluecircncia entre princiacutepios que norteiam o trabalho da instituiccedilatildeo e os que satildeo

valorizados pelos candidatos Dessa forma o caraacuteter inovador e diferencial dos processos seletivos

realizados com a participaccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares estaacute exatamente na articulaccedilatildeo entre o

projeto pedagoacutegico da instituiccedilatildeo e o processo seletivo

Tendo sido contempladas na definiccedilatildeo dos perfis profissionais caracteriacutesticas que

expressam adequaccedilatildeo ao papel da Educaccedilatildeo Superior e agrave missatildeo poliacutetica e pedagoacutegica da IES

caberaacute ao psicoacutelogo escolar reconhecer durante o processo seletivo indicadores que apontem para

essa adequaccedilatildeo Para tanto poderaacute atentar-se para como os candidatos expressam suas posiccedilotildees e

concepccedilotildees quanto ao papel transformador da educaccedilatildeo a desnaturalizaccedilatildeo dos fenocircmenos de

exclusatildeo marginalizaccedilatildeo e violecircncia social agraves concepccedilotildees criacuteticas e dialeacuteticas dos fenocircmenos agrave

compreensatildeo bidirecional das relaccedilotildees e do sentido afetivo implicado na apropriaccedilatildeo do

conhecimento e etc

No caso dos professores por exemplo eacute fundamental analisar o perfil dos candidatos no

que diz respeito agraves concepccedilotildees relacionadas ao processo educativo - a relaccedilatildeo ensino-

aprendizagem avaliaccedilatildeo desenvolvimento humano formaccedilatildeo por competecircncias dificuldades de

aprendizagem necessidades educativas especiais agraves percepccedilotildees que tecircm sobre o papel do

professor do aluno e de outros agentes no sucesso acadecircmico ao conhecimento e atualizaccedilatildeo sobre

as poliacuteticas educacionais agrave valorizaccedilatildeo e ao investimento pessoal em formaccedilatildeo continuada agraves

habilidades de comunicaccedilatildeo oral e escrita argumentaccedilatildeo criticidade flexibilidade para aceitar o

novo iniciativa integraccedilatildeo e trabalho em grupo aleacutem de outras O processo de seleccedilatildeo orienta-se

portanto pela anaacutelise entre as concepccedilotildees e valores assumidos pela instituiccedilatildeo e as caracteriacutesticas

dos candidatos buscando identificar aqueles que mais se aproximam do perfil desejado pela

instituiccedilatildeo pela afinidade com sua missatildeo e a funccedilatildeo formativa que assume na construccedilatildeo da

cidadania

O processo seletivo pode se estruturar de diferentes formas devendo transcorrer de acordo

com as condiccedilotildees e caracteriacutesticas da instituiccedilatildeo e seus objetivos Por exemplo no caso das

instituiccedilotildees privadas em que o processo seletivo pode adquirir contornos variados quanto agraves etapas

instrumentos e participantes que iratildeo avaliar os candidatos o psicoacutelogo escolar pode atuar

integralmente desde o planejamento ateacute a execuccedilatildeo do processo seletivo Por outro lado nas IES

onde a contrataccedilatildeo de professores se daacute mediante aprovaccedilatildeo em concurso puacuteblico este eacute conduzido

por uma banca de docentes vinculados agrave aacuterea da vaga e com titulaccedilatildeo igual ou superior agrave titulaccedilatildeo

exigida para o cargo

Nas IES em que se realizam concursos puacuteblicos a participaccedilatildeo do psicoacutelogo escolar como

membro da banca examinadora acaba sendo improvaacutevel contudo ele pode contribuir no

planejamento do concurso especificamente na discussatildeo e definiccedilatildeo de caracteriacutesticas de perfil na

perspectiva do ensino na definiccedilatildeo dos criteacuterios a serem avaliados na preparaccedilatildeo dos professores

que compotildeem a banca para avaliar as concepccedilotildees subjetivas dos candidatos e tambeacutem na anaacutelise

236

do desempenho dos indicadores de perfil dos candidatos agrave luz da definiccedilatildeo feita anteriormente No

caso da seleccedilatildeo de profissionais para compor o quadro teacutecnico-administrativo a anaacutelise do perfil

dos candidatos tambeacutem deve explorar a consonacircncia entre as concepccedilotildees e valores do candidato e

os da IES de maneira que o trabalho a ser desenvolvido por esse profissional seja coerente com

aquilo que a instituiccedilatildeo preconiza

Uma importante contribuiccedilatildeo que se desdobra da participaccedilatildeo do psicoacutelogo escolar nos

processos seletivos estaacute relacionada agrave formaccedilatildeo continuada pois as informaccedilotildees obtidas ao longo

do processo de seleccedilatildeo aleacutem de subsidiarem a contrataccedilatildeo de novos colaboradores indicam

aspectos que merecem investimento por parte da instituiccedilatildeo no sentido de promover o

desenvolvimento de outras competecircncias Dessa maneira o psicoacutelogo escolar natildeo soacute assessora o

processo de seleccedilatildeo como tambeacutem vai mapeando aquilo que pode ser foco de intervenccedilotildees futuras

Outro eixo de intervenccedilatildeo do psicoacutelogo escolar diz respeito agraves estrateacutegias de acolhimento e

recepccedilatildeo dos novos colaboradores A chegada a um novo contexto de trabalho eacute muitas vezes

vivenciada de forma ambiacutegua pelos profissionais pois ao mesmo tempo em que representa uma

conquista e a realizaccedilatildeo de um projeto profissional e de vida desencadeia duacutevidas e incertezas

quanto ao trabalho a ser realizado a relaccedilatildeo com os colegas a afinidade e identificaccedilatildeo com os

valores e praacuteticas da instituiccedilatildeo entre outros Dessa forma planejar accedilotildees de recepccedilatildeo e

acolhimento aos novos colaboradores tem como objetivo favorecer a sua integraccedilatildeo por meio da

familiarizaccedilatildeo com a missatildeo os objetivos e os princiacutepios da instituiccedilatildeo do conhecimento de seus

direitos e deveres do esclarecimento acerca das expectativas e metas relativas ao seu trabalho etc

Uma primeira accedilatildeo do psicoacutelogo escolar neste eixo de intervenccedilatildeo eacute a de sensibilizar a IES

acerca da importacircncia de institucionalizar projetos de ambientaccedilatildeo que potencializem o

envolvimento a seguranccedila o compromisso e o sentimento de pertencimento dos novos

colaboradores Aleacutem disso sensibilizar para que estes projetos em vez de caraacuteter unidirecional

informativo favoreccedilam a construccedilatildeo de espaccedilos de interlocuccedilatildeo ou seja fomentem redes de trocas

de diaacutelogo e de aprendizagem cooperativa

Ao propiciar que os profissionais conheccedilam a instituiccedilatildeo a ambientaccedilatildeo tambeacutem deve

instalar um diaacutelogo intra e intersubjetivo no qual os sujeitos estabeleccedilam relaccedilotildees reflitam sobre

seus objetivos pessoais e os institucionais problematizem as rotinas e processos observem as

posturas escutem os discursos oficiais e os ocultos e compartilhem experiecircncias Ao mesmo tempo

em que busca favorecer a integraccedilatildeo do profissional agrave instituiccedilatildeo por meio de um conhecimento

mais aprofundado de seus pilares e metas a ambientaccedilatildeo tambeacutem almeja instalar uma cultura de

interlocuccedilatildeo de cooperaccedilatildeo de diaacutelogo e de mobilidade dentro da IES

Nessa perspectiva o processo de ambientaccedilatildeo jaacute se constitui como um espaccedilo de

aprendizagem tanto individual quanto coletiva A depender do tamanho da IES e do fluxo de

contrataccedilotildees o psicoacutelogo escolar pode coordenar o processo de acolhimento e preparar outros

237

membros da IES para executaacute-lo conforme defendido ou pode ele mesmo assumir a conduccedilatildeo das

accedilotildees

4 Formaccedilatildeo Continuada

A intervenccedilatildeo em Psicologia Escolar direcionada para a formaccedilatildeo continuada dos

profissionais que trabalham em uma IES deve ter como foco aspectos objetivos e subjetivos que

permeiam o trabalho que realizam Nesse sentido as accedilotildees de formaccedilatildeo continuada podem

direcionar-se para o aperfeiccediloamento teoacuterico teacutecnico e metodoloacutegico dos diferentes colaboradores

e para a circulaccedilatildeo de sentidos e significados atribuiacutedos ao trabalho e agraves relaccedilotildees institucionais agraves

relaccedilotildees intersubjetivas entre os profissionais para as concepccedilotildees que orientam suas accedilotildees para os

sentimentos e anguacutestias que perpassam suas praacuteticas por exemplo Aleacutem da melhor preparaccedilatildeo

teacutecnica do corpo docente teacutecnico-administrativo ou dirigente imprescindiacutevel ao bom desempenho

das atividades profissionais defende-se que um processo de formaccedilatildeo continuada deve investir

tambeacutem na compressatildeo do processo de configuraccedilatildeo subjetiva das relaccedilotildees conflitos e tensotildees que

perpassam o trabalho desses profissionais e tambeacutem na construccedilatildeo de possibilidades de

transformaacute-lo (Aguiar 2000)

Uma contribuiccedilatildeo diferencial da Psicologia Escolar agrave formaccedilatildeo continuada eacute portanto a

intencionalidade em tornaacute-la um espaccedilo de intersubjetividade no qual possam circular os sentidos

subjetivos envolvidos nas escolhas e accedilotildees dos profissionais e que imprimem caracteriacutesticas e

dinacircmicas particulares a cada instituiccedilatildeo Aleacutem do discurso prescritivo e normativo comumente

adotado nas formaccedilotildees os psicoacutelogos escolares devem mediar a construccedilatildeo de espaccedilos de reflexatildeo

acerca dos aspectos subjetivos que constituem os sujeitos as relaccedilotildees e as instituiccedilotildees

Eacute comum encontrar materiais dirigidos aos professores que apostam na informaccedilatildeo como

eixo central da sua formaccedilatildeo A apropriaccedilatildeo de alguns conceitos eacute fundamental contudo eacute

necessaacuterio articular esses conceitos com as situaccedilotildees vividas em cada realidade escolar e na

experiecircncia de cada profissional da educaccedilatildeo Este trabalho de articulaccedilatildeo eacute um processo

cotidiano e sistemaacutetico Natildeo acontece de uma vez por todas A formaccedilatildeo do professor deve

ser um processo contiacutenuo que perpassa sua praacutetica com os alunos a partir do trabalho

transdisciplinar com uma equipe permanente de apoio (Paulon Freitas amp Pinho 2005)

Abordar por exemplo a temaacutetica da diversidade e da inclusatildeo no contexto acadecircmico com

qualquer um dos segmentos profissionais requer que sejam tratadas as questotildees pertinentes agrave

poliacutetica e legislaccedilatildeo nacional agraves regras normas direitos e deveres formalmente previstos nos

documentos institucionais agraves pesquisas cientiacuteficas relativas ao tema e igualmente ideias

sentimentos anguacutestias duacutevidas preconceitos concepccedilotildees e inquietaccedilotildees que tal temaacutetica mobiliza

entre os colaboradores

Possiacuteveis questotildees a serem abordadas na formaccedilatildeo continuada de professores podem

relacionar-se agrave tomada de consciecircncia acerca da funccedilatildeo da accedilatildeo pedagoacutegica e do professor no

238

desenvolvimento das funccedilotildees psicoloacutegicas superiores agrave reflexatildeo e conscientizaccedilatildeo das concepccedilotildees

de ensinar de aprender de desenvolvimento e de avaliaccedilatildeo que estatildeo subjacentes agrave accedilatildeo docente e

a orientam agrave problematizaccedilatildeo e reformulaccedilatildeo das estrateacutegias didaacutetico-pedagoacutegicas utilizadas para

promover o aprendizado discente agrave clareza acerca da multiplicidade de fatores intervenientes na

construccedilatildeo do sucesso e do fracasso escolaracadecircmico ao conhecimento acerca de fatores

intervenientes na sauacutede psiacutequica dos profissionais da educaccedilatildeo particularmente os aspectos

objetivos e subjetivos que permeiam a praacutetica docente aleacutem de outros

Em relaccedilatildeo aos coordenadores a formaccedilatildeo continuada pode incidir sobre as mesmas

temaacuteticas abordadas com os professores e ainda sobre o papel e funccedilotildees relacionadas agrave

coordenaccedilatildeo de curso superior especificamente no que diz respeito agrave gestatildeo da equipe docente agrave

tomada de decisotildees ao papel de mediador entre alunos e professores e entre estes e a direccedilatildeo da

instituiccedilatildeo

Por sua vez a formaccedilatildeo continuada com os funcionaacuterios teacutecnico-administrativos da IES

pode centrar-se em questotildees relacionais trabalho em equipe lideranccedila motivaccedilatildeo gestatildeo do

tempo do stress As formaccedilotildees devem buscar promover seu desenvolvimento como autores e

atores dos processos institucionais o que implica valorizar estimular a iniciativa para buscar

soluccedilotildees e sugerir modificaccedilotildees que potencializem os resultados a autonomia para problematizar

procedimentos o posicionamento criacutetico diante das decisotildees institucionais que afetam seu trabalho

a postura criativa e inovadora diante de antigas rotinas e dificuldades entre outros

Apesar das formaccedilotildees para funcionaacuterios poderem abordar questotildees teacutecnicas nestes casos

natildeo cabe aos psicoacutelogos escolares se responsabilizarem por conduzir processos dessa natureza que

se distanciam da especificidade do seu campo de intervenccedilatildeo A esse respeito a atuaccedilatildeo do

psicoacutelogo escolar restringe-se agrave identificaccedilatildeo das necessidades de aperfeiccediloamento e planejamento

da formaccedilatildeo agrave valorizaccedilatildeo e incentivo ao desenvolvimento profissional dos colaboradores

Entretanto ainda que centrada em questotildees teacutecnicas que almejam aumentar a eficaacutecia do trabalho a

formaccedilatildeo natildeo deve prescindir da circulaccedilatildeo dos sentidos que satildeo atribuiacutedos agraves atividades agraves

relaccedilotildees sociais e agrave dinacircmica institucional pois a modificaccedilatildeo dos procedimentos natildeo decorre

apenas da compreensatildeo de como e porque realizaacute-lo mas do sentido subjetivo (importacircncia

pertinecircncia expectativa etc) que lhes atribuem

Por fim a formaccedilatildeo continuada dos gestores institucionais (diretores reitores proacute-reitores

decanos etc) eacute um espaccedilo emergente de atuaccedilatildeo do psicoacutelogo escolar e tambeacutem se orienta pela

exploraccedilatildeo de questotildees objetivas e subjetivas que permeiam sua atuaccedilatildeo profissional e tem como

objetivos colaborar para o aprimoramento do perfil de gestor Com vistas a contribuir nesta

formaccedilatildeo o psicoacutelogo escolar pode propor sua participaccedilatildeo em reuniotildees regulares de gestatildeo ou

pode acompanhaacute-los individualmente sendo fundamental que tenha clareza da intenccedilatildeo de sua

participaccedilatildeo nestes espaccedilos e da postura eacutetica que deve guiaacute-lo tendo em vista o niacutevel das decisotildees

nas quais estaraacute envolvido Para contribuir neste processo o psicoacutelogo escolar deve buscar

239

mobilizar a reflexatildeo e ressignificaccedilatildeo de praacuteticas e decisotildees que tecircm impacto na subjetividade

social da instituiccedilatildeo e na qualidade do trabalho dos atores-sujeitos

Questotildees que podem ser objeto de intervenccedilatildeo do psicoacutelogo escolar junto aos gestores satildeo

criar oportunidades para a circulaccedilatildeo das vozes e discursos institucionais de forma a ouvir as falas

que apontam para uma tentativa de mudanccedila valorizar o conteuacutedo que circula nas redes formais e

informais e considerar em suas decisotildees aspectos expliacutecitos e impliacutecitos que permeiam as relaccedilotildees

e praacuteticas ancorar suas decisotildees na anaacutelise do impacto que elas podem ter sobre a subjetividade

individual dos atores e nas redes intersubjetivas reconhecer a ambiguidade (contradiccedilatildeo conflito)

em orientaccedilotildees e decisotildees e que satildeo geradoras de mal-estar psiacutequico compreender episoacutedios de

desmotivaccedilatildeo apatia ou falta de envolvimento e de compromisso dos colaboradores como

manifestaccedilatildeo de estados subjetivos que possam denotar sofrimento psiacutequico valorizar e incentivar

a circulaccedilatildeo de novos sentidos como possibilidade de desencadear transformaccedilotildees individuais

coletivas e institucionais

As formaccedilotildees com os diferentes atores podem ocorrer em periacuteodos previstos no calendaacuterio

acadecircmico como comumente ocorre com a Semana Pedagoacutegica direcionada para a equipe

pedagoacutegica ou tambeacutem podem acontecer ao longo do ano de acordo com a avaliaccedilatildeo de

necessidades Contudo eacute importante destacar que a formaccedilatildeo continuada defendida neste trabalho

natildeo se refere a uma accedilatildeo pontual e delimitada no tempo como a proacutepria Semana Pedagoacutegica para

docentes muito ao contraacuterio o caraacuteter contiacutenuo das formaccedilotildees deve-se ao acompanhamento do

trabalho dos coordenadores e dos professores ao longo de todo o ano letivo como forma de

potencializaacute-lo

Este acompanhamento sistemaacutetico no dia-a-dia pode ocorrer por meio da participaccedilatildeo do

psicoacutelogo escolar em reuniotildees de coordenaccedilatildeo de colegiado ou em outros espaccedilos pedagoacutegicos

institucionalizados pela observaccedilatildeo em sala de aula e da discussatildeo com o professor acerca do seu

planejamento e desempenho do estudo de casos e de novas metodologias em pequenos grupos de

professores A mudanccedila de valores concepccedilotildees e praacuteticas demanda tempo e investimento e em

muitos casos as Semanas Pedagoacutegicas constituem apenas o mote deflagrador de um processo de

reflexatildeo questionamento e mudanccedila

5 Avaliaccedilatildeo institucional

No contexto educativo as praacuteticas avaliativas podem se referir tanto ao processo de ensino

e aprendizagem e ao rendimento dos alunos sendo nestes casos prioritariamente realizadas pelos

professores quanto agrave qualidade das accedilotildees institucionais as quais englobam aspectos pedagoacutegicos

administrativos e financeiros Eacute em relaccedilatildeo a esta uacuteltima modalidade que se localiza a avaliaccedilatildeo

institucional uma praacutetica presente haacute mais de trecircs deacutecadas nas Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior

brasileiras que tem o objetivo de verificar o desempenho das instituiccedilotildees agrave luz dos criteacuterios de

qualidade da educaccedilatildeo e impulsionar as mudanccedilas necessaacuterias

240

Atualmente a avaliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior no Brasil se realiza a partir do que foi

estabelecido pelo SINAES (Lei nordm 108612004) e estaacute organizada em trecircs pilares interdependentes

a avaliaccedilatildeo institucional tanto interna quanto externa a avaliaccedilatildeo dos cursos superiores e a

avaliaccedilatildeo do desempenho dos estudantes Uma anaacutelise retrospectiva em relaccedilatildeo agraves propostas

avaliativas anteriores evidencia que um importante diferencial do SINAES eacute a previsatildeo da

avaliaccedilatildeo institucional como um dos eixos centrais de acompanhamento das instituiccedilotildees e em

especial da autoavaliaccedilatildeo a qual se constitui como uma oportunidade singular de interlocuccedilatildeo

anaacutelise e reflexatildeo no interior de cada IES e inegavelmente um espaccedilo de atuaccedilatildeo para a Psicologia

Escolar

Agrave luz da intenccedilatildeo de oportunizar que a instituiccedilatildeo estabeleccedila um diaacutelogo consigo mesma o

psicoacutelogo escolar pode contribuir na concretizaccedilatildeo dessa proposta por meio da coordenaccedilatildeo de

accedilotildees como a sensibilizaccedilatildeo da comunidade acadecircmica acerca da funccedilatildeo e importacircncia da

autoavaliaccedilatildeo como ferramenta potencialmente geradora de transformaccedilotildees mobilizaccedilatildeo das

percepccedilotildees expectativas e sugestotildees dos diferentes atores institucionais da circulaccedilatildeo e escuta

ativa destas percepccedilotildees e da ressignificaccedilatildeo dos sentidos subjetivos atribuiacutedos agraves praacuteticas

avaliativas Em muitos casos a avaliaccedilatildeo do trabalho docente ou administrativo vem carregado de

incertezas e inseguranccedilas pelo fato dos sujeitos natildeo saberem quais os usos e consequecircncias dos

resultados aleacutem de ser fator desencadeador de anguacutestia e inquietaccedilatildeo na medida em que coloca o

trabalho dos profissionais em evidecircncia quando muitas vezes natildeo haacute o haacutebito pessoal eou

institucional de refletir e analisar sua proacutepria atuaccedilatildeo

Por razotildees como estas que satildeo geradoras de mal-estar na instituiccedilatildeo o psicoacutelogo escolar

pode trabalhar com os gestores na definiccedilatildeo da funccedilatildeo da avaliaccedilatildeo e do uso que seraacute feito dos

resultados e com os demais atores na disseminaccedilatildeo e entendimento desta funccedilatildeo Natildeo haacute problema

no fato da avaliaccedilatildeo interna suprir a funccedilatildeo de um controle miacutenimo sobre o funcionamento da IES

todavia surge um problema quando o conhecimento sobre as praacuteticas natildeo desencadeia projetos

poliacuteticos institucionais e coletivos em uma perspectiva macrosistecircmica mas recai sobre os atores

(sujeitos) institucionais individualizando-os e abrindo espaccedilo para praacuteticas de exclusatildeo e puniccedilatildeo

A clareza acerca dos rumos da avaliaccedilatildeo institucional pode constituir-se em meta da atuaccedilatildeo do

psicoacutelogo escolar

Outra accedilatildeo do psicoacutelogo escolar pode ser a de evidenciar a importacircncia de que os

resultados sejam divulgados publicamente e discutidos com a comunidade acadecircmica Publicizar e

debater os resultados eacute uma expressatildeo do compromisso eacutetico e moral da IES para com seus alunos

colaboradores e a sociedade aleacutem de ser um movimento paradigmaacutetico na construccedilatildeo de uma

cultura de reflexatildeo e de mudanccedila Destaca-se entretanto que problematizar e envolver-se com a

divulgaccedilatildeo dos resultados avaliativos eacute uma questatildeo que merece muito cuidado clareza e postura

eacutetica por parte do psicoacutelogo escolar tendo em vista os diferentes usos relacionados a essa

241

divulgaccedilatildeo aleacutem das consequecircncias danosas que podem causar quando natildeo forem objeto de uma

anaacutelise pormenorizada do sentido que a IES atribui a autoavaliaccedilatildeo

Vive-se hoje um momento histoacuterico marcado pelo avanccedilo tecnoloacutegico pela produccedilatildeo e

transmissatildeo de conhecimento em extraordinaacuteria velocidade e por um intenso processo de

globalizaccedilatildeo cultural econocircmico e poliacutetico que gera uma seacuterie de desafios na sociedade nas

organizaccedilotildees e nas relaccedilotildees sociais Esses desafios trazem implicaccedilotildees tambeacutem para as Instituiccedilotildees

de Educaccedilatildeo Superior que precisam se redefinir e construir permanentemente sua identidade

gerando consequentemente impactos sobre os seus atores

Aos professores por exemplo eacute exigida uma busca contiacutenua de atualizaccedilatildeo decorrente

tanto dos avanccedilos cientiacuteficos na sua aacuterea de conhecimento e das mudanccedilas nas ferramentas e

teacutecnicas de pesquisa quanto pelos avanccedilos da ciecircncia pedagoacutegica e ainda pelas alteraccedilotildees

culturais sociais e econocircmicas A autoavaliaccedilatildeo eacute portanto uma ferramenta impulsionadora desse

movimento de transformaccedilatildeo que para se concretizar exige uma cultura de mudanccedila de abertura

ao novo e agrave inovaccedilatildeo como resposta aos desafios contemporacircneos Favorecer a construccedilatildeo dessa

cultura eacute sem duacutevida um grande contributo da Psicologia Escolar

Outra intervenccedilatildeo oportuna ao psicoacutelogo escolar eacute recorrer aos resultados mais

significativos da avaliaccedilatildeo para orientar o seu trabalho com os diferentes atores na modificaccedilatildeo de

suas accedilotildees as quais natildeo envolvem apenas uma execuccedilatildeo diferente mas contempla sobretudo o

entendimento de porque mudar e a identificaccedilatildeo de como mudar em uma construccedilatildeo criativa

autocircnoma e ativa de suas praacuteticas profissionais Esse eacute na verdade o sentido maior da

autoavaliaccedilatildeo desencadear mudanccedilas nos processos e procedimentos de forma a imprimir maior

qualidade agraves accedilotildees institucionais Mais do que cumprir com uma exigecircncia legal a praacutetica da

autoavaliaccedilatildeo deve impulsionar a construccedilatildeo de uma cultura de reflexatildeo acerca do trabalho

realizado e de debates puacuteblicos sobre os mesmos

Conforme estaacute preconizado pela legislaccedilatildeo brasileira cada IES deve compor uma

Comissatildeo Proacutepria de Avaliaccedilatildeo (CPA) a quem compete conduzir todo o processo de avaliaccedilatildeo

interna desde o planejamento ateacute a execuccedilatildeo Uma possiacutevel inserccedilatildeo do psicoacutelogo escolar eacute

participar nesta comissatildeo seja como membro efetivo ou como consultor Cada instituiccedilatildeo e mais

especificamente a proacutepria CPA tem autonomia para compor e organizar o trabalho natildeo haacute um

modelo a ser seguido o que constitui um desafio agraves comissotildees que obrigatoriamente devem ter

representantes dos corpos docentes discente teacutecnico-administrativo e inclusive da comunidade

externa da sociedade civil A integraccedilatildeo e sintonia desta equipe composta por atores vinculados a

diferentes niacuteveis da instituiccedilatildeo eacute um eixo de intervenccedilatildeo do psicoacutelogo escolar que pode promover o

desenvolvimento da equipe de trabalho por meio da discussatildeo e definiccedilatildeo coletiva de funccedilotildees

mediar a negociaccedilatildeo de interesses e perspectivas diferentes auxiliar na escolha e elaboraccedilatildeo de

estrateacutegias e instrumentos de avaliaccedilatildeo que considerem tanto as questotildees subjetivas quanto as

objetivas

242

6 Poliacuteticas puacuteblicas

Quando se adota uma compreensatildeo mais abrangente acerca dos fatores envolvidos na

qualidade dos processos educativos afastando-se de uma posiccedilatildeo reducionista e individualizada

dos fenocircmenos e dos problemas fica evidente a importacircncia do psicoacutelogo escolar conhecer se

aprofundar e refletir sobre as poliacuteticas puacuteblicas educacionais que tendo origem externa agrave IES

impactam sua realidade diaacuteria Nesse sentido um eixo recente de intervenccedilatildeo dos psicoacutelogos

escolares eacute junto aos complexos processos de mudanccedila desencadeados pelas poliacuteticas puacuteblicas

Entre a idealizaccedilatildeo e planejamento governamental e a real concretizaccedilatildeo das poliacuteticas

puacuteblicas educativas existe uma distacircncia pois que a implantaccedilatildeo destas perpassa por resistecircncias

representaccedilotildees e crenccedilas dos atores institucionais a quem cabe concretizaacute-las Por essa razatildeo neste

eixo de intervenccedilatildeo o psicoacutelogo escolar pode instigar a reflexatildeo sobre as poliacuteticas sua pertinecircncia

coerecircncia e relevacircncia para a IES aleacutem de trabalhar com a inseguranccedila diante do novo a

resistecircncia a mudanccedila e o incentivo agrave criaccedilatildeo de formas diferenciadas e singulares de implantar as

poliacuteticas

O objetivo eacute contribuir para que elas se configurem em mudanccedilas inovadoras criativas e

efetivamente favorecedoras de resultados positivos que coadunados agrave missatildeo da IES e ao seu

compromisso social cumpram a ampla funccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior na formaccedilatildeo de cidadatildeos e de

profissionais competentes e comprometidos com a transformaccedilatildeo social Conforme esclarece

Martiacutenez (2007) a promoccedilatildeo de mudanccedilas na subjetividade social da IES eacute um dos eixos de

trabalho do psicoacutelogo escolar

no entanto quando falamos em um sentido mais amplo do processo de implantaccedilatildeo de

poliacuteticas educacionais e de fato em muitos casos de processos inovadores o papel do

psicoacutelogo escolar pode-se expressar de formas muito diversas contribuindo para adequar a

poliacutetica proposta agraves condiccedilotildees especiacuteficas da escola identificando barreiras ao processo de

mudanccedila e promovendo estrateacutegias para sua superaccedilatildeo contribuindo para os processos de

esclarecimento e envolvimento em relaccedilatildeo aos objetivos a serem alcanccedilados e muitas

outras (p 115)

A efetiva implantaccedilatildeo de novas poliacuteticas e a possibilidade de serem geradoras de

transformaccedilatildeo natildeo prescinde do envolvimento dos atores da forma como a percebem e

compreendem e inclusive do entendimento de que algo pode ou natildeo ser mudado Dessa maneira

o psicoacutelogo escolar de posse de seu conhecimento sobre a instituiccedilatildeo seus atores e suas concepccedilotildees

predominantes bem como sobre a afinidade da nova poliacutetica com os valores coletivamente

partilhados poderaacute auxiliar na mobilizaccedilatildeo dos atores em prol de mudanccedilas que de fato

potencializem a qualidade do trabalho profissional e consequentemente a formaccedilatildeo dos

estudantes

Uma poliacutetica puacuteblica em que a atuaccedilatildeo do psicoacutelogo escolar se mostra relevante eacute por

exemplo relativas agrave educaccedilatildeo inclusiva Assim como poliacuteticas de outras naturezas esta natildeo traz

243

orientaccedilotildees diretivas ao contraacuterio apresenta as diretrizes da educaccedilatildeo especial na perspectiva da

inclusatildeo e deixa a cargo da instituiccedilatildeo operacionalizaacute-la Tendo como referencial as diretrizes da

referida poliacutetica e os pressupostos da ciecircncia psicoloacutegica acerca do desenvolvimento humano o

psicoacutelogo escolar pode envolver-se na revisatildeo das concepccedilotildees de educaccedilatildeo especial de inclusatildeo e

de desenvolvimento compartilhadas pelos professores evidenciado relaccedilotildees dialoacutegicas e

bidirecionais na interaccedilatildeo dos alunos com o contexto resignificaccedilatildeo do espaccedilo de sala de aula

como um espaccedilo de diversidade humana e de expressatildeo da singularidade humana desconstruccedilatildeo de

crenccedilas relacionadas agrave deficiecircncia e agrave anormalidade que constroem barreiras que se interpotildeem nos

processos intersubjetivos orientaccedilatildeo e construccedilatildeo com o corpo pedagoacutegico de condiccedilotildees e suporte

para o desenvolvimento do aluno com necessidades especiais dentro de suas potencialidades e

outras

A atual poliacutetica de educaccedilatildeo inclusiva eacute uma proposta inovadora que exige o

redimensionamento das instituiccedilotildees educativas e a revisatildeo de suas concepccedilotildees valores praacuteticas e

formas de organizaccedilatildeo Envolvendo-se com a implantaccedilatildeo desta poliacutetica o psicoacutelogo escolar estaraacute

investindo na construccedilatildeo de uma cultura inclusiva de sucesso e de respeito agrave diversidade que estaacute

intimamente relacionada agrave possibilidade de construir uma sociedade democraacutetica ancorada nos

ideais de respeito justiccedila e igualdade

DIMENSAtildeO 2 ndash GESTAtildeO ACADEcircMICA

1 Projetos Pedagoacutegicos de Cursos

Enquanto a proposta poliacutetico-pedagoacutegica eacute o eixo norteador da IES como um todo o

Projeto Pedagoacutegico de Curso (PPC) eacute que orienta o funcionamento dos cursos oferecidos pela

instituiccedilatildeo Aleacutem dos princiacutepios gerais jaacute contidos no PDI (missatildeo filosofia e objetivos) o PPC

especiacutefico a cada curso oferecido pela instituiccedilatildeo traz de forma detalhada as bases pedagoacutegicas

que regem sua estrutura organizaccedilatildeo e funcionamento Nele estatildeo presentes os pressupostos

conceituais teoacutericos e metodoloacutegicos e as concepccedilotildees de ensino de aprendizagem e de

desenvolvimento de curriacuteculo de competecircncias e habilidades de avaliaccedilatildeo rendimento e sucesso

acadecircmico bem como a definiccedilatildeo dos perfis de egressos esperados para os cursos todos elementos

centrais na sustentaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do curso

O PPC traz tambeacutem o desenho curricular e o fluxo de disciplinas os quais indicam a

concepccedilatildeo ndash se progressista ou tradicional ndash que baliza a estruturaccedilatildeo do curso Curriacuteculos

organizados por moacutedulos mais flexiacuteveis que contemplem disciplinas optativas capazes de orientar a

formaccedilatildeo dos estudantes para aleacutem das questotildees teacutecnicas satildeo mais abrangentes e dinacircmicos do que

aqueles organizados com base em preacute-requisitos O PPC apresenta ainda a distribuiccedilatildeo da carga

horaacuteria que explicita a concepccedilatildeo da instituiccedilatildeo sobre a relaccedilatildeo teoria e praacutetica a depender de onde

se localizam e como se organizam os estaacutegios na trajetoacuteria formativa

244

Sendo o instrumento que orienta a accedilatildeo pedagoacutegica e a formaccedilatildeo dos alunos eacute fundamental

que o PPC integre de forma singularizada os princiacutepios norteadores da IES e as orientaccedilotildees das

Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) para o curso adquirindo uma identidade diante dos

demais cursos da mesma aacuterea no paiacutes Para tanto o psicoacutelogo escolar pode contribuir com a equipe

pedagoacutegica no estudo criacutetico das diretrizes seus princiacutepios conceitos e orientaccedilotildees as quais

precisam ser significadas por cada instituiccedilatildeo e incorporadas ao projeto do curso Ainda que sejam

documentos legais de orientaccedilatildeo as DCNs apresentam lacunas e contradiccedilotildees que precisam ser

respondidas e interpretadas pela equipe pedagoacutegica agrave luz das convicccedilotildees poliacuteticas ideoloacutegicas e

sociais do papel daquele curso na formaccedilatildeo de profissionais e na construccedilatildeo da cidadania

No acircmbito da gestatildeo acadecircmica uma possibilidade de atuaccedilatildeo do psicoacutelogo escolar refere-

se entatildeo ao trabalho com os membros da equipe pedagoacutegica ndash coordenadores e professores em

especial ndash na anaacutelise revisatildeo e reestruturaccedilatildeo dos PPCs Neste eixo de intervenccedilatildeo importa

convidar a equipe a refletir e problematizar a funccedilatildeo social do curso o perfil de egresso que se

pretende formar a pertinecircncia da estrutura curricular e das atividades pedagoacutegicas previstas no

PPC para possibilitar a construccedilatildeo desse perfil o desenvolvimento de desenhos curriculares

diferenciados que atendam agraves especificidades dos alunos a qualificaccedilatildeo e adequaccedilatildeo do perfil dos

docentes ao cumprimento dos objetivos pedagoacutegicos estabelecidos da instituiccedilatildeo e da regiatildeo aleacutem

de outros aspectos O Projeto Pedagoacutegico do Curso deve entatildeo ser pensado de forma inteira

orgacircnica com vistas agrave construccedilatildeo de sua identidade que por sua vez permitiraacute a formaccedilatildeo do

profissional desejado

Na intervenccedilatildeo junto aos PPCs eacute particularmente importante para o psicoacutelogo escolar

conhecer as representaccedilotildees que os coordenadores e professores tecircm dos conceitos que satildeo basilares

a cada projeto agrave formaccedilatildeo acadecircmica dos estudantes As concepccedilotildees que se tem acerca de um

fenocircmeno satildeo forjadas na articulaccedilatildeo de um conjunto de elementos como o conhecimento

cientiacutefico e as experiecircncias de vida que cada professor tem sobre ele a construccedilatildeo histoacuterica e

cultural do fenocircmeno os valores crenccedilas mitos e preconceitos a ele relacionados dos sentidos

socialmente partilhados pelo grupo do qual o professor faz parte Investigar estas concepccedilotildees exige

portanto enveredar pela complexa rede de significados que se associam a elas e as sustentam

Algumas das representaccedilotildees relevantes a serem investigadas pelo psicoacutelogo escolar satildeo a

concepccedilatildeo de educaccedilatildeo de ensino de aprendizagem e de desenvolvimento de curriacuteculo e

avaliaccedilatildeo da relaccedilatildeo professor-aluno de criatividade de necessidades especiais e tantas outras Em

relaccedilatildeo ao desenvolvimento humano por exemplo cabe investigar se ele eacute entendido como um

fenocircmeno marcadamente bioloacutegico e decorrente das maturaccedilotildees orgacircnicas sobre o qual as accedilotildees

humanas tecircm pouca ou nenhuma influecircncia como reflexo da accedilatildeo do meio fiacutesico e social que tecircm o

poder de direcionaacute-lo ou ainda se eacute assumido como um processo fruto das interaccedilotildees dialeacuteticas

entre aspectos bioloacutegicos sociais e culturais que influenciam as trajetoacuterias de desenvolvimento Os

professores filiam-se portanto a concepccedilotildees reducionistas de desenvolvimento ou a concepccedilotildees

245

sistecircmicas e contextualizadas Vivenciam contradiccedilotildees entre estas filiaccedilotildees Eles tecircm consciecircncia

de suas concepccedilotildees e o quanto a sua accedilatildeo pedagoacutegica estaacute associada a elas Percebem que a forma

de entender o desenvolvimento implica no tipo e na qualidade do investimento que imprimem no

processo de ensino e aprendizagem

O trabalho do psicoacutelogo escolar em investigar e conscientizar os atores acerca das

concepccedilotildees que satildeo subjacentes agraves suas praacuteticas e que as orientam deve ocorrer diariamente nos

espaccedilos relacionais nos quais estas concepccedilotildees se manifestam tanto de forma expliacutecita quanto

impliacutecita Dessa maneira espaccedilos frutiacuteferos satildeo os momentos de coordenaccedilatildeo e planejamento

pedagoacutegico as reuniotildees de coordenadores de cursos bem como em espaccedilos informais de

interlocuccedilatildeo como a sala de professores as conversas de corredores e etc Em todas estas

situaccedilotildees a intervenccedilatildeo do psicoacutelogo escolar estaacute menos associada ao espaccedilo fiacutesico e social

concreto e muito mais agrave sua clareza e intencionalidade na promoccedilatildeo de processos de

conscientizaccedilatildeo dos atores institucionais em relaccedilatildeo

Outro eixo de intervenccedilatildeo recente dos psicoacutelogos escolares na Educaccedilatildeo Superior diz

respeito ao desenvolvimento e expressatildeo da criatividade a qual pode se referir ao aluno os

professores e agrave IES Assim algumas possibilidades de trabalho satildeo junto aos professores

investigaccedilatildeo das barreiras percebidas pelos professores ao desenvolvimento de habilidades

criativas conscientizaccedilatildeo e modificaccedilatildeo das compreensotildees que os professores tem acerca da

criatividade as quais satildeo muitas vezes equivocadas desenvolvimento de estrateacutegias e metodologias

de ensino criativo Em relaccedilatildeo agrave IES especialmente no que tange os projetos pedagoacutegicos de curso

a inclusatildeo formal da criatividade como um objetivo a ser alcanccedilado no decorrer do curso a opccedilatildeo

por desenhos curriculares flexiacuteveis voltadas para a construccedilatildeo e natildeo transmissatildeo de conhecimento

previsatildeo e investimento em estrateacutegias diferenciadas de ensino e de avaliaccedilatildeo

2 Desenvolvimento e Avaliaccedilatildeo por Competecircncias

Seguindo as atuais bases contidas nas Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos

superiores a formaccedilatildeo dos estudantes se orienta pela ecircnfase no desenvolvimento de competecircncias

que subsidiem a construccedilatildeo do perfil profissional previsto para cada curso oferecido pela

instituiccedilatildeo Na perspectiva da organizaccedilatildeo pedagoacutegica os cursos superiores orientados pelo

Curriacuteculo Miacutenimo valorizaram histoacuterica e tradicionalmente a ecircnfase na aquisiccedilatildeo de

conhecimento e de habilidades teacutecnicas que garantissem a capacitaccedilatildeo do futuro profissional

Imprimindo avanccedilos significativos agrave organizaccedilatildeo pedagoacutegica dos cursos as atuais Diretrizes

Curriculares Nacionais orientam a formaccedilatildeo de perfis profissionais ancorados no desenvolvimento

de competecircncias consideradas mais adequadas ao exerciacutecio profissional De forma geral as

diretrizes de cada aacuterea trazem as competecircncias gerais e habilidades especiacuteficas que devem compor

o perfil de egresso

246

Consoante a estas orientaccedilotildees o desenvolvimento de competecircncias eacute o motor do processo

de ensino e aprendizagem que natildeo mais se sustenta na exclusiva aquisiccedilatildeo de conteuacutedos mas

sobretudo no desenvolvimento de recursos variados que podem ser mobilizados diante de uma

situaccedilatildeo Nesta perspectiva eacute oportuno ao psicoacutelogo escolar impulsionar a discussatildeo sobre a

construccedilatildeo do perfil profissional do egresso com base no desenvolvimento de competecircncias o qual

estando essencialmente ancorado no desenvolvimento humano eacute entendido para aleacutem do domiacutenio

de conteuacutedos e habilidades especiacuteficas

Pela via da reflexatildeo acerca das competecircncias e sua relaccedilatildeo com o desenvolvimento

humano o psicoacutelogo escolar pode ampliar as reflexotildees e problematizaccedilotildees acerca da filiaccedilatildeo dos

atores a concepccedilotildees tecnicistas ou concepccedilotildees emancipatoacuterias de educaccedilatildeo No ponto de vista dos

professores mediadores principais da formaccedilatildeo acadecircmica qual eacute a funccedilatildeo da educaccedilatildeo em niacutevel

superior Produzir conhecimentos potencialmente transformadores da realidade social e formar

cidadatildeos e profissionais para a vida em sociedade em referecircncia agrave funccedilatildeo eacutetico-poliacutetica da

Educaccedilatildeo Superior que consiste na democratizaccedilatildeo e no aprofundamento dos valores puacuteblicos Ou

produzir conhecimentos funcionais e instrumentais para qualificaccedilatildeo teacutecnica da matildeo de obra como

referecircncia agrave funccedilatildeo teacutecnico-burocraacutetica que se assenta na satisfaccedilatildeo das necessidades do mercado

Assumindo neste trabalho que compete agrave Educaccedilatildeo Superior favorecer o desenvolvimento

de habilidades e tambeacutem contribuir para a formaccedilatildeo de cidadatildeos eacuteticos e comprometidos com os

valores democraacuteticos e a defesa dos direitos humanos a formaccedilatildeo dos estudantes natildeo pode se

basear apenas no desenvolvimento de competecircncias teacutecnicas Eacute preciso investir no

desenvolvimento de caracteriacutesticas que expressem persistecircncia forccedila de vontade flexibilidade e

capacidade de persuasatildeo de posturas que evidenciem o compromisso com escolhas eacuteticas

condizentes com valores de justiccedila igualdade e respeito agrave diversidade de atitudes de autonomia

iniciativa lideranccedila planejamento entre muitas outras competecircncias

Entretanto modificar a racionalidade tecnicista e conteudista predominante nas formaccedilotildees

em niacutevel superior requer muitos esforccedilos pois a construccedilatildeo de algo novo natildeo se daacute apenas a partir

de orientaccedilotildees legais mas sobretudo pelo envolvimento ativo dos atores Mais do que uma

mudanccedila formal na estruturaccedilatildeo pedagoacutegica dos cursos a formaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo por competecircncias

requerem que sejam impressas mudanccedilas ao niacutevel das concepccedilotildees das interlocuccedilotildees e das accedilotildees

dos atores institucionais o que constitui importante espaccedilo de trabalho para o psicoacutelogo escolar

com vistas a promover tais mudanccedilas no processo de ensino e aprendizagem

De atributos e qualificaccedilotildees especiacuteficas que habilitavam os sujeitos a lidar com as

atividades profissionais a noccedilatildeo de competecircncia engloba atualmente vaacuterios aspectos do

desenvolvimento humano (cognitivos motores afetivos relacionais etc) que podem e devem ser

mobilizados nas situaccedilotildees Nesta perspectiva dois aspectos satildeo relativamente importantes quando

se tem como referecircncia processos formativos baseados no desenvolvimento de competecircncias

contribuir para que os estudantes reconheccedilam construam e se apropriem de recursos diversos

247

(conhecimentos cientiacuteficos e teacutecnicos associados a uma aacuterea habilidades valores saberes praacuteticos

e da experiecircncia de vida esquemas cognitivos afetos caracteriacutesticas pessoais etc) e para que

sejam capazes de mobilizaacute-los com pertinecircncia na situaccedilatildeo A ecircnfase tradicional na aquisiccedilatildeo de

conhecimento e no desenvolvimento de habilidades cognitivas passam a dividir espaccedilo com outros

recursos que precisam ser igualmente apropriados pelos sujeitos para que possam agir de maneira

competente

Com base nessa noccedilatildeo o objetivo do processo de ensino orientado para o desenvolvimento

de competecircncias natildeo eacute gerar produtos e resultados prontos acabados e quantificaacuteveis ao contraacuterio

o seu sentido estaacute na valorizaccedilatildeo do processo na construccedilatildeo de trajetoacuterias alternativas na

reinterpretaccedilatildeo de posturas e accedilotildees habituais na ressignificaccedilatildeo de escolhas Entendida nesta

perspectiva a construccedilatildeo de competecircncias traz alguns desafios aos membros da equipe pedagoacutegica

que precisam repensar o processo de ensino e de avaliaccedilatildeo aleacutem de que em muitos casos

precisam trabalhar o seu proacuteprio aperfeiccediloamento Abre-se assim um novo espaccedilo para a

intervenccedilatildeo do psicoacutelogo escolar que eacute o de assessorar os professores e coordenadores na

apropriaccedilatildeo da noccedilatildeo ampliada de competecircncias e tambeacutem no seu desenvolvimento de forma a

aprimorar o seu trabalho e consequentemente a qualidade da formaccedilatildeo dos estudantes

Em virtude da sua trajetoacuteria de estudo de pesquisa e de aprofundamento em um campo do

saber o professor da Educaccedilatildeo Superior deteacutem um conhecimento bastante especiacutefico sobre

determinada aacuterea entretanto o domiacutenio de tal conhecimento natildeo eacute garantia de sucesso no exerciacutecio

da docecircncia especialmente uma vez que o processo de ensino natildeo se sustenta apenas na

transmissatildeo de conhecimento e o processo de aprendizagem natildeo se limita agrave sua incorporaccedilatildeo Esse

fato eacute particularmente pertinente quando se toma como referecircncia a noccedilatildeo de competecircncias como

articulaccedilatildeo de recursos de diferentes naturezas Dessa maneira um dos desafios impostos aos

professores em decorrecircncia da atual formaccedilatildeo baseada em competecircncias eacute o de eles proacuteprios

desenvolverem competecircncias que lhe auxiliem a socializar o conhecimento em sala de aula e

mediar a formaccedilatildeo discente

Alguns caminhos satildeo adquirir ou aprimorar habilidades de exposiccedilatildeo criativa de ideias de

argumentaccedilatildeo e persuasatildeo movimentar-se com mais espontaneidade pela sala usar de forma

diferente os recursos audio-visuais utilizar dinacircmicas de grupo estudos de casos portfolio e

atividades praacuteticas A competecircncia do professor em mediar o aprendizado discente natildeo deve ser

presumida em razatildeo do seu conhecimento em uma aacuterea como se tivesse naturalmente habilidades

de socializaccedilatildeo e mediaccedilatildeo do saber Nestes casos desconsiderar a necessidade de trabalhar pelo

desenvolvimento dos membros da equipe pedagoacutegica pode deixar que a atuaccedilatildeo destes

profissionais se sustente em teacutecnicas e meacutetodos repetitivos e reprodutivos tatildeo difundidos e

incorporados

Do ponto de vista da atuaccedilatildeo do psicoacutelogo escolar o trabalho em prol do desenvolvimento

de competecircncias discentes estaacute muito vinculado agrave qualificaccedilatildeo da equipe pedagoacutegica que teraacute

248

melhores condiccedilotildees de favorecer a formaccedilatildeo dos seus alunos Por meio da ressignificaccedilatildeo e

construccedilatildeo das suas proacuteprias competecircncias os professores tecircm a oportunidade de perspectivar

elementos que podem ser relevantes para o desenvolvimento de seus alunos

Nessa direccedilatildeo eacute particularmente importante trabalhar com os professores e coordenadores

na revisatildeo de suas crenccedilas e concepccedilotildees sobre as competecircncias normalmente ancoradas no saber-

fazer na identificaccedilatildeo de suas proacuteprias potencialidades e fragilidades na anaacutelise das suas

experiecircncias de sucesso como forma de identificar elementos a serem recuperados em outras

situaccedilotildees na experimentaccedilatildeo de estrateacutegias diferenciadas que podem ser adotadas Para realizar

essa assessoria o psicoacutelogo escolar pode trabalhar com os coordenadores e professores no

planejamento da aula de forma que contemple tentativas de modificaccedilatildeo observar as aulas e na

sequecircncia analisaacute-la com o docente implementar grupos de estudo e reflexatildeo nos quais os

professores possam experimentar novas metodologias e estrateacutegias em um espaccedilo coletivo de

aprendizado

Ao compreender que a formaccedilatildeo dos sujeitos-alunos se constitui a partir de uma teia

complexa de recursos objetivos e subjetivos expliacutecitos e impliacutecitos a escolha dos procedimentos e

instrumentos avaliativos deveraacute explorar a complexidade e multiplicidade de sentidos que os

estudantes atribuem agrave aprendizagem ao desenvolvimento de competecircncias enfim ao seu processo

formativo Conforme alerta Marinho-Arauacutejo (2004) o ldquodesenvolvimento de competecircncias como

uma estrateacutegia de construccedilatildeo do perfil profissional apresenta-se como ferramenta bastante uacutetil agrave

complementaccedilatildeo da formaccedilatildeo na educaccedilatildeo superior mas em contrapartida oferece alguns

desafios especialmente quanto agrave avaliaccedilatildeordquo (p 93) Os modelos tradicionais de avaliaccedilatildeo que

buscam mensurar resultados prontos e acabados natildeo datildeo conta de avaliar a dinacircmica do

desenvolvimento de competecircncias

Uma alternativa diferenciada dos modelos de avaliaccedilatildeo comumente empregados refere-se agrave

valorizaccedilatildeo da dimensatildeo qualitativa da avaliaccedilatildeo dos sentidos subjetivos que expressam como os

alunos estatildeo aprendendo Trata-se por exemplo de adotar estrateacutegias avaliativas que autorizem a

manifestaccedilatildeo dos sentidos subjetivos construiacutedos nas e pelas situaccedilotildees de aprendizagem como

ldquoainda natildeo consigordquo ldquonatildeo sei fazer sozinhordquo ldquodessa forma eacute mais difiacutecilrdquo ldquosinto-me incapaz de

fazer issordquo ldquopreciso melhorarrdquo e que subsidiem a reformulaccedilatildeo do processo de ensino e de

aprendizagem

Nessa perspectiva a intenccedilatildeo da avaliaccedilatildeo de competecircncias natildeo eacute quantificar a

aprendizagem ou medir a eficiecircncia de um curso mas focar nos sentidos que satildeo construiacutedos nos

processos intersubjetivos e possibilitar sua ressignificaccedilatildeo pela reconfiguraccedilatildeo dos contextos de

aprendizagem de forma que se tornem mais favoraacuteveis agrave construccedilatildeo de competecircncias necessaacuterias

ao perfil profissional que se deseja formar (Dias Sobrinho 2002) Natildeo se avalia para classificar

alunos ou para comparaacute-los entre si mas para repensar o processo educativo para oxigenar o

processo de ensino-aprendizagem

249

3 Inclusatildeo e Diversidade

Nos uacuteltimos anos a temaacutetica da diversidade tem se constituiacuteda como ponto frequente de

discussatildeo em diferentes contextos sociais e particularmente no espaccedilo educativo Fatores

relacionados a fenocircmenos soacutecio-histoacutericos como a crescente ampliaccedilatildeo da oportunidade de acesso agrave

educaccedilatildeo a diferenciaccedilatildeo do puacuteblico que ingressa nas universidades em termos de caracteriacutesticas

pessoais soacutecio-econocircmicas motivaccedilotildees e expectativas as novas poliacuteticas de inclusatildeo para pessoas

com necessidades especiais e a luta por uma educaccedilatildeo para todos estatildeo no centro destas discussotildees

Em meio a este cenaacuterio as questotildees relativas agrave diversidade humana no contexto educativo tecircm

ganhado relevacircncia especial por estarem relacionadas agrave possibilidade efetiva de construir uma

sociedade democraacutetica que se ancore nos ideais de respeito justiccedila e igualdade

Como decorrecircncia dessa diversidade que eacute caracteriacutestica do ser humano o professor no

espaccedilo de sala de aula se depara com o desafio de trabalhar com estudantes com diferentes

histoacuterias perfis necessidades e formas de aprender Entretanto a despeito do crescente

reconhecimento da diversidade humana e sobretudo da necessidade de respeitaacute-la e acolhecirc-la a

praacutetica educativa tem sido construiacuteda sobre as ideias de homogeneidade padronizaccedilatildeo e

normatizaccedilatildeo Dessa maneira uma das principais barreiras agrave consolidaccedilatildeo de praacuteticas inclusivas

refere-se agrave concepccedilatildeo do processo educativo como um processo estandardizado e voltado para um

modelo ideal de aluno O desafio instaurado ao psicoacutelogo escolar eacute o de auxiliar os membros da

equipe pedagoacutegica a modificarem a compreensatildeo cerca das individualidades e caracteriacutesticas

particulares a cada aluno sejam elas de ordem bioloacutegica psicoloacutegica econocircmica cultural ou

social Eacute preciso mudanccedilas na forma de compreender a diferenccedila a qual por sua vez eacute construiacuteda

e (re)significada nas relaccedilotildees sociais

Os caminhos para uma educaccedilatildeo inclusiva ancorada na diversidade humana passam

necessariamente por um processo de reflexatildeo e revisatildeo das representaccedilotildees sociais dos conceitos

institucionalizados e das praacuteticas cristalizadas Nessa perspectiva a inclusatildeo escolar se configura

como um feacutertil e profiacutecuo espaccedilo para a intervenccedilatildeo do psicoacutelogo escolar por meio da assessoria ao

professor para a valorizaccedilatildeo da singularidade dos alunos como forma de potencializar o

desenvolvimento em suas muacuteltiplas possibilidades

Trabalhar em relaccedilatildeo agrave inclusatildeo escolar natildeo eacute apenas e nem essencialmente uma questatildeo

teacutecnica O essencial natildeo eacute estar ou natildeo preparado tecnicamente Isso sem duacutevida eacute

importante poreacutem secundaacuterio em relaccedilatildeo ao essencial o compromisso com os mais

desfavorecidos o querer trabalhar para transformar essa situaccedilatildeo (Martiacutenez 2005 p 112)

A contribuiccedilatildeo do psicoacutelogo escolar nessa transformaccedilatildeo perpassa a exploraccedilatildeo com o

professor do significado que ele atribui agrave inclusatildeo a maneira particular como lida com a diferenccedila

o seu entendimento do que seja normal deficiente e patoloacutegico da sua clareza sobre a natureza

interativa do desenvolvimento etc Mais do que auxiliar na elaboraccedilatildeo de meacutetodos e recursos

diferenciados o sentido da atuaccedilatildeo do psicoacutelogo escolar eacute mediar a circulaccedilatildeo das representaccedilotildees

250

valores estigmas anguacutestias e preconceitos que perpassam a relaccedilatildeo do docente com o processo de

inclusatildeo Novamente o papel do psicoacutelogo escolar eacute mobilizar os sentidos construiacutedos ao longo da

vida dos sujeitos e favorecer a conscientizaccedilatildeo dos atores acerca desses sentidos e sua

ressignificaccedilatildeo

A sala de aula eacute indiscutivelmente um espaccedilo de diversidade que participa da constituiccedilatildeo

da subjetividade dos estudantes Criar situaccedilotildees de aprendizagem que evidenciem a singularidade

de cada aluno suas habilidades pessoais estilos de aprendizagem interesses e motivaccedilotildees

necessidades particulares curiosidades e formas de expressatildeo satildeo formas proveitosas do professor

circular sentidos e significados relacionados agrave diversidade promover a inclusatildeo e favorecer o

desenvolvimento de seus estudantes em suas inuacutemeras possibilidades

Outro desdobramento do processo macro-sistecircmico de inclusatildeo refere-se agraves possiacuteveis

modificaccedilotildees que podem ocorrer no processo de ensino-aprendizagem para potencializar o

desenvolvimento dos alunos com necessidades educativas especiais os quais em virtude de

caracteriacutesticas e necessidades especiacuteficas requerem recursos pedagoacutegicos e metodologias

diferenciadas De acordo com a LDB (1996) os sistemas de ensino devem garantir curriacuteculos

meacutetodos teacutecnicas recursos educativos e organizaccedilatildeo especiacuteficos que atendam agraves necessidades

especiacuteficas destes alunos

Na perspectiva da educaccedilatildeo inclusiva o curriacuteculo eacute considerado uma ferramenta que pode

ser alterada para favorecer o desenvolvimento pessoal e social dos alunos possibilitando

adequaccedilotildees de maior ou de menor expressividade de acordo com as necessidades especiacuteficas do

aluno Dessa forma as adaptaccedilotildees curriculares natildeo satildeo propostas universais mas sim alternativas

pensadas a partir de cada situaccedilatildeo particular Com base nestas recomendaccedilotildees um eixo de

intervenccedilatildeo do psicoacutelogo escolar na promoccedilatildeo da inclusatildeo eacute tambeacutem na assessoria aos

coordenadores e professores na avaliaccedilatildeo e na definiccedilatildeo das adequaccedilotildees curriculares mais

pertinentes a cada caso

Ainda no acircmbito da inclusatildeo as medidas de apoio agrave ampliaccedilatildeo do acesso e permanecircncia na

Educaccedilatildeo Superior de grupos sociais tradicionalmente excluiacutedos conforme respaldas pelas

poliacuteticas de accedilotildees afirmativas eacute um campo de intervenccedilatildeo para o psicoacutelogo escolar Conforme jaacute

destacado por Sampaio (2009) accedilotildees voltadas para a permanecircncia dos estudantes de origem

popular natildeo se limitam a questotildees de natureza socioeconocircmica mas tambeacutem e igualmente

importante a accedilotildees pedagoacutegicas e acadecircmicas

Nessa direccedilatildeo os psicoacutelogos escolares podem criar espaccedilos de reflexatildeo e discussatildeo com a

equipe pedagoacutegica acerca da forma como as poliacuteticas afirmativas se concretizam no cotidiano das

instituiccedilotildees e das relaccedilotildees interpessoais Questotildees a serem debatidas referem-se agrave valorizaccedilatildeo dos

saberes que esses alunos trazem o conhecimento da sua trajetoacuteria escolar e os sentidos que

atribuem agrave formaccedilatildeo a identificaccedilatildeo de elementos que podem potencializar o sucesso acadecircmico

entre outras

251

4 Atenccedilatildeo agrave sauacutede docente

O professor eacute o principal agente do processo educacional eacute o mediador central dos

processos de aprendizagem e de desenvolvimento o que justifica os diferentes esforccedilos que tecircm a

intenccedilatildeo promover o seu desenvolvimento profissional Entretanto a qualidade do trabalho

pedagoacutegico docente natildeo depende apenas da maior conscientizaccedilatildeo acerca do seu papel na formaccedilatildeo

dos estudantes e das muacuteltiplas estrateacutegias que podem adotar em prol do desenvolvimento e da

aprendizagem de seus alunos depende tambeacutem do seu bem-estar da sua sauacutede psiacutequica

A esse respeito estudos tecircm mostrado que satildeo frequentes as queixas que denunciam

situaccedilotildees de mal-estar docente o qual eacute descrito a partir do termo inglecircs burnout e que designa os

professores cansados abatidos sem vontade de ensinar (Almeida amp Figueira 1998 Benevides-

Pereira 2002 Codo amp Vasques-Menezes 1999) A siacutendrome de burnout eacute multidimensional e

envolve (a) exaustatildeo emocional a partir da qual os professores sentem que natildeo conseguem se

implicar afetivamente no trabalho e dar mais de si mesmos (b) despersonalizaccedilatildeo em que

desenvolvem sentimentos e atitudes negativas em relaccedilatildeo aos alunos e (c) falta de envolvimento

pessoal no trabalho Ao comprometer a sauacutede do professor o burnout compromete tambeacutem a

qualidade do ensino do aprendizado dos alunos e da formaccedilatildeo acadecircmica Dessa maneira ao

focalizar o processo de ensino-aprendizagem eacute imprescindiacutevel que o psicoacutelogo escolar atente-se

para a sauacutede do corpo docente

Diante entatildeo da intenccedilatildeo de promover a sauacutede mental dos professores da IES o psicoacutelogo

escolar deve buscar identificar fatores estruturais e institucionais que comprometem o trabalho

docente e tambeacutem explorar sua satisfaccedilatildeo e realizaccedilatildeo com o trabalho os sentimentos e ideias que

atribuem a ele agrave qualidade do seu investimento afetivo e as contradiccedilotildees que percebe entre as suas

expectativas de vinculaccedilatildeo e o seu real envolvimento (Oliveira amp Marinho-Arauacutejo 2009) Na

maioria das vezes o professor natildeo percebe o conflito que estaacute vivenciando entre o seu

compromisso profissional e a incapacidade de se vincular cabendo ao psicoacutelogo escolar investir na

conscientizaccedilatildeo desse conflito eminentemente subjetivo

Coerente agrave perspectiva preventiva e institucional de atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar na

Educaccedilatildeo Superior a intervenccedilatildeo relativa ao burnout docente difere da praacutetica terapecircutica ou

cliacutenica realizada em outros contextos A intervenccedilatildeo do psicoacutelogo escolar junto a esta siacutendrome

deve focalizar as contradiccedilotildees entre as caracteriacutesticas e necessidades dos sujeitos e as praacuteticas

institucionais evidenciando-as e natildeo ocultando-as como forma de possibilitar sua reestruturaccedilatildeo

Por exemplo o acuacutemulo de funccedilotildees docentes cientiacuteficas e administrativas eacute vivenciado de formas

diferentes pelos professores da IES sendo que alguns deles podem apresentar menor capacidade de

suportaacute-lo Na medida em que se entende que essa dificuldade eacute resultado da integraccedilatildeo de fatores

individuais particulares agraves caracteriacutesticas subjetivas do professor e tambeacutem da organizaccedilatildeo das

funccedilotildees pedagoacutegicas do planejamento das atividades e da flexibilidade institucional a intervenccedilatildeo

252

nesta situaccedilatildeo natildeo recairaacute somente sobre o professor em uma perspectiva individualizada de

entender os problemas mas tambeacutem sobre fatores macro-sistecircmicos

Responsabilizar-se e comprometer-se com a promoccedilatildeo da sauacutede mental dos docentes nesta

perspectiva institucional visa promover seu bem-estar minimizar o sofrimento gerado na interaccedilatildeo

com as caracteriacutesticas do contexto favorecer seu envolvimento com os alunos e potencializar o

aprendizado destes uacuteltimos

DIMENSAtildeO 3 ndash DESENVOLVIMENTO DO ESTUDANTE

1 Programas educativos

Historicamente a Psicologia Escolar se consolidou por suas intervenccedilotildees junto aos alunos

em uma perspectiva remediativa e individualizada orientada para a resoluccedilatildeo de problemas e

dificuldades apresentadas pelos estudantes Diferentemente orientando-se por uma perspectiva

preventiva e relacional que privilegia a construccedilatildeo de espaccedilos coletivos de reflexatildeo e valoriza a

circulaccedilatildeo dos sentidos subjetivos como estrateacutegia para mobilizar mudanccedilas as intervenccedilotildees

implementadas diretamente com os alunos a exemplo das intervenccedilotildees que integram as demais

dimensotildees de atuaccedilatildeo contempladas nesta proposta podem se desenvolver de outras maneiras

Os programas educativos elaborados e desenvolvidos com base nessa perspectiva de

atuaccedilatildeo podem ter diferentes objetivos se estruturar de formas diversas e abordar temaacuteticas tatildeo

variadas quanto sejam as possibilidades humanas Contudo a ideia central destes programas eacute a de

construir oportunidades que potencializem o desenvolvimento integral dos estudantes por meio da

reflexatildeo discussatildeo e ressignificaccedilatildeo de questotildees que perpassam a sua trajetoacuteria acadecircmica e

pessoal

A escolha do formato dos programas ndash workshop oficina palestra ndash depende dos objetivos

traccedilados os quais podem prezar pela reflexividade e pelas trocas intersubjetivas ou pela

transmissatildeo de informaccedilotildees Quanto aos temas a serem abordados eles devem ser de conteuacutedo

psicoloacutegico que se articulam ao desenvolvimento dos estudantes e seu processo formativo como

por exemplo autoconhecimento desenvolvimento da criatividade habilidades interpessoais uso de

drogas estresse gestatildeo do tempo e de conflitos desenvolvimento de competecircncias transversais

trabalho em equipe controle do estresse ansiedade frente aos trabalhos e provas e outros

Coadunando-se ao compromisso social da Educaccedilatildeo Superior com a formaccedilatildeo de pessoas

confiantes criativas autocircnomas social e eticamente responsaacuteveis o diferencial imprimido pela

Psicologia Escolar nos programas educativos eacute a criaccedilatildeo de redes de trocas de discussatildeo e de apoio

entre os estudantes que tenham o potencial de fomentar muacuteltiplas possibilidades de

desenvolvimento Em vez de focarem na adequaccedilatildeo aos padrotildees sociais na adaptaccedilatildeo a regras e

normas cristalizadas na sociedade e na aceitaccedilatildeo acriacutetica das exigecircncias que lhe satildeo direcionadas

os programas educativos podem focalizar a diversidade de escolhas na construccedilatildeo das trajetoacuterias de

253

desenvolvimento buscando que sejam mais condizentes com a histoacuteria pessoal e familiar dos

alunos suas crenccedilas convicccedilotildees e sobretudo com seus projetos de vida

Com base nesta perspectiva os programas educativos direcionados aos alunos adquirem

uma nova formataccedilatildeo O trabalho de orientaccedilatildeo profissional por exemplo desloca-se da

preocupaccedilatildeo com a escolha ldquocertardquo do curso e de uma carreira para a construccedilatildeo de projetos de

vida que entre outros elementos englobam a carreira profissional Aleacutem do mais os programas de

orientaccedilatildeo profissional que se preocupavam apenas com a anaacutelise do curriacuteculo do estudante para

seu encaminhamento a vagas de trabalho em uma perspectiva de adequaccedilatildeo aluno-vaga tambeacutem

podem vir a fazer esta anaacutelise em conjunto com os alunos (coletivamente inclusive) tornando-a

uma oportunidade deles identificarem suas potencialidades interesses afinidades e possiacuteveis

fragilidades (em uma perspectiva de exploraccedilatildeo do autoconhecimento) e muito especialmente em

reconhecer e aproveitar no proacuteprio espaccedilo formativo oportunidades de transformaacute-las e desenvolvecirc-

las

Seguindo nesta direccedilatildeo formativa outra accedilatildeo do psicoacutelogo escolar nestes programas

educativos eacute o de envolver-se com o desenvolvimento de competecircncias transversais que satildeo

valorizadas e requeridas no mundo do trabalho e que ampliam as possibilidades de uma inserccedilatildeo

bem sucedida dos estudantes O desenvolvimento de competecircncias discentes pode se concretizar

atraveacutes de projetos com este objetivo expliacutecito como workshops de desenvolvimento de

competecircncias comunicacionais e interpessoais estrateacutegias de estudo gestatildeo de conflitos ou podem

vir inseridos em outros programas como eacute o caso do voluntariado em accedilatildeo social e do apoio entre

pares

O voluntariado em accedilatildeo social diz respeito a projetos sociais elaborados pela IES para a

comunidade interna e externa com base em accedilotildees voluntaacuterias de estudantes Os alunos interessados

se inscrevem para participar do projeto e satildeo orientados e supervisionados pelo psicoacutelogo escolar e

pela equipe pedagoacutegica da instituiccedilatildeo no decorrer das atividades que desenvolvem As supervisotildees

satildeo espaccedilos para compartilhar as experiecircncias discutir o andamento das atividades fazer o

planejamento e trabalhar o desenvolvimento de competecircncias especiacuteficas como a comunicaccedilatildeo

trabalho em equipe tomada de decisatildeo

Uma possibilidade diferenciada de estruturaccedilatildeo dos programas eacute aquela em que eles se

organizam com base no apoio entre pares (peer counseling) ou seja programas nos quais

estudantes voluntaacuterios treinados e supervisionados pelos psicoacutelogos escolares ajudam outros

estudantes com problemas pessoais e acadecircmicos Nestes casos os psicoacutelogos escolares natildeo atuam

diretamente com os alunos com dificuldades tendo sua participaccedilatildeo alguns focos distintos e

complementares planejamento e conduccedilatildeo da formaccedilatildeo dos estudantes que iratildeo atuar nos

programas supervisatildeo regular para os alunos voluntaacuterios para que possam discutir e trabalhar

eventuais dificuldades e anguacutestias que surjam ao longo do processo de apoio aos colegas

intervenccedilatildeo em casos nos quais o apoio prestado pelos voluntaacuterios indica a necessidade urgente de

254

uma intervenccedilatildeo psicoloacutegica na perspectiva de uma intervenccedilatildeo em crise sistematizaccedilatildeo e anaacutelise

das principais dificuldades vivenciadas pelos estudantes e que motivam a busca de apoio bem

como da pertinecircncia das estrateacutegias adotadas para sanaacute-las as quais servem a niacutevel institucional

como indicadores da qualidade do serviccedilo oferecido pela IES

Exemplos de programas baseados no apoio entre pares planejados e coordenados pelo

psicoacutelogo escolar satildeo a Linha Telefocircnica de Apoio ao Aluno e o Programa de Acolhimento e

Integraccedilatildeo dos Calouros3 No primeiro caso trata-se de um programa de aconselhamento entre

pares facilitado por uma linha telefocircnica de apoio a alunos o qual tem como objetivo ajudar os

estudantes com dificuldades Por telefone estudantes voluntaacuterios da IES (vinculados ao curso de

Psicologia e a outras aacutereas) e especialmente formados e treinados para atuar no programa oferecem

apoio emocional e escuta ativa agravequeles que procuram ajuda para enfrentar suas dificuldades O

programa pode funcionar 24 horas ou nos horaacuterios nos quais os alunos relatam maior dificuldade

como no periacuteodo noturno ou no final de semana por exemplo

A recepccedilatildeo e acolhimento aos novos alunos tambeacutem satildeo accedilotildees que podem ser realizadas

pelos psicoacutelogos escolares ou podem ser por eles coordenadas nestas situaccedilotildees tecircm-se outro

exemplo de apoio entre pares no qual a funccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares estaacute mais vinculada agrave

formaccedilatildeo coletiva dos estudantes que iratildeo oferecer ajuda aos seus colegas Nos programas de

acolhimento a calouros alunos que jaacute estudam na IES (mentores) facilitam a transiccedilatildeo e integraccedilatildeo

dos receacutem-chegados ou seja estudantes mais avanccedilados nos cursos assumem um papel central no

acolhimento e acompanhamento dos novos colegas oferecendo uma atenccedilatildeo especializada e

sistemaacutetica com o objetivo de facilitar a integraccedilatildeo dos novos alunos no meio acadecircmico

Os mentores apoacutes receberem a formaccedilatildeo acompanham os ingressantes nos seus primeiros

dias na IES mostrando-os as instalaccedilotildees o campus e o uso que podem fazer dos serviccedilos

oferecidos Cada mentor tem um grupo de alunos sob seu acompanhamento devendo reunir-se

regularmente com ele durante o semestre

Tanto no caso da linha telefocircnica quanto do acolhimento aos calouros os alunos-mentores

participam de um processo de formaccedilatildeo especiacutefico que abordam temas diferenciados de acordo

com o programa no qual iratildeo atuar o papel e funccedilatildeo do mentor estrateacutegias para apoiar e intervir

junto aos alunos ingressantes e com dificuldades estrateacutegias de aconselhamento questotildees

relacionadas com a gestatildeo de conflitos exerciacutecios de facilitaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e integraccedilatildeo em

um novo grupo estilos de lideranccedila treino de assertividade e dinacircmicas de grupo qualidade da

escuta ativa A formaccedilatildeo dos mentores pode ser portanto realizada pelos psicoacutelogos escolares os

quais assumem a tarefa de mediar o desenvolvimento de competecircncias sociais e relacionais junto

aos mentores por meio de situaccedilotildees de estudo reflexatildeo coletiva e supervisatildeo

3 Em Portugal programas desta natureza satildeo identificados como Mentorado

255

A atuaccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares em programas de peer counselling eacute conforme

apresentado uma das possiacuteveis estrateacutegias que podem ser implantadas com base em um modelo

preventivo e institucional de atuaccedilatildeo pois simultaneamente oferece apoio e oportuniza o

desenvolvimento de diferentes agentes como os estudantes que estatildeo vivenciando alguma

dificuldade especiacutefica os que em virtude do ingresso em um novo e diferente contexto se

confrontam com desafios sentimentos e anguacutestias inesperados os estudantes veteranos que na sua

trajetoacuteria acadecircmica tecircm a oportunidade de trabalhar competecircncias de comunicaccedilatildeo de escuta de

suporte e de encaminhamento que os qualifica aleacutem da proacutepria instituiccedilatildeo que pode alcanccedilar niacuteveis

diferenciados de sucesso por oferecer suporte e espaccedilos distintos de formaccedilatildeo aos estudantes

Como resumem Pereira Vagos Santos Vasconcelos Monteiro Torres e cols (2010) o

peer counselling eacute uma estrateacutegia que traz benefiacutecios para todas as partes envolvidas a instituiccedilatildeo

os estudantes que procuram apoio e aqueles que oferecem ajuda

Por um lado as instituiccedilotildees conseguem oferecer uma alternativa aos serviccedilos profissionais

de aconselhamento a baixo custo Por outro lado os estudantes que procuram ajuda tecircm a

oportunidade de falar dos seus problemas num ambiente mais informal sem o estigma de

consultar um profissional Por fim os proacuteprios alunos apoiantes podem beneficiar com

estas iniciativas ao niacutevel do desenvolvimento pessoal emocional cognitivo e social tendo

a oportunidade de desenvolver novas capacidades e o seu sentido ciacutevico e de

responsabilidade (Pereira amp cols p 106)

O grande diferencial destes programas de apoio entre pares eacute que eles ao mesmo tempo

oferecem apoio agravequeles que buscam ajuda para suas dificuldades impulsionam o desenvolvimento

de competecircncias variadas nos alunos-voluntaacuterios aleacutem de ser uma oportunidade singular da

expressatildeo e vivecircncia da cidadania pelo voluntariado

2 Dificuldades na trajetoacuteria acadecircmica

Por muito tempo o trabalho na avaliaccedilatildeo atendimento e encaminhamento de alunos com

dificuldades escolares foi a praacutetica que caracterizou a atuaccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares nas escolas

Nestes casos o foco da intervenccedilatildeo era prioritariamente o aluno ou sua famiacutelia com o objetivo de

identificar os fatores pessoais eou familiares que justificavam a existecircncia de tal dificuldade

Modificando esta maneira de trabalhar os psicoacutelogos escolares tecircm cada vez mais incluiacutedo outros

atores (professores coordenadores) e elementos (relaccedilotildees praacuteticas institucionais) no processo de

compreensatildeo e intervenccedilatildeo das queixas escolares

Nessa direccedilatildeo quando recebe o pedido do professor ou do coordenador para avaliar e

atender um aluno este pedido eacute entendido como iniacutecio do estabelecimento de uma parceria entre o

psicoacutelogo escolar aquele que formulou o pedido e se necessaacuterio o aluno e outros atores No

acircmbito desta parceria o psicoacutelogo escolar pode propor a realizaccedilatildeo de encontros de discussatildeo de

reflexatildeo e de anaacutelise dos aspectos objetivos e subjetivos que sustentam a queixa formulada e que

256

motivam o encaminhamento por parte do professor geralmente Nesses encontros busca-se

compreender de forma criacutetica e ampliada como aspectos pessoais relacionais e institucionais se

articulam na configuraccedilatildeo do problema

Como estrateacutegia para auxiliar na compreensatildeo do fenocircmeno podem ser feitas anaacutelises das

produccedilotildees do aluno observaccedilotildees das interaccedilotildees em sala de aula anaacutelise dialogada com o professor

e coordenador do planejamento docente objetivos a serem alcanccedilados das estrateacutegias avaliativas

entre outros A busca por essa compreensatildeo eacute feita portanto juntamente com os membros da

equipe pedagoacutegica e jaacute se caracteriza como uma intervenccedilatildeo psicoloacutegica na medida em que

possibilita a expressatildeo dos sentimentos anguacutestias e inseguranccedilas do docente bem como a

construccedilatildeo de alternativas para lidar com a situaccedilatildeo sejam elas de natureza relacional curricular ou

teacutecnica

Como fica evidente o foco destas accedilotildees desloca-se do aluno sobre o qual se faz uma

queixa e centra-se naquele que a elaborou em uma tentativa de auxiliaacute-lo na reflexatildeo sobre sua

praacutetica expectativas e anguacutestias O contato com o aluno pode ocorrer na forma de conversas

informais que auxiliem o psicoacutelogo escolar a compreender a queixa ou por meio de uma avaliaccedilatildeo

sistematizada quando for o caso

Nas situaccedilotildees nas quais o pedido de apoio eacute feito pelo proacuteprio aluno o psicoacutelogo escolar

deve fazer o acolhimento do estudante explorando a dificuldade preocupaccedilotildees e razotildees que o

motivam a buscar apoio psicoloacutegico Acolher significa ouvir de forma ativa o aluno valorizando o

seu pedido e explorando os vaacuterios fatores que se interconectam na configuraccedilatildeo da dificuldade que

vivencia

Feito o acolhimento cabe ao psicoacutelogo avaliar quais seratildeo os passos seguintes que pode ser

uma avaliaccedilatildeo psicoloacutegica detalhada do problema apresentado pelo aluno ou investigaccedilatildeo ampliada

da dificuldade junto aos professores e colegas incluindo observaccedilotildees do aluno e das relaccedilotildees Eacute

possiacutevel tambeacutem fazer orientaccedilotildees pontuais relativas agrave queixa do aluno realizadas na forma de

aconselhamento psicoloacutegico sugerir que participe de programas educativos especiacuteficos oferecidos

na IES ou se necessaacuterio encaminhar para atendimento especializado externo quando os esforccedilos

junto agrave equipe da IES natildeo forem suficientes ou quando a complexidade e especificidade do caso

assim exigirem

Na Educaccedilatildeo Superior diferentemente da realidade da Educaccedilatildeo Baacutesica muitos alunos

procuram por iniciativa proacutepria o apoio profissional do psicoacutelogo escolar As razotildees que os

motivam satildeo variadas dificuldades de concentraccedilatildeo de organizaccedilatildeo dos estudos e em conciliar o

trabalho com o estudo natildeo identificaccedilatildeo com o curso quadros de ansiedade estados depressivos

isolamento conflitos no relacionamento afetivo afastamento da famiacutelia uso de drogas problemas

com sono e alimentaccedilatildeo e etc Diante destes problemas a ideia de oferecer suporte individual

como forma de auxiliaacute-los a superar o mal-estar e o sofrimento psiacutequico eacute legiacutetima e deve ser

assumida pela Psicologia Contudo o atendimento individualizado natildeo deve ser eleito de forma

257

prioritaacuteria pelos psicoacutelogos escolares tanto pelo fato de que o campo de atuaccedilatildeo da aacuterea estaacute

essencialmente associado aos processos de desenvolvimento e de aprendizagem quanto pelo

alcance reduzido desta modalidade de atendimento tendo em vista a dimensatildeo da IES e nuacutemero de

alunos que tem

Dessa maneira no tocante agraves questotildees e problemaacuteticas psicoloacutegicas que perpassam o

desenvolvimento dos estudantes e que em virtude de sua repercussatildeo subjetiva trazem dificuldades

ou prejuiacutezos agrave sua formaccedilatildeo acadecircmica e integral compete aos psicoacutelogos escolares elegerem-nas

como eixo de intervenccedilatildeo sem contudo se configurar como apoio cliacutenico-terapecircutico

Por certo que a capacidade de atendimento de um psicoacutelogo escolar iraacute depender da sua

carga horaacuteria de trabalho do conjunto de atividades que tem sob sua responsabilidade do fato de

compor uma equipe ou de trabalhar sozinho do tamanho da demanda que recebe do seu

compromisso eacutetico com a qualidade do serviccedilo prestado entre outros fatores Todavia ainda que

garantida as melhores condiccedilotildees de trabalho um psicoacutelogo escolar conseguiraacute atender de forma

individual em torno de 40 alunos por semana (desconsiderando neste caacutelculo o tempo necessaacuterio

para anaacutelise reflexatildeo registro e planejamento dos casos) de maneira que o impacto do trabalho

psicoloacutegico fica bastante reduzido tendo em vista a quantidade de alunos que procuram apoio

Tanto eacute assim que muitos dos Serviccedilos de Psicologia relatam ter listas de esperas para atendimento

conforme apresentado nos resultados deste trabalho

Tendo por um lado a defesa e a luta pela democratizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior tanto em

termos das oportunidades de acesso quanto de permanecircncia com qualidade e por outro a reduzida

extensatildeo da atuaccedilatildeo individualizada dos psicoacutelogos escolares cabe problematizar qual eacute a

contribuiccedilatildeo da Psicologia Escolar na busca dessa democratizaccedilatildeo Defende-se portanto que a

atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar junto agraves dificuldades nas trajetoacuterias acadecircmicas se amplie para accedilotildees

de natureza coletiva e preventiva direcionadas para a promoccedilatildeo da sauacutede no contexto educativo

3 Percursos de formaccedilatildeo

A investigaccedilatildeo e acompanhamento dos percursos formativos na Educaccedilatildeo Superior eacute um

dos eixos mais recentes de intervenccedilatildeo do psicoacutelogo escolar que pode contribuir para elucidar se e

como as praacuteticas pedagoacutegicas favorecem a formaccedilatildeo de cidadatildeos e a construccedilatildeo de perfis

profissionais aleacutem de favorecer a reestruturaccedilatildeo do processo de ensino Agrave luz desses objetivos os

psicoacutelogos escolares podem coordenar estudos para conhecer a populaccedilatildeo estudantil tanto em

termos soacutecio-demograacuteficos econocircmicos e familiares quanto aspectos da subjetividade individual

como estilos de aprendizagem interesses e modos de expressatildeo expectativas e anseios que tecircm

relaccedilatildeo com o processo de formaccedilatildeo

Estes estudos tecircm como meta oferecer informaccedilotildees detalhadas sobre o perfil dos alunos aos

membros da equipe pedagoacutegica e aos gestores para subsidiar poliacuteticas programas e accedilotildees

direcionadas agraves caracteriacutesticas e necessidades dos estudantes Especificamente em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo

258

docente por essa via subsidia-se o professor no planejamento das aulas e nos processos de

avaliaccedilatildeo favorecendo uma maior personalizaccedilatildeo das praacuteticas pedagoacutegicas de acordo com a

realidade especiacutefica das turmas

Tambeacutem podem ser realizados estudos relacionados ao perfil dos alunos ingressantes e dos

concluintes de forma a verificar a influecircncia do processo acadecircmico no desenvolvimento dos perfis

desejados As pesquisas podem investigar Quanto a formaccedilatildeo tem agregado ao perfil profissional

do estudante Como os alunos desenvolvem competecircncias transversais na e para aleacutem da sala de

aula Quais atividades acadecircmicas cientiacuteficas e artiacutestico-culturais tecircm impacto no

desenvolvimento destas competecircncias Para acompanhar os estudantes o psicoacutelogo escolar pode

sistematizar um modelo de monitoramento ao longo de toda a trajetoacuteria acadecircmico-profissional que

preveja investigaccedilotildees em pelo menos quatro momentos distintos por ocasiatildeo da entrada na IES

(ingressantes) durante o curso ao final (concluintes) e apoacutes a conclusatildeo do curso (egressos)

A partir da descriccedilatildeo dos eixos de intervenccedilatildeo sugeridos nesta proposta eacute importante

ressaltar que em consonacircncia com a defesa de uma atuaccedilatildeo preventiva e institucional em

Psicologia Escolar as dimensotildees da Gestatildeo Institucional e da Gestatildeo Acadecircmica satildeo privilegiadas

em relaccedilatildeo ao trabalho de apoio direto aos estudantes Por entender que as primeiras satildeo mais

abrangentes e potencialmente mais transformadoras a presente proposta aposta intencionalmente

nelas No entanto sem pretender que as accedilotildees sugeridas esgotem as possibilidades de atuaccedilatildeo da

Psicologia Escolar nas Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior eacute absolutamente desejaacutevel que outras

modalidades de intervenccedilatildeo sejam integradas

De toda forma o importante eacute que os psicoacutelogos inseridos na Educaccedilatildeo Superior

pesquisadores e interessados pela aacuterea aleacutem dos estudantes de Psicologia possam ter nessa

proposta um modelo amplo que venha nortear a expansatildeo da atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar

259

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A ideia principal que delineou este estudo foi a de explorar um novo e recente campo de

pesquisa e de atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar e evidenciar possibilidades de intervenccedilatildeo dos

psicoacutelogos escolares neste contexto a Educaccedilatildeo Superior Desde o iniacutecio o caminho a ser

percorrido neste trabalho jaacute estava minimamente traccedilado em virtude de escolhas teoacuterico-conceituais

e metodoloacutegicas que o orientariam contudo tendo em vista que a pesquisa natildeo eacute um processo

solitaacuterio de construccedilatildeo mas coconstruiacutedo e ressignificado nas relaccedilotildees o mergulho no contexto de

investigaccedilatildeo levou a algumas reformulaccedilotildees nessa trajetoacuteria

Investigar a atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo Superior se configurou como uma

oportunidade de conhecer uma realidade multifacetada e ao mesmo tempo de compreender rever

e construir trajetoacuterias de desenvolvimento entre elas a da proacutepria pesquisadora Intenccedilotildees e

estrateacutegias inicialmente traccediladas foram revistas e reinterpretadas ao longo do estudo e da imersatildeo

no campo de pesquisa conceitos e experiecircncias foram problematizados e ressignificados

Objetivos convicccedilotildees ideias inquietaccedilotildees resistecircncias e desejos circularam confrontaram-se e

foram dando forma e sentido ao trabalho em um processo qualitativo de construccedilatildeo de

conhecimento

Tendo estas consideraccedilotildees em perspectiva apresentam-se conclusotildees acerca da atuaccedilatildeo da

Psicologia Escolar em Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior e alguns desdobramentos que se entende

serem pertinentes agrave sua consolidaccedilatildeo e agrave ampliaccedilatildeo para outras possibilidades

De maneira geral os resultados desta pesquisa apontam que o movimento nacional de

conferir maior criticidade agrave praacutetica em Psicologia Escolar conforme se discutiu no Capiacutetulo I jaacute se

materializa em accedilotildees contextualizadas e ampliadas a outros atores e instacircncias institucionais Ainda

que as indicaccedilotildees acerca da necessidade de revisatildeo e redimensionamento das praacuteticas tenham sido

forjados nas experiecircncias na Educaccedilatildeo Baacutesica outros contextos e niacuteveis educativos tambeacutem se

beneficiaram com os desdobramentos de tal movimento

Ao longo das uacuteltimas deacutecadas esforccedilos individuais e coletivos empreendidos por parte de

pesquisadores e profissionais em Psicologia Escolar oportunizaram a construccedilatildeo de um corpus

teoacuterico-praacutetico que atualmente sustenta o trabalho nos serviccedilos de apoio psicoloacutegico Se

tradicionalmente a Psicologia Escolar se faz presente em Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior

mediante atuaccedilatildeo no Serviccedilo de Orientaccedilatildeo ao Universitaacuterio em uma perspectiva individualizada

de acompanhamento ao estudante e em resposta ao problema que o leva a procurar ajuda as

intervenccedilotildees mais recentes tecircm se desvinculado das formas de trabalho centradas no indiviacuteduo e

adaptacionistas Sem abandonar o atendimento claacutessico aos sujeitos individuais investimentos

ainda discretos mas importantes vecircm sendo feitos em praacuteticas preventivas e em accedilotildees com outros

agentes que tambeacutem participam do processo formativo dos estudantes

260

O cenaacuterio atual de intervenccedilatildeo da Psicologia Escolar nas IES se daacute portanto mediante a

apropriaccedilatildeo e integraccedilatildeo criacutetica e inovadora de possibilidades diferenciadas de atuaccedilatildeo como

aquelas representadas pelo auxiacutelio na integraccedilatildeo dos novos alunos assessoria aos professores

coordenadores e gestores institucionais coordenaccedilatildeo de programas educativos de promoccedilatildeo do

desenvolvimento dos estudantes formaccedilatildeo de professores e de funcionaacuterios participaccedilatildeo em

processos de definiccedilatildeo dos perfis profissionais e de seleccedilatildeo acompanhamento aos egressos entre

muitas outras Para aleacutem do foco no sucesso acadecircmico e na promoccedilatildeo das trajetoacuterias formativas

dos estudantes os Serviccedilos de Psicologia de Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior tambeacutem estatildeo se

comprometendo cada vez mais com o desenvolvimento de outros atores que em maior ou menor

medida participam do processo educativo Atuando nos processos subjetivos e intersubjetivos os

psicoacutelogos escolares buscam favorecer a conscientizaccedilatildeo destes atores acerca de suas

responsabilidades com a formaccedilatildeo de pessoas competentes eacutetica e socialmente comprometidas e

responsaacuteveis

Diante da caracterizaccedilatildeo do cenaacuterio relativo agrave atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo

Superior entende-se que os objetivos traccedilados na presente pesquisa especificamente os de (a)

compor um panorama dos Serviccedilos de Psicologia (b) mapear e analisar a atuaccedilatildeo de psicoacutelogos

escolares e (c) investigar experiecircncias diferenciadas de atuaccedilatildeo na Educaccedilatildeo Superior foram

contemplados Particularmente os resultados apresentados ao longo dos estudos 1 e 2 evidenciam o

cumprimento destes objetivos

De acordo com o que jaacute foi defendido em capiacutetulo anterior o processo educativo que

transcorre nas Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior tem a funccedilatildeo de transmitir o conhecimento

historicamente acumulado e igualmente de favorecer o desenvolvimento de pessoas criacuteticas

competentes reflexivas conscientes de suas potencialidades e das possibilidades de transformar a

realidade Entretanto eacute niacutetido que o significado atribuiacutedo agrave Educaccedilatildeo Superior tem se diluiacutedo em

meio a tantas ideias e proposiccedilotildees ambiacuteguas ambivalentes e contraditoacuterias as quais estatildeo imersas

em um momento histoacuterico e social marcado pelo privileacutegio da iniciativa privada pela

intensificaccedilatildeo das leis do mercado e pela minimizaccedilatildeo da ingerecircncia do Estado nos negoacutecios

humanos (Dias Sobrinho 2004a 2005 Georgen 1998 2008 Severino 2000 2002)

Uma forte caracteriacutestica do momento atual eacute o domiacutenio do pensamento utilitarista de

forma que o aumento da competitividade tem voltado a Educaccedilatildeo Superior para o desenvolvimento

das competecircncias necessaacuterias para o mundo do trabalho e natildeo para a participaccedilatildeo social O que

prevalece eacute a racionalidade e a loacutegica proacuteprias do mundo da produccedilatildeo do negoacutecio e da geraccedilatildeo de

lucros Em nome dessa loacutegica a Educaccedilatildeo Superior tem se subordinado agraves normas do mercado

passando a instrumentalizar pessoas para determinadas tarefas ao inveacutes de formaacute-las

Contudo diante da anguacutestia e frustraccedilatildeo decorrente desse processo inegavelmente histoacuterico

e social natildeo se pode deixar que a Educaccedilatildeo Superior tradicionalmente vinculada ao

desenvolvimento e progresso da humanidade e agrave valorizaccedilatildeo das construccedilotildees soacutecio-culturais seja

261

submetida a interesses momentacircneos e individualistas Como instituiccedilatildeo construiacuteda e mantida pelos

homens para suprir uma necessidade de formaccedilatildeo dos sujeitos as IES podem se transformar por

meio da ressignificaccedilatildeo de sua identidade de forma a buscar uma melhor adaptaccedilatildeo agrave atual

realidade social Para tanto a constituiccedilatildeo de espaccedilos de reflexatildeo que se dediquem a problematizar

o papel da Educaccedilatildeo Superior na sociedade torna-se imprescindiacutevel uma vez que pensar analisar

criticar e questionar a realidade que estaacute dada eacute um passo de suma importacircncia para orientar

escolhas e accedilotildees e portanto os rumos da Educaccedilatildeo Superior

Nesse sentido a atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo Superior ancorada na

abordagem histoacuterico-cultural vincula-se fortemente agrave promoccedilatildeo de espaccedilos de interlocuccedilatildeo e

autoanaacutelise que fomentem processos de aprendizagem e de desenvolvimento de estudantes de

professores de funcionaacuterios de pais de diretores e reitores e tambeacutem dos proacuteprios psicoacutelogos

escolares A Educaccedilatildeo Superior como contexto de formaccedilatildeo e de desenvolvimento pode ser fonte

de conscientizaccedilotildees e transformaccedilotildees pessoais e coletivas que favoreccedilam a construccedilatildeo de uma

sociedade marcada pela cidadania e pela democracia ldquoSe eacute verdade que as universidades e os seus

centros de investigaccedilatildeo jaacute natildeo satildeo os lugares privilegiados de produccedilatildeo do conhecimento eacute

importante que eles continuem a ser fundamentais ndash embora natildeo necessariamente centrais ndash lugares

de lsquoeducaccedilatildeorsquordquo (Magalhatildees 2004 p 199)

A compreensatildeo do desenvolvimento humano como um processo histoacuterico e cultural

construiacutedo nas interaccedilotildees dos sujeitos com as produccedilotildees humanas com as influecircncias

socioculturais e com os sentidos partilhados pelos grupos conforme proposta pela abordagem

histoacuterico-cultural (Leontiev 2004 Luria 1990 Vygotsky 1999 2003 2009) eacute extremamente

favorecedora da atuaccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares Entender o sujeito com base nessa abordagem

subsidia os psicoacutelogos escolares na construccedilatildeo intencional de espaccedilos de diaacutelogo negociaccedilatildeo e

trocas intersubjetivas que satildeo propulsoras do desenvolvimento Com alicerce nos fundamentos da

abordagem histoacuterico-cultural acredita-se que os valores as experiecircncias ideias aprendizagens e

subjetividades que circulam no contexto da Educaccedilatildeo Superior oportunizam o desenvolvimento

humano adulto tanto de estudantes quanto de docentes e gestores em uma perspectiva

qualitativamente diferenciada

Na esteira dessas consideraccedilotildees relativas ao desenvolvimento humano adulto como um dos

eixos centrais da atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar a opccedilatildeo por realizar uma pesquisa-intervenccedilatildeo se

constituiu ao mesmo tempo como um momento singular e plural de mergulhar no contexto

profissional de melhor compreender o campo de pesquisa e de revisitar concepccedilotildees e praacuteticas Os

espaccedilos relacionais criados pela pesquisa-intervenccedilatildeo satildeo tanto para o pesquisador quanto para os

participantes uma oportunidade de enveredar pela sua histoacuteria e identidade permanentemente em

construccedilatildeo A experiecircncia de acompanhar um profissional e de oportunizar intencionalmente a

circulaccedilatildeo de sentidos subjetivos construiacutedos na histoacuteria e nas relaccedilotildees eacute no miacutenimo desafiadora e

transformadora Desafia o pesquisador a reconhecer e desenvolver recursos mediacionais

262

potencialmente capazes de mobilizar a reflexatildeo anaacutelise e implicaccedilatildeo do outro Simultaneamente a

experiecircncia da pesquisa-intervenccedilatildeo tambeacutem transforma o pesquisador por ser um processo ativo

de imersatildeo nas suas proacuteprias concepccedilotildees valores filiaccedilotildees e compromissos

Para aleacutem dos desdobramentos atinentes ao desenvolvimento do proacuteprio pesquisador esta

modalidade de pesquisa se mostra potencialmente impulsionadora de processos de conscientizaccedilatildeo

que satildeo basilares agrave formaccedilatildeo pessoal e profissional dos sujeitos participantes Fomentar espaccedilos de

interlocuccedilatildeo mediados que possibilitem a mobilizaccedilatildeo de sentidos e significados constitutivos da

subjetividade dos sujeitos eacute uma forma qualitativamente diferenciada de produzir conhecimento

com base na construccedilatildeo coletiva

Os resultados relacionados agrave pesquisa-intervenccedilatildeo organizados em torno de dois temas

centrais em Psicologia Escolar ndash perfil e atuaccedilatildeo - bem como os desdobramentos que trouxeram agrave

construccedilatildeo da proposta de atuaccedilatildeo evidenciam que o objetivo proposto de (d) acompanhar a

atuaccedilatildeo de um psicoacutelogo escolar em uma IES do Distrito Federal foi satisfatoriamente cumprido

Aleacutem do mais o acompanhamento de profissionais inseridos no contexto profissional eacute sem

duacutevida um campo que merece ser mais explorado como forma de aprofundar o compromisso

social da Psicologia Escolar

Reafirmando esse compromisso a proposta de criaccedilatildeo e estruturaccedilatildeo de Serviccedilos de

Psicologia apresentada neste trabalho eacute uma resposta aos desafios sociais contemporacircneos que por

imputarem incertezas e dilemas agrave Educaccedilatildeo Superior instigam diferentes aacutereas do conhecimento a

se posicionarem e a buscarem alternativas capazes de fortalecer o papel emancipatoacuterio e formativo

deste niacutevel educativo (Dias Sobrinho 2004a 2005 2008a Morosini 1997 2005 2006b Ristoff

1999 2008 Severino 2000 2002 Sguissardi 2005 2008) Nesse sentido esta proposta se

configura como um caminho que pode ser trilhado pelos psicoacutelogos natildeo deve se constituir em um

modelo riacutegido e cristalizado que natildeo oxigene e impulsione o crescimento da aacuterea Deseja-se ao

contraacuterio que as indicaccedilotildees apresentadas mobilizem questionamentos desencadeiem inquietaccedilotildees

e suscitem formas particularizadas de ser psicoacutelogo escolar e de fazer Psicologia Escolar na

Educaccedilatildeo Superior

A proposta para os Serviccedilos de Psicologia eacute portanto um convite agrave reflexatildeo agrave revisatildeo das

praacuteticas agrave reinterpretaccedilatildeo das escolhas agrave reconstruccedilatildeo de trajetoacuterias O modelo elaborado e

apresentado neste trabalho evidencia o cumprimento do uacuteltimo objetivo traccedilado nesta pesquisa

qual seja (e) elaborar proposta de criaccedilatildeo e estruturaccedilatildeo para os Serviccedilos de Psicologia na

Educaccedilatildeo Superior Espera-se entretanto que este objetivo permaneccedila aberto e sendo

continuamente alimentado por debates em foacuteruns acadecircmicos e profissionais

Como campo emergente de pesquisa e de intervenccedilatildeo eacute evidente que a Educaccedilatildeo Superior

traz muitos desafios e possibilidades agrave Psicologia Escolar no entanto devido agraves suas

particularidades e dinacircmica proacutepria carece de investigaccedilotildees que venham subsidiar a praacutetica dos

263

psicoacutelogos escolares e favorecer o desenvolvimento de accedilotildees efetivamente comprometidas com a

promoccedilatildeo do processo de formaccedilatildeo pessoal e profissional de cidadatildeos

Nessa direccedilatildeo alguns temas que merecem orientar pesquisas futuras relacionam-se agrave

transiccedilatildeo dos estudantes da Educaccedilatildeo Baacutesica para a Educaccedilatildeo Superior e desta para o mercado de

trabalho ao processo de adaptaccedilatildeo no primeiro ano de curso e o impacto que a vivecircncia na

Educaccedilatildeo Superior tem na configuraccedilatildeo da subjetividade dos estudantes especialmente quanto agrave

autonomia cidadania e responsabilidade social a investigaccedilatildeo de fatores de sucesso e de insucesso

acadecircmico que se detenham tanto aos fatores sociais e econocircmicos quanto aos intrainstitucionais

aos fatores pessoais relacionais e afetivos favoraacuteveis agrave permanecircncia dos estudantes nos cursos

entre outros

Questotildees de pesquisa orientadas pela dimensatildeo de gestatildeo institucional de atuaccedilatildeo da

Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo Superior podem estar relacionadas agrave qualificaccedilatildeo do perfil docente

e seu impacto em propostas curriculares mais flexiacuteveis e inovadoras investigaccedilatildeo e proposiccedilatildeo de

modelos presenciais e virtuais de integraccedilatildeo de colaboradores implantaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de

programas permanentes de formaccedilatildeo continuada tanto na modalidade presencial quanto a

distacircncia praacuteticas de gestatildeo e inovaccedilatildeo nas instituiccedilotildees de educaccedilatildeo superior e sua relaccedilatildeo com o

sucesso acadecircmico e outras

Temas ligados agrave dimensatildeo da gestatildeo acadecircmica podem investigar o envolvimento e

responsabilizaccedilatildeo da equipe pedagoacutegica na elaboraccedilatildeo coletiva dos projetos de curso

especialmente por parte do nuacutecleo docente estruturante a influecircncia dos modelos de gestatildeo

pedagoacutegica na formaccedilatildeo da cidadania a possiacutevel relaccedilatildeo entre as inovaccedilotildees nos desenhos

pedagoacutegicos e os melhores iacutendices de sucesso (em termos de rendimento e permanecircncia) a

avaliaccedilatildeo dos desdobramentos percebidos pelos docentes em relaccedilatildeo agrave assessoria ao processo de

ensino-aprendizagem etc Um aspecto importante a ser considerado nas pesquisas desencadeadas

no contexto da Educaccedilatildeo Superior eacute de que natildeo se centrem apenas na percepccedilatildeo e na vivecircncia dos

estudantes como tem sido caracteriacutestico dos estudos apresentados na revisatildeo de literatura

No tocante ao trabalho dos proacuteprios psicoacutelogos escolares as pesquisas podem explorar as

dificuldades e recursos que tecircm sido favoraacuteveis ao desenvolvimento do perfil profissional analisar

a contribuiccedilatildeo de programas de formaccedilatildeo continuada em Psicologia Escolar especiacuteficos agrave realidade

da Educaccedilatildeo Superior especialmente na forma de assessoria agrave atividade profissional investigar a

dimensatildeo do impacto da atuaccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares segundo a percepccedilatildeo dos diferentes

atores e etc

Em paralelo ao investimento em pesquisas na Educaccedilatildeo Superior eacute imprescindiacutevel

tambeacutem o investimento na formaccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares tanto em niacutevel de graduaccedilatildeo quanto

poacutes-graduaccedilatildeo Eacute possiacutevel supor que o quadro jaacute diferenciado de atuaccedilatildeo na Educaccedilatildeo Superior

conforme constatado neste estudo seja um desdobramento dos reiterados esforccedilos de pesquisadores

e professores de Psicologia Escolar em relaccedilatildeo agrave necessidade de mudanccedilas na formaccedilatildeo e

264

inclusive da sua proacutepria atuaccedilatildeo nos espaccedilos formativos Apesar disso eacute indispensaacutevel que a

atenccedilatildeo e o investimento na preparaccedilatildeo do psicoacutelogo escolar seja permanente e acompanhe os

avanccedilos da ciecircncia psicoloacutegica e da educaccedilatildeo os desafios que adveacutem das poliacuteticas puacuteblicas em

educaccedilatildeo as medidas de apoio aos estudantes as propostas de reestruturaccedilatildeo curricular e

pedagoacutegica a crescente exigecircncia de qualidade e os procedimentos de avaliaccedilatildeo a diversidade do

puacuteblico que ingressa nas IES entre uma seacuterie de outros fatores que repercutem no processo de

desenvolvimento humano

Um possiacutevel modo de contribuir para a formaccedilatildeo de futuros psicoacutelogos escolares eacute por

meio da abertura de campos de estaacutegio dentro dos proacuteprios Serviccedilos de Psicologia Por essa via

estudantes de Psicologia teriam a oportunidade de se inserir no contexto profissional e desde a

formaccedilatildeo inicial trabalhar em prol da apropriaccedilatildeo de teorias conhecimentos meacutetodos e praacuteticas

que amparam a atuaccedilatildeo na Educaccedilatildeo Superior aleacutem de poderem desenvolver competecircncias

necessaacuterias ao futuro exerciacutecio profissional Ademais a configuraccedilatildeo dos Serviccedilos de Psicologia

em espaccedilos formais de aprendizagem eacute uma rica oportunidade para que os proacuteprios psicoacutelogos

tenham a sua atuaccedilatildeo como permanente objeto de anaacutelise e de estudo

Defende-se portanto que as instituiccedilotildees formativas que tenham cursos de Psicologia

faccedilam parcerias com os Serviccedilos de Psicologia das IES com vistas a abrir novos campos de estaacutegio

Tais parcerias natildeo devem entretanto se restringir aos cursos e serviccedilos localizados na mesma IES

muito ao contraacuterio eacute desejaacutevel o estabelecimento de parcerias interinstitucionais que favoreccedilam a

mobilidade dos estudantes e ampliem a possibilidade de conhecerem diferentes modos de

organizaccedilatildeo e funcionamento dos serviccedilos

Outro desdobramento suscitado pela pesquisa em especial pela realidade portuguesa e

europeia refere-se agrave criaccedilatildeo de uma associaccedilatildeo profissional em Psicologia Escolar que venha a

integrar os Serviccedilos de Psicologia das IES do paiacutes apresentar orientaccedilotildees relativas ao seu

funcionamento e divulgaacute-los A exemplo da RESAPES em Portugal poderia ser constituiacuteda uma

associaccedilatildeo que venha a congregar representantes de todos os serviccedilos Considerando que no Brasil

jaacute existe uma associaccedilatildeo nacional em Psicologia Escolar a ABRAPEE fundada haacute mais de 20 anos

com a finalidade de incentivar o crescimento da ciecircncia e da profissatildeo de psicoacutelogo escolar eacute

absolutamente pertinente que esta associaccedilatildeo tenha um segmento especificamente voltado para a

pesquisa intervenccedilatildeo e construccedilatildeo de conhecimento relativo agrave Educaccedilatildeo Superior

Um grupo de pesquisadores interessados e envolvidos com este niacutevel educativo poderia

constituir uma representaccedilatildeo vinculada agrave ABRAPEE e dar iniacutecio a um conjunto de accedilotildees lacunares

no paiacutes mapeamento das IES brasileiras que tecircm psicoacutelogo escolar e dos Serviccedilos de Psicologia (a

exemplo do esforccedilo inicial contemplado no mapeamento nacional realizado no estudo1 deste

trabalho) dos fatores que as motivaram a criar tais serviccedilos a natureza e tipo das accedilotildees

desenvolvidas as dificuldades vivenciadas pelos psicoacutelogos escolares no exerciacutecio profissional

entre outras questotildees estabelecimento de uma rede de apoio muacutetuo em termos de partilha de

265

experiecircncias bem sucedidas e cooperaccedilatildeo na formaccedilatildeo profissional dos psicoacutelogos escolares

planejamento e coordenaccedilatildeo de eventos cientiacuteficos e acadecircmicos em Psicologia Escolar com ecircnfase

nos estudos e experiecircncias na Educaccedilatildeo Superior criaccedilatildeo de foacuteruns estaduais e regionais de

discussatildeo e de pesquisa como maneira de fomentar o diaacutelogo e a colaboraccedilatildeo envolvimento na

discussatildeo de poliacuteticas em Educaccedilatildeo Superior etc

Tambeacutem a exemplo do esforccedilo empreendido pela RESAPES com o Ministeacuterio da Ciecircncia

Tecnologia e Educaccedilatildeo Superior de Portugal outra importante accedilatildeo da ABRAPEE seria a de

buscar reconhecimento legal junto ao Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e a institucionalizaccedilatildeo dos Serviccedilos

de Psicologia Escolar nas IES brasileiras Na tentativa de favorecer a consolidaccedilatildeo da atuaccedilatildeo dos

psicoacutelogos escolares nas Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior e garantir a continuidade do trabalho

prestado a regulamentaccedilatildeo pelo governo e consequentemente a previsatildeo desses serviccedilos na

estrutura organizacional das IES eacute de fundamental importacircncia Por certo que conquistar um

enquadramento legal para a atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar no Sistema de Educaccedilatildeo Superior

brasileiro eacute um grande desafio agrave ABRAPEE Mas mais certo ainda eacute que o Brasil tem um grupo

soacutelido e efetivamente comprometido de profissionais e pesquisadores em Psicologia Escolar que

podem assumi-lo com responsabilidade e competecircncia e assim contribuir para a consolidaccedilatildeo de

um novo campo de pesquisa e de intervenccedilatildeo que tem funccedilatildeo norteadora no crescimento da

sociedade e do paiacutes

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) por sua vez poderia apoiar a ABRAPEE nesta

accedilatildeo de conquista de um reconhecimento legal para os Serviccedilos de Psicologia nas IES O CFP

como oacutergatildeo que estrutura e organiza o funcionamento da profissatildeo no paiacutes juntamente com a

colaboraccedilatildeo de Conselhos Regionais (CRP) distribuiacutedos pelo territoacuterio brasileiro constitui-se na

representaccedilatildeo maacutexima dos profissionais da aacuterea Apesar de natildeo se organizarem de acordo com as

especificidades das diferentes aacutereas de atuaccedilatildeo tanto o Conselho Federal quantos os regionais

estatildeo focados na regularizaccedilatildeo da profissatildeo na definiccedilatildeo legal dos limites e abrangecircncia do

exerciacutecio profissional Por essa razatildeo uma accedilatildeo que se entende pertinente de ser assumida pelo

CFP diz respeito ao apoio agrave ABRAPEE no esforccedilo pelo reconhecimento legal da Psicologia Escolar

nas Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior Sendo tambeacutem um oacutergatildeo consultivo em mateacuteria de

Psicologia o CFP tem poderes e autonomia para evidenciar e traccedilar paracircmetros relativos agrave criaccedilatildeo

de interfaces profissionais campos de atuaccedilatildeo para projetar prospectivamente rumos agrave inserccedilatildeo

dos psicoacutelogos

Um importante grupo consolidado de pesquisadores que pode assumir compromisso com a

ampliaccedilatildeo da Psicologia Escolar para outros contextos educativos eacute o Grupo de Trabalho (GT) em

Psicologia Escolar e Educacional da ANPEPP (Associaccedilatildeo Nacional de Pesquisa e Poacutes-Graduaccedilatildeo

em Psicologia) Os estudos e produccedilotildees deste GT satildeo referecircncias para estudantes profissionais

professores e outros pesquisadores da aacuterea aleacutem de serem orientadores das praacuteticas formativas e da

atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar no paiacutes Nas publicaccedilotildees mais recentes deste Grupo jaacute constam

266

trabalhos direcionados para a realidade da Educaccedilatildeo Superior evidenciando o papel pioneiro em

temaacuteticas pouco exploradas Dessa maneira acredita-se que o GT de Psicologia Escolar da

ANPEPP pode contribuir com o desenvolvimento de pesquisas a construccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de

conhecimentos relativos agrave educaccedilatildeo em niacutevel superior fortalecendo as investigaccedilotildees nessa aacuterea

Diante da defesa de investimentos em pesquisas e na ampliaccedilatildeo das possibilidades de

inserccedilatildeo de psicoacutelogos escolares na Educaccedilatildeo Superior importa destacar que valorizaacute-los natildeo

significa minimizar os esforccedilos direcionados agrave presenccedila da Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo Baacutesica

ao contraacuterio em virtude da conexatildeo e interdependecircncia entre estes niacuteveis educativos as

contribuiccedilotildees advindas de um repercutem no outro Nesse sentido entende-se que impulsionar o

crescimento da Psicologia Escolar nas IES traz entre outras contribuiccedilotildees o meacuterito de favorecer a

qualidade da formaccedilatildeo oferecida aos profissionais que iratildeo atuar na Educaccedilatildeo Baacutesica

particularmente os professores Na medida em que a Educaccedilatildeo Superior eacute responsaacutevel pela

formaccedilatildeo de quadros profissionais altamente competentes qualificados conectados com as

transformaccedilotildees do mundo globalizado e envolvidos na superaccedilatildeo dos desafios e incertezas

caracteriacutesticos da sociedade contemporacircnea eacute certo que o maior investimento neste niacutevel iraacute

subsidiar o crescimento e aprimoramento dos objetivos formativos de outros niacuteveis educativos

Um desafio que ainda se desdobra dos anteriormente citados e que precisa ser assumido

pelos pesquisadores e profissionais em Psicologia Escolar diz respeito agrave construccedilatildeo de

procedimentos de monitoramento das accedilotildees e dos resultados A adoccedilatildeo de mecanismos

permanentes de avaliaccedilatildeo da qualidade dos serviccedilos tanto quantitativos como qualitativos eacute

primordial para comprovar as contribuiccedilotildees dos Serviccedilos de Psicologia Para aleacutem do nuacutemero de

alunos atendidos individualmente de oficinas realizadas de programas de formaccedilatildeo

implementados de alunos encaminhados para o mercado de trabalho por exemplo que outros

indicadores de desenvolvimento tambeacutem podem ser levantados no sentido de comprovar a

contribuiccedilatildeo dos Serviccedilos de Psicologia nos resultados alcanccedilados pela IES Qual deve ser a

natureza dos criteacuterios a serem utilizados para balizar a contribuiccedilatildeo dos serviccedilos Quais estrateacutegias

de autoavaliaccedilatildeo podem ser adotadas pelos psicoacutelogos escolares Estas satildeo algumas questotildees que

merecem maior investimento dos profissionais da aacuterea com vistas a construir um conjunto soacutelido de

argumentos em prol dos serviccedilos

Para finalizar registra-se que a ideia central que originou e sustentou a realizaccedilatildeo desse

trabalho de pesquisa mostra-se viaacutevel e oportuna as Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior como

contextos preciacutepuos de aprendizagem e de desenvolvimento satildeo loacutecus legiacutetimos de intervenccedilatildeo e de

pesquisa em Psicologia Escolar Assim acompanhando os avanccedilos anunciados pela aacuterea reitera-se

o convite para que pesquisadores professores estudantes profissionais e outros interessados

mergulhem neste amplo contexto da Educaccedilatildeo Superior como forma de consolidar e ampliar ainda

mais as perspectivas de atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar

267

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291

ANEXOS

ANEXO I - Aprovaccedilatildeo do projeto pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa

292

293

ANEXO II ndash Questionaacuterio Eletrocircnico enviado agraves IES do Brasil

294

295

296

297

ANEXO III - Formulaacuterio de registro do mapeamento das IES do DF

FORMULAacuteRIO DE REGISTRO

CONTATO COM IES PARA IDENTIFICACcedilAtildeO DE PSICOacuteLOGOS ESCOLARES

IDENTIFICACcedilAtildeO DA IES

Nome

Telefones

Endereccedilo na internet

E-mail

REGISTRO DA PESQUISA NO SITE DA IES

Data da pesquisa no site Horaacuterio

Psicoacutelogo Escolar Natildeo existe referecircncia agrave existecircncia do Psicoacutelogo Escolar na IES o

Existe referecircncia agrave existecircncia do Psicoacutelogo Escolar na IES o

Observaccedilotildees

REGISTRO DO CONTATO TELEFOcircNICO COM A IES

Data do contato

telefocircnico

Horaacuterio

Pessoa com que falou

Psicoacutelogo Escolar

Natildeo sabe informar o

Natildeo tem Psicoacutelogo Escolar na IES o

Tem Psicoacutelogo Escolar na IES o

Observaccedilotildees

IDENTIFICACcedilAtildeO DO PSICOacuteLOGO ESCOLAR

Nome

Telefone de contato

E-mail

Observaccedilotildees

298

ANEXO IV - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Brasil)

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Vocecirc estaacute sendo convidado(a) a participar da pesquisa ldquoAtuaccedilatildeo da Psicologia Escolar na

Educaccedilatildeo Superiorrdquo desenvolvida pela pesquisadora Cynthia Bisinoto Evangelista de Oliveira a

qual pretende contribuir para a construccedilatildeo e consolidaccedilatildeo da identidade profissional do psicoacutelogo

escolar que atua na Educaccedilatildeo Superior aleacutem de favorecer a melhoria da qualidade da educaccedilatildeo

brasileira

Esta pesquisa tem com objetivo geral investigar a atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar em

Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior (IES) e como objetivos especiacuteficos pretende 1) mapear a

atuaccedilatildeo de psicoacutelogos escolares em IES do Distrito Federal e analisar sua pertinecircncia ao apontado

pela literatura contemporacircnea em Psicologia Escolar 2) identificar o perfil do psicoacutelogo escolar e

as competecircncias especiacuteficas agrave sua atuaccedilatildeo na Educaccedilatildeo Superior 3) investigar atuaccedilotildees inovadoras

da Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo Superior 4) rever e ampliar o perfil do psicoacutelogo escolar com

base em indicadores da literatura e da praacutetica profissional 5) analisar e acompanhar o serviccedilo de

Psicologia Escolar de uma Instituiccedilatildeo de Educaccedilatildeo Superior do Distrito Federal

As informaccedilotildees a serem utilizadas seratildeo construiacutedas pela pesquisadora atraveacutes de dados

obtidos por meio de questionaacuterios entrevistas e observaccedilotildees sendo-lhe garantido o sigilo quanto agrave

sua identidade

As informaccedilotildees fornecidas poderatildeo ser utilizadas e estaratildeo disponiacuteveis para discussatildeo

avaliaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo futuras incluindo publicaccedilotildees em perioacutedicos ou livros de circulaccedilatildeo

cientiacutefico-acadecircmica

A participaccedilatildeo na pesquisa natildeo oferece nenhum tipo de risco ao participante e como

benefiacutecios vislumbram-se o aprimoramento de sua atuaccedilatildeo como psicoacutelogo escolar que atua na

Educaccedilatildeo Superior a promoccedilatildeo de seu desenvolvimento pessoal e profissional aleacutem de contribuir

para a construccedilatildeo teoacuterica e metodoloacutegica em Psicologia Escolar

Sua participaccedilatildeo eacute de caraacuteter voluntaacuterio e natildeo envolve recompensa financeira Eacute-lhe

garantida a liberdade para recusar participar desta pesquisa bem como desistir em qualquer fase da

pesquisa natildeo acarretando prejuiacutezo algum a este estudo ou a vocecirc Possiacuteveis duacutevidas podem ser

esclarecidas antes e durante o curso da pesquisa

Considerando entatildeo que todas as duacutevidas foram devidamente esclarecidas a natureza a

proposta e os procedimentos envolvidos no estudo foram apresentados e tendo havido tempo

suficiente para pensar a respeito da autorizaccedilatildeo de participaccedilatildeo na pesquisa solicito o seu

consentimento livre e espontacircneo expressando sua participaccedilatildeo nesta pesquisa

Universidade de Brasiacutelia - UnB Instituto de Psicologia ndash IP Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Processos de Desenvolvimento Humano e Sauacutede

299

TIacuteTULO DA PESQUISA Atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo Superior

Pesquisadora Responsaacutevel Cynthia Bisinoto Evangelista de Oliveira

Comitecirc de Eacutetica e Pesquisa ndash CEPIHUnB (61) 3307-2761

Telefone da Pesquisadora (61) 9215-4344

E-mail da pesquisadora cynthiabuolcombr

Concordo em participar da citada pesquisa e portanto assino de livro e espontacircnea vontade

este termo de consentimento

Brasiacutelia _____ de ___________ de 2009

Nome do Participante _________________________________________________

Telefone para contato _________________________________________________

Assinatura do Participante

Assinatura do Pesquisador

300

ANEXO V - Roteiro de entrevista para psicoacutelogos escolares do DF

A ATUA

DIMENSAtildeO 1 ndash

1 Onde e qu

2 Quanto te

Superior

3 Vocecirc tem

DIMENSAtildeO 2 ndash

4 Descreva

atividade

5 Considera

na sua atu

6 Qual a e

(como s

psicopeda

7 Na sua op

na Educa

(idealmen

DIMENSAtildeO 3 ndash

8 Quais rec

desejos

precisa de

9 A partir d

psicoacuteloga

UniInsPro

versidade de Brasiacutelia - UnB tituto de Psicologia ndash IP grama de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Processos de Desenvolvimento Humano e Sauacutede

CcedilAtildeO DA PSICOLOGIA ESCOLAR NA EDUCACcedilAtildeO SUPERIOR CYNTHIA BISINOTO

ROTEIRO DE ENTREVISTA ndash PSICOacuteLOGO ESCOLAR

CARACTERIZACcedilAtildeO DO PROFISSIONAL

ando vocecirc se formou em Psicologia

mpo vocecirc tem de experiecircncia profissional E haacute quanto tempo atua na Educaccedilatildeo

alguma formaccedilatildeo complementar Qual

ATUACcedilAtildeO DA PSICOLOGIA

brevemente como eacute o trabalho que vocecirc realiza nesta instituiccedilatildeo Descreva

s que vocecirc desenvolve como Psicoacutelogo Escolar

ndo sua experiecircncia profissional quais as facilidades e dificuldades vivenciadas

accedilatildeo na Educaccedilatildeo Superior

specificidade da Psicologia Escolar no trabalho desenvolvido neste contexto

e diferencia do trabalho de outras aacutereas ndash coordenadores pedagogos

gogos assistentes sociais etc)

iniatildeo aleacutem do que vocecirc faz quais outras atividades cabem ao psicoacutelogo escolar

ccedilatildeo Superior Quais seriam as grandes frentes de atuaccedilatildeo desse profissional

te)

PERFIL PROFISSIONAL

ursos (teoacutericos e teacutecnicos saberes praacuteticos pessoais e interpessoais valores

) satildeo necessaacuterios para sua atuaccedilatildeo na Educaccedilatildeo Superior Quais vocecirc ainda

senvolver

a sua experiecircncia quais competecircncias considera importantes para a atuaccedilatildeo como

escolar na Educaccedilatildeo Superior

301

ANEXO VI - Pautas dos encontros de discussatildeo e reflexatildeo

A ATUACcedilAtildeO DA PSICOLOGIA ESCOLAR NA EDUCACcedilAtildeO SUPERIOR CYNTHIA BISINOTO

PESQUISA-INTERVENCcedilAtildeO 1ordm ENCONTRO

DATA 21092010 HORAacuteRIO 9hs LOCAL Faculdade PARTICIPANTES Cynthia e Psi OBJETIVOS

bull Planejar e organizar pesquisa-intervenccedilatildeo (estudo teoacuterico e assessoria agrave praacutetica)

PAUTA 2 Ouvir expectativas e metas 3 Apresentar o projeto de pesquisa e localizar a pesquisa-intervenccedilatildeo (3ordf etapa)

a Esclarecer o que eacute e como funciona uma pesquisa-intervenccedilatildeo 4 Estabelecer objetivo e funcionamento da pesquisa (nossa parceria)

a Meta mostrar a possibilidade da PE na Educaccedilatildeo Superior em uma perspectiva diferenciada a partir do acompanhamento e formaccedilatildeo em serviccedilo de um profissional

b Estudo teoacuterico + Assessoria agrave praacutetica c Assessoria focada em alguns eixos (sugestatildeo professores servidores coordenadores

Fac Talentos e Mapeamento Institucional) d Encontros semanais para discussatildeo de textos e da praacutetica planejamento anaacutelise

i Definir dia local e horaacuterio 5 Estrateacutegias de registro da pesquisa-intervenccedilatildeo

a Registro em aacuteudio dos encontros b Memorial (3 etapas)

i Compartilhar experiecircncia pessoal da pesquisadora c Registro das accedilotildees mais relevantes d Entrevista e Observaccedilotildees f Avaliaccedilatildeo do processo

6 Outros assuntos

302

A ATUACcedilAtildeO DA PSICOLOGIA ESCOLAR NA EDUCACcedilAtildeO SUPERIOR CYNTHIA BISINOTO

PESQUISA-INTERVENCcedilAtildeO 2ordm ENCONTRO

DATA 01102010 HORAacuteRIO 14h30 LOCAL Faculdade PARTICIPANTES Cynthia e Psi OBJETIVOS

bull Planejar e organizar pesquisa-intervenccedilatildeo (estudo teoacuterico e assessoria agrave praacutetica)

PAUTA Parte 1 - Assessoria agrave praacutetica

1 Compartilhar reflexotildees leituras e atividades da semana a Planejar accedilotildees

2 Definiccedilatildeo de possiacuteveis eixos de intervenccedilatildeo (sugestotildees) a Professores b Servidores c Coordenadores d Fac Talentos e Mapeamento Institucional f Inclusatildeo e necessidades especiais

Parte 2 - Estudo teoacuterico

1 Indicaccedilatildeo de leituras a Oliveira C B E (2009) A atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo Superior Projeto

de Tese apresentado ao Instituto de Psicologia da Universidade de Brasiacutelia como requisito parcial agrave obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Doutor em Processos de Desenvolvimento Humano e Sauacutede

b Marinho-Arauacutejo C M amp Almeida S F C (2005) Psicologia escolar construccedilatildeo e consolidaccedilatildeo da identidade profissional Campinas Editora Aliacutenea

c Martiacutenez A M (2010) O que pode fazer o psicoacutelogo na escola Em Aberto 23 (83) 39-56

303

A ATUACcedilAtildeO DA PSICOLOGIA ESCOLAR NA EDUCACcedilAtildeO SUPERIOR CYNTHIA BISINOTO

PESQUISA-INTERVENCcedilAtildeO 3ordm ENCONTRO

DATA 15102010 HORAacuteRIO 14h00 LOCAL Faculdade PARTICIPANTES Cynthia e Psi OBJETIVOS

bull Planejar e organizar pesquisa-intervenccedilatildeo (estudo teoacuterico e assessoria agrave praacutetica)

PAUTA Parte 1 - Assessoria agrave praacutetica

1 Compartilhar atividades da semana reflexotildees e questionamentos a Avaliar accedilotildees planejadas e implementadas

i Acompanhamento dos alunos observaccedilatildeo em sala contato com professores ii Reuniatildeo de coordenadores iii Fac Talentos iv CPA

b Planejar novas accedilotildees c Realizar Mapeamento Institucional (base para as accedilotildees)

Parte 2 - Estudo teoacuterico 1 Discussatildeo das leituras

a Oliveira C B E (2009) A atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo Superior Projeto de Tese apresentado ao Instituto de Psicologia da Universidade de Brasiacutelia como requisito parcial agrave obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Doutor em Processos de Desenvolvimento Humano e Sauacutede

b Marinho-Arauacutejo C M amp Almeida S F C (2005) Psicologia escolar construccedilatildeo e consolidaccedilatildeo da identidade profissional Campinas Editora Aliacutenea

c Martiacutenez A M (2010) O que pode fazer o psicoacutelogo na escola Em Aberto 23 (83) 39-56

2 Indicaccedilatildeo de leituras a Machado A M amp Souza M P R (2004) (Orgs) Psicologia Escolar em busca de novos

rumos Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo (Capiacutetulos 1 2 e 3) b Correia M amp Campos H R (2004) Psicologia Escolar histoacuterias tendecircncias e

possibilidades Em O H Yamamoto amp A C Neto (Orgs) O psicoacutelogo e a escola uma introduccedilatildeo ao estudo da psicologia escolar (pp 137-185) Natal EDUFRN

c Witter G P (1999) Psicoacutelogo Escolar no ensino superior e a Lei de Diretrizes e Bases Em R S L Guzzo (Org) Psicologia Escolar LDB e educaccedilatildeo hoje (pp 83-104) Campinas Editora Aliacutenea

304

A ATUACcedilAtildeO DA PSICOLOGIA ESCOLAR NA EDUCACcedilAtildeO SUPERIOR CYNTHIA BISINOTO

PESQUISA-INTERVENCcedilAtildeO 4ordm ENCONTRO

DATA 22102010 HORAacuteRIO 14h00 LOCAL Faculdade PARTICIPANTES Cynthia e Psi OBJETIVOS

bull Planejar e organizar pesquisa-intervenccedilatildeo (estudo teoacuterico e assessoria agrave praacutetica)

PAUTA Parte 1 - Assessoria agrave praacutetica

1 Compartilhar atividades da semana reflexotildees e questionamentos a Avaliar accedilotildees planejadas e implementadas b Planejar novas accedilotildees

Parte 2 - Estudo teoacuterico

1 Discussatildeofechamento das leituras a Marinho-Arauacutejo C M amp Almeida S F C (2005) Psicologia escolar construccedilatildeo e

consolidaccedilatildeo da identidade profissional Campinas Editora Aliacutenea b Martiacutenez A M (2010) O que pode fazer o psicoacutelogo na escola Em Aberto 23 (83) 39-

56 2 Indicaccedilatildeo de leituras

a Machado A M amp Souza M P R (2004) (Orgs) Psicologia Escolar em busca de novos rumos Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo (Capiacutetulos 1 2 e 3)

b Witter G P (1999) Psicoacutelogo Escolar no ensino superior e a Lei de Diretrizes e Bases Em R S L Guzzo (Org) Psicologia Escolar LDB e educaccedilatildeo hoje (pp 83-104) Campinas Editora Aliacutenea

305

A ATUACcedilAtildeO DA PSICOLOGIA ESCOLAR NA EDUCACcedilAtildeO SUPERIOR CYNTHIA BISINOTO

PESQUISA-INTERVENCcedilAtildeO 5ordm ENCONTRO

DATA 03112010 HORAacuteRIO 15h00 LOCAL Faculdade PARTICIPANTES Cynthia e Psi OBJETIVOS

bull Planejar e organizar pesquisa-intervenccedilatildeo (estudo teoacuterico e assessoria agrave praacutetica)

PAUTA Parte 1 - Assessoria agrave praacutetica

1 Compartilhar atividades da semana reflexotildees e questionamentos a Avaliar accedilotildees planejadas e implementadas b Planejar novas accedilotildees

Parte 2 - Estudo teoacuterico 1 Discussatildeofechamento das leituras

a Marinho-Arauacutejo C M amp Almeida S F C (2005) Psicologia escolar construccedilatildeo e consolidaccedilatildeo da identidade profissional Campinas Editora Aliacutenea

b Martiacutenez A M (2010) O que pode fazer o psicoacutelogo na escola Em Aberto 23 (83) 39-56

2 Indicaccedilatildeo de leituras a Witter G P (1999) Psicoacutelogo Escolar no ensino superior e a Lei de Diretrizes e Bases

Em R S L Guzzo (Org) Psicologia Escolar LDB e educaccedilatildeo hoje (pp 83-104) Campinas Editora Aliacutenea

b Marinho-Arauacutejo C M (2009) Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo Superior novos cenaacuterios de intervenccedilatildeo e pesquisa Em C M Marinho-Arauacutejo (Org) Psicologia Escolar novos cenaacuterios e contextos de pesquisa formaccedilatildeo e praacutetica (pp 155-202) Campinas Editora Aliacutenea

306

A ATUACcedilAtildeO DA PSICOLOGIA ESCOLAR NA EDUCACcedilAtildeO SUPERIOR CYNTHIA BISINOTO

PESQUISA-INTERVENCcedilAtildeO 6ordm ENCONTRO

DATA 05112010 HORAacuteRIO 14h LOCAL Faculdade PARTICIPANTES Cynthia e Psi OBJETIVOS

bull Planejar e organizar pesquisa-intervenccedilatildeo (estudo teoacuterico e assessoria agrave praacutetica)

PAUTA Parte 1 - Assessoria agrave praacutetica

1 Dimensatildeo de intervenccedilatildeo - Perfil do estudante a Discutir os objetivos do mapeamento do perfil de egresso b Analisar material institucional no que concerne ao perfil do egresso (PDI PPCs

orientaccedilotildees do NUVA etc) c Discutir possiacuteveis estrateacutegias de investigaccedilatildeo do perfil d Elaborar um projeto de mapeamento do perfil do estudante da Fac Senac (ingressante

concluinte e egresso) Parte 2 - Estudo teoacuterico

1 Indicaccedilatildeo de leituras (manter) a Witter G P (1999) Psicoacutelogo Escolar no ensino superior e a Lei de Diretrizes e Bases

Em R S L Guzzo (Org) Psicologia Escolar LDB e educaccedilatildeo hoje (pp 83-104) Campinas Editora Aliacutenea

b Marinho-Arauacutejo C M (2009) Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo Superior novos cenaacuterios de intervenccedilatildeo e pesquisa Em C M Marinho-Arauacutejo (Org) Psicologia Escolar novos cenaacuterios e contextos de pesquisa formaccedilatildeo e praacutetica (pp 155-202) Campinas Editora Aliacutenea

307

A ATUACcedilAtildeO DA PSICOLOGIA ESCOLAR NA EDUCACcedilAtildeO SUPERIOR CYNTHIA BISINOTO

PESQUISA-INTERVENCcedilAtildeO 7ordm ENCONTRO

DATA 11112010 HORAacuteRIO 14h LOCAL Faculdade PARTICIPANTES Cynthia e Psi OBJETIVOS

bull Planejar e organizar pesquisa-intervenccedilatildeo (estudo teoacuterico e assessoria agrave praacutetica)

PAUTA Parte 1 - Assessoria agrave praacutetica

1 Compartilhar atividades da semana reflexotildees e questionamentos a Avaliar e planejar accedilotildees (apoio psicopedagoacutegico perfil do estudante ambientaccedilatildeo

retenccedilatildeo) Parte 2 - Estudo teoacuterico

1 Discussatildeo de leituras a Marinho-Arauacutejo C M (2009) Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo Superior novos cenaacuterios de

intervenccedilatildeo e pesquisa Em C M Marinho-Arauacutejo (Org) Psicologia Escolar novos cenaacuterios e contextos de pesquisa formaccedilatildeo e praacutetica (pp 155-202) Campinas Editora Aliacutenea

