18 a 23 fev 2012

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estado de minas - P. 23 - 23.02.2012

Cont... estado de minas - P. 23 - 23.02.2012

Flávia AyerDos contos de fadas para a

mesa do bar, a história da Cinde-rela agora se repete diariamen-te no Bairro de Lourdes, nobre reduto gastronômico da Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Um acordo de cavalheiros entre a associação dos moradores (Ama-lou), a prefeitura e estabelecimen-tos levou restaurantes e bares a assumir o compromisso de retirar mesas e cadeiras da calçada pró-ximo das 12 badaladas noturnas. Se antes o tira-gosto e a cerveja gelada circulavam livremente até as 2h da madrugada, com o toque de recolher “voluntário”, por vol-ta das 23h os garçons anunciam a saideira aos clientes, para que, até as 0h30 os móveis ao ar livre se-jam recolhidos.

A restrição do horário de fun-cionamento para mesas na calçada é uma tentativa de achar o equilí-brio entre diversão e sossego, sem a necessidade de intervenção por meio do Ministério Público (MP) ou da Justiça, como já ocorreu em outras regiões da cidade. Desde novembro, bares da Rua Cobre, no Bairro Cruzeiro, Região Cen-tro-Sul, encerram as atividades às 22h30 todas as sextas-feiras, seguindo recomendação do MP estadual. Em março do ano pas-sado, decisão judicial determinou que sete estabelecimentos da Rua Guajajaras passassem a fechar as portas às 22h, nas quintas e sex-tas-feiras. A intervenção de pro-motores e a ação de moradores fazem parte de um embate que se espalha pela capital, em movi-mento por maior controle do uso do espaço público que já mobiliza comunidades de outras regiões, como a Savassi e a Pampulha, mas também desperta desconfiança de quem teme o fim da vida noturna na capital dos botecos.

Em Lourdes, a iniciativa tam-bém é resultado de pressão da co-munidade, incomodada com o ba-rulho provocado por frequentado-res dos bares, e segue orientação prevista na própria Lei do Silên-cio, que impõe regras para a emis-são de ruídos na capital. De acor-do com a Lei 9.505/2008, estabe-lecimentos que causem poluição sonora estarão sujeitos a medidas de controle, como a implantação de tratamento acústico, a restrição do horário de funcionamento ou, como no caso de Lourdes, a res-trição de áreas de permanência do público, entre outras ações.

Moradores já sentem os be-nefícios da medida, adotada inte-gralmente por estabelecimentos situados no principal reduto das reclamações, nos arredores das ruas Bárbara Heliodora e Santa Catarina. Não há uma contabi-lidade detalhada, mas, segundo a associação local, a maior parte das 57 casas noturnas do bairro já aderiu. “O acordo foi muito bom e não precisamos de acionar ou-tros órgãos. Clientes que quise-rem permanecer depois das 0h30 têm que ficar na parte interna dos bares”, explica o presidente da Amalou, Jeferson Rios. A mora-dora Maria Auxiliadora Guerra, que precisou recorrer até mesmo a uma janela acústica para conter o burburinho da noite em Lour-des, reconhece avanços. “Já tive-mos alguma melhora, mas temos muitos problemas com uma casa em que o barulho começa às 3h da madrugada”, afirma.

RiGoR Mas a restrição tem desagra-

dado frequentadores, que criticam o rigor da restrição, considerada um golpe na tradição boêmia de BH. “A cidade não tem uma vida

cultural intensa e os bares de Lour-des são uma das atrações turísti-cas. Dessa forma, estão pouco a pouco matando a boemia de Belo Horizonte. É como se restringis-sem o horário de funcionamento da praia no Rio de Janeiro”, afir-ma o profissional de turismo Luiz Fernando Paletta, de 31 anos, ao lado do amigo Leandro Fontes, de 26, no Boi Lourdes.

No estabelecimento, que conta com 16 mesas internas e 30 externas, banners avisam os clien-tes sobre a restrição de horário na calçada. “Há um mês adotamos a medida, em todos os dias da se-mana. Os clientes estão se confor-mando e as reclamações diminuí-ram”, diz o gerente, George Dias. Já no bar Tizé o público está resis-tente. “A clientela reclama muito, pois antes as mesas ficavam até as 2h. Agora, passamos a saideira às 23h. Muitas vezes, não temos mesas disponíveis dentro da casa e os frequentadores não querem ir embora”, conta o subgerente, Bernardino de Sá, que contabiliza em 40% a queda nos lucros.

