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Direito Process Prof. Wilson Dias ESMEG ESCOLA SUPERIOR DA MAGISTRATURA DO ESTADO DE GOIÁS “Prof. e Des. Romeu Pires de Campos Barros” DIREITO PROCESSUAL PENAL Dr. Wilson Dias (Parte II) 2011

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Direito Processual Penal

Prof. Wilson Dias

ESMEG

ESCOLA SUPERIOR DA MAGISTRATURA DO ESTADO DE GOIÁS “Prof. e Des. Romeu Pires de Campos Barros”

DIREITO PROCESSUAL PENAL

Dr. Wilson Dias

(Parte II)

2011

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Direito Processual Penal

Prof. Wilson Dias

Sumário

PONTO I - Rito Sumaríssimo – Juizado Especial Criminal ..................................................................... 2

Considerações gerais ........................................................................................................................ 2

Conceito de infração de menor potencial ofensivo ......................................................................... 3

Competência .................................................................................................................................... 3

Procedimento administrativo (ou policial) ....................................................................................... 5

Procedimento preliminar ................................................................................................................. 5

Procedimento judicial....................................................................................................................... 9

Turmas Recursais ............................................................................................................................ 10

Suspensão Condicional do Processo .............................................................................................. 11

PONTO II - DOS RECURSOS NO PROCESSO PENAL ............................................................................. 14

I – TEORIA GERAL DOS RECURSOS.................................................................................................. 14

II. RECURSOS EM ESPÉCIE .............................................................................................................. 17

PONTO III - DA REVISÃO CRIMINAL .................................................................................................... 23

PONTO IV - DO “HABEAS CORPUS” .................................................................................................... 24

PONTO V - EXECUÇÃO PENAL ............................................................................................................. 25

1- NATUREZA E OBJETO DA EXECUÇÃO PENAL .............................................................................. 25

4- ÓRGÃOS DA EXECUÇÃO PENAL (Art. 61 da LEP): ....................................................................... 26

6 – DIREITOS DOS CONDENADOS ................................................................................................... 27

7- DEVERES DOS CONDENADOS (Art. 38 e 39 da LEP ) e DISCIPLINA (Art. 44 a 60 da LEP) ........... 27

8- PROCESSO DE EXECUÇÃO........................................................................................................... 28

10 – REMIÇÃO (Art. 126 da LEP) ..................................................................................................... 33

11- DETRAÇÃO (Art. 42 do CP e 66, III, “c”, da LEP) ....................................................................... 34

12 – LIVRAMENTO CONDICIONAL (Art. 83/90 do CP e Art. 131/146 da LEP) ................................ 34

13 – AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL ............................................................................................. 36

14 – GRAÇA, INDULTO E COMUTAÇÃO DE PENA ........................................................................... 37

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PONTO I - Rito Sumaríssimo – Juizado Especial Criminal

Considerações gerais

Diante da imperiosa necessidade de se impingir um rito mais célere e

informal aos crimes considerados de pouca monta – ou de menor potencial

ofensivo –, como há muito reclamavam os operadores e doutrinadores do

direito, o legislador constituinte originário determinou a criação dos juizados

especiais, cíveis e criminais, no art. 98, inc. I, da CF1, possibilitando também o

instituto da transação penal como nova forma alternativa de resolução da lide

penal de natureza pública.

Em atenção ao mandamento constitucional, o legislador criou os juizados

especiais criminais através da Lei nº 9.099/95, onde conceituou o que seria

infração de menor potencial ofensivo, e previu o procedimento sumaríssimo

para sua persecução penal.

Inegavelmente essa lei trouxe enormes e significativos avanços e

mudanças na forma de se operar a justiça penal.

Criou institutos novos e despenalizadores, como a transação penal, a

possibilidade de composição civil dos danos e a suspensão condicional do

processo (este, aplicável a todos os crimes cuja pena mínima abstratamente

cominada for até igual a 1 ano), além de ter informado o procedimento com os

princípios da informalidade, celeridade e simplicidade, dentre outros.

Registre-se que, por último, a Lei nº 11.719/08, em seu art. 394, § 1º, inc.

III, classificou o rito sumaríssimo como integrante do procedimento comum.

É importante ressaltar que o rito sumaríssimo do Juizado Especial

Criminal – JECrim deve ser dividido em duas fases: a primeira fase, chamada

de preliminar, onde será possibilitada a composição civil entre autor e vítima e

a transação penal como forma de solucionar o litígio penal, e a segunda que

somente ocorre se a lide não for solucionada na primeira fase, e que se

constitui em verdadeiro procedimento judicial, com a observância de todos os

princípios que informam o Devido Processo Legal, e cuja sentença penal

possui efeitos secundários.

Adiante estudaremos cada uma dessas fases, separadamente.

1

Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão:

I – juizados especiais, providos por juizes togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a

execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumariíssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por turmas de juizes de primeiro grau.

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Conceito de infração de menor potencial ofensivo

A Lei nº 11.313/06 materializou o entendimento já esposado desde o

advento da Lei nº 10.259/01 (que instituiu o JECrim no âmbito da Justiça

Federal) quanto a conceituação do crime de menor potencial ofensivo,

alterando a redação do art. 61.

Assim, para efeito de competência do Juizado Especial Criminal,

conceitua-se como infração de menor potencial ofensivo todas as

contravenções penais, e todos os crimes em que a pena máxima cominada em

abstrato seja até igual a 2 anos, cumulada ou não com multa.

Competência

O JECrim é competente para processar e julgar os delitos considerados de

menor potencial ofensivo, assim considerados, a teor do que dispõe o art. 61,

todas as contravenções e todos os crimes em que a pena máxima cominada não

ultrapasse a 2 anos.

É entendimento pacífico de que as causa de aumento ou de diminuição de

pena, inclusive a tentativa, devem ser consideradas para fins de definição da

competência do JEC.

Diferentemente do critério esposado pelo CPP para a fixação da

competência ratione loci, a Lei nº 9.099/95 adota a teoria da atividade como

meio de fixação de sua competência territorial, dispondo em seu art. 63 que a

competência do Juizado será determinada pelo lugar em que foi praticada a

infração penal.

O STJ firmou entendimento de que, se o crime cominar pena privativa de

liberdade superior a 2 anos ou alternativa de multa, a competência será do juízo

comum uma vez que a aplicabilidade da pena de multa, ao invés da privativa,

só se dará em sede de sentença2.

Outra questão importante é o que dispõe o art. 94 do Estatuto do Idoso –

Lei nº 10.741/03, que determina a aplicabilidade do procedimento previsto na

Lei nº 9.099/95 aos crimes previstos naquela lei, cuja pena máxima privativa

de liberdade não ultrapasse a 4 anos.

Com o advento deste estatuto dois entendimentos se formaram com

relação a este dispositivo. Um, entendia que os crimes previsto na referida

legislação e que cominasse pena máxima até igual a 4 anos mereceria total

2 cf. STJ – Resp. nº 747.003/SC – Rel. Min. Gilson Dipp – 5a. Turma – DJ de 01.02.06, p. 600

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aplicação da Lei dos Juizados Especiais Criminais, inclusive do instituto da

transação penal.

Outra corrente entendia que somente o procedimento judicial previsto na

Lei nº 9.099/95 é que deveria ser aplicado, ficando excluída a parte preliminar.

Isso porque, pensar diferente, acabaria o Estatuto do Idoso se transformando

em instrumento de sua menor proteção, ao possibilitar a despenalização quando

o idoso fosse a vítima.

Prevalece esse entendimento, de que se aplica aos crimes previstos no

Estatuto do Idoso, cuja pena máxima em abstrato seja até igual a 4 anos,

somente o procedimento sumaríssimo, previsto na própria Lei do Juizado, e

não a fase preliminar.

De outro turno, o art. 60, caput e parágrafo único da Lei nº 9.099/95, a

competência do JECrim cede diante das regras de conexão e continência,

devendo, tanto no juízo comum quanto no Tribunal do Júri, ser observados, ali

mesmo, os institutos da transação penal e da composição dos danos civis.

1.1.1.Exceção à competência do JECrim

Por outro lado, não obstante a pena máxima abstratamente cominada ser

inferior a dois anos, excetua-se da competência do juizado, devendo o feito

processar-se no juízo comum:

a)se o denunciado não for encontrado para ser citado – art. 66, parágrafo único.

Não há possibilidade de haver citação ficta no Juizado Especial Criminal,

devendo esta ser sempre pessoal;

b)se houver necessidade de diligências imprescindíveis ao oferecimento da

denúncia – art. 77, ou se a complexidade ou circunstância do caso não

permitirem a formulação da denúncia – art. 77, §§ 1° e 2°;

c)os crimes militares – art. 90-A, incluído pela Lei n° 9.839/99; e

d)os crimes definidos na Lei nº 11.340/06, que cria mecanismo para coibir a

violência doméstica e familiar contra a mulher – art. 41.

OBS: há divergência acerca da aplicação do Juizado Especial Criminal às

contravenções quando praticadas no âmbito de violência doméstica ou familiar

contra a mulher.3

e)se houver conexão ou continência com crimes que não são considerados de

3 CC 102.571/MG, Rel. Ministro JORGE MUSSI, Terceira Seção, julgado em 13/05/2009, DJe 03/08/2009

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menor potencial ofensivo, caso em que o foro prevalente será o do juízo

comum, mas com a aplicação da transação penal e composição civil dos danos.

Procedimento administrativo (ou policial)

A Lei nº 9.099/95, com relação a fase administrativa, substituiu o

inquérito policial pelo Termo Circunstanciado de Ocorrência–TCO,

simplificando o procedimento policial e possibilitando sua elaboração,

independente de representação ou requerimento da vítima, mesmo nos crimes

de ação penal pública condicionada ou privada.

Tornou meramente acadêmica a possibilidade da prisão em flagrante, uma

vez que não se imporá a cautelar no caso de o autor do fato ser imediatamente

apresentado ao juízo ou se ele se comprometer a comparecer em juízo em data

e hora ali já designada.

Procedimento preliminar

Na fase preliminar dois novos institutos foram criados para se evitar o

processo judicial e resolver o litígio penal sem a necessidade da tutela

jurisdicional penal: a possibilidade de composição civil e a transação penal.

1.1.2.Composição civil

Prevê a lei a possibilidade de acordo (composição civil) entre o autor do fato e

a vítima nas ações penais pública condicionada e privada.

É verdadeiramente a audiência de conciliação prevista no rito dos crimes

contra a honra, mas, de forma mais sólida, com a possibilidade de haver a

composição dos danos, sejam materiais ou morais.

Como objeto da composição civil pode o autor do fato comprometer-se às

obrigações de dar, fazer ou não fazer.

Esta composição, uma vez homologada em juízo, importará necessariamente

em renúncia ao direito de queixa ou de representação, conforme dispõe o

parágrafo único do art. 74, não renascendo esse direito nem mesmo diante da

inadimplência do devedor em honrar o acordo entabulado.

Por outro lado, este acordo ganha status de título executivo judicial podendo o

mesmo ser executado no próprio Juizado Especial Cível, até o valor de sua

alçada.

Havendo a homologação do acordo, este somente poderá ser anulado se houver

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ação anulatória baseada em vício, nos termos do art. 486 do CPC.

Tratando-se de ação penal privada, e havendo pluralidade de autores, a

composição é individual.

Assim, uns aceitando compor-se com a vítima, e outros não, haverá uma

exceção ao princípio da indivisibilidade da ação penal privada, eis que a vítima

poderá oferecer queixa em face de quem não quis o acordo civil.

Neste caso, contudo, se houver o pagamento integral do valor desejado pela

vítima por um dos autores, com relação a todos haverá a renúncia do direito de

queixa.

Se, ao contrário, tratar-se de um só autor, e várias vítimas, e sendo também a

composição individual, pode haver o acordo entre o autor a algumas das

vítimas, e com outras não. Essas poderão ofertar a queixa contra o autor.

Por fim, é entendimento do STF4 que a vítima, nas ações penais privadas, não

está obrigada ao comparecimento, uma vez que poderá dispor da ação.

1.1.3.Transação penal

Não tendo sido possível a composição civil, ou tratando-se de crime de ação

penal pública incondicionada, poderá haver entre o autor do fato e o Ministério

Público a transação penal, que consiste na propositura antecipada de pena não

privativa de liberdade.

Tratando-se de proposta de pena pecuniária, o juiz pode reduzi-la até a metade,

conforme dispõe o art. 76, § 1o, da Lei 9.099/95.

Qualquer que seja a pena imediatamente aplicada, esta não acarretará efeitos

civis (art. 76, § 6°) e nem reincidência, uma vez que não se trata de pena

advinda de uma sentença penal condenatória.

O STJ a tem admitido a transação penal nas ações penais privadas5.

Não se proporá a transação penal, contudo, se

a)houver anterior condenação, transitada em julgado, a pena privativa de

4 STF – HC nº 86.942/MG – Rel. Min. Gilmar Mendes – 2a. Turma – DJ de 03.03.06

5 STJ - HC nº 31.527/SP – Min. Paulo Gallotti – 6a. Turma – DJ de 28.03.05, p. 315. No mesmo sentido: HC nº 32924/SP, HC nº

34.085/SP.

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liberdade pela prática de crime;

b)mesmo benefícios anteriormente concedido no prazo de cinco anos; e

c)os antecedentes, a conduta pessoal, a personalidade do autuado, os motivos e

as circunstâncias indicando não ser necessária e suficiente a transação

Proposta a transação penal e havendo divergência entre defensor e autor do fato

quanto a aceitação da proposta, esta divergência se resolve pela vontade do

autor do fato.

Não há qualquer interferência da vítima na proposta do Ministério Público.

Não raro, no dia-a-dia dos juizados especiais criminais, a vítima se sentir

injustiçada pelo fato de o autor se safar pagando apenas uma cesta básica.

Esta foi, sem dúvida, uma das muitas razões para o legislador excluir

veementemente a aplicabilidade de qualquer instituto da Lei nº 9.099/95

àqueles crimes definidos na Lei nº 11.340/06, chamada Lei Maria da Penha.

Aceita a transação penal, a mesma será homologada e, por não tratar-se nem de

decisão absolutória e nem condenatória, essa homologação tem natureza

jurídica de ser homologatória de transação penal.

Caso a homologação feita pelo juiz se dê de modo diverso do que foi

efetivamente transacionado, prevê a lei a possibilidade do recurso de apelação,

nos termos do art. 76, § 5o.

O descumprimento da transação penal homologada, se restritiva de direito, não

se converte em privativa de liberdade, eis que ausente os princípios e garantias

próprias para ensejar um juízo condenatório com autoridade de suprimir a

liberdade do cidadão.

Por outro lado, o STJ não admite a instauração da ação penal em caso de

descumprimento da transação penal, entendendo que, por tratar-se de título

executivo, deverá, seja de multa seja restritiva de direito, essa pena

imediatamente aplicada ser executada. Mas, entretanto, admite condicionar a

sentença homologatória ao cumprimento da transação penal.

O STF6, ao contrário, entende que descumprida a transação penal, há de se

6 STF – HC nº 88.785/SP – Rel. Min. Eros Grau – 2ª Turma – DJ de 04.08.06, p. 78; HC nº 84976/SP – Rel. Min. Carlos Britto,

1ª Turma, DJ 23-03-2007, p. 105

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retornar ao status quo ante a fim de possibilitar ao Ministério Público a

persecução penal.

Questão importante é sobre a representação, quando se tratar de ação penal

pública condicionada.

Muito se discutiu sobre o início do prazo para o oferecimento da representação

no procedimento do Juizado Especial Criminal. Se o comum, nos termos do

art. 38 do CPP, ou a partir da não composição civil em audiência preliminar.

A turma recursal de Goiânia já esposou os dois entendimentos, bem como a

doutrina.

Hoje é majoritário o entendimento de que o prazo é mesmo o do art. 38,

devendo a vítima oferecer a representação até o prazo de 6 meses contados do

conhecimento da autoria, para não perecer seu direito.

Contudo essa representação inicial só tem alcance para assegurar o direito

decadencial. É entendimento que, comparecendo em audiência preliminar e

não compondo com o autor do fato, a vítima deverá ofertar nova representação,

essa, sim, como condição de procedibilidade para a ação penal.

Tanto que, uma vez ofertada a representação por ocasião da elaboração do

TCO, se a vítima não comparece na audiência preliminar, o Ministério Público

não poderá oferecer sua vestibular, até que essa condição seja sanada.

Aliás, seu comparecimento em audiência preliminar, nas ações penais públicas

condicionadas é um ônus que a vítima assume, sob pena de arquivamento do

feito ao mostrar desinteresse pela persecução penal.

Este o entendimento pacífico do STF e STJ7.

É possível a retratação da representação mesmo após o oferecimento da

denúncia, conforme dispõe o art. 79, desde que não tenha havido, ainda, seu

recebimento.

Procedimento judicial

7 cf. STF – HC nº 84.638/RJ.

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Ultrapassada a fase preliminar anterior, na ação privada, se não houve

composição, na ação pública, com a impossibilidade de se propor a transação

penal, ou com a recusa do autor do fato em aceitá-la, ou, ainda, com o

descumprimento da que aceitou, o ofendido ou o Ministério Público poderá

oferecer sua vestibular, se em audiência de forma oral, ou, excepcionalmente,

de forma escrita.

Se o faz em audiência e o querelado/denunciado está presente, fica desde

já citado, recebendo uma cópia da exordial acusatória, onde já estará designada

audiência de instrução e julgamento.

Se a vestibular é escrita, deve o querelado/denunciado ser citado

pessoalmente para a audiência de instrução e julgamento. Caso não se consiga

citá-lo pessoalmente, perde o juizado a competência para o processo e os autos

serão encaminhados ao juízo comum, onde será imprimido o rito

correspondente ao crime que lhe é imputado.

É importante notar que a citação só ocorrerá com a ciência de que contra o

autor foi proposta uma ação penal. Assim não se constitui citação as

notificações anteriores, na fase preliminar, para comparecer em audiência de

conciliação ou de transação penal.

A lei que rege o juizado não prevê para o procedimento o número máximo

das testemunhas numerárias. Antes da reforma dos procedimentos comuns,

trazida pela Lei 11.719/08, entendia-se de aplicar o disposto no rito sumário,

onde se poderia arrolar até 5 testemunhas, se se tratasse de crime, ou até 3, se

contravenção.

Com a recente alteração, o número de testemunhas para aquele

procedimento, em qualquer hipótese, é de 5, ex vi do art. 532 do CPP. Assim,

nos parece que o número de máximo de testemunhas numerárias a ser arroladas

neste procedimento, seja crime ou contravenção, é de 5, como, aliás, entendem

Nucci8 e Pacelli9.

As testemunhas de defesa poderão ser trazidas pelo querelado/denunciado

no dia da audiência, independente de arrolação prévia. Contudo, caso deseje

que as mesmas sejam notificadas, deve depositar na secretaria o rol até 5 dias

antes da audiência, conforme determina o art. 78, § 1o.

A intimação das testemunhas pode se dar por carta ou AR ou outro meio

idôneo (art. 78, § 3°).

Ao abrir a audiência de instrução e julgamento o juiz, nos termos do art.

79, poderá propiciar às partes a composição civil ou transação penal se antes

tais possibilidades não ocorreram. É comum, contudo, e a jurisprudência tem

8 NUCCI, Guilherme de Souza, Manual de Processo Penal e Execução Penal, 5ª ed., São Paulo, RT, 2008, p. 684.

9 OLIVEIRA, Eugênio Pacelli, Curso de Processo Penal, 11ª ed., Rio de Janeiro, Lumen Juris, 2009, p. 634.

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admitido, que se renove às partes esses institutos, mesmo já tendo sido, em

vão, tentado na fase preliminar.

Não sendo esse o caso, e presente o querelado/denunciado, acompanhado

de defensor – constituído, público ou nomeado –, o juiz lhe dará a palavra para

a defesa preliminar – art. 81 –, após o quê decidirá sobre o recebimento ou não

da vestibular acusatória.

Se rejeita a queixa ou denúncia, cabe apelação, nos termos do que dispõe

o art. 82.

Recebendo a vestibular o juiz, a teor do que dispõe o art. 394, § 4º, c/c art.

397, ambos do CPP, analisa a possibilidade de absolvição antecipada. Não

sendo, passa-se à inquirição das testemunhas arroladas ali arroladas, depois das

que foram trazidas ou arroladas pela defesa e, em seguida, ao interrogatório do

réu que, a exemplo dos outros procedimentos comuns, a tudo, antes, assistiu.

Em seguida será dada a palavra à acusação e à defesa para os debates

orais, pelo prazo de 20 minutos, prorrogavéis por mais 10, aplicando-se o

disposto no art. 403, §§ 1º e 2º, do CPP e, em seguida, prolatará a sentença ou o

fará posteriormente, dispensado seu relatório – art. 81, § 3o.

Da sentença cabe apelação no prazo de 10 dias (art. 82) devendo as razões

ser apresentadas junto com a petição de apelação.

Poderá também ser oposto embargo de declaração, inclusive quando

houver dúvida, no prazo de 05 dias. Os embargos suspendem o prazo do

recurso.

Turmas Recursais

Outra inovação trazida pela Lei nº 9.099/95, mas já prevista no texto

constitucional, é a criação de turmas recursais, compostas por juízes de

primeiro grau.

Essas turmas, verdadeiro 2o grau de jurisdição no rito do JECrim, não se

submetem jurisdicionalmente aos tribunais de justiça ou regionais.

Cabe à turma o processamento e julgamento de todos os recursos

referentes ao JECrim, inclusive o julgamento do habeas corpus contra ato do

juiz do juizado.

O julgamento do habeas corpus contra ato da própria turma, segundo

mudança de entendimento do STF10, cabe aos Tribunais de Justiça ou

Regionais Federais.

Suspensão Condicional do Processo

10

Súmula 690 do STF: Compete originariamente so Supremo Tribunal Federal o julgamento de „habeas corpus‟ contra decisão

de turma recursal de Juizados Especiais Criminais.

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1.1.4.Considerações gerais

Junto com os institutos despenalizadores trazidos pela Lei nº 9.099/95, o

legislador inseriu ali, no art. 8911, a possibilidade de suspensão condicional do

processo, como forma de se evitar, mediante condições, a aplicação da tutela

jurisdicional sobre o conflito penal, em virtude dasnotórias conseqüências

oriundas de uma sentença penal condenatória.

1.1.5.Aplicabilidade, requisitos e procedimento

Esse novo instituto aplica-se aos processos movidos através de ação penal

pública tanto do JECRIM quanto do juízo comum, e tem por requisito:

a)Pena mínima cominada em abstrato até igual a 1 ano;

b)O acusado não estar respondendo a outro processo;

c)O acusado não ter sido condenado por outro crime;

d)Presença dos demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da

pena do art. 77 do CP.

É entendimento do STJ12 que o benefício da suspensão condicional do

processo não é aplicável em relação às infrações penais cometidas em

concurso material, concurso formal ou continuidade delitiva, quando a pena

mínima cominada, seja pelo somatório, seja pela incidência da majorante,

ultrapassar o limite de um ano.

O contrário acontece com relação às causas de diminuição de pena como, por

exemplo, a tentativa.

Alguns doutrinadores entendem inconstitucional a proibição de ser propor o

sursis processual aos réus que, embora não condenados, respondam a outro

processo.

11

Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o

Ministério Público, ao oferecer a denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos, desde que o acusado não esteja

sendo processado ou não tenha sido condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena (art. 77 do Código Penal).

§ 3º A suspensão será revogada se, no curso do prazo, o beneficiário vier a ser processado por outro crime ou não efetuar,

sem motivo justificado, a reparação do dano § 4º A suspensão poderá ser revogada se o acusado vier a ser processado, no curso do prazo, por contravenção, ou descumprir

qualquer outra condição imposta.

§ 5º Expirado o prazo sem revogação, o Juiz declarará extinta a punibilidade. 12

Súmula 243.

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O STF13 tem firme jurisprudência que o benefício é norma de política criminal,

devendo alcançar somente aquele que, em ato isolado, vem a responder por um

processo, com o objetivo de se evitar, nas palavras do então Min. Nelson

Jobim14, os efeitos deletérios do processo.

Sendo assim, se uma pessoa já responde a um processo, não teria sentido

suspender o curso desse outro processo.

Verificados estes requisitos o Ministério Público, ao oferecer a denúncia,

proporá ao denunciado a suspensão condicional do processo mediante algumas

condições tais como a reparação de dano, salvo impossibilidade de fazê-lo, a

proibição de freqüentar determinados lugares, a proibição de ausentar-se da

cidade por período superior a 30 dias, ou de mudar-se sem autorização do juiz,

comparecimento mensal em juízo, e outras que o juiz entender adequadas.

O prazo de suspensão proposto pelo Ministério Público é de dois a quatro anos.

É entendimento pacífico no STF15 de que o juiz não pode conceder de ofício o

benefício, e nem se for provocado pela defesa para tal, uma vez que cabe

somente ao Ministério Público, como titular da ação penal, o poder-dever de

propor a suspensão.

Caso o juiz não concorde com a não propositura do sursis processual por parte

do Ministério Público, deverá fazer uso por analogia do art. 28 do CPP, e

remeter a questão ao Procurador-Geral de Justiça.

Embora com raras decisões em contrário, o STJ se posiciona como o supremo

nessa questão da impossiblidade de concessão do sursis procesual pelo juiz, de

ofício.

Por outro lado, o STF não admite o sursis processual nos processos de crimes

de ação penal privada16. Já o STJ o admite17.

Ainda, é entendimento pacífico18 de que, havendo a desclassificação de um

13

STF – HC n° 85.751/SP – Rel. Min. Marco Aurélio – DJ de 03.06.05, p. 45. No mesmo sentido STF – HC n° 85.106/SP – Rel.

Min. Sepúlveda Pertence – DJ de 04.03.05, p. 23. 14

RHC 79.460, Nelson Jobim, DJ 18.5.01. 15

Súmula 696 do STF: Reunidos os pressupostos legais permissivos da suspensão condicional do processo, mas se recusando o

promotor de justiça a propô-la, o juiz, dissentindo, remeterá a questão ao Procurador-Geral, aplicando-se por analogia o art. 28 do Código de Processo Penal. 16

STF - HC nº 83.412/GO – Rel. Min. Sepúlveda Pertence – DJ de 01.10.04, p. 28. 17

STJ – HC nº 40.156/SP – Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima – DJ de 03.04.06, p. 373. No mesmo sentido: Apn 296/PB; HC

42902 / RS ; CC 43886 / MG etc. 18

STJ – HC n° 38.031/SP – Rel. Min. José Arnaldo da Fonseca – 5ª Turma – DJ de 03.10.05, p. 292.

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crime, que não admitia o sursis processual, para um que admite (ex.: de roubo

para furto), deve o juiz sentenciar somente reconhecendo essa desclassificação

e, após sua decisão passar em julgado, deve os autor ser encaminhados ao

Ministério Público a fim de que ele se manifeste sobre o benefício.

1.1.6.Revogação e expiração da Suspensão Condicional do Processo.

Dispõem os §§ 3o e 4

o, do art. 89, sobre a revogação do benefício diante de

circunstâncias ocorridas no decorrer da suspensão.

O § 4o refere-se às causas de revogação facultativa do benefício quando o

acusado vier, no curso da suspensão, a ser processado por contravenção, ou

descumprir qualquer outra condição imposta, à exceção da reparação de dano.

O § 3o, por sua vez, trata da revogação obrigatória do benefício quando, no seu

curso, o beneficiário vier a ser processado por outro crime ou não efetuar, sem

motivo justificado, a reparação do dano.

É entendimento pacífico no STF19 e no STJ que a verificação dessas causas de

revogação obrigatória – e só da obrigatória – pode ser dar mesmo depois de

expirado o prazo do sursis.

Assim, o disposto no § 5o, do art. 89, que estatui expirado o prazo sem

revogação, o Juiz declarará extinta a punibilidade, que parecia, com clareza

meridiana, tratar-se de sentença declaratória, passou a ter contornos

constitutivos, exigindo a comprovação de que não tenha o beneficiário dado

causa de revogação obrigatória durante seu curso e possibilitando a revogação

do benefício mesmo após a expiração do prazo.

PONTO II - DOS RECURSOS NO PROCESSO PENAL

I – TEORIA GERAL DOS RECURSOS

19

Suspensão condicional do processo: revogação. ... 2. Não satisfeito o "pressuposto negativo" imposto pela própria lei, pode ser

revogado o benefício por decisão proferida após o período de prova, embora haja de fundar-se em fatos ocorridos até o termo final dele:

precedente (HC 80.747, Pertence, DJ 19.10.2001). (STF – HC n° 85.106/SP – Rel. Min. Sepúlveda Pertence – DJ de 04.03.05, p. 23). No mesmo sentido: STF – HC n° 84.458/SP – Rel. Min. Sepúlveda Pertence – DJ de 10.12.04, p. 41.

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- Conceito: direito que a parte na relação processual possui de obter nova

apreciação da decisão ou situação processual, com o fim de corrigi-la,

modificá-la ou confirmá-la.

- Fundamento Constitucional:

- (Art. 5º, LV) – “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos

acusados em geral são assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os

meios e recursos a ela inerentes”.

- organização do Poder Judiciário em diferentes graus de jurisdição.

- Art. 8º. 2, “h”, da Convenção Americana dos Direitos Humanos (Pacto de São

José da Costa Rica).

I.1 Princípios

a) Duplo grau de jurisdição:

- princípio implícito na Constituição Federal

b) Unirrecorribilidade

- para cada decisão será cabível um só recurso

- art. 593, §4º, CPP: “Quando cabível a apelação, não poderá ser usado o

recurso em sentido estrito, ainda que somente de parte da decisão se recorra”.

- exceção: manejo simultâneo do recurso especial e do recurso

extraordinário

c) Voluntariedade:

- como regra, o recurso depende de iniciativa das partes - Art. 574 CPP:

“os recursos serão voluntários, excetuando-se os seguintes casos...”

- recurso de ofício ou reexame necessário- Súmula 423 STF: “não transita

em julgado a sentença por haver omitido o recurso 'ex officio', que se considera

interposto 'ex lege'”.

- hipóteses de recurso de ofício: decisão concessiva de habeas corpus (art.

574, I, CPP); decisão que concede reabilitação (art. 746 CPP); decisão

absolutória e de arquivamento nos crimes contra a economia popular (Lei n.

1.251/1951);

d) Fungibilidade

- possibilidade de conhecer o recurso errado como se o certo

- fundamento legal: Art. 579, CPP: “Salvo a hipótese de má-fé, a parte

não será prejudicada pela interposição de um recurso por outro”.

- presunção de má-fé: inobservância do prazo para a interposição

e) Vedação da “reformatio in pejus”

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- reformatio in pejus direta: veda-se agravar a situação do réu em recurso

exclusivo da defesa

- fundamento legal: Art. 617, CPP: “O tribunal, câmara ou turma atenderá

nas suas decisões ao disposto nos arts. 383, 386 e 387, no que for aplicável,

não podendo, porém, ser agravada a pena, quando somente o réu houver

apelado da sentença”.

- reformatio in pejus indireta: impossibilidade de agravamento da situação

do réu em nova decisão após conhecimento de nulidade da decisão anterior em

razão de recurso exclusivo da defesa (aplica-se a vedação ainda que se trate de

processos de competência do Júri ou nulos por incompetência absoluta).

- reformatio in mellius em recurso da acusação: é possível melhorar a

situação do réu em recurso exclusivo da acusação (admitida pela doutrina e

pelo STJ. Há decisão antiga do STF em sentido contrário)

I.2 Efeitos dos recursos

a) Efeito devolutivo

- devolve ao órgão competente o poder de revisar a decisão

- recurso da acusação: limitado

- Súmula 160 STF: “é nula a decisão do tribunal que acolhe, contra o réu,

nulidade não arguida no recurso da acusação, ressalvados os casos de recurso

de ofício”.

- recurso da defesa: amplo

b) Efeito suspensivo

- suspensão da execução da decisão impugnada (ReSE contra decisão de

pronúncia, apelação de decisão condenatória, por exemplo)

-recursos extraordinário e especial: “ofende o princípio da não-

culpabilidade a execução da pena privativa de liberdade antes do trânsito

em julgado da sentença condenatória (STF, HC 84078/MG, rel. Min. Eros

Grau, 5.2.2009).

c) Efeito regressivo (iterativo ou diferido)

- permite ao próprio órgão que prolatou a decisão atacada retratar-se antes

do encaminhamento ao órgão revisor (RSE, carta testemunhável, agravo em

execução)

d) Efeito extensivo

- permite beneficiar terceiro não recorrente (art. 580, CPP: “no caso de

concurso de agentes, a decisão do recurso interposto por um dos réus, se

fundado em motivos que não sejam de caráter exclusivamente pessoal,

aproveitará aos outros)

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e) Efeito translativo

- conhecimento integral das questões, independente de causar prejuízo ao

acusador ou à defesa (somente o recurso de ofício possui tal efeito).

I.3 Admissibilidade dos recursos

- Juízo de prelibação (admissibilidade): inerente a todos os recursos, podendo

ocorrer no juízo a quo (origem) (obsta o prosseguimento) ou ad quem

(destinatário) (não conhecimento).

- Requisitos (pressupostos) objetivos

a) cabimento (taxatividade): o recurso há de ser previsto na lei

b) adequação: utilização do recurso correto (fungibilidade), sem prejuízo

da existência de recursos de fundamentação vinculada

1.forma de interposição (motivação): “o recurso será interposto por

petição ou por termo nos autos, assinado pelo recorrente ou por seu

representante” (art. 578, CPP). Somente podem ser interpostos por termo

os recursos que não precisam estar acompanhados das razões no momento

de interposição (ReSE, apelação, agravo em execução e carta

testemunhável)

d) tempestividade: para ser conhecido o recurso deve ser interposto no

prazo legal. O prazo, regra geral, conta-se do dia da intimação e não da juntada

do respectivo mandado ou carta precatória e esta tese hoje ficou mais

sacramentada após a edição da Súmula 710 do STF.

e) inexistência de fatos impeditivos e extintivos: - renúncia

(irretratabilidade); - desistência (retratabilidade). O Ministério Público não

pode desistir do recurso interposto (art. 576 CPP); - deserção (falta de preparo

nas ações penais privadas, art. 806, §2º, CPP. A fuga do réu não mais constitui

causa para a deserção ( STF, HC 85.369/SP, 26.03.2009) e tampouco a

obrigatoriedade de recolhimento a prisão mas tal discussão encontra-se

superada face a revogação do artigo 594 e a atual redação do parágrafo único

do artigo 387, ambos do CPP.

Obs.: Súmula 705 do STF: “A renúncia do réu ao direito de apelação,

manifestada sem a assistência do defensor, não impede o conhecimento da

apelação por este interposta.”

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- Requisitos (pressupostos) subjetivos

a) legitimação: art. 577, CPP: “o recurso poderá ser interposto pelo

Ministério Público, ou pelo querelante, ou pelo réu, seu procurador ou seu

defensor

b) interesse (sucumbência): art. 577, parágrafo único,CPP: “não se

admitirá, entretanto, recurso da parte que não tiver interesse na reforma ou

modificação da decisão.” O réu pode recorrer para modificar o fundamento da

absolvição, caso haja repercussão na área cível, e nos casos de absolvição

imprópria (medida de segurança)

II. RECURSOS EM ESPÉCIE

II. 1 Recurso em Sentido Estrito

- Conceito: é o recurso contra decisões interlocutórias nos casos expressamente

previstos em lei (o art. 581 é exaustivo, permitindo-se, no máximo,

interpretação extensiva)

- Prazo: 5 dias para interposição e 2 dias para oferecimento das razões

- Forma: petição ou termo, formando-se o instrumento

- Efeitos: devolutivo, regressivo e excepcionalmente suspensivo (perda do

valor da fiança, julgar deserta ou denegar a apelação e contra a pronúncia)

- Juízo de retratação: se o juiz se retratar, a parte prejudicada poderá, por

simples petição, requerer a remessa do recurso à instância superior (art. 589,

parágrafo único, CPP)

Observação: Em decorrência do art. 66 c/c 197 da LEP (7.210/84), cabe o

recurso agravo em execução nas hipóteses pertinentes à aplicação de pena,

ficando, dessa forma, revogados os incisos XIX a XXIV do art. 581 e também

nas situações previstas no art. 581, incisos XI, XII e XVII, CPP (conceder,

negar ou revogar SURSIS e livramento condicional, decidir sobre unificação

de penas). Quando o sursis for concedido ou negado na sentença de mérito, é

cabível a apelação (Princípio da Consunção).

- O inciso IV do art. 581 foi alterado e agora não mais cabe recurso em sentido

estrito contra decisão de impronúncia e, por sua vez o inciso VI foi revogado.

Agora, contra a sentença de impronúncia ou de absolvição sumária caberá

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apelação nos termos do art. 416 do CPP (alterações procedidas pela Lei 11.689

de 09 de Junho de 2008).

II.2 Apelação

- Conceito: recurso interposto contra sentença definitiva ou com força de

definitiva (decisões interlocutórias mistas terminativas não impugnadas por

ReSE – caráter residual – ex. restituição de coisa apreendida).

- Prazo: 5 dias (no JECrim: 10 dias) para interposição e 8 dias para as razões

(1º/2º graus).

- Forma: petição ou termo

- Efeito: devolutivo. Apelação contra sentença absolutória não tem efeito

suspensivo. O contrário ocorre em relação à sentença condenatória.

- Tribunal do Júri. A apelação das decisões do Tribunal do Júri serão de acordo

com as hipóteses do inciso III do art. 593, a saber: a) ocorrência de nulidade

posterior à pronúncia; b) quando a sentença do juiz-presidente contrariar a lei

ou decisão dos jurados (retificação da sentença e correção pelo Tribunal); c)

quando houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida

de segurança (retificação da sentença e correção pelo Tribunal|); d) quando for

a decisão dos jurados manifestadamente contrária à prova dos autos (possível

uma vez). De acordo com a Súmula 713 do STF, “o efeito devolutivo da

apelação contra decisões do Júri é adstrito aos fundamentos da sua

interposição”.

II. 3 Protesto por Novo Júri (revogado)

- Conceito: condenação a pena igual ou superior a 20 anos no Tribunal do Júri

- Foi revogação pela Lei n.11.698/2008

- Não se aplica aos crimes praticados antes da revogação por se tratar de norma

processual.

II. 4 Agravo em Execução

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- Conceito: recurso cabível contra qualquer decisão relacionada com

incidentes da execução penal que prejudique direito das partes (art. 197 da

LEP).

- Rito: o mesmo do Recurso em Sentido Estrito, inclusive quanto ao juízo de

retratabilidade.

II. 5 Carta Testemunhável (Art. 639 do CPP)

- Conceito: recurso destinado a provocar o conhecimento ou o processamento

de outro recurso para o Tribunal de instância superior, cujo trâmite foi obstado

pelo juiz (possui caráter residual, pois em se tratando de apelação cabe ReSE e

os casos de Recursos Especial e Extraordinário será cabível agravo de

instrumento). É apresentado diretamente ao escrivão do cartório ou secretário

do tribunal nas 48 horas (admite-se 2 dias) seguintes à ciência do despacho que

denegou o recurso, indicando as peças para a o instrumentos. Pode ser utilizado

contra decisão do Presidente do Tribunal que não admitir ROC (art. 365

RITJGO)

II. 6 Correição Parcial

- Conceito: Trata-se de recurso (para alguns, recurso administrativo) voltado à

correção dos erros de procedimento praticados pelo juiz de 1ª instância na

condução do processo e que provocam inversão dos atos e fórmulas legais ou

apresentem erro de ofício ou abuso de poder (error in procedendo).

- Prazo (RITJGO): 5 dias. É indispensável ter antes pedido reconsideração no

prazo de 2 dias

II. 7 Embargos infringentes e de nulidade (Art. 609, parágrafo único do

CPP)

- Conceito: recurso privativo da defesa oponível diante de decisão não unânime

em instância revisora (2º grau), se desfavorável ao réu, dos acórdãos sobre:

apelação; recurso em sentido estrito; agravo em execução (jurisprudência). Os

embargos de nulidade são opostos sobre decisão não unânime desfavorável ao

réu, acerca de matéria de nulidade.

- Prazo: 10 dias (art. 376 do RITJGO)

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- Súmula 281 STF: É inadmissível o recurso extraordinário, quando couber, na

justiça de origem, recurso ordinário da decisão impugnada.

- Súmula 207 STJ: É inadmissível recurso especial quando cabíveis embargos

infringentes contra acórdão proferido no tribunal de origem

- Súmula 355 STF: Em caso de embargos infringentes parciais, é tardio o

recurso extraordinário interposto após o julgamento dos embargos, quanto a

parte da decisão embargada que não fora por eles abrangida.

- Súmula 390 STJ: Nas decisões por maioria, em reexame necessário, não se

admitem embargos infringentes.

II. 8 Embargos de divergência

- Conceito: está previsto no art. 29 da Lei n. 8.038/1990 e pode ser oposto

contra a decisão das Turmas do STF ou do STJ quando, no julgamento dos

recursos extraordinário ou especial, divergirem do julgamento de outra Turma

do mesmo Tribunal, da Seção ou do Órgão Especial

- Prazo: 15 dias

II. 9 Embargos de Declaração

- Conceito: recurso à disposição da parte voltado ao esclarecimento de sentença

(embarguinhos – 382 CPP) ou do acórdão quando contiver ambiguidade,

obscuridade, contradição ou omissão (art. 610 CPP).

- Prazo: devem ser interpostos no prazo de 2 dias, a contar da ciência do

acórdão ou da sentença. No Juízado Especial o prazo é de 5 (cinco) dias.

- Interrompem o prazo para interposição de outros recursos (exceção – Lei n.

9.099/1995)

II. 10 Agravos nos Tribunais

- Agravo de Instrumento: recurso cabível em face de decisão do Presidente do

Tribunal que denega o seguimento de Recursos Especial ou Extraordinário (art.

361 RITJGO). Prazo de 5 dias

- Agravo regimental: Recurso utilizado para impugnar decisão lesiva ao

interesse da parte tomada por membro de tribunal, quando proferida

individualmente (Presidente do Tribunal, de Seção, de Turma ou Relator),

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dirigindo-se ao órgão colegiado (Plenário, Seção ou Turma) (art. 364 RITJGO).

Prazo de 5 dias.

II. 11 Reclamação

- Conceito: recurso interposto contra decisões do juiz de 1º grau que deixem de

cumprir os julgados dos Tribunais, ofendendo a sua autoridade ou usurpando-

lhe a competência. (Lei n. 8.038/90)

- Consequencias: julgando procedente a reclamação, o Tribunal cassará a

decisão exorbitante de seu julgado ou determinará medida adequada à

preservação de sua competência (art. 17, Lei n. 8.038/1990)

- Reclamação contra decisão judicial ou ato administrativo que ofenda Súmula

vinculante: art. 103-A, § 3º, da CF

II. 12 Recurso Especial

Conceito. Recurso de fundamentação vinculada a ser julgado exclusivamente

pelo STJ com intuito de dirimir as causas infraconstitucionais

Cabimento. Causas decididas em única ou última instância pelos Tribunais de

Justiça ou Tribunais Regionais Federais quando a decisão recorrida: a)

contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência; b) julgar válido ato do

governo local (e não lei local) contestado em face de lei federal; c) der a lei

federal interpretação divergente de que lhe haja atribuído outro tribunal –

dissídio jurisprudencial.

Prazo. 15 dias (art. 26, Lei n. 8.038/1990)

Prequestionamento: exatamente como ocorre para o recurso extraordinário

II.13 Recurso Ordinário Constitucional

Conceito. Hipótese constitucional de recurso dirigido ao STF ou ao STJ, cujos

princípios se assemelham ao da apelação.

Cabimento. STF. Nos seguintes casos: a) contra decisões denegatórias (ou de

extinção do processo sem julgamento do mérito) de habeas corpus ou de

mandado de segurança decididas em única instância por Tribunais Superiores;

b) contra decisão condenatória ou absolutória proferida por juiz federal de

primeira instância em caso de crime político;

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Cabimento. STJ. Nos seguintes casos: a) contra decisões denegatórias de

habeas corpus ou mandado de segurança decididas em última ou única

instância por Tribunais de Justiça e Tribunais Regionais Federais.

Prazo. a) para o STF: 5; b) para o STJ: 5 dias (habeas corpus) dias (art. 30, Lei

n. 8.038/1990) ou 15 dias (mandado de segurança) (art. 33, Lei n. 8.038/1990)

II.14 Recurso Extraordinário

Conceito. Recurso de fundamentação vinculada a ser julgado exclusivamente

pelo STF com o intuito de dirimir o aspecto jurídico das causas constitucionais

Cabimento. Causas decididas em única ou última instância, quando a decisão

recorrida: a) contrariar dispositivo da Constituição; b) declarar a

inconstitucionalidade de tratado ou lei federal; c) julgar válida lei ou ato de

governo local contestado em face da Constituição; d) julgar válida lei local

contestada em face de lei federal.

Prazo. 15 dias (art. 26, Lei n. 8.038/1990)

Prequestionamento. A questão que fundamenta o recurso deve ter sido

previamente discutida e decidida no órgão recorrido, tendo este emitido juízo

de valor sobre o tema. De acordo com a Súmula 283 STF, “se a decisão

recorrida se assentar em mais de um fundamento suficiente e o recurso

extraordinário não abranger todos eles, este será inadmissível”.

- Repercussão geral. O recorrente deverá demonstrar preliminarmente, em seu

recurso extraordinário, a repercussão geral das questões constitucionais

discutidas no caso, podendo recusar por 2/3 de seus membros (art. 102, §3º,

CF)

PONTO III - DA REVISÃO CRIMINAL

1. Conceito: previsto nos arts. 621 e seguintes do CPP, “é um remédio

(instituto) que apenas o condenado pode usar contra a coisa julgada, visando

reparar injustiças ou erros judiciários que o tenham atingido por força de

sentença condenatória”.

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2. Natureza jurídica: embora controvertida, a maior aceitação é a de que seja

uma ação penal (de conhecimento e de caráter constitutivo).

3. Cabimento (art. 621): a) - quando a sentença condenatória for contrária ao

texto expresso em lei; b) - quando a sentença for contrária à evidência dos

autos; c) - quando a sentença condenatória se fundar em depoimentos, exames

ou documentos comprovadamente falsos; d) - quando, após a sentença, se

descobrirem novas provas de inocência do condenado ou de circunstâncias que

determine ou autorize diminuição especial da pena.

4. Consequências: De acordo com o art. 626 CPP, “julgando procedente a

revisão, o tribunal poderá alterar a classificação da infração, absolver o réu,

modificar a pena ou anular o processo”. Não poderá, entretanto, ser agravada a

pena imposta pela decisão revista.

5. Competência: a) STF: quanto às condenações por ele proferidas; b) STJ:

quanto às condenações por ele proferidas; c) Tribunais de Justiça ou TRF: nos

demais casos.

6. Indenização: erro judiciário comprovado pela revisão, o interessado pode

pedir indenização pelos prejuízos sofridos (art. 5º, LXXV da CF). Embora o

art. 630 CPP negue a indenização em ação privada, hoje, a proibição, por força

constitucional, não mais subsiste. A sentença de reconhecimento do erro é

desconstitutiva (rescinde a “res judicata”) e condenatória, sendo o acórdão um

título judicial ilíquido

PONTO IV - DO “HABEAS CORPUS”

1. Histórico

- introduzido no Brasil, expressamente, pelo CPC de 29/11/1832, art. 340.

- passou a constar em todas as Constituições, a partir da de 1891.

- atualmente: art. 5º, LXVIII da CF, e regulado pelos artigos 647 a 667 CPP.

2. Conceitos

2.1- Conceito geral: é uma garantia individual, um remédio jurídico, que visa

tutelar a liberdade física do indivíduo, a liberdade de locomoção (ir, vir e ficar)

2.2- Conceito jurídico: é o remédio jurídico que visa evitar ou fazer cessar atos

de violência ou coação contra o direito de locomoção, decorrentes esses atos de

ilegalidades ou abuso do poder.

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3. Natureza jurídica: bastante discutida, prevalece a ideia de que não é

recurso, e sim Ação Popular Constitucional.

4. Espécies: a) Liberatório ou repressivo: constrangimento já está acontecendo;

b) preventivo: quando ocorre ameaça fundada, concreta, de constrangimento.

Expede-se, neste caso, um salvo-conduto.

5. Legitimidade:

5.1- Ativa: qualquer pessoa, inclusive o MP. Não precisa ser habilitado por lei e

nem ser representado por advogado. Pode ser impetrado por pessoa jurídica,

porém, só a favor de pessoa física.

5.2- Passiva (autoridade coatora): Anteriormente somente poderia ser

impetrado contra quem exercesse a função pública (arts. 649, 650, 653, 655,

660, 662 e 665). Atualmente, é previsto também contra ato de particular

porque a CF/88 permite o uso contra a ilegalidade, que pode ser praticada por

particular. Situações previstas pela Jurisprudência: paciente retido em hospital

por falta de pagamento; empregado retido no imóvel por problemas de acerto

de contas etc.

- Hoje, não mais impede a concessão de Habeas Corpus contra prisão

disciplinar ou administrativa, salvo a punição disciplinar militar (art. 142, §2º,

CF/88) e nas prisões previstas no estado de sítio (arts. 138 e 139 CF/88).

6. Admissibilidade (condições gerais da ação de HC): “legitimatio ad

causam” (ativa e passiva), possibilidade jurídica do pedido e interesse de agir.

6.1- Impossibilidade jurídica (casos de inadmissibilidade): estado de sítio

(arts. 138 e 139 da CF); prisão disciplinar militar (art. 142, 2º, CF/88);

impetrante que sem estar preso, pede apressamento do inquérito policial, da

ação penal ou o julgamento do recurso.

6.2- Falta de interesse de agir: Quando houver condenação ou

possibilidade de condenação, apenas, à pena de multa (Súmula 693 STF);

quando a pena imposta ao impetrante já foi cumprida ou extinta (Súmula 695

STF); quando o “mandamus” não for o meio adequado para a pretensão do

impetrante.

7. Competência: Será sempre da autoridade judiciária de jurisdição superior à

da autoridade coatora (art. 650).

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2.Efeitos: a) concedido em virtude de nulidade do processo (art. 652): trata-se

de sentença desconstitutiva (rescinde a coisa julgada); b) concedido por falta de

justa causa: é sentença terminativa de mérito (impede nova instauração).

PONTO V - EXECUÇÃO PENAL

1- NATUREZA E OBJETO DA EXECUÇÃO PENAL

- Lei nº 7.210 de 11/07/84 (Lei de Execução Penal), Art. 1º: “A execução penal

tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e

proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e

do internado.”

- O entendimento dominante na doutrina e jurisprudência é que a Execução

Penal é de natureza eminentemente jurisdicional embora existam questões de

natureza administrativa a cargo das autoridades penitenciárias.

- Súmula nº 39 da Mesa de Processo Penal da Faculdade de Direito da USP: “A

execução penal é atividade complexa que se desenvolve, entrosadamente, nos

planos jurisdicional e administrativo.”

2- AUTONOMIA DO DIREITO DE EXECUÇÃO PENAL:

- Segundo a Exposição de Motivos à Lei de Execução Penal “A autonomia do

Direito de Execução Penal corresponde o exercício de uma jurisdição

especializada, razão pelo qual, no artigo 2º, se estabelece que a “jurisdição

penal dos juízes ou tribunais de justiça ordinária, em todo o território

nacional, será exercida, no processo de execução, na conformidade desta lei e

do Código de Processo Penal.”

3- EXECUÇÃO PENAL NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL E NO

CÓDIGO PENAL:

3.1. Regras características da Execução Penal na Constituição Federal:

proibição de detenção arbitrária, da pena de morte, da prisão perpétua e,

estabelece a personalização e individualização da pena.

3.2. Regras características da Execução Penal no Código Penal: Estágios de

cumprimento da pena e os respectivos regimes prisionais.

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4- ÓRGÃOS DA EXECUÇÃO PENAL (Art. 61 da LEP):

- Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (Art. 62/64)

- Juízo de Execução (Art. 65 e 66). Ver Súmula 611 do STF.

- Ministério Público (Art. 67)

- Conselho Penitenciário (Art. 69/70)

- Departamentos Penitenciários (Art. 71 a 75)

- Patronato (Art. 78/79)

Conselho da Comunidade (Art. 80/81).

DMF (Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Prisional

– CNJ).

5- ESTABELECIMENTOS PENAIS.

5.1. PENITENCIÁRIA (Art. 87 a 90 da LEP):

- É um estabelecimento de segurança máxima ou média destinado aos

condenados à pena de reclusão, em regime fechado.

5.2. COLÔNIA AGRÍCOLA, INDUSTRIAL OU SIMILAR (Art. 91/92):

- É um estabelecimento penal para o cumprimento da pena em regime

semi-aberto.

5.3. CASA DO ALBERGADO (Art. 93 a 95):

- É um estabelecimento destinado aos reeducandos que estejam cumprindo

pena privativa de liberdade em regime aberto ou pena restritiva de direitos

consubstanciada em limitação de fim de semana.

5.4. CENTRO DE OBSERVAÇÃO (Art. 96 a 98):

- É o órgão destinado a realizar o exame criminológico.

- Exame Criminológico: É uma perícia técnica destinada a analisar as

condições de personalidade do condenado a fim de ser procedida a uma correta

classificação e individualização da Execução e que servirá de subsídios ao

parecer da Comissão Técnica de Classificação. Ver arts. 6º e 8º da LEP.

- A Lei 10.792 de 1º/12/03 alterou o disposto no artigo 112 da LEP,

dispensando prévio laudo de exame criminológico para fins de progressão do

regime prisional, mas há divergências na doutrina e jurisprudência. Obs.: A

Súmula Vinculante nº 26 do STF admite o Exame Criminológico se

fundamentada a decisão. No mesmo sentido ver a Súmula 439 do STJ.

5.5. HOSPITAL DE CUSTÓDIA E TRATAMENTO PSIQUIÁTRICO (Art.

99 a 101 da LEP):

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- É destinado aos inimputáveis a quem foi imposto medida de segurança e aos

semi-imputáveis (tratamento ambulatorial).

5.6. CADEIA PÚBLICA (Art. 102/104):

- É um estabelecimento destinado ao recolhimento dos chamados presos

provisórios.

6 – DIREITOS DOS CONDENADOS

6.1. DIREITOS DE ÍNDOLE CONSTITUCIONAL

- Artigo 5º, “caput”, III, V, VI, VII, VIII, IX, X, XII, XXII, XXVII, XXVIII,

XXIX, XXX, XXXIV, XXXIV “b”, LXXII “a” e “b”, LXXIV e LXXV, Art.

208, I e § 1º e Art. 215, todos da Constituição Federal.

6.2. DIREITOS PREVISTOS NA LEI DE EXECUÇÃO PENAL

- Arts. 12; 13; Art. 14 e § 2º; Art. 28 a 37; Art. 41 e incisos e Artigo 43.

7- DEVERES DOS CONDENADOS (Art. 38 e 39 da LEP ) e DISCIPLINA

(Art. 44 a 60 da LEP)

- Se o reeducando não observar os deveres prescritos nos Artigos 38 e 39

poderão sofrer sanções disciplinares aplicadas pelo Diretor do Estabelecimento

Prisional.

- O Juiz da Execução Penal poderá rever as sanções disciplinares impostas.

- As faltas disciplinares são classificadas em leves, médias e graves. A falta

grave tem que ser comunicada ao Juiz da Execução pois há reflexo na

individualização da pena (art. 48, parágrafo único da LEP).

- Segundo o disposto no art. 31 o condenado à pena privativa de liberdade está

obrigado ao trabalho.

- Não é permitida sanções cruéis ou sanções coletivas.

- Para aplicar as sanções tem que apurar os fatos e a autoria pelo procedimento

disciplinar.

- A Lei 10.792 de 1º/12/03 instituiu o regime disciplinar diferenciado a ser

aplicado por ato motivado do diretor do estabelecimento por prévio e

fundamentado despacho do juiz competente. Prazo: 360 dias podendo ser

repetida por nova falta grave da mesma espécie, até o limite de 1/6 da pena

aplicada. O diretor do estabelecimento penal pode isolar o preso

preventivamente em caso de urgência por até 10 dias aguardando a decisão

judicial sobre o RDD.

8- PROCESSO DE EXECUÇÃO

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8.1. - Segundo Mirabete “deve-se utilizar, portanto, a expressão processo de

execução para designar o conjunto de atos jurisdicionais necessários à

execução das penas e medidas de segurança como derradeira etapa do processo

penal.”

8.2. - Por se tratar de processo de partes, devem ser asseguradas todas as

garantias do devido processo penal, dentre eles o contraditório, ampla defesa, o

uso dos meios de provas garantidos em geral, a presença do Juiz natural, a

publicidade, o duplo grau de jurisdição, etc.

8.3. PRESSUPOSTOS:

a- Título executivo;

b- Capacidade do agente;

c- Guia de Recolhimento.

Observações: Diferenças entre Guia de Recolhimento, Guia de Execução e

Carta de Guia.

- Guia de Recolhimento: Segundo a LEP é o termo usado para os casos em que

o sujeito está preso ou vem a sê-lo. Obs.: Somente expede a guia de

recolhimento com a prisão do sentenciado.

- Guia de Execução: Caso não se cogita de execução de pena privativa de

liberdade, tais como execução de pena restritiva de direitos e suspensão

condicional da pena.

- Carta de Guia: É um termo genérico também designado pelo Art. 676 do

CPP.

8.4. INÍCIO DA EXECUÇÃO PENAL

- Apartir do momento que o juiz recebe a Guia de Recolhimento.

- Competência do juiz da execução: Alguns doutrinadores entendem que é com

a prisão do condenado e para outros, com o trânsito em julgado da sentença

condenatória.

- A execução penal compete ao juiz indicado na Lei de Organização Judiciária

e, na ausência de Vara especializada cabe a execução, segundo o art. 65 da LEP

ao “juiz da sentença.”

- “Conexão sucessiva”: É uma expressão doutrinária adotada para os casos em

que o mesmo juiz que decidiu a causa, lavrando sentença condenatória, é

também o competente para a sua execução. Seria uma cumulação de

competência.

O Artigo 66 da LEP dispõe quanto ao campo de atuação do juiz da execução.

Atividades tanto de natureza jurisdicional quanto administrativo (saídas

temporárias, zelar pelo correto cumprimento da pena, compor e instalar o

Conselho da Comunidade e outros).

Súmula 611 do STF: “Transitada em julgado a sentença condenatória,

compete ao juízo das execuções a aplicação de lei mais benigna.”

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8.5. EXECUÇÃO DA PENA DE PRESO PROVISÓRIO

- Segundo o parágrafo único do Art. 2º da LEP é aplicada de igual modo ao

preso provisório, ou seja, deverão os presos provisórios submeter-se ao mesmo

tratamento dispensado ao preso definitivo (direitos e deveres), salvo nas

hipóteses incompatíveis com a Lei de Execução Penal.

- Parte da doutrina e da jurisprudência sustentam que cabe execução da

sentença condenatória pendente de recurso sem efeito suspensivo, como o

especial e o extraordinário (Art. 27, § 2º, da Lei 8.038/90). Segundo o STF não

há ofensa ao art. 5º, LVII da CF (RT 753/511; JSTF 243/378-9), mas há outros

julgados no STF com entendimento contrário a execução provisória.

- É possível a execução provisória da sentença transitada em julgado para a

acusação na pendência de recurso do acusado. Ver julgados do STF no HC

68572-2-130/DF e do STJ no RHC 7.868/SP – DJU de 18/12/98).

- Súmula 716 do STF: “Admite-se a progressão de regime de cumprimento da

pena ou a aplicação imediata de regime menos severo nela determinada, antes

do trânsito em julgado da sentença condenatória.”

- Súmula 717 do STF: “Não impede a progressão de regime de execução da

pena, fixada em sentença não transitada em julgado, o fato de o réu se

encontrar em prisão especial.”

8.6. CONDENADOS NA JUSTIÇA MILITAR E NA JUSTIÇA COMUM

FEDERAL

- A LEP é aplicada ao condenado pela Justiça Eleitoral ou Militar, quando

recolhido a estabelecimento sujeito à jurisdição ordinária (parágrafo único do

artigo 2º da LEP).

- Súmula 192 do STJ: “Compete ao Juiz das Execuções Penais do Estado a

execução das penas impostas a sentenciados pela Justiça Federal, Militar ou

Eleitoral, quando recolhidos a estabelecimentos sujeitos à administração

estadual.”

9- REGIMES:

9.1. O Código Penal adotou o chamado Sistema Progressivo com a sua dupla

finalidade: punição e ressocialização do condenado.

- O reeducando inicia o cumprimento da pena no regime mais rigoroso,

progredindo até o regime mais brando (Art. 112 da LEP).

- O juiz da condenação é que compete fixar o primeiro regime a que se

submeterá o condenado, de acordo com os requisitos previstos na Lei e, uma

vez fixado o regime cabe ao Juiz da Execução apreciar as progressões e

regressões ao longo do cumprimento da pena segundo o critério objetivo

(tempo de cumprimento da pena) e segundo o mérito ou demérito do

reeducando.

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- Súmula 718 do STF: “A opinião do julgador sobre a gravidade em abstrato

do crime não constitui motivação idônea para a imposição de regime mais

severo do que o permitido segundo a pena aplicada.”

- Súmula 719 do STF: “A imposição do regime de cumprimento mais severo do

que a pena aplicada permitir exige motivação idônea.”

- A medida em que surgem novas condenações, são elas somadas ao restante da

pena em execução afim de um novo regime de cumprimento ser fixado.

9.2. REGIME FECHADO)

9.2.1. Hipóteses obrigatórias:

a- Crimes hediondos (Lei nº 8.072). Obs.: Ver alterações na lei 11.464 de

28/03/07.

b- Quando a pena de reclusão aplicada for superior a 8 anos;

c- Nos casos de pena de reclusão aplicada ao condenado reincidente;

d- Organizações criminosas;

e- Crimes de Lavagem de dinheiro.

9.3. REGIME SEMI-ABERTO

9.3.1. Hipóteses obrigatórias:/a- Ao condenado não reincidente com pena

superior a quatro anos desde que não exceda a oito. Observação: Não se trata

de direito subjetivo do condenado, pois o juiz da condenação deverá observar

os critérios previstos no artigo 59 do Código Penal.

b- Ao condenado à pena de detenção quando a pena ultrapassar a oito anos.

- Saída Temporária: Artigo 122 e seguintes da LEP com a nova redação dada

pela Lei 12.258/2010 que agora obriga o juiz a fixar condições ao conceder a

saída temporária e inclusive definir a fiscalização do condenado por meio de

monitoração eletrônica.

- Trabalho Externo: Artigo 37 da LEP.

9.4. REGIME ABERTO

9.4.1. Hipóteses obrigatórias:

a- Ao condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a quatro

anos.

Obs.: - Também não se trata de direito subjetivo do condenado pois o juiz da

condenação deverá observar os critérios previstos no Artigo 59 do Código

Penal.

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- Regime Aberto Domiciliar (Art. 117 da LEP).O juiz poderá determinar a

fiscalização por meio de monitoração eletrônica conforme previsão contida o

artigo 146-B, IV da LEP (redação dada pela Lei 12.258/2010).

O STJ vem autorizando o recolhimento domiciliar fora daquelas hipóteses

mencionadas no artigo 117 da LEP quando não há estabelecimento penal

próprio para o cumprimento da pena ou vagas no referido estabelecimento

prisional.

9.5. PROGRESSÃO DE REGIME (Art. 112 da LEP):

- Requisito objetivo: Cumprimento ao menos de um sexto da pena no regime

anterior.

- Requisito subjetivo: Mérito do condenado. A lei 10.792 de 1º/12/03 alterou o

artigo 112 da LEP, dispensando prévio laudo de exame criminológico da

Comissão Técnica de Classificação para fins de análise do pedido de

progressão de regime. Agora, basta o cumprimento de 1/6 da pena e atestado

de bom comportamento carcerário a ser expedido pelo diretor do

estabelecimento para que o juiz possa decretar a progressão do regime

prisional. Segundo o STF (Súmula Vinculante 26) e o STJ (Súmula 439) o

juiz da execução penal poderá condicionar a análise de um pedido de

progressão ou livramento condicional à realização do exame criminológico

desde que fundamente a decisão.

Observações: - Não se permite a progressão do regime fechado diretamente

para o regime aberto.

- Não cabia progressão ao condenado por crime hediondo eis que devia

cumprir integralmente em regime fechado (Art. 2º, § 1º, da Lei 8.072/90) mas,

recentemente o STF, por maioria de votos, decidiu num caso concreto (controle

difuso de inconstitucionalidade) que o art. 2°, § 1° da Lei 8.072/90 ao

determinar o cumprimento da pena integralmente em regime fechado viola o

princípio constitucional da individualização da pena (HC n°82959, julgado de

23/02/2006, Rel. Ministro Marco Aurélio de Mello). A questão hoje encontra-

se regulada na lei 11.464 de 28/03/07 (com vigência a partir de 29/03/07) que

alterou a Lei dos Crimes Hediondos ao permitir expressamente a progressão

de regime para os crimes hediondos ou equiparados após o cumprimento de

2/5 da pena, para o condenado primário e 3/5 da pena em se tratando de

condenado reincidente (contra 1/6 exigidos nos demais crimes). A

jurisprudência pátria vem entendendo que as frações estabelecidas na Lei

11.464/07 para os crimes hediondos (2/5 ou 3/5) não se aplicam aos crimes

praticados antes da vigência da referida lei ou seja, somente se aplicam para

os delitos classificados como hediondos praticados a partir de 29/03/2007

inclusive, face ao princípio da irretroabilidade da norma penal se for para

prejudicar o acusado.

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- Súmula 698 do STF: “Não se estende aos demais crimes hediondos a

admissibilidade de progressão no regime de execução da pena aplicada ao

crime de tortura. Obs.: Com o advento da lei 11.464/07 a Súmula 698 perdeu

eficácia.

- Súmula 715 do STF: “A pena unificada para atender ao limite de trinta anos

de cumprimento, determinado pelo art. 75 do Código Penal, não é

considerada para a concessão de outros benefícios, como livramento

condicional ou regime mais favorável de execução.”

9.6. REGRESSÃO DE REGIME (Artigo 118 da LEP)

- É a transferência de um regime para outro mais rigoroso, tendo em vista a

prática de algum dos fatos descritos no Artigo 118 da LEP.

A Lei 11.466/07 que vigora desde 29/03/2007 alterou a LEP, incluindo

como falta grave a posse, utilização ou fornecimento de aparelho

telefônico, rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos

ou com o ambiente externo e, como se sabe as conseqüências do

cometimento de falta grave são a perda dos dias remidos e regressão de

regime.

Hipótese de regressão estabelecida no artigo 146-C, parágrafo único, I da LEP

conforme redação dada pela Lei 12.258/2010: Violação dos deveres referentes

a monitoração eletrônica em caso de saída temporária e prisão domiciliar.

- É possível a regressão “por salto”.

- Regressão cautelar: Os nossos tribunais vem admitindo face ao poder de

cautela do juiz.

10 – REMIÇÃO (Art. 126 da LEP)

- É o desconto de parte da pena face ao trabalho realizado. A Remição é

declarada pelo juiz da execução após a oitiva do Ministério Público.

- Três dias de trabalho correspondem a um dia de resgate e somente é

concedido quando a pena privativa de liberdade é cumprida em regime fechado

ou semi-aberto.

O condenado a cumprir pena em regime aberto não faz juz a este benefício

pelo trabalho pois quem está neste regime tem no trabalho a própria razão de

ser da sua concessão.

Nos termo da Lei 12.433, de 29/06/02011 que alterou os artigos 126, 127, 128

e 129 da LEP agora o tempo remido 'será computado como pena cumprida,

para todos os efeitos' e não como perdão da pena como entendiam alguns

doutrinadores e tribunais.

A referida Lei 12.433/2011 também introduziu na LEP a possibilidade de

remição por estudo que aliás vinha sendo reconhecida pela nossa

jurisprudência. Estabelece o artigo 126, §1º, I que a contagem do tempo para

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fins de remição pelo estudo será feita à razão de 1 (um) dia de pena a cada 12

(doze) horas de frequência escolar, divididas, no mínimo, em 3 (três) dias e,

concluído o ensino fundamental, médio ou superior durante o cumprimento da

pena, o tempo a remir pelo estudo será acrescido de 1/3 (um terço) conforme

disposto no §5º do mencionado artigo 126 da LEP.

Cometimento de falta grave (artigo 127 da LEP): Antes da Lei 12.433/2011 o

cometimento de falta grave fazia com que o sentenciado perdesse todo o tempo

remido. Há um entendimento minoritário na doutrina e jurisprudência no

sentido de que se já houve trânsito em julgado da sentença concessiva da

remição, não cabe a aplicação do artigo 127, prevalecendo a coisa julgada, pois

a remição é considera um direito público subjetivo e uma vez concedido por

decisão não lhe poderá ser retirado mas o STF entende o contrário tanto é que

editou a Súmula Vinculante nº 09 que dispõe que “O disposto no artigo 127

da Lei nº 7.210/1984 (Lei de Execução Penal) foi recebido pela ordem

constitucional vigente, e não se lhe aplica o limite temporal previsto no caput

do artigo 58.”

Com o advento da Lei 12.433/2011 o perdimento dos dias remidos pela

prática de falta grave fica limitada a no máximo 1/3 do tempo remido através

de decisão judicial, ouvidos o Ministério Público e a defesa (art. 127)

- Segundo entendimento majoritário da doutrina e jurisprudência o trabalho do

preso provisório enseja remição mas agora a questão está regulada por lei como

se vê no § 7º do artigo 126 da LEP que foi introduzido pela Lei 12.433/2011.

11- DETRAÇÃO (Art. 42 do CP e 66, III, “c”, da LEP)

- É o cômputo do tempo de prisão provisória ou medida de segurança na pena

ou medida de segurança.

- “Pena. Detração. A detração do período de prisão a que se seguiu a

absolvição do réu pode ser concedida se se trata de pena por outro crime

anteriormente cometido. Não, porém, em relação à pena por crime posterior à

absolvição.” (STF; RTJ 70/324.) No mesmo sentido decidiu o STJ (RT

763/536-537).

12 – LIVRAMENTO CONDICIONAL (Art. 83/90 do CP e Art. 131/146 da

LEP)

- Livramento condicional é a antecipação da liberdade concedida ao

reeducando, desde que preenchidos os requisitos previstos em lei. O juiz decide

quanto ao pedido após o parecer do Ministério Público (Art. 132 da LEP).

Concedido o benefício o juiz da execução deve impor as condições a que fica

subordinado o beneficiário até que se finde o período de prova (Art. 85 do CP e

132 da LEP).

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- A lei 10.792 de 1º/12/03 alterou o artigo 70 da LEP, portanto, agora o

Conselho Penitenciário não emite parecer sobre livramento condicional,

somente sobre indulto e comutação de pena, excetuada a hipótese de pedido de

indulto com base no estado de saúde do preso.

- Da decisão que concede o livramento condicional cabe o recurso de agravo,

sem efeito suspensivo (Art. 197 da LEP).

12.1. PRESSUPOSTOS OBJETIVOS:

a – quantidade e natureza da pena imposta: - condenado a pena privativa de

liberdade igual ou superior a dois anos (Art. 83, “caput”, do CP)

- Havendo várias condenações devem as mesmas serem somadas para o efeito

do livramento condicional (Art. 84 do CP)

b – cumprimento de parte da pena ou das penas que lhe foram impostas:

- mais de um terço quando não é reincidente em crime doloso e tiver bons

antecedentes (Art. 83, I, do CP)

- mais da metade da pena quando o réu é reincidente em crime doloso (Art. 83,

II do CP)

- o condenado por crime hediondo, prática de tortura, tráfico ilícito de

entorpecentes e drogas afins e terrorismo que não for reincidente específico em

crimes dessa natureza deverá cumprir mais de dois terços da pena.

- Ter o sentenciado reparado o dano causado pelo crime, salvo efetiva

impossibilidade de faze-lo (Art. 83, IV do CP).

12.2. PRESSUPOSTOS SUBJETIVOS:

a- comportamento satisfatório durante a execução da pena (Art. 83, III, 1ª parte

do CP)

b- bom desempenho no trabalho que lho foi atribuído (Art. 83, III, 2ª parte do

CP).

c- aptidão para prover a própria subsistência mediante trabalho honesto (Art.

83, III, última parte do CP).

Obs.: Segundo o disposto no parágrafo único do Art. 83 “para o condenado

por crime doloso, cometido com violência ou grave ameaça à pessoa, a

concessão do livramento ficará também subordinada à constatação de

condições pessoais que façam presumir que o liberado não voltará a

delinqüir.” Essas condições são apuradas através do exame criminológico ou

por outros meios, por outro lado a lei 10.792/03 introduziu o parágrafo 2º do

artigo 112 da LEP prevendo que o procedimento do “caput” daquele

dispositivo (que trata da progressão do regime) será também adotado na

concessão de livramento condicional, indulto e comutação de penas!

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12.3. REVOGAÇÃO:

a- Revogação obrigatória (Art. 86 do CP)

- condenação à pena privativa de liberdade, em sentença irrecorrível, por crime

cometido durante a vigência do benefício (inciso I)

Obs.: * Se for cometido um crime durante o período de prova e for instaurado

a ação penal antes de escoado o prazo, este é prorrogado até o julgamento

definitivo (Art. 89 do CP).

* Se for praticada outra infração no curso do benefício o juiz poderá ordenar

a prisão, após ouvir o Conselho Penitenciário e o Ministério Público,

suspendendo o curso do livramento condicional (Art. 145)

- condenação definitiva a pena privativa de liberdade por crime anterior a sua

vigência, ou seja antes ou durante o período em que esteve preso o liberado,

observada a hipótese do artigo 84 (inciso II).

Obs.: A nova pena imposta deve ser somada ao restante da pena anterior,

podendo ser novamente concedido o benefício, com ou sem interrupção, se,

com a soma, o beneficiário preencher os requisitos do livramento.

b- Revogação facultativa (Art. 87 do CP)

- descumprimento de qualquer das condições impostas pelo juiz da execução.

- quando o beneficiário é irrecorrivelmente condenado, por crime ou

contravenção, à pena que não seja privativa de liberdade.

4. Efeitos da revogação e contagem do prazo do livramento

- Ocorrido o crime antes da vigência do livramento, determina o artigo 141 da

LEP e o artigo 84 do CP que as penas devem ser somadas para efeito de novo

livramento, portanto quando o artigo 88 do Código Penal determina que

“revogado o livramento, não poderá ser novamente concedido” deve este

dispositivo ser interpretado restritivamente. Determina aquele mencionado

artigo 141 que sem e tratando de infração ocorrida anterior ao benefício,

computar-se-à como tempo de cumprimento da pena o período de prova.

- Quando a revogação do benefício ocorreu por crimes ou contravenções

praticados durante a vigência do benefício ou por desobediência às obrigações

impostas, não se computa na pena o prazo em que o liberado esteve em

liberdade, devendo cumprir integralmente o restante da pena, descontado

apenas o tempo em que esteve recolhido antes da concessão do benefício (Art.

142 da LEP).

Obs.: Outra conseqüência é que também não se pode conceder novo

livramento pela pena em que o sentenciado obtivera livramento condicional,

devendo cumprir a pena integralmente e somente poderá ser beneficiado com

aquele benefício com relação a nova pena que lhe foi imposta.

Page 37: DIREITO PROCESSUAL PENAL Dr. Wilson Dias - ESMEGesmeg.org.br/pdfMural/dir._proc._penal_-_dr._wilson_dias_12-09... · PONTO V - EXECUÇÃO PENAL ... nas hipóteses previstas em lei,

Prof. Wilson Dias

- Art. 90 “Se até o seu término o livramento não é revogado, considera-se

extinta a pena privativa de liberdade.”

13 – AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL

- Segundo o disposto no artigo 197 da LEP “das decisões proferidas pelo juiz

caberá recurso de agravo, sem efeito suspensivo.” Exceção: Art. 179 da LEP.

- Segundo entendimento dominante na doutrina e jurisprudência adota-se o

procedimento do Recurso em Sentido Estrito, portanto o prazo é de 5 dias para

a interposição.

- Súmula 700 do STF: “É de cinco dias o prazo para interposição de agravo

contra decisão do juiz da execução penal.”

14 – GRAÇA, INDULTO E COMUTAÇÃO DE PENA

I – GRAÇA: O poder de graça açambarca a anistia, a graça em sentido estrito,

o indulto e a comutação de pena. Todos estes atos configuram manifestações

de soberania e clemência, ou seja, o Estado renuncia o jus puniendi, tendo

como pilastra a equidade.

- O INDULTO e a GRAÇA são atos privativos do Presidente da República

(art. 84, XII, da Constituição Federal), ambos, porém, não se confundem, senão

vejamos:

a) Indulto: Apresenta caráter coletivo, de natureza genérica, é espontâneo e

independe de qualquer solicitação. Não se admite recusa quando por parte do

beneficiário salvo, quando se tratando de comutação de pena.

- Quanto a sua extensão pode ser pleno, quando extingue completamente a

punibilidade. Parcial quando diminui a pena – neste caso recebe a

denominação de comutação.

b) Graça (indulto individual): Possui caráter individual, é solicitada pelo

condenado, Conselho Penitenciário, autoridade administrativa ou o Ministério

Público.