2 Indicaccedilatildeo de leituras Avelar L P Leitatildeo R L S D amp Martiacutenez A M (2003) Seleccedilatildeo de professores uma experiecircncia

inovadora Psicologia Escolar e Educacional 7 (2) 217-219

308

ANEXO VII - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Portugal)

UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA UNIVERSIDADE DO MINHO

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Vocecirc estaacute sendo convidado(a) a participar da pesquisa ldquoA atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar

na Educaccedilatildeo Superiorrdquo desenvolvida pela pesquisadora Cynthia Bisinoto Evangelista de Oliveira

sob orientaccedilatildeo dos professores Claisy Marinho (Universidade de BrasiacuteliaBrasil) e Leandro

Almeida (Universidade do MinhoPortugal)

A pesquisa tem como objetivos investigar a atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar em Instituiccedilotildees

de Educaccedilatildeo Superior (IES) investigar atuaccedilotildees inovadoras da Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo

Superior e identificar o perfil do psicoacutelogo escolar e as competecircncias especiacuteficas agrave atuaccedilatildeo na

Educaccedilatildeo Superior

As informaccedilotildees a serem utilizadas seratildeo construiacutedas pela pesquisadora atraveacutes de dados

obtidos por meio de entrevistas observaccedilotildees e anaacutelise documental sendo-lhe garantido o sigilo

quanto agrave sua identidade As informaccedilotildees fornecidas poderatildeo ser utilizadas e estaratildeo disponiacuteveis

para discussatildeo avaliaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo futuras incluindo publicaccedilotildees em perioacutedicos ou livros de

circulaccedilatildeo cientiacutefico-acadecircmica Ressalta-se que esta pesquisa obteve aprovaccedilatildeo do Comitecirc de

Eacutetica em Pesquisa do Instituto de Ciecircncias Humanas da Universidade de Brasiacutelia

A participaccedilatildeo na pesquisa natildeo oferece nenhum tipo de risco ao participante Sua

participaccedilatildeo eacute de caraacuteter voluntaacuterio e natildeo envolve recompensa financeira Eacute-lhe garantida a

liberdade para recusar participar desta pesquisa bem como desistir em qualquer fase da pesquisa

natildeo acarretando prejuiacutezo algum a este estudo ou a vocecirc Possiacuteveis duacutevidas podem ser esclarecidas

antes e durante o curso da pesquisa

Considerando entatildeo que todas as duacutevidas foram devidamente esclarecidas e tendo havido

tempo suficiente para pensar a respeito da autorizaccedilatildeo de participaccedilatildeo na pesquisa solicito o seu

consentimento livre e espontacircneo expressando sua participaccedilatildeo nesta pesquisa

Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash CEPIHUnB (55 61) 3307-2761 ou cep_ihunbbr

Contatos da pesquisadora (351) 964 869 807 ou cynthiabuolcombr

Concordo em participar da citada pesquisa e portanto assino de livro e espontacircnea vontade

este termo de consentimento

Portugal _____ de ___________ de 2010

Nome do Participante _________________________________________________

Assinatura do Participante Assinatura da Pesquisadora

309

ANEXO VIII - Roteiro de entrevista para psicoacutelogos escolares de Portugal

UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA UNIVERSIDADE DO MINHO

A ATUACcedilAtildeO DA PSICOLOGIA ESCOLAR NA EDUCACcedilAtildeO SUPERIOR CYNTHIA BISINOTO

ENTREVISTA ndash PSICOacuteLOGO

DIMENSAtildeO 1 ndash CARACTERIZACcedilAtildeO DO PROFISSIONAL

1 Onde e quando vocecirc se formou em Psicologia

2 Quanto tempo vocecirc tem de experiecircncia profissional E haacute quanto tempo atua na Educaccedilatildeo

Superior

3 Vocecirc tem alguma formaccedilatildeo complementar Qual

DIMENSAtildeO 2 ndash ATUACcedilAtildeO DA PSICOLOGIA

4 Descreva brevemente como eacute o trabalho que vocecirc realiza neste serviccedilo Descreva as principais

atividades que vocecirc desenvolve

5 Que modelo de intervenccedilatildeo orienta seu trabalho

6 Considerando sua experiecircncia profissional quais as facilidades e dificuldades vivenciadas na

sua atuaccedilatildeo na Educaccedilatildeo Superior

7 Em sua opiniatildeo aleacutem do que vocecirc faz quais outras atividades cabem ao psicoacutelogo na Educaccedilatildeo

Superior

8 Qual o seu viacutenculo com a instituiccedilatildeo

DIMENSAtildeO 3 ndash PERFIL PROFISSIONAL

9 Quais recursos (teoacutericos teacutecnicos pessoais interpessoais saberes praacuteticos valores desejos)

satildeo necessaacuterios para sua atuaccedilatildeo Quais vocecirc ainda precisa desenvolver

10 A partir da sua experiecircncia quais competecircncias considera importantes para a atuaccedilatildeo como

psicoacutelogo na Educaccedilatildeo Superior

11 Para vocecirc qual o perfil desejado ao psicoacutelogo para atuar na Educaccedilatildeo Superior

DIMENSAtildeO 4 ndash PERCEPCcedilAtildeO DO SERVICcedilO

12 Que importacircnciarelevacircncia vocecirc atribui a esse serviccedilo Que contribuiccedilatildeo esse trabalho tem

trazido aos alunos aos professores e agrave instituiccedilatildeo

13 Qual o papel desse serviccedilo em relaccedilatildeo agrave permanecircncia e ao sucesso dos estudantes bem como agrave

igualdade de oportunidades na Educaccedilatildeo Superior

14 Como esse serviccedilo atua em relaccedilatildeo ao insucesso abandono acadecircmico e as dificuldades

enfrentadas pelos estudantes

15 Considerando a sua experiecircncia nesse serviccedilo considera que algo poderia ser modificado ou

implementado

310

ANEXO IX - Roteiro de entrevista para coordenadores de Portugal

UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA UNIVERSIDADE DO MINHO

A ATUACcedilAtildeO DA PSICOLOGIA ESCOLAR NA EDUCACcedilAtildeO SUPERIOR CYNTHIA BISINOTO

ENTREVISTA - COORDENADOR DO SERVICcedilO

DIMENSAtildeO 1 ndash PERFIL DO SERVICcedilO

1 Quando e porque foi criado o Serviccedilo de Accedilatildeo Social desta instituiccedilatildeo e especificamente o de

Psicologia

2 Quais as principais diretrizes e objetivos que orientam as atividades desse serviccedilo

3 Existe algum tipo de avaliaccedilatildeo do serviccedilo Se sim como eacute feita e quais os principais

resultados

DIMENSAtildeO 2 ndash FUNCIONAMENTO DO SERVICcedilO

4 Quais profissionais compotildeem o serviccedilo e como eacute a interaccedilatildeo entre eles

5 A quem satildeo dirigidas as accedilotildees deste serviccedilo (puacuteblico-alvo) Qual a forma de acesso

participaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo do trabalho

6 Que atividades satildeo desenvolvidas por esse serviccedilo

7 Quais os problemas ou temaacuteticas mais comuns

8 De quem eacute a responsabilidade teacutecnica pelo serviccedilo A quem cabe a supervisatildeo do trabalho

DIMENSAtildeO 3 ndash PERCEPCcedilAtildeO DO SERVICcedilO

9 Que importacircnciarelevacircncia vocecirc atribui a esse serviccedilo Que contribuiccedilatildeo esse trabalho tem

trazido aos alunos aos professores e agrave instituiccedilatildeo

10 Qual o papel desse serviccedilo em relaccedilatildeo agrave permanecircncia e ao sucesso dos estudantes bem como agrave

igualdade de oportunidades na Educaccedilatildeo Superior

11 Tendo em vista a sua experiecircncia na coordenaccedilatildeo desse serviccedilo considera que algo poderia ser

modificado ou implementado

DIMENSAtildeO 4 ndash ATUACcedilAtildeO DA PSICOLOGIA

12 Descreva brevemente as principais atividades realizadas pelo(s) profissional(is) de Psicologia

13 Que modelo de intervenccedilatildeo orienta o trabalho neste serviccedilo

14 Para vocecirc qual o perfil desejado ao psicoacutelogo para atuar na Educaccedilatildeo Superior

15 Qual o viacutenculo do psicoacutelogo com a instituiccedilatildeo

  • ___________________________________________
  • Profordf Drordf Claisy Maria Marinho-Arauacutejo - Presidente
  • ___________________________________________
  • Profordf Drordf Raquel Souza Lobo Guzzo - Membro externo
  • __________________________________________
  • Profordf Drordf Marlis Morosini Polidori - Membro externo
  • ___________________________________________
  • Profordf Drordf Marisa Maria Brito da Justa Neves - Membro interno
  • ___________________________________________
  • Profordf Drordf Denise de Souza Fleith - Membro interno
  • ___________________________________________
  • Profordf Drordf Marly de Jesus Silveira - Suplente
  • TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

ii

UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA

INSTITUTO DE PSICOLOGIA

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Processos de

Desenvolvimento Humano e Sauacutede

A ATUACcedilAtildeO DA PSICOLOGIA ESCOLAR

NA EDUCACcedilAtildeO SUPERIOR

PROPOSTA PARA OS SERVICcedilOS DE PSICOLOGIA

Cynthia Bisinoto Evangelista de Oliveira

Tese apresentada ao Instituto de Psicologia

da Universidade de Brasiacutelia como requisito

parcial agrave obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Doutor em

Processos de Desenvolvimento Humano e

Sauacutede aacuterea de concentraccedilatildeo

Desenvolvimento Humano e Educaccedilatildeo

Orientadora Professora Drordf Claisy Maria Marinho-Arauacutejo

Brasiacutelia marccedilo de 2011

iii

UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA

INSTITUTO DE PSICOLOGIA

Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Processos de

Desenvolvimento Humano e Sauacutede

TESE APROVADA PELA SEGUINTE BANCA EXAMINADORA

___________________________________________

Profordf Drordf Claisy Maria Marinho-Arauacutejo - Presidente

Universidade de Brasiacutelia Instituto de Psicologia

___________________________________________

Profordf Drordf Raquel Souza Lobo Guzzo - Membro externo

Pontifiacutecia Universidade Catoacutelica de Campinas Poacutes-Graduaccedilatildeo em Psicologia

__________________________________________

Profordf Drordf Marlis Morosini Polidori - Membro externo

Centro Universitaacuterio Metodista IPA

___________________________________________

Profordf Drordf Marisa Maria Brito da Justa Neves - Membro interno

Universidade de Brasiacutelia Instituto de Psicologia

___________________________________________

Profordf Drordf Denise de Souza Fleith - Membro interno

Universidade de Brasiacutelia Instituto de Psicologia

___________________________________________

Profordf Drordf Marly de Jesus Silveira - Suplente

Universidade de Brasiacutelia Faculdade de Educaccedilatildeo

Brasiacutelia marccedilo de 2011

iv

AGRADECIMENTOS

Aos meus queridos e amados pais Lucas e Sueli pelos ensinamentos e afetos que desde a

mais tenra idade fazem de mim quem sou hoje

Agrave minha adorada irmatilde Kelen super amiga por sempre apoiar e acreditar nos meus

projetos

Ao Luciano companheiro e grande amor por respeitar as minhas escolhas incentivar a

concretizaccedilatildeo dos meus sonhos e por participar da minha vida sempre com muita alegria

Agrave Claisy para aleacutem de orientadora exemplo de dedicaccedilatildeo persistecircncia seriedade e

confianccedila Obrigada por compartilhar de forma sincera e generosa seus conhecimentos

convicccedilotildees competecircncias virtudes e afetos e por acreditar nas minhas potencialidades quando eu

muitas vezes nem as tinha percebido

Ao professor Leandro Almeida co-orientador no Doutorado Sanduiacuteche pela

disponibilidade em me acolher e em compartilhar sua vasta experiecircncia e sabedoria

Agrave professora Marisa Brito exemplo marcante de energia pela alegre convivecircncia e pelos

momentos descontraiacutedos de profundo aprendizado

Agrave professora Denise Fleith pela serenidade e carinho com que compartilha conhecimentos

e vivecircncias que tecircm alargado os meus horizontes

Agrave professora Raquel Guzzo pela riqueza dos ldquonossosrdquo diaacutelogos que tecircm sido

particularmente importantes na construccedilatildeo da minha trajetoacuteria em Psicologia Escolar

Agrave professora Marlis Polidori pelas discussotildees e incentivos agrave articulaccedilatildeo da Psicologia

Escolar com a Educaccedilatildeo Superior

Agrave professora Marly Silveira por participar da banca deste trabalho e contribuir para o

seu aperfeiccediloamento

Aos professores Dilvo Ristoff e Maria Claacuteudia Lopes Marlis Polidori e Marisa Brito

pelas contribuiccedilotildees oferecidas na Jornada de Projetos do PGPDS e no exame de qualificaccedilatildeo

respectivamente

Ao Senac-DF e agrave Fac Senac-DF nas figuras do Prof Luiacutes Otaacutevio e Profordf Flaacutevia Silveira

por confiarem e colaborarem com o desenvolvimento deste trabalho

Aos amigos e familiares que tecircm acompanhado incentivado e admirado meu percurso

Aos colegas do Laboratoacuterio de Psicologia Escolar antigos e receacutem chegados pela

circulaccedilatildeo de ideias sugestotildees e apoio Agrave Ana Clara pela convivecircncia fraterna e saudaacutevel

v

Ao CNPq e agrave CAPES pela concessatildeo das bolsas de doutorado e doutorado sanduiacuteche

respectivamente

Agrave coordenaccedilatildeo do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Processos de Desenvolvimento

Humano e Sauacutede pelo apoio acadecircmico

Aos participantes desse estudo no Brasil e em Portugal pela disponibilidade em

colaborar e mostrar diferentes formas de ser psicoacutelogo escolar

vi

Oliveira C B E (2011) A atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo Superior proposta para

os Serviccedilos de Psicologia Tese de Doutorado Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

RESUMO

A Psicologia Escolar tem como eixo de atuaccedilatildeo a mediaccedilatildeo dos processos de aprendizagem e de desenvolvimento humano Apesar de historicamente ter se vinculado agrave escola outros contextos institucionais tambeacutem revestidos da funccedilatildeo educativa vecircm sendo reconhecidos como espaccedilos potenciais de aprendizagem formaccedilatildeo e desenvolvimento humano Um destes contextos emergentes de atuaccedilatildeo e pesquisa em Psicologia Escolar eacute a Educaccedilatildeo Superior que tem como finalidade formar sujeitos para a vida em sociedade Entretanto em virtude das inuacutemeras e complexas transformaccedilotildees caracteriacutesticas da sociedade contemporacircnea as Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior (IES) tecircm se confrontado com desafios e dilemas relacionados ao seu papel frente agraves demandas do mercado agrave expansatildeo quantitativa das instituiccedilotildees e dos cursos agrave efetividade dos programas de apoio ao acesso e permanecircncia agrave adequaccedilatildeo dos objetivos pedagoacutegicos e institucionais agrave realidade dos estudantes agrave qualificaccedilatildeo do corpo docente agrave necessidade de inovaccedilotildees curriculares e pedagoacutegicas entre outros Para enfrentar de forma mais eficiente estes desafios as IES tecircm desenvolvido algumas estrateacutegias como a criaccedilatildeo de Serviccedilos de Psicologia Com o intuito de conhecer o trabalho dos psicoacutelogos escolares nestes Serviccedilos este estudo teve como objetivo investigar a atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar em Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior Especificamente propocircs-se (a) compor um panorama dos Serviccedilos de Psicologia em IES do Brasil e de Portugal (b) mapear e analisar a atuaccedilatildeo de psicoacutelogos escolares em instituiccedilotildees do Distrito Federal (DF) e de Portugal (c) investigar experiecircncias diferenciadas de atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo Superior (d) acompanhar a atuaccedilatildeo de um psicoacutelogo escolar em uma IES do DF e (e) elaborar uma proposta de criaccedilatildeo e estruturaccedilatildeo de Serviccedilos de Psicologia na Educaccedilatildeo Superior A pesquisa foi estruturada em dois estudos um realizado no contexto brasileiro e outro no contexto portuguecircs tendo ambos contemplado as etapas de Mapeamento dos Serviccedilos de Psicologia e de Mapeamento da atuaccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares A primeira etapa buscou elaborar panoramas nacionais dos Serviccedilos de Psicologia das IES de cada paiacutes e apresentar uma caracterizaccedilatildeo destes serviccedilos a segunda teve como meta o estudo e anaacutelise da atuaccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares A configuraccedilatildeo deste trabalho eacute multimetodoloacutegica com abordagem qualitativa e quantitativa que se ancora nos pressupostos epistemoloacutegicos e metodoloacutegicos da perspectiva histoacuterico-cultural Os resultados indicaram que Brasil e Portugal apresentam grande diversidade em termos da estrutura e funcionamento dos Serviccedilos havendo alguns mais dedicados ao apoio psicoloacutegico aos discentes em uma perspectiva individual e remediativa de intervenccedilatildeo e outros orientados para accedilotildees coletivas de formaccedilatildeo e de desenvolvimento de competecircncias com os estudantes acolhimento a calouros e apoio agrave transiccedilatildeo para o mercado profissional Realizam tambeacutem assessoria aos professores e coordenadores de curso e colaboram com oacutergatildeos e unidades da instituiccedilatildeo Comparecem nos discursos e praacuteticas dos psicoacutelogos escolares o foco em accedilotildees preventivas e institucionais Com base nestes resultados apresentou-se uma proposta de criaccedilatildeo e estruturaccedilatildeo para os Serviccedilos de Psicologia na Educaccedilatildeo Superior que representa um esforccedilo de consolidaccedilatildeo e legitimaccedilatildeo do trabalho da Psicologia Escolar no Sistema de Educaccedilatildeo Superior Palavras-chave Psicologia Escolar Educaccedilatildeo Superior Serviccedilos de Psicologia Desenvolvimento Humano Atuaccedilatildeo Institucional

vii

Oliveira C B E (2011) The performance of School Psychology in Higher Education Proposal

for Psychology Services Tese de Doutorado Universidade de Brasiacutelia Brasiacutelia

ABSTRACT

The School Psychology has as axis of action the promotion of the processes of learning and human development Although historically it has been associated to the school others institutional contexts also endowed with the educational function have been recognized as potential spaces of learning formation and human development One of these emergent contexts of work and research is the Higher Education which aims to prepare subjects for life in society However because of the numerous and complex changes that are characteristic of contemporary society the Higher Education Institutions (HEIs) have been confronted with challenges and dilemmas their role face to the marketrsquos demands the quantitative expansion of institutions and courses the effectiveness of the programs of access and maintenance support the adequacy of educational and institutional goals to students reality the teachersrsquo qualification the need for curricular and pedagogical innovations among others To address more effectively these challenges HEIs have created some strategies like the Services of Psychology Trying to know the work that has been done by school psychologists in these Services this study aimed to investigate the practice of the School Psychology in Higher Education Institutions Specifically it was proposed (a) to elaborate a framework of the Psychology Services in Brazil and Portugal (b) to map and analyze the action of school psychologists in institutions of the Distrito FederalBrazil and Portugal (c) to investigate differentiated experiences of action in Higher Education (d) to accompany the practice of a school psychologist in a HEI of the Distrito Federal and (e) to design a proposal of creation and function to the Psychology Services in Higher Education The research was structured in two studies one conducted in the Brazilian context and the other in the Portuguese context Both studies involved mapping Services of Psychology and mapping the performance of school psychologists The first phase sought to develop national overviews of Psychology Services in HEIs of each country and present a characterization of these services the second phase was aimed at studying and analyzing the performance of school psychologists This research is multimethodology with qualitative and quantitative analyses and is based on epistemological and methodological framework of historical and cultural perspective The results indicated that Brazil and Portugal present great diversity in the operating conditions and scope of interventions of the Services having some of them more dedicated to the psychological support to student in an individual and treatment perspective of intervention and others that work with programs of skill development welcome new students (freshmen) and support to the transition to the labor market They also carry out support to the teachingndashlearning process and collaborate with other units of the institution participating in selection and training processes If traditionally the Psychology Services were oriented by an individual perspective of intervention and in response to the studentsacute problem nowadays they have been working in preventive and institutional practices including actions with other agents Based in these results it was presented a proposal of creation and structuring of Services of Psychology in Higher Education which means an effort towards the consolidation and legitimization of the work of School Psychology in Higher Education Keywords School Psychology Higher Education Psychology Services Human Development Institutional Action

viii

SUMAacuteRIO

IacuteNDICE DE TABELAS x

IacuteNDICE DE FIGURAS xi

INTRODUCcedilAtildeO 12

CAPIacuteTULO I - ATUACcedilAtildeO EM PSICOLOGIA ESCOLAR TRANSFORMACcedilOtildeES E

PERSPECTIVAS

16

Origem e Consolidaccedilatildeo da Psicologia Escolar 16

O advento da Psicologia Escolar no mundo e no Brasil 16

A revisatildeo criacutetica em Psicologia Escolar e seus desdobramentos 21

Para aleacutem da criacutetica o estabelecimento de uma nova Psicologia Escolar 25

O perfil profissional do psicoacutelogo escolar e os desafios agrave formaccedilatildeo 33

Praacuteticas e Contextos de Atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar 37

Praacuteticas contemporacircneas de atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar no Brasil 37

A presenccedila da Psicologia Escolar no mundo 51

Educaccedilatildeo Superior um novo contexto de atuaccedilatildeo para a Psicologia Escolar 54

Os Serviccedilos de Apoio Psicoloacutegico em Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior 55

A Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo Superior brasileira 58

A Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo Superior de Portugal 63

CAPIacuteTULO II - EDUCACcedilAtildeO SUPERIOR HISTOacuteRIA CARACTERIacuteSTICAS E

DESAFIOS

68

Histoacuterico da Educaccedilatildeo Superior 68

A constituiccedilatildeo histoacuterica das instituiccedilotildees educativas 68

O surgimento das Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior no mundo as diferentes ideias

acerca de universidade e de Educaccedilatildeo Superior

71

A emergecircncia das Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior no Brasil 74

Universidade Ensino Superior ou Educaccedilatildeo Superior Aproximaccedilotildees e distinccedilotildees

entre os termos

78

Caracteriacutesticas Funccedilotildees e Desafios da Educaccedilatildeo Superior na contemporaneidade 82

A atual estrutura e funcionamento da Educaccedilatildeo Superior brasileira 82

Questotildees atuais na Educaccedilatildeo Superior 94

Processos de ampliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior brasileira 94

Modalidades em Educaccedilatildeo Superior EAD e Cursos Tecnoloacutegicos 97

Inovaccedilotildees curriculares e pedagoacutegicas 101

Avaliaccedilatildeo como recurso agrave garantia da qualidade da Educaccedilatildeo Superior 102

A crise da Educaccedilatildeo Superior 110

A Educaccedilatildeo Superior diante dos interesses econocircmicos contemporacircneos 114

Breve histoacuterico e cenaacuterio recente da Educaccedilatildeo Superior em Portugal 120

ix

CAPIacuteTULO III - DEFINICcedilAtildeO DO PROBLEMA DE PESQUISA 128

Problematizaccedilotildees 128

Objetivos 129

CAPIacuteTULO IV - OPCcedilOtildeES EPISTEMOLOacuteGICAS E METODOLOacuteGICAS 130

A Pesquisa Cientiacutefica em Psicologia na Perspectiva Histoacuterico-Cultural Reflexotildees

Epistemoloacutegicas

130

A Epistemologia Qualitativa e suas contribuiccedilotildees metodoloacutegicas 133

Procedimentos Metodoloacutegicos 135

Cenaacuterio e contexto definiccedilatildeo do campo de investigaccedilatildeo 135

Desenho metodoloacutegico caminhos para a construccedilatildeo das informaccedilotildees 136

Estudo 1 - Brasil 138

Estudo 2 - Portugal 146

Proposta para a criaccedilatildeo e estruturaccedilatildeo de Serviccedilos de Psicologia 148

Procedimentos para anaacutelise das informaccedilotildees 148

CAPIacuteTULO V - RESULTADOS E DISCUSSAtildeO 153

Estudo 1 - Brasil 153

Estudo 2 - Portugal 196

Siacutentese dos estudos 1 e 2 216

Proposta para a criaccedilatildeo e estruturaccedilatildeo de Serviccedilos de Psicologia na Educaccedilatildeo

Superior brasileira

219

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS 259

REFEREcircNCIAS 267

ANEXOS 291

x

IacuteNDICE DE TABELAS

Tabela 1 Evoluccedilatildeo do nuacutemero de IES segundo a categoria administrativa 86

Tabela 2

Quantitativo de IES por organizaccedilatildeo acadecircmica e categoria administrativa em

2009 87

Tabela 3

Distribuiccedilatildeo dos docentes nas IES por organizaccedilatildeo acadecircmica e categoria

administrativa em 2009 88

Tabela 4 Evoluccedilatildeo da graduaccedilatildeo a distacircncia 89

Tabela 5 Evoluccedilatildeo dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo 92

Tabela 6 Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior de Portugal 124

Tabela 7

Estruturaccedilatildeo do processo de acompanhamento da psicoacuteloga escolar em uma IES

do DF 144

Tabela 8

Encontros relativos ao acompanhamento da praacutetica realizados com a psicoacuteloga

escolar 145

Tabela 9 Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior do Brasil com Serviccedilo de Psicologia 154

Tabela 10 Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior do Distrito Federal com Serviccedilo de Psicologia 160

Tabela 11 Caracterizaccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares que atuam em IES do Distrito Federal 163

Tabela 12

Atividades realizadas pelos psicoacutelogos escolares nos Serviccedilos de Psicologia do

Distrito Federal 165

Tabela 13

Zona de sentido 1 Quem eacute o psicoacutelogo escolar Consideraccedilotildees sobre o perfil

profissional 173

Tabela 14

Zona de sentido 2 O que e como fazer em Psicologia Escolar Consideraccedilotildees

acerca das possibilidades de intervenccedilatildeo 181

Tabela 15

Zona de sentido 3 Formaccedilatildeo continuada como recurso auxiliar agrave construccedilatildeo do

perfil e da atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar 188

Tabela 16

Indicadores de perfil construiacutedos a partir do acompanhamento da psicoacuteloga

escolar em uma IES do DF 193

Tabela 17

Indicadores de atuaccedilatildeo construiacutedos a partir do acompanhamento da psicoacuteloga

escolar em uma IES do DF 194

Tabela 18 Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior de Portugal com Serviccedilo de Psicologia 197

Tabela 19 Caracterizaccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares que atuam em IES de Portugal 206

Tabela 20

Atividades realizadas pelos psicoacutelogos escolares nos Serviccedilos de Psicologia de

Portugal 210

xi

IacuteNDICE DE FIGURAS

Figura 1 Organizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior no Brasil 83

Figura 2 Distribuiccedilatildeo das IES segundo as regiotildees brasileiras no ano de 2009 84

Figura 3 Distribuiccedilatildeo das IES no territoacuterio brasileiro segundo as regiotildees 85

Figura 4 Distribuiccedilatildeo do corpo docente segundo as regiotildees brasileiras em 2009 87

Figura 5 Evoluccedilatildeo das matriacuteculas nos cursos superiores de tecnologia 90

Figura 6 Dez maiores cursos de graduaccedilatildeo por matriacuteculas em 2009 90

Figura 7 Organizaccedilatildeo do Sistema Educativo de Portugal 122

Figura 8 Distribuiccedilatildeo das universidades puacuteblicas em Portugal 124

Figura 9 Distribuiccedilatildeo das universidades privadas em Portugal 125

Figura 10 Distribuiccedilatildeo de vagas na Educaccedilatildeo Superior de Portugal 126

Figura 11

Desenho metodoloacutegico relativo agrave investigaccedilatildeo da atuaccedilatildeo da Psicologia

Escolar na Educaccedilatildeo Superior 137

Figura 12 Profissionais que integram os Serviccedilos de Psicologia do Brasil 155

Figura 13 Puacuteblico atendido pelos Serviccedilos de Psicologia do Brasil 156

Figura 14

Atividades desenvolvidas pelos psicoacutelogos escolares nos Serviccedilos de

Psicologia do Brasil 157

Figura 15 Puacuteblico atendido pelos Serviccedilos de Psicologia de Portugal 199

Figura 16

Atividades desenvolvidas pelos psicoacutelogos escolares nos Serviccedilos de

Psicologia de Portugal 201

Figura 17

Dimensotildees e eixos de intervenccedilatildeo em Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo

Superior 229

12

INTRODUCcedilAtildeO

O tema de interesse que orienta o desenvolvimento deste estudo eacute a atuaccedilatildeo da Psicologia

Escolar na Educaccedilatildeo Superior sendo que a escolha por esta temaacutetica se daacute pela confluecircncia de

fatores pessoais profissionais cientiacuteficos e acadecircmicos conforme descritos nesta apresentaccedilatildeo

Desde a conclusatildeo da graduaccedilatildeo tenho trabalhado como psicoacuteloga escolar Por quase cinco

anos atuei em uma escola particular do Distrito Federal que oferece desde a educaccedilatildeo infantil ateacute o

ensino meacutedio Foi durante esta experiecircncia profissional que tive a oportunidade de realizar o

mestrado em Psicologia na Universidade de Brasiacutelia no qual investiguei o papel do psicoacutelogo

escolar na relaccedilatildeo entre a famiacutelia e a escola especificamente no acircmbito do ensino meacutedio Seis

meses apoacutes a conclusatildeo do mestrado ingressei no doutorado na mesma instituiccedilatildeo com o interesse

inicial de dar continuidade agraves investigaccedilotildees sobre a relaccedilatildeo famiacutelia-escola

Nos primeiros meses do curso tive contato com alguns relatos de experiecircncia profissional

de consultoria e de pesquisa que indicavam a possibilidade de intervenccedilatildeo e de investigaccedilatildeo da

Psicologia Escolar em outros contextos para aleacutem do tradicional ou seja as escolas de educaccedilatildeo

infantil e ensino fundamental especialmente A partir das reflexotildees suscitadas por esses relatos e

das discussotildees e consideraccedilotildees que transcorreram nas orientaccedilotildees acadecircmicas mobilizei-me para a

investigaccedilatildeo da Psicologia Escolar em espaccedilos diferenciados ao da escola especificamente a

Educaccedilatildeo Superior e os contextos empresariais que estatildeo investindo em accedilotildees de educaccedilatildeo

continuada Em ambos os casos motivava-me explorar a contribuiccedilatildeo da Psicologia Escolar na

mediaccedilatildeo do desenvolvimento humano adulto e no processo de mudanccedila dos profissionais adultos

que trabalham nestes espaccedilos

Neste mesmo momento em que eu considerava os desafios e perspectivas relativas a estas

duas opccedilotildees de pesquisa surgiu a oportunidade de trabalhar como psicoacuteloga escolar em uma

Instituiccedilatildeo de Educaccedilatildeo Superior privada do Distrito Federal o que foi determinante para a escolha

da Educaccedilatildeo Superior como objeto de estudo no doutorado A faculdade em questatildeo estava no seu

segundo ano de funcionamento e assumindo seu compromisso com as estrateacutegias

institucionalmente definidas em relaccedilatildeo agrave promoccedilatildeo do processo de formaccedilatildeo discente decidiu

implantar um serviccedilo de Psicologia Escolar Assim em setembro de 2008 comecei a trabalhar

como psicoacuteloga escolar na Educaccedilatildeo Superior Em virtude da abertura e receptividade da

instituiccedilatildeo a novas propostas e da minha identificaccedilatildeo pessoal e profissional com uma perspectiva

mais ampla de atuaccedilatildeo tive oportunidade de desenvolver accedilotildees que considero diferentes daquelas

que tradicionalmente caracterizam o trabalho da aacuterea nesse contexto Realizei atividades de

desenvolvimento pessoal com os membros do corpo teacutecnico-administrativo participei do

planejamento e execuccedilatildeo do processo de autoavaliaccedilatildeo institucional coordenei e conduzi junto

com outros profissionais um programa de formaccedilatildeo continuada para os docentes realizei oficinas

13

de orientaccedilatildeo profissional com os discentes entre outras Em maio de 2009 licenciei-me da

instituiccedilatildeo para me dedicar exclusivamente ao doutorado

Tendo estabelecido a Educaccedilatildeo Superior como campo de pesquisa trecircs fatores em

especial reforccedilaram o interesse pelo tema a pouca produccedilatildeo brasileira voltada agraves possiacuteveis

contribuiccedilotildees especiacuteficas da Psicologia Escolar a este niacutevel educativo o reconhecimento de que a

vinculaccedilatildeo da Psicologia Escolar com o processo de desenvolvimento humano estaacute em estreita

articulaccedilatildeo com a responsabilidade da Educaccedilatildeo Superior com a formaccedilatildeo de cidadatildeos a qual estaacute

para aleacutem da formaccedilatildeo teacutecnica e a convicccedilatildeo de que a Psicologia Escolar ancorada em sua

compromisso social pode contribuir para a construccedilatildeo de uma sociedade mais igualitaacuteria justa e

humana

Definido o objeto de estudo deste trabalho - a atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo

Superior - mergulhei em um processo de revisatildeo da literatura de estudo e de aprofundamento

relacionado agrave Psicologia Escolar e agrave Educaccedilatildeo Superior bem como de definiccedilatildeo dos procedimentos

metodoloacutegicos que poderiam subsidiar a investigaccedilatildeo desse objeto Durante este processo de estudo

e organizaccedilatildeo da pesquisa surgiu a possibilidade de realizar o estaacutegio de doutorado do exterior

comumente conhecido como Doutorado Sanduiacuteche que representava uma oportunidade singular de

ampliar a investigaccedilatildeo para aleacutem do contexto brasileiro e do Distrito Federal que era o foco inicial

deste estudo Alguns fatores viabilizaram a realizaccedilatildeo do Doutorado Sanduiacuteche em Portugal

conforme detalhado a seguir

Desde 2007 a Universidade de Brasiacutelia (UnB) estabelece relaccedilotildees de parceria e pesquisa

em conjunto com o Centro de Investigaccedilatildeo de Poliacuteticas do Ensino Superior de Portugal (CIPES)

por intermeacutedio do Laboratoacuterio de Psicologia Escolar (PED) e do Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em

Desenvolvimento Humano e Sauacutede (PGPDS) No acircmbito do Acordo de Cooperaccedilatildeo e Intercacircmbio

acadecircmico teacutecnico-cientiacutefico e cultural (DOU nordm 206 de 23102008) celebrado entre a UnB e o

CIPES estabeleceu-se um projeto de pesquisa com o objetivo de analisar comparativamente os

principais indicadores da Educaccedilatildeo Superior do Brasil e de Portugal Outro objetivo da pesquisa eacute

tambeacutem o de verificar as influecircncias de tais indicadores em poliacuteticas educacionais e no

desenvolvimento de competecircncias discentes Aleacutem de pesquisadores da UnB e do CIPES integram

tambeacutem a pesquisa investigadores da Universidade do MinhoBraga (Portugal)

Na Universidade de Brasiacutelia o estudo eacute coordenado pela Profordf Drordf Claisy Maria Marinho-

Arauacutejo e conta com a participaccedilatildeo de pesquisadores ligados ao PGPDS professores doutores

alunos de mestrado e de doutorado No CIPES a responsabilidade pela coordenaccedilatildeo e

desenvolvimento da pesquisa estaacute a cargo do Prof Dr Alberto Amaral e do Prof Dr Pedro Nuno

Teixeira e na Universidade do MinhoBraga a pesquisa estaacute vinculada ao Instituto de Educaccedilatildeo e

Psicologia e eacute coordenada pelo Prof Dr Leandro da Silva Almeida

Entre as metas de formaccedilatildeo da pesquisa conjunta previu-se contribuir com a formaccedilatildeo e

qualificaccedilatildeo profissional dos pesquisadores envolvidos por meio do aprofundamento e

14

aperfeiccediloamento de professores e discentes dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo das IES participantes

Eacute no acircmbito desta meta de formaccedilatildeo que idealizou-se a realizaccedilatildeo de estaacutegio de doutorado no

exterior em Portugal sob a orientaccedilatildeo do Professor Leandro Almeida

Alguns dos interesses de investigaccedilatildeo do Professor Leandro vinculados agrave Educaccedilatildeo

Superior referem-se a questotildees relacionadas agrave democratizaccedilatildeo deste niacutevel educativo aos processos

de transiccedilatildeo e adaptaccedilatildeo agrave universidade e agrave promoccedilatildeo do sucesso acadecircmico Estudos que tem

coordenado e participado versam sobre atitudes e estrateacutegias de aprendizagem em estudantes do

Ensino Superior fatores de sucesso e insucesso escolar e desenvolvimento psicossocial satisfaccedilatildeo

acadecircmica dos universitaacuterios adaptaccedilatildeo dos alunos do primeiro ano desenvolvimento e validaccedilatildeo

de escala de integraccedilatildeo social no Ensino Superior entre outros

Aleacutem de estar envolvido com a investigaccedilatildeo e produccedilatildeo na interface Psicologia e Educaccedilatildeo

Superior o Professor Leandro eacute um pesquisador de referecircncia na histoacuteria da Psicologia Escolar

brasileira e internacional Entre os anos de 1991 e 1994 coordenou juntamente com a Professora

Raquel Guzzo expoente da aacuterea no Brasil e com projeccedilatildeo internacional o projeto luso-brasileiro de

pesquisa intitulado ldquoEstudo da situaccedilatildeo da Psicologia Escolar nos paiacuteses de liacutengua Portuguesa e

Espanholardquo que tinha a intenccedilatildeo de contribuir para o crescimento da aacuterea e consolidaccedilatildeo da

profissatildeo

Os resultados desta pesquisa culminaram com a publicaccedilatildeo do livro ldquoPsicologia Escolar

padrotildees e praacuteticas em paiacuteses de liacutengua espanhola e portuguesardquo (Guzzo Almeida amp Wechsler

1993) do qual o Professor Leandro eacute autor do capiacutetulo referente agrave experiecircncia portuguesa e um dos

organizadores juntamente com as professoras Raquel Guzzo e Solange Wechsler O livro eacute o

primeiro de uma seacuterie regular que desde entatildeo vem sendo publicada pelo Grupo de Trabalho em

Psicologia Escolar da ANPEPP (Associaccedilatildeo Nacional de Poacutes-Graduaccedilatildeo e Pesquisa em

Psicologia) Essa eacute uma das razotildees pelas quais o Professor Leandro Almeida eacute um interlocutor

singular na articulaccedilatildeo entre a Psicologia Escolar e a Educaccedilatildeo Superior tendo o doutorado

sanduiacuteche sido realizado sob sua orientaccedilatildeo no 1ordm semestre de 2010 Sendo assim este trabalho de

tese foi realizado com base em dois estudos um desenvolvido no Brasil e outro em Portugal os

quais natildeo tecircm caraacuteter comparativo

No que diz respeito agrave Psicologia Escolar almeja-se contribuir para a reflexatildeo teoacuterico-

conceitual e para produccedilatildeo de conhecimento que tenha o potencial de enriquecer e fomentar tanto a

formaccedilatildeo dos novos psicoacutelogos quanto a melhor qualificaccedilatildeo daqueles que jaacute estatildeo no mercado de

trabalho O envolvimento com a formaccedilatildeo inicial e continuada de psicoacutelogos escolares eacute um

compromisso que tem sido assumido pelos pesquisadores da aacuterea nos uacuteltimos 20 anos e que eacute

reafirmado neste trabalho

Pretende-se tambeacutem auxiliar na consolidaccedilatildeo da identidade do psicoacutelogo escolar

especificamente daquele que atua na Educaccedilatildeo Superior por meio da identificaccedilatildeo de recursos e

competecircncias que satildeo essenciais agrave sua praacutetica e o distinguem de outros profissionais da educaccedilatildeo

15

A confusatildeo de papeacuteis ou mesmo a indefiniccedilatildeo satildeo queixas comuns e fonte de anguacutestia entre os

psicoacutelogos escolares Haacute que se assegurar entatildeo o compromisso cientiacutefico de apresentar

indicaccedilotildees que orientem a praacutetica em Psicologia Escolar uma vez que a clareza acerca da natureza

e especificidade das accedilotildees eacute o que possibilita ao profissional desenvolver seu trabalho de forma

segura e interdependente em relaccedilatildeo agraves demais Este eacute tambeacutem um dos compromissos deste

trabalho

Pautando-se na compreensatildeo de que a pesquisa cientiacutefica e a praacutetica profissional satildeo

complementares devendo uma subsidiar a outra este trabalho pretende ter um caraacuteter

eminentemente teoacuterico-praacutetico Isto eacute espera-se igualmente contribuir para a construccedilatildeo do

conhecimento e para a assessoria agrave praacutetica profissional jaacute que de um lado a inserccedilatildeo no contexto

de pesquisa alimenta por meio da anaacutelise e interpretaccedilotildees dos indicadores o processo teoacuterico e

por outro provoca nos participantes reflexotildees revisotildees e ressignificaccedilotildees que satildeo potencialmente

transformadoras de suas accedilotildees Pretende-se entatildeo apoiar o aprimoramento profissional de pelo

menos um psicoacutelogo escolar que atua na Educaccedilatildeo Superior de forma a oportunizar-lhe

transformaccedilotildees na construccedilatildeo de sua identidade e na sua atuaccedilatildeo por meio da atualizaccedilatildeo da

produccedilatildeo na aacuterea e do incentivo a novas praacuteticas profissionais

Ademais eacute intenccedilatildeo deste trabalho contribuir para dar visibilidade agrave Educaccedilatildeo Superior

como campo legiacutetimo de atuaccedilatildeo e de pesquisa em Psicologia Escolar Para que os profissionais da

aacuterea consigam se estabelecer neste novo cenaacuterio de atuaccedilatildeo eacute necessaacuterio que se evidencie o apoio

que podem trazer agraves IES de forma que estas possam reconhececirc-los como importantes colaboradores

frente aos desafios contemporacircneos

Eacute portanto diante da associaccedilatildeo destes fatores pessoais profissionais e acadecircmicos que

este trabalho tem como questatildeo central a praacutetica da Psicologia Escolar em Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo

Superior tanto em termos da configuraccedilatildeo atual desta relaccedilatildeo quanto no que diz respeito a novas e

diferentes possibilidades que possa adquirir Eacute importante destacar que um forte interesse que tenho

eacute a de que o trabalho acadecircmico natildeo se limite agrave descriccedilatildeo do fenocircmeno em estudo mas envolva

tambeacutem um processo de intervenccedilatildeo sobre a praacutetica Assim para este doutorado um dos objetivos

traccedilados foi o de acompanhar um profissional da aacuterea pois tenho certeza que um processo de

assessoria agrave praacutetica profissional do psicoacutelogo escolar que atua na Educaccedilatildeo Superior agrave luz das

produccedilotildees e reflexotildees contemporacircneas em muito iraacute contribuir para a transformaccedilatildeo de

concepccedilotildees e das praacuteticas em Psicologia Escolar

A tese estaacute organizada em duas partes A primeira delas dedicada agrave revisatildeo de literatura

contempla os capiacutetulos que tratam da Psicologia Escolar e da Educaccedilatildeo Superior A segunda parte

estaacute centrada na pesquisa e eacute composta por um capiacutetulo que traz os objetivos outro que apresenta

as orientaccedilotildees teoacuterico-metodoloacutegicas e por uacuteltimo um capiacutetulo de resultados e discussatildeo Ao final

tecem-se algumas consideraccedilotildees acerca deste estudo e apresentam-se as referecircncias bibliograacuteficas e

os anexos

16

CAPIacuteTULO I

ATUACcedilAtildeO EM PSICOLOGIA ESCOLAR

TRANSFORMACcedilOtildeES E PERSPECTIVAS

Este capiacutetulo estaacute organizado em duas partes A primeira recorrente nos estudos em

Psicologia Escolar deteacutem-se agrave trajetoacuteria histoacuterica da aacuterea desde seu surgimento marcado por

praacuteticas psicomeacutetricas e por objetivos adaptacionistas passando pelo processo de revisatildeo criacutetica

pelo qual atravessou ateacute a sua constituiccedilatildeo contemporacircnea Apesar do conteuacutedo destas primeiras

seccedilotildees jaacute estarem contemplados em muitos estudos considera-se pertinente retomaacute-lo pois a

anaacutelise e interpretaccedilatildeo de dados conjunturais agrave luz das influecircncias e determinaccedilotildees histoacutericas satildeo

fundamentais para a compreensatildeo de um objeto de estudo Em virtude do estaacutegio inicial das

pesquisas que exploram a relaccedilatildeo entre a Educaccedilatildeo Superior e a Psicologia Escolar natildeo eacute possiacutevel

prescindir da recuperaccedilatildeo histoacuterica desta uacuteltima tendo em vista que pode favorecer a compreensatildeo

dos rumos que ela tomou Na sequecircncia discuti-se acerca das principais diretrizes que vecircm

orientando a atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar e contribuindo para a construccedilatildeo de accedilotildees

comprometidas com a formaccedilatildeo humana e cidadatilde e na uacuteltima seccedilatildeo dessa parte aborda-se ainda o

desafio da formaccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares de acordo com as diretrizes que vecircm orientando a

atuaccedilatildeo na aacuterea

A segunda parte deste capiacutetulo estaacute centrada nas praacuteticas de intervenccedilatildeo e apresenta na

primeira seccedilatildeo um modelo de atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar com base em uma ampla concepccedilatildeo

do que seja Educaccedilatildeo e as possiacuteveis contribuiccedilotildees da ciecircncia psicoloacutegica agraves finalidades das praacuteticas

educativas Ainda nesta seccedilatildeo satildeo contempladas as diversas accedilotildees que podem ser desenvolvidas

pelos psicoacutelogos escolares no acircmbito deste modelo de atuaccedilatildeo Na seccedilatildeo seguinte apresenta-se um

panorama internacional da Psicologia Escolar fazendo uma siacutentese de como estaacute sendo

compreendida e desenvolvida em outros paiacuteses Encerrando o capiacutetulo apresenta-se o estado da

arte sobre a atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar no contexto da Educaccedilatildeo Superior tanto

internacionalmente quanto no contexto brasileiro

ORIGEM E CONSOLIDACcedilAtildeO DA PSICOLOGIA ESCOLAR

O Advento da Psicologia Escolar no Mundo e no Brasil

Uma revisatildeo ainda que breve sobre a histoacuteria da Psicologia Escolar no mundo aponta para

o reconhecimento nos mais diferentes paiacuteses de vaacuterias iniciativas que contribuiacuteram para o

surgimento e consolidaccedilatildeo da aacuterea Em relato histoacuterico voltado agrave compreensatildeo da evoluccedilatildeo

mundial da Psicologia Escolar Oakland e Stenberg (1993) apontam que nos 50 anos que seguiram

ao nascimento da Psicologia cientiacutefica ndash em 1879 na Alemanha com Wundt e a criaccedilatildeo do

primeiro laboratoacuterio de Psicologia ndash houve um grande crescimento desta aacuterea de conhecimento e

17

tambeacutem da Psicologia Escolar especialmente nos paiacuteses da Ameacuterica do Norte e da Europa

Ocidental

Segundo Correia e Campos (2004) os primeiros trabalhos nos quais se reconhece uma

Psicologia preocupada com o processo educativo satildeo os de Francis Galton Alfred Binet e James

Castell na Inglaterra na Franccedila e nos Estados Unidos respectivamente Em 1886 Galton criou em

Londres o primeiro laboratoacuterio de psicometria dedicado ao estudo das diferenccedilas individuais entre

alunos a partir da mensuraccedilatildeo de suas capacidades mentais Tendo transitado pela biologia

estatiacutestica psicologia experimental e pelos testes psicoloacutegicos o principal objetivo de Francis

Galton era medir a capacidade intelectual das pessoas buscando comprovar sua determinaccedilatildeo

hereditaacuteria (Patto 1999) Galton acreditava que as aptidotildees humanas eram herdadas o que o levou

a se preocupar com as diferenccedilas individuais assumidas por ele como sendo de origem bioloacutegica e

com a identificaccedilatildeo dos mais e menos aptos em virtude de tais diferenccedilas

Por sua tentativa de estimar o niacutevel intelectual das pessoas Galton pode ser considerado o

precursor dos testes psicoloacutegicos apesar de ter sido somente em 1905 na Franccedila com Binet e

Simon que se deu a construccedilatildeo da primeira escala meacutetrica de inteligecircncia infantil voltada agrave

classificaccedilatildeo das crianccedilas de acordo com sua capacidade mental O desenvolvimento dessa escala

decorreu de preocupaccedilotildees com o diagnoacutestico e a educaccedilatildeo de crianccedilas que apresentavam

dificuldades para aprender e se pautava na intenccedilatildeo de orientar programas especiais com objetivo

de favorecer o crescimento e progresso dessas crianccedilas

Em 1916 a escala Binet-Simon foi modificada nos Estados Unidos o que favoreceu ainda

mais a divulgaccedilatildeo e aceitaccedilatildeo do trabalho com testes psicoloacutegicos Tambeacutem neste paiacutes eacute que se

atribuiu a James Castell aluno de Galton a criaccedilatildeo do termo ldquotestes mentaisrdquo para designar os

instrumentos de medida que possibilitam comparar as capacidades das pessoas em diferentes

domiacutenios (Correia amp Campos 2004)

Na medida em que a psicometria ia ao encontro das necessidades de entender as diferenccedilas

existentes entre as pessoas e de explicar as dificuldades de algumas crianccedilas para aprender o uso

de testes psicoloacutegicos se difundiu e ganhou reconhecimento Os testes passaram a ser largamente

utilizados nas escolas para seleccedilatildeo e classificaccedilatildeo dos alunos respaldando a separaccedilatildeo entre os

bons e maus alunos os aptos e natildeo aptos os capazes e incapazes os normais e anormais Tanto eacute

assim que Oakland e Stenberg (1993) em menccedilatildeo a dados de pesquisa sobre o trabalho da

Psicologia no ano de 1948 dizem que ldquona maioria dos paiacuteses os psicoacutelogos escolares eram

responsaacuteveis pelo diagnoacutestico de crianccedilas excepcionais para identificar e tratar vaacuterias dificuldades

educacionaisrdquo (p 16)

Diante do apresentado constata-se que o surgimento da Psicologia Escolar

internacionalmente esteve atrelado ao desenvolvimento e aplicaccedilatildeo de testes psicoloacutegicos voltados

agrave investigaccedilatildeo das condiccedilotildees mentais ou intelectuais dos alunos como forma de identificar aqueles

que apresentavam dificuldades especiacuteficas e portanto demandavam intervenccedilotildees diferenciadas

18

adaptaccedilotildees Conforme resumem Correia e Campos (2004) ldquoo grande sucesso da psicometria indica

a perspectiva assumida pela Psicologia Escolar desde o seu nascimento da identificaccedilatildeo com um

modelo de aplicabilidade teacutecnica voltada para a classificaccedilatildeo seleccedilatildeo e adaptaccedilatildeo dos indiviacuteduosrdquo

(p 140)

Em sua articulaccedilatildeo inicial com a Educaccedilatildeo a Psicologia entre outras aacutereas do

conhecimento contribuiu para camuflar as desigualdades sociais historicamente construiacutedas sob o

argumento de desigualdades pessoais biologicamente determinadas (Patto 1999) A produccedilatildeo da

Psicologia no mundo ocidental esteve influenciada pelo controle ideoloacutegico de uma classe

dominante tendo a Psicologia Escolar carregado esta influecircncia ao longo de seu desenvolvimento

No contexto brasileiro os rumos tomados pela Psicologia Escolar seguiram aqueles que a

caracterizaram mundialmente ou seja marcado pela psicometria A presenccedila da Psicologia Escolar

no Brasil pode ser identificada desde os tempos coloniais eacutepoca em que jaacute haviam preocupaccedilotildees

com fenocircmenos psicoloacutegicos que participam do processo educativo (Antunes 2003 2007 2008

Correia amp Campos 2004 Cruces 2003) Entretanto neste periacuteodo soacute eacute possiacutevel fazer referecircncia a

ideias psicoloacutegicas uma vez que ainda natildeo eram desenvolvidas pesquisas e investigaccedilotildees que

expressassem preocupaccedilatildeo com a produccedilatildeo de conhecimento cientiacutefico

Apesar da existecircncia de tais ideias no periacuteodo colonial a aproximaccedilatildeo inicial da Psicologia

com a Educaccedilatildeo no Brasil eacute associada agrave preocupaccedilatildeo com o estudo de meacutetodos de ensino e

processos envolvidos na aprendizagem e no desenvolvimento no contexto das faculdades de

Medicina e de Direito que se estabelecerem no paiacutes apoacutes a transferecircncia da corte portuguesa Estas

faculdades tinham a responsabilidade de formar os quadros administrativos do paiacutes e foram nelas

que se reuniram os primeiros cientistas brasileiros principalmente meacutedicos leitores da produccedilatildeo

cientiacutefica europeia

Neste periacuteodo a Medicina ocupou importante papel na sociedade brasileira de forma que

na segunda metade do seacuteculo XIX ldquoo campo educacional emerge como campo conformado pelo

discurso meacutedico uma vez que os meacutedicos passam a definir regras para a organizaccedilatildeo e

funcionamento da educaccedilatildeo escolarrdquo (Zucoloto 2007 p 138) Sobre a influecircncia da Medicina nas

questotildees educacionais Patto (1999) complementa dizendo que os primeiros especialistas a se

ocuparem dos casos de dificuldade de aprendizagem escolar foram os meacutedicos que transferiram dos

hospitais para as escolas o conceito de anormalidade vinculado aos loucos ldquoAs crianccedilas que natildeo

acompanhavam seus colegas na aprendizagem escolar passaram a ser designadas como anormais

escolares e as causas de seu fracasso satildeo procuradas em alguma anormalidade orgacircnicardquo (Patto

1999 p 63)

Um importante desdobramento da accedilatildeo da Medicina sobre a Educaccedilatildeo foi a geraccedilatildeo do

fenocircmeno descrito como medicalizaccedilatildeo da sociedade (Zucoloto 2007) que se refere ao

compromisso da Medicina e do Estado com a higienizaccedilatildeo das cidades e das populaccedilotildees em

decorrecircncia do reconhecimento de que a ordem e o progresso sociais dependiam da construccedilatildeo de

19

conceitos regras de higiene normas de moral e prescriccedilatildeo de comportamentos aceitos socialmente

Em defesa da higiene mental escolar criaram-se redes de cliacutenicas psicoloacutegicas e de orientaccedilatildeo

infantil focadas em corrigir os desajustamentos das crianccedilas Estas cliacutenicas serviam agraves escolas por

meio do diagnoacutestico e tratamento das dificuldades de aprendizagem

Acerca da influecircncia meacutedica na compreensatildeo dos fenocircmenos educativos Collares e

Moyseacutes (1994) a descrevem muito apropriadamente indicando que a medicalizaccedilatildeo eacute uma tentativa

de encontrar no campo meacutedico as causas e soluccedilotildees para problemas de origem eminentemente

social e poliacutetica Transformavam-se assim questotildees natildeo-meacutedicas em questotildees meacutedicas centrava-

se o processo sauacutede-doenccedila no indiviacuteduo privilegiando a abordagem bioloacutegica o que entre outros

desdobramentos fez com que o diagnoacutestico da natildeo-aprendizagem fosse atribuiacutedo ao sujeito

individual - o aluno - ou no maacuteximo agrave sua famiacutelia

O que se denominou de modelo meacutedico de atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar corresponde

entatildeo agrave praacutetica psicoloacutegica pautada em concepccedilotildees deterministas e reducionistas que camuflam

problemas sociais historicamente construiacutedos atraveacutes da atribuiccedilatildeo de causas individuais Em vez

de uma compreensatildeo multideterminada sobre os fenocircmenos humanos e as dificuldades de

aprendizagem o modelo meacutedico adotado pela Psicologia Escolar centrava-se em aspectos

orgacircnicos individuais para explicar as diferenccedilas entre as pessoas Como bem lembra Patto (1999)

ldquohoje sabemos que desse expressivo movimento das deacutecadas de vinte e trinta restou a praacutetica de

submeter a diagnoacutesticos meacutedico-psicoloacutegicos as crianccedilas que natildeo respondem agraves exigecircncias das

escolasrdquo (p 67)

Dessa forma as explicaccedilotildees para as causas das dificuldades de aprendizagem e para o

rendimento desigual entre os alunos tiveram como contribuiccedilatildeo principal os instrumentos de

avaliaccedilatildeo das aptidotildees Muitos foram os profissionais da Psicologia que a exemplo dos meacutedicos se

empenharam em desenvolver e aplicar instrumentos de medidas com a intenccedilatildeo de verificar o

quanto uma pessoa era mais apta do que outra Desconsiderando as influecircncias ambientais e

relacionais que agem sobre o desenvolvimento humano os testes psicoloacutegicos ingressaram nas

escolas e passaram desde entatildeo a fazer parte de seu cotidiano Conforme destacam Guzzo e

Wechsler (1993) os serviccedilos psicoloacutegicos brasileiros priorizavam a avaliaccedilatildeo da prontidatildeo escolar

a organizaccedilatildeo de classes especiais o diagnoacutestico e encaminhamento para serviccedilos especializados

contribuindo para que se constituiacutesse ldquouma atuaccedilatildeo marcadamente remediativa com nuances do

modelo meacutedico dentro da situaccedilatildeo escolarrdquo (p 43)

Diante do exposto evidencia-se que a entrada da Psicologia na Educaccedilatildeo se deu mediante a

preocupaccedilatildeo com os problemas apresentados por alunos que demonstravam dificuldades para

aprender e natildeo se adequavam agraves expectativas das escolas Estas uacuteltimas por sua vez baseavam-se

em um modelo ideal de aluno segundo o qual todas as crianccedilas submetidas a condiccedilotildees iguais de

ensino deveriam aprender da mesma forma e no mesmo ritmo Com base nesse modelo supunha-

se que os alunos que tinham dificuldade para aprender natildeo tinham as condiccedilotildees intelectuais

20

necessaacuterias para tal aprendizado uma vez que foram submetidos a um ensino padratildeo igualmente

oferecido a todos Estes alunos portanto apresentavam alguma deficiecircncia que devia ser

identificada e tratada Abriram-se assim portas para a inserccedilatildeo da Psicologia nas escolas a qual se

vinculou a objetivos de corrigir e adaptar agrave escola o aluno portador de um problema de

aprendizagem (Correia amp Campos 2004 Tanamachi 2000) Para efetivar esta adaptaccedilatildeo o

psicoacutelogo lanccedilava matildeo essencialmente da avaliaccedilatildeo psicoloacutegica por meio de recursos

psicomeacutetricos tida como funccedilatildeo do psicoacutelogo A esse respeito Campos e Jucaacute (2003) afirmam que

a adoccedilatildeo dos instrumentos psicoloacutegicos de classificaccedilatildeo no interior das instituiccedilotildees

educativas se encontra no nosso paiacutes na origem do que se conhece como a Psicologia

Escolar e Educacional Tais procedimentos refletiam a migraccedilatildeo para o interior da escola

do modelo cliacutenico de atuaccedilatildeo e do seu instrumental (p 39)

Eacute nesse contexto adaptacionista e de correccedilatildeo que se deu a emergecircncia da figura do

psicoacutelogo escolar convocado agrave escola para resolver dificuldades escolares e propor meacutetodos

especiais de educaccedilatildeo tentando ajustar os alunos aos padrotildees de normalidade aceitos socialmente

O modelo de atuaccedilatildeo inicial da Psicologia Escolar ateacute o fim da deacutecada de 70 prezou pelo

diagnoacutestico e tratamento dos problemas de aprendizagem encarando-os como fenocircmenos

individuais de origem orgacircnica Por ser assim a aplicaccedilatildeo do modelo meacutedico de intervenccedilatildeo na

escola conduziu agrave psicologizaccedilatildeo do espaccedilo escolar uma vez que atribuiacutea ao proacuteprio aluno a culpa

por suas dificuldades de aprendizagem e isentava outras instacircncias e profissionais das suas

responsabilidades educativas (Campos amp Jucaacute 2003 Neves 2001 Neves amp Almeida 2003

Tanamachi 2000 Yazlle 1997)

Ao focalizar a origem dos problemas escolares nos alunos ou em suas famiacutelias como veio

a ocorrer e ao desconsiderar que os problemas de aprendizagem podem ser gerados pelo sistema de

ensino a Psicologia Escolar assumiu uma posiccedilatildeo bastante reducionista acerca das diversas

questotildees que participam da dinacircmica escolar Ainda que se reconheccedila positivamente a preocupaccedilatildeo

com os alunos que por alguma razatildeo natildeo aprendiam natildeo se pode negar que esta preocupaccedilatildeo

estava pouco vinculada ao direito de todos agrave educaccedilatildeo e a uma aprendizagem promotora do

desenvolvimento global e das potencialidades de cada um Ao contraacuterio o foco da atuaccedilatildeo da

Psicologia Escolar nesta eacutepoca estava em minimizar as dificuldades e deficiecircncias dos alunos e

adaptaacute-los ao padratildeo ideal desejado pelas instituiccedilotildees escolares Em vez do respeito e da

convivecircncia com a diferenccedila e a diversidade a preocupaccedilatildeo estava direcionada para sua eliminaccedilatildeo

e para a homogeneizaccedilatildeo do puacuteblico escolar

O advento da Psicologia Escolar no Brasil assim como no mundo fundamentou-se em um

modelo essencialmente psicomeacutetrico e cliacutenico que privilegiava o olhar sobre as caracteriacutesticas e

limitaccedilotildees dos indiviacuteduos e pouco se detinha sobre os condicionantes sociais e agraves relaccedilotildees

dialeacuteticas que participam do amplo e complexo processo educativo Tendo se expandido com base

em um modelo meacutedico de atuaccedilatildeo focado em questotildees individuais a Psicologia Escolar se deparou

21

com a dificuldade de responder coerentemente agraves necessidades da Educaccedilatildeo e de contribuir

efetivamente para que esta cumprisse seu papel social e transformador

Diante do reconhecimento de que na qualidade de teacutecnico no interior da escola aplicador

de instrumentos de segmentaccedilatildeo o psicoacutelogo escolar tinha poucos elementos para conhecer e

analisar sistemicamente o contexto de trabalho no qual estava inserido pesquisadores e

profissionais da Psicologia Escolar passaram a criticaacute-la e a buscar novas formas de intervir

Instalou-se assim um importante periacuteodo de reflexotildees sobre a atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar bem

como sobre a formaccedilatildeo e de busca de alternativas diferenciadas de fazer Psicologia Dada a

relevacircncia dessas criacuteticas agrave trajetoacuteria da aacuterea e agrave sua contiacutenua construccedilatildeo a seccedilatildeo seguinte pretende

evidenciar os principais aspectos que contribuiacuteram para a revisatildeo e reformulaccedilatildeo do modelo de

atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar no Brasil

A Revisatildeo Criacutetica em Psicologia Escolar e seus Desdobramentos

Conforme apresentado na seccedilatildeo anterior a trajetoacuteria inicial da Psicologia Escolar foi

essencialmente marcada pelo psicodiagnoacutestico e pela avaliaccedilatildeo psicoloacutegica atividades

consideradas proacuteprias dos psicoacutelogos inseridos no contexto educacional e respaldadas por uma

perspectiva individualizante De posse do instrumental da psicometria os profissionais da aacuterea

desenvolviam suas atividades buscando entender os problemas escolares e fornecer as orientaccedilotildees

baacutesicas que pudessem solucionaacute-los Tais atividades eram orientadas sobretudo por concepccedilotildees

que desconsideravam a influecircncia de uma diversidade de fatores ndash sociais econocircmicos

ideoloacutegicos poliacuteticos institucionais relacionais entre outros ndash para aleacutem dos atribuiacutedos ao proacuteprio

sujeito ao aluno Em decorrecircncia dessa visatildeo acriacutetica acerca da complexidade que eacute caracteriacutestica

da realidade educativa as accedilotildees dos psicoacutelogos escolares pouco contribuiacuteam para transformar o

cotidiano das escolas

Ao final dos anos 70 e iniacutecio da deacutecada de 80 instalou-se no mundo e no Brasil um forte

movimento de criacutetica a este modelo de atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar que tinha como argumento

central o reducionismo e a desconsideraccedilatildeo dos fatores sociais e intraescolares na anaacutelise dos

problemas que transcorrem no espaccedilo educativo No Brasil o trabalho de Maria Helena Souza

Patto (1981 1984) eacute considerado um marco histoacuterico na trajetoacuteria da Psicologia Escolar por ter

evidenciado que o fracasso escolar termo adotado para designar as inuacutemeras formas de natildeo

aprendizagem em vez de ser um fenocircmeno exclusivamente relacionado a deficiecircncias e limitaccedilotildees

do proacuteprio aluno era muito mais uma estrateacutegia de manutenccedilatildeo da estrutura socioeconocircmica

vigente Diante dos estudos feitos pela autora muitas reflexotildees e questionamentos incidiram sobre

a atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar que ateacute entatildeo desconsiderava a influecircncia de um conjunto de

fatores implicados nos problemas escolares

Na opiniatildeo de Tanamachi (2000) a atuaccedilatildeo pouco criacutetica em Psicologia Escolar decorre de

concepccedilotildees que historicamente orientam o trabalho da aacuterea as quais camuflavam a verdadeira

22

realidade dos problemas educacionais por estarem ldquoideologicamente comprometidas com o status

quo cientiacutefico da Psicologia bem como da Educaccedilatildeordquo (p 79) Nessa direccedilatildeo a revisatildeo da atuaccedilatildeo

dos psicoacutelogos escolares precisava passar pela compreensatildeo da origem do pensamento psicoloacutegico

em sua relaccedilatildeo com as demandas sociais oriundas do desenvolvimento do capitalismo e sua

ideologia dominante pois que a construccedilatildeo cientiacutefica em Psicologia bem como em diversas aacutereas

do conhecimento natildeo eacute independente de motivos poliacuteticos e ideoloacutegicos

Tendo em vista o entrelaccedilamento entre a ciecircncia e as contradiccedilotildees e incoerecircncias que fazem

parte da sociedade Malheiro e Nader (1987) na deacutecada de 80 insistiam que nenhum pensamento

ideia ou reflexatildeo eram neutros de forma que ldquoo conhecimento cientiacutefico concretiza-se como

praacuteticas cientiacuteficas ligadas a uma praacutetica ideoloacutegica determinada no interior da qual os

conhecimentos satildeo produzidos transmitidos apropriados sancionados e aplicadosrdquo (p 9) No caso

da Psicologia a direccedilatildeo que a produccedilatildeo cientiacutefica e a intervenccedilatildeo da aacuterea tomaram atrelavam-se agrave

manutenccedilatildeo de uma estrutura socioeconocircmica segmentada e serviam para validar praacuteticas de

discriminaccedilatildeo exclusatildeo e dominaccedilatildeo Refletindo sobre as influecircncias ideoloacutegicas no

desenvolvimento da Psicologia e da Psicologia Escolar especificamente Meira (2000) ressalta que

a tese da existecircncia de compromissos ideoloacutegicos muito bem definidos pode ser claramente

comprovada atraveacutes da anaacutelise histoacuterica da produccedilatildeo teoacuterica em Psicologia que indica uma

tendecircncia hegemocircnica de desconsideraccedilatildeo por vezes completa das desigualdades sociais

e concomitantemente uma acentuada preocupaccedilatildeo com a construccedilatildeo de teorias e teacutecnicas

dirigidas principalmente agrave adaptaccedilatildeo social dos indiviacuteduos (p 48)

Eacute entatildeo diante do reconhecimento de que os profissionais da Psicologia Escolar precisam

ter clareza das influecircncias poliacuteticas e ideoloacutegicas que agem sobre suas escolhas e praacuteticas e da

necessidade de se comprometerem com uma atuaccedilatildeo efetivamente vinculada agrave democratizaccedilatildeo da

Educaccedilatildeo que se instalou um movimento de criacutetica e de revisatildeo acerca do trabalho desenvolvido

pela aacuterea As necessidades de superaccedilatildeo dos determinismos que caracterizaram a trajetoacuteria da

Psicologia Escolar e de adoccedilatildeo de compreensotildees mais abrangentes acerca da Psicologia e da

Educaccedilatildeo satildeo os principais pontos envolvidos nesse movimento A Psicologia Escolar

representada por seus pesquisadores e profissionais se envolveu entatildeo em intensas reflexotildees e

discussotildees acerca de ideias e praacuteticas que ao longo do tempo foram se consolidando como

caracteriacutesticas da aacuterea sem contudo provocarem mudanccedilas significativas frente aos dilemas e

problemas escolares

Entre os aspectos que foram objeto de anaacutelise nesse movimento incluem-se

essencialmente a formaccedilatildeo inicial e continuada em Psicologia Escolar e a atuaccedilatildeo profissional no

contexto educativo conforme evidenciam pesquisas estudos e relatos publicados nas uacuteltimas

deacutecadas (Almeida 2003 Campos 2007 Del Prette 2001 Guzzo 1999b Machado amp Proenccedila

2004 Marinho-Arauacutejo amp Almeida 2005a Marinho-Arauacutejo 2009b Martiacutenez 2005b Neves

Almeida Chaperman amp Batista 2002 Tanamachi Proenccedila amp Rocha 2000 Wechsler 1996) As

23

pesquisas desenvolvidas a partir das questotildees levantadas no movimento de revisatildeo da formaccedilatildeo e

da atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar versavam sobre o fracasso escolar a identidade profissional do

psicoacutelogo escolar a escolarizaccedilatildeo de crianccedilas especiais a formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional em uma

perspectiva criacutetica a avaliaccedilatildeo psicoloacutegica das dificuldades de aprendizagem entre outros temas

Os resultados das pesquisas e anaacutelises realizadas evidenciaram entre outros aspectos que

existe um consenso de que cabe ao psicoacutelogo escolar contribuir para melhorar a qualidade e

eficiecircncia do processo de ensino-aprendizagem como forma de promover nos mais diferentes

espaccedilos educativos o desenvolvimento dos sujeitos mas natildeo haacute entretanto uma unidade em

relaccedilatildeo agraves concepccedilotildees sobre como intervir nesse processo e quais procedimentos e instrumentos

utilizar (Correia amp Campos 2004) Dada a diversidade de concepccedilotildees e teorias acerca do mundo

do homem e dos processos de desenvolvimento e de aprendizagem tecircm-se igualmente praacuteticas

bastante diversificadas que se propotildeem a promover o desenvolvimento humano

Nessa direccedilatildeo Almeida (1999) apontou que o redimensionamento das praacuteticas em

Psicologia Escolar deveria passar obrigatoriamente pela revisatildeo e atualizaccedilatildeo do campo teoacuterico-

conceitual pois segundo ela ldquomuitos psicoacutelogos por natildeo terem clareza e lucidez suficientes sobre

os determinantes filosoacuteficos-ideoloacutegicos de determinadas teorias psicoloacutegicas adotam praacuteticas de

intervenccedilatildeo educativas paradoxalmente contraditoacuterias com o referencial teoacuterico que estes mesmos

psicoacutelogos dizem seguirrdquo (p 63) O conhecimento a anaacutelise e a apropriaccedilatildeo do psicoacutelogo escolar

em relaccedilatildeo agraves teorias psicoloacutegicas e as bases histoacuterica filosoacutefica e epistemoloacutegica que as

sustentam direcionam sua praacutetica de maneira que esta seraacute mais adequada ao contexto educativo

quanto maior for a clareza do profissional em relaccedilatildeo a tais bases

Um importante ponto discutido no seio do movimento de criacutetica agrave Psicologia Escolar eacute

portanto o reducionismo presente em teorias psicoloacutegicas que baseando-se em uma concepccedilatildeo de

homem naturalizada e fortemente biologizante respaldavam o trabalho profissional

Desconsiderando a influecircncia do meio sobre o homem e a accedilatildeo deste sobre o seu entorno as teorias

psicoloacutegicas simplificavam o entendimento de como as pessoas se desenvolvem e contribuiacuteram

para que fatores bioloacutegicos e neuroloacutegicos fossem vistos como determinantes na gecircnese das

dificuldades escolares O aprendizado e principalmente o seu oposto a natildeo aprendizagem eram

explicados por causas centradas no proacuteprio sujeito aprendente em detrimento das praacuteticas sociais e

escolares que favorecem ou dificultam o sucesso escolar levando as crianccedilas com dificuldades a

serem vistas como deficientes

Nessa direccedilatildeo Meira (2000) ressalta que ldquoo processo de culpabilizaccedilatildeo do aluno pela via

da patologizaccedilatildeo dos problemas escolares tem se fundamentado ao longo de nossa histoacuteria em

variadas abordagens teoacutericas que por mais diferentes caminhos expressam a mesma

desconsideraccedilatildeo pelas muacuteltiplas determinaccedilotildees da Educaccedilatildeordquo (p 53) Conforme alerta esta autora

adotar o discurso do compromisso da Psicologia Escolar para com a transformaccedilatildeo exige a

vinculaccedilatildeo a uma consistente base teoacuterica e filosoacutefica que decirc conta de concretizar essa

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transformaccedilatildeo Guzzo (1999a) acrescenta ainda que a ecircnfase nesse modelo individualizante e

patologizante de atuaccedilatildeo eacute influenciada pelo tipo de formaccedilatildeo recebida pelos psicoacutelogos a qual

desprivilegia aacutereas de atuaccedilatildeo institucionais e comunitaacuterias e contribui para manter o foco nos

sujeitos individuais sem entretanto responder satisfatoriamente agraves demandas do contexto escolar

Corroborando essa ideia Conoley e Gutkin (1995) dizem que os programas de formaccedilatildeo

centram-se quase que totalmente nas habilidades praacuteticas mais apropriadas para trabalhar

individualmente com crianccedilas e portanto exploram longamente a avaliaccedilatildeo e os processos cliacutenicos

em detrimento da psicologia social do desenvolvimento organizacional das influecircncias sociais

entre outros toacutepicos ldquoEacute uma ciecircncia com raiacutezes histoacutericas em teoria da personalidade avaliaccedilatildeo

diagnoacutestico e tratamento de desordens mentais fornecendo pouco ou nenhuma orientaccedilatildeo para

aqueles interessados em iniciar uma mudanccedila organizacionalrdquo (Conoley amp Gutkin 1995 p 210)

Observa-se que natildeo se trata da Psicologia natildeo ter um corpo soacutelido de conhecimentos que possa

subsidiar a atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar em uma perspectiva mais ampla e menos individualizada

mas sim do interesse principal da aacuterea estar focado nos problemas dos indiviacuteduos em vez da

interaccedilatildeo com o contexto dinacircmico no qual as pessoas estatildeo inseridas

A revisatildeo criacutetica em Psicologia Escolar culminou entatildeo com a ressignificaccedilatildeo da atuaccedilatildeo

profissional e necessariamente da formaccedilatildeo que a sustenta as quais deveriam passar pela

apropriaccedilatildeo de referenciais teoacuterico-metodoloacutegicos que valorizassem a influecircncia de muacuteltiplos

elementos na conformaccedilatildeo dos problemas escolares reconhecessem a dimensatildeo histoacuterica da

realidade sobre a qual se interveacutem e o papel das interaccedilotildees sociais e privilegiassem accedilotildees coletivas

que contem com a participaccedilatildeo dos diferentes atores que fazem parte do espaccedilo educativo

assegurando a especificidade de cada um

Com o passar dos anos sob o compromisso de redirecionar a trajetoacuteria da Psicologia

Escolar no Brasil reflexotildees estudos e experiecircncias profissionais foram subsidiando a revisatildeo da

aacuterea de maneira a dar contorno a uma nova formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo profissional as quais buscavam natildeo

mais se coadunar ldquoagrave descontextualizaccedilatildeo e fragmentaccedilatildeo do indiviacuteduo agrave naturalizaccedilatildeo dos

fenocircmenos do desenvolvimento humano agrave negaccedilatildeo do caraacuteter histoacuterico-cultural da subjetividade agrave

tentativa de lsquopsicologizaccedilatildeorsquo no cenaacuterio educacionalrdquo (Arauacutejo 2003 p 9) Os psicoacutelogos escolares

passaram a buscar uma atuaccedilatildeo menos psicologizante individualizada e focada na adaptaccedilatildeo do

aluno agrave escola pois reconheceram que tal praacutetica acabava por contribuir para a marginalizaccedilatildeo e a

exclusatildeo de uma parte dos alunos que natildeo recebia as intervenccedilotildees adequadas e necessaacuterias ao seu

desenvolvimento e aprendizagem

Dada a relevacircncia deste movimento de criacutetica na trajetoacuteria da Psicologia Escolar uma vez

que significou a ruptura com um modelo ineficaz Patto (1999) o reconhece como sendo ldquoum

marco nesta mudanccedila importantiacutessima de enfoque apoacutes tantos anos de predomiacutenio em buscar as

causas das dificuldades de aprendizagem escolar nas caracteriacutesticas psicossociais do aprendizrdquo (p

152)

25

Com o objetivo de ilustrar o direcionamento que as experiecircncias profissionais e pesquisas

desenvolvidas pela Psicologia junto agrave Educaccedilatildeo tecircm tomado em decorrecircncia dessa revisatildeo criacutetica

em Psicologia Escolar a proacutexima seccedilatildeo traz os principais aspectos que vecircm direcionando a atuaccedilatildeo

na aacuterea e contribuindo para dar-lhe uma formataccedilatildeo diferente e inovadora em relaccedilatildeo agravequela que

historicamente se desenvolveu

Para Aleacutem da Criacutetica o Estabelecimento de uma Nova Psicologia Escolar

Na introduccedilatildeo do livro de sua autoria Exerciacutecios de Indignaccedilatildeo composto por textos que

ilustram sua preocupaccedilatildeo com os absurdos paradoxos e injusticcedilas que permeiam a escola Patto

(2005) faz uma breve criacutetica agraves poliacuteticas educacionais propostas com o objetivo de melhorar a

formaccedilatildeo escolar e as intervenccedilotildees da Psicologia na Educaccedilatildeo Sobre estas uacuteltimas apesar de dizer

que ldquoimpressiona a permanecircncia de teorias normatizadoras e de praacuteticas classificadoras que zelam

pela permanecircncia do status quordquo (pp 11-12) reconhece que nem tudo foi desolaccedilatildeo pois

mudanccedilas reais e significativas se concretizaram na atuaccedilatildeo da Psicologia nas escolas

Se por um lado existem psicoacutelogos escolares mergulhados em ideias e praacuteticas que

reforccedilam a classificaccedilatildeo normatizaccedilatildeo e estigmatizaccedilatildeo dos alunos heranccedila da atuaccedilatildeo histoacuterica da

Psicologia Escolar por outro profissionais e pesquisadores tecircm investido em propostas e accedilotildees

baseadas na compreensatildeo histoacuterica social e relacional dos fenocircmenos escolares em concepccedilotildees

natildeo deterministas de desenvolvimento de aprendizagem e de avaliaccedilatildeo educacional em opccedilotildees

coletivas e menos individualizadas de intervenccedilatildeo

Em determinado momento foi indispensaacutevel agrave Psicologia Escolar se deparar com

indicaccedilotildees contundentes do que natildeo lhe cabia e do que natildeo era responsabilidade dos psicoacutelogos

escolares Entretanto o desafio que tem sido assumido contemporaneamente eacute o de propor e

experimentar novas possibilidades de intervenccedilatildeo ainda que estas estejam misturadas a praacuteticas

tradicionais conforme aponta Cruces (2003) ao lembrar que ldquoconvivem lado a lado modelos de

atuaccedilotildees e praacuteticas extremamente criacuteticas e inovadoras e atuaccedilotildees permeadas pela visatildeo curativa e

individualizadardquo (p 27)

A coexistecircncia de modelos tradicionais e inovadores indica inicialmente a necessidade de

maior investimento em prol da transformaccedilatildeo da Psicologia que se faz nas instituiccedilotildees educativas

mas representa tambeacutem o resultado de um processo persistente de autocriacutetica anaacutelise

desconstruccedilatildeo revisatildeo e inovaccedilatildeo tanto individuais quanto coletivas Em virtude da reformulaccedilatildeo

das estrateacutegias dos cursos de formaccedilatildeo e dos novos modelos de atuaccedilatildeo que vecircm sendo

desenvolvidos pelos psicoacutelogos inseridos em espaccedilos educativos Maluf (2003) defende com

veemecircncia a tese de que a ldquoPsicologia Escolar estaacute entrando em uma nova fase na qual se

multiplicam accedilotildees afirmativas que datildeo respostas a vigorosas e pertinentes criacuteticas formuladas

sobretudo na deacutecada de 1980rdquo (p 137) Eacute preciso entretanto evidenciar essas accedilotildees pois mais do

que apontar os aspectos sobre os quais recaem as criacuteticas agrave atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar eacute

26

essencial indicar aqueles que mesmo de forma natildeo homogecircnea estatildeo em emergecircncia e trazem

indicadores que satildeo potencialmente orientadores para a consolidaccedilatildeo dessa nova fase em Psicologia

Escolar

Dada a relevacircncia dessas novas accedilotildees na trajetoacuteria da Psicologia Escolar e na sua

consolidaccedilatildeo como campo de atuaccedilatildeo de pesquisa e de produccedilatildeo de conhecimento (Martiacutenez

2005 2007 2009 2010 Arauacutejo 2003 Marinho-Arauacutejo amp Almeida 2005a) a presente seccedilatildeo

indica as principais diretrizes que norteiam atualmente a atuaccedilatildeo na aacuterea Partindo principalmente

da revisatildeo da literatura produzida na uacuteltima deacutecada no Brasil pretende-se evidenciar os aspectos

mais relevantes que tecircm caracterizado um novo modelo de atuaccedilatildeo em consonacircncia com as

discussotildees e reflexotildees atuais acerca do desenvolvimento da Psicologia Escolar

Conforme jaacute apontado anteriormente a constituiccedilatildeo da Psicologia Escolar se deu em

atenccedilatildeo agraves crianccedilas que apresentavam dificuldade para aprender e por essa razatildeo demandavam

intervenccedilatildeo que atenuasse ou corrigisse a referida dificuldade Assim a atuaccedilatildeo inicial dos

profissionais da Psicologia tinha por base accedilotildees de caraacuteter remediativo que buscavam minimizar

um problema que jaacute estava instalado tanto que a ideia original do psicoacutelogo na escola associou-se a

de um profissional convocado para tratar de problemas (Maluf 1994) Diante das criacuteticas de que as

praacuteticas individualistas e psicologizantes baseadas em procedimentos curativos natildeo atendiam

adequadamente as necessidades das escolas esforccedilos foram feitos no sentido de conferir agrave atuaccedilatildeo

da Psicologia Escolar um caraacuteter mais preventivo

Comumente a noccedilatildeo de prevenccedilatildeo eacute relacionada agrave accedilatildeo de se antecipar a determinado

fenocircmeno com o objetivo de evitar que ele ocorra todavia a perspectiva preventiva na atuaccedilatildeo em

Psicologia Escolar busca superar a visatildeo de adaptaccedilatildeo Segundo Guzzo (2001 2003) o

desenvolvimento de praacuteticas preventivas implica alterar a oacutetica sob a qual o desenvolvimento das

crianccedilas e do ser humano de forma geral tem sido compreendido ou seja eacute preciso modificar a

ecircnfase do fracasso para o sucesso do distuacuterbio das dificuldades das doenccedilas e dos problemas para

a sauacutede as competecircncias e a qualidade de vida Trata-se nesta perspectiva de ldquoconstruir a sauacutede

em vez de contra-atacar a doenccedila ndash prevenir em vez de curarrdquo (Guzzo 2003 p 174)

Sobre o entendimento da atuaccedilatildeo preventiva Marinho-Arauacutejo e Almeida (2005a)

esclarecem que o conceito de prevenccedilatildeo natildeo se refere ao ajustamento e adequaccedilatildeo de situaccedilotildees e

comportamentos inadequados ou problemaacuteticos a padrotildees aceitos socialmente Diferentemente

desse posicionamento de controle social exercido a partir da padronizaccedilatildeo de comportamentos e

atitudes espera-se que o psicoacutelogo escolar em sua atuaccedilatildeo preventiva evidencie as contradiccedilotildees e

incoerecircncias entre as praacuteticas educativas e as demandas dos sujeitos que participam desse contexto

oportunizando efetivos processos de conscientizaccedilatildeo aos sujeitos envolvidos (Arauacutejo 2003)

Priorizar a perspectiva preventiva no trabalho da Psicologia com a Educaccedilatildeo implica

desenvolver accedilotildees junto aos profissionais da instituiccedilatildeo contribuindo para a identificaccedilatildeo dos

elementos pessoais e interpessoais subjetivos intersubjetivos e objetivos que contribuem ou

27

dificultam a consecuccedilatildeo de seus objetivos educacionais A accedilatildeo preventiva deve se redirecionar

para a compreensatildeo e intervenccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais que permeiam a construccedilatildeo do

conhecimento sendo que para tanto eacute preciso que o psicoacutelogo escolar instrumentalize-se no

sentido de estudar e entender as relaccedilotildees interpessoais como sendo sua unidade de anaacutelise seu foco

de atenccedilatildeo e de intervenccedilatildeo (Almeida 1999 Arauacutejo 2003 Arauacutejo amp Almeida 2003 Del Prette amp

Del Prette 1996 Marinho-Arauacutejo amp Almeida 2005a)

Sendo o homem um ser indiscutivelmente social sua trajetoacuteria de desenvolvimento eacute

resultado das interaccedilotildees que estabelece ao longo da vida tanto com o meio fiacutesico quanto social

Assumir as relaccedilotildees interpessoais como loacutecus privilegiado de intervenccedilatildeo em Psicologia Escolar

significa reconhecer o papel singular que elas tecircm no desenvolvimento das pessoas e na construccedilatildeo

de suas praacuteticas Por assim ser quando se estaacute orientado pela perspectiva preventiva e relacional de

atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar parte-se do pressuposto de que natildeo existem causas individuais para

os fenocircmenos escolares e da vida muito ao contraacuterio eles natildeo satildeo particulares pois estatildeo sempre

imbricados em uma rede de relaccedilotildees Dessa forma

os caminhos para a intervenccedilatildeo do psicoacutelogo escolar devem portanto estar ancorados na

compreensatildeo de que as relaccedilotildees sociais originam o processo interdependente de

construccedilotildees e apropriaccedilotildees de significados e sentidos que acontece entre os indiviacuteduos

influenciando reciacuteproca eou complementarmente como cada sujeito constitui-se

enquanto tal Para intervir na complexidade intersubjetiva presente nessas relaccedilotildees o

psicoacutelogo deve fazer uma escolha deliberada e consciente por uma atuaccedilatildeo preventiva

sustentada por teorias psicoloacutegicas cujo enfoque privilegie uma visatildeo de homem e

sociedade dialeticamente constituiacutedos em suas relaccedilotildees histoacutericas e culturais (Arauacutejo

2003 p 66)

Priorizar um posicionamento de caraacuteter preventivo e relacional supotildee que se crie um

espaccedilo de interlocuccedilatildeo com os atores escolares - professores coordenadores direccedilatildeo e outros -

tendo como foco os aspectos objetivos e subjetivos dos processos de desenvolvimento e de

aprendizagem (Arauacutejo 2003 Arauacutejo amp Almeida 2003) Valorizar e oportunizar intencionalmente

espaccedilos interativos entre os sujeitos escolares conduz agrave circulaccedilatildeo de opiniotildees valores anguacutestias

desejos incocircmodos e expectativas que direcionam a praacutetica desses sujeitos e contribuem ou natildeo

para o sucesso do processo educativo A interlocuccedilatildeo entre os diferentes atores eacute uma estrateacutegia

que coloca em circulaccedilatildeo os sentidos subjetivos por eles construiacutedos possibilitando-os reconhecer

a relaccedilatildeo existente entre a sua praacutetica e os elementos que a determinam A tomada de consciecircncia

dessa relaccedilatildeo eacute que traz entatildeo a possibilidade de transformar intencionalmente suas accedilotildees

Adotar um modelo de atuaccedilatildeo relacional natildeo implica abandonar por completo modalidades

de intervenccedilatildeo que focalizem os sujeitos individuais mas trata-se sobretudo de integrar a estas

accedilotildees institucionais e coletivas direcionadas para a rede de relaccedilotildees que eacute a base dos processos

pedagoacutegicos e de gestatildeo de uma instituiccedilatildeo Sob a precauccedilatildeo de natildeo adotar um modelo meacutedico-

28

individualizante eacute um equiacutevoco afirmar que o modelo de atuaccedilatildeo preventivo e relacional abdica do

olhar sobre os sujeitos individuais pois eacute destes que adveacutem o material de trabalho do psicoacutelogo

escolar ldquoInserir a dimensatildeo psicoloacutegica no interior das praacuteticas educativas pressupotildee articular

questotildees de ordem dos sujeitos e das instituiccedilotildees entrelaccedilando o individual com o coletivordquo

(Novaes 2003 p 132) sem abandonar o olhar e atenccedilatildeo ao sujeito individual Eacute como se a todo

momento o psicoacutelogo escolar tivesse que fazer um movimento dialeacutetico entre o que eacute da ordem do

individual e do coletivo buscando entender como estas duas instacircncias se imbricam mutuamente e

se reconstroem ressignificando-se

Diante do que foi exposto ateacute o momento percebe-se que a partir do movimento de criacutetica

agrave atuaccedilatildeo pautada em um modelo meacutedico e patologizante a Psicologia Escolar direcionou-se para

um modelo preventivo e relacional Este por sua vez abandonou a ecircnfase prioritaacuteria sobre o sujeito

individual e deslocou sua atenccedilatildeo para a complexa rede de relaccedilotildees pessoais e institucionais que

sustenta a dinacircmica escolar Essa mudanccedila de perspectiva - do individual para o social do

particular para o coletivo do micro para o macro - contribuiu para que se evidenciasse uma atuaccedilatildeo

de caraacuteter muito mais institucional Dessa maneira ldquoda imagem claacutessica do lsquoprofissional dos testesrsquo

tem-se hoje o psicoacutelogo interagindo e observando naturalmente os alunos planejando accedilotildees com

professores e pais dinamizando as relaccedilotildees interpessoais na escola e na comunidaderdquo (Guzzo

Almeida amp Wechsler 1993 p 7)

Os caminhos estabelecidos para uma intervenccedilatildeo institucional em Psicologia Escolar

portanto preventiva e relacional ancoram-se fundamentalmente em accedilotildees direcionadas agrave

conscientizaccedilatildeo dos sujeitos escolares de forma a favorecer nesses sujeitos uma lucidez acerca do

seu papel profissional funccedilotildees e responsabilidades que os levem a assumir aquilo que lhes compete

no acircmbito das relaccedilotildees que se estabelecem no cotidiano escolar Tomar consciecircncia entretanto natildeo

eacute um processo individual e a parte do contexto no qual o sujeito estaacute inserido muito pelo contraacuterio

eacute um processo que transcorre na interaccedilatildeo dos sujeitos entre si e destes com o ambiente do qual

fazem parte Desta forma para promover uma intervenccedilatildeo institucional relacional eacute preciso que o

psicoacutelogo escolar investigue e analise a instituiccedilatildeo escolar como um todo contribuindo para que as

rupturas e reformulaccedilotildees levem em uacuteltima instacircncia a um redirecionamento das praacuteticas dos

profissionais (Marinho-Arauacutejo amp Almeida 2005a)

Para proceder a uma anaacutelise e intervenccedilatildeo nas relaccedilotildees eacute preciso oportunizar situaccedilotildees nas

quais os sujeitos conversem entre si troquem ideias evidenciem as contradiccedilotildees defendam seu

ponto de vista critiquem escolhas denunciem praacuteticas incoerentes expressem seus desejos enfim

eacute preciso criar oportunidades para a circulaccedilatildeo das vozes ou dos discursos que permeiam o

contexto educativo Eacute importante salientar que a circulaccedilatildeo dessas ideias natildeo se daacute naturalmente

como se fosse uma consequecircncia automaacutetica da adoccedilatildeo do modelo institucional-relacional em

Psicologia Escolar Ao contraacuterio colocar ideias princiacutepios valores desejos e incocircmodos em

29

movimento em um contexto institucional exige que se crie intencionalmente espaccedilos que

favoreccedilam tal movimento

Constituir espaccedilos oportunos agrave circulaccedilatildeo do discurso exige por sua vez que o psicoacutelogo

escolar desenvolva uma competecircncia que eacute proacutepria da especificidade do suporte psicoloacutegico na

educaccedilatildeo a atitude de escuta cliacutenica (Almeida 1999 Arauacutejo 2003 Arauacutejo amp Almeida 2003

Marinho-Arauacutejo amp Almeida 2005a) Agrave medida que o discurso eacute posto em circulaccedilatildeo compete ao

psicoacutelogo escolar ouvi-lo e fazer uma leitura criacutetica e reflexiva do discurso institucional e do

sofrimento psiacutequico dos sujeitos

Kupfer (2004) esclarece que a circulaccedilatildeo dos discursos oportuniza a oxigenaccedilatildeo das ideias

e traz a possibilidade de transformaccedilatildeo Se por um lado o discurso tende a reproduzir repeticcedilotildees e

cristalizaccedilotildees como tentativa de evitar a mudanccedila por outro existem manifestaccedilotildees expressas em

falas de sujeitos que evidenciam tentativas de mudar o que estaacute cristalizado Ainda que existam

padrotildees rotinas e praacuteticas jaacute instituiacutedos agraves vezes emergem vozes que evidenciam a inadequaccedilatildeo do

que estaacute posto e a necessidade de mudanccedila o psicoacutelogo escolar deve estar atento ao que se repete

mas acima de tudo ao que estaacute emergindo como novo ldquoEacute exatamente como lsquoauxiliar de produccedilatildeorsquo

de tais emergecircncias que um psicoacutelogo pode encontrar seu lugarrdquo (Kupfer 2004 p 59) Diante

dessas vozes que emergem cabe ao psicoacutelogo escolar estar em posiccedilatildeo de escuta cliacutenica das ldquovozes

institucionaisrdquo o que lhe possibilitaraacute entender e analisar criticamente os aspectos objetivos e

subjetivos que participam da dinacircmica escolar

Importante ressaltar que escuta cliacutenica natildeo eacute utilizado como sinocircnimo de atuaccedilatildeo cliacutenica

agravequela que caracterizou o trabalho inicial em Psicologia Escolar Defender a escuta cliacutenica

psicoloacutegica natildeo significa defender a aplicaccedilatildeo do modelo cliacutenico-terapecircutico na Educaccedilatildeo mas

lanccedilar matildeo de uma competecircncia especiacutefica do saber psicoloacutegico que se ancora sob uma formaccedilatildeo

teoacuterica adequada por parte do psicoacutelogo escolar e a uma forma eacutetica de agir e de pensar Conforme

destaca Almeida (1999) ldquoo psicoacutelogo renunciou natildeo somente ao modelo cliacutenico mas tambeacutem agrave

atitude cliacutenica e agrave sensibilidade da escutardquo (p 66) que devem ser proacuteprias da atuaccedilatildeo psicoloacutegica

na escola A autora complementa dizendo que mesmo que se privilegie uma accedilatildeo preventiva em

Psicologia Escolar natildeo se pode ldquoa priori e preconceituosamente rejeitar os ensinamentos e a

experiecircncia acumulada do modelo cliacutenicordquo (p 68) negando toda uma construccedilatildeo cientiacutefica que daacute

sustentaccedilatildeo ao trabalho psicoloacutegico

A escuta cliacutenica psicoloacutegica em um contexto institucional eacute de natureza ativa e tem como

marca a intencionalidade da transformaccedilatildeo por acreditar que o encontro de sujeitos subjetivamente

implicados e envolvidos com aquele contexto produz novos sentidos instaura uma rede

diferenciada de interaccedilotildees e muda os rumos das accedilotildees pessoais e institucionais A ecircnfase da escuta

cliacutenica estaacute portanto na sensibilidade aos discursos institucionais os quais expressam fenocircmenos

subjetivos e intersubjetivos que satildeo constituintes do modo singular como cada contexto educativo e

30

os sujeitos ali inseridos assumem suas responsabilidades conduzem suas accedilotildees e se envolvem com

os processos de aprendizagem e de desenvolvimento humano

Diante do que foi apresentado ateacute o momento fica expliacutecito que o afastamento em relaccedilatildeo

agrave postura adaptativa e corretiva fez com que a Psicologia Escolar buscasse uma atuaccedilatildeo de caraacuteter

preventivo e relacional que se sustenta muito mais em paracircmetros de sucesso do que de fracasso

Ao contraacuterio da cultura do fracasso que tende a responsabilizar e culpar o proacuteprio aluno pelas

dificuldades que vivencia acentuando suas limitaccedilotildees e deficiecircncias a cultura do sucesso escolar

privilegia as potencialidades e possibilidades em vez dos problemas e dificuldades focaliza

as diferentes alternativas individuais e coletivas de superaccedilatildeo das adversidades valoriza as

diferenccedilas a heterogeneidade e a diversidade de formas de aprender pensar e estar no

mundo Nesse sentido a Psicologia Escolar tem buscado consolidar uma atuaccedilatildeo que se

baseia em crescimento e sucessos dos atores escolares em contraponto agrave ecircnfase em

problemas e dificuldades (Oliveira amp Marinho-Arauacutejo 2009 pp 658-659)

Eacute importante destacar que a orientaccedilatildeo para o sucesso escolar estaacute estreitamente vinculada

agrave responsabilidade e ao compromisso da Psicologia Escolar com a promoccedilatildeo do desenvolvimento

seja ele individual coletivo ou institucional A esse respeito Guzzo (1996 2001) pontua que a

atuaccedilatildeo essencialmente preventiva em Psicologia Escolar comprometida com a potencialidade da

educaccedilatildeo no que compete a formaccedilatildeo das pessoas - de cidadatildeos - traz em si a adoccedilatildeo de uma

abordagem teoacuterica do desenvolvimento humano Dessa maneira a intervenccedilatildeo institucional

preventiva e relacional proposta contemporaneamente pela Psicologia Escolar estaacute direcionada

para reformulaccedilotildees pessoais e institucionais que oportunizem aos atores envolvidos

transformaccedilotildees e saltos qualitativos em seu desenvolvimento

Em siacutentese a finalidade das intervenccedilotildees psicoloacutegicas no interior de uma instituiccedilatildeo

educativa eacute sobretudo a de promover o desenvolvimento e as potencialidades dos sujeitos em

relaccedilatildeo sendo que para alcanccedilar essa finalidade o psicoacutelogo escolar precisa considerar tanto as

questotildees individuais quanto as coletivas e institucionais Para tanto eacute necessaacuterio criar um espaccedilo de

interlocuccedilatildeo e de escuta que se detenha aos discursos que circulam naquele contexto especiacutefico e

lhe conferem especificidades bastante particulares

Com apoio nesta perspectiva institucional e relacional de atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar o

procedimento do Mapeamento Institucional surge como um recurso capaz de apreender as

particularidades de cada contexto e orientar as intervenccedilotildees a serem desencadeadas O

Mapeamento Institucional conforme proposto por Arauacutejo (2003) Arauacutejo e Almeida (2003) e

Marinho-Arauacutejo e Almeida (2005a) eacute um exemplo de estrateacutegia que favorece o conhecimento da

instituiccedilatildeo sua missatildeo filosofia princiacutepios e concepccedilotildees orientadoras tanto em termos das

convergecircncias e coerecircncias quanto de contradiccedilotildees e incoerecircncias Constitui-se como uma etapa

inicial para as intervenccedilotildees em Psicologia Escolar dado que iraacute fornecer os subsiacutedios necessaacuterios

para a compreensatildeo do cotidiano da instituiccedilatildeo

31

Referindo-se agrave histoacuteria das instituiccedilotildees educativas e as diferentes maneiras de investigaacute-las

Sanfelice (2007) diz que em seu interior existe um quebra-cabeccedila a ser decifrado de forma que

uma vez dentro delas deve-se tentar descobrir o lugar de cada peccedila e o seu papel no conjunto

ldquoUma instituiccedilatildeo escolar ou educativa eacute a siacutentese de muacuteltiplas determinaccedilotildees de variadiacutessimas

instacircncias (poliacutetica econocircmica cultural religiosa da educaccedilatildeo geral moral ideoloacutegica etc) que

agem e interagem entre si lsquoacomodando-sersquo dialeticamente de maneira tal que daiacute resulte sua

identidaderdquo (p 77) Assume-se portanto que eacute imprescindiacutevel que o psicoacutelogo escolar invista em

conhecer pormenorizadamente o contexto no qual estaacute inserido haja vista que este conhecimento

lhe traraacute informaccedilotildees acerca das ideias caracteriacutesticas e dinacircmica proacuteprias dessa instituiccedilatildeo

O Mapeamento Institucional como um procedimento que promove acesso e aproximaccedilatildeo a

esse contexto deve estar direcionado para a anaacutelise das influecircncias ideoloacutegicas e filosoacuteficas

presentes na instituiccedilatildeo dos papeacuteis direitos deveres e responsabilidades dos sujeitos e da

instituiccedilatildeo das concepccedilotildees dos profissionais que satildeo subjacentes agraves suas praacuteticas educativas e as

orientam da estrutura e dinacircmica do trabalho pedagoacutegico em termos de organizaccedilatildeo temporal e

espacial da dinacircmica de gestatildeo escolar expressa e a organizaccedilatildeo das relaccedilotildees funcionais entre os

diferentes grupos dos Paracircmetros e Diretrizes Curriculares Nacionais especialmente quanto agrave

concepccedilatildeo de aprender e ensinar (Arauacutejo 2003 Marinho-Arauacutejo amp Almeida 2005a)

Segundo Martiacutenez (2007 2009) um ponto especial do Mapeamento Institucional eacute permitir

que o psicoacutelogo escolar tenha contato com a subjetividade social da instituiccedilatildeo aquela que

expressa as ldquoconcepccedilotildees sentidos crenccedilas e valores que caracterizam a escola como espaccedilo social

guardando uma articulada inter-relaccedilatildeo com as subjetividades individuais dos indiviacuteduos que

constituem esse espaccedilo socialrdquo (Martiacutenez 2007 p 106) Voltar a atenccedilatildeo para a subjetividade

social da instituiccedilatildeo implica entender como se daacute neste contexto especiacutefico a integraccedilatildeo das

configuraccedilotildees individuais e grupais e como estas se expressam no cotidiano escolar em termos de

praacuteticas escolhas organizaccedilatildeo e estrutura Em consonacircncia com a perspectiva institucional e

relacional em Psicologia Escolar que reconhece a importacircncia das interaccedilotildees na construccedilatildeo das

praacuteticas sociais e profissionais realizar um Mapeamento Institucional como forma de acessar a

subjetividade social da instituiccedilatildeo significa valorizar que esta se constitui a partir de um

entrelaccedilamento dialeacutetico entre o individual e o social o particular e o coletivo

Ao ingressar num contexto educativo a primeira accedilatildeo do psicoacutelogo escolar deve ser

portanto a de reunir informaccedilotildees que lhe possibilite conhecer esse contexto realizar uma anaacutelise e

diagnoacutestico das suas especificidades e assim traccedilar um plano interventivo Sobre os possiacuteveis

instrumentos e procedimentos a serem adotados para realizaccedilatildeo do Mapeamento Institucional

Correia e Campos (2004) sugerem

desde conversas informais entrevistas semidirigidas ateacute observaccedilotildees em paacutetios corredores

e salas de aula Enfim nas situaccedilotildees que possibilitem o levantamento de informaccedilotildees a

32

respeito das relaccedilotildees e da influecircncia destas na lsquodinacircmica das salas de aula e da escolarsquo

como um todo (p 166)

Sendo assim o Mapeamento Institucional pode se realizar por meio (a) da anaacutelise dos

documentos institucionais (proposta pedagoacutegica regimento interno organograma e outros

documentos escolares) os quais seratildeo objeto de leitura e anaacutelise criacutetica (b) da inserccedilatildeo em praacuteticas

institucionalizadas como reuniotildees projetos e eventos oficiais (c) da observaccedilatildeo da rotina

institucional e das relaccedilotildees que ali se estabelecem e (d) do diaacutelogo ou entrevistas com os atores

escolares (Arauacutejo 2003 Correia amp Campos 2004 Marinho-Arauacutejo 2009a) A partir do exame

reflexatildeo e integraccedilatildeo das informaccedilotildees construiacutedas nesse mapeamento o profissional pode

finalmente delimitar sua intervenccedilatildeo a qual iraacute refletir a singularidade da instituiccedilatildeo

Cumpre destacar que o Mapeamento Institucional eacute um processo regular que

continuamente iraacute subsidiar a intervenccedilatildeo do psicoacutelogo escolar Apesar de ter funccedilatildeo primordial no

desencadeamento das accedilotildees iniciais a sua constante atualizaccedilatildeo eacute que permitiraacute que o trabalho

desenvolvido esteja sempre em consonacircncia com as necessidades institucionais as quais satildeo

dinacircmicas e estatildeo em permanente transformaccedilatildeo Ademais dada a adoccedilatildeo de um modelo relacional

de intervenccedilatildeo eacute certo que a realizaccedilatildeo do Mapeamento Institucional natildeo se constitui apenas em

um procedimento de coleta de informaccedilotildees ele eacute tambeacutem um instrumento de intervenccedilatildeo jaacute que

movimenta as ideias e as relaccedilotildees institucionais e gera modificaccedilotildees no contexto

Conforme apresentado nesta seccedilatildeo as principais diretrizes que vecircm orientando a atuaccedilatildeo

em Psicologia Escolar podem ser assim resumidas a adoccedilatildeo de uma abordagem preventiva a

anaacutelise e intervenccedilatildeo direcionadas para as relaccedilotildees interpessoais a promoccedilatildeo intencional de

espaccedilos de interlocuccedilatildeo entre os diferentes atores e o desenvolvimento de uma escuta cliacutenica

psicoloacutegica direcionada para os aspectos intersubjetivos a intervenccedilatildeo institucional voltada para

conscientizaccedilatildeo dos papeacuteis e responsabilidades dos sujeitos a vinculaccedilatildeo agrave perspectiva do sucesso

escolar agrave promoccedilatildeo do desenvolvimento e das potencialidades dos sujeitos As diretrizes aqui

apresentadas configuram-se como referecircncias orientadoras do trabalho a ser realizado pelos

psicoacutelogos escolares de maneira a dar-lhes uma conformaccedilatildeo condizente com as criacuteticas que foram

postuladas agrave atuaccedilatildeo inicialmente desenvolvida

Eacute importante ressaltar que apesar de acreditar que estas diretrizes sintetizam o que

atualmente entende-se ser pertinente agrave atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar eacute certo que outras diretrizes

e abordagens que natildeo foram aqui exploradas tambeacutem podem orientar a atuaccedilatildeo da aacuterea renovando-

a e oxigenando-a A elucidaccedilatildeo de diretrizes orientadoras da accedilatildeo em Psicologia Escolar constitui-

se uma tentativa de evidenciar caminhos de intervenccedilatildeo para a aacuterea mas natildeo tem a pretensatildeo de

esgotar as inuacutemeras possibilidades de atuaccedilatildeo que podem e devem se constituir ao longo da

praacutetica profissional

33

O Perfil Profissional do Psicoacutelogo Escolar e os Desafios agrave Formaccedilatildeo

As reflexotildees feitas acerca do estabelecimento de uma nova Psicologia Escolar apontam

tambeacutem alguns indicadores relacionados ao perfil dos psicoacutelogos que estatildeo envolvidos com a

interface Psicologia-Educaccedilatildeo Inicialmente eacute preciso destacar que o termo perfil profissional estaacute

vinculado tanto agrave formaccedilatildeo quanto a atuaccedilatildeo No primeiro caso o termo se refere ao perfil de

egresso ou seja estaacute associado ao aluno que se deseja formar ao teacutermino do curso superior jaacute no

segundo caso diz respeito agrave caracterizaccedilatildeo do profissional que se deseja para atuar no mercado de

trabalho Em ambos os casos o termo tem uma conotaccedilatildeo prospectiva por trazer alguns

direcionamentos seja para promover a formaccedilatildeo dos futuros profissionais seja para orientar a

seleccedilatildeo contrataccedilatildeo e desenvolvimento das atividades profissionais Tem-se entatildeo um perfil

profissional de formaccedilatildeo e um de atuaccedilatildeo que apesar de terem funccedilotildees distintas compartilham de

uma base comum que garante identidade ao profissional

Assim sendo quando se fala em perfil profissional haacute que se considerar a forte conexatildeo

entre elementos da formaccedilatildeo e da atuaccedilatildeo pois ele se constitui pelo entrelaccedilamento dinacircmico e

complexo entre a histoacuteria pessoal do sujeito sua trajetoacuteria de formaccedilatildeo e de atuaccedilatildeo e o

reconhecimento social da profissatildeo que eacute distinta de outras profissotildees Em relaccedilatildeo ao perfil

profissional de atuaccedilatildeo a formaccedilatildeo inicial e continuada satildeo importantes aspectos que o

influenciam contudo ele se constitui por meio da articulaccedilatildeo entre os processos de formaccedilatildeo as

caracteriacutesticas e demandas da profissatildeo as relaccedilotildees de trabalho e a histoacuteria de vida do sujeito

estando sempre vinculado a um momento social e cultural determinado (Arauacutejo 2003) Dessa

maneira quando se pretende definir um perfil profissional de atuaccedilatildeo como no caso do psicoacutelogo

escolar haacute que se considerar a influecircncia de todos esses aspectos somados agraves demandas e

necessidades sociais do momento histoacuterico

O desafio que se segue portanto eacute o de definir os elementos que iratildeo compor um perfil

condizente com as perspectivas que vecircm sendo assumidas contemporaneamente pela Psicologia

Escolar Um olhar retrospectivo sobre a produccedilatildeo da aacuterea nas uacuteltimas deacutecadas evidencia que a

questatildeo da formaccedilatildeo da identidade e do perfil profissional tem sido temaacuteticas de interesse sobre as

quais muitos pesquisadores professores instituiccedilotildees formativas e oacutergatildeos de classe tecircm se detido

(Almeida 2003 Campos 2007 Del Prette 2001 Gomes 1999 Guzzo 1999b Jobim e Sousa

1996 Joly 2000 Maluf 1994 Marinho-Arauacutejo amp Almeida 2005a Martiacutenez 2005b Neves

Almeida Chaperman amp Batista 2002 Witter 1996) Os apontamentos feitos por eles oferecem

alguns indicativos sobre os aspectos e caracteriacutesticas desejados ao perfil do profissional do

psicoacutelogo escolar conforme apresentado brevemente nesta seccedilatildeo

Um primeiro aspecto constituinte da identidade do psicoacutelogo escolar eacute a sua formaccedilatildeo a

qual deve estar ancorada em uma base teoacuterico-conceitual sobre a relaccedilatildeo entre Psicologia e

Educaccedilatildeo as teorias de desenvolvimento humano as abordagens para o estudo e anaacutelise das

relaccedilotildees sociais discussotildees sobre o trabalho do psicoacutelogo escolar sua identidade e formaccedilatildeo

34

(Arauacutejo amp Almeida 2003) A formaccedilatildeo deve perpassar tambeacutem o estudo e discussatildeo sobre

metodologias de avaliaccedilatildeo e de diagnoacutestico psicoeducacional teacutecnicas de apoio dinacircmica de grupo

(Novaes 2003)

Aleacutem dos conhecimentos atinentes ao desenvolvimento humano agrave aprendizagem e aos

processos educativos a Psicologia Escolar como campo de formaccedilatildeo pesquisa e atuaccedilatildeo

profissional incorpora ainda outros conhecimentos da Psicologia que satildeo necessaacuterios para o

sucesso do processo educativo Conhecimentos de outros campos da Psicologia somam-se agrave

Psicologia Escolar como exemplifica Martiacutenez (2003b) ldquomuitos dos temas da Psicologia

Organizacional integram-se na Psicologia Escolar como conhecimentos essenciais para o

cumprimento de seu objetivo tendo em conta a especificidade que as questotildees organizacionais

assumem na escola na sua condiccedilatildeo de um tipo de organizaccedilatildeo particularrdquo (p 109) Tanto a

formaccedilatildeo quanto a praacutetica em Psicologia Escolar natildeo devem estar isoladas das produccedilotildees advindas

dos demais campos da ciecircncia psicoloacutegica

Diante da necessidade de integrar conhecimentos dos diferentes campos da Psicologia um

desafio dos psicoacutelogos escolares eacute natildeo proceder a essa integraccedilatildeo acriticamente adotando as teorias

e incorporando as metodologias sem realizar uma anaacutelise de sua pertinecircncia aos fundamentos da

Psicologia Escolar Eacute preciso que os psicoacutelogos escolares avaliem a coerecircncia entre as bases

teoacutericas e conceituais sobre as quais se assentam esses conhecimentos sob pena de incorrerem no

mesmo problema que foi alvo de criacutetica na deacutecada de 80 e 90

Ainda em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo do psicoacutelogo escolar Guzzo (1996) alerta que eacute fundamental

que aleacutem de bem formado em Psicologia este profissional tambeacutem seja muito bem formado para

atuar em contextos educacionais o que exige portanto acesso e reflexatildeo acerca das bases teoacutericas

filosoacuteficas e poliacuteticas no campo da Educaccedilatildeo Tendo em vista os muacuteltiplos elementos que agem

sobre o espaccedilo educativo e a diversidade de problemaacuteticas que dele emergem a Psicologia Escolar

solitariamente pouco conseguiraacute contribuir para modificaacute-lo eficazmente Eacute necessaacuterio portanto

que os psicoacutelogos escolares exercitem a difiacutecil praacutetica da interdisciplinaridade na relaccedilatildeo com as

demais aacutereas de conhecimento e profissionais da educaccedilatildeo Segundo Maluf (2003)

o conhecimento que se servem esses profissionais psicoacutelogos escolares eacute interdisciplinar

porque inclui as noccedilotildees da Psicologia que tecircm reflexo na Educaccedilatildeo a saber da Psicologia

geral Psicologia Social Psicologia do Desenvolvimento Psicologia da Educaccedilatildeo E inclui

as noccedilotildees das ciecircncias educacionais que permitem a aproximaccedilatildeo agraves complexas questotildees

que definem o processo educacional a saber a Pedagogia a Didaacutetica a Filosofia da

Educaccedilatildeo (p 138)

Outro ponto importante na constituiccedilatildeo do perfil profissional do psicoacutelogo que iraacute atuar no

contexto educativo eacute que tenha tido ao longo de sua formaccedilatildeo inicial oportunidade de frequentar

esse espaccedilo e conviver com suas demandas o que lhe oportuniza exercitar a relaccedilatildeo entre a teoria e

a praacutetica entre o conhecimento cientiacutefico e a realidade diaacuteria (Guzzo 1996) Em criacutetica a inserccedilatildeo

35

dos psicoacutelogos no campo profissional a autora diz que no Brasil basta apresentar um diploma de

conclusatildeo de curso para que se obtenha automaticamente o registro profissional e o direito de

exercer a profissatildeo em qualquer aacuterea de atuaccedilatildeo

Para Guzzo (1996) esta eacute uma das grandes dificuldades enfrentadas pela Psicologia

Escolar pois ldquomesmo que o aluno natildeo tenha vivenciado nenhum estaacutegio de formaccedilatildeo nas escolas

por exemplo ele pode ser contratado para trabalhar com crianccedilas que tenham necessidades

especiais e iraacute utilizar-se de modelos e abordagens natildeo apropriados para a funccedilatildeordquo (p 81) Dessa

forma eacute fundamental que durante a formaccedilatildeo os futuros psicoacutelogos tenham experiecircncias nos

contextos nos quais iratildeo atuar pois essa imersatildeo iraacute suscitar inquietaccedilotildees questionamentos e

curiosidades que demandaratildeo maior reflexatildeo e aprofundamento em relaccedilatildeo agrave praacutetica agrave teoria e agrave

interlocuccedilatildeo entre elas

A imersatildeo na praacutetica a reflexatildeo sobre ela a sua anaacutelise agrave luz do conhecimento psicoloacutegico

e no sentido inverso o exame da produccedilatildeo teoacuterica a partir dos indicadores advindos da praacutetica satildeo

elementos constituintes da identidade do psicoacutelogo escolar uma vez que possibilitam a

ressignificaccedilatildeo e a reconstruccedilatildeo dos conhecimentos bem como a transformaccedilatildeo da realidade Em

relaccedilatildeo a esse movimento dialeacutetico entre a accedilatildeo e o conhecimento Marinho-Arauacutejo e Almeida

(2005a 2005b) sinalizam que tanto no processo de formaccedilatildeo quanto de atuaccedilatildeo em Psicologia

Escolar eacute preciso proceder agrave reflexatildeo sobre a praacutetica elemento chave para o desenvolvimento de

accedilotildees planejadas e intencionais que fornecem condiccedilotildees efetivas de intervenccedilatildeo As autoras

apontam para a importacircncia do desenvolvimento de uma habilidade reflexiva a qual ocorre na e

sobre a accedilatildeo por meio da anaacutelise e interpretaccedilatildeo das consequecircncias enquanto a accedilatildeo ainda estaacute

sendo realizada e um olhar retrospectivo e prospectivo sobre o ato concretizado

A relevacircncia do processo reflexivo por parte do psicoacutelogo escolar decorre entre outras

razotildees do fato de ser uma caracteriacutestica essencial ao desenvolvimento de competecircncias uma vez

que este estaacute ancorado na capacidade do sujeito em analisar a situaccedilatildeo em seus muacuteltiplos

determinantes compreendecirc-la tomar uma decisatildeo e agir A reflexatildeo sobre a realidade agrave luz dos

conhecimentos cientiacuteficos dos saberes cotidianos dos princiacutepios eacuteticos e dos valores pessoais iraacute

possibilitar ao profissional desencadear uma accedilatildeo intencional direcionada para os elementos que

podem produzir uma modificaccedilatildeo Nessa direccedilatildeo

tanto para aqueles que iniciam sua preparaccedilatildeo profissional quanto para aqueles que em

circunstacircncias distintas jaacute estatildeo na praacutetica e nela pretendem permanecer o processo

identitaacuterio o perfil profissional o desenho da abordagem formativa devem contemplar o

papel da reflexatildeo sobre a praacutetica fazendo surgir novos saberes (Marinho-Arauacutejo amp

Almeida 2005b p 252)

Tendo em vista a dinamicidade e complexidade que caracterizam os processos e as relaccedilotildees

profissionais nos dias atuais a accedilatildeo reflexiva como forma de analisar compreender a situaccedilatildeo e

definir estrateacutegias de intervenccedilatildeo individuais ou coletivas torna-se imprescindiacutevel para que os

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profissionais consigam dar respostas raacutepidas adequadas e satisfatoacuterias a cada situaccedilatildeo A

reflexividade eacute portanto um componente indispensaacutevel ao perfil profissional do psicoacutelogo escolar

e estaacute em estreita ligaccedilatildeo com o processo de desenvolvimento de competecircncias o qual tem

contribuiacutedo para a preparaccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares por oferecer condiccedilotildees de agir com

seguranccedila foco e pertinecircncia frente ao cenaacuterio instaacutevel e imprevisiacutevel do mundo do trabalho

A competecircncia a qual se faz referecircncia quando se trata do perfil profissional do psicoacutelogo

escolar configura-se como um recurso que auxilia o profissional a se posicionar diante de eventos

imprevisiacuteveis dominaacute-los com intencionalidade e seguranccedila e dar encaminhamentos adequados e

satisfatoacuterios para lidar com a situaccedilatildeo (Arauacutejo 2003 Le Boterf 2003 Marinho-Arauacutejo amp Almeida

2005a 2005b Zarifian 2003) Mas a despeito do que se possa pensar a competecircncia natildeo se limita

ao domiacutenio de determinado conhecimento ou teacutecnica Possuir conhecimentos capacidades ou

habilidades natildeo significa ser um profissional competente pois a competecircncia estaacute atrelada agrave

mobilizaccedilatildeo dos recursos - conhecimentos habilidades saberes atitudes afetos desejos valores

princiacutepios posturas - em um contexto profissional e natildeo simplesmente agrave sua aplicaccedilatildeo (Le Boterf

2003)

As competecircncias sejam elas teacutecnicas pessoais sociais relacionais eacuteticas ou poliacuteticas satildeo

desenvolvidas pelo sujeito a partir da integraccedilatildeo de um conjunto de recursos que ele possui e

entatildeo natildeo se expressam por uma habilidade que o profissional estaacute habituado a realizar por

exemplo mas pela integraccedilatildeo desta habilidade a outros recursos quando ele se depara com uma

situaccedilatildeo nova Sendo assim ser um psicoacutelogo escolar competente natildeo depende apenas de ter um

arcabouccedilo de conhecimentos saberes e habilidades proacuteprios da Psicologia ser competente requer

que o sujeito mobilize e articule ativa e intencionalmente um conjunto de recursos a partir da

avaliaccedilatildeo que faz da situaccedilatildeo (Arauacutejo amp Almeida 2003)

Diante de um contexto de incertezas e muitas transformaccedilotildees os ambientes profissionais

estatildeo em busca de colaboradores que explorem a singularidade da situaccedilatildeo e avancem a partir dela

Para tanto os profissionais precisam criar e inovar constantemente novas formas de transpor os

obstaacuteculos de enfrentar as situaccedilotildees e de superar os desafios que a praacutetica lhe impotildee

O desenvolvimento de competecircncias e os demais elementos constituintes do perfil do

psicoacutelogo escolar ndash formaccedilatildeo teoacuterico-conceitual imersatildeo na praacutetica e articulaccedilotildees com a teoria

interdisciplinaridade atitude reflexiva ndash mostram o quanto eacute desafiante preparar um psicoacutelogo

escolar Para oportunizar essa preparaccedilatildeo seraacute preciso envolvimento e compromisso das entidades

formadoras dos oacutergatildeos de classe e inclusive e principalmente dos proacuteprios psicoacutelogos escolares

que precisam investir na sua formaccedilatildeo inicial e continuada buscando continuamente enriquececirc-la

e transformaacute-la

37

PRAacuteTICAS E CONTEXTOS DE ATUACcedilAtildeO EM PSICOLOGIA ESCOLAR

Praacuteticas Contemporacircneas de Atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar no Brasil

Apesar de jaacute estarem razoavelmente estabelecidas as principais diretrizes que norteiam

contemporaneamente a atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar conforme explicitado anteriormente ainda

constitui um imenso desafio aos profissionais da aacuterea promover intervenccedilotildees por eles orientadas

Por essa razatildeo um olhar sobre o trabalho que psicoacutelogos escolares estatildeo desenvolvendo nos mais

diferentes contextos educativos mostra o quanto as praacuteticas implementadas nem sempre

compartilham a mesma base teoacuterico-metodoloacutegica e consequentemente prezam por accedilotildees que ora

se vinculam agrave atuaccedilatildeo histoacuterica relativamente consolidada ora se coadunam a um posicionamento

criacutetico e inovador Dessa forma Guzzo (1996 1999a) indicou haacute mais de uma deacutecada que natildeo era

possiacutevel falar em um modelo de atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar uma vez que as praacuteticas em

andamento natildeo se ancoravam em perspectivas e concepccedilotildees comuns acerca do que venha a ser a

real contribuiccedilatildeo da Psicologia agrave Educaccedilatildeo

Entende-se neste trabalho que um modelo de atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar corresponde

agraves concepccedilotildees que se tem da Educaccedilatildeo e do seu papel na sociedade e tambeacutem da funccedilatildeo da

Psicologia no cumprimento desse papel as quais por sua vez conduzem agrave adoccedilatildeo de teorias que se

coadunam a tais concepccedilotildees e direcionam a praacutetica psicoloacutegica no espaccedilo escolar Refere-se agrave

compreensatildeo que se tem acerca da realidade escolar em termos da sua dinacircmica funcionamento e

responsabilidades e da contribuiccedilatildeo do conhecimento psicoloacutegico agrave transformaccedilatildeo dessa realidade

Sendo assim quando se fala em modelo de atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar se faz referecircncia agrave ampla

compreensatildeo do que seja a contribuiccedilatildeo da ciecircncia psicoloacutegica agrave Educaccedilatildeo a qual se expressa em

diferentes accedilotildees desenvolvidas pelos psicoacutelogos escolares com vistas a favorecer a qualidade e a

eficaacutecia dos processos educativos Em aderecircncia a essas colocaccedilotildees entende-se que as praacuteticas

cotidianas em Psicologia Escolar devem ser desenvolvidas de forma que haja harmonia e coerecircncia

entre a concepccedilatildeo e a accedilatildeo entre a teoria e a praacutetica

Com o intuito de contribuir para o desenvolvimento de sujeitos criacuteticos reflexivos

questionadores autocircnomos e conscientes de seu papel frente agrave transformaccedilatildeo da realidade social

econocircmica e poliacutetica do contexto no qual se inserem cabe agrave Psicologia e mais especificamente agrave

Psicologia Escolar agir em prol de indicadores pessoais relacionais e institucionais que favoreccedilam

este desenvolvimento As accedilotildees a serem implantadas com esta finalidade satildeo das mais diversas

possiacuteveis haja vista a gama de teorias meacutetodos e instrumentos disponiacuteveis contudo uma efetiva

contribuiccedilatildeo nessa direccedilatildeo exige que os profissionais da aacuterea tenham lucidez acerca da sua

vinculaccedilatildeo com esses objetivos

Em relaccedilatildeo agrave praacutetica em Psicologia Escolar recentemente Martiacutenez (2007 2009 2010)

vem oferecendo importante contribuiccedilatildeo agrave aacuterea por meio da organizaccedilatildeo das praacuteticas de

intervenccedilatildeo em dois grandes grupos formas de atuaccedilatildeo tradicionais e formas de atuaccedilatildeo

38

emergentes De acordo com a autora as primeiras distinguem-se por estarem associadas agrave

dimensatildeo psicoeducacional do contexto escolar e por terem uma histoacuteria que jaacute estaacute relativamente

consolidada na aacuterea enquanto as segundas apresentam uma configuraccedilatildeo recente estatildeo pouco

difundidas e atreladas a uma concepccedilatildeo mais abrangente do trabalho do psicoacutelogo escolar que leva

em conta sua dimensatildeo psicossocial

A atuaccedilatildeo tradicional tem forte vinculaccedilatildeo com as demandas da escola relativas ao

desenvolvimento e agrave aprendizagem dos alunos e assim caracteriza-se mais por respostas dos

psicoacutelogos escolares aos problemas cotidianos que precisam ser resolvidos Envolve atividades de

avaliaccedilatildeo diagnoacutestico atendimento e encaminhamento de alunos com dificuldades orientaccedilatildeo a

pais e alunos orientaccedilatildeo profissional e sexual formaccedilatildeo de professores e desenvolvimento de

projetos de temaacuteticas especiacuteficas como violecircncia drogas gravidez precoce (Martiacutenez 2009 2010)

A atuaccedilatildeo emergente por outro lado decorre mais de uma posiccedilatildeo ativa criativa e

socialmente comprometida por parte do psicoacutelogo escolar do que de demandas expliacutecitas que lhe

satildeo direcionadas Esta forma de atuaccedilatildeo tem seu potencial transformador significativamente

ampliado uma vez que se estende para aleacutem das dificuldades jaacute identificadas no processo

vivenciado pelos alunos e engloba atividades de diagnoacutestico anaacutelise e intervenccedilatildeo institucional

construccedilatildeo acompanhamento e avaliaccedilatildeo da proposta pedagoacutegica participaccedilatildeo no processo de

seleccedilatildeo dos membros da equipe pedagoacutegica coordenaccedilatildeo de oficinas direcionadas ao

desenvolvimento integral dos alunos realizaccedilatildeo de pesquisas com o objetivo de aprimorar o

processo educativo envolvimento com a implementaccedilatildeo das poliacuteticas puacuteblicas entre outras

(Martiacutenez 2009)

Tendo esta distinccedilatildeo como referecircncia entende-se que o que aponta para a adequaccedilatildeo de

uma praacutetica interventiva agraves necessidades do contexto natildeo eacute simplesmente a formataccedilatildeo tradicional

ou emergente da accedilatildeo em termos de historicidade mas acima de tudo o seu potencial

transformador diante da complexidade que eacute caracteriacutestica do contexto educativo Assim uma

praacutetica comumente identificada como de natureza tradicional como a avaliaccedilatildeo e o diagnoacutestico de

alunos com dificuldades por exemplo pode vir a se configurar como de natureza emergente na

medida em que a atenccedilatildeo focada exclusivamente no aluno desloque-se concomitantemente para os

demais elementos que participam do processo educativo e que contribuem para a modificaccedilatildeo de

tal dificuldade Natildeo eacute a intervenccedilatildeo em si isolada das concepccedilotildees que a orientam e dos

desdobramentos que oportuniza que iraacute indicar se o trabalho desenvolvido pelos psicoacutelogos

escolares eacute mais ou menos emergente

Dizer que um profissional realiza avaliaccedilatildeo de dificuldades escolares eacute insuficiente para

identificar essa accedilatildeo como sendo tradicional ou emergente uma vez que eacute a maneira como esta

accedilatildeo eacute entendida e desenvolvida pelo profissional em seu cotidiano que iraacute lhe conferir um caraacuteter

inovador ou natildeo Isto eacute ao analisar o trabalho realizado pelo psicoacutelogo escolar eacute preciso ir aleacutem do

roacutetulo que identifica a intervenccedilatildeo ndash avaliaccedilatildeo e diagnoacutestico de dificuldades por exemplo ndash e

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considerar a amplitude com que o profissional compreende o fenocircmeno se focada nos muacuteltiplos

determinantes envolvidos ou somente naqueles relacionados ao sujeito individualmente a extensatildeo

da intervenccedilatildeo por ele realizada se direcionada apenas para os aspectos individuais ou para os

coletivos e institucionais simultaneamente e o impacto de suas accedilotildees em termos de modificaccedilotildees

que se desdobram para a totalidade do contexto e natildeo a um sujeito apenas

Posto dessa maneira o que iraacute caracterizar uma atuaccedilatildeo como tradicional ou emergente eacute

sobretudo a sua vinculaccedilatildeo com concepccedilotildees mais complexas e ampliadas acerca dos fenocircmenos

educativos e dos elementos que nele estatildeo implicados Nessa direccedilatildeo concorda-se com Martiacutenez

(2009) quando diz que ainda que as formas de atuaccedilatildeo emergentes sejam

mais abrangentes e complexas do que as tradicionais e nesse sentido potencialmente mais

efetivas para promover transformaccedilotildees nos processos educativos consideramos que todas

as formas de atuaccedilatildeo do psicoacutelogo no contexto escolar se desenvolvidas com

criatividade e qualidade podem ter de algum modo impactos reais na melhoria da

qualidade dos processos educativos da escola (p 170)

Levando em conta as reflexotildees acima empreendidas entende-se que um modelo de atuaccedilatildeo

em Psicologia Escolar estaacute diretamente relacionado a concepccedilotildees filosoacuteficas epistemoloacutegicas e

poliacuteticas acerca do processo educativo e do seu papel social as quais por seu turno satildeo

norteadoras das intervenccedilotildees dos profissionais da aacuterea Se haacute pouco mais de uma deacutecada natildeo era

possiacutevel falar em um modelo de atuaccedilatildeo para a aacuterea (Guzzo 1996 1999a) as experiecircncias

profissionais as pesquisas e produccedilotildees do final da deacutecada de 90 e iniacutecio deste novo seacuteculo vecircm

contribuindo para a consolidaccedilatildeo de um modelo contemporacircneo em Psicologia Escolar Este

diferentemente daquele que estava ancorado em concepccedilotildees deterministas e reducionistas que

camuflavam problemas sociais e contribuiacuteam para a manutenccedilatildeo da desigualdade socioeconocircmica

assume uma forte vinculaccedilatildeo e compromisso com a promoccedilatildeo da justiccedila social da igualdade de

oportunidades e da cidadania alcanccediladas por meio do desenvolvimento das potencialidades dos

sujeitos e dos contextos institucionais

Com base nas produccedilotildees mais contemporacircneas em Psicologia Escolar que se apoacuteiam em

uma perspectiva criacutetica positiva e progressista apresentam-se estudos relatos de pesquisa e de

intervenccedilatildeo que tecircm assumido o compromisso com propostas inovadoras na aacuterea O eixo comum

dos exemplos aqui apresentados reside no fato dos mesmos se embasarem na valorizaccedilatildeo das

relaccedilotildees sociais e da dimensatildeo histoacuterica na construccedilatildeo dos sujeitos e da sociedade na inter-relaccedilatildeo

complexa e dinacircmica entre muacuteltiplos fatores envolvidos no cotidiano escolar e na participaccedilatildeo e

colaboraccedilatildeo dos diferentes atores escolares

A praacutetica da avaliaccedilatildeo atendimento e encaminhamento de alunos com dificuldades

escolares eacute recorrente entre os psicoacutelogos escolares convocados a explicar e tratar as causas que

levam algumas crianccedilas a natildeo aprender Diferentemente de tempos atraacutes em que a investigaccedilatildeo de

tais dificuldades estava centrada em conhecer a histoacuteria pessoal e familiar do aluno atualmente esta

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praacutetica vem se transformando em virtude do entendimento de que as dificuldades escolares se

expressam nos espaccedilos relacionais Nessa direccedilatildeo a inclusatildeo de outros atores e elementos escolares

no processo de compreensatildeo e intervenccedilatildeo sobre as queixas tem sido um diferencial