Frequentador do bar, o publi-citário Waldemar França, de 46, que foi ontem ao estabelecimento acompanhado da mulher, Laura França, de 27, não faz parte do time dos resistentes. “Quem es-colhe morar aqui está no direito de ter tranquilidade. O problema de BH é que a cidade não tem lugares não residenciais que con-centrem restaurantes e áreas de lazer”, ressalta. A dona de casa Letícia Geissler Grissi, de 34, entende os moradores, mas con-sidera a restrição rígida demais. “Pensando nos moradores, acho corretíssima a restrição, mas ado-ro um ‘iê-iê-iê’ e acho exagerado o fechamento às 24h. A Cinderela era do tempo de outrora.”

estado de minas – P. 15 – 22.02.2012 toQUe de ReCoLHeR

Efeito Cinderela nos bares de Lourdes Pressionados por moradores, bares e restaurantes se rendem e recolhem mesas das calçadas depois das 12 badaladas.

Vizinhos comemoram a medida, mas há quem veja na saideira antecipada um duro golpe na boemia da capital dos botecos

A crescente indignação das pes-soas pelos sofrimentos causados por bares e botecos em Belo Horizonte vem despertando a consciência dos nossos políticos mais comprometi-dos com o bem-estar da população. Busca-se o endurecimento da legis-lação. Em sentido contrário a esse movimento, os estabelecimentos alegam que a imposição de medi-das restritivas de poluição sonora vai tirar de Belo Horizonte a glória de ser a capital mundial dos bares, gerando desemprego no setor.

Esses dois argumentos só ser-vem para manipular a opinião pú-blica menos esclarecida e não re-sistem a uma análise minimamente racional. Se a nossa cidade é a ca-pital dos bares, por extensão somos a capital do alcoolismo. Valorizar esse título constitui uma apologia ao vício, que se torna elegante e charmoso. Não é razoável que esse título seja motivo de honra para a cidade. Outras cidades fazem cha-cota disso e preferem se orgulhar da qualidade dos serviços públicos, educação dos cidadãos e qualidade de vida.

O segundo argumento está ain-da mais na contramão da realidade. Por exemplo, as duras restrições que vêm sendo impostas aos fu-mantes causam perda de renda para os agricultores (são 187 mil famí-lias no Brasil), vêm fechando fábri-cas de cigarros e gerando redução na demanda de serviços médicos. É enorme o desemprego que tem resultado dessas políticas públicas. Todas essas medidas vinham sendo alvo do clamor público e só agora vêm merecendo a atenção das au-toridades. Esse tipo de desemprego, como o dos bares, não merece la-mentações.

Poluição sonora mata da mes-ma maneira que a poluição química ou biológica. A vizinhança de bares e botecos resulta numa significativa perda de qualidade de vida e já atin-giu o nível de calamidade na saúde pública. Cerca de 55% das recla-

mações da Lei do Silêncio, feitas pelo telefone 156, são relativas ao funcionamento dos bares. O índice máximo de poluição sonora con-siderado ideal para o ser humano pela Organização Mundial da Saú-de (OMS) é de até 55 decibéis, mas à noite o barulho começa a prejudi-car o sono a partir de 30 decibéis. “Quando o som ultrapassa os 65 decibéis, perdem-se 40% do sono profundo responsável pela recupe-ração física, mental e psicológica do indivíduo”, explica o neurofi-siologista Fernando de Souza. Isso aumenta o risco de doenças como derrame, infarto e hipertensão, pois o sono fragmentado eleva a pressão arterial. A voz humana normal gira em torno de 55 decibéis, mas a al-gazarra dos bares supera os 70 de-cibéis. A música alta que sai do bar alcança 70 decibéis a 100 metros do local de origem.

Há também perdas econômi-cas, que vão desde os custos com medidas paliativas (janelas de vidro duplo etc.) até a desvalorização dos imóveis em função da presença do ruído excessivo. O movimento dos bares avança pela madrugada e a gritaria vai se agravando com o au-mento do teor etílico. Vem acompa-nhada de carros estacionados em lo-cais proibidos, motoristas bêbados, brigas e algazarra nas imediações.

