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XX 28 16/02/2012 * Com superlotação, Ceresp terá que rerar presos - p.15 * Querem calar os promotores - p.20 * Furtadas 5 peças sacras do século XVIII avaliadas em mais de R$ 1 milhão - p. 03

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XX 28 16/02/2012

* Com superlotação, Ceresp terá que retirar presos - p.15

* Querem calar os promotores - p.20

* Furtadas 5 peças sacras do século XVIII avaliadas em mais de R$ 1 milhão - p. 03

ARTE SACRA NA MIRA DE LADRÕESMINAS REVIVE DRAMA DE TER PATRIMÔNIO RELIGIOSO DILAPIDADO: AO MENOS CINCO IMAGENS

SÃO LEVADAS DA MATRIZ DE SANTO ANTÔNIO, EM ITACAMBIRA. INTERPOL, POLÍCIAS FEDERAL, CIVIL, MILITAR E RODOVIÁRIA, ALÉM DA INFRAERO, ESTÃO MOBILIZADAS

estado de minas - 1ª P. e P. 43 - 16.02.2012

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Cont... estado de minas - P. 43 - 16.02.2012

hoje em dia - 1ª P. - 16.02.2012

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Girleno Alencar Cinco peças sacras foram furtadas, na madrugada desta

quarta-feira (15), da Igreja Matriz de Santo Antônio, locali-zada em Itacambira, no Norte de Minas. Foram levadas as imagens de Sant’Ana Mestra, São Sebastião, Santa Rita, São Miguel Arcanjo e uma quinta, não identificada. Todas do sé-culo XVIII, elas estão avaliadas em mais de R$ 1 milhão. A Polícia Federal foi acionada para investigar o caso.

Construída por escravos, a Matriz de Santo Antônio é reconhecida nacionalmente graças ao escritor João Guima-rães Rosa. Na obra literária “Grande Sertão: Veredas”, ele cita que o personagem Diadorim foi batizado no templo, cujo altar se destaca pela beleza arquitetônica.

Conforme registros, a igreja é de 1707 e foi sede da grande freguesia do bispado da Bahia. Em 1813, foi elevada a paróquia. Em 31 de julho de 1998, o local foi considerado bem cultural e tombado pelo Instituto Estadual do Patrimô-nio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha/MG), que fez a restauração do templo em 2008.

Segundo o sargento Klayton Bicalho, comandante do Destacamento da Polícia Militar em Itacambira, o ataque ocorreu por volta das 2 horas. O criminoso usou um ver-galhão para arrombar a porta lateral da igreja, pelo lado da avenida Francisco Bicalho. Com o ferro, foi possível retirar a tramela da porta e acessar o interior. A única pista deixada foi o pedaço de ferro. Na opinião do policial, a invasão e o roubo são consequências do progresso. “Como o acesso a

Itacambira passou a ser por asfalto, facilitou a ação das qua-drilhas especializadas em furtos de imagens”, diz.

A assessoria do Iepha informou que já enviou o livro de inventário, com as imagens tombadas que estão em Itacam-bira, para ajudar na investigação.

É a segunda vez que ocorre um caso similar no Norte de Minas, sem que as peças tenham sido recuperadas. Em 3 de agosto de 2008, o furto ocorreu na Igreja de Nossa Senhora da Conceição, em Matias Cardoso, considerada a mais an-tiga de Minas Gerais. Foram levadas as imagens de Santa Maria, Sant’Ana e São Miguel, do século XVII, que estavam em dois oratórios. Com 50 centímetros de altura, as peças têm origem portuguesa.

O desaparecimento de peças e imagens sacras barrocas, cobiçadas por colecionadores do país e do exterior, não é no-vidade em Minas. A exemplo do que aconteceu na paróquia de Itacambira, a maioria dessas peças e esculturas foi furtada em igrejas ou museus para ser vendidas a colecionadores brasileiros e do exterior. No cadastro do Iepha, constam 585 peças desaparecidas desde 1994 até ontem. Dessas, 38 fo-ram localizadas e 84, restituídas aos seus locais de origem.

A Promotoria de Defesa do Patrimônio Cultural e Tu-rístico de Minas Gerais informou que, em seu cadastro, constam 692 peças sacras furtadas em território mineiro. Já a Polícia Federal não informou sobre a recuperação desses objetos e se, atualmente, há alguma investigação em curso.

* Colaborou Carlos Calaes

hoje em dia - P. 8 - 16.02.2012

Furtadas 5 peças sacras do século XVIII avaliadas em mais de R$ 1 milhão

Crime foi cometido na Matriz de Santo Antônio, conhecida nacionalmente graças ao escritor João Guimarães Rosa

Belo Horizonte. A Igreja Matriz de Santo Antônio, em Itacambira, no Norte de Minas, foi arrombada na ma-drugada de ontem. Criminosos levaram cinco imagens sacras originais da época de construção do templo, da-tado de 1707. A igreja e seu acervo são tombados desde 1998 como bens culturais pelo Instituto Estadual do pa-trimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha).

A Polícia Militar acredita que os criminosos já ha-viam estudado o local, pois sabiam como desativar o alarme. Em seguida, eles arrombaram as portas e leva-ram as imagens de Santo Antônio, Nossa Senhora dos Passos, São Sebastião, São Gabriel e Santo Agostinho, todas feitas em argila.

Havia outras peças no local, mas as que foram rou-badas haviam sido restauradas em 2008 e são conside-radas as mais valiosas da igreja. As imagens estariam avaliadas em mais de R$ 1 milhão. Após o roubo, parte da população do município, de pouco mais de 4.000 ha-bitantes, montou vigília na porta do templo. Até a tarde de ontem, a polícia ainda não tinha pista dos suspeitos. Parte das peças saqueadas da igreja de

Itacambira, no Norte de Minas

FOTO: REPRODUÇÃO

Itacambira.Ladrões desativaram alarme de igreja tombada pelo patrimônio

Peças avaliadas em R$ 1 milhão são roubadas

o temPo - on line - 16.02.2012

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estado de minas - P. 43 - 16.02.2012Fazenda na Grande BH vai ser salva da degradação

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hoje em dia - 1ª P. e P. 13 - 16.02.2012

Vale está de olho na Serra da PiedadeMineradora contesta a extensão do tombamento e a Justiça dará parecer em dez dias

Vale questiona tombamento de serra

Justiça Federal vai se pronunciar nos próximos dias sobre ação da mineradora que contesta proteção da Piedade

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Cont... hoje em dia - P. 13 - 16.02.2012

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hoje em dia - P. 2 - esPortes - 16.02.2012

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o temPo - P. 43 - esPortes - 16.02.2012

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Cont... o temPo - P. 43 - esPortes - 16.02.2012

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o temPo - P. 11 - 16.02.2012 telecomunicações

Instalação de novas antenas no Brasil será padronizada

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Paula TakahashiO setor de telefonia vive

uma verdadeira sinuca de bico. De um lado, cerca de 50% das 50 mil antenas de transmissão das operadas de telefonia, as Estações Rádio Base (ERBs), estão instaladas de maneira ir-regular no Brasil e são alvos de multas e ações civis públicas. De outro, a demanda pelo ser-viço cresce exponencialmente. A estimativa é de que um ce-lular seja habilitado a cada se-gundo, movimento que elevou para 245,2 milhões o número de linhas no país em janeiro. O volume equivale a 1,25 apa-relho por habitante segundo dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).

Sem que a expansão da infra-estrutura acompanhe a de novos telefones móveis em funcionamento – por conta dos entraves da legislação – a par-te mais frágil, o consumidor, sofre. Entre as irregularidades mais frequentes das antenas está a falta de licença ambien-tal para instalação, problema que levou o Ministério Públi-co de Minas Gerais (MPMG) a instaurar uma série de ações

civis públicas na tentativa de regularizar a atividade.

Em nota, as operadoras fazem coro à necessidade de regras mais claras que benefi-ciariam os clientes. “A revisão da legislação para criar um padrão nacional vai trazer be-nefícios aos usuários do servi-ços de telefonia móvel” alega a Claro, enquanto a Vivo apóia “a discussão sobre como via-bilizar esta expansão uma vez que podem ser avaliadas novas propostas que visem o melhor atendimento”. A TIM, por sua vez, informou “que está acom-panhando os trâmites do pro-cesso e que cumprirá todas as determinações legais”.

Alvo de duas ações civis e uma penal, a Oi está na mira do MPMG que pede aplica-ção de multa no valor de R$ 183,963 milhões à empresa por ter descumprido termo de ajustamento de conduta (TAC) que previa a regularização do licenciamento ambiental de suas ERBs. Além de desres-peitar o termo, a Oi instalou 77 novas antenas com a mes-ma irregularidade em diversos bairros de Belo Horizonte. Em

nota, a empresa informou que “não comenta ações judiciais em andamento”.

Segundo Cristóvam Joa-quim Fernandes, promotor de justiça da área de Habitação, Urbanismo e Meio Ambiente do MPMG, e autor de parte destas ações, as empresas ale-gam que basta autorização da Anatel para instalação da tor-re de transmissão. “E que não cabe ao município fiscalizar”, explica. Em uma das ações, a antena de transmissão estava próxima a um hospital infantil e não respeitava as distâncias mínimas estipuladas em lei.

É justamente a quantida-de de regras, pelo menos 254 no país segundo o sindicato que representa as operadoras, Sinditelebrasil, que dificulta o enquadramento nas exigên-cias. Outras 200 leis estaduais e municipais ajudariam a res-tringir a instalação de novas antenas. “Não há por parte da Anatel nenhuma necessidade de estudo de impactos ambien-tais já que não é uma atividade que gere dejetos ou resíduos”, argumenta o diretor presidente do sindicato Eduardo Levy. “O

que há é uma preocupação com a saúde do cidadão, que consi-deramos louvável”, acrescen-ta.

Legislação única Segundo Levy, existe uma grande urgên-cia em mudar a legislação para que torne a atividade viável. “As novas tecnologias exigem mais torres. Todos os dias re-cebemos uma série de obriga-ções de cobertura e qualidade, mas para liberar uma licença ambiental leva-se de seis a oito meses”, afirma. A alternativa das empresas em muitos casos é recorrer a mandato judicial para instalar a ERB. “Se não fizermos isso, começamos a ser pressionados pelos Procons e pela própria agência regula-dora”, explica.

A saída estaria na elabora-ção de uma lei federal, assunto que esteve no centro das discus-são durante o 10º seminário Po-líticas de (Tele)Comunicações, realizado em Brasília. O secre-tário de Telecomunicações do Ministério das Comunicações, Maximiliano Martinhão, reco-nheceu os entraves e também acredita na necessidade de uma lei federal.

teleFonia CelUlar

Metade das antenas tem irregularidades Com aumento de usuários, operadoras ampliam bases de transmissão ferindo regras e são alvo de ações na Justiça

hoje em dia - P.02 - 16.02.2012

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o estado de s. PaUlo - sP - ConamP - 16.02.2012

A 8 meses da eleição, Mariana empossa 5º prefeito desde 2008

Roberto Rodrigues (PTB) assume cidade mineira que cassou Terezinha Ramos terça, a

211º punição nesta legislaturaMARCELO PORTELA , BELO HORIZON-

TE A menos de oito meses das eleições, a cidade

histórica de Mariana, na região central de Minas, assistiu ontem à posse do quinto prefeito desde o pleito de 2008. O vice-prefeito Roberto Rodrigues (PTB) assumiu a vaga da correligionária Terezinha Ramos, cassada pela Câmara Municipal na noite de terça-feira acusada de usar recursos públicos para pagar serviços particulares de um escritório de advocacia.

A comissão processante da Câmara apurou denúncia apresentada pelo engenheiro Marcius Costa Machado, segundo a qual a prefeita pagou R$ 98 mil para o escritório cujo proprietário era só-cio de seu advogado particular e ex-procurador do município. O caso já havia sido apurado pelo Mi-nistério Público Estadual, que pediu o afastamento judicial da prefeita, mas os vereadores foram mais rápidos.

O pagamento foi feito para o escritório jus-tamente para defender Terezinha perante a Justiça Eleitoral, que em maio de 2010 cassou a prefei-ta e o vice por irregularidades na campanha. Em julho do ano passado, os advogados conseguiram liminar para que ela retornasse ao cargo, mas um mandado de segurança manteve como prefeito in-terino o então presidente da Câmara, Geraldo Sales de Souza (PDT), o Bambu. Um mês depois, porém, Terezinha conseguiu nova decisão favorável e re-assumiu o cargo.

Vaivém. O imbróglio no Executivo de Maria-na começou em 2009. Terezinha e Rodrigues fica-ram em segundo lugar nas eleições. Porém, eles assumiram a prefeitura depois que o vencedor do pleito, Roque Camello (PSDB), e seu vice, José Antunes Vieira (PR), foram cassados pela Justiça Eleitoral em 2009 por compra de votos.Com a cas-sação de Terezinha e Rodrigues em maio de 2010, o Executivo passou às mãos do então presidente da Câmara, Raimundo Horta (PMDB), substituído em janeiro de 2011 por Bambu após sua eleição para a presidência do Legislativo. E a confusão pode durar até as vésperas da eleição deste ano, porque a defesa de Terezinha já adiantou que pretende re-correr.O Estado não conseguiu localizar Terezinha. A reportagem tentou falar com seu advogado, Ar-thur Magno e Silva Guerra, mas a informação é de que ele estava em reunião e até o fechamento desta edição não houve retorno.

estado de minas - P. 44 e 45 - 16.02.2012

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Cidades histÓriCasPrefeitura de Mariana acata decisão judicial e cancela desfiles e shows em área tombada. Em Ouro Preto, a programação foi dividida em cinco espaços para diluir os 50 mil foliões

Patrimônio será protegido

Cont... estado de minas - P. 44 e 45 - 16.02.2012

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hoje em dia - 1ª P. e P. 18 - 16.02.2012

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DA REDAÇÃOUma liminar concedida

pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), an-teontem, determinou que o Centro de Remanejamento do Sistema Prisional (Ce-resp) Gameleira, em Belo Horizonte, pare de receber novos presos por causa da superlotação. A medida vale até que o local atinja um montante inferior a 404 pre-sos, que é a capacidade da unidade.

Em caso de descumpri-mento, o Estado deverá pagar multa diária de R$ 80 mil. A medida foi requerida pelo

Ministério Público Estadu-al (MPE), em ação propos-ta em 1º de novembro. Em outubro, foi constatado um número de 1.271 presos na unidade, o triplo da capaci-dade. “Isso claramente viola os direitos dos presos, visto que não atende às mínimas condições estabelecidas pela Lei de Execuções Penais, no que concerne ao tratamen-to dispensado aos detentos. Em virtude da superlotação carcerária, faltam condições mínimas de salubridade, se-gurança e saúde dos presos, o que, sem sombra de dúvi-da, afeta a integridade física,

psíquica e moral daquelas pessoas”, destacaram os pro-motores de Justiça.

Eles ressaltaram tam-bém que, em decorrência da superlotação, vêm faltando aos custodiados atendimen-tos médico, jurídico e so-cial adequados, gêneros de primeira necessidade, tais como colchões, produtos de higiene pessoal e limpeza das celas e roupas e banho de sol na forma prevista em lei. Além disso, constatou-se que quatro celas se en-contravam interditadas com problemas de encanamento e esgoto.

estado de minas - P. 2 - 16.02.2012

o temPo - on line -16.02.2012Gameleira.Presídio pode abrigar 400 presos, mas tem três vezes mais

Superlotado, Ceresp sofre intervenção

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o temPo - P. 27 - 16.02.2012

Seds entra em

contradição ao comentar

enviado à PM

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Cont... o temPo - P. 27 - 16.02.2012

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estado de minas - P. 42 - 16.02.2012

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hoje em dia - P. 04 - 16.02.2012

o temPo - P. 2 - 16.02.2012

Murilo RochaO projeto de segurança pública pensa-

do pelo governo mineiro a partir de 2003, com a criação da Secretaria de Estado de Defesa Social, dá mostras, desde o ano passado, de esgotamento ou, no mínimo, de um direcionamento equivocado. Suces-sivas crises de gestão, o fracasso da inte-gração das polícias, o abandono dos pro-gramas sociais preventivos nas áreas mais pobres - alguém sabe como anda o Fica Vivo? - e o aumento da violência no Esta-do suplantaram a tentativa de impor uma agenda positiva no setor.

Os especialistas trazidos das escolas para o governo, quando se decidiu colocar sob o mesmo guarda-chuva policiais mili-tares e civis e pensar o combate à violência de forma integrada, saíram insatisfeitos da administração pública e, hoje, são críticos da política do Estado. O vício político e a resistência das corporações venceram o pensamento global e não somente reativo no tratamento da segurança pública.

Até os boletins mensais com estatís-ticas quase sempre questionáveis sobre a

violência em Minas desapareceram. Apesar da passividade dos números, a divulgação constante deles permite o acompanhamen-to das ações e dos resultados do governo mineiro. A falta de posicionamento do Es-tado em meio à publicação de toda a sorte de crimes favorece a chamada percepção subjetiva de insegurança, hoje ampliada pelo fenômeno das redes sociais.

Não há como tapar o sol com a pe-neira. De acordo com dados do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pú-blica (Crisp) da UFMG, Minas registrou 25% de aumento no número de homicídios em 2011 e, atualmente, Belo Horizonte tem uma média de 32 assassinatos para cada grupo de 100 mil habitantes. Em São Paulo, esse índice é de dez para 100 mil pessoas.

Somam-se às estatísticas - e à sensa-ção disseminada de medo - crimes agora corriqueiros em todo o Estado e, muitas vezes, não contabilizados. Hoje, quem não conhece alguém vítima de uma saidinha de banco, sequestro relâmpago ou dono de uma padaria assaltada inúmeras vezes.

O patrulhamento comunitário posto em prática com certa eficácia em anos an-teriores agora se resume a placas instaladas na porta de casas e de prédios e na presença de policiais militares em lanchonetes e pa-darias dos bairros.

O setor de inteligência da Polícia Civil também parece paralisado, principalmente, porque não conta com estrutura nem com profissionais remunerados e qualificados adequadamente para o cargo.

O governo mineiro abandonou a ideia de investir em técnicos para criar um plano eficaz de combate à criminalidade. O Es-tado recuou ao preferir novamente jogar a sujeira para debaixo do tapete.

MURILO ROCHA escreve no O Tem-po às quintas-feiras. [email protected]

Retrocesso na segurança

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Inaugurada há dois meses, a nova sede do Tribunal Supe-rior Eleitoral (TSE) é mais um exemplo do modo perdulário como o Judiciário gere recursos públicos. Bastaram poucas se-manas de funcionamento para que os seus usuários - advo-gados, procuradores eleitorais e serventuários - descobrissem os graves erros do projeto ar-quitetônico do prédio. Como em todas as obras públicas em Brasília, ele é de autoria do escritório do arquiteto Oscar Niemeyer e foi escolhido sem licitação.

Os ministros da Corte re-clamam das falhas do projeto, alegando que Niemeyer não respeitou a tradição do Judi-ciário brasileiro. No desenho do plenário, ele seguiu o estilo americano, colocando os mi-nistros numa bancada virada para a plateia, o que os obriga a se virar quando têm de falar en-tre si. Nos tribunais superiores brasileiros, as decisões são pú-blicas e os ministros dialogam entre si. Nos EUA, as discus-sões ocorrem nos bastidores e só o veredicto é anunciado pu-blicamente, em plenário.

Já os servidores alegam que a nova sede do TSE tem várias áreas sem janelas para a entrada da luz do dia, o que resulta em altos gastos de energia elétrica numa região marcada por sua luminosidade. Os advogados reclamam da distância entre a tribuna, onde fazem a sustenta-ção oral, e a bancada dos minis-tros. Na antiga sede, a tribuna ficava próxima do balcão dos ministros, o que tornava a rela-ção menos formal. “O ideal era

uma tribuna mais próxima dos ministros, mas não havia como se alterar o projeto, porque im-plicaria mais gastos”, diz um dos ministros, que não quer se identificar. Como o prédio está em funcionamento há seis se-manas, afirma ele, não faz sen-tido reivindicar uma reforma para torná-lo mais funcional.

Com eleições realizadas a cada dois anos, o TSE é uma Corte sazonal. A carga de tra-balho se concentra durante as campanhas eleitorais e a procla-mação dos resultados dos plei-tos. Depois disso, o TSE tem pouco o que fazer. Em média, o plenário é usado apenas duas vezes por semana. Dos cinco tribunais superiores, o TSE é o que tem o menor número de ações para julgar. Em 2009, ele recebeu 4.514 processos - no mesmo período, o Supremo Tribunal Federal recebeu mais de 103 mil ações e o Superior Tribunal de Justiça (STJ) jul-gou 354 mil processos.

Além disso, o TSE tem apenas sete ministros, dos quais três integram o Supremo Tribu-nal Federal e dois pertencem ao STJ. Lá eles dispõem de am-plos gabinetes e estrutura pró-pria, o que torna a nova sede - com 115.578 metros quadrados - desnecessária. Na realidade, somente dois ministros do TSE - os que representam a classe dos advogados - precisam de gabinetes.

A construção da nova sede do TSE foi decidida em 2006, quando a Corte era presidida pelo ministro Marco Aurélio de Mello. “Teremos uma base

maior para prestar bons servi-ços”, disse ele após a inaugura-ção da obra, em dezembro. Na mesma ocasião, o atual presi-dente, ministro Ricardo Lewan-dowski, comparou o prédio a uma “verdadeira obra de arte” e a um “abrigo condigno para o verdadeiro tribunal de demo-cracia”. Quando o projeto de Niemeyer foi anunciado, em 2007, a nova sede do TSE tinha um custo estimado em R$ 89 milhões. Em 2008, a estimativa subiu para R$ 120 milhões e, em 2010, para R$ 285 milhões. Até dezembro de 2011, haviam sido gastos R$ 327 milhões só com a construção. Com móveis e decoração, a estimativa é de que o custo total fique em torno de R$ 440 milhões.

Durante a construção, o Tribunal de Contas da União constatou indícios de superfatu-ramento e o Ministério Público Federal impetrou ação civil pú-blica, alegando que a obra feria os princípios constitucionais da economicidade, da moralidade e da finalidade da administra-ção pública.

Para cortar custos, o TSE reduziu gastos com revestimen-tos e materiais de acabamento. Por maior que tenha sido essa economia, nada justifica o ta-manho e o luxo de sua nova sede. Em vez de gastar rios de dinheiro com mais um palá-cio suntuoso e desnecessário, a Justiça deveria ter concen-trado seus gastos na melhoria de atendimento da primeira instância, para dar tratamento digno aos cidadãos comuns que a ela recorrem para preservar seus direitos.

o estado de sP - on line - 16.02.2012

A nova sede do TSE

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