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ANTROPOFAGIA, ANTROPOFAGIA ORGANIZACIONAL E ESTUDOS TRIBAIS: EM BUSCA DA CONCILIAÇÃO DIALÉTICA DE ARTE, CULTURA
E MANAGEMENT NO BRASIL* Alexandre Faria, Ph.D. Doutor em Administração pela Universidade de Warwick - Inglaterra Professor da PUC-PR Avenida Rui Barbosa, 560, Apto.101 - Flamengo – Rio de Janeiro – Brasil CEP: 22250-020 e-mail: [email protected]
José Luis Felicio dos S. de Carvalho, M.Sc. Mestre e Doutorando pelo Instituto de Administração e Gerência da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (IAG/PUC-Rio) Rua Marquês de- São Vicente, 225 Gávea -Rio de Janeiro - RJ - Brasil CEP - 22.453-900 Telefone: (21) 3114-1414 Fax: (21) 3114-1426 e-mail: [email protected]
Lyla Collares Lyla Collares – Bacharelanda em Psicologia pela UNESA Avenida Rui Barbosa, 560 Apto. 101 - Flamengo – Rio de Janeiro – Brasil CEP: 22250-020 e-mail: [email protected]
Resumo Baseado em reconstrução histórica do movimento antropofágico brasileiro e na leitura crítica de duas obras teatrais da época, o presente ensaio busca a conciliação da cultura e das tendências artísticas seguidas pelos pesquisadores descontentes com a reprodução dos cânones trazidos pelo ‘estrangeiro’. O debate inicial enfoca a proposta de antropofagia organizacional e a necessidade de uma proposta menos ‘nacionalística’ e cientificista para abordar as questões de conhecimento e cultura. Em seguida, baseados em cuidadosa reconstrução do movimento antropofágico original e de sua epistemologia particular, os autores propõem a criação no Brasil de uma linha denominada de estudos tribais. A principal diferença entre estudos tribais e a antropofagia organizacional é a não subordinação irrefletida da cultura e da arte aos interesses funcionalistas das instituições de management. Finalmente, buscando um diálogo dialético com a antropofagia organizacional, os autores propõem estudos tribais como área de pesquisa e de trabalho comprometida com a redução de desequilíbrios injustos em geral e particularmente daqueles advindos de conhecimentos, práticas e ideologias relacionadas ao management.
Palavras-chave: antropofagia organizacional, ensino e pesquisa, arte e cultura, estrangeirismo, estudos tribais * Publicado originalmente nos Anais do XXV Encontro Nacional da ANPAD – Campinas, setembro de 2001
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ANTROPOFAGIA, ANTROPOFAGIA ORGANIZACIONAL E ESTUDOS TRIBAIS: EM BUSCA DA CONCILIAÇÃO DIALÉTICA DE ARTE, CULTURA
E MANAGEMENT NO BRASIL
Introdução
Manifestando certa crise de identidade, alguns pesquisadores da área de management no Brasil vêm
questionando a aplicação ou reprodução de conhecimentos acadêmicos gerados em outras culturas.
Eles(as) argumentam que o enfoque e a base de conhecimentos deveriam estar mais alinhados com
as realidades social, econômica e cultural brasileiras (Hemais e Vergara, 2000; Vieira, 2000). Este
problema de identidade tem sua razão de ser. A área de management tem funcionado, não obstante
ilusões contrárias provocadas pela fragmentação e interdisciplinaridade no âmbito de estudos
organizacionais, como um tipo de cultura global de massa. Tal característica tem garantido a
popularização de certos tipos de conhecimento e de mídias (Mazza e Alvarez, 2000) e funcionado
como principal obstáculo para a constituição de conhecimento local. No Brasil, mesmo a área de
estudos organizacionais, mais vinculada a discussões sobre identidade (Motta e Caldas, 1997),
reproduz com freqüência procedimentos e idéias vindos dos centros dominantes e de suas
instituições de management.
O fato é que a maioria dos acadêmicos sediados em países em desenvolvimento vem adotando com
crescente intensidade os padrões reportados ou propostos em estudos realizados em países mais
desenvolvidos (Alvarez, 1996). Isso vem gerando respostas mais céticas na academia local (Tomei
e Adelson, 1999) e mais críticas na literatura anglo-americana (ver Alvesson e Willmott, 1996). No
lado mais prático, vem propiciando dois efeitos bem mais relevantes: a ampliação da lacuna entre as
teorias acadêmicas e as práticas, e o bloqueio de uma abordagem acadêmica mais crítica nos países
periféricos. O problema como um todo cria disfuncionalidades sérias tanto para o âmbito da prática
quanto para o acadêmico, e tanto em países periféricos como nos centrais. Porém, maior atenção
deveria ser concedida pela academia e particularmente em países periféricos (Kilduff e Mehra,
1997) visto que embora exista um ‘terceiro mundo’ em todo ‘primeiro mundo’ e um ‘primeiro
mundo’ em qualquer ‘terceiro mundo’, é pouco plausível esperar que este tipo de preocupação seja
liderado por acadêmicos e instituições do centro.
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Já foi demonstrado que copiar prescrições de acadêmicos ‘estrangeiros’ não é proposta confiável
(Motta e Caldas, 1997; Wood Jr e Caldas, 1998). Conhecimento em si não pode ser tomado como
dimensão intransitiva ou neutra, que não dependa ou que possa prescindir de identidades, valores,
ideologia ou estruturas de legitimação (Whittington, 1990; Benson, 1977). Ademais, é ingênuo
desconsiderar processos históricos e acadêmicos no nível macro. Primeiro, porque a despeito da
expansão do conhecimento o mundo globalizado está muito mais estratificado do que no início do
século XX (Chossudovsky, 1999). Segundo porque a academia de management não vem
contribuindo para reduzir as contradições correspondentes (Alvesson e Willmott, 1996).
Não somente no Brasil, a cultura anglo-americana é usualmente apontada como o principal
obstáculo pelos descontentes. De acordo com as idéias de Antonio Gramsci (1999), o lado mais
preocupante do problema é que as teorias de management alcançaram o status de hegemonia.