Para garantir uma vida tolerá-vel em sociedade e a saúde pública, é necessário que seja incluída na legislação para os bares a exigên-cia do licenciamento ambiental, conforme a Deliberação 74/2004 do Copam, no mínimo no nível 3. Com essa providência serão exami-nados todos os impactos ambientais da atividade, realizadas audiências públicas com a comunidade envol-vida e, caso ocorra a aprovação, se-rão estabelecidas as condicionantes apropriadas. Assim, a comunidade e os órgãos de fiscalização saberão claramente as regras a que esses es-tabelecimentos devem obedecer,

estado de minas – on Line – 19.03.2012

Bares, ruídos e doenças em BH

A notável redução do ritmo de des-matamento dos diferentes biomas bra-sileiros, constatada por novo levanta-mento do Ministério do Meio Ambiente (MMA), torna a questão da preservação florestal bem menos preocupante do que era há alguns anos. O exemplo mais destacado da mudança, para melhor, do padrão de ocupação ou de devastação das florestas brasileiras talvez seja o da Mata Atlântica, que, entre 2008 e 2009 - são os dados mais recentes para a área -, teve taxa de abate de sua vegetação nativa praticamente igual a zero.

Pode-se argumentar que, sendo a Mata Atlântica o mais desmatado dos biomas brasileiros - estima-se que te-nha perdido mais de três quartos de sua cobertura original -, pouco resta dela para ser abatido. Mesmo assim, a situ-ação podia ser pior do que a constatada pelo levantamento do MMA. No levan-tamento anterior, referente ao período de 2002 a 2008, por exemplo, a taxa de desmatamento tinha sido de 0,25%; agora, foi de apenas 0,02%. Em 6 dos 15 Estados que compõem o território coberto pela Mata Atlântica, não foi re-gistrado nenhum desmatamento maior do que 4 hectares, que é a área mínima captada pelos satélites utilizados no mo-nitoramento das florestas brasileiras.

Levantamentos de organizações não governamentais preocupadas com a preservação da Mata Atlântica também indicam a redução do índice de desma-tamento. O atlas divulgado no ano pas-sado pela Fundação SOS Mata Atlânti-ca, em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), referente ao período 2008-2010, mostrou que a Mata Atlântica perdeu 31.195 hectares de sua cobertura. Essa área equivale a 196 Parques do Ibirapuera, mas a taxa de desmatamento anual desse período é 55% menor do que a do período coberto pelo atlas anterior, de 2005 a 2008.

A discrepância de dados é atribuída ao fato de que o levantamento do MMA não cobriu a área integral da Mata Atlântica definida em lei específica para esse bioma. A lei inclui, por exemplo, as matas secas de Minas Gerais, Bahia e Piauí, “que têm sofrido fortes amea-

ças”, segundo a diretora da SOS Mata Atlântica Márcia Hirota. Mesmo assim, ela reconhece que o levantamento do MMA traz boas notícias.

São animadores também os dados referentes a dois outros biomas agora monitorados por satélite. O Pantanal perdeu 0,12% de sua vegetação nativa entre 2008 e 2009, bem menos do que perdera entre 2002 e 2008 (2,83%). No Pampa, que já perdeu 54,1% de sua cobertura original, o índice de desma-tamento caiu de 1,2% para 0,18%. Por serem as áreas onde o desmatamento atingiu índices preocupantes e vem pro-vocando fortes críticas às autoridades brasileiras no exterior, a Amazônia e o Cerrado estão sendo monitorados com mais intensidade e dispõem de dados mais recentes. Também nessas áreas caiu o ritmo de abate de árvores.

Recordista em desmatamento, o Cerrado perdeu 7.637 quilômetros qua-drados de sua área original entre 2008 e 2009; entre 2009 e 2010, a área abatida diminuiu para 6.469 quilômetros qua-drados. Na Amazônia, a perda regis-trada entre agosto de 2010 e julho de 2011, de 6.238 quilômetros quadrados, foi 11% menor do que a observada no período imediatamente anterior.

O governo parece ver com realis-mo essa evolução. “É uma boa notícia. O ritmo (do desmatamento) é muito menor que o registrado até 2008”, dis-se ao Estado (10/2) a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira. Em segui-da, porém, fez a necessária ressalva: “A pressão ainda existe e precisamos aperfeiçoar a metodologia do monito-ramento para orientar a fiscalização e a política de recuperação”.

De fato, com o apoio de uma le-gislação ambiental mais eficaz - como o novo Código Florestal, já aprovado pelo Senado, mas ainda dependente de nova votação na Câmara dos Deputa-dos, prevista para o início de março -, a ação governamental deve ser inten-sificada, por meio de fiscalização mais atenta e rigorosa, pois isso continua sendo essencial para conter a destruição das florestas.

o estado de sP – on Line – 19.03.2012

Menos desmatamento

Hoje em dia - P. 06 - 23.02.2012

diáRio do ComéRCio - P. 5 - 23.02.2012