088 - marÇo · 2017. 10. 2. · relações entre o alto e o bai-xo, entre os deuses e os homens....

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RECICLE INFORMAÇÃO: Passe este jornal para outro leitor ou indique o site Ano VIII - Edição 88 - Março 2015 Distribuição Gratuita Vale do Paraíba Paulista - Litoral Norte Paulista - Região Serrana da Mantiqueira - Região Bragantina - Região Alto do Tietê Música clássica e elitismo Página 8 Funções do Governo Federal Página 10 A VISÃO DA NATUREZA EM DIVERSAS CULTURAS Os limites da circularidade cósmica sustentam as relações entre o alto e o bai- xo, entre os deuses e os homens. Página 11 Função social da Escola Página 12 Abelhas: mel e polinização Reforma agrária Página 13 O chão foi o destino de 20% das árvores da Floresta Amazônica original. Página 14 30 de Março Dia Mundial da Juventude Quais são as condições finan- ceiras, materiais e pedagógicas, oferecidas à escola para que seus projetos se realizem? E qual é a mobilização do corpo técnico e docente para efetivá-los? Página 15 Governar para números ou governar para pessoas? Página 16 www.formiguinhasdovale.org /// CULTURAonline BRASIL /// http://www.culturaonlinebr.org "A natureza nos mostra mais uma vez a beleza de sua sabedoria: é preciso entrega, é preciso deixar ir o que não serve mais, para proteger o que é mais importante." Leia mais: pag. 3 a atividade turística se caracteriza como um fator que contribuirá para a melhoria do nível e da qualidade de vida da população e para a prosperidade das empresas e das economias locais. Leia mais: Pág. 4 Até os homens perceberem que somos todos iguais, absolutamente iguais, seres humanos querendo aprender, querendo ser feliz. Promover um novo jeito de pensar e agir que inclua o respeito a todo ser humano, é um caminho para se viver melhor. Leia mais: Pag. 5 Sem noção do que havia acontecido, fui empurrada? Por quem? Por quê? O que houve? Um sentimento de medo, preocu- pação de como vou acabar e de onde fui parar. Leia mais: Pag. 7 O que ensino realmente é importante ou eles só de- vem aprender o que vai cair na prova? Pagina 9

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Page 1: 088 - MARÇO · 2017. 10. 2. · relações entre o alto e o bai-xo, entre os deuses e os homens. Página 11 Função social da Escola Página 12 Abelhas: mel e polinização Reforma

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Ano VIII - Edição 88 - Março 2015 Distribuição Gratuita

Vale do Paraíba Paulista - Litoral Norte Paulista - Região Serrana da Mantiqueira - Região Bragantina - Região Alto do Tietê

Música clássica e elitismo

Página 8

Funções do Governo Federal

Página 10

A VISÃO DA NATUREZA EM DIVERSAS

CULTURAS Os limites da circularidade

cósmica sustentam as relações entre o alto e o bai-

xo, entre os deuses e os homens.

Página 11

Função social da Escola

Página 12

Abelhas: mel e polinização Reforma agrária

Página 13

O chão foi o destino de 20% das árvores da Floresta Amazônica

original.

Página 14

30 de Março Dia Mundial da Juventude Quais são as condições finan-

ceiras, materiais e pedagógicas, oferecidas à escola para que seus projetos se realizem?

E qual é a mobilização do corpo técnico e docente para

efetivá-los?

Página 15

Governar para números ou governar para

pessoas?

Página 16

www.formiguinhasdovale.org /// CULTURAonline BRASIL /// http://www.culturaonlinebr.org

"A natureza nos mostra mais uma vez a beleza de sua

sabedoria: é preciso entrega, é preciso deixar ir o que não serve mais, para proteger o

que é mais importante."

Leia mais: pag. 3

a atividade turística se caracteriza como um fator que contribuirá para a melhoria do nível e da qualidade de vida da população e para a prosperidade das empresas e das economias locais.

Leia mais: Pág. 4

Até os homens perceberem que somos todos iguais, absolutamente iguais, seres humanos querendo aprender, querendo ser feliz.

Promover um novo jeito de pensar e agir que inclua o respeito a todo ser humano, é um caminho para se viver melhor.

Leia mais: Pag. 5

Sem noção do que havia acontecido, fui empurrada? Por quem? Por quê? O que houve? Um sentimento de medo, preocu-pação de como vou acabar e de onde fui parar.

Leia mais: Pag. 7

O que ensino realmente é

importante ou eles só de-

vem aprender o que vai cair

na prova?

Pagina 9

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Março 2015 Gazeta Valeparaibana Página 2

A Gazeta Valeparaibana é um jornal mensal gratuito distribuído mensalmente para download

Editor : Filipe de Sousa - FENAI 1142/09-J

Email: [email protected]

Designe e artes gráficas: Rede Vale Comunicações - Fone: 0 xx 12 99703.0031

Gazeta Valeparaibana

Um MULTIPLICADOR do Projeto Social “ALeste” Uma OSCIP - Sem fins

lucrativos

Este mês: WILLIAM SHAKESPEARE

“Se você ama alguma coisa ou alguém, deixe que parta. Se voltar é porque é seu, se não é porque jamais seria .”

***

“Duvides que as estrelas sejam fogo, duvides que o sol se mova, duvides que a verdade seja mentira, mas não duvides jamais de que te amo.”

***

“A raiva é um veneno que bebemos es-perando que os outros morram.”

***

“Planto meu jardim e decoro minha al-ma ao invés de esperar que alguém me traga flores!”

***

“Nem palavras duras e olhares severos devem afugentar quem ama; as rosas têm espinhos e, no entanto, colhem-se.”

***

“É mais fácil obter o que se deseja com um sorriso do que com a ponta da es-pada.”

***

“Só porque alguém não o ama do jeito que você quer que ame, não significa que esse alguém não o ama.”

***

“Tão impossível é avivar o lume com neve, como apagar o fogo do amor com palavras.”

***

“Não sujes a fonte onde aplacaste tua sede.”

Editorial

Rádio web CULTURAonline Brasil

NOVOS HORÁRIOS e NOVOS PROGRAMAS

Prestigie, divulgue, acesse, junte-se a nós !

A Rádio web CULTURAonline Brasil, prioriza a Educaç ão, a boa Música Nacional e programas de interesse geral sobre sustentabilidade social, cidadania nas temáticas: Educação, Escola, Professor , Família e Socie-dade.

Uma rádio onde o professor é valorizado e tem voz e , onde a Educação se discute num debate aberto, crí tico e livre. Mas com responsabilidade!

Acessível no link: www.culturaonlinebr.org

Geração - Canguru

Assumir uma vida independente e de compromissos está distantenos dias atuais e assim, os jovens, vão ficando confortavelmente “embaixo das asas” dos pais e a adolescência vai se estendendo cada vez mais. Antigamente, sair de casa e ser independente era uma questão de hon-ra e não só tomávamos essa responsabilidade como protegíamos a ve-lhice dos nossos pais e, essa mesma geração de outros tempos, conti-nua embalada por essa garra e vontade de seguir adiante, enquanto os filhos continuam na imaturidade, os mais velhos, cada vez com mais longevidade, continuam querendo um espaço seu e independente, mas, a “geração canguru”, parece não se incomodar. Nesse ínterim, poucos juntam dinheiro ou criam seus filhos que vem an-

tes do tempo, não investem em profissão alguma, usam deliberadamente bebidas alcoólicas e drogas mesmo sob olhares vigilantes e incrédulos permanecem nessa indefinição. Saem do ninho cada vez mais tarde e por muitas vezes os pais morrem e lhes poupam até ter que mudar de casa que fica como herança e assim nenhum esforço maior se faz necessário para sobreviver e, sem contar, os “nem-nem” que nem estudam e nem trabalham. A família das gerações mais antigas, tinham o desejo de que os filhos trabalhassem o quanto antes para serem autossuficientes. Começavam a trabalhar muito cedo, aos 14 anos, em média. A “geração canguru” faz o caminho contrário e hoje nem precisam sair da casa dos pais para adquirir liberdade. É morando com a família que eles têm mais tempo para estudar e consumir, sem preocupação com as despesas que uma casa tem. A sociedade atual é muito mais liberal e a casa da família não oferece mais tantos empecilhos, nem mes-mo sexuais, como antigamente. Além disso, enquanto não saem de casa, as despesas geralmente são pagas pela família e a renda do jovem fica integralmente livre para atender às necessidades de consumo dele – sejam de estudos ou diversão. Aliás, o consumo do jovem aumentou muito nas últimas décadas, tornando necessário para muitos, por exemplo, o carro do ano, o último smartphone, entre outros itens que se tornaram tendências. A “geração canguru” está diretamente ligada aos pais que possuem melhores salários e os filhos não sen-tem obrigação de terem um novo lar nem para morar com um cônjuge ou não. Além do que, hoje cada vez se tem menos filhos o que faz sobrar espaço nas casas dos pais até para criar netos. Poucos filhos se aventuram em morar com alguém e mesmo assim, voltam rapidinho na primeira dificuldades em nenhum constrangimento, encaram essa falta de competência como “normal”. Acabaram-se os sonhos e ideais, o desejo de ser príncipe ou cinderela, resta serem filhinhos de papais mesmo que a todo custo, isso implique no sacrifício de quem já lutou a vida toda pela conquista de sua liberdade e livrar-se da “ditadura” dos velhos pais. Também há a vontade de muitos pais que querem manter os filhos sob seus cuidados pela preocupação com a violência e a segurança dos jovens. Fica então a ambivalência do desejo de vê-los “voar com as próprias asas” e de outro a certeza de que ninguém será capaz de protegê-los com tanto amor como o deles. Mas, a independência é um processo importante e faz parte. Por mais que seja difícil se desvincular da família, é necessário e indubitavelmente vantajoso para o crescimento e amadurecimento e, devemos fi-car atentos para as consequências que está modernidade trará para todos nós. Então, queridos filhos,já que tudo isso parece inevitável, dá pra ligarem avisando onde estão ou a que ho-ras chegarão para que seus pais possam pelo menos dormir um pouco melhor ou pelo menos não deixar o celular no silencioso. Penso que é o mínimo de obrigação que vocês têm.

Genha Auga – jornalista MTB:15.320

IMPORTANTE

Todas as matérias, reportagens, fotos e demais conteúdos são de

inteira responsabilidade dos colabo-radores que assinam as matérias, podendo seus conteúdos não cor-

responderem à opinião dos editores deste projeto ou deste Jornal.

CULTURAonline BRASIL

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Março 2015 Gazeta Valeparaibana Página 3

Nosso tempo

OUTONO

20 de Março

Se prestarmos mais atenção aos detalhes da natureza, perceberemos que cada esta-ção do ano traz mensagens e convites es-pecíficos. No entanto, muitas vezes não conseguimos enxergar esses sinais porque insistimos em achar que não somos parte integrante do meio ambiente. Cada estação do ano nos convida a novas posturas e nos oferece uma série de aprendizados para a vida. O outono, é uma época especialmente recheada de significados que podem enri-quecer nossas percepções. Esse período chega logo após o verão, aquela estação de tempo quente, aberto, de plena luz e em que nossos movimentos tendem para o mundo externo. Não é à toa que para che-gar a uma estação intermediária precisamos das "águas de março", uma chuvinha persis-tente que vai resfriando o tempo aos pou-cos.

O outono é uma época de transição entre os extremos de temperatura verão-inverno. Qual é a principal imagem que lhe vem à mente quando pensa em outono? É bastan-te provável que a maioria das pessoas res-ponda a essa pergunta lembrando-se da clássica imagem das árvores perdendo suas folhas. Mas você sabe por que acontece es-sa perda? Se as árvores não as deixassem ir, não sobreviveriam à próxima estação. As folhas se queimariam com o frio do inverno e, assim, os ciclos de respiração da árvore se findariam bruscamente, o que resultaria no fim da vida. A natureza nos mostra mais uma vez a beleza de sua sabedoria: é preci-so entrega, é preciso deixar ir o que não serve mais, para proteger o que é mais im-portante

O que a princípio pode parecer uma perda é na verdade um ganho: ela ganha mais tem-

po de vida, e chega renovada às próximas estações.

Reflita a partir disso: o que você precisa dei-xar ir, do que você precisa abrir mão para seguir firme para os próximos ciclos, para continuar a crescer? O outono é também estação de amadurecimento dos frutos. É o tempo de deixar ir inclusive os resultados de nossos esforços, para que novas forças possam gestar outros futuros projetos.

Durante essa época é válido observar quais elementos em você precisam ser sacrifica-dos para que o mais sagrado para sua vida seja preservado ou resgatado. Pense na pa-lavra sacrifício a partir de sua etimologia: é um sagrado ofício, um trabalho, uma ação que possui um caráter sagrado, para além do superficial, que transcende o banal, que tem um significado maior.

"A natureza nos mostra mais uma vez a beleza de sua sabedoria: é preciso

entrega, é preciso deixar ir o que não serve mais, para proteger o que é mais

importante."

No outono, é importante questionar se o me-do e a dúvida estão impedindo seus ideais maiores de serem realizados. Reflita se al-guns comportamentos repetitivos lhe afas-tam do seu real potencial criativo. Talvez seja chegado o momento de tomar consci-ência e assumir uma atitude de compromis-so consigo, desapegando-se daquilo que não lhe serve mais, daquilo que esteja impe-dindo seus passos rumo às próximas esta-ções de seu crescimento.

Não é simples, nem fácil, mas também não é impossível. Como tudo na natureza, nos-sos processos de mudança carecem de tempo para se instalarem. Tempo para ir a-madurecendo, até que seja o momento da colheita. Passo a passo, reflita sobre os pe-sos desnecessários que podem estar atra-sando seu caminhar, vá se desapegando e deixando ir.

Lembro agora as palavras de Tom Jobim: "São as águas de março fechando o verão, é promessa de vida no meu coração". Mes-mo que as águas pareçam dar fim ao me-lhor da festa do verão, na verdade, elas es-tão nos mostrando que a vida segue e no-vas estações virão! Acredite: observando a natureza podemos concluir que depois da noite sempre vem o dia. Acredite que vale a pena se libertar para deixar nascer um novo tempo.

JULIANA GARCIA Master Coach, psicodramatista, palestrante, escritora e facilitadora visual.

Calendário Março Feriados, Datas Comemorativas

01 - Dia Internacional da Proteção Civil 02 - Dia Nacional do Turismo 03 - Dia do Meteorologista 05 - Dia do Filatelista Brasileiro 05 - Dia da Música Clássica 06 - Revolução Pernambucana 07 - Dia dos Fuzileiros Navais 08 - Dia Internacional da Mulher 10 - Dia do Telefone 12 - Dia do Bibliotecário 14 - Dia dos Carecas 15 - Dia da Escola 15 - Dia Mundial do Consumidor 15 - Dia Internacional Contra a Violência Policial 17 - Dia Internacional da Marinha 18 - Instalação da Comuna de Paris 19 - Dia Mundial do Artesão

20 - Início do Outono 20 - Dia Internacional da Felicidade 20 - Dia da Agricultura 21 - Dia Mundial da Poesia 21 - Dia Mundial do Sono 21 - Dia Internacional da Floresta 21 - Dia Universal do Teatro 21 - Dia Mundial da Infância 22 - Dia Mundial da Água 23 - Dia Mundial da Meteorologia 27 - Dia do Circo 30 - Dia Mundial da Juventude 31 - Dia da Integração Nacional 31 - Dia da Saúde e Nutrição

Parabéns a todos os leitores que aniversariam neste mês de Março. Tem uma frase caracterís-tica deste mês que diz muito em relação ao tem-po e em relação á nossa interação no mundo;

“Março Marçagão, de manhã inverno e á tarde Verão”

Assim como o tempo a vida também tem fases e horas... A ciência do bem estar é o

saber passar por elas e ter a consciência que nada na vida é definitivo

Filipe de Sousa

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Março 2015 Gazeta Valeparaibana Página 4

Turismo e desenvolvimento A atividade turística nos últimos anos tem sido de extrema importância no que diz respeito ao desenvolvimento e crescimento da economia mundial. O Turismo detem hoje grande parte do PIB de muitos países que têm melhorado suas condições econômicas em decorrência do avanço que o setor tem proporcionado.

Em países como a França, que de acordo com a EMBRATUR se encontra na primeira posição dos países mais visitados do mundo. Num país como o México, considerado em desenvolvimento, o Turismo também propor-cionou um aumento nas receitas, pois recebia em média 4.207 milhões de visitantes passan-do a receber 19.300 milhões no mesmo perío-do.

Muitas das cidades brasileiras têm como fato-res de produção econômica a agricultura, pe-cuária, indústria, comércio entre outros. Po-rém hoje, têm aberto suas portas para um no-vo setor, o Turismo, que tem no município o cenário de produção e de consumo. A ativida-de turística pode constituir um investimento inicial gerador do processo ramificador da e-conomia local, e por extensão, regional. É com esta idéia que, investir no Turismo pode ser uma alternativa positiva para os municí-pios que buscam saída para complementar sua economia e fazer com que haja um maior desenvolvimento da cidade.

Num município, não explorado turisticamente, pode ser feito um planejamento com especia-listas sobre o que poderia ser implantado na cidade, usando dos potencias já existentes como rios, lagos, serras, morros, cachoeiras, prédios históricos, igrejas, artefatos locais, cultura, gastronomia; ou verificando as possi-bilidades de se criar atrativos artificiais como parques, trilhas, festas culturais e gastronômi-cas.

Para a concretização do planejamento dos possíveis atrativos, a participação do governo municipal é fundamental, uma vez que este será o responsável pela infraestrutura básica necessária para o desenvolvimento do plano, além dos subsídios para que a população se envolva no projeto com a instalação de hotéis, restaurantes, revitalização do comércio, entre-tenimentos e que possam participar de treina-mentos para uma boa recepção dos futuros visitantes.

O impacto resultante deste tipo de produção é menos imediato do que a indústria tradicional, por exemplo. Tem, entretanto, a vantagem de consolidar uma estrutura econômica sólida, se for mantida viável, através da preservação do que for implantado. A longo prazo, os benefícios trazidos pelo Tu-rismo na cidade serão muitos, tanto sociais como econômicos. A participação da comunidade durante o pro-cesso direta ou indiretamente, cuidando da limpeza de sua rua, da fachada da casa, arbo-

rização, colaborará para que estes benefícios sejam ainda maiores.

Com o sucesso da realização do planejamen-to, as vantagens se refletem das mais varia-das formas. O emprego de mão-de-obra em geral ocupada na produção de bens e servi-ços aumentará consideravelmente, fazendo crescer a rentabilidade de famílias de menor poder aquisitivo.

A necessidade de mão-de-obra especializada, com a prestação de serviços diretos ao con-sumidor como guias, recepcionistas, recrea-cionistas, etc, incentivará a população local a se profissionalizar. Com a movimentação dos turistas, o setor gastronômico, como restau-rantes e lanchonetes terão a oportunidade de expandir seus empreendimentos e trará a possibilidade da criação de novos estabeleci-mentos.

Além disso, o transporte coletivo deverá se modernizar o que favorecerá não só os visi-tantes, mas também os próprios moradores.

Com a implantação e aperfeiçoamento do se-tor hoteleiro, haverá a geração de empregos e a movimentação do comércio devido aos pro-dutos que os hotéis precisarão para atender aos hóspedes além do movimento decorrente dos turistas que circularão pela cidade em busca de presentes, lembranças, artesanatos entre outras curiosidades. A inauguração de novos entretenimentos, que são essenciais para preencher a estada do turista na cidade, beneficiará também a população local.

A concorrência que se estabelecerá entre as empresas será benéfica, pois o aumento da produção de bens e serviços estimulará a competitividade entre os elementos da oferta, melhorando a qualidade dos serviços.

Como todas as áreas da economia, o Turismo também possui desvantagens e riscos. O se-tor exige grandes investimentos de capital, principalmente em sua fase inicial de implan-tação e o processo se mostra lento até atingir o mercado consumidor. O mau uso do Turis-mo na cidade, originado da falta de informa-ção e conhecimento das peculiaridades de sua produção representam desvantagens que impedirão a atividade de se desenvolver de forma bem sucedida.

Com a valorização dos espaços físicos que poderão se tornar futuros atrativos, o setor imobiliário pode agir de forma desenfreada, supervalorizando o espaço, tornando-o inviá-vel pelos altos custos.

O desequilíbrio ambiental como poluição at-mosférica além do desgaste dos atrativos, po-de causar grandes malefícios à própria popu-lação, criando situações complicadas até mesmo à saúde e causando a perda do que já foi implantado.

Portanto, a participação da comunidade na realização da obra turística na localidade é de

extrema importância. Se todos colaboram, es-tes riscos se tornam menores, pois cada um ajuda a cuidar daquilo que trará seu próprio benefício, como exemplo, ajudando a preser-var os atrativos, não quebrando, pichando, e não deixando que outros venham a cometer tal destruição.

E mesmo que os riscos e desvantagens exis-tam, os benefícios trazidos ao município se sobressairão diante dos pontos negativos se administrados de forma correta e eficaz, dimi-nuindo o desemprego já que muitos empreen-dimentos serão inaugurados, com isso reduzi-rá também a criminalidade e violência, pois muitos se ocuparão de forma digna nas novas atividades turísticas, além de aumentar a en-trada de dinheiro na cidade, maior arrecada-ção de tributos por parte do governo, já que o aumento da renda familiar fará com que as pessoas consumam mais movimentando to-dos os setores da economia local.

Fazendo uma análise entre duas regiões bra-sileiras, o litoral nordestino e a região central do Paraná, observa-se que o litoral nordestino que há pouco tempo atrás era uma área não explorada turisticamente, passou a ser um pó-lo receptivo de turistas nacionais e internacio-nais, transformando a região num centro turís-tico, onde há infra-estrutura hoteleira de todas as categorias, além da gastronomia típica que é explorada, a criação de entretenimentos di-versos antes não existentes, destacando a região no cenário turístico nacional que tem crescido e se desenvolvido cada vez mais e-conomicamente e socialmente frente a outras regiões do Brasil.

Algumas regiões do país consideradas ainda áreas não exploradas, poderiam se utilizar do setor turístico da mesma forma feita pelo nor-deste para promover, crescer e desenvolver a região que hoje apresentam uma economia fraca em quase todos os setores.

Pode-se aproveitar os potencias naturais que a região já possui, como fazendas, cachoei-ras, rios, lagos, morros, implantando o Turis-mo Rural, Ecoturismo, Turismo de Aventura, e também aproveitar a gastronomia e cultura da região, criando festas típicas como as feitas, que geram lucros e divulgam as cidades, ou ainda instalar atrativos artificiais que motivem a ida de visitantes.

Frente a todas as potencialidades apresenta-das acima, as inúmeras vantagens sócio-econômicas e culturais além de outras que o Turismo pode proporcionar a todos os agen-tes econômicos envolvidos, acredita-se que nos municípios, a atividade turística se carac-teriza como um fator que contribuirá para a melhoria do nível e da qualidade de vida da população e para a prosperidade das empre-sas e das economias locais.

Da redação

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Março 2015 Gazeta Valeparaibana Página 5

Cidadania

Combate ao racismo

Até quando? Segundo a Convenção Internacional para a Eliminação de todas as Normas de Discrimina-ção Racial da ONU: “Discriminação Racial

significa qualquer distinção, exclusão, restri-ção ou preferência baseada na raça, cor, as-cendência, origem étnica ou nacional com a finalidade ou o efeito de impedir ou dificultar o reconhecimento e/ou exercício, em bases de igualdade, aos direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômi-co, social, cultural ou qualquer outra área da vida”.

21 de março é considerado o dia internacio-nal de Combate ao racismo. A data foi esco-lhida para lembrar o triste episódio ocorrido na África do Sul em Shaperville, (em 1960) que ficou conhecido como O Massacre de Shaperville. Nesse conflito morreram 69 pes-soas e 186 ficaram feridas durante um con-fronto com a polícia. Com certeza um dia que ficou marcado pela violência, ignorância, pe-lo ultraje e vergonha. Shaperville é um bairro de Joanesburgo, capital da África do sul, o berço do apartheid. Vinte mil negros protesta-vam pacificamente contra a lei do passe, que obrigava os negros a portar cartões de identi-ficação que especificavam por onde eles po-deriam circular. A manifestação era de cunho pacífico, mas mesmo assim o exército atirou contra a multidão.

O episódio fez o mundo voltar os olhos para o que acontecia na África, para a existência do apartheid, uma política de segregação ra-cial oficializada em 1948. Os negros não po-diam votar, eram obrigados a viver em zonas específicas para negros, não podiam casar com pessoas de outras raças, enfim eram se-gregados e discriminados de todas as manei-ras, tinham deveres e quase nenhum direito. Eram comandados pela minoria branca que eram os detentores do poder.

O fato é que esse episódio teve repercussão no mundo todo, e levou a novas lutas raciais, que garantiram direitos e impulsionaram vá-rias ações no sentido de inserir o negro na sociedade e de garantir o fortalecimento do

movimento negro.

A discriminação continua nos dias de hoje, tanto a nível mundial como a nível nacional.O Brasil é um país multirracial, que tem em su-as raízes os negros escravos, a sua forma-ção foi baseada na escravidão, de onde sur-giram as práticas racistas que ainda hoje con-tinuam a existir. A discriminação racial é uma realidade que preocupa e continua afetando milhões de pessoas. Não vamos ser ingê-nuos a ponto de achar que a discriminação se dá apenas pela cor, sabemos que o fator econômico pesa muito também.

O homem consegue passar por cima de coi-sas importantes como o caráter, os valores éticos e morais, os ideais, o que faz uma pes-soa ser o que é, para se achar no direito de julgá-la pela cor. Falo aqui dos negros, mas não somente eles são discriminados pela ra-ça, temos aí por exemplo os indígenas, que se não são discriminados pela cor, são pelos costumes e maneira de viver.

Vivemos em uma sociedade com muitas de-sigualdades sociais, são históricos os proble-mas que envolvem inferioridade e superiori-dade entre grupos. A raça é um fator de de-sigualdade, embora a fracassada tentativa de negar a sua importância como geradora de discriminação persista. Parte desse compor-tamento Decorre da escravidão, onde os ne-gros eram tratados como objetos, sem direi-tos, propriedade dos homens brancos, exis-tindo apenas para a servidão. A nossa consti-tuição reconhece que a discriminação existe e a repudia quando estabelece, por exemplo, que o racismo é um crime inafiançável e im-prescritível. O preconceito racial se solidifica, interioriza-se por gerações. As transforma-ções sociais, a era tecnológica e todo o pro-gresso da humanidade não são capazes de eliminá-lo. Talvez o preconceito seja algo ine-rente ao ser humano e prevalece até hoje porque encontra eco, nos teóricos e nos es-critos sobre o assunto. Ele continua latente, resistente, e nos deparamos com ele a todo o momento.

É preciso levar a sério e respeitar os Direitos Humanos e fundamentais. A nossa Constitui-ção Federal consagra no artº 1 inc.III a digni-dade da pessoa humana, tem como objetivos fundamentais a construção de uma socieda-de livre, justa, solidária, bem como a promo-ção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, cor, ou de qualquer outra espé-cie (art. 3º, I e IV CF), e consagra a igualdade como direito fundamental (art. 5º, caput, da

CF). A discriminação racial é condenável e em nada acrescenta ao ser humano. Somos o que somos e não é a cor da pele que vai nos definir como melhores ou piores.

Em 20 de julho de 2010 foi instituída a Lei 12.288/2010 (Estatuto da Igualdade Racial)

O art. 1º desta lei diz o seguinte: Esta Lei ins-titui o Estatuto da Igualdade Racial, destinado a garantir à população negra a efetivação da igualdade de oportunidades, a defesa dos direitos étnicos individuais, coletivos e difusos e o combate à discriminação e às demais for-mas de intolerância étnica.

Percebe-se então, que a discriminação racial é punida por leis nacionais e internacionais, por documentos vários, e organismos interna-cionais que lutam pelos Direitos humanos e defendem o princípio da dignidade humana. Esse direito fundamental precisa estar positi-vado e ser passível de punição para que essa realidade mude. O racismo direto diminuiu consideravelmente, mas eu pergunto: Isso está ocorrendo porque a sociedade está mais consciente e compromissada com essas questões? ou isso está ocorrendo porque a prática do racismo é punida por lei? O racis-mo existe. É concreto, se manifesta das mais diversas formas, é onipresente. Preconceito, segregação e discriminação são formas de expressar o racismo. A discriminação é a ma-nifestação do preconceito e do racismo, que são formados por atitudes que tomamos.

É inegável que a discriminação gera confli-tos, é perigosa para a paz e a boa convivên-cia, é ofensiva, aumenta à intolerância, a vio-lência, e ofende a dignidade humana. A única intolerância que devemos ter é contra a dis-criminação racial. Devemos combater e elimi-nar esse mal da sociedade. Respeitar as dis-posições legais e nos apropriarmos dos ins-trumentos jurídicos existentes para fazer va-ler os direitos e garantias que são à base de uma sociedade igualitária e mais justa. Então a pergunta do título Combate ao racismo- Até quando? Pode ser respondida assim: Até os homens perceberem que somos todos iguais, absolutamente iguais, seres humanos querendo aprender, querendo ser feliz.

Promover um novo jeito de pensar e agir que inclua o respeito a todo ser humano, é um caminho para se viver melhor.

Mariene Hildebrando Especialista em Direitos Humanos Email: [email protected]

Porque precisamos fazer a Reforma Política no Brasil?

Seus impostos merecem boa administração. Bons políticos não vem do nada. Para que existam bons políticos para administrar o pa-ís, toda a sociedade precisa colaborar para

que eles possam nascer e terem sucesso. É preciso um sistema eleitoral moderno para melhorar a qualidade da política. Os políticos "tradicionais" tem horror à reforma política, porque ela pode mudar a situação atual onde eles usam e manipu-lam o eleitor e são pouco cobrados ! Filipe de Sousa

www.formiguinhasdovale.org /// CULTURAonline BRASIL /// http://www.culturaonlinebr.org

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Março 2015 Gazeta Valeparaibana Página 6

Literatura Jurídica

O que é feminicídio? POR: José Carlos Maia Saliba

O feminicídio é o crime praticado contra a mu-lher, por esta pertencer ao gênero feminino. Cada vez mais, esse termo ganha destaque no cenário nacional e, inclusive, poderá ser tipificado em breve.

O feminicídio é o termo empregado para de-signar o assassinato de uma mulher pelo sim-ples fato de esta ser mulher. Dessa forma, é uma violência em razão do gênero.

De início, etimologicamente o vocábulo femi emana de femin-, de origem grega (phemi), significando "manifestar seu pensamento pela palavra, dizer, falar, opinar" e -cídio resulta do latim -cid/um, que remete à expressão "ação de quem mata ou o seu resultado".

Há, também, o termo femicídio que, muitas vezes, é utilizado como sinônimo de feminicí-dio. Contudo, há autores que distinguem os dois termos afirmando que o primeiro é a mor-te de indivíduos do sexo feminino e o segundo diz respeito à morte de mulheres por motiva-ção política.

Ressalta-se que, na prática, as duas termino-logias são usadas para a mesma finalidade. Assim, muitas vezes, essa conduta também é tratada pela mídia como "crime passional".

Roberto Lyra em sua obra, disserta brilhante-mente sobre o crime passional, o autor men-ciona-o como totalmente incompatível com o verdadeiro sentimento de amor:

O verdadeiro passional não mata. O amor é, por natureza e por finalidade, criador, fecun-do, solidário, generoso. Ele é cliente das pre-torias, das maternidades, dos lares e não dos necrotérios, dos cemitérios, dos manicômios.

O amor, o amor mesmo, jamais desceu ao banco dos réus. Para os fins de responsabili-dade, a lei considera apenas o momento do crime. E nele o que atua é o ódio. O amor não figura nas cifras da mortalidade e sim nas da natalidade; não tira, põe gente no mundo. Es-tá nos berços e não nos túmulos. [3]

Esses casos decorrem, geralmente, por par-ceiros ou ex-parceiros que por diversos moti-vos, matam suas companheiras. Exemplifi-cando, quando possuem sentimento de pos-se, inconformismo com o fim da relação ou pelo fato da mulher trabalhar fora do lar conju-gal, dentre outros pretextos.

Todos os procederes supramencionados, e-

manam da ideologia machista, que sempre “reinou” na sociedade brasileira e continua vigente.

Esse tipo de violência, evidentemente, não diminuiu, mesmo após a sanção da Lei nº 11.340 em 2006, mais conhecida como “Lei Maria da Penha”. Isso é explanado por Nádia Lapa, ipsis litteris:

O Ipea apontou que não houve diminuição dos números de feminicídio depois da vigên-cia da Lei Maria da Penha. Foi o suficiente para que a lei fosse criticada, como se a apli-cação da mesma ocorresse nos termos pre-vistos. Infelizmente não é.

São recorrentes os casos em que as mulhe-res registraram diversas ocorrências policiais contra ex-parceiros, mas nada é feito. As me-didas protetivas, que incluem a estipulação de distância mínima entre agressor e vítima, tal qual os filmes americanos, não funcionam. As casas de acolhimento não existem em núme-ro suficiente, e a mulher agredida não tem pa-ra onde ir, sendo obrigada a permanecer junto ao agressor ou procurar a família, cujo ende-reço o parceiro conhece bem. A Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República está construindo uma casa de pas-sagem em cada capital brasileira. Iniciativa ótima, mas como resolver o problema ofere-cendo apenas 20 camas para cidades com milhões de habitantes? [4]

E ainda, segundo a Promotora de Justiça Na-thalie Kiste Malveiro, a Lei Maria da Penha devia ter agravado mais o crime doloso contra a vida praticado contra a mulher (em função do gênero):

A Lei Maria da Penha, apesar de ter sido um grande avanço para jogar luz nesse fenômeno que é a violência penal, não alterou, no Códi-go Penal, o tipo mais grave contra o bem jurí-dico mais precioso, que é a vida.

Em relação a homicídios, ela trouxe apenas um agravante quando o caso envolvesse vio-lência doméstica. Mas o que temos observado é que ainda hoje as teses de legítima defesa da honra e de violenta reação do agressor à justa provocação da vítima são apresentadas no momento do julgamento e ainda hoje são acolhidas. [5]

Como evidenciado, a Lei 11.340, de 2006, a-inda precisa ser aprimorada para atender me-lhor aos fatos mais graves, como nos casos de feminicídio. Pois, diante da gravidade soci-al que impera no Brasil, é necessária uma normatização mais severa, para punir exem-plarmente o agressor.

Já que, na América Latina, doze países (Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, Nicarágua, El Salvador, Guatemala, Honduras, México, Panamá e Peru) adotaram leis específicas para o feminicídio ou altera-ram as leis vigentes para incorporar essa figu-ra jurídica.

Agora no Brasil, atualmente, tramita o Projeto

de Lei (PL) nº 292/2013 no Senado Federal com o escopo de tipificar essa conduta, inclu-indo a mesma no artigo 121, do Código Penal Brasileiro.

Inclusive, no dia 02 de abril de 2014, a Comis-são de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), aprovou a inclusão dessa nova forma de tipificação. [8] Segundo o parecer da CCJ, eis a redação legal, após a alteração, in ver-bis:

Art. 1º - O art. 121 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940, passa a vigorar com a seguinte redação:

Feminicídio

VI - contra a mulher por razões de gênero.

§ 7º Considera-se que há razões de gênero em quaisquer das seguintes circunstâncias:

I - violência doméstica e familiar, nos termos da legislação específica;

II - violência sexual;

III - mutilação ou desfiguração da vítima;

IV - emprego de tortura ou qualquer meio cru-el ou degradante”.

Se aprovado, o CP passará a prever uma for-ma qualificada de homicídio, que será o femi-nicídio, crime praticado contra a mulher por razões de gênero. A pena, segundo esse PL, será de reclusão de 12 a 30 anos. [10]

E, também, tornaria esse crime, em um tipo hediondo, incluindo-o na Lei nº 8.072/1990 (Lei dos Crimes Hediondos):

Art. 2º O art. 1º da Lei n° 8.072, de 25 de julho de 1990, passa a vigorar a seguinte redação:

“Art. 1º

I - homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2º, I, II, III, IV, V e VI);

Dessa forma, fica clara a necessidade de se endurecer as leis (mesmo após a vigência da Lei Maria da Penha), perante a quantidade de crimes passionais ou, usando o termo mais amplo, feminicídio. A violência contra a mu-lher é um “câncer” encravado na sociedade brasileira.

Não se pode mais tolerar que o homem “mate por amor”. O Estado precisa coibir e punir de modo mais rígido a violência contra a mulher, quando ocorrer a morte desta, para que haja, verdadeiramente, justiça.

Da maneira que ainda está, a sensação é que a época do “lavar a honra” não passou com-pletamente. Esse entendimento social atrasa-do precisa ser extirpado completamente do subconsciente da população masculina, o que equilibrará a isonomia entre os gêneros.

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Março 2015 Gazeta Valeparaibana Página 7

Contos, Poesias e Crônicas

QUE VIAGEM

Genha Auga

Foi tão rápido. De repente me vi atirada para o alto num leve voar e seguidamente, lenta-mente para o impacto arrebatador e rasante... o chão!

Sem noção do que havia acontecido, fui em-purrada? Por quem? Por quê? O que houve?

Um sentimento de medo, preocupação de co-mo vou acabar e de onde fui parar. Tudo a-conteceu sem previsão, sem que houvesse

um fator que levasse à possibilidade daquilo acontecer, mas era fato e aconteceu.

Não sei se senti dor ou era sensação de dor causada pelo temor da queda e da pancada, chorei e gritei ao mesmo tempo, olhei para cima e vi rostos meio longe me olhando sem se aproximarem como se eu fosse estranha àquele lugar, olhavam atônitos para meu o-lhar de desespero, mas não me socorreram, nem me tocaram.

Estava de vestido preto que certamente com a queda me deixou em trajes menores, mas também preto. Para eles talvez eu representasse a tenebrosa figura do urubu que traz maus agouros ou talvez naquele lugar que ao observar melhor assim que recuperei o fôle-go, era de bastante luz e todo branco e eu poderia representar a morte chegando repenti-namente e meio atrapalhada para arrebatar um deles. Por isso me olhavam atônitos e não ousavam me tocar.

Meu Deus! Implorava que alguém me ajudasse a desgrudar daquele frio e duro chão até que uma mão forte e gorda me levantou, apontou para meus joelhos inchados, segurando minhas mãos doloridas e me arrastando com meus pés doloridos, colocou-me em cima de uma caixa branca e se afastou.

Continuei gemendo pela dor e fitando cada um que mais pareciam zumbis me olhando de esgueira, medrosos de mim, recuperei minhas forças e me ergui quando o cavaleiro gor-do, um Deus naquele lugar frio e insólito, me deu água para beber.

Foi aí que percebi que levantei com os joelhos sangrentos e andando rumo à saída, os zumbis andavam para trás ou estancavam talvez pensando que suas vidas seriam ceifa-das por mim, a sorrateira morte atrapalhada. Tomei a porta da saída mancando, a mesma por onde entrei voando e me fui, triste pela constatação final, mas, feliz por estar viva e deixar os mortos.

Refletindo após esse acontecimento, penso que quando um ser humano sofre repentina-mente um acidente, uma queda, um tiro, um ataque fulminante e se vai para o outro lado, é assim que se sente... – entra “voando” num lugar desconhecido, se apavora, espera ain-da compreender. Se sua alma for boa haverá almas boas lhe esperando, lhe acalmando e lhe preparando para esse outro mundo e outra vida. Se sua alma não for boa, será como eu vi: nenhuma ajuda nenhuma explicação, até a “mão gorda te levantar e te deixar no limbo e padecer até achar a saída, ou não”...

Bem, mas o “bom” disso é que apenas tropecei na ponta de um estrado mal colocado no degrau de entrada de um supermercado e me estatelei bruscamente como pássaro que se abate subitamente na turbina do avião, um voo rasante, sem preparo e que sem esperar, morre.

Pena que naquele lugar tão claro, branquinho e limpinho, havia tantos “zumbis” que não ousaram me acudir e ainda bem que não foi bala perdida, senão, eu teria morrido e estaria no limbo.

Ou não?

Não foi nada, já me recuperei, mas constatei que o pior não é a queda e nem a morte. O pior são os “zumbis” que estão entre nós.

Numa sociedade movida à dinheiro e hipocrisia, enco ntramos pessoas propensas aos mais diversos rumos i ncluindo-se a devassidão. Cuidado com quem andas, pois tua companhia sumariza quem és. Não te-nha medo de lutar pelo que acredita, apenas seja você mesmo nos mais divergentes momento s que possam surgir. Fazendo isto, certamente afetará os que estã o à tua volta que não gostam do que veem. Saberão fazer a triagem do joio e do trigo. Só tome cuidado com o lado com que ficará, pois uma escolha errada pode te afetar drasticamente. Pense no seu futuro. Sua escolha hoje, será o seu f uturo amanhã. Seja feliz, haja com honestidade sempre.

MULHERES

Genha Auga

Do seu corpo viemos, dele, sugamos a vida, nele iremos nos proteger, nos esconder, ninar... Assim marca sua força e torna-se mãe da terra.

Verdadeiro ato de amar. Mostra-nos tudo num único olhar

tem a luz que cega e que muda a dor, despe-se de corpo para o desejo do homem

que nela, seu sêmen planta, para o mundo continuar. De pedaços de Deusas é formada.

Despida de alma vem ao mundo encantar. Obra de Deus inacabada...

Quando menina, pequenina e meiga, carrega a boneca ensaiando como viver,

cresce e torna-se moça e o homem a espreita como leão em volta da fêmea.

Meiga o enfrenta, sabe que não deve temer. Não rejeitar.

Na mocidade é mal falada, pela beleza é cobiçada, Podem ser dos prazeres e luxúrias,

viver com homens na calada da noite, que acalentam, deleitam em seu corpo,

problemas sem fim. E ela o recebe com luz e sorriso nessa dor inesperada.

É essa mesma mulher que o homem apedrejou quando a Jesus se juntou.

Mulher que a vida inteira roupa lavou, a pele o sol avermelhou.

Segue os passos do soldado que a deixa pela pátria ama-da

e assim perde aquele, por quem a própria vida anulou. Podem ser rainhas ou humildes, todas seguem forte a trajetória!

Assim fazem sua história. As de fama Universal

cuja porta se abriu num encanto e magia. São as mulheres famosas dos nossos dias.

A que sofreu por seu único filho, Jesus,

entregou-o a Deus para morrer na cruz -

- Santa Mulher - Virgem Maria! –

Seja qual for a mulher, haverá nela o olhar do cansaço,

mas não se deixa vencer, com o ventre rasgado ela gera

pela continuação da vida na Terra.

Há nelas o amor entre Deus e o Diabo!

Servirão como mães – amigas – prostitutas – virgens e amantes.

Todas se juntam em uma só!

As mulheres mudam a humanidade,

fazem isso quantas vezes quiserem.

Doam todas elas ao homem sua castidade

e tornam-se mães, é seu destino. É sua sina!

– Prova do seu amor – da sua verdade.

Transformam-nos em pássaros e nos fazem voar,

caladas, nunca dizem: não se vá...

Cuidam de todos e ficam sós como num Monastério.

Por quê?

Que haveria por trás desse mistério?

Ninguém sabe – segredo de Deus e das Mulheres...

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Março 2015 Gazeta Valeparaibana Página 8

Música Clássica Música clássica e elitismo

Um mito que continua a circular em todos os lugares e meios é de que a música clássica é elitista.

No sentido de elite financeira provo com al-guns fatos que há mais do que um equívoco. Comparando a diferença dos preços dos in-gressos de apresentações de outros tipos de música sentimos, nós músicos ligados à músi-ca clássica, até uma certa vergonha. Exemplo gritante foi a apresentação de uma dupla ser-taneja (Jorge e Mateus) em Curitiba, no mês de outubro, cujos ingressos na plateia foram vendidos a R$1000. Enquanto os concertos de música clássica em Brasília (os da Orques-tra do Teatro Nacional) são gratuitos e os de Curitiba são oferecidos por um preço bem bai-xo (R$20 para a Sinfônica do Paraná e por volta do mesmo preço para os concertos da Camerata Antiqua), certas estrelas da MPB cobram em seus shows ingressos que giram em torno dos R$250.

Decididamente o mito de uma “elite financei-ra” curtindo música clássica é algo completa-mente descabido. Mesmo os concertos de grandes orquestras internacionais no Rio e em São Paulo tem ingressos cobrados com-patíveis com estas apresentações de grandes estrelas da MPB, mas não podemos nos es-quecer, por exemplo, que Chico Buarque (que cobrou R$295 em Curitiba) faz um show acompanhado por apenas 5 músicos, enquan-to que uma orquestra como a Concertgebow de Amsterdã, que se apresentou no Brasil no

meio do ano, tinha, além de um dos mais im-portantes maestros da atualidade (Maris Jan-sosns), mais de 100 músicos vindos da Ho-landa.

Não dá para comparar o custo e o lucro.

O que há de elitismo em quem faz música clássica é algo que não tem nada a ver com capacidade financeira ou classe social.

Este tipo de “elitismo” vem de um tipo de de-terminação e paixão que é conscientemente fadada ao não reconhecimento.

Vale a pena lembrar que para que um instru-mentista possa participar de uma boa orques-tra profissional, por exemplo, são necessários anos de estudo e prática diária de seu instru-mento.

Alguém ter este tipo de dedicação, um pouco sem retribuição à vista, faz com que surja um tipo de elitismo sim, até mesmo um tipo de insanidade. Ainda mais quando sabemos que músicos medíocres, que não conseguem en-cadear mais do que três acordes, ficam milio-nários em um tempo muito rápido e se tornam estrelas da noite para o dia.

Está certo, todos os brasileiros de boa índole sentem-se diminuídos e desprezados quando comparam seus salários com os dos políticos ou daquele prometido para um condenado no processo do Mensalão (falo do emprego de gerente de Hotel de José Dirceu – R$20.000), mas a coisa torna-se especialmente difícil de engolir quando um músico limitado tecnica-mente, desafinado, mal instrumentista e mal cantor torna-se incensado na mídia, uma cele-bridade, enquanto um profissional altamente capacitado permanece um desconhecido.

E isto não é só no Brasil.

O mesmo se passa em qualquer lugar do mundo, mas uma coisa que se agrava aqui em nosso país é a falta de respeito com o ar-tista dedicado à música clássica.

A falta de cultura e discernimento tanto da classe rica quanto da classe política (nem to-do rico é político mas todo político é rico) faz com que mesmo as autoridades se estapeiem para conseguir aqueles ingressos de R$1.000 reais para uma dupla sertaneja, e passem lon-ge de concertos de música clássica. Pela dis-criminação nos tornamos mesmo uma elite.

Se está provado que não há uma elite finan-ceira usufruindo da música clássica que tipo de “elite” é esta que insiste em gostar deste tipo de arte? Sim, creio que há mesmo um ti-po de pessoa meio à parte que busca numa atividade artística não apenas se distrair, mas sim se cultivar.

Neste caso não apenas a música clássica se-ria elitista, mas também a literatura, o teatro (quando falo de teatro não falo de besteirol), o cinema (idem) e as artes plásticas. O proble-ma não está em se ter uma elite mas sim em se comportar como uma pessoa elitista.

Não ter preconceitos e sobretudo tentar pas-sar algo que seja possível transmitir do seu conhecimento, esta deveria ser a máxima de quem procura se cultivar. Nosso suposto co-nhecimento não deve ser algo que nos torne superiores.

Dividi-lo é algo saudável.

No caso específico do músico “clássico”, es-pecialmente o músico de orquestra e o cantor de um coro profissional, a falta de reconheci-mento, a dificuldade com lidar com estruturas administrativas onde abunda a ignorância e a desfaçatez, fazem muitas vezes com que este artista se isole. Um isolamento que tem todo aspecto de uma elite.

Mais do que uma elite este isolamento mostra

sua fragilidade.

Autor: Maestro Osvaldo Colarruso

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Março 2015 Gazeta Valeparaibana Página 9

Espaço Educação

VAI CAIR NA PROVA?

Até bem pouco tempo essa frase era comum, ou melhor, ainda é comum entre os alunos perguntar ao professor se determinado assunto irá cair na prova. Tal questiona-mento ocorre independentemente de ciclo de ensino, desde o ensino fundamental I ao Ensino Superior (incluindo a pós-graduação). Mas, pensando especifica-mente na pergunta, o que significa “cair na prova”? Pode parecer loucura, ou que estamos “viajando na maionese” como se diz, porém isso reflete bem o que o aluno e o professor percebem como sendo uma aula, ou a trans-missão de conhecimento. Cair na prova significa: “só vou estudar se for estritamente necessário, caso não fizer parte da avaliação eu não estudo”. O bem da verdade, culturalmente quase nunca o aluno estuda, quanto muito assiste a aula. Mas e o professor, ensina sempre? Como se dá esse binômio ensinamento – aprendizagem? O que significa estudar? E o que significa ensinar? A avali-ação serve para quê? Como se deve ensinar? Como se deve aprender ou estudar? Como se deve fazer uma avaliação dos conhecimentos transmitidos? Será que o professor (considerando como professor o Pedagogo, o especialista licenciado e o do ensino superior que muitas vezes não tem formação enquanto professor) tem a exa-ta noção do processo ensino – aprendizagem?

Claramente que para responder todas as perguntas aci-ma, precisaríamos escrever um livro (diga-se de passa-gem, para cada uma das perguntas acima existem vários livros, mas que nem sempre são lidos – salvo em época de concursos públicos).

Içami Tiba em seu trabalho “Ensinar aprendendo” nas páginas 17 e 18 nos alerta:

“O que se prega hoje é a responsabilidade, atribuída ao próprio aluno, por sua falta de aprendizado. O que mui-tos professores ainda aplicam, num sistema antigo, é: ‘eu, professor, ensino; vocês, alunos, escutam e

aprendem’. isso, comodamente, significava que o profes-sor cumpria sua parte. Era responsabilidade do aluno aprender ou não aprender”.

O professor, ainda hoje, tem se mostrado um mero transmissor de conhecimentos que muitas vezes segue exatamente a cartilha exigida pelo sistema (seja ele qual for). Como resposta aos anseios do professor, os alunos respondem com uma dose de indisciplina misturada, em igual parte, com decoreba da melhor qualidade. É esse o processo ensino-aprendizagem? O paradigma professor – transmissor deverá ser quebrado e em seu lugar um novo paradigma deverá ser criado, que é o professor – orientador.

No mundo atual em que a Internet nos aproxima de tudo e de todos é quase impossível ficar alheio às novidades, ou às recentes notícias na China, ou em qualquer lugar do mundo. Estamos a um clique do conhecimento e de informações quaisquer. Obviamente que é preciso um filtro sobre a qualidade do que se tem à mão, mas, o que queremos dizer é que não dá mais para o professor ficar isolado numa sala de aula com apenas giz e lousa numa verborragia louca e desenfreada julgando se o detentor do conhecimento.

A esse “modelo” de professor-orientador, cabe ao traba-lho de preparar o aluno não para vestibulares ou para cumprimento de metas que supostamente atestam a qualidade do ensino, e sim para o desenvolvimento das suas capacidades mentais, o conjunto de competências e habilidades que estão muito bem descritos nos Parâ-metros Curriculares Nacionais (PCN’s) que permitirá ao aluno realmente conviver em sociedade, ser um cidadão crítico, reflexivo e produtivo no mundo atual.

Via de regra, o que ainda se observa em muitas escolas é a prática de colocar o texto na lousa, dar visto no ca-derno e aplicar questões diretas em que os alunos a-cham as respostas no caderno. Na hora da prova cobra-se exatamente as questões que foram para o caderno (pasme, isso acontece também no ensino superior, inclu-sive como método de ensino em alguns Fast foods da educação).

A gestão de sala de aula, em tempos atuais, é foco de diversos debates e publicações, entretanto, muito se teoriza e pouco se apresenta de concreto, ficando ape-nas no plano do ideal.

O professor deve ter a clareza sobre as reais necessida-des da sua turma e ter liberdade o suficiente para traçar seu plano de ensino sobre as necessidades do seu gru-po, e não sobre um currículo moldado por “alguém em um lugar tão distante”. Em diversos outros artigos nos-sos nessa coluna, exploramos as questões elencadas

acima. Nosso propósito não é inventar a roda, e sim ofe-recer alguma luz ao debate.

A gestão de sala de aula é complexa e envolve muito estudo. O primeiro deles é a necessidade dos seus alu-nos. Será que realmente todos dominam a leitura e a escrita? Esse pode ser o primeiro passo. O conteúdo a ser ensinado passa a ser uma ferramenta para se traba-lhar tais competências. A leitura compartilhada é um e-xercício de altíssima recomendação (e mal explorado na prática). Destrinchar um texto junto com seus alunos, apontando em lousa e registrando no caderno apenas os pontos mais importantes, pode ser uma boa pedida para se trabalhar nessa perspectiva. Adiante, a produção tex-tual deixando o aluno escrever livremente sobre o que escreveu também é altamente aconselhável, uma vez que ele deve se expressar, organizando os conteúdos trabalhados, dentro de uma situação concreta.

A utilização da tecnologia também é bem vinda. Filmes, desenhos, documentários, imagens projetadas, músicas e infográficos animados, seguidos sempre de uma boa discussão e de uma produção textual, também rendem bons frutos.

Obviamente que não vamos fugir dos problemas do dia a dia: pouco tempo de hora/aula, excesso de alunos por turma, falta de materiais didáticos (por vezes até mesmo o giz falta), falta de estrutura, enfim, tudo aquilo que difi-culta o trabalho docente, entretanto, neste momento de-vemos parar e pensar também um pouco sobre a nossa prática pedagógica.

Daí fica a pergunta:

O que ensino realmente é importante ou eles só devem aprender o que vai cair na prova?

Omar de Camargo Técnico Químico Professor em Química. [email protected]

Ivan Claudio Guedes Geógrafo e Pedagogo. Articulista e Palestrante. Especialista em Gestão Ambiental. Mestre em Geociên-cias e doutorando em Geologia. [email protected]

OUÇA-NOS

E agora José?

Todos os Sábados 16 horas Na CULTURAonline BRASIL PROGRAMA: E agora José?

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Março 2015 Gazeta Valeparaibana Página 10

Funções do Governo Federal Quais as funções do Presidente da Repú-blica no Brasil?

Quando eleito, o presidente da República tem, entre outras, as seguintes funções: - Nomear e exonerar os Ministros de Estado; - Conduzir a política econômica; - Exercer, com o auxílio dos Ministros de Es-tado, a direção da administração federal; - Editar medidas provisórias com força de lei em caráter de urgência; - Aplicar as leis aprovadas; - Vetar projetos de lei, total ou parcialmente; - Manter relações com Estados estrangeiros e indicar seus representantes diplomáticos; - Decretar o estado de defesa e o estado de sítio; - Decretar e executar a intervenção federal; - Exercer comando supremo das Forças Ar-madas, nomear Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, promover seus ofi-ciais-generais e nomeá-los para os cargos que lhe são privativos; - Declarar guerra, no caso de agressão es-trangeira, quando autorizado pelo Congresso Nacional ou referendado por ele; - Enviar ao Congresso Nacional o plano pluri-anual, o projeto de lei de diretrizes orçamentá-rias e as propostas previstas nesta Constitui-ção; - Exercer outras atribuições previstas na Constituição da República Federativa do Bra-sil.

Qual a Função do Congresso Brasileiro? O Poder Legislativo, segundo o art. 44 da Constituição Federal de 1988, é exercido pelo Congresso Nacional, que se compõe da Câ-mara dos Deputados e do Senado Federal. A Câmara dos Deputados é composta por re-presentantes do povo, eleitos pelo sistema proporcional em cada estado, em cada territó-rio e no Distrito Federal. São 513 Deputados Federais, com mandato de quatro anos. O nú-mero de Deputados é proporcional à popula-ção do estado ou do Distrito Federal, com o limite mínimo de oito e máximo de setenta De-putados para cada um deles.

Para o Senado Federal, cada estado e o Dis-trito Federal elegem três Senadores, com mandato de oito anos, renovados de quatro em quatro anos, alternadamente, por um e dois terços. A composição do Senado Federal é de 81 Senadores. Ao tratar das competências do Congresso Na-cional, podemos reuni-las em três conjuntos: 1º) o das atribuições relacionadas às funções do Poder Legislativo federal; 2º) o das atribui-ções das Casas do Congresso Nacional (Câmara dos Deputados e Senado Federal), quando atuam separadamente; e 3º) o das atribuições relacionadas ao funcionamento de comissões mistas e de sessões conjuntas, nas quais atuam juntos os Deputados Fede-rais e os Senadores (embora votem separa-damente). Atribuições do Congresso Nacional relaciona-das às funções do Poder Legislativo federal Além da função de representação, antes men-cionada, compete ao Congresso Nacional e-xercer atribuições legislativas e de fiscaliza-ção e controle. Quanto à função legislativa, cabe ao Congres-so Nacional legislar sobre as matérias de competência da União, mediante elaboração de emendas constitucionais, de leis comple-mentares e ordinárias, e de outros atos nor-mativos com força de lei. O art. 48 da Constituição lista diversos assun-tos que podem ser objeto de leis, que depen-dem da aprovação do Congresso Nacional e da sanção do Presidente da República. Por sua vez, o art. 49 da Constituição Federal traz a relação das competências exclusivas do Congresso Nacional, que são veiculadas por decreto legislativo, para o qual não é exigida a sanção presidencial. Sobre a função fiscalizadora, o art. 70 da Constituição estabelece a competência do Congresso Nacional para a fiscalização contá-bil, financeira, orçamentária, operacional e pa-trimonial da União e das entidades da admi-nistração direta e indireta. Para que possa e-xercer essa função, o Congresso Nacional é auxiliado pelo Tribunal de Contas da União. O Congresso Nacional e suas Casas dis-põem, ainda, de outros mecanismos de fiscali-zação e controle, entre os quais podemos mencionar: a possibilidade de convocação de Ministro de Estado ou de titulares de órgãos diretamente vinculados à Presidência da Re-pública para prestar informações sobre assun-to previamente determinado; o encaminha-mento de pedidos de informações a essas au-toridades pelas Mesas da Câmara dos Depu-tados e do Senado Federal; a instalação de comissões parlamentares de inquérito pelas Casas, em conjunto ou separadamente, para apuração de fato determinado e por prazo certo.

Atribuições das Casas do Congresso Nacional (Câmara dos Deputados e Senado Federal), quando atuam separadamente Na maioria dos casos, a Câmara dos Deputa-dos e o Senado Federal funcionam de forma articulada para o exercício das funções do Congresso Nacional. Um exemplo é o proces-so de elaboração das leis complementares e ordinárias, em que uma Casa funciona como iniciadora e a outra como revisora. Há situações, porém, em que as Casas fun-cionam separadamente. A Constituição esta-belece, para tanto, as competências privativas da Câmara dos Deputados (art. 51) e do Se-nado Federal (art. 52). Se do exercício dessas atribuições resultar um ato normativo, será uma Resolução da respectiva Casa. Atribuições do Congresso Nacional relaciona-das ao funcionamento das sessões conjuntas e das comissões mistas A organização bicameral do Congresso Na-cional possibilita, ainda, o funcionamento de sessões conjuntas e de comissões mistas, nas quais atuam juntos os Deputados Fede-rais e os Senadores, embora seus votos se-jam colhidos separadamente. O § 3º do art. 57 da Constituição prevê a reali-zação de sessões conjuntas para: inaugurar a sessão legislativa; elaborar o regimento co-mum e regular a criação de serviços comuns às duas Casas; receber o compromisso do Presidente e do Vice-Presidente da Repúbli-ca; conhecer do veto e sobre ele deliberar. Por sua vez, o art. 166 da Constituição dispõe que os projetos de lei relativos ao plano pluri-anual, às diretrizes orçamentárias, ao orça-mento anual e aos créditos adicionais devem ser apreciados pelas Casas do Congresso Nacional em sessão conjunta, conforme dis-posto no Regimento Comum. O § 1º desse artigo prevê, ainda, a existência de uma co-missão mista permanente para, entre outras atribuições, examinar e emitir parecer sobre esses projetos. As medidas provisórias iniciam sua tramitação em uma comissão mista, encarregada de emi-tir parecer sobre a matéria. Posteriormente, elas são apreciadas, em sessão separada, pelo Plenário de cada uma das Casas do Congresso Nacional (art. 62, § 9º, da Consti-tuição Federal). É importante observar que o Congresso Na-cional, quando funcionam conjuntamente a Câmara dos Deputados e o Senado Federal, é regido por um Regimento Comum. Nesse caso, é dirigido pela Mesa do Congresso Na-cional, que será presidida pelo Presidente do Senado Federal, sendo os demais cargos exercidos, alternadamente, pelos ocupantes de cargos equivalentes nas Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal.

SOBRE DEMOCRACIA REPRESENTATIVA

Democracia representativa é o exercício do poder po lítico pela população eleitora não diretamente, mas através de seus representantes, por si designados, com mandato para atuar em seu nome e por sua au-

toridade, isto é, legitimados pela soberania popula r.

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O outro lado da história

A VISÃO DA NATUREZA EM DIVERSAS CULTURAS

Por: Loryel Rocha

O mundo mítico é diverso, dual, circular. O universo divino tem tensões e unidade, a ordem repousa sobre o equilíbrio das potências opostas – o alto e o baixo, o frio e o quente. Os deuses, os homens e os animais fazem parte de um mesmo universo, mas, de um universo hie-rarquizado, pleno de uma graduação onde não se passa de um degrau a outro. Os limites da circularidade cós-mica sustentam as relações entre o alto e o baixo, entre os deuses e os homens. Sobre séries combinadas de oposições – alto-baixo, cru-cozido, mortal-imortal – or-ganiza-se a sociedade humana. A condição de existên-cia dos homens situa-se em relação à natureza e ao sobrenatural.

O conceito moderno de natureza como um espaço se-parado dos seres é estranho ao mundo mítico. O senti-do da palavra physis evoluiu bastante dos antigos até a modernidade, tendo interpretações que oscilam do ab-soluto ao relativo. O esférico mundo dos conceitual que explique a íntima interconectividade que existe entre a natureza e os seres, abrindo o mundo ao diálogo e a fraternidade universal.

A concepção de natureza, ao longo do tempo, foi influ-enciada por muitos pensadores e culturas, mantendo-se revestida de grande complexidade e exigindo um olhar ampliado para que se pudessem extrair, com maior fide-dignidade, os significados presentes. A busca pelo en-tendimento do que somos, do que significa e constitui a nossa existência não é privilégio de algumas culturas e civilizações. Ao contrário, mesmo entre povos “primitivos”, havia a necessidade de se estabelecer um conhecimento que pudesse servir como guia. Para a maioria das culturas, a busca do entendimento sobre a natureza, sua importância e relação com os seres hu-manos se confundem com sua própria história e forma de organização social. Em alguns casos, percebemos que o estabelecimento de um conhecimento sobre a natureza recebe destaque, na medida em que se situa uma relação fundamental entre esta e o ser humano: a de interdependência. Entretanto, outras se alimentam de outra visão sobre a natureza, considerando o divino ou o próprio ser humano superior aos demais seres.

Assim, entre os povos indígenas, desde o seu surgimen-to até os dias atuais, prevalece a cosmovisão: uma con-cepção de responsabilidade para com e pelo mundo natural, baseada numa relação de parentesco ou afilia-ção entre os mundos humano e não-humano. Como exemplos, podemos citar a percepção da tribo Maorida Nova Zelândia, para quem todos os seres humanos e não humanos partilham a mesma linhagem, têm a mes-ma origem. Entre os povos indígenas dos Andes, há o sentimento semelhante de universalidade e laço genea-lógico entre elementos da natureza (estrelas, sol, lua, plantas, animais) e os seres humanos, sendo todos pa-rentes e, simultaneamente, filhos, pais e irmãos. Os ín-dios teceram e desenvolveram sua cultura e civilização intimamente associados à natureza. Com isso, para esses povos naturais, o conceito de meio ambiente car-rega, em si, despertencimentos e rupturas, uma vez que meio é metade de algo. Para o índio não existe meio ambiente, existe a natureza, dado que o índio vive na terra e não sobre a terra. A natureza não é uma frontei-ra, não é algo que apenas circunda um povo, é a vida desse povo, com a qual eles tem uma relação ontológi-ca de pertença.

Quanto à isso, Clastrés (A fala sagrada, 1990, p.10) tes-temunha o orgulho heróico dos índios pelo fato de se-

rem impermeáveis e intransigentes à tudo aquilo que possa ameaçar o espaço religioso de sua fé nos deuses e na natureza, pois, a relação com ambos é que os mantém como Eu coletivo, o que os reúne em uma co-munidade. E essa comunidade não sobreviveria um só instante à perda dessa relação, que constitui uma cren-ça bem como um modo de existir. Há inúmeras carac-terísticas e formas de relações do índio com a natureza, o que provocou o florescimento de inúmeras etnias, mui-tas variedades de línguas, muitos costumes. A raiz des-sa diferença que distingue os índios do homem civiliza-do encontra-se na medida em que um povo é inerente ou pertence à terra, também está ligado a ela ontológica e moralmente. A natureza é o seu lar, portanto, o seu papel como guardiões da terra é não só natural, bem como, essencial para a completude e continuação do mundo natural . Não é por acaso que, hoje, boa parte da biodiversidade do planeta existe em territórios dos povos indígenas, para quem a natureza é vida e não produto. A idéia de natureza como fonte de recursos naturais é filha da modernidade, e nesse sentido, bem distinta das formas consagradas pelas tradições indíge-nas.

Sob um outro prisma, também outras culturas milenares notabilizaram-se pela concepção dominante de interde-pendência entre a natureza e os seres humanos. Neste sentido, podemos citar a tradição chinesa, que desde sua origem até os dias atuais, mantém a noção de que a vida humana está, inextricavelmente, unida aos ritmos, processos e fenômenos do mundo natural. O pensa-mento chinês não opõe sujeito ao objeto, ao contrário, estabelece ligações íntimas entre ambos; cultiva um sentimento de unidade do mundo; constrói modelos qualitativos; estabelece relações entre números, espaço e tempo; o próprio Tao evoca a idéia de ritmo, ordem e totalidade. Na mesma direção encontra-se o testemu-nho do monge beneditino padre BedeGriffiths para quem os valores e as tradições hindus estão ligados a palpitação sagrada do universo, de que os homens fa-zem parte. Assim como os egípcios, os gregos arcai-cos, os chineses, para os hindus tudo é sagrado, a natu-reza é sagrada, está plena do divino, explorá-la constitui sacrilégio.

Haq afirma que o Alcorão incita o homem a procurar paz e harmonia com a natureza, não admite separação entre o ambiente natural e o divino, atribuindo responsabilida-de aos seres humanos em relação aos demais seres: “(...) os seres humanos foram criados por Deus como seus vice-gerentes (khalîfa) no mundo físico (...). Essa vice-gerência fazia dos homens guardiões de todo o mundo natural. A humanidade era assim transcenden-talmente responsável por não violar a “justa medi-da” (qadr) e o equilíbrio (mîzân) que Deus tinha criado no mais vasto todo cósmico, aparecendo também por esta perspectiva a função tutelar do homem na relação com o ambiente” (HAQ, Manual de Filosofia do Ambien-te, p.122).

“Sobre o judaísmo – afirma Correa - é evidente o seu caráter teocêntrico, o qual afasta qualquer perspectiva do homem como centro do universo e da natureza como algo criado em seu exclusivo benefício. Na crença em tela, o respeito à natureza advém do respeito a uma criação que pertence a Deus”. De acordo com isso, as críticas que debitam ao judaísmo um antropocentrismo radical onde a natureza é vista meramente como um recurso para a satisfação dos interesses, carências e necessidades humanas carecem de fundamento. Tais críticas ao pensamento judaico, foram estendidas ao modo de pensar ocidental contemporâneo, notadamente ao cristianismo, tributário em parte do platonismo e do

judaísmo, por ter cunhado em seu dogma a separação entre o criador (Deus) e a criatura (os demais seres), legitimando [sic] o papel de superioridade dos seres hu-manos em relação aos demais seres vivos.

Corroborando a visão de Correa, e contrariando as críti-cas ao teocentrismo, Ferry afirma existir no judaísmo um certo respeito aos animais e à natureza:

“Não é um acaso o fato de Kant afinar-se com uma das intuições mais profundas do judaísmo: o homem é por certo um ser antinatureza, um ser-para-a-lei ( é o que proíbe, de resto, à tradição criticista bem como à do ju-daísmo reconhecer-se no “ecologismo”). Ele pode por-tanto, em uma certa medida, dispor das plantas e dos animais – mas não à vontade ( nachBelieben), não ma-tando-os como distração, seja dentro das regras da arte ou para testemunhar sua humanidade. Segundo o Pen-tateuco, o abate será praticado não apenas sem cruel-dade como também com moderação. Há nisso muita sabedoria e profundidade, pois essa posição não é a-companhada de nenhum dos princípios “naturalistas” e vitalistas que justificam normalmente os argumentos zoófilos. Nenhuma confusão possível, aqui, entre o ani-mal e o homem no bojo de um grande todo cósmico. Tampouco nenhuma redução da dignidade de uns ou de outros pela simples lógica calculista dos prazeres e das penas. Somente a atenção dirigida à especificidade equívoca do animal que a maquinaria cartesiana, inteira-mente devotada à dominação da Terra, rejeita sem res-trição por ser “coisa”.

A citação de Kant por Ferry elucida com clareza esse poderoso desacordo entre o mecanicismo e o vitalismo cujos ecos se encontram ainda presentes na modernida-de. De uma forma geral, repensar a origem moderna do pensamento sobre a natureza, obriga a uma revisitação de conceitos e valores matrizes da cultura ocidental que, indiscutivelmente, influenciou, educou e formou o oci-dente cristão. O desenvolvimento da atual sociedade e a crise ambiental que esta vivencia precisa encontrar novas e diferentes formas de relação do ser humano com a natureza e para tanto, uma profunda reflexão so-bre o modo de ser ocidental deverá ser seriamente con-siderado. O diálogo entre ecologia e espiritualidade é urgente e necessário:

“É urgente fazer do cuidado espiritual com a natureza uma cultura, um estilo de vida alternativo. Esse estilo de vida [,...,] não consiste apenas em uma simples mu-dança de costumes ou um modo de viver mais ligado `a natureza. Isso é importante, mas se trata de algo que vai além. Diz respeito ao nosso modo de habitar o pla-neta, de trabalhar, de comprar, consumir, viaja”(BETTO; BARROS. O amor fecunda o universo, p.203).

A viabilidade desse diálogo, entrelaçada com uma nova atitude,também exige, por sua vez, a supressão de cer-tos estigmas presentes tanto na cultura europeizante quanto na globalização: a revisão do significado de po-vos “primitivos”, “indígenas” ou civilizações orientais, identificados com o culto ao alternativo, primitivo, natu-ral, anti-democrático; o redimensionamento do conceito de vida, e nesse caso, de vida inteligente, é ordem do dia, pois, no cerne desse conceito orbitam questões maiores como cosmos, homem, natureza. A inclusão, a interdisciplinaridade, a não violência, o respeito as dife-renças, a fraternidade planetária, são os pilares de uma nova era multicultural. Romper as fronteiras e valorizar o diverso sem abrir mão do desenvolvimento e da espiritu-alidade será o grande desafio do século XXI. Deixar de ruturar os espaços e os tempos, eis a grande obra que se apresenta a todos, sem distinção.

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Março 2015 Gazeta Valeparaibana Página 12

Funções Sociais da Escola

ATENÇÂO

A Gazeta Valeparaibana , um veículo de divul-gação da OSCIP “Formiguinhas do Vale”, orga-nização sem fins lucrativos, somente publica matérias, relevantes, com a finalidade de abrir discussões e reflexões dentro das salas de au-las, tais como: educação, cultura, tradições, his-tória, meio ambiente e sustentabilidade, respon-sabilidade social e ambiental, além da transmis-são de conhecimento.

Assim, publica algumas matérias selecionadas de sites e blogs da web, por acreditar que todo o cidadão deve ser um multiplicador do conheci-mento adquirido e, que nessa multiplicação, no que tange a Cultura e Sustentabilidade, todos devemos nos unir, na busca de uma sociedade mais justa, solidária e conhecedora de suas res-ponsabilidades sociais.

No entanto, todas as matérias e imagens serão creditadas a seus editores, desde que adjudi-quem seus nomes. Caso não queira fazer parte da corrente, favor entrar em contato. [email protected]

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É importante que os professores tenham mui-

to claro quais são as funções da escola.

Coloco aqui para reflexão e discussão algu-mas citações de Sacristán & Goméz (2000)

sobre o objetivo básico da escola e as suas funções sociais, seguidas de algumas ques-tões.

A escola deve prover os indivíduos "não só, nem principalmente, de conhecimentos, idéi-as, habilidades e capacidades formais, mas

também, de disposições, atitudes, interesses e pautas de comportamento". Assim, tem co-mo objetivo básico a socialização dos alunos

para:

"prepará-los para sua incorporação no mundo

do trabalho" - indivíduos produtivos; "que se incorporem à vida adulta e pública..." - cidadãos.

1. Função reprodutora (socialização do indiví-duo): "garantir a reprodução social e cultural

como requisito para sobrevivência mesma da sociedade";

2. Função educativa (que eu chamaria de compreensiva): "utilizar o conhecimento para compreender as

origens das influências, seus mecanismos, intenções e conseqüências, e oferecer para debate público e aberto as características e

efeitos para o indivíduo e a sociedade desse tipo de processo de reprodução";

3. Função compensatória: "atenuar, em parte, os efeitos da desigualdade e preparar cada indivíduo para lutar e se defender nas melho-res condições possíveis, no cenário social";

4. Função educativa (que eu chamaria de transformadora): "provocar e facilitar a reconstrução de conhe-

cimentos, atitudes e formas de conduta que os(as) alunos(as) assimilam direta e acritica-mente nas práticas sociais de sua vida anteri-

or e paralela à escola".

Gostaria ainda de propor algumas ques-tões para discussão em grupos de estudo, que proporia:

1. Será que ao perguntarmos aos professo-res, diretores, coordenadores pedagógicos, supervisores de ensino, pais dos alunos e aos próprios alunos quais são as funções so-

ciais da escola, eles responderão de imediato e objetivamente? Por quê?

2. A proliferação de faculdades particulares tanto nas capitais com em pequenas cidades do interior, em todo o Brasil, aparentemen-te atendem as funções sociais reprodutora,

transformadora e compensatória.

Porque elas não são de fato cumpridas?

3. E as instituições públicas de Ensino Superi-or, estão todas elas cumprindo as suas fun-ções sociais?

4. Qual a relação que vocês , como equipe, estabelecem entre as funções da escola e a formação do professor?

5. Qual é a relação existente entre as funções da escola e a elaboração e execução do pro-jeto curricular?

6. Qual a articulação que se pode estabelecer entre os cursos de Pedagogia e os de Licenci-atura e as funções da escola?

E para terminar uma outra reflexão:

"A formação, pelo contrário, entendida como

desenvolvimento profissional, é fruto de refle-xão sobre a ação, ajudada por quanta tradi-ção de pensamento tenha sido capaz de dar

sentido à realidade educativa. Os professores serão profissionais respeitados quando pude-rem explicar as razões de seus atos, os moti-vos pelos quais tomam umas decisões e não

outras, quando ampararem suas ações na experiência depurada de seus colegas, e quando souberem argumentar tudo isso nu-

ma linguagem além do senso comum, incor-porando as tradições de pensamento que mais contribuíram para extrair o significado da

realidade do ensino institucionalizado. Para transformar é preciso ter consciência e com-preensão das dimensões que se entrecruzam

na prática dentro da qual nos movemos" ( Sacristán & Goméz, 2000, p. 10)

Da redação

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Março 2015 Gazeta Valeparaibana Página 13

Agricultura e sustentabilidade

Abelhas: mel e polinização Por: Roberto Rodrigues

UMA ATIVIDADE agrícola pouco conhecida é a apicultura. E quem sabe um pouco do setor logo o identifica com a produção de mel. Com efeito, o Brasil já é o 11º produtor mundi-al de mel, gerando quase 500 mil empregos em toda a cadeia produtiva. A classificação dos Estados mais importantes na produção de mel -RS, PR, PI, SC, CE, SP, MG, BA, PE, RN e MS- mostra sua grande disseminação em todo o território nacional, graças às centenas de plantas comerciais e aos milhares de outras da nossa maravilhosa biodiversidade, não exploradas comercial-mente. Além de um guloso mercado interno, o Brasil vem exportando para União Européia, Esta-dos Unidos, Japão, Arábia Saudita, Suíça, Canadá, China e mais uma dezena de outros países.

No entanto, há um tema ainda pouco explora-do na apicultura e que pode gerar até dez ve-zes mais renda do que a produção de mel: trata-se da polinização. Na Austrália, no Canadá, nos Estados Unidos e na União Européia, os serviços de poliniza-ção executados pelas abelhas em sua busca do mel têm sido um dos responsáveis pelo aumento da produtividade agrícola, a um cus-to muito menor do que o de outros insumos. Em entrevista recente à revista "Veja", o api-cultor Paulo Roberto de Oliveira, brasileiro es-tabelecido na Flórida, disse que, nos Estados Unidos, "o principal negócio do apicultor atual-mente é o trabalho de polinização. O mel já virou um subproduto". Uma praga ainda pouco conhecida, o CCD (desordem de colapso das colônias) vem produzindo grande mortandade de abelhas, particularmente nos países desenvolvidos, o que inflacionou o alu-guel de colméias com o objetivo da poliniza-ção. Isso faz todo o sentido. Dados do Brasil indicam que a colocação de 4 a 6 colméias por hectare de laranja-pêra-rio pode aumentar em até 39% a produção da fruta. Em café, o aumento pode chegar a 25% a 30%. Ensaios com soja no Paraná, também com 4 a 6 colméias por hectare, na variedade BRS 133, mostraram aumento de 56% na produ-ção (dá para imaginar o impacto disso na pro-dução de biodiesel).

Esses números explicam o aumento do alu-guel de colméias nos Estados Unidos. Em 2004, uma colméia com 50 mil abelhas era alugada por US$ 40. Hoje, o valor está na casa de US$ 150. No entanto, no Brasil, a questão da poliniza-ção ainda não está tratada como merece, mesmo com os grandes potenciais de aumen-to da produção e renda de culturas. Segundo a Abemel, a maioria dos apicultores apenas extrai mel, o máximo possível, sem distribuir as colméias pelas áreas de cultura, deixando-as concentradas em um local só, para facilitar o trabalho; e não manejam as colônias para visitar as flores na melhor hora para polinizar nem as dirigem para a cultura desejada. Mas isso pode ser melhorado, e muito. Eis um assunto que merece uma atenção es-pecial, mormente em razão da doença referi-da. Afinal, Einstein, exagerando ou não, disse: "Se as abelhas desaparecessem da face da terra, ao homem restariam apenas mais qua-tro anos de vida. Sem abelhas, não haverá polinização, não haverá plantas, nem animais, nem homens". ROBERTO RODRIGUES, coordenador do Centro de Agronegócio da FGV, presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp e professor do Departamento de Economia Ru-ral da Unesp - Jaboticabal, foi ministro da A-gricultura (governo Lula)

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Reforma agrária Algumas reflexões 1 - É necessário mantermos os processos de mobilização e as ações de pressão, de modo a pautarmos a reforma agrária e a agricultura familiar no centro da agenda política dos go-vernos e da sociedade.

2 - Quanto mais concentrada a propriedade da terra num país mais injusta e antidemocrá-tica é a sociedade.

3 - A questão da terra no Brasil é um proble-ma social rural e um problema de toda socie-dade brasileira, pois como diz um velho ditado camponês “se o campo não planta a cidade não janta”.

4 - Destaca-se que no Brasil 46% das terras estão em posse de 1% dos proprietários ru-rais – um dos maiores índices de concentra-ção fundiária do mundo.

É muito importante a transferência da proprie-dade da terra dos latifundiários para peque-nos agricultores e trabalhadores agrícolas

sem terra, objetivando o alcance de uma i-gualdade social ampla, de maior distribuição do poder político e de melhorias de ordem e-conômica e dentro de um Novo Projeto de De-senvolvimento para o Brasil.

Segundo Ignacy Sachs, diretor honorário da Escola de Altos Estudos em Ciência Sociais de Paris, 40% de toda a força de trabalho mundial vivem nas áreas rurais, um contin-gente entre 2 bilhões e 3 bilhões de pessoas.

Reforma agrária "Não se trata apenas de dis-tribuir terras para os pobres, mas de desen-volver um leque de políticas públicas simultâ-neas que garanta para a agricultura familiar infraestrutura de transporte e comunicação, assistência técnica, acesso a crédito, merca-dos e serviços públicos, como saúde e educa-ção".

De acordo com a Lei nº 4.504 (Estatuto da Terra), de 30 de novembro de 1964, Art. 1º, § 1º, “Considera-se Reforma Agrária o conjunto de medidas que visem a promover melhor dis-

tribuição da terra, mediante modificações no regime de sua posse e uso, a fim de atender os princípios de justiça social e ao aumento de produtividade” (BRASIL, 1964).

A reforma agrária é um processo amplo de mudanças no campo político, social, técnico e econômico. É fundamental a transferência da propriedade da terra dos latifundiários para pequenos agricultores e trabalhadores agríco-las sem terra, objetivando o alcance de uma igualdade social ampla, de maior distribuição do poder político e de melhorias de ordem e-conômica e dentro de um Novo Projeto de De-senvolvimento para o Brasil.

Nesse sentido, seria necessário mantermos os processos de mobilização e as ações de pressão de modo a pautarmos a reforma agrária e a agricultura familiar no centro da agenda política dos governos e da sociedade, inclusive levando em consideração as realida-des, desigualdades e potencialidades regio-nais.

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Março 2015 Gazeta Valeparaibana Página 14

Mudanças Climáticas

Chuvas que recarregam reservatórios da região Sudeste são oriundas da Amazônia.

Árvores são ‘toque final’ da máquina biológica que pro-duz chuvas.

O chão foi o destino de 20% das árvores da Floresta Amazônica original. Que isso vem acontecendo há a-nos, todos sabem. O que você provavelmente não sabe é que esse crime ambiental tem a ver com a falta d’água na maior cidade da América Latina. É que a Amazônia bombeia para a atmosfera a umidade que vai se trans-formar em chuva nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil. Quanto maior o desmatamento, menos umidade e, portanto, menos chuva. E sem chuva, os reservatórios ficam vazios e as torneiras, secas.

É guerra contra a cobiça.

No coração da Amazônia, o exército formado pelo IBA-MA, pela FUNAI e pela Polícia Federal atinge mais um alvo. Garimpeiros presos, madeireiros multados, equipa-mentos destruídos. E a prova do crime apreendida. Es-se é o front de um conflito que já dura pelo menos qua-tro décadas no Brasil. Desde que as primeiras estradas rasgaram a floresta para permitir a colonização. Cami-nhos que acabaram facilitando também o acesso de exploradores gananciosos e sem escrúpulos. Um crime ambiental que ainda está longe do fim.

Uma árvore que leva mais de 100 anos para crescer. E que em menos de um minuto, já pode estar derrubada. E o pior é que a madeira nem é aproveitada. Nesse tipo de desmatamento, o objetivo é simplesmente derrubar tudo, tocar fogo e transformar a área em pastagem para a criação de gado. Um crime ambiental que geralmente só é notado pelos fiscais tarde demais, quando a flores-ta já virou carvão.

Clareiras somam área maior que França e Alemanha juntas “Isso aqui é roubo de terras da União. Grileiros furtam a terra da União, praticam o desmate multiponto, vários pontos embaixo da floresta, dificultando o satélite de enxergá-lo.”, explica Luciano de Menezes Evaristo, diretor de proteção ambiental do IBAMA.

O que os olhos poderosos dos satélites não veem, a floresta, lamentavelmente, sente: 20% das árvores da Amazônia original já foram para o chão. Restaram imen-sas clareiras que somam uma área maior que a França e a Alemanha juntas.

O Fantástico acompanhou, com exclusividade, a maior operação contra grileiros na Amazônia neste ano. Em uma conversa gravada pela Polícia Federal com autori-zação da Justiça, um dos presos admite que o interesse dos criminosos é apenas nas terras.

“Como a floresta lá é muito bruta, os troncos são muito grossos, então o custo é muito grande. São árvores anti-gas, árvores velhas”, ele diz.

Consequências da devastação estão próximas de todos Derrubadas e garimpos deixam uma cicatriz gigantesca na mata que pode parecer um problema exclusivo de árvores e bichos, distante da maioria das pessoas. Mas a ciência e as novas tecnologias comprovam que as consequências da devastação estão muito mais próxi-mas de todos nós.

Nascentes que já não vertem mais água. Represas com menos de 10% de sua capacidade original de armaze-nagem. Uma delas, por exemplo, perto de Mogi das Cruzes, no interior de São Paulo, deveria ter em um ponto uma profundidade de pelo menos cinco metros. Está agonizando. Mas o que a falta de água nesta regi-ão do país tem a ver com a Amazônia que fica a mais de 2 mil quilômetros de distância? Tudo, absolutamente tudo, segundo cientistas que estudam as funções da floresta e as variações climáticas na América do Sul.

“Essas chuvas que ocorrem principalmente durante o verão, a umidade é oriunda da Amazônia. E essa chuva que fica vários dias é que recarrega os principais reser-vatórios da Região Sudeste.” explica Gilvan Sampaio, climatologista do INPE.

O Fantástico teve acesso exclusivo ao relatório sobre o futuro climático da Amazônia que só vai ser divulgado oficialmente na Conferência Sobre o Clima em Lima, no Peru, no fim deste ano. O trabalho desenvolvido em par-ceria por cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e do Inpa, que investiga a Amazônia, reúne mais de 200 estudos e traça um minucioso roteiro das chuvas no continente sul-americano.

“Está mudando o clima. A gente vê isso acontecendo na Amazônia. Tem muitos trabalhos mostrando que a ex-tensão da estação seca está se prolongando”, diz Antô-nio Nobre, pesquisador do Inpa.

De acordo com esse relatório, nos últimos 400 milhões de anos, a umidade que evapora dos oceanos é empur-rada naturalmente pelos ventos para dentro dos conti-nentes. Uma parte desse vapor vira chuva e cai, princi-palmente, sobre as grandes florestas na altura do Equa-dor. O excesso de umidade segue empurrado pelos ventos, atravessa os continentes e acaba indo para o mar. Um ciclo que ao redor da Terra só tem uma exce-ção: a Amazônia.

Diferencial da Amazônia O que torna a Amazônia dife-rente de todas as grandes florestas equatoriais do pla-neta é a Cordilheira dos Andes. Um imenso paredão, de 7 mil metros, que impede que as nuvens se percam no Pacífico. Elas esbarram na Cordilheira e desviam para o Sul.

“Esses ventos viram aqui e se contrapõem à tendência natural dessa região aqui de ser deserto. É uma região que produz 70% do PIB da América do Sul – região in-dustrial, agrícola, onde está a maior parte da população da América do Sul”, explica Antônio Nobre, pesquisador do Inpa.

Mas de onde vem tanta água? Como funciona a fantásti-

ca máquina biológica que faz chover? Segundo os cien-tistas, o toque final cabe às árvores.

Fincadas a até 20 ou 30 metros de profundidade, as raízes sugam a água da terra. Os troncos funcionam como tubos. E, pela transpiração, as folhas se encarre-gam de espalhar a umidade na atmosfera.

Diariamente, cada árvore amazônica bombeia em média 500 litros de água.

A Amazônia inteira é responsável por levar 20 bilhões de toneladas de água por dia do solo até a atmosfera, 3 bilhões de toneladas a mais do que a vazão diária do Amazonas, o maior rio do mundo.

“Se você tivesse uma chaleira gigante ligada na tomada, você precisaria de eletricidade da Usina de Itaipu, que é a maior do mundo em potência, funcionando por 145 anos para evaporar um dia de água na Amazônia. Quantas Itaipus precisaria para fazer o mesmo trabalho que as árvores estão fazendo silenciosamente lá? 50 mil usinas Itaipu”, explica Antônio Nobre.

“Rio voadores” cruzam o Brasil Esse imenso fluxo de água pelos ares é chamado de “rios voadores”. O Fan-tástico chamou a atenção para a importância desses rios já em 2007. Imagens feitas de um avião do projeto “rios voadores” revelam nuvens densas, carregadas de água, cruzando todo o Brasil.

