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22 a 24/10/2011 197 XIX * 2ª Edição * Vale-tudo na lei das ruas - p.04 * CNJ discute divulgação de nome de juiz sob suspeita - p.08

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22 a 24/10/2011197XIX

* 2ª Edição

* Vale-tudo na lei das ruas - p.04

* CNJ discute divulgação de nome de juiz sob suspeita - p.08

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ESTADO DE MINAS - p. 25 E 27 - 23.10.2011Vale-tudo na lei das ruas

Motoristas no celular, sem cinto, avançando sobre a faixa ou parados na calçada competem com pedestres que ignoram sinalização, em arriscado campeonato de afronta às regras do CTB

Flávia Ayer e Paula SarapuO sinal de pedestres ainda está vermelho quando

um mar de gente atravessa de forma sincronizada a ave-nida. O motorista do Uno passa logo depois, sem cinto de segurança, e, mais à frente, ainda se depara com vá-rios pedestres cruzando a via fora da faixa. Do outro lado, o condutor do ônibus que furou o semáforo que-rendo economizar tempo fica encurralado no meio da pista e se transforma em barreira extra para o trânsito. Pouco depois, o ciclista, apesar de ser obrigado a seguir a mesma sinalização dos carros, aproveita um momen-to súbito de tranquilidade no tráfego e, na contramão, faz uma conversão à esquerda, impossível para quem estivesse sobre quatro rodas. O mais impressionante de tudo isso é que as cenas acima não ocorreram em algum pouco fiscalizado cruzamento de periferia, mas em plena Avenida Afonso Pena, talvez o mais conhe-cido e teoricamente um dos mais policiados corredores de Belo Horizonte, que corta de norte a sul o perímetro da Avenida do Contorno, no Hipercentro. Pior: nenhum desses infratores foi multado.

Bastam cinco minutos na Praça Sete, centro ner-voso da capital, para suspeitar que o Código de Trân-sito Brasileiro (CTB), que em 2012 completa 15 anos, tem pouca validade no território cercado pela Serra do Curral. Difícil encontrar inocentes no trânsito da capital mineira. A pé ou motorizados, os infratores sempre en-contram álibis ao serem pilhados em alguma das infra-ções definidas pelos 341 artigos do código. E a maioria de fato se safa das punições. Mesmo assim, no primeiro semestre deste ano, segundo o Departamento de Trân-sito de Minas Gerais (Detran/MG), foram aplicadas 1.556.136 multas a motoristas de todo o estado, quase 450 mil infrações a mais que no mesmo período de 2010 (38% de aumento). Na capital, foram 585.674 multas, o que representa aumento de 52%, se comparado ao período entre janeiro e julho do ano passado, quando 384.771 autuações foram registradas.

Chama a atenção em Belo Horizonte o predomínio absoluto, nas multas anotadas por agentes, das punições por estacionamento irregular, o que denuncia a predile-ção pela fiscalização de carros parados, em detrimento das normas de circulação. Entre os 10 tipos de punição mais anotados em BH , dois são registrados em radares, dois são de caráter administrativo-burocrático e, dos seis restantes, quatro se referem ao desrespeito às regras para estacionar, que somam mais de 16% do total de 585,6 mil autuações registradas na cidade até agosto.

Com a sensação de impunidade, quem não é alcan-çado pela fiscalização se sente à vontade para justificar o desrespeito jogando a culpa, principalmente, sobre uma dupla que não pode se defender: a pressa e o pró-

prio trânsito. Mas há quem nem se preocupe com justifi-cativas, caso do motorista que conversa tranquilamente ao celular em plena Avenida Augusto de Lima, no Barro Preto, Região Centro-Sul de BH. Tamanho o envolvi-mento com a conversa, ele sequer repara na presença da equipe de reportagem, bem ao lado. Dividir a atenção entre o telefone e o volante é uma das principais causas de desrespeito ao CTB anotadas por agentes da Polí-cia Militar ou da Guarda Municipal em BH. A infração rendeu 71.126 autuações na cidade, de janeiro a agosto, segundo o Detran. O número representa 43,6% do total de infrações desse tipo em Minas e 12,14% das multas na capital.

InfraçõesAs dez mais em BH - (Jan/ago de 2011)Transitar em velocidade superior à máxima permi-

tida em até 20% 231.264 - Dirigir veículo usando telefone celular 71.126Estacionar em desacordo com a regulamentação

– Rotativo - 41.327Estacionar em desacordo com a regulamentação

– Vaga de carga e descarga - 22.394Transitar em velocidade superior à máxima permi-

tida entre 20% até 50% - 19.464Estacionar o veículo em locais e horários proibidos

- 17.855 Avançar o sinal vermelho - 17.786 Deixar de efetuar o registro do veículo em 30 dias

- 17.356 Não identificação do condutor infrator - 13.795Estacionar em desacordo com a regulamentação es-

pecificada pela sinalização - 12.281As dez mais em Minas Gerais - Jan/ago de 2011)

Transitar em velocidade superior à máxima permi-tida em até 20% - 452.399

Dirigir veículo usando telefone celular - 162.944Deixar de efetuar o registro do veículo em 30 dias

- 119.739Avançar o sinal vermelho - 1.352Estacionar em desacordo com a regulamentação

– Rotativo - 88.028Dirigir sem CNH ou permissão -70.932Deixar de usar o cinto de segurança - 61.749Estacionar o veículo em locais e horários proibidos

- 51.781Estacionar em desacordo com a regulamentação

– Vaga de carga e descarga - 49.941Transitar em velocidade superior à máxima permi-

tida entre 20% até 50% - 48.969*Fonte: Detran/MG

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Paula SarapuO sistema de mobilidade no Brasil se assemelha ao

de países como a Índia e o Paquistão, onde o ambiente urbano, em especial o trânsito, é moldado pelo caos. A avaliação é do doutor em planejamento de transportes Paulo Resende, professor da Fundação Dom Cabral. Para ele, toda metrópole vive o problema da falta de espaço para um trânsito fluente e, diante deste cenário, o ideal seria que todos respeitassem as regras para usu-fruir do espaço limitado. Na opinião de especialistas, o motorista e o pedestre são responsáveis pelo trânsito desgastante e a falta de fiscalização e punição severas favorece a desobediência.

“A falta de espaço cria não só o congestionamento das vias, mas do ambiente urbano. Não há lugar para estacionar, falta área para carga e descarga e também há pouco espaço para o pedestre. Esses elementos com-põem a mobilidade urbana e, quando há desprespeito, cria-se um clima de transgressão. Nós mesmos somos culpados pelo trânsito ruim”, alerta. Resende explica que o número de multas não é um indicativo de fiscali-zação de qualidade.

Ele lembra que, em BH, até o ano passado, a Guar-da Municipal era responsável pelas notificações, mas ainda havia discussões sobre a atuação da Polícia Mi-litar (por decisão judicial, a BHTrans foi proibida de multar desde dezembro de 2009), cujo convênio foi ampliado este ano. Diretor do Departamento de Enge-nharia Transportes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Nilson Tadeu Ramos Nunes concor-da. Ele diz que o aumento das multas está relacionado ao crescimento da frota de veículos e à quantidade de motoristas inexperientes nas ruas.

“As pessoas simplesmente perderam o respeito pela legislação. Se escondem atrás de vidros escuros para fa-lar ao celular, cruzam o sinal vermelho sem se importar se vão bater ou atropelar alguém, bebem e matam com o volante e respondem livremente”, diz Nilson. “Há fa-lhas no sistema, porque é mais interessante multar do que reprimir. Se há um número alto de infrações, é sinal de que o sistema não funciona.”

Nilson morou na Europa e lembra que as cam-panhas na Inglaterra, por exemplo, são permanentes, desde a infância. “Fala-se sobre a importância de se respeitar as regras de trânsito nos programas infantis. Aqui, não vemos isso e precisamos nos espelhar nas boas iniciativas. Lá fora, se você para o carro em local proibido, a fiscalização trava a roda do veículo e aciona

imediatamente o reboque.”Diante do fato de que o maior número de notifica-

ções ocorre com veículos parados, Paulo Resende, da Fundação Dom Cabral, avalia que esse tipo de fiscali-zação é uma tendência mundial, por facilitar o trabalho. “Com isso, o agente se desloca mais rápido e multa car-ros num espaço maior. O problema é que deveria haver equipes de rua nas várias situações, de olho também nas infrações cometidas por motoristas que estão circu-lando, avançando sinal ou travando o cruzamento.”

O especialista considera que o efetivo dos agentes de trânsito é pequeno diante da frota, e que a tecno-logia, capaz de complementar a fiscalização, também não recebe investimentos. Em Belo Horizonte, apenas 23 sinais de trânsito têm detector de avanço e eles são desligados durante a madrugada, para não expor o con-dutor à insegurança. “A fiscalização é precária e o uso de tecnologia é baixísimo. Essa combinação gera ine-ficiência e o que me assusta é que fica só na multa. A punição não assusta ninguém”, avalia ele.

Análise da notícia

Desvio na fiscalizaçãoRoney GarciaMudaram os responsáveis pelas multas, mas man-

teve-se a política que há anos norteia a fiscalização em Belo Horizonte. Quem vê a lista das 10 principais infra-ções na capital nota claramente a predileção dos fiscais por vigiar carros parados. Tanto que das seis punições mais aplicadas por agentes, quatro referem-se a esta-cionamento. Diante desses dados, pode-se pensar que o motorista da capital estaciona mal, mas é um exemplo ao dirigir. Basta uma volta pela cidade para provar o contrário. Afrontas às regras de circulação são vistas com frequência inversamente proporcional à presença de guardas ou policiais orientando o tráfego ou punindo maus motoristas. Com a retirada do poder de multar das mãos da BHTrans, criou-se a expectativa de que os fis-cais da empresa passassem a fazer com mais frequência o que sempre foi sua atribuição: organizar o trânsito. Pelo que se vê nas ruas, não passou de expectativa.

Realidade do asfalto prova Teoria Flávia AyerComprovar nas ruas de BH o que dizem especialis-

tas não é tarefa difícil. As infrações são cometidas em qualquer lugar a qualquer hora. Na Avenida Francisco Sá, no Bairro Gutierrez, Região Oeste da capital, por exemplo. Lá, por 30 minutos, o industrial Caetano Ilá-

Trânsito é culpa de todosEspecialistas apontam que caos no tráfego não pode ser atribuído apenas aos motoristas,

mas também é responsabilidade de pedestres imprudentes e de uma fiscalização falha

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rio Coelho, de 59 anos de idade e 37 de habilitação, deixou o carro em local onde nem parar é permitido. “Tinha que sacar dinheiro no banco e não encontrei vaga. Nesse caso, a quantia que iria pegar era mais importante que o valor da multa”, afirma o motorista, ao cometer infração grave, sujeita a punição de R$ 127,69 e à perda de cinco pontos na carteira.

Entre 2010 e 2011, as multas aplica-das em Belo Horizonte por dois tipos de estacionamento irregular saltaram posi-ções no ranking das dez principais infra-ções cometidas por motoristas. Até agos-to deste ano, de acordo com os dados do Detran, as notificações a condutores que pararam em locais e horários proibidos avançaram três posições, saindo do nono lugar para o sexto. No caso das multas para os que estacionam em espaços des-tinados a carga e descarga, elas ocupam a quarta posição. No ano passado, apare-ciam em quinto.

Parado em fila dupla na Rua Mato Grosso, no Barro Preto, o advogado Eval-do Viegas, de 70, é outro que põe a culpa o trânsito complicado. “Tem muito menos espaço na rua do que antigamente. Já fui multado várias vezes por estacionar em local proibido. É desagradável agir assim, mas a gente acaba passando por cima”, diz. Com o carro em cima do passeio da Avenida Francisco Sá, no Bairro Prado, na Região Oeste, Gabriel Oliveira tenta explicar que pôs o veículo na área de pas-sagem de pedestres para não atrapalhar o trânsito. “É melhor parar aqui no que pa-rar o tráfego. Só fui fazer uma manobra”, argumenta. EFEITO-cAScATA

Há casos em que um erro acaba ser-vindo de desculpa para outro. Poucos centímetros separam a picape do instala-dor Leandro, de 30, estacionada na Rua Rio Claro, no Prado, da esquina da via. O rapaz diz saber da regra que proíbe car-ros a menos de cinco metros da esquina, mas afirma que a vaga de carga e descar-ga já estava ocupada por carro de passeio. “Tem dia que a gente para no meio da rua. A correria é demais”, admite.

Vendedor de uma fábrica de luvas na Avenida Francisco Sá, também no Prado, Fábio Alves, de 29, concorda que nin-guém respeita as placas por ali. “Os ca-minhões chegam aqui para descarregar e têm a maior dificuldade. Chegamos até a colocar um cone em frente à fábrica para guardar vaga”, diz Fábio, reconhecendo que a atitude também contraria as regras de trânsito.

Na mesma avenida, o corretor de imóvel Paulo Rocha infringe as normas de trânsito e ainda questiona a sinaliza-ção. Com o carro estacionado em vaga para deficiente, ele conta que o espaço fa-zia sentido quando, há três anos, uma clí-nica de fisioterapia funcionava na casa em frente. “Já reclamamos com a BHTrans. Essas são, atualmente, vagas mortas, nin-guém usa. E, com a implantação de rota-tivos na Avenida do Contorno, a disputa dos carros no Prado ficou pior”, diz.

Infrações de quem está a pé

Apesar de as multas recaírem apenas sobre os motoristas, os erros no trânsito estão longe de ser exclusividade deles. Pe-destres parecem se esquecer de que, dian-te dos carros, são os mais fracos e abusam da imprudência. Nessa hora, a travessia é feita com crianças no colo, empurrando carrinho cheio de materiais e até mesmo com o apoio de muleta.

O aposentado Jairo Martins, de 78, desafia as dificuldades de locomoção e, com bengala, atravessa a Avenida Afonso Pena, no Centro de BH, na hora em que o sinal está aberto para os carros. “Não costumo fazer isso, mas assumi o risco, pois estou com pressa”, diz.

O motivo é semelhante ao apontado pelo balconista Emerson Oliveira, de 33, que empurrava carrinho de mão com ar-condicionado, ao atravessar na hora erra-da a Avenida Augusto de Lima, no Bairro Barro Preto, Região Centro-Sul. “Para quem depende do comércio, tempo é di-nheiro. Não dá para esperar”, diz. (FA)

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Angelo e Rosana HesselBrasília – O Judiciário está

barrando os abusos cometidos pelas empresas que administram programas de milhagem para aqui-sição de passagens aéreas. A reten-ção indevida de milhas devido ao cancelamento de cartão de crédito ou por adiamento da viagem, por exemplo, viola o Código de Defe-sa do Consumidor, no entendimen-to dos magistrados. Os clientes que vão atrás dos seus direitos têm vencido os processos na Justiça.

“Muitas pessoas que partici-pam desses programas de milha-gens não reclamam por falta de in-formação e porque acham que elas são bônus concedidos pelas empre-sas, como se fosse um brinde, mas não são. O preço está embutido na passagem adquirida, nos produtos comprados com cartões de crédito ou em qualquer outro que deu di-reito ao recebimento das milhas. O consumidor paga por isso”, afirma o presidente do Instituto Brasileiro de Estudo e Defesa das Relações de Consumo (Ibedec), Geraldo Tardin.

Para o Judiciário, a cláusula dos contratos que prevê perda au-tomática dos pontos acumulados

quando ocorre o cancelamento dos cartões de crédito, mesmo por ini-ciativa do consumidor, é abusiva e representa vantagem excessiva para a administradora. O Tribunal de Justiça de São Paulo determi-nou, no início do ano, o crédito das milhas acumuladas por um cliente que ingressou com ação judicial. De acordo com o acórdão dos desembargadores, as milhas inte-gram o patrimônio do cliente no momento em que ele paga a fatura do cartão.

O mesmo entendimento tem o Tribunal de Justiça do Distrito Federal, que reconhece o direito dos usuários à devolução da taxa de embarque de bilhete de viagem cancelada, à remarcação do voo ou à devolução das milhas. De acordo com as decisões dos tribunais, os clientes têm direito a remarcar pas-sagens dentro do prazo de um ano de validade, como ocorre nos voos adquiridos com dinheiro, mesmo que as milhas que geraram o bilhe-te tenham expirado antes da nova data da viagem. Os órgãos de de-fesa do consumidor recomendam o acompanhamento frequente do extrato para o usuário não ter sur-presas com débitos indevidos. Ele

também não deve aceitar práticas que o coloquem em franca desvan-tagem, como a recusa da compa-nhia a emitir nova passagem.

O bancário Flávio Andrade de Oliveira, de 34 anos, é cuidado-so em relação às suas milhas. Ele concentra todas as compras em um único cartão de crédito, transfere com frequência os pontos adqui-ridos para a companhia aérea e procura reservar a passagem com seis meses de antecedência. Mas, mesmo assim, enfrenta problemas. Integrante dos programas de mi-lhagem Tam Fidelidade e Smiles, Oliveira diz que as duas empresas demoram para contabilizar pontos de companhias parceiras. “Sempre tenho que reclamar, ligar para a central e ficar horas pendurado no telefone até resolver o problema.”

A Agência Nacional de Avia-ção Civil (Anac), responsável por regulamentar e fiscalizar o serviço de transporte aéreo no país, infor-mou que não tem autoridade para punir ou multar as empresas que cometem abusos. A orientação do órgão para o consumidor que se sentir lesado é se queixar no Pro-con e nos juizados especiais dos aeroportos.

SEU BOLSO

Justiça barra a farra das milhasPessoas que têm problema com programas de recompensa de companhias aéreas estão saindo vitoriosas nos tribunais

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ISTO é - p. 32 - 26.10.2011

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CARLOS ALBERTO RATTONDramaturgo e roteirista cinematográfico e de televisãoA corregedora de Justiça Eliane Calmon botou a boca no

trombone na imprensa nacional e arrepiou os cabelos e a toga de muita gente. Uma bomba explodiu no Poder Judiciário - este, um poderoso poder, até bem pouco tempo inatacável, no qual seus ilustres e togados representantes não são escolhidos pelo povo. São indicados por outro poder ainda maior.

A acusação da corregedora desequilibrou a balança de Tê-mis, a bela filha de Gaia e Urano, e provocou iradas reações dos togados do Supremo Tribunal Federal. É óbvio que ela, em alto e bom som, não se referiu à totalidade dos membros do Judiciário. Denunciou os corruptos, que não são exclusividade da Casa. Hoje, eles proliferam feito coelho em outras profissões. Locupletam-se na política, nas grandes empresas, nas igrejas, nas Forças Armadas e nas mais diferentes instituições. Nestes tempos de bandidos de toga, penso em personagens menos bem-vestidos do Poder Judici-ário. Lembro-me daqueles juízes e promotores de ontem que da-vam duro nas comarcas do interior. Uma gente especial que sem-pre trabalhou com a disposição e a força de um operário.

Meu pai, o juiz Luis Mourão Ratton, foi um desses. Menino, em Divinópolis e Peçanha, eu acompanhei o trabalho dele: saía cedo para o fórum, voltava tarde e se trancava em seu escritório em meio a pilhas e mais pilhas de processos. Isso, numa rotina de segunda a sábado, sem hora de acabar.

Naquele tempo, juízes e promotores contavam com muito pouco para atividades tão relevantes. Não tinham motoristas nem seguranças, não contavam com auxiliares competentes (não era exigido curso de direito nem mesmo para os delegados) e muito menos meios de comunicação com a capital eficientes. Só conta-

vam com um salário baixo e sempre atrasado. Era uma vida fami-liar apertada e de pouco dinheiro.

Mas meu pai e tantos outros superavam essas dificuldades com trabalho e fé na Justiça. Divinópolis era a terra dos ferrovi-ários que, em greve por melhores salários e melhores condições de vida, assustavam o governo do Estado, paravam os trens, in-terrompiam a circulação de mercadorias e pessoas. Eram greves de repercussão nacional. Rejeitavam qualquer mediador da capital e só aceitavam dialogar com meu pai, que dispensava o acompa-nhamento dos poucos “praças” da cidade e ia sozinho ao encontro deles. Mais tarde, em Peçanha, sofri com ameaças de morte contra meu pai que, sem medo, ousava botar na linha grandes fazendeiros e pistoleiros de ocasião. Tudo isso de forma anônima, sem grandes aparatos ou autopromoção. Era o feitio dele.

Certo dia, o governador Milton Campos disse para meu pai que ele precisava aparecer mais na capital porque quem não era visto não era lembrado. Homem de poucas palavras, meu pai res-pondeu que não queria ser visto para ser lembrado. Era um verda-deiro operário da Justiça.

Nos dias de hoje, ao saber que a maioria dos passageiros de “tours” transatlânticos são ministros, desembargadores, juízes, procuradores etc, me lembro de meu pai, juiz que deu duro a vida inteira. Ele datilografou centenas de processos em uma velha e surrada Remington, andou de ônibus ou jipe por estradas de terra, trabalhou mais de 12 horas por dia. Nunca usou uma toga, mas sempre acreditou numa Justiça igual para todos.

Tomara que, daqui para a frente, a bela deusa da Justiça tire a venda dos seus lindos olhos e saiba separar o honesto do deso-nesto. Com o devido e merecido rigor, pois é assim que se cumpre a lei.

O TEMpO - p. 18 - 22.10.2011Hoje, bandidos de toga, ontem, juízes de macacão

Ricardo Russeff - Prado Cenachi Aluno do 7º período de direito da Universidade Fumec

O Estado moderno não admite justiça feita pelas próprias mãos. Diante de conflitos de interesses e a partir da invocação das partes, o Estado deve definir o direito aplicável ao litígio. Apesar disso, é característica típica do ser humano o inconformismo perante única decisão. Há, ainda, a possibilidade de erros e falhas nos julgamentos do juiz-Estado na definição do direito.

A existência dos recursos baseia-se na atribuição de maior certe-za à aplicação do direito e a possibilidade do reexame da decisão por outro órgão, como forma de cessar a incerteza, conformar o espírito humano, minimizar a possibilidade de erros e, por conseguinte, pos-sibilitar o aprimoramento da jurisdição.

Sendo assim, para efetividade da prestação da tutela jurisdicio-nal, admitem-se remédios processuais que permitem o reexame de uma decisão judicial pelo mesmo órgão ou por outro hierarquicamen-te superior, quais sejam os recursos.

Para ser interposto, o recurso deve ser previsto em lei federal e, ao mesmo tempo, adequado à decisão que se quer impugnar. O Códi-go de Processo Civil enumera-os no artigo 406, podendo haver outros criados em lei especial, desde que federal, eis que a competência para legislar sobre o assunto é da União. Para cada tipo de ato judicial é cabível um único recurso, salvo contra os despachos e decisões sem conteúdo decisório, no qual não é justificado nenhum remédio.

Tem legitimidade para manejar recurso à parte sucumbente com a decisão judicial o representante do Ministério Público e o terceiro prejudicado.Em regra, recorre-se por escrito, salvo situações excep-cionais, como do agravo retido contra decisão proferida em audiência

de instrução e julgamento. Nesse caso, o agravo deve ser feito oral-mente e imediatamente.

Ademais, todos os recursos devem ser interpostos dentro dos prazos estabelecidos em lei, sob pena de serem considerados intem-pestivos. Com exceção do agravo e dos embargos de declaração, que devem ser movidos no prazo de 10 e 05 dias, respectivamente, o prazo para os demais é de 15 dias. Há casos, no entanto, em que os prazos recursais são dobrados. São aqueles que, por força de lei, são estabelecidos ao Ministério Público e órgãos públicos.

Aquele que recorre deve, na interposição do remédio, sob pena de deserção, comprovar o pagamento das despesas necessárias ao processamento. Implicará a deserção se, por ventura, o preparo for insuficiente e o recorrente não suprir no prazo de cinco dias. Além disso, é isento o pagamento de preparo no agravo retido, embargos de declaração e embargo infringentes, bem como se o remédio pro-cessual foi proposto pelo Ministério Público, Fazenda Pública ou be-neficiários da justiça gratuita.

Em princípio, os recursos podem ter dois efeitos básicos, quais sejam: o devolutivo e o suspensivo. Aquele, comum em todos, sig-nifica que o recurso devolve a apreciação da matéria impugnada, e este é o impedimento da eficácia da decisão recorrida, até o ulterior exame.

A parte sucumbente, portanto, inconformada com a decisão pro-latada, tem o direito de manejar o remédio adequado para que sua pretensão seja julgada e conhecida por juízes distintos. Para tanto, é necessário que a parte interessada tenha legitimidade para interpor o recurso adequado, previsto em lei, dentro do prazo e observando a forma e o preparo correspondente.

ESTADO DE MINAS - p. 02 - DIREITO & JUSTIÇA - 24.10.2011

Recurso no processo civil

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José Carlos Gonçalves - Xavier de Aquino De-sembargador do Tribunal de

Justiça de São Paulo (TJSP)Sei que é axioma do jornalismo que notícia boa é

notícia ruim, mas também sei que o jornalismo sério se preocupa em propiciar aos seus leitores a correta versão dos fatos, ensejando a todos, democraticamen-te, o sacrossanto direito de expor o seu ponto de vis-ta. Atualmente, têm surgido, de forma generalizada, manchetes na imprensa escrita, falada e televisada sobre “bandidos de toga”, diante de entrevista conce-dida pela ministra do Superior Tribunal de Justiça e corregedora do Conselho Nacional de Justiça, Eliana Calmon, dando conta que, frise-se, em todo o Brasil, na última década, tão somente 39 juízes foram inves-tigados em operações de grande porte levadas a efeito pela Polícia Federal, sendo certo que 31 deles foram denunciados à Justiça pelo MP, sete chegaram efeti-vamente a ser julgados e apenas dois foram realmente condenados.

Inicialmente, é bom que se diga que, efetivamen-te, não escrevo pelo Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, pois que não exerço nenhum cargo diretivo, mas sim como juiz de direito que, por 17 anos, integrou os quadros do Ministério Público do Estado de São Paulo como promotor e procura-dor de Justiça, e por quase 20 faz parte da magistra-tura bandeirante. Porquanto, me sinto profundamente ofendido pelos termos chulos utilizados na aludida entrevista e, como eu, milhares de magistrados impo-lutos que dedicam a vida ao Poder Judiciário, no afã de distribuir justiça, dando a cada um o que é seu com igualdade.

Faço parte da comissão examinadora do 183º Concurso de Ingresso à Magistratura do Estado de São Paulo e sei, muito bem, a tarefa árdua que está sendo escolher pessoas capacitadas para compor o Poder Judiciário. Registre-se que essa triagem de escolher juízes vocacionados para exercer a profissão é feita com muita acuidade, pois, ao longo da carreira que os candidatos pretendem abraçar, não raro terão que lidar com o crime organizado e, por vezes, deverão ter es-trutura psíquica para, ao receber ameaças, algo muito comum, não se desestabilizar de molde a interferir na entrega da prestação jurisdicional.

No início do aludido concurso foram 18 mil ins-critos e sei, porque ao meu tempo também passei por essa fase, que os candidatos durante o certame abdi-cam do convívio familiar, tiram férias para estudar, enfim, se estressam, objetivando sucesso na empreita-da. Existe uma verdadeira varredura jurídica e pessoal dos candidatos até a proclamação do resultado final, que, no presente concurso, se dará ao cabo de um ano e meio. Como se vê, a escolha de novos juízes é rigo-

rosa, e na carreira, como em toda profissão, existem os bons, a grande maioria, e os maus juízes, daí por que a mui digna ministra corregedora poderia – por-que é essa a sua função –, em homenagem aos juízes probos e honestos, nominar, em cada estado da Fede-ração, quem são os chamados magistrados corruptos ou, como se disse, “bandidos que estão escondidos atrás da toga”.

Também faço parte do Colendo Órgão Especial do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, que tem a missão penosa e constrangedora, entre outras, de julgar administrativamente seus pares. Posso ga-rantir que, aqui, os juízes que cometem pecadilhos e infrações graves são devidamente punidos, na medida em que a Egrégia Corregedoria Geral de Justiça tem ao longo da última década atuado bravamente, ao con-trário do que ficou genericamente alegado. É bem de ver que a composição do Órgão Especial do Tribunal de Justiça é de 25 desembargadores e nunca ocorreu falta de quórum para julgar e punir um colega.

De outro lado, é bem de ver que os processos ad-ministrativos disciplinares tirados contra juízes não fi-cam, como foi dito alhures, parados. No estado de São Paulo, nos últimos 10 anos, dos 159 processos instau-rados, 89 resultaram em punição, como se vê no qua-dro sinótico abaixo, sendo certo que em determinados casos graves, ad cautelam, o magistrado foi suspenso preventivamente até que, observado o devido proces-so legal, isto é, com as garantias da ampla defesa e do contraditório, se chegasse à devida punição.

Ao contrário do que muita gente pensa, o juiz de Direito não é um funcionário público comum, posto que, como em outros países, a magistratura é uma carreira de Estado e, por via de consequência, deve ter vencimentos condizentes, bem como proporcio-nar uma aposentadoria digna a seus membros. Essa garantia não é do juiz, mas sim do jurisdicionado, ao permitir que o agente do Poder Judiciário julgue demandas que, às vezes, envolvem milhões de reais, com tranquilidade. É ela, a magistratura, um verdadei-ro sacerdócio que impõe, aos juízes no início da car-reira, restrições inexistentes para um jovem comum. Nos mais longínquos rincões, muita vez, o magistrado que, não raro, sequer alcançou os 30 anos de idade, deve escolher os locais que frequenta, suas compa-nhias, e, no mais das vezes, acaba sozinho, o que lhe causa verdadeiras sequelas.

Portanto, em nome desse juiz que durante sua carreira passa muitas agruras neste país de dimensão continental, tem comportamento ilibado, devendo ser o fiador da cidadania, é que se baseia a voz do meu reclamo no sentido de que se nominando, a ministra, os maus juízes, conforme lhe cumpria, significaria se-parar o joio do trigo.

ESTADO DE MINAS - p. 01 - DIREITO & JUSTIÇA - 24.10.2011

Separar o joio do trigo

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