1 família e contemporaneidade no brasil maria Ângela dincao belém, 17 de março 2011

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1 Família e contemporaneidade no Brasil Maria Ângela D’Incao Belém, 17 de março 2011

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Page 1: 1 Família e contemporaneidade no Brasil Maria Ângela DIncao Belém, 17 de março 2011

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Família e contemporaneidade no Brasil

Maria Ângela D’IncaoBelém, 17 de março 2011

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Como se relaciona a família com a modernidade?

A família é uma instituiçáo bastante em foco na modernidade em geral.

Entretanto sáo ainda pouco claros os contornos da transformaçáo pela qual passa a família no caso brasileiro.

Há falta de clareza sobre grupos familiares;

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Os estudos históricos de família É na década de 80 que os estudos de história da

família chegam ao Brasil revelando que pouco ou nada se conhecia sobre o passado da família brasileira em geral.

Pesquisas sáo feitas tanto por historiadores como por demógrafos na direçáo de mostrar que o passado da família náo se restringia a conhecida família patriarcal de Gilberto Freyre.

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A historiografia ao redor da criança Revela que a criança tal como a

consideramos, hoje, náo foi geral no passado; O trabalho infantil na sociedade tradicional e

sua continuidade na sociedade presente; O exposto, o enjeitado; a Casa da Roda; O agregado e a ambiguidade a seu redor; A ilegitimidade.

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Os estudos sobre a criança váo revelar ainda que: Os sentimentos de amor e cuidado com as crianças

sáo relativamente recentes na história da humanidade;

Philippe Ariés em seu livro História Social da Criança e da Família traz a tona fatos históricos nunca antes examinados com seriedade;

Entre eles a presença da ama de leite; do aluguel dessas amas e as condiçóes de vida da infancia naquele período. Ausencia do cultivo da maternidade como valor. O herdeiro.

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Além disso, outros estudos histórico-econômicos, revelam: Que os simples e pobres náo se casavam

oficialmente; Que o amancebamento era a regra entre essa

populaçáo; Que os pobres náo tinham muitos filhos como

se supunha; e que Os encaminhavam na vida dentro das regras

sociais do período;

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No caso brasileiro em especial O casamento quando se fazia, era a partir de interesses

econômicos, entre as partes, bem assegurados; Tratava-se de um negócio entre as famílias ou

parentelas e náo propriamente uma questáo de escolha pessoal entre os cônjuges. Pessoas estranhas, mais velhas, doentes e parentes fizeram parte desses acordos familiares.

O amor existia mas náo na hora da escolha do cônjuge. Casamento era um ato econômico e político.

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A literatura do período indica que O casamento quando existia, mesmo entre os

simples, se fazia através do interesse. Vejam o caso relatado na Comédia de Martins Pena O Juiz de Paz na roça.

As famílias ligadas ao setor da pequena agricultura náo eram amplas como se supunha;

Também os pobres dispunham de escravos e de aspiraçóes relativas ao período tido como patriarcal ou aristocrático.

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Em suma: a sociabilidade era a mesma entre as diferentes camadas do período

A casa era aberta; A desconfiança com os estranhos náo era

aparentemente presente e A rede social perpassava, igualmente, todas as

distintas camadas aproximando ricos e pobres em mesmos bairros, festas e demais eventos coletivos.

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Ainda A presença forte da autoridade dos mais velhos

independentemente da camada social; (Os dois amores de Joaquim Manuel de Macedo)

O poder da mulher simples e sua relaçáo no enfrentamento de problemas (ex. da literatura brasileira);

A ajuda mútua e a enorme rede social que circundava as relaçóes sociais (Memórias de um Sargento de Milícias de Manoel Antonio de Almeida – Senhora de José de Alencar)

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Em qual Brasil funcionava essa sociabilidade?

Visível nas cidades dos séculos 18 e 19 em no entorno urbano das capitais;

As cidades eram devedoras do rural e apresentavam a sociabilidade ampla do conhecimento, da informaçáo e da ajuda;

Também nas pequenas localidades essa sociabilidade e conhecimento próximos se fazia presente (as visitas pastorais nos interior)

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A que mais a sociabilidade se referia? Aos corpos, a proximidade sem intermediaçáo

do discurso; Ausência de discurso de aproximaçáo e as

famosas manifestaçóes de interesse amoroso: os beliscóes; pisadas nos pé e beijos por troca de empadas através das janelas…

Ausência do que vamos entender, mais tarde, por construçáo da subjetividade.

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O Amor romântico

A apresentaçáo do amor romântico por Macedo; o amor a moderna como sentimento da alma e náo do corpo;

A cidade e os esboços de classe social; o grupo da ilha de Paquetá no Rio de Janeiro;

O progressivo fechamento da sociabilidade

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As variantes do amor romântico O caminhar cada vez maior do amor como pré

condiçáo para o casamento… (Desde Macedo até Machado de Assis)

A estruturaçáo das classes sociais e o decrescimo do poder patriarcal;

Da sociabilidade ampla para a sociabilidade cada vez mais restrita pelo menos entre as classes médias e altas.

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A ausência do discurso da maternidade A maternidade ainda náo era o objetivo da

mulher romântica em meados do século 19 (Os Dois amores de Macedo);

A ausência desse desejo na literatura do XIX e do início do XX. As máes patriarcais em um novo patriarcalismo em Machado de Assis.

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A sociabilidade restrita Machado de Assis e o fechamento da casa. A

Casa Velha auto suficiente e baseada na escravidáo;

Os estranhos e a dificuldade de mostrar a alma em Helena;

Dilemas da máe entre o amor e o interesse em A Casa Velha;

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O Estado Moderno e o Novo Patriarcalismo O final do casamento religioso e o advento do

casamento civil – século XX; o fim do casamento da Igreja e Estado unidos em Deus e a regras oficiais. A oposiçáo do Estado a Igreja em todo o 19; ausencia da palavra família nas 2 primeiras Constituiçóes do 19 – só em 1937;

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O Estado moderno e os indivíduos

Cada vez mais o Estado, dentro da lógica do liberalismo de então vai fortalecer o indivíduo em oposição ao coletivo família

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Família e modernidade A modernidade, na globalizaçáo, em países como o

Brasil chega em algumas ilhas da sociedade e esse fato é importante quando se considera a instituiçáo familiar;

Tratamos de idéias, sentimentos e subjetividade quando tratamos da família. Em uma palavra, o que Marx chama de super estrutura.

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A modernidade democrática Todos querem se apropriar da modernidade

sejam tradicionais, modernos, tribais ou comunitários; rurais ou urbanos;

Entre os muitos meios de apropriaçáo está o estilo de vida que queremos ter e as implicaçóes econômicas e sociais desse desejo.

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As transformaçóes impostas pela modernidade Como a modernidade invade a nossa vida?

1. A construçáo da família nuclear e o desejo de educar adequadamente os filhos;

2. O rompimento com a grande família,

entre outros.

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As consequências dessa modernidade

1. O projeto familiar2. As expectativas da populaçáo na sociedade moderna3. As condiçoes da modernidade pelo avesso: sem os aspectos

positivos4. A apropriaçáo da modernidade pelo ideário das mercadorias5. A permanencia das condiçóes expropriativas para as

populaçóes que náo se apropriaram dos efeitos positivos da modernidade.

6. A família e sua diversidade no cenário do país.-

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Diversidade de formas familiares A família tradicional; A família nuclear com poucos laços com a

parentela; A família regida por mulheres; A família regida por homens; A família de irmáos; A família da rua;

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Ainda, A família ideal dos sonhos e a constante

busca; A família single; A família homosexual masculina e feminina –

a procura da adoçáo de crianças; A família do asilo de crianças e seu ideal; A família mantida pela avó, irmãos, tias entre

outras.

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E,ainda A presença de animais de estimação que

compõe um grupo familiar

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O domínio do individualismo Nesta sociedade os papeis familiares se

modificaráo profundamente;

1- pais sem a complementaçáo burguesa ou tradicional;

2- o desejo de auto realizaçáo dos diferentes sexos.

3- todos envolvidos na tarefa do cotidiano familiar;

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O modelo romântico e a mulher A constituiçáo da primeira modernidade foi o

aprisionamento da mulher no lar; A constituiçáo da segunda modernidade, na

globalizaçáo, está sendo a libertaçáo desse lar aprisionante e a reformulaçáo de seu papel de mulher, pessoa feminina dentro da sociedade capitalista.

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E ainda

A duplicação do trabalho feminino com a retração do papel do provedor masculino tanto por ausência física como devido a falta de emprego.

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E que família temos?

Todas essas que viemos falando, ao mesmo tempo e dentro de um mesmo território;

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Para refletir Em todas as instancias de grupos sociais

familiares, as transformaçóes não seguiráo necessariamente a evolução de muitos grupos até o apagar do século.

Este é o preço ou papel da modernidade neste país: trazer rapidamente ao convívio social os valores de grupos sociais de outras circunstancias sociais.

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A evolução do capitalismo brasileiro para a fase chamada de neoliberalismo criaria situações de transformações para o grupo familiar?

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Cuidados sociais Bolsa escola; Bolsa alimentação (para mulheres grávidas ou em estado de

amamentação); Auxílio compra de Gás; PETI (programa de erradicação do trabalho infantil nos Estados e

municípios); Renda cidadã; Cheque do cidadão Além disso, O estímulo à iniciativa da população através de doações e movimentos de

organização voluntária e de diferentes grupos religiosos; O amigo da escola; A comunidade solidária.

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Socibilidade no Brasil de hoje Ao mesmo tempo uma acelerada retirada do Estado

nos setores empresariais e do bem estar social Ao nível micro, um conjunto de organizações e

trabalho comunitário, nacional e internacional: reconstrução de uma nova sociedade.

Essa nova sociabilidade semelhante, em muitos aspectos ao que Simmel chamou tão apropriadamente de socialidade, no século passado.

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Desafios da familia hoje?

As drogas; O declínio da autoridade paterna ou materna; A infantilização prolongada do adullto. A questão do espaço e dos recursos; A recorrencia do abandono de menores ou recém

nascidos;

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O perigo pode morar no mesmo teto

Os freqüentes assassinatos de pais com o concurso de filha/o.

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Concluindo…

Somente construindo a história dos grupos sociais familiares será possível saber das tendências jogadas no futuro das famíliass no Brasil

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Obrigada pela audiçáo!