1.6.2 classificação quanto aos elementos: obrigações...

24
1.6.2 Classificação quanto aos elementos: - Obrigações SIMPLES - Obrigações COMPOSTAS, PLURAIS ou COMPLEXAS, que poderão ser: - Objetivas: - Cumulativas - Alternativas - Facultativas - Subjetivas: - Fracionárias divisíveis ou indivisíveis - Solidárias Obrigação SIMPLES As obrigações simples são aquelas que possuem 1 sujeito passivo, 1 sujeito ativo e 1 objeto. É o caso típico dos contratos bilaterias ou sinalagmáticos em que há 1 credor, 1 devedor, 1 prestação e obrigações para ambas as partes. Atenção! Nesse caso há pluralidade de obrigações! A análise há de ser feita separadamente. Ex.: Contrato de compra e venda entre A e B de um cavalo: 1 devedor - 1 prestação -- PAGAR 1 credor - 1 prestação -- ENTREGAR O CAVALO Há pluralidade de obrigações (pagar e entregar o cavalo), mas cada sujeito tem que cumprir apenas 1 prestação. Obrigação PLURAL, COMPOSTA OU COMPLEXA São aquelas que sempre terão um de seus elementos no plural (sujeitos ou objetos/prestações) As obrigações plurais poderão ser objetivas (aquelas que possuem mais de um objeto/prestação) ou subjetivas (aquelas que possuem mais de 1 credor ou mais de 1 devedor).

Upload: doanminh

Post on 17-Dec-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: 1.6.2 Classificação quanto aos elementos: Obrigações ...esmeg.org.br/pdfMural/dra._barbara_-_02-05-2011.pdf · *A e B são credores de C do montante de R$ 400 mil. A, sozinho,

1.6.2 – Classificação quanto aos elementos:

- Obrigações SIMPLES

- Obrigações COMPOSTAS, PLURAIS ou COMPLEXAS, que poderão ser:

- Objetivas:

- Cumulativas

- Alternativas - Facultativas

- Subjetivas:

- Fracionárias – divisíveis ou indivisíveis

- Solidárias

Obrigação SIMPLES

As obrigações simples são aquelas que possuem 1 sujeito

passivo, 1 sujeito ativo e 1 objeto.

É o caso típico dos contratos bilaterias ou sinalagmáticos em que há 1 credor, 1 devedor, 1 prestação e obrigações para ambas as

partes.

Atenção! Nesse caso há pluralidade de obrigações! A análise há de ser feita separadamente.

Ex.: Contrato de compra e venda entre A e B de um cavalo:

1 devedor - 1 prestação -- PAGAR 1 credor - 1 prestação -- ENTREGAR O CAVALO

Há pluralidade de obrigações (pagar e entregar o cavalo), mas

cada sujeito tem que cumprir apenas 1 prestação.

Obrigação PLURAL, COMPOSTA OU COMPLEXA

São aquelas que sempre terão um de seus elementos no plural (sujeitos ou objetos/prestações)

As obrigações plurais poderão ser objetivas (aquelas que

possuem mais de um objeto/prestação) ou subjetivas (aquelas que possuem mais de 1 credor ou mais de 1 devedor).

Page 2: 1.6.2 Classificação quanto aos elementos: Obrigações ...esmeg.org.br/pdfMural/dra._barbara_-_02-05-2011.pdf · *A e B são credores de C do montante de R$ 400 mil. A, sozinho,

OBRIGAÇÃO PLURAL, COMPOSTA OU COMPLEXA –

Objetiva:

As obrigações plurais objetivas poderão ser:

- cumulativas

- alternativas - facultativas

Obrigação CUMULATIVA ou CONJUNTIVA:

Objetos ligados pelo termo aditivo “E”.

“Entregar o cavalo E o boi”

Cumprimento parcial = Descumprimento total, *se o credor não aceitar o cumprimento parcial.

Obrigação cumulativa X Obrigações distintas reunidas no mesmo NJ:

Nem sempre é fácil distinguir uma obrigação cumulativa de um

grupo de obrigações distintas apenas reunidas em um mesmo negócio jurídico.

As obrigações cumulativas possuem várias prestações ligadas

por um nexo que cria uma unidade indivisível.

A escolha por obrigações distintas ou obrigação cumulativa cabe à VONTADE DAS PARTES.

Um indício de obrigação cumulativa pode se dar pela forma de

pagamento: Quando o pagamento se dá de forma única,

indiscriminada e não em quotas distintas cada uma referente a determinada prestação.

Obrigação ALTERNATIVA:

Objetos ligados pelo termo “OU”.

“Entregar o cavalo OU o boi”

Page 3: 1.6.2 Classificação quanto aos elementos: Obrigações ...esmeg.org.br/pdfMural/dra._barbara_-_02-05-2011.pdf · *A e B são credores de C do montante de R$ 400 mil. A, sozinho,

É uma prestação ou a outra. Não há uma prestação principal e

uma subsidiária.

Não havendo disposição contratual quanto a quem escolhe,

beneficia-se o devedor (CC, art. 252).

Havendo pluralidade de optantes, necessária é a unanimidade entre eles (CC, art. 252, §3º).

CC, Art. 252. Nas obrigações alternativas, a escolha cabe ao

devedor, se outra coisa não se estipulou. § 1o Não pode o devedor obrigar o credor a receber parte em

uma prestação e parte em outra. § 2o Quando a obrigação for de prestações periódicas, a faculdade de opção poderá ser exercida em cada período.

§ 3o No caso de pluralidade de optantes, não havendo acordo unânime entre eles, decidirá o juiz, findo o prazo por este

assinado para a deliberação. § 4o Se o título deferir a opção a terceiro, e este não quiser, ou não puder exercê-la, caberá ao juiz a escolha se não houver

acordo entre as partes.

Obrigação Alternativa X Obrigação de dar coisa incerta

CC, Art. 243. A coisa incerta será indicada, ao menos, pelo gênero e pela quantidade.

Obrigações simples, cuja prestação é determinável.

Não há alternatividade de opções, há individualização de uma só prestação pela escolha da sua qualidade.

Pontes de Miranda, citado por Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald:

ora, se no que concerne às obrigações alternativas, se pode

falar em concentração, e de escolha, não é que ocorre com as obrigações genéricas. Quem escolhe internamente ( = dentro do gênero), não concentra, concretiza.

“Balanceamento da concentração nas prestações periódicas”

Nome dado por Gustavo Tepedino à possibilidade de exercício do jus variandi nas prestações periódicas.

Prestações alternativas cumpridas ano a ano ou mês a mês – O titular

do direito de escolha pode exercer esse direito a cada mês / ano.

CC, Art. 252, § 2º.

Page 4: 1.6.2 Classificação quanto aos elementos: Obrigações ...esmeg.org.br/pdfMural/dra._barbara_-_02-05-2011.pdf · *A e B são credores de C do montante de R$ 400 mil. A, sozinho,

Obrigação FACULTATIVA OU DE FACULDADE

ALTERNATIVA:

Presença da palavra “faculdade” ou alguma de suas variações.

“Obrigo-me a entregar o cavalo,

mas reservo-me a faculdade de entregar o boi no lugar do cavalo.”

Há uma obrigação e uma faculdade do devedor. A obrigação (entregar o cavalo) pode ser cobrada pelo credor. A faculdade do

devedor (entregar o boi) nunca poderá ser cobrada pelo credor. É uma faculdade exclusiva do devedor.

*Para diversos autores a obrigação facultativa é na verdade

uma obrigação simples e não plural, pois só há obrigação por uma das prestações.

OBRIGAÇÃO PLURAL, COMPOSTA OU COMPLEXA –

Subjetiva:

As obrigações plurais subjetivas poderão ser:

- Fracionárias – divisíveis ou indivisíveis - Solidárias

Obrigação FRACIONÁRIA

A obrigação fracionária é aquela onde não se estabeleceu solidariedade entre as partes.

*A solidariedade há de ser SEMPRE declarada! Soliedariedade

NUNCA pode ser presumida. Sempre será resultado da lei ou da

vontade das partes – CC – Art. 265.

Assim, a regra geral é a não solidariedade, ou a obrigação fracionária, sendo solidária apenas se assim declarado.

Quando a obrigação for fracionária, há de observar-se o tipo de

prestação. Se é uma prestação divisível ou indivisível.

Obrigação FRACIONÁRIA de prestação DIVISÍVEL:

Prestação divisível = pode ser fracionada sem perder a

utilidade, o valor ou a substância. Ex.: $

Page 5: 1.6.2 Classificação quanto aos elementos: Obrigações ...esmeg.org.br/pdfMural/dra._barbara_-_02-05-2011.pdf · *A e B são credores de C do montante de R$ 400 mil. A, sozinho,

A é credor de B e C (cada um responsável por 50%) do

montante de R$ 400 mil.

Se a prestação for divisível, cada credor/devedor somente

poderá cobrar/ser cobrado a/da sua quota parte na prestação.

A só poderá cobrar de B o valor de R$ 200 mil.

Obrigação FRACIONÁRIA de prestação INDIVISÍVEL:

Prestação indivisível = impossível o fracionamento sem perda

da utilidade, do valor ou da substância. Ex. Típico de concurso: Touro reprodutor, vaca premiada.

A é credor de B e C do “Manhoso”, um cavalo de corrida.

Se a prestação for indivisível, cada credor/devedor poderá

cobrar/ser cobrado sozinho a/da totalidade da prestação.

A poderá cobrar de B a entrega do touro.

Essa indivisibilidade pode ser:

legal - ex.: um módulo rural,

Natural - ex.: o cavalo, Convencional - ex.: contrato estipula que a obrigação só

poderá ser cumprida por inteiro, o que pode ser usado, inclusive, para contratos cuja prestação é dar dinheiro.

Desoneração do devedor – Obrigação Fracionária (Prest. indivisível):

CC, art. 260 – Obrigação Fracionária de prestação INDIVISÍVEL, quando houver pluralidade de CREDORES:

CC, Art. 260. Se a pluralidade for dos credores, poderá cada

um destes exigir a dívida inteira; mas o devedor ou devedores se desobrigarão, pagando: I - a todos conjuntamente;

II - a um, dando este caução de ratificação dos outros credores.

Ex.: 3 credores, 1 objeto, 1 devedor.

O devedor só se desonera quando paga aos 3 credores, mas

pode pagar a apenas 1, contanto que este lhe dê uma “caução de

Page 6: 1.6.2 Classificação quanto aos elementos: Obrigações ...esmeg.org.br/pdfMural/dra._barbara_-_02-05-2011.pdf · *A e B são credores de C do montante de R$ 400 mil. A, sozinho,

ratificação” = documento que comprova a aceitação dos demais

credores de que o objeto seja entregue a apenas um dos credores. Não havendo essa caução – Pagou mal, pagará novamente.

Desoneração do devedor – Obrigação Fracionária (Prest.

indivisível) X Obrigação Solidária:

Obrigação Fracionária de bem

indivisível – Pluralidade de

credores

Obrigação Solidária –

Pluralidade de credores

Art. 260. Se a pluralidade for dos

credores, poderá cada um destes exigir a dívida inteira; mas o

devedor ou devedores se desobrigarão, pagando:

I - a todos conjuntamente; II - a um, dando este caução de ratificação dos outros credores.

Art. 269. O pagamento feito a um dos credores solidários extingue a dívida até o montante do que foi

pago.

Obrigação SOLIDÁRIA

É aquela na qual há uma multiplicidade de credores ou devedores, os quais possuem direito ou obrigação individual por toda

a dívida.

CC, Art. 264. Há solidariedade, quando na mesma obrigação concorre mais de um credor, ou mais de um devedor, cada um com direito, ou obrigado, à dívida toda.

A solidariedade resulta sempre da lei ou da vontade das partes

(CC, art. 265), nunca podendo ser presumida!

CC, Art. 265. A solidariedade não se presume; resulta da lei ou da vontade das partes.

Pode ocorrer de 3 formas distintas:

- Solidariedade ATIVA – credores

- Solidariedade PASSIVA – devedores - Solidariedade MISTA – credores e devedores

Page 7: 1.6.2 Classificação quanto aos elementos: Obrigações ...esmeg.org.br/pdfMural/dra._barbara_-_02-05-2011.pdf · *A e B são credores de C do montante de R$ 400 mil. A, sozinho,

Obrigação solidária ATIVA (CC, art. 267):

Relação obrigacional com mais de um credor, na qual qualquer

um destes poderá cobrar sozinho do devedor o cumprimento da

prestação por inteiro, não importando se a prestação é divisível ou indivisível.

O devedor se desonera cumprindo a obrigação a qualquer dos

credores.

*A e B são credores de C do montante de R$ 400 mil. A, sozinho, poderá cobrar de C o pagamento dos R$ 400 mil.

*A e B são credores de C do “Manhoso”, um cavalo de corrida.

A, sozinho, poderá cobrar de C a entrega do animal.

CC, Art. 267. Cada um dos credores solidários tem direito a

exigir do devedor o cumprimento da prestação por inteiro.

Solidariedade ativa legal e convencional

Solidariedade ativa proveniente de lei:

Ex: Lei 209/48, art. 12 – débitos de pecuaristas.

Solidariedade ativa proveniente da vontade das partes:

Ex: Conta corrente conjunta.

Conta corrente conjunta

Cuidado! A conta corrente conjunta configura solidariedade

ATIVA!

A e B (correntistas) são credores solidários do banco. Cada um pode, sozinho, sacar valores, movimentá-los e exigir do banco o

cumprimento de suas obrigações.

Isso não gera uma automática solidariedade PASSIVA – A emite cheque sem fundos para C – Isso não quer dizer que B será devedor

solidário junto com A. Essa solidariedade não está expressa e não

pode ser presumida.

STJ vem entendendo que, a despeito da solidariedade ativa, não se pode responsabilizar o credor inocente pelos cheques sem provisão de fundos emitidos pelo outro. (Resp.

708.612/RO de 25.04.06). Pablo Stolze

Page 8: 1.6.2 Classificação quanto aos elementos: Obrigações ...esmeg.org.br/pdfMural/dra._barbara_-_02-05-2011.pdf · *A e B são credores de C do montante de R$ 400 mil. A, sozinho,

“ainda que marido e mulher, os co-titulares não são devedores

solidários perante o portador do cheque emitido por qualquer um deles sem suficiente provisão de fundos” REsp 13.680/SP

de 16.11.92

Para CC/NR – Viola o Princípio da boa-fé objetiva.

Fenômeno da PREVENÇÃO JUDICIAL

CC, Art. 268. Enquanto alguns dos credores solidários não demandarem o devedor comum, a qualquer daqueles poderá

este pagar.

Aquele credor que procedeu à primeira cobrança devida (ao tempo do vencimento) será beneficiado – Para ele o devedor deverá

pagar, sob pena de pagar 2 vezes.

Os demais credores deverão aguardar o deslinde da ação para receber os reembolsos.

Mitiga a liberdade do devedor de pagar a qualquer dos credores.

Possibilidade de pagamento parcial

CC, Art. 269. O pagamento feito a um dos credores solidários

extingue a dívida até o montante do que foi pago.

Havendo pagamento TOTAL – Credor que recebeu paga as cotas dos demais credores.

Havendo pagamento PARCIAL – extingue a dívida até o

montante do que foi pago. Demais credores podem cobrar o

débito remanescente.

A deve 90 reais para B, C e D.

A paga 30 para B. C e D podem cobrar 60 de A.

A paga 40 (mais que a sua quota) para B. C e D podem cobrar 50 de A.

Page 9: 1.6.2 Classificação quanto aos elementos: Obrigações ...esmeg.org.br/pdfMural/dra._barbara_-_02-05-2011.pdf · *A e B são credores de C do montante de R$ 400 mil. A, sozinho,

Se o devedor pagou quantia superior à quota do accipiens,

cada um dos credores pode reclamar o inteiro menos essa parte, sem ser obrigado a fazer imputação quanto ao

mencionado excesso.

CC, Art. 270. Se um dos credores solidários falecer deixando

herdeiros, cada um destes só terá direito a exigir e receber a quota do crédito que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível.

A deve para B, C e D 900 mil reais.

B falece deixando 3 sucessores (filhos).

Cada um desses filhos terá direito a uma quota de R$ 100 mil e só isto poderá ser cobrado de A por cada um dos

sucessores.

Diferente seria se a prestação fosse a entrega do cavalo manhoso.

Conversão em perdas e danos

CC, Art. 271. Convertendo-se a prestação em perdas e danos, subsiste, para todos os efeitos, a solidariedade.

A teria que entregar o cavalo manhoso para B, C e D.

O cavalo faleceu por culpa de A e a obrigação foi convertida em perdas e

danos no montante de 300 mil reais (equivalente + perdas e danos).

B, C ou D podem cobrar os 300 mil reais

inteiros de A.

TJ/Go 2009 Convertendo-se a prestação em perdas e danos

(A) Subsiste para todos os efeitos a solidariedade, mas quando a obrigação é indivisível, perde esta qualidade, e, mesmo que seja de um só a culpa,

todos os devedores responderão por partes iguais

(B) não subsistem a solidariedade e a indivisibilidade da obrigação e sendo de todos a culpa, todos respondem por partes iguais, mas sendo de um dos

devedores a culpa, os demais ficam exonerados

Page 10: 1.6.2 Classificação quanto aos elementos: Obrigações ...esmeg.org.br/pdfMural/dra._barbara_-_02-05-2011.pdf · *A e B são credores de C do montante de R$ 400 mil. A, sozinho,

(C) não subsiste a solidariedade, mas se mantém a indivisibilidade da

obrigação

(D) subsistem para todos os efeitos a solidariedade e a indivisibilidade da obrigação

(E) subsiste para todos os efeitos a solidariedade, mas quando a obrigação

é indivisível, perde esta qualidade, e, se houver culpa de todos os devedores, responderão por partes iguais

CC, Art. 263. Perde a qualidade de indivisível a obrigação que

se resolver em perdas e danos. § 1o Se, para efeito do disposto neste artigo, houver culpa de todos os devedores, responderão todos por partes iguais.

§ 2o Se for de um só a culpa, ficarão exonerados os outros, respondendo só esse pelas perdas e danos.

CC, Art. 271. Convertendo-se a prestação em perdas e danos, subsiste, para todos os efeitos, a solidariedade.

Regra da solidariedade ATIVA:

A, B e C são credores de D do cavalo “Manhoso”.

Se o cavalo morre e a prestação se converte em perdas e danos, subsiste a solidariedade entre os credores pelo

recebimento de tal valor.

CC, Art. 279. Impossibilitando-se a prestação por culpa de um dos devedores solidários, subsiste para todos o encargo de

pagar o equivalente; mas pelas perdas e danos só responde o culpado.

Regra da solidariedade PASSIVA:

A é credor de B, C e D do cavalo “manhoso”.

O cavalo vale 300 mil reais (equivalente).

O cavalo morre por culpa de B e A sofre

um prejuízo de 200 mil reais (além do equivalente).

B, C e D tem a obrigação solidária de pagar o equivalente (300 mil reais).

Apenas B tem a obrigação de pagar as perdas e danos (200 mil reais)

Page 11: 1.6.2 Classificação quanto aos elementos: Obrigações ...esmeg.org.br/pdfMural/dra._barbara_-_02-05-2011.pdf · *A e B são credores de C do montante de R$ 400 mil. A, sozinho,

Gabarito: E

CC, Art. 272. O credor que tiver remitido a dívida ou recebido o pagamento responderá aos outros pela parte que lhes caiba.

Os demais credores não podem ser prejudicados por transações alheias.

Co-credor recebe o pagamento total ou efetua remissão,

compensação ou novação sem a autorização dos demais credores – Responde pelo débito originário.

Remissão do débito

Um dos credores pode perdoar o débito todo.

Tanto o pagamento quanto a remissão podem ser integrais – Extinguem a dívida.

A, B e C são credores de D de R$120 mil.

A remite o débito em sua integralidade –

Extingue a obrigação. B e C permanecem com suas quotas de

40 mil, agora em face de A.

Se pela remissão A se torna insolvente, não podendo pagar as quotas de B e C.

Cabe Ação Pauliana ou Revocatória (Fraude contra credores, NJ anulável).

Remissão X Renúncia ao débito X Renúncia à solidariedade

Remissão do débito – NJ bilateral extintivo da obrigação. Depende da anuência do devedor e não pode prejudicar terceiros.

CC, Art. 385. A remissão da dívida, aceita pelo devedor, extingue a obrigação, mas sem prejuízo de terceiro.

Page 12: 1.6.2 Classificação quanto aos elementos: Obrigações ...esmeg.org.br/pdfMural/dra._barbara_-_02-05-2011.pdf · *A e B são credores de C do montante de R$ 400 mil. A, sozinho,

• Remissão do débito na solidariedade ATIVA:

A, B e C são credores de D do montante de 90 mil.

A remite o débito de D.

B e C poderão cobrar de A suas respectivas quotas de 30 mil.

• Remissão do débito na solidariedade PASSIVA:

A é credor de B, C e D do montante de

90 mil. A remite o débito de B.

C e D continuarão com a obrigação solidária pelo pagamento de 60 mil.

Renúncia ao débito – NJ unilateral abdicativo.

Renúncia à solidariedade – Regra da solidariedade passiva. Credor não retira a responsabilidade do devedor, mas o converte

em devedor fracionário.

CC, Art. 282. O credor pode renunciar à solidariedade em favor de um, de alguns ou de todos os devedores.

Parágrafo único. Se o credor exonerar da solidariedade um ou

mais devedores, subsistirá a dos demais.

A solidariedade é garantia do credor, o qual pode dispensá-la.

A é credor de B, C e D de 90 mil.

A renuncia a solidariedade de B.

B será responsável pelo pagamento de 30 mil.

C e D continuarão responsáveis pelo

pagamento de 60 mil.

Page 13: 1.6.2 Classificação quanto aos elementos: Obrigações ...esmeg.org.br/pdfMural/dra._barbara_-_02-05-2011.pdf · *A e B são credores de C do montante de R$ 400 mil. A, sozinho,

Exceções pessoais

Regras simétricas:

Solidariedade ativa:

CC, Art. 273. A um dos credores solidários não pode o devedor opor as exceções pessoais oponíveis aos outros.

Solidariedade passiva:

CC, Art. 281. O devedor demandado pode opor ao credor as

exceções que lhe forem pessoais e as comuns a todos; não lhe aproveitando as exceções pessoais a outro co-devedor.

A e B são credores de C de 200 mil. A

coagiu C.

Art. 273 – C não pode anular sua dívida com B alegando que sofreu coação por

parte de A, mas pode pleitear a anulação da dívida com A.

A é credor de 200 mil de B e C. A coagiu B.

Art. 281 - Se B for demandado por A, para

tentar se eximir do pagamento, poderá alegar a ocorrência da coação (exceção pessoal) ou alguma exceção comum.

Se C for demandado por A, para tentar se eximir do pagamento, poderá alegar apenas as exceções comuns.

Exceções pessoais X Exceções comuns

Exceções pessoais – Exclui da apreciação do Poder Judiciário o

pedido de apenas um só dos credores solidários. Não se estende aos demais.

Ex: Coação, incapacidade.

Exceções comuns – Se estendem a todos os co-credores. Ex: Prescrição, já ter efetuado o pagamento ou a consignação

em pagamento.

Page 14: 1.6.2 Classificação quanto aos elementos: Obrigações ...esmeg.org.br/pdfMural/dra._barbara_-_02-05-2011.pdf · *A e B são credores de C do montante de R$ 400 mil. A, sozinho,

Solidariedade X Prescrição

Causas interruptivas operadas em prol de um dos credores

beneficiam os demais.

CC, Art. 204. A interrupção da prescrição por um credor não aproveita aos outros; semelhantemente, a interrupção operada contra o co-devedor, ou seu herdeiro, não prejudica aos

demais coobrigados. § 1o A interrupção por um dos credores solidários aproveita aos

outros; assim como a interrupção efetuada contra o devedor solidário envolve os demais e seus herdeiros.

A, B e C são credores solidários de D.

A ajuíza ação de cobrança em face de D.

CC, Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-á:

I - por despacho do juiz, mesmo

incompetente, que ordenar a citação, se o interessado a

promover no prazo e na forma da lei processual;

A citação válida interromperá o prazo para

todos os co-credores.

Causas interruptivas operadas contra o devedor solidário

envolve os demais e seus herdeiros.

A é credor dos devedores solidários B, C e D.

A ajuíza ação de cobrança em face de B.

A citação válida interromperá o prazo contra todos os co-devedores.

Causas suspensivas da prescrição de caráter personalíssimo não se comunicam aos demais credores, salvo se a prestação for

indivisível.

Page 15: 1.6.2 Classificação quanto aos elementos: Obrigações ...esmeg.org.br/pdfMural/dra._barbara_-_02-05-2011.pdf · *A e B são credores de C do montante de R$ 400 mil. A, sozinho,

CC, Art. 201. Suspensa a prescrição em favor de um dos

credores solidários, só aproveitam os outros se a obrigação for indivisível.

Exemplos:

CC, Art. 197. Não corre a prescrição:

I – entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal. CC, Art. 198. Também não corre a prescrição:

I - contra os incapazes de que trata o art. 3o;

A, B e C são credores solidários de D.

A é menor (14 anos).

Para A a prescrição está impedida e só

correrá a partir de quando completar 16 anos.

Para B e C a prescrição correrá

normalmente.

Possibilidade de enriquecimento sem causa pela aplicação do

Art. 273, CC:

A, B, C e D são credores solidários de E de R$100 mil.

A e E se casam (CC, Art. 197, I –

Suspende a prescrição)

CC, Art. 206, § 5o . Prescreve: Em cinco anos: I - a pretensão de cobrança de

dívidas líquidas constantes de instrumento público ou particular;

Passam 5 anos – Prescreve a pretensão para B, C e D.

Após 6 anos A e E se divorciam.

A poderá cobrar de E os R$100 mil inteiros e não apenas 25 mil.

B, C e D não poderão exigir de A a

entrega de suas partes.

Page 16: 1.6.2 Classificação quanto aos elementos: Obrigações ...esmeg.org.br/pdfMural/dra._barbara_-_02-05-2011.pdf · *A e B são credores de C do montante de R$ 400 mil. A, sozinho,

Como o CC veda o enriquecimento sem causa, a doutrina

determina que o devedor poderia excepcionar a prescrição de crédito, pagando APENAS OS R$ 25 MIL.

A solidariedade que, em regra, apenas visa facultar a cada credor a cobrança integral daquilo que todos, em conjunto, têm

o direito de exigir, converter-se-ia, num processo de locupletamento através do qual um dos credores exigiria não

só aquilo que tem direito, mas também aquilo a que os outros não têm direito. Antunes Varela embasado no Código Civil português.

Solidariedade Ativa X Limites subjetivos da coisa julgada

CC, Art. 274. O julgamento contrário a um dos credores

solidários não atinge os demais; o julgamento favorável aproveita-lhes, a menos que se funde em exceção pessoal ao

credor que o obteve.

Extensão ultra partes da coisa julgada.

Segundo Fredie Didier, ocorre a Extensão secundum eventus

litis.

Credores que não participaram do processo:

Só podem ser beneficiados pela decisão.

Nunca podem ser prejudicados por esta.

A, B e C são credores solidários de D.

A ajuíza ação em face de D.

Coisa julgada: IMPROCEDENTE NO MÉRITO.

Eficácia da sentença não alcança os demais co-credores.

B e C podem ajuizar ações próprias.

Page 17: 1.6.2 Classificação quanto aos elementos: Obrigações ...esmeg.org.br/pdfMural/dra._barbara_-_02-05-2011.pdf · *A e B são credores de C do montante de R$ 400 mil. A, sozinho,

A, B e C são credores solidários de D. A ajuíza ação em face de D.

Coisa julgada: PROCEDENTE.

Eficácia da sentença alcança os demais co-credores.

B e C se beneficiam da decisão de A,

salvo se contra B ou C, D possua alguma exceção pessoal (Ex: Coação)

Obrigação solidária PASSIVA (CC, art. 275):

Relação obrigacional com mais de um devedor, na qual qualquer um destes pode ser obrigado a cumprir sozinho a prestação

por inteiro, não importando se a prestação é divisível ou indivisível. Muito comum nos contratos de adesão.

*A é credor de B e C do montante de R$ 400 mil. A poderá

cobrar só de B ou só de C o pagamento dos R$ 400 mil.

*A é credor de B e C do cavalo “Manhoso”. A poderá cobrar só de B ou só de C a entrega do animal.

CC, Art. 275. O credor tem direito a exigir e receber de um ou de alguns dos devedores, parcial ou totalmente, a dívida comum; se o pagamento tiver sido parcial, todos os demais

devedores continuam obrigados solidariamente pelo resto.

Parágrafo único. Não importará renúncia da solidariedade a propositura de ação pelo credor contra um ou alguns dos

devedores.

Cobrança total ou parcial

É faculdade do credor comum cobrar dos co-devedores o pagamento total ou parcial.

O credor escolhe de quem cobrar.

Não é lícito a um dos devedores impor ao credor o pagamento

parcial ao credor. CC/NR

Page 18: 1.6.2 Classificação quanto aos elementos: Obrigações ...esmeg.org.br/pdfMural/dra._barbara_-_02-05-2011.pdf · *A e B são credores de C do montante de R$ 400 mil. A, sozinho,

A é credor de B, C e D de R$ 90 mil. A pode cobrar R$ 30 mil de cada devedor.

A pode cobrar R$ 90 mil só de B.

Se A cobrar R$ 30 mil de B e receber.

C e D continuam solidariamente responsáveis por R$ 60 mil.

Pagamento e Remissão Parcial

CC, Art. 277. O pagamento parcial feito por um dos devedores

e a remissão por ele obtida não aproveitam aos outros devedores, senão até à concorrência da quantia paga ou

relevada.

A é credor de B, C e D de R$ 90 mil.

B paga 30 mil.

A pode cobrar 60 mil de C e D. A é credor de B, C e D do montante de 90

mil.

A remite o débito de B. C e D continuarão com a obrigação

solidária pelo pagamento de 60 mil.

Remissão X Renúncia à solidariedade

Renúncia à solidariedade – Regra da solidariedade passiva.

Credor não retira a responsabilidade do devedor, mas o converte em devedor fracionário.

CC, Art. 282. O credor pode renunciar à solidariedade em favor de um, de alguns ou de todos os devedores.

Parágrafo único. Se o credor exonerar da solidariedade um ou mais devedores, subsistirá a dos demais.

Page 19: 1.6.2 Classificação quanto aos elementos: Obrigações ...esmeg.org.br/pdfMural/dra._barbara_-_02-05-2011.pdf · *A e B são credores de C do montante de R$ 400 mil. A, sozinho,

A solidariedade é garantia do credor, o qual pode dispensá-la.

A é credor de B, C e D de 90 mil.

A renuncia a solidariedade de B.

B será responsável pelo pagamento de 30 mil.

C e D continuarão responsáveis pelo pagamento de 60 mil.

CC, Art. 283. O devedor que satisfez a dívida por inteiro tem direito a exigir de cada um dos co-devedores a sua quota,

dividindo-se igualmente por todos a do insolvente, se o houver, presumindo-se iguais, no débito, as partes de todos os co-

devedores.

A é credor de B, C, D, E e F de R$ 100 mil.

A cobrou a totalidade de B, que quitou a

dívida. B tem o direito de receber R$ 20 mil de

cada co-devedor.

Se C é insolvente, sua quota de R$20 mil será rateada entre os demais devedores, cada um tendo que pagar 25 mil.

A abrirá mão de 5 mil.

CC, Art. 284. No caso de rateio entre os co-devedores, contribuirão também os exonerados da solidariedade pelo

credor, pela parte que na obrigação incumbia ao insolvente.

Se A havia renunciado à solidariedade de C, deste só poderia cobrar 20 mil, mas C

também terá que ratear o valor do insolvente – Também terá que pagar mais

R$ 5 mil.

Page 20: 1.6.2 Classificação quanto aos elementos: Obrigações ...esmeg.org.br/pdfMural/dra._barbara_-_02-05-2011.pdf · *A e B são credores de C do montante de R$ 400 mil. A, sozinho,

O mesmo ocorre no caso de remissão??

A não renunciou à solidariedade de C.

A remitiu o débito de C.

C não precisa pagar os seus R$ 20 mil e nem os R$ 5 mil referentes ao rateio.

A, credor, que arcará com essa parcela do rateio que recairia sobre C.

En. 350, IV JDC. A renúncia à solidariedade diferencia-se da remissão em que o devedor fica inteiramente liberado do vínculo obrigacional, inclusive no que tange ao rateio da quota

do eventual co-devedor insolvente, nos termos do artigo 284.

