2 revista literaria o voo da gralha azul numero 2 fevereiro 2010

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Esta revista é gratuita, sendo proibido qualquer tipo de comercialização de seus artigos sem autorização dos respectivos autores. n o 2 - Ano 0 Paraná, fevereiro de 2010

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Page 1: 2 revista literaria o voo da gralha azul numero 2 fevereiro 2010

Esta revista é gratuita, sendo proibido qualquer tipo de comercialização de seus artigos sem autorização dos respectivos autores.

no 2 - Ano 0

Paraná, fevereiro de 2010

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Esta revista é gratuita, sendo proibido qualquer tipo de comercialização de seus artigos sem autorização dos respectivos autores.

SUMÁRIO

ACADEMIAS Academia Pernambucana de LetrasAcademia Pernambucana de LetrasAcademia Pernambucana de LetrasAcademia Pernambucana de Letras ....................................63636363

ANÁLISE DE OBRAS Simões Lopes Neto Simões Lopes Neto Simões Lopes Neto Simões Lopes Neto Contos gauchescos .....................................25

BIOGRAFIAS Amílcar Dória Matos ................................64 Andrey do Amaral .....................................57 Antonio Brás Constante ............................7 Antônio Campos .......................................84 Antonio Thadeu Wojcicjowski ..................56 Ariano Suassuna ......................................64 Arioswaldo Trancoso Cruz .......................8 Chico Anysio ..............................................71 Cláudio Aguiar ..........................................64 Cyl Gallindo ..............................................84 Delasnieve Daspet .....................................62 Emiliano Perneta.......................................24 Felipe Machado .........................................85 Flavio Chaves ...........................................64 Francisco Bandeira de Melo .....................64 Graciliano Ramos (Retrato em Preto e Branco) ....17 Jarbas Maranhão ......................................64 José Marins, Um haicaísta paranaense........50 Lucila Nogueira ........................................65 Luiz Marinho ............................................65 Maria do Carmo B. Campello de Melo .....65 Maria do Carmo Tavares de Miranda ......65 Milton Lins ...............................................65 Myriam Campello .....................................86 Nelson Saldanha D’ Oliveira ....................39 Nilto Maciel ...............................................11 Paulo Bentacur .........................................42 Pelópidas Soares .......................................65 Simões Lopes Neto ....................................31 Sinclair Pozza Casemiro............................3 Valentim Magalhães ................................48 Vicência Jaguaribe ....................................41 Waldemar Lopes .......................................65 Waldenio Porto .........................................66

CONCURSOS COM INSCRIÇÕES ABERTAS 51º Jogos Florais de Nova Friburgo .........72 II Concurso de Trova Cidade Poesia ........72 XVI Jogos Florais de Curitiba...................72 XX Concurso de Trovas de Pindamonhangaba...................................................................72 VI Concurso de Trovas da UBT-Maranguape/2010......................................73 Jogos Florais UBT Seccional Mérida – Venezuela ..................................................73

Concurso Nacional de Poesia de Mogi das Cruzes........................................................ 73 Jogos Florais de Cambuci/Rj – 2010 ........ 74 Concurso Internacional de Literatura para 2010. .......................................................... 74 6º Prêmio Barco a Vapor de Literatura Infantil e Juvenil 2010 ............................. 75 Concursos sem Data definida para envioConcursos sem Data definida para envioConcursos sem Data definida para envioConcursos sem Data definida para envio XXIII Jogos Florais De Ribeirão Preto ..... 77 XL Jogos Florais de Niterói................. 77 ENTREVISTA Andrey do Amaral..................................... 57

ESTANTE DE LIVROS Andrey do Amaral Andrey do Amaral Andrey do Amaral Andrey do Amaral Mercado Editorial – Guia para Autores...........82 Antonio Brás Constante Antonio Brás Constante Antonio Brás Constante Antonio Brás Constante Hoje é seu Aniversário! “Prepare-se” ...............83 Antônio Campos e Cyl Gallindo Antônio Campos e Cyl Gallindo Antônio Campos e Cyl Gallindo Antônio Campos e Cyl Gallindo Panorâmica do conto em Pernambuco .............84 Felipe Machado Felipe Machado Felipe Machado Felipe Machado Olhos cor de chuva.............................................85 Lóla Prata Lóla Prata Lóla Prata Lóla Prata Dicionário de Rimas ARRIMO..........................83 Myriam Campello Myriam Campello Myriam Campello Myriam Campello Como Esquecer - anotações quase inglesas .....86

FOLCLORE Aventuras de Pedro Malasartes (2)Aventuras de Pedro Malasartes (2)Aventuras de Pedro Malasartes (2)Aventuras de Pedro Malasartes (2) Malasartes fez o urubu falar.............................8 De como Malasartes vendeu o urubu ...............9 Caminho de PeabiruCaminho de PeabiruCaminho de PeabiruCaminho de Peabiru ................................. 77 Importância Histórica .......................................79 Lenda Indígena (Em Busca da Terra sem Lenda Indígena (Em Busca da Terra sem Lenda Indígena (Em Busca da Terra sem Lenda Indígena (Em Busca da Terra sem Mal)Mal)Mal)Mal) ........................................................... 80 Causas do Êxodo................................................80 História nada exemplar ....................................81 A Terra sem Males ...........................................81

HAIKAIS José Marins José Marins José Marins José Marins Haikais ...................................................... 49

NOSSO PORTUGUÊS DE CADA DIA A / Há ........................................................ 35 A Par / Ao Par ........................................... 36 Aonde / Onde / De Onde............................ 36 As Partículas "Até" E "Nem"..................... 36 Bastante / Bastantes................................. 36 Haja Visto ou Haja Vista?......................... 36 Hum / Um.................................................. 37 Mas / Mais ................................................. 37 Mal / Mau .................................................. 37 Meio / Meia................................................ 37

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Na Medida Em Que / À Medida Que.........37 Que / Quê ...................................................37 Por Que ......................................................38 Porque........................................................38 Dica De Porque E Porquê..........................38 Porquê........................................................38

NOTÍCIAS AAAAcademia de Letras do Brasil/ Estado do cademia de Letras do Brasil/ Estado do cademia de Letras do Brasil/ Estado do cademia de Letras do Brasil/ Estado do Paraná Paraná Paraná Paraná Imortais .....................................................87

O ESCRITOR COM A PALAVRA Antonio Brás Constante Antonio Brás Constante Antonio Brás Constante Antonio Brás Constante Humor, Terror e Salvação em um Conto de Natal ..........................................................5 Chico Anysio Chico Anysio Chico Anysio Chico Anysio Silêncio, hospital .......................................69 Graciliano Ramos Graciliano Ramos Graciliano Ramos Graciliano Ramos A Safra de Tatus........................................53 O Relógio do Hospital ................................13 MMMMachado de Assis achado de Assis achado de Assis achado de Assis Como se Inventaram os Almanaques........32 Nilto Maciel Nilto Maciel Nilto Maciel Nilto Maciel Carlim........................................................34 Valentim Magalhães Valentim Magalhães Valentim Magalhães Valentim Magalhães A Grande Estréia.......................................44 Vicência Jaguaribe Vicência Jaguaribe Vicência Jaguaribe Vicência Jaguaribe Por Onde Anda Minha Bela Estatueta de Porcelana Branca?.....................................40

POESIAS Alda Lara Alda Lara Alda Lara Alda Lara Presença Africana......................................69 Alexandre O'NeilAlexandre O'NeilAlexandre O'NeilAlexandre O'Neil Poema Pouco Original Do Medo................68 Há Palavras que nos Beijam .....................68 Antonio Thadeu Wojciechowski Antonio Thadeu Wojciechowski Antonio Thadeu Wojciechowski Antonio Thadeu Wojciechowski Vida............................................................55 Tudo é Para Sempre ..................................55 É Hoje! .......................................................55 Diário de Bardo..........................................56 Catarina.....................................................56 Olhos para a Chuva...................................56 Quando Eu Penso no Haiti ........................56 Arioswaldo Trancoso CruzArioswaldo Trancoso CruzArioswaldo Trancoso CruzArioswaldo Trancoso Cruz Contraponto...............................................7 Despertando...............................................8 Delasnieve DaspetDelasnieve DaspetDelasnieve DaspetDelasnieve Daspet

Melancolia... .............................................. 60 Bonecos de Pano........................................ 60 Para um Violão.......................................... 61 Divagando à Beira Mar............................. 61 Ondas no Tempo ....................................... 61 Elisabeth Barrett Browning Elisabeth Barrett Browning Elisabeth Barrett Browning Elisabeth Barrett Browning Quatro Sonetos.......................................... 67 Emiliano PernetaEmiliano PernetaEmiliano PernetaEmiliano Perneta Vencidos ................................................... 22 Glória......................................................... 22 Dor............................................................. 22 Metamorfoses ............................................ 22 Corre mais que uma Vela... ...................... 23 Súcubo ....................................................... 23 O Brigue .................................................... 23 Damas ....................................................... 23 Hércules .................................................... 23 Oração da Manhã...................................... 24 Para um Coração....................................... 24 Setembro ................................................... 24 Jean Richepin Jean Richepin Jean Richepin Jean Richepin Tuas Palavras ........................................... 66 Nilto MacielNilto MacielNilto MacielNilto Maciel Dor............................................................. 10 Possessão................................................... 11 Sísifo.......................................................... 11 Soneto Crepuscular................................... 11 Paulo BentacurPaulo BentacurPaulo BentacurPaulo Bentacur A Primeira Novela de Erico Verissimo..... 41 Despertar .................................................. 41 Ascensão e Queda do Diálogo ................... 42 Café ........................................................... 42 Sinclair Pozza Casemiro Sinclair Pozza Casemiro Sinclair Pozza Casemiro Sinclair Pozza Casemiro Peregrinação no Caminho de Peabiru ...... 1 Walt WhitmanWalt WhitmanWalt WhitmanWalt Whitman Do Inquieto Oceano Da Multidão ............. 66 Yolanda Morazzo Yolanda Morazzo Yolanda Morazzo Yolanda Morazzo Barcos ....................................................... 68

TROVAS Baú de TrovasBaú de TrovasBaú de TrovasBaú de Trovas ........................................... 31 Nelson Saldanha D’ Oliveira Nelson Saldanha D’ Oliveira Nelson Saldanha D’ Oliveira Nelson Saldanha D’ Oliveira No Embalar das Trovas .............................................39

Sinclair Poozza CasemiroSinclair Poozza CasemiroSinclair Poozza CasemiroSinclair Poozza Casemiro Peregrinando em trovas pela região da COMCAM ....1 INDICAÇÃO DE SITES DE LITERATURA ............................................ 88 FONTES ................................................................................................................................................................................................................ 89

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Revista Literária

“O Voo da Gralha Azul”

nnnn0000. 2 . 2 . 2 . 2 –––– Paraná, fevereiro 2010 Paraná, fevereiro 2010 Paraná, fevereiro 2010 Paraná, fevereiro 2010

Idealização, seleção e edição: José

Feldman

Contatos, sugestões, colaborações:

[email protected]

http://singrandohorizontes.blogspot.com

Paraná... terra de encantos... luz de um povo varonil!

A flora e fauna são mantos que engrandecem o Brasil!

José Feldman

Presidente da ALB/PR

Que a humanidade possa aprender com a nossa Gralha-azul e entender que o equilíbrio e o respeito ecológico entre fauna e flora é fundamental para a existência do Homem na face da Terra!!!

Prezado Leitor Esta revista não tem a pretensão e nunca poderá ser considerada como substituição aos livros, jornais, colunas, etc. que circulam virtualmente ou não, mas sim como mola propulsora de incentivo ao cidadão para buscar novos conhecimentos, ou relembrar aqueles perdidos na névoa do passado. Por que o Voo da Gralha Azul? A poetisa norte-americana Emily Dickinson, que viveu no século XIX, diz “Não há melhor fragata do que um livro para nos levar a terras distantes”. No caso da revista, esta fragata é a Gralha Azul, que assim como semeia o pinheiro, ela alça voo e semeia no coração de cada um que alcançar, o pinhão da cultura, em todas as suas manifestações. Ao leitor, novos conhecimentos. Ao escritor ou aspirante a tal, sejam poetas, trovadores, romancistas, dramaturgos, compositores, etc., um caminho de conhecimento e inspiração. Obrigado por me permitir dividir consigo estes breves momentos,

José Feldman

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Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.2 – Paraná, fevereiro de 2010.

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Sinclair Pozza Casemiro Sinclair Pozza Casemiro Sinclair Pozza Casemiro Sinclair Pozza Casemiro

(Peregrinação)(Peregrinação)(Peregrinação)(Peregrinação)

Peregrinação no Caminho de PeabiruPeregrinação no Caminho de PeabiruPeregrinação no Caminho de PeabiruPeregrinação no Caminho de Peabiru

Vejo a pedra que rola

Querendo ganhar o mundo Sendo que foi feita pra ficar.

Vejo o barro que se prende nas rodas de um móvel,

Nos pés calçados ou não do caminhante, traindo seu destino de ficar.

Não sei se sabem que estão buscando além do que podem

E do que lhes foi destinado. Mas sei que a pedra acaba indo longe

Nas construções, nas estradas asfaltadas… O barro se espalha e se vai…

Sou peregrina que anda Nos quilômetros deste chão de tantas cores,

De tantas formas, cheiros e marcas, E estou presa na sua extensão, passo a

passo. Mas, como as pedras e o barro,

Meus sonhos se vão Construindo e edificando longe…

Se espalhando feito pó na imensidão do possível.

Peregrinando em trovas pela Peregrinando em trovas pela Peregrinando em trovas pela Peregrinando em trovas pela região da COMCAMregião da COMCAMregião da COMCAMregião da COMCAM

COMCAMCOMCAMCOMCAMCOMCAM*

Coração do Paraná, do Ivaí ao Piquiri,

há canções, e “causos” há, que lembram gês, guarani.

Caminhos de Peabiru**Caminhos de Peabiru**Caminhos de Peabiru**Caminhos de Peabiru**

Como rendadas toalhas, fez-se o nosso Peabiru,

tecido de extensas malhas, do Paraguai ao Peru.

Terra Sem MalTerra Sem MalTerra Sem MalTerra Sem Mal***

Em migração permanente, tendo o Sol como fanal,

o guarani segue em frente, buscando a Terra Sem Mal.

ItararéItararéItararéItararé

A convite de Altoé,

o arqueólogo foi a campo. descobriu que o Itararé

do Peabiru fez seu canto.

PolêmicasPolêmicasPolêmicasPolêmicas

Aonde vai o Peabiru? E quem foi que o construiu? Mesmo não fosse ao Peru,

na COMCAM ele existiu!

PeregrinaçõesPeregrinaçõesPeregrinaçõesPeregrinações

COMCAM da Rota da Fé, Caminhos de Peabiru,

Terra Sem Mal, São Tomé, Quão bela canção és tu!

CavalgaCavalgaCavalgaCavalgadas na COMCAMdas na COMCAMdas na COMCAMdas na COMCAM

Relembrando pioneiros

no chão de tuas estradas te fazem, os cavaleiros, a região das cavalgadas.

GastronomiaGastronomiaGastronomiaGastronomia

Na COMCAM, gastronomia tempera os bons corações

trazendo paz e alegria juntando em festa as nações.

João Maria d’AgostiniJoão Maria d’AgostiniJoão Maria d’AgostiniJoão Maria d’Agostini

O beato João Maria

diz que esteve na região atendendo ao que sofria,

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Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.2 – Paraná, fevereiro de 2010.

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trazendo consolação.

Campo MourãoCampo MourãoCampo MourãoCampo Mourão

Camorão, Campo Mourão, filha e mãe tão orquestradas.

Pra nossa bela COMCAM, fez-se a história nas estradas.

Corumbataí do Sul Corumbataí do Sul Corumbataí do Sul Corumbataí do Sul

Corumbataí do Sul

tem no seu alvorecer, além do céu muito azul,

trilhas de índios para ver.

PeabiruPeabiruPeabiruPeabiru

A Peabiru coube a glória de o seu nome registrar o fato vivo da história do Caminho milenar.

Barbosa FerrazBarbosa FerrazBarbosa FerrazBarbosa Ferraz

Barbosa em seu chão guardou

tesouro em pedra e sinais, que o Peabiru registrou para não perder jamais.

BourbôniaBourbôniaBourbôniaBourbônia

Bourbônia, palco da história do índio, branco e tropeiro. Nas trilhas da sua glória peregrinou-se primeiro.

Quinta do SolQuinta do SolQuinta do SolQuinta do Sol

Quinta do Sol tem encantos,

verde e punjante visão. Terra de paz, onde há tantos

motivos para a emoção.

FênixFênixFênixFênix

Fênix chamou-se um dia Vila Rica, em plena glória. Da Missão que ali existia

guarda viva hoje a memória.

Engenheiro BeltrãoEngenheiro BeltrãoEngenheiro BeltrãoEngenheiro Beltrão

Em Engenheiro Beltrão há ruínas escondidas, pois uma nobre Missão

em seu chão ficou perdida.

Terra BoaTerra BoaTerra BoaTerra Boa

Terra Boa, gente boa escreveu nos seus anais tanta história que povoa velhos tempos coloniais.

ArarunaArarunaArarunaAraruna

Bela Araruna, nascida

na moldura do Caminho. Por Peabiru conhecida,

tem de nós todo o carinho.

MamborêMamborêMamborêMamborê

Mamborê tem seus segredos, misteriosos sinais.

São curiosos enredos herdados dos ancestrais.

FarolFarolFarolFarol

No Farol inda há quem conte

que o beato João Maria batizou a Água da Fonte

e fez muita profecia.

UbiratãUbiratãUbiratãUbiratã

Ubiratã, você traz entre as suas tradições, a vocação para a paz

vinda de antigas nações.

JurJurJurJurandaandaandaanda

Oh, Juranda, Jurandah, no teu nome, tão sonoro,

sempre a graça se achará, qual um pássaro canoro.

JaniópolisJaniópolisJaniópolisJaniópolis

Foi Janiópolis caminho e palco de tanta saga.

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Hoje é o rico e alegre ninho de um povo que a paz afaga.

Campina da LagoaCampina da LagoaCampina da LagoaCampina da Lagoa

Campina, orgulhosa, ostenta pesquisas da arqueologia, provando, já nos setenta,

que o Peabiru existia!

Nova CantuNova CantuNova CantuNova Cantu

Teu rio, Nova Cantu, teu tambo, a vila espanhola,

índio, Missão, Peabiru, tudo em ti é pura escola.

RoncadorRoncadorRoncadorRoncador

Nas trilhas de Roncador João Maria fez história,

nos “causos” do sofredor e em coletiva memória.

LuizianaLuizianaLuizianaLuiziana

Luiziana das cachoeiras,

dos caminhos sempre em flor, das muitas sagas pioneiras de que herdaste o teu vigor.

Altamira do ParanáAltamira do ParanáAltamira do ParanáAltamira do Paraná

Altamira da COMCAM, tens beleza singular.

Dos teus rios és guardiã e orgulho do Paraná.

GoioerêGoioerêGoioerêGoioerê

Goioerê, muitos povos já trilharam o teu chão

deixando aos teus filhos novos mui valiosa lição.

Moreira SalesMoreira SalesMoreira SalesMoreira Sales

Moreira és jovem agora

mas tens tão rico passado muitas nações já outrora

nos teus campos têm lavrado.

RancRancRancRancho Alegreho Alegreho Alegreho Alegre

O rancho de tantos causos alegres, sempre bravios

desperta muitos aplausos e afasta os dias sombrios.

IV CentenárioIV CentenárioIV CentenárioIV Centenário

Barro branco, Gato Preto hoje Quarto Centenário eu canto neste poemeto teu passado legendário.

–––––––––––- Notas: *COMCAM =Comunidade dos Municípios da Região de Campo Mourão ** - Caminho do Peabiru – veja na seção Brasil Folclórico *** - Terra sem Mal –seção Brasil Folclórico

Sinclair Pozza Casemiro Possui graduação em Letras Anglo Portuguesa

pela Universidade Estadual de Maringá [UEM] (1976), mestrado em Letras pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho [UNESP] (1995), doutorado em Letras, Área de Filologia e Lingüistica Portuguesa pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho [UNESP] (2001) e pós-doutorado em Letras pela Universidade de São Paulo [USP].

Coordenadora de Pesquisa do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre o Caminho de Peabiru na COMCAM – NECAPECAM, com sede em Campo Mourão, pesquisadora pelo CNPq da Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão – FECILCAM

Foi diretora e vice-diretora da Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão, FECILCAM, Brasil. É Professora da Comunidade dos Municípios de Campo Mourão, COMCAM

Prêmios e títulos

- 2004 Certificado, Secretaria de Estado da Ciência,Tecnologia e Ensino Superior do Paraná.

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Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.2 – Paraná, fevereiro de 2010.

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- 2003 Honra ao Mérito, FECILCAM. - 2003 Certificado, FECILCAM - Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão. - 2003 Certificado de Honra ao Mérito, Conselho Departamental da FECILCAM - Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão. - 2003 Certificado, Coordenação do Curso de Letras, Universidade Paranaense - UNIPAR. - 2003 Certificado, Universidade Estadual de Londrina. – UEL - 2003 Palmas para Elas - Mulher Especial, Fundação Cultural de Campo Mourão. - 2002 Menção Honrosa - Mulheres Destaque 2002, Secretaria Especial de Cultura do Município de Campo Mourão. - 1998 Cidadã Benemérita de Campo Mourão, Prefeitura Municipal de Campo Mourão. - 1994 Certificado, Departamento de Linguística da Faculdade de Ciências e Letras de Assis. - 1994 Certificado, Auditório da FECILCAM e FUNDACAM. - 1992 Certificado, Departamento de Letras do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. - 1991 Certificado, UNIFRAN. - 1991 Certificado, Departamento de Letras da Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Guarapuava.

Entidades a que pertence

– Cadeira n.14 da Academia Mourãoense de Letras. – Delegada municipal por Campo Mourão da União Brasileira dos Trovadores/PR – Coordenadora de pesquisas do NECAPECAM - Núcleo de Estudos e Pesquisas Sobre o Caminho de Peabiru na região de Campo Mourão (COMCAM), sua equipe realiza um trabalho de resgate da história da trilha indígena conhecida pelo topônimo “Caminhos de Peabiru” . Trata-se de uma rede pré-colombiana de caminhos indígenas, cuja extensão, pelos estudos que se vêm realizando, é bastante polêmica. Para Rosana

Bond, estudiosa do tema, ela pode chegar a mais de três mil quilômetros, ligando o Oceano Atlântico ao Pacífico (São Vicente ao Peru). Há historiadores que contestam essa hipótese e o NECAPECAM se debruça sobre as mais diferentes hipóteses para melhor conhecer a história dessa milenar rota. Algumas das conclusões a que chegaram os seus pesquisadores são as de que, baseando-se nas pesquisas arqueológicas de Igor Chmyz, da década de 1970, na região da COMCAM, onde se realizam as peregrinações, o Peabiru foi construído pelos Itararés (do grupo Macro-GÊ); e, baseando-se nos depoimentos de descendentes do povo guarani, suas trilhas foram utilizadas, entre outras formas, pela nação guarani em sua migração em busca da Terra Sem Mal.

Produção bibliográfica

Artigos publicados em periódicos

– Estudos sobre o Caminho de Peabiru na COMCAM. Compêndio sobre o Caminho de Peabiru na COMCAM, Campo Mourão, v. 2, p. 10-25, 2005. – Estudos Literários de Campo Mourão. Compêndio da Academia Mouraoense de Letras, Campo Mourão, v. 1500, p. 147-160, 2004. – A lingua portuguesa como disciplina. X CELLIP, Londrina, 2003. – Linguagem-lingua-fala-discurso-letras. III SIC- Semana de Iniciação Científica, Campo Mourão, v. III, p. 109-118, 2002.

Livros publicados/organizados

– (Organizadora). 2º Compêndio da Academia Mourãoense de Letras Vida & Liberdade - O Caminho De Peabiru A Terra Sem Mal E Os Guaranis. 1. ed. Campo Mourão: UNESPAR/FECILCAM, 2006. v. 1. 172 p. - Causos do Coração do Paraná – por entre as beiras do Ivaí e do Piquiri. Editora Sisgraf, 2005. – Pequeno Vocabulário comentado de usos lingüísticos no Projeto Caminhos de Peabiru da COMCAM. 1ª. ed. Campo Mourão:

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UNESPAR/FECILCAM - Campo Mourão, 2005. v. 500. 30 p. – (Organizadora). Compêndio do Simpósio Caminho de Peabiru. 1. ed. CAmpo Mourão: UNESPAR/FECILCAM, 2005. v. 500. 272 p. – Pequeno Vocabulário comentado de usos lingüísticos no Projeto Caminho de Peabiru da COMCAM. 2ª. ed. Campo Mourão: UNESPAR/FECILCAM - Campo Mourão, 2005. v. 500. 45 p. – (Organizadora) . Caminho de Peabiru projeto de resgate -Compêndio sobre o Caminho de Peabiru na COMCAM Micro-Região 12 do Paraná.O Silêncio E As Vozes Sobre O Caminho De Peabiru Nos Discursos Da História Da Comcam- Micro Região 12. 1. ed. Campo Mourão: NECAPECAM, 2005. v. 1. 209 p. – Enquanto conto, encanto o conto - lendas, contos e rumores de Campo Mourão. 1ª. ed. Curitiba: Imprensa Oficial do Paraná, 2004. v. 5000. 100 p. – (Organizadora). Compêndio da Academia Mourãoense de Letras. 1ª. ed. Campo Mourão: UNESPAR/FECILCAM, 2004. v. 1. 182 p.

– (Organizadora). IV Semana de Iniciação Científica. 1. ed. Campo Mourão: FECILCAM-Campo Mourão, 2003. v. 1. 540 p. – Caminhos In versos. 3ª. ed. Curitiba: Francisco Pinheiro, 2002. v. 1000. 110 p. – Um olhar sobre a língua...Portuguesa? A formação do Professor como desafio. 1ª. ed. Campo Mourão: Unespar, 2001. v. 800. 101 p. – Novos Conteúdos Para O Curso De Letras Na Terminalidade De Formação Do Professor De Língua Materna.. 1. ed. Assis: UNESP, 2001. v. 1. 281 p. – Amigos da Poesia. 1ª. ed. Campo Mourão: Kromoset, 2000. v. 600. 80 p. – Caminhos In versos. 1ª. ed. Curitiba: Francisco Pinheiro, 1997. v. 1000. 110 p. – Emprego Dos Verbos Ter E Haver. 1. ed. Assis: Universidade Estadual Paulista/Assis-SP, 1991. v. 1. 84 p. – A Informática E A Estatística Na Língüística. 1. ed. Assis: Universidade Estadual Paulista"Julio De Mesquita Filho", 1991. v. 1. 34 p. Diversos textos em jornais de notícias/revistas

Antonio Brás Antonio Brás Antonio Brás Antonio Brás Constante Constante Constante Constante

(Humor, Terror e (Humor, Terror e (Humor, Terror e (Humor, Terror e Salvação em um Conto Salvação em um Conto Salvação em um Conto Salvação em um Conto

de Natal)de Natal)de Natal)de Natal)

A cena continha vários detalhes que

lembravam o Natal, ainda que não houvesse renas por ali. Havia um pinheiro enorme, pisca-piscas, quase todos os tipos de bebidas, um cheiro diferente no ar... (que não era causado pelas renas, pois elas realmente não existiam por ali)

O que mudava o contexto natalino era que o pinheiro serviu para parar o carro que tinha vindo desgovernado e em alta velocidade na sua direção. Os pisca-piscas, não passavam de sinalizações indicando que aquela estrada estava em obras. As várias bebidas estavam todas armazenadas no corpo do sujeito desmaiado e ensangüentado que jazia abraçado ao volante e, por fim, o

cheiro no ar era de gasolina (eu falei que não eram as renas), que saia do tanque perfurado do veículo. O liquido inflamável escorria e deslizava pela terra, chegando cada vez mais perto de um principio de incêndio, localizado na dianteira do automóvel, iniciado devido ao impacto.

Mas havia algo mais. Algo que estava ocorrendo na mente do motorista embriagado. Era ali que estava para ocorrer à verdadeira história de Natal. Quem olhasse de longe para as ferragens retorcidas, não poderia imaginar que naquele momento, um homem estivesse encontrando seu destino de forma tão surreal.

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Kaio das Pontes era seu nome, um nome que passou bem perto de ser gravado em uma lápide fria, visto que ele poderia ter morrido em decorrência da brutal batida na qual foi algoz e vítima. Se bem que sua situação ainda era delicada, pois tinha quebrado vários ossos, e perdido muito sangue. Mas, o pior é que seu carro poderia explodir a qualquer momento.

O lugar estava deserto e desolado, nenhum sinal de vida, nem sequer uma placa indicando algum Fast-food de beira de estrada. Em meio ao quase silêncio (ouvia-se apenas alguns ruídos típicos de florestas) uma luz começou a brilhar, próxima ao pára-brisa quebrado (deixando a cena do acidente mais iluminada, porém, ainda silenciosa).

A partir do aparecimento da estranha luz, tudo que estava em volta do veículo congelou. As folhas pararam de se mover, o vento parou de soprar e mesmo os ruídos florestais ao seu redor cessaram. A luminosidade tomou forma, e tal qual o conto de Natal: "Os fantasmas de Scrooge", Kaio também passou a receber a visita de três espíritos (anjos ou demônios, dependendo da crença de cada um). Um para mostrar-lhe o passado, outro o presente e um último apresentando seu futuro.

O primeiro fantasma apareceu na figura de um cachorro vestido de garçom, e que urinou no rosto do moribundo para acordá-lo. Ao perceber o que aquela criatura peluda tinha feito, Kaio começou a praguejar, mas parou ao levar uma mordida na perna. O cão falava, não com palavras, mas com pensamentos, e fedia, como fedia, exalando um odor insuportável de cachorro molhado.

Kaio já não estava mais em seu carro, mas de volta ao seu próprio passado. Ele passou a relembrar de todas as situações que o levaram a beber, as festas, as alegrias e tristezas sempre comemoradas ou esquecidas com álcool.

Ao ver a si próprio naquele passado, começou a perceber o quanto se tornara dependente daquele vício maldito. Mas era tão bom o torpor que a bebida lhe trazia. Era como um elixir que lhe curava todos os seus males. Algo que lhe dava coragem e afugentava a dor e as lembranças amargas de sua vida.

O cão percorreu com ele a trilha tortuosa dos primeiros passos do alcoólatra, e do grande problema nesta unificação entre Homem e bebida, em que nós seres humanos somos péssimos vasilhames, e onde até mesmo os uísques importados viram urina quando estocados em nosso organismo. Pois na grande maioria das vezes que o ser humano resolve bancar o porta-álcool, acaba estragando seu convívio social e até mesmo a sua própria vida, já que de gole em gole tornamos a vida um porre.

O cachorro também lhe mostrou, enquanto abanava a cauda, que mesmo sendo um viciado nos prazeres e desprazeres da bebida, Kaio ainda havia conseguido um emprego razoável e uma família com esposa e filhos. Por fim o cão trouxe-lhe de volta ao seu carro acidentado.

O homem baixou a cabeça, mas antes que pudesse se recobrar de seu estado deprimente apareceu o segundo fantasma. Ele veio na forma de uma gigantesca lagosta com roupas de bailarina (o balé era o sonho de carreira que sua esposa largou para se dedicar ao marido e aos filhos). Lembrando da mordida do primeiro anjo, Kaio (que adorava lagostas) achou melhor não esboçar qualquer reação diante daquela figura estranha que lhe puxou para fora do carro com um beliscão no braço, levando-o diretamente aos acontecimentos que causaram seu acidente.

Ele viu seu dia recomeçar, sempre no bar. Seu corpo mole do trago chegando novamente atrasado ao serviço e desta vez sendo demitido. Ao voltar para casa, reviveu a briga com sua mulher, mais uma entre várias que já se passaram, com um agravante, desta vez houve agressão física com troca de tapas e socos. Ele ouviu novamente o choro de seus pequenos filhos, que por estarem chorando também apanharam. Tudo tão real, tão vergonhoso. Por fim acompanhou sua esposa saindo de casa, levando algumas malas e seus dois filhos, um no colo e outro pela mão.

Kaio poderia ter ido atrás dela, ter lhe pedido desculpas pelas besteiras que fez, implorando que ficasse. Ele poderia ter dito que a amava e que amava seus filhos. Mas preferiu encontrar o conforto de uma garrafa. Bebeu toda que encontrou, até ser expulso

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do bar. Saiu de lá cambaleando e pegou seu carro.

Veio pela estrada quase em coma alcoólico até perder a direção e bater contra aquele velho pinheiro. Agora estava ali, relembrando todos os seus erros. Estava novamente estropiado e ensangüentado dentro do carro. Seus olhos mareados de lágrimas. A dor do corpo tornara-se menor que a sofrida por sua alma destruída pela bebida e estraçalhada pelas lembranças. O que viria a seguir? Uma rena vestida de Papai Noel?

Então chegou o terceiro fantasma. Uma pomba, nua como qualquer pomba que possa existir, mesmo sendo uma pomba fantasma. Ela mostrou a ele que sua morte traria tristeza para a família, mas também traria alívio. O rosto de sua esposa já não era cheio de medo dos ataques de fúria do marido. Seus filhinhos passaram a dormir melhor, sem acordarem chorando no meio da noite, apavorados com aquele monstro cheirando a cachaça, que gritava enquanto ia quebrando tudo que encontrava pela casa.

A pomba também mostrou o que aconteceria se Kaio sobrevivesse. Ela Mostrou-lhe vários futuros, em alguns deles ele voltava para a bebida, porém, em outros conseguia superar o vício. A escolha devia ser feita. Viver ou morrer. Lutar ou se deixar vencer.

O homem estava totalmente transtornado, seu rosto molhado de lágrimas e sujo de sangue, fedendo a urina de cachorro. A vontade de viver parecia ter se apagado junto com as últimas imagens. Kaio largou o peso do corpo sobre banco e se entregou ao destino. Era tão fácil desistir, abraçar a morte, não ter que enfrentar a

vergonha, ou mesmo lutar para mudar a própria vida.

Finalmente o fogo alcançou a gasolina. Naquele fatídico momento, o clamor de seu coração por uma nova chance falou mais alto. Apesar de tudo queria viver. Não podia terminar assim, não como um churrasquinho humano, não agora que tinha visto sua vida sobre uma nova ótica, e que poderia mudá-la, por mais difícil que fosse. No entanto, suas preces não pareciam ter surtido qualquer efeito, pois o mundo a sua volta explodiu. A última coisa que viu foi à imagem da pomba voando...

Tudo estava escuro e sereno. Após uma verdadeira eternidade de trevas, seus olhos emergiram para uma luz, cegante e intensa. Aos poucos começou a ouvir murmúrios e sons irreconhecíveis. A consciência foi voltando ao corpo. Estava em um hospital. Milagrosamente sobreviveu. A explosão o havia lançado para longe do carro e atraído uma viatura da polícia. Estava consciente de que recebera o melhor presente de todos: A vida, juntamente com uma nova chance de ser feliz. A partir dali só dependeria dele. PRELÚDIO: ao olhar pela janela Kaio pode perceber, ao longe, uma rena vestida de Papai Noel…

Antonio Brás Constante, natural de Porto Alegre. Residente em Canoas/RS. Bacharel em computação, bancário e cronista de coração, escreve com naturalidade, descontraída e espontaneamente, sobre suas idéias, seus pontos-de-vista, sobre o panorama que se descortina diferente a cada instante, a nossa frente: a vida. Membro da ACE (Associação Canoense de Escritores).

Arioswaldo Trancoso CruzArioswaldo Trancoso CruzArioswaldo Trancoso CruzArioswaldo Trancoso Cruz

(Poesias)(Poesias)(Poesias)(Poesias)

ContrapontoContrapontoContrapontoContraponto

Eu fui feliz quando te vi cantando, Como feliz eu fui quando sorrias. Na tua vida fui-me abandonando,

Nos teus caprichos consumi meus dias.

Hoje, tu passas, nem sequer notando Este coitado em quem tu te valias

Quando, de angústia, muita vez chorando,

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Neste ombro amigo as mágoas desfazias.

Mas, pouco importa se tudo esqueceste, Pois, de nós dois, somente tu perdeste

Quando, afinal, me deste liberdade.

Um coração magoado injustamente, Compreende logo que uma dor mordente

É o contraponto da felicidade

DespertandoDespertandoDespertandoDespertando

Não temo este universo em que desperto Da fuga interminável de sonhar,

Quando nem consegui reter por perto Fragmentos do estar, ou do passar.

Foi um completo turbilhão, deserto

De valores vitais em que apoiar O leque de experiências em aberto Que nunca me cabiam vivenciar.

Pressinto já momentos de beleza,

Numa vida juncada da certeza Multiforme do despertar seguro,

Que é saudade agridoce o sonho albino

Deste misto de humano e de divino Cujo ser se projeta no futuro.

Arioswaldo Trancoso Cruz Filho de Bernardo Cruz e de Oscália Trancoso

Cruz, nasceu em Morretes, Paraná, em 29 de julho de 1942. Sua formação acadêmica e profissional foi realizada em Porto Alegre, onde viveu dos 7 aos 38 anos de idade. Retornou ao Paraná, em Curitiba, em 1980, atuando alguns anos no comércio de panificação.

Professor de Filosofia e História na Rede Pública Estadual de Ensino.

Poeta, artesão e desenhista. Integrante das entidades culturais: - Centro de Letras do Paraná; - Academia de Letras José de Alencar (atualmente

como presidente) - Sala do Poeta do Paraná Possui sonetos premiados por estas entidades

curitibanas, além de poesias publicadas em periódicos locais e no livro "Poetas e Poesias de Ouro", da Editora Litteris, Rio de Janeiro.

Aventuras de Aventuras de Aventuras de Aventuras de Pedro MalasartesPedro MalasartesPedro MalasartesPedro Malasartes

(2)(2)(2)(2)

Malasartes Malasartes Malasartes Malasartes fez o urubu falarfez o urubu falarfez o urubu falarfez o urubu falar

Quando o pai de Pedro Malasartes entregou a alma a Deus, fez-se a partilha dos bens - uma casinha velha - entre os filhos; e tocou a Pedro uma das bandeiras da porta da casa, com o que ele ficou muito contente.

Pôs a porta no ombro e saiu pelo mundo. Em caminho viu um bando de urubus sobre um burro morto. Atirou a porta sobre eles e caçou um urubu que ficou com a perna quebrada.

Apanhou-o, pôs a porta às costas e continuou viagem. Obra de uma légua ou mais, avistou uma casa de onde sala fumaça,

o que queria dizer que se estava preparando o jantar.

Pedro Malasartes, que sentia fome, bateu à porta e pediu de comer.

Veio atendê-lo uma preta lambisgóia que foi logo dizer à patroa que ali estava um vagabundo, com um urubu e uma porta, a pedir de jantar.

A mulher mandou que o despachasse, que sua casa não era coito de malandros. O marido estava de viagem e a mulher no seu bem bom a preparar um banquete para quem ela muito bem o destinava. Neste mundo há coisas!

Pedro Malasartes, tão mal recebido que foi, resolveu subir para o telhado,

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valendo-se da porta que trazia e lhe serviria de escada. Subiu e ficou espreitando o que se passava naquela casa, tanto mais que sentia o cheiro dos bons petiscos.

Espiando pelos vãos das telhas viu os preparativos e tomou nota das iguarias, e ouviu as conversas e confidências da patroa e da negra.

Justamente na hora do jantar chegou o dono da casa que resolvera voltar inesperado da viagem que fazia.

Quando a mulher percebeu que ele se aproximava, mandou esconder os pratos do banquete e veio recebê-lo e abraçá-lo, muito fingida, muito risonha, mas por dentro queimando de raiva.

Vai dai mandou pôr na mesa a janta que constava de feijão aguado, paçoca de carne seca, dizendo:

- Por que não me avisou, marido? Sempre se havia de aprontar mais alguma coisa...

Sentaram-se à mesa. Pedro Malasartes desceu de seu posto

e bateu na porta, trazendo o urubu. O dono da casa levantou-se e foi ver

quem era. O rapaz pediu-lhe um prato de comida e ele chamou-o para a mesa a servir-se do pouco que havia. A mulher estava desesperada, desconfiando com a volta do Malasartes. Pedro tomou assento, puxou o urubu para debaixo da mesa, preso pelo pé num pedaço de corda. Estavam os dois homens conversando, quando de repente o Malasartes pisou no pé quebrado do bicho e este se pôs a gritar:

Uh! uh! uh! O dono da casa levou um susto e

perguntou que diabo teria o bicho. Pedro respondeu muito sério:

- Nada! São coisas. Está falando comigo.

- Falando! Pois o seu bicho fala?! - Sim senhor, nós nos entendemos.

Não vê como o trago sempre comigo? É um bicho mágico, mas muito intrometido.

- Como assim? - Agora, por exemplo, está dizendo que

a patroa teve aviso oculto da volta do senhor e por isso lhe preparou uma boa surpresa.

- Uma surpresa! Conte lá isso como é. - É deveras! Uma excelente leitoa

assada que está ali naquele armário...

- Pois é possível! Ó mulher, é verdade o que diz o urubu deste moço?

Ela com receio de ser apanhada com

todo o banquete e certa já de que Pedro sabia da marosca, apressou-se em responder:

- Pois então? Pura verdade! O bicho adivinhou. Queria fazer-te a surpresa no fim do jantar.

E gritou pela preta: - Maria, traz a leitoa. A negra veio logo correndo, mas de má

cara, com a leitoa assada na travessa. Daí a pouco Pedro Malasartes pisou

outra vez no urubu que soltou novo grito. O dono da casa perguntou:

- O que é que ele está dizendo? - Bicho intrometido! Está candongando

outra boca, bicho! - O que é? - Outras surpresas... - Outras! - Sim senhor: um peru recheado... - É verdade, mulher? - Uma surpresa, maridinho do coração!

Maria, traz o peru recheado que preparei para teu amo.

Veio o peru. E pelo mesmo expediente conseguiu Pedro Malasartes que viessem para a mesa todas as iguarias, doces e bebidas que havia em casa.

Ao fim do jantar, o dono da casa, encantado com as proezas do urubu, propôs comprá-lo a Pedro Malasartes que o vendeu muito bem vendido, enquanto a mulher e a preta bufavam de raiva, crentes também no poder mágico do bicho, que assim seria um constante espião de tudo quanto fizessem.

Fechado o negócio, Pedro Malasartes partiu satisfeito e vingado.

De como Malasartes vendeu o urubuDe como Malasartes vendeu o urubuDe como Malasartes vendeu o urubuDe como Malasartes vendeu o urubu

O dono da casa vendo que o urubu de Pedro Malasartes era encantado e sabia descobrir todos os segredos, propôs-lhe comprá-lo.

Malasartes, pescando que estava em véspera de fazer um bom negócio, encareceu ainda mais as virtudes do urubu e pediu este mundo e o outro.

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O homem vacilou em fechar o negócio, e Pedro, justamente quando uma preta velha veio trazer café a sala, disse ao dono da casa de modo que a mucamba ouvisse:

- Este bicho é deveras encantado, patrão. ele é capaz de descobrir outras coisas que se passam em sua casa sem o senhor saber.

- Não me diga isto! - É o que lhe digo. Mas, para que ele

não emudeça e possa contar tudo que tenha visto, é preciso que haja o maior cuidado para que nenhuma mulher lhe verta água na cabeça. E, se quiser experimentar, deixe-o esta noite ficar no corredor, que amanha teremos que saber muitas novidades.

O homem aplaudiu a proposta e prometeu comprar o urubu se saísse certo o que lhe dizia o Malasartes.

Mas a preta que tinha ouvido a combinação mal saiu da sala foi contar tudo à senhora, que ficou muito assustada, pois que, naquela noite, havia de receber a visita do sacristão da vila, e não sabia como arranjar para que o urubu candongueiro não pusesse tudo a perder.

A preta teve uma luz, e disse que não havia perigo, pois ela se encarregaria de verter água na cabeça do urubu para que ele perdesse o encanto.

Às tantas da noite todos se foram acomodar, tendo Malasartes cuidado de deixar o bicho no corredor, fazendo de sentinela.

Lá para a virada da noite, a dona da casa, pé que pé, veio abrir a janela, por onde

saltou para dentro o sacristão, enquanto a preta estava fazendo o que prometera na cabeça do urubu.

Quando o bicho se viu com a cabeça toda molhada, não teve mais conversa - tico! e deu uma bicada na preta lá onde quis e ela ficou segura, e vai então a negra soltou um grito.

A senhora, temendo que o marido despertasse, correu para arrancar a sua mucamba do bico do bicho. Agarrou-a pelo braço, mas não houve meio. A rapariga, então no auge do aperto, apegou-se no braço da senhora que se pôs também a gritar. O sacristão acudiu para ver se podia ajudar as duas a se desvencilharem. Mas, já a este tempo, Pedro Malasartes havia despertado o dono da casa. E os dois correram a ver o que era e encontraram aqueles três assim como estavam.

E vai então o dono da casa descobriu tudo, desancou o sacristão a pau, moeu os ossos tanto da senhora como da escrava e resolveu comprar o urubu.

Mas ai é que foi a história. Pedro Malasartes pediu pelo bicho cinco contos de réis. Abate que não abate, o homem teve mesmo de encorropichar o cobre, vintenzinho por vintenzinho, e Pedro Malasartes, deixando ficar o urubu, de quem se despediu chorando, pôs-se a caminho, mas vendo no pátio da fazenda uma carneirada, resolveu levá-la também e foi tocando como se fosse dono dela.

Nilto MacielNilto MacielNilto MacielNilto Maciel (Poesias)(Poesias)(Poesias)(Poesias)

DORDORDORDOR

Não tenho mal nenhum, senhora minha,

como se fosse puro, imaculado, como se fosse um anjo, um serafim, como se fosse deus, imune à dor.

Eu nada sinto, dor nenhuma tenho,

quer na cabeça, quer no amargo peito.

Não tenho mal nenhum, senhora minha, perfeitamente são me sinto e puro.

Se existe mal em mim, se existe dor, é a de morrer tão cedo, a pleno sol, envelhecer como qualquer mortal.

E a dor maior, minha senhora bela,

é dentro d'alma, bem profunda e aguda,

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a dor chamada angústia, a dor de ser.

POSSESSÃOPOSSESSÃOPOSSESSÃOPOSSESSÃO

Nada é meu, nem a vida,

que é minha.

SSSSÍSIFOÍSIFOÍSIFOÍSIFO

Para Cátia Silva

O meu destino é semelhante àquele imposto ao legendário rei coríntio,

que carregava ao ombro para o monte pedra que despencava em avalancha.

Buscava novamente a rocha bruta,

subia o monte e, mal chegava ao cimo, de suas mãos sangradas escapava o mineral, que ao solo retornava.

E assim jamais o seu suplício ao fim

chegava, mesmo exausto, quase morto.

O meu suplício é semelhante ao dele - a cada “não” que tu me dizes, subo minha montanha, carregando pedras,

que se desprendem de meus ombros, rolam ladeira abaixo, e volto a ti, pedinte.

E tu de novo dizes “não”, sorrindo.

Apanho minha rocha, subo o monte.

Se conseguir chegar ao cimo e lá deitar a pedra, ao chão fincá-la, o “sim”

de ti terei; porém fui condenado a carregar meu fardo vida afora

e vê-lo escorregar pelas escarpas.

E quando quase morto me encontrar, sabendo, embora, que somente “não”

a mim dirás, ainda assim direi: “Melhor este suplício, a ser feliz

longe dos olhos teus, vizinho à morte”.

SONETO CREPUSCULARSONETO CREPUSCULARSONETO CREPUSCULARSONETO CREPUSCULAR

Para Francisco Carvalho

Nos campos de meu pai antigamente as chuvas inundavam meus pensares e do pomar do céu pingavam frutos.

Ventos ninavam aves repousadas nas árvores vigias de seu sono, sentinelas da luz crepuscular.

As ovelhas baliam suas crias,

os vaga-lumes alumbravam tudo e a solidão das vacas nos currais.

Duendes se assustavam co’os trovões. Na escuridão dos quartos o perfume

do amor gemente à sombra dos lençóis.

Invernos que de mim se evaporaram nos campos de meu pai antigamente.

---------–

Nilto Maciel (1945)

Nasceu em Baturité, Ceará, em 1945. Ingressou na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará em 70. Criou, em 76, com outros escritores, a revista O Saco. Mudou-se para Brasília em 77, tendo trabalhado na Câmara dos Deputados, Supremo Tribunal Federal e Tribunal de Justiça do DF. Regressou a Fortaleza em 2002. Editor da revista Literatura desde 91.

Obteve primeiro lugar em alguns concursos literários nacionais e estaduais: Secretaria de Cultura e Desporto do Ceará, 1981, com o livro de contos Tempos de Mula Preta; Secretaria de Cultura e Desporto do Ceará, 1986, com o livro de contos Punhalzinho Cravado de Ódio; “Brasília de Literatura”, 90, categoria romance nacional, promovido pelo Governo do Distrito Federal, com A Última Noite de Helena; “Graciliano Ramos”, 92/93, categoria romance nacional, promovido pelo Governo do Estado de Alagoas, com Os Luzeiros do Mundo; “Cruz e Sousa”, 96, categoria romance nacional, promovido pelo Governo do Estado de Santa Catarina, com A Rosa Gótica; VI Prêmio Literário Cidade de Fortaleza, 1996, Fundação Cultural de Fortaleza, CE, com o conto “Apontamentos Para Um Ensaio”; “Bolsa Brasília de Produção Literária”, 98, categoria conto, com o livro Pescoço de Girafa na Poeira; "Eça de Queiroz", 99, categoria novela, União Brasileira de Escritores, Rio de Janeiro, com o livro Vasto Abismo.

Organizou, com Glauco Mattoso, Queda de Braço – Uma Antologia do Conto Marginal (Rio de Janeiro/Fortaleza, 1977). Participa de diversas coletâneas,

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entre elas Quartas Histórias – Contos Baseados em Narrativas de Guimarães Rosa, org. por Rinaldo de Fernandes (Ed. Garamond, Rio de Janeiro, 2006).

Tem contos e poemas publicados em esperanto, espanhol, italiano e francês. O Cabra que Virou Bode foi transposto para a tela (vídeo), pelo cineasta Clébio Ribeiro, em 1993.

LIVROS PUBLICADOS:

- Itinerário, contos, 1.ª ed. 1974, ed. do Autor, Fortaleza, CE; 2.ª ed. 1990, João Scortecci Editora, São Paulo, SP.

- Tempos de Mula Preta, contos, 1.ª ed. 1981, Secretaria da Cultura do Ceará; 2.ª ed. 2000, Papel Virtual Editora, Rio de Janeiro, RJ.

- A Guerra da Donzela, novela, l.ª ed. 1982, 2.ª ed. 1984, 3.ªed. 1985, Editora Mercado Aberto, Porto Alegre, RS.

- Punhalzinho Cravado de Ódio, contos, 1986, Secretaria da Cultura do Ceará.

- Estaca Zero, romance, 1987, Edicon, São Paulo, SP.

- Os Guerreiros de Monte-Mor, romance, 1988, Editora Contexto, São Paulo, SP.

- O Cabra que Virou Bode, romance, 1.ª ed. 1991, 2.ª ed. 1992, 3.ª ed. 1995, 4.ª ed. 1996, Editora Atual, São Paulo, SP.

- As Insolentes Patas do Cão, contos, 1991, João Scortecci Editora, São Paulo, SP.

- Os Varões de Palma, romance, 1994, Editora Códice, Brasília.

- Navegador, poemas, 1996, Editora Códice, Brasília. - Babel, contos, 1997, Editora Códice, Brasília. - A Rosa Gótica, romance, 1.ª ed. 1997, Fundação

Catarinense de Cultura, Florianópolis, SC (Prêmio Cruz e Sousa, 1996), 2.ª ed. 2002, Thesaurus Editora, Brasília, DF.

- Vasto Abismo, novelas, 1998, Ed. Códice, Brasília. - Pescoço de Girafa na Poeira, contos, 1999,

Secretaria de Cultura do Distrito Federal/Bárbara Bela Editora Gráfica, Brasília.

- A Última Noite de Helena, romance, 2003. Editora Komedi, Campinas, SP.

- Os Luzeiros do Mundo, romance, 2005. Editora Códice, Fortaleza, CE.

- Panorama do Conto Cearense, ensaio, 2005. Editora Códice, Fortaleza, CE.

- A Leste da Morte, contos, 2006. Editora Bestiário, Porto Alegre, RS.

- Carnavalha, romance, 2007. Bestiário, Porto Alegre, RS.

ORGANIZADOR: Pele e Abismo na Escritura de Batista de Lima, ensaios, artigos e resenhas, 2006. Ed. UNIFOR, Fortaleza, CE.

PARTICIPAÇÃO EM ANTOLOGIAS:

- Queda de Braço: Uma Antologia do Conto Marginal, seleção de Glauco Mattoso e Nilto Maciel. Clube dos Amigos do Marsaninho, Rio de Janeiro e Fortaleza, 1977. Contos: “As Fantásticas Narrações das Meninas do São Francisco” e “Sururus no Lupanar”.

- Conto Candango, coordenação de Salomão Sousa. Coordenada Editora de Brasília, 1980. Conto: “As Pequenas Testemunhas”.

- Horas Vagas (Coletânea 2), organizada por Joanyr de Oliveira. Coleção Machado de Assis, volume 42, Contos, Senado Federal, Brasília, 1981. Conto: “Detalhes Interessantes da Vida de Umzim”.

- O Prazer da Leitura, organizada por Jacinto Guerra, Ronaldo Cagiano, Nilce Coutinho e Cláudia Barbosa. Editora Thesaurus, Brasília, 1997. Conto: “Ícaro”.

- Almanaque de Contos Cearenses, organizado por Elisangela Matos, Pedro Rodrigues Salgueiro e Tércia Montenegro. Edições Bagaço, Recife, PE, 1997. Conto: “Apontamentos para um Ensaio”.

- Poesia de Brasília, organizada por Joanyr de Oliveira. Livraria Sette Letras, Rio de Janeiro, 1998. Poemas: “Odisséia Interior”, “Oferenda” e “Nem todo amor...”

- Poesía de Brasil – volumen 1, organizada por Aricy Curvello e traduzida para o espanhol por Gabriel Solis. Edição Proyecto Cultural Sur/Brasil, Bento Gonçalves, RS, 2000. Poemas: “Calvario”, “De Desapariciones y de Ruinas”, “Francisca” e “Arco Iris”.

- Reflexos da Poesia Contemporânea do Brasil, França, Itália e Portugal, organizada por Jean Paul Mestas. Universitária Editora, Lisboa, Portugal, 2000. Edição em francês e português. Poemas: “Lutin”/ “Duende”, “Avec

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les pieds par terre” / “Com os pés no chão”, “Auroral” / “Amanhança”, “Pro-phétique” / “Prof-ética”.

- Antologia de Haicais Brasileiros, organizada por Napoleão Valadares. André Quicé Editor, Brasília, 2003.

- Antologia de Contos Cearenses, organizada por Túlio Monteiro. Coleção Terra da Luz, tomo I, Fundação de Cultura, Esporte e Turismo de Fortaleza, 2004. Conto: “Casa Mal-assombrada”.

- Antologia do Conto Brasiliense, seleção e organização por Ronaldo Cagiano. Projecto Editorial, Brasília, 2004. Conto: “Aníbal e os Livros”.

- Os Rumos do Vento/ Los Rumbos del Viento (Antologia de Poesia), coordenação de Alfredo Pérez Alencart e Pedro Salvado. Câmara Municipal de Fundão,

Porotugal e Trilce Ediciones, Salamanca, Espanha, 2005. Poema: “Arco-íris”.

- Quartas Histórias – contos baseados em narrativas de Guimarães Rosa, org. Rinaldo de Fernandes. Rio de Janeiro, Ed. Garamond, 2006. Conto: “Águas de Badu”.

- Todas as Gerações – O Conto Brasiliense Contemporâneo, org. por Ronaldo Cagiano. Brasília, LGE Editora, 2006. Conto “Avisserger Megatnoc”.

- 15 Cuentos Brasileros/15 Contos Brasileiros, edición bilingüe español-portugués, org. por Nelson de Oliveira e tradução de Federico Lavezzo. Córdoba, Argentina, Editorial Comunicarte, 2007. Conto “Ave-Marias”.

Graciliano RamosGraciliano RamosGraciliano RamosGraciliano Ramos

(O Relógio do Hospital)(O Relógio do Hospital)(O Relógio do Hospital)(O Relógio do Hospital)

O médico, paciente como se falasse a

uma criança, engana-me asseverando que permanecerei aqui duas semanas. Recebo a notícia com indiferença. Tenho a certeza de que viverei pouco, mas o pavor da morte já não existe. Olho o corpo magro estirado no colchão duro e parece-me que os ossos agudos, os músculos frouxos e reduzidos, não me pertencem.

Nenhum pudor. Alguém me estendeu uma coberta sobre a nudez.

Como é grande o calor, descobri-me, embora estivessem muitas pessoas na sala. E não me envergonhei quando a enfermeira me ensaboou e raspou os pêlos do ventre.

Ao deitar-me na padiola, deixei os chinelos junto da cama; ao voltar da sala de operações, não os vi.

O médico se dirige em linguagem técnica a uma mulher nova, e ela me examina friamente, como se eu fosse um pouco de substância inerte, diz que os meus sofrimentos vão ser grandes.

Por enquanto estou apenas atordoado. Aquela complicação, tinir de ferros, máscaras curvadas sobre a mesa, o cheiro dos desinfetantes, mãos enluvadas e

rápidas, as minhas pernas imóveis, um traço na pele escura de iodo, nuvens de algodão, tudo me dança na cabeça. Não julguei que a incisão tivesse sido profunda. Uma reta na superfície. Considerava-me quase defunto, mas no começo da operação esta idéia foi substituída por lembranças da aula primária. Um aluno riscava figuras geométricas no quadro-negro.

Morto da barriga para baixo. O resto do corpo iria morrer também, no dia seguinte descansaria no mármore do necrotério, seria esquartejado, serrado.

Fechei os olhos, tentei sacudir a cabeça presa. Uma cara me perseguia, cara terrível que surgira pouco antes, na enfermaria dos indigentes. Eu ia na padiola, os serventes tinham parado junto a uma porta aberta - a grade alvacenta aparecera, feita de tiras de esparadrapo, e, por detrás da grade, manchas amarelas, um nariz purulento, o buraco negro de uma boca, buracos negros de órbitas vazias. Esse tabuleiro de xadrez não me deixava, era mais horrível que as visões ferozes do longo delírio.

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O trabalho dos médicos iria prolongar-se, cacete, meses e meses, ou findaria vinte e quatro horas depois, no necrotério? Cortado em pedaços, uma salmoura esbranquiçada cheirando a formol, o atestado de óbito redigido à pressa, um cirurgião de mangas arregaçadas lavando as mãos, extraordinariamente distante de mim.

Agora espero os sofrimentos anunciados. Um gemido fanhoso de relógio fere-me os ouvidos e fica vibrando. Insensível, olho as pernas compridas, a dobra que entre elas se forma na coberta. Outras pancadas vaga rosas tremem, abafando os cochichos que fervilham na sala. Parece-me virem juntas à primeira: a meia hora decorrida perdeu-se.

Inércia, um vácuo enorme, o prognóstico da mulher nova ameaçando-me. Sono, fadiga, desejo de ficar só. Alguém se debruça na cama, encosta a orelha ao meu coração. Furam-me o braço, uma agulha procura lentamente a veia.

Escuridão, silêncio. Depois um instrumento de música a tocar, a sombra adelgaçando-se, telhados, árvores e igrejas esboçando-se à distância. Tenho a sensação de estar descendo e subindo, balançando-me como um brinquedo na extremidade de um cordel.

A dormência prolongada pouco a pouco se extingue. Os dedos dos pés mexem-se, em seguida os pés, as pernas - e enrosco-me como um verme. Uma angústia me assalta, a convicção de que me aleijaram. Esta idéia é tão viva que, apesar de terem voltado os movimentos, afasto a coberta, para certificar-me de que não me amputaram as pernas. Estão aqui, mas ainda meio entorpecidas, e é como se não fossem minhas.

As idas e vindas, as viagens para cima e para baixo, cansam-me demais, penso que uma delas será a última, que o cordel vai quebrar se, deixar-me eternamente parado.

Noite. A treva chega de repente, entra pelas janelas, vence a luz da lâmpada. Uma friagem doce. A chuva açoita as vidraças. Durmo uns minutos, acordo, adormeço novamente. Neste sono cheio de ruídos espaçados – rolar de automóveis, um canto de bêbado, lamentações dos outros doentes - avultam as pancadas fanhosas do relógio.

Som arrastado, encatarroado e descontente, gorgolejo de sufocação. Nunca houve relógio que tocasse de semelhante maneira. Deve ser um mecanismo estragado, velho, friorento, com rodas gastas e desdentadas. Meu avô me repreendia numa fala assim lenta e aborrecida quando me ensinava na cartilha a soletração. Voz autoritária e nasal, costumada a arengar aos pretos da fazenda, em ordens ásperas que um pigarro interrompia. O relógio tem aquele pigarro de tabagista velho, parece que a corda se desconchavou e a máquina decrépita vai descansar.

Bem. Daqui a meia hora não ouvirei as notas roucas e trêmulas.

Vultos amarelos curvam-se sobre a cama, que sobe e desce, levantam-me, enrolam-me em pastas de algodão e ataduras, esforçam-se por salvar os restos deste outro maquinismo arruinado. Um líquido acre molha-me os beiços. Serventes e enfermeiros deslocam-se com movimentos vagarosos e sonâmbulos, a luz esmorece, dá aos rostos feições cadaverosas.

Impossível saber se é esta a primeira noite que passo aqui. Desejo pedir os meus chinelos, mas tenho preguiça, a voz sai-me flácida, incompreensível. E esqueci o nome dos chinelos. Apesar de saber que eles são inúteis, desgosta-me não conseguir pedi-Ias. Se estivessem ao pé da cama, sentir-me-ia próximo da realidade, as pessoas que me cercam não seriam espectrais e absurdas. Enfadam-me, quero que me deixem. Acontecendo isso, porém, julgar-me-ia abandonado, rebolar-me-ei com raiva, pensa rei na enfermeira dos indigentes, no homem que tinha uma grade de esparadrapos na cara.

Silêncio. Por que será que esta gente não fala e o relógio se aquietou? Uma idéia acabrunha-me. Se o relógio parou, com certeza o homem dos esparadrapos morreu. Isto é insuportável. Por que fui abrir os olhos diante da amaldiçoada porta? Um abalo na padiola, uma parada repentina - e a figura sinistra começara a aperrear-me, a boca desgovernada, as órbitas vazias negrejando por detrás da grade alvacenta. Por que se detiveram junto àquela porta? Dois passos aquém, dois passos além - e eu estaria livre da obsessão.

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O relógio bate de novo. Tento contar as horas, mas isto é impossível.

Parece que ele tenciona encher a noite com a sua gemedeira irritante.

Doutor Queirós, principiando a falar, não acaba: é um palavreado infinito que nos enjoa, nos deixa embrutecidos, mudos, mastigando um sorriso besta de cumplicidade.

Felizmente o homem dos esparadrapos vive. Repito que ele vive e caio num marasmo agoniado. No silêncio as notas compridas enrolam se como cobras, estiram-se pela casa, invadem a sala, arrastam-se devagar nos cantos, sobem a cama onde me agito apavorado. Que fim levaram as pessoas que me cercavam? Agora só há bichos, formas rastejantes que se torcem com lentidão de lesmas. Arrepio-me, o som penetra-me no sangue, percorre-me as veias, gelado.

As vidraças, a chuva, os ruídos, sumiram-se. Há uma noite profunda, um céu pesado que chega até a beira da minha cama. As coisas pegajosas engrossam, vão enlaçar-me nos seus anéis. Tento esquivar-me ao abraço medonho, revolvo-me no colchão, grito.

Aparecem de novo as figuras atentas, lívidas. A beberagem acre umedece-me a língua seca, dura como língua de papagaio.

- Obrigado. Puxo a coberta para o queixo, o frio

diminui. Há um rio enorme, precipícios sem fundo - e seguro-me a ramos frágeis para não cair neles.

Ouço trovões imensos. Volto a ser criança, pergunto a mim mesmo, que seres misteriosos fazem semelhante barulho. Meus irmãos pequenos iam deitar-se com medo, minhas tias ajoelhavam-se diante do oratória, a chama das velas tremia, as contas dos rosários chocavam-se como bilros de almofadas, um sussurro de preces enchia o quarto dos santos.

Por que estão chiando aqui perto de mim? Estarão rezando? Não houve trovões. Nuvens brancas e altas correm por cima das árvores, das igrejas, do telhado da penitenciária. Olho os tipos que me rodeiam. Afastam-se, falam em voz baixa, presumo que me espiam desconfiados. Acham-me com certeza muito mal, pensam que vou

morrer, procuram decifrar as palavras incoerentes que larguei no delírio. Envergonho-me. Terei dito segredos e inconveniências?

Desejo atraí-Ias, conversar, mostrar que sou um indivíduo razoável e as maluquices do sonho findaram. Mas a linguagem foge. Procuro chamá-las com um gesto, a mão tomba-me sobre o peito, uma fraqueza paralisa-me.

Certamente estou há dias entre a vida e a morte. Agora a febre diminuiu e os monstros que me perseguiam se desmancharam. As dores do ferimento são intoleráveis. Inclino-me para um lado e para outro, certifico-me de que não me trouxeram os chinelos, imagino que vou agüentar uma eternidade de martírios.

Gritos agudos de criança rasgam-me os ouvidos, como pregos.

Querem ver que a minha operação foi ontem e ficarei aqui amarra do semanas ou meses?

Uma balada corta-me o pensamento. Estremeço: parece que ela me chegou aos nervos através da ferida aberta, me entrou na carne como lâmina de navalha.

Aqueles soluços desenganados devem vir da enfermeira dos indigentes, talvez o homem dos esparadrapos esteja chorando. Com esforço, consigo encostar as palmas das mãos nas orelhas. Desejo ficar assim, mas a posição é incômoda, os braços fatigam-me, o choro escorrega-me entre os dedos. Se não fosse isto, distrair-me-ia vendo as árvores, o céu, os telhados, falaria aos enfermeiros e aos serventes.

Que desgraça estará sucedendo? Deixo cair os braços, os uivos lastimosos da criança recomeçam, as minhas dores crescem, dão-me a certeza de que os médicos atormentam um pequenino infeliz. Penso nos vagabundos miúdos que circulam nas ruas, pedindo e furtando, sujos, esfrangalhados, os ossos furando a pele, meio comidos pela verminose, as pernas tortas como paus de cangalhas. Talvez estejam consertando uma daquelas pernas.

Os gritos baixam, transformam-se num estertor.

- Por que bolem com aquela criança? A enfermeira avizinha-se, espera que

eu repita a pergunta. Aborreço me por não

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me haver feito compreender, viro-me com dificuldade e minutos depois ouço os passos da mulher, que se afasta nas pontas dos pés.

Fará somente vinte e quatro horas que me deixaram aqui derreado? Somo: vinte e quatro, quarenta e oito, setenta e duas. Talvez uns três dias. Isto, setenta e duas horas. Os chinelos desapareceram: ficarei provavelmente um mês, dois meses. Multiplico: sessenta dias, mil quatrocentos e quarenta horas. Fatigo-me, e a conta se complica, ora apresenta um resultado, ora outro. Convenço-me afinal de que são mil quatrocentos e quarenta horas. É bom que a ferida se agrave e me mate logo. Dois meses de tortura, um tubo de borracha atravessando-me as entranhas, visões pavorosas, os queixumes dos indigentes que se acabam junto ao homem dos esparadrapos. Duas mil oitocentas e oitenta vezes o relógio caduco de peças gastas rosnará, ameaçando-me com acontecimentos funestos. Sessenta dias de imobilidade, o pensamento a emaranhar-me em cipoais obscuros.

Os gritos da criança elevam-se, o calor aumenta, as árvores e os telhados aproximam-se.

Lá estão novamente as horas a pingar do corredor como de uma torneira, gotas pesadas escorrendo lentas.

Gargalhadas na rua, barulho de automóvel, o pregão de um vendedor ambulante. Talvez o automóvel seja do médico que me vem fazer o curativo. Não é, passou com um ronco de buzina. Agora o que há são rufos de tambor, vozes de comando.

O berro do vendedor ambulante caiu na sala de supetão e ficou rolando, misturado ao choro dos indigentes e ao rumor de ferros na autoclave.

- Porcaria, tudo uma porcaria. Zango-me. Não me tratam, deixam-me

acabar à míngua, apodrecer como um corpo morto. Silêncio demorado. Penso na criança e no homem que se esconde por detrás da máscara de esparadrapo.

- Como vai o menino? A enfermeira responde-me que vai

bem, mas certamente procura iludir-me. Há um cadáver miúdo perto daqui, vão despedaçá-lo na mesa do necrotério, os serventes levarão a roupa suja para a

lavanderia. Um colchão pequeno dobrado na cama estreita.

As vozes de comando, os rufos, o pregão do vendedor ambulante o rumor dos ferros na autoclave, fazem-me falta. Convenço-me de que o silêncio é de mau agouro. Quando ele se quebrar, uma infelicidade surgirá de repente, não poderei livrar-me dela. O suor corre-me na cara. O primeiro som que vier anunciará desgraça, essa idéia desarrazoada não me larga. Reprimo um acesso de tosse, acredito que ele é indício de hemoptises abundantes.

Começo a perceber um toque-toque surdo, tropel de cavalo cansado. Naturalmente é o sangue batendo-me nos ouvidos. Um coração quase inútil finda a tarefa maçadora.

O cadáver pequeno vai ser transformado em peças anatômicas.

Toque-toque. Não é o sangue, é qualquer coisa que vem de fora, provavelmente do corredor. Duas pancadas próximas, uma distanciada, andadura irregular de bicho que salta em três pés. Ainda há pouco estava tudo calmo. De repente o relógio velho começou a mexer-se e a viver.

Cerro os olhos, digo a mim mesmo que me fatigo à toa, bocejo, tento lembrar-me de fatos que julgo importantes e logo se tomam mesquinhos. Afinal não veio a desgraça. Vou restabelecer-me em poucos dias. Vou restabelecer-me, passear nas ruas, entrar nos cafés. Se não tivessem levado os chinelos, convencer-me-ia de que não estou muito doente.

Procuro dormir, esquecer tudo, mas o relógio continua a martelar-me a cabeça dolorida. Espero em vão o fonfonar de um automóvel, a cantiga de um bêbado, as vozes de comando, o rumor dos ferros na autoclave. Tenho a impressão de que o pêndulo caduco oscila dentro de mim, ronceiro e desaprumado.

Os infelizes calaram-se, todos os sofrimentos esmoreceram, fundiram-se naquela voz áspera e metálica.

Os meus braços descarnados movem-se como braços de velho. Passo os dedos no rosto, sinto a dureza dos pêlos, as faces cavadas, rugas. Se tivesse um espelho, veria esta fraqueza e esta devastação.

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Velhinho, trocando as pernas bambas nas calçadas. Olho as pernas finas como cambitos. A vista escurece. Velhinho, arrimado a um cacete, balbuciando, tropeçando. Toque-toque - o cajado a bater nos paralelepípedos.

O pensamento escorrega de um objeto para outro. A barba crescida deve ter ficado branca, o pescoço engelhou como um pescoço de galinha.

A mulher desapertava a roupa, despia-se cantando, e eu me conservava distante, encabulado, tentando desamarrar o cordão do sapato, que tinha dado um nó. Não podia descalçar-me e olhava estupidamente um despertador que trabalhava muito depressa. Os ponteiros avançavam e o laço do sapato não queria desatar-se.

O professor explicava a lição comprida numa voz dura de matraca, falava como se mastigasse pedras.

O político influente entregava-me a carta de recomendação. Eu gaguejava um agradecimento difícil, atrapalhava-me por causa da datilógrafa bonita, descia a escada perseguido pelos óculos de um secretário e pelo tique-taque da máquina de escrever.

Tudo se confunde. A rapariga que se despia, o professor, o político, misturam-se. A criança doente, os enfermeiros, os médicos, o homem dos esparadrapos, não se distinguem das árvores, dos telhados, do céu, das igrejas.

Vou diluir-me, deixar a coberta, subir na poeira luminosa das réstias, perder-me nos gemidos, nos gritos, nas vozes longínquas, nas pancadas medonhas do relógio velho.

Retrato em Preto e Retrato em Preto e Retrato em Preto e Retrato em Preto e

Branco de Branco de Branco de Branco de Graciliano RamosGraciliano RamosGraciliano RamosGraciliano Ramos

Artigo de Hélio Pólvora

Esse Graciliano Ramos, ou Velho

Graça, ou Major Graça, ou Mestre Graça, como o chamavam afetuosamente, é um

fingidor. Por sentimentalismo ou vergonha, finge-se mais áspero do que é, mais espinhoso que um mandacaru. Sertanejo magro, de ombros curvos, um cigarro ardendo entre os dedos ou na boca, de roupas simples mas asseadas, mãos limpas (em todos os sentidos). Cria fama de grosseiro por causa de diálogos como estes:

— Bom dia, mestre Graça. — Você acha, meu filho? Ou então: — Mestre Graça, se a situação

continuar desse jeito, vamos comer merda — diz-lhe o romancista José Lins do Rego, nos tempos da ditadura de Getúlio Vargas.

— Se sobrar p’ra nós, Zé Lins. Se sobrar...

Seu romance de estréia, Caetés, ele o considera "um desastre" ou "uma encrenca". Angústia, o terceiro, é "este desastre que preparo e que terá, se aparecer um editor maluco, cinqüenta leitores do Amazonas ao Prata, talvez nem tanto". Vidas Secas tem uma "história mesquinha — um casal vagabundo, uma cachorra e dois meninos." Sua correspondência traz frases em italiano e francês. Traduz do francês e recita Le Cid, de Corneille, no original. Admira Eça de Queiroz, lê muito Machado de Assis. Conhece gramática portuguesa a fundo. Mas diz ter "uma cultura de almanaque". De vez em quando exalta-se: "Vai sair uma obra-prima, em língua de sertanejo, cheia de termos descabelados" (acerca de S. Bernardo, segundo romance). E reitera: "Foi palavreado difícil de personagens sabidos demais que arrasou a antiga literatura brasileira. Literatura brasileira uma ova, que o Brasil nunca teve literatura. Vai ter de hoje em diante" (idem).

Assim vê a atividade de escritor: "Somos uns animais diferentes dos outros, provavelmente inferiores aos outros, duma sensibilidade excessiva, duma vaidade imensa que nos afasta dos que não são doentes como nós. Mesmo os que são doentes, os degenerados que escrevem história fiada, nem sempre nos inspiram simpatia: é necessário que a doença que nos ataca atinja outros com igual intensidade para que vejamos neles um irmão e lhes mostremos as nossas chagas, isto é, os nossos manuscritos, as nossas misérias, que

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publicamos cauterizadas, alteradas em conformidade com a técnica" (carta à mulher Heloísa, abril de 1935).

Alfabetizou-se em casa dos pais, na fazenda, "agüentando pancada".

— Um aparte, por obséquio. — Com que finalidade? Por quem o

senhor se toma? — Por um curioso, apenas curioso. No

volume Infância o senhor se atém às memórias relevantes. Parece pensar, como Sherwood Anderson, que não existem histórias seriadas, seqüenciais. Se existem, é que houve intervenção do autor, o que pressupõe artifício. A vida é feita de raros instantes felizes e muitos transes amargos ou desgraçados.

Em Infância predomina o ácido e, em certos trechos, o travo azedo. O memorialista não está ali para emperequetar-se. A análise, tanto da família quanto das ambiências, de si próprio e dos outros, é de uma rudeza total. O senhor tinha o seu orgulho, claro, mas não nutria vaidades bestas. Imprecava principalmente contra si próprio. Era, como disse Oswald de Andrade, um mandacaru escrevendo.

Em um compêndio de achegas biobibliográficas, Moacir Medeiros de Sant’Ana refere-se aos "vários e contundentes julgamentos dos seus pais, feitos por Graciliano Ramos nas suas memórias da infância". O pai "não economizava pancadas e repreensões" e na mãe o que espantava mais "era a falta de sorriso". Por isso, Olívio Montenegro considera o livro "obra diabólica". E no seu Jornal de Crítica, Álvaro Lins afirma, constrangido: "Quando se decidiu a escrever um livro de memórias, a sensibilidade reagiu em toda a sua exacerbação: e exprimiu-se pela exteriorização daquilo que nela se gravara mais profundamente (...) Um mundo intolerável de castigos, privações e vergonhas". Sim, a memória não grava com igual nitidez as felicidades e infelicidades; o lado podre tem primazia.

A secura exata, as frases que dizem muito com grande economia de meios. É o prosador anti-ornamental numa terra em que os prosadores continuam bacharelescos, relutam em aposentar os ornatos.

Do mesmo modo que, em romances anteriores, o senhor desce ao limo das personagens, em Infância vai à borra do coração. Predominância do monólogo (até mesmo por se tratar de depoimento), palavras pesadas e mortais, que ecoam como badaladas, arrancadas que foram da carne viva dos significados, e que traduzem verdades literais.

Na formação do menino Graciliano entram muitos instrumentos de suplício: o áspero meio sertanejo no final do século passado e início do século 20; o pai comerciante e fazendeiro, tipo rude da média burguesia urbana e rural, com um perfil de patriarca que cobra obediência pronta; a mãe de poucas letras e minguado afeto. Repressão política do coronelismo tipo cabresto, enxada e voto. Repressão sexual. Repressão, sobretudo, à inteligência. A sensibilidade do menino ferida a todo instante, no relacionamento penoso com os pais, na escola, nas ruas, sofrendo o impacto da miséria ambiental. O menino cresce solitário e desconfiado, agarra-se a "migalhas de sons, farrapos de imagens" — dolorosos, todos eles. E apesar da violência do meio, plasma por dentro a sensibilidade, procura um espaço, uma expressão, enquanto por fora tece a couraça protetora.

Mesmo os que, indiferentes à beleza da arte literária, abrem Infância em busca de um documento social, decerto encontram achegas sobre a arte de martirizar crianças. Antes, arte apurada no regime patriarcal; hoje, arte nacional, de ponta a ponta, fio a pavio.

Graciliano, Graciliano, Graciliano, Graciliano, Dalcídio e a DamaDalcídio e a DamaDalcídio e a DamaDalcídio e a Dama

Nos fundos da Livraria José Olympio

Editora, na Rua do Ouvidor 110, quase esquina com Avenida Rio Branco, há um marquesão no qual poucos ousam sentar-se. É o refúgio de Graciliano Ramos, que tem o hábito de acomodar-se a um canto e cruzar as pernas magras.

Num certo fim de tarde, quando ele, lá do seu canto, dá trela ao poeta estreante

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Jorge Medauar, sentado no outro canto, o romancista Dalcídio Jurandir vai se aproximando. É do Pará, pertence ao Pecebão (o PC ortodoxo) e tem um jeito de camelo, com ligeira corcova. Sem cerimônia, ocupa o espaço vago no centro.

— Mestre Graça, tem um mineiro badalando muito. Um tal de Guimarães Rosa. Já leu?

— Ainda não. — Imitador de Joyce. Em vez de Saga,

pôs Sagarana no título. Quer ser o alquimista da língua

— Ah, é? — Li umas páginas. Não é de todo mau

— condescende Dalcídio. Pausa. O romancista paraense volta à

carga: — Mestre Graça, já leu Cyro dos Anjos? — Não. Quem é? — Outro mineiro. Escreve parecido

com Machado de Assis. — Nesse caso — pondera Graciliano,

descruzando as pernas — eu prefiro o original.

— Apareceu também um tal de Breno Accioly. É contista lá da sua terra, das Alagoas — informa Dalcídio. —Já leu?

— Como se chama o livro? — João Urso. Tem prefácio de Zé Lins. — Não sou de prefácios, não gosto de

arrodeios — confessa Graciliano. — Pego o cabra e leio sem intermediações.

— Mas já leu o João Urso? — Só uns dois ou três contos. — Pois eu não passei do primeiro — diz

Dalcídio. — Uma prosa maluca, retórica. Coisa de doido.

Silêncio. Graciliano pigarreia e prepara-se para acender outro cigarro. Como ninguém toma a iniciativa da palavra, Dalcídio Jurandir ergue-se, dobrando os joelhos como fazem os camelos, e despede-se. Tem assuntos a tratar na ABI.

— Medauar — pede o velho Graça quando o vulto desaparece na porta —, vá atrás daquele safado e descubra se está falando mal de mim.

Mais ou menos nessa época, o velho regressa de uma viagem à URSS. Em Moscou, obrigaram-no a catar no chão do metrô a ponta de cigarro que ele havia atirado fora. O metrô moscovita era um

espelho, brilhava. "Nós não o fizemos e limpamos para que os senhores do mundo capitalista venham sujá-lo com baganas", dissera-lhe, em tom acrimonioso, o guia.

A ida à URSS resulta num livro de impressões intitulado Viagem e que começa com uma demonstração de aborrecimento do velho Graça: ele não se sente bem na "encrenca voadora". É como chama o avião. Fumando seu cigarro no marquesão da José Olympio, vê uma senhora tremelicante de banhas e de jóias aproximar-se, toda sorridente, com um exemplar do livro para o indefectível autógrafo.

— Mestre Graciliano, assine aqui. O senhor voltou assumido da União Soviética?

— Assumido como, minha senhora? — Ora, assumido. Assim como o André

Gide. É demais. O romancista estoura: — Como, minha senhora? Veado?

Pesadelo que não Pesadelo que não Pesadelo que não Pesadelo que não

AcabaAcabaAcabaAcaba

"Um crime, uma ação boa dá tudo no

mesmo. Afinal já nem sabemos o que é bom e o que é ruim, tão embotados vivemos", pensa Luís da Silva, narrador de Angústia, modesto funcionário público. Se vivesse hoje, mais de 60 anos depois, sua situação seria a mesma ou pior. De lá para cá, alguns indicadores sociais melhoraram, mas outros vícios, como a corrupção e a falência dos costumes, agravaram-se.

A classe média que o romance descreve, incerta e insegura, e sobrevivendo à custa de renúncias, estaria agora proletarizada. Luís luta para subir socialmente. Nordestino de origens rurais, vem de uma família outrora poderosa. São freqüentes, no fluxo memorialístico do narrador, suas lembranças do avô Trajano. Alcançou-o velho, caduco, a dormitar numa rede. Antes senhor de baraço e cutelo, assaltava a cadeia da vila para libertar cangaceiros; no final da vida, com umas reses magras na pastagem, embriagava-se e vomitava na sobrecasaca de um antigo escravo, mestre Domingos, que, por respeito, lhe suportava os destemperos.

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A Graciliano Ramos não interessa o romance da decadência da aristocracia rural nordestina. É tarefa para seu contemporâneo José Lins do Rego, que enfocou principalmente os senhores de engenho. Contenta-se, em rápidas imagens repetidas pelo desespero do narrador, em transmitir do passado apenas o necessário com que exibir o desenraizamento de Luís da Silva, cujo pai vivia numa rede, a ler histórias românticas. O passado cruel condiciona a vida atual de Luís. Sente-se que o narrador é mais um Prometeu acorrentado. Ele próprio reconhece que, tivesse nascido em outro berço e recebido outra educação, seu destino seria melhor, ele pertenceria à classe dominante — a dos banqueiros, comerciantes, donos de jornais e diretores de repartição que o dominam de longe. Mas aquele passado rural de agricultores empobrecidos, vivendo dos antigos fastos, é uma marca escarlate, a marca da danação. A sensibilidade de Luís está aberta e sangra. Não há como conter o sangramento. As imagens patéticas ou trágicas assaltam-no nos sonhos e devaneios diários. Sua vida é um pesadelo econômico, um exílio social. Ele está a recordar constantemente o avô com uma cascavel enrolada ao pescoço e suplicando que a tirem; a avó que, sem conhecer o prazer sexual, paria numa cama de varas; o pai preguiçoso e violento que o atirou vezes seguidas ao rio, para ensiná-lo a nadar; um homem que se enforcou, de vergonha, porque tivera de esmolar um pão fresco que lhe foi negado; os pés disformes do pai morto sobre o marquesão sobrevoado por moscas. Cenas e imagens de pesadelo; de uma vida injusta, pobre, violenta, resultante da frágil economia do sertão habitado com o que o narrador chama "a minha raça vagabunda e queimada pela seca".

O narrador busca longe da vida sertaneja melhores condições de vida. Elas estariam no Sul — para onde emigram em geral os "descamisados", os de "pés no chão", os "sem-terra". Mas no Rio o retirante Luís da Silva, apesar dos pendores literários, sabendo escrever (aqui, no sentido da composição jornalística ou literária), com muitas leituras, conhece a solidão, o anonimato. O estabelecimento social rejeita-o. Ele está preso às engrenagens de uma

sociedade então pré-capitalista (mal começara a fase de industrialização do Governo Vargas), hoje de economia globalizada, em que o dinheiro é valor supremo. Aos que nasceram bem aquinhoados, a estrada desdobra-se reta e chã; aos carentes, a dura tarefa de sobreviver. Esta é a sociedade brasileira dos anos ’30 subliminarmente descrita em Angústia, e que subsiste, em muitos aspectos piorada — daí a permanência temática do romance.

Romance "proletário", tal como o praticou Máximo Gorki, e romance de introspecção dostoievskiana. A exemplo dos humilhados e ofendidos de Dostoiévski, o destino de Luís da Silva é trágico — não somente por suas origens humildes, mas também porque há em volta dele, manietando-o, uma rede de circunstâncias restritivas. Em plena ditadura, com a renda e bem-estar concentrados na minoria privilegiada, resta aos despossuídos o sonho da revolução popular.

Um sonho bem vigiado pela polícia e sonho que, a essa altura, esvaziou boa parte de sua substância ideológica... Luís quer participar dele. Quer contribuir para a luta nas sombras por uma ordem igualitária. Ao mesmo tempo, tem de sobreviver: há o aluguel, os alimentos e remédios, ele é fustigado pelo impulso de verticalização social. Por isso se submete. No jornal, como revisor ou articulista, faz o que lhe mandam: "Escreva assim, seu Luís. Seu Luís obedecia. — Escreva assado, seu Luís. Seu Luís arrumava no papel as idéias e os interesses dos outros". Suas verdadeiras opiniões ficam para as conversas com Pimentel e Moisés, em casa, porque o café é perigoso, tipos suspeitos rondam os cafés. O intelectual Luís, um revoltado, escreve para o governo, elogia o governo. Em Vidas Secas, o vaqueiro Fabiano, depois de tomar facãozadas no lombo por ordem de um soldado amarelo, encontra-se com este na caatinga e, de facão em punho, recua e deixa-o passar: "Governo é governo".

A mesma atitude de subserviência ao poder. A diferença é que Fabiano, um bruto, sofre menos, enquanto o intelectualizado Luís recebe todas as agressões da

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desesperança e do repúdio social nos nervos tensos.

Nas primeiras páginas de Angústia o narrador declara-se "um molambo que a cidade puiu demais e sujou". Seu cotidiano triste divide-se entre a repartição, a banca de revisão, o café que freqüenta ocasionalmente e a casa velha, cheia de ratos, com uma criada meio surda, Vitória, que enterra no quintal as moedas do salário e conversa com um papagaio. Luís tem consciência da sua condição; nela, a tragédia, mais do que inspirada pelo passado familiar sertanejo, é um desdobramento. Sua visão de mundo é trágica porque está na sua formação, e as ações, ainda que limitadas pelo meio acanhado e opressivo, sinalizam a tragicidade. Romance naturalista, dir-se-á. Mas um naturalismo que, como o de Thomas Hardy, não se restringe ao jogo cego das forças do destino que Hardy, em Tess of the d’Urbervilles, atribui ao "President of the Immortals", citando Ésquilo. As personagens serão trágicas, no brasileiro, por herança e por uma necessidade inconsciente, intensa, de buscarem a tragicidade como forma até de explicação, justificação, sentido para a vida.

É o caso do narrador de Angústia. Cruel consigo mesmo, em comentários que chegam às raias do masoquismo, Luís da Silva atormenta-se. A princípio, diz: "Não sou um rato, não quero ser um rato". Mas não tardará a se considerar "um níquel social". Recebeu "muito coice da vida". É "uma criatura insignificante, um percevejo social..." Um rato rói-lhe as entranhas. O amor para ele é "uma coisa dolorosa, complicada e incompleta". Admite que rolou "faminto, esmolambado e cheio de sonhos" por esse mundo.

Robert H. Heilman observa, a propósito da Tess de Hardy: "Nossos egos estão ligados às nossas idéias; querem que os fatos se ajustem às idéias, do contrário nos ofendemos e tendemos, se tivermos poder para tanto, a nos tornar punitivos". Pois bem: a punição, em primeira etapa, vai para Luís da Silva, e este se humilha mais para sofrer mais, para purgar. Depois, com o aparecimento de Marina, os fados oferecem-lhe breve trégua. No seu romance de fundo de quintal com Marina — quintais cheios de

lixo e plantações mesquinhas, onde um homem carrancudo e uma mulher triste trabalham com pipas e dornas —, Luís tem a impressão de descobrir o amor, quando está atraído pelo erotismo e Marina anseia apenas em sair da pobreza absoluta. De qualquer modo, é a felicidade: ele está relativamente tranqüilo, tem uns três contos de réis de economias, deseja casar-se. A idéia de casamento precipita a tragédia pessoal banhada pela tragédia social. Moça estouvada, de cabeça vazia, pensando em ostentações, Marina consome num ápice as suadas economias de Luís no enxoval e, em pleno "noivado", aceita a corte de um estranho, Julião Tavares, um parasita de discurso empolado e arrogância pavonácea. Tavares é o resumo de tudo quanto oprime Luís: dinheiro fácil, berço de ouro, prestígio social, mediocridade intelectual, poder de corromper e safar-se ileso. Gordo, cínico e esperto, Julião Tavares invade a casa de Luís, seduz Marina e distancia-se quando ela ostenta sinais de gravidez. A família submete-se: nenhuma queixa, apenas resmungos. Os humildes aprendem a vergar a espinha sob o peso dos opressores. O sedutor lança-se à conquista fácil de outras meninas pobres.

Mas o narrador de Angústia, espezinhado, traumatizado, esbulhado pela vida — este reage. É que o sofrimento atinge o ponto da exasperação, ele tem as comportas cheias de água estagnada. A fúria que antes o devastava se dirige ao opressor. Ele não tem, como Moisés, coragem de pichar muros, de distribuir "folhetos incendiários". Mas o Presidente dos Imortais lhe põe nas mãos o instrumento da vingança — uma corda. A essa altura o monólogo de Luís da Silva — o fluxo "objetivo" do inconsciente, ou seja, a linguagem da ação — se transforma em delírio. Imagens se atropelam: o cano de água é uma corda, a gravata enrola-se como corda, a cobra em volta do pescoço de Trajano é corda viva. O narrador vê-se compelido a matar Julião Tavares após a verificação de que Marina, grávida, procura parteira clandestina. No capítulo final as referências ao passado se aglomeram. É um entrechoque de lembranças. As imagens trágicas do meio rural e da vida urbana de Luís se juntam para entoar o coro da tragédia. Início e fim do

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Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.2 – Paraná, fevereiro de 2010.

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romance se fecham quais pontas de um leque. Angústia é um pesadelo contínuo. O narrador pergunta: "Haverá dentro de 20 anos criaturas assim que, tendo corrido mundo, se resignam a viver num fundo de

quintal, olhando canteiros murchos, respirando podridões, desejando um pedaço de carne viciada?" Sim, e em condições ainda piores.

Emiliano Perneta Emiliano Perneta Emiliano Perneta Emiliano Perneta

(Poesias)(Poesias)(Poesias)(Poesias)

VENCIDOSVENCIDOSVENCIDOSVENCIDOS

Nós ficaremos, como os menestréis da rua, Uns infames reais, mendigos por incúria, Agoureiros da Treva, adivinhos da Lua,

Desferindo ao luar cantigas de penúria?

Nossa cantiga irá conduzir-nos à tua Maldição, ó Roland? ... E, mortos pela injúria, Mortos, bem mortos, e, mudos, a fronte nua, Dormiremos ouvindo uma estranha lamúria?

Seja. Os grandes um dia hão de cair de bruço .... Hão de os grandes rolar dos palácios infetos! E gloria à fome dos vermes concupiscentes!

Embora, nós também, nós, num rouco soluço, Corda a corda, o violão dos nervos inquietos

Partamos! inquietando as estrelas dormentes!

Ilusão (1911) -----------------------

GLÓRIAGLÓRIAGLÓRIAGLÓRIA

Ao I. Serro Azul

Quando um dia eu descer às margens desse lago Estígio, onde Caron, mediante uma parca

Moeda de estanho vil 0ll cobre, que eu lhe pago, Há de me transportar numa sombria barca ...

Quando sem um sinal, sem uma prova ou marca

De afeição, eu me for por esse abismo vago, Vendo que sobre mim funebremente se arca O céu, e junto a mim esse Caron pressago ...

E envolvido na mais completa obscuridade,

Abandonado, e só, e triste, e silencioso, Sem a sombra sequer do orgulho e da vaidade,

Eu tiver de rolar no olvido, que me espera, Que ao menos possa ver o palácio radioso, Feito de louro e sol e mirto e ramis de hera!

Ilusão (1911)

DDDDOROROROR

Ao Andrade Muricy

Noite. O céu, como um peixe, o turbilhão desova De estrelas e fulgir. Desponta a lua nova.

Um silêncio espectral, um silêncio profundo Dentro de uma mortalha imensa envolve o

mundo

Humilde, no meu canto, ao pé dessa janela, Pensava, oh! Solidão, como tu eras bela,

Quando do seio nu, do aveludado seio

Da noite, que baixou, a Dor sombria veio.

Toda de preto. Traz uma mantilha rica; E por onde ela passa, o ar se purifica.

De invisível caçoila o incenso trescala,

E o fumo sobe, ondeia, invade toda a sala.

Ao vê-la aparecer, tudo se transfigura, Como que resplandece a própria noite escura.

É a claridade em flor da lua, quando nasce,

São horas de sofrer. Que a dor me despedace.

Que se feche em redor todo o vasto horizonte, E eu ponha a mão no rosto, e curve triste a fonte.

Que ela me leve, sem que eu saiba onde me leva,

Que me cubra de horror, e me vista de treva.

METAMORFOSESMETAMORFOSESMETAMORFOSESMETAMORFOSES

A Mme. Georgine Mongruel.

Sei que há muita nudez e sei que há muito frio, E uma voracidade horrível, um furor

Tão desmedido que, quando eu acaso rio, Quantos não estarão torcendo-se de dor.

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Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.2 – Paraná, fevereiro de 2010.

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Conheço tudo, sim, apalpo, indago, espio... Tenho a certeza que vá eu para onde for,

Como o escaravelho, hei de o ódio sombrio Ver enodoar até o seio de uma flor.

Mas sei também que há mil aspirações

estranhas, Que havemos de subir montanhas e montanhas, Que a Natureza avança e o Homem faz-se luz...

Que a Vida, como o sol, um alquimista louro, Tem o dom de poder mudar a lama em ouro, E em límpidos cristais esses rochedos nus!

CORRE MAIS QUE UMA VELA...CORRE MAIS QUE UMA VELA...CORRE MAIS QUE UMA VELA...CORRE MAIS QUE UMA VELA...

Corre mais que uma vela, mais depressa,

Ainda mais depressa do que o vento, Corre como se fosse a treva espessa Do tenebroso véu do esquecimento.

Eu não sei de corrida igual a essa:

São anos e parece que é um momento; Corre, não cessa de correr, não cessa,

Corre mais do que a luz e o pensamento...

É uma corrida doida essa corrida, Mais furiosa do que a própria vida,

Mais veloz que as notícias infernais...

Corre mais fatalmente do que a sorte, Corre para a desgraça e para a morte...

Mas que queria que corresse mais!

SÚCUBOSÚCUBOSÚCUBOSÚCUBO

Desde que te amo, vê, quase infalivelmente, Todas as noites vens aqui. E às minhas cegas Paixões, e ao teu furor, ninfa concupiscente,

Como um súcubo, assim, de fato, tu te entregas...

Longe que estejas, pois, tenho-te aqui presente. Como tu vens, não sei. Eu te invoco e tu chegas.

Trazes sobre a nudez, flutuando docemente, Uma túnica azul, como as túnicas gregas...

E de leve, em redor do meu leito flutuas, Ó Demônio ideal, de uma beleza louca,

De umas palpitações radiantemente nuas!

Até, até que enfim, em carícias felinas, O teu busto gentil ligeiramente inclinas,

E te enrolas em mim, e me mordes a boca!

O BRIGUEO BRIGUEO BRIGUEO BRIGUE .

Num porto quase estranho, o mar de um morto aspecto,

Esse brigue veleiro, e de formas bizarras, Flutua há muito sobre as ondas, inquieto,

À espera, apenas, que lhe afrouxem as amarras ...

Na aparência, a apatia amortece-lhe o esforço; Se uma brisa, porém, ao passar, o embalsama,

Ei-lo em sonho, a partir e, então, empina o dorso, Bamboleia-se mais gentil do que uma dama ...

Dentro a maruja acorda ao mínimo ruído,

Deita velas ao mar, à gávea sonda, o ouvido Alerta, o coração batendo, o olhar aceso ...

Mas a nau continua oscilando, oscilando ...

Ó quando eu poderei, também, partir, ó, quando? Eu que não sou da Terra e que à Terra estou

preso?

DAMASDAMASDAMASDAMAS

Ânsia de te querer que já não tem mais fim, Meu espírito vai, meu coração caminha,

Como uma estrela, como um sol, como um clarim, Mas tudo em vão, sei eu! Tu és uma rainha! ...

És a constelação maravilhosa, a minha Aspiração, de luz magnífica, ai de mim! A nudez, o clarão, a formosura, a linha,

O espelho ideal! Ó Torre de Marfim!

Nunca me hás de querer, batendo-me por ti, Pomo duma discórdia infrutífera, beijo

Todo em fogo, e a arder, assim como um rubi...

Mas é por isso que eu, ó desesperação, Amo-te com furor, com ódio te desejo, E mordo-te, Ideal, e adoro-te, Ilusão!

HÉRCULESHÉRCULESHÉRCULESHÉRCULES

Homem, acorda! O sol, como um fruto de Outubro,

Acaba de explodir no seio de uma flor. Mais alacre, porém, mais ardente e mais rubro, Com toques de clarim, com rufos de tambor...

Tudo acordou, a abelha, o plátano e a rosa, A folha, a brisa, o lago azul, a estremecer.

Ao fogo dessa boca, ideal, voluptuosa, Como se a terra fosse, ó sol, uma mulher...

Nos espelhos do mar, de grande voz sonora,

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Nesta manhã sutil e de um louro saxão, As naus, que vão partir por esse mundo fora, Miram vaidosamente as caudas de pavão...

Homem, levanta e vem para a campanha rude,

Ergue-te para a luz, ergue-te para o bem, Tu que inda sentes n'alma o ardor da juventude,

A sede desse azul, a fome desse além...

Homem, levanta! Esquece a perfídia medonha, O desígnio feroz de Juno, quanto quis

No teu sangue inocente a baba e a peçonha, Um dia inocular, de monstros e reptis...

Homem forte, homem são, homem rude e diverso

Dos outros, vem mostrar que tu tens ideais; Vem carregar aqui o peso do Universo

Sobre esses ombros nus, rijos e colossais...

ORAÇÃO DA MANHÃORAÇÃO DA MANHÃORAÇÃO DA MANHÃORAÇÃO DA MANHÃ

Amanheceu. A luz de um claro e puro brilho Tem a frescura ideal de uma roseira em flor : Antes de tudo o mais, ajoelha-te, meu filho,

Ajoelha-te e bendize a obra do Criador.

Ajoelha-te aqui, e sorvendo esse aroma De feno, e rosa, e musgo, e bálsamo sutil,

Que vem do seio azul dessa manhã, que assoma, Na radiosa nitidez de uma manhã de Abril,

Bendize a força, a graça, a seiva, a juventude,

A hercúlea robustez daqueles pinheirais, Que resistem, de pé, dentro da casca rude, Aos mugidos do vento e aos rijos temporais.

Ama essa terra como um fauno que por entre

A silva agreste vive; ama tudo o que vês; Todos somos irmãos, filhos do mesmo ventre,

Filhos do mesmo amor e da mesma embriaguez.

Abraça os troncos nus, beija esses ramos de ouro,

Ajoelha-te aos pés dos que te querem bem : Que riqueza, Senhor, que límpido tesouro! Que grande coração que o arvoredo tem!

Pede a Deus que conhece os bons e maus

caminhos Que conhece o passado e conhece o porvir,

Que te aponte de longe os cardos e os espinhos, E que te estenda a mão, quando fores cair...

==============

PARA UM CORAÇÃOPARA UM CORAÇÃOPARA UM CORAÇÃOPARA UM CORAÇÃO

Um dia, vi-te, assim, bailando,

E a uma pergunta, que te fiz, Tu respondeste : "Eu amo, e quando,

E quando eu amo, eu sou feliz!"

Por uma noite perfumada, Cantaste, sobre o teu balcão.

E eu disse, ouvindo a áurea balada : - Ah! Que feliz é o coração!

Quanta felicidade, quanta,

Não há ninguém feliz assim : Um dia baila e noutro canta, Como se fosse um arlequim...

Eu disse .. Mas agora vejo,

Nesse silêncio tumular, Que estás sofrendo, e o teu desejo

Já não é mais o de bailar...

Nem de bailar, e nem, de certo De nada mais, de nada mais... Que fazes, pois, triste deserto,

Que fazes pois, que não te vais?

Mas, choras, creio, choras? Onde? Se viu chorar um Lucifer?

Pobre diabo, vamos, esconde Essas fraquezas de mulher...

SETEMBROSETEMBROSETEMBROSETEMBRO

Eu ontem vi chegar, quase que à noitezinha, Apressada e sutil, a primeira andorinha...

É a primavera, pois, em flor, que se anuncia, É setembro que vem, bêbedo de ambrosia.

Mãos doiradas, a rir, mãos leves e radiosas, Semeando à luz e ao vento as papoulas e as

rosas...

Como foi para nós de um esquisito gozo, Ó minha alma! esse doce, esse breve repouso,

Que entre o nosso viver tumultuário e incerto

Surgiu como se fosse o oásis do deserto...

Emiliano Perneta (1866 – 1921)

Emiliano David Perneta (Curitiba, 3 de Janeiro de

1866 - 21 de Janeiro de 1921) foi um poeta brasileiro.

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Nascido em um sítio de Pinhais, na zona rural de Curitiba, incorporando ao sobrenome um apelido de seu pai.

Considerado maior poeta paranaense, começou influenciado pelo parnasianismo. Republicano no Império, tanto que no dia 15 de novembro de 1889 formou-se em direito, sendo escolhido orador da turma, fez um discurso inflamado em defesa da República, sem saber que a mesma havia sido proclamada horas antes no Rio de Janeiro.

Foi abolicionista, continuando nos ideais da liberdade, passa a fazer palestras, publica artigos políticos e literários, assim como passa a incentivar, em Curitiba, a leitura do escritor Baudelaire, fato marcante para o surgimento do simbolismo no Brasil. Publicou seus primeiros poemas em O Dilúculo, de Curitiba, em 1883.

Mudou-se para São Paulo em 1885, onde fundou a Folha Literária, com Afonso de Carvalho, Carvalho Mourão e Edmundo Lins, em 1888. No mesmo ano publicou as obras poéticas Músicas, de versos parnasianos, a Carta à Condessa d’eu. Foi também diretor da Vida Semanária, com Olavo Bilac, e colaborador do Diário Popular e Gazeta de São Paulo.

Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1890. Lá, colaborou com vários periódicos e , em 1891, foi secretário da Folha Popular, na qual foram publicadas as manifestações inicias do movimento simbolista, assinados pelos poetas B. Lopes, Cruz e Sousa e Oscar Rosas. De volta ao Paraná, criou a revista simbolista Victrix em 1902. Em 1913 publicou o poema livreto Papilio Innocentia, para a ópera do compositor suíço Léo Kessler, sobre o romance Inocência de Visconde de Taunay.

Sua obra poética inclui Ilusão (1911), no qual se faz presente a estética simbolista, Pena de Talião (1914), os póstumos Setembro (1934) e Poesias Completas (1945). Pelo seu dinamismo e obras, foi homenageado por diversos contemporâneos, entre eles, Nestor Victor, Lima Barreto, Andrade Muricy. Tais homenagens aconteceram em vida e também após a sua morte, ocorrida no dia 21 de Janeiro de 1921 na pensão de Otoo Kröhne, na Rua XV de Novembro, 84.

Principais Obras • Ilusão (poemas – 1991), • Pena de Talião (1914), • Setembro (poemas – 1934) (póstumo).

Simões Lopes Neto Simões Lopes Neto Simões Lopes Neto Simões Lopes Neto

(Contos gauchescos)(Contos gauchescos)(Contos gauchescos)(Contos gauchescos)

Análise da obraAnálise da obraAnálise da obraAnálise da obra

A obra Contos Gauchescos, editada pela primeira vez em 1912, é uma coleção de 19 contos que tem como ambientação no pampa gaúcho. Contadas pelo envelhecido vaqueano Blau Nunes, as histórias narram aventuras de peões e soldados. As narrativas são sempre sobre o gaúcho, guerreiro, trabalhador, rústico. Nelas a linguagem é sempre um dialeto característico do interior do Rio Grande do Sul e existe um enorme respeito pelos elementos deste estilo de vida: os animais, os instrumentos, a paisagem. Existe também uma grande exaltação do espírito guerreiro do gaúcho, especialmente

nas narrativas de guerra, ambientadas na maioria das vezes na Revolução Farroupilha.

Ao fazer de Blau Nunes o narrador de Contos Gauchescos, Simões Lopes Neto enfrentou um problema que nenhum outro escritor brasileiro até então solucionara: que linguagem utilizar? A norma culta soaria falsa e artificial. O linguajar do peão romperia a convenção literária e se isolaria na forma de expressão de um grupo. Simões Lopes Neto solucionou esse problema da seguinte forma: fez largo uso do léxico e eventualmente da sintaxe próprios da linguagem da campanha, mas submetendo-os a morfologia da norma culta. Assim, ele manteve a “cor local”, própria do regionalismo, sem romper com a

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tradição literária, fazendo universal também a sua linguagem.

A linguagem utilizada no conto "Trezentas Onças" demonstra bem essa universalidade.

Através de Blau é que percebemos o presente e o passado, estruturados na narrativa. Há o Blau moço, militar e o Blau velho, "genuíno tipo – crioulo – rio-grandense". Os demais que protagonizam os contos narrados por Blau são, quase sempre, iguais a ele.

Isso pode ser identificado no primeiro conto da obra de Lopes Neto, "Trezentas Onças". Blau Nunes, que além de narrador (em 1ª pessoa) também é personagem do conto, é um vaqueano igual, tanto nas condições sociais como na honestidade, aos tropeiros que acharam e devolveram a sua guaiaca com as trezentas onças.

Repare na apresentação que o escritor faz deste narrador:

(...) E, por circunstâncias de caráter pessoal, decorrentes da amizade e da confiança, sucedeu que foi meu constante guia e segundo o benquisto tapejara Balu Nunes, desempenado arcabouço de oitenta e oito anos, todos os dentes, vista aguda e ouvido fino. (...)

Genuíno tipo – crioulo - rio-grandense

(hoje tão modificado), era Blau o guasca sadio, a um tempo leal e ingênuo, impulsivo na alegria e na temeridade, precavido, perspicaz, sóbrio e infatigável; e dotado de uma memória de rara nitidez brilhando através de imaginosas e encantadora loquacidade servida e floreada pelo vivo e pitoresco dialeto gauchesco.

E do trotar sobre tantíssimos rumos:

das pousadas pelas estâncias; dos fogões a que se aqueceu; dos ranchos em que cantou, dos povoados que atravessou; das coisas que ele compreendia e das que eram-lhe vedadas; (...) das erosões da morte e das eclosões da vida entre o Blau – moço militar – e o Blau – velho paisano ficou estendida uma longa estrada semeada de recordações – casos, dizia – que de vez em quando o vaqueano recontava, como quem estendesse ao sol, para arejat, roupas guardadas ao fundo de uma arca. (...)

Patrício, escuta-o. A partir daí, Blau Nunes põe-se a

relatar as dezenove histórias (e mais um conjunto de adágios: "Artigos de fé do gaúcho") que integram os Contos gauchescos. Histórias que ele viveu diretamente ou apenas presenciou ou simplesmente ouviu narrar por outras vozes que agora ele recupera para recontá-las a seu interlocutor. Mais do que evocações líricas do passado, da terra e do povo rio-grandenses, estas lembranças do vaqueano estão impregnadas de uma tentativa de explicação do homem do pampa.

A perspectiva de Blau Nunes a respeito do gaúcho é ambígua. Por um lado, celebra-lhe as virtudes: a hombridade, a bravura, a honestidade etc. No conto "Trezentas onças", por exemplo, ele perde uma bolsa carregada de moedas de ouro que seu patrão lhe confiara para comprar uma tropa de bois. Diante da hipótese de ser considerado ladrão, Blau pensa objetivamente no suicídio. Um lampejo de consciência, desencadeado pela noite estrelada, impele-o à vida. Naturalmente as moedas de ouro lhe serão restituídas por tropeiros honestos e tudo acaba bem.

Por outro lado, Blau Nunes é essencialmente um gaudério, um homem que tem de seu apenas o cavalo e as habilidades campeiras e guerreiras. Alguém que pertence ao núcleo dos “de baixo” e que olhas para os “de cima” com certa desconfiança. Mais de uma vez, ele expressará a nostalgia de uma época em que a hierarquia social não fora totalmente estabelecida.

No conto "Correr eguada", o vaqueano lembra do tempo em que o gado ainda era xucro e sem dono. Lembra também que, quando os peões campeavam estes animais soltos na vastidão das coxilhas, tinham direito à sua “tropilhita nova”. A jornada dos contos não estabelece apenas um itinerário geográfico em busca das paragens típicas; também é um percurso existencial, pois o tapejara narra os casos de que participou, traçando a própria autobiografia. Mas esta coincide, ainda, com um período crucial da história do Rio Grande do Sul e a sucessão episódica oferece um panorama ao leitor: as

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lutas de fronteira, o desenvolvimento do contrabando, a Revolução Farroupilha, a Guerra do Paraguai, finalmente a transformação dos campos abertos em propriedade dos estancieiros-soldados que tudo mandam e tudo podem.

Linguagem e Expressão ArtísticaLinguagem e Expressão ArtísticaLinguagem e Expressão ArtísticaLinguagem e Expressão Artística

Ao ceder a voz narrativa a Blau Nunes,

em Contos Gauchescos, Simões Lopes Neto resolveu um problema contínuo da ficção brasileira: como pode um narrador culto e citadino, expressar-se na forma quase dialetal de determinada região, sem cair no pitoresco e sem parecer falso?

O velho gaudério assume a narração de seus casos, valendo-se de uma espécie de linguagem popular campeira, imperante na campanha, pelo menos durante o século XIX, e que, certamente, já estava em desuso no início do século XX, quando o escritor a fixou literariamente. A fala de Blau Nunes é saborosa, sugestiva, em função de inúmeras e criativas metáforas, e nos dá a impressão de total naturalidade. Nela avultam espanholismos (despacito, entrevero etc.); arcaísmos (escuitar, peor etc.); corruptelas (vancê, desgoto etc.); e uma grande quantidade de termos específicos da região (china, bagual, chiru etc.); sem contar algumas variantes do próprio escritor. Por isso, deve-se ler a obra com um glossário confiável.

O discurso simoniano ultrapassa, portanto, o mero localismo pitoresco e, na sua abrangência, engloba a tradução de um código ético, o testemunho histórico, a revelação psicológica. No fundo de tudo isto reside o substrato folclórico, a utilização literária da fala dialetal, sempre confrontando o homem e a natureza, infundindo uma qualidade simbólica ao mundo imaginário. No resultado final encontramos um desses raros momentos em que o regionalismo brasileiro se desprende do simples documentário para beirar o território do mito.

Em Contos Gauchescos percebemos as qualidades do narrador e paralelamente, os seus limites. Tornam-se nítidos a fixação do mundo gauchesco, a oralidade e o regionalismo da linguagem. Para isso, muito

vale a estratégia do autor, cedendo a palavra ao vaqueano Blau Nunes.

Contribui para o encantamento verbal a que o narrador nos submete o fato de falar com alguém, um homem mais jovem, possivelmente o próprio Simões Lopes Neto, a quem o gaúcho está contando o seu percurso existencial. Como ele tem um ouvinte, permite-se a indagações, assertivas, reticências, silêncios, criando uma expressão própria inconfundível e que, muito depois, seria retomada – na questão da forma de narrar – por João Guimarães Rosa.

Blau Nunes é o vaqueano que conduz o viajante através dos pagos. Trata-se aqui do portador de um conjunto de valores que expressa a imagem do gaúcho gerada pela tradição coletiva: a grandeza, a hospitalidade, a amizade, a confiança, a audácia e a perspicácia.

O vaqueano contará os seus casos, recolhidos no "trotar sobre tantíssimos rumos". E a sua fala - por ser teoricamente a de um gaudério, a de um peão sem trabalho fixo - se esquivará, por vezes, da exaltação dos pampas e da condição gaúcha, que no fundo, foi sempre uma auto-exaltação dos oligarcas sulinos.

Há no tom narrativo de Blau certa neutralidade, destruída aqui e ali pela saudade dos antigos tempos e por certo moralismo de origem cristã. Porém a sua nostalgia vincula-se a uma época na qual o gado ainda xucro era campeado - conforme o relato "Correr eguada" - e os peões tinham direito a sua tropilha nova, fato que não se repetiria numa sociedade cada vez mais dividida entre fazendeiros e trabalhadores.

Por outro lado, a significação moral das histórias exige-se sobre um sentimento de relativo desconforto no narrador com a violência imperante no território gaúcho: a destruição do boi em serventia ("O boi velho"), a carnificina guerreira ("O anjo da vitória") etc.

Ainda que um esforço documental presida a obra, o registro dos costumes nunca é gratuito. Liga-se à ação dos contos e a psicologia simples dos indivíduos. Em três ou quatro narrativas, contudo, o valor do documento é superado por uma legítima sensibilidade artística: "Trezentas onças", "O contrabandista" e "O boi velho" transcendem

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à condição de espelho da região, atingindo a chamada universalidade das grandes produções literárias.

Se muitos contos permanecem apenas como registro de costumes ou como anedotas bem contadas, a linguagem em todos eles é viva e cheia de dialetismos, o que, em parte, dificulta a leitura. O linguajar gauchesco é reproduzido pelo escritor. Mas a utilização que Simões Lopes Neto faz do regionalismo lingüístico não visa o pitoresco, como acontece na maioria das manifestações artísticas dita regionais. Nele, a expressão típica é uma decorrência dos conteúdos trabalhados, e, por isso mesmo, somos capazes de superar as dificuldades de seu vocabulário.

Há em sua obra o cuidado de reconstruir o timbre familiar das vozes. E isso forneceria a mesma um efeito surpreendente de oralidade, encanto e frescor.

Simões Lopes Neto controla magistralmente os pontos de tensão de cada relato, açulando e, ao mesmo tempo, postergando a expectativa do leitor. A busca do dramático, em certos momentos, é tão intensa que os textos parecem ameaçados pelo excesso, isto é, pelo melodrama barato. No entanto, a intuição do artista mantém os contos nos limites verossímeis daquilo que é autêntica tragédia humana.

Em "Contrabandista", por exemplo, um pai atravessa a fronteira para buscar um vestido de noiva para a filha, mas no dia do casamento, enquanto o noivo, o padre e dezenas de convidados vão chegando, o pai não retorna com o presente. A espera, em plena festa matrimonial, pelo velho contrabandista e seus asseclas é uma das cenas mais exasperantes da ficção brasileira. Também o mísero destino de um animal, cruelmente morto por ricos fazendeiros a quem sempre servira com abnegação, em "O boi velho", é narrado de forma tão meticulosa por Blau Nunes que não há como fugir da comoção que o conto desperta:

O peão puxou da faca e dum golpe

enterrou-a até o cabo, no sangradouro do boi manso; quando retirou a mão, já veio nela a golfada espumenta do sangue do coração...

Houve um silenciozito em toda aquela gente.

O boi velho sentindo-se ferido, doendo

o talho, quem sabe se entendeu que aquilo seria um castigo, algum pregaço de picana, mal dado por não estar ainda arrumado... – pois vancê creia! – soprando o sangue em borbotões, já meio roncando na respiração, meio cambaleando, o boi velho deu uns passos mais, encostou o corpo ao comprido no cabeçalho do carretão, e meteu a cabeça, certinha, no lugar da canga... e ficou arrumado, esperando... (...)

E ajoelhou... e caiu... e morreu...

O O O O DDDDrama rama rama rama HHHHumanoumanoumanoumano Os principais relatos do autor

pelotense são aqueles denominados "contos de sangue e paixão". Apesar de todos estes contos documentarem os costumes e as singularidades da região pastoril e apresentarem personagens inseridos na “vida bárbara dos gaúchos”, há neles uma ciranda tão cega e intensa de sentimentos elementares que o puramente regional é ultrapassado por algo maior: o homem universal, com sua cegueira e seus desatinos.

A maldade dos estancieiros, em "O boi velho"; a luta fratricida entre dois comandantes farroupilhas provavelmente por causa de uma mulher, em "Duelo dos Farrapos"; a devoção do pai a sua filha em "Contrabandista"; o ódio e a vingança ilimitada, em "No manantial", "Os cabelos da china" e em "O negro Bonifácio"; a loucura do orgulho ferido, em "Jogo do osso"; o horror da guerra em "O Anjo da Vitória" são exemplos de relatos em que paixões humanas, instintivas e profundas, corrompem a ordem natural e lançam os seres no desconcerto e no aniquilamento.

O Anjo da Vitória, apelido do heróico general Abreu, que lutou contra as forças uruguaias de Artigas, por exemplo, é um desses “contos de sangue e paixão”. Escrito ao que tudo indica para celebrar a valentia épica do guerreiro rio-grandense, o texto acaba dilacerado entre a audácia do comandante que, mesmo após um brutal erro

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Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.2 – Paraná, fevereiro de 2010.

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militar – o exército imperial bombardeara e destruíra suas próprias tropas – convoca a soldadesca à luta, e o desespero de Blau Nunes, então um menino de 10 anos que acompanhava um capitão (seu padrinho e protetor) durante o confronto. Assim, ele assiste a todo desastre bélico. No final da história, o canto do heroísmo é substituído pelo tormento do menino, solitário no campo de batalha, entre mortos e feridos. Trata-se de uma cena devastadora:

Campeei o meu padrinho morto,

também, caído ao lado do azulego, arrebentado nas paletas por um tiro de peça; ali junto, apertando ainda a lança, toda lascada, estrebuchava o Hilarião, sem dar acordo, só aiando, só aiando...

Deitado sobre o pescoço do cavalo,

comecei a chorar. Peguei a chamar: - Padrinho! Padrinho!... - Hilarião! Meu padrinho!... Apeei, vim me chegando e chamando

– padrinho!... padrinho!... E tomei-lhe a benção, na mão já fria... Puxei a manga do chiru, que já nem bulia.

Sem querer fiquei vendo as forças que

iam-se movendo e se distanciando... E num tirão, quando ia montar de novo sem saber pra quê... foi que vi que estava sozinho, abandonado, gaudério e gaúcho, sem ninguém para me cuidar!... (...)

Comi do ruim... Veja vancê que eu era

guri e já corria mundo...

ALGUNS CONTOSALGUNS CONTOSALGUNS CONTOSALGUNS CONTOS

TrTrTrTrezentas Onçasezentas Onçasezentas Onçasezentas Onças Conto narrado em 1ª pessoa, com

muita descrição de paisagem. O narrador Blau Nunes conta que, certa vez, viajando sozinho a cavalo, acompanhado apenas de seu cachorro, levava na guaiaca trezentas onças de ouro, destinadas a pagar um gado

que compraria para seu patrão. Um certo ponto da viagem, pára para sestear num passo, onde, depois de uma boa soneca, vai refrescar-se com alguns mergulhos na água fresca.

Tornando a vestir-se e a encilhar o zaino, parte em direção à estância da Coronilha, onde devia pousar. Logo que sai a trotar pela estrada, o gaúcho nota que seu cachorro estava inquieto, latindo muito e voltando sobre o rastro, como se quisesse chamar seu dono para o pasto outra vez. Mas Blau Nunes segue seu caminho até chegar à estância da Coronilha. Lá chegando, ao apear do cavalo e cumprimentar o dono da casa, nota que não estava com sua guaiaca. Anuncia que perdera trezentas onças do patrão e, preocupadíssimo, monta o cavalo outra vez para voltar ao lugar onde teria deixado a guaiaca.

Depois de nova cavalgada, sempre acompanhado do fiel cãozinho, Blau Nunes chega ao passo, já de noite, e não mais encontra a guaiaca no lugar onde tinha certeza de que havia colocado quando se despira para o banho. Desespera-se tanto por imaginar que seu patrão o consideraria um desonesto, que pensa em suicidar-se. Chega a engatinhar o revólver e colocá-lo no ouvido, mas o cusco lambendo-lhe as mãos, o relincho de seu cavalo, o brilho das Três Marias, o canto de um grilo, tudo lhe invoca a presença e a força divina, que o demove daquele ato transloucado.

Assim, o gaúcho reequilibra-se e decide que venderá todos os seus bens e dará um jeito de pagar ao patrão o prejuízo da perda das trezentas onças. E volta para a pousada na estância da Coronilha. É então que tem uma feliz surpresa: sobre a mesa da sala do estanceiro, ao lado da chaleira com que se servia a água do mate, estava a sua guaiaca 'empanzinada de onças de ouro'. Uma comitiva de tropeiros, que chegava à estância no momento em que ele voltava ao passo de sesteada, havia encontrado a guaiaca e a trouxera intacta. E esta foi a saudação que ele recebeu quando entrou na sala:

- Louvado seja Jesus Cristo, patrício! Boa noite! Entonces, que tal le foi de susto?

Há nessa narrativa um desequilíbrio ocasionado pela perda da guaiaca, que tenta

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recuperar-se quando Blau Nunes volta pelo trajeto que havia tropeado a fim de encontrá-la. Há, aí, outro desequilíbrio, através da vontade de se matar por não ter encontrado as trezentas onças. Através da natureza, dos animais, das estrelas, há um novo equilíbrio e Blau Nunes volta pra estância para prestar contas ao seu patrão.

No ManantialNo ManantialNo ManantialNo Manantial

Conto narrado em 3ª pessoa. Na tapera do Mariano há um

manantial. Bem no meio dele, uma roseira, plantada por um defunto, e gente vivente não apanha flores por ser mau agouro.

Carreteiros que ali perto acamparam viram duas almas: uma chorava, suspirando; outra, soltava barbaridades. O lugar ficou mal-assombrado.

Com Mariano morava a filha Maria Altina, duas velhas, a avó da menina e a tia-avó, e a negra Tanásia. Tudo em paz e harmonia.

Certa vez foram a um terço na casa do brigadeiro Machado. Maria Altina encontrou o furriel André, e os dois se apaixonaram [conchavo entre o pai e o brigadeiro]. André lhe deu uma rosa vermelha. Em casa, ela plantou o cabo da rosa e a roseira cresceu e floresceu. Surgiu o trato do casamento...o enxoval...

Chicão, filho de Chico Triste, andava enrabichado pela Maria Altina, que não se interessava por ele e tinha-lhe medo.

Na casa de Chico Triste houve um batizado. O pai e a tia-avó foram ajudar. Chicão aproveitou-se, foi à casa do Mariano, matou a avó e quis pegar à força Maria Altina. Esta, vendo a avó morta, pegou o cavalo e saiu às disparadas, entrando no manantial. Chicão atrás. Ela some e só fica a rosa do chapéu boiando.

Mãe Tanásia, que se escondera e vira tudo, vai à procura de Mariano.

Nesse meio-tempo chegaram a casa os campeiros para comer. Viram a velha morta. Uns ficaram, e outros foram avisar Mariano e procurar Maria Altina...

Mariano apavorou-se, pensando que a filha fugira com o Chicão. Nisso chegou a mãe Tanásia e conta o sucedido. Todos vão ao manantial e encontram Chicão atolado, boiando. Mariano atira e acerta Chicão. O

padre que ali está, coloca a cruz na boca da arma e pede que não atire mais. Mariano entra no lamaçal, luta com Chicão e os dois afundam e morrem.

A avó foi enterrada também na encosta do manantial. Uma cruz foi benzida e cravada no solo pelos quatro defuntos.

Mãe Tanásia e a tia-avó foram por caridade, morar na casa do brigadeiro Machado. E como lembrança do macabro acontecimento, ficou, sobre o lodo, ali no manantial, uma roseira baguala, roseira que nasceu do talo da rosa que ficou boiando no lodaçal no dia daquele cardume de estropícios.

O ContrabandistaO ContrabandistaO ContrabandistaO Contrabandista

Narração em 1ª pessoa. Informações históricas.

O contrabandista é Jango Jorge. Mão aberta e por isso sem dinheiro. Foi chefe de contrabandistas. Conhecia muito bem lugares pelo cheiro, pelo ouvido, pelo gosto. Fora antes soldado do General José Abreu.

Estava pelos noventa anos, afamilhado com mulher mocetona, filhos e uma filha bela, prendada etc.

O narrador pousa na casa dele, era véspera do casamento da filha.

Tudo preparado, Jango Jorge parte para comprar o vestido e os outros complementos de contrabando. É atacado, na volta, pelo guarda que pega o contrabando, mas ele não solta o pacote contendo o vestido e, por isso, é morto. Os amigos levaram o cadáver para casa, contaram como ocorreu e a alegria da festa vira tristeza geral.

No meio do conto é contada a história do contrabando na região, do comércio entre os lugares, os mascates...

Jogo de OssoJogo de OssoJogo de OssoJogo de Osso

Narrado em 1ª pessoa, o conto é bastante descritivo. Começa, dizendo que já viu jogar mulher num jogo. Depois descreve a vendola do Arranhão, um pouco para fora da vila, de propriedade de um meio-gringo, meio-castelhano, que tem faro para negócios: bebida, corrida, jogos etc.

Certo dia choveu e atrapalhou a jogatina. Cessada a chuvarada, resolvem

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jogar o osso. Explica como se desenvolve a jogatina. Os jogadores eram Osoro, mulherengo, compositor; e Chico Ruivo, domador e agregado num rincão da Estância das Palmas; vivia com Lalica.

Chico só perde e acaba apostando Lalica. Esta com raiva de ter sido incluída na aposta, começa a dançar com Osoro,o ganhador, provocando Chico Ruivo, que não agüentando mais, vara os dois ao mesmo tempo com um facão.

O povo à volta grita para que peguem Chico Ruivo, mas ele foge no cavalo de Osoro.

-Pois é, jogaram, criaram confusão, mas nenhum pagou a comissão...Que trastes!..., falou o meio-gringo do bolicho.

Simões Lopes Neto (1865 – 1916)

João Simões Lopes Neto (Pelotas, 9 de março de 1865 — Pelotas, 14 de junho de 1916) foi, segundo estudiosos e críticos de literatura, o maior escritor regionalista do Rio Grande do Sul.

Filho dos pelotenses Catão Bonifácio Lopes e Teresa de Freitas Ramos, era neto paterno do Visconde da Graça, João Simões Lopes Filho, e de sua primeira esposa Eufrásia Gonçalves, e neto materno de Manuel José de Freitas Ramos e de Silvana Claudina da Silva. Nasceu na Estância da Graça, propriedade de seu avô paterno.

Com treze anos de idade, foi para o Rio de Janeiro, estudar no famoso colégio Abílio. Retornando ao Sul, fixa-se em sua terra natal, Pelotas, então rica e próspera pelas mais de cinqüenta charqueadas que lhe davam a base econômica.

Envolveu-se em uma série de iniciativas de negócios que incluíram uma fábrica de vidros e uma destilaria. Os negócios fracassaram. Uma guerra civil no Rio Grande do Sul - a Revolução Federalista - e a economia local fora duramente abalada. Depois disto, construiu uma fábrica de cigarros. Os produtos, fumos e cigarros, receberam o nome de "Diabo", "Marca Diabo", o que gerou protestos religiosos. Sua audácia empresarial o levou ainda a montar uma firma para torrar e moer café, e desenvolveu uma fórmula à base de tabaco para combater sarna e carrapatos. Fundou ainda uma mineradora, para explorar prata em Santa Catarina.

Casou-se em Pelotas, aos 27 anos, com Francisca de Paula Meireles Leite, de 19 anos, no dia 5 de maio de 1892, filha de Francisco Meireles Leite e Francisca Josefa Dias; neta paterna de Francisco Meireles Leite e Gertrudes Maria de Jesus; neta materna de Camilo Dias da Fonseca e Cândida Rosa. Não tiveram filhos.

Como escritor, Simões Lopes Neto procurou em sua produção literária valorizar a história do gaúcho e suas tradições.Entre 15 de outubro e 14 de dezembro de 1893, J. Simões Lopes Neto, sob o pseudônimo de "Serafim Bemol", e em parceria com Sátiro Clemente e D. Salustiano, escreveram, em forma de folhetim, "A Mandinga", poema em prosa. Mas a própria existência de seus co-autores é questionada. Provavelmente foi mais uma brincadeira de Simões Lopes Neto. Em certa fase da vida, empobrecido, sobreviveu como jornalista em Pelotas.

Publicou apenas quatro livros em sua vida: Cancioneiro Guasca (1910), Contos Gauchescos (1912), Lendas do Sul (1913) e Casos do Romualdo (1914).

Morreu em Pelotas, aos 51 anos, de uma úlcera perfurada

BAÚ DE TROVASBAÚ DE TROVASBAÚ DE TROVASBAÚ DE TROVAS

De muita gente que existe e que julgamos ditosa, toda ventura consiste em parecer venturosa.

(ANÔNIMAANÔNIMAANÔNIMAANÔNIMA)

Passa na estrada um camelo e um corcunda palpitante de alegria, disse ao vê-lo:

- “Mas que animal elegante!” (ANTÔNIO SALESANTÔNIO SALESANTÔNIO SALESANTÔNIO SALES)

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Mui decentes eu não acho teus vestidos minha prima: são altos demais em baixo, são baixos demais em cima!

(BEBEBEBELMIRO BRAGALMIRO BRAGALMIRO BRAGALMIRO BRAGA)

Teus olhos são negros, negros como as noites sem luar...

São ardentes, são profundos como o negrume do mar.

(CASTRO ALVESCASTRO ALVESCASTRO ALVESCASTRO ALVES)

Estes meus versos que a esmo jogo aos espaços sem fim

são pedaços de mim mesmo, que eu mesmo arranco de mim.

(FERREIRAFERREIRAFERREIRAFERREIRA GULLAR GULLAR GULLAR GULLAR)

Há de, com toda certeza, casar-se a minha alma à tua,

nessa capelinha acesa na alva capela da lua.

(GILKA MACHADOGILKA MACHADOGILKA MACHADOGILKA MACHADO)

Basta-me um gesto, um aceno, uma só prova, - e verás

minha alma, presa em teus lábios, como de amor se desfaz

(GONÇALVES DIASGONÇALVES DIASGONÇALVES DIASGONÇALVES DIAS)

Cabeça, triste é dizê-lo! Cabeça, que desconsolo! por fora não tem cabelo,

por dentro não tem miolo! (LAURINDO RIBEIROLAURINDO RIBEIROLAURINDO RIBEIROLAURINDO RIBEIRO)

Saudade – perfume triste de uma flor que não se vê. Culto que ainda persiste

num crente que já não crê... (MENOTTI DEL PICCHIAMENOTTI DEL PICCHIAMENOTTI DEL PICCHIAMENOTTI DEL PICCHIA)

Aqui jaz minha mulher que partiu para o Além. Agora descansa em paz

e eu também. (MILLÔR FERNANDESMILLÔR FERNANDESMILLÔR FERNANDESMILLÔR FERNANDES)

Que cada um cumpra a sorte das mãos de Deus recebida:

Pois só pode dar a Morte aquele que dá a Vida!

(OLAVO BILAC)(OLAVO BILAC)(OLAVO BILAC)(OLAVO BILAC)

No meu livro de lembranças hoje só resta a saudade: Saudade das esperanças perdidas na mocidade...

(ZÉ TRINDADE)(ZÉ TRINDADE)(ZÉ TRINDADE)(ZÉ TRINDADE)

Machado de AssisMachado de AssisMachado de AssisMachado de Assis

(Como se Inventaram os (Como se Inventaram os (Como se Inventaram os (Como se Inventaram os Almanaques)Almanaques)Almanaques)Almanaques)

Some-te, bibliógrafo! Não tenho nada contigo. Nem contigo, curioso de histórias poentas.

Sumam-se todos; o que vou contar interessa a outras pessoas menos especiais e muito menos aborrecidas. Vou dizer como se inventaram os almanaques.

Sabem que o Tempo é, desde que nasceu, um velho de barbas brancas. Os poetas não lhe dão outro nome: o velho Tempo. Ninguém o pintou de outra maneira. E como há quem tome liberdades com os velhos, uns batem-lhe na barriga (são os patuscos), outros chegam a desafiá-lo; outros lutam com ele, mas o diabo vence-os a todos; é de regra.

Entretanto, uma coisa é barba, outra é coração. As barbas podem ser velhas e os

corações novos; e vice-versa: há corações velhos com barbas recentes. Não é regra, mas dá-se. Deu-se com o Tempo. Um dia o Tempo viu uma menina de quinze anos, bela como a tarde, risonha como a manhã, sossegada como a noite, um composto de graças raras e finas, e sentiu que alguma coisa lhe batia do lado esquerdo. Olhou para ela e as pancadas cresceram. Os olhos da menina, verdadeiros fogos, faziam arder os dele só com fitá-los.

— Que é isto? murmurou o velho.

E os beiços do Tempo entraram a

tremer e o sangue andava mais depressa, como cavalo chicoteado, e todo ele era outro. Sentiu que era amor; mas olhou para o

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oceano, vasto espelho, e achou-se velho. Amaria aquela menina a um varão tão idoso? Deixou o mar, deixou a bela, e foi pensar na batalha de Salamina.

As batalhas velhas eram para ele como para nos os velhos sapatos. Que lhe importava Salamina? Repetiu-a de memória, e por desgraça dele, viu a mesma donzela entre os combatentes, ao lado de Temístocles. Dias depois trepou a um píncaro, o Chimborazo; desceu ao deserto de Sinai; morou no sol, morou na lua; em toda parte lhe aparecia a figura de bela menina de quinze anos. Afinal ousou ir ter com ela.

— Como te chamas, linda criatura? —

Esperança é o meu nome. — Queres amar-me? — Tu estás carregado de anos, respondeu ela; eu estou na flor deles. O casamento é impossível. Como te chamas? — Não te importe o meu nome; basta saber que te posso dar todas as pérolas de Golconda...

— Adeus! — Os diamantes de Ofir... — Adeus! — As rosas de Saarão... — Adeus! Adeus! — As vinhas de

Engaddi... — Adeus! adeus! adeus! Tudo isso há

de ser meu um dia; um dia breve ou longe, um dia...

Esperança fugiu. O Tempo ficou a olhar, calado, até que a perdeu de todo. Abriu a boca para amaldiçoá-la, mas as palavras que lhe saíam eram todas de bênção; quis cuspir no lugar em que a donzela pousara os pés, mas não pôde impedir-se de beijá-lo.

Foi por essa ocasião que lhe acudiu a idéia do almanaque. Não se usavam almanaques.

Vivia-se sem eles; negociava-se, adoecia-se, morria-se, sem se consultar tais livros.

Conhecia-se a marcha do sol e da lua; contavam-se os meses e os anos; era, ao cabo, a mesma coisa; mas não ficava escrito, não se numeravam anos e semanas, não se nomeavam dias nem meses, nada; tudo ia correndo, como passarada que não deixa vestígios no ar.

— Se eu achar um modo de trazer presente aos olhos os dias e os meses, e o reproduzir todos os anos, para que ela veja palpavelmente ir-se-lhe a mocidade...

Raciocínio de velho, mas tudo se

perdoa ao amor, ainda quando ele brota de ruínas. O Tempo inventou o almanaque; compôs um simples livro, seco, sem margens, sem nada; tão-somente os dias, as semanas, os meses e os anos. Um dia, ao amanhecer, toda a terra viu cair do céu uma chuva de folhetos; creram a princípio que era geada de nova espécie, depois, vendo que não, correram todos assustados; afinal, um mais animoso pegou de um dos folhetos, outros fizeram a mesma coisa, leram e entenderam. O almanaque trazia a língua das cidades e dos campos em que caía. Assim toda a terra possuiu, na mesmo instante, os primeiros almanaques. Se muitos povos os não têm ainda hoje, se outros morreram sem os ler, é porque vieram depois dos acontecimentos que estou narrando. Naquela ocasião o dilúvio foi universal.

— Agora, sim, disse Esperança pegando no folheto que achou na horta; agora já me não engano nos dias das amigas. Irei jantar ou passar a noite com elas, marcando aqui nas folhas, com sinais de cor os dias escolhidos.

Todas tinham almanaques. Nem só elas, mas também as matronas, e os velhos e os rapazes, juízes, sacerdotes, comerciantes, governadores, fâmulos; era moda trazer o almanaque na algibeira. Um poeta compôs um poema atribuindo a invenção da obra às Estações, por ordem de seus pais, o Sol e a Lua; um astrônomo, ao contrário, provou que os almanaques eram destroços de um astro onde desde a origem dos séculos estavam escritas as línguas faladas na terra e provavelmente nos outros planetas. A explicação dos teólogos foi outra. Um grande físico entendeu que os almanaques eram obra da própria terra, cujas palavras, acumuladas no ar, formaram-se em ordem, imprimiram-se no próprio ar, convertido em folhas de papel, graças... Não continuou; tantas e tais eram as sentenças, que a de Esperança foi a mais aceita do povo.

- Eu creio que o almanaque é o

almanaque, dizia ela rindo.

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Quando chegou o fim do ano, toda a gente, que trazia o almanaque com mil cuidados, para consultá-lo no ano seguinte, ficou espantada de ver cair à noite outra chuva de almanaques. Toda a terra amanheceu alastrada deles; eram os do ano novo. Guardaram naturalmente os velhos. Ano findo, outro almanaque; assim foram eles vindo, até que Esperança contou vinte e cinco anos, ou, como então se dizia, vinte e cinco almanaques.

Nunca os dias pareceram correr tão depressa. Voavam as semanas, com elas os meses, e, mal o ano começava, estava logo findo. Esse efeito entristeceu a terra. A própria Esperança, vendo que os dias passavam tão velozes, e não achando marido, pareceu desanimada; mas foi só um instante. Nesse mesmo instante apareceu-lhe o Tempo.

— Aqui estou, não deixes que te chegue a velhice... Ama-me...

Esperança respondeu-lhe com duas gaifonas, e deixou-se estar solteira. Há de vir o noivo, pensou ela.

Olhando-se ao espelho, viu que mui pouco mudara. Os vinte e cinco almanaques quase lhe não apagaram a frescura dos quinze. Era a mesma linda e jovem Esperança. O velho Tempo, cada vez mais afogueado em paixão, ia deixando cair os almanaques, ano por ano, até que ela chegou aos trinta e daí aos trinta e cinco.

Eram já vinte almanaques; toda a gente começava a odiá-los, menos Esperança, que era a mesma menina das quinze primaveras. Trinta almanaques, quarenta, cinqüenta, sessenta, cem almanaques; velhices rápidas, mortes sobre mortes, recordações amargas e duras. A própria Esperança, indo ao espelho, descobriu um fio de cabelo branco e uma ruga.

— Uma ruga! Uma só! Outras vieram, à medida dos almanaques. Afinal a cabeça de Esperança ficou sendo um pico de neve, a cara um mapa de linhas. Só o coração era verde como acontecia ao Tempo; verdes ambos, eternamente verdes. Os almanaques iam sempre caindo. Um dia, o Tempo desceu a ver a bela Esperança; achou-a anciã, mas forte, com um perpétuo riso nos lábios.

— Ainda assim te amo, e te peço... disse ele.

Esperança abanou a cabeça; mas, logo depois, estendeu-lhe a mão.

— Vá lá, disse ela; ambos velhos, não será longo o consórcio.

— Pode ser indefinido. — Como assim? O velho Tempo pegou

da noiva e foi com ela para um espaço azul e sem termos, onde a alma de um deu à alma de outro o beijo da eternidade. Toda a criação estremeceu deliciosamente. A verdura dos corações ficou ainda mais verde.

Esperança, daí em diante, colaborou nos almanaques. Cada ano, em cada almanaque, atava Esperança uma fita verde. Então a tristeza dos almanaques era assim alegrada por ela; e nunca o Tempo dobrou uma semana que a esposa não pusesse um mistério na semana seguinte. Deste modo todas elas foram passando, vazias ou cheias, mas sempre acenando com alguma coisa que enchia a alma dos homens de paciência e de vida.

Assim as semanas, assim os meses, assim os anos. E choviam almanaques, muitos deles entremeados e adornados de figuras, de versos, de contos, de anedotas, de mil coisas recreativas. E choviam. E chovem. E hão de chover almanaques. O Tempo os imprime, Esperança os brocha; é toda a oficina da vida.

Nilto MacielNilto MacielNilto MacielNilto Maciel (Carlim)(Carlim)(Carlim)(Carlim)

Apesar de muito vivido, Carlim não entendia quase nada do que falavam as pessoas. Nem mesmo porque o chamavam

dos mais variados nomes e nunca de Carlim. Aliás, esse nome ele mesmo se deu.

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Andava um dia perdido, porém satisfeito, quando parou junto a um muro e sua sombra. Só queria descansar e situar-se. Talvez não estivesse tão longe de casa. Isto é, de seus amigos, da rua onde costumava dormir.

Recostado ao muro, ouviu vozes de crianças. Faziam perguntas a uma mulher. Gritavam, riam, num vozerio babélico. A moça falava do Sacro Império Romano Germânico. De imperadores, reis, príncipes. De Carlos V, Maximiliano, Borgonha, Solimão, etc. Palavreado difícil, nunca antes ouvido.

Curioso, Carlim procurou ver as crianças e a moça. Descobriu uma janela. Primeiro viu a professora. Falava sem parar, explicava, lia. A certa altura, apontando para uma figura do livro, disse: este é Carlos Quinto. Porém, viu Carlim e nele fixou o olhar. Mirou-o profundamente. E havia tanta ternura (ou tanta piedade) em seus olhos, que aquele instante Carlim sentiu como sendo o seu batismo. Sentiu-se filho, sentiu ter tido mãe. Pois os olhos da moça lembravam os de outra...

A mãe de Carlim morreu debaixo de um carro. E ninguém parou para socorrê-la ou remover seu pobre corpo a lugar seguro. Carlim ainda tentou arrastá-la para a calçada. Por um triz, não morreu também.

Sim, Carlim não entendia quase nada do que falavam as pessoas. Nem do que

faziam. Mesmo os gestos e as palavras mais repetidas. “Fulano não vale nada. É um cachorro”. Quando se aproximava de alguém, era enxotado. “Sem vergonha, vira-lata, cão-sem-dono”.

Carlim procurou os amigos. Quem sabia o significado de cão-sem-dono? E passaram a conversar mais. Precisavam se unir, lutar por direitos básicos: casa, comida, carinho, etc. Propuseram a criação de uma sociedade. Alguém brincou: Sociedade dos Cães-Sem-Dono.

A reação dos “outros” não tardou. Devem ter visto Carlim na televisão. Nada de casa, comida e carinho para aqueles vagabundos. Nada de nome. Quem vivia na rua era cão-sem-dono. Portanto, sujeito a comer lixo, levar pontapé, morrer debaixo dos carros. Além do mais, não havia casa para todos. Se aqueles sarnentos deixassem as ruas, eles, os “outros”, estariam perdidos. Adeus casa, comida, carinho, nome...

Pobres de tais rebeldes! Pois muitos foram considerados doidos e, por isso, mortos. Passavam dias e noites a latir, protestar. Cachorros doidos!

Em compensação, Carlim e seus amigos continuariam ao léu, perdidos nas ruas. E a toda hora morre um deles debaixo dos carros. Ontem mesmo foi a vez de Carlim.

O Nosso Português O Nosso Português O Nosso Português O Nosso Português

de Cada Diade Cada Diade Cada Diade Cada Dia

A / HÁ (em função do espaço de tempo). AAAA (preposição): "Ela voltará daqui a meia

hora." (tempo futuro)

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HÁHÁHÁHÁ (verbo HAVER): "Ela saiu há dez minutos." (tempo decorrido) A PAR / AO PAR A par:A par:A par:A par: Significa "bem informado", "ciente" Exemplo: Estou a par da situação. Ao Par:Ao Par:Ao Par:Ao Par: Indica relação de equivalência ou igualdade entre valores financeiros. Exemplo: Algumas moedas mantêm o câmbio praticamente ao par. AONDE / ONDE / DE ONDE. AondeAondeAondeAonde: com verbos que indicam movimento, um destino, como o verbo IR. Exemplos: Aonde você vai? Aonde você quer chegar? OndeOndeOndeOnde: com verbos que indicam permanência, como o verbo estar. Exemplos: Onde você está? A casa onde moro é muito antiga. De OndeDe OndeDe OndeDe Onde ou DondeDondeDondeDonde: com verbos que indicam procedência. Exemplos: De onde você saiu? Donde você surgiu? AS PARTÍCULAS "ATÉ" E "NEM". "Até"Até"Até"Até" é uma partícula que traz a idéia de inclusão. Exemplo: Até o diretor estava presente no show dos alunos. "NemNemNemNem" deve ser usado quando houver idéia de exclusão. Exemplo: "Nem mesmo os jornalistas credenciados puderam entrar no camarim da Madona." BASTANTE / BASTANTES. Esta palavra, que originalmente é um advérbio, somente varia em número (singular ou plural) quando empregada como pronome

adjetivo para concordar com o substantivo que a acompanha. Exemplos: Os candidatos estavam bastante (advérvio) confiantes. Aquela livraria possui bastantes (pronome) livros raros. BastanteBastanteBastanteBastante é palavrinha bivalente. Ora é advérbio; ora, pronome indefinido. Como advérbio, ela se mete na vida de verbos, adjetivos ou dos próprios advérbios. Fica invariável. Não quer saber de plural: Estudei bastante. Trabalho bastante. Maria anda bastante. Diana era bastante querida. Maria é bastante crescidinha para saber distinguir entre o bom e o mau. Depois do tombo, o garoto ficou bastante mal. Macete: o advérbio é sempre substituível por muito. Assim, sem plural. Estudei bastante (muito). Diana era bastante (muito) querida. Depois do tombo, o garoto ficou bastante (muito) mal. Como pronome, o bastante acompanha o substantivo. E concorda com ele. É substituível por muitos ou muitas: Tenho bastantes (muitos) amigos. Recebeu bastantes (muitos) foras ao longo da vida. Teve bastantes (muitas) oportunidades na vida. HAJA VISTO ou HAJA VISTA? Deve-se empregar a expressão "haja vistahaja vistahaja vistahaja vista", já que a palavra "vista", neste caso, é invariável. Haja vista significa "por causa de, devido a, uma vez que, visto que, já que, porque, tendo em vista". Compare: quando se usa a expressão "tendo em vista", ninguém diz "tendo em visto". Então, não esqueça: haja vista = tendo em vista. Exemplos: Haja vista o grande evento deste domingo. Haja vista os concursos deste ano.

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HUM / UM. Em português, o numeral é "um", e não "hum". "HumHumHumHum" é interjeição: palavra ou expressão usada para expressar uma reação (dor, alegria, espanto, irritação, admiração, etc). Exemplos: "Comprei um relógio de ouro para dar à minha namorada." "Hum... você deve estar mesmo muito apaixonado!" Observação: Assim também, o extenso de R$1.000,00 não é nem "um mil reais", nem "hum mil reais". É "MIL REAIS". MAS / MAIS MasMasMasMas: indica idéia contrária. Conjunção adversativa, equivalendo a "porém" Ex.: Fui, mas não queria ir. MaisMaisMaisMais: a) Pronome: Exemplo: Há mais meninos do que meninas na sala. b) Advérbio de intensidade Exemplo: Não fale mais! MAL / MAU MalMalMalMal: a) Advérbio (opõe-se a "bem") Exemplo: Ele agiu mal b) Substantivo (opõe-se a "bem") Exemplo: Ele só pratica o mal. c) Conjunção, indicando tempo Exemplo: Mal cheguei, você saiu. MauMauMauMau: É adjetivo Exemplo: Quem tem medo do lobo mau? MEIO / MEIA. MMMMeioeioeioeio: Como advérbio, modifica o adjetivo com o qual se relaciona, sendo invariável; equivale à "um tanto", "um pouco".

Exemplos: Os alunos estavam meio cansados. Daniela ficou meio preocupada com a sua viagem de avião. MeioMeioMeioMeio: como numeral fracionário adjetivo, sofrerá as flexões de gênero e número, concordando com o substantivo ao qual se refere e que geralmente vem depois dele. Exemplos: Pegue aquela meia garrafa de vinho e encha meio copo para mim. Ela só sabe dizer meias verdades. Nossa reunião ficou marcada para meio-dia e meia (MEIA por causa da concordância com HORA que está implícita na expressão.) A palavra "MEIO" pode ainda se apresentar como um substantivo, significando "MANEIRA, MODO, CAMINHO". Neste caso, ela sofrerá apenas a flexão de número, pois sempre será empregada no masculino. Exemplos: Acho o metrô o melhor meio de transporte de massa. "Os fins justificam os meios." (Maquiavel) NA MEDIDA EM QUE / À MEDIDA QUE Na medida em que:Na medida em que:Na medida em que:Na medida em que: Equivale a "porque", "já que", "um vez que", exprimindo relação de causa. Exemplo: Na medida em que a prefeitura não faz nada, a população carente sofre. À medida que:À medida que:À medida que:À medida que: Equivale a "à proporção que" Exemplo: À medida que escurecia, crescia o meu medo. QUE / QUÊ QueQueQueQue: monossílabo átono Pode ser: A - Pronome:(O) que você faz aqui? B - conjunção:Pedi que ele viesse C - partícula expletiva:Quase (que) morri de susto. QuêQuêQuêQuê: monossílabo tônico Pode ser:

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A - pronome no final da frase, antes de ponto (final, interrogação ou exclamação) ou reticências. Você precisa de quê: B - substantivo (= alguma coisa, certa coisa) Ele tem um quê de especial. POR QUE Por quePor quePor quePor que : tanto nas orações interrogativas diretas quanto nas indiretas. Exemplos: Por que você fez isso? Quero saber por que você fez isso. Por que você não foi à festa? Gostaria de saber por que você não foi à festa. O "QUE" pode ser ainda um pronome relativo, podendo ser substituído por "O QUAL", "A QUAL", "OS QUAIS", "AS QUAIS". Exemplos: A razão por que (pela qual) não fui à sua festa, você logo saberá. "Só eu sei as esquinas por que (pelas quais) passei." É um drama por que (pelo qual) muitos estão passando. Observação: também quando houver a palavra "motivo" antes, depois ou subentendida. Exemplos: Desconheço os motivos por que (pelos quais) a viagem foi adiada. Não sei por que motivo ele não veio. Não sei por que (por que motivo) ele não veio. Por quêPor quêPor quêPor quê: seguido de um sinal de pontuação forte (pontos de interrogação, de exclamação, final, reticências). Exemplos: Você vai sair a esta hora da noite por quê? Ele não viajou por quê? Se ele mentiu, eu queria saber por quê! "Mãe, preciso de cem reais?" "Por quê?"

PORQUE PorquePorquePorquePorque: equivale à "PORQUANTO", "POR CAUSA DE". Exemplos: Não saí ontem porque estava chovendo muito (causal) Ele viajou, porque foi chamado para assinar o contrato. (explicativa) Ele não foi porque estava doente. (causal) Abra a janela, porque o calor está insuportável. (explicativa) Ele deve estar em casa, porque a luz está acesa. (explicativa) PorquêPorquêPorquêPorquê: artigos "O" ou "UM". equivale à "a razão". Exemplos: Não estou entendendo o porquê de tanta alegria em você hoje. Quero saber o porquê da sua decisão. Estamos esperando que você nos dê um porquê para tal atitude. DICA DE PORQUE E PORQUÊ A conjunção porque sabe das coisas. Conhece a causa de tudo. Por isso se chama causal: Maria se atrasou porque perdeu o ônibus. Vera Michel se internou porque quer desintoxicar-se das drogas. A Encol foi pro beleléu porque tinha administração pouco profissional. Quando a gente faz uma pergunta começada com por que, a resposta pede sempre uma causa. A conjunção porque responde na bucha: Por que precisamos beber muita água? Porque a umidade do ar está baixa. PORQUÊ Quando usar porquê? Só se a palavrinha for substantivo. Aí significa causa. Tem plural. E geralmente vem acompanhada de artigo, numeral ou pronome. Não sei o porquê da decisão da juíza. Há muitos porquês sem resposta. Ficou intrigado com dois porquês.

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Nelson Saldanha Nelson Saldanha Nelson Saldanha Nelson Saldanha D’ OliveiraD’ OliveiraD’ OliveiraD’ Oliveira

(No Embalar das Trovas)(No Embalar das Trovas)(No Embalar das Trovas)(No Embalar das Trovas)

Se queres um mundo aberto, Compreensivo num segundo,

É preciso abrir primeiro O teu coração ao mundo.

Se em troca do teu afeto Exiges o afeto meu,

Já não tens razão de queixa O meu coração é teu.

Passei toda minha vida Buscando a felicidade, No final só encontrei

Um punhado de saudade.

Primavera estação mágica Cheia de luz e de amores, Torna a vida mais alegre

E salpicada de flores.

Na praia ondas rolavam, Alegremente a cantar, Parecia até namoro

Das areias com o mar.

Recordo a vida do campo Com ternura e com saudade, Pois á só encontrei amigos,

Afeição, muita lealdade.

O amor se assemelha à flor, Sem regar pode morrer,

Deixando apenas lembranças, Perfume do bem-querer.

Nelson Saldanha D’ Oliveira (1919)

Professor, contador, jornalista escritor e orador. Nasceu em Curitiba (PR), a 1 de novembro de

1919, filho do escritor, historiador e engenheiro Dr.

Bernardino d”Assunção Oliveira e Da. Francisca Saldanha d’Oliveira.

Foi agraciado em 1980 com o título de Cidadão Honorário de Ponta Grossa, onde prestou serviços como Diretor de Cultura do Município.

Membro de: – Centro de Letras do Paraná – Centro Cultural Euclides da Cunha (Ponta

Grossa) – Instituto Genealógico Brasileiro (SP) – Associação Internacional da Imprensa

(Montevidéu – Uruguai) – Presidente da Academia de Letras José de

Alencar (PR) – Governador do Elos Internacional da

Comunidade Lusíada, Distrito Elista (DE) 05.

Publicações: – Cidade de Curitiba (Curitiba: O Formigueiro,

1983) – Prelúdio de Idéias e de Palavras (Curitiba:

Editora do Autor, 1945) – Lysimaco F. Da Costa – Homem de Ciência,

Mestre Erudito (Curitiba: Academia de Letras José de Alencar, 1962);

– Páginas de Seis Vidas (Ponta Grossa: Planeta, 1986).

– Páginas de Seis Vidas – livro em Braile (Curitiba: Centro de Informática para Deficientes Visuais Prof. Hermann Gorgen, 2000)

entre outras.

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Vicência JaguaribeVicência JaguaribeVicência JaguaribeVicência Jaguaribe (Por Onde Anda Minha (Por Onde Anda Minha (Por Onde Anda Minha (Por Onde Anda Minha

Bela Estatueta de Bela Estatueta de Bela Estatueta de Bela Estatueta de Porcelana Branca?)Porcelana Branca?)Porcelana Branca?)Porcelana Branca?)

Há alguns dias, procuro uma estatueta

de porcelana branca. Ela enfeitava um dos recantos de meu apartamento, posta em sossego na parte inferior de uma coluna. Não a encontro. Já começo a perguntar-me se a possuí um dia. Mas sua imagem me é tão clara, que não quero admitir que seja ela fruto de minha imaginação.

Como já disse, é de porcelana branca. Sua silhueta, fina e delgada, e sua beleza delicada sempre me deram impressão de diafaneidade. Talvez tenha uns cinqüenta ou sessenta centímetros de altura, nunca a medi. Como o leitor deve estar observando, faço questão de falar nela no presente do indicativo, porque não admito a sua perda.

Já a procurei em todos os cantos e recantos. Nos guarda-roupas, no alto dos maleiros, dentro das gavetas, nas estantes, e nada. A Noêmia, minha caríssima secretária, diz que não se lembra dela. E olhem que a Noêmia tem memória de elefante. E parece possuir um dom especial para achar coisas perdidas. Mas, desta vez, sua destreza para localizar objetos desaparecidos parece ter-se evaporado.

E fico eu, repetindo a busca nos mesmos lugares, nos mesmos cantos e recantos. E pergunto-me: Se essa estatueta nunca existiu e é fruto de minha fantasia, de onde saiu sua imagem, que preenche minha imaginação? Vi-a em alguma loja? Na casa de alguma amiga? Mas não sou assim tão impressionável. E o mais curioso nessa história é que me lembro não só da estatueta em si, mas de sua embalagem: uma caixa branca, fina e comprida, sem nenhuma inscrição ou desenho.

Lembro-me, inclusive, de uma conversa rápida que tive com um dos meus irmãos. Ele olhou uma outra estatueta – tenho mais de dez, de variados tamanhos e formatos – e disse que, para ele, aquela era a mais bonita. Eu discordei: Para mim, a mais bonita é a branca. Diga-me você, leitor: dá para pensar que inventei toda essa situação?

Quem sabe, hein? Nossa memória nos prega peças, não há dúvida. Eu até diria, parodiando Shakespeare, que nossa memória, senhores leitores, nos prega mais peças do que jamais sonhou vossa (e nossa) filosofia.

Algumas lembranças que tenho – que todos temos – da infância me intrigam. E me pergunto: Eu me lembro mesmo desse episódio, ou as lembranças que acho guardar dele são o resultado de tanto ouvir meus familiares falarem sobre o dito cujo? Tenho dúvidas, por exemplo, sobre as lembranças que penso ter de uma cena de namoro de meu tio Dedé com uma prima. Como eu gostava muito dela, ficava perto e via-os abraçarem-se e beijarem-se. Então, dizia, com minha pronúncia precária, uma expressão que, depois, ouvi muitas vezes pela boca de minhas tias, recordando o episódio: Já tomeçou, hein?

O mesmo acontece com uma viagem que fiz com minha tia Sinhazinha – a Mãe da Vovó – e minha irmã Francisca Marta – a Neném. Em uma das paradas do misto, um desconhecido, ouvindo-nos chamar nossa tia de Mãe da Vovó, saiu-se com esta pergunta: Eu pensei que estas meninas fossem suas filhas. Mas são suas netas, não são? Como ouvi minha tia contar essa história muitas vezes, hoje não sei mais se me lembro do acontecido ou se o introjetei partindo de suas palavras.

É sempre difícil admitir-se falha de memória. Como tudo que envolve o mecanismo cerebral, a memória é algo que se reveste de um caráter de intangibilidade, que facilmente atrai o preconceito. É muito mais simples admitir que se está com um sério problema cardíaco, com uma grave pneumonia, até com um tumor maligno, do que admitir que se está com falhas de memória. A falha de memória pode indicar o início da demência senil ou a visita daquele alemão de nome Alzheimer, tão na moda

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nestes tempos de novos males e de novos nomes para males antigos.

Bem, mas voltemos à minha bela estatueta de porcelana branca. Onde a deixei, caríssimos leitores? Onde a deixei ou a guardei no espaço físico do meu apartamento? E onde a deixei no espaço textual. Há algum dêitico, por aí, que me possa apontá-la? Há alguma pessoa de boa vontade que possa de novo abrir gavetas e guarda-roupas, revirar lençóis e toalhas, desencostar móveis e finalmente gritar bem alto, empregando o dêitico mágico – Está aqui!?

Quanto a situá-la no texto, posso dispensar esse trabalho. Seria uma busca inútil, pois coloco o ponto final desta crônica

agora, neste exato momento, e aqui, neste exato lugar.

Vicência Jaguaribe Vicência Maria Freitas Jaguaribe, natural de Jaguaruana-Ce. Professora de Literatura e Estilística da Universidade Estadual do Ceará. Mestra em Literatura pela UFC. Trabalhos publicados nas áreas de Literatura, Estilística e Lingüística do Texto.

Paulo Bentacur Paulo Bentacur Paulo Bentacur Paulo Bentacur

(Poesias)(Poesias)(Poesias)(Poesias)

A PRIMEIRA NOVELA DE ERICO A PRIMEIRA NOVELA DE ERICO A PRIMEIRA NOVELA DE ERICO A PRIMEIRA NOVELA DE ERICO

VERISSIMOVERISSIMOVERISSIMOVERISSIMO

Amaro tem um piano. Faz amor por aluguel.

Na pensão de Tia Zina, fita a menina Clarissa

com nostálgica saudade do amor que não viveu.

Um papagaio gasta o nome,

repetindo-o, sempre, sempre. Clarissa tem um temperamento, que a adolescência nem disfarça.

É primavera, os residentes vêm de tantos lugares, são tão diferentes que Amaro perde-se em si mesmo, e busca-se em camas sem

ilusão, em inocências que só pode fitar,

à espera que o futuro faça o presente dar frutos.

Amaro tem nome de luto.

Clarissa tem nome de sol. Duas presenças opostas

que se encontram por acaso como quem, fora de casa, abana a um conhecido, sorri, valeu, e é só isso.

DESPERTARDESPERTARDESPERTARDESPERTAR

Acordo sem um acordo com a manhã

que esguicha suas freadas já tão cedo, e sem ceder a qualquer convite, ergo o corpo já cansado antes dos medos

comuns a qualquer homem que caminha entre as ruas ou mesmo entre a família.

A noite passou lenta e não me deu

sonhos, estremeções nem mesmo o peso de um pesadelo a dar sentido ou temor para o dia que se pretende poderoso.

Levanto, escovo os dentes, me submeto à repetitiva água do chuveiro.

Debaixo do aguaceiro, ora quente, ora frio, me arrepio: dia seguinte.

Ontem houve o que houve e não repete nada, ainda mesmo que eu me esforce

na reprodução de um cotidiano.

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(Arte a fixar para o amanhã.)

Tão cedo e, entre bocejos, arquejo no esforço de pensar

que hoje é só o começo, sol penteado no qual ruge a ordem desses tempos empurrando-me como se tudo afinal urgisse, por mais que eu tanto faça.

Não saberei quando parar no exato instante

em que parar. Caindo, o sol trará a noite e, de novo, o inquieto

povoará o vencido lençol até que a luz sacuda-o, amarfanhado rosto. O espelho o denuncia sem que o acuda o banho.

ASASASASCENSÃO E QUEDA DO DIÁLOGOCENSÃO E QUEDA DO DIÁLOGOCENSÃO E QUEDA DO DIÁLOGOCENSÃO E QUEDA DO DIÁLOGO

Um homem liga a tevê, o rádio, escuta o

vozerio da rua. Esse homem veste roupas que não

combinam. Aperta as mãos, sorri, goza o frio enervante

da dúvida em saber qualquer coisa que o conduza para

algo que se possa chamar de um lugar.

Nem precisa ser um destino.

Um homem que não conhecemos e que, cansado de si,

entende e aceita que não o verem não significa o fim

nem o começo de uma história, e portanto ele pode

continuar desse jeito, tevê, rádio e rua gritando

e ele nem aí, falando também, ao mesmo tempo,

sem que os outros escutem, imitando sua surdez.

Um homem que parece tudo, menos mudo –

como tudo. Que engole ávido a mudez a tomar conta do

fluxo de ruídos que explodem para o silêncio

faminto.

CAFÉCAFÉCAFÉCAFÉ

O marrom pleno, quase negro.

O cheiro se evola, o ar a bebê-lo, enquanto olho

a xícara, a mesa – eis minha missa e um companheiro.

Sirvo o líquido, aspiro o aroma, e o beberico.

Sou homem rico com tão pouco. Preparo outro e o estendo até o amigo,

e digo: “toma”.

Nem é preciso. As mãos seguram

a taça plena que depois pousa

sobre a mesa. Corpo aquecido

e o paladar com um sabor

nunca esquecido.

Além da mente a acordar para o real

que ainda dorme tão inocente. Lá fora o dia boceja, lento, com sua fé.

Nada mais tem até que alguém beba um café.

Então, num salto, põe-se em pé.

E é caminhar.

Paulo Bentacur (1957)

Paulo (Roberto Ribeiro) Bentancur nasceu em Santana do Livramento, RS, em 20 de agosto de 1957. É escritor, poeta e crítico, praticando diversos gêneros, do

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infanto-juvenil à poesia. Foi editor da Imprensa Oficial do RS (2000-2002), quando, junto com o artista gráfico Antonio Henriqson, editou a revista cultural VOX XXI e Coordenador do Livro e Literatura da Secretaria Municipal da Cultura de Porto Alegre.

Teve contos publicados na Argentina e na Itália. Ganhou quatro prêmios Açorianos: – 1995, categoria especial, a Instruções Para

Iludir Relógios (um livro sem gênero); – 1996, infanto-juvenil, a O Menino Escondido

(Freud); – 2004, categoria especial, como organizador de

Simões Lopes Neto – Obra Completa; – 2005, em poesia, para Bodas de Osso. Ganhou dois prêmios especiais, Maria Bentancur,

nascida em 1984, e Laura Marengo Bentancur, em 1999. Trabalhou durante 20 anos em diversas editoras

como revisor, preparador de originais, tradutor do espanhol e editor assistente. Atualmente presta serviços de assessoria editorial para diversas casas publicadoras. Também ministra oficinas de criação literária e de leitura crítica, além de fazer palestras pelo País todo –acerca de sua obra, autores clássicos, questões relevantes à leitura numa nação que não lê e mistérios da arquitetura da narrativa.

Livros INFANTO-JUVENIS:

– Agulha ou linha, quem é a rainha? (Ed. Projeto, 1992, em 6ª edição)

– O menino que não gostava de histórias (Ed. Solivros, 1995, esgotado)

– As surpresas do corpo (Difusão Cultural, 1997); – Quem não lê, não vê (Difusão Cultural, 1997); – Os homens na caverna – Platão (Ed. Mercado

Aberto, 1994; Ed. Artes e Ofícios, 2a ed. 2001); – É lógico, pô! – Aristóteles (Ed. Mercado Aberto,

1994; Ed. Artes e Ofícios, 2a ed. 2001);

– O menino escondido – Freud (Ed. Mercado Aberto, 1995, Prêmio Açorianos 1996; Ed. Artes e Ofícios, 2a ed. 2001);

– O criador de monstros – Kafka (Ed. Artes e Ofícios, 2001);

– As cores que tremiam – Van Gogh (Ed. Artes e Ofícios, 2001);

– Entre o céu e a terra – Shakespeare (Ed. Artes e Ofícios, 2001);

– A máquina de brincar (Bertrand Brasil, 2005; adotado pelo Governo do Estado de São Paulo através do PNLD);

– As rimas da Rita (Bertrand Brasil, 2005); – O olhar das palavras (Bertrand Brasil, 2005).

PARA ADULTOS: – Instruções para iludir relógios

(contos/crônicas, Ed. Artes & Ofícios, 1994, Prêmio Açorianos 1995);

– A Feira do Livro de Porto Alegre – 40 Anos de História (ensaio, CRL, 1994);

– Os livros impossíveis (contos/crônicas, 00h00.com, Paris, França, 2000);

– Frio (contos, Ed. Sulina, 2001); – Bodas de osso (poesia, Bertrand Brasil, 2005,

Prêmio Açorianos 2005); – A solidão do Diabo (contos, Bertrand Brasil,

2006).

CO-AUTORIA: – Rio Grande do Sul - Cenas e paisagens (legendas, com fotos de Eduardo Tavares; Ed. Sulina, 1997).

OBRAS COLETIVAS:

– Nós, os gaúchos 2 (ensaios, Ed. da UFRGS, 1994);

– Amigos secretos (contos, Ed. Artes e Ofícios, 1994);

– A cidade de perfil (crônicas, Secretaria Municipal de Cultura, 1995);

– A magia das águas (ensaios, Ed. Riocell, 1997); – Meia encarnada, dura de sangue (contos sobre

futebol, Ed. Artes e Ofícios, 2001);

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– A linha que nunca termina - Pensando Paulo Leminski (ensaios, Ed. Lamparina, 2005);

– Contos de bolso (minicontos, 43 autores gaúchos, Ed. Casa Verde, 2005);

– Contos de bolsa (minicontos, 47 autores gaúchos, Ed. Casa Verde, 2006);

– Contos de algibeira (minicontos, autores brasileiros e portugueses, Ed. Casa Verde, 2007);

FICÇÃO

- Histórias para o prazer da leitura (antologia dos 50 melhores contos da revista Ficção, Ed. Leitura, 2007). ORGANIZAÇÃO E ANOTAÇÕES CRÍTICAS:

– Obra completa, de Simões Lopes Neto (Ed. Copesul/Já editores/Sulina, 2003, Prêmio Açorianos 2004);

– Grandes personagens da literatura gaúcha (ensaios e coordenação editorial, Ed. Copesul/Aplauso, 2004).

Valentim MagalhãesValentim MagalhãesValentim MagalhãesValentim Magalhães

(A Grande Estréia)(A Grande Estréia)(A Grande Estréia)(A Grande Estréia)

Autor! Ele era autor, finalmente! Ali estava a sua obra. - O meu livro! - dizia ele dentro em si,

com o coração boiando em uma onda de júbilo.

Aí terminaram, por fim, as torturas

inenarráveis do ineditismo; terminaram as lutas, os labores, as angústias inominadas de autor in partibus: o cérebro atulhado de livros imortais... e nenhum na rua!

Vencera! Só ele, o autor, ele somente sabia o

valor dessa vitória, porque mais ninguém soubera, suspeitara sequer, que soma de esforços e desesperos lhe custara.

Um ano, dois anos a incubar, a fecundar a idéia: período da gestação, íntimo e ignorado, cheio dos júbilos da concepção e dos receios, dos sobressaltos inexplicáveis ante o futuro:

- Se eu publicasse um livro? Depois - a resolução: fase nova, em

que a idéia vai-se transmudando em fato: - Está dito: publico o livro. É dispensável dizer de que gênero é o

livro com que estréia este jovem, pois é o mesmo com que toda a gente estréia - aqui,

em Portugal, em França, em toda parte do mundo.

Dizê-lo seria ocioso, tão ocioso como perguntar a qualquer homem de letras se existe no seu pretérito esse pecado universal, que se redime sempre: - versos.

Quando a um mancebo lembra a idéia de fazer um livro, o livro já está feito, e nem ele perde tempo a debater o gênero da obra.

É que a poesia é como a puberdade. Um belo dia a criança deixa-se ficar na

cama, adormecida ao lado dos tambores rotos e dos polichinelos estripados, e acorda o homem: um indivíduo novo, recém-nascido, desconhecido para todos, e ainda mais para si próprio.

Entre os muitos fenômenos novos que desse dia em diante vão nele aparecendo, espontaneamente, por vontade do velho legislador - Natureza, - há um de que também não se apercebe o jovem. Deliciosa inebriez sonambuliza-lhe os atos e o pensamento...

Mas um dia, por acaso, detém-se em caminho para dar "bom-dia" ao sol, ou a uma "doce virgem" que passa, e, volvendo o olhar atrás... - surpresa! ó encanto! - o caminho, o curto caminho andado está todo semeado, todo florido - de versos!

- Sou poeta! exclama nesse instante, como ainda há pouco exclamara:

- Sou homem!

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É nesse momento único, o mais puramente feliz de toda a existência, que lhe vem a idéia da Glória, do Futuro, do livro, enfim.

Depois, o trabalho é apenas de retroceder, e, colhendo as mais belas e cheirosas flores, fazer um ramalhete.

Mas de improviso surge um óbice, uma dificuldade feia e repentina, como esses fantoches que saltam súbitos das bocetas de confeitos ao nariz das crianças:

- E a fita para enlaçar o bouquet? Ah! o título para o livro! Que Adamastor! Que assunto para epopéias! Quando terás também o teu Camões,

ó monstro? Neste ponto, o azul enubla-se,

abismos abrem-se famélicos, montanhas pulam diabólicas ante os passos do poeta.

O desânimo invade-o, arrastando consigo para dentro do mísero - a dúvida, o medo, o desespero.

E o grosso caderno do manuscrito dorme poento ao fundo da gaveta, como um pobre diabo que, na gare de uma linha férrea, adormeceu à espera do sinal de partir.

O título! Aqui, há tempos, assisti a uma luta

horrível, interessantíssima, a única que possa fornecer um pálido simile da de um futuro autor com os títulos: - a luta com as gravatas.

Foi assim: Entrou em uma loja, em que eu por

acaso me achava, um elegante; e, dirigindo-se ao caixeiro, disse-lhe com voz trêmula:

- Desejo uma gravata. - Pois não, senhor; em escancarando-

lhe a vasta vitrine, acrescentou o caixeiro: - Faça o favor de escolher. Escolher! Aí o busílis. O janota ficara-se imóvel. Estava

pasmo: as mãos sem gestos, os olhos deslumbrados.

Elas eram trezentas, seguramente. Eram trezentas gravatas: - pretas,

verdes, roxas, brancas, douradas, prateadas, azuis, amarelas, havanas, opalinas, granada, esmeralda, safira, cor-de-café, cor-de-rosa, cor-de-garrafa, cor-de-gema-de-ovo, cor-de-

azeitona, cor-de-manteiga, cor-de-leite, cor-de-chocolate, cor-de-creme, cor-de-carne-crua, cor-de-carne-assada, cor-de-vinho — cor de tudo!

Pintadas, sarapintadas, chamalotadas, de listras, de pingos, de flores, de estrelas, de bichos!

Ah! E as formas? Quadradas, redondas, oblongas; em

laço, em pasta, em fita, em triângulo, em losango, em quadrilátero, em octágono; plastrons, mantas, lenços; de cetim, de gaze, de seda, de crepe, de linho, de chita, de lã...

Vendo-as, inúmeras, horríveis e formosas, esquisitas, de mil cores e de mil formas, a rir, a dançar, a vir sobre o janota extático, atordoado, trêmulo de gozo, de assombro e de indecisão, lembrou-me a marcha dos deuses-monstros por diante de Antônio, o santo eremita da Tebaída, caído em delíquio - no livro imortal de Flaubert.

E o caixeiro repetia: - Faça o favor de escolher. Depois de longa e penosa hesitação,

decidiu-se o janota por uma gravata meio-plastron, estofada de veludo bleu foncé.

Pô-la ao pescoço, viu-se com ela ao espelho, e logo arrependeu-se.

Tomou então de uma outra, de seda creme, pontilhada de pequenos botões de rosa escarlates..

- Prefiro esta disse. Faça o favor de embrulhá-la.

E enquanto o empregado assim o

fazia, continuou extático ante a vitrine, a ver uma, a ver outra, a desejá-las todas. De repente, estremeceu de súbita alegria e exclamou:

- Olhe, tire-me aquela acolá. Não, a outra: granada e ouro. Essa; essa mesma.

Agora sim: estava satisfeito. O caixeiro

substituiu a gravata no embrulho. O janota deu-lhe a paga, tomou do

volumezinho, e foi saindo vagarosamente. Posto cá fora, na rua, deteve-se ante a larga montre, opulenta de gravatarias rutilantes, espalhafatosas, e sentiu-se logo profundamente arrependido da espiga que se havia deixado impingir.

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Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.2 – Paraná, fevereiro de 2010.

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- É tão lindo aquele laço de cetim creme! Diabo! Se eu trocasse...

E, num enleio desgostoso, esteve por

pouco a entrar de novo na loja, para fazer a troca. Mas envergonhou-se a tempo, e lá se foi com a sua gravata nova, cheio de raivas biliosas contra ela - por ser tão estupidamente feia, e contra si próprio - por ter um gosto tão reles, tão desgraçado...

Assim, exatamente assim nos sucede com a escolha de título, a todos que de tão perigosa coisa carecemos.

Ao princípio fica-se perplexo: são tantos! e todos tão lindos! Qual escolher? Aquele, aquele belo título vermelho, flamante como um carbúnculo. Pois será ele. E, sem demora, ata-se o título escolhido ao pescoço da obra e mira-se o efeito. Que desilusão! A cor da gravata não diz com a roupa.

O livro é todo azul claro e brancuras de neve: toalete risonha e fresca, toalete para passeio nos jardins de Armida; e o título é de um rubro tão vivo, inopinado e gritão!

A que lhe vai a matar é esta de escomilha branca, tirando a azul nas dobras, de um tom delicioso de leite puro.

Bravos! Perfeitamente! E o autor, satisfeitíssimo, ata a nova

gravata ao seu dandy e sai com ele a passeio.

Mas as decepções não tardam. Uns amigos acham que ela devia ser cor-de-rosa, curta, sem pregas.

Aquela é trivial, inexpressiva, tão sem graça e sem expressão que, embora com a gravata ao pescoço, parece o janota tê-la esquecido em casa...

Outros amigos, porém, (ó La Fontaine!) assobiam o pobre poeta, atiram-lhe remoques como pedriscos:

- Que! Melhor fora então pôr-lhe por título: Vendavais, Cataratas ou Labaredas! Esse não presta: é por demais pantafaçudo.

E, corrido do seu mau gosto, o poeta arranca ao livro a gravata e recomeça a correria das lojas.

Tais angústias que as conte o pobre Eugênio Lopes, o "esperançoso e jovem poeta" que hoje estréia.

Foram dias, mais: - foram meses de luta e de insônia.

Dez vezes achou a gravata da sua escolha, o non plus ultra das gravatas, a bela por excelência, a deliciosa, a única.

Vinte vezes se arrepelou furioso, bezuntando-se de impropérios, e pensando sinceramente, como quem se resolve ao suicídio: - O melhor é pôr-lhe por título - Sem título! O pobre!

Safiras, Flores singelas, Borboletas, Magnólias, Harpejos, Serenatas, Suspiros d’alma, ai! tudo! tudo! - até nem mesmo faltou o venerando, o nunca assás surrado título - Peregrinas! - tudo ocorreu àquele infeliz que andou atrás de um títutlo, como Telêmaco à cata do perdido pai.

Urgia, porém, decidir. A Glória instava. E a continuar daquele modo perderia

a Posteridade, envelhecendo à espera de um título - como de um bilhete de viagem para ir lá ter.

Decidiu-se, enfim. Arroubos: - foi a gravata que escolheu. Arrependeu-se mil vezes da eleição;

chegou mesmo a tentar anulá-la em favor de um candidato novo; mas era tarde: - parte do livro já estava impressa, e ao alto de cada página o título dado.

Ficou triste, desanimado. Arroubos!... Dava lugar a esta pilhéria:

Roubos! Uma pilhéria grave! Enfim... Agora, na tipografia - diante da longa

banca da cartonagem, cercada de operários em camisa, dobrando, cortando, cosendo, colando folhas de livros - um gozo intenso, profundo, atordoador, engasga solenemente o poeta Eugênio Lopes.

O meu livro! O meu livro! - é o estribilho íntimo da muda canção de júbilo que o seu espírito canta...

Cora e sorri; e ante os seus olhos úmidos, dilatados no espasmo daquele deslumbramento, as oito letras do título - Arroubos - impressas a carmim, em elzevir, sobre a capa de papel-granito do seu livro, passam gravemente, marchando a um de fundo, para os campos da Glória. Os RR erguem as pernas à frente, em um passo de marcha larga, majestosa: as grandes pernas de fuzileiros, vestidas das rubras calças de grande gala.

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E, em cima, ao alto, por sobre um filete de fantasia o nome do autor: - Eugênio Lopes!

E, imóvel, como adormecido de olhos abertos sobre o livro fechado ainda, - sem se dar conta dos risinhos irônicos que entre a fumarada dos cigarros lhe mandam os operários, - quantos planos gloriosos, quantas quimeras, quantos delírios mudos assaltam nesse momento o poeta!

Seu nome, seu pobre nome, tão singelo e humilde, o nome de filho de um modesto molhadista por atacado; seu nome desde este dia vai partir veloz sobre os quinhentos volumes da edição; vai voar nas asas palpitantes da imprensa periódica!

Vai ser conhecido, procurado, citado e recitado, querido, talvez famoso!

"Eugênio Lopes, o mimoso poeta dos Arroubos."

Assim se previa designado em breve por toda a imprensa. Nas livrarias, entre Musset e V. Hugo, cercado pelos mais célebres poetas do mundo, está um poeta novo, chegado naquele instante das regiões do anonimato, cheirando ainda a papel molhado e a tinta de impressão.

Quem é? É ele: - Eugênio Lopes. E, todo embebido desse luar invisível e

magnetizante da cisma, com um sorriso vago a lhe pairar na boca, o poeta voltou a capa do livro, a primeira página, e ia a voltar a segunda; mas deteve-se, contemplando-a... Era a dedicatória. Dizia assim:

A ...

"Anjo, valquíria, deusa, a quem a vida

E o futuro, sorrindo, dediquei, Aceita os versos meus, mulher

querida, E nunca mais perguntes se te amei!" Como vai ela ficar contente e cheia de

orgulho! Mas que dirão seus pais? que dirão os

velhos? A velha, santa mulher que o adora, vai

certamente chorar de júbilo ao saber que seu filho - o seu Eugênio "anda nas folhas e nos livros", todo enfeitado de adjetivos elogiosos... Quanto ao velho...

E ensombrou-se-lhe a fronte. Ah! é o destino de todos nós... pensava o poeta, enrolando um cigarro em silêncio.

Balzac, Baudelaire, Henri Conscience, Casimiro de Abreu - quantos e quantos! - encheram de mágoa e de vergonha seus velhos pais, porque se deram à glória, porque foram poetas e pensadores, em vez de agiotas e negociantes.

Paciência! Tudo sofreria resignado. Era o seu destino: havia de cumpri-lo!

Mas os críticos?... Que dirão os críticos?...

Que dirá dos Arroubos o Jornal, esse velho inimigo de sonhadores, tão severo, tão duro, tão parco de elogios? Que dirá o Jornal? Naturalmente o que sói dizer semore: - Recebemos do Sr. Fulano o seu livro de versos, intitulado Isto ou aquilo. E mais nada.

Ó sequidão antipoética! Ah! se o Jornal dissesse ao menos: -

bonitos versos, ou esperançoso, inspirado poeta... Como para o velho o Jornal é a palavra de Deus escrita na terra... do Brasil, lendo aquilo, talvez o velho embrandecesse...

E a Gazeta? que dirá a Gazeta, tão benévola para os que principiam, tão delicada na censura... mas também às vezes tão trocista?... Que dirá ela? Bem ou mal?

E, por uma súbita ligação de idéias, lembraram-lhe uns versos frouxos, outros - ásperos, que só agora reconhecia como tais...

Ah! estava perdido: - era horrível o seu livro!

Mas aquela poesia Flores mortas? Era bem feita e bonita: havia de agradar...

Logo na primeira estrofe, último verso, exatamente um dos que antes julgava melhores, encontrou formidável asneira...

Atirou o livro, empalidecendo. No dia seguinte, muito cedo, comprou

todas as folhas da manhã, - tremendo como um réu, a quem se vai ler a sua sentença - e, percorrendo-as...

Basta, porém. Nem mais uma palavra sobre esse

poema trágico, de que havemos sido todos, mais ou menos, heróis.

Talvez que um dia o poeta dos Arroubos nos dê as suas Memórias, e então, se ele as houver escrito de todo o coração, não haverá quem se não comova e sorria, lendo esse capítulo, escrito com o próprio

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sangue, capítulo negro e rutilante, cheio de lágrimas e estrelado de sorrisos, que só se escreve uma vez na vida: - A grande estréia! (Vinte contos, 1886.)

Valentim Magalhães (1859 – 1903)

Antônio Valentim da Costa Magalhães (Rio de Janeiro, 16 de janeiro de 1859 — 17 de maio de 1903), foi um jornalista e escritor brasileiro, um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras.

Filho homônimo de Antônio Valentim da Costa Magalhães e de D. Maria Custódia Alves Meira. Formou-se em Direito pela Faculdade do Largo de São Francisco, em São Paulo, onde ingressara em 1877. Ali colabora para os periódicos acadêmicos "Revista de Direito e Letras", "Labarum" e "República", este último de Lúcio de Mendonça. Ainda nesta cidade publicou três obras: "Idéias de Moço", "Grito na Terra" e "General Osório", este último em parceria com Silva Jardim, além de seu primeiro livro, entitulado "Cantos e Lutas". Ali também casou-se, em 1880. Voltando para o Rio, dedica-se ao jornalismo, dirigindo o periódico "A Semana" (fundado em 1885), que torna-se o veículo dos jovens escritores da época, além da propaganda abolicionista e republicana, sendo um período de marcadas agitações culturais e políticas, estando Valentim Magalhães no proscênio dessas lutas todas. Sobre sua participação, regitrou Euclides da Cunha, que o sucedeu na Academia: "A geração de que ele foi a figura mais representativa, devia ser o que foi: fecunda, inquieta, brilhantemente anárquica, tonteando no desequilíbrio de um progresso mental precipitado a destoar de um estado emocional que não poderia mudar com a mesma rapidez".

Seu grande envolvimento com as causas que defendia não lhe permitiram uma maior produção literária, sendo comum entre os críticos que seu papel foi o de divulgar os demais escritores nacionais. Ficou célebre pelas inúmeras polêmicas criadas, que redundaram em ataques e desafetos, bem como pelas defesas que dele faziam os amigos. Durante o Encilhamento, falsa prosperidade econômica que se seguiu à Proclamação da

República por obra do seu confrade Rui Barbosa, então feito Ministro das Finanças, Valentim dedicou-se ao lucro rápido, fundando uma companhia e, logo mais, como todos, vindo à falência. Sobre seu papel na memória futura, então ainda presenciando os reveses, declarou:

"A princípio fui gênio; mais tarde cousa nenhuma. Hoje César, amanhã João Fernandes..."

Poesia

Registra Manuel Bandeira que o autor participara, ao lado de Teófilo Dias, Artur Azevedo, Fontoura Xavier e outros, da chamada "Batalha do Parnaso", uma reação ao romantismo, iniciada ainda na década de 1860, e que ganhou força com a agitação promovida por Artur de Oliveira. Este misto de boêmio e intelectual conhecera em Paris os intelectuais parnasianos, e influenciara os autores brasileiros.

Versos

Íntimo (domínio público)

Esta alegria loura, corajosa, Que é como um grande escudo, de ouro feito,

E faz que à Vida a escada pedregosa Eu suba sem pavor, calmo e direito,

Me vem da tua boca perfumosa, Arqueada, como um céu, sobre o meu peito:

Constelando-o de beijos cor de rosa, Ungindo-o de um sorriso satisfeito...

A imaculada pomba da Ventura Espreita-nos, o verde olhar abrindo, Aninhada em teu cesto de costura;

Trina um canário na gaiola, inquieto; A cambraia sutil feres, sorrindo,

E eu, sorrindo, desenho este soneto.

Bibliografia

Sua obra, considerada menor no contexto da literatura brasileira, regista, entretanto, uma curiosidade, por conta de uma errata:

1896 – Concluído o romance “Flor de Sangue”, de Valentim Magalhães, que seria publicado pela Laemmert

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com a mais inusitada das erratas “...à página 285, 4a. linha, em vez de “estourar os miolos”, leia-se “cortar o pescoço”.

Seus livros: Cantos e Lutas, poesia (1897); Quadros e Contos (1882); Vinte Contos e Fantasias (1888); Inácia do Couto, comédia (1889); Escritores e Escritos (1894); Bric-à -brac, contos (1896);

Flor de Sangue, romance (1897); Alma, crônicas (1899); Rimário, poesia (1899)

Quando da Fundação da Academia, Valentim Magalhães foi convidado para ocupar a cadeiranúmero 7 da Academia Brasileira de Letras, que tem por patrono Castro Alves, cujo nome foi por ele escolhido para o patronato. A biblioteca do silogeu brasileiro teve início com a doação, feita por Valentim, de seu livro Flor de Sangue, em janeiro de 1897.

José MarinsJosé MarinsJosé MarinsJosé Marins (Haik(Haik(Haik(Haikais)ais)ais)ais)

Destacamos abaixo alguns de seus haikais do livro Poezen e outros dos livros ainda inéditos Bico de João-de-barro e Karumi, que, gentilmente, o autor autorizou a divulgação dos mesmos neste trabalho.

Do livro “Bico de JoãoDo livro “Bico de JoãoDo livro “Bico de JoãoDo livro “Bico de João----dededede----barro”:barro”:barro”:barro”:

PRIMAVERA:

Saudades e flores no cemitério antigo

Dia de Finados

VERÃO:

Calor de verão a trabalheira que dá

ter essa preguiça

OUTONO:

Risadas do piá aroma de mexericas

na foto não sai

INVERNO

Tardinha de inverno as letras do dicionário

parecem menores

Do livro Karumi:Do livro Karumi:Do livro Karumi:Do livro Karumi:

PRIMAVERA:

Voam andorinhas - na moldura da janela

uma tarde azul

VERÃO:

Círculo sem fim uma formiga no prato

não consegue sair

OUTONO:

Velho casarão os crisântemos florescem

também no abandono

INVERNO:

Vapor sobre o lago que ontem refletia a lua –

manhã de inverno

Do livDo livDo livDo livro “Poezen” (MARINS, 1985):ro “Poezen” (MARINS, 1985):ro “Poezen” (MARINS, 1985):ro “Poezen” (MARINS, 1985):

NOITE:

Anoitece o dia colar de pérolas

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na fileira dos postes

Nenhuma estrela no céu as pintas de suas costas

me iluminam

MADRUGADA:

Madrugada chegando naquele prédio

a penúltima luz se apaga

Olho estrelas no céu distraído mijo sobre

azaléia florida

MANHÃ:

Sobre o velho muro velho pessegueiro

cheio de flores novas

Pacientes as nuvens vão mudando sempre

o rosto azul do céu

TARDE:

Sombra da árvore o dia parou

pra descansar

Ônibus lotado meus olhos cheios de rostos cansados

José Marins, Um haicaísta paranaense

Artigo de Álvaro Mariel Posselt

José Marins é paranaense de Jandaia do Sul, mas se criou em Umuarama, noroeste do estado. Veio para Curitiba quando tinha 18 anos e mora na cidade há 35 anos. “Curitibanizou-se”, criou raízes e asas, onde das asas só possui agora o coto, pois diz ser uma pessoa caseira, um provinciano que não gosta da metropolização de Curitiba e se sente esmagado pela explosão demográfica, porém, brinca o haicaísta, busca o universo

em sua aldeia. É casado com uma curitibana e tem um filho.

Formou-se em Psicologia Clínica pela UFPR, é psicoterapeuta de profissão, fez duas pós-graduações, em Educação e Antropologia e Mestrado pela UFPR (a biblioteca da UFPR e a Divisão de Documentação Paranaense da BPP têm exemplares de sua Dissertação de Mestrado). Desistiu da carreira acadêmica. Tem licença de jornalista e editor por trabalhos anteriores nestas áreas. Atualmente busca a Literatura como um caminho de desafios, desafios estes que o estimulam a prosseguir. É um autodidata dedicado, gosta de estudar e de praticar o que aprende.

Seu primeiro contato com a poesia foi logo aos 10 anos de idade, em 1963. Ele não conseguira gostar de nada do que lera nos livros escolares, até que nessa época leu uma crônica de Paulo Mendes Campos na Revista Manchete e nunca mais foi o mesmo, descobriu a verdadeira função poética da linguagem escrita. A prosa poética de Campos tocou-o: “então é possível a beleza com a escrita”, lembra-se. Feliz foi a sua descoberta, acabou lendo todas as crônicas de Paulo Mendes que foram publicadas naquela revista.

MARINS (2007) lamenta que nunca teve bons professores de Português, que nunca esteve numa escola que tivesse uma biblioteca. Em casa também não tinha livros, mas mesmo assim ele lia bastante, o que aparecia pela frente ele lia, os gibis também fizeram parte de sua leitura, mesmo sob as broncas de seu pai.

Nos anos 70, passou a ler e escrever poesias. Lia um caderno literário que saía todos os sábados no Correio do Povo, de Porto Alegre, não perdia um. Nesse caderno, dois poetas muito diferentes um do outro chamaram a atenção de Marins: Mário Quintana e Carlos Nejar. Este por ter uma poesia carregada de metáforas, que dá voz à condição humana e reflexiva e aquele pelo bom humor, simplicidade e por ser o mestre da alegria na poesia, seu mestre, comenta. Além de ler ainda hoje estes poetas, em especial Nejar, do qual já leu todo a sua obra, dedicou a este o seu livro “Fazendo o Dia”.

Escrevia em cadernos tudo o que lhe vinha à mente, poemas, contos, crônicas. Porém, perdeu tudo em uma de suas mudanças quando morava em uma pensão de estudantes. Escreveu durante dois anos em um jornal da

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capital, tinha a sua própria coluna dentro de uma página literária coordenada pela Juril Carnascialli. Passou a freqüentar a Feira do Poeta.

Chegaram os anos 80, que Marins chama de “leminskianos”. Fez amizade com Paulo Leminski e muitos outros poetas: Geraldo Magela, Delores Pires, Eduardo Hoffmann, Alice Ruiz, Rollo, Regina Bostolim, Josely Viana Baptista, Fernando Karl, entre outros. Publicou várias antologias das quais destaca a primeira: Primeiro Ato, pela Editora Beija flor. Trata-se de uma antologia de poetas universitários, organizada por Josely Viana Baptista.

Quando mostrou o seu primeiro livro para o Leminski, ouviu do poeta: “esses tercetos seus bem que poderiam ser haikais, você leva jeito para o haikai”. A partir daí, Marins procurou estudar tudo o que encontrava sobre o haikai. Leu Paulo, Alice, Delores. Não havia internet na época e era difícil obter informações e ler os bons poetas do haikai.

Publicou, em 1985, o livro “Poezen”, com 88 haikais livres, bem ao estilo de Leminski, seu principal orientador. Paulo gostou tanto dos livros que escreveu no jornal Correio de Notícias, onde fazia crônicas semanais, que os livros “Poezen” e “Fazendo o dia” haviam sido o que de melhor se havia publicado naquele ano.

Com a morte de Leminski, em 07 de junho de 1989, o maior balde de água fria que o movimento poético de Curitiba já recebeu, tudo se arrefeceu, todos se paralisaram. Uma nova geração surgiu, agora com outra mentalidade, outra práxis. Marins só vai retomar seu caminho com o haikai algum tempo depois, desta vez com o pessoal do Grêmio Haicai Ipê, de São Paulo, através da lista Haikai-I, na internet.

Em 2005, com a parceria do haicaísta Sérgio Francisco Pichorim, publicaram o renga duplo Pinha Pinhão, Pinhão Pinheiro, e já têm, ainda inédito, mais dois rengas prontos para publicação com 200 estrofes cada.

MARINS (2007) publicou ainda um livro infantil, “Monalisa, a conchinha sabida”, pela Araucária Cultural. Produziu mais dois livros de haikais: ”Karumi”, com 100 haikais; “Bico de João-de-barro”, também com 100 haikais; “Das trincas coração”, com 140 tercetos; “Haibun”, com 40 haibuns (pequenos textos em prosa poética seguidos de um haikai; “O dia do porco”, um

romance; “Memórias de vidro”, contos. Possui ainda 10 histórias para crianças e uma alentada pesquisa sobre o Haikai no Paraná ainda não finalizada. Diante de tanto material inédito, o escritor lamenta a falta de uma editora para bancá-lo.

Fez ainda um detalhado e longo ensaio sobre a vida haicaísta de Helena Kolody, a pioneira do haikai no Paraná, na internet (http://www.kakinet.com/).

Nos últimos três anos, tem colaborado com a Biblioteca Pública do Paraná, onde é membro da Oficina Permanente de Poesia e ministra aulas sobre a poesia de autores paranaenses e faz oficinas e palestras sobre temas literários. Faz parte também do Centro de Letras do Paraná.

Apesar de já ter mais de vinte anos de experiência com o haikai, Marins ainda se considera um aprendiz da arte do haikai, pois, apesar de possuir uma forma fácil, o aprendizado da arte do haikai se dá através de uma longa caminhada.A implicatura não está somente nos aspectos formais do poema, mas, sobretudo, numa atitude poética perante a natureza e os acontecimentos humanos, onde outros aspectos como a vivência, a observação, o treino da percepção, a notação, o uso dos sentidos, a memória, a valorização do instante, a escolha do momento e o recorte da cena haicaística são muito importantes para o amadurecimento do haicaísta. Quanto mais se aprende do haikai, melhor poeta se torna, e é neste sentido que José Marins se insere e sempre está em busca de novas informações e conhecimentos (MARINS, 2007).

Sua fonte está no dia-a-dia, pois para ele, o haikai se apresenta a toda hora, todo momento e as sensações podem captar várias imagens de acordo com esse momento. Quando passara por uma rua, há um ano mais ou menos, MARINS (2007) captara a seguinte imagem no haikai que tanto gosta:

Azul infinito

róseas flores de paineira caídas na calçada

Em uma recente passagem pela mesma rua, a

percepção que teve agora foi outra:

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Há pouco choveu sobre o preto do asfalto

flores de paineira

Exposto a um momento de contemplação, o haicaísta captura o haikai. Para esse momento, não há hora marcada. Segundo MARINS (2007), quando perguntado sobre o que era preciso para ser um haijin (poeta do haikai), o “nosso” mestre de haikai no Brasil, H. Masuda Goga, retirou do bolso uma caderneta e uma caneta e disse: “É preciso isso!” (MARINS, 2007).

O haikai é o que acontece no momento, representa a simplicidade, a contemplação, a compreensão da mutabilidade das coisas do mundo, a visão do mundo como poesia e o amor à natureza e ao cosmo. O haicaísta precisa despojar-se das complicações intelectuais, brincar com a palavra e ter uma linguagem para se expressar. O que Marins gosta é desse realismo no poema, do enorme espaço que se tem para criar com ele. O realismo é a objetividade que recusa a subjetividade, o sentimentalismo, o uso inadvertido da metáfora e a inconveniência da personificação e do antropomorfismo no haikai. Busca-se na captação da cena, na retratação e no flash a fidelidade do poeta quanto à sua vivência, e essa percepção deve ser mantida na escrita, no uso da linguagem sem os artifícios literários (MARINS, 2007).

Certa vez, após dar explicações a respeito da importância da vivência do poeta na realização do haikai, uma pessoa disse para Marins que ele jamais poderia fazer um haikai a respeito do Monte Fuji, famosa montanha do Japão. Passado algum tempo e eis o que lhe ocorreu (MARINS, 2007):

O cimo gelado

da alta montanha vulcânica vista de folhinha

Mesmo através de uma folhinha (calendário), que é uma tradição bem brasileira, pode-se capturar o momento (MARINS, 2007).

Além da retratação do momento, do instante da percepção, da captura do detalhe na cena haicaísta que dá ao poeta a dimensão da realidade, outro quesito importante da objetividade para MARINS (2007) é a presença do kigo, palavra pela qual se possa reconhecer a estação do ano em que o haikai foi realizado. No haikai acima, temos como exemplo de kigo a palavra “folhinha”, que se refere ao verão. Além disso, o poema precisa ser feito em duas partes dentro dos três versos, ter o kire (corte), ter a métrica de 5-7-5 sílabas poéticas, não ter título e nem rima.

Essas características se referem à forma clássica brasileira, que busca conservar uma proximidade com o original japonês. Apesar dos desafios encontrados na adaptação do haikai, MARINS (2007) acha que isso é feito com um certo rigor, pois foram os próprios japoneses que aclimataram o haikai clássico no Brasil e é essa escola que ele segue. Cita Goga, que afirma que “o haicai é uma forma universal, pode ser aprendida e praticada em qualquer língua” (MARINS, 2007).

Apesar de seguir a escola clássica, Marins também gosta dos haikais livres. Seu livro Poezen é feito deles. Outro estilo que gosta é do guilhermino. Suas influências são os bons haicaístas. Gostaria de escrever como Onitsura, Issa e Basho; ter o conhecimento do Paulo Franchetti; a pureza de Edson Kenji Iura; a simplicidade de Goga; a amplitude do manejo técnico da Rosa Clement (MARINS, 2007).

Quanto aos “fazedores” de haikai, aqueles que cultivam há anos os mesmos erros e vícios e nunca mudam, além de evitá-los, MARINS (2007) não os cita por não considerá-los haijins. Ele deixa bem claro que “no haikai, cada poeta tem que encontrar o seu caminho, ter o seu modo próprio de realizar o haikai”. Ele vem construindo o jeito dele de escrever. “Quem sabe já nem tenha mais influência” (MARINS, 2007).

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Graciliano RamosGraciliano RamosGraciliano RamosGraciliano Ramos ( A Safra de Tatus)( A Safra de Tatus)( A Safra de Tatus)( A Safra de Tatus)

— Como foi aquele negócio dos tatus que a senhora principiou a semana passada, minha madrinha? Perguntou Das Dores.

O rumor dos bilros esmoreceu e

Cesária levantou os óculos para a afilhada: — Tatus? Que invenção é essa,

menina? Quem falou em tatu? — A senhora, minha madrinha,

respondeu a benzedeira de quebranto. Uns tatus que apareceram lá na fazenda no tempo da riqueza, da lordeza. Como foi?

Cesária encostou a almofada de renda

à parede, guardou os óculos no caritó, acendeu o cachimbo de barro ao candeeiro, chupou o canudo de taquari:

— Ah! Os tatus. Nem me lembrava. Conte a história dos tatus, Alexandre.

— Eu? Exclamou o dono da casa, surpreendido, erguendo-se da rede. Quem deu seu nó que o desate. Você tem cada uma!

Dirigiu-se ao copiar e ficou algum

tempo olhando a lua. — Se os senhores pedirem, ele conta,

murmurou Cesária aos visitantes. Aperte com ele, seu Libório.

Ao cabo de cinco minutos Alexandre

voltou desanuviado, pediu o cachimbo a mulher, regalou-se com duas tragadas:

— Ora muito bem. Restituiu o cachimbo a Cesária e foi

sentar-se na rede. Mestre Gaudêncio curandeiro, seu

Libório cantador, o cego preto Firmino e Das Dores exigiram a história dos tatus, que saiu deste modo.

— Saberão vossemecês que este caso estava completamente esquecido. Cesária tem o mau costume de sapecar umas perguntas em cima da gente, de supetão. Às vezes não sei onde ela quer chegar. Os senhores

compreendem. Um sujeito como eu, passado pelos corrimboques do diabo, deve ter muitas coisas no quengo. Mas essas coisas atrapalham-se: não há memória que segure tudo quanto uma pessoa vê e ouve na vida. Estou errado?

— Está certo, respondeu mestre Gaudêncio. Seu Alexandre fala direitinho um missionário.

— Muito agradecido, prosseguiu o narrador. Isso é bondade. Pois a história de Cesária puxou tinha-se esvaído sem deixar mossa no meu juízo. Só depois de tomar um deforete pude recordar-me dela. Vou dizer o que se deu. Faz vinte e cinco anos. Hem, Cesária? Quase vinte e cinco anos. Como o tempo caminha depressa! Parece que foi ontem. Eu ainda não tinha entrado forte na criação de boi, que me rendeu uma fortuna, já sabem. Ganhava bastante e vivia sem cuidado, na graça de Deus, mas as minhas transações voavam baixo, as arcas não estavam cheias de patacões de ouro e rolos de notas. Comparado ao que fiz depois, aquilo era pinto. Um dia Cesária me perguntou:

— Xandu, porque é que você não aproveita a vazante do açude com uma plantação de mandioca?"

— "Han? Disse eu distraído, sem notar o propósito da mulher. Que plantação?" E ela, interesseira e sabia, a criatura mais arranjada que Nosso Senhor Jesus Cristo botou no mundo:

— "Farinha está pela hora da morte, Xandu. Viaja cinqüenta léguas para chegar aqui, a cuia por cinco mil-réis. Se você fizesse uma plantação de mandioca na vazante do açude, tínhamos farinha de graça."

— "É exato, gritei. Parece que é bom. Vou pensar nisso." E pensei. Ou antes, não pensei. O conselho era tão razoável que, por mais que eu saltasse para um lado e para outro, acabava sempre naquilo: não havia nada melhor que uma plantação de mandioca, porque estávamos em tempo de seca braba, a comida vinha de longe e

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custava os olhos da cara. Íamos ter farinha a dar com o pau. Sem dúvida. E plantei mandioca. Endireitei as cercas, enchi a vazante de mandioca. Cinco mil pés, não, catorze mil pés ou mais. No fim havia trinta mil pés. Nem um canto desocupado. Todos os pedaços de maniva que peguei foram metidos debaixo do chão.

— "Estamos ricos, imaginei. Quantas cuias de farinha darão trinta mil pés de mandioca? Era uma conta que eu não sabia fazer, e acho que ninguém sabe, porque a terra é vária, às vezes rende muito, outras vezes rende pouco, e se o verão apertar, não rende nada. Esses trinta mil pés não renderam, isto é, não renderam mandioca. Renderam coisa diferente, uma esquisitice, pois, se plantamos maniva, não podemos esperar de modo nenhum apanhar cabaças ou abóboras, não é verdade? Só podemos esperar mandioca, que isto é a lei de Deus. A gata dá gato, a vaca dá bezerro e a maniva dá mandioca, sempre foi assim. Mas este mundo, meus amigos, está cheio de trapalhadas e complicações. Atiramos num bicho, matamos outro. E Sinha Terta, que mora aqui perto, na ribanceira, escura e casada com homem escuro, teve esta semana um filhinho de cabelo cor de fogo e olho azul. Há quem diga que sinha Terta não seja séria? Não há. Sinha Terta é um espelho. E por estas redondezas não existe vivente de olho azul e cabelo vermelho. Boto a mão no fogo por sinha Terta e sou capaz de jurar que o menino é do marido dela. Vossemecês estão-se rindo? Não se riam não, meus amigos. Na vida há muito surpresa, e Deus Nosso Senhor tem esses caprichos. Sinha Terta é mulher direita. E as manivas que plantei não deram mandioca. Seu Firmino esta aí fala não fala, com a pergunta na boca, não é seu Firmino? Tenha paciência e escute o resto. Ninguém ignora que plantação em vazante não precisa de inverno. Vieram umas chuvinhas e a roça ficou uma beleza, não havia coisa parecida por aquelas beiradas.

— "Valha-me Deus, Cesária, desabafei. Onde vamos guardar tanta farinha?" — mas estava escrito que não íamos arrumar nem uma prensa. Quando foi chegando o tempo da arranca, as plantas começaram a murchar. Supus que a lagarta estivesse

dando nelas. Engano. Procurei, procurei, e não descobri lagarta.

— "Santa Maria! cismei. A terra é boa, aparece chuva, a lavoura vai para diante e depois desanda. Não entendo. Aqui há feitiço." Passei uns dias acuado, remexendo os miolos e não achei explicação. Tomei aquilo como castigo de Deus, para desconto dos meus pecados. O que é certo, é que a praga continuou: no fim de S. João todas as folhas tinham caído, só restava uma garrancheira preta.

— "Caiporismo, disse comigo. Estamos sem sorte. Vamos ver se conseguimos levar ao fogo uma fornada." Encangalhei um animal, pendurei os caçuás nos cabeçotes, marchei para a vazante. Arranquei um pau de mandioca, e o meu espanto não foi deste mundo. Esperava tamboeira choca, mas, acreditem vossemecês, encontrei uma raiz enorme, pesada, que se pôs a bulir. A bulir, sim senhor. Meti-lhe o facão. Estava oca, só tinha casca. E, por baixo da casca, um tatu-bola enrolado. Arranquei outra vara seca: peguei o segundo tatu. Para encurtar razões, digo aos amigos que passei quinze dias desenterrando tatus. Os caçuás enchiam-se, o cavalo emagreceu de tanto caminhar e Cesária chamou as vizinhas para salgar aquela carne toda. Apanhei uns quarenta milheiros de tatus, porque nos pés de mandioca fornidos moravam às vezes casais, e nos que tinham muitas raízes acomodavam-se famílias inteiras. Bem. O preço do charque na cidade baixou, mas ainda assim apurei alguns contos de réis, muito mais que se tivesse vendido farinha. A princípio não atinei com a causa daquele despotismo e pensei num milagre. É o que sempre faço: quando ignoro a razão das coisas, fecho os olhos e aceito a vontade de Nosso Senhor, especialmente se há vantagem. Mas a curiosidade nunca desaparece do espírito da gente. Passado um mês, comecei a matutar, a falar sozinho, e perdi o sono. Afinal agarrei um cavador, desci a vazante, esburaquei tudo aquilo. Achei a terra favada, como um formigueiro.

E adivinhei por que motivo a bicharia

tinha entupido a minha roça. Fora dali o chão era pedra, cascalho duro que só dava coroa-defrade, quipá e mandacaru. Comida

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nenhuma. Certamente um tatu daquelas bandas cavou passagem para a beira do açude, topou uma raiz de mandioca e resolveu estabelecer-se nela. Explorou os arredores, viu outras raízes, voltou, avisou os amigos e parentes, que se mudaram. Julgo

que não ficou um tatu na caatinga. Com a chegada deles as folhas da plantação murcharam, empreteceram e caíram. Estarei errado, seu Firmino? Pode ser que esteja, mas parece que foi o que se deu.

Antonio Thadeu Antonio Thadeu Antonio Thadeu Antonio Thadeu Wojciechowski Wojciechowski Wojciechowski Wojciechowski

(Poesias)(Poesias)(Poesias)(Poesias)

desenho de Priscila Vieira

VIDAVIDAVIDAVIDA

Um ano a mais

um ano a menos que diferença faz quando já somos mais ou menos

mais suaves mais sábios mais fortes mais justos

e de mais a mais cromossomos um ano a mais

um ano a menos a vida é cais

e lá vão nossos sonhos: barcos pequenos

um ano a mais

um ano a menos lendo os sinais

nos esquecemos e quando nos lembramos

é tarde demais

um ano amais outro adiais

um ano demais outro de menos um ano tanto fez outro tanto faz

um ano como nunca houve outro um ano sem pagar e só levando o troco

um ano que vem um ano que vai

e os mesmos ais mais amenos

TUDO É PARA SEMPRETUDO É PARA SEMPRETUDO É PARA SEMPRETUDO É PARA SEMPRE

.... assim vivia

de um galho até o outro

com tantos frutos quanto sonhar podia

É HOJE!É HOJE!É HOJE!É HOJE!

num dia como hoje

vocês poderiam me homenagear depósitos na conta bancária

prêmio nobel da paz uma pedreira nos fundos de casa um churrascão com muita cerveja

bom, a homenagem é de vocês façam o que bem entenderem

só quero dizer que estou pronto até já me sinto emocionado

um discurso de improviso na manga e a humilde pose para a fotografia

não vejo a hora de partir pro abraço preparem-se para sentir o arrocho

olho no olho e o sorriso na face meu santo é forte e fecha meu corpo mas hoje não, hoje é só homenagens festa do interior, o coração bailando

hoje vai ficar na história

lembrança de jorrar lágrimas coisa pra contar o resto da vida

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hoje eu vou estar espirituoso mais afiado do que nunca

é só começarem as homenagens

DIÁRIO DE BARDODIÁRIO DE BARDODIÁRIO DE BARDODIÁRIO DE BARDO

o verso, livre, se lança ao mar desconhecido

até onde a vista alcança ao encontro do perigo

navegante de mim ruma a outro destino um dia há de assim

tornar-me clandestino

CATARINACATARINACATARINACATARINA

destino quis que eu te quisesse e não importa o que fizesse

amanhecesse sol ou chuva que molhasse

não tem um dia que passe da aurora ao arrebol

sem que eu me lembre quanto nos queremos pra sempre

ainda bem, estamos juntos motivos pra brigar não são muitos

a porta já não tem trancas e o infinito é grande mas não é dois

não deixamos o amor pra depois nem o movimento das ancas

agora é um sentimento de liberdade e o resto é só felicidade

OLHOS PARA A CHUVAOLHOS PARA A CHUVAOLHOS PARA A CHUVAOLHOS PARA A CHUVA

Choveu a noite toda como nunca E eu fiquei tão feliz. Gosto da chuva, Intermitente, oblíqua. A tudo junta E alimenta o alface, o lírio e a uva.

Também os mortos levam uma ducha E matam a imortal sede, que é muita, Mesmo no frio da última espelunca.

Ainda bem, toda flor algum dia murcha,

E o que era esplendor, beleza e luz, Rapidamente some e se soma ao húmus,

Que vai alimentar milhões de bocas.

Agora não são poucas essas gotas, Que caem como dádivas da vida,

Com toda emoção da missão cumprida!

QUANDO EU PENSO NO HAITIQUANDO EU PENSO NO HAITIQUANDO EU PENSO NO HAITIQUANDO EU PENSO NO HAITI

Quando eu penso no Haiti

Despencam casas morro acima Como se ali fosse Hiroshima Ou alguma coisa que eu já vi

Quando eu penso no Haiti A Terra treme de susto Tirando o sono do justo E do não, enterrados ali

Quando eu penso no Haiti Vem a imagem da serra pelada

A mata toda escalpelada Toneladas de carvão a jour d’oui

Quando eu penso no Haiti Eu troco os pés pelas mãos Onde estarão meus irmãos Que eu jamais reconheci?

Quando eu penso no Haiti As bocas estão comendo dentes

E os demônios com seus tridentes Gritam: “O inferno é aqui.”

Quando eu penso no Haiti Zilda Arns está entre os escombros Com o peso do mundo nos ombros

Atlas da dor que nunca senti

Antonio Thadeu Wojcicjowski (1950)

Antonio Thadeu Wojciechowski nasceu em Curitiba, Paraná, no dia 24 de dezembro de 1950. É professor e poeta. Professor de Comunicação e Expressão, Língua Portuguesa e Literatura Brasileira do Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná (1978/1983). Professor de Semiótica e Linguagem Avançada da Sociedade Paranaense de Ensino de Informática (SPEI, 1983-1985). Professor de todos os cursos de aperfeiçoamento em ensino de literatura aos professores de Literatura Portuguesa (Salvador, 1983). Professor da Unioeste - Universidade do Oeste do Paraná, para ministrar curso de atualização cultural aos professores, pró-reitores e diretores dos centros acadêmicos (2000 e 2001).

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Obras: Um grito na cidade cinzenta, Sala 17, Reis

Magros, Thadeu 1, Sangra Cio, Thadeu 2, Meteoro,O Corvo,

Feiticeiro Inventor, Pérolas aos Poukos, Os Catalépticos, O Livro do Tao, Eu, Aliás, Nós, O Amor é Lino, Assim até eu.

Andrey do Amaral Andrey do Amaral Andrey do Amaral Andrey do Amaral (O Escritor em Xeque)(O Escritor em Xeque)(O Escritor em Xeque)(O Escritor em Xeque)

Visando um meio de aproximar

o público do escritor ou escritora, de modo a que não enxerguem apenas assim, mas o homem ou mulher que existe atrás dos livros, estou iniciando hoje entrevistas selecionadas, enviadas a diversos escritores/as, que mostrará ao público leitor que atrás de seus livros, é um ser humano com sentimentos, opiniões, lutas, vitórias e derrotas.

O homem atrás do escritor, o escritor atrás do homem.

A mulher atrás da escritora, a escritora atrás da mulher.

São perguntas um pouco mais

extensas que as normais, para dar uma visão mais geral do escritor desde sua infância até os projetos futuros, passando por dicas aos novos escritores, questionamentos sobre literatura, etc., divididos em tópicos para uma melhor orientação do leitor.

Nessa primeira série, o Singrando Horizontes entrevista o escritor, professor e agente literário Andrey do Amaral, 33, do Distrito Federal.

Andrey do Amaral (1976) é graduado em Letras, com especialização em Língua Portuguesa e em Gestão Cultural. Teve seus livros publicados pelas editoras Best Seller, Autodidata, Ao Livro Técnico e Ciência Moderna. Dedica-se à pesquisa da vida/obra do poeta paraibano Augusto dos Anjos e ao estudo de direitos autorais. É professor de literatura brasileira e agente literário filiado à Câmara Brasileira do Livro (CBL/SP). Dá consultoria a autores, principalmente aos novos que pretendem entrar no mercado editorial. Entre outros, são seus autores agenciados Moacir C Lopes (A Ostra e o

Vento), Marcos Kleine e Roger (Ultraje a Rigor), Carlos Maltz (ex-Engenheiros do Hawaii).

INFÂNCIA E PRIMEIRAS LEITURASINFÂNCIA E PRIMEIRAS LEITURASINFÂNCIA E PRIMEIRAS LEITURASINFÂNCIA E PRIMEIRAS LEITURAS

• Conte um pouco de sua trajetória de vida, • Conte um pouco de sua trajetória de vida, • Conte um pouco de sua trajetória de vida, • Conte um pouco de sua trajetória de vida, onde nasceu, onde cresceu, o que estudou.onde nasceu, onde cresceu, o que estudou.onde nasceu, onde cresceu, o que estudou.onde nasceu, onde cresceu, o que estudou. Nasci, cresci e vivo na Capital Federal. Como aqui há muito militar e professor, o ensino em Brasília se destaca um pouco em relação aos outros Estados. Mesmo no sistema público, a qualidade era bem parecida com as escolas particulares. Lembro-me que haviam muitos projetos literários na escola. O incentivo à leitura era grande. Assim, os alunos tomavam gosto pelos livros.

• Recebeu estímulo na casa da sua infância?• Recebeu estímulo na casa da sua infância?• Recebeu estímulo na casa da sua infância?• Recebeu estímulo na casa da sua infância?

Meus pais são leitores, e acredito que isso me ajudou. Foi um espelho que tive. Dizem que criança copia. Eu copiei o hábito de leitura dos meus pais.

• Quais livros foram marcantes antes de • Quais livros foram marcantes antes de • Quais livros foram marcantes antes de • Quais livros foram marcantes antes de começarcomeçarcomeçarcomeçar a escrever. a escrever. a escrever. a escrever.

Na sexta série, me lembro de uns livros de contos e crônicas divertidas, dos melhores autores da nossa literatura, com o Drummond e Fernando Sabino. Os alunos gostavam muito. Nossa alegria era fazer teatrinho dos contos. Na oitava série, lemos Memórias Póstumas de Brás Cubas. Quando a professora nos disse que era um morto que escreveu aquelas memórias fiquei bastante curioso. Achei o livro difícil, mas o entendi no todo.

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ANDREY DO AMARAL, ESCRITORANDREY DO AMARAL, ESCRITORANDREY DO AMARAL, ESCRITORANDREY DO AMARAL, ESCRITOR

• Fale um pouco sobre sua trajetória • Fale um pouco sobre sua trajetória • Fale um pouco sobre sua trajetória • Fale um pouco sobre sua trajetória literárliterárliterárliterária. Como começou a vida de escritor?ia. Como começou a vida de escritor?ia. Como começou a vida de escritor?ia. Como começou a vida de escritor?

Quando entregava meus textos para os professores de redação, era sempre um problema. Ou eles me elogiavam na frente de todos os outros alunos (e eu morria de vergonha) ou não acreditavam que eu tivesse escrito. Alguns me perguntavam se tinha sido minha mãe que escrevera as redações. Eu negava, mas alguns ainda duvidavam.

• Como foi dar esse salto de leitor pra • Como foi dar esse salto de leitor pra • Como foi dar esse salto de leitor pra • Como foi dar esse salto de leitor pra escritor?escritor?escritor?escritor?

Parece que escrever é uma necessidade para quem lê, independentemente se vai publicar ou não. Como sempre lia as crônicas de humor na escola, escrevi uma proposta de livro para uma editora paulista. Em 1999, publicamos Como Enlouquecer Sua Sogra. O livro foi um sucesso e vende até hoje.

• Tem Home Page própria (não são • Tem Home Page própria (não são • Tem Home Page própria (não são • Tem Home Page própria (não são consideradas outras que simplesmeconsideradas outras que simplesmeconsideradas outras que simplesmeconsideradas outras que simplesmente nte nte nte tenham trabalhos seus)?tenham trabalhos seus)?tenham trabalhos seus)?tenham trabalhos seus)?

Acho que todo autor tem que se profissionalizar e tratar sua carreira como se fosse uma empresa, e seus livros como produtos comerciais. Quem não tem dinheiro para fazer um site, que faça um blog ou similares, mas o autor deve estar na rede. Minha página é http://www.andreydoamaral.com/ • Você encontra muitas dificuldades em viver • Você encontra muitas dificuldades em viver • Você encontra muitas dificuldades em viver • Você encontra muitas dificuldades em viver de literatura em um país que está bem longe de literatura em um país que está bem longe de literatura em um país que está bem longe de literatura em um país que está bem longe de ser um apreciador de livros?de ser um apreciador de livros?de ser um apreciador de livros?de ser um apreciador de livros?

Poucos são os autores hoje que vivem de literatura. Nosso consumo ainda é baixo se compararmos a autores americanos, por exemplo.

LIVROS E PRÊMIOSLIVROS E PRÊMIOSLIVROS E PRÊMIOSLIVROS E PRÊMIOS

• Quais foram os livros escritos • Quais foram os livros escritos • Quais foram os livros escritos • Quais foram os livros escritos por vocêpor vocêpor vocêpor você????

Mercado Editorial – Guia para Autores (2009)

Novo (e Divertido) Acordo Ortográfico (2009) O Máximo e as Máximas de Machado de Assis (2008) Cuidado eu te amo – Desautoajuda do Amor (2002) Como Enlouquecer Sua Sogra (1999) • Dentre os • Dentre os • Dentre os • Dentre os seus seus seus seus livros, qual te chamou mais livros, qual te chamou mais livros, qual te chamou mais livros, qual te chamou mais atenção? E por quê?atenção? E por quê?atenção? E por quê?atenção? E por quê? Estou no mercado desde 1999 como autor. Meus livros foram todos publicados por editoras comerciais e todos, graças a Deus, tiveram ótima vendagem. Em 2009, lançamos o livro Mercado Editorial – Guia para Autores, relatando um pouco o nosso trabalho como agente literário e a maneira correta de o escritor enviar seu original para as editoras. Esse trabalho é um agradecimento por tudo aquilo que conquistei com o livro. • Que acha de sua obra?• Que acha de sua obra?• Que acha de sua obra?• Que acha de sua obra? Minha obra é eclética. Escrevo humor e ensaio. Também tenho contos e desenvolvo um romance sobre a vida do poeta paraibano Augusto dos Anjos. Na hora certa publicarei ficção. • Qual a sua opinião a respeito da Internet? • Qual a sua opinião a respeito da Internet? • Qual a sua opinião a respeito da Internet? • Qual a sua opinião a respeito da Internet? A seu ver, ela tem contribuído para a difusão A seu ver, ela tem contribuído para a difusão A seu ver, ela tem contribuído para a difusão A seu ver, ela tem contribuído para a difusão do seu trabalho?do seu trabalho?do seu trabalho?do seu trabalho? A internet é uma excelente forma de divulgação. Encurta distâncias. Encontramos novos leitores e os leitores nos encontram. Os autores devem aprender a usar mais a internet a favor de suas obras. • Tem prêmios literários?• Tem prêmios literários?• Tem prêmios literários?• Tem prêmios literários? Prêmio Biblioteca Nacional (2002) por meu ensaio sobre Augusto dos Anjos e o Pontos de Leitura (2008) pelo Ministério da Cultura, entre outros mais regionais. CRIAÇÃO LITERÁRIACRIAÇÃO LITERÁRIACRIAÇÃO LITERÁRIACRIAÇÃO LITERÁRIA • Você projeta os seus livros? Como é que • Você projeta os seus livros? Como é que • Você projeta os seus livros? Como é que • Você projeta os seus livros? Como é que você os concebe?você os concebe?você os concebe?você os concebe? Seja para mim ou para meus autores

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agenciados, eu penso no livro como um produto que tem que dar lucro, sem perder a qualidade. E qualidade não é só aquele romance profundo e psicológico. Há qualidade em livros de humor, livros engraçados. • Você acredita que para ser escritor basta • Você acredita que para ser escritor basta • Você acredita que para ser escritor basta • Você acredita que para ser escritor basta somente exercitar a escrita ou vocação é somente exercitar a escrita ou vocação é somente exercitar a escrita ou vocação é somente exercitar a escrita ou vocação é essencial?essencial?essencial?essencial? Acredito na vocação. Não sou muito fã de escolas para escritores. De qualquer forma, exercício ajuda sim a melhorar o texto. • Como surge o momento de escrever um • Como surge o momento de escrever um • Como surge o momento de escrever um • Como surge o momento de escrever um livro? livro? livro? livro? Penso num projeto e depois desenvolvo cada parte desse projeto. Ofereço o projeto às editoras, vislumbrando o lucro que aquela obra pode dar, além do interesse que o leitor terá com o livro. • Quanto tempo você leva escrevendo um • Quanto tempo você leva escrevendo um • Quanto tempo você leva escrevendo um • Quanto tempo você leva escrevendo um livro?livro?livro?livro? Não penso no tempo. Penso que o livro deve estar simplesmente pronto quando tem que estar. Já terminei livros com seis meses e ainda não terminei meu ensaio-biográfico sobre Augusto dos Anjos, o qual está me tomando anos (anos prazerosos). • No processo de formação do escritor é • No processo de formação do escritor é • No processo de formação do escritor é • No processo de formação do escritor é preciso que ele leia porcaria? preciso que ele leia porcaria? preciso que ele leia porcaria? preciso que ele leia porcaria? O que é porcaria? Há críticos que já julgaram de “porcaria” livros de Machado de Assis, de Júlio Ribeiro. Por isso, é que eu penso que o escritor deve ter uma intimidade muito grande com seu texto, e não ter pressa para publicar. Já chamaram meu livro Cuidado Eu Te Amo de porcaria, mas o público-alvo dele adora. Escrevi o Cuidado Eu Te Amo para adolescentes. É claro que se um doutor em literatura começar a ler este livro não vai gostar. São públicos diferentes. O ESCRITOR E A LITERATURAO ESCRITOR E A LITERATURAO ESCRITOR E A LITERATURAO ESCRITOR E A LITERATURA • Mas existe uma constelação de escritores • Mas existe uma constelação de escritores • Mas existe uma constelação de escritores • Mas existe uma constelação de escritores que nos é desconhecida. Para nós, a quem que nos é desconhecida. Para nós, a quem que nos é desconhecida. Para nós, a quem que nos é desconhecida. Para nós, a quem

chega apenas o que a mídia divulga, chega apenas o que a mídia divulga, chega apenas o que a mídia divulga, chega apenas o que a mídia divulga, que que que que autores são importantes descobrir?autores são importantes descobrir?autores são importantes descobrir?autores são importantes descobrir? É por isso que eu digo que o autor deve tratar o seu trabalho como se fosse uma empresa, detalhando o público-alvo e as estratégias de venda. Imagine montar uma loja de sapatos finos num bairro onde ainda não há pavimentação. Quem vai querer sujar os sapatos novos na lama? Ninguém. O escritor deve focar sua obra no público-alvo. Até hoje tem romancista que envia seu original para editora que só publica livro técnico! O autor deve pensar para se tornar conhecido, ou relativamente conhecido. Quem quer fama vai para o Big Brother; quem quer ser conhecido pelos seus leitores que foque no seu público-alvo. • Na sua opinião, que livro ou livros da • Na sua opinião, que livro ou livros da • Na sua opinião, que livro ou livros da • Na sua opinião, que livro ou livros da literatura da língua portuguesa deveriam ser literatura da língua portuguesa deveriam ser literatura da língua portuguesa deveriam ser literatura da língua portuguesa deveriam ser leitura obrigatória?leitura obrigatória?leitura obrigatória?leitura obrigatória? Quando eu dava aula de literatura, discutia muito esse termo com meus colegas professores. A leitura não pode ser obrigatória, deve ser sugerida. Obrigatório de ser o empenho estatal em dar condições aos professores para que desenvolvam bons projetos de leitura em sala de aula. • Qual o papel do escritor na sociedade?• Qual o papel do escritor na sociedade?• Qual o papel do escritor na sociedade?• Qual o papel do escritor na sociedade? Entretenimento e informação. Provocar reflexão nas pessoas, ajudar a pensar, provocar riso, emocionar. Quem lê o romance Maria de Cada Porto, de Moacir C. Lopes não tem como não chorar. Quem não se emociona com o Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa? • Há lugar para a poesia em nossos tempos?• Há lugar para a poesia em nossos tempos?• Há lugar para a poesia em nossos tempos?• Há lugar para a poesia em nossos tempos? Só a poesia é que nos alivia desse mundo cruel. Eu amo os poetas. A PESSOA POR TRÁS DO ESCRITORA PESSOA POR TRÁS DO ESCRITORA PESSOA POR TRÁS DO ESCRITORA PESSOA POR TRÁS DO ESCRITOR • O que • O que • O que • O que te te te te choca hoje em dia?choca hoje em dia?choca hoje em dia?choca hoje em dia? Como ser humano está cada vez mais violento. Só a poesia salva!

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• O que lê hoje?• O que lê hoje?• O que lê hoje?• O que lê hoje? • Como faço agenciamento literário, leio de tudo: romance, conto, poesia, crônica, livros técnicos... Particularmente, gosto de uma boa história. Sempre releio os clássicos realistas e naturalistas. • Você possui algum projeto que pretende • Você possui algum projeto que pretende • Você possui algum projeto que pretende • Você possui algum projeto que pretende ainda desenvolver?ainda desenvolver?ainda desenvolver?ainda desenvolver? Quero fazer alguma coisa em comunidades carentes ou cujo acesso ao livro ainda seja difícil. CONSELHOS AOCONSELHOS AOCONSELHOS AOCONSELHOS AO NOVO NOVO NOVO NOVO ESCRITOR ESCRITOR ESCRITOR ESCRITOR • Que conselho daria a uma pessoa que • Que conselho daria a uma pessoa que • Que conselho daria a uma pessoa que • Que conselho daria a uma pessoa que começasse agora a escrever ?começasse agora a escrever ?começasse agora a escrever ?começasse agora a escrever ? De tanto me perguntarem isso escrevi o Mercado Editorial – Guia para Autores. Os melhores conselhos estão lá, inclusive com

os contatos dos melhores agentes literários do mundo. • O que é preciso para ser um bom escritor?• O que é preciso para ser um bom escritor?• O que é preciso para ser um bom escritor?• O que é preciso para ser um bom escritor? O bom romancista deve ler muitos e muitos romances. O cronista deve ler muitas e muitas crônicas. O poeta deve sempre ler poesia. O autor técnico deve esgotar a leitura em todas as obras do seu ramo. É isso. A leitura é que faz um bom autor. E para encerrar a entrevistaE para encerrar a entrevistaE para encerrar a entrevistaE para encerrar a entrevista Se Deus parasse na Se Deus parasse na Se Deus parasse na Se Deus parasse na tua frente e lhe tua frente e lhe tua frente e lhe tua frente e lhe concedesse três desejos, quais seriam?concedesse três desejos, quais seriam?concedesse três desejos, quais seriam?concedesse três desejos, quais seriam? 1) Que as pessoas já nascessem com a vontade de ler; 2) Que houvesse mais livrarias nas ruas e 3) Que os livros tivessem um custo menos para que todos lessem. NOTA:NOTA:NOTA:NOTA: Veja sobre Veja sobre Veja sobre Veja sobre o livro o livro o livro o livro Mercado EditorMercado EditorMercado EditorMercado Editorial ial ial ial –––– Guia para Guia para Guia para Guia para Autores, na Estante de Livros.Autores, na Estante de Livros.Autores, na Estante de Livros.Autores, na Estante de Livros.

Delasnieve Daspet Delasnieve Daspet Delasnieve Daspet Delasnieve Daspet

(Poesias)(Poesias)(Poesias)(Poesias)

MELANCOLIA...MELANCOLIA...MELANCOLIA...MELANCOLIA...

Sentada à janela, Livro nas mãos,

Folha a folha virava. Em voz alta, lia.

Páginas e páginas à minha frente,

Sem prestar qualquer atenção, As palavras surgiam como sombras!

Não entendia nada...

Buscava nem ouvir o som, Perdendo-me na saudade...

A lembrança embarga minha voz,

Lágrimas amargas de fel Acentuam a melancolia

De mais um dia.

BONECOS DE PANOBONECOS DE PANOBONECOS DE PANOBONECOS DE PANO

Eis-me, de novo, matutando sobre a vida... Vejo tanta banalidade:

Se desdobram para ver qual o pior, O governo, políticos, povo, sociedade.

De repente é como se nada valesse a pena.

Questiono se a própria vida Vale algo?

São tantos os desmandos que Acho que nada vale absolutamente nada!

O homem estendido no chão, ensangüentado,

a árvore cortada pela raiz, dobrados em si,

como bonecos de pano, me dá a exata noção da nossa precariedade!

Uma bala perdida;

Um carro desgovernado; Adolescentes bêbados;

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Governo sem rota, sem prumo; Ladrões saindo pela ladrão...

Corram.... a policia vem chegando!

Fatos assim Nos mostram no dia a dia

A nossa não serventia.

E como bonecos de pano, somos jogados, ceifados,

quando alguém supõe que já não servimos.

A nossa revelia nascemos. Não temos escolha.

Num momento supremos somos gerados, crescemos e morremos como árvores

que tombam cortadas, jogadas, queimadas.

Eis-nos no limbo, ao léu. No céu aberto em exíguo espaço

Reclamando nossos momentos tão curtos, Que acabam em espasmos, No surdo barulho da morte...

Descartados sem o menor cuidado,

Sem piedade, Sem ninguém,

Amassado, amorfo... Morto - já não vota nem escolhe,

Pobre humano!

PARA UM VIOLÃOPARA UM VIOLÃOPARA UM VIOLÃOPARA UM VIOLÃO

Jaz na parede, encostado, aquele que foi testemunha

Dos meus loucos amores juvenis, dos meus dissabores, de minhas desilusões,

dos meus sonhos mortos, do nó na garganta que sufoca, do cotovelo que se transforma

em dor no peito e mata.

Jaz, abandonado, seis cordas que dedilhei,

no abraço colado ao corpo, de manhã, a tarde,a noite, nas madrugadas solitas,

da vida que escolhi, quantas lágrimas soluçamos

em tuas notas.

Jaz, meu companheiro, solitário e acabrunhado,

num canto jogado, meus dedos já não tão ágeis,

já não te fazem vibrar como antes.

Fizemos tantas serestas,

polcas, guaranás, chamamés, fados, em tuas cordas pungentes todos os sonhos que perdi.

Meu violão,

meu amante, companheiro,

vamos voltar à boêmia com novas melodias,

cruzar com a lua altaneira, versejando c'as estrelas,

beber do orvalho da madrugada na perfumada brisa das campinas,

novos sonhos, novas saudades, agora que o tempo já vai ficando

tão longo.... e tão tarde...

E eu, - me findo em canção sem melodia, nas enluaradas

noites deste sertão.

DIVDIVDIVDIVAGANDO À BEIRA MAR...AGANDO À BEIRA MAR...AGANDO À BEIRA MAR...AGANDO À BEIRA MAR...

Quero falar de uma exceção variável. Exceção que agrega infinitos valores

esquecidos ao longo da vida...

Corremos atrás de uma aclamada felicidade traçada por padrões estabelecidos quase sempre sem sucesso pois

criamos um ideal fechado por modelo.

Antes de mais nada é preciso separar a essência e a aparência das coisas da

sensação localizada no observar.

Afinal - o que é a vida a não ser um suceder constante do tempo

que nos contempla com o refugio da eternidade?

Já nascemos com prazo certo,

só a morte pára o tempo, que parece imponderável no azul

do céu e do mar.

Tenho caminhado célere ao encontro do meu infinito.

A cada dia chego mais perto. A modernidade se encarrega

de fazer o nosso encontro mais cedo!

ONDAS NO TEMPOONDAS NO TEMPOONDAS NO TEMPOONDAS NO TEMPO

Como uma pedra Que se joga no rio

Venho formando ondas no tempo.

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Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.2 – Paraná, fevereiro de 2010.

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Nada importa. Onde eu vá

Sempre estarei sozinha.

Já não pertenço a lugar algum. Tudo que me resta são sonhos.

Agora é tarde para mudar, - Está tudo feito! -

A chuva continua caindo.

Chuva fina e constante. Olho a chuva,

Não suporto mais vê-la cair...

Findou o inverno E a primavera com seus brotos e flores

Já surge nas árvores, Na curva dos dias de sol.

Repouso minha poesia e meu canto

Numa quimera! Caminho ao teu encontro,

Beijarei tua boca cheia de palavras, E a saudade líquida fluirá rolando face afora.

Delasnieve Daspet (1950)

Delasnieve Miranda Daspet de Souza (Porto Murtinho, 12 de setembro de 1950) é advogada, poetisa brasileira. É ativista das causas da Paz, sociais, humanas, ambientais e culturais

Casada e mãe de dois filhos, Delasnieve Daspet, é poeta, Ativista da Biopoesia, cronista, ensaísta, palestrante, professora, educadora, atuante em várias lutas sociais, principalmente nos trabalhos que desenvolve com menores carentes.

Premiadíssima, Daspet também é representante atuante de várias associações e academias literárias e culturais, nos ambitos nacionais e internacionais, tais como:

– Peace Ambassador in Universal Ambassador Peace Circle - Genebra – Suíça;

– Sub-Secretária Geral para as Américas e Embaixadora para o Brasil de Poetas del Mundo, Santiago – Chile;

– Ambassador for Peace – Universal Peace Federation on the International Federation for Word Peace – 2007;

– World Poets Society (W.P.S.); – Comissão de Direitos Humanos da OAB/MS

(presidente) - Conselheira Estadual de Cultura/MS - Conselheira Municipal de Cultura Campo

Grande/MS

Premios: – Unesco Prizes World Poetry; – Médaille D'Argent 2008 - Arts, Sciences, Lettres

- pela Société Académique d´Éducation et d´Encouragement, como Poeta e Escritora, Paris-França;

- Premio da Business Professional Women International BPW – Campo Grande - MS: Troféu BPW Mulher-2007;

– Super Cap de Ouro - 2008;

Já publicou e participou de 41 ( quarenta e um ) livros e coletâneas, nacionais e internacionais.

Mantém há oito anos, um grupo de Poetas e Poesias com 180 (cento e oitenta) associados (poetas/escritores de todo o Brasil), e, em outros países da América do Sul e da Europa, tendo como final objetivo, procurar, estimular, estudar e desenvolver as várias vertentes da Poesia.

Idealizadora do tão conhecido e prestigiado festival de poesias "Tertúlia Poética Luna& Amigos", que realiza todos os anos.

Frequentemente requisitada, desenvolve palestras pelo Brasil e assiduamente no Mato Grosso do Sul, onde aborda temas referentes a Cultura da Paz, dos Direitos Humanos e Poesia - Biopoesia – e a integração pela Palavra.

No teatro, Delasnieve Daspet, teve poesias suas adaptadas para as peças teatrais "Romeu e Julieta" e "Sonho de uma noite de verão" (ambas de Shakespeare) em Cabo Verde - África, pela Cena Aberta Companhia de Teatro

Na BIOPOESIA – Poesia da Vida, emprega a poesia nas importantes questões que põem em perigo a vida de cada ser vivo, como o aquecimento global da Terra, as guerras expansionistas, a poluição ambiental.

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Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.2 – Paraná, fevereiro de 2010.

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Conceituada pela expressão peculiar, tornou-se renomada internacionalmente, oportunidade em destacarmos seu extenso prestígio, onde já fora traduzida para o ingles, alemão, espanhol e frances.

Como ativista da Paz, celebra com a união de todas as raças, credos, gênero, a proposta da criação de uma Escola de Paz – onde se ensinem aos homens que o desenvolvimento não se realiza nem no vazio nem no abstrato. Inscreve-se num determinado contexto social e responde a condições sociais especificas.

Publicações

* Por um minuto ou para sempre; * Em Preto e Branco; * Pazeando.

Livros que organizou

* Tertúlia na primavera; * Tertúlia na Era de Aquário; * Poetas del Mundo Volume I; * Poetas del Mundo Volume II.

Coletâneas

* Poesia só poesia; * Tempo de poesia; * Seleção de poetas notívagos 2001; * Nas Asas da Paz; * Poesias do Brasil; * Paternon Século XXI; * Casa do Poeta Brasileiro em Salvador; * Gigantes; * Bento; * Poesia em América; * Poetas na Bienal do RJ; * Primavera dos Ipès; * 10 Rostos da Poesia Lusófona na Bienal do RJ; * 10 Rostos da Poesia Lusófona na Bienal de SP; * O Poeta Fala - 2; * Casa do Poeta Rio-Grandense; * REVIJUR; * Conceição do Almeida.

E-Books

* Luna&Amigos - Volume I; Volume II; Volume III; Volume IV; Voilume V, Volume VI. * Coletâneas de Poesias de Natal * Delasnieve Daspet - Poesias * In Limine * Um Novo Amanhecer * Buque de Poesias * Estão Voltando as Flores * Antologia Arquitetura Literária * Participação Especial na Antologia Natal 2008 dos Poetas em Foco e Poetas Del Mundo, editada pela EUNANET

Academia Academia Academia Academia Pernambucana Pernambucana Pernambucana Pernambucana

de Letrasde Letrasde Letrasde Letras

A Academia Pernambucana de Letras

foi fundada em 26 de janeiro de 1901, no Recife, por Joaquim Maria Carneiro Vilela e outros escritores pernambucanos da época, com um total de 20 cadeiras tendo como objetivo "promover a defesa dos valores culturais do Estado, especialmente no campo da criação literária".

É uma instituição civil, de utilidade pública e foi a terceira academia de letras fundada no Brasil. A primeira foi a do Ceará, criada em 1894, três anos antes da Academia Brasileira de Letras (1897).

No início, as reuniões da APL eram realizadas em salas do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano. Em 1966, passou a funcionar em sede própria, num casarão na Av. Rui Barbosa, n. 1596, que pertenceu ao Barão Rodrigues Mendes, João José Rodrigues Mendes um comerciante português. O Governo do Estado de Pernambuco, na época do então governador

Paulo Guerra, desapropriou o imóvel, doando-o à Academia, através do Decreto n.1.184, de 14 de janeiro de 19666. O edifício-sede da Academia é conhecido como a Casa de Carneiro Vilella.

Os móveis e as obras de arte foram doados, em sua maioria, pela sociedade pernambucana, incluindo doações do arcebispo Dom Helder Câmara.

Em 1911, foi aumentado o número de acadêmicos de vinte para trinta e, em 1960, passou para quarenta cadeiras, por sugestão do acadêmico Mauro Mota. Compõe-se hoje de quarenta membros, podendo ter o mesmo número de sócios correspondentes, residentes em outros Estados ou no Exterior.

Os acadêmicos não usam o fardão, como na Academia Brasileira de Letras. O fardão foi substituído por um colar dourado, com medalhão distintivo.

A APL possui uma biblioteca, um auditório e edita a Revista da Academia

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Pernambucana de Letras, que apesar de ter uma periodicidade irregular, é publicada desde 1901. Promove e estimula iniciativas de caráter cultural, concede prêmios literários, medalhas, troféus e títulos honoríficos, realiza cursos, reuniões e simpósios destinados ao estudo, pesquisa e discussões sobre literatura, especialmente a pernambucana.

Atualmente é presidida pelo Acadêmico Waldenio Porto (Cadeira nº 15).

Os patronos das cadeiras são pernambucanos, com exceção de Bento Teixeira, da Cadeira nº 1, que se declarou português.

Podemos citar alguns Acadêmicos como:

Amílcar Dória Matos - Nasceu no Recife, a 24 de janeiro de 1938. É bacharel em Direito pela Universidade de Pernambuco, e possui o diploma de Mestrado em Direito Comparado da Southern Methodist University, do Texas, Estados Unidos. Jornalista profissional, tendo trabalhado em jornais como O Estado de São Paulo e Jornal do Commercio, recebeu diversos prêmios pelos seus trabalhos na área de ficção. Entre eles: Prêmio Recife de Humanidades e Prêmio José Conte. No terreno de ficção, suas principais obras são: A Morte do Papa, A Trama da Inocência, Os Olhos da Insônia, Os Doze Caminhos, Cartas ao Espelho. Nos últimos anos, começou a se dedicar também à poesia, com o lançamento de dois livros de poemas.

Ariano Suassuna - Nasceu em João Pessoa, na Paraíba, em 16 de junho de 1927. É advogado, professor, teatrólogo e romancista. É o idealizador do Movimento Armorial, interessado no desenvolvimento e no conhecimento das formas de expressão populares tradicionais. É também acadêmico da Academia Brasileira de Letras. Entre as suas principais obras estão: Romance da Pedra do Reino, Auto da Compadecida, O Santo e a Porca, Farsa da Boa Preguiça, O Rico Avarento e O Homem da Vaca e o Poder da Fortuna. O filme O Auto da Compadecida, baseado no seu livro, tornou-se a maior bilheteria da história do cinema nacional.

Cláudio Aguiar - Nasceu a 3 de outubro de 1944, em

Paranga, CE. Formado em Direito, é também Doutor pela Universidade de Salamanca, na Espanha. Entre suas principais obras, estão: Os Espanhóis no Brasil, Franklin Távora e Seu Tempo, Suplício de Frei Caneca e Caldeirão. Autor de inúmeros ensaios e romances, atua também como dramaturgo. Para 2001, espera a montagem de sua adaptação do livro A Emparedada da Rua Nova, de Carneiro Vilela, que realizou para o teatro.

Flavio Chaves - Pernambucano, nascido em Carpina, a 17 de outubro de 1958, onde fez os seus estudos primários e secundários, com passagem pelo seminário Salesiano. Iniciou sua carreira literária com o livro de poesia Digitais de um Coração, em 1983. E tem como suas principais obras os livros Poemas de Sal e Sol, Aragem do Subterrâneo, Território das Lembranças e Aragem do Subterrâneo. Idealizou e organizou no Recife, junto à Fundarpe e UNICAP, a I Caminhada Poética Brasileira. É filiado à União Brasileira de Escritores, UBE - Secção Pernambuco, exercendo o cargo de presidente nos biênios 95/96, 97/98, tendo sido reeleito novamente em 99/2000.

Francisco Bandeira de Melo - Nasceu no Recife, a 29 de abril de 1936. Formou-se em Direito pela UFPE e trabalhou, nos anos 50, como jornalista do Jornal do Commercio. No mesmo veículo, desde 91, escreve crônicas aos domingos. Foi assessor da Delegação do Brasil junto a ONU, em 63, quando nesse período colaborou como correspondente para publicações na revista Manchete. Exerceu os cargos de presidente da Empetur e Secretário de Cultura, Turismo e Esportes do Estado de Pernambuco. Entre suas principais obras estão Pássaro Narciso, Sol Amargo e o recente Baú de Espelhos, coletânea com poemas novos e antigos.

Jarbas Maranhão - Nasceu em Nazaré da Mata, a 22 de janeiro de 1916. É formado em Direito pela UFPE. Participou da fundação de numerosas entidades técnicas e culturais, entre elas o Instituto Rui Barbosa, de São Paulo. Recebeu medalhas de mérito e comendas por instituições culturais e órgãos do poder público, entre as quais a Comenda da Ordem dos Guararapes, a Comenda da Ordem do Capibaribe e a Comenda da Ordem Camoniana. É Cidadão Benemérito do Estado do Rio de Janeiro. Tem mais

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de 30 livros publicados sobre temas jurídicos, políticos ou literários.

Lucila Nogueira - Carioca, nascida a 30 de março de 1950, radicou-se no Recife no mesmo ano. É poeta, crítica, tradutora, professora de literatura portuguesa e brasileira, língua portuguesa e teoria da literatura do Departamento de Letras da UFPE. Seus poemas já foram traduzidos para o inglês, espanhol, francês e alemão. Tem como seus principais trabalhos Peito Aberto, Livro do Desencanto, Ilaiana, Zingamares, Imilce, todos eles de poesia. Para 2001, espera a publicação do livro Amaya, pela editora portuguesa Arion e a sua primeira coletânea de contos.

Luiz Marinho - Nasceu em Timbaúba, PE, a 8 de maio de 1926. Dividiu sua formação intelectual entre sua cidade natal e Recife. Na prática, teve sua vida profissional ligada ao trabalho na Caixa Econômica Federal. É considerado um dos maiores nomes da dramaturgia pernambucana, sendo o autor de Um Sábado em 30, uma das peças de maior sucesso do Estado, entre outras como A Incelença e Viva o Cordão Encarnado, esta última ganhadora do "Prêmio Molière" Pertence ainda à União Brasileira de Escritores - Seção Pernambuco.

Maria do Carmo Barreto Campello de Melo - Nasceu no Recife, a 21 de julho de 1924. Passou parte da infância no Rio de Janeiro. Jornalista profissional, atualmente está aposentada como técnica de Comunicação Social da Sudene. Com diploma de bacharela em Letras Clássicas e licenciada na mesma disciplina, tem cursos de pós-graduação e de aperfeiçoamento em literatura e língua portuguesas pela UFPE. Foi colaboradora por três anos do Jornal do Commercio, do Recife, e realizou diversas palestras sobre literatura e condição feminina. Atuou no Magistério como professora de latim, português e literatura brasileira e portuguesa. Suas principais obras são: Música do Silêncio - I e II, Ser em Trânsito, Miradouro, e Retrato do Abstrato.

Maria do Carmo Tavares de Miranda - Nasceu em Vitória de Santo Antão, no dia 6 de agosto de 1926. É bacharela e Licenciada em Letras Clássicas, bacharela em Filosofia pela UFPE, doutora em Filosofia pela Sorbonne,

na França e doutora e docente-livre em filosofia pela UFPE. Foi diretora-geral do Seminário de Tropicologia da Fundação Joaquim Nabuco, pesquisadora efetiva de centros internacionais de pesquisa e membro titular da Academia Internacional de Filosofia de Arte e da Academia Brasileira de Filosofia. Entre os seus principais trabalhos estão: Pedagogia do Tempo e da História, Educação no Brasil, Os Franciscanos e a Formação do Brasil e tradução, introdução e anotações de Da Experiência do Pensar, de Martin Heidegger.

Milton Lins - Nasceu no Cabo, em 20 de julho de 1927. Fez o curso primário com professoras particulares em Recife. Em 1947, ingressou na Faculdade de Medicina. Estagiou no Hospital das Clínicas de São Paulo, em cirurgia torácica. Em 1963, ganhou bolsa de estudos do Governo da França, estagiando em Paris, no Serviço do Prof. Charles Dubost. Fez estágio de atualização no Hospital Metodista de Houston e no Texas Heart Institute, nos Estados Unidos. Entre suas principais obras estão Livro Preto, Prestações de Contos, Recontando Histórias, O Sino Escarlate e, em 1988, traduziu toda a poesia rimada e metrificada de Arthur Rimbaud. Para 2001, prepara mais dois volumes de tradução de autores franceses e ingleses.

Pelópidas Soares - Nasceu em Catende, em 27 de março de 1922. Em sua cidade, fundou colégios, clubes culturais e recreativos, bibliotecas, jornais e revistas, ao mesmo tempo que publicava artigos e poemas em jornais do interior e da capital. Tem vários poemas traduzidos para o espanhol. É também autor de teatro de bonecos, e suas peças O Boato e O Porre foram representadas por várias cidades do Estado. Entre os prêmios, recebeu o troféu Cultura Viva de Pernambuco, pela FUNDARPE, e o título de sócio-honorário da Sociedade Brasileira de Médicos e Escritores - Seção Pernambuco.

Waldemar Lopes - Nasceu em Periperi, 1 de fevereiro de 1911. Sua formação e vida intelectual foi realizada entre Pernambuco e Rio de Janeiro. Serviu à Organização dos Estados Americanos, de 1954 a 1976, como diretor-adjunto e diretor de seu escritório no Brasil. Pertence a várias instituições técnicas e culturais, tanto no Brasil quando no Exterior. Recebeu vários prêmios literários no

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terreno da poesia. Entre suas principais obras estão: Legenda, Os Pássaros da Noite e Jogo Inocente.

Waldenio Porto - Nasceu em Caruaru, em 29 de junho de 1935, onde fez seus estudos primários e secundários. Na mesma cidade, colaborou com o jornal A Vanguarda. No Recife, formou-se em medicina e fez seu curso de pós-graduação em cirurgia no serviço do Professor Fernando Paulino, no Rio de Janeiro. Faz parte da Sociedade Brasileira de Médicos e Escritores (SOBRAMES). Entre suas principais obras estão: As Vinhas da Esperança e Quando se Cobrem de Verde as Baraúnas. Nasceu em Caruaru, em 29 de junho de 1935, onde fez seus estudos primários e secundários. Na mesma cidade, colaborou com o jornal A Vanguarda. No Recife, formou-se em medicina e fez seu curso de pós-graduação em cirurgia no serviço do Professor Fernando Paulino, no Rio de Janeiro. Faz parte da Sociedade Brasileira de Médicos e Escritores

(SOBRAMES). Entre suas principais obras estão: As Vinhas da Esperança e Quando se Cobrem de Verde as Baraúnas.

A Academia distribui prêmios literários

regularmente, em edições anuais, em diversas categorias:

Prêmio Othon Bezerra de Mello; Prêmio Pereira da Costa); Prêmio Faria Neves Sobrinho; Prêmio Geraldo de Andrade; Prêmio Leda Carvalho; Prêmio Gervásio Fioravanti (Poesia); Prêmio Vânia Souto de Carvalho (Ensaio); Prêmio Nanie Siqueira Santos (Poesia – não inédito); Prêmio Dulce Chacon (Livro de autora pernambucana); Prêmio Amaro de Lyra e César (Poesia); Prêmio Antônio de Brito Alves (Ensaio); Prêmio Edmir Domingues (Poesia); Prêmio Leonor Carolina Corrêa de Oliveira (História de Condado e Goiana); Prêmio Amaro Quintas (História de Pernambuco); Prêmio Roval de Contos.

Poesias sem Poesias sem Poesias sem Poesias sem FronteirasFronteirasFronteirasFronteiras

Walt WhitmanWalt WhitmanWalt WhitmanWalt Whitman (E(E(E(EUA, 1819UA, 1819UA, 1819UA, 1819----1892)1892)1892)1892)

DO INQUIETO OCEANO DA MULTIDÃODO INQUIETO OCEANO DA MULTIDÃODO INQUIETO OCEANO DA MULTIDÃODO INQUIETO OCEANO DA MULTIDÃO

Do inquieto oceano da multidão veio a mim uma gota gentilmente

suspirando:

- Eu te amo, há longo tempo fiz uma extensa caminhada apenas

para te olhar, tocar-te, pois não podia morrer

sem te olhar uma vez antes, com o meu temor de perder-te depois.

- Agora nos encontramos e olhamos, estamos salvos,

retorne em paz ao oceano, meu amor, também sou parte do oceano, meu amor,

não estamos assim tão separados, olhe a imensa curvatura,

a coesão de tudo tão perfeito! Quanto a mim e a você,

separa-nos o mar irresistível levando-nos algum tempo afastados,

embora não possa afastar-nos sempre: não fique impaciente - um breve espaço –

e fique certa de que eu saúdo o ar, a terra e o oceano,

todos os dias ao pôr-do-sol por sua amada causa, meu amor.

Jean Richepin Jean Richepin Jean Richepin Jean Richepin (Argélia, 1849(Argélia, 1849(Argélia, 1849(Argélia, 1849----1926)1926)1926)1926)

TUAS PALAVRASTUAS PALAVRASTUAS PALAVRASTUAS PALAVRAS

Tuas palavras têm melodias divinas,

Acordes de cristal, pianíssimo, vibrando!

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De olhos cerrados fico, imerso em gozo, quando,

Dizendo-me um segredo o alvo pescoço inclinas.....

Então não me inebria o olor de balsaminas De tua boca, é, mais o tom límpido e brando, Que dás a uma palavra, a um simples "sim",

falando.... Tuas palavras têm meiguices peregrinas!

Eis, pois, o que me faz dormentes os sentidos;

Ouço-te, sem saber o que estás a dizer-me, Qual numa língua estranha e suave aos meus

ouvidos! E em pleno arrebatar duns êxtases radiosos

Sinto invisível mão percorrer-me a epiderme...

Tuas palavras, flor! Têm dedos cariciosos....

Elisabeth Barrett Elisabeth Barrett Elisabeth Barrett Elisabeth Barrett Browning Browning Browning Browning

(Inglaterra, 1806 (Inglaterra, 1806 (Inglaterra, 1806 (Inglaterra, 1806 –––– 1861) 1861) 1861) 1861)

QQQQUATRO SONETOSUATRO SONETOSUATRO SONETOSUATRO SONETOS I

Amo-te quanto em largo, alto e profundo Minhalma alcança quando, transportada Sente, alongando os olhos deste mundo, Os fins do ser, a graça entressonhada.

Amo-te em cada dia, hora e segundo:

À luz do Sol, na noite sossegada. E é tão pura a paixão de que me inundo

Quanto o pudor dos que não podem nada.

Amo-te com o doer da velhas pernas, Com sorrisos, com lágrimas de prece,

E a fé da minha infância, ingênua e forte.

Amo-te nas coisas mais pequenas Por toda a vida. E assim Deus o quisesse.

Ainda mais te amarei depois da morte. II

As minhas cartas! Todas elas frio, Mundo e morto papel! No entanto agora Lendo-as, entre as mãos trêmulas o fio Da vida eis que retomo hora por hora.

Nesta queria ver-me-era no estio-

Como amiga ao seu lado...Nesta implora Vir e as mãos me tomar...tão simples!Li-o

E chorei. Nesta diz quanto me adora.

Nesta confiou:sou teu e empalidece A tinta no papel, tanto o apertara

Ao meu peito, que todo inda estremece!

Mas uma...Ó meu amor, o que me disse Não digo. Que bem mal me aproveitara

Se o que então me disseste eu repetisse...

III Parte: Não te separas! Que jamais Sairei de tua sombra. Por distante

Que te vás, em meu peito, a cada instante, Juntos dois corações batem iguais.

Não ficarei mais só. Nem nunca mais

Dona de mim, a mão, quando a levante, Deixarei de sentir o toque amante Da tua ao que fugi. Parte: não sais!

Como vinho, que às uvas donde flui Deve saber, é quanto faça e, quanto

Sonho, que assim também todo te inclui.

A ti, amor! Minha outra vida, pois Quando oro a Deus, teu nome ele ouve e o

pranto Em meus olhos são lágrimas de dois.

IV

Ama-me por amor do amor somente Não digas: Amo-a pelo seu olhar, O seu sorriso, o modo de falar

Honesto e brando. Amo-a porque se sente

Minh’alma em comunhão constantemente Com a sua. Por que pode mudar

Isso tudo, em si mesmo, ao perpassar Do tempo, ou para ti unicamente.

Nem me ames pelo pranto que a bondade

De tuas mãos enxuga, pois se em mim Secar, por teu conforto, esta vontade

De chorar, teu amor pode ter fim!

Ama-me por amor do amor, e assim Me hás de querer por toda a eternidade.

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Alexandre O'Neil Alexandre O'Neil Alexandre O'Neil Alexandre O'Neil (Portugal, 1924 (Portugal, 1924 (Portugal, 1924 (Portugal, 1924 –––– 1986) 1986) 1986) 1986)

POEMA POUCO ORIGINAL DO MEDOPOEMA POUCO ORIGINAL DO MEDOPOEMA POUCO ORIGINAL DO MEDOPOEMA POUCO ORIGINAL DO MEDO

O medo vai ter tudo pernas

ambulâncias e o luxo blindado

de alguns automóveis Vai ter olhos onde ninguém o veja

mãozinhas cautelosas enredos quase inocentes

ouvidos não só nas paredes mas também no chão

no teto no murmúrio dos esgotos

e talvez até (cautela!) ouvidos nos teus ouvidos

O medo vai ter tudo fantasmas na ópera

sessões contínuas de espiritismo milagres cortejos

frases corajosas meninas exemplares

seguras casas de penhor maliciosas casas de passe

conferências várias congressos muitos ótimos empregos poemas originais

e poemas como este projetos altamente porcos

heróis (o medo vai ter heróis!)

costureiras reais e irreais operários

(assim assim) escriturários

(muitos) intelectuais

(o que se sabe) a tua voz talvez talvez a minha

com a certeza a deles Vai ter capitais

países suspeitas como toda a gente

muitíssimos amigos

beijos namorados esverdeados

amantes silenciosos ardentes

e angustiados Ah o medo vai ter tudo

tudo (Penso no que o medo vai ter

e tenho medo que é justamente

o que o medo quer) O medo vai ter tudo

quase tudo e cada um por seu caminho havemos todos de chegar

quase todos a ratos

Sim a ratos

HÁ PALAVRAS QUE NOS BEIJAMHÁ PALAVRAS QUE NOS BEIJAMHÁ PALAVRAS QUE NOS BEIJAMHÁ PALAVRAS QUE NOS BEIJAM

Há palavras que nos beijam Como se tivessem boca,

Palavras de amor, de esperança, De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas Quando a noite perde o rosto,

Palavras que se recusam Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas Entre palavras sem cor, Esperadas, inesperadas

Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama Letra a letra revelado No mármore distraído, No papel abandonado)

Palavras que nos transportam Aonde a noite é mais forte, Ao silêncio dos amantes

Abraçados contra a morte.

YYYYolanda Morazzo olanda Morazzo olanda Morazzo olanda Morazzo (Cabo Verde, 1926)(Cabo Verde, 1926)(Cabo Verde, 1926)(Cabo Verde, 1926)

BARCOS BARCOS BARCOS BARCOS "Nha terra é quel piquinino É Sao Vicente é que di meu"

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Nas praias Da minha infância

Morrem barcos Desmantelados.

Fantasmas De pescadores

Contrabandistas Desaparecidos

Em qualquer vaga Nem eu sei onde. E eu sou a mesma Tenho dez anos Brinco na areia

Empunho os remos... Canto e sorrio... A embarcac,ão:

Para o mar! É para o mar!... E o pobre barco O barco triste Cansado e frio

Não se moveu...

Alda Lara Alda Lara Alda Lara Alda Lara (Angola, 1930 (Angola, 1930 (Angola, 1930 (Angola, 1930 ---- 1962) 1962) 1962) 1962)

PRESENÇA AFRICANAPRESENÇA AFRICANAPRESENÇA AFRICANAPRESENÇA AFRICANA

E apesar de tudo

ainda sou a mesma! Livre e esguia,

filha eterna de quanta rebeldia me sagrou. Mãe - África!

Mãe forte da floresta e do deserto, ainda sou

a irmã - mulher de tudo o que em ti vibra

puro e incerto! - A dos coqueiros,

de cabelos verdes, e corpos arrojados

sobre o azul... A do dendém

nascendo dos abraços das palmeiras...

A do sol bom, mordendo o chão das Ingombotas...

A das acácias rubras, salpicando de sangue as avenidas,

longas e floridas... Sim! Ainda sou a mesma A do amor transbordando pelos carregadores do cais

suados e confusos, pelos bairros imundos e dormentes

(Rua 11!... Rua 11!...) pelos negros meninos

de barriga inchada e olhos fundos...

Sem dores nem alegrias, de tronco nú e corpo musculoso

a raça escreve a prumo, a força destes dias... E eu, revendo ainda

e sempre, nela, aquela

longa história inconsequente... Terra!

Minha, eternamente! Terra das acácias,

dos dongos, dos cólios, baloiçando

mansamente... mansamente!... Terra!

Ainda sou a mesma! Ainda sou

a que num canto novo, pura e livre, me levanto,

ao aceno do teu Povo!...

Chico Anysio Chico Anysio Chico Anysio Chico Anysio

(Silêncio, hospital)(Silêncio, hospital)(Silêncio, hospital)(Silêncio, hospital)

Nos primeiros tempos de casamento ele aparentava uma saúde de ferro mas, de uns anos pra cá, mostrava-se tão frágil, tão

suscetível às doenças, que Dona Belinha, sua esposa, intranqüilizava-se cada vez mais.

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Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.2 – Paraná, fevereiro de 2010.

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— Qualquer coisinha o Pirilo hospitaliza-se — choramingava às amigas. — Tão frágil, tão doentinho...

E assim era. Por um simples sintoma de gripe ou resfriado, o Pirilo pegava um pijama, escova de dentes, pente e chinelos, metia-os numa maleta branca e hospitalizava-se.

— O que é que você tem, Pirilo? — perguntava a esposa preocupada, vendo o marido fazer a mala para mais uma ida à casa de saúde.

— Nada, minha velha. — E se não tem nada, por que você vai

para o hospital, Pirilo? — insistia Dona Belinha, mais preocupada do que nunca.

— Com saúde não se facilita. Não tenho nada agora, mas estou esperando uma gripe de uma hora para outra.

E se internava por quatro, cinco dias.

Proibia as visitas e não aceitava flores ou maçãs. "Se eu morrer, não quero ninguém no velório. Na doença e na morte, longe os parentes", era a teoria que defendia e a que a família obedecia.

— Chama-se isso de hipocondria — explicou um médico a quem Dona Belinha secretamente visitou:

— Hipocondria? — É uma ansiedade habitual relativa à

própria saúde — decifrava o médico. — É muito comum, um caso assim. Há pessoas que não vivem sem tomar remédio. Seu marido é um caso desses. Só que em estado mais grave, porque ele chega a ir para o hospital. Mas não se preocupe. Os hipocondríacos são os que vivem mais.

— Isso pega, doutor? — inquiriu Dona Belinha, quase desejando que sim, para poder acompanhar o marido, de quem sentia muita falta, durante os dias de nosocômio.

— Pegar, não digo, mas quem convive com um hipocondríaco, sendo de espírito fraco, pode-se contagiar por esta mania.

E ela muito rezava e pedia que lhe

fosse dado este contágio. — Belinha, traz a mala. — Pra onde você vai, Pirilo? — Vou-me hospitalizar. — O que é que você está sentindo?

— Hoje, fazendo as unhas, tirei sangue da cutícula. Isso pode infeccionar, dar tétano, gangrenar, sei lá. Com saúde não se brinca.

E, de mala branca na mão e infalível

chapéu preto à cabeça, lá ia o Pirilo para o Hospital dos Estrangeiros, onde tinha conta corrente (pagava por semestre) e apartamento quase fixo.

— O apartamento de sempre, Sr. Pirilo? perguntava a enfermeira, como se aquilo fosse um hotel.

— Não. Desta vez quero um no terceiro andar, com vista para a encosta.

E por uma semana, muitas vezes,

curtia o seu hospitalzinho, de camisola e tudo, com exames de pressão arterial, termômetros sob a axila, colheita de urina, sangue, fezes, escarro, etc. Uma semana depois, sentindo-se recuperado, voltava ao seio da família, dizendo-se outro homem.

Ao mesmo tempo em que os filhos cresciam, desenvolvia-se a hipocondria do Pirilo, que se internou pelos motivos mais burlescos, de tão banais: furúnculo, cisco no olho, mau jeito no braço, aerofagia, topada.

A conselho médico a mulher nem tocava mais no assunto, tentando meter na cabeça do marido que ele não sofria de coisa alguma ("Isso pode piorar, porque ele fica irritado e..."). Ao ver Pirilo chegar e entrar em casa sem tirar o chapéu preto, a mulher já sabia que era caso de hospital. E, por conta própria (disso o médico não teve culpa), já até colaborava com a hipocondria do marido.

— Não está passando bem, Pirilo? — Ainda bem que você notou. Hoje

arrotei duas vezes, depois de tomar uma Coca-Cola.

Faz a mala. E o pijama, com pente, chinelo e

escova de dentes, era enfiado na mala branca que Pirilo conduzia ao Hospital dos Estrangeiros, onde era mais conhecido do que muitos dos médicos que lá operavam ou davam plantão.

— Terceiro andar, para a encosta? — Segundo andar, de frente. — 214 — informava a enfermeira,

dando-lhe a chave.

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Revista Literária “O Voo da Gralha Azul” – n.2 – Paraná, fevereiro de 2010.

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Tantas foram as vezes que Pirilo se internou que, ultimamente, já ia sozinho da portaria para o quarto. Ir uma enfermeira com ele para quê, se ele conhecia os corredores e apartamentos mais do que a maioria delas? De hospital, ele dava aula. E era um custo para aceitar a alta do médico.

— Pode ir embora hoje, Sr. Pirilo. — De jeito nenhum. Antes de quinta-

feira ninguém me tira daqui. — Mas o senhor já está bom. Os

gases... — Os gases acabaram, mas... e essa

unhazinha? — Que tem a unha? — perguntava o

médico, segurando-lhe a falange do pé que Pirilo lhe exibia.

— Repare na unha, veja bem. — Está bem. — Ora, doutor, enganar ao Pirilinho? A

unha está encrava, não encrava. Antes de quinta-feira eu não saio, a não ser que a unha se resolva.

De tanto Pirilo se ausentar para os

hospitais, apareceu um arquiteto desquitado com ótimos planos e projetos para Dona Belinha com os quais ela concordou, de tanta distância que já sentia do marido hipocondríaco.

Saiu ganhando, pois amava agora um homem formado, enquanto Pirilo continuava amante de uma ajudante de enfermeira do Hospital dos Estrangeiros, que um dia dava plantão no terceiro andar, de frente para a encosta, no outro dia no segundo andar, de frente para a frente...

Os hipocondríacos merecem cuidados!

Chico Anysio (1931)

Francisco Anysio de Oliveira Paula Filho nasceu em 12 de abril de 1931, na cidade de Maranguape (CE).

Com 8 anos, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro (RJ).

Aos 16 anos de idade foi classificado em sétimo lugar num concurso para rádio-atores na Rádio Guanabara, daquela cidade. Nesta difusora foi locutor da madrugada, galã de rádio-novela, narrador e repórter de campo.

Em 1950 passou a trabalhar na Rádio Mayrinck Veiga, escrevendo programas. Trabalhou na Rádio Clube de Pernambuco, do Recife, em seguida, na Rádio Clube do Brasil e na Rádio Mayrinck Veiga, escrevendo programas humorísticos.

Escreveu roteiros para filmes da Atlântida. Estreou na TV, em 1957, no programa Noite de

Gala, ao lado de Sérgio Porto e Henrique Pongetti, na TV-Rio. Trabalhou, depois na Rádio Tupi e fixou-se, até hoje, na Rede Globo de Televisão.

Sua galeria conta com mais de duzentos tipos consagrados na televisão, como o Professor Raimundo; Alberto Roberto; Coronel Limoeiro; Qüem-Qüem; Bozó; Painho; Paulo Brasilis; Pantaleão; Bento Carneiro; Pedro Bó; Nazareno; Coalhada e tantos outros mais.

Tem diversos livros publicados, entre eles: O batizado da vaca (1972), O enterro do anão (1973), É mentira, Terta? (1973), A curva do calombo (1974), Teje preso (1975), Carapau (1979), A borboleta cinzenta (1985), Feijoada no Copa (1987), O tocador de tuba (1990), Sou Francisco (1992, Jesuíno, o profeta (1993), O canalha (2001), Chico Anysio em Salão de Sinuca (2004), e Armazém do Chico – Histórias que vi, ouvi e vivi

(2005). Gravou um CD com poesias de Ascenso Ferreira

pela Luz da Cidade. (http://www.luzdacidade.com.br/pf011.htm

Fez, também, letras para inúmeras músicas, dentre as quais destacamos: A fia de Chico Brito ; A turma ; Ciranda ; De quem é essa morena ; O poste da rua Jorge Lima ; Rancho da Praça Onze ; Tristeza mora comigo ; Zéfa Cangaceira.

Interpretou o pai da atriz Sônia Braga em “Tieta do Agreste”, de Cacá Diegues, filmado no ano de 1996. Chico Anysio, que há alguns anos dedica-se à pintura, tem exposto seus quadros em diversas galerias no país.

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51º JOGOS FLORAIS DE 51º JOGOS FLORAIS DE 51º JOGOS FLORAIS DE 51º JOGOS FLORAIS DE NOVA FRIBURGONOVA FRIBURGONOVA FRIBURGONOVA FRIBURGO

Temas: DESERTO (lírica/filosófica) e VULTO (humorística) 3 trovas por tema Prazo: 26 de Fevereiro de 2010Prazo: 26 de Fevereiro de 2010Prazo: 26 de Fevereiro de 2010Prazo: 26 de Fevereiro de 2010 Enviar para: A/C de João Freire Filho Rua Florianópolis, 773 – casa 3 – Jacarepaguá Rio de Janeiro – RJ / CEP: 21.321-050

II CONCURSO DE TROVA CIDADE II CONCURSO DE TROVA CIDADE II CONCURSO DE TROVA CIDADE II CONCURSO DE TROVA CIDADE POESIAPOESIAPOESIAPOESIA

Temas (Âmbito Nacional/Internacional): CAMINHADA (lírica/filosófica) e RIMA humorística) Apenas uma trova inédita por tema. Prazo: 15 de Março de 2010.Prazo: 15 de Março de 2010.Prazo: 15 de Março de 2010.Prazo: 15 de Março de 2010. Enviar para: A/C Lola Prata Caixa Postal 154 Bragança Paulista – SP – CEP: 12914-970

XVI JOGOS FLORAIS DE CURITIBAXVI JOGOS FLORAIS DE CURITIBAXVI JOGOS FLORAIS DE CURITIBAXVI JOGOS FLORAIS DE CURITIBA Prazo: até 31 de marçoPrazo: até 31 de marçoPrazo: até 31 de marçoPrazo: até 31 de março---- vale carimbo do vale carimbo do vale carimbo do vale carimbo do correio.correio.correio.correio. TEMAS: 1) "madrugada" L/F - para o Brasil (exceto Paraná), demais países de língua portuguesa e concorrentes de língua espanhola. 2) "imagem" L/F - estado do Paraná. 3) "água" L/F - âmbito regional/estudantil.

4) Humorísticas: "pijama" - para o Brasil (inclusive Paraná) e demais países de língua portuguesa). 3 trovas de cada tema, no máximo. Endereços Para Remessa: - Concorrentes de língua portuguesa, inclusive Brasil (exceto Paraná)- Enviar para: Rua Itupava, 791 – 80060-272 – Curitiba, PR - Concorrentes do Paraná: Enviar para: Rua Dona Cecília, 86/1600 – 30220-070 Belo Horizonte, MG - Concorrente estudantil – Enviar Para: Rua Maranhão, 2146, apto 303 – 80610-001 - Curitiba – PR - Concorrentes de língua espanhola: Enviar por e.mail para [email protected]. OBS: Festividades de encerramento previstas para o período de 18 a 20 de junho de 2010.

XX CONCURSO DE TROVAS DE XX CONCURSO DE TROVAS DE XX CONCURSO DE TROVAS DE XX CONCURSO DE TROVAS DE PINDAMONHANGABAPINDAMONHANGABAPINDAMONHANGABAPINDAMONHANGABA

Prazo: até 15 de abril de 2010Prazo: até 15 de abril de 2010Prazo: até 15 de abril de 2010Prazo: até 15 de abril de 2010 TEMAS: Nacional: "Multidão" Regional: "Ninguém" (Pinda, Vale do Paraiba, Litoral Norte e Região Serrana) Estudantil: "Galera" Máximo de 03 trovas por autor, "Sistema de Envelopes”

Enviar para:

Biblioteca Municipal "Rômulo C. D'Arace"

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Ladeira Barão Barão de Pindamonhangaba, S/N - Bosque

Cep 12.401-320 Pindamonhangaba - SP

VI CONCURSO DE TROVAS DA VI CONCURSO DE TROVAS DA VI CONCURSO DE TROVAS DA VI CONCURSO DE TROVAS DA UBTUBTUBTUBT----MARANGUAPE/2010MARANGUAPE/2010MARANGUAPE/2010MARANGUAPE/2010

Promoção: UBT-MARANGUAPE e ACLA

Prazo: até 2Prazo: até 2Prazo: até 2Prazo: até 22 de maio de 2010.2 de maio de 2010.2 de maio de 2010.2 de maio de 2010.

1. TEMA E ÂMBITO:

a) Nacional/Internacional: “Sonhos” (L/F) e “Rádio” (H)

b) Estadual: “Flor” (L/F) e “Cadeira(s)” (H)

c) Municipal: “Luz” (L/F) e “Safado(a)” (H)

OBS.: Os trovadores de outros Estados/outros países poderão participar em quaisquer dos temas de âmbito Estadual e Municipal, como Participação Especial. 2. REQUISITOS: Trovas líricas ou filosóficas e humorísticas em cada um dos temas e âmbitos, inéditas, de sentido completo, rimando o 1o. verso com o 3o. e o 2o. com o 4o., sistema ABAB, devendo o tema principal constar na trova, na língua portuguesa. 3. LIMITES: No máximo uma (1) trova para cada concorrente por tema no âmbito nacional/internacional. Nos âmbitos Estadual e Municipal podem ser enviadas até duas (2) trovas p/concorrente. 4. ENDEREÇO PARA REMESSA DAS TROVAS: i)Por e-mail para: [email protected], indicando o nome do autor, endereço completo, fone e CEP. 5. PRAZO PARA REMESSA: Até 22 de maio de 2010. 6. CLASSIFICAÇÕES: 5 Trovas vencedoras [1º. a 5º.] / 5 Menções honrosas [6º. a 10º.] / 5 Menções especiais [11º a 15º.] e 5 Destaques [16º. a 20º.]. 7. PRÊMIOS: Troféu para o 1º. colocado e

diploma para cada um dos classificados, por tema e âmbito, inclusive diploma de participação especial p/trovadores de outros Estados/outros países, no caso da trovas ser selecionada p/julgadores. A premiação está prevista para o dia 24.10.2010, na sede da ACLA/Maranguape-CE. 8. JULGAMENTO: A UBT-Maranguape formará a comissão julgadora do concurso. Obs: Serão desclassificadas as trovas que fugirem aos temas propostos e/ou sem métrica, bem como enviadas por e-mail após 22.05.2010. Pelas simples remessa das trovas o(a) concorrente aceita as normas do presente regulamento e autoriza a publicação das trovas. Em 15.12.2009 - Moreira Lopes/Coord. Concurso de Trovas Participe pelo e-mail: [email protected]

JOGOS FLORAIS UBT SECCIONAL JOGOS FLORAIS UBT SECCIONAL JOGOS FLORAIS UBT SECCIONAL JOGOS FLORAIS UBT SECCIONAL MÉRIDA MÉRIDA MÉRIDA MÉRIDA –––– VENEZUELA VENEZUELA VENEZUELA VENEZUELA

Tema para os Trovadores de Língua Portuguesa: IMENSIDÃO Tema para os Trovadores de Língua Espanhola: INMENSIDAD Enviar para: [email protected] con copia para: [email protected] Para os Trovadores dos dois idiomas, enviar as 3 Trovas e junto, no mesmo e-mail, a identificação e endereço completo). Máximo de 3 Trovas por tema Prazo: 15 de junho de 2010. Prazo: 15 de junho de 2010. Prazo: 15 de junho de 2010. Prazo: 15 de junho de 2010.

CONCURSO NACIONAL DE POESIA CONCURSO NACIONAL DE POESIA CONCURSO NACIONAL DE POESIA CONCURSO NACIONAL DE POESIA DE MOGI DAS CRUZESDE MOGI DAS CRUZESDE MOGI DAS CRUZESDE MOGI DAS CRUZES

Prazo: Prazo: Prazo: Prazo: atatataté dia 10 de março de 2010é dia 10 de março de 2010é dia 10 de março de 2010é dia 10 de março de 2010 TEMA: “Mogi das Cruzes – 450 Anos” Na poesia deverá constar “Mogi das Cruzes-450 Anos” mesmo que em versos separados, com abordagens a seus fatos

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históricos e/ou características da cidade: belezas naturais, economia, praças, ruas, monumentos, costumes etc. A fonte de consulta está disponibilizada nos sites http://www.pmmc.com.br/ , http://www.cultura.pmmc.com.br/ , http://www.comphap.pmmc.com.br/ , podendo ser pesquisado também em qualquer outra fonte como sites oficiais, google etc. As inscrições estarão abertas de 10 de novembro de 2009 até dia 10 de março até dia 10 de março até dia 10 de março até dia 10 de março de 2010de 2010de 2010de 2010, através do site http://www.cultura.pmmc.com.br/. As poesias concorrentes deverão ser anexadas no momento da inscrição online. Poderão participar poetas de todo o território brasileiro. Cada poeta poderá concorrer com 01 (uma) poesia de até 30 linhas, de sua autoria. As poesias deverão ser originais e inéditas: não terem sido publicadas na integra ou em partes. Aos jurados e funcionários da Secretaria de Cultura de Mogi das Cruzes é vedada a participação neste concurso. As poesias concorrentes deverão ser apresentadas em uma versão digitalizada, com formato de documento padrão do Microsoft Word (DOC) com as seguintes configurações: página padrão A5, fonte Arial, tamanho 11, margens mínimas de 2,5cm. Todo material enviado não será devolvido. A Secretaria de Cultura de Mogi das Cruzes comporá um júri técnico que selecionará: Oitenta (80) poesias que serão publicadas em uma antologia poética, editada pela Secretaria de Cultura de Mogi das Cruzes, com uma tiragem de 1000 exemplares. Pelo menos 30% (trinta por cento) das poesias selecionadas serão de autores mogianos. Serão considerados autores mogianos aqueles que residirem no município de Mogi das Cruzes. Como prêmio, cada autor publicado receberá uma cota de 10 (dez) exemplares da Antologia editada.

O lançamento da Antologia Poética, será no dia 26 de junho de 2010, às 20h, no Theatro Vasques, quando serão anunciados os três primeiros colocados e a melhor poesia de autor mogiano. TROFÉU: POETA NYSSIA FREITAS MEIRA. 1º COLOCADO: R$ 1.000,00 2º COLOCADO: R$ 800,00 3º COLOCADO: R$ 500,00 TROFÉU: ALICE ASSAKO NODA SAITO A melhor poesia de autor mogiano receberá o prêmio de R$ 1.000,00.

JOGOS FLORAIS DE CAMBUCI/RJ JOGOS FLORAIS DE CAMBUCI/RJ JOGOS FLORAIS DE CAMBUCI/RJ JOGOS FLORAIS DE CAMBUCI/RJ –––– 2010 2010 2010 2010

Seção de Cambuci - UBT/RJ Prazo: Prazo: Prazo: Prazo: até 31 de Maio de 2010.até 31 de Maio de 2010.até 31 de Maio de 2010.até 31 de Maio de 2010. Enviar para: ALMIR PINTO DE AZEVEDO PRAÇA DA BANDEIRA, 79 - TEL.: (0xx) 22. 2767.2010. 28.430–000- CAMBUCI – ESTADO DO RIO DE JANEIRO. Âmbito Nacional e Internacional Tema: MusaTema: MusaTema: MusaTema: Musa (necessidade de usar a palavra do tema) Paralelamente, haverá Concurso Municipal e Estudantil Sistema de Envelopes. O trovador poderá concorrer somente com uma única trovauma única trovauma única trovauma única trova. Premiação: 25 de Setembro de 2010 Troféu, Diploma, Hospedagem e Passeio Turístico.

CONCURSO INTERNACIONAL DE CONCURSO INTERNACIONAL DE CONCURSO INTERNACIONAL DE CONCURSO INTERNACIONAL DE LITERATURA PARA 2010.LITERATURA PARA 2010.LITERATURA PARA 2010.LITERATURA PARA 2010.

Prazo: até 15 de maio de 2010Prazo: até 15 de maio de 2010Prazo: até 15 de maio de 2010Prazo: até 15 de maio de 2010 R E G U L A M E N T OR E G U L A M E N T OR E G U L A M E N T OR E G U L A M E N T O I I I I ---- DOS PRÊMIOS DOS PRÊMIOS DOS PRÊMIOS DOS PRÊMIOS Art. 1.° - Ainda com a ressonância do JUBILEU DE OURO recém-comemorado (1958/2008), a União Brasileira de Escritores (UBE-RJ) concederá, no próximo

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ano (2010), os seguintes prêmios literários para livros editados em 2009: – Contos - PRÊMIO CLARICE LISPECTOR; – Crônicas - PRÊMIO PAULO MENDES CAMPOS; – Ensaio - PRÊMIO AMELIA SPARANO; – Literatura Infantil e Juvenil - PRÊMIO VIRIATO CORRÊA; – Poesia – PRÊMIO ADALGISA NERY; – Romance - PRÊMIO LÚCIO CARDOSO; – Teatro - PRÊMIO MARTINS PENA. Parágrafo único - Para livro de contos, será concedida também a MEDALHA HARRY LAUS, apenas para o primeiro colocado. Art. 2° - A critério das Comissões Julgadoras poderão ser concedidas às obras concorrentes a qualquer dos prêmios uma menção especial e uma menção honrosa, exceto a Medalha Harry Laus que terá somente um ganhador. II II II II ---- DA APRESENTAÇÃO DAS OBRAS DA APRESENTAÇÃO DAS OBRAS DA APRESENTAÇÃO DAS OBRAS DA APRESENTAÇÃO DAS OBRAS CONCORRENTESCONCORRENTESCONCORRENTESCONCORRENTES Art. 3° - Poderão concorrer autores de quaisquer nacionalidades, desde que se expressem em língua portuguesa e tenham sido editados no ano de 2009. Enviar três exemplares da obra concorrente. § 1° - O autor deverá anexar envelope contendo: título da obra, nome e endereço completo do autor, telefone, e-mail (se houver) e sucinto curriculum vitae. § 2° - Não haverá devolução de livros concorrentes. III III III III ---- DAS INSCRIÇÕES E DOS PRAZOS DAS INSCRIÇÕES E DOS PRAZOS DAS INSCRIÇÕES E DOS PRAZOS DAS INSCRIÇÕES E DOS PRAZOS Art. 4° - Não há limitação quanto ao número de livros por autor, observadas as disposições do Art. 3.° e seus parágrafos. Art. 5° - Os trabalhos deverão ser enviados entre os dias 4 de janeiro a 15 de maio de 2010, considerando-se, no caso de remessa pelo correio, a respectiva data da postagem. Art. 6° - Os livros concorrentes a prêmios devem ser remetidos, em separado por categoria, para o seguinte endereço: Rua Teixeira de Freitas, 5, Sala 303 - Lapa, CEP 20021-350 - Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Solicita-se colocar no envelope ou embalagem o nome do prêmio a que se destina(m) a(s) obra(s). Art. 7° - É vedada a participação de membros da Diretoria da UBE-RJ.

IV IV IV IV ---- DAS COMISSÕES JULGADORAS E DAS COMISSÕES JULGADORAS E DAS COMISSÕES JULGADORAS E DAS COMISSÕES JULGADORAS E ACEITAÇÃO DOS CONCORRENTESACEITAÇÃO DOS CONCORRENTESACEITAÇÃO DOS CONCORRENTESACEITAÇÃO DOS CONCORRENTES Art. 8° - As comissões julgadoras serão constituídas, cada uma, por três escritores indicados pela Diretoria da União Brasileira de Escritores (UBE-RJ), sendo irrecorríveis as decisões desses Colegiados. Art. 9° - A participação no concurso implica a aceitação, por parte do concorrente, de todas as exigências regulamentares, resultando em desclassificação o não-cumprimento de quaisquer destas. Art. 10° - O resultado do concurso será tornado público até 90 (noventa) dias após o encerramento das inscrições, devendo a entrega dos prêmios ser em data e local previamente anunciados. Art. 11 - Qualquer informação ou correspondência, enviar para a Secretária da UBE-RJ Margarida Finkel - Rua Malvino Ferreira de Andrade, 69, Aleixo - CEP 25900-000 – Magé, RJ, Brasil. E-mail: [email protected] Art. 12 - Os casos omissos no presente Regulamento serão resolvidos pela Diretoria da UBE-RJ. Rio de Janeiro, RJ, 30 de outubro de 2009. EDIR MEIRELLES Presidente da UBE-RJ

6º 6º 6º 6º PRÊMIO BARCO A VAPOR DE PRÊMIO BARCO A VAPOR DE PRÊMIO BARCO A VAPOR DE PRÊMIO BARCO A VAPOR DE LITERATURA INFANTIL E JUVENIL LITERATURA INFANTIL E JUVENIL LITERATURA INFANTIL E JUVENIL LITERATURA INFANTIL E JUVENIL

2010201020102010 Prazo: Prazo: Prazo: Prazo: até até até até 19 de fevereiro de 2010.19 de fevereiro de 2010.19 de fevereiro de 2010.19 de fevereiro de 2010. Categoria: livro infantil e juvenil. Séries: Branca [Leitor iniciante - a partir de 6 anos]; Azul [Leitor em processo - a partir de 8 anos]; Laranja [Leitor fluente - a partir de 10 anos]; Vermelha [Leitor crítico - a partir de 12 anos] Tema: livre Máximo de obras: poderá apresentar mais de um original

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Premiação: R$ 30.000,00 e publicação Divulgação do resultado: não definido REGULAMENTO REGULAMENTO REGULAMENTO REGULAMENTO 1. Participação está aberta a escritores de todas as nacionalidades com mais de 18 anos que apresentem originais dirigidos a leitores entre 6 e 13 anos. Funcionários de Edições SM e da Fundação SM e/ou seus parentes em primeiro grau não poderão participar. 2. Poesia, coletânea de contos e teatro não serão aceitos. 3. Os originais deverão ser inéditos e escritos em língua portuguesa. Entende-se por inédito o original não editado e não publicado (parcialmente ou em sua totalidade) em antologias, coletâneas, suplementos literários, jornais, revistas, sites e publicações do gênero. O candidato poderá apresentar mais de um original. 4. A extensão dos originais deverá obedecer aos critérios da série na qual queira participar: - Série Branca [Leitor iniciante - a partir de 6 anos]: entre 8 e 15 laudas* - Série Azul [Leitor em processo - a partir de 8 anos]: entre 20 e 45 laudas* - Série Laranja [Leitor fluente - a partir de 10 anos]: entre 45 e 90 laudas* - Série Vermelha [Leitor crítico - a partir de 12 anos]: entre 70 e 150 laudas* * Lauda de aproximadamente 1.200 caracteres com espaço. 5. O candidato deverá enviar 4 (quatro) cópias de cada original, obedecendo à seguinte formatação: - Word, fonte Times New Roman, corpo 12, espaçamento duplo, margem de 2,5 cm - Páginas numeradas e impressas em papel carta ou A4, grampeadas ou encadernadas com folha de rosto na qual deverão constar o título da obra e o pseudônimo do autor. - Os originais não precisam ser enviados com ilustrações. Caso o original esteja pronto, já com as ilustrações inseridas, o autor poderá enviá-las, mas elas não serão avaliadas pelo júri. Independente das

ilustrações, o original tem que ter o mínimo de laudas digitadas exigidas para não ser desclassificado. 6. Os originais deverão ser endereçados e encaminhados a Prêmio Barco a Vapor, Rua Gomes de Carvalho, 1511 - Mezanino - Vila Olímpia - 04547-005 - São Paulo, SP. No envelope deverá constar o município e UF de procedência. O atendimento direto será efetuado de segunda a sexta, no horário comercial (das 9h às 12h e das 14h às 17h). 7. As inscrições estarão abertas de 04/09/2009 a 19/02/2010. Após esta data não serão mais aceitos originais. Para efeito de inscrição, será considerada a data de postagem do material encaminhado por correio. 8. A identificação dos originais deverá ser feita por meio de pseudônimo escolhido pelo autor. O pseudônimo não deverá ter nenhuma semelhança ou referência ao nome do autor. Todas as cópias deverão ser identificadas somente pelo pseudônimo. Em envelope lacrado e identificado com o pseudônimo, o participante deverá apresentar seus dados pessoais (nome completo, endereço, telefone, e-mail, número de RG, profissão). 9. O júri será nomeado pela Fundação SM e formado por especialistas em literatura e escritores de reconhecido prestígio. A composição do júri será mantida em segredo até a nomeação do ganhador. 10. A decisão do júri será irrevogável e anunciada por ocasião da entrega do 6º Prêmio Barco a Vapor, em data e local a serem determinados. O resultado do concurso será publicado no segundo semestre de 2010 na página de Edições SM: www.edicoessm.com.br 11. Será outorgado apenas um prêmio, que será a publicação do original na coleção Barco a Vapor, de Edições SM. O vencedor firmará um contrato de edição, em comum acordo com Edições SM depois de anunciado o resultado. 12. No ato da assinatura do contrato de edição, o autor receberá R$ 30.000,00 como adiantamento de direitos autorais.