Machado (2000) por exemplo ao realizar um trabalho sobre a avaliaccedilatildeo psicoloacutegica de

crianccedilas encaminhadas por apresentarem alguma dificuldade de comportamento ou no processo

ensino-aprendizagem percebeu ao ouvir as expectativas dos professores que muitos

encaminhavam a crianccedila para avaliaccedilatildeo como forma de viabilizar um trabalho coletivo isto eacute

como forma de estabelecer uma parceria A autora propocircs entatildeo encontros e reflexotildees com os

professores nos quais pudessem discutir as razotildees expectativas e sugestotildees relativas ao

encaminhamento e avaliaccedilatildeo dos alunos Dessa maneira as praacuteticas docentes as relaccedilotildees entre os

diversos segmentos ndash professor-aluno professor-escola aluno-aluno famiacutelia-escola escola-sistema

educacional ndash as questotildees institucionais e a dinacircmica jaacute cristalizada na escola tambeacutem passaram a

ser investigados no processo de compreensatildeo das queixas escolares

Nesse mesmo sentido Neves (2001) partindo da convicccedilatildeo de que eacute possiacutevel integrar uma

intervenccedilatildeo com os professores ao atendimento dos alunos por eles encaminhados acompanhou o

trabalho de psicoacutelogos escolares da rede puacuteblica de ensino do Distrito Federal (DF) buscando

construir com estes novas formas de atuaccedilatildeo que natildeo se coadunassem agrave perspectiva do fracasso

escolar como uma problemaacutetica individual Considerando que o encaminhamento ao serviccedilo de

atendimento psicopedagoacutegico era efetuado pelos professores a autora entendeu que o

conhecimento das praacuteticas docentes era essencial para o trabalho com as queixas escolares e assim

propocircs que o processo de avaliaccedilatildeo se iniciasse por meio da escuta ao professor

Satildeo crianccedilas sobre as quais algueacutem se queixa portanto sobre quem se faz uma queixa

escolar Nesse sentido o foco natildeo pode recair somente na crianccedila Na verdade satildeo os

professores que se queixam Essa eacute uma evidecircncia para a qual natildeo podemos deixar de estar

atentos quando trabalhamos com crianccedilas encaminhadas com queixas escolares por seus

professores (Neves 2005 p 115)

A partir da assessoria aos psicoacutelogos escolares do DF foi possiacutevel propor um novo modelo

integrado de avaliaccedilatildeo e intervenccedilatildeo das queixas escolares A proposta de Neves (2001) foi

denominada de PAIQUE - Procedimentos de avaliaccedilatildeo e intervenccedilatildeo dos alunos encaminhados

com queixas escolares - e consistia em um modelo de atuaccedilatildeo no qual o atendimento aos alunos

com queixas escolares pudesse contemplar o trabalho com os professores e com a escola Apoacutes

alguns anos de utilizaccedilatildeo do referido modelo que foi acompanhado sistematicamente pela autora

principalmente no Distrito Federal e das discussotildees realizadas em foacuteruns cientiacuteficos e acadecircmicos

o PAIQUE foi revisto e atualizado (Neves 2010) Atualmente ele eacute composto de trecircs niacuteveis escola

famiacutelia e aluno No primeiro privilegia a accedilatildeo junto agrave instituiccedilatildeo escolar por meio do trabalho dos

psicoacutelogos com os professores outros profissionais e em relaccedilatildeo agrave dinacircmica escolar Somente se

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for necessaacuterio a intervenccedilatildeo segue para os outros niacuteveis como a famiacutelia e o aluno (Neves 2010

Neves amp Almeida 2003)

Estes exemplos e outros mostram que ao trabalhar com as queixas escolares comumente

direcionadas ao psicoacutelogo escolar este pautado em uma atuaccedilatildeo preventiva e orientada para a

intervenccedilatildeo nas relaccedilotildees prioriza accedilotildees junto aos professores buscando auxiliaacute-los na reflexatildeo

sobre a sua praacutetica e na identificaccedilatildeo dos aspectos pessoais relacionais e institucionais que podem

estar envolvidos na construccedilatildeo da queixa Conforme destaca Meira (2000) o envolvimento do

professor na busca de alternativas para o aprendizado dos alunos possibilita a apropriaccedilatildeo de sua

funccedilatildeo e responsabilidade e contribui para o resgate de seu papel ativo e dirigente no que diz

respeito agrave compreensatildeo e definiccedilatildeo de estrateacutegias para resolver as dificuldades

Reafirmando a importacircncia de incluir os professores nas intervenccedilotildees desencadeadas pelos

psicoacutelogos escolares por serem os principais mediadores do aprendizado e do desenvolvimento

discente e agentes potenciais de transformaccedilatildeo da realidade escolar a Psicologia Escolar tem

investido na formaccedilatildeo continuada do corpo docente Sob essa perspectiva Aguiar (2000) buscou

analisar o movimento de consciecircncia dos professores de Satildeo Paulo durante um Grupo de

Formaccedilatildeo por meio das interaccedilotildees negociaccedilotildees confrontos de ideias e accedilotildees oportunizadas no

espaccedilo de formaccedilatildeo o qual na verdade se constituiu em um espaccedilo de intersubjetividade

Participando dos encontros do grupo a autora acompanhou as reflexotildees dos professores

que incidiam sobre questotildees relativas agraves dificuldades dos alunos agrave competecircncia docente e agrave

influecircncia da conjuntura poliacutetica da regiatildeo e pocircde perceber como estas reflexotildees foram lhes

possibilitando compreender a constituiccedilatildeo dos seus sentidos subjetivos Com base nessa

experiecircncia Aguiar (2000) defende que um processo de intervenccedilatildeo com os professores deve

investir na compreensatildeo do processo de configuraccedilatildeo subjetiva das tensotildees conflitos e sofrimentos

que permeiam a praacutetica desses profissionais como uma estrateacutegia para a construccedilatildeo de novas

formas de significaacute-la e inovaacute-la

Esta proposta de construccedilatildeo de um espaccedilo de intersubjetividade entre os professores estaacute

em consonacircncia agrave de Souza (2009) que entende que ldquofalar do professor e sua formaccedilatildeo da

perspectiva da Psicologia soacute faz sentido se o tomarmos como sujeito como ser singular cuja

subjetividade se produz nas condiccedilotildees materiais de sua existecircnciardquo (p 138) Para esta autora o

professor soacute teraacute condiccedilotildees de criar situaccedilotildees de aprendizagem que tomem os alunos como

protagonistas de seu processo se eles proacuteprios professores forem vistos como seres singulares

como sujeitos que tecircm uma histoacuteria particular Nessa direccedilatildeo a formaccedilatildeo de professores para aleacutem

de um discurso prescritivo como comumente ocorre no formato de palestras seminaacuterios e cursos

deve oportunizar momentos de reflexatildeo acerca dos aspectos que constituem o sujeito e satildeo

integrantes de sua subjetividade

Tambeacutem tratando de intervenccedilotildees com os professores Facci (2009) defende que a atuaccedilatildeo

da Psicologia Escolar na formaccedilatildeo continuada docente pode ser a de apresentar problematizar e

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discutir a relaccedilatildeo desenvolvimento e aprendizagem ldquodestacando o quanto a intervenccedilatildeo do

professor pode provocar o desenvolvimento das funccedilotildees psicoloacutegicas dos alunosrdquo (p 119) Partindo

dos fundamentos da perspectiva histoacuterico-cultural a autora propotildee que os professores

compreendam que o aprendizado eacute a mola propulsora do desenvolvimento dos alunos e assim

possam explorar diferentemente o conhecimento cientiacutefico e os conteuacutedos curriculares Facci

(2009) ressalta que nos cursos de formaccedilatildeo de professores o psicoacutelogo escolar pode contribuir

para a transformaccedilatildeo da consciecircncia docente isto eacute pode contribuir para que os professores

constatem o quanto a sua accedilatildeo tem influecircncia nos rumos da trajetoacuteria formativa dos alunos e optem

consoante a esta constataccedilatildeo por estrateacutegias que ampliem a apropriaccedilatildeo ativa dos conhecimentos

Abordando o processo de tomada de consciecircncia por parte dos professores Faacutevero e

Machado (2003) destacam que as intervenccedilotildees em Psicologia Escolar que tecircm como intenccedilatildeo

reelaborar as praacuteticas dos professores estatildeo em uacuteltima anaacutelise buscando que haja uma

reformulaccedilatildeo interna por parte do professor a qual iraacute fundamentar a mudanccedila de suas accedilotildees O

processo chave para que o professor possa transformar o seu trabalho eacute no entendimento das

autoras a tomada de consciecircncia acerca dos objetivos educativos e dos meios disponiacuteveis para

alcanccedilaacute-los que leva a escolhas intencionais por parte do docente para atingir os objetivos

pretendidos

Partindo desse entendimento Faacutevero e Machado (2003) assumiram o desafio de acessar os

significados construiacutedos pelos professores em relaccedilatildeo agraves suas praacuteticas e de apoiar a sua

reformulaccedilatildeo Para tanto propuseram um trabalho com professores que atuam no ensino de inglecircs

com adultos tentando favorecer a tomada de consciecircncia em relaccedilatildeo agrave visatildeo deles sobre o aluno

adulto (que eacute inclusive um estudo diferencial na Psicologia Escolar tradicionalmente acostumada

a trabalhar com crianccedilas e adolescentes) agrave sua praacutetica de ensino e agraves possiacuteveis reformulaccedilotildees que

pode nela imprimir

Em encontros coletivos com quatro professores uma das autoras propunha discussotildees

acerca do entendimento dos docentes sobre a aprendizagem e o desenvolvimento humano das

possibilidades dos adultos aprenderem uma nova liacutengua e dos preconceitos que os levam a entender

que este aprendizado eacute mais difiacutecil nesta fase da vida da motivaccedilatildeo e envolvimento dos professores

no planejamento de atividades que favorecerem aos alunos superarem eventuais dificuldades entre

outros temas A cada encontro as autoras analisavam os debates e reflexotildees que haviam sido

suscitados no grupo e planejavam o encontro seguinte de maneira a dar continuidade agrave linha de

pensamento construiacuteda pelos professores A partir dessa experiecircncia Faacutevero e Machado (2003)

constataram que houve mudanccedila de concepccedilatildeo quanto agrave capacidade do aluno adulto apreender uma

nova liacutengua o que eacute fundamental para desencadear mudanccedila na praacutetica pedagoacutegica

Os exemplos apresentados tecircm em comum o reconhecimento do papel fundamental do

professor na promoccedilatildeo do desenvolvimento discente na construccedilatildeo de trajetoacuterias de sucesso e na

modificaccedilatildeo da realidade escolar Contudo apesar dos docentes serem protagonistas iacutempares no

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processo educativo a qualidade da educaccedilatildeo natildeo pode ser totalmente atribuiacuteda a eles Por essa

razatildeo projetos em Psicologia Escolar que tenham a intenccedilatildeo de colaborar para a melhoria da

educaccedilatildeo natildeo podem se sustentar apenas na formaccedilatildeo e intervenccedilatildeo com o corpo docente pois

estariam a simplificar a complexidade do contexto escolar como era feito anteriormente quando a

ecircnfase era toda depositada no aluno Aleacutem disso direcionar as accedilotildees da Psicologia Escolar para os

professores exclusivamente pode tornar-se somente uma mudanccedila de foco (dos alunos para os

professores) que pouco traz contribuiccedilotildees significativas Eacute preciso que os psicoacutelogos escolares

estejam alertas agrave cilada de sob a intenccedilatildeo de desconstruir as antigas praacuteticas centradas nos alunos

natildeo desenvolvam accedilotildees prioritariamente direcionadas aos professores como se estes agora fossem

a via de soluccedilatildeo para os problemas escolares

Outro eixo de atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar tem sido em relaccedilatildeo agrave inclusatildeo escolar a qual

estaacute contida em uma noccedilatildeo mais ampla de inclusatildeo vinculada agraves diferentes formas de vida e de

participaccedilatildeo social A inclusatildeo escolar como parte da inclusatildeo social eacute uma expressatildeo da

ldquonecessidade de um processo educativo de qualidade para todos independentemente da condiccedilatildeo

socioeconocircmica gecircnero raccedila religiatildeo e das caracteriacutesticas distintivas individuaisrdquo (Martiacutenez

2005a p 96) De acordo com essa ampla concepccedilatildeo a inclusatildeo escolar natildeo se associa somente aos

alunos com necessidades educativas especiais apesar de que eacute em relaccedilatildeo a estes que recai a

maioria das intervenccedilotildees Alecrim (2005) realizou um estudo sobre o papel do psicoacutelogo escolar

frente agrave inclusatildeo buscando a partir da percepccedilatildeo de professores identificar possiacuteveis dimensotildees de

atuaccedilatildeo relacionadas a essa temaacutetica Os resultados indicaram que o psicoacutelogo escolar pode atuar

no sentido de promover reflexotildees criacuteticas que auxiliem os profissionais da escola como os

professores a encontrarem um sentido positivo para a inclusatildeo escolar de alunos com necessidades

educativas especiais e natildeo como um empecilho para o trabalho pedagoacutegico

A construccedilatildeo de um trabalho coletivo que os possibilite refletir criticamente sobre suas

accedilotildees eacute um espaccedilo feacutertil agrave Psicologia Escolar pois conforme identificou a autora mesmo

professores que tenham tido algum tipo de capacitaccedilatildeo na aacuterea do ensino especial natildeo reconhecem

que esta tenha contribuiacutedo para o desenvolvimento de competecircncias necessaacuterias para a inclusatildeo

escolar Situaccedilotildees semelhantes oportunizam ao psicoacutelogo escolar trabalhar com as concepccedilotildees

anguacutestias inquietaccedilotildees e decisotildees dos professores na medida em que elas vatildeo surgindo em um

processo de anaacutelise e reformulaccedilatildeo contiacutenua da praacutetica

Eacute consenso que os alunos com necessidades especiais assim como os ditos normais se

beneficiam das interaccedilotildees e do conviacutevio na escola uma vez que satildeo propulsores do

desenvolvimento contudo ainda eacute recorrente a ideia de que a inclusatildeo escolar natildeo eacute possiacutevel Esta

parece ser uma realidade no caso dos deficientes muacuteltiplos como constatou Silveira e Neves

(2004) em pesquisa realizada com dez pais e dez professores de crianccedilas com deficiecircncias

muacuteltiplas que frequentavam Centros de Ensino Especial no Distrito Federal Os resultados do

estudo apontaram que pais e professores concordam quanto agrave impossibilidade de se realizar a

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inclusatildeo escolar do aluno com deficiecircncia muacuteltipla principalmente por atribuiacuterem maior impacto

agraves dificuldades e agraves limitaccedilotildees das crianccedilas e do contexto do que agraves potencialidades

Por essa razatildeo um possiacutevel espaccedilo de atuaccedilatildeo do psicoacutelogo escolar refere-se a ajudar os

professores a revisitarem suas concepccedilotildees deterministas quanto agraves possibilidades de

desenvolvimento dos alunos com necessidades especiais A ampliaccedilatildeo das concepccedilotildees acerca do

que seja o desenvolvimento e das aprendizagens consideradas significativas para pessoas com

necessidades especiais a anaacutelise sistemaacutetica das dificuldades e frustraccedilotildees advindas de um trabalho

desta natureza e a busca por novas estrateacutegias pedagoacutegicas podem ser um eixo de atuaccedilatildeo do

psicoacutelogo escolar

Outra possibilidade de atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar vinculada agrave ampla noccedilatildeo de inclusatildeo

apesar de ainda pouco explorada diz respeito ao desenvolvimento dos alunos com altas

habilidades os quais tambeacutem requerem serviccedilos e atividades diferenciados para atender suas

necessidades Apesar de a superdotaccedilatildeo ser um fenocircmeno que envolve uma multiplicidade de

aspectos como os cognitivos afetivos sociais educacionais e familiares Fleith (2009) indica que a

atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar na aacuterea das altas habilidades tem sido limitada apresentando-se

portanto como um campo que merece maior atenccedilatildeo

Diante da necessidade de evidenciar possiacuteveis contribuiccedilotildees da atuaccedilatildeo dos psicoacutelogos

escolares em relaccedilatildeo ao desenvolvimento da superdotaccedilatildeo a autora apresenta algumas questotildees

que podem ser alvo de intervenccedilatildeo desconstruccedilatildeo de ideias errocircneas ou mitos acerca do

superdotado avaliaccedilatildeo e identificaccedilatildeo de alunos com altas habilidades reconhecimento de fatores

que interferem negativamente no desempenho acadecircmico dos alunos elaboraccedilatildeo de estrateacutegias

pedagoacutegicas que atendam suas necessidades orientaccedilatildeo profissional aos alunos superdotados

implantaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas relacionadas agraves altas habilidades entre outras Alguns resultados

de pesquisa na aacuterea das altas habilidades indicam que as possiacuteveis intervenccedilotildees em Psicologia

Escolar sugeridas por Fleith (2009) mostram-se pertinentes agrave realidade escolar

O estudo realizado por Maia-Pinto e Fleith (2002) sobre a percepccedilatildeo de professores de

escolas particulares e puacuteblicas de Brasiacutelia em relaccedilatildeo aos alunos superdotados por exemplo

mostra que apesar dos docentes considerarem que a escola tem um papel importante na educaccedilatildeo

do aluno superdotado estes natildeo eram atendidos de forma diferenciada As autoras indicaram ainda

que os professores tinham um conhecimento superficial acerca da superdotaccedilatildeo e do processo de

identificaccedilatildeo do aluno com altas habilidades aleacutem de natildeo contarem com uma orientaccedilatildeo especiacutefica

sobre praacuteticas educacionais mais condizentes com as necessidades desses alunos Dessa forma a

Psicologia Escolar em seu compromisso com a inclusatildeo tem no trabalho com os atores escolares

neste caso os professores especialmente uma oportunidade de contribuir para a promoccedilatildeo do

desenvolvimento discente

No caso das altas habilidades eacute imperioso refletir acerca da crenccedila de que o aluno

superdotado tem as condiccedilotildees necessaacuterias e suficientes para desenvolver diferentes habilidades e

45

produzir conhecimento independente da accedilatildeo do meio Crenccedilas dessa natureza tecircm impacto direto

no planejamento de estrateacutegias pedagoacutegicas diferenciadas que atendam as necessidades dos alunos

superdotados e na implantaccedilatildeo de programas especiacuteficos de estimulaccedilatildeo Eacute preciso portanto

trabalhar pela desconstruccedilatildeo de alguns mitos e preconceitos que cercam a ideia do aluno

superdotado os quais foram construiacutedos na intersubjetividade social e da escola

Para aleacutem de questotildees relativas ao contexto escolar a atuaccedilatildeo do psicoacutelogo escolar em

relaccedilatildeo agraves altas habilidades tambeacutem pode estender-se para a famiacutelia Nesse sentido pode acolher as

duacutevidas e inseguranccedilas dos pais oferecer orientaccedilotildees acerca das caracteriacutesticas dos superdotados e

das praacuteticas adotadas na escola para favorecer o seu desenvolvimento discutir e estabelecer

estrateacutegias para estimular o filho e ajudaacute-lo na construccedilatildeo de seus interesses aleacutem de outras mais

(Fleith 2009)

O trabalho da Psicologia Escolar frente agrave inclusatildeo eacute extremamente desafiante

principalmente na medida em que natildeo se trata apenas de uma questatildeo de preparaccedilatildeo teacutecnica dos

psicoacutelogos escolares Conforme destaca Martiacutenez (2005a) ldquoo essencial natildeo eacute estar ou natildeo

preparado tecnicamente Isso eacute sem duacutevida importante poreacutem secundaacuterio em relaccedilatildeo ao essencial

o compromisso com os mais desfavorecidos o querer trabalhar para transformar essa situaccedilatildeordquo (p

112) Se propor a contribuir para um processo real de inclusatildeo escolar requer por parte dos

proacuteprios psicoacutelogos escolares reflexatildeo e desconstruccedilatildeo de seus mitos vinculaccedilatildeo efetiva com uma

perspectiva inclusiva e de promoccedilatildeo do desenvolvimento e a construccedilatildeo de competecircncias que os

possibilitem agir em prol da aprendizagem e do desenvolvimento de todos respeitando e

estimulando suas diferenccedilas

Entendendo que o desenvolvimento das potencialidades humanas estaacute intimamente

relacionado agrave criatividade este eacute mais um eixo de pesquisa e de intervenccedilatildeo em Psicologia Escolar

Segundo Martiacutenez (2002) o incremento intencional da criatividade no contexto escolar pode se dar

em trecircs direccedilotildees o do desenvolvimento da criatividade do aluno dos professores e da escola como

instituiccedilatildeo A respeito da criatividade Alencar e Fleith (2008) investigaram a percepccedilatildeo de

professores do ensino fundamental em relaccedilatildeo agraves barreiras que dificultam o desenvolvimento da

capacidade criativa de seus alunos a qual pode ser uma estrateacutegia para orientar as accedilotildees de

formaccedilatildeo com os professores O estudo se realizou pela aplicaccedilatildeo de um checklist que incluiacuteam

possiacuteveis barreiras agrave promoccedilatildeo da criatividade como falta de autonomia desinteresse do aluno

baixo incentivo para inovar falta de material didaacutetico entre outros Os resultados mostraram que as

principais barreiras apontadas pelos professores satildeo externas a eles como o elevado nuacutemero de

alunos a presenccedila de alunos com dificuldades em sala de aula desinteresse pelo conteuacutedo baixo

reconhecimento do trabalho docente a extensatildeo do programa a ser cumprido e a escassez de

material As barreiras menos apontadas satildeo as que se vinculam ao proacuteprio professor e suas

vivecircncias subjetivas como inseguranccedila para testar novas praacuteticas falta de autonomia e falta de

entusiasmo pela atividade docente

46

Apesar dos professores se considerarem preparados para favorecer o desenvolvimento da

criatividade os psicoacutelogos escolares que trabalham diretamente com as questotildees subjetivas que

permeiam a praacutetica educativa devem atentar-se para a possiacutevel resistecircncia por parte dos professores

em admitir que dificuldades pessoais possam estar se configurando como barreiras agrave promoccedilatildeo da

criatividade Como mencionam as autoras ldquoeacute mais faacutecil deslocar para o aluno a escola ou a

sociedade os fatores que dificultam o seu trabalho docenterdquo (Alencar amp Fleith 2008 p 64)

isentando-se de sua responsabilidade profissional

Em relato feito por Alencar (2007) acerca do estudo da criatividade no contexto educativo

apreende-se um ponto que eacute de interesse especial para as intervenccedilotildees em Psicologia Escolar

relacionado agraves dificuldades dos professores em romperem com antigas praacuteticas Refere-se agraves

compreensotildees equivocadas dos professores acerca da criatividade as quais englobam o

entendimento de que todo ser humano eacute naturalmente criativo independente do ambiente de que a

criatividade eacute igual em todas as pessoas e de que eacute algo que acontece por acaso Tendo em vista

que as concepccedilotildees que se tem de um fenocircmeno satildeo orientadoras da forma como agimos em relaccedilatildeo

a ele atuar junto agraves concepccedilotildees dos professores em relaccedilatildeo agrave criatividade eacute um procedimento que

pode contribuir para a modificaccedilatildeo das praacuteticas docentes

Em relaccedilatildeo agrave Educaccedilatildeo Superior Alencar (2002) Alencar e Fleith (2010) e Jackson (2006)

referem que pouca atenccedilatildeo tem sido dada ao desenvolvimento das habilidades criativas neste niacutevel

educativo Apesar de ser consensual que a criatividade tem importante funccedilatildeo na formaccedilatildeo dos

futuros profissionais uma vez que os possibilitaraacute responder de maneira mais adequada aos

desafios profissionais dominar estrateacutegias mais eficientes e resolver problemas inesperados

poucas experiecircncias tecircm se dedicado ao desenvolvimento e expressatildeo da criatividade na Educaccedilatildeo

Superior

Amaral e Martiacutenez (2006) realizaram um estudo de caso com um aluno universitaacuterio

criativo partindo do pressuposto de que elementos subjetivos como o alto grau de motivaccedilatildeo para a

aprendizagem capacidade reflexiva sobre si mesmo autodeterminaccedilatildeo vinculada agrave superaccedilatildeo

flexibilidade independecircncia autonomia entre outros tecircm importante papel na expressatildeo da

criatividade no processo de aprendizagem A partir dos dados construiacutedos ao longo do estudo as

autoras indicaram que existe uma relaccedilatildeo recursiva entre a constituiccedilatildeo do sentido subjetivo na

aprendizagem e a expressatildeo criativa nesse processo De um lado a constituiccedilatildeo do sentido

subjetivo na aprendizagem do aluno alimenta a criatividade de outro a aprendizagem criativa

oportuniza vivecircncias que o fortalecem como aluno e contribuem para a construccedilatildeo de sentidos que

fortificam uma relaccedilatildeo positiva com a aprendizagem (Amaral amp Martiacutenez 2006) Evidencia-se

assim que o contexto educativo no seio do processo de aprendizagem pode ser um espaccedilo

privilegiado para o desenvolvimento da criatividade e para a promoccedilatildeo de sauacutede exigindo que os

profissionais habilitem-se no sentido de compreender como se daacute esse processo e de identificar

47

estrateacutegias que possam desenvolver nos alunos os recursos pessoais que lhe permitam uma accedilatildeo

criativa

Tambeacutem no acircmbito da poacutes-graduaccedilatildeo mas com foco nos docentes Barreto e Martiacutenez

(2007) investigaram entre professores de poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu na Bahia possibilidades de

transformarem sua praacutetica educativa num processo criativo e inovador A partir do estudo

realizado as autoras constataram que os professores reconhecem a importacircncia da criatividade no

contexto educacional mas apontam que eacute preciso estrateacutegias e accedilotildees para que a estimulem

especialmente quando as trajetoacuterias satildeo marcadas pela falta de capacitaccedilatildeo quanto a uma

metodologia de ensino criativa Uma opccedilatildeo sugerida pelas autoras e que se coaduna agrave atuaccedilatildeo em

Psicologia Escolar eacute a de desenvolver um programa permanente de formaccedilatildeo continuada neste

caso com foco nas concepccedilotildees de criatividade dos professores e nos recursos subjetivos que

podem facilitar ou dificultar o trabalho pedagoacutegico criativo

Em estudo recentemente realizado com professores de Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior

puacuteblicas e privadas Alencar e Fleith (2010) constaram que entre as quatro principais barreiras

apontadas pelos professores ao desenvolvimento das habilidades criativas trecircs diziam respeito aos

estudantes tendo havido inclusive um elevado nuacutemero de docentes que indicou a presenccedila de

alunos com dificuldades de aprendizagem como uma importante barreira Muitas hipoacuteteses e

problematizaccedilotildees podem e devem ser levantadas a partir destes dados impulsionando outros

estudos contudo jaacute eacute de destacar um aspecto frutiacutefero agrave atuaccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares que eacute

junto agrave compreensatildeo dos professores acerca da necessidade dos alunos terem preacute-requisitos para

aprender De acordo com o que jaacute foi sinalizado em outras ocasiotildees a concepccedilatildeo de aprendizagem

e de desenvolvimento dos professores eacute basilar para seu exerciacutecio profissional

Soma-se ao trabalho com os professores a atuaccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares no que tange

agraves propostas curriculares e pedagoacutegicas dos cursos superiores as quais muitas vezes estatildeo

principalmente voltadas para a transmissatildeo de conhecimento e pouco privilegiam espaccedilos e

estrateacutegias diferenciadas de ensino de aprendizagem e de avaliaccedilatildeo ldquoEmbora se espere que os

estudantes sejam criativos a criatividade eacute raramente incluiacuteda nos planos de disciplinas como um

objetivo expliacutecito a ser alcanccedilado no decorrer do cursordquo (Alencar amp Fleith 2010 p 203) o que

mais uma vez abre uma importante frente de intervenccedilatildeo em Psicologia Escolar

Conforme resume Jackson (2006) uma das conclusotildees mais importantes oportunizada

pelos estudos nesta aacuterea eacute a de que a criatividade estaacute no coraccedilatildeo da identidade dos estudantes

mesmo natildeo sendo foco da intervenccedilatildeo intencional da instituiccedilatildeo as pesquisas mostram que ela eacute

extremamente relevante na forma como os estudantes veem a si mesmos Por essa razatildeo e como

evidenciam os exemplos apresentados a promoccedilatildeo da criatividade eacute um possiacutevel eixo de atuaccedilatildeo

da Psicologia Escolar que sempre deve ter em perspectiva que a criatividade natildeo eacute de ordem

individual exclusivamente e engloba um conjunto de fatores que dificultam e promovem o seu

desenvolvimento e a sua expressatildeo Ademais as intervenccedilotildees devem buscar resultados que natildeo

48

fiquem restritos a um dos segmentos escolares ndash os alunos por exemplo - mas que tenham o

potencial de transbordar para os demais

Outro campo emergente de atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar tem sido em relaccedilatildeo agrave proposta

pedagoacutegica da escola haja vista que historicamente os profissionais da aacuterea natildeo participavam da

sua construccedilatildeo A partir da anaacutelise da Lei de Diretrizes e Bases (1996) Del Prette (1999) apontou

algumas alternativas de atuaccedilatildeo do psicoacutelogo na escola entre elas a assessoria na elaboraccedilatildeo

implementaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo permanente do projeto pedagoacutegico De acordo com a autora a

construccedilatildeo de uma proposta pedagoacutegica natildeo eacute uma tarefa simples e deve se pautar num processo de

reflexatildeo acerca dos objetivos educacionais estabelecidos na legislaccedilatildeo e a reais condiccedilotildees de cada

escola em alcanccedilar tais objetivos As reflexotildees empreendidas no acircmbito da escola para subsidiar a

elaboraccedilatildeo desse documento buscam fazer com que ela seja de fato um reflexo dos princiacutepios

intenccedilotildees e orientaccedilotildees da escola passiacutevel de ser implementado e natildeo simplesmente o

cumprimento de uma exigecircncia formal Nessa direccedilatildeo Martiacutenez (2003) destaca que

o processo de construccedilatildeo implantaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo contiacutenua da proposta pedagoacutegica da

escola constitui uma das principais direccedilotildees do trabalho na instituiccedilatildeo escolar toda vez que

expressa por uma parte a intencionalidade do trabalho educativo em direccedilotildees claramente

definidas e por outra a estruturaccedilatildeo articulada das estrateacutegias e accedilotildees por meio das quais

os objetivos educativos seratildeo atingidos (p 106)

Com base nessa compreensatildeo acerca da funccedilatildeo da proposta pedagoacutegica no alcance das

metas formativas Martiacutenez (2003) desenvolveu um trabalho de consultoria em uma escola de

educaccedilatildeo infantil e ensino fundamental de Brasiacutelia que contava com a atuaccedilatildeo de uma psicoacuteloga

escolar A autora descreve o processo em duas etapas a primeira de construccedilatildeo da concepccedilatildeo

geral e a segunda de implantaccedilatildeo e de monitoramente das accedilotildees desenvolvidas O objetivo da

primeira etapa era o de delinear os aspectos centrais que iriam embasar a proposta pedagoacutegica da

escola e para tanto contou com atividades de sensibilizaccedilatildeo e de reflexatildeo sobre o que eacute uma

proposta pedagoacutegica e a sua funccedilatildeo nos trabalhos desenvolvidos na escola atividades grupais

voltadas agrave elaboraccedilatildeo coletiva da visatildeo da escola e da formaccedilatildeo que deseja oferecer articulaccedilatildeo

entre a visatildeo coletivamente construiacuteda pelos atores escolares e os referenciais teoacutericos assumidos

pela escola e por fim elaboraccedilatildeo do documento final da proposta

A segunda fase de implantaccedilatildeo e acompanhamento foi orientada pelo objetivo de

conseguir que as bases definidas no documento inicial da proposta pedagoacutegica se expressassem na

accedilatildeo educativa cotidiana Envolveu um conjunto de accedilotildees como estudo e discussatildeo em grupo

acerca do documento elaborado focalizando as bases teoacutericas da proposta e sua operacionalizaccedilatildeo

do dia-a-dia diagnoacutestico das necessidades de formaccedilatildeo dos docentes planejamento e realizaccedilatildeo

das praacuteticas educativas entre outros Ao longo dessa etapa Martiacutenez (2003) relata que surgiram

diferentes tipos de conflitos que demandaram a intervenccedilatildeo da direccedilatildeo da escola como forma de

49

administraacute-los e dar continuidade ao processo o qual evidenciou a complexidade envolvida na

mudanccedila de cultura de haacutebitos de trabalho e de espaccedilos de comunicaccedilatildeo

A partir dessa experiecircncia Martiacutenez (2003) apresentou algumas consideraccedilotildees sobre quatro

accedilotildees dos psicoacutelogos escolares que a seu ver emergem da atuaccedilatildeo junto agrave construccedilatildeo e

implantaccedilatildeo de uma proposta pedagoacutegica Acerca do trabalho como consultor refere que cabe ao

profissional planejar as accedilotildees relativas a cada momento coordenando-as e monitorando sua

evoluccedilatildeo Em relaccedilatildeo aos projetos de trabalho especiacuteficos que surgem como estrateacutegias

subsidiadoras da elaboraccedilatildeo da proposta a autora aponta que o psicoacutelogo escolar pode coordenar

tais projetos como eacute o caso do que foi desenvolvido no trabalho de consultoria para caracterizar a

populaccedilatildeo estudantil

seus objetivos essenciais direcionavam-se agrave caracterizaccedilatildeo das turmas e dos alunos num

conjunto de aspectos importantes de forma a se obter informaccedilatildeo sistematizada para ser

utilizada pelas coordenadoras pedagoacutegicas e pelos professores no planejamento e

desenvolvimento do trabalho docente educativo e na avaliaccedilatildeo do processo de

desenvolvimento dos alunos (Martiacutenez 2003 p 119)

Outra accedilatildeo que o psicoacutelogo escolar tambeacutem pode desenvolver refere-se agrave formaccedilatildeo

continuada de professores que no trabalho realizado ocorreu de trecircs formas conduccedilatildeo do

aprofundamento das bases teoacuterico-conceituais que sustentam a proposta pedagoacutegica

especificamente no estudo da perspectiva histoacuterico-cultural do desenvolvimento humano incentivo

e mediaccedilatildeo das reflexotildees criacuteticas sobre a praacutetica tendo como base os fundamentos conceituais

assumidos na proposta pedagoacutegica realizaccedilatildeo de projetos e pesquisas em sala de aula

desenvolvidos com os professores por meio de espaccedilos de diaacutelogo e troca de experiecircncias

(Martiacutenez 2003)

Outra accedilatildeo que tambeacutem pode contar com a participaccedilatildeo do psicoacutelogo escolar eacute no sistema

de seleccedilatildeo de professores e coordenadores pedagoacutegicos que compartilhem do trabalho pedagoacutegico

concebido pela escolar e expresso em sua proposta pedagoacutegica A experiecircncia de intervenccedilatildeo

relatada anteriormente evidencia que o envolvimento dos psicoacutelogos escolares na construccedilatildeo da

proposta pedagoacutegica estaacute ancorado em uma compreensatildeo ampliada e abrangente da atuaccedilatildeo da

Psicologia Escolar Idealizar planejar e implementar accedilotildees que prezem pela participaccedilatildeo de todos

num processo de construccedilatildeo eminentemente coletivo eacute indispensaacutevel agrave elaboraccedilatildeo de qualquer

proposta que se pretenda transformadora pois para isso eacute necessaacuterio coesatildeo dos envolvidos em

torno dos princiacutepios valores objetivos funccedilotildees e responsabilidades

Conforme jaacute sinalizado por Martiacutenez (2003) no relato da experiecircncia com a proposta

pedagoacutegica um novo espaccedilo de atuaccedilatildeo do psicoacutelogo escolar diz respeito agrave seleccedilatildeo de professores

e outros atores escolares Selecionar pessoal eacute tradicionalmente uma funccedilatildeo desenvolvida pelos

psicoacutelogos da aacuterea organizacional contudo o reconhecimento de que a qualidade do trabalho

educativo estaacute vinculada agrave harmonia entre as concepccedilotildees dos profissionais acerca dos processos de

50

desenvolvimento de ensino e de aprendizagem e as que orientam a proposta da escola tem

evidenciado um novo campo de atuaccedilatildeo para o psicoacutelogo escolar Nessa direccedilatildeo Avelar Leitatildeo e

Martiacutenez (2003) apresentaram uma experiecircncia de seleccedilatildeo de professores desenvolvida em uma

escola particular de educaccedilatildeo infantil e ensino fundamental do Distrito Federal partindo da ideia de

que a contrataccedilatildeo de novos colaboradores deve ser conduzida pela confluecircncia entre os princiacutepios

teoacutericos que direcionam o trabalho da escola e aqueles valorizados pelo profissional professor

coordenador ou outro

A experiecircncia de seleccedilatildeo em Psicologia Escolar relatado pelas autoras compreende cinco

etapas anaacutelise curricular avaliaccedilatildeo do conhecimento geral do candidato na aacuterea da educaccedilatildeo e suas

concepccedilotildees sobre o processo ensino-aprendizagem anaacutelise das caracteriacutesticas pessoais do

candidato como lideranccedila comunicabilidade criticidade entre outros avaliaccedilatildeo da competecircncia

didaacutetica dos candidatos e entrevista semi-estruturada Finalizado o processo as psicoacutelogas se

colocam a disposiccedilatildeo dos candidatos para comentar a pedido deles os aspectos que foram

relevantes para tomar a decisatildeo Apoacutes a contrataccedilatildeo do professor as informaccedilotildees que foram

reunidas ao longo do processo seletivo servem ainda como orientadoras da formaccedilatildeo continuada

que seraacute proposta aos docentes tomando por base nas diretrizes na proposta pedagoacutegica da escola

Sendo assim todo o processo seletivo eacute conduzido a partir dos fundamentos princiacutepios

objetivos e expectativas estabelecidos na proposta pedagoacutegica da escola de maneira que

o caraacuteter inovador desse processo seletivo estaacute exatamente na relaccedilatildeo que ele estabelece

com o projeto pedagoacutegico ou seja todas as etapas estatildeo relacionadas agraves teses e princiacutepios

norteadores do projeto assim como no aproveitamento das diversas informaccedilotildees obtidas

sobre os professores selecionados as quais fornecem dados importantes para a formaccedilatildeo

continuada dos mesmos (Avelar Leitatildeo amp Martiacutenez 2003 p 217)

Este exemplo de atuaccedilatildeo na seleccedilatildeo de membros da equipe pedagoacutegica mostra o quanto

atividades tradicionalmente desenvolvidas por outra aacuterea da Psicologia podem ser realizadas pelos

profissionais da Psicologia Escolar sem implicar disputa ou sobreposiccedilatildeo de funccedilotildees uma vez que

o processo seletivo apresenta uma especificidade o conhecimento e domiacutenio do psicoacutelogo escolar

acerca dos fundamentos teoacuterico-conceituais e filosoacuteficos sobre a educaccedilatildeo e seus processos e a

articulaccedilatildeo desses fundamentos com a proposta pedagoacutegica especiacutefica da escola Assim o foco da

seleccedilatildeo desloca-se das caracteriacutesticas pessoais do candidato que melhor se enquadram no perfil de

determinado cargo para a integraccedilatildeo entre os interesses e valores da instituiccedilatildeo e do profissional

para a coerecircncia entre concepccedilotildees como ensinar aprender desenvolver avaliar

Os relatos de pesquisa e de intervenccedilatildeo apresentados nesta seccedilatildeo satildeo algumas das

experiecircncias relatadas na literatura contemporacircnea em Psicologia Escolar escolhidas para essa

apresentaccedilatildeo a despeito de existirem outras experiecircncias igualmente significativas criacuteticas e

emergentes que abordam a inclusatildeo de pessoas com deficiecircncia mental (Anache 2005 2007

2009) a atuaccedilatildeo na educaccedilatildeo infantil e em creches (Costa 2010 Costa amp Guzzo 2006 Vectore

51

2010 Vectore amp Maiomini 2007 Yokoy amp Pedroza 2005) abrigos (Vectore 2005 Vectore amp

Carvalho 2009) organizaccedilotildees natildeo governamentais (Carvallho 2007 Dadico 2003 Soares 2008)

junto a crianccedilas em situaccedilatildeo de risco psicossocial (SantrsquoAna Costa amp Guzzo 2008) e no

desenvolvimento de poliacuteticas puacuteblicas (Marinho-Arauacutejo amp Neves 2007 Martiacutenez 2007)

Os exemplos de pesquisa e intervenccedilatildeo apresentados nesta seccedilatildeo representam algumas das

possibilidades de atuaccedilatildeo da Psicologia no contexto educativo e tecircm como aspecto diferencial o

compromisso com a transformaccedilatildeo da praacutetica cotidiana desenvolvida nas instituiccedilotildees escolares

entendendo que nesta praacutetica estatildeo contemplados todos os atores escolares entre eles o proacuteprio

psicoacutelogo escolar Assim a Psicologia Escolar tem buscado produzir modificaccedilotildees nos contextos

educativos ao mesmo tempo em que desenvolve modelos e praacuteticas qualitativamente diferentes de

atuaccedilatildeo

A partir de accedilotildees direcionadas para diferentes dimensotildees do processo educativo ndash

preparaccedilatildeo dos membros da equipe pedagoacutegica atendimento agraves queixas escolares favorecimento

da inclusatildeo e respeito agrave diversidade desenvolvimento da expressatildeo criativa construccedilatildeo da proposta

pedagoacutegica aleacutem de outras ndash os psicoacutelogos escolares vecircm tentando abandonar o foco sobre os

indiviacuteduos e priorizar a conexatildeo e interdependecircncia existente entre estas dimensotildees Assumem

entatildeo que os fenocircmenos natildeo estatildeo isolados mas ao contraacuterio manteacutem diferentes relaccedilotildees que

precisam ser consideradas quando da elaboraccedilatildeo de uma proposta de atuaccedilatildeo em Psicologia

Escolar Mesmo que centrada em uma dimensatildeo especiacutefica como a seleccedilatildeo de professores por

exemplo ela se alimenta da proposta pedagoacutegica da escola e da avaliaccedilatildeo dos membros da equipe

pedagoacutegica assim como tambeacutem se desdobra na formaccedilatildeo continuada dos professores e no

acompanhamento do processo de ensino-aprendizagem agrave luz das noccedilotildees de inclusatildeo escolar e de

queixas escolares

Aleacutem do reconhecimento da interconexatildeo entre as diferentes dimensotildees a serem

consideradas em uma proposta de atuaccedilatildeo as recentes experiecircncias da aacuterea tecircm levado os

profissionais a constarem que para conseguir resultados mais abrangentes eacute necessaacuterio adotar

procedimentos que ampliem o poder de sua accedilatildeo Assim a adoccedilatildeo de estrateacutegias de natureza

coletiva que envolvem a participaccedilatildeo dos diferentes atores ndash professores coordenadores diretores

funcionaacuterios pais alunos ndash vecircm sendo mais recorrente sem contudo abandonar accedilotildees individuais

A presenccedila da Psicologia Escolar no Mundo

No ano de 2003 Oakland (2003) indicou que existiam serviccedilos de Psicologia Escolar de

forma institucionalizada em aproximadamente 30 paiacuteses Recentemente este dado foi atualizado e

ampliado a partir de uma pesquisa realizada por Jimerson Skokut Cardenas Malone e Stewart

(2008) junto aos 192 Estados Membros das Naccedilotildees Unidas Os autores investigaram entre estes

paiacuteses quantos e quais tecircm psicoacutelogos escolares e qual a evidecircncia encontrada em cada um deles

que permitisse afirmar a presenccedila de tais profissionais Os autores descobriram que dos 192 paiacuteses

52

83 (43) tinham psicoacutelogos escolares entre eles Argentina Austraacutelia Brasil Canadaacute Chile

China Cuba Equador Egito Estados Unidos Finlacircndia Greacutecia Iacutendia Iratilde Japatildeo Jordacircnia

Lutuacircnia Meacutexico Nigeacuteria Paraguai Peru Portugal Ruacutessia Tanzacircnia Turquia Venezuela e

outros mais

Os criteacuterios adotados para indicar a evidecircncia da Psicologia Escolar no paiacutes foram a

presenccedila de profissionais que satisfazem as funccedilotildees caracteriacutesticas do psicoacutelogo escolar

regulamentaccedilotildees ou leis que estabelecem a formaccedilatildeo registro e credenciamento necessaacuterios aos

profissionais da aacuterea associaccedilotildees profissionais de Psicologia Escolar programas universitaacuterios que

preparam psicoacutelogos escolares e programas universitaacuterios que oferecem formaccedilatildeo em Psicologia

Escolar em niacutevel de doutorado Dentre os 83 paiacuteses com psicoacutelogo escolar existe grande

diversidade no que se refere ao atendimento a estes criteacuterios o que faz com que exista uma

variaccedilatildeo consideraacutevel no grau em que a Psicologia Escolar estaacute estabelecida no mundo (Jimerson

Skokut amp cols 2008)

Quanto ao nuacutemero de profissionais pelo mundo existem por volta de 100 a 100 mil

psicoacutelogos escolares trabalhando internacionalmente dos quais cerca de 25 mil estatildeo nos Estados

Unidos (Oakland 2003) e 32 mil estatildeo na China (Ding Kuo amp Dyke 2008) Apesar de a escola ser

o principal local de trabalho dos psicoacutelogos escolares (Reschly 2003 Jimerson Skokut amp cols

2008) existem ainda mais trecircs mil trabalhando em outras funccedilotildees dentro da escola como diretor

de educaccedilatildeo especial por exemplo e em contextos cliacutenicos e de sauacutede mental externos agrave escola

(Oakland 2003 Reschly 2003)

Com o objetivo de compor um quadro atual da Psicologia Escolar no mundo pesquisas

internacionais usando dados coletados pelo International School Psychology Survey (ISPS) um

instrumento desenvolvido em colaboraccedilatildeo por pesquisadores de vaacuterios paiacuteses forneceram

informaccedilotildees sobre o processo de formaccedilatildeo e regulamentaccedilatildeo da profissatildeo as caracteriacutesticas dos

psicoacutelogos escolares seus papeacuteis e responsabilidades e os desafios que encontram ao longo da

carreira (Jimerson Graydon Farrell amp cols 2004 Jimerson Graydon Skokut amp cols 2008

Jimerson Graydon Yuen amp cols 2006)

As pesquisas foram realizadas em 13 paiacuteses (Albacircnia Cyprus Estocircnia Greacutecia Inglaterra

Austraacutelia China Alemanha Itaacutelia Ruacutessia Geoacutergia Suiacuteccedila e Emirados Aacuterabes) e apontaram

similaridades e diferenccedilas entre eles Nestes paiacuteses os psicoacutelogos escolares satildeo em sua maioria do

gecircnero feminino com exceccedilatildeo da Alemanha em que haacute igualdade entre os dois gecircneros e da Suiacuteccedila

em que prevalecem os psicoacutelogos do gecircnero masculino (61) Haacute tambeacutem prevalecircncia feminina

em Moscou onde 95 dos 2000 mil psicoacutelogos escolares satildeo do gecircnero feminino (Malykh

Barsky Kutuzova amp Malykhin 2002) A meacutedia de idade dos psicoacutelogos escolares varia bastante

de 25 (Albacircnia) a 53 anos (Alemanha)

Em relaccedilatildeo ao desenvolvimento da Psicologia Escolar no mundo Reschly (2003) aponta

que o crescimento vivenciado nos uacuteltimos 25 anos deve-se principalmente agrave garantia em lei dos

53

direitos educacionais aos estudantes com deficiecircncia o que contribuiu para que a atuaccedilatildeo dos

psicoacutelogos escolares se vinculasse muito agrave educaccedilatildeo especial no trabalho com alunos com

deficiecircncia mental distuacuterbios emocionais e dificuldades de aprendizagem O desenvolvimento da

Psicologia Escolar como um reflexo das regulamentaccedilotildees que estabelecem a necessidade de

atendimento especializado agraves crianccedilas com necessidades especiais eacute reconhecido em paiacuteses como

os Estados Unidos (Reschly 2003) Greacutecia (Theodore Bray Kehle amp Dioguardi 2002) Itaacutelia

(Trombetta Alessandri amp Coyne 2008) e Hong Kong (Ding Kuo amp Dyke 2008)

Em virtude da necessidade de identificar os alunos que precisavam de intervenccedilotildees

especiais a avaliaccedilatildeo psicoloacutegica realizada no contexto da educaccedilatildeo especial foi uma caracteriacutestica

que marcou a Psicologia Escolar em diferentes paiacuteses especialmente pelo uso de testes

padronizados Atualmente entretanto esta situaccedilatildeo tem mudado em alguns paiacuteses conforme

comentam Theodore e cols (2002) em relaccedilatildeo agrave Greacutecia ldquono momento o papel do psicoacutelogo

escolar que trabalha nessas escolas eacute relativamente progressista e diversificado Por exemplo eles

orientam as famiacutelias e professores auxiliando-os a lidar com desordens comportamentais

coordenam programas de prevenccedilatildeo primaacuteria e oferecem treinamento profissionalrdquo (p 151)

No que diz respeito agraves principais atividades realizadas pelos psicoacutelogos escolares existe

certa consistecircncia nas accedilotildees da aacuterea em virtude principalmente da ecircnfase na avaliaccedilatildeo

psicoeducacional e no aconselhamento aos estudantes (Malykh Barsky Kutuzova amp Malykhin

2002 Jimerson Graydon Farrell amp cols 2004 Jimerson Graydon Skokut amp cols 2008

Jimerson Graydon Yuen amp cols 2006) Diferentemente na Itaacutelia a maior parte das atividades eacute

desenvolvida com os pais o contato direto com os estudantes por meio do aconselhamento ou

orientaccedilatildeo eacute pouco mencionado pelos psicoacutelogos escolares sendo que as intervenccedilotildees com toda a

turma de alunos satildeo mais frequentes O trabalho com os professores eacute realizado por meio de uma

combinaccedilatildeo entre accedilotildees de formaccedilatildeo e apoio na resoluccedilatildeo de problemas enquanto intervenccedilotildees

com os administradores satildeo quase inexistentes (Trombetta amp cols 2008)

A histoacuterica vinculaccedilatildeo da Psicologia Escolar com a Medicina que inclusive levou agrave

patologizaccedilatildeo do contexto escolar ainda eacute bastante presente na China pois neste paiacutes a Psicologia

Escolar natildeo eacute reconhecida como uma profissatildeo independente e eacute exercida por pediatras

psiquiatras aleacutem de outros profissionais como professores de educaccedilatildeo especial (Ding amp cols

2008) Neste mesmo paiacutes programas especiacuteficos de formaccedilatildeo em Psicologia Escolar ainda natildeo

existem ldquonenhum programa de treinamento formal diplomas praacutetica ou sistemas de acreditaccedilatildeo

de certificados receberam reconhecimento oficialrdquo (Ding amp cols 2008 p 540) Esse fato contribui

para que o desenvolvimento da aacuterea no paiacutes ainda esteja em um niacutevel rudimentar carecendo de

mais envolvimento compromisso e accedilatildeo por parte do governo dos profissionais e pesquisadores da

aacuterea dos estudantes e da sociedade

Apesar de terem muitas semelhanccedilas em termos de liacutengua cultura valores e tradiccedilotildees

Hong Kong tem histoacuteria e caracteriacutesticas diferentes da China em relaccedilatildeo agrave Psicologia Escolar

54

Segundo Ding e cols (2008) Hong Kong devido agrave sua influecircncia britacircnica foi o primeiro paiacutes da

Aacutesia a reconhecer a profissatildeo de psicoacutelogo escolar e a ter um programa de formaccedilatildeo oficial As

funccedilotildees desenvolvidas satildeo de intervenccedilatildeo avaliaccedilatildeo consultas administraccedilatildeo e pesquisa

A partir da siacutentese sobre a situaccedilatildeo da Psicologia Escolar no mundo pode-se dizer que

apesar das similaridades ela difere de paiacutes para paiacutes especialmente em relaccedilatildeo ao perfil dos

psicoacutelogos agraves exigecircncias relativas agrave formaccedilatildeo e preparaccedilatildeo profissional agraves atividades

desenvolvidas e ao reconhecimento da aacuterea que entre outros desdobramentos contribuem para que

haja uma certa confusatildeo acerca da identidade do psicoacutelogo escolar De acordo com Farrel (2009)

aleacutem das diferenccedilas com que a Psicologia Escolar comparece nos paiacuteses existem tambeacutem

discussotildees acerca do papel do psicoacutelogo escolar e sua especificidade em relaccedilatildeo aos demais

profissionais da escolar pois existem muitos comentaacuterios que apontam para o fato de que o papel

dos psicoacutelogos escolares eacute mal entendido que os empregadores lhes fazem demandas pouco

razoaacuteveis que os pais e professores tecircm expectativas irreais entre outras questotildees Para o autor

existe portanto uma necessidade de estabelecer alguns paracircmetros para a profissatildeo de forma que

ela possa se consolidar nos mais diferentes paiacuteses

O caminho para isso estaacute segundo Farrell (2009) na clareza da definiccedilatildeo acerca da

natureza da contribuiccedilatildeo especiacutefica da Psicologia Escolar agrave educaccedilatildeo As evidecircncias segundo o

autor sugerem que a compreensatildeo dos psicoacutelogos escolares acerca dos objetivos processos

necessidades e resultados de seu trabalho leva a uma motivaccedilatildeo comum entre eles e demais

profissionais da escola que se sentem seguros em trabalhar com os profissionais da Psicologia

Escolar

Para o desenvolvimento e consolidaccedilatildeo da Psicologia Escolar no mundo satildeo necessaacuterios

entatildeo esforccedilos coletivos no sentido de estabelecer indicadores que traduzam a especificidade das

contribuiccedilotildees da aacuterea e o papel do psicoacutelogo escolar os quais guardam estreita relaccedilatildeo com o

conhecimento e as competecircncias que satildeo proacuteprias deste campo de formaccedilatildeo e atuaccedilatildeo

Educaccedilatildeo Superior um Novo Contexto de Atuaccedilatildeo para a Psicologia Escolar

O trabalho da Psicologia Escolar tem tradicionalmente se associado agrave escola por meio de

estudos e intervenccedilotildees realizados no acircmbito da Educaccedilatildeo Baacutesica Um olhar retrospectivo sobre a

inserccedilatildeo da Psicologia e a consolidaccedilatildeo de seu trabalho no contexto educativo ratifica essa

associaccedilatildeo conforme jaacute relatado neste capiacutetulo

Tendo a atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar em sua origem se direcionado especialmente para

as crianccedilas com dificuldades de aprendizagem eacute compreensiacutevel que os estudos e produccedilotildees na aacuterea

reflitam esse direcionamento e tratem de questotildees e problemaacuteticas pertinentes agrave Educaccedilatildeo Baacutesica

Algumas destas questotildees satildeo a relaccedilatildeo professor-aluno (Arauacutejo 1995 Tassoni 2000) dificuldades

de aprendizagem e queixas escolares (Andrada 2003 Colares amp Moyseacutes 1996 Francisco 2002

Moyseacutes amp Collares 1992 Neves 1994 2001) fracasso escolar (Patto 1999) inclusatildeo escolar

55

(Alecrim 2005 Martiacutenez 2005a Neves amp Machado 2005 Silveira 2004) a relaccedilatildeo famiacutelia-

escola (Cardoso 2003 Oliveira 2007 Oliveira amp Marinho-Arauacutejo 2010 Polocircnia 2005 Reali amp

Tancredi 2002) criatividade (Alencar amp Fleith 2008 Castro 2007 Fleith amp Alencar 2006 2008

Liboacuterio 2009 Martiacutenez 2003) superdotaccedilatildeo e hiperatividade (Alencar amp Fleith 2006 Alencar

Fleith amp Sabatella 2006 Aspesi 2003 Maia-Pinto amp Fleith 2004 Ourofino 2005 Pinto 2002)

aleacutem de outros

A despeito da histoacuterica imersatildeo da Psicologia Escolar nas escolas outros contextos tecircm

sido fonte de interesse de pesquisadores e profissionais dado especialmente o reconhecimento de

que distintos ambientes institucionais tambeacutem revestidos da funccedilatildeo educativa satildeo espaccedilos

potenciais de desenvolvimento humano Tem assim ocorrido uma expansatildeo da Psicologia Escolar

para contextos educativos ateacute entatildeo pouco explorados como eacute o caso das creches orfanatos

organizaccedilotildees natildeo governamentais serviccedilos puacuteblicos cursos preacute-vestibulares educaccedilatildeo de jovens e

adultos Educaccedilatildeo Superior e educaccedilatildeo a distacircncia (Campos 2001 Carvalho 2007 Dadico 2003

Lima 2005 Marinho-Arauacutejo 2009a Maynhone Santos amp Marinho-Arauacutejo 2007 Sampaio 2009

2010 Serpa amp Santos 2001 Silva Costa amp Ferreira 2005 Silva Ramos amp Neves 2005 Soares

2008 Vectore amp Carvalho 2009 Vectore amp Maimone 2007)

Dentre esses novos contextos eacute de interesse neste estudo o trabalho que a Psicologia

Escolar pode desenvolver na Educaccedilatildeo Superior no sentido de contribuir com a formaccedilatildeo de

profissionais e cidadatildeos aptos e imbuiacutedos do desejo de minimizar a desigualdade o preconceito a

injusticcedila violecircncia e exclusatildeo que permeiam a vida em sociedade O interesse estaacute portanto

direcionado para a investigaccedilatildeo de praacuteticas psicoloacutegicas que se pautem na ampla compreensatildeo da

funccedilatildeo formativa da Educaccedilatildeo Superior

Os Serviccedilos de Apoio Psicoloacutegico em Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior Uma anaacutelise do

surgimento e evoluccedilatildeo dos Serviccedilos de Apoio Psicoloacutegico na Educaccedilatildeo Superior aponta que os

primeiros serviccedilos desta natureza surgiram nos Estados Unidos e na Europa por meio do apoio

pontual que um professor ou mentor oferecia aos estudantes para ajudaacute-los a resolver dificuldades

acadecircmicas ou para recomendaacute-los ao mercado de trabalho (RESAPES 2002a) Na medida em que

este apoio foi se personalizando e assumindo um caraacuteter regular no tempo passou a ser identificado

como Aconselhamento A partir destas experiecircncias pontuais do ponto de vista mundial os

Estados Unidos foram pioneiros na criaccedilatildeo dos serviccedilos de aconselhamento psicoloacutegico na

Educaccedilatildeo Superior na Europa a primeira iniciativa desta natureza eacute atribuiacuteda agrave Inglaterra (Pereira

2008 RESAPES 2002a) Desde estas primeiras experiecircncias vem crescendo pelo mundo o

nuacutemero de Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior que oferecem algum tipo de apoio psicoloacutegico aos

seus estudantes com o objetivo de favorecer sua transiccedilatildeo e adaptaccedilatildeo agrave vida universitaacuteria

contribuir para o sucesso acadecircmico e promover seu desenvolvimento integral como cidadatildeo e

profissional

56

Na Europa por exemplo os Serviccedilos de Aconselhamento Psicoloacutegico tecircm assumido

especial importacircncia no apoio agrave democratizaccedilatildeo e maior qualidade da Educaccedilatildeo Superior de forma

que em 1988 foi criado o Foacuterum Europeacuteen drsquoOrientation Acadeacutemique (FEDORA) uma

organizaccedilatildeo de apoio aos estudantes da Educaccedilatildeo Superior composta por representantes de todos os

paiacuteses da comunidade europeia A FEDORA estaacute organizada em quatro grupos de trabalho a saber

Orientaccedilatildeo para a carreira e empregabilidade Orientaccedilatildeo educacional e aconselhamento Inclusatildeo e

igualdade de oportunidades e Psyche (Psychological Counselling in Higher Education)

No que concerne ao apoio psicoloacutegico a FEDORA-PSYCHE eacute o grupo de trabalho que

tem assumido o compromisso de acompanhar as atividades desenvolvidas pelos Serviccedilos de

Orientaccedilatildeo e Aconselhamento dos paiacuteses membros da Uniatildeo Europeia e traccedilar algumas orientaccedilotildees

para o melhor funcionamento destes serviccedilos Referindo-se ao importante papel que este grupo de

trabalho tem assumido junto aos Serviccedilos de Psicologia existentes nas IES Rott (2008) esclarece

que ldquoFEDORA-PSYCHE eacute basicamente um discurso europeu Esse discurso tem sido alimentado

por profissionais que estatildeo envolvidos no trabalho diaacuterio de aconselhamento psicoloacutegico com

alunos e no estabelecimento de uma estrutura organizacional adequada para o cumprimento dessa

tarefardquo (p 16)

As investigaccedilotildees realizadas pela FEDORA junto aos Serviccedilos de Orientaccedilatildeo e

Aconselhamento Psicoloacutegico existentes nas IES europeias indicam que os mesmos se organizam

com foco em trecircs periacuteodos da vida de um estudante na Educaccedilatildeo Superior o momento da entrada

caracterizado pela transiccedilatildeo da educaccedilatildeo baacutesica para a superior e pela adaptaccedilatildeo e integraccedilatildeo a esta

uacuteltima o momento no qual os estudantes frequentam as instituiccedilotildees marcado pela busca do

sucesso acadecircmico e combate ao abandono e o momento da saiacuteda assinalado pela transiccedilatildeo para o

mercado de trabalho (Watts amp Van Esbroeck 1998) Com o objetivo de contribuir para o bem-estar

e sucesso dos estudantes em cada um desses periacuteodos os Serviccedilos planejam e executam accedilotildees que

por um lado se baseiam nas necessidades e caracteriacutesticas dos estudantes e por outro nas

condiccedilotildees metas e especificidades da instituiccedilatildeo e do serviccedilo psicoloacutegico

Acerca das principais accedilotildees desencadeadas pelos psicoacutelogos no acircmbito dos Serviccedilos

estudo recente realizado pela FEDORA junto a todos os paiacuteses membros da Uniatildeo Europeia

apontou que na maioria deles os psicoacutelogos fazem diagnoacutestico aplicaccedilatildeo de testes e psicoterapia e

desenvolvem diferentes tipos de intervenccedilatildeo individual e em grupo para a promoccedilatildeo de

competecircncias pessoais e sociais (Ferrer-Sama 2008) Segundo a autora uma vez que estudos tecircm

apontado um crescimento no niacutevel de problemas mentais entre os estudantes os Serviccedilos de

Psicologia tecircm realizado entrevistas e aplicaccedilatildeo de testes para diagnosticar desordens psicoloacutegicas

como depressatildeo estresse e ansiedade

Em diferentes paiacuteses o aconselhamento tambeacutem eacute realizado para questotildees relativas ao

estudo como forma de minimizar o insucesso acadecircmico e o nuacutemero de desistecircnciasabandonos

Nestes casos a intervenccedilatildeo estaacute direcionada para a definiccedilatildeo de objetivos acadecircmicos junto aos

57

estudantes no desenvolvimento de competecircncias de aprendizagem e gestatildeo do tempo ou no

autocontrole em situaccedilotildees de avaliaccedilatildeoNos diferentes paiacuteses europeus a intervenccedilatildeo individual

com os estudantes focada no problema que os motivou a buscar procurar ajuda profissional eacute

central na praacutetica dos psicoacutelogos escolares

Em uma perspectiva diferenciada da predominante nos paiacuteses europeus Sandoval e Love

anunciavam em 1977 a emergecircncia do psicoacutelogo escolar que trabalhava na Educaccedilatildeo Superior

denominado naquela ocasiatildeo como college psychologist De acordo com os autores o trabalho do

psicoacutelogo escolar na Educaccedilatildeo Superior teria dois focos o da avaliaccedilatildeo com o objetivo de obter

informaccedilotildees sobre aspectos institucionais e docentes que precisam ser modificados e

implementados e o da promoccedilatildeo da praacutetica docente por meio do planejamento e desenvolvimento

de metodologias diferenciadas O papel do psicoacutelogo escolar neste niacutevel educativo seria entatildeo o

de avaliar as praacuteticas educativas a satisfaccedilatildeo e a aprendizagem dos alunos para a partir dos

resultados sugerir programas inovadores de ensino auxiliar os professores a melhorarem suas

habilidades profissionais e favorecer o aprendizado dos alunos

Considerando a natureza das accedilotildees desenvolvidas pelo psicoacutelogo escolar Sandoval e Love

(1977) ressaltavam agravequela eacutepoca que o college psychologist natildeo eacute um counselor psychologist uma

vez que os dois partem de bases e objetivos distintos Enquanto o uacuteltimo assiste diretamente o

aluno por meio de serviccedilos de orientaccedilatildeo pessoal preocupando-se com seu bem-estar como

estudante o college psychologist apoia os alunos indiretamente por meio do aumento da

efetividade educacional agindo especialmente junto aos professores Observa-se por essa

distinccedilatildeo que a emergecircncia da Educaccedilatildeo Superior como um campo de atuaccedilatildeo para os psicoacutelogos

escolares se deu de forma menos vinculada agrave perspectiva individualista de atenccedilatildeo ao estudante e

mais atrelada a uma compreensatildeo sistecircmica de atuaccedilatildeo

Outra possibilidade de atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo Superior eacute em carreiras

administrativas Nessa direccedilatildeo Logue (2007) defende que administradores de IES formados em

Psicologia tecircm habilidades particulares que podem ajudar os colegas e as instituiccedilotildees a

responderem melhor agraves atuais pressotildees vividas pela Educaccedilatildeo Superior especificamente frente agrave

realidade dos Estados Unidos O autor apresenta alguns toacutepicos que tecircm trazidos desafios agraves

instituiccedilotildees em niacutevel superior e para cada um deles exemplifica possiacuteveis contribuiccedilotildees advindas

de um psicoacutelogo no exerciacutecio de um cargo administrativo Logue (2007) aborda questotildees como a

globalizaccedilatildeo a massificaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior a forte competiccedilatildeo entre as IES e os reflexos

trazidos por regulamentaccedilotildees no campo educativo No que tange agraves regulamentaccedilotildees por exemplo

o autor aponta agravequelas que satildeo relativas aos programas de prevenccedilatildeo ao abuso de substacircncias agraves

accedilotildees afirmativas aos processos de avaliaccedilatildeo da qualidade da Educaccedilatildeo Superior e agrave inclusatildeo de

pessoas com necessidades especiais Neste uacuteltimo caso por exemplo diz que as instituiccedilotildees

costumam ter profissionais especializados para trabalhar com os alunos especiais contudo muitas

58

vezes os administradores - chefes de departamento decanos - acabam se envolvendo quando tecircm

que tomar alguma decisatildeo relacionada a solicitaccedilotildees especiais ou fatos particulares

A partir das argumentaccedilotildees apresentadas pelo autor concorda-se que os cargos

administrativos tambeacutem podem ser ocupados por psicoacutelogos escolares pois de fato a

especificidade da sua formaccedilatildeo e do seu compromisso para com a promoccedilatildeo do desenvolvimento

individual e coletivo em contextos educacionais podem contribuir para a qualidade da Educaccedilatildeo

Superior

A Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo Superior brasileira A anaacutelise da produccedilatildeo cientiacutefica

de 10 anos (1996 - 2005) da Revista Psicologia Escolar e Educacional da ABRAPEE (Associaccedilatildeo

Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional) mostra que existe entre as principais temaacuteticas

pesquisadas em Psicologia Escolar uma escassez de estudos sobre a Educaccedilatildeo Superior (Oliveira

Cantalice Joly amp Santos 2006) Os principais temas de pesquisa na aacuterea presentes nos artigos da

Revista satildeo os testes e construccedilatildeo de instrumentos meacutetodos de ensino-aprendizagem leitura

criatividade aspectos afetivosemocionais inteligecircnciacogniccedilatildeo psicologia escolar relaccedilatildeo

famiacutelia-escola entre outros

Eacute interessante destacar que apesar de ainda pouco investigado como campo de atuaccedilatildeo da

Psicologia Escolar a Educaccedilatildeo Superior tem sido um contexto privilegiado em relaccedilatildeo ao

desenvolvimento de instrumentos de investigaccedilatildeo psicoloacutegica reforccedilando a constataccedilatildeo de Oliveira

e cols (2006) acerca da importante presenccedila dos testes e ferramentas de medidas entre as temaacuteticas

mais investigadas na aacuterea No terreno da Educaccedilatildeo Superior tecircm sido desenvolvidos por exemplo

escalas de satisfaccedilatildeo (Santos amp Suehiro 2007 Schleich Polydoro amp Santos 2006) e de

aconselhamento profissional aos universitaacuterios (Santos Noronha amp Sisto 2009) questionaacuterio de

percepccedilotildees do ensino pelos alunos (Morais Almeida amp Montenegro 2006) escala de integraccedilatildeo

social na Educaccedilatildeo Superior (Diniz amp Almeida 2006) escala para avaliaccedilatildeo da motivaccedilatildeo entre

universitaacuterios (Boruchovitch 2008 Guimaratildees amp Bzuneck 2008) aleacutem de outros

De acordo com Oliveira e cols (2006) o elevado nuacutemero de publicaccedilotildees que se centravam

no uso e no desenvolvimento de testes psicoloacutegicos agrave eacutepoca da anaacutelise realizada na revista da

ABRAPEE foi provavelmente um impacto da resoluccedilatildeo publicada pelo Conselho Federal de

Psicologia que definia os padrotildees para utilizaccedilatildeo de testes psicoloacutegicos A necessidade de

demonstrar a validade dos testes e de outras medidas psicoloacutegicas ocasionou a realizaccedilatildeo de

pesquisas e de publicaccedilotildees cientiacuteficas e o crescimento da aacuterea de avaliaccedilatildeo psicoloacutegica no Brasil

Os testes psicoloacutegicos ferramentas utilizadas na avaliaccedilatildeo psicoloacutegica juntamente com

entrevistas e observaccedilotildees podem ser aplicados em diversos contextos cliacutenico hospitalar social

organizacional juriacutedico esportivo entre outros Apesar disso a anaacutelise da produccedilatildeo cientiacutefica de

trecircs congressos brasileiros de avaliaccedilatildeo psicoloacutegica (Joly Silva Nunes amp Souza 2007) realizados

nos anos de 2003 2005 e 2007 apontou um dado no miacutenimo instigante em relaccedilatildeo agraves principais

59

aacutereas de aplicaccedilatildeo da avaliaccedilatildeo psicoloacutegica a Psicologia Escolar ocupou o primeiro ou segundo

lugar nos anos de 2005 e nos de 2003 e 2007 respectivamente revezando-se com a Cliacutenica e

superando aacutereas como a Psicologia Organizacional Hospitalar Juriacutedica e Social Isto eacute

considerando os trabalhos apresentados por ocasiatildeo de congressos de avaliaccedilatildeo psicoloacutegica a

Psicologia Escolar juntamente com a Psicologia Cliacutenica estaacute entre as aacutereas que mais tecircm se detido

a realizar avaliaccedilotildees psicoloacutegicas baseadas no uso de testes

Os resultados das duas anaacutelises de produccedilotildees cientiacuteficas citadas anteriormente ndash a da

revista da ABRAPEE e de congressos na aacuterea da avaliaccedilatildeo psicoloacutegica ndash somados a um olhar

retrospectivo sobre a trajetoacuteria da Psicologia Escolar como campo de formaccedilatildeo atuaccedilatildeo e pesquisa

conforme jaacute apresentado neste capiacutetulo traz uma recorrecircncia o desenvolvimento e o uso de testes e

a realizaccedilatildeo de avaliaccedilatildeo psicoloacutegica como atividades inerentes agrave praacutetica da Psicologia Escolar

inclusive no acircmbito da Educaccedilatildeo Superior um contexto natildeo tradicional de inserccedilatildeo dos

profissionais da aacuterea

Por ocasiatildeo de um mapeamento da produccedilatildeo cientiacutefica em Psicologia Escolar sobre a

Educaccedilatildeo Superior Bariani Buin Barros e Escher (2004) avaliaram publicaccedilotildees nacionais com o

objetivo de analisar pesquisas relativas a este niacutevel educativo que tenham abordado trecircs temaacuteticas

corpo docente corpo discente e processo ensino-aprendizagem De acordo com as autoras os

trabalhos recaem sobre as categorias corpo discente e processo ensino-aprendizagem tecircm os alunos

como principais informantes e estatildeo mais voltados para a investigaccedilatildeo das mudanccedilas e alteraccedilotildees

que ocorrem nas caracteriacutesticas cognitivas ou afetivas dos estudantes ao longo do tempo

Corroborando a constataccedilatildeo de que os estudos tecircm prezado pelo foco nos estudantes uma

revisatildeo preliminar sobre a articulaccedilatildeo da Psicologia Escolar com a Educaccedilatildeo Superior mostra o

envolvimento da aacuterea com questotildees como (a) transiccedilatildeo do aluno para a Educaccedilatildeo Superior (b)

processo de adaptaccedilatildeo e integraccedilatildeo ao novo contexto (c) rendimento e desempenho acadecircmico (d)

estudo dos estilos cognitivos dos universitaacuterios (e) compreensatildeo da leitura e produccedilatildeo escrita (f)

atitudes e estrateacutegias de aprendizagem (g) papel da motivaccedilatildeo e da criatividade (Alencar 2007

Amaral amp Martiacutenez 2006 Azevedo amp Faria 2006 Baptista Amadio Rodrigues Santos amp

Palludetti 2004 Cabral amp Tavares 2005 Cardoso amp Bzuneck 2004 Cunha amp Carrilho 2005

Diniz amp Almeida 2006 Oliveira amp Santos 2005 Pereira amp cols 2006 Pitta Santos Escher amp

Bariani 2000 Santos amp Almeida 2001 Seco Casimiro Pereira Custoacutedio amp Dias 2005 Soares

Almeida Diniz amp Guisande 2006 Teixeira Castro amp Piccolo 2007 Valle Cabanach Rodriguez

Gonzaacutelez-Pienda amp Rosaacuterio 2007 Vasconcelos Almeida amp Monteiro 2005) entre outros Como

indicam estas temaacuteticas as questotildees exploradas pela Psicologia na sua vinculaccedilatildeo com a Educaccedilatildeo

Superior estatildeo centradas essencialmente no aluno

Ao tratar do processo de adaptaccedilatildeo do estudante agrave universidade por exemplo Teixeira

Castro e Piccolo (2007) investigaram a influecircncia de variaacuteveis como a participaccedilatildeo em atividades

extracurriculares o apoio familiar percebido pelo estudante e o niacutevel de interaccedilatildeo extraclasse com

60

professores em relaccedilatildeo agrave adaptaccedilatildeo ao contexto universitaacuterio Apesar das variaacuteveis eleitas para

pesquisa reconhecerem o papel da famiacutelia e do conviacutevio com os docentes na adaptaccedilatildeo agrave nova

realidade a construccedilatildeo das informaccedilotildees baseou-se apenas na percepccedilatildeo do aluno deixando de lado

indicadores advindos de outros segmentos que tambeacutem participam do processo de adaptaccedilatildeo como

os pais e professores

Embora se considere que outras instacircncias possam tomar parte do processo de compreensatildeo

acerca dos fatores que contribuem ou natildeo para a melhor integraccedilatildeo do aluno agrave Educaccedilatildeo Superior

a validade dos resultados obtidos a partir de estudos como o mencionado natildeo satildeo nem podem ser

minimizados Contudo ainda que relevantes cientificamente a criacutetica a estudos dessa natureza

deve-se ao fato de que o processo de adaptaccedilatildeo a um novo contexto como eacute o caso da

universidade envolve uma seacuterie de fatores ndash pessoais interpessoais familiares pedagoacutegicos

institucionais poliacuteticos e ideoloacutegicos ndash que em sua maioria satildeo desconsiderados quando somente

a percepccedilatildeo do aluno eacute levada em conta

Levando em conta a natureza das temaacuteticas investigadas pela Psicologia na Educaccedilatildeo

Superior e a forma como os estudos tecircm sido desenvolvidos fica expliacutecito que a ecircnfase estaacute em

uma das partes envolvidas o aluno Desconsidera-se por exemplo o papel dos fatores

pedagoacutegicos como a diversificaccedilatildeo das estrateacutegias didaacuteticas em razatildeo das demandas dos alunos a

flexibilidade da organizaccedilatildeo curricular e sua adequaccedilatildeo agraves necessidades dos estudantes ou dos

fatores institucionais como a implantaccedilatildeo de serviccedilos de apoio e orientaccedilatildeo acadecircmica a

disponibilizaccedilatildeo de espaccedilos e materiais necessaacuterios ao desenvolvimento das atividades acadecircmicas

aleacutem de oportunidades de financiamento e bolsas de estudos Conforme conclui Marinho-Arauacutejo

(2009a)

esses e outros estudos sinalizam que a exemplo do que ocorreu com a Psicologia Escolar

nos primoacuterdios de sua atuaccedilatildeo sistematizada na escola haacute mais de cinco deacutecadas o foco

atual de praacuteticas e pesquisas ligando a aacuterea ao contexto do ensino superior tem

privilegiado igualmente a ecircnfase no aluno agora estudante universitaacuterio em uma

perspectiva individualizante e fracionada do vasto processo intersubjetivo e sociopoliacutetico

(p 163)

O relato apresentado sobre a intersecccedilatildeo entre a Educaccedilatildeo Superior e a Psicologia Escolar

mostra um pouco do conteuacutedo e das ecircnfases que vecircm caracterizando estudos e praacuteticas neste

campo contudo outras produccedilotildees ainda que de forma tiacutemida tecircm contemplado possiacuteveis

intervenccedilotildees neste niacutevel educativo em uma perspectiva mais ampliada O trabalho de Witter

(1999) por exemplo explorou as possibilidades de atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar no acircmbito da

universidade especialmente diante do que foi estipulado pela Lei de Diretrizes e Bases da

Educaccedilatildeo Nacional (LDB ndash Lei nordm 93941996) em relaccedilatildeo agrave Educaccedilatildeo Superior A partir da anaacutelise

do Capiacutetulo IV da LDB a autora aponta as possiacuteveis funccedilotildees e papeacuteis do psicoacutelogo escolar

assessoria ao processo de ensino-aprendizagem participaccedilatildeo nas atividades de seleccedilatildeo e

61

treinamento do corpo docente e teacutecnico docecircnciaensino em Psicologia e em outras aacutereas do

conhecimento realizaccedilatildeo de pesquisas de diferentes naturezas envolvimento com publicaccedilatildeo

cientiacutefica em Psicologia Escolar planejamento desenvolvimento e avaliaccedilatildeo de programas e

cursos na aacuterea da Psicologia e outros

Apesar da diversidade de atividades que o psicoacutelogo escolar pode desenvolver conforme

apontado por Witter (1999) Serpa e Santos (2001) delimitaram sua investigaccedilatildeo na atuaccedilatildeo deste

profissional junto ao Serviccedilo de Atendimento ao Universitaacuterio (SAU) Na eacutepoca do estudo das 61

IES pesquisadas 803 tinha o SAU oferecendo aos estudantes e agrave comunidade atendimento

psicoloacutegico social educacional de sauacutede e outros Dentre as atividades desenvolvidas pelos

psicoacutelogos nos programas do SAU identificaram principalmente orientaccedilatildeo individual

encaminhamentos externos e internos acompanhamento individual orientaccedilatildeo de grupos

psicoterapia individual atendimento agrave famiacutelia e outros As principais atividades nas quais o

psicoacutelogo escolar participava estavam ligadas principalmente agraves dificuldades vivenciadas pelo

proacuteprio aluno

Nessa linha de argumento as autoras apontam que o trabalho do psicoacutelogo escolar

desenvolvido no SAU deveria recair sobre a orientaccedilatildeo e acompanhamento psicoloacutegico ldquopor ser

foacutermula reconhecidamente eficaz na melhora do aproveitamento acadecircmico e na formaccedilatildeo integral

do indiviacuteduo natildeo apenas como profissional mas tambeacutem como cidadatildeo inserido na sociedaderdquo

(Serpa amp Santos 2001 p 33) Todavia ao considerar as diversas possibilidades de atuaccedilatildeo do

psicoacutelogo escolar na Educaccedilatildeo Superior conforme sinalizou Witter (1999) e ao percorrer

retrospectivamente o percurso histoacuterico da Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo Baacutesica acredita-se que

o trabalho de atendimento e de orientaccedilatildeo ao aluno e agrave sua famiacutelia natildeo deve ser eleito de forma

prioritaacuteria pelo psicoacutelogo escolar

Diante da anaacutelise destes trabalhos constata-se que tradicionalmente a Psicologia Escolar jaacute

estaacute presente em IES geralmente ligada ao SAU ou SOU (Serviccedilo de Orientaccedilatildeo ao Universitaacuterio)

e com foco de atuaccedilatildeo quase que exclusivamente no aluno Se por um lado Witter (1999)

sinalizou amplos caminhos para a atuaccedilatildeo do psicoacutelogo escolar na Educaccedilatildeo Superior por outro a

atuaccedilatildeo deste profissional no SAU tem se baseado de modo geral em uma intervenccedilatildeo claacutessica

voltada agrave orientaccedilatildeo e ao atendimento de questotildees individuais localizadas no proacuteprio estudante da

Educaccedilatildeo Superior Para aleacutem destas accedilotildees jaacute desenvolvidas outras tambeacutem podem ser realizadas

pelo psicoacutelogo escolar como por exemplo atividades relacionadas agrave formaccedilatildeo continuada do

corpo teacutecnico docente e dirigente assessoria agrave integraccedilatildeo da equipe diretiva implementaccedilatildeo das

Diretrizes Curriculares Nacionais anaacutelise dos projetos pedagoacutegicos dos cursos entre outras

Coadunando-se com intervenccedilotildees mais amplas pautadas em accedilotildees coletivas e relacionais

Marinho-Arauacutejo (2009a) propotildee trecircs dimensotildees de intervenccedilatildeo institucional a saber (a) Gestatildeo de

Poliacuteticas Programas e Processos Educacionais nas IES (b) Propostas Pedagoacutegicas e

funcionamento de cursos e (c) Perfil do estudante Para cada uma dessas dimensotildees a autora faz

62

sugestatildeo de accedilotildees que podem ser desenvolvidas pelo psicoacutelogo escolar em consonacircncia com

questotildees especiacuteficas e proacuteprias do contexto da Educaccedilatildeo Superior

Na primeira dimensatildeo o psicoacutelogo escolar pode assessorar accedilotildees que estejam ligadas agrave

gestatildeo institucional as quais envolvem participaccedilatildeo na elaboraccedilatildeo e revisatildeo do Projeto de

Desenvolvimento Institucional (PDI) aleacutem de sua apropriaccedilatildeo por parte dos membros da

instituiccedilatildeo acompanhamento dos procedimentos de autoavaliaccedilatildeo institucional inclusive por meio

de sua inclusatildeo na Comissatildeo Proacutepria de Avaliaccedilatildeo (CPA) envolvimento com a implementaccedilatildeo de

projetos educacionais que tecircm impacto na subjetividade e dinacircmica institucional monitoramento

de indicadores de compromisso social ambientaccedilatildeo a novos docentes e funcionaacuterios assessoria agrave

definiccedilatildeo e reformulaccedilatildeo dos perfis docentes discentes e teacutecnicos programas de formaccedilatildeo

continuada de docentes coordenadores de cursos e funcionaacuterios teacutecnico-administrativos (Marinho-

Arauacutejo 2009a)

Em relaccedilatildeo agrave dimensatildeo vinculada agraves Propostas Pedagoacutegicas a autora sugere colaboraccedilatildeo

na anaacutelise das diretrizes curriculares nacionais (DCNs) que orientam o trabalho pedagoacutegico

desenvolvido nos cursos superiores acompanhamento do processo de ensino e aprendizagem no

que diz respeito agrave sua vinculaccedilatildeo agraves DCNs anaacutelise dos Projetos Pedagoacutegicos dos Cursos (PPC)

como estrateacutegia para apoiar o processo de desenvolvimento de competecircncias para o corpo docente

e discente investigaccedilatildeo das concepccedilotildees subjacentes e orientadoras que os profissionais tecircm de

educaccedilatildeo ensino desenvolvimento aprendizagem e processos de avaliaccedilatildeo favorecendo a

conscientizaccedilatildeo e intencionalidade agraves praacuteticas educativas

Na uacuteltima dimensatildeo a do Perfil do estudante Marinho-Arauacutejo (2009a) sugere que o

psicoacutelogo escolar promova discussotildees acerca do desenvolvimento adulto como processo ancorado

em uma construccedilatildeo relacional de competecircncias desenvolva pesquisas para conhecer o perfil dos

estudantes especialmente quanto aos aspectos soacutecio-demograacuteficos familiares socioeconocircmicos e

suas relaccedilotildees com o processo de formaccedilatildeo e construccedilatildeo da cidadania elabore com os

coordenadores de curso e o corpo docente estrateacutegias para verificar como se daacute o desenvolvimento

de competecircncias por parte dos estudantes

Pelo exposto nota-se que a Psicologia Escolar tem um grande desafio pela frente que eacute o

de ampliar suas perspectivas de atuaccedilatildeo por meio de praacuteticas diferenciadas em um contexto ainda

pouco explorado pela aacuterea No acircmbito da Psicologia Escolar a expansatildeo de sua atuaccedilatildeo para aleacutem

da escola coaduna-se a um compromisso social por uma educaccedilatildeo para todos No campo da

Educaccedilatildeo Superior a atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar baseada em concepccedilotildees institucionais e

relacionais vincula-se agrave preocupaccedilatildeo com a melhoria da qualidade da Educaccedilatildeo Superior brasileira

frente ao desenvolvimento de sujeitos autocircnomos criacuteticos participativos e compromissados eacutetica e

socialmente com a vida em sociedade

63

A Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo Superior de Portugal O percurso da Psicologia

Escolar em Portugal foi semelhante ao de outros paiacuteses inclusive do Brasil tendo inicialmente

adotado um modelo meacutedico de intervenccedilatildeo centrado na avaliaccedilatildeo dos alunos com problemas e

progressivamente incluindo accedilotildees voltadas a outros agentes escolares

Fazendo uma recuperaccedilatildeo histoacuterica da evoluccedilatildeo dos pedidos sociais e educacionais

direcionados agrave Psicologia e das respostas que foram organizadas para atendecirc-los Almeida (1993

2010) organiza a evoluccedilatildeo da Psicologia Escolar em seis momentos Segundo o autor a entrada dos

psicoacutelogos no sistema educativo formal de Portugal se deu cronologicamente pela avaliaccedilatildeo

diagnoacutestico e acompanhamento dos alunos com dificuldade de aprendizagem pela orientaccedilatildeo

escolar e profissional de jovens adolescentes pelo apoio agrave aprendizagem do aluno ou a facilitaccedilatildeo

do rendimento escolar pela promoccedilatildeo do desenvolvimento psicossocial dos estudantes o

desenvolvimento dos professores e o momento atual voltado ao desenvolvimento da famiacutelia da

escola e da comunidade Foi por ocasiatildeo dos primeiros trabalhos voltados ao desenvolvimento

psicossocial dos alunos que se reconheceu uma preocupaccedilatildeo com praacuteticas de prevenccedilatildeo e de

promoccedilatildeo do desenvolvimento psicoloacutegico as quais vieram a ser ampliadas para o contexto

familiar comunitaacuterio e escolar no momento atual no qual a atuaccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares natildeo se

restringe aos alunos e professores

Conforme apontam estes diferentes momentos relativos agrave trajetoacuteria da Psicologia Escolar

no paiacutes a intervenccedilatildeo da aacuterea passou de preocupaccedilotildees remediativas a preocupaccedilotildees preventivas e

promocionais Ou seja de um trabalho direto e individualizado junto ao aluno-problema os

psicoacutelogos escolares passaram a trabalhar com o professor e com a instituiccedilatildeo escolar focando-se

mais na dinacircmica da instituiccedilatildeo do que nos indiviacuteduos (Almeida 2003 2010 Carita 1996 Jesus

2004) De acordo com Almeida (2010) a evoluccedilatildeo na atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar reflete a

mudanccedila nas perspectivas teoacutericas e a adoccedilatildeo de modelos mais atuais e sistecircmicos de anaacutelise e de

intervenccedilatildeo denominado por ele como um ldquomodelo educacionalrdquo de intervenccedilatildeo em Psicologia

Escolar em diferenciaccedilatildeo ao modelo cliacutenico anterior

Em relaccedilatildeo agrave atuaccedilatildeo na Educaccedilatildeo Superior o primeiro serviccedilo de apoio psicoloacutegico em

Portugal foi o Gabinete de Apoio Psicoloacutegico e Aconselhamento (GAPA) criado em 1983 na

Faculdade de Ciecircncias e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa (Dias 2006) Por alguns

anos este foi o uacutenico Serviccedilo existente no paiacutes de forma que no iniacutecio da deacutecada de 90 os serviccedilos

de apoio psicoloacutegico existentes em algumas universidades eram em ldquonuacutemero reduzido e parecem

sobretudo criados como campos de investigaccedilatildeo-intervenccedilatildeo no quadro dos projetos docentes

universitaacuterios ou como locais de estaacutegiordquo (Almeida 1993 p 139)

O GAPA iniciou suas atividades com o aconselhamento psicoloacutegico individual e apoacutes

alguns anos passou a organizar oficinas de promoccedilatildeo de competecircncias acadecircmicas e accedilotildees de

sensibilizaccedilatildeo aos docentes e funcionaacuterios da Faculdade ajudando-os a identificar alunos em risco

No final da deacutecada de 90 uma investigaccedilatildeo desenvolvida no acircmbito dos Serviccedilos de Orientaccedilatildeo e

64

Aconselhamento da Uniatildeo Europeia indicava na seccedilatildeo relativa agrave situaccedilatildeo Portuguesa que ldquoem

comparaccedilatildeo com a maioria dos outros estados-membros da Uniatildeo Europeacuteia os serviccedilos de

orientaccedilatildeo na Educaccedilatildeo Superior em Portugal natildeo estatildeo bem desenvolvidosrdquo (Duarte amp Paixatildeo

1998 p 1) Entre os elementos utilizados para sustentar esta indicaccedilatildeo as autoras citavam o fato de

que tais Serviccedilos eram oferecidos a um nuacutemero limitado de estudantes universitaacuterios Aleacutem do

mais eles existiam em poucas instituiccedilotildees e contavam com um nuacutemero reduzido de profissionais

(um ou dois) e em tempo parcial o que era claramente insuficiente para atender agrave populaccedilatildeo

estudantil e menos ainda a toda a comunidade acadecircmica

No iniacutecio da deacutecada de 2000 novos Serviccedilos de Apoio Psicoloacutegico foram sendo criados na

Educaccedilatildeo Superior portuguesa de forma que em 2002 haviam pelo menos 24 (Dias 2006

RESAPES 2002b) em 2004 haviam 33 (Dias 2006) e em 2008 40 Serviccedilos (Gonccedilalves 2008)

Este crescimento quantitativo natildeo significa entretanto alteraccedilatildeo nas condiccedilotildees de funcionamento e

na abrangecircncia das intervenccedilotildees especificamente quanto ao nuacutemero de alunos atendidos Os

recursos humanos permaneceram insuficientes para responder agraves demandas sendo raro o Serviccedilo

que tivesse mais do que dois teacutecnicos em tempo integral Por outro lado importa acrescentar que

em poucos casos os profissionais pertenciam ao quadro da instituiccedilatildeo Aleacutem do mais era frequente

existirem lista de espera para atendimento (RESAPES 2002b) Um relatoacuterio mais recente acerca

dos Serviccedilos de Orientaccedilatildeo e Aconselhamento na Educaccedilatildeo Superior Europeia reitera que apesar

de ter havido um crescimento no nuacutemero de Serviccedilos disponiacuteveis nas IES ldquoeles parecem natildeo ser

suficientes tendo que lidar com lsquolistas de esperasrsquo Em tempos de recursos limitados eacute impossiacutevel

responder a todas as demandasrdquo (Gonccedilalves 2008 p 262)

Todavia se o nuacutemero de serviccedilos existentes e de profissionais neles atuantes parece ser

reduzido quando se leva em conta o nuacutemero de IES existentes em Portugal e de alunos a cursarem a

Educaccedilatildeo Superior por outro lado eacute de se reconhecer que esforccedilos vecircm sendo feitos na direccedilatildeo de

consolidar e legitimar o trabalho da Psicologia na Educaccedilatildeo Superior Um deles eacute inegavelmente a

proacutepria criaccedilatildeo e manutenccedilatildeo dos Serviccedilos por parte das instituiccedilotildees especialmente diante do

cenaacuterio europeu no qual a oferta de aconselhamento psicoloacutegico aos estudantes por unidades

especiacuteficas existentes dentro das proacuteprias instituiccedilotildees eacute uma realidade em somente algumas

universidades europeias (Ferrer-Sama 2008) No geral em paiacuteses como a Dinamarca Beacutelgica

Aacuteustria Greacutecia Espanha e Estocircnica entre outros satildeo poucas as Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior

que oferecem Serviccedilo de Apoio Psicoloacutegico Na Dinamarca por exemplo os estudantes satildeo

considerados cidadatildeos com os mesmos direitos e obrigaccedilotildees de toda a sociedade de maneira que

natildeo haacute oferta especial de serviccedilos sociais e meacutedicos para eles quando eacute necessaacuterio os estudantes

satildeo encaminhados para serviccedilos da comunidade (Andersen 2008)

Outro esforccedilo menos decorrente das instituiccedilotildees e mais dos profissionais que atuam nos

Serviccedilos foi a criaccedilatildeo em 2000 da Rede de Serviccedilos de Apoio Psicoloacutegico no Ensino Superior

(RESAPES) associaccedilatildeo profissional criada por profissionais e pesquisadores vinculados a Serviccedilos

65

de Apoio Psicoloacutegico de instituiccedilotildees superiores de Portugal Como objetivos a RESAPES busca

construir uma rede que oportunize a troca de experiecircncias e o apoio muacutetuo entre os serviccedilos a

cooperaccedilatildeo cientiacutefica e na formaccedilatildeo das equipes que compotildeem os serviccedilos como forma de

melhorar a qualidade e eficaacutecia do apoio psicoloacutegico oferecido nas instituiccedilotildees (RESAPES 2002a

2002b)

A tiacutetulo de exemplo dos esforccedilos empreendidos para concretizar estes objetivos pode-se

citar a publicaccedilatildeo de uma newsletter que serve como um espaccedilo de divulgaccedilatildeo dos Serviccedilos bem

como de partilha de saberes e experiecircncias A newsletter de maio de 2010 por exemplo traz o

relato do trabalho que vem sendo desenvolvido em sete Serviccedilos de Psicologia do paiacutes bem como

uma proposta de reflexatildeo a partir das dificuldades que tecircm sido apontadas pelos psicoacutelogos quanto

a conseguirem implementar intervenccedilotildees preventivas e de desenvolvimento no acircmbito de sua

atuaccedilatildeo na Educaccedilatildeo Superior Outra accedilatildeo recente da RESAPES foi a organizaccedilatildeo do primeiro

congresso nacional realizado em abril de 2010 na Universidade de Aveiro para debate e reflexatildeo

acerca dos modelos e praacuteticas de apoio psicoloacutegico desenvolvidos nas IES de Portugal

O mapeamento e a caracterizaccedilatildeo dos Serviccedilos de Apoio Psicoloacutegico tem sido mais uma

das contribuiccedilotildees da RESAPES que tem investido na identificaccedilatildeo de limitaccedilotildees e necessidades

dos Serviccedilos e de seus profissionais e consequentemente na formulaccedilatildeo de algumas medidas

comuns que possam contribuir para modificar tal situaccedilatildeo A caracterizaccedilatildeo dos Serviccedilos apontou

que os destinataacuterios ou usuaacuterios satildeo principalmente os estudantes aleacutem dos funcionaacuterios e

docentes havendo tambeacutem aqueles que satildeo abertos agrave comunidade em geral quando estatildeo

vinculados a um Departamento de Psicologia Eacute comum a realizaccedilatildeo de estaacutegios acadecircmicos em

Psicologia nos Serviccedilos (RESAPES 2002b) Estes Serviccedilos incluem intervenccedilotildees remediativas

preventivas e de desenvolvimento tanto individuais quanto em grupo sendo as principais o

aconselhamento o apoio psicoloacutegico e psicopedagoacutegico a integraccedilatildeo acadecircmica e profissional a

consulta psicoloacutegica e a accedilatildeo social (Pereira 2009 RESAPES 2002b) Outras aacutereas de intervenccedilatildeo

ou valecircncias dos Serviccedilos menos frequentes satildeo a consultoria junto aos oacutergatildeos de gestatildeo da

instituiccedilatildeo a investigaccedilatildeo as atividades como o mentorado o treino de competecircncias pessoais

sociais e em teacutecnicas de estudo e o trabalho com os estudantes com necessidades especiais entre

outras

As atividades desenvolvidas nos Serviccedilos Portugueses quando comparadas agraves praacuteticas de

outros paiacuteses europeus guardam muita semelhanccedila De acordo com Ferrer-Sama (2008) na

maioria dos paiacuteses os psicoacutelogos fazem diagnoacutestico aplicaccedilatildeo de testes e psicoterapia e

desenvolvem diferentes tipos de intervenccedilatildeo individual e em grupo para a promoccedilatildeo de

competecircncias pessoais e sociais incluindo mais recentemente as desordens alimentares e a

educaccedilatildeo sexual Em diferentes paiacuteses o aconselhamento tambeacutem eacute realizado para questotildees

relativas ao estudo como forma de minimizar o insucesso acadecircmico e o nuacutemero de

desistecircnciasabandonos Nestes casos a intervenccedilatildeo centra-se na definiccedilatildeo de objetivos acadecircmicos

66

junto aos estudantes no desenvolvimento de competecircncias de aprendizagem e gestatildeo do tempo ou

no autocontrole em situaccedilotildees de avaliaccedilatildeo

Pelos estudos jaacute realizados nota-se que tanto em Portugal como em outros paiacuteses

europeus a intervenccedilatildeo individual com os estudantes dirigida ao problema que os levou a procurar

apoio eacute central na praacutetica dos psicoacutelogos escolares Nestes casos as problemaacuteticas trazidas pelos

alunos tecircm sido compreendidas agrave luz das questotildees de desenvolvimento ou seja de dificuldades na

resoluccedilatildeo das tarefas psicoloacutegicas normativas da transiccedilatildeo da adolescecircncia para a idade adulta

justificando o aconselhamento psicodinacircmico breve (Dias 2001 2006)

Tradicionalmente a atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar nas IES de Portugal tem privilegiado a

intervenccedilatildeo direta com o estudante em uma perspectiva individualizada e em resposta ao problema

vivencia contudo sem abandonar o atendimento claacutessico aos sujeitos individuais os serviccedilos de

apoio psicoloacutegico de Portugal vecircm investindo em praacuteticas preventivas e em accedilotildees com outros

agentes que tambeacutem participam do processo formativo dos estudantes

Aleacutem dos estudos relativos agrave caracterizaccedilatildeo dos Serviccedilos de Apoio algumas publicaccedilotildees

reportam-se agrave forma como estes Serviccedilos podem ser estruturados Gonccedilaacutelves e Cruz (1988)

apontaram trecircs tipos de Serviccedilo Psicoloacutegico na Educaccedilatildeo Superior remediativos preventivos e de

desenvolvimento Nos primeiros englobam-se as atividades de apoio direto aos estudantes com

dificuldades como psicoterapia breve ou prolongada a disponibilizaccedilatildeo de linhas telefocircnicas que

assegurem ajuda de urgecircncia e o encaminhamento do estudante para outros serviccedilos da

comunidade Em relaccedilatildeo aos Serviccedilos preventivos apontam a criaccedilatildeo de programas de

desenvolvimento interpessoal com base em uma rede de aconselhamento entre os colegas recepccedilatildeo

e acolhimento aos novos alunos e orientaccedilatildeo vocacional para os estudantes em fase de conclusatildeo

do curso e prestes a ingressar no mercado de trabalho Por fim nos Serviccedilos de desenvolvimento

citam os programas oferecidos aos estudantes para o desenvolvimento de competecircncias de estudo e

resoluccedilatildeo de problemas e de estrateacutegias frente aos trabalhos e provas escolares os programas de

desenvolvimento do autoconhecimento das relaccedilotildees sociais e treino de assertividade e os

programas de desenvolvimento de competecircncias comportamentais e cognitivas de escolha

planejamento e accedilatildeo

A partir do cruzamento de trecircs planos de intervenccedilatildeo - preventivo remediativo e de

investigaccedilatildeo - e de trecircs momentos vivenciados pelos estudantes - transiccedilatildeo do ensino secundaacuterio

para o superior (entrada) frequecircncia na Educaccedilatildeo Superior e transiccedilatildeo para o mercado de trabalho

(saiacuteda) - Leitatildeo Paixatildeo Silva e Miguel (2000) propuseram algumas accedilotildees levando em conta os

objetivos especiacuteficos de cada plano de intervenccedilatildeo e as necessidades mais proeminentes dos

estudantes em cada momento do processo de formaccedilatildeo Por exemplo no plano da intervenccedilatildeo

preventiva sugerem na entrada na Educaccedilatildeo Superior o desenvolvimento de programas de

promoccedilatildeo do sucesso acadecircmico de formaccedilatildeo de alunos mentores e de sensibilizaccedilatildeo para questotildees

do ensino e aprendizagem Ainda neste plano preventivo mas ao niacutevel da frequecircncia sugerem a

67

divulgaccedilatildeo de informaccedilotildees relacionadas com as problemaacuteticas que satildeo mais comuns nos estudantes

(stress ansiedade frente agraves provas desmotivaccedilatildeo) e ao niacutevel da saiacuteda para o mercado de trabalho

sugerem programas de formaccedilatildeo em teacutecnicas de procura de emprego e de incentivo agrave criaccedilatildeo do

autoemprego

Dias (2001 2006) por sua vez sugere como accedilotildees do psicoacutelogo que atua na Educaccedilatildeo

Superior a participaccedilatildeo em programas de transiccedilatildeo do ensino secundaacuterio para o superior a

realizaccedilatildeo de workshops de desenvolvimento pessoal e de competecircncias acadecircmicas de gestatildeo do

tempo e da ansiedade aconselhamento psicoloacutegico e psicoterapia aconselhamento vocacional

terapia de grupo aplicaccedilatildeo de testes psicoloacutegicos intervenccedilatildeo em crise e encaminhamento entre

outras

Como evidenciam esta diversidade de propostas portuguesas para a Educaccedilatildeo Superior natildeo

existe um modelo uacutenico de intervenccedilatildeo da Psicologia Escolar ao contraacuterio coexistem diversas

abordagens teoacutericas accedilotildees e estrateacutegias que sustentam uma variedade de concepccedilotildees e praacuteticas

68

CAPIacuteTULO II

EDUCACcedilAtildeO SUPERIOR HISTOacuteRIA CARACTERIacuteSTICAS E DESAFIOS

Este capiacutetulo estaacute organizado em duas partes A primeira delas focada na histoacuteria da

Educaccedilatildeo Superior recupera a criaccedilatildeo das instituiccedilotildees educativas e especificamente das

Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior (IES) apontando os elementos que contribuiacuteram para o seu

estabelecimento e reconhecimento social Apresentadas as influecircncias que conduziram agrave criaccedilatildeo

das universidades no mundo dedica-se um espaccedilo ao processo de constituiccedilatildeo da Educaccedilatildeo

Superior no Brasil destacando os fatores que veem lhe dando contorno desde o seu surgimento ateacute

a atualidade Encerrando esta parte do capiacutetulo a uacuteltima seccedilatildeo traz algumas consideraccedilotildees em torno

da distinccedilatildeo de termos frequentemente utilizados - Universidade Ensino Superior e Educaccedilatildeo

Superior - para se referir agrave educaccedilatildeo em niacutevel superior

A segunda parte deste capiacutetulo voltada agrave situaccedilatildeo atual deste niacutevel educativo apresenta

como ele estaacute constituiacutedo no Brasil Para oportunizar a compreensatildeo do cenaacuterio recente da

Educaccedilatildeo Superior recorre-se a dados estatiacutesticos acerca da graduaccedilatildeo e da poacutes-graduaccedilatildeo

brasileiras disponibilizados pelos oacutergatildeos federais responsaacuteveis por seu acompanhamento Na seccedilatildeo

seguinte busca-se evidenciar aspectos que satildeo contemporaneamente marcantes na Educaccedilatildeo

Superior como a privatizaccedilatildeo a vinculaccedilatildeo com o mercado os programas de expansatildeo o papel da

avaliaccedilatildeo entre outros Em continuidade a estes aspectos recentes que caracterizam a educaccedilatildeo em

niacutevel superior a terceira seccedilatildeo trata da crise que ela vem vivenciando e em especial da forte

articulaccedilatildeo com os interesses econocircmicos e financeiros que tecircm modificado sua funccedilatildeo principal e

contribuiacutedo para seu estado de crise

HISTOacuteRICO DA EDUCACcedilAtildeO SUPERIOR

A Constituiccedilatildeo Histoacuterica das Instituiccedilotildees Educativas

Refletir a respeito das Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior seu papel funccedilatildeo e

responsabilidade no conjunto da sociedade exige anteriormente pensar sobre o surgimento e a

natureza dessas instituiccedilotildees de uma forma geral pois carregam em si caracteriacutesticas que satildeo

comuns a todas independente do objeto ou fenocircmeno que as sustentam

Ao tratar do conceito de instituiccedilatildeo Saviani (2005a 2007) faz uma incursatildeo ao leacutexico da

palavra e assinala que o vocaacutebulo ldquoinstituiccedilatildeordquo apresenta significados que se agrupam em torno de

quatro ideias (a) a de ordenar e articular o que estava disperso (b) a de educar (c) a de construir

objetos (produccedilatildeo teacutecnica ou artiacutestica) e formar seres vivos e (d) a de aglutinar conectar

determinados procedimentos sistemas escolas (ideias compartilhadas) doutrinas Ao mesmo

tempo em que indicam a diversidade de significados atribuiacutedos ao conceito de instituiccedilatildeo tais

69

ideias transmitem a noccedilatildeo de algo que eacute criado organizado e construiacutedo pelo homem e que natildeo

estava dado a priori (Saviani 2005a 2007)

A criaccedilatildeo de uma instituiccedilatildeo se daacute a partir do reconhecimento de que existe uma

necessidade humana de caraacuteter permanente e natildeo transitoacuterio que precisa ser atendida As

instituiccedilotildees natildeo estatildeo dadas a priori mas ao contraacuterio emergem de uma necessidade reconhecida

pelo homem ao longo de sua trajetoacuteria histoacuterica e cultural para a qual atribuiu a exigecircncia de

intervenccedilatildeo deliberada Se antes as atividades eram desenvolvidas de forma espontacircnea e

assistemaacutetica com a institucionalizaccedilatildeo de atividades especiacuteficas elas adquirem um caraacuteter formal

e sistematizado

Por essa razatildeo Saviani (2005a) afirma que ldquoo processo de criaccedilatildeo de instituiccedilotildees coincide

com o processo de institucionalizaccedilatildeo de atividades que antes eram exercidas de forma natildeo

institucionalizada assistemaacutetica informal espontacircneardquo (p 29) Complementando essa afirmaccedilatildeo

Castanho (2007) esclarece que a institucionalizaccedilatildeo eacute um processo social algo que se desenvolve

no tempo e no espaccedilo de uma sociedade Trata-se assim de um processo pelo qual se formam ou

se desenvolvem as instituiccedilotildees sociais

E eacute devido agrave funccedilatildeo de atender a uma necessidade permanente que as instituiccedilotildees adquirem

a capacidade de manutenccedilatildeo ao longo do tempo uma vez que estatildeo vinculadas a algo que eacute

duradouro na experiecircncia humana Por essa razatildeo as instituiccedilotildees educativas desde a Educaccedilatildeo

Infantil ateacute a Educaccedilatildeo Superior buscam no presente consolidar algo com vistas no futuro Ou

seja as accedilotildees desencadeadas no momento presente tecircm como horizonte o amanhatilde o futuro

Dessa forma ao discutir o papel das instituiccedilotildees educativas sejam elas de niacutevel baacutesico ou

superior faz-se necessaacuterio resgatar as razotildees e motivaccedilotildees histoacutericas que justificaram tal criaccedilatildeo

pois estas traratildeo indicaccedilotildees a respeito dos objetivos finalidades e responsabilidades atribuiacutedas agrave

instituiccedilatildeo

No caso da educaccedilatildeo por exemplo ela se desenvolvia originariamente de forma natural e

informal e consistia em uma accedilatildeo como outras desenvolvidas pelo homem coincidindo

inteiramente com o processo de trabalho A esse respeito Ariegraves (19782006) lembra que na

antiguidade por muito tempo natildeo houve lugar para a instituiccedilatildeo escolar pois a ldquocrianccedila aprendia

pela praacutetica e essa praacutetica natildeo parava nos limites de uma profissatildeo ainda mais porque na eacutepoca

natildeo havia limites entre a profissatildeo e a vida particularrdquo (p 156) A aprendizagem era transmitida

diretamente de uma geraccedilatildeo a outra mediante a participaccedilatildeo das crianccedilas na vida dos adultos

Antes de se institucionalizar a educaccedilatildeo era desenvolvida em todos os contextos nos quais

crianccedilas e adultos se misturavam fosse nos locais onde se trabalhava se jogava ou brincava O

aprendizado se dava no contato de cada dia A partir do seacuteculo XV foi-se instalando uma

necessidade de rigor moral expressa na ldquopreocupaccedilatildeo de isolar a juventude do mundo sujo dos

adultos para mantecirc-la na inocecircncia primitivardquo (Ariegraves 19782006 p 159) o que desencadeou

70

entatildeo o imperativo de substituir a aprendizagem do dia-a-dia pela aprendizagem escolar Daacute-se

assim a institucionalizaccedilatildeo da educaccedilatildeo surgem as instituiccedilotildees educativas

Agrave medida que satildeo criadas pelo homem as instituiccedilotildees natildeo se constituem como algo pronto

e acabado ao contraacuterio uma vez constituiacutedas elas natildeo estatildeo definitivamente estruturadas mas satildeo

continuamente construiacutedas e reinventadas Esse caraacuteter constantemente renovador da instituiccedilatildeo

decorre do fato dela ser um sistema de praacuteticas sociais (Saviani 2005a 2007) e portanto sujeita agraves

accedilotildees do homem

Agraves instituiccedilotildees educativas tambeacutem natildeo se pode atribuir um estado completo acabado e

idecircntico ao longo dos tempos Pelo contraacuterio o desenvolvimento destas instituiccedilotildees natildeo se daacute

apenas por continuidade mas tambeacutem por rupturas transformaccedilotildees e reestruturaccedilotildees As

instituiccedilotildees educativas estatildeo mudando constantemente adequando-se agraves necessidades e demandas

que lhe satildeo dirigidas e assim mantendo-se ao longo do tempo

As universidades por exemplo satildeo instituiccedilotildees multisseculares de origem medieval e que

sobrevivem agrave passagem do tempo e agraves profundas alteraccedilotildees da sociedade (Polidori 2003) Satildeo

instituiccedilotildees que a despeito dos interesses econocircmicos poliacuteticos culturais e sociais de um periacuteodo

histoacuterico mantecircm-se vivas ativas e produtivas mesmo que para isso tenham que se reinventar

continuamente

Referindo-se agrave manutenccedilatildeo das universidades ao longo do tempo Clark Kerr (19632005)

destaca que das instituiccedilotildees criadas ateacute 1520 ainda existem nos dias de hoje 85 instituiccedilotildees que

exercem funccedilotildees semelhantes agraves que exerciam naquele tempo Entre estas estatildeo a Igreja Catoacutelica

os parlamentos da Ilha do Homem da Islacircndia e da Gratilde-Bretanha vaacuterios cantotildees suiacuteccedilos e setenta

universidades Estas uacuteltimas ldquoainda se encontram nas mesmas localidades em alguns dos mesmos

edifiacutecios com professores e alunos ainda fazendo as mesmas coisas e com a gestatildeo ocorrendo nos

mesmos moldesrdquo (Kerr 19632005 p 148)

Por essa razatildeo Kerr (19632005) comenta que tudo muda mas as universidades duram

bastante apesar das muitas mudanccedilas em suas funccedilotildees e eixos orientadores as instituiccedilotildees

universitaacuterias em comparaccedilatildeo com outras instituiccedilotildees ldquoestatildeo entre as instituiccedilotildees que menos

mudaramrdquo (p 148) A existecircncia prolongada das universidades deve-se essencialmente pelo fato

de que seus objetivos satildeo permanentes mesmo diante de tantas transformaccedilotildees sociais poliacuteticas e

econocircmicas as naccedilotildees continuam a necessitar de uma instituiccedilatildeo comprometida com a produccedilatildeo do

conhecimento cientiacutefico com a formaccedilatildeo da cidadania e a preparaccedilatildeo para o trabalho

Apesar da reconhecida relevacircncia das instituiccedilotildees educativas nas quais se desenvolvem

accedilotildees pedagoacutegicas propriamente ditas haacute que se reconhecer que elas natildeo detecircm o monopoacutelio da

educaccedilatildeo pois existem outras que de maneira formal e informal tambeacutem desenvolvem atividade

educativa Como exemplo tem-se a instituiccedilatildeo familiar onde se daacute o exerciacutecio espontacircneo ou

informal da educaccedilatildeo bem como igrejas sindicados e associaccedilotildees que aleacutem de desenvolverem

atividades educativas de caraacuteter informal tambeacutem podem realizar um trabalho pedagoacutegico formal

71

Neste uacuteltimo caso estas instituiccedilotildees podem tanto organizar e promover modalidades especiacuteficas de

educaccedilatildeo formal quanto podem manter permanentemente escolas proacuteprias (Saviani 2005a)

Sendo criadas pelo homem para atender uma necessidade e estarem continuamente em

construccedilatildeo Saviani (2007) conclui que

as instituiccedilotildees satildeo portanto necessariamente sociais tanto na origem jaacute que determinadas

pelas necessidades postas pelas relaccedilotildees entre os homens como no seu proacuteprio

funcionamento uma vez que se constituem como um conjunto de agentes que travam

relaccedilotildees entre si e com a sociedade a que servem (p 5)

As instituiccedilotildees educativas inquestionavelmente socais fazem parte da sociedade e

guardam com esta interdependecircncias e relaccedilotildees variadas Nesta direccedilatildeo Chauiacute (2003) ressalta que

a universidade como instituiccedilatildeo social exprime a estrutura e o modo de funcionamento da

sociedade como um todo sendo possiacutevel identificar no interior da instituiccedilatildeo universitaacuteria

opiniotildees atitudes e projetos conflitantes que exprimem ideias e contradiccedilotildees da sociedade Dias

Sobrinho (2005) tambeacutem lembra que ldquouma universidade natildeo estaacute fora separada mas estaacute dentro da

tessitura complexa e contraditoacuteria da sociedade em relaccedilotildees de muacutetuas interatuaccedilotildeesrdquo (p 164)

As instituiccedilotildees educativas sejam as universidades ou outras instituiccedilotildees que compotildeem a

Educaccedilatildeo Superior manteacutem iacutentima relaccedilatildeo com a realidade social a qual deve se constituir como a

pedra angular orientadora dos objetivos perseguidos por estas instituiccedilotildees Por essa razatildeo incursotildees

nos elementos constitutivos e definidores das Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior natildeo podem ser

realizadas sem que se considerem as influecircncias do contexto histoacuterico e social conforme proposto

na proacutexima seccedilatildeo

O Surgimento das Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior no Mundo as Diferentes Ideias

acerca de Universidade e de Educaccedilatildeo Superior

As instituiccedilotildees educativas se organizam em instituiccedilotildees de niacutevel baacutesico e superior sendo

que neste uacuteltimo as universidades foram as primeiras instituiccedilotildees a se constituiacuterem e a

prenunciarem a construccedilatildeo de um sistema de Educaccedilatildeo Superior Dessa maneira uma retrospectiva

sobre a histoacuteria das Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior (IES) se daacute em articulaccedilatildeo com a histoacuteria de

criaccedilatildeo e consolidaccedilatildeo das instituiccedilotildees universitaacuterias conforme apresentado nesta seccedilatildeo

Segundo Trindade (2001) um olhar sobre a dimensatildeo temporal da instituiccedilatildeo universitaacuteria

no mundo vislumbra quatro periacuteodos Primeiro o periacuteodo da invenccedilatildeo da universidade na Idade

Meacutedia no qual se constituiu o modelo da universidade tradicional com trecircs elementos baacutesicos

voltada para uma formaccedilatildeo teoloacutegico-juriacutedica organizada de forma corporativa em seu significado

originaacuterio e autocircnoma perante o poder puacuteblico e a Igreja Segundo o periacuteodo referente agrave eacutepoca em

que a universidade renascentista recebeu impacto do capitalismo e do humanismo literaacuterio e

artiacutestico neste periacuteodo surgiu uma nova relaccedilatildeo entre universidade e ciecircncia trazendo impactos que

72

definiriam o periacuteodo seguinte O terceiro periacuteodo entatildeo foi marcado pelas descobertas cientiacuteficas e

pela institucionalizaccedilatildeo da ciecircncia em uma transiccedilatildeo para os diferentes padrotildees da universidade

moderna do seacuteculo XIX Por fim o quarto periacuteodo que instituiu a universidade moderna comeccedilou

no seacuteculo XIX e se desdobra ateacute os dias atuais Marca importante deste periacuteodo aleacutem das ciecircncias

que se instituiacuteram nas universidades foi a introduccedilatildeo de uma nova relaccedilatildeo entre Estado e

universidade o que possibilitou a diversidade dos padrotildees de universidades atuais

Tendo em vista estes quatro periacuteodos relativos agrave criaccedilatildeo das Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo

Superior Trindade (2001) localiza no quarto periacuteodo (por volta do seacuteculo XIX) a

institucionalizaccedilatildeo da universidade moderna que se deu pela emergecircncia de uma nova relaccedilatildeo

entre esta instituiccedilatildeo e o Estado Situa-se nesse periacuteodo o surgimento dos modelos claacutessicos de

universidade ndash napoleocircnico e humboldtiano ndash que mesmo tendo sido cunhados haacute quase dois

seacuteculos ainda servem de paracircmetro e referecircncia agraves Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior

Foi durante a hegemonia e o expansionismo francecircs vivido apoacutes a Revoluccedilatildeo Francesa

que Napoleatildeo fundou a universidade imperial em 1806 subdividida em Academias e subordinada

ao Estado nacional A universidade napoleocircnica encarregava-se do ensino e da educaccedilatildeo puacuteblica

em todo o Impeacuterio de forma que se configurou como importante instrumento agrave formaccedilatildeo dos

quadros necessaacuterios ao Estado (Trindade 2001)

Na Alemanha as guerras revolucionaacuterias e napoleocircnicas afetaram suas instituiccedilotildees

universitaacuterias levando ao fechamento e desaparecimento de algumas delas o que fez com a Pruacutessia

perdesse sua base intelectual e reconhecesse a necessidade de construir uma nova universidade

(Rossato 2006 Trindade 2001) A criaccedilatildeo da Universidade de Berlim em 1808 que teve Karl

Wilhelm von Humboldt como mentor baseia-se na noccedilatildeo de uma universidade fundada sobre o

princiacutepio da pesquisa e do trabalho cientiacutefico O conceito de universidade concebido por Humboldt

voltava-se para o desenvolvimento maacuteximo da ciecircncia e para a formaccedilatildeo intelectual e moral da

naccedilatildeo

Segundo Pereira (2009a) os princiacutepios essenciais postulados por Humboldt em relaccedilatildeo agrave

universidade satildeo

a formaccedilatildeo atraveacutes da pesquisa a unidade entre o ensino e pesquisa a

interdisciplinaridade a autonomia e a liberdade da administraccedilatildeo da instituiccedilatildeo e da ciecircncia

que ela produz a relaccedilatildeo integrada poreacutem autocircnoma entre Estado e Universidade a

complementaridade do ensino fundamental e meacutedio com o universitaacuterio (p 31)

Ainda sobre os principais aspectos que caracterizam a universidade na concepccedilatildeo de

Humboldt Rossato (2006) acrescenta que

o ponto central eacute o desenvolvimento da ciecircncia Para tanto deve a instituiccedilatildeo gozar de

liberdade O professor trabalha em funccedilatildeo do aluno e ambos para o desenvolvimento da

ciecircncia A universidade deve primar pela excelecircncia do conhecimento A universidade

deve investigar a ciecircncia enquanto tal na sua pureza como ela existe na natureza Destaca

73

ainda a importacircncia do meacutetodo A universidade deve ser autocircnoma com a miacutenima

interferecircncia do Estado (p 83)

Em siacutentese a concepccedilatildeo de universidade humboldtiana se estrutura pela autonomia da

instituiccedilatildeo a indivisibilidade do saber do ensino e da pesquisa e pela produccedilatildeo cientiacutefica

enquanto a concepccedilatildeo napoleocircnica eacute marcada pela transmissatildeo do saber e pela formaccedilatildeo

profissional

Estando portanto o desenvolvimento da universidade moderna intimamente associado

com as reformas de von Humboldt na Pruacutessia e de Napoleatildeo na Franccedila as Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo

Superior deviam aleacutem de fornecer a forccedila de trabalho qualificada preparar os alunos para se

tornarem cidadatildeos modelos e ativos promover a mobilidade social e ser um lugar de discussatildeo

livre e independente Deviam tambeacutem manter e melhorar a cultura nacional como estrateacutegia para

formar a identidade poliacutetica da naccedilatildeo (Amaral amp Magalhatildees 2002) As universidades eram entatildeo

instituiccedilotildees autocircnomas que produziam saberes desinteressados e que formavam sujeitos teoacuterica e

politicamente criacuteticos

Dessa maneira em relaccedilatildeo aos modelos claacutessicos de universidade ou modelos

institucionais de Educaccedilatildeo Superior distinguem-se em siacutentese o francecircs ou napoleocircnico que fez

da universidade a formadora dos quadros necessaacuterios ao Estado pela ecircnfase na especializaccedilatildeo e na

profissionalizaccedilatildeo e o denominado modelo alematildeo ou humboldtiano baseado na produccedilatildeo do

saber e na formaccedilatildeo livre (Sguissardi 2006)

Estes dois modelos cada um orientado por uma concepccedilatildeo particular foram as matrizes da

universidade moderna e suas influecircncias se fazem presente nos dias de hoje de maneira que natildeo se

pode falar em um modelo uacutenico de universidade e consequentemente de Educaccedilatildeo Superior Para

Sguissardi (2004) ldquodo ponto de vista quantitativo haacute evidecircncias de que predominaria e continua

se ampliando o modelo neonapoleocircnico que remonta ao Impeacuterio e agraves escolas profissionais Do

ponto de vista qualitativo eacute necessaacuterio nuanccedilar a expressatildeordquo (p 42) Hoje os dois modelos se

fazem presentes ainda que em escalas muito diferentes

A partir dessas duas matrizes as Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior se diferenciam em

termos de concepccedilatildeo estruturaccedilatildeo e finalidade Para Pereira (2009a) o que caracteriza a

universidade moderna eacute essencialmente a associaccedilatildeo entre o ensino e a pesquisa enquanto as

demais Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior natildeo estatildeo vinculadas com a ciecircncia e com a vida

intelectual mas somente com o ensino profissional

De acordo com Rossato (2006) a Universidade de Berlim concebida a partir da ecircnfase na

geraccedilatildeo do conhecimento pela pesquisa eacute considerada ldquoa primeira instituiccedilatildeo que assume as

caracteriacutesticas da modernidade ao instituir-se como uma comunidade de pesquisadores que buscam

a verdade nos diversos campos da ciecircncia e do conhecimentordquo (p 81) O foco na pesquisa

caracteriacutestica essencial da Universidade de Berlim foi incorporado mundialmente pelas

universidades e identificado como elemento indispensaacutevel para sua constituiccedilatildeo e reconhecimento

74

Acerca da legitimidade da universidade moderna Amaral e Magalhatildees (2002) identificam

que ela se deu pela autonomia do saber em relaccedilatildeo agrave religiatildeo e ao Estado e livre da pressatildeo das

demandas sociais e econocircmicas portanto a instituiccedilatildeo universitaacuteria estaria ancorada na ideia de

que o conhecimento eacute guiado por sua proacutepria loacutegica

A partir dessas ideias que atribuem centralidade agrave universidade no tocante ao

desenvolvimento moral cientiacutefico e tecnoloacutegico das naccedilotildees a ciecircncia e a pesquisa adquirem

relevacircncia extrema por serem a via de promoccedilatildeo para tal desenvolvimento Para Goergen (1998)

estabeleceu-se uma relaccedilatildeo tatildeo iacutentima e articulada entre a ciecircncia e esse desenvolvimento que natildeo eacute

possiacutevel destrinccedilaacute-la a ciecircncia passou a ser vista como o motor do desenvolvimento e portanto

sinocircnimo do progresso

Ancorando-se entatildeo na compreensatildeo de que o desenvolvimento de um paiacutes estaacute

intimamente ligado agrave sua produccedilatildeo cientiacutefica planos propostas e projetos do Estado fazem alusatildeo

ao seu papel como eacute o caso do Plano Nacional de Educaccedilatildeo (2001) que refere que ldquonenhum paiacutes

pode aspirar a ser desenvolvido e independente sem um forte sistema de Educaccedilatildeo Superiorrdquo (p

41) Este Plano justifica ainda que a importacircncia atribuiacuteda agraves Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior se

deve ao reconhecimento de que a produccedilatildeo de conhecimento eacute a base do desenvolvimento

cientiacutefico e tecnoloacutegico

Por compreensotildees como estas contata-se que existe uma forte associaccedilatildeo entre a produccedilatildeo

de conhecimento fruto de pesquisas e estudos realizados em instituiccedilotildees educativas de niacutevel

superior e o desenvolvimento de um paiacutes

A Emergecircncia das Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior no Brasil

Os quatro periacuteodos de institucionalizaccedilatildeo da universidade (Trindade 2001) correspondem

genericamente agrave constituiccedilatildeo das universidades no mundo jaacute que enquanto sua implantaccedilatildeo se

dava na Europa elas tambeacutem chegavam agrave Ameacuterica Latina No Brasil a universidade se instituiu no

seacuteculo XX razatildeo pela qual se diz que a Educaccedilatildeo Superior no paiacutes mesmo quando comparada a

outros paiacuteses latino americanos eacute de criaccedilatildeo tardia e recente (Mendonccedila 2000 Morosini 2005

Olive 2002 Sguissardi 2006) Embora desde 1808 tenham funcionado escolas e faculdades

profissionais isoladas e com forte preocupaccedilatildeo profissionalizante a primeira universidade

brasileira a Universidade do Rio de Janeiro (URJ) foi fundada em 1920 e ldquoera mais voltada ao

ensino do que agrave pesquisa elitista conservando a orientaccedilatildeo profissional dos seus cursos e

autonomia das faculdadesrdquo (Olive 2002 p 33)

Sobre essas caracteriacutesticas ao fazer um resgate da Educaccedilatildeo Superior no Brasil desde o

periacuteodo colonial ateacute os dias de hoje Faacutevero (2006) Morosini (2005) e Olive (2002) salientam que a

criaccedilatildeo dos cursos superiores se deu com a vinda da famiacutelia real portuguesa para o paiacutes em 1808

sendo que se caracterizavam por duas tendecircncias marcantes cursos isolados e preocupaccedilatildeo

profissionalizante Neste periacuteodo as primeiras faculdades brasileiras eram isoladas uma das outras

75

e seguiam o modelo francecircs mais voltado ao ensino do que agrave pesquisa influecircncia que se fez

presente quando da criaccedilatildeo da primeira universidade brasileira A respeito do modelo francecircs

Sguissardi (2006) diz que ldquofez da universidade a formadora dos quadros necessaacuterios ao Estado

cuja formaccedilatildeo se daria em conformidade com a nova ordem social e com a tirania do diploma do

Estado Numa palavra era a especializaccedilatildeo e a profissionalizaccedilatildeordquo (p 68)

Outra caracteriacutestica deste periacuteodo tanto no que se refere agrave organizaccedilatildeo didaacutetica quanto agrave

estrutura de poder satildeo as ldquocaacutetedras vitaliacutecias o catedraacutetico lsquolente proprietaacuteriorsquo era aquele que

dominava um campo de saber escolhia seus assistentes e permanecia no topo da hierarquia

acadecircmica durante toda a sua vidardquo (Olive 2002 p 32) A unidade operativa de ensino e pesquisa

docente base da formaccedilatildeo em niacutevel superior era entregue a um professor que detinha privileacutegios o

catedraacutetico de forma que o regime de caacutetedra se configurava como nuacutecleo das Instituiccedilotildees de

Educaccedilatildeo Superior

Foi em 1924 com a accedilatildeo da Associaccedilatildeo Brasileira de Educaccedilatildeo e da Academia Brasileira

de Ciecircncias que se instalaram debates referentes agrave concepccedilatildeo de universidade suas funccedilotildees e ao

papel das atividades de pesquisa corroborando para a emergecircncia de uma nova concepccedilatildeo de

universidade (Morosini 2005 Olive 2002) Em relaccedilatildeo agraves funccedilotildees e ao papel da universidade

Faacutevero (2006) relata que havia duas posiccedilotildees uma que defendia a pesquisa cientiacutefica e a formaccedilatildeo

de profissionais como funccedilatildeo baacutesica da universidade e outra que considerava a formaccedilatildeo

profissional uma prioridade

Se o nascimento da Educaccedilatildeo Superior no Brasil se deu mediante a coexistecircncia de cursos

isolados a partir de 1930 foram criadas universidades pela justaposiccedilatildeo de cursos superiores

mesmo que estes ainda tenham se mantido isolados e autocircnomos quanto ao ensino (Morosini

2005) Segue-se entatildeo um periacuteodo de criaccedilatildeo de novas universidades e aumento do nuacutemero de

matriacuteculas mantendo-se ainda a forccedila da caacutetedra

Em 1961 foi promulgada a Lei nordm 4024 a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educaccedilatildeo

Nacional (Brasil 1961) que em suma natildeo alterou o modelo tradicional da Educaccedilatildeo Superior

vigente no paiacutes ldquodeixou ilesa a caacutetedra vitaliacutecia as faculdades isoladas e a universidade composta

por simples justaposiccedilatildeo de escolas profissionais aleacutem disso manteve maior preocupaccedilatildeo com o

ensino sem focalizar o desenvolvimento da pesquisardquo (Olive 2002 p 38)

Eacute a partir de 1968 com a aprovaccedilatildeo da Lei da Reforma Universitaacuteria (Lei nordm 55401968)

que se inicia uma nova discussatildeo sobre a Educaccedilatildeo Superior mediante um modelo diferente Esta

lei estabeleceu a indissociabilidade das atividades de ensino pesquisa e extensatildeo instituiu

departamentos em substituiccedilatildeo agraves caacutetedras criou o regime de trabalho de dedicaccedilatildeo exclusiva agrave

universidade e deu forccedila agrave poacutes-graduaccedilatildeo Desencadeou tambeacutem a expansatildeo do setor privado que

criou vaacuterias faculdades isoladas em cidades do interior e na periferia dos grandes centros urbanos

oferecendo cursos de graduaccedilatildeo sem levar em conta o padratildeo acadecircmico (Morosini 2005)

76

Na opiniatildeo de Macedo Trevisan Trevisan e Macedo (2005) ao estabelecer a

indissociabilidade entre o ensino a pesquisa e a extensatildeo a reforma de 1968 privilegiou um

modelo uacutenico de Instituiccedilatildeo de Educaccedilatildeo Superior ndash o da universidade de pesquisa ndash que se

consolidou ldquocomo a principal fonte de desenvolvimento da atividade nacional de pesquisa e

ensaiou os primeiros passos do processo de constituiccedilatildeo da extensatildeo como atividade proacutepria da

instituiccedilatildeo de ensino superiorrdquo (p 129) Durante a deacutecada de 1970 o Sistema Nacional de

Educaccedilatildeo Superior vivenciou um grande crescimento dado especialmente pelas instituiccedilotildees natildeo

universitaacuterias predominantemente privadas uma vez que o modelo de universidade natildeo conseguiu

atender a toda a demanda direcionada a este niacutevel educativo (Macedo amp cols 2005) A Reforma

Universitaacuteria trouxe mudanccedilas profundas agrave realidade da Educaccedilatildeo Superior brasileira levando esse

periacuteodo a ser identificado como de modernizaccedilatildeo

Por sua vez a deacutecada de 90 foi marcada pela influecircncia da internacionalizaccedilatildeo no Sistema

de Educaccedilatildeo Superior respondendo a um contexto social que atribuiacutea agrave educaccedilatildeo em niacutevel superior

a possibilidade de ascensatildeo social por meio da concepccedilatildeo de uma universidade de massa Sobre o

processo de internacionalizaccedilatildeo na educaccedilatildeo a UNESCO (1999) destaca que seu aumento foi um

reflexo do caraacuteter global da pesquisa e do ensino de forma que no atual contexto mundial este

processo tem sido reforccedilado pela integraccedilatildeo econocircmica e poliacutetica pela necessidade crescente de

conhecimento intercultural e pela natureza global das comunicaccedilotildees modernas dos mercados de

consumo entre outros

O presente periacuteodo da Educaccedilatildeo Superior eacute perpassado por diferentes concepccedilotildees entre as

quais se tem as concepccedilotildees advindas da UNESCO e do Banco Mundial A primeira destaca como

funccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior a cultura da paz a equidade e a qualidade enquanto a segunda de

caraacuteter neoliberal defende o papel da universidade voltada para o mercado eficiente e racional

A UNESCO (1999) reconheceu que a sociedade tem vivenciado um periacuteodo de raacutepidas

transformaccedilotildees e argumentou que as mudanccedilas econocircmicas e tecnoloacutegicas ldquodeveriam procurar um

desenvolvimento sustentaacutevel humano em que o crescimento econocircmico servisse ao

desenvolvimento social e assegurasse um meio ambiente sustentaacutevelrdquo (p 12) Nessa direccedilatildeo frente

ao cenaacuterio internacional apontou como missotildees da Educaccedilatildeo Superior educar e formar pessoas

produzir e difundir conhecimentos por meio da pesquisa contribuir para o respeito e difusatildeo das

culturas colaborar na consolidaccedilatildeo de valores sociais que sustentam a cidadania democraacutetica e

favorecer o desenvolvimento e a melhoria da educaccedilatildeo nos diferentes niacuteveis (UNESCO 1998a)

Os maiores desafios para a Educaccedilatildeo Superior segundo a UNESCO (1999) satildeo a

relevacircncia considerada em termos do seu papel e espaccedilo na sociedade e do cumprimento de suas

funccedilotildees de pesquisa e ensino fortemente vinculadas com as noccedilotildees de autonomia e liberdade

acadecircmica a qualidade definida como um conceito multidimensional que engloba o envolvimento

dos docentes-pesquisadores a qualidade da formaccedilatildeo recebida pelos estudantes e da infra-estrutura

77

e a internacionalizaccedilatildeo um reflexo do caraacuteter universal do ensino e da pesquisa verificado pela

intensificaccedilatildeo dos elos e intercacircmbios entre estudantes professores e pesquisadores de todo mundo

A Conferecircncia Mundial sobre Educaccedilatildeo Superior (UNESCO 2009) reafirma que agrave

Educaccedilatildeo Superior natildeo cabe somente favorecer o desenvolvimento de habilidades ela deve

sobretudo ldquocontribuir para a educaccedilatildeo de cidadatildeos eacuteticos comprometidos com a construccedilatildeo da paz

a defesa dos direitos humanos e os valores democraacuteticosrdquo (pp 2-3)

Para o Banco Mundial (1995) por sua vez a Educaccedilatildeo Superior eacute fundamental para o

desenvolvimento econocircmico e social sendo inclusive reconhecida como fonte de crescimento

econocircmico a longo prazo Apesar de sua grande importacircncia o Banco reconhece que este niacutevel

educativo sofre uma crise de proporccedilotildees mundiais a qual estaacute diretamente ligada agraves fontes de

financiamento da Educaccedilatildeo Superior e eacute mais acentuada nos paiacuteses em desenvolvimento Diante do

quadro de crise da Educaccedilatildeo Superior o Banco Mundial (1995) argumenta que

o modelo tradicional de universidade europeia de investigaccedilatildeo com sua estrutura de

programas em um niacutevel tem demonstrado ser caro e pouco apropriado no mundo em

desenvolvimento A maior diferenciaccedilatildeo na educaccedilatildeo superior ou o desenvolvimento de

instituiccedilotildees natildeo universitaacuterias e o fomento de estabelecimentos privados pode contribuir

para satisfazer a demanda social por educaccedilatildeo poacutes-secundaacuteria e fazer com que os sistemas

de niacutevel terciaacuterio sejam mais sensiacuteveis agraves necessidades cambiantes do mercado de trabalho

(p 5)

Como alternativas agrave superaccedilatildeo da crise o Banco Mundial (1995) sugeriu (a) fomentar

maior diferenciaccedilatildeo das instituiccedilotildees incluindo o crescimento de instituiccedilotildees privadas (b)

proporcionar incentivos para que as instituiccedilotildees puacuteblicas diversifiquem as fontes de financiamento

(c) redefinir a funccedilatildeo do governo na Educaccedilatildeo Superior e (d) adotar poliacuteticas que deem prioridade

agrave qualidade e equidade

Em relaccedilatildeo ao incentivo agrave oferta privada em Educaccedilatildeo Superior defendeu ainda que esta

pode ldquoreagir de forma eficiente e flexiacutevel agrave mudanccedila de demanda e ampliaccedilatildeo de oportunidades

educacionais com pouco ou nenhum custo adicional ao Estadordquo (Banco Mundial 1995 p 6) Por

essas afirmaccedilotildees fica claro o posicionamento deste organismo no sentido de fortalecer a Educaccedilatildeo

Superior natildeo universitaacuteria e natildeo estatal

Tendo por um lado as concepccedilotildees da UNESCO em relaccedilatildeo ao papel da Educaccedilatildeo

Superior e de outro a do Banco Mundial eacute faacutecil constatar que as duas natildeo compartilham as

mesmas ideias e perspectivas pelo contraacuterio satildeo exemplos de quatildeo distintas satildeo as concepccedilotildees que

concorrem pela orientaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior brasileira As tensotildees entre a supremacia da

globalizaccedilatildeo de um lado e a defesa do estado-nacional de outro constituem o foco principal da

disputa entre agecircncias internacionais que se baseiam em conceitos tradiccedilotildees e opiniotildees poliacuteticas

divergentes

78

Em decorrecircncia das influecircncias e escolhas histoacutericas jaacute natildeo eacute possiacutevel falar em modelo

uacutenico de IES inclusive e sobretudo por natildeo haver uma concepccedilatildeo uacutenica do que seja a Educaccedilatildeo

Superior no paiacutes

Universidade Ensino Superior ou Educaccedilatildeo Superior Aproximaccedilotildees e Distinccedilotildees

entre os Termos

Mesmo que historicamente as universidades tenham sido as primeiras instituiccedilotildees

educativas a se constituiacuterem em niacutevel superior conforme relatado na segunda seccedilatildeo deste capiacutetulo

a Educaccedilatildeo Superior natildeo eacute sinocircnimo de universidade Com a intenccedilatildeo de destacar os aspectos que

caracterizam e distinguem estes termos apresentam-se nesta seccedilatildeo os principais fatores que

constituem uma universidade e que a torna uma das instituiccedilotildees que compotildee o Sistema de

Educaccedilatildeo Superior sem contudo dar conta da amplitude deste sistema

De acordo com Belloni (1992) natildeo existe um conceito uacutenico e universalmente aceito do

que seja universidade no entanto a autora afirma que a funccedilatildeo preciacutepua da universidade eacute gerar

saber um saber comprometido com a verdade base de construccedilatildeo do conhecimento com a justiccedila

base das relaccedilotildees humanas com a beleza que permite a expressatildeo da emoccedilatildeo e do prazer e com a

igualdade base da estrutura social

O saber gerado pela universidade deve ao mesmo tempo voltar-se para o avanccedilo da

ciecircncia da arte e da cultura e para a busca de soluccedilatildeo de problemas sociais Isto eacute de um lado o

compromisso eacute com a humanidade como um todo sem restriccedilatildeo temporal ou espacial de outro

lado o compromisso eacute com questotildees imediatas com situaccedilotildees especiacuteficas (Belloni 1992) Dessa

forma cabe agrave universidade envolver-se com problemaacuteticas sociais que carecem de atenccedilatildeo e de

intervenccedilatildeo com vistas a promover a transformaccedilatildeo de condiccedilotildees estruturais da sociedade que

comprometem a qualidade de vida e a satisfaccedilatildeo de necessidades baacutesicas da populaccedilatildeo sem perder

de vista o progresso social que vai aleacutem de necessidades locais Em relaccedilatildeo agrave Educaccedilatildeo Superior

na Enciclopeacutedia de Pedagogia Universitaacuteria Morosini (2006a) a define como um

conceito que se difundiu na segunda metade do seacuteculo XX congregando termos como

educaccedilatildeo poacutes-secundaacuteria terciaacuteria ou terceiro grau representativos de estaacutegios de

aprendizagem Exige a conclusatildeo da educaccedilatildeo primaacuteria e secundaacuteria ou fundamental e

meacutedia (10 a 14 anos de escola) variando de acordo com o sistema nacional de educaccedilatildeo

(pp 58-59)

Por essa definiccedilatildeo observa-se que a Educaccedilatildeo Superior corresponde a um dos niacuteveis da

educaccedilatildeo escolar que compotildee os sistemas educacionais de cada paiacutes ministrada em Instituiccedilotildees de

Educaccedilatildeo Superior apoacutes a conclusatildeo dos niacuteveis que o precedem

Em nota complementar ao conceito de Educaccedilatildeo Superior Morosini (2006a) esclarece que

tambeacutem envolve ldquona sua conceituaccedilatildeo uma outra funccedilatildeo ensino e pesquisa isto eacute criaccedilatildeo e

preservaccedilatildeo do conhecimento sistemaacuteticordquo (p 59) Historicamente estas trecircs funccedilotildees foram

79

atribuiacutedas agraves universidades para aleacutem da tradicional funccedilatildeo de ensino tambeacutem desenvolvida em

outras instituiccedilotildees superiores de forma que esta atribuiccedilatildeo ocasionou uma estreita associaccedilatildeo entre

universidade e Educaccedilatildeo Superior termos adotados indistintamente como se fossem sinocircnimos

Contudo o termo Educaccedilatildeo Superior diz respeito a um niacutevel educativo com funccedilotildees finalidades e

organizaccedilatildeo especiacuteficas que se desenvolve em Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior (IES) as quais

atualmente no Brasil podem ser universidades centros universitaacuterios ou faculdades (Decreto nordm

57732006)

Segundo a LDB (Brasil 1996) em seu artigo 52 ldquoas universidades satildeo instituiccedilotildees

pluridisciplinares de formaccedilatildeo dos quadros profissionais de niacutevel superior de pesquisa de extensatildeo

e de domiacutenio e cultivo do saber humanordquo (p 18) e se caracterizam por se vincularem agrave produccedilatildeo

intelectual institucionalizada mediante o estudo sistemaacutetico de temas e problemas relevantes

cientiacutefica e culturalmente por ter um corpo docente composto pelo menos com titulaccedilatildeo

acadecircmica de mestrado ou doutorado e por ter um terccedilo do seu corpo docente em regime de tempo

integral

A universidade eacute dessa forma parte de um fenocircmeno maior que eacute a Educaccedilatildeo Superior

Apesar de ao longo deste capiacutetulo ter-se utilizado o termo universidade em diversas ocasiotildees tal

uso decorre do reconhecimento que tal instituiccedilatildeo tem na histoacuteria da Educaccedilatildeo Superior e tambeacutem

da opccedilatildeo por manter o termo adotado pelos autores estudados na revisatildeo de literatura ciente

inclusive de que este uso por parte de muitos deles se daacute em referecircncia ao amplo papel e

composiccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior

Em vaacuterios casos o uso do termo universidade por parte de autores como Chauiacute (2003)

Dias Sobrinho Ristoff e Goergen (2008) Faacutevero (2006) Ristoff (1999) Severino (2002)

Sguissardi (2005) e Trindade (2001) por exemplo estaacute muito mais relacionado a uma posiccedilatildeo

acadecircmica e poliacutetica em defesa da universidade puacuteblica brasileira do que a ausecircncia de distinccedilatildeo

entre os termos universidade e Educaccedilatildeo Superior Tanto eacute que ao discutir as crises que envolvem

este niacutevel educativo em especial a de modelo decorrente das funccedilotildees que lhe satildeo atribuiacutedas a qual

ainda seraacute abordada neste capiacutetulo Ristoff (1999) salienta que ldquoestamos falando em lsquoEducaccedilatildeo

Superiorrsquo e natildeo em universidaderdquo pois ldquohoje queiramos ou natildeo temos que reconhecer que a

Educaccedilatildeo Superior eacute uma atividade de funccedilotildees muacuteltiplasrdquo (p 28)

A Educaccedilatildeo Superior se constitui sobre uma diversidade de demandas objetivos funccedilotildees e

formas de organizaccedilatildeo ainda que tenha no modelo de universidade um importante referencial

Devido a essa importacircncia o autor faz menccedilatildeo agraves universidades de verdade identificando-as como

aquelas que tecircm

ensino pesquisa extensatildeo mestrados doutorados ndash enfim satildeo o que em geral entendemos

por universidades de verdade ndash instituiccedilotildees promotoras dos objetivos tradicionais de

disseminaccedilatildeo e do avanccedilo das artes e das ciecircncias e de seu direcionamento para a cidadania

e a melhoria da qualidade da vida da naccedilatildeo (Ristoff 1999 p 28)

80

De toda sorte opta-se neste trabalho por utilizar o termo Educaccedilatildeo Superior em alusatildeo a

um niacutevel educativo especiacutefico que se constituiu em um amplo e complexo sistema composto por

Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior responsaacuteveis pela formaccedilatildeo de cidadatildeos e de profissionais O

termo universidade eacute utilizado para se referir agraves instituiccedilotildees que gozam de autonomia didaacutetica

administrativa e financeira que obedecem ao princiacutepio de indissociabilidade do ensino da pesquisa

e da extensatildeo e que desenvolvem atividades de pesquisa no acircmbito da poacutes-graduaccedilatildeo

Apresentadas as aproximaccedilotildees e distinccedilotildees entre os termos universidade e Educaccedilatildeo

Superior cabe ainda esclarecer as razotildees que levam a optar por este uacuteltimo em detrimento do

termo ensino superior os quais natildeo satildeo similares

Ao estabelecer uma definiccedilatildeo de universidade para o seacuteculo XXI Sousa Santos (2005)

afirma que ldquosoacute haacute universidade quando haacute formaccedilatildeo graduada e poacutes-graduada pesquisa e extensatildeo

Sem qualquer destes haacute ensino superior natildeo haacute universidaderdquo (p 64-65) Concorda-se com o autor

no que se refere agrave necessaacuteria presenccedila das atividades de pesquisa de ensino e de extensatildeo para

qualificar uma IES como universitaacuteria natildeo devendo ser assim denominada as instituiccedilotildees que de

dedicam apenas a atividade de ensino Todavia tanto as instituiccedilotildees que focalizam apenas o

ensino quanto agravequelas voltadas agrave integraccedilatildeo deste com a pesquisa e a extensatildeo compotildeem a

Educaccedilatildeo Superior de modo que falar em ensino superior eacute limitar-se a uma parcela do que eacute de

fato a Educaccedilatildeo Superior em termos de concepccedilatildeo funccedilatildeo e responsabilidade social

Para tratar das razotildees que levam a adotar o termo Educaccedilatildeo Superior e natildeo Ensino

Superior eacute preciso recuperar a noccedilatildeo de educaccedilatildeo de forma geral a qual por sua extensatildeo

amplitude e complexidade evidencia-se como mais apropriada quando se tem como referecircncia a

formaccedilatildeo do ser humano em sua totalidade

Falar em educaccedilatildeo implica fazer referecircncia ao processo de constituiccedilatildeo do sujeito mediante

sua inserccedilatildeo ativa em um contexto histoacuterico e social A educaccedilatildeo fenocircmeno proacuteprio dos seres

humanos eacute o meio pelo qual os sujeitos se apropriam daquilo que foi historicamente produzido

pelo conjunto dos homens isto eacute inseridos em um grupo social os sujeitos tornam-se membros

deste grupo agrave medida que vatildeo internalizando o material fiacutesico afetivo intelectual e relacional

construiacutedo ao longo do tempo na histoacuteria (Arauacutejo 2003 Oliveira 2007)

Conforme destaca Saviani (2005b) ldquonatureza humana natildeo eacute dada ao homem mas eacute por ele

produzida sobre a base da natureza biofiacutesicardquo (p 13) Para aleacutem do complexo e dinacircmico aparato

bioloacutegico caracteriacutestico do ser humano a natureza humana eacute conquistada pela apropriaccedilatildeo dos

elementos culturais que permeiam a vida em sociedade sendo a educaccedilatildeo o processo pelo qual se

oportuniza aos sujeitos esta apropriaccedilatildeo

A partir do nascimento cada pessoa vai paulatinamente se integrando a um contexto social

repleto de ideias valores objetos haacutebitos siacutembolos relaccedilotildees e sentimentos que constituem a

produccedilatildeo coletiva e histoacuterica de um grupo Caracteriacutestica importante dessa produccedilatildeo eacute que ela natildeo

eacute definitiva e imutaacutevel muito pelo contraacuterio estaacute continuamente em transformaccedilatildeo pela accedilatildeo e

81

pelas interaccedilotildees entre os homens Assim cada um vai se integrando a determinado contexto social

o faz por um processo ativo de apropriaccedilatildeo e portanto de construccedilatildeo tornar-se membro de um

grupo social implica assimilar articular e ressignificar os elementos culturais jaacute produzidos

Por essa perspectiva torna-se no miacutenimo incoerente compreender a educaccedilatildeo como um

processo linear de apropriaccedilatildeo como se o produto da histoacuteria fosse simplesmente transferido ou

implantado em cada sujeito O processo educativo envolve a internalizaccedilatildeo do que jaacute estaacute

socialmente estabelecido e tambeacutem a expressatildeo ou manifestaccedilatildeo individual de cada um a partir de

sua relaccedilatildeo uacutenica e singular com a produccedilatildeo coletiva

Nessa direccedilatildeo a educaccedilatildeo eacute uma praacutetica humana voltada agrave formaccedilatildeo agrave constituiccedilatildeo do

sujeito que tem posiccedilatildeo ativa nos rumos do seu desenvolvimento De acordo com o documento

Educaccedilatildeo um tesouro a descobrir (UNESCO 1998b)

um dos principais papeacuteis reservados agrave educaccedilatildeo consiste antes de mais em dotar a

humanidade da capacidade de dominar o seu proacuteprio desenvolvimento Ela deve de fato

fazer com que cada um tome o seu destino nas matildeos e contribua para o progresso da

sociedade em que vive baseando o desenvolvimento na participaccedilatildeo responsaacutevel dos

indiviacuteduos e das comunidades (p 82)

Portanto a educaccedilatildeo - tanto a que se daacute no contexto familiar quanto a que transcorre em

contextos institucionais como a escola ou a universidade - estaacute voltada para a promoccedilatildeo do

desenvolvimento humano por meio de processos de aprendizagem e da internalizaccedilatildeo de elementos

culturais que perpassam a vida em sociedade Na intenccedilatildeo de favorecer o desenvolvimento das

pessoas o ensino entendido como a transmissatildeo de valores normas e conhecimentos para as novas

geraccedilotildees foi assumido como a estrateacutegia mais adequada uma vez que permitiria que o material

construiacutedo pelo conjunto dos homens fosse transmitido aos mais novos Eacute importante esclarecer

que esta noccedilatildeo de ensino estaacute muito associada agrave ideia de reproduccedilatildeo e privilegia a transferecircncia do

conhecimento ou seja o aprendizado ocorre pela transmissatildeo de conhecimento por parte daquele

que sabe para aquele que ainda natildeo sabe

Enquanto o ensino estaacute focado na reproduccedilatildeo do conhecimento que passa inalterado de

uma pessoa a outra a educaccedilatildeo em contraponto envolve associaccedilatildeo problematizaccedilatildeo e

reformulaccedilatildeo do conhecimento Falar em educaccedilatildeo implica entatildeo reconhecer a existecircncia de um

processo de criacutetica de modificaccedilatildeo e de criaccedilatildeo do conhecimento e do mundo de maneira que o

sujeito que aprende agrega algo novo e diferente ao conhecimento que lhe foi inicialmente

transferido

Sendo assim adotar o termo educaccedilatildeo em detrimento do ensino se daacute por entender que

educar eacute incentivar o desenvolvimento de novas interpretaccedilotildees articulaccedilotildees e possibilidades eacute

instigar o novo o diferente e o que ainda natildeo foi pensado eacute valorizar o questionamento e a criacutetica

como possibilidade de transformar e construir algo que ainda natildeo estaacute dado

82

Aderente a este posicionamento o SINAES ndash Sistema Nacional de Avaliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo

Superior ndash atual proposta de avaliaccedilatildeo deste niacutevel educativo trabalha com o conceito de Educaccedilatildeo

Superior que natildeo se limita e transcende o ensino Segundo Dias Sobrinho (2004b) o ensino eacute um

importante meio para cumprir a finalidade da educaccedilatildeo que eacute a formaccedilatildeo em seu amplo sentido

contudo ele natildeo daacute conta de todas as dimensotildees implicadas na educaccedilatildeo teacutecnicas eacuteticas poliacuteticas

epistemoloacutegicas e filosoacuteficas Sendo assim optar por Educaccedilatildeo Superior significa afirmar que a

finalidade essencial deste niacutevel educativo eacute a formaccedilatildeo plena dos sujeitos em suas inuacutemeras

potencialidades

Existem portanto instituiccedilotildees que se dedicam apenas ao ensino e outras que se vinculam

tambeacutem agrave reflexatildeo criacutetica e criativa estimulada principalmente pelo esforccedilo contiacutenuo de pesquisa e

de desenvolvimento de conhecimento Mas todas essas instituiccedilotildees em maior ou menor grau

desenvolvem atividades de ensino o qual eacute parte do processo de formaccedilatildeo Contudo por entender

que o processo educativo e em especial o de niacutevel superior estaacute para aleacutem do ensinotransmissatildeo

de conhecimentos torna-se inadequado adotar o termo ensino superior para se referir ao conjunto

das praacuteticas desenvolvidas por instituiccedilotildees superiores de educaccedilatildeo e as complexas funccedilotildees

exercidas pela Educaccedilatildeo Superior De toda forma estejam as IES mais voltadas ao ensino ou agrave

pesquisa a reproduccedilatildeo do conhecimento ou agrave sua produccedilatildeo todas satildeo espaccedilos legiacutetimos de atuaccedilatildeo

da Psicologia Escolar

CARACTERIacuteSTICAS FUNCcedilOtildeES E DESAFIOS DA EDUCACcedilAtildeO SUPERIOR NA

CONTEMPORANEIDADE

A Atual Estrutura e Funcionamento da Educaccedilatildeo Superior Brasileira

Aleacutem dos princiacutepios gerais relativos agrave educaccedilatildeo que estatildeo estabelecidos pela Constituiccedilatildeo

Federal de 1988 o sistema educacional brasileiro eacute orientado pela nova Lei de Diretrizes e Bases

da Educaccedilatildeo Nacional (Lei nordm 93941996) documento que define os objetivos prioridades e

condiccedilotildees que devem reger a poliacutetica educacional brasileira aleacutem de estabelecer os niacuteveis

escolares as modalidades de educaccedilatildeo e suas finalidades

Segundo a LDB (Brasil 1996) a educaccedilatildeo escolar organiza-se em dois niacuteveis a Educaccedilatildeo

Baacutesica formada pela Educaccedilatildeo Infantil Ensino Fundamental e Ensino Meacutedio e a Educaccedilatildeo

Superior Esta uacuteltima abrange os cursos sequenciais por campo de saber1 os de graduaccedilatildeo de poacutes-

graduaccedilatildeo - que compreende programas de mestrado e doutorado cursos de especializaccedilatildeo

1 Os cursos sequenciais tecircm como especificidade o objetivo de atender a demanda por melhor formaccedilatildeo pessoal eou acesso agrave Educaccedilatildeo Superior Embora objetivem a qualificaccedilatildeo estes cursos natildeo habilitam para o exerciacutecio de uma profissatildeo e podem se configurar como uma alternativa aos cursos de graduaccedilatildeo ou podem ser complementares a estes uacuteltimos Os cursos sequenciais podem ser de dois tipos Cursos Superiores de Formaccedilatildeo Especiacutefica e Cursos Superiores de Complementaccedilatildeo de Estudos

83

aperfeiccediloamento e outros - e os cursos de extensatildeo A Figura 1 analisada da parte inferior para a

superior auxilia na compreensatildeo de como estaacute organizada a Educaccedilatildeo Superior no Brasil

Figura 1 Organizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior no Brasil (INEP 2009)

Apesar da LDB (Brasil 1996) indicar que a Educaccedilatildeo Superior seraacute ministrada em

Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior puacuteblicas e privadas e com variados graus de abrangecircncia ou

especializaccedilatildeo a referida legislaccedilatildeo detalha apenas as caracteriacutesticas relativas agraves universidades

Em relaccedilatildeo agrave natureza acadecircmica e organizaccedilatildeo administrativa das IES o Decreto nordm 57732006

estabelece a composiccedilatildeo do Sistema Federal de Educaccedilatildeo Superior como instituiccedilotildees federais de

Educaccedilatildeo Superior (IES criadas e mantidas pela iniciativa privada) e oacutergatildeos federais de Educaccedilatildeo

Superior Segundo a natureza juriacutedica de suas mantenedoras as instituiccedilotildees puacuteblicas subdividem-se

em federais estaduais e municipais enquanto as instituiccedilotildees privadas podem ser sem fins

lucrativos (instituiccedilotildees comunitaacuterias confessionais e filantroacutepicas) e com fins lucrativos

(particulares em sentido estrito)

Ainda de acordo com o referido Decreto as IES se organizam em Faculdades Centros

Universitaacuterios e Universidades sendo que originalmente a instituiccedilatildeo eacute credenciada como

faculdade e o seu credenciamento como universidade ou centro universitaacuterio dependeraacute de seu

funcionamento regular e do padratildeo satisfatoacuterio de qualidade estabelecido pelo Ministeacuterio da

Educaccedilatildeo (MEC) Tambeacutem compotildeem o Sistema de Educaccedilatildeo Superior os Institutos Federais de

84

Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia ou simplesmente Institutos Federais especializados na oferta de

educaccedilatildeo profissional e tecnoloacutegica (Lei nordm 11892 de 29 de dezembro de 2008b)

O cenaacuterio nacional da Educaccedilatildeo Superior eacute composto principalmente pela graduaccedilatildeo e

pela poacutes-graduaccedilatildeo A primeira eacute acompanhada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

Educacionais Aniacutesio Teixeira (INEP) e a segunda pela Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de

Pessoal de Niacutevel Superior (CAPES) ambos oacutergatildeos vinculados ao MEC O INEP tem como missatildeo

promover estudos pesquisas e avaliaccedilotildees sobre o Sistema Educacional brasileiro com o objetivo de

subsidiar a formulaccedilatildeo e implementaccedilatildeo de poliacuteticas puacuteblicas e produzir informaccedilotildees confiaacuteveis

aos gestores pesquisadores educadores e para o puacuteblico em geral No cumprimento dessa missatildeo

o INEP realiza anualmente por meio de questionaacuterio eletrocircnico uma ampla coleta de dados sobre a

Educaccedilatildeo Superior brasileira conhecido como o Censo da Educaccedilatildeo Superior Todas as

Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior brasileiras satildeo convocadas a participar do Censo prestando as

informaccedilotildees solicitadas pelo INEP

O Censo referente ao ano de 2009 (INEP 2010) mostra a existecircncia de 2314 Instituiccedilotildees

de Educaccedilatildeo Superior 27827 cursos 5115896 estudantes 359089 docentes e 353775

funcionaacuterios teacutecnico-administrativos Com o objetivo de apresentar o panorama geral e atual da

Educaccedilatildeo Superior do Brasil estes dados seratildeo melhor detalhados de forma a possibilitar uma

compreensatildeo do amplo e complexo cenaacuterio deste niacutevel educativo Para tanto com base nas

informaccedilotildees publicizadas pelo INEP foram elaborados tabelas e graacuteficos com o objetivo de

favorecer a compreensatildeo dos dados

Considerando a distribuiccedilatildeo das IES nas cinco regiotildees brasileiras a regiatildeo Sudeste agrega

511 das Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior brasileiras com 110 IES puacuteblicas e 980 privadas

enquanto a regiatildeo Norte a menor em termos de nuacutemero de instituiccedilotildees engloba apenas 63 das

quais 19 satildeo puacuteblicas e 128 privadas A distribuiccedilatildeo das IES segundo as regiotildees brasileiras estaacute

apresentada na Figura 2

0

200

400

600

800

1000

1200

Norte Nordeste Centro-Oeste

Sudeste Sul

Total de IESPrivadasPuacuteblicas

Figura 2 Distribuiccedilatildeo das IES segundo as regiotildees brasileiras no ano de 2009 (INEP 2010)

85

Ao ilustrar como as IES estatildeo distribuiacutedas pelo paiacutes a Figura 2 mostra que em todas as

regiotildees as instituiccedilotildees privadas predominam em relaccedilatildeo agraves puacuteblicas Aleacutem disso indica que haacute

uma forte concentraccedilatildeo regional no Sudeste possivelmente como decorrecircncia da economia local e

do maior desenvolvimento industrial e carecircncia em outras regiotildees como o Norte A Figura 3 ilustra

essa concentraccedilatildeo

Figura 3 Distribuiccedilatildeo das IES no territoacuterio brasileiro segundo as regiotildees

Das 2314 instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior contabilizadas no ano de 2009 1090 delas o

que corresponde a 47 do total de IES brasileiras estatildeo reunidas na regiatildeo sudeste Referindo-se a

esse fenocircmeno Ristoff (2008) usou a expressatildeo sudestificaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior uma vez que

a regiatildeo Sudeste com seus quatro estados engloba mais da metade das IES Verifica-se assim que

as IES brasileiras natildeo estatildeo homogeneamente distribuiacutedas pelo paiacutes havendo diferenccedilas que se

refletem no acesso agrave formaccedilatildeo em niacutevel superior aleacutem de trazer implicaccedilotildees ao desenvolvimento

socioeconocircmico das outras regiotildees e contribuir para o aprofundamento das desigualdades regionais

Quanto ao nuacutemero de instituiccedilotildees segundo a categoria administrativa - puacuteblica ou privada - a

Tabela 1 mostra que nos uacuteltimos anos houve maior crescimento das IES privadas

86

Tabela 1

Evoluccedilatildeo do nuacutemero de IES segundo a categoria administrativa

Ano Total IES Categoria Administrativa

Puacuteblica Privada

2002 1637 195 1442

2003 1859 207 1652

2004 2013 224 1789

2005 2165 231 1934

2006 2270 248 2022

2007 2281 249 2032

2008 2252 216 2036

2009 2314 245 2069

Nota Dados retirados do INEP (2009 2010)

As instituiccedilotildees puacuteblicas cresceram 38 de 2008 para 2009 enquanto o nuacutemero de

instituiccedilotildees privadas cresceu 26 contudo e ainda assim 894 das IES satildeo de natureza privada

e 106 puacuteblica seguindo como nos anos anteriores a predominacircncia do setor privado na

Educaccedilatildeo Superior brasileira

Apesar de a cada ano serem criadas novas Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior indicando a

expansatildeo do sistema de uma forma geral o aumento total de IES em 2009 foi de apenas 64 em

relaccedilatildeo ao ano anterior acompanhando a tendecircncia de crescimento do sistema apesar de haver uma

queda no ritmo desse crescimento De acordo com o INEP (2009) esse decliacutenio tem como uma

das possiacuteveis razotildees ldquoa recorrente integraccedilatildeo de instituiccedilotildees por fusatildeo ou comprardquo (p 23)

Sguissardi (2008) comenta sobre esse aspecto que haacute grupos nacionais e estrangeiros comprando e

incorporando instituiccedilotildees meacutedias e pequenas que fechariam suas portas em funccedilatildeo de diacutevidas Este

eacute provavelmente um dos fenocircmenos responsaacuteveis pela queda no nuacutemero de novas Instituiccedilotildees de

Educaccedilatildeo Superior a cada ano

A Tabela 2 traz a distribuiccedilatildeo das IES de acordo com a organizaccedilatildeo acadecircmica e a

categoria administrativa apresentando a constataccedilatildeo de que o maior nuacutemero de faculdades (948)

e de centros universitaacuterios (96) estaacute vinculado ao setor privado enquanto as universidades estatildeo

distribuiacutedas em proporccedilatildeo aproximada entre o setor puacuteblico e o privado 53 e 47

respectivamente

87

Tabela 2

Quantitativo de IES por organizaccedilatildeo acadecircmica e categoria administrativa em 2009

Organizaccedilatildeo

acadecircmica

Nordm IES Categoria

administrativa

Nordm IES

Universidade 186 Puacuteblica 100 43

Privada 86 37

Centro Universitaacuterio 127 Puacuteblica 7 03

Privada 120 52

Faculdade 1966 Puacuteblica 103 45

Privada 1863 805

Instituto Federal 35 Puacuteblica 35 15

Nota Dados retirados do INEP (2010)

A partir dos dados da Tabela 2 pode-se concluir tambeacutem que as faculdades privadas

correspondem a 805 do total de Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior no Brasil deixando as demais

instituiccedilotildees ndash universidades e centros universitaacuterios puacuteblicos e privados e as faculdades puacuteblicas ndash

com apenas 195 da representaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior brasileira

Diante dos dados apresentados verifica-se que o cenaacuterio atual da Educaccedilatildeo Superior no

paiacutes indica que as instituiccedilotildees privadas respondem por maior parte do crescimento deste niacutevel

educativo

A situaccedilatildeo do corpo docente reflete o que acontece nas IES em termos de concentraccedilatildeo na

regiatildeo sudeste e em instituiccedilotildees privadas conforme ilustrado na Figura 4 No ano de 2009 do total

de 359089 docentes no territoacuterio nacional 463 estavam trabalhando na regiatildeo Sudeste e 634

nas instituiccedilotildees privadas As exceccedilotildees aqui ficam por conta da regiatildeo Norte e Nordeste que

tinham respectivamente 11267 e 33937 docentes em IES privadas e 11418 e 36152 em IES

puacuteblicas

0

50000

100000

150000

200000

Norte Nordeste Centro-Oeste

Sudeste Sul

Total docentePrivadasPuacuteblicas

Figura 4 Distribuiccedilatildeo do corpo docente segundo as regiotildees brasileiras em 2009 (INEP 2010)

88

A Tabela 3 traz a distribuiccedilatildeo dos docentes de acordo com a organizaccedilatildeo acadecircmica das

IES e indica maior concentraccedilatildeo nas universidades (535) seguida das faculdades (342) e dos

centros universitaacuterios (103) sendo que nestes dois uacuteltimos satildeo as instituiccedilotildees privadas que

abarcam a maior parte dos professores

Tabela 3

Distribuiccedilatildeo dos docentes nas IES por organizaccedilatildeo acadecircmica e categoria administrativa em 2009

Organizaccedilatildeo

acadecircmica

Nordm docentes Categoria

administrativa

Nordm docentes

Universidade 191981 Puacuteblica 115960

Privada 76021

Centro Universitaacuterio 36952 Puacuteblica 1131

Privada 35821

Faculdade 122795 Puacuteblica 6850

Privada 115945

Instituto Federal 7361 Puacuteblica 7361

Nota Dados retirados do INEP (2010)

Quanto agrave titulaccedilatildeo o Censo da Educaccedilatildeo Superior (INEP 2010) apontou que o quadro

docente das IES brasileiras eacute composto por 27 doutores (92891docentes) 36 mestres

(130614) 29 especialistas (104314) e 8 graduados (31069) Os professores doutores e

mestres estatildeo predominantemente nas universidades enquanto os professores especialistas estatildeo

em sua maioria nas faculdades

Em relaccedilatildeo aos 353775 funcionaacuterios teacutecnico-administrativo que trabalham nas IES 435

tecircm formaccedilatildeo em niacutevel superior (graduaccedilatildeo especializaccedilatildeo mestrado ou doutorado) enquanto

565 natildeo tecircm sequer a graduaccedilatildeo Quanto agrave distribuiccedilatildeo dos funcionaacuterios pelas Instituiccedilotildees de

Educaccedilatildeo Superior 612 concentram-se nas universidades e 273 nas faculdades

Quanto aos cursos oferecidos o Censo destaca trecircs segmentos o ensino de graduaccedilatildeo

presencial o tecnoloacutegico e o a distacircncia No ano de 2009 foram ofertados 27827 cursos de

graduaccedilatildeo presenciais dos quais 8228 em instituiccedilotildees puacuteblicas e 19599 cursos em instituiccedilotildees

privadas Aleacutem disso tambeacutem foram oferecidos 844 cursos a distacircncia 295 cursos sequenciais e

3702 tecnoloacutegicos

Em termos da localizaccedilatildeo das IES responsaacuteveis por esta oferta 10386 cursos

correspondem a IES situadas nas capitais brasileiras e 17441 (627) em cidades do interior o que

aponta para um importante processo de interiorizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior

Os cursos de graduaccedilatildeo presenciais oferecidos nas IES registraram 5115896 matriacuteculas

das quais 498 foram em universidades 356 em faculdades 129 em centros universitaacuterios e

89

17 em institutos federais Apesar de que quantitativamente as faculdades estatildeo em maior

nuacutemero do que os centros universitaacuterios e as universidades satildeo estas uacuteltimas que recebem quase a

metade dos estudantes da Educaccedilatildeo Superior brasileira

Em relaccedilatildeo agrave categoria administrativa das IES nas quais ocorre o maior nuacutemero de

matriacuteculas as instituiccedilotildees privadas em 2009 receberam 736 e as puacuteblicas (incluindo as federais

estaduais e municipais) 264 das matriacuteculas Ademais do total de matriacuteculas 524 se deu no

interior do paiacutes reforccedilando novamente a constataccedilatildeo de que a Educaccedilatildeo Superior brasileira estaacute

cada vez mais avanccedilando para o interior do paiacutes

Os cursos de graduaccedilatildeo a distacircncia constituem-se em uma nova modalidade de ensino em

ampla expansatildeo ainda que cercada de criacuteticas acerca da impossibilidade de substituir a relaccedilatildeo

professor-aluno da inseguranccedila quanto agrave qualidade dos cursos aleacutem das criacuteticas que apontam que

este crescimento eacute desdobramento de estrateacutegias de organismos internacionais como o Banco

Mundial e a Organizaccedilatildeo Mundial do Comeacutercio para favorecer a mercantilizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo

Superior (Segenreich amp Castanheira 2009)

A Tabela 4 mostra a evoluccedilatildeo do nuacutemero de IES que oferecem cursos de graduaccedilatildeo a

distacircncia tomando como base os dados do CensoINEP (2010)

Tabela 4

Evoluccedilatildeo da graduaccedilatildeo a distacircncia

Ano Total IES Cursos Vagas

2002 25 46 24389

2003 38 52 24025

2004 47 107 113079

2005 73 189 423411

2006 77 349 813550

2007 97 408 1541070

2008 115 647 1699489

2009 129 844 1561715

Nota Dados retirados do INEP (2009 2010)

Somente a partir do ano 2000 eacute que o Censo da Educaccedilatildeo Superior incluiu os cursos de

graduaccedilatildeo a distacircncia sendo possiacutevel constatar que a partir 2001 a educaccedilatildeo a distacircncia que era

oferecida em apenas 10 IES expandiu-se para 129 IES O nuacutemero de vagas oferecidas em 2009

chegou a quase o dobro das oferecidas em 2006 contribuindo para que o nuacutemero de matriacuteculas a

distacircncia em 2009 representasse 141 do total das matriacuteculas dos cursos de graduaccedilatildeo incluindo

os presenciais (INEP 2010) Os cursos de graduaccedilatildeo a distacircncia tecircm tido importante crescimento

de forma que em 2009 aumentaram em 304 contra 125 dos cursos presenciais

90

Em relaccedilatildeo aos cursos superiores de tecnologia registrou-se no ano de 2009 a oferta de

3702 cursos Apesar das universidades apresentarem maior crescimento na oferta de vagas em

Educaccedilatildeo Tecnoloacutegica quando se acompanha a evoluccedilatildeo do setor ano a ano as vagas nas

Faculdades ainda satildeo preponderantes A Figura 5 mostra o crescimento dos cursos tecnoloacutegicos no

periacuteodo de 2005 a 2009

237066

325901414822

539651

680679

2005 2006 2007 2008 2009

Figura 5 Evoluccedilatildeo das matriacuteculas nos cursos superiores de tecnologia

Segundo o Censo de 2009 (INEP 2010) o nuacutemero de ingressos em cursos de educaccedilatildeo

tecnoloacutegica apresentou um crescimento de 261 em relaccedilatildeo ao ano de 2008 tendo sido registrado

em todo o setor 680679 matriacuteculas O maior nuacutemero de matriacuteculas foi encontrado nas instituiccedilotildees

privadas seguidas pelas IES federais Os cursos tecnoloacutegicos representavam em 2009 114 das

matriacuteculas da graduaccedilatildeo

O Censo da Educaccedilatildeo Superior em 2009 (INEP 2010) trouxe ainda alguns dados

diferenciados dos anos anteriores como a indicaccedilatildeo dos dez maiores cursos de graduaccedilatildeo tanto

presencial quanto a distacircncia considerando o nuacutemero de matriacuteculas A Figura 6 mostra quais satildeo

esses cursos Metade das matriacuteculas na Educaccedilatildeo Superior brasileira estaacute vinculada a cinco cursos

Administraccedilatildeo Direito Pedagogia Engenharia e Enfermagem

3362628333744

7196109

185

0 1000000 2000000

Outros cursosCiecircncias bioloacutegicasEducaccedilatildeo Fiacutesica

LetrasComunicaccedilatildeo socialCiecircncias contaacutebeis

EnfermagemEngenhariaPedagogia

DireitoAdministraccedilatildeo

Figura 6 Dez maiores cursos de graduaccedilatildeo por matriacuteculas em 2009 (INEP 2010)

91

No que diz respeito agraves vagas oferecidas para novos estudantes ingressarem na Educaccedilatildeo

Superior nas diferentes modalidades em 2009 foram abertas 3164679 vagas nos vestibulares o

que representou aumento de 57 em relaccedilatildeo ao ano anterior contudo a maior oferta de vagas natildeo

representou aumento proporcional do nuacutemero de ingresso pois ao final teve-se 1653291 vagas

ociosas Se de um lado tem-se a taxa de ociosidade nas IES que mostra que o acesso agrave Educaccedilatildeo

Superior natildeo se deu conforme previram as instituiccedilotildees de outro continua elevada a taxa de evasatildeo

de alunos

A anaacutelise dos dados do Censo 2009 (INEP 2010) permite algumas constataccedilotildees A

primeira delas eacute a grandiosidade dos nuacutemeros e a complexidade dos dados os quais refletem um

bom retrato da Educaccedilatildeo Superior brasileira A segunda constataccedilatildeo decorrente da anaacutelise da

evoluccedilatildeo dos dados nos uacuteltimos anos eacute a de que a Educaccedilatildeo Superior estaacute expandindo ainda que

em ritmo decrescente Isto eacute embora a cada ano observe-se que haacute aumento do nuacutemero total de

IES de cursos oferecidos de estudantes e de docentes entretanto esse crescimento natildeo tem sido

tatildeo intenso como em anos anteriores Dessa forma a Educaccedilatildeo Superior brasileira permanece em

expansatildeo mas num ritmo cada vez menor

Outras constataccedilotildees emergem na forma de distorccedilotildees conforme jaacute evidenciou Severino

(2009) apesar de prevalecerem as instituiccedilotildees do tipo faculdade a maioria das matriacuteculas se daacute nas

universidades a ampliaccedilatildeo da oportunidade de acesso representada pelo nuacutemero de vagas

oferecidas natildeo tem significado efetivo acesso agrave Educaccedilatildeo Superior o iacutendice de evasatildeo entre os

alunos em virtude de sua magnitude chega a representar um desperdiacutecio em um paiacutes que tem hoje

menos de 12 da populaccedilatildeo na Educaccedilatildeo Superior e que almeja alcanccedilar ateacute 2010 30 (Brasil

2001)

Ainda que a graduaccedilatildeo seja o nuacutecleo central da Educaccedilatildeo Superior brasileira a poacutes-

graduaccedilatildeo tambeacutem compotildee a realidade deste niacutevel educativo e portanto seraacute brevemente

apresentada a seguir Os cursos de poacutes-graduaccedilatildeo no Brasil dividem-se em dois niacuteveis o lato sensu

e o stricto sensu O primeiro corresponde agraves especializaccedilotildees e o segundo engloba programas de

mestrado e doutorado voltados agrave formaccedilatildeo cientiacutefica e acadecircmica e ligados agrave pesquisa aleacutem dos

mestrados profissionais com ecircnfase na aplicabilidade teacutecnica dos conhecimentos Enquanto as

especializaccedilotildees natildeo se submetem agrave avaliaccedilatildeo sistemaacutetica os cursos stricto sensu satildeo regularmente

acompanhados pela Coordenaccedilatildeo de Aperfeiccediloamento de Pessoal de Niacutevel Superior (CAPES)

oacutergatildeo do MEC que o subsidia na formulaccedilatildeo de poliacuteticas e no desenvolvimento de atividades de

suporte ao desenvolvimento cientiacutefico e tecnoloacutegico do paiacutes e agrave formaccedilatildeo de profissionais para a

Educaccedilatildeo Baacutesica e Superior

As atividades da CAPES podem ser agrupadas em quatro grandes linhas de accedilatildeo a saber

avaliaccedilatildeo da poacutes-graduaccedilatildeo stricto sensu acesso e divulgaccedilatildeo da produccedilatildeo cientiacutefica

investimentos na formaccedilatildeo de recursos de alto niacutevel no paiacutes e exterior e promoccedilatildeo da cooperaccedilatildeo

cientiacutefica internacional (CAPES 2009b)

92

O Sistema de Avaliaccedilatildeo da Poacutes-Graduaccedilatildeo foi implantado pela Capes em 1976 e desde

entatildeo tem cumprido importante papel no desenvolvimento da poacutes-graduaccedilatildeo e da pesquisa

cientiacutefica e tecnoloacutegica no Brasil (CAPES 2009a) O Sistema abrange dois processos a Avaliaccedilatildeo

das Propostas de Cursos Novos e a Avaliaccedilatildeo dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo Ao avaliar os

pedidos de novos cursos a CAPES verifica sua qualidade em termos de atendimento ao padratildeo de

qualidade requerido os cursos aprovados passam a integrar o Sistema Nacional de Poacutes-Graduaccedilatildeo

(SNPG) e a ter suas atividades sistematicamente acompanhadas e avaliadas pela Capes A

Avaliaccedilatildeo dos Programas de Poacutes-Graduaccedilatildeo por sua vez compreende os processos de

Acompanhamento Anual e de Avaliaccedilatildeo Trienal do desempenho dos programas e cursos que

integram o SNPG Os dois processos estatildeo alicerccedilados em um mesmo conjunto de princiacutepios

diretrizes e normas de forma que compotildeem um soacute sistema de avaliaccedilatildeo (CAPES 2009a)

Conforme informaccedilotildees do GeoCapes (CAPES 2011) uma ferramenta de dados

georreferencial da CAPES ou em outras palavras uma base de dados que traz informaccedilotildees de

acordo com a localizaccedilatildeo geograacutefica os nuacutemeros da poacutes-graduaccedilatildeo nacional estatildeo organizados

segundo nove grandes aacutereas do conhecimento humano Ciecircncias da Sauacutede Ciecircncias Humanas

Ciecircncias Sociais Aplicadas Ciecircncias Agraacuterias Ciecircncias Exatas e da Terra Ciecircncias Bioloacutegicas

Engenharias Linguiacutestica Letras e Artes e Multidisciplinar Dentro destas nove aacutereas estatildeo

organizados os 2718 programas de poacutes-graduaccedilatildeo brasileiros sendo que a maioria (508)

corresponde a programas de mestradodoutorado Em relaccedilatildeo agrave categoria administrativa das IES

nas quais estes programas estatildeo localizados 80 satildeo de natureza puacuteblica A Tabela 5 apresenta a

evoluccedilatildeo dos programas no periacuteodo de 2003 a 2009

Tabela 5

Evoluccedilatildeo dos programas de poacutes-graduaccedilatildeo

Ano Mestrado Doutorado MestrDout Mest Prof Total

2004 760 32 1022 116 1930

2005 830 33 1063 132 2058

2006 924 39 1146 157 2266

2007 981 37 1207 184 2409

2008 1030 36 1284 218 2568

2009 1054 40 1381 243 2718

Nota Dados retirados da CAPES (2011)

Observa-se que a poacutes-graduaccedilatildeo de forma geral vem apresentando um crescimento

contiacutenuo nos uacuteltimos anos A oferta da poacutes-graduaccedilatildeo em 2009 atendeu a um universo de

1561068 alunos dos quais 577 cursavam o mestrado 36 o doutorado e 63 o mestrado

profissional Em relaccedilatildeo agrave natureza juriacutedica das Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior nas quais estes

93

alunos estatildeo matriculados 533 estudavam em instituiccedilotildees puacuteblicas especificamente as federais

seguida das estaduais (288) das particulares (174) e por fim das municipais (05)

Em relaccedilatildeo aos professores-pesquisadores a CAPES (2011) aponta em 2009 a existecircncia

de 57251 docentes vinculados agrave poacutes-graduaccedilatildeo os quais trabalham em caraacuteter permanente (787)

em sua maioria ou como colaboradores e visitantes 199 e 14 respectivamente Em

consonacircncia com a prevalecircncia de programas de poacutes-graduaccedilatildeo vinculados a instituiccedilotildees puacuteblicas

85 dos docentes estatildeo nestas IES

Os dados apresentados nesta seccedilatildeo permitem uma noccedilatildeo geral de como estaacute composto e

organizado o cenaacuterio da Educaccedilatildeo Superior brasileira Um primeiro ponto a ser destacado refere-se

ao crescimento do setor como um todo o qual vem sendo impulsionado pelo aumento de IES que

oferecem cursos de graduaccedilatildeo como tambeacutem pelo aumento de programas e cursos de poacutes-

graduaccedilatildeo Aspecto positivo dessa dupla expansatildeo eacute a ampliaccedilatildeo da oportunidade de continuidade

da formaccedilatildeo acadecircmica possiacutevel a partir da oferta de cursos nos diferentes niacuteveis graduaccedilatildeo

mestrado e doutorado Ainda que se possa questionar a funccedilatildeo que em muitos casos estaacute sendo

atribuiacuteda aos cursos de mestrado e doutorado ndash a de complementaccedilatildeo da graduaccedilatildeo de maacute

qualidade - natildeo eacute possiacutevel negar que o maior nuacutemero de programas de poacutes-graduaccedilatildeo tambeacutem

oportuniza a formaccedilatildeo de um quadro de pesquisadores e docentes mais qualificados Contudo

ainda que se reconheccedila um destacado processo de expansatildeo natildeo se pode afirmar que tal fenocircmeno

tem realmente possibilitado maior acesso e permanecircncia na Educaccedilatildeo Superior

No acircmbito internacional a UNESCO (1999) reconhece que o desenvolvimento ocorrido na

Educaccedilatildeo Superior nos uacuteltimos 25 anos eacute de expansatildeo quantitativa marcada pelo crescimento das

matriacuteculas de estudantes ainda que existam diferenccedilas significativas entre paiacuteses e regiotildees

Este mesmo organismo identifica alguns fatores que tecircm contribuiacutedo para essa expansatildeo

quantitativa o crescimento demograacutefico o maior alcance da educaccedilatildeo baacutesica (educaccedilatildeo infantil

ensino fundamental e ensino meacutedio) o que significa que mais jovens estatildeo habilitados a ingressar

na Educaccedilatildeo Superior o crescimento econocircmico vivenciado em muitos paiacuteses e a consciecircncia de

que este crescimento estaacute relacionado com o investimento na Educaccedilatildeo Superior Cita tambeacutem o

surgimento de paiacuteses independentes e democraacuteticos que vecircm a Educaccedilatildeo Superior como

instrumento-chave para seu desenvolvimento econocircmico e para as mudanccedilas sociais culturais e

poliacuteticas que iratildeo remover a heranccedila do colonialismo bem como a identificaccedilatildeo da Educaccedilatildeo

Superior como um recurso para criar uma identidade nacional (UNESCO 1999)

A despeito da semelhanccedila em termos de crescimento nos dois niacuteveis da Educaccedilatildeo Superior

a graduaccedilatildeo tem se expandido principalmente via instituiccedilotildees privadas enquanto na poacutes-

graduaccedilatildeo quem impulsiona o crescimento satildeo as instituiccedilotildees puacuteblicas Neste niacutevel a rede privada

recebe somente 18 das matriacuteculas contra 74 da graduaccedilatildeo puacuteblica

Apesar da graduaccedilatildeo e da poacutes-graduaccedilatildeo se constituiacuterem sobre especificidades proacuteprias de

cada niacutevel as informaccedilotildees de ambas permitem que se visualize como o cenaacuterio da Educaccedilatildeo

94

Superior brasileira estaacute composto atualmente o qual sob diferentes aspectos pode ser objeto de

intervenccedilatildeo da Psicologia Escolar Pode-se mencionar por exemplo a participaccedilatildeo do psicoacutelogo

escolar na proposiccedilatildeo e mediaccedilatildeo de discussotildees relativas ao crescimento quantitativo da Educaccedilatildeo

Superior e as implicaccedilotildees que esse fenocircmeno traz em termos da diversificaccedilatildeo do perfil discente

das estrateacutegias governamentais e institucionais que contribuam para que os alunos concluam com

qualidade seus cursos dos criteacuterios avaliativos estabelecidos e que demandam reorganizaccedilatildeo por

parte das instituiccedilotildees entre outros Conhecer de maneira aprofundada a realidade da Educaccedilatildeo

Superior eacute fundamental para que as accedilotildees dos psicoacutelogos escolares se coadunem agraves exigecircncias e

desafios que se apresentam agraves instituiccedilotildees e aos seus profissionais e assim possam trazer impactos

positivos agrave formaccedilatildeo pessoal e profissional dos estudantes

Questotildees Atuais na Educaccedilatildeo Superior

Frente ao atual cenaacuterio da Educaccedilatildeo Superior brasileira diversas poliacuteticas puacuteblicas tecircm

buscado potencializar o alcance e a qualidade da formaccedilatildeo em niacutevel superior Estas poliacuteticas tecircm

focalizado a organizaccedilatildeo pedagoacutegica e curricular dos cursos a qualificaccedilatildeo do corpo docente

responsaacutevel por mediar a formaccedilatildeo discente a adequaccedilatildeo das instalaccedilotildees fiacutesicas necessaacuterias ao

desenvolvimento das atividades acadecircmicas a maior articulaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior com a

Educaccedilatildeo Baacutesica especialmente mediante a formaccedilatildeo de professores para esta uacuteltima a

flexibilizaccedilatildeo das praacuteticas pedagoacutegicas com vistas a alcanccedilar o maior nuacutemero de alunos os

processos de avaliaccedilatildeo institucional e pedagoacutegica que subsidiam a constante reformulaccedilatildeo das IES

e de suas praacuteticas administrativas e acadecircmicas as estrateacutegias de inserccedilatildeo e manutenccedilatildeo dos

estudantes na Educaccedilatildeo Superior entre outras

Na tentativa de ilustrar as accedilotildees recentes que vecircm sendo implantadas seratildeo expostas a

seguir algumas tendecircncias e iniciativas no campo da Educaccedilatildeo Superior

Processos de Ampliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior Brasileira Segundo o comunicado da

Conferecircncia Mundial da UNESCO sobre Educaccedilatildeo Superior realizada em julho de 2009 a

ampliaccedilatildeo do acesso a este niacutevel educativo tem se tornado uma prioridade na maioria dos paiacuteses de

forma que se tem aumentado o nuacutemero de estudantes neste niacutevel Contudo apesar do crescimento

em termos de nuacutemeros de IES e de vagas disponiacuteveis a Conferecircncia (UNESCO 2009) tambeacutem

ressaltou que pensar em equidade eacute considerar mais que a questatildeo de acesso Para aleacutem da entrada

no sistema deve-se voltar para a promoccedilatildeo de uma participaccedilatildeo e conclusatildeo bem-sucedida dos

estudos aleacutem da preocupaccedilatildeo com o bem-estar dos alunos Para tanto a Conferecircncia (UNESCO

2009) pontua que eacute preciso propiciar suporte financeiro e educacional adequados aos estudantes

pobres e de comunidades tradicionalmente excluiacutedas

Com vistas a implantar accedilotildees que deem conta de ampliar o acesso agrave Educaccedilatildeo Superior

algumas medidas veem sendo tomadas pelo atual governo brasileiro como por exemplo o Plano

95

Nacional de Educaccedilatildeo (PNE) de 2001 o Plano de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo (PDE) de 2007

e alguns programas especiais como o ProUni e o REUNI

No iniacutecio da deacutecada atual foi aprovado pelo governo do presidente Luiacutes Inaacutecio Lula da

Silva a Lei 10172 que institui o Plano Nacional de Educaccedilatildeo (Brasil 2001) com duraccedilatildeo de dez

anos Os principais objetivos do PNE satildeo elevar o niacutevel de escolaridade da populaccedilatildeo melhorar a

qualidade do ensino em todos os niacuteveis reduzir as desigualdades sociais e regionais no tocante ao

acesso e agrave permanecircncia na educaccedilatildeo puacuteblica e democratizar a gestatildeo do ensino puacuteblico

No que toca agrave Educaccedilatildeo Superior o PNE faz um retrospecto da crescente demanda neste

niacutevel sua expansatildeo nos uacuteltimos anos dada especialmente pelo setor privado e ainda assim o

baixo iacutendice de acesso quando comparado a outros paiacuteses da Ameacuterica Latina A partir desse

diagnoacutestico o PNE propotildee 35 objetivos e metas agrave Educaccedilatildeo Superior brasileira entre os quais

destacam-se ampliar a oferta para pelo menos 30 da populaccedilatildeo de 18 a 24 anos estabelecer

uma poliacutetica de expansatildeo para diminuir as desigualdades regionais constituir um sistema interativo

de educaccedilatildeo a distacircncia institucionalizar um sistema de avaliaccedilatildeo interna e externa que promova

melhoria da qualidade do ensino pesquisa extensatildeo e gestatildeo acadecircmica (Brasil 2001)

Em 2007 o governo lanccedilou o Plano de Desenvolvimento da Educaccedilatildeo (Brasil 2007c) com

uma seacuterie de medidas que tentam melhorar o desempenho das instituiccedilotildees educativas nos diferentes

niacuteveis Enquanto o Plano Nacional de Educaccedilatildeo apresentou um diagnoacutestico dos problemas

educacionais e diretrizes gerais para modificar o quadro o PDE por sua vez estabeleceu accedilotildees a

serem tomadas para a melhoria da qualidade da educaccedilatildeo As duas metas principais em relaccedilatildeo agrave

Educaccedilatildeo Superior foram a ampliaccedilatildeo do acesso e a articulaccedilatildeo entre os programas de

financiamento (Severino 2008)

Uma das accedilotildees propostas no PDE refere-se ao Programa de Apoio a Planos de

Reestruturaccedilatildeo e Expansatildeo das Universidades Federais Brasileiras (Reuni) instituiacutedo pelo Decreto

6096 (Brasil 2007a) com o objetivo de criar condiccedilotildees para a ampliaccedilatildeo do acesso e permanecircncia

na graduaccedilatildeo por meio do melhor aproveitamento da estrutura fiacutesica e dos recursos humanos

existentes nas universidades federais Segundo o PDE (Brasil 2007c) o Reuni ldquotem como fim

imediato o aumento das vagas de ingresso e a reduccedilatildeo das taxas de evasatildeo nos cursos presenciais

de graduaccedilatildeordquo (p 27)

As principais diretrizes do Reuni estatildeo explicitadas em seis dimensotildees ampliaccedilatildeo da oferta

da Educaccedilatildeo Superior puacuteblica reestruturaccedilatildeo acadecircmico-curricular renovaccedilatildeo pedagoacutegica

mobilidade intra e interinstitucional compromisso social da instituiccedilatildeo e suporte da poacutes-graduaccedilatildeo

ao desenvolvimento e aperfeiccediloamento qualitativo dos cursos de graduaccedilatildeo As universidades que

aderirem ao REUNI devem apresentar planos que viabilizem o cumprimento destas metas para o

periacuteodo de cinco anos e como contrapartida essas instituiccedilotildees federais receberatildeo tambeacutem em

cinco anos ateacute 20 a mais sobre o total de recursos correspondentes a despesas de pessoal custeio

e capital

96

De forma geral os objetivos traccedilados pelo REUNI satildeo coerentes agrave realidade da Educaccedilatildeo

Superior brasileira e buscam atender a necessidade de aumentar e melhorar suas condiccedilotildees de

acesso e de oferta contudo a maneira como o Programa foi implantado pelas IES e a real

possibilidade de alcanccedilar as metas estabelecidas geraram criacuteticas e inquietaccedilotildees O Programa

enfrentou resistecircncia por parte de diretoacuterios acadecircmicos movimentos estudantis e associaccedilotildees de

docentes contraacuterios a essa nova poliacutetica tendo havido inclusive ocupaccedilotildees de reitorias em

diversas universidades no paiacutes Em relaccedilatildeo agrave adesatildeo ao REUNI os docentes e discentes

especialmente queixam-se que o projeto natildeo foi suficientemente discutido com a comunidade

acadecircmica

Em relaccedilatildeo agraves metas propostas pelo REUNI como o aumento da taxa de conclusatildeo para

90 e da relaccedilatildeo professor-aluno de 118 em cursos presenciais de graduaccedilatildeo docentes e discentes

questionam a viabilidade de realizaacute-las a contento e principalmente garantindo a necessaacuteria

qualidade A taxa de conclusatildeo de 90 eacute indicada como praticamente impossiacutevel de ser alcanccedilada

considerando que nos paiacuteses de desenvolvimento industrial avanccedilado a meacutedia eacute de 70 Jaacute a

relaccedilatildeo professor aluno de 118 cuja meacutedia atual eacute de cerca de 1145 ocasiona a sobrecarga dos

professores que nas universidades brasileiras natildeo se ocupam apenas do ensino na graduaccedilatildeo

Dessa forma uma das criacuteticas dirigidas ao REUNI eacute a duacutevida sobre a manutenccedilatildeo da qualidade da

educaccedilatildeo em virtude da expansatildeo do nuacutemero de vagas que muitas vezes eacute realizada agrave custa do

aumento do nuacutemero de alunos por turma e da sobrecarga dos professores

Outra criacutetica dirigida ao REUNI diz respeito agrave preocupaccedilatildeo sobre como as universidades

iratildeo cumprir as metas estabelecidas jaacute que o artigo 3ordm paraacutegrafo 3ordm do Decreto nordm 6096 (Brasil

2007a) estipula que ldquoo atendimento dos planos eacute condicionado agrave capacidade orccedilamentaacuteria e

operacional do Ministeacuterio da Educaccedilatildeordquo Para os criacuteticos ao Programa isso significa que a verba

destinada agraves universidades natildeo eacute garantida jaacute que podem ampliar o nuacutemero de alunos e de repente

natildeo ter mais como mantecirc-los

Outra accedilatildeo do PDE diz respeito agrave expansatildeo do acesso agrave Educaccedilatildeo Superior privada Para

tanto propotildeem a articulaccedilatildeo entre estrateacutegias de financiamento especificamente o Fundo de

Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (FIES) e o programa de bolsas de estudo

consubstanciado no Programa Universidade para Todos (ProUni) Este programa instituiacutedo pela

Lei 11096 (Brasil 2005b) tem como finalidade conceder bolsas de estudo integrais e parciais em

cursos de graduaccedilatildeo e sequenciais de formaccedilatildeo especiacutefica para alunos de IES privadas O

programa eacute direcionado para estudantes egressos do ensino meacutedio da rede puacuteblica ou bolsistas

integrais da rede particular que tenham renda per capita familiar de ateacute trecircs salaacuterios miacutenimos Em

contrapartida agraves bolsas as IES que aderem ao ProUni tecircm isenccedilatildeo de alguns tributos

Segundo o MEC (2009) o ProUni ofertou no primeiro semestre de 2009 156416 bolas

das quais 95694 foram integrais Para o segundo semestre do mesmo ano foram ofertadas 57432

97

bolsas integrais e 33795 parciais que totalizam 91227 bolsas para estudantes da rede privada de

Educaccedilatildeo Superior

Apesar dos expressivos nuacutemeros apresentados pelo governo na intenccedilatildeo de evidenciar o

papel do ProUni na ampliaccedilatildeo das oportunidades de acesso agrave Educaccedilatildeo Superior criacuteticas tecircm sido

feitas a este programa Catani Hey e Gilioli (2006) por exemplo argumentam que o programa

ldquopromove uma poliacutetica puacuteblica de acesso agrave educaccedilatildeo superior pouco se preocupando com a

permanecircncia dos estudantes elemento fundamental para sua democratizaccedilatildeordquo (p 126) Por essa

razatildeo dizem que o ProUni se orienta por uma concepccedilatildeo assistencialista que oferece benefiacutecios e

natildeo direitos aos bolsistas

Carvalho (2006) reforccedila a necessidade de questionar a efetividade do ProUni uma vez que

as camadas de baixa renda para as quais o programa estaacute direcionado precisam de outras

condiccedilotildees que estatildeo aleacutem da gratuidade integral ou parcial dos estudos Precisam por exemplo de

transporte moradia estudantil bolsas de pesquisa e outros

Vecirc-se que o atual Governo brasileiro estaacute desenvolvendo accedilotildees que tecircm como meta dar

conta da ampliaccedilatildeo do acesso agrave Educaccedilatildeo Superior Ainda que se critique a intencionalidade e a

operacionalizaccedilatildeo de tais accedilotildees elas veem possibilitando que parte da populaccedilatildeo vislumbre a

possibilidade de fazer um curso em niacutevel superior

Modalidades em Educaccedilatildeo Superior EAD e cursos tecnoloacutegicos Conforme apresentado

na seccedilatildeo ldquoA atual estrutura e funcionamento da Educaccedilatildeo Superior brasileirardquo nos uacuteltimos anos

tem-se presenciado um crescimento significativo de dois segmentos educativos a educaccedilatildeo a

distacircncia (EAD) e os cursos superiores de tecnologia os quais ldquoconstituem as novas meninas-dos-

olhos da poliacutetica educacional do momentordquo (Severino 2009 p 255) Dada a crescente expansatildeo

desses segmentos e o impacto que tecircm na conformaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior brasileira

especialmente em termos de ampliaccedilatildeo de acesso e qualidade da formaccedilatildeo oferecida fazem-se

algumas consideraccedilotildees

Os cursos e programas oferecidos pela Educaccedilatildeo Superior podem se desenvolver na

modalidade presencial ou a distacircncia sendo que neste uacuteltimo caso devem ser projetados com a

mesma duraccedilatildeo que os respectivos cursos presenciais De acordo com o Decreto nordm 56222005 que

versa sobre a educaccedilatildeo a distacircncia ela eacute caracterizada como ldquomodalidade educacional na qual a

mediaccedilatildeo didaacutetico-pedagoacutegica nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilizaccedilatildeo de

meios e tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo com estudantes e professores desenvolvendo

atividades educativas em lugares ou tempos diversosrdquo (Brasil 2005a art 1ordm)

No periacuteodo de cinco anos 2002 a 2007 a EAD cresceu acentuadamente tal que o nuacutemero

de vagas oferecidas (tendo como referecircncia os dados de 2007) eacute aproximadamente 63 vezes maior

do que o nuacutemero de vagas existentes em 2002 Uma forte razatildeo para a expansatildeo da educaccedilatildeo a

distacircncia no acircmbito da Educaccedilatildeo Superior estaacute relacionada ao processo que foi desencadeado a

98

partir da LDB (Brasil 1996) que estabeleceu em seu artigo 80 que o Poder Puacuteblico incentivaria o

desenvolvimento e a veiculaccedilatildeo de programas de ensino a distacircncia em todos os niacuteveis e

modalidades de ensino

O processo de crescimento da EAD se deu inicialmente pelas instituiccedilotildees puacuteblicas mas a

partir de 2002 foram as instituiccedilotildees privadas que tiveram forte participaccedilatildeo em tal crescimento

(Dourado 2008 Giolo 2008 2010 Segenreich amp Castanheira 2009) Especialmente a partir do

momento que a expansatildeo da modalidade presencial vivenciou uma progressiva diminuiccedilatildeo a

educaccedilatildeo a distacircncia se tornou uma preferecircncia na iniciativa privada Assim ldquoem vez de ser uma

modalidade de ensino capaz de ampliar o raio de atuaccedilatildeo da educaccedilatildeo superior para aleacutem da esfera

abrangida pela educaccedilatildeo presencial tornou-se concorrente da presencialrdquo (Giolo 2008 pp 1217-

1218) de maneira especial para certos cursos em que a EAD foi possiacutevel praticar preccedilos mais

baixos oferecer facilidades ligadas ao tempo ao espaccedilo e aos meacutetodos de aprendizagem

Segundo os autores a educaccedilatildeo a distacircncia deixa de ser uma das modalidades de educaccedilatildeo

e passar a ser um negoacutecio rentaacutevel Estando influenciada pelos interesses econocircmicos pela

rentabilidade a educaccedilatildeo a distacircncia que deveria se estender a todos os niacuteveis e modalidades

educativas teve sua atenccedilatildeo fixada nos cursos de graduaccedilatildeo principalmente naqueles de faacutecil

oferta como Pedagogia Normal Superior Administraccedilatildeo e cursos superiores de Tecnologia em

Gestatildeo (Giolo 2008)

Aleacutem da educaccedilatildeo a distacircncia ser uma importante estrateacutegia para ampliar as possibilidades

de acesso agrave Educaccedilatildeo Superior (especialmente em aacutereas isoladas dos grandes centros urbanos

responsaacuteveis por responder pela maior demanda existente) e cumprir as metas expansionistas

propostas pelo Governo outro importante motivo relacionado ao crescimento da EAD no paiacutes eacute a

preocupaccedilatildeo e o investimento na formaccedilatildeo de professores para a educaccedilatildeo baacutesica vista como

fundamental agrave melhoria da qualidade da educaccedilatildeo brasileira Nesse cenaacuterio o Ministeacuterio da

Educaccedilatildeo criou em 2005 o Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB) com accedilotildees

direcionadas agrave educaccedilatildeo baacutesica e a formaccedilatildeo de professores A UAB foi constituiacuteda mediante a

articulaccedilatildeo entre instituiccedilotildees puacuteblicas de Educaccedilatildeo Superior estados e municiacutepios brasileiros com

a intenccedilatildeo de promover atraveacutes da metodologia da educaccedilatildeo a distacircncia acesso a Educaccedilatildeo

Superior para camadas excluiacutedas da populaccedilatildeo

Os cursos oferecidos pelo programa UAB possuem foco na formaccedilatildeo de professores e

administraccedilatildeo puacuteblica e tecircm como objetivo atender professores da rede puacuteblica de ensino baacutesico

para melhorar suas qualificaccedilotildees e a qualidade do ensino nas regiotildees atendidas por poacutelos da UAB

Os cursos satildeo oferecidos por Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior que os ministram a distacircncia

havendo poacutelos localizados em municiacutepios estrateacutegicos que funcionam como ponto de apoio

presencial aos alunos

Em que pese a contribuiccedilatildeo da modalidade de educaccedilatildeo a distacircncia agrave ampliaccedilatildeo das

oportunidades de acesso agrave formaccedilatildeo em niacutevel superior uma das principais criacuteticas direcionadas a

99

ela e em especial aos programas que tecircm como foco a formaccedilatildeo de professores para a educaccedilatildeo

baacutesica relaciona-se agrave sua impossibilidade de substituir a relaccedilatildeo professor-aluno inerente agrave

modalidade presencial (Giolo 2008 2010 Segenreich 2006) Em anaacutelise acerca da efetiva

contribuiccedilatildeo da EAD na formaccedilatildeo de professores Silva Juacutenior (2003) destaca que o processo

educativo eacute uma esfera social de formaccedilatildeo humana que se realiza no acircmbito das relaccedilotildees sociais e

por ser assim natildeo pode prescindir das praacuteticas humanas especiacuteficas Contrariamente a esta noccedilatildeo a

EAD mediada por tecnologias de informaccedilatildeo e comunicaccedilatildeo reduz as possibilidades dos sujeitos

vivenciarem a praacutetica educativa com todas as implicaccedilotildees contradiccedilotildees e discussotildees que lhe satildeo

inerentes

O processo de formaccedilatildeo acontece nas trocas que se estabelecem na praacutetica social repleta

de desejos sentimentos e valores Para Silva Juacutenior (2003) no processo de ensino-aprendizagem

oportunizado pela educaccedilatildeo a distacircncia ldquoo sujeito parece ser colocado em plano secundaacuterio numa

posiccedilatildeo passiva sem que tenha a oportunidade de enfrentar o conflito a contradiccedilatildeo e a tensatildeo

intriacutensecos a qualquer processo formativordquo (p 92) Complementando este entendimento Giolo

(2008) pontua que o que estaacute em pauta quanto se trata de formaccedilatildeo de professores a distacircncia eacute que

estes estatildeo sendo formados para a docecircncia presencial e natildeo a distacircncia sem entretanto terem

aprendido pelo conjunto de experiecircncias que a formaccedilatildeo presencial oportuniza

Natildeo se trata somente de conferir se a educaccedilatildeo a distacircncia consegue ser igual agrave presencial

naquilo que se propotildee a fazer Posto que nesse terreno haacute ainda muito para ser analisado e

pesado existe outro ponto que precisa ser esclarecido o que a educaccedilatildeo a distacircncia se

propotildee a fazer eacute tudo o que se deve esperar de um processo educacional (Giolo 2010 p

1287)

Seja na modalidade presencial ou a distacircncia os objetivos da Educaccedilatildeo Superior para a

formaccedilatildeo de cidadatildeos e profissionais satildeo os mesmos aplicar com criticidade e responsabilidade o

conhecimento adquirido favorecer a construccedilatildeo de posturas autocircnomas e reflexivas contribuir para

o desenvolvimento do espiacuterito criacutetico e empreendedor promover formas alternativas e claras de se

comunicar assumir compromisso com a produccedilatildeo de conhecimento e com a transformaccedilatildeo social

Diante dos proacutes e contras em torno da EAD em especial da formaccedilatildeo de professores a

distacircncia eacute necessaacuterio repensar o direcionamento das poliacuteticas voltadas agrave educaccedilatildeo a distacircncia pois

que ainda que amplie as possibilidades de acesso e oportunize a formaccedilatildeo de maior nuacutemero de

profissionais a avaliaccedilatildeo da real contribuiccedilatildeo dessa modalidade educativa deve estar baseada num

padratildeo de qualidade socialmente referenciado isto eacute uma oportunidade de inclusatildeo e ao mesmo

tempo de efetiva e qualificada formaccedilatildeo pessoal e profissional

Em relaccedilatildeo aos cursos superiores de tecnologia eles natildeo satildeo uma criaccedilatildeo da LDB (Brasil

1996) pois jaacute existiram e foram extintos (como eacute o caso dos cursos de engenharia de operaccedilatildeo) ou

ainda existem como cursos de formaccedilatildeo de tecnoacutelogos (Segenreich amp Castanheira 2009) A

novidade fica por parte da inclusatildeo dos cursos tecnoloacutegicos entre os cursos de graduaccedilatildeo com

100

todas as prerrogativas de acesso aos niacuteveis mais elevados da formaccedilatildeo em niacutevel superior como a

poacutes-graduaccedilatildeo lato e stricto sensu Desde suas origens a educaccedilatildeo tecnoloacutegica foi contaminada por

um clima de preconceito devido agrave sua associaccedilatildeo a uma educaccedilatildeo profissional de caraacuteter moralista

e assistencialista voltada agraves classes menos favorecidas da sociedade (Takahashi 2010 Takahashi

amp Amorim 2008)

Entendendo que a educaccedilatildeo para o trabalho natildeo se restringe agrave formaccedilatildeo profissional de

pessoas pertencentes aos estratos menos favorecidos das classes socioeconocircmicas e tambeacutem em

atenccedilatildeo agraves modernas exigecircncias do setor produtivo que demandam dos trabalhadores competecircncias

de mobilidade flexibilidade e criatividade permanentes desenrolaram-se discussotildees anaacutelises e

propostas para os cursos de educaccedilatildeo profissional de niacutevel tecnoloacutegico A partir desse processo a

educaccedilatildeo profissional especialmente a de niacutevel tecnoloacutegico foi reestruturada tendo lhe sido

atribuiacutedo pela Resoluccedilatildeo nordm 032002 o objetivo de ldquogarantir aos cidadatildeos o direito agrave aquisiccedilatildeo de

competecircncias profissionais que os tornem aptos para a inserccedilatildeo em setores profissionais nos quais

haja utilizaccedilatildeo de tecnologiasrdquo (p 1) Esta mesma resoluccedilatildeo estabeleceu que os cursos de educaccedilatildeo

profissional de niacutevel tecnoloacutegico seriam a partir de entatildeo designados como cursos superiores de

tecnologia

Sendo considerados de niacutevel superior os cursos de tecnologia tambeacutem devem ser

estruturados agrave luz das Diretrizes Curriculares Nacionais as quais tiveram como desafio romper

com o preconceito atribuiacutedo agrave educaccedilatildeo profissional e propor uma educaccedilatildeo profissional de niacutevel

superior que natildeo seja apenas uma educaccedilatildeo teacutecnica de niacutevel mais elevado Em 2002 foram

definidas as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educaccedilatildeo Profissional de Niacutevel

Tecnoloacutegico (Parecer nordm 292002a)

A principal diferenccedila entre os cursos tradicionais de graduaccedilatildeo e os cursos superiores de

tecnologia estaacute na proposta de cada um sendo que estes uacuteltimos tecircm uma proposta especificamente

voltada ao atendimento da demanda do mercado de trabalho por especialistas em diferentes aacutereas

do conhecimento

Segundo Takahashi e Amorim (2008) e Takahashi (2010) os principais atributos da

Educaccedilatildeo Tecnoloacutegica satildeo o foco a rapidez a inserccedilatildeo no mercado de trabalho e a metodologia O

foco estaacute relacionado agrave ecircnfase na formaccedilatildeo de profissionais qualificados para atender necessidades

especiacuteficas do mundo do trabalho a rapidez se daacute pela carga horaacuteria reduzida dos cursos e como

consequecircncia sua menor duraccedilatildeo dois ou trecircs anos a raacutepida e faacutecil inserccedilatildeo no mercado decorre

do fato dos cursos estarem pautados em demandas oriundas desse contexto e que portanto

necessitam de novos profissionais e por fim a metodologia que eacute bastante centrada em propostas

vinculadas agrave praacutetica

Em virtude deste conjunto de caracteriacutesticas os cursos superiores de tecnologia tecircm

vivenciado um forte crescimento No periacuteodo de 2002 a 2007 (INEP 2009) o nuacutemero de cursos

ofertados nesta modalidade subiu de 636 para 3702 o que significa que a oferta quintuplicou no

101

referido periacuteodo O nuacutemero de vagas abertas em 2007 cresceu em 236 em relaccedilatildeo a 2006 e assim

como ocorre em relaccedilatildeo agrave educaccedilatildeo a distacircncia as IES privadas satildeo as principais responsaacuteveis pela

maior oferta de cursos tecnoloacutegicos mais de 90 no ano de 2007

Ainda que o crescimento da Educaccedilatildeo Tecnoloacutegica esteja contribuindo para propiciar a

expansatildeo da Educaccedilatildeo Superior eacute preciso estar alerta ao risco de que esta modalidade educativa

venha a se vincular sobremaneira com o setor produtivo formando profissionais tecnicamente

competentes que dominam as exigecircncias operacionais relacionadas a determinadas praacuteticas sem

entretanto formarem sujeitos criticamente preocupados com a realidade social e a transformaccedilatildeo

do contexto no qual estatildeo inseridos

Pode-se verificar que os novos cursos tecnoloacutegicos e a educaccedilatildeo a distacircncia estatildeo

expandindo gradativamente seu campo de atuaccedilatildeo Se por um lado representam maior

possibilidade de acesso agrave Educaccedilatildeo Superior e de desenvolvimento pessoal e profissional por

outro trazem preocupaccedilotildees quanto agrave qualidade da formaccedilatildeo que estatildeo oferecendo Tendo um

percurso ainda recente ambas as modalidades precisam ser acompanhadas nos proacuteximos anos de

forma a avaliar sua pertinecircncia frente ao paiacutes que se quer construir

Inovaccedilotildees Curriculares e Pedagoacutegicas A inovaccedilatildeo curricular eacute uma possibilidade recente

no cenaacuterio educacional brasileiro resultante da alteraccedilatildeo de uma poliacutetica educacional centralizada

(Pereira 2009b) A centralizaccedilatildeo do sistema educativo enquadrava as instituiccedilotildees e cursos sob um

nuacutecleo comum com pouca flexibilidade amarrava a educaccedilatildeo nos seus diferentes niacuteveis a um

formalismo que natildeo permitia autonomia frente agrave organizaccedilatildeo curricular A partir da promulgaccedilatildeo

da atual LDB em 1996 eacute que se abriu a possibilidade de flexibilizar os curriacuteculos e atender agraves

particularidades de cada instituiccedilatildeo

Diante da possibilidade de modificar e criar novas organizaccedilotildees curriculares e pedagoacutegicas

a inovaccedilatildeo educacional natildeo ocorre apenas pela alteraccedilatildeo de uma estrutura jaacute existente No

contexto educativo tal conceito estaacute vinculado agrave reflexatildeo acerca dos objetivos atribuiacutedos agrave

educaccedilatildeo de forma que se daacute a partir do questionamento das finalidades da accedilatildeo educativa que estaacute

se desenvolvendo e do papel da educaccedilatildeo na formaccedilatildeo do estudante (Pereira 2009b)

A criaccedilatildeo e implantaccedilatildeo de algo novo pode abranger a instituiccedilatildeo como um todo um curso

uma disciplina um meacutetodo de ensino ou um material Algumas das inovaccedilotildees que vecircm ocorrendo

no paiacutes estatildeo direcionadas para a organizaccedilatildeo curricular que se compromete com determinadas

concepccedilotildees de educaccedilatildeo os meacutetodos e teacutecnicas de ensino que se restringem ao material didaacutetico e

aos instrumentos de avaliaccedilatildeo os materiais instrucionais como livros textos apostilas estudos

dirigidos a tecnologia educacional como os recursos audio-visuais a relaccedilatildeo professor-aluno

expressa pela modificaccedilatildeo na interaccedilatildeo que se estabelece entre estes atores sociais e a avaliaccedilatildeo

educacional representada pela criaccedilatildeo e uso de novas perspectivas e procedimentos avaliativos

(Ferretti 1995)

102

Independente do foco da inovaccedilatildeo pedagoacutegica - projeto pedagoacutegico de curso introduccedilatildeo de

disciplinas estrateacutegias e meacutetodos de aula formas de abordar o conteuacutedo ndash ela deve representar uma

mudanccedila significativa no processo educativo expressa pela contribuiccedilatildeo que tais inovaccedilotildees

representam aos desafios educacionais e sociais Estaacute portanto sempre orientada por sistema de

valores educacionais (Pereira 2009b) Assim introduzir novas medidas curriculares e pedagoacutegicas

pressupotildee uma intenccedilatildeo deliberada para modificar uma dada situaccedilatildeo significa inserir mudanccedilas

de forma planejada com a intenccedilatildeo de produzir melhorias no processo educacional (Ferretti 1995

Pereira 2009b Pereira Mercuri amp Bagnato 2010)

No acircmbito da Educaccedilatildeo Superior foi desencadeado a partir de 2000 um processo de

discussatildeo acerca dos curriacuteculos que orientam a formaccedilatildeo em niacutevel superior Os cursos de

graduaccedilatildeo no paiacutes seguindo as orientaccedilotildees da legislaccedilatildeo vigente ateacute entatildeo se organizavam a partir

de curriacuteculos miacutenimos fixados pelo Conselho Federal de Educaccedilatildeo para todas as instituiccedilotildees A

concepccedilatildeo dos curriacuteculos miacutenimos implicava em detalhamento de disciplinas e cargas horaacuterias que

deveriam ser obrigatoriamente cumpridas por todas as IES sob pena de natildeo terem seus cursos

autorizados ou reconhecidos

Conforme pontua o Parecer nordm 672003 (Brasil 2003) o caraacuteter universal dos curriacuteculos

miacutenimos era uma tentativa de garantir ldquouma suposta igualdade entre os profissionais de diferentes

instituiccedilotildees quando obtivessem os seus respectivos diplomas com direito de exercer a profissatildeordquo

(p 2) Rigidamente concebidos os curriacuteculos miacutenimos natildeo consideravam as especificidades de

tempo e de espaccedilo e inibiam a diversificaccedilatildeo na formaccedilatildeo dos estudantes As criacuteticas e

discordacircncias quanto a esta organizaccedilatildeo pedagoacutegica contribuiacuteram para que fosse instalada a partir

de 2000 uma discussatildeo entre professores pesquisadores especialistas e oacutergatildeos de classe no

sentido de rever as orientaccedilotildees para os cursos de graduaccedilatildeo Essas discussotildees culminaram com a

promulgaccedilatildeo das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) que tecircm como objetivo servir de

referecircncia para as IES na organizaccedilatildeo de seus projetos de cursos permitindo flexibilidade e

priorizaccedilatildeo de aacutereas de conhecimento

As DCNs contemplam o perfil de egresso de acordo com cada projeto de curso formaccedilatildeo

com base no desenvolvimento de competecircncias e habilidades habilitaccedilotildees e ecircnfases curriculares

realizaccedilatildeo de estaacutegios e atividades complementares articulaccedilotildees com o processo de avaliaccedilatildeo

institucional A intenccedilatildeo das Diretrizes Curriculares Nacionais diferentemente dos curriacuteculos

miacutenimos eacute possibilitar uma flexibilidade curricular autonomia e liberdade agraves instituiccedilotildees de tal

forma que possam inovar em seus projetos de cursos e sobretudo contribuir para a formaccedilatildeo de

um perfil profissional competente e comprometido com as demandas sociais As DCNs

configuram-se portanto como importante incentivo agrave inovaccedilatildeo pedagoacutegica

Avaliaccedilatildeo como Recurso agrave Garantia da Qualidade da Educaccedilatildeo Superior Ao tratar da

temaacutetica da avaliaccedilatildeo nos mais diferentes contextos em que ela se daacute haacute que se ter claro que toda

103

avaliaccedilatildeo estaacute ancorada em um pressuposto poliacutetico e filosoacutefico em uma concepccedilatildeo de mundo e de

sociedade toda avaliaccedilatildeo de maior ou menor complexidade estaacute mergulhada em ideologias e

valores que a orientam (Dias Sobrinho 2003 2004a 2008b Leite 2005 Ristoff 1999) Por ser

assim a avaliaccedilatildeo natildeo eacute um ato neutro universal e inofensivo muito pelo contraacuterio as diferentes

formas de avaliar influenciadas por distintas concepccedilotildees e ideologias geram efeitos muito

variados

Por natildeo ser um fenocircmeno imparcial isolado dos valores interesses e necessidades que

predominam em determinado momento histoacuterico a avaliaccedilatildeo se constitui como um fenocircmeno

eminentemente poliacutetico A esse respeito Dias Sobrinho (2003) diz que a avaliaccedilatildeo eacute poliacutetica por

pertencer ao interesse social e por produzir importantes efeitos puacuteblicos para a sociedade uma vez

que orienta posiccedilotildees e decisotildees que influenciam a vida das pessoas

Embora muitas vezes as discussotildees sobre avaliaccedilatildeo focalizem sua operacionalizaccedilatildeo isto

eacute a natureza dos instrumentos utilizados para alcanccedilar os objetivos almejados ela natildeo pode ser

entendida como uma ferramenta ou mecanismo teacutecnico somente Toda forma de avaliar carrega

valores produz sentidos direciona escolhas provoca mudanccedilas

No contexto da educaccedilatildeo a avaliaccedilatildeo se desdobra em duas vertentes (a) a avaliaccedilatildeo da

aprendizagem voltada para a avaliaccedilatildeo do aprendizado dos sujeitos a partir do processo de

apropriaccedilatildeo e construccedilatildeo do conhecimento das habilidades e valores elaborados socialmente e (b)

a avaliaccedilatildeo institucional que se dedica a avaliar a instituiccedilatildeo como um todo envolvendo aspectos

pedagoacutegicos financeiros fiacutesicos humanos relacionais e outros (Sordi amp Ludke 2009

Vasconcellos Tineacute amp Andrade 2007)

A avaliaccedilatildeo da aprendizagem vista sob a perspectiva microscoacutepica estaacute vinculada ao

processo de ensino e de aprendizagem e portanto focada no desempenho ou aproveitamento

escolar do aluno esta vertente da avaliaccedilatildeo eacute preponderantemente implementada pelos professores

A avaliaccedilatildeo institucional por sua vez eacute vista sob a perspectiva macroscoacutepica e estaacute voltada para o

desempenho das instituiccedilotildees educativas sob o prisma da qualidade Referindo-se ao valor da

avaliaccedilatildeo institucional Sordi e Ludke (2009) dizem que ela ldquocontribui para que os saberes dos

diferentes atores envolvidos na escola sejam incorporados e reconhecidos como legiacutetimos

intensificando a qualidade das trocas intersubjetivas que ocorrem na escola empoderando os atores

locais para a accedilatildeordquo (p 327) Ainda que a avaliaccedilatildeo educacional englobe ambas as vertentes

avaliativas - o processo de ensino-aprendizagem e as condiccedilotildees e atividades institucionais -

interessa neste trabalho a avaliaccedilatildeo institucional a qual estaacute relacionada agrave qualidade das praacuteticas

desenvolvidas nas Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior e ao cumprimento das funccedilotildees que satildeo

proacuteprias dessas instituiccedilotildees a construccedilatildeo do conhecimento a formaccedilatildeo de cidadatildeos e de

profissionais e o desenvolvimento social

No acircmbito da Educaccedilatildeo Superior pode-se dizer que duas tendecircncias sustentam o debate

sobre avaliaccedilatildeo uma abordagem mais tecnoloacutegica centrada na tradiccedilatildeo empirista e quantitativa

104

voltada agrave mensuraccedilatildeo do desempenho e resultados e outra mais democraacutetica e qualitativa que se

ocupa de compreender e atribuir significados aos processos acadecircmicos Estas duas tendecircncias se

organizam segundo loacutegicas bastante distintas sendo que a primeira eacute de natureza classificatoacuteria ou

regulatoacuteria agrave medida que tem como finalidade baacutesica a regulaccedilatildeo e o controle enquanto a segunda

eacute formativa ou emancipatoacuteria uma vez que se daacute por meio de mecanismos que promovem a

compreensatildeo e o desenvolvimento institucional (Catani Oliveira amp Dourado 2002 Dias Sobrinho

2003 2004a Meneghel Robl amp Silva 2006) Apesar de comumente serem apresentadas de

maneira estanques e isoladas estas vertentes na verdade se combinam e se entrecruzam ainda que

apresentem diferenccedilas profundas

A avaliaccedilatildeo de natureza regulatoacuteria tem origem na compreensatildeo de que a Educaccedilatildeo

Superior deve responder agrave loacutegica de eficiecircncia e eficaacutecia institucional Na opiniatildeo de Dias Sobrinho

(2003) a foacutermula que se produziu a partir dessa compreensatildeo e que vem interferindo na Educaccedilatildeo

Superior eacute a de que ldquoqualidade corresponde a eficiecircncia que se obteacutem mediante a racionalidade

empresarialrdquo (p 59) Nesta vertente a avaliaccedilatildeo cumpre a funccedilatildeo de tornar a Educaccedilatildeo Superior

mais uacutetil ao mundo dos negoacutecios e do trabalho A avaliaccedilatildeo formativa por outro lado ancora-se na

compreensatildeo de que a Educaccedilatildeo Superior estaacute orientada para a formaccedilatildeo da consciecircncia criacutetica da

cidadania e da identidade nacional

Dessas consideraccedilotildees acerca do uso da avaliaccedilatildeo na Educaccedilatildeo Superior depreende-se que

a avaliaccedilatildeo eacute o meio pelo qual se comprova ou natildeo a qualidade da educaccedilatildeo que estaacute sendo

oferecida agrave populaccedilatildeo Reconhecendo entatildeo que a avaliaccedilatildeo exerce um importante papel nas

transformaccedilotildees no Sistema de Educaccedilatildeo Superior e nas instituiccedilotildees que o compotildee seratildeo

apresentados a seguir os principais programas de avaliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior implementados

no paiacutes

No Brasil a mais antiga experiecircncia de avaliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior eacute a dos cursos e

programas de poacutes-graduaccedilatildeo desenvolvida desde 1976 pela CAPES entretanto nas uacuteltimas

deacutecadas foi a graduaccedilatildeo que centralizou as discussotildees acerca desse fenocircmeno como evidenciam as

diferentes propostas que foram implementadas nesse periacuteodo

O Programa de Avaliaccedilatildeo da Reforma Universitaacuteria (PARU) criado pelo MEC em 1983

foi a primeira proposta avaliativa da Educaccedilatildeo Superior brasileira em niacutevel de graduaccedilatildeo e tinha

como temas principais a gestatildeo das IES e o processo de produccedilatildeo e de disseminaccedilatildeo do

conhecimento Os dados sobre essas temaacuteticas eram obtidos atraveacutes de questionaacuterios respondidos

por estudantes docentes e dirigentes das instituiccedilotildees

Apoacutes a desativaccedilatildeo do PARU em 1984 em funccedilatildeo do apoio insuficiente do MEC surgiu o

Grupo Executivo para a Reforma da Educaccedilatildeo Superior (GERES) que com base em uma

concepccedilatildeo regulatoacuteria apresentava a avaliaccedilatildeo como contraponto agrave autonomia das IES e recorria a

indicadores de eficiecircncia e produtividade como orientadores da distribuiccedilatildeo e gestatildeo de recursos

Importante pontuar que o relatoacuterio do GERES jaacute propunha em 1984 que se realizasse a avaliaccedilatildeo

105

dos cursos de graduaccedilatildeo por comissotildees de especialistas das condiccedilotildees e recursos fiacutesicos

pedagoacutegicos e financeiros das instituiccedilotildees dos indicadores de eficiecircncia como a proporccedilatildeo

professoraluno os custos por estudante as taxas de evasatildeo o tempo de conclusatildeo dos cursos aleacutem

da proposta de um exame nacional a ser aplicado a todos os alunos formandos (Dias Sobrinho

2003)

Entre o final da deacutecada de 80 e iniacutecio da de 90 surgiram os primeiros relatos de

experiecircncias de autoavaliaccedilatildeo em instituiccedilotildees universitaacuterias que contribuiacuteram para que fossem

instalados um diaacutelogo e uma negociaccedilatildeo entre o Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e as instituiccedilotildees federais

representadas pela Associaccedilatildeo das Instituiccedilotildees Federais do Ensino Superior (ANDIFES) Estas

experiecircncias de autoavaliaccedilatildeo mediadas pela ANDIFES acabaram por culminar em 1993 no

Programa de Avaliaccedilatildeo Institucional das Universidades Brasileiras (PAIUB) Este Programa de

adesatildeo voluntaacuteria por parte das IES se organizava em autoavaliaccedilatildeo realizada internamente pela

instituiccedilatildeo avaliaccedilatildeo externa desencadeada por pares acadecircmicos e representantes da sociedade e

a reavaliaccedilatildeo desenvolvida novamente pela proacutepria instituiccedilatildeo na direccedilatildeo de rever suas escolhas e

caminhos (Dias Sobrinho 2007 Polidori Marinho-Arauacutejo amp Barreyro 2006)

Para Dias Sobrinho (2007) o PAIUB foi um marco importante para a avaliaccedilatildeo da

Educaccedilatildeo Superior no Brasil especialmente por ter como princiacutepios baacutesicos a integraccedilatildeo de

diferentes dimensotildees da totalidade institucional e o seu desenvolvimento por meio de um processo

pedagoacutegico democraacutetico e permanente Natildeo havia objetivos de regulaccedilatildeo ou de acreditaccedilatildeo e a

adesatildeo ao programa era fruto de sentimento de responsabilidade social Contudo ainda que pese a

dimensatildeo eacutetica do programa e apesar de ter recebido ampla adesatildeo das IES brasileiras se tornou

somente um processo de avaliaccedilatildeo interno agraves instituiccedilotildees a medida em que o MEC interrompeu

seu apoio e o repasse de recursos e comeccedilou a implantar uma poliacutetica de Educaccedilatildeo Superior com

forte sentido neoliberal

Nessa direccedilatildeo a partir de 1995 foram implantados pelo MEC novos mecanismos de

avaliaccedilatildeo (a) o Exame Nacional de Cursos (ENC) popularmente conhecido como Provatildeo

realizado por concluintes da graduaccedilatildeo (b) a Avaliaccedilatildeo das Condiccedilotildees de Ensino (ACE)

inicialmente chamada de Avaliaccedilatildeo das Condiccedilotildees de Oferta e conhecida como visita das

comissotildees de especialistas e (c) Avaliaccedilatildeo Institucional de Centros Universitaacuterios A avaliaccedilatildeo da

Educaccedilatildeo Superior assim implantada passou a ter grande repercussatildeo na miacutedia que divulgava

uma classificaccedilatildeo dos cursos de graduaccedilatildeo em decorrecircncia dos resultados do ENC e estimulou uma

loacutegica de concorrecircncia entre as instituiccedilotildees (Bertolin 2004 Dias Sobrinho 2007 INEP 2004

Polidori Marinho-Arauacutejo amp Barreyro 2006) Pelo exposto vecirc-se que

enquanto no PAIUB a preocupaccedilatildeo estava com a totalidade com o processo e com a

missatildeo da instituiccedilatildeo na sociedade no ENC a ecircnfase recai sobre os resultados com a

produtividade a eficiecircncia com o controle do desempenho frente a um padratildeo estabelecido

e com a prestaccedilatildeo de contas (INEP 2004 p 20)

106

Estes novos mecanismos de avaliaccedilatildeo tinham portanto princiacutepios metodologias e

finalidades bastante distintos do programa que o precedeu e se assentavam em uma concepccedilatildeo

instrumental e funcional da Educaccedilatildeo Superior ajustada agraves necessidades do mercado A tocircnica da

avaliaccedilatildeo recaia sobre a verificaccedilatildeo das competecircncias e habilidades profissionais que os cursos

proporcionavam aos estudantes tendo como referecircncia as necessidades de produtividade e de

competitividade que as empresas e o governo apresentam Assim a ideia de instrumentalidade eacute a

que predomina na Educaccedilatildeo Superior jaacute que deve instrumentalizar o mundo do trabalho a partir de

um controle rigoroso dos perfis profissionais (Dias Sobrinho 2003)

Por essa razatildeo Dias Sobrinho (2007) diz que o ENC ou Provatildeo teve papel central no

estabelecimento das universidades operacionais uma vez levou as IES a fortalecerem a ideologia

do individualismo e da competitividade e a promover a capacitaccedilatildeo instrumental de profissionais

conforme estabelecido pelos empregos Em menccedilatildeo agraves diferenccedilas entre os modos de avaliaccedilatildeo

implantados na Educaccedilatildeo Superior o autor destaca que nos anos precedentes ldquoa avaliaccedilatildeo

favorecia a expansatildeo do mercado educativo oferecendo orientaccedilatildeo aos clientes adotando as

praacuteticas de accountability ndash controle de produtos e resultados rankings recompensa ao meacuterito etc

ndash e uma ideologia que priorizava a eficiecircncia a produtividade e a gestatildeo empresarialrdquo (Dias

Sobrinho 2007 p 38) A partir do Governo Lula em 2003 o MEC comeccedilou a desenvolver um

projeto de Educaccedilatildeo Superior voltado ao progresso social agrave igualdade agrave inclusatildeo e pertinecircncia de

forma que o eixo principal das novas poliacuteticas puacuteblicas enfatizou a recuperaccedilatildeo do significado da

educaccedilatildeo como bem puacuteblico

Para subsidiar a proposiccedilatildeo destas novas poliacuteticas que modificariam a maneira de

compreender o papel da avaliaccedilatildeo na Educaccedilatildeo Superior foram realizados estudos anaacutelises e

discussotildees orientados pela perspectiva de criar um sistema de avaliaccedilatildeo amplo integrado e

desvinculado da concepccedilatildeo instrumental Nessa direccedilatildeo a partir da anaacutelise dos instrumentos

avaliativos que vinham sendo utilizados e da discussatildeo com a comunidade acadecircmica e a sociedade

civil a Comissatildeo Especial de Avaliaccedilatildeo (CEA) nomeada em 2003 pelo entatildeo Ministro da

Educaccedilatildeo apresentou o delineamento baacutesico de uma nova proposta o Sistema Nacional de

Avaliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior o SINAES Conforme foi pensado e proposto o SINAES eacute de

fato um sistema de avaliaccedilatildeo pois tem como ideias centrais a integraccedilatildeo e a participaccedilatildeo

elementos fundamentais para que se possa aprofundar os compromissos e responsabilidades sociais

das instituiccedilotildees aleacutem de promover os valores democraacuteticos o respeito agrave diversidade a busca da

autonomia e a afirmaccedilatildeo da identidade das IES

A proposta do SINAES tentava integrar a concepccedilatildeo formativa da avaliaccedilatildeo com um

projeto de sociedade comprometido com a justiccedila e a igualdade social e nessa direccedilatildeo buscou

articular um sistema de avaliaccedilatildeo dotado de autonomia proacutepria dos processos educativos-

emancipatoacuterios com funccedilotildees de regulaccedilatildeo inerente agrave supervisatildeo do Estado (INEP 2004)

Conforme idealizada essa proposta procurava assegurar a integraccedilatildeo de dimensotildees inter-

107

relacionadas a interna e a externa a particular e a global a quantitativa e a qualitativa e ainda a

articulaccedilatildeo da comunidade acadecircmica com membros da sociedade das instacircncias institucionais

com outras nacionais e internacionais Vecirc-se assim que esse sistema de avaliaccedilatildeo foi concebido

com base na ideia de cooperaccedilatildeo e natildeo com a ideologia da competitividade de concorrecircncia e de

sucesso individual que caracterizou a avaliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior em periacuteodos anteriores

Tendo estas ideias diferenciadas como orientadoras da criaccedilatildeo e implementaccedilatildeo do

SINAES ele foi instituiacutedo em 2004 pela Lei nordm 10861 e estaacute concebido a partir de trecircs pilares (a)

avaliaccedilatildeo institucional interna e externa (b) avaliaccedilatildeo de cursos e (c) avaliaccedilatildeo do desempenho

dos estudantes Importante diferenccedila desse modelo avaliativo estaacute na realizaccedilatildeo da avaliaccedilatildeo

institucional especialmente a autoavaliaccedilatildeo processo que privilegia a interlocuccedilatildeo no interior de

cada IES

Para operacionalizar a autoavaliaccedilatildeo cada instituiccedilatildeo deve constituir uma Comissatildeo

Proacutepria de Avaliaccedilatildeo (CPA) composta por representantes docentes discentes funcionaacuterios

teacutecnico-administrativos e membros da sociedade civil com o objetivo de se responsabilizar pela

organizaccedilatildeo planejamento e conduccedilatildeo dos processos internos de avaliaccedilatildeo Apoacutes a realizaccedilatildeo desta

modalidade cada instituiccedilatildeo eacute submetida a uma avaliaccedilatildeo externa conduzida por grupos de

avaliadores da comunidade cientiacutefica Segundo Polidori Marinho-Arauacutejo e Barreyro (2006) a

autoavaliaccedilatildeo busca promover o autoconhecimento da instituiccedilatildeo e preparaacute-la para as avaliaccedilotildees

externas a que seraacute submetida no entanto conforme ressaltam as autoras ela natildeo pretende ser uma

maneira de adaptar as IES ao modelo de avaliaccedilatildeo externa mas acima de tudo almeja ser uma

praacutetica de reflexatildeo particular a cada instituiccedilatildeo

Aleacutem da avaliaccedilatildeo institucional outro pilar do SINAES diz respeito agrave avaliaccedilatildeo dos cursos

de graduaccedilatildeo que apesar de jaacute ser realizada no modelo anterior adquiriu novas caracteriacutesticas

condizentes com a concepccedilatildeo do SINAES A avaliaccedilatildeo dos cursos conforme idealizada na

proposta original do SINAES seria realizada por equipes multidisciplinares compostas por

especialistas de aacutereas afins aos cursos em avaliaccedilatildeo e aos quais se agrega um avaliador

institucional contribuindo para fortificar o papel da avaliaccedilatildeo institucional e a integraccedilatildeo entre os

diferentes instrumentos adotados pelo sistema Atualmente a Comissatildeo de Avaliaccedilatildeo in loco de

cursos deve ser composta por dois avaliadores com formaccedilatildeo correspondente ao curso avaliado

(Brasil 2007b)

O terceiro pilar do SINAES compreende a avaliaccedilatildeo dos estudantes e tem como principal

instrumento o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE) voltado para investigar

a contribuiccedilatildeo da trajetoacuteria acadecircmica no desenvolvimento das competecircncias esperadas para os

perfis profissionais Sendo assim a ecircnfase do ENADE natildeo estaacute nos conteuacutedos e no desempenho do

aluno expresso em resultados de avaliaccedilotildees que se baseiam em conhecimentos adquiridos ou natildeo

ao final do curso O Exame aplicado a amostras de estudantes que estatildeo em momentos distintos de

108

sua graduaccedilatildeo ndash ingressantes e concluintes ndash possibilita um acompanhamento do processo de

ensino-aprendizagem

Uma importante diferenccedila do ENADE em relaccedilatildeo a outros instrumentos de avaliaccedilatildeo dos

estudantes como o Provatildeo principalmente estaacute na sua ecircnfase no processo de formaccedilatildeo na

trajetoacuteria oportunizada pela IES e construiacuteda pelo aluno ao longo do curso Mediante a intenccedilatildeo de

conhecer o quanto a vivecircncia e aprendizado acadecircmico estatildeo agregando agrave formaccedilatildeo do aluno tanto

os alunos ingressantes quanto os concluintes realizam a mesma prova do ENADE possibilitando

que as IES tenham acesso a informaccedilotildees sobre o que precisa ser mais enfatizado revisto ou

mantido no curso (Marinho-Arauacutejo 2004) Esta modalidade de avaliaccedilatildeo daacute agrave IES importantes

indicadores acerca das intervenccedilotildees educativas que vem favorecendo e potencializando o

desenvolvimento dos estudantes e que portanto devem ser mantidas e reforccediladas

Desta maneira o ENADE estaacute muito mais orientado para o processo e para a trajetoacuteria em

construccedilatildeo do que para o resultado final Com base em uma compreensatildeo pedagoacutegica e formativa

da avaliaccedilatildeo o Exame busca sobretudo identificar aspectos que precisam ser modificados e

aperfeiccediloados de forma que tem o importante papel de propiciar a reflexatildeo no interior dos cursos e

da instituiccedilatildeo a partir da interlocuccedilatildeo com os estudantes subsidiando e alimentando entatildeo o

processo de autoavaliaccedilatildeo institucional (Polidori Marinho-Arauacutejo amp Barreyro 2006)

Por meio da integraccedilatildeo desses trecircs pilares o SINAES que atualmente orienta a avaliaccedilatildeo

da Educaccedilatildeo Superior brasileira busca ser um sistema integrado que garante informaccedilotildees e anaacutelises

da totalidade da Educaccedilatildeo Superior Diferentemente dos modelos de avaliaccedilatildeo anterior que se

voltavam para a funccedilatildeo reguladora da Educaccedilatildeo Superior consegue articular a dimensatildeo da

avaliaccedilatildeo educativa de natureza formativa com a regulaccedilatildeo marcada por funccedilotildees de supervisatildeo

autorizaccedilatildeo reconhecimento e credenciamento de cursos e IES (Bertolin 2004 INEP 2004)

Agrave medida que o SINAES vem avanccedilando alguns rumos bastante distintos e contraacuterios agrave

proposta original foram tomados A despeito de ter sido idealizado e implantado tendo como base a

noccedilatildeo de um sistema integrado de avaliaccedilatildeo composto por trecircs eixos - avaliaccedilatildeo institucional de

cursos e dos estudantes - recentemente um desses eixos o da avaliaccedilatildeo dos estudantes efetuada

mediante o ENADE (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes) vem sendo super

valorizado e levando a uma perda no foco da proposta original do SINAES (Barreyro 2008 Brito

2008 Dias Sobrinho 2008b Polidori 2009 Rothen amp Barreyro 2009) Privilegiando quase que

exclusivamente os resultados deste exame dois novos indicadores natildeo previstos na proposta

original foram criados no ano de 2008 o Conceito Preliminar de Curso (CPC) e o Iacutendice Geral de

Cursos (IGC)

Tendo em vista que o ENADE eacute apenas um dos eixos da avaliaccedilatildeo do SINAES o peso que

tem tido na construccedilatildeo desses iacutendices e conceitos chama bastante atenccedilatildeo De acordo com Polidori

(2009) tanto o CPC quanto o IGC ldquobuscam concentrar num uacutenico momento informaccedilotildees de um

uacutenico lsquopilarrsquo do SINAES o ENADE as informaccedilotildees sobre os cursos e a IES classificando-os e

109

tendo como resultado um ranqueamentordquo (p 448) Nesta mesma direccedilatildeo Barreyro (2008) ressalta

que o IGC natildeo surgiu como um iacutendice destinado a resolver os problemas operacionais de avaliar os

cursos de graduaccedilatildeo do paiacutes ldquoele veio tambeacutem ou principalmente para possibilitar rankings de

Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior (IES) apesar de baseado em alguns dados de alguns cursos

avaliados de algumas IESrdquo (p 864)

Por razotildees como esta diversos questionamentos e criacuteticas foram feitos agrave criaccedilatildeo desses

iacutendices pois entre outros aspectos parecem se coadunar com uma loacutegica distinta daquela que foi

inicialmente proposta e aprovada pelo SINAES qual seja a de um processo de avaliaccedilatildeo integrado

baseado na cooperaccedilatildeo no respeito e na valorizaccedilatildeo da identidade e particularidade de cada

instituiccedilatildeo De forma geral o que se nota eacute um equiacutevoco quanto agrave aplicabilidade do SINAES tanto

pela pouca valorizaccedilatildeo da avaliaccedilatildeo institucional externa e interna quanto ao uso dos resultados da

avaliaccedilatildeo dos estudantes como definidor da qualidade da Educaccedilatildeo Superior brasileira Ainda que o

SINAES natildeo seja o modelo de avaliaccedilatildeo definitivo da Educaccedilatildeo Superior brasileira concorda-se

com Barreyro (2008) sobre o fato de que os novos indicadores ldquoparecem levar-nos novamente ao

tempo dos rankings das avaliaccedilotildees mercadoloacutegicas e simplificaccedilotildees midiaacuteticas mais proacuteximos de

uma visibilidade publicitaacuteria do que da verdade da avaliaccedilatildeo da qualidaderdquo (p 867) Manteacutem-se

portanto o desafio de conseguir consolidar uma praacutetica avaliativa que de fato tenha como

referecircncia uma sociedade democraacutetica justa e plural

Outro fato bastante recente que tambeacutem integra o quadro de novas interpretaccedilotildees e

alteraccedilotildees no uso do ENADE mais uma vez desconecto da proposta original do SINAES refere-se

agrave decisatildeo do governo em natildeo realizar o exame com os alunos ingressantes de cursos superiores

caso tenham participado do Exame Nacional do Ensino Meacutedio (ENEM) Em notiacutecia veiculada no

site oficial do Ministeacuterio da Educaccedilatildeo sob o tiacutetulo ldquoAcaba exigecircncia do Enade para aluno novo que

prestou o Enemrdquo (MEC 2011) foi anunciado que a decisatildeo foi tomada com base na constataccedilatildeo de

que o ENADE realizado no fim do primeiro ano de graduaccedilatildeo natildeo eacute a melhor forma de aferir o

conhecimento do aluno receacutem-chegado do Ensino Meacutedio Os desdobramentos e consequecircncias

dessa decisatildeo deveratildeo ser acompanhados mas desde jaacute ela aponta mais uma alteraccedilatildeo importante

em um dos pilares do Sistema de Avaliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior brasileira

Mesmo o SINAES sendo um diferencial no contexto geral da avaliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo

Superior no Brasil ao fazer uma anaacutelise e reflexatildeo em relaccedilatildeo a este sistema e aos desafios que

enfrenta Dias Sobrinho (2007) destaca que ele se depara com problemas importantes relacionados

agrave consolidaccedilatildeo de uma cultura de reflexatildeo e de debates puacuteblicos pois que o seu principal eixo

norteador eacute a construccedilatildeo e manutenccedilatildeo de praacuteticas permanentes e coletivas de anaacutelise criacutetica

questionamento ponderaccedilatildeo revisatildeo e reformulaccedilatildeo Agrave medida que o SINAES enfatiza as

construccedilotildees coletivas e a participaccedilatildeo dos diferentes atores um de seus grandes desafios eacute o de

conseguir consolidar uma praacutetica avaliativa que de fato tenha como referecircncia uma sociedade

democraacutetica justa e plural O desafio na verdade natildeo se limita ao Sistema Nacional de Avaliaccedilatildeo

110

mas estende-se aos diferentes atores sociais que devem refletir acerca da funccedilatildeo social da Educaccedilatildeo

Superior

A Crise da Educaccedilatildeo Superior

A Educaccedilatildeo Superior faz parte da totalidade da vida social de forma que natildeo pode ser

pensada sem que sejam consideradas as influecircncias e caracteriacutesticas histoacutericas que a cercam Nessa

direccedilatildeo ldquoesquemas simples de compreensatildeo da realidade social satildeo insuficientes para dar conta da

complexidade e da pluralidade de sentidos e fenocircmenos humanosrdquo (Dias Sobrinho 2005 p 164)

de forma que eacute necessaacuterio buscar compreensotildees tatildeo complexas quanto satildeo os proacuteprios fenocircmenos

neste caso a Educaccedilatildeo Superior

Em determinado momento histoacuterico a principal razatildeo do desenvolvimento da ciecircncia

esteve associada ao que Humboldt postulou - ldquoformar uma consciecircncia moral para transformaacute-la

em princiacutepio de accedilatildeordquo (Humboldt citado em Pereira 2009a) contudo as dinacircmicas

transformaccedilotildees econocircmicas poliacuteticas e cientiacuteficas tecircm modificado tal razatildeo A produccedilatildeo do

conhecimento voltada ao desenvolvimento da naccedilatildeo baseado em uma formaccedilatildeo cidadatilde na

qualidade de vida da populaccedilatildeo na justiccedila social e na diminuiccedilatildeo das desigualdades natildeo eacute hoje o

objetivo maior O que se presencia eacute a defesa do avanccedilo cientiacutefico e tecnoloacutegico como necessidade

econocircmica

Predominam hoje os julgamentos de que a Educaccedilatildeo Superior deve favorecer as

transformaccedilotildees exigidas pela nova economia de mercado conduzir os processos de

desenvolvimento do paiacutes contribuir para a melhoria das condiccedilotildees sociais e de vida da populaccedilatildeo

encontrar soluccedilotildees cientiacuteficas e tecnoloacutegicas para os problemas da sociedade entre outras Diante

de tantas solicitaccedilotildees e da dificuldade e ateacute impossibilidade de atendecirc-las tem-se dito que a

Educaccedilatildeo Superior estaacute em crise pois sempre que uma instituiccedilatildeo deixa de atender algumas

expectativas que lhes satildeo direcionadas eacute reconhecido o seu estado de crise (Pereira 2009a)

De acordo com Sousa Santos (2002 2005) a universidade se defronta

contemporaneamente com contradiccedilotildees que a conduzem a trecircs crises inter-relacionadas as quais

por natildeo serem exclusivas das instituiccedilotildees universitaacuterias podem ser ampliadas e assumidas como

sendo da Educaccedilatildeo Superior A primeira delas a crise da hegemonia resulta das contradiccedilotildees entre

as funccedilotildees tradicionais da universidade e as que lhe foram atribuiacutedas no seacuteculo XX isto eacute da

contradiccedilatildeo entre a necessidade de produzir conhecimentos exemplares e ao mesmo tempo

conhecimentos funcionais Se historicamente foi-lhe direcionada a tarefa de produzir o pensamento

criacutetico e o conhecimento cientiacutefico e humaniacutestico necessaacuterio agrave formaccedilatildeo das elites recentemente

tem lhe sido atribuiacuteda tambeacutem a responsabilidade de produzir padrotildees culturais meacutedios e

conhecimentos instrumentais para qualificaccedilatildeo da matildeo de obra

A segunda crise a da legitimidade eacute fruto da contradiccedilatildeo entre a hierarquizaccedilatildeo e a

democratizaccedilatildeo ou seja eacute provocada pelo fato da universidade ter deixado de ser uma instituiccedilatildeo

111

consensual caracterizada pela hierarquizaccedilatildeo dos saberes especializados e ter lhe sido exigida a

democratizaccedilatildeo Para Souza Santos (2002) ldquoa crise da legitimidade eacute em grande medida resultado

do ecircxito das lutas pelos direitos sociais e econocircmicos os direitos humanos da segunda geraccedilatildeo

entre os quais pontifica o direito agrave educaccedilatildeordquo (p 183) De universidade elitista que produz

conhecimentos superiores tambeacutem elitistas a universidade eacute chamada a produzir conhecimentos

para camadas sociais mais amplas e heterogecircneas como forma de promover sua ascensatildeo social

Finalmente a crise institucional resulta da contradiccedilatildeo entre a busca de autonomia

institucional e a pressatildeo para submeter a universidade a criteacuterios de eficaacutecia e de produtividade ldquoA

universidade sofre uma crise institucional na medida em que a sua especificidade organizativa eacute

posta em causa e se lhe pretende impor modelos organizativos vigentes noutras instituiccedilotildees tidas

por mais eficientesrdquo (Sousa Santos 2002 p 166) No caso das instituiccedilotildees educativas de niacutevel

superior o modelo que lhes estaacute sendo imposto eacute o das empresas

Goergen (2005) tambeacutem identifica que o momento atual da crise universitaacuteria pode ser

caracterizado em trecircs dimensotildees conceitual contextual e textual O aspecto conceitual da crise da

universidade refere-se ao proacuteprio conceito de universidade pois natildeo haacute clareza do que eacute e de como

deve se organizar essa instituiccedilatildeo Por esse motivo o termo universidade tem sido utilizado por

diferentes instituiccedilotildees sem que estas congreguem caracteriacutesticas e objetivos comuns

O aspecto contextual da crise por sua vez diz respeito agrave relaccedilatildeo entre a universidade e a

sociedade no que tange as atuais transformaccedilotildees em curso como por exemplo o papel

contemporacircneo da ciecircncia e da tecnologia como principal fator produtivo Por fim a dimensatildeo

textual da crise se refere agrave realidade interna da universidade ldquoseus conteuacutedos suas formas de

ensino sua relaccedilatildeo com a ciecircncia e a tecnologia com os sentidos eacuteticos e sociais daquilo que faz ou

deixa de fazerrdquo (Goergen 2005 p 12) Internamente a universidade e as Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo

Superior como um todo satildeo instadas a refletir acerca de sua responsabilidade diante das praacuteticas de

pesquisa e de ensino que desenvolve e da formaccedilatildeo de futuros profissionais

Sobre essas trecircs dimensotildees da crise universitaacuteria Goergen (2005) conclui dizendo que

ldquopodem ser resumidas num soacute termo a universidade passa por uma crise de identidade Ela estaacute

insegura quanto ao seu papel e suas tarefas na sociedade contemporacircneardquo (p 12) A Educaccedilatildeo

Superior tem se deparado de um lado com inuacutemeras demandas que lhe satildeo dirigidas em um

contexto de raacutepidas transformaccedilotildees e por outro com os valores e princiacutepios que historicamente a

tem sustentado enquanto instituiccedilatildeo Ao confrontar essas demandas e valores extremamente

contraditoacuterios e conflituosos a Educaccedilatildeo Superior se daacute conta da crise que vivencia

Tambeacutem em referecircncia agrave crise da Educaccedilatildeo Superior Magalhatildees (2004) considera que a

identidade da Educaccedilatildeo Superior centrada na Razatildeo e na racionalidade que lhe foi conferida na

modernidade estaacute se perdendo De acordo com o autor a Educaccedilatildeo Superior se estabeleceu a partir

da ldquometanarrativa da modernidade estruturada na crenccedila no triunfo da Razatildeo na Histoacuteria atraveacutes da

consolidaccedilatildeo dos Estados-Naccedilatildeordquo (p 18) A Educaccedilatildeo Superior teria como responsabilidade

112

desenvolver a razatildeo e o conhecimento e conduzir a formaccedilatildeo das pessoas com base no ideal de

naccedilatildeo estabelecido

Nesta perspectiva a Educaccedilatildeo Superior se sustenta em uma matriz moderna que se ancora

em um conjunto de instituiccedilotildees que se organizam em um sistema integrado pelo Estado e que tecircm

como missatildeo servir a naccedilatildeo e a esse Estado A Educaccedilatildeo Superior se consolida portanto sobre o

paradigma da modernidade de maneira que quando este eacute abalado abala-se tambeacutem a identidade

da Educaccedilatildeo Superior

Por essa razatildeo Magalhatildees (2004) diz que a crise de identidade vivida atualmente pela

Educaccedilatildeo Superior estaacute em estreita articulaccedilatildeo com as transformaccedilotildees econocircmicas e socioloacutegicas e

com o paradigma da modernidade as quais estatildeo questionando a legitimidade da Educaccedilatildeo

Superior como instituiccedilatildeo voltada agrave produccedilatildeo do conhecimento Agrave medida que as transformaccedilotildees

globais tecircm conferido ao conhecimento papel central na produccedilatildeo distribuiccedilatildeo e consumo os

setores econocircmicos passaram a exercer consideraacutevel pressatildeo sobre as IES no que se refere agrave

produccedilatildeo de conhecimento e formaccedilatildeo de recursos humanos qualificados Por assim ser Magalhatildees

(2004) entende que a pressatildeo econocircmica e socioloacutegica tem papel essencial no recente

questionamento da identidade da Educaccedilatildeo Superior inclusive por estarem contribuindo para que a

produccedilatildeo de conhecimento seja cada vez mais deslocada para fora das IES e de seus centros de

pesquisa

ldquoMuito do prestiacutegio da universidade derivava (e ainda deriva) da assunccedilatildeo segundo a qual

ela eacute um lugar onde o conhecimento eacute produzido e tambeacutem a uacuteltima instacircncia para decidir acerca

daquilo que deve ser considerado como conhecimentordquo (Magalhatildees 2004 p 150) Portanto agrave

medida que esse prestiacutegio eacute questionado questiona-se simultaneamente a essecircncia da Educaccedilatildeo

Superior

Tambeacutem tratando da crise da universidade brasileira Ristoff (1999 2001) identifica trecircs

dimensotildees a crise financeira a do elitismo e a de modelo A crise financeira decorre da falta de

investimento na Educaccedilatildeo Superior a qual ocasiona seu processo de deterioraccedilatildeo gradual Apesar

do investimento financeiro na Educaccedilatildeo Superior trazer retornos agrave economia no Brasil ela eacute

tomada como custo A crise do elitismo por sua vez estaacute relacionada ao fato de que a universidade

ainda eacute um espaccedilo para alguns poucos privilegiados pois natildeo haacute acesso amplo das populaccedilotildees

excluiacutedas Por isso Ristoff (1999) identifica esta crise como sendo de natureza quantitativa com

forte impacto qualitativo sobre a sociedade jaacute que pouco mais de 10 da populaccedilatildeo de 18 a 24

anos estaacute matriculada na Educaccedilatildeo Superior Por uacuteltimo a crise de modelo deriva da funccedilatildeo que eacute

atribuiacuteda agrave Educaccedilatildeo Superior a qual abarca hoje muacuteltiplas funccedilotildees como disseminaccedilatildeo e avanccedilo

das artes e das ciecircncias direcionamento para a cidadania e melhoria da qualidade de vida da naccedilatildeo

ensino para atender a grande massa populacional entre outros

As razotildees apontadas por Sousa Santos (2002 2005) Goergen (2005) Magalhatildees (2004) e

Ristoff (1999 2001) para a crise na Educaccedilatildeo Superior trazem muitas aproximaccedilotildees entre si de

113

forma que podem ser organizadas e resumidas em trecircs novas dimensotildees a exemplo de como

fizeram os proacuteprios autores A primeira dimensatildeo trata da funccedilatildeo atribuiacuteda agrave Educaccedilatildeo Superior

isto eacute refere-se agrave concepccedilatildeo do que seja a Educaccedilatildeo Superior e seu papel no contexto da sociedade

Esta eacute uma dimensatildeo central pois a concepccedilatildeo que se tem de um fenocircmeno eacute norteadora das

praacuteticas e escolhas relativas a ele Em uacuteltima instacircncia a concepccedilatildeo de Educaccedilatildeo Superior eacute que

orienta o crescimento das instituiccedilotildees e os mecanismos de controle e de avaliaccedilatildeo a qualidade dos

cursos e da formaccedilatildeo oferecida as ecircnfases imprimidas nos curriacuteculos e nas atividades pedagoacutegicas

a maior ou menos articulaccedilatildeo com os interesses do mercado o investimento que lhe eacute destinado

entre outros aspectos

A segunda dimensatildeo diz respeito ao lugar ocupado pela Educaccedilatildeo Superior no

desenvolvimento da sociedade No acircmbito desta dimensatildeo inserem-se os apontamentos de que a

Educaccedilatildeo Superior historicamente voltada para a formaccedilatildeo das elites tem sido pressionada

interna e externamente a receber e formar a grande massa da populaccedilatildeo Se limitada agrave elite ou

extensiva agrave toda populaccedilatildeo o que estaacute em jogo eacute a influecircncia que a Educaccedilatildeo Superior tem na

organizaccedilatildeo social econocircmica cultural e no projeto de paiacutes

Por fim a terceira dimensatildeo da crise estaacute atrelada agrave liberdade da Educaccedilatildeo Superior ou em

outras palavras agraves reais possibilidades que as IES tecircm de definirem seus rumos tanto em termos de

prioridades pedagoacutegico-cientiacuteficas quanto financeiras Esta dimensatildeo engloba desde as reflexotildees e

questionamentos que satildeo desencadeados internamente pelas IES no tocante agraves suas escolhas

decisotildees e responsabilidades para com a sociedade ateacute as possibilidades e prioridades assumidas

por quem tem poder de direcionar os rumos das instituiccedilotildees o Estado no caso das instituiccedilotildees

puacuteblicas e as mantenedoras e os dirigentes no caso das instituiccedilotildees privadas

Esta incursatildeo pelos sentidos e significados atribuiacutedos agrave crise na Educaccedilatildeo Superior aleacutem

de evidenciar aspectos que estatildeo abalando o status o compromisso e a funccedilatildeo deste niacutevel

educativo impondo-lhe a necessidade de se ressignificar aponta tambeacutem que a atual situaccedilatildeo natildeo

se deve a uma circunstacircncia momentaneamente desfavoraacutevel Ao contraacuterio as criacuteticas e

questionamentos que colocam a Educaccedilatildeo Superior em crise satildeo fruto de um longo processo

histoacuterico que como tal se desenvolve pela accedilatildeo do homem E assim como o atual momento de

criacutetica e desvalorizaccedilatildeo foi historicamente construiacutedo a direccedilatildeo que tomaraacute as universidades

brasileiras tambeacutem seraacute decorrente de uma configuraccedilatildeo histoacuterica e social Dessa forma concorda-

se com Severino (2002) para quem os desdobramentos e a orientaccedilatildeo da atual situaccedilatildeo da Educaccedilatildeo

Superior dependeratildeo da proacutepria accedilatildeo e decisatildeo dos homens

Assumindo a colocaccedilatildeo do autor como um estiacutemulo pretende-se na proacutexima seccedilatildeo

apresentar a iacutentima articulaccedilatildeo que vem se dando entre a Educaccedilatildeo Superior e a economia destacar

a inadequaccedilatildeo que eacute submeter a educaccedilatildeo agrave loacutegica do mercado e por fim recuperar a noccedilatildeo de

Educaccedilatildeo Superior enquanto espaccedilo profiacutecuo agrave produccedilatildeo do conhecimento preparaccedilatildeo profissional

e acima de tudo de formaccedilatildeo humana

114

A Educaccedilatildeo Superior diante dos interesses econocircmicos contemporacircneos Uma das

caracteriacutesticas atuais da Educaccedilatildeo Superior eacute indiscutivelmente a sua vinculaccedilatildeo com a economia

e o mercado de maneira que natildeo se pode debater o que se entende e espera da Educaccedilatildeo Superior

sem que se aborde as influecircncias do capitalismo neoliberal e do processo mais amplo de

globalizaccedilatildeo econocircmica e cultural (Dias Sobrinho 2005 Severino 2008) Estes fenocircmenos

mundiais imprimem direcionamentos ecircnfases e caracteriacutesticas agrave realidade da Educaccedilatildeo Superior

que impactam direta e indiretamente em suas atividades projetos escolhas e metas

Severino (2008) resume da seguinte forma a accedilatildeo da globalizaccedilatildeo e suas influecircncias

sociais

na atual conjuntura mundial o cenaacuterio especiacutefico em que se encontra a sociedade brasileira

eacute aquele desenhado por um intenso e extenso processo de globalizaccedilatildeo econocircmica e

cultural conduzido pela expansatildeo da economia capitalista que se apoacuteia poliacutetica e

ideologicamente no paradigma neoliberal Por isso eacute tendecircncia mundial que vai impondo

a todos os paiacuteses a minimizaccedilatildeo do Estado a total priorizaccedilatildeo da loacutegica do mercado na

conduccedilatildeo da vida social o incentivo agrave privatizaccedilatildeo generalizada a defesa do

individualismo do consumismo da competitividade da iniciativa privada (p 76)

Eleger portanto a vinculaccedilatildeo contemporacircnea entre a Educaccedilatildeo Superior e os interesses

econocircmicos e financeiros como ponto de discussatildeo decorre da intenccedilatildeo de evidenciar os riscos e

perigos a que uma sociedade democraacutetica estaacute submetida quando a educaccedilatildeo processo pedagoacutegico

planejado e intencional de formaccedilatildeo humana passa a ser orientada por interesses e expectativas

que ldquoatravessam o sujeitordquo lhe tiram o lugar de autor e ator de sua trajetoacuteria e o tornam um mero

coadjuvante

Ao tratar do crescimento da Educaccedilatildeo Superior no Brasil Sguissardi (2008) se refere a um

ldquomodelo de expansatildeordquo que caracteriza a evoluccedilatildeo deste niacutevel educativo nos uacuteltimos anos

especificamente a partir de 1994 Analisando dados do INEP no periacuteodo de 1994 a 2006 o autor

destaca que o processo de expansatildeo da Educaccedilatildeo Superior se daacute pela via da privatizaccedilatildeo tanto pelo

crescimento no nuacutemero de IES quanto pelo nuacutemero de matriacuteculas

O modelo de expansatildeo referido por Sguissardi (2008) tem como marca principal o

crescimento desproporcional entre as IES puacuteblicas e privadas - 137 contra 2194

respectivamente - no periacuteodo mencionado e o consequente aumento das matriacuteculas nas

instituiccedilotildees privadas que foi de 2752 contra 75 das instituiccedilotildees puacuteblicas

Para aleacutem da privatizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior soma-se tambeacutem a esse modelo de

expansatildeo o fenocircmeno da mercadorizaccedilatildeo ou mercantilizaccedilatildeo isto eacute a transformaccedilatildeo da Educaccedilatildeo

Superior em um serviccedilo comercializaacutevel um objeto de lucro enfim uma mercadoria Segundo

Bertolin (2007) a origem desse fenocircmeno estaacute na relaccedilatildeo da educaccedilatildeo com as transformaccedilotildees

poliacuteticas e econocircmicas que tecircm levado a ampliaccedilatildeo do princiacutepio do mercado em detrimento do

Estado e da comunidade A questatildeo de fundo na opiniatildeo do autor sobre a mercantilizaccedilatildeo da

115

Educaccedilatildeo Superior estaacute relacionada a concepccedilotildees poliacuteticas e ideoloacutegicas acerca das funccedilotildees do

Estado e do mercado que redirecionam seu papel e funccedilatildeo na sociedade

A fim de ilustrar esse processo Sguissardi (2008) recorre ao comparativo entre o nuacutemero

de instituiccedilotildees puacuteblicas e privadas e mais especificamente na diferenciaccedilatildeo existente entre estas

uacuteltimas IES privadas sem fins lucrativos e IES particulares ou privadasmercantis Em 1999 das

1097 IES 175 eram puacuteblicas 345 privadas e 48 particulares Em 2006 as puacuteblicas caiacuteram

para 11 e as privadas para 19 enquanto as IES particulares passaram a representar 70 do

sistema Nesta mesma direccedilatildeo seguem as matriacuteculas na Educaccedilatildeo Superior no periacuteodo de 1999 a

2006 observa-se diminuiccedilatildeo nas instituiccedilotildees puacuteblicas e privadas e crescimento nas particulares De

acordo com Bertolin (2007)

de maneira geral os argumentos e as justificativas para a mercantilizaccedilatildeo da educaccedilatildeo

superior estatildeo relacionados com os pressupostos liberais de que a competiccedilatildeo gerada pelo

mercado levaria a uma maior produtividade e eficiecircncia dos sistemas com consequente

melhoria na qualidade e equidade no provimento dos lsquoserviccedilosrsquo educacionais pelas

instituiccedilotildees (p 77)

Outro dado que compotildee o processo de mercadorizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior eacute a presenccedila

de grandes fundos de investimento no ldquomercado educacionalrdquo brasileiro um fenocircmeno que era

proacuteprio do mercado financeiro industrial e econocircmico agora tambeacutem estaacute presente na educaccedilatildeo

(Sguissardi 2008) O quadro que se configura mediante esta presenccedila eacute o de grandes grupos

muitos internacionais comprando e incorporando instituiccedilotildees menores e endividadas procedendo agrave

sua reestruturaccedilatildeo e revertendo a situaccedilatildeo de forma que a ldquoempresardquo volte a dar resultado isto eacute

lucro A esse respeito Trindade (2003) diz que ldquoinvestir em Educaccedilatildeo Superior tornou-se um dos

negoacutecios mais rentaacuteveis e por isso o Brasil tornou-se o grande campeatildeo da privatizaccedilatildeo da

Educaccedilatildeo Superiorrdquo (p 168)

Os usuaacuterios de serviccedilos puacuteblicos passaram a ser vistos como clientes e a Educaccedilatildeo

Superior natildeo eacute mais considerada um direito social ela se tornou um negoacutecio lucrativo Em relaccedilatildeo

a esta compreensatildeo Chauiacute (2003) resgata que foi por ocasiatildeo da reforma do Estado que a

educaccedilatildeo assim como a sauacutede e a cultura foram considerados um setor de serviccedilos natildeo exclusivos

do Estado Essa modificaccedilatildeo significou que a educaccedilatildeo deixou de ser concebida como um direito e

passou a ser considerada um serviccedilo que pode ser privado ou privatizado e de instituiccedilatildeo social

passou a organizaccedilatildeo social prestadora de serviccedilos

Para a autora a diferenccedila de uma organizaccedilatildeo para uma instituiccedilatildeo estaacute em que a primeira

define-se por uma praacutetica social que se baseia na instrumentalidade isto eacute a organizaccedilatildeo adota

meios particulares que lhe permitem obter o objetivo tambeacutem particular que a define Ademais

sendo uma administraccedilatildeo a organizaccedilatildeo eacute regida pelas ideias de gestatildeo planejamento previsatildeo de

controle e ecircxito Enquanto a organizaccedilatildeo tem a si mesma como referecircncia em um processo de

116

competiccedilatildeo com outras organizaccedilotildees que estabeleceram os mesmos objetivos a instituiccedilatildeo tem a

sociedade como referecircncia normativa e valorativa (Chauiacute 2003)

Conforme indica a autora tendo passado entatildeo de instituiccedilatildeo social agrave organizaccedilatildeo as IES

tecircm agora natildeo alunos mas clientes que fazem uso de um serviccedilo regulado pelo mercado Eacute a

mercadorizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo que segundo Barata-Moura (2003) tem como pressupostos a

equiparaccedilatildeo da educaccedilatildeo a uma coisa que se compra e se vende a conversatildeo da educaccedilatildeo num bem

transacionaacutevel ou num bem negociaacutevel de interesse privado ignorando o valor da educaccedilatildeo como

bem puacuteblico e a ausecircncia de entendimento de que se pode produzir alguns bens culturais

comercializaacuteveis sem que isso implique que a cultura soacute seja produzida a partir dos ditames do

mercado

Tem-se assim uma profunda transformaccedilatildeo no que concerne agrave identidade da educaccedilatildeo de

forma geral e da Educaccedilatildeo Superior Esta uacuteltima pressionada pelas novas concepccedilotildees e funccedilotildees

que lhe satildeo atribuiacutedas de instituiccedilatildeo social estaacute se transformando em ldquouma organizaccedilatildeo social

neoprofissional heterocircnoma operacional e empresarialcompetitivardquo (Sguissardi 2004 p 648)

Segundo o autor neoprofissional pelo fato das IES estarem focadas no ensino e na qualificaccedilatildeo

teacutecnica e profissional Heterocircnoma em menccedilatildeo agrave mudanccedila de um modelo centrado na autonomia

para a heteronomia isto eacute um modelo no qual setores externos agrave Educaccedilatildeo Superior tecircm mais

poder na definiccedilatildeo de sua missatildeo e objetivos do que ela mesma Competitiva porque submetida agrave

loacutegica do mercado no que se refere agraves prioridades funccedilotildees organizaccedilatildeo e atividades as IES se

veem impelidas a inovar em produtos e processos enfatizar as necessidades do mercado nos

curriacuteculos melhor preparar os alunos para o mundo do trabalho tornando-se competitiva

(Sguissardi 2006)

Conforme jaacute ressaltaram Dias Sobrinho e Brito (2008) a caracteriacutestica mais evidente da

Educaccedilatildeo Superior brasileira eacute a ldquoexpansatildeo livre e de qualidade duvidosa do setor privado com

espiacuterito de lucro Como consequecircncia do crescimento do setor privado se pode observar a

intensificaccedilatildeo da funccedilatildeo econocircmica e utilitarista da educaccedilatildeo superior com vaacuterias manifestaccedilotildees

de loacutegica mercantilrdquo (p 488)

Diante desse quadro em que a Educaccedilatildeo Superior passa a ser vista como uma fonte de lucro

e objeto de desejo do mercado instalam-se questionamentos acerca de sua funccedilatildeo e papel social

pois ora tem sido caracterizada ldquopor uma instituiccedilatildeo que produz conhecimentos e forma cidadatildeos

para as praacuteticas da vida social e econocircmica ora como aparato institucionalizado para beneficiar e

favorecer interesses mercadoloacutegicos e privatistasrdquo (Marinho-Arauacutejo 2009a p 160) De um lado

tem-se uma posiccedilatildeo que resgata sua funccedilatildeo formativa e emancipatoacuteria conforme lhe foi

historicamente atribuiacuteda de outro constata-se seu atual estado de mercadoria Estas duas

concepccedilotildees ainda que natildeo absolutamente estanques compotildeem o atual dilema da Educaccedilatildeo

Superior trata-se de um bem puacuteblico ou de um bem privado (Dias Sobrinho 2004a 2005 2008a

Goergen 2008 Severino 2000 2002 Sguissardi 2005 2008)

117

Por mais que exista um hibridismo acerca destes posicionamentos Dias Sobrinho (2004a)

identifica dois blocos nos quais se organizam as concepccedilotildees e funccedilotildees da Educaccedilatildeo Superior Em

um ldquohaacute sensiacuteveis predominacircncias de ideacuteias e praacuteticas que priorizam a funccedilatildeo eacutetico-poliacutetica que

consiste na democratizaccedilatildeo e no aprofundamento dos valores puacuteblicosrdquo (p 710) enquanto no outro

bloco predomina ldquoa funccedilatildeo teacutecnico-burocraacutetica-economicista que prioriza as bases do mercado a

gestatildeo eficaz o progresso das empresas e o sucesso individualrdquo (p 710) No primeiro bloco

situam-se aqueles que defendem os valores histoacutericos da Educaccedilatildeo Superior compreendendo-a

como instituiccedilatildeo produtora de conhecimento desvinculado de interesses secundaacuterios e

compromissada com a formaccedilatildeo de sujeitos cientes de seu papel ativo na transformaccedilatildeo da

sociedade em que vivem Diferentemente no segundo bloco estatildeo os adeptos da loacutegica do

mercado que entendem a Educaccedilatildeo Superior como instrumento voltado agrave satisfaccedilatildeo dos interesses

econocircmicos

A economia como um sistema de atividades humanas relacionadas agrave produccedilatildeo

distribuiccedilatildeo troca e consumo de bens e serviccedilos eacute uma dimensatildeo imprescindiacutevel da vida humana e

natildeo deve ser abolida contudo no que tange agrave sua relaccedilatildeo com a educaccedilatildeo ela natildeo pode ser

assumida como eixo orientador das praacuteticas educativas pois que assim a vida em sociedade seria

conduzida por valores e interesse individuais competitivos e utilitaristas

Diferentemente desta posiccedilatildeo fortemente atrelada agrave economia os adeptos do primeiro

bloco natildeo se referendam em uma sociedade cujo valor central eacute o mercantilismo pelo contraacuterio se

baseiam em uma sociedade pautada pela igualdade de direitos pela justiccedila social pelo respeito e

pela liberdade e que tem na educaccedilatildeo um importante aliado na construccedilatildeo dessa sociedade Com

base nesses distintos posicionamentos assume-se aqui a educaccedilatildeo como processo de construccedilatildeo e

de desenvolvimento da autonomia pessoal e social da consciecircncia poliacutetica social e ambiental da

criacutetica da reflexatildeo e do questionamento acerca das situaccedilotildees que permeiam a vida em sociedade

enfim educaccedilatildeo como formaccedilatildeo de cidadatildeos

No que diz respeito agrave Educaccedilatildeo Superior especificamente concorda-se com Dias Sobrinho

(2008a) para quem a finalidade central desse niacutevel educativo eacute a formaccedilatildeo para a vida em

sociedade ainda que natildeo de forma exclusiva e com as limitaccedilotildees que lhe satildeo conhecidas Para o

autor ldquocabe agrave Educaccedilatildeo Superior afirmar consolidar ou mesmo construir a cidadania Essa

formaccedilatildeo de cidadatildeos e consolidaccedilatildeo da cidadania eacute ao mesmo tempo construccedilatildeo da sociedade

democraacuteticardquo (p 195)

Considerando entatildeo as noccedilotildees de Educaccedilatildeo e de Educaccedilatildeo Superior assumidas neste

trabalho entende-se que satildeo indiscutivelmente um bem puacuteblico natildeo comercializaacutevel Nessa

direccedilatildeo compete agrave Educaccedilatildeo Superior promover o fortalecimento da autonomia e da emancipaccedilatildeo

a partir do exerciacutecio criacutetico e poliacutetico da participaccedilatildeo na vida em sociedade formar sujeitos

atuantes no processo coletivo de construccedilatildeo contiacutenua da sociedade contribuir para o

desenvolvimento de pessoas conscientes da possibilidade de transformaccedilatildeo da realidade investir na

118

promoccedilatildeo da solidariedade liberdade justiccedila respeito e igualdade de direitos e de condiccedilotildees

enquanto valores norteadores da vida coletiva

Por essa ampla concepccedilatildeo evidencia-se que a ideia de que cabe agrave Educaccedilatildeo Superior

formar e preparar os profissionais para o mercado de trabalho corresponde apenas a uma parcela

de sua funccedilatildeo ainda que essa formaccedilatildeo seja um rico instrumento ao alcance dos objetivos que

cabem agrave Educaccedilatildeo Superior A qualidade teacutecnica se entendida como funccedilatildeo principal da Educaccedilatildeo

Superior confere-lhe um papel instrumental que por mais importante e necessaacuterio que seja pouco

contribui para a transformaccedilatildeo da realidade social que hoje se caracteriza por seus paradoxos

incoerecircncias dilemas e conflitos

Na direccedilatildeo dessa compreensatildeo a colocaccedilatildeo e os questionamentos de Goergen (2005)

ilustram o quanto o papel da Educaccedilatildeo Superior extrapola a formaccedilatildeo profissional

claro que a formaccedilatildeo profissional eacute tarefa inarredaacutevel da universidade seja porque a

sociedade necessita de profissionais qualificados seja porque as pessoas precisam ganhar a

vida na sociedade em que vivem Acontece que este pragmatismo em particular no caso da

universidade puacuteblica natildeo eacute mais argumento suficiente para formar profissionais de

qualquer natureza sem questionar o papel que estes profissionais iratildeo desempenhar na

sociedade (p 13)

E no sentido de questionar o profissional que se deseja formar o autor problematiza

seratildeo profissionais interessados exclusivamente em vantagens pessoais ou teratildeo eles algum

tipo de sensibilidade responsabilidade e compromisso com ideais mais amplos como

justiccedila e bem-estar sociais Seraacute suficiente qualificar pessoas para um sistema

poliacuteticoeconocircmico estruturalmente injusto e excludente ou seraacute preciso despertar neles uma

visatildeo criacutetica que possa aleacutem de bons profissionais tornaacute-los agentes de transformaccedilatildeo (p

13)

No fundo e ateacute com alguma dose de utopia o que cabe agrave Educaccedilatildeo Superior eacute a produccedilatildeo e

a praacutetica dos direitos de cada um elementos constitutivos e balizadores da vida em sociedade com

vistas agrave consolidaccedilatildeo da democracia Nas palavras de Trindade (2003) ldquoa educaccedilatildeo como direito e

como bem puacuteblico sintetiza os fundamentos de uma poliacutetica educacional que eacute base de um projeto

de naccedilatildeo soberana numa sociedade democraacutetica solidaacuteria e justardquo (p 173) A LDB (Brasil 1996)

lei maior no acircmbito da educaccedilatildeo brasileira estabelece que a educaccedilatildeo ldquotem por finalidade o pleno

desenvolvimento do educando seu preparo para o exerciacutecio da cidadania e sua qualificaccedilatildeo para o

trabalhordquo (p 1) prevendo portanto que agrave educaccedilatildeo cabe simultaneamente a formaccedilatildeo do cidadatildeo

e sua preparaccedilatildeo para o trabalho

Diante de possiacuteveis criacuteticas que possam emergir em virtude desse posicionamento no

sentido de dizer que eacute utoacutepico e idealista pensar a Educaccedilatildeo Superior como soluccedilatildeo para os

problemas do mundo haacute que se esclarecer que natildeo eacute esse o entendimento orientador do

posicionamento aqui assumido Eacute evidente que as IES natildeo hatildeo de transformar o mundo mas

119

podem sim contribuir para o processo de transformaccedilatildeo desde que tenham lucidez do seu papel

nesta complexa trama

Tem-se claro que ldquoos problemas da pobreza do desemprego da ignoracircncia da alienaccedilatildeo

dependem de soluccedilotildees a niacutevel econocircmico poliacutetico e administrativo que natildeo poderiam ser adiadas

sob o pretexto de que com a educaccedilatildeo eles se resolveriam naturalmenterdquo (Schwartzman conforme

citado em Pereira 2009a p 47) Todavia como instituiccedilotildees produtoras e disseminadoras de

conhecimento e enquanto agentes de formaccedilatildeo de profissionais e de cidadatildeos as IES tecircm a

possibilidade de criar junto aos seus atores espaccedilos de reflexatildeo acerca do mundo e das ideias

relaccedilotildees valores e princiacutepios que o organizam Esta reflexatildeo base do processo de conscientizaccedilatildeo

humana possibilita ao sujeito tomar decisotildees e orientar suas accedilotildees agrave luz do cenaacuterio por ele

criticamente analisado

Nesta perspectiva as Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior estatildeo ldquoencarregadas de gerar e

difundir os conhecimentos e formar profissionais-cidadatildeos capazes de liderar nos campos de sua

atuaccedilatildeo o processo de transformaccedilatildeo socialrdquo (Goergen 2008 p 811) Esse eacute o sentido de vincular

a formaccedilatildeo de profissionais agrave Educaccedilatildeo Superior isto eacute natildeo se trata de capacitar mais e mais

recursos humanos para compor acriticamente a engrenagem socioeconocircmica que estaacute dada mas

formar profissionais suficientemente competentes que ao participarem dessa engrenagem possam

questionaacute-la e se assim acharem apropriado tentar transformaacute-la

Sendo assim quanto ao envolvimento da Educaccedilatildeo Superior com a formaccedilatildeo de

profissionais para o mercado de trabalho acredita-se que ela natildeo pode nem deve declinar dessa

funccedilatildeo pois a qualificaccedilatildeo profissional eacute um importante aspecto da cidadania e eacute um elemento

imprescindiacutevel do desenvolvimento da vida social Entretanto a formaccedilatildeo natildeo deve se limitar agrave

mera capacitaccedilatildeo teacutecnica e adesatildeo acriacutetica agraves exigecircncias do mercado e da economia (Dias

Sobrinho 2004a 2008a Goergen 2008 Severino 2000 Trindade 2003) A educaccedilatildeo em niacutevel

superior deve focar-se na ldquoformaccedilatildeo de profissionais competentes do ponto de vista teacutecnico e

operacional poreacutem com profundo sentido eacutetico autonomia moral e consciecircncia de que o

conhecimento e a teacutecnica satildeo bens puacuteblicosrdquo (Dias Sobrinho 2008a p 16) e natildeo devem ser

assumidos apenas como instrumentos de sucesso individual

Agrave medida que a economia estaacute cada vez mais subordinada ao conhecimento depende ldquomais

dos graduados do ensino superior que constituem uma lsquomassa de trabalho pensantersquordquo (UNESCO

1999 p 53) e espera profissionais potencialmente criativos inventivos e inovadores e natildeo

somente que reproduzam o que foi aprendido Assim entendido o duplo sentido da Educaccedilatildeo

Superior o desafio que lhe impotildee eacute o de equilibrar as duas dimensotildees da formaccedilatildeo a competecircncia

teacutecnica e a consciecircncia eacutetica

Tendo como pano de fundo as questotildees levantadas sobre legitimidade da Educaccedilatildeo

Superior produccedilatildeo do conhecimento e articulaccedilatildeo com o mercado Magalhatildees (2004) postula que a

Educaccedilatildeo Superior natildeo deve ser vista como veiacuteculo para reproduccedilatildeo das elites do conhecimento ou

120

para a produccedilatildeo de quadros profissionais para o mercado de trabalho Ela eacute e deve ser entendida

como um meio de desenvolvimento da reflexatildeo Nesta direccedilatildeo o autor diz que ldquoo ensino superior

natildeo eacute redutiacutevel a uma questatildeo de consumo individual eventualmente destituiacutedo de elementos

criacuteticos e reflexivos mas antes que deve ser entendido como uma instituiccedilatildeo social com o papel

crucial de apoiar a acccedilatildeo reflexiva e como uma importante reserva de pensamento criacutetico reflexivo

e mesmo alternativordquo (p 352)

Na tentativa se superar a crise e reconstruir sua identidade as IES devem reagir

reflexivamente de modo que o confronto com as transformaccedilotildees e demandas se decirc de forma mais

consistente e luacutecida Construir e instalar uma praacutetica reflexiva nas IES em relaccedilatildeo agrave sua missatildeo sua

responsabilidade e envolvimento com a sociedade seus desafios contradiccedilotildees e dilemas seus

objetivos e metas constitui entatildeo um imperativo pois do contraacuterio a Educaccedilatildeo Superior estaraacute

ameaccedilada de perder sua hegemonia e acima de tudo seu lugar de agente de formaccedilatildeo e de

transformaccedilatildeo social Nesta direccedilatildeo Goergen (2005) reforccedila que entre todas as contradiccedilotildees nas

quais a Educaccedilatildeo Superior estaacute envolvida ela deve no miacutenimo conseguir estimular nos seus

professores pesquisadores e estudantes uma postura de reflexividade criacutetica acerca da realidade

social e da realidade interna da instituiccedilatildeo

Eacute necessaacuterio analisar e ponderar em uma espeacutecie de vigilacircncia contiacutenua a relaccedilatildeo entre as

transformaccedilotildees sociais econocircmicas e poliacuteticas e os discursos pressotildees e dilemas com que a

Educaccedilatildeo Superior se confronta Concorda-se com Magalhatildees (2004) quando diz que o significado

da estrateacutegia reflexiva proposta eacute se perguntar continuamente E a Educaccedilatildeo Superior Pois assim

as decisotildees seratildeo tomadas garantindo a identidade das instituiccedilotildees que a compotildeem e das atividades

que nelas se desenvolvem

Breve histoacuterico e cenaacuterio recente da Educaccedilatildeo Superior em Portugal

Portugal eacute a naccedilatildeo mais ocidental do continente europeu com cerca de 10 milhotildees de

habitantes distribuiacutedos por volta de 92 mil kmsup2 Eacute um paiacutes desenvolvido entretanto tem sido

classificado como um paiacutes europeu semi-perifeacuterico por ter o menor produto interno bruto per

capita Segundo a Eurostat organizaccedilatildeo da Uniatildeo Europeacuteia responsaacutevel pelas informaccedilotildees

estatiacutesticas a niacutevel europeu que permitam comparaccedilotildees entre paiacuteses e regiotildees o PIB per capita de

Portugal era em 2009 de 15800 euros enquanto a meacutedia dos paiacuteses da Uniatildeo Europeia era de

23600 euros (Eurostat 2011) A esse respeito Sousa Santos (2002) esclarece que

Portugal eacute uma sociedade de desenvolvimento intermeacutedio Algumas caracteriacutesticas sociais

(taxa de crescimento populacional leis e instituiccedilotildees algumas praacuteticas de consumo etc)

aproximam-na das sociedades mais desenvolvidas enquanto outras (infra-estrutura

colectivas poliacuteticas culturais tipo de desenvolvimento industrial etc) a aproximam das

sociedades menos desenvolvidas (p 53)

121

No que tange agrave educaccedilatildeo ela estaacute garantida a todos os cidadatildeos por meio da Constituiccedilatildeo

da Repuacuteblica Portuguesa (Portugal 1976) e reiterada pela Lei de Bases do Sistema Educativo

(Portugal 1986) Esta estabelece que a educaccedilatildeo escolar compreende os ensinos baacutesico secundaacuterio

e superior O ensino baacutesico eacute universal obrigatoacuterio e gratuito e tem a duraccedilatildeo de nove anos O

ensino secundaacuterio tem a duraccedilatildeo de trecircs anos e eacute acessiacutevel a quem completou com aproveitamento

o ensino baacutesico Ao ensino superior por sua vez tecircm acesso os indiviacuteduos habilitados com o curso

do ensino secundaacuterio ou equivalente e que faccedilam prova de capacidade ou seja que sejam

aprovados em exame especiacutefico de ingresso para a educaccedilatildeo em niacutevel superior

Atualmente o Ensino Superior portuguecircs se organiza em um sistema binaacuterio ensino

universitaacuterio direcionado para a oferta de formaccedilotildees cientiacuteficas e o ensino politeacutecnico voltado

para formaccedilotildees teacutecnicas orientadas profissionalmente (Portugal 2007) As instituiccedilotildees

universitaacuterias estatildeo voltadas para a criaccedilatildeo transmissatildeo e difusatildeo da cultura do conhecimento da

ciecircncia e tecnologia atraveacutes do ensino e da pesquisa Os institutos politeacutecnicos por outro lado

estatildeo orientados para a produccedilatildeo e divulgaccedilatildeo da cultura e do saber de natureza profissional

Ambas as instituiccedilotildees conferem os graus de licenciado e de mestre mas o grau de doutor soacute eacute

conferido pelas universidades A Figura 7 ilustra como estaacute organizado o Sistema Educativo

portuguecircs

122

Figura 7 Organizaccedilatildeo do Sistema Educativo de Portugal

Especificamente em relaccedilatildeo agrave Educaccedilatildeo Superior as primeiras universidades do paiacutes datam

do niacutecio do seacuteculo XIII sendo a Universidade de Coimbra a primeira IES a se constituir em

Portugal e que inclusive funciona ateacute os dias de hoje Desde entatildeo a evoluccedilatildeo do Sistema de

Educaccedilatildeo Superior vem acompanhando as transformaccedilotildees econocircmicas e sociais Se em vaacuterias

eacutepocas o Ensino Superior portuguecircs assumiu posiccedilatildeo de vanguarda houve outras marcadas pela

crise e por consideraacuteveis transformaccedilotildees (Tavares 2008)

Segundo a autora nas eacutepocas em que Portugal se apresentava entre os paiacuteses mais

desenvolvidos particularmente nos seacuteculos XIV e XV a educaccedilatildeo e a pesquisa no paiacutes eram

consideradas bastante avanccediladas para a eacutepoca No entanto nos periacuteodos de crise econocircmica a

Educaccedilatildeo acabou por ser afetada pela diminuiccedilatildeo do investimento sendo deixada em segundo

plano

123

Foi com a implantaccedilatildeo da Repuacuteblica em 1910 que se notou uma preocupaccedilatildeo com a

Educaccedilatildeo Superior particularmente com sua democratizaccedilatildeo e a modernizaccedilatildeo da Universidade

Os regimes poliacuteticos que se seguiram tambeacutem acarretaram mudanccedilas no acircmbito do Ensino

contudo nem sempre com objetivos comuns O Estado Novo por exemplo natildeo assumiu o

compromisso da expansatildeo do acesso agraves Universidades restringindo-o a uma pequena elite nas

matildeos da qual estaria o poder poliacutetico e econocircmico (Tavares 2008) De forma geral a educaccedilatildeo

sofreu um forte desinvestimento que era significativamente inferior quando comparado aos demais

paiacuteses europeus Mas natildeo eacute soacute em termos do investimento financeiro que Portugal se distancia

desfavoravelmente da meacutedia europeia o nuacutemero de estudantes na Educaccedilatildeo Superior tambeacutem eacute

relativamente baixo

A Revoluccedilatildeo de 25 de Abril de 1974 conhecida por Revoluccedilatildeo dos Cravos foi um

acontecimento histoacuterico que pocircs fim agrave longa ditadura europeia e levou a vaacuterias mudanccedilas

estruturais na Histoacuteria de Portugal Contemporacircnea instalando um regime democraacutetico Em relaccedilatildeo

agrave Educaccedilatildeo Superior a revoluccedilatildeo de caraacuteter socialista estava mais preocupada com a alfabetizaccedilatildeo

dos operaacuterios do que com a evoluccedilatildeo da Universidade Neste periacuteodo o crescimento do acesso agrave

Educaccedilatildeo Superior foi lento e em virtude do nuacutemero de candidatos ser superior ao nuacutemero de

vagas disponiacutevel a pressatildeo sobre o Ensino Superior Puacuteblico foi bastante significativa Essa pressatildeo

foi reduzida com o aumento das instituiccedilotildees de Ensino Superior particulares ou cooperativas

Assim enquanto em 1973 existiam apenas quatro universidades puacuteblicas em Portugal em 1980

haviam no sistema puacuteblico nove Universidades quatro Institutos Superiores e a Universidade

Aberta o que representa uma evoluccedilatildeo ainda que discreta

Atualmente o Ensino Superior portuguecircs pode ser classificado em puacuteblico em particular e

cooperativo e em concordataacuterio (Portugal 2007) Dentro do Ensino Superior puacuteblico estatildeo as

universidades os institutos politeacutecnicos e as academias escolas e institutos militarespoliciais

como a Escola Naval a Academia Militar a Academia da Forccedila Aeacuterea e a Escola do Serviccedilo de

Sauacutede Militar

O Ensino Superior particular e cooperativo engloba universidades e institutos politeacutecnicos

particulares e cooperativos Por fim o Ensino Superior concordataacuterio corresponde agrave Universidade

Catoacutelica Portuguesa que eacute uma instituiccedilatildeo puacuteblica natildeo estatal reconhecida pelo Estado Portuguecircs

atraveacutes de decreto-lei Segundo o Ministeacuterio da Ciecircncia Tecnologia e Educaccedilatildeo Superior (MCTES

2010) Portugal tem 152 Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior organizadas conforme ilustra a Tabela

6

124

Tabela 6

Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior de Portugal

Tipo de ensino Nordm IES

Ensino Superior Puacuteblico Universitaacuterio 15

Politeacutecnico 19

Militar e policial 6

Ensino Superior Particular e

Cooperativo

Universitaacuterio 48

Politeacutecnico 63

Ensino Superior

Concordataacuterio

Universidade Catoacutelica

Portuguesa

1

Os instituos politeacutecnicos voltados agrave preparaccedilatildeo profissional prevalecem entre as IES

correspondendo a 54 delas E assim como no Brasil no cenaacuterio portuguecircs as instituiccedilotildees privadas

satildeo maioria correspondem a 73 do Sistema de Educaccedilatildeo Superior do paiacutes e estatildeo mais

distribuiacutedas pelo paiacutes A tiacutetulo de ilustraccedilatildeo da organizaccedilatildeo regional das IES as Figuras 8 e 9

mostram a distribuiccedilatildeo das universidades em Portugal

Figura 8 Distribuiccedilatildeo das universidades puacuteblicas em Portugal Nota Retirado do MCTES (2010)

125

Enquanto a Figura 8 ilustra a distribuiccedilatildeo das universidades puacuteblicas a Figura 9 focaliza as

de natureza privada que trecircs vez em maior nuacutemero se distribuem mais pelo territoacuterio portuguecircs

Figura 9 Distribuiccedilatildeo das universidades privadas em Portugal Nota Retirado do MCTES (2010)

Conforme evidenciam estas figuras enquanto as universidades puacuteblicas estatildeo concentradas

nas regiotildees urbanadas de Lisboa e do Porto as universidades privadas estatildeo mais distribuiacutedas

regionalmente inclusive em vaacuterios distritos do interior

Em relaccedilatildeo ao nuacutemero de novas vagas oferecidas nas IES de Portugal ele era de 71592

nos anos de 19951996 tendo crescido para 91901 em 20092010 (GPEARI 2009 2010b) A

distribuiccedilatildeo destas vagas entre as instituiccedilatildeo puacuteblicas e privadas eacute apresentada na Figura 10 que

mostra que as instituiccedilotildees universitaacuterias satildeo as que mais recebem novos estudantes

126

0

10000

20000

30000

EnsinoPuacuteblico

EnsinoPrivado

Universitaacuterio

Politeacutecnico

Figura 10 Distribuiccedilatildeo de vagas na Educaccedilatildeo Superior de Portugal

Estas vagas oportunizaram a matriacutecula de 81368 novos alunos o que representa um

aumento de 22 em relaccedilatildeo ao ano letivo de 19951996 (GPEARI 2010b) Entretanto a despeito

do crescimento quantitativo a democratizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior natildeo pode se restringir agrave

ampliaccedilatildeo do nuacutemero de alunos ingressantes sendo necessaacuterio considerar as questotildees relativas ao

abandono e insucesso acadecircmico O iacutendice de sucesso escolar calculado pelo survival rate da

OCDE mesmo apresentando iacutendices mais positivos aponta que um pouco mais de 30 dos

estudantes de Portugal natildeo concluiacuteram seu curso (GPEARI 2008) Estes dados apenas ilustrativos

evidenciam que ao se abordar a questatildeo da democratizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior no atual contexto

social econocircmico e poliacutetico importa necessariamente levar em conta as oportunidades de acesso

bem como as estrateacutegias de apoio agrave permanecircncia dos estudantes e agrave conclusatildeo dos seus cursos

Quanto ao nuacutemero total de alunos matriculados na Educaccedilatildeo Superior incluindo os novos

estudantes e aqueles jaacute em curso registrou-se 383627 alunos inscritos no ano letivo de 20092010

dos quais 77 estatildeo matriculados em instituiccedilotildees de ensino superior puacuteblico Em relaccedilatildeo aos

concluintes ou aos alunos diplomados em 20082009 formaram-se 76567 alunos dos quais 75

vinculados a instituiccedilotildees de ensino superior puacuteblicas (GPEARI 2010b)

No que diz respeito aos docentes dos 35380 professores no ano de 2008 70 (24728)

atuava em instituiccedilotildees puacuteblicas e destes 41 (14466) estavam vinculados a instituiccedilotildees

universitaacuterias (GPEARI 2010a)

Outro indicador que compotildee o cenaacuterio recente da Educaccedilatildeo Superior em Portugal diz

respeito agrave diversificaccedilatildeo do perfil social das pessoas que ingressam nesse niacutevel educativo Nas

uacuteltimas deacutecadas uma tendecircncia identificada eacute a forte preponderacircncia das mulheres que satildeo maioria

no conjunto de alunos matriculados na Educaccedilatildeo Superior satildeo elas tambeacutem que mais concluem

seus cursos superiores (Martins Mauritti amp Costa 2005)

127

Aleacutem disso 15 dos estudantes teve formaccedilatildeo profissional ou exerceu alguma atividade

laboral antes de entrar para a Educaccedilatildeo Superior sendo que quanto maior a idade maior a

probabilidade relativa dos estudantes declararem ter experiecircncia profissional anterior (Martins

Mauritti amp Costa 2005) Diferentemente de deacutecadas atraacutes eacute cada vez mais comum que os

estudantes em niacutevel superior conciliem atividades acadecircmicas e profissionais

Em relaccedilatildeo agrave origem social e econocircmica dos estudantes ainda eacute significativo o fato de que

os alunos com situaccedilatildeo mais favoraacutevel prevalecem ldquo58 dos estudantes do ensino superior satildeo

provenientes das categorias sociais melhor equipadas de recursos econoacutemicos culturais e sociais ndash

os empresaacuterios dirigentes e profissionais liberais e os profissionais teacutecnicos e de enquadramentordquo

(Martins Mauritti amp Costa 2005 p 35)

Tambeacutem compotildeem o cenaacuterio recente da Educaccedilatildeo Superior portuguesas as mudanccedilas

associadas ao Processo de Bolonha que trouxeram reformulaccedilotildees em termos da organizaccedilatildeo dos

cursos dos objetivos e das metodologias de ensino e de avaliaccedilatildeo Uma importante modificaccedilatildeo na

organizaccedilatildeo dos cursos superiores eacute a alteraccedilatildeo de um ensino essencialmente baseado na

transmissatildeo de conhecimentos por um ensino baseado na construccedilatildeo e desenvolvimento de

competecircncias Valorizando e incentivando essa mudanccedila ao caracterizar um novo perfil de egresso

para a Educaccedilatildeo Superior o Processo de Bolonha o faz com base em competecircncias a desenvolver e

natildeo somente em conhecimentos a adquirir Em decorrecircncia destas e outras inovaccedilotildees em Portugal

assim como em outros paiacuteses europeus o desenvolvimento de competecircncias pelos proacuteprios alunos

tem se tornado uma questatildeo central levando a novas exigecircncias quanto agrave organizaccedilatildeo do trabalho

pedagoacutegico e do sistema curricular (Tavares 2008 Portugal 2004)

De forma geral Portugal tem um Sistema de Educaccedilatildeo Superior complexo e que tem

vivenciado modificaccedilotildees importantes a partir da instalaccedilatildeo do Processo de Bolonha que exigiu

nova formataccedilatildeo curricular e pedagoacutegica dos cursos mudanccedilas no financiamento para alunos

criaccedilatildeo de agecircncia de avaliaccedilatildeo e acreditaccedilatildeo entre outros aspectos Assim como o Brasil apesar

de sua expansatildeo nas uacuteltimas deacutecadas natildeo se pode afirmar que haja uma democratizaccedilatildeo do acesso

a este niacutevel educativo em Portugal o que justifica e impulsiona esforccedilos governamentais e

institucionais de ampliaccedilatildeo das oportunidades e da qualidade da formaccedilatildeo oferecida

128

CAPIacuteTULO III

DEFINICcedilAtildeO DO PROBLEMA DE PESQUISA

Este capiacutetulo traz razotildees que motivaram o desenvolvimento dessa pesquisa e

problematizaccedilotildees acerca da atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo Superior as quais

orientaram a elaboraccedilatildeo dos objetivos deste trabalho

PROBLEMATIZACcedilOtildeES

A motivaccedilatildeo para desenvolver esse estudo decorre principalmente do reconhecimento de

que novos campos de atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar estatildeo emergindo em virtude de demandas

contemporacircneas que tecircm como foco a melhoria da qualidade dos serviccedilos oferecidos por

instituiccedilotildees revestidas de funccedilotildees educativas A inserccedilatildeo da aacuterea em contextos ainda pouco

explorados imprime aos seus pesquisadores e profissionais o desafio de produzir conhecimentos e

construir accedilotildees que contribuam com a promoccedilatildeo do processo educativo

Entre os contextos menos tradicionais de inserccedilatildeo da Psicologia Escolar a Educaccedilatildeo

Superior adquire interesse especial neste estudo dado ser um dos niacuteveis de educaccedilatildeo e portanto

responsaacutevel pela formaccedilatildeo de pessoas pelo desenvolvimento de sujeitos conscientes de suas

potencialida des e das competecircncias que lhes permitiratildeo agir em prol da transformaccedilatildeo da

realidade social A consecuccedilatildeo dos objetivos formativos que competem agrave Educaccedilatildeo Superior estaacute

vinculada agrave clareza que seus profissionais tecircm acerca do papel da educaccedilatildeo em niacutevel superior e de

suas funccedilotildees e responsabilidades no cumprimento deste papel Entende-se portanto que investigar

e refletir acerca das contribuiccedilotildees da Psicologia Escolar agrave Educaccedilatildeo Superior eacute uma maneira de

construir indicadores de atuaccedilatildeo profissional que auxiliem na formaccedilatildeo inicial e continuada dos

psicoacutelogos escolares que atuam neste contexto bem como orientar a formaccedilatildeo daqueles que

pretendem nele atuar

Diante do intuito de explorar e evidenciar possiacuteveis intervenccedilotildees da Psicologia Escolar na

Educaccedilatildeo Superior alguns questionamentos acerca de como estaacute constituiacutedo este cenaacuterio foram

surgindo Tais questotildees estatildeo orientadas pela necessidade de conhecer como os psicoacutelogos

escolares que trabalham em Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior vecircm desenvolvendo suas atividades

quais as principais demandas que lhe satildeo apresentadas quais os recursos que percebem como

necessaacuterios na realizaccedilatildeo de suas atribuiccedilotildees entre outras questotildees Apresentam-se a seguir

algumas problematizaccedilotildees que foram suscitadas nas reflexotildees acerca da relaccedilatildeo entre a Psicologia

Escolar e Educaccedilatildeo Superior

129

1 Qual o panorama da Psicologia Escolar nas Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior Haacute

psicoacutelogos escolares em seu quadro de funcionaacuterios

2 Como eacute o trabalho desenvolvido por estes profissionais O que fazem e pensam em

relaccedilatildeo agrave sua atuaccedilatildeo neste niacutevel educativo

3 Quais satildeo as principais demandas e expectativas direcionadas ao psicoacutelogo escolar na

Educaccedilatildeo Superior E quais dificuldades vivenciam

4 Qual o perfil desejado de psicoacutelogo escolar para atuar na Educaccedilatildeo Superior Quais

competecircncias satildeo consideras importantes para a atuaccedilatildeo deste profissional na

Educaccedilatildeo Superior

5 Qual a contribuiccedilatildeo da Psicologia Escolar para a melhoria da qualidade da Educaccedilatildeo

Superior no Brasil

A partir da convicccedilatildeo de que a inserccedilatildeo em um novo contexto de atuaccedilatildeo exige a

investigaccedilatildeo e construccedilatildeo de indicadores que a norteiem as questotildees problematizadoras orientaram

a definiccedilatildeo dos objetivos da pesquisa conforme apresentados a seguir

OBJETIVOS

Objetivo Geral

Investigar a atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar em Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior

Objetivos Especiacuteficos

Compor um panorama dos Serviccedilos de Psicologia de Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior

do Brasil em especial do Distrito Federal e de Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior de

Portugal

Mapear e analisar a atuaccedilatildeo de psicoacutelogos escolares em Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo

Superior do Distrito Federal e de Portugal

Investigar experiecircncias diferenciadas de atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo

Superior

Acompanhar a atuaccedilatildeo de um psicoacutelogo escolar em uma Instituiccedilatildeo de Educaccedilatildeo

Superior do Distrito Federal

Elaborar proposta de criaccedilatildeo e estruturaccedilatildeo para os Serviccedilos de Psicologia na

Educaccedilatildeo Superior

130

CAPIacuteTULO IV

OPCcedilOtildeES EPISTEMOLOacuteGICAS E METODOLOacuteGICAS

Este capiacutetulo estaacute dedicado agrave explicitaccedilatildeo das concepccedilotildees que sustentam as escolhas

teoacuterico-metodoloacutegicas deste estudo Nessa direccedilatildeo a primeira parte traz os fundamentos da

perspectiva histoacuterico-cultural assumida como alicerce epistemoloacutegico da pesquisa aleacutem da

epistemologia qualitativa que sob as bases da primeira orientam as escolhas metodoloacutegicas Na

segunda parte do capiacutetulo estatildeo contemplados os procedimentos metodoloacutegicos que possibilitaratildeo

a realizaccedilatildeo da pesquisa Nesta ocasiatildeo apresenta-se o desenho metodoloacutegico construiacutedo para

subsidiar a investigaccedilatildeo das questotildees centrais que perpassam este trabalho e os procedimentos de

anaacutelise das informaccedilotildees

A PESQUISA CIENTIacuteFICA EM PSICOLOGIA NA PERSPECTIVA HISTOacuteRICO-

CULTURAL REFLEXOtildeES EPISTEMOLOacuteGICAS

A discussatildeo acerca dos pressupostos epistemoloacutegicos que sustentam uma pesquisa

configura-se como um momento indispensaacutevel agrave construccedilatildeo do conhecimento cientiacutefico uma vez

que sob a escolha de um meacutetodo estaacute subjacente uma concepccedilatildeo de homem de mundo e de ciecircncia

(Aguiar 2007 Gonccedilalves 2007 Madureira amp Branco 2001 Tittoni amp Jacques 1998) O

instrumental que se elege para investigar a realidade eacute indissociaacutevel de uma abordagem

epistemoloacutegica de maneira que as reflexotildees acerca da articulaccedilatildeo teoria e meacutetodo precedem a

definiccedilatildeo dos instrumentos e a operacionalizaccedilatildeo da investigaccedilatildeo

A presente pesquisa se desenvolve com base em uma abordagem qualitativa que se ancora

nos pressupostos epistemoloacutegicos da perspectiva histoacuterico-cultural (Vygotsky 19842003

19872008 19961999)2 No iniacutecio do seacuteculo XX Vygotsky (1999) com base no materialismo

histoacuterico dialeacutetico apontou que a crise vivenciada pela Psicologia estava relacionada agrave

compreensatildeo que se tinha dos processos psicoloacutegicos e dos meacutetodos que eram eleitos para

investigar tais processos

O foco de Vygotsky (1999 2003) sobre os processos psicoloacutegicos estava atrelado agrave sua

defesa de que estes satildeo de natureza qualitativamente distinta dos processos elementares proacuteprios

dos animais o que consequentemente leva agrave necessidade de utilizar meacutetodos diferentes dos que

satildeo usados para investigar o comportamento animal Segundo o autor a especificidade da condiccedilatildeo

humana estaacute no desenvolvimento das funccedilotildees psicoloacutegicas superiores que se referem a mecanismos

intencionais a processos voluntaacuterios e a accedilotildees controladas de forma consciente pelo proacuteprio

2 Pelo fato das obras de Lev S Vygotsky (1896-1934) serem consideradas claacutessicas na Psicologia indica-se nas citaccedilotildees ao autor a data original da primeira publicaccedilatildeo brasileira seguida da versatildeo consultada neste trabalho Com o objetivo de tornar a leitura do texto mais fluida estas indicaccedilotildees satildeo feitas apenas na primeira apariccedilatildeo no texto nas demais cita-se somente a versatildeo consultada

131

sujeito Diferentemente dos processos elementares inatos e determinados pela maturaccedilatildeo

bioloacutegica as funccedilotildees superiores tecircm origem nas relaccedilotildees entre as pessoas com o contexto cultural e

social no qual estatildeo inseridos

Ao assumir que o homem difere qualitativamente dos animais Vygotsky (1999 2003)

indica que o fator criacutetico para esta distinccedilatildeo satildeo as dimensotildees historicamente criadas e

culturalmente elaboradas pela humanidade as quais estatildeo totalmente ausentes na organizaccedilatildeo

social dos animais Nessa direccedilatildeo Vygotsky (2003) estabelece que

o comportamento humano difere qualitativamente do comportamento animal na mesma

extensatildeo em que diferem a adaptabilidade e desenvolvimento dos animais O

desenvolvimento psicoloacutegico dos homens eacute parte do desenvolvimento histoacuterico geral de

nossa espeacutecie e assim deve ser entendido A aceitaccedilatildeo dessa proposiccedilatildeo significa termos de

encontrar uma nova metodologia para a experimentaccedilatildeo psicoloacutegica (p 80)

Com o apoio da abordagem dialeacutetica Vygotsky (1999 2003) anunciava que era

inconcebiacutevel propor a investigaccedilatildeo de fenocircmenos psicoloacutegicos especificamente humanos com

base em metodologias naturaliacutesticas que focam na relaccedilatildeo unidirecional e reativa entre o

comportamento e a natureza Diferentemente o estudo do homem pressupotildee contemplar estrateacutegias

metodoloacutegicas capazes de acessar a sua subjetividade a qual vai se constituindo e se transformando

ao longo do tempo

Em complementaccedilatildeo agrave sua defesa de que cabe agrave Psicologia estudar as funccedilotildees psicoloacutegicas

superiores Vygotsky (1999) estabeleceu trecircs princiacutepios agrave anaacutelise que se ancora na abordagem

histoacuterico-cultural O primeiro refere-se agrave necessidade de analisar processos e natildeo objetos como

partes isoladas do todo Com base nesse princiacutepio a ecircnfase dos estudos em Psicologia deve recair

sobre o desenvolvimento de um processo que ldquorequer uma exposiccedilatildeo dinacircmica dos principais

pontos constituintes da histoacuterica dos processosrdquo (p 81) e natildeo em objetos que se manteacutem estaacuteveis e

fixos ao longo do tempo O segundo princiacutepio diz respeito agrave necessidade de privilegiar a explicaccedilatildeo

em vez da pura descriccedilatildeo isto eacute investigar a gecircnese e as bases dinacircmico-causais subjacentes ao

fenocircmeno em vez de apenas descrevecirc-lo do ponto de vista de sua aparecircncia externa Por fim o

terceiro princiacutepio estreitamente vinculado ao primeiro trata da importacircncia de concentrar a anaacutelise

no processo e natildeo no produto ou em comportamentos que jaacute estatildeo cristalizados ou seja deve-se

estudar os fenocircmenos em seu processo de mudanccedila em vez dos comportamentos que estatildeo sendo

repetidos de forma automatizada e mecacircnica Pela explicitaccedilatildeo destes trecircs princiacutepios Vygotsky

(1999 2003) chama atenccedilatildeo para a base processual dos fenocircmenos psicoloacutegicos os quais se

desenvolvem e se alteram no decorrer do tempo e sobre a influecircncia das relaccedilotildees sociais

O homem eacute um sujeito que age sobre os objetos e cuja accedilatildeo transforma o objeto e ao

proacuteprio homem tambeacutem Em razatildeo do reconhecimento de que sujeito e realidade se constituem

mutuamente e de que o homem estaacute constantemente se apropriando de aspectos da realidade e

produzindo objetivaccedilotildees que a modificam a finalidade da anaacutelise eacute conhecer o movimento dos

132

sujeitos nas relaccedilotildees que estabelecem e que levam agrave emergecircncia de novas possibilidades aos

sujeitos em relaccedilatildeo (Zanella Reis Titon Urnau amp Dassoler 2007) Estudar os fenocircmenos

historicamente construiacutedos e dialeticamente em movimento significa olhar para as contradiccedilotildees

simetrias oposiccedilotildees coerecircncias e tensotildees que perpassam esses fenocircmenos e que satildeo apropriados de

forma uacutenica e particular pelas pessoas ao longo de sua vida

Os estudos qualitativos que tecircm por base a perspectiva histoacuterico-cultural natildeo estatildeo voltados

para os resultados finais de um processo para o produto acabado mas sim para o

desenvolvimento do proacuteprio processo e dos diferentes fatores que o influenciaram Assim as

questotildees formuladas para a pesquisa baseada nessa perspectiva estatildeo orientadas para a

compreensatildeo dos fenocircmenos na sua complexidade e em seu acontecer histoacuterico (Freitas 2002)

Nessa mesma direccedilatildeo Zanella e cols (2007) concluem que a mudanccedila

epistemoloacutegicametodoloacutegica proposta por Vygotsky para a Psicologia alicerccedilava-se em uma

compreensatildeo de homem essencialmente histoacuterica e cultural e assim vai ldquona contramatildeo de

perspectivas que isolam o sujeito de seu contexto pois o proacuteprio psiquismo eacute construiacutedo

historicamente na complexa e indissociaacutevel relaccedilatildeo sujeito e sociedaderdquo (p 28) E dada a

complexidade e dinamicidade inerentes aos processos psicoloacutegicos um grande desafio se instala

quando se tem como meta estudaacute-los cientificamente

A possibilidade da psicologia como ciecircncia eacute antes de mais nada um problema

metodoloacutegico Em nenhuma ciecircncia existem tantas dificuldades controveacutersias insoluacuteveis

uniotildees de questotildees diversas como em psicologia O objeto da psicologia eacute o mais difiacutecil

que existe no mundo o que menos se deixa estudar sua maneira de conhecer teraacute de estar

cheia de subterfuacutegios e precauccedilotildees especiais para proporcionar o que dela se espera

(Vygotsky 1999 pp 389-390)

Partindo da fundamentaccedilatildeo de que as funccedilotildees psicoloacutegicas superiores satildeo socialmente

constituiacutedas em um processo interativo sua investigaccedilatildeo cientiacutefica tambeacutem deve prezar pela

relaccedilatildeo entre os sujeitos Na medida que todo conhecimento eacute construiacutedo na inter-relaccedilatildeo das

pessoas produzir conhecimento a partir de uma pesquisa eacute assumi-la como um processo social

compartilhado coconstruiacutedo pelos sujeitos envolvidos e tambeacutem promotor de desenvolvimento

Resulta desse entendimento que pesquisadores e sujeitos satildeo parte da situaccedilatildeo de pesquisa e

indiscutivelmente partes despidas da pretensa neutralidade

Nessa perspectiva o pesquisador tem um papel ativo em relaccedilatildeo aos rumos do processo de

pesquisa pois esta estaacute sob influecircncia das suas escolhas teoacutericas e filosoacuteficas das posiccedilotildees poliacuteticas

e ideoloacutegicas que assume de suas relaccedilotildees e experiecircncias tanto pessoais quanto no papel de

pesquisador Compreende-se enfim que o processo de pesquisa e de construccedilatildeo de conhecimento

natildeo eacute alheio aos fatores soacutecio-culturais que permeiam o contexto Nessa mesma direccedilatildeo Freitas

(2002) complementa dizendo que o pesquisador

133

natildeo eacute um ser humano geneacuterico mas um ser social faz parte da investigaccedilatildeo e leva para ela

tudo aquilo que o constitui como um ser concreto em diaacutelogo com o mundo em que vive

Suas anaacutelises interpretativas satildeo feitas a partir do lugar soacutecio-histoacuterico no qual se situa e

dependem das relaccedilotildees intersubjetivas que estabelece com os seus sujeitos (p 29)

Este trabalho configura-se portanto como uma pesquisa qualitativa que se ampara na

compreensatildeo da realidade como um fenocircmeno complexo dinacircmico sistecircmico e multideterminado

Na abordagem qualitativa conforme apresentada por Vygotsky (1999 2003) valoriza-se a

natureza interativa da pesquisa a qual se desenvolve na relaccedilatildeo do pesquisador com os

participantes e com a realidade investigada As informaccedilotildees satildeo construiacutedas nos processos

relacionais de forma histoacuterica e social sendo que as interaccedilotildees entre o pesquisador e a realidade

estudada podem ocasionar mudanccedilas que se refletem no objeto de pesquisa investigado nas

informaccedilotildees construiacutedas nas relaccedilotildees e na proacutepria realidade

Os fundamentos vygotskynianos da perspectiva histoacuterico-cultural em Psicologia satildeo

portanto a base orientadora desta pesquisa desde o seu planejamento ateacute sua operacionalizaccedilatildeo e

anaacutelise

A Epistemologia Qualitativa e suas Contribuiccedilotildees Metodoloacutegicas

Partindo das contribuiccedilotildees epistemoloacutegicas vygotskynianas Gonzaacutelez Rey (1997 2005a

2005b) apresenta a Epistemologia Qualitativa como uma proposta metodoloacutegica para a produccedilatildeo

do conhecimento com base na perspectiva histoacuterico-cultural Segundo o autor a produccedilatildeo de

conhecimento eacute essencialmente um processo construtivo-interpretativo dentro do qual os

indicadores advindos do contexto de pesquisa vatildeo tomando sentido no curso de um processo

essencialmente qualitativo O conhecimento eacute resultado de um processo de construccedilatildeo e natildeo a

simples apropriaccedilatildeo de uma realidade acabada externa e indiferente agrave accedilatildeo transformadora do

homem

Os princiacutepios baacutesicos sobre os quais se apoia a epistemologia qualitativa satildeo (a) o

conhecimento eacute uma produccedilatildeo de natureza construtiva e interpretativa e representa um processo

vivo sendo que o processo de construccedilatildeo do conhecimento eacute aberto estaacute em permanente

desenvolvimento e eacute suscetiacutevel a formas mais complexas de compreensatildeo do fenocircmeno estudado

(b) a produccedilatildeo do conhecimento tem um caraacuteter interativo e natildeo eacute resultado de um ato instrumental

do pesquisador sobre o objeto estudado (c) a singularidade eacute um niacutevel legiacutetimo da produccedilatildeo do

conhecimento pois cada caso guarda particularidades construiacutedas na histoacuteria subjetiva do sujeito

(Gonzaacutelez Rey 2005a 2005b) Com base nesses princiacutepios a investigaccedilatildeo eacute vista como um

processo contiacutenuo de interaccedilatildeo e de construccedilatildeo

O conhecimento na perspectiva da epistemologia qualitativa natildeo eacute o resultado direto das

teacutecnicas e instrumentos de investigaccedilatildeo nem estaacute organizado em torno dos dados Estes na

verdade satildeo indicadores que iratildeo adquirir sentido dentro da construccedilatildeo teoacuterica realizada pelo

134

pesquisador O eixo central do processo de construccedilatildeo de conhecimento natildeo estaacute na produccedilatildeo

empiacuterica mas sim no movimento dialeacutetico entre a produccedilatildeo teoacuterica e a empiacuterica as quais estatildeo

indissociavelmente interligadas Os dados satildeo indicadores que se integram ao processo construtivo

e interpretativo conduzido pelo pesquisador Acredita-se assim como propotildee Gonzaacutelez Rey (1997

2005a 2005b) que o processo de construccedilatildeo cientiacutefica natildeo se alimenta apenas de informaccedilotildees

procedentes de um momento metodoloacutegico mas acima de tudo pela criatividade e competecircncia do

pesquisador em articular coerentemente as ideias teoacutericas com os indicadores produzidos no curso

do processo

Reafirmando a importacircncia da relaccedilatildeo e interdependecircncia entre a teoria e os indicadores

empiacutericos Madureira e Branco (2001) apontam que os instrumentos metodoloacutegicos deixam de ser

centrais na realizaccedilatildeo dos estudos cientiacuteficos pois que o sentido e o valor tradicionalmente

atribuiacutedos aos dados como expressatildeo fiel da realidade se diluem Os dados isolados das reflexotildees

teoacutericas pouco explicam a respeito do fenocircmeno investigado para que adquiram sentido precisam

ser submetidos agrave anaacutelise e interpretaccedilatildeo do pesquisador empreendida agrave luz da base teoacuterica Como

resume Gonzaacutelez Rey (2000)

a construccedilatildeo teoacuterica eacute vista como um processo ativo do investigador sobre uma realidade

que se faz inteligiacutevel em termos da teoria utilizada mas que natildeo se subordina a ela e

expressa seu potencial contraditoacuterio no curso da construccedilatildeo teoacuterica Os indicadores vatildeo se

integrando entre si atraveacutes da interpretaccedilatildeo do investigador que vai produzindo

interpretaccedilotildees teoacutericas que sem estar neles expliacutecitas os incorporam como momento

constitutivo da proacutepria construccedilatildeo (p 65)

Em virtude dessa interdependecircncia entre a teoria e os indicadores o plano metodoloacutegico

em uma pesquisa baseada na perspectiva histoacuterico-cultural e na epistemologia qualitativa eacute

conduzido por uma metodologia configuracional que se constitui pela integraccedilatildeo de instrumentos

variados que buscam oportunizar sob diferentes maneiras o processo de comunicaccedilatildeo entre o

pesquisador e os sujeitos participantes Os instrumentos nessa perspectiva tornam-se uma

ferramenta interativa entre o pesquisador e sujeito investigado (Madureira amp Branco 2001)

Um desafio que surge dessa compreensatildeo eacute o de criar e articular diferentes instrumentos

metodoloacutegicos de forma que prezem pela coerecircncia teoacuterica e epistemoloacutegica Apesar de o meacutetodo

deixar de ser o eixo central do processo de investigaccedilatildeo a escolha dos instrumentos que seratildeo

utilizados para possibilitar a construccedilatildeo de indicadores empiacutericos natildeo pode ser relegada sob pena

de se adotar ferramentas que natildeo compartilham da mesma base epistemoloacutegica orientadora da

pesquisa Esta eacute inclusive a questatildeo fundamental da discussatildeo acerca da abordagem qualitativa e

quantitativa A distinccedilatildeo entre estas duas abordagens natildeo se daacute no instrumental por elas adotado

mas sobretudo nas concepccedilotildees e na base epistemoloacutegica que sustentam cada uma (Gonzaacutelez Rey

1997)

135

A partir das consideraccedilotildees empreendidas pela epistemologia qualitativa e em consonacircncia

com os fundamentos da perspectiva histoacuterico-cultural entende-se que a configuraccedilatildeo metodoloacutegica

que iraacute conduzir a pesquisa deve privilegiar espaccedilos de diaacutelogo entre o pesquisador e os sujeitos

participantes bem como destes entre si As expressotildees de cada sujeito representam uma trajetoacuteria

particular e estatildeo implicadas em diferentes sistemas de sentidos compreendecirc-los requer entrar

gradualmente no espaccedilo de expressatildeo do sujeito e transitar em sua experiecircncia por meio dos

espaccedilos conversacionais (Gonzaacutelez Rey 1997) Disto decorre a necessidade de adotar instrumentos

que coloquem o sujeito em posiccedilatildeo ativa e oportunizem sua expressatildeo jaacute que ldquoo sujeito estudado

deve ser um sujeito de resposta como expressamos antes precisamente porque natildeo eacute em nossas

perguntas onde depositamos a esperanccedila de obter o que nos interessa mas em sua construccedilatildeo

permanente e progressivardquo (Gonzaacutelez Rey 2000 p 67) sobre os aspectos mais relevantes de sua

experiecircncia social

Com base no reconhecimento da complexidade do homem objeto de estudo da Psicologia

como um sujeito ativo intencional motivado e envolvido em uma rede de relaccedilotildees o

desenvolvimento de alternativas metodoloacutegicas que sustentem essa forma de ver o homem eacute

imprescindiacutevel A partir das reflexotildees epistemoloacutegicas teoacutericas e metodoloacutegicas apresentadas neste

capiacutetulo o presente estudo elege como instrumentos e procedimentos centrais ferramentas de

natureza interativa que colocam os sujeitos e o pesquisador em posiccedilatildeo participativa frente agrave

construccedilatildeo do conhecimento

A seccedilatildeo seguinte discorre sobre os procedimentos que compotildeem este trabalho tendo como

ponto de partida o desenho metodoloacutegico proposto para a investigaccedilatildeo da atuaccedilatildeo da Psicologia

Escolar nas Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior

PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS

Cenaacuterio Definiccedilatildeo do Campo de Investigaccedilatildeo

O cenaacuterio eleito para o desenvolvimento desta pesquisa eacute o da Educaccedilatildeo Superior

Conforme abordado no primeiro capiacutetulo a atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar tem se dado

preponderantemente na Educaccedilatildeo Baacutesica tendo sido este o niacutevel educativo que mais contribuiu

para o desenvolvimento da aacuterea e para sua consolidaccedilatildeo enquanto campo de formaccedilatildeo de pesquisa

e de produccedilatildeo de conhecimento Nas uacuteltimas deacutecadas a inserccedilatildeo da Psicologia Escolar vem se

estendendo para a Educaccedilatildeo Superior de forma a configurar um novo campo de investigaccedilatildeo e de

atuaccedilatildeo Dessa maneira o Sistema de Educaccedilatildeo Superior em sua amplitude ndash poliacuteticas

normatizaccedilotildees funccedilotildees instituiccedilotildees sujeitos etc ndash constitui o cenaacuterio sobre o qual recaem os

interesses centrais desse estudo

136

Desenho Metodoloacutegico Caminhos para a Construccedilatildeo das Informaccedilotildees

O processo de investigaccedilatildeo desse estudo foi direcionado para a compreensatildeo do trabalho

que eacute desenvolvido por psicoacutelogos escolares em instituiccedilotildees de niacutevel superior e parte do

pressuposto de que os meios para se alcanccedilar essa compreensatildeo natildeo devem se basear apenas no

relato percepccedilatildeo e histoacuteria dos proacuteprios psicoacutelogos escolares Por essa razatildeo o campo de

investigaccedilatildeo estende-se para outros elementos ndash atores institucionais documentos e situaccedilotildees ndash que

tambeacutem datildeo forma ao trabalho dos profissionais da Psicologia Escolar Consoante a este

entendimento este estudo tem uma configuraccedilatildeo multimetodoloacutegica baseada na combinaccedilatildeo de

diferentes procedimentos e instrumentos coerentes teoacuterica e epistemologicamente que se integram

em torno da perspectiva de ampliar as fontes de informaccedilatildeo que tecircm influecircncia sobre o objeto de

pesquisa

O processo de construccedilatildeo das informaccedilotildees dessa pesquisa foi organizado da seguinte

forma (a) Estudo 1 (b) Estudo 2 e (c) Proposta para a criaccedilatildeo e estruturaccedilatildeo de Serviccedilos de

Psicologia na Educaccedilatildeo Superior brasileira Os dois estudos realizados foram estruturados em duas

etapas semelhantes Mapeamento dos Serviccedilos de Psicologia e Mapeamento da atuaccedilatildeo em

Psicologia Escolar a construccedilatildeo da proposta eacute resultado das investigaccedilotildees empreendidas nos dois

estudos realizados A Figura 11 corresponde agrave representaccedilatildeo graacutefica do desenho metodoloacutegico

desta pesquisa

13

7

Figura 11 D

esen

ho m

etod

oloacuteg

ico relativ

o agrave inve

stigaccedilatildeo

da atua

ccedilatildeo da

Psico

logia Escolar na Edu

caccedilatildeo Su

perior

ESTUDO 1

BRASIL

ETAPA 1

Mapeamento

dos Serviccedilos

de Psicologia

ETAPA 2

Mapeamento

da atuaccedilatildeo

em PE

Panoram

a

nacional dos

Serviccedilos

Identificaccedilatildeo e

Caracterizaccedilatildeo

dos Serviccedilos

do DF

Consulta por

questionaacuterio

eletrocircnico

Consulta ao site

e Contato telefocircnico

Anaacutelise

documental

Estudo e anaacutelise

da atuaccedilatildeo

no DF

Entrevistas

com PEs

Acompanham

ento

a um

PE

Mem

orial

Encontros de

discussatildeo e

reflexatildeo

ELABORACcedilAtildeO DE

PROPOSTA PARA

OS SERVICcedilOS DE

PSICOLOGIA

Fundam

entos

teoacutericos e

conceituais

Objetivos

Puacuteblico alvo

Recursos humanos

Funcionam

ento

Atividades

dimensotildees e eixos

de intervenccedilatildeo

ESTUDO 2

PORTUGAL

ETAPA 1

Mapeamento

dos Serviccedilos

de Psicologia

ETAPA 2

Mapeamento

da atuaccedilatildeo

em PE

Panoram

a

nacional dos

Serviccedilos

Caracterizaccedilatildeo

dos Serviccedilos

de Portugal

Anaacutelise dossiecirc

da RESAPES

Anaacutelise

documental

Estudo e anaacutelise

da atuaccedilatildeo

em Portugal

Entrevistas

com PEs

Entrevistas com

Coordenadores

dos Serviccedilos

138

O procedimento inicial desta pesquisa constou da submissatildeo do projeto ao Comitecirc de Eacutetica em

Pesquisa apoacutes o mesmo ter sido apresentado e discutido na 3ordf Jornada de Pesquisa do Programa de

Poacutes-Graduaccedilatildeo em Processos de Desenvolvimento Humano e Sauacutede (PGPDS) em setembro de

2008 A jornada se caracteriza como um evento acadecircmico de caraacuteter obrigatoacuterio aos alunos do

PGPDS e tem por objetivo proporcionar aos alunos e professores a oportunidade de se

constituiacuterem como uma comunidade de construccedilatildeo de conhecimento especificamente no que se

refere a aspectos do planejamento e desenvolvimento de pesquisas O parecer favoraacutevel do Comitecirc

de Eacutetica foi emitido em julho de 2009 (anexo I) dando condiccedilotildees para o desenvolvimento da

pesquisa Seguindo os requisitos para o doutorado acadecircmico a qualificaccedilatildeo do projeto de tese foi

realizada em dezembro de 2010

Tendo em vista a proposta de operacionalizaccedilatildeo desta pesquisa em dois estudos com

procedimentos instrumentos e participantes diferentes opta-se por apresentaacute-los separadamente

Assim a descriccedilatildeo da construccedilatildeo das informaccedilotildees contemplaraacute a explicitaccedilatildeo dos participantes dos

instrumentos e dos procedimentos pertinentes a cada um dos estudos e por fim dos procedimentos

para construccedilatildeo da proposta de criaccedilatildeo e estruturaccedilatildeo dos Serviccedilos de Psicologia

ESTUDO 1 - BRASIL

1ordf Etapa ndash Mapeamento dos Serviccedilos de Psicologia A primeira etapa da pesquisa diz

respeito ao mapeamento dos Serviccedilos de Psicologia existentes em Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo

Superior e estaacute subdividida em dois momentos (a) Panorama nacional dos Serviccedilos de Psicologia

de IES e (b) Identificaccedilatildeo e Caracterizaccedilatildeo dos Serviccedilos de Psicologia do Distrito Federal

Em virtude da inexistecircncia de dados relativos ao cenaacuterio nacional no que tange agrave presenccedila e

atuaccedilatildeo de psicoacutelogo escolares nas Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior brasileiras considerou-se

importante investigar junto agraves IES quais delas tecircm um Serviccedilo de Psicologia quantos psicoacutelogos

escolares atuam nestes serviccedilos e quais as principais atividades desenvolvidas A intenccedilatildeo dessa

investigaccedilatildeo eacute construir um breve panorama de como estaacute configurada a atuaccedilatildeo da Psicologia

Escolar na Educaccedilatildeo Superior brasileira o qual aleacutem de ilustrar a atual realidade do cenaacuterio

nacional tambeacutem serviraacute como base de comparaccedilatildeo com a realidade do Distrito Federal foco

maior deste estudo O mapeamento das IES brasileiras com Serviccedilos constitui-se portanto como

um estudo preliminar descritivo do ldquoestado da arterdquo no paiacutes

Para tanto propocircs-se identificar dentre as IES nacionais (universidades centros

universitaacuterios e faculdades tanto puacuteblicas quanto privadas) aquelas que oferecem Serviccedilos de

Psicologia Algumas tentativas foram desencadeadas no ano de 2009 com vistas a realizar o

mapeamento nacional antes de se chegar agrave estrateacutegia final que seraacute apresentada adiante A primeira

tentativa sem sucesso foi a consulta ao site eletrocircnico das instituiccedilotildees ocasiatildeo em que se percebeu

que tal procedimento demandaria tempo razoavelmente significativo para exploraccedilatildeo minuciosa

dos sites aleacutem de que natildeo localizar informaccedilotildees relativas aos serviccedilos natildeo poderia ser considerado

139

como inexistecircncia dos mesmos A segunda tentativa correspondeu agrave consulta ao Conselho Federal

de Psicologia (CFP) e agrave Associaccedilatildeo Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (ABRAPEE)

acerca da existecircncia de um banco de dados sobre a inserccedilatildeo dos psicoacutelogos no contexto educativo

e particularmente na Educaccedilatildeo Superior O CFP relatou natildeo ter informaccedilatildeo atualizada e

sistematicamente organizada em relaccedilatildeo ao campo de atuaccedilatildeo dos psicoacutelogos brasileiros e a

ABRAPEE natildeo respondeu agrave consulta que lhe foi feita No mesmo periacuteodo foi solicitado ao INEP

tambeacutem sem sucesso a lista das Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior do Brasil e os respectivos e-

mails os quais seriam utilizados para consultaacute-las diretamente Como alternativa foram enviados

e-mails para as 52 universidades puacuteblicas federais identificadas no site do INEP sendo que apenas

cinco responderam agrave consulta feita todas indicando natildeo ter Serviccedilo de Psicologia

Diante da dificuldade de construir o panorama da Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo Superior

brasileira em 2010 foi feita nova tentativa junto ao INEP que desta vez foi bem sucedida Obteve-

se entatildeo a lista oficial de Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior do paiacutes a qual traz dados cadastrais e

de contato das instituiccedilotildees e outros relativos agrave sua regularizaccedilatildeo no Sistema de Educaccedilatildeo Superior

Para verificar a existecircncia de Serviccedilos nas instituiccedilotildees brasileiras foi elaborado um questionaacuterio

(anexo II) enviado por correio eletrocircnico agraves IES No questionaacuterio foram exploradas questotildees

relativas ao nuacutemero de psicoacutelogos atuantes nos Serviccedilos a carga horaacuteria de trabalho destes

profissionais o puacuteblico-alvo com o qual trabalham o tipo de atividade desenvolvida se o

psicoacutelogo escolar integra uma equipe multiprofissional e em caso positivo com quais profissionais

trabalha Aleacutem destas foram incluiacutedas questotildees relacionadas agrave caracterizaccedilatildeo da IES organizaccedilatildeo

acadecircmica natureza administrativa estado e cidade em que se localiza

O questionaacuterio foi enviado por e-mail agraves 2314 instituiccedilotildees integrantes do banco de dados

do INEP o qual foi elaborado com base no Censo da Educaccedilatildeo Superior de 2009 Em alguns casos

havia um ou dois e-mails adicionais tendo sido o questionaacuterio enviado a todos os e-mails

informados Pelo questionaacuterio ter sido elaborado no Google Docs uma ferramenta disponiacutevel na

internet para elaboraccedilatildeo de documentos variados (planilhas formulaacuterios desenhos e graacuteficos) as

respostas dos participantes foram automaticamente integradas em uma planilha a qual subsidiou a

anaacutelise posterior De acordo com a configuraccedilatildeo desta ferramenta e com vistas a cumprir os

criteacuterios de eacutetica em pesquisa no que se refere agrave preservaccedilatildeo da identidade da instituiccedilatildeo natildeo eacute

possiacutevel identificar nominalmente quais instituiccedilotildees responderam ao questionaacuterio eletrocircnico

De posse do quadro representativo das IES nacionais que tecircm algum Serviccedilo de Psicologia

passou-se agrave investigaccedilatildeo detalhada das instituiccedilotildees do Distrito Federal que constituem o foco de

interesse deste estudo inicial A primeira razatildeo para eleger o DF como contexto de pesquisa deve-

se conforme apontado por Cruces (2003) agrave sua excepcionalidade em relaccedilatildeo aos outros estados do

paiacutes decorrente da contrataccedilatildeo oficial de profissionais da aacuterea pela rede puacuteblica de ensino e pelas

accedilotildees de formaccedilatildeo continuada que satildeo realizadas com os psicoacutelogos escolares (Arauacutejo 2003

Arauacutejo amp Almeida 2003 Barbosa 2008 Marinho-Arauacutejo amp Neves 2006 Neves 2001 Neves amp

140

Almeida 2003 Penna-Moreira 2007) A inserccedilatildeo da Psicologia Escolar nas escolas do DF eacute

portanto uma realidade diferente dos demais estados do paiacutes A segunda razatildeo pela

impossibilidade de explorar em profundidade no acircmbito de um Doutorado o amplo cenaacuterio da

Educaccedilatildeo Superior brasileira composto por 2314 instituiccedilotildees distribuiacutedas por todo o paiacutes

Terceiro e especialmente pelo fato da intersecccedilatildeo da Psicologia Escolar com a Educaccedilatildeo

Superior jaacute ser uma realidade em algumas instituiccedilotildees do Distrito Federal 16 das IES da regiatildeo

tinham no primeiro semestre de 2009 psicoacutelogo escolar dentre elas uma instituiccedilatildeo puacuteblica e

onze privadas (Oliveira amp Marinho-Arauacutejo no prelo) Aleacutem do mais como ilustra o exemplo da

Universidade de Brasiacutelia que tendo haacute 23 anos o Serviccedilo de Orientaccedilatildeo ao Universitaacuterio (SOU)

realizou nos anos de 2008 e 2009 dois processos seletivos para contrataccedilatildeo de novos psicoacutelogos

escolares (FUB 2008 2009) Ao longo desses anos o SOU tem desenvolvido suas atividades

exclusivamente no campus principal da universidade entretanto em razatildeo da expansatildeo dos campi

da universidade e de suas atividades para outras regiotildees administrativas do Distrito Federal a UnB

considerou importante ampliar a contrataccedilatildeo de psicoacutelogos escolares

Dessa maneira o exemplo da Universidade de Brasiacutelia ilustra a abertura da Educaccedilatildeo

Superior no Distrito Federal em relaccedilatildeo agrave Psicologia Escolar e exige da aacuterea o investimento em

estudos que favoreccedilam o mapeamento deste novo campo em termos de caracteriacutesticas demandas e

expectativas tracem diretrizes de intervenccedilatildeo baseadas na realidade do sistema de Educaccedilatildeo

Superior e na literatura contemporacircnea em Psicologia Escolar e orientem a formaccedilatildeo inicial e

continuada dos profissionais que desejam enveredar por este contexto A temaacutetica de investigaccedilatildeo

do presente estudo encontra portanto um loacutecus privilegiado e singular no Distrito Federal

Para a execuccedilatildeo do segundo momento desta etapa Identificaccedilatildeo e Caracterizaccedilatildeo dos

Serviccedilos de Psicologia de Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior no DF em acesso ao site eletrocircnico do

INEPMEC realizado no 2ordm semestre de 2009 foram identificadas todas as IES do Distrito Federal

que na eacutepoca contabilizavam em 74 (setenta e quatro) Primeiramente fez-se uma consulta aos sites

das mesmas na internet com a intenccedilatildeo de localizar informaccedilotildees detalhadas em relaccedilatildeo aos

Serviccedilos de Psicologia Para as IES em que natildeo se constatou a existecircncia do Serviccedilo ou de

psicoacutelogo escolar atraveacutes da consulta ao site foram feito contato telefocircnico para confirmar se as

instituiccedilotildees tinham ou natildeo o Serviccedilo Para registrar as informaccedilotildees advindas desse procedimento

foi criado um formulaacuterio de registro (anexo III) que contempla espaccedilo para a identificaccedilatildeo da

instituiccedilatildeo a consulta ao site da instituiccedilatildeo o contato telefocircnico quando ocorreu e a identificaccedilatildeo

do psicoacutelogo escolar Por meio dessas estrateacutegias complementares pocircde-se garantir que todas as

IES do DF foram consultadas

Identificadas as IES com Serviccedilo de Psicologia extraiu-se do site oficial na internet

material informativo sobre os mesmos A opccedilatildeo por utilizar como material de anaacutelise as

informaccedilotildees contidas no site deve-se ao fato de que ldquoa internet rede mundial de computadores

tornou-se uma indispensaacutevel fonte de pesquisa para os diversos campos do conhecimentordquo

141

(Severino 2007 p 136) em virtude do imenso acervo de dados e a facilidade de acesso As

informaccedilotildees disponiacuteveis na internet acerca dos Serviccedilos de Psicologia foram objeto da anaacutelise

documental e possibilitaram sua caracterizaccedilatildeo a qual estaacute descrita no proacuteximo capiacutetulo

2ordf Etapa ndash Mapeamento da atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar A segunda etapa deste

processo de construccedilatildeo das informaccedilotildees refere-se ao estudo e anaacutelise da atuaccedilatildeo de psicoacutelogos

escolares que trabalham na Educaccedilatildeo Superior do Distrito Federal e teve como objetivo conhecer

as principais accedilotildees por eles desenvolvidas Para executar esta etapa foram feitas (a) entrevistas

com psicoacutelogos escolares que atuam em IES do DF e (b) acompanhamento a um profissional da

aacuterea no acircmbito de uma pesquisa-intervenccedilatildeo

Para a realizaccedilatildeo das entrevistas individuais foram convidados os profissionais que

trabalhavam nas instituiccedilotildees que haviam sido identificadas por ocasiatildeo da primeira etapa da

pesquisa Diante do aceite e da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (anexo

IV) propocircs-se a realizaccedilatildeo de entrevista individual com o objetivo de conhecer em detalhes o

trabalho que desenvolvem as principais atividades dificuldades e facilidades vivenciadas

demandas e expectativas que lhes satildeo direcionadas dos recursos e competecircncias que lanccedilam matildeo

na praacutetica profissional a percepccedilatildeo de outras atividades que tambeacutem podem ser desenvolvidas pelo

psicoacutelogo escolar na Educaccedilatildeo Superior entre outras questotildees Sete profissionais participaram

deste momento da pesquisa

A opccedilatildeo pela utilizaccedilatildeo de entrevistas individuais semi-estruturadas deve-se ao fato de ser

um instrumento qualitativo de base relacional que possibilita a livre expressatildeo dos sujeitos

participantes A entrevista eacute essencialmente marcada pela dimensatildeo social pois natildeo se reduz a uma

troca de perguntas e respostas que jaacute estatildeo prontas e satildeo simplemente verbalizadas Ao contraacuterio a

entrevista eacute uma produccedilatildeo de linguagem na qual os sentidos subjetivos satildeo criados na ocasiatildeo do

diaacutelogo (Fraser amp Gondin 2004 Freitas 2002 Gonzaacutelez Rey 2005a 2005b)

O roteiro de entrevista elaborado para subsidiar a entrevista (anexo V) foi composto por

questotildees temaacuteticas que do ponto de vista teoacuterico mostram-se relevantes agrave compreensatildeo da atuaccedilatildeo

da Psicologia Escolar e do perfil profissional No curso do diaacutelogo e da interaccedilatildeo que se estabelece

entre o pesquisador e os participantes as questotildees vatildeo lhe sendo apresentadas de forma a suscitar

reflexotildees nos participantes Assim natildeo se espera que os colaboradores da pesquisa jaacute tenham

pensado sobre a questatildeo que lhes eacute apresentada mas que no transcorrer da entrevista se proponham

a tomaacute-la como ponto de reflexatildeo agrave luz das suas vivecircncias e das situaccedilotildees jaacute experienciadas As

entrevistas com os psicoacutelogos escolares foram realizadas nas IES nas quais trabalham e tiveram

duraccedilatildeo meacutedia de uma hora e cinquenta minutos Todas as entrevistas foram gravadas e transcritas

O segundo momento desta etapa refere-se ao acompanhamento sistemaacutetico de um

profissional de Psicologia Escolar que atua em uma instituiccedilatildeo do DF Compreendendo que a

intenccedilatildeo de transformaccedilatildeo do mundo natildeo eacute apenas uma expressatildeo da vontade dos sujeitos mas

142

sobretudo uma opccedilatildeo metodoloacutegica que torna possiacutevel a mudanccedila esta etapa do trabalho se

configurou como uma pesquisa-intervenccedilatildeo direcionada para os processos de subjetivaccedilatildeo como

elementos potencialmente transformadores da realidade (Passos amp Barros 2000 Rocha 2006

Rocha amp Aguiar 2003 Szymanski amp Cury 2004)

Esta modalidade de pesquisa tem como objetivo instalar um movimento de mudanccedila a

partir da accedilatildeo dos sujeitos o sentido atribuiacutedo agrave accedilatildeo eacute o mote da pesquisa-intervenccedilatildeo e nessa

perspectiva o pesquisador como um dos participantes desse contexto tambeacutem eacute responsaacutevel pelas

mudanccedilas que ali transcorrem Nessa direccedilatildeo Rocha (2006) ressalta que ela ldquotraz como proposta

criar dispositivos de anaacutelise da vida dos grupos na sua diversidade qualitativa e isto significa que

esta proposiccedilatildeo investigativa tem como alvo o movimento as rupturas que as accedilotildees individuais e

coletivas imprimem no cotidianordquo (p 171) O foco de interesse na pesquisa-intervenccedilatildeo eacute a

mudanccedila o movimento a transformaccedilatildeo natildeo estabelecidas previamente mas construiacutedas em um

processo Por meio dessa modalidade de pesquisa assume-se simultaneamente o compromisso

com o processo de intervenccedilatildeo e com a construccedilatildeo do conhecimento

Corroborando com esse entendimento Aguiar (2007) aponta que este tipo de pesquisa eacute

uma possibilidade de combinar a produccedilatildeo de conhecimento ao objetivo de prestar serviccedilo agrave

populaccedilatildeo e fortalecer o viacutenculo entre pesquisa e compromisso social Assim como a autora

entende-se que embora essa natildeo seja ldquoa uacutenica forma de fazer pesquisa comprometida socialmente

acreditamos que estamos diante de uma possibilidade privilegiada de transformarqualificar tanto

nossas praacuteticas de pesquisa quanto de intervenccedilatildeordquo (p 132)

O acompanhamento da atuaccedilatildeo de um psicoacutelogo escolar ocorreu em uma IES privada do

Distrito Federal sendo que o profissional que participou desta etapa da pesquisa eacute do gecircnero

feminino graduada em Psicologia por uma universidade do DF no ano de 2002 A pesquisa-

intervenccedilatildeo se estruturou em duas partes elaboraccedilatildeo de memorial pela psicoacuteloga escolar e

encontros de discussatildeo e reflexatildeo realizados entre ela e a pesquisadora

O memorial oportuniza o acesso agrave percepccedilatildeo qualitativa do sujeito em relaccedilatildeo agrave sua

trajetoacuteria pessoal e profissional aleacutem de possibilitar que fatos situaccedilotildees e eventos particulares

sejam relacionados ao contexto histoacuterico-cultural (Severino 2007) O objetivo eacute oportunizar que o

participante registre suas lembranccedilas duacutevidas vivecircncias desejos e anguacutestias sobre um tema

proposto A intenccedilatildeo inicial era de que fossem elaborados trecircs memoriais a serem feitos em

momentos distintos cada um orientado por um tema (a) identidade profissional (b) atuaccedilatildeo e

perfil profissional e (c) avaliaccedilatildeo do processo

Entretanto tendo Psi considerado que poderia natildeo conseguir fazecirc-los pela necessidade de

conciliar suas atividades profissionais tempo para estudo e para registro de suas accedilotildees acordou-se

que fizesse um uacutenico memorial no qual registrasse as lembranccedilas experiecircncias sentimentos e

accedilotildees mais relevantes desde o momento em que recebeu o convite para trabalhar na Faculdade

Para aleacutem de uma forma de registro o memorial pode ser um elemento complementar agraves reflexotildees

143

oportunizadas durante o acompanhamento da psicoacuteloga escolar sendo que era intenccedilatildeo nesta

pesquisa discutiacute-lo com Psi de maneira que fosse mais uma forma de mobilizar a circulaccedilatildeo de

sentidos relacionados agrave atuaccedilatildeo

Por sua vez os encontros de discussatildeo e de reflexatildeo tinham como intenccedilatildeo criar um espaccedilo

de estudo de anaacutelise e de planejamento da atuaccedilatildeo da psicoacuteloga escolar na IES de forma a

contribuir para o desenvolvimento do seu papel e atuaccedilatildeo profissional Os encontros organizaram-

se em dois momentos interdependentes estudo teoacuterico-reflexivo e assessoria agrave praacutetica No

primeiro buscava-se proporcionar agrave Psi uma apropriaccedilatildeo teoacuterica que a auxiliasse a construir sua

praacutetica profissional de maneira coerente e segura tinha como ecircnfase a sistematizaccedilatildeo teoacuterica e

conceitual sobre a relaccedilatildeo entre Psicologia e Educaccedilatildeo as discussotildees sobre a identidade do

trabalho do psicoacutelogo escolar e a atuaccedilatildeo institucional relacional que tem como foco a anaacutelise da

instituiccedilatildeo e intervenccedilatildeo nas relaccedilotildees interpessoais O segundo a assessoria agrave praacutetica se configurou

como um acompanhamento sistemaacutetico do trabalho da psicoacuteloga escolar em termos das

dificuldades incocircmodos sugestotildees e avanccedilos de discussatildeo sobre a natureza e especificidade da

intervenccedilatildeo psicoloacutegica na Educaccedilatildeo Superior aleacutem de um espaccedilo de desenvolvimento de

competecircncias necessaacuterias agrave praacutetica profissional

Os encontros de reflexatildeo e de discussatildeo privilegiaram a ecircnfase nesta proposta de

acompanhamento e as demandas colocadas pela profissional de forma a dar continuidade agraves suas

accedilotildees cotidianas Na verdade estas accedilotildees se constituiacuteram como importantes elementos para

subsidiar a discussatildeo teoacuterica uma vez que permitia estabelecer o diaacutelogo teoacuterico-praacutetico

indispensaacutevel agrave formaccedilatildeo e ao desenvolvimento de competecircncias A Tabela 7 mostra como foi

planejado o acompanhamento da psicoacuteloga escolar

144

Tabela 7

Estruturaccedilatildeo do processo de acompanhamento da psicoacuteloga escolar em uma IES do DF

PROCEDIMENTO MEMORIAL

MOMENTOS OBJETIVOS

Registro das lembranccedilas vivecircncias afetos

accedilotildees anguacutestias duacutevidas e posturas que

permeiam as experiecircncias

a Oportunizar o registro e a reflexatildeo acerca das

memoacuterias relacionadas agrave construccedilatildeo da trajetoacuteria

como psicoacuteloga escolar

b Apreender os sentidos relacionados agrave construccedilatildeo

da identidade e da atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar

PROCEDIMENTO ENCONTROS DE REFLEXAtildeO E DISCUSSAtildeO

MOMENTOS OBJETIVOS

Estudo teoacuterico-reflexivo acerca dos

pressupostos que fundamentam a relaccedilatildeo

Psicologia e Educaccedilatildeo da perspectiva

preventiva e institucional de atuaccedilatildeo e das

possibilidades de intervenccedilatildeo na Educaccedilatildeo

Superior

a Proporcionar atualizaccedilatildeo aprofundamento e

apropriaccedilatildeo sobre a produccedilatildeo teoacuterica conceitual e

metodoloacutegica em Psicologia Escolar que auxiliasse

na construccedilatildeo da praacutetica profissional

Assessoria agrave praacutetica orientada para a

especificidade da intervenccedilatildeo na Educaccedilatildeo

Superior e para o desenvolvimento de

competecircncias

a Capacitar o profissional a trabalhar com foco na

intersubjetividade das relaccedilotildees

b Favorecer o desenvolvimento intencional de

accedilotildees preventivas e institucionais

c Mediar a reflexatildeo do psicoacutelogo escolar acerca das

competecircncias desejaacuteveis ao contexto no qual atua e

favorecer o desenvolvimento das mesmas

Os encontros iniciaram em setembro de 2010 ocorreram com regularidade semanal e

tiveram duraccedilatildeo meacutedia de duas horas e vinte minutos Previu-se inicialmente que o

acompanhamento se estendesse por pelo menos um semestre contudo em virtude da saiacuteda da

psicoacuteloga escolar no fim de novembro para assumir um trabalho em outra empresa o

acompanhamento durou por volta de dois meses tendo ocorrido sete encontros todos realizados na

instituiccedilatildeo em que ela trabalha A Tabela 8 traz a estruturaccedilatildeo dos encontros de acordo com a data

em que foram realizados duraccedilatildeo e assuntos abordados

145

Tabela 8

Encontros relativos ao acompanhamento da praacutetica realizados com a psicoacuteloga escolar

1ordm ENCONTRO - Realizado em 21092010 Duraccedilatildeo 2h36

1 Compartilhamento das expectativas e metas da pesquisadora e da psicoacuteloga escolar

2 Apresentaccedilatildeo do projeto de pesquisa e da proposta de pesquisa-intervenccedilatildeo

3 Definiccedilatildeo do funcionamento da pesquisa (nossa parceria)

a Estudo teoacuterico + Assessoria agrave praacutetica (eixos a serem estabelecidos conjuntamente)

b Planejamento dos encontros (dia local e horaacuterio)

4 Acerto das estrateacutegias de registro da pesquisa-intervenccedilatildeo (memorial e aacuteudio)

2ordm ENCONTRO - Realizado em 01102010 Duraccedilatildeo 2h48

1 Compartilhamento das leituras reflexotildees e das atividades realizadas na semana

a Discussatildeo de possiacuteveis eixos de intervenccedilatildeo professores coordenadores empregabilidade

dos alunos Mapeamento Institucional necessidades especiais

2 Reflexotildees sobre papel do psicoacutelogo escolar (suscitadas pelas demandas recebidas)

3ordm ENCONTRO - Realizado em 15102010 Duraccedilatildeo 2h19

1 Avaliaccedilatildeo das accedilotildees planejadas e implementadas

a Acompanhamento dos alunos atendimento observaccedilatildeo em sala contato com professores

participaccedilatildeo em reuniatildeo de coordenadores accedilotildees voltadas agrave empregabilidade dos

estudantes

2 Preparaccedilatildeo e planejamento de novas accedilotildees

b Papel do psicoacutelogo escolar na Avaliaccedilatildeo Institucional

c Importacircncia do Mapeamento Institucional como base para a atuaccedilatildeo

4ordm ENCONTRO - Realizado em 22102010 Duraccedilatildeo 2h33

1 Compartilhamento das atividades da semana reflexotildees e questionamentos

a Avaliaccedilatildeo das accedilotildees implementadas e das demandas recebidas necessidade de estruturar o

serviccedilo definir prioridades de intervenccedilatildeo e procedimentos

b Discussatildeo sobre a necessidade de realizar Mapeamento Institucional de forma intencional

c Reflexotildees acerca da ecircnfase e cobranccedila da instituiccedilatildeo em uma das dimensotildees de intervenccedilatildeo

do psicoacutelogo escolar (empregabilidade dos estudantes)

d Anaacutelise do histoacuterico do Serviccedilo e dos eixos atuais de intervenccedilatildeo nos quais Psi estaacute

atuando como forma de compreender a cobranccedila da direccedilatildeo

146

Tabela 8 (continuaccedilatildeo)

5ordm ENCONTRO - Realizado em 03112010 Duraccedilatildeo 2h35

1 Anaacutelise das accedilotildees implementadas e planejamento de outras accedilotildees

a Trabalho conjunto com coordenador e direccedilatildeo para encaminhar uma situaccedilatildeo anaacutelise da

especificidade da intervenccedilatildeo psicoloacutegica

b Atendimento individual a um aluno reflexotildees sobre a natureza do apoio a ser oferecido aos

estudantes clareza dos objetivos mudanccedila na forma de compreender o atendimento

c Demanda urgente da direccedilatildeo anaacutelise da evasatildeo e acompanhamento dos egressos

6ordm ENCONTRO - Realizado em 05112010 Duraccedilatildeo 2h43

1 Discussatildeo sobre estrateacutegias de ambientaccedilatildeo aos novos estudantes (tanto virtual quanto

presencial) e sobre a participaccedilatildeo do psicoacutelogo escolar no processo de seleccedilatildeo

2 Trabalho conjunto na elaboraccedilatildeo da pesquisa de perfil do estudante egresso

a Discussatildeo dos objetivos do mapeamento do perfil de egresso (solicitado pela direccedilatildeo da

IES) e da ampliaccedilatildeo aos ingressantes e concluintes

b Discussatildeo de possiacuteveis estrateacutegias de investigaccedilatildeo do perfil dos estudantes e construccedilatildeo

de um projeto focado nos diferentes momentos dos estudantes na Faculdade (ingressante

cursando concluinte e egresso)

7ordm ENCONTRO - Realizado em 11112010 Duraccedilatildeo 1h22

1 Conversa acerca do desligamento de Psi da faculdade (anguacutestias mobilizadas pelo afastamento

imediato e que natildeo lhe permite concluir as accedilotildees em andamento)

2 Avaliaccedilatildeo do processo de acompanhamento

Para cada encontro era elaborada uma pauta uma proposta de estruturaccedilatildeo do trabalho

daquele dia que previa espaccedilo para discussatildeo dos textos e da praacutetica (anexo VI) Os encontros

foram gravados e transcritos e

ESTUDO 2 - PORTUGAL

1ordf Etapa ndash Mapeamento dos Serviccedilos de Psicologia Assim como no estudo realizado no

contexto brasileiro a primeira etapa do estudo relativo aos Serviccedilos de Psicologia existentes em

Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior de Portugal estaacute subdividida em dois momentos (a) Panorama

nacional dos Serviccedilos de Psicologia e (b) Caracterizaccedilatildeo dos Serviccedilos de Psicologia

Conforme jaacute explicitado na introduccedilatildeo deste trabalho este segundo estudo foi desenvolvido

por ocasiatildeo do Doutorado Sanduiacuteche realizado pela pesquisadora em Portugal na Universidade do

MinhoBraga sob orientaccedilatildeo do Professor Doutor Leandro Almeida

Para realizar a primeira etapa deste estudo 2 o Mapeamento dos Serviccedilos de Psicologia de

Portugal fez-se anaacutelise de um dossiecirc no qual constam informaccedilotildees detalhadas sobre os serviccedilos das

147

IES do paiacutes O dossiecirc foi elaborado pela RESAPES (Rede de Serviccedilos de Apoio Psicoloacutegico no

Ensino Superior) uma rede de colaboraccedilatildeo e de apoio muacutetuo entre os Serviccedilos do paiacutes Um dos

esforccedilos empreendidos pela RESAPES desde sua criaccedilatildeo eacute a tentativa de consolidar e legitimar os

Serviccedilos de Apoio Psicoloacutegico na Educaccedilatildeo Superior ou seja lutam para que seja criado um

enquadramento institucional e legal que valide a dimensatildeo o impacto e a continuidade dos

referidos serviccedilos (RESAPES 2002a 2006)

No dossiecirc A Situaccedilatildeo dos Serviccedilos de Aconselhamento Psicoloacutegico no Ensino Superior

em Portugal (RESAPES 2002a 2002b) elaborado pela RESAPES para subsidiar o diaacutelogo com o

Ministeacuterio da Ciecircncia Tecnologia e Ensino Superior (MCTES) consta uma caracterizaccedilatildeo e

revisatildeo da evoluccedilatildeo dos serviccedilos de aconselhamento psicoloacutegico na Educaccedilatildeo Superior em

Portugal com evidecircncias da sua relevacircncia social e acadecircmica Esse documento apresenta ainda

orientaccedilotildees para o funcionamento dos serviccedilos em termos de sua organizaccedilatildeo enquadramento

institucional e gestatildeo Este dossiecirc foi portanto objeto de anaacutelise para oportunizar a elaboraccedilatildeo de

um panorama acerca dos Serviccedilos de Psicologia das IES portuguesas

Para o segundo momento desta etapa Caracterizaccedilatildeo dos Serviccedilos de Psicologia foram

planejadas visitas aos Serviccedilos de Psicologia de algumas Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior de

Portugal tanto de ensino universitaacuterio quanto politeacutecnico com o objetivo de conhecer como estatildeo

estruturados Para a definiccedilatildeo das IES que participariam do estudo foi feita inicialmente uma

escolha a partir da lista de Serviccedilos constantes do dossiecirc da RESAPES Os criteacuterios para a escolha

foram contemplar universidades e institutos politeacutecnicos de maior tradiccedilatildeo no paiacutes tanto puacuteblicos

quanto privados e as instituiccedilotildees cujos Serviccedilos satildeo referecircncia para o paiacutes Com base nestes

criteacuterios foram definidas oito instituiccedilotildees a serem convidadas a participar Obteve-se sucesso no

convite feito a quatro delas sendo que diante da indisponibilidade das demais fez-se contato com

outras IES de forma que ao final totalizaram oito instituiccedilotildees participantes

Tendo os responsaacuteveis pelos Serviccedilos de Psicologia aceitado participar e assinado o Termo

de Consentimento Livre e Esclarecido (anexo VII) lhes foi solicitado que disponibilizassem

materiais institucionais relativos ao histoacuterico estrutura e funcionamento do Serviccedilo como maneira

de subsidiar a caracterizaccedilatildeo dos mesmos por meio da anaacutelise documental

2ordf Etapa ndash Mapeamento da atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar A segunda etapa refere-se ao

estudo e anaacutelise da atuaccedilatildeo de psicoacutelogos escolares que trabalham em Serviccedilos de Psicologia em

Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior de Portugal e estaacute subdividida em dois momentos (a) entrevistas

com psicoacutelogos escolares e (b) entrevistas com os coordenadores dos Serviccedilos Para a realizaccedilatildeo

das entrevistas individuais foram convidados os profissionais que trabalhavam nos oito Serviccedilos

de Psicologia que foram identificados na primeira etapa deste segundo estudo com a intenccedilatildeo de

conhecer as principais atividades desenvolvidas

148

A entrevista semi-estruturada (anexo VIII) realizada com os psicoacutelogos escolares e a

entrevista com os coordenadores (anexo IX) foram elaboradas com base em trecircs grandes dimensotildees

de interesse ndash Perfil do Serviccedilo Atuaccedilatildeo do Psicoacutelogo e Avaliaccedilatildeo do Serviccedilo ndash cada qual

composta por um conjunto de questotildees de conteuacutedo aproximado Um objetivo particularmente

importante das entrevistas era conhecer experiecircncias profissionais inovadoras e que se

diferenciassem daquelas recorrentes no cenaacuterio brasileiro

Paraticiparam desse momento da pesquisa 11 profissionais entre psicoacutelogos escolares e

coordeandores As entrevistas foram realizadas nas IES nas quais trabalham e tiveram duraccedilatildeo

meacutedia de duas horas Todas as entrevistas foram gravadas e transcritas

Proposta para a criaccedilatildeo e estruturaccedilatildeo de Serviccedilos de Psicologia na Educaccedilatildeo Superior

brasileira A uacuteltima etapa do processo de construccedilatildeo das informaccedilotildees refere-se agrave elaboraccedilatildeo de

uma proposta relativa agrave criaccedilatildeo e funcionamento de Serviccedilos de Psicologia na Educaccedilatildeo Superior

concebida a partir dos indicadores construiacutedos ao longo dos Estudos 1 e 2 A integralizaccedilatildeo desta

etapa englobou (a) a definiccedilatildeo e defesa das bases teoacutericas conceituais e epistemoloacutegicas que satildeo

pertinentes para sustentar a atuaccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares (b) descriccedilatildeo de objetivos a orientar

os Serviccedilos (c) explicitaccedilatildeo do puacuteblico com o qual os psicoacutelogos escolares poderatildeo desenvolver

suas accedilotildees (d) caracterizaccedilatildeo do perfil do quantitativo e carga horaacuteria dos psicoacutelogos escolares (e)

sugestotildees de funcionamento do Serviccedilo e por fim (f) definiccedilatildeo das grandes dimensotildees

orientadoras da atuaccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares nas IES

Procedimentos para Anaacutelise das Informaccedilotildees

O processo de construccedilatildeo das informaccedilotildees gerou certamente uma riqueza informativa que

instalou o desafio de dar sentido ao conjunto de informaccedilotildees obtido a partir da imersatildeo no contexto

de pesquisa Tendo em vista a configuraccedilatildeo multimetodoloacutegica desta pesquisa diferentes

procedimentos de anaacutelise foram utilizados conforme descritos na sequecircncia

Um primeiro procedimento adotado refere-se agrave anaacutelise descritiva de indicadores

quantitativos relacionados agrave caracterizaccedilatildeo dos Serviccedilos de Psicologia a qual buscou descrever de

maneira sintetizada o conjunto de indicadores Este procedimento foi especialmente utilizado nas

etapas de elaboraccedilatildeo dos panoramas nacionais dos dois paiacuteses acerca dos Serviccedilos

Outro procedimento utilizado neste estudo diz respeito agrave anaacutelise documental que busca

identificar nos documentos informaccedilotildees relativas aos Serviccedilos de Psicologia das IES o a partir de

questotildees de interesse definidas pelo pesquisador (Ludke amp Andreacute 1986) Para executar este

procedimento Severino (2007) recomenda a realizaccedilatildeo de trecircs etapas de anaacutelise do material a

textual que envolve leitura completa do texto a temaacutetica etapa de compreensatildeo da mensagem e a

interpretativa na qual se faz uma leitura analiacutetica do material

149

Com base nessas orientaccedilotildees realizou-se leitura exaustiva do material para obter uma visatildeo

panoracircmica dos documentos As leituras seguintes possibilitaram a emergecircncia de grandes temas

de interesse os quais se configuraram como elementos significativos para a compreensatildeo dos

documentos Em seguida passou-se agrave identificaccedilatildeo dos trechos que correspondiam aos temas

eleitos Os conteuacutedos dos temas que carregavam semelhanccedila de significado foram integrados

chegando-se agrave etapa final de elaboraccedilatildeo das categorias de anaacutelise descritas e exploradas no

capiacutetulo seguinte

O uacuteltimo procedimento de anaacutelise adotado neste trabalho refere-se agrave construccedilatildeo de zonas

de sentido utilizado em especial para a anaacutelise das informaccedilotildees construiacutedas por meio das

entrevistas individuais e do acompanhamento do psicoacutelogo escolar

Com base nos fundamentos da perspectiva histoacuterico-cultural e especialmente nas

construccedilotildees vygotskynianas acerca da relaccedilatildeo pensamento e linguagem busca-se uma metodologia

de anaacutelise qualitativa que partindo das palavrassignos possibilite apreender a subjetividade Dessa

maneira a escolha metodoloacutegica para anaacutelise das informaccedilotildees neste trabalho decorre da reflexatildeo

sobre o caraacuteter epistemoloacutegico (e natildeo teacutecnico) da linguagem como construtora da proacutepria realidade

(Tavares 2004)

Sendo a fala a forma como o sujeito consegue expressar num dado momento suas

vivecircncias subjetivas a tarefa do pesquisador no processo de anaacutelise eacute ultrapassar a aparecircncia da

fala e ir em busca das motivaccedilotildees necessidades e interesses do sujeito construiacutedas histoacuterica e

socialmente que permitem compreender os sentidos por ele elaborados De acordo com esta

compreensatildeo o processo de anaacutelise estaacute para aleacutem da descriccedilatildeo da fala a anaacutelise se inicia com o

conteuacutedo expliacutecito das mensagens e se aprofunda em seu conteuacutedo lsquoocultorsquo ou em suas entrelinhas

Nessa direccedilatildeo Aguiar (2007) e Aguiar e Ozella (2006) apontam que para compreender a

fala de algueacutem eacute preciso compreender para aleacutem das suas palavras eacute preciso compreender o

pensamento Segundo Vygotsky (20012009) o pensamento natildeo se exprime na palavra mas se

realiza por meio dela O objetivo do processo de anaacutelise da expressatildeo dos sujeitos eacute portanto

apreender o que estaacute para aleacutem da aparecircncia Para tanto a palavra com significado eacute eleita como

unidade de anaacutelise pois que por meio dela pode-se alcanccedilar os aspectos cognitivos afetivos e

relacionais que constituem a subjetividade do sujeito (Aguiar 2007 Aguiar amp Ozella 2006)

Diante destas ponderaccedilotildees a proposta metodoloacutegica para anaacutelise das informaccedilotildees desta

pesquisa orienta-se pela perspectiva de apreender zonas de sentidos que expressem questotildees temas

e conteuacutedos que satildeo centrais para o sujeito e que se reuacutenem formando uma rede segundo a

importacircncia que o sujeito atribui a eles Nesta perspectiva elas sintetizam os indicadores extraiacutedos

da fala da palavra das interlocuccedilotildees construiacutedas entre os participantes As zonas de sentido natildeo

pretendem ser estaacuteticas e definitivas elas podem se modificar pois dependem das experiecircncias

vividas e variam de acordo com a vida particular de cada sujeito

150

A proposta de construir zonas de sentido tem como objetivo apreender os sentidos

dinacircmicos complexos e instaacuteveis que os sujeitos elaboram nas relaccedilotildees sociais atraveacutes da

articulaccedilatildeo dialeacutetica de apropriaccedilotildees passadas e da constituiccedilatildeo histoacuteria da subjetividade com a sua

experiecircncia atual (Barros Paula Pascual Colaccedilo amp Ximenes 2009 Zanella Reis Titon Urnau amp

Dassoler 2007) Nesta perspectiva entende-se que os sentidos natildeo estatildeo acabados guardados no

pensamento do sujeito e prontos a serem exteriorizados eles satildeo produzidos nas relaccedilotildees sociais

no jogo das experiecircncias posturas desejos

Os sentidos emanam da experiecircncia da pessoa de suas incursotildees pelo mundo fiacutesico e social

e pelas interlocuccedilotildees que estabelece com o outro e com ela mesma de forma que os sentidos

permitem que se leve em conta natildeo apenas a recorrecircncia e a regularidade mas tambeacutem seus

dinamismos instabilidade heterogeneidade O conceito de sentido assim compreendido favorece

que ldquose entenda a investigaccedilatildeo psicoloacutegica como negociaccedilatildeo e composiccedilatildeo de sentidos a partir de

interaccedilotildees deflagradas em seu curso nas quais natildeo soacute a pessoa do pesquisador entre em jogo como

tambeacutem suas interlocuccedilotildees com suas bases teoacutericas de referecircnciasrdquo (Barros amp cols 2009 p 181)

Segundo Vygotsky ldquoo sentido de uma palavra eacute a soma de todos os fatos psicoloacutegicos que

ela desperta em nossa consciecircncia Assim o sentido eacute sempre uma formaccedilatildeo dinacircmica fluida

complexa que tem vaacuterias zonas de estabilidade variadardquo (Vygotsky conforme citado em Barros amp

cols 2009 p 179) Os sentidos satildeo construiacutedos nas relaccedilotildees sociais e tecircm caraacuteter ativo e instaacutevel e

apreendecirc-los natildeo significa apreender ldquouma resposta uacutenica coerente absolutamente definida

completa mas expressotildees do sujeito muitas vezes contraditoacuterias parciais que nos apresentam

indicadores das formas de ser do sujeito de processos vividos por elerdquo (Aguiar amp Ozella 2006 p

228)

Aspecto de destaque no processo de construccedilatildeo e interpretaccedilatildeo das zonas de sentido eacute a

relevacircncia atribuiacuteda agraves interaccedilotildees e agraves trocas intersubjetivas como elementos que participam das

configuraccedilotildees subjetivas O conceito de sentido como recurso analiacutetico das investigaccedilotildees em

Psicologia eacute entendido como uma criaccedilatildeo e uma experiecircncia subjetiva tecida na articulaccedilatildeo

complexa e dinacircmica de elementos pessoais relacionais contextuais e ideoloacutegicos (Barros amp cols

2009)

Dessa maneira as zonas de sentido surgem dos momentos de interlocuccedilatildeo criados na

situaccedilatildeo de pesquisa os quais englobam tanto as interaccedilotildees entre os participantes quanto aquelas

que ocorrem com o pesquisador Segundo Zanella e cols (2007) o foco nas relaccedilotildees eacute muito

importante uma vez que isolar os elementos ocasiona a perda da compreensatildeo das partes que

compotildee o todo e da proacutepria totalidade Os sentidos construiacutedos pelos sujeitos satildeo

fundamentalmente expressatildeo dialeacutetica do singular e do coletivo do privado e do puacuteblico

ldquoO ponto central de nossa investigaccedilatildeo consistiraacute em estudar a passagem da influecircncia

social exterior ao indiviacuteduo agrave influecircncia social interior ao indiviacuteduo e trataremos de esclarecer os

momentos mais importantes que integram esse momento de transiccedilatildeordquo (Vygotski conforme citado

151

em Zanella amp cols 2007) Vecirc-se assim que o importante no processo de anaacutelise dos sentidos eacute

capturar o movimento de transiccedilatildeo do coletivo para o singular e deste para o coletivo momento de

extrema importacircncia jaacute que as mudanccedilas qualitativas nas accedilotildees se datildeo justamente pela realizaccedilatildeo

destes movimentos Elemento relevante neste movimento eacute a figura do pesquisador o qual pela

mediaccedilatildeo intencional e qualificada oportuniza a circulaccedilatildeo dos sentidos sua revisatildeo e

ressignificaccedilatildeo

Diante do exposto acerca da proposta metodoloacutegica de anaacutelise das informaccedilotildees fica

evidente que a complexidade dos sentidos gera para o pesquisador um grande desafio para

apreendecirc-los No entanto acredita-se que por meio de um trabalho de anaacutelise e interpretaccedilatildeo pode-

se identificar e compreender as zonas mais dinacircmicas intensas e mutaacuteveis ou seja as zonas de

sentido Esse eacute portanto o caminho proposto neste estudo o de tentar apreender o processo de

construccedilatildeo dos sentidos bem como os elementos que dele participam

O procedimento utilizado para construir as zonas de sentidos foi a da interpretaccedilatildeo das

falas ou melhor das interlocuccedilotildees mediadas as quais foram assumidas como unidades de anaacutelise

Define-se como interlocuccedilotildees mediadas as expressotildees dos sujeitos que foram construiacutedas em

espaccedilos bidirecionais de interaccedilatildeo e intersubjetividade ou seja de interlocuccedilatildeo do participante com

o pesquisador Assim as unidades de anaacutelise expressam o movimento de transiccedilatildeo do singular para

o coletivo e do coletivo para o singular no qual o sujeito estaacute implicado e satildeo importantes para

compreender por quais vias ele constroacutei alguns sentidos A construccedilatildeo de zonas de sentido como

procedimento analiacutetico parte portanto da proposta de apreensatildeo da fala (palavra com o

significado) como unidade principal de anaacutelise para a compreensatildeo dos objetivos da pesquisa

Diante do material a ser analisado seja ele um texto (como o memorial) ou uma transcriccedilatildeo

(de entrevistas e de encontros de reflexatildeo) iniciam-se leituras flutuantes que possibilitem a

familiarizaccedilatildeo e apropriaccedilatildeo do material a ser trabalhado Dessas leituras identificam-se falas

relacionadas a temas e conteuacutedos diversos em virtude da repeticcedilatildeo ou reiteraccedilatildeo na fala do

participante da carga emocional da ecircnfase e importacircncia atribuiacuteda das ambivalecircncias

contradiccedilotildees das insinuaccedilotildees elas satildeo assumidas como unidades de anaacutelise (Aguiar amp Ozella

2006) O criteacuterio fundamental para filtrar essas falas eacute sua importacircncia e pertinecircncia aos objetivos

da pesquisa

Partindo dessas falas ou das interlocuccedilotildees como unidade de anaacutelise o procedimento

analiacutetico caminha para a interpretaccedilatildeo destas unidades momento no qual o pesquisador faz a

leitura das expressotildees dos sujeitos com base na sua imersatildeo no contexto de pesquisa nos objetivos

propostos para o estudo e nos referenciais teoacutericos que adota Na medida em que eacute possiacutevel ter

diferentes olhares sobre a mesma questatildeo uma mesma interlocuccedilatildeo pode suscitar mais de uma

interpretaccedilatildeo e assim ser parte constituinte de mais de uma zona de sentido O procedimento de

construccedilatildeo de sentidos aceita assume e valoriza a diversidade de leituras a respeito de um fato o

152

que confere inclusive um caraacuteter de interdependecircncia entre as zonas de sentido que seratildeo criadas

posteriormente

Feita esta primeira interpretaccedilatildeo segue um processo de aglutinaccedilatildeo das interlocuccedilotildees e

suas respectivas interpretaccedilotildees o qual ocorre pela complementaridade e similaridade existente

entre elas ou mesmo pela contraposiccedilatildeo Esse momento do processo resulta na organizaccedilatildeo das

zonas de sentido que agregam sentidos correlacionados e interdependentes

Nesse processo de organizaccedilatildeo das zonas de sentido eacute possiacutevel reconhecer as concepccedilotildees

posicionamentos e transformaccedilotildees que permeiam o processo de construccedilatildeo possibilitando ao

pesquisador ir aleacutem da fala expliacutecita e levar em conta os elementos subjetivos relacionais

contextuais e ideoloacutegicos Neste momento faz-se a anaacutelise propriamente dita das zonas de sentido

por meio do diaacutelogo entre as informaccedilotildees advindas da investigaccedilatildeo a histoacuteria do sujeito e a base

teoacuterica adotada pelo pesquisador Na medida em que o conhecimento eacute uma produccedilatildeo

essencialmente construtiva-interpretativa o esforccedilo neste momento deve recair na anaacutelise das

expressotildees contextualizadas e coconstruiacutedas nos espaccedilos intersubjetivos oportunizados na pesquisa

O processo de anaacutelise eacute nesta perspectiva uma produccedilatildeo de interpretaccedilotildees acerca das contradiccedilotildees

tensotildees conflitos siacutenteses desencontros equiliacutebrios entre as subjetividades dos sujeitos e do

pesquisador entre os indicadores empiacutericos e teoacutericos

Para finalizar o processo de anaacutelise das informaccedilotildees procede-se a anaacutelise das zonas de

sentido e de seu conteuacutedo a qual se inicia por um processo intra zona onde se considera apenas o

seu conteuacutedo especiacutefico e avanccedila para uma transversalizaccedilatildeo entre as diferentes zonas de sentido

O momento de anaacutelise natildeo se prende somente agraves falas expliacutecitas mas as tensotildees semelhanccedilas

contradiccedilotildees e complementaridades apreendidas a partir da anaacutelise e interpretaccedilatildeo do pesquisador

153

RESULTADOS E DISCUSSAtildeO

Neste capiacutetulo satildeo apresentados e discutidos os resultados obtidos a partir da anaacutelise das

informaccedilotildees construiacutedas ao longo dessa pesquisa Os resultados referentes a cada estudo (1 e 2)

estatildeo apresentados separadamente segundo as etapas metodoloacutegicas que os orientaram Ao final do

capiacutetulo faz-se uma siacutentese transversal destes resultados e apresenta-se a proposta de criaccedilatildeo e

estruturaccedilatildeo de Serviccedilos de Psicologia na Educaccedilatildeo Superior brasileira

ESTUDO 1 ndash BRASIL

1ordf Etapa ndash Mapeamento dos Serviccedilos de Psicologia

A realizaccedilatildeo desta etapa ocorreu em dois momentos (a) Panorama nacional dos Serviccedilos

de Psicologia e (b) Identificaccedilatildeo e Caracterizaccedilatildeo dos Serviccedilos de Psicologia do Distrito Federal

ambos apresentados a seguir O primeiro deles se constitui como um estudo descritivo do ldquoestado

da arterdquo no paiacutes e eacute portanto um mapeamento preliminar ao foco central desta pesquisa que eacute o

Distrito Federal

Os resultados relativos aos Serviccedilos de Psicologia existentes em Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo

Superior do Brasil pretendem compor um panorama de como estaacute atualmente configurada a

situaccedilatildeo da Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo Superior do paiacutes As informaccedilotildees foram obtidas por

meio de respostas ao questionaacuterio eletrocircnico enviado agraves 2314 instituiccedilotildees que integram o Censo da

Educaccedilatildeo Superior de 2009 (INEP 2010) O questionaacuterio foi enviado por e-mail aos endereccedilos

eletrocircnicos informados no cadastro do INEP sendo que no corpo da mensagem constava o link

para acessaacute-lo As respostas dos participantes foram automaticamente direcionadas para uma

planilha eletrocircnica que possibilitou a anaacutelise das informaccedilotildees conforme apresentado a seguir

Do total de instituiccedilotildees 109 responderam ao questionaacuterio o que corresponde a 51 das

IES brasileiras Destas 82 satildeo Faculdades 12 satildeo Universidades sete satildeo Centros Universitaacuterios

seis satildeo Institutos Federais de Educaccedilatildeo Ciecircncia e Tecnologia e duas natildeo responderam agrave questatildeo

Das 109 IES que responderam ao questionaacuterio a maioria delas 725 eacute faculdade privada

Quanto agrave existecircncia ou natildeo de Serviccedilos de Psicologia entre as instituiccedilotildees participantes 87

delas responderam positivamente e 22 delas indicaram natildeo ter serviccedilos desta natureza Dessa

maneira das 109 instituiccedilotildees participantes 798 tecircm Serviccedilos de Psicologia em funcionamento

Em relaccedilatildeo agrave organizaccedilatildeo acadecircmica e natureza administrativa das IES com Serviccedilos 71 delas satildeo

instituiccedilotildees privadas e somente 16 satildeo puacuteblicas conforme ilustra com mais detalhes a Tabela 9 que

traz a distribuiccedilatildeo das IES que reportam ter o Serviccedilo

154

Tabela 9

Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior do Brasil com Serviccedilo de Psicologia

Organizaccedilatildeo acadecircmica Nordm

IES

Categoria

administrativa

Nordm IES

Universidade 12 Puacuteblica 6 69

Privada 6 69

Centro Universitaacuterio 7 Puacuteblica 2 23

Privada 5 57

Faculdade 62 Puacuteblica 2 23

Privada 60 689

Instituto Federal de Educaccedilatildeo 6 Puacuteblica 6 69

A exemplo da prevalecircncia de faculdades privadas no quadro geral de Instituiccedilotildees de

Educaccedilatildeo Superior brasileiro satildeo elas tambeacutem que tecircm mais Serviccedilos de Psicologia abarcando

689 deles Entretanto este resultado diverge daquele encontrado por Serpa e Santos (2001) que

constataram a maior presenccedila de Serviccedilos de Orientaccedilatildeo ao Universitaacuterio entre as instituiccedilotildees

puacuteblicas especificamente as universidades

Em relaccedilatildeo agrave localizaccedilatildeo geograacutefica das instituiccedilotildees com Serviccedilos de Psicologia 32 delas

estatildeo situadas na regiatildeo Sudeste 23 no Nordeste seguidas da regiatildeo Sul e Centro-Oeste com 14

igualmente Na regiatildeo Norte apenas quatro IES relatam ter Serviccedilos desta natureza No que diz

respeito agrave estrutura dos Serviccedilos de Psicologia a maioria deles (51) tem apenas um psicoacutelogo

escolar havendo todavia 20 Serviccedilos que tecircm trecircs ou mais profissionais da aacuterea Se por um lado

satildeo as faculdades privadas as que mais tecircm Serviccedilos de Psicologia por outro satildeo elas tambeacutem que

tecircm Serviccedilos com o maior nuacutemero de psicoacutelogos seguidas das universidades privadas

Quanto agrave carga horaacuteria de trabalho dos psicoacutelogos escolares em 57 dos Serviccedilos eles

atuam entre 20 e 40 horas semanais enquanto que em 13 deles os profissionais tecircm viacutenculo de 10

horas por semana e nos restantes 30 dos Serviccedilos os psicoacutelogos escolares trabalham menos de 10

horas por semana A dedicaccedilatildeo dos profissionais eacute portanto principalmente parcial ou integral o

que permite que estejam mais imersos nas instituiccedilotildees e possam analisaacute-las como parte integrante e

natildeo como um especialista que presta consultorias eventualmente (Arauacutejo amp Almeida 2003

Marinho-Arauacutejo amp Almeida 2005a)

Em relaccedilatildeo ao fato dos psicoacutelogos trabalharem em equipes multiprofissionais ou realizarem

sozinhos suas atividades 73 ou seja a maioria integra uma equipe e nestes casos os pedagogos

satildeo os principais profissionais com os quais o psicoacutelogo escolar trabalha em conjunto seguidos dos

funcionaacuterios teacutecnico-administrativos e dos assistentes sociais Diferentemente no estudo de Serpa e

Santos (2001) os assistentes sociais eram mencionados com maior frequecircncia na composiccedilatildeo das

155

equipes enquanto os teacutecnicos foram citados esporadicamente A Figura 12 ilustra a distribuiccedilatildeo

dos profissionais com os quais os psicoacutelogos escolares atuam

0 10 20 30 40 50

Profission

ais

PedagogoAssistente socialEnfermeiroMeacutedicoDentistaGestor de RHTeacutecnicos-adminOutros

Figura 12 Profissionais que integram os Serviccedilos de Psicologia do Brasil

Pela anaacutelise do graacutefico nota-se que os profissionais da aacuterea de sauacutede (Meacutedicos Enfermeiros

e Dentistas) satildeo os que menos participam das equipes que o psicoacutelogo escolar integra conforme jaacute

haviam constatado Serpa e Santos (2001) A interface Psicologia e Sauacutede parece ainda carecer de

maior integraccedilatildeo o que pode ser almejado no contexto educativo por meio do investimento

conjunto em praacuteticas de Educaccedilatildeo para a Sauacutede que buscam contribuir para que a comunidade

acadecircmica faccedila opccedilotildees mais adequadas agrave sua sauacutede e ao seu bem-estar fiacutesico social e mental

(OMS 1986) No contexto acadecircmico as accedilotildees de Educaccedilatildeo para a Sauacutede podem auxiliar os

estudantes a identificarem e otimizarem formas mais adequadas e saudaacuteveis de lidar com o stress e

a ansiedade e assim contribuir para seu sucesso (Pereira Monteiro Gomes amp Tavares 2005

Robotham 2008)

A variedade de profissionais com os quais os psicoacutelogos escolares estatildeo trabalhando aponta

para uma atuaccedilatildeo multi e interdisciplinar considerada importante para lidar com os fenocircmenos

humanos tatildeo complexos (Maluf 2003) Aleacutem do mais parece indicar que os Serviccedilos mantidos

pelas instituiccedilotildees natildeo satildeo exclusivamente de apoio psicoloacutegico mas na verdade serviccedilos

multidisciplinares Nesse sentido torna-se indispensaacutevel que os psicoacutelogos escolares exercitem a

praacutetica da interdisciplinaridade na atuaccedilatildeo com profissionais de outras aacutereas de conhecimento

Quanto agrave atuaccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares os resultados apontam que suas accedilotildees estatildeo

principalmente direcionadas para os estudantes pois dos 87 Serviccedilos identificados 81 atuam junto

a este segmento sendo que destes 22 trabalham exclusivamente com esta populaccedilatildeo Outros

serviccedilos que trabalham com apenas um segmento da comunidade acadecircmica diferente do corpo

discente tecircm como puacuteblico alvo os funcionaacuterios ou a populaccedilatildeo externa agrave IES A Figura 13 ilustra a

distribuiccedilatildeo do puacuteblico com o qual os psicoacutelogos escolares atuam

156

0 20 40 60 80 100

Puacuteb

lico-alvo

Aluno

Professores

Funcionaacuterios

Coordenadores de curso

Diretores reitores e gestores

Pais de alunos

Comunidade externa

Outros

Figura 13 Puacuteblico atendido pelos Serviccedilos de Psicologia do Brasil

Dos 87 Serviccedilos de Psicologia 62 deles ou 72 informam que o trabalho eacute extensivo a

outros segmentos da instituiccedilatildeo integrando intervenccedilotildees com alunos professores funcionaacuterios

coordenadores de curso proacute-reitores e diretores da instituiccedilatildeo aleacutem tambeacutem dos pais de alunos e

da comunidade externa Em 2001 Serpa e Santos jaacute haviam identificado que os Serviccedilos de Apoio

ao Universitaacuterio atendiam aos alunos agraves famiacutelias e agrave comunidade para aleacutem destes segmentos os

resultados atuais indicam que a populaccedilatildeo interna da IES como corpo docente teacutecnico e gestor

tambeacutem jaacute satildeo alvo das intervenccedilotildees em Psicologia Escolar

Nessa direccedilatildeo aleacutem dos alunos tambeacutem eacute relevante o trabalho dos psicoacutelogos escolares

com os professores e os funcionaacuterios da instituiccedilatildeo realizado em mais de 60 dos casos A

atuaccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares junto aos professores por exemplo condiz com indicaccedilotildees que

vecircm sendo feitas na literatura tanto no que se refere agraves queixas escolares quanto agrave formaccedilatildeo de

docentes e apoio agraves atividades de ensino (Aguiar 2000 Facci 2009 Meira 2000 Neves 2001

Neves amp Almeida 2003 Souza 2009) As intervenccedilotildees desencadeadas com a equipe de

funcionaacuterios satildeo pouco frequentes na literatura contudo levando em conta os resultados deste

levantamento pode-se considerar que a realidade e a praacutetica profissional estejam sinalizando

algumas mudanccedilas ainda natildeo anunciadas ou registradas na literatura conforme tecircm destacado

Maluf (2003) e Maluf e Cruces (2008) ao dizerem que a Psicologia Escolar emergente pode ser

mais reconhecida pelas accedilotildees do que pelo discurso

Interessante destacar que se por um lado os participantes reportam com frequecircncia o

atendimento e orientaccedilatildeo aos professores e aos funcionaacuterios como atividades mais desenvolvidas

pelos psicoacutelogos escolares por outro as accedilotildees de formaccedilatildeo continuada com esses segmentos satildeo

pouco indicadas dos 87 Serviccedilos apenas 28 deles envolvem-se com a formaccedilatildeo continuada do

corpo docente e teacutecnico da IES Apesar destes resultados causarem alguma estranheza a partir da

anaacutelise da produccedilatildeo cientiacutefica em Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo Superior Bariani e cols (2004)

jaacute haviam apontado que a formaccedilatildeo continuada de professores eacute uma temaacutetica pouco recorrente nos

157

estudos e publicaccedilotildees da aacuterea o que condiz com o pouco envolvimento dos profissionais com

accedilotildees de formaccedilatildeo

Em relaccedilatildeo agraves atividades desenvolvidas pelos psicoacutelogos o atendimento e orientaccedilatildeo aos

alunos eacute a mais recorrente nos Serviccedilos de Psicologia seguida do encaminhamento dos alunos Na

sequecircncia o atendimento aos professores e aos funcionaacuterios o apoio aos alunos com necessidades

especiais ao processo de ensino e aprendizagem e aos coordenadores de curso satildeo atividades

frequentes entre os Serviccedilos todas realizadas por mais da metade deles

Em pesquisa realizada haacute quase uma deacutecada por Serpa e Santos (2001) a orientaccedilatildeo e o

encaminhamento dos alunos tambeacutem eram as principais atividades dos psicoacutelogos escolares

entretanto e diferentemente a psicoterapia individual que era uma das principais atividades

realizadas pelos psicoacutelogos escolares agravequela eacutepoca natildeo estaacute atualmente entre as atividades mais

desenvolvidas pelos profissionais Na presente anaacutelise a psicoterapia eacute a atividade menos

mencionada entre aquelas desenvolvidas pelos psicoacutelogos escolares o que aponta para uma

importante alteraccedilatildeo nas accedilotildees centrais dos psicoacutelogos escolares que se deslocam de um modelo

cliacutenico-terapecircutico para outro mais preventivo e institucional em consonacircncia com as indicaccedilotildees

que vecircm sendo feita nas uacuteltimas deacutecadas (Almeida 1999 Arauacutejo amp Almeida 2003 Guzzo 1996

2001 Maluf 2003 Marinho-Arauacutejo amp Almeida 2005a Oliveira amp Marinho-Arauacutejo 2009) A

Figura 14 apresenta de forma detalhada as atividades realizadas pelos psicoacutelogos escolares nas

IES que responderam ao questionaacuterio eletrocircnico

0 30 60 90

OutrosAvaliaccedilatildeo Institucional

Acompanhamento aos egressosApoio aos coordenadores de curso

Auxiacutelio ao processo ensino-aprendizagemOrientaccedilatildeo profissionalWorkshops e palestras

Apoio a necessidades especiaisFormaccedilatildeo continuada

Acolhimentos a calourosEncaminhamento externo

PsicoterapiaAtendimento aos funcionaacuteriosAtendimento aos professores

Atendimento aos alunos

Figura 14 Atividades desenvolvidas pelos psicoacutelogos escolares nos Serviccedilos de Psicologia do

Brasil

Tendo como base a organizaccedilatildeo das accedilotildees dos psicoacutelogos escolares em formas de atuaccedilatildeo

tradicionais e formas de atuaccedilatildeo emergentes conforme tem sido proposto por Martiacutenez (2007

2009 2010) as atividades realizadas pelos profissionais nas IES brasileiras indicam que haacute uma

associaccedilatildeo entre as duas formas de atuaccedilatildeo Accedilotildees tradicionais como o atendimento orientaccedilatildeo e

158

encaminhamento de alunos orientaccedilatildeo profissional formaccedilatildeo continuada dos professores dividem

espaccedilo com o atendimento a funcionaacuterios recepccedilatildeo aos calouros acompanhamento do processo de

ensino e aprendizagem apoio a coordenadores de curso realizaccedilatildeo de workshops oficinas e

palestras formativas direcionadas ao desenvolvimento integral dos estudantes acompanhamento

dos alunos egressos da IES e avaliaccedilatildeo institucional

Dessa maneira accedilotildees apontadas por Witter (1999) haacute mais de uma deacutecada como sendo

funccedilatildeo do psicoacutelogo na Educaccedilatildeo Superior comeccedilam a ser observadas na praacutetica como eacute o caso da

assessoria ao processo de ensino-aprendizagem por meio do acompanhando das atividades

docentes Por certo que a frequecircncia pela qual as accedilotildees emergentes comparecem entre as atividades

desenvolvidas pelos psicoacutelogos escolares ainda eacute reduzida como eacute o caso do acompanhamento aos

egressos e da avaliaccedilatildeo institucional que somente 20 e 29 dos psicoacutelogos escolares

respectivamente estatildeo envolvidos Contudo e ainda assim jaacute satildeo indicadores de mudanccedila e

avanccedilos na aacuterea especialmente em se tratando da Educaccedilatildeo Superior que eacute um contexto menos

tradicional de pesquisa e de intervenccedilatildeo em Psicologia Escolar

Outras atividades tambeacutem citadas pelos participantes foram a avaliaccedilatildeo docente a

participaccedilatildeo em atividades ligadas agrave gestatildeo de pessoas e na ouvidoria A primeira pode ser parte

integrante do processo mais amplo de avaliaccedilatildeo institucional em especial a autoavaliaccedilatildeo

somando-se ao grupo das accedilotildees emergentes A segunda apesar de ser comumente associada agrave

atuaccedilatildeo de psicoacutelogos organizacionais pode ocorrer especialmente pela contribuiccedilatildeo dos

psicoacutelogos escolares em intervenccedilotildees relacionadas agrave definiccedilatildeo de perfis profissionais e participaccedilatildeo

em processos de seleccedilatildeo de membros da equipe pedagoacutegica e de funcionaacuterios ambas sustentadas

sob a especificidade da Psicologia Escolar As duas atividades citadas condizem com propostas de

atuaccedilatildeo que se sustentam em uma perspectiva ampliada e institucional (Marinho-Arauacutejo 2009a

Sandoval amp Love 1977)

No espaccedilo disponibilizado no questionaacuterio para comentaacuterios criacuteticas e sugestotildees alguns

respondentes expressaram suas percepccedilotildees acerca do papel e da importacircncia dos Serviccedilos A esse

respeito um participante comenta que ldquoo MEC deveria exigir a participaccedilatildeo de profissionais como

psicoacutelogo e pedagogos para acompanhar o desenvolvimento das atividades dos cursos superioresrdquo

(Faculdade privada sem Serviccedilo de Psicologia) O respondente sugere ainda que o trabalho

desenvolvido por estes profissionais deveria ser acompanhado atraveacutes de relatoacuterios de atendimento

e projetos

Entretanto conforme evidencia o comentaacuterio de outro participante a previsatildeo de um

serviccedilo dessa natureza nos documentos oficiais da instituiccedilatildeo natildeo eacute garantia de sua existecircncia na

praacutetica ldquono caso da minha IES a ausecircncia de atendimento psicopedagoacutegico (haacute apenas no papel) eacute

uma criacutetica grande da minha parterdquo (Faculdade privada sem Serviccedilo de Psicologia) Como

apontado nesta fala apesar dos serviccedilos de apoio psicoloacutegico poderem estar oficialmente previstos

nas poliacuteticas e projetos institucionais como uma estrateacutegia de atendimento aos discentes inclusive

159

em atenccedilatildeo agraves orientaccedilotildees e criteacuterios avaliativos da Educaccedilatildeo Superior isso natildeo eacute garantia de que

haja um serviccedilo em funcionamento Razotildees para esse fato prendem-se agrave real valorizaccedilatildeo e ao

entendimento da instituiccedilatildeo acerca da contribuiccedilatildeo de um serviccedilo desse tipo agraves condiccedilotildees

administrativas e financeiras da IES para criar e manter um serviccedilo de qualidade suas prioridades

entre outras razotildees

Na direccedilatildeo da valorizaccedilatildeo do serviccedilo e da sua contribuiccedilatildeo outro participante relata que

ldquomuitas IES ainda natildeo se deram conta da importacircncia desse profissional em seu colegiado de

gestatildeo personagem que empresta o apoio psico-pedagoacutegico no processo ensino-aprendizado dos

alunos com dificuldades N e que sob a orientaccedilatildeo do mesmo conseguem superar-se e se

reintegrarem nos estudosrdquo (Faculdade privada sem Serviccedilo de Psicologia)

Por fim alguns participantes aproveitaram o espaccedilo destinado a comentaacuterios e criacuteticas para

esclarecer detalhes do funcionamento dos Serviccedilos de Psicologia para apresentar os motivos pelos

quais a IES ainda natildeo tecircm um Serviccedilo ou porque natildeo puderam responder agraves questotildees aleacutem de

pedirem que os resultados desse estudo sejam compartilhados com eles

Haacute ainda que destacar a surpresa da pesquisadora em relaccedilatildeo agrave receptividade das IES agrave

pesquisa e a disponibilidade em contribuir com a mesma Alguns exemplos satildeo os e-mails nos

quais os membros da instituiccedilatildeo identificando-se informavam jaacute terem respondido ao questionaacuterio

e desejavam sucesso na realizaccedilatildeo da pesquisa colocavam-se a disposiccedilatildeo para outras informaccedilotildees

e pediam para conhecer futuramente os resultados em virtude da relevacircncia do estudo para seus

proacuteprios Serviccedilos comunicavam que encaminhariam o e-mail para o profissional responsaacutevel pelo

serviccedilo ou ainda esclareciam estar afastados da instituiccedilatildeo e indicavam outro endereccedilo eletrocircnico

para o qual o questionaacuterio poderia ser enviado Retornos dessa natureza mostram o compromisso

das IES e de seus atores com o desenvolvimento cientiacutefico e social do paiacutes e acima de tudo o

reconhecimento do papel da Psicologia Escolar nestas instituiccedilotildees visto que seus atores mostram-

se motivados a contribuir para o seu crescimento e aperfeiccediloamento

Da forma como o questionaacuterio foi planejado os respondentes poderiam simplesmente

assinalar no proacuteprio instrumento que a instituiccedilatildeo natildeo dispotildee de Serviccedilo de Psicologia sem

necessidade de explicar ou complementar sua resposta Nos casos de disporem de serviccedilos era

igualmente suficiente preencher ao questionaacuterio sendo que a IES que estivesse de acordo que o(s)

profissional(is) da aacuterea fosse contactado poderia informar seus dados Entretanto mais de 30 IES

responderam ao e-mail adicionando algum tipo de informaccedilatildeo e identificando-se Se o objeto de

investigaccedilatildeo deste estudo fosse pouco relevante para as IES exemplos como os mencionados natildeo

teriam ocorrido eles soacute ocorreram em virtude da dimensatildeo que a Psicologia Escolar tem para elas

Apresentados e discutidos os resultados relativos ao Panorama nacional dos Serviccedilos de

Psicologia passa-se agravequeles relacionados aos Serviccedilos do Distrito Federal

Participaram deste momento da pesquisa oito Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior do

Distrito Federal que tinham um Serviccedilo de Psicologia constituiacutedo e dispunham de informaccedilotildees

160

sobre o trabalho da Psicologia Escolar no site na internet Para analisar o material informativo

sobre o trabalho da Psicologia Escolar recorreu-se agrave anaacutelise documental descrita no capiacutetulo

metodoloacutegico que levou agrave elaboraccedilatildeo de cinco categorias - Identificaccedilatildeo Objetivos Recursos

Humanos Divulgaccedilatildeo e Acesso - apresentadas e analisadas a seguir com o objetivo de traccedilar uma

caracterizaccedilatildeo dos Serviccedilos de Psicologia no DF e da atuaccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares Para

ilustrar as categorias satildeo utilizados trechos do material informativo relativo aos Serviccedilos de

Psicologia e estes satildeo identificados pela sigla SP

Em relaccedilatildeo ao nuacutemero de IES do DF que contam com Serviccedilos de Psicologia identificou-

se que 12 instituiccedilotildees (162) tinham pelo menos um serviccedilo dessa natureza conforme descrito na

Tabela 10 Das 12 instituiccedilotildees identificadas oito tinham informaccedilotildees sobre o Serviccedilo de Psicologia

disponiacuteveis no site de maneira que a anaacutelise e discussatildeo feitas deste ponto em diante contemplaratildeo

apenas estas oito instituiccedilotildees

Tabela 10

Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior do Distrito Federal com Serviccedilo de Psicologia

Universidade Centro Universitaacuterio Faculdade

Puacuteblica Privada Puacuteblico Privado Puacuteblica Privada

1 1 0 1 0 9

Em relaccedilatildeo agrave Identificaccedilatildeo dos oito Serviccedilos analisados cinco nomeiam o conjunto de

atividades desenvolvidas como Serviccedilo de Orientaccedilatildeo e trecircs como Nuacutecleo de Apoio ou Nuacutecleo de

Atendimento Complementando as denominaccedilotildees seguem-se o termo Psicopedagoacutegico referindo-

se agrave articulaccedilatildeo entre a Pedagogia-Educaccedilatildeo e a Psicologia ou a identificaccedilatildeo do puacuteblico que eacute

alvo do trabalho os estudantes ou universitaacuterios Tem-se por exemplo Serviccedilo de Orientaccedilatildeo

Psicopedagoacutegica Nuacutecleo de Apoio Psicopedagoacutegico e Serviccedilo de Orientaccedilatildeo ao Universitaacuterio De

forma geral e independente das denominaccedilotildees adotadas pelas IES as atividades desenvolvidas

pelos Serviccedilos ou Nuacutecleos estatildeo voltadas para a prestaccedilatildeo de serviccedilos aos estudantes e aos demais

segmentos da comunidade acadecircmica sendo que estes adquirem caracteriacutesticas comuns ou

diferentes a depender dos objetivos que os orientam conforme discutido a seguir

Quanto aos Objetivos buscou-se analisar as propostas e finalidades dos Serviccedilos de

Psicologia com a intenccedilatildeo de compreender os eixos orientadores do trabalho realizado pelos

psicoacutelogos escolares nas Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior do Distrito Federal Nos documentos

analisados identificou-se a preocupaccedilatildeo das IES em explicitar as metas do trabalho realizado as

quais apesar de elaboradas de forma particularizada por cada instituiccedilatildeo guardam semelhanccedilas e

pontos em comuns Os objetivos podem ser organizados em trecircs grupos (a) atenccedilatildeo a dificuldades

161

vivenciadas pelos alunos (b) apoio ao rendimento acadecircmico e (c) promoccedilatildeo do desenvolvimento

humano

No primeiro grupo de objetivos os Serviccedilos se propotildeem a ldquoauxiliar os alunos que estatildeo

com dificuldades para aprender orientar na resoluccedilatildeo de conflitos pessoais que estejam

comprometendo o rendimento acadecircmicordquo (SP2-DF) e a ldquoauxiliar os indiviacuteduos em eventuais

dificuldades acadecircmicaseducacionaisrdquo (SP3-DF) Os Serviccedilos orientados por estes objetivos estatildeo

diretamente voltados agraves dificuldades e conflitos apresentados pelos alunos sejam eles de natureza

acadecircmica relacional ou emocional e acabam por direcionar a atuaccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares

para os problemas individuais

O segundo grupo de objetivos estaacute voltado para a formaccedilatildeo acadecircmica dos estudantes

focando aspectos pessoais afetivos relacionais e psicopedagoacutegicos que comparecem na trajetoacuteria

acadecircmica e estatildeo envolvidos na qualidade da formaccedilatildeo do aluno Os objetivos aqui agrupados

buscam ldquoapoiar a comunidade acadecircmica nos aspectos psicopedagoacutegicos e afetivosrdquo (SP1-DF) e

ldquoem questotildees acadecircmicas e pessoais apoiando o desenvolvimento pleno do papel de universitaacuteriordquo

(SP7-DF) aleacutem de ldquocontribuir para que o estudante aprimore a desenvolva seus recursos pessoais e

relacionais visando sua plena adaptaccedilatildeo ao contexto acadecircmicordquo (SP2-DF)

O uacuteltimo grupo de objetivos estaacute voltado para a promoccedilatildeo do desenvolvimento humano e

para a formaccedilatildeo integral dos sujeitos Nessa direccedilatildeo os Serviccedilos de Psicologia se propotildeem a

ldquoorientar professores e estudantes de graduaccedilatildeo apoiando-os ao longo do curso visando natildeo

somente a melhoria do desempenho acadecircmico mas tambeacutem o desenvolvimento pleno da pessoa

humanardquo (SP5-DF) e tambeacutem ldquocontribuir natildeo somente para a aprendizagem dos alunos mas

oferecer uma educaccedilatildeo formativa e de qualidade comprometida com o ser humano e com a

melhoria da sociedaderdquo (SP3-DF) Estes objetivos expressam para aleacutem do interesse pela

aprendizagem e formaccedilatildeo acadecircmica dos alunos compromisso com o amplo desenvolvimento de

sujeitos e da sociedade

Ainda que todos os objetivos expressem de diferentes formas a preocupaccedilatildeo dos Serviccedilos

e das instituiccedilotildees com a formaccedilatildeo dos estudantes eacute no terceiro grupo de objetivos que se percebe

maior coerecircncia com a funccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior de formar profissionais e cidadatildeos para uma

vida ativa em sociedade (Dias Sobrinho 2004 2005 2008a Goergen 2008 Morosini 1997 2005

2006b Ristoff 1999 2008 Severino 2000 2002) Os objetivos que se baseiam na atenccedilatildeo a

dificuldades vivenciadas pelos alunos e no suporte ao desenvolvimento acadecircmico satildeo legiacutetimos e

tecircm o meacuterito de oferecer apoio aos estudantes no que diz respeito agrave superaccedilatildeo de dificuldades

emocionais e relacionais que impactam o seu rendimento Contudo tendo como referecircncia a ampla

funccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior de formar pessoas cientes do seu papel potencialmente ativo atuante

e transformador aleacutem de preparadas para exercer esse papel de forma competente os Serviccedilos que

se prendem exclusivamente agrave superaccedilatildeo de dificuldades acabam por minimizar sua contribuiccedilatildeo

162

Em relaccedilatildeo aos Recursos Humanos pode-se abordar o nuacutemero de psicoacutelogos escolares que

atuam nos Serviccedilos e tambeacutem se estes profissionais estatildeo trabalhando sozinhos ou fazem parte de

uma equipe Dos oito Serviccedilos participantes cinco satildeo compostos exclusivamente por um

profissional de Psicologia dois tecircm dois psicoacutelogos escolares e um tem cinco profissionais sendo

que nestes dois uacuteltimos os psicoacutelogos estatildeo distribuiacutedos entre os diferentes campi da instituiccedilatildeo

Nos Serviccedilos em que haacute profissionais de outras aacutereas atuando junto com o psicoacutelogo escolar

constatou-se que em trecircs deles haacute a colaboraccedilatildeo de pedagogos (em dois casos estes satildeo

especialistas em psicopedagogia) e em uma haacute uma parceria com um administrador que coordena

as atividades relativas agrave orientaccedilatildeo profissional e empregabilidade dos estudantes Em dois

Serviccedilos haacute tambeacutem a colaboraccedilatildeo de teacutecnicos em assuntos educacionais que satildeo responsaacuteveis

pelo suporte no controle de agenda e nos tracircmites burocraacuteticos

Apesar de cinco psicoacutelogos escolares trabalharem sozinhos Serpa e Santos (2001)

constataram que no acircmbito nacional os psicoacutelogos atuam principalmente em equipe uma vez que

naquela eacutepoca das 49 IES que tinham o Serviccedilo de Atendimento ao Universitaacuterio o psicoacutelogo

escolar era parte constituinte de uma equipe multidisciplinar em 31 deles Em nenhum serviccedilo haacute

indicaccedilatildeo de que estagiaacuterios de Psicologia colaboram com os Serviccedilos e que estes funcionem como

espaccedilo de formaccedilatildeo de outros psicoacutelogos escolares

Em relaccedilatildeo agrave Divulgaccedilatildeo os Serviccedilos de Psicologia indicam que as estrateacutegias mais

utilizadas satildeo os cartazes afixados na instituiccedilatildeo o site da instituiccedilatildeo na internet bem como a

divulgaccedilatildeo aos alunos em sala de aula especialmente aos calouros do primeiro semestre de curso

A uacuteltima categoria de anaacutelise Acesso traz indicaccedilotildees de que o acesso ao Serviccedilo de

Psicologia pode ocorrer por iniciativa do aluno ou por encaminhamento dos professores ou da

coordenaccedilatildeo sendo que em todos os casos a indicaccedilatildeo ou procura pelo apoio psicoloacutegico se daacute pelo

reconhecimento de uma dificuldade esteja ela diretamente ligada ao baixo rendimento acadecircmico

ou agrave vivecircncia de problemas emocionais que nele repercutem Assim o trabalho eacute desencadeado a

partir de um agendamento feito pelo proacuteprio estudante ou pelo encaminhamento dos coordenadores

de curso mediante a constataccedilatildeo de uma dificuldade jaacute instalada

Nestes casos existe uma compreensatildeo preacutevia de que o aluno estaacute vivenciando um

problema trata-se dessa forma da ecircnfase agrave problemaacutetica individual ainda que se saiba que a

dificuldade seja forjada pela associaccedilatildeo de diferentes elementos Por mais que a praacutetica

predominante nas instituiccedilotildees educacionais seja aquela na qual o professorcoordenador identifica

uma dificuldade no aluno o encaminha ao serviccedilo especializado e a intervenccedilatildeo eacute desencadeada

junto ao aluno que natildeo eacute quem demandou estudos tecircm indicado a inadequaccedilatildeo desse

procedimento e proposto intervenccedilotildees mais integradas nas quais o professor se torna coparticipante

do processo de avaliaccedilatildeo e de intervenccedilatildeo (Neves 2001 Neves amp Almeida 2003)

163

2ordf Etapa ndash Mapeamento da atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar

Esta etapa do Estudo 1 ocorreu por meio da anaacutelise da atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar em

Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior do Distrito Federal e contemplou dois momentos distintos (a)

entrevistas com psicoacutelogos escolares que atuam em IES do DF e (b) acompanhamento da atuaccedilatildeo

de um psicoacutelogo escolar que trabalha em uma instituiccedilatildeo da regiatildeo

Em relaccedilatildeo agraves entrevistas com os psicoacutelogos escolares participaram deste momento da

pesquisa sete profissionais que atuam em Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior do DF as quais jaacute

foram caracterizadas na etapa anterior Conforme descrito no capiacutetulo metodoloacutegico as entrevistas

foram analisadas qualitativamente buscando-se apreender os sentidos construiacutedos pelos psicoacutelogos

escolares em relaccedilatildeo agrave sua experiecircncia profissional De forma geral os resultados exploram

aspectos relacionados agrave caracterizaccedilatildeo dos profissionais o puacuteblico alvo para o qual dirigem suas

accedilotildees as atividades realizadas o modelo de intervenccedilatildeo adotado as facilidades e dificuldades

encontradas ao longo do exerciacutecio profissional aleacutem de modificaccedilotildees que poderiam ser feitas na

sua atuaccedilatildeo e estruturaccedilatildeo dos Serviccedilos

Em relaccedilatildeo agraves instituiccedilotildees nas quais os psicoacutelogos escolares trabalham seis delas satildeo de

natureza privada sendo quatro faculdades A Tabela 11 apresenta resumidamente as caracteriacutesticas

dos psicoacutelogos escolares participantes deste momento da pesquisa discutidas na sequecircncia

Tabela 11

Caracterizaccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares que atuam em IES do Distrito Federal

Profis-

sional

IES Gecircnero Tempo de

atuaccedilatildeo

Formaccedilatildeo Viacutenculo Carga

horaacuteria

PE 1 Centro Univ

privado

F 4 anos Especialista Teacutecnica 20 horas

PE 2 Faculdade

privada

F 6 meses Doutoranda

em Psicologia

Professora 8 horas

PE 3 Universidade

privada

F 2 anos Mestranda

em Psicologia

Teacutecnica 40 horas

PE 4 Faculdade

privada

M 2 anos Mestre

em Psicologia

Professor 20 horas

PE 5 Universidade

puacuteblica

F 26 anos Mestre

em Psicologia

Teacutecnica 40 horas

PE 6 Faculdade

privada

F 2 anos Mestre

em Psicologia

Professora 8 horas

PE 7 Faculdade

privada

F 6 meses Mestre

em Psicologia

Professora 6 horas

164

Quanto ao tempo de experiecircncia dos psicoacutelogos escolares haacute uma grande variaccedilatildeo pois de

um lado tecircm-se profissionais trabalhando haacute pouco mais de seis meses na Educaccedilatildeo Superior e de

outro profissionais com 26 anos de atuaccedilatildeo neste contexto Em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo dos psicoacutelogos

a maioria deles jaacute fez ou estaacute concluindo um curso de poacutes-graduaccedilatildeo lato e stricto sensu em

Psicologia Dos sete profissionais um estaacute terminando o doutorado quatro satildeo mestres um estaacute

fazendo o mestrado e um profissional eacute especialista Nota-se assim que os psicoacutelogos escolares

mostram-se comprometidos com sua formaccedilatildeo e qualificaccedilatildeo

No que diz respeito ao viacutenculo profissional e agrave carga horaacuteria destes profissionais nas

respectivas instituiccedilotildees somente trecircs profissionais integram o quadro teacutecnico da instituiccedilatildeo e satildeo

contratos como psicoacutelogos Os demais pertencem ao quadro docente e portanto conciliam

atividades do magisteacuterio com atividades nos Serviccedilos de Psicologia Os profissionais do quadro

teacutecnico tecircm contrato de 20 ou de 40 horas totalmente distribuiacutedas em atividades realizadas no

acircmbito do Serviccedilo os profissionais do quadro docente tecircm entre 6 e 20 horas destinadas agrave atuaccedilatildeo

no Serviccedilo sendo que a repercussatildeo que estas formas e vinculaccedilatildeo tecircm entre os psicoacutelogos

escolares eacute diferente Por exemplo para alguns o fato da instituiccedilatildeo recorrer a professores de

Psicologia para desenvolverem accedilotildees de apoio aos estudantes com dificuldade ilustra que haacute uma

indefiniccedilatildeo por parte da IES sobre as funccedilotildees que se atribuem a um psicoacutelogo escolar Atribuem

ainda uma incoerecircncia agrave posiccedilatildeo da instituiccedilatildeo quanto agrave valorizaccedilatildeo do serviccedilo de apoio aos

estudantes Por um lado a IES desloca um professor para tal finalidade arcando com os custos

financeiros de tal apoio no entanto nas ocasiotildees em que eacute preciso que o professor reassuma a

docecircncia o serviccedilo eacute suspenso ou significativamente reduzido Essa maneira encontrada por

algumas instituiccedilotildees para viabilizar um serviccedilo de apoio aos estudantes eacute geradora de mal-estar

entre os profissionais que se angustiam por terem que interromper um acompanhamento que jaacute estaacute

em andamento ou por acabarem se sobrecarregando para natildeo fazecirc-lo

As atividades desenvolvidas pelos psicoacutelogos escolares no acircmbito dos Serviccedilos satildeo

diversificadas e estatildeo apresentadas na Tabela 12 Na primeira coluna estatildeo identificadas as

subcategorias decorrentes do agrupamento de atividades semelhantes na segunda estatildeo exemplos

de atividades que integram cada subcategoria e por uacuteltimo a terceira coluna traz a frequecircncia da

subcategoria de acordo com a recorrecircncia com que foi relatada pelos participantes

165

Tabela 12

Atividades realizadas pelos psicoacutelogos escolares nos Serviccedilos de Psicologia do Distrito Federal

Subcategorias Exemplos de atividades f

1 Apoio psicoloacutegico e

psicopedagoacutegico

Aconselhamento e Orientaccedilatildeo Psicoloacutegica 7

Atendimento e Orientaccedilatildeo Psicopedagoacutegico

Psicoterapia breve focal

2 Apoio ao processo

ensino-aprendizagem

Apoio e orientaccedilatildeo aos coordenadores e professores 7

Seminaacuterios de preparaccedilatildeo para professores novatos

Adaptaccedilotildees curriculares e pedagoacutegicas

3 Encaminhamento Encaminhamento para atendimento especializado 5

4 Promoccedilatildeo do

desenvolvimento pessoal e

profissional

Capacitaccedilatildeo de representantes de turma 4

Palestras e formaccedilotildees em grupo para estudantes

5 Atendimento a pais Orientaccedilatildeo aos pais de alunos em casos especiacuteficos 3

6 Assessoria a outros

oacutergatildeos e serviccedilos

Suporte na seleccedilatildeo de funcionaacuterios e professores 3

Participaccedilatildeo em instacircncias de deliberaccedilatildeo e decisatildeo

7 Desenvolvimento

Profissional

Orientaccedilatildeo Profissional e Gestatildeo de Carreiras 2

Orientaccedilatildeo e Encaminhamento Profissional

8 Proposiccedilatildeo de poliacuteticas Sugestatildeo de poliacuteticas institucionais de apoio aos estudantes 1

Em relaccedilatildeo agraves possibilidades de atuaccedilatildeo do psicoacutelogo no contexto escolar sugeridas por

Martiacutenez (2009 2010) pode-se observar pela Tabela 9 que entre as atividades realizadas pelos

psicoacutelogos escolares nas IES do DF tecircm-se accedilotildees de natureza tradicional como o apoio

psicoloacutegico e psicopedagoacutegico o encaminhamento para profissionais especializados o atendimento

agrave famiacutelia e a orientaccedilatildeo profissional Por outro lado entre as atividades denominadas como

emergentes em virtude de serem de configuraccedilatildeo relativamente recente aleacutem de mais abrangentes e

complexas do que as tradicionais identificam-se accedilotildees voltadas ao desenvolvimento pessoal e

profissional dos alunos agrave promoccedilatildeo do processo ensino-aprendizagem a assessoria a outros oacutergatildeos

e serviccedilos da instituiccedilatildeo e o envolvimento com poliacuteticas puacuteblicas Apesar das atividades

tradicionais prevalecerem em relaccedilatildeo agraves emergentes jaacute que respondem por 545 da atuaccedilatildeo dos

psicoacutelogos escolares nota-se que ambas jaacute fazem parte do conjunto de possibilidades interventivas

da Psicologia Escolar no DF

No que diz respeito agrave frequecircncia com que as diferentes atividades comparecem na atuaccedilatildeo

dos psicoacutelogos escolares os resultados apontam que duas satildeo igualmente recorrentes e comuns a

todos os Serviccedilos o apoio psicoloacutegico e psicopedagoacutegico direcionado para os alunos e realizado

na forma de aconselhamento pontual ou de acompanhamento sistemaacutetico e o apoio ao processo de

166

ensino e aprendizagem mais focado nos professores e coordenadores de curso e realizado na forma

de orientaccedilotildees sobre como lidarem com dificuldades que perpassam o processo

Quanto agrave primeira modalidade de apoio haacute importantes diferenccedilas na forma como os

psicoacutelogos escolares a compreendem e realizam Para alguns sua intervenccedilatildeo tecircm como eixo

central as questotildees de aprendizagem de estudo e de desenvolvimento do estudante o que eacute razatildeo

para desencadearem seu trabalho a partir de queixas relacionadas agrave vivecircncia acadecircmica que tecircm

impacto no rendimento e sucesso dos alunos dificuldade para aprender notas baixas estrateacutegias de

estudo organizaccedilatildeo do tempo problemas de adaptaccedilatildeo agrave universidade e agraves metodologias adotadas

pelos professores dificuldade para apresentar trabalho em puacuteblico falta de autonomia e

independecircncia com os estudos etc

Por outro lado alguns psicoacutelogos escolares entendem que o mote que desencadeia suas

intervenccedilotildees refere-se a questotildees emocionais e psicoloacutegicas como a autoestima ansiedade

autoconhecimento sentimento de tristeza e de rejeiccedilatildeo dificuldade em relacionamentos amorosos-

afetivos siacutendrome do pacircnico depressatildeo aleacutem de outros que podem ou natildeo ter reflexo no

rendimento do estudante Dessa forma a depender da compreensatildeo que tenham de qual eacute o

principal foco de sua intervenccedilatildeo e das contribuiccedilotildees na construccedilatildeo das trajetoacuterias pessoais

acadecircmicas e profissionais dos alunos elegem formas diferentes de intervenccedilatildeo tendo umas caraacuteter

psicopedagoacutegico e outras caraacuteter psicoterapecircutico

Apesar da legitimidade de ambas as formas de atuaccedilatildeo trecircs profissionais preocupam-se em

evidenciar que suas intervenccedilotildees natildeo satildeo de natureza cliacutenica muito provavelmente como um

cuidado diante das inuacutemeras criacuteticas apresentadas na literatura a respeito da transposiccedilatildeo de

modelos cliacutenicos e terapecircuticos para o contexto educativo (Almeida 1999 Campos amp Jucaacute 2003

Neves 2001 Neves amp Almeida 2003 Yazlle 1997) Contudo o criteacuterio que estes profissionais

utilizam para diferenciar o tipo de atividade que realizam natildeo estaacute relacionado agrave sua natureza e

objetivos mas agrave sua estruturaccedilatildeo o fato de que estabelecem previamente o nuacutemero de sessotildees que

poderatildeo acontecer (que varia de 3 a 5) de forma que os atendimentos natildeo se configurem como

psicoterapia

Em vez de sustentarem sua argumentaccedilatildeo na especificidade do que caracteriza um trabalho

psicoeducacional prendem-se agrave forma agrave aparecircncia Conforme extensamente criticado na literatura

ainda parece haver uma transposiccedilatildeo acriacutetica do modelo cliacutenico para o contexto educativo o que se

deve em muitos casos agrave formaccedilatildeo inicial dos psicoacutelogos ldquoeu vejo que o atendimento

psicopedagoacutegico no contexto de curso superior ainda tem que ser aprimorado muito porque noacutes

psicoacutelogos pelo menos quando eu fiz a minha graduaccedilatildeo natildeo recebi esse preparo atuando como

psicopedagoga eu tirei da minha experiecircncia de consultoacuteriordquo (SP1-DF)

Na sequecircncia outra accedilatildeo frequente eacute a assessoria dos psicoacutelogos escolares ao processo de

ensino e de aprendizagem a qual se daacute principalmente por meio de orientaccedilotildees pontuais aos

docentes e coordenadores de curso sobre como lidarem com problemaacuteticas ligadas aos alunos

167

Nessas situaccedilotildees os profissionais buscam fazer indicaccedilotildees aos professores que os auxiliem a

promover a aprendizagem do aluno a melhorar sua integraccedilatildeo e o seu rendimento seja por meio de

alteraccedilotildees metodoloacutegicas e curriculares ou associadas ao relacionamento interpessoal O apoio agrave

promoccedilatildeo das praacuteticas de ensino e agrave aprendizagem tambeacutem jaacute acontece na forma de atividades

especiacuteficas com o grupo de professores da instituiccedilatildeo especialmente por ocasiatildeo da recepccedilatildeo aos

novos colaboradores Nessas ocasiotildees a instituiccedilatildeo por meio do Serviccedilo de Psicologia cria uma

estrateacutegia coletiva de acolher os docentes apresentar-lhes os objetivos expectativas e serviccedilos

existentes na IES aleacutem de discutir suas funccedilotildees

Ainda no contexto das accedilotildees emergentes destaca-se a assessoria dos psicoacutelogos escolares a

outros oacutergatildeos e serviccedilos da proacutepria instituiccedilatildeo conforme vem sendo apontado como pertinente para

a atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar e em especiacutefico no contexto da Educaccedilatildeo Superior (Marinho-

Arauacutejo 2009a Oliveira Marinho-Arauacutejo amp Almeida 2010a 2010b 2011) Segundo os

participantes esta assessoria tem se dado por meio da participaccedilatildeo no processo de seleccedilatildeo de novos

colaboradores tanto de professores quanto de funcionaacuterios ocasiotildees em que os psicoacutelogos

escolares tecircm sido convidados a avaliar o perfil dos candidatos agrave luz de aspectos pedagoacutegicos e

relacionais Outra forma de assessoria aos oacutergatildeos de gestatildeo refere-se agrave participaccedilatildeo em instacircncias

de deliberaccedilatildeo com o objetivo de apresentar e discutir indicadores de rendimento e sucesso

acadecircmico que auxiliem os gestores em suas decisotildees

Tambeacutem entre as praacuteticas emergentes destaca-se o envolvimento dos psicoacutelogos escolares

com as poliacuteticas institucionais especificamente com proposiccedilotildees relacionadas ao apoio aos

estudantes Acerca desse eixo de intervenccedilatildeo Martiacutenez (2007) jaacute teve oportunidade de evidenciar a

especificidade do papel dos psicoacutelogos escolares em todo o processo de anaacutelise implementaccedilatildeo e

acompanhamento de poliacuteticas puacuteblicas nos contextos educativos

Em relaccedilatildeo ao puacuteblico alvo do trabalho dos psicoacutelogos escolares identificou-se que estaacute

essencialmente direcionado para os alunos havendo intervenccedilotildees com os professores os

funcionaacuterios ou ateacute os pais quando a intervenccedilatildeo com o aluno aponta a necessidade de orientaacute-los

sobre como entender o problema do aluno e como agir Dessa maneira o apoio aos professores

decorre da dificuldade que os alunos tecircm e na maioria das vezes natildeo eacute algo direcionado e planejado

para eles para o seu desenvolvimento qualificaccedilatildeo e bem-estar Conforme relatam Campos e Jucaacute

(2003) Neves (2001) Neves e Almeida (2003) e Yazlle (1997) na trajetoacuteria da Psicologia Escolar

a ecircnfase sobre o aluno eacute bastante frequente entretanto profissionais tecircm modificado essa ecircnfase

construindo uma atuaccedilatildeo mais ampliada no que se refere agrave compreensatildeo dos fatores envolvidos no

cotidiano escolar e aos participantes que o produzem ndash para aleacutem daqueles atribuiacutedos ao aluno

Esse eacute na verdade um dos desafios agrave Psicologia Escolar natildeo desconsiderar aspectos

contextuais institucionais poliacuteticos eacuteticos sociais econocircmicos e relacionais que se interpenetram

e datildeo forma agrave realidade mesmo diante dos argumentos e justificativas que a todo momento

recaem sobre os discentes Nesse sentido um profissional expressa seu entendimento de que as

168

dificuldades apresentadas pelos alunos estatildeo tambeacutem relacionadas agrave instituiccedilatildeo agraves estrateacutegias de

ensino agraves relaccedilotildees ldquorealmente estar olhando aquilo que o indiviacuteduo estaacute fazendo natildeo como um

sintoma de algo ou como uma questatildeo individual mas que aquilo ali estaacute dentro de um contextordquo

(SP3-DF)

Associado a essa ecircnfase em intervenccedilotildees nas problemaacuteticas vivenciadas pelos alunos o

modelo de intervenccedilatildeo que orienta o trabalho dos psicoacutelogos escolares eacute essencialmente de caraacuteter

remediativo e individual Dos sete participantes um indicou realizar atividades individuais e

coletivas e seis apontaram que o trabalho eacute prioritariamente individual Ainda que faccedilam menccedilatildeo a

atividades em grupo como as formaccedilotildees com os representantes de turma e os grupos de

desenvolvimento elas natildeo satildeo as atividades centrais dos Serviccedilos o que faz com que os psicoacutelogos

escolares apontem a modalidade individual como a principal forma de realizarem o trabalho

Portanto apesar de haver accedilotildees de natureza mais abrangentes que se estendem para outros atores e

instacircncias da instituiccedilatildeo do ponto de vista dos psicoacutelogos escolares elas ainda estatildeo sustentadas no

atendimento individual

Uma possiacutevel razatildeo para esse entendimento decorre do fato de que os atendimentos aos

alunos satildeo realizados contiacutenua e diariamente enquanto outras accedilotildees como os grupos de formaccedilatildeo

de desenvolvimento de habilidades e de orientaccedilatildeo profissional acontecem duas ou trecircs vezes no

ano Entretanto a questatildeo central natildeo eacute a frequecircncia com que realizam uma ou outra atividade mas

acima de tudo a concepccedilatildeo que tecircm sobre a contribuiccedilatildeo da Psicologia Escolar para os alunos e

para a instituiccedilatildeo de forma geral trata-se de sanar e resolver problemas individuais que tecircm reflexo

no rendimento ou de potencializar recursos individuais coletivos e institucionais que fomentem

diferentes formas de conscientizaccedilatildeo e de aprendizagem favoraacuteveis ao desenvolvimento da

autonomia do pensamento criativo e da formaccedilatildeo como cidadatildeos

Nessa perspectiva e como jaacute apontaram Guzzo (1999 2001) Maluf (2003) Martiacutenez

(2007 2009) Marinho-Arauacutejo (2009a) e Oliveira Marinho-Arauacutejo e Almeida (2010a 2010b

2011) a mudanccedila de um enfoque individual para um coletivo e institucional natildeo envolve apenas

uma alteraccedilatildeo na forma na estrutura das atividades mas sobretudo na compreensatildeo das

contribuiccedilotildees diferenciadas que podem trazer agrave coletividade da IES e da sociedade

A dificuldade relacionada agrave grande demanda por atendimento psicoloacutegico eacute recorrente na

fala de alguns profissionais que relatam que como ldquoa demanda estaacute muito grande neacute entatildeo a

gente as nossas agendas vivem cheias neacute Entatildeo natildeo daacute () Natildeo atende todo mundordquo (SP5-DF)

Este modelo meacutedico-cliacutenico prioritariamente centrado no atendimento e na orientaccedilatildeo individual

dos estudantes jaacute criticado na literatura em Psicologia Escolar consome o foco dos profissionais

sem contudo contribuir para que todos ou a maioria dos estudantes tenham o apoio dos Serviccedilos

de Psicologia A impossibilidade de conseguir atender a demanda direcionada ao serviccedilo eacute assim

descrita por um psicoacutelogo escolar ldquocada um de noacutes atende em meacutedia 25 26 deixa alguns horaacuterios

para emergecircncia ou para fazer outras atividades inclusive para estudar os casos Entatildeo temos em

169

meacutedia assim cinquenta pessoas sendo atendidas constantemente entatildeo vocecirc chama leva em

meacutedia oito semanas nesse tempo a fila cresce de novordquo (SP3-DF)

Na medida em que haacute dificuldade em vencer as listas de espera alguns Serviccedilos de

Psicologia acabam optando por natildeo divulgaacute-lo por natildeo publicizar sua existecircncia e disponibilidade

para oferecer apoio agrave comunidade acadecircmica Dos sete psicoacutelogos participantes dois mencionaram

que natildeo haacute divulgaccedilatildeo do serviccedilo em virtude da demanda contiacutenua por atendimento e a

impossibilidade de receber novos alunos

Em relaccedilatildeo agraves facilidades e dificuldades encontradas pelos psicoacutelogos escolares tem-se

alguns aspectos em comum entre os diferentes Serviccedilos Em relaccedilatildeo aos pontos considerados

facilitadores de seu trabalho quatro profissionais indicam o apoio e reconhecimento da IES

especificamente dos diretores o qual lhes daacute um sentido de valorizaccedilatildeo do trabalho que realizam

na sequecircncia dois psicoacutelogos mencionam a autonomia e liberdade que tecircm para propor accedilotildees e

programas ainda que esta autonomia natildeo se estenda ao campo financeiro haacute tambeacutem uma

menccedilatildeo ao incentivo que tecircm para que o Serviccedilo de Psicologia se constitua como um espaccedilo de

estudo e de discussatildeo cientiacutefica

Quanto aos aspectos que trazem dificuldades ao trabalho trecircs profissionais referem-se ao

espaccedilo fiacutesico tanto por parecer um escritoacuterio ou natildeo ter a vedaccedilatildeo necessaacuteria para impedir a saiacuteda

do som quanto por natildeo ser um espaccedilo proacuteprio do Serviccedilo Na sequecircncia sempre com duas

referecircncias por parte dos psicoacutelogos escolares comparecem como elementos dificultadores a falta

de investimento financeiro o reduzido nuacutemero de profissionais a divulgaccedilatildeo pouco eficiente e a

resistecircncia e vergonha dos alunos em buscar ajuda Por fim mencionam a falta de clareza do papel

do psicoacutelogo escolar por parte da instituiccedilatildeo e a ameaccedila de acabar com o Serviccedilo este uacuteltimo

decorrente da natildeo valorizaccedilatildeo do trabalho

No que diz respeito agraves modificaccedilotildees ou implementaccedilotildees que consideram que poderiam ser

feitas nos Serviccedilos e em sua atuaccedilatildeo as indicaccedilotildees feitas pelos psicoacutelogos escolares vatildeo na direccedilatildeo

de ampliar o campo de intervenccedilatildeo do Serviccedilo seja por meio da expansatildeo fiacutesica para outros campi

seja atraveacutes do trabalho mais frequente com outros atores institucionais estes representando

metade das indicaccedilotildees feitas pelos profissionais Em relaccedilatildeo agraves accedilotildees com os alunos apontam que

fariam mais palestras e encontros em grupo implantariam o atendimento virtual para dar suporte

aos cursos a distacircncia e criariam um serviccedilo de plantatildeo para casos de emergecircncia Em relaccedilatildeo agrave

equipe pedagoacutegica referem que gostariam de consolidar o trabalho de formaccedilatildeo com os

professores sensibilizaacute-los acerca das dificuldades dos alunos abrir um canal de comunicaccedilatildeo mais

eficiente com a direccedilatildeo acadecircmica e coordenaccedilotildees e oferecer suporte agraves assessorias pedagoacutegicas

dos cursos que satildeo instacircncias de auxiacutelio agrave coordenaccedilatildeo

Tendo por base as atividades que realizam as quais natildeo mais se restringem a intervenccedilotildees

diretas com os alunos e as indicaccedilotildees de mudanccedila e ampliaccedilatildeo que gostariam de fazer percebe-se

que os profissionais estatildeo caminhando na direccedilatildeo de atuaccedilotildees mais abrangentes que por vias

170

indiretas repercutem na formaccedilatildeo dos estudantes Ou seja estatildeo investindo na promoccedilatildeo da

qualidade da accedilatildeo de outros atores envolvidos no processo educativo e que consequentemente

repercutem na natureza do seu trabalho

Apresentados os resultados relativos agraves entrevistas com os psicoacutelogos escolares do Distrito

Federal passa-se agora agrave apresentaccedilatildeo e discussatildeo dos resultados decorrentes do acompanhamento

da atuaccedilatildeo de um profissional em uma IES tambeacutem do DF A ideia de assessorar um psicoacutelogo

surgiu da confluecircncia de elementos como por exemplo contribuir para o aprimoramento da

atuaccedilatildeo de um psicoacutelogo escolar e obter informaccedilotildees mais pormenorizadas acerca da intervenccedilatildeo e

da constituiccedilatildeo do perfil profissional em Psicologia Escolar Buscava-se assim contribuir para a

construccedilatildeo de uma atuaccedilatildeo mais segura e sistematizada que desse conta de enfrentar com

intencionalidade e pertinecircncia os desafios demandas e necessidades de uma Instituiccedilatildeo de

Educaccedilatildeo Superior (Marinho-Arauacutejo 2009a)

A formaccedilatildeo continuada como modalidade de acompanhamento da praacutetica profissional natildeo

eacute a uacutenica possibilidade de favorecer o desenvolvimento do perfil entretanto eacute um loacutecus eficaz para

seu acompanhamento e construccedilatildeo por meio do estudo teoacuterico-conceitual e da anaacutelise discussatildeo e

reflexatildeo sobre a experiecircncia praacutetica que vatildeo se alimentando dialeticamente Esta foi portanto a

opccedilatildeo adotada neste trabalho Para concretizar essas ideias fez-se uma proposta a uma IES privada

do Distrito Federal e ao psicoacutelogo escolar que laacute atuava

A psicoacuteloga escolar que participou desta etapa da pesquisa se formou no ano de 2002 e ao

longo do curso Psi (como seraacute identificada a participante neste trabalho) direcionou seu interesse

para a aacuterea de Psicologia Organizacional campo no qual teve oportunidade de realizar pesquisas e

estaacutegios Fez especializaccedilatildeo em Educaccedilatildeo a Distacircncia em Administraccedilatildeo em Recursos Humanos e

Mestrado em Psicologia Social do Trabalho e das Organizaccedilotildees

Sua experiecircncia profissional eacute prioritariamente na aacuterea organizacional contexto no qual

trabalhou em atividades relacionadas aos subsistemas de Recursos Humanos em especial em

Treinamento Desenvolvimento e Educaccedilatildeo (TDampE) e em seleccedilatildeo de pessoas aleacutem de pesquisas

acadecircmicas em educaccedilatildeo a distacircncia Nos uacuteltimos cinco anos ela atuava em uma organizaccedilatildeo

privada de Educaccedilatildeo Profissional no Distrito Federal que oferece cursos profissionalizantes de

formaccedilatildeo inicial e continuada e cursos teacutecnicos de niacutevel meacutedio com foco em atividades do

segmento do comeacutercio e serviccedilos turismo sauacutede e de tecnologia de informaccedilatildeo e da comunicaccedilatildeo

Psi trabalhava no setor de Educaccedilatildeo Corporativa desta instituiccedilatildeo o qual era responsaacutevel

pelo planejamento e coordenaccedilatildeo de programas de formaccedilatildeo estrategicamente delineados para o

desenvolvimento nos colaboradores de competecircncias alinhadas aos objetivos da organizaccedilatildeo

Mais do que treinamento ou qualificaccedilatildeo dos colaboradores praacuteticas de educaccedilatildeo corporativa estatildeo

relacionadas a atividades educacionais desenvolvida pelas empresas para tornaacute-las mais

competitivas

171

Esta instituiccedilatildeo na qual Psi trabalhava nos uacuteltimos anos eacute Mantenedora da IES na qual

transcorreu sua experiecircncia em Psicologia Escolar foco do acompanhamento desta etapa da

pesquisa Em consonacircncia com o perfil de sua Mantenedora a instituiccedilatildeo na qual Psi trabalha eacute

uma faculdade privada sem fins lucrativos voltada para Educaccedilatildeo Profissional em niacutevel superior

A Faculdade foi criada em 2007 com duas unidades de funcionamento e com dois cursos

superiores de tecnologia Atualmente conta com quatro cursos de graduaccedilatildeo onze cursos de poacutes-

graduaccedilatildeo lato-sensu e diversos cursos de extensatildeo nos quais atuam 70 docentes 40 funcionaacuterios

atendendo mais de 1500 alunos nos cursos matutino e noturno

Conforme estava previsto no seu Plano de Desenvolvimento Institucional a Faculdade

implantou no 2ordm semestre de 2008 o Nuacutecleo de Apoio Psicoloacutegico o qual era composto e

coordenado por uma psicoacuteloga escolar No 1ordm semestre de 2009 esta profissional se afastou da

instituiccedilatildeo o que ocasionou a necessidade de contrataccedilatildeo de outra psicoacuteloga escolar A IES

realizou sem sucesso alguns processos seletivos de forma que as accedilotildees desenvolvidas pelo nuacutecleo

ficaram suspensas ateacute o 2ordm semestre de 2010 eacutepoca em que a Direccedilatildeo Geral da Faculdade convidou

Psi (que ateacute entatildeo trabalhava no setor de Educaccedilatildeo Corporativa da Mantenedora) para atuar como

psicoacuteloga escolar Tendo aceitado o convite a profissional em referecircncia iniciou as atividades no

nuacutecleo e apoacutes dois meses de atuaccedilatildeo foi lhe feito o convite para participar deste estudo na forma

de uma pesquisa-intervenccedilatildeo Cumpre esclarecer que a pesquisadora deste estudo foi quem

implantou o Serviccedilo de Psicologia na IES em referecircncia e que por ocasiatildeo de sua saiacuteda propocircs e

acordou com a instituiccedilatildeo que quando o novo profissional fosse contratado lhe seria oferecido um

acompanhamento em serviccedilo

Na ocasiatildeo em que foi feito o convite agrave Psi os objetivos e estrateacutegias de acompanhamento

foram discutidos e acordados e diante de sua concordacircncia em participar da pesquisa deu-se

iniacutecio em setembro de 2010 agrave assessoria a um psicoacutelogo escolar que atua em uma IES do Distrito

Federal conforme previsto na segunda etapa do estudo 1

O processo de anaacutelise ocorreu por apreensatildeo de zonas de sentido conforme descrito no

capiacutetulo metodoloacutegico Entendendo que as accedilotildees de Psi eram igualmente produtos de apropriaccedilotildees

passadas e processos de transformaccedilatildeo tanto relativas ao contexto quanto a ela proacutepria (Zanella

Reis Titon Urnau amp Dassoler 2007) o objetivo da anaacutelise do memorial e dos encontros eacute

apreender os sentidos subjetivos por ela construiacutedos no curso do processo de inserccedilatildeo e atuaccedilatildeo no

contexto da Educaccedilatildeo Superior O desafio neste processo de anaacutelise eacute justamente o de integrar um

conjunto de elementos de ordem pessoal relacional e contextual que interagem na realidade

investigada e que constroem singularmente os sentidos

Em virtude da saiacuteda da psicoacuteloga escolar dois meses apoacutes o iniacutecio da pesquisa-intervenccedilatildeo

o memorial proposto natildeo foi concluiacutedo na medida que natildeo houve oportunidade para analisar seu

conteuacutedo e os sentidos a ele relacionados em conjunto com Psi Dessa maneira optou-se por

utilizar o conteuacutedo do memorial para complementar e esclarecer sentidos partilhados nos

172

encontros de forma que trechos do memorial aparecem ao longo dessa discussatildeo corroborando os

resultados A anaacutelise dos encontros de discussatildeo e reflexatildeo por sua vez oportunizou a criaccedilatildeo de

trecircs zonas de sentido (a) Quem eacute o psicoacutelogo escolar Consideraccedilotildees sobre o perfil profissional

(b) O que e como fazer em Psicologia Escolar Reflexotildees acerca da atuaccedilatildeo e (c) Formaccedilatildeo

continuada como recurso auxiliar agrave construccedilatildeo do perfil e da atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar

As interlocuccedilotildees medidas que transcorreram entre a psicoacuteloga escolar e a pesquisadora

durante os encontros e que sustentaram a construccedilatildeo de cada zona de sentido natildeo estatildeo

apresentadas na iacutentegra tendo em vista que deixaria esta seccedilatildeo dos resultados bastante extensa Para

ilustrar e favorecer a compreensatildeo do processo de apreensatildeo dos sentidos a partir das trocas

interaccedilotildees e interlocuccedilotildees fomentadas nos encontros foram eleitas apenas algumas interlocuccedilotildees

Na sequecircncia apresentam-se as siacutenteses interpretativas relacionadas aos sentidos circulados ao

longo de todo o acompanhamento e que se associam agrave zona em anaacutelise Feitos estes

esclarecimentos apresentam-se e discutem-se a seguir os principais resultados decorrentes do

acompanhamento da profissional que atua em uma Instituiccedilatildeo de Educaccedilatildeo Superior do Distrito

Federal

A primeira zona de sentido construiacuteda a partir da anaacutelise dos encontros entre Psi e a

pesquisadora refere-se ao perfil profissional aos sentidos relacionados agrave construccedilatildeo da identidade

de psicoacuteloga escolar e as funccedilotildees que lhe satildeo atribuiacutedas A identidade profissional eacute ao mesmo

tempo expressatildeo da histoacuteria de vida dos sujeitos das suas necessidades desejos valores e

projetos bem como das caracteriacutesticas da profissatildeo que tem um campo teoacuterico praacutetico e social

claramente definido e responsaacutevel por distingui-la de outras Assim a construccedilatildeo dessa identidade

engloba tanto dimensotildees da vida pessoal e social dos sujeitos quanto da sua relaccedilatildeo com a

profissatildeo com os conhecimentos e as habilidades especiacuteficos da aacuterea com os aportes ideoloacutegicos

teoacutericos e metodoloacutegicos que a embasam com as expectativas sociais construiacutedas em torno da

profissatildeo etc

Tanto as experiecircncias objetivamente vividas pelo sujeito quanto os sentidos que atribuem a

estas vivecircncias satildeo elementos importantes na construccedilatildeo da identidade profissional Ela eacute ao

mesmo tempo processo e resultado de configuraccedilotildees subjetivas que tecircm lugar na complexa rede de

sentidos e significados gerados nos espaccedilos relacionais tanto os sociais como os de trabalho Na

medida em que eacute uma construccedilatildeo histoacuterica e cultural oportunizada pela inserccedilatildeo do sujeito nos

mais variados contextos a identidade profissional natildeo pode ser assumida como uacutenica definitiva ou

eternamente idecircntica Muito pelo contraacuterio ela eacute dinacircmica e constantemente revisitada pelo sujeito

a partir da sua inserccedilatildeo em outros contextos da vivecircncia de novas experiecircncias sociais e

profissionais da sua relaccedilatildeo com o trabalho A Tabela 13 traz os sentidos relacionados ao perfil do

psicoacutelogo escolar que circularam durante o acompanhamento das atividades de Psi

173

Tabela 13

Zona de sentido 1 Quem eacute o psicoacutelogo escolar Consideraccedilotildees sobre o perfil profissional

INTERLOCUCcedilOtildeES MEDIDADAS

Exemplo 1 Identidade do psicoacutelogo escolar

Pesq Entatildeo Psi relacionado com tudo isso que a gente estaacute falando pra vocecirc quem eacute o psicoacutelogo

escolar

Psi A imagem que eu tenho eacute a ideia do psicoacutelogo que vai conseguir apoiar antes eu acho que eu

tinha mais essa ideia do apoio ao aluno e depois de tudo assim da necessidade que eu vejo da

preparaccedilatildeo dos docentes e ateacute do apoio ao docente depois das nossas conversas aiacute eu acho que

fica bem mais claro pra mim que natildeo eacute soacute um apoio ao aluno que eacute uma preparaccedilatildeo tambeacutem eacute um

apoio ao docente e agrave coordenaccedilatildeo e um apoio na preparaccedilatildeo

Pesq Vocecirc acha que mudou a sua compreensatildeo desde que vocecirc veio pra caacute

Psi eu acho que sim que depois que eu vim pra caacute essa imagem do trabalho maior com os

docentes eu imaginava que era um trabalho maior com os alunos e hoje eu acho que natildeo que eacute

maior com a outra banda com os docentes

Exemplo 2 Importacircncia de recursos e competecircncias especiacuteficos agrave intervenccedilatildeo em Psicologia

Escolar

Psi Eu natildeo entro a professora G vai entrar em sala de aula pra conversar com os docentes do 1ordm

semestre eu natildeo entraria eu natildeo entraria Dar aula pra docente de dentro da instituiccedilatildeo eu dou

ambientaccedilatildeo para novos docentes treinar docente pra dar aula dentro da instituiccedilatildeo eu dou mas

aqui dentro natildeo

Pesq Aqui dentro onde vocecirc fala

Psi Aqui na Faculdade

Pesq Por que vocecirc diz isso

Psi Por quecirc Aqui na faculdade dar um curso pros docentes ou coisa assim Porque eu natildeo conheccedilo

eles natildeo conheccedilo eles e conheccedilo pouco da didaacutetica utilizada aqui por deles Eu acho que quando

eu for aprender um pouquinho mais disso as coisas vatildeo se assemelhar porque tambeacutem eacute para

todos neacute natildeo eacute tatildeo diferente mas tem as suas especificidades com certeza Entatildeo eu natildeo arriscaria

fazer o que a professora G vai fazer

Pesq Vocecirc ainda natildeo se sente preparada

Psi Isso natildeo agora natildeo Entatildeo se eu tivesse eu acho mais experiecircncia se eu soubesse quais satildeo as

dificuldades que esse aluno de 1ordm semestre passa o que especificamente esse docente faz pra que

faccedila o aluno se sentir daquele jeito que que ele fala mais ou menos a gente sabe mas realmente

natildeo sabe e como eacute que eu vou chegar em sala de aula e dizer pra ele entatildeo eu acho que tem que

ter esse conhecimento da praacutetica

174

Tabela 13 (continuaccedilatildeo)

Sentidos circulados

reflexotildees e problematizaccedilotildees acerca da identidade e do papel do psicoacutelogo escolar bem como

dos recursos habilidades e competecircncias que o sustentam desencadeadas pela inserccedilatildeo e

anaacutelise do contexto profissional

SIacuteNTESE INTERPRETATIVA - ZONA DE SENTIDO 1

1 Reflete sobre quem eacute o psicoacutelogo escolar seu papel e o que ele faz a partir das demandas

recebidas e das accedilotildees que realiza

2 Compreende que o psicoacutelogo escolar trabalha com os diferentes atores e se preocupa com as

relaccedilotildees o clima organizacional a satisfaccedilatildeo e a motivaccedilatildeo aleacutem da profissionalizaccedilatildeo dos

estudantes

3 Reflete sobre o atendimento individual e compreende que a identidade do psicoacutelogo escolar

natildeo eacute dada pelo tipo de atividade que realiza mas pela concepccedilatildeo e objetivo que a orienta

4 Privilegia accedilotildees mais duradouras e de corresponsabilizaccedilatildeo em detrimento de accedilotildees pontuais

e de caraacuteter informativo

5 Constata representaccedilatildeo idealizadamaacutegica dos atores (coordenadores) sobre o psicoacutelogo

escolar

6 Percebe importacircncia do proacuteprio psicoacutelogo escolar e dos demais atores institucionais terem

clareza de suas funccedilotildees especiacuteficas e compartilhadas

7 Reflete e expressa sua concepccedilatildeo sobre o papel da educaccedilatildeo na reduccedilatildeo das desigualdades

sociais

8 Problematiza o fato da educaccedilatildeo profissional se focar na preparaccedilatildeo teacutecnica sem se preocupar

com o desenvolvimento relacional

9 Percebe algumas semelhanccedilas e especificidades entre a Psicologia Organizacional e a

Psicologia Escolar

10 Aponta experiecircncia profissional anterior como elemento que auxilia no desenvolvimento do

perfil

11 Expressa consciecircncia dos recursos e competecircncias que tem e que auxiliam sua atuaccedilatildeo

profissional aleacutem de demonstrar postura criacutetica frente agraves suas caracteriacutesticas pessoais

12 Descreve os recursos que entende como necessaacuterios ao psicoacutelogo escolar

13 Aponta especificidade do conhecimento psicoloacutegico e elementos para compor o perfil do

psicoacutelogo que iraacute atuar na Comissatildeo Proacutepria de Avaliaccedilatildeo

De maneira geral pode-se dizer que a entrada de Psi no novo contexto de trabalho ou seja

na Faculdade foi o grande mote para desencadear a circulaccedilatildeo dos sentidos relacionados agrave

identidade e ao papel de psicoacuteloga escolar Conforme relatado anteriormente a formaccedilatildeo inicial e

continuada e a experiecircncia profissional de Psi eram ateacute entatildeo prioritariamente na aacuterea

175

organizacional sendo que antes de ingressar na Faculdade ela natildeo havia tido nenhuma vivecircncia em

Psicologia Escolar Dessa forma a inserccedilatildeo em um novo contexto com caracteriacutesticas dinacircmica

expectativas e atribuiccedilotildees diferenciadas daquelas no qual atuava foi elemento desencadeador de

reflexotildees e problematizaccedilotildees acerca da sua identidade

Tanto as demandas que lhe eram direcionadas quanto as accedilotildees que realizava serviram como

elementos mobilizadores da reflexatildeo acerca do seu papel como psicoacuteloga escolar como fica

expliacutecito em um trecho extraiacutedo do memorial por ela realizado ldquoAlgumas dessas demandas me

espantavam uma vez um coordenador de curso me chamou para dizer que um docente pediu que

a turma se dividisse em grupos e dois alunos natildeo conseguiram se inserir em nenhum dos grupos

Aiacute eles queriam que a psicoacuteloga fosse na sala para conseguir colocar essas duas pessoas em

grupos Confesso que me espantei com o pedido Mas natildeo me passou pela cabeccedila em nenhum

momento que eu precisasse entrar em sala para dividir o grupo Natildeo acho que isso seja papel de

um psicoacutelogo escolarrdquo Vecirc-se assim que a inserccedilatildeo no contexto profissional teve o potencial de

desencadear questionamentos e reflexotildees acerca das suas funccedilotildees e daquilo que lhe compete

todavia a simples inserccedilatildeo desprovida de anaacutelise pouco contribui para a construccedilatildeo de uma

atuaccedilatildeo mais competente e coerente com a realidade da instituiccedilatildeo

Eacute a postura criacutetica e permanentemente reflexiva acerca da sua atuaccedilatildeo que iraacute subsidiar a

construccedilatildeo e reformulaccedilatildeo das suas intervenccedilotildees agrave luz da articulaccedilatildeo dialeacutetica entre suas

convicccedilotildees e caracteriacutesticas pessoais dos conhecimentos teoacutericos e teacutecnicos da aacuterea e das

necessidades e expectativas da instituiccedilatildeo e dos sujeitos Dessa maneira as indicaccedilotildees de Psi de

que se espantou com a demanda que recebeu de que questionou a pertinecircncia de sua proacutepria accedilatildeo

associadas agrave apropriaccedilatildeo dos fundamentos em Psicologia Escolar apontam que esta atitude criacutetica e

reflexiva eacute fundamental no processo de construccedilatildeo da identidade do psicoacutelogo escolar Conforme jaacute

relatado por Marinho-Arauacutejo e Almeida (2005a 2005b) a accedilatildeo reflexiva como estrateacutegia para

analisar compreender e planejar intervenccedilotildees eacute elemento fundamental na construccedilatildeo do papel do

psicoacutelogo escolar pois ela possibilita ao profissional ampliar seu entendimento da situaccedilatildeo tomar

uma decisatildeo e agir com coerecircncia e pertinecircncia

Os resultados do acompanhamento apontam que Psi percebe as vantagens de trabalhar com

uma perspectiva preventiva e institucional de atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar e tenta concretizaacute-las

em sua praacutetica Nesta direccedilatildeo apontou em seu memorial que o ldquomeu trabalho maior ou o primeiro

grande trabalho deveria ser com os docentes e coordenaccedilatildeo precisavam ter mais habilidades em

lidar com os alunos em identificar focos de possiacuteveis problemas de relacionamento identificar

alunos desmotivados e saber orientaacute-los Natildeo veria problemas algum em atender individualmente

os alunos mas natildeo achava que essa era uma accedilatildeo conveniente para a instituiccedilatildeordquo

A ideia do psicoacutelogo escolar como profissional convocado para tratar de problemas natildeo era

compartilhada por Psi ao contraacuterio ela mostrava-se inclinada para atuaccedilotildees mais abrangentes de

natureza preventiva e extensivas aos diferentes atores como tem sido indicado em produccedilotildees da

176

aacuterea (Arauacutejo amp Almeida 2003 Guzzo 2001 2003 Maluf 2003 Marinho-Arauacutejo amp Almeida

2005a Martiacutenez 2005 2007 Oliveira amp Marinho-Arauacutejo no prelo Oliveira Marinho-Arauacutejo amp

Almeida 2010a 2010b)

A opccedilatildeo por accedilotildees de natureza preventiva fica evidente em outros relatos e accedilotildees de Psi

Por exemplo diante do pedido da direccedilatildeo da Faculdade para que fizesse palestras nas turmas sobre

bullying tendo em vista as constantes queixas dos docentes acerca do modo desrespeitoso e

agressivo de tratamento entre os alunos Psi sugeriu que a Faculdade criasse uma campanha de

relacionamento interpessoal que fosse extensiva a todas as turmas e espaccedilos relacionais da

instituiccedilatildeo Propocircs agrave direccedilatildeo da IES que a campanha tratasse natildeo apenas de questotildees de

relacionamento interpessoal na Faculdade mas tambeacutem no trabalho e na vida como um todo

ldquoSendo assim foi elaborada a campanha ldquoCultive relacionamentos saudaacuteveisrdquo que trataria de

temas como relacionamento no local de trabalho negociaccedilatildeo bullying acolhimento preconceito

entre outrosrdquo Esta fala de Psi em um dos encontros expressa opccedilatildeo por situaccedilotildees de aprendizagem

que possam ser incorporadas agraves praacuteticas cotidianas em vez de accedilotildees pontuais e delimitadas no

tempo e no espaccedilo Entretanto em decorrecircncia da diminuiccedilatildeo de demandas relativas ao

relacionamento entre os alunos e das prioridades da instituiccedilatildeo com outras accedilotildees emergenciais a

direccedilatildeo da Faculdade recomendou que a campanha fosse implantada no semestre seguinte Esse

fato suscitou em Psi questionamentos acerca do fato da instituiccedilatildeo desencadear intervenccedilotildees

remediativas para resolver problemas jaacute instalados sendo que em um dos encontros comentou que

ldquonatildeo precisamos esperar ter problemas de relacionamento para fazermos a campanha acho que

ela deve ser preventivardquo

Privilegiar accedilotildees preventivas e ampliadas a toda a instituiccedilatildeo estaacute em consonacircncia com os

apontamentos reiterados da literatura brasileira acerca da pertinecircncia dos psicoacutelogos escolares

desenvolverem trabalhos que se desloquem do foco no problema e que envolvam a globalidade da

instituiccedilatildeo em uma perspectiva de promoccedilatildeo do desenvolvimento individual coletivo e

institucional Sem pretender chegar a respostas conclusivas mas levantar hipoacuteteses acerca dos

fatores que podem estar contribuindo para a modificaccedilatildeo desse quadro supotildee-se que algumas

alteraccedilotildees nas ecircnfases dos cursos em Psicologia estejam ocorrendo Uma delas eacute o maior destaque a

um trabalho coletivo e de vieacutes institucional que natildeo se prende ao indiviacuteduo isolado do contexto

outra eacute a aposta em uma leitura mais ampla e abrangente da realidade institucional ou ainda o

investimento em accedilotildees preventivas e de promoccedilatildeo do desenvolvimento individual e institucional

em detrimento de praacuteticas curativas e terapecircuticas A ecircnfase no modelo individual de intervenccedilatildeo

baseado em procedimentos curativos que por muito tempo foi caracteriacutestica da formaccedilatildeo inicial em

Psicologia conforme destacaram Conoley e Gutkin (1995) e Guzzo (1999a) pode estar sendo

alterada de forma que atuaccedilotildees descentradas dos problemas apresentados pelos alunos jaacute se fazem

presentes nos espaccedilos educativos

177

Por sua vez optar por intervenccedilotildees preventivas e investir no desenvolvimento das

potencialidades dos sujeitos requer adotar uma abordagem teoacuterica do desenvolvimento humano que

eacute a base da Psicologia Escolar (Guzzo 1996 2001) O eixo norteador das pesquisas e intervenccedilotildees

na aacuterea eacute essencialmente a promoccedilatildeo de variadas oportunidades de aprendizagem que tenham

como objetivo potencializar o desenvolvimento de muacuteltiplas competecircncias habilidades e maneiras

de ser e estar no mundo No caso da Educaccedilatildeo Superior eacute de especial relevacircncia que o psicoacutelogo

escolar tenha clareza e apropriaccedilatildeo do desenvolvimento psicoloacutegico humano em especial do

sujeito adulto (Marinho-Arauacutejo 2009 Oliveira amp Marinho-Arauacutejo no prelo) Este eacute entretanto

um aspecto lacunar na intervenccedilatildeo de Psi que natildeo privilegia em suas accedilotildees a promoccedilatildeo do

desenvolvimento humano

A escolha por trabalhar com o corpo docente eacute reiterada na literatura em Psicologia

Escolar todavia a opccedilatildeo de Psi natildeo se ancora na ideia de favorecer o desenvolvimento dos

professores como mediadores principais do aprendizado e da formaccedilatildeo dos estudantes mas como

profissionais que devem ter compromisso e autonomia em solucionar problemas que surgem no

exerciacutecio da sua praacutetica profissional Os sentidos relacionados ao trabalho com a equipe pedagoacutegica

natildeo evidenciam a intenccedilatildeo por parte de Psi de que o trabalho do psicoacutelogo escolar deva ser o de

contribuir para que o professor perceba que os problemas de aprendizagem ou de comportamento

se fomentam nas relaccedilotildees e que muacuteltiplos fatores estatildeo envolvidos na sua configuraccedilatildeo

Por exemplo em relaccedilatildeo ao pedido para que realizasse a divisatildeo dos grupos conforme

descrito anteriormente a accedilatildeo de Psi foi a de orientar o coordenador para que este conversasse com

o professor dando-lhe indicaccedilotildees de como conduzir a discussatildeo com a turma e apontando

alternativas para dividir os grupos Uma das caracteriacutesticas dessa accedilatildeo eacute que ela tem um caraacuteter

normativo e informativo ou seja diz ao professor como fazer e natildeo o impele a refletir entender as

questotildees envolvidas compreender o seu proacuteprio papel na configuraccedilatildeo do problema e no

encaminhamento do mesmo As orientaccedilotildees dadas pela psicoacuteloga escolar em casos como estes se

aproximam mais de padrotildees preacute-determinados acerca de como se espera que o professor aja para

minimizar o surgimento de problemas Diferentemente defende-se que o psicoacutelogo escolar deva

ser agente potencialmente capaz de favorecer o desenvolvimento tanto dos estudantes quanto dos

professores optando por processos de conscientizaccedilatildeo destes uacuteltimos acerca da possibilidade de

transformar os problemas acadecircmicos nas relaccedilotildees de construir outras estrateacutegias pedagoacutegicas e

metodoloacutegicas que possam otimizar o aprendizado de optar por planejamentos direcionados agrave

necessidade dos alunos Ou seja contribuir para que entendam que o processo de ensino e

aprendizagem eacute essencialmente relacional e que a relaccedilatildeo professor-aluno eacute o seu grande motor

Se por um longo tempo os estudos e pesquisas apontaram para a indefiniccedilatildeo do papel do

psicoacutelogo escolar em decorrecircncia da inconsistecircncia na formaccedilatildeo na aacuterea da incoerecircncia teoacuterica-

praacutetica percebida na atuaccedilatildeo dos profissionais e da adoccedilatildeo de um modelo cliacutenico-terapecircutico de

intervenccedilatildeo o acompanhamento da atuaccedilatildeo desta psicoacuteloga escolar sinaliza algumas alteraccedilotildees e

178

avanccedilos nesse quadro Os resultados relativos ao acompanhamento de Psi indicam que parece estar

claro para ela que natildeo eacute papel do psicoacutelogo escolar atender exclusivamente os alunos

principalmente se este atendimento tiver caraacuteter cliacutenico-terapecircutico A esse respeito registrou em

seu memorial que ldquoestive incomodada com o fato de alguns atendimentos com alunos demorarem

muito tempo e os alunos quererem tratar de questotildees pessoais o que tornava o acompanhamento

quase um atendimento psicoteraacutepicordquo

Contudo analisando outras ocasiotildees nas quais a praacutetica de atender os alunos foi ponto de

reflexatildeo nos encontros constata-se que o maior sentido que justifica para Psi natildeo realizar

atendimento individual eacute a incapacidade de responder a todos os pedidos de apoio dessa natureza

conforme exemplificado no diaacutelogo a seguir

Psi Eu acho que eacute vaacutelido eacute importante porque eacute uma demanda grande da coordenaccedilatildeo eacute

uma demanda dos alunos que a gente vecirc na fala dos alunos mas tem que saber ter essa conduccedilatildeo

de que natildeo eacute um atendimento cliacutenico e que eu tambeacutem natildeo acho que deva ser uma coisa

permanente que esse acompanhamento seja de diagnoacutestico pra um encaminhamento

Pesq Vocecirc estava dizendo ldquoeu estou com trecircs casosrdquo eu natildeo sei se vocecirc estaacute achando

muito ou pouco

Psi Natildeo eu tocirc achando que natildeo cabe mais muito eu jaacute acho eu tocirc achando muito pela

quantidade de coisas Se a gente tivesse neacute fazendo soacute isso e uma outra accedilatildeo dava pra levar

mais

Pesq Entatildeo mas talvez a gente precise mudar um pouquinho o foco a compreensatildeo da

situaccedilatildeo

Observa-se assim que o motivo para Psi negar o apoio individual estava relacionado ao

tamanho da demanda e ao fato de natildeo conseguir atender a todos os alunos com qualidade Por outro

lado o argumento da Psicologia Escolar contemporacircnea para natildeo privilegiar o apoio

individualizado aos estudantes que queixam (ou sobre os quais se queixam) de dificuldades eacute de

que os problemas vivenciados nas trajetoacuterias acadecircmicas natildeo se reduzem ao indiviacuteduo a causas

exclusivamente associadas ao estudante mas sobretudo pela influecircncia de questotildees relacionais

pedagoacutegicas institucionais e poliacuteticas (Arauacutejo 2003 Machado 2000 Marinho-Arauacutejo amp Almeida

2003 Neves 2003 2005) O sentido que embasa o posicionamento de Psi estaacute pouco vinculado a

uma concepccedilatildeo de que os problemas satildeo forjados coletivamente mediante a influecircncia de fatores

relacionados aos indiviacuteduos alunos ou professores agraves propostas curriculares agraves praacuteticas

pedagoacutegicas agrave dinacircmica institucional e suas poliacuteticas

Diante dos sentidos circulados ao longo dos encontros entra Psi e a pesquisadora reitera-se

que a identidade profissional emerge de um processo histoacuterico que resulta das vivecircncias pessoais

do psicoacutelogo suas relaccedilotildees sociais e profissionais sua formaccedilatildeo e a especificidade da sua aacuterea de

conhecimento e do seu trabalho Dessa forma a identidade deve pautar-se no reconhecimento da

especificidade exigida pelo contexto educativo e pelas competecircncias necessaacuterias ao exerciacutecio de

179

sua praacutetica (Le Boterf 2003 Marinho-Arauacutejo 2004 2005 Marinho-Arauacutejo amp Almeida 2005)

Nessa direccedilatildeo destacam-se alguns sentidos que circularam no que tange agraves competecircncias

importantes e desejaacuteveis agrave construccedilatildeo do perfil do psicoacutelogo escolar

Ressalta-se inicialmente que ao perspectivar seu ingresso na Faculdade Psi enveredou por

um processo de apreciaccedilatildeo das accedilotildees que poderia desenvolver com seguranccedila e daquelas que

precisaria buscar apoio As accedilotildees que considerava possiacuteveis implementar e dar iniacutecio ao seu

trabalho referiam-se agravequelas que realizava no contexto organizacional e que considerava

pertinentes ao espaccedilo educativo Tendo em vista sua experiecircncia profissional anterior no contexto

organizacional e as informaccedilotildees que lhe foram dadas na ocasiatildeo do convite para trabalhar na IES

Psi percebeu que poderia se respaldar em algumas de suas competecircncias para iniciar as atividades

na Faculdade Dessa forma ao considerar sua inserccedilatildeo no novo contexto profissional

especificamente em um no qual natildeo tinha se especializado e natildeo tinha experiecircncia preacutevia Psi

recorreu agrave sua vivecircncia anterior aos saberes previamente construiacutedos aos conhecimentos

incorporados agraves habilidades que desenvolvia com satisfaccedilatildeo

Acerca desse movimento da psicoacuteloga escolar em se respaldar no conhecimento e

experiecircncia anterior como estrateacutegia para auxiliaacute-la na construccedilatildeo das novas intervenccedilotildees importa

destacar dois aspectos O primeiro aspecto estaacute relacionado ao fato de que ao se deparar com o

desafio de atuar em um contexto pouco conhecido Psi natildeo se prendeu ao ldquonatildeo saberrdquo ou seja agraves

competecircncias e conhecimentos que percebia natildeo ter satisfatoriamente desenvolvidos para a

concretizaccedilatildeo de seu trabalho como psicoacuteloga escolar Ao contraacuterio buscou suporte naquelas

habilidades que tinha domiacutenio e que lhe davam seguranccedila

A esse respeito Psi registrou em seu memorial que ldquoAssim que tive a proposta de vir para a

Faculdade sabia que teriam atividades em que eu teria mais facilidade em trabalhar e outras que

eu teria que iniciar estudos As primeiras atividades satildeo aquelas que possuem interface com a aacuterea

organizacional que satildeo relacionadas agrave anaacutelise de curriacuteculos de alunos a realizaccedilatildeo de um banco

de talentos agrave orientaccedilatildeo dos alunos com relaccedilatildeo agrave postura profissional conduta em entrevistasrdquo

Os recursos subjetivos que o profissional dispotildee satildeo essenciais para lhe habilitar a enfrentar novas

situaccedilotildees com intencionalidade e seguranccedila (Le Boterf 2003 Zarifian 2003)

O segundo aspecto a destacar eacute a iniciativa em procurar auxiacutelio para a construccedilatildeo do seu

papel e atividades mediante o reconhecimento de que o novo contexto requeria um profissional

com recursos e competecircncias diferenciadas A falta de preparo teacutecnico de conhecimentos e

habilidades especificamente voltadas agrave Psicologia Escolar eacute uma queixa recorrente entre os

psicoacutelogos escolares que a apontam como principal dificuldade agrave sua atuaccedilatildeo (Almeida 1999

Arauacutejo 2003 Neves Almeida Chaperman amp Batista 2002) Esta falta foi sentida por Psi que ao

se deparar com o desafio de ser psicoacuteloga escolar se viu confrontada com a ausecircncia de

conhecimentos e competecircncias especiacuteficas que a permitissem atuar com seguranccedila O exemplo 2 da

Tabela 13 anteriormente apresentada ilustra uma situaccedilatildeo na qual Psi natildeo se sentia segura para

180

conduzir uma atividade com os docentes por desconhecer a realidade de trabalho deles suas

dificuldades e necessidades

Neste exemplo apresentado mais do que conhecer a realidade da instituiccedilatildeo na qual

trabalhava especificamente Psi tambeacutem natildeo tinha informaccedilotildees e conhecimentos acerca da

dinacircmica de uma instituiccedilatildeo educativa que tem particularidades diferenciadas de instituiccedilotildees de

outra natureza Tanto o conhecimento da IES em que se estaacute inserido sua dinacircmica hierarquias

procedimentos relaccedilotildees eacute um elemento importante na composiccedilatildeo da atuaccedilatildeo do psicoacutelogo escolar

como tambeacutem a clareza acerca das funccedilotildees objetivos e processos que satildeo proacuteprios das Instituiccedilotildees

de Educaccedilatildeo Superior e que a distinguem de outros espaccedilos educativos

Observa-se assim que as indicaccedilotildees constantemente reiteradas na literatura brasileira

acerca da importacircncia do psicoacutelogo escolar ter consciecircncia da especificidade da sua identidade a

qual eacute dada por um conjunto de recursos e competecircncias que o habilitam a agir com

intencionalidade seguranccedila e eficiecircncia eacute elemento basilar na construccedilatildeo do perfil e da atuaccedilatildeo em

Psicologia Escolar (Marinho-Arauacutejo 2005 Marinho-Arauacutejo amp Almeida 2005) Se inicialmente o

fato de Psi recuperar seus saberes e competecircncias desenvolvidas no seio do contexto organizacional

pode parecer inadequado por outro tal recuperaccedilatildeo eacute possiacutevel se for levado em conta que a

Psicologia Escolar natildeo se define em funccedilatildeo de um campo especiacutefico de saberes mas pela

configuraccedilatildeo de um campo de atuaccedilatildeo profissional que recorre a um conjunto de conhecimentos

praacuteticas e saberes organizados pela ciecircncia psicoloacutegica

Conforme lembra Martiacutenez (2007) o arcabouccedilo do qual o psicoacutelogo escolar se utiliza eacute

determinado pelas tarefas que realiza e pela concepccedilatildeo que tem dos elementos envolvidos na

configuraccedilatildeo dos desafios e problemas com que se depara independente da aacuterea da Psicologia em

que esses saberes tenham sido elaborados Dessa maneira eacute plausiacutevel e ateacute esperado que o

psicoacutelogo escolar recorra de forma luacutecida e intencional a conhecimentos originalmente produzidos

em outras aacutereas Aleacutem do mais considera-se possiacutevel que psicoacutelogos receacutem formados ou mesmo

profissionais especializados e com experiecircncia em aacutereas especiacuteficas da Psicologia possam vir a ser

psicoacutelogos escolares desde que os conhecimentos teoacutericos e teacutecnicos os saberes praacuteticos as

convicccedilotildees ideoloacutegicas e poliacuteticas aos quais se filiam sejam usados como suporte consciente para a

construccedilatildeo de competecircncias especiacuteficas para a atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar

A especificidade da identidade do psicoacutelogo escolar se configura a partir de um conjunto

variado de recursos e competecircncias desenvolvidos apropriados e erguidos ao longo da sua

trajetoacuteria e vivecircncias pessoais sociais acadecircmicas e profissionais Nessa direccedilatildeo a constituiccedilatildeo da

identidade do psicoacutelogo escolar natildeo eacute um processo linear que se forja exclusivamente pela

apropriaccedilatildeo dos conhecimentos produzidos pela proacutepria Psicologia Escolar mas tambeacutem pela

mobilizaccedilatildeo integraccedilatildeo reinterpretaccedilatildeo e reconstruccedilatildeo de conceitos temas accedilotildees originalmente

advindos de outras aacutereas Sendo assim entende-se que a especificidade da atuaccedilatildeo em Psicologia

Escolar pode ser construiacuteda pela imersatildeo em espaccedilos formativos e profissionais e tambeacutem pela

181

habilidade do psicoacutelogo de base generalista ou especiacutefica em recuperar com criticidade

consciecircncia intencionalidade e pertinecircncia as bases teoacutericas e metodoloacutegicas capazes de promover

as transformaccedilotildees que o contexto educativo exige

Apresentados os resultados relativos agrave construccedilatildeo do perfil profissional passa-se aos

sentidos associados agrave atuaccedilatildeo em Psicologia escolar descritos na Tabela 14 a seguir

Tabela 14

Zona de sentido 2 O que e como fazer em Psicologia Escolar Consideraccedilotildees acerca das

possibilidades de intervenccedilatildeo

INTERLOCUCcedilOtildeES MEDIADAS

Exemplo 1 Avaliaccedilatildeo Institucional

Pesq Como eacute que foi a sua chegada na CPA como vocecirc entendeu a sua funccedilatildeo e a sua contribuiccedilatildeo

Psi Quando eu cheguei eu nem conhecia na verdade a CPA nem sabia o que era uma CPA neacute natildeo

tinha conhecimento muito de faculdade mas a F veio conversar comigo e disse que queria que a

CPA tivesse um psicoacutelogo eu achei que era adequado porque eu participei de pesquisas avaliaccedilatildeo

de programas de educaccedilatildeo entatildeo achei adequado Achei tranquilo

Pesq E o lugar de presidente de coordenaccedilatildeo da CPA faz algum sentido

Psi Como presidente vocecirc consegue estar mais atuante e orientar melhor as accedilotildees da CPA eu acho que

eacute vaacutelido nesse sentido Mas eu acho que o psicoacutelogo tem muito a contribuir a gente tem avaliaccedilatildeo

de percepccedilatildeo a gente tem questionaacuterios a gente tem testes a gente tem toda a psicometria que com

apoio aiacute neacute que com a base da Psicologia Escolar a gente tem condiccedilotildees de fazer bem uma avaliaccedilatildeo

eu acho que nesse sentido sim

Pesq eu diria que noacutes temos ainda muito subsiacutedio pra discutir o que constitui um processo

avaliativo discutir com essa instituiccedilatildeo e seus diferentes atores qual eacute a funccedilatildeo da avaliaccedilatildeo pra

que que a gente estaacute fazendo o que a gente se propotildee onde quer chegar e muito nessa ideia de

rever de avaliar o processo as escolhas como as coisas aconteceram numa perspectiva de poder

transformar sempre na ideia de transformaccedilatildeo

Psi Sim claro pra que que vocecirc avalia neacute eu natildeo sei realmente neacute agora com essa avaliaccedilatildeo eacute que

eu vou conseguir perceber como que a instituiccedilatildeo recebe a CPA inclusive quando eu estava ali

escrevendo o e-mail pros coordenadores eu escrevi que lsquogostaria de pedir o apoio de vocecircs porque eacute

muito importante e queria que vocecircs percebessem a importacircncia de ter feedback sobre os nossos

cursos sobre os nossos docentesrsquo aiacute eu apaguei sabe porquecirc Porque eu natildeo sei se eles percebem

ateacute com um certo receio a avaliaccedilatildeo eu natildeo sei como eacute que eles veem

Pesq eacute um dos espaccedilos que noacutes psicoacutelogos podemos contribuir na circulaccedilatildeo das vozes dos sentidos

atribuiacutedos agrave avaliaccedilatildeo do trabalho da CPA

182

Tabela 14 (continuaccedilatildeo)

Exemplo 2 Cultura institucional

Psi Eu vejo que eu venho fazendo as coisas soacute venho fazendo as coisas de uacuteltima hora Eu cheguei

fazendo de uacuteltima hora e continuo fazendo tudo de uacuteltima hora

Pesq E isso tem a ver com a sua organizaccedilatildeo e a do Nuacutecleo ou eacute algo mais macro

Psi Eacute aqui na faculdade parece que jaacute eacute assim instituiacutedo vocecirc tem inuacutemeras ideias e isso apareceu na

reuniatildeo dos padrinhos eles disseram exatamente a mesma coisa a faculdade ela tem uma

vontade de inovar muito grande de fazer coisas diferentes mas soacute que acaba que ela fica meio que

tropeccedilando nas proacuteprias pernas sabe aiacute comeccedila a sair um monte de accedilatildeo um monte de accedilatildeo Os

teacutecnicos natildeo datildeo conta de fazer elas direitinho com qualidade comeccedilo meio e fim Os alunos tecircm

horas que jaacute estatildeo assim assoberbados eacute tanto trabalho eacute tanta accedilatildeo eacute tanto seminaacuterio eacute tanto

workshop e os padrinhos trouxeram exatamente isso Eacute muito interessante algumas coisas que a

gente percebe ali na sala e eles trazendo eacute bom que daacute pra desenhar direitinho neacute as nossas accedilotildees

Entatildeo isso meio que jaacute virou cultura aqui e vocecirc nem eacute tatildeo bem visto se vocecirc fala uma coisa dessa

Pesq Entatildeo natildeo eacute soacute no seu trabalho

Psi Eu acho que eacute um pouco disso que a gente falou que eacute uma questatildeo que eacute algo que eacute de gestatildeo E

acaba que cria um clima e uma cultura cria uma cultura na empresa de que isso eacute o que estaacute dando

certo Mas acho que pode ter alguma coisa de gestatildeo mesmo de intervenccedilatildeo na gestatildeo

Exemplo 3 Trabalho de conscientizaccedilatildeo com a equipe pedagoacutegica

Psi Porque realmente tinha coisa que natildeo deveria passar da coordenaccedilatildeo natildeo precisava passar da

coordenaccedilatildeo o professor fulano era docente e virou coordenador de uma hora pra outra satildeo

docentes que satildeo tirados de sala de aula pra virar coordenador porque aparentemente tem o perfil de

coordenador mas tem toda uma formaccedilatildeo que agraves vezes ele realmente natildeo tem dimensatildeoEu tenho

noccedilatildeo disso neacute e sei que eles precisam ser orientados que eu preciso conseguir definir o papel neacute

de como essas coisas vatildeo acontecer e que preciso passar isso pra eles neacute

Pesq Vocecirc estaacute falando e eu estou me remetendo a uma funccedilatildeo importantiacutessima do psicoacutelogo escolar

que eacute trabalhar em prol da conscientizaccedilatildeo dos papeacuteis e das responsabilidades de cada uma gente

tem que de alguma fora contribuir pra isso pra essa conscientizaccedilatildeo

Psi Pois eacute vocecirc estaacute falando e eu tocirc lembrando que eu fiquei com vontade de dizer pra ele lsquoprofessor

mas era bem bom mesmo que vocecirc participasse pra vecirc se vocecirc jaacute aprendia pra quando acontecesse

com vocecircrsquo (risos)

Pesq Mas vocecirc pode usar isso como uma estrateacutegia mesmo pra favorecer

Psi Eacute eu acho que de uma forma delicada eu ateacute posso dizer Eu vou responder o e-mail eu natildeo ia

mas eu vou responder de outra forma dizer lsquoprofessor se vocecirc quiser participar eu acho que eacute uma

boa casos como esse podem aparecer em qualquer curso e aiacute a gente jaacute tem uma questatildeo discutidarsquo

183

Tabela 14 (continuaccedilatildeo)

Sentidos circulados

experiecircncias accedilotildees questionamentos e ideias relacionadas agrave atuaccedilatildeo do psicoacutelogo escolar

SIacuteNTESE INTERPRETATIVA - ZONA DE SENTIDO 2

1 Indica possiacuteveis accedilotildees a serem realizadas pelo psicoacutelogo escolar na IES

2 Expressa compreensatildeo de que as intervenccedilotildees individuais natildeo devem se basear em um modelo

cliacutenico-terapecircutico

3 Aceita (natildeo nega) o atendimento individualizado ao estudante como parte do trabalho do

psicoacutelogo escolar mas entende que natildeo eacute possiacutevel atender com qualidade todas as demandas

individualizadas

4 Percebe que o apoio aos alunos com necessidades educativas especiais natildeo se restringe agraves

adequaccedilotildees teacutecnicas sendo relevante dar suporte agrave equipe pedagoacutegica

5 Demonstra consciecircncia e vinculaccedilatildeo agrave perspectiva preventiva e coletiva de atuaccedilatildeo

6 Manifesta a importacircncia de conhecer as necessidades e dinacircmica dos sujeitos da instituiccedilatildeo

apontando para a pertinecircncia do Mapeamento Institucional

7 Faz anaacutelise de um padratildeo (cultura) institucional e reconhece elementos instituiacutedos e

cristalizados

8 Reconhece a necessidade de intervir junto agrave equipe pedagoacutegica como forma de auxiliaacute-los na

sua atuaccedilatildeo profissional

9 Inclui outros atores institucionais em suas accedilotildees e corresponsabiliza a equipe pedagoacutegica na

intervenccedilatildeo agraves dificuldades identificadas

10 Sente necessidade de estruturar o serviccedilo estabelecer procedimentos e responsabilidades dos

atores entende que o encaminhamento de uma demanda ao psicoacutelogo escolar deve ser

precedido de tentativas por parte da equipe pedagoacutegica

11 Manifesta anguacutestia seguida da necessidade de estruturar o serviccedilo por meio da definiccedilatildeo de

prioridades de intervenccedilatildeo em razatildeo da quantidade e diversidade de accedilotildees que realiza

12 Ressalta importacircncia dos atores conhecerem os procedimentos institucionais que podem ser

adotados em situaccedilotildees de emergecircncia

13 Reconhece necessidade de conhecer as representaccedilotildeesconcepccedilotildees dos atores para orientar

suas accedilotildees

14 Realiza estudo da legislaccedilatildeo brasileira e das experiecircncias de outras IES para se apropriar de

um possiacutevel eixo de intervenccedilatildeo em Psicologia Escolar (avaliaccedilatildeo institucional)

15 Utiliza a observaccedilatildeo como recurso auxiliar agrave atuaccedilatildeo

Conforme sintetiza a Tabela 14 os sentidos mobilizados durante o acompanhamento de Psi

em relaccedilatildeo agrave atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar apontam para uma multiplicidade de possibilidades

que de forma geral se ancoram na opccedilatildeo por uma abordagem preventiva e institucional jaacute

184

evidenciada nos sentidos associados ao perfil profissional De forma coerente com o que pensava

ser mais adequado agrave atuaccedilatildeo do psicoacutelogo escolar Psi desenvolvia accedilotildees que privilegiavam um

trabalho com os diferentes atores da Faculdade como seraacute apresentado a seguir

Em relaccedilatildeo a accedilotildees mais claacutessicas como o atendimento aos estudantes a psicoacuteloga escolar

entendia que ele natildeo deveria ser eleito de forma prioritaacuteria por alguns motivos Primeiro porque

eram muitas e onerariam o trabalho do profissional que natildeo teria tempo de atender a todas com

qualidade especialmente por ter outras accedilotildees a desenvolver Segundo porque natildeo achava que tal

accedilatildeo traria muitas contribuiccedilotildees agrave instituiccedilatildeo uma vez que se restringiria a poucos alunos Terceiro

por entender que seria mais pertinente accedilotildees que auxiliassem a equipe pedagoacutegica a desenvolver

habilidades para lidar com as dificuldades que surgem

Eacute interessante destacar que apesar do acompanhamento e encaminhamento de alunos com

dificuldades escolares ser uma das funccedilotildees mais tradicionais do psicoacutelogo na educaccedilatildeo a psicoacuteloga

escolar natildeo entendia que o atendimento aos alunos deveria ser uma accedilatildeo prioritaacuteria Psi natildeo negava

que pudesse oferecer apoio individual a alguns alunos desde que natildeo adquirissem um vieacutes cliacutenico

Com o decorrer dos atendimentos e das reflexotildees oportunizadas pelo estudo das produccedilotildees em

Psicologia Escolar e pela discussatildeo com a pesquisadora Psi concluiu que natildeo era o fato de atender

o aluno individualmente que iria configurar sua accedilatildeo como de natureza cliacutenica mas sim a

concepccedilatildeo e os objetivos que a orientavam

A partir das interlocuccedilotildees novos sentidos foram atribuiacutedos ao atendimento aos alunos

contribuindo para que Psi o compreendesse de outra forma como uma oportunidade de conhecer

melhor a realidade da IES o perfil e necessidades dos alunos uma maneira de se aproximar e

trabalhar com os professores aleacutem de um modo de obter informaccedilotildees que poderiam sustentar

outras accedilotildees em Psicologia Escolar A interlocuccedilatildeo a seguir exemplifica os sentidos que Psi

atribuiu agraves accedilotildees de apoio aos alunos com dificuldades

Pesq Mas nesse contexto e nessas condiccedilotildees e natildeo sendo um trabalho terapecircutico o que

vocecirc acha que pode ser a nossa contribuiccedilatildeo

Psi Eu acho que tem vaacuterios benefiacutecios que eacute a discussatildeo com o docente sobre os temas

que acontecem em sala de aula entatildeo haacute um aprendizado do docente como aquele caso do fulano

em que o professor teve outra posiccedilatildeo outra postura entatildeo essa accedilatildeo com os docentes eacute um

benefiacutecio que vem desse atendimento individual esse atendimento individual tambeacutem traz

informaccedilatildeo pra gente sobre outras accedilotildees que podem ser feitas na faculdade sobre dificuldades que

os professores possam ter que a coordenaccedilatildeo possa ter e tem o apoio individual agrave pessoa isso

natildeo tem duacutevida

Em diferentes ocasiotildees Psi comentava acerca da necessidade de ter mais informaccedilotildees

sobre a Faculdade seu dia-a-dia os seus atores as relaccedilotildees ou seja percebia a importacircncia de

conhecer melhor as necessidades dos sujeitos e a dinacircmica da instituiccedilatildeo para sustentar a sua

intervenccedilatildeo Para ela o psicoacutelogo escolar ldquotem que conhecer muito bem essa demanda desses

185

alunos o que eles estatildeo fazendo o que eles tecircm de dificuldade como essas dificuldades refletem

no dia-a-dia de sala de aula deles e no aprendizado e conhecer mesmo essa dinacircmica de sala de

aulardquo

Aleacutem dos mais a partir das mediaccedilotildees da pesquisadora bem como de suas experiecircncias e

aprofundamentos teoacutericos Psi comeccedilou a entender os atendimentos a estudantes como uma

maneira de lhes oferecer apoio frente a queixa que apresentam e tambeacutem como uma maneira de

conhecer as relaccedilotildees entre professores e alunos a dinacircmica de sala de aula as praacuteticas pedagoacutegicas

que tecircm mais ou menos impacto nos estudantes aleacutem de ser uma forma de obter informaccedilotildees sobre

questotildees que possam ser objeto de intervenccedilotildees especiacuteficas coletivas e preventivas por parte do

psicoacutelogo escolar Comentou que o importante eacute ldquoconseguir fazer atendimento e acompanhamento

que seja beneacutefico natildeo soacute para o aluno mas para o docente e o coordenadorrdquo o que exige que o

psicoacutelogo escolar se articule e trabalhe em parceria com estes atores

Assim buscou envolver os membros da equipe pedagoacutegica em alguns de seus

procedimentos natildeo se limitando agrave intervenccedilatildeo direta com os estudantes Trabalhar em parceria com

os professores e coordenadores na intervenccedilatildeo agraves queixas que satildeo comumente direcionadas ao

psicoacutelogo escolar eacute um desdobramento da abordagem preventiva que busca auxiliar o corpo

pedagoacutegico na reflexatildeo sobre a sua praacutetica e na construccedilatildeo de alternativas pedagoacutegicas e

relacionais (Aguiar 2000 Machado 2000 Meira 2000 Neves 2001 2005)

Ao defender um modelo de atuaccedilatildeo preventivo e institucional natildeo se pretende negar e

evitar as intervenccedilotildees a queixas e dificuldades particulares a intenccedilatildeo eacute sobretudo a de privilegiar

accedilotildees coletivas e mais abrangentes que ao investirem na promoccedilatildeo das muacuteltiplas possibilidades de

desenvolvimento dos sujeitos possam entre as demais accedilotildees igualmente abarcar estas queixas

Jaacute no acircmbito das intervenccedilotildees mais emergentes e conforme sinalizado anteriormente Psi

entendia que seu ldquotrabalho maior ou o primeiro grande trabalho deveria ser com os docentes e

coordenaccedilatildeordquo mediante um apoio ao desenvolvimento de habilidades e competecircncias que

potencializassem seu exerciacutecio profissional Nessa direccedilatildeo desencadeou um movimento de incluir

estes atores em suas accedilotildees envolvendo-os nas decisotildees e encaminhamentos a serem tomados

enfim corresponsabilizando-os Diante de um pedido da coordenaccedilatildeo e da direccedilatildeo para que

atendesse um aluno que havia ameaccedilado de morte um colega de turma Psi sugeriu que discutissem

conjuntamente o caso de forma a tomar uma decisatildeo compartilhada Segundo ela o mais relevante

eacute esclarecerem a situaccedilatildeo e definirem coletivamente as accedilotildees a serem tomadas ldquominha postura eacute

juntar toda a equipe se ali decide que eu vou conversar com o aluno natildeo tem problemas porque a

instituiccedilatildeo jaacute se posicionourdquo

Dessa maneira no acircmbito dos sentidos circulados a respeito da atuaccedilatildeo do psicoacutelogo

escolar um importante aspecto referiu-se ao fato de Psi desencadear um movimento de construir

praacuteticas de corresponsabilizaccedilatildeo por meio das quais os professores poderiam se apropriar de sua

funccedilatildeo e responsabilidade as quais por algum tempo foram delegadas ao psicoacutelogo ou a outros

186

profissionais que se ocupavam dos fenocircmenos educativos Conforme jaacute indicado em outros

trabalhos a participaccedilatildeo ativa dos docentes na construccedilatildeo de alternativas para a superaccedilatildeo das

dificuldades encontradas eacute uma estrateacutegia que contribui para o resgate ativo e dirigente do papel do

professor (Facci 2009 Meira 2000 Neves 2001 Neves amp Almeida 2003) Aleacutem do mais

trabalhar pela conscientizaccedilatildeo dos sujeitos institucionais como forma de promover sua

compreensatildeo e apropriaccedilatildeo das responsabilidades que lhes compete eacute um importante eixo de

intervenccedilatildeo do psicoacutelogo escolar que tem como meta a modificaccedilatildeo das praacuteticas e o

desenvolvimento dos sujeitos (Oliveira Marinho-Arauacutejo amp Almeida 2010a Marinho-Arauacutejo amp

Almeida 2005)

Tambeacutem no contexto das intervenccedilotildees emergentes e em niacutevel institucional Psi de forma

inicialmente intuitiva e em decorrecircncia da sua vivecircncia e anguacutestia fez anaacutelise de um padratildeo

cristalizado de funcionamento institucional Ao ser impelida pela pesquisadora a verificar se sua

percepccedilatildeo se restringia agrave sua realidade ou era abrangente aos demais atores e rotinas constatou que

havia um padratildeo institucional instalado jaacute instituiacutedo conforme ilustra a interlocuccedilatildeo apresentada

na Tabela 14 (exemplo 2) Nesta e em outras situaccedilotildees a psicoacuteloga escolar percebeu a necessidade

de fazer uma anaacutelise e diagnoacutestico das praacuteticas institucionais dos motivos que as orientam das

relaccedilotildees representaccedilotildees atitudes e valores que rodeiam a dinacircmica institucional e que se

configuram como padrotildees cristalizados ou potencialmente transformadores da realidade

Conhecer a instituiccedilatildeo eacute uma estrateacutegia capaz de apreender suas particularidades e orientar

as intervenccedilotildees a serem desencadeadas e nessa direccedilatildeo o Mapeamento Institucional eacute uma

maneira de se familiarizar com sua missatildeo filosofia princiacutepios e concepccedilotildees orientadoras (Arauacutejo

2003 Arauacutejo amp Almeida 2003 Marinho-Arauacutejo amp Almeida 2005a) O Mapeamento Institucional

por meio da anaacutelise documental da observaccedilatildeo do contexto e das relaccedilotildees do diaacutelogo informal

com os atores entre outros tem como potencialidade apreender os mecanismos rotinas e valores

que caracterizam e norteiam a instituiccedilatildeo Assim Psi diz que ldquoquando cheguei agrave Faculdade iniciei

as leituras sobre a instituiccedilatildeordquo como forma de entender sua histoacuteria seus objetivos estrutura e

tambeacutem as funccedilotildees atribuiacutedas ao psicoacutelogo escolar

Particularmente sobre o processo de avaliaccedilatildeo institucional ao chegar agrave IES Psi foi

designada a assumir a coordenaccedilatildeo da Comissatildeo Proacutepria de Avaliaccedilatildeo oacutergatildeo presente em todas as

Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior e que tem a funccedilatildeo de conduzir os processos de avaliaccedilatildeo interna

da instituiccedilatildeo Compete agrave CPA identificar as potencialidades e deficiecircncias dos cursos e da

instituiccedilatildeo e sugerir a partir das informaccedilotildees levantadas na autoavaliaccedilatildeo mudanccedilas para a

melhoria do serviccedilo oferecido pela instituiccedilatildeo (Lei nordm 108612004) O lugar do psicoacutelogo escolar

na CPA da Faculdade jaacute estaacute previsto no respectivo regulamento no qual consta inclusive que a

participaccedilatildeo do psicoacutelogo escolar deve ser obrigatoacuteria

Ao ingressar na instituiccedilatildeo entretanto Psi desconhecia a legislaccedilatildeo e os processos

pertinentes agrave avaliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior conforme ilustra o diaacutelogo transcrito na Tabela 14

187

(exemplo 1) Ao ser designada para integrar a CPA e inclusive para ocupar o cargo de

coordenaccedilatildeo tendo em vista sua experiecircncia com pesquisa Psi buscou estudar a legislaccedilatildeo e as

experiecircncias de outras instituiccedilotildees Mesmo tendo assumido a coordenaccedilatildeo da Comissatildeo os

diaacutelogos com a pesquisadora mostraram que Psi associava a autoavaliaccedilatildeo institucional com a

avaliaccedilatildeo de programas natildeo tendo ainda entendido o sentido da avaliaccedilatildeo como recurso agrave

construccedilatildeo de um diaacutelogo intrainstitucional que tem o potencial de fomentar transformaccedilotildees

estruturais na IES Aleacutem do mais a profissional natildeo tinha convicccedilatildeo sobre as contribuiccedilotildees

especiacuteficas da Psicologia Escolar aos processos de autoavaliaccedilatildeo considerando que a psicometria

ajudaria nesse processo

Apesar de muito explorada no acircmbito dos estudos e pesquisas referentes agrave qualidade da

Educaccedilatildeo Superior (Barreyro 2008 Bertolin 2004 Brito 2008 Catani Oliveira amp Dourado

2002 Dias Sobrinho 2003 2004a 2007 Meneghel Robl amp Silva 2006 Polidori 2009 Polidori

Marinho-Arauacutejo amp Barreyro 2006) a Avaliaccedilatildeo Institucional eacute um campo novo e bastante

emergente de atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar o que demanda investimentos em pesquisa e no

desenvolvimento do perfil do psicoacutelogo escolar que iraacute trabalhar nessa temaacutetica

A partir dos vaacuterios sentidos relacionados agrave atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo

Superior vislumbra-se um amplo conjunto de intervenccedilotildees possiacuteveis que natildeo mais envolvem

apenas o aluno mas todos os atores e a instituiccedilatildeo de forma global Aleacutem disso essas intervenccedilotildees

se caracterizarem por serem mais criacuteticas inovadoras e eficazes na medida em que satildeo mais

adequadas agrave complexidade da realidade educativa (Arauacutejo 2003 Cruces 2003 Neves 2001

Marinho-Arauacutejo amp Almeida 2003 2005 Martiacutenez 2007 2009 2010)

Eacute importante salientar conforme o fez Martiacutenez (2010) que apesar das formas de atuaccedilatildeo

emergentes serem mais abrangentes e complexas do que as tradicionais e potencialmente mais

efetivas todas elas tecircm espaccedilo no contexto educativo e satildeo consideradas importantes

ldquoespecialmente se temos em conta as positivas mudanccedilas qualitativas que como produto das

influecircncias jaacute mencionadas vecircm ocorrendo tambeacutem nas funccedilotildees tradicionalmente desenvolvidas

pelos psicoacutelogos na escolardquo (p 43)

Ainda no acircmbito dos sentidos relativos agrave intervenccedilatildeo cabe destacar que em diferentes

momentos Psi sentiu a necessidade de estruturar o Serviccedilo no qual estava inserida Duas razotildees

mobilizavam essa necessidade primeiro pelo fato da quantidade e diversidade de accedilotildees sob sua

responsabilidade causarem anguacutestia e levarem agrave constataccedilatildeo de que era preciso eleger prioridade de

atuaccedilatildeo segundo pelo entendimento de que o encaminhamento de uma demanda ao psicoacutelogo

escolar deve ser precedido de tentativas por parte da equipe pedagoacutegica Relata assim que ldquosentia

que precisava criar um procedimento de funcionamento do Nuacutecleo o que faria como seriam feitos

os encaminhamentos de alunos para o Nuacutecleo em quais situaccedilotildees docentes e coordenadores

deveriam encaminhar os alunos o que deveriam fazer antes de encaminharrdquo

188

Dessa maneira a necessidade de estruturar o serviccedilo e de estabelecer procedimentos estava

mais associada ao fato de que os atores institucionais nomeadamente os professores e

coordenadores deveriam ter consciecircncia de suas responsabilidades diante das dificuldades que

constatavam e agir de forma ativa para resolvecirc-las Mais do que organizar as atividades do Serviccedilo

de acordo com as prioridades a ideia de estruturaacute-lo era uma estrateacutegia para sistematizar as accedilotildees

da equipe pedagoacutegica Novamente Psi demonstrava uma concepccedilatildeo de normatizaccedilatildeo das accedilotildees

definindo aquelas que eram esperadas dos profissionais sem contudo trabalhar na conscientizaccedilatildeo

da importacircncia dessas accedilotildees ou apoiando-os a desenvolvecirc-las de forma que pudessem se configurar

como intervenccedilotildees efetivamente transformadoras dos problemas Esse aspecto foi alvo da mediaccedilatildeo

da pesquisadora como ilustra o exemplo 3 (Tabela 14) Passa-se agora agrave uacuteltima zona de sentido

cujos indicadores estatildeo descritos na Tabela 15

Tabela 15

Zona de sentido 3 Formaccedilatildeo continuada como recurso auxiliar agrave construccedilatildeo do perfil e da

atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar

INTERLOCUCcedilOtildeES MEDIADAS

Exemplo 1 Apropriaccedilatildeo de um procedimento auxiliar agrave intervenccedilatildeo (observaccedilatildeo)

Pesq Vale a pena ainda conhecer um pouco mais esse caso Se desse pra entrar em sala de aula

seria excelente

Psi Mas aiacute se eu entro em sala de aula eles param o que eles tatildeo fazendo ou eacute entrar em sala de aula

escondidinho

Pesq Natildeo eacute mais programado principalmente com o professor avisar pra ele que vocecirc tem uma

motivaccedilatildeo pra observar aquela turma dizer qual eacute o seu objetivo eacute legal que antes vocecirc

contacte o professor ateacute pra que ele possa se organizar e possa avisar que vocecirc vai estar com

eles afinal a sua presenccedila natildeo vai passar despercebida

Psi Eacute eles param se a gente vai fazer qualquer accedilatildeo se vocecirc quer fazer uma perguntinha pro

docente ou alguma coisa assim e vai laacute eles param tudo

Pesq Entatildeo tem que anunciar que vocecirc vai estar presente participando da aula

Psi E aiacute eacute assim mesmo assistindo a aula ali sentadinha calada natildeo fala nada

Pesq Vocecirc pode participar se vocecirc se sentir a vontade e tiver interesse se o professor propuser uma

atividade de grupo e vocecirc quiser contribuir participar

189

Tabela 15 (continuaccedilatildeo)

Exemplo 2 Avaliaccedilatildeo da contribuiccedilatildeo da assessoria agrave praacutetica

Psi Era mais do que eu estava imaginando porque a gente teve vocecirc com o seu olhar de Psicologia

Escolar com toda sua experiecircncia e todo o seu conhecimento e dentro da nossa realidade neacute um

trabalho bem uma assessoria uma consultoria bem focada no nosso trabalho

Pesq que eacute um pouco da nossa proposta mesmo

Psi E assim teve tinha neacute muitos momentos que eu sentia uma seguranccedila maior depois da gente

conversar depois da gente discutir eu achava que eu tinha uma seguranccedila maior nas minhas

accedilotildees

Pesq E que eacute muito legal porque quando a gente vai se apropriando das ideias a gente vai tendo

mais seguranccedila mesmo

Psi Mas eu acho que se natildeo fosse isso eu teria feito diferente eu acho que eu teria levado algumas

coisas mais pra frente Talvez eu tivesse negado mais a fala dos docentes por um tempo maior

acho que talvez eu tivesse negado mais natildeo sei acho que teria negado essa fala deles por mais

tempo

Sentidos circulados

vivecircncia da formaccedilatildeo continuada e do acompanhamento agrave praacutetica como suporte ao

desenvolvimento do papel e da atuaccedilatildeo profissional inclusive na ampliaccedilatildeo das

possibilidades de intervenccedilatildeo

SIacuteNTESE INTERPRETATIVA - ZONA DE SENTIDO 3

1 Percebe a necessidade de buscar apoio em grupo de estudo e de pesquisa em Psicologia

Escolar para auxiliar na construccedilatildeo de sua atuaccedilatildeo

2 Participa de accedilotildees de formaccedilatildeo continuada e as avalia positivamente

3 Percebe o acompanhamento como recurso para circular anguacutestias rever ideias e

ressignificar accedilotildees

4 Relata que o estudo compartilhado e a discussatildeo ampliam possibilidades de intervenccedilatildeo

5 Percebe outros elementos envolvidos em uma situaccedilatildeo e amplia sua compreensatildeo a partir da

discussatildeo

6 Problematiza e se apropria de novos procedimentos para intervir (observaccedilatildeo)

7 Reconhece o acompanhamento da praacutetica como elemento que auxilia no desenvolvimento

de accedilotildees mais seguras

Tendo em vista a deficiecircncia da formaccedilatildeo inicial em Psicologia Escolar e os desafios

impostos pela realidade profissional a formaccedilatildeo continuada se configura como uma alternativa

privilegiada e frutiacutefera agrave apropriaccedilatildeo das particularidades da aacuterea ao desenvolvimento de um

conjunto ampliado de competecircncias e agrave reconstruccedilatildeo permanente das possibilidades de intervenccedilatildeo

no sistema educativo Em virtude do seu potencial na preparaccedilatildeo de psicoacutelogos escolares mais

190

competentes e comprometidos com a transformaccedilatildeo social a formaccedilatildeo continuada em Psicologia

Escolar tem sido defendida como elemento diferencial no desenvolvimento da aacuterea e dos

profissionais (Marinho-Arauacutejo amp Neves 2006 2007)

Coerentemente a este entendimento jaacute registrado nas produccedilotildees em Psicologia Escolar o

acompanhamento da profissional evidenciou que a formaccedilatildeo continuada eacute um recurso que pode

auxiliar no desenvolvimento do papel e da atuaccedilatildeo Confrontada com o desafio absolutamente novo

e natildeo planejado de ser psicoacuteloga escolar Psi expressou em diferentes ocasiotildees que lhe era

imprescindiacutevel buscar apoio teoacuterico e praacutetico e deixou registrado em seu memorial ldquoachava que

precisava urgentemente procurar mais apoio de profissionais da aacuterea de Psicologia Escolarrdquo

Conforme registrado na literatura brasileira a formaccedilatildeo continuada eacute espaccedilo favoraacutevel ao

desenvolvimento da identidade e da atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar (Guzzo 1999 Guzzo amp

Wescheler 1993 Marinho-Arauacutejo 2007 Marinho-Arauacutejo amp Almeida 2003 2005 Marinho-

Arauacutejo amp Neves 2006 2007)

Refletindo sobre o desenvolvimento do psicoacutelogo escolar Guzzo (1999) afirma que ldquoeacute

preciso que a Psicologia Escolar seja priorizada como uma especialidade e que os profissionais que

se interessem em atuar junto ao sistema educativo reconheccedilam a necessidade de uma formaccedilatildeo

contiacutenua e criacuteticardquo (p 136) ou seja defende um investimento pessoal soacutelido que implica na

necessidade de uma formaccedilatildeo continuada para aleacutem da graduaccedilatildeo em Psicologia Se de forma

geral a formaccedilatildeo continuada eacute vista como uma oportunidade de ressignificar escolhas de rever

posturas e accedilotildees e de aprofundar e ampliar as possibilidades de intervenccedilatildeo no caso particular de

Psi que natildeo fez estaacutegio em Psicologia Escolar natildeo teve experiecircncia profissional na aacuterea e natildeo fez

cursos lato ou stricto sensu essa vinculaccedilatildeo a alternativas formativas em serviccedilo eacute essencial para

imprimir a especificidade necessaacuteria agrave atuaccedilatildeo na aacuterea

A oportunidade de ampliar as possibilidades de intervenccedilatildeo para aleacutem de apoiar o

desenvolvimento do seu perfil e da sua atuaccedilatildeo em Psicologia foi um dos sentidos atribuiacutedos por

Psi agrave assessoria agrave praacutetica O exemplo 1 da Tabela 15 eacute ilustrativo do movimento de apropriaccedilatildeo da

profissional acerca de um procedimento que pode auxiliaacute-la no seu exerciacutecio profissional

especialmente pela ampliaccedilatildeo dos usos associados a tal procedimento Eacute evidente que a praacutetica da

observaccedilatildeo era conhecida por Psi por ser um instrumento claacutessico de diagnoacutestico e de pesquisa em

Psicologia entretanto a novidade para a psicoacuteloga escolar foi o fato de poder utilizar a observaccedilatildeo

como recurso auxiliar para ampliar a sua compreensatildeo acerca das situaccedilotildees educacionais in loco

Outros sentidos que emergiram da anaacutelise do acompanhamento da psicoacuteloga escolar estaacute

justamente relacionada agraves suas percepccedilotildees e ideias acerca do acompanhamento da sua praacutetica

profissional que eacute uma modalidade de formaccedilatildeo continuada conforme ilustra o segundo exemplo

da Tabela 15 A proposta de assessorar um profissional que atua em uma Instituiccedilatildeo de Educaccedilatildeo

Superior do Distrito Federal tinha como objetivo investigar indicadores de perfil e de atuaccedilatildeo que

junto aos demais elementos deste estudo subsidiassem a construccedilatildeo de uma proposta de criaccedilatildeo e

191

funcionamento de Serviccedilos de Psicologia bem como contribuissem para o desenvolvimento do

profissional e aprimoramento de suas accedilotildees

Para tanto com base nos pressupostos da pesquisa-intervenccedilatildeo que articula a possibilidade

de fazer pesquisa com a de transformar as praacuteticas dos sujeitos pesquisados (Passos amp Barros

2000 Rocha 2006 Rocha amp Aguiar 2003 Szymanski amp Cury 2004) buscou-se fomentar

espaccedilos de interlocuccedilatildeo que oportunizassem a mobilizaccedilatildeo e a expressatildeo de sentimentos ideias

valores incocircmodos inseguranccedilas conflitos duacutevidas conhecimentos habilidades projetos e

desejos Por meio dessa modalidade de pesquisa tentou-se criar um espaccedilo no qual os diferentes

sentidos e significados relacionados agrave atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar pudessem emergir

Assim entendido o acompanhamento da praacutetica foi adquirindo sentidos variados no

transcorrer do processo No iniacutecio quando Psi recebia demandas que lhe assustavam por colocar

em evidecircncia a fragilidade de sua identidade profissional relatava que o acompanhamento

permitira falar e explorar as anguacutestias a ela relacionadasldquoas primeiras reuniotildees foram muito

confortantes Eu compartilhava essas anguacutestias iniciaisrdquo Depois mediante o estudo a mediaccedilatildeo

da pesquisadora e a apropriaccedilatildeo de elementos que caracterizam a atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar

Psi evidenciava que ldquoas conversas me ajudaram a perceber algumas coisas de forma diferenterdquo

ldquocomecei a olhar pra essas coisas e consegui ter outra dimensatildeo do nuacutecleo da minha atuaccedilatildeordquo

Sobre esta oportunidade de rever entendimentos e de ampliar as possibilidades de intervenccedilatildeo cita-

se o trabalho junto aos professores e coordenadores relacionado ao estudo e apropriaccedilatildeo da

temaacutetica das competecircncias eixo central do processo ensino-aprendizagem e o trabalho com os

gestores em relaccedilatildeo agrave incoerecircncia em cobranccedilas feitas aos funcionaacuterios Em ambos os casos Psi

resume dizendo que ldquoantes eu percebia como absolutamente nada meu depois percebi como muito

meu quero dizer o psicoacutelogo escolar junto com natildeo eacute soacute do psicoacutelogo escolar neacute eacute junto com os

coordenadores e direccedilatildeordquo

Observa-se por estes exemplos que a anaacutelise das situaccedilotildees de trabalho cotidianas associada

ao estudo e discussatildeo das produccedilotildees em Psicologia Escolar possibilita ao profissional se apropriar

de novas ideias e assim ampliar suas perspectivas de intervenccedilatildeo imprimindo-lhes novos e

diferentes direcionamentos daqueles que inicialmente ventilava Eacute pertinente destacar que o

acompanhamento agrave praacutetica natildeo se configura como um determinante causal ou como influecircncia

externa que determina a atuaccedilatildeo do psicoacutelogo escolar ao contraacuterio se constitui como um processo

de reinterpretaccedilatildeo e coconstruccedilatildeo A interlocuccedilatildeo mediada (exemplo 1) apresentada na Tabela 15

exemplifica esse processo e evidencia como a assessoria propicia o desenvolvimento de

competecircncias do psicoacutelogo escolar

Dessa maneira o espaccedilo de assessoria agrave praacutetica busca sobretudo permitir que os diferentes

sentidos e significados relacionados agrave atuaccedilatildeo e perfil do psicoacutelogo escolar possam emergir e ser

objeto de anaacutelise e de reflexatildeo a modificaccedilatildeo das accedilotildees seraacute um dos possiacuteveis desdobramentos da

circulaccedilatildeo de tais sentidos O acompanhamento ou a assessoria agrave praacutetica eacute uma oportunidade do

192

profissional e do pesquisador juntos e imersos em uma rede de subjetividades construiacuterem uma

nova trama de significaccedilotildees e sentidos para a atuaccedilatildeo profissional Se a constituiccedilatildeo da

subjetividade tem sua origem na relaccedilatildeo com o outro a pesquisa-intervenccedilatildeo eacute justamente uma

maneira de influenciar esta constituiccedilatildeo

Aleacutem da apreensatildeo e interpretaccedilatildeo dos sentidos como recurso para compreender o

processo de apropriaccedilatildeo coconstruccedilatildeo e transformaccedilatildeo das ideias e accedilotildees da psicoacuteloga escolar a

anaacutelise dos resultados possibilitou ainda a construccedilatildeo de indicadores para o perfil profissional do

psicoacutelogo escolar e para a atuaccedilatildeo na Educaccedilatildeo Superior Apoacutes ter sido realizado o procedimento

para construccedilatildeo das zonas de sentidos investiu-se na identificaccedilatildeo de indicadores que podem

compor o perfil dos psicoacutelogos escolares e outros que podem orientar sua atuaccedilatildeo nas IES ambos

contemplados na construccedilatildeo da proposta para os Serviccedilos de Psicologia ao final deste capiacutetulo Os

primeiros indicadores trazem elementos relacionados agraves caracteriacutesticas esperadas e desejadas para o

profissional da aacuterea que iraacute atuar na Educaccedilatildeo Superior os segundos relativos agrave atuaccedilatildeo

funcionam como referecircncia para a estruturaccedilatildeo e desenvolvimento do trabalho dos psicoacutelogos

escolares na medida em que apontam possiacuteveis accedilotildees que possam ser realizadas

Os indicadores emergiram da anaacutelise das reflexotildees compartilhadas durante o

acompanhamento da psicoacuteloga escolar bem como das referecircncias contemporacircneas acerca da

formaccedilatildeo e da atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar configurando-se como elementos potencialmente

capazes de sustentaacute-las A Tabela 16 a seguir apresenta os indicadores de perfil

193

Tabela 16

Indicadores de perfil construiacutedos a partir do acompanhamento da psicoacuteloga escolar em uma IES

do DF

INDICADORES DE PERFIL

1 Anaacutelise e reflexatildeo permanente das percepccedilotildees accedilotildees e demandas que lhe satildeo dirigidas como

forma de definir suas funccedilotildees

2 Consciecircncia dos recursos e competecircncias necessaacuterios agrave construccedilatildeo do perfil e da atuaccedilatildeo em

Psicologia Escolar bem como das suas competecircncias desenvolvidas e a desenvolver

3 Compreensatildeo ampliada de atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar extensiva aos diferentes atores e agrave

dinacircmica institucional com opccedilatildeo por accedilotildees preventivas coletivas cocompartilhadas

4 Reconhecimento da importacircncia de conhecer e analisar a instituiccedilatildeo sua dinacircmica e relaccedilotildees

para que o trabalho desenvolvido seja coerente com a realidade da IES

5 Entendimento do psicoacutelogo escolar como mediador do desenvolvimento da equipe

pedagoacutegica

6 Opccedilatildeo por intervenccedilotildees voltadas ao desenvolvimento de competecircncias relacionais e de

empregabilidade junto aos discentes

7 Disponibilidade para integrar novos recursos metodoloacutegicos agrave sua praacutetica

8 Habilidade em reinterpretar e ressignificar accedilotildees tradicionais em Psicologia Escolar

compreensatildeo do atendimento individualizado como fonte de informaccedilatildeo para o psicoacutelogo

escolar acerca das necessidades individuais e da instituiccedilatildeo

9 Postura criacutetica e reflexiva sobre a educaccedilatildeo e a sociedade

10 Clareza da relaccedilatildeo entre a ciecircncia psicoloacutegica e a educaccedilatildeo

11 Capacidade de fazer articulaccedilotildees entre diferentes aacutereas da Psicologia na construccedilatildeo da

atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar

12 Valorizaccedilatildeo de saberes e experiecircncias profissionais pregressas para subsidiar atuaccedilatildeo atual

13 Entendimento e valorizaccedilatildeo do estudoformaccedilatildeo continuada como recurso positivo ao

desenvolvimento do seu perfil profissional

14 Compreensatildeo da formaccedilatildeo continuada (assessoria agrave praacutetica) como oportunidade de rever

suas ideias

15 Abertura para rever ideias e accedilotildees e se apropriar de novos conhecimentos e para se apropriar

e experimentar novas estrateacutegias metodoloacutegicas

16 Disponibilidade para ressignificar caracteriacutesticas pessoais

Os indicadores de perfil extraiacutedos do acompanhamento de Psi apontam algumas

caracteriacutesticas desejaacuteveis ao profissional de Psicologia que atua ou que pretende atuar na Educaccedilatildeo

Superior Um deles eacute a postura criacutetica e reflexiva em relaccedilatildeo agrave sua proacutepria atuaccedilatildeo aos seus

recursos e competecircncias agrave pertinecircncia das suas intervenccedilotildees ao contexto agraves concepccedilotildees que tem e

194

que influenciam na configuraccedilatildeo das suas accedilotildees bem como em relaccedilatildeo ao processo de

ressignificaccedilatildeo de antigos saberes e experiecircncias Outro indicador de perfil diz respeito agrave

valorizaccedilatildeo do profissional em relaccedilatildeo ao estudo aprofundamento teoacuterico e aperfeiccediloamento da

sua praacutetica que pode se expressar na busca ativa por se envolver em cursos lato e stricto sensu ou

em formaccedilotildees continuadas em serviccedilo A disponibilidade para aprender para incorporar novas

estrateacutegias para experimentar accedilotildees diferentes satildeo indicadores que compotildeem um perfil flexiacutevel

dinacircmico e em busca constante por inovaccedilatildeo conforme eacute desejado pelo mundo do trabalho que se

caracteriza por raacutepidas e constantes transformaccedilotildees

Um dos indicadores de perfil bastante especiacutefico agrave Psicologia Escolar diz respeito agrave

vinculaccedilatildeo agrave concepccedilatildeo abrangente e contemporacircnea de atuaccedilatildeo na aacuterea que se direciona para a

intervenccedilatildeo em espaccedilos relacionais e coletivos aleacutem de ter a dinacircmica institucional em grande

perspectiva Ainda que no dia-a-dia o psicoacutelogo escolar natildeo consiga implementar accedilotildees totalmente

amparadas nesta abordagem por diferentes razotildees eacute importante que se identifique com ela para

que possa vir a investir intencionalmente em accedilotildees mais abrangentes e extensivas aos diferentes

atores da IES

Por sua vez os indicadores de atuaccedilatildeo que podem referenciar a praacutetica em Psicologia

Escolar estatildeo descritos na Tabela 17 a seguir sendo que de forma geral tais indicadores podem ser

agrupados de acordo com o foco que tecircm em comum ou seja o alvo principal para o qual se

dirigem

Tabela 17

Indicadores de atuaccedilatildeo construiacutedos a partir do acompanhamento da psicoacuteloga escolar em uma

IES do DF

INDICADORES DE ATUACcedilAtildeO

Accedilotildees associadas aos processos institucionais de gestatildeo

bull Promoccedilatildeo do clima organizacional motivaccedilatildeo e satisfaccedilatildeo na instituiccedilatildeo

bull Mapeamento Institucional anaacutelise documental observaccedilatildeo das rotinas e das relaccedilotildees

conversas com os atores conhecimento das demandas da dinacircmica de sala de aula das

relaccedilotildees e dos tracircmites institucionais anaacutelise dos padrotildees instituiacutedos

bull Formaccedilatildeo continuada docente

bull Avaliaccedilatildeo Institucional (participaccedilatildeo na CPA) investigaccedilatildeo da percepccedilatildeo dos atores sobre

avaliaccedilatildeo e esclarecimento do uso que a IES faz dos resultados

bull Definiccedilatildeo coletiva de papeacuteis funccedilotildees e responsabilidades dos atores institucionais

bull Anaacutelise das expectativas e funccedilotildees atribuiacutedas ao psicoacutelogo escolar

bull Investigaccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo das incoerecircncias no discurso dos gestores

bull Estruturaccedilatildeo do Serviccedilo de Psicologia prioridades eixos de intervenccedilatildeo e procedimentos

195

Tabela 17 (continuaccedilatildeo)

Accedilotildees associadas aos processos de ensino e de aprendizagem

bull Suporte aos coordenadores e professores no seu desenvolvimento de competecircncias

bull Investigaccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo dos atores sobre suas concepccedilotildees de homem educaccedilatildeo e

sociedade bem como de avaliaccedilatildeo e de competecircncias e a influecircncia nas suas praacuteticas

bull Discussatildeo de questotildees pedagoacutegicas ligadas agrave criaccedilatildeo de metodologias diferenciadas

bull Conscientizaccedilatildeo por parte da equipe pedagoacutegica de funccedilotildees e responsabilidades

bull Apoio agraves necessidades educativas especiais e agrave inclusatildeo

Accedilotildees associadas aos estudantes

bull Atendimento aos alunos acolhimento e mapeamento de possiacuteveis linhas de intervenccedilatildeo

bull Coordenaccedilatildeo de programas educativos para discentes Desenvolvimento pessoal

Relacionamento Desenvolvimento profissional e empregabilidade (anaacutelise de curriacuteculos

construccedilatildeo de banco de talentos triagem e envio de curriacuteculos realizaccedilatildeo de parceira com as

empresas orientaccedilatildeo em relaccedilatildeo agrave postura profissional conduta em entrevistas)

bull Atendimento ao aluno e aos familiares e encaminhamento para atendimento externo

bull Acompanhamento de egressos

bull Acolhimento aos calouros (ambientaccedilatildeo presencial e virtual)

bull Levantamento da evasatildeo do nuacutemero de alunos empregadosdesempregados

Em relaccedilatildeo aos indicadores de atuaccedilatildeo que emergiram do acompanhamento de Psi

observa-se que haacute uma diversidade de accedilotildees que podem ser realizadas pelos psicoacutelogos na

Educaccedilatildeo Superior Quanto aos indicadores de atuaccedilotildees associados aos processos de gestatildeo

institucional emergiram com recorrecircncia accedilotildees de mapeamento da dinacircmica da IES mostrando o

quanto o Mapeamento Institucional eacute um procedimento necessaacuterio e apropriado para subsidiar o

planejamento das accedilotildees em Psicologia Escolar

Em relaccedilatildeo agraves accedilotildees junto agrave equipe pedagoacutegica elas tecircm como foco a promoccedilatildeo do

processo de ensino-aprendizagem e estatildeo prioritariamente direcionadas para os professores e para

os coordenadores Destaca-se entre estes indicadores de atuaccedilatildeo a intervenccedilatildeo do psicoacutelogo escolar

em prol da conscientizaccedilatildeo destes profissionais acerca de suas responsabilidades na formaccedilatildeo dos

estudantes a qual estaacute para aleacutem do ensino do conhecimento pertinente agrave sua aacuterea Paralelamente a

este processo de conscientizaccedilatildeo comparecem tambeacutem indicadores relacionados ao apoio aos

coordenadores e professores no desenvolvimento de competecircncias profissionais que potencializem

a qualidade de suas atividades pedagoacutegicas

As accedilotildees apontadas pela psicoacuteloga escolar focadas nos estudantes se relacionam

especialmente com a dimensatildeo profissional da formaccedilatildeo dos estudantes com o desenvolvimento de

competecircncias que possam favorecer a empregabilidade dos alunos Accedilotildees tradicionais de

196

atendimento e de encaminhamento dos estudantes tambeacutem comparecem entre os indicadores sendo

que conforme jaacute discutido anteriormente os atendimentos natildeo tecircm caraacuteter terapecircutico e buscam

ampliar a compreensatildeo do psicoacutelogo escolar acerca de outros eixos de intervenccedilatildeo na IES

Algumas accedilotildees mais emergentes como o acolhimento aos ingressantes e de acompanhamento dos

egressos se fazem presentes nas accedilotildees de Psi e portanto comparecem nos indicadores de atuaccedilatildeo

ESTUDO 2 ndash PORTUGAL

1ordf Etapa ndash Mapeamento dos Serviccedilos de Psicologia

A realizaccedilatildeo desta etapa ocorreu em dois momentos (a) Panorama nacional dos Serviccedilos

de Psicologia e (b) Caracterizaccedilatildeo dos Serviccedilos de Psicologia de IES de Portugal Apresentam-se

inicialmente os resultados referentes agrave descriccedilatildeo dos mesmos de forma a traccedilar um panorama da

situaccedilatildeo atual da Psicologia Escolar no referido paiacutes As informaccedilotildees utilizadas para elaborar esse

panorama foram obtidas a partir da anaacutelise do Dossiecirc elaborado pela RESAPES (Rede de Serviccedilos

de Apoio Psicoloacutegico no Ensino Superior) em relaccedilatildeo agravequeles que existem nas IES portuguesas

Para analisar as informaccedilotildees do Dossiecirc recorreu-se agrave anaacutelise documental descrita no

capiacutetulo metodoloacutegico a qual foi orientada por questotildees de interesse previamente definidas

objetivos dos Serviccedilos de Psicologia recursos humanos que os compotildeem especificamente no que

se refere agrave formaccedilatildeo carga horaacuteria de trabalho e tipo de viacutenculo com a instituiccedilatildeo atividades

realizadas e puacuteblico atendido Os elementos mais significativos para a compreensatildeo do documento

foram integrados e possibilitaram a elaboraccedilatildeo de cinco categorias de anaacutelise ndash Identificaccedilatildeo

Objetivos Recursos Humanos Puacuteblico alvo Atividades realizadas ndash apresentadas a seguir para

descrever os Serviccedilos de Psicologia de Portugal

Conforme mencionado o dossiecirc analisado foi construiacutedo pela RESAPES (RESAPES

2002a 2002b) que entre os esforccedilos empreendidos para concretizar seus objetivos realizou um

mapeamento e caracterizaccedilatildeo dos Serviccedilos de Psicologia na Educaccedilatildeo Superior de Portugal como

forma de identificar as limitaccedilotildees e necessidades dos mesmos e de seus profissionais e

consequentemente formular medidas comuns que possam contribuir para modificar tal situaccedilatildeo

Outras accedilotildees da RESAPES satildeo a publicaccedilatildeo de uma newsletter que serve como divulgaccedilatildeo dos

Serviccedilos e de partilha de experiecircncias e a organizaccedilatildeo do primeiro Congresso Nacional realizado

em abril de 2010 na Universidade de Aveiro para debate e reflexatildeo acerca dos modelos e praacuteticas

de apoio psicoloacutegico

Outro esforccedilo desencadeado pela RESAPES e de extrema relevacircncia para a consolidaccedilatildeo

dos Serviccedilos de Psicologia na Educaccedilatildeo Superior eacute a accedilatildeo para que seja criado um enquadramento

institucional e legal que valide a dimensatildeo o impacto e a continuidade dos mesmos (RESAPES

2002a 2006) Os Serviccedilos existentes no paiacutes surgiram por iniciativa de profissionais de psicologia

eou de oacutergatildeos de gestatildeo das IES e a RESAPES no diaacutelogo com o Ministeacuterio da Ciecircncia

197

Tecnologia e Ensino Superior (MCTES) de Portugal almeja conseguir que os Serviccedilos

psicoloacutegicos de apoio aos alunos sejam regulados pelo governo e oficialmente previstos pelas IES

No dossiecirc cujo tiacutetulo eacute ldquoA Situaccedilatildeo dos Serviccedilos de Aconselhamento Psicoloacutegico no

Ensino Superior em Portugalrdquo (RESAPES 2002a 2002b) consta uma descriccedilatildeo dos mesmos a

qual foi elaborada pelos respectivos responsaacuteveis em resposta ao pedido da RESAPES Eacute a partir

da anaacutelise deste Dossiecirc que se sustentam os resultados aqui apresentados e discutidos

Em relaccedilatildeo aos Serviccedilos de Psicologia existentes em algumas destas IES o levantamento

feito pela RESAPES em 2002 indicou a existecircncia de 25 Serviccedilos sendo que o Dossiecirc foi

elaborado com base nos 23 que enviaram informaccedilotildees para compor o documento Conforme mostra

a Tabela 18 dos 23 serviccedilos quatro pertencem a instituiccedilotildees privadas e 19 a instituiccedilotildees puacuteblicas

sendo que as universidades puacuteblicas satildeo as que contam com mais Serviccedilos desta natureza

Tabela 18

Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior de Portugal com Serviccedilo de Psicologia

Tipo Nordm IES Regime juriacutedico Nordm IES

Universidade 17

Puacuteblico 14 609

Particular 3 130

Instituto Politeacutecnico 6 Puacuteblico 5 217

Particular 1 43

Em relaccedilatildeo a distribuiccedilatildeo regional destas IES a maioria (60) situa-se nas aacutereas urbanas

de Lisboa e do Porto sendo que vaacuterios distritos do interior natildeo tecircm ainda qualquer serviccedilo A

vinculaccedilatildeo institucional dos Serviccedilos isto eacute o seu posicionamento na estrutura organizacional da

IES eacute variada Existem serviccedilos ligados agrave reitoria das universidades aos serviccedilos de accedilatildeo social ou

diretamente agraves faculdades institutos ou escolas bem como aos departamentos de Psicologia Neste

uacuteltimo caso os Serviccedilos satildeo prioritariamente espaccedilos de formaccedilatildeo para os estudantes dos cursos

de Psicologia que tecircm a oportunidade de participar em atividades de estaacutegios pesquisa e programas

educativos entre as quais inserem-se os atendimentos oferecidos aos demais estudantes da

instituiccedilatildeo Em virtude das diversas alternativas de vinculaccedilatildeo dos Serviccedilos com a IES eacute comum

que uma mesma instituiccedilatildeo tenha mais do que um Serviccedilo de Psicologia como eacute o caso de quatro

das 23 instituiccedilotildees que estatildeo contempladas no Dossiecirc em anaacutelise

A anaacutelise do Dossiecirc da RESAPES oportunizou a organizaccedilatildeo dos resultados em categorias

relacionadas agrave identificaccedilatildeo dos Serviccedilos de Psicologia seus objetivos gerais recursos humanos

disponiacuteveis em cada um deles puacuteblico alvo e atividades realizadas

Em relaccedilatildeo agrave Identificaccedilatildeo os Serviccedilos de Psicologia de Portugal adotam diferentes

nomenclaturas para a sua designaccedilatildeo Gabinete Centro Serviccedilo Nuacutecleo ou Cliacutenica associadas a

198

especificaccedilotildees como por exemplo apoio psicoloacutegico ou psicopedagoacutegico consulta psicoloacutegica

integraccedilatildeo acadecircmica e profissional ou de accedilatildeo social Tem-se por exemplo Serviccedilo de Consulta

Psicoloacutegica Gabinete de Apoio ao Aluno Serviccedilo de Acompanhamento Psicoloacutegico e Profissional

Gabinete de Psicologia dos Serviccedilos de Accedilatildeo Social entre outros

Os Objetivos propostos pelos Serviccedilos de Psicologia satildeo variados mas em linhas gerais

organizam-se em torno das ideias de promoccedilatildeo do bem-estar do desempenho acadecircmico dos

estudantes e da sua integraccedilatildeo no mercado de trabalho Uma vez que compartilham aspectos em

comuns os objetivos podem ser reunidos em quatro grupos

O primeiro deles estaacute voltado para o apoio psicoloacutegico agrave promoccedilatildeo do bem-estar ldquoeacute

objectivo deste Gabinete a disponibilizaccedilatildeo de apoio psicoloacutegico e aconselhamento a toda a

comunidade que compotildee a Escola com vista agrave promoccedilatildeo do bem estar psicoloacutegicordquo (SP12-

Portugal) O segundo focado na promoccedilatildeo do desenvolvimento pessoal e social dos alunos

ldquopretende-se promoverfacilitar o processo de desenvolvimento psico-emocional a capacidade de

maturaccedilatildeo e de planeamento de objectivosrdquo (SP10-Portugal) Haacute tambeacutem objetivos voltados agrave

promoccedilatildeo do rendimento acadecircmico e da melhoria do ensino-aprendizagem ldquopromoccedilatildeo do bem

estar psicoloacutegico dos alunos com vista ao equiliacutebrio necessaacuterio para a promoccedilatildeo do sucesso

acadeacutemico e da qualidade de vidardquo (SP19-Portugal) aleacutem do apoio agrave carreira e suporte na transiccedilatildeo

para o mercado de trabalho ldquotem como objectivos facilitar o processo de transiccedilatildeo do ensino

secundaacuterio para o ensino superior desenvolver competecircncias de estudo apoiar os estudantes do

ponto de vista pessoal social e psicoloacutegico desenvolver competecircncias de empregabilidade e

facilitar o acesso a oportunidades de trabalhordquo (SP7-Portugal)

Importa destacar que com exceccedilatildeo de um Serviccedilo que se orienta exclusivamente pelo

objetivo de oferecer apoio ao desenvolvimento profissional e da carreira o mais comum (95) satildeo

os Serviccedilos que associam os quatro primeiros objetivos Dessa maneira o foco maior da atenccedilatildeo

dos Serviccedilos das IES de Portugal satildeo os estudantes sendo que os demais atores e unidades da

instituiccedilatildeo satildeo poucas vezes contemplados

Em relaccedilatildeo aos Recursos Humanos dos Serviccedilos de Psicologia a anaacutelise do nuacutemero de

psicoacutelogos escolares que os compotildeem mostra que em 11 deles haacute apenas um profissional

trabalhando sendo poucos os casos (apenas quatro) nos quais existem mais de trecircs psicoacutelogos

Nestes Serviccedilos eacute frequente a presenccedila de estagiaacuterios de Psicologia que contribuem para o maior

fluxo das atividades dos psicoacutelogos escolares Quanto ao tipo de viacutenculo existente entre os

psicoacutelogos escolares e a instituiccedilatildeo em seis Serviccedilos eacute do tipo parcial em que o profissional tem

um contrato de avenccedila ou seja um contrato de prestaccedilatildeo de serviccedilos que pode variar de 8 a 20

horas semanais Em cinco Serviccedilos os psicoacutelogos escolares trabalham em tempo integral e

pertencem ao quadro teacutecnico da instituiccedilatildeo isto eacute satildeo contratados como funcionaacuterios com

formaccedilatildeo em aacuterea especiacutefica no caso Psicologia Os outros 11 Serviccedilos natildeo mencionaram o tipo

199

de viacutenculo dos profissionais Comumente o coordenador do Serviccedilo eacute um docente que tambeacutem

assume a responsabilidade da supervisatildeo cliacutenica nos casos em que haacute accedilotildees dessa natureza

Em virtude do reduzido nuacutemero de profissionais em relaccedilatildeo agrave demanda muitos Serviccedilos

mencionam ter lista de espera para atendimento A esse respeito um deles relata que ldquocontinua a

debater-se com questotildees relacionadas com o aumento da lista de espera para atendimento O

subdimensionamento dos recursos humanos tende a natildeo possibilitar ao serviccedilo responder a todas as

solicitaccedilotildees cliacutenicas ou outras de uma forma ceacutelere e eficazrdquo (SP15-Portugal) Um estudo de

extensatildeo nacional realizado recentemente indica que apesar do crescimento no nuacutemero de serviccedilos

disponiacuteveis nas IES de Portugal ainda natildeo eacute possiacutevel atender a todas as demandas (Gonccedilalves

2008)

Ainda no acircmbito dos Recursos Humanos outros profissionais tambeacutem integram os Serviccedilos

como assistentes sociais psiquiatras professores teacutecnicos de serviccedilo social juristas e outros

Razatildeo para essa heterogeneidade profissional nos serviccedilos eacute que em muitos casos especialmente

quando estatildeo vinculadas aos Serviccedilos de Accedilatildeo Social da instituiccedilatildeo as atividades desenvolvidas

natildeo satildeo exclusivamente de natureza psicoloacutegica havendo por exemplo apoio social a alunos

provenientes de outros paiacuteses orientaccedilatildeo pedagoacutegica acompanhamento dos estudantes alojados em

residecircncias universitaacuterias e avaliaccedilatildeo para oferta de bolsa de estudos

A anaacutelise do Puacuteblico alvo dos Serviccedilos mostra que em 10 deles o trabalho eacute direcionado a

alunos docentes e funcionaacuterios enquanto os outros 13 atendem exclusivamente aos estudantes da

IES conforme ilusta a Figura 15 A comunidade externa eacute alvo do trabalho dos psicoacutelogos escolares

em trecircs Serviccedilos vinculados a cursos de Psicologia Em Portugal assim como na Europa de forma

geral classicamente a atuaccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares eacute focada nos estudantes (Bell McDevitt

Rott amp Valeacuterio 1994 Duarte amp Paixatildeo 1998 Gonccedilalves 2008)

0 10 20 30

Puacuteblico-alvo

Alunos

Professores

Funcionaacuterios

Comunidadeexterna

Figura 15 Puacuteblico atendido pelos Serviccedilos de Psicologia de Portugal

200

Apesar dos segmentos docente e teacutecnico-administrativo estarem contemplados entre o

puacuteblico alvo dos Serviccedilos de Psicologia o nuacutemero de profissionais atendidos eacute bem menor quando

comparado aos alunos Ainda assim as instituiccedilotildees reconhecem a importacircncia de trabalhar com

este puacuteblico conforme relata uma IES ao destacar que ldquoagrave semelhanccedila dos alunos as actividades de

ensino e apoio ao ensino acarretam exigecircncias pessoais e profissionais que se reflectem na

qualidade desse mesmo ensino podendo conduzir a situaccedilotildees de burnout ou esgotamento

profissional Assim torna-se igualmente imprescindiacutevel oferecer recursos de acompanhamento

psicossocial aos funcionaacuterios e professores reconhecendo-se que este investimento pessoal gera

benefiacutecios institucionais inegaacuteveisrdquo (SP01-Portugal)

O burnout ou mal-estar docente refere-se agrave siacutendrome vivenciada por professores que se

consideram muito abatidos cansados desestimulados e emocionalmente sem condiccedilotildees de

trabalhar (Benevides-Pereira 2002 Codo amp Vasques-Menezes 1999) Diante desse quadro que

tem impacto na qualidade do aprendizado dos alunos Oliveira e Marinho-Arauacutejo (2009) sugerem

que a atenccedilatildeo agrave sauacutede do professor eacute um eixo de intervenccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares conforme

explicitado por uma das instituiccedilotildees

O uacuteltimo eixo de anaacutelise as Atividades realizadas organiza as principais accedilotildees

implementadas pelos psicoacutelogos escolares as quais mesmo estando essencialmente centradas nos

estudantes satildeo bastante diversificadas A atividade mais frequentemente desenvolvida (43) eacute o

apoio psicoloacutegico cliacutenico realizado na forma de psicoterapia (ou consulta psicoloacutegica) e de

aconselhamento Outras accedilotildees tambeacutem satildeo representativas como agravequelas voltadas agrave orientaccedilatildeo

profissional (18) das atividades e os programas de formaccedilatildeo e desenvolvimento de competecircncias

e praacuteticas de pesquisa ambas com 114 cada Se por um lado o apoio cliacutenico se sustenta num

modelo remediativo de intervenccedilatildeo as outras accedilotildees jaacute se organizam com base em um modelo mais

preventivo de atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar

Sobre este movimento de mudanccedila no tipo de atividade realizada eacute possiacutevel que esteja

associado a uma compreensatildeo cada vez mais crescente dos psicoacutelogos escolares acerca das

vantagens advindas de accedilotildees de caraacuteter preventivo conforme vem sendo recorrentemente

defendido na literatura (Almeida 2010 Arauacutejo 2003 Arauacutejo amp Almeida 2003 Del Prette amp Del

Prette 1996 Guzzo 2001 2003 Marinho-Arauacutejo amp Almeida 2005a Oliveira amp Marinho-Arauacutejo

2009) Acerca dessa mudanccedila um Serviccedilo comenta que ldquoembora actuando essencialmente numa

vertente remediativa e de apoio em situaccedilotildees de crise eacute nosso objectivo poder desenvolver cada vez

mais actividades de caraacutecter desenvolvimental e preventivordquo (SP9-Portugal) A Figura 16 ilustra o

conjunto de atividades realizadas pelos psicoacutelogos escolares

201

0 10 20 30 40

Linha telefocircnica

Suporte a necessidades especiais

Encaminhamento

Colaboraccedilatildeo com oacutergatildeos de gestatildeo

Acolhimento a alunos

Pesquisa

Promoccedilatildeo do desenvolvimento

Orientaccedilatildeo profissional

Apoio psicoloacutegico cliacutenico

Figura 16 Atividades desenvolvidas pelos psicoacutelogos escolares nos Serviccedilos de Psicologia de

Portugal

Tendo como referecircncia a organizaccedilatildeo das atividades em tradicionais e emergentes

(Martiacutenez 2009 2010) observa-se que 633 satildeo claacutessicas na atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar

todavia em uma perspectiva qualitativa as emergentes satildeo bastante inovadoras como eacute o caso dos

programas de acolhimento e recepccedilatildeo a calouros e os atendimentos de apoio psicoloacutegico feitos por

telefone Apesar de existir em apenas um Serviccedilo a linha telefocircnica de apoio psicoloacutegico eacute uma

experiecircncia diferenciada e tem como alvo os alunos que precisam de ajuda urgente em razatildeo de

alguma dificuldade que estatildeo vivenciando Aleacutem de auxiliar os estudantes em situaccedilotildees de crise o

apoio disponibilizado atraveacutes de linha telefocircnica permite identificar algumas problemaacuteticas que satildeo

recorrentes entre os alunos e assim subsidiar o planejamento de outros programas e intervenccedilotildees

Outra atividade pouco comum em Serviccedilos de Psicologia de uma forma geral mas

relativamente frequente nos de Portugal eacute a de pesquisa relacionada a temas que permeiam sua

atuaccedilatildeo na IES Dessa maneira as pesquisas tecircm como objeto de investigaccedilatildeo temaacuteticas

relacionadas agraves problemaacuteticas vivenciadas pelos estudantes e que os motivam a buscar ajuda

psicoloacutegica aleacutem de temas associados agrave adaptaccedilatildeo agrave Educaccedilatildeo Superior fatores que contribuem

para o sucesso e insucesso acadecircmico transiccedilatildeo para o mercado de trabalho Em Portugal estas

temaacuteticas satildeo objeto frequente de investigaccedilotildees devido agrave preocupaccedilatildeo com os processos de

transiccedilatildeo da Educaccedilatildeo Baacutesica para a Educaccedilatildeo Superior e desta para o mercado de trabalho

(Almeida 2007 Cunha amp Carrilho 2005 Santos amp Almeida 2001 Seco Casimiro Pereira Dias

amp Custoacutedio 2005 Teixeira Castro amp Piccolo 2007 Vasconcelos Almeida amp Monteiro 2009)

Em relaccedilatildeo agrave colaboraccedilatildeo dos Serviccedilos de Psicologia a outros oacutergatildeos de gestatildeo da

instituiccedilatildeo apenas dois Serviccedilos fazem menccedilatildeo a atividades implementadas com outras unidades

pedagoacutegicas ou administrativas da IES de forma que ainda tecircm pouca representatividade na

totalidade dos serviccedilos Por outro lado estas accedilotildees condizem com as indicaccedilotildees contemporacircneas

202

para uma atuaccedilatildeo preventiva e institucional em Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo Superior indicando

o iniacutecio de um possiacutevel processo de mudanccedila na natureza das atividades desenvolvidas pelos

psicoacutelogos escolares

Sobre essas atividades um Serviccedilo relata que ldquocolabora com outras unidades serviccedilos e

departamentoshellip quer de forma directa quer em consultoriardquo (SP2-Portugal) e outro destaca que

ldquotem vindo a desenvolver uma colaboraccedilatildeo constante com o Conselho Directivohellip no sentido de

dar o seu contributo na selecccedilatildeo profissional de alguns colaboradoresrdquo (SP15-Portugal) Aleacutem desta

colaboraccedilatildeo em processos seletivos este serviccedilo ressalta que apoia outras estruturas da instituiccedilatildeo

como por exemplo a Divisatildeo Acadecircmica o Conselho Pedagoacutegico as comissotildees de avaliaccedilatildeo dos

cursos de licenciatura o Instituto de Formaccedilatildeo e outros

Mesmo as accedilotildees voltadas ao desenvolvimento vocacional dos estudantes que satildeo comuns

na atuaccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares em Portugal tecircm uma estruturaccedilatildeo diferente e natildeo se

restringem agrave avaliaccedilatildeo psicoloacutegica vocacional agrave divulgaccedilatildeo de vagas agrave anaacutelise de curriacuteculo dos

estudantes e ao seu encaminhamento para as empresas de acordo com o perfil Contemplam

tambeacutem momentos de formaccedilatildeo para a vida profissional nos quais satildeo abordadas questotildees relativas

ao projeto de vida e agrave carreira desenvolvimento de competecircncias de empregabilidade do Curriacuteculo

Vitae ou portfolio de competecircncias preparaccedilatildeo para a entrevista de recrutamento

Ainda no acircmbito da orientaccedilatildeo profissional realizam accedilotildees voltadas agrave transiccedilatildeo dos

estudantes do curso superior para o mercado de trabalho como estrateacutegia para potencializar sua

integraccedilatildeo ao novo contexto Em virtude da preocupaccedilatildeo com a adequaccedilatildeo e satisfaccedilatildeo dos

estudantes com o curso escolhido e a associaccedilatildeo entre essa satisfaccedilatildeo e os iacutendices de sucesso

pesquisas e programas de desenvolvimento profissional satildeo frequentes na Educaccedilatildeo Superior

portuguesa (Duarte Paixatildeo amp Lima 2007 Leitatildeo amp Paixatildeo 1999 Taveira 2001 Taveira amp Pinto

2008)

Em siacutentese as accedilotildees dos Serviccedilos de Psicologia das Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior de

Portugal incluem intervenccedilotildees com objetivos preventivos como os programas de desenvolvimento

de competecircncias de promoccedilatildeo da sauacutede e desenvolvimento de carreira aleacutem de intervenccedilotildees com

objetivos remediativos como a psicoterapia e consulta psicoloacutegica Sobre a integraccedilatildeo destas

modalidades de intervenccedilatildeo um Serviccedilo comenta que ldquoda mesma forma gostariacuteamos que a nossa

intervenccedilatildeo deixasse de ter como objecto apenas os alunos com dificuldades para passar a incluir

acccedilotildees preventivas e promocionais que potencializem os recursos da instituiccedilatildeo centrando-se na

promoccedilatildeo da qualidade dos contextos e das interacccedilotildees neles existentes O que nos remete

necessariamente para a importacircncia do trabalho em equipa com outros agentes da Universidaderdquo

(SP20-Portugal)

Assim sendo entende-se que apesar de predominar no contexto portuguecircs assim como no

europeu de forma geral a atenccedilatildeo direta aos alunos em uma perspectiva de apoio a problemas a

anaacutelise das atividades realizadas pelos Serviccedilos traz indiacutecios de um movimento de mudanccedila no

203

sentido de ampliar seu campo de inserccedilatildeo dentro da proacutepria instituiccedilatildeo e consequentemente a

extensatildeo de sua contribuiccedilatildeo

Apresentado o Panorama dos Serviccedilos de Psicologia das Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior

de Portugal faz-se agora uma caracterizaccedilatildeo mais detalhada de oito serviccedilos sua organizaccedilatildeo e

estrutura cujos criteacuterios de seleccedilatildeo foram apresentados no capiacutetulo anterior Para fazer a

caracterizaccedilatildeo destes serviccedilos recorreu-se agrave anaacutelise documental realizada com materiais

disponibilizados pelos coordenadores ou pelos psicoacutelogos escolares por ocasiatildeo da visita aos

Serviccedilos O material de anaacutelise eacute variado havendo documentos oficiais (despacho) que

determinaram a criaccedilatildeo e estrutura do Serviccedilo relatoacuterios de funcionamento e avaliaccedilatildeo

regulamentos ou manuais aleacutem das informaccedilotildees disponiacuteveis no site quando assim foi indicado

pelos profissionais

Participaram deste momento da pesquisa oito Serviccedilos de Psicologia de IES portuguesas

os quais pertencem a quatro universidades puacuteblicas e dois institutos politeacutecnicos tambeacutem puacuteblicos

Trecircs destes serviccedilos pertencem a uma mesma universidade A anaacutelise documental levou agrave

organizaccedilatildeo das informaccedilotildees em seis categorias que exploram as razotildees para a criaccedilatildeo dos

Serviccedilos os objetivos que os orientam os recursos humanos que tecircm para desenvolver as

atividades o puacuteblico para o qual dirigem suas accedilotildees a forma de acesso ao Serviccedilo e as estrateacutegias

de divulgaccedilatildeo utilizadas

Em relaccedilatildeo ao Histoacuterico dos Serviccedilos especificamente quanto agrave data em que surgiram haacute

entre os oito Serviccedilos variaccedilatildeo de 2 a 21 anos sendo que a maioria deles surgiu na deacutecada de 90

Os motivos que impulsionaram a criaccedilatildeo dos Serviccedilos guardam relaccedilatildeo com a trajetoacuteria e dinacircmica

da instituiccedilatildeo em que se inserem no entanto a necessidade de atender as demandas apresentadas

pelos estudantes e ajudaacute-los a superar dificuldades que encontravam ao longo da formaccedilatildeo estatildeo na

base da criaccedilatildeo dos Serviccedilos Para seis deles o compromisso de responder agraves necessidades dos

alunos foi um fator imperativo para sua constituiccedilatildeo fossem grupos especiacuteficos de alunos como os

economicamente carentes ou com necessidades educativas especiais ou o corpo discente no geral

Dois Serviccedilos entretanto por estarem vinculados aos cursos de Psicologia tiveram como

motivaccedilotildees a necessidade de formar psicoacutelogos em niacutevel de graduaccedilatildeo e poacutes-graduaccedilatildeo

desenvolver projetos de pesquisa e atender agrave comunidade

Quanto aos Objetivos dos Serviccedilos eles estatildeo estabelecidos de acordo com o puacuteblico

principal para o qual suas accedilotildees satildeo dirigidas e que justificou a criaccedilatildeo dos mesmos Por exemplo

o SP de apoio aos alunos com necessidades educativas especiais tem como objetivo favorecer a

inclusatildeo destes estudantes e promover a igualdade de oportunidades o Serviccedilo de apoio aos alunos

bolsistas por sua vez tem como meta prestar apoio psicoloacutegico a este grupo especiacutefico de alunos

Ainda que elaborados com base na populaccedilatildeo que atendem o eixo comum dos objetivos que

orientam os Serviccedilos eacute a promoccedilatildeo do bem-estar dos estudantes e do sucesso acadecircmico

204

Em relaccedilatildeo ao Nuacutemero de Profissionais que integram os Serviccedilos em quatro deles existe

somente um psicoacutelogo escolar para responder por todas as accedilotildees e demandas em um Serviccedilo a

equipe eacute constituiacuteda por dois profissionais e em outro por trecircs psicoacutelogos e por fim em virtude da

vinculaccedilatildeo com os cursos de Psicologia dois Serviccedilos contam com a colaboraccedilatildeo de docentes que

exercem a funccedilatildeo de coordenadores de psicoacutelogos colaboradores (que prestam algumas horas

semanais) e de estudantes de Psicologia em formaccedilatildeo sendo que nestes a colaboraccedilatildeo de

estagiaacuterios eacute fundamental para o seu funcionamento pois natildeo contam com a contrataccedilatildeo de

psicoacutelogo Aleacutem de estagiaacuterios de graduaccedilatildeo haacute tambeacutem a colaboraccedilatildeo de alunos de mestrado e de

doutorado que desenvolvem seus estudos no acircmbito dos Serviccedilos e contribuem para o seu

funcionamento

Conforme jaacute constatado em estudos anteriores (Duarte amp Paixatildeo 1998 Gonccedilalves 2008

RESAPES 2002b) a maioria dos Serviccedilos de Apoio Psicoloacutegico das IES Portuguesas tem apenas

um psicoacutelogo escolar e em vaacuterios casos estes profissionais natildeo trabalham em tempo integral

Apesar de na deacutecada de 1990 ter ocorrido uma expansatildeo quantitativa dos Serviccedilos no paiacutes seus

recursos humanos continuam reduzidos de maneira que natildeo se pode garantir que houve uma

ampliaccedilatildeo do nuacutemero de estudantes atendidos especialmente que tenha sido proporcional ao

crescimento do nuacutemero de novos alunos que ingressaram na Educaccedilatildeo Superior

Em alguns casos a colaboraccedilatildeo de estagiaacuterios tem sido uma alternativa para suprir a falta

de recursos humanos entretanto tal alternativa natildeo eacute de toda satisfatoacuteria uma vez que implica em

rotatividade de alunos (jaacute que o estaacutegio tem duraccedilatildeo limitada) e ainda pelo fato de que a atuaccedilatildeo

destes estudantes em formaccedilatildeo natildeo eacute eticamente indicada em algumas situaccedilotildees como o

atendimento de colegas de curso e professores Assim concorda-se com a indicaccedilatildeo jaacute feita pela

RESAPES (2002b) de que ldquoos serviccedilos natildeo podem depender do trabalho de estagiaacuterios para

responder aos pedidos que tipicamente lhes satildeo feitosrdquo (p 30)

Quanto ao Puacuteblico para o qual as accedilotildees dos Serviccedilos de Psicologia estatildeo dirigidas quatro

deles trabalham exclusivamente com os alunos trecircs estendem suas accedilotildees aos professores e

funcionaacuterios e um serviccedilo para aleacutem de atender toda a populaccedilatildeo interna da instituiccedilatildeo tambeacutem eacute

aberto agrave comunidade externa Importa destacar que a atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar centrada nos

estudantes extensivamente criticada na literatura jaacute divide espaccedilo com intervenccedilotildees direcionadas

para outros agentes do processo educativo nomeadamente os professores e funcionaacuterios Contudo

esta ampliaccedilatildeo nem sempre significa que hajam atividades planejadas e desenvolvidas

especificamente para as necessidades caracteriacutesticas e expectativas deste puacuteblico Em alguns casos

haacute apenas a disponibilidade do Serviccedilo em receber e atender estes profissionais para as consultas

psicoloacutegicas ou permitir que participem de accedilotildees oferecidas aos estudantes

Somente em um Serviccedilo de Psicologia existem atividades especialmente planejadas e

desenvolvidas para os docentes ou funcionaacuterios sendo um desafio aos psicoacutelogos escolares

conseguir implementar e sustentar tal praacutetica jaacute que natildeo haacute esta tradiccedilatildeo no paiacutes bem como

205

aumentar a participaccedilatildeo em tais atividades que tecircm pouca adesatildeo Para aleacutem da sensibilizaccedilatildeo dos

proacuteprios profissionais uma real participaccedilatildeo exige tambeacutem accedilotildees dos psicoacutelogos escolares no niacutevel

da gestatildeo institucional uma vez que sua implementaccedilatildeo requer apoio no que tange ao incentivo

oficial agrave formaccedilatildeo continuada de professores agrave definiccedilatildeo de datas e modalidades mais favoraacuteveis agrave

participaccedilatildeo aleacutem de outros aspectos

O Acesso agraves atividades desenvolvidas pelos Serviccedilos de Psicologia ocorre de forma

diferente a depender da modalidade de intervenccedilatildeo No caso das consultas individuais em geral o

aluno procura o Serviccedilo quando percebe alguma dificuldade ou eacute encaminhado pelos

coordenadores professores ou pelo serviccedilo meacutedico Quando se trata das atividades coletivas como

workshops de desenvolvimento de competecircncias eacute preciso que os alunos se inscrevam

previamente tais atividades satildeo divulgadas e os interessados se inscrevem

Quanto agrave Divulgaccedilatildeo do Serviccedilo quase todos tecircm por costume publicizar a existecircncia do

Serviccedilo e das atividades que realiza As estrateacutegias mais comuns satildeo em ordem decrescente de

recorrecircncia entre os Serviccedilos pela paacutegina da IES na internet por professores e funcionaacuterios que

comentam com os alunos sobre os Serviccedilos por meio de cartazes e panfletos distribuiacutedos na

instituiccedilatildeo aleacutem de newsletter de blogs do facebook e do twitter estas uacuteltimas ferramentas atuais

de comunicaccedilatildeo e relacionamento pela internet Dois Serviccedilos natildeo fazem divulgaccedilatildeo por natildeo terem

condiccedilotildees de acolher novas demandas Conforme jaacute indicado pela RESAPES (2002b) a divulgaccedilatildeo

dos serviccedilos eacute tipicamente reduzida e feita atraveacutes da distribuiccedilatildeo de panfletos e murais dentro da

IES Contudo se levado em conta que no paiacutes uma importante forma de acesso ao Serviccedilo se natildeo a

mais frequente eacute a procura por parte do proacuteprio estudante eacute imprescindiacutevel que este tenha

conhecimento do apoio que o serviccedilo pode lhe oferecer Atento a esta questatildeo um dos Serviccedilos

tem se empenhado em estabelecer canais de comunicaccedilatildeo diferenciados por meio de ferramentas

interativas contemporacircneas ndash blogs facebook e twitter

2ordf Etapa ndash Mapeamento da atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar

No acircmbito do Estudo 2 realizou-se tambeacutem uma anaacutelise da atuaccedilatildeo de psicoacutelogos

escolares em Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior de Portugal a qual englobou dois momentos

interdependentes (a) entrevistas com psicoacutelogos escolares que atuam em Serviccedilos de Psicologia e

(b) entrevistas com coordenadores dos Serviccedilos

Participaram deste momento da pesquisa 11 profissionais dos quais trecircs psicoacutelogos

escolares quatro coordenadores (tambeacutem formados em Psicologia) e quatro psicoacutelogos-

coordenadores assim identificados por exercerem as duas funccedilotildees A proposta original da pesquisa

previa entrevistar apenas os psicoacutelogos escolares contudo na medida em que alguns Serviccedilos natildeo

tecircm psicoacutelogos contratados natildeo se teria acesso aos mesmos tendo em vista que se organizam com

base no apoio de estudantes Dessa forma a inclusatildeo dos coordenadores deve-se principalmente agrave

oportunidade de conhecer o trabalho desenvolvido

206

Buscando construir espaccedilos de diaacutelogo entre a pesquisadora e os participantes como forma

de possibilitar a expressatildeo destes uacuteltimos acerca de sua trajetoacuteria profissional experiecircncias e

implicaccedilotildees adotou-se a entrevista semi-estruturada como instrumento principal de investigaccedilatildeo

Os participantes foram entrevistados individualmente nos locais de trabalho e as entrevistas foram

analisadas de forma qualitativa com o objetivo de apreender os sentidos construiacutedos pelos

participantes em relaccedilatildeo ao trabalho realizado nos Serviccedilos de Psicologia

Os resultados exploram aspectos ligados agrave praacutetica dos psicoacutelogos escolares

especificamente sobre as principais atividades realizadas o modelo de intervenccedilatildeo que as orienta

as dificuldades e facilidades encontradas no seu desenvolvimento a percepccedilatildeo dos profissionais em

relaccedilatildeo agraves contribuiccedilotildees advindas do trabalho desenvolvido e as possiacuteveis alteraccedilotildees que poderiam

ser feitas para melhoraacute-las A Tabela 19 traz resumidamente as caracteriacutesticas dos psicoacutelogos

escolares e coordenadores dos Serviccedilos participantes deste momento da pesquisa sendo que os

Serviccedilos nos quais atuam jaacute foram caracterizados na etapa anterior

Tabela 19

Caracterizaccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares e coordenadores que atuam em IES de Portugal

Profis-

sional

IES Gecircnero Tempo de

atuaccedilatildeo

Formaccedilatildeo Viacutenculo Carga

horaacuteria

PE 1 Universidade

puacuteblica

F 5 anos Mestranda

em Psicologia

Prestadora

de serviccedilo

7 horas

PE 2 Universidade

puacuteblica

F 3 anos Mestre

em Psicologia

Teacutecnica 40 horas

PE 3 Politeacutecnico

puacuteblico

F 2 anos Mestranda

em Psicologia

Prestadora

de serviccedilo

40 horas

PE 4 Politeacutecnico

puacuteblico

F 2 anos Especialista Prestadora

de serviccedilo

40 horas

PE-

Coord 1

Universidade

puacuteblica

M 13 anos Mestre

em Psicologia

Teacutecnico 40 horas

PE-

Coord 2

Politeacutecnico

puacuteblico

F 2 anos Mestranda

em Psicologia

Teacutecnica 35 horas

PE-

Coord 3

Universidade

puacuteblica

F 6 anos Especialista Teacutecnica 40 horas

Coord 1 Universidade

puacuteblica

F 7 anos Mestre

em Psicologia

Teacutecnica 40 horas

Coord 2 Universidade

puacuteblica

F Doutora

em Psicologia

Professora 40 horas

207

Coord 3 Politeacutecnico

puacuteblico

F 3 anos Doutora

em Psicologia

Professora 40 horas

Coord 4 Universidade

puacuteblica

F Doutora

em Psicologia

Professora 40 horas

O tempo de experiecircncia dos psicoacutelogos escolares nestes Serviccedilos varia de dois a 13 anos

sendo que a meacutedia entre eles eacute de quatro anos e meio Os coordenadores pertencentes ao quadro

docente das IES tecircm mais de trecircs anos no Serviccedilo

Em relaccedilatildeo aos Recursos Humanos pode-se analisaacute-los sob duas perspectivas Quanto agrave

formaccedilatildeo dos profissionais que atuam nos Serviccedilos todos satildeo da aacuterea da Psicologia sendo que

aleacutem da formaccedilatildeo inicial possuem ou estatildeo realizando curso de poacutes-graduaccedilatildeo na maioria das

vezes o Mestrado em Psicologia Entre os Serviccedilos em que haacute um coordenador exercendo apenas

esta funccedilatildeo em trecircs deles os profissionais pertencem ao quadro docente da instituiccedilatildeo e tecircm o tiacutetulo

de doutor em apenas um deles o coordenador pertence ao quadro teacutecnico da instituiccedilatildeo Ainda em

relaccedilatildeo aos recursos humanos e conforme ressaltado por Ferrer-Sama (2008) em relaccedilatildeo aos

Serviccedilos de Apoio Psicoloacutegico europeus eacute de destacar a qualificaccedilatildeo dos profissionais que atuam

em Portugal uma vez que todos tecircm curso de graduaccedilatildeo e de poacutes-graduaccedilatildeo em Psicologia Em

relaccedilatildeo ao Viacutenculo dos psicoacutelogos com a instituiccedilatildeo ele eacute de 35 ou 40 horas semanais nos casos em

que os psicoacutelogos (incluindo os psicoacutelogos-coordenadores) pertencem ao quadro de funcionaacuterios

das IES ou de 7 a 40 horas nos casos onde os psicoacutelogos escolares satildeo contratados por horas

semanais Os coordenadores que pertencem ao corpo docente tecircm contrato integral com a IES

sendo que a carga horaacuteria destinada ao Serviccedilo depende da distribuiccedilatildeo do seu tempo e das suas

atividades docentes e de pesquisa

No tocante agraves Atividades desenvolvidas pelos psicoacutelogos escolares nos Serviccedilos de

Psicologia constata-se que existe uma grande variedade de praacuteticas as quais refletem as

prioridades demandadas pela instituiccedilatildeo a trajetoacuteria do proacuteprio Serviccedilo e sua oportunidade de

avaliar e reestruturar suas accedilotildees as opccedilotildees ideoloacutegicas e teoacutericas dos coordenadores e psicoacutelogos e

a disponibilidade de recursos humanos De forma geral a atividade comum a eles e para a qual eacute

destinada grande atenccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares eacute a consulta psicoloacutegica realizada em sete dos

oito Serviccedilos ldquoeacute claro que o que eacute mais comum e o que noacutes fazemos mais eacute a consulta psicoloacutegica

individual mas natildeo haacute nenhuma restriccedilatildeo a que se organize qualquer tipo de modalidade de

intervenccedilatildeo eacute uma opccedilatildeordquo (SP5-Portugal)

Apesar de ser frequente em vaacuterios Serviccedilos seria incorreto afirmar que a consulta

psicoloacutegica seja homogecircnea quanto agrave forma como eacute desenvolvida pelos psicoacutelogos pela orientaccedilatildeo

teoacuterica adotada e pelas temaacuteticas abordadas A praacutetica da consulta envolve a avaliaccedilatildeo (com ou sem

a aplicaccedilatildeo de testes) o diagnoacutestico e definiccedilatildeo do problema e a intervenccedilatildeo a qual pode ocorrer

208

na forma de apoio psicopedagoacutegico de aconselhamento ou de psicoterapia O apoio

psicopedagoacutegico eacute direcionado para questotildees acadecircmicas como organizaccedilatildeo do tempo ou leitura e

escrita por exemplo o aconselhamento breve direciona-se para um problema emocional

relativamente delimitado que requer uma orientaccedilatildeo pontual e o acompanhamento psicoterapecircutico

eacute de maior duraccedilatildeo realiza-se em sessotildees semanais e ocorre em casos de perturbaccedilotildees psicoloacutegicas

ou psiquiaacutetricas As temaacuteticas ou demandas em torno das quais se desenvolvem as consultas satildeo

variadas havendo casos ligados agrave saiacuteda de casa agrave adaptaccedilatildeo agrave universidade orientaccedilatildeo vocacional

problemas familiares ou de relacionamento dificuldades financeiras necessidades educativas

especiais transiccedilatildeo para o mercado de trabalho aleacutem de questotildees relacionadas agrave depressatildeo luto

desordens alimentares psicopatologias graves que aparecem com menos frequecircncia Quanto agraves

orientaccedilotildees teoacutericas a abordagem cognitiva-comportamental eacute mais regularmente adotada por

alcanccedilar resultados num periacuteodo menor de tempo contudo em geral eacute dada liberdade aos

psicoacutelogos escolares para recorrerem agrave abordagem com a qual melhor se identificam

O uacutenico Serviccedilo que natildeo realiza consulta psicoloacutegica eacute o que estaacute exclusivamente vinculado

ao apoio aos alunos com necessidades educativas especiais ldquoeu natildeo faccedilo eacute aquela consulta

psicoloacutegica individualizada () Apesar de natildeo fazer psicoterapia nem consulta psicoloacutegica no

sentido restrito da palavra natildeo eacute acabo por dar algum apoio a estes estudantesrdquo (SP2-Portugal) O

apoio psicoloacutegico e a orientaccedilatildeo individual dados aos alunos especiais se configuram como um

acolhimento ao aluno bem como uma oportunidade de levantar informaccedilotildees acerca das suas

necessidades e decidir em conjunto com ele quais medidas podem melhor lhe atender Apesar

deste Serviccedilo natildeo realizar consulta psicoloacutegica com os alunos com necessidades especiais ela

ocorre em outros dois que tambeacutem atendem este puacuteblico

Acerca da recorrecircncia da consulta psicoloacutegica uma praacutetica eminentemente cliacutenica na

estruturaccedilatildeo e dinacircmica dos Serviccedilos de Psicologia das IES portuguesas ela eacute para alguns

profissionais a atividade que lhes confere identidade de maneira que ldquose eu natildeo distingo que a

aacuterea cliacutenica eacute uma aacuterea central e nuclear ela pode ser esvaziada por outras coisas outras coisas e

natildeo se faz cliacutenica E aiacute perder a identidade enquanto serviccedilo de atendimento psicoloacutegicordquo (SP6-

Portugal) Complementando os esclarecimentos acerca da centralidade das consultas psicoloacutegicas

outro participante destaca que eacute por meio delas praacutetica legitimamente de responsabilidade dos

profissionais de Psicologia que os Serviccedilos garantem a presenccedila dos psicoacutelogos escolares pois ela

ldquosoacute pode ser assegurada por mim ou por um teacutecnico de Psicologia enquanto a formaccedilatildeo por

exemplo noacutes da forma como organizamos isso deve ser feito por um psicoacutelogo deve mas ainda

assim podem entendecirc-lo de outra forma Consulta natildeo pode se entender de mais forma nenhumardquo

(SP7-Portugal)

Se por um lado a ecircnfase na consulta psicoloacutegica eacute justificada por conferir identidade a um

Serviccedilo de Psicologia por outro os participantes reconhecem que somente a praacutetica cliacutenica

minimiza as contribuiccedilotildees do Serviccedilo uma vez que o apoio ao sucesso acadecircmico e ao bem-estar

209

dos estudantes fica restrito a um pequeno nuacutemero de alunos deixando inclusive o Serviccedilo

institucionalmente vulneraacutevel Nesse sentido ldquoum serviccedilo que se reduza constantemente a dar

apoio cliacutenico e ponto final eu acho que fica muito mais vulneraacutevel institucionalmente () um

trabalho puramente cliacutenico no ensino superior natildeo protege muito o serviccedilo porque o trabalho

cliacutenico seraacute sempre visto como um complemento natildeo o core business da coisardquo (SP6-Portugal)

A necessidade de enfrentar esta vulnerabilidade eacute uma das razotildees pelas quais os Serviccedilos

passaram a desenvolver outras estrateacutegias de intervenccedilatildeo como os workshops as palestras e os

voluntariados (Dias 2006) detalhados adiante Poreacutem mais do que proteger o Serviccedilo em termos

de sua manutenccedilatildeo a anaacutelise das entrevistas indica que o investimento em outras aacutereas de

intervenccedilatildeo tambeacutem decorre da compreensatildeo de que a diversificaccedilatildeo de modalidades de

intervenccedilatildeo pode ampliar o campo de atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar e consequentemente

aumentar o impacto no sucesso acadecircmico ldquoAgraves vezes os psicoacutelogos estatildeo muito habituados a

trabalhar nos gabinetes eacute muita consulta e aqui natildeo eacute soacute consulta a consulta aqui eacute uma das

valecircncias muito importantes sim e noacutes valorizamos muito esse trabalho mas natildeo eacute soacute issordquo (SP4-

Portugal) Para aleacutem de assegurar institucionalmente a manutenccedilatildeo do Serviccedilo a diversificaccedilatildeo das

modalidades de intervenccedilatildeo reflete a abertura dos psicoacutelogos escolares em construiacuterem accedilotildees mais

condizentes com as especificidades do contexto e assim se comprometerem de modo mais efetivo

com a democratizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior

Por mais que a atividade cliacutenica seja entendida como estruturante para a praacutetica

psicoloacutegica a sua pouca adequaccedilatildeo e eficiecircncia diante das especificidades inerentes ao contexto

educativo jaacute estatildeo bastante divulgadas na literatura na medida em que pouco impacto tecircm na

transformaccedilatildeo do sistema por ser bastante reducionista Por outro lado praacuteticas que levam em

conta as influecircncias sociais poliacuteticas e ideoloacutegicas na conformaccedilatildeo dos problemas e que recorrem

a intervenccedilotildees com diferentes agentes e instacircncias institucionais (uma vez que assumem que o

problema natildeo eacute responsabilidade do sujeito individualmente) jaacute estatildeo propostas na literatura

(Marinho-Arauacutejo 2009a Sandoval amp Love 1977 Witter 1999) Para aleacutem da consulta

psicoloacutegica outras accedilotildees satildeo desenvolvidas pelos psicoacutelogos escolares conforme ilustra a Tabela

20

210

Tabela 20

Atividades realizadas pelos psicoacutelogos escolares nos Serviccedilos de Psicologia de Portugal

Subcategorias Exemplos de atividades f

1 Apoio psicoloacutegico cliacutenico Aconselhamento Consulta Psicoloacutegica e Psicoterapia 7

Apoio Psicopedagoacutegico

Avaliaccedilatildeo diagnoacutestico e encaminhamento

Grupos terapecircuticos

2 Promoccedilatildeo do

desenvolvimento

Programas de desenvolvimento de competecircncias 6

Programas de prevenccedilatildeo aos comportamentos de risco

Sessotildees de relaxamento

3 Pesquisa Investigaccedilatildeo 5

Publicaccedilatildeo e participaccedilatildeo em congressos

4 Desenvolvimento

Profissional

Gestatildeo da Carreira e para a vida ativa 4

Desenvolvimento vocacional e Anaacutelise de curriacuteculo

5 Assessoria agrave inclusatildeo Atendimento e orientaccedilatildeo 3

Implementaccedilatildeo das alteraccedilotildees pedagoacutegicas fiacutesicas e

tecnoloacutegicas

Accedilotildees de sensibilizaccedilatildeo e de formaccedilatildeo

6 Voluntariados Programas em peer counselling 3

7 Acolhimento a alunos Programas de mentorado 2

8 Formaccedilatildeo em Psicologia Formaccedilatildeo de psicoacutelogos em niacutevel de graduaccedilatildeo e de poacutes-

graduaccedilatildeo

2

9 Assessoria a oacutergatildeos de

gestatildeo

Apoio no recrutamento e seleccedilatildeo de novos colaboradores 1

Colaboraccedilatildeo com outras unidades da instituiccedilatildeo

10 Linha telefocircnica Linha telefocircnica de apoio aos alunos 1

11 Formaccedilatildeo de

professores

Formaccedilatildeo docente agrave luz do processo de Bolonha 1

12 Docecircncia Disciplina de Desenvolvimento Pessoal e Competecircncias 1

O primeiro destaque quanto agraves Atividades desenvolvidas pelos psicoacutelogos escolares refere-

se agrave diversidade os Serviccedilos de Apoio Psicoloacutegico das IES Portuguesas natildeo estatildeo presos a um tipo

de intervenccedilatildeo ao contraacuterio envolvem-se simultaneamente em vaacuterias modalidades Um importante

contributo dessa diversificaccedilatildeo eacute sem duacutevida a ampliaccedilatildeo das vias pelas quais pode-se alcanccedilar o

sucesso acadecircmico e bem-estar dos sujeitos bem como o crescimento das proacuteprias instituiccedilotildees jaacute

211

que as trajetoacuterias de desenvolvimento natildeo estatildeo previamente estabelecidas e podem ser

potencializadas por muitos meios

A variedade de atividades evidencia tambeacutem uma importante mudanccedila qualitativa no

modelo de intervenccedilatildeo que orienta a praacutetica psicoloacutegica o qual deixa de ser prioritariamente

remediativo e curativo assumindo um caraacuteter mais preventivo Nessa direccedilatildeo praacuteticas que buscam

tratar as dificuldades trazidas pelos estudantes organizam-se agora com praacuteticas que almejam

fomentar o desenvolvimento integral dos alunos

O segundo destaque em relaccedilatildeo agraves Atividades desenvolvidas refere-se ao fato de que apesar

de haver uma diversificaccedilatildeo em termos do tipo de intervenccedilatildeo a grande maioria delas estaacute focada

nos alunos especificamente em intervenccedilotildees diretas e pontuais com o corpo discente Esta eacute aliaacutes

a ecircnfase recorrente nos Serviccedilos de Apoio da Europa (Ferrer-Sama 2008) e estaacute na base de vaacuterias

propostas de atuaccedilatildeo para a Educaccedilatildeo Superior de Portugal (Dias 2001 2006 Gonccedilaacutelves amp Cruz

1988 Leitatildeo Paixatildeo Silva amp Miguel 2000) Ademais um olhar retrospectivo junto aos Serviccedilos

do paiacutes aponta que as atividades atualmente desenvolvidas satildeo as mesmas que estiveram na base da

criaccedilatildeo do primeiro Serviccedilo de Apoio Psicoloacutegico haacute mais de 25 anos

Dessa maneira se por um lado desenvolvem-se diferentes atividades em paralelo agrave

tradicional consulta psicoloacutegica notadamente pela inclusatildeo de accedilotildees preventivas por outro estas

atividades permanecem focalizadas nos estudantes e reproduzindo modelos pouco inovadores

Outras aacutereas carentes de intervenccedilatildeo na Educaccedilatildeo Superior seriam em relaccedilatildeo agrave gestatildeo institucional

e agraves propostas pedagoacutegicas espaccedilos pouco frequentes de intervenccedilatildeo

Ainda em relaccedilatildeo agraves Atividades desenvolvidas cabe discuti-las com referecircncia agrave sua

caracteriacutestica inovadora e diferenciada do que classicamente tem sido realizado pelos psicoacutelogos

escolares especialmente no contexto da Educaccedilatildeo Superior Nessa direccedilatildeo destacam-se os

programas de desenvolvimento de competecircncias e de prevenccedilatildeo a comportamento de risco que tecircm

como intenccedilatildeo favorecer o desenvolvimento global dos estudantes Os programas satildeo realizados

em grupos nas modalidades de workshops quando os psicoacutelogos escolares optam por imprimir um

caraacuteter mais vivencial agrave atividade ou palestras mais informativas Quando tecircm o formato de

workshop ocorrem em trecircs ou quatro encontros de trecircs horas Alguns dos temas explorados satildeo

gestatildeo do tempo meacutetodos de estudo teacutecnicas de elaboraccedilatildeo de curriacuteculo gestatildeo de conflitos

inteligecircncia emocional desenvolvimento de competecircncias sociais e relacionais controle de estresse

e ansiedade frente aos exames Em algumas instituiccedilotildees os programas tecircm uma regularidade ao

longo do ano letivo e jaacute estatildeo previstos no calendaacuterio de atividades do Serviccedilo em outro eles satildeo

planejados de acordo com a demanda dos alunos

A assessoria agrave inclusatildeo eacute um dos eixos de intervenccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares que buscam

contribuir para a promoccedilatildeo do processo de inclusatildeo nas instituiccedilotildees Esta assessoria ocorre por

meio de accedilotildees de sensibilizaccedilatildeo e formaccedilatildeo com toda a comunidade acadecircmica atraveacutes do

atendimento e orientaccedilatildeo aos alunos e professores acerca dos direitos e adequaccedilotildees curriculares que

212

podem ser feitas para favorecer o aprendizado dos alunos especiais por meio da implementaccedilatildeo

das alteraccedilotildees pedagoacutegicas fiacutesicas e tecnoloacutegicas necessaacuterias ao maior aproveitamento do

estudante e mobilidade na IES

Outra estrateacutegia satildeo os programas de tutoria no qual um docente do curso com suporte do

Serviccedilo de Psicologia responsabiliza-se por acompanhar regularmente o estudante de forma a

avaliar e planejar com ele atividades a serem realizadas identificar projetos nos quais pode se

envolver potencializar o uso de recursos disponiacuteveis na instituiccedilatildeo que podem auxiliaacute-lo etc Para

oferecer esse apoio os docentes recebem suporte regular dos psicoacutelogos escolares de forma a

trabalhar suas proacuteprias dificuldades e preconceitos relativos agraves necessidades educativas especiais a

conhecer de forma mais aprofundada as caracteriacutesticas e especificidades dos alunos especiais

Outro tipo de accedilatildeo interessante e atual entre alguns Serviccedilos satildeo os programas de

voluntariado baseados no peer counselling ou apoio entre pares Ou seja satildeo programas

estruturados mediante a atuaccedilatildeo de estudantes da proacutepria instituiccedilatildeo os quais a partir de uma

formaccedilatildeo especiacutefica e direcionada para o programa no qual iratildeo atuar oferecem apoio a outros

colegas Assim o apoio entre pares eacute o processo no qual estudantes treinados e supervisionados

pela equipe do Serviccedilo de Psicologia ajudam outros estudantes com problemas pessoais eou

acadecircmicos Pode ser desenvolvido nas modalidades frente-a-frente ou pessoalmente por telefone

por carta ou pela internet

A recepccedilatildeo e acolhimento aos novos alunos eacute mais um exemplo de accedilatildeo que pode ser

coordenada pelos psicoacutelogos escolares com base no apoio entre pares e nestas situaccedilotildees a funccedilatildeo

destes profissionais estaacute mais vinculada agrave formaccedilatildeo dos estudantes que iratildeo oferecer apoio aos seus

colegas O apoio por pares em situaccedilotildees de acolhimento a novos alunos eacute comumente denominado

de peer mentoring ou simplesmente mentorado (Boto Mader amp Fernandes 2010 Pereira 2005)

Nestes programas alunos (mentores) que jaacute estudam na IES facilitam a transiccedilatildeo e integraccedilatildeo de

alunos receacutem-chegados ou seja estudantes mais avanccedilados nos cursos assumem um papel central

no acolhimento e acompanhamento dos novos colegas (calouros) oferecendo uma atenccedilatildeo

especializada e sistemaacutetica com o objetivo de facilitar a integraccedilatildeo dos novos alunos no meio

acadecircmico Cada mentor tem um grupo de alunos sob seu acompanhamento devendo reunir-se

regularmente com ele algumas vezes no semestre ou de acordo com as necessidades e demandas do

grupo O mentorado eacute uma atividade voluntaacuteria e as vantagens de ser um aluno mentor eacute poder

receber creacuteditos curriculares conhecer melhor a instituiccedilatildeo na qual estuda e acima de tudo

desenvolver e ampliar suas competecircncias

Com o propoacutesito de preparar os alunos-mentores eles participam de um processo de

formaccedilatildeo especiacutefico que a depender do perfil e caracteriacutesticas da instituiccedilatildeo abordam temas

diferenciados o papel e funccedilatildeo do mentor estrateacutegias para apoiar e intervir junto aos alunos

ingressantes estrateacutegias de aconselhamento e limites da accedilatildeo do mentor gestatildeo de conflitos

exerciacutecios de facilitaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e integraccedilatildeo em um novo grupo estilos de lideranccedila

213

treino de assertividade e dinacircmicas de grupo aleacutem da definiccedilatildeo das atividades a serem

desenvolvidas com os novos estudantes A formaccedilatildeo dos mentores eacute portanto realizada pelos

psicoacutelogos escolares os quais recorrem a situaccedilotildees de estudo e reflexatildeo coletiva assumem a tarefa

de mediar o desenvolvimento de competecircncias sociais e relacionais junto aos mentores

A participaccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares nas accedilotildees de apoio entre pares tem alguns focos

distintos e complementares o do planejamento e conduccedilatildeo da formaccedilatildeo dos estudantes que iratildeo

atuar nos programas o da supervisatildeo regular para os alunos voluntaacuterios para que possam discutir e

trabalhar eventuais dificuldades e anguacutestias que surjam ao longo do processo de apoio aos colegas

o da atuaccedilatildeo direta em casos que o apoio prestado pelos voluntaacuterios indica a necessidade urgente de

um suporte psicoloacutegico na perspectiva de uma intervenccedilatildeo em crise o da sistematizaccedilatildeo e anaacutelise

das principais dificuldades vivenciadas pelos estudantes e que motivam a busca de apoio bem

como da pertinecircncia das estrateacutegias adotadas para sanaacute-las as quais servem a niacutevel institucional

como indicadores da qualidade do serviccedilo oferecido pela IES

Tambeacutem entre as estrateacutegias de apoio entre pares a disponibilizaccedilatildeo de linhas telefocircnicas

de ajuda aos estudantes se constitui como uma forma de auxiacutelio agravequeles que vivenciam dificuldades

acadecircmicas relacionais amorosas familiares de integraccedilatildeo agrave universidade entre outras Em

Portugal um dos Serviccedilos participantes desta pesquisa foi pioneiro na implementaccedilatildeo de um

programa de aconselhamento entre pares facilitado por uma linha telefocircnica de apoio aos alunos

(Pereira 2005) O programa tem como objetivo ajudar os alunos a enfrentarem seus problemas por

meio de apoio emocional e escuta ativa oferecido por telefone por estudantes da universidade

especialmente formados e treinados para atuar no programa Tendo em vista a avaliaccedilatildeo de que os

alunos relatam maior dificuldade no periacuteodo noturno a linha telefocircnica funcionava principalmente

durante toda noite inclusive nos finais de semana

Outra possiacutevel funccedilatildeo do psicoacutelogo escolar na Educaccedilatildeo Superior eacute a da docecircncia seja em

cursos de Psicologia ou de outras aacutereas de conhecimento (Witter 1999) Um trabalho nessa direccedilatildeo

foi desenvolvido pela equipe de psicoacutelogos escolares de um dos Serviccedilos que se responsabiliza pela

disciplina de Competecircncias Sociais amp Desenvolvimento Pessoal A disciplina eacute optativa com carga

horaacuteria de quatro horas semanais e atribui 3 creacuteditos ao estudante sem contudo contribuir para sua

meacutedia acadecircmica ou seja o retorno ou vantagem da participaccedilatildeo na referida disciplina decorre

mais de uma oportunidade de vivenciar refletir e desenvolver competecircncias variadas do que

integralizar os creacuteditos necessaacuterios agrave conclusatildeo do curso

Os criteacuterios de avaliaccedilatildeo satildeo baseados na participaccedilatildeo ativa nas atividades realizadas

durante as aulas e na realizaccedilatildeo dos trabalhos propostos ao longo do semestre a avaliaccedilatildeo final

traduz-se num resultado de aprovado ou reprovado sem valores quantitativos como eacute comum na

Educaccedilatildeo Superior (Fernandes Boto amp Martins 2010) A disciplina funciona no formato de

workshops cada um desenvolvido em 5 passos primeiro eacute feito um trabalho de exploraccedilatildeo pessoal

(passo 1) que permite aos alunos amplificar a autoconsciecircncia (passo 2) Sobre este processo existe

214

uma reflexatildeo e discussatildeo conjunta (passo 3) seguida da identificaccedilatildeo pelo estudante de diferentes

posiccedilotildees ou modos de agir e que tendem a ser mais adaptativas (passo 4) O passo 5 corresponde ao

envolvimento em atividades que testem promovam e modelem as competecircncias transversais

trabalhadas

Uma accedilatildeo desta natureza natildeo estaacute orientada por dificuldades jaacute identificadas entre os

estudantes em uma perspectiva remediativa e tradicional de intervenccedilatildeo ao contraacuterio estaacute baseada

no objetivo geral de contribuir para o desenvolvimento integral dos estudantes Um importante

destaque a esta accedilatildeo da Psicologia Escolar refere-se agrave inclusatildeo formal desta disciplina na estrutura

curricular dos cursos da instituiccedilatildeo o que no miacutenimo representa o reconhecimento da IES acerca

da contribuiccedilatildeo singular que praacuteticas psicoloacutegicas dessa natureza podem trazer agrave formaccedilatildeo dos

estudantes que certamente natildeo eacute entendida apenas como uma formaccedilatildeo teoacuterico-teacutecnica mas

tambeacutem como uma formaccedilatildeo humana relacional reflexiva criacutetica eacutetica

Conforme jaacute anunciado pela natureza das atividades desenvolvidas pelos Serviccedilos o

Modelo de intervenccedilatildeo adotado pelos profissionais varia de acordo com a extensatildeo das suas

praacuteticas Dessa forma nos Serviccedilos que se dedicam exclusivamente agrave consulta psicoloacutegica

prevalece o modelo individual e remediativo Assim o trabalho ldquoeacute sobretudo de natureza

individual () Todo o trabalho com o aluno eacute feito exclusivamente com elerdquo (SP5-Portugal)

ldquoGrande parte das intervenccedilotildees satildeo de natureza remediativa () no que diz respeito agraves consultas

psicoloacutegicas sim Mesmo no apoio aos estudantes com necessidades educativas especiais ()

muitas vezes a situaccedilatildeo jaacute estaacute instalada e () fazemos uma intervenccedilatildeo de caraacuteter remediativordquo

(SP4-Portugal) Diferentemente nos Serviccedilos em que satildeo realizadas consultas psicoloacutegicas e

tambeacutem programas de mentorado de desenvolvimento de competecircncias acadecircmicas e de prevenccedilatildeo

de risco bem como accedilotildees de formaccedilatildeo de professores e apoio aos alunos especiais os modelos

remediativos e preventivos convivem havendo tanto intervenccedilotildees individuais quanto coletivas

Em relaccedilatildeo agraves Facilidades e Dificuldades encontradas pelos psicoacutelogos escolares no

decorrer da sua praacutetica profissional pode-se dizer que haacute poucos aspectos em comum entre os

diferentes Serviccedilos o que indica que haacute especificidades proacuteprias a cada instituiccedilatildeo e a cada

Serviccedilo No entanto mesmo que natildeo comuns agrave maioria dos Serviccedilos alguns aspectos podem ser

citados O primeiro deles o trabalho em equipe comparece nas indicaccedilotildees feitas por quatro

Serviccedilos sendo que em dois deles eacute apontado como um aspecto favoraacutevel ao desenvolvimento das

atividades e em outros dois eacute indicado como um elemento dificultador

Um dos psicoacutelogos escolares que estaacute sozinho no Serviccedilo diz que ldquoessa dificuldade de estar

sozinha eacute uma delas pronto Eu vejo muitas das vezes a necessidade de trocar com outros colegas e

procuro no exteriorrdquo (SP8-Portugal) por outro lado os profissionais que contam com a

colaboraccedilatildeo de outros colegas dizem que ldquonoacutes trabalhamos muito em equipa () eu acho que essa

partilha de saberes eacute uma mais valia porque se eu estivesse a trabalhar sozinha e a seguir sempre

este percurso provavelmente eu nunca pensava em uma outra perspectivardquo (SP4-Portugal) Aleacutem de

215

poderem trocar ideias discutir casos e procedimentos a valorizaccedilatildeo do trabalho em equipe baseia-

se tambeacutem no fato de permitir um nuacutemero maior e diversificado de praacuteticas

As informaccedilotildees acerca da avaliaccedilatildeo que os profissionais fazem dos Serviccedilos contemplam

sua percepccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves contribuiccedilotildees advindas do trabalho desenvolvido e as possiacuteveis

alteraccedilotildees que poderiam ser feitas para melhoraacute-las As Contribuiccedilotildees do Serviccedilo satildeo expressas

pelos participantes de diferentes formas sendo que a ideia geral eacute a de que estatildeo atuando em prol

da promoccedilatildeo do bem-estar dos estudantes e do sucesso acadecircmico bem como para a reduccedilatildeo do

abandono e do insucesso

Em alguns casos o argumento que sustenta a relaccedilatildeo entre a relevacircncia do Serviccedilo e o

sucesso acadecircmico ancora-se em paracircmetros financeiros como revelam alguns participantes

ldquoporque o dinheiro das universidades vinha pelo sucesso () se o aluno repete 3 4 anos a

universidade deixa de ganhar dinheiro logo as universidades perdem dinheiro Como perdem

dinheiro haacute que combater o insucesso criando estrateacutegias pra que eles resolvam os problemasrdquo

(SP3-Portugal) aleacutem do mais ldquoum serviccedilo destes custa dinheiro agora se tem impacto ao niacutevel do

desempenho acadecircmico poupa dinheiro Se as pessoas andam menos anos aqui a instituiccedilatildeo gasta

menos dinheiro aleacutem de contribuir pra alguns iacutendices que tem que apresentar sobre o sucesso e

insucessordquo (SP5-Portugal) Em outros casos a perspectiva de favorecer o desenvolvimento global

dos estudantes eacute o argumento central ldquopara noacutes eacute isso que eacute importante o desenvolvimento deles

() isso para noacutes eacute o mais importante Acreditamos que do ponto de vista da instituiccedilatildeo tambeacutem

sejardquo (SP7-Portugal)

Apesar de orientados para a ideia comum de promover o sucesso acadecircmico e o bem-estar

natildeo haacute por parte dos psicoacutelogos acordo quanto agraves razotildees que sustentam e motivam essa ideia

Assim como as produccedilotildees e posiccedilotildees relativas agrave Educaccedilatildeo Superior se dividem entre as que de um

lado defendem sua funccedilatildeo formativa e emancipatoacuteria na sociedade e de outro vinculam-na cada

vez mais aos interesses mercantilistas (Dias Sobrinho 2004a 2005 2008a Goergen 2008

Severino 2000 2002 Sguissardi 2008) os Serviccedilos parecem tambeacutem permeados pelas mesmas

questotildees

Quanto agrave avaliaccedilatildeo dos participantes relativamente a possiacuteveis Modificaccedilotildees que poderiam

ser feitas natildeo foram apontados aspectos a serem alterados na dinacircmica de trecircs Serviccedilos Quanto agraves

alteraccedilotildees que foram sugeridas em outros Serviccedilos a necessidade de ampliar o nuacutemero de

profissionais para permitir que os Serviccedilos se envolvam com atividades diferenciadas daquelas que

realizam ateacute o momento eacute comum a quatro deles Nesse sentido comentam que ldquoo que eacute muito

importante pra noacutes eacute recursos principalmente humanos porque se noacutes tivermos isso haacute muito mais

coisas que noacutes podemos implementarrdquo (SP7-Portugal) e inclusive ldquoa criaccedilatildeo de programas de

intervenccedilatildeo pressupotildee ela proacutepria um trabalho que acaba por ser mais trabalho aleacutem dos projetos

de investigaccedilatildeo que a gente tem () e isso implicaria numa alteraccedilatildeo na proacutepria loacutegica do serviccedilo

em termos de contrataccedilatildeordquo (SP5-Portugal) Para os participantes ter um maior nuacutemero de

216

profissionais eacute o que na maior parte dos Serviccedilos lhes possibilitaria desenvolver accedilotildees de natureza

coletiva preventiva e desenvolvimental bem como trabalhar com outros agentes como os

professores e funcionaacuterios acompanhar os egressos implementar praacuteticas de assessoria a oacutergatildeos da

instituiccedilatildeo

Siacutentese dos Estudos 1 e 2

A partir da anaacutelise e da discussatildeo das informaccedilotildees construiacutedas ao longo dos estudos 1 e 2

fazem-se algumas consideraccedilotildees acerca dos indicadores que se mostraram mais relevantes para a

compreensatildeo geral da atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar em Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior e que

potencialmente podem subsidiar a construccedilatildeo da proposta de criaccedilatildeo e funcionamento dos

Serviccedilos de Psicologia objetivo desta pesquisa Natildeo se pretende elaborar um quadro comparativo

entre a realidade dos dois paiacuteses mas destacar elementos que se integram e complementam na

construccedilatildeo de um amplo panorama

De iniacutecio fica evidente que a atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar no Sistema de Educaccedilatildeo

Superior brasileiro e portuguecircs jaacute eacute uma realidade ainda que com proporccedilotildees diferenciadas No

Brasil a produccedilatildeo cientiacutefica nesta aacuterea e a presenccedila dos psicoacutelogos escolares nas IES satildeo

consideradas restritas e recentes (Bariani Buin Barros amp Escher 2004 Oliveira Cantalice Joly amp

Santos 2006 Serpa amp Santos 2001) em Portugal por outro lado existem serviccedilos implantados haacute

mais de 25 anos aleacutem de vaacuterios estudos publicaccedilotildees e inclusive uma associaccedilatildeo profissional que

integra os Serviccedilos de Psicologia existentes nas IES do paiacutes (Dias 2001 2006 Duarte amp Paixatildeo

1998 Gonccedilalves 2008 Gonccedilaacutelves amp Cruz 1988 Leitatildeo Paixatildeo Silva amp Miguel 2000 Pereira

2009 RESAPES 2002a)

Observando a distribuiccedilatildeo dos Serviccedilos de Psicologia pelas IES nota-se que eles natildeo satildeo

privileacutegio de um tipo de instituiccedilatildeo ao contraacuterio eles se fazem presentes tanto nas universidades

com perfil acadecircmico quanto nas faculdades e institutos politeacutecnicos com perfil mais

profissionalizante Em relaccedilatildeo agrave natureza administrativa das IES com serviccedilos no Brasil as

privadas satildeo as que mais tecircm o serviccedilo diferente de Portugal onde haacute predominacircncia nas

instituiccedilotildees puacuteblicas Evidencia-se portanto que todas as Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior

independente de serem universidades centros universitaacuterios faculdades ou institutos puacuteblicos ou

privados satildeo contextos legiacutetimos de inserccedilatildeo e intervenccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares

Em relaccedilatildeo aos objetivos que orientam o funcionamento dos Serviccedilos de Psicologia

verifica-se que estatildeo principalmente traccedilados em relaccedilatildeo ao desenvolvimento bem-estar e sucesso

acadecircmico dos estudantes E coerentemente a estes objetivos o foco principal da accedilatildeo dos

psicoacutelogos satildeo os estudantes fundamentalmente os de graduaccedilatildeo havendo inclusive vaacuterios

Serviccedilos que estatildeo exclusivamente orientados para o trabalho com o corpo discente Todavia

apesar do objetivo principal estar centrado neste segmento da comunidade acadecircmica como eacute

217

claacutessico na atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar muitos Serviccedilos jaacute estendem suas accedilotildees para outros

puacuteblicos da instituiccedilatildeo ampliando seu foco

Corroborando essa ampliaccedilatildeo as atividades desenvolvidas pelos psicoacutelogos escolares satildeo

bastante diversas e natildeo estatildeo atreladas agraves accedilotildees tradicionalmente claacutessicas de avaliaccedilatildeo

diagnoacutestico atendimento e encaminhamento de alunos Considerando que satildeo muitos e

diversificados os espaccedilos de aprendizagem bem como satildeo muacuteltiplos os caminhos que levam a um

desenvolvimento saudaacutevel e pleno em suas potencialidades eacute extremamente pertinente haver uma

variedade de atividades que tenham como meta a promoccedilatildeo desses processos Nessa direccedilatildeo aleacutem

do atendimento e da orientaccedilatildeo individual aos estudantes que eacute recorrente entre os Serviccedilos de

ambos os paiacuteses em alguns com vieacutes mais cliacutenico em outros mais psicopedagoacutegico um amplo

conjunto de atividades eacute implementado pelos psicoacutelogos escolares

Em relaccedilatildeo aos alunos pode-se citar os programas educativos de acolhimento aos novos

estudantes os eventos de desenvolvimento de competecircncias transversais os cursos em teacutecnicas de

estudo gestatildeo do estresse e de conflitos as oficinas de elaboraccedilatildeo de curriacuteculos preparaccedilatildeo para

entrevistas e busca ativa por emprego os projetos de apoio entre pares com base no voluntariado

aleacutem de outros Junto agrave equipe pedagoacutegica especialmente aos professores e coordenadores de

curso verificam-se orientaccedilotildees e apoio a dificuldades accedilotildees de formaccedilatildeo continuada e de

desenvolvimento de competecircncias cursos sobre organizaccedilatildeo curricular apoio agraves accedilotildees pedagoacutegicas

e ao processo de ensino e de aprendizado etc Em relaccedilatildeo agrave equipe gestora cabe mencionar a

participaccedilatildeo nos processos de seleccedilatildeo e de treinamento de funcionaacuterios o envolvimento dos

psicoacutelogos escolares com a discussatildeo e proposiccedilatildeo de poliacuteticas institucionais de apoio aos

estudantes a colaboraccedilatildeo na concretizaccedilatildeo e promoccedilatildeo do processo de inclusatildeo aleacutem de outras

accedilotildees

De forma coerente com as atividades realizadas o modelo de intervenccedilatildeo que orienta o

trabalho dos psicoacutelogos escolares transita entre o de natureza remediativa e curativa e o de

promoccedilatildeo do desenvolvimento preventivo e institucional O primeiro tiacutepico nos Serviccedilos mais

vocacionados para o apoio psicoloacutegico ao estudante com dificuldades e o segundo caracteriacutestico

nos Serviccedilos que oferecem apoio agrave equipe pedagoacutegica e aos processos de gestatildeo

Em consonacircncia com a diversidade de atividades realizadas pelos Serviccedilos de Psicologia

seria oportuno que objetivos mais amplos fossem oficialmente traccedilados de forma a contemplar

desde o apoio agraves dificuldades agrave promoccedilatildeo do rendimento e sucesso acadecircmico passando pela

promoccedilatildeo do desenvolvimento pessoal social e profissional ateacute o suporte aos processos de gestatildeo

acadecircmica e institucional

Conforme fica expliacutecito o cenaacuterio contemporacircneo de atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar na

Educaccedilatildeo Superior se daacute diante da integraccedilatildeo das atividades tradicionais com novas e diferenciadas

possibilidades de intervenccedilatildeo Com relaccedilatildeo agrave caracterizaccedilatildeo e composiccedilatildeo das equipes de

profissionais que estatildeo mobilizando essa mudanccedila eacute de destacar que os psicoacutelogos escolares que

218

trabalham nos Serviccedilos de Psicologia no Brasil e em Portugal satildeo muito bem qualificados e tecircm

reconhecidamente investido em sua formaccedilatildeo acadecircmica e profissional Na grande maioria dos

casos os psicoacutelogos escolares tecircm buscado aperfeiccediloamento nos cursos de mestrado em Psicologia

Tendo em vista o papel diferencial que a formaccedilatildeo continuada tem na construccedilatildeo do perfil

profissional e no aperfeiccediloamento das accedilotildees eacute oportuno ressaltar para o fato de que a qualificaccedilatildeo

seraacute tatildeo mais vaacutelida e enriquecedora quanto estiver relacionada agrave aacuterea de atuaccedilatildeo Ou seja mais do

que bem qualificados os psicoacutelogos escolares precisam ser bem formados em Psicologia Escolar

de acordo com as especificidades da sua identidade profissional e das competecircncias desejaacuteveis para

a construccedilatildeo e exerciacutecio dessa identidade Esse fato por sua vez reflete nas instituiccedilotildees formativas

que precisam assumir e se comprometer com a formaccedilatildeo inicial e continuada em Psicologia

Escolar como tem sido enfaticamente reiterado nos estudos e produccedilotildees da aacuterea

Quanto agrave composiccedilatildeo profissional dos Serviccedilos de Psicologia nota-se que haacute uma

diversidade de possibilidades de vinculaccedilatildeo dos psicoacutelogos agraves instituiccedilotildees Os contratos variam

desde poucas horas semanais cumpridas em apenas um turno de trabalho ateacute a contrataccedilatildeo em

tempo integral ou seja 40 horas semanais completamente dedicadas ao serviccedilo Os psicoacutelogos

podem fazer parte do quadro teacutecnico ou docente da IES ou ainda serem contratados

temporariamente como prestadores de serviccedilo Em todos os casos o que se observa eacute que o nuacutemero

de profissionais eacute reduzido diante da dimensatildeo da instituiccedilatildeo e da diversidade de frentes de

intervenccedilatildeo que podem ser abertas Todavia e por outro lado apesar do nuacutemero diminuiacutedo de

profissionais que limita a amplitude das accedilotildees as diferentes alternativas que as IES lanccedilam matildeo

para contratar os psicoacutelogos escolares eacute um sinal de reconhecimento do lugar conquistado pela

Psicologia Escolar

Um importante elemento que pode contribuir para o maior reconhecimento do trabalho

realizado pelos Serviccedilos de Psicologia e para que se configurem como instacircncias basilares ao

desenvolvimento dos sujeitos e das instituiccedilotildees eacute sua divulgaccedilatildeo De acordo com os resultados

desta pesquisa verifica-se que as estrateacutegias de divulgaccedilatildeo satildeo restritas e precaacuterias em ambos os

paiacuteses o que traz alguns impactos Um deles eacute o pouco conhecimento dos serviccedilos por parte da

comunidade interna outro eacute a pouca visibilidade do Serviccedilo e suas contribuiccedilotildees para os gestores e

ateacute para os oacutergatildeos vinculados ao Ministeacuterio da Educaccedilatildeo Dessa maneira um desafio a ser

assumido pelos coordenadores e psicoacutelogos escolares eacute a criaccedilatildeo de estrateacutegias que divulguem natildeo

soacute a existecircncia do serviccedilo e do trabalho oferecido mas tambeacutem as metas alcanccediladas tanto

quantitativas quanto qualitativas

Diante dos resultados desta pesquisa constata-se que a Educaccedilatildeo Superior eacute

indiscutivelmente um contexto jaacute legitimado de pesquisa e de intervenccedilatildeo em Psicologia Escolar

para o qual novos esforccedilos podem ser direcionados no sentido de consolidaacute-lo

219

PROPOSTA PARA A CRIACcedilAtildeO E ESTRUTURACcedilAtildeO DE SERVICcedilOS DE PSICOLOGIA

NA EDUCACcedilAtildeO SUPERIOR BRASILEIRA

O modelo aqui apresentado eacute resultado dos estudos reflexotildees teoacutericas e anaacutelises realizadas

ao longo desse trabalho e se configura como uma proposta agraves Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior

de como estruturar seus Serviccedilos de Psicologia Ela foi elaborada levando-se em conta o papel

social da educaccedilatildeo em niacutevel superior e seu objetivo de formar profissionais e cidadatildeos as

demandas e desafios impostos a este niacutevel educativo e as possiacuteveis contribuiccedilotildees da Psicologia

Escolar ao enfrentamento destes desafios e ao cumprimento da funccedilatildeo que lhe eacute historicamente

atribuiacuteda As experiecircncias de implantaccedilatildeo e funcionamento dos serviccedilos desta natureza em algumas

IES como jaacute descrito nos estudos desenvolvidos no Brasil e em Portugal associadas agraves indicaccedilotildees

registradas na literatura da aacuterea e a experiecircncia profissional da pesquisadora serviram como

indicadores para a elaboraccedilatildeo desta proposta Tomando como referecircncia a perspectiva histoacuterico-

cultural do desenvolvimento psicoloacutegico humano e a abordagem preventiva e institucional de

atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar estes indicadores foram submetidos a um processo de interpretaccedilatildeo

criacutetica ressignificaccedilatildeo e sistematizaccedilatildeo que culminaram com a criaccedilatildeo desta proposta para

Serviccedilos de Psicologia em Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior

A Educaccedilatildeo Superior eacute um contexto recente de inserccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares no Brasil

para o qual existem poucas indicaccedilotildees acerca de accedilotildees atividades e programas que podem

sustentar o trabalho dos profissionais da aacuterea Assim esta proposta para a criaccedilatildeo e funcionamento

de Serviccedilos de Psicologia em IES pretende por um lado apresentar algumas linhas de intervenccedilatildeo

para os psicoacutelogos que trabalham nestas instituiccedilotildees e por outro aspira figurar como detonador de

um movimento de reflexatildeo estudo investigaccedilatildeo e problematizaccedilatildeo acerca das possibilidades de

atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo Superior Essa proposta natildeo tem a pretensatildeo de esgotar

as muacuteltiplas possibilidades de atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar e natildeo deve (e nem se pretende que

seja) ser entendida como um modelo pronto definitivo e a ser fielmente implantado em qualquer

instituiccedilatildeo ao contraacuterio espera-se que o perfil as particularidades as necessidades e prioridades de

cada instituiccedilatildeo imprimam vivacidade a esta proposta original adequando-a e adaptando-a agrave

realidade particular das IES

Se por um lado eacute oportuno sistematizar um conjunto de indicadores ideias e proposiccedilotildees

que tecircm o potencial de contribuir para a ampliaccedilatildeo de praacuteticas profissionais em Psicologia Escolar

por outro tal sistematizaccedilatildeo precisa se ancorar em uma clara base teoacuterico-conceitual que a sustente

Do contraacuterio corre-se o risco de se apresentar uma proposta internamente inconsistente e confusa

que seja apenas um aglomerado de accedilotildees dispersas e desconexas Entende-se portanto que a

expansatildeo da Psicologia Escolar para outros contextos como eacute o caso da Educaccedilatildeo Superior deve

necessariamente se apoiar em uma concepccedilatildeo de homem de mundo e de sociedade de

220

aprendizagem de ensino e de desenvolvimento que estejam coadunados com as produccedilotildees teoacutericas

e conceituais em Psicologia e em particular em Psicologia Escolar

Por assim entender o primeiro elemento da presente proposta corresponde agrave

fundamentaccedilatildeo teoacuterica que a sustenta na sequecircncia discorre-se sobre os objetivos que entende-se

pertinentes ao serviccedilos desse tipo o puacuteblico alvo para o qual podem ser dirigidas as intervenccedilotildees a

descriccedilatildeo dos recursos humanos que podem compor os serviccedilos destacando as caracteriacutesticas do

perfil dos psicoacutelogos escolares o nuacutemero de profissionais e o viacutenculo de trabalho com a IES

alguns elementos importantes sobre o funcionamento e organizaccedilatildeo do serviccedilo e por fim

possiacuteveis atividades que podem ser desenvolvidas pelos profissionais

1 Fundamentos teoacutericos e conceituais

Muitas satildeo as noccedilotildees de desenvolvimento que permeiam o senso comum as representaccedilotildees

sociais e tambeacutem as teorias Por muito tempo o desenvolvimento humano foi compreendido como

um fenocircmeno predestinado a se desenrolar e que se autoconduzia em uma progressatildeo intriacutenseca

entretanto contemporaneamente o desenvolvimento eacute entendido como um processo complexo e

dinacircmico decorrente da interaccedilatildeo dialeacutetica de fatores bioloacutegicos sociais e culturais (Aspesi Dessen

amp Chagas 2005 Hartup 2000 Lerner Fischer amp Weinber 2000) Nessa direccedilatildeo o

desenvolvimento humano eacute visto como um processo de base essencialmente interacionista por meio

do qual o sujeito em relaccedilatildeo com o ambiente fiacutesico e social produz modos particulares de ser e

estar no mundo

Entendendo que o desenvolvimento humano ocorre a partir das relaccedilotildees que os sujeitos

estabelecem ao longo da sua trajetoacuteria sejam elas com outras pessoas ou com as produccedilotildees

culturais herdadas de geraccedilotildees anteriores a perspectiva histoacuterico-cultural enquanto conjunto

teoacuterico conceitual e epistemoloacutegico sustenta este entendimento e fornece as bases necessaacuterias para

a compreensatildeo relacional histoacuterica e social acerca da constituiccedilatildeo humana e da subjetividade

A perspectiva histoacuterico-cultural tem seus maiores expoentes em Vygotsky (1999 2003

2009) Luria (19902008) e Leontiev (2004) e de acordo com ela o desenvolvimento humano eacute um

processo intimamente relacionado ao contexto social no qual a pessoa estaacute inserida Concebido

como um ser ativo social e histoacuterico o homem se constitui como tal a partir das interaccedilotildees sociais

que satildeo mediadoras da construccedilatildeo de suas caracteriacutesticas sentimentos pensamentos crenccedilas

conhecimentos e concepccedilotildees enfim da sua subjetividade Nesta perspectiva o desenvolvimento

humano eacute um processo constituiacutedo subjetivamente na trajetoacuteria de cada sujeito a partir da

elaboraccedilatildeo revisatildeo e reconstruccedilatildeo de sentidos e significados que o vatildeo transformando

A cultura para Vygotsky (1999 2009) eacute o amplo cenaacuterio no qual se desenrola a vida

individual e social onde o privado e o puacuteblico encontram interlocuccedilatildeo e onde os sujeitos negociam

criam e recriam informaccedilotildees representaccedilotildees conceitos e sentidos A cultura eacute um fenocircmeno

impregnado de sentidos e significados ativamente apropriados pelos sujeitos por meio de um

221

processo de reflexatildeo construccedilatildeo e reelaboraccedilatildeo das regras ideias praacuteticas e significados

compartilhados e coconstruiacutedos socialmente Assim a interaccedilatildeo social eacute de extrema importacircncia

pois eacute atraveacutes da relaccedilatildeo com outros homens e com suas produccedilotildees que o sujeito se desenvolve

Eacute pela troca e internalizaccedilatildeo de elementos sociais e culturais que afetam sua estrutura e

funcionamento que o homem desenvolve suas funccedilotildees psiacutequicas superiores (Vygotsky 1999 2003

Luria 1990) O desenvolvimento psicoloacutegico mais complexo e caracteriacutestico do homem depende

entatildeo das ideias e atividades partilhadas nos mais diferentes espaccedilos e contextos nos quais os

sujeitos frequentam e estabelecem trocas intersubjetivas

Com base nas contribuiccedilotildees da perspectiva histoacuterico-cultural entende-se que a Educaccedilatildeo

Superior em sua ampla funccedilatildeo eacute um dos espaccedilos sociais privilegiados e fecundos agrave promoccedilatildeo do

processo de desenvolvimento humano justamente pelo fato de que as diferentes aprendizagens ali

propiciadas satildeo propulsoras do desenvolvimento Por meio da relaccedilatildeo com os vaacuterios objetos de

conhecimento cientiacutefico a criacutetica a reflexatildeo e o exerciacutecio poliacutetico da participaccedilatildeo social aleacutem das

relaccedilotildees interpessoais que se constroacuteem entre os sujeitos adultos e jovens adultos a natureza da

mediaccedilatildeo que ocorre na Educaccedilatildeo Superior eacute qualitativamente distinta daquela que transcorre em

outros contextos inclusive de caraacuteter educativo

O conhecimento cientiacutefico artiacutestico e cultural intencionalmente contemplado nos

planejamentos de ensino as informaccedilotildees divididas os saberes apropriados as posturas eacuteticas e

ideoloacutegicas partilhadas bem como as vivecircncias pessoais e as relaccedilotildees intersubjetivas que se

fomentam no contexto educativo satildeo mediadoras do processo de aprendizagem e por conseguinte

do desenvolvimento humano que tem nela sua base Por essa razatildeo a Educaccedilatildeo Superior como

contexto no qual transcorrem muacuteltiplos e complexos processos de aprendizagem tem papel

primordial na mediaccedilatildeo das funccedilotildees psicoloacutegicas superiores dos sujeitos adultos que frequentam

esse espaccedilo seja como estudantes ou como profissionais (Marinho-Arauacutejo 2009a Oliveira amp

Marinho-Arauacutejo no prelo)

O desenvolvimento das funccedilotildees psicoloacutegicas superiores em termos de sua a estrutura

conteuacutedo e complexidade se daacute por meio da relaccedilatildeo que o sujeito estabelece com as pessoas e com

a cultura Funccedilotildees novas e mais complexas na constituiccedilatildeo psicoloacutegica dos sujeitos surgem em

virtude da natureza das experiecircncias sociais nas quais estatildeo inseridos tendo participaccedilatildeo nestas

experiecircncias os conhecimentos valores afetos identificaccedilotildees desejos sentimentos A gecircnese dos

processos psicoloacutegicos superiores estaacute portanto alicerccedilada das interlocuccedilotildees e nas trocas

subjetivas que acontecem nas relaccedilotildees acadecircmicas profissionais sociais culturais

Com base neste entendimento acredita-se que ao mesmo tempo em que o processo

educacional tem a responsabilidade de transmitir a cultura e o conhecimento historicamente

acumulado ele tambeacutem tem a funccedilatildeo de despertar potencialidades incentivar maneiras diferentes

de interpretar e agir sobre o mundo incitar o desenvolvimento de formas criativas e inovadoras de

transformar a realidade Este eacute um objetivo particularmente importante para a Educaccedilatildeo Superior

222

que com vistas a preparar cidadatildeos em seu amplo sentido natildeo pode se limitar agrave reproduccedilatildeo de

conhecimentos e ideias que pouco transformam os sujeitos e a realidade em que vivem

Diferentemente compete a ela oportunizar mediaccedilotildees qualitativamente variadas que tenham o

potencial de suscitar o surgimento de novas e mais avanccediladas funccedilotildees psicoloacutegicas

Cada IES eacute um contexto de subjetivaccedilatildeo no qual redes de sentidos e de significados

definem as formas concretas e simboacutelicas de organizaccedilatildeo dos processos de desenvolvimento e de

aprendizagem tornar esse contexto pleno de sua funccedilatildeo social eacute desafio para os psicoacutelogos

escolares (Marinho-Arauacutejo 2009a) A atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo Superior tem

como importante contribuiccedilatildeo favorecer a conscientizaccedilatildeo dos atores institucionais acerca de sua

funccedilatildeo na promoccedilatildeo de saltos e avanccedilos qualitativos no desenvolvimento humano que iratildeo

repercutir na formaccedilatildeo profissional e pessoal dos alunos e tambeacutem dos colaboradores da IES

Nesse sentido a intervenccedilatildeo do psicoacutelogo escolar deve estar direcionada para as concepccedilotildees

objetivos compromissos responsabilidades e accedilotildees da instituiccedilatildeo e de seus atores que favorecem o

desenvolvimento em suas muacuteltiplas potencialidades

Acompanhando as reflexotildees acerca da perspectiva histoacuterico-cultural do desenvolvimento

humano como base filosoacutefica e teoacuterica para a atuaccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares na Educaccedilatildeo

Superior defende-se que o trabalho destes profissionais focalize accedilotildees coletivas relacionais e

institucionais que favoreccedilam a conscientizaccedilatildeo dos diferentes atores da comunidade acadecircmica

acerca da interdependecircncia entre aprendizagem desenvolvimento e formaccedilatildeo profissional Para a

construccedilatildeo de accedilotildees que se coadunem a essa perspectiva teoacuterica a abordagem preventiva e

institucional de atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar (Arauacutejo 2003 Marinho-Arauacutejo amp Almeida 2005a)

mostra-se particularmente pertinente por sinalizar a possibilidade de integrar questotildees de ordem

dos sujeitos e das instituiccedilotildees entrelaccedilando o individual com o coletivo

Diante destas consideraccedilotildees reafirma-se que e fundamentaccedilatildeo teoacuterica e conceitual acerca

dos processos de aprendizagem e de desenvolvimento humano que sustentam esta proposta de

criaccedilatildeo e estruturaccedilatildeo de Serviccedilos de Psicologia estaacute fortemente ancorada na abordagem histoacuterico-

cultural (Leontiev 2004 Luria 1990 Vygotsky 1999 2003) Esta abordagem eacute a base

epistemoloacutegica e teoacuterica profiacutecua agrave construccedilatildeo das intervenccedilotildees da Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo

Superior que tecircm a aprendizagem e o desenvolvimento humano adulto como eixos centrais

Com base nesses pressupostos defende-se ainda que a Educaccedilatildeo Superior deve estar

direcionada para a promoccedilatildeo do desenvolvimento humano Para aleacutem do foco na competecircncia

profissional que eacute uma das dimensotildees do desenvolvimento dos sujeitos a formaccedilatildeo em niacutevel

superior deve incidir na preparaccedilatildeo de pessoas capazes de enfrentar de forma eacutetica e socialmente

comprometida os desafios extremamente contraditoacuterios ambiacuteguos e complexos que satildeo

caracteriacutesticos da sociedade contemporacircnea Mais do que habilitar sujeitos a exercerem com

competecircncia e sucesso sua atividade profissional a Educaccedilatildeo Superior tem como finalidade formar

cidadatildeos conscientes do seu poder transformador no combate agrave exclusatildeo injusticcedilas desigualdade

223

enfim questotildees relevantes na aacuterea social econocircmica poliacutetica e cultural de uma naccedilatildeo (Dias

Sobrinho 2004a 2005 Ristoff 1999)

2 Objetivos

Os Serviccedilos de Psicologia deveratildeo ser parte integrante das Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo

Superior tendo como objetivo geral apoiaacute-las na promoccedilatildeo do processo educativo especificamente

os processos de ensino aprendizagem e desenvolvimento Em decorrecircncia da realidade de cada

IES estes serviccedilos poderatildeo se organizar de acordo com objetivos especiacuteficos coerentes ao perfil da

instituiccedilatildeo suas metas e recursos

Alguns dos objetivos especiacuteficos a orientar o funcionamento dos serviccedilos podem ser (a)

promover o sucesso acadecircmico dos estudantes (b) favorecer o desenvolvimento pessoal e social

dos estudantes professores e funcionaacuterios (c) facilitar a adaptaccedilatildeo e integraccedilatildeo dos novos

estudantes (d) oferecer orientaccedilatildeo profissional e facilitar a integraccedilatildeo dos concluintes no mercado

de trabalho (e) promover o bem-estar dos estudantes ao longo da sua vivecircncia na IES (f) prestar

apoio psicoloacutegico e psicopedagoacutegico agrave comunidade acadecircmica (g) auxiliar no processo de inclusatildeo

e construccedilatildeo da diversidade (h) assessorar os processos de gestatildeo institucional (i) favorecer a

construccedilatildeo de processos e relaccedilotildees mais cooperativos corresponsaacuteveis e saudaacuteveis (j) oferecer

suporte agrave equipe pedagoacutegica e ao processo de ensino- aprendizagem (k) mediar a construccedilatildeo

coletiva de objetivos e responsabilidades quanto ao desenvolvimento dos estudantes (l)

potencializar a conscientizaccedilatildeo e o compromisso dos gestores e da equipe pedagoacutegica com a

construccedilatildeo da cidadania (m) auxiliar a instituiccedilatildeo na construccedilatildeo de accedilotildees socialmente

responsaacuteveis aleacutem de outros

De forma geral os serviccedilos deveratildeo apoiar as IES a potencializar o desenvolvimento dos

sujeitos individual e coletivamente bem como da instituiccedilatildeo como um sistema dotado de

dinacircmicas praacuteticas e caracteriacutesticas proacuteprias que favorecem ou inibem o desenvolvimento de seus

estudantes e profissionais

3 Puacuteblico alvo

Seratildeo alvo privilegiado dos Serviccedilos de Psicologia os estudantes de graduaccedilatildeo e poacutes-

graduaccedilatildeo os funcionaacuterios os professores coordenadores e assessores de curso diretores reitores

e decanos aleacutem da comunidade externa conforme os recursos disponiacuteveis pelo serviccedilo

Partindo das contribuiccedilotildees da perspectiva histoacuterico-cultural e da abordagem preventiva e

institucional de atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar as intervenccedilotildees desencadeadas pelos serviccedilos tecircm

como foco a promoccedilatildeo da aprendizagem e do desenvolvimento que natildeo se restringem aos

estudantes mas aos diferentes segmentos que integram a instituiccedilatildeo Ainda que o eixo central dos

objetivos da Educaccedilatildeo Superior refira-se aos alunos agrave sua formaccedilatildeo pessoal acadecircmica e

224

profissional eacute evidente que a qualidade dessa formaccedilatildeo natildeo resulta da accedilatildeo exclusiva dos

estudantes A competecircncia docente a organizaccedilatildeo pedagoacutegica as ecircnfases curriculares as

estrateacutegias metodoloacutegicas os procedimentos avaliativos as relaccedilotildees professor-aluno bem como os

procedimentos administrativos e burocraacuteticos as rotinas e relaccedilotildees institucionais o clima

organizacional a valorizaccedilatildeo dos colaboradores e o investimento em qualificaccedilatildeo entre outros

elementos influenciam a qualidade da formaccedilatildeo discente Dessa maneira tanto os processos de

gestatildeo quanto as praacuteticas e organizaccedilatildeo pedagoacutegica satildeo dimensotildees de intervenccedilatildeo do psicoacutelogo

escolar

As atividades de ensino e de apoio a ela acarretam exigecircncias pessoais e profissionais que

tecircm reflexo na qualidade dessa praacutetica de forma que se torna imprescindiacutevel oferecer

acompanhamento e suporte aos funcionaacuterios e professores Este investimento por sua vez tem

desdobramento na qualidade do exerciacutecio destes profissionais e gera benefiacutecios institucionais

inegaacuteveis Na Declaraccedilatildeo Mundial sobre a Educaccedilatildeo Superior (UNESCO 1998) haacute inclusive uma

seccedilatildeo que trata dos profissionais que auxiliam as instituiccedilotildees na consecuccedilatildeo de seus objetivos na

qual consta que ldquouma poliacutetica vigorosa de desenvolvimento de pessoal eacute elemento essencial para

instituiccedilotildees de educaccedilatildeo superior Devem ser estabelecidas poliacuteticas claras relativas a docentes de

educaccedilatildeo superiorrdquo aleacutem de que ldquoeacute indispensaacutevel contar com pessoal administrativo e teacutecnico

preparado de maneira adequadardquo (p 25) Assim sendo o puacuteblico alvo dos Serviccedilos de Psicologia

deve englobar os estudantes a equipe pedagoacutegica teacutecnica e administrativa e tambeacutem os gestores O

atendimento a pais pode ocorrer quando a problemaacutetica remete a situaccedilotildees especiacuteficas que

requerem suporte familiar

4 Recursos humanos

41 Perfil profissional

Os profissionais que iratildeo trabalhar nestes serviccedilos deveratildeo ter formaccedilatildeo inicial em

Psicologia e preferencialmente cursos lato ou strico sensu em Psicologia Escolar Um primeiro

elemento relevante para o perfil do psicoacutelogo escolar e que deve ter sido oportunizado pela

formaccedilatildeo eacute a apropriaccedilatildeo criacutetica da base teoacuterico-conceitual sobre a relaccedilatildeo entre a Psicologia e a

Educaccedilatildeo as teorias de desenvolvimento humano e da aprendizagem a identidade formaccedilatildeo e

atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar (Arauacutejo amp Almeida 2003) Complementarmente eacute fundamental que

o profissional da aacuterea tenha clareza sobre os determinantes filosoacuteficos e ideoloacutegicos das teorias

psicoloacutegicas que adota e muito especialmente da coerecircncia entre o referencial teoacuterico que segue e

as accedilotildees que realiza (Almeida 1999) Eacute importante portanto que tenham habilidade para fazer

uma anaacutelise criacutetica acerca da pertinecircncia de sua escolha teoacuterico-metodoloacutegica agrave realidade na qual

estaacute inserido e da consistecircncia entre estas escolhas e suas accedilotildees

225

Outro elemento que compotildee o perfil profissional do psicoacutelogo escolar eacute a apropriaccedilatildeo do

conhecimento das ciecircncias educacionais que tecircm aproximaccedilatildeo com as questotildees relativas ao

processo formativo Assim eacute imperioso a apropriaccedilatildeo e a reflexatildeo acerca das bases teoacutericas

filosoacuteficas e poliacuteticas da Educaccedilatildeo (Guzzo 1996 Maluf 2003)

Aleacutem destes recursos especiacuteficos agrave aacuterea de Psicologia Escolar outras caracteriacutesticas mais

geneacutericas tambeacutem compotildeem o perfil profissional do psicoacutelogo escolar No contexto do trabalho as

mudanccedilas imprimidas pelo atual momento histoacuterico marcado pelo avanccedilo tecnoloacutegico pela

produccedilatildeo e transmissatildeo de conhecimento em extraordinaacuteria velocidade tecircm feito com que as

situaccedilotildees profissionais se caracterizem muito mais pela inconstacircncia dinamicidade e turbulecircncia do

que pelo padratildeo e regularidade Respostas tradicionais e rotineiras jaacute natildeo satildeo suficientes para

enfrentar de forma satisfatoacuteria e pertinente a complexidade das situaccedilotildees Em face deste novo

cenaacuterio valoriza-se cada vez mais a flexibilidade do ser humano e sua imensa capacidade criativa

espontacircnea e imaginativa para atender agraves constantes solicitaccedilotildees emergenciais inesperadas e

muitas vezes conflituosas que lhe satildeo direcionadas

Conforme ressalta Kuenzer (2000) deseja-se que o profissional substitua a rigidez por

flexibilidade e rapidez seja capaz de lidar com a incerteza e atenda as demandas dinacircmicas que se

diversificam em qualidade e quantidade Diferentemente da ecircnfase tradicional em conhecimentos

teacutecnicos e cientiacuteficos outros elementos do desenvolvimento humano como os de ordem soacutecio-

afetiva pessoal eacutetica e poliacutetica satildeo considerados importantes na construccedilatildeo de um perfil

profissional

Nessa direccedilatildeo o perfil do psicoacutelogo escolar convocado a trabalhar na Educaccedilatildeo Superior

caracteriza-se por ser criativo dinacircmico proativo e comprometido com os resultados do trabalho

aleacutem de ter habilidades comunicativas e a capacidade de trabalhar em grupos (Martiacutenez 2003) O

perfil profissional do psicoacutelogo escolar deve contemplar tambeacutem conscientizaccedilatildeo das

competecircncias necessaacuterias agrave inserccedilatildeo profissional capacidade de autonomia frente a situaccedilotildees de

conflito ou decisotildees capacidade de anaacutelise aplicaccedilatildeo reelaboraccedilatildeo e siacutenteses do conhecimento

psicoloacutegico aplicado ao contexto de intervenccedilatildeo profissional clareza da relaccedilatildeo entre as

concepccedilotildees teoacutericas sobre o conhecimento psicoloacutegico e o trabalho a ser adotado postura criacutetica

em relaccedilatildeo ao homem ao mundo e agrave sociedade estrateacutegias interdisciplinares de comunicaccedilatildeo e

accedilatildeo e lucidez sobre a funccedilatildeo poliacutetico-social transformadora de sua profissatildeo exercendo-a de

forma eacutetica no contexto educativo (Arauacutejo 2003 Arauacutejo amp Almeida 2003 Marinho-Arauacutejo amp

Almeida 2005)

Aleacutem dos psicoacutelogos escolares os Serviccedilos podem contar com a colaboraccedilatildeo de docentes

de Psicologia os quais podem exercer a funccedilatildeo de coordenaccedilatildeo e de supervisatildeo das atividades

bem como de conduccedilatildeo de algumas accedilotildees especiacuteficas Outra via de colaboraccedilatildeo pode advir dos

estagiaacuterios de Psicologia que aleacutem de terem a oportunidade de desenvolver habilidades especiacuteficas

e exercitarem a relaccedilatildeo entre teoria e praacutetica auxiliam na realizaccedilatildeo das accedilotildees dos Serviccedilos

226

No caso de haverem estagiaacuterios em formaccedilatildeo os mesmos deveratildeo estar sob supervisatildeo

direta e acompanhamento sistemaacutetico de um psicoacutelogo do serviccedilo Destaca-se entretanto que a

colaboraccedilatildeo de estagiaacuterios natildeo deve se configurar como uma alternativa para suprir a falta ou um

reduzido nuacutemero de psicoacutelogos escolares Aleacutem do mais os profissionais devem assumir e se

comprometerem com a supervisatildeo dos estudantes garantindo o caraacuteter pedagoacutegico do estaacutegio A

sugestatildeo de que os Serviccedilos de Psicologia se constituam como loacutecus de estaacutegio e de formaccedilatildeo de

futuros psicoacutelogos adveacutem principalmente das experiecircncias jaacute implantadas nos Serviccedilos de

Portugal

42 Viacutenculo e nuacutemero de profissionais

Em virtude da estrutura dos recursos e objetivos traccedilados pela Instituiccedilatildeo de Educaccedilatildeo

Superior os serviccedilos poderatildeo ter diferentes modalidades de colaboraccedilatildeo no que se refere ao

viacutenculo dos profissionais com a IES Assim eacute possiacutevel ter profissionais contratados para atuar

integralmente no serviccedilo com dedicaccedilatildeo de 40 horas semanais profissionais que trabalhem de 10 a

30 horas e tenham viacutenculo regular com compromisso semanal com o serviccedilo ou a colaboraccedilatildeo

pontual de profissionais que poderatildeo atender necessidades especiacuteficas do serviccedilo Neste uacuteltimo

caso trata-se da contrataccedilatildeo de profissionais especialistas na aacuterea convidados a trabalhar por

exemplo na construccedilatildeo do projeto poliacutetico-pedagoacutegico em accedilotildees de formaccedilatildeo continuada no

mapeamento de competecircncias dos profissionais ou de consultoria agrave estruturaccedilatildeo do proacuteprio

Serviccedilo etc Apesar das diferentes opccedilotildees de vinculaccedilatildeo e carga horaacuteria eacute importante que pelo

menos um psicoacutelogo que integra o serviccedilo faccedila parte do quadro de funcionaacuterios da IES para que a

estabilidade e manutenccedilatildeo do mesmo sejam garantidas

Em relaccedilatildeo ao nuacutemero de profissionais que podem integrar os Serviccedilos eles dependeratildeo da

dimensatildeo da instituiccedilatildeo e tambeacutem do proacuteprio serviccedilo especialmente no que concerne agrave

quantidade e ao tipo de accedilotildees que seratildeo priorizadas Quanto mais abrangente as accedilotildees previstas em

termos do puacuteblico e das dimensotildees de intervenccedilatildeo maior deveraacute ser o quadro de psicoacutelogos a

compor o serviccedilo De forma geral e conforme jaacute recomendado pela RESAPES (2002) em Portugal

sugere-se que haja pelo menos um psicoacutelogo escolar em tempo integral para cada 2000 alunos

No caso de existirem estagiaacuterios de Psicologia em formaccedilatildeo nos serviccedilos a carga horaacuteria

destes estagiaacuterios deve atender ao estabelecido na legislaccedilatildeo brasileira pertinente (Lei nordm

117882008)

5 Funcionamento

Cada Serviccedilo de Psicologia poderaacute adotar rotinas e procedimentos especiacuteficos que o auxilie

a cumprir seus compromissos e conduzir com qualidade suas atividades Com vistas a sinalizar

alguns elementos que devem ser contemplados na estruturaccedilatildeo e funcionamento dos serviccedilos

apresentam-se algumas orientaccedilotildees Como ponto de partida para o funcionamento dos Serviccedilos de

227

Psicologia recomenda-se que tenham um regimento proacuteprio que contemple seus objetivos

composiccedilatildeorecursos humanos bem como as responsabilidades competecircncias e atribuiccedilotildees dos

profissionais descriccedilatildeo das atividades procedimentos de atendimento e funcionamento aleacutem da

inserccedilatildeo do serviccedilo na estrutura organizacional da IES

Nos serviccedilos em que trabalharem mais de um psicoacutelogo escolar recomenda-se que

ocorram reuniotildees perioacutedicas de equipe (de preferecircncia semanalmente) com o objetivo de avaliar o

andamento das atividades discutir casos e situaccedilotildees especiacuteficas inclusive relativas a questotildees

administrativas e de funcionamento do serviccedilo planejar accedilotildees e projetos definir responsabilidades

elaborar material de apoio e de divulgaccedilatildeo entre outros

Com o objetivo de assegurar a qualidade do trabalho realizado os serviccedilos e as Instituiccedilotildees

de Educaccedilatildeo Superior deveratildeo incentivar e proporcionar oportunidades de formaccedilatildeo continuada aos

profissionais Nessa direccedilatildeo os serviccedilos podem prever (a) espaccedilo de estudo discussatildeo e reflexatildeo

organizado e conduzido pela proacutepria equipe (b) planos anuais de formaccedilatildeo que envolvam a

realizaccedilatildeo de cursos e workshops nos vaacuterios domiacutenios de intervenccedilatildeo dos profissionais (c)

flexibilizaccedilatildeo da carga horaacuteria dos psicoacutelogos para realizarem cursos de poacutes-graduaccedilatildeo em aacuterea

afim agrave da sua atuaccedilatildeo (d) previsatildeo de assessorias em serviccedilo oferecidas por profissionais ou

pesquisadores da aacuterea entre outras accedilotildees

Os serviccedilos poderatildeo ainda desenvolver atividades de pesquisa em temaacuteticas relacionadas

agrave praacutetica psicoloacutegica divulgar os trabalhos realizados e os resultados alcanccedilados aleacutem de participar

de eventos cientiacuteficos na aacuterea de Psicologia Educaccedilatildeo e Educaccedilatildeo Superior Esta sugestatildeo encontra

especial inspiraccedilatildeo nos Serviccedilos de Portugal que jaacute investem na realizaccedilatildeo de pesquisas publicaccedilatildeo

e divulgaccedilatildeo de suas experiecircncias em foacuteruns cientiacuteficos

6 Atividades

Para concretizar seus objetivos de promoccedilatildeo do sucesso e da qualidade do processo

educativo os Serviccedilos de Psicologia poderatildeo desenvolver um amplo e diversificado conjunto de

atividades que a tiacutetulo de organizaccedilatildeo podem ser agrupados em trecircs dimensotildees interdependentes

(a) Gestatildeo Institucional (b) Gestatildeo Acadecircmica e (c) Desenvolvimento do Estudante A primeira

delas tem como foco a assessoria e o suporte aos processos de gestatildeo que respondem pela

organizaccedilatildeo planejamento e coordenaccedilatildeo das poliacuteticas projetos programas e accedilotildees da instituiccedilatildeo

A segunda dimensatildeo estaacute centrada no assessoramento agrave gestatildeo acadecircmica no tocante agraves propostas e

processos pedagoacutegicos ao funcionamento dos cursos e agraves praacuteticas de ensino A terceira e uacuteltima

dimensatildeo estaacute focada no acompanhamento e apoio ao desenvolvimento pessoal e profissional dos

alunos

Cada uma destas dimensotildees desmembra-se em diferentes eixos de intervenccedilatildeo que

norteiam as accedilotildees dos Serviccedilos Enquanto as dimensotildees configuram-se como grandes pilares que

sustentam a proposta de atuaccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares na IES os eixos de intervenccedilatildeo

228

operacionalizam essas dimensotildees por meio da definiccedilatildeo de linhas de accedilatildeo Apesar das trecircs

dimensotildees guardarem iacutentima relaccedilatildeo de forma que as intervenccedilotildees desencadeadas no acircmbito de

uma delas teraacute reflexos e desdobramentos diretos e indiretos em outras eacute possiacutevel que os Serviccedilos

de Psicologia se organizem com base em apenas uma ou duas delas ou ainda eacute possiacutevel que natildeo se

comprometam com as dimensotildees em sua totalidade e envolvam-se somente com alguns de seus

eixos de intervenccedilatildeo Vaacuterios fatores iratildeo nortear essas decisotildees e escolhas o perfil da instituiccedilatildeo e

tambeacutem do proacuteprio Serviccedilo os quais podem estar mais orientados para o apoio aos estudantes ou

para os processos de gestatildeo o nuacutemero de profissionais e a carga horaacuteria de trabalho o perfil

profissional dos psicoacutelogos escolares especialmente em termos de dinamicidade flexibilidade e

proatividade para articular de forma criativa as vaacuterias frentes de intervenccedilatildeo aleacutem da maior ou

menor apropriaccedilatildeo da abordagem preventiva e institucional entre outros fatores

Agrave luz dos resultados discutidos ao longo deste capiacutetulo as atividades mais frequentes nos

Serviccedilos de Psicologia tanto do Brasil e do Distrito Federal quanto de Portugal estatildeo

principalmente contempladas na terceira dimensatildeo desta proposta a de Desenvolvimento do

Estudante uma vez que o foco nos alunos ainda prevalece na atuaccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares nas

realidades estudadas Nesta dimensatildeo comparecem portanto o apoio psicoloacutegico e o

encaminhamento de alunos recorrentes em ambos os paiacuteses no entanto os programas educativos

de promoccedilatildeo de competecircncias desenvolvimento profissional e as praacuteticas de voluntariado baseadas

no suporte oferecidos pelos pares como o acolhimento aos estudantes e o apoio psicoloacutegico por

linha telefocircnica satildeo sugestotildees inspiradas especialmente nos Serviccedilos portugueses

A organizaccedilatildeo da primeira e segunda dimensatildeo de intervenccedilatildeo Gestatildeo Institucional e

Gestatildeo Acadecircmica respectivamente foi baseada em accedilotildees menos comuns nos Serviccedilos de

Psicologia Na primeira por exemplo comparecem a assessoria a oacutergatildeos institucionais o apoio ao

processo de seleccedilatildeo de novos colaboradores e accedilotildees de formaccedilatildeo continuada com os docentes

realizados em ambos os contextos de pesquisa ainda que com baixa frequecircncia Na composiccedilatildeo da

segunda dimensatildeo o eixo de intervenccedilatildeo de assessoria agrave inclusatildeo eacute especialmente inspirado nas

experiecircncias dos Serviccedilos de Portugal Os demais eixos de intervenccedilatildeo que integram as dimensotildees

propostas encontram respaldo em proposiccedilotildees teoacutericas e em relatos de experiecircncias registrados na

literatura em Psicologia Escolar

Feitas estas consideraccedilotildees apresentam-se as dimensotildees que podem orientar o trabalho da

Psicologia Escolar nas Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior e discorre-se sobre os respectivos eixos

de intervenccedilatildeo com o intuito de ampliar a compreensatildeo sobre cada um Dessa forma em vez de

apresentar uma lista sinteacutetica de accedilotildees e procedimentos opta-se por contextualizar e argumentar

acerca de cada eixo por acreditar que a implementaccedilatildeo desta proposta de atuaccedilatildeo deve se dar pela

compreensatildeo e apropriaccedilatildeo do sentido que ela tem no contexto das Educaccedilatildeo Superior A Figura 17

eacute uma representaccedilatildeo graacutefica de como estatildeo organizadas as trecircs dimensotildees de atuaccedilatildeo

229

Figura 17 Dimensotildees e eixos de intervenccedilatildeo em Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo Superior

DIMENSAtildeO 1 ndash GESTAtildeO INSTITUCIONAL

1 Projeto poliacutetico-pedagoacutegico

O projeto poliacutetico-pedagoacutegico (PPP) eacute o eixo norteador de uma instituiccedilatildeo educativa pois

nele estatildeo contidos os pilares teoacutericos filosoacuteficos epistemoloacutegicos operacionais teacutecnicos e

tecnoloacutegicos que orientam suas accedilotildees e lhe conferem identidade Mais do que um documento ou

uma formalidade instituiacuteda o projeto pedagoacutegico de uma IES eacute uma reflexatildeo sobre o homem a

cidadania e a sociedade acerca da educaccedilatildeo e da educaccedilatildeo em niacutevel superior sobre o aluno o

professor e a praacutetica pedagoacutegica aleacutem do ensino da pesquisa da extensatildeo e da produccedilatildeo e

disseminaccedilatildeo do conhecimento

O PPP natildeo se constitui como um documento estaacutetico e imutaacutevel ao contraacuterio eacute um

processo contiacutenuo de reflexatildeo anaacutelise e discussatildeo acerca da concepccedilatildeo e das finalidades da

educaccedilatildeo e sua relaccedilatildeo com a sociedade Sendo entatildeo o eixo orientador da instituiccedilatildeo ele traz o

planejamento do que se tem intenccedilatildeo de fazer de realizar ele eacute a formalizaccedilatildeo das metas da

instituiccedilatildeo e de seus diferentes atores comprometidos com a formaccedilatildeo de profissionais e cidadatildeos

em condiccedilotildees de transformar o mundo

Entendido nesta ampla perspectiva o projeto poliacutetico-pedagoacutegico de uma IES organiza o

trabalho a ser desenvolvido em sala de aula e tambeacutem o da instituiccedilatildeo como um todo ele

apresenta os paracircmetros que guiam o processo de ensino e aprendizagem ao mesmo tempo em que

traz os princiacutepios que norteiam todo e qualquer trabalho a ser desenvolvido pela instituiccedilatildeo Sendo

portanto o referencial que orienta as accedilotildees dos atores institucionais o conhecimento a

Gestatildeo Acadecircmica

Desenvolvimento do estudante

Gestatildeo Institucional

230

compreensatildeo e a apropriaccedilatildeo dos pilares que sustentam o projeto poliacutetico-pedagoacutegico satildeo

fundamentais para que ele se concretize no dia-a-dia o que pode ser alcanccedilado por meio da

construccedilatildeo coletiva e cooperativa da proposta

Quando concebido desenvolvido e avaliado como uma praacutetica social coletiva gera fortes

sentimentos de pertenccedila e identidade No plano afetivo a construccedilatildeo do projeto apresenta

efeitos mobilizadores da atividade dos atores implicados o que gera compromissos e

responsabilidades educativas (hellip) Vale reiterar que o projeto poliacutetico-pedagoacutegico natildeo

existe sem um forte protagonismo dos professores pesquisadores e alunos e sem que estes

dele se apropriem Eacute a universidade construindo sua identidade institucional (Veiga 2004

pp 15-16)

O envolvimento e compromisso dos diferentes atores para com a formaccedilatildeo dos estudantes

a construccedilatildeo da cidadania e a qualidade da educaccedilatildeo satildeo potencializados mediante a participaccedilatildeo

ativa na construccedilatildeo coletiva do projeto pedagoacutegico pois este soacute adquire legitimidade e eacute

verdadeiramente incorporado agraves accedilotildees diaacuterias quando concebido por meio da implicaccedilatildeo voluntaacuteria

dos envolvidos com o processo educativo A aposta na construccedilatildeo coletiva do projeto poliacutetico-

pedagoacutegico eacute uma maneira de aproximar quem o concebe e quem o executa tornando-o de fato

uma realidade

Com base nessa compreensatildeo um espaccedilo de atuaccedilatildeo do psicoacutelogo escolar eacute na mediaccedilatildeo

junto aos diferentes atores institucionais do processo de anaacutelise construccedilatildeo revisatildeo e apropriaccedilatildeo

dos eixos centrais do PPP como a missatildeo visatildeo princiacutepios filosofia objetivos e metas Nesta

mediaccedilatildeo cabe ao psicoacutelogo escolar auxiliar na anaacutelise da operacionalizaccedilatildeo destes eixos no dia-a-

dia e da coerecircncia entre a proposta e accedilotildees concretas na interpretaccedilatildeo ampliada e criacutetica dos

princiacutepios institucionais que devem repercutir no exerciacutecio profissional dos atores na negociaccedilatildeo

de interesses e pontos de vistas divergentes bem como no encaminhamento de conflitos que satildeo

comuns nos trabalhos coletivos Tambeacutem eacute relevante nesse processo explorar as concepccedilotildees que

os atores institucionais tecircm acerca da educaccedilatildeo do ensino da aprendizagem avaliaccedilatildeo entre

outros que orientam a accedilatildeo dos profissionais Para aleacutem de conceitos a comporem a proposta do

PPP deve haver coerecircncia e articulaccedilatildeo entre as concepccedilotildees dos atores e agravequelas expressas do

projeto poliacutetico-pedagoacutegico

Um ponto que merece destaque na atuaccedilatildeo do psicoacutelogo escolar em relaccedilatildeo agrave proposta

pedagoacutegica diz respeito agrave investigaccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo dos atores do que seja a funccedilatildeo da

Educaccedilatildeo Superior na sociedade a concepccedilatildeo com a qual a instituiccedilatildeo se vincula Eacute esta concepccedilatildeo

que iraacute orientar a qualidade dos cursos e da formaccedilatildeo oferecida aos estudantes as ecircnfases

imprimidas nos curriacuteculos e nas atividades pedagoacutegicas o maior ou menor investimento em

atividades de pesquisa e de extensatildeo entre outros aspectos

A IES assume uma funccedilatildeo tecnicista econocircmica e utilitarista da educaccedilatildeo em niacutevel

superior ou uma funccedilatildeo de formar cidadatildeos conscientes e criacuteticos para as praacuteticas da vida social e

231

econocircmica e de produzir e disseminar conhecimentos potencialmente transformadores Qual eacute

para a IES o seu papel na reduccedilatildeo das desigualdades sociais e das injusticcedilas Como ela expressa

sua responsabilidade social e compromisso com a transformaccedilatildeo da sociedade Por esta via o

psicoacutelogo escolar pode envolver-se com a investigaccedilatildeo e conscientizaccedilatildeo das concepccedilotildees que

direcionam as accedilotildees institucionais e lhe conferem identidade evidenciando e natildeo camuflando os

ideais ainda que ambiacuteguos e conflitantes que perpassam a missatildeo e a accedilatildeo da instituiccedilatildeo como

possibilidade de transformaacute-los e recriaacute-los

No acircmbito da Educaccedilatildeo Superior convencionou-se chamar o projeto poliacutetico-pedagoacutegico

como Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) documento que identifica a Instituiccedilatildeo de

Educaccedilatildeo Superior no que diz respeito agrave sua filosofia de trabalho sua missatildeo diretrizes

pedagoacutegicas estrutura organizacional e atividades acadecircmicas centrais O PDI eacute documento

obrigatoacuterio a todas as IES e deve ser apresentado quando a mesma solicita ao Ministeacuterio da

Educaccedilatildeo (MEC) seu credenciamento recredenciamento autorizaccedilatildeo de cursos credenciamento da

IES para oferta de ensino a distacircncia ou ainda autorizaccedilatildeo de cursos fora de sede para as

universidades

De acordo com a legislaccedilatildeo em vigor (Lei nordm 108612004 Decreto nordm 57732006) o PDI

tem vigecircncia de cinco anos deve ser continuamente revisado atualizado e reformulado de maneira

a garantir que as praacuteticas educativas contemplem as necessidades dos estudantes e da sociedade as

mudanccedilas poliacuteticas e institucionais aleacutem dos avanccedilos sociais e tecnoloacutegicos Para subsidiar esse

processo de reformulaccedilatildeo eacute imprescindiacutevel que se leve em conta os resultados da avaliaccedilatildeo

institucional (processo no qual se prevecirc tambeacutem a atuaccedilatildeo do psicoacutelogo escolar) tanto interna

quanto externa uma vez que trazem indicadores dos pontos fortes e das fragilidades da IES

Possiacutevel accedilatildeo do psicoacutelogo escolar em relaccedilatildeo ao PDI eacute a anaacutelise das incoerecircncias contradiccedilotildees e

conflitos existentes no documento em termos do que estaacute formalmente previsto e a realidade diaacuteria

de forma a subsidiar a minimizaccedilatildeo das ambiguidades que geram desconforto e inseguranccedila entre

os profissionais e os estudantes Trata-se mais uma vez de evidenciar e natildeo negar as contradiccedilotildees

como possibilidade de enfrentar de forma luacutecida e com intencionalidade os desafios que elas

criam Aleacutem disso por meio da construccedilatildeo coletiva do PDI o psicoacutelogo escolar pode ajudar para

que os coordenadores e professores se impliquem com as metas pedagoacutegicas e institucionais por

eles traccediladas

Ademais eacute no PDI que a instituiccedilatildeo prevecirc muitos dos eixos que podem ser objeto de

intervenccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares conforme sugerido e defendido nesta proposta de atuaccedilatildeo

Entre eles pode-se citar a avaliaccedilatildeo e acompanhamento do desenvolvimento institucional a

organizaccedilatildeo administrativa da IES sua estrutura organizacional instacircncias de decisatildeo

organograma e respectivas funccedilotildees perfil do corpo docente previsatildeo do plano de carreira e dos

criteacuterios de seleccedilatildeo e contrataccedilatildeo de professores projeto pedagoacutegico institucional que contempla os

princiacutepios filosoacuteficos e teacutecnico-metodoloacutegicos que orientam as praacuteticas acadecircmicas da instituiccedilatildeo

232

sua organizaccedilatildeo didaacutetico-pedagoacutegica as poliacuteticas de atendimento aos discentes entre as quais os

Serviccedilos de Psicologia aleacutem de outros Assim o estudo e apropriaccedilatildeo do PDI eacute uma accedilatildeo

fundamental ao trabalho do psicoacutelogo escolar uma vez que iraacute fornecer elementos para auxiliaacute-lo na

construccedilatildeo da sua proacutepria proposta de trabalho

Por exemplo a realizaccedilatildeo de accedilotildees de formaccedilatildeo continuada com o corpo teacutecnico-

administrativo ou com a equipe pedagoacutegica seraacute viaacutevel e disporaacute de mais recursos e investimentos

se for um compromisso da IES e estiver prevista no PDI ainda que os psicoacutelogos proponham

atividades de formaccedilatildeo a participaccedilatildeo poderaacute ser bastante reduzida em virtude da carga horaacuteria dos

professores muitas vezes sobrecarregada pela associaccedilatildeo de atribuiccedilotildees pedagoacutegicas e

administrativas pelas prioridades a serem cumpridas para atender os criteacuterios de credenciamento e

autorizaccedilatildeo de cursos Dessa maneira o desenvolvimento e a consolidaccedilatildeo de praacuteticas de formaccedilatildeo

continuada requerem apoio institucional no que tange ao incentivo oficial (que vai desde a previsatildeo

de tais accedilotildees no planejamento da IES na flexibilizaccedilatildeo da carga horaacuteria dos colaboradores para que

possam participar ateacute a bonificaccedilatildeo pela participaccedilatildeo) o que tambeacutem justifica o envolvimento do

psicoacutelogo escolar na revisatildeo e reestruturaccedilatildeo do PDI como estrateacutegia para sustentar e legitimar

institucionalmente a sua atuaccedilatildeo

Eacute ainda no acircmbito da proposta poliacutetico-pedagoacutegica da IES que o psicoacutelogo escolar pode

trabalhar com questotildees relativas agrave dinacircmica e agraves relaccedilotildees institucionais Um caminho inicial eacute por

um lado o estudo e anaacutelise do Regimento Geral especificamente no que diz respeito agraves funccedilotildees

responsabilidades direitos e deveres atribuiacutedos aos atores agraves normas de funcionamento e agrave

estrutural organizacional e por outro a anaacutelise da dinacircmica institucional das relaccedilotildees hieraacuterquicas

do clima organizacional dos estilos de comunicaccedilatildeo e de gestatildeo das principais formas de

deliberaccedilatildeo (horizontal ou vertical participativa ou centralizada) das relaccedilotildees entre grupos

internos agrave instituiccedilatildeo (departamentos nuacutecleos aacutereas e equipes) e desta com a comunidade externa

Para realizar esse estudo que se configura como um mapeamento da instituiccedilatildeo o

psicoacutelogo escolar precisa favorecer situaccedilotildees nas quais os sujeitos conversem entre si troquem

ideias evidenciem as contradiccedilotildees defendam seu ponto de vista critiquem decisotildees denunciem

praacuteticas incoerentes expressem seus desejos enfim eacute preciso criar oportunidades para a circulaccedilatildeo

das vozes institucionais Estes espaccedilos podem ser aqueles jaacute existentes como reuniotildees de setores

de departamento e de coordenaccedilatildeo como tambeacutem situaccedilotildees informais de diaacutelogo e convivecircncia

entre os atores Poderaacute recorrer ainda a observaccedilatildeo da rotina diaacuteria e das relaccedilotildees aleacutem de

proceder agrave anaacutelise dos documentos institucionais A partir deste estudo o psicoacutelogo escolar teraacute

elementos para avaliar a coerecircncia entre o discurso formal conforme previsto nos documentos

institucionais e a praacutetica cotidiana para investir na conscientizaccedilatildeo dos colaboradores acerca

destas incongruecircncias entre discurso e accedilatildeo bem como o efeito de possiacuteveis ambiguidades nas

configuraccedilotildees subjetivas e nas relaccedilotildees intersubjetivas e ainda para buscar junto com eles

alternativas coletivas para modificaacute-las

233

Do ponto de vista da atuaccedilatildeo do psicoacutelogo escolar o mapeamento institucional natildeo se

esgota em uma anaacutelise e diagnoacutestico eacute na verdade um processo permanente de atualizaccedilatildeo fonte

contiacutenua de informaccedilotildees acerca do funcionamento objetivo e subjetivo da instituiccedilatildeo Na tentativa

de auxiliar o processo de mudanccedila eacute importante que haja investimento na reformulaccedilatildeo dos

documentos institucionais como o Regimento e tambeacutem nos sentidos que os sujeitos atribuem agrave

hierarquia aos valores e regras agraves suas responsabilidades etc

2 Perfil profissional

Na medida em que a instituiccedilatildeo tem bem delimitado quais satildeo seus eixos norteadores seus

objetivos em relaccedilatildeo agrave formaccedilatildeo dos estudantes e a natureza do seu compromisso com a sociedade

ela tem o desafio de compor um quadro de colaboradores que a possibilite desenvolver com

qualidade suas atividades e alcanccedilar de forma satisfatoacuteria os seus objetivos O que iraacute orientar a

composiccedilatildeo desse quadro eacute o perfil profissional esperado e traccedilado pela instituiccedilatildeo para os

diferentes cargos institucionais o qual para aleacutem da formaccedilatildeo e domiacutenio em uma aacuterea especiacutefica

engloba caracteriacutesticas pessoais saberes cientiacuteficos e da experiecircncia de vida responsabilidade

eacutetica conhecimento das poliacuteticas educacionais habilidades interpessoais valores e princiacutepios

postura criacutetica e reflexiva compromisso com sua formaccedilatildeo entre outros

A contribuiccedilatildeo do psicoacutelogo escolar nesse eixo vincula-se agrave discussatildeo anaacutelise e definiccedilatildeo

dos indicadores de perfis mais pertinentes e relevantes agrave proacutepria IES principalmente aqueles que se

coadunem agrave missatildeo institucional e agrave funccedilatildeo formativa da Educaccedilatildeo Superior Dessa maneira no

trabalho neste eixo de intervenccedilatildeo eacute especialmente relevante que o psicoacutelogo escolar possa

contribuir para que caracteriacutesticas indicativas da vinculaccedilatildeo do professorcoordenador com a

funccedilatildeo social da Educaccedilatildeo Superior na formaccedilatildeo de cidadatildeos sejam valorizadas e contempladas As

situaccedilotildees para definiccedilatildeo de perfis eacute mais uma vez um espaccedilo no qual o psicoacutelogo escolar pode

problematizar a funccedilatildeo da IES e o papel de seus membros na formaccedilatildeo de profissionais e cidadatildeos

Outro aspecto da contribuiccedilatildeo do psicoacutelogo escolar diz respeito agrave valorizaccedilatildeo e defesa de

um perfil seja ele docente administrativo ou discente complexo e dinacircmico que natildeo se sustenta

apenas em conhecimentos teoacutericos e habilidades teacutecnicas especiacuteficas de um campo de saber e de

atuaccedilatildeo ao contraacuterio ele se configura pela articulaccedilatildeo de muacuteltiplas dimensotildees objetivas e

subjetivas que satildeo mobilizadas na situaccedilatildeo Eacute importante portanto que o psicoacutelogo escolar

promova discussotildees acerca dos elementos considerados importantes na composiccedilatildeo de um perfil

profissional evidenciando inclusive o valor daqueles que tecircm sido tradicionalmente considerados

perifeacutericos como a postura eacutetica o senso de justiccedila o posicionamento criacutetico as habilidades

esteacuteticas a defesa dos direitos humanos entre outros

Ao definir os perfis nesta perspectiva ampliada abre-se espaccedilo para que sejam consideradas

outras caracteriacutesticas como por exemplo busca de aperfeiccediloamento constante ecircnfase no

desenvolvimento de posturas de criatividade de inovaccedilatildeo independecircncia autonomia e de tomada

234

de decisatildeo reflexividade e compromisso com a anaacutelise das suas accedilotildees flexibilidade diante do

novo capacidade de persistir a despeito de insucessos eventuais disponibilidade para compartilhar

experiecircncias e saberes sensibilidade para trabalhar com a diversidade humana entre outras

competecircncias que diferenciam os profissionais A intervenccedilatildeo do psicoacutelogo escolar no que tange

aos perfis profissionais estaacute muito associada agrave valorizaccedilatildeo de caracteriacutesticas que possibilitam e

impulsionam respostas criativas diversificadas e aacutegeis e que permitam aos profissionais superar

com sucesso os dilemas e as adversidades agregando valor ao trabalho em equipe

Os perfis traccedilados iratildeo orientar a seleccedilatildeo e contrataccedilatildeo de novos colaboradores bem como o

acompanhamento na situaccedilatildeo de trabalho do desenvolvimento das competecircncias necessaacuterias agrave

realizaccedilatildeo das atividades previstas e inesperadas agrave superaccedilatildeo das dificuldades e agrave participaccedilatildeo

ativa em equipes de trabalho que coordenam projetos especiacuteficos da IES e que natildeo estatildeo

necessariamente ligados agrave aacuterea de formaccedilatildeo do profissional Por meio deste acompanhamento os

psicoacutelogos escolares em conjunto com os gestores podem avaliar a atuaccedilatildeo dos profissionais e

sugerir alternativas que favoreccedilam seu aperfeiccediloamento que potencializem seu desenvolvimento

como pessoa e profissional Pela via do investimento na qualificaccedilatildeo de seus colaboradores a IES

estaacute cumprindo seu compromisso social com a formaccedilatildeo de cidadatildeos a qual natildeo se restringe aos

alunos

3 Processo de Seleccedilatildeo e de Ambientaccedilatildeo de Colaboradores

A participaccedilatildeo do psicoacutelogo escolar em processos de seleccedilatildeo vincula-se agrave identificaccedilatildeo de

candidatos que tenham perfil condizente com os princiacutepios filosofia objetivos e expectativas da

instituiccedilatildeo ou seja a seleccedilatildeo de profissionais com caracteriacutesticas conhecimentos e valores

consoantes com aqueles que fazem parte do projeto pedagoacutegico da IES A inclusatildeo dos psicoacutelogos

escolares em um processo tradicionalmente conduzido pela equipe de recursos humanos - da qual

muitas vezes um psicoacutelogo participa - natildeo significa sobreposiccedilatildeo de funccedilotildees (dois psicoacutelogos

fazendo a mesma funccedilatildeo) mas sim reconhecimento de que a seleccedilatildeo de profissionais de educaccedilatildeo

carrega algumas particularidades para as quais o psicoacutelogo escolar estaacute mais sensibilizado e

familiarizado

Entre estas particularidades pode-se mencionar a apropriaccedilatildeo do psicoacutelogo escolar relativa

aos aspectos pedagoacutegicos e acadecircmicos que permeiam o processo educativo como por exemplo

reflexatildeo sobre as concepccedilotildees subjacentes e que orientam a praacutetica conhecimento sobre as

competecircncias para o ensino capacidade de anaacutelise de praacuteticas acadecircmicas de sucesso

envolvimento com discussotildees relativas agrave funccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior na construccedilatildeo da cidadania

aleacutem do conhecimento das caracteriacutesticas estruturais de uma instituiccedilatildeo educativa como horaacuterios

curriacuteculo papeacuteis

Ciente dos princiacutepios teoacutericos e filosoacuteficos que sustentam a missatildeo da IES seus objetivos e

expectativas bem como dos valores e concepccedilotildees por ela apreciados o psicoacutelogo escolar tem como

235

meta avaliar a confluecircncia entre princiacutepios que norteiam o trabalho da instituiccedilatildeo e os que satildeo

valorizados pelos candidatos Dessa forma o caraacuteter inovador e diferencial dos processos seletivos

realizados com a participaccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares estaacute exatamente na articulaccedilatildeo entre o

projeto pedagoacutegico da instituiccedilatildeo e o processo seletivo

Tendo sido contempladas na definiccedilatildeo dos perfis profissionais caracteriacutesticas que

expressam adequaccedilatildeo ao papel da Educaccedilatildeo Superior e agrave missatildeo poliacutetica e pedagoacutegica da IES

caberaacute ao psicoacutelogo escolar reconhecer durante o processo seletivo indicadores que apontem para

essa adequaccedilatildeo Para tanto poderaacute atentar-se para como os candidatos expressam suas posiccedilotildees e

concepccedilotildees quanto ao papel transformador da educaccedilatildeo a desnaturalizaccedilatildeo dos fenocircmenos de

exclusatildeo marginalizaccedilatildeo e violecircncia social agraves concepccedilotildees criacuteticas e dialeacuteticas dos fenocircmenos agrave

compreensatildeo bidirecional das relaccedilotildees e do sentido afetivo implicado na apropriaccedilatildeo do

conhecimento e etc

No caso dos professores por exemplo eacute fundamental analisar o perfil dos candidatos no

que diz respeito agraves concepccedilotildees relacionadas ao processo educativo - a relaccedilatildeo ensino-

aprendizagem avaliaccedilatildeo desenvolvimento humano formaccedilatildeo por competecircncias dificuldades de

aprendizagem necessidades educativas especiais agraves percepccedilotildees que tecircm sobre o papel do

professor do aluno e de outros agentes no sucesso acadecircmico ao conhecimento e atualizaccedilatildeo sobre

as poliacuteticas educacionais agrave valorizaccedilatildeo e ao investimento pessoal em formaccedilatildeo continuada agraves

habilidades de comunicaccedilatildeo oral e escrita argumentaccedilatildeo criticidade flexibilidade para aceitar o

novo iniciativa integraccedilatildeo e trabalho em grupo aleacutem de outras O processo de seleccedilatildeo orienta-se

portanto pela anaacutelise entre as concepccedilotildees e valores assumidos pela instituiccedilatildeo e as caracteriacutesticas

dos candidatos buscando identificar aqueles que mais se aproximam do perfil desejado pela

instituiccedilatildeo pela afinidade com sua missatildeo e a funccedilatildeo formativa que assume na construccedilatildeo da

cidadania

O processo seletivo pode se estruturar de diferentes formas devendo transcorrer de acordo

com as condiccedilotildees e caracteriacutesticas da instituiccedilatildeo e seus objetivos Por exemplo no caso das

instituiccedilotildees privadas em que o processo seletivo pode adquirir contornos variados quanto agraves etapas

instrumentos e participantes que iratildeo avaliar os candidatos o psicoacutelogo escolar pode atuar

integralmente desde o planejamento ateacute a execuccedilatildeo do processo seletivo Por outro lado nas IES

onde a contrataccedilatildeo de professores se daacute mediante aprovaccedilatildeo em concurso puacuteblico este eacute conduzido

por uma banca de docentes vinculados agrave aacuterea da vaga e com titulaccedilatildeo igual ou superior agrave titulaccedilatildeo

exigida para o cargo

Nas IES em que se realizam concursos puacuteblicos a participaccedilatildeo do psicoacutelogo escolar como

membro da banca examinadora acaba sendo improvaacutevel contudo ele pode contribuir no

planejamento do concurso especificamente na discussatildeo e definiccedilatildeo de caracteriacutesticas de perfil na

perspectiva do ensino na definiccedilatildeo dos criteacuterios a serem avaliados na preparaccedilatildeo dos professores

que compotildeem a banca para avaliar as concepccedilotildees subjetivas dos candidatos e tambeacutem na anaacutelise

236

do desempenho dos indicadores de perfil dos candidatos agrave luz da definiccedilatildeo feita anteriormente No

caso da seleccedilatildeo de profissionais para compor o quadro teacutecnico-administrativo a anaacutelise do perfil

dos candidatos tambeacutem deve explorar a consonacircncia entre as concepccedilotildees e valores do candidato e

os da IES de maneira que o trabalho a ser desenvolvido por esse profissional seja coerente com

aquilo que a instituiccedilatildeo preconiza

Uma importante contribuiccedilatildeo que se desdobra da participaccedilatildeo do psicoacutelogo escolar nos

processos seletivos estaacute relacionada agrave formaccedilatildeo continuada pois as informaccedilotildees obtidas ao longo

do processo de seleccedilatildeo aleacutem de subsidiarem a contrataccedilatildeo de novos colaboradores indicam

aspectos que merecem investimento por parte da instituiccedilatildeo no sentido de promover o

desenvolvimento de outras competecircncias Dessa maneira o psicoacutelogo escolar natildeo soacute assessora o

processo de seleccedilatildeo como tambeacutem vai mapeando aquilo que pode ser foco de intervenccedilotildees futuras

Outro eixo de intervenccedilatildeo do psicoacutelogo escolar diz respeito agraves estrateacutegias de acolhimento e

recepccedilatildeo dos novos colaboradores A chegada a um novo contexto de trabalho eacute muitas vezes

vivenciada de forma ambiacutegua pelos profissionais pois ao mesmo tempo em que representa uma

conquista e a realizaccedilatildeo de um projeto profissional e de vida desencadeia duacutevidas e incertezas

quanto ao trabalho a ser realizado a relaccedilatildeo com os colegas a afinidade e identificaccedilatildeo com os

valores e praacuteticas da instituiccedilatildeo entre outros Dessa forma planejar accedilotildees de recepccedilatildeo e

acolhimento aos novos colaboradores tem como objetivo favorecer a sua integraccedilatildeo por meio da

familiarizaccedilatildeo com a missatildeo os objetivos e os princiacutepios da instituiccedilatildeo do conhecimento de seus

direitos e deveres do esclarecimento acerca das expectativas e metas relativas ao seu trabalho etc

Uma primeira accedilatildeo do psicoacutelogo escolar neste eixo de intervenccedilatildeo eacute a de sensibilizar a IES

acerca da importacircncia de institucionalizar projetos de ambientaccedilatildeo que potencializem o

envolvimento a seguranccedila o compromisso e o sentimento de pertencimento dos novos

colaboradores Aleacutem disso sensibilizar para que estes projetos em vez de caraacuteter unidirecional

informativo favoreccedilam a construccedilatildeo de espaccedilos de interlocuccedilatildeo ou seja fomentem redes de trocas

de diaacutelogo e de aprendizagem cooperativa

Ao propiciar que os profissionais conheccedilam a instituiccedilatildeo a ambientaccedilatildeo tambeacutem deve

instalar um diaacutelogo intra e intersubjetivo no qual os sujeitos estabeleccedilam relaccedilotildees reflitam sobre

seus objetivos pessoais e os institucionais problematizem as rotinas e processos observem as

posturas escutem os discursos oficiais e os ocultos e compartilhem experiecircncias Ao mesmo tempo

em que busca favorecer a integraccedilatildeo do profissional agrave instituiccedilatildeo por meio de um conhecimento

mais aprofundado de seus pilares e metas a ambientaccedilatildeo tambeacutem almeja instalar uma cultura de

interlocuccedilatildeo de cooperaccedilatildeo de diaacutelogo e de mobilidade dentro da IES

Nessa perspectiva o processo de ambientaccedilatildeo jaacute se constitui como um espaccedilo de

aprendizagem tanto individual quanto coletiva A depender do tamanho da IES e do fluxo de

contrataccedilotildees o psicoacutelogo escolar pode coordenar o processo de acolhimento e preparar outros

237

membros da IES para executaacute-lo conforme defendido ou pode ele mesmo assumir a conduccedilatildeo das

accedilotildees

4 Formaccedilatildeo Continuada

A intervenccedilatildeo em Psicologia Escolar direcionada para a formaccedilatildeo continuada dos

profissionais que trabalham em uma IES deve ter como foco aspectos objetivos e subjetivos que

permeiam o trabalho que realizam Nesse sentido as accedilotildees de formaccedilatildeo continuada podem

direcionar-se para o aperfeiccediloamento teoacuterico teacutecnico e metodoloacutegico dos diferentes colaboradores

e para a circulaccedilatildeo de sentidos e significados atribuiacutedos ao trabalho e agraves relaccedilotildees institucionais agraves

relaccedilotildees intersubjetivas entre os profissionais para as concepccedilotildees que orientam suas accedilotildees para os

sentimentos e anguacutestias que perpassam suas praacuteticas por exemplo Aleacutem da melhor preparaccedilatildeo

teacutecnica do corpo docente teacutecnico-administrativo ou dirigente imprescindiacutevel ao bom desempenho

das atividades profissionais defende-se que um processo de formaccedilatildeo continuada deve investir

tambeacutem na compressatildeo do processo de configuraccedilatildeo subjetiva das relaccedilotildees conflitos e tensotildees que

perpassam o trabalho desses profissionais e tambeacutem na construccedilatildeo de possibilidades de

transformaacute-lo (Aguiar 2000)

Uma contribuiccedilatildeo diferencial da Psicologia Escolar agrave formaccedilatildeo continuada eacute portanto a

intencionalidade em tornaacute-la um espaccedilo de intersubjetividade no qual possam circular os sentidos

subjetivos envolvidos nas escolhas e accedilotildees dos profissionais e que imprimem caracteriacutesticas e

dinacircmicas particulares a cada instituiccedilatildeo Aleacutem do discurso prescritivo e normativo comumente

adotado nas formaccedilotildees os psicoacutelogos escolares devem mediar a construccedilatildeo de espaccedilos de reflexatildeo

acerca dos aspectos subjetivos que constituem os sujeitos as relaccedilotildees e as instituiccedilotildees

Eacute comum encontrar materiais dirigidos aos professores que apostam na informaccedilatildeo como

eixo central da sua formaccedilatildeo A apropriaccedilatildeo de alguns conceitos eacute fundamental contudo eacute

necessaacuterio articular esses conceitos com as situaccedilotildees vividas em cada realidade escolar e na

experiecircncia de cada profissional da educaccedilatildeo Este trabalho de articulaccedilatildeo eacute um processo

cotidiano e sistemaacutetico Natildeo acontece de uma vez por todas A formaccedilatildeo do professor deve

ser um processo contiacutenuo que perpassa sua praacutetica com os alunos a partir do trabalho

transdisciplinar com uma equipe permanente de apoio (Paulon Freitas amp Pinho 2005)

Abordar por exemplo a temaacutetica da diversidade e da inclusatildeo no contexto acadecircmico com

qualquer um dos segmentos profissionais requer que sejam tratadas as questotildees pertinentes agrave

poliacutetica e legislaccedilatildeo nacional agraves regras normas direitos e deveres formalmente previstos nos

documentos institucionais agraves pesquisas cientiacuteficas relativas ao tema e igualmente ideias

sentimentos anguacutestias duacutevidas preconceitos concepccedilotildees e inquietaccedilotildees que tal temaacutetica mobiliza

entre os colaboradores

Possiacuteveis questotildees a serem abordadas na formaccedilatildeo continuada de professores podem

relacionar-se agrave tomada de consciecircncia acerca da funccedilatildeo da accedilatildeo pedagoacutegica e do professor no

238

desenvolvimento das funccedilotildees psicoloacutegicas superiores agrave reflexatildeo e conscientizaccedilatildeo das concepccedilotildees

de ensinar de aprender de desenvolvimento e de avaliaccedilatildeo que estatildeo subjacentes agrave accedilatildeo docente e

a orientam agrave problematizaccedilatildeo e reformulaccedilatildeo das estrateacutegias didaacutetico-pedagoacutegicas utilizadas para

promover o aprendizado discente agrave clareza acerca da multiplicidade de fatores intervenientes na

construccedilatildeo do sucesso e do fracasso escolaracadecircmico ao conhecimento acerca de fatores

intervenientes na sauacutede psiacutequica dos profissionais da educaccedilatildeo particularmente os aspectos

objetivos e subjetivos que permeiam a praacutetica docente aleacutem de outros

Em relaccedilatildeo aos coordenadores a formaccedilatildeo continuada pode incidir sobre as mesmas

temaacuteticas abordadas com os professores e ainda sobre o papel e funccedilotildees relacionadas agrave

coordenaccedilatildeo de curso superior especificamente no que diz respeito agrave gestatildeo da equipe docente agrave

tomada de decisotildees ao papel de mediador entre alunos e professores e entre estes e a direccedilatildeo da

instituiccedilatildeo

Por sua vez a formaccedilatildeo continuada com os funcionaacuterios teacutecnico-administrativos da IES

pode centrar-se em questotildees relacionais trabalho em equipe lideranccedila motivaccedilatildeo gestatildeo do

tempo do stress As formaccedilotildees devem buscar promover seu desenvolvimento como autores e

atores dos processos institucionais o que implica valorizar estimular a iniciativa para buscar

soluccedilotildees e sugerir modificaccedilotildees que potencializem os resultados a autonomia para problematizar

procedimentos o posicionamento criacutetico diante das decisotildees institucionais que afetam seu trabalho

a postura criativa e inovadora diante de antigas rotinas e dificuldades entre outros

Apesar das formaccedilotildees para funcionaacuterios poderem abordar questotildees teacutecnicas nestes casos

natildeo cabe aos psicoacutelogos escolares se responsabilizarem por conduzir processos dessa natureza que

se distanciam da especificidade do seu campo de intervenccedilatildeo A esse respeito a atuaccedilatildeo do

psicoacutelogo escolar restringe-se agrave identificaccedilatildeo das necessidades de aperfeiccediloamento e planejamento

da formaccedilatildeo agrave valorizaccedilatildeo e incentivo ao desenvolvimento profissional dos colaboradores

Entretanto ainda que centrada em questotildees teacutecnicas que almejam aumentar a eficaacutecia do trabalho a

formaccedilatildeo natildeo deve prescindir da circulaccedilatildeo dos sentidos que satildeo atribuiacutedos agraves atividades agraves

relaccedilotildees sociais e agrave dinacircmica institucional pois a modificaccedilatildeo dos procedimentos natildeo decorre

apenas da compreensatildeo de como e porque realizaacute-lo mas do sentido subjetivo (importacircncia

pertinecircncia expectativa etc) que lhes atribuem

Por fim a formaccedilatildeo continuada dos gestores institucionais (diretores reitores proacute-reitores

decanos etc) eacute um espaccedilo emergente de atuaccedilatildeo do psicoacutelogo escolar e tambeacutem se orienta pela

exploraccedilatildeo de questotildees objetivas e subjetivas que permeiam sua atuaccedilatildeo profissional e tem como

objetivos colaborar para o aprimoramento do perfil de gestor Com vistas a contribuir nesta

formaccedilatildeo o psicoacutelogo escolar pode propor sua participaccedilatildeo em reuniotildees regulares de gestatildeo ou

pode acompanhaacute-los individualmente sendo fundamental que tenha clareza da intenccedilatildeo de sua

participaccedilatildeo nestes espaccedilos e da postura eacutetica que deve guiaacute-lo tendo em vista o niacutevel das decisotildees

nas quais estaraacute envolvido Para contribuir neste processo o psicoacutelogo escolar deve buscar

239

mobilizar a reflexatildeo e ressignificaccedilatildeo de praacuteticas e decisotildees que tecircm impacto na subjetividade

social da instituiccedilatildeo e na qualidade do trabalho dos atores-sujeitos

Questotildees que podem ser objeto de intervenccedilatildeo do psicoacutelogo escolar junto aos gestores satildeo

criar oportunidades para a circulaccedilatildeo das vozes e discursos institucionais de forma a ouvir as falas

que apontam para uma tentativa de mudanccedila valorizar o conteuacutedo que circula nas redes formais e

informais e considerar em suas decisotildees aspectos expliacutecitos e impliacutecitos que permeiam as relaccedilotildees

e praacuteticas ancorar suas decisotildees na anaacutelise do impacto que elas podem ter sobre a subjetividade

individual dos atores e nas redes intersubjetivas reconhecer a ambiguidade (contradiccedilatildeo conflito)

em orientaccedilotildees e decisotildees e que satildeo geradoras de mal-estar psiacutequico compreender episoacutedios de

desmotivaccedilatildeo apatia ou falta de envolvimento e de compromisso dos colaboradores como

manifestaccedilatildeo de estados subjetivos que possam denotar sofrimento psiacutequico valorizar e incentivar

a circulaccedilatildeo de novos sentidos como possibilidade de desencadear transformaccedilotildees individuais

coletivas e institucionais

As formaccedilotildees com os diferentes atores podem ocorrer em periacuteodos previstos no calendaacuterio

acadecircmico como comumente ocorre com a Semana Pedagoacutegica direcionada para a equipe

pedagoacutegica ou tambeacutem podem acontecer ao longo do ano de acordo com a avaliaccedilatildeo de

necessidades Contudo eacute importante destacar que a formaccedilatildeo continuada defendida neste trabalho

natildeo se refere a uma accedilatildeo pontual e delimitada no tempo como a proacutepria Semana Pedagoacutegica para

docentes muito ao contraacuterio o caraacuteter contiacutenuo das formaccedilotildees deve-se ao acompanhamento do

trabalho dos coordenadores e dos professores ao longo de todo o ano letivo como forma de

potencializaacute-lo

Este acompanhamento sistemaacutetico no dia-a-dia pode ocorrer por meio da participaccedilatildeo do

psicoacutelogo escolar em reuniotildees de coordenaccedilatildeo de colegiado ou em outros espaccedilos pedagoacutegicos

institucionalizados pela observaccedilatildeo em sala de aula e da discussatildeo com o professor acerca do seu

planejamento e desempenho do estudo de casos e de novas metodologias em pequenos grupos de

professores A mudanccedila de valores concepccedilotildees e praacuteticas demanda tempo e investimento e em

muitos casos as Semanas Pedagoacutegicas constituem apenas o mote deflagrador de um processo de

reflexatildeo questionamento e mudanccedila

5 Avaliaccedilatildeo institucional

No contexto educativo as praacuteticas avaliativas podem se referir tanto ao processo de ensino

e aprendizagem e ao rendimento dos alunos sendo nestes casos prioritariamente realizadas pelos

professores quanto agrave qualidade das accedilotildees institucionais as quais englobam aspectos pedagoacutegicos

administrativos e financeiros Eacute em relaccedilatildeo a esta uacuteltima modalidade que se localiza a avaliaccedilatildeo

institucional uma praacutetica presente haacute mais de trecircs deacutecadas nas Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior

brasileiras que tem o objetivo de verificar o desempenho das instituiccedilotildees agrave luz dos criteacuterios de

qualidade da educaccedilatildeo e impulsionar as mudanccedilas necessaacuterias

240

Atualmente a avaliaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior no Brasil se realiza a partir do que foi

estabelecido pelo SINAES (Lei nordm 108612004) e estaacute organizada em trecircs pilares interdependentes

a avaliaccedilatildeo institucional tanto interna quanto externa a avaliaccedilatildeo dos cursos superiores e a

avaliaccedilatildeo do desempenho dos estudantes Uma anaacutelise retrospectiva em relaccedilatildeo agraves propostas

avaliativas anteriores evidencia que um importante diferencial do SINAES eacute a previsatildeo da

avaliaccedilatildeo institucional como um dos eixos centrais de acompanhamento das instituiccedilotildees e em

especial da autoavaliaccedilatildeo a qual se constitui como uma oportunidade singular de interlocuccedilatildeo

anaacutelise e reflexatildeo no interior de cada IES e inegavelmente um espaccedilo de atuaccedilatildeo para a Psicologia

Escolar

Agrave luz da intenccedilatildeo de oportunizar que a instituiccedilatildeo estabeleccedila um diaacutelogo consigo mesma o

psicoacutelogo escolar pode contribuir na concretizaccedilatildeo dessa proposta por meio da coordenaccedilatildeo de

accedilotildees como a sensibilizaccedilatildeo da comunidade acadecircmica acerca da funccedilatildeo e importacircncia da

autoavaliaccedilatildeo como ferramenta potencialmente geradora de transformaccedilotildees mobilizaccedilatildeo das

percepccedilotildees expectativas e sugestotildees dos diferentes atores institucionais da circulaccedilatildeo e escuta

ativa destas percepccedilotildees e da ressignificaccedilatildeo dos sentidos subjetivos atribuiacutedos agraves praacuteticas

avaliativas Em muitos casos a avaliaccedilatildeo do trabalho docente ou administrativo vem carregado de

incertezas e inseguranccedilas pelo fato dos sujeitos natildeo saberem quais os usos e consequecircncias dos

resultados aleacutem de ser fator desencadeador de anguacutestia e inquietaccedilatildeo na medida em que coloca o

trabalho dos profissionais em evidecircncia quando muitas vezes natildeo haacute o haacutebito pessoal eou

institucional de refletir e analisar sua proacutepria atuaccedilatildeo

Por razotildees como estas que satildeo geradoras de mal-estar na instituiccedilatildeo o psicoacutelogo escolar

pode trabalhar com os gestores na definiccedilatildeo da funccedilatildeo da avaliaccedilatildeo e do uso que seraacute feito dos

resultados e com os demais atores na disseminaccedilatildeo e entendimento desta funccedilatildeo Natildeo haacute problema

no fato da avaliaccedilatildeo interna suprir a funccedilatildeo de um controle miacutenimo sobre o funcionamento da IES

todavia surge um problema quando o conhecimento sobre as praacuteticas natildeo desencadeia projetos

poliacuteticos institucionais e coletivos em uma perspectiva macrosistecircmica mas recai sobre os atores

(sujeitos) institucionais individualizando-os e abrindo espaccedilo para praacuteticas de exclusatildeo e puniccedilatildeo

A clareza acerca dos rumos da avaliaccedilatildeo institucional pode constituir-se em meta da atuaccedilatildeo do

psicoacutelogo escolar

Outra accedilatildeo do psicoacutelogo escolar pode ser a de evidenciar a importacircncia de que os

resultados sejam divulgados publicamente e discutidos com a comunidade acadecircmica Publicizar e

debater os resultados eacute uma expressatildeo do compromisso eacutetico e moral da IES para com seus alunos

colaboradores e a sociedade aleacutem de ser um movimento paradigmaacutetico na construccedilatildeo de uma

cultura de reflexatildeo e de mudanccedila Destaca-se entretanto que problematizar e envolver-se com a

divulgaccedilatildeo dos resultados avaliativos eacute uma questatildeo que merece muito cuidado clareza e postura

eacutetica por parte do psicoacutelogo escolar tendo em vista os diferentes usos relacionados a essa

241

divulgaccedilatildeo aleacutem das consequecircncias danosas que podem causar quando natildeo forem objeto de uma

anaacutelise pormenorizada do sentido que a IES atribui a autoavaliaccedilatildeo

Vive-se hoje um momento histoacuterico marcado pelo avanccedilo tecnoloacutegico pela produccedilatildeo e

transmissatildeo de conhecimento em extraordinaacuteria velocidade e por um intenso processo de

globalizaccedilatildeo cultural econocircmico e poliacutetico que gera uma seacuterie de desafios na sociedade nas

organizaccedilotildees e nas relaccedilotildees sociais Esses desafios trazem implicaccedilotildees tambeacutem para as Instituiccedilotildees

de Educaccedilatildeo Superior que precisam se redefinir e construir permanentemente sua identidade

gerando consequentemente impactos sobre os seus atores

Aos professores por exemplo eacute exigida uma busca contiacutenua de atualizaccedilatildeo decorrente

tanto dos avanccedilos cientiacuteficos na sua aacuterea de conhecimento e das mudanccedilas nas ferramentas e

teacutecnicas de pesquisa quanto pelos avanccedilos da ciecircncia pedagoacutegica e ainda pelas alteraccedilotildees

culturais sociais e econocircmicas A autoavaliaccedilatildeo eacute portanto uma ferramenta impulsionadora desse

movimento de transformaccedilatildeo que para se concretizar exige uma cultura de mudanccedila de abertura

ao novo e agrave inovaccedilatildeo como resposta aos desafios contemporacircneos Favorecer a construccedilatildeo dessa

cultura eacute sem duacutevida um grande contributo da Psicologia Escolar

Outra intervenccedilatildeo oportuna ao psicoacutelogo escolar eacute recorrer aos resultados mais

significativos da avaliaccedilatildeo para orientar o seu trabalho com os diferentes atores na modificaccedilatildeo de

suas accedilotildees as quais natildeo envolvem apenas uma execuccedilatildeo diferente mas contempla sobretudo o

entendimento de porque mudar e a identificaccedilatildeo de como mudar em uma construccedilatildeo criativa

autocircnoma e ativa de suas praacuteticas profissionais Esse eacute na verdade o sentido maior da

autoavaliaccedilatildeo desencadear mudanccedilas nos processos e procedimentos de forma a imprimir maior

qualidade agraves accedilotildees institucionais Mais do que cumprir com uma exigecircncia legal a praacutetica da

autoavaliaccedilatildeo deve impulsionar a construccedilatildeo de uma cultura de reflexatildeo acerca do trabalho

realizado e de debates puacuteblicos sobre os mesmos

Conforme estaacute preconizado pela legislaccedilatildeo brasileira cada IES deve compor uma

Comissatildeo Proacutepria de Avaliaccedilatildeo (CPA) a quem compete conduzir todo o processo de avaliaccedilatildeo

interna desde o planejamento ateacute a execuccedilatildeo Uma possiacutevel inserccedilatildeo do psicoacutelogo escolar eacute

participar nesta comissatildeo seja como membro efetivo ou como consultor Cada instituiccedilatildeo e mais

especificamente a proacutepria CPA tem autonomia para compor e organizar o trabalho natildeo haacute um

modelo a ser seguido o que constitui um desafio agraves comissotildees que obrigatoriamente devem ter

representantes dos corpos docentes discente teacutecnico-administrativo e inclusive da comunidade

externa da sociedade civil A integraccedilatildeo e sintonia desta equipe composta por atores vinculados a

diferentes niacuteveis da instituiccedilatildeo eacute um eixo de intervenccedilatildeo do psicoacutelogo escolar que pode promover o

desenvolvimento da equipe de trabalho por meio da discussatildeo e definiccedilatildeo coletiva de funccedilotildees

mediar a negociaccedilatildeo de interesses e perspectivas diferentes auxiliar na escolha e elaboraccedilatildeo de

estrateacutegias e instrumentos de avaliaccedilatildeo que considerem tanto as questotildees subjetivas quanto as

objetivas

242

6 Poliacuteticas puacuteblicas

Quando se adota uma compreensatildeo mais abrangente acerca dos fatores envolvidos na

qualidade dos processos educativos afastando-se de uma posiccedilatildeo reducionista e individualizada

dos fenocircmenos e dos problemas fica evidente a importacircncia do psicoacutelogo escolar conhecer se

aprofundar e refletir sobre as poliacuteticas puacuteblicas educacionais que tendo origem externa agrave IES

impactam sua realidade diaacuteria Nesse sentido um eixo recente de intervenccedilatildeo dos psicoacutelogos

escolares eacute junto aos complexos processos de mudanccedila desencadeados pelas poliacuteticas puacuteblicas

Entre a idealizaccedilatildeo e planejamento governamental e a real concretizaccedilatildeo das poliacuteticas

puacuteblicas educativas existe uma distacircncia pois que a implantaccedilatildeo destas perpassa por resistecircncias

representaccedilotildees e crenccedilas dos atores institucionais a quem cabe concretizaacute-las Por essa razatildeo neste

eixo de intervenccedilatildeo o psicoacutelogo escolar pode instigar a reflexatildeo sobre as poliacuteticas sua pertinecircncia

coerecircncia e relevacircncia para a IES aleacutem de trabalhar com a inseguranccedila diante do novo a

resistecircncia a mudanccedila e o incentivo agrave criaccedilatildeo de formas diferenciadas e singulares de implantar as

poliacuteticas

O objetivo eacute contribuir para que elas se configurem em mudanccedilas inovadoras criativas e

efetivamente favorecedoras de resultados positivos que coadunados agrave missatildeo da IES e ao seu

compromisso social cumpram a ampla funccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior na formaccedilatildeo de cidadatildeos e de

profissionais competentes e comprometidos com a transformaccedilatildeo social Conforme esclarece

Martiacutenez (2007) a promoccedilatildeo de mudanccedilas na subjetividade social da IES eacute um dos eixos de

trabalho do psicoacutelogo escolar

no entanto quando falamos em um sentido mais amplo do processo de implantaccedilatildeo de

poliacuteticas educacionais e de fato em muitos casos de processos inovadores o papel do

psicoacutelogo escolar pode-se expressar de formas muito diversas contribuindo para adequar a

poliacutetica proposta agraves condiccedilotildees especiacuteficas da escola identificando barreiras ao processo de

mudanccedila e promovendo estrateacutegias para sua superaccedilatildeo contribuindo para os processos de

esclarecimento e envolvimento em relaccedilatildeo aos objetivos a serem alcanccedilados e muitas

outras (p 115)

A efetiva implantaccedilatildeo de novas poliacuteticas e a possibilidade de serem geradoras de

transformaccedilatildeo natildeo prescinde do envolvimento dos atores da forma como a percebem e

compreendem e inclusive do entendimento de que algo pode ou natildeo ser mudado Dessa maneira

o psicoacutelogo escolar de posse de seu conhecimento sobre a instituiccedilatildeo seus atores e suas concepccedilotildees

predominantes bem como sobre a afinidade da nova poliacutetica com os valores coletivamente

partilhados poderaacute auxiliar na mobilizaccedilatildeo dos atores em prol de mudanccedilas que de fato

potencializem a qualidade do trabalho profissional e consequentemente a formaccedilatildeo dos

estudantes

Uma poliacutetica puacuteblica em que a atuaccedilatildeo do psicoacutelogo escolar se mostra relevante eacute por

exemplo relativas agrave educaccedilatildeo inclusiva Assim como poliacuteticas de outras naturezas esta natildeo traz

243

orientaccedilotildees diretivas ao contraacuterio apresenta as diretrizes da educaccedilatildeo especial na perspectiva da

inclusatildeo e deixa a cargo da instituiccedilatildeo operacionalizaacute-la Tendo como referencial as diretrizes da

referida poliacutetica e os pressupostos da ciecircncia psicoloacutegica acerca do desenvolvimento humano o

psicoacutelogo escolar pode envolver-se na revisatildeo das concepccedilotildees de educaccedilatildeo especial de inclusatildeo e

de desenvolvimento compartilhadas pelos professores evidenciado relaccedilotildees dialoacutegicas e

bidirecionais na interaccedilatildeo dos alunos com o contexto resignificaccedilatildeo do espaccedilo de sala de aula

como um espaccedilo de diversidade humana e de expressatildeo da singularidade humana desconstruccedilatildeo de

crenccedilas relacionadas agrave deficiecircncia e agrave anormalidade que constroem barreiras que se interpotildeem nos

processos intersubjetivos orientaccedilatildeo e construccedilatildeo com o corpo pedagoacutegico de condiccedilotildees e suporte

para o desenvolvimento do aluno com necessidades especiais dentro de suas potencialidades e

outras

A atual poliacutetica de educaccedilatildeo inclusiva eacute uma proposta inovadora que exige o

redimensionamento das instituiccedilotildees educativas e a revisatildeo de suas concepccedilotildees valores praacuteticas e

formas de organizaccedilatildeo Envolvendo-se com a implantaccedilatildeo desta poliacutetica o psicoacutelogo escolar estaraacute

investindo na construccedilatildeo de uma cultura inclusiva de sucesso e de respeito agrave diversidade que estaacute

intimamente relacionada agrave possibilidade de construir uma sociedade democraacutetica ancorada nos

ideais de respeito justiccedila e igualdade

DIMENSAtildeO 2 ndash GESTAtildeO ACADEcircMICA

1 Projetos Pedagoacutegicos de Cursos

Enquanto a proposta poliacutetico-pedagoacutegica eacute o eixo norteador da IES como um todo o

Projeto Pedagoacutegico de Curso (PPC) eacute que orienta o funcionamento dos cursos oferecidos pela

instituiccedilatildeo Aleacutem dos princiacutepios gerais jaacute contidos no PDI (missatildeo filosofia e objetivos) o PPC

especiacutefico a cada curso oferecido pela instituiccedilatildeo traz de forma detalhada as bases pedagoacutegicas

que regem sua estrutura organizaccedilatildeo e funcionamento Nele estatildeo presentes os pressupostos

conceituais teoacutericos e metodoloacutegicos e as concepccedilotildees de ensino de aprendizagem e de

desenvolvimento de curriacuteculo de competecircncias e habilidades de avaliaccedilatildeo rendimento e sucesso

acadecircmico bem como a definiccedilatildeo dos perfis de egressos esperados para os cursos todos elementos

centrais na sustentaccedilatildeo e operacionalizaccedilatildeo do curso

O PPC traz tambeacutem o desenho curricular e o fluxo de disciplinas os quais indicam a

concepccedilatildeo ndash se progressista ou tradicional ndash que baliza a estruturaccedilatildeo do curso Curriacuteculos

organizados por moacutedulos mais flexiacuteveis que contemplem disciplinas optativas capazes de orientar a

formaccedilatildeo dos estudantes para aleacutem das questotildees teacutecnicas satildeo mais abrangentes e dinacircmicos do que

aqueles organizados com base em preacute-requisitos O PPC apresenta ainda a distribuiccedilatildeo da carga

horaacuteria que explicita a concepccedilatildeo da instituiccedilatildeo sobre a relaccedilatildeo teoria e praacutetica a depender de onde

se localizam e como se organizam os estaacutegios na trajetoacuteria formativa

244

Sendo o instrumento que orienta a accedilatildeo pedagoacutegica e a formaccedilatildeo dos alunos eacute fundamental

que o PPC integre de forma singularizada os princiacutepios norteadores da IES e as orientaccedilotildees das

Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) para o curso adquirindo uma identidade diante dos

demais cursos da mesma aacuterea no paiacutes Para tanto o psicoacutelogo escolar pode contribuir com a equipe

pedagoacutegica no estudo criacutetico das diretrizes seus princiacutepios conceitos e orientaccedilotildees as quais

precisam ser significadas por cada instituiccedilatildeo e incorporadas ao projeto do curso Ainda que sejam

documentos legais de orientaccedilatildeo as DCNs apresentam lacunas e contradiccedilotildees que precisam ser

respondidas e interpretadas pela equipe pedagoacutegica agrave luz das convicccedilotildees poliacuteticas ideoloacutegicas e

sociais do papel daquele curso na formaccedilatildeo de profissionais e na construccedilatildeo da cidadania

No acircmbito da gestatildeo acadecircmica uma possibilidade de atuaccedilatildeo do psicoacutelogo escolar refere-

se entatildeo ao trabalho com os membros da equipe pedagoacutegica ndash coordenadores e professores em

especial ndash na anaacutelise revisatildeo e reestruturaccedilatildeo dos PPCs Neste eixo de intervenccedilatildeo importa

convidar a equipe a refletir e problematizar a funccedilatildeo social do curso o perfil de egresso que se

pretende formar a pertinecircncia da estrutura curricular e das atividades pedagoacutegicas previstas no

PPC para possibilitar a construccedilatildeo desse perfil o desenvolvimento de desenhos curriculares

diferenciados que atendam agraves especificidades dos alunos a qualificaccedilatildeo e adequaccedilatildeo do perfil dos

docentes ao cumprimento dos objetivos pedagoacutegicos estabelecidos da instituiccedilatildeo e da regiatildeo aleacutem

de outros aspectos O Projeto Pedagoacutegico do Curso deve entatildeo ser pensado de forma inteira

orgacircnica com vistas agrave construccedilatildeo de sua identidade que por sua vez permitiraacute a formaccedilatildeo do

profissional desejado

Na intervenccedilatildeo junto aos PPCs eacute particularmente importante para o psicoacutelogo escolar

conhecer as representaccedilotildees que os coordenadores e professores tecircm dos conceitos que satildeo basilares

a cada projeto agrave formaccedilatildeo acadecircmica dos estudantes As concepccedilotildees que se tem acerca de um

fenocircmeno satildeo forjadas na articulaccedilatildeo de um conjunto de elementos como o conhecimento

cientiacutefico e as experiecircncias de vida que cada professor tem sobre ele a construccedilatildeo histoacuterica e

cultural do fenocircmeno os valores crenccedilas mitos e preconceitos a ele relacionados dos sentidos

socialmente partilhados pelo grupo do qual o professor faz parte Investigar estas concepccedilotildees exige

portanto enveredar pela complexa rede de significados que se associam a elas e as sustentam

Algumas das representaccedilotildees relevantes a serem investigadas pelo psicoacutelogo escolar satildeo a

concepccedilatildeo de educaccedilatildeo de ensino de aprendizagem e de desenvolvimento de curriacuteculo e

avaliaccedilatildeo da relaccedilatildeo professor-aluno de criatividade de necessidades especiais e tantas outras Em

relaccedilatildeo ao desenvolvimento humano por exemplo cabe investigar se ele eacute entendido como um

fenocircmeno marcadamente bioloacutegico e decorrente das maturaccedilotildees orgacircnicas sobre o qual as accedilotildees

humanas tecircm pouca ou nenhuma influecircncia como reflexo da accedilatildeo do meio fiacutesico e social que tecircm o

poder de direcionaacute-lo ou ainda se eacute assumido como um processo fruto das interaccedilotildees dialeacuteticas

entre aspectos bioloacutegicos sociais e culturais que influenciam as trajetoacuterias de desenvolvimento Os

professores filiam-se portanto a concepccedilotildees reducionistas de desenvolvimento ou a concepccedilotildees

245

sistecircmicas e contextualizadas Vivenciam contradiccedilotildees entre estas filiaccedilotildees Eles tecircm consciecircncia

de suas concepccedilotildees e o quanto a sua accedilatildeo pedagoacutegica estaacute associada a elas Percebem que a forma

de entender o desenvolvimento implica no tipo e na qualidade do investimento que imprimem no

processo de ensino e aprendizagem

O trabalho do psicoacutelogo escolar em investigar e conscientizar os atores acerca das

concepccedilotildees que satildeo subjacentes agraves suas praacuteticas e que as orientam deve ocorrer diariamente nos

espaccedilos relacionais nos quais estas concepccedilotildees se manifestam tanto de forma expliacutecita quanto

impliacutecita Dessa maneira espaccedilos frutiacuteferos satildeo os momentos de coordenaccedilatildeo e planejamento

pedagoacutegico as reuniotildees de coordenadores de cursos bem como em espaccedilos informais de

interlocuccedilatildeo como a sala de professores as conversas de corredores e etc Em todas estas

situaccedilotildees a intervenccedilatildeo do psicoacutelogo escolar estaacute menos associada ao espaccedilo fiacutesico e social

concreto e muito mais agrave sua clareza e intencionalidade na promoccedilatildeo de processos de

conscientizaccedilatildeo dos atores institucionais em relaccedilatildeo

Outro eixo de intervenccedilatildeo recente dos psicoacutelogos escolares na Educaccedilatildeo Superior diz

respeito ao desenvolvimento e expressatildeo da criatividade a qual pode se referir ao aluno os

professores e agrave IES Assim algumas possibilidades de trabalho satildeo junto aos professores

investigaccedilatildeo das barreiras percebidas pelos professores ao desenvolvimento de habilidades

criativas conscientizaccedilatildeo e modificaccedilatildeo das compreensotildees que os professores tem acerca da

criatividade as quais satildeo muitas vezes equivocadas desenvolvimento de estrateacutegias e metodologias

de ensino criativo Em relaccedilatildeo agrave IES especialmente no que tange os projetos pedagoacutegicos de curso

a inclusatildeo formal da criatividade como um objetivo a ser alcanccedilado no decorrer do curso a opccedilatildeo

por desenhos curriculares flexiacuteveis voltadas para a construccedilatildeo e natildeo transmissatildeo de conhecimento

previsatildeo e investimento em estrateacutegias diferenciadas de ensino e de avaliaccedilatildeo

2 Desenvolvimento e Avaliaccedilatildeo por Competecircncias

Seguindo as atuais bases contidas nas Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos

superiores a formaccedilatildeo dos estudantes se orienta pela ecircnfase no desenvolvimento de competecircncias

que subsidiem a construccedilatildeo do perfil profissional previsto para cada curso oferecido pela

instituiccedilatildeo Na perspectiva da organizaccedilatildeo pedagoacutegica os cursos superiores orientados pelo

Curriacuteculo Miacutenimo valorizaram histoacuterica e tradicionalmente a ecircnfase na aquisiccedilatildeo de

conhecimento e de habilidades teacutecnicas que garantissem a capacitaccedilatildeo do futuro profissional

Imprimindo avanccedilos significativos agrave organizaccedilatildeo pedagoacutegica dos cursos as atuais Diretrizes

Curriculares Nacionais orientam a formaccedilatildeo de perfis profissionais ancorados no desenvolvimento

de competecircncias consideradas mais adequadas ao exerciacutecio profissional De forma geral as

diretrizes de cada aacuterea trazem as competecircncias gerais e habilidades especiacuteficas que devem compor

o perfil de egresso

246

Consoante a estas orientaccedilotildees o desenvolvimento de competecircncias eacute o motor do processo

de ensino e aprendizagem que natildeo mais se sustenta na exclusiva aquisiccedilatildeo de conteuacutedos mas

sobretudo no desenvolvimento de recursos variados que podem ser mobilizados diante de uma

situaccedilatildeo Nesta perspectiva eacute oportuno ao psicoacutelogo escolar impulsionar a discussatildeo sobre a

construccedilatildeo do perfil profissional do egresso com base no desenvolvimento de competecircncias o qual

estando essencialmente ancorado no desenvolvimento humano eacute entendido para aleacutem do domiacutenio

de conteuacutedos e habilidades especiacuteficas

Pela via da reflexatildeo acerca das competecircncias e sua relaccedilatildeo com o desenvolvimento

humano o psicoacutelogo escolar pode ampliar as reflexotildees e problematizaccedilotildees acerca da filiaccedilatildeo dos

atores a concepccedilotildees tecnicistas ou concepccedilotildees emancipatoacuterias de educaccedilatildeo No ponto de vista dos

professores mediadores principais da formaccedilatildeo acadecircmica qual eacute a funccedilatildeo da educaccedilatildeo em niacutevel

superior Produzir conhecimentos potencialmente transformadores da realidade social e formar

cidadatildeos e profissionais para a vida em sociedade em referecircncia agrave funccedilatildeo eacutetico-poliacutetica da

Educaccedilatildeo Superior que consiste na democratizaccedilatildeo e no aprofundamento dos valores puacuteblicos Ou

produzir conhecimentos funcionais e instrumentais para qualificaccedilatildeo teacutecnica da matildeo de obra como

referecircncia agrave funccedilatildeo teacutecnico-burocraacutetica que se assenta na satisfaccedilatildeo das necessidades do mercado

Assumindo neste trabalho que compete agrave Educaccedilatildeo Superior favorecer o desenvolvimento

de habilidades e tambeacutem contribuir para a formaccedilatildeo de cidadatildeos eacuteticos e comprometidos com os

valores democraacuteticos e a defesa dos direitos humanos a formaccedilatildeo dos estudantes natildeo pode se

basear apenas no desenvolvimento de competecircncias teacutecnicas Eacute preciso investir no

desenvolvimento de caracteriacutesticas que expressem persistecircncia forccedila de vontade flexibilidade e

capacidade de persuasatildeo de posturas que evidenciem o compromisso com escolhas eacuteticas

condizentes com valores de justiccedila igualdade e respeito agrave diversidade de atitudes de autonomia

iniciativa lideranccedila planejamento entre muitas outras competecircncias

Entretanto modificar a racionalidade tecnicista e conteudista predominante nas formaccedilotildees

em niacutevel superior requer muitos esforccedilos pois a construccedilatildeo de algo novo natildeo se daacute apenas a partir

de orientaccedilotildees legais mas sobretudo pelo envolvimento ativo dos atores Mais do que uma

mudanccedila formal na estruturaccedilatildeo pedagoacutegica dos cursos a formaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo por competecircncias

requerem que sejam impressas mudanccedilas ao niacutevel das concepccedilotildees das interlocuccedilotildees e das accedilotildees

dos atores institucionais o que constitui importante espaccedilo de trabalho para o psicoacutelogo escolar

com vistas a promover tais mudanccedilas no processo de ensino e aprendizagem

De atributos e qualificaccedilotildees especiacuteficas que habilitavam os sujeitos a lidar com as

atividades profissionais a noccedilatildeo de competecircncia engloba atualmente vaacuterios aspectos do

desenvolvimento humano (cognitivos motores afetivos relacionais etc) que podem e devem ser

mobilizados nas situaccedilotildees Nesta perspectiva dois aspectos satildeo relativamente importantes quando

se tem como referecircncia processos formativos baseados no desenvolvimento de competecircncias

contribuir para que os estudantes reconheccedilam construam e se apropriem de recursos diversos

247

(conhecimentos cientiacuteficos e teacutecnicos associados a uma aacuterea habilidades valores saberes praacuteticos

e da experiecircncia de vida esquemas cognitivos afetos caracteriacutesticas pessoais etc) e para que

sejam capazes de mobilizaacute-los com pertinecircncia na situaccedilatildeo A ecircnfase tradicional na aquisiccedilatildeo de

conhecimento e no desenvolvimento de habilidades cognitivas passam a dividir espaccedilo com outros

recursos que precisam ser igualmente apropriados pelos sujeitos para que possam agir de maneira

competente

Com base nessa noccedilatildeo o objetivo do processo de ensino orientado para o desenvolvimento

de competecircncias natildeo eacute gerar produtos e resultados prontos acabados e quantificaacuteveis ao contraacuterio

o seu sentido estaacute na valorizaccedilatildeo do processo na construccedilatildeo de trajetoacuterias alternativas na

reinterpretaccedilatildeo de posturas e accedilotildees habituais na ressignificaccedilatildeo de escolhas Entendida nesta

perspectiva a construccedilatildeo de competecircncias traz alguns desafios aos membros da equipe pedagoacutegica

que precisam repensar o processo de ensino e de avaliaccedilatildeo aleacutem de que em muitos casos

precisam trabalhar o seu proacuteprio aperfeiccediloamento Abre-se assim um novo espaccedilo para a

intervenccedilatildeo do psicoacutelogo escolar que eacute o de assessorar os professores e coordenadores na

apropriaccedilatildeo da noccedilatildeo ampliada de competecircncias e tambeacutem no seu desenvolvimento de forma a

aprimorar o seu trabalho e consequentemente a qualidade da formaccedilatildeo dos estudantes

Em virtude da sua trajetoacuteria de estudo de pesquisa e de aprofundamento em um campo do

saber o professor da Educaccedilatildeo Superior deteacutem um conhecimento bastante especiacutefico sobre

determinada aacuterea entretanto o domiacutenio de tal conhecimento natildeo eacute garantia de sucesso no exerciacutecio

da docecircncia especialmente uma vez que o processo de ensino natildeo se sustenta apenas na

transmissatildeo de conhecimento e o processo de aprendizagem natildeo se limita agrave sua incorporaccedilatildeo Esse

fato eacute particularmente pertinente quando se toma como referecircncia a noccedilatildeo de competecircncias como

articulaccedilatildeo de recursos de diferentes naturezas Dessa maneira um dos desafios impostos aos

professores em decorrecircncia da atual formaccedilatildeo baseada em competecircncias eacute o de eles proacuteprios

desenvolverem competecircncias que lhe auxiliem a socializar o conhecimento em sala de aula e

mediar a formaccedilatildeo discente

Alguns caminhos satildeo adquirir ou aprimorar habilidades de exposiccedilatildeo criativa de ideias de

argumentaccedilatildeo e persuasatildeo movimentar-se com mais espontaneidade pela sala usar de forma

diferente os recursos audio-visuais utilizar dinacircmicas de grupo estudos de casos portfolio e

atividades praacuteticas A competecircncia do professor em mediar o aprendizado discente natildeo deve ser

presumida em razatildeo do seu conhecimento em uma aacuterea como se tivesse naturalmente habilidades

de socializaccedilatildeo e mediaccedilatildeo do saber Nestes casos desconsiderar a necessidade de trabalhar pelo

desenvolvimento dos membros da equipe pedagoacutegica pode deixar que a atuaccedilatildeo destes

profissionais se sustente em teacutecnicas e meacutetodos repetitivos e reprodutivos tatildeo difundidos e

incorporados

Do ponto de vista da atuaccedilatildeo do psicoacutelogo escolar o trabalho em prol do desenvolvimento

de competecircncias discentes estaacute muito vinculado agrave qualificaccedilatildeo da equipe pedagoacutegica que teraacute

248

melhores condiccedilotildees de favorecer a formaccedilatildeo dos seus alunos Por meio da ressignificaccedilatildeo e

construccedilatildeo das suas proacuteprias competecircncias os professores tecircm a oportunidade de perspectivar

elementos que podem ser relevantes para o desenvolvimento de seus alunos

Nessa direccedilatildeo eacute particularmente importante trabalhar com os professores e coordenadores

na revisatildeo de suas crenccedilas e concepccedilotildees sobre as competecircncias normalmente ancoradas no saber-

fazer na identificaccedilatildeo de suas proacuteprias potencialidades e fragilidades na anaacutelise das suas

experiecircncias de sucesso como forma de identificar elementos a serem recuperados em outras

situaccedilotildees na experimentaccedilatildeo de estrateacutegias diferenciadas que podem ser adotadas Para realizar

essa assessoria o psicoacutelogo escolar pode trabalhar com os coordenadores e professores no

planejamento da aula de forma que contemple tentativas de modificaccedilatildeo observar as aulas e na

sequecircncia analisaacute-la com o docente implementar grupos de estudo e reflexatildeo nos quais os

professores possam experimentar novas metodologias e estrateacutegias em um espaccedilo coletivo de

aprendizado

Ao compreender que a formaccedilatildeo dos sujeitos-alunos se constitui a partir de uma teia

complexa de recursos objetivos e subjetivos expliacutecitos e impliacutecitos a escolha dos procedimentos e

instrumentos avaliativos deveraacute explorar a complexidade e multiplicidade de sentidos que os

estudantes atribuem agrave aprendizagem ao desenvolvimento de competecircncias enfim ao seu processo

formativo Conforme alerta Marinho-Arauacutejo (2004) o ldquodesenvolvimento de competecircncias como

uma estrateacutegia de construccedilatildeo do perfil profissional apresenta-se como ferramenta bastante uacutetil agrave

complementaccedilatildeo da formaccedilatildeo na educaccedilatildeo superior mas em contrapartida oferece alguns

desafios especialmente quanto agrave avaliaccedilatildeordquo (p 93) Os modelos tradicionais de avaliaccedilatildeo que

buscam mensurar resultados prontos e acabados natildeo datildeo conta de avaliar a dinacircmica do

desenvolvimento de competecircncias

Uma alternativa diferenciada dos modelos de avaliaccedilatildeo comumente empregados refere-se agrave

valorizaccedilatildeo da dimensatildeo qualitativa da avaliaccedilatildeo dos sentidos subjetivos que expressam como os

alunos estatildeo aprendendo Trata-se por exemplo de adotar estrateacutegias avaliativas que autorizem a

manifestaccedilatildeo dos sentidos subjetivos construiacutedos nas e pelas situaccedilotildees de aprendizagem como

ldquoainda natildeo consigordquo ldquonatildeo sei fazer sozinhordquo ldquodessa forma eacute mais difiacutecilrdquo ldquosinto-me incapaz de

fazer issordquo ldquopreciso melhorarrdquo e que subsidiem a reformulaccedilatildeo do processo de ensino e de

aprendizagem

Nessa perspectiva a intenccedilatildeo da avaliaccedilatildeo de competecircncias natildeo eacute quantificar a

aprendizagem ou medir a eficiecircncia de um curso mas focar nos sentidos que satildeo construiacutedos nos

processos intersubjetivos e possibilitar sua ressignificaccedilatildeo pela reconfiguraccedilatildeo dos contextos de

aprendizagem de forma que se tornem mais favoraacuteveis agrave construccedilatildeo de competecircncias necessaacuterias

ao perfil profissional que se deseja formar (Dias Sobrinho 2002) Natildeo se avalia para classificar

alunos ou para comparaacute-los entre si mas para repensar o processo educativo para oxigenar o

processo de ensino-aprendizagem

249

3 Inclusatildeo e Diversidade

Nos uacuteltimos anos a temaacutetica da diversidade tem se constituiacuteda como ponto frequente de

discussatildeo em diferentes contextos sociais e particularmente no espaccedilo educativo Fatores

relacionados a fenocircmenos soacutecio-histoacutericos como a crescente ampliaccedilatildeo da oportunidade de acesso agrave

educaccedilatildeo a diferenciaccedilatildeo do puacuteblico que ingressa nas universidades em termos de caracteriacutesticas

pessoais soacutecio-econocircmicas motivaccedilotildees e expectativas as novas poliacuteticas de inclusatildeo para pessoas

com necessidades especiais e a luta por uma educaccedilatildeo para todos estatildeo no centro destas discussotildees

Em meio a este cenaacuterio as questotildees relativas agrave diversidade humana no contexto educativo tecircm

ganhado relevacircncia especial por estarem relacionadas agrave possibilidade efetiva de construir uma

sociedade democraacutetica que se ancore nos ideais de respeito justiccedila e igualdade

Como decorrecircncia dessa diversidade que eacute caracteriacutestica do ser humano o professor no

espaccedilo de sala de aula se depara com o desafio de trabalhar com estudantes com diferentes

histoacuterias perfis necessidades e formas de aprender Entretanto a despeito do crescente

reconhecimento da diversidade humana e sobretudo da necessidade de respeitaacute-la e acolhecirc-la a

praacutetica educativa tem sido construiacuteda sobre as ideias de homogeneidade padronizaccedilatildeo e

normatizaccedilatildeo Dessa maneira uma das principais barreiras agrave consolidaccedilatildeo de praacuteticas inclusivas

refere-se agrave concepccedilatildeo do processo educativo como um processo estandardizado e voltado para um

modelo ideal de aluno O desafio instaurado ao psicoacutelogo escolar eacute o de auxiliar os membros da

equipe pedagoacutegica a modificarem a compreensatildeo cerca das individualidades e caracteriacutesticas

particulares a cada aluno sejam elas de ordem bioloacutegica psicoloacutegica econocircmica cultural ou

social Eacute preciso mudanccedilas na forma de compreender a diferenccedila a qual por sua vez eacute construiacuteda

e (re)significada nas relaccedilotildees sociais

Os caminhos para uma educaccedilatildeo inclusiva ancorada na diversidade humana passam

necessariamente por um processo de reflexatildeo e revisatildeo das representaccedilotildees sociais dos conceitos

institucionalizados e das praacuteticas cristalizadas Nessa perspectiva a inclusatildeo escolar se configura

como um feacutertil e profiacutecuo espaccedilo para a intervenccedilatildeo do psicoacutelogo escolar por meio da assessoria ao

professor para a valorizaccedilatildeo da singularidade dos alunos como forma de potencializar o

desenvolvimento em suas muacuteltiplas possibilidades

Trabalhar em relaccedilatildeo agrave inclusatildeo escolar natildeo eacute apenas e nem essencialmente uma questatildeo

teacutecnica O essencial natildeo eacute estar ou natildeo preparado tecnicamente Isso sem duacutevida eacute

importante poreacutem secundaacuterio em relaccedilatildeo ao essencial o compromisso com os mais

desfavorecidos o querer trabalhar para transformar essa situaccedilatildeo (Martiacutenez 2005 p 112)

A contribuiccedilatildeo do psicoacutelogo escolar nessa transformaccedilatildeo perpassa a exploraccedilatildeo com o

professor do significado que ele atribui agrave inclusatildeo a maneira particular como lida com a diferenccedila

o seu entendimento do que seja normal deficiente e patoloacutegico da sua clareza sobre a natureza

interativa do desenvolvimento etc Mais do que auxiliar na elaboraccedilatildeo de meacutetodos e recursos

diferenciados o sentido da atuaccedilatildeo do psicoacutelogo escolar eacute mediar a circulaccedilatildeo das representaccedilotildees

250

valores estigmas anguacutestias e preconceitos que perpassam a relaccedilatildeo do docente com o processo de

inclusatildeo Novamente o papel do psicoacutelogo escolar eacute mobilizar os sentidos construiacutedos ao longo da

vida dos sujeitos e favorecer a conscientizaccedilatildeo dos atores acerca desses sentidos e sua

ressignificaccedilatildeo

A sala de aula eacute indiscutivelmente um espaccedilo de diversidade que participa da constituiccedilatildeo

da subjetividade dos estudantes Criar situaccedilotildees de aprendizagem que evidenciem a singularidade

de cada aluno suas habilidades pessoais estilos de aprendizagem interesses e motivaccedilotildees

necessidades particulares curiosidades e formas de expressatildeo satildeo formas proveitosas do professor

circular sentidos e significados relacionados agrave diversidade promover a inclusatildeo e favorecer o

desenvolvimento de seus estudantes em suas inuacutemeras possibilidades

Outro desdobramento do processo macro-sistecircmico de inclusatildeo refere-se agraves possiacuteveis

modificaccedilotildees que podem ocorrer no processo de ensino-aprendizagem para potencializar o

desenvolvimento dos alunos com necessidades educativas especiais os quais em virtude de

caracteriacutesticas e necessidades especiacuteficas requerem recursos pedagoacutegicos e metodologias

diferenciadas De acordo com a LDB (1996) os sistemas de ensino devem garantir curriacuteculos

meacutetodos teacutecnicas recursos educativos e organizaccedilatildeo especiacuteficos que atendam agraves necessidades

especiacuteficas destes alunos

Na perspectiva da educaccedilatildeo inclusiva o curriacuteculo eacute considerado uma ferramenta que pode

ser alterada para favorecer o desenvolvimento pessoal e social dos alunos possibilitando

adequaccedilotildees de maior ou de menor expressividade de acordo com as necessidades especiacuteficas do

aluno Dessa forma as adaptaccedilotildees curriculares natildeo satildeo propostas universais mas sim alternativas

pensadas a partir de cada situaccedilatildeo particular Com base nestas recomendaccedilotildees um eixo de

intervenccedilatildeo do psicoacutelogo escolar na promoccedilatildeo da inclusatildeo eacute tambeacutem na assessoria aos

coordenadores e professores na avaliaccedilatildeo e na definiccedilatildeo das adequaccedilotildees curriculares mais

pertinentes a cada caso

Ainda no acircmbito da inclusatildeo as medidas de apoio agrave ampliaccedilatildeo do acesso e permanecircncia na

Educaccedilatildeo Superior de grupos sociais tradicionalmente excluiacutedos conforme respaldas pelas

poliacuteticas de accedilotildees afirmativas eacute um campo de intervenccedilatildeo para o psicoacutelogo escolar Conforme jaacute

destacado por Sampaio (2009) accedilotildees voltadas para a permanecircncia dos estudantes de origem

popular natildeo se limitam a questotildees de natureza socioeconocircmica mas tambeacutem e igualmente

importante a accedilotildees pedagoacutegicas e acadecircmicas

Nessa direccedilatildeo os psicoacutelogos escolares podem criar espaccedilos de reflexatildeo e discussatildeo com a

equipe pedagoacutegica acerca da forma como as poliacuteticas afirmativas se concretizam no cotidiano das

instituiccedilotildees e das relaccedilotildees interpessoais Questotildees a serem debatidas referem-se agrave valorizaccedilatildeo dos

saberes que esses alunos trazem o conhecimento da sua trajetoacuteria escolar e os sentidos que

atribuem agrave formaccedilatildeo a identificaccedilatildeo de elementos que podem potencializar o sucesso acadecircmico

entre outras

251

4 Atenccedilatildeo agrave sauacutede docente

O professor eacute o principal agente do processo educacional eacute o mediador central dos

processos de aprendizagem e de desenvolvimento o que justifica os diferentes esforccedilos que tecircm a

intenccedilatildeo promover o seu desenvolvimento profissional Entretanto a qualidade do trabalho

pedagoacutegico docente natildeo depende apenas da maior conscientizaccedilatildeo acerca do seu papel na formaccedilatildeo

dos estudantes e das muacuteltiplas estrateacutegias que podem adotar em prol do desenvolvimento e da

aprendizagem de seus alunos depende tambeacutem do seu bem-estar da sua sauacutede psiacutequica

A esse respeito estudos tecircm mostrado que satildeo frequentes as queixas que denunciam

situaccedilotildees de mal-estar docente o qual eacute descrito a partir do termo inglecircs burnout e que designa os

professores cansados abatidos sem vontade de ensinar (Almeida amp Figueira 1998 Benevides-

Pereira 2002 Codo amp Vasques-Menezes 1999) A siacutendrome de burnout eacute multidimensional e

envolve (a) exaustatildeo emocional a partir da qual os professores sentem que natildeo conseguem se

implicar afetivamente no trabalho e dar mais de si mesmos (b) despersonalizaccedilatildeo em que

desenvolvem sentimentos e atitudes negativas em relaccedilatildeo aos alunos e (c) falta de envolvimento

pessoal no trabalho Ao comprometer a sauacutede do professor o burnout compromete tambeacutem a

qualidade do ensino do aprendizado dos alunos e da formaccedilatildeo acadecircmica Dessa maneira ao

focalizar o processo de ensino-aprendizagem eacute imprescindiacutevel que o psicoacutelogo escolar atente-se

para a sauacutede do corpo docente

Diante entatildeo da intenccedilatildeo de promover a sauacutede mental dos professores da IES o psicoacutelogo

escolar deve buscar identificar fatores estruturais e institucionais que comprometem o trabalho

docente e tambeacutem explorar sua satisfaccedilatildeo e realizaccedilatildeo com o trabalho os sentimentos e ideias que

atribuem a ele agrave qualidade do seu investimento afetivo e as contradiccedilotildees que percebe entre as suas

expectativas de vinculaccedilatildeo e o seu real envolvimento (Oliveira amp Marinho-Arauacutejo 2009) Na

maioria das vezes o professor natildeo percebe o conflito que estaacute vivenciando entre o seu

compromisso profissional e a incapacidade de se vincular cabendo ao psicoacutelogo escolar investir na

conscientizaccedilatildeo desse conflito eminentemente subjetivo

Coerente agrave perspectiva preventiva e institucional de atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar na

Educaccedilatildeo Superior a intervenccedilatildeo relativa ao burnout docente difere da praacutetica terapecircutica ou

cliacutenica realizada em outros contextos A intervenccedilatildeo do psicoacutelogo escolar junto a esta siacutendrome

deve focalizar as contradiccedilotildees entre as caracteriacutesticas e necessidades dos sujeitos e as praacuteticas

institucionais evidenciando-as e natildeo ocultando-as como forma de possibilitar sua reestruturaccedilatildeo

Por exemplo o acuacutemulo de funccedilotildees docentes cientiacuteficas e administrativas eacute vivenciado de formas

diferentes pelos professores da IES sendo que alguns deles podem apresentar menor capacidade de

suportaacute-lo Na medida em que se entende que essa dificuldade eacute resultado da integraccedilatildeo de fatores

individuais particulares agraves caracteriacutesticas subjetivas do professor e tambeacutem da organizaccedilatildeo das

funccedilotildees pedagoacutegicas do planejamento das atividades e da flexibilidade institucional a intervenccedilatildeo

252

nesta situaccedilatildeo natildeo recairaacute somente sobre o professor em uma perspectiva individualizada de

entender os problemas mas tambeacutem sobre fatores macro-sistecircmicos

Responsabilizar-se e comprometer-se com a promoccedilatildeo da sauacutede mental dos docentes nesta

perspectiva institucional visa promover seu bem-estar minimizar o sofrimento gerado na interaccedilatildeo

com as caracteriacutesticas do contexto favorecer seu envolvimento com os alunos e potencializar o

aprendizado destes uacuteltimos

DIMENSAtildeO 3 ndash DESENVOLVIMENTO DO ESTUDANTE

1 Programas educativos

Historicamente a Psicologia Escolar se consolidou por suas intervenccedilotildees junto aos alunos

em uma perspectiva remediativa e individualizada orientada para a resoluccedilatildeo de problemas e

dificuldades apresentadas pelos estudantes Diferentemente orientando-se por uma perspectiva

preventiva e relacional que privilegia a construccedilatildeo de espaccedilos coletivos de reflexatildeo e valoriza a

circulaccedilatildeo dos sentidos subjetivos como estrateacutegia para mobilizar mudanccedilas as intervenccedilotildees

implementadas diretamente com os alunos a exemplo das intervenccedilotildees que integram as demais

dimensotildees de atuaccedilatildeo contempladas nesta proposta podem se desenvolver de outras maneiras

Os programas educativos elaborados e desenvolvidos com base nessa perspectiva de

atuaccedilatildeo podem ter diferentes objetivos se estruturar de formas diversas e abordar temaacuteticas tatildeo

variadas quanto sejam as possibilidades humanas Contudo a ideia central destes programas eacute a de

construir oportunidades que potencializem o desenvolvimento integral dos estudantes por meio da

reflexatildeo discussatildeo e ressignificaccedilatildeo de questotildees que perpassam a sua trajetoacuteria acadecircmica e

pessoal

A escolha do formato dos programas ndash workshop oficina palestra ndash depende dos objetivos

traccedilados os quais podem prezar pela reflexividade e pelas trocas intersubjetivas ou pela

transmissatildeo de informaccedilotildees Quanto aos temas a serem abordados eles devem ser de conteuacutedo

psicoloacutegico que se articulam ao desenvolvimento dos estudantes e seu processo formativo como

por exemplo autoconhecimento desenvolvimento da criatividade habilidades interpessoais uso de

drogas estresse gestatildeo do tempo e de conflitos desenvolvimento de competecircncias transversais

trabalho em equipe controle do estresse ansiedade frente aos trabalhos e provas e outros

Coadunando-se ao compromisso social da Educaccedilatildeo Superior com a formaccedilatildeo de pessoas

confiantes criativas autocircnomas social e eticamente responsaacuteveis o diferencial imprimido pela

Psicologia Escolar nos programas educativos eacute a criaccedilatildeo de redes de trocas de discussatildeo e de apoio

entre os estudantes que tenham o potencial de fomentar muacuteltiplas possibilidades de

desenvolvimento Em vez de focarem na adequaccedilatildeo aos padrotildees sociais na adaptaccedilatildeo a regras e

normas cristalizadas na sociedade e na aceitaccedilatildeo acriacutetica das exigecircncias que lhe satildeo direcionadas

os programas educativos podem focalizar a diversidade de escolhas na construccedilatildeo das trajetoacuterias de

253

desenvolvimento buscando que sejam mais condizentes com a histoacuteria pessoal e familiar dos

alunos suas crenccedilas convicccedilotildees e sobretudo com seus projetos de vida

Com base nesta perspectiva os programas educativos direcionados aos alunos adquirem

uma nova formataccedilatildeo O trabalho de orientaccedilatildeo profissional por exemplo desloca-se da

preocupaccedilatildeo com a escolha ldquocertardquo do curso e de uma carreira para a construccedilatildeo de projetos de

vida que entre outros elementos englobam a carreira profissional Aleacutem do mais os programas de

orientaccedilatildeo profissional que se preocupavam apenas com a anaacutelise do curriacuteculo do estudante para

seu encaminhamento a vagas de trabalho em uma perspectiva de adequaccedilatildeo aluno-vaga tambeacutem

podem vir a fazer esta anaacutelise em conjunto com os alunos (coletivamente inclusive) tornando-a

uma oportunidade deles identificarem suas potencialidades interesses afinidades e possiacuteveis

fragilidades (em uma perspectiva de exploraccedilatildeo do autoconhecimento) e muito especialmente em

reconhecer e aproveitar no proacuteprio espaccedilo formativo oportunidades de transformaacute-las e desenvolvecirc-

las

Seguindo nesta direccedilatildeo formativa outra accedilatildeo do psicoacutelogo escolar nestes programas

educativos eacute o de envolver-se com o desenvolvimento de competecircncias transversais que satildeo

valorizadas e requeridas no mundo do trabalho e que ampliam as possibilidades de uma inserccedilatildeo

bem sucedida dos estudantes O desenvolvimento de competecircncias discentes pode se concretizar

atraveacutes de projetos com este objetivo expliacutecito como workshops de desenvolvimento de

competecircncias comunicacionais e interpessoais estrateacutegias de estudo gestatildeo de conflitos ou podem

vir inseridos em outros programas como eacute o caso do voluntariado em accedilatildeo social e do apoio entre

pares

O voluntariado em accedilatildeo social diz respeito a projetos sociais elaborados pela IES para a

comunidade interna e externa com base em accedilotildees voluntaacuterias de estudantes Os alunos interessados

se inscrevem para participar do projeto e satildeo orientados e supervisionados pelo psicoacutelogo escolar e

pela equipe pedagoacutegica da instituiccedilatildeo no decorrer das atividades que desenvolvem As supervisotildees

satildeo espaccedilos para compartilhar as experiecircncias discutir o andamento das atividades fazer o

planejamento e trabalhar o desenvolvimento de competecircncias especiacuteficas como a comunicaccedilatildeo

trabalho em equipe tomada de decisatildeo

Uma possibilidade diferenciada de estruturaccedilatildeo dos programas eacute aquela em que eles se

organizam com base no apoio entre pares (peer counseling) ou seja programas nos quais

estudantes voluntaacuterios treinados e supervisionados pelos psicoacutelogos escolares ajudam outros

estudantes com problemas pessoais e acadecircmicos Nestes casos os psicoacutelogos escolares natildeo atuam

diretamente com os alunos com dificuldades tendo sua participaccedilatildeo alguns focos distintos e

complementares planejamento e conduccedilatildeo da formaccedilatildeo dos estudantes que iratildeo atuar nos

programas supervisatildeo regular para os alunos voluntaacuterios para que possam discutir e trabalhar

eventuais dificuldades e anguacutestias que surjam ao longo do processo de apoio aos colegas

intervenccedilatildeo em casos nos quais o apoio prestado pelos voluntaacuterios indica a necessidade urgente de

254

uma intervenccedilatildeo psicoloacutegica na perspectiva de uma intervenccedilatildeo em crise sistematizaccedilatildeo e anaacutelise

das principais dificuldades vivenciadas pelos estudantes e que motivam a busca de apoio bem

como da pertinecircncia das estrateacutegias adotadas para sanaacute-las as quais servem a niacutevel institucional

como indicadores da qualidade do serviccedilo oferecido pela IES

Exemplos de programas baseados no apoio entre pares planejados e coordenados pelo

psicoacutelogo escolar satildeo a Linha Telefocircnica de Apoio ao Aluno e o Programa de Acolhimento e

Integraccedilatildeo dos Calouros3 No primeiro caso trata-se de um programa de aconselhamento entre

pares facilitado por uma linha telefocircnica de apoio a alunos o qual tem como objetivo ajudar os

estudantes com dificuldades Por telefone estudantes voluntaacuterios da IES (vinculados ao curso de

Psicologia e a outras aacutereas) e especialmente formados e treinados para atuar no programa oferecem

apoio emocional e escuta ativa agravequeles que procuram ajuda para enfrentar suas dificuldades O

programa pode funcionar 24 horas ou nos horaacuterios nos quais os alunos relatam maior dificuldade

como no periacuteodo noturno ou no final de semana por exemplo

A recepccedilatildeo e acolhimento aos novos alunos tambeacutem satildeo accedilotildees que podem ser realizadas

pelos psicoacutelogos escolares ou podem ser por eles coordenadas nestas situaccedilotildees tecircm-se outro

exemplo de apoio entre pares no qual a funccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares estaacute mais vinculada agrave

formaccedilatildeo coletiva dos estudantes que iratildeo oferecer ajuda aos seus colegas Nos programas de

acolhimento a calouros alunos que jaacute estudam na IES (mentores) facilitam a transiccedilatildeo e integraccedilatildeo

dos receacutem-chegados ou seja estudantes mais avanccedilados nos cursos assumem um papel central no

acolhimento e acompanhamento dos novos colegas oferecendo uma atenccedilatildeo especializada e

sistemaacutetica com o objetivo de facilitar a integraccedilatildeo dos novos alunos no meio acadecircmico

Os mentores apoacutes receberem a formaccedilatildeo acompanham os ingressantes nos seus primeiros

dias na IES mostrando-os as instalaccedilotildees o campus e o uso que podem fazer dos serviccedilos

oferecidos Cada mentor tem um grupo de alunos sob seu acompanhamento devendo reunir-se

regularmente com ele durante o semestre

Tanto no caso da linha telefocircnica quanto do acolhimento aos calouros os alunos-mentores

participam de um processo de formaccedilatildeo especiacutefico que abordam temas diferenciados de acordo

com o programa no qual iratildeo atuar o papel e funccedilatildeo do mentor estrateacutegias para apoiar e intervir

junto aos alunos ingressantes e com dificuldades estrateacutegias de aconselhamento questotildees

relacionadas com a gestatildeo de conflitos exerciacutecios de facilitaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo e integraccedilatildeo em

um novo grupo estilos de lideranccedila treino de assertividade e dinacircmicas de grupo qualidade da

escuta ativa A formaccedilatildeo dos mentores pode ser portanto realizada pelos psicoacutelogos escolares os

quais assumem a tarefa de mediar o desenvolvimento de competecircncias sociais e relacionais junto

aos mentores por meio de situaccedilotildees de estudo reflexatildeo coletiva e supervisatildeo

3 Em Portugal programas desta natureza satildeo identificados como Mentorado

255

A atuaccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares em programas de peer counselling eacute conforme

apresentado uma das possiacuteveis estrateacutegias que podem ser implantadas com base em um modelo

preventivo e institucional de atuaccedilatildeo pois simultaneamente oferece apoio e oportuniza o

desenvolvimento de diferentes agentes como os estudantes que estatildeo vivenciando alguma

dificuldade especiacutefica os que em virtude do ingresso em um novo e diferente contexto se

confrontam com desafios sentimentos e anguacutestias inesperados os estudantes veteranos que na sua

trajetoacuteria acadecircmica tecircm a oportunidade de trabalhar competecircncias de comunicaccedilatildeo de escuta de

suporte e de encaminhamento que os qualifica aleacutem da proacutepria instituiccedilatildeo que pode alcanccedilar niacuteveis

diferenciados de sucesso por oferecer suporte e espaccedilos distintos de formaccedilatildeo aos estudantes

Como resumem Pereira Vagos Santos Vasconcelos Monteiro Torres e cols (2010) o

peer counselling eacute uma estrateacutegia que traz benefiacutecios para todas as partes envolvidas a instituiccedilatildeo

os estudantes que procuram apoio e aqueles que oferecem ajuda

Por um lado as instituiccedilotildees conseguem oferecer uma alternativa aos serviccedilos profissionais

de aconselhamento a baixo custo Por outro lado os estudantes que procuram ajuda tecircm a

oportunidade de falar dos seus problemas num ambiente mais informal sem o estigma de

consultar um profissional Por fim os proacuteprios alunos apoiantes podem beneficiar com

estas iniciativas ao niacutevel do desenvolvimento pessoal emocional cognitivo e social tendo

a oportunidade de desenvolver novas capacidades e o seu sentido ciacutevico e de

responsabilidade (Pereira amp cols p 106)

O grande diferencial destes programas de apoio entre pares eacute que eles ao mesmo tempo

oferecem apoio agravequeles que buscam ajuda para suas dificuldades impulsionam o desenvolvimento

de competecircncias variadas nos alunos-voluntaacuterios aleacutem de ser uma oportunidade singular da

expressatildeo e vivecircncia da cidadania pelo voluntariado

2 Dificuldades na trajetoacuteria acadecircmica

Por muito tempo o trabalho na avaliaccedilatildeo atendimento e encaminhamento de alunos com

dificuldades escolares foi a praacutetica que caracterizou a atuaccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares nas escolas

Nestes casos o foco da intervenccedilatildeo era prioritariamente o aluno ou sua famiacutelia com o objetivo de

identificar os fatores pessoais eou familiares que justificavam a existecircncia de tal dificuldade

Modificando esta maneira de trabalhar os psicoacutelogos escolares tecircm cada vez mais incluiacutedo outros

atores (professores coordenadores) e elementos (relaccedilotildees praacuteticas institucionais) no processo de

compreensatildeo e intervenccedilatildeo das queixas escolares

Nessa direccedilatildeo quando recebe o pedido do professor ou do coordenador para avaliar e

atender um aluno este pedido eacute entendido como iniacutecio do estabelecimento de uma parceria entre o

psicoacutelogo escolar aquele que formulou o pedido e se necessaacuterio o aluno e outros atores No

acircmbito desta parceria o psicoacutelogo escolar pode propor a realizaccedilatildeo de encontros de discussatildeo de

reflexatildeo e de anaacutelise dos aspectos objetivos e subjetivos que sustentam a queixa formulada e que

256

motivam o encaminhamento por parte do professor geralmente Nesses encontros busca-se

compreender de forma criacutetica e ampliada como aspectos pessoais relacionais e institucionais se

articulam na configuraccedilatildeo do problema

Como estrateacutegia para auxiliar na compreensatildeo do fenocircmeno podem ser feitas anaacutelises das

produccedilotildees do aluno observaccedilotildees das interaccedilotildees em sala de aula anaacutelise dialogada com o professor

e coordenador do planejamento docente objetivos a serem alcanccedilados das estrateacutegias avaliativas

entre outros A busca por essa compreensatildeo eacute feita portanto juntamente com os membros da

equipe pedagoacutegica e jaacute se caracteriza como uma intervenccedilatildeo psicoloacutegica na medida em que

possibilita a expressatildeo dos sentimentos anguacutestias e inseguranccedilas do docente bem como a

construccedilatildeo de alternativas para lidar com a situaccedilatildeo sejam elas de natureza relacional curricular ou

teacutecnica

Como fica evidente o foco destas accedilotildees desloca-se do aluno sobre o qual se faz uma

queixa e centra-se naquele que a elaborou em uma tentativa de auxiliaacute-lo na reflexatildeo sobre sua

praacutetica expectativas e anguacutestias O contato com o aluno pode ocorrer na forma de conversas

informais que auxiliem o psicoacutelogo escolar a compreender a queixa ou por meio de uma avaliaccedilatildeo

sistematizada quando for o caso

Nas situaccedilotildees nas quais o pedido de apoio eacute feito pelo proacuteprio aluno o psicoacutelogo escolar

deve fazer o acolhimento do estudante explorando a dificuldade preocupaccedilotildees e razotildees que o

motivam a buscar apoio psicoloacutegico Acolher significa ouvir de forma ativa o aluno valorizando o

seu pedido e explorando os vaacuterios fatores que se interconectam na configuraccedilatildeo da dificuldade que

vivencia

Feito o acolhimento cabe ao psicoacutelogo avaliar quais seratildeo os passos seguintes que pode ser

uma avaliaccedilatildeo psicoloacutegica detalhada do problema apresentado pelo aluno ou investigaccedilatildeo ampliada

da dificuldade junto aos professores e colegas incluindo observaccedilotildees do aluno e das relaccedilotildees Eacute

possiacutevel tambeacutem fazer orientaccedilotildees pontuais relativas agrave queixa do aluno realizadas na forma de

aconselhamento psicoloacutegico sugerir que participe de programas educativos especiacuteficos oferecidos

na IES ou se necessaacuterio encaminhar para atendimento especializado externo quando os esforccedilos

junto agrave equipe da IES natildeo forem suficientes ou quando a complexidade e especificidade do caso

assim exigirem

Na Educaccedilatildeo Superior diferentemente da realidade da Educaccedilatildeo Baacutesica muitos alunos

procuram por iniciativa proacutepria o apoio profissional do psicoacutelogo escolar As razotildees que os

motivam satildeo variadas dificuldades de concentraccedilatildeo de organizaccedilatildeo dos estudos e em conciliar o

trabalho com o estudo natildeo identificaccedilatildeo com o curso quadros de ansiedade estados depressivos

isolamento conflitos no relacionamento afetivo afastamento da famiacutelia uso de drogas problemas

com sono e alimentaccedilatildeo e etc Diante destes problemas a ideia de oferecer suporte individual

como forma de auxiliaacute-los a superar o mal-estar e o sofrimento psiacutequico eacute legiacutetima e deve ser

assumida pela Psicologia Contudo o atendimento individualizado natildeo deve ser eleito de forma

257

prioritaacuteria pelos psicoacutelogos escolares tanto pelo fato de que o campo de atuaccedilatildeo da aacuterea estaacute

essencialmente associado aos processos de desenvolvimento e de aprendizagem quanto pelo

alcance reduzido desta modalidade de atendimento tendo em vista a dimensatildeo da IES e nuacutemero de

alunos que tem

Dessa maneira no tocante agraves questotildees e problemaacuteticas psicoloacutegicas que perpassam o

desenvolvimento dos estudantes e que em virtude de sua repercussatildeo subjetiva trazem dificuldades

ou prejuiacutezos agrave sua formaccedilatildeo acadecircmica e integral compete aos psicoacutelogos escolares elegerem-nas

como eixo de intervenccedilatildeo sem contudo se configurar como apoio cliacutenico-terapecircutico

Por certo que a capacidade de atendimento de um psicoacutelogo escolar iraacute depender da sua

carga horaacuteria de trabalho do conjunto de atividades que tem sob sua responsabilidade do fato de

compor uma equipe ou de trabalhar sozinho do tamanho da demanda que recebe do seu

compromisso eacutetico com a qualidade do serviccedilo prestado entre outros fatores Todavia ainda que

garantida as melhores condiccedilotildees de trabalho um psicoacutelogo escolar conseguiraacute atender de forma

individual em torno de 40 alunos por semana (desconsiderando neste caacutelculo o tempo necessaacuterio

para anaacutelise reflexatildeo registro e planejamento dos casos) de maneira que o impacto do trabalho

psicoloacutegico fica bastante reduzido tendo em vista a quantidade de alunos que procuram apoio

Tanto eacute assim que muitos dos Serviccedilos de Psicologia relatam ter listas de esperas para atendimento

conforme apresentado nos resultados deste trabalho

Tendo por um lado a defesa e a luta pela democratizaccedilatildeo da Educaccedilatildeo Superior tanto em

termos das oportunidades de acesso quanto de permanecircncia com qualidade e por outro a reduzida

extensatildeo da atuaccedilatildeo individualizada dos psicoacutelogos escolares cabe problematizar qual eacute a

contribuiccedilatildeo da Psicologia Escolar na busca dessa democratizaccedilatildeo Defende-se portanto que a

atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar junto agraves dificuldades nas trajetoacuterias acadecircmicas se amplie para accedilotildees

de natureza coletiva e preventiva direcionadas para a promoccedilatildeo da sauacutede no contexto educativo

3 Percursos de formaccedilatildeo

A investigaccedilatildeo e acompanhamento dos percursos formativos na Educaccedilatildeo Superior eacute um

dos eixos mais recentes de intervenccedilatildeo do psicoacutelogo escolar que pode contribuir para elucidar se e

como as praacuteticas pedagoacutegicas favorecem a formaccedilatildeo de cidadatildeos e a construccedilatildeo de perfis

profissionais aleacutem de favorecer a reestruturaccedilatildeo do processo de ensino Agrave luz desses objetivos os

psicoacutelogos escolares podem coordenar estudos para conhecer a populaccedilatildeo estudantil tanto em

termos soacutecio-demograacuteficos econocircmicos e familiares quanto aspectos da subjetividade individual

como estilos de aprendizagem interesses e modos de expressatildeo expectativas e anseios que tecircm

relaccedilatildeo com o processo de formaccedilatildeo

Estes estudos tecircm como meta oferecer informaccedilotildees detalhadas sobre o perfil dos alunos aos

membros da equipe pedagoacutegica e aos gestores para subsidiar poliacuteticas programas e accedilotildees

direcionadas agraves caracteriacutesticas e necessidades dos estudantes Especificamente em relaccedilatildeo agrave accedilatildeo

258

docente por essa via subsidia-se o professor no planejamento das aulas e nos processos de

avaliaccedilatildeo favorecendo uma maior personalizaccedilatildeo das praacuteticas pedagoacutegicas de acordo com a

realidade especiacutefica das turmas

Tambeacutem podem ser realizados estudos relacionados ao perfil dos alunos ingressantes e dos

concluintes de forma a verificar a influecircncia do processo acadecircmico no desenvolvimento dos perfis

desejados As pesquisas podem investigar Quanto a formaccedilatildeo tem agregado ao perfil profissional

do estudante Como os alunos desenvolvem competecircncias transversais na e para aleacutem da sala de

aula Quais atividades acadecircmicas cientiacuteficas e artiacutestico-culturais tecircm impacto no

desenvolvimento destas competecircncias Para acompanhar os estudantes o psicoacutelogo escolar pode

sistematizar um modelo de monitoramento ao longo de toda a trajetoacuteria acadecircmico-profissional que

preveja investigaccedilotildees em pelo menos quatro momentos distintos por ocasiatildeo da entrada na IES

(ingressantes) durante o curso ao final (concluintes) e apoacutes a conclusatildeo do curso (egressos)

A partir da descriccedilatildeo dos eixos de intervenccedilatildeo sugeridos nesta proposta eacute importante

ressaltar que em consonacircncia com a defesa de uma atuaccedilatildeo preventiva e institucional em

Psicologia Escolar as dimensotildees da Gestatildeo Institucional e da Gestatildeo Acadecircmica satildeo privilegiadas

em relaccedilatildeo ao trabalho de apoio direto aos estudantes Por entender que as primeiras satildeo mais

abrangentes e potencialmente mais transformadoras a presente proposta aposta intencionalmente

nelas No entanto sem pretender que as accedilotildees sugeridas esgotem as possibilidades de atuaccedilatildeo da

Psicologia Escolar nas Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior eacute absolutamente desejaacutevel que outras

modalidades de intervenccedilatildeo sejam integradas

De toda forma o importante eacute que os psicoacutelogos inseridos na Educaccedilatildeo Superior

pesquisadores e interessados pela aacuterea aleacutem dos estudantes de Psicologia possam ter nessa

proposta um modelo amplo que venha nortear a expansatildeo da atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar

259

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

A ideia principal que delineou este estudo foi a de explorar um novo e recente campo de

pesquisa e de atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar e evidenciar possibilidades de intervenccedilatildeo dos

psicoacutelogos escolares neste contexto a Educaccedilatildeo Superior Desde o iniacutecio o caminho a ser

percorrido neste trabalho jaacute estava minimamente traccedilado em virtude de escolhas teoacuterico-conceituais

e metodoloacutegicas que o orientariam contudo tendo em vista que a pesquisa natildeo eacute um processo

solitaacuterio de construccedilatildeo mas coconstruiacutedo e ressignificado nas relaccedilotildees o mergulho no contexto de

investigaccedilatildeo levou a algumas reformulaccedilotildees nessa trajetoacuteria

Investigar a atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo Superior se configurou como uma

oportunidade de conhecer uma realidade multifacetada e ao mesmo tempo de compreender rever

e construir trajetoacuterias de desenvolvimento entre elas a da proacutepria pesquisadora Intenccedilotildees e

estrateacutegias inicialmente traccediladas foram revistas e reinterpretadas ao longo do estudo e da imersatildeo

no campo de pesquisa conceitos e experiecircncias foram problematizados e ressignificados

Objetivos convicccedilotildees ideias inquietaccedilotildees resistecircncias e desejos circularam confrontaram-se e

foram dando forma e sentido ao trabalho em um processo qualitativo de construccedilatildeo de

conhecimento

Tendo estas consideraccedilotildees em perspectiva apresentam-se conclusotildees acerca da atuaccedilatildeo da

Psicologia Escolar em Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior e alguns desdobramentos que se entende

serem pertinentes agrave sua consolidaccedilatildeo e agrave ampliaccedilatildeo para outras possibilidades

De maneira geral os resultados desta pesquisa apontam que o movimento nacional de

conferir maior criticidade agrave praacutetica em Psicologia Escolar conforme se discutiu no Capiacutetulo I jaacute se

materializa em accedilotildees contextualizadas e ampliadas a outros atores e instacircncias institucionais Ainda

que as indicaccedilotildees acerca da necessidade de revisatildeo e redimensionamento das praacuteticas tenham sido

forjados nas experiecircncias na Educaccedilatildeo Baacutesica outros contextos e niacuteveis educativos tambeacutem se

beneficiaram com os desdobramentos de tal movimento

Ao longo das uacuteltimas deacutecadas esforccedilos individuais e coletivos empreendidos por parte de

pesquisadores e profissionais em Psicologia Escolar oportunizaram a construccedilatildeo de um corpus

teoacuterico-praacutetico que atualmente sustenta o trabalho nos serviccedilos de apoio psicoloacutegico Se

tradicionalmente a Psicologia Escolar se faz presente em Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior

mediante atuaccedilatildeo no Serviccedilo de Orientaccedilatildeo ao Universitaacuterio em uma perspectiva individualizada

de acompanhamento ao estudante e em resposta ao problema que o leva a procurar ajuda as

intervenccedilotildees mais recentes tecircm se desvinculado das formas de trabalho centradas no indiviacuteduo e

adaptacionistas Sem abandonar o atendimento claacutessico aos sujeitos individuais investimentos

ainda discretos mas importantes vecircm sendo feitos em praacuteticas preventivas e em accedilotildees com outros

agentes que tambeacutem participam do processo formativo dos estudantes

260

O cenaacuterio atual de intervenccedilatildeo da Psicologia Escolar nas IES se daacute portanto mediante a

apropriaccedilatildeo e integraccedilatildeo criacutetica e inovadora de possibilidades diferenciadas de atuaccedilatildeo como

aquelas representadas pelo auxiacutelio na integraccedilatildeo dos novos alunos assessoria aos professores

coordenadores e gestores institucionais coordenaccedilatildeo de programas educativos de promoccedilatildeo do

desenvolvimento dos estudantes formaccedilatildeo de professores e de funcionaacuterios participaccedilatildeo em

processos de definiccedilatildeo dos perfis profissionais e de seleccedilatildeo acompanhamento aos egressos entre

muitas outras Para aleacutem do foco no sucesso acadecircmico e na promoccedilatildeo das trajetoacuterias formativas

dos estudantes os Serviccedilos de Psicologia de Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior tambeacutem estatildeo se

comprometendo cada vez mais com o desenvolvimento de outros atores que em maior ou menor

medida participam do processo educativo Atuando nos processos subjetivos e intersubjetivos os

psicoacutelogos escolares buscam favorecer a conscientizaccedilatildeo destes atores acerca de suas

responsabilidades com a formaccedilatildeo de pessoas competentes eacutetica e socialmente comprometidas e

responsaacuteveis

Diante da caracterizaccedilatildeo do cenaacuterio relativo agrave atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo

Superior entende-se que os objetivos traccedilados na presente pesquisa especificamente os de (a)

compor um panorama dos Serviccedilos de Psicologia (b) mapear e analisar a atuaccedilatildeo de psicoacutelogos

escolares e (c) investigar experiecircncias diferenciadas de atuaccedilatildeo na Educaccedilatildeo Superior foram

contemplados Particularmente os resultados apresentados ao longo dos estudos 1 e 2 evidenciam o

cumprimento destes objetivos

De acordo com o que jaacute foi defendido em capiacutetulo anterior o processo educativo que

transcorre nas Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior tem a funccedilatildeo de transmitir o conhecimento

historicamente acumulado e igualmente de favorecer o desenvolvimento de pessoas criacuteticas

competentes reflexivas conscientes de suas potencialidades e das possibilidades de transformar a

realidade Entretanto eacute niacutetido que o significado atribuiacutedo agrave Educaccedilatildeo Superior tem se diluiacutedo em

meio a tantas ideias e proposiccedilotildees ambiacuteguas ambivalentes e contraditoacuterias as quais estatildeo imersas

em um momento histoacuterico e social marcado pelo privileacutegio da iniciativa privada pela

intensificaccedilatildeo das leis do mercado e pela minimizaccedilatildeo da ingerecircncia do Estado nos negoacutecios

humanos (Dias Sobrinho 2004a 2005 Georgen 1998 2008 Severino 2000 2002)

Uma forte caracteriacutestica do momento atual eacute o domiacutenio do pensamento utilitarista de

forma que o aumento da competitividade tem voltado a Educaccedilatildeo Superior para o desenvolvimento

das competecircncias necessaacuterias para o mundo do trabalho e natildeo para a participaccedilatildeo social O que

prevalece eacute a racionalidade e a loacutegica proacuteprias do mundo da produccedilatildeo do negoacutecio e da geraccedilatildeo de

lucros Em nome dessa loacutegica a Educaccedilatildeo Superior tem se subordinado agraves normas do mercado

passando a instrumentalizar pessoas para determinadas tarefas ao inveacutes de formaacute-las

Contudo diante da anguacutestia e frustraccedilatildeo decorrente desse processo inegavelmente histoacuterico

e social natildeo se pode deixar que a Educaccedilatildeo Superior tradicionalmente vinculada ao

desenvolvimento e progresso da humanidade e agrave valorizaccedilatildeo das construccedilotildees soacutecio-culturais seja

261

submetida a interesses momentacircneos e individualistas Como instituiccedilatildeo construiacuteda e mantida pelos

homens para suprir uma necessidade de formaccedilatildeo dos sujeitos as IES podem se transformar por

meio da ressignificaccedilatildeo de sua identidade de forma a buscar uma melhor adaptaccedilatildeo agrave atual

realidade social Para tanto a constituiccedilatildeo de espaccedilos de reflexatildeo que se dediquem a problematizar

o papel da Educaccedilatildeo Superior na sociedade torna-se imprescindiacutevel uma vez que pensar analisar

criticar e questionar a realidade que estaacute dada eacute um passo de suma importacircncia para orientar

escolhas e accedilotildees e portanto os rumos da Educaccedilatildeo Superior

Nesse sentido a atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo Superior ancorada na

abordagem histoacuterico-cultural vincula-se fortemente agrave promoccedilatildeo de espaccedilos de interlocuccedilatildeo e

autoanaacutelise que fomentem processos de aprendizagem e de desenvolvimento de estudantes de

professores de funcionaacuterios de pais de diretores e reitores e tambeacutem dos proacuteprios psicoacutelogos

escolares A Educaccedilatildeo Superior como contexto de formaccedilatildeo e de desenvolvimento pode ser fonte

de conscientizaccedilotildees e transformaccedilotildees pessoais e coletivas que favoreccedilam a construccedilatildeo de uma

sociedade marcada pela cidadania e pela democracia ldquoSe eacute verdade que as universidades e os seus

centros de investigaccedilatildeo jaacute natildeo satildeo os lugares privilegiados de produccedilatildeo do conhecimento eacute

importante que eles continuem a ser fundamentais ndash embora natildeo necessariamente centrais ndash lugares

de lsquoeducaccedilatildeorsquordquo (Magalhatildees 2004 p 199)

A compreensatildeo do desenvolvimento humano como um processo histoacuterico e cultural

construiacutedo nas interaccedilotildees dos sujeitos com as produccedilotildees humanas com as influecircncias

socioculturais e com os sentidos partilhados pelos grupos conforme proposta pela abordagem

histoacuterico-cultural (Leontiev 2004 Luria 1990 Vygotsky 1999 2003 2009) eacute extremamente

favorecedora da atuaccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares Entender o sujeito com base nessa abordagem

subsidia os psicoacutelogos escolares na construccedilatildeo intencional de espaccedilos de diaacutelogo negociaccedilatildeo e

trocas intersubjetivas que satildeo propulsoras do desenvolvimento Com alicerce nos fundamentos da

abordagem histoacuterico-cultural acredita-se que os valores as experiecircncias ideias aprendizagens e

subjetividades que circulam no contexto da Educaccedilatildeo Superior oportunizam o desenvolvimento

humano adulto tanto de estudantes quanto de docentes e gestores em uma perspectiva

qualitativamente diferenciada

Na esteira dessas consideraccedilotildees relativas ao desenvolvimento humano adulto como um dos

eixos centrais da atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar a opccedilatildeo por realizar uma pesquisa-intervenccedilatildeo se

constituiu ao mesmo tempo como um momento singular e plural de mergulhar no contexto

profissional de melhor compreender o campo de pesquisa e de revisitar concepccedilotildees e praacuteticas Os

espaccedilos relacionais criados pela pesquisa-intervenccedilatildeo satildeo tanto para o pesquisador quanto para os

participantes uma oportunidade de enveredar pela sua histoacuteria e identidade permanentemente em

construccedilatildeo A experiecircncia de acompanhar um profissional e de oportunizar intencionalmente a

circulaccedilatildeo de sentidos subjetivos construiacutedos na histoacuteria e nas relaccedilotildees eacute no miacutenimo desafiadora e

transformadora Desafia o pesquisador a reconhecer e desenvolver recursos mediacionais

262

potencialmente capazes de mobilizar a reflexatildeo anaacutelise e implicaccedilatildeo do outro Simultaneamente a

experiecircncia da pesquisa-intervenccedilatildeo tambeacutem transforma o pesquisador por ser um processo ativo

de imersatildeo nas suas proacuteprias concepccedilotildees valores filiaccedilotildees e compromissos

Para aleacutem dos desdobramentos atinentes ao desenvolvimento do proacuteprio pesquisador esta

modalidade de pesquisa se mostra potencialmente impulsionadora de processos de conscientizaccedilatildeo

que satildeo basilares agrave formaccedilatildeo pessoal e profissional dos sujeitos participantes Fomentar espaccedilos de

interlocuccedilatildeo mediados que possibilitem a mobilizaccedilatildeo de sentidos e significados constitutivos da

subjetividade dos sujeitos eacute uma forma qualitativamente diferenciada de produzir conhecimento

com base na construccedilatildeo coletiva

Os resultados relacionados agrave pesquisa-intervenccedilatildeo organizados em torno de dois temas

centrais em Psicologia Escolar ndash perfil e atuaccedilatildeo - bem como os desdobramentos que trouxeram agrave

construccedilatildeo da proposta de atuaccedilatildeo evidenciam que o objetivo proposto de (d) acompanhar a

atuaccedilatildeo de um psicoacutelogo escolar em uma IES do Distrito Federal foi satisfatoriamente cumprido

Aleacutem do mais o acompanhamento de profissionais inseridos no contexto profissional eacute sem

duacutevida um campo que merece ser mais explorado como forma de aprofundar o compromisso

social da Psicologia Escolar

Reafirmando esse compromisso a proposta de criaccedilatildeo e estruturaccedilatildeo de Serviccedilos de

Psicologia apresentada neste trabalho eacute uma resposta aos desafios sociais contemporacircneos que por

imputarem incertezas e dilemas agrave Educaccedilatildeo Superior instigam diferentes aacutereas do conhecimento a

se posicionarem e a buscarem alternativas capazes de fortalecer o papel emancipatoacuterio e formativo

deste niacutevel educativo (Dias Sobrinho 2004a 2005 2008a Morosini 1997 2005 2006b Ristoff

1999 2008 Severino 2000 2002 Sguissardi 2005 2008) Nesse sentido esta proposta se

configura como um caminho que pode ser trilhado pelos psicoacutelogos natildeo deve se constituir em um

modelo riacutegido e cristalizado que natildeo oxigene e impulsione o crescimento da aacuterea Deseja-se ao

contraacuterio que as indicaccedilotildees apresentadas mobilizem questionamentos desencadeiem inquietaccedilotildees

e suscitem formas particularizadas de ser psicoacutelogo escolar e de fazer Psicologia Escolar na

Educaccedilatildeo Superior

A proposta para os Serviccedilos de Psicologia eacute portanto um convite agrave reflexatildeo agrave revisatildeo das

praacuteticas agrave reinterpretaccedilatildeo das escolhas agrave reconstruccedilatildeo de trajetoacuterias O modelo elaborado e

apresentado neste trabalho evidencia o cumprimento do uacuteltimo objetivo traccedilado nesta pesquisa

qual seja (e) elaborar proposta de criaccedilatildeo e estruturaccedilatildeo para os Serviccedilos de Psicologia na

Educaccedilatildeo Superior Espera-se entretanto que este objetivo permaneccedila aberto e sendo

continuamente alimentado por debates em foacuteruns acadecircmicos e profissionais

Como campo emergente de pesquisa e de intervenccedilatildeo eacute evidente que a Educaccedilatildeo Superior

traz muitos desafios e possibilidades agrave Psicologia Escolar no entanto devido agraves suas

particularidades e dinacircmica proacutepria carece de investigaccedilotildees que venham subsidiar a praacutetica dos

263

psicoacutelogos escolares e favorecer o desenvolvimento de accedilotildees efetivamente comprometidas com a

promoccedilatildeo do processo de formaccedilatildeo pessoal e profissional de cidadatildeos

Nessa direccedilatildeo alguns temas que merecem orientar pesquisas futuras relacionam-se agrave

transiccedilatildeo dos estudantes da Educaccedilatildeo Baacutesica para a Educaccedilatildeo Superior e desta para o mercado de

trabalho ao processo de adaptaccedilatildeo no primeiro ano de curso e o impacto que a vivecircncia na

Educaccedilatildeo Superior tem na configuraccedilatildeo da subjetividade dos estudantes especialmente quanto agrave

autonomia cidadania e responsabilidade social a investigaccedilatildeo de fatores de sucesso e de insucesso

acadecircmico que se detenham tanto aos fatores sociais e econocircmicos quanto aos intrainstitucionais

aos fatores pessoais relacionais e afetivos favoraacuteveis agrave permanecircncia dos estudantes nos cursos

entre outros

Questotildees de pesquisa orientadas pela dimensatildeo de gestatildeo institucional de atuaccedilatildeo da

Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo Superior podem estar relacionadas agrave qualificaccedilatildeo do perfil docente

e seu impacto em propostas curriculares mais flexiacuteveis e inovadoras investigaccedilatildeo e proposiccedilatildeo de

modelos presenciais e virtuais de integraccedilatildeo de colaboradores implantaccedilatildeo e avaliaccedilatildeo de

programas permanentes de formaccedilatildeo continuada tanto na modalidade presencial quanto a

distacircncia praacuteticas de gestatildeo e inovaccedilatildeo nas instituiccedilotildees de educaccedilatildeo superior e sua relaccedilatildeo com o

sucesso acadecircmico e outras

Temas ligados agrave dimensatildeo da gestatildeo acadecircmica podem investigar o envolvimento e

responsabilizaccedilatildeo da equipe pedagoacutegica na elaboraccedilatildeo coletiva dos projetos de curso

especialmente por parte do nuacutecleo docente estruturante a influecircncia dos modelos de gestatildeo

pedagoacutegica na formaccedilatildeo da cidadania a possiacutevel relaccedilatildeo entre as inovaccedilotildees nos desenhos

pedagoacutegicos e os melhores iacutendices de sucesso (em termos de rendimento e permanecircncia) a

avaliaccedilatildeo dos desdobramentos percebidos pelos docentes em relaccedilatildeo agrave assessoria ao processo de

ensino-aprendizagem etc Um aspecto importante a ser considerado nas pesquisas desencadeadas

no contexto da Educaccedilatildeo Superior eacute de que natildeo se centrem apenas na percepccedilatildeo e na vivecircncia dos

estudantes como tem sido caracteriacutestico dos estudos apresentados na revisatildeo de literatura

No tocante ao trabalho dos proacuteprios psicoacutelogos escolares as pesquisas podem explorar as

dificuldades e recursos que tecircm sido favoraacuteveis ao desenvolvimento do perfil profissional analisar

a contribuiccedilatildeo de programas de formaccedilatildeo continuada em Psicologia Escolar especiacuteficos agrave realidade

da Educaccedilatildeo Superior especialmente na forma de assessoria agrave atividade profissional investigar a

dimensatildeo do impacto da atuaccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares segundo a percepccedilatildeo dos diferentes

atores e etc

Em paralelo ao investimento em pesquisas na Educaccedilatildeo Superior eacute imprescindiacutevel

tambeacutem o investimento na formaccedilatildeo dos psicoacutelogos escolares tanto em niacutevel de graduaccedilatildeo quanto

poacutes-graduaccedilatildeo Eacute possiacutevel supor que o quadro jaacute diferenciado de atuaccedilatildeo na Educaccedilatildeo Superior

conforme constatado neste estudo seja um desdobramento dos reiterados esforccedilos de pesquisadores

e professores de Psicologia Escolar em relaccedilatildeo agrave necessidade de mudanccedilas na formaccedilatildeo e

264

inclusive da sua proacutepria atuaccedilatildeo nos espaccedilos formativos Apesar disso eacute indispensaacutevel que a

atenccedilatildeo e o investimento na preparaccedilatildeo do psicoacutelogo escolar seja permanente e acompanhe os

avanccedilos da ciecircncia psicoloacutegica e da educaccedilatildeo os desafios que adveacutem das poliacuteticas puacuteblicas em

educaccedilatildeo as medidas de apoio aos estudantes as propostas de reestruturaccedilatildeo curricular e

pedagoacutegica a crescente exigecircncia de qualidade e os procedimentos de avaliaccedilatildeo a diversidade do

puacuteblico que ingressa nas IES entre uma seacuterie de outros fatores que repercutem no processo de

desenvolvimento humano

Um possiacutevel modo de contribuir para a formaccedilatildeo de futuros psicoacutelogos escolares eacute por

meio da abertura de campos de estaacutegio dentro dos proacuteprios Serviccedilos de Psicologia Por essa via

estudantes de Psicologia teriam a oportunidade de se inserir no contexto profissional e desde a

formaccedilatildeo inicial trabalhar em prol da apropriaccedilatildeo de teorias conhecimentos meacutetodos e praacuteticas

que amparam a atuaccedilatildeo na Educaccedilatildeo Superior aleacutem de poderem desenvolver competecircncias

necessaacuterias ao futuro exerciacutecio profissional Ademais a configuraccedilatildeo dos Serviccedilos de Psicologia

em espaccedilos formais de aprendizagem eacute uma rica oportunidade para que os proacuteprios psicoacutelogos

tenham a sua atuaccedilatildeo como permanente objeto de anaacutelise e de estudo

Defende-se portanto que as instituiccedilotildees formativas que tenham cursos de Psicologia

faccedilam parcerias com os Serviccedilos de Psicologia das IES com vistas a abrir novos campos de estaacutegio

Tais parcerias natildeo devem entretanto se restringir aos cursos e serviccedilos localizados na mesma IES

muito ao contraacuterio eacute desejaacutevel o estabelecimento de parcerias interinstitucionais que favoreccedilam a

mobilidade dos estudantes e ampliem a possibilidade de conhecerem diferentes modos de

organizaccedilatildeo e funcionamento dos serviccedilos

Outro desdobramento suscitado pela pesquisa em especial pela realidade portuguesa e

europeia refere-se agrave criaccedilatildeo de uma associaccedilatildeo profissional em Psicologia Escolar que venha a

integrar os Serviccedilos de Psicologia das IES do paiacutes apresentar orientaccedilotildees relativas ao seu

funcionamento e divulgaacute-los A exemplo da RESAPES em Portugal poderia ser constituiacuteda uma

associaccedilatildeo que venha a congregar representantes de todos os serviccedilos Considerando que no Brasil

jaacute existe uma associaccedilatildeo nacional em Psicologia Escolar a ABRAPEE fundada haacute mais de 20 anos

com a finalidade de incentivar o crescimento da ciecircncia e da profissatildeo de psicoacutelogo escolar eacute

absolutamente pertinente que esta associaccedilatildeo tenha um segmento especificamente voltado para a

pesquisa intervenccedilatildeo e construccedilatildeo de conhecimento relativo agrave Educaccedilatildeo Superior

Um grupo de pesquisadores interessados e envolvidos com este niacutevel educativo poderia

constituir uma representaccedilatildeo vinculada agrave ABRAPEE e dar iniacutecio a um conjunto de accedilotildees lacunares

no paiacutes mapeamento das IES brasileiras que tecircm psicoacutelogo escolar e dos Serviccedilos de Psicologia (a

exemplo do esforccedilo inicial contemplado no mapeamento nacional realizado no estudo1 deste

trabalho) dos fatores que as motivaram a criar tais serviccedilos a natureza e tipo das accedilotildees

desenvolvidas as dificuldades vivenciadas pelos psicoacutelogos escolares no exerciacutecio profissional

entre outras questotildees estabelecimento de uma rede de apoio muacutetuo em termos de partilha de

265

experiecircncias bem sucedidas e cooperaccedilatildeo na formaccedilatildeo profissional dos psicoacutelogos escolares

planejamento e coordenaccedilatildeo de eventos cientiacuteficos e acadecircmicos em Psicologia Escolar com ecircnfase

nos estudos e experiecircncias na Educaccedilatildeo Superior criaccedilatildeo de foacuteruns estaduais e regionais de

discussatildeo e de pesquisa como maneira de fomentar o diaacutelogo e a colaboraccedilatildeo envolvimento na

discussatildeo de poliacuteticas em Educaccedilatildeo Superior etc

Tambeacutem a exemplo do esforccedilo empreendido pela RESAPES com o Ministeacuterio da Ciecircncia

Tecnologia e Educaccedilatildeo Superior de Portugal outra importante accedilatildeo da ABRAPEE seria a de

buscar reconhecimento legal junto ao Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e a institucionalizaccedilatildeo dos Serviccedilos

de Psicologia Escolar nas IES brasileiras Na tentativa de favorecer a consolidaccedilatildeo da atuaccedilatildeo dos

psicoacutelogos escolares nas Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior e garantir a continuidade do trabalho

prestado a regulamentaccedilatildeo pelo governo e consequentemente a previsatildeo desses serviccedilos na

estrutura organizacional das IES eacute de fundamental importacircncia Por certo que conquistar um

enquadramento legal para a atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar no Sistema de Educaccedilatildeo Superior

brasileiro eacute um grande desafio agrave ABRAPEE Mas mais certo ainda eacute que o Brasil tem um grupo

soacutelido e efetivamente comprometido de profissionais e pesquisadores em Psicologia Escolar que

podem assumi-lo com responsabilidade e competecircncia e assim contribuir para a consolidaccedilatildeo de

um novo campo de pesquisa e de intervenccedilatildeo que tem funccedilatildeo norteadora no crescimento da

sociedade e do paiacutes

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) por sua vez poderia apoiar a ABRAPEE nesta

accedilatildeo de conquista de um reconhecimento legal para os Serviccedilos de Psicologia nas IES O CFP

como oacutergatildeo que estrutura e organiza o funcionamento da profissatildeo no paiacutes juntamente com a

colaboraccedilatildeo de Conselhos Regionais (CRP) distribuiacutedos pelo territoacuterio brasileiro constitui-se na

representaccedilatildeo maacutexima dos profissionais da aacuterea Apesar de natildeo se organizarem de acordo com as

especificidades das diferentes aacutereas de atuaccedilatildeo tanto o Conselho Federal quantos os regionais

estatildeo focados na regularizaccedilatildeo da profissatildeo na definiccedilatildeo legal dos limites e abrangecircncia do

exerciacutecio profissional Por essa razatildeo uma accedilatildeo que se entende pertinente de ser assumida pelo

CFP diz respeito ao apoio agrave ABRAPEE no esforccedilo pelo reconhecimento legal da Psicologia Escolar

nas Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior Sendo tambeacutem um oacutergatildeo consultivo em mateacuteria de

Psicologia o CFP tem poderes e autonomia para evidenciar e traccedilar paracircmetros relativos agrave criaccedilatildeo

de interfaces profissionais campos de atuaccedilatildeo para projetar prospectivamente rumos agrave inserccedilatildeo

dos psicoacutelogos

Um importante grupo consolidado de pesquisadores que pode assumir compromisso com a

ampliaccedilatildeo da Psicologia Escolar para outros contextos educativos eacute o Grupo de Trabalho (GT) em

Psicologia Escolar e Educacional da ANPEPP (Associaccedilatildeo Nacional de Pesquisa e Poacutes-Graduaccedilatildeo

em Psicologia) Os estudos e produccedilotildees deste GT satildeo referecircncias para estudantes profissionais

professores e outros pesquisadores da aacuterea aleacutem de serem orientadores das praacuteticas formativas e da

atuaccedilatildeo em Psicologia Escolar no paiacutes Nas publicaccedilotildees mais recentes deste Grupo jaacute constam

266

trabalhos direcionados para a realidade da Educaccedilatildeo Superior evidenciando o papel pioneiro em

temaacuteticas pouco exploradas Dessa maneira acredita-se que o GT de Psicologia Escolar da

ANPEPP pode contribuir com o desenvolvimento de pesquisas a construccedilatildeo e disseminaccedilatildeo de

conhecimentos relativos agrave educaccedilatildeo em niacutevel superior fortalecendo as investigaccedilotildees nessa aacuterea

Diante da defesa de investimentos em pesquisas e na ampliaccedilatildeo das possibilidades de

inserccedilatildeo de psicoacutelogos escolares na Educaccedilatildeo Superior importa destacar que valorizaacute-los natildeo

significa minimizar os esforccedilos direcionados agrave presenccedila da Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo Baacutesica

ao contraacuterio em virtude da conexatildeo e interdependecircncia entre estes niacuteveis educativos as

contribuiccedilotildees advindas de um repercutem no outro Nesse sentido entende-se que impulsionar o

crescimento da Psicologia Escolar nas IES traz entre outras contribuiccedilotildees o meacuterito de favorecer a

qualidade da formaccedilatildeo oferecida aos profissionais que iratildeo atuar na Educaccedilatildeo Baacutesica

particularmente os professores Na medida em que a Educaccedilatildeo Superior eacute responsaacutevel pela

formaccedilatildeo de quadros profissionais altamente competentes qualificados conectados com as

transformaccedilotildees do mundo globalizado e envolvidos na superaccedilatildeo dos desafios e incertezas

caracteriacutesticos da sociedade contemporacircnea eacute certo que o maior investimento neste niacutevel iraacute

subsidiar o crescimento e aprimoramento dos objetivos formativos de outros niacuteveis educativos

Um desafio que ainda se desdobra dos anteriormente citados e que precisa ser assumido

pelos pesquisadores e profissionais em Psicologia Escolar diz respeito agrave construccedilatildeo de

procedimentos de monitoramento das accedilotildees e dos resultados A adoccedilatildeo de mecanismos

permanentes de avaliaccedilatildeo da qualidade dos serviccedilos tanto quantitativos como qualitativos eacute

primordial para comprovar as contribuiccedilotildees dos Serviccedilos de Psicologia Para aleacutem do nuacutemero de

alunos atendidos individualmente de oficinas realizadas de programas de formaccedilatildeo

implementados de alunos encaminhados para o mercado de trabalho por exemplo que outros

indicadores de desenvolvimento tambeacutem podem ser levantados no sentido de comprovar a

contribuiccedilatildeo dos Serviccedilos de Psicologia nos resultados alcanccedilados pela IES Qual deve ser a

natureza dos criteacuterios a serem utilizados para balizar a contribuiccedilatildeo dos serviccedilos Quais estrateacutegias

de autoavaliaccedilatildeo podem ser adotadas pelos psicoacutelogos escolares Estas satildeo algumas questotildees que

merecem maior investimento dos profissionais da aacuterea com vistas a construir um conjunto soacutelido de

argumentos em prol dos serviccedilos

Para finalizar registra-se que a ideia central que originou e sustentou a realizaccedilatildeo desse

trabalho de pesquisa mostra-se viaacutevel e oportuna as Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior como

contextos preciacutepuos de aprendizagem e de desenvolvimento satildeo loacutecus legiacutetimos de intervenccedilatildeo e de

pesquisa em Psicologia Escolar Assim acompanhando os avanccedilos anunciados pela aacuterea reitera-se

o convite para que pesquisadores professores estudantes profissionais e outros interessados

mergulhem neste amplo contexto da Educaccedilatildeo Superior como forma de consolidar e ampliar ainda

mais as perspectivas de atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar

267

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Humano 17 (1) 136-145

291

ANEXOS

ANEXO I - Aprovaccedilatildeo do projeto pelo Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa

292

293

ANEXO II ndash Questionaacuterio Eletrocircnico enviado agraves IES do Brasil

294

295

296

297

ANEXO III - Formulaacuterio de registro do mapeamento das IES do DF

FORMULAacuteRIO DE REGISTRO

CONTATO COM IES PARA IDENTIFICACcedilAtildeO DE PSICOacuteLOGOS ESCOLARES

IDENTIFICACcedilAtildeO DA IES

Nome

Telefones

Endereccedilo na internet

E-mail

REGISTRO DA PESQUISA NO SITE DA IES

Data da pesquisa no site Horaacuterio

Psicoacutelogo Escolar Natildeo existe referecircncia agrave existecircncia do Psicoacutelogo Escolar na IES o

Existe referecircncia agrave existecircncia do Psicoacutelogo Escolar na IES o

Observaccedilotildees

REGISTRO DO CONTATO TELEFOcircNICO COM A IES

Data do contato

telefocircnico

Horaacuterio

Pessoa com que falou

Psicoacutelogo Escolar

Natildeo sabe informar o

Natildeo tem Psicoacutelogo Escolar na IES o

Tem Psicoacutelogo Escolar na IES o

Observaccedilotildees

IDENTIFICACcedilAtildeO DO PSICOacuteLOGO ESCOLAR

Nome

Telefone de contato

E-mail

Observaccedilotildees

298

ANEXO IV - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Brasil)

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Vocecirc estaacute sendo convidado(a) a participar da pesquisa ldquoAtuaccedilatildeo da Psicologia Escolar na

Educaccedilatildeo Superiorrdquo desenvolvida pela pesquisadora Cynthia Bisinoto Evangelista de Oliveira a

qual pretende contribuir para a construccedilatildeo e consolidaccedilatildeo da identidade profissional do psicoacutelogo

escolar que atua na Educaccedilatildeo Superior aleacutem de favorecer a melhoria da qualidade da educaccedilatildeo

brasileira

Esta pesquisa tem com objetivo geral investigar a atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar em

Instituiccedilotildees de Educaccedilatildeo Superior (IES) e como objetivos especiacuteficos pretende 1) mapear a

atuaccedilatildeo de psicoacutelogos escolares em IES do Distrito Federal e analisar sua pertinecircncia ao apontado

pela literatura contemporacircnea em Psicologia Escolar 2) identificar o perfil do psicoacutelogo escolar e

as competecircncias especiacuteficas agrave sua atuaccedilatildeo na Educaccedilatildeo Superior 3) investigar atuaccedilotildees inovadoras

da Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo Superior 4) rever e ampliar o perfil do psicoacutelogo escolar com

base em indicadores da literatura e da praacutetica profissional 5) analisar e acompanhar o serviccedilo de

Psicologia Escolar de uma Instituiccedilatildeo de Educaccedilatildeo Superior do Distrito Federal

As informaccedilotildees a serem utilizadas seratildeo construiacutedas pela pesquisadora atraveacutes de dados

obtidos por meio de questionaacuterios entrevistas e observaccedilotildees sendo-lhe garantido o sigilo quanto agrave

sua identidade

As informaccedilotildees fornecidas poderatildeo ser utilizadas e estaratildeo disponiacuteveis para discussatildeo

avaliaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo futuras incluindo publicaccedilotildees em perioacutedicos ou livros de circulaccedilatildeo

cientiacutefico-acadecircmica

A participaccedilatildeo na pesquisa natildeo oferece nenhum tipo de risco ao participante e como

benefiacutecios vislumbram-se o aprimoramento de sua atuaccedilatildeo como psicoacutelogo escolar que atua na

Educaccedilatildeo Superior a promoccedilatildeo de seu desenvolvimento pessoal e profissional aleacutem de contribuir

para a construccedilatildeo teoacuterica e metodoloacutegica em Psicologia Escolar

Sua participaccedilatildeo eacute de caraacuteter voluntaacuterio e natildeo envolve recompensa financeira Eacute-lhe

garantida a liberdade para recusar participar desta pesquisa bem como desistir em qualquer fase da

pesquisa natildeo acarretando prejuiacutezo algum a este estudo ou a vocecirc Possiacuteveis duacutevidas podem ser

esclarecidas antes e durante o curso da pesquisa

Considerando entatildeo que todas as duacutevidas foram devidamente esclarecidas a natureza a

proposta e os procedimentos envolvidos no estudo foram apresentados e tendo havido tempo

suficiente para pensar a respeito da autorizaccedilatildeo de participaccedilatildeo na pesquisa solicito o seu

consentimento livre e espontacircneo expressando sua participaccedilatildeo nesta pesquisa

Universidade de Brasiacutelia - UnB Instituto de Psicologia ndash IP Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Processos de Desenvolvimento Humano e Sauacutede

299

TIacuteTULO DA PESQUISA Atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo Superior

Pesquisadora Responsaacutevel Cynthia Bisinoto Evangelista de Oliveira

Comitecirc de Eacutetica e Pesquisa ndash CEPIHUnB (61) 3307-2761

Telefone da Pesquisadora (61) 9215-4344

E-mail da pesquisadora cynthiabuolcombr

Concordo em participar da citada pesquisa e portanto assino de livro e espontacircnea vontade

este termo de consentimento

Brasiacutelia _____ de ___________ de 2009

Nome do Participante _________________________________________________

Telefone para contato _________________________________________________

Assinatura do Participante

Assinatura do Pesquisador

300

ANEXO V - Roteiro de entrevista para psicoacutelogos escolares do DF

A ATUA

DIMENSAtildeO 1 ndash

1 Onde e qu

2 Quanto te

Superior

3 Vocecirc tem

DIMENSAtildeO 2 ndash

4 Descreva

atividade

5 Considera

na sua atu

6 Qual a e

(como s

psicopeda

7 Na sua op

na Educa

(idealmen

DIMENSAtildeO 3 ndash

8 Quais rec

desejos

precisa de

9 A partir d

psicoacuteloga

UniInsPro

versidade de Brasiacutelia - UnB tituto de Psicologia ndash IP grama de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Processos de Desenvolvimento Humano e Sauacutede

CcedilAtildeO DA PSICOLOGIA ESCOLAR NA EDUCACcedilAtildeO SUPERIOR CYNTHIA BISINOTO

ROTEIRO DE ENTREVISTA ndash PSICOacuteLOGO ESCOLAR

CARACTERIZACcedilAtildeO DO PROFISSIONAL

ando vocecirc se formou em Psicologia

mpo vocecirc tem de experiecircncia profissional E haacute quanto tempo atua na Educaccedilatildeo

alguma formaccedilatildeo complementar Qual

ATUACcedilAtildeO DA PSICOLOGIA

brevemente como eacute o trabalho que vocecirc realiza nesta instituiccedilatildeo Descreva

s que vocecirc desenvolve como Psicoacutelogo Escolar

ndo sua experiecircncia profissional quais as facilidades e dificuldades vivenciadas

accedilatildeo na Educaccedilatildeo Superior

specificidade da Psicologia Escolar no trabalho desenvolvido neste contexto

e diferencia do trabalho de outras aacutereas ndash coordenadores pedagogos

gogos assistentes sociais etc)

iniatildeo aleacutem do que vocecirc faz quais outras atividades cabem ao psicoacutelogo escolar

ccedilatildeo Superior Quais seriam as grandes frentes de atuaccedilatildeo desse profissional

te)

PERFIL PROFISSIONAL

ursos (teoacutericos e teacutecnicos saberes praacuteticos pessoais e interpessoais valores

) satildeo necessaacuterios para sua atuaccedilatildeo na Educaccedilatildeo Superior Quais vocecirc ainda

senvolver

a sua experiecircncia quais competecircncias considera importantes para a atuaccedilatildeo como

escolar na Educaccedilatildeo Superior

301

ANEXO VI - Pautas dos encontros de discussatildeo e reflexatildeo

A ATUACcedilAtildeO DA PSICOLOGIA ESCOLAR NA EDUCACcedilAtildeO SUPERIOR CYNTHIA BISINOTO

PESQUISA-INTERVENCcedilAtildeO 1ordm ENCONTRO

DATA 21092010 HORAacuteRIO 9hs LOCAL Faculdade PARTICIPANTES Cynthia e Psi OBJETIVOS

bull Planejar e organizar pesquisa-intervenccedilatildeo (estudo teoacuterico e assessoria agrave praacutetica)

PAUTA 2 Ouvir expectativas e metas 3 Apresentar o projeto de pesquisa e localizar a pesquisa-intervenccedilatildeo (3ordf etapa)

a Esclarecer o que eacute e como funciona uma pesquisa-intervenccedilatildeo 4 Estabelecer objetivo e funcionamento da pesquisa (nossa parceria)

a Meta mostrar a possibilidade da PE na Educaccedilatildeo Superior em uma perspectiva diferenciada a partir do acompanhamento e formaccedilatildeo em serviccedilo de um profissional

b Estudo teoacuterico + Assessoria agrave praacutetica c Assessoria focada em alguns eixos (sugestatildeo professores servidores coordenadores

Fac Talentos e Mapeamento Institucional) d Encontros semanais para discussatildeo de textos e da praacutetica planejamento anaacutelise

i Definir dia local e horaacuterio 5 Estrateacutegias de registro da pesquisa-intervenccedilatildeo

a Registro em aacuteudio dos encontros b Memorial (3 etapas)

i Compartilhar experiecircncia pessoal da pesquisadora c Registro das accedilotildees mais relevantes d Entrevista e Observaccedilotildees f Avaliaccedilatildeo do processo

6 Outros assuntos

302

A ATUACcedilAtildeO DA PSICOLOGIA ESCOLAR NA EDUCACcedilAtildeO SUPERIOR CYNTHIA BISINOTO

PESQUISA-INTERVENCcedilAtildeO 2ordm ENCONTRO

DATA 01102010 HORAacuteRIO 14h30 LOCAL Faculdade PARTICIPANTES Cynthia e Psi OBJETIVOS

bull Planejar e organizar pesquisa-intervenccedilatildeo (estudo teoacuterico e assessoria agrave praacutetica)

PAUTA Parte 1 - Assessoria agrave praacutetica

1 Compartilhar reflexotildees leituras e atividades da semana a Planejar accedilotildees

2 Definiccedilatildeo de possiacuteveis eixos de intervenccedilatildeo (sugestotildees) a Professores b Servidores c Coordenadores d Fac Talentos e Mapeamento Institucional f Inclusatildeo e necessidades especiais

Parte 2 - Estudo teoacuterico

1 Indicaccedilatildeo de leituras a Oliveira C B E (2009) A atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo Superior Projeto

de Tese apresentado ao Instituto de Psicologia da Universidade de Brasiacutelia como requisito parcial agrave obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Doutor em Processos de Desenvolvimento Humano e Sauacutede

b Marinho-Arauacutejo C M amp Almeida S F C (2005) Psicologia escolar construccedilatildeo e consolidaccedilatildeo da identidade profissional Campinas Editora Aliacutenea

c Martiacutenez A M (2010) O que pode fazer o psicoacutelogo na escola Em Aberto 23 (83) 39-56

303

A ATUACcedilAtildeO DA PSICOLOGIA ESCOLAR NA EDUCACcedilAtildeO SUPERIOR CYNTHIA BISINOTO

PESQUISA-INTERVENCcedilAtildeO 3ordm ENCONTRO

DATA 15102010 HORAacuteRIO 14h00 LOCAL Faculdade PARTICIPANTES Cynthia e Psi OBJETIVOS

bull Planejar e organizar pesquisa-intervenccedilatildeo (estudo teoacuterico e assessoria agrave praacutetica)

PAUTA Parte 1 - Assessoria agrave praacutetica

1 Compartilhar atividades da semana reflexotildees e questionamentos a Avaliar accedilotildees planejadas e implementadas

i Acompanhamento dos alunos observaccedilatildeo em sala contato com professores ii Reuniatildeo de coordenadores iii Fac Talentos iv CPA

b Planejar novas accedilotildees c Realizar Mapeamento Institucional (base para as accedilotildees)

Parte 2 - Estudo teoacuterico 1 Discussatildeo das leituras

a Oliveira C B E (2009) A atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo Superior Projeto de Tese apresentado ao Instituto de Psicologia da Universidade de Brasiacutelia como requisito parcial agrave obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Doutor em Processos de Desenvolvimento Humano e Sauacutede

b Marinho-Arauacutejo C M amp Almeida S F C (2005) Psicologia escolar construccedilatildeo e consolidaccedilatildeo da identidade profissional Campinas Editora Aliacutenea

c Martiacutenez A M (2010) O que pode fazer o psicoacutelogo na escola Em Aberto 23 (83) 39-56

2 Indicaccedilatildeo de leituras a Machado A M amp Souza M P R (2004) (Orgs) Psicologia Escolar em busca de novos

rumos Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo (Capiacutetulos 1 2 e 3) b Correia M amp Campos H R (2004) Psicologia Escolar histoacuterias tendecircncias e

possibilidades Em O H Yamamoto amp A C Neto (Orgs) O psicoacutelogo e a escola uma introduccedilatildeo ao estudo da psicologia escolar (pp 137-185) Natal EDUFRN

c Witter G P (1999) Psicoacutelogo Escolar no ensino superior e a Lei de Diretrizes e Bases Em R S L Guzzo (Org) Psicologia Escolar LDB e educaccedilatildeo hoje (pp 83-104) Campinas Editora Aliacutenea

304

A ATUACcedilAtildeO DA PSICOLOGIA ESCOLAR NA EDUCACcedilAtildeO SUPERIOR CYNTHIA BISINOTO

PESQUISA-INTERVENCcedilAtildeO 4ordm ENCONTRO

DATA 22102010 HORAacuteRIO 14h00 LOCAL Faculdade PARTICIPANTES Cynthia e Psi OBJETIVOS

bull Planejar e organizar pesquisa-intervenccedilatildeo (estudo teoacuterico e assessoria agrave praacutetica)

PAUTA Parte 1 - Assessoria agrave praacutetica

1 Compartilhar atividades da semana reflexotildees e questionamentos a Avaliar accedilotildees planejadas e implementadas b Planejar novas accedilotildees

Parte 2 - Estudo teoacuterico

1 Discussatildeofechamento das leituras a Marinho-Arauacutejo C M amp Almeida S F C (2005) Psicologia escolar construccedilatildeo e

consolidaccedilatildeo da identidade profissional Campinas Editora Aliacutenea b Martiacutenez A M (2010) O que pode fazer o psicoacutelogo na escola Em Aberto 23 (83) 39-

56 2 Indicaccedilatildeo de leituras

a Machado A M amp Souza M P R (2004) (Orgs) Psicologia Escolar em busca de novos rumos Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo (Capiacutetulos 1 2 e 3)

b Witter G P (1999) Psicoacutelogo Escolar no ensino superior e a Lei de Diretrizes e Bases Em R S L Guzzo (Org) Psicologia Escolar LDB e educaccedilatildeo hoje (pp 83-104) Campinas Editora Aliacutenea

305

A ATUACcedilAtildeO DA PSICOLOGIA ESCOLAR NA EDUCACcedilAtildeO SUPERIOR CYNTHIA BISINOTO

PESQUISA-INTERVENCcedilAtildeO 5ordm ENCONTRO

DATA 03112010 HORAacuteRIO 15h00 LOCAL Faculdade PARTICIPANTES Cynthia e Psi OBJETIVOS

bull Planejar e organizar pesquisa-intervenccedilatildeo (estudo teoacuterico e assessoria agrave praacutetica)

PAUTA Parte 1 - Assessoria agrave praacutetica

1 Compartilhar atividades da semana reflexotildees e questionamentos a Avaliar accedilotildees planejadas e implementadas b Planejar novas accedilotildees

Parte 2 - Estudo teoacuterico 1 Discussatildeofechamento das leituras

a Marinho-Arauacutejo C M amp Almeida S F C (2005) Psicologia escolar construccedilatildeo e consolidaccedilatildeo da identidade profissional Campinas Editora Aliacutenea

b Martiacutenez A M (2010) O que pode fazer o psicoacutelogo na escola Em Aberto 23 (83) 39-56

2 Indicaccedilatildeo de leituras a Witter G P (1999) Psicoacutelogo Escolar no ensino superior e a Lei de Diretrizes e Bases

Em R S L Guzzo (Org) Psicologia Escolar LDB e educaccedilatildeo hoje (pp 83-104) Campinas Editora Aliacutenea

b Marinho-Arauacutejo C M (2009) Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo Superior novos cenaacuterios de intervenccedilatildeo e pesquisa Em C M Marinho-Arauacutejo (Org) Psicologia Escolar novos cenaacuterios e contextos de pesquisa formaccedilatildeo e praacutetica (pp 155-202) Campinas Editora Aliacutenea

306

A ATUACcedilAtildeO DA PSICOLOGIA ESCOLAR NA EDUCACcedilAtildeO SUPERIOR CYNTHIA BISINOTO

PESQUISA-INTERVENCcedilAtildeO 6ordm ENCONTRO

DATA 05112010 HORAacuteRIO 14h LOCAL Faculdade PARTICIPANTES Cynthia e Psi OBJETIVOS

bull Planejar e organizar pesquisa-intervenccedilatildeo (estudo teoacuterico e assessoria agrave praacutetica)

PAUTA Parte 1 - Assessoria agrave praacutetica

1 Dimensatildeo de intervenccedilatildeo - Perfil do estudante a Discutir os objetivos do mapeamento do perfil de egresso b Analisar material institucional no que concerne ao perfil do egresso (PDI PPCs

orientaccedilotildees do NUVA etc) c Discutir possiacuteveis estrateacutegias de investigaccedilatildeo do perfil d Elaborar um projeto de mapeamento do perfil do estudante da Fac Senac (ingressante

concluinte e egresso) Parte 2 - Estudo teoacuterico

1 Indicaccedilatildeo de leituras (manter) a Witter G P (1999) Psicoacutelogo Escolar no ensino superior e a Lei de Diretrizes e Bases

Em R S L Guzzo (Org) Psicologia Escolar LDB e educaccedilatildeo hoje (pp 83-104) Campinas Editora Aliacutenea

b Marinho-Arauacutejo C M (2009) Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo Superior novos cenaacuterios de intervenccedilatildeo e pesquisa Em C M Marinho-Arauacutejo (Org) Psicologia Escolar novos cenaacuterios e contextos de pesquisa formaccedilatildeo e praacutetica (pp 155-202) Campinas Editora Aliacutenea

307

A ATUACcedilAtildeO DA PSICOLOGIA ESCOLAR NA EDUCACcedilAtildeO SUPERIOR CYNTHIA BISINOTO

PESQUISA-INTERVENCcedilAtildeO 7ordm ENCONTRO

DATA 11112010 HORAacuteRIO 14h LOCAL Faculdade PARTICIPANTES Cynthia e Psi OBJETIVOS

bull Planejar e organizar pesquisa-intervenccedilatildeo (estudo teoacuterico e assessoria agrave praacutetica)

PAUTA Parte 1 - Assessoria agrave praacutetica

1 Compartilhar atividades da semana reflexotildees e questionamentos a Avaliar e planejar accedilotildees (apoio psicopedagoacutegico perfil do estudante ambientaccedilatildeo

retenccedilatildeo) Parte 2 - Estudo teoacuterico

1 Discussatildeo de leituras a Marinho-Arauacutejo C M (2009) Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo Superior novos cenaacuterios de

intervenccedilatildeo e pesquisa Em C M Marinho-Arauacutejo (Org) Psicologia Escolar novos cenaacuterios e contextos de pesquisa formaccedilatildeo e praacutetica (pp 155-202) Campinas Editora Aliacutenea

2 Indicaccedilatildeo de leituras Avelar L P Leitatildeo R L S D amp Martiacutenez A M (2003) Seleccedilatildeo de professores uma experiecircncia

inovadora Psicologia Escolar e Educacional 7 (2) 217-219

308

ANEXO VII - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Portugal)

UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA UNIVERSIDADE DO MINHO

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Vocecirc estaacute sendo convidado(a) a participar da pesquisa ldquoA atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar

na Educaccedilatildeo Superiorrdquo desenvolvida pela pesquisadora Cynthia Bisinoto Evangelista de Oliveira

sob orientaccedilatildeo dos professores Claisy Marinho (Universidade de BrasiacuteliaBrasil) e Leandro

Almeida (Universidade do MinhoPortugal)

A pesquisa tem como objetivos investigar a atuaccedilatildeo da Psicologia Escolar em Instituiccedilotildees

de Educaccedilatildeo Superior (IES) investigar atuaccedilotildees inovadoras da Psicologia Escolar na Educaccedilatildeo

Superior e identificar o perfil do psicoacutelogo escolar e as competecircncias especiacuteficas agrave atuaccedilatildeo na

Educaccedilatildeo Superior

As informaccedilotildees a serem utilizadas seratildeo construiacutedas pela pesquisadora atraveacutes de dados

obtidos por meio de entrevistas observaccedilotildees e anaacutelise documental sendo-lhe garantido o sigilo

quanto agrave sua identidade As informaccedilotildees fornecidas poderatildeo ser utilizadas e estaratildeo disponiacuteveis

para discussatildeo avaliaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo futuras incluindo publicaccedilotildees em perioacutedicos ou livros de

circulaccedilatildeo cientiacutefico-acadecircmica Ressalta-se que esta pesquisa obteve aprovaccedilatildeo do Comitecirc de

Eacutetica em Pesquisa do Instituto de Ciecircncias Humanas da Universidade de Brasiacutelia

A participaccedilatildeo na pesquisa natildeo oferece nenhum tipo de risco ao participante Sua

participaccedilatildeo eacute de caraacuteter voluntaacuterio e natildeo envolve recompensa financeira Eacute-lhe garantida a

liberdade para recusar participar desta pesquisa bem como desistir em qualquer fase da pesquisa

natildeo acarretando prejuiacutezo algum a este estudo ou a vocecirc Possiacuteveis duacutevidas podem ser esclarecidas

antes e durante o curso da pesquisa

Considerando entatildeo que todas as duacutevidas foram devidamente esclarecidas e tendo havido

tempo suficiente para pensar a respeito da autorizaccedilatildeo de participaccedilatildeo na pesquisa solicito o seu

consentimento livre e espontacircneo expressando sua participaccedilatildeo nesta pesquisa

Comitecirc de Eacutetica em Pesquisa ndash CEPIHUnB (55 61) 3307-2761 ou cep_ihunbbr

Contatos da pesquisadora (351) 964 869 807 ou cynthiabuolcombr

Concordo em participar da citada pesquisa e portanto assino de livro e espontacircnea vontade

este termo de consentimento

Portugal _____ de ___________ de 2010

Nome do Participante _________________________________________________

Assinatura do Participante Assinatura da Pesquisadora

309

ANEXO VIII - Roteiro de entrevista para psicoacutelogos escolares de Portugal

UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA UNIVERSIDADE DO MINHO

A ATUACcedilAtildeO DA PSICOLOGIA ESCOLAR NA EDUCACcedilAtildeO SUPERIOR CYNTHIA BISINOTO

ENTREVISTA ndash PSICOacuteLOGO

DIMENSAtildeO 1 ndash CARACTERIZACcedilAtildeO DO PROFISSIONAL

1 Onde e quando vocecirc se formou em Psicologia

2 Quanto tempo vocecirc tem de experiecircncia profissional E haacute quanto tempo atua na Educaccedilatildeo

Superior

3 Vocecirc tem alguma formaccedilatildeo complementar Qual

DIMENSAtildeO 2 ndash ATUACcedilAtildeO DA PSICOLOGIA

4 Descreva brevemente como eacute o trabalho que vocecirc realiza neste serviccedilo Descreva as principais

atividades que vocecirc desenvolve

5 Que modelo de intervenccedilatildeo orienta seu trabalho

6 Considerando sua experiecircncia profissional quais as facilidades e dificuldades vivenciadas na

sua atuaccedilatildeo na Educaccedilatildeo Superior

7 Em sua opiniatildeo aleacutem do que vocecirc faz quais outras atividades cabem ao psicoacutelogo na Educaccedilatildeo

Superior

8 Qual o seu viacutenculo com a instituiccedilatildeo

DIMENSAtildeO 3 ndash PERFIL PROFISSIONAL

9 Quais recursos (teoacutericos teacutecnicos pessoais interpessoais saberes praacuteticos valores desejos)

satildeo necessaacuterios para sua atuaccedilatildeo Quais vocecirc ainda precisa desenvolver

10 A partir da sua experiecircncia quais competecircncias considera importantes para a atuaccedilatildeo como

psicoacutelogo na Educaccedilatildeo Superior

11 Para vocecirc qual o perfil desejado ao psicoacutelogo para atuar na Educaccedilatildeo Superior

DIMENSAtildeO 4 ndash PERCEPCcedilAtildeO DO SERVICcedilO

12 Que importacircnciarelevacircncia vocecirc atribui a esse serviccedilo Que contribuiccedilatildeo esse trabalho tem

trazido aos alunos aos professores e agrave instituiccedilatildeo

13 Qual o papel desse serviccedilo em relaccedilatildeo agrave permanecircncia e ao sucesso dos estudantes bem como agrave

igualdade de oportunidades na Educaccedilatildeo Superior

14 Como esse serviccedilo atua em relaccedilatildeo ao insucesso abandono acadecircmico e as dificuldades

enfrentadas pelos estudantes

15 Considerando a sua experiecircncia nesse serviccedilo considera que algo poderia ser modificado ou

implementado

310

ANEXO IX - Roteiro de entrevista para coordenadores de Portugal

UNIVERSIDADE DE BRASIacuteLIA UNIVERSIDADE DO MINHO

A ATUACcedilAtildeO DA PSICOLOGIA ESCOLAR NA EDUCACcedilAtildeO SUPERIOR CYNTHIA BISINOTO

ENTREVISTA - COORDENADOR DO SERVICcedilO

DIMENSAtildeO 1 ndash PERFIL DO SERVICcedilO

1 Quando e porque foi criado o Serviccedilo de Accedilatildeo Social desta instituiccedilatildeo e especificamente o de

Psicologia

2 Quais as principais diretrizes e objetivos que orientam as atividades desse serviccedilo

3 Existe algum tipo de avaliaccedilatildeo do serviccedilo Se sim como eacute feita e quais os principais

resultados

DIMENSAtildeO 2 ndash FUNCIONAMENTO DO SERVICcedilO

4 Quais profissionais compotildeem o serviccedilo e como eacute a interaccedilatildeo entre eles

5 A quem satildeo dirigidas as accedilotildees deste serviccedilo (puacuteblico-alvo) Qual a forma de acesso

participaccedilatildeo e divulgaccedilatildeo do trabalho

6 Que atividades satildeo desenvolvidas por esse serviccedilo

7 Quais os problemas ou temaacuteticas mais comuns

8 De quem eacute a responsabilidade teacutecnica pelo serviccedilo A quem cabe a supervisatildeo do trabalho

DIMENSAtildeO 3 ndash PERCEPCcedilAtildeO DO SERVICcedilO

9 Que importacircnciarelevacircncia vocecirc atribui a esse serviccedilo Que contribuiccedilatildeo esse trabalho tem

trazido aos alunos aos professores e agrave instituiccedilatildeo

10 Qual o papel desse serviccedilo em relaccedilatildeo agrave permanecircncia e ao sucesso dos estudantes bem como agrave

igualdade de oportunidades na Educaccedilatildeo Superior

11 Tendo em vista a sua experiecircncia na coordenaccedilatildeo desse serviccedilo considera que algo poderia ser

modificado ou implementado

DIMENSAtildeO 4 ndash ATUACcedilAtildeO DA PSICOLOGIA

12 Descreva brevemente as principais atividades realizadas pelo(s) profissional(is) de Psicologia

13 Que modelo de intervenccedilatildeo orienta o trabalho neste serviccedilo

14 Para vocecirc qual o perfil desejado ao psicoacutelogo para atuar na Educaccedilatildeo Superior

15 Qual o viacutenculo do psicoacutelogo com a instituiccedilatildeo

  • ___________________________________________
  • Profordf Drordf Claisy Maria Marinho-Arauacutejo - Presidente
  • ___________________________________________
  • Profordf Drordf Raquel Souza Lobo Guzzo - Membro externo
  • __________________________________________
  • Profordf Drordf Marlis Morosini Polidori - Membro externo
  • ___________________________________________
  • Profordf Drordf Marisa Maria Brito da Justa Neves - Membro interno
  • ___________________________________________
  • Profordf Drordf Denise de Souza Fleith - Membro interno
  • ___________________________________________
  • Profordf Drordf Marly de Jesus Silveira - Suplente
  • TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO