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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS FACULDADE DE ARTES VISUAIS DESIGN DE MODA JULIE GOMES VIEIRA PESQUISA DE TENDÊNCIAS: COMPORTAMENTO E CONSUMO DE MODA NA ERA GOOGLE GOIÂNIA 2011

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1

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

FACULDADE DE ARTES VISUAIS

DESIGN DE MODA

JULIE GOMES VIEIRA

PESQUISA DE TENDÊNCIAS: COMPORTAMENTO E CONSUMO DE MODA NA

ERA GOOGLE

GOIÂNIA

2011

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2

JULIE GOMES VIEIRA

PESQUISA DE TENDÊNCIAS: COMPORTAMENTO E CONSUMO DE MODA NA

ERA GOOGLE

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado à banca examinadora da

Faculdade de Artes Visuais da

Universidade Federal de Goiás como

exigência parcial para a obtenção do título

de Bacharel em Design de Moda, sob a

orientação da Prof.ª Ms. Maristela Abadia

Fernandes Novaes.

GOIÂNIA

2011

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4

DEDICATÓRIA

À minha mãe, que sempre me apoiou e

acreditou no meu caminho, independente

das minhas escolhas.

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5

AGRADECIMENTOS

Primeiro a Deus, pois sem ele eu nada seria. À minha mãe que muito me incentivou.

À minha família e amigos pelo apoio inigualável. Aos mestres pela dedicação. À

minha orientadora Prof.ª Ms. Maristela Novaes pela disponibilidade e atenção

dedicada.

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6

SUMÁRIO

Resumo ................................................................................................................... 07

Abstract ................................................................................................................... 08

Introdução ............................................................................................................... 10

Capítulo 1: Moda: origem e evolução nas sociedades ocidentais......................13

1.1 De fator distintivo de classes a suporte de manifestações culturais...................13

1.2 O zeitgeist refletido na moda ............................................................................. 19

Capítulo 2: A pesquisa de tendências.................................................................. 22

2.1 Universalização das tendências no sistema da moda ....................................... 22

2.2 Metodologia Coolhunting ................................................................................... 27

2.3 Metodologia de pesquisa com foco na Internet ................................................. 33

Capítulo 3: Consumo autoral: a nova postura do consumidor

contemporâneo....................................................................................................... 37

3.1 O consumidor autor ............................................................................................ 37

3.2 Nativos digitais: a revolução das gerações no século XXI ................................. 41

Capítulo 4: Comunicação e Informação no mercado de moda atual................. 47

4.1 Consumo de moda na era Google ..................................................................... 47

4.2 Tendências de comportamento na Internet ....................................................... 52

Considerações Finais ............................................................................................ 63

Referências ............................................................................................................. 65

Lista de Ilustrações

Ilustração 1: Layout do blog Advanced Style ........................................................... 57

Ilustração 2: Valerie e Jean (do blog Idiosyncratic Style), clicadas para o Advanced

Style .......................................................................................................................... 58

Ilustração 3: Layout do site Fashion.me ................................................................... 61

Ilustração 4: Platatorma do site Fashion.me ............................................................ 62

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7

RESUMO

Novas ferramentas de comunicação e difusão das informações desencadeiam

novas posturas do consumidor. O presente trabalho propõe o estudo da pesquisa de

tendências de comportamento e consumo de moda a partir da realidade virtual

contemporânea, buscando identificar e analisar as novas formas de abordagem do

mercado e as manifestações do consumidor enquanto “personagem” e “próprio

autor” do discurso de moda movido na esfera virtual. O objetivo é compreender o

que a internet pode oferecer em termos de pesquisa de tendências de moda e de

que forma esse fenômeno tem se materializado. A investigação foi realizada a partir

do estudo das metodologias utilizadas na pesquisa de tendências e ainda, através

da observação e análise de conteúdos de sites, blogs e redes sociais,

disponibilizados na rede (www).

Palavras-Chave: comportamento, consumo, tendências, internet.

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8

ABSTRACT

New tools of communication and dissemination of informations causes new

consumer attitudes. The work proposes the study´s research trends in behavior and

consumer fashion from the contemporary virtual reality, seeking to identify and to

analyze the new ways to market´s approach and the manifestations of consumer as

“character” and “the author” of discourse of fashion moved in the virtual sphere. The

purpose is understand what the internet can offer in terms of fashion trend`s research

and how this phenomenon has materialized. The investigation is performed form the

study of the methodologies used in research trends and still through observation and

content´s analyses of websites, blogs and social networks available on the network

(www).

Keyword: behavior, consumer, trend`s, internet.

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9

Porque não se pode parar de olhar para o futuro.

As tendências nunca sossegam.

(E o futuro nunca chega.)

Faith Popcorn

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10

INTRODUÇÃO

Captar o chamado zeitgeist (espírito de uma época) é uma característica

importante do sistema da moda. Através da análise de vestimentas e produtos de

moda, muito se pode saber a respeito da identidade, cultura, hábitos e valores de

uma sociedade em determinada época. Lipovetsky (1989) enfatiza que a moda é um

mecanismo social geral, sem se relacionar apenas ao vestuário, pois segundo o

autor

Moda é uma forma específica de mudança social, independente de qualquer objeto particular; antes de tudo, é um mecanismo social caracterizado por um intervalo de tempo particularmente breve e por mudanças mais ou menos ditadas pelo capricho, que lhe permitem afetar esferas muito diversas da vida coletiva. (LIPOVETSKY apud SVENDSEN, 2010, p. 13).

Essas mudanças influenciam fenômenos sociais como forma do corpo, o

design de automóveis, a política, a arte, etc. (SVENDSEN, 2010, p. 13). A moda

como fenômeno social não é universal, mas é “uma realidade sócio-histórica

característica do Ocidente e da própria modernidade” (LIPOVETSKY,1989, p. 10).

Apesar do valor e significado atribuído à moda ser diferente em cada região e

período da história, sua qualidade efêmera é algo que sempre se manteve, sendo

esta, sua principal característica até os dias de hoje, influenciando ainda, no seu

caráter sazonal, outros setores de bens de consumo. É importante ressaltar que a

moda aqui é abordada enquanto uma dinâmica, cíclica e transitória, não se limitando

à idéia de vestuário, já que este ao contrário, é “estável”, se referindo ao conjunto de

roupas que compõem um traje.

Diante da rapidez e do excesso de informações atuais, essa efemeridade só

vem a traduzir a era fast da contemporaneidade, com o ciclo de vida cada vez mais

curto dos produtos e a busca contínua pelo novo.

Novas ferramentas de comunicação e difusão das informações desencadeiam

novas posturas do consumidor. No cenário atual da era Google se faz necessário a

pesquisa contínua de movimentos e tendências culturais como fatores

mercadológicos na indústria do consumo.

Em resposta às novas necessidades do mercado para acompanhar e “fisgar”

o consumidor, surge o coolhunting, método de pesquisa de tendências que segundo

Gentile (2006 apud PICOLI 2008, p.29), “significa temporalizar-se e contextualizar-se

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11

na idéia de novo, que tem a sua base no cenário sociocultural urbano. Significa

analisar o presente para captar o que e o como de uma sociedade que se move e se

manifesta”. A principal característica dessa metodologia é seu caráter

multidisciplinar, aplicando no seu processo, conhecimentos de áreas distintas e

complementares como a psicologia, antropologia, semiótica, design, sociologia,

marketing, moda, fotografia, entre outras.

Considerando o sistema da moda na sua relação com a postura atual do

consumidor, propõe-se neste trabalho, o estudo da pesquisa de tendências de

comportamento e consumo de moda a partir da realidade virtual contemporânea,

buscando identificar e analisar as novas formas de abordagem do mercado e as

manifestações do consumidor enquanto “personagem” e “próprio autor” do discurso

de moda movido na esfera virtual.

O objetivo é compreender o que a internet pode oferecer em termos de

pesquisa de tendências de moda e de que forma esse fenômeno tem se

materializado. Nesse processo, será feito um paralelo com duas das dez tendências

comportamentais sinalizadas por Popcorn (1993) que, segundo a autora – conhecida

como “gênio” do marketing - teriam validade de no mínimo 10 anos, de forma a

constatar os discursos dessas tendências e sua realização (ou não) nas ferramentas

virtuais da atualidade.

Os novos mercados emergidos com a popularização da internet, também

serão objetos de estudo do trabalho. A investigação será realizada a partir do estudo

das metodologias utilizadas na pesquisa de tendências de comportamento e

consumo e ainda, através da observação e análise de conteúdos de sites, blogs e

redes sociais, disponibilizados na rede (www).

O trabalho foi estruturado em quatro capítulos. O capítulo I aborda o

fenômeno moda em sua origem e evolução na sociedade ocidental até a

contemporaneidade, dando especial atenção à sua questão cultural, ou seja, a moda

enquanto ferramenta importante na tradução do “espírito” de uma época, o chamado

zeitgeist, destacando sua principal característica: a efemeridade, fator que tem

influenciado cada vez mais a sazonalidade dos produtos de bens de consumo.

Sendo o sistema da moda um fator social diretamente ligado e apoiado na

lógica das tendências culturais, de comportamento e consumo, foi realizado no

capítulo II, um histórico geral sobre a pesquisa de tendências, descrevendo quando

e como surgiram as pesquisas de comportamento do consumidor e as metodologias

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12

utilizadas na identificação das tendências. Neste capítulo, será abordado também o

papel das agências e birôs de estilo, objetivando compreender a evolução desse

mercado até o cenário atual, dando especial atenção à metodologia coolhunting,

como método eficaz e mais atual no que se refere à pesquisa de tendências

prospectivas.

O capítulo III apresenta o estudo do perfil do consumidor atual enquanto

“personagem” e “próprio autor” das narrativas visuais em relação aos produtos de

moda, analisando os elementos que desencadearam as grandes mudanças na

relação do consumidor com o produto e o poder de influência das gerações “Y” e “Z”

nesse processo.

As práticas de consumo, totalmente redefinidas na era digital, é o tema

exposto no capítulo IV, que propõe a identificação e análise do impacto das novas

tecnologias de comunicação e informação no mercado de moda contemporâneo, as

novas formas de negócios e profissionais emergentes com a popularização da

internet e a crescente dependência desta ferramenta para sobreviver e se sobressair

no mercado, aproximando sua relação com o consumidor.

Os resultados da pesquisa são apresentados nas considerações finais,

apontando questões relevantes a partir do estudo proposto, como a necessidade de

se aperfeiçoar os métodos de pesquisa de tendências, de forma a considerar a Web

nesse processo, ferramenta que pode tanto auxiliar o pesquisador, quanto causar

empecilhos na hora de filtrar os sinais de tendências futuras.

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13

CAPÍTULO 1

Moda: origem e evolução nas sociedades ocidentais

1.1 De fator distintivo de classes a suporte de manifestações culturais

Fenômeno social revestido de discursos históricos, culturais, políticos,

econômicos, éticos, ideológicos e estéticos, a moda nunca esteve tão híbrida e

complexa como na atualidade. Compreender seu princípio e evolução nas

sociedades ocidentais exige uma postura que não se limita unicamente aos estudos

do fenômeno em si, mas que o considera como parte atuante de uma sociedade

dinâmica, contraditória e em constante evolução.

É importante ressaltar que a abordagem do fenômeno no presente trabalho

tem como foco seu caráter sociológico e cultural, tomando como ponto de partida

sua função social enquanto sinalizadora de novos comportamentos e práticas de

consumo. Dessa forma, a moda será aqui tratada sempre no sentido de mudanças

sazonais das aparências, não se expandindo ao estudo da indumentária e estilos

predominantes de cada período ou características particulares do vestuário.

Lipovetsky (1989) atribui o surgimento da moda no Ocidente por volta do

século XIV, tendo como indício primário a diferenciação de trajes masculinos e

femininos. Além da distinção de gêneros, outro fator impulsionou o código distintivo

da moda: a sociedade dividida em classes, com a ascensão da burguesia no final da

Idade Média e início do Renascimento, por volta do século XV. O crescimento das

cidades e o desenvolvimento do comércio trouxeram uma disputa acirrada entre

essa classe emergente e a classe nobre dominante, na busca incessante por poder

e status.

Símbolo de riqueza e poder, a nobreza se torna referência estética e tem seus

trajes copiados pela burguesia. Numa busca incessante para se diferenciar e afirmar

sua posição social, assim que são copiados, os nobres adotam novas formas de se

vestir, sendo novamente imitados pelos burgueses. Esse ciclo contínuo de imitação

e distinção simplifica o conceito de moda enquanto mudanças periódicas da

aparência. Nessa disputa, a moda foi fator inédito e de extrema importância,

materializando e moldando o que vem a ser a maior de suas características: a

efemeridade.

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Mesmo que a fase inaugural da moda tenha sua síntese na distinção de

classes sociais, Lipovetsky (1989) defende que esta é apenas uma função social do

fenômeno, e não a razão singular da sua origem. Propõe assim, uma visão mais

ampla e reflexiva das razões que levaram ao seu surgimento, já que, mesmo antes

do advento da moda – sistematizada e cíclica – como a conhecemos hoje, já

imperava na sociedade um tipo de código distintivo na indumentária usada pelo

“grupo de elite” em relação aos trajes usados pelos demais.

Num sentido sociológico e contemporâneo, pode-se afirmar que:

Moda é o uso ou hábito geralmente aceito, variável no tempo, resultante de determinado gosto ou idéia, e de interferências do meio. Reflete os costumes, os valores da sociedade em um período de tempo. Por isso, a moda também é considerada um fenômeno social e cultural, já que expressa os valores da sociedade, usos, hábitos e costumes, em um determinado momento, consistindo na mudança constante de estilo, mudança esta advinda da necessidade de conquistar ou manter uma determinada posição social (HARTKOPF et al. 2001, apud PICOLI, 2008, p. 5).

Se no primeiro estágio do fenômeno os indivíduos se apropriam dos discursos

da aparência como forma de se destacar e se impor na sociedade, tendo por

conseqüência a imitação, antes desse período, o que existia não era moda, mas,

modos de se vestir, seja por proteção, pudor e/ou adorno - esta última ultrapassa o

sentido de necessidade, revestida de simbologia, dentro de cada cultura. (BRAGA,

2006 apud RECH, MORATO, s. d., p. 3 )1

É importante sublinhar que nos primórdios da moda, as mudanças nas formas

de se vestir e se adornar aconteciam lentamente, se diferenciando totalmente do

ritmo acelerado da sazonalidade atual, cada vez mais impulsionada pela facilidade

na difusão das informações, a globalização e o desenvolvimento tecnológico.

Se na sua origem, a moda teve como principal característica a qualidade

distintiva na luta de classes, hoje esse fator já não é o escopo e, muito menos um

imperativo. O fenômeno – revestido de simbologia - ultrapassa esse sentido,

abrigando funções múltiplas e variáveis, definidas e moldadas pelo comportamento

individual e coletivo nas mais diversas esferas do cotidiano.

1Disponível em:

<http://www.ceart.udesc.br/revista_dapesquisa/volume4/numero1/moda/osistemademoda.pdf>

Acesso em 12 de Nov. de 2011.

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Entre tantos fatores que contribuíram para essa evolução, dois foram

decisivos na construção do seu cenário atual: a Alta-Costura e o prêt-à-porter. Até o

século XVIII, era a nobreza a responsável por “lançar” as novidades nos modos de

vestir. Com a Revolução Francesa no fim desse século e a expansão da Revolução

Industrial no século XIX, mudanças profundas ocorreram na forma de organização

política, econômica e social, refletindo na distribuição de classes e revolucionando o

modelo de produção industrial.

Pouco tempo após a invenção da máquina de costura por volta de 1850, o

costureiro Charles Frederick Worth (1825-1895) – o pai da Alta-Costura, como ficou

conhecido – abre seu ateliê em Paris, entre 1857 e 1858, instituindo de forma

precursora o costume de assinar as suas criações que, por sua vez eram bastante

luxuosas, feitas sob medida para uma clientela ostentatória ao extremo, geralmente

membros da realeza.

Worth dá início também à prática de apresentar suas criações ao vivo, em

jovens mulheres, equivalente às modelos da atualidade. Com essa iniciativa, “a

moda chega à era moderna; tornou-se uma empresa de criação, mas também de

espetáculo publicitário”. (LIPOVETSKY,1989, p.72).

Outras maisons2 de Alta-Costura foram surgindo e suas criações eram

constantemente copiadas pelas classes mais baixas, numa busca de referências

estéticas que as colocassem em posição de status, através da simbologia

materializada nos códigos do vestir.

Dessa forma, durante o século XIX, cada vez mais os grandes costureiros dos

ateliês de Alta-Costura ganham voz, passando a ser os “ditadores” de moda em

termos de tendências - cores, modelagens, tecidos e detalhes - sendo então

respeitados e obtendo certo status dentro da sociedade. A Alta-Costura vive seu

período próspero tendo Paris como seu berço, sinônimo de luxo e bom gosto.

No início do século XX, a moda se encontra dividida em dois extremos: a Alta-

Costura e a indústria de massa, ilustrando claramente a divisão de classes sociais.

Sobre esse cenário, Avelar (2009, p.52) justifica: “a alta-costura produzia itens

extremamente caros destinados a uma elite abastada, ao passo que os produtos da

indústria de massa tinham uma ampla distribuição a preços reduzidos”.

2 Do francês, casa. (ESCOLA SENAI, 1996).

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Se até a primeira metade do século XX o ciclo da moda se iniciava nas

classes superiores se propagando para as mais baixas, na segunda metade desse

século essa linearidade foi invertida: jovens ousados quebraram o costume de seguir

a moda dos mais velhos e começaram a usar peças fora dos padrões estéticos da

época.

Essa grande mudança só foi possível com o advento do prêt-à-porter,

expressão francesa lançada por Weil em 1948, que indica “pronto para vestir”, a

partir da tradução do termo americano ready to wear, que especificava o mecanismo

de produção americano eficaz daquele período. Após a Segunda Guerra Mundial

(1939-1945), missões francesas de produtividade, perceberam a defasagem dos

modos de produção européia, se comparando á técnica dos americanos.

(RICHARD, 1989).

No entanto, a coordenação de toda cadeia produtiva, com preocupação

estética apoiada em tendências universais só iria se estabelecer mais tarde, quando

começam a surgir os primeiros escritórios de consultoria e estilo, na virada dos anos

1950-1960. Até esse período, o poder da Alta-Costura permanecera intacto, sendo o

carro-chefe em termos de inovação estética (LIPOVETSKY, 1989).

No início dos anos 60, revolucionando a produção industrial, o prêt-à-porter

democratizou o sistema da moda que até então era dominado pelos ateliês de elite:

nessa nova fase, criadores que não pertenciam a Alta-Costura, começam a “ditar

moda”.

A produção em série com valor estético e preços mais acessíveis, fez com

que as confecções simples - que até então eram vistas com desdém, se

comparadas aos famosos ateliês de luxo que lançavam moda - ganhassem um

caráter inovador, sugerindo tendências a um novo tipo de consumidor emergente

com a difusão da moda. A geração jovem revolucionária dessa década começa a

criar seu próprio “jogo de moda” a partir da variedade de estilos oferecida pelo

mercado.

Uma vez criada sua “própria moda” – também conhecida como antimoda por

rejeitar os discursos estéticos imperativos da Alta-Costura - essa geração passou a

influenciar diretamente os criadores da elite, que perceberam na forma inovadora de

comportamento e consumo desses jovens, novas possibilidades de mercado. A

moda originada nas ruas passa então a ser adotada pelas altas classes, num

sinônimo de juventude, de liberdade estética e ousadia.

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Essa nova fase trouxe mudanças radicais também na insígnia da moda: o

fenômeno agora é menos um distintivo de classe social e mais um sinalizador de

manifestações culturais. O consumidor neste cenário explora o caráter simbólico da

moda como forma de expressão e contestação de valores da sociedade.

Esse comportamento se concretizou com os chamados baby-boomers,

geração nascida após a Segunda Guerra Mundial, que nos anos 1960 iniciaram uma

postura totalmente nova e contestadora, influenciando diretamente na moda e no

comportamento de consumo, com seu caráter individualista. Engajados em lutas

sociais, movimentados pelo alucinante rock and roll e inspirados pela produção

cultural da televisão - especialmente o cinema - essa geração explorou a jovialidade

de tal forma que até então, nenhuma outra havia experimentado.

Nesse contexto, muitos grupos da contracultura jovem do pós-guerra

ganharam destaque em escala mundial. Entre eles: os beatnicks, denominação de

um movimento sócio-cultural que se iniciou em meados dos anos 50 se

consolidando na década seguinte com jovens americanos que pregavam discursos

anti-materialistas; os teddy boys, jovens ingleses que buscaram referências na era

eduardina e as incorporaram no modo de vestir, de forma mais agressiva; os hippies

com o singular lema “Paz e Amor”, defendiam o “amor livre”, a emancipação sexual

e condenavam o uso de armas nucleares, numa contestação clara contra a Guerra

do Vietnã; os roqueiros, geração ligada ao momento de grande explosão de bandas

como Beatles e Rolling Stones. Nos grandes centros urbanos, eram reconhecidos

pela jaqueta de couro, geralmente na cor preta. Destacam-se também os yuppies –

Young Urban People, denominação dada aos jovens executivos dos anos 80 - a

geração crescida do baby boom, termo geralmente usado para indicar a geração

nascida após a Segunda-Guerra Mundial, quando houve um aumento significativo

da taxa de natalidade. Os yuppies seguiam as últimas tendências da moda,

valorizavam intensamente os bens materiais e consumiam em excesso. (RICHARD,

1989).

Ainda nos anos 80 podemos destacar o movimento punk, ligado diretamente à

música e à moda, buscavam um lugar na sociedade, com sua estética agressiva e

suas ideologias independentes à cultura tradicional. Na década seguinte, destacam-

se os clubbers, freqüentadores dos clubs (danceterias), que contribuíram para a

difusão e valorização da música eletrônica e estavam mais interessados em

diversão que, com questões sociais e os grungers, ligados a bandas de rock

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18

alternativo, tinham um visual “descuidado”, com roupas surradas e peças de

brechós. Na casa dos anos 2000, surgem os emos, também ligados a um estilo

musical, se caracterizam pelo comportamento emotivo e roupas pretas, com

construções visuais de conotação melancólica e os hispsters, ligados mais à

questão estética, com construções inovadoras. Estão antenados com a moda e

fazem questão de se vestirem de forma diferente da maioria.

Esses grupos fechados ficaram conhecidos em meados da década de 1990,

como “tribos urbanas”, termo popularizado pelo sociólogo francês Michel Maffesoli,

caracterizando “o agrupamento de jovens contemporâneos com estilos próprios e

difundidos através da indústria cultural” (MAFFESOLI,1987 apud PICOLI,2008, p.

36). Esses grupos se formavam por hábitos e interesses comuns, geralmente

ligados ao estilo musical e ao comportamento, refletindo diretamente na maneira de

se vestir.

É importante ressaltar a importância das tribos urbanas na apropriação da

moda enquanto forma do indivíduo afirmar sua identidade. Nestes grupos podemos

observar outro aspecto da moda sob uma ótica psicológica: seu princípio

antagônico. O indivíduo para se sentir confortável, busca o apoio e aceitação social

dentro de determinado grupo com interesses comuns, porém, busca ao mesmo

tempo afirmar sua individualidade dentro daquele grupo.

Diante disso, a prática de customizar roupas e acessórios se difunde entre os

consumidores, numa “libertação” das estéticas ditadas por criadores: as tendências

agora são de naturezas diversas e sua origem percorre caminhos que vão além da

inspiração individual do estilista e do comportamento de rua.

Se até a década de 1980 conseguimos visualizar e distinguir estilos únicos de

forma linear, nos anos 1990 eles se misturam e se complementam. O consumidor

pode facilmente adotar uma estética punk em um dia e no outro, adotar referências

hippies ou ainda mesclar esses elementos em uma mesma composição estética. Ele

quer experimentar e misturar os diversos estilos ao seu próprio, usando o industrial e

o artesanal, o produto pronto e o customizado. A moda jovem nascida nas ruas,

também conhecida como streetstyle, ganha força nesse período.

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19

Esse processo foi cunhado pelo antropólogo americano Ted Polhemus (2011,

p. 4)3, ainda nos anos 1990, como “supermercado de estilos”, caracterizando a

profusão do mix de produtos de moda como se fossem produtos na prateleira de um

supermercado. O ritmo de euforia dessa década reflete o advento da globalização,

da democracia e do capitalismo, somado ao rápido desenvolvimento tecnológico e

as facilidades no campo da comunicação com a popularização da internet.

Diante dessa profusão de possibilidades, o que temos no início deste século é

a liberdade de escolhas que parecem não ter fim, e ao mesmo tempo em que se

deseja cada vez mais a novidade e a diversidade de produtos, cria-se uma

necessidade enorme de se expressar uma individualidade. Nesse discurso, o

consumo de produtos de moda passa a ser o carro-chefe, porém, menos como

objetivo final e cada vez mais como ponto de partida para novas narrativas.

1.2 O zeitgeist refletido na moda

Como suporte efêmero que sustenta o “jogo das aparências” nas sociedades,

a moda ganhou sinônimo de frivolidade – concepção ainda presente nos dias de

hoje – porém, estudos de cunho sociológico contribuíram imensamente para uma

visão reflexiva sobre o fenômeno. G.Simmel, Flugel, Barthes e recentemente

Lipovetsky, são alguns dos “pensadores da moda”, responsáveis por atribuir ao

assunto o rigor científico e “status” de assunto sério, merecedor de estudos mais

profundos, valorizando assim, a função social da moda enquanto retrato eficiente de

uma sociedade em um determinado período.

Baudelaire (1996, p. 8), expressa com clareza, essa função:

Esses trajes que provocam o riso de muitas pessoas insensatas, essas pessoas sérias sem verdadeira seriedade apresentam um fascínio de uma dupla natureza, ou seja, artístico e histórico. Eles quase sempre são belos e desenhados com elegância, mas o que me importa, pelo menos em idêntica medida, e o que me apraz encontrar em todos ou em quase todos, é a moral e a estética da época (BAUDELAIRE, 1996, p. 8).

3Disponível em:

<http://www.ceart.udesc.br/revista_dapesquisa/volume4/numero1/moda/osistemademoda.pdf>

Acesso em: 12 de Nov. de 2011.

Page 19: 124212_pesquisa de Tendencias

20

Como fato social, a moda acompanha as mudanças nas sociedades, transmite

valores, crenças e hábitos intrínsecos que permeiam sua cultura e identidade em

determinada época, refletindo assim, o “espírito do tempo”, tradução do termo

alemão zeitgeist.

Em síntese, o zeitgeist diz respeito a narrativas de ordem moral e estética,

materializadas e/ou absortas nos modos de se comportar, nos gostos e preferências

predominantes, nas práticas sociais e de consumo, dando indícios do clima geral,

intelectual e cultural de um tempo. Para Caldas (2006, p. 73), “quando fazemos uma

retrospectiva, fica fácil identificar esses traços comuns, principalmente em três

esferas: na arquitetura (especialmente, a decoração de interiores), no design de

objetos e de roupas.”

No início do século XX, na Alemanha, a Bauhaus - escola de design,

arquitetura e artes plásticas - teve uma enorme expressão, lançando estéticas

inovadoras e se tornando símbolo da modernidade na arquitetura e design. Símbolo

de vanguarda, a primeira escola de design do mundo, desempenhou grande

influência, ao mesmo tempo em que colaborou para materializar a visão de mundo

predominante neste período.

Na sociedade moderna e industrializada, o fácil acesso às mercadorias de

massa, o crescente poder de consumo e o design como forma de agregar valor ao

produto - aliando estética à funcionalidade - já indicava um mercado ávido por lançar

objetos do cotidiano que fizessem brotar no consumidor o sentimento de

necessidade, como forma de estar em sintonia com seu tempo na aquisição desses

produtos.

O design – com o conceito de bom-bonito-barato - trouxe a um número maior

de consumidores, a possibilidade de adquirir objetos com estéticas predominantes e

ao mesmo tempo, com elementos correspondentes aos seus gostos pessoais,

realçando nesse século a valorização dos objetos pelo consumidor, numa relação

que se torna cada vez mais intimista na atualidade.

Enquanto elemento sinalizador de códigos e discursos sociais, a moda acabou

por influenciar outros setores de bens de consumo com sua sazonalidade. É nessa

dinâmica sazonal que favorece a aceleração do consumo, que diversos setores vão

estreitar os laços com o fenômeno que hoje, ocupa lugar de destaque no mercado,

principalmente em termos de tendências.

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21

Hoje - e mais do que em qualquer outro período da história - a moda não se

limita a um “modo de vestir”. A visão de moda que se restringe á idéia de vestuário,

já perdeu seu sentido na contemporaneidade. O fenômeno que ganhou espaço e

teor científico na sociedade dialoga com áreas diversas em conexões inter, trans e

multidisciplinares.

É bastante comum também, o uso do termo “novas modas” no sentido de

novos gostos, novas estéticas e comportamentos emergentes. Nesse sentido, a

novidade sugere tendência, outro fator motivador da dinâmica da moda, que envolve

o estudo do consumidor e a observação contínua das suas narrativas individuais e

coletivas.

Segundo Morace (2007, apud PICOLI, 2008, p. 18), apesar do conceito de

tendência ser complexo e difícil de detalhar, pode-se dizer que se trata de “um

fenômeno em evolução – umas vezes mais lenta, outras vezes mais rápida - que

indica a emergência de novos elementos no sistema sócio-cultural”.

Entre os vários significados atribuídos ao termo “tendência” ao longo da história,

Caldas (2006), expõe seu conceito como algo bastante próximo, senão, fixado à

linha de pensamento positivista do século XIX, ao indicar a idéia de futuro, uma

evolução em relação ao presente, se tornando elemento de grande atração pela

idéia de progresso e, portanto, se tornando uma referência, um modelo

predominante a ser seguido.

Nesse sentido, a observação contínua de movimentos sócio-culturais e o olhar

atento às novas posturas do indivíduo na forma de se comunicar e se relacionar,

constituem fator essencial para o entendimento das transformações nas práticas de

consumo. A interpretação correta desses discursos como forma de captar e

antecipar o “espírito do tempo” tem exigido novas posturas do mercado ao se utilizar

da função social da moda como fator mercadológico.

Page 21: 124212_pesquisa de Tendencias

22

CAPÍTULO 2

Pesquisa de tendências: origem e evolução

2.1 Universalização das tendências no sistema da moda

Entre as teorias da difusão da moda, a mais conhecida é a de George

Simmel, intitulada trickle down effect.

O trickle effect, isto é, efeito de gotejamento, explica a difusão em si, postulando que novos fenômenos de moda, criados a partir do topo da pirâmide social – por mecanismos psicológicos descritos como a busca por diferenciação ou distinção em relação ao grupo –, alastram-se por meio daquilo que conhecemos como efeito cascata sobre as classes sociais subalternas, pela imitação ou em busca de identificação com os estratos superiores, no nível psicológico. (CALDAS, 2006, p. 46)

Uma vez que há uma inversão nessa pirâmide, com o advento do prêt-à-pôrter

e a chamada “cultura de rua” passa a influenciar os criadores de elite, novos vetores

de tendências surgem e com eles, a necessidade de voltar o olhar para o

consumidor em suas práticas coletivas e individuais, buscando entender sua relação

com os produtos de moda cada vez mais efêmeros e carregados de simbolismos.

Esse efeito inverso foi assinalado por Field e Blumberg como trickle up effect,

associado ao modelo proposto por Simmel, designando a influência da moda de rua,

nas criações destinadas à alta classe (PICOLI, 2008).

No entanto, é importante ressaltar que a nova postura do mercado exigida por

essa mudança na difusão da moda, só foi possível com uma organização

coordenada de toda a cadeia produtiva têxtil, de forma a unificar essa indústria e

universalizar as tendências.

Avelar (2009, p. 59), aponta para a importância dessa organização no sistema

da moda de forma a considerar a diferença existente entre “indústria de massa” e

“prêt-à-porter”, afirmando que esta última, ultrapassa o sentido lato de “pronto-para-

vestir”, uma vez que “ela só existe graças a uma pesquisa de tendência envolvendo

toda a cadeia têxtil”, algo que não acontecia na indústria de massa, atuante desde o

século XIX.

Em outros termos, a produção em massa – possibilitada entre outros

aspectos, pelos avanços tecnológicos trazidos com a expansão da Revolução

Industrial, no século XIX – evoluiu consideravelmente e o que temos no século

Page 22: 124212_pesquisa de Tendencias

23

seguinte, é um prêt-à-porter coordenado na forma de produção, distribuição e

promoção do produto.

Nesse processo que se inicia a partir da segunda metade do século XX, em

meados dos anos 1960, Françoise Vincent Richard, realizou um trabalho importante,

atuando como consultora de estilo à frente da Promostyl. Esse escritório de

consultoria de moda fundado em 1966, tinha o objetivo de educar e orientar a

indústria têxtil em todos os seus estágios - da fabricação à promoção – de forma que

dialogassem entre si, unificando assim, o conceito de estética industrial e promoção,

em todas elas (RICHARD, 1989).

Esses escritórios de consultoria e estilo, conhecidos como bureaux de style

começam a surgir na França na virada dos anos 1950 -1960. Antecedendo a

Promostyl, nasce o “Relation Textiles” no ano de 1958 e em 1961, surge o escritório

de Maimé Arnodin (LIPOVETSKY, 1989). O La Máfia, escritório de sucesso nesse

período, surge no ano de 1968. Surgem assim, os cadernos de tendências que

funcionavam como verdadeiros guias para a indústria no desenvolvimento de

produtos de moda. É importante lembrar o êxito dos “cadernos Promostyl”, que nos

anos 1970 fizeram grande sucesso, sendo vendidos inclusive no Brasil. Toda essa

metodologia foi possível a partir do estabelecimento de um rigoroso calendário no

processo criativo da indústria têxtil para a definição de cor, tecidos e formas, sendo

estes itens, determinados com 2 anos, 1 ano e meio e 1 ano de antecedência,

respectivamente (RICHARD, 1989).

Seguindo esse método, o conceito de estética industrial com tendências

coordenadas começou a se concretizar, fortemente engajado pela mensagem de

estilo, num momento em que a indústria possibilitava o acesso a produtos de moda

que aliavam qualidade, preocupação estética e preço mais acessível.

O estilo industrial revolucionou não só a forma de produção, mas mudou a

concepção acerca da moda produzida em série, considerada feia e sem qualidade,

fazendo com que os consumidores - acostumados com a roupa reajustável, feita

“sob medida” por costureiras de sua confiança - adotassem uma postura positiva em

relação ao consumo da roupa pronta para ser usada.

Nesse processo, o papel da imprensa, a expansão dos meios de comunicação

de massa, as propostas inovadoras de jovens criadores de moda e o trabalho

contínuo de profissionais e agências de consultoria de estilo foram essenciais.

Page 23: 124212_pesquisa de Tendencias

24

A abertura do Salão Prêt-a-Pôrter em Paris, no ano de c. 1957, também impulsionou

esse mercado, reunindo profissionais e expositores estrangeiros de toda a cadeia

têxtil e se tornando referência nos negócios de moda.

O cenário revolucionário dos anos 1960 era propício para essa mudança:

junto com a democratização do prêt-a-pôrter no sistema da moda, nasceu uma

cultura juvenil com princípios hedonistas, que encontraram na moda, através do

estilo, o suporte ideal para expressar sua individualidade, numa preocupação cada

vez menor com a classe e a perfeição – conceitos intrínsecos da Alta-Costura - e

uma preferência cada vez mais calcada na liberdade de escolha e originalidade.

Com a emergência dos criadores-estilistas, surgem as griffes, que começaram a

disputar o prestígio com nomes da Alta-Costura, democratizando um símbolo de alta

distinção: “a moda mais em evidência já não é privilégio da Alta-Costura. Com o

advento do prêt-à-pôrter e de suas primeiras publicidades, desencadeia-se uma

mutação não apenas estética, mas também simbólica” (LIPOVETSKY, 1989, p. 115 -

116).

Essa relação simbólica do produto ligado a um nome, a uma marca,

impulsionou esse mercado que aplicou o conceito de estilo além da peça de roupa,

estendendo essa idéia na forma de distribuição e promoção do produto. Dessa

forma, surgem as butiques, com ambientes bastante joviais que aliavam música e

composição visual planejada: o consumidor adquire o produto amparado pela idéia

de estilo de vida.

Essas lojas, que fazem lembrar caves e discotecas, têm sempre dois traços em comum: o ambiente sonoro e visual criado por música pop e spots e a vastíssima liberdade de opções, numa parafernália de artigos. Abrem-se em Londres nessa época, sempre com muito sucesso, várias butiques em estilo op art e pop art. (RICHARD, 1989, p. 86)

A mudança de comportamento jovem refletida na moda indicava uma

redefinição da prática de consumo: buscam-se nos produtos de moda, razões além

da sua necessidade prática, valorizando o “estilo” como forma de se comunicar,

expressando visualmente um conceito. Dessa forma, o mercado de criação - ligado

aos valores da época e apoiado nas tendências, lança propostas inovadoras,

fazendo um estilo predominante “virar moda”.

No entanto, se nos anos 1960 os escritórios de moda e estilo guiavam as

empresas determinando tendências estéticas a serem adotadas pelo mercado, na

década seguinte, esse sistema começou a dar indícios de mudança: o consumidor

Page 24: 124212_pesquisa de Tendencias

25

mais exigente e informado começa a fazer construções de caráter pessoal,

adequando essas tendências de mercado ao seu estilo de vida. O mercado começa

então, a repensar a metodologia na construção das tendências.

No final da década de 1960 e início de 1970, as empresas tomam consciência da importância de variáveis sociais e socioculturais, e passam a planejar melhor e fazer estudo de tendências, pois um planejamento irregular pode levar o mercado a uma crise. Compreende-se, desta maneira, a inter-relação que existe entre o marketing e o sistema de moda. (RECH, MORATO, s/d., p. 2 )

4

Nos anos 1980, com o consumo excessivo e o culto às marcas e à aparência,

esse quadro se intensifica, resultando na alteração da estrutura metodológica dos

birôs de estilo: “a mudança do comportamento dos consumidores e a globalização

da cadeia de valor da moda determinaram a alteração das práticas e conceitos dos

gabinetes de estilo que se transformaram em agências de pesquisa de tendências”

(PICOLI, 2008, p. 23).

É importante ressaltar que os primeiros estudos do comportamento do

consumidor, datados da década de 1960, tiveram abordagens conceituais de áreas

científicas distintas: a psicologia, para o estudo do indivíduo, a sociologia, para o

estudo dos grupos sociais e da antropologia para entender a influência que a

sociedade exerce sobre o indivíduo, além da economia, área diretamente ligada às

questões mercadológicas, de estratégia e consumo (FIORAVANTI, s/d.)5.

As tradicionais pesquisa sobre o consumidor realizadas pelo marketing foram

calcadas na segmentação de mercado para a definição de público-alvo. De ordem

quantitativa e/ou qualitativa, esses estudos são definidos a partir de informações

relativas à demografia (idade, sexo, profissão, renda, classe social, escolaridade)

região geográfica e questões psicológicas ou comportamentais dos indivíduos

(COBRA, 2007).

No entanto, à medida que o mercado evoluiu, trazendo múltiplas ofertas e o

desenvolvimento no campo da comunicação impulsionou a globalização, identificam-

4 Disponível em:

<http://www.ceart.udesc.br/revista_dapesquisa/volume4/numero1/moda/osistemademoda.pdf>

Acesso em 12 de Nov. de 2011.

5 Disponível em: <http://www.etnomarketing.com.br/metodos.html> Acesso em 12 de Nov. de 2011.

Page 25: 124212_pesquisa de Tendencias

26

se cada vez mais, novos comportamentos dos consumidores. Os fatores

motivadores de consumo se restabelecem, se multiplicam no ritmo veloz da moda,

exigindo assim, uma pesquisa de forma mais abrangente e contínua, com foco nas

questões socioculturais do consumidor.

Segundo Picoli (2008, p.19), “a pesquisa de tendências surgiu nas décadas de

1950/60, voltadas para a diferenciação de abordagem: chamar a atenção do

consumidor para produtos iguais, massificados”. Com os meios de comunicação de

massa – em particular a televisão – novas formas de abordar o consumidor foram se

estabelecendo e, mais tarde, se saturando, como foi o caso de propagandas que

relacionavam ao produto, imagens com sensações que este poderia causar:

estratégia de sucesso nos anos 1970 que foi saturada nos anos 1990 (Picoli, 2008).

É na década dos anos 1990, que profissionais e agências de pesquisa de

tendências ganham relevância: as empresas percebem a necessidade de inovação

e a grande dependência de pesquisas de tendências comportamentais para se

manterem competitivas no mercado, que se tornou global, híbrido e cada vez mais

complexo na era pós-moderna.

As chamadas “pesquisas de mercado de tendências culturais” – cujas origens remontam aos anos 1970, mas que ganharam um novo formato e um novo status a partir dos anos 1990 – se destacam como ferramentas essenciais para essas novas formas de estratégias comunicacionais. (FONTENELLE, 2004

6)

O lançamento de produtos de moda carimbados pela idéia de vanguarda

favorece a sazonalidade das coleções por temporada de forma a afirmar a própria

lógica das tendências no sistema efêmero e cíclico da moda. Esse caráter sazonal

acaba por influenciar diretamente outros setores de bens de consumo. Nesse

sentido, “conhecer o universo, os significados e o funcionamento das tendências da

moda tornou-se estratégico para uma ampla gama de empresas, muito além da

indústria têxtil e de confecção”. (CALDAS, 2006, p. 44 - 45).

6 Disponível em:

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-64452004000300007>

Acesso em 11 de Nov. de 2011.

Page 26: 124212_pesquisa de Tendencias

27

Hoje, o conceito de “tendência” está presente em vários níveis sociais e

culturais, sendo aplicado em esferas como a gastronomia, arquitetura, decoração,

beleza, música, tecnologia, modos de falar e de agir, tendências políticas e

econômicas, entre outros. No discurso efêmero das tendências, a moda ocupa lugar

de destaque com sua lógica cíclica acelerada e sua sede constante pelo novo,

sendo ainda, um agente importante na comunicação entre os indivíduos, através de

narrativas visuais que fortalecem o caráter simbólico e social através da aparência.

2.2 Metodologia Coolhunting

A indiscutível atração pelo futuro que permeia o inconsciente coletivo traduz a

era fast contemporânea, onde a comunicação e a troca de informações se tornaram

instantâneas, num mercado cada vez mais globalizado, com um consumidor cada

vez mais ativo e exigente, ávido por novidades e produtos com um ciclo de vida

cada vez mais curto.

Captar tendências comportamentais, fazer a interpretação correta dos sinais

observados e aplicar de forma criativa esses sinalizadores nos produtos se tornou

um imperativo para as empresas se manterem competitivas no mercado. Dessa

forma, a pesquisa de tendências prospectivas como estratégia de redução de riscos

para o lançamento de novos produtos se mostra eficiente.

As influências observadas e analisadas pelos pesquisadores de tendências funcionam como espécie de espelho do futuro da modernidade, sendo assim expressões do espírito do tempo anunciando traços vindouros. Através do estudo e análise de fenômenos sociais provenientes das ruas e disseminados por meios de comunicação em geral, torna-se possível a prospecção de tendências sociais, as quais, posteriormente, serão traduzidas em tendências de moda para a indústria. Percebe-se que a observação, análise e interpretação de signos é o que orienta os grandes setores sobre os desejos e anseios da população consumidora. (RECH, s/d.).

7

Uma vez que os métodos tradicionais de pesquisa do consumidor já não são

suficientes para atender às necessidades desse mercado múltiplo e em constante

7 Disponível em:

<http://futurodopresente.ceart.udesc.br/Artigos/Sandra%20Rech_Futuro%20do%20Presente%20Mod

elo%20Conceitual_Relatorio%20Final.pdf>

Acesso em 12 de Nov. de 2011.

Page 27: 124212_pesquisa de Tendencias

28

transformação, novos métodos de pesquisa são exigidos. Surge assim, a

metodologia coolhunting, que vem complementar os métodos de pesquisa

tradicionais de mercado, numa aproximação visível da moda, com o marketing e as

ciências sociais. Se comparada às pesquisas tradicionais de comportamento do

consumidor realizadas a partir da segmentação de mercado, esse tipo de pesquisa,

desenvolve “formas de leitura da realidade cultura menos confortáveis que as

medidas quantitativas e, portanto, mais subjetivas” (FONTANELLE, 2004).

Essa metodologia de pesquisa mais recente, se utiliza de conhecimentos e

técnicas de áreas diversas, com destaque para as ciências sociais. Psicologia,

administração, marketing, antropologia, sociologia e comunicação social são

algumas delas. Profissionais do design, da moda e da semiótica, também atuam no

campo de pesquisa dessa metodologia. Segundo Ferrari (2002 apud PICOLI, 2008,

p. 29), o coolhunting “é um sistema de pesquisa e antecipação de tendências, que

consiste na identificação, no presente, das sementes do movimento que num dado

momento se começa a formar-se e se tornam moda num futuro próximo”.

Em síntese, o coolhunting é uma metodologia de pesquisa que tem como

base, a observação da cultura jovem em seus hábitos, gostos e preferências de

forma a apreender sinais emergentes que, interpretados de maneira correta, podem

sinalizar comportamentos futuros, auxiliando assim no desenvolvimento de produtos

que tendem a virar moda (RECH, MORATO, s/d).8

Na tradução do inglês, cool indica algo legal, significado que não é literal para

o português e hunter, caçador. No entanto, no que diz respeito à metodologia

coolhunting, a idéia de “caçar algo legal” é ampliada. O cool diz respeito ao novo,

mas não se limita à novidade, já que se trata do novo legal e diferente, que se

destaca dos demais signos por seu vestígio indicador de futuras tendências

observadas pelo coolhunter, denominação dada ao profissional que se empenha em

captar comportamentos futuros na pesquisa de tendências.

De caráter multidisciplinar, essa metodologia se apóia em uma técnica

fundamental à antropologia: a pesquisa etnográfica, como forma de se aproximar do

seu objeto de estudo – os jovens - e vivenciar suas experiências no próprio habitát

8 Disponível em:

<http://www.ceart.udesc.br/revista_dapesquisa/volume4/numero1/moda/osistemademoda.pdf>

Acesso em: 12 Nov. de 2011.

Page 28: 124212_pesquisa de Tendencias

29

desses indivíduos. Esse método de pesquisa sintetiza o conceito de etnomarketing,

tema bastante presente no que se refere aos estudos estratégicos do

comportamento do consumidor.

A pesquisa observacional é um dos métodos mais importantes na pesquisa do consumidor. As empresas inovadoras reconhecem que este método pode ser o melhor meio para obter a compreensão profunda do relacionamento entre pessoas e produtos. Muitas corporações e agências de publicidade fazem uso do trabalho de antropólogos culturais no desenvolvimento de pesquisas etnográficas do consumidor para observarem e apreenderem os significados dados aos produtos, marcas e sua utilização pelos clientes antes, durante e depois do processo de compra. (FIORAVANTI, s/d).

9

Os coolhunters freqüentam lugares considerados hot nas grandes metrópoles:

são ambientes que aglomeram um número considerável de pessoas em diferentes

situações como universidades, boates, bares, exposições de arte, grandes feiras e

eventos, supermercados, festas e todo o universo da cultura de rua. Esses

profissionais acreditam que os jovens, com sua postura curiosa, ativa e bem

informada são os grandes portadores das sementes embrionárias que vão gerar

novos conceitos e comportamentos. Isso acontece porque essa geração em busca

da individualidade está sempre aberta ao novo e à experimentação, valorizando a

criatividade e manifestando constantemente seus anseios que vão refletir

diretamente na sua forma de consumir.

Para Fontanelle, (2004)10, a juventude representa não apenas uma faixa

etária, mas vai além dessa idéia ao expressar conceitos ligados à liberdade, à

espontaneidade das ações e dos desejos, moldando assim, a cultura de consumo de

uma época. Dessa forma, a juventude é estudada, na metodologia coolhunting,

como uma subcultura na sociedade, sendo grande potencializadora na detecção de

tendências.

O perfil de consumidor observado pelo coolhunter segue a noção de líderes e

seguidores como agentes na difusão das tendências, considerando o ciclo da moda:

inovação, difusão, adoção, saturação e descarte, este último, de grande importância,

9 Disponível em: <http://www.etnomarketing.com.br/metodos.htm> . Acesso em: 12 Nov. de 2011.

10 Disponível em:<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010264452004000300007>

Acesso em: 10 Nov. de 2011.

Page 29: 124212_pesquisa de Tendencias

30

num momento em que se discute cada vez mais questões ambientais e

sustentabilidade. Dessa forma, esses profissionais buscam identificar os chamados

trendsetters, expressão inglesa que indica “ditadores de tendências”, e se referem

aos “indivíduos que, pela influência que seus comportamentos e aparências

exercem sobre os demais, apontam tendências, fazem moda ou lançam novos

estilos” (CALDAS, 2004 apud PICOLI, 2008, p. 11).

Os consumidores chamados de consumidores alfa ou early adopters, do

inglês, adotadores precoces, também são alvo desses profissionais. São indivíduos

que adotam novas modas com facilidade, sendo os consumidores iniciais de novos

produtos, tecnologias e serviços, se tornando assim, agentes importantes no

lançamento e de tendências.

Os caçadores de tendências agem como uma antena e procuram por

novidades em diversas esferas do conhecimento, estão sempre conectados com o

que está acontecendo no mundo não só em termos de tendências estéticas, mas em

questões culturais, sociais, políticas, econômicas e tecnológicas, como um todo.

Estão antenados com as notícias da mídia e são bem informados em relação à

música, arte, cinema, gastronomia, viagens, vestuário, literatura e tudo que constitui

o universo cultural jovem, sinalizador de tendências de comportamento e consumo.

Esses profissionais realizam ainda no processo de pesquisa, entrevistas de cunho

qualitativo, registram seus insights com anotações diárias do que é relevante e se

utilizam também da fotografia, como forma de registro do que é observado.

As empresas e agências que fornecem a pesquisa de tendências específicas

de moda tem como fontes de informação ainda, as revistas especializadas, as

semanas de moda das principais capitais do mundo, as grandes feiras e eventos do

setor têxtil, além de conteúdos disponibilizados na internet, como blogs de moda e

sites de empresas do ramo.

Entre os birôs de estilo, agências e centros de pesquisa e estudos de

comportamento e consumo de grande relevância na atualidade, podemos destacar a

WGS (Worth Global Style Network), criada em 1998, com sede em Londres, o Future

Concept Labe, que atua desde 1989 em Milão e cujo presidente, Francesco Morace

é sociólogo, escritor e jornalista, a francesa Promostyl, pioneira no formato de

escritório de tendências, criada em 1966, a brasileira UseFashion, que surgiu em

2000, com sede no sul do país e o Observatório de Sinais, empresa nacional situada

na capital paulista, que se iniciou em 2002, tendo á frente o sociólogo Dario Caldas.

Page 30: 124212_pesquisa de Tendencias

31

Essas empresas, contam com profissionais espalhados pelo mundo, de forma

a captar tendências em nível global. Várias outras empresas de menor porte

participantes desse segmento vem surgindo no cenário atual. No entanto, é

importante ressaltar que esse método de pesquisa ainda é pouco explorada no

Brasil e os estudos sobre a metodologia coolhunting ainda são escassos, uma vez

que as empresas não fornecem dados completos sobre a forma de atuação, sendo

estas informações consideradas confidenciais. Picoli, (2008, p. 199), defende a

necessidade de colaboração por parte de empresas e profissionais do ramo para a

investigação, compreensão e difusão da metodologia, como forma de difundir e

valorizar esse tipo de serviço, já que “esta profissão nasceu na rua, e quem a

executa “aprendeu”, realiza, faz isso baseado em suas ações e prática e não com

teoria”.

Devido ao caráter multidisciplinar da metodologia coolhunting, cada agência

e/ou profissional desenvolve seus próprios métodos de trabalho durante a pesquisa,

havendo assim, variações também nas ferramentas utilizadas na hora de colher

informações, registrar e apresentar os resultados obtidos.

Ainda que o serviço prestado por essas agências tenha um custo alto para

seus clientes, “essa nova tipologia de pesquisa tem proporcionado ótimos resultados

para as empresas, devido à rapidez com que se processa e produz a informação

necessária” (PICOLI, 2008, p. 3). A observação contínua e a pesquisa permanente

favorece o mercado do fast fashion, onde cada vez mais, o novo se torna velho, num

período de tempo cada vez mais curto. Na contemporaneidade, falar em “ciclos de

moda” já não faz tanto sentido, uma vez que, com a grande velocidade do processo

de reciclagem, todos os estilos estão “na moda”, cenário que faz a moda romper sua

própria lógica. (SVENDSEN, 2010).

Nesse contexto, a internet se torna ferramenta essencial para os coolhunters

como forma de adquirir informações de forma instantânea, possibilitando o acesso e

o monitoramento de conteúdos disponibilizados por consumidores-alvos na pesquisa

de tendência, a partir de páginas pessoais, geralmente blogs e outras redes sociais

com atualizações do próprio indivíduo.

No entanto, é válido lembrar que a esfera virtual exige “métodos mais

sofisticados de caça ao cool, na medida em que, segundo os próprios coolhunters, a

internet torna o tempo do cool cada vez mais rápido e mais descartável”

Page 31: 124212_pesquisa de Tendencias

32

(FONTANELLE, 200411), dificultando assim, o processo de filtragem no momento de

descartar ou não os sinais potencializadores de tendências futuras.

Diante da profusão de gostos, comportamentos e movimentos sócio-

culturais da contemporaneidade, apreender o novo, não é tarefa fácil. No cenário

global do mundo conectado, das informações multiplicadas, tudo parece ser vetor de

tendência. Para que o processo de observação, coleta de dados, filtragem, seleção

e interpretação dos sinais emitidos pelos indivíduos, seja realizada de forma correta,

é preciso uma constante evolução e aprimoramento das técnicas de pesquisa do

comportamento do consumidor, valorizando cada vez mais suas manifestações

culturais como fatores potenciais na construção de estratégias mercadológicas.

Tais pesquisas visam, sobretudo, captar as transformações nas mentalidades, nos estilos de vida, nas formas de manifestação do desejo do consumidor, partindo sempre da idéia do “ato do consumo” como o ato social por excelência da sociedade contemporânea, tomando, portanto, o próprio ato de consumo como uma forma de “comunicar”. (FONTANELLE, 2004

12)

Vimos que até mesmo o perfil dos caçadores de tendências sugere um vetor

de tendência, por ser o próprio profissional, um indivíduo ativo, antenado,

conhecedor do “espírito de seu tempo”, sendo assim um possível iniciador de

tendências (CALDAS, 2006). Esse fator reflete o momento atual do consumidor que

é ao mesmo tempo autor e personagem dos discursos movidos pelas práticas de

consumo.

O coolhunting, com a aplicação de técnicas multidisciplinares, se mostra então

uma metodologia de grande potencial na captação de sinais, permitindo que o

pesquisador se infiltre nos locais elegidos, vivenciando e compartilhando

experiências com seu alvo de pesquisa – os jovens – e assim, obtendo dados mais

expressivos e específicos do público observado.

11

Disponível em<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-64452004000300007> Acesso em 11 de Nov. de 2011. 12

Disponível em<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-64452004000300007> Acesso em 11 de Nov. de 2011.

Page 32: 124212_pesquisa de Tendencias

33

2.3 Metodologia de pesquisa com foco na Internet

O trabalho investigativo da pesquisa coolhunting, método recente e ainda

escasso de estudos, se constitui um desafio, uma vez que as agências que realizam

esse tipo de pesquisa não divulgam seus processos metodológicos. As informações

obtidas a respeito dessa metodologia são de ordem acadêmica, apresentando

resultados a partir de pesquisas bibliográficas e investigações dos profissionais

através de questionários, e, a partir daí uma aplicação prática com simulação de

pesquisa de tendências prospectivas. Ainda assim, é possível delinear algumas

informações úteis, conduzidas por linhas de pensamento semelhantes a respeito

desse tipo de pesquisa.

O processo de pesquisa coolhunting considera seis etapas: a pesquisa da marca do cliente, definição dos objetivos da pesquisa, seleção dos canais de pesquisa, elaboração do roteiro de pesquisa, o trabalho de campo (realização da pesquisa), análise e seleção dos dados e por último, elaboração da entrega da pesquisa aos clientes. (PICOLI, 2008, p. 78).

Apesar de não haver ainda um processo estabelecido único e uma

metodologia claramente definida, já que, mesmo seguindo linhas próximas, cada

agencia ou profissional vai se utilizar de diferentes métodos e técnicas, de acordo

com seu perfil, os resultados desse tipo de pesquisa têm se mostrado eficientes.

Sobre métodos e técnicas, Severino (2002, p. 162) afirma: “entende-se por métodos

os procedimentos mais amplos de raciocínio, enquanto técnicas são procedimentos

mais restritos que operacionalizam os métodos, mediante emprego de instrumentos

adequados”.

Ao se utilizar de métodos e técnicas inerentes das ciências sociais, a pesquisa

coolhunting, possui algumas características importantes, que ajudam no seu

entendimento e definição: o caráter qualitativo como um complemento da pesquisa

quantitativa e a abordagem etnográfica são algumas dessas características.

Enquanto a pesquisa de caráter quantitativo se orienta através de números e

estatísticas, a pesquisa qualitativa se volta à qualidade do objeto estudado, numa

visão mais específica, de acordo com os dados que se procura analisar.

A pesquisa quantitativa é adequada para a apreensão de variações, padrões e tendências, mas é frágil na apreensão de detalhes e singularidades, razão pela qual os problemas de pesquisa para os quais o

Page 33: 124212_pesquisa de Tendencias

34

aprofundamento é mais importante que a generalização dos resultados solicitam abordagens qualitativas. (FRAGOSO, RECUERO, AMARAL, 2011, p. 67)

Uma vez que a metodologia coolhunting tem como princípio a observação do

comportamento dos indivíduos em seu próprio hábitát, de forma a entender seu

modo de vida, linguagens, valores e interações sociais e, considerando a

complexidade existente em cada cultura, grupo e sujeito, a abordagem etnográfica -

método inerente à antropologia - se torna essencial, já que seu princípio

investigativo, baseado na observação participante favorece o caráter reflexivo.

A etnografia, em sua forma básica, consiste em que o pesquisador submerja no mundo que estuda por um tempo determinado e leve em consideração as relações que se formam entre quem participa dos processos sociais deste recorte de mundo, com objetivo de dar sentido às pessoas, quer esse sentido seja por suposição ou pela maneira implícita em que as próprias pessoas dão sentido às suas vidas. (HINE, 2000 apud AMARAL, NATAL & VIANA, 2008, p. 5).

13

Com o advento da internet e a emergência de novas possibilidades de

observação e análise de indivíduos e grupos na Web14, veio associar-se à

etnografia, o conceito de netnografia, etnografia virtual, etnografia digital ou ainda

webnografia, se referindo à abordagem etnográfica na esfera virtual. Esse tipo

investigação se tornou ao mesmo tempo uma aliada para os pesquisadores sociais,

uma vez que possibilita a observação de um maior número de interações sociais e,

ao mesmo tempo, apresenta-se como um desafio, por abarcar excesso de

informações que se tornam cada vez mais complexas. Mas, ainda assim, a análise

de redes sociais, por exemplo, constitui uma ferramenta válida, já que a sociedade

se estrutura cada vez mais como uma rede (FRAGOSO, RECUERO & AMARAL,

2011).

Utilizar a Web como fonte de pesquisas e aplicação de metodologias é algo

inevitável, porém, é preciso reinventar métodos e adaptá-los a essa nova realidade,

de forma a validar e aperfeiçoar os processos, já que na era digital, os

13

Disponível em: <http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/famecos/article/viewFile/4829/3687> Acesso em 12 de Out. de 2011. 14

Web é uma abreviação de world wide web, e se refere à rede mundial de informações.

Page 34: 124212_pesquisa de Tendencias

35

comportamentos e interações sociais se encontram multiplicados, híbridos e cada

vez mais inconstantes.

Uma vez que esse trabalho tem como objeto de estudo a pesquisa de

consumo de moda na Web, a adoção da etnografia foi natural, pois ela me permitirá

compreender os processos do dia-a-dia dos consumidores in loco (SEVERINO,

2010). Além disso, é uma modalidade de pesquisa científica que dialoga com a

abordagem qualitativa que possibilita a compreensão da condição de sujeito

enquanto consumidor internauta.

A partir da pesquisa bibliográfica verificou-se que a moda sistematizada pela

indústria, amparada pelo teor democrático do prêt-à-porter e impulsionada pelas

tendências, se encontra hoje cada vez mais diversificada e calcada no conceito

estético (RICHARD, 1989). Constatou-se também que a sazonalidade da moda se

encontra num ritmo cada vez mais acelerado e o imperativo de “novidade” que

sustenta esse fenômeno, ganhou um ciclo de vida muito curto diante das novas

formas de difusão das informações, sendo condizente afirmar que, “o novo de hoje,

é o velho de amanhã” (SVENDSEN, 2010). Imagens, palavras, conceitos e estéticas

inovadoras são lançadas na Web o tempo todo, com uma dimensão gigantesca e

uma rapidez extraordinária, porém, na mesma velocidade em que surgem, se

tornam saturadas.

Percebeu-se que a sociedade em rede é estimulada constantemente a adotar

novas posturas e experiências, compartilhando informações pessoais e/ou coletivas

de forma simultânea e permanente. Dessa forma, a internet se constitui hoje, uma

ferramenta poderosa para os pesquisadores de tendência.

A multiplicidade, hibridez e simultaneidade de valores, gostos e estéticas da

era global, como propulsores de novas metodologias de pesquisa do comportamento

do indivíduo nas suas práticas sociais e de consumo, foi outro conceito observado,

destacando-se nesse cenário o coolhunting, método recente e multidisciplinar

utilizado na pesquisa de tendências prospectivas (PICOLI, 2008).

O presente trabalho está embasado teoricamente, no relatório PopCorn

(1993). A partir de duas tendências listadas pela autora na década de 1990, que,

segundo ela, teriam validade de no mínimo dez anos, procurou-se constatar as suas

realizações na sociedade contemporânea, a partir da esfera virtual. Em consonância

com a metodologia coolhunting e os métodos de pesquisa na internet – em especial

Page 35: 124212_pesquisa de Tendencias

36

a netnografia - buscou-se analisar tendências de mercado, comportamento e

consumo de moda na esfera virtual contemporânea.

A fase inicial do trabalho investigativo se baseou na análise reflexiva das

informações apreendidas, com o intuito de adquirir um conhecimento geral do

assunto, para a aplicação dos conceitos. Foi proposto então, no segundo estágio da

pesquisa, um estudo analítico - através da ferramenta “internet”- de dois casos com

conteúdos ligados à tendência, comportamento e consumo, elementos que se

constituem o foco da pesquisa.

A pesquisa de cunho qualitativo se desenvolveu, na terceira fase, a partir da

observação e análise de conteúdos, de duas páginas virtuais - um site (Fashion.me)

e um blog (Advanced Style) - que constituem os objetos de estudo. A primeira

página, ainda que traduza novos comportamentos, apresenta um perfil de caráter

mais mercadológico, sugerindo o consumo de produtos de moda, O segundo objeto

proporciona uma análise mais ligada ao comportamento e às questões sociais e

culturais.

Tendo como foco a observação das páginas virtuais, numa aproximação com

os preceitos da netnografia, constatou-se elementos de fundamental importância

para o entendimento das novas práticas de comportamento e consumo na Web. A

análise interpretativa dos dados coletados levantou diferentes e interessantes

questões relacionadas também aos métodos de pesquisa de tendências

empregados na internet.

A última etapa da pesquisa constitui uma reflexão dos conteúdos observados,

dos dados coletados e da aplicação de métodos de pesquisa utilizados de forma a

levantar questionamentos futuros, através dos resultados obtidos.

Page 36: 124212_pesquisa de Tendencias

37

Capítulo 3

Consumo autoral: a nova postura do consumidor contemporâneo

3.1 O consumidor autor

Segundo Morace (2009, p. 7) o consumidor autor é o novo protagonista do

mercado com o qual o mundo das mercadorias e dos produtos deverá cada vez

mais se confrontar “o mundo das mídias e da comunicação deverá governar as

expectativas sempre mais exigentes de um novo sujeito: o espectador-autor –

aquele que possui inovação no sangue e no cérebro”.

No mercado atual, o momento é sinalizado por uma redefinição e

fragmentação no papel exercido pelo consumidor. Como produtor de conteúdos,

sinalizador de movimentos sociais e culturais e uma postura cada vez mais ativa, o

indivíduo atribui à prática de consumo, um novo significado, onde a aquisição do

produto por si só já não é o escopo, mas a possibilidade de iniciar novos discursos,

gerar novas idéias e assim, produzir narrativas de forma cada vez mais ampla e

codificada.

Na era pós-moderna, a cultura de consumo substitui o consumo de massa,

dando uma liberdade maior ao consumidor na construção da sua identidade,

moldada de acordo com seu estilo de vida (PICOLI, 2008). A busca constante pela

individualidade é fato, no entanto, esse argumento vai além a partir do momento em

que o consumidor atribui aos produtos um mérito que ultrapassa seu valor prático e

estético, considerando-os como companheiros de vida, em diversas esferas e

situações da vida.

Uma vez que o mercado volta seu olhar para o consumidor, iniciando a

pesquisa de tendências de comportamento e consumo da geração jovem, de forma

a captar e compreender suas necessidades e anseios, os papéis se misturam: o

produto é lançado pelo mercado, mas as sementes que dão origem ao seu

desenvolvimento são procedentes de posturas do próprio indivíduo enquanto

consumidor.

Esse cenário aponta a era dos produtos como extensões de nós mesmos,

numa subjetividade multifacetada nos códigos simbólicos existentes e usamos nosso

corpo como suporte ideal nesse processo. Quando nos referimos a produtos de

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38

moda - o vestuário em particular – esse aspecto fica ainda mais visível. Castilho

(2004, p. 38) ao afirmar que “corpo e traje se imbricam de modo a significar

conjuntamente um discurso”, acentua o papel da moda como fator importante na

construção de identidade do indivíduo e nos discursos narrados através do vestir. A

geração jovem como nenhuma outra, explora de forma cada vez mais codificada

essa função da moda como forma de se afirmar.

As grandes mudanças na cultura de consumo no decorrer da história foram

impulsionadas pelo caráter inovador do comportamento jovem e foi essencialmente

na moda que essa geração hedonista, com destaque para os baby boomers nos

anos 60, encontrou subsídio para expressar seus ideais, desafiando, através do jogo

da aparência, valores predominantes de uma época. Eco (1989, p. 37), enfatiza essa

relação entre o jovem e a moda, ao afirmar que “um dos setores mais importantes

dos consumos juvenis é exatamente o do vestuário, quer a nível quantitativo (é a

despesa mais importante), quer a nível qualitativo (o modo de vestir é um dos

símbolos mais importantes da sub-cultura juvenil)”.

Não à toa, os jovens – grandes agentes de mudança – ocupam o topo da

pirâmide, quando o assunto é inovação, criatividade e tendência: três elementos

essenciais do novo modelo de consumo imposto por essa geração na atualidade: o

consumo autoral. Nesse contexto, o sujeito, cada vez menos influenciado pela

publicidade, prioriza a realização pessoal, o bem estar, a experiência estética e

sensorial no consumo, valorizando menos a ostentação e o status com a aquisição

do produto e mais a “vivência” com ele.

O consumo de experiências, ligado aos sentidos, aos pequenos e grandes

prazeres e materializado sob diversas formas de acordo com as aspirações

individuais, tem sido a grande aposta do mercado para atrair um consumidor que

inventa, constrói, vive e compartilha seu próprio jogo, se reinventando sempre a

partir de práticas que buscam fugir do lugar-comum. Promover e facilitar esse jogo é

a idéia do design thinking, conceito inovador e recente, que nos últimos seis anos,

vem sendo aplicado pelas agências de design, no desenvolvimento de produtos.

O design thinking é uma ferramenta que ajuda a empresa a pensar com a cabeça do consumidor. As aspirações do cliente são, então, decifradas e traduzidas em um objeto inovador, único. É como um design sob medida,

Page 38: 124212_pesquisa de Tendencias

39

não apenas pelo compromisso com a estética, mas, principalmente, pela funcionalidade. (IVAN PADILHA, 2009).

15

Para Morace (2009) a experiência estética é uma tendência global de

comportamento de consumo, onde o design e a criatividade, como impulsionadores

da inovação, estimulam o consumidor a adotar novas e múltiplas posturas na

relação com o produto, calcadas no “sentir”. O autor indica uma aproximação entre o

design thinking e a Renascença ao unir o artístico, o espiritual e o tecnológico, três

elementos que devem ser tomados como base das práticas de consumo atuais.

Cresce cada vez mais a aplicação do marketing de experiências – segmento

relativamente jovem no Brasil - como estratégia para conquistar o consumidor, uma

vez que as empresas começaram a perceber a força do consumo estimulado por

sensações e novas vivências proporcionadas através de produtos e serviços. Um

exemplo atual e inovador deste tipo de mercado é a empresa “O melhor da vida”,

que, em novembro de 2010, já colocava à disposição do consumidor mais de 2.500

experiências, distribuídas em 16 presentes com valores entre R$ 49 e R$ 40 mil 16.

O serviço/presente pode ser adquirido através da página da empresa na Web

(http://www.omelhordavida.com.br), em categorias como zen, sport, gourmet,

paraquedismo, passeios de balão, cursos de kart, aulas de mangá, massagens

relaxantes em spas, além de experiências gastronômicas em diversos restaurantes,

entre vários outros serviços, atendendo assim, públicos variados em vários níveis de

poder aquisitivo17.

Nesse sentido, o executivo Jorge Nahas, diretor da unidade corporate

experience da “O melhor da vida”, defende que o luxo está ganhando novos

conceitos, que vão além dos bens materiais ao afirmar que “o glamour caminha para

o acúmulo de experiências, quanto mais você vivencia situações inusitadas,

diferenciadas, mais rico você é”18.

Dessa forma, é preciso acompanhar de perto os novos comportamentos, uma

vez que, assim como a sociedade, o consumo está em constante transformação, e

na contemporaneidade se encontra cada vez mais híbrido, fragmentado e cheio de

15

Disponível em: <http://epocanegocios.globo.com/Revista/Common/0,,EMI108968-16642,00-DESIGN+SOB+MEDIDA.html> Acesso em 14 de Nov. 2011. 16

Disponível em:<http://www.revistamarketing.com.br/materia.aspx?m=605>. Acesso em: 15 de Nov. de 2011. 17

Disponível em:<www.omelhordavida.com.br>. Acesso em: 15 de Nov de 2011. 18

Disponível em:<http://www.revistamarketing.com.br/materia.aspx?m=605>. Acesso em: 15 de Nov de 2011.

Page 39: 124212_pesquisa de Tendencias

40

opostos. O consumidor desempenha o papel de protagonista, interpretando à sua

maneira as diversas ofertas do mercado, num desejo inesgotável de consumir

sensações e experimentar criativamente o produto. Moldam assim, o perfil da

economia e do mercado, que, atento às novas posturas de consumo, volta seu olhar

observador no cotidiano das pessoas.

Hoje, as pesquisas de comportamento do consumidor estão cada vez mais

direcionadas ao universo intangível dos indivíduos, aos seus sentimentos e

memórias afetivas e o tema “felicidade”, se encontra na base dos estudos

estratégicos do marketing como forma de captar os estímulos de consumo. Prova

disso, é a pesquisa “Happiness Brasil”, realizada pelo Observatório de

Comportamento e Consumo - um núcleo de pesquisa e consultoria, da área de

Gestão Estratégica e do Mercado do SENAI/CETIQT. Com foco no público brasileiro,

a pesquisa foi apresentada no 5ª Seminário Internacional de Comportamento e

Consumo do SENAI/CETIQT realizado em setembro desse ano. A pesquisa foi feita

a partir de diários, distribuídos entre os participantes da pesquisa – pessoas comuns

de todas as capitais do país – que registraram através de escritos e fotografias,

elementos, situações, ambientes e objetos que estimulassem sentimentos,

sensações e experiências ligadas ao bem-estar e à felicidade19.

A observação do cotidiano e das práticas de consumo como fonte essencial

na pesquisa de tendências prospectivas, só vem a ressaltar a influência e

credibilidade cada vez maior do consumidor autor no mercado atual. Uma vez autor

e ator de suas próprias escolhas de consumo, o consumidor tende a não se limitar a

seguir um único estilo: passa-se do lifestyle para o Life Occasion, ou ocasião de

vida, onde a experiência do indivíduo passa da segmentação para a fragmentação,

ao viver ocasiões que permeiam o público e o privado, o trabalho e o lazer, os

sentimentos de felicidade, de prazer e amor entre outros (MORACE, 2009). Este

cenário atual faz juz à afirmação do autor ao se referir às diferentes gerações como

empresas criativas, onde o espírito jovem, ainda que se manifeste em diferentes

faixas etárias, se mantém como o grande atrativo para estratégias de mercado.

19

SEMINÁRIO DE COMPORTAMENTO E CONSUMO, realizado pelo SEBRAE GO, em 27 de outubro de 2011.

Page 40: 124212_pesquisa de Tendencias

41

3.2 – Nativos digitais: a revolução das gerações no século XXI

As grandes mudanças de comportamento e consumo iniciadas com os baby

boomers nos anos 1960, refletiram diretamente nas gerações jovens posteriores

que, sinalizando novas tendências culturais, se tornaram o grande alvo das

pesquisas de mercado. Sobre o conceito de “gerações”, Eline Kullock, fundadora do

Grupo Foco, define como “o conjunto de indivíduos nascidos em uma mesma época,

influenciados por um contexto histórico, determinando comportamentos e causando

impacto direto na evolução da sociedade”20.

A partir de meados do século XX, por convenção, as gerações juvenis

receberam nomes específicos, cujas denominações são mais encontradas em

bibliografias americanas sobre o assunto. No entanto as designações e a definição

de intervalo de anos de cada geração apresentam variáveis de autor para autor

(CARA, 2008, p. 69)21. Percebe-se assim que apesar do elemento “faixa etária” ser

uma variável importante ao que se refere à classificação das gerações, as

características principais em comum, as práticas e o perfil são extremamente

importantes, se tornando um fator-guia na elaboração dos conceitos já que o

indivíduo, mesmo pertencendo a grupos de mesma faixa etária, sofrem influências

sociais, culturais e econômicas que vão refletir no seu comportamento geral e

enquanto consumidor.

É importante ressaltar três gerações de jovens que sucederam a geração

baby boom do pós-guerra, que são fundamentais para o entendimento das novas

práticas de consumo. São elas as gerações X, Y e Z, sendo as duas últimas grandes

vetores de tendências em termos de comportamento de consumo na era da internet.

As pessoas nascidas entre as décadas de 1965 e 1981 fazem parte da

Geração X ou Generation X, denominação dada pelo escritor Douglas Coupland

(1991 apud CARA, 2008, p. 6922). Ao contrário da geração anterior, esses indivíduos

não são caracterizados por um espírito revolucionário, pelo contrário, possuem uma

enorme descrença em relação ao futuro, se tornando céticos e meros expectadores

da vida política, causando dessa forma, uma ruptura com as gerações anteriores.

20

Disponível em: <http://www.focoemgeracoes.com.br/index.php/por-que-as-geracoes-estao-no-nosso-foco/>. Acesso em: 15 de Nov. de 2011. 21

Disponível em: <http://www.ceart.udesc.br/modapalavra/files/geracoes_juvenis-mariane_cara.pdf>. Acesso em: 15de Nov de 2011. 22

Idem.

Page 41: 124212_pesquisa de Tendencias

42

Fortemente influenciados pela TV e pela febre dos videoclips, adotaram referências

estéticas de bandas e cantores, com destaque para o visual grunge dos anos 90.

Com uma postura mais individualista e realista, prezavam por qualidade nos

produtos, sendo caracterizados por “uma geração que cresceu em redor da

ostentação das marcas, dos símbolos e do impacto visual, dum estilo de vida que

tem o fundamento do sistema (político, econômico e social) no consumismo”. (AGIS

et al., 2001, p. 21523)

Essa geração acompanhou o advento da globalização, o desenvolvimento

tecnológico e as inovações no campo da comunicação. Foram os primeiros a utilizar

o telefone celular e assistiram à popularização da internet nos anos 1990, década

que explodiu o envio de e-mails (cartas eletrônicas), que começaram então a

substituir as cartas tradicionais. As facilidades provenientes da tecnologia digital, vão

mais tarde, redefinir de modo acentuado as práticas de consumo, numa velocidade

cada vez mais rápida, moldando assim, o perfil da nova economia emergente.

Representando o contexto atual do consumidor autor em que se estabelecem

novas relações de consumo, as gerações Y e Z exercem um papel extremamente

importante. Essas culturas juvenis do século XXI estão transformando o mercado,

propondo novas formas de interação e consumo na Web. A geração Y compreende

os jovens de cerca de 20 a 30 anos na atualidade. Filhos da geração X são também

conhecidos como Geração Millennials, por terem nascido na virada do milênio,

Geração Next, Geração Digital, Geração Online ou ainda Geração Conectada.

O rótulo geracional pretende enfatizar a curiosidade, a confiança e a destreza ímpar com que os indivíduos nascidos depois de meados dos anos 1980 utilizam microcomputadores, internet e telefones celulares para as mais diversas finalidades (entretenimento; informação; aprendizagem; comunicação; consumo; construção de personalidade e de identidade social; consolidação de redes de sociabilidade). (FILHO,LEMOS, 2008, p.16)24.

Essa geração nasceu na era da internet, cresceu com a tecnologia ao seu

alcance, é utilizadora assídua das novas mídias e está habituada com a facilidade

no acesso e acúmulo de informações. Esses jovens, favorecidos pela comunicação

23

Disponível em: <http://www.atp.pt/fotos/editor2/Ficheiros%202011/Vestindo%20o%20Futuro,%20ver%20Port.pdf> Acesso em 15. de Nov. de 2011. 24

Disponível em: <http://revistacmc.espm.br/index.php/revistacmc/article/view/126/122> Acesso em: 15 de Nov. de 2011.

Page 42: 124212_pesquisa de Tendencias

43

móvel do nosso período passam a maior parte do dia conectados, trocam

mensagens instantâneas e estão sempre à procura de novos gadgets25. São

conhecidos também por sua postura multitarefa, na era do “tudo ao mesmo tempo

agora”: ouvem música, acessam sites de relacionamentos, enviam mensagens,

produzem conteúdos na Web e podem facilmente fazer mais coisas

simultaneamente.

A geração da era Google26, está acostumada com uma profusão de

informações, que são conseguidas com apenas alguns cliques em sites de buscas.

Essa facilidade gera um interesse maior em adquirir conhecimentos variados e

ilimitados, porém, de forma cada vez menos aprofundada. Para a geração Y, a

internet se constitui a principal ferramenta para se manter informada e antenada com

o que acontece no mundo e na sua rede de amigos. Essa postura se aplica também

para os estudos, para se relacionar e aumentar sua rede de relacionamentos.

Fazem parte do dia-a-dia dessa geração: as ferramentas de bate-papos e

mensagens instantâneas como o MSN, sites que permitem carregar e compartilhar

vídeos em formato digital como o YouTube, as redes sociais como o Orkut,

Facebook, Twitter, Second Life, além dos blogs, sites de caráter pessoal, uma

espécie de diário virtual que permite a atualização de conteúdo de forma rápida e

interativa com a participação de visitantes da página através dos comentários, mas

que, mais tarde, começaram a ser utilizados por instituições com propostas

mercadológicas.

Inovação é a palavra que melhor define a essência dessa geração que prioriza

mais a novidade que a necessidade na escolha do produto. Ao buscar sempre o

diferente, o tecnológico, o cool, os jovens dessa geração tendem a não se manterem

fiéis às marcas. Também conhecidos como “consumidores 3.0”, esses indivíduos

estão transformando as estratégias de marketing das empresas. Fernando Hausser,

no artigo “Quem somos nós?”27 explica que os valores mudam em cada período

histórico e, se em determinados momentos a posse de terra e força de trabalho se

mantinham como valor principal, definindo classes sociais, hoje, a informação se

25

Gadgets são acessórios úteis no dia-a-dia. O termo geralmente é empregado para designar dispositivos eletrônicos portáteis. 26

A geração Google, foi assim conceituada fazendo referência ao site de busca mais poderoso do mundo, criado em 1998, década em que a internet se popularizou, revolucionando os meios de comunicação e redefinindo comportamentos de uma geração que está habituada a utilizar essa ferramenta. 27

Disponível em: <http://mundodomarketing.com.br>. Acesso em: 15 de Nov. de 2011.

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44

tornou a verdadeira força superior e esse valor se associa às pessoas que possuem

relacionamentos na era das conexões, se tornando dessa forma, verdadeiros líderes

no mercado e fora deles.

Com espírito empreendedor e, acostumados com a rapidez da era digital, os

jovens do século XXI estão transformando o mercado de trabalho. Priorizam

trabalhos com os quais se identificam de verdade, não adotam posturas formais com

seus superiores, ou seja, valorizam a competência real em detrimento da hierarquia,

se afirmam dentro da instituição, expressando de forma pragmática seus pontos de

vista e objetivos. Buscam ainda de forma constante, o equilíbrio entre o trabalho e o

lazer. Acostumados com o imediatismo das informações na rede, essa geração não

tem medo de arriscar, de buscar novos ares e mudam de emprego com facilidade.

Enquanto a geração Y se conecta na internet para vivenciar outra esfera da

sua vida, a geração posterior, denominada geração Z, não conhece outra vida senão

a de dois mundos paralelos: o real e o virtual. Formada por crianças e adolescentes

de até 17 anos no cenário atual, essa geração possui características bastante

semelhantes, senão iguais, àquelas da geração anterior, porém, possuem uma

ligação muito mais acentuada em relação ás nova mídias sociais já que, não

conheceu outro mundo, antes dessas inovações. Se a geração Y não abre mão das

novas tecnologias de comunicação, sua sucessora não consegue imaginar sua vida

sem elas.

Na era dos dispositivos móveis, os Z se encontram constantemente

conectados, característica essencial dessa geração. É no mundo virtual que vai se

estabelecer a concepção de grupo, principalmente através de sites de redes sociais.

O compartilhamento das informações é feita na esfera individual e em qualquer lugar

que esses jovens estejam. Redefinem-se assim, através da comunicação móvel, as

noções de tempo e espaço, numa postura cada vez mais individualista, onde, as

ferramentas – computadores, lap tops, celulares - são individuais e a troca de

experiências deixa de ser presenciada no coletivo físico para o coletivo virtual.

Percebe-se na forma de se comportar dessa geração, uma preferência pela

vida virtual. Enquanto a geração Y está se acostumando a realizar compras pela

internet, os Z, encaram essa postura de forma extremamente habitual e, mesmo que

não tenham ainda autonomia de consumo, possuem voz dentro da família,

influenciando diretamente na compras e escolhas de produtos. Semelhante à

geração Y, seu caráter completamente imediatista, faz com que sejam rotulados

Page 44: 124212_pesquisa de Tendencias

45

como pessoas dispersas. No entanto a simultaneidade é o reflexo do próprio mundo

que eles conheceram: global, conectado, efêmero, ilimitado e cheio de opostos.

Segundo Sylvia de Sá, no artigo “Geração Z: quem são os consumidores do futuro?”

28, apesar das influências sociais, culturais e econômicas sofridas pelos indivíduos e

com isso a afirmação de valores e posturas de comportamento serem flexíveis, não

se limitando à uma divisão por faixa etária, a observação e análise da geração Z,

apontam características importantes do perfil do consumidor do futuro, entre elas, a

valorização e preocupação com questões ambientais e uma postura com ideais mais

livres e democráticos em relação ao acesso de conteúdos na internet: cada vez

mais, os Z, se recusam a pagar por produtos e conteúdos que podem ser adquiridos

gratuitamente na Web através do downloads, de músicas, filmes, livros, etc.

A questão maior na qual se concentram os estudos do perfil das gerações do

século XXI é o fato de que estas estão mudando o cenário cultural, social e

econômico, transformando a forma de se relacionar, de construir uma identidade e

se apresentar na sociedade, refletindo diretamente na forma de se consumir

produtos de moda e afins. Essa revolução no mercado tem como base as inovações

da tecnologia digital e as novas formas de interação e consumo através da internet.

Diante disso, surge uma nova denominação da geração jovem

contemporânea conectada a diferentes meios de forma simultânea: a geração M. No

artigo “A geração M, jovens habituados a mídias simultâneas”29, Rafael Andaku,

traça as características desse perfil, afirmando que esse novo rótulo foi criado a

partir de um estudo denominado Generation M, realizado pela Kaiser Family

Foundation e dirigida pela Stanford University no ano de 2005. A pesquisa foi

realizada a partir de diários de uso de mídias que duraram sete dias com o intuito de

avaliar o consumo de mídias dos adolescentes em casa e através de questionários

com estudantes entre 8 e 18 anos de idade nos Estados Unidos. Constatou-se então

que o cotidiano dos jovens é saturado por mídia e, com a Web surgiram novas

formas de se consumir essa mídia, definido assim o consumo multimeios, já que o

jovem, cada vez mais multi-informados e multiconectados, utilizam a internet com

objetivos cada vez mais múltiplos, passando pelas pesquisas escolares, a interação

social, o lazer e o namoro, ao mesmo tempo em que estão conectados a outros

meios de comunicação: tendência que chama a atenção do mercado, principalmente

28

Disponível em: <http://mundodomarketing.com.br>.Acesso em: 15 de Nov. de 2011. 29

Disponível em: <http://webinsider.uol.com.br>. Acesso em 15 de Nov. de 2011.

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46

das empresas que tem como público-alvo as crianças e adolescentes que estão

crescendo com a Web.

De forma cada vez mais acentuada os jovens da era digital estão cada vez

mais influentes na esfera virtual e fora dela, seja enquanto consumidores, produtores

de conteúdo ou empreendedores em novos negócios no mercado, obrigando

empresas a instituírem novas estratégias de marketing e repensarem métodos de

pesquisa de comportamento e consumo, na rede (www) e fora dela.

Page 46: 124212_pesquisa de Tendencias

47

CAPÍTULO 4

Comunicação e informação no mercado de moda contemporâneo

4.1 Consumo de moda na era Google

Nesse capítulo faço uma identificação das novas tecnologias de comunicação

e informação, analisando o impacto no mercado de moda contemporâneo. Analiso

ainda, as novas formas de negócios e profissionais emergentes com a popularização

da internet e a crescente “dependência” desta ferramenta para sobreviver e se

sobressair no mercado, aproximando ainda a relação com o consumidor.

As novas tecnologias de informação e comunicação transformaram a

economia em nível mundial. A internet em especial, revolucionou os modelos de

mercado, derrubando fronteiras e trazendo novas possibilidades de negócios. Nesse

contexto, destaca-se o e-commerce ou comércio eletrônico que, segundo Siqueira

(2004, p. 285), teve início nos anos 1980 e se caracteriza por ser “um mercado que

nunca se fecha, onde os preços variam em segundos, os pequenos enfrentam os

grandes e o público consumidor pode ser todo o planeta.”

Essa virtualização do comércio, em plena expansão, começa a se consolidar

neste novo século, uma vez que a facilidade do processo de compra acrescentado à

diversidade de ofertas e facilidade da entrega se tornou item primordial numa

sociedade que preza cada vez mais pelo conforto e praticidade de forma a “ganhar

tempo”. As empresas, para se manterem competitivas no mercado, precisam se

inserir na esfera virtual, seja através de suas páginas institucionais, fornecendo o

máximo de informações possíveis, numa espécie de cartão de visita e/ou pela

adoção do nicho de vendas pela internet.

Pesquisas apontam que muitas pessoas fazem consultas sobre os preços dos produtos antes de se dirigir a uma empresa física, ou mesmo preferem comercializar seus produtos e serviços diretamente a partir da Internet, pois este canal oferece maior comodidade, praticidade, variedade e melhores formas de pagamento, face às empresas tradicionais. (JUNIOR, PEDROSO, s/d, p. 2).

30

30

Disponível em: <http://revistasapientia.inf.br/arquivos/2011/BOTTENTUIT.pdf>. Acesso em 23 de Nov. 2011.

Page 47: 124212_pesquisa de Tendencias

48

As vantagens do comércio eletrônico não se limitam aos consumidores, uma

vez que as empresas obtêm lucro no que diz respeito à abrangência, podendo

alcançar um grande público ao veicular anúncios em sites de busca - com um baixo

custo – através dos quais, os clientes podem chegar até as empresas através de

palavras-chaves relacionadas ao produto, lucram em termos de marketing e

comunicação, a partir do conhecimento do perfil do seu consumidor, já que a venda

virtual é direcionada e ainda em questões de gerenciamento do negócio, já que é

possível obter índices do investimento em relação aos custos aplicados, através de

relatórios mensais (ROSA, 2008)31.

Cresce cada vez mais, o número de empresas que aderem ao comércio

eletrônico e essa tendência se mostrará cada vez mais expressiva nos próximos

anos com a chegada de consumidores que nasceram na era da internet, da

comunicação móvel e multicanal. Essa geração, cada vez mais habituada a passar

horas do seu dia conectada, realizando atividades de estudo, lazer, trabalho,

compras e interações sociais na esfera virtual, já apresenta certa dificuldade em

fragmentar seu mundo “virtual” (on) do seu mundo “real” (off), desconectado da

Web. Esses jovens, com uma postura totalmente natural e positiva em relação às

compras online, acabam por influenciar diretamente gerações anteriores que estão

se adaptando a esse novo modelo de comércio.

Nesse contexto, numa ligação próxima da geração jovem com a moda,

multiplicam-se os canais eletrônicos que comercializam produtos ligados a esse

ramo. Um bom exemplo é a proliferação dos outlets virtuais, canais de venda à

distância, que comercializam produtos de moda a varejo – vestuário, calçados e

acessórios em especial – de marcas conceituadas no mercado, a preços reduzidos

abrangendo um público vasto e variado. Os produtos à venda são, geralmente,

artigos de coleções passadas, porém, esse fator não é um imperativo no comércio

dos outlets. Neste segmento, destacam-se as plataformas: Privalia, Yoox,

Brandsclube, Vente Privée, Groupalia, Superexclusivo, Coquelux,Priv8brands, entre

outros.

O surgimento de novas ferramentas como o e-commerce, sucede novos

hábitos dos indivíduos e, na esfera virtual, a relação mercado/consumidor se

remodela.

31

Disponível em: <http://www.dialogosfelafacs.net/76/articulos/pdf/76HelaineAbreu.pdf>. Acesso em 23 de Nov. 2011.

Page 48: 124212_pesquisa de Tendencias

49

Não existe o envolvimento emocional gerado pelo espaço, nem a empatia com as pessoas, e, deste modo, a decisão de compra é tomada com maior racionalidade. Por esta razão, os produtos que mais interessam aos clientes são aqueles sobre os quais existem pontos de referência direta para atribuir-lhes valor. Isto acontece com as marcas de moda e com as marcas que têm uma grande notoriedade no mercado onde será vendida. (AGIS, et al., 2001, p. 397).

A utilização das tecnologias da informação e da comunicação por parte das

empresas como forma de aproximar a relação com o consumidor e a utilização

desse instrumento como ferramenta no desenvolvimento estratégico de marketing já

é realidade e, cada vez mais o mercado se volta às práticas e comportamentos

inovadores dos consumidores movidos na esfera virtual, resultando em diferentes

propostas de interatividade e novas formas de consumo, de forma a atrair cada vez

mais usuários, estimular a permanência na página online por um tempo maior e

ainda, criar um vínculo com o consumidor.

Um dos tantos novos campos de negócio, que também são conhecimento, ócio, plataforma técnica e vínculo social, é o das redes sociais e todos aqueles que o permeiam: aplicações (apps), serviços, monitoramento e pesquisa de uso. Tudo isso se vê fortemente influenciado pelos comportamentos, rotinas, usos e avaliações que os usuários fazem das ditas aplicações e redes sociais. (BOTERO, 2010, p.13).

32

Manter uma relação positiva com o consumidor e trabalhar iniciativas que

promovem ao indivíduo experiências criativas constitui um dos desafios do mercado

na atualidade e alvo estratégico do marketing digital. O consumidor contemporâneo,

vigilante, conectado, multimeios, autor e ator de suas próprias escolhas têm exigido

cada vez mais das corporações, a inovação, a ética e a transparência, dentro e fora

da Web. A Internet torna-se então, ao mesmo tempo aliada, ao ampliar as

possibilidades e aproximação do consumidor, e uma ferramenta arriscada, na

medida em que as empresas não a utilizarem da maneira correta. Isso porque as

experiências de ordem positiva ou negativa, vividas pelo consumidor em relação a

um produto/serviço, são rapidamente compartilhadas com seu grupo e, na esfera

virtual, essa proporção grupal se multiplica, indo além da sua rede de amigos em

virtude da facilidade na comunicação e envio de mensagens de forma instantânea. A

postura cada vez mais ativa da geração jovem do século XXI e sua relação natural

32

Disponível em: <http://www.fecra.edu.br/admin/arquivos/ebookmidiassociais.pdf>. Acesso em 23 de Nov. 2011.

Page 49: 124212_pesquisa de Tendencias

50

com as mídias sociais, fez surgir um novo tipo de relação entre mercado e

consumidor – este último passa a ter voz e influência na rede virtual e fora dela.

Com as redes sociais, que constituem os sites mais populares entre os jovens

e adolescentes, o consumidor se torna então uma espécie de porta-voz,

compartilhando informações de caráter pessoal e/ou relacionadas a produtos e

empresas. Com uma linguagem informal, expressa opiniões, gostos, críticas e

preferências interagindo assim, com indivíduos que são atraídos a partir de uma

identificação com os conteúdos expostos.

Essa postura do consumidor se consolidou com a chegada dos blogs: sites

que permitem atualizações rápidas de conteúdo no formato de artigos ou posts –

nome dado às postagens ou publicações. No início, esses sites funcionavam como

uma espécie de diário virtual, no qual os usuários, geralmente jovens e adolescentes

publicavam e narravam idéias e fatos de suas vidas pessoais. Mais tarde, as

empresas vão aderir à ferramenta como estratégia para estar na mídia e se

comunicar de forma mais direta com seus clientes, monitorando seus gostos e

preferências. Os blogs, na maioria dos casos gratuitos, se popularizaram a partir do

ano 2000, pela facilidade de uso e administração da ferramenta, tendo como

característica maior a interação entre os usuários e visitantes das páginas, através

da inserção de comentários que acabam por gerar fóruns de discussão na própria

página.

Essa capacidade interativa caracteriza a chamada Web 2.0 (texto, vídeo e

áudio compartilhados). Para Agis (et al, 2001, p. 322)33, “a Web 2.0 é a designação

para esta interação não passiva com as tecnologias da informação e o mundo

digital, em que produzimos os produtos e serviços que consumimos. Milhões de

utilizadores transformaram-se em criadores de conteúdo digital”.

O fenômeno dos blogs, como ferramenta importante de comunicação, chamou

a atenção das empresas, que perceberam o poder de influência dos internautas,

seja como usuário, consumidor, produtor de conteúdo e/ou comunicador, podendo

assim, contar com sua participação e colaboração em benefício da sua corporação.

Hoje, grande parte das empresas contam com um blog corporativo, usando a

33

Disponível em: <http://www.atp.pt/fotos/editor2/Ficheiros%202011/Vestindo%20o%20Futuro,%20ver%20Port.pdf> Acesso em: 15 de Nov. 2011.

Page 50: 124212_pesquisa de Tendencias

51

ferramenta como estratégia de marketing no cotidiano da empresa, se inserindo

também em outras redes sociais como Twitter, Orkut, Facebook, Second Life, entre

outras. Essa ação se torna cada vez mais eficaz como estratégia de marketing,

numa forma de estar constantemente na mídia, se comunicando e estreitando a

relação com o consumidor.

Nesse contexto, surge uma figura essencial, que na contemporaneidade

ganhou influência e poder aos olhos do mercado: o blogger ou blogueiro,

denominação dada à pessoa que administra o blog. A força desse sujeito se

consolidou com a explosão dos blogs de moda, que se encontram cada vez mais “na

moda” na Web. Hoje, ser blogueiro já é uma profissão, entre tantas outras que

emergiram com a Internet. Ganhando força na esfera virtual, esse profissional,

adquire reconhecimento fora também fora dela.

O fenômeno dos bloggers é um caso à parte. São um fenômeno novo e diferente e, por isso são observados com curiosidade e interesse pelas marcas. Alguns habilmente galgam posições até o front row dos principais desfiles das Semanas de Moda, a toque de hábil autopromoção e certificando milhares de visitantes nas suas páginas. Em alguns casos são convidados pelas marcas para colaborar no seu marketing, como é o caso de Scott Schumam, fotógrafo e autor do conceituado blog The Sartorialist. (AGIS, et al., 2001, p. 368 - 369

34)

Os blogs de moda na Web representam um número significante, que tende a

crescer cada vez mais. Neste segmento destacam-se os brasileiros, Garotas

Estúpidas, Dia de Beauté, Com que roupa eu vou, Oficina de Estilo, Agora que sou

rica, Fashion Bubbles e o Paloblog, da jornalista de moda Erika Palomino. Na lista

dos blogs estrangeiros, os americanos Lookbook.nu e The Sartorialist, o

Facehunter, do suíço radicado na França Yvan Rodic e o alemão Stil in Berlin, estão

ente os mais influentes.

O público infantil e adolescente constitui grande parte do time de blogueiros

na Web. Um caso famoso é o da blogueira mirim Tavi Gevinson, que criou o blog

Style Rook, aos 11 anos e ganhou notoriedade na mídia e no mundo fashion, dois

anos depois. Requisições para desfiles de moda, inclusive os de Alta-Costura, como

Chanel e Dior, convites de revistas de moda e participação em editoriais, além da

grande aparição pública, mostram claramente a força dos bloggers.

34

Disponível em: <http://www.atp.pt/fotos/editor2/Ficheiros%202011/Vestindo%20o%20Futuro,%20ver%20Port.pdf> Acesso em: 23 de Nov. 2011.

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52

Uma vez que o fenômeno dos blogs alcançam crianças e adolescentes – um

público de caráter cada vez mais virtual – percebemos claramente a grande força

motora que se tornou a internet, ao estimular novas formas de interação social,

novas linguagens, comportamentos e valores, transformando modelos econômicos,

sociais e culturais, numa sociedade que se torna cada vez mais dependente dessa

ferramenta, tendência que se mostrará de forma cada vez mais acentuada nos

próximos anos, com o crescimento das gerações conectadas e o surgimento de

outras que nascerão sob a égide da comunicação global, multicanal e

compartilhada.

4.2 Tendências de comportamento na internet

O advento da internet, as novas ferramentas de comunicação e modelos de

difusão das informações sugerem comportamentos cada vez mais inéditos na Web,

à medida que surgem ferramentas que proporcionam diferentes e inovadoras formas

de interação e compartilhamento de conteúdos. A pesquisa de tendências de

comportamento e consumo na esfera virtual, têm se mostrado eficaz, uma vez que

ela possibilita ao pesquisador o acesso a um grande número de informações

variadas, que podem ser facilmente segmentadas, além da possibilidade de

interação com os grupos e/ou indivíduos que são alvo de pesquisa.

Comportamentos iniciados na Web e transferidos para o mundo “real” ou vice-

versa, dão indícios claros da relação da sociedade – os jovens em especial – com os

meios de comunicação, com destaque para essa ferramenta. O fato de que muitos

movimentos sociais, culturais e até de caráter revolucionário, se iniciam na esfera

virtual, ganhando proporções e repercussões gigantescas, só vem a refletir a força

midiática e codificada da internet. A observação e análise permanente de conteúdos

online e a interpretação correta dos sinais observados constituem uma preciosa

fonte para captar o “espírito” do tempo, os desejos e anseios da geração jovem,

catalisadora potencial de mudanças, apontando assim, tendências futuras de

comportamento.

No entanto, Caldas (2006) defende que a pesquisa de tendências

prospectivas, deve ser tomada com base em tendências de fundo, ligadas aos

valores compartilhados pela maioria, que correspondem a uma finalidade ou objetivo

desejado pelo coletivo, devendo ser monitorados de forma permanente, devido ao

Page 52: 124212_pesquisa de Tendencias

53

caráter dinâmico da sociedade pós-industrial, que transforma constantemente esse

quadro de valores.

As tendências de fundo, também conhecidas como macrotendências, ou

ainda, megatendências, constituem um maior impacto sociocultural, e, por isso,

constituem os primeiros sinais de mudanças na sociedade, designando

comportamentos e estilos futuros, mudando a forma de pensar do coletivo em

determinado período. Nesse caso, podemos citar a questão da sustentabilidade e a

preocupação com o meio ambiente que permeia a sociedade. Já as

microtendências, ou tendências de curto prazo, apesar da influência no

comportamento dos indivíduos, causam um impacto menor e são substituídas de

forma mais rápida. Em síntese, a classificação dessas tendências dizem respeito ao

seu ciclo de vida: “tendências de fundo são aquelas que influenciam o social por

longos períodos de tempo, enquanto tendências de ciclo curto identificam-se com os

fenômenos passageiros da moda.” (CALDAS, 2006, p.109).

Na década de 1990, Faith Popcorn, conhecida como “gênio do marketing”

publicou um relatório, O relatório Pop Corn (1993), com 10 tendências de

comportamento de consumo, que, segundo a autora, teriam a validade de no mínimo

dez anos. À frente da Brain Reserve, sua empresa de consultoria em marketing

fundada em 1974, se tornou figura respeitada nesse mercado.

As tendências listadas foram intituladas: Encasulamento, apontando a

tendência de se passar mais tempo em casa, numa espécie de refúgio contra a

violência urbana, entre outros fatores; Aventura da Fantasia, indicando o desejo de

percorrer caminhos novos e excitantes, porém, com a sensação de segurança;

Pequenas Indulgências, onde o consumidor, cansado, vai se permitir pequenos

luxos numa espécie de recompensa; Egonomia, o “eu” como centro das atenções;

Sair Fora, num ritmo de vida acelerado, os indivíduos vão buscar uma vida mais

simples; Volta ao Passado, marcada por uma reinterpretação da idade e do

envelhecimento; Sobreviver, valorização da saúde em prol de uma vida longa;

Consumidor Vigilante, um postura mais exigente do consumidor, que passa a

investigar a qualidade dos produtos; 99 Vidas, o indivíduo vai assumir vários papéis,

no ritmo alucinante do dia-a-dia; Salve o Social, uma conscientização de valores

ligados à ecologia, ética e educação. (POPCORN, 1993)

Na tendência denominada “Encasulamento”, Popcorn, defende que os

indivíduos vão se refugiar em casa, passando mais tempo em suas residências por

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54

motivos como: a violência nas ruas, o trabalho à distância com o avanço da

tecnologia de informação – lembrando que nos anos 1990, popularizou-se a internet

– os serviços delivery, as reuniões íntimas com amigos e outras formas de lazer em

casa. Sobre essa tendência, Caldas afirma:

Mas, passados mais de dez anos, o quadro é bem outro. Vejamos o que se passa em São Paulo, de modo panorâmico: a indústria do lazer sofisticou-se, bares e restaurantes multiplicam-se a olhos vistos; os jovens, que nunca deixaram de sair para a balada, inventam o nomadismo noturno, fazendo longas peregrinações por diversos lugares, na mesma noite; a terceira idade torna-se mais ativa e diversifica suas atividades fora de casa; sair para fazer compras em determinadas ocasiões transforma-se numa forma de lazer, mais do que em satisfação de necessidades. A conclusão é que uma tendência que se referia ao presente, nos anos 1990, transformou-se em meia verdade hoje. (CALDAS, 2006, p. 40).

Nota-se nesse contexto, outra variável a ser considerada na prospecção de

tendências, cada vez mais presente na sociedade híbrida contemporânea: o

conceito de contratendência, em relação a uma tendência em voga. Em outras

palavras se trata da sinalização de comportamentos e movimentos opostos de forma

simultânea. Como exemplo, podemos citar o movimento slow food, que reúne

pessoas a nível mundial em prol da preservação da biodiversidade e da qualidade

dos alimentos, promovendo a apreciação da gastronomia e o prazer da alimentação,

de forma a mudar os hábitos alimentares do fast food, que na tradução literal, indica

“comida rápida”, caracterizado por lanches rápidos - geralmente sanduíches,

empanados e batatas fritas, acompanhados de refrigerantes e milk shakes – que

não constituem uma alimentação saudável, mas, é amplamente adotado pelos

indivíduos como forma de “ganhar tempo” diante do acúmulo de tarefas do dia-a-dia.

Sobre esse caráter contraditório, Popcorn (1993, p. 23) afirma: “se as tendências

parecem contradizer-se, é inevitável. As tendências apenas refletem os estados

futuros dos consumidores e os comunicadores são seres humanos – cheios de

contradições”.

A partir dos conceitos de tendência apresentados e, considerando o momento

atual do mercado, as novas formas de comunicação, interação e negócios na Web,

a postura do consumidor autor e ainda a sua relação com produtos de moda, meu

estudo tem como foco a análise de duas tendências de comportamento e consumo

de moda na internet, sinalizadas por Popcorn na década de 1990, intituladas: “Volta

ao Passado” e “Aventura da Fantasia”. O objetivo é constatar a realização dessas

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55

tendências na contemporaneidade e compreender de que forma têm se manifestado

na internet.

As duas tendências foram escolhidas para análise por apresentarem questões

diretamente ligadas ao comportamento e consumo de moda na era Google, foco do

presente trabalho, além de serem temas bastante discutidos na atualidade. A

primeira tendência “Volta ao Passado” sugere uma análise de caráter mais

comportamental e a segunda, denominada “Aventura da Fantasia” proporciona uma

abordagem mais mercadológica ainda que seja um reflexo de novas posturas do

consumidor.

Tendência I – Volta ao Passado

Blog – Advanced Style

Página na Web - http://advancedstyle.blogspot.com

Segundo Popcorn (1993, p. 52) a tendência denominada “Volta ao Passado”,

refere-se ao comportamento de negação às limitações tradicionais da idade por

parte da geração baby boom a caminho da terceira idade, numa forma de “redefinir,

para menos, o comportamento adequado a sua idade”. Essa nova interpretação do

envelhecimento - postura que na contemporaneidade se mostra cada vez mais forte,

uma vez que os baby boomers já estão com mais de 60 anos - está intimamente

ligada à preocupação com o bem-estar, à saúde física e mental, à longevidade e ao

prazer de desfrutar momentos e experiências não realizadas na juventude, seja por

falta de tempo ou ainda pela influência de questões culturais, numa sociedade que

se projeta cada vez mais na juventude como símbolo de liberdade e felicidade.

Esse comportamento dos sêniors, palavra de origem latina que significa

“idoso”, está presente em indivíduos dos dois sexos, que valorizam a vivência com

filhos e netos, numa troca de experiências com gerações mais jovens.

São os boomers americanos que não aceitam os valores e comportamento típico da terceira idade e que redescobrem e lançam os valores das suas utopias de juventude, filtradas pela experiência e pela maturidade alcançada. A afirmação desse grupo implica a definição de uma estética completamente nova e regenerada: informal, juvenil, energética e psicodélica (MORACE, 2009, p. 25).

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56

O fator “ser ou parecer jovem” se sobrepõe atualmente ao desejo de status e

poder aquisitivo na medida em que os valores se voltam a questões mais ligadas á

criatividade, à essência, a uma busca acentuada de novas sensações, como fator de

auto-realização. Apesar do imperativo absoluto das mudanças físicas e das diversas

formas de se tentar retardar o envelhecimento, através da indústria cosmética e

cirurgias plásticas, o que se valoriza nessa tendência é a maturidade, não de forma

rígida, mas, amparada pela experiência de vida e assim, mais livre e consciente.

Esse caráter livre se sintetiza numa redefinição da idade, sempre para menos, onde

a casa dos 65 anos não mais representam o início do fim da vida, mas o início da

sua segunda metade. Essa redefinição se baseia na liberação e negação parcial das

responsabilidades da idade madura, numa volta impulsiva aos tempos leves e

divertidos da infância. (POPCORN, 1993)

É nesse sentido que se baseia a relação de troca e compartilhamento de

experiências culturais e materiais entre indivíduos de gerações distintas.

O Compartilhar da Idade marca o trajeto complementar que aproxima cultura e psicologicamente sujeitos que pertencem a diferentes gerações e que através de algumas expressões da cultura material – principalmente a alimentação e o turismo ou, por exemplo, os produtos de vestuário da Gap ou Uniqlo que propõem modelos para todas as idades – chegam a compartilhar uma experiência comum, com o objetivo de efetiva troca energética entre a sabedoria e o frescor vital. (MORACE, 2009, p. 19).

Eco (1989, p. 45 - 46), ao discorrer sobre esse processo de jovialização da

sociedade adulta, faz uma relação com a moda “livre” da geração jovem e com a

publicidade que, segundo ele, apresenta um mundo imaginário, voltado para a

felicidade e exclusão da necessidade em confronto com a realidade, como se esse

mundo apresentado fosse de fato, real.

Aprendeu-se a consumir sob a orientação da publicidade: em breve espaço de tempo todos estavam prontos para um estilo de vida diferente, mais alegre, mais descomprometido, mais atento aos pormenores e aos decretos das modas. A moda dos mais jovens chegou, portanto num momento favorável: não só para se afirmar independentemente, mas também para pôr em acção um processo de condicionamento em relação à moda adulta, empenhada, hoje, aos que nos parece, exactamente em tentar atingir um compromisso entre as instância inovativas e o permanecer de um certo controle social.(1989, p. 45 - 46),

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57

A nova postura do consumidor da terceira idade e o advento de novas mídias

e meios de comunicação na atualidade sugerem novos comportamentos dessa

geração que leva para a Web suas atitudes experimentais e criativas. Um exemplo

atual dessa afirmação é o blog Advanced Style. Criado pelo americano Ari Seth

Cohen, o blog reúne fotos do público sênior – a maioria do gênero feminino –

mostrando o visual estiloso e criativo dessa geração. Ari percorre as ruas de Nova

York em busca de senhores e senhoras que chamam a atenção pela ousadia,

elegância e irreverência no modo de se vestir, no corte de cabelo, na combinação de

acessórios e em detalhes diferentes e expressivos. Suas fotografias,

disponibilizadas no Advanced Style, chamaram a atenção da mídia e de público.

Hoje, o blog que é atualizado constantemente, conta hoje com cerca de 6.429

seguidores35, e o sucesso que se tornou a página na Web, deu origem ao livro de

nome homônimo, que será lançado em 2012.

Ilustração 1: Layout do blog Advanced Style (na foto: Ari, criador do blog e Mimi Weddell

Fonte: http://advancedstyle.blogspot.com

Na apresentação do blog, disponível na própria página, seu criador explicita:

“Respeite os mais velhos e deixe essas senhoras e senhores ensinarem algumas

35

Seguidores são os internautas visitantes que literalmente seguem o blog, facilitando o acompanhamento dos conteúdos disponibilizados. A quantidade de seguidores informada foi retirada do próprio blog (Advanced Style).Disponível em: <http://advancedstyle.blogspot.com> Acesso em 10 de Nov. de 2011

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58

coisas sobre viver a vida. Advanced Style oferece prova de que o estilo avança com

a idade”. Em uma entrevista publicada no site do programa GNT Fashion36, no dia

18 de outubro de 2011, Valerie, umas das senhoras clicadas para o blog, afirma:

“Queremos que as marcas, as pessoas e os estilistas saibam que estamos aqui!

Somos pessoas que precisam ser ouvidas e nesse meio tempo nos divertimos

muito!”. Valerie administra um blog com conteúdo de moda e estilo, chamado

Idiosyncratic Style, em parceria com Jean, outra senhora estilosa, clicada para o

Advanced Style. Na mesma entrevista, o criador do blog, afirma que os senhores

fotografados são espirituosos e o inspiram na moda e na forma como ele quer viver

a vida e lidar com a idade.

Ilustração 2: Valerie e Jean (do blog Idiosyncratic Style), clicadas para o Advanced Style Fonte: http://advancedstyle.blogspot.com

O novo espírito criativo emergente entre os indivíduos com mais de 65 anos,

afasta gradualmente a idéia do aposentado tranqüilo – imagem arquitetada nos anos

36

Disponível em: <http://gnt.globo.com/gntfashion/noticias/Blog--Advanced-Style--retrata-velhinhos-estilosos.shtml>. Acesso em 10 de Nov. de 2011.

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59

80 e 90 – e mostra um novo destaque desses consumidores no mercado e, no que

se refere a produtos de moda, o gosto cultivado baseia-se mais na sabedoria e

qualidade de consumo que na velocidade de renovação de produtos e conceitos,

uma vez que essa geração não cria uma dependência de tendências de momento

ao fazer o mix do passado com o presente. (AGIS, et al., 2001, p. 214)

A postura juvenil, apresentada por Popcorn (1993) na tendência “Volta ao

Passado”, se confirma aqui através do caráter inovador das atitudes dessa faixa

etária, numa afirmação da idade e, ao mesmo tempo uma aceitação e adoção de

comportamentos até então, atribuídos à geração jovem. A relação bastante próxima

desses senhores com a moda - característica forte entre jovens e crianças – constitui

uma redefinição de valores sociais e culturais na contemporaneidade em que o

prazer de experimentar criativamente produtos e serviços e compartilhar

experiências se tornam prioridades.

Tendência II – Aventura da Fantasia

Site – Fashion.me

Página na Web - http://fashion.me

Explorações emocionantes, porém, seguras, caracterizam a tendência

"Aventura da Fantasia” projetada por Popcorn (1993). Para a autora, essa projeção

marca o consumo como um retiro transitório, numa espécie de catarse através do

consumo a partir do momento em que “procuramos alívio para o stresse com um

desespero criativo – escapando fisicamente para os nossos casulos, em busca de

conforto; escapando emocionalmente para as nossas fantasias, em busca de alívio”.

(POPCORN, 1993, p. 31).

A realidade virtual contemporânea, com ferramentas variadas que promovem

a interação, o compartilhamento, a construção de identidades e, o consumo, seja

através de redes sociais, jogos e outras atividades lúdicas, se torna o eixo central

para a aplicação dessa tendência: a internet oferece ao indivíduo diferentes - e

simultâneas - vivências, ambientes e narrativas sem exigir o deslocamento, e dessa

forma, passa a mensagem de “aventura” e segurança ao usuário.

Com o e-commerce, as empresas têm apostado em estratégias cada vez mais

criativas, inovadoras e até mesmo lúdicas, para “fisgar” o consumidor, ampliando o

conceito do comércio eletrônico ao inserir na página, conteúdos que vão além da

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60

simples apresentação do produto. Esses conteúdos podem aparecer no formato de

jogos, matérias rápidas, testes, sorteios, fóruns de discussão e outras ferramentas

relacionadas a ofertas e de interesse do consumidor, fazendo com que este passe

mais tempo conectado, e construa uma relação afetiva com a empresa ou o produto

em si.

No mercado eletrônico de moda, essa estratégia tem se mostrado cada vez

mais evidente, atraindo públicos de diferentes gerações. Para o público infantil,

destacam-se os jogos interativos onde a criança escolhe um avatar37 entre tantos

disponíveis e começa a produzi-lo com roupas, acessórios, maquiagem e outros

aplicativos. Jogos semelhantes, porém mais elaborados atraem o público

adolescente com informações adicionais sobre moda, tendências e estilo, conteúdos

que também fisgam o consumidor que já está na fase adulta.

Com essa proposta surgiu o byMK, uma rede social brasileira de moda e estilo

fundada em 2008, cujo nome foi recentemente alterado para Fashion.me, numa

estratégia para universalizar o site, criado pelos empresários Renato Steinberg e

Flavio Pripas. A página permite aos usuários criar looks através de milhares de itens

disponibilizados pelos parceiros do site – grifes e estilistas que, vêem na rede social

uma estratégia eficaz de publicidade. Outro serviço oferecido é a simulação das

peças em modelos virtuais, possibilitando uma noção de como é o caimento da

roupa no corpo. O Fashion.me conta ainda com uma revista virtual onde são

publicadas matérias e notícias sobre moda, tendências e estilo, conteúdo que pode

ser enviado á redação pelos próprios internautas. A partir da criação de uma conta –

gratuita – o usuário pode armazenar seus itens favoritos, numa espécie de “armário

virtual”.

37

Avatar é uma representação gráfica do ser humano ou boneco em realidade virtual.

Page 60: 124212_pesquisa de Tendencias

61

Ilustração 3: Layout do site Fashion.me Fonte: http://fashion.me

Reunindo um público variado, de diferentes faixas etárias e ainda profissionais

do setor, que têm em comum o gosto pela moda, o Fashion.me já atingiu cerca de 1

milhão de usuários (informação disponibilizada no próprio site), que consideram a

página virtual uma ferramenta eficiente para interagir com outras pessoas, além da

facilidade de atualização constante sobre tendências de moda e novidades no

mercado e ainda um jeito divertido de exercer a criatividade com a criação de looks.

Em entrevista à Revista Exame38, Flávio Pripas, um dos sócios da rede social

confirma investimentos no mercado externo, anunciando versões em inglês e

espanhol para o site. A respeito do novo nome, o executivo explica que: “Fashion.me

significa moda para mim, para minha expressão, para meu círculo de amigos”.

38

Disponível em: <http://exame.abril.com.br/pme/noticias/bymk-quer-ser-o-facebook-da-moda> Acesso em 10 de Nov. de 2011.

Page 61: 124212_pesquisa de Tendencias

62

Ilustração 4: Platatorma do site Fashion.me Fonte: http://fashion.me

Aplicando os conceitos de informação, interatividade, compartilhamento e,

estimulando experiências criativas, o Fashion.me constitui um ambiente ideal para o

consumidor autor contemporâneo uma vez que favorece “o design thinking do

consumidor, ou seja, a sua capacidade de escolher, interpretar, combinar livremente

serviços, produtos, estéticas. O novo mundo do consumo autoral” (MORACE, 2009,

p. 8). A tendência “Aventura da Fantasia” se materializa em sites como esse, que

permite ao consumidor, visitar diferentes estilos, criar novos mundos e identidades,

estimulando o consumo com a sensação de fantasia e bem estar de forma segura,

uma vez que pode ser transportado para mundos criativos e simultâneos sem sair de

casa.

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63

Considerações Finais

A sociedade contemporânea está cada vez mais plural, híbrida e complexa.

Impulsionada pelas novas tecnologias de informação e comunicação, vivemos a era

da oferta ilimitada, das redes de interação multiplicadas e da troca de informações

instantâneas. A Web promoveu uma revolução mundial e, ao democratizar o acesso

ao conhecimento, integrou em rede, um público assinalado pela diversidade,

estimulando a interatividade e o compartilhamento entre indivíduos de diferentes

culturas, crenças, idades e classes sociais.

O processo investigativo de tendências de comportamento e consumo de moda

com foco na internet, apontou a importância cada vez maior dessa ferramenta em

todas as esferas da sociedade. O estudo de duas das tendências listadas por

Popcorn - uma das questões que motivaram o presente trabalho – e a verificação da

sua realização na contemporaneidade, permitiu uma abordagem ampla sobre o

universo das tendências, uma vez que envolve o mercado, os métodos de pesquisa,

o consumidor e as novas ferramentas de comunicação, que, afetam diretamente no

sistema da moda, redefinindo suas formas de difusão.

Compreendeu-se que, a Web, como força motora da geração global e

conectada, se tornou uma ferramenta indispensável para o mercado de moda:

juntamente com as novas formas de difusão das informações e das tendências,

emergem comportamentos e práticas de consumo inovadores, demandando novos

métodos de pesquisa do sujeito-consumidor que adota posturas cada vez menos

segmentadas e mais direcionadas ao valor de “experiência” pessoal que se quer

atingir através do consumo.

Estar atento a essas mudanças, buscando identificar, além dos motivos, os

valores que as regem, numa visão ampla, analítica e reflexiva, se torna um desafio

em meio à simultaneidade dos sinais emitidos na sociedade. A pesquisa de

tendências prospectivas como forma de reduzir riscos às empresas no lançamento

de produtos no mercado, se vê diante de um paradoxo: ao mesmo tempo em que a

esfera virtual se torna uma aliada de pesquisa, permitindo, de forma facilitada, a

interação com os grupos observados, a mesma, dificulta a apreensão dos sinais que

podem fazer a diferença, uma vez que “tudo muda o tempo todo”.

Percebe-se então, a necessidade de otimizar os processos e métodos de

pesquisa de comportamento e consumo, a partir da realidade virtual contemporânea.

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Ao que se refere à pesquisa de tendências prospectivas, a investigação da

metodologia coolhunting, apontou para a ausência de estudos sobre esse método

ainda recente, merecendo uma atenção maior, a fim de se estabelecer métodos e

técnicas mais precisas e contribuir na sua difusão e reconhecimento no mercado.

O estudo da postura atual do consumidor, enquanto autor e ator de suas

escolhas movidas pelo desejo de realização e bem estar, através da experiência

criativa, indicou a necessidade de se ampliar a atenção para além da geração

jovem, considerando os vários grupos geracionais como sinalizadores de novos

valores predominantes na sociedade.

Outro fator observado como conseqüência das novas ferramentas de

comunicação, diz respeito à sazonalidade do sistema da moda - aplicada como

modelo estratégico de marketing por outros setores de bens de consumo. Percebeu-

se que o próprio ciclo da moda se vê ameaçado, pela rapidez em que se processam

e se saturam as informações.

A idéia de interatividade, informação e compartilhamento presente na Web,

redefine comportamentos de uma sociedade que está cada vez mais habituada a

levar para a esfera virtual, experiências e anseios do “mundo real”, e vice-versa,

uma vez que essas duas esferas não só se interligam, mas se complementam,

sobrepondo uma a outra de forma livre e constante. Dessa forma, antecipar

tendências de comportamento e consumo nos discursos cada vez mais efêmeros da

sociedade global e conectada se torna um imperativo de duas vertentes:

mercadológica e cultural, como é também o sistema da moda.

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