Hegemonia, segundo Gramsci, descreve relações de dominação que não são visíveis como tais;
envolve não coerção, mas consentimento por parte do dominado ou do subalterno. Portanto, é mais
do que relevante o alerta de que pesquisas no Brasil devam retratar “valores locais de onde a
organização enfocada na pesquisa está inserida" (Hemais e Vergara, 2000, p.1). Ademais, é
importante ressaltar que reconstrução histórica já demonstrou que a superioridade norte-americana
no âmbito do conhecimento de management não passa de um mito muito bem construído, difundido
e legitimado (Locke, 1996). Por conseguinte, qualquer proposta de universalidade de teorias, de
práticas empresariais e de tecnologias de management de deve ser desafiada. Os principais
caminhos de resistência têm sido evidenciar a inviabilidade de transpor propostas desde um
contexto sócio-cultural para outro (Amado, Faucheux e Laurent, 1992) e enfatizar que a dinâmica
nas organizações e de seus praticantes somente pode ser entendida se o analista considerar a
realidade social e a cultura nas quais as mesmas se inserem e pretendem transformar (Chanlat,
1996).
Este cenário é extremamente preocupante porque a resistência de pesquisadores no Brasil continua
extremamente tímida. Segundo lideranças acadêmicas no Brasil, a reprodução dos cânones
impostos é um problema central pois a produção acadêmica brasileira é “periférica e sem
originalidade” (Wood Jr., 1999, p. 270). O mais grave é que o número de alternativas para a
emancipação ou progresso da academia local é reduzido: “[ou] desenvolver conhecimento local,
que estrangeiros dificilmente poderiam produzir, reproduzir ou emular; ou [buscar] uma maior
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inserção no circuito internacional como colaboradores da construção de conhecimento mundial no
campo” (Bertero, Caldas e Wood Jr., 1999, p. 174).
Não é tarde, portanto, para levantar o alerta de que conhecimento é dimensão de crucial importância
porque influencia significativamente outras dimensões (Sztompka, 1998). Uma delas é o
desenvolvimento nacional (ver Morel, 1979); no longo prazo, entende-se que a importação de
conhecimentos é “política e economicamente intolerável” (Dedijer, 1964, p. 23). Porém, custos da
importação não são o único problema. Há que se considerar ainda os interesses mobilizados por
‘importadores’, instituições e indivíduos, dedicados a legitimar conhecimentos ‘culturais’
exportados (Bourdieu, 1999). Por conseguinte, conhecimento acadêmico não pode ser tratado sob
uma abordagem ingênua ou convenientemente apolítica que desconsidere cultura e fronteira
nacional. Porém, não se pode desconsiderar certas contradições referentes à ‘academia’ e ao
‘nacional’. Nas seções a seguir do presente ensaio, os autores, baseados na abordagem dialética
oferecida pelo movimento antropofágico, demonstram que as propostas ‘culturais’ que se opõem ao
modelo norte-americano, incluindo a antropofagia organizacional (Caldas e Wood Jr., 1998), têm
reproduzido, certamente inconscientemente, uma outra faceta crucial da hegemonia norte-americana
na área de management: a subordinação da cultura e da arte à cultura e aos interesses da
organização e instituições de management.
Estudos organizacionais no Brasil: arte, cultura e a reconstrução da antropofagia
A arte (ver Mendonça, 2000) tem sido usada como um dos recursos para promover e legitimar o
resgate da identidade cultural nacional. Legitimados por textos e concepções pós-modernistas
criadas nos centros dominantes, pesquisadores brasileiros vêm usando as mais diferentes expressões
da arte para fundamentar suas argumentações, reforçar suas conclusões, criar metáforas e
modelagens próprias, e tentar construir simulações e simulacros para ‘driblar’ ou subverter a rigidez
da ciência em geral e, em particular, os dogmas da chamada ‘alta ciência’ de management.
Aparentemente confiando na universalidade da arte e aparentemente adotando postura de
consumidores frente a diversas ofertas de produtos nas prateleiras dos supermercados, esses
pesquisadores têm-se valido da inspiração de Shakespeare (Carvalho e Siqueira, 2000; Wood Jr.,
2000), do jazz experimental americano (Vieira e Leão, 2000), dos procedimentos dos atores da
Commedia dell´Arte italiana (Carvalho e Siqueira, 2000), de metáforas que remetem ao cinema de
Hollywood (Wood Jr., 2000), das mensagens dos filmes de Woody Allen (Lengler et al., 2000).
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Curiosamente, cada vez mais raras são as ocasiões em que se evoca a arte brasileira para a discussão
ou construção de teorias de management mais aplicáveis à realidade local (Wood, 1997).
Uma das poucas e corajosas incursões da academia local consistiu no resgate da antropofagia
artística e na transposição da mesma para a área de estudos organizacionais por meio da chamada
antropofagia organizacional (Wood Jr e Caldas, 1998). A abordagem nacionalística sugerida
naquele trabalho centrava-se fundamentalmente na proposta de criação de uma dinâmica
antropofágica, baseada na representação de ‘devorar’, a ser praticada tanto na academia como nas
organizações no Brasil. Apesar da importância da proposta, é importante ressaltar que seus autores
se basearam em uma leitura bastante particular do movimento antropofágico. Defendendo a idéia de
que pesquisadores inconformados têm na alma alguma coisa de Macunaíma e buscando representar
mais realisticamente a proposta antropofágica original, o presente ensaio objetiva aprofundar e
ampliar a abordagem cultural iniciada por Wood Jr e Caldas (1998) por meio de uma proposta
focada não naquele que é ou deve ser devorado – i.e., o estrangeiro – mas nos rituais e nas teorias
tribais que dão significado à prática da antropofagia.
Baseado em uma reconstrução particular do movimento antropofágico no Brasil, este ensaio busca
reconciliar cultura e tendências seguidas por pesquisadores brasileiros descontentes com a
reprodução dos cânones científicos vindos do ‘estrangeiro’ segundo uma abordagem dialética. A
perspectiva universalizante atribuída à arte e a ausência de uma proposta menos nacionalística para
lidar com cultura, arte e conhecimento são enfatizados pelos autores no primeiro momento. No
segundo momento, os autores, influenciados pela reconstrução da proposta antropofágica, propõem
a constituição da área de ‘estudos tribais’ no Brasil. A mesma se compromete, segundo uma
abordagem não cientificista, a buscar a redução de desequilíbrios injustos relacionados ao
management, a não subordinar irrefletidamente a cultura e a arte aos interesses das instituições de
management, e a promover um relacionamento dialético local com a proposta de antropofagia
organizacional.
Motivação do estudo e a proposta de resistência
A arte brasileira conta com riquíssima coleção de obras, manifestações e movimentos que têm sido
desprezados pelos acadêmicos de administração no Brasil. Os autores deste artigo entendem que o
conhecimento, o uso, a difusão e a legitimação desse acervo e do contexto em que foi produzido
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podem ajudar acadêmicos a lidar melhor com o contexto local. Os autores também promovem um
intercâmbio atípico entre profissionais das artes e da academia científica. Artistas e autores
nacionais passaram por momentos semelhantes ao que ora se apresenta aos pesquisadores
descontentes da área de management e os últimos têm muito o que aprender com os primeiros. O
‘lado científico’ não tem aprendido com o ‘lado artístico’ por causa não somente de preconceito
mas também de pouca familiaridade. Ambas são explicadas pela distinção e separação hierárquica
entre ciência e arte estabelecida pelo Iluminismo, a qual também explica a subordinação irrefletida
da arte e da cultura aos propósitos científicos de management nos textos dos ‘pesquisadores
descontentes’.
Visto que o Brasil não viveu diretamente o movimento Iluminista, os autores deste artigo especulam
que há maior possibilidade de intercâmbio mais franco entre arte e ciência para acadêmicos
brasileiros do que para ‘estrangeiros’ dos centros mais desenvolvidos. Conseqüentemente,
brasileiros estariam mais propensos a absorver, reproduzir e legitimar os movimentos de resistência
efetuados pelos artistas e suas obras. Pesquisadores estrangeiros que propõem uma abordagem
crítica (Alvesson e Deetz, 1999, p. 259), por exemplo, argumentam que faltam "esforços sérios para
embasar idéias de resistência local em contextos empíricos específicos". Pesquisadores
‘estrangeiros’ e ‘brasileiros’ descontentes, impedidos por convenções sócio-políticas e ideológicas
impostas pelo Iluminismo, não têm reconhecido a relevância das disputas históricas em que
praticantes ‘locais’ das artes tiveram que subverter propostas de universalização ou colonização.
O presente ensaio procura reconstruir perspectivas e significados do momento particular da arte
brasileira entre as décadas de 1920 e 1940, com o propósito de evidenciar semelhanças entre aquela
situação histórica e o contexto atual vivido por ‘pesquisadores descontentes’ no Brasil. Naquela
época, a questão central para a vanguarda artística brasileira era resistir à colonização estética,
ideológica e política imposta pelos padrões estrangeiros. A arte era o principal meio de resistência
na época, tendo em vista que a proposta de colonização era reproduzida pelo sistema de educação
no país, baseado na chamada escola nova. Naquele contexto histórico, educadores proeminentes
introduziram o pensamento liberal democrático, defendendo “a escola pública para todos, a fim de
se alcançar uma sociedade igualitária e sem privilégios” (Aranha, 1996, p. 198). Apesar da
preocupação com a emancipação da nação, os líderes intelectuais escolanovistas se baseavam na
produção estrangeira ao invés de promover uma análise mais profunda da realidade local.
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O caminho de resistência escolhido pelos artistas foi o do Movimento Antropofágico. Tratava-se de
uma abordagem estética, filosófica e política que submetia a arte estrangeira à deglutição e ao
reprocessamento crítico e que recebeu diferentes interpretações (Carvalho, 1996; Corrêa, 1967;
Prado, 1988). Era também uma proposta de trabalho calcada em atividades e métodos singulares de
pesquisa, cujas práticas e reflexões geraram uma epistemologia própria, a qual não contou com o
apoio ou com a simpatia das instituições acadêmicas locais da época devido à sua subversividade
explícita e ao preconceito da classe cientista em relação à classe artística.
De forma análoga, sugere-se que o tipo de pesquisa bibliográfica conduzida no presente estudo
exploratório-descritivo sirva como inspiração para acadêmicos descontentes no Brasil. A parte
inicial do trabalho representa de forma particular o movimento antropofágico. Primeiro, os autores
reconstroem o contexto da criação da obra "O Rei da Vela", de Oswald de Andrade, que marcou o
início do movimento, sob uma abordagem que contempla níveis macro e micro de análise. Segundo,
os autores traçam os princípios epistemológicos do movimento antropofágico. Em seguida,
comparam de forma particular o contexto em que este desenvolvimento se deu e as propostas
geradas com o contexto atual vivido e construído pelos ‘pesquisadores descontentes’ da área de
management no Brasil.
Mais adiante, é narrada a obra "Macunaíma", de Mário de Andrade. Objetiva-se demonstrar, com
esta obra, como a Antropofagia pode responder aos anseios de acadêmicos em fundar a produção
acadêmica aos valores, hábitos e crenças locais. Os autores, ecoando de forma específica os
argumentos feitos por Wood Jr e Caldas (1998), enfatizam a importância de variações menos
‘glamourosas’ ou cientificáveis da cultura brasileira, tais como a esperteza, o piadismo, o
imediatismo, a transferência de responsabilidade (Vieira, 2000). Macunaíma é apropriado neste
ensaio como modelo para estimular uma nova postura acadêmica e promover a legitimação de
formas alternativas de conduta para os ‘acadêmicos descontentes’ no Brasil. A proposta principal da
leitura feita pelos autores é reconhecer que um fator central é que mesmo esses pesquisadores
descontentes estão ainda governados ou constrangidos por cânones estabelecidos pelo Iluminismo.
Na parte final desse ensaio, os autores, influenciados pelas obras artísticas analisadas, propõem um
caminho alternativo surpreendente. Ao invés de, mais uma vez, sugerir a reconciliação entre
management e uma representação de sociedade menos estratificada ou injusta via cultura ou arte,
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conforme defendido por pesquisadores brasileiros e estrangeiros, os autores propõem um caminho
de resistência e de busca por relevância que desafia a colonização da arte e da cultura pelos
acadêmicos e instituições de management.
A Antropofagia e a resistência teatra l: contextualizando arte e academia
Estamos no Brasil, início da década de 1920, logo após a Primeira Guerra Mundial e duas décadas
após a celebração de 400 anos de ‘descobrimento’. Inicia-se o chamado capitalismo tardio, cenário
de desesperança na Europa, de crise institucional e econômica nos EUA e de falta de referenciais no
Brasil. Em terras brasileiras (re)produz-se uma revolução no âmbito das artes, principalmente com a
realização da Semana da Arte Moderna em 1922. Curiosamente, o teatro esteve ausente dessa
exposição. A revolução formal que atingiu a música, as artes plásticas e a literatura no Brasil,
causada principalmente pelo contato de alguns intelectuais com vanguardas européias dos primeiros
anos do Século XX e pela redescoberta das "coisas do Brasil", não afetou imediatamente as
manifestações cênicas da arte nacional (Carvalho, 1996; Magaldi, 1976).
No final dos anos 20, o país permanecia predominantemente insensível à busca de um nacionalismo
legítimo. Repetia um modelo europeizado e passadista de um teatro insensível, convencionado e
sem criatividade. Cultura teatral significava puro divertimento e comportava no palco três formas
principais de representação: as óperas e operetas francesas e italianas, o teatro musicado francês e o
repertório desgastado das comédias de costumes das companhias portuguesas (Corrêa, 1967; Prado,
1988).
A conjuntura social, política e econômica do mundo pós-guerra fazia dos países de capitalismo
tardio suas vítimas mais sofridas (Corrêa, 1967; Magaldi, 1976). No Brasil, o afastamento
progressivo da Europa, ainda que a influência fosse considerável, abria espaço para a
americanização e para a expansão de Hollywood. Como conseqüência, criava-se uma representação
nacional de desenvolvimento ilusório, a qual camuflava um certo tipo intencionado de estagnação,
que era sistematicamente alimentada e preservada em acordo não somente com interesses externos
(Peixoto, 1967) mas também com interesses de uma certa classe de brasileiros.
A nova configuração de ordem mundial pós-guerra, além de suscitar o fantasma da pobreza, criaria
uma sombra de insegurança, de perplexidade, “de dúvida em relação à equanimidade e viabilidade
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de um sistema econômico que não parecia saber distribui tão bem quanto acumular" (Prado, 1988,
p. 14). No Brasil, a principal tarefa das classes dominantes passaria a ser "reconstituir a ordem
burguesa, atualizá-la face à nova realidade do mercado externo e ao realinhamento, no plano interno
das classes e camadas sociais" (Vianna, 1978, p. 9). O sistema de ensino teve papel central nesse
processo.
Ainda que mecanismos e atores influentes, tais como globalização econômica ou empresas
transnacionais, por exemplo, não fossem o principal foco de preocupação e motivo de resistência
para artistas brasileiros da época, como têm sido atualmente para certos pesquisadores descontentes
(ver Guedes, 2000), havia o imperativo de compreender e discutir aquela nova realidade brasileira,
de expressar expectativas por profundas reformas estruturais (Prado, 1988). Enquanto o teatro
dominante preferia, na época, mostrar as ligeiras comédias européias ao invés de captar e
representar angústias das camadas populares, mais especificamente "a vida do homem recalcado no
Brasil, produto da economia escrava e da moral desumana" (Corrêa, 1967, p. 4), uma pequena parte
de intelectuais brasileiros se alinhou à comunidade de descontentes para revelar problemas
nacionais e propor soluções correspondentes por meio do teatro.
O sentimento daqueles que aguardavam e desejavam o surgimento de um teatro capaz de perturbar
a visão positivista do país por meio de uma renovação expressional (Pereira, 1996) foi traduzido
principalmente pelo crítico e ensaísta teatral Antônio de Alcântara Machado (1901-1935). Ele
empreendeu campanha agressiva contra a inércia do teatro brasileiro. Acusava aquele teatro de não
ser nem nacional nem universal. Ou seja, era um teatro que se ignorava e ignorava os outros
(Carvalho, 1996; Prado, 1993), crítica de certa forma similar àquela feita recentemente por Bertero,
Caldas e Wood (1997) quanto à pesquisa no Brasil. Naquela época, mais especificamente em 1932,
era publicado o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova. O mesmo defendia de forma bastante
veemente e otimista a educação pública, leiga e gratuita como um dever do Estado com o propósito
de reduzir a defasagem entre a educação e as exigências de desenvolvimento econômico, promover
a democratização e transformação social por meio da escola e atender aos anseios da burguesia
capitalista urbana em ascensão. Ideais de resistência acadêmica eram eliminados neste Manifesto,
pois o mesmo defendia a crença de “um Estado neutro, ‘a serviço de todos’ e por uma concepção
não ideológica da ciência e da técnica” (Martins, 1996, p. 199).
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Na passagem para os anos 30, a resposta teatral finalmente se manifestou. O movimento buscou
relevância para suas práticas ao direcionar sua crítica a elite local: a burguesia. Ou seja, a proposta
não era de combater o estrangeiro distante ou promover o enaltecimento artificial da comunidade de
locais ou ‘nativos’. Acusada de hostil ou indiferente, prepotente ou vulgar, a burguesia local era tida
como “a massa que o artista criativo deveria ignorar ou atacar e, cada vez mais, chocar" (Carvalho,
1996, p. 36). Entendia-se ser preciso "deixar à platéia o direito de ir para casa com a consciência
pesada" (Leite, 1996, p. 23). Esta proposta foi exposta por Oswald de Andrade (1890-1954), na
obra "O Rei da Vela", escrita entre 1933 e 1937. O texto, de conteúdo sócio-político perturbador,
representou momento ímpar na moderna dramaturgia nacional (Corrêa, 1996; Pereira, 1996).
A peça é marcada por uma narrativa em que a metáfora e o símbolo são fundamentais para a
exposição de uma realidade econômica complexa e contraditória (Corrêa, 1996; Michalski, 1997).
O teatro de Oswald de Andrade afirma seu compromisso com diversas rupturas formais: ou seja,
"não afirma, ironiza; não unifica, fragmenta; não segue padrões estabelecidos, inova" (Carvalho,
1996, p. 38). A história de sucesso e declínio de Abelardo I, sua submissão ao verdadeiro rei
burguês – um certo ‘Mr. Jones’ – evidenciando as contradições manobradas pelo poder estrangeiro
(Corrêa, 1967), era transmitida por meio de um tipo de encenação que explicitava um universo
deformado, habitado por personagens carregados, de falas exageradas e cruéis, compondo um
conjunto poderoso de slogans, alegorias, risos amargos, idiotismos e neologismos (Carvalho, 1996).
Sua força não é resultado de um mero esquema panfletário pois relevância é acompanhada de
consistente riqueza formal. O resultado final, em termos de conteúdo e forma, é “uma elaboração
artística original e polêmica que reivindica a provocação, assumindo uma postura contestadora
veemente” (Peixoto, 1967, p. 10).
A comunicação da realidade brasileira e das formas que o teatro deve inventar para captá- la e
representá- la significava, com "O Rei da Vela", a expressão de uma consciência inédita. A mesma
buscava "conhecer a realidade de um país sem história, preso a determinados coágulos que não
permitem que essa história possa fluir" (Corrêa, 1967, p. 6). Para denunciar uma estrutura tida como
inviável, Oswald de Andrade dedicava-se à dramaturgia da crueldade, da falta de medo da
inteligência, do anarquismo, do mau gosto, da negação e da filosofia subversiva do "esculhambo,
logo existo" (Corrêa, 1967). Lançavam-se então as bases para o despertar do Movimento
Antropofágico Brasileiro, o qual não somente desafiaria “as tradições arcaicamente copistas" (Leite,
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1996, p. 24) da cultura brasileira, mas que também geraria respostas contrárias imediatas e ainda,
posteriormente, diferentes significados, interpretações e usos.
A epistemologia antropofágica e suas leituras no Brasil
Conhecimento em geral, assim como conhecimento gerado e difundido por pesquisa acadêmica, não
pode ser tomado como epistemologicamente neutro, pois o que um observador vê ou descreve
depende em parte de “sua experiência passada, de seu conhecimento e de suas expectativas”
(Chalmers, 1999, p. 49), independentemente de sua consciência quanto a tais influências. A
definição antropofágica da nacionalidade baseava-se no contraste entre o modo de pensar e sentir
nacional e as formas de consciência não nacionais. O Brasil das verdadeiras contradições ficaria
mais acessível ou observável por meio de uma “teoria do conhecimento” particular (Moraes, 1990,
p. 71). Tendo em vista a força de tal argumento, não é surpreendente que diferentes leituras tenham
sido geradas no Brasil e que algumas tenham sido feitas mais conhecidas do que outras. A que
ganhou maior popularidade foi aquela que associou a proposta à prática ingênua de ‘devorar’, a qual
foi associada à natureza indígena. Essa proposta carregava o significado de que a história real do
Brasil e uma linha mais justa de progresso somente seriam alcançadas se a estrutura, representada
convenientemente pela figura do ‘estrangeiro’, fosse meramente “devorada” (ver Carvalho, 1996;
Corrêa, 1997).
Em um país tido como “fruto de uma bagunça generalizada, onde a presença dos mais distantes e
mais próximos colonizadores abafa o que poderia ser nossa essência cultural" (Marback, 1978, p.
12), a epistemologia antropofágica, ao invés de alinhar-se à narrativa futurística imposta pela
ciência e à proposta correspondente de relacionar intransitivamente futuro com progresso,
propunha, segundo uma concepção dialética, o retrocesso. Retrocesso era importante para provocar
reflexões, realçar contradições e promover transformação do presente e dos presentes. Retrocesso
não significava, portanto, a mera eliminação do ‘estrangeiro’.
Não se tratava tampouco de uma recaída nostálgica, caracterizada pela melancólica busca do
passado ‘paradisíaco’ e eliminação ilusória do presente. Em outras palavras, o movimento não
propunha representar um duelo trágico ou moralista entre a realidade como é contra uma outra
representação de realidade como deveria ser. A proposta principal era resgatar um passado mais
remoto, em busca também de traços da cultura popular, para desmistificar o passado mais recente, o
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alienígena e elementos locais opressivos. Por meio desta epistemologia dialético-reconstrutiva,
tornaria possível o (re)conhecimento e a revelação das verdadeiras contradições do presente e do
futuro (Corrêa, 1967; Marback, 1978; Michalski, 1997; Moraes, 1990).
O movimento resgatava um sentido particular e histórico da arte. O mesmo se opunha à
transformação da arte em recurso ideológico ou mercadológico, como usualmente o Estado e
instituições empresariais o fazem. Arte era tomada e representada sob uma perspectiva de tribo,
mais especificamente sob a perspectiva daqueles de dentro da tribo. Por conseguinte, o movimento
recusava-se a transformar cultura popular em objeto exótico por meio da arte. Assim, desafiava a
prática colonialista de cativar audiências distantes ou de além-mar via objetos exóticos
transformados em artísticos, como em geral artefatos tribais são convertidos em objetos
colecionáveis de arte no Ocidente (ver Clifford, 1993). Seguindo esta abordagem tribal, o
movimento defendia a vinculação de desenvolvimento nacional ao desenvolvimento de uma
perspectiva indígena, a qual deveria estar presente não somente no âmbito da Arte, mas também nos
da política e da ciência (Dedijer, 1964). Curiosamente, esta proposta epistemológica não foi
absorvida na época pela academia local.
Antropofagia consistia basicamente no uso de diferentes formas de reprocessamento, por intermédio
da arte. A cultura do ‘estrangeiro’ em particular era deglutida, digerida e depois excretada nas
manifestações teatrais. Estas representavam a negação de sua assimilação pura e simples. Em um
primeiro momento, uma leitura particular desta proposta se expandiu e resultou em implacável
revisão de valores por meio do deboche inteligente, do primitivismo, da deformação e da
irreverência (Carvalho, 1996; Corrêa, 1967). Tal leitura se opunha à sisudez cientificista e às formas
representacionais correspondentes. A academia local manteve-se hermética a tal proposta durante
décadas. Fortemente influenciada pela difusão e legitimação de abordagens pós-modernistas na
literatura internacional de management nos anos 1990s, aquela leitura particular foi resgatada pela
academia local, por meio da proposta de antropofagia organizacional.
Entretanto, é importante ressaltar mais uma vez que a epistemologia antropofágica tinha outros
desdobramentos e significados. O primeiro ponto central é que a proposta contemplava a
coexistência, contraditória e/ou complementar, do ‘estrangeiro’ e do ‘brasileiro’ em um mesmo
território. O segundo é que não oferecia uma solução implícita ou explícita de ordem e progresso
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coletivo. Não contemplava a mística maniqueísta baseada em representações mais ‘populares’: a
primeira, na qual o ‘estrangeiro’ e suas práticas de colonização são eliminados pelo ‘local’ para que
uma proposta de progresso coletivo seja estabelecida; a segunda, na qual o ‘estrangeiro’ e suas
práticas de colonização são usados para conduzir a coletividade de ‘locais’ a algum tipo ou
representação de progresso coletivo (ver Sztompka, 1998, pp. 57-71).
Dito de outra forma, a epistemologia antropofágica desprezava o mito central da ciência ocidental.
Ou seja, a idéia de que uma área de estudos para ser considerada como científica tem que apresentar
“um progresso marcante” (Kuhn, 1998, p. 203) e, assim, eliminar contradições e ambigüidades.
Conseqüentemente, a epistemologia antropofágica não indicaria a pesquisadores descontentes de
management no Brasil que somente restariam as alternativas de fechamento dentro de fronteiras
nacionais para produzir um ‘novo produto’ ou de alinhamento a bagagens estrangeiras com um
‘produto melhor’ ou mais adaptado. É fundamental que se reconheça que qualquer alternativa, seja
mais ou menos dramática, não eliminará contradições mobilizadas tanto por ‘estrangeiros’ como
por ‘brasileiros’, seja no Brasil ou em qualquer outro território ou cenário. Isso significa que a
emergência de propostas acadêmicas que contemplem e valorizem identidades e cultura, de modo a
evitar a dinâmica inconsciente de reprodução (Amado, Faucheux e Laurent, 1992), é mais do que
relevante sob uma abordagem antropofágica. Entretanto, é essencial que haja cuidado muito
particular ao se transmutar movimentos nascidos no âmbito das Artes para o âmbito da Ciência.
O Ano Zero, marco inicial do movimento, passou a ser o ano de 1554. Na representação
correspondente, o Bispo Sardinha, religioso português encarregado de catequizar os índios Aimorés,
foi convidado a um banquete em que ele próprio era servido como prato principal. Trata-se de uma
representação de canibalismo muito sutil ou quase mágica. O ato não propunha violência
arrebatadora, pois os índios ‘antropófagos’ não pensavam ou agiam de forma violenta naquela
representação simbólica. Significava uma homenagem irônica à colonização efetuada por religiosos,
segundo uma perspectiva inovadora e crítica. A mesma era essencialmente contrária à submissão
irrefletida dos presentes à mesa, incluindo o missionário e os componentes da tribo, aos verdadeiros
colonizadores, uma mistura contraditória de ‘estrangeiros’ e ‘brasileiros’, e a seus princípios,
códigos e teorias.
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Da mesma forma que os intelectuais antropófagos buscaram na arte uma alternativa para perceber,
expressar, discutir e legitimar a ‘canibalização’ de elementos alienígenas e opressores e destacar a
importância da cultura local, os autores do presente ensaio entendem que a arte possa estimular a
formação e os trabalhos de acadêmicos de ou sobre management no Brasil (ou seja, não
necessariamente acadêmicos somente para management). Correspondentemente, a convidar textos
e representantes da ciência estrangeira, e também as representações de cientistas disciplinados
exercidas tanto por ‘estrangeiros’ como ‘brasileiros’, para um certo tipo de banquete. A história de
Macunaíma, primeiro herói brasileiro, é apropriada na próxima seção para este fim.
Apropriando Macunaíma como nosso chef de cuisine
Além de "O Rei da Vela", escrita por Oswald de Andrade em 1933, ano 379 da deglutição do Bispo
Sardinha, outra importante obra marca a essência da antropofagia: a história de "Macunaíma". Esta
foi concluída por Mário de Andrade (1893-1945) em 1928, ano 374 da primeira refeição oficial dos
antropófagos (Corrêa, 1967). A obra representa uma epopéia brasileira de um herói genuinamente
nacional (Magaldi, 1997; Mercado, 1997), avaliada como "contribuição efetiva para nosso
autoconhecimento enquanto nação e cultura" (Michalski, 1997, p. 17). De certa forma, pode-se
mesmo especular que o personagem tenha influenciado a iniciativa pioneira de Alcântara Machado
descrita na seção anterior.
A história de Macunaíma tornou-se "um guia, um levantador de questões, um inquietante enigma"
(Marback, 1978, p. 14) para a realização da essência complexa do homem e das coisas do Brasil. A
despeito da baixa receptividade no âmbito da ciência local, introduzia um novo ponto de vista
dentro do processo de identificação da consciência nacional. Um ponto crucial é que ao buscar o
caráter brasileiro, realçavam-se as múltiplas e contraditórias facetas de sua nacionalidade (Dacosta e
Junqueira, 1997; Marback, 1978).
O trabalho de Mário de Andrade transcende a mera descrição contemplativa, mais típica da
antropologia científica. A proposta “é pragmática, opinativa, foge do absenteísmo, da complacência
servil" (Proença, 1987, p. 18). A proposta principal era enfatizar a necessidade de “intensificar a
pesquisa sobre o caráter nacional" (Moraes, 1990, p. 73) de uma maneira crítica, para evidenciar
contradições básicas da inserção do elemento brasileiro no seu contexto social mais próximo e
também no que diz respeito àquele mais remoto.
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A partir de um complexo sistema de signos e símbolos, utilizados com irrestrita liberdade criadora
não permitida nas representações científicas, Mário de Andrade criou um herói que faz do universo
mágico de sua cabeça o motor de sua existência (Magaldi, 1997; Marback, 1978; Michalski, 1997).
Macunaíma conta a saga de um brasileiro que foi comido pelo Brasil, especificamente "pelas
relações de trabalho, sociais e econômicas que ainda são basicamente antropofágicas" (Dacosta e
Junqueira, 1997, p. 8), uma representação bastante aplicável à realidade histórica e contemporânea
da maioria dos gerentes e acadêmicos brasileiros.
Tratava-se de uma representação bastante particular, quando confrontada com representações
tipicamente Hollywoodianas e também seguidas por escritores de best-sellers na indústria editorial
do management (ver Wood, 1997, p. 153), de líderes como heróis ‘descentrados’ sem traços de
ambigüidade, ou ainda como mercadorias prontas para serem copiadas ou consumidas. A falta da
identidade brasileira autêntica era representada na completa ausência de caráter de Macunaíma
(Kopelman, 1978; Moraes, 1990). A história e as estórias do personagem contradizem e subvertem
a prática de se desenhar um caráter bem definido que permita ao leitor ou à audiência controlar o
comportamento e atitudes de Macunaíma. Macunaíma era indecifrável, "uma figura turbulenta e
sem medida, que encarna o caos psicológico de um povo em que os mais diversos elementos (...) se
reuniram, sem que estejam, por enquanto, amalgamados" (Proença, 1987, p. 8). Note-se, por
conseguinte, que a falta de um caráter significa condição bastante saudável (Mercado, 1997), pois
se opunha à representação dominante de indivíduo governado por características, eventualmente
científicas, que pudessem ser facilmente conhecidas pelo ‘outro’. Como uma das conseqüências,
Macunaíma é caracterizado por não ser imoral nem amoral: “Pertence, antes à categoria de seres
nem culpados, nem inocentes, nem alegres, nem tristes, mas dotados daquela soberba indiferença
que Platão ligava à sabedoria" (Proença, 1987, p. 15).
Esta sabedoria brasileira própria e legítima está caracterizada nas principais dimensões do
personagem, como mostra a Figura 1. Apesar da distância entre a obra de ficção artística e a
realidade da ciência contemporânea de management, um olhar mais cuidadoso pode revelar traços
interessantes para inspirar pesquisadores a realizarem trabalhos mais autênticos e engajados dentro
do confuso contexto atual da teoria e da prática do management. A figura a seguir não tem a
ingênua pretensão de esboçar uma abordagem prescritiva ou normativa para pesquisadores
descontentes mas tem o objetivo de fornecer bases para a constituição da área de estudos tribais no
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Brasil. A principal função é devolver à tribo dos acadêmicos brasileiros o espírito dialético de
emancipação traduzido pelo movimento antropofágico. Reconhecendo a inevitável força de
colonizadores, pretende-se o registro de um instrumento pragmático para gerar mudança de atitude
do pesquisador descontente frente às refeições importadas servidas pela ciência em geral e pela
ciência de management.
________________________________________________________________________________
• Preferência pela paródia, pela brincadeira, pelo profano, pelo paradoxo e pelas contradições
• Predileção pela interpretação crítica e realista e não pela dominação do ambiente
• Observação do particular, da idiossincrasia, em lugar das proposições nomotéticas
generalistas
• Rejeição às normas estabelecidas, à rigidez dos padrões consagrados
• Contemplação da diversidade, da heterogeneidade, do pluralismo, da diferença, do ecletismo
• Orientação perceptual e cognitiva para a abstração, para a subjetividade
• Busca de soluções criativas únicas e particulares
• Preocupação com os aspectos sociais, políticos e culturais da realidade
• Atenção à importância dos signos, das imagens, dos símbolos e da ideologia
• Estímulo ao diálogo com as minorias oprimidas
• Explicitação da configuração contrastante entre as periferias marginais e um centro mítico
produtor
e legislador
________________________________________________________________________________
Figura 1: Manifestações características explícitas e implícitas do personagem Macunaíma
As características mais interessantes de Macunaíma podem ser encontradas nos trabalhos de
pesquisadores, ‘brasileiros’ e ‘estrangeiros’, que criticam a rigidez, a objetividade, o autoritarismo,
a falsa universalidade, a permanência, o empiricismo e o cientificismo imposto ao/pelo mundo
ocidental. Isto significa que o personagem transcende fronteiras rígidas espácio-temporais. Portanto,
não deve ser apropriado como exclusividade brasileira. O que é importante realçar, segundo a
perspectiva de estudos tribais aqui esboçada, é que tais características não sejam apropriadas a la
carte de maneira a eliminar ou desprezar as questões contraditórias da realidade.
Ainda que não seja o propósito de fornecer aqui uma lista completa dos pontos comuns entre
Macunaíma e acadêmicos descontentes, brasileiros ou não, dispostos a subverter ou contestar a
17
imposição de um arcabouço científico único, a identificação é inevitável. A inspiração de
Macunaíma para a constituição de uma vertente da academia brasileira de management,
especificamente a de estudos tribais, mais aplicável à realidade problemática do Brasil, se traduz
nas palavras de Kopelman (1978, p. 11):
"Por nos termos distanciado das funções sociais que garantiam o equilíbrio com o
sobreviver; por termos criado necessidades de consumo fictícias em substituição às
básicas e reais; porque ouvimos e vemos e nos esforçamos no sentido de criar
coisas e situações para apagar a insatisfação; porque denegrimos nossa inteligência
na prática diária da alienação de nós mesmos escrevendo, assim, uma história
demente e monstruosa da humanidade; porque dirigimos nossos músculos à
catatonia como reação ao medo e à repressão, bichos gulosos de nossa alma, é que
nós, que acreditamos na força transformadora do teatro, laçamos, cantando, a
imaginação de Macunaíma como antídoto do nosso entorpecimento e indigência."
Conclusões e Implicações para Trabalhos Futuros
O presente ensaio reconstrói e propõe a antropofagia como uma perspectiva capaz de sensibilizar
pesquisadores (não necessariamente todos, tendo em vista a pluralidade de interesses e identidades
na comunidade acadêmica brasileira) a desenvolverem trabalhos mais compatíveis com a realidade
local e com o propósito de reduzir desequilíbrios injustos. A mesma poderia ser vista como mais
uma alternativa, somando àquelas propostas por Bertero, Caldas e Wood Jr (1997), pois poderia
servir tanto para o propósito de inserção internacional (Wood Jr e Caldas, 1998) quanto para o
desenvolvimento de conhecimento refratário a certos ‘estrangeiros’.
Entretanto, não se propõe um compromisso intransitivo e retórico com progresso coletivo nem
exclusividade nacionalística. Tampouco é sugerida indiferença ou cinismo frente à realidade vivida
pela maioria dos brasileiros, marcada principalmente por desequilíbrio e injustiça, dentro e fora das
instituições de management. A proposta de estudos tribais aqui esboçada significa uma abordagem
de engajamento e de cidadania com o objetivo de promover a redução de desequilíbrios injustos em
geral e particularmente àqueles relacionados a práticas, instituições e conceitos controversos de
management. Estão localizados na academia de management e alinham-se de forma particular ao
trabalho de representantes acadêmicos dos ‘estudos culturais’ na Inglaterra, cuja proposta essencial
18
tem sido a de não “ignorar – ou aceitar – divisão e sofrimento” (During, 1993, p. 2) causados por
desequilíbrio social em geral. Propõe-se aqui que pesquisa relacionada a management no Brasil,
assim como a cultura, seja prioritariamente avaliada por sua capacidade de aprofundar experiências
ou práticas para atender o propósito central de reduzir desequilíbrios injustos.
Dada a rigidez de governança da ciência quando comparada à da arte, um debate mais profundo
sobre estes dois domínios é necessário para a legitimação de estudos tribais dentro e fora do Brasil.
A perspectiva e o modo de ser do personagem Macunaíma são vistos pelos autores como relevantes,
ainda que não suficientes, para guiar a construção de pesquisa menos cientificista e a formação mais
contextualizada de pesquisadores locais, em contraste às tradições e teorias vindas do ‘estrangeiro’.
Algumas outras questões de ordem prática têm que ser consideradas antes que o leitor se iluda com
uma perspectiva ilusória de voluntarismo. Primeiro, é fundamental ressaltar que no âmbito da
ciência as transformações são muito mais difíceis (ver, por exemplo, Kuhn, 1998) do que no das
artes. Apesar de ter tido sua primeira publicação em 1933, "O Rei da Vela" só ganhou sua primeira
montagem teatral 34 anos depois, pelo Teatro Oficina, de São Paulo, que encontrou no texto uma
visão atualizada da realidade brasileira de 1967 como nenhuma outra peça contemporânea havia
proposto. Por motivos semelhantes, "Macunaíma", publicado inicialmente em 1928, teve sua
montagem original somente em 1978, com o Grupo Pau Brasil, dirigido por Antunes Filho (Dacosta
e Junqueira, 1997; Kopelman, 1978). No âmbito altamente internacionalizado e estratificado da
ciência (Lyotard, 1998), o cenário é ainda mais complicado e por isto a proposta de estudos tribais
estaria certamente fadada a hiatos longos entre sugestão teórica, aceitação, legitimação, e
implementação prática tanto no Brasil como em qualquer outro lugar.
Obstáculos internos, dentro da fronteira ‘brasileira’, são tão ou mais complicados do que os no
‘estrangeiro’. A transformação do movimento antropofágico original, a partir de absorção ou
apropriação pelas elites dominantes locais, por meio de organizações empresariais e do ‘mercado’,
levou a resultados particularmente frustrantes para seus proponentes ou seguidores. Assim como
manifestações culturais populares ou artísticas autênticas têm servido para a massificação da
indústria áudio-visual no Brasil, o antropofagismo foi convertido em tropicalismo e foi pouco a
pouco sendo “assimilado como inconseqüente modismo" (Corrêa, 1967, p. 6). Esses exemplos
demonstram que a despeito das intenções mobilizadas por indivíduos, cultura popular tende a ser
19
transmutada em arte e posteriormente transformada em cultura de massa pelas elites e por meio de
organizações empresariais. Assim, propósitos de resistência manifestados na cultura popular e
veiculados posteriormente em forma de arte, são reciclados de forma contraditória: o que era
popular é usualmente devolvido ao ‘popular’ em forma de mercadoria de consumo fácil. Esse tipo
de situação, segundo idéias de Gramsci, é muito similar às causas que levaram o fascismo de
Mussolini à popularidade ainda que o mesmo significasse redução drástica de liberdade para a
maioria dos italianos. O mecanismo subjacente é universal: forças hegemônicas alteram
‘estrategicamente’ os conteúdos disponíveis de acordo com mudanças de condições sociais e
culturais. Conseqüentemente, uma abordagem antropofágica mais realista deve evitar que a área de
estudos tribais, ou qualquer área correlata, seja deglutida ou colonizada pela ideologia e, mais
especificamente, por um conjunto de poucos beneficiários majoritários.
Uma questão crucial a ser observada pelos acadêmicos descontentes no Brasil é o risco de
subordinar cultura brasileira à cultura organizacional e aos interesses das instituições dominantes de
management. Este tipo de subordinação, apropriação ou modo de produção implica no
fortalecimento e legitimação das organizações empresariais e instituições de management. Porém,
não garante contrapartidas. O trabalho ‘científico’ desenvolvido por Hoffstede, baseado em ampla
pesquisa desenvolvida na e para a IBM norte-americana, o qual é largamente referenciado por
pesquisadores brasileiros preocupados com cultura nacional e identidades, tinha e continua tendo
como principal propósito facilitar um certo tipo de cooperação entre o topo das corporações
internacionais e ‘nativos’. Recente reconstrução da história da IBM mostrou sua colaboração ativa
com líderes nazistas para obter monopólio do mercado (Black, 2001), revelando uma faceta de
cooperação inter-cultural diametralmente oposta à abordagem ingênua seguida por acadêmicos de
management. Cooperação ‘inter-cultural’ sob tal abordagem apolítica, muito similar a práticas
acadêmicas imperialistas lideradas por antropólogos tais como Malinowski e Radcliffe Brown (ver
Sztompka, 1998, p. 167), torna-se particularmente controversa no cenário contemporâneo porque
pode legitimar práticas imperialistas mobilizadas por corporações transnacionais.
Abordagens culturais desse tipo camuflam as contradições da realidade vividas ou (re)produzidas
por organizações empresariais, gerentes e cidadãos. Portanto, tendem a não contribuir para o
propósito de reduzir desigualdades injustas visto que, no final, disfarçam certos interesses
contraditórios de agentes que (re)produzem ou podem (re)produzir maior conteúdo de
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desigualdades. Corporações transnacionais em particular são instituições reconhecidamente
geradoras de desequilíbrios injustos (Mokhiber e Weissman, 1999) e, contraditoriamente, as mais
interessadas em patrocinar teorias e pesquisas de management relacionadas à cultura. Como
sugerido neste ensaio, a apropriação irrefletida de manifestações e simbologias artísticas por
acadêmicos de management também tende a reproduzir, no âmbito mais amplo da ‘cultura’, os
efeitos negativos causados pela ‘profissionalização’ da arte e de seus praticantes, inclusive o próprio
teatro (ver Boal, 2001). Antropofagia não deve por conseguinte ser apropriada de forma irrefletida
como um tipo de cultura de massa ou como prática corriqueira por gerentes de empresas e
dirigentes preocupados com a globalização (Wood Jr e Caldas, 1998).
A subordinação da cultura à fronteira nacional é outra questão crucial. Antropofagia não deve ser
tratada sob uma abordagem nacionalista, visto que a mesma homogeneiza acadêmicos de distintas
nacionalidades. A proposta de estudos tribais aqui esboçada rejeita a divisão sectária e irrefletida
entre acadêmicos do Norte e do Sul ou entre acadêmicos de países desenvolvidos e de países não
desenvolvidos por reconhecer a subordinação da academia a mecanismos globais mais poderosos.
Conforme apontado por Hugh Willmott, acadêmicos ingleses e suas correspondentes instituições
vêm sendo ‘comodificados’ e controlados de forma abusiva por forças hegemônicas nacionais e
transnacionais desde o início dos anos 1980s (Willmott, 1995; Faria e Guedes, 2000), em
consonância com a crise mundial da educação iniciada no final dos anos 1960s (Coombs, 1986).
Tendo em vista as dificuldades enfrentadas por propostas acadêmicas críticas devido à implausível
autonomia das instituições acadêmicas (ver Gadotti, 1989, p. 113), a constituição da área de estudos
tribais no Brasil deve se inspirar na representação de coalizão organizacional (Cyert e March,
1963). Coalizões, dentro e através de fronteiras nacionais, podem viabilizar a necessária conciliação
de crítica e prática.
Por meio de coalizões e do ‘jeitinho’ a proposta pode se fortalecer. Se a expansão for muito grande,
a área (ou território) de estudos tribais deixará de representar um nicho e, conseqüentemente,
correrá o sério risco de ser transmutada em cultura de massa e mercadoria de fácil consumo. A
proposta de resistência cultural e o interesse prioritário em desequilíbrio e injustiça também
sucumbirão se a área ficar relegada a alguns poucos ‘iniciados’. Por conseguinte, os autores do
presente ensaio entendem que, no Brasil, estudos tribais melhor traduziriam e promoveriam os
princípios da antropofagia se for fortalecido o diálogo dialético com a proposta de antropofagia
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organizacional. Dessa forma, estudos tribais ajudariam a evitar a apropriação da antropofagia e da
cultura pelas instituições de management e também a promover a aceitação dos acadêmicos de
management por parte outras importantes tribos de acadêmicos das ciências sociais que resistem aos
propósitos controversos de management (ver Chanlat, 1999) Talvez agora, com um menu mais
articulável de alternativas ‘antropofágicas’ locais, o convite à resistência torne-se mais palatável: o
banquete está servido!
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