1 histÓria da hidroponia - hydor.eng.brhydor.eng.br/historia/c1-p.pdf · da torre de babel, ......

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Manual de Hidroponia C1 1 1 HISTÓRIA DA HIDROPONIA 1.1 -INTRODUÇÃO O cultivo de plantas sem solo, técnica agrícola conhecida hoje por Hidroponia, de- senvolveu-se ao longo dos anos a partir das experiências laboratoriais, levadas a efeito por cientistas determinados a identificar quais substâncias compõem as plantas, bem co- mo quais delas fazem com que essas cresçam e se desenvolvam. Esta técnica, a qual já é aceite por muitos como ciência, desenvolveu-se também a partir das pesquisas laboratoriais, sôbre nutrição de plantas. Os documentos conhecidos, mostram-nos que tais pesquisas têm seu início nos idos de 1600. Todavia, as plantas têm sido cultivadas sem solo, há muito mais tempo. Na verdade, desde que se iniciou a vida aquática em nosso planeta. O crescimento de plantas hidropònicamente nas águas de oceanos, rios e lagos, podemos dizer que datam do início da vida no planeta Terra. E porisso, podemos afirmar que as culturas hidroponicas, precederam as culturas no solo. A história da hidroponia, é como a árvore de raizes profundas. Com seu tronco firmemente ancorado no solo, mostrando sua copa exuberante, florescendo, frutificando e reproduzindo-se, esconde, no entanto, os mais recônditos locais onde busca seu alimento nas profundezas. As raízes dessa história vão desde a formação dos mares rios e lagos, à China an- tiga. Da Arábia à Grécia de Aristóteles. Da Babilónia aos Estados Unidos. Do antigo Egito ao povo Asteca. De Leonardo da Vinci a Joseph Priestley. De Robert Boyle a Fritz Haber. Enfim, da Idade Antiga à Idade Moderna, e desta até aos dias atuais. Para nosso pesar, extende-se nossa história da Primeira à Segunda Guerras Mun- diais. No entanto, corre da fria Rússia aos desertos do Norte da África, do nosso Planeta ao Espaço Sideral, e dêste, dentro em breve, para outros Planetas. Como já dissémos, a hidroponia, como técnica agrícola, nasceu dos estudos sobre a nutrição das plantas, razão pela qual é nosso entender, que tudo e todos aqueles que se relacionaram e ou relacionem com estes estudos, sejam parte integrante de sua histó- ria.

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HISTÓRIA DA HIDROPONIA 1.1 -INTRODUÇÃO O cultivo de plantas sem solo, técnica agrícola conhecida hoje por Hidroponia, de-senvolveu-se ao longo dos anos a partir das experiências laboratoriais, levadas a efeito por cientistas determinados a identificar quais substâncias compõem as plantas, bem co-mo quais delas fazem com que essas cresçam e se desenvolvam. Esta técnica, a qual já é aceite por muitos como ciência, desenvolveu-se também a partir das pesquisas laboratoriais, sôbre nutrição de plantas. Os documentos conhecidos, mostram-nos que tais pesquisas têm seu início nos idos de 1600. Todavia, as plantas têm sido cultivadas sem solo, há muito mais tempo. Na verdade, desde que se iniciou a vida aquática em nosso planeta. O crescimento de plantas hidropònicamente nas águas de oceanos, rios e lagos, podemos dizer que datam do início da vida no planeta Terra. E porisso, podemos afirmar que as culturas hidroponicas, precederam as culturas no solo. A história da hidroponia, é como a árvore de raizes profundas. Com seu tronco firmemente ancorado no solo, mostrando sua copa exuberante, florescendo, frutificando e reproduzindo-se, esconde, no entanto, os mais recônditos locais onde busca seu alimento nas profundezas. As raízes dessa história vão desde a formação dos mares rios e lagos, à China an-tiga. Da Arábia à Grécia de Aristóteles. Da Babilónia aos Estados Unidos. Do antigo Egito ao povo Asteca. De Leonardo da Vinci a Joseph Priestley. De Robert Boyle a Fritz Haber. Enfim, da Idade Antiga à Idade Moderna, e desta até aos dias atuais. Para nosso pesar, extende-se nossa história da Primeira à Segunda Guerras Mun-diais. No entanto, corre da fria Rússia aos desertos do Norte da África, do nosso Planeta ao Espaço Sideral, e dêste, dentro em breve, para outros Planetas. Como já dissémos, a hidroponia, como técnica agrícola, nasceu dos estudos sobre a nutrição das plantas, razão pela qual é nosso entender, que tudo e todos aqueles que se relacionaram e ou relacionem com estes estudos, sejam parte integrante de sua histó-ria.

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Também acreditamos, que as pesquisas e descobertas dentro da química inorgâni-ca e orgânica, que tiveram lugar nestes últimos séculos, estão ìntimamente relacionados com a hidroponia. Não é nossa intenção reescrever aqui a história da agricultura ou a história da quí-mica, porém, é de nosso entender que, faz parte do conhecimento do hidroponista, saber como começou e de onde vem a técnica que manuseia ou pretenda vir a manusear no seu cotidiano. Estamos cientes de que algumas vezes sairemos um pouco da linha histórica que pretendemos transmitir ao nosso leitor. Porém, nossa intenção é desfazer alguns mitos, ou então melhor transmitir fatos históricos não muito divulgados, e com isto, solidificar conhecimentos esparsos. Acreditamos ainda que conhecendo os fatos históricos que aqui relatamos, o hidro-ponista se tornará mais consciente das origens da técnica hidroponica, podendo assim valorizar ainda mais aquilo que está utilizando ou pretende vir a utilizar. Passará ainda nosso leitor a ter em mãos, informações que lhe permitirão defender esta tecnologia, ainda tão combatida por razões meramente comerciais ou por outras ori-undas do desconhecimento dos fatos reais que a ela deram origem Procuraremos também ilustrar nossas palavras, entremeando-as com imagens que colecionamos nestes últimos anos. 1.2 - O PASSADO Na época Antes de Cristo, a história relata-nos que os árabes cultivavam melões nos leitos secos e arenosos dos rios, irrigando-os com soluções de estêrco curtido, e o mesmo processo era utilizado na Índia, para cultivar pepinos, melancias e outras verdu-ras.

Fig. 1.1 Marco Polo (1254 a 1324)

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O cultivo do arroz na China, há milenios, é feito na água, e este processo foi-nos relatado com detalhes, nos diários do conhecido veneziano Marco Polo. Outro registro bastante antigo sobre o cultivo sem solo, é o dos Jardins Suspensos da Babilónia, os quais integram as Sete Maravilhas do Mundo Antigo. No entanto, temos nossas restrições a este registro, pois, até esta data, não pode-mos afirmar categòricamente que tais jardins tenham existido. Permita-nos o leitor que expliquemos nossos motivos para tal dúvida. É comprovado, seja por fatos históricos, seja por passagens Bíblicas, e mesmo por ruinas existentes até hoje, a existência de Babilónia, à margem leste do rio Eufrates, cêr-ca de 50 Km ao sul de Bagdá, no atual Iraque.

Fig. 1.2 Jardins Suspensos de Babilónia (Aquarela mostrando como poderiam ter sido)

Os documentos mais antigos, que datam de 3000 anos A.C., falam de Babilon, que floresceu no reinado de Hamurabi (1792 a 1750 A.C.). Babilon foi capturada pelos Hititas em 1595 A.C., os quais mantiveram controle so-bre a mesma, durante a dinastia Cassita, entre 1590 e 1150 A.C., época em que o nome da cidade foi mudado para Babilonia, tornando-se capital central, e mais tarde, também, centro religioso. Sòmente no reinado de Nabupolassar (625 a 605 A.C.), da dinastia Neo-Babiloniana, é que a Mesopotâmia atingiu seu maior expoente glorioso. Credita-se a construção dos jardins suspensos, ao filho de Nabupolassar, Nabuco-donosor II, que reinou entre 604 e 562 A.C.. Contam as histórias, que os jardins foram construidos para agradar Amyitis, a esposa ou concubina do rei, que "foi trazida para a cidade, da região das montanhas, e sentia muito tédio naquelas planícies arenosas". Nabucodonosor morreu em 562 a.C., antes de terminar os jardins, os quais sòmente foram concluidos em 600 a.C.

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O curioso é que, todos os fatos históricos destas épocas, estão escritos em placas de argila, as quais foram encontradas em escavações arqueológicas, porém, nenhuma fala da existência dos Jardins Suspensos, apesar de descreverem com detalhes tanto a cidade, como o palácio real e dependências de órgãos de governo, centros de comércio, além das muralhas que cercavam a cidade. Mais curioso ainda, é que os historiadores citam os jardins, como sendo a cobertu-ra do palácio real, pelo que deveriam ser citados nas placas encontradas. O que temos, são acontecimentos narrados pelos historiadores gregos Diodorus Siculos, Berossus, Strabo, e Philo de Bisâncio os quais jamais viram tais jardins. Dizia Diodorus Siculos: " A entrada dos jardins é inclinada, como a lateral de uma colina, e as várias partes da estrutura erguem-se umas sobre as outras, fiada após fiada. Sôbre tudo isto, foi amontoada a terra, e nela plantadas árvores de todas as espécies, as quais pelo seu tamanho e beleza, proporcionavam encanto a quem as observava. As máquinas de água elevavam-na em grande abundância desde o rio, embora não pudes-sem ver-se". Outra descrição diz - "O jardim é quadrado, e cada lado mede quatro "plethra" (1 plethra ± = 100 pés ± = 30 metros) de comprimento. É formado de abóbadas em arco apoiadas em fundações de blocos mais ou menos de formato cúbico. O acesso aos ter-raços da parte superior, que formam a cobertura, é feito através de uma escada". "O jardim suspenso tem plantas cultivadas acima do nível do solo, e as raizes das árvores ficam embebidas num terraço superior, mas não na terra. Todo o conjunto é su-portado por colunas de pedra". "Correntes de água que emergem de fontes elevadas, fluem por canais inclinados. Estas águas irrigam todo o jardim, saturando as raizes das plantas, mantendo toda a área úmida. Assim sendo, a grama é permanentemente verde, e as folhas das árvores cres-cem firmemente agarradas aos galhos flexíveis". "Isto é um trabalho artístico de luxo real, e o detalhe mais chocante, é que o traba-lho de cultivo fica acima das cabeças dos espectadores". Diodorus Siculos, nascido em Agirium, na Sicília, também conhecido por Siculos o Siciliano, veio para Roma cerca de 50 anos A.C., onde escreveu a sua "Bibliotheca Histó-rica", uma história universal com quarenta volumes. Sòmente os volumes de um ao cinco, que tratam da história antiga, e os volumes de onze ao vinte, que cobrem os anos de 480 a 301 A.C., é que sobreviveram. Seu trabalho está coalhado de incorreções, desde datas a épocas inteiras, além de estar cheio de ficções, de caráter novelesco. Também é muito difícil utilizar-se a crono-logia de Siculus. Antes da Primeira Guerra Mundial, arqueologistas alemães escavaram a área norte das ruinas, onde era o Etemenanki, que se acreditava serem as ruinas da Torre de Babel. Ao noroeste da cidade, acharam as ruinas de palácios e fortificações, e bem próxi-mo, ruinas que se assemelhavam ao que era descrito como sendo os jardins. Historiadores modernos usam o argumento de que, quando os soldados de Ale-

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xandre da Macedonia alcançaram a Mesopotamia, e viram Babilonia, ficaram impressio-nados, e no seu retorno, contaram muitas histórias acerca dos jardins, de suas palmeiras, da Torre de Babel, do palácio real e dos Zigurats. Mas, sòmente no século XX é que alguns mistérios que cercam os Jardins Sus-pensos começaram a ser revelados. Os arqueologistas continuam lutando para conse-guir evidências, tentando chegar a uma conclusão final sôbre tais jardins, sua verdadeira aparência, e seu sistema de irrigação. As mais recentes descobertas arqueológicas, localizaram as fundações do Palácio Real, as construções com abóbadas, dotadas de paredes muito espessas, e um poço de irrigação junto ao palácio meridional. Destas descobertas, fizeram desenhos de reconstrução da cidade, assim como daquilo que poderia ter sido um Jardim Suspenso. O historiador grego Strabo, afirmava que os jardins ficavam à margem do rio. Porém, as descobertas arqueológicas colocam os Jardins algumas centenas de metros longe das margens do Rio Eufrates, o que dá margens a muitas dúvidas.

Fig. 1.3 Babilonia - Desenho reconstrutivo de acôrdo com escavações arqueológicas

No entanto, outras escavações mais recentes, mostram paredes sólidas com cêrca de 25 metros de espessura, junto aos bancos de areia do rio, as quais poderiam ter tido a conformação em degraus, para formação dos canteiros dos Jardins Suspensos, o que confirmaria os relatos dos historiadores gregos. O sistema de irrigação dos jardins, também foi descrito com detalhes por Berossus, sacerdote Babilonio que viveu em torno do ano 200 A.C. Descreveu ele os jardins como: "Um quadrado de tijolos com cerca de 120 metros de lado, e 23 metros de altura.

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A irrigação das flores e árvores, era feita com água do rio Eufrates, que era elevada dês-

Fig. 1.4 Jardins Suspensos de Babilonia - Desenho reconstrutivo de acôrdo com escavações arqueológicas de esse até aos jardins, por um sistema de rosca sem fim, constantemente movida por escravos que se revezavam em turnos." "Esta água era suficiente também para formar pequenas, mas altas quedas de á-gua artificiais, que lhes conferiam maior beleza. E nos canais condutores de água, exis-tiam belas plantas que não eram plantadas na terra, mas que mesmo assim eram exube-rantes e permaneciam sempre verdes, algumas das quais até se podiam comer". O arqueólogo Robert Koldeway, que em 1899 descobriu o poço de irrigação junto ao palácio meridional, concluiu que a água era elevada desde tal poço para a parte mais alta dos jardins, por um sistema de "nora", ou "alcatruzes", chegando mesmo a esquema-tizá-lo. Koldeway também verificou que várias das colunas de sustentação dos supostos jardins, eram ôcas, deduzindo que, nos terraços por elas sustentadas, eram plantadas as árvores, de forma que suas raizes penetravam pelas colunas, cheias de terra. Já alguns dos historiadores gregos citados, dizem que a água de irrigação vinha das montanhas, através de canais revestidos de pedra. Como pode verificar-se, tudo são dúvidas e suposições. Nada de concreto, até hoje, prova a existência dos Jardins Suspensos de Babilonia. Porém, muitas conclusões podem ser tiradas dentre os relatos históricos aqui des-critos. Os métodos usados nos supostos Jardins Suspensos de Babilonia, tal como foram descritos pelos historiadores que jamais os viram, deveriam ser conhecidos à época de Nabucodonosor entre os anos 500 e 600 Antes de Cristo, ou, no mínimo à época de tais historiadores, onde a mais recente, seria em 200 A.C., época de Berossus.

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Sem grande admiração, tais historiadores falam de sistemas de canalização de água e irrigação. Como consequência, é de supor-se, com total certeza, que nessas é-pocas já era de pleno conhecimento, que a água é fator primordial para a sobrevivência e desenvolvimento das plantas. Cultivar plantas em água, sem uso de solo, também já era algo conhecido, haja visto o que disse Berossus, "E nos canais condutores de água, existiam belas plantas que não eram plantadas na terra, mas que mesmo assim eram exuberantes e permaneciam sempre verdes, algumas das quais até se podiam comer". Falam também, do que hoje conhecemos como bombeamento de água, quando dizem: "água do rio Eufrates, que era elevada desde esse até aos jardins, por um sistema de rosca sem fim, constantemente movida por escravos que se revezavam em turnos". Plantas produzidas em canais com água corrente? Isto é a pura hidroponia que hoje conhecemos como Sistema Hidroponico NFT. O trabalho dos arqueologistas tem sido de grande importância para o conhecimen-to do homem, quando êste busca as suas origens. Descobertas dêstes profissionais dedicados, trouxeram até nós reproduções de afrescos e hieróglifos egípcios, onde se mostra, e são descritas, plantações flutuantes nas margens do rio Nilo. Estas plantações, provàvelmente de verduras, eram feitas num tipo de jangadas feitas com caniços, sôbre as quais era depositada uma camada de lodo colhido no rio, e êste conjunto era colocado para flutuar.

O lodo era mantido úmido pela água, e as raizes desenvolviam-se, atravessando os caniços, até atingirem a superfície do rio. Sistema semelhante seria usado em época mais recente pelos Astecas, de quem falaremos oportunamente. Marco Polo, de quem já falámos, também nos relatou nos seus diários, bastantes detalhes sôbre os jardins flutuantes da China, em tudo semelhantes às plantações flutu-antes egípcias. Êstes dois relatos, são típicos exemplos do que hoje chamamos de Sistema Hidro-ponico de Leitos Flutuantes normalmente usados até hoje. Nascido em Estagira, na Macedonia, no ano de 384 A.C., Aristóteles, mais conhe-cido como Aristóteles de Estagira, após a morte de seu pai, Nicomano, médico do rei A-mintas, fixou residência em Atenas, onde se tornou aluno de Platão em 367 A.C., ouvindo suas lições durante vinte anos. Quando Platão morreu, em 347 A.C., Aristóteles mudou-se para Atarnéia, na Mísia, onde se casou. Sua mulher, parente do rei Hermias, propiciou sua entrada para a côrte. Em 343 A.C., tornou-se preceptor do então jovem Alexandre o Grande, na côrte do rei Filipe II da Macedonia. Em 335 A.C., retorna para Atenas, onde funda sua própria escola, o Liceu de Ate-nas, também denominada Escola Peripatética, porque o mestre ministrava suas aulas

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passeando com os alunos. Após a morte de Alexandre Magno em 323 A.C., foi duramente perseguido pelos gregos anti-macedonianos, vindo a ser condenado à morte pelo Areópago (Tribunal Su-premo de Atenas), após um refúgio na ilha de Eubéia. Sua extensa obra filosófica, pela qual se tornou famoso, é bastante conhecida, po-rém, seu trabalho científico, foi tão ou mais importante ainda. Escreveu a "Historia Animalium", onde registrou a descrição de mais de 400 espé-cies animais, incluindo o homem, fazendo nesta obra a primeira tentativa de classificação dos animais.

Seus outros trabalhos, incluem "de Partibus Animalium (das Partes dos Ani-mais),"de Generatione Animalium" ( da Reprodução dos Animais), e "de Motu Animalium" ( do Movimento dos Animais), e, nestes trabalhos, Aristóteles explica porque os animais "são do jeito que são". Seu trabalho nesta área, é considerado o primeiro tratado da história da humanida-de, sôbre anatomia e fisiologia comparadas,.

Fig. 1.5 Aristóteles de Estagira (384 a 322 A.C.)

Foi o primeiro cientista que classificou os animais em dois grandes grupos: os ver-tebrados, a que denominava como "sanguíneos", e os invertebrados, que denominou co-mo "exangues". Muito poderíamos falar sôbre este homem, verdadeira personificação do espírito filosófico e científico, cujos tratados jamais escreveu de punho próprio, provindo êstes de

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anotações de seus alunos e ouvintes. No entanto, apesar de pouquíssimo divulgado, e de grande interesse para nós, é que Aristóteles, conhecido amante da natureza, criou na sua escola o primeiro Jardim Bo-tânico de que se tem conhecimento, apesar de pouco ou nada ter "escrito" sôbre as plan-tas. Não sabemos ao certo se a criação do Jardim Botânico foi para ele próprio se dedi-car ao estudo das plantas, ou se o fez para que seus alunos levassem a efeito tais estu-dos, o que realmente aconteceu através de Teofrasto. Teofrasto de Ereso, cujo verdadeiro nome era Tirtamo, denominado Teofrastus (o divino preletor), nasceu em Ereso, na ilha de Lesbos, no ano de 372 A.C.. Grande filósofo, foi aluno de Aristóteles no Liceu de Atenas, do qual assumiu a di-reção após a morte de seu fundador, pois era seu mais proeminente aluno. Provàvelmente influenciado por seu mestre, dedicou a maior parte de seu trabalho no estudo das plantas, o qual deu origem às suas obras "Historia Plantarum", e "Causis Plantarum". "Historia Plantarum", é uma introdução em nove volumes, nos quais o autor se de- dica principalmente à descrição e classificação das plantas. Encontramos nesta obra, várias secções dedicadas ao reconhecimento das plantas e seus diversos formatos, diferenças entre os vários tipos, tais como árvores, arbustos e

Fig. 1.6 Teofrasto de Ereso (372 a 287 A.C.)

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herbáceas, e uma série de outros tópicos, abrangendo hábitos, localização geográfica e utilidades mais importantes. Em "Causis Plantarum", obra em seis volumes, encontramos a teoria que apóia os fatos da obra anterior. Aqui, Teofrasto explica os efeitos que as ações da natureza causam nas plantas, como condições climáticas e condições de solo, comparando-as às ações do homem sô-bre as mesmas, como irrigação, adubação e manejo. Também fala de suas conclusões sôbre a impossibilidade de sobrevivência das plantas na ausência da água, e da viabilidade temporária ou permanente de que sobrevi-vam e se desenvolvam em água pura, sendo que as melhores condições apresentam-se com água adicionada de resíduos de terra. Em seu trabalho, muito à semelhança de Aristóteles em "Historia Animalium", Teo-frasto classifica as plantas em Árvores (as plantas próximas da perfeição), Arbustos e Sub-Arbustos (Pequenas plantas com caules e ramos lenhosos), e Plantas Herbáceas. Também divide as plantas em Raízes, Caule e Ramos. Não considera como es-senciais, as folhas, as flores e os frutos, pois que são de renovação anual, e não perma-nentes. Considera que as plantas são constituídas de substâncias elementares, como sei-va, fibras e carne ou cerne, e afirma ainda, que as partes fundamentais são comuns a todas as plantas, sendo que o seu arranjo e aparência, fornecem as bases para sua classificação. Tanto o sistema de Aristóteles quanto o de Teofrasto, formaram o alicerce da atual ciência por nós conhecida como Botânica. Até mesmo os têrmos usados por ele para descrever partes das plantas, são usados até hoje. O conceito de flor (anthos) que utilizou, como sendo a parte da planta que rodeia e protege os frutos, qualquer que seja sua aparência, é usado até hoje, como são usados também os conceitos de folhas simples e compostas, e o de Pericarpo (perikarpion), co-mo sendo a cobertura que protege as sementes. O trabalho de Teofrasto, proporcionou a cientistas posteriores, como a Carolus Lin-naeus (ou Carl von Linné - 1707 a 1778), o estabelecimento do sistema de nomenclatura biológica para plantas e animais, que êste descreve no seu livro "Species Plantarum" (1753), adotado até hoje. No entanto, a classificação de plantas de Teofrasto, é artificial, ou seja, considera as plantas e suas partes, isoladamente, não se atendo às condições ambientais em que se desenvolvem, e tampouco à sua utilidade para o ser humano, para outros animais, e mesmo para outras plantas. Os títulos dos nove livros que compõem o "História Plantarum" de Teofrasto, são: I - Das Partes Das Plantas E Sua composição. Da Classificação II - Da Propagação Especialmente Das Árvores III - Das Árvores Silvestres IV - Das Árvores e Plantas Em Especial As De Distritos e Posições Particulares V - Das Madeiras de Várias Árvores E Suas Utilidades

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VI - Dos Sub-arbustos VII - Das Plantas Herbáceas, Outras Que Não As Coronáreas: Plantas De Vaso E Ervas Silvestres Similares VIII - Das Plantas Herbáceas IX - Dos Sucos Das Plantas E Das Propriedades Medicinais Das Ervas Na história da botânica, e indiretamente na história da Hidroponia, há dois nomes do mundo antigo que se destacaram: o de Teofrasto de Ereso, e o de Dioscorides de A-nazarbo. Pedanios Dioscorides, nasceu em Anazarbo, na Cilicia - Ásia Menor, no ano 20 D.C., e foi estudante de medicina e farmácia na escola de Areios, em Tarso. Seu grande trabalho foi a escrita de um tratado sobre a descrição e uso de drogas medicinais obtidas de plantas, nos anos de 60 a 78 D.C., cêrca de 400 anos depois de Teofrasto. Sua obra, composta de cinco volumes, intitulada "De Materia Medica", foi a primei-ra farmacopéia sistemática que se conhece, e contém a descrição de cêrca de 600 plan-tas, além de 4740 utilidades médicas e receitas de medicamentos. Infelizmente, sua obra tão logo foi publicada, ficou perdida no Ocidente, e jamais foi reintroduzida. No entanto, foi integralmente preservada pelos Árabes, que a editaram várias ve-zes, e a utilizam até hoje. Parte de seu trabalho,sòmente começou sendo superado nos anos 1400, pelo mui- to conhecido Philippus Aureolus Paracelsus cujo verdadeiro nome era Theophrastus Bombastus von Hohenheim, médico e alquimista suíço, que viveu entre 1493 e 1541.

Fig. 1.7 Pedanios Dioscorides recebendo a mandrágora das mãos da Deusa das Descobertas Ilustração do manuscrito em Latim do livro "De Materia Medica"

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No prefácio de seu trabalho, diz Dioscorides ter viajado muito com o exército roma-no, mas não é claro quanto ao ter feito isso na função de médico ou como farmacêutico. É de se acreditar que o fez com ambas as atribuições. Há muitas evidências, de que viajou tanto dentro como fora das fronteiras do Impé-rio Romano pelo que teve grandes oportunidades para conhecer e estudar os mais varia-dos tipos de plantas. Dioscorides sempre se considerou médico, e seu trabalho contrasta muito com o de seus predecessores, que eram médicos, mas também farmacêuticos (Pharmakolopoi) ou ervanários, também chamados de "cortadores de raizes" (rhizotomoi). No entanto, na sua profissão de médicos, todos usavam plantas, em vários graus de prática ou educa-ção. Os cinco volumes de "De Materia Medica", cada um com seu prefácio próprio são: Livro I - Aromáticas (ou Temperos), Óleos, Pomadas, Árvores e Arbustos (líqui- dos, resinas e frutos) Livro II - Animais, Partes de Animais e Produtos, Cereais, Ervas de Vaso e Ervas Fortes Livro III - Raizes, Extratos, Ervas e Sementes Livro IV - Ervas e Raizes Não Discutidas Antes Livro V - Vinhos e Minerais A descrição e classificação de plantas que estudou, segue sempre a mesma ordem de características e descrições com elevado grau de detalhes em todos os sentidos, ou seja: 1 - Nome e sinonimos se existirem 2 - Habitat 3 - Descrição física 4 - Propriedades como droga 5 - Utilidade médica 6 - Efeitos colaterais 7 - Dosagens recomendadas 8 - Métodos de colheita, armazenagem e conservação 9 - Detecção de possíveis adulterações 10 - Usos veterinários 11 - Utilidades mágicas ou não médicas 12 - Habitat específico e Onde a planta pode ser encontrada Na sua obra, surge-nos sempre uma pergunta: O que de fato Dioscorides quer dizer quando fala das propriedades das plantas? A lista dessas propriedades para cada planta, é longa. Uma descrição genérica inclui aquecimento, pacificação ou amolecimento, adstringência, propriedades diuréticas, secagem, cozimento, apuração, diluição ou afinamento, indução de sono, relaxamento, limpeza, endurecimento, e, poder alimentício. Na sua classificação de plantas, Dioscorides lista todas as propriedades associa-das a cada planta em particular, levando-nos a uma miríade de combinações possíveis, pelo que sua classificação é considerada natural. A riqueza nos detalhes de seus livros, mesmo os traduzidos para o Latim e especi-

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almente para o Árabe, forçou-nos a transmitir ao nosso leitor parte deles, mesmo sabendo que estamos pecando na extensão de nossas palavras, que poderão à primeira vista pa-recer fugir ao nosso assunto principal.

Fig. 1.8 Planta e seus detalhes - Ilustração do manuscrito em Latim do livro "De Materia Medica"

Fig. 1.9 Pedanios Dioscorides e as Legiões Romanas

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Fig. 1.10 Pedanios Dioscorides e um aluno - Manuscrito em árabe do livro "De Materia Medica" Ilustração de Yusuf al Mawsili - Mosul – 1228

Porém, o legado que nos ficou de Dioscorides, é de tal maneira valioso, que ainda hoje, em toda a Europa, suas informações detalhadas e ensinamentos profundos, são a base dos tratamentos fitoterápicos para cura de muitos males que afetam o ser humano. Como se isso não bastasse, fazem parte de seu legado as informações referentes às condições ambientais necessárias à produção de ervas medicinais e espécies aromáti-cas em ambientes controlados, pelas diversas variantes da técnica Hidroponica. Muitos estudiosos alegam que as ervas que citámos, produzidas hidropònicamente, não possuem os "elementos essenciais" que lhes conferem o paladar, o aroma, e as ca-racterísticas curativas. Isto não é a realidade. Não é determinado solo que proporciona as características necessárias ou buscadas, e sim, as condições ambientais e nutritivas que proporciona-mos a tais plantas, que fazem com que as atinjamos. O ser humano traz dentro de si, uma imensa capacidade destrutiva, que tanto atin-ge seu meio ambiente, quanto o que estiver à sua volta. Consequência disso, quem sa-be, dentro em pouco, seremos obrigados a procurar medicamentos naturais, partindo de espécies vegetais produzidas hidroponicamente.

Será uma grande responsabilidade que os hidroponistas deverão assumir, e para

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tanto deverão estar devidamente preparados. Eis porque demos aqui grande valor ao trabalho de Dioscorides, embora êste, dire-tamente, não nos tenha dado nenhuma informação possível de ser considerada como parte direta da História da Hidroponia.

Fig. 1.11 Videira com frutos e detalhes - Manuscrito em árabe do livro "De Materia Medica" Ilustração de Yusuf al Mawsili - Mosul - 1228

Muito antes da ascensão do império Asteca, o hoje Vale Central do México já era o centro de uma civilização altamente desenvolvida. Uma bacia bastante fértil, o vale localiza-se a cêrca de 2.400 metros acima do nível do mar, e no seu centro, existem cinco lagos que se conectam naturalmente, nos quais existem algumas ilhas pantanosas. Entre os anos 100 e 650 D.C. o norte do México era dominado pelo povo Tolteca, reunido à volta da cidade conhecida como Teotihuacan, a qual era o centro de um estado político, religioso e económico altamente poderoso. Com o declínio de Teotihuacan o povo Tolteca migrou do norte para o México Cen-tral, onde estabeleceram um estado de conquista.

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Aqui, a civilização Tolteca atingiu o seu auge entre o século X e o século XII.

No século XIII, uma série de bandos de guerreiros vadios, os Xiximecas, cuja ca-racterística comum era o falarem o idioma Nahuatl, invadiram o vale.

Fig. 1.12 Planta de mostarda com sementes e detalhes - Manuscrito em árabe do livro "De Materia Medica" Ilustração de Yusuf al Mawsili - Mosul - 1228

Conquistaram várias cidades Toltecas, como Atzcapotzalco, e fundaram outras, como Texcoco de Mora.

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Os Xiximecas, gradativamente, combinaram suas tradições culturais, com aquelas dos Toltecas, iniciando assim a antiga civilização Asteca, cuja estrutura social, economia e artes, chegariam ao seu expoente máximo durante o chamado Ultimo Império. O grupo que se acredita tenha fundado o Império Asteca, foi o dos Mexicas, em meados do século XIII.

Este grupo, formado por caçadores, e o último a chegar ao vale, foi empurrado pe-los grupos já estabelecidos, para duas ilhas no lado ocidental do lago Texcoco, um dos cinco lagos do vale. Os Mexicas acreditavam numa lenda, pela qual, deveriam estabelecer uma grande civilização num local pantanoso, no qual deveriam primeiramente ver um cacto crescendo das pedras, tendo sôbre ele uma águia empoleirada. Quando chegaram ao lado pantanoso da praia do lago Texcoco, seus sacerdotes proclamaram ter tido a visão do cacto com a águia, afirmando que haviam chegado ao seu destino. O local acabou se transformando num ponto estratégico, apresentando boas fontes de alimentos e águas para transporte fluvial. Os Mexicas iniciaram sua vida nesse local, dedicando-se à agricultura de sobrevi-vência, e em 1325, numa das ilhas do lago, fundaram a cidade de Tenochtitlan. Para manterem segurança contra invasões de outros grupos, durante 100 anos pagaram tributos a grupos vizinhos mais poderosos, especialmente aos Tepanec, da ci-dade-estado de Azcapotzalco, a quem também serviram como mercenários. Pelo crescimento de sua população, os Mexica também cresceram tanto militar-mente, quanto em sua organização civil, e lentamente foram-se revoltando contra os Te-panec, pelo que passaram a controlar parte dos territórios das margens do lago. Por volta de 1427, os Mexica de Tenochtitlan, formaram uma tríplice aliança com as cidades-estado de Texcoco e Tlacopan (hoje Tacuba). Sob o comando do governador dos Mexicas, Itzcoatl, seu sucessor Montezuma I, e o governador Texcocano, Netzahualcoyoti, os três estados iniciaram uma série de con-quistas, pelas quais vieram a estabelecer seu império, que se estendia desde o México Central, até às fronteiras da Guatemala. Estas conquistas incluíram várias cidades-estado e grupos étnicos, os quais foram forçados a pagar tributos à aliança. Nesta época, Tenochtitlan assumiu o poder dominante dentro da tríplice aliança. A base da economia Asteca foi a agricultura. As terras das ilhas eram muito escassas, se bem que férteis, e as que foram con-quistadas às margens do lago, embora também férteis, não eram suficientes para produzir alimento na quantidade necessária à sua população crescente. Para tornar as terras das margens mais férteis, mesmo sendo nas encostas de co-linas à volta do lago, os Astecas desenvolveram sistemas de irrigação, e formaram terra-

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ços em curvas de nível, passando a usar fertilizantes naturais para enriquece-los. Porém sua mais importante técnica agrícola, desenvolvida antes de terem conquis-tado as terras das margens do lago, foram os "chinampas", também conhecidos como "hortas flutuantes".

Fig. 1.13 Gravura mostrando Chinampas

Estes eram pequenas ilhas flutuantes, criadas artificialmente, sobre as quais plan-tavam verduras, milho (sua principal base de alimentação), arbustos frutíferos e flores. Sua construção começava pela montagem de grandes jangadas feitas com feixes de junco e caniço, firmemente amarrados uns aos outros. Após serem colocadas a flutuar, eram cheias com terra lamacenta e altamente a-dubada, retirada do fundo do lago, que era muito raso, formando assim um substrato. Essa terra, onde eram feitas as plantações, mantinha-se bastante úmida, pois a água onde flutuava o chinampa, irrigava-a por capilaridade. As raízes das plantas cresciam, atravessavam a camada de terra e os feixes de caniços, e atingiam a água. Conforme a planta, continuavam a desenvolver-se, até fi-nalmente atingir o fundo do lago, onde se ancoravam. À medida que a terra se ia exaurindo em nutrientes, outra camada era colocada, e a jangada ia afundando, até que atingia o fundo do lago, formando uma ilha permanente. Então, para evitar o desmoronamento da terra para dentro do lago, no início da formação do chinampa, eram plantadas mudas de salgueiro em toda a sua volta. As raizes dos salgueiros iam se desenvolvendo até o fundo do lago, e após se an-

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corarem, passavam a formar as árvores, que evitavam o desmoronamento da "ilha artifici-al", além de servirem como quebra-ventos e de propiciarem sombreamento para as plan-tas mais delicadas. Antes de ficarem ancorados ao fundo do lago, os chinampas eram relativamente móveis, e usavam-se mais para o preparo de mudas de plantas, além de plantação de algumas verduras e espécies florais. Diz-se que, em dias de feira, estes eram arrastados para as margens, e a colheita era feira no momento da venda. Os chinampas iam sendo construídos uns ao lado dos outros, emendando-os, e entre eles, formavam-se canais, por onde os agricultores se deslocavam com barcos de fundo chato, para atingirem suas plantações. O sucesso desta técnica passou então a ser utilizado como um processo de drena-gem nas margens pantanosas do lago. Aqui, plantavam-se carreiras paralelas de salgueiros, e quando atingiam altura a-dequada, construia-se um chinampa flutuante e suficientemente longo, entre cada par de carreiras de árvores. Retirava-se então a terra do brejo e acumulava-se esta sôbre o chinampa, forman-do-se camadas entremeadas com galhos e caniços. Estas camadas, escoradas lateralmente pelos salgueiros, iam afundando até en-contrar camadas de solo rígidas, formando assim, leiras de terra sólida, entremeadas de canais de água, por onde os agricultores se deslocavam com barcos. Usando este mesmo processo os Astecas construíram pontes de ligação entre as ilhas e as margens dos lagos. Ora, os chinampas, eram algo semelhantes a um sistema hidroponico, ao qual de-nominamos hoje como Sistema Hidroponico de Leitos Flutuantes, embora sôbre isso te-nhamos muitas dúvidas, as quais explicaremos oportunamente. Em 1519, o explorador espanhol Hernán Cortéz, acompanhado de 500 soldados, desembarcou no leste do México, em busca de novas terras e de ouro. Aconselhado por Malinche, sua concubina, nativa sul-americana, Cortéz formou uma aliança com os Tlaxcalans, rivais dos Astecas, e dirigiu-se para Tenochtitlan, onde à época, governava Montezuma II, o qual vacilante quanto à maneira de enfrentar os espa-hois, convidou-os para entrar na cidade, para melhor conhecê-los, bem como avaliar suas intenções. Encontrando grandes quantidades de ouro e outros tesouros, e receoso de que Montezuma pudesse derrotar sua pequena fôrça, Cortéz aprisionou-o. Todos os ornamentos de ouro encontrados, foram fundidos para facilitar seu trans-porte, e Montezuma foi obrigado a jurar vassalagem ao rei de Espanha. Os espanhois ainda ficaram na cidade por cêrca de seis meses, sem oposição dos Astecas, período este em que Cortéz regressou à Espanha. Na ausência de Cortéz, durante uma cerimonia religiosa, o oficial Pedro de Alvará-

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do, massacrou 200 nobres Astecas.

Fig. 1.14 Canais de água entre chinampas atuais - Xochimilco - México

Fig. 1.15 Maquete mostrando a construção de chinampas de drenagem de pântanos No retorno de Cortéz, os Astecas revoltaram-se, expulsando os espanhois de Te-nochtitlan, destruíram as pontes de acesso à cidade, e caçaram o inimigo através dos ca-nais dos chinampas, fazendo com que este se retirasse para a Tlaxcala, onde arrebanha-ram mais aliados nativos. Montezuma morreu nos combates, assumindo o governo Cuitlahuac, que após poucos meses veio a falecer por doença, sendo substituído por Cuauhtemoc um dos líde-res da revolta contra os espanhois.

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Fig. 1.16 Hernán Cortéz (1485– 1547) Voltando ao ataque, Cortéz veio a derrotar os Astecas em 1521, cujas armas sim-ples não superavam o aço e os canhões. Durante uma expedição a Honduras, Cuauhtemoc foi torturado e enforcado. Os espanhois destruíram então o restante dos Astecas, apoderaram-se de suas terras, e os que sobraram, foram escravizados para trabalhar nas minas de ouro do México. A queda de Tenochtitlan marcou o fim do Império Asteca, uma das maiores civiliza-ções do mundo, e uma das únicas grandes civilizações nativas Americanas. Tenochtitlan foi arrasada, e sôbre ela está hoje edificada a Cidade do México. Sua catedral, foi erigida sôbre o Grande Templo Asteca, e o palácio do governo ergue-se sô-bre onde um dia foi o palácio de Montezuma. Porém, provàvelmente para garantir-se com fornecimento de alimentos, os espa-nhois não destruíram os chinampas e muitos permanecem até hoje em funcionamento, se bem que em número muito reduzido. Descendentes dos Astecas ainda cuidam da agricultura chinampeira, e na sua maioria produzem flores. Ao correr do tempo, grande parte dos chinampas à volta da Cidade do México fo-ram aterrados, bem como quase todo o lago Texcoco, em função do crescimento da Cida- de. A maioria dos chinampas remanescente foi bastante preservada na região de Xo-chimilco, uma das 16 delegações do Distrito Federal Mexicano.

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Talvez a rivalidade entre Xochimilco e a Cidade do México-Tenochtitlan, rivalidade essa que existe desde o século XIV, época em que a primeira foi conquistada e dominada pelos Astecas, para dela serem sustentados por seus produtos agrícolas, tenha causado certa desatenção das autoridades Mexicanas para com esta bela região. Porém, aos 11 de Dezembro de 1987, a UNESCO inscreveu Xochimilco na lista dos Monumentos Pertencentes à História da Humanidade. Os fatos históricos que aqui relatamos, embora um pouco extensos, dão-nos antes de tudo uma compreensão melhor da situação que levou toda uma civilização a buscar soluções para sua sobrevivência. Sem dúvida que esse deve ter sido um processo relativamente lento, cheio de ten-tativas e coalhado de erros, ao longo do qual adquiriram uma série de conhecimentos de alto valor. Analisemos as dificuldades dêsse povo através do que relatamos, e comparemo-las com situações semelhantes do mundo atual. Não estarão os habitantes de muitas regiões de nosso planeta, ou até mesmo de nosso pais, esperando demais para que alguém lhes resolva o problema de alimentação, sem no entanto enfrentar sèriamente seu problema, e buscar suas próprias soluções? Os Astecas buscaram soluções, e encontraram-nas. E tais soluções, ainda são válidas. Tanto, que formaram, dentro de certos limites, as bases para uma tecnologia mais moderna, que é a Hidroponia. Porém, se analisarmos os fatos históricos com algo mais de atenção, fica-nos uma pergunta. Será que esse povo, sediado ao norte do México, não se sabe precisamente originário de onde, teve de descobrir seu processo agrícola, ou já era dono do mesmo? Afinal, processos muito semelhantes, e muito mais próximos do que é hoje o Sis-tema Hidroponico de Leitos Flutuantes, existiam no Egito e na China, em épocas muito anteriores.

Eis porque cabem aqui algumas restrições quanto à semelhança ou mesmo quanto às conclusões de que os chinampas eram hortas flutuantes comparáveis ao atual sistema hidroponico já citado. Os relatos dos escrivães da expedição de Cortez falam dessas hortas e dêsse sis-tema agrícola com grande admiração, pois jamais na Europa haviam visto ou experimen-tado sistema agrícola tão eficiente e produtivo. Da mesma forma, falam das cidades altamente desenvolvidas e organizadas numa região tão distante da Europa. Desta feita, criaram-se alguns mitos, que permanecem até hoje, e ainda são manti-dos divulgados em especial por guias turísticos de Xochimilco. Entendamos que a hidroponia é uma técnica agrícola pela qual não se utiliza o so-lo, e as plantas são mantidas com as raízes na água, a qual possui nela dissolvidos os nutrientes necessários ao seu desenvolvimento.

Por essa razão ela também é conhecida como Cultura sem Solo.

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Ora, os chinampas são constituídos por um solo, formado pelo lodo do fundo dos lagos, em camadas intercaladas com plantas aquáticas como adubação verde. Além disso, segundo os relatos históricos, os Astecas também refertilizavam o solo dos chinampas com fezes humanas, e regulavam a fertilidade dos mesmos através de rotação de culturas.

Também não podemos afirmar com segurança que os chinampas eram hortas flu-tuantes que em dias de feira eram arrastados para as margens dos lagos para comerciali-zação dos produtos. Talvez isso acontecesse no início da construção dos mesmos, e mesmo assim, devemos entender que eram consideravelmente pesados para isso, pois que suas dimen-sões giravam em torno de dez metros de largura por até cem metros de comprimento. O que na verdade podemos afirmar, é que eram um sistema que se desenvolveu para drenar as águas dos lagos e de suas margens pantanosas, com a finalidade de au-mentar as áreas agricultáveis disponíveis. Os canais entre os chinampas eram suficientemente largos para a passagem de até dois barcos simultaneamente, e eram na verdade utilizados para a movimentação en-tre os mesmos, e para o escoamento da produção agrícola. É preciso lembrar que os Astecas não conheciam a roda, e as cargas eram movi-mentadas em sacos ou cestas carregadas nas costas dos agricultores. A movimentação dessas cargas em barcos facilitava o seu trabalho. Os lagos também eram povoados com peixes, e os canais lhes facilitavam não só a pesca, mas também a caça de aves aquáticas. Consideremos também alguns outros aspectos locais, que nos podem mostrar até onde este povo era desenvolvido em técnicas agrícolas. As águas dos lagos eram muito salinas, e essa salinidade, até certo ponto era re-gulada pelas águas do degelo das neves das montanhas vizinhas, que às vezes causa-vam cheias desastrosas. Assim, desenvolveu este povo a construção de diques em pedra, de grande largura provistos de comportas reguladoras, separando as águas mais salinas de alguns lagos das águas mais doces. Estes diques serviam também como vias de circulação de pedestres, e sôbre eles também montavam hortas usando como solo o lodo retirado do fundo dos lagos. Após a destruição dos Astecas, Cortez desmantelou estes diques para usar as pe-dras na construção da nova Cidade do México, deixando as águas livres para inundar e tornar férteis terras circunvizinhas. Na verdade, ele destruiu tais terras, salinizando-as com as águas salinas dos la-gos. Assim é que muitos chinampas tiveram que ser reconstruídos, pois eram a base para alimentação dos espanhois.

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Mesmo assim, embora se diga que Cortez não destruiu os chinampas e a agricultu-ra chinampeira, ele provocou em grande escala a sua destruição, da mesma forma como destruiu toda uma civilização e sua cultura tão avançada. Como dissemos, não vemos nenhuma semelhança dos chinampas com alguma técnica ou sistema hidroponico. Mas esse mito foi criado, e acreditamos irá permanecer por anos e anos. Quanto a Cortez, deixamos a cargo do leitor pesquisar um pouco mais a história, e formar suas próprias opiniões. No decorrer da História, encontramos homens que se dedicaram com bastante a-finco, aos problemas de nutrição de plantas, e sempre chegaram a uma conclusão: Sem água, não há plantas. Eis porque entendemos, como já dissemos anteriormente, que fazem parte da His-tória da Hidroponia, tudo e todos aqueles que através dos séculos nos mostraram e ou comprovaram que a água é fator primordial na sobrevivência e desenvolvimento dos se-res do Reino Vegetal. Por exemplo, qual a relação entre Leonardo da Vinci e a hidroponia? Poucas pessoas existem que não tenham ouvido falar deste eminente persona-gem, no mínimo pelos seus trabalhos artísticos. No entanto, foi um dos maiores inventores e pesquisadores da humanidade, dei-xando-nos uma grande herança científica. Leonardo da Vinci nasceu no lugarejo de Anchiano perto da cidade Toscana de Vinci, próximo a Florença, na Itália, a 15 de Abril de 1452. Filho ilegítimo de Antonio, filho mais velho (25 anos) de Ser Piero, com Catarina, uma camponesa menor de idade. ("Ser" - título dado à ocupação de membro da família tradicional de Notários Públicos ou Advogados). Ser Piero era casado com Albiera di Giovanni Amadori, que tinha sòmente 16 anos de idade, e consta que essa era sua quarta esposa. No total, teve onze filhos. Leonardo era canhoto, e jamais, como era costume da época, teve oportunidade para corrigir esta característica. Talvez isto lhe facilitasse escrever de forma espelhada, da direita para a esquerda. Não teve chances de ir para escolas adequadas, pelo que não sabia Grego nem Latim. Não existem evidências de que sua falta de escolaridade, tenha tido alguma rela-ção com a sua ilegitimidade paternal. Talvez consequência de sua pouca escolaridade, Leonardo era mais ligado às i-magens visuais, e à comunicação oral, na sua linguagem de Italiano Toscano. A falta de conhecimento do Grego e do Latim impediu seu acesso a livros que po-deriam proporcionar-lhe aumento em seus conhecimentos, além dos que poderia obter através de livros humanísticos escritos em Toscano.

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Poderíamos aqui escrever muito sôbre a vida de Leonardo, porém, a parte dela que nos interessa mais, é referente aos últimos sete ou oito anos de sua vida.

É preciso lembrar aqui, que, em 1499, os exércitos franceses haviam invadido Mi-lão, então sob o domínio de Ludovico Sforza, depondo-o.

Como consequência de nova guerra que eclodiu ao norte da Itália, Leonardo veio

para Roma em 24 de Setembro de 1513, onde levou a efeito muitas experiências em Química, para o seu então patrão Giuliano di Médici, irmão do Papa Leão X. Aproveitou aqui para desenvolver seus conhecimentos de anatomia humana, além de se envolver na fabricação de lentes e espelhos. Giuliano de Médici havia encomendado a Leonardo uma pesquisa profunda sôbre como incrementar a produção agrícola de suas propriedades, cujo resultado não chegou a apresentar, pois que, numa viagem a Bolonha, em 1515, conheceu o então rei francês Francisco I, que o levou para a França, colocando Leonardo a seu serviço.

Fig. 1.17 Leonardo da Vinci (1452 a 1519) - Auto-retrato em carvão sobre papel O rei instalou-o no Chateau aux Cloux, em Ambroise, à margem do rio Loire. E aqui, Leonardo continuou sua pesquisa agrícola, cujos resultados apresentou ao rei de França. Em seus escritos, dizia:

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"Para se desenvolverem, as plantas necessitam de elementos minerais, que reti-ram do solo por intermédio da água. Sem água, as plantas não sobrevivem, mesmo que no solo, tenham os elementos minerais de que necessitam."

"A água é como se fora a alma das plantas, assim como os elementos minerais são como se fossem a alma do solo". "Se conseguíssemos transmitir para a alma das plantas a força da alma do solo, talvez não necessitássemos dele para fazer as plantas sobreviverem e se multiplicarem". "Acredito que num futuro que a mim não pertence, isso será possível". "É pois recomendável que se adubem as terras, e se as reguem periòdicamente, para que se tenha uma plantação saudável e produtiva". Seria Leonardo da Vinci um visionário? É difícil acreditar. Porém podemos verificar que, pelas suas experiências, Leonardo já antevia, os princípios que hoje regem a técnica hidroponica, ou seja, cultivar plantas sem solo. Leonardo da Vinci faleceu na França, no Chateau aux Cloux, em Ambroise, em 2 de Maio de 1519. Nos anos após o falecimento de Leonardo, não aparecem grandes estudos sobre plantas, e tampouco registros de utilização de seus conselhos e orientações. A partir da época de Leonardo, apesar de termos alguns avanços na botânica, os estudiosos dedicaram-se mais à classificação das plantas, do que à nutrição das mes-mas. Provàvelmente os parcos conhecimentos de química que existiam, tivessem contri-buído para uma certa paralisação nos estudos de nutrição, mas, o entanto, já era um fato comprovado, que a água era o elemento maior para que as plantas pudessem sobreviver. Sòmente durante a época de transição da Alquimia para a Química, e mesmo du-rante algumas passagens desta, em que foram feitas algumas descobertas nessa área, é que verificamos uma retomada nos estudos de nutrição de plantas. Porém, o conhecimento mais profundo das plantas, não só aquelas para fins ali-mentícios, quanto as aplicáveis à medicina, foi sempre alvo dos cientistas. E esse conhecimento, estamos certos que faz parte integrante da História da Hi-droponia, pois que é a partir dele, que saberemos lidar com as plantas hidroponicas. É assim, ois, que achamos serem parte da História da Hidroponia, cientistas e pes-quisadores que se dedicaram com afinco à ampliação dos nossos conhecimentos sôbre as plantas, que não sejam sòmente os relativos à sua nutrição. Citemos, ois, Luca Ghini, nascido na Croara, próximo a Imola, na Itália, em 1490, e falecido em 1556.

Ghini formou-se em medicina em Bolonha, em 1526, onde iniciou sua carreira de magistério universitário, e entre 1543 e 1544, transferiu-se para Pisa, a convite do Grão-Duque Cosimo I de Médici, onde fundou o "Orto dei Simplici", um Jardim Botânico dedica-

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do à cultura e estudo de plantas medicinais para uso didático na Universidade.

Luca Ghini foi o primeiro botânico a usar plantas sêcas para fins de estudos, crian-do o primeiro herbário do mundo.

Fig. 1.18 Luca Ghini (1490 a 1556) Seguidor assíduo de Dioscorides, cuja obra "De Materia Medica" era seu livro didá-tico, orientava suas aulas no sentido prático, apesar de mesmo assim também criticar o livro pelo qual se orientava. Após fundar o Jardim Botânico de Pisa, que foi o primeiro jardim universitário desse tipo em todo o mundo, ainda a convite de Cosimo I de Médici, em 1544, fundou o Jardim Botânico de Florença, o qual, em antiguidade era o terceiro do mundo, após o de Pisa e o de Pádua. O Jardim de Florença, também fundado para estudo e cultura de plantas medici-nais, foi posteriormente transformado no Horto Experimental Agrário, dedicado ao estudo tanto de plantas medicinais, quanto de plantas para alimentação e outras de interesse científico. A esta altura, os conhecimentos de Alquimia continuavam a ampliar-se, e já se vis-lumbrava o nascimento da Química, como ciência. Começava nesta época também, com Paracelsus, o uso de produtos químicos para a cura de algumas doenças. Philippus Aureolos Paracelsuls cujo verdadeiro nome era Theophrastus Bombastus

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von Hohenheim, nasceu na Suiça em 1493, e veio a falecer em 1541. Era médico e alquimista, e seu trabalho científico, marca a emergência da Ciência Química, partindo da Alquimia.

Fig. 1.19 Philippus Aureolus Paracelsus (1493 a 1541) Acreditava nos três princípios fundamentais da Alquimia Árabe, que consistiam no mercúrio (caracterizado pela fluidez, pelo peso e pela metalicidade), no Enxofre (caracte-rizado pelo princípio da inflamabilidade) e pelo sal (caracterizado pelos princípios da soli-dez e inerciabilidade química relativa). Paracelsus é considerado o pai da farmacologia moderna, em função do seu traba-ho na cura das doenças por tratamentos químicos, e não fitoterápicos. Acreditava que eram necessárias curas semelhantes, para doenças semelhantes. Apesar de alquimista, concluiu que a finalidade da Alquimia, não era a produção de ouro (a Pedra Filosofal), porém preparar misturas de medicamentos químicos para curar doenças. Paracelsus foi o primeiro médico que aplicou os princípios científicos na medicina, e foi responsável pela junção da Iatroquímica e a Alquimia, pelo que como já dissemos, se tornou o precursor da farmacologia moderna.

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No entanto, sua contribuição para a ciência foi sempre acompanhada por uma in-compreensível adesão ao lado místico da pesquisa alquimista, embora fosse um grande experimentador, sempre desejoso de melhor compreender o corpo humano. Embora mais voltado para a medicina, foi, no entanto um dos grandes pesquisado-res na área da Química, especialmente na busca e aplicação de compostos químicos pu-ros. Médico, Filósofo, e Naturalista, Andréa Cesalpino nasceu na Itália, em Arezo, na Toscana, a 6 de Junho de 1519, e veio a morrer em Roma, a 23 de Fevereiro de 1603. Seu grande trabalho, que o distinguiu acima de tudo, foi como Botânico, na Univer-sidade de Pisa, onde foi aluno de Luca Ghini, após a morte de quem, assumiu a direção do Jardim Botânico. Na Universidade de Pisa, foi professor de Filosofia, Medicina e Botânica, durante muitos anos, e com idade já avançada, foi chamado a Roma, onde foi professor de Medi-cina, e médico particular do Papa Clemente VIII. Acredita-se que em Roma, também assumiu a Direção do Jardim Botânico dessa cidade, fundado em 1556 por um de seus alunos, Micheli Mercati. O grande trabalho de Cesalpino, que o tornou imortal, está em seu livro "De Plantis Libri XVI", publicado em Florença em 1583, e antes de Linnaeus, é a maior obra sôbre Botânica jamais escrita. Por incrível que pareça, este livro não é ilustrado, o que contras-ta muito com a obra de Dioscorides.

Fig. 1.20 Andréa Cesalpino (1519 a 1603)

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Devemos a Cesalpino a proposta de uma inovação de ordenamento sistemático das plantas, baseado em seu caráter biológico, que compreendia também a morfologia da estrutura das principais partes dessas, como os aparelhos nutritivo e reprodutivo. Crítico assíduo de Aristóteles e Teofrasto, que estabeleciam analogias entre plan-tas e animais, Cesalpino separou totalmente os vegetais dos animais, para efetuar a sua proposta de classificação de plantas, que apesar de ser bàsicamente artificial, também tinha sua parcela de classificação natural. Cesalpino também usava plantas sêcas para seus estudos, tendo montado vários herbários, um dos quais, e o mais importante, nos anos de 1550 a 1560, para o Bispo Al-fonso Tornabono. Este herbário, foi compilado no Jardim Botânico de Pisa, e está guardado no Mu-seu Botânico de Florença. É composto de três volumes encadernados em couro verme-lho, num total de 260 páginas, contendo 768 variedades de plantas. A partir de Cesalpino, os caminhos da Hidroponia, como cultura sem solo, come-çam novamente a surgir. Esse ressurgimento, não só aparece através de experiências com plantas, porém mais acintosamente pelas descobertas na área da química, onde tanto os compostos químicos, quanto seus elementos, começam a ser identificados, e a serem preparados em quantidades palpáveis e comercializáveis. Várias figuras de destaque na história tiveram sua participação nesta fase, inclusive algumas que a muitos poderão parecer muito estranhas na área científica. É o caso de Francis Bacon, nascido em Londres a 22 de Janeiro de 1561, e faleci-do na mesma cidade em 9 de Abril de 1626. Filho mais novo de Nicolas Bacon, Lorde Guardião do Sêlo Real da Rainha Elisa-beth I, entrou aos 12 anos para o Trinity College em Cambridge, vindo a formar-se em Direito. Conde de Saint-Alban e Barão de Verulan, foi ainda agraciado como Imperador da Ordem Rosa-cruz na Inglaterra, e foi uma das pessoas que mais contribuíram para a transmissão da sabedoria interior, sendo considerado por muitos, como pai da ciência moderna uma vez que foi o promulgador do empirismo, ou comprovação experimental. Foi o criador da filosofia do método científico (hipótese → experimentos → conclu-sões).

Apesar do grande filósofo, foi também grande experimentador na química, e no seu trabalho com Enxofre e Mercúrio, chegou a uma série de conclusões importantes. Concluiu que a água é o principal alimento das plantas, e que a principal função do solo, é sustentar as plantas na posição vertical. Concluiu ainda que, as plantas retiram seus nutrientes do solo, através da água, e que, se cultivarmos uma planta num determinado volume de solo, ela retirará todos os nutrientes nele contidos, até que tal parcela de solo não mais terá condições de alimentar a planta considerada.

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Para a época, eram conclusões até certo ponto, revolucionárias, mas temos que considerar, que os conhecimentos de química eram muito pequenos, e, como ciência, a Química começava ainda a dar seus primeiros passos, independente da Alquimia. Não existiam ainda nomenclaturas para definir compostos químicos, e tampouco se

Fig. 1.21 Francis Bacon (1551 a 1626)

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conheciam processos para produzir sua maior parte, seja em laboratório, muito menos a nível comercial. Os produtos químicos conhecidos eram os encontrados em estado natural, e com eles se faziam as diversas experiências. Mas a Hidroponia, ainda inexistente como técnica, estava prestes a dar o primeiro passo. Não que este passo tenha na realidade iniciado a sua prática, pois muitos anos decorreram até que isso acontecesse. No entanto, ele foi marcante, uma vez que se baseou numa experiência determina-da a colher um resultado comprobatório do que há muito se verificava, mas que era rele-vado a planos secundários, ou seja, que o principal alimento das plantas, é a água. Todo começou através de Johanes Baptiste Van Helmont, ou como é mais conhe-cido, Jan Van Helmont.

Fig. 1.22 Jan Baptiste van Helmont (1577 a 1644) Nasceu de uma família nobre da Bélgica, em Bruxelas, a 12 de Janeiro de 1577, veio a falecer em Vilvorde, também na Bélgica, a 30 de Dezembro de 1644. Educou-se em Louvain, onde se formou em Química, Física e Fisiologia, exercendo alternadamente e sem satisfação pessoal estas atividades, as quais abandonou para es-tudar medicina.

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Formou-se médico em Louvain, e desenvolveu seus estudos também na Filosofia Clássica, Geografia e Direito. Desenvolveu-se ainda na Astronomia, Lógica, Geometria e Álgebra. Durante vários anos viajou pela Suíça, Itália, França e Inglaterra, e voltando ã sua terra natal, fixou-se em Antuérpia durante a grande praga de 1605, onde contratou um casamento rico, fixando-se em Vilvorde em 1609. Van Helmont apresentou contradições curiosas. Por um lado, foi um grande discípulo de Paracelsus, embora repudiasse acintosa-mente os erros deste, e ao mesmo tempo era um místico com grandes tendências ao so-brenatural, um alquimista que acreditava que com um pequeno fragmento de pedra pode-ria transmuta-lo numa quantidade 2.000 maior de Mercúrio ou em ouro. Por outro lado, era tocado pelos novos conhecimentos que produziam celebridades como Harvey, Galileo e Bacon, sendo ao mesmo tempo um grande observador da nature-za e um experimentador exato, que em alguns casos concluía que a matéria não pode ser criada nem destruída. Como químico, credita-se a Van Helmont a posição de fundador da química pneu-mática, apesar desta ter vindo a florescer um século após a sua morte. Ele foi o primeiro a compreender que existem gases distintos do ar atmosférico. Credita-se a ele a invenção ou criação da palavra “gás”, e afirmava que o “gás sil-vestre” (nosso atual gás carbonico), produzido pela queima do carvão, era o mesmo pro-duzido pelas fermentações, tornando a atmosfera das caves vinícolas, às vezes, insupor-tável. Negava veementemente que nem o fogo nem a terra eram elementos, e que esta poderia ser convertida para água. Afirmava que as plantas, por exemplo, são constituídas fundamentalmente por á-gua, crença que o levou ao seu grande experimento, que se tornou fundamental para a história da hidroponia. Era um católico fervoroso, e mesmo assim, em 1625, a Inquisição Geral Espanho-la, condenou 27 de suas proposições, por heresia, arrogância descarada, e associação com as doutrinas Luteranas e Calvinistas. Seu grande trabalho, o tratado "De Magnetica Vulnerum" , também foi impugnado no ano seguinte, e ainda foi condenado pela Universidade de Louvain, de 1622 a 1634, por aderir às idéias de Paracelsus. Foi colocado sob custódia Eclesiástica durante quatro dias, em 1634, e então, transferido para o Convento Minorite em Bruxelas. Após vários interrogatórios, foi colocado sob prisão domiciliar, a qual foi levantada em 1636, porém mesmo assim os processos eclesiásticos contra ele, continuaram até 1642, e sòmente em 1646, após sua morte, sua viúva recebeu sua reabilitação oficial das mãos do Arcebispo de Malines. Mesmo assim, conseguiu o "Imprimatur" eclesiástico para o seu tratado, em 1642.

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Por este motivo Van Helmont não publicou nada entre 1624 e 1642. Embora fosse médico, sua carreira como tal foi muito curta, pois que, por princípio, recusava-se a ganhar sua vida pelo sofrimento de seus semelhantes. Assim sendo, em 1605, abandonou a carreira médica profissional, e passou a praticar a medicina gratuita. No entanto, foi um dos mais atuantes médicos na grande praga de Antuérpia, em 1605. Em 1609, pelo seu casamento com Margarita Van Ranst, da classe média alta Flamenga, assume como lorde feudal em Merode, Royenborch, Oorschot e Pellines, e dos impostos aqui coletados, obtém suas rendas, com as quais subsidia seus trabalhos e suas pesquisas científicas. Neste particular, Van Helmont jamais recebeu subsídios, tendo mesmo recusado tais proventos de várias ofertas feitas por Ernst da Bavária, pelo Arcepispo de Colónia, e pelos Imperadores Rudolph II, Matthias, e Ferdinand II. Foi também apresentado à rai-nha da Inglaterra, mas também recusou suas ofertas. Acredita-se que a única ajuda que aceitou, foi a interferência de Maria de Médici, nos processos que lhe foram movidos pela Igreja, o que não se confirmou até hoje. De acôrdo com a Biografia Nacional da Bélgica, Van Helmont era membro da Or-dem Rosacruz, o que não é confirmado por outros autores. Profissionalmente, além da medicina, que praticava graciosamente, foi um grande pesquisador dentro da Iatroqímica, da Farmacologia (seguidor e praticante das idéias de Paracelsus), e na Botânica, foi um dos grandes pesquisadores de Nutrição de Plantas. A grande experiência (para a época), que marcou a presença de Van Helmont na História da Hidroponia data de 1600. Nosso cientista plantou uma muda de salgueiro com 2,5 Kg de pêso, num vaso com 100 Kg de terra adubada, coberta, para não receber poeiras e algum outro elemento estranho. Durante 5 anos, regou esta planta com água da chuva coada (filtrada). E após este tempo, pesando as partes, verificou que o salgueiro aumentou 80 Kg de pêso, en-quanto a terra utilizada sòmente perdeu 1 Kg do seu pêso inicial. Van Helmont considerou a perda de pêso da terra como erro de medição, e conclui, com pertinência, que as plantas alimentam-se e se desenvolvem a partir da água. Considerando que ainda não se conhecida o processo da fotossíntese, e muito menos o gás carbonico e o Oxigenio, e que a água dissolve os nutrientes do solo, comple-tando com eles a alimentação das plantas, Van Helmont estava certo. O importante dêste experimento, é que ele foi totalmente dirigido à comprovação da alimentação das plantas pela água. O que até então eram suposições e conclusões eventuais de resultados, secundá-rios ou paralelos, de experiências ou observações, que mostravam a necessidade da á-gua para as plantas, passava então a ser algo comprovado definitivamente. No entanto, a Química começava a firmar-se como ciência, e seu desenvolvimento prosseguia.

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E como sempre, conseguirem-se produtos químicos, pelo menos os conhecidos à época, sejam para usos laboratoriais, médicos e ou farmacológicos, era uma dificuldade constante. Esta situação começa a reverter-se a partir de Johann Rudolph Glauber, nascido em Kar-lstadt na Alemanha em 1604, e falecido na Holanda, em Amsterdã, em 10 de Março de 1670.

Fig. 1.23 Johann Rudolph Glauber (1604 a 1670)

Glauber, filho de um barbeiro, Rudolph Glauber, não teve educação universitária. Iniciou sua educação na Escola Latina de Karlstadt, mas não a terminou.

No entanto tornou-se autodidata em Química, Alquimia, Iatroquímica, Farmacologia

e Metalurgia, tendo viajado muito para Paris, Basel, Salzburg e Viena, onde estagiou em vários laboratórios. Para seu sustento, trabalhou em farmácias, especialmente em Giessen, e também se dedicou às artes. Trabalhou também na fabricação de espelhos metálicos fundidos. Em 1635, iniciou seu trabalho como farmacêutico da côrte, em Giessen, e em1654, presenteou o arcebispo de Mainz com seu processo para a fabricação de tártaro, para ga-

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rantir-se de alguns privilégios, que acabou conseguindo em 1652. Foi fabricante de medicamentos, os quais algumas vezes ele mesmo administrava gratuitamente. Tais medicamentos eram normalmente à base de Antimonio, o que cons-tituía uma diretriz nova na farmacologia. Mas, sua vida profissional também girou temporàriamente à volta da indústria viní-cola, e através de sua empresa Dess Teutschlands-Wohlfahrt (de 1655 a 1661), defendeu a exportação de vinho e cerveja, oferecendo receitas de concentrados estáveis, e fàcil-mente exportáveis. Esta foi uma, de uma série de inovações na indústria agrícola, que Glauber levou a efeito para incrementar o comércio Alemão, ajudando sua recuperação após a guerra. Desenvolveu muitos trabalhos na agricultura, recuperando solos nas zonas inférteis junto às praias, através de adubação química à base de tártaro derivado de vinho. Em seu laboratório em Amsterdã, estudou os efeitos de vários tratamentos em pro-dutos agrícolas. Nesta cidade, sustentou-se também vendendo produtos químicos de sua fabrica-ção, entre os quais o Sulfato de Sódio, que descobriu, e que até hoje é conhecido como sal de Glauber. O Sulfato de Sódio natural, em sua honra, é hoje chamado de Glauberi-ta. Conseguiu separar o Nitrato de Potássio (Salpeter de Potássio, resultante da Uréia fermentada), dos solos de pisoteio nas criações de galináceos, e aplicando-o aos solos agricultáveis, verificou seu resultado no incremento de colheitas. Nesta época, afirmou categòricamente: "O salpeter é o principal alimento das plan-tas. Como os animais comem as plantas, e o salpeter é oriundo das mesmas, sendo re-ciclado para o solo, através das fezes dos animais". Este foi o primeiro reconhecimento da reciclagem de nutrientes na natureza. Na verdade, o Salpeter que Glauber separava, era resultado da hidrólise da uréia que se decompõe, formando amonio e gás carbonico, através da ação catalítica da urea-se, enzima produzida e excretada por diversos microorganismos do solo. O amonio resultante nitrifica-se produzindo o ion Nitrato que reage com o Potássio também encontrado na urina dos animais, formando o Salpeter, ou Nitrato de Potássio. Hoje, a uréia é sintetizada artificialmente, para uso como adubo. Como pode ver-se, Glauber, um autodidata, além da contribuição que deu à agri-cultura no campo de adubações, foi na verdade o primeiro industrial a fabricar produtos químicos em escala comerciável. Foi como se vê, o fundador da primeira indústria quí-mica do mundo. Que importância terão estes fatos na Hidroponia? Sem os sais minerais solúveis em água, para preparo de soluções de nutrientes, a Hidroponia torna-se extremamente difícil, e em alguns casos, impossível. É interessante lembrar, que na antiguidade, qualquer pessoa que frequentasse uma universidade, além de sua língua pátria, no mínimo aprendia o Grego e o Latim.

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Eis porque os livros escritos por cientistas, e mesmo a maioria dos livros didáticos eram normalmente escritos em Latim, que era tido como idioma universal. Isto pode no-tar-se pelos títulos de algumas obras que temos citado. Quando algum estudioso, ou mesmo cientista não tivesse frequentado, no mínimo, escola de bom nível, e desconhecia o Latim e o Grego, seu acesso a obras científicas era muito difícil, senão impossível. Este foi o caso de Leonardo da Vinci, de Glauber e vários outros. Muito raramente, cientistas acabaram estudando tais línguas particularmente, com algum mestre, ou mesmo sòzinhos. Da Vinci foi um deles. Da mesma forma, muitos cientistas hoje de renome, tiveram suas obras esquecidas ou relegadas a segundo plano, porque não as escreveram em Latim. Sòmente em tem-pos mais recentes, é que viemos a conhecer seus trabalhos, pois foram traduzidos para outras línguas mais acessíveis modernamente. Hoje, enfrentamos uma situação inversa. O Latim e o Grego não mais são ensi-nados nas escolas e universidades, a não ser para aqueles que queiram dedicar-se ao estudo dessas línguas. Assim, para nós, torna-se difícil o acesso a obras de antigos cientistas, a não ser que tenhamos traduções das mesmas para nosso idioma, ou no mínimo para idiomas ho-je considerados internacionais, como o Francês, o Inglês e o Espanhol. E ao lermos obras recentemente traduzidas, acabamos muitas vezes nos deparan-do com fatos e conhecimentos que julgávamos recentes, mas foram já muito conhecidos, e muitos deles descobertos, há séculos. Um detalhe também muito interessante, é o de a maior parte dos cientistas e mes-mo dos profissionais liberais formados nas antigas universidades, também serem filóso-fos. Além disso, seus estudos universitários, embora dirigidos para uma determinada atividade, também os capacitavam para outras. O estudo era horizontalizado. Eis porque verificamos, por exemplo, que o Médico, no mínimo, também era Filóso-fo, Químico ou Alquimista, e conforme a época, Farmacêutico e Botânico. Não nos esqueçamos que até Paracelsus, as terapias médicas eram naturais, e os medicamentos bàsicamente fitoterápicos, na maior parte das vezes, preparados e forneci- dos pelo próprio médico. É muito fácil hoje, aliviarmos uma azia com aquela pequena dose de bicarbonato de sódio dissolvida em água.

É muito natural, para nós, simplesmente respirarmos, ou usar nosso sôpro, para enchermos as bolas de borracha que enfeitam as festas de aniversário de crianças. Como é fácil e rápido, no laboratório, sabermos se aquela solução é ácida ou alca-lina. É só imergir na mesma uma tirinha de papel, e se a cor do mesmo mudar, teremos nossa resposta. Quem não sabe que a pressão de ar nos pneus dos automóveis aumenta nos dias quentes, e diminui nos dias frios?

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É certo que há trezentos anos, não tínhamos bolas de borracha para encher, e tampouco pneus de automóvel para calibrar, mas tínhamos soluções ácidas e alcalinas para identificar, e tínhamos azias para curar. E isso não era fácil. Saber das horas? É fácil. É só olhar para o pulso, e consultar nosso relógio. Há trezentos anos, teríamos que consultar o relógio da torre ou então prestar atenção nas batidas de seu sino. Os mais velhos, em dias de sol, olhavam para a posição do astro, e conseguiam dizer as horas até que bem certas. O que tem tudo isto a ver com a História da Hidroponia, ou ainda, com a Hidroponia em si? Tem, e muito. Se não mantivermos uma periodicidade correta na rega de nossa cultura, jamais teremos a produtividade que desejamos de nossas plantas. E para isso, precisamos me-dir os tempos dos períodos de rega. Para tanto, precisamos de um relógio, seja ele qual for. Por outro lado, a manutenção do pH (acidez ou alcalinidade) de uma solução de nutrientes, significará uma boa colheita, ou sua perda total. Para isso, necessitamos sa-ber se nossa solução nutritiva está ácida ou alcalina, e quais os níveis dessa acidez ou alcalinidade. Como? Usando-se um indicador de pH, ou ainda um pH-metro. Soluções para pequenos problemas como os que expusemos, começaram com as experiências de vários cientistas, há algumas centenas de anos, dentre os quais podere-mos destacar Robert Boyle.

Sétimo filho de Richard Boyle, um aventureiro a serviço da rainha Elisabeth I da In-glaterra, junto à qual gozava de bastante prestígio, Robert Boyle nasceu a 25 de Janeiro de 1627 no Castelo de Lismore, Condado de Waterford na Irlanda, e faleceu a 30 de De-zembro de 1691, em Londres. Iniciou seus estudos no Eaton College de Windsor, sendo que dos doze aos de-zessete anos continuou seus estudos com seu tutor e professor particular, na Suiça, país que acaba escolhendo para residir, até 1644, quando retorna à Inglaterra, para viver com sua irmã Catherine, Lady Ranelagh, na companhia de quem ficou sòmente um ano. Já formado em Física, Química e Filosofia, de 1645 a 1655, viveu a maior parte do tempo em Dorset, onde iniciou seu trabalho experimental, e a escrita de vários ensaios morais. Retorna por curto espaço de tempo à Irlanda, onde por falta de laboratório, se de-dica à dissecação anatomica. De 1656 a 1668, fixou residência em Oxford, onde, já com boas condições financei-ras, contrata como auxiliar, Robert Hooke, que o ajuda nas suas experiências com ar comprimido, com vácuo físico, com a respiração e com a combustão. Em 1660, publica seu principal trabalho, "The Sceptical Chymist" (A Química Cépti-ca), que o tornou renomado em Física e Filosofia. Nesta obra, exprime seu pensamento àcerca de certas teorias que acredita estarem erradas, como as de Aristóteles. Nesta época, junto com Sir Christopher Wren (1632 a 1723), arquiteto e matemáti-co, com John Wallis (1616 a 1703), matemático e William Brouncker (1620 a 1684), ma-

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temático, funda a "Royal Society of London For The Promotion of Natural Knowledge", ou simplesmente como a conhecemos até hoje, a "Royal Society", à qual, pouco tempo de- pois, se junta Robert Hooke, assistente de Boyle.

Fig. 1.24 Robert Boyle (1627 a 1691) Ainda nesta época, Boyle descobre as relações entre o volume dos gases e as pressões a que estão submetidos, e estabelece a conhecida Lei de Boyle, ou Lei dos Ga-ses Perfeitos. Esta lei foi redescoberta alguns anos após por Edme Mariotte, pelo que passou a chamar-se "Lei de Boyle-Mariotte", e por ela, Boyle conseguiu explicar o mecanismo da respiração. Publica outro livro em 1664, onde explica várias descobertas, entre as quais encon-tramos o processo de digestão dos alimentos, e ainda, a propriedade apresentada pelo suco das violetas, de mudar de coloração ao contacto de soluções ácidas ou alcalinas. As propriedades do suco de violetas, possibilitou pela primeira vez a identificação de ácidos e bases por colorimetria, cujo processo, mais aperfeiçoado, é usado até hoje. Boyle era um seguidor das idéias de Francis Bacon, o que muito influenciou seu temperamento. Fez várias tentativas para explicar os fenomenos químicos em termos de uma teo-ria atomica. Seu sonho declarado, era emitir uma teoria corpuscular ou atomica, com a

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qual pudesse dar explicação a todos os fenomenos químicos. Não conseguiu concretizar este sonho, porém, discutiu uma gama enorme de fe-nomenos e processos químicos em termos atomicos. Auxiliado por Robert Hooke, Boyle construiu a primeira bomba de ar (compressor), e acreditando nas possibilidades dêste seu invento, desenvolveu extensas pesquisas, através das quais, além de descobrir o mecanismo da respiração, de que já falamos, de-monstrou quase todas as características físicas do ar, sua necessidade para o fenómeno da combustão, e para o fenómeno de transmissão do som. Boyle conseguiu mudar completamente a visão da química como um todo. Sua po-sição na Química é comparável à de Copérnico na Astronomia. Porém, como na Astronomia, muitos anos tiveram de passar, para que a estrutura da Química Moderna viesse a ser delineada por Lavoisier e por Dalton. É difícil de acreditar, mas a grande verdade, é que até há pouco tempo atrás, não se tinha conhecimento da existência de nenhum retrato ou gravura de Robert Hooke, o grande auxiliar de Boyle. Até seu nome, ainda hoje, é relativamente obscuro. E isto se deve, na maior parte, ao seu famoso, influente e vingativo inimigo e cole-ga, Sir Isaac Newton. Por outro lado, segundo alguns biógrafos, isto se deve também a que Hooke jamais se deixou retratar, por se achar, segundo suas palavras, "magro, torto, e um homem feio". Por esse motivo, achamos por bem colocar aqui um retrato de Sir Isaac Newton, para que nosso leitor possa conhecer tão grande cientista, porém extremamente genioso e traumatizado.

Aliás, Newton consumiu grande parte de sua vida em conflitos com diversos cien-tistas, como Leibnitz e Flamstead, entre muitos outros, armando contra todos suas vin-ganças, especialmente contra aqueles de quem recebeu colaboração para levar a efeito seu trabalho.

Fazia questão de mostrar que colocava em seus livros e publicações, os nomes de seus colaboradores de trabalho, bem como os de outros cientistas em cujas obras se ba-seava, e depois, num terrível instinto de raiva ou vingança, retirava tais nomes. Jamais admitiu críticas de quem quer que fosse, respondendo furiosamente a to-das. Muitos acreditam que esta personalidade tenha sido causada pelo abandono a que foi submetido enquanto criança. Embora o trabalho de Newton seja de inestimável valor para a humanidade, em especial no que tange às Leis da Gravitação Universal, ou mesmo aos seus trabalhos e descobertas sôbre Ótica, não encontramos dentro dele nenhum fato que pudesse ter al-guma relação com a Hidroponia, pelo que não entraremos em detalhes sôbre eles. Recentemente, localizou-se um retrato comprovado de Hooke, entre alguns dados como tal, mas não verdadeiros.

Robert Hooke nasceu a 18 de Julho de 1635, em Freshwater, na Ilha de Wight, In-glaterra, e faleceu a 3 de Março de 1702 em Londres.

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Frequentou a escola em Westminster, onde aprendeu Latim e Grego, porém, dife-rentemente de seus contemporâneos, nunca escreveu nada em Latim, preferindo expres-sar-se em Inglês.

Fig. 1.25 Sir Isaac Newton (1642 a 1727) Em Oxford, cidade onde conheceu Boyle, de quem se tornou empregado, para aju-dá-lo na construção da bomba de ar, frequentou o Christ College. Descobriu a lei da elasticidade em 1660, hoje conhecida como Lei de Hooke. Trabalhou muito em Ótica, Movimentos Harmonicos Simples, e Esforços em Molas Espirais e Helicoidais. Em 1665, foi nomeado para o Gresham College de Londres, onde foi professor de Geometria durante 30 anos. Hooke inventou o pêndulo conico e foi a primeira pessoa a construir um telescópio Gregoriano de reflexão. Fez grandes observações astronomicas, descobrindo o movimento de rotação do planeta Júpiter. Seus desenhos de Marte foram usados mais tarde para determinar o ciclo de rotação dêsse planeta, e em 1666, propôs que a gravidade poderia ser medida usando-se um pêndulo.

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Foi um arquiteto muito competente, e em conjunto com seu cargo de professor, assumiu o de inspetor e agrimensor da cidade. Em 1696, após o grande incêndio de Londres, foi nomeado assistente chefe de Sir Christopher Wren no projeto de reconstru-ção da cidade.

Fig. 1.26 Robert Hooke (1635 a 1702) Em 1672, tentava provar que a Terra se movia numa órbita elíptica à volta do Sol, e, seis anos mais tarde, para explicar o movimento dos planetas, propunha uma lei base-ada no inverso dos quadrados das distâncias entre eles. Hooke não foi capaz de fornecer as provas matemáticas de suas conjecturas, po-rém, sempre clamou por sua prioridade na descoberta da lei dos inversos dos quadrados, o que o levou à sua maior disputa com Newton.

Essa disputa chegou a tal ponto, que Newton, usou este fato como desculpa, para retirar o nome de Hooke de seu livro "Principia".

As pesquisas e inventos de Hooke não tiveram fronteiras dentro da ciência, e foram

desde a Física à Astronomia, da Química à Biologia, da Geologia à Arquitetura e à Tecno-logia Naval.

Correspondeu-se e colaborou com cientistas tão diversos como Christian Huygens, Antony Van Leeuwenhoek, Christopher Wren, Robert Boyle e Isaac Newton. Dentre suas invenções, podemos citar algumas, como a junta mecânica universal, o sistema de diafragma íris, um protótipo de respirador artificial, o sistema de escapamen-to de âncora e cabelo (mola espiral) pelo uso do qual se fazem os mais precisos relógios mecânicos.

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Trabalhou na correção da teoria da combustão, auxiliou Robert Boyle no desenvol-vimento da Lei dos Gases Perfeitos e trabalhou ainda na Física dos Materiais Elásticos.

Inventou e também aperfeiçoou vários instrumentos meteorológicos, como seja o barómetro, o anemómetro, o higrómetro, e muitos outros.

Era o tipo de cientista virtuoso, capaz de contribuir com as descobertas de maior importância em qualquer campo da ciência, e não nos admiremos, pois fez das maiores descobertas na Biologia e na Paleontologia. Sua reputação como biólogo, apoia-se principalmente no seu livro "Micrographia", publicado em 1665, e que se tornou um dos livros mais procurados e lidos tanto nos mei-os científicos quanto fora deles. Desenvolveu para um microscópio de três lentes, que ele mesmo construiu, basea-do na "luneta" de Huygens, um sistema de iluminação incidente, o qual, para o seu tempo, foi o mais perfeito do mundo. Através de seu microscópio, observou e estudou objetos tão diversos quanto inse-tos, esponjas, briozoários, penas, e outros tantos. De tudo o que observou, fez os mais detalhados e precisos desenhos, os quais foram publicados em "Micrographia". Talvez a sua mais importante observação microscópica tenha sido a de finas lâmi-nas de cortiça, onde pela primeira vez foram vistas as células. Na verdade, o que obser-vou, foram as membranas das células, pois que a cortiça é formada pelas membranas de células mortas. Porém, ele as chamou de "células", pela semelhança que encontrou entre elas e as células dos conventos religiosos, e foi o primeiro a fazê-lo. Esse nome permanece até hoje. Não queremos alongar-nos no que tange às pesquisas de Hooke sôbre fósseis, mas foi o primeiro cientista que os observou ao microscópio, e como consequência dêste seu trabalho, tivemos o início da hoje conhecida Paleontologia. Seu trabalho e descobertas dentro da microscopia marcaram o início de uma nova era na Biologia e na Botânica. Se hoje conhecemos toda a estrutura celular das plantas, se conhecemos a mecâ-nica do sistema de absorção de água e nutrientes pelas raízes, se conhecemos as estru-turas das folhas com seus estomas e seu sistema vascular, e muito mais, tudo isso de-vemos às pesquisas e descobrimentos de Robert Hooke no campo da microscopia. Mas quando falamos de microscópio também nos lembramos de Antony Van Le-euwenhoek, com quem Robert Hooke se correspondeu largamente. Leeuwenhoeck não era um cientista. Era um comerciante de Delft, na Holanda, e veio de uma família também de comerciantes. Não tinha fortuna, não recebeu nenhuma instrução de grau universitário, e só fala-va seu idioma, o Holandês. Isto seria o suficiente para ser excluído por completo da co-munidade científica de sua época. Porém, dotado de muita habilidade, dedicação, de uma extraordinária curiosidade,

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e de espírito muito aberto, completamente livre dos dogmas dos cientistas seus contem-porâneos, obteve um enorme sucesso ao fazer algumas das maiores e mais importantes descobertas na história da Biologia. Descobriu as bactérias, os Protozoários, as células do esperma, as células do san-gue, nematóides microscópicos, e muito mais. Suas descobertas, que circularam pelo mundo de então, abriram por inteiro o mun-do microscópico ao conhecimento dos cientistas. Antony Van Leeuwenhoek, nasceu em Delft, na Holanda, a 24 de Outubro de 1632, e faleceu a 30 de Agosto de 1723. Seu pai era um artesão fabricante de cestos, e sua mãe vinha de uma família de cervejeiros.

Fig. 1.27 Antony Van Leeuwenhoek (1632 a 1723) Foi educado numa escola comum de Warmont, após o que viveu com seu tio em

Benthuizen. Tornou-se aprendiz numa lavanderia de tecidos, em 1648. Em torno de 1654, re-torna para Delft, onde passou o resto de sua vida, como comerciante de tecidos. Tam-bém trabalhou como agrimensor, como analista de vinhos e como oficial menor da cidade. No ano de 1676, foi síndico da massa falida de seu amigo de infância, o pintor Jan Vermeer. Em 1668, Antony Van Leeuwenhoek aprendeu a polir lentes, fabricou microscópios simples, e começou a fazer observações com eles. Alguns biógrafos dizem que se resol-

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veu fazer observações microscópicas após ter lido o livro "Micrographia" de Robert Hoo-ke, que o próprio autor ilustrou. Sabe-se que Leeuwenhoek construiu mais de 500 microscópios, dos quais apenas cêrca de dez existem até hoje em museus. A julgar pelos aparelhos que se conhecem, os microscópios de Leeuwenhoek não passavam de simples lentes de grande aumento, e não microscópios compostos. Eram constituídos por uma pequena chapa de metal, onde era fixada a lente, dota-da de um parafuso traseiro no sentido vertical. Êste parafuso ficava atrás da lente, tinha um segundo parafuso que servia de trava ao primeiro, o qual terminava por uma ponta, onde era espetada a amostra a ser analisa-da. Não havia sequer uma boa regulagem de foco. O conjunto montado, não media mais do que 80 ou 100 mm de comprimento, e para ser utilizado, tinha que ser mantido manualmente, com a lente encostada ao olho, como se fosse um monóculo. Era necessário um ambiente de muita luz, para poder ser usado.

Fig. 1.28 Microscopio de Antony Van Leeuwenhoek Embora muitos acreditem que Antony Van Leeuwenhoek tenha inventado o mi-croscópio, isso não é a realidade, pois esse instrumento foi inventado em 1595 por Zacha-rias Jansen, um holandês de Middleburg, quarenta anos antes de Leeuwenhoek ter nas-cido. E o microscópio de Jansen, já era tubular, era constituído de duas lentes conjuga-das, e tinha regulagem de foco. Inclusive, há dúvidas quanto a Hooke ter construído seu primeiro microscópio, sen-do que muitos acreditam que o comprou de Jansen, e sòmente desenvolveu o sistema de iluminação. Todavia, por causa de várias dificuldades técnicas na construção de lentes, os pri-meiros microscópios não aumentavam mais do que vinte ou trinta vezes o tamanho natu-

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ral. Porém, a habilidade particular de Leeuwenhoek no polimento de lentes, aliada ao seu alto grau de visão e seu cuidado na escolha da iluminação, possibilitaram-lhe a cons-trução de microscópios que aumentavam até duzentas vezes o tamanho natural. E o que mais distinguiu Leeuwenhoek, foi a sua curiosidade na observação de tudo o que pudesse montar sob as suas lentes, e o detalhismo com que conseguia descrever tudo o que via. Como não era habilidoso para desenhar, contratou um desenhista para desenhar tudo o que descrevia seja oralmente, seja por escrito.

Os detalhes com que descrevia por escrito os microorganismos que observava, e-ram de tal forma profundos, que bastava ler seus textos, para imediatamente se reconhe-cer o que tivera observado. Em 1673, Leeuwenhoek começou a remeter cartas para a recém formada Royal Society of London, descrevendo o que observava aos seus microscópios. E fez isto du-rante cinquenta anos. Suas cartas, escritas em Holandês, eram traduzidas para o Inglês e para o Latim, e impressas no "Philosophical Transactions of the Royal Society", e muitas vezes reimpres-sas em separado. Suas observações foram tão extensas e detalhadas, e contribuíram de tal forma para o desenvolvimento científico da época, que, em 1860 foi eleito membro integral da Royal Society, juntando-se a cientistas como Robert Hooke, Henry Oldenburg, Robert Bo-yle, Christopher Wren, e outros tantos, sem jamais haver tomado parte em alguma reuni-ão nessa eminente sociedade. Em 1698, chegou a receber em sua casa o Czar Pedro "o Grande" da Rússia, a quem demonstrou a circulação nos vasos capilares de uma enguia. Continuou suas observações até o último dia de sua vida, em 30 de Agosto de 1723, assistido pelo pastor da Nova Igreja de Delft, que escreveu para a Royal Society: "Antony Van Leeuwenhoek considerou que aquilo que é verdadeiro na filosofia na-tural pode ser investigado com melhores resultados pelo método experimental, suportado pela evidência dos sentidos; por tal razão, com diligência e trabalho incansável fez suas lentes, e com sua ajuda, descobriu muitos segredos da Natureza, que agora são conheci-dos e famosos através de todo o mundo filosófico". Hoje, aqueles que são ou pretendem ser hidroponistas ou pesquisadores nessa área, com grande facilidade tomam de um microscópio e identificam a contaminação de seus cultivos com algum nematóide ou algum fungo. Ou então, usando essa mesma fa-cilidade, regulam seu controlador de tempo para ajustar o melhor ciclo de rega ou de ne-bulização de suas plantas. Fazem-no, porque existiram cientistas como Robert Hooke, curiosos, devotados e persistentes, ou como Antony Van Leeuwenhoek, que apesar de sua "ignorância" chegou às raias da ciência, mostrando aos homens de suas épocas o mundo que lhes era desco-nhecido, e muitas vezes relegado a planos inferiores por seus condutores.

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E como acontece frequentemente, o grande impulso rumo ao caminho que nos le-varia finalmente à técnica hidroponica, vem de um personagem destituído dos grandes conhecimentos científicos universitários. Falamos de Sir John Woodward, aquele que na verdade foi o Grande Marco Inicial da Hidroponia.

Fig. 1.29 John Woodward (1665 a 1728) Nascido em Derbyshire, na Inglaterra, a 1 de Maio de 1665, veio a falecer em Lon-dres, em data não muito precisa, em Abril de 1728. Existe uma passagem numa de suas cartas, que também faz supor que nasceu em 1668. Não frequentou nenhuma Universidade, porém, dominava bem o Latim e alguma coisa de Grego, que aprendeu numa escola do interior de seus pais. Aprendeu medicina prática, como aprendiz de Peter Barwick, médico do rei, entre 1684 e 1688. Recebeu seu “Master Doctorate” como prémio especial concedido pelo Arcebispo de Cantebury, em 1695, com o grau Lambeth, o que foi confirmado por Cambridge em 1697, porém não se conhece com certeza, em que formação ou profissão foi doutorado.

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Dedicou-se com profundidade à História Natural, à Geologia, à Paleontologia, à Mineralogia, à Botânica e à Medicina. O interesse de Woodward pela ciência, foi muito variado, e durante suas viagens no exercício da medicina, as quais começou a fazer muito jovem, estudou profundamente as plantas, os minerais, e os fósseis. Sua reputação ganhou corpo, quando apresentou um ensaio intitulado "Essay To-ward a Natural History of the Earth" (Ensaio Sôbre a História Natural da Terra), em 1695, o que foi uma teoria muito avançada para explicar a estratificação dos solos, com os fós-seis nele incrustados, a partir de resíduos depositados provenientes de dilúvios ou de i-nundações. Insistia que os fósseis eram restos de animais e plantas que viveram em eras pas-sadas, relacionando tais fósseis com a formação das rochas. Formou uma grande coleção de fósseis e minerais, que colhia pessoalmente, ou que lhe eram enviados de muitas partes, os quais tentou classificar, conforme seu livro "Naturalis Historia Telluris", publicado em 1714. Chegou assim à sua primeira classificação de minerais, se bem que primária, em seu livro "Fossils of All Kinds Digested Into a Method" publicado em 1729. Neste livro, pela primeira vez, foi usado o termo genérico "fóssil", cuja criação se atribui a Woodward. Numa obra de publicação póstuma, em 1729, também cuidou de minerais, tendo ainda escrito um tratado sôbre a história natural de minérios e metais, que como dito, não chegou a publicar em vida. Por todo este trabalho, foi considerado como sendo a maior figura na Geologia In-glesa. Era muito genioso, arrogante, sensível e briguento, o que lhe valeu inúmeras inimi-zades, porém, mesmo assim, em 1693 foi eleito membro da Royal Society, onde por vá-rias vezes integrou o conselho administrativo, e foi também eleito membro do Medical Col-lege e do Royal College of Physicians, em 1703. Sôbre medicina, sòmente publicou um trabalho, "The State of Physick and of Dise-ases", em 1718, o qual lhe valeu muitas discussões e brigas, as quais eram frequentes na sua vida. O Dr. Peter Barwick, médico do rei e seu instrutor de medicina, além de Robert Plot, um de seus poucos amigos, influenciaram sua nomeação como professor do Gre-sham College, onde lecionou entre l692 e 1728 Woodward deixou como legado, para a Universidade de Cambridge, dois armários com coleções de fósseis, para que servissem de material de ensino, além de boa soma em dinheiro, para que após sua morte, se fundasse o "Woodwardian Professorship of Ge-ology". Em 1729, a Universidade comprou o restante da coleção do espólio de Woodward, fundando o Woodwardian Museum, com finalidades didáticas, mantido e utilizado pelos professores Woodwardianos Em 1904, foi construído, em homenagem a Adam Sedgwick, professor Woodwar-

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diano, o atual Sedgwick Museum of Geology, em Cambridge, onde se encontra a coleção de fósseis de John Woodward. Porém, sua vida como experimentador sistemático na nutrição de plantas, é para nós a parte mais interessante. John Woodward acreditava que as plantas nutriam-se fundamentalmente da água, e não do solo. Porém quando retirava plantas do solo, e as deixava para sobreviver com as raízes imersas na água, suas plantas morriam dentro de pouco tempo. Notou que realmente as plantas absorviam a água, pelo que tinha que completá-la nos vasos de vidro onde as mantinha.

Porém quando mantinha o nível de água abaixo do colo das raízes, sua vida era mais longa, pelo que passou a deixar sòmente cerca de metade das raízes imersas. Ho-je sabemos, que as plantas absorvem Oxigenio pelo corpo das raízes. Verificava também, que as plantas que mantinha em vasos com terra, sobreviviam se a terra fosse periòdicamente regada. Não adiantava molhar as folhas. Perguntava-se então, que relação existiria entre as plantas, a terra e a água. A planta, era seu objetivo final, e pelo menos durante bom tempo, sobrevivia só com água, porém isso não acontecia só com terra. Então, algo deveria existir na terra, que se mistu-rava com a água, e mantinha as plantas vivas. Tomou então a decisão final, e dissolveu terra na água, deixando sedimentar a par-te não dissolvida.

Na solução obtida, suspendeu plantas de menta, e verificou então, que elas sobre-

viviam, e se desenvolviam. Experimentou outros tipos de plantas, e outros tipos de terra, e os resultados foram sempre positivos.

Porém, quando usava terra oriunda de locais de pisoteio de gado ou de aves, mui-tas vezes, suas plantas morriam. Começou então a variar as quantidades de terra dissolvidas, de acôrdo com sua origem, e verificou que, conforme o tipo de terra utilizado, era necessário ajustar a quanti-dade desta na solução. Quando começou a escrever suas conclusões dizia: "As plantas alimentam-se da água e de elementos nela dissolvidos, que se encon-tram na terra. Quando conseguirmos descobrir quais são esses elementos, poderemos prescindir da terra, para cultivá-las.

Existe um processo em cada parcela da Natureza, que é perfeitamente regular e geométrico, e se conseguirmos encontrá-lo receberemos a compensação pelo nosso tra-balho. “Acredito que descobri um dêsses processos, e estou seguro que cedo ou tarde, a Natureza nos recompensará". John Woodward jamais imaginaria que acabara de dar início à moderna tecnologia Hidroponica. Para o nosso cotidiano, sem dúvida que é mais fácil dizermos "alface", "tomate" ou

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"homem", do que "Laetuca Sativa", "Lycopersicum Esculentum" ou "Homo Sapiens", que são palavras em Latim. Como se isso não bastasse, a cada par de palavras em Latim, ainda se juntam umas letras como "Lin", ou "Linn". Mas se, por exemplo, estivermos nos Estados Unidos, e quisermos comprar umas sementes de alface, uma vez que dominemos relativamente bem o idioma, poderemos pedir Lettuce Seeds. Porém, se não dominarmos o idioma, bastará pedirmos "Laetuca Sativa" Seeds. Aquelas duas palavras em Latim seriam a solução de nosso problema. E isto acontece, porque todos os seres vivos, hoje estão classificados numa deter-minada ordem, e de acôrdo com certas características que são peculiares para cada um. E a cada ser vivo foi dado um nome. Porque o Latim desde tempos idos era con-siderado língua universal, o nome foi dado nessa língua, para que tal nome fosse reco-nhecido por qualquer pessoa, falando qualquer idioma. E aquelas letras no final de cada nome? Bem, essas geralmente são uma home-nagem a quem pela primeira vez classificou tal ser, ou algum personagem célebre dentro do mundo científico. No nosso exemplo, "Lin", ou "Linn", são uma homenagem a Linna-eus, ou melhor, a Carl Linnaeus. Como já mostramos várias vezes ao longo destas páginas, desde a época de Teo-frasto, que diversos cientistas e pesquisadores têm dedicado vários anos de suas vidas na tentativa de estabelecer uma classificação para os seres vivos. As diversas tentativas de classificação, de maior ou menor êxito, ao longo dos sé-culos, tiveram sempre dois aspectos básicos que as orientaram. As classificações naturais, que levavam em consideração tanto o ser vivo, quanto o ambiente em que se desenvolvia, ou ainda a finalidade a que se destinava. As classificações artificiais, que agrupavam os seres vivos de acôrdo com peculia-ridades que eram comuns em todos os participantes de cada grupo, como por exemplo, o tipo de flor ou o tipo de folha de determinado grupo de plantas, sem considerar seu "habi-tat" ou sua utilidade. Teofrasto formulou uma classificação artificial, e assim o fez Andréa Cesalpino, e outros. Já Dioscorides, usou uma classificação natural, pois além de características mor-fológicas das plantas, considerava também seu "habitat" e sua utilidade. No entanto, a mais perfeita classificação dos seres vivos, começou pela classifica-ção de plantas feita por Carl Linnaeus.

Não existe nenhuma conexão direta, entre a História da Hidroponia e a classifica-ção dos seres vivos, e acreditamos que muito menos exista uma conexão indireta. O único relacionamento diz respeito às plantas de modo geral.

Porém, nestas páginas, temos prolongado nossos tópicos relativos à História da Hidroponia, juntando pequenas biografias dos personagens que entendemos estarem li-gados a ela, por mínimos indícios que sejam.

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Temos juntado também esclarecimentos a certas dúvidas que persistem até hoje, como é o caso dos Jardins Suspensos de Babilonia. Porque então, não falarmos de um personagem, que conseguiu juntar todos os ci-entistas mundiais ligados às ciências da vida na Natureza, sejam eles de ontem, de hoje ou de amanhã? Dizemos que juntou, porque que todos, a partir de certa data passaram a usar o sistema de classificação de seres vivos, conhecidos ou a conhecer, idealizado por esse cientista. Falemos então alguma coisa sôbre ele.

Fig. 1.30 Carl Linnaeus (1707 a 1778) Carl Linnaeus, como foi seu nome de batismo, nasceu na Suécia, em Stenbrohult, na província de Smaland, a 23 de Maio de 1707, vindo a falecer, vítima de um derrame cerebral, em 1778. Nos seus livros, Linnaeus usou seu primeiro nome, numa transformação para o Latim, Carolus, mantendo seu sobrenome. Em 1762, foi armado cavaleiro, e recebeu título de nobreza do rei Adolf Frederik, tendo seu nome mudado para Carl von Linné. O "von" foi-lhe adicionado ao nome para dar-lhe a marca da nobreza Alemã, dado que tal tipo de marca não existe na língua Sue-ca. Na mudança de seu nome dotado de marca de nobreza, foi acentuado o "e".

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Assim sendo, quando encontramos citações como Linnaeus ou Linné, ou ainda como Carolus ou Carl, todas estão corretas, embora a mais correta de todas, seja Carl Linnaeus, seu nome de batismo. Seu pai, Nils Ingemarsson Linnaeus, era um profissional jardineiro, e pastor Lute-rano, ao passo que Carl, desde criança, mostrava um profundo amor pelas plantas e seus nomes, desapontando enormemente sei pai, por não apresentar nenhum interesse pelo sacerdócio. No entanto, deu alguma alegria à família, quando, em 1727, ingressou na Universi-dade de Lund, para estudar medicina. E assim, um ano depois, transferiu-se para a Uni-versidade de Uppsala, a mais prestigiada universidade da Suécia. Apesar disso, não tinha interesse pelo curso que seguia, aproveitando-se dele sim-plesmente pelas aulas de Botânica, e gastando a maior parte de seu tempo em colecionar e estudar plantas. Temos que entender, que à época, os cursos de medicina eram muito completos na cadeira de Botânica, uma vez que as terapias médicas eram essencialmente fitoterápi-cas, e os próprios médicos preparavam os medicamentos que ministravam. Em 1731, apesar de suas péssimas condições financeiras, Carl montou uma expe-dição botânica à Laponia (no retrato de Linnaeus que mostramos, ele usa o traje Lapão típico). Em 1731, montou mais uma expedição, também botânica, à Suécia central. Em 1735, desloca-se para a Holanda, onde, na Universidade de Harderwijk, termi-na seu curso de medicina, após o qual faz pós-graduação na Universidade de Leiden. Nesse mesmo ano, publicou a primeira edição de seu livro "Systema Naturae", on-de apresenta seu sistema de classificação dos seres vivos, passando a manter contato ou a corresponder-se com os maiores botânicos da Europa, e continua a aperfeiçoar seu sis-tema de classificação. Retornou à Suécia em 1738, onde passou a exercer a medicina, sendo em 1741, nomeado professor na Universidade de Uppsala. Aqui, restaura o Jardim Botânico da Universidade, já agora dispondo as plantas do Jardim, de acôrdo com seu sistema de classificação, inspirando toda uma geração de es-tudantes no seu amor pelas mesmas. Continua sempre aperfeiçoando seu sistema de classificação de seres já descrito em "Systema Naturae", e ainda encontra tempo para exercer a medicina, tornando-se médico da Família Real Sueca. Seus últimos anos de vida foram marcados por incrível depressão, vindo a falecer, como já dissémos, em 1778, vítima de um derrame cerebral. Seu sistema de classificação era binomial, ou seja cada ser vivo recebia um nome composto de duas palavras sendo a primeira o nome do genero do ser, e a segunda o nome da sua espécie. A sequência de sua classificação constituia-se de Reinos, Classes, Generos, e Es-pécies, e dentro dela, classificou mais de quatro mil seres vivos, inclusive o Homem, que Linnaeus cognominou, e nisto foi o primeiro, de Homo Sapiens.

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Sempre visando a classificação de seres vivos, Linnaeus escreveu várias obras, como "Flora Lapponica" em l737, resultado de sua expedição à Laponia em 1731,"Philosophia Botanica" em 1751, "Species Plantarum" em 1753, e "Genera Morbum" em 1763. Muito se poderia falar de Carl Linnaeus, mas para tanto, fugiríamos exageradamen-te à meta de nosso trabalho. Além disso, durante o período em que se dedicava à classificação dos seres vivos, a Química continuava avançando cada vez mais, com grandes descobertas, de enorme importância para o conhecimento da Nutrição das plantas, e paralelamente, para o de-senvolvimento da Hidroponia. John Woodward já havia delineado os princípios básicos da cultura em água, po-rém, ao emitir suas conclusões, desconhecia o mecanismo de absorção de gás carbonico através das folhas. Sequer conhecia o gás carbonico.

Fig. 1.31 Joseph Priestley (1733 a 1804)

E este conhecimento, veio através das descobertas de Joseph Priestley.

Um dos seis filhos de Jonas Priestley, Joseph Priestley nasceu a 13 de Março de 1733, na Inglaterra, em Fieldhead, perto de Birstall em Yorkshire. Sua mãe faleceu, ao dar à luz o sexto filho, em seis anos de casamento.

Ainda jovem decidiu seguir a carreira do Sacerdócio, e para tanto, estudou Latim, Grego e Hebreu.

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Vítima de doença pulmonar, que deixava em dúvida se poderia prosseguir na car-reira que decidira seguir, aprendeu sozinho o Francês, o Italiano e o Alemão, preparando-se assim para alguma ocupação comercial.

No entanto recuperou-se, e entrou para a Academia de Daventry, sendo diplomado ministro da igreja em 1755. Em 1758, mudou-se para Nantwich, tornando-se professor na Warrington Academy em Lancashire, por onde veio a receber sua ordenação final em 1762, ano em que casou com Mary Wilkinson, irmã única de um cuteleiro. Em Nantwich, começou a ensinar física e química, e, numa visita a Londres, em 1766, conheceu Benjamin Franklin, que lhe forneceu vários livros. Ao saber que Priestley havia descoberto que o carvão vegetal era condutor elétrico, pediu-lhe que editasse o livro "History of Electricity", que Benjamim havia escrito recente-mente. Durante toda a sua vida, Priestley se dividiu entre o sacerdócio e a ciência, para a qual, desde jovem, sempre mostrara grande vocação. Aos nove anos de idade, Priestley havia sido adotado por sua tia, Sarah Keighley, a qual, como seu marido, era uma "Dissenter". Os "dissenters" eram pessoas que pertenciam a outras igrejas, que não a Igreja da Inglaterra, e neste grupo estavam incluídos os Católicos, os Quackers, os Calvinistas, os Presbiterianos, e outros. Priestley era Presbiteriano. Esta dissidência religiosa acabou obrigando Joseph Priestley a emigrar para a A-mérica, em 8 de Abril de 1794, fixando-se em Northumberland, próximo a Philadelphia, onde veio a falecer, em 6 de Fevereiro de 1804, vitima de uma pleurisia. A carreira religiosa de Priestley foi muito atribulada, e até certo ponto prejudicou-o por toda a vida, porém, aqui dedicar-nos-emos mais à sua carreira científica. Em 1766, foi admitido para a Royal Society. Em 1772, foi eleito membro da Aca-demia Francesa de Ciências, e em 1780, nomeado membro da Academia de São Peters-burgo, na Rússia. Por razões financeiras, em 1767, tornou-se ministro em Yorkshire, na congregação de Mill Hill, em Leeds. E é aqui, que começa realmente seu interesse pelo estudo dos gases, que o tornou famoso no mundo da ciência. Em Leeds, Priestley morava perto de uma cervejaria, e lá, descobriu uma maneira de coletar o gás que exalava dos tanques de fermentação de cerveja, verificando posteri-ormente que esse gás se dissolvia na água, e em outros líquidos. Pensou que, dissolvendo esse gás no vinho, poderia fazer vinho gasoso, como a cerveja, sugerindo que isso poderia também prevenir o escorbuto nos marinheiros, duran-te as viagens longas. Na verdade, havia descoberto o gás carbonico, e pelo fato de dissolvê-lo no vinho, podemos dizer que se tornou o Pai das bebidas gasosas. Priestley conseguiu isolar uma série de gases, como o óxido de Nitrogenio, o amo-nio, o dióxido de enxofre, o monóxido de carbono, e o dióxido de carbono, para o que

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usava uma cuba pneumática de mercúrio (cuba ou câmara hidragiropneumática). Antes de prosseguir, convém lembrar que era partidário da teoria do "Phlogiston", conservando esta posição, mesmo após ter conhecido pessoalmente Antoine de Lavoisi-er, e com este ter trocado idéias e opiniões a respeito, em vários encontros, além de mui-ta correspondência. Estudou detalhadamente cada gás que descobriu e isolou, procurando aplicações práticas para os mesmos. Em colaboração com Henry Cavendish descobriu que a água é um composto, for-mado de Oxigenio e Hidrogenio. No entanto, a maior descoberta de Joseph Priestley, foi o Oxigenio, que isolou a partir do óxido de Mercúrio, em Agosto de 1774. Queremos aqui fazer uma ressalva quanto à descoberta do Oxigenio por Priestley. Na verdade, o Oxigenio foi descoberto pelo farmacêutico sueco Karl Wilhelm Sche-ele, em 1772.

Porém, seu trabalho sòmente foi publicado e dado a conhecer ao mundo científico, em 1777, pelo que Priestley o desconhecia. No entanto, Priestley publicou suas descobertas em seu livro "Experiments and Observations on Different Kinds of Air", em 1775, dois anos antes de Scheele. Eis por-que se dá a Priestley o privilégio da descoberta. Das muitas experiências levadas a efeito por Priestley, a que se tornou bastante extensa e valiosa para nós, foi a do gás carbonico. Como de seu hábito, nosso cientista procurava sempre as aplicações para os ga-ses que descobriu, e notou que, quando colocava um rato dentro de uma campânula com Oxigenio, este morria dentro de certo tempo. Concluindo que o animal consumia o Oxigenio da campânula, verificou que o gás resultante era gás carbonico, pelo que podia concluir que o Oxigenio era fundamental pa-ra a respiração e sobrevivência dos animais, além de que, pela respiração, estes exala-vam gás carbonico. Por outro lado, nas experiências com gás carbonico, sabendo que um rato não so-breviveria numa campânula com esse gás, experimentou uma planta. Para manter a planta viva dentro da campânula, ele a colocava numa solução de solo, como já havia sido experimentado por John Woodward, e da mesma forma que es- te, usou plantas de menta. Verificou, que as plantas sobreviviam durante certo tempo, e depois morriam. Analisando o gás residual da campânula, verificou que era Oxigenio. Sabendo a composição do gás carbonico, concluiu que, de alguma forma as plan-tas tinham consumido o carbono do gás carbonico, e deixado em seu lugar, ou exalado, Oxigenio.

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Analisando os resultados das duas experiências, concluiu que, se a planta necessi-tava de gás carbonico para sobreviver, e o rato precisava de Oxigenio, juntando planta e rato numa só campânula, poderia compensar os gases formados e consumidos. Experimentou, e o resultado foi positivo. Sem o pretender, havia verificado a ab-sorção pelas plantas do carbono contido no gás carbonico do ar, e a liberação de Oxige-nio por estas. Além disso, também sem querer, confirmou as experiências de John Woodward quanto à sobrevivência das plantas em solução aquosa. Com estes experimentos, também se conseguiu explicar mais uma parte das dife-renças encontradas por Jan Van Helmont. O grande aumento de pêso de sua muda de salgueiro, proveio não só da água, mas também do carbono que absorvera do gás carbo-nico do ar. Em resumo, descobriu o sistema de respiração das plantas, que hoje conhecemos como fotossíntese, porém não chegou a descobrir o seu mecanismo. Joseph Priestley, conhecido por sua calma, seu modo carinhoso de falar, mesmo quando prègava no púlpito conseguiu conciliar a religião e a ciência, sem, no entanto mis-turá-las, e foi tido como um dos grandes cientistas precursores da química moderna. Pelo seu "status" de Químico e homem religioso, fez-nos compreender a importân-cia dos vegetais na natureza quando disse: "I have been so happy as by accident to hit upon a method of restoring air which has been injuried by the burning of candles and to have discovered at least one of the res-toratives which Nature employs for this purpose. It is vegetation". "Fui tão feliz que, por acidente, na busca de um processo de recuperação do ar envenenado pelas velas queimando, encontrei pelo menos um, que a Natureza emprega para essa finalidade. É a vegetação". Uma das características de Priestley, a qual até certo ponto lhe foi prejudicial, era a de relatar tanto os sucessos quanto os insucessos de suas experiências. E assim ficamos sabendo que nem sempre tinha sucesso quando colocava plantas em gás carbonico para obter Oxigenio. Quando fazia suas experiências em dias obscu-ros ou encobertos, seus resultados eram negativos. Não chegou a descobrir o porquê dêste fenómeno, e sòmente em 1779, é que o Fisiologista holandês Jan Ingenhousz (1730 a 1799), pela publicação do seu livro "Expe-riments on Vegetables", trouxe à luz a solução. Repetindo as experiências de Priestley, Ingenhousz verificou que para o fenómeno acontecer, era necessário que as plantas estivessem expostas à luz solar. Descobriu também, que sòmente as partes verdes das plantas é que tinham a ca-pacidade para produzir Oxigenio. Além disso, também verificou, que havia uma razão direta entre a intensidade da luz, e a produção de Oxigenio, ou seja, quanto maior a intensidade da luz, maior a quanti-dade de Oxigenio produzida.

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Lentamente, através de anos de pesquisas, os cientistas iam desvendando os por-quês das diferenças de pêso encontradas por Jan Van Helmont na sua experiência. E, mais um passo foi dado, pelo fisiologista suíço, Nicholas Theodore de Saussure (1767 a 1845). Filho do cientista, geólogo, filósofo e alpinista Horace Benedict de Saussure (1740 – 1799), nasceu em Genève na Suíça.

Fig. 1.32 Jan Ingenhousz (1730 a 1799

Seu pai decidiu educá-lo, e com ele fez várias viagens e expedições científicas. Foi membro da expedição de seu pai ao Monte Branco nos Alpes Suíços em 3 de Agosto de 1787, e conduziu várias experiências que confirmaram o trabalho de Edmé Ma-riotte sôbre o pêso do ar a várias altitudes. É interessante notar que Horace Benedict de Saussure, foi o segundo homem a escalar o Monte Branco, um ano após a primeira escalada levada a efeito por J. Balmat e M.G. Paccard. Durante a escalada do Monte Branco, fez vários experimentos sôbre a umidade, pressão do ar e ebulição da água, e ainda estimou a altura desta elevação em 4775 me-tros, valor 30 metros menor do que a real altura da mesma. Desenvolveu seu interesse pela Botânica, especialmente na fisiologia das plantas, durante suas expedições alpinas, e em 1797 publicou vários trabalhos sôbre a formação do ácido carbonico nas plantas.

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Em 1802, foi nomeado professor de mineralogia e geologia em Genève. Apesar de manter esta posição, nunca fez nenhuma palestra ou leitura, dado que almejava uma posição na matéria de Química das Plantas. Continuou sempre suas pesquisas em Botânica, e em 1804 escreveu o Livro “Re-cherches Chimiques Sur La Vegetation”. Seu trabalho mais importante foi na área da fotossíntese. Ainda em 1804, de-monstrou que as plantas ganham pêso, convertendo gás carbonico em Oxigenio e Carbo-no. Originalmente, concluiu corretamente que esta reação depende da luz, e incorre-tamente concluiu que o Carbono e o Oxigenio eram produtos formados a partir do gás carbonico, o que nem sempre é correto.

Fig. 1.33 Nicholas Theodore de Saussure (1767 a 1845). Todavia, posteriormente verificou que havia um ganho de pêso nas plantas, maior

do que aquele devido ao Carbono, deduzindo que a água também podia ser incorporada ao pêso das plantas. Repetindo a experiência de Van Helmont, 200 anos depois, já agora aparelhado com melhores facilidades laboratoriais e dotado dos conhecimentos de química atualiza-dos para a sua época, mediu cuidadosamente os pesos das partes participantes do pro-cesso. Confirmou assim, em 1804, que a água também era parte integrante do processo de produção de Oxigenio, e que é absorvida pelas raízes, e transpira pelas folhas.

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Além disso, descobriu que o verde das folhas e outras partes das plantas, era cau-sado por uma substância, que foi denominada "clorofila", sendo ela responsável pela ab-sorção da luz, e pela transformação do gás carbonico em Carbono e Oxigenio, fenómeno denominado por "fotossíntese". Verificou ainda, que a respiração é necessária ao crescimento das plantas, e que a maior parte da massa sólida das mesmas, provém do ar, e não do solo. Dos elementos químicos então conhecidos, de Saussure elaborou uma lista de no-ve deles, encontrados nas plantas. E assim, as dúvidas referentes às perdas de pêso na experiência de Van Helmont, ficaram esclarecidas. Até hoje, a fotossíntese é um processo muito estudado, e no momento conhece-mos cêrca de 50 reações que a compõem, reguladas por enzimas. Também já se determinaram outros compostos similares à clorofila, que agem se-cundàriamente a esta, seja em conjunto, seja em diferentes fases do ciclo das plantas. Como pode ver-se mais uma vez, os conhecimentos sôbre a Nutrição das Plantas, foram se desenvolvendo juntamente aos da Química, e lentamente, nos processos de pesquisa onde se envolviam plantas vivas dentro dos laboratórios, estas eram mantidas em "soluções de solo". Também, como já vimos anteriormente mais de uma vez, várias descobertas, fos-sem elas ligadas à química ou não, influíram nos caminhos da Hidroponia ao longo de sua história. Talvez este tenha sido o caso do isolamento de vários elementos químicos, exem-plo dos quais, seriam o Sódio, o Potássio, o Cálcio, e muitos outros. Sem dúvida que eram elementos já conhecidos, mas como tantos outros, no seu estado puro, eram às vezes um sonho. Na sua maior parte, os elementos químicos puros conhecidos, eram os que se en-contravam na natureza nesse estado, como era o caso do Enxofre e do Mercúrio. Priestley já nos havia premiado com a descoberta de Oxigenio, e alguns outros e-lementos, mas também estes, se poderiam encontrar puros na natureza Ele só os des- cobriu e isolou, além de ter procurado sua utilidade prática. E é nesta fase de nossa história, que nos aparece Humphry Davy, por muitos tam-bém conhecido como Humphrey Davy. Não podemos afirmar se, pelo seu batismo, seu nome correto seria Humphry ou Humphrey, porém, nos seus escritos, sempre assinava Humphry, pelo que adotamos esta ortografia como sendo a correta. Humphry Davy nasceu na Inglaterra, aos 17 de Dezembro de 1778, em Penzance, na Cornwall, e sua educação escolar ocorreu tanto em Penzance, como em Truro. Pela morte de seu pai, em 1794, viu-se obrigado a trabalhar para ajudar no susten-to da família, o que fez como aprendiz do cirurgião e farmacêutico J. Binghan Borlase.

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Influenciado pela leitura do livro "Traité Elementaire" de Antoine de Lavoisier, a par-tir de 1798, Davy tornou-se muito interessado na química, e aconselhado por seu amigo Davies Giddy, encorajou-se para iniciar seus estudos sobre Química. Assim, dedicou-se com afinco aos estudos de várias controvérsias sobre a química de sua época, além de Ótica, Física, e Natureza da Eletricidade.

Fig. 1.34 Humphry Davy (1778 a 1829) Isto despertou grande interesse nele por parte de Thomas Beddoes, que o reco-mendou para o Pneumatic Institution of Bristol, organização dedicada ao estudo das apli-cações clínicas de vários gases.

Aqui, Davy começou a sua reputação. Estudou os óxidos de Nitrogenio, e desco-briu os efeitos fisiológicos do Óxido Nitroso, muito conhecido com "Gás Hilariante". Assim é que, em 1800, publica seu trabalho "Researches, Chemical and Philoso-phical", onde descreve os efeitos de vários gases, como os do monóxido de carbono, ob- tido pela produção do gás da água, cuja inalação quasi o matou. Nesta obra, inclui suas descobertas do efeito analgésico e anestésico do gás hilari-ante, recomendando-o para uso na redução de dores em cirurgias, o que lhe rendeu a nomeação de conferencista do recém fundado Royal Institution of Great Britain. Foi diplomado professor de química em 1802, e, consequência de suas conferên-cias e experiências, foi nomeado membro da Royal Society, onde foi eleito secretário no decorrer de 1807. Em 1802, em colaboração com Thomas Wedgwood, Davy publicou o trabalho "An

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Account of a Method of Copying Paintings on Glass, and Making Profiles, by the Agency of Light Upon Nitrates of Silver". Davy fez as primeiras fotografias usando placas de vidro revestidas com Nitrato de Prata, mas as imagens eram temporárias, ficando totalmente pretas ao separá-las dos negativos, e em contato com a luz. Desde a descoberta da pilha elétrica por Volta, em 1800, o que causou verdadeira tempestade no mundo científico, Davy se interessou pelo seu estudo, tentando explicar seu funcionamento, e procurando desenvolvê-la em aplicações práticas. Entre 1806 e 1807, apresentou as mais desenvolvidas pesquisas sôbre a pilha, bem como suas teorias da "Eletroquímica", termo que ele criou. Sua mais importante descoberta, no entanto, foram os elementos Sódio e o Potás-sio, obtidos pela eletrólise de hidróxido de sódio e hidróxido de potássio fundidos, usando para isso uma pilha de 600 elementos. Como contava seu irmão, o Dr. John Davy, quando Davy observou os pequenos glóbulos brilhantes de Potássio aparecerem no pólo negativo de sua cuba eletrolítica, co-meçou dançando, cantando e pulando à volta de seu laboratório. Seguido a isto, construiu a maior pilha do mundo, à época, com 2.000 elementos, com a qual passou a alimentar sua cuba, e denominou o processo de decomposição ele-trolítica, como "Eletrólise". Descobre então o Cálcio, o Bário, o Estrôncio, o Iodo, e o Boro, elementos que, da mesma forma que os já descobertos, ele mesmo nomeou. Descobriu na mesma época, que o diamante é uma forma alotrópica do Carbono, e que o carvão é um condutor elétrico. O resultado de suas experiências na obtenção destes elementos, bem como a con-tinuação de suas pesquisas, foram descritos em seu trabalho "On Some Chemical Agen-cies of Electricity", e em 1806, recebeu o "Prémio Napoleão", concedido pelo "Institut de France", no valor de 3.000 Francos. Isto foi uma honra internacional fora do comum, dado que nessa época, a França e a Inglaterra estavam em guerra. Em 1812, casa-se com Jane Appreece, jovem e rica viúva. Em 1813, contratou como seu assistente, o então jovem Michael Faraday, que viria a tornar-se um dos mais famosos e importantes cientistas da geração seguinte. Muitos historiadores dizem que Faraday foi a maior descoberta de Davy. Em 1818, recebeu o título de "baronete", passando a chamar-se Sir Humphry Davy. Pede então demissão do Royal Institution, e sai de viagem pela Europa, na compa-nhia de sua esposa e de seu assistente, inclusive para a França, onde para entrar e viajar teve autorização particular, entregue em mãos por Napoleão. Viajou sempre com seu laboratório portátil, e fez inúmeros contatos no ambiente da Europa Continental, onde realiza importantes trabalhos com Cloro.

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O Cloro, já havia sido identificado e separado por Carl Wilhelm Scheele em 1774, mas este identificou-o como "ácido marinho deflogisticado", que na Inglaterra era conheci- cido por "ácido oximuriático". Davy descobriu que esse "ácido" era um elemento, e batisou-o como Cloro, e ainda que, reagindo-o com amonio, o resultado era um composto gasoso formado por Cloro e Hidrogenio, e ainda Nitrogenio puro. Descobriu assim o ácido clorídrico, ou muriático, e ainda mais, derrubou a teoria de Antoine de Lavoisier, que dizia ser o Oxigenio elemento essencial constituinte e caracteri-zador dos ácidos. Em suma, provou que é o Hidrogenio que caracteriza o ácido, e não o Oxigenio. Dedicou-se muito às teorias da combustão, e ao estudo da chama, e, em 1815, Davy inventou a famosa "Lâmpada de Segurança" para uso nas minas de carvão, onde usou as teorias das telas metálicas de malhas apertadas. Esta lâmpada, que como todas as da época, era de chama, poderia ser usada nas minas de carvão, comumente cheias de misturas de ar e metano, chamada de grisú, al-tamente explosivo. Jamais patenteou sua invenção, o que foi um erro, pois deu margem a que o enge-nheiro ferroviário George Stephenson se creditasse de tal invenção. Porém, Stephenson também não a patenteou. Inquirido quanto ao patentear ou não sua invenção, dizia Davy: "Não, meus ami-gos, nunca pensei em tal coisa. Meu único objetivo foi servir a causa da humanidade, e, se tiver sucesso, estarei altamente premiado e recompensado por tê-lo feito". Davy descobriu e nomeou o Alumínio, chamando-o de "Aluminum", têrmo que até hoje é usado nos paises de língua Britânica. O resto do mundo usa o têrmo "Aluminium". Porém jamais conseguiu isolá-lo na forma pura, o que foi feito por Christian Oersted em 1825. Inventou ainda a lâmpada de arco-voltaico, e desenvolveu um processo para desa-linizar a água do mar, além de ser pràticamente o iniciador dos processos de galvanoplas-tia, quando desenvolveu o recobrimento de aparas de cobre, com zinco, via eletrolítica. Publicou ainda um livro integralmente dedicado à agricultura, onde introduziu a química na adubação de solos, na curtição de peles, e na indústria mineira. Durante toda a sua vida, foi um poeta, mas nunca publicou seu livro de poemas. Em 1827, ficou muito doente, e isso foi atribuído, mais tarde, ao abuso de inalação de muitos gases, durante toda a sua vida. Em 1829, fixou residência em Roma, na Itália, onde sofreu um ataque cardíaco. Veio a falecer em 29 de Maio de 1829, em Genebra, na Suíça. A ciência de Humphry Davy foi motivada por problemas relativos à vida, à matéria, a Deus, ao pensamento, e à imortalidade. Acreditava firmemente que a principal finalidade da existência do ser humano, era

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a realização de seu intelecto, e desta forma, penetrar nos segredos do Universo de Deus. Talvez esta forma de pensar, mostrasse que Davy sentia-se singularmente avan-çado na escala da existência. Mostrou-nos que o ser humano, mesmo sem o saber, é um pesquisador por exce-lência, característica típica e fundamental daqueles que são, ou pretendem vir a tornar-se hidroponistas, a quem, provàvelmente caberá, em futuro próximo, boa parte da responsa-bilidade na alimentação dos seres vivos. Deixou-nos como legado, exemplos de desinteresse pessoal em tudo o que fazia, além do grande conhecimento da química, que nos permite hoje, preparar uma solução aquosa de nutrientes, para podermos com ela nutrir plantas que nos servirão de alimento, ou seja, praticar a Hidroponia. Apesar dos princípios hidroponicos já começarem a tomar corpo, mesmo como prá-tica laboratorial, nos anos de 1800 e mesmo em boa parte dos anos de 1900, resultado de milenios de uso, adubar o solo com resíduos orgânicos, era a prática mais convencional para se obterem melhores e maiores colheitas. Mesmo os químicos dessas épocas, acreditavam plenamente que pelo "Princípio da Vegetação", os nutrientes essenciais necessários ao desenvolvimento das plantas, deveriam ser de natureza orgânica, e não, mineral. E estes princípios eram mantidos rìgidamente, apesar de os químicos, os botâni-cos, e os fisiologistas de plantas, já terem pleno conhecimento de que os elementos cons-tituintes das plantas, na sua maioria, eram minerais. Convém notar, que os conhecimentos da Química Orgânica, nessas épocas, eram relativamente pequenos, pelo que a parte orgânica constituinte das plantas, era bastante desconhecida. Ainda hoje, os constituintes orgânicos das plantas são alvo de grandes pesquisas. No entanto, o trabalho dedicado dos fisiologistas das plantas, nunca parou, tanto aquele levado a efeito por mestres da ciência, quanto o concretizado por aqueles que se atinham ao lado experimental. É o caso Jean-Baptiste Joseph Dieudonné Boussigault (1802 a 1887), ou Jean Boussingault, como é mais conhecido. Jean-Baptiste Boussingault nasceu em Paris a 2 de Fevereiro de 1802, e nessa mesma cidade, em 11 de Maio de 1887, decidiu tornar-se um químico, mineralogista e agrônomo da França. Filho de um velho soldado que possuía uma tabacaria, e era burgomestre de Wet-zlar, incapaz de suportar os liceus napoleonicos, formou-se de forma autodidata seguindo os cursos públicos do Collège de France e do “Museum”. Freqüentou desde a sua fundação a École des Mineurs de Saint-Étienne (atual É-cole Nationale Superiéure des Mines de Saint Étienne), onde conheceu Benoît Fourne-yron, com quem descobriu a qualidade do laboratório de química dessa instituição. O diretor da escola, Louis-Antoine Beaunier, entusiasmado por sua capacidade científica, confia-lhe uma série de experiências, e dentro delas, demonstra que o aço de

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qualidade elevada, deve conter Silício na sua composição. Simon Bolívar, desejando fundar na Colômbia um estabelecimento para formação de engenheiros, recebeu por parte de Alexander Von Humbolt a recomendação de Bous-singault. Assim, ele parte para a América do Sul em 1821, encontra-se com Bolívar em Bo-gotá em Maio de 1822, e é imediatamente nomeado para o seu Estado Maior. Ràpidamente inicia uma série de observações científicas, cujo resultado se concre-tiza na sua nomeação, em 1827, para dirigir uma companhia inglesa de exploração de uma mina de ouro. No entanto continuou sempre suas pesquisas científicas, não só na Colômbia, mas também na Venezuela e Equador, as quais se prolongaram por mais de dez anos. Na América do Sul, viveu numa época de turbulências revolucionárias, tendo parti-cipado de várias ações de guerra, pelo que dentro do exército de Simon Bolívar, alcançou o posto de Coronel. Na Venezuela estudou diversas fontes termais, coletou amostras de rochas e mine-rais, descreveu a primeira espécie mineral nova para esse país, a Gaylussita. Além dis-so, realizou diversas observações barométricas e Botânicas. Retornando à França, é eleito para a Academie Des Sciences em 1839, e logo a-pós, catedrático da cadeira de Economia Rural no Conservatoire National Des Arts Et Mètiers, cadeira essa especialmente criada para ele. Por seu casamento com uma Alsaciana, torna-se co-proprietário do domínio de Bechelbronne, o que lhe permite dedicar-se a experimentos na agricultura, cujos resulta-dos o tornam o fundador da química agrícola moderna. Tornou-se conhecido por suas descobertas sôbre a absorção de Nitrogenio pelas plantas. Com a colaboração de Dumas, faz pesquisas sôbre a composição do ar atmosféri-co, sôbre a composição dos vegetais, sôbre a alimentação de herbívoros e sôbre a detec-ção do Arsenico. Seu livro L’Économie Rurale, tornou-se uma sensação em 1843, e o consagra co-mo o primeiro químico agrícola no mundo dessa época. Entre 1860 e 1891, publica uma série de trabalhos sob o título Agronomie, Chimie Agricole Et Physiologie, que ràpidamente foi traduzido para o Inglês e para o Alemão.

Em seus estudos sôbre Química Agrícola, usou plantas cultivadas em soluções a-quosas de nutrientes provenientes do solo, e outras de composição bem determinada. Para facilitar seu trabalho na sustentação das plantas, experimentou ancorá-las em substratos inertes, como areia, grânulos de quartzo e carvão, mantendo as raízes cons-tantemente umedecidas com a solução de nutrientes, no que teve pleno êxito. Esta prática foi a predecessora do Sistema Hidroponico em Substratos, a qual seria anos mais tarde usada pelo Dr. William Frederick Gericke.

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Confirmou que a água é essencial ao desenvolvimento das plantas, pois é dela que elas retiram Oxigenio e Hidrogenio. Analisando a matéria seca vegetal, verificou que esta era essencialmente constituí-da por Oxigenio, Hidrogenio e Carbono, bem como de outros elementos minerais que pro- vinham do solo, dissolvidos na água que usava. Em análises constantes da matéria sêca das plantas, determinou quais os elemen-tos minerais encontrados nas mesmas, e em que proporção estes são encontrados nas diversas fases de seu desenvolvimento. Passou então a compor sua solução de nutrientes, e a corrigi-la conforme as ne-cessidades das plantas, para otimizar o seu desenvolvimento. Foi grande pesquisador da utilização dos "guanos" provenientes da América do Sul, e comprovou que a forma mais adequada para suprir as plantas com Nitrogenio, e-ram os nitratos. Estudou e pesquisou profundamente a adubação orgânica de solos, até então a única utilizada, consequência do rígido conceito do "Princípio da Vegetação", e verificou que os guanos, aliados aos resíduos orgânicos compostados, eram adubos de alto valor, uma vez que eram essencialmente constituídos de nitratos. Apesar de se haver chegado a grandes produções com as adubações tradicionais, as fontes desses adubos eram relativamente escassas, e nessa época, já havia uma pre-ocupação na produção de alimentos, em função do crescimento populacional do mundo mais civilizado. Mas esta forma de pensamento, baseada na adubação orgânica, começou a mudar a partir de Liebig. Justus von Liebig, nasceu na Alemanha, em Darmstadt no ano de 1803. Filho de um droguista (vendedor de produtos químicos), e produtor de tintas e pigmentos, Liebig despertou-se para a química na loja e fábrica de seu pai. Mesmo em casa, estava sob a influência do ambiente da Química, e começou a adquirir conhecimentos esparsos sobre esta ciência em livros que lia, adicionados a co-nhecimentos verbais adquiridos com clientes, e mesmo em feiras e exposições. Consequência do seu trabalho teve que abandonar a escola secundária com ape-nas 16 anos, retornando ao estudo de química e farmacologia, em 1820, recebendo seu doutorado em 1822. Mudou-se para Paris, para continuar seus estudos junto aos melhores professores da época, tendo estagiado e permanecido como funcionário do laboratório particular de Gay Lussac, o mais conceituado químico da época. Neste laboratório, seu trabalho com o ácido fulmínico, levou seu nome ao conheci-mento do mundo da química. Assim foi que, por insistente recomendação de Alexander von Humboldt junto ao Grão Duque de Hessen, Liebig foi nomeado professor extraordinário de química, na Uni-versidade de Giessen, em 1824.

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Já em 1825, Liebig era apontado como o melhor, o mais perfeito e o mais organi-zado professor da Universidade. Implantou em seu curso, o sistema de instrução experimental, pelo qual elevava a química a uma ciência natural precisa, e transformou seu laboratório num centro de ensi-no, de treinamento e de pesquisa, no qual colocava seus alunos em participação direta e ativa.

Fig. 1.35 Justus Von Liebig (1802 a 1873) Este sistema, ràpidamente se espalhou pelo mundo, passando a ser utilizado em todos os ramos de pesquisa experimental científica. Dedicou-se com afinco ao estudo da química orgânica, desenvolvendo um sistema e aparelhagem, que permitiam análise dos produtos orgânicos 40 vezes mais rápido do que os sistemas até então conhecidos. Pelo seu trabalho, até hoje é conhecido como o pai da química orgânica, e foi con-siderado o maior químico de sua época. Emitiu a teoria dos radicais químicos (em conjunto com Friedrich Woehler, profes-sor de química da Universidade de Berlim, e posteriormente na Universidade de Goettin-gen), descobriu a isomeria e a polivalência dos elementos químicos. Seu maior trabalho foi dedicado à química agrícola, e em 1840, publicou sua obra Agrikulturchemie (Química Agrícola), onde descreve seus trabalhos sobre a aplicação da química orgânica à agricultura e à fisiologia vegetal. Pesquisou e desenvolveu todo um trabalho sôbre nutrição de plantas e fertilidade de solos, derrubando a teoria do "Princípio da Vegetação" e a "Teoria do Húmus", e com-

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provou a necessidade das plantas, de elementos minerais retirados do solo, Carbono do gás carbonico, e Oxigenio e Hidrogenio da água. Liebig, no entanto, acreditava que as plantas retiravam o Nitrogenio do ar, o que até certo ponto é verdade, para alguns legumes. Desconhecia que a fixação de Nitroge-nio do ar é feita através das bactérias do solo. Emitiu então a "Lei dos Mínimos", que estabelece serem as produções agrícolas, proporcionais à quantidade do nutriente mais limitante, qualquer que seja ele. Por esta lei, conclui-se que, se fornecermos ao solo o nutriente deficitário, aumen-taremos a produção de determinado plantio ao máximo que dito solo pode produzir, até ao ponto em que outro nutriente passe a ser deficitário, aplicando-se então a mesma lei, a este último nutriente. Em consequência disto, Liebig formulou e produziu os primeiros adubos químicos compostos, bem como desenvolveu os diversos processos de produção de seus constitu-intes. Justus Von Liebig, foi o "Pai da Química Orgânica", e revolucionou completamente os conhecimentos químicos do mundo. Foi o criador dos processos de adubação de so-los que usamos até hoje. E ainda durante sua vida, emitiu os princípios básicos da reciclagem de resíduos agrícolas, criando então o que chamamos hoje de "Agricultura Alternativa". Em sua homenagem, após a Segunda Guerra Mundial, foi dado seu nome à então Universidade de Giessen, que hoje se chama Universidade Liebig, e, em 1955, o ex- pre-sidente alemão, Prof. Theodor Heuss, falando de Liebig, disse "Nenhuma outra pessoa deu a tantas outras, a possibilidade de viver". Na Universidade Liebig, no prédio onde Justus trabalhava, foi montado o Museu Liebig, onde os móveis e os equipamentos expostos são os originais usados pelo cientis-ta. Suas salas de trabalho, também foram mantidas intactas. Em sua homenagem, e pelo valor que desempenhou na química orgânica, seu a-parelho de vidro com cinco esferas, usado para análise de compostos orgânicos, o cha-mado "Kaliapparat", foi incorporado ao brasão da "American Chemical Society". Hoje, podemos adubar solos com facilidade e com adubos corretamente formula-dos. Podemos analisar com certa facilidade e rapidez os compostos orgânicos que com-põem as plantas. Podemos fazer análises de solo corretas, e baseados nelas, corrigir as deficiências de nutrientes de acôrdo com o cultivo que vamos efetuar. Podemos ainda, formular uma solução de nutrientes para hidroponia, de forma e-quilibrada, para que produza os efeitos que desejamos para nossos cultivos. Tudo isso, devemos a Justus Von Liebig, falecido em Munchen, na Alemanha, em Abril de 1873. A Hidroponia deve-lhe muito, e como tantos outros, Liebig é parte de sua História. O trabalho e as descobertas de Liebig calaram em vários cientistas, de maneira muito profunda.

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Enquanto Liebig se dedicava ao seu trabalho, dirigido à química agrícola, em 1856, Salm Horsmar, desenvolvia um trabalho paralelo. Procurou desenvolver e aperfeiçoar as técnicas de culturas de plantas em substra-tos inertes umedecidos com soluções de nutrientes, já verificadas por alguns cientistas, dos quais Boussingault foi pioneiro. Assim é que aperfeiçoou as composições das soluções de nutrientes, usando ago ra, sempre, sais minerais já disponíveis.

Fig. 1.36 Laboratório de Fisiologia e Química Analítica de Justus von Liebig (Museu Liebig - Giessen - Alemanha) Da mesma forma, desenvolveu sistemas simples e eficientes para fixar as plantas, o que lhe permitia regredir, eliminando os substratos inertes, e conduzindo seus cultivos exclusivamente na água adicionada dos nutrientes. Apesar de Liebig ter utilizado culturas em soluções aquosas de nutrientes em mui-tas de suas pesquisas, não chegou, ou talvez não se tenha dedicado a um trabalho mais profundo sobre elas, tanto que nada publicou a esse respeito. E seja pelo trabalho de Boussingault, seja pelo de Salm Horsmar, já se delineava um caminho bem determinado nos cultivos de plantas em soluções de nutrientes, embora tudo mostrasse que tais cultivos ficassem a níveis laboratoriais, pois de certo modo facili-tavam o trabalho dos cientistas, especialmente aqueles que se dedicavam ao estudo de nutrição das plantas. Havia, no entanto, uma série de dúvidas, sobre as composições químicas de tais soluções, que aparentemente precisariam de um certo monitoramento, pois seu compor-tamento diferia daquele do solo, onde normalmente havia sempre um excedente de nutri-entes, regulados por componentes nele existentes, e até então muito desconhecidos.

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No entanto, as definições concretas sobre as soluções de nutrientes, começaram a aparecer em 1860, através de um contemporâneo de Liebig e estudioso de seus traba-lhos, Julius Von Sachs (1832 a 1897). Fundador da Fisiologia Experimental das Plantas, Julius Von Sachs nasceu na A-lemanha, em 1832, e faleceu em 1897.

Fig. 1.37 Julius Von Sachs (1832 a 1897) Foi professor e pesquisador da Universidade de Wurrzburg, onde inventou e proje-tou inúmeros dispositivos, tanto para estudo dos processos fisiológicos das plantas, quan-to para análise quantitativa de seus componentes. Os livros que escreveu, eram de tal forma bem ilustrados, e com desenhos deta-lhados com tanta precisão, que imediatamente se tornaram livros padrão para ensino em todas as escolas de botânica do mundo. Ainda hoje, as ilustrações de tais livros, são copiadas para ilustrar trabalhos e livros de outros autores. Em 1868, publicou "Textos Sôbre Botânica" (Lehrbuch der Botanik), em 1875, "His-tória da Botânica" (Geschichte der Botanik) e, em 1882, "Leituras Sôbre Fisiologia das Plantas" (Vorlesungen Uber Pflanzenphysiologie).

A quase totalidade das plantas que utilizou para pesquisas laboratoriais, foram cul-tivadas em soluções aquosas de nutrientes, utilizando-se das técnicas descobertas e de-senvolvidas de Boussingault e Horsmar.

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Sachs trabalhou muito em conjunto com W. Knop (1860), químico agrícola, no a-perfeiçoamento das soluções aquosas de nutrientes. E finalmente, em 1860, Julius Von Sachs publicou a composição padrão de uma solução de nutrientes, na qual as plantas poderiam ser cultivadas com sucesso. Isto marcou, o final de uma longa pesquisa na busca do conjunto e proporções dos nutrientes vitais para as plantas, e na verdade, deu um parâmetro de partida não só para o aperfeiçoamento das soluções de nutrientes, como também para o início de uma nova tecnologia. W. Knop foi chamado o "Pai da Cultura na Água", e as descobertas de Julius Von Sachs, marcaram o início da "Nutricultura". Técnicas similares estão em uso até hoje, em estudos laboratoriais sobre fisiologia e nutrição das plantas. Estas investigações sobre nutrição das plantas, que hoje podemos dizer que foram preliminares, demonstraram que é possível conseguir o desenvolvimento normal de uma planta, imergindo suas raízes numa solução aquosa de sais de Nitrogenio, Fósforo, Enxo-fre, Potássio, Cálcio e Magnésio. Estes elementos, passaram a ser chamados de Macroelementos, ou Macronutrien-tes, ou seja, elementosnecessários em quantidades relativamente grandes. Com posteriores refinamentos nas técnicas de laboratório, e pelo desenvolvimento cada vez maior dos conhecimentos da química, os cientistas descobriram sete elementos mais, também necessários às plantas, em quantidades relativamente pequenas, e que foram definidos como Microelementos, ou elementos traço. Nestes, estão incluídos o Ferro, o Cloro, o Manganês, o Boro, o Zinco, o Cobre e o Molibdenio. Após o falecimento de Julius Von Sachs, a Universidade de Wurrzburg criou o hoje mundialmente famoso "Instituto Julius Von Sachs de Ciências Biológicas", e reestruturou o seu Jardim Botânico. Além do Departamento de Pesquisas Especiais, o Instituto proporciona cursos de especialização em Biofísica, Fisiologia Molecular, Ecofisiologia, Ecologia Vegetal, e Far-mácia Biológica, entre outros. Uma vez descoberto que a água adicionada dos elementos químicos selecionados, e nas quantidades equilibradas, suportam a vida das plantas, em 1920 foram estabeleci-dos padrões para a preparação laboratorial de culturas em água, bem como os métodos para sua utilização. Muitos pesquisadores desenvolveram várias fórmulas básicas para nutrição de plantas. Dentre eles, podemos destacar Tollens (1882), Tottingham (1914), Shive (1915), Hoagland (1919), Deutchmann (1932), Trelease (1933), Arnon (1938) e Robbins (1946). Muitas de suas fórmulas são usadas até hoje, em trabalhos de laboratório nas pes-quisas de fisiologia e nutrição de plantas. Como já mencionamos anteriormente, Shieve, já verificara, que as soluções de nu-trientes, necessitavam ser cuidadosamente monitoradas, para que as culturas em água tivessem o sucesso desejado.

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O monitoramento, tanto era necessário sobre a sua composição química, quanto sobre sua reação ácida ou alcalina. A reação ácida ou alcalina de solos, já havia sido mencionada profundamente por Boussingault, e já começava a ser prática utilizada, fazer-se a sua correção para propiciar as melhores condições ao desenvolvimento das culturas. A partir da descoberta de Boyle, quanto à mudança de cor do extrato de flores de violetas, frente a ácidos ou álcalis, outros indicadores foram descobertos.

Fig. 1.38 Soren Peter Lauritz Sorensen (1868 a 1939) Porém, o que podia concluir-se quando eram usados, era que determinada solução era mais ácida ou menos ácida, ou mais alcalina ou menos alcalina, podendo ainda verifi-car-se a reação neutra. Mesmo pelo desenvolvimento das propostas de Svante Arrhenius em 1880, de Wi-lhelm Ostwald em 1894, e de H. Friedenthal em 1904, os quais trabalharam desde a apli-cação da Lei de Ação das Massas, até aos cálculos de constantes de dissociação ionica, o problema ainda persistia. Não havia uma escala lógica para medição, apesar de os cientistas citados, sem o notarem, já começassem a delineá-la, especialmente a partir da recomendação de Frie-denthal, para que se usasse a concentração ionica do Hidrogenio para caracterizar as

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soluções. Definida uma escala, poderiam, então fazer-se medições mais precisas da acidez e ou alcalinidade das soluções. A escala de medição foi finalmente resolvida em 1909, pelo cientista dinamarquês, Soren Peter Lauritz Sorensen (1868 a 1939), quando propôs a conotação do "pondus Hi-drogenii" (potencial de Hidrogenio), que abreviou como pH, e definiu como sendo o colo-garitmo da concentração hidrogenionica de uma solução.

Por sua definição, a acidez e ou alcalinidade de uma solução, poderia medir-se numa escala adimensional, que varia de 1 até 14. Os indicadores colorimétricos passaram então a ter incorporados padrões de cor, baseados nas concentrações de soluções padrão preparadas com precisão.

Fig. 1.39 Fritz Haber (1868 a 1934)

Sem dúvida, que a precisão na verificação do pH de uma solução, dependeria sempre não só da habilidade do operador, como também de sua acuidade visual, proble-ma que finalmente foi resolvido pelas descobertas de Fritz Haber. Fritz Haber, nasceu na Alemanha, em Breslau, em 9 de Dezembro de 1868, filho de, Siegfried Haber, e de Paula Haber. Seu pai, de antiga e tradicional família, era um próspero comerciante de produtos químicos. Sua mãe faleceu durante o parto, pelo que foi filho único durante os primeiros anos de sua vida, até o segundo casamento do pai, do qual teve três irmãs que lhe devotaram muito afeto, embora fosse sempre dez anos mais velho do que sua irmã mais velha.

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Foi um enteado muito devotado e amoroso, e era seu hábito presentear a madrasta com lírios brancos na época do Natal.

Frequentou a escola primária pública durante três anos, e posteriormente o ensino secundário na escola St. Elizabeth em Breslau. O currículo desta escola estava centrado em Humanidades, pelo que estudou La-tim, Grego, Literatura e Filosofia. O pouco que lhe era ensinado em ciências, era uma mistura de Religião, Filosofia, e um estudo da natureza a que chamavam História. Consequentemente, Fritz desenvolveu grande interesse por Literatura e Filosofia, o que manteve durante toda a sua vida. Seu poeta preferido era Goethe e o filósofo de sua preferência era Kant. Como era típico dos homens de sua época, acreditava fortemente no progresso e iluminação da mente através da cultura.

Já durante o ensino secundário, conduzia seus experimentos em química. Aos dezoito anos ingressou na Universidade de Berlim, e esta universidade era o celeiro de cientistas e mestres como Helmhots, grande pensador, filósofo, e estudioso da metodologia das ciências, que também era físico e fisiologista.

De 1886 a 1891, estudou Química na Universidade de Heidelberg, sob a orientação de Bunsen. Estudou ainda na Universidade de Berlim, sob a orientação de A. W. Hoff-mann, e na Escola Técnica de Charlottenberg sob a orientação de Liebermann, e após o término de seus estudos, trabalhou voluntàriamente com seu pai, durante algum tempo.

Passou depois a trabalhar no "Instituto de Tecnologia de Zurique", junto ao Profes-sor Georg Lunge, onde decidiu seguir a carreira científica. Para tanto, trabalhou com Ludwig Knorr em Jena, com quem publicou um trabalho de estudo do éster diacetosuccínico. Ainda incerto quanto ao dedicar-se à Química ou à Física, em 1894 aceitou o cargo de professor assistente do Prof. Hans Bunte, catedrático de Tecnologia Química, na Uni-versidade de Karlsuhe, aí permanecendo até 1911. Hans Bunte pesquisava Química da Combustão, e seu companheiro de trabalho, Carl Engler, introduziu Haber ao estudo do petróleo, o que muito iria influenciar seus tra-balhos futuros. Em 1896, Haber foi qualificado como "Privatdozent" (Livre Docente), consequência de sua tese sobre combustão de hidrocarbonetos, e em 1906, foi nomeado Professor de Fisico-Química e Eletroquímica, além do que, também foi nomeado Diretor do Instituto criado em Karlsuhe, para o estudo destes temas. Em 1911, foi apontado para suceder Engler como Diretor do Instituto de Física e Eletroquímica em Berlim-Dahalen, aí permanecendo até 1933, quando as leis racistas do Nazismo obrigaram à demissão de todos os seus colaboradores, em apoio aos quais Ha-ber também se demitiu. Foi então convidado por Sir William Pope a ir para Cambridge, na Inglaterra, onde permaneceu por pouco tempo, pois era cardíaco, e tinha receio dos invernos rigorosos.

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desse país. E assim, mudou-se para a Suíça. Em 1898, Haber publicou seu primeiro livro de textos sobre Eletroquímica, baseado em suas conferências na Universidade de Karlsuhe, e nesse trabalho, expressou suas intenções de dedicar-se à pesquisa da Química para processos industriais. No mesmo ano, já publicava os resultados de seu trabalho nos processos eletrolíti-cos de oxi-redução, e nos anos seguintes trabalhou na eletrólise de sais sólidos fundidos (1904), no processo de equilíbrio catódico da Quinona-Hidroquinona, o que abriu o cami-nho para que Billman descobrisse o eletrodo para determinação eletrométrica da acidez de líquidos. No entanto, em colaboração com Cremer, Haber inventou o eletrodo de vidro para a mesma finalidade, o qual é até hoje usado para a medição eletrométrica do pH, dentro da escala proposta por Soren P. L. Sorensen, com elevado grau de precisão, numa esca-la numérica visível, através dos conhecidos pH-metros. Resolvia-se assim, o problema da medição do pH das soluções de nutrientes, de forma fácil, precisa, rápida, e acessível para qualquer operador laboratorial. Mesmo assim seu trabalho não parou, embora muitas vezes lamentasse a utiliza-ção do "gás mostarda" (dicloro-dietil-sulfeto), de seu descobrimento, durante a Primeira Guerra Mundial. Mas, em sua máxima, dizia: "Em tempos de guerra, um cientista pertence à sua pátria, e em tempos de paz, pertence à humanidade". Porém a grande descoberta de Haber, que mais uma vez o relaciona profundamen-te à Hidroponia e à agricultura como um todo, foi a síntese do amonio, a partir do Nitroge-nio e do Hidrogenio gasosos, retirados do ar. Isto valeu-lhe o Prémio Nobel de Química em 1918, o qual, consequência da Pri-meira Guerra Mundial, só veio a receber em 1919. Quando em 1905, publicou seu trabalho sobre termodinâmica das reações dos ga-ses, já mencionava que tinha conseguido pequenas quantidades de amonio, partindo de Nitrogenio e Hidrogenio, aquecidos a 1000

o C, usando Ferro como catalisador.

Posteriormente a estas experiências, tendo como colaboradores Bosch e Mittasch, em função da experiência que já tinha com gases sob alta pressão, passou a pesquisar outros catalisadores para a sua reação, sendo que agora, ele a conduzia à pressão de 150 a 200 Bar, e à temperatura de 500

o C.

O processo funcionou perfeitamente, e daqui, surgiu a "Oppau und Leuna Ammo-nia Werken", o que permitiu à Alemanha prolongar a Primeira Guerra Mundial, quando falharam seus suprimentos normais de nitratos, provenientes dos depósitos de guanos do Chile, para fabricação de explosivos. Com algumas modificações neste processo, Haber conseguiu também a produção em escala industrial, de Sulfato de Amonio, para uso como fertilizante agrícola. O mesmo princípio usado por Haber nestes processos, com desenvolvimento de outros catalisadores, permitiu a Alwin Mittasch a síntese do Álcool Metílico em nível indus-

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trial. Permitiu ainda o desenvolvimento do processo de Bergius para a Hidrogenação do Carvão, e a produção de Ácido Nítrico, também a nível industrial. E é consequência destes trabalhos e descobertas de Fritz Haber, que hoje, os hi-droponistas e também os agricultores de forma geral, podem contar com Sulfato de Amo-nio, Nitrato de Cálcio e Nitrato de Potássio, nas quantidades que necessitam. Haber viveu para a ciência, seja por satisfação pessoal, seja pela influência que tinha na moldagem da cultura e da civilização humana. Versátil em seus talentos possuía um conhecimento espantoso de política, história, economia e indústria, e, certamente, teria tido sucesso igual em outros campos de ativi-dade, pelo que não é de admirar os premios e lauréis que recebeu durante toda a sua vida, afora o Prémio Nobel. Por ser de descendência judaica, foi expulso da Alemanha em consequência das leis de pureza racial de Nuremberg, junto com Einstein, Freud e outros. Após o término da Primeira Guerra Mundial, foi considerado criminoso de guerra pelas Forças Aliadas, mas não chegou a ser processado. Depois de grave doença, veio a falecer em 29 de Janeiro de 1934, durante uma viagem da Inglaterra para a Suiça, onde iria convalescer. Morreu inconformado pela re-jeição que a Alemanha lhe dedicou, país que tão bem serviu. Porém, o interesse pela Nutricultura, no sentido prático de sua aplicação, sòmente começou em 1925, através das indústrias de estufas agrícolas. O solo das estufas precisa ser substituído periòdicamente, para poderem resolver-se problemas com sua estrutura, pragas, e fertilidade. Em consequência disto, os pesquisadores começaram a tomar ciência do potencial da utilização da Nutricultura, para substituir as culturas convencionais em solos de estu-fas. Até 1930, a maior parte do trabalho desenvolvido com culturas sem solo, foi sem-pre orientado no sentido dos experimentos laboratoriais com plantas. Nutricultura, Hidrocultura e Quimicultura foram outros têrmos usados entre 1920 e 1930, para descrever as culturas sem solo, e entre 1925 e 1935, houve um extenso de-senvolvimento e grandes modificações nas técnicas laboratoriais, visando sua aplicação nas produções em larga escala. E é entre o final de 1929 e início de 1930, que o Dr. William Frederick Gericke, en-genheiro agronomo e professor de nutrição de plantas na Universidade da Califórnia, em Berkeley nos Estados Unidos, extendeu seus trabalhos laboratoriais sôbre nutrição de plantas, para plantações desenvolvidas em campo, visando aplicações comerciais.

Não sabemos muito sôbre a vida de Gericke, seja a nível familiar, seja a nível esco-lar. Até na Universidade da Califórnia, onde trabalhou, pouco se registrou sôbre sua vi-da.

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Fig. 1.40 Dr. William Frederick Gericke e seus tomateiros

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Nasceu em uma fazenda em Nebraska, foi educado no estado de Ohio, em Johns Hopkings e na Califórnia. Seus experimentos sôbre culturas em soluções nutritivas, iniciados em 1927, foram levados a efeito na Estação Experimental de Berkeley, da Universidade da Califórnia, e seus tanques de cultura, inicialmente, na sua maioria eram ao ar livre.

Fig. 1.41 Dr. William Frederick Gericke – Detalhe da Fig. 1.40 Cultivou hidroponicamente inúmeras espécies de plantas, especialmente tomatei-ros, batatas, tabaco, gladíolos, begônias e outras tantas, sendo que sempre expressou seu favoritismo pela produção de tomates. Uma das plantas de que se orgulhava, era uma bananeira que crescia hidroponi-camente até ao cume de uma de suas estufas. Em Abril de 1937, numa entrevista para a revista Time, discutiu e expressou sua preocupação em dar um nome para sua técnica de cultivo.

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Aqui, acreditamos que desempenhou um grande papel, seu colega de corpo do-cente da Universidade, o Dr. William Albert Setchell. Setchell nasceu em Norwich – Connecticut - USA em 15 de Abril de 1864. Formou-se em Botânica na Universidade de Yale, e obteve seu Ph.D. também em Botânica na Universidade de Harvard. De 1890 a 1895, lecionou Biologia e Botânica em Yale, e de 1895 a 1934 foi pro-fessor e diretor do departamento de Botânica na Universidade da Califórnia em Berkeley, quando se tornou colega e amigo de Gericke. O maior interesse científico de Setchell era o estudo de algas, e neste assunto tor-nou-se uma grande autoridade mundial.

Fig. 1.42 William Albert Setchell (1864 – 1943) Suas pesquisas e investigações estenderam-se pela Morfologia, Sistemática, Eco-logia e Biogeografia de Grupos. Dentre suas contribuições científicas, uma das mais importantes foi o estudo e elu-cidação do papel das algas na formação dos recifes de corais. Na Biogeografia revelou-se ser um seguidor dos pensamentos Humboltidianos, especialmente nos seus exames da relação entre os gradientes de temperatura e a distri-buição de matrizes não só de algas, mas também de plantas terrestres vasculares. Participou de várias expedições científicas para coleta de dados e amostras, ao Alaska, ao Hawai, a Samoa, à Indo-Austrália, ao Japão e à África.

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Veio a falecer em Berkeley – Califórnia, em 5 de Abril de 1943. A tendência de Gericke, era para chamar sua técnica de cultivo de “Aquaculture” (Aquacultura), e foi aconselhado por Setchell a não usar esse nome. Setchell aconselhou-o a que usasse o termo Hydroponics (Hidroponia), do grego “hydro” significando água, mais o termo “ponos” significando trabalho. Gericke gostou dêsse nome, porque, como dizia, “é uma conotação forte, economi-ca e útil e, além disso, lembra a palavra “Geoponics (Geoponya), o termo usado na Idade Média para conotar Agricultura”. Isto gerou um mito que permanece até hoje, pelo qual se credita a Gericke a inven-ção da palavra Hydroponics (Hidroponia). Na verdade, Hidroponia é uma palavra comum do idioma grego, e pode ser encon-trada em qualquer dicionário, seja do grego antigo seja do grego atual. Assim, Hydroponics é na verdade a tradução para o Inglês da palavra grega "HY-DROPONYA", cuja etimologia, em grego, é a associação das palavras "HYDOR", com "PONOS". Note-se que em Grego, água é Hydor, e não Hydro. Além disso, no Grego atual, Ponos significa dor, e no Grego antigo, Ponos significa trabalho, no sentido do "resultado de um trabalho físico executado" (ex.: o quadro executado por um pintor, ou o livro escrito por um escritor). Assim, o termo usado é Ponos do grego antigo. Devemos notar também que em Grego, Hydor é uma palavra do genero feminino.

Por outro lado, Ponos apresenta três generos, a saber, Masculino, Feminino e Neu-tro, respectivamente, Ponos, Ponya e Ponion. Em Grego, para juntar duas palavras e formar uma palavra composta, ambas ne-cessitam estar no mesmo genero, e assim temos que usar as palavras HYDOR + PONYA. Ainda considerando a etimologia grega, ao juntar estas duas palavras, o OR final de HYDOR, é invertido para RO, e assim teremos finalmente a palavra HYDROPONYA. Na tradução para o Inglês, os “Y”s permanecem, e PONYA é traduzido para “po-nics”, de onde o termo HYDROPONICS usado nas línguas britânicas.

Nas línguas latinas, o “Y”s são substituídos por “I”s, e temos finalmente HIDRO-PONIA. É bom lembrar que antigamente tanto em Portugal como no Brasil, o “Y” era co-nhecido como “I grego”, e ainda que em Grego, existem cinco “I”s. Conforme o “I” utiliza-do, uma mesma palavra grega pode ter cinco significados diferentes. Vemos assim, que foi o Dr. William Albert Setchell, e não o Dr. William Frederick Gericke, quem denominou a nova técnica agrícola como Hidroponia. Também vemos que nem Setchell nem Gericke inventaram ou formaram essa palavra. Quizemos aqui simplesmente esclarecer nosso leitor, e quem sabe, quebrar esse mito, que acreditamos permanecerá por muito tempo, senão para sempre.

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O sucesso do trabalho de Gericke foi muito grande, e na época, vários agricultores abraçaram a nova técnica, além de se desenvolverem vários centros de pesquisa sôbre hidroponia em outras universidades. Nosso cientista tinha até um fã clube, no qual chegava a receber 500 cartas por semana. Sabe-se também que tentou patentear a sua técnica, mas nisso não teve sucesso, pois que a hidroponia é uma técnica agrícola, e como tal, é de domínio público. Conse-guiu apenas patentear um tanque para dissolução dos sais minerais usados na prepara-ção das soluções nutritivas.

Quando inquirido sôbre se desejava fazer fortuna com sua invenção, apenas sorria, mostrando seus dois dentes de ouro. Jamais cobrou taxas de consultoria de ninguém, e sempre dizia: “Tudo o que eu quero é que tenham sucesso e ganhem dinheiro para que possam ajudar-me a prosseguir com minhas experiências”.

Mas nem tudo foram brancas nuvens no seu trabalho. Imediatamente após o início da utilização de sua técnica por vários agricultores, al-

gumas companhias começaram a vender sais nutrientes e misturas de sais para agriculto-res amadores e para alguns profissionais.

Dentre elas estavam a Chemi-Grow, a Chemi-Crop Co., a Shur-Gro Fertilizer Corp.,

além de outras. Embora estivessem legalmente dentro de seus direitos, pois que a hi-droponia era uma técnica que não podia ser patenteada, Gericke não concordava com elas, e tampouco tentava delas cobrar alguma licença, embora usassem seu nome.

Sempre declarou e as acusou pùblicamente de estarem vitimando pessoas inocen-

tes oferecendo-lhes soluções milagrosas, pois que cada planta exigia sua própria solução de nutrientes, e tais soluções não podiam ser generalizadas.

Era sempre necessário considerar climas, condições ambiente e manejo dessas

soluções quanto a pH e Condutividade Elétrica, bem como muitas vezes, aquecer a solu-ção nutritiva, prática normalmente usada por Gericke.

Em 1934, contratou um fotógrafo, Arthur G. Pillsbury, o qual depois de fotografar

todas as suas hortas e plantas hidroponicas, dirigiu-se para Evanston – Illinois, onde an-gariou várias empresas interessadas, e entre elas um banqueiro e um advogado, para entrarem no “negócio da hidroponia”. Retornando a Berckeley, Pillsbury solicitou informações técnicas a Gericke, que se negou a fornece-las. Pillsbury foi então ao Deão do Colégio de Agricultura da Universidade, o qual lhe forneceu alguns panfletos sôbre os trabalhos de Gericke, os quais estavam graciosamen-te disponíveis a quem os quisesse, e que continham algumas informações sôbre compo-sições de soluções nutritivas, temperaturas de trabalho, aeração, etc. Com isto, dizendo ter obtido informações sigilosas de Gericke, conseguiu incorpo-rar-se à Chemical Garden Co., que passou a produzir e vender misturas de sais para so-luções nutritivas, além de contratar um fisiologista de plantas treinado, e instalar tanques hidroponicos para pesquisa.

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Ao saber do ocorrido, diz-se que Gericke simplesmente deu risadas. O relacionamento de Gericke com seus colegas e seus superiores no Colégio de Agricultura, também se tornou bastante tenso após a tecnologia que desenvolveu. Gericke era frequentemente criticado, e seu trabalho na Universidade nunca foi apreciado, sendo que frequentemente era tratado com sarcasmo. Diziam com desprezo que por um lado, Gericke mantinha muito segredo de suas pesquisas e desenvolvimentos técnicos, e por outro estava mais preocupado com publici-dade e comercialização.

Afirmavam categòricamente que o uso científico da hidroponia deveria ser para o aprendizado da fisiologia das plantas, e que as possibilidades de seu uso comercial não podiam ser provadas, além de que as produtividades eram muito menores do que as obti-das no solo. Tudo isto contrastava com as provas que Gericke apresentava de produtividades muito maiores do que as obtidas no solo, e com a sua acessoria gratuita a quem o procu-rasse. Talvez por estas dificuldades de relacionamento, poucos dos seus trabalhos foram publicados pela Universidade, sendo um dos raros, denominado “Some Effects of Salts on the Absortion of Water by Seeds”. Através de uma editora não ligada à Universidade, em 1940, publicou o livro “The Complete Guide to Soilless Gardening”, onde descreve seu trabalho de anos em cultivos hidroponicos, obra até hoje necessária na biblioteca de qualquer pesquisador de hidropo-nia. Dentre estes vários dissabores, no entanto, muitos apreciaram profundamente o trabalho de nosso cientista. No verão de 1937 o “National Resources Committee” incluiu a Hidroponia, junto com as técnicas de ar condicionado, borracha sintética, televisão e máquinas colhedeiras de algodão, como algumas das coisas que deveriam ser observadas no desenvolvimento futuro da economia nacional americana. E pela primeira vez, em Maio de 1938, a hidroponia sai das fronteiras continentais dos Estados Unidos. Mesmo considerando o ceticismo de muitos quanto ao valor comercial da hidropo-nia, e outros, considerando as recomendações do National Resources Committee, a Pan American Airways, de modo acisado, decide pela instalação de hortas hidroponicas ao ar livre na ilha de Wake.

Sua finalidade? Abastecer seu pessoal fixo e as suas aeronaves com frutas e ver-duras frescas, tudo sob a orientação graciosa do Dr. William Frederick Gericke. O trabalho de Gericke, é considerado como a base de todas as formas de culturas hidroponicas, embora estivesse primariamente limitado à cultura sem uso de nenhum mé-todo de enraizamento. Tentamos aqui mostrar algumas facetas que conseguimos levantar da vida dêsse eminen-

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te cientista, a quem o mundo tanto deve, e como sói acontecer, incompreendido e desva-lorizado até nos centros de pesquisa onde desenvolveu seu trabalho.

O termo Hidroponia, hoje, abrange um conceito mais amplo, sendo usado para descrever os vários métodos pelos quais podemos cultivar plantas sem solo. Consideramos solo, o substrato onde as plantas ancoram suas raízes, e de onde retiram água e os nutrientes necessários ao seu desenvolvimento. Estes métodos, muitas vezes também conhecidos como jardinagem sem solo, in-cluem a cultura de plantas em vasos com de água, junto com qualquer substrato inerte. Esta água será sempre, na verdade, uma solução aquosa de nutrientes. O substrato poderá ser cascalho, areia, vermiculite, além de outros mais exóticos, tais como pedra britada, fragmentos de lava vulcânica, e mesmo, poliestireno expandido (Styrofoam - Isopor), ou aparas de PVC (cloreto de polivinila). Muitos métodos Hidroponicos usam substratos constituídos de matérias orgânicas, que podem decompor-se, como a turfa ou a serragem de madeira, e neste caso, são chamados de "Cultura Sem Solo". A Hidroponia Verdadeira é o método pelo qual as plantas são cultivadas, usando-se exclusivamente uma solução aquosa de nutrientes. Há várias razões para substituir o solo por um meio estéril. As pragas provenien-tes do solo são eliminadas, bem como também o são, as ervas daninhas. Desta feita, o trabalho na eliminação de tais ervas, bem como aquele dispendido na vigilância das plan-tas, é fortemente reduzido, quando não, eliminado. Um dos fatores mais importantes da Hidroponia, é que, pela sua prática, podemos aumentar a densidade de plantas, ou seja, podemos cultivar mais plantas por unidade de área de cultura, a níveis maiores do que os permitidos no solo, razão pela qual esta técni-ca proporciona maior produtividade. Pela Hidroponia, os grãos e frutas amadurecem muito mais rápido, e apresentam maior rendimento. O consumo de água é muito menor, e os fertilizantes nela dissolvidos, conservam-se, e podem ser reutilizados. Este processo permite que se exerça maior controle sobre as plantas, conseguin-do-se com isso assegurar resultados mais uniformes, pois que se mantém um perfeito relacionamento delas com seu meio de desenvolvimento. As plantas não necessitam do solo, mas da reserva de água e nutrientes nele con-tidos, os quais necessàriamente deverão estar dissolvidos, para que estas consigam ab-sorvê-los . Quanto ao resto, o solo servirá apenas como seu meio de suporte. Quando plantamos num meio de crescimento inerte, sem reserva própria de nutri-entes, podemos estar certos de que as plantas irão procurar seu alimento na solução nu-tritiva com que iremos umedecer tal meio. A tendência do solo convencional, é permitir a lixiviação da água e nutrientes, para longe das plantas, o que torna o processo de aplicação de adubos, uma tarefa difícil.

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Na Hidroponia, os nutrientes necessários são dissolvidos na água, e a solução re-sultante é aplicada às plantas nas doses exatas, em períodos de tempo exatos, e nor-malmente nas temperaturas ideais para as raízes. O Dr. Gericke cultivou vários vegetais na água, incluindo os aproveitados pelas raí-zes, como beterrabas, rabanetes e cenouras, e os aproveitados pelos tubérculos, como batatas. Além dêsses, plantou os aproveitados pelos frutos, como tomates, e os aproveita-dos pelas sementes, como milho, e outros cereais, bem como inúmeras espécies florais. Usando cultura em água, em grandes tanques, no seu laboratório na Universidade da Califórnia, teve grande sucesso na produção de tomates, cujas plantas chegavam a oito metros de altura. Na época, os jornais americanos publicaram fotografias mostrando o Dr. Gericke em cima de uma escada, para atingir o topo de seus tomateiros. Apesar de muito espetacular, seu sistema era prematuro para aplicações comerci-ais, pois apresentava-se muito sensível, exigindo monitoramento técnico constante. Muitos que se propuseram a ser futuros hidroponistas, tiveram inúmeros problemas com o sistema Gericke, pois este exigia grandes conhecimentos técnicos. Além desses conhecimentos ainda não serem acessíveis a qualquer um, o sistema exigia também bastante engenhosidade na sua construção. Mesmo assim, a imprensa americana fez o seu habitual estardalhaço, dizendo que havia sido feita a descoberta do século, no que não deixava de haver uma pequena par-cela de razão. Em parte devido a esta promoção inconsequente, muitos inescrupulosos trataram de aproveitar-se para ganhar dinheiro fácil utilizando o processo Gericke, colocando à venda equipamentos e produtos enganosos, que provocaram, durante muitos anos, um descrédito na Hidroponia. Mesmo assim, as pesquisas continuaram, e logo, a Hidroponia passou a ter bases científicas muito sólidas, mostrando-se uma ferramenta de grande futuro, especialmente para a horticultura. A nova técnica apresentava duas grandes vantagens: grandes produções em pe-quenas áreas, e o principal, permitia que se produzisse em áreas áridas, não agricultá-veis, existentes em diversas partes do mundo. Em 1936, W. F. Gericke, e J. R. Travernetti, ambos da Universidade da Califórnia, publicaram um relatório final sôbre a cultura de tomateiros em solução aquosa de nutrien-tes, o que foi um grande sucesso. A partir dêste relatório, numerosos agricultores, já agora munidos de melhores ba-ses técnicas, começaram a experimentar o sistema. Ao mesmo tempo, numerosos pes-quisadores e agrónomos de numerosas escolas, passaram a trabalhar no sentido de sim-plificá-lo e aperfeiçoá-lo. Grande número de complexos hidroponicos foram construídos no México, Porto

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Rico, Hawai, Israel, e Índia. Nos Estados Unidos, já agora sem grande conhecimento público através da imprensa, a Hidroponia tornou-se um grande negócio, e mais de qui-nhentas estufas foram instaladas para produções hidroponicas. A técnica do Dr. Gericke provou, por si só, ser capaz de produzir alimentos para tropas do exército americano acampadas nas ilhas desérticas do Pacífico. A primeira grande vitória da hidroponia, veio quando a companhia de aviação Pan American Airways, como já citamos, decidiu montar um complexo hidroponico na desérti-ca Ilha Wake, no meio do Oceano Pacífico, para prover fornecimento regular de vegetais frescos aos seus passageiros e funcionários. É nesta altura, que o Ministério da Agricultura da Inglaterra, passou a ter interesse na nova técnica agrícola, especialmente pelo seu potencial na campanha "Grow More Fo-od", que levou a efeito na Segunda Grande Guerra, de 1939 a 1945. Durante o ano de 1940, Robert B. e Alice P. Withrow, em seus trabalhos na Univer-sidade de Purdue, nos Estados Unidos, desenvolveram uma série de aperfeiçoamentos no sistema de cultivo em cascalho, com regas intermitentes, o que o tornou muito mais prático do que o sistema de Gericke. Este sistema passou a ser conhecido como Cultivo em Cascalho. Durante a Segunda Guerra Mundial, o envio de vegetais frescos para postos ultra-marinos nas ilhas do Pacífico, era demasiadamente caro e pouco prático, e as ilhas onde se localizavam tais postos, eram desérticas, e inadequadas à agricultura. Assim é que as Forças Armadas Americanas fizeram com que a Hidroponia pas-sasse pelo seu maior teste de viabilidade, quando montaram em tais ilhas, várias instala-ções de tanques hidroponicos com cascalho, para produção de verduras. As instalações foram perfeitamente aprovadas, e em 1945, resolveram o problema de fornecimento de verduras frescas para tropas de ocupação, e tropas em trânsito. Uma das várias instalações hidroponicas montadas pelo Exército Americano, foi na Ilha de Ascensão no Atlântico Sul, região completamente árida, usada para descanso e reabastecimento de tropas. O pessoal permanente na ilha era bastante numeroso, dado que na mesma, tam-bém se fazia o serviço de manutenção de aviões. O suprimento de alimentos para este local, era feito por via marítima e aérea, e a falta de vegetais frescos, era um problema constante. O refinamento da técnica hidroponica feito em Ascensão, serviu como base para muitas outras instalações em várias ilhas do Pacífico, como Iwo-Jima e Okinawa. Na ilha Wake, um "atoll" do Oceano Pacífico, a Oeste de Hawaii, onde já existia uma instalação hidroponica da Pan American Airways, a Fôrça Aérea Americana constru-iu uma pequena instalação hidroponica em cascalho de rocha vulcânica britada, com 12 metros quadrados de área. Na pequena instalação, produziam-se semanalmente 15 Kg de tomates, 10 Kg de vagens, 20 Kg de espigas de milho verde, e 20 cabeças de alface.

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Nesta mesma época, o Ministério da Aeronáutica da Inglaterra, iniciou culturas hi-droponicas em suas bases aéreas no deserto de Habbaniya, no Iraque, e na desértica Ilha Bahrein, no Golfo Pérsico, onde estavam situados campos petrolíferos importantes. Em Habbaniya, por exemplo, as verduras precisavam ser trazidas da Palestina, a custos elevadíssimos. Tanto o Exército Americano quanto a Real Fôrça Aérea Inglesa montaram suas instalações hidroponicas, que produziram milhares de toneladas de vegetais, as quais alimentaram milhares de militares. Depois da Segunda Guerra Mundial, o comando militar americano continuou a usar a hidroponia, e criou um departamento interno especializado, que propiciou a produção de 4.000.000 Kg. de verduras e outros produtos vegetais durante 1952, um ano de pico na demanda militar. Estabeleceu também a maior instalação hidroponica do mundo (à época), num pro-jeto de 22 hectares, na ilha de Chofu no Japão. É curiosa uma das razões que levaram a esta instalação. Era prática japonesa adubar suas hortas com dejetos humanos compostados, e assim sendo, seu solo e suas verduras eram infestadas de amebas e várias outros vírus.

Curiosamente, o povo local era imune a tais infestações, provàvelmente por terem seus organismos adaptados através dos séculos, ao contacto e ingestão dos causadores dessas doenças gastrointestinais, o que não acontecia com os ocidentais.

Assim sendo, estes evitavam comer vegetais “in natura”, para evitar ditas doenças. Como consequência, advinha-lhes a avitaminose, o que os obrigava a ingerir doses

maciças de vitaminas produzidas por processos industriais. É sabido que sòmente cêrca de trinta por cento das vitaminas assim produzidas

são assimiladas pelo organismo humano, e este tratamento gerava custos exorbitantes, os quais aumentavam ainda mais quando se traziam vegetais “in natura” de fontes muito distantes para tentar resolver esta situação.

As hortas hidroponicas foram a solução barata.

Convém notar, que foi nesta época que os japoneses conheceram a hidroponia. Certo é, que hoje temos imensas instalações no Japão, mas até bem pouco tempo atrás, neste país ainda não se usavam técnicas muito atualizadas. Estas instalações montadas então no Japão, além de produzir mudas de vegetais para outras estações, produziam normalmente vegetais adultos para consumo. Ficaram em operação ininterrupta por 15 anos. Assim sendo, por fôrça da guerra, montaram-se as maiores instalações hidroponi-cas espalhadas pelo mundo, todas em cascalho, sendo que as melhor sucedidas foram sempre as de bases isoladas, notàvelmete na Guiana, Iwo Jima e na ilha de Ascensão. Depois da guerra, inúmeras instalações comerciais se espalharam pelo mundo e

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pelos Estados Unidos, especialmente na Flórida, a maioria a céu aberto, sujeitas aos ri-gores do tempo. As construções deficientes e a falta de conhecimento técnico de operação, levaram muitas delas ao insucesso, e a baixas produções. Mesmo assim, na época de 1950, o uso comercial da hidroponia espalhou-se pelo mundo em paises como a Itália, Espanha, França, Alemanha, Suécia, Rússia e Israel. Um dos maiores problemas das primeiras instalações hidroponicas, vinha do con-creto usado na construção dos tanques. O calcáreo resultante da cal e do cimento, dis-solviam-se na solução de nutrientes, desequilibrando sua composição, e até mesmo des-truindo-a completamente. Além disso, os metais usados nas tubulações e válvulas, também afetavam as so-luções, especialmente o Zinco e o Ferro utilizado nos tubos de Ferro galvanizado, que se corroem fàcilmente, sendo que seus componentes entram na solução em teores de tal forma elevados que se tornam tóxicos às plantas. Mesmo assim o interesse nas culturas hidroponicas continuou, por muitas razões.

Primeiro, porque não havia necessidade de solo, e a população de plantas era mui-to mais concentrada, o que permitia grandes produções em áreas muito pequenas. Segundo, porque quando operado acisadamente, com a maioria dos vegetais, se consegue uma grande aceleração no desenvolvimento das plantas, e estas apresentam um grau de qualidade muito mais elevado, em especial após colhidas, pois se conservam durante muito mais tempo frescas, mantendo assim suas propriedades alimentícias. Muitas companhias de mineração de petróleo montaram grandes hortas em suas instalações, especialmente nas áreas desérticas, onde não há água no subsolo, e rarís-simas ou nenhumas precipitações de chuva, sem condições, portanto, de culturas por mé-todos convencionais no solo. Montaram-nas também em ilhas desérticas, como no Cari-be. As instalações comerciais no Leste Americano atingiam na época mais de 40 hec-tares devotados à cultura de verduras para abastecimento de cidades, enquanto várias companhias petrolíferas na Índia Ocidental, no Meio Oeste Americano, nas áreas desérti-cas da Península Arábica, e no deserto do Saara, encontraram na hidroponia a única ma-neira de proporcionar uma alimentação saudável e rica em verduras para seus funcioná-rios. O mesmo aconteceu com diversas companhias petrolíferas operando nas costas da Venezuela, em Aruba, Curaçao e no Kuwait. Ainda nos Estados Unidos, grandes instalações foram montadas em Illinois, Ohio, Arizona, Indiana, Missouri e na Florida. Também foram montadas instalações no México e na América Central. Afora os grandes sistemas comerciais construídos entre 1945 e 1960, muito foi fei-to em pequenas instalações em apartamentos, casas e quintais, para plantar flores e ver-duras. Muitas destas não foram um grande sucesso por causa de fatores diversos, como substratos inconvenientes, uso de materiais de construção inadequados, especialmente

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nos tanques, e mau controle das condições de operação. Mesmo com o insucesso em muitas instalações, todavia, plantadores de todo o mundo estavam convencidos que seus problemas seriam resolvidos. Tinham, na sua maioria, a convicção de que os aperfeiçoamentos nessa técnica, estavam chegando a todos os momentos, e produzir comida era absolutamente essencial, em vista do declínio da produção mundial, e da explosão demográfica. Pesquisas mais recentes indicam que só nos Estados Unidos, temos mais de 1.000.000 de instalações caseiras em funcionamento produzindo verduras. Rússia, França, Canadá, África do Sul, Holanda, Japão, Austrália e Alemanha, estão entre os paí-ses que têm dado à hidroponia o lugar que merece. E não é só. Entre 1930 e 1960, trabalho similar ao desenvolvido para produção de alimentos humanos, foi efetuado para a produção de alimentos para animais domésticos. Pesquisadores verificaram que era possível produzir grama para forragem animal a partir de grãos germinados. Usando grãos como cevada, aveia, centeio, trigo e milho, verificaram que 2,5 Kg dêstes, podem ser convertidos em 18 Kg de erva fresca em apenas sete dias. Esta, usa-da como suplementação de rações convencionais, tornou-se altamente benéfica a ani-mais e pássaros. Usada para animais em lactação, a produção de leite aumenta em cerca de 30 por cento, e a relação de conversão aumentou no mínimo em 20 por cento, a um custo menor por Kg de grãos. Em termos de reprodução, a potência dos machos, e a concepção das fêmeas au-menta assustadoramente. Nas granjas, a produção de ovos aumenta quase 40 por cen-to, ao passo que, simultaneamente desaparece o canibalismo, problema constante nestas criações. Aqui, novamente, houve necessidade de desenvolver um sistema que oferecesse uma produção consistente, e novos problemas apareceram. Os primeiros sistemas não tinham controle ambiental de temperatura e umidade. Os fungos eram um problema constante nas gramas produzidas. Foi verificada a necessidade de uso de grãos limpos, de alto grau de germinação, para se obter uma boa relação de crescimento. Mesmo assim, face a estes e outros obstáculos, graças ao trabalho contínuo de pesquisadores dedicados, continuou-se a aperfeiçoar um sistema para produzir este pre-cioso alimento de alta qualidade, e de forma contínua. Assim sendo, com técnicas atuais, bom equipamento e bons materiais, hoje temos unidades comerciais, que trabalham sem problemas. Muitos dêstes estão em pleno fun-cionamento em sítios, fazendas e em jardins zoológicos espalhados por todo o mundo. A hidroponia só chegou à Índia nos idos de 1946. A primeira unidade de pesquisa foi instalada na Fazenda Experimental do Governo de Bengala, em Kalimpong, no distrito de Darjeeling.

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Tiveram que ser enfrentados muitos problemas peculiares a este sub-continente. Os processos até então conhecidos e estudados, já em uso na América e na Inglaterra, mostraram-se inadequados para uso geral no atendimento à população indiana, cheia de peculiaridades. Os equipamentos conhecidos e necessários eram caros, e portanto, proibitivos, além de existirem problemas fisiológicos locais. Um novo sistema, no qual a praticidade e simplicidade seriam pontos primordiais, tinha que ser desenvolvido, para que a hidroponia tivesse sucesso em Bengala. Assim, no período de 1946 a 1947, chegou-se a esse sistema conhecido hoje como o sistema hidroponico de Bengala, que atingiu as necessidades específicas do povo indiano. Hoje, com esse sistema simples e barato, milhares de agricultores produzem vege-tais essenciais, nos telhados e quintais das casas, provando que o sistema é útil mesmo em condições adversas. Paises de todo o mundo parabenizaram os indianos pela sua assiduidade na pes-quisa, e pelos resultados obtidos. Porém, surge sempre a pergunta: Porque usar a hidroponia, se temos tanto solo agricultável? Não é mais fácil melhorar os processos de manejo, os tipos de adubos, e o uso mais difundido de compostagem orgânica? E a grande conclusão: Afinal, os produtos hidroponicos em nada diferem dos obti-dos convencionalmente em condições de solo ideais!!! Estas afirmações trazem-nos à mente uma afirmação atribuída a Carlos II (Rei Car-los II, monarca Britânico de 1660 a 1685). Enfatizando a diferença entre ele e seu ir-mão, o Duque de York (depois James II), consta que Charles disse "Jamie faria se pudes-se, mas eu posso, e faço". As críticas às culturas sem solo caem quase todas na categoria desta frase. Ne-nhum destes críticos atenta para o fato de que, para melhorar o solo da Índia, ou de qual-quer outro pais semelhante, de forma a torná-lo agricultável, precisaríamos de 50 a 100 anos, se é que se conseguisse um solo ideal. E, na verdade, onde podemos achar as tais condições de solo ideais? Cultivar em estufas, usando solo, exige muita cautela e trabalho custoso, como pe-riódica desinfecção do mesmo e da estrutura da estufa.

Além disso, para se conseguirem condições relativamente boas de iluminação, a estufa deverá ser revestida de vidro, de termoplásticos ou de termofixos, sendo estes dois últimos com o melhor grau de transparência possível. Mesmo assim, periòdicamente, o solo deverá ser substituído, mesmo após se ter levado a efeito a rotatividade de culturas. Só assim, em estufas, se pode, por curtos pe-ríodos, ter solos que se aproximam do ideal. Há alguns anos a revista Forbes publicou um artigo intitulado "Suprimento de Ali-mentos - A Ajuda da Ciência Chegará a Tempo?". Neste artigo, a hidroponia é tida como o maior acontecimento do século capaz de resolver ràpidamente o problema de alimentos do mundo.

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Na mesma época, o jornal New York Times trazia um artigo intitulado "Hidroponia: Um novo Capítulo na Tecnologia dos Alimentos", onde se afirmava que "nos últimos anos, a hidroponia foi refinada a tal ponto, que é hoje um sistema comercialmente viável para produzir alimentos". Lendo artigos de jornais e revistas, qualquer um pode ser levado a acreditar que a hidroponia é uma descoberta recente da tecnologia científica, predestinada a salvar o mundo da fome. Sem dúvida, a hidroponia pode colaborar, e muito, na falta de alimen-tos, mas, de forma alguma é um novo desenvolvimento científico. De fato, as primeiras plantas que se desenvolveram no nosso planeta, foram hidro-ponicas. Hoje, mais da metade das plantas para consumo “in natura”, produzem-se hidropònicamente. E ainda, as mais saudáveis e mais nutritivas plantas que existem hoje, são hidroponicas. Estamos falando, das plantas que se desenvolvem no corpo da água que cobre mais de 70 por cento da superfície terrestre, nos lagos, rios e oceanos. Não há solo nos oceanos. As plantas aquáticas marinhas retiram todos os nutrien-tes de que necessitam, da mais completa solução nutritiva que se conhece, a água do mar. Das instituições conhecidas que mais contribuíram para o desenvolvimento da téc-nica do cultivo sem solo, foram sem dúvida as Universidades de Illinois, Ohio, Purdue e da Califórnia, nos Estados Unidos, a Universidade de Reading, na Grã Bretanha. No Ca-nadá, a Fazenda Central Experimental, em Otawa. Grandes empresas multinacionais também tiveram a sua participação, como a Im-perial Chemical Industries Ltd. (ICI), que fez a adaptação da hidroponia às condições bri-tânicas. Outros pioneiros da hidroponia foram o Boyce Thompson Institute for Plant Resear-ch, em New York, a New Jersey Agriculture Experimental Station, o Alabama Polytechnic Institute e a Horticultural Experimental Station, em Naaldwijk - Holanda. Hoje, a hidroponia é uma técnica agrícola já bem definida, mas as pesquisas e es-tudos não param. Variantes do processo continuam sendo testadas e aperfeiçoadas. Mas, não se tem dado folga aos pesquisadores e cientistas.

Por exemplo, as indústrias de estufas da Inglaterra, frente aos custos elevados das instalações, além do conhecimento técnico exigido para fazê-las funcionar a contento, clamavam por um sistema de mais fácil operação, e de menor custo inicial de montagem. Assim foi que, no Glasshouse Crops Research Institute em Little Hampton no sul da Inglaterra, reuniu-se uma equipe de pesquisadores comandada pelo Dr. Allen Cooper. Este grupo de cientistas estava plenamente convicto de que a hidroponia era algo comercialmente viável, e dele surgiu, por meados de l975, um sistema que revolucionou a hidroponia: o NFT - Nutrient Film Technique ou Nutrient Flow Technique. O Dr. Cooper descreve minuciosamente todos os detalhes do sistema no eu livro “The ABC of NFT”, editado em vários paises do mundo.

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Este sistema não foi resultado de uma experiência que deu certo. Ele se baseia em conceitos muito profundos de nutrição e fisiologia das plantas. Alem disso, nele o Dr. Coopper colocou em prática uma série de conceitos próprios que quebram uma série de mitos criados à volta das plantas, como, por exemplo, o de que “as plantas são seres vivos perfeitos, pois alimentam-se do que lhes é estritamente necessário, não necessitando de dejetar, pelo que não possuem nem necessitam de um sistema excretor”. O Dr. Coopper tem provado que isto é um mito A característica principal do Sistema Hidroponico NFT, é o baixíssimo custo inicial de instalação, aliado a um manejo extremamente simples e também de baixo custo.

Fig. 1.43 Dr. Allen Coopper (aos 83 anos de idade)

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Da Inglaterra, onde se difundiu rápida e assustadoramente, expandiu-se para o mundo, tendo sido a Nova Zelândia e a Austrália, os paises bandeira na sua adoção e subsequente adaptação para a maioria das plantas. O sistema tem as suas limitações e dependências, porém estas têm sido supera-das ràpidamente, e consequência disto, tem dado margem a muitas variações, que às vezes chegam até a deturpar parcialmente o seu princípio básico de funcionamento.

A maior limitação dêste sistema, é a completa dependência de energia elétrica. Hoje, cêrca de oitenta ou mais por cento das verduras produzidas por hidroponia, são-no pelo Sistema Hidroponico NFT. Como sugere o nome do sistema, seu princípio de funcionamento baseia-se na alimentação das plantas através de um filme bastante fino de solução nutritiva, que corre de forma contínua, ou em períodos determinados, através das raízes das plantas. Ao escrevermos estas linhas, o Dr. Cooper está com 83 anos de idade, e ainda continua pesquisando e desenvolvendo um novo sistema NFT, onde não é necessário usar-se a energia elétrica.

Fig. 1.44 Dr. Franco Massantini

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Não poderíamos aqui deixar de citar o trabalho realizado Dr. Franco Massantini, da Universidade de Pisa na Itália, pai da hoje denominada Aeroponia. Massantini idealizou um processo, pelo qual as plantas ficam com as raízes sus-pensas no ar, e estas são alimentadas com uma solução nutritiva que é periòdicamente aspergida sobre as mesmas, por meio de microaspersores. O sistema de Massantini constituiu na verdade, um verdadeiro marco na redução de custos de consumo de energia e instalações.

As instalações do processo são muito baratas, e o que é muito importante, por não serem ligadas rigidamente às estufas, são fàcilmente móveis e adaptáveis a vários tipos de cultura. Pode dizer-se que a Aeroponia como é hoje conhecido o sistema de Massantini, ainda está engatinhando, e muito ainda deve ser pesquisado e adaptado ao processo. Pelo Sistema Aeroponico, hoje cultivam-se comercialmente desde plantas folhosas para temperos e saladas, a frutos como tomates e pepinos, e tubérculos, como batatas.

Tomamos a liberdade para vislumbrar que, a Aeroponia, dentro de pouco tempo, irá, provàvelmente, substituir em quase ou mais da metade o Sistema NFT. 1.3 - O PRESENTE Com o desenvolvimento dos plásticos, a hidroponia teve um dos seus maiores crescimentos. Na verdade, se existe algum fator a quem por si só se deve creditar o grande su-cesso da indústria hidroponica de hoje, ele o desenvolvimento dos plásticos Como já foi mencionado, um dos maiores problemas que se encontravam em todas as instalações hidroponicas era a constante dissolução dos materiais usados na constru-ção das mesmas, como concreto, tubulação de ferro galvanizado e o próprio material de suporte das raízes, na solução de nutrientes. Com o advento do "fiberglass" (resinas reforçadas com fibra de vidro), bem como diferentes tipos de plásticos vinilicos, filmes de polietileno, e os diversos tipos de tubos plásticos, estes problemas foram virtualmente eliminados. Nos melhores sistemas de produção construídos hoje pelo mundo afora, os plásti-cos são usados em toda a sua extensão, e podemos dizer que nelas não existem metais. Até as bombas de água são revestidas com resinas epóxi, ou inteiramente fabrica-das com estas. Usando tais materiais, e materiais inertes para meios de enraizamento, o hidroponista estará no caminho certo para o sucesso. Os plásticos libertaram os produtores das construções dispendiosas dos tanques prèviamente usados. Bastará para tanto, escavar no solo existente, revestir o buraco com filme de vinil, e enchê-lo com meio de enraizamento. Pelo desenvolvimento de bombas adequadas, controladores de tempo, tubulações

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de plástico, válvulas solenóide e outros equipamentos, todo o sistema hidroponico pode hoje ser automatizado, e mesmo computadorizado, reduzindo tanto o capital investido, quanto os custos operacionais. Uma premissa básica que se deve ter em mente sôbre a hidroponia, é a sua sim-plicidade.

Depois da invenção da roda, muitos ficaram confusos, e pensaram que era algo muito complicado. Foi porque não puderam imaginar de imediato, quanto trabalho ela lhes pouparia. É assim com a hidroponia.

Conquistando a idéia, poderemos verificar que é algo...SIMPLES! Outro marco conquistado na hidroponia foi o desenvolvimento de composições de

nutrientes completamente equilibradas. Nesta área o trabalho ainda continua, mas, no entanto, já se encontram no mercado muitas fórmulas prontas. A maioria é boa, mas sòmente algumas, se é que existe alguma, funcionará corre-tamente sem o uso de adições durante os vários estágios de desenvolvimento das plan-tas, mas, para a maioria dos produtores, ainda é melhor começar por uma delas. Adicionalmente à velocidade do progresso em função do uso de plásticos, e ao len-to crescimento devido às misturas de nutrientes, um outro fator de grande importância para o futuro da indústria da hidroponia, foi o desenvolvimento de equipamentos de con-trole do ambiente das estufas. No início, quase todas as estufas, quando necessário, eram aquecidas por siste-mas a vapor, e o custo dêstes equipamentos era uma grande barreira à entrada de pe-quenos produtores nesta área. Com o advento de aquecedores de alta velocidade, que usam gás ou óleos leves, foi possível construir unidades de aquecimento muito menores, de alto rendimento, e mui-to mais baratas. Além disso, o uso de gás liquefeito de petróleo (GLP), tornou estas unidades fàcil-mente móveis, permitindo instalar-se uma estufa em qualquer lugar. Mesmo assim, em grandes instalações, usar caldeiras ainda é a opção mais eco-nomica. Da mesma forma que os equipamentos de aquecimento, também houve grande desenvolvimento nas unidades de resfriamento. Ainda no que tange a estufas, o uso de novos materiais, como filmes de polietileno e de vinil, bem como placas de fiberglass, permitiram técnicas completamente novas na construção das mesmas, reduzindo dràsticamente seus custos de fabricação. Hoje é possível construirem-se estufas de qualquer tamanho e ou formato, a pre-ços bastante acessíveis. Alguns destes materiais têm apenas a durabilidade correspondente a uma safra. Outros têm garantias de até 20 anos contra o escurecimento, que causa perdas de luz, e contra rachaduras causadas pelo granizo. Com os novos materiais, apesar dos danos à cobertura, quase não há danos às culturas.

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Mas, pelo uso de filmes finos demais, ou mesmo de vidro, quando houver danos às coberturas, inevitàvelmente teremos perdas de culturas, às vezes, perdas totais. Os fil-mes são bons para coberturas temporárias ou semitemporárias. Alguns materiais de cobertura, hoje, proporcionam difusão de luz, que para as cul-turas é muito importante e benéfico. A combinação dos controles de ambiente, bem como o desenvolvimento dos sis-temas hidroponicos, têm nestes últimos 20 anos, sido motivo de grande crescimento de indústrias paralelas a eles ligados, e com isso, poderemos estar certos de que, no futuro, a hidroponia representará um grande papel na alimentação do mundo. A hidroponia tornou-se uma realidade para os produtores em estufas, em regiões de qualquer clima. Hoje, temos instalações hidroponicas espalhadas pelos quatro cantos do mundo, e muitas delas, em regiões onde jamais se imaginaria que uma planta pudesse nascer, crescer, florir e frutificar. O crescimento desmesurado dos grandes centros urbanos tem paulatinamente di-minuído as terras de solos férteis à volta dos mesmos, empurrando as suas fontes de for-necimento de alimentos para distancias cada vez maiores. Isto tem tornando tais alimentos cada vez mais caros, devido não só às grandes distancias que têm que percorrer, como também aos custos de sua conservação. Dada a característica da hidroponia, de elevados graus de produção em áreas re-duzidíssimas, sem haver necessidade de solo, até nas coberturas de prédios das grandes cidades, poderá produzir-se uma notável quantidade de alimentos. E isto já é uma reali-dade. Só precisamos de eletricidade, às vezes combustível, e pequenas quantidades de água (1/25 da água normalmente necessária em culturas em solo). E teremos alimentos exatamente dentro dos centros consumidores. Hoje, temos hortas hidroponicas instaladas nos submarinos nucleares, nas esta-ções espaciais, e nas estações marítimas de perfuração de poços petróleo, sem falar nos grandes jardins zoológicos, que mantêm saudáveis grande parte de seus animais, graças à erva hidroponica produzida dentro suas próprias instalações. Temos hoje grandes e pequenas instalações usadas por companhias ou por pes-soas em suas próprias residências. Até na ilha de Baffin e no Eskimo Point no Ártico Ca-nadense. Produtores comerciais usam esta maravilhosa técnica para produzir alimentos em larga escala, desde Israel até à Índia, da Arménia ao Saara. Existem instalações junto ao mar, usando água dêste, desalinizada, e mesmo em áreas desérticas, usando águas salobras tratadas. Se existe uma indústria no mundo cuja hora de sucesso chegou, é a da HIDROPONIA. Porquê produzir alimentos? Há muitas e boas razões. Nos nossos grandes cen-tros consumidores, o alimento é algo tido como garantido, embora alguns itens dêste, não há muitos anos, seja por necessidade, ou por passa-tempo, muitas famílias o produziam de modo caseiro. Porém, desde há alguns anos, é fácil ir-se ao supermercado, e comprar o necessá-rio, na maioria das vezes não importando o preço, e para a maioria não pesando muito o

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melhor ou pior paladar, o maior ou menor índice nutricional. Quanto a vegetais frescos, sendo grandes e bonitos, podendo ser comprados a preços razoáveis, nada mais importava. Mas, nestes últimos anos, as coisas estão mudando. O consumidor está mais in-teressado nos custos, e mais ainda, preocupado com o paladar e o índice nutricional dos alimentos que dá à sua família. Paises como as Ilhas Canárias, equilibram sua economia anual, exportando gran-des quantidades de tomates, pepinos e verduras hidroponicas, para países industrializa-dos, como a Inglaterra. O Caribe, Porto Rico e México, embarcam grandes quantidades de frutas e verduras hidroponicas, para os mercados dos Estados Unidos e Canadá. Na Inglaterra, Alemanha, França, Holanda e Suíça, empresas produtoras de flores, preferem usar a hidroponia com fins comerciais, especialmente para a produção de cra-vos e outras espécies florais. No Colorado - EUA, e estados vizinhos, produzem-se extensivamente rosas para exportação. Nos Estados Unidos, sòmente na área de produção de flores, em 1971, ex-portaram-se 21 milhões de dólares. Na Rússia, a cultura sem solo tem sido considerada uma bio-indústria, posicionada entre a agricultura e o sistema industrial. Outros paises, alguns dos quais ainda não mencionamos, e onde a hidroponia é extensivamente usada, incluem a Espanha, África do Sul, Israel, particularmente no de-serto de Negev e ao longo do Mar Morto, Itália, Escandinávia, Bahamas, África Central, África Oriental, Kuwait, Brasil, Polonia, Seychelles, Cingapura, Malásia e Iran. Esta lista é incompleta, e não é tão extensa, mas ela pode dar a idéia real de quan-to a hidroponia está hoje espalhada pelo mundo. A cada dia que passa, mais e mais pessoas têm que ser alimentadas, e por incrível que pareça, as áreas agricultáveis, desta ou daquela maneira, vão diminuindo, bem como vão diminuindo os agricultores, seja pelo mau retorno financeiro do seu trabalho, seja pela fascinação que os grandes centros urbanos exerce sôbre os mais humildes dentre eles. A continuar assim, acreditamos que a demanda por alimentos sobreporá, algum dia, nossa capacidade de produzi-los, como já aconteceu no passado. Quem sabe se não teremos que recorrer a regimes de dieta, ou pelo menos, a pro-gramas para reduzir ou eliminar nosso desperdício alimentar, como tivemos para econo-mia de energia desde a crise do petróleo. Não queremos alarmar ninguém, nem prever uma catástrofe. Acreditamos que ninguém irá passar fome, mas teremos que rever nossa posição quanto ao poder nutritivo de nossos alimentos, para que menores volumes dêstes, alimentem maior número de se-res humanos. E, quanto custarão esses alimentos, quando comparados aos nossos rendimentos mensais?

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Não há muitos anos que na cidade de São Paulo - Brasil, por exemplo, nosso cintu-rão verde não distava mais do que 25 ou 30 Km do centro geográfico da Cidade, a qual estava cercada de horticultores. Tínhamos produtores locais com abundância de verduras, de leite, de frangos, de ovos, que vinham a nossas casas. Podíamos escolher à vontade, e se não gostássemos podíamos reclamar, ou comprar de outro. Nesse tempo, alimento "fresco", era fresco mesmo, e os produtores locais, não e-ram conhecedores de técnicas como são hoje. Os produtos frescos eram oferecidos à porta de nossas casas, e jamais pensaríamos em comprá-los congelados ou enlatados, se é que tal passava pelo nosso pensamento. Hoje o quadro que se nos apresenta é bem diferente. Os produtores locais desa-pareceram. Temos hoje grandes produtores centralizados em grandes propriedades a-grícolas, e grandes empresas beneficiadoras de alimentos junto com ... produtos químicos conservantes. Não é o alimento que "tem química". São os agentes conservantes adicionados aos mesmos que são constituídos por produtos químicos, que segundo garantem autori-dades sanitárias são inócuos à nossa saúde. Serão mesmo? Não podemos mais ignorar a escassez de alimentos no mundo. Precisamos pro-duzir alimentos em quantidades cada vez maiores, em áreas cada vez menores, e para isso, teremos que nos oferecer para alguns sacrifícios. Teremos que sacrificar os alimentos "frescos", e deixar de usar ou ter oferta dos "realmente frescos". Teremos provàvelmente menor controle de qualidade alimentar, maiores custos, e certamente maiores rações de alimentos em conserva. Dos alimentos hoje produzidos, consideremos as perdas. Cêrca de 20 ou 30 por cento deles, são perdidos no campo. Adicionemos a isto, custos cada vez mais altos de embalagem, armazenamento, preservação e transporte, e o resultado é claro. Precisa-mos produzir muito mais, para conservar mais ainda. A hidroponia não é "A SOLUÇÃO", mas é "UMA SOLUÇÃO" dentre muitas. Falamos até aqui, de produtos vegetais. Falemos de produção animal, de leite e seus derivados, de frangos, de ovos, de carne bovina e outras. O método hidroponico conhecido como Herbagère, inventado pelo botânico belga Gaston Perin, está hoje cada vez mais difundido pelo mundo. Esta técnica baseia-se na germinação de grãos em bandejas, mantidas em câmaras climatizadas. Por ela, produzem-se vários tipos de forragens para alimentação de gado e aves, e tem sido bastante usada também na alimentação de animais herbívoros em zoológicos. O ciclo de produção de forragem com grãos de cevada é de sete dias, e a razão de conversão, chega a atingir 1:10, ou seja, 1 Kg de grãos, fornece 10 Kg de forragem. Num espaço de 25 metros quadrados, podem produzir-se diàriamente 450 Kg de erva fresca. Também plantas perenes, se produzem hidropònicamente, como alfafa e outras. Produzir alfafa de boa qualidade, no solo, é uma tarefa hercúlea. Mas, hidropònicamente,

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consideradas primeiramente as peculiaridades da técnica, é algo extremamente fácil. E aquela plantinha chamada "confrey"? No solo, é uma praga que pode infestá-lo como se fora uma erva daninha, porém as aves, em especial galinhas, gostam dela de tal maneira, que entram em desespero ao sentirem seu odor a 20 ou 30 metros de distância. Produzi-la hidropònicamente, jamais será uma praga, e é tão fácil quanto produzir uma cabeça de alface. Quanto ao seu poder alimentício, sem considerar suas caracterís-ticas medicinais, bem, perguntemos aos russos, que alimentam seus plantéis quase só com ela. Perguntamos agora novamente, "Porquê produzir alimentos? Acreditamos que tenham achado a resposta nestas linhas”. 1.4 - O FUTURO A hidroponia é uma ciência jovem. Muitos autores e pesquisadores, consideram- -na uma Ciência. Está sendo usada comercialmente, apenas há pouco mais de 70 anos. Todavia, mesmo neste curto período de tempo, foi adaptada às mais diversas situ-ações, desde cultura ao ar livre, em estufas, e até em culturas especializadas em subma-rinos nucleares para obter vegetais frescos para tripulações. É uma ciência da era espacial, e, no entanto, pode ser usada em paises sub-desenvolvidos do terceiro mundo, para produzir grandes quantidades de alimentos em áreas reduzidas. Suas únicas restrições são água limpa, nutrientes e às vezes energia elétrica. Onde não houver água potável, a hidroponia pode usar água salobra ou água do mar de-salinizada. Onde não houver nutrientes, pode usar os extraídos de dejetos animais trata-dos em biodigestores. Assim sendo tem enorme potencial de aplicação no provimento de alimentos em áreas de terras não agricultáveis, como são os desertos. Os complexos hidroponicos podem ser localizados ao longo das costas marinhas, combinados com unidades desalinizadoras alimentadas por combustíveis vários ou por energia atomica, e até usando a areia das praias como substrato para enraizamento. Outra área onde a hidroponia promete desempenhar um grande e importante papel é na produção de mudas de árvores para reflorestamento, para pomares e para arbustos ornamentais. Em reportagens publicadas já em 1966, pesquisadores da Universidade de Wis-consin declararam que estavam germinando sementes de cedro branco, abeto, pinho vermelho e outras, pelo sistema hidroponico. O resultado da experiência mostrou que, em um ano, as mudas se desenvolveram de três a quatro vezes mais do que em sistemas convencionais no solo. E ainda, que numa só estação, nesta região, em função da alta concentração de plantas por unidade de área, produziram-se hidropònicamente, dez vezes mais mudas do

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que por processos convencionais. Não só a hidroponia possibilita a produção de alimentos em áreas desérticas, como também o faz em regiões de pequena extensão e com elevada densidade populacional. Típico desta situação é o Hawai, onde as estações turísticas reduziram drástica-mente as poucas áreas agricultáveis, além de em função da população de turistas, elevar-se violentamente a densidade populacional. Mas, continuam a existir problemas que freiam o desenvolvimento da hidroponia como um todo. Um deles é a atitude negativa de diretores, mestres, e pessoas de eleva-da posição nas nossas escolas e universidades agrícolas e nos diversos departamentos de governos. Essas atitudes vão desde o total desinteresse até à hostilidade declarada.

E são na maioria, resultado de sua relutância em aceitar ou mesmo estudar, siste-mas que podem conflitar com suas tradições. Enfim procura destruir-se o que não se conhece.

Mas, por esse mundo fora, felizmente, existem pessoas que não só têm mentes abertas, mas também são generosas o suficiente para auxiliar os produtores a instalar seus complexos hidroponicos. Outro problema, especialmente em áreas de clima frio, ou de invernos rigorosos, se desenvolveu nestes últimos anos, com os aumentos consecutivos nos custos da energia. Mas, nestes casos, uma luz vem surgindo no fundo do túnel, com os equipamentos de aquecimento solar. Muito ainda tem que ser feito e pesquisado neste sentido, mas já existem unidades para esta finalidade disponíveis no mercado. Também têm surgido publicações com detalhes de projeto e construção para que as unidades solares possam ser fabricadas pelo usuário. Existem planos para o uso da hidroponia em vôos espaciais, e mesmo para insta-lação de unidades na Lua, ou mais além. Para a Hidroponia, o futuro parece ser luminoso. O maior perigo no crescimento e desenvolvimento da hidroponia, tem sido os opor-tunistas de momento que apareceram nos últimos anos. O sucesso de muitos produtores, com instalações e equipamentos devidamente projetados e selecionados, tem atraído esses "auto intitulados especialistas e ou autorida-des", que cada vez aparecem em maior número, até dentro de Universidades. Fazendo reivindicações de créditos a seu favor, têm vendido acessorias e instala-ções ultrapassadas, além de cópias mal feitas de unidades que já funcionaram sabe-se lá como, assegurando que esse é o caminho fácil para ganhar dinheiro. Essas promoções e propagandas, têm tido pouca duração, mas, infeliz e maldosa-mente outros continuam a aparecer. O custo de uma instalação para o futuro produtor, devidamente idealizada e proje-

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tada com bases num bom controle de ambiente em estufa, pode atingir alguns milhares de reais. Porisso, ao futuro hidroponista, é recomendável que verifique com cautela as pro-pagandas que aparecem, exigindo comprovações aos vendedores, inclusive de sua capa-cidade profissional, exibição de instalações já feitas e em franca produção, capacitação de pesquisa, e informações sobre o passado da empresa fornecedora. Para aqueles que desejarem montar a sua própria instalação, desenvolvendo seu próprio projeto, o que hoje no nosso país ainda é recomendável senão necessário, lem-brem-se que um principiante sem nenhuma experiência em agricultura, pode produzir a-través da hidroponia com bastante sucesso. Terá algumas dificuldades? Sim, mas onde elas não existem? Acreditem, aquele que tiver uma pequena estufa de 3 x 4 metros, com o sistema hidroponico, poderá produ-zir todos os vegetais frescos para uma família de quatro ou cinco pessoas, uma vez que mantenha a sua produção durante todos os dias do ano. E isso é fácil. A hidroponia é altamente rentável comercialmente, se o produtor dedicar a ela o tempo e a atenção que qualquer negócio exige. Quer produzir tomates? A produção destes frutos por hidroponia, é 18 vezes mai-or do que pelos processos convencionais em solo. Será muito difícil ter que usar um a-grotóxico na sua produção. A hidroponia é algo fascinante. Experimente, e verá quão gratificante é ver suas plantas nascerem, crescerem e frutificarem, e depois, enfeitarem sua mesa, e finalmente, deleitarem seu paladar e apetite. E, o que ainda é mais importante, poder dizer, "Eu plantei, e eu colhi". Poderá então o leitor confirmar o que dizia em seus relatórios ao rei, aquele padre que aportou no Brasil com os descobridores, - " Majestade, nesta terra, em se plantando, tudo dá ". Só é preciso plantar. Plantemos pois.