Testes feitos em laboratório comprovaram: mais da me-tade da água das chuvas nas regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil e também na Bolívia, no Para-guai, na Argentina, no Uruguai e até no extremo sul do Chile vem da Amazônia.

Para os cientistas, uma prova irrefutável do papel dos Andes e da Floresta Amazônica no ecossistema do co-ne-sul é a inexistência de um deserto nessa região. Bas-ta olhar o globo para constatar que na mesma latitude em volta do planeta tudo é deserto. Menos na América do Sul.

Os pesquisadores não têm dúvida: sem a Amazônia, os estados de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Rio Grande do Sul fatalmente seriam desertos também.

“Para quem está no Brasil, seja Porto Alegre ou Manaus ou São Paulo tem que saber que a água que consome em sua residência, uma parte dela vem da Amazônia e que por isso temos que preservar”, alerta Gilvan Sam-paio.

Devastação bloqueia “rios voadores” em São Paulo As imagens dos satélites que acompanham a movimenta-ção das nuvens de chuva comprovam que a grande se-ca que assola as regiões Sudeste e Centro-Oeste do Brasil, em parte, está relacionada aos desmatamentos. No estado de São Paulo, por exemplo, a devastação da Mata Atlântica permite a formação de uma massa de ar quente na atmosfera. Tão densa que chega a bloquear os “rios voadores”, já enfraquecidos por conta do des-matamento na Amazônia. Represados no céu, eles aca-bam desaguando no Acre e em Rondônia, onde, este ano, foram registradas as maiores enchentes da histó-ria.

Fonte: Fantástico

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Março 2015 Gazeta Valeparaibana Página 15

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A Escola e sua função social

30 de Março Dia Mundial da Juventude

Falar de crianças e adolescentes em situação de risco no Brasil é abordar um problema que traz em sua complexidade, as marcas da for-mação e do desenvolvimento sócio-político-econômico e cultural de um país que confina aos guetos, morros e favelas os que sobrevi-vem com as partículas do bolo nacional.

A péssima distribuição de renda do país, carro chefe das desigualdades econômicas e soci-ais, a ausência do oferecimento de uma edu-cação e saúde de qualidade para a maioria da população, somando-se ao desemprego es-trutural e à ineficiência das políticas públicas, contribuem para que assistamos estarrecidos, a uma desenfreada produção em série de cri-anças e adolescentes sem referências de afe-to, amor, ética, moral, auto-estima e sem perspectivas de exercerem sua cidadania. Cri-anças e adolescentes que "escolarizam-se" nas ruas.

O atual quadro da infância e da adolescência em situação de risco (que vão desde os que sofrem de maus tratos, abandono, abuso físi-co, psicológico, sexual, influência de todo tipo de delinquente até a morte por grupo de ex-termínio) nos estimula a fazermos uma retros-pectiva do seu atendimento no Brasil:

Da Lei do Ventre Livre aos dias atuais, cons-tataremos que a política de atendimento a es-ta parcela da população, resumiu-se ao de-senvolvimento de programas assistencialistas, ineficazes quanto ao objetivo de ressocializa-ção, pois muitos eram desenvolvidos em am-bientes correcionais-repressivos que quando muito, tentavam "profissionar", utilizando práti-cas laborais para a aquisição de habilidades de um ofício. (Costa, 1989).

Com o agravamento da crise econômica na década de 70, torna-se mais visível o exército de crianças e adolescentes oriundos das fa-mílias pobres que desenvolviam nas ruas es-tratégias de sobrevivência.

Este fato muito contribuiu para que as autori-dades competentes destinassem atenção ao novo fenômeno.

Posteriormente, pressionados pelos vários movimentos sociais, inclusive entidades espe-cíficas na defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes, nasce a Lei Complementar 8.069, de 13 de julho de 1990, o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) que

foi considerado um dos dispositivos legais mais avançados do mundo no tocante ao a-tendimento da infância e da juventude.

Hoje, nove anos após sua promulgação, boa parte da população desconhece o texto de seus artigos e a criança e o adolescente no Brasil, permanece tendo seus direitos viola-dos.

Entre eles, o direito ao pleno desenvolvimento educacional, seu preparo para a cidadania e sua qualificação para o trabalho, garantindo a "igualdade de condições para o acesso e a permanência na escola, respeitando a liberda-de, a tolerância, a garantia da qualidade do ensino e a valorização da experiência extra-escolar (Lei e Diretrizes de Bases da Educa-ção).

Nesse contexto, interrogamos qual é a educa-ção de qualidade que se garante ao número altíssimo de crianças e adolescentes que es-tão fora da escola.

Quais os projetos desenvolvidos pela escola para garantir a permanência com sucesso, das crianças e dos adolescentes, em situação de risco que resistentemente ainda se encon-tram nela? Evitando, assim, que esses alunos se evadam e engrossem o exército que vivem nas ruas.

Quais são as condições financeiras, materiais e pedagógicas, oferecidas à escola para que seus projetos se realizem? E qual é a mobili-zação do corpo técnico e docente para efetivá-los?

Questões como estas, fundamentam-se em uma concepção de escola como um espaço propício para a realização de um processo digno de socialização e o desenvolvimento de aprendizagens significativas, através de uma formação continuada, capaz de oferecer às crianças e aos adolescentes em situação de risco, a vivência plena de sua cidadania.

Propomos às escolas uma reflexão sobre a escola que temos e a escola que queremos e os conceitos sobre uma escola alienada e u-ma escola cidadã.

Sugerimos uma releitura do ECA nos seus artigos referentes à educação. Nosso objetivo é o de informar e sensibilizar o corpo técnico e docente da escola, buscando desmitificar o ECA como um "instrumento protetor de margi-nais".

É fato notório que a escola pública precisa re-dimensionar seu projeto político e pedagógico para que se torne uma escola cidadã.

Precisamos também discutir, também, alguns casos que abordavam situações comuns ao cotidiano da escola que nem sempre recebem o devido tratamento; situações quanto aos procedimentos referentes ao aluno faltoso, ao aluno que apresenta pistas de abandono, a-buso sexual, envolvimento com drogas, explo-ração no trabalho etc.

Um dos objetivos é trazer o envolvimento da escola com os mesmos e o reconhecimento da urgência de se ultrapassar da pedagogia da denúncia e da constatação para uma prá-xis que proclame como finalidade a garantia efetiva dos direitos presentes na Constituição.

É fato notório que a escola pública precisa re-dimensionar seu projeto político e pedagógico para que se torne uma escola cidadã.

Segundo Gadotti (1995), são necessárias al-gumas diretrizes básicas, dentre as quais es-tão: a autonomia da escola, incluindo uma gestão democrática, a valorização dos profis-sionais de educação e de suas iniciativas pes-soais. Oportunizar uma escola de tempo inte-gral para os alunos, bem equipada, capaz de lhe cultivar a curiosidade e a paixão pelos es-tudos, a curiosidade e a paixão pelos estudos, a valorização de sua cultura, propondo-lhes a espontaneidade e o inconformismo. Inconfor-mismo traduzido no sentimento de perseve-rança nas utopias, nos projetos e nos valores, elementos fundadores da idéia de educação e eficazes na batalha contra o pessimismo, a estagnação e o individualismo.

Uma escola cidadã, viabiliza a produção de projetos individuais, a partilha de projetos co-letivos e tem a articulação entre ambos, uma fator importante para a realização de ações e sonhos imbuídos de um significado político e social mais amplo (Machado, 1997).

Para Machado, a impossibilidade de uma a-bertura para sonhos, fantasias e projetos indi-viduais, conduz a uma espécie de morte da personalidade, tanto a carência de alimentos conduz à morte física e que no plano social, a ausência de projetos coletivos costuma cons-tituir-se em um problema crítico, responsável pelo surgimento de conflitos.

E os atores da escola, palco de diversos con-flitos, como vêem a problemática da criança e do adolescente em situação de risco?

É esta a questão que deixamos neste mês em que no dia 30 se lembra o Dia Mundial da Ju-ventude.

Da redação

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Março - 2015

Edição nº. 88 Ano VIII

Sustentabilidade Social e Ambiental - Educação - Reflorestamento - Desenvolvimento Sustentável - Cidadania

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Governar para

números ou governar

para pessoas?

O filósofo Slavoj ZizeK citou T. S. Elliot num comício da Syriza para dizer que “há momen-tos em que a única escolha é entre a heresia e a descrença”. E clarificou a ideia afirmando que “só uma nova heresia, representada hoje pela Syriza, pode salvar o que vale a pena salvar do legado europeu: democracia, confi-ança nas pessoas, igualdade e solidariedade”.

O estado em que a política educativa dos dois últimos governos colocou escolas e professo-res faz-me suspirar por um “momento Syriza” na Educação. Por uma nova heresia, que co-loque cooperação onde hoje está competição. Porque a cooperação aproxima-nos e sedi-menta-nos enquanto grupo e a competição, ampliando as diferenças, afasta-nos, isolados por egoísmos. Porque a cooperação serve as pessoas e harmoniza-as, tal como a competi-ção, hoje sacralizada na nossa cultura, serve os números e os conflitos.

Informação constante de um novo portal do Ministério da Educação e Ciência veio dizer-nos que há 24 escolas onde são dadas todos os anos notas internas significativamente mais favoráveis que as conseguidas nos exa-mes nacionais. Daí a mais um lance na com-petição público versus privado foi um passo, sem espaço para assumir que se comparam coisas diferentes: num caso o conhecimento científico demonstrado num só teste; no outro caso o percurso de um ano de desempenho num ambiente pluridisciplinar e multifatorial, sendo que alguns desses factores de classifi-cação são bem relevantes para a formação

integral do aluno e para a sua maturidade cívi-ca.

Os exames nacionais e os testes estandardi-zados internacionais têm vindo a assumir uma dominância evidente na concepção das políti-cas para a Educação definidas pelos dois últi-mos governos. E essa dominância tem a sua gênese na nossa intestina tendência para im-portar modismos alheios. Com efeito, quando a Escola se manifestou em crise um pouco por todo o mundo ocidental e alguns teóricos começaram a clamar contra determinados métodos pedagógicos e o que consideravam autonomia excessiva dos professores, primei-ro, e emergiram as primeiras tendências para encarar a Educação como serviço passível de ser submetido a regras de mercado (com o concomitante discurso da liberdade de esco-lha por parte das famílias), depois, logo surgi-ram as pressões para introduzir nos sistemas de ensino instrumentos que tudo medissem, particularmente resultados.

Recorde-se, a propósito, duas referências in-contornáveis, que continuam a produzir efei-tos retardados entre nós e que nos levam aos ventos que sopraram de Inglaterra em 1976 e dos EUA em 1983. Refiro-me à iniciativa re-formista de James Callagahan sobre Educa-ção, que ficaria conhecida por “The Great De-bate”, onde o primeiro-ministro de então do Reino Unido lamenta a falta de rentabilidade dos professores e das escolas, pede maior controlo da qualidade dos docentes e clama pela reorientação precoce da educação para os aspectos vocacionais, qual discurso profé-tico que seria retomado pelo nosso ministro da Educação, 43 anos mais tarde. E refiro-me ao relatório “A Nation at Risk: The Imperative for Educational Reform”, produzido a pedido de Ronald Reagan, cuja violência classificati-va do trabalho dos professores e da escola americana está bem traduzida nesta frase,

que o integra, a qual, fora ela do conhecimen-to do nosso primeiro-ministro e certamente teria substituído, 32 anos volvidos, a metáfora da salsicha educativa: “Se um poder estran-geiro tivesse tentado impor à América a medi-ocridade do desempenho educacional que ho-je existe, deveríamos ter encarado esse acto como um acto de guerra”.

Não é, portanto, de modo solitário no contexto internacional que a novilíngua classificativa portuguesa em matéria de Educação se tem desenvolvido centrada em metas, testes e e-xames, apesar de todos sabermos que ne-nhum sistema sério de prestação de contas em Educação se esgota no despejo sistemáti-co sobre a sociedade dos resultados de tes-tes, mesmo que estandardizados, e de exa-mes nacionais. Tanto pior quando esses re-sultados de alunos são o critério primeiro para avaliar escolas e professores. Mais. Mostra-nos a história recente que os governos que assim procederam acabaram, por via das ide-ologias neoliberais que adotaram, a utilizar os resultados como estratégia para induzir medi-das de privatização e promoção de lógicas de educação como serviço sujeito a regras de mercado.

É tempo, pois, de procedermos a uma refle-xão despida de preconceitos ideológicos so-bre o seu contributo técnico para a decantada “accountability” educacional. Porque muito do que deve contar em Educação não pode ser medido e é de comparação difícil. Porque, no dizer de Licínio Lima, “enquanto orientação política, a educação contábil evidencia uma alta capacidade de discriminação da educa-ção que conta e da educação que não conta, ou conta menos”.

Santana Castilho * Professor do ensino superior ([email protected])