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www.gustavobrigido.com.br DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 1. Considerações iniciais: O Código Penal trata dos crimes funcionais, praticados funcionários públicos contra a Administração Pública em geral (direta, indireta e empresas privadas prestadoras de serviços públicos, contratadas ou conveniadas). Crimes dessa natureza afetam a probidade administrativa, ferindo, dentre outros, os princípios norteadores da legalidade, impessoalidade, moralidade e eficiência. É interessante destacar que todo crime funcional é ato de improbidade, mas nem todo ato de improbidade é crime funcional (p.ex.: usar a viatura oficial para fins particulares é improbidade, mas não é crime funcional). 1.1 – Comunicabilidade das condições de caráter pessoal: Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime Os crimes praticados por funcionários públicos estão classificados como sendo CRIMES PRÓPRIOS, ou seja, exigem do agente uma determinada qualidade, no caso, ser funcionário público. O particular, mesmo não sendo servidor público, mas sabendo desta condição, pratica na companhia deste qualquer crime contra a Administração Pública, sofrerá as mesmas sanções, pois a qualidade de funcionário público, por ser elementar do crime, comunica-se ao particular que é co-autor ou partícipe do crime contra a Administração Pública, nos termos do art. 30 do Código Penal. 1.2 – Espécies: Os crimes funcionais são divididos em duas espécies: próprios e impróprios a) Próprios: faltando a qualidade de funcionário público ao autor, o fato passa a ser tratado como um indiferente penal, não se subsumindo a nenhum outro tipo incriminador – atipicidade absoluta. Ex: prevaricação (art. 319 do CP); b) Impróprios: desaparecendo a qualidade de servidor do agente, desaparece também o crime funcional, operando-se, porém, a desclassificação da conduta p/ outro delito, de natureza diversa – atipicidade relativa. Ex: peculato furto (que deixa de ser peculato e passa a ser furto). 1.3 – Progressão de regime prisional nos crimes contra a Administração Pública: Art. 33, § 4o do CP - condenado por crime contra a administração pública terá a progressão de regime do cumprimento da pena condicionada à reparação do dano que causou, ou à devolução do produto do ilícito praticado, com os acréscimos legais. A progressão de regime prisional nos crimes contra a Administração Pública está condicionada, além dos outros requisitos previstos em lei, à prévia reparação do dano causado, ou à devolução do produto do ilícito praticado, com os acréscimos legais. 1.4 – Conceito de funcionário público para efeitos penais:

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DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

1. Considerações iniciais: O Código Penal trata dos crimes funcionais, praticados funcionários públicos contra a Administração Pública em geral (direta, indireta e empresas privadas prestadoras de serviços públicos, contratadas ou conveniadas). Crimes dessa natureza afetam a probidade administrativa, ferindo, dentre outros, os princípios norteadores da legalidade, impessoalidade, moralidade e eficiência. É interessante destacar que todo crime funcional é ato de improbidade, mas nem todo ato de improbidade é crime funcional (p.ex.: usar a viatura oficial para fins particulares é improbidade, mas não é crime funcional). 1.1 – Comunicabilidade das condições de caráter pessoal:

Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo quando elementares do crime

Os crimes praticados por funcionários públicos estão classificados como sendo CRIMES PRÓPRIOS, ou seja, exigem do agente uma determinada qualidade, no caso, ser funcionário público. O particular, mesmo não sendo servidor público, mas sabendo desta condição, pratica na companhia deste qualquer crime contra a Administração Pública, sofrerá as mesmas sanções, pois a qualidade de funcionário público, por ser elementar do crime, comunica-se ao particular que é co-autor ou partícipe do crime contra a Administração Pública, nos termos do art. 30 do Código Penal. 1.2 – Espécies: Os crimes funcionais são divididos em duas espécies: próprios e impróprios

a) Próprios: faltando a qualidade de funcionário público ao autor, o fato passa a ser tratado como um indiferente penal, não se subsumindo a nenhum outro tipo incriminador – atipicidade absoluta. Ex: prevaricação (art. 319 do CP);

b) Impróprios: desaparecendo a qualidade de servidor do agente, desaparece também o crime funcional, operando-se, porém, a desclassificação da conduta p/ outro delito, de natureza diversa – atipicidade relativa. Ex: peculato furto (que deixa de ser peculato e passa a ser furto).

1.3 – Progressão de regime prisional nos crimes contra a Administração Pública:

Art. 33, § 4o do CP - condenado por crime contra a administração pública terá a progressão de regime do cumprimento da pena condicionada à reparação do dano que causou, ou à devolução do produto do ilícito praticado, com os acréscimos legais.

A progressão de regime prisional nos crimes contra a Administração Pública está condicionada, além dos outros requisitos previstos em lei, à prévia reparação do dano causado, ou à devolução do produto do ilícito praticado, com os acréscimos legais. 1.4 – Conceito de funcionário público para efeitos penais:

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Funcionário público Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública. § 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) § 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público.

Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública (327, caput), doutrinariamente denominado como funcionário público típico. O conceito é amplo, abrangendo qualquer função pública, ainda que de forma transitória e s/ remuneração (ex: o jurado, os mesários eleitorais). O §1 criou a figura do funcionário público por equiparação, passando a gozar desse status o agente que exerce cargo, emprego ou função em entidades paraestatais (aqui compreendidas as autarquias, sociedades de economia mista, empresas públicas e fundações instituídas pelo Poder Público), bem como aquele que trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública. O §2º estabelece uma majorante na hipótese em que os autores do crimes praticados por funcionário pública contra a administração pública em geral forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público. CUIDADO: o legislador esqueceu da autarquia, sendo incabível analogia (por ser in malam partem). Obs.: ADVOGADO CONVENIADO COM O PODER PÚBLICO: O advogado que, por força de convênio celebrado com o Poder Público, atua de forma remunerada em defesa dos agraciados com o benefício da Justiça Pública, enquadra-se no conceito de funcionário público para fins penais. Obs.: O exercício de uma função pública não pode ser confundido com múnus público, entendido como encargo ou ônus conferido pela lei e imposto pelo Estado em determinadas situações, a exemplo do que ocorre com os tutores, curadores etc. Administrador judicial, inventariante dativo, curador dativo e tutor dativo exercem encargo público (e não função pública). Médico que atende pelo SUS é funcionário público para fins penais. O advogado contratado por meio de convênio entre o Estado e a OAB, p/ atuar na justiça gratuita, exerce, de acordo c/ o STJ, função pública. O STF, por maioria, entendeu que prefeitos, governadores e presidente da República, quando autores de crimes funcionais, são inevitavelmente alcançados pela causa de aumento.

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DOS CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL

PECULATO

Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa. § 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário. Peculato culposo § 2º - Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano. § 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta.

1. Considerações iniciais: O artigo 312 prevê quatro modalidades do delito de peculato: a) peculato-apropriação (primeira parte do caput do art. 312) b) peculato-desvio (segunda parte do caput do art. 312) c) peculato-furto (§1º); e d) peculato culposo (§2º). A palavra deriva do termo latino peculatus, que no direito romano se caracterizava como o desvio de bens pertencentes ao Estado. 2. Espécies de peculato: 2.1 – Peculato próprio: O peculato próprio é composto pelas modalidades de peculato-apropriação e pelo peculato desvio. Essa qualidade de próprio se dá pelo fato do funcionário público ter a posse sobre o dinheiro, valor ou qualquer outro bem, em virtude do seu cargo, emprego ou função.

a) peculato-apropriação – neste primeiro tipo, o funcionário público toma para si dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tenha a posse em razão do cargo. O núcleo do tipo é o verbo apropriar, que deve ser entendido no sentido de tornar como propriedade, tomar para si, apoderar-se indevidamente de dinheiro ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse ou a detenção, em razão do vínculo que mantém com a administração. Aqui o agente inverte o título da posse, agindo como se fosse dono, vale dizer, com o chamado animus rem sibi habendi.

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b) peculato-desvio – no peculato-desvio, o funcionário público aplica à coisa, da qual teve acesso em razão do seu cargo, destino diverso que lhe foi determinado, em benefício próprio ou de outrem.

2.2 – Peculato impróprio:

§ 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário.

O §1 do art. 312 do Código Penal, que traz a conduta denominada de peculato-furto, hipótese em que o funcionário público não tem a posse do dinheiro, valor ou bem, mas o subtrai ou concorre para que seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se da facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário. Assim, pode o agente, ele próprio, levar a efeito a subtração, retirando, por exemplo, o bem pertencente à Administração Pública, ou simplesmente concorrer para que terceiro o subtraia (p.ex.: aquele funcionário público que convence o vigia de determinada repartição a sair do local onde o bem se encontrava guardado, com a desculpa de irem tomar um café, a fim de que o terceiro possa ali ingressar e subtrair o bem). No peculato impróprio (peculato-furto), diferentemente do que ocorre no peculato próprio (peculato-apropriação e peculato-desvio), basta que o agente, funcionário público, tenha se valido dessa qualidade para fins de praticar a subtração ou concorrido para que terceiro praticasse. 3. Consumação e tentativa: No peculato-apropriação o delito se consuma quando o agente inverte a posse, agindo como se fosse dono. No que diz respeito ao peculato-desvio, seu momento consumativo ocorre quando o agente dá a coisa destino diverso, quando a emprega em fins outros que não o próprio ou regular, agindo em proveito dele mesmo ou de terceiro. Já no peculato-furto, ocorre a consumação quando o agente consegue levar a efeito a subtração do dinheiro, valor ou bem, ainda que de forma não pacífica, tal como no crime de furto. 4. Elemento subjetivo: Os delitos de peculato-apropriação, peculato-desvio e peculato-furto podem ser praticados dolosamente, devendo o funcionário público atuar no sentido de levar a efeito a apropriação, o desvio ou qualquer subtração do dinheiro, valor ou bem móvel, público ou particular. Existe previsão da modalidade culposa, tal como verificaremos na análise do §2º do art. 312 do Código Penal. 5. Peculato culposo:

§ 2º - Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano.

Ocorre o delito quando, por negligencia ou imperícia, o funcionário público concorre para prática de crime de outrem, seja funcionário público ou particular.

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Nessa hipótese o funcionário público age com falta de cautela especial na preservação do bem público que lhe é confiado, facilitando a subtração, apropriação ou desvio do mesmo. O crime se aperfeiçoa com a conduta dolosa de outrem, sendo indispensável nexo causal no sentido de que o primeiro tenha permitido a prática do segundo. Exemplo: Funcionário público esquece aberta a porta da frente da repartição e ocorre furto de bem público porque o ladrão ingressou pela porta dos fundos ou pela janela, significando que nessa hipótese não ocorreu relação de causa e efeito entre a negligencia do funcionário público e a subtração do patrimônio público. 5.1 – Causa de extinção da punibilidade:

No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta.

Aplica-se exclusivamente ao peculato culposo e a extinção da punibilidade penal não gera qualquer efeito na via administrativa, podendo acarretar sanção administrativa. Por sentença irrecorrível devemos entender tanto a decisão de primeiro grau, emanada pelo juízo monocrático, como, também, a decisão proferida em grau de recurso, por meio do acórdão do Tribunal. 6. Observações finais: Obs.: PECULATO – PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA: Em que pese ser um tema bastante divergente no âmbito dos Tribunais, em especial entre o entendimento do STJ e do STF, devemos registrar que a última decisão do STF, tomada no dia 21/08/12, essa corte entendeu pela possibilidade de reconhecer a aplicação do princípio da insignificância para aquele que cometeu o crime de peculato. Vejamos a ementa do julgado: EMENTA DO JULGADO: Delito de peculato-furto. Apropriação, por carcereiro, de farol de milha que guarnecia motocicleta apreendida. Coisa estimada em treze reais. Res furtiva de valor insignificante. Periculosidade não considerável do agente. Circunstâncias relevantes. Crime de bagatela. Caracterização. Dano à probidade da administração. Irrelevância no caso. Aplicação do princípio da insignificância. Atipicidade reconhecida. Absolvição decretada. HC concedido para esse fim. Voto vencido. Verificada a objetiva insignificância jurídica do ato tido por delituoso, à luz das suas circunstâncias, deve o réu, em recurso ou habeas corpus, ser absolvido por atipicidade do comportamento. Processo: HC 112388 SP | Relator(a): Min. RICARDO LEWANDOWSKI | Julgamento: 21/08/2012 | Órgão Julgador: Segunda Turma | Publicação: DJe-181 DIVULG 13-09-2012 PUBLIC 14-09-2012 | Parte(s): MIN. CEZAR PELUSO, MIN. RICARDO LEWANDOWSKI, ANTONIO CARLOS DE OLIVEIRA, JOSE HERCULES RIBEIRO DE ALMEIDA, SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA Obs.: PECULATO DE USO: conforme o entendimento doutrinário, não se pune o peculato de uso, podendo, no entanto, ser o agente responsabilizado por um ilícito de natureza administrativa. Nesse mesmo sentido, é a jurisprudência do STFJ: “Analogicamente ao furto de uso, o peculato de uso também não configura ilícito penal, tão somente administrativo (STJ, HC 94168/MG)”.

PECULATO MEDIANTE ERRO DE OUTREM

Peculato mediante erro de outrem

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Art. 313 - Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que, no exercício do cargo, recebeu por erro de outrem: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.

1. Considerações iniciais: A conduta é a mesma da primeira modalidade típica do peculato: apropriar-se, que significa agir como se dono fosse de coisa que não lhe pertence, dela dispondo, alienando, emprestando, ocultando, destruindo ou não restituindo quando instado a fazê-lo, enfim, praticando atos próprios de quem é dono. O objeto material é dinheiro ou qualquer outra utilidade. Dinheiro é a moeda metálica ou o papel moeda com curso legal no Brasil ou no exterior. Por utilidade deve-se entender qualquer outro bem móvel, uma coisa material suscetível de apreensão que tenha valor juridicamente relevante. A coisa é entregue ao agente por erro de alguém. Uma hipótese é aquela em que a pessoa entrega coisa que não devia entregar. A outra ocorre quando a entrega é feita ao agente, em vez de a outro funcionário. Por fim, também há erro quando é entregue coisa diversa da que deveria. Conforme o entendimento doutrinário majoritário, o erro deve ser exclusivo da pessoa, espontâneo, isto é, derivado de sua falsa percepção da realidade, pois se o agente tiver contribuído, induzindo-a a nele incidir, poderá restar configurada a prática de estelionato. Contudo, em entendimento diverso, sustenta Rogério Greco. Assim, recebida a coisa o agente, verificando que ela foi entregue por erro, aproveita-se disso e dela se apropria, realizando, assim, o tipo. Ademais, é importante que o agente saiba que se apropria indevidamente da coisa que lhe foi entregue por erro, pois, 2. Elemento subjetivo: O crime é doloso. O agente deve estar consciente de que recebeu a coisa em razão do exercício da função pública, saber que ela lhe foi entregue por erro e dela se apropriar com vontade livre, sem qualquer outra finalidade especial. 3. Consumação e tentativa: A consumação acontece no instante em que o agente se apropria da coisa, desviando-a, alienando-a, retendo-a, doando-a, emprestando-a, ocultando-a ou destruindo-a, enfim, agindo como se fosse o seu dono. Admite-se a tentativa, se não consegue apropriar-se por circunstâncias alheias a sua vontade, como, por exemplo, quando é surpreendido no instante em que vai aliená-la.

INSERÇÃO DE DADOS FALSOS EM SISTEMA DE INFORMAÇÕES

Art. 313-A. Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a inserção de dados falsos, alterar ou excluir indevidamente dados corretos nos sistemas informatizados ou bancos de dados da Administração Pública com o fim de obter vantagem indevida para si ou para outrem ou para causar dano: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000))

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Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) Modificação ou alteração não autorizada de sistema de informações (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

1. Considerações iniciais: A Lei n. 9.983/2000 criou esse novo tipo penal com essa rubrica. No entanto, a situação tópica do crime entre aqueles praticados por funcionário público contra a Administração Pública poderia ter recebido o nome de peculato previdenciário ou peculato eletrônico, nome dado ao projeto enviado ao Congresso O novo tipo do artigo 313-A deve ser comparado com o peculato impróprio ou o peculato-estelionato. Neste (figura do art. 313), o sujeito apropria-se de dinheiro ou outra utilidade que, exercendo um cargo, recebeu por engano de outrem. É de se considerar que o dinheiro deveria ter ido para os cofres da Administração Pública, mas termina com o funcionário (sujeito ativo específico). Assim, ao inserir dados falsos em banco de dados da Administração Pública, pretendendo obter vantagem indevida, está, do mesmo modo, visando apossar-se do que não lhe pertence ou simplesmente desejando causar algum dano. Pelo ardil utilizado (alteração de banco de dados ou sistema informatizado), verifica-se a semelhança com o estelionato. Esse tipo penal, com relação ao seu modus operandi, é novo, já que se utiliza dos sistemas informatizados ou bancos de dados. Vale ressaltar, que ainda não existe leis específicas que criminalizem condutas praticadas por meio da informática, então o Código Penal é aplicado para puni-las. 2. Elementos objetivos: No tipo penal em estudo a prática da conduta típica reveste-se de quatro modalidades: a)inserir (introduzir, implantar, intercalar, incluir) dados falsos; b)facilitar( auxiliar, tornar fácil, criar modos de acesso á prática do ato) a inserção de dados falsos; c)alterar (mudar, modificar) indevidamente dados corretos; d)excluir ( eliminar) indevidamente dados corretos. Todas essas condutas tem por objeto os sistemas informatizados ou banco de dados da Administração Pública. Nas condutas c e d exige-se o elemento normativo do tipo, qual seja, indevidamente. O núcleo do tipo pode ser tanto uma como outra conduta, desde que tenha a finalidade de obter vantagem ilícita para si ou para outrem ou de causar dano.Como se observa, trata-se de um tipo misto alternativo, em que a ocorrência de mais de um dos núcleos, num mesmo contexto fático, constitui crime único, em razão do princípio da alternatividade. Nas modalidades inserir ou facilitar o objeto é o dado falso ou correto, conforme o caso, pois o dado falso é a informação não correspondente à realidade. Nas modalidades alterar ou excluir tem-se por fim o dado correto, isto é, a informação verdadeira, que é modificada ou eliminada, fazendo com que possa haver algum prejuízo para a Administração. O doutrinador cita como exemplo a eliminação da informação de que algum segurado faleceu, fazendo com que a aposentadoria continue a ser paga normalmente 3. Elemento subjetivo: O tipo subjetivo é o dolo, ou seja, vontade livre e consciente dirigida à inserção ou à facilitação da inclusão de dados falsos e à alteração ou exclusão indevida em dados corretos em sistema de informações da

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Administração Pública. Além do dolo, o tipo requer um fim especial de agir, o elemento subjetivo do tipo contido na expressão com o fim de obter vantagem indevida para si ou para outrem, qualquer que seja ela, ou para causar dano à Administração Pública. À guisa é de todo oportuno ressaltar que, se a conduta, ainda que típica, não tiver essa finalidade, não está sendo praticado tal crime. Este é um entendimento pacífico na doutrina. Portanto, na doutrina clássica, é o dolo específico. 4. Objetividade jurídica: Essa incriminação tem por objetividade jurídica a Administração Pública, particularmente a segurança do seu conjunto de informações, inclusive no meio informatizado, que, para a segurança de toda a coletividade, devem ser modificadas somente nos limites legais. Daí se punir o funcionário que, tendo autorização para manipulação de tais dados, vem a maculá-los pela modificação falsa ou inclusão e exclusão de dados incorretos 5. Sujeitos do crime: O sujeito ativo é o funcionário público autorizado. O legislador não inseriu o termo público, e sim autorizado, após a palavra funcionário, em face da abrangência atual da equiparação dada pela nova redação ao §1º do art. 327. Por ser crime funcional próprio, só pode ser praticado por funcionário público no exercício do cargo e devidamente autorizado a operar com os sistemas informatizados ou com bancos de dados da Administração Pública. O novo preceito particularizou ainda mais o sujeito do crime, pois estabeleceu não ser qualquer funcionário que o pode cometer, mas penas o funcionário autorizado, ou seja, somente aquele que estiver lotado na repartição encarregada de manter os sistemas informatizados ou banco de dados da Administração Pública. Assim, aquele que não estiver autorizado a operar o sistema, ainda que sua conduta se subsuma ao preceito, não incidirá na sanção, livrando-se da incidência da lei. O sujeito passivo será sempre o Estado, pois trata-se de crime contra a Administração Pública. Indiretamente também o particular que tenha sofrido o eventual dano causado 6. Consumação e tentativa: O delito se consuma quando o agente, efetivamente, insere ou facilita que terceiro insira dados falsos, ou quando altera ou exclui indevidamente dados corretos nos sistemas informatizados ou banco de dados da Administração Pública, com a finalidade de obter vantagem indevida para si ou para outrem ou para causar dano. A tentativa é admissível.

Art. 313-B. Modificar ou alterar, o funcionário, sistema de informações ou programa de informática sem autorização ou solicitação de autoridade competente: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

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Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) Parágrafo único. As penas são aumentadas de um terço até a metade se da modificação ou alteração resulta dano para a Administração Pública ou para o administrado.(Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

1. Considerações iniciais: A mesma Lei nº 9.983/00 acrescentou, ao Código Penal, o art. 313-B, contendo o tipo: “modificar ou alterar, o funcionário, sistema de informações ou programa de informática sem autorização ou solicitação de autoridade competente”. A pena: detenção, de três meses a dois anos, e multa. O bem jurídico protegido é a segurança dos sistemas de informação e programas de informática da Administração Pública. 2. Elementos objetivos: O tipo contém dois verbos: modificar e alterar, empregados alternativamente. Têm significados muito próximos, podendo ser sinônimos um do outro. Querem dizer mudar, transformar, adulterar. O objeto material é o sistema ou programa de informática. Não se trata das informações contidas no sistema, mas do próprio sistema operacional ou de um dos programas nele utilizados, que é modificado ou alterado pelo agente. Para incorrer na incriminação, o agente deve agir sem autorização ou solicitação da autoridade competente. Ou seja, não haverá delito quando a modificação ou alteração do sistema operacional ou do programa tiver sido autorizada ou solicitada pelo funcionário competente, aquele que tiver a atribuição de direção sobre o sistema de informática. 3. Elemento subjetivo: Deve o agente atuar com dolo, consciente de que está modificando ou alterando o sistema ou o programa, não se exigindo qualquer outra finalidade especial. Se resultar dano, incidirá o aumento de pena do parágrafo único, adiante comentado. 4. Sujeitos do crime: Sujeito ativo é o funcionário público. O não-funcionário pode ser co-autor ou partícipe do crime. Sujeito passivo é o Estado e, se houver, o particular que sofre lesão. 5. Consumação e tentativa: Há crime consumado quando o sistema ou o programa é modificado ou alterado, sem autorização ou solicitação de autoridade competente. A tentativa é possível.

EXTRAVIO, SONEGAÇÃO OU INUTILIZAÇÃO DE LIVRO OU DOCUMENTO

Art. 314 - Extraviar livro oficial ou qualquer documento, de que tem a guarda em razão do cargo; sonegá-lo ou inutilizá-lo, total ou parcialmente: Pena - reclusão, de um a quatro anos, se o fato não constitui crime mais grave. Emprego irregular de verbas ou rendas públicas

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1. Considerações iniciais: Aquele que inutiliza documento ou objeto de valor probatório que recebe na qualidade de advogado ou procurador comete o crime do art. 356 do Código Penal. Por outro lado, o particular que subtrai ou inutiliza, total ou parcialmente, livro oficial, processo ou documento confiado à Administração comete o crime do art. 337 do Código Penal. 2. Elementos objetivos: Três são as ações inscritas neste tipo penal: extraviar, sonegar e inutilizar. Extraviar é desviar, ocultar, desencaminhar, fazer desaparecer. Sonegar é não exibir, não apresentar, não entregar, relacionar ou mencionar quando isso é devido. Inutilizar é tornar imprestável, inútil, ainda que não ocorra a destruição do livro ou documento. 3. Elemento subjetivo: A conduta é dolosa. O agente deve ter consciência de que se trata de livro oficial ou documento que esteja sob sua guarda em razão da função pública que exerce e extraviá-lo, sonegá-lo ou inutilizá-lo com vontade livre, sem qualquer outro fim especial. 4. Sujeitos do crime: Sujeito ativo do crime é o funcionário público na sua acepção para os efeitos penais, nada impedindo que o particular seja responsabilizado quando houver concurso de agentes. Sujeito passivo é o Estado e, eventualmente, o particular proprietário do documento confiado à administração pública. Importante ressaltar que não existindo a qualidade de funcionário público poderá existir, dependendo da situação, outro crime, como por exemplo, o do art. 337-CP: subtração ou inutlização de livro ou documento. 5. Objeto material: É o livro ou documento sobre o qual o funcionário público tem o dever de custódia em razão do cargo. Pode ser o objeto público ou particular. Segundo Hungria, "estão em jogo", in exemplis, os livros de escrituração das repartições públicas ou de registros, os protocolos, os papéis de arquivos ou de museus, relatórios, plantas, projetos, representações, queixas formalizadas, pareceres, provas escritas de concurso, propostas em concorrência pública, autos de processos administrativos, etc. 6. Objetividade Jurídica: O art. 314 cuida da infidelidade na custodia de livros oficiais ou documentos, confiados ratione offici. Valem como documentos públicos os traslados, certidões, cópias autênticas e fotocópias conferidas desses documentos. A objetividade jurídica é o interesse de normalidade funcional probidade, prestígio, incolumidade e decoro da Administração Pública.

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Segundo Costa e Silva administração pública é o conjunto das funções exercidas pelos vários órgãos do Estado em benefício do bem-estar e do desenvolvimento da sociedade. Onde quer que haja o desempenho de um cargo oficial ou o exercício de uma função pública, aí poderá ser cometido o ilícito penal específico, seja pela conduta aberrante das pessoas integradas na órbita administrativa, isto é, os próprios funcionários públicos (agentes do poder público, empregados públicos, intranei), seja pela ação perturbadora de particulares (extranei). A ordem pública, ainda como simples objeto de cuidado da administração, é um interesse a ser protegido por esta, e desde que essa proteção se faz mediante preceitos jurídicos, tal interesse é um bem jurídico. O Prof. Damásio nos lembra que, por conta do princípio da especialidade, quando tratar-se de funcionário público que exerce função fiscal, a lei a regulamentar a conduta do agente será a Lei nº. 8.137, de 27-12-1990, art. 3º, que determina: "extraviar livro fiscal, processo fiscal ou qualquer documento, de que tenha a guarda em razão da função; sonegá-lo, ou inutilizá-lo, total ou parcialmente, acarretando pagamento indevido ou inexato de tributo ou contribuição social".

EMPREGO IRREGULAR DE VERBAS OU RENDAS PÚBLICAS

Art. 315 - Dar às verbas ou rendas públicas aplicação diversa da estabelecida em lei: Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.

1. Considerações iniciais: Com o intuito de zelar pelo pleno funcionamento da atividade administrativa e em obediência aos princípios que norteiam o Direito Administrativo, sobretudo o da legalidade, o legislador houve por punir às condutas descritas neste tipo penal: "dar às verbas ou rendas públicas aplicação diversa da estabelecida em lei". 2. Elementos objetivos: O núcleo do tipo é o verbo dar, no sentido de empregar ou aplicar verbas ou rendas públicas. Verbas são os valores monetários que, segundo a lei orçamentária, devem ser empregados em determinados serviços ou fins de utilidade pública. A lei determina o serviço ou a finalidade em que devem ser aplicadas as verbas e só a lei pode modificá-lo. Ao administrador cabe observar as regras impostas. Rendas são os valores que a Administração Pública arrecada ou percebe de qualquer modo ou os que lhe pertencem, a qualquer título. Igualmente só poderão ser aplicadas em conformidade com as leis que tratam dos orçamentos públicos. A realização do tipo não exige a obtenção de vantagem para o agente ou outra pessoa, podendo, inclusive, não haver qualquer lesão ao erário, porque o fato incriminado é simplesmente a aplicação indevida das verbas ou rendas públicas, que se dá em outros serviços ou fins públicos. A aplicação é irregular, mas é feita em benefício da própria Administração Pública. O que a norma pune é o desrespeito à lei orçamentária, o que afeta a regularidade da ação administrativa. 3. Elemento subjetivo:

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Cuida-se de crime doloso. O agente conhece a lei orçamentária, sabe que está aplicando o dinheiro público em finalidade diversa da estabelecida e atua com vontade livre, sem qualquer outro fim especial. 4. Sujeitos do crime: Sujeito ativo é somente o funcionário público que tem poder de decidir sobre a aplicação de verbas ou rendas públicas, o chefe do poder executivo, seus ministros ou secretários, dirigentes de empresas públicas etc. O não-funcionário pode ser co-autor ou partícipe do crime. Quando o crime é praticado pelo Prefeito Municipal, incide a norma do art. 1º, inciso III, do Decreto-lei nº 201/67. Tratando-se do Presidente da República ou dos Ministros de Estado, Governadores e Secretários de Estado, poderão responder também por crime de responsabilidade definido no art. 11 da Lei nº 1.079/50, sancionado com a perda do cargo e inabilitação para o exercício de qualquer função pública, por cinco anos, em processo político. Sujeito passivo é o Estado, o ente público, União, Estado, Município, autarquia, empresa pública etc. 5. Objetividade jurídica O objeto jurídico do crime em tela é ainda a regularidade da administração pública, no que concerne, agora, à aplicação dos recursos públicos de conformidade com a destinação legal prévia. Visa o referido preceito impedir o arbítrio administrativo no tocante à discriminação das verbas, rendas e respectivas aplicações, sem a qual haveria a anarquia nas finanças públicas, não se cogitando do prejuízo resultante do seu emprego irregular. 6. Consumação e tentativa: A consumação acontece no instante em que a verba ou renda pública é efetivamente aplicada. A tentativa é possível desde que haja início de execução do procedimento típico, o que se dá, por exemplo, quando o agente determina a aplicação irregular, a qual, todavia, não é concretizada por circunstâncias alheias à sua vontade. 7. Observações: Obs.: EXCLUDENTE DE ILICITUDE – SITUAÇÃO EMERGENCIAL - CALAMIDADE PÚBLICA: Situações emergenciais, de calamidade pública, por exemplo, podem levar o agente a modificar o destino das verbas ou rendas públicas sem autorização legal, socorrendo vítimas ou construindo obras exigidas pela situação, o que constitui estado de necessidade, excludente da ilicitude.

CONCUSSÃO

Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida: Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. Excesso de exação

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§ 1º - Se o funcionário exige tributo ou contribuição social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando devido, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza: (Redação dada pela Lei nº 8.137, de 27.12.1990) Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 8.137, de 27.12.1990) § 2º - Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou de outrem, o que recebeu indevidamente para recolher aos cofres públicos: Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.

1. Considerações iniciais: Esse delito recebe a denominação de “concussão”, cujo termo tem sua origem etimológica derivada do verbo latino concutere, expressão empregada quando se pretende indicar o ato de sacudir a árvore para que os frutos caiam. Também significa “sacudir fortemente, abalar, agitar violentamente”. Como visto, pelo artigo 316, caput, a concussão materializa-se, quando o funcionário exige para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função, ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagens indevidas. É o desvio da função pública para esbulhar. É um dos crimes mais graves contra a Administração Pública. Assim, o delito de concussão se tipifica quando o funcionário público exige, impõe, ameaça ou intima a vantagem espúria e o sujeito passivo cede à contrição, pelo temor. Em outros termos, o crime de concussão é uma espécie de extorsão praticada pelo funcionário público, com abuso de autoridade, contra particular, que cede ou virá a ceder em face do metu publicae potestatis (medo do poder público). 2. Elementares objetivas: O núcleo exigir é utilizado pelo texto legal no sentido de impor, ordenar, determinar. Essa exigência pode ser formulada diretamente, sob a ameaça explícita ou implícita de represálias ou indiretamente, servindo-se o agente de interposta pessoa, ou de velada pressão, ou fazer supor, com maliciosas ou falsas interpretações, ou capciosas sugestões, a legitimidade da exigência. Não é necessária a promessa de infligir um mal determinado: basta o temor genérico que a autoridade inspira (p.ex.: policiais que exigem vantagem indevida para liberação de caminhão localizado, fruto de roubo) O agente abusa do poder que decorre da função pública que exerce infundindo temor na pessoa de quem exige a vantagem, a fim de que ela atenda a seu desejo. Não é necessário que ele prometa a causação de um mal injusto e grave, bastando que transmita, à pessoa, a idéia de que fará incidir seu poder de autoridade. Assim, a exigência está atada ao poder que decorre da função pública que o agente exerce ou exercerá. Comete concussão o funcionário que exige vantagem para não efetuar prisão em flagrante ou não instaurar inquérito policial, não lavrar multa administrativa etc.

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A expressão “ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela”, deve ser interpretada de forma que o agente, quando da prática do comportamento típico, já gozava do status de funcionário público, mesmo não estando no exercício de sua função. A norma contempla as situações em que o agente ainda não assumiu a função, estando, por exemplo, no aguardo da posse no cargo e também aquelas em que ele se encontra afastado dela por motivo de licença, férias ou outra causa. Discute-se se a vantagem deve ser econômica/patrimonial. Há duas correntes doutrinárias, prevalecendo a corrente de que basta a exigência de qualquer vantagem indevida, ainda que não econômica/patrimonial (sentimental, moral, sexual etc.) Os exemplos, nessa área, são inúmeros, e basta sua exemplificação. Comete o delito de concussão o policial que exige dinheiro de preso para libertá-lo. Também, a cobrança ou a complementação, “por fora”, do preço do serviço prestado a segurado, por médico ou por dirigente de hospital privado, conveniado com o SUS, configura crime de concussão. Outro exemplo é o de agente de polícia federal, em serviço no aeroporto internacional, que exige determinada quantia de dono de agencia de turismo para permitir o embarque de passageiros sob a alegação de irregularidades. Policial militar em serviço no depósito da guarda municipal, ao exigir certa importância em dinheiro para liberação de um veiculo, pratica o delito de concussão. O crime de concussão guarda certa semelhança com o delito de corrupção passiva, principalmente no que se refere à primeira modalidade desta última infração (solicitar vantagem indevida). Na concussão, porém, o funcionário público constrange, exige a vantagem indevida. A vítima, temendo alguma represália, cede à exigência. Na corrupção passiva (em sua primeira figura) há mero pedido, mera solicitação. A concussão, portanto, descreve fato mais grave e, por isso, pena mais elevada 3. Elemento subjetivo: O crime é doloso. O agente deve estar consciente de que a vantagem que exige é indevida e saber que age abusando da condição de funcionário público. Além do dolo, deve atuar com a finalidade de obter a vantagem, para si ou para outra pessoa, funcionária ou não. Assim, o segundo elemento subjetivo é encontrado na expressão para si ou para outrem. Assim, deve o agente visar proveito para ele próprio ou para terceira pessoa. Se o benefício for para a própria Administração não haverá que se falar em concussão, pois o artigo 316, caput, do Código Penal prevê a elementar “exigir, para si ou para outrem”. Se o agente exige vantagem imaginando-a devida haverá erro de tipo, excludente do dolo e, portanto, da tipicidade, por inexistir forma culposa. 4. Sujeitos do crime: Sujeito ativo é o funcionário público, ainda quando não tenha assumido a função pública. O não-funcionário pode ser co-autor ou partícipe do crime. Sujeito passivo é o Estado e também o particular a quem é exigida a vantagem. 5. Consumação e tentativa:

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O crime consuma-se no momento em que a exigência é feita à pessoa. No instante em que esta toma conhecimento da exigência, por escrito, oralmente ou por qualquer meio de comunicação, o delito está consumado. Não há necessidade de que a vantagem seja auferida efetivamente. Se o agente a obtiver, haverá apenas o exaurimento do crime. É crime de consumação antecipada ou de resultado cortado. Crime formal, portanto. A tentativa só será possível quando a exigência for feita por meio escrito, não chegando ao conhecimento da pessoa a quem é feita por circunstâncias alheias à vontade do agente. 5. Excesso de exação

§ 1º - Se o funcionário exige tributo ou contribuição social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando devido, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza: (Redação dada pela Lei nº 8.137, de 27.12.1990) Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 8.137, de 27.12.1990)

5.1 – Elementos objetivos: A conduta é a mesma do delito de concussão: exigir, que significa intimar, impor, ordenar, obrigar ou constranger o particular, desta feita, ao recolhimento de tributo ou contribuição social. Exação é a cobrança rigorosa de uma dívida ou de um imposto. A norma pune o funcionário que se exceder na cobrança, porque deve ser exato no cumprimento de seu dever, não podendo ir além. A norma alcança a cobrança de tributo ou de contribuição indevido ou a cobrança realizada de modo vexatório ou gravoso. As espécies de tributos são os impostos, taxas e contribuições de melhoria que o particular está obrigado a recolher aos cofres públicos, por determinação legal. Imposto é o tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação independente de qualquer atividade estatal específica, relativa ao contribuinte (art. 16, Código Tributário Nacional – CTN). O art. 77 do CTN dispõe que as taxas têm como fato gerador o exercício regular do poder de polícia ou a utilização, efetiva ou potencial, de serviço público específico e divisível, prestado ao contribuinte ou posto a sua disposição. Podem ser cobradas pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições. A contribuição de melhoria é instituída para fazer face ao custo de obras públicas de que decorra valorização imobiliária, tendo como limite total a despesa realizada e como limite individual o acréscimo de valor que da obra resultar para cada imóvel beneficiado (art. 81, CTN). Como a taxa, também será cobrada pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições. Obs.: CUSTAS – DEVIDAS AOS ESCRIVÃES E OFICIAIS DE JUSTIÇA – E EMOLUMENTOS – CONTRAPRESTAÇÃO PELA PRÁTICA DE ATOS EXTRAJUDICIAIS DOS NOTÁRIOS E REGISTRADORES – não se incluem no conceito de tributos, como já decidiu o Superior Tribunal de Justiça no julgamento do RHC 8.8421. Contribuição social é a obrigação instituída pela União como instrumento de sua atuação, nos termos do art. 149 da Constituição Federal, tais como ao PIS, Pasep, Finsocial, CSLL e Cofins.

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Na primeira modalidade típica o agente exige tributo ou contribuição indevido, aquele a que o sujeito passivo não está obrigado, seja porque não é exigido por lei ou porque já foi recolhido ou, ainda, porque é devido em menor valor. Na segunda forma típica o tributo ou a contribuição é devido, porém o funcionário emprega meio vexatório ou gravoso. Vexatório é o meio humilhante, que desmoraliza. Gravoso o que impõe maior ônus para o contribuinte. São meios não autorizados pela lei para a cobrança do tributo ou da contribuição 5.2 – Elemento subjetivo: O excesso de exação é um crime doloso. Na primeira forma típica o agente deve saber que o tributo ou contribuição é indevido. Tem, pois, plena consciência de que não pode exigir o recolhimento de seu valor mas, ainda assim, realiza a conduta. É dolo direto. O crime pode ser cometido também com dolo eventual referido na expressão deveria saber, o que ocorre quando o funcionário, embora não sabendo, deveria, pelas circunstâncias fáticas que envolvem o acontecimento, alcançar a consciência da inexigibilidade do recolhimento. Indispensável, por isso, a consciência, ainda que potencial, de que o tributo ou contribuição social não poderia ser exigido, por não ser devido, por já ter sido recolhido pelo contribuinte ou por estar sendo cobrado a maior. Na segunda forma típica, o agente deve estar consciente de que emprega um meio não autorizado por lei para a cobrança, utilizando-o por sua vontade livre 5.3 – Consumação e tentativa: Na primeira modalidade típica o crime se consuma no instante em que o sujeito passivo é comunicado da exigência. Na segunda modalidade típica a consumação ocorre no momento em que é empregado o meio vexatório ou gravoso. Não é necessário que o sujeito efetue o recolhimento. Basta, portanto, a exigência do tributo ou contribuição indevido ou o emprego do meio proibido de cobrança. A tentativa é possível se, por circunstâncias alheias à vontade do agente, a exigência não chega ao conhecimento do contribuinte. 5.4 – Forma qualificada:

§ 2º - Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou de outrem, o que recebeu indevidamente para recolher aos cofres públicos: Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.

Essa norma diz respeito apenas à primeira forma típica do excesso de exação contida no § 1º do art. 316. O agente exige tributo ou contribuição social indevido, recebe-o do contribuinte para recolhê-lo aos cofres públicos mas, em vez de recolhê-lo, desvia-o em proveito próprio ou alheio. Incide a qualificadora, portanto, quando, após consumado o crime do § 1º com a exigência feita ao contribuinte, este cede e entrega o valor ao funcionário que, então, desvia-o em proveito próprio ou alheio. Age com dolo de exigir o que não era devido, recebe o valor indevidamente, mas não efetua o recolhimento, ficando com ele ou dando-o a outra pessoa. Consuma-se com o desvio do valor do tributo ou contribuição sendo, portanto, possível a tentativa. A pena mínima é menor que a cominada ao tipo do § 1º, o que é uma incongruência.

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CORRUPÇÃO PASSIVA

Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 10.763, de 12.11.2003) § 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em conseqüência da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional. § 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.

1. Considerações iniciais: A intenção do legislador ao tornar crime a corrupção passiva foi a manutenção do normal funcionamento da administração pública, de modo a preservar princípios intrínsecos à instituição, como legalidade ou moralidade, impedindo assim uma implosão da estrutura das instituições públicas, caso haja a proliferação da corrupção entre seus membros. Assim, a partir do dispositivo legal, podemos entender que o crime de corrupção passiva ocorre quando o funcionário público solicita propina, vantagem ou similar para fazer ou deixar de fazer algo relacionado com a sua função. Não importa que o indivíduo concorde com o ato ilícito e dê aquilo o que o agente corrupto peça. O crime já se configura no momento da solicitação da coisa ou vantagem. 2. Elementos objetivos: A corrupção passiva realiza-se, alternativamente, por três condutas distintas: solicitar ou receber vantagem indevida ou, ainda, aceitar a promessa de vantagem. Solicitar, é pedir, pleitear, postular. Receber, é obter, ter a vantagem. Aceitar a promessa é anuir, concordar, consentir. A solicitação e o recebimento podem ser feitos diretamente pelo funcionário ou através de outra pessoa, funcionário ou não, que participa do crime. Já a aceitação da promessa deve ser realizada diretamente pelo funcionário. Trata-se de vantagem indevida de natureza econômica, patrimonial ou moral. Indevida é a vantagem não autorizada em lei. Aquela que o funcionário não tem o direito de solicitar ou receber. Se a vantagem é devida, o fato é atípico. A vantagem solicitada ou recebida pode ser para o próprio agente ou para outra pessoa. A promessa de vantagem aceita também. De qualquer modo, a solicitação, o recebimento ou a aceitação da promessa deve estar relacionado à função pública exercida pelo agente, mas não é necessário que, ao realizar a conduta, esteja ele em seu exercício, podendo, inclusive, agir antes de assumi-la.

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Em outras palavras, o agente busca a vantagem, recebe-a ou aceita sua promessa prevalecendo-se da função pública que exerce, exerceu ou exercerá. A pessoa que oferece ou promete a vantagem ao funcionário público comete o crime de corrupção ativa, definido no art. 333. É o chamado corruptor. É óbvio que para se realizar o tipo de corrupção passiva a vantagem é solicitada, recebida ou a sua promessa é aceita com a finalidade de que o funcionário pratique, retarde ou deixe de praticar um ato de seu ofício. Assim, não há crime quando o funcionário recebe, de qualquer pessoa, algum presente ofertado desinteressadamente, sem qualquer relação com a prática de qualquer ato funcional ou como gratidão por ato legítimo e lícito praticado anteriormente. Isso pode apenas configurar alguma infração administrativa ou ato de improbidade administrativa, a depender do caso, mas não possui relevância para o Direito Penal. Quando a vantagem é solicitada, recebida ou prometida relativamente a ato ilícito, ilegal ou irregular do funcionário, a corrupção passiva é denominada própria. É imprópria a corrupção passiva quando se tratar de ato funcional lícito. A solicitação, recebimento ou promessa de vantagem pode ocorrer antes ou depois da prática do ato funcional. 3. Elementos subjetivos: É crime doloso. O agente deve ter consciência de que a vantagem que solicita, recebe, ou cuja promessa aceita, é indevida, e atuar com vontade livre de realizar o tipo, solicitando, recebendo ou aceitando a promessa de vantagem. Além do dolo é necessário o elemento subjetivo contido na expressão para si ou para outrem, relativo à vantagem indevida. 4. Consumação e tentativa: A solicitação da vantagem consuma-se no instante em que o pedido chega ao conhecimento da pessoa à quem é feita, possível a tentativa quando por meio escrito. Na modalidade de recebimento, a consumação acontece no momento em que o funcionário tem, a seu dispor, a vantagem. Não há possibilidade de tentativa, pois ou o agente recebe ou não recebe. Se não recebe, não há crime, ainda quando a vantagem tenha sido enviada e extraviada.A aceitação de promessa consuma-se com a manifestação da vontade do agente de anuir ou concordar com a promessa feita, não sendo admitida a tentativa. Em qualquer das modalidades típicas, não é necessário que o agente pratique, deixe de praticar ou retarde a prática de qualquer ato funcional. Basta, portanto, a conduta, a solicitação, o recebimento ou a aceitação da promessa. É, portanto, um crime formal, de resultado cortado ou de consumação antecipada, não exigindo o tipo a produção de qualquer resultado naturalístico. 5. Corrupção passiva qualificada:

§ 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em conseqüência da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional.

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No § 1º, a norma determina o aumento de um terço da pena “se, em conseqüência da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional”. Incide a norma apenas quando, consumado o tipo básico, com a solicitação, recebimento ou aceitação da promessa, o funcionário realizar uma das seguintes condutas: retardar ou deixar de praticar um ato de ofício ou praticá-lo com infração de dever funcional. Retardar é somente praticar o ato a que estava obrigado após o transcurso de um tempo juridicamente relevante. Deixar de praticá-lo é abster-se de efetivá-lo, no prazo legal ou regulamentar. Cuida-se de uma omissão por tempo juridicamente relevante. Nesses casos, o ato funcional é legítimo, regular, lícito, mas o agente não o pratica no momento em que a ele estava obrigado. Trata-se, pois, de corrupção passiva imprópria. A última hipótese é a do agente, em razão da vantagem ou da promessa, praticar um ato com infração de um dever funcional. É, portanto, ato ilícito. Essa ilicitude deve ser verificada e demonstrada à luz das normas legais e regulamentares que presidem a atividade do funcionário. 6. Corrupção passiva privilegiada:

§ 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.

É a chamada corrupção passiva privilegiada. Não há solicitação, recebimento ou aceitação de promessa de vantagem, mas simplesmente a prática, o retardamento ou a omissão de ato de ofício com infração de dever funcional, por influência de outra pessoa, ou a pedido desta. Trata-se, assim, de um ato ilegítimo do funcionário, realizado, omitido ou retardado, em atenção a uma solicitação ou decorrente do induzimento ou instigação de terceira pessoa. 7. Observações finais: Obs.: Se o funcionário solicita vantagem indevida comete o crime de corrupção passiva, não cometendo corrupção ativa a pessoa a quem foi solicitada a vantagem. Obs.: Se o funcionário público aceita a promessa de vantagem ou a recebe, é porque particular a prometeu ou ofereceu, cometendo este o delito do art. 333. Obs.: Se o funcionário exige e recebe vantagem indevida comete o crime de concussão, e o particular que cedeu à exigência, entregando-a, não comete crime algum, porque vítima do crime. Obs.: Se o agente solicita ou recebe a vantagem ou aceita sua promessa, para deixar de lançar ou cobrar tributo ou contribuição social ou para cobrá-lo parcialmente, o fato se ajustará ao tipo do art. 3º, II, da Lei nº 8.137, punido com reclusão de três a oito anos e multa.

FACILITAÇÃO DE CONTRABANDO OU DESCAMINHO

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Art. 318 - Facilitar, com infração de dever funcional, a prática de contrabando ou descaminho (art. 334): Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 8.137, de 27.12.1990)

1. Considerações iniciais: Entendeu o legislador que quando esta é praticada por funcionário público, com infração especial do dever funcional, não deve ser disciplinada segundo a regra do art. 29, mas constituir crime autônomo, sujeito a pena mais grave do que a cominada pelo art. 334 (contrabando ou descaminho). 2. Elementos objetivos: O núcleo do tipo é o verbo facilitar. Significa tornar fácil, prestar auxílio, colaborar, afastando obstáculos ou deixando de impor dificuldades ou fazer exigências. A conduta pode, assim, ser comissiva ou simplesmente omissiva, quando o agente, tendo o dever de impedir o contrabando ou descaminho, omite-se, facilitando sua prática. Contrabando é a importação ou exportação de mercadorias cuja entrada é proibida no país, total ou parcialmente (art. 334, CP). Descaminho é a importação ou exportação de mercadoria sem o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, saída ou pelo consumo (art. 334, CP). Há crime do funcionário público também quando a facilitação se der em relação às condutas típicas previstas no § 1º do art. 334 do Código Penal, de quem:

a) pratica navegação de cabotagem, fora dos casos permitidos em lei;

b) pratica fato assimilado, em lei especial, a contrabando ou descaminho;

c) vende, expõe à venda, mantém em depósito, ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira que introduziu clandestinamente no País ou importou fraudulentamente ou que sabe ser produto de introdução clandestina no território nacional ou de importação fraudulenta por parte de outrem;

d) adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira, desacompanhada de documentação legal, ou acompanhada de documentos que sabe serem falsos”.

O agente deve ser o funcionário a quem incumbe fiscalizar a importação ou a exportação, zelando pelo cumprimento das normas proibitivas ou relativas ao recolhimento do imposto devido, e deve agir com violação do seu dever funcional. Se é funcionário público, mas não tem a atribuição legal para fiscalizar ou exigir o recolhimento do tributo, coibindo assim o contrabando ou o descaminho, e vier facilitá-lo, responderá como partícipe de um desses delitos.

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Obs.: O agente deve ser o funcionário a quem incumbe fiscalizar a importação ou a exportação, zelando pelo cumprimento das normas proibitivas ou relativas ao recolhimento do imposto devido, e deve agir com violação do seu dever funcional. Obs.: Se é funcionário público, mas não tem a atribuição legal para fiscalizar ou exigir o recolhimento do tributo, coibindo assim o contrabando ou o descaminho, e vier facilitá-lo, responderá como partícipe de um desses delitos. 3. Elemento subjetivo: O crime é punido apenas a título de dolo. Deve, por isso, o agente estar consciente de que viola o dever funcional, sabendo, ademais, que contribui, facilitando, para o contrabando ou descaminho. Não exige o tipo qualquer outro elemento subjetivo. O erro sobre estar a mercadoria incluída dentre as proibidas ou sobre o imposto devido exclui a tipicidade do fato, assim como o erro sobre a infração ao dever funcional exclui o dolo deste crime, respondendo, neste último caso, o agente, pela participação no crime do art. 334. 4. Consumação e tentativa: A consumação coincide com a realização da conduta, comissiva ou omissiva, consistente na facilitação, no auxílio ou na colaboração para o contrabando ou descaminho, independentemente da consumação de um desses crimes. A tentativa somente é possível quando a conduta for positiva e desde que, iniciada, não venha a se consumar por circunstâncias alheias à vontade do funcionário público. 5. Sujeitos do crime: O Funcionário Público que, infringindo dever funcional (aquele responsável pela "alfândega" "portos" "aeroportos" somente o policial ou funcionário público encarregado deste setor, Policiais federais ou funcionário do fisco) facilita a prática do contrabando ou do descaminho. Trata-se, sem dúvida, de exceção à teoria unitária ou monista adotada pelo Artigo 29 - CP. O Particular (qualquer pessoa) incorre no art. 334 CP. Obs.: FUNCIONÁRIO INCUMBIDO DE EVITAR O CONTRABANDO E O DESCAMINHO: lei penal exige que o fato não somente seja praticado por funcionário público, mas, sim, por aquele que tenha o dever funcional de evitar o contrabando ou descaminho. A qualidade de funcionário público deve ser agregada a sua função específica de impedir o contrabando ou descaminho, pois, caso contrário, o funcionário que, de alguma forma, vier a colaborar com a sua pratica, deverá ser responsabilizado, de acordo com as regras do concurso de pessoas, pelo art. 334 do Código Penal, e não pelo crime de facilitação. 6. Competência para processar e julgar: De acordo com a orientação do enunciado nº 151 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça, a competência para o processo e julgamento por crime de contrabando ou descaminho define-se pela prevenção do Juízo Federal do lugar da apreensão dos bens.

PREVARICAÇÃO

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Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.

1. Considerações iniciais: É mais um dos crimes praticados por funcionário público contra a administração em geral que consiste em retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal. A Lei n° 11.466, de 28-3-2007, incluiu, no Código Penal, o art. 319-A, sem denominação jurídica, mas doutrinariamente denominado por prevaricação imprópria, que será analisada mais a frente. 2. Elementos objetivos: A prevaricação realiza-se mediante uma das seguintes condutas: retardar, deixar de praticar ou praticar ato de ofício. Retardar é protelar, procrastinar ou atrasar a realização do ato. É não praticá-lo no momento adequado e devido, para só fazê-lo posteriormente após um tempo juridicamente relevante. Deixar de praticar é simplesmente não praticá-lo, omitir sua realização. Há diferença entre retardar e deixar de praticar. Na primeira conduta o agente apenas pretende protelar, atrasar, adiar a realização do ato para momento posterior. Na omissão, ele simplesmente não o realiza porque não deseja, em tempo algum, fazê-lo. Essas duas condutas são, portanto, omissivas e devem ser indevidas, no sentido de serem ilícitas, não justificadas. Assim, não há fato típico quando o agente retarda ou deixa de praticar o ato de ofício por uma razão justa, por um motivo justificado. A terceira conduta típica é praticar ato de ofício contra disposição expressa de lei. Praticar é realizar, concretizar, executar o ato. Ato de ofício é aquele inserido no âmbito das atribuições conferidas ao funcionário ou de sua competência. Pode, assim, ser um ato administrativo, legislativo ou judicial. Deve ser praticado contrariando dispositivo legal expresso. Não há incidência dessa norma quando a infração é a uma norma regulamentar, uma portaria, uma resolução etc. Como se vê, nas três formas típicas, há um elemento normativo: nas duas primeiras o ato deve ser indevido, na última deve ser contrário a uma norma legal. Nas três o ato deve ser do ofício do agente, ou seja, de sua atribuição ou competência, daí que não incorrerá na proibição se o ato que retarda, deixa de praticar ou pratica com infração a norma legal não se encontra dentre aqueles a que estava obrigado a realizar. Deve, pois, ser um ato próprio do agente que, igualmente, deve encontrar-se no pleno exercício de suas funções, porque somente assim estará ele obrigado a praticá-lo com observância das normas legais incidentes.

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Obs.: EXEMPLOS:

a) Prevaricação na modalidade omissiva: Um funcionário público se recusar a entregar documentos solicitados por um cidadão de quem ele não gosta. Outro exemplo: Um funcionário público se recusa a receber algum documento (protocolado ou não) de um cidadão, solicitando informações, alegando não poder receber por qualquer motivo (administrativo e/ou pessoal).

b) Prevaricação na modalidade comissiva: Um funcionário público adiar a entrega de documentos

solicitados por um cidadão de quem ele não gosta até passar o prazo de entrega desses documentos.

3. Elemento subjetivo: Trata-se de crime doloso. O agente deve retardar, deixar de praticar ou praticar o ato de ofício com consciência e vontade livre de realizar a conduta. Sua consciência deve alcançar a injustiça da protelação ou da omissão do ato e a ilegalidade de sua prática. Havendo erro sobre a ilicitude do retardamento ou da omissão ou da ilegitimidade da prática do ato, restará excluída a tipicidade do fato. Deve, além disso, agir com uma finalidade especial: satisfazer a interesse ou sentimento pessoal. Significa dizer que só haverá prevaricação quando o agente buscar a realização ou a concretização de um interesse ou sentimento pessoal. Age, portanto, com o fim de alcançar um desses objetivos. Interesse pessoal é a relação entre o agente e o fato, podendo ser patrimonial, material ou moral. É a vantagem que ele busca obter com a realização da conduta. Sentimento pessoal é o estado afetivo ou emocional, é o ódio ou o amor, a simpatia ou a aversão, enfim, é o estado da alma que move o agente na concretização de sua conduta. O interesse ou sentimento pessoal pode ser positivo ou negativo, nobre ou abjeto, pouco importa, realizando o tipo aquele que agir com o fim de satisfazê-lo, porque ao funcionário público não é dado atuar movido por razões de natureza pessoal, mas, sempre, por inspiração do cumprimento das leis. Comete prevaricação quem realiza a conduta para agradar a um amigo ou para fazer sofrer um desafeto. Se o agente pratica o ato para receber uma vantagem indevida porque a solicitou ou por ter aceitado a sua promessa, o crime será de corrupção passiva. Na prevaricação, o fim pretendido pelo agente não depende da participação de qualquer outra pessoa, mormente a que será beneficiada pela conduta, exigida na corrupção passiva. Importante ressaltar que não é admitida a modalidade culposa. Ao deixar de fazer algo que deve ser feito seguindo o princípio da eficiência e celeridade para satisfazer um interesse pessoal, esse comportamento é entendido juridicamente como dolo. 4. Consumação e tentativa: A consumação, nas duas formas omissivas – retardar ou deixar de praticar ato de ofício –, ocorre no instante em que o agente não realiza o ato. Impossível, aí, a tentativa. Na forma comissiva consuma-se quando o ato é praticado com infração de norma legal, possível a tentativa quando, iniciada a execução, não se conclui a prática por circunstâncias alheias à vontade do agente.

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Em qualquer caso, não é necessário que o funcionário consiga satisfazer a interesse ou sentimento pessoal que o moveu. 5. Observações finais: Obs.: Concussão x Corrupção Passiva: a diferença é o núcleo do tipo. Na corrupção passiva, o agente SOLICITA a vantagem. Na concussão, o agente a EXIGE. Obs.: Prevaricação x Corrupção Passiva: na prevaricação, o funcionário público retarda ou deixa de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou pratica-o contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal. Ele não é movido pelo interesse de receber qualquer vantagem indevida por parte de terceiro. 6. Prevaricação imprópria – Lei 11.466/07:

Art. 319-A. Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente público, de cumprir seu dever de vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo: (Incluído pela Lei nº 11.466, de 2007). Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.

6.1 – Considerações iniciais: A inclusão no Código Penal do art. 319-A, sem nomen iuris (também chamado de rubrica marginal), do novo tipo penal, pode levar ao entendimento que se trata de uma espécie de prevaricação, pois descreve conduta na qual o servidor deixa de cumprir um ato de seu ofício. 6.2 – Elementos objetivos: A conduta é omissiva, própria do Diretor da Penitenciária ou de outro agente público que esteja exercendo as suas funções. O núcleo verbal é “deixar de”, o que significa que se realiza com a não realização de um comportamento positivo. É não praticar a ação física que a norma impõe. É não cumprir o dever de impedir que o preso tenha acesso a aparelho telefônico que lhe permita comunicar-se com outro preso ou com o mundo exterior ao presídio. Certo, entretanto, que para tal ocorra, que exista, previamente, outra norma impondo comportamentos positivos ao sujeito ativo, no âmbito do estabelecimento prisional. Ou seja, o tipo do art. 319-A contém norma penal em branco, cujo complemento é a norma do art. 50, inciso VII, da Lei de Execução Penal que estabelece, como falta grave do condenado: “tiver em sua posse, utilizar ou fornecer aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo” Exige o tipo penal que o indevido acesso seja sobre aparelho telefônico (seja ele fixo, como nos casos dos telefones públicos instalados nos presídios, ou móveis, como ocorre com os telefones celulares), de rádio (radiocomunicadores, walkie-talkies etc.), ou similares, que permita a comunicação com outros preso ou com o ambiente externo. 6.3 – Elemento subjetivo:

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É crime doloso. Diferentemente da prevaricação, não se exige qualquer outra motivação especial, ou seja, o chamado dolo específico, bastando que o agente tenha consciência e vontade de omitir-se, admitindo-se o dolo eventual. 6.4 – Consumação e tentativa: Consuma-se com a simples omissão do agente. Basta que se constate que o preso está na posse do aparelho, ou que se prove tenha ele se comunicado com outra pessoa, utilizando-se do aparelho, para a consumação. Por se tratar de um crime omissivo próprio, é impossível a tentativa. 6.5 – Sujeitos do crime: O sujeito ativo do delito deve ser o Diretor Penitenciário e/ou agente público que, no exercício de sua função, tenha o dever de impedir que o preso tenha acesso aos mencionados aparelhos de comunicação, como ocorre com os agentes penitenciários. Sujeito passivo é o Estado. 6.6 – Observações finais: Obs.: DIFERENÇAS – CORRUPÇÃO PASSIVA E OMISSÃO DE DEVER DE VERDAR AO PRESO ACESSO A APARELHO TELEFÔNICO, DE RÁDIO OU SIMILAR: Não podemos confundir a situação do agente que, simplesmente, se omite em fazer a apreensão de um aparelho telefônico, de rádio ou similar, que está sendo indevidamente utilizado por um preso, com aquele que se corrompe, obtendo vantagem indevida (ou mesmo promessa de tal vantagem), para que o preso tenha acesso aos mencionados aparelhos, pois, nesta hipótese, o crime será de corrupção passiva. Obs.: A pessoa que ingressa, promove, auxilia ou facilita a entrada de aparelho telefônico de comunicação móvel em estabelecimento prisional comete o crime do art. 349-A do Código Penal. Tipo pela incluído pela lei 12.012/09.

CONDESCENDÊNCIA CRIMINOSA

Art. 320 - Deixar o funcionário, por indulgência, de responsabilizar subordinado que cometeu infração no exercício do cargo ou, quando lhe falte competência, não levar o fato ao conhecimento da autoridade competente: Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.

1. Considerações iniciais: 2. Elementos objetivos: Cuida-se de crime omissivo puro. Realiza-se por duas formas. Na primeira o agente, superior hierárquico de um funcionário que cometeu infração no exercício do cargo, deixa de responsabilizá-lo. Na segunda, não tendo o agente competência administrativa para promover a responsabilização do funcionário faltoso, deixa de levar o fato ao conhecimento da autoridade competente para tal.

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Para a realização do tipo é indispensável que entre o agente e o funcionário que comete a infração exista uma relação de subordinação hierárquica. Além disso, é necessário que o funcionário subordinado pratique uma infração, penal ou administrativa, no exercício de seu cargo. Não basta a condição de subordinado, nem a prática da infração, esta deve guardar nexo de causalidade com o exercício do cargo que ocupa. Condutas praticadas pelo subordinado fora do exercício do cargo, ainda que configurem faltas disciplinares, não são alcançadas pelo tipo penal. O agente – tendo o dever de promover a responsabilização do subordinado, instaurando o procedimento com vistas na apuração dos fatos e na aplicação das sanções cabíveis – comete o delito ao omitir-se em seu dever legal. Ou, não sendo o competente, tem o superior hierárquico o dever de comunicar o fato à autoridade competente, mas omite-se, cometendo o crime em comento. A omissão deve ser dolosa, portanto, consciente o agente de que o subalterno praticou infração, penal ou administrativa, no exercício do cargo, agindo com vontade livre de omitir-se. Além disso, deve atuar por indulgência, que é a compaixão, a condescendência, a complacência, a tolerância. Se agir por interesse ou sentimento pessoal, o crime será o de prevaricação. Se para obter vantagem indevida, a pedido de alguém, poderá realizar o tipo de corrupção passiva. 4. Consumação e tentativa: Consuma-se a condescendência criminosa no instante em que o agente, tomando conhecimento da infração praticada pelo subordinado, deixa, por indulgência, de praticar os atos iniciais visando a sua responsabilização ou, não sendo competente, deixa de comunicar ao funcionário competente para agir. Não é possível a tentativa, como acontece em todo crime omissivo puro.

ADVOCACIA ADMINISTRATIVA

Art. 321 - Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração pública, valendo-se da qualidade de funcionário: Pena - detenção, de um a três meses, ou multa. Parágrafo único - Se o interesse é ilegítimo: Pena - detenção, de três meses a um ano, além da multa.

1. Considerações iniciais: A proteção recai sobre a Administração Pública, sobre a honestidade e probidade de seus funcionários no trato com os interesses dos particulares. Enfim, protege a moralidade administrativa. 2. Elementos objetivos: A conduta incriminada é patrocinar, verbo empregado no sentido de advogar, defender, postular perante órgão da administração um interesse de um particular. É conduta necessariamente comissiva e pode ser realizada por meio direto, formal e explícito, através da formulação de requerimento escrito, da adução de razões em favor do interesse patrocinado ou de modo dissimulado, indireto – por interposta pessoa, que

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participa do crime –, verbal, acompanhando o andamento de procedimentos, solicitando urgência ou sugerindo providências, enfim, defendendo, perante a Administração Pública, o interesse do particular. É conduta típica porque ao funcionário público não é permitida a defesa de interesses de particulares. Seu dever é o de unicamente defender o interesse público. Na forma típica básica o interesse do particular é legítimo, isto é, lícito do ponto de vista formal e material. Se o interesse for ilegítimo, incidirá a norma do parágrafo único, que qualifica o crime. 3. Elementos subjetivos: É crime doloso. O agente deve estar consciente de que patrocina um interesse legítimo de um particular, realizando a conduta de modo livre e sem qualquer outro fim especial. 4. Consumação e tentativa: Consuma-se o crime com a realização do primeiro ato de defesa do interesse privado, ainda que não venha o particular a obter sucesso em sua postulação. A tentativa é possível se, por circunstâncias alheias à vontade do funcionário público, sua atuação não chega a se concretizar perante quem seria formulada a defesa do particular. 5. Conflito aparente de normas:

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O inciso III do art. 3º da Lei nº 8.137/90 sanciona com reclusão de um a quatro anos e multa o funcionário público que “patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração fazendária, valendo-se da qualidade de funcionário público”. Assim, a advocacia administrativa perante órgão ligado ao interesse estatal na arrecadação e fiscalização de tributos é crime mais grave. A norma especial derroga a norma do Código Penal no caso concreto. Outra norma especial, em relação ao crime ora comentado, é a contida no art. 91 da Lei nº 8.666/93: “Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a Administração, dando causa à instauração de licitação ou à celebração de contrato, cuja invalidação vier a ser decretada pelo Poder Judiciário: Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.”

VIOLÊNCIA ARBITRÁRIA

Art. 322 - Praticar violência, no exercício de função ou a pretexto de exercê-la: Pena - detenção, de seis meses a três anos, além da pena correspondente à violência.

1. Considerações iniciais: O bem jurídico protegido é a normalidade da atividade da Administração Pública, que deve ser desenvolvida com respeito às leis vigentes no país, especialmente em relação aos particulares que não podem sofrer, por parte dos funcionários públicos, qualquer ação lesiva de sua integridade corporal. Protege a norma também a integridade física das pessoas. 2. Revogação do art. 322 do CP: Divergem, doutrina e jurisprudência, acerca da revogação tácita do art. 322 pela norma do art. 3º, alínea i, da Lei nº 4.898/65, assim redigida: “Constitui abuso de autoridade qualquer atentado: (...) i) à incolumidade física do indivíduo.” A pena cominada é detenção, de dez dias a seis meses, além da multa (art. 6º, § 3º). Uma corrente entende que não houve revogação, havendo, inclusive, decisão do Supremo Tribunal Federal nesse sentido. Outros estudiosos, dentre eles DAMÁSIO e MIRABETE, defendem que houve revogação tácita, uma vez que a Lei nº 4.898/65 regulou integralmente a matéria, até porque tratou de qualquer atentado à incolumidade física do indivíduo, alcançando, assim, qualquer violência arbitrária. Essa é, com certeza, a posição correta, acolhida por muitas decisões dos Tribunais estaduais. O Superior Tribunal de Justiça até o presente não se manifestou expressamente a respeito. Nada obstante entender que houve revogação tácita, faço, aqui, o exame do tipo do art. 322. 3. Elementos objetivos: A conduta incriminada é a prática de violência no exercício de função pública. É o emprego de força física contra o indivíduo, produzindo lesões ou apenas consistindo em vias de fato ou chegando, até mesmo, à realização de homicídio. Cuida-se de comportamento do funcionário público que, exercendo função pública ou a pretexto de exercê-la, emprega a força física de modo arbitrário.

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Refere-se a norma, principalmente, aos agentes públicos encarregados da execução de medidas gravosas como a efetivação de prisão, em flagrante ou em cumprimento de ordem judicial, a constrição da liberdade de um modo geral, como a execução de medidas detentivas, o impedimento de fuga, em que é permitido o emprego de força, dentro de limites aceitáveis e quando absolutamente necessário, nos termos do que dispõem os arts. 284 e 292 do Código de Processo Penal. O fato se realiza no momento do exercício da função pública ou quando o agente, não a exercendo, faz crer que a exerce. A arbitrariedade da violência é elemento indispensável à verificação típica, posto que, sendo necessária, nos estritos limites da lei, será lícita, excluída a tipicidade do fato. O agente deve atuar dolosamente. Com consciência de que exerce função pública ou pretextando exercê-la, certo da desnecessidade do emprego de violência, atuando, pois, com vontade livre, sem qualquer outra finalidade específica. 4. Consumação e tentativa: Consuma-se no instante em que é empregada a violência, com as vias de fato, a lesão corporal ou o homicídio. A tentativa é, portanto, possível. 5. Observações finais: O agente responderá, necessariamente, em concurso material com o crime correspondente à violência: lesões corporais, leves, graves ou gravíssimas ou homicídio, tentado ou consumado. Vias de fato ficarão absorvidas. A Lei nº 9.455/97, que definiu os crimes de tortura, contém tipos penais que podem incidir sobre condutas de funcionários públicos agressivas da integridade corporal, afastando, caso sejam realizados todos os elementos típicos, a incidência do delito do art. 322.

ABANDONO DE FUNÇÃO

Art. 323 - Abandonar cargo público, fora dos casos permitidos em lei: Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa. § 1º - Se do fato resulta prejuízo público: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. § 2º - Se o fato ocorre em lugar compreendido na faixa de fronteira: Pena - detenção, de um a três anos, e multa.

1. Elementos objetivos: A conduta incriminada é abandonar cargo público. Abandonar significa, no tipo, afastar-se do cargo, deixando de exercê-lo de forma definitiva. Embora o nomen iuris do delito seja “abandono de função”, o tipo refere-se apenas ao cargo, criado por lei, com denominação própria e vencimento pago pelos cargos públicos, para provimento em caráter efetivo ou em comissão.

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Assim, só o titular de cargo público pode abandoná-lo. Não se aplica, a esse crime, a norma de equiparação do art. 327, que alcança pessoas que ocupam funções e empregos públicos ou em entidades equiparadas e em empresas privadas conveniadas ou contratadas para exercer atividade típica da Administração Pública. O abandono deve ser definitivo, não se realizando o tipo se há simples afastamento temporário, exigindo a norma o transcurso de tempo juridicamente relevante. Há um elemento normativo: “fora dos casos permitidos em lei”. Quer dizer, na verdade, sem justa causa, porquanto não há norma legal expressa permitindo o abandono de cargo público. De conseqüência, se o funcionário abandona o cargo por estar em estado de necessidade ou por um motivo de força maior, não incidirá na proibição penal. 2. Elemento subjetivo: Deve atuar com dolo, com consciência de que abandona o cargo, deixando-o acéfalo, sabendo que faz injustificadamente, e realizar a conduta com vontade livre, sem qualquer outro fim. 3. Consumação e tentativa: A consumação ocorre quando o funcionário tenha se afastado do exercício do cargo por um tempo juridicamente relevante, de modo a se ter como efetivado o abandono, numa situação em que ocorre pelo menos risco de ocorrência de algum prejuízo relevante para a Administração Pública. A tentativa é, portanto, impossível 4. Formas qualificadas:

§ 1º - Se do fato resulta prejuízo público: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. § 2º - Se o fato ocorre em lugar compreendido na faixa de fronteira: Pena - detenção, de um a três anos, e multa.

O § 1º impõe pena de detenção de três meses a um ano “se do fato resulta prejuízo público”. Esta é uma forma qualificada pelo resultado que deve ser, necessariamente, um prejuízo de qualquer natureza para os serviços públicos. O prejuízo deve resultar do fato do abandono, ou seja, ser conseqüência do afastamento definitivo do cargo pelo agente. No § 2º a qualificadora diz respeito ao abandono de cargo público realizado em lugar compreendido na faixa de fronteira. Faixa de fronteira é a área situada a cento e cinqüenta quilômetros de largura ao longo das fronteiras nacionais, conforme definição da Lei nº 6.634/79. A pena é detenção, de um a três anos, e multa.

EXERCÍCIO FUNCIONAL ILEGALMENTE ANTECIPADO OU PROLONGADO

Art. 324 - Entrar no exercício de função pública antes de satisfeitas as exigências legais, ou continuar a exercê-la, sem autorização, depois de saber oficialmente que foi exonerado, removido, substituído ou suspenso:

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Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.

1. Elementares objetivas: São duas as condutas típicas. A primeira é entrar o funcionário no exercício de função pública antes da realização das exigências contidas em normas legais. O agente, nomeado para determinado cargo público, passa a exercê-lo sem que sejam, previamente, cumpridas todas as condições previstas em lei. É norma em branco, que será complementada pelas contidas nos dispositivos que regem o exercício dos cargos públicos. A Lei nº 8.112/90, que dispõe sobre o regime jurídico dos servidores públicos civis da União, contém preceitos que devem ser observados. Tratando-se de funcionários estaduais ou municipais, deve o intérprete socorrer-se das leis locais para completar o preceito penal. Requisito indispensável, em todos os níveis da Administração, é a posse no cargo, mas há outros, como exames médicos, inclusive psicológicos. Entrar no exercício de função pública é praticar ato de ofício que corresponda ao cargo. Assim, realiza o tipo o funcionário público que praticar ato de ofício correspondente ao cargo para o qual foi nomeado antes de ser empossado ou de cumprir qualquer outra exigência legal. É o exercício funcional ilegalmente antecipado. A segunda forma típica consiste em o funcionário que tenha sido exonerado, substituído, suspenso ou removido continuar a exercer a função pública, isto é, praticar atos de ofício inerentes ao cargo que ocupava, depois de ter sido dele exonerado, suspenso ou removido. O fato será atípico se o funcionário substituído, suspenso ou removido vier a ser autorizado, por superior hierárquico competente, a permanecer no exercício do cargo, em face do elemento normativo contido no tipo “sem autorização”, a qual, é óbvio, não pode se dar quando se tratar de funcionário exonerado. Este é o chamado exercício funcional ilegalmente prolongado. Indispensável, nas duas modalidades típicas, que o sujeito realize uma conduta positiva, praticando pelo menos um ato de ofício. No exercício funcional ilegalmente prolongado o funcionário deve ter consciência de que foi exonerado, substituído, suspenso ou removido, bem assim de que não está autorizado a continuar no exercício, atuando, igualmente, com vontade livre. Se não sabe das exigências legais ou de que foi afastado do cargo, não cometerá o crime, por exclusão do dolo decorrente de erro de tipo. 2. Elemento subjetivo: O crime é doloso. Na primeira modalidade a consciência do agente deve alcançar as normas legais que contenham as exigências necessárias para o início do exercício da função e atuar com vontade livre, sem qualquer outra finalidade. 3. Consumação e tentativa: Consuma-se o crime com a prática de um único ato de ofício antes de satisfeitas as exigências legais, ou depois de saber que fora exonerado, removido, substituído ou suspenso. A tentativa é possível.

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VIOLAÇÃO DE SIGILO FUNCIONAL

Art. 325 - Revelar fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva permanecer em segredo, ou facilitar-lhe a revelação: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa, se o fato não constitui crime mais grave. § 1o Nas mesmas penas deste artigo incorre quem: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) I – permite ou facilita, mediante atribuição, fornecimento e empréstimo de senha ou qualquer outra forma, o acesso de pessoas não autorizadas a sistemas de informações ou banco de dados da Administração Pública; (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) II – se utiliza, indevidamente, do acesso restrito. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) § 2o Se da ação ou omissão resulta dano à Administração Pública ou a outrem: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

1. Elementos objetivos: A primeira conduta incriminada é revelar fato. Revelar significa narrar a alguém, comunicar a outrem, contar a terceira pessoa. Pode ser realizada por escrito ou verbalmente. A segunda conduta típica consiste na facilitação da revelação. Facilitar é tornar fácil, afastando obstáculos, criando condições para que o fato entre no conhecimento de terceiro, para que seja revelado. Neste caso, a conduta pode ser também omissiva, quando o agente deixa de adotar medidas com vistas na preservação do sigilo. A revelação deve ser de um fato que o agente tem ciência em razão do cargo público que exerce e, ao mesmo tempo, que deve ser mantido em segredo. Em outras palavras, o fato chega ao conhecimento do agente em decorrência das atividades inerentes ao seu cargo. Tem conhecimento dele por força da sua atuação funcional. Se o fato entra na esfera do conhecimento do agente por outra razão que não o exercício do seu cargo, sua revelação não constituirá esse delito do art. 325. Além disso, o fato deve ser daqueles que devem permanecer em segredo. Fato sigiloso, portanto. Sigiloso e que deve permanecer em segredo é o fato de interesse público cuja revelação possa causar dano a um interesse da Administração Pública. 2. Elemento subjetivo: Crime doloso. O agente tem consciência de que o fato chegou ao seu conhecimento em virtude da função que exerce, sabe que deve permanecer em segredo e, ainda assim, revelam a alguém com vontade livre, sem qualquer outra finalidade. A revelação ou a sua facilitação por negligência não constitui crime.

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3. Consumação e tentativa: O momento consumativo ocorre quando o segredo chega ao conhecimento de qualquer pessoa, em conseqüência da conduta dolosa do agente. A tentativa é possível. 4. Violação do sigilo funcional de sistemas de informações:

§ 1o Nas mesmas penas deste artigo incorre quem: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) I – permite ou facilita, mediante atribuição, fornecimento e empréstimo de senha ou qualquer outra forma, o acesso de pessoas não autorizadas a sistemas de informações ou banco de dados da Administração Pública; (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) II – se utiliza, indevidamente, do acesso restrito. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

4.1 – Elementos objetivos: O inciso I contém duas condutas típicas. Permitir ou facilitar o acesso de pessoas não autorizadas a sistema de informações ou a banco de dados da Administração. Permitir é deixar, concordar, autorizar, proporcionar o acesso. Facilitar é contribuir para que ele ocorra. A norma contém os meios de execução: mediante atribuição, fornecimento ou empréstimo de senha ou por qualquer outra forma análoga. O primeiro é a informação ao terceiro não autorizado, por atribuição, fornecimento ou empréstimo da senha ou código de acesso ao sistema informatizado ou ao banco de dados. Pode o agente facilitar o acesso, através da eliminação de dificuldades de acesso, quando, por exemplo, deixa o sistema aberto para o acesso de terceiro que, então, não necessita de utilização de senha para nele ingressar. Assim, a conduta pode ser realizada por ação ou por omissão. No inciso II está incriminada a conduta do funcionário público que se utiliza indevidamente do acesso restrito. Nesse caso o agente faz uso não autorizado do acesso restrito que tem ao sistema de informações ou banco de dados. 4.2 – Elemento subjetivo: Em todas as modalidades típicas deve o agente atuar dolosamente, com consciência de que está atribuindo código de acesso a terceiro ou sabendo que utiliza indevidamente o acesso restrito, realizando a conduta com vontade livre, sem qualquer outra finalidade especial. Não há modalidade culposa. 4.3 – Consumação e tentativa: O momento consumativo acontece no instante em que o terceiro recebe a senha ou código de acesso ao sistema de informações ou ao banco de dados, ou quando o agente realiza a conduta que facilita ou permite o acesso, não sendo necessário que ele consiga obtê-lo, ou, no caso do inciso II, quando o agente faz uso indevido do acesso restrito. A tentativa é possível. 5. Forma qualificada:

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§ 2o Se da ação ou omissão resulta dano à Administração Pública ou a outrem: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.

O § 2º do art. 325 contém a forma qualificada pelo resultado, cominada reclusão de dois a seis anos e multa. Deve a conduta ser a causa de um resultado efetivamente e não apenas potencialmente danoso para a Administração ou para qualquer outra pessoa. Será assim um dano, patrimonial, econômico ou moral. A norma não se refere a um dano para o governo ou para o governante, mas para a Administração ou para um particular.

VIOLAÇÃO DO SIGILO DE PROPOSTA DE CONCORRÊNCIA

Art. 326 - Devassar o sigilo de proposta de concorrência pública, ou proporcionar a terceiro o ensejo de devassá-lo: Pena - Detenção, de três meses a um ano, e multa.

1. Elementos objetivos: A primeira conduta incriminada é a de devassar o sigilo da proposta. Devassar significa conhecer, desvendar o conteúdo da proposta, não sendo necessária a abertura do envelope no qual esteja contida. Claro que a norma se refere apenas ao conhecimento indevido, porque haverá o momento em que a proposta deverá, no curso do procedimento licitatório, ser, necessariamente, desvendada e conhecida pelos funcionários que dirigem a licitação. A norma não exige que o agente, após devassar o sigilo, dê, a outrem, conhecimento do conteúdo da proposta. Basta, portanto, a conduta do agente. A outra conduta incriminada é aquela consistente em proporcionar à terceira pessoa a possibilidade de promover a devassa, o conhecimento da proposta, quebrando, assim, o seu sigilo. Cuida-se de conduta, positiva ou negativa, que dá ensejo a que alguém conheça o conteúdo da proposta. É a contribuição para a ação de outrem. 2. Elemento subjetivo: O crime é doloso. O agente atua com consciência da ilicitude de seu comportamento e com vontade livre de devassar ou permitir a devassa do sigilo da proposta, sem qualquer outra finalidade especial. 3. Consumação e tentativa: A consumação acontece no momento em que o agente ou a terceira pessoa toma conhecimento do conteúdo da proposta. A tentativa é possível, em qualquer das duas modalidades, quando, por circunstâncias alheias à vontade do agente, o sigilo da proposta não é desvendado.

DOS CRIMES PRATICADOS POR CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL

USURPAÇÃO DE FUNÇÃO PÚBLICA

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Art. 328 - Usurpar o exercício de função pública: Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa. Parágrafo único - Se do fato o agente aufere vantagem: Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa.

1. Elementos objetivos: Usurpar significa tomar para si, arrebatar, exercer ilegitimamente a função pública. Significa que o agente passa a agir como se fosse titular da função pública, praticando atos próprios do seu titular, como se fosse, verdadeiramente, o seu detentor. É necessária a prática de pelo menos um ato de ofício, não sendo suficiente, para o reconhecimento da tipicidade, que o agente se apresente como funcionário porque, neste caso, não há usurpação da função, mas a contravenção penal do art. 45 da LCP. 2. Elemento subjetivo: Cuida-se de delito doloso. O agente deve estar consciente de que está usurpando uma função pública, praticando atos próprios de funcionário público, nos termos do art. 327 do Código Penal, e atuar com vontade livre, sem qualquer outro fim especial. 3. Sujeitos do crime: Sujeito ativo é qualquer pessoa, inclusive o funcionário público, quando usurpa função que não lhe compete. Sujeito passivo é o Estado. Usurpar significa tomar para si, arrebatar, exercer ilegitimamente a função pública. Significa que o agente passa a agir como se fosse titular da função pública, praticando atos próprios do seu titular, como se fosse, verdadeiramente, o seu detentor. É necessária a prática de pelo menos um ato de ofício, não sendo suficiente, para o reconhecimento da tipicidade, que o agente se apresente como funcionário porque, neste caso, não há usurpação da função, mas a contravenção penal do art. 45 da LCP. 4. Consumação e tentativa: Consuma-se o crime no momento em que o sujeito pratica o primeiro ato próprio de funcionário público. A tentativa é possível quando o agente, após tê-lo iniciado, não consegue praticar o ato que pretende, por circunstâncias alheias à sua vontade. 5. Forma qualificada: A forma qualificada está prevista no parágrafo único, cominada a pena de reclusão de dois a cinco anos e multa, quando o agente aufere vantagem do fato da usurpação. A vantagem pode ser econômica ou moral e ser obtida para o próprio agente ou para terceira pessoa.

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RESISTÊNCIA

Art. 329 - Opor-se à execução de ato legal, mediante violência ou ameaça a funcionário competente para executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio: Pena - detenção, de dois meses a dois anos. § 1º - Se o ato, em razão da resistência, não se executa: Pena - reclusão, de um a três anos. § 2º - As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à violência.

1. Elementos objetivos: A conduta incriminada é opor-se à execução de um ato. Quer dizer resistir à execução. Procurar evitar que o ato seja executado. A norma exige que a oposição se faça com o emprego de violência ou ameaça. Por violência deve-se entender as vias de fato ou lesões corporais. Note-se que a ameaça não precisa ser grave, porque a norma não a qualificou, podendo ser empregada por qualquer meio, verbal, escrito ou simbólico. A violência ou a ameaça, ou ambas, serão dirigidas contra o funcionário encarregado da execução do ato ao qual o agente se opõe ou ainda contra qualquer pessoa que estiver colaborando para sua execução. A resistência passiva, sem qualquer violência ou ameaça, não constitui crime. No tipo há dois elementos normativos indispensáveis para a caracterização do delito: o ato deve ser legal e o funcionário que o executa deve ser competente para tanto. O ato deve ser legal em sua forma e substância, bem assim deve ser legal a forma de sua execução. Deve ter emanado de autoridade competente, revestir a forma legal e ser executado com o uso de meios autorizados por lei. Se o agente opõe-se à execução de um ato ilegal ou que esteja sendo executado com inobservância dos preceitos legais, o fato será atípico. Se, igualmente, o funcionário que executa o ato, embora legal, não tem competência para tanto, a oposição será atípica. A norma refere-se a funcionário público no sentido estrito, não se aplicando a norma de extensão contida no art. 327 do Código Penal O bem jurídico protegido é a Administração Pública, a autoridade e o prestígio da execução dos seus atos. 2. Elemento subjetivo: A resistência é crime doloso. O agente deve empregar a violência ou a ameaça, opondo-se à execução do ato, com consciência de que está se opondo à sua execução, e com a finalidade de impedir que ela se concretize. A consciência do agente deve abranger a licitude do ato, a qualidade do funcionário público e a sua competência.

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Se ele opõe-se à execução do ato por imaginar que se trata de ato ilegal ou que o executor não é funcionário público ou, sendo, não é o competente, o dolo restará excluído e com ele a tipicidade do fato, por inexistir previsão do tipo culposo. Doutrina e jurisprudência divergem sobre a exclusão da tipicidade no caso de estar o agente embriagado. A melhor posição é a de DAMÁSIO, para quem só haverá exclusão da tipicidade quando a embriaguez for daquelas que retiram, do agente, a capacidade de entender a ilicitude de seu comportamento. 3. Sujeitos do crime: Sujeito ativo é qualquer pessoa que realizar a conduta. Sujeito passivo é o Estado e também aquele, funcionário ou não, que sofrer a violência ou ameaça. 4. Consumação e tentativa: Consuma-se o crime com o emprego, pelo agente, da violência ou da ameaça. É delito formal. Não é, portanto, necessário que a execução do ato seja impedida ou interrompida. Basta a oposição violenta ou ameaçadora. A tentativa é possível, por exemplo, quando o agente é impedido de causar lesões corporais no funcionário ou em quem o auxilia. 5. Forma qualificada:

§ 1º - Se o ato, em razão da resistência, não se executa: Pena - reclusão, de um a três anos.

O § 1º descreve a forma qualificada da resistência, sancionada com reclusão de um a três anos, se o ato não vier a ser executado em razão da conduta do agente. Só incidirá quando a resistência tiver sido eficaz para impedir a execução do ato, e não quando o funcionário, por pura cautela ou por falta de empenho, desistir de executá-lo. 6. Concurso de crimes:

§ 2º - As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à violência.

Determina expressamente o § 2º do art. 329 que as penas cominadas serão aplicadas sem prejuízo das penas correspondentes à violência. Assim, se a violência consiste em lesões corporais, leves, graves ou gravíssimas ou em homicídio, consumado ou tentado, o agente responderá em concurso material pelo delito de resistência pelo crime contra a pessoa. Vias de fato serão absorvidas pelo crime do art. 329.

DESOBEDIÊNCIA

Art. 330 - Desobedecer a ordem legal de funcionário público: Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa.

1. Elementos objetivos:

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Desobedecer é não acatar. É não cumprir, é desatender. É não submeter-se ao cumprimento da ordem. A conduta pode ser positiva ou negativa. Será comissiva quando o agente faz aquilo que a ordem manda não ser feito e omissiva quando deixa de fazer o que a ordem determina. Só há desobediência à ordem legal de funcionário público. Ordem é o comando imposto pelo funcionário através de um ato de seu ofício. Ordem não se confunde com solicitação ou recomendação. Deve ser legal do ponto de vista formal e material, emanando, necessariamente, de funcionário competente para emiti-la. Não há fato típico quando a ordem proveio de funcionário incompetente, não revestiu a forma legal ou não atendeu aos fundamentos legais que a autorizam. A ordem deve ser comunicada legalmente ao destinatário que, então, a desobedece, realizando o tipo. Para tanto, é indispensável que ele tenha o dever legal de atender à ordem. 2. Elemento subjetivo: Diante, portanto, de uma ordem legal em todos os sentidos realiza o tipo a pessoa que, consciente de sua legalidade, resolve, por vontade livre, deixar de atendê-la sem qualquer outra finalidade especial. É o dolo direto. Se o agente não sabe que a ordem provém de funcionário público ou imagina que não é legal ou, por fim, que não está obrigado a cumpri-la, a tipicidade será excluída por erro de tipo que, igualmente, afasta a tipicidade do fato, por não haver modalidade culposa. 3. Consumação e tentativa: Consuma-se no momento em que o agente, ciente do mandamento, realiza a ação proibida pela ordem ou quando deixa de realizar aquilo que ela determinava, neste caso, após o transcurso de um tempo razoável ou findo o prazo assinalado, se existir. A tentativa é possível apenas na forma comissiva do delito. 4. Conflito aparente de normas – Estatuto do Idoso: A Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003, definiu três tipos penais especiais em relação ao delito do art. 330, a saber. No art. 100, sancionados com reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa: “deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem justo motivo, a execução de ordem judicial expedida na ação civil a que alude esta lei” (inciso IV); “recusar, retardar ou omitir dados técnicos indispensáveis à propositura da ação civil objeto desta lei, quando requisitados pelo Ministério Público” (inciso V). No art. 101, cuja pena cominada é detenção de 6 meses a 1 ano e multa, é incriminada a conduta de quem “deixar de cumprir, sem justo motivo, a execução de ordem judicial expedida nas ações em que for parte ou interveniente o idoso”. Idoso é quem tem idade igual ou superior a 60 anos.

DESACATO

Art. 331 - Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.

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1. Elementos objetivos: Desacatar é ofender. É agredir a honra, por palavras, escritas ou orais, gestos, meios simbólicos ou até mesmo através de vias de fato ou de ofensa física que signifiquem ultraje, desprestígio ou desmoralização do funcionário público. É indispensável que a ofensa se dê quando o funcionário esteja no exercício das suas funções ou quando é realizada em razão das funções que ele exerce, não sendo necessário que ele se sinta ultrajado ou ofendido, porque o desacato é crime formal. A conduta, assim, dirige-se ao funcionário no momento em que ele exerce um ato de seu ofício ou por causa da sua qualidade de funcionário. Esse nexo entre a conduta e o exercício da função pública é essencial para o reconhecimento da tipicidade. Inexistindo o nexo causal, o delito será o de injúria ou difamação ou simplesmente lesões corporais ou vias de fato. A conduta deve ser realizada de modo a que o funcionário público dela tome conhecimento imediatamente, em sua frente ou não, desde que venha a ouvir ou presenciar a ofensa, não sendo exigida a presença de qualquer outra pessoa. 2. Elemento subjetivo: Crime doloso. O agente sabe que o funcionário público está no exercício da função, ou simplesmente que ele é funcionário e, com vontade livre e consciente, realiza a conduta ofendendo-lhe a honra ou a dignidade. Age, além disso, com o propósito claro de denegrir a função exercida pelo sujeito passivo. Este elemento subjetivo é essencial para a caracterização do desacato, sem o qual subsiste apenas o delito de injúria. O fim do agente, no desacato, é não só atingir a pessoa do funcionário mas a sua qualidade e a sua atividade funcional. Se o agente não sabe que a pessoa a quem dirige a ofensa é funcionário público, não há desacato, mas injúria ou difamação. O desacato não exige que o agente esteja psicologicamente calmo, com ânimo refletido, podendo ocorrer ainda quando ele esteja embriagado desde, é óbvio, que não completamente, quando não tem qualquer capacidade de entendimento. 3. Consumação e tentativa: A consumação ocorre no instante em que o agente realiza a conduta ofensiva, independentemente de o funcionário sentir-se ofendido ou da presença de qualquer outra pessoa. A tentativa é impossível. 4. Observações finais: Obs.: ESTATUTO DO ADVOGADO – IMUNIDADES - CRIME DE DESACATO: A Lei nº 9.806, de 4 de julho de 1994, o Estatuto da Advocacia e da Ordem dos Advogados do Brasil, cumprindo a ordem do constituinte, dispôs, no art. 7º, § 2º: “o advogado tem imunidade profissional, não constituindo injúria, difamação ou desacato puníveis, qualquer manifestação de sua parte, no exercício de sua atividade, em juízo ou fora dele, sem prejuízo das sanções disciplinares perante a OAB, pelos excessos que cometer”. O Supremo

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Tribunal Federal, todavia, concedeu liminar na Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 1.127, suspendendo a eficácia da expressão “desacato” contida no dispositivo da Lei nº 9.806/94 em relação à autoridade judiciária, e, julgando o mérito, em 17 de maio de 2006, declarou a inconstitucionalidade da expressão, contida no § 2° do art. 7° da Lei n°8.906/94.

TRÁFICO DE INFLUÊNCIA

Art. 332 - Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a pretexto de influir em ato praticado por funcionário público no exercício da função: (Redação dada pela Lei nº 9.127, de 1995) Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 9.127, de 1995) Parágrafo único - A pena é aumentada da metade, se o agente alega ou insinua que a vantagem é também destinada ao funcionário. (Redação dada pela Lei nº 9.127, de 1995)

1. Elementos objetivas: As condutas incriminadas são: solicitar, exigir, cobrar ou obter vantagem ou promessa de vantagem. Solicitar é pedir, propor, postular, rogar. Exigir é constranger, ordenar, impor. Cobrar é manifestar a intenção de receber de modo imperioso. Obter é receber efetivamente. O objeto da conduta é vantagem de natureza econômica ou moral ou promessa de vantagem. O agente solicita, exige, cobra ou obtém a vantagem ou sua promessa, alegando gozar de prestígio junto a funcionário público, capaz de influenciá-lo na prática de um ato funcional e pretendendo a vantagem exatamente para exercer essa influência. Não importa se o agente tem ou não influência junto a algum funcionário, bastando que afirme isso à pessoa em face da qual deduz sua pretensão. Nem tampouco se ele chega a procurar o funcionário, para influir na prática do ato. Essencial, entretanto, que o agente demonstre ter capacidade para influenciar e alegue que o fará se receber a vantagem ou sua promessa e que consiga, efetivamente, impressionar a pessoa que, então, nele acredita, daí que os meios empregados devem ser idôneos para convencer. 2. Elementos subjetivos: O agente deve agir dolosamente. Realiza a conduta com consciência e vontade de obter a vantagem ou sua promessa, afirmando a realização da influência sobre a decisão do funcionário público. A vantagem é pretendida para si ou para outra pessoa, sendo este o outro elemento subjetivo do tipo. 3. Consumação e tentativa: As modalidades típicas expressas nos núcleos solicitar, exigir e cobrar revelam delito formal. Consumam-se com a conduta do agente. Já em relação à obtenção, a consumação acontece no momento em que o agente recebe a vantagem ou a promessa, isto é, quando a pessoa entrega, proporciona a vantagem ou promete cumpri-la.

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A tentativa é, na prática, de difícil verificação, a não ser quando o agente solicita, exige ou cobra a vantagem por meio de carta que não chega ao conhecimento da pessoa a quem é feita. 4. Causa de aumento de pena:

Parágrafo único - A pena é aumentada da metade, se o agente alega ou insinua que a vantagem é também destinada ao funcionário. (Redação dada pela Lei nº 9.127, de 1995)

Quando o agente, ao solicitar, exigir, cobrar ou obter a vantagem ou promessa, afirma ou insinua que parte dela será destinada ao funcionário público, a pena será aumentada de metade. A afirmação pode ser expressa, clara, induvidosa ou mesmo subreptícia, velada ou por mera insinuação. 5. Concurso de crimes e conflito aparente de normas: Quando o agente, após obter a vantagem a pretexto de influenciar funcionário público, entrega a este parte dela ou a sua totalidade haverá corrupção ativa que absorverá o tráfico de influência, respondendo o funcionário por corrupção passiva. Se o agente busca vantagem patrimonial e afirma que irá influenciar juiz, jurado, funcionário da justiça etc., o fato se ajustará ao tipo do art. 357, adiante comentado.

CORRUPÇÃO ATIVA

Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 10.763, de 12.11.2003) Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço, se, em razão da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou omite ato de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional.

1. Elementos objetivos: São duas as condutas incriminadas: oferecer ou prometer vantagem. Oferecer é ofertar, é colocar à disposição. Prometer é comprometer-se, obrigar-se a dar. Realiza-se por qualquer meio, verbal, escrito e até gestual. Pode ser realizada diretamente pelo agente ao funcionário ou por interposta pessoa que, então, participa do crime. O agente, espontaneamente, oferece ou promete dar ao funcionário público uma vantagem a que esse não tem direito, isto é, indevida. A vantagem pode ser econômica ou de qualquer outra natureza, moral inclusive. Há crime independentemente da atitude do funcionário, que pode aceitá-la – cometendo o crime de corrupção passiva – ou rejeitá-la. Se, entretanto, é o funcionário que exige a vantagem e o particular cede, não estará cometendo corrupção ativa mas é vítima do delito de concussão (art. 316). Penso que também quando o funcionário solicita a vantagem e o particular apenas atende ao pedido, somente aquele comete o crime de corrupção passiva (art. 317).

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O oferecimento ou a promessa da vantagem visa a que o funcionário pratique, omita ou retarde a prática de um ato de ofício. Desse modo, deve o funcionário ser o competente para praticar, omitir ou retardar o ato de ofício. É de ver, ainda, que não pode haver delito quando o agente oferece ou promete vantagem para determinar o funcionário a não praticar – omitir – ou retardar a prática de um ato ilegal. 2. Elemento subjetivo: É crime doloso. O agente tem consciência de que está oferecendo uma vantagem indevida – ilícita – para um funcionário público, presente, ainda, o elemento subjetivo: para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar o ato de ofício. Age com livre vontade, sem outro fim. 3. Consumação e tentativa: Consuma-se no instante em que o agente oferece ou promete a vantagem e o funcionário toma conhecimento, independentemente de aceitá-la ou de praticar, omitir ou retardar o fato. O crime é formal, de resultado cortado. A tentativa ocorrerá se, por circunstâncias alheias à vontade do agente, não chegar ao conhecimento do funcionário. 4. Causa de aumento de pena:

Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço, se, em razão da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou omite ato de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional.

O parágrafo único do art. 333 determina o aumento da pena, em um terço se, em razão da vantagem ou da promessa, o funcionário efetivamente retardar ou omitir o ato de ofício ou praticá-lo com infração de dever funcional. Não incidirá o aumento se, por causa da promessa, o funcionário praticar o ato de acordo com as normas incidentes, mas apenas quando o fizer ilegalmente.

CONTRABANDO OU DESCAMINHO

Art. 334 Importar ou exportar mercadoria proibida ou iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou pelo consumo de mercadoria: Pena - reclusão, de um a quatro anos. § 1º - Incorre na mesma pena quem: a) pratica navegação de cabotagem, fora dos casos permitidos em lei; b) pratica fato assimilado, em lei especial, a contrabando ou descaminho; c) vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira que introduziu clandestinamente no País ou importou fraudulentamente ou que sabe ser produto de introdução clandestina no território nacional ou de importação fraudulenta por parte de outrem;

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d) adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira, desacompanhada de documentação legal, ou acompanhada de documentos que sabe serem falsos. § 2º - Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio irregular ou clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido em residências. § 3º - A pena aplica-se em dobro, se o crime de contrabando ou descaminho é praticado em transporte aéreo.

1. Figura básica: 1.1 – Elementos objetivos: Contrabando é a importação ou exportação de mercadoria cuja entrada ou saída do país é proibida. Importar é fazer ingressar no país, exportar é fazer dele sair. Não importa o meio, nem se por terra, mar ou ar. Basta que a mercadoria esteja incluída entre as de importação ou exportação proibida. Mercadoria é qualquer coisa móvel, de qualquer natureza. A proibição de entrada ou saída da mercadoria pode ser absoluta ou relativa, quando depende do cumprimento de alguma exigência legal. A norma em comento está em branco, devendo o intérprete socorrer-se das normas complementares que estabelecem ou relacionam as mercadorias cuja importação ou exportação seja proibida, absoluta ou relativamente. A mercadoria importada pode, inclusive, ser nacional que tenha sido exportada anteriormente, cuja reentrada seja proibida. A importação ou exportação de mercadoria que, por si só, já constitua outro delito, como a de substância entorpecente, se ajustará ao tipo legal de crime previsto na lei especial, afastada a incidência da norma ora comentada. Descaminho é a falta do pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, saída ou consumo de mercadoria importada ou exportada. A importação ou exportação é permitida, a mercadoria é lícita, mas o agente, mediante fraude, engana a autoridade pública deixando de efetuar o recolhimento do tributo incidente ou de direito decorrente da sua entrada, saída ou do seu consumo. O verbo iludir significa fraudar, enganar, burlar o pagamento devido. 1.2 – Elementos subjetivos: Crime doloso. Numa como na outra modalidade típica o agente age com consciência e livre vontade. Sabe que a importação ou exportação da mercadoria é proibida ou sabe que tem o dever de efetuar o recolhimento do valor devido. Realiza a conduta com vontade livre. Se não sabe da proibição ou do dever de recolher o valor do imposto, a tipicidade fica excluída por erro de tipo, uma vez que o delito só é punível a título doloso. Consuma-se o contrabando com a efetiva entrada da mercadoria no território nacional ou com sua saída quando feita de modo clandestino ou com a liberação na alfândega, momento em que também se consuma o descaminho. Possível, em qualquer caso, a tentativa. 1.3 – Consumação e tentativa:

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Consuma-se o contrabando com a efetiva entrada da mercadoria no território nacional ou com sua saída quando feita de modo clandestino ou com a liberação na alfândega, momento em que também se consuma o descaminho. Possível, em qualquer caso, a tentativa. 2. Figura equiparada:

§ 1º - Incorre na mesma pena quem:

O § 1º do art. 334 descreve outras condutas, cominando para elas a mesma pena de reclusão de um a quatro anos, equiparando-as ao contrabando ou descaminho.

a) pratica navegação de cabotagem, fora dos casos permitidos em lei;

Navegação de cabotagem é aquela que tem por fim a comunicação e o comércio direto entre os portos do país, dentro de suas águas territoriais e dos rios que correm pelo território nacional. Só as embarcações nacionais podem realizá-la, salvo as exceções previstas em lei, como determina o art. 178, § 3º, da Constituição Federal, nos casos de necessidade pública.

b) pratica fato assimilado, em lei especial, a contrabando ou descaminho;

Tanto quanto a norma da alínea anterior esta contém um preceito primário em branco, que será complementado por outra norma legal. O Decreto-lei nº 288/67, a Lei nº 4.906/65 e o Decreto-lei nº 399/68 são preceitos legais que contêm normas complementares do tipo do § 1º, b, do art. 334.

c) vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira que introduziu clandestinamente no País ou importou fraudulentamente ou que sabe ser produto de introdução clandestina no território nacional ou de importação fraudulenta por parte de outrem;

Só realiza esse tipo o agente que esteja no exercício de atividade comercial ou industrial e pratique uma das condutas descritas: vender, expor à venda, manter em depósito ou, de qualquer modo, utilizar a mercadoria. Segundo dispõe o § 2º, “equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio irregular ou clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o exercício em residências”. Não basta, entretanto, que o agente realize uma das condutas esporadicamente, uma única vez. Para se caracterizar a atividade comercial ou industrial é necessário que haja habitualidade. Deve fazê-lo em proveito próprio ou alheio. A mercadoria deve ser de procedência estrangeira, isto é, ter vindo de outro país ainda quando fabricada no Brasil e anteriormente exportada. Quando tenha sido introduzida no território nacional clandestinamente pelo próprio agente ou por ele importada com fraude só responderá por um delito. Quando a mercadoria tiver sido importada por outra pessoa, o agente responderá desde que tenha conhecimento de que ela é fruto de contrabando ou descaminho. É uma modalidade especial de receptação.

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d) adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira, desacompanhada de documentação legal, ou acompanhada de documentos que sabe serem falsos.

Exige este tipo que o agente realize a conduta no exercício de atividade comercial ou industrial, bem assim que tenha consciência de que os documentos que acompanham a mercadoria de procedência estrangeira sejam falsos ou simplesmente que esteja ela desacompanhada dos documentos exigidos por lei. Se o agente não está no exercício de atividade comercial ou industrial a sua conduta poderá se ajustar ao tipo de receptação, dolosa ou culposa, descrito no art. 180 do Código Penal. 3. Forma qualificada:

§ 3º - A pena aplica-se em dobro, se o crime de contrabando ou descaminho é praticado em transporte aéreo.

IMPEDIMENTO, PERTURBAÇÃO OU FRAUDE DE CONCORRÊNCIA

Art. 335 - Impedir, perturbar ou fraudar concorrência pública ou venda em hasta pública, promovida pela administração federal, estadual ou municipal, ou por entidade paraestatal; afastar ou procurar afastar concorrente ou licitante, por meio de violência, grave ameaça, fraude ou oferecimento de vantagem: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa, além da pena correspondente à violência. Parágrafo único - Incorre na mesma pena quem se abstém de concorrer ou licitar, em razão da vantagem oferecida.

1. Considerações inicias: O art. 335 do Código Penal foi derrogado pelas normas dos arts. 93 e 95 da Lei nº 8.666/93, a Lei de Licitações, vigorando exclusivamente em relação à venda em hasta pública. Tratando-se de licitações, aplicam-se as normas dos arts. 93 e 95. O tipo do art. 93: “impedir, perturbar ou fraudar a realização de qualquer ato de procedimento licitatório”. A pena: detenção, de seis meses a dois anos, e multa. O tipo penal do art. 95: “afastar ou procurar afastar licitante, por meio deviolência, grave ameaça ou oferecimento de vantagem de qualquer tipo”. A pena é detenção, de dois a quatro anos, e multa, além da pena correspondente à violência. O bem jurídico protegido é a Administração Pública, a probidade, a moralidade e a seriedade dos seus procedimentos licitatórios ou das vendas em hasta pública. 2. Impedimento, perturbação ou fraude de concorrência O art. 93 incrimina as seguintes condutas: “impedir, perturbar ou fraudar” a realização de ato de procedimento licitatório. Impedir é não deixar que ocorra, é obstar desde o início, não permitindo que comece o ato. Perturbar é atrapalhar, conturbar, criar dificuldades, obstáculos, empecilhos. Fraudar é fazer surgir o erro ou engodo na realização do ato.

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As condutas dizem respeito a qualquer ato de procedimento licitatório promovido pela Administração Pública federal, estadual ou municipal, nos termos do que dispõe a Lei nº 8.666/93. Licitação é a disputa entre pessoas, físicas ou jurídicas, para a contratação de alienação e aquisição de bens ou a realização de obras ou serviços de interesse público. As mesmas condutas são incriminadas pelo art. 335 do Código Penal tendo como objeto a venda em hasta pública promovida pela Administração Pública, em qualquer dos níveis, federal, estadual ou municipal. A venda em hasta pública se faz através de leilão ou praça. O leilão feito por particulares não é alcançado pela norma. Crime doloso. O agente deve estar consciente de que impede, perturba ou frauda o ato do procedimento ou a venda em hasta pública, agindo com vontade livre, sem qualquer outra finalidade especial. Consuma-se no instante em que o ato da licitação ou a venda em hasta pública não se realiza, sofre a perturbação ou é fraudado. A tentativa é possível em qualquer das modalidades típicas. 3. Afastamento de licitante: O art. 95 da Lei nº 8.666/93 tipifica a conduta de quem afasta ou procura afastar licitante do procedimento licitatório. Afastar significa excluir, fazer com que o licitante deixe de participar da licitação ou dela se retire. Procurar afastar é tentar afastar. É a tentativa elevada a categoria de delito autônomo. Deve o agente atuar com o emprego de violência, grave ameaça, fraude ou oferecimento de vantagem. Violência é a força física, são as vias de fato ou as lesões corporais. A grave ameaça é a promessa da causação de um mal grave. Fraude é o engano, o engodo. É induzir ou manter o licitante numa situação de erro. O último meio de execução do delito é através do oferecimento de vantagem de qualquer natureza, moral ou patrimonial. As mesmas condutas são incriminadas no art. 335 do Código Penal quando o agente afasta ou procura afastar a pessoa do procedimento da venda em hasta pública. O crime é doloso. O agente deve realizar a conduta com consciência e vontade livre de afastar o licitante do procedimento licitatório ou da venda em hasta pública, sem qualquer outra finalidade especial. A consumação ocorre no momento em que o agente emprega a violência ou profere a grave ameaça, utiliza da fraude ou oferece a vantagem, independentemente do afastamento do licitante. A tentativa – punida com a mesma pena do crime consumado – ocorre quando o agente não consegue empregar a violência, a grave ameaça ou a fraude ou, também, por circunstâncias alheias à sua vontade, não chega ao conhecimento do licitante a oferta da vantagem. Quando o agente emprega violência será apenado não só pelo crime contra a administração mas também pelo delito contra a pessoa – lesão corporal, leve, grave ou gravíssima, homicídio ou tentativa. 4. Abstenção do licitante: O parágrafo único do art. 335 do Código Penal e o parágrafo único do art. 95 da Lei nº 8.666/93 contêm normas incriminadoras que se ajustam à conduta do licitante que, em razão da vantagem oferecida, abstém-se de concorrer ou licitar. Delito próprio do licitante.

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Crime omissivo puro, o licitante cede à oferta de vantagem, deixando de participar da licitação. Quando o licitante não participa em virtude de violência, grave ameaça ou fraude, não comete qualquer delito. Deve o agente atuar dolosamente, consciente de que deixa de licitar ou concorrer em razão da vantagem oferecida, omitindo-se por sua livre vontade. A consumação ocorre no momento em que o licitante deixa de participar, retirando sua proposta ou deixando de apresentar documentos exigidos, enfim, afastando-se, de qualquer modo, da concorrência. A tentativa é inadmissível, porque se trata de crime omissivo puro.

INUTILIZAÇÃO DE EDITAL OU DE SINAL

Art. 336 - Rasgar ou, de qualquer forma, inutilizar ou conspurcar edital afixado por ordem de funcionário público; violar ou inutilizar selo ou sinal empregado, por determinação legal ou por ordem de funcionário público, para identificar ou cerrar qualquer objeto: Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.

SUBTRAÇÃO OU INUTILIZAÇÃO DE LIVRO OU DOCUMENTO

Art. 337 - Subtrair, ou inutilizar, total ou parcialmente, livro oficial, processo ou documento confiado à custódia de funcionário, em razão de ofício, ou de particular em serviço público: Pena - reclusão, de dois a cinco anos, se o fato não constitui crime mais grave.

1. Elementos objetivos: Os núcleos do tipo são os verbos subtrair e inutilizar. Subtrair é tirar, empregado como no tipo de furto do art. 155. Inutilizar é retirar a utilidade, tornar inservível ou imprestável. As condutas recaem sobre livro oficial, documento ou processo. Livro oficial é aquele utilizado nos diversos serviços da Administração Pública, no âmbito de qualquer de seus poderes, executivo, legislativo e judiciário, tanto em nível federal, estadual e municipal. Documento, público ou particular, é o papel no qual está aposta uma informação juridicamente relevante. Acerca do conceito de documento recomendo a leitura do item. Processo é a reunião de documentos representativos de atos e procedimentos, em autos, do âmbito policial, administrativo, judicial ou legislativo. O objeto material deve estar confiado à custódia de um funcionário público em razão de sua função, ou a um particular que esteja realizando um serviço público. 2. Elemento subjetivo: Comete o crime aquele que tem conhecimento de que se trata de livro oficial, documento ou processo que esteja sob a custódia de funcionário público ou de particular em serviço público e que, por vontade livre, realiza a conduta sem qualquer outra finalidade especial. É dolo genérico. 3. Consumação e tentativa:

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A subtração consuma-se no instante em que o objeto material entra na posse do agente, perdida pelo seu detentor. Exatamente como no furto. A inutilização quando a coisa tornasse inútil, imprestável ou inservível. A tentativa é possível em qualquer das formas típicas. 4. Conflito aparente de normas: Quando o agente é advogado ou procurador que inutiliza documentos ou autos de processo judicial, o fato se ajustará ao tipo do art. 356 do Código Penal. Se há destruição ou supressão de documento público ou verdadeiro, em benefício próprio ou de outrem, poderá incidir a norma do art. 305 do Código Penal. Se o agente é funcionário público e inutiliza livro oficial ou documento de que tem a guarda em razão do cargo, terá lugar a aplicação da norma do art. 314 do Código Penal.

SONEGAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA

Art. 337-A. Suprimir ou reduzir contribuição social previdenciária e qualquer acessório, mediante as seguintes condutas: I – omitir de folha de pagamento da empresa ou de documento de informações previsto pela legislação previdenciária segurados empregado, empresário, trabalhador avulso ou trabalhador autônomo ou a este equiparado que lhe prestem serviços; II – deixar de lançar mensalmente nos títulos próprios da contabilidade da empresa as quantias descontadas dos segurados ou as devidas pelo empregador ou pelo tomador de serviços; III – omitir, total ou parcialmente, receitas ou lucros auferidos, remunerações pagas ou creditadas e demais fatos geradores de contribuições sociais previdenciárias: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. § 1o É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara e confessa as contribuições, importâncias ou valores e presta as informações devidas à previdência social, na forma definida em lei ou regulamento, antes do início da ação fiscal. § 2o É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a de multa se o agente for primário e de bons antecedentes, desde que: I – (VETADO) II – o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior àquele estabelecido pela previdência social, administrativamente, como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais. § 3o Se o empregador não é pessoa jurídica e sua folha de pagamento mensal não ultrapassa R$ 1.510,00 (um mil, quinhentos e dez reais), o juiz poderá reduzir a pena de um terço até a metade ou aplicar apenas a de multa.

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§ 4o O valor a que se refere o parágrafo anterior será reajustado nas mesmas datas e nos mesmos índices do reajuste dos benefícios da previdência social.

1. Elementos objetivos: A conduta típica é suprimir ou reduzir o valor de contribuição social previdenciária ou acessório. Suprimir é eliminar, fazer desaparecer. É tornar nenhum. Reduzir é diminuir, é tornar menor. O objeto sobre o qual recai a conduta é a contribuição previdenciária e qualquer de seus acessórios. As contribuições sociais previdenciárias estão relacionadas no parágrafo único do art. 11 da Lei nº 8.212/91, assim: “Constituem contribuições sociais: a) as das empresas, incidentes sobre a remuneração paga ou creditada aos segurados a seu serviços; b) as dos empregadores domésticos; c) as dos trabalhadores, incidentes sobre o seu salário de contribuição; d) as das empresas, incidentes sobre faturamento e lucro; e) as incidentes sobre a receita de concursos de prognósticos.” A mesma lei contém normas estabelecendo a forma dos recolhimentos a serem feitos pelas pessoas a eles obrigadas. O tipo penal exige que a supressão ou redução da contribuição previdenciária devida seja realizada mediante uma das condutas dos incisos I a III que descrevem, todos, condutas omissivas, o que, entretanto, não significa que o delito seja omissivo puro. Não se trata de crime de mera conduta, mas de crime de resultado, que é a supressão ou redução efetiva do valor da contribuição devida. As descrições contidas nos referidos incisos são as únicas formas de realização do delito. Se o contribuinte conseguir suprimir ou reduzir a contribuição social por outro meio, sua conduta não se ajustará ao tipo em comento, podendo ser realizado um delito de falso. A primeira forma é deixar de registrar, na folha de pagamento da empresa ou em qualquer documento, previsto na lei, através do qual preste informações à previdência social, ocorrências que constituam fato gerador da contribuição previdenciária. É na folha de pagamento que a empresa deve fazer constar o nome dos empregados, os valores dos seus salários, os auxílios, adicionais, horas extras, bonificações, ajudas, vale-transporte, vale-refeição, 13º salário e outros. A partir desses dados é que se realiza o cálculo do valor da contribuição, de modo que a omissão de um desses dados resulta na supressão ou na redução no seu valor. Os dados referem-se não só aos empregados, mas também aos segurados empresários, trabalhadores avulsos e autônomos e também aos prestadores de serviços eventuais. A segunda forma é deixar de fazer constar, mensalmente, da contabilidade da empresa, as quantias descontadas dos segurados ou as devidas pelo empregador ou pelo tomador de serviços. Todas as operações devem ser contabilizadas, daí porque a omissão de uma delas poderá resultar em supressão ou redução da contribuição social. A última maneira de realizar o tipo é através da omissão das receitas ou lucros auferidos, remunerações pagas ou creditadas e demais fatos geradores de contribuições previdenciárias. 2. Elemento subjetivo: Em qualquer das modalidades típicas a conduta do agente deve ser dolosa. Consciente da omissão, deve agir com a finalidade especial de suprimir ou reduzir o valor da contribuição que deve recolher. Deve atuar,

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portanto, com o dolo de sonegar a contribuição previdenciária, com a vontade livre dirigida ao fim de suprimir ou reduzir o seu valor. Se o fim do agente é outro, o fato poderá se ajustar a outro crime, como os de falso em relação aos documentos nos quais o agente realiza a omissão típica. Se a omissão é culposa, derivada de erro, descuido ou desatenção, o fato será atípico, ainda que tenha havido a efetiva supressão ou redução da contribuição previdenciária. 3. Consumação e tentativa: A norma em comento, definidora da sonegação de contribuição previdenciária, traz a mesma estrutura típica do delito de sonegação fiscal, previsto no art. 1° da Lei n° 8.137/90. Sobre o tema o Supremo Tribunal Federal tem decidido, reiteradamente, que, tratando-se de crime material, enquanto não houver decisão definitiva do processo administrativo de lançamento, isto é, enquanto não se constituir definitivamente o crédito, tributário ou previdenciário, não há consumação do delito. Assim, consuma-se no momento em que o crédito previdenciário é definitivamente constituído, com a conclusão do procedimento administrativo de lançamento (HC 81.611-8-DF, rel. Min. Sepúlveda Pertence, DJ 13.5.2005).” A tentativa é possível. 4. Sujeitos do crime: Sujeito ativo do crime é o contribuinte da previdência social, a pessoa que, por lei, é o responsável pelo recolhimento de contribuição social, possível, é óbvio, a co-autoria ou participação de qualquer outro não contribuinte ou responsável legal. Sujeito passivo é o Estado, no caso, a Previdência Social. 5. Extinção da punibilidade: A extinção da punibilidade depende do concurso de todas as condições estabelecidas na norma, desaparecendo o direito estatal de punir. Para consegui-la o agente deve declarar e confessar o valor das contribuições, importâncias ou valores devidos à previdência e omitidos nos registros. E deve fazê-lo espontaneamente, sem a intervenção de qualquer fator externo, de modo livre e na forma definida em lei ou em regulamento, prestando todas as informações devidas. Não exige a norma que o agente efetue o pagamento das contribuições, importâncias ou valores. Basta a declaração e confissão. Contentou-se, assim, com a confissão da dívida, o que autoriza a imediata cobrança executiva, desaparecendo, com ela, o direito estatal de punir. O que se deve entender por ação fiscal? Procedimento administrativo de fiscalização, que se inicia com a notificação do contribuinte ou ação judicial de execução fiscal, que começa com o ajuizamento da ação executiva? Tecnicamente, ação só pode ser compreendida como processo judicial. Para se referir aos procedimentos administrativos, a expressão deveria ter sido, quando muito, processo administrativo fiscal ou procedimento fiscal. Penso que, enquanto o órgão administrativo ainda realiza atos buscando a apuração de possíveis ilícitos administrativos e mesmo depois de instaurado o procedimento, com a notificação do contribuinte, pode ele, espontaneamente e antes do ajuizamento da cobrança executiva, confessar os valores devidos, extinguindo-se, com seu gesto, a punibilidade, porque, nesse caso, o bem jurídico

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protegido – o direito da previdência à cobrança executiva – terá sido realizado pela ação espontânea do agente. Proposta a ação executiva, entretanto, não será mais possível extinguir-se a punibilidade, porque, tendo a lei oferecido essa possibilidade para o agente, ele, tendo sido acionado administrativamente, preferiu ou não pôde, por qualquer razão, obter o benefício. Ajuizada a ação executiva, não poderá mais fazê-lo, a não ser para merecer tão somente a diminuição da pena referida pelo art. 16 do Código Penal. A extinção da punibilidade poderá, ademais, ser decretada mesmo após o recebimento da denúncia, mas desde que antes do início da ação fiscal. É que é possível que o Ministério Público tenha oferecido a ação penal sem que o órgão da administração tivesse dado início à ação de cobrança. Ainda que a norma em comento não preveja, é de ver que o pagamento dos valores devidos, antes do recebimento da denúncia, é causa de extinção da punibilidade, por força do uso da analogia in bonam partem, incidindo a norma contida no art. 34 da Lei nº 9.249/95: “Extingue-se a punibilidade dos crimes definidos na Lei nº 8.137, de 27 de dezembro de 1990, e na Lei nº 4.729, de 14 de julho de 1965, quando o agente promover o pagamento do tributo ou contribuição social, inclusive acessórios, antes do recebimento da denúncia.” Muito embora este preceito, da lei especial, refira-se exclusivamente aos crimes definidos na Lei nº 8.137/90 e na Lei nº 4.729/65, esta já revogada, é induvidoso que, por força do princípio constitucional da isonomia, deve alcançar todo e qualquer crime que importe em agressão ao direito estatal de receber tributos e contribuições sociais. 6. Perdão judicial: O § 2º do art. 337-A contém norma prevendo a possibilidade do juiz conceder o perdão judicial, consistente na faculdade de deixar de aplicar a pena privativa de liberdade e, ainda, facultando-lhe aplicar somente a pena de multa. Qualquer dos dois benefícios somente será aplicado se o agente for primário e de bons antecedentes. Além dos requisitos subjetivos é preciso que “o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior àquele estabelecido pela previdência social, administrativamente, como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais”. São direitos subjetivos do acusado que realizar os seus pressupostos e não mera faculdade do juiz. 7. Causa especial de diminuição de pena: Quando o empregador não é pessoa jurídica, e a folha de pagamento não ultrapassar o montante de R$ 1.510,00 (um mil e quinhentos e dez reais), o juiz poderá reduzir a pena de um terço até metade, ou aplicar somente a pena de multa. Este valor será reajustado nas mesmas datas e nos mesmos índices do reajuste dos benefícios da previdência social. Essas normas estão contidas nos §§ 3º e 4º do art. 337-A.

CAPÍTULO II-A - DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ESTRANGEIRA

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CORRUPÇÃO ATIVA EM TRANSAÇÃO COMERCIAL INTERNACIONAL

Art. 337-B. Prometer, oferecer ou dar, direta ou indiretamente, vantagem indevida a funcionário público estrangeiro, ou a terceira pessoa, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício relacionado à transação comercial internacional: (Incluído pela Lei nº 10467, de 11.6.2002) Pena – reclusão, de 1 (um) a 8 (oito) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 10467, de 11.6.2002) Parágrafo único. A pena é aumentada de 1/3 (um terço), se, em razão da vantagem ou promessa, o funcionário público estrangeiro retarda ou omite o ato de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional. (Incluído pela Lei nº 10467, de 11.6.2002)

TRÁFICO DE INFLUÊNCIA EM TRANSAÇÃO COMERCIAL INTERNACIONAL (INCLUÍDO PELA LEI Nº 10467, DE 11.6.2002)

Art. 337-C. Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, vantagem ou promessa de vantagem a pretexto de influir em ato praticado por funcionário público estrangeiro no exercício de suas funções, relacionado a transação comercial internacional: (Incluído pela Lei nº 10467, de 11.6.2002) Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. (Incluído pela Lei nº 10467, de 11.6.2002) Parágrafo único. A pena é aumentada da metade, se o agente alega ou insinua que a vantagem é também destinada a funcionário estrangeiro. (Incluído pela Lei nº 10467, de 11.6.2002)

FUNCIONÁRIO PÚBLICO ESTRANGEIRO (INCLUÍDO PELA LEI Nº 10467, DE 11.6.2002)

Art. 337-D. Considera-se funcionário público estrangeiro, para os efeitos penais, quem, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública em entidades estatais ou em representações diplomáticas de país estrangeiro. (Incluído pela Lei nº 10467, de 11.6.2002) Parágrafo único. Equipara-se a funcionário público estrangeiro quem exerce cargo, emprego ou função em empresas controladas, diretamente ou indiretamente, pelo Poder Público de país estrangeiro ou em organizações públicas internacionais. (Incluído pela Lei nº 10467, de 11.6.2002)

CAPÍTULO III - DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA

REINGRESSO DE ESTRANGEIRO EXPULSO

Art. 338 - Reingressar no território nacional o estrangeiro que dele foi expulso: Pena - reclusão, de um a quatro anos, sem prejuízo de nova expulsão após o cumprimento da pena.

Comentários: Reingressar significa ingressar novamente no território nacional. É entrar no país, depois de ter sido expulso, na conformidade das normas legais pertinentes, contidas nos arts. 65 a 75 da Lei nº 6.815/80.

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Indispensável, portanto, que o estrangeiro tenha, antes, ingressado no Brasil e sido submetido a uma decisão que, nos termos do Estatuto dos Estrangeiros, o expulsou do país. Necessário que, em virtude da expulsão, ela tenha sido executada, isto é, o estrangeiro tenha saído do país. A conduta típica é, portanto, ingressar no país outra vez, depois de ter sido dele expulso e saído. O crime é doloso. O estrangeiro deve ter plena consciência de que fora expulso regularmente do país, que sua saída se deu em virtude da expulsão, e agir com vontade livre e consciente de que nele reingressa, sem nenhuma outra finalidade especial. Consuma-se no instante em que o estrangeiro entra no território nacional pelo espaço terrestre, aéreo ou marítimo. Não se aplica a norma de extensão de que trata o art. 5º, § 1º, do Código Penal. A tentativa é possível. A ação penal é de iniciativa pública incondicionada, permitida a suspensão condicional do processo penal. Aplicada e executada a pena imposta, o estrangeiro poderá ser novamente expulso.

DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA

Art. 339. Dar causa à instauração de investigação policial, de processo judicial, instauração de investigação administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade administrativa contra alguém, imputando-lhe crime de que o sabe inocente: (Redação dada pela Lei nº 10.028, de 2000) Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa. § 1º - A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se serve de anonimato ou de nome suposto. § 2º - A pena é diminuída de metade, se a imputação é de prática de contravenção.

1. Elementos objetivos: A conduta típica é dar causa a instauração de uma investigação ou um processo contra uma pessoa. É fazer com que seja instaurada, inaugurada, começada a investigação ou iniciado o processo. Para incorrer no tipo o agente imputa a alguém a prática de um crime do qual sabe ser inocente o imputado. Isto é, dá notícia, à autoridade pública responsável pela instauração da investigação ou do processo, de que alguém é autor ou partícipe de um determinado crime. Pode ser através de informação escrita ou oral, pessoalmente ou por telefone, fax, Internet, desde que, em razão dela, a autoridade promova a instauração da investigação ou do procedimento ou processo. A norma alcança toda e qualquer investigação policial, os processos judiciais pela prática de qualquer delito, as investigações administrativas, os inquéritos civis e também as ações de improbidade administrativa, com base na Lei nº 8.429/92, a cargo do Ministério Público. A investigação ou o processo deve ser instaurado em razão da imputação feita pelo agente que é, portanto, o motivo do início do procedimento. A imputação deve ser de um crime determinado – um fato típico de crime previsto em qualquer norma penal – e a uma determinada pessoa, que será identificada pelo agente ou cuja identificação possa ser feita de modo indireto pela autoridade pública.

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Se a pretensão punitiva em relação ao crime imputado já estiver extinta por qualquer causa ou se o fato for, à evidência, justificado por uma excludente de ilicitude ou ainda impunível pela presença de uma escusa absolutória, a imputação será atípica pela impossibilidade da instauração da investigação policial ou do processo penal. A imputação deve ser falsa, isto é, a pessoa a quem é feita não é autora ou partícipe do crime, ou este simplesmente não aconteceu. Não há crime da testemunha ou do acusado que, em depoimento ou interrogatório, faz a imputação porque, nesses casos, a investigação ou o processo ou procedimento já terá sido, previamente, instaurado. 2. Elementos subjetivos: O crime é doloso e o tipo contém um outro elemento subjetivo. É indispensável que o agente tenha consciência de que a pessoa é inocente da prática do crime que lhe imputa, e dê, ainda assim, causa à instauração da investigação ou do processo com vontade livre, sem nenhum outro fim especial, senão o de vê-lo instaurado. Se ele não sabe da inocência da pessoa a quem atribui a prática de crime, o fato será atípico, por erro de tipo. O requerimento para a instauração de investigação com vistas na apuração de crime em que se busque apenas a apuração da verdade não constitui, à evidência, fato típico, porquanto nesse caso o fim não é o de imputar fato típico falso a alguém, mas contribuir para a apuração da verdade. 3. Consumação e tentativa: O crime somente se consuma no instante em que a investigação ou o processo é instaurado. Não é necessária a instauração formal de inquérito policial, bastando que a autoridade policial determine o início da investigação através de diligências realizadas por seus agentes. A tentativa é possível quando, por circunstâncias alheias à vontade do agente, não há a instauração da investigação ou do processo. 4. Causa de aumento de pena:

§ 1º - A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se serve de anonimato ou de nome suposto.

Se o agente, para realizar a conduta, vale-se do anonimato ou utiliza nome falso, procurando, com isso, ocultar sua identidade, a pena será aumentada de um sexto. 5. Diminuição de pena:

§ 2º - A pena é diminuída de metade, se a imputação é de prática de contravenção.

Se o fato falsamente atribuído pelo agente é definido como contravenção penal, e não crime, a pena será diminuída de metade. 6. Conflito aparente de normas:

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Quando o agente imputa a alguém, falsamente, a prática de crime sem a finalidade de dar causa à instauração de investigação ou processo, o crime será o de calúnia, do art. 138 do Código Penal, desde que presentes todos os elementos deste, inclusive os subjetivos. Se o agente apenas comunica à autoridade a notícia falsa da ocorrência de um crime ou contravenção, sabendo que não ocorreu, o fato se ajustará ao tipo do art. 340, adiante comentado. A diferença é que, na denunciação caluniosa, o agente imputa o fato falso a alguém, ao passo que na comunicação falsa de crime não há imputação a uma pessoa determinada

COMUNICAÇÃO FALSA DE CRIME OU DE CONTRAVENÇÃO

Art. 340 - Provocar a ação de autoridade, comunicando-lhe a ocorrência de crime ou de contravenção que sabe não se ter verificado: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

1. Elementos objetivos: O núcleo do tipo é o verbo provocar, empregado no sentido de dar causa, ocasionar, fazer atuar. Significa acionar a autoridade pública – policial, administrativa ou judicial – no sentido de atuar em face da comunicação da ocorrência de crime ou contravenção. Realiza-se por meio escrito, oral ou qualquer outra forma de comunicação, permanecendo o agente no anonimato ou assumindo a responsabilidade pela informação. Para a realização do tipo é indispensável que a autoridade, em razão da comunicação feita pelo agente, realize pelo menos uma ação no sentido de investigar, diligenciando em busca da produção de provas da autoria ou materialidade do crime ou contravenção, não exigindo o tipo a instauração de inquérito policial. Basta que a autoridade promova qualquer atividade própria em decorrência da conduta do agente. A comunicação deve ser falsa de um crime ou contravenção, ou seja, de um fato típico que não aconteceu. Um crime ou contravenção inexistente. Quando o agente comunica a existência de fato verdadeiro, o fato é atípico, e se, ao fazê-lo, apontar pessoa que não o cometeu como seu responsável, o delito será de denunciação caluniosa. 2. Elemento subjetivo: O crime é doloso. O agente deve estar consciente de que faz comunicação à autoridade pública de fato que não aconteceu. Quando ele imagina que realmente houve o fato ou mesmo quando tem dúvidas sobre sua ocorrência a conduta será atípica, por erro de tipo excludente do dolo. O dolo nesse tipo é o de simplesmente provocar a ação de autoridade pública comunicando fato inexistente. 3. Consumação e tentativa: A consumação acontece no momento em que a autoridade realiza o primeiro ato provocado pela comunicação feita pelo agente, possível, portanto, a tentativa, quando, por circunstâncias alheias à vontade do agente, a autoridade não age.

AUTO-ACUSAÇÃO FALSA

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Art. 341 - Acusar-se, perante a autoridade, de crime inexistente ou praticado por outrem: Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou multa.

Comentários: O núcleo do tipo é a forma verbal acusar-se, que significa atribuir a si mesmo a autoria ou participação em crime. É apresentar-se como seu autor por meio escrito, verbal ou qualquer forma de comunicação. Deve o agente acusar-se perante uma autoridade pública do poder judiciário, administrativa ou à autoridade policial. A auto-acusação é falsa porque o agente para o crime não concorreu ou porque simplesmente não existiu o fato. No primeiro caso houve o crime, mas seus concorrentes são outros; no segundo é uma ficção, existe apenas na imaginação do agente. É crime doloso. O agente deve estar consciente da inexistência do crime, ou de que para ele não concorreu, nem como autor nem como partícipe, e apresentar-se como seu responsável com vontade livre e consciente, sem outra finalidade especial. Se o agente age sob coação moral irresistível – ameaçado por outrem, o próprio autor do delito ou terceiro – terá sua culpabilidade excluída nos termos do que dispõe o art. 22 do Código Penal. A consumação acontece no instante em que a autoridade pública toma conhecimento da auto-acusação, independentemente de qualquer atitude sua no sentido de fazer instaurar inquérito policial ou promover qualquer outra diligência. A tentativa é possível quando o agente não consegue fazer chegar ao conhecimento da autoridade a auto-acusação, por circunstâncias alheias à sua vontade. A ação penal é de iniciativa pública incondicionada, competente o juizado especial criminal, possível a suspensão condicional do processo penal.

FALSO TESTEMUNHO OU FALSA PERÍCIA

Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral: (Redação dada pela Lei nº 10.268, de 28.8.2001) Pena - reclusão, de um a três anos, e multa. § 1o As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é praticado mediante suborno ou se cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal, ou em processo civil em que for parte entidade da administração pública direta ou indireta.(Redação dada pela Lei nº 10.268, de 28.8.2001) § 2o O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade.(Redação dada pela Lei nº 10.268, de 28.8.2001)

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1. Considerações iniciais: A proteção da norma recai sobre a administração da justiça, o interesse estatal na preservação da verdade sobre os fatos levados à apreciação das autoridades incumbidas da direção dos processos judiciais, administrativos, do inquérito policial e do juízo arbitral. Busca proteger a seriedade na produção das provas. 2. Elementos objetivos: São três as condutas incriminadas. A primeira é fazer afirmação falsa. O agente realiza uma conduta positiva fazendo uma declaração diversa ou contrária à que corresponde ao seu conhecimento acerca dos fatos. É a falsidade positiva. É a afirmação de uma mentira. A segunda é negar a verdade, é dizer que não é verdade aquilo que é, declarando o agente que não conhece o fato do qual teve percepção. É a falsidade negativa. É a negação da verdade. A última é calar a verdade. É omitir, deixar de dizer a verdade, ocultá-la. Esconder o que sabe. Recusar-se a contar o que está na esfera de seu conhecimento. É a reticência. O silêncio acerca da verdade, sua ocultação. As três condutas são equiparadas e a falsidade constitui, sempre, a não correspondência entre a manifestação do agente e seu conhecimento, o que viu, percebeu ou ouviu. Prevalece, assim, a teoria subjetiva, segundo a qual a falsidade está no antagonismo entre o que a testemunha sabe e seu relato, e não entre este e a verdade. Testemunha é a pessoa chamada a depor em processo judicial, administrativo ou inquérito policial. O art. 202 do Código de Processo Penal dispõe que toda pessoa poderá ser testemunha, a qual prestará o compromisso legal de “dizer a verdade do que souber e lhe for perguntado (...) e relatar o que souber, explicando sempre as razões de sua ciência ou as circunstâncias pelas quais possa avaliar-se de sua credibilidade” (art. 203, CPP). O ascendente ou descendente, o afim em linha reta, o cônjuge, ainda que desquitado, o irmão e o pai, a mãe ou o filho adotivo do acusado poderão recusar-se a depor (art. 206, CPP), todavia, se aceitarem prestar seu depoimento, abrindo mão do direito de recusa, estarão obrigados a dizer a verdade, cometendo o delito, se faltarem com ela. Já as pessoas que, em razão de função, ministério, ofício ou profissão, devam guardar segredo, a não ser quando, desobrigadas pela parte interessada, quiserem dar seu testemunho, poderão cometer o delito de violação de segredo profissional, definido no art. 154 do Código Penal. Se, desobrigadas pela parte interessada, aceitarem prestar depoimento, estarão obrigadas a dizer a verdade. Doutrina e jurisprudência divergem acerca da necessidade, para o reconhecimento da tipicidade do falso testemunho, de que a testemunha tenha prestado o compromisso legal de dizer a verdade. Uma corrente entende que o compromisso legal é elementar do tipo, outra considera que o informante – a testemunha não compromissada – também pode cometer o delito em comento. Obs.: Julgando o HC nº 66.511-0, em 16-2-90, o Supremo Tribunal Federal decidiu que “o Código Penal não exclui da prática do crime de falso testemunho a pessoa que, embora impedida, venha a falsear em

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depoimento que preste, negando, afirmando ou calando a verdade. Tampouco o dever de dizer a verdade foi condicionado pelo legislador à prestação de compromisso”. Também o Superior Tribunal de Justiça decidiu no mesmo sentido, recentemente, ao decidir o Habeas Corpus nº 20.9242. Assim, pela compreensão dada pelos Tribunais Superiores, o tipo em comento não exige, como elementar, a prévia tomada do compromisso legal da pessoa que presta seu depoimento. Todavia, também como entendem os Tribunais Superiores, a testemunha não estará obrigada e, portanto, não cometerá o crime de falso testemunho, quando se recusar a depor sobre fatos que possam incriminá-la, porque neste caso estaria produzindo prova contra si:“Nos termos de recente precedente do STF, o crime de falso testemunho não se configura quando com a declaração da verdade o depoente assume o risco de ser incriminado (HC nº 73.035/DF, in DJ de 19.12.96, p. 51.766)” Perito é o técnico designado pela autoridade dirigente do processo ou do inquérito para emitir parecer acerca de uma questão relativa a sua aptidão ou seus conhecimentos, produzindo uma prova acerca de um fato juridicamente relevante. Contador é o expert em assuntos contábeis, muitas vezes também chamado a prestar sua contribuição para a apuração da verdade no inquérito ou em processo judicial ou administrativo. Tradutor é a pessoa encarregada de verter, para o idioma nacional, texto de língua estrangeira. Intérprete é aquele que, com seus conhecimentos, permitirá a comunicação entre pessoas que falam idiomas diversos. Ao atuarem, também essas pessoas estão obrigadas a afirmar a verdade, realizando, quando não o fazem, o tipo denominado falsa perícia. O falso testemunho ou a falsa perícia será realizado no âmbito de processo judicial ou administrativo, de inquérito policial ou de juízo arbitral. Alcança a norma, portanto, todo e qualquer processo, de natureza penal, civil, trabalhista, eleitoral e também o processo administrativo, cujo fim é a apuração de violações de normas administrativas ou disciplinares, instaurados no âmbito de qualquer dos poderes na esfera municipal, estadual ou federal. Além do inquérito policial, o crime será cometido também perante comissão parlamentar de inquérito, por força do que dispõe o art. 4º, II, da Lei nº1.579/52: “constitui crime: (...) II – fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade como testemunha, perito, tradutor ou intérprete, perante a Comissão Parlamentar de Inquérito”. Juízo arbitral é o procedimento estabelecido pela Lei nº 9.307, de 23 de setembro de 1996, do qual as pessoas capazes de contratar poderão valer-se para dirimir litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis. É necessário que o fato sobre o qual é prestado o testemunho ou realizada a perícia seja juridicamente relevante, tendo, pelo menos, potencialidade para causar um prejuízo para o interesse da justiça na apuração da verdade. 3. Elemento subjetivo: O falso testemunho e a falsa perícia são crimes dolosos. É indispensável que o agente esteja consciente da falsidade da afirmação que faz ou da verdade que nega ou cala e atuar com vontade livre de cometer a falsidade. Necessário, portanto, que ele tenha perfeita consciência de que falta com a verdade. Não é suficiente que o depoimento ou a perícia seja desconforme com a verdade, pois prevalece a teoria subjetiva, devendo a desconformidade ser entre a afirmação do agente e seu conhecimento pessoal, aquilo que apreendeu da realidade.

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Se o agente percebeu erroneamente a realidade e, por isso, afirmou uma inverdade, não terá cometido crime algum, por não ter consciência real dos fatos verdadeiros. Se o agente presenciou os fatos, mas, por exemplo, confundiu-se sobre a identidade de um de seus concorrentes, afirmando a participação inexistente do sósia de um deles, não cometerá falso testemunho, por inexistência de dolo. O tipo não exige nenhum outro elemento subjetivo, senão a vontade livre e consciente de fazer afirmação falsa, negar ou calar a verdade. 4. Consumação e tentativa: O falso testemunho consuma-se no instante em que é encerrado o depoimento do agente, uma vez que, enquanto está sendo prestado, poderá a testemunha desdizer-se afirmando a verdade. Assim, só há consumação com o encerramento de seu depoimento, quando não mais poderá voltar atrás. A tentativa é, tecnicamente, possível se, por qualquer razão, o depoimento não é encerrado. A falsa perícia é consumada no momento em que o laudo do perito, contendo seu parecer, a tradução ou a manifestação do contador, é entregue à autoridade dirigente do processo ou do procedimento. Tratando-se de intérprete, no instante em que verte falsamente a afirmação de um dos interlocutores. A tentativa é, também, possível tecnicamente, quando o laudo falso é interceptado ou não chega, por qualquer razão alheia à vontade do agente, ao conhecimento da autoridade dirigente do feito em que é produzido. 5. Sujeitos do crime: Sujeito ativo é a testemunha, o perito, o contador, o tradutor e o intérprete. Sujeito passivo é o Estado. Será sujeito passivo também, secundariamente, a pessoa que vier a ser prejudicada. 6. Concurso de pessoas e conflito aparente de normas: O falso testemunho e a falsa perícia são crimes de mão própria. Só podem ser realizados pela testemunha, perito, tradutor, contador e intérprete. Não se admite, por isso, a co-autoria no falso testemunho. Se duas testemunhas no mesmo processo combinam prestarem ambas depoimentos falsos, cada uma estará cometendo um delito autônomo. Serão dois crimes, cada qual praticado por uma, sem nenhuma concorrência delituosa. Sendo, entretanto, dois os peritos ou tradutores, elaborando um mesmo laudo ou parecer, haverá co-autoria se ambos estão conscientes de que faltam com a verdade acerca dos fatos. Aquele que dá, oferece ou promete dinheiro ou qualquer vantagem à testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete, para que este faça afirmação falsa, negue ou cale a verdade, cometerá o delito do art. 343 do Código Penal, adiante comentado, não sendo coautor ou partícipe do falso testemunho ou falsa perícia. E se terceira pessoa apenas induz, ou instiga, ou presta qualquer auxílio para que o agente pratique o falso testemunho ou falsa perícia, não oferecendo, prometendo ou dando qualquer vantagem? Será partícipe, com certeza, do delito em comento.

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Assim, o advogado que orienta a testemunha a faltar com a verdade, mentindo, negando ou calando-a, será partícipe do crime. Nesse sentido é a recente decisão do Superior Tribunal de Justiça: “Os crimes de mão própria não admitem a autoria mediata. A participação, via induzimento ou instigação, no entanto, é, ressalvadas exceções, plenamente admissível. A comparação entre os conteúdos dos injustos previstos nos arts. 342 e 343 do Código Penal não conduz à lacuna intencional quanto à participação no delito de falso testemunho. O delito de suborno (art. 343 do Código Penal) tem momento consumativo diverso, anterior, quando, então, a eventual instigação, sem maiores conseqüências, se mostra, aí, inócua e penalmente destituída de relevante desvalor de ação. Cometido o falso testemunho (art. 342 do Código Penal), a participação se coloca no mesmo patamar das condutas de consumação antecipada (art. 343 do Código Penal), merecendo, também, a censura criminal (art. 29, caput, do CP)” 7. Causa de aumento de pena:

§ 1o As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é praticado mediante suborno ou se cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal, ou em processo civil em que for parte entidade da administração pública direta ou indireta.(Redação dada pela Lei nº 10.268, de 28.8.2001)

Quando o agente realiza a conduta típica “mediante suborno”, isto é, tendo recebido dinheiro, ou qualquer vantagem, ou sua promessa, a pena será aumentada de um sexto a um terço. Igual aumento haverá quando o crime é cometido “com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal, ou em processo civil em que for parte entidade da administração pública direta ou indireta”. Alcança, portanto, o falso testemunho e a falsa perícia produzidos em processo penal ou no civil em que for parte um ente público. Se o agente é funcionário público titular de cargo de perito, contador, tradutor ou intérprete e, em razão da função, recebe ou aceita promessa de vantagem para elaborar laudo falso, cometerá apenas o crime de corrupção passiva, respondendo por corrupção ativa (art. 333, CP) aquele que lhe entregar a vantagem ou prometê-la. 8. Retratação:

§ 2o O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade.(Redação dada pela Lei nº 10.268, de 28.8.2001)

A retratação é a afirmação da verdade que tenha sido falseada, arrependendo-se eficazmente o agente depois de prestado o falso testemunho ou realizada a falsa perícia. Deve ser voluntária, não precisando ser espontânea, mas deve ser plena e cabal, isto é, completa e capaz de expungir toda e qualquer dúvida sobre os fatos anteriormente objeto do depoimento ou perícia. Além disso, deve ser levada aos autos do processo ou do procedimento no qual o crime fora praticado. Ou seja, deve o agente prestar novo depoimento no qual declara a verdade ou se retrata, ou elaborar nova perícia ou novo parecer contendo a retratação. Deve ser feita antes da sentença proferida no processo no qual foi cometido o delito e não no processo instaurado contra o agente pela prática do delito do art. 342. Sentença é a decisão do juiz que põe fim ao

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processo. A norma refere-se, portanto, à sentença de primeiro grau, a qual, nos processos de competência do tribunal do júri, é aquela proferida pelo juiz presidente e não a decisão de pronúncia. A retratação do agente extingue a punibilidade nos termos do que dispõe o art. 107, VI, do Código Penal, comunicando-se ao partícipe que o induziu ou instigou, mas não ao agente do crime do art. 343. 9. Ação penal: A ação penal é de iniciativa pública incondicionada, possível a suspensão condicional do processo penal apenas no fato praticado sem incidência de uma das causas de aumento de pena previstas no § 1º do art. 342. O julgamento da ação penal deverá ser proferido somente após o julgamento do processo no qual foi realizado o falso testemunho ou a falsa perícia, a fim de que não haja decisões conflitantes, pois o depoimento ou a perícia pode, no processo onde foi realizado, ser tido como verdadeiro

CORRUPÇÃO ATIVA DE TESTEMUNHA, PERITO, CONTADOR, TRADUTOR OU INTÉRPRETE

Art. 343. Dar, oferecer ou prometer dinheiro ou qualquer outra vantagem a testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete, para fazer afirmação falsa, negar ou calar a verdade em depoimento, perícia, cálculos, tradução ou interpretação: (Redação dada pela Lei nº 10.268, de 28.8.2001) Pena - reclusão, de três a quatro anos, e multa.(Redação dada pela Lei nº 10.268, de 28.8.2001) Parágrafo único. As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal ou em processo civil em que for parte entidade da administração pública direta ou indireta. (Redação dada pela Lei nº 10.268, de 28.8.2001)

1. Considerações inicias: Sem rubrica contendo o nomen iuris, o art. 343 do Código Penal é conhecido doutrinariamente como crime de corrupção ativa de testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete, cujo bem jurídico protegido é a administração da justiça, o interesse estatal na verdade dos depoimentos, perícias, cálculos, traduções e interpretações realizadas pelos que intervêm nos processos e procedimentos. 2. Elementos objetivos: As condutas são: dar, oferecer ou prometer dinheiro ou vantagem. Dar é entregar, oferecer é colocar à disposição, prometer é assumir a obrigação de dar. Realizam-se por qualquer meio, verbal, escrito ou qualquer outra forma de comunicação. O tipo refere-se a dinheiro, moeda metálica ou papel-moeda de curso legal no país ou no exterior ou qualquer outra vantagem, moral ou patrimonial. O dinheiro ou vantagem é dado, oferecido ou prometido a qualquer das pessoas que podem ser sujeitos ativos dos delitos de falso testemunho ou falsa perícia, objeto dos comentários feitos no Capítulo 124, a fim de que, no processo, judicial ou administrativo, inquérito policial ou juízo arbitral profira afirmação falsa, negue ou cale a verdade sobre fato juridicamente relevante.

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3. Elementos subjetivos: O crime é doloso. O agente deve estar consciente da condição de testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete da pessoa a quem dá, oferece ou promete o dinheiro ou a vantagem agindo por livre vontade e com o fim especial de determinar a prática de falso testemunho ou falsa perícia. É um delito que guarda semelhança com o crime de corrupção ativa, definido no art. 333 do Código Penal, tendo como elementos diversos o sujeito passivo, que deve ser uma das pessoas mencionadas no tipo, não necessariamente funcionário público, e o elemento subjetivo, que é o fim do cometimento do delito de falso testemunho ou falsa perícia. 4. Consumação e tentativa: A consumação acontece no instante em que o agente entrega, oferece ou faz a promessa do dinheiro ou da vantagem, não sendo necessário que seja realizado o falso testemunho ou a falsa perícia que, aliás, nem precisa ocorrer. Independe, ainda, da aceitação da promessa. A tentativa será possível quando a oferta ou promessa é feita por meio de comunicação não verbal, que não chega, por circunstâncias alheias à vontade do agente, ao conhecimento da testemunha, do perito, do contador, tradutor ou intérprete. 5. Causa de aumento de pena:

Parágrafo único. As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é cometido com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em processo penal ou em processo civil em que for parte entidade da administração pública direta ou indireta. (Redação dada pela Lei nº 10.268, de 28.8.2001)

Incidirá o aumento de um sexto a um terço da pena, determinado pelo parágrafo único do art. 343, quando o crime tiver sido cometido com a finalidade de obtenção de prova destinada a produzir efeito em processo penal, nele incluída a fase procedimental do inquérito policial e também quando, no processo civil, entidade da administração pública, direta ou indireta, integrar a relação processual como parte. 6. Concurso de pessoas e conflito aparente de normas: Concurso de pessoas e conflito aparente de normas Possível a co-autoria e a participação, por instigação, induzimento ou qualquer forma de colaboração. Quando a vantagem ou o dinheiro é dado, oferecido ou prometido a perito, contador, tradutor ou intérprete que seja funcionário público e em razão de suas funções, o fato se ajustaria ao tipo do art. 333 do Código Penal, como entende a doutrina tradicional, por aplicação do princípio da especialidade. Conquanto a pena cominada ao delito do art. 343 – majorada pela redação determinada pela Lei nº 10.268/01 – seja de reclusão de três a quatro anos e a pena para a corrupção ativa seja de reclusão, de um a oito anos, verifica-se a desarmonia do sistema, pois o tipo especial tem pena mínima três vezes superior à pena mínima do crime praticado em relação a qualquer funcionário público, ao passo que a pena máxima é exatamente igual à metade do grau máximo previsto para o crime do art. 333. Assim, se o agente corrompe testemunha, a pena será de reclusão de três a quatro anos, e se corrompe o funcionário público que exerce o cargo de perito oficial, por exemplo, a reclusão será de um a oito anos. A

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pena deste, por ser funcionário público que se deixa corromper, deveria ser mais severa que a cominada à testemunha, no entanto, com as modificações legislativas feitas, tal não ocorrerá.

COAÇÃO NO CURSO DO PROCESSO

Art. 344 - Usar de violência ou grave ameaça, com o fim de favorecer interesse próprio ou alheio, contra autoridade, parte, ou qualquer outra pessoa que funciona ou é chamada a intervir em processo judicial, policial ou administrativo, ou em juízo arbitral: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa, além da pena correspondente à violência.

1. Comentários: O bem jurídico protegido é a administração da justiça, o interesse estatal na atuação livre de toda pessoa que funciona ou intervém nos processos judiciais, administrativos, nos inquéritos policiais e no juízo arbitral. Sujeito ativo é qualquer pessoa que realizar a conduta incriminada. Sujeito passivo é o Estado e também a pessoa coagida, bem assim a que sofrer prejuízo decorrente do comportamento do coagido. A conduta típica consiste no emprego, pelo agente, de violência ou grave ameaça, no sentido de coagir a vítima. Por violência deve-se entender a força física contra a integridade corporal da pessoa. A ameaça há de ser grave, podendo ser lícita ou ilícita, uma vez que o tipo não a restringiu, exigindo tão-somente sua gravidade, de tal modo que só pode ser reconhecido o tipo quando o mal prometido for de monta importante. A violência ou a grave ameaça deve ser empregada contra autoridade que tem atuação no curso de processo, judicial ou administrativo, no inquérito policial, ou no juízo arbitral, cujos significados foram expostos no Capítulo 124, quando se abordou o delito de falso testemunho e falsa perícia. Autoridade é o juiz, o desembargador, o ministro, o promotor e o procurador, o delegado de polícia e o funcionário público encarregado da direção do processo administrativo etc. Também podem ser sujeitos da coação a parte – o autor, o réu, o assistente, o opoente etc. – e qualquer outra pessoa que intervenha ou seja chamada a participar de um daqueles processos ou procedimentos, como o intérprete, o contador, o tradutor, o jurado, o perito, o assistente técnico, o escrevente ou o serventuário da justiça. O crime é doloso. O agente atua conscientemente, sabendo, portanto, que se trata de pessoa que funciona ou é chamada a intervir no processo ou procedimento, realizando a conduta com vontade livre e, exige o tipo, com o fim especial de “favorecer interesse próprio ou alheio”, ou seja, com a finalidade de obter um ganho, de qualquer natureza, moral ou econômica, para si ou para quem quer que seja. Consuma-se o crime no instante em que é empregada a violência ou no momento em que a grave ameaça é proferida ou comunicada à pessoa contra a qual se dirige, não exigindo o tipo que esta se intimide, nem tampouco que realize o comportamento exigido pelo agente. Não é, também, necessário que este obtenha o proveito para si ou para outrem. A tentativa é possível.

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O agente responderá, em concurso material, pelas lesões corporais praticadas, leves, graves ou gravíssimas ou por homicídio, tentado ou consumado, decorrentes da violência empregada. Mas a grave ameaça e as vias de fato, se forem o meio de execução do delito, por este serão absorvidas.

EXERCÍCIO ARBITRÁRIO DAS PRÓPRIAS RAZÕES

Art. 345 - Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quando a lei o permite: Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa, além da pena correspondente à violência. Parágrafo único - Se não há emprego de violência, somente se procede mediante queixa.

1. Elementos objetivos: A locução verbal contida no tipo é fazer justiça, que significa satisfazer a uma pretensão resistida por uma pessoa, pelas próprias mãos e não através do acionamento da atuação do poder judiciário. De conseqüência, o tipo exige que o agente tenha uma pretensão, uma postulação, a respeito de um seu direito, de qualquer natureza, real, pessoal, de família etc. Portanto, a existência de uma lide, de um conflito de interesses entre o agente e outra pessoa, de modo que aquele, em vez de buscar a prestação jurisdicional, resolve, por si mesmo, buscar a satisfação de seu interesse, pelas próprias mãos, ainda que, para tanto, conte com o auxílio de outra pessoa, ou seja, de mãos alheias, havendo, nesse caso, coautoria ou participação do terceiro. A conduta pode ser realizada por qualquer meio, com o emprego de violência, de fraude, de grave ameaça, de destruição ou subtração, enfim, de qualquer ação que corresponda à satisfação da pretensão do agente e também por omissão. A pretensão do agente pode ser legítima, quando ele tem, efetivamente, direito ao reconhecimento do interesse perante o Poder Judiciário, e também ilegítima, quando ele supõe, por erro, sua legitimidade. Todavia é essencial que ela seja juridicamente possível, isto é, que possa ser satisfeita por meio da intervenção jurisdicional, que o agente não provoca. Não é possível, por isso, reconhecer a existência do crime quando a pretensão do agente é daquelas que, ainda quando ele a suponha legítima, não podem ser objeto de decisão judicial, como por exemplo a do agente que obriga sua mulher à conjunção carnal, por entender que lhe é lícito exigi-la. Comete estupro e não exercício arbitrário das próprias razões, porque sua pretensão não é passível de ser satisfeita por intervenção do Poder Judiciário. A pretensão pode ser própria ou de terceira pessoa, em cujo nome o agente atua. O tipo contém o elemento normativo: salvo quando a lei o permite, excludente da ilicitude já no próprio âmbito da tipicidade. Assim, aquele que defende a posse de esbulho ou turbação, por estar no exercício regular de direito, não pratica crime algum, desde que os atos de desforço sejam apenas os necessários para manter-se ou restituir-se na posse, conforme preceitua a lei civil, no § 1º do art. 1.210 do Código Civil: “o possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça logo; os

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atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção ou restituição da posse”. Quando a conduta do agente consistir na subtração, destruição ou danificação de coisa de sua propriedade que esteja na posse de terceira pessoa em virtude de determinação judicial ou de contrato, o fato se ajustará ao tipo do art. 346, adiante comentado. 2. Elemento subjetivo: É crime doloso. O agente deve estar consciente da conduta e agir com livre vontade de realizar o tipo. Exige a norma a presença do elemento subjetivo, contido na fórmula para satisfazer pretensão, embora legítima. Deve o agente estar consciente da legitimidade de sua pretensão, ainda quando ela não o seja, mas ele a supõe, e agir com o fim de sua satisfação. Se o agente sabe que sua pretensão é ilegítima, cometerá outro delito, como o furto, o dano, as lesões corporais, a apropriação indébita, ameaça, violação de domicílio etc. 3. Consumação e tentativa: A consumação acontece no instante em que o agente realiza a conduta que visa à satisfação da pretensão, não sendo necessário que a obtenha. Assim, quando emprega a violência, a ameaça, a fraude, a subtração, realiza o dano etc., ainda quando não consiga obter o pretendido, o crime estará consumado. A tentativa é possível quando, por circunstâncias alheias à vontade do agente, não consegue ele a satisfação de sua pretensão, bem assim quando é impedido de utilizar do meio escolhido para a realização do tipo. O agente estará sujeito às penas correspondentes ao delito contra a pessoa realizado com o emprego da violência, em concurso material. 4. Objetividade jurídica: O bem jurídico protegido é a administração da justiça, o interesse estatal em que os litígios sejam compostos exclusivamente através das vias legais, contra ações do particular que pretende substituir-se à ação da autoridade pública judiciária. 5. Conflito aparente de normas: A Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003, definiu, entre outros, dois tipos penais que, a meu ver, afastam a incidência da norma do art. 345. Idoso é quem tem idade igual ou superior a 60 anos. No art. 103, do Estatuto do Idoso, está o seguinte tipo: “negar acolhimento ou a permanência do idoso, como abrigado, por recusa deste em outorgar procuração à entidade de atendimento”. A pena é detenção de 6 meses a 1 ano e multa. No art. 104: “reter o cartão magnético de conta bancária relativa a benefícios, proventos ou pensão do idoso, bem como qualquer outro documento com objetivo de assegurar recebimento ou ressarcimento de dívida”. A pena é detenção de 6 meses a 2 anos e multa.

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TIRAR, SUPRIMIR, DESTRUIR OU DANIFICAR COISA PRÓPRIA, QUE SE ACHA EM PODER DE TERCEIRO POR DETERMINAÇÃO JUDICIAL OU CONVENÇÃO:

Art. 346 - Tirar, suprimir, destruir ou danificar coisa própria, que se acha em poder de terceiro por determinação judicial ou convenção: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa.

1. Comentários: O bem jurídico protegido é a administração da justiça, sua regularidade, seu normal funcionamento, o interesse estatal em que os conflitos de interesse sejam resolvidos penas no âmbito da intervenção do Poder Judiciário, bem assim no prestígio das relações contratuais. Sujeito ativo é qualquer pessoa que, proprietária da coisa, realizar uma das condutas incriminadas no preceito primário. Sujeito passivo é o Estado e também o particular que esteja na posse lícita da coisa que pertence ao agente. As condutas incriminadas são tirar, suprimir, destruir ou danificar coisa própria.Tirar é subtrair, tomar para si. Suprimir é fazer com que a coisa desapareça. Destruir é eliminar, tornar inexistente. Danificar é estragar, causar dano em sua estrutura ou aparência. O objeto material é a coisa material. Qualquer substância corpórea. Imóvel, só não poderá ser tirada, móvel poderá ser objeto de qualquer das condutas típicas. A coisa pertence ao agente, todavia deve estar na posse de outra pessoa. Essa posse deve ser lícita em virtude de uma determinação judicial ou de um contrato. Assim, por exemplo, quando fora penhorada estando na posse do depositário ou fora objeto de contrato de locação, de comodato ou de empréstimo. O crime é doloso. O agente deve ter consciência de que a coisa é sua e de que se encontra em poder de terceiro, em virtude de ordem judicial ou de convenção, e agir com vontade livre de tirá-la, suprimi-la, destruí-la ou danificá-la, sem qualquer outra finalidade especial. Se o agente não tem conhecimento da legitimidade da posse pela pessoa que a detém, a subtração poderá se ajustar ao tipo do art. 345, quando tenha agido para satisfazer a pretensão própria. A subtração consuma-se, como no delito de furto, no instante em que o agente entra na posse da coisa, ainda que não tranqüila e mesmo que por pouco tempo. A supressão é consumada quando a coisa desaparece. A destruição, com sua eliminação, a danificação quando ela sofre alteração, em sua aparência ou estrutura. A tentativa é possível em qualquer das modalidades típicas. A ação penal é de iniciativa pública incondicionada, competente o juizado especial criminal, possível a suspensão condicional do processo penal.

FRAUDE PROCESSUAL

Art. 347 - Inovar artificiosamente, na pendência de processo civil ou administrativo, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, com o fim de induzir a erro o juiz ou o perito:

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Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa. Parágrafo único - Se a inovação se destina a produzir efeito em processo penal, ainda que não iniciado, as penas aplicam-se em dobro.

1. Comentários: O bem jurídico protegido é a administração da justiça, sua regularidade e seu normal funcionamento, contra ações que busquem iludir o julgador ou falsear a produção da prova. Sujeito ativo é qualquer pessoa. Sujeito passivo é o Estado e também a pessoa que sofrer algum prejuízo. O caput do artigo descreve a figura típica fundamental e o parágrafo único trata da fraude em processo penal. Inovar artificiosamente o estado de lugar, coisa ou pessoa é modificar, por meio de artifício, o estado preexistente do lugar, da coisa ou da pessoa que esteja sendo objeto de um processo civil ou administrativo. É alterar seu estado, suas condições intrínsecas e extrínsecas ou suas características próprias. É indispensável que tenha sido instaurada e esteja em curso uma relação processual civil, na qual esteja sendo questionado o estado do lugar, coisa ou pessoa ou um processo administrativo no qual o tema será objeto de decisão, consistindo o delito exatamente em sua alteração artificiosa. Não basta qualquer alteração; é necessário que ela seja feita com a utilização de fraude, de ardil, artifício, enfim, que ela seja enganosa. Se a modificação não contém essa qualidade, o fato não se ajustará ao tipo em comento. Há inovação artificiosa do estado de um lugar quando, por exemplo, o agente, no curso de uma ação possessória, alterando as características da posse disputada, edifica ou transplanta árvores frutíferas para o imóvel, buscando conferir aspecto de moradia antiga. A conduta deve ser dolosa, exigindo-se, portanto, a consciência do agente acerca da existência de processo judicial ou administrativo em curso e a livre vontade de promover a modificação do estado do objeto material do crime. Além do dolo genérico, o delito somente se aperfeiçoa se o agente age com a finalidade de induzir a erro o juiz ou o perito. Ou seja, a inovação artificiosa visa criar, no espírito do julgador ou do perito – seu auxiliar na produção da prova pericial –, uma falsa percepção da realidade sobre o lugar, a pessoa ou a coisa sobre o qual será feita a apreciação judicial. Por essa razão, a inovação há de ser idônea, apta a ludibriar, com potencialidade para enganar o juízo do magistrado ou do perito. Quando o agente não sabe da existência de um processo judicial ou administrativo em curso, ainda quando possa supor que ele será instaurado, o fato não se adequará ao tipo.

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A consumação ocorre no instante em que o lugar, a pessoa ou a coisa sofre a modificação artificiosa. Não exige o tipo que o agente consiga enganar o juiz ou o perito, nem mesmo que este tome conhecimento da fraude. É crime de consumação antecipada ou de resultado cortado. A tentativa é perfeitamente possível, por exemplo, quando, iniciada a modificação, o agente não consegue concluir seu desiderato, por circunstâncias alheias a sua vontade. Se a inovação artificiosa se der em relação a lugar, pessoa ou coisa com a finalidade de produzir efeito em processo penal, mesmo quando este não tenha ainda sido instaurado, as penas previstas no caput do art. 347 serão aplicadas em dobro. A diferença é que, nesse caso, não há necessidade da prévia existência do processo em curso, nem mesmo da instauração de inquérito policial, desde que o agente realize a conduta com a finalidade de, com a inovação, produzir efeito em processo penal. Logo, é necessária a relação entre a inovação e algum fato típico, ainda que de contravenção penal. A ação penal é de iniciativa pública incondicionada. A competência é do juizado especial criminal, apenas quando se tratar de fraude no processo civil e administrativo. A suspensão condicional do processo penal é possível também na fraude no processo penal.

FAVORECIMENTO PESSOAL

Art. 348 - Auxiliar a subtrair-se à ação de autoridade pública autor de crime a que é cominada pena de reclusão: Pena - detenção, de um a seis meses, e multa. § 1º - Se ao crime não é cominada pena de reclusão: Pena - detenção, de quinze dias a três meses, e multa. § 2º - Se quem presta o auxílio é ascendente, descendente, cônjuge ou irmão do criminoso, fica isento de pena.

1. Elementos objetivos: O caput do art. 348 descreve o tipo fundamental. O § 1º contém a forma privilegiada e o § 2º trata da escusa absolutória. A conduta é auxiliar, contribuir, colaborar ou ajudar de qualquer modo e por qualquer forma pessoa que seja autora de um crime a subtrair-se à ação de autoridade pública. O crime cometido pelo favorecido deve ser apenado com pena de reclusão. Se apenado com detenção ou multa, o fato se ajustará à norma do § 1º, adiante comentado. É, portanto, prestar auxílio a quem cometeu um crime – não uma contravenção penal -

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ou qualquer outro ilícito – para ficar fora do alcance da ação das autoridades, da Polícia, do Ministério Público ou do Poder Judiciário. É o auxílio para a fuga, escondendo, ocultando o autor de crime, comprando-lhe passagens de ônibus ou trem, emprestando veículo, dinheiro, roupas, enfim, realizando qualquer ação que favoreça o autor do crime a subtrair-se à ação da autoridade. É claro que não há delito na conduta de quem acolhe o fugitivo em sua casa durante um temporal ou lhe fornece um copo d’água para lhe saciar a sede durante a fuga. É necessário que o auxílio guarde nexo de causalidade com a ação do criminoso de subtrairse à ação da autoridade. A conduta incriminada é a que se inserir no curso do processo causal desencadeado pelo autor do crime contra a ação da autoridade pública desenvolvida após a prática do delito. Se o auxílio se der antes ou durante a realização do crime, haverá participação no mesmo e não o crime ora comentado, de favorecimento pessoal. Basta que tenha havido a prática de crime pelo que será auxiliado, não exigindo o tipo que já tenha sido iniciada a perseguição ou instaurado o inquérito policial. Nos casos de crime de ação privada ou pública condicionada é óbvio que, antes da propositura daquela ou da formulação da representação ou requisição, não é possível existir ação de autoridade, logo também não se poderá falar em subtração nem, por isso, em favorecimento. Também não é indispensável que, no momento em que o agente presta o auxílio, o criminoso esteja sendo perseguido pela autoridade. Conquanto o tipo refira-se a autor de crime, é de ver que o auxílio será atípico se o beneficiado pela conduta tiver agido em legítima defesa, estado de necessidade, estrito cumprimento do dever legal ou exercício regular de direito, bem assim quando presente uma causa de exclusão da culpabilidade, porque, nesses casos, evidentemente, não houve crime. Igualmente quando presente uma escusa absolutória, bem assim quando a punibilidade já estiver extinta por qualquer causa porque, nesses casos, não é possível falar-se em subtração à ação de autoridade. 2. Elemento subjetivo: O crime é doloso. Indispensável por isso que o agente tenha conhecimento de que o favorecido praticou, antes, um crime. Deve saber disso e, além do mais, atuar com vontade livre de auxiliá-lo, de contribuir para que ele se coloque a salvo da perseguição ou da ação da autoridade pública. Admite-se o dolo eventual quando o agente, não tendo certeza de que o favorecido praticou crime, mesmo assim colabora, assumindo, dessa forma, o risco de incorrer na incriminação. Se o agente não sabe, nem deveria saber que está auxiliando um criminoso, o fato será atípico. 3. Objetividade jurídica: O bem jurídico protegido é a administração da justiça criminal, o interesse na atuação da vontade estatal de apurar a materialidade e autoria dos delitos. 4. Sujeitos do crime: Sujeito ativo é qualquer pessoa que realizar a conduta típica, exceto o co-autor ou partícipe do crime praticado por quem é auxiliado pelo agente. Sujeito passivo é o Estado.

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5. Consumação e tentativa: A consumação acontece no momento em que o agente realiza a conduta que contribui, auxilia ou favorece o autor do crime, sendo necessário que este consiga, efetivamente, ainda que momentaneamente, subtrair-se à ação da autoridade. A tentativa é, portanto, admissível quando, apesar da conduta do agente, o criminoso não consegue livrar-se da ação da autoridade pública. 6. Forma privilegiada: O § 1º do art. 348 comina pena de detenção de quinze dias a três meses e multa, quando o agente presta auxílio a autor ou partícipe de crime punido com pena de detenção ou de multa, ou outra que não seja de reclusão. 7. Escusa absolutória: No § 2º do art. 348 está prevista a escusa absolutória, ficando isento de pena o agente que seja ascendente, descendente, cônjuge ou irmão do criminoso. O crime existe; porém, falta a condição de procedibilidade. Não há punibilidade, possibilidade de aplicação da pena. Embora seja unânime o pensamento jurisprudencial de que a enumeração do parágrafo é taxativa, creio não ser desarrazoada a interpretação extensiva para alcançar também o irmão, o filho e o pai adotivos e também o companheiro ou companheira de união estável. 8. Ação penal: A ação penal é de iniciativa pública incondicionada, competente o juizado especial criminal, possível a suspensão condicional do processo penal.

FAVORECIMENTO REAL

Art. 349 - Prestar a criminoso, fora dos casos de co-autoria ou de receptação, auxílio destinado a tornar seguro o proveito do crime: Pena - detenção, de um a seis meses, e multa.

1. Figura típica – Art. 349, caput: 1.1 - Elementos objetivas: A conduta incriminada é, de qualquer forma, prestar auxílio, ajudar, auxiliar, colaborar ou contribuir. O auxílio é prestado a pessoa que, como autor ou partícipe, tenha praticado um crime – não uma contravenção penal – de qualquer natureza. A colaboração prestada tem como finalidade tornar seguro o proveito do crime. Proveito do crime é a utilidade material dele decorrente, como o objeto material dos delitos patrimoniais, a coisa furtada ou roubada, a vantagem do estelionato, o dinheiro obtido com sua venda e também o preço pago pela pessoa que tenha encomendado a prática do delito.

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O tipo excluiu de sua incidência as hipóteses de co-autoria e receptação. Assim, quem é co-autor ou partícipe do crime anterior, ao colaborar com o autor, não está praticando novo crime. Também o receptador é excluído, porque sua conduta já é tipificada como crime patrimonial autônomo. 1.2 – Elemento subjetivo: O favorecimento real é crime doloso. O agente deve estar consciente de que a pessoa que recebe seu auxílio é autor de crime e que a ajuda que dá torna seguro seu proveito e age com vontade livre e com a finalidade de contribuir para que o autor do crime consiga assegurar o proveito do crime. O fim do agente é, portanto, o de assegurar, para o autor do crime, o proveito do delito. Se o agente age com o fim de obter proveito pessoal ou para terceira pessoa, cometerá o delito de receptação; definido no art. 180 do Código Penal. Quem oculta, guarda ou transporta a res furtiva, para si ou para outrem, comete receptação, quem o faz para o agente do furto comete favorecimento real. 1.3 - Consumação e tentativa: A consumação ocorre no momento em que o agente realiza o ato de auxílio. Não é necessário que o proveito do crime reste assegurado, basta a conduta. A tentativa é possível. 1.4 – Sujeitos do crime: Sujeito ativo é qualquer pessoa que realizar a conduta típica, exceto o co-autor ou partícipe do crime anterior e o receptador de seu objeto material. Sujeito passivo é o Estado. 2. Figura típica – Art. 349-A:

Art. 349-A. Ingressar, promover, intermediar, auxiliar ou facilitar a entrada de aparelho telefônico de comunicação móvel, de rádio ou similar, sem autorização legal, em estabelecimento prisional. (Incluído pela Lei nº 12.012, de 2009). Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano. (Incluído pela Lei nº 12.012, de 2009).

A lei nº 12.012, de 6 de agosto de 2009, incluiu, no Código Penal, sem denominação jurídica, o art. 349-A 2.1 – Elementos objetivos: A inclusão no Código Penal, do art. 349-A, sem nomen iuris, do novo tipo penal, pode levar ao entendimento que se trata de uma espécie de favorecimento real, pois descreve conduta na qual o sujeito presta auxílio a um criminoso. Embora tenha como objetividade jurídica resguardar a administração da justiça, não é, todavia, uma espécie de favorecimento real, uma vez que não contém todos os demais elementos do tipo do art 349 e mais um ou outros especializantes. É um tipo novo, que guarda com o favorecimento real apenas a descrição de uma conduta de auxílio a uma pessoa que praticou um crime.

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O tipo descreve cinco condutas alternativas. Ingressar é entrar, promover é agenciar, intermediar é mediar ou interceder, entremear, auxiliar é ajudar, facilitar é tornar fácil ou retirar obstáculo. A conduta deve recair sobre aparelho telefônico de comunicação móvel, o celular, ou aparelho de comunicação de rádio ou outro similar, tal como o walk talk. O sujeito deve realizar a conduta, isto é, fazer ingressar, promover, intermediar, auxiliar ou facilitar, a entrada do objeto material em estabelecimento prisional, de qualquer natureza: penitenciária, colônica agrícola, industrial ou similar, casa de albergado, cadeia pública. A norma não alcança, a meu ver, o hospital de custódia ou tratamento psiquiátrico, que não são estabelecimentos prisionais. 2.2 – Elemento subjetivo: O tipo contém um elemento normativo: o agente deve agir sem estar devidamente autorizado por uma norma legal. O crime é doloso, ou seja, a vontade consciente e livre de realizar a conduta, com a finalidade de que o aparelho de comunicação ingresse, sem autorização legal, no estabelecimento prisional, para permitir a comunicação de preso com outra pessoa. Não comete o crime, por ausência de dolo, o advogado ou funcionário do estabelecimento prisional que nele ingresse portando aparelho telefônico móvel, sem a intenção de entregá-lo à pessoa submetida legalmente à prisão. 2.3 – Consumação e tentativa: Consuma-se com a real entrada do aparelho telefônico, de rádio ou similar, no estabelecimento prisional, e não com a sua entrega ao preso. Possível a tentativa. 2.4 – Conflito aparente de normas: Se é o Diretor do Estabelecimento que se omite, deixando de cumprir seu dever de impedir que o preso tenha acesso a aparelho telefônico, de radio ou similar, realizará a conduta definida no art. 319-A do Código Penal. O preso que mantiver em seu poder aparelho telefônico, de rádio ou similar, comete a falta disciplinar prevista no art. 50, VII, da Lei de Execução Penal.

EXERCÍCIO ARBITRÁRIO OU ABUSO DE PODER

Art. 350 - Ordenar ou executar medida privativa de liberdade individual, sem as formalidades legais ou com abuso de poder: Pena - detenção, de um mês a um ano. Parágrafo único - Na mesma pena incorre o funcionário que: I - ilegalmente recebe e recolhe alguém a prisão, ou a estabelecimento destinado a execução de pena privativa de liberdade ou de medida de segurança; II - prolonga a execução de pena ou de medida de segurança, deixando de expedir em tempo oportuno ou de executar imediatamente a ordem de liberdade;

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III - submete pessoa que está sob sua guarda ou custódia a vexame ou a constrangimento não autorizado em lei; IV - efetua, com abuso de poder, qualquer diligência.

Comentários: O art. 350 do Código Penal foi derrogado pelo art. 4º da Lei nº 4.898/65, estando em vigor apenas os incisos I e IV de seu parágrafo único, prevalecendo, em lugar dos tipos do caput e dos incisos II e III do parágrafo único, as normas contidas no art. 4º da Lei Especial. Dessa forma, será feito o exame dos dispositivos, de ambos os diplomas legais, atualmente em vigor.

FUGA DE PESSOA PRESA OU SUBMETIDA A MEDIDA DE SEGURANÇA

Art. 351 - Promover ou facilitar a fuga de pessoa legalmente presa ou submetida a medida de segurança detentiva: Pena - detenção, de seis meses a dois anos. § 1º - Se o crime é praticado a mão armada, ou por mais de uma pessoa, ou mediante arrombamento, a pena é de reclusão, de dois a seis anos. § 2º - Se há emprego de violência contra pessoa, aplica-se também a pena correspondente à violência. § 3º - A pena é de reclusão, de um a quatro anos, se o crime é praticado por pessoa sob cuja custódia ou guarda está o preso ou o internado. § 4º - No caso de culpa do funcionário incumbido da custódia ou guarda, aplica-se a pena de detenção, de três meses a um ano, ou multa.

1. Considerações iniciais: O caput do art. 351 descreve o tipo fundamental. Os §§ 1º e 3º, as formas qualificadas. O § 2º trata do concurso de crimes e o § 4º prevê a modalidade típica culposa. O bem jurídico protegido é a administração da justiça, o interesse na execução das penas e medidas privativas de liberdade e das medidas de segurança contra ações que se voltem contra ela. 2. Elementos objetivos: São duas as condutas incriminadas. Promover e facilitar a fuga. Promover é realizar, organizar e executar, é adotar as medidas necessárias para que ocorra a fuga. Facilitar é tornar fácil, afastar obstáculos, remover empecilhos, colaborar, enfim, para a fuga realizada pelo próprio preso ou internado. Na primeira conduta, a iniciativa é do agente, que dirige a fuga. Na segunda modalidade típica, ele simplesmente colabora. Normalmente, realiza-se o tipo por meio de conduta comissiva, nada impedindo entretanto que o agente que tenha o dever de impedir a fuga facilite-a por omissão de seu dever legal.

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A prisão ou a medida de segurança deve ser legal e também estar sendo executada legalmente, do ponto de vista material e formal. Alcança a norma toda e qualquer espécie de prisão, temporária, preventiva, em virtude de pronúncia, de sentença condenatória recorrível e também a prisão-pena. A norma não alcança a promoção ou facilitação de fuga de menor internado em estabelecimento para cumprimento de medida socioeducativa, que não se confunde com prisão nem com medida de segurança. 3. Elemento subjetivo: Deve o agente atuar dolosamente. Com consciência da legalidade da prisão ou da internação, sabendo que promove ou facilita a fuga e com vontade livre de agir, sem outra finalidade. 4. Sujeitos do crime: Sujeito ativo é qualquer pessoa que realizar uma das condutas incriminadas, salvo o próprio preso ou internado. Sujeito passivo é o Estado. 5. Consumação e tentativa: A consumação ocorre no momento em que se verifica a fuga da pessoa, ainda que por tempo curto. A tentativa é possível. 6. Formas qualificadas: No § 1º do art. 351, são previstas três modalidades típicas qualificadas, sancionadas com reclusão, de dois a seis anos. A primeira é quando o crime é praticado com o emprego de arma. Arma própria e arma imprópria, mas não arma de brinquedo. Não basta o porte de arma, é preciso que ela seja utilizada, para ameaçar ou empregar violência contra pessoa. Só incidirá a qualificadora quando o agente que promove ou facilita a fuga utiliza a arma. A segunda qualificadora ocorre quando o crime é praticado por duas ou mais pessoas, não se considerando o próprio preso ou o internado. Também é qualificado o crime quando há arrombamento. É o emprego de violência contra coisa, portas, grades da cela, muros, enfim, qualquer obstáculo material à fuga. A última circunstância qualificadora está no § 3º, com pena cominada de reclusão, de um a quatro anos, quando o agente do crime é a pessoa responsável pela custódia ou guarda do preso ou internado. É, portanto, crime próprio de funcionário público. 7. Observações finais: Haverá concurso material de crimes quando da violência empregada contra pessoa resultar lesão corporal ou homicídio, consumado ou tentado, conforme determinação expressa do § 2º. 8. Forma culposa: A forma culposa é prevista apenas para o funcionário público incumbido da guarda ou custódia do preso ou internado que, por negligência, imprudência ou imperícia, contribui para a fuga realizada pelo próprio ou

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promovida ou facilitada por terceiro. Só há delito quando se consuma a fuga do preso ou internado, não respondendo o funcionário se houver apenas tentativa. Indispensável a presença de nexo causal entre a conduta negligente do funcionário e a fuga, devendo ser demonstrada sua importância causal para a execução do delito. A pena é detenção, de três meses a um ano, ou multa.

EVASÃO MEDIANTE VIOLÊNCIA CONTRA A PESSOA

Art. 352 - Evadir-se ou tentar evadir-se o preso ou o indivíduo submetido a medida de segurança detentiva, usando de violência contra a pessoa: Pena - detenção, de três meses a um ano, além da pena correspondente à violência.

1. Comentários: O bem jurídico protegido é a administração da justiça, o interesse estatal no cumprimento integral e regular das prisões e medidas de segurança detentivas. Sujeito ativo é apenas a pessoa que esteja presa ou submetida à medida de segurança detentiva. É crime próprio, portanto. Sujeito passivo é o Estado e também a pessoa que sofre a violência. Evadir-se é libertar-se, é fugir, é escapar da prisão ou do estabelecimento onde se executa medida de segurança detentiva ou do poder de quem o conduz preso ou detido. É livrar-se do poder de outrem. É necessário que o preso ou o internado evada-se ou tente fazê-lo, usando de violência contra a pessoa. A tentativa é equiparada à própria evasão, punida, portanto, como delito autônomo. A fuga pura e simples não é fato típico. Só há fuga ou tentativa de fuga criminosa quando, para obtê-la, o agente emprega violência física contra uma pessoa, qualquer pessoa, o carcereiro, policial ou qualquer outra, inclusive outro preso ou internado. Da violência pode ou não resultar lesão corporal. A grave ameaça não torna a fuga ou a tentativa fato típico. Nem a fraude. Só há delito se a prisão ou internação for legal, determinada e executada com observância das normas legais, materiais e formais. Fuga de prisão ilícita é direito do indivíduo. A violência empregada contra a coisa não caracteriza o crime. É necessário que o agente atue com dolo, com consciência da legalidade da prisão ou da internação da qual se evade ou tenta fazê-lo, agindo com vontade livre de empregar a violência contra a pessoa. Se o agente imagina ilícita a custódia, o fato é atípico. Se a violência resulta de culpa, igualmente. Consuma-se o crime com a efetiva fuga ou com a simples tentativa, desde que haja emprego de violência, em qualquer das hipóteses. É que o tipo contém o verbo tentar, daí que a tentativa é delito autônomo. Não há, portanto, tentativa de realização do tipo, porquanto ela está inserida no próprio tipo. O agente responderá em concurso material com o crime contra a pessoa – lesão corporal ou homicídio, consumado ou tentado – em razão da violência empregada. Simples vias de fato serão absorvidas. A ação penal é de iniciativa pública incondicionada, competente o juizado especial criminal, possível a suspensão condicional do processo penal.

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ARREBATAMENTO DE PRESO

Art. 353 - Arrebatar preso, a fim de maltratá-lo, do poder de quem o tenha sob custódia ou guarda: Pena - reclusão, de um a quatro anos, além da pena correspondente à violência.

O bem jurídico tutelado é a administração da justiça, o interesse estatal na execução regular das medidas privativas de liberdade, bem assim na preservação e no respeito da integridade corporal e moral das pessoas sob sua custódia. Sujeito ativo é qualquer pessoa que realizar a conduta. Sujeito passivo é o Estado e também o preso arrebatado. O núcleo do tipo é o verbo arrebatar. Significa tomar pela força ou arrancar do poder de quem tem a guarda ou a custódia do preso. É retirar com força a pessoa presa. O preso pode-se encontrar recolhido em estabelecimento prisional, delegacia, presídio ou em trânsito dentro de veículos ou conduzido sob escolta. Trata a norma exclusivamente do preso, não alcançando a pessoa submetida à medida de segurança detentiva ou o menor internado em estabelecimento para cumprimento de medida socioeducativa. O arrebatamento pode ser feito com o emprego de grave ameaça ou violência. Exige-se o dolo. A consciência de que a pessoa esteja presa, sob guarda ou custódia do funcionário público encarregado da execução da prisão ou do transporte do preso e vontade livre de tomá-lo, e, mais um elemento subjetivo: o fim de maltratar o preso. O agente atua com a intenção de arrebatá-lo para submetê-lo a sevícias ou maus tratos. A consumação ocorre com o arrebatamento, com a tomada, a tirada do preso do poder de quem o detém. Não há necessidade de que o preso sofra os maus-tratos. Basta sua tirada violenta. Possível, portanto, a tentativa. Haverá concurso material com o delito resultante do emprego da violência, como a lesão corporal, homicídio, tentado ou consumado, contra o preso ou contra a pessoa que o detém, respondendo, assim, o agente pelos dois delitos, cumuladas as penas.

MOTIM DE PRESOS

Art. 354 - Amotinarem-se presos, perturbando a ordem ou disciplina da prisão: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, além da pena correspondente à violência.

1. Comentários: O bem jurídico tutelado é a administração da justiça, o interesse estatal na preservação da tranqüilidade, da ordem e disciplina nas prisões, a normalidade e regularidade da execução das penas privativas de liberdade.

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Sujeitos ativos, necessariamente, são pessoas presas, exigindo-se um mínimo de três. Sujeito passivo é o Estado e o será também qualquer pessoa, presa ou não, que sofrer violência eventualmente empregada pelos amotinados. Amotinarem-se é rebelarem-se. É promoverem movimento coletivo. É agirem em conjunto. O motim é a reunião de pessoas que praticam ações conjuntas, geralmente violentas, com o mesmo fim. O motim de presos quase sempre visa à obtenção de benefícios, à exigência da satisfação de reivindicações, pouco importando a natureza do objetivo colimado, bastando que exista o movimento e que este perturbe a ordem ou a disciplina no estabelecimento prisional. Resta perturbada a ordem ou a disciplina quando há prática de violências contra pessoas ou coisas e também quando há desrespeito às regras de convivência estabelecidas no estabelecimento. O fato pode ocorrer no interior do presídio ou também no de veículos que estejam transportando presos, na rua ou no fórum onde se acham à espera da realização de audiência, enfim, em qualquer lugar que se encontrem e se amotinem. O tipo alcança apenas o motim de presos, não o de internados em estabelecimentos para cumprimento de medida de segurança detentiva, nem o de menores. O crime é doloso. Os presos devem estar conscientes de que perturbam a ordem ou a disciplina e agir com vontade livre de se amotinarem. Os agentes que tiverem praticado violência durante o motim responderão, em concurso material, pelos crimes contra a pessoa praticados, lesões corporais ou homicídio, tentado ou consumado, demonstrada a individualização da conduta de cada um, punidos na medida de sua culpabilidade, como autores ou partícipes. A consumação ocorre quando a ordem ou a disciplina na prisão é perturbada. Sem essa modificação no funcionamento normal do presídio, não há crime consumado. A tentativa é possível.

PATROCÍNIO INFIEL

Art. 355 - Trair, na qualidade de advogado ou procurador, o dever profissional, prejudicando interesse, cujo patrocínio, em juízo, lhe é confiado: Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa.

1. Comentários: O bem jurídico protegido é a administração da justiça, o interesse estatal na lealdade do advogado e do procurador no patrocínio dos interesses das pessoas perante o Poder Judiciário. Sujeito ativo é o advogado ou o procurador judicial. Sujeito passivo é o Estado e também a pessoa lesada em razão da conduta típica. O núcleo do tipo é o verbo trair. O objeto é o dever profissional, do advogado ou do procurador, de lealdade para com a pessoa que confiou a defesa de seus direitos e interesses em juízo. Advogado é o bacharel em direito regularmente inscrito nos quadros da Ordem dos Advogados do Brasil. Procurador é quem é admitido a procurar em juízo, o provisionado, o estagiário ou o defensor nomeado, em circunstâncias especiais, para promover a defesa em juízo.

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Não importa se a atividade é exercida mediante remuneração ou gratuitamente, o advogado, em qualquer caso, deve atuar com a mais absoluta lealdade, exercendo sua atividade com respeito aos princípios éticos e legais, defendendo, com dedicação e denodo, o interesse a si confiado. É indispensável que o advogado tenha sido constituído, recebido o mandato ou nomeado, e que tenha levado a juízo a pretensão de seu cliente, como autor ou réu, assistente, opoente etc. Assim, só há delito se o interesse confiado ao agente esteja sendo objeto de discussão judicial, em processo de qualquer natureza. Pode a conduta realizar-se por meio de conduta comissiva ou omissiva. O agente pode postular, apresentando fatos que prejudicam o interesse do cliente ou pode deixar de apresentar, no prazo legal, a contestação ou outra peça indispensável no processo. A traição do dever profissional deverá importar, necessariamente, em prejuízo do interesse da pessoa que confiou no agente e deve se dar em juízo, não antes, nem depois, nem fora dele. Concluída a prestação jurisdicional, a conduta do advogado poderá ajustar-se a outro tipo, não ao patrocínio infiel. Assim, o advogado que, na justiça do trabalho, celebra acordo em nome do reclamante recebe o valor e dele se apropria; deixando de entregá-lo a seu cliente, comete o crime de apropriação indébita e não de patrocínio infiel. É essencial que da conduta do agente decorra um dano efetivo para o interesse patrimonial ou moral da parte. O interesse deve, é óbvio, ser legítimo; daí que se a conduta do agente dá causa ao reconhecimento da ilegitimidade do interesse não há fato típico, porque não há dever profissional de defender interesses escusos. O crime é doloso. Só incorre na incriminação o agente que estiver consciente de que trai seu dever profissional, sabendo que dará causa a um dano ao interesse do cliente e agir com vontade livre, não exigindo o tipo que o agente tenha a intenção de causar o prejuízo. Sem a consciência da lesividade de seu ato, o fato será atípico. Quando o agente atua negligentemente, realizando a conduta por erro, também não há fato típico. O crime consuma-se com a ocorrência do dano efetivo ao interesse do cliente, ou seja, quando se configura a lesão do interesse patrocinado com infidelidade, ainda quando possa esse ser, ao depois, reparado. A tentativa somente não é admissível nas formas omissivas de conduta.

PATROCÍNIO SIMULTÂNEO OU TERGIVERSAÇÃO

Parágrafo único - Incorre na pena deste artigo o advogado ou procurador judicial que defende na mesma causa, simultânea ou sucessivamente, partes contrárias.

SONEGAÇÃO DE PAPEL OU OBJETO DE VALOR PROBATÓRIO

Art. 356 - Inutilizar, total ou parcialmente, ou deixar de restituir autos, documento ou objeto de valor probatório, que recebeu na qualidade de advogado ou procurador: Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa.

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1. Comentário: O bem jurídico é a administração da justiça, o interesse estatal na preservação de autos e documentos ou coisas de valor probatório e também a confiança que as pessoas depositam em seus patronos, advogados e procuradores. Sujeito ativo é o advogado ou o procurador judicial. Sujeito passivo é o Estado e é também a pessoa que sofrer prejuízo decorrente da conduta realizada pelo sujeito ativo. São duas as condutas incriminadas: inutilizar e deixar de restituir. Inutilizar é tornar imprestável, inservível, é retirar a utilidade da coisa. A inutilização pode ser total ou parcial. Deixar de restituir é reter, é não devolver a coisa que lhe fora entregue ou confiada, quando chamado a fazê-lo ou no prazo assinalado. Os objetos materiais das condutas são: autos, documento ou objeto de valor probatório. Autos são o conjunto das peças integrantes dos processos, judiciais e administrativos. Documento é o papel que contém escrito ou informação impressa sobre fato juridicamente relevante. Objeto de valor probatório é a coisa que, por sua natureza, possa servir para provar qualquer fato juridicamente relevante. O objeto material deve estar em poder do advogado ou procurador, que o recebeu nessa qualidade e que, por isso, deve mantê-lo íntegro e restituí-lo quando instado a fazê-lo. Não é necessário que da conduta decorra algum prejuízo material. Basta a conduta, aperfeiçoadora do tipo. É crime doloso. O agente deve estar consciente de que a coisa material está em seu poder por força de sua qualidade de advogado ou procurador e agir com vontade livre de inutilizá-la ou não devolvê-la, caso em que deve ter conhecimento de que foi instado a fazê-lo, recusando-se livremente. É preciso vontade livre de inutilizar ou sonegar. A destruição ou sonegação do objeto material por negligência, por desídia ou por esquecimento não caracteriza o delito, podendo sim realizar infração disciplinar do advogado. A inutilização consuma-se quando o objeto material sofre a diminuição de sua qualidade probatória, quando é rasgado, rasurado, queimado ou destruído. A tentativa é possível. A sonegação de autos de processo judicial consuma-se quando o agente, intimado a devolvê-los, deixa de fazê-lo no prazo legal ou determinado. A sonegação de documento ou objeto de valor probatório consuma-se com o ato de recusa de devolução. Impossível a tentativa

EXPLORAÇÃO DE PRESTÍGIO

Art. 357 - Solicitar ou receber dinheiro ou qualquer outra utilidade, a pretexto de influir em juiz, jurado, órgão do Ministério Público, funcionário de justiça, perito, tradutor, intérprete ou testemunha: Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa. Parágrafo único - As penas aumentam-se de um terço, se o agente alega ou insinua que o dinheiro ou utilidade também se destina a qualquer das pessoas referidas neste artigo.

1. Comentário:

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O bem jurídico é a administração da justiça, sua credibilidade, a confiança que as pessoas depositam nas pessoas que atuam no âmbito da prestação jurisdicional. O prestígio da justiça. Sujeito ativo é qualquer pessoa. Sujeito passivo é o Estado e, eventualmente, o juiz, jurado, promotor, perito, tradutor, intérprete e testemunha. O caput do artigo contém o tipo e o parágrafo único, uma causa de aumento de pena. São duas as condutas incriminadas: solicitar ou receber. Solicitar é pedir, pleitear, postular. A solicitação pode ser feita por qualquer meio de comunicação, escrita, oral ou outro. Receber é aceitar, é obter. O objeto material é dinheiro – moeda metálica ou papel-moeda de curso legal no país ou no estrangeiro – ou qualquer utilidade, ou seja, um bem de natureza material ou até mesmo uma vantagem de natureza moral. O agente solicita ou recebe o dinheiro ou a utilidade, afirmando perante terceira pessoa que irá exercer influência sobre uma das pessoas mencionadas no tipo: juiz, jurado, promotor ou procurador de justiça, funcionário do poder judiciário, perito, tradutor, intérprete ou testemunha. A relação é taxativa, não admitida a inclusão de outra pessoa que não as mencionadas no tipo. Se é outro o funcionário público a quem se refere o agente, a conduta poderá se ajustar ao tipo do art. 332 do Código Penal. O agente demonstra ter prestígio junto a uma daquelas pessoas, ludibriando assim a boa-fé de alguém, pretextando que irá exercer a influência positiva sobre ela, mediante o recebimento do dinheiro ou da utilidade. Há, portanto, fraude, devendo a conduta do agente ser idônea, apta a enganar. Não é necessário que o agente tenha, efetivamente, poder de influenciar a pessoa, mas é indispensável que ele alegue-o, bem assim é indiferente que ele venha a influenciar ou tentar fazê-lo. O agente deve atuar dolosamente. Com a vontade livre de solicitar ou receber o dinheiro ou a utilidade, sob o pretexto de influenciar uma daquelas pessoas. A consumação, na modalidade típica solicitar, ocorre no momento em que o agente pede o dinheiro ou a utilidade, mesmo quando há rejeição. Na modalidade receber, o fato está consumado quando a pessoa entrega o objeto material. A tentativa é possível. Quando o agente tiver alegado ou apenas insinuado que o dinheiro ou a utilidade solicitada ou recebida será destinado também para a pessoa a quem diz influir, a pena será aumentada de um terço. É necessário que ele afirme ou deixe implícito para a pessoa que uma parte da vantagem será dada ao juiz, perito, intérprete etc., não exigindo o tipo que a vítima acredite no agente. Se, efetivamente, o agente der valor a funcionário público, haverá corrupção ativa, que absorverá a exploração de prestígio, e corrupção passiva por parte do funcionário.

VIOLÊNCIA OU FRAUDE EM ARREMATAÇÃO JUDICIAL

Art. 358 - Impedir, perturbar ou fraudar arrematação judicial; afastar ou procurar afastar concorrente ou licitante, por meio de violência, grave ameaça, fraude ou oferecimento de vantagem: Pena - detenção, de dois meses a um ano, ou multa, além da pena correspondente à violência.

1. Comentários:

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O bem jurídico protegido é a administração da justiça, especialmente a lisura das arrematações judiciais. Sujeito ativo é qualquer pessoa que realizar uma das condutas incriminadas. Sujeito ativo é o Estado e também aquela pessoa contra a qual é empregada a violência ou grave ameaça, bem assim a que vier a ser lesada pela conduta. São as seguintes as condutas incriminadas na primeira parte do dispositivo: impedir, perturbar ou fraudar a realização de ato da arrematação judicial. Impedir é não deixar que ocorra, é obstar desde o início, não permitindo que comece o ato. Perturbar é atrapalhar, conturbar, criar dificuldades, obstáculos ou empecilhos. Fraudar é fazer surgir o erro ou engodo na realização do ato. As condutas dizem respeito a qualquer ato da arrematação judicial. Arrematação judicial é a hasta pública determinada pelo juiz. A venda em hasta pública faz-se através de leilão ou praça. Há disputa entre os interessados que o juízo convoca por meio de editais para alienar imóveis ou móveis arrecadados em ações de execução para, com o produto da venda, satisfazer os débitos cobrados em juízo. A outra modalidade típica consiste em afastar ou procurar afastar licitante da arrematação judicial. Afastar significa excluir, fazer com que o licitante deixe de participar do evento, dele se retire. Procurar afastar é tentar afastar. É a tentativa elevada à categoria de delito autônomo. Deve, nesta modalidade típica, o agente atuar com o emprego de violência, grave ameaça, fraude ou oferecimento de vantagem. Violência é a força física, são as vias de fato ou as lesões corporais. A grave ameaça é a promessa da causação de um mal grave. Fraude é o engano, o engodo. É induzir o licitante a uma situação de erro ou neste mantê-lo. O último meio de execução do delito é através do oferecimento de vantagem de qualquer natureza, moral ou patrimonial. Crime doloso. O agente deve estar consciente de que impede, perturba ou frauda o ato da arrematação judicial ou dela afasta o licitante, agindo com vontade livre, sem qualquer outra finalidade especial. Consuma-se o impedimento, perturbação ou fraude no instante em que o ato da arrematação judicial não se realiza, sofre a perturbação ou é fraudado. Possível a tentativa. A consumação do afastamento do licitante ocorre no momento em que o agente emprega a violência, profere a grave ameaça, utiliza da fraude ou oferece a vantagem, independentemente do afastamento do licitante. A tentativa – punida com a mesma pena do crime consumado – ocorre quando o agente não consegue empregar a violência, a grave ameaça, a fraude ou, também por circunstâncias alheias a sua vontade, não chega ao conhecimento do licitante a oferta da vantagem. Quando o agente emprega violência será apenado não só pelo crime contra a administração, mas também pelo delito contra a pessoa – lesão corporal, leve, grave ou gravíssima, homicídio ou tentativa.

DESOBEDIÊNCIA A DECISÃO JUDICIAL SOBRE PERDA OU SUSPENSÃO DE DIREITO

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Art. 359 - Exercer função, atividade, direito, autoridade ou múnus, de que foi suspenso ou privado por decisão judicial: Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou multa.

1. Comentários: O bem jurídico protegido é a administração da justiça, o prestígio e a autoridade de suas decisões. Sujeito ativo é a pessoa que tenha sofrido a decisão judicial de suspensão ou privação do exercício de função, atividade, direito, autoridade ou múnus. Sujeito passivo é o Estado. A conduta proibida é a de exercer, que significa desempenhar uma função, uma atividade, um direito, a autoridade ou um múnus do qual foi suspenso ou privado por decisão judicial. O agente, após ter sido suspenso ou privado, continua a exercer, praticando atos inerentes à função, atividade, direito, autoridade ou múnus. Desobedece, assim, o comando contido na decisão judicial. A norma não alcança as interdições decorrentes de aplicação de pena restritiva de direitos, porque, se o condenado não cumprir as determinações contidas na sentença penal, a pena restritiva de direitos será convertida em pena privativa de liberdade. Mas abrange os efeitos extrapenais das sentenças condenatórias de que trata o art. 92 do Código Penal, como a perda de cargo público, função pública etc. É indispensável que a decisão judicial tenha transitado em julgado. Para realizar o tipo é necessário que o agente tenha conhecimento da decisão judicial que o suspendeu ou privou do direito ao exercício e realizar a conduta com vontade livre, sem qualquer outro fim especial. Consuma-se no momento em que o agente, após ter tomado ciência da suspensão ou privação, continua a praticar atos. A tentativa é admissível. A ação penal é de iniciativa pública incondicionada, possível a suspensão condicional do processo penal.

QUESTÕES DE CONCURSOS

Coma base no texto abaixo, responda as questões nº 01 e 02: José é funcionário público estadual, ocupando a Secretaria Estratégica da Articulação Política do Governo do Amazonas. Ciente de que o governador não tem nenhum apoio na Assembleia Legislativa, João elabora o seguinte plano criminoso: I. Determina que Luiz, secretário estadual de Comunicação, promova a contratação da agência de publicidade APT, da qual o sócio gerente é o publicitário Marcos. Tal fato foi realizado por Luiz em estrita obediência a José. II. José combina com Marcos que os valores dos serviços de publicidade serão superfaturados em 300%, de modo que o valor excedente seja apropriado por Marcos para atender aos interesses de José. Graças a esse esquema, que contou com a anuência de Luiz, José e Marcos conseguem desviar R$ 2.000.000,00 (dois milhões de reais) dos cofres estaduais.

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III. José arregimenta dez deputados estaduais dispostos a apoiar todas as iniciativas e projetos de lei do Governo Estadual mediante o recebimento de vantagens econômicas, iniciando pagamentos mensais no valor de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) para assegurar esse apoio irrestrito; IV. José dá conhecimento a Marcos do funcionamento do esquema, de modo que Marcos faça os pagamentos mensais, por meio de cheques nominais, às pessoas indicadas por esses deputados, os quais sacam os valores no caixa dos bancos; V. Passados seis meses o esquema chega ao fim e José e Marcos decidem dividir o valor restante entre eles, recebendo cada um cerca de R$ 400.000,00 (quatrocentos mil reais). 01 - Prova: ISAE - 2011 - AL-AM – Procurador - Com base no texto acima, assinale a alternativa que indica os crimes praticados por José e Marcos, respectivamente. a) Ambos incorrem em corrupção ativa (art. 333, Código Penal) e peculato (art. 312, Código Penal). b) José pratica corrupção ativa (art. 333, Código Penal) e Marcos corrupção passiva (art. 317, Código Penal). c) Ambos incorrem em corrupção ativa (art. 333, Código Penal) e passiva (art. 317, Código Penal). d) José pratica prevaricação (art. 319, Código Penal) e peculato (art. 312, Código Penal); Marcos pratica peculato (art. 312, Código Penal). e) José pratica advocacia administrativa (art. 321, Código Penal) e Marcos pratica peculato (art. 312, Código Penal). 02 - Assinale a alternativa que indica os crimes praticados por Luiz e pelos deputados que receberam o pagamento mensal promovido por José e Marcos, respectivamente. a) Luiz pratica peculato (art. 312, Código Penal) e os deputados, prevaricação (art. 319, Código Penal). b) Luiz pratica peculato (art. 312, Código Penal) e os deputados, corrupção passiva (art. 317, Código Penal) c) Luiz pratica corrupção passiva (art. 317, Código Penal) e os deputados, peculato (art. 312, Código Penal). d) Todos praticam prevaricação (art. 319, Código Penal), peculato (art. 312, Código Penal) e corrupção passiva (art. 317, Código Penal). e) Todos praticam peculato (art. 312, Código Penal). 03 - Prova: ISAE - 2011 - AL-AM - Procurador Relativamente aos crimes contra as licitações, assinale a afirmativa incorreta. a) Constitui crime dispensar ou inexigir licitação fora das hipóteses previstas em lei ou deixar de observar as formalidades pertinentes à dispensa ou à inexigibilidade. b) A pena de multa, cominada nos crimes contra as licitações (arts. 89 a 98 da Lei 8.666/93), consiste no pagamento de quantia fixada na sentença e calculada em índices percentuais, cuja base corresponderá ao valor da vantagem efetivamente obtida ou potencialmente auferível pelo agente. c) Qualquer pessoa poderá provocar, para os efeitos dos crimes da lei de licitações (Lei 8.666/93), a iniciativa do Ministério Público, fornecendo-lhe por escrito, informações sobre o fato e sua autoria, bem como as circunstâncias em que se deu a ocorrência. Os crimes da referida lei são todos de ação penal pública condicionada à representação. d) Constitui crime devassar o sigilo de proposta apresentada em procedimento licitatório ou proporcionar a terceiro o ensejo de devassá-lo. e) O produto da arrecadação da multa, cominada aos condenados por crime contra as licitações (arts. 89 a 98 da Lei 8.666/93), reverterá, conforme o caso, à Fazenda Federal, Distrital, Estadual ou Municipal.

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04 - Prova: MOVENS - 2009 - PC-PA - Investigador Acerca dos crimes contra a administração pública, assinale a opção correta. a) Constitui crime o extravio de livro oficial ou qualquer documento de que o agente público tem a guarda em razão do cargo, o mesmo não se podendo dizer da inutilização parcial de documento oficial por parte daquele. b) Ao contrário da conduta criminosa de se apropriar de valores pertencentes à administração pública, constitui mera irregularidade administrativa dar às verbas ou rendas públicas aplicação diversa da estabelecida em lei. c) Pratica o delito de concussão o agente público que emprega meio vexatório na cobrança de tributos. d) Tratando-se de peculato culposo, extingue a punibilidade a reparação do dano precedente à sentença irrecorrível; se lhe é posterior, reduz a pena imposta à metade. 05 - Prova: MOVENS - 2009 - PC-PA - Delegado de Polícia A respeito dos crimes contra a administração pública, assinale a opção correta. a) Aquele que exige vantagem indevida para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, comete o delito de corrupção ativa. b) No delito de peculato culposo, a reparação do dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta. c) Quem solicitar ou receber vantagem indevida para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, ou aceitar promessa de tal vantagem comete o delito de concussão. d) Aquele que retarda ou deixa de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou pratica-o contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal, comete o delito de condescendência criminosa. 06 - Prova: CESPE - 2012 - TJ-BA - Juiz Considerando o que dispõe o CP a respeito dos crimes contra a incolumidade, a paz, a fé e a administração públicas, assinale a opção correta. a) Não integram o tipo penal perigo de desastre ferroviário os veículos de tração mecânica por meio de cabo aéreo. b) Considere que João, Pedro, Antônio e Joaquim, todos maiores de idade, associem-se com a finalidade de falsificar um único ingresso de evento esportivo. Nessa situação, a conduta dos agentes se amolda ao crime de quadrilha. c) Suponha que Maria, de dezenove anos de idade, receba, de boa-fé, de um desconhecido passe falso de transporte de empresa administrada pelo governo e o utilize imediatamente após ser alertada, por seu irmão, da falsidade do bilhete. Nessa situação, a conduta de Maria caracteriza-se como atípica. d) Responde criminalmente o funcionário público que, em razão da função, e mesmo antes de assumi-la, aceita promessa de vantagem indevida, ainda que não venha a recebê-la. e) Não é prevista a modalidade culposa para o crime de desabamento. 07 - Prova: FGV - 2012 - PC-MA - Delegado de Polícia Com relação ao crime de peculato, assinale a afirmativa incorreta. a) É possível que a pessoa que não é funcionário público venha a responder por peculato. b) O carcereiro que recebe os objetos do preso e deles se apropria, responde por peculato.

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c) O funcionário público que deixa o cofre da repartição aberto, do que se aproveita outro funcionário para se apropriar de bens público, responde por peculato culposo, ficando extinta a punibilidade se ocorre a reparação do dano antes da sentença. d) O funcionário público que ao visitar um colega de outro órgão e se aproveita para subtrair bem público, responde por peculato furto. e) É possível a tentativa no crime de peculato, salvo na modalidade culposa. 08 - Prova: MPE-PR - 2012 - MPE-PR - Promotor de Justiça O Prefeito de determinado município distribuiu aos seus amigos grande quantidade de combustível, pago pelos cofres públicos. Considerada a conduta descrita, assinale a alternativa incorreta: a) Ocorreu crime de responsabilidade; b) Ocorreu ato de improbidade; c) Ocorreu crime contra a ordem tributária; d) Ocorreu violação a princípios da administração pública; e) Ocorreu ato em prejuízo ao erário. 09 - Prova: MPDFT - 2011 - MPDFT - Promotor de Justiça Em face das seguintes assertivas referentes aos tipos penais mencionados, assinale a alternativa correta: a) Segundo orientação do Superior Tribunal de Justiça, é legal a prisão em flagrante, sob a acusação de prática de concussão, do agente público quando recebe o valor que exigira da vítima dias antes. b) Diz-se, da corrupção passiva, que é própria, quando a solicitação ou recebimento da vantagem indevida destina-se à prática de ato lícito, inserido no rol de deveres impostos ao agente em razão de sua função. c) O delito de corrupção passiva praticado por policial militar no exercício da função é crime militar, devendo conduzir à sua punição no âmbito da Justiça Militar. d) O julgamento definitivo do procedimento em que foi falseada a verdade não é condição para que, no processo destinado à apuração do crime de falso testemunho, seja prolatada a decisão condenatória. e) Por se tratar de crime próprio, no peculato-furto não se pode reconhecer a autoria mediata quando o funcionário público vale-se de instrumento não qualificado, tal como o cidadão comum, induzido a erro, para a subtração de bem da Administração Pública. 10 - Prova: FCC - 2012 - PGM-Joao Pessoa-PB - Procurador Municipal No que concerne aos crimes contra a probidade administrativa, de acordo com a Lei no 8.429/92, considere: I. A suspensão dos direitos políticos se aplica de imediato com a publicação da sentença condenatória. II. A perda da função pública só se efetiva com o trânsito em julgado da sentença condenatória. III. A autoridade judicial ou administrativa competente poderá determinar o afastamento do agente público do exercício do cargo, emprego ou função, sem prejuízo da remuneração, quando a medida se fizer necessária à instrução processual. IV. A representação por ato de improbidade contra agente público ou terceiro beneficiário inocentes constitui crime quando o autor da denúncia tiver agido com dolo ou culpa. Está correto o que se afirma APENAS em a) I, II e IV.

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b) II e III. c) III e IV. d) I e II. e) I, III e IV. 11 - Prova: FAURGS - 2012 - TJ-RS - Analista Judiciário Sobre crimes em espécie, considere as afirmações abaixo. I - O funcionário público que exigir vantagem indevida, para si ou para outrem, apenas poderá ser responsabilizado pelo delito de concussão se estiver, no momento da exigência, em pleno e efetivo exercício da função pública. II - Iludir, totalmente, o pagamento de imposto devido pela entrada de mercadoria lícita no território nacional caracteriza o delito de contrabando, enquanto a ilusão, em parte, do referido pagamento, caracteriza o delito de descaminho. III - Constatada a prática de violência doméstica contra a mulher, nos termos da Lei nº 11.340/2006, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, a proibição de frequentar determinados lugares, a fim de preservar a integridade física e psicológica da ofendida. IV - Os crimes hediondos, a prática de tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de anistia, progressão de regime, graça, indulto e fiança. V - Comete o crime de corrupção passiva (art. 317 do CP) tanto o particular que oferece vantagem indevida, como o servidor público que aceita a promessa de tal vantagem, em concurso de agentes. Quais estão corretas? a) Apenas I. b) Apenas II. c) Apenas III. d) Apenas II, IV e V. e) Apenas III, IV e V. 12 - Prova: ESAF - 2012 - Receita Federal - Auditor Fiscal da Receita Federal - Prova 1 - Gabarito 1 Assinale a opção correta entre as assertivas abaixo relacionadas aos crimes contra a administração pública nos termos da legislação penal, doutrina e da jurisprudência dos Tribunais Superiores. a) O crime de Violação de Sigilo Profissional (art. 325 do CP) foi abolido pelo princípio da publicidade da atividade administrativa, não existindo mais no ordenamento jurídico. b) O crime de Violação do Sigilo de Proposta de Concorrência (art. 326 do CP) pode ser cometido por qualquer funcionário público. c) Perito Judicial é funcionário público para os fins do Código Penal. d) O crime de Resistência (art. 329 do CP) é crime praticado por funcionário público que exerce o poder de polícia. e) O crime de Desobediência (art. 330 do CP) e o crime de Desacato (art. 331 do CP) são tipos culposos. 13 - Prova: FCC - 2012 - Prefeitura de São Paulo - SP - Auditor Fiscal do Município - Gestão Tributária - Prova 2

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Paulus solicitou de Petrus a quantia de R$ 5.000,00 para influir junto a seu amigo Sérvio, funcionário público municipal, para não autuar sua empresa por irregularidades fiscais. Sérvio, desconhecendo a conduta de Paulus, mas cedendo ao pedido deste, se omitiu e deixou de autuar a empresa de Petrus. Nesse caso, Paulus e Sérvio responderão, respectivamente, por a) advocacia administrativa e prevaricação. b) condescendência criminosa e prevaricação. c) corrupção ativa e corrupção passiva qualificada. d) tráfico de influência e prevaricação. e) tráfico de influência e corrupção passiva privilegiada, respectivamente. 14 - Prova: UFPR - 2012 - TJ-PR - Juiz Para efeitos penais, o que se entende por "funcionário público estrangeiro"? a) Aquele que, de forma sempre remunerada, trabalha em empresas que contratam com a Administração Pública brasileira, excluindo-se, portanto, os funcionários de ONGS. b) Aquele que, de forma ainda que transitória e sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função em entidades estatais ou em representações diplomáticas de país estrangeiro. c) Aquele que trabalha apenas em representações estrangeiras que possuam relações diplomáticas com o Brasil ou em órgãos internacionais, como a ONU, FMI, OMS etc. d) Aquele que presta serviços apenas para empresas estrangeiras controladas, direta ou indiretamente, pelo poder público do seu país de origem que mantenha escritório permanente em território nacional. 15 - ANULADA 16 - Prova: CESPE - 2012 - TJ-RR - Agente de Proteção O crime de concussão caracteriza-se pela exigência de uma vantagem indevida, enquanto o de corrupção passiva consiste na solicitação de uma vantagem indevida. Certo Errado 17 - Prova: CESPE - 2012 - TJ-RR - Agente de Proteção Pode haver o crime de corrupção passiva sem que haja o de corrupção ativa. Certo Errado 18 - ANULADA 19 - Prova: CESPE - 2012 - TJ-RR - Técnico Judiciário Francisco, advogado, tendo encontrado Carlos no tribunal de justiça onde este trabalhava, percebeu que Carlos estava utilizando a impressora do cartório judicial para imprimir os rascunhos de sua monografia de final de curso. Indignado, Francisco ofendeu Carlos e afirmou que ele era um servidor público desonesto, que não merecia integrar os quadros do tribunal. Indignado com essa acusação, Carlos chamou a polícia judiciária, que prendeu o causídico. Ao encaminhar Francisco à delegacia, Antônio, um policial militar, exigiu que Francisco lhe pagasse R$ 500,00 para ser solto. Contudo, Francisco não atendeu à exigência e permaneceu preso. Por sua vez, César, diretor de secretaria e chefe de Carlos, ao tomar conhecimento de

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que seu subordinado havia usado a impressora do cartório para fins particulares, por pena, deixou de comunicar a ocorrência à corregedoria do tribunal. Com base na situação hipotética acima, julgue os itens subsequentes, a respeito dos crimes contra a administração pública. Antônio praticou o crime de corrupção passiva ao exigir de Francisco vantagem indevida. Certo Errado 20 - Prova: FCC - 2012 - MPE-AP - Promotor de Justiça No tocante aos crimes contra a administração pública, é correto afirmar que a) a reparação do dano no peculato culposo sempre conduz à extinção da punibilidade. b) pratica o delito de corrupção passiva o funcionário público que exige, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função, mas em razão dela, vantagem indevida. c) inadmissível o concurso de pessoas no crime de falso testemunho, segundo entendimento do Supremo Tribunal Federal. d) o funcionário público, fora do exercício de suas funções, pode ser sujeito ativo do delito de desobediência. e) a pena deve ser reduzida no delito de favorecimento pessoal se quem presta auxílio é ascendente do criminoso. 21 - Prova: FUMARC - 2012 - TJ-MG - Técnico Judiciário No que tange ao delito de prevaricação, é correto afirmar, EXCETO: a) O só fato de retardar ou deixar de praticar ato de ofício ou, ainda, praticá-lo contra disposição expressa de lei, com o propósito de satisfazer interesse ou sentimento pessoal, natureza patrimonial, material ou moral. b) A denúncia que for apresentada ao Juízo Criminal contra o funcionário público, não necessita indicar qual foi o interesse ou sentimento pessoal do acusado que motivou a prática do delito, de modo a individuar os atos típicos praticados e que caracterizam o delito imputado; basta comprovar a sua condição de funcionário público e o ato de postergar a sua prática. c) O elemento subjetivo a autorizar a identificação e tipifcação do delito de prevaricação será sempre a vontade determinada de se alcançar o resultado pretendido em conseqüência da prática do ato descrito no tipo legal para efeito de se considerar a sua consumação. d) O núcleo do tipo penal prevaricação consiste na conduta omissiva ou comissiva do funcionário público, já que mediante uma ou outra prática restará configurada a respectiva tipificação. 22 - Prova: FUMARC - 2012 - TJ-MG - Técnico Judiciário O crime de condescendência criminosa, para a sua configuração, exige alguns requisitos decorrentes do exercício do cargo e sem os quais jamais se tipificará. Assinale, dentre as alternativas abaixo, a única que não corresponde ao tipo penal indicado: a) A existência de hierarquia entre o agente que cometeu a infração e aquele que tem o dever de promover a responsabilização administrativa do funcionário.

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b) Deixar de levar ao conhecimento da autoridade administrativa competente o fato de ter um funcionário adquirido livros didáticos para seu flho em idade escolar cujo cheque emitido em pagamento foi devolvido sem fundos. c) A comprovada existência de dolo como elemento subjetivo exigido pelo ilícito penal praticado em que se prevê o delito de condescendência criminosa, agindo, pois, deliberadamente com o propósito de se alcançar o resultado pretendido. d) A ação penal correspondente à apuração do ilícito penal em questão é pública incondicionada. 23 - Prova: FUMARC - 2012 - TJ-MG - Técnico Judiciário Para que se configure o delito de violação de sigilo funcional, todas as alternativas abaixo são corretas, EXCETO: a) É o delito que se caracteriza quando, em razão do cargo ocupado, o funcionário público revela o fato de que teve ciência, mesmo tendo recebido expressa recomendação no sentido de não o falar a qualquer outra pessoa, ainda que se refira a outro funcionário público. b) A prática desse delito por funcionário público, no que se refere à sua facilitação para efeito de ser praticado, tanto abriga a forma omissiva quanto comissiva. c) Constitui-se de delito cuja forma qualificada eleva sobremodo a pena in abstrato que se encontra prevista para a sua forma simples, admitindo, também, na sua capitulação, causa especial de aumento de pena. d) O delito em pauta exige que tanto a culpa como o dolo restem devidamente comprovados para efeito de se configurar a violação de sigilo funcional. 24 - Prova: CESPE - 2012 - MPE-PI - Promotor de Justiça Com base no que dispõe o CP sobre os crimes contra a administração pública, contra a pessoa e contra o patrimônio, bem como sobre as penas, assinale a opção correta. a) O agente que comete crime de homicídio sob a influência de violenta emoção provocada por ato injusto da vítima faz jus à redução de um sexto a um terço da pena. b) O agente que subtrai, para si ou para outrem, coisa alheia móvel durante o período noturno responde pelo crime de furto qualificado, estando sujeito a pena de reclusão de dois a oito anos e multa. c) A exceção da verdade nos crimes de calúnia só será cabível se o ofendido for funcionário público e a ofensa, relativa ao exercício de suas funções. d) A reabilitação do preso poderá ser requerida após dois anos contados do dia em que for extinta, de qualquer modo, a pena ou terminar a sua execução, não se computando o período de prova da suspensão ou do livramento condicional. e) Considere a seguinte situação hipotética. Júlio foi preso em flagrante pela prática de crime contra o patrimônio, acusado de obter, em seu negócio, vantagem ilícita em prejuízo alheio mediante meio fraudulento. Durante a lavratura do auto de prisão em flagrante, Júlio ofereceu ao delegado de polícia a quantia de cinquenta mil reais para que fosse liberado. Nessa situação hipotética, o delegado de polícia deve lavrar o auto de prisão em flagrante de Júlio pelo crime anterior e também pelo crime de corrupção ativa consumado. 25 - Prova: ESAF - 2012 - CGU - Analista de Finanças e Controle - Prevenção da Corrupção e Ouvidoria Considerando disposições criminais atinentes às licitações públicas, de que trata a Lei n. 8.666/93, é correto afirmar que:

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a) perturbar ato de procedimento licitatório não caracteriza hipótese de crime previsto na Lei n. 8.666/93, mas enseja perdas e danos. b) os crimes definidos na Lei n. 8.666/93 sujeitam os seus autores, quando servidores públicos, além das sanções penais, à perda do cargo, emprego, função ou mandato eletivo, ainda que simplesmente tentados. c) admitir à licitação ou celebrar contrato com empresa ou profissional declarado inidôneo, apesar de reprovável e caracterizador, em tese, de ato de improbidade não configura crime previsto na Lei n. 8.666/93. d) caso alguém, no curso de processo licitatório, afaste licitante por meio de violência ou grave ameaça, responderá por crime de ameaça, uma vez que inexiste disposição específica na Lei n. 8.666/93, para essa hipótese. e) a alteração de substância ou qualidade de produto, em prejuízo da fazenda pública, entregue à administração, em cumprimento de contrato decorrente de procedimento licitatório, apesar de sujeitar o fraudador a ressarcir aos cofres públicos, não implica em responsabilidade criminal. 26 - Prova: CESPE - 2011 - TJ-ES - Juiz Assinale a opção correta com referência aos crimes praticados contra a administração em geral. a) No delito de resistência, se o ato legal do agente público não for executado em razão da ação criminosa, a pena cominada ao tipo penal será aumentada de um terço até metade. b) O delito de desacato pode ser praticado quando a ofensa é dirigida a funcionário público que não se encontre presente, desde que o desacato esteja relacionado às suas funções. c) Ao contrário do crime de corrupção passiva, o delito de tráfico de influência é material, ou seja, só se consuma com a obtenção efetiva da vantagem indevida. d) Comete o delito de usurpação de função pública o agente que se arrogue nessa função, independentemente de praticar atos de ofício como se legitimado fosse, com o ânimo de usurpar. e) O funcionário público pode cometer crime de desobediência, se destinatário de ordem judicial, e, considerando a inexistência de hierarquia, tem o dever de cumpri-la. 27 - Prova: FCC - 2012 - TRF - 2ª REGIÃO - Técnico Judiciário - Segurança e Transporte A respeito dos Crimes contra a Administração Pública, considere: I. O preso que foge do presídio, aproveitando-se de um descuido dos policiais, não responde por nenhum delito relacionado à sua fuga. II. A ação de várias pessoas, retirando, mediante violência, pessoa presa da guarda da escolta que o tinha sob custódia, para fins de linchamento, caracteriza o delito de arrebatamento de preso. III. A conduta do preso que permite ao seu companheiro de cela assumir sua identidade e assim se apresentar ao carcereiro encarregado de dar cumprimento a alvará de soltura, logrando êxito em fugir, não comete nenhum delito, pela ausência de grave ameaça ou violência à pessoa. Está correto o que consta SOMENTE em a) III. b) I e III. c) II e III. d) I. e) I e II. 28 - Prova: FCC - 2012 - TRE-SP - Analista Judiciário - Área Administrativa Contra a Administração Pública - Praticados por Funcionário Público Contra a Administração em Geral.;

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Antônio, funcionário público de uma repartição pública da cidade de São Paulo responde a processo por crime de peculato culposo, após concorrer de forma culposa, para o desvio de R$ 50.000,00 dos cofres públicos perpetrada por outro funcionário da mesma repartição. Por ser reincidente específico, Antônio não teve direito a qualquer benefício e foi condenado a cumprir pena de 06 (seis) meses de detenção em regime inicial semiaberto. Após a sentença irrecorrível, Antônio, arrependido, resolve reparar integralmente o dano causado, ressarcindo o prejuízo causado. Neste caso, a) o Magistrado deverá declarar extinta a sua punibilidade. b) a pena aplicada a Antônio deverá ser reduzida à metade. c) a pena aplicada a Antônio deverá ser reduzida de 1 (um) a 2/3 (dois terços) por estar configurado o arrependimento posterior. d) Antônio não terá direito à redução da pena, tendo em vista que a reparação do dano ocorreu após a prolação da sentença. e) está caracterizada uma circunstância atenuante genérica prevista no Código Penal, que deverá ser considerada pelo Magistrado que atuar durante a fase de execução de sentença 29 - Prova: CESPE - 2011 - TRF - 2ª REGIÃO - Juiz Considerando as causas extintivas de punibilidade, as circunstâncias, os crimes contra a administração pública, contra a ordem tributária, contra a ordem econômica e contra o sistema financeiro, assinale a opção correta. a) Sendo o prazo prescricional interrompido, em qualquer caso, recomeça a correr a partir do dia da interrupção. b) Em caso de prescrição executória, a contagem do prazo não poderá, em hipótese nenhuma, possuir termo inicial anterior ao recebimento da denúncia ou da queixa; é de três anos, no mínimo, o prazo prescricional para todas as penas. c) Têm disciplina especial as causas interruptivas da prescrição dos crimes contra a ordem tributária, contra a ordem econômica e contra o sistema financeiro. d) O crime de contrabando não se caracteriza enquanto não houver decisão definitiva no processo administrativo fiscal acerca da constituição do tributo devido, admitindo-se, em juízo, a incidência do princípio da insignificância. e) No crime de aplicação indevida de financiamento concedido por instituição financeira oficial, a reparação voluntária e integral do dano, antes do recebimento da denúncia, não extingue a punibilidade do agente, mas permite a incidência do arrependimento posterior e, caso ocorra a restituição antes do julgamento, configurará atenuante de reparação do dano. 30 - Prova: CONSULPLAN - 2012 - TSE - Analista Judiciário - Área Judiciária Sobre os crimes contra a administração pública, assinale a alternativa correta. a) Pratica o crime de corrupção passiva o servidor público que exige, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida. b) Pratica o crime de prevaricação o servidor que deixar, por indulgência, de responsabilizar subordinado que cometeu infração no exercício do cargo. c) No crime de falso testemunho ou falsa perícia o fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade. d) O particular que solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a pretexto de influir em ato praticado por servidor público no exercício da função, pratica o crime de corrupção ativa. 31 - Prova: UEG - NÚCLEO - 2008 - PC-GO - Delegado de Polícia

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Os agentes administrativos que praticarem atos em desacordo com os preceitos legais ou visarem à frustração dos objetivos da licitação sujeitam-se às sanções administrativas, civis e criminais. Sobre as condutas criminais, no chamado Direito Penal das Licitações, é CORRETO afirmar: a) os delitos previstos na Lei de Licitações não permitem a subseqüente prática do crime de lavagem de dinheiro. b) o tipo penal do art. 90 da Lei n. 8.666/93 (Lei de Licitações), consistente em “frustrar ou fraudar, mediante ajuste, combinação ou qualquer outro expediente, o caráter competitivo do procedimento licitatório, com o intuito de obter, para si ou para outrem, vantagem decorrente da adjudicação do objeto da licitação” encerra um crime unissubjetivo. c) o tipo penal descrito no art. 89 da Lei n. 8666/93 (Lei de Licitações), consistente na conduta de “dispensar ou inexigir licitação fora das hipóteses previstas em lei, ou deixar de observar as formalidades pertinentes à dispensa ou à inexigibilidade”, é crime de mão própria, portanto não admite co-autoria e participação. d) o servidor público que patrocina interesse privado em confronto com o da Administração, promovendo o início de procedimento licitatório ou a celebração de contrato, pratica o crime descrito no art. 321 do Código Penal (advocacia administrativa). 32 - Prova: FCC - 2012 - TRE-PR - Analista Judiciário - Área Judiciária No que concerne aos crimes praticados contra a Administração em geral, é correto afirmar: a) O crime de resistência só se consuma se, em razão da violência ou grave ameaça, o ato legal não vier a ser executado. b) A reintrodução no país de produtos de fabricação nacional destinados exclusivamente à exportação e de venda proibida no Brasil, constitui crime de contrabando. c) O crime de desacato admite a forma culposa quando o agente estiver no exercício de suas funções. d) O crime de corrupção passiva admite a forma culposa quando cometido através de interposta pessoa. e) O funcionário público, estando fora de suas funções, não pode cometer crime de desobediência. 33 - Prova: FCC - 2012 - TRE-CE - Analista Judiciário - Área Administrativa Rodolfo, empresário, presidente de uma empresa de engenharia, atua em parceria com Felipe, Prefeito de um determinado Município brasileiro, e ambos conseguem desviar em proveito próprio a quantia de R$ 300.000,00 da verba destinada à construção de uma escola do referido município. Rodolfo a) responderá por crime de peculato. b) não responderá por nenhum delito, pois não é funcionário público. c) responderá por crime de corrupção ativa. d) responderá por crime de emprego irregular de verbas públicas. e) responderá por crime de concussão. 34 - Prova: CESPE - 2011 - DPE-MA - Defensor Público Acerca dos crimes contra a fé pública e contra a administração pública, assinale a opção correta. a) A incidência da circunstância agravante relativa ao abuso de poder ou violação de dever inerente a cargo, ofício, ministério ou profissão não se mostra incompatível com o delito de peculato. b) Caracteriza o delito de moeda falsa a fabricação de instrumento ou de qualquer objeto especialmente destinado à falsificação de moeda. c) Reconhecer como verdadeira, no exercício de função pública, firma ou letra que não o seja caracteriza o delito de falsificação de documento particular. d) Destruir, em benefício próprio ou de outrem, documento público ou particular verdadeiro de que não se pode dispor configura o delito de falsidade ideológica.

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e) A consumação do crime de peculato-apropriação ocorre no momento em que o funcionário público, em virtude do cargo, começa a dispor do bem móvel de que se tenha apropriado, como se proprietário dele fosse. 35 - Prova: VUNESP - 2007 - OAB-SP - Exame de Ordem - 1 - Primeira Fase Não comete o crime de desobediência quem a) como supervisor, recebe pessoalmente ordem justa e legal do delegado de polícia, endereçada ao presidente da empresa, com a finalidade de cumprir determinação e não o faz. b) recebe pessoalmente ordem legal de funcionário público, mas a considera injusta e não a cumpre. c) regularmente intimado apenas para contribuir para a Justiça como jurado, deixa de comparecer à respectiva sessão do Tribunal do Júri, sem justificar a ausência. d) apesar de receber ordem legal pessoalmente, tendo em vista não concordar com o requerido, decide, após o prazo estipulado pela autoridade, não cumprir a ordem. 36 - Prova: CESPE - 2008 - OAB-SP - Exame de Ordem - 2 - Primeira Fase A conduta de exigir, solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de iniciar seu exercício, mas em razão dela, vantagem indevida, para deixar de lançar ou cobrar tributo ou contribuição social, ou para cobrá-los parcialmente, corresponde a a) fato atípico. b) crime de concussão. c) crime de corrupção passiva. d) crime contra a ordem tributária. 37 - Prova: FCC - 2012 - TCE-AP - Analista de Controle Externo - Controle Externo - Jurídica A respeito dos crimes contra a administração pública, considere: I. O funcionário público que não se encontra no exercício de suas funções não pode ser sujeito ativo de crime de prevaricação. II. O crime de advocacia administrativa não admite a forma tentada. III. O crime de denunciação caluniosa só é punível a título de dolo, enquanto o delito de comunicação falsa de crime ou contravenção admite a forma culposa. Está correto o que se afirma APENAS em a) I. b) I e II. c) I e III. d) II e III. e) III. 38 - Prova: FCC - 2011 - TCE-PR - Analista de Controle - Jurídica Na corrupção passiva, crime cometido contra a administração pública, o agente a) patrocina interesse privado perante a administração pública, valendo-se da qualidade de funcionário. b) exige vantagem indevida, ainda que fora da função, mas em razão dela c) apropria-se, com violência, de dinheiro ou valor, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo.

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d) retarda, ou deixa de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou o pratica contra disposição expressa da lei e) solicita ou recebe vantagem indevida, ainda que fora da função, mas em razão dela. 39 - Prova: FUMARC - 2011 - PM-MG - Oficial da Polícia Militar Os crimes contra a Administração Pública possuem características próprias, seja pela qualidade da(s) vítima(s), seja pela qualidade do(s) autor(es) ou do(s) objeto(s) ou resultado(s) atingido(s). O peculato é um dos delitos contra a Administração Pública. Nesse sentido, é necessário saber que a) a apropriação de bem, dinheiro ou valor é essencial para confguração do crime, por se tratar de crime de mero resultado. b) normalmente não se sempre opera a extinção da punibilidade se o agente ativo reparar imediatamente o dano, antes da sentença condenatória. c) os bens ou valores obtidos como vantagem devem pertencer à Administração Pública, caso contrário o delito praticado é o furto ou o roubo. d) pode ocorrer na modalidade culposa quando o a conduta do servidor público concorrer com a do agente ativo, ainda que o resultado não tenha ocorrido. 40 - Prova: FCC - 2011 - TRE-PE - Analista Judiciário - Área Administrativa A conduta de iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou pelo consumo de mercadoria tipifica o crime de a) contrabando. b) descaminho. c) peculato. d) prevaricação. e) excesso de exação. 41 - Prova: CESPE - 2011 - AL-ES - Procurador - conhecimentos específicos Acerca dos crimes contra a administração pública, a paz pública e o patrimônio, assinale a opção correta. a) Conforme a jurisprudência pacífica do STJ, configura bis in idem a condenação por crime de quadrilha armada e roubo qualificado pelo uso de armas. b) Segundo a jurisprudência do STJ, o princípio da insignificância é aplicável ao crime de estelionato, ainda que cometido em detrimento de entidade de direito público. c) À pessoa estranha à administração pública somente poderá ser imputado o crime de peculato quando a sua atuação ilícita se der em comprovada parceria com quem ostente a qualidade de servidor público. d) Não caracteriza bis in idem a condenação pela prática do delito de concussão, com aplicação da circunstância agravante decorrente do fato de o agente ter agido com abuso de poder ou violação de dever inerente ao seu cargo. e) Pratica o delito de excesso de exação o funcionário público que exige multa que sabe ou deveria saber indevida, ou, quando devida, emprega na cobrança meio vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza. 42 - Prova: TJ-DFT - 2011 - TJ-DF - Juiz Contra a Administração Pública - Praticados por Funcionário Público Contra a Administração em Geral.; Dos crimes contra a Administração Pública. Denomina-se Peculato o crime praticado por funcionário público ou particular contra a Administração Pública. Divise-o: a) Um policial que, em proveito próprio, se apropria do valor da fiança recebida de contraventor, pratica o peculato em razão do cargo;

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b) Quando o funcionário público, com ânimo específico de aproveitamento, apropria-se de um bem em seu benefício ou de outrem, mas alega que a sua intenção era a de restituí-lo, configura o peculato de uso; c) Quando o funcionário público insere ou facilita a inserção de dados falsos nos sistemas informatizados ou banco de dados da Administração Pública, com o fim de obter vantagem indevida, configura o peculato impróprio; d) Se o funcionário público, em benefício próprio, sem autorização ou solicitação da autoridade competente, alterar o programa de informática que se destina à confecção da folha de pagamento do órgão, configura o peculato-estelionato. 43 - Prova: MS CONCURSOS - 2009 - TRE-SC - Analista Judiciário - Área Administrativa De acordo com os dispositivos do Código Penal que tratam dos Crimes contra a Administração Pública, analise atentamente e correlacione os quadros abaixo, assinalando a alternativa correta. I – Praticar ato de ofício contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse pessoal. II – Deixar o funcionário, por indulgência, de levar ao conhecimento da autor idade competente, quando lhe falte competência, infração cometida por subordinado no exercício do cargo. III – Receber dinheiro, ou qualquer outra utilidade, a pretexto de influir em funcionário de justiça. IV – Apropriar-­se o funcionário público de valor de que tenha posse em razão do cargo, em proveito próprio. V – Prometer vantagem indevida a funcionár io público, para determiná-­lo a omitir ato de ofício. VI – Exigir para si, direta ou indiretamente, em razão de sua função, vantagem indevida. 1 – Exploração de prestígio. 2 – Peculato. 3 – Concussão. 4 – Prevaricação. 5 – Corrupção ativa. 6 – Condescendência criminosa. a) I-­3, II­-1, III-­5, IV-­2, V-­6 e VI-­4. b) I-­4, II-­1, III-­3, IV-­2, V-­6, e VI-­5. c) I­-4, II-­6, III­-1, IV­-2, V-­5 e VI-­3 d) I­-5, II-­6, III-­3, IV­-2, V-­1 e VI-­4. 44 - Prova: FUNCAB - 2009 - PC-RO - Delegado de Polícia - r A conduta de solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, configura o crime de: a) prevaricação. b) peculato. c) concussão. d) corrupção ativa. e) corrupção passiva. 45 - ANULADA

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46 - Prova: FCC - 2009 - TCE-GO - Analista de Controle Externo - Direito João, funcionário público, exigiu de Paulo a quantia de R$ 10.000,00 para dar andamento a processo administrativo de seu interesse. Paulo recusou-se a pagar a referida quantia e comunicou o ocorrido ao superior hierárquico de João. Nesse caso, João cometeu a) crime de corrupção passiva consumada. b) apenas ilícito administrativo. c) crime de tentativa de concussão. d) crime de concussão consumado. e) crime de tentativa de corrupção passiva. 47 - Prova: FCC - 2008 - TCE-AL - Procurador O particular que, em concurso com funcionário público e em razão da função por este exercida, exige vantagem indevida para ambos pratica o crime de a) exploração de prestígio. b) tráfico de influência. c) corrupção ativa. d) advocacia administrativa. e) concussão. 48 - Prova: FUNCAB - 2010 - IDAF-ES - Advogado A conduta de “exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida” é descrita, dentre os delitos contra a Administração Púbica, no Código Penal, como crime de: a) corrupção passiva. b) peculato. c) prevaricação. d) concussão. e) corrupção ativa. 49 - Prova: TJ-SC - 2009 - TJ-SC - Analista Jurídico Relacione a primeira coluna com a segunda, e após assinale a alternativa que corresponda à sequência correta: (I) Peculato (II) Concussão (III) Corrupção Passiva (IV) Prevaricação (V) Tráfico de influência ( ) Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem ( ) Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida ( ) Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal

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( ) Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a pretexto de influir em ato praticado por funcionário público no exercício da função ( ) Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio a) II, III, I, IV e V. b) III, II, IV, V e I. c) IV, III, II, I e V. d) V, I, II, III e IV. e) III, II, IV, I e V. 50 - Prova: MOVENS - 2010 - Prefeitura de Manaus - AM - Analista - Direito Com relação aos delitos contra a administração pública, assinale a opção incorreta. a) O agente que exige, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, comete o delito de concussão. b) O agente que abandona o cargo público, fora dos casos permitidos em lei não comete delito contra a administração pública, devendo apenas sofrer as sanções administrativas daí decorrentes, como a demissão do serviço público. c) Constitui o crime de excesso de exação a conduta do funcionário público que exige tributo ou contribuição social que sabe indevido, ou, quando devido, emprega na cobrança meio gravoso, que a lei não autoriza. d) A conduta do agente que deixa de praticar, indevidamente, ato de ofício, para satisfazer a interesse ou sentimento pessoal, não caracteriza o delito de condescendência criminosa. 51 - ANULADA 52 - Prova: CESPE - 2009 - IBRAM-DF - Advogado O agente público que, descumprindo dever funcional, praticar ato de ofício apenas por ceder à influência de outrem comete o crime de prevaricação. Certo Errado 53 - Prova: CESPE - 2009 - IBRAM-DF - Advogado O agente público que, mediante ameaças e lesão corporal, exige vantagem pecuniária indevida comete o crime de concussão. Certo Errado 54 - Prova: FUMARC - 2011 - BDMG - Advogado Marque a alternativa que indica o artigo do Código Penal cuja tipifcação é intitulada como crime de “CONCUSSãO”: a) Art. 314 do CP - Extraviar livro oficial ou qualquer documento, de que tem a guarda em razão do cargo; sonegá-lo ou inutilizá-lo, total ou parcialmente. b) Art. 317 do CP - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem.

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c) Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal. d) Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida. 55 - Prova: TJ-SC - 2010 - TJ-SC - Técnico Judiciário - Auxiliar Assinale a alternativa que contém apenas crimes contra a “administração da justiça”: a) Reingresso de estrangeiro expulso e Resistência. b) Desacato e Resistência. c) Tráfico de influência e Violência arbitrária. d) Denunciação caluniosa e Violência arbitrária. e) Favorecimento pessoal e Exploração de prestígio. 56 - Prova: IESES - 2010 - CRM-DF - Advogado Relacionado aos crimes contra a administração pública, pode-se afirmar que: a) Comete crime de denunciação caluniosa quem da causa, exclusivamente, a instauração de investigação policial ou de processo judicial, contra alguém, imputando-lhe crime de que o sabe inocente. b) O crime de exercício arbitrário das próprias razões é de ação privada se não há emprego de violência. c) No peculato culposo, se a reparação do dano precede a sentença irrecorrível, reduz a pena imposta em 1/2 (um meio). d) O a gente que retarda ou deixa de praticar, indevidamente, ato de oficio, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal, pratica a conduta de concussão. 57 - Prova: VUNESP - 2010 - FUNDAÇÃO CASA - Analista Administrativo - Direito Admite modalidade culposa o crime de a) desacato. b) peculato. c) prevaricação. d) desobediência. e) corrupção passiva. 58 - Prova: FGV - 2010 - OAB - Exame de Ordem Unificado - 2 - Primeira Fase (Set/2010) Fundação Pública Federal contrata o técnico de informática Abelardo Fonseca para que opere o sistema informatizado destinado à elaboração da folha de pagamento de seus funcionários. Abelardo, ao elaborar a referida folha de pagamento, altera as informações sobre a remuneração dos funcionários da Fundação no sistema, descontando a quantia de cinco reais de cada um deles. A seguir, insere o seu próprio nome e sua própria conta bancária no sistema, atribuindo-se a condição de funcionário da Fundação e destina à sua conta o total dos valores desviados dos demais. Terminada a elaboração da folha, Abelardo remete as informações à seção de pagamentos, a qual efetua os pagamentos de acordo com as informações lançadas no sistema por ele. Considerando tal narrativa, é correto afirmar que Abelardo praticou crime de: a) estelionato. b) peculato. c) concussão. d) inserção de dados falsos em sistema de informações. 59 - Prova: EJEF - 2009 - TJ-MG - Titular de Serviços de Notas e de Registros

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Marque a assertiva CORRETA. Considera-se funcionário público, para efeitos penais, a) quem exerce cargo, emprego ou função pública, ainda que transitoriamente ou sem remuneração. b) somente quem ocupe cargo efetivo e possua estabilidade. c) o funcionário concursado, exceto o comissionado. d) apenas quem exerce cargo, emprego ou função em entidade estatal, sob remuneração. 60 - Prova: CESPE - 2010 - TRE-MT - Analista Judiciário - Área Judiciária Acerca dos crimes contra a fé e a administração públicas, assinale a opção correta. a) O crime de uso de documento falso não possui preceito secundário específico, sendo aplicável a tal crime a pena cominada à falsificação ou à alteração do documento. b) Considerando que um indivíduo tenha falsificado cinquenta moedas metálicas de vinte e cinco centavos de reais, colocando-as em circulação, segundo o entendimento do Superior Tribunal de Justiça (STJ), por serem as moedas de pequeno valor, será aplicável o princípio da insignificância, pela mínima ofensividade da conduta do agente. c) No crime de corrupção passiva, a pena não será aumentada se, em consequência da vantagem ou promessa, o funcionário retardar ou deixar de praticar qualquer ato de ofício, pois tal fato já constitui elementar do crime. d) Praticará crime de prevaricação o funcionário público que deixe de responsabilizar, por indulgência, subordinado que cometa infração no exercício do cargo, tendo competência para fazê-lo. e) O indivíduo que, no exercício da função pública, tenha praticado violência contra colega de trabalho responderá por lesões corporais, pois não há previsão de crime funcional próprio semelhante. 61 - Prova: FCC - 2011 - TRE-AP - Analista Judiciário - Área Administrativa No que concerne aos crimes contra a Administração Pública praticados por funcionário público é correto afirmar: a) Equipara-se a funcionário público, para efeitos penais, quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública. b) Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente público, de cumprir seu dever de vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo, cometerá crime de condes- cendência criminosa. c) Não comete crime, mas sim infração administrativa, o funcionário que modificar ou alterar, sistema de informações ou programa de informática sem autorização ou solicitação de autoridade competente. d) Comete crime de corrupção passiva o funcionário público que patrocina indiretamente interesse privado perante a administração pública, valendo-se da qualidade de funcionário. e) Comete crime de concussão aquele que se apropriar de dinheiro ou qualquer utilidade que, no exercício do cargo, recebeu por erro de outrem. 62 - Prova: IESES - 2011 - TJ-MA - Titular de Serviços de Notas e de Registros - Provimento por ingresso É certo afirmar: I. O crime de violação de direito autoral é delito permanente nas formas de exposição, ocultação e depósito. II. São estabelecimentos penais previstos na LEP: penitenciária; casa do albergado; presídio; cadeia pública, prisão agrícola e prisão industrial.

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III. Diante da urgência o mandado de prisão pode ser expedido por qualquer autoridade judicial, mesmo que incompetente. IV. É dominante o entendimento de que não existe peculato de uso de coisa fungível. Analisando as proposições, pode-se afirmar: a) Somente as proposições I e III estão corretas. b) Somente as proposições I e IV estão corretas. c) Somente as proposições II e III estão corretas. d) Somente as proposições II e IV estão corretas. 63 - Prova: VUNESP - 2009 - TJ-MS - Titular de Serviços de Notas e de Registros Funcionário público que contribui culposamente para a prática de apropriação de dinheiro público, mas repara o dano antes da sentença penal irrecorrível, a) terá a pena reduzida de metade. b) terá a pena reduzida de um a dois terços. c) terá a seu favor apenas circunstância atenuante. d) terá extinta a punibilidade. e) poderá obter o perdão judicial. 64 - TRT - 1ª REGIÃO (RJ) - Técnico Judiciário - Segurança A respeito dos crimes contra a Administração da Justiça considere: I. Não constitui crime a conduta de acusar-se perante a autoridade de crime praticado por outrem. II. Não comete crime de falso testemunho a testemunha que simplesmente calar a verdade. III. Quem, na pendência de processo civil, altera o local dos fatos com o fim de induzir em erro o perito, comete crime de fraude processual. Está correto o que se afirma APENAS em a) I. b) I e II. c) I e III. d) II e III. e) III. 65 - Prova: CESPE - 2005 - TRT-16R - Analista Judiciário - Área Judiciária - Execução de Mandados Quando o desvio de verba pública se verifica em favor do próprio ente público, com utilização diversa da prevista na sua destinação, em desacordo com as denominações legais, o que ocorre é o delito de peculato culposo. Certo Errado 66 - Prova: CESPE - 2005 - TRT-16R - Analista Judiciário - Área Judiciária - Execução de Mandados

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1 Sujeito passivo do crime de extravio, sonegação ou inutilização de livro ou documento, tipificado no Código Penal, é o Estado e, eventualmente, o particular proprietário do documento confiado à administração pública. Certo Errado 67 - Prova: CESPE - 2005 - TRT-16R - Analista Judiciário - Área Judiciária - Execução de Mandados Se um médico credenciado pelo INSS solicitasse importância em dinheiro, por fora, sem imposição, para realizar cirurgia em beneficiária de uma autarquia, haveria a prática do crime de concussão. Certo Errado 68 - Prova: CESPE - 2005 - TRT-16R - Analista Judiciário - Área Judiciária - Execução de Mandados Se o chefe de uma repartição pública, por indulgência demorasse a tomar providências contra subordinado que cometesse infração penal no exercício do cargo, o referido chefe praticaria o crime de advocacia administrativa. Certo Errado 69 - Prova: CESPE - 2005 - TRT-16R - Analista Judiciário - Área Judiciária - Execução de Mandados Estudantes de direito, atuando como estagiários na defensoria pública, mesmo sem designação regular da Procuradoria-Geral da Justiça, podem ser considerados funcionários públicos, na definição ampla dada pelo Código Penal. Certo Errado 70 - Prova: CESPE - 2005 - TRT-16R - Analista Judiciário - Área Judiciária - Execução de Mandados O servidor que, depois de empossado, não chega a exercer, por vontade própria, o cargo para o qual foi nomeado, abandonando a função pública, com prejuízo para a administração, incide nas disposições contidas no Código Penal tipificadoras do crime de abandono de função. Certo Errado 71 - Prova: CESPE - 2009 - TRE-MA - Analista Judiciário - Área Administrativa Com relação aos crimes contra a administração pública, assinale a opção correta. a) Policial civil que ingressa no depósito de veículos e subtrai uma motocicleta apreendida comete o crime de peculato desvio. b) Comete o crime de concussão o médico de hospital público que exige de paciente, em razão de sua função, dinheiro para viabilizar o atendimento pelo SUS. c) Se um gerente do Banco do Brasil, entidade paraestatal, apropriar- se de dinheiro particular de que tem a posse em razão do cargo, o crime por ele cometido será o de apropriação indébita, uma vez que ele não pode ser considerado funcionário público para fins penais. d) No crime de concussão, o ressarcimento do dano é causa de extinção da punibilidade.

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e) Para que se configure o crime de desvio irregular de verbas, é necessário que as contas do gestor público sejam rejeitadas pelo tribunal de contas. 72 (ANULADA) - Prova: CESPE - 2008 - TJ-AL - Juiz Acerca dos crimes contra a administração pública, assinale a opção correta. a) Se um funcionário público subtrai para si uma impressora pertencente a estado da Federação, nessa situação, ainda que não tenha se valido do cargo nem de qualquer facilidade por ele proporcionada, o funcionário responde por crime de peculato- furto. b) Pratica crime de emprego irregular de verbas ou rendas públicas o funcionário público que dá às mesmas aplicação diversa da estabelecida em decreto estadual. c) Pratica excesso de exação o funcionário público que exige custas ou emolumentos que sabe ou deveria saber indevidos. d) Segundo a doutrina, o crime de facilitação de contrabando ou descaminho configura exceção à teoria unitária ou monista, relativa ao concurso de agentes. e) O crime de prevaricação é unissubsistente, motivo pelo qual a doutrina entende que é incabível a tentativa. 73 - Prova: CESPE - 2008 - TJ-SE - Juiz Com relação às infrações penais, assinale a opção correta. a) Não são crimes dolosos contra a vida a tentativa de homicídio, a instigação ao suicídio e o aborto provocado com o consentimento da gestante. b) São crimes sujeitos ao procedimento do tribunal do júri o latrocínio, a ocultação de cadáver e a lesão corporal seguida de morte. c) Os crimes de posse sexual mediante fraude e sedução foram revogados e, portanto, não são mais condutas típicas. d) O agente que reduz alguém a condição análoga à de escravo, sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, terá sua pena aumentada se o crime for cometido por motivo de preconceito de raça ou cor. e) O agente que reconhece como verdadeira, no exercício da função pública, firma ou letra que sabe ser falsa pratica crime contra a administração pública. 74 - Prova: FGV - 2008 - Senado Federal - Policial Legislativo Federal Relativamente aos crimes previstos na parte especial do Código Penal, analise as afirmativas a seguir: I. É isento de pena quem comete qualquer dos crimes contra o patrimônio (previstos no título II da parte especial do Código Penal), em prejuízo do cônjuge, na constância da sociedade conjugal, salvo quando há emprego de grave ameaça ou violência à pessoa ou o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos. II. O crime de induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça só é punível se a vítima morre ou sofre ao menos lesão corporal de natureza grave. III. Não é punível a participação de particular nos crimes praticados por funcionário público contra a administração em geral. IV. Não é punível a conduta do funcionário público que, por indulgência, deixa de levar ao conhecimento da autoridade competente quando outro funcionário cometa infração no exercício do cargo.

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Assinale: a) se apenas as afirmativas I e II estiverem corretas. b) se apenas as afirmativas II e III estiverem corretas. c) se apenas as afirmativas I e IV estiverem corretas. d) se nenhuma afirmativa estiver correta. e) se todas as afirmativas estiverem corretas. 75 - Prova: MPE-SP - 2006 - MPE-SP - Promotor de Justiça Em relação aos crimes contra a administração pública, assinale a alternativa incorreta: a) na hipótese de crime praticado por funcionário público contra a administração em geral, incide causa de aumento de pena se o autor é ocupante de cargo de direção em fundação instituída pelo poder público. b) praticar, deixar de praticar ou retardar ato de ofício em função de pedido ou influência de outrem constitui agravante especial do crime de corrupção passiva. c) não caracteriza o crime de resistência o ato de permanecer parado sem colaborar para a execução do ato legal. d) para a caracterização do crime de desobediência, não é necessário que o agente atue de forma comissiva. e) no crime de desacato exige-se a presença do dolo de ofender, humilhar ou desprestigiar, com o fim de atingir a dignidade da função do sujeito passivo. 76 - Prova: EJEF - 2005 - TJ-MG - Juiz Com relação ao crime de peculato é CORRETO afirmar que: a) no caso de peculato culposo, a reparação de dano, se precede à sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se o ressarcimento for posterior, reduz de metade a pena imposta. b) sujeito ativo só pode ser o funcionário público, uma vez que, pelo princípio da incomunicabilidade, essa qualidade não se estende a outro concorrente, não exercente de cargo ou função pública. c) a reposição do dinheiro público não descaracteriza o peculato doloso, mas influi na dosimetria de pena por se tratar de desistência voluntária. d) não haverá absorção da falsidade, se esta constitui meio para a prática do desfalque. 77 - Prova: CESPE - 2009 - PC-RN - Agente de Polícia Em relação aos crimes contra a administração pública, assinale a opção correta. a) O delegado que deixa de instaurar inquérito policial para satisfazer interesse pessoal comete o crime de favorecimento pessoal. b) A pessoa que solicita determinada quantia a pretexto de influir em ato praticado por policial pratica advocacia administrativa. c) O delegado que deixa de responsabilizar subordinado que cometeu infração no exercício do cargo pratica crime de condescendência criminosa. d) O policial que solicita para si determinada quantia em razão da função que exerce pratica crime de concussão. e) Comete crime de desobediência o agente público que deixa de cumprir seu dever de vedar o acesso a telefone celular, permitindo ao preso a comunicação externa. 78 - Prova: MPE-SP - 2005 - MPE-SP - Promotor de Justiça

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Assinale a alternativa que está em desacordo com as regras estabelecidas no Código Penal para os crimes contra a administração pública. a) O particular, estranho ao serviço público, pode ser responsabilizado como partícipe no crime de peculato. b) Nos casos de peculato doloso, não extingue a punibilidade a restituição da coisa apropriada no curso da ação penal. c) Para efeitos penais, é considerado funcionário público aquele que exerce transitoriamente função pública. d) No delito de concussão, a consumação só ocorre quando o agente obtém a vantagem indevida. e) Para os condenados por crime contra a administração pública, a norma em vigor condiciona a progressão de regime à reparação do dano ou à devolução do produto do ilícito. 79 - Prova: CESPE - 2005 - TRE-MT - Analista Judiciário - Área Judiciária Determinado prefeito, nos dois últimos quadrimestres do último ano de seu mandato, autorizou a prefeitura a assumir obrigação cuja despesa não podia ser paga no mesmo exercício financeiro, restando parcela a ser paga no exercício seguinte, para a qual não existia contrapartida suficiente de disponibilidade de caixa. Com relação à situação hipotética apresentada, assinale a opção correta. a) O prefeito poderá ser responsabilizado, na esfera penal, pela prática do crime de peculato. b) O sucessor do prefeito deverá pagar a obrigação assumida pelo seu antecessor, sob pena de também ser responsabilizado penalmente. c) O prefeito poderá ser responsabilizado, na esfera penal, pela prática do crime de emprego irregular de verbas ou rendas públicas. d) O prefeito poderá ser responsabilizado, na esfera penal, pela prática de crime contra as finanças públicas. e) O prefeito poderá ser responsabilizado, na esfera penal, pela prática do crime de prevaricação. 80 - Prova: EJEF - 2008 - TJ-MG - Juiz Nos crimes contra a administração pública, é CORRETO afirmar: a) No crime de peculato doloso, o funcionário que reparar o dano até a publicação de sentença condenatória tem extinta sua punibilidade. b) Solicitar, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, configura-se o crime de corrupção ativa. c) O Diretor de Penitenciária que deixa de cumprir seu dever de vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico que permita a comunicação com outros presos comete o crime de prevaricação. d) Comete o crime de desobediência quem se opõe à execução de ato legal, mediante violência ou ameaça a funcionário competente para executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio.