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11/10/2011 189 XIX 2ª Edição * Blitze na Lei Seca não inibem embriagados na capital - p.03 *Estado que não informar dado sobre crimes ficará sem verba - p.05

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11/10/2011189XIX

2ª Edição

* Blitze na Lei Seca não inibem embriagados na capital - p.03

*Estado que não informar dado sobre crimes ficará sem verba - p.05

estado de mInas - p. 4 - 10.10.2011 - coluna pela ordem

01

MÁBILA SOARES

O bebê que foi entregue à doação após a mãe assinar um documento autorizando o procedimento, logo após o parto, voltou para a casa, em Poços de Caldas, no Sul de Minas. Os pais da crian-ça brigavam na Justiça para reaver a guarda dela. Se-gundo o pai da menina, a mulher sofria de depressão pós-parto e se arrependeu da doação.

O promotor da Curado-ria da Infância e Juventude Eduardo Bustamante mos-trou parecer favorável à fa-mília biológica. No entanto, de acordo com ele, mesmo com o retorno da criança, o processo aberto para apurar se houve irregularidades na

separação da recém-nascida da família vai continuar. De acordo com Eduardo, o pro-cesso corre há aproximada-mente um mês, em segredo de Justiça. O casal já tem sete filhos, e a caçula nasceu no mês passado.

Ainda segundo o pro-motor, o pai da criança o procurou sob a alegação de que ambos não concordam com a doação. “O marido alega que não assinou do-cumento nenhum e que não autorizou a doação”, diz.

Separação. Segundo o processo, três dias depois do nascimento, o bebê foi leva-do para a casa da avó pater-na. Após o primeiro fim de semana em casa, a Justiça retirou da família a guarda da recém-nascida.

o tempo - p. 26- 11.10.2011

Borda da mata

Cassados ficarão na Câmara MunicipalA juíza eleitoral Mariza Porto con-

cedeu liminar para que três vereadores que tiveram os mandatos cassados em Borda da Mata, no Sul de Minas, perma-neçam no cargo até julgamento dos re-cursos pelo Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG). Os verea-dores são Luiz Carlos Pinheiro, Benedi-to Delfino de Mira e Vivalde Raimundo da Silva. Segundo denúncia do Ministé-rio Público, eles teriam usado verba pú-blica na campanha eleitoral de 2008. A acusação foi aceita pela Justiça da cidade na última terça-feira (4).

o tempo - p. 2 - 11.10.2011a parte

poços de caldas

Pais biológicos retomam guarda de bebê doado

02

JOELMIR TAVARESMesmo com as blitze da Lei Seca sendo feitas desde julho

deste ano, o número de motoristas embriagados que se envol-veram em acidentes de trânsito com vítimas cresceu em Belo Horizonte. De acordo com o Departamento de Trânsito de Mi-nas Gerais (Detran-MG), 229 inquéritos foram instaurados so-mente de janeiro a setembro deste ano, o que dá uma média de 25,4 casos a cada mês. Há dois anos, esse índice era de 17,2 investigações mensais. No ano passado, foram 296 processos (média mensal de 24,6).

Se forem considerados os acidentes sem vítimas, o núme-ro de inquéritos contra motoristas alcoolizados aumenta ainda mais. De janeiro a setembro deste ano, 694 apurações dessa na-tureza foram instauradas, o que dá uma média mensal de 77,1 investigações. Nas blitze da Lei Seca, a confirmação dos abu-sos. Em 36 dias de operações, entre 14 de julho e 9 de setembro, 429 condutores foram flagrados com sintomas de embriaguez. Os números apresentados ontem pelo delegado Ramon Sando-li, coordenador de operações policiais do Detran-MG, apontam para uma média de 12 flagrantes a cada dia de operação. Só entre a última sexta-feira e anteontem, 46 dos 420 motoristas parados estavam bêbados.

Apesar do aumento no número de inquéritos contra moto-ristas alcoolizados, nenhum envolvido responde a crime doloso - quando há intenção de matar - no Estado atualmente, de acor-do com o delegado Ramon Sandoli. Em caso de condenação, a pena varia de seis a 20 anos de detenção.O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) prevê que quem causa a morte de uma ou mais pessoas em acidente de trânsito deve responder por homicídio culposo - quando não há intenção de matar. Nesse caso, a pena é menor, variando entre dois e quatro anos de prisão. “Quando um motorista alcoolizado provoca acidente, o entendimento da Polícia Civil é que o infrator seja autuado por crime doloso, para que seja determinada uma pena mais severa”, explicou o delegado.O que ocorre, no entanto, segundo Sandoli, é que o Poder Judiciário, muitas vezes, rebaixa o crime para a categoria de culposo, o que impede a aplicação de punições mais pesa-das.A opinião é compartilhada pela delegada adjunta Andréa Abood, da Delegacia de Acidentes de Veículos do Detran-MG. “Quase sempre, o crime é descaracterizado pela dificuldade de se comprovar o dolo, ou seja, que o indivíduo assumiu o risco e as consequências de sua ação”.Inédito. O único caso em Mi-nas em que um motoristas responderam por crime doloso é o do empresário Ismael Keller Loth e do médico Ademar Pessoa Cardoso, acusados pela morte de cinco pessoas da mesma fa-mília, em Bicas (MG), durante um pega. Em abril de 2007, eles foram condenados a 12 anos de prisão. Atualmente, no entanto, eles estão em liberdade por decisão judicial.

crimes

Para delegado, só punição poderá “educar” motoristas

Na opinião do delegado Ramon Sandoli, coordenador de operações policiais do Detran-MG, o Código de Trânsito Bra-

sileiro (CTB) precisa ser revisto para que a sensação de impu-nidade ligada aos crimes cometidos por motoristas termine. “A polícia faz o que é possível para aplicar a lei, mas fica difícil ver uma punição mais severa quando a lei é tão branda”, afirmou.

Todos os condutores abordados nas blitze da Lei Seca são obrigados a soprar o bafômetro. Os que se recusam sofrem in-fração administrativa. Eles têm a carteira de habilitação apre-endida e são alvo de multa no valor de R$ 957, assim como os motoristas flagrados embriagados.

Se o teor etílico no sangue estiver acima de 0,34 mg/l, o motorista tem a habilitação recolhida por até um ano, perde sete pontos na carteira e responde a processo administrativo. Para ser solto, ele deve pagar fiança. O valor é definido pelo delegado e não pode ultrapassar R$ 6.000.

Para o promotor de Justiça Francisco de Assis Santiago, que acompanha casos de acidentes com motoristas embriaga-dos, os tribunais precisam ser mais firmes. “O crime é doloso. A pessoa assume o risco quando dirige depois de beber”.

Sandoli diz ficar espantado com o comportamento dos mais jovens flagrados nas blitze. “Eles abusam da bebida e da velocidade. Só a punição de verdade será capaz de educá-los”, opina. (JT)

Irresponsabilidade

Quatro mortos em dois dias Menor que matou amigos foi liberado;

atropelado em festa religiosa não resistiuCláudia GiúzaEspecial para O TEMPOOs abusos dos motoristas que simplesmente ignoram a lei

e assumem a direção de carros mesmo depois de ingerir bebida alcoólica deixaram um saldo de tragédias neste fim de sema-na em Minas. Ao todo, quatro pessoas morreram em acidentes provocados por motoristas com sintomas de embriaguez.

Em Carmópolis de Minas, no Centro-Oeste mineiro, onde um motorista promoveu um arrastão de atropelamento contra 21 pessoas, os testes confirmaram que José Ricardo Lourenço, 41, bebeu antes de atropelar os moradores que participavam de uma festa religiosa. Na manhã de ontem, José Gonçalves, 42, morreu no Hospital Pronto Socorro João XXIII (HPS), da capital, para onde tinha sido transferido.

O teste do bafômetro apontou 0,19 miligramas de álco-ol por litro de ar expelido pelo motorista. Até ontem à noite, José Ricardo permanecia preso na Delegacia de Polícia Civil de Lavras. A assessoria de imprensa da Polícia Civil informou, no entanto, que seria estabelecido o valor da fiança para que o motorista pudesse ser colocado em liberdade.

De acordo com a Polícia Militar, José Ricardo tentou des-cer uma ladeira, mas perdeu o controle da direção do veículo depois que atropelou duas pessoas e acelerou o carro na tenta-tiva de fugir. Durante a escapada frustrada, o condutor invadiu a praça e atropelou as outras vítimas. VespasIano

Em Vespasiano, na região metropolitana, o menor de 17 anos apreendido após bater com a van contra uma árvore e pro-

Trânsito.Apesar da fiscalização, inquéritos mensais contra alcoolizados passaram de 17, em 2009, para 25

Blitze na Lei Seca não inibem embriagados na capital Em cada um dos 36 dias de operação,12 pessoas em média foram flagradas

o tempo - p. 22 - 11.10.2011

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vocar a morte de dois amigos - Jimin Wallker Soares Vandes,17, e Bruna Daniela Correa Santos, 18 - foi liberado. Apesar de ter dito a policiais rodoviários que havia bebido antes de assumir a direção da van, o rapaz se negou a passar por exames no Ins-tituto Médico Legal (IML), conforme informado pela Polícia Civil. Apesar de ser inabilitado e da embriaguez, o adolescente irá responder a apenas um procedimento por ato infracional. O acidente aconteceu na madrugada de domingo, na MG-424. Os jovens voltavam de uma festa em um sítio na região. O ado-lescente perdeu o controle da direção e bateu em uma árvore. Segundo o policial rodoviário militar, Wander Orlandi, além de admitir a embriaguez, o menor contou que estava beijando a namorada quando perdeu o controle da direção.

O pai de Jimin, Geraldo Francisco Vandes, 39, ficou revol-tado ao saber da liberação do adolescente. “Enquanto eu tiver vida, vou lutar por justiça. Meu filho foi assassinado por ele. É um absurdo que tenham leis que permitam que um menor, que matou duas pessoas, não responda pelos seus atos”, desabafou. A Polícia Civil afirmou que está investigado as responsabilida-des do dono do veículo, Júlio César Costa Aires, 40, que teria alugado o carro.

advogado vai entrar com pedido de habeas corpus

O advogado Daniel de Castro, que defende o orçamentis-ta Anderson Luiz de Araújo Rocha, 37, afirmou que vai entrar com um pedido de liberdade provisória para o cliente. “Vou solicitar na Justiça a conversão para crime culposo”, disse o defensor.Anderson Rocha entrou na contramão na Via Ex-pressa, na noite do último sábado, e provocou a morte do au-xiliar administrativo Jeferson Dias Marques, 26, e feriu mais três pessoas. O corpo de Marques foi enterrado ontem.

Segundo o advogado de Rocha, seu cliente havia ido ao supermercado comprar cervejas e ingredientes para sanduí-che. O motorista foi autuado por homicídio doloso, quando há intenção de matar. Ele está preso no Ceresp São Cristóvão.

(CG)carla marques

“Quem usa o carro como arma é desumano”Carla Marques, irmã do auxiliar Jeferson Dias Marques,

26, morto no sábado em um acidente com um motorista com sinais de embriaguez, diz que a família vai exigir punição. Nesta entrevista, ela conta o drama da família.

Como vocês ficaram sabendo do acidente?Uma enfermeira do Samu me ligou e disse que meu ir-

mão tinha sofrido o acidente. Fomos ao local. Um bombeiro percebeu que eu estava mais calma e me disse que meu irmão estava morto e que eles não tinham conseguido tirá-lo do car-ro. Ele morreu na hora.Para aonde o seu irmão estava indo?

Ele tinha ido buscar a minha cunhada e os dois irmãos dela na rodoviária. Eles voltavam da casa de parentes no in-terior. Meu irmão tinha arrumado a casa e feito o jantar para recebê-los.

Quais eram os planos dele?Ele e minha cunhada tinham acabado de comprar um

apartamento. Eles iam aproveitar o feriado de amanhã para fazer a mudança. Eles moravam juntos e estavam programan-do se casar e ter um filho no ano que vem.

Qual é o sentimento da sua família diante dessa tragé-dia?

Queremos justiça. A gente sabe que o responsável não vai ficar preso. Quem tem dinheiro neste país nunca paga nada. Muita gente me disse que o assassino participava de um pega. O carro dele tinha air bag e ele não teve nenhum arranhão. Quem pagou foi o meu irmão, com a vida. Ele não bebia, era trabalhador e estava cheio de planos. A Justiça tem que existir e punir esse assassino. Ele nunca vai saber a dor que a minha família está sentindo. Quem usa o carro como arma, como ele fez, não tem nada a perder. Não se importa com a vida do outro, é desumano. (CG)

cont... o tempo - p. 22 - 11.10.2011

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Brasília O presidente do Conselho Nacional de Justiça (CNJ)

e do Supremo Tribunal Federal (STF), Cezar Peluso, de-cidiu ontem que a presidência do conselho também pas-sará a monitorar o trabalho das corregedorias dos tribu-nais nos Estados. Até agora esse trabalho é feito apenas pela Corregedoria Nacional de Justiça, comandada pela ministra Eliana Calmon.

A decisão foi tomada em meio à crise instalada após a publicação de uma entrevista em que Eliana Calmon apontou “gravíssimos problemas de infiltração de bandi-dos que estão escondidos atrás da toga” em protesto con-tra a possibilidade de o CNJ ter sua atividade limitada.

A mudança foi feita por Peluso após uma reunião com 15 corregedores dos 27 tribunais do país. A intenção é que os dados de processos contra magistrados sejam enviados também à presidência do CNJ, que vai disponi-bilizar as informações no site do órgão.

Segundo a assessoria de Cesar Peluso, a intenção da decisão é dar mais transparência ao trabalho de fiscaliza-ção realizado pelos tribunais nos Estados.

A previsão é que o novo sistema de consulta esteja disponível em pelo menos 15 dias.

Sem previsão. Já a ação que pretende limitar o poder do conselho de punir e fiscalizar juízes, na pauta do STF, não tem previsão de julgamento. O CNJ, criado para fa-zer o controle e garantir a transparência do trabalho dos magistrados, teve sua competência contestada em ação da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB).

A associação entende que o CNJ só deve agir se as corregedorias dos tribunais estaduais não forem capazes de investigar as eventuais suspeitas sobre magistrados.

Atualmente, as corregedorias dos Estados enviam mensalmente à Corregedoria Nacional de Justiça infor-mações sobre os processos de investigação de juízes. Esse procedimento vai continuar, mas entra no circuito também a presidência do conselho.

o tempo - p. 6 - 11.10.2011Judiciário.Intenção é dar mais transparência a trabalho dos tribunais

Peluso decide monitorar corregedorias estaduais Processos contra juízes serão disponibilizados na internet

Rio de Janeiro O governo federal deixará de repas-

sar verbas destinadas à área de segurança pública aos Estados que não informarem corretamente as estatísticas sobre a cri-minalidade, disse ontem o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.

Segundo ele, a decisão constará de medida provisória que será assinada pela presidenta Dilma Rousseff criando o sis-tema nacional de estatística e informação em segurança pública.

“Obrigaremos os Estados a repas-sarem informações dentro de um padrão metodológico que nos permita termos ci-ência, o mais próximo do tempo real, da ocorrência da criminalidade. Os Estados que não repassarem essas informações não receberão do governo federal verbas da segurança pública”, disse Cardozo.

Segundo o ministro, o país não dis-põe hoje de dados nacionais confiáveis para saber “onde e com que intensidade” ocorrem os crimes. Por isso, o Ministé-rio da Justiça precisa recorrer a estatís-ticas do Ministério da Saúde, que não são ideais para trabalhar em segurança pública - não distinguem, por exemplo, homicídios culposos e dolosos (quando

há a intenção de matar) e não mostram roubos. Além disso, eles são divulgados com defasagem de mais de dois anos. Os dados consolidados mais recentes, por exemplo, são de 2008.

Em evento na cidade do Rio de Ja-neiro, o ministro disse ainda que é pre-ciso investir nas polícias técnicas, para melhorar as investigações de homicídios e outros crimes. Ele também destacou a necessidade de combater a corrupção em todas as instâncias estatais, em especial na polícia e no Judiciário. Em relação à corrupção na polícia, Cardozo ressaltou que as corregedorias precisam perder seu “espírito corporativo” e punir os maus policiais.

projeto

Estatuto para segurança privada

Rio de Janeiro. O Ministério da Justiça prepara projeto de lei com um estatuto da segurança privada, informou o ministro da Justiça, José Eduardo Car-dozo. Segundo ele, é preciso criar novos critérios para as empresas de vigilância e garantir uma fiscalização mais eficaz

sobre o segmento. “Temos que ser bas-tante rigorosos no treinamento daquelas pessoas que atuam em vigilância priva-da”, disse.

Texto preliminar preparado pela Po-lícia Federal, órgão responsável pela fis-calização da segurança privada no país, está sendo analisado pela Secretaria de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça. O projeto ainda será encaminha-do à Presidência da República.

“A segurança privada tem um papel importante, mas tem que ser um papel muito bem marcado por regras, por nor-mas e por condições que possam fazer dela uma atividade segura e bem fiscali-zada pelo Poder Público”, acrescentou.

o tempo - p. 13 -11.10.2011Segurança.País não dispõe de informações para saber “onde e com que intensidade” ocorrem atos ilícitos

Estado que não informar dado sobre crimes ficará sem verbaAtualmente, o governo recorre a estatísticas do Ministério da Saúde

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o tempo - p. 4 - 10.10.2011 entrevista com Wadih damous

“Mas a verdadeira motivação da AMB, nesse aspecto, é o corporativismo

Como o senhor avalia o trabalho da ministra Eliana Calmon?

Entendemos que a mi-nistra Eliana Calmon vem desempenhando um trabalho excepcional à frente da corre-gedoria. Ela tem estabelecido um duro combate a eventuais práticas administrativas irre-gulares por parte de magistra-dos. A sua atuação tem sido marcante, mostrando que o CNJ, ao ser criado, veio pre-encher uma lacuna no sentido da necessária fiscalização no âmbito administrativo do Po-der Judiciário.

A corregedoria do CNJ possui hoje poderes excessi-vos?

Não concordo com essa afirmação. Os poderes da cor-regedoria do CNJ são naturais de uma corregedoria. A críti-ca dos senhores magistrados, pelo menos de alguns deles, é que a corregedoria nacional estaria ignorando a existência das corregedorias regionais. Estaria usurpando uma papel originário, inicial, das corre-gedorias regionais o que não procede. No nosso ponto de vista, a Constituição Federal, mediante a Emenda 45, dei-xou claro que há competência concorrente entre a corregedo-ria nacional e as corregedorias regionais. Nesse sentido, não há qualquer excesso de atri-buições por parte da correge-doria nacional.

Mas há algum elemento que possa justificar uma res-trição aos poderes do CNJ?

Não vejo. Espero que

o STF, ao apreciar a repre-sentação da Associação dos Magistrados Brasileiros, não interprete a Constituição no sentido da diminuição da com-petência da corregedoria. Essa é a expectativa da Ordem dos Advogados do Brasil e de toda a cidadania brasileira, como ficou claro quando da crise en-tre a ministra Eliana Calmon e o presidente do STF, Cezar Peluso.

O que move os magistra-dos nessa iniciativa contra a corregedoria nacional?

A magistratura merece o nosso respeito. Mas a ver-dadeira motivação da AMB, nesse aspecto, é o corporati-vismo. É não aceitar o CNJ, é vê-lo como um corpo estranho ao Poder Judiciário o que não é. Ele faz parte da estrutura do Poder.

O julgamento do STF so-bre a questão será isento?

Nós acreditamos que sem-pre, em qualquer processo, o STF age com isenção. Não pode ser de outra forma. É a nossa corte suprema e cabe a ela dar a última palavra a cer-ca de qualquer litígio. Creio que o STF julgará com sabe-doria.

Qual a consequência de uma eventual restrição à Cor-regedoria do CNJ?

Seria um retrocesso pro-fundo. Ao deixar ao bel prazer e ao sabor do vento das corre-gedorias regionais a aprecia-ção das denúncias de irregula-ridades por parte de magistra-dos restando ao CNJ somente a competência recursal , anda-

ríamos para trás. Isso configu-raria um enfraquecimento do Poder Judiciário, além de con-solidar uma imagem ruim.

As corregedorias regio-nais não têm condições de pu-nir juízes?

Ao longo de muitos anos, desde que comecei na advo-cacia, eu percebo críticas à omissão das corregedorias re-gionais no desempenho do seu papel. Sempre predominou no âmbito das corregedorias regionais um corporativismo que acabava fazendo com que os eventuais ilícitos não fos-sem apurados e a impunidade prevalecesse.

No caso de o STF decidir pela restrição dos poderes do CNJ, uma emenda poderia re-verter a situação?

Sim. Nós, da OAB do Rio de Janeiro, tomamos co-nhecimento de uma proposta de emenda à Constituição do senador Demóstenes Torres e resolvemos mobilizar a advo-cacia para um abaixo-assina-do que já conta com mais de 5.000 adesões. Esse projeto de emenda acaba com qualquer dúvida acerca da competência concorrente da corregedoria nacional.

O senhor concorda que há bandidos de toga?

A ministra tem um estilo próprio. Ela se expressa de forma veemente. Ela não ge-neralizou. Ela disse, em ter-mos fortes, candentes, que há juízes que praticam irregula-ridades e crimes como é co-mum em qualquer tipo de cor-poração. (Telmo Fadul)

06

Como o senhor avalia o trabalho da ministra Eliana Calmon?

Olha, a ministra Eliana Calmon é magistrada brasi-leira, associada nossa, e, por-tanto, merece todo o nosso respeito. Mas discordamos do modo como ela verbaliza aqui-lo que decorre da sua função: não pode haver generalização em matéria de atividade corre-cional. A atividade correcional não pode nem deve ser secreta, mas pode e deve ser discreta. Não cabe você transmitir para a população um sentimento de insegurança, como se houves-se uma generalização de con-dutas irregulares. Por isso, nós ingressamos no STF.

A corregedoria do CNJ possui poderes excessivos?

A atividade correcional do CNJ se assenta dentro de uma ordem constitucional vigen-te, tendo sido instituída pela Emenda 45. Por isso, ela deve procurar se harmonizar com esses conjuntos anteriores. Cada tribunal deve exercer a atividade correcional em re-lação aos seus juízes e desem-bargadores. Mas haverá hipó-teses em que o tribunal, como um todo, se verá impedido de julgar. Se houver essa suspen-são ou impedimento generali-zado, a atividade correcional do tribunal vai para o órgão de instância superior. A atividade do CNJ em matéria disciplinar tem de ser subsidiária: fun-cionar apenas quando a corte regional se omite ou não der seguimento ao procedimento.

Há algum elemento que possa justificar uma restrição aos poderes do CNJ?

Claro. Se os Estados in-vestem recursos públicos para criarem suas próprias correge-dorias, é ilógico você permitir que as corregedorias apurem ao mesmo tempo em que o CNJ o faz. É um desperdício de tempo e de recursos. O CNJ não teria como exercer a ativi-dade correcional sobre 16 mil juízes.

O que move os magistra-dos nessa iniciativa contra a corregedoria?

Eu apelo àqueles que nos criticam que leiam a inicial da ação por nós proposta. Não há nenhum sentimento corporati-vo. O que nos move é a defesa das instituições democráticas. Outro ponto que nos levou a mover a ação foi a possibilida-de de redução do prazo de de-fesa dos acusados de dez para cinco dias. Uma resolução não pode alterar a lei que organi-zou a magistratura. Muitos representam imotivadamen-te contra magistrados para se vingar, para reafirmar o poder de organizações criminosas. Temos que nos defender.

O julgamento do STF so-bre a questão será isento?

Será isento. Não temos nenhum interesse em destruir nada que foi construído.

Qual a consequência de uma eventual restrição nos po-deres do CNJ?

Por exemplo, o prazo para defesa vai continuar em dez dias. Penalidades criadas pelo

CNJ advertência, repreensão e remoção para juízes de 2º grau são coisas impossíveis. Imagine um tribunal com dez membros, vai remover o juiz para onde? Não tem como. Vamos voltar ao que já exis-tia. Se o magistrado de 2º grau comete uma falta, ele é apo-sentado compulsoriamente ou colocado em disponibilidade. Outro ponto: qualquer cidadão brasileiro pode reclamar dire-tamente ao CNJ, mas a apura-ção inicial será feita em nível estadual ou regional.

Mas corregedorias regio-nais não têm condições de pu-nir juízes?

A magistratura, assim como a aviação, não é infalí-vel. Mas, avião foi feito para voar e não cair. A magistratura foi feita para funcionar e não para cometer falhas. O núme-ro de processos que o CNJ tem, o número de queixas que há em todo o Brasil, a maior parte infundada, corresponde a 0,2% da magistratura. O res-to é todo muito correto e nada deve para o CNJ.

O senhor concorda que há bandidos de toga?

Na magistratura, no Mi-nistério Público e na advoca-cia trabalhamos com um fator que é chamado de confiança. Para que haja confiança, nós não podemos sair generalizan-do. Sempre que encontramos atividades irregularidades, de-vemos dizer onde estão, por quem elas foram cometidas e punir aqueles que as comete-ram. (Telmo Fadul)

entrevista com nelson calandra

“Não há sentimento corporativo. O que nos move é a defesa das instituições”

cont... o tempo - p. 4 - 10.10.2011

07

TELMO FADULBrasília Se dependesse apenas dos servidores públicos fede-

rais, o projeto de lei que cria a previdência complementar para o setor público já estaria arquivado. Eles não concor-dam com o ponto principal da proposta: a obrigatoriedade de contribuições extras para aqueles que desejarem apo-sentar-se com um benefício superior ao teto pago pelo Re-gime Geral da Previdência Social (RGPS) - fixado, hoje, em R$ 3.691,74, que é o recebido pelos trabalhadores da iniciativa privada.

Quando enviou a proposição ao Congresso, em 2007, o então presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, argumentava que o texto daria continuidade à reforma da Previdência - iniciada em 2003 com a Emenda Constitu-cional 41 - cujo objetivo era garantir os recursos necessá-rios ao pagamento de todas as aposentadorias e pensões.

Na justificativa do projeto, o Executivo alegava que a implantação da previdência complementar levará a uma “desoneração das obrigações da União”, já que os valo-res superiores ao teto do RGPS passarão a ser pagos pelas contribuições que os servidores farão a mais, e não pelo Tesouro Nacional. Com isso, o governo pretende “recom-por a capacidade de gasto público em áreas essenciais à retomada do crescimento econômico”.

Nesses três anos em que tramita na Câmara, o projeto passou apenas pela Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público, na qual recebeu parecer favorável, na forma de substitutivo, do deputado Silvio Costa (PTB-PE). O texto já foi encaminhado para a Comissão de Se-guridade Social e Família, mas ainda precisa do referendo das comissões de Finanças e de Constituição e Justiça. urgêncIa

O tema voltou a ganhar destaque porque chegou ao Congresso uma mensagem da presidente Dilma Rousseff em que solicita o regime de urgência para a matéria, de modo que, se não for votada dentro de 45 dias, passa a trancar a pauta. Com a manobra, a proposição precisará do voto de pelo menos metade dos deputados em plenário.

Para evitar que o texto seja aprovado como está, o Fó-rum Nacional Permanente de Carreiras Típicas de Estado (Fonacat) - instância que reúne entidades representativas dos servidores do Executivo, do Legislativo, do Judiciário, do Tribunal de Contas da União e do Ministério Público - prepara uma campanha de repúdio à iniciativa.

“O serviço público tem características diferentes da iniciativa privada: nós temos um limite para a remunera-ção, não dispomos de Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e, principalmente, para recebermos um aumento de salário, é preciso a aprovação de uma lei”, diz o presidente do Fonacat, Pedro Delarue, para explicar a resistência dos servidores em aceitar um teto para a apo-

sentadoria semelhante àquele do RGPS. defesa

Para Costa, servidor tem privilégios

Brasília Autor do substitutivo ao projeto de lei que cria a

previdência complementar para os servidores públicos fe-derais, o deputado federal Sílvio Costa (PTB-PE) garan-te que a proposta, além de “ajudar a sanear as contas da União”, ainda vai acabar com “privilégios” dos que hoje estão empregados na máquina pública.

“Por que o servidor público pode se aposentar com o vencimento integral e o trabalhador comum tem um teto?”, questiona o parlamentar, que lembra que o projeto não prejudicará os atuais servidores. “Só vai valer para aqueles que entrarem após a lei ou que optarem pelo regi-me complementar”, explica.

Costa atribui as críticas ao projeto ao “corporativis-mo”. De acordo com ele, algumas entidades “lançam bo-atos sem sentido” ao afirmarem que quadros qualificados preferirão a iniciativa privada. “O que o cara quer no ser-viço público é a estabilidade, é não ser demitido. E nisso nós não mexemos”. (TF)

déficit

Sindicalista culpa militaresBrasília.O presidente da Força Sindical, o deputado federal

Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), é um dos mais ferrenhos opositores ao projeto de lei que cria a previdência com-plementar para os servidores públicos federais. Quando o projeto de lei passou pela Comissão de Trabalho, o par-lamentar apresentou um voto em separado em que tenta demonstrar que a solução não acabará com o déficit da Previdência, que chegou a R$ 52,7 bi em 2010.

“Esse montante, porém, não se refere apenas aos gas-tos dos servidores civis, os únicos que serão alcançados pela previdência complementar”, declarou Paulo Pereira da Silva. Ele entende que o problema está no pagamento de pensões e aposentadorias de militares, que consumiu no ano passado R$ 21,4 bi. Como a contribuição previden-ciária dos militares foi de apenas R$ 1,8 bi, a participação do Tesouro chegou a 91,59% do valor total. “Por essa con-ta, os militares respondem por 37% do déficit de toda a previdência do setor público”, resumiu o deputado.

“Não dá para implementar um plano que resolva o problema pela metade”, disse Paulo Pereira da Silva, para quem “o governo precisa de uma solução que alcance tam-bém os militares e os servidores lotados no Distrito Fede-ral”. (TF)

o tempo - p. 4 - 11.10.2011Projeto.Novos servidores federais terão benefícios limitados ao valor recebido pela iniciativa privada

Teto para aposentadoria do funcionalismo vira polêmicaQuem quiser receber mais do que limite terá quer aderir a um fundo

08

São Paulo. Pesquisa da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomércio-SP) revela que 300 mil famílias paulistanas têm ao menos um integrante que já foi vítima de crime eletrônico. A fraude mais comum é o desvio de dinheiro de conta bancária, atin-gindo quase um quarto, ou 24,71%, dessas vítimas.

Em seguida, aparecem clonagem de páginas pessoais em sites de relacionamento e a não-entrega de produtos comprados, ambas com 15,29% das ocorrências. A “Pesqui-sa sobre hábitos dos paulistanos na Internet”, realizada em maio com mil entrevistados, foi divulgada ontem durante o 3º Congresso de Crimes Eletrônicos e Formas de Proteção,

em São Paulo. De acordo com o levantamento, compras indevidas cre-

ditadas em cartões de crédito já prejudicaram 14,12% das vítimas de crimes eletrônicos; enquanto o uso indevido de dados pessoais atingiram 12,94%; a clonagem de cartão, 7,06%; e as compras em lojas que não existem, 2,35%.

Sem boletim de ocorrência. Na divisão por gênero, 9,72% da população masculina afirma ter sido vítima de infrações eletrônicas, enquanto 7,28% das mulheres já se viram na mesma situação. Apenas 37,65% das vítimas regis-traram queixa na polícia, disse a entidade.

o tempo - p. 12 - 11.10.2011Pesquisa.Trezentas mil famílias em SP têm pelo menos uma vítima desse crime

Desvio de dinheiro de conta bancária é a fraude mais comum na internet

cont... o tempo - p. 4 - 11.10.2011

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