Essa posição não é pacífica.

Grande parte da doutrina entende que a palavra “exonerados” usada pelo art. 284 também faz referência à remissão da dívida.

Assim, quanto ao rateio da quota do insolvente, tanto a

remissão como a renúncia da solidariedade gerariam a divisão da quota do insolvente não apenas entre os beneficiados pela renúncia,

mas também pelos perdoados - Flávio Tartuce, Silvio Venosa e Pablo Stolze.

CC, Art. 276. Se um dos devedores solidários falecer deixando herdeiros, nenhum destes será obrigado a pagar senão a quota

que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível; mas todos reunidos serão

considerados como um devedor solidário em relação aos demais devedores.

A é credor de B, C e D de 900 mil reais. B falece deixando 3 sucessores (filhos).

Cada um desses filhos terá dever apenas

pela sua quota de R$ 100 mil e só isto poderá ser cobrado por A de cada um dos

sucessores. Os 3 sucessores reunidos são considerados

um devedor solidário frente aos demais devedores.

Diferente seria se a prestação fosse a entrega do cavalo manhoso.

Page 21: 1.6.2 Classificação quanto aos elementos: Obrigações ...esmeg.org.br/pdfMural/dra._barbara_-_02-05-2011.pdf · *A e B são credores de C do montante de R$ 400 mil. A, sozinho,

CC, Art. 278. Qualquer cláusula, condição ou obrigação

adicional, estipulada entre um dos devedores solidários e o credor, não poderá agravar a posição dos outros sem

consentimento destes.

CC, Art. 279 – Todos os devedores responderão pelo equivalente, mas apenas o culpado responderá por perdas e danos.

CC, Art. 279. Impossibilitando-se a prestação por culpa de um dos devedores solidários, subsiste para todos o encargo de

pagar o equivalente; mas pelas perdas e danos só responde o culpado.

CC, Art. 280. Todos os devedores respondem pelos juros da

mora, ainda que a ação tenha sido proposta somente contra um; mas o culpado responde aos outros pela obrigação acrescida.

CC, Art. 281. O devedor demandado pode opor ao credor as

exceções que lhe forem pessoais e as comuns a todos; não lhe aproveitando as exceções pessoais a outro co-devedor.

Obrigação solidária MISTA:

Relação obrigacional com mais de um credor e mais de um devedor, na qual qualquer um dos credores poderá cobrar sozinho de

apenas um de qualquer um dos devedores a totalidade da prestação, não importando se a prestação é divisível ou indivisível.

*A e B são credores de C e D do montante de R$ 400 mil. A poderá cobrar sozinho só de C ou só de D o pagamento dos R$ 400

mil.

*A e B são credores de C e D do cavalo “Manhoso”. A poderá cobrar sozinho só de C ou só de D a entrega do animal.

Juiz Substituto Alagoas 2008 CESPE. Considerando que os irmãos

Gustavo, Eduardo e Leonardo tenham adquirido um barco de pesca a ser pago em cinco prestações mensais de R$ 5.000,00, tendo firmado, para tanto, um contrato que contém cláusula de solidariedade, assinale a opção

correta com relação a esse negócio jurídico.

A -Caso os devedores não cumpram a obrigação referente ao pagamento, o credor poderá exigir apenas de um deles o total da dívida comum, pois, se pretender exigir o pagamento parcial, deverá demandar cada um pela sua

cota.

Page 22: 1.6.2 Classificação quanto aos elementos: Obrigações ...esmeg.org.br/pdfMural/dra._barbara_-_02-05-2011.pdf · *A e B são credores de C do montante de R$ 400 mil. A, sozinho,

B - Ainda que a prestação se impossibilite por culpa de Gustavo, subsistirá

para todos o encargo de pagar o equivalente, embora somente Gustavo responda pelas perdas e danos.

C - Por se tratar de obrigação solidária, Eduardo, uma vez demandado, poderá opor ao credor a compensação do valor que o próprio credor deve a

Gustavo com a dívida comum.

D - Se uma ação para cumprimento da obrigação for proposta somente contra Leonardo, apenas ele responderá pelos juros da mora.

E - Após assinado o contrato, caso Gustavo tenha estipulado, em acordo com o credor, cláusula penal para a hipótese de descumprimento da

obrigação, os outros dois devedores terão sua situação agravada, ainda que não tenham consentido previamente, por se tratar de obrigação solidária.

CC, Artigos 275, 279, 281, 280, 278. Gabarito: B

Solidariedade passiva, remissão de dívida e renúncia do credor –

Enunciado 350 do Conselho da Justiça Federal

José Fernando Simão

Iniciamos na última edição da Carta Forense uma série de artigos em que são

estudados os novos Enunciados que resultaram dos debates travados entre os

civilistas que se reuniram na IV Jornada de Direito Civil ocorrida em Brasília , nos

dias 25 a 27 de outubro de 2006. Conforme já dissemos em artigo anterior, o

objetivo das Jornadas é a elaboração de ENUNCIADOS doutrinários sobre o Código Civil, esclarecendo seu alcance e conteúdo.

Um dos temas que foi amplamente debatido, em razão de sua complexidade, diz

respeito à renúncia da solidariedade e suas diferenças para a remissão de dívida.

Como se sabe, em existindo solidariedade passiva decorrente da lei ou do contrato

(art. 265 do CC), pode o credor cobrar de um ou de alguns dos devedores o valor

total ou parcial da dívida, afastando-se, assim, as regras da divisibilidade (concursu partes fiunt).

Assim, se 5 devedores solidários contraem empréstimo de R$ 100.000,00, o credor

poderá escolher de quem cobrar e quanto cobrar de cada um deles e, a seu critério, poderá cobrar integralmente o valor devido de apenas um dos devedores.

Aquele que solveu a dívida toda poderá cobrar de cada um dos co-devedores suas

respectivas quotas no débito pago (art. 283 do CC). No exemplo acima, se um dos

devedores pagou a importância de R$ 100.000,00 integralmente, poderá cobrar de

cada um dos co-devedores apenas e tão-somente seus quinhões no importe de R$ 20.000,00.

Caso um dos co-devedores se torne insolvente (suas dívidas são superiores ao

valor de seu patrimônio), todos os co-devedores solidários devem ratear entre si

(dividir) a sua quanto ao débito (Art. 283 do CC). Portanto, mantendo o exemplo

acima descrito, se um dos devedores solidários no empréstimo de R$ 100.000,00

Page 23: 1.6.2 Classificação quanto aos elementos: Obrigações ...esmeg.org.br/pdfMural/dra._barbara_-_02-05-2011.pdf · *A e B são credores de C do montante de R$ 400 mil. A, sozinho,

se tornar insolvente, aquele que pagou a dívida toda poderá cobrar de cada um dos

co-devedores a quantia de R$ 25.000,00 (a quantia de R$ 20.000,00 devida pelo insolvente foi dividida pelos demais).

Em complemento à regra da divisão quanto ao insolvente, dispõe o Código Civil que:

“Art. 284. No caso de rateio entre os co-devedores, contribuirão também os

exonerados da solidariedade pelo credor, pela parte que na obrigação

incumbia ao insolvente.” (grifamos)

O debate que se trava em torno do artigo é se a regra em questão se aplica apenas

aos casos de renúncia da solidariedade ou também às hipóteses de remissão de dívida.

Isso porque, renúncia da solidariedade e remissão de dívida não se confundem.

Nesse sentido, com a contribuição da teoria dualista, percebemos que o perdão da

dívida, ou seja sua remissão, diminui o valor do débito como um todo. Atinge

Schuld. Assim, se tivermos cinco devedores solidários da importância de R$

100.000,00, caso o credor perdoe um dos devedores, o valor da dívida passa a ser

de R$ 80.000,00 (art. 388 do CC).

Por outro lado, a renúncia da solidariedade não implica em diminuição do valor do

débito. A solidariedade é uma garantia que tem o credor de demandar um ou

alguns dos devedores por parte da dívida ou pela dívida toda (art. 264 do CC). A

renúncia da solidariedade apenas acaba com a garantia (Haftung). Assim, se

tivermos cinco devedores solidários da importância de R$ 100.000,00, caso o

credor renuncie à solidariedade com relação a todos, o valor da dívida ainda será

de R$ 100.000,00, só que a obrigação passa a ser divisível e cada devedor só responderá pela sua quota-parte (art. 257 do CC).

É de se indagar: o termo “exonerados” contido no artigo 284 do Código Civil se

aplica apenas às hipóteses de renúncia da solidariedade ou também ao caso de remissão de dívida?

O Enunciado 350 proposto por GUSTAVO TEPEDINO e ANDERSON SCHREIBER tem o seguinte teor

“A renúncia à solidariedade diferencia-se da remissão em que o devedor

fica inteiramente liberado do vínculo obrigacional, inclusive no que tange

ao rateio da quota do eventual co-devedor insolvente, nos termos do artigo 284”.

Em sua justificativa, explicam os mestres que como a remissão extingue a dívida

com relação à parcela relevada, não pode ela prejudicar terceiros ou os próprios co-

devedores, daí, adotar a solução alvitrada por POTHIER, no sentido de atribuir ao

credor que perdoou o ônus de suportar a perda da fração que competiria ao

devedor perdoado no rateio da insolvência (CLÓVIS BEVILÁQUA, Código Civil comentado, v. 4, Francisco Alves, RJ, 1930, p.58)

Ainda, os professores Tepedino e Schreiber, citam SERPA LOPES para confirmar sua

proposição: se o credor perdoou um dos devedores, por sua liberalidade, não seria

razoável que os outros devedores arquem com o desfalque daí decorrente.

O Enunciado tenta colocar pá de cal sobre o tema em questão, mas, sinceramente,

Page 24: 1.6.2 Classificação quanto aos elementos: Obrigações ...esmeg.org.br/pdfMural/dra._barbara_-_02-05-2011.pdf · *A e B são credores de C do montante de R$ 400 mil. A, sozinho,

não podemos afirmar que terá êxito na árdua missão.

Isso porque a matéria não é pacífica e grande parte da doutrina afirma que o termo

“exonerados” utilizado pelo artigo 284 do Código Civil também se refere à remissão

da dívida, hipótese em que, quanto ao rateio da quota do insolvente, tanto a

remissão como a renúncia da solidariedade teriam idêntico efeito, qual seja, a

divisão da quota do insolvente não só entre os beneficiados pela renúncia, como

também pelos perdoados.

Nesse sentido, SÍLVIO DE SALVO VENOSA (Direito Civil, v. 2, Atlas, 2006, p. 123),

FLÁVIO TARTUCE (Concursos públicos, v. 2, Editora Método, 2005, p.91), PABLO

STOLZE e RODOLFO PAMPLONA (Novo Curso de Direito Civil, v. 2, Obrigações,

Saraiva, p. 85),

Ao leitor, recomendamos atenta leitura dos motivos do Enunciado 350 para que

verifique se concorda ou não com o seu teor.