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13. A edição do original vencedor obedecerá aos critérios da coleção Barco a Vapor: - Série Branca: Leitor iniciante - a partir de 6 anos - Série Azul: Leitor em processo - a partir de 8 anos - Série Laranja: Leitor fluente - a partir de 10 anos - Série Vermelha: Leitor crítico - a partir de 12 anos 14. O júri poderá não outorgar o prêmio.Todos os casos não previstos nas normas desta convocatória serão resolvidos diretamente pela Fundação SM. 15. Edições SM poderá manifestar interesse por trabalhos inscritos não premiados. Assim, durante o prazo de 6 (seis) meses, a contar da data de divulgação do vencedor, a editora poderá estabelecer contato com os autores de obras recomendadas pelo júri, para adquirir os direitos de publicação. 16. Os originais em desacordo com estas normas serão desclassificados. 17. Os originais e demais documentos entregues à Fundação SM não serão devolvidos. 18. A apresentação de originais para concorrer ao Prêmio Barco a Vapor implica

em expresso acordo às normas aqui expressas. Para mais informações acesse as perguntas mais frequentes para ou envie e-mail para [email protected] ================================================================================================ Concursos sem Data definida para envioConcursos sem Data definida para envioConcursos sem Data definida para envioConcursos sem Data definida para envio XXIII JOGOS FLORAIS DE RIBEIRÃO PRETOXXIII JOGOS FLORAIS DE RIBEIRÃO PRETOXXIII JOGOS FLORAIS DE RIBEIRÃO PRETOXXIII JOGOS FLORAIS DE RIBEIRÃO PRETO Temas: Nacional/Intern.: "Viagem" (líricas/filosóficas) e "Turista" (Humor) Municipal (apenas para Ribeirão Preto): "Maduro" (líricas/filosóficas) e "Verde" (Humor) XI JOGOS ESTUDANTIS TEMAS: "Amor" (líricas/filosóficas) e "Gato" (Humor) XL JOGOS FLORAIS DE NITERÓIXL JOGOS FLORAIS DE NITERÓIXL JOGOS FLORAIS DE NITERÓIXL JOGOS FLORAIS DE NITERÓI Temas: (valendo palavras derivadas) Nacional/Internacional: "Palavra" Estadual: "Algemas"

O Caminho de O Caminho de O Caminho de O Caminho de PeabiruPeabiruPeabiruPeabiru

A pintura representa Sumé (Pai Tumé ou

São Tomé) descerrando mata adentro o Caminho de Peabiru

São milenárias a Rota do Estanho (Ilhas Britânicas - Cassitérides, talvez as atuais Scilly - do primeiro milênio de nossa era; a Rota da Seda, que tornou esse produto conhecido pelos gregos no III século antes de Cristo, indo ao Pamir, até a Torre de Pedra, onde se realizavam os mercados fornecidos pelos negociantes chineses; a Rota do Lapis-Lazuli, do terceiro milênio; a Rota da Prata, pela qual os Tírios iam procurar na Espanha a

prata e outros metais com os "navios de Tarsis", de que fala a Bíblia, e tantas outras.

As civilizações se fizeram pelas rotas. Por elas se aculturaram povos, se enriqueceram nações, se conquistaram mundos. Nem todas as rotas, porém, permanecem vivas. Algumas, sim, permanecem, pelo menos na memória de suas gentes. Outras, resgatadas, continuam guiando seus povos a caminho de novos

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sonhos, novas riquezas, adaptadas aos novos tempos.

O Caminho de Peabiru era uma “estrada” milenar, transcontinental que ligava o oceano Atlântico ao Pacífico, atravessando a América do Sul, unindo quatro países. No Brasil, passava por Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul e depois seguia para Paraguai, Bolívia e Peru, cortando mata, rios, cataratas, pântanos e cordilheiras.

O caminho, no Brasil, começava em São Vicente ou Cananéia, no litoral paulista, cruzava o Estado do Paraná de Leste a Oeste, penetrava no chaco paraguaio, atravessava a Bolívia, ultrapassava a Cordilheira dos Andes e alcançava, finalmente, o sul do Peru e a costa do Pacífico. Este era o chamado tronco principal, mas havia vários ramais. Um deles cruzava o rio Paranapanema, na divisa entre São Paulo e Paraná, onde segundo a historiadora Rosana Bond, baixava o sul quase em linha reta, passando pelas atuais cidades paranaenses de Peabiru e Campo Mourão. Outro ramal dava no litoral de Santa Catarina e outro, ainda, provavelmente, no Rio Grande do Sul; ao todo tinha aproximadamente 3 mil km de extensão, possuía oito palmos de largura (cerca de 1,40 metros) e aproximadamente 0,40 centímetros de profundidade. Para evitar o efeito erosivo da chuva, a trilha era forrada com vários tipos de grama, que também impediam que a via fosse tomada por ervas daninhas. O professor Moysés Bertoni, pesquisador da cultura dos índios guaranis, afirma que a grama foi plantada apenas em alguns trechos, mas as sementes que grudavam nos pés e nas pernas dos viajantes acabaram estendendo o revestimento aos demais trechos.

Segundo o professor Moysés Bertoni, o Peabiru é algo fantástico por seu tamanho, sua função e suas características, diz; ainda que até hoje a civilização moderna não conseguiu construir nenhuma rodovia ou ferrovia ligando os dois oceanos de ponta a ponta.

A verdadeira história do Peabiru, segundo estudiosos ainda é um mistério, uma das teorias mais aceitas é que o caminho é a menor e melhor rota entre os oceanos Atlântico e Pacífico, tendo um

importante papel no intercâmbio cultural e na troca de produtos entres as nações indígenas. Dizem ainda que foi aberto pelos guaranis em busca constante de uma mitológica "Terra sem Mal", aconselhados pelos seus deuses - base da religião guarani. Esse território mágico seria a morada dos ancestrais, descrito como o lugar onde as roças cresciam sem serem plantadas e onde a morte era desconhecida. Segundo o professor Samuel Guimarães da Costa, o Paraná seria esse "Nirvana" indígena e o Peabiru uma espécie de caminho santo que percorria o paraíso perdido, (para os índios, o Paraná se chamava Guairá, que em tupi-guarani quer dizer "terra da eterna juventude)”.

Existem mais duas hipóteses para a criação do Peabiru: a de São Tomé e/ou Pay Sumé, apóstolo de Cristo, e a da civilização Inca.

Uma das mais importantes heranças indígenas encontradas pelos colonizadores ao chegar ao Brasil foi, sem dúvida, o Peabirú, uma estrada de mais de 2.500 quilômetros - e com inúmeras rotas secundárias - que ligava o alto dos Andes até o litoral sul brasileiro.

O Peabirú era uma valeta de 1,40 metro de largura e 40 centímetros de profundidade, forrado por uma gramínea que impedia erosões. Os primeiros relatos sobre o caminho datam de 1516 e são envoltos em mistérios e lendas.

Entre eles, a de que o Peabirú fazia parte da Estrada do Sol, construída durante o Império Inca. O seu formato mais largo em relação às outras trilhas existentes em território brasileiro na época reforça a tese dos defensores dessa teoria.

Já os jesuítas acreditavam que ele havia sido construído por São Tomé. Especulações à parte, o fato é que o caminho, ladeado por muitas aldeias de índios guaranis, foi amplamente usado por diversos conquistadores, em diferentes períodos da colonização.

O trecho inicial do Peabirú, chamado de trilha dos tupiniquins, era o único meio conhecido na época de cruzar a Serra do Mar. Passou a ser muito utilizado também pelos jesuítas, principalmente por José de Anchieta, quando estes colocaram em prática

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o trabalho de catequização dos índios. Por isso, a trilha foi rebatizada como "Caminho do Padre José".

Importância HistóricaImportância HistóricaImportância HistóricaImportância Histórica Segundo a escritora Rosana Bond,

autora do livro “O Caminho de Peabiru” o caminho possui grande importância histórica, pois entre outras coisas serviu para as andanças e até grandes migrações de povos indígenas e, mais tarde, para a descoberta de riquezas, criação de missões religiosas, comércio, fundação de povoados e cidades.

Segundo as crônicas coloniais, os relatos do Padre Montoya e os historiadores Sérgio Buarque de Hollanda, Jaime Cortesão e Eduardo Bueno, o Peabiru é o principal caminho para a penetração da região sul do Brasil e do Paraguai.

Pelo Peabiru transitaram além dos indígenas, São Tomé e/ou Pay Sumé, Incas, ou seja, os possíveis criadores da trilha, também outros desbravadores ainda que considerado somente o período pós-Cabralino: soldados sacerdotes, aventureiros, os artifícies de nossa América, pessoas que construíram a história da região sul do Brasil.

Aleixo Garcia um português que utilizou o Peabiru, foi o primeiro europeu a fazer contato com os Incas, e a penetrar o interior do Brasil e do Paraguai em busca de um acesso às riquezas desse povo, no ano de 1524, a partir do litoral de Santa Catarina e, rumando para oeste, seguindo o caminho traçado pelos índios, chegou à região de Assunção, no Paraguai. Depois de diversas peripécias e confrontos com inúmeras tribos uma pequena parte de sua expedição retornou com peças de ouro e prata tomadas dos Incas.

Segundo o historiador Eduardo Bueno, depois da jornada de Aleixo Garcia, o Peabiru se tornou um caminho bastante conhecido e muito percorrido. Por ele seguiria, em 1531, a malfadada expedição de Pero Lobo, um dos capitães de Martim Afonso de Sousa.

Também pelo Peabiru passaram Alvar Nuñes Cabeza de Vaca em 1541 e Ulrich Schmidel em 1553, jesuítas como Pedro Lozano e Ruiz de Montoya também o percorreram em suas missões de catequese aos guaranis. Um século mais tarde, seria

também pela via do Peabiru que Raposo Tavares e outros bandeirantes paulistas seguiriam para realizar seus devastadores ataques às missões do Guairá, no atual estado do Paraná.

Segundo Jaime Cortesão, foi pelo Peabiru que a civilização européia adentrou a oeste e subiu aos Andes. E para expressar a velocidade da penetração, basta assinalar que o gado, introduzido em 1502 em Cananéia, aparecia já em 1513 na Corte Incaica. Esta rapidez na disseminação de um elemento cultural prova quanto eram rápidas e ativas as comunicações através do continente.

Ainda no século XVI, o Peabiru foi o caminho usado para a fundação de Assunção, no Paraguai, para a criação de três ou quatro cidades espanholas no atual Estado do Paraná, para a implantação de 15 reduções jesuítas e até para a descoberta da maior mina de prata do mundo em Potosi, Bolívia.

Cortesão relata que, se julgamos tal caminho merecedor de tantas referências, é porque não somente foi o mais importante da face atlântica da América Latina, mas também o maior varadouro cultural e civilizador .

Depois de 1630, quando os bandeirantes entraram no Paraná e destruíram as cidades espanholas e as missões dos jesuítas, o Peabiru foi praticamente abandonado. O caminho ainda conseguiu retomar vida no século XIX, quando serviu, mais uma vez, para entrada de uma nova leva de homens brancos, os colonizadores pioneiros do interior do Paraná.

É notória a importância que o Caminho de Peabiru possui seja pelo traçado que cortava o continente, seja pelas personagens que por ele transitavam, pois é através dele que a verdadeira história e cultura de nossos antepassados são transmitidas nos dias de hoje, apesar da colonização européia que, utilizando do Peabiru adentrou na nossa região a fim de explorar o povo e a grandiosa riqueza natural aqui encontrada. O Peabiru é um caminho de importância inquestionável e deve ser resgatado para que as raízes do nosso povo sejam mantidas vivas entre o maior número de cidadãos e não apenas na memória de poucos estudiosos.

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Lenda Indígena Lenda Indígena Lenda Indígena Lenda Indígena (Em Busca da Terra (Em Busca da Terra (Em Busca da Terra (Em Busca da Terra

sem Mal)sem Mal)sem Mal)sem Mal)

"Singular e assombroso o destino de um povo como os Guarani! Marginalizados e periféricos, nos obrigam a pensar sem fronteiras Tidos como parcialidades, desafiam a totalidade do sistema. Reduzidos, reclamam cada dia espaços de liberdade sem limites Pequenos, exigem ser pensados com grandeza. São aqueles primitivos cujo centro de gravitação já está no futuro. Minorias, que estão presentes na maior parte do mundo." (Bartomeu Meliá)

Pressionada pelo avanço da colonização européia, a população Guarani que permaneceu fora das re -

duções e do âmbito de ação de encomendeiros e bandeirantes foi sendo paulatinamente empurrada para as matas adjacentes ao Rio Paraná. Ali permaneceu escondida e, por isso mesmo, preservada. Somente com os transtornos causados pela Guerra da Tríplice Aliança (Brasil, Argentina e Uruguai versus Paraguai), de 1865 a 1850, esses grupos que até então viveram relativamente isolados iniciaram uma reocupação dos territórios antigamente habitados por outros grupos Guarani. Muitos criaram pequenas aldeias do Oeste brasileiro. Outros deslocaram-se em direção ao centro do país e do litoral atlântico em busca da "Terra Sem Males". Uma dessas migrações foi acompanhada pelo indigenista alemão Kurt Unkel, batizado "Nimunedaju" pelos indígenas. Ele registrou o discurso fundador desta mobilização: "Ñanderuvusu (Nosso Grande Pai) veio à terra e faliu a Guyrapotý(nome do xamã incubido de liderar a partida): ‘Procurem dançar!, a terra quer piorar!’ Eles dançaram durante três anos quando ouviram o trovão da destruição. A terra desabava pelo oeste. E

Guyrapotý disse aos seus filhos: ‘Vamos! O trovão da destruição causa temor’. E eles caminharam, caminharam para o leste, para beira mar. E eles caminharam. E os filhos de Guyrapotý lhe perguntaram: ‘Aqui não vai surgir de imediato a ruína?’ – ‘Nâo, aqui a ruína vai surgir após um ano, dizem’ . E seus filhos fizeram roça." (Nimuendaju, 1987, p.155).

Movimentos como esse foram consideravelmente intensificados com o avanço das colonizações brasileira e paraguaia sobre a mata contígua ao rio Paraná . O

caminho percorrido por esses novos "viandantes" foi o seguinte: do Paraguai passaram para a Argentina e de lá, na busca da costa Atlântica, para o Brasil. Hoje encontram-se e pequenas comunidades desde o Rio Grande do Sul até o Pará, em terras pertencentes a outros grupos étnicos, em moradias improvisadas a beira de estradas, em terras cedidas por prefeituras ou em territórios administradas por entidades ambientalistas. Causas do ÊxodoCausas do ÊxodoCausas do ÊxodoCausas do Êxodo Na motivação que os impulsiona a caminhar aparece claramente a necessidade de ter um lugar onde lhes seja possível viver em segurança seu antigo modo de ser. A causa ultima de seu "nomadismo" deve à busca da "Terra-Sem-Males", que, na orientação espacial do grupo, fica do Atlântico, como pode ser verificado nos seguintes cantos:

Che kyvy’i, Che kyvy’i, ereo rire Meu

irmãozinho, meu irmãozinho, você se foi Ejevy voi jaa aguã, ejevy voi jaa aguã Retorne

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logo, retorne logo Jaa mavy, jaa mavy joupive’i Para irmos

juntos, para irmos juntos Para rovaí jajerojy, para rovaí jajerojy

Reverenciando a Deus, no outro lado do Oceano.

(Memória Viva Guarani – Canto 04)

Ore ru, rembo’e katu ne amba roupity aguã Nosso Pai ensina-nos a chegar a tua morada.

Ñañembo’e, nãñembo’e e’i Rezemos, rezemos

Pra rovái jajapyra aguã Para atravessarmos o outro lado do oceano

ajerory, jajerovy Reverenciamos ao Pai ajapyra aguã Para atravessar para o outro

lado do oceano (Memória Viva Guarani – Canto 04)

A causa penúltima do êxodo indígena, porém, se encontra no Oeste. Poucos anos depois do término da

"Guerra do Paraguai" ou "Guerra Grande", o governo paraguaio outorgou ao cientista suíço Moisés S. Bertoni (1857-1929) uma superfície de 10.000 hectares de marta virgem, alienando assim uma parte da terra habitada pelos Mbyá-Guarani (Burri, 1993, p.28). Semelhantemente, outras pessoas e empresas adquiriam enormes propriedades na região. Valha como exemplo "La Industrial Paraguaya S.A", que concentrou uma área correspondente a 17% das terras da região oriental do Paraguai (3.502.727) e dedicou-se a exploração de erva-mate (Garlet, 1997, p.41). A causa mais gritante da atual dispersão, porém, é sem dúvida a colonização que se intensificou, na segunda metade deste século, na região de fronteira entre o Paraguai e Brasil. Uma das características da ocupação das terras dessa região é a violência com a qual a natureza foi subjugada e posta a serviço do "progresso". A monocultura avançou derrubando matas, expulsando os indígenas que nelas habitavam ou sujeitando-os como peões baratos ‘as novas fazendas, cujos proprietários são, na maioria, brasileiros.

História nada exemplarHistória nada exemplarHistória nada exemplarHistória nada exemplar É curioso e "irônico" constatar que, enquanto os Mbyá-Guarani que percorrem o litoral e a região Sul do Brasil são considerados "índios paraguaios" por órgãos do Estado brasileiro – que tentam, desse modo, evadir-se da responsabilidade frente a esses indígenas -, a terra que eles e seus ascendentes habitavam no Paraguai está, em grande parte, sob o poder dos "brasileiros de Stroessner". Esses proprietários são chamados assim pelos paraguaios por terem adquirido a partir de 1962, no tempo do Ditador do Paraguai, grandes extensões de terra a preço baixíssimo. Nem o Brasil tampouco o Paraguai levaram em conta que, ao lotear essas terras, não estavam só se aliando para o "progresso", mas desbaratando a fonte que abastece a economia, a sociedade e a religião de uma cultura milenar. A vida dos Mbyá-Guarani que permaneceram na região como mão de-obra barata nas fazendas é comentada como "uma história nada exemplar" por Stefanie Burri. Vivendo já na quarta geração quase exclusivamente da "changa" (serviço esporádico remunerado), a autora nota entre esses indígenas: desintegração social e religiosa, individualismo, solidão e consumo excessivo de bebida alcoólica. Para ela, o pessimismo é maior, quando, além de saber que a "Terra-Sem-Males" já não existe, ninguém a procura. Mas voltemos aos Mbyá-Guarani retrados por Paulo Porto Borges, esses que falam do yvy marae’y como uma terra preservada para eles e que alcançarão em breve. A busca da "Terra Sem-Males" tem sido interpretada, erroneamente, como algo utópico, como um não-lugar. Como se, para aperfeiçoar a vida e se aperfeiçoarem, os indígenas pudessem prescindir de espaços concretos. A Terra SemA Terra SemA Terra SemA Terra Sem----MalesMalesMalesMales Essa interpretação tem favorecido um certo descompromisso dos agentes indigenistas que atuam entre os Mbyá-Guarani, no sentido de intermediar as

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reivindicações dos indígenas perante as instâncias decisórias do Estado. Se essa atitude persistir e não for revertida a situação atual (das 63 áreas de ocupação hoje existentes na região Sul do Brasil, pouquíssimas são demarcadas ou mesmo homologadas) para Garlet e a Assis não resta dúvida de que "o único espaço que restará aos Mbyá-Guarani será projetado para o além". Em parte, essa postura pode ter sido influenciada pelos próprios indígenas. No passado, estes foram contrários a demarcação de seus espaços específicos para eles, por negarem o direito à apropriação individual de bens comuns e por entenderem que a demarcação de espaços poderia obriga-los a uma sujeição ao Estado Brasileiro. Nos últimos anos, porém, os Mbyá-Guarani tem reivindicado para si o direito a terra, como é cantado na canção 09 do CD recentemente gravado por eles:

Peme’e jevy, peme’e jevy Restituam,

restituam Ore yvy peraa va’ekue A nossa terra que

vocês tomaram Roiko’i aguã Para que a gente continue

vivendo

O discurso religioso que sustenta a reivindicação é a convicção de que, para alcançar a "Terra Sem-Males", é preciso viver conforme o sistema Guarani: caçar, plantar e

celebrar como um Guarani. Para tal, é imprescindível a terra (tekoha), pois, sem ela não há cultura (teko). Particularmente, a situação fundiária dos Mbyá-Guarani acampados à beira de estradas e mais periclitante. Esses acampamentos estão situados ao longo das rodovias públicas dos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Garlet e Assis escrevem a este respeito: "A preferência é por locais onde seja possível encontrar faixas de mata e alguma oferta de matéria prima para a confecção de artesanato (...). Conseqüentemente, as famílias (...) dependentes estão continuamente expostas a mais gritante miséria, enfrentando a fome, alta incidência de doenças, impossibilidade de manter ativadas práticas culturais importantes como os rituais religiosos e morando em insalubres barracos cobertos de lona plástica" (1999, p. 13) A atitude que predomina, porém, não de desespero. Assim, quando os Guarani ouvem o branco dirigir-se a eles como quem não tem mais cultura por não ter mais tradição, eles reagem e afirmam que os Guarani existem e que existirão sempre. Mesmo ameaçados pelo "Mal-Sem-Terra", têm dado um belo testemunho de amor à vida, de que vale a pena interromper a falta de esperança e entoar um canto!

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Depois de terminar o original é que o escritor se dá conta das dificuldades da publicação. Entrar no mercado editorial é possível! Basta conhecer os segredos deste universo. Neste livro, o escritor diminuirá os caminhos da tão sonhada publicação.

Descrevemos os erros mais comuns e a forma correta de enviar sua obra para a editora certa. Há ainda os endereços das principais agências literárias do Brasil e do exterior, além das melhores editoras com a linha editorial definida. Facilitar é a nossa proposta. Este manual é bastante eficaz para quem deseja se destacar no concorrido mundo dos livros.

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nomeia quem são os principais agentes; quais as melhores editoras para seu livro etc.

Sumário: Capítulo 1 O produto livro –

3; Capítulo 2 Quem é o agente literário? – 1; Capítulo 3 Quem precisa de um agente literário? – 15; Capítulo 4 O que o agente pode fazer pelo escritor? – 19; Capítulo 5 O que o escritor pode fazer pelo agente ou pela editora? – 29; Capítulo 6 Originais (manuscrito) – 43; Capítulo 7 Agências brasileiras – 57; Capítulo 8 Editoras brasileiras – 63; Capítulo 9 Agentes literários dos Estados Unidos da América – 105; Capítulo 10 Editoras americanas – 141; Capítulo 11 Editoras canadenses – 179; Capítulo 12 Editoras portuguesas – 187; Capítulo 13 Divulgação – 205; Capítulo 14 Principais erros do escritor – 217; Capítulo 15 Perguntas – 225

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A língua portuguesa constitui-se de

aproximadamente quatrocentas mil palavras; entretanto, para uma comunicação oral ou uma escrita de qualidade, não é necessário conhecer tudo isso, conforme avaliação da Enciclopédia Barsa, no livro Manual de Redação.

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Esta é a segunda grande obra coletiva

lançada pelo Instituto Maximiano Campos (IMC) em parceria com a Escrituras Editora. Primeiro surgiu a poesia, a palavra cristalizada na publicação do Pernambuco, terra da poesia: um painel da poesia pernambucana dos séculos XVI ao XXI. Neste volume, destaca-se a prosa, uma forma mais analítica de revelar o ser humano, seus sentimentos, seu tempo e seu espaço.

Panorâmica do conto em Pernambuco reúne um conjunto de obras literárias a fim de desvelar o povo pernambucano no cenário nacional. O gênero conto atende muito bem ao momento atual de muitos afazeres e pouco lazer, já que, em questão de minutos, na ante-sala de um consultório ou gabinete, no percurso de uma pequena viagem, em um piscar de olhos, lemos uma obra literária, conhecemos um autor, abrimos uma janela do espírito para um mundo que sequer imaginávamos que existisse. A partir daí, surge o desejo de conhecermos o autor e o restante de sua obra.

A Panorâmica do conto em Pernambuco traz esse painel, visto, sentido e revelado por 114 autores, nascidos neste Estado ou que, por qualquer circunstância, vivenciaram ou vivenciam a realidade pernambucana, suas experiências históricas, seus momentos de alegria, seus anseios, suas adversidades e suas realizações. Mergulhamos na documentação e trouxemos escritos desde o primeiro contista até autores inéditos, com revelações surpreendentes, certos de que estamos edificando um marco histórico na cultura brasileira.

Quem se debruçar sobre este livro, ao concluir sua leitura, verificará que alcançou uma ampla visão literária de Pernambuco e

do Brasil, uma vez que deste torrão também se formou, com muita luta e sacrifício, a identidade brasileira.

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Sobre os Autores Antônio Campos é advogado, articulista,

conferencista, poeta, contista e presidente do Instituto Maximiano Campos (IMC). Nasceu no Recife (PE), em 25 de junho de 1940. Foi um dos fundadores do IMC, depositário do acervo literário e artístico do escritor Maximiano Campos, seu pai, prematuramente falecido. É também promotor e divulgador da cultura pernambucana e nordestina. O IMC apresenta uma lista considerável de lançamentos de livros de outros escritores e produção do IMC, como a coletânea Pernambuco, terra da poesia: um painel da poesia pernambucana dos séculos XVI ao XXI, organizada pelo próprio Antônio Campos e por Cláudia Cordeiro (IMC/Escrituras Editora, 2005). Além disso, o IMC realiza eventos culturais, como participação com a “Casa das Letras” no I Festival de Literatura de Garanhuns (2006) e a realização da III Fliporto - Festa Literária Internacional de Porto de Galinhas, Pernambuco, com o tema “Integração Cultural Latino-Americana”. É autor de diversos livros, nas áreas do Direito, Gestão Empresarial e Literatura (contos, crônicas, ensaios). Sites: www.imcbr.org.br / www.antoniocampos.com.br

Cyl Gallindo nasceu em Buíque (PE), em 28 de maio de 1935. Diplomado em Ciências Sociais pela UFPE, é escritor, poeta, jornalista e conferencista. Trabalhou na Assessoria de Comunicação do Senado Federal e de outras repartições públicas. Foi repórter, redator, editor e colunista de jornais de Pernambuco, Brasília, e Mato Grosso, além de correspondente do Jornal de Letras, RJ. Produziu e apresentou o programa Síntese na TV Universitária, Recife, e colaborou com o jornal Gazeta do Povo, Paraná. É membro da Academia de Letras do Brasil, do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal, da ANE, Brasília (DF), e da UBE-P. Recém-eleito para a Alane, cadeira nº 18, substituindo o escritor William Ferrer Coelho. Foi membro (fundador) do Conselho Municipal de Cultura do Recife e é membro efetivo da Alane. Atualmente representa no Brasil a Francachela, Revista Internacional de Literatura e Arte, editada na Argentina e é diretor da Cicla, destinada a

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tradução e publicação de obra de autores brasileiros contemporâneos, na Argentina, e faz parte do Conselho Editorial da revista Encontro, do GPL, PE. Autor de diversos livros premiados, escreveu artigos, reportagens, críticas, crônicas, entrevistas, poesias e contos publicados em antologias, jornais e revistas de diversos Estados do Brasil. No exterior, foi traduzido, respectivamente, para o espanhol, alemão e francês, em: Francachela, Argentina; Xicóatl, Áustria; Rampa, Colômbia; Poésie du Brésil (org. Lourdes Sarmento), França; e Prismal (org. Regina Igel), University of Maryland, Estados Unidos.

Felipe MachadoFelipe MachadoFelipe MachadoFelipe Machado

(Olhos cor de (Olhos cor de (Olhos cor de (Olhos cor de chuva)chuva)chuva)chuva)

Quando você dança com o diabo, você não muda o diabo, o diabo muda você. Andrew K. Walker

Um texto surpreendente, da primeira à última página. O ritmo inicial é calmo, permitindo que nos acomodemos na poltrona, como em um bom filme. Rapidamente, no entanto, somos capturados em um vórtice de sentimentos e emoções que harmonizam o real e o possível, o atual e o virtual, tornando o gesto mais delirante absolutamente lógico e natural. Após a leitura, não restará quem ache impossível apaixonar-se por um par de olhos cor de chuva, de alguma forma, em algum contexto...

...Aquela noite tinha tudo para ser apenas mais uma na agitada vida do escritor Alexandre Nastari. Freqüentador assíduo do Dixie - casa noturna e palco da big band Great Gatsbies -, viu sua vida mudar repentinamente: Manoela. Após uma noite inesquecível, Alex convida Manoela a se mudar para o seu apartamento. Um dia, da mesma maneira inesperada que surgiu, Manoela se foi. Alex encontra sua mulher morta.

Buscando uma razão para o assassinato da amada, acaba conhecendo

Vanessa, ex-garçonete do Dixie e melhor amiga de Manoela. Entre várias revelações, ela conta que aquele não era o nome real da amiga, e que as duas trabalhavam no passado como prostitutas. Vanessa se muda para o seu apartamento. A família Nastari, querendo apresentar a garota à sociedade, oferece um almoço para o casal. Mas tudo dá errado e Vanessa deixa o local abalada Motivo: Enrico era um cliente antigo dela e de Manoela.

Alex tenta matar o pai, mas é impedido por Elizabeth e o velho empregado dos Nastari. As noites ficam cada vez mais pesadas, com cocaína, maconha e vodka, suas companheiras inseparáveis. Uma semana depois, o escritor vai ao Café Mondrian, local onde costumava buscar inspiração. Lá ele conhece Aline, outra paixão à primeira vista, igualmente fulminante, que o faz terminar o relacionamento com Vanessa. Alex conhece os artistas europeus Jorge Galies e Christian Lefuric, amigos de John. Lefuric, que lhe mostram a imagem de uma mulher que transformaria novamente sua vida.

Há, entretanto, um pequeno problema: ela não é real. Criada no computador por designers europeus, a personagem virtual é a última fronteira entre Alex e a loucura. O amor dá lugar a uma obsessão platônica quando, depois de tantos relacionamentos fracassados. Alex acredita ter encontrado a mulher perfeita...

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Sobre o Autor Felipe Machado passou a adolescência

escutando Beatles e Led Zeppelin com a mesma atenção com que ouvia em casa o ruído ininterrupto das máquinas de escrever de seus pais, ambos jornalistas. Seus discos, no entanto, não eram os únicos companheiros: os livros de Monteiro Lobato e Agatha Christie também eram retirados da estante e devorados, um a um. Aos 12 anos, ganhou a primeira guitarra. Aos 16, gravou o primeiro disco com uma banda formada com amigos de infância.

Pouco depois, o VIPER já lançava discos no mundo inteiro e fazia turnês pela Europa, Japão e Estados Unidos. Os livros ficaram na estante, esperando. No final do século XX, influenciado por personagens reais - e completamente irreais - da noite paulistana, Machado

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partiu para uma nova carreira e um desafio ainda maior: escrever Olhos Cor de Chuva, romance finalizado poucos dias antes de entrar no prelo. Hoje, continua vivendo entre a música e as letras: depois de trabalhar como redator na agência de propaganda DPZ, ele divide seu tempo entre os palcos da banda Metanol e a redação do Jornal da Tarde.

Myriam CampelloMyriam CampelloMyriam CampelloMyriam Campello (Como Esquecer (Como Esquecer (Como Esquecer (Como Esquecer ---- anotações quase anotações quase anotações quase anotações quase

inglesas)inglesas)inglesas)inglesas)

O livro Como esquecer (anotações

quase inglesas), de Myriam Campello, foi roteirizado para o cinema e começou a ser rodado no início de 2008, sob a direção de Malu De Martino (Mulheres do Brasil). A protagonista do filme será a atriz Andréa Beltrão.

Qual é a natureza do amor? E de sua perda?

Numa casa à beira-mar, todos os personagens sofreram algum tipo de perda. Como esquecer (anotações quase inglesas), título que revela a anglofilia da autora, Myriam Campello, é o mapa desse emocionante percurso interior que se acompanha como uma aventura em mar aberto. Duas mulheres formam o par amoroso central que se desfaz e deixa todo um deserto de lembranças e sofrimentos. No texto corre a dramaticidade de desilusões e perdas, misturadas com referências à Inglaterra por toda a narrativa, como o casal Catherine e Heathcliff do clássico de Emily Brontë, O morro dos ventos uivantes. O que nos faz relacioná-lo à intensidade da personagem, tanto na forma de amar como de sofrer. Da mesma forma como no relacionamento do casal há uma dependência, ao ponto de Catherine afirmar que é Heathcliff, na obra, há também esse sentimento entre Júlia e Antônia.

Através da narrativa da protagonista Júlia, somos envoltos por um emaranhado de lembranças sofridas e nostálgicas que, na maioria das vezes, são carregadas de um humor sarcástico - Quando alguém diz eu te

amo para sempre, tenha certeza que você só tem uma opção: acreditar, babaca. Eu acredito em amor eterno, Papai Noel, coelhinho da Páscoa e que todo sofrimento tem fim - Conformada com a dor, passa a ironizá-la e a tratá-la como parte comum de sua vida. Pelas páginas desse romance, Júlia vai divagando sobre seus medos, suas dores e tentativas de esquecer um amor. Tentativas de se sustentar pelas próprias pernas, sem depositar sua vida no outro. Embriagada pelas lembranças, a personagem vive, muitas vezes, ausências da realidade, pega-se flutuando fora do mundo ao seu redor. Ela vive a constante busca de sua liberdade: esquecer e expulsar definitivamente da memória aquela que a abandonou.

Júlia compartilha com seus amigos o seu sofrimento. Personagens tão complexos quanto Júlia, que também perderam pessoas importantes, cada um de uma forma. Suas ações e reações estão muito próximas de nós. São todos convocados a olharem para dentro deles mesmos e a conhecerem-se a si mesmos, numa tentativa de vencer o caos, sejam quais forem as combinações afetivas.

O texto cola a palavra ao complexo ato de viver e transformar-se em pura criação literária. É esta quem reina soberana e que faz a leitura desse romance um sofisticado prazer. A experiência da perda comum a todos, a serviço de um estilo inconfundível, torna o livro impossível de esquecer.

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Sobre a Autora Myriam Campello nasceu no Rio de Janeiro. Com Cerimônia da noite, seu primeiro livro, recebeu em 1972 o Prêmio Fernando Chinaglia para romance inédito. Publicou ainda Sortilegiu (romance, 1981), São Sebastião blues (romance, 1993), editado na Alemanha em 1998, e ainda este ano será publicado na França, e Sons e outros frutos (contos, 1998), vencedor da Bolsa para Conclusão de Obra da Biblioteca Nacional, em 1996. Recebeu o Prêmio União Latina - Concurso Guimarães Rosa para conto inédito, em 1997. Participou de diversas antologias brasileiras, entre elas Os cem melhores contos brasileiros do século (2000). Tem contos publicados na Polônia, Alemanha, Holanda, França e Estados Unidos.

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Academia de Letras do Brasil/ Academia de Letras do Brasil/ Academia de Letras do Brasil/ Academia de Letras do Brasil/

Estado do ParanáEstado do ParanáEstado do ParanáEstado do Paraná

Imortais

A solenidade dos novos membros Imortais da ALB, pelo Estado do Paraná será realizada na cidade de Maringá, na data de 14 de agosto de 2010, sábado, às 20hs.

Pelo Paraná as cadeiras estão assim

compostas:

CADEIRAS da Academia de Letras do Brasil 001 - Dr. JOSÉ FELDMAN - Ph.I. Ubiratã Patrono: Paulo Leminski 002 – ROZA DE OLIVEIRA (posse em agosto 2010) Curitiba Patrono: Helena Kolody 003 – ANDRÉA MOTTA (posse em agosto 2010) Curitiba Patrono: Emiliano Pernet 007 – OLGA AGULHON (posse em agosto 2010) Maringá Patrono: Antonio Facci 020 – LAIRTON TROVÃO DE ANDRADE (posse em agosto 2010) Pinhalão Patrono: Paulo Setúbal 025 – ALBERTO PACO (posse em agosto 2010) Maringá Patrono: Jorge Amado

028 - DARTAGNAN PINTO GUEDES - Ms. Londrina

034 – MARIA ELIANA PALMA (posse em agosto 2010)

Maringá Patrono: Rachel de Queiróz

043 - ORLY BUCHI (UFPR) Curitiba

055 – SINCLAIR POZZA CASEMIRO (posse em agosto 2010) Campo Mourão Patrono: Aracyldo Marques

069 - Dr. ANDRÉ G. CARNEIRO - Ph. I. Curitiba Patrono: Oswald de Andrade

077 - JORGE JOSÉ MATIEVICZ - Ph.I. Cascavel

Os outros novos Imortais são:

ANTONIO AUGUSTO DE ASSIS Maringá

VANIA MARIA DE SOUZA ENNES Curitiba

VALTER MARTINS DE TOLEDO Curitiba

ANGELO BATISTA Curitiba

Convidados a serem membros, no aguardo de contato:

RENATO BENVINDO FRATA Paranavaí NEIDE ROCHA PORTUGAL Bandeirantes

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INDICAÇÃO DE SITES DE LITERATURAINDICAÇÃO DE SITES DE LITERATURAINDICAÇÃO DE SITES DE LITERATURAINDICAÇÃO DE SITES DE LITERATURA

Literatura em geral http://www.coladaweb.com http://www.releituras.com http://literaturasemfronteiras.blogspot.com http://www.poetasdelmundo.com http://www.vaniadiniz.pro.br http://singrandohorizontes.blogspot.com Literatura do Paraná http://simultaneidades.blogspot.com Academia de Letras de Maringá http://www.academiadeletrasdemaringa.com.br Academia de Letras de Rondônia http://www.acler.josevaldir.com Academia Sorocabana de Letras http://www.academiasorocabana.com.br Academia Paranaense de Letras http://www.academiaprletras.kit.net Academia Brasileira de Letras http://www.academia.org.br

Academia de Letras do Brasil http://www.academialetrasbrasil.org.br Domínio Público (livros digitais) http://www.dominiopublico.gov.br Escritores do Sul http://www.escritoresdosul.com.br Trovas http://www.falandodetrova.com.br Alma de Poeta http://www.sardenbergpoesias.com.br Portal de Literatura e Arte http://www.cronopios.com.br Jornal de Poesia http://www.jornaldepoesia.jor.br Cultura Popular Brasileira http://www.jangadabrasil.com.br Poetrix http://www.gouglartgomes.com

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FONTES:

SINCLAIR POZZA CASEMIRO Colaboração de Nei Garcez. http://www.caminhodepeabiru.com.br/ http://zuboski.blogspot.com/ Currículo Lattes. Dados adicionais e atualizados fornecidos pela Escritora. SARTORI, Rubens Luiz. Compêndio da Academia Mourãense de Letras.2004. ANTONIO BRÁS CONSTANTE – Colaboração do autor. – Imagem = http://animatoons.com.br ARIOSWALDO TRANCOSO CRUZ Antologia dos Acadêmicos. Edição Comemorativa dos 60 anos da Academia de Letras José de Alencar. SP: Scortecci PEDRO MALASARTES http://victorian.fortunecity.com/postmodern/135/pedromala.htm http://climashopping.jacotei.com.br/ (imagem) NILTO MACIEL Colaboração de Nilto Maciel http://www.revista.agulha.nom.br/nilto.html#biografia Jornal de Poesia. http://www.revista.agulha.nom.br/nilto.html NILTO MACIEL (CARLIM) MACIEL, Nilto. Pescoço de girafa na poeira. Brasília: Bárbara Bela, 1999. p.69-70. Foto: http://geracaobraga2009.blogspot.com GRACILIANO RAMOS SALES, Herberto (org.) Antologia de Contos Brasileiros. São Paulo: EDIOURO, 2005. p. 141-148. http://www.vidaslusofonas.pt/graciliano_ramos.htm GRACILIANO RAMOS (A SAFRA DE TATUS) http://www.alfredo-braga.pro.br/biblioteca/asafradetatus.html Imagem = http:// www.klickeducacao.com.br EMILIANO PERNETA http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/parana http://livrosparatodos.net/biografias/emiliano-perneta.html http://livrosparatodos.net/biografias/emiliano-perneta.html http://br.geocities.com/poesiaeterna/poetas/brasil/emilianoperneta.htm

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SIMÕES LOPES NETO (CONTOS GAUCHESCOS) http://www.passeiweb.com http://www.antoniomiranda.com.br BAÚ DE TROVAS Braz Chediak. http://www.violacaipira.com.br/musicabrasileira/index.php?go=trovaDetalhe&id=3 MACHADO DE ASSIS (COMO SE INVENTARAM OS ALMANAQUES) http://www.dominiopublico.gov.br O NOSSO PORTUGUÊS DE CADA DIA Apostila da Caixa Econômica Federal. Instituo Padre Reus, 2004. NELSON SALDANHA D’ OLIVEIRA Antologia dos Acadêmicos: edição comemorativa dos 60 anos da Academia de Letras José de Alencar. SP: Scortecci, 2001. Pintura = http://fazendoarteemfeira.blogspot.com Capa do Livro = Paisagem Campestre Paranaense de Albano Agner de Carvalho. VICÊNCIA JAGUARIBE Colaboração da autora. Imagem = http://osapal.blogspot.com PAULO BENTACUR http://www.artistasgauchos.com.br/ Pintura = http://www.flickr.com/photos/alex_matthiensen VALENTIM MAGALHÃES http://www.academia.org.br/ Biblioteca Eletronica. In Revista do CD Rom. n.156. julho 2008. Editora Europa. (CD-ROM). JOSÉ MARINS Alvaro Mariel Posselt In Recanto das Letras em 26/08/2008. http://recantodasletras.uol.com.br/ Desenho com haikai: http://www.sumauma.net Foto: http://www.revista.agulha.nom.br ANTONIO THADEU WOJCIECHOWSKI http://polacodabarreirinha.wordpress.com/ http://simultaneidades.blogspot.com ANDREY DO AMARAL – Entrevista Virtual realizada por José Feldman, para o Pavilhão Literário Cultural Singrando Horizontes.

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DELASNIEVE DASPET – Colaboração da poetisa – http://www.delasnievedaspet.com.br/ Revista Zap, de Elizabeth Misciaci. http://www.eunanet.net/beth/delasnieve_daspet_2.php http://pt.wikipedia.org/wiki/Delasnieve_Daspet http://www.poetasdelmundo.com/verInfo.asp?ID=60 ACADEMIA PERNAMBUCANA DE LETRAS FUNDAÇÃO Joaquim Nabuco. Disponível em http://www.fundaj.gov.br/notitia/ http://apl.iteci.com.br/ PARAÍSO, Rostand. Academia Pernambucana de Letras: sua história, v. 1 e v.2 . Recife: APL, 2006. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Academia_Pernambucana_de_Letras PERNAMBUCO - http://www.pe-az.com.br/pernambuco/pernambuco.htm POESIAS SEM FRONTEIRAS http://www.euclidescavaco.com/ http://escritas.paginas.sapo.pt/ CHICO ANYSIO ANYSIO, Chico. O batizado da vaca. RJ: Círculo do Livro, 1972. Projeto Releituras. CAMINHO DO PEABIRU http://www.caminhodepeabiru.com.br/ http://zuboski.blogspot.com/ TERRA SEM MAL Graciela Chamorro Extraído do livro:Cadernos do COMIN. Os Guarani:sua trajetória e seu modo de ser. http://www.djweb.com.br/historia/textos/terrasemmal.htm ESTANTE DE LIVROS Editora Escrituras Colaboração dos autores Lóla Prata, Andrey do Amaral e Antonio Brás Constante. Esta revista é única e exclusivamente a divulgação dos literatos, sem nenhum tipo de comercialização de seus artigos postados.