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AGRADECIMENTOS
Agradeço ao professor Daniel Moura por orientar o meu trabalho, à doutora
Cristina Granja e aos seus colaboradores do SCIM da ULSM pelo estágio clínico que
me proporcionaram, ao doutor Paulo Reis pelo auxílio na elaboração do relato do caso
clínico e aos doutores Óscar Camacho, José Luís Brandão e Luís Coentrão pela
transmissão da sua experiência no âmbito da Toxicologia Médica. Agradeço aos meus
pais, Ana Paula Melo e Augusto Rosado Neves, à minha namorada, Ana Rita Félix, e ao
meu amigo e colega, Luís Silva pelo apoio prestado durante a realização deste trabalho.
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RELATÓRIO DE ESTÁGIO DE TOXICOLOGIA MÉDICA
RESUMO
Este relatório descreve o trabalho clínico e os seminários de um estágio de duas
semanas dedicadas à toxicologia médica na perspectiva dos cuidados médicos a prestar
aos doentes com intoxicações agudas. A parte clínica, que decorreu num serviço de
cuidados intensivos, consta da descrição dos casos clínicos de três doentes que foram
internados no decurso do estágio: uma intoxicação em que predominou a acção de
opiáceos, outra em que predominou a acção de uma fenotiazina antipsicótica e outro,
complexo, com um provável componente de síndrome da serotonina. Nos seminários
incluiu-se o contacto com centros e especialistas com experiência nas intoxicações por
CO, cianeto, cogumelos e paraquato. O relato termina com uma análise da especialidade
médica tal como está organizado pelo colégio americano.
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ÍNDICE:
I. Lista de Abreviaturas 7
II. Introdução 8
III. Enquadramento 8
IV. Actividades Realizadas 9
V. Análise Crítica 16
VI. Referências 17
VII. Anexos 18
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I. LISTA DE ABREVIATURAS
ACMT – American College of Medical Toxicology
CIAV – Centro de Informação Antivenenos
CO – Monóxido de Carbono
COHb – Carboxi-hemoglobina
ECG - Electrocardiograma
EUROTOX– Association of European Toxicologists and Societies of Toxicology
GSA - Gasimetria Arterial
HGSA – Hospital Geral de Santo António
HSJ – Hospital de São João
ICO – Intoxicação por Monóxido de Carbono
IMV – Intoxicação Medicamentosa Voluntária
INEM – Instituto Nacional de Emergência Médica
IOT – Intubação Orotraqueal
MH – Medicina Hiperbárica
PAC – Pneumonia Adquirida na Comunidade
PCR – Proteína C Reactiva
SCIM – Serviço de Cuidados Intensivos Médicos
SE – Sala de Emergência
SN – Serviço de Nefrologia
SU – Serviço de Urgência
TM – Toxicologia Médica
UCI – Unidade de Cuidados Intensivos
UMH – Unidade de Medicina Hiperbárica
ULSM – Unidade Local de Saúde de Matosinhos
VI – Ventilação Invasiva
VNI – Ventilação Não Invasiva
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I. INTRODUÇÃO
A escolha deste estágio, em detrimento dos outros disponibilizados no mesmo
âmbito, relaciona-se, em primeiro lugar, com a falta de oportunidades ao longo do curso
de Medicina para obter formação, teórica e prática, na TM; em segundo lugar, com a
importância que senti no SU em orientar bem os casos de intoxicação aguda; e, por
último, com o meu interesse em compreender melhor a organização e funcionamento,
em Portugal, da TM.
II. ENQUADRAMENTO
Este módulo opcional de TM está inserido no último ano do plano curricular do
Mestrado Integrado em Medicina da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto
(FMUP), regido pelo professor Daniel Moura, com a duração de duas semanas e 3
ECTS.
Para além do Instituto de Farmacologia e Terapêutica da FMUP, houve também
a colaboração de várias unidades clínicas, do SCIM e UMH da ULSM e da UCI do
HGSA.
As actividades realizadas tiveram um cunho misto, uma parte de estágio clínico,
que foi realizado em 3 períodos de 8 horas no quotidiano de uma UCI e outra parte de
seminários aplicados à clínica, que permitiu o contacto quer com recursos disponíveis
na região do Porto, como por exemplo a UMH, quer com especialistas particularmente
dedicados a intoxicações específicas como as provocadas por CO, por cogumelos,
paraquato e cianeto.
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IV. ACTIVIDADES REALIZADAS
Estágio clínico:
Durante o estágio clínico no SCIM da ULSM estiveram internados três doentes
com intoxicações agudas, dois dos quais com quadros típicos (caso 1 e 2), que relatarei
sucintamente e um terceiro, complexo que, motivou uma discussão em torno do
síndrome da serotonina (caso 3).
Caso 1. Intoxicação com benzodiazepinas e fenotiazinas antipsicóticas
Um homem de 62 anos foi admitido no Hospital de Famalicão e depois
reencaminhado para o SCIM da ULSM, por IMV com intenção suicida com lorazepam
e ciamemazina. Tinha depressão do estado de consciência, recebeu uma dose de
flumazenil à qual não respondeu, e piorou rapidamente com afundamento do estado de
consciência (coma não reactivo de grau 3 na escala de Glasgow) e hipotensão
sustentada, pelo que foi realizada IOT, iniciada perfusão de flumazenil e fluidoterapia
com dopamina em dose máxima de 10 mg/kg/h. Após reversão do estado comatoso e da
descompensação hemodinâmica, foi transferido para o Hospital de Famalicão.
Caso 2. Intoxicação com opiáceos
Um homem de 42 anos, recluso no estabelecimento prisional de Custóias, foi
trazido ao SU pelo enfermeiro da prisão por ter sido encontrado comatoso e com
dificuldade respiratória. Estava num programa de desabituação com metadona e tinha na
sua história medicamentosa o uso de diazepam, lorazepam, hidroxizina, domperidona,
lanzoprazol, sulpirida e tiaprida.
Encontrava-se, prostrado, reagia a estímulos verbais, pronunciando
monossílabos. As pupilas eram isocóricas e mióticas. Apresentava sinais de dificuldade
respiratória, com cianose. A via aérea estava permeável, após aspiração de secreções
espessas e abundantes. Na auscultação pulmonar apresentava murmúrio vesicular
presente bilateralmente, globalmente diminuídos, com roncos à direita na base. Tinha
várias escoriações nos membros e região torácica direita. Analiticamente apresentava na
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GSA uma acidose respiratória marcada. O rastreio de drogas foi positivo para opiáceos.
No Rx do tórax, apresentava infiltrado heterogéneo paracardíaco direito.
Após administração de naloxona e flumazenil, com melhoria transitória do
estado de consciência, e desaparecimento de miose iniciou-se empiricamente
cefotaxima e azitromicina por suspeita de pneumonia. Após boa evolução no
internamento do estado de consciência teve alta.
Caso 3. Intoxicação mista com possível síndrome da serotonina
Caso Clínico
Um homem de 71 ano foi internado no SCIM da ULSM em coma não reactivo por suspeita de
intoxicação medicamentosa.
O paciente tinha antecedentes de nefrectomia à direita aos 17 anos de idade por tuberculose
renal, angioplastia coronária aos 60 anos e cistectomia com nefrostomia à esquerda por
neoplasia da bechiga em Dezembro de 2009, com nefrostomia à esquerda. Estava em
tratamento antidepressivo na consulta do Hospital Magalhães de Lemos, há cerca de um ano.
Estava medicado com diazepam, sertralina, amitriptilina, tramadol e antagonistas dos receptores
da angiotensina II.
Foi admitido pela SE em coma não reactivo com a informação de que tinha ingerido
quanitdades desconhecidas dos medicamentos que andava a tomar. Ao exame objectivo, estava
em coma com grau 3 da escala de Glasgow, pupilas simétricas e não reactivas com 3 mm de
diâmetro, sem sinais neurológicos focais e com reflexo cutâneo plantar em flexão. Não
apresentava sinais meníngeos e estava hemodinamicamente estável. Apresentava hipotermia
(35ºC). Na auscultação pulmonar tinha roncos na base direita. Apresentava uma FC de 66 bpm e
TA de 90-60 mmHg. O abdómen estava mole e depressivel. Tinha palidez cutânea, com
mucosas descoradas e desidratadas. Foi necessária IOT ainda no domicílio, onde tinha sido
socorrido por médico do INEM, com a suspeita de ter ocorrido aspiração de conteúdo gástrico.
Dos exames complementares de diagnóstico efectuados, tinha analiticamente uma Hb de 9,8,
sem leucocitose e PCR de 0,69. Na análise da urina tinha doseamento positivo para
benzodiazepinas e antidepressivos tricíclicos. Na análise de sangue tinha: creatinina de 2,9;
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potássio de 6,1; CK total de 524. NA GSA (durante ventilação invasiva com FiO2 de 60%)
tinha um pH de 7,35; pO2 de 125; pCO2 de 36; HCO3 de 21; lactatos de 0,6.
No ECG apresentava ritmo sinusal, com atraso inespecífico na condução intraventricular (QRS
com 110+ MS) e não apresentava sinais de isquemia aguda. Teve períodos de bradicardia na SE.
No TAC cerebral não tinha lesões isquémicas ou hemorrágicas.
Na SE foram administradas duas ampolas de flumazenil, que foi suspenso porque originou
abalos mioclónicos dos olhos e do queixo. Entreabriu os olhos não obedecendo a ordens.
O paciente ficou sob ventilação mecânica invasiva, fluidoterapia, sem qualquer sedação ou
analgesia. Iniciou-se empiricamente amoxiciclina + ácido clavulânico por suspeita de
pneumonia de aspiração. Foi feita zaragatoa nasal, que foi positivo para MRSA, pelo que
iniciou mupirocina, e passou para o isolamento. Durante o internamento alterou-se a
antibioterapia, devido a subida do PCR (de 4,99 para 14,58) e alteração das secreções
brônquicas, começando a fazer linezolido, por suspeita de infecção nosocomial.
Ao longo do internamento o doente foi recuperando o estado de consciência mas fez um quadro
de descoordenação motora, mioclonias e tremor. Optou-se por associar oxazepam ao
tratamento, começando a haver ligeira melhoria da força e coordenação motora, com
colaboração aos pedidos efectuados. Ffoi possível efectuar a extubação. O paciente estava
colaborante, mas por vezes com discurso pouco perceptível, referindo amnésia para o sucedido,
negando toma voluntária com ideação suicida. Após estabilização dos parâmetros vitais, foi
transferido para a UCI.
Discussão
O síndrome da serotonina é uma entidade clínica causada pela administração de fármacos
serotoninomiméticos. A maior parte, dos casos mais severos são causados pelo uso simultâneo
de pelo menos dois fármacos. Este síndrome apresenta-se como uma tríade de sintomas:
mudança do estado mental, alterações neuromusculares e hiperatividade vegetativa. Os sinais e
sintomas são a principal fonte de diagnóstico. O tratamento do síndrome consiste,
principalmente, na remoção dos fármacos suspeitos de o ter desencadeado, uso de cuidados de
suporte, controle da agitação, administração de antagonistas da serotonina, controle da
instabilidade autonómica e controle da hipertermia. A prevenção do síndrome da serotonina é
feita, principalmente, evitando-se a combinação de medicamentos pró-serotonínicos e estando-
se atento ao aparecimento dos primeiros sintomas.
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Este síndrome é uma entidade clínica iatrogénica que resulta da estimulação excessiva dos
receptores da serotonina no organismo. Pode ser causado pelo uso terapêutico combinado de
fármacos, intoxicação medicamentosa voluntária ou interação entre fármacos. Grande maioria
dos casos graves é devido ao uso simultâneo de pelo menos dois fármacos serotoninérgicos.
Assim enquadra-se bem o nosso paciente, que fez sertralina , amitriptilina, tramadol e
linezolido.
A incidência do síndrome não é conhecida e a baixa frequência é devida muito em parte ao não
reconhecimento da entidade. O diagnóstico torna-se difícil devido à natureza das manifestações,
à aplicação restritiva de critérios de diagnóstico e ao desconhecimento do síndrome.
As manifestações clínicas são muito variáveis, desde ligeiro tremor e diarreia, até contracções
musculares, instabilidade autonómica, coma e morte. Classicamente o síndrome da serotonina é
definido como uma tríade de alterações do estado mental, alterações neuromusculares e
hiperactividade autonómica.
Alterações do estado mental
Hiperactividade autonómica Alterações neuromusculares
Figura 1: Tríade de alterações neuromusculares, neuropsiquiátricas e neuro vegetativas, propostas por Sternbach.
Olhando para esta tríade, podemos ver que o estado do paciente se enquadrava em cada ponto
apresentado. Apresentação de quadro de descoordenação motora, mioclonias, tremor e pupilas
midriáticas.
Contudo, estas manifestações nem sempre estão presentes e podem existir outro tipo de
manifestações clínicas que não se encontram presentes nos critérios de Sternbach. ( hipertermia,
sudorese, taquicardia, taquipneia e hiper/hipotensão arterial). Parte detas manifestações
poderiam ter sido apagadas pela acção anticolinérgica da amitriptilina, que, provavelmente foi
também a causa do QRS longo. Também não se pode eliminar o diagnóstico de um síndrome de
privação às benzodiazepinas.
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Seminários:
1. Fundamentos de diagnóstico e tratamento em doentes com intoxicação aguda
Este seminário procurou organizar o conhecimento dos tóxicos e antídotos para as
necessidades de actuações médicas nas condições reais da clínica.
Salientou a importância da progressão por prioridades, tirando o máximo partido das
regras de suporte imediato de vida ABCDE.
Chamou-se a atenção para o uso dos toxíndromes como conceito útil, perante
situações em que o conhecimento do tóxico envolvente é escasso.
Discutiu-se as medidas gerais de tratamento das intoxicações com especial atenção
para as indicações, contra-indicações e técnicas para realizar lavagem gástrica, o uso de
carvão activado e indução de vómito com xarope de ipeca.
Finalmente fez-se uma revisão dos antídotos específicos para várias intoxicações.
A minha contribuição no seminário incidiu sobre os toxíndromes. (Anexo 1)
2. Intoxicação por CO e uso da CH
O seminário foi orientado pelo especialista doutor Óscar Camacho e decorreu na
UMH da ULSM, que dispõe da única câmara hiperbárica do norte de Portugal.
Foi relatada a evolução da actividade para o tratamento da intoxicação por CO,
desde a sua instituição.
Fruto da situação anterior em que este recurso não era disponível, constatou-se
inicialmente uma subutilização da câmara, devido a desconhecimento dos critérios de
selecção. A situação tem vindo a melhorar, de tal forma que nos primeiros dois meses
de 2010, o número de pacientes orientados, já igualou o número total do ano passado.
(Anexo 2)
3. Intoxicação por cogumelos
Este tema foi realizado no decurso de um seminário conduzido pelo doutor José
Luís Brandão, especialista em Medicina Interna na UCI do HGSA e Mestre em
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Emergência Médica pela FMUP, com uma tese sobre a proposta de organização do
tratamento em Portugal na intoxicação por cogumelos.
Inicialmente relatou a sua permanência em Castelo Branco, local onde
aprofundou seus conhecimentos em cogumelos, apontando como pontos principais
a existência dos falsos entendidos em cogumelos e da falsa convicção destas
intoxicações serem mais frequentes em crianças e idosos, quando, segundo os casos
que o doutor Brandão testemunhou, a faixa etária dos 20 aos 30 é a mais
frequentemente afectada.
De seguida salientou o tema da distribuição geográfica das espécies tóxicas de
cogumelos, que não é tão linear como se pensa, evidenciando um caso clínico de um
residente de Gondomar que ingeriu uma refeição com cogumelos do seu quintal, que
culminou numa hepatite fulminante. Por fim falou-se de uma técnica extracorporal de
auxílio à remoção de tóxicos. Esta técnica é realizada por uma máquina chamada
MARS, a qual actua por remoção de substâncias que se ligam à albumina. Este
procedimento é maioritariamente realizado em doentes que se encontram em falência
hepática enquanto aguardam por um transplante. (Anexo 3)
4. Intoxicação com paraquato
Este seminário decorreu em dois locais: o doutor Paulo Reis especialista em CI na
ULSM relatou a sua experiência no tratamento neste tipo de intoxicações, chamando a
atenção para a sua gravidade e necessidade de recurso a terapêuticas agressivas, uma
vez que o prognóstico é grave. Um dos casos de tratamento que foi bem sucedido,
encontra-se publicado no “Pediatric Emergency Care”.
A hemoperfusão foi a técnica aplicada com sucesso nesta paciente do artigo atrás
referenciado, sendo proporcionado numa segunda parte deste seminário no SN do HSJ o
contacto com os dispositivos e a forma de aplicação da carbo-hemopefusão. Foi
orientado pelo doutor Luís Coentrão, interno de especialidade de Nefrologia e assistente
de farmacologia do Instituto de Farmacologia e Terapêutica da FMUP.
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5. Intoxicação por cianeto
Este seminário foi orientado pelo Dr. Luís Coentrão, dado que recebeu e tratou um
paciente com intoxicação suicida que deu entrada no SU do HSJ.
Destacou a incidência desta intoxicação na região do Porto, dada a utilização de
cianeto na ourivesaria artesanal na área de Gondomar. A revisão dos casos clínicos a
que procedeu foi objecto de publicação no “American Journal of Emergency Medicine”.
Chamou a atenção para a acidose láctica, presente nesta intoxicação e à existência de
um bom antídoto, que é a hidroxocobalamina.
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V. ANÁLISE CRÍTICA
A realização deste estágio foi bastante proveitosa. Ao longo dos dias de integração
em várias equipes médicas competentes na TM, apercebi-me que, embora não exista
uma competência médica na TM acreditada pela Ordem dos Médicos, o conjunto de
vários profissionais de diferentes especialidades, conseguem executar correctamente o
seu trabalho. Contudo existem muitos médicos que não têm noções básicas de
toxicologia, deixando passar muitas vezes quadros de intoxicações agudas
despercebidos, dando uma orientação errada aos casos. Pondo isto, durante este estágio
houve oportunidade para constatar uma realidade frequentemente desvalorizada.
A TM é uma sub-especialidade médica que visa o diagnóstico, tratamento e
prevenção da intoxicação e outros efeitos adversos, à saúde devido a medicamentos,
toxinas ocupacionais e ambientais, e agentes biológicos.
Em Portugal não existe uma competência na TM, mas sim um grupo de serviços de
saúde e de médicos que se destacam no tratamento de intoxicações.
O INEM tem um centro específico para casos de intoxicação, que é o CIAV, serviço
médico de informação tóxico-farmacológica que disponibiliza o contacto com pessoal
médico treinado a responder o mais rapidamente possível em casos de intoxicação
humana ou animal a partir da informação clínica disponível com orientação referente ao
diagnóstico, toxicidade, tratamento e prognóstico e que funciona 24 h por dia.
Portugal, juntamente com mais países europeus, faz parte da EUROTOX, que tem
suas raízes na Sociedade Europeia para o Estudo da Toxicidade de Drogas, fundada em
1962 em Zurique. Visa a promoção da toxicologia, tanto científica como educacional,
em todos os países da Europa, onde tem promovido o desenvolviemnto da TM .
Nos EUA a TM é oficialmente reconhecida como uma sub-especialidade médica
pelo Conselho Americano de Especialidades Médicas. O ACMT foi criado em 1993,
sendo a principal organização que acolhe os Toxicologistas Médicos. Este tem como
missão a promoção de qualidade nos cuidados dos pacientes intoxicados e na saúde
pública, através de médicos especializados em consulta, emergência e toxicologia
ambiental, ocupacional e forense.
Tal como foi acontecendo com outras áreas de especialização, que começaram por
competências e originaram especialidades reconhecidas, também, possivelmente, se irá
progredir em Portugal, no início da TM.
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VI. REFERÊNCIAS:
1. http://www.acmt.net
2. http://www.eurotox.com
3. http://www.fda.gov/Food/FoodSafety/FoodborneIllness/FoodborneIllnessFoodb
ornePathogensNaturalToxins/BadBugBook/ucm071812.htm
4. http://www.inem.pt
5. http://www.ulsm.pt
6. Boyer EW, Shannon M.. The serotonin syndrome. N Engl J Med 2005;
352:2454-2456.
7. Sternbach H. The serotonin syndrome. Am J Psychiatry 1991; 148:705-713
8. Dinis-Oliveira RJ, Sarmento A, Reis P, Amaro A, Remião F, Bastos ML,
Carvalho F. Acute paraquat intoxication. Report of a survival case following
intake of a potential lethal dose. Pediatr Emerg Care 2006; 22:537-540
9. Coentrão L, Moura D. Acute cyanide poisoning among jewlry and textile
industry workers. Am J Emerg Med in press (doi 10.1016/j.ajem.2009.01.014)
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Anexo 1 – Diapositivos da apresentação de índole teórico-prática orientada pelo
Professor Dr. Daniel Moura
JOÃO NEVES
TURMA 2
ToxíndromesToxicologia médica
2010
1. DEFINIÇÃO
� Toxíndrome ou síndrome tóxico pode ser definido como um conjuntode sinais e sintomas produzido por doses tóxicas de substânciasquímicas, que, apesar de diferentes, têm um efeito mais ou menossemelhante.
� Monfensor e Greensher usaram o termo “Toxidromes” através daspalavras “Toxic and Syndromes”, com a finalidade de descrever ossinais e sintomas que resultam de toxinas particulares.
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2. AVALIAÇÃO CLÍNICA INICIAL
� O objectivo principal da avaliação clínica inicial é o de verificar se opaciente apresenta algum distúrbio que represente risco iminente devida. Para tal é indispensável um exame físico rápido, porém rigoroso,para avaliar as seguintes situações:� Sistema respiratório� Sistema cardíaco� Sistema circulatório� Condições neurológicas
3. ESTABILIZAÇÃO
� Consiste na realização de uma série de medidas de maneira a corrigiros distúrbios que representam risco iminente de vida e a manter opaciente em condições adequadas até ao estabelecimento dodiagnóstico definitivo e consequente tratamento específico. Essasmedidas são idênticas às realizadas em qualquer outra situaçãoclínica grave atendida em serviço de emergência.� S.B.V.� S.A.V.� Monitorização dos sinais vitais
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4. RECONHECIMENTO DO TOXÍNDROME E IDENTIFICAÇÃODO AGENTE CAUSAL
� Na prática da toxicologia médica, os sinais vitais são uma regraimportante na avaliação e monitorização do estado do doente,fornecendo pistas importantes para a etiologia toxicológica.
� É fundamental colher uma boa história clínica (se possível), examefísico e sinais vitais.
� É de particular importância, a observação meticulosa das alteraçõesdos sinais vitais, com o fim de perceber qual o tóxico subjacente.
4. RECONHECIMENTO DO TOXÍNDROME E IDENTIFICAÇÃODO AGENTE CAUSAL
� Sinais e sintomas:
� Sistema cárdio-circulatório - frequência e ritmo cardíaco, pressão arterial,perfusão
� Sistema respiratório - frequência, movimentos respiratórios� SNC – estado mental� Olhos – tamanho das pupilas� Sistema gastrointestinal – peristaltase� Sistema dermatológico – pele e membranas� Sistema urinário – retenção/incontinencia
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4. RECONHECIMENTO DO TOXÍNDROME E IDENTIFICAÇÃODO AGENTE CAUSAL
� Toxíndromes mais comuns:
� Síndrome anticolinérgio:Sintomatologia: rubor de face, mucosas secas, hipertermia, hiposudorese,taquicardia, midríase, retenção urinária, diminuição peristaltase,agitação psicomotora, alucinações e delírios.Principais agentes: atropina, derivados e análogos, anti-histamínicos,antiparkinsonianos, antidepressivos tricíclicos, antiespasmódicos,midriáticos.
� Síndrome anticolinesterásico:Sintomatologia: sudorese, lacrimejo, salivação, aumento das secreçõesbrônquicas, miose, bradicardia, aumento peristaltase,fibrilhações efasciculações musculares.Principais agentes: insecticidas, organofosforados, insecticidascarbamatos, fisostigmina, algumas espécies de cogumelos.
4. RECONHECIMENTO DO TOXÍNDROME E IDENTIFICAÇÃODO AGENTE CAUSAL
� Síndrome narcótico:Sintomatologia: depressão respiratória, depressão neurológica, miose,bradicardia, hipotermia, hipotensão, hiporreflexia, diminuição daperistaltase.Principais agentes: opióides.
� Síndrome depressivo:Sintomatologia: depressão neurológica (sonolência, estupor, coma),depressão respiratória, cianose, hiporreflexia, hipotensão, bradicardia.Principais agentes: barbitúricos, benzodiazepínicos,etanol.
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4. RECONHECIMENTO DO TOXÍNDROME E IDENTIFICAÇÃODO AGENTE CAUSAL
� Síndrome simpaticomimético:Sintomatologia: midríase, tremor, distúrbios psíquicos,hipertensão, taquicardia, taquipneia, piloereção, hipertermia,hipersudorese.Principais agentes: cocaína, anfetamínas, descongestionantes nasais,cafeína, teofilina.
� Síndrome extrapiramidal:Sintomatologia: distúrbios do equilíbrio, distúrbios da movimentação,hipertonia, distonia orofacial, mioclonias, trismo, parkinsonismo.Principais agentes: fenotiazínicos, butirofenonas, lítio.
5. CONCLUSÃO
� O reconhecimento do síndrome tóxico agiliza a identificação doagente causal e permite um tratamento mais adequado. Aconfirmação laboratorial da intoxicação é de valor relativamentepequeno na emergência médica, em virtude da escassez de métodosadequados de detecção e da demora da obtenção dos resultados.
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Anexo 2
Tabela 1 - Clínica relacionada com os níveis de COHb
Sintomas COHb %
Assintomático 0-10
Fraqueza, cefaleias 10-20
Cefaleias severas, náuseas, vertigem 20-30
Naúseas, vómitos, visão enevoada, fraqueza muscular 30-40
Perda de consciência, taquipneia 40-50
Coma, convulsões 50-60
Colapso cardiovascular, distress respiratório >60
Tabela 2 - Normas de utilização da Oxigenoterapia Hiperbárica nas ICO, segundo
o Comité de Medicina Hiperbárica (2004):
COHb> 25%
Coma persistente
História de perda de consciência
Alterações neuropsicológicas
Sinais neurológicos anormais
Acidose metabólica
Gravidez
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Tabela 3 – Abordagem do doente ICO
1. Avaliação
Sinais Vitais: Cardíaco/respiratório
Estado neurológico:
Consciência
Resposta motora
Reflexos
Exame clínico, avaliar:
Complicações (ECG, RX)
Trauma, outra intoxicação
Doença associada
Laboratório: COHb
GSA se necessário
2. Diagnóstico
Circunstâncias da ICO
Cenário clínico compatível
COHb> 10%
Opcional: Medição CO ar expirado
Medição CO na atmosfera
3. Tratamento
Medidas emergência
Remover doente da fonte
RCP se necessário
O2 mascara ou OTE
Eliminar fonte CO
Arejar o local
Procurar outras vítimas
Medidas suporte VC com FiO2=1
Fluidos
Ionotrópicos
OTH em doentes: Coma
Perda de consciência
Alterações neurológicas
Gravidez
NBO nos outros doentes
durante 12 horas
Válvula a pedido
Mascara alto débito (15L)
4. Prevenção Educar doente e familiares e instaurar inquérito no local
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Anexo 3
Tabela 4 - Diagnóstico sintomático de intoxicações por cogumelos Início Rápido (15 min-2 h após a ingestão)
Sintomas Causa Prognóstico Náusea, dor abdominal, algumas vezes com diarreia e vómitos
Toxinas desconhecidas de inúmeras espécies
Recuperação rápida e completa; casos sérios podem durar 2-3 dias e exigir re-hidratação
Sudorese, lacrimejo, sialorreia iniciada 15-30 min após ingestão
Muscarina de Clitocybe ou Inocybe spp.
Recuperação completa em aproximadamente 2 h
Confusão mental, alucinações com ou sem sonolência
Psilocibina/Psilocina,
Paneolus, Gymnopilus,
Conocybe, ou Pluteus spp.
Recuperação completa e espontânea entre 6 e 24 h
Delírio com sonolência ou coma, evoluindo 1 ou 2h após ingestão
Ácido iboténico/muscimol a Amanita muscaria ou A.
pantherina
Períodos de sonolência e agitação seguida de recuperação total
Início Tardio (6 h-3 dias após ingestão)
Sintomas Causa Prognóstico Cefaleias, dores abdominais e vómitos após 6h da ingestão
Giromitrina e análogos hidrazínicos de Gyromitra
esculenta
Recuperação completa em 2-6 dias; pode precisar de correção de acidose metabólica; algumas mortes tem ocorrido por insuficiência hepática
Vómitos intensos, dor abdominal, diarreia líquida, iniciada 12 h após a ingestão
Amanitinas alpha, beta, e gamma de Amanita
phalloides; Galerina
autumnalis; Lepiota
josserandii e análogos
Aparente recuperação poucas horas após início dos sintomas, seguido por um período de 3-5 dias sem sintomas, ao qual se segue de icterícia, perda de peso, coma, e frequentemente morte por insuf. hepática
Sintomas de falência renal com início 3-14 dias após a ingestão,
Orelanina de Cortinarius
orellanus A recuperação pode levar diversos meses; pode ser letal por insuficiência renal
Início Condicional (com 72 h após ingestão)
Sintomas Causa Prognóstico Sindrome antabus se forem consumidos com bebidas alcoólicas
Coprina de Coprinus
atramentarius Recuperação é espontânea e após poucas ou diversas horas do início dos sintomas