944-livro na rua - a consulta previa e a convencao 169 sobre os povos indigenas e tribais da oit

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Convenção 169 da OIT e sua aplicação

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  • O a

    utor

    Thesaurus Editora 2012

    Silvio Jos Albuquerque e SilvaMinistro de Segunda Classe da Carreira Diplomtica. Chefe da Diviso de Temas Sociais do Ministrio das Relaes Exteriores. Mestre em Poltica Internacional pela Universidade Livre de Bruxelas.

    Reviso: Fundao Alexandre de Gusmo - FUNAG

    Arte, impresso e acabamento:Thesaurus Editora de BrasliaSIG Quadra 8 Lote 2356, Braslia DF 70610-480 Tel: (61) 3344-3738Fax: (61) 3344-2353 ou End. eletrnico: [email protected]

    Editor: Victor Alegria

    Os direitos autorais da presente obra esto liberados para sua difuso desde que sem fins comerciais e com citao da fonte. THESAURUS EDITORA DE BRASLIA LTDA. SIG Quadra 8, lote 2356 CEP 70610-480 - Braslia, DF. Fone: (61) 3344-3738 Fax: (61) 3344-2353 *End. Eletrnico: [email protected] *Pgina na In-ternet: www.thesaurus.com.br Composto e impresso no Brasil Printed in Brazil

  • 3A consulta prvia e a Conveno 169 sobre Povos Indgenas

    e Tribais da OIT

    Introduo

    A Conveno n. 169 sobre Povos Indgenas e Tribais um tratado internacio-nal negociado e aprovado no mbito da Or-ganizao Internacional do Trabalho (OIT). Criada em 1919, aps a Primeira Guerra Mundial, a OIT nasceu com base na crena de que a paz mundial somente seria possvel por meio da justia social.

    A situao dos povos indgenas foi objeto da preocupao da OIT desde sua criao. A discriminao e a explorao de trabalhadores indgenas e tribais serviram de inspirao direta para a adoo de algumas convenes e recomendaes, como a Con-veno nmero 29 sobre Abolio do Traba-

  • 4lho Forado. Aprovada em 1930, entrou em vigor no plano internacional em 1932. At hoje considerada uma das convenes fun-damentais da OIT.

    Nos anos 50, ficou claro que as con-dies de trabalho dos povos indgenas eram consequncia direta do desrespei-to aos seus direitos fundamentais, entre os quais sua identidade, lngua, cultura e organizao social. Na busca de reagir a esse quadro, em nome do sistema ONU e de forma tripartite entre governos, or-ganizaes de empregadores e de traba-lhadores, a Organizao Internacional do Trabalho adotou, em 1957, a Conveno n. 107 sobre Populaes Indgenas e Tri-bais, a qual foi ratificada pelo Brasil em 1965. Refletindo concepes da poca de sua negociao, a Conveno 107 tinha uma perspectiva assimilacionista da rela-o entre os indgenas e o Estado.

    Em 1986, um comit de especialistas reunido pela OIT concluiu que a Conveno

  • 5107 era incompatvel com a evoluo do Di-reito Internacional dos Direitos Humanos. Em consequncia, a OIT decidiu promover a reviso dessa Conveno e, finalmente, em 1989, adotou a Conveno 169 sobre Povos Indgenas e Tribais.

    A Conveno 169 da OIT

    A Conveno aplica-se a povos ou seg-mentos da populao que so considerados indgenas, tribais, nmades ou itinerantes, cujas condies sociais, culturais e econmi-cas os diferenciam de outros segmentos da populao. Mantm suas prprias tradies e instituies sociais, culturais, econmicas e polticas.

    um tratado internacional obrigatrio para todos os pases que o ratificaram (at o momento, 20 pases).

    O Artigo 1 define os critrios subje-tivos e objetivos para determinar os sujeitos de direito da C 169:

  • 6Critrio subjetivo Critrio objetivo

    Povos Indgenas

    Autoidentificao como indgena ou

    tribal

    Descendentes de populaes que viviam no pas ou regio no momento da conquista ou colonizao ou do estabelecimento das fronteiras atuais.Mantm alguma de suas prprias instituies sociais, culturais e polticas ou todas elas.

    Povos Tribais

    Suas condies sociais, culturais e econmicas os distinguem de outros setores da comunidade nacional.Seu status definido totalmente ou em parte por seus prprios costumes ou tradies ou por uma legislao ou regulaes especiais.

    Reconhece o direito de povos indge-nas e tribais de decidir suas prioridades de desenvolvimento, de fortalecer sua iden-tidade e instituies especficas, caso seja sua vontade. Afirma que povos indgenas e tribais tm direitos individuais e coletivos,

  • 7entre os quais o da autodeterminao. Alm disso, sua aplicao supervisionada pelos rgos de controle da OIT.

    A Consulta Prvia

    O direito de ser consultado e de parti-cipar do processo de decises um dos ele-mentos centrais da Conveno 169.

    Dada a situao especfica dos povos indgenas e tribais, medidas especiais para consulta e participao so necessrias, a fim de melhor proteger seus direitos.

    O direito consulta prvia est previs-to basicamente em seis artigos da Conven-o 169:

    Artigo 6 Neste artigo acha-se definido o

    princpio geral da consulta. O artigo define os atores da con-

    sulta: os governos e os povos indgenas e tribais, estes ltimos chamados ainda

  • 8de povos interessados. Diz o artigo que a consulta deve ser realizada pelos governos aos povos interessados por meio de seus representantes legtimos e mediante procedimentos adequados a cada circunstncia, sempre que me-didas administrativas ou legislativas possam afet-los diretamente.

    Alm disso, o objetivo da consul-ta deve ser alcanar um acordo de boa f ou o consentimento dos povos. As duas Partes (Governo e povos interes-sados) devem demonstrar disposio de envolver-se seriamente em processo de negociao que conduza a uma deciso conjunta. Para isso, devem respeitar-se e reconhecer a legitimidade e o poder de deciso do interlocutor.

    A consulta um dilogo entre iguais.

    Trata-se de responsabilidade do Estado que no pode ser levada a cabo por agentes privados.

  • 9A Comisso de Peritos sobre Convenes e Recomendaes da OIT entende que a consulta no um mero evento, mas sim um processo que bus-ca facilitar e conduzir a um acordo. Tampouco uma simples transmisso de informao.

    O Estado tem a obrigao de in-formar de forma clara, oportuna, ob-jetiva e imparcial, a fim de contribuir para instruir o dilogo entre Governo e povos interessados e fundamentar a deciso adotada ao final do processo.

    Artigo 7 Como consequncia de seu di-

    reito de definir suas prprias priori-dades no desenvolvimento de suas comunidades e nos destinos de sua vida, crenas, bem-estar espiritual e terras, os povos indgenas e tribais tm o direito de participar da formulao, implementao e avaliao dos planos

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    e programas de desenvolvimento do Brasil e das regies do Pas que pos-sam afet-los diretamente.

    Sempre que necessrio, os go-vernos realizaro estudos, com a participao dos povos interessados, para avaliar o impacto social, espi-ritual, cultural e ambiental de proje-tos de desenvolvimento que possam afet-los.

    Artigo 15Em caso de explorao de recur-

    sos naturais existentes nas terras ind-genas e tribais, os governos devero estabelecer mecanismos de consulta para determinar se os interesses dos povos seriam prejudicados, antes do incio da explorao.

    Garante-se aos povos o direito de participar dos benefcios das ativi-dades desenvolvidas em suas terras. Em caso de danos provocados por es-

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    sas atividades, os povos tm direito a uma indenizao justa.

    Artigo 16 Os povos indgenas e tribais

    somente podem ser retirados de suas terras em casos excepcionais. E mes-mo nesse caso, o Estado deve buscar obter seu livre consentimento. Caso no seja possvel contar com seu consentimento, a retirada dos povos de suas terras s poder ser realiza-da aps procedimentos definidos na lei nacional. Em casos determinados, devero ser realizadas consultas p-blicas, com a participao dos povos indgenas e tribais.

    O mesmo artigo diz que esses povos tero o direito a retornar s suas terras quando as razes que justifica-ram sua transferncia tenham deixado de existir.

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    Artigo 17 Os povos indgenas e tribais

    devero ser sempre consultados para avaliar sua capacidade de vender ou transferir suas terras ou direitos para outras pessoas estranhas ao seu povo ou pessoas jurdicas.

    Os governos devero adotar medidas para impedir que pessoas de fora dessas comunidades ou que no pertenam a esses povos possam engan-los, buscando assumir a posse ou o uso de suas terras.

    Artigo 28 Os governos devero consultar

    os povos indgenas e tribais previa-mente adoo de medidas que permi-tam, sempre que possvel, s crianas dos povos interessados aprender a ler e escrever em sua prpria lngua ou na lngua mais comumente falada no seu grupo.

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    Para isso devero ser adotadas medidas que garantam a oportunida-de para que os povos indgenas e tri-bais possam falar e escrever na ln-gua oficial do pas. O artigo tambm determina que devero ser adotadas medidas para preservar e promover as lnguas dos povos interessados.

    Concluso

    O principal objetivo dos dispositivos da Conveno 169 que tratam da consulta prvia aos povos indgenas e tribais asse-gurar sua participao efetiva nos proces-sos de deciso sobre medidas administra-tivas e legislativas que tenham o potencial de afet-los diretamente.

    A consulta prvia um instrumento de dilogo social e interlocuo desenha-do pelos Estados e atores sociais que in-tegram a OIT destinado a reconciliar inte-

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    resses e prevenir e superar disputas. Nas palavras da Comisso de Peritos da OIT na Aplicao de Convenes e Recomenda-es, trata-se de elemento essencial para assegurar equidade e garantir a paz social por meio da incluso e do dilogo.

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    Notas Bibliogrficas

    BRONSTEIN, Arturo. Hacia el Reconocimiento de la Identidad y de los Derechos de los Pueblos Indgenas en Amrica Latina: sntesis de una evolucin y temas para reflexin. OIT, Equipo Tcnico Multidisciplinario, 1998.

    ORGANIZAO INTERNACIONAL DO TRABALHO. Monitoreo de los derechos de los pueblos indgenas y tribales a travs de la OIT: una recompilacin de los comentarios de los rganos de control de la OIT 2009-2010. OIT, Genebra, 2010.

    PIOVESAN, Flvia (org). Cdigo de Direito Internacional dos Direitos Humanos. So Paulo, DPJ Editora, 2008.

    RODGERS, Gerry e outros. The International Labour Organization and the quest for social justice, 1919 - 2009. OIT, Genebra, 2009.

    Stio eletrnico do Instituto Socioambiental:

    Stio Eletrnico